O professor precisa estar aberto a mudar, mas só isto não basta. Além das
amarras pessoais, existem as amarras institucionais. Os aspectos
constituintes da realidade da escola: a organização de tempo, espaço,
currículo, entre outros, podem dificultar o desenvolvimento de uma nova
prática pedagógica. No processo de ultrapassar o conhecido em busca do
novo, existem muitas idas e vindas. (Prado, 1996 apud Valente, 2003).
É preciso compreender que não apenas o professor em si deve estar
apto a mudanças, como também a realidade pedagógica institucional. O professor
precisa incorporar em suas ações a vontade de mudar a sociedade, torná-la mais
ética, transmitindo conhecimento e também se preocupando em formar cidadãos
críticos e politizados. Neste sentido, com muita propriedade, Rubem Alves expõe no
fragmento:
Que aconteceu aos tropeiros? Meu pai se consolou dizendo que, naquele
tempo, tropeiro era dono de empresa de transportes. O fato, entretanto, é
que o tropeiro desapareceu ou se meteu para além da correria do mundo
civilizado, onde a vida anda ao passo lento e tranqüilizante das batidas
quaternárias dos cascos no chão...
E aí comecei a pensar sobre o destino de outras profissões que foram
sumindo devagarinho. Nada parecido com aqueles que morrem de enfarte,
assustando todo mundo. Aconteceu com elas o que acontece com aqueles
velhinhos de quem a morte se esqueceu; e que vão aparecendo cada vez
menos na rua, e vão encolhendo, mirrando, sumindo, lembrados de quando
em vez pelos poucos amigos que lhes restam, até que todos morrem e o
velhinho fica, esquecido de todos.. .E quando morre e o enterro passa, cada
um olha para o outro e pergunta: "Mas quem era este?". Não foi assim que
aconteceu com aqueles médicos de antigamente, sem especialização, que
montavam a cavalo, atendiam parto, erisipela, prisão de ventre, pneumonia,
se assentavam para o almoço, quando não ficavam para pernoitar, e depois
eram padrinhos dos meninos e não tinham vergonha de acompanhar o
enterro? Também o boticário, um dos homens mais ilustres e lidos da
cidade, presença cívica certa ao lado do prefeito e do padre, pronto a
discursar quando o bacharel faltava, tendo sempre uma frase em latim para
ser citada na hora certa... E o boticário fazia suas poções, e a gente lavava,
em água quente, os vidros vazios em que ele iria pôr os seus remédios. E
me lembro também do tocador de realejo que desapareceu, eu penso,
porque com o barulho que se faz nas cidades, não há ninguém que ouça as
canções napolitanas que a maquineta tocava. E me lembro também do
destino triste do caixeiro-viajante, cujo progressivo crepúsculo e
irremediável solidão foram descritos por Arthur Miller, em A morte do
caixeiro-viajante.
Foi o tema que me deram "a formação do educador", que me fez passar de
tropeiros a caixeiros. Todas, profissões extintas ou em extinção.
Educadores, onde estarão? Em que covas terão se escondido?
Professores, há aos milhares. Mas professor é profissão, não é algo que se
define por dentro, por amor: Educador, ao contrário, não é profissão; é
vocação. E toda vocação nasce de um grande amor, de uma grande
esperança.
Profissões e vocações são como plantas. Vicejam e florescem em nichos
ecológicos, naquele conjunto precário de situações que as tornam possíveis
e - quem sabe? - necessárias. Destruído esse habitat, a vida vai se
encolhendo, murchando, fica triste, mirra, entra para o fundo da terra, até
sumir. (Alves, 1981)