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A principal razão, segundo SANTO (2001), para mais de setenta anos de discussão
acirrada sobre a questão fundiária, é a extrema concentração fundiária. Para ele o índice de
Gini
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ajuda a compreender esta situação. No caso brasileiro, o índice é de 0,84, sendo que na
Europa, a aplicação do mesmo coeficiente gera, como resultado, um índice em torno de 0,42.
Neste sentido, a estrutura agrária nacional foi sendo paulatinamente centralizada,
configurando novas relações entre o setor agrário e os setores industrias, que passavam a
integrar e internalizar o desenvolvimento de setores agroindustriais, determinando relações de
produção, cada vez mais, nos moldes da grande indústria capitalista: com elevados níveis de
produtividade, graças ao incremento tecnológico e altamente poupadora de mão-de-obra,
aumentando significativamente o exército de reserva na sociedade.
Para SANTO (2001), durante décadas, megapropriedades serviram mais como reserva de
valor e/ou para afirmação de poder político e econômico, do que para garantir produção e
produtividade, desconsiderando sua função social.
A Lei 4.504/64, conhecida como Estatuto da Terra, que há quarenta anos vem
buscando a valorização desse princípio, o que enfatiza a idéia de que o problema não está na
falta de legislação, mas na forma como ela vem sendo aplicada. Torna-se clara a evidência de
que os conflitos agrários existentes há muito tempo na estrutura deste país, só tenderam a se
aprofundar, ao longo do período em questão, o que exigiria do governo medidas eficazes para
atenuar os conflitos de terra, em todo o país
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.
O tema referente à posse e ao uso da terra é uma questão de poder político, além de
econômico, que remonta a algumas figuras históricas:
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Medida de concentração, aplicável à propriedade fundiária. O coeficiente de Gini é medido pela relação ou
fórmula geral,
n
G = 1 - ∑ (Y
i
+ Y
i-1
) (X
i
– X
i – 1
), sendo Xi, a porcentagem acumulada da população (proprietários de terra);
i = 1
Yi, a porcentagem acumulada de área; e n, o número de extratos de área. Aumentando a concentração da
propriedade fundiária, o índice ou coeficiente de Gini se aproximaria de 1 refletindo o aumento da concentração.
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Nos Estados Unidos, por exemplo, a questão da terra foi equacionada ao longo do século XIX, antes do
processo de industrialização do país. A enorme área no meio-norte, compreendendo os melhores solos, conhecida
como “corn belt”, teve uma ocupação baseada numa estruturação fundiária planejada. Glebas – com menos de
150 acres, foram vendidas a preços pouco mais que simbólicos, ao longo de uma grande faixa de terras, desde o
estado de Michigan até o Arkansas. A cada 5 Km, construía-se uma escola e uma igreja. Assim, todos tinham
acesso a essas duas atividades básicas de sua cultura, sem grande esforço de deslocamento. Mais tarde, as glebas
foram aumentando de tamanho, até chegar ao tamanho médio atual da ordem de 400 hectares, que é o mais
adequado para lavouras de grãos com equipamentos modernos. HENDERSEN (1996)