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humano passa a depender do comando técnico dos investigadores cuja ação já não é
necessariamente guiada pela vontade de curar.”
104
2.2.3. Aplicação tecnológica médica e questionamento ético na Medicina
A nova tecnologia aplicada à Medicina faz com que comecem a surgir serias
dúvidas sobre o que resulta ser um benefício real para o paciente
105
colocando-nos
diante da questão: tudo o que é tecnicamente possível é eticamente correto? Ou, em
outras palavras: uma vez que a ciência opera descobertas novas a partir do desejo de
aumentar o bem-estar da pessoa e da sociedade humana, porque uma nova criação
científica não seria eticamente correta?
104
QUÉRÉ, F. La Ética...op. cit. (nota 82), p. 24. Hans-Georg Gadamer analisa a forma de civilização
moderna em que vivemos e faz referência às repercussões do predomínio da técnica na vida humana:
“Se é possível aprender e calcular relações abstratas entre condições iniciais e efeitos finais, de maneira
tal, que a colocação de novas condições iniciais tenha um efeito previsível, então, efetivamente, através
da ciência, assim entendida, chega a hora da técnica. A antiga vinculação do fato artificialmente,
artesanalmente, seguindo modelos dados pela natureza, se transforma num ideal de construção, no
ideal de uma natureza realizada artificialmente, de acordo com a idéia. Isto é o que, em última instância,
provocou a forma de civilização moderna em que vivemos. O ideal de construção, que se encontrava já
no conceito de ciência, da mecânica, se converteu num monstruoso prolongamento do braço humano,
que é o que possibilitou as nossas máquinas, nossa reelaboração da natureza e nosso lançamento no
espaço. A coerência imanente deste contexto de construção metódica e de fabricação técnica influi de
uma dupla maneira: 1) A técnica está da mesma forma que o antigo artesanato, referida a um projeto
prévio. A vida econômica autóctone do mundo medieval ou de outras culturas superiores da
humanidade, impunha sempre ao esforço técnico a autoridade do consumidor. Obviamente isto foi
decisivo para a forma de trabalho da Antigüidade. Em troca, vemos, com nossos próprios olhos, como
em nossa civilização, progressivamente técnica, cada vez mais o artificial vai se erguendo ao nosso
redor como nova oferta, como um produto que desperta o consumo e novas necessidades. 2) O que
necessariamente se difunde através deste mundo é uma perda de flexibilidade no trato com o mundo.
Quem utiliza a técnica – e quem de nós não o faz? – se familiariza com seu funcionamento e, com ele,
através de uma renúncia primária de liberdade, no que diz respeito ao próprio poder-atuar, chega ao
gozo destas surpreendentes comodidades e alcances que a técnica moderna nos facilita. Com isso se
obscuressem duas coisas: Para quem se trabalha aqui? Até que ponto os rendimentos da técnica estão
a serviço da vida? A partir daí, delineia-se de uma nova maneira o problema que toda civilização tem
enfrentado, isto é, o problema da razão social. A tecnificação da natureza e do mundo natural, em torno,
se encontra sob o título de racionalização, desencantamento, desmitologização, eliminação de
correspondências antropológicas apressadas. Finalmente, a rentabilidade econômica, um novo motor de
uma transformação incessante em nossa civilização – e isto caracteriza a maturidade, ou, caso se
queira, a crise de nossa civilização – se converte em um poder social, cada vez mais forte. Só o século
XX é determinado através da técnica de uma maneira nova, na medida em que lentamente se processa
a passagem do poder técnico do domínio das forças naturais para a vida social. GADAMER, Hans-
Georg. A razão... op. cit. (nota 94), p. 42-43. (grifo nosso)
105
GRACIA, Diego. Fundamentación y enseñanza... op. cit. (nota 86), p. 15.