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ADOÇÃO DE ESTRATÉGIAS DE INOVAÇÃO: UM ESTUDO EM
EMPRESAS DE SOFTWARE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Luciana de Almeida Toldo
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Instituto COPPEAD de Administração
Mestrado em Administração
Orientador: Prof. Cesar Gonçalves Neto, Ph.D.
Rio de Janeiro - Brasil
2006
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ADOÇÃO DE ESTRATÉGIAS DE INOVAÇÃO:
UM ESTUDO EM EMPRESAS DE SOFTWARE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Luciana de Almeida Toldo
Dissertação submetida ao corpo docente do Instituto COPPEAD de Administração,
Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do grau de Mestre.
Aprovada por:
Prof. ______________________________ - Orientador
Cesar Gonçalves Neto, Ph.D. (COPPEAD, UFRJ)
Prof. ______________________________
Donaldo de Souza Dias, D.Sc. (COPPEAD, UFRJ)
Prof
a
. ______________________________
Cristiane Machado Quental, D.Sc. (FIOCRUZ)
Rio de Janeiro - Brasil
2006
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Ficha Cartalográfica
Toldo, Luciana de Almeida
Adoção de Estratégias de Inovação: Um Estudo em Empresas de
Software do Estado do Rio de Janeiro/ Luciana de Almeida Toldo. Rio de
Janeiro, 2006.
126 f.
Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade Federal do Rio
de Janeiro - UFRJ, Instituto COPPEAD de Administração, 2006.
Orientador: Cesar Gonçalves Neto
1. Gestão da inovação. 2. Softwares. 3. Administração - Teses. I. Neto,
Cesar Gonçalves (Orient.). II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto
COPPEAD de Administração. III. Título
Aos meus pais
Ao meu grande amor, Kiko
AGRADECIMENTOS
Essa pesquisa é a conclusão de mais de dois anos de caminhada. Estou certa de
que sem a ajuda de diversas pessoas esse trabalho não seria possível.
Agradeço aos meus pais pela confiança cega que sempre depositaram em mim, pelo
incentivo, pelo carinho e pelo colo sempre bem vindo.
Ao Kiko pelo amor, companhia, paciência, doação, pelos ótimos momentos que me
proporcionou durante nossa estada no Rio e por seus finais de semana perdidos.
Aos meus irmãos, agradeço pela presença constante em minha vida.
Agradeço aos meus familiares, ao Renê e à Regina, minha nova família, e aos
amigos pelo apoio e incentivo que sempre busquei.
À melhor turma do COPPEAD, amigos presentes até nos momentos inesperados,
agradeço por receberem tão bem essa mineira “cabreira”. Adoro vocês.
Agradeço ao meu orientador, professor Cesar, pelas dicas e orientação, mesmo à
distância.
À professora Ursula Wetzel sou imensamente grata por ser presença marcante no
decorrer do curso, por seus ensinamentos, conversas descompromissadas e por
tornar essa caminhada mais divertida.
Agradeço às “meninas” da coordenação e da biblioteca, pela disponibilidade e
paciência.
Finalmente, agradeço às empresas respondentes da pesquisa, que tornaram esse
trabalho possível.
RESUMO
TOLDO, Luciana de Almeida. Adoção de Estratégias de Inovação: um estudo em
empresas de software do Estado do Rio de Janeiro. Orientador: César Gonçalves
Neto. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2006. Dissertação (Mestrado em
Administração)
A inclusão formal da inovação nos modelos gerenciais reflete sua crescente
importância como diferencial competitivo, tanto no ambiente empresarial, como na
literatura gerencial. O objetivo deste estudo exploratório foi verificar a importância da
inovação tecnológica nas estratégias empresariais adotadas no setor de software do
Estado do Rio de Janeiro, bem como, baseados no modelo proposto por Freeman
(1997), no livro The Economics of Industrial Innovation’, explorar quais as
estratégias de inovação tecnológica adotadas neste setor. O setor pesquisado foi
escolhido por suas características (alta velocidade na introdução de inovações
técnicas e no desenvolvimento de novos produtos ou no aperfeiçoamento dos
existentes; a competição acirrada; o baixo investimento em capital fixo; e a
capacidade criativa e intelectual da mão-de-obra), que indicam o papel relevante da
inovação na organização. Utilizou-se, para tanto, a aplicação de questionário auto-
administrado e composto por perguntas objetivas e, a partir daí, teceu-se inferências
estatísticas. Os resultados indicam que as empresas pesquisadas, apesar de
apresentarem perfis diferentes, adotam estratégias de inovação semelhantes. Pôde-
se concluir que os resultados são decorrentes do fato de estar a indústria de
software ainda em desenvolvimento, ou à falta de políticas que incentivem o
investimento na busca de uma estratégia que vise a liderança no mercado.
ABSTRACT
TOLDO, Luciana de Almeida. Adoção de Estratégias de Inovação: um estudo em
empresas de software do Estado do Rio de Janeiro. Orientador: César Gonçalves
Neto. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2006. Dissertação (Mestrado em
Administração)
The formal inclusion of the innovation in the management models reflects its
increasing importance as competitive differential in the enterprise environment as
well as in management literature. The objective of this investigative study was to
verify the importance of the technological innovation in the adopted enterprise
strategies in the software sector of the State of Rio De Janeiro, as well as to explore
which the adopted strategies of technological innovation in this sector are, based in
the model considered by Freeman (1997), in the book `The Economics of Industrial
Innovation’. The searched sector was chosen by its characteristics such as high
speed in the introduction of technical innovations and the development of new
products or the bettering of the existing ones; the incited competition; the low
investment in preset capital; and the creative and intellectual capacity of the
manpower. These characteristics indicate the outstanding paper of the innovation in
the organization. In order to obtain the best result, an auto-managed questionnaire
consisting of objective questions was applied, from which statistical inferences were
drawn. The results indicate that the searched companies, despite the different
profiles, adopt similar strategies of innovation. It could be concluded that these
results are due to the fact that the industry of software is still in development, or to
the lack of policies which stimulate the investment in the search of a strategy that
aims at the leadership in the market
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURAS
Figura 1: Modelo das Curvas-S pág. 23
Figura 2: Roteiro de determinação de estratégias pág. 28
Figura 3: Elementos de estrutura industrial pág. 31
Figura 4: Dendograma pág. 98
Figura 5: Histograma das respostas (perguntas 20 a 25) pág. 117
Figura 6: Histograma das respostas (perguntas 26 a 33) pág. 118
Figura 7: Histograma das respostas (perguntas 34 a 41) pág. 119
Figura 8: Histograma das respostas (perguntas 42 a 47) pág. 120
Figura 9: Apresentação do questionário pág. 121
Figura 10: Questionário (parte 1 de 9) pág. 122
Figura 11: Questionário (parte 2 de 9) pág. 122
Figura 12: Questionário (parte 3 de 9) pág. 123
Figura 13: Questionário (parte 4 de 9) pág. 123
Figura 14: Questionário (parte 5 de 9) pág. 124
Figura 15: Questionário (parte 6 de 9) pág. 124
Figura 16: Questionário (parte 7 de 9) pág. 125
Figura 17: Questionário (parte 8 de 9) pág. 125
Figura 18: Questionário (parte 9 de 9) pág. 126
GRÁFICO
Gráfico 1: Investimentos no Setor de Informática Brasileiro
(em US$ milhões) pág. 63
QUADROS
Quadro 1: Grau de Incerteza Associado aos Diversos Tipos
de Inovação pág. 40
Quadro 2: Estratégias da Firma pág. 43
Quadro 3: Modelos de Negócios na Indústria de Software pág. 53
Quadro 4: Área de Atuação das Empresas de Software do
Mercado Brasileiro g. 60
Quadro 5: Tipo de Resposta da Terceira parte do Questionário pág. 87
Quadro 6: Matriz Fatorial Rotacionada pág. 92
Quadro 7: Resumo das Respostas de cada Fator pág. 94
TABELAS
Tabela 1: Evolução do Faturamento da Indústria Brasileira de
Informática (1979-1985) pág. 55
Tabela 2: Evolução do Mercado Brasileiro de Software
(1993-1996) – em US$ bilhões pág. 57
Tabela 3: Comercialização Bruta do Setor de Informática
Brasileiro (1995-2000) – em US$ bilhões pág. 58
Tabela 4: A Indústria de Tecnologia de Informação no Brasil pág. 58
Tabela 5: Investimentos em P&D sobre a Comercialização
Bruta – valores percentuais pág. 60
Tabela 6: Distribuição por função das perguntas da terceira parte
do questionário pág. 78
Tabela 7: Tempo de atuação no mercado pág. 80
Tabela 8: Áreas de atuação da empresa (múltiplas respostas) pág. 80
Tabela 9: Faturamento bruto em 2004 (em R$ 1,00) pág. 81
Tabela 10: Número de profissionais vinculados à empresa pág. 81
Tabela 11: Funcionários responsáveis pelo desenvolvimento
de produtos g. 82
Tabela 12: Número de softwares registrados pela empresa pág. 82
Tabela 13: Fonte de idéias para o desenvolvimento de produtos pág. 83
Tabela 14: Tipos de softwares desenvolvidos pág. 83
Tabela 15: Participação em feiras e/ ou congressos pág. 83
Tabela 16: Utilização de fontes de financiamento ou fomento
Governamental pág. 83
Tabela 17: Importância das funções inovadora na visão dos
Respondentes pág. 85
Tabela 18: “Comunalidade” das Variáveis Originais g. 89
Tabela 19: Autovalores, Percentual de Variância e
Percentual de Variância Acumulada pág. 90
Tabela 20: Alfas de Cronbach dos Fatores pág. 92
Tabela 21: Distribuição das Empresas por Clusters pág. 99
Tabela 22: Resumo das Respostas da Terceira Parte do Questionário pág. 101
Tabela 23: Índice Médio de Importância dada às Atividades
Realizadas pelas Empresas pág. 102
Tabela 24: Anos no Mercado pág. 112
Tabela 25: Número de Profissionais pág. 112
Tabela 26: Profissionais Responsáveis pelo Desenvolvimento de
Produtos pág. 113
Tabela 27: Registros de Software pág. 113
Tabela 28: Utilização de Fontes de Financiamento e Fomento
Governamental pág. 113
Tabela 29: Quantidade Média de Participação de Feiras em
Congressos pág. 114
Tabela 30: Principal Fonte de Idéias pág. 114
Tabela 31: Tipos de Softwares Desenvolvidos pág. 114
Tabela 32: Índice Médio de Concordância com as Afirmativas da
Terceira Parte do Questionário (por cluster) pág. 115
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 13
1.1 Tema e Problema da Pesquisa 13
1.2 Pergunta da Pesquisa 14
1.3 Objetivo do Estudo 14
1.4 Justificativa 14
1.5 Delimitação do Estudo 16
1.6 Relevância do Estudo 17
1.7 Estrutura do Estudo 18
1.8 Definição de Termos 19
1.8.1 Tecnologia 19
1.8.2 Inovação 21
1.8.3 Pesquisa e Desenvolvimento 24
2 ESTRATÉGIA E INOVAÇÃO 26
2.1 Estratégia Empresarial 27
2.1.1 Duas Visões sobre Estratégia 28
2.1.1.1 Adaptação ou Posicionamento 29
2.1.1.2 Movimento ou Intenção 32
2.2 A Importância da Inovação para a Empresa 33
2.2.1 O Papel do P&D e de Outras Atividades Tecnológicas 35
2.2.2 Riscos e Incertezas do Processo Inovativo 38
2.3 Capacitações Dinâmicas 40
2.3.1 Estratégias de Inovação 42
2.3.1.1 As Funções Técnicas e Científicas Relacionadas à P&D 45
3 A INDÚSTRIA DE SOFTWARE 48
3.1 Modelos de Negócios na Indústria de Software 50
3.2 A Evolução da Indústria de Software Brasileira 54
3.2.1 Panorama Atual do Mercado Brasileiro de Software 60
3.3 Software e Inovação 61
4. METODOLOGIA 65
4.1 Tipo de Pesquisa 65
4.1.1 Survey 66
4.2 A Escolha do Setor a Pesquisar 68
4.3 Coleta de Dados 69
4.3.1 Instrumento 69
4.3.1.1 Construção do Questionário 71
5 RESULTADOS DA PESQUISA 79
5.1 Análise Descritiva 79
5.1.1 Caracterização da Amostra 79
5.1.2 Caracterização da Capacidade de Inovação das Empresas
Pesquisadas 81
5.2 Análise Fatorial 86
5.2.1 Discussão Metodológica e Definição dos Fatores 86
5.2.2 Interpretação dos Fatores 93
5.3 Análise de Clusters 95
5.3.1 Discussão Metodológica 95
5.3.2 Clusters Obtidos 96
5.4 Conclusões sobre os Resultados da Pesquisa 100
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 104
6.1 Conclusões 104
6.2 Limitações da Pesquisa 105
6.3 Sugestões para estudos futuros 106
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 107
8 ANEXOS
8.1 Anexo I: Análise Descritiva dos Clusters 112
8.2 Anexo II: Análise de Cluster para a Terceira Parte do Questionário 115
8.3 Anexo III: Histograma das Respostas às Questões 20 a 47 117
8.4 Anexo IV: Questionário 121
13
1 INTRODUÇÃO
1.1 Tema e Problema da Pesquisa
A inclusão formal da inovação nos modelos gerenciais reflete sua crescente
importância como diferencial competitivo, tanto no ambiente empresarial, como na
literatura gerencial.
As questões relativas aos resultados econômicos advindos do processo de
inovação tecnológica foram abordadas inicialmente nos trabalhos de Schumpeter.
Outros autores, inspirados por suas idéias, iniciaram um processo de melhor
explicitação das questões referentes ao processo de inovação e destacaram seu
papel chave na busca da competitividade.
Para Porter, por exemplo, as empresas atingem êxito nos mercados
internacionais através das inovações:
As empresas atingem a vantagem competitiva através das iniciativas de
inovação. Elas abordam a inovação no seu sentido mais amplo
abrangendo novas tecnologias e novas maneiras de fazer as coisas
(PORTER, 1989).
A capacidade inovativa é fator crítico para a indústria de software, bem como
para todas as outras atividades das Tecnologias de Informação e Comunicação
(TICs). A expressão de uma idéia inovadora é muitas vezes o ponto de partida para
o nascimento de uma empresa de software.
As taxas de inovação deste setor (considerado “não tradicional”) são bem
mais elevadas que a média do país, igualando-se, muitas vezes, à de países
considerados líderes nessa indústria.
14
Essa dissertação tem o propósito de verificar a orientação estratégica adotada
pelo segmento de software, assim como levantar questões relacionadas, por
exemplo, ao posicionamento e à influência para o lançamento de novos produtos.
1.2 Pergunta da Pesquisa
A pergunta deste estudo pode ser expressa por: até que ponto as estratégias
empresariais no setor de software estão focadas na inovação tecnológica?
A partir da pergunta principal surgem outras questões como: realmente
uma estratégia de inovação dentro das empresas desse segmento? Qual (ou quais)
a(s) estratégia(s) de inovação tecnológica(s) adotada nessa indústria?
1.3 Objetivo do Estudo
O objetivo do presente estudo é verificar a importância da inovação
tecnológica nas estratégias empresariais adotadas no setor de software, bem como,
baseados na teoria de Freeman (1997), explorar quais as estratégias de inovação
tecnológica adotadas neste setor.
1.4 Justificativa
A inovação tem sido objeto de estudo freqüente, por se tratar de fator
fundamental nas estratégias organizacionais. A introdução de inovações pode trazer
resultados financeiros e ganho de vantagem competitiva.
15
A indústria de software está no centro do atual processo de transformação
tecno-econômica que alguns identificam como sendo a evolução de uma economia
baseada no conhecimento ou na informação. Assim sendo, deve-se considerar o
papel chave que o processo inovativo tem na construção deste segmento.
O desenvolvimento da indústria de software destaca-se dentre as demais
atividades do setor de tecnologia de informática pelo seu extraordinário crescimento.
O software está presente em virtualmente todos os setores da economia, sendo um
determinante geral da produtividade e da eficiência e, em muitos casos, sendo o
principal determinante.
As taxas de crescimento do segmento apresentam comportamento destacado
dentre as demais atividades que compõem as Tecnologias de Informação e
Comunicação. Segundo dados da OCDE, o mercado mundial de software passou de
US$ 90 bilhões em 1997 para, aproximadamente, US$ 300 bilhões em 2001, e a
previsão é que este atinja a cifra de US$ 900 bilhões no ano de 2008. (ROSELINO,
2003).
Apesar do franco predomínio de empresas oriundas de países centrais neste
mercado, alguns países de economia periférica vêm conquistando posições
importantes neste mercado com diferentes formas de inserção. O Brasil destaca-se
nesse cenário com estimativa de crescimento para 2004 de 7,1%, contra 6,9%
mundialmente no mesmo período (Computerworld; Softex,2004).
Além disso, segundo o IDG Now! de 16 de novembro de 2004 (Softex, 2004),
enquanto a taxa de inovação da indústria nacional é de 31,5%, muito abaixo de
países como a Alemanha (60%), França (40%) e Portugal (42%), setores "não-
tradicionais" apresentam taxas bem diferentes: informática (69%) e eletrônica e
16
telecomunicações (63%). Para os chamados setores "tradicionais", a pesquisa
registrou apenas 29%.
Apesar de números o significativos sobre os setores “não-tradicionais”,
percebe-se a precariedade de dados específicos sobre a indústria de software, bem
como a pouca produção acadêmica a respeito do assunto. Almeja-se, com esse
trabalho, verificar alguns aspectos relativos à importância das estratégias de
inovação para as empresas deste segmento.
1.5 Delimitação do Estudo
O presente estudo foi desenvolvido a partir da aplicação de questionários no
estado do Rio de Janeiro. Considera-se um universo significativo e acredita-se ser
possível a ampliação dos resultados para os demais estados brasileiros por tratar-se
de uma indústria em expansão em todo o país e que exige a necessidade de
desenvolver competências comuns. No entanto, a aplicação dos resultados em
outros países fica sujeita a uma análise de viabilidade das premissas utilizadas na
formulação dos questionários.
Além disso, por ser a estratégia algo muito particular à organização e à
administração, o estudo não tem o intuito de enumerar todas as estratégias
possíveis ou de criar modelos. Adotou-se, para esse trabalho, o modelo proposto por
Freeman (1997), que identifica seis possíveis estratégias de inovação dentro da
organização. É pressuposto dessa pesquisa que a classificação proposta pelo autor
é aplicável também ao setor de software.
Devidos às características particulares do setor grande expansão, facilidade
de entrada de novos concorrentes, mudança constante dos líderes de mercado de
17
determinados segmentos etc. pode-se esperar que alguns dos resultados aqui
obtidos não sejam aplicáveis no futuro, sendo útil, sim, como base para novas
pesquisas.
Outro ponto a ser colocado é que a distinção entre “novidade tecnológica” e
outras melhorias reside, em grande parte, nas características de desempenho dos
produtos e processos envolvidos. Portanto, sua aplicabilidade na prática será fruto
de tais características e de seu grau de novidade como fatores determinantes nas
vendas da empresa/indústria em questão. Cabe destacar, no entanto, que é mais
fácil de entender e aplicar essa relação a bens e serviços que são trocados entre
empresas (particularmente manufatureiras de alta tecnologia), do que a bens e
serviços de consumo. (OECD, 1997).
Assim, sendo a inovação um conceito amplo, o foco do conceito para a
presente pesquisa estará no desenvolvimento de novos produtos. Essa simplificação
foi feita com o objetivo de restringir a amostra (dado o universo ao qual se teve
acesso) e de simplificar o questionário. Isto significa dizer que inovações em
processos de fabricação ou organizacionais não farão parte do escopo desta
pesquisa.
1.6 Relevância do Estudo
Por ser a inovação tecnológica um importante elemento na busca de
competitividade, entender seu lugar e Identificar as estratégias de inovação
adotadas nas empresas de software brasileiras pode contribuir para um melhor
entendimento da estrutura desse setor e auxiliar nas comparações e aprendizado
com os líderes mundiais. Mais além, por não ser essa indústria representada por
18
uma cadeia própria, mas por estar presente em várias cadeias de negócios, o foco
nas estratégias de inovação pode contribuir para sustentar a vantagem competitiva
dos concorrentes brasileiros no mercado interno e em nível global.
Os resultados da presente pesquisa podem servir, adicionalmente, de base
para a formulação de políticas públicas de fomento e incentivo à inovação
tecnológica no setor de software ou sobre os quais o mesmo tem influência.
1.7 Estrutura do Estudo
Este trabalho foi estruturado em 6 partes. No primeiro capítulo é dada uma
pequena introdução ao assunto onde se define o tema da dissertação e, em
seguida, são apresentados os objetivos do trabalho, as questões a serem
respondidas, a delimitação do estudo e a definição de termos que serão utilizados
ao longo desta pesquisa e que têm conceitos, por vezes, controversos ou não
recorrentes.
O segundo capítulo relaciona Inovação e a estratégia empresarial. As
colocações apresentadas o a base conceitual deste estudo e servirão para
contextualizar o trabalho de Freeman (1997), que será utilizado para o
desenvolvimento dessa pesquisa.
O terceiro capítulo trata do setor escolhido para a pesquisa. Neste capítulo
procurou-se descrever um breve histórico da indústria do software no Brasil e no
mundo e expor um dos modelos de negócios utilizados no setor. Por último faz-se
uma análise de elementos que demonstram a importância da inovação para o
segmento.
19
O quarto capítulo descreve a metodologia geral do estudo (apresentando o
tipo de pesquisa), explicita como foi realizada a coleta de dados e indica as
limitações apresentadas pelo tipo de análise utilizada.
O quinto capítulo, cerne da dissertação, mostra os resultados obtidos com a
pesquisa e as análises estatísticas realizadas.
O sexto capítulo traz a conclusão da pesquisa e aponta algumas limitações e
sugestões para estudos futuros.
Destaca-se, por fim, que alguns dados de apoio à análise estatística e o
questionário utilizado para a pesquisa encontram-se em anexo.
1.8 Definição de Termos
Para um melhor entendimento do presente estudo deve-se compreender o
significado de alguns termos muito recorrentes na literatura sobre inovação
tecnológica. Alguns destes termos possuem muitas definições ou interpretações,
fazendo-se necessária uma pequena revisão de literatura sobre eles.
Assim, segue a definição de tecnologia, P&D e inovação.
1.8.1 Tecnologia
A palavra tecnologia tem várias definições e os conceitos que a envolvem são
tão amplos quanto as áreas que dela se utilizam. Ela pode denotar metodologia de
trabalho, equipamentos utilizados na produção, conhecimento utilizado na execução
de tarefas (confundido-se, aqui, com o conceito de cnica), conceitos científicos
aplicados e muitos outros.
20
Etimologicamente a palavra Tecnologia é a conjunção dos termos tecn(o) e
lógia, cuja origem provém da Grécia antiga. O termo tecn(o) surge do grego techno,
de techne (técnica), expressando a idéia de arte ou habilidade. No entanto a partir
do século XIX, na linguagem erudita surgiu o termo lógia que deriva do grego log(o),
significando palavra, estudo, tratamento ou conhecimento (CUNHA, 1986).
O Dicionário Aurélio traz a seguinte definição: ”o conjunto de conhecimentos,
especialmente princípios científicos, que se aplicam a um determinado ramo de
atividade” (FERREIRA, 1988). Este conceito indica a visão de tecnologia como
ciência aplicada.
Essa relação entre ciência e tecnologia é bastante citada por diversos
autores. Rosenberg (1990), por exemplo, sugere que o desenvolvimento do
conhecimento e da tecnologia é resultado de investimentos de longo prazo
realizados através de pesquisa científica realizada tanto por instituições públicas
quanto por privadas. No caso de organizações privadas o intuito seria a obtenção de
vantagem competitiva pela utilização dessas tecnologias.
Brooks (1994), utiliza-se da metáfora das duas fitas de DNA para comparar
ciência e tecnologia. Para ele, embora elas possam existir independentemente,
se tornam realmente funcionais quando unidas.
Adicionalmente, Brooks (1994) insere mais um elemento na relação anterior:
para ele, ciência, tecnologia e inovação estão intimamente relacionadas. O conceito
de inovação será tratado com mais detalhes a seguir.
21
1.8.2 Inovação
Apesar de podermos assumir que o lançamento de novos produtos pode ser
um bom indicador de inovação, ele não é suficiente para mensurar todos os
aspectos envolvidos em sua geração, uma vez que desconsidera os tipos de
inovações, quais as competências que tiveram que ser desenvolvidas e qual o seu
impacto no pacote de valor oferecido ao cliente. Muitas definições foram atribuídas
ao termo inovação e algumas delas são apresentadas a seguir.
Na abordagem teórica formulada por Schumpeter (1985), a inovação é o
elemento principal da dinâmica capitalista; teria ela um papel central na explicação
do desempenho econômico, sendo um fator essencial na busca da vantagem
competitiva. Seu desenvolvimento se explicaria a partir de um fluxo circular do
sistema econômico, representado por uma economia estacionária, sem alterações
substanciais e ocorreria, portanto, com a ruptura desse fluxo através de grandes
inovações tecnológicas que ocorrem descontinuamente ao longo do tempo.
Machado e Moraes (2002, apud JUNIOR, VASCONCELLOS & DI SERIO,
2005) entendem a inovação como algo com funções comerciais. Assim, uma
invenção será reconhecida como inovação se aceita socialmente como
comercialmente útil. Uma inovação pode ser um novo produto, um novo processo
produtivo, novos comportamentos de mercado, uso de novas matérias primas ou
uma nova forma de organização.
Dentro deste conceito, Junior, Vasconcellos & Di Serio (2005) identificam três
características básicas que são fundamentais quando se considera a inovação no
contexto empresarial:
22
- Novidade: deve ser novo para a organização, para o ramo de negócios, para a
comunidade ou para o mercado como um todo.
- Concretude: deve necessariamente ter sido colocada em prática.
- Utilidade: Deverá ter melhorado o valor percebido pelo cliente quando interage
com a empresa.
Alguns desses elementos o encontrados também na teoria de Schumpeter
(1985). Para ele a invenção significa apenas a concretização de uma idéia ou de um
projeto sem a preocupação com a viabilidade técnico-econômica, enquanto que a
inovação, por sua vez, é aplicada aos produtos ou processos e é comercializada ou
incorporada à produção, gerando dividendos econômicos.
A inovação também é importante quando se pensa em associar tecnologia
com competitividade. Conforme enunciado por Ribault et al. (1991, apud Lemos,
1998), como não existe ligação direta entre estas duas variáveis, a inovação seria
um elemento para o alcance de vantagem competitiva.
Além dessas observações, é relevante descrever a classificação que trata do
grau de ruptura da inovação para melhor entendimento do conceito. Assim, quanto
ao grau de ruptura, a inovação pode ser classificada em radical e incremental. Para
compreensão destes dois tipos de fenômeno, Foster (1998) apresenta o Modelo das
Curvas-S, que sistematiza a diferença existente entre os dois tipos de inovação e é
uma função entre o esforço feito para melhorar um produto ou processo e os
resultados que se obtém através dele.
Segundo esta teoria, quando da introdução de uma tecnologia é necessário
um grande esforço para melhorar muito pouco o desempenho do produto. Com a
evolução, entra-se em uma trajetória onde os esforços são recompensados com um
23
grande aumento de desempenho. Por fim, quando se chega ao limite daquela
tecnologia, necessita-se novamente de grande esforço e investimento para se
conseguir pequeno aumento de desempenho. Este conceito é apresentado na
Figura 1.
Figura 1: Modelo das Curvas-S
Fonte: adaptado de Foster, 1998, p.98
Assim, pode-se dizer que, de modo geral, as inovações incrementais são
representadas por melhorias sucessivas nos produtos ou processos e são resultados
de invenções ou aperfeiçoamentos ocorridos durante o processo produtivo,
enquanto que as inovações radicais são representadas por algo novo, pela
introdução de um produto, processo ou serviço inédito. As inovações radicais são
quase sempre resultado de esforços de pesquisa e desenvolvimento, feitos pela
própria empresa ou por outros.
Para fins desse trabalho, não se considerou apenas o conceito econômico da
inovação, mas os conceitos mais amplos (considerando-se, inclusive, inovações
incrementais).
24
1.8.3 Pesquisa e Desenvolvimento
P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) é definido por Foster (1998) como ações
que trazem o progresso cnico para a empresa criando, desta forma, o potencial
para alcançar o lucro. Por essa definição pode-se observar que as ações de P&D
não podem ser consideradas de forma isolada dentro da organização por se tratar
de um potencial, e não de resultados finais.
Nesse contexto, Foster (1998) coloca P&D como aquele que deve conhecer
as alternativas técnicas básicas e seus limites, o lugar de cada concorrente na curva
de desempenho (Curva-S) e o que pode ser feito para melhorar o desempenho da
organização frente a esses fatores.
Para o Manual Frascati da OECD (2002) “Pesquisa e Desenvolvimento
compreende a realização de trabalho criativo e sistemático com o objetivo do
aumento do estoque de conhecimento, inclusive sobre o homem, cultura e
sociedade, e o uso deste em novas aplicações”.
Segundo esse Manual, o termo P&D abrange três atividades: pesquisa
básica, pesquisa aplicada e desenvolvimento experimental. Primeiramente, define-se
pesquisa básica como a realização de esforço teórico e experimental objetivando a
aquisição de novos conhecimentos (descoberta de fenômenos e observação dos
fatos), sem ter em vista uma aplicação direta para os mesmos. A pesquisa
aplicada, apesar de também compreender a realização de uma investigação
visando a busca pelo conhecimento, reconhece um objetivo específico para a
realização do esforço de pesquisa. Finalmente, entende-se por desenvolvimento
experimental um trabalho sistemático, baseado em um conhecimento prévio
(adquirido da pesquisa ou empiricamente), e através do qual são produzidos novos
25
materiais, produtos ou ferramentas para a instalação de novos processos, sistemas
ou serviços (ou aprimoramento daqueles já produzidos ou instalados).
O manual Frascati acrescenta ainda que, tanto o P&D formal, realizado em
centros de P&D, quanto o P&D ocasional, desenvolvidos em outras unidades ou
departamentos, estão incluídos no conceito de Pesquisa & Desenvolvimento.
Complementarmente, conforme apresentado por Freeman (1997, apud
CASTRO, 2004), pode-se utilizar uma visão mais ampla para a definição de P&D,
onde este abrangeria atividades relacionadas, como pesquisa sica, pesquisa
aplicada, desenvolvimento experimental, engenharia de projeto, controle de
qualidade da produção, serviços técnicos, registro de patentes, informações técnicas
e científicas, educação e treinamento e previsões de longo prazo e planejamento de
produto.
Todas as afirmações e definições aqui expostas serão mais amplamente
usadas no decorrer deste trabalho como forma de dar maior sustentação teórica aos
estudos sobre estratégia de inovação de Freeman.
26
2 ESTRATÉGIA E INOVAÇÃO
O papel desempenhado pela tecnologia nas questões políticas, econômicas e
empresariais evidencia-se na proporção direta de sua sofisticação e seu domínio.
Por isso, tratar a tecnologia no âmbito das empresas requer um entendimento
abrangente de seu significado e importância, a fim de que as estratégias
empresariais, como as concernentes à inovação, possam lograr resultados (inclusive
econômicos) satisfatórios (FIGUEIREDO, s/d).
No entanto, apesar da compreensão econômica do impacto da inovação ser
um ponto importante para entender sua relevância, Freeman (1997) demonstra a
insuficiência da teoria econômica clássica em explicar o comportamento das
empresas em todos os aspectos que dizem respeito à inovação. Como esta é central
para a sobrevivência da empresa (“não inovar é morrer”) é necessário recorrer a
outros meios para compreender esse comportamento. Os estudos sobre estratégia
apontam diversos elementos que determinam o futuro da empresa e a inovação
aparece como elemento chave em muito desses estudos.
Este capítulo tem por objetivo relacionar estes dois conceitos (inovação e
estratégia) por meio de um apanhado teórico, com o objetivo de elucidar conceitos
importantes para o entendimento do conteúdo. Ao final do capítulo apresenta-se o
modelo proposto por Freeman (1997) para a identificação das estratégias de
inovação de uma organização.
27
2.1 Estratégia Empresarial
Em dicionários, a primeira definição de estratégia está geralmente relacionada
à arte militar de planejar e executar movimentos e operações de tropas, navios e/ou
aviões, visando alcançar ou manter posições relativas e potenciais bélicos favoráveis
a futuras ações táticas sobre determinados objetivos.
No contexto empresarial, Nicolau (2001) aponta que os diversos conceitos de
estratégia difundidos apresentam pontos de convergência e divergência. Os pontos
em comum nesses conceitos o a inseparabilidade entre organização e o meio
ambiente e a preocupação e foco no futuro. Além destes aspectos mais gerais, os
pontos de convergência são reduzidos.
Os principais pontos de controvérsias dizem respeito à relação entre objetivos
e estratégias. Alguns autores separam a definição dos objetivos da formulação de
estratégias. Estratégia é, neste caso, a principal ligação entre políticas operacionais
e objetivos, isto é, compreende a escolha dos meios e articulação de recursos para
atingir os fins desejados. Um ponto de vista mais abrangente é partilhado por outros
autores que consideram os objetivos inseparáveis da definição de políticas e das
ações organizadas com vista a atingi-los. Neste sentido, estratégia é a determinação
dos objetivos de longo prazo, das políticas e ações adequadas para atingi-los e a
correspondente alocação de recursos, isto é, a estratégia compreende a definição
tanto dos objetivos, quanto dos meios. (NICOLAU, 2001).
Bethlem (2004) propõe um modelo de determinação de estratégias que se
enquadra dentro do primeiro conceito. Para ele, depois de definida a visão e as
previsões para a organização (futuro desejado), o reexaminadas as condições
ambientais e os recursos disponíveis. Assim, são definidas as estratégias que vão
28
fixar o futuro da organização. A estratégia é, nesse sentido, o caminho que a
empresa deve seguir para alcançar os objetivos propostos. O roteiro proposto por
Bethlem é apresentado na figura 2.
Figura 2: Roteiro de Determinação de Estratégias
Fonte: BETHLEM, 2004, p.31
2.1.1 Duas Visões sobre Estratégia
António (2002) traçou uma divisão no estudo da estratégia que pode ser
entendida por dois momentos principais: o momento do posicionamento e o
momento do movimento. No primeiro momento a estratégia organizacional é
associada a princípios de adaptação e posicionamento. Neste caso, a estratégia
pressupõe uma adaptação da empresa ao meio ambiente para, a partir de então,
adquirir alguma vantagem que lhe permita assegurar uma posição dominante e
O que a empresa é?
O que a empresa faz?
Como a empresa está?
AVALI
AÇÃO DOS RECURSOS
AVALIAÇÃO DAS CIRCUNSTÂNCIAS
Visão da situação
atual da empresa
PREVISÕES
O que vem por aí?
Como vai afetar a empresa
Desafios a responder
Prioridades
Desejos e
aspirações da
estrutura do
poder
Desejos e
aspirações do
pessoal
Desejos e
aspirações da
estrutura do
poder
29
realizar uma manutenção desta posição. Este momento inicia-se com a análise das
oportunidades, ameaças, pontos fortes e fraquezas (a análise SWOT) é nesta
análise que se baseia a reflexão sobre as vantagens competitivas que culminaram
com os trabalhos de Michael Porter. Já o segundo momento compreende uma
ruptura, colocando em evidência uma estratégia centrada na intenção e no
movimento, visando essencialmente à transformação permanente do jogo
concorrencial e da própria empresa. (ANTÓNIO, 2002)
Além destas duas visões, Mintzberg (2000) propõe muitas outras que não
serão detalhadas aqui. Para efeitos deste trabalho, cabe identificar a mudança de
postura analítica do estudo da estratégia para entender o papel da inovação na
estratégia da empresa.
2.1.1.1 Adaptação ou Posicionamento
Mintzberg (2000) identifica esse momento do planejamento estratégico como
a “Escola do Posicionamento” e identifica os autores que construíram a teoria
existente. A chave do posicionamento estratégico seria o uso de análise para
identificar as relações corretas. Esse processo controlado e consciente produz
estratégias deliberadas que devem ser tornadas explícitas antes de sua
implementação formal, ou seja, firma-se a noção de que a estratégia precede a
estrutura.
Dos diversos estudos que surgiram da visão da estratégia como um processo
adaptativo, identifica-se dois conceitos chave: a análise SWOT e a vantagem
competitiva.
30
De acordo com Certo e Peter (1993), a análise SWOT considera que se deve
definir cuidadosamente a atividade (negócio) da empresa, identificar as
oportunidades e ameaças do meio envolvente para, em seguida, posicionar a
empresa em termos de forças e fraquezas. Para os autores, o propósito desta
análise é ”avaliar o ambiente organizacional de modo que a administração possa
reagir adequadamente e aumentar o sucesso organizacional”. Logo, pode-se
observar a grande importância do ambiente neste processo de adequação
estratégica.
A partir da observação do ambiente no qual a empresa está inserida, Michael
Porter propõe o modelo das cinco forças que demonstra a preocupação na
manutenção de uma vantagem competitiva. O modelo desenvolvido pelo autor é
apresentado na figura 3.
Mintzberg (2000) questiona o caráter inercial do modelo e acrescenta a ele
um elemento dinâmico, colocando o processo de decisão estratégica como algo
semi-estruturado e mutável. Assim, além das intenções planejadas e plenamente
realizadas (estratégias deliberadas) e das não-realizadas (estratégias irrealizadas),
uma terceira possibilidade denominada estratégia emergente. Esta última
compreende um padrão realizado, mas que não era expressamente pretendido e
que pode convergir, com o tempo, para algum tipo de consistência ou padrão. A
estratégia não pode, portanto, ser definida em termos estáticos, pois forças,
fraquezas, oportunidades e ameaças são relativas no tempo. Assim, a separação
entre pensamento e ação pode, no limite, reduzir o processo a uma rmula, na qual
a posição é selecionada a partir de uma lista restrita de soluções.
31
Figura 3: Elementos de Estrutura Industrial
Fonte: PORTER (1989)
Por fim, Mintzberg (2000) coloca que o papel do posicionamento é apoiar o
processo e não sê-lo. Como descrito por ele:
A análise da estratégia pareceria apropriada para a formulação de
estratégias se as condições fossem suficientemente estabelecidas e
estáveis para oferecer dados adequados que pudessem ser analisados em
um único centro. Entretanto, essa análise nunca deveria dominar o
processo. Sempre é preciso levar em conta uma rie de fatores
intangíveis ao lado dos tangíveis
(MINTZBERG, 2000)
.
Novos
participantes
Substitutos
Compradores Fornecedores
CONCORRENTES
INDUSTRIAIS
Intensidade da
rivalidade
Determinantes de rivalidade
Crescimento da indústria
Custos fixos (ou armazenados) dos
valores agregados
Excesso de capacidade intermitente
Diferenças de produtos
Identidade da marca
Custos de modificações
Concentração e equilíbrio
Complexidade informacional
Diversidade de concorrentes
Riscos da corporação
Barreiras de saída
Risco de
novos
participantes
Poder de
barganha dos
fornecedores
Poder de
barganha dos
compradores
Risco de
substitutos
Determinantes do poder do comprador
Alavancagem na negociação
Concentração de compradores
versus concentração de
empresas
Volume do comprador
Custo de mudança do
comprador em relação aos
custos de mudança da
empresa
Informações dos compradores
Capacidade de integração
inversa
Produtos substitutos
Ser bem-sucedidos
Sensibilidade dos
Preços
Preço total de compras
Diferenças de produtos
Identidade da marca
Impacto sobre o
desempenho da
qualidade
Lucros do comprador
Incentivos aos
tomadores de decisão
Barreiras à entrada
Economia de escala
Diferenças entre produtos patenteados
Identidade da marca
Custos de mudança
Necessidades de capital
Acesso à distribuição
Vantagens de custos absolutas
Curva de aprendizagem de vantagens
absolutas
Acesso às entradas necessárias
Baixos custos de projeto de produtos
patenteados
Política governamental
Retaliação esperada
Determinantes do poder do
fornecedor
Diferenciação das entradas
Custos de mudanças de fornecedores e
empresas na indústria
Presença de entradas substitutas
Concentração de fornecedores
Importância do volume do fornecedor
Custo em relação ao total comprado na
indústria
Impacto de entradas sobre o custo ou
diferenciação
Riscos de integração direta em relação ao
risco de integração inversa por empresas na
indústria
32
2.1.1.2 Movimento ou Intenção
Os fundamentos desta segunda teoria tomam por foco os conceitos da visão
baseada em recursos (VBR), que teve início com os trabalhos de Penrose (1968) e
conceitua a empresa como “um conjunto de recursos produtivos”.
Segundo postula a VBR, a vantagem competitiva se sustenta, por um lado,
pelas assimetrias entre as firmas, na forma de heterogeneidade entre os recursos
que cada uma possui e, por outro, pela singularidade de tais recursos terão maior
valor estratégico quanto mais resistentes forem à erosão provocada pela
competição, ou seja, a imitação e a substituição. Pode-se concluir, num primeiro
momento, que as fontes de vantagem competitiva incluem a heterogeneidade, a
baixa mobilidade de recursos, os mecanismos de isolamento de cada empresa e o
custo de construção versus a renda auferida. (PENROSE, 1968).
Wernerfelt (1985, apud António, 2002) define recurso como “qualquer coisa
que pode ser pensada como um ponto forte ou uma fraqueza de uma empresa”.
Segundo ele, a vantagem competitiva é fruto de uma combinação de “recursos
superiores” dentro da empresa. Deste modo, o objetivo de uma empresa consiste
em obter ou organizar recursos que sejam superiores aos dos seus concorrentes.
Essa visão é o início do movimento que se fez para a substituição do paradigma da
adequação por uma nova filosofia: a intenção estratégica (ANTÓNIO, 2002).
A partir destes e de outros estudos, surge a idéia de hipercompetição
proposta por D’Aveni (1995). Esta idéia parte do pressuposto que uma vantagem
competitiva e a possibilidade de defesa de uma posição são inexistentes, ilusórias. O
ambiente, composto pela concorrência e pelos mercados, evolui de forma rápida,
33
tornando-o muito instável, de modo que a única “posição defensável” é o movimento.
Neste contexto, é mais adequado falar em termos de melhor desempenho do que de
vantagem competitiva; a empresa que conjuga melhor as suas diferentes vantagens
(recursos), e sabe desenvolvê-las rapidamente, deverá apresentar melhor
desempenho em determinado momento.
Assumir esse contexto dinâmico é, tão somente, assumir a dificuldade em
resistir ao ambiente mutável. A empresa passa, então, a visualizar que mais vale a
criação de novos produtos, serviços e capacitações – introdução de inovações – que
tentar auferir lucro de recursos do “passado”.
Observa-se, portanto, que, ao introduzir elementos dinâmicos à concepção da
estratégia, a empresa passa de coadjuvante para ator principal do processo. Isso
porque, a partir de seus próprios recursos e competências, a empresa pode
modificar o ambiente. Se isso é verdade para todas as organizações, não se pode
falar de vantagem competitiva durável, fazendo com que a mudança constante seja
essencial para manter-se em uma posição concorrencial vantajosa. Assim, tem-se
que o principal objetivo da estratégia não é mais a adaptação às condições da
concorrência, mas a sua transformação e renovação.
2.2 A Importância da Inovação para a Empresa
A capacidade e a velocidade de geração de inovações de produtos e serviços
tem sido um dos principais elementos de competitividade de empresas, setores e
nações. Desta forma, entender a complexa engrenagem da inovação é fator
essencial para a gestão das firmas na atualidade.
34
As inovações podem contribuir de diversas formas e pesquisas evidenciam,
por exemplo, uma forte relação entre a performance da empresa e o lançamento de
novos produtos; elas capturam e retêm market share e aumentam a lucratividade
desses mercados. Ao mesmo tempo a capacidade inovativa é importante na medida
em que o ambiente está em constante mutação: mudanças sócio-econômicas e de
legislação criam oportunidades e obstáculos.
Com o intuito de identificar as relações entre pesquisa científica e inovação,
Manfield (1991) observou indústrias de diversos setores dos Estados Unidos
(processamento de informações, equipamento elétrico, químico, instrumentos,
farmacêutico, metalúrgico e petróleo) e, apesar das dificuldades em estabelecer
essas relações, o autor sugere um resultado interessante: aproximadamente 10%
dos produtos e processos comercializados por essas empresas, entre 1975 e 1985,
não seriam desenvolvidos sem pesquisa acadêmica relacionada.
É indubitável o papel do desenvolvimento científico na origem e crescimento
das novas indústrias. No entanto, não é possível descartar o papel igualmente
impulsionador do mercado. Assim, pode-se agrupar as teorias que explicam as
origens das inovações em dois grupos: science-push que advogam que é o
desenvolvimento científico o responsável pelas inovações e market-pull que
advogam que a necessidade é a mãe de todas as invenções. Para Freeman (1997)
essas visões o complementares. Freeman (1997), baseado nesta constatação e
em evidências históricas, lista dez características cruciais para inovações industriais
bem sucedidas no século XX:
- Existência de um P&D forte e profissional;
- A realização de pesquisa básica ou forte ligação com quem as realiza;
35
- O uso de patentes para obter proteção e negociar com competidores;
- Tamanho (da empresa) suficiente para financiar investimentos em P&D no longo
prazo;
- Menores tempos de desenvolvimento que os competidores;
- Propensão à tomada de risco;
- Identificação precoce e criativa de um potencial mercado;
- Atenção ao mercado potencial e realização de esforço para envolver, educar e
assistir aos usuários;
- Empreendedorismo forte o suficiente para coordenar P&D, produção e marketing;
- Boa comunicação com o mundo científico externo bem como com consumidores.
Estes pontos sugerem a importância da inovação dentro da organização e
algumas dessas hipóteses (referentes à capacitação tecnológica) são mais
detalhadamente estudadas adiante como meio de embasar a presente pesquisa.
2.2.1 O Papel do P&D e de Outras Atividades Tecnológicas
Muitas são as vantagens apontadas para a realização de pesquisa na
organização. Freeman (1997), por exemplo, cita as vantagens proporcionadas pela
liderança, além da flexibilidade devido à estrutura proporcionada pelo
conhecimento e facilidade de acesso a novas tecnologias como vantagens
competitivas conquistadas através de pesquisa básica dentro da empresa.
Cohen e Levinthal (1989) utilizam um argumento adicional para justificar a
realização de atividades de P&D dentro da indústria. Além de, como outros autores,
afirmarem que essas atividades geram novas informações, eles acrescentam que
36
elas também elevam a capacidade das firmas de assimilarem e explorarem os
conhecimentos existentes, ou seja, aprimoram sua capacidade de absorção e
aprendizado. Além da habilidade para imitar novos produtos e processos, a
capacidade de absorção inclui a possibilidade de explorar conhecimentos externos,
como os resultados de pesquisas básicas, que servem de base para pesquisas
aplicadas e desenvolvimento.
Outros autores vão ao encontro destas definições quando relacionam a
ampliação do potencial de desenvolvimento, absorção, difusão e introdução de
inovações com a aprendizagem e apropriação de conhecimentos técnico-científicos.
Enfim, uma empresa capacitada tecnologicamente pode lidar com inovações mais
fácil e proveitosamente que outras que não adotam a mesma postura.
Por ser considerado por muitos economistas um bem público baixos custos
para serem absorvidos em comparação aos custos de criação de um novo
conhecimento , o conhecimento tecnológico recebeu pouca atenção dos cientistas
e estudiosos no passado. No entanto, Cohen e Levinthal (1989) reforçam o que já foi
exposto justificando que se por um lado esses custos são relativamente baixos, por
outro isto se deve aos investimentos em P&D realizados pelas firmas, pois a
capacidade das empresas de absorverem conhecimentos existentes depende de
seus esforços em P&D. Outro argumento recorrente é que as dificuldades de
apropriação dos resultados das pesquisas realizadas diminuem os incentivos das
firmas em investirem em pesquisa e desenvolvimento. Contudo, os autores
enfatizam que a contribuição de P&D à capacidade de absorção de conhecimento
gera um incentivo adicional, que somente o desenvolvimento próprio de P&D
permite às firmas explorarem o conhecimento gerado por seus competidores.
37
Rosenberg (1990, apud CASTRO, 2004) trata também de pesquisa sica e
sintetiza que, apesar do elevado grau de incerteza envolvido nesse tipo de projeto,
as empresas, em geral, não investem em pesquisa baseadas nos retornos
financeiros calculados pelo valor presente ou em alguma análise de custo-benefício,
mas pela existência de alguns “incentivos” que são expostos a seguir (CASTRO,
2004):
- Vantagens de first-mover, caracterizadas pelos benefícios comerciais extraídos
pela empresa através da nova descoberta;
- Necessidade de desenvolver capacidade em pesquisa básica que dela às
vezes depende o desenvolvimento da pesquisa aplicada; é atribuído à pesquisa
básica o sucesso de alguns negócios. Ajuda, ainda, a acompanhar os estudos
desenvolvidos em outros centros de pesquisa ou empresas;
- O papel do Estado como demandante e/ou realizador de pesquisas.
Além dos pontos colocados por Rosemberg (1990), Cohen e Levinthal (1989)
defendem que a vantagem fornecida pelo esforço em P&D permite às firmas
atuarem, de forma rápida, como second movers em relação às inovações de um
concorrente.
É de se esperar que em um setor tão competitivo e com grande número de
empresas pulverizadas geograficamente como é o caso do setor de software, o P&D
seja fator presente e com grande importância. Acrescenta-se a isso o fato de que a
sobrevivência em mercados de commodities como os de planilha, banco de dados
e processadores – torna-se muito difícil para as empresas nacionais, em geral
pequenas e descapitalizadas, sem recursos financeiros e de marketing significativos.
38
Logo, as perspectivas são mais favoráveis para empresas que atuem em segmentos
onde estratégias de diferenciação são perseguidas. Neste caso, as capacitações
tecnológicas acumuladas podem ser utilizadas como meio para alcançar vantagens
competitivas a partir de inovações (PONDÉ, 1993).
Complementarmente, Zouain (2001, apud CASTRO, 2004) afirma que:
A capacitação tecnológica repousa sobre quatro pilares: a capacidade
inovadora da empresa; as condições gerais econômicas, políticas,
administrativas e jurídicas que são decisivas para que existam incentivos
para o desenvolvimento dessa capacitação; o apoio direto dado por
instituições públicas orientadas para a tecnologia, organizações
intermediárias e determinadas classes de empresas de serviços; e o apoio
indireto, sobre todo o sistema educativo.
A afirmação anterior destaca que, apesar da importância dos indicadores
tecnológicos tradicionais gastos em P&D, pesquisa básica, patentes e publicações
científicas para medir a importância das inovações na firma, estes não podem ser
considerados isoladamente numa abordagem mais ampla de geração de inovações
(onde a inovação é fruto de atividades inter-relacionadas e incertas). No entanto,
como forma de possibilitar a identificação e análise das estratégias de inovação das
empresas, emprega-se, nesse trabalho, um modelo linear de inovação.
2.2.2 Riscos e Incertezas do Processo Inovativo
Pelas análises de Freeman (1997), mesmo a melhor gestão da inovação, das
técnicas de seleção e controle dos projetos, dificilmente reduzirá as taxas de
fracasso exceção dos projetos de simples imitação). A razão para isto é bem
simples: num mercado competitivo sempre haverá ganhadores e perdedores. O nível
de gestão pode ser elevado com um maior conhecimento do processo, mas isto não
elimina a possibilidade de cometer erros. Isso porque sempre haverá uma rie de
39
incertezas com as quais lidar que, no caso das inovações, são incertezas de
mercado, incertezas técnicas e incertezas próprias dos negócios oriundas do quadro
político e econômico no qual se insere.
Para Burlamaqui & Proença (2003), a introdução de inovações é resultado
tanto da gestão empresarial quanto de recursos financeiros e está permanentemente
diante de dois tipos de obstáculos. O primeiro é representado pela imprevisibilidade
do futuro, na medida em que o impacto de uma inovação não tem, por definição,
como ser seguramente avaliado com antecipação. O segundo compreende a
insegurança pelas conquistas passadas e está “na origem dos hábitos e rotinas
empresariais, durabilidade do seu capital fixo e especificidade de seus ativos, todos
potencialmente ameaçados pelas inovações”.
É, pois, esta relação entre incerteza sobre o futuro e o peso do passado que
tornam as decisões estratégicas das empresas, principalmente aquelas ligadas às
inovações, complexas e determinantes. Soma-se a isso o caráter, muitas vezes,
irreversível destas decisões, que seu alcance e extensão definem o futuro, a
sobrevivência e a competitividade da empresa.
Freeman (1997) faz uma classificação mais minuciosa e identifica, para cada
tipo de inovação, graus de incerteza associados. O esquema pode ser observado no
quadro 1, conforme exposto no trabalho de CASTRO (2004).
40
Quadro 1: Grau de Incerteza Associado aos Diversos Tipos de Inovação
1
Incerteza verdadeira
Pesquisa fundamental
Invenção fundamental
2
Grau muito alto de incerteza
Inovações radicais de produtos
Inovações radicais de processos fora da empresa
3
Alto grau de incerteza
Inovações de produtos importantes
Inovações radicais de processos dentro da empresa
4
Incerteza moderada
Novas gerações de produtos maduros
5
Baixa incerteza
Inovação licenciada
Imitação de inovações de produtos
Modificação de produtos e processos
Adoção precoce de produtos maduros
6
Incerteza muito baixa
Novo “modelo”
Diferenciação de produto
Agenciamento para inovação de produtos maduros
Adoção tardia de inovações de processos maduros e
operações franqueadas no próprio estabelecimento
Melhorias técnicas menos relevantes
Fonte: FREEMAN (1997, p.204)
2.3 Capacitações Dinâmicas
Teece, Pisano e Schuen (1997) introduzem o conceito de “capacitações
dinâmicas”. Essas capacitações referem-se às habilidades para integrar, construir e
reconfigurar competências internas e externas para responder rapidamente às
mudanças do ambiente. Ou seja, as capacitações dinâmicas refletem a capacidade
das organizações de conseguirem novas e diferentes formas de competir como meio
da manter uma vantagem competitiva. São essas capacitações, os “motores de
inovação”, que garantiriam a sobrevivência da empresa no longo prazo.
Apesar do conceito relacionar-se com a “intenção estratégica”, nem toda
capacitação dinâmica tem caráter estratégico dentro da organização. Ela assim o
41
será se gerar resultados pelos quais demanda, se for de difícil imitação e se os
resultados econômicos forem apropriados pela própria empresa (TEECE, PISANO &
SCHUEN, 1997).
Para Burlamaqui e Proença (2003) a conexão dinâmica entre capacitações,
estratégias empresariais e reconfiguração de mercado é um processo em
permanente reestruturação, dado pela implementação constante de todos os tipos
de inovações (radicais, incrementais, de produto, de processo etc.).
Burlamaqui e Proença (2003) colocam ainda que tanto as inovações radicais
quanto incrementais, fazem com que o ambiente seja permanentemente destruído e
reconstruído, dada a fluidez das barreiras de entrada e de imitação. Há, portanto,
como sintetizado pelos autores “uma relação de feedback entre as estratégias
inovativas das empresas e as estruturas de mercado resultantes, no contexto da
concorrência enquanto ”destruição criadora”. A competição cria, desta forma, apenas
uma monopolização temporária do mercado devido à constante diferenciação, sendo
fundamental para sua sobrevivência no longo prazo.
Pode-se afirmar, finalmente, que a construção de vantagens competitivas e
sua sustentação dependem de recursos únicos à empresa (de difícil imitação), entre
os quais se destacam capacitações dinâmicas. O não entendimento desta
“condição” pode tornar o monopólio uma posição transitória, pois tanto a introdução
de inovações pelos concorrentes, quanto a imitação criativa realizadas pelos
mesmos, configuram-se como uma ameaça. Pelas conclusões de Burlamaqui e
Proença (2003) e Teece, Pisano e Schuen (1997) é possível observar que inovação
e estratégia se mostram lados distintos de uma mesma moeda.
42
2.3.1 Estratégias de Inovação
Muitas são as formas de medir o sucesso ou fracasso das políticas
organizacionais. Logo, estudar o significado da tecnologia e da inovação dentro das
empresas, obriga-nos a vê-la de forma mais abrangente, de modo que as estratégias
ligadas a essas ações ou comportamentos sejam efetivas.
Como descrito anteriormente, Freeman (1997) observa, por exemplo, a
insuficiência da teoria econômica clássica em explicar, isoladamente, aspectos
ligados à inovação no âmbito das organizações. Essa teoria sugere que a lógica das
decisões empresariais é regida pela maximização do lucro; entretanto, dada a
incerteza dos dados a respeito de retorno sobre investimentos de projetos futuros,
fica difícil prever o comportamento empresarial baseado num algoritmo de escolha
do projeto de pesquisa com maior fluxo de caixa descontado.
Uma possível abordagem para explicar as escolhas das empresas em relação
a projetos de inovação é conhecer sua estratégia de inovação. Existe um espectro
amplíssimo com infinitas possibilidades para estudo quando se trata de inovação,
porém Freeman (1997) apresenta seis estratégias nas quais vão se basear as
análises deste estudo. Estas estratégias estão listadas no quadro 2 e detalhadas a
seguir, conforme reproduzida do trabalho de Castro (2004).
43
Quadro 2: Estratégias da Firma
Funções Técnicas e Científicas Realizadas dentro
da Firma
Ofensiva
Defensiva
Imitativa
Dependente
Tradicional
Oportunista
Pesquisa Básica 4 2 1 1 1 1
Pesquisa Aplicada 5 3 2 1 1 1
Desenvolvimento Experimental 5 5 3 2 1 1
Engenharia de Projeto 5 5 4 3 1 1
Controle de Qualidade e Engenharia de Produção 4 4 5 5 5 1
Serviços Técnicos 5 4 3 2 1 2
Patentes 5 4 2 1 1 1
Informação Técnica e Científica 4 5 5 3 1 5
Educação e Treinamento 5 4 3 3 1 1
Previsão de Longo Prazo e Planejamento da Produção 5 4 3 2 1 5
A escala de 1 a 5 indica fraco (ou inexistente) a muito forte. Fonte: FREEMAN, 1997, p. 267
Segundo este estudo, a estratégia ofensiva busca atingir liderança técnica e
de mercado mantendo-se à frente dos competidores na introdução de novos
produtos. A ligação com a pesquisa básica parece estar diretamente relacionada
com esse tipo de estratégia. Além disso, o desenvolvimento de P&D e a vantagem
de first movers (rapidez na exploração de oportunidades) são pontos fundamentais.
na estratégia defensiva a prioridade não é ser o primeiro (global ou
localmente), mas sempre acompanhar as ondas de mudança tecnológica. A
estratégia de ser second-mover pode trazer vantagens, pois existe a possibilidade
de aprender com os erros do líder, podendo-se oferecer, desta forma, um produto
melhor. Esta estratégia é característica de mercados oligopolistas e está associado à
44
diferenciação de produto. Por último, deve-se observar a grande preocupação com
pesquisa (muitas vezes tão intensa quanto em empresas que adotam a estratégia
ofensiva).
Com a estratégia de emulação (ou imitativa) tem-se a intenção estratégica de
imitar os líderes mantendo uma defasagem tecnológica controlada. Para competir
com as empresas líderes, os imitadores devem possuir vantagens competitivas
frente às empresas inovadoras (first ou second movers) ou serem produtores mais
eficientes (caso não gozem de uma proteção de mercado). Para Castro (2004) esta
estratégia é observada em mercados maduros ou em países em desenvolvimento,
sendo importante um foco em treinamento e serviços técnicos, joint ventures ou
acordos de colaboração com empresas estrangeiras.
A estratégia de dependência implica a aceitação de um papel subordinado,
satélite, em relação a uma empresa ou empresas mais fortes. A firma tentará
inovar sob necessidade do cliente ou da empresa forte. O produto e/ou processo
será inovado conforme a especificação destes.
Na estratégia tradicional o produto nem sequer sofre alterações, pois o
mercado não demanda a mudança nem a competição força a empresa a realizá-la.
Assim, a adoção desta estratégia é comum em mercados de baixa concorrência e
sem demanda por inovações. Em geral, firmas que seguem essa estratégia têm
pouca capacidade técnica para iniciar projetos mais “complexos” – com grande
significância – e dificuldade para acompanhar as mudanças tecnológicas.
A estratégia oportunista identifica uma oportunidade de mercado e se instala
em um nicho não atendido. Em virtude desta condição, a adoção da estratégia
oportunista não exige da empresa grande capacidade de pesquisa ou de projeto,
devido à existência de demanda.
45
É importante destacar que, segundo a teoria da firma baseada em recursos
(PENROSE, 1959, apud FREEMAN, 1997), a estratégia escolhida depende tanto do
ambiente no qual a empresa se insere quanto de seus recursos e suas habilidades.
Portanto, apesar da estratégia possibilitar a geração de conhecimento, a mesma é
definida de acordo com conhecimentos e recursos prévios da firma.
2.3.1.1 As Funções Técnicas e Científicas Relacionadas à P&D
As funções técnicas e científicas apresentadas por Freeman (1997) são a
base para a identificação das estratégias de inovação propostas pelo mesmo e
premissas para a elaboração deste trabalho. Assim, definir estas funções é de
grande importância para que se possa identificar a ocorrência das estratégias de
inovação no setor pesquisado.
Freeman (1997) não define explicitamente essas funções, mas é possível
caracteriza-las a partir dos muitos exemplos indicativos e pelo “nome” da função
propriamente dita. Utilizou-se aqui as definições propostas por Castro (2004), a partir
da interpretação do trabalho do autor, como segue:
- Pesquisa básica e aplicada: atividades de estudo e pesquisa em disciplinas
científicas ou com o apoio direto delas;
- Desenvolvimento experimental: atividades de desenvolvimento de protótipos e
testes dos mesmos antes da produção para fins comerciais;
46
- Engenharia de projeto: atividades de especificação, desenho e detalhamento
para projeto de um novo produto;
- Controle de qualidade da produção: atividades de controle de qualidade
desempenhadas ao longo da linha de produção, como controle da matéria-prima,
intermediários e do produto final;
- Serviços cnicos: assistência técnica fornecida no pós-venda, incluindo a
disponibilidade de manuais ao usuário;
- Registro de patentes: registro e pedidos de patentes na instituição nacional
responsável ou em organismos internacionais análogos;
- Informações técnicas e científicas: busca de informações atuais em revistas e
artigos técnicos e científicos, assim como a participação em feiras, congressos e
eventos técnicos;
- Educação e treinamento: atividades de educação e treinamento incentivadas pela
empresa para capacitação de seus funcionários; e
- Previsões de longo prazo e planejamento de produto: existência de material que
indique que caminho a empresa deseja seguir nos próximos anos, dentre
cenários traçados, e quais linhas de produtos receberão investimentos para
lançamento futuro.
47
As definições agora apresentadas serão utilizadas para a elaboração do
questionário que tem por objetivo identificar, nas empresas de software do Estado do
Rio de Janeiro, as estratégias de inovação propostas por Freeman (1997). Além
disso, todas as exposições e considerações feitas até aqui servirão também para a
elaboração do questionário, análises dos resultados e conclusões desta pesquisa.
48
3 A INDÚSTRIA DE SOFTWARE
Neste trabalho, por software entende-se uma seqüência de instruções
codificadas em linguagem de computador. Este conjunto de instruções (programas)
é lido e processado por microprocessadores, que transmitem comandos que serão
executados por equipamentos (hardware) (MELO & BRANCO, 1997).
A história da indústria de software teve sua origem por volta de 1960. Antes
dessa época, o software era considerado como parte integrante do hardware e não
havia nenhuma comercialização desse produto como componente distinto das
máquinas; o hardware era comercializado juntamente com o software e o preço era
estabelecido sobre o conjunto da solução (HEEKS, 1996; NARASIMHAN, 1993,
apud SOUSA, 2004). Além disso, presumia-se que a venda casada desses bens e
serviços determinava uma forte dependência dos clientes em relação aos
fornecedores.
Entretanto, em um certo momento ficou claro que o desenvolvimento de
software envolvia custos, os quais haviam se tornado tão dispendiosos quanto os
investimentos em hardware e, em alguns casos, chegavam a superar este valor.
Esse aspecto foi decisivo para que se iniciasse um movimento para a apropriação de
um valor comercial ao software, desmembrando-o do valor inerente ao hardware
(SOUSA, 2004).
Aponta-se como principais características dessa indústria, de acordo com
Melo e Branco (1997), a alta velocidade na introdução de inovações cnicas e no
desenvolvimento de novos produtos ou no aperfeiçoamento dos existentes; a
competição acirrada; o baixo investimento em capital fixo; e a capacidade criativa e
intelectual da mão-de-obra, que é o seu grande ativo.
49
Pode-se ainda observar que, ao mesmo tempo em que se apresenta como
uma indústria tipicamente "jovem", cuja organização se encontra em "estado de
fluxo", o setor produtor de software não deixa de mostrar alguns sinais de
amadurecimento, na medida em que sólidas posições competitivas vão sendo
construídas por algumas empresas líderes, cuja atuação em nível internacional limita
a expansão da maior parte dos concorrentes (apesar de não impedir a entrada) e
fixa padrões estáveis de competição, como levantado por Pondé (1993).
A organização da indústria se caracteriza, então, pela presença de grandes
corporações que dominam os principais segmentos de mercado, ao mesmo tempo
em que se multiplicam espaços para a sobrevivência de um grande número de
firmas marginais. Em suma, as barreiras à entrada são baixas, permitindo a
proliferação de pequenas e médias empresas, existindo, porém, significativas
barreiras ao crescimento, de modo que as grandes empresas dominam os principais
mercados (PONDÉ, 1993).
Deve-se, adicionalmente, destacar que o software frequentemente penetra
nas demais atividades econômicas das TIC (Tecnologias de Informação e
Comunicação), confundido-se com estas atividades. Logo, é importante conceber o
software como um elo de diversas cadeias produtivas e não como uma cadeia
produtiva particular. Este caráter “invasivo” do software é, por outro lado, um fator
que reforça a importância do mesmo, na medida em que sua onipresença nas mais
diversas atividades econômicas (ou cadeias) é, crescentemente, um fator
determinante da produtividade e da competitividade em diversos setores da
economia (ROSELINO, 2003).
Para o desenvolvimento desse trabalho cabe um alerta sobre a precariedade
das informações, que se baseiam em indicadores agregados. Isto se deve, em
50
primeiro lugar, ao fato da indústria apresentar-se muito fragmentada, sendo grande
parte da produção de software resultado do esforço de pequenas e médias
empresas, o que dificulta uma estimativa precisa do tamanho de muitos mercados
(PONDÉ, 1993). Paralelamente, a heterogeneidade e a disseminação da oferta de
software criam problemas adicionais para a mensuração destas atividades. A
existência de empresas que atuam em outros segmentos produtivos, mas
desenvolvem software internamente, e a simbiose entre as atividades de hardware e
software torna o cálculo da dimensão destas atividades, a partir de empresas que
atuam predominantemente no setor, quase impossível. Como conseqüência, fica
difícil captar a amplitude das atividades de software por categoria setorial (ROCHA,
1998). Uma última colocação diz respeito à falta de um sistema de classificação
único utilizado internacionalmente, o que resulta em uma dificuldade de comparação
de dados entre países.
Por fim, deve-se ressaltar o papel estratégico deste setor que, cada vez mais,
impacta a economia global na medida em que, com o avanço das tecnologias de
informação, nenhum setor ou atividade econômica deixa de consumir software,
como já mencionado anteriormente.
3.1 Modelos de Negócios na Indústria de Software
Os estudos realizados na indústria de software tendem à formação de tipos e
classificações (segmentação de mercado), possibilitando duas vertentes distintas de
análises: a) a forma como os produtos chegam ao mercado: pacote, sob encomenda
ou embarcado; b) o tipo de domínio em que será aplicado: horizontal ou vertical
(SOUSA, 2004). Para melhor entendimento, cabe aqui colocar, para tais
51
classificações, as definições sugeridas por Melo e Branco (1997), tal qual são
descritas em estudo realizado para o BNDES:
- Software horizontal é aquele de uso geral, que incorpora, principalmente,
conhecimentos de informática. São exemplos os sistemas operacionais, os
bancos de dados, os processadores de texto, as planilhas etc., que se
caracterizam pela distribuição em larga escala e preferência dos consumidores
pela marca e reputação das empresas.
- Software vertical, via de regra, incorpora conhecimentos de uma ou mais
especialidades, além da informática. É comercializado sob a forma de pacote ou
sob encomenda e destina-se a setores específicos de atividade (agricultura,
saúde, educação etc.) ou ao uso doméstico (jogos).
- Software pacote é uma aplicação preparada previamente que serve a um
conjunto amplo de clientes. Neste segmento, a competitividade é definida pela
capacidade de desenvolvimento cnico e de comercialização de produtos em
massa. É alto o investimento necessário para desenvolver e lançar o produto e o
retorno depende de sua aceitação pelo mercado.
- Software sob encomenda atende a necessidades específicas de clientes,
podendo, em muitos casos, ser definido para servir não a um, mas a um
conjunto maior de clientes. Neste segmento, o conhecimento das atividades e
necessidades dos usuários é a principal vantagem competitiva e a venda é
52
realizada antes do desenvolvimento, diminuindo os riscos de mercado. Os custos
de desenvolvimento - e não os de comercialização - são os mais significativos.
- Software embarcado designa aquele que não é comercializado individualmente,
mas sim embutido em outros produtos - máquinas e sistemas para automação
industrial, testes, telecomunicações etc.
Vale destacar que, a partir da classificação exposta, as diferenciações dos
softwares são feitas basicamente a partir da distinção entre produto e serviço.
Seguindo essa linha, é possível definir modelos de negócios do setor como pode ser
observado no quadro 3
O estudo do MIT/Softex (2002) destaca três pontos principais para o
entendimento dos modelos de negócios. O primeiro diz respeito à estrutura
econômica da empresa, onde as empresas de produtos de software apresentam
normalmente custos marginais insignificantes e rendimentos crescentes à escala em
produtos, situação que não ocorre em serviços. O segundo ponto refere-se à
estrutura de gestão e de relacionamento com o mercado: enquanto empresas de
serviço de software lidam com os clientes e cada projeto como sendo único, a
empresa de produto tem como estratégia para a oferta, uma solução que atenda a
um grande grupo de clientes. Por fim, o modelo propõe que as empresas de produto
estão direta e necessariamente expostas e focadas nos requisitos do cliente final do
software, já que a definição dos contornos e a funcionalidade do produto são cruciais
para o seu sucesso. Nas empresas de serviço, os requisitos do software o
definidos pelo cliente, o que desloca o foco da sua atenção para o processo.
53
Para o desenvolvimento do presente trabalho, as análises sobre inovações
serão realizadas apenas em produtos e, portanto, desconsidera-se a parte do
modelo de negócios que classifica serviços nesta indústria. Esta simplificação é feita,
principalmente, pela dificuldade de medir a geração e a importância de inovações no
que diz respeito a serviços.
Quadro 3: Modelos de Negócios na Indústria de Software
Serviço
baixo valor
Serviço
alto valor
Produto
customizável
Componente
& embarcado
Produto
pacote
Custo marginal
+ de 1 venda
Virtualmente
constante
Virtualmente
constante
Menos que
constante
Mais que zero
Virtualmente
zero
Estrutura de
mercado
Local, muito
fragmentada
Alguma regional,
mais global
Regional e
global
Regional e
global
Global, muito
concentrada
Relação com o
cliente
Um para um Um para um
Um para
vários
Um para
vários
Um para
muitos
Modelo venda
Direto Direto
Direto, VARs,
varejo
Direto VARs, varejo
Objeto de
venda
Projeto ou
recurso
Projeto
Licença e
projeto
Licença e peq.
adaptação
Licença
Variável chave
Custo
Utilização da
capacidade
Número de
clientes
??
Quota de
mercado
Especificação
do trabalho
Cliente Cliente, partilha
Própria,
partilha
Própria Própria
Capacidade
crítica
Processo
Processo,
relação cliente
Análise req.
Clientes,
tecnologia
Relação com
clientes,
tecnologia
Estratégia
arquitetura
Barreira à
entrada
Competição
(baixo custo)
Reputação
Acesso
mercado,
tecnologia
Acesso
mercado,
tecnologia
Investimento,
risco
Exemplo
Integração de
sistemas
Desenvolvimento
customizado,
P&D por contrato
ERP, CRM,
produto
vertical
ASP,
segurança
Processadores
de texto
Empresa típica
Firmas locais,
firmas globais
IBM, locais
SAP, Oracle,
locais
Ericsson,
locais
MIcrosoft
Fonte: MIT/ Softex (2002)
Serviços Produtos
54
3.2 A Evolução da Indústria de Software Brasileira
As atividades de desenvolvimento de software no Brasil estiveram, ao longo
do tempo, diretamente ligadas às políticas nacionais específicas para o setor de
informática. A preocupação desta seção não é, no entanto, avaliar essas políticas
(que ganharam força de lei a partir da década de 80), mas sim, fazer uma exposição
de fatos que ajudem a compreender a evolução desta indústria no país.
A indústria brasileira de informática apresentou crescimento significativo
desde a sua implantação no final da década de 70. Entre 1979 e 1985 observou-se
uma surpreendente média anual de crescimento geométrico na faixa de 59% ao ano;
em 1979, no Brasil, as empresas nacionais detinham 23% do faturamento da
indústria, elevando sua participação para cerca de 50% em 1985. Neste ano, o
faturamento global do setor foi estimado em 2 bilhões de dólares, empregando
diretamente mais de 30.000 funcionários, dos quais, 1/3 com nível superior (TIGRE,
1987) A tabela 1 mostra o faturamento no período, em termos de ORTNs
1
, das
empresas genuinamente nacionais do setor de informática.
No entanto, segundo as análises de Pondé (1993), durante o período de
vigência da Política Nacional de Informática (PNI; lei de informática 7.232/84) o
setor de software não teve os mesmos ganhos obtidos pelos produtores de
hardware. Instituída em 1984, com prazo de vigência estabelecido em 8 anos, a PNI
teve aspectos positivos e negativos. Entre os aspectos positivos destacados por
Suzigan (2005) estão: rápido crescimento da indústria de informática nos anos 80 (a
indústria de transformação como um todo permanecia praticamente estagnada no
mesmo período); a presença majoritária de empresas nacionais; a significativa
1
Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional - Título público federal emitido com a característica de pagar
remuneração acrescida de correção monetária. O valor unitário do título passou a representar indexador
largamente utilizado na economia brasileira (Banco Central/ Glossário)
55
criação de empregos diretos (70 mil até 1989, dos quais 24 mil de nível superior); o
elevado nível de gastos em P&D das empresas nacionais (cerca de 5% da receita
líquida), em relação à média da indústria de transformação.
Tabela 1: Evolução do Faturamento da Indústria Brasileira de Informática (1979-
1985)
Ano
Faturamento
(mil ORTNs)
Índice
1979 = 100
1979 12.140 100
1980 27.180 223,9
1981 39.700 327,0
1982 62.180 512,2
1983 73.670 606,8
1984 130.960 1.078,7
1985 195.220 1.608,0
Fonte: Catálogo dá Indústria Brasileira de Informática 1985/86, ABICOMP, citados por Tigre,
1987, p. 45
Por outro lado, a falta de visão estratégica é um dos vários aspectos
negativos que prejudicaram ou foram decorrentes da sua implementação. Ela ficou
evidenciada pela ausência de sinergias com outras indústrias do complexo
eletrônico, não desenvolvimento da indústria de microeletrônica, não-aplicação (ou
aplicação apenas parcial) dos instrumentos previstos na lei de informática (incentivos
fiscais, créditos, investimentos, compras do governo) e desatenção quanto à
capacitação em software (SUZIGAN, 2005).
Assim, a ausência de medidas institucionais que fornecessem condições para
o desenvolvimento do setor tratado, as indefinições quanto a parâmetros básicos de
legislação e a circulação de pacotes estrangeiros “pirateados” foram alguns dos
obstáculos ao desenvolvimento de programas de computador no país. Somado a
isso, o perfil do mercado (determinado pela política de reserva), criou barreiras ao
56
desenvolvimento de indústrias de médio porte, mantendo limitado um significativo
mercado potencial (PONDÉ, 1993).
De acordo com o mesmo estudo de Pondé (1993), com a promulgação da Lei
do Software (nº 7.646/87), apesar de estabelecer-se a proteção da propriedade
intelectual através do copyright com repressão à “pirataria”, propiciando ambiente
para o crescimento da indústria no país não foram fixados instrumentos de
fomento adequados para o incremento da competitividade das empresas nacionais.
No início dos anos 90, a política de informática passou a orientar-se pelas
novas diretrizes definidas pela Política Industrial e de Comércio Exterior do Governo
Collor que se baseava na abertura comercial e eliminação das restrições ao capital
estrangeiro. Como esperado, o novo aparato regulatório resultou em uma acentuada
queda dos custos de produção e um aumento da variedade e qualidade da oferta de
produtos. No entanto, a abertura de mercado levou à desnacionalização do setor de
informática, presença crescente de empresas estrangeiras, perdas de capacitações,
desmobilização de equipes e quedas nos investimentos de P&D (BAPTISTA, 1997).
Nesse período, um dos principais instrumentos implementados foi a lei
8.248/91, que visava preservar a produção local e as atividades de P&D na Indústria
de Informática. De 1993 a novembro de 2001, 428 empresas foram beneficiadas e
os recursos destinados para P&D chegaram a R$ 2,9 bilhões (1993-2000). Nesse
período, 25% dos benefícios foram aplicados no desenvolvimento de software e
outros 24% no desenvolvimento de sistemas de software e hardware. Apesar desses
valores, a lei de informática de 1991 beneficiou, em maior escala, os produtores de
hardware, pois estes puderam usufruir da isenção de impostos (especialmente,
empresas multinacionais) (MIT/SOFTEX, 2002).
57
Paralelamente, foi criado, em 1993, o Programa SOFTEX, como instrumento
de apoio à produção e comércio do software brasileiro. Inicialmente denominado
Programa Softex 2000, o Programa SOFTEX foi reformulado por ocasião do término
de sua vigência, de acordo com a nova política brasileira de software, adaptando-se
às necessidades da nova economia brasileira. Hoje, a entidade tem como objetivo
promover a excelência da tecnologia nacional para atender à demanda local e,
assim, atingir o mercado global (SOFTEX, 2005).
O estudo MIT/SOFTEX aponta ainda que, apesar dos benefícios, poucas
empresas de hardware brasileiras conseguiram sobreviver à competição
internacional, já que os recursos chegaram tardiamente e foram distribuídos de
forma não prevista. O perfil desse período pode ser mais bem entendido observando
as tabelas subseqüentes (tabelas 2, 3 e 4), que nos fornece, em conjunto, uma visão
sobre a evolução da Indústria de Informática.
Tabela 2: Evolução do Mercado Brasileiro de Software (1993-1996) – em US$
bilhões
Software
Pacote
Software
Encomenda
Software
Embutido
Total
Software
1993 1,0 0,5 ?
2
1,5
1994 1,2 0,6 ? 1,8
1995 1,2 0,7 ? 1,9
1996
3
1,4 0,8 ? 2,2
Fonte: SEPIN/DSI, citados por Weber, 1997
2
Ainda não dispõe de dados
3
Projeção
58
Tabela 3: Comercialização Bruta do Setor de Informática Brasileiro (1995-2000)
em US$ bilhões
Produtos de
Software
Serviços
Técnicos de
Informática
Produtos de
Hardware
Total do Setor
1995
1,9 3,3 5,9 11,3
1996
2,8 4,0 6,9 13,6
1997
3,2 4,6 7,5 15,0
1998
3,9 5,5 8,4 17,0
1999
3,0 6,0 6,1 12,4
2000
4
3,2 7,1 7,0 14,1
Fonte: MCT/SEPIN (2000)
Tabela 4: A Indústria de Tecnologia de Informação no Brasil
(Valores em bilhões) 2000 2001
R$
US$
% R$
US$
%
Hardware
12,81 7,0 40,7 16,92 7,2 40,0
Serviços
5,5 3,0 17,5 7,38 3,1 17,5
Software
(produtos e serviços)
13,17 7,2 41,8 18 7,7 42,6
Produtos
(pacote, customizado e embarcado)
5,86 3,2 18,6 8,46 3,6 20,0
Serviços (outsourcing,
desenvolvimento e integração,
provedores e consultoria)
7,31 4,0 23,2 9,54 4,1 22,6
Total Tecnologia da Informação
31,48 17,2 100,0 42,3 18,0 100,0
Fonte: MIT/ SOFTEX (2002)
Em 2001 a lei 8.248/91 foi modificada pela lei 10.176/01 que, apesar de
ter as mesmas idéias básicas, modificou os percentuais de aplicação dos incentivos
e definiu que parte dos mesmos fosse aplicada nas regiões Norte, Nordeste e
Centro-Oeste do País (MIT/ SOFTEX, 2002).
4
Projeção
59
Atualmente, o setor de Tecnologia da Informação é um dos que mais se
desenvolve no Brasil, a exemplo do que vem ocorrendo em muitos mercados
internacionais. Em relação aos programas de computador, o Brasil era, em 2002, o
7
o
mercado do mundo, crescendo, desde 1995, a uma taxa média anual de 11% (a
maior do setor de Tecnologia da Informação (TI), três vezes maior do que a de
hardware e cerca de cinco vezes maior do que a taxa de crescimento do PIB). Entre
1991 e 2001, a participação do segmento de software como percentual do PIB mais
do que triplicou, passando de 0,27% para 0,71% (FENAINFO, 2003).
Apesar do crescimento do setor, alguns fatos devem ser levados em
consideração: de acordo com artigo do IDG Now de março de 2005 (SOFTEX,
2005), o Brasil caiu da 39ª para 46ª posição (em relação a 2003) no ranking que
indica o impacto das tecnologias da informação no desenvolvimento dos países,
divulgado pelo rum Econômico Mundial. a indústria de software, apesar de ter
apresentado, segundo artigo da mesma fonte publicado em novembro de 2004,
projeção de crescimento de 7,1% para 2004 (acima dos 6,9 projetados para o
crescimento global), contrasta com o crescimento de países considerados
“emergentes”. A Índia, por exemplo, movimentou no mercado doméstico,
aproximadamente, US$ 2 bilhões em 2001 e as vendas no exterior alcançaram US$
6,2 bilhões no mesmo ano. A título de comparação, vale destacar que o Brasil tinha
em 2003 um mercado total estimado em US$ 7,7 bilhões, sendo o valor exportado
estimado em US$100 milhões (ROSELINO & JUNIOR, 2003).
Por fim, o tamanho e a sofisticação do mercado brasileiro, bem como a
criatividade e competência dos técnicos locais, podem ser considerados pontos
positivos para o desenvolvimento do setor de software no país. Contudo, a carência
de uma estratégia industrial específica, a falta de reconhecimento do software
60
brasileiro no exterior e as dificuldades de financiamento, podem ser consideradas as
principais barreiras à competitividade da indústria, tanto internamente, quanto no
mercado internacional.
3.2.1 Panorama Atual do Mercado Brasileiro de Software
Segundo pesquisa do International Data Corporation (IDC), encomendada
pela Associação Brasileira das Empresas de Software (Abes), o mercado nacional
de software e serviços ocupa, atualmente, o 12ª lugar no ranking mundial,
movimentando US$ 7,41 bilhões (cerca de US$ 2,72 bilhões proveniente do
segmento de software 1,2% do mercado mundial e 41% do latino-americano e
US$ 4,69 bilhões relativos a serviços correlatos). O estudo aponta, ainda, uma
perspectiva de crescimento médio anual superior a 11%, até 2009 (ABES, 2006).
Complementarmente, o estudo indica que o segmento de software no país é
movimentado por, aproximadamente, 7.760 empresas, distribuídas de acordo com a
área de atuação, conforme quadro 4.
Quadro 4: Área de Atuação das Empresas de Software do Mercado Brasileiro
Área de atuação Número de empresas % de empresas
Desenvolvimento e produção 1847 23,8
Distribuição e revenda 4190 54
Prestação de serviços 1723 22,2
Fonte: ABES (2006)
61
Quanto à segmentação do setor de software e serviços, verificou-se que, de
toda a movimentação do mercado nacional, cerca de 47,2% é relacionado a
aplicativos, 19,8% a ambientes de desenvolvimento e 32,9% a soluções de infra-
estrutura. A categorização de serviços registra 12% para consultoria, 29% integração
de sistemas, 29% outsourcing, 27% suporte e 3% treinamento.
Por último, no que se refere à exportação de software, o estudo indica US$
35,6 milhões em licenças em 2005, ou seja, um acréscimo de US$ 10,2 milhões em
relação a 2004; e outros US$ 142,4 milhões relativos a serviços, registrando também
um crescimento de U$$ 41,4 milhões no mesmo período.
3.3 Software e Inovação
Um dos fatores que caracterizam a indústria de software é o intenso
dinamismo decorrente do surgimento contínuo de novos produtos e segmentos de
mercado. No Brasil, onde a taxa de inovação da indústria é, em dia, de 31,5% -
muito abaixo de países como a Alemanha (60%), França (40%) e Portugal (42%) –,
as taxas mais elevadas estão em setores "não-tradicionais", como informática (69%)
e eletrônica e telecomunicações (63%). O crescimento da indústria de software pode
ser observado na tabela 5.
62
Tabela 5: Investimentos em P&D sobre a Comercialização Bruta valores
percentuais
Indústria de
hardware
Indústria de
hardware e
software
Indústria de
software
1991
3,50 3,50 5,00
1992
3,40 3,60 6,20
1993
2,80 3,10 6,80
1994
4,10 4,30 7,40
1995
4,20 4,50 7,50
1996
4,20 4,10 7,80
1997
4,60 4,40 8,00
1998
4,80 5,00 8,20
1999
5,10 5,20 8,40
Fonte: MCT/SEPIN (2000)
Além disso, Melo e Branco (1997), em referência a um artigo publicado em
The Economist, citam como característica desta indústria a necessidade de
investimentos constantes em P&D, como descrito no relatório setorial formulado para
o BNDES:
Se um líder de mercado se torna complacente e eleva seus preços
ou negligencia o investimento em P&D, ele corre o risco de ser
ultrapassado por melhores concorrentes, cuja mera ameaça pode
levá-lo a ser competitivo. A Microsoft tem um monopólio virtual em
software para computadores pessoais, mas continua inovadora
porque seus mercados são disputados.
Para eles, a redução dos custos das comunicações e a internet ajudam a
baixar as barreiras ao ingresso em muitos mercados. Ademais, um fator que
favorece as pequenas empresas é que as novas tecnologias vinculadas ao setor de
software têm se revelado menos complexas para os que desenvolvem novos
produtos, permitindo que seja reduzido o porte mínimo que uma companhia precisa
para funcionar com rentabilidade. para Pondé (1993), a facilidade de entrada
63
nesse segmento deve-se à coexistência de vários mercados que se apresentam
muito fragmentados com grande variedade e diferenciação de produtos,
diminuindo, desta forma, as barreiras de entrada e permitindo a sobrevivência de
diferentes empresas de pequeno porte.
A descrita “corrida” por produtos inovadores pode ser observada por alguns
dados do gráfico 1:
Gráfico 1: Investimentos no Setor de Informática Brasileiro – em US$ milhões
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
1800
US$ Milhões
1991 1993 1995 1997 1999
P&D
Modernizão e
amplião
Treinamento
Fonte: MCT/SEPIN (2000)
Assim, como afirmou Freeman (1997), em um setor onde pequenas e grandes
empresas disputam o mesmo espaço, as estratégias adotadas dependem,
primordialmente, do tamanho da empresa e do mercado em que atua. Produtores de
software de pacote (geralmente de grande porte) atuam, por exemplo, explorando as
vantagens proporcionadas pela economia de escala e reconhecimento da marca,
onde o marketing assume papel de destaque. as grandes empresas de software
por encomenda dependem de acúmulo de conhecimento para produzir produtos e
serviços customizados.
64
Por outro lado, as empresas de menor porte tendem a adotar dois principais
tipos de estratégias: 1) estratégia de nicho, que visa o atendimento de um grupo
específico de clientes, decorrente da troca de informações, cooperação e
aprendizado interativo e 2) estratégia de interstício, onde as empresas aproveitam o
espaço deixado pelas empresas líderes. Ambas as estratégias são viabilizadas pela
fragmentação do mercado e pela relativa facilidade de entrada para empresas que
sejam capazes de lançar produtos inovadores (PONDÉ, 1993).
Pode-se, a partir dos dados expostos, observar a importância das estratégias
de inovação para a manutenção das empresas de software em um segmento o
competitivo. Este trabalho tem por objetivo fazer uma análise da escolha dessas
estratégias pelas empresas abordadas.
65
4. METODOLOGIA
4.1 Tipo de Pesquisa
Para a classificação da pesquisa adota-se a taxonomia apresentada por
Vergara (1997), que a define em relação a dois pontos principais: quanto aos fins e
quanto aos meios.
Quanto aos fins, a presente pesquisa é exploratória, definida por Vergara
(1997) como aquela que “é realizada em área com pouco conhecimento acumulado
ou sistematizado”. No caso deste estudo, embora seja o segmento de software de
grande importância para o desenvolvimento tecnológico do país, não foram
encontrados trabalhos que relacionem estratégias de inovação e desenvolvimento
de negócios no setor.
Quanto aos meios, a pesquisa pode ser classificada em documental e de
campo. Documental, porque utilizou outros informativos sobre a indústria de
softwares, além dos recursos disponíveis ao público em geral. No contexto deste
estudo, os dados bibliográficos e documentais dizem respeito aos dados gerais
sobre a indústria pesquisada. Além disso, o estudo qualifica-se também como uma
pesquisa de campo por se tratar de uma investigação empírica, que coletou dados
primários em empresas do setor através da aplicação de questionário (survey), com
o intuito de entender como estas escolhem suas estratégias de inovação.
66
4.1.1 Survey
Gil (1989), define o levantamento, ou survey, como a interrogação direta das
pessoas cujo comportamento se deseja conhecer. Aqui, pretende-se conhecer a
postura das empresas quanto à definição das estratégias de inovação a serem
seguidas.
Freitas et al.(apud Castro, 2004) considera o survey apropriado quando:
- Pretende-se responder questionamentos às seguintes questões: “o que?”, “por
que?”, “como?” e/ou “quanto?”. O foco deve estar sobre “o que está
acontecendo?” ou “como está acontecendo?”;
- Não é possível (ou não se tem interesse) em controlar variáveis dependentes e
independentes;
- O ambiente natural é a melhor situação para estudar o fenômeno; e
- O objeto de interesse ocorre recentemente (passado ou presente).
Entre as vantagens do surveys apontadas por Gil (1989) estão:
- Conhecimento direto da realidade. Com a interrogação direta, as próprias
empresas informam acerca de seu comportamento, tornando, desta forma, a
investigação mais livre de opiniões e subjetivismo dos pesquisadores;
- Economia e rapidez. Isso se mediante aplicação de questionários sem a
necessidade de uma equipe treinada; e
67
- Quantificação. O método possibilita o agrupamento em tabelas e análises
estatísticas. As variáveis permitem correlações e outros procedimentos
estatísticos.
O método, no entanto, apresenta algumas limitações como observado pelo
próprio autor:
- Ênfase nos aspectos perspectivos. As respostas conseguidas nos
levantamentos dizem respeito à percepção do entrevistado sobre o assunto
podendo ser, portanto, distorcidas. Este problema pode ser minimizado,
primeiramente, pela omissão de perguntas cujas respostas são sabidamente
desconhecidas ou indesejáveis. Pode-se também, mediante perguntas indiretas,
controlar as respostas fornecidas;
- Pouca profundidade no estudo da estrutura e dos processos sociais. Por
serem os fenômenos sociais determinados, sobretudo, por fatores interpessoais e
institucionais, os levantamentos mostram-se pouco adequados para investigação
desses fenômenos; e
- Limitada apreensão do processo de mudança. O método proporciona uma
visão estática do fenômeno, não indicando suas tendências à variação ou
mudanças estruturais. Para contornar esse problema, diversas pesquisas têm
utilizado o chamado “painel” (coleta de dados da mesma amostra ao longo do
tempo).
Devido ao objetivo do estudo e às descrições e vantagens expostas, decidiu-
se pela adoção do survey para a realização desta pesquisa.
68
4.2 A Escolha do Setor a Pesquisar
Em uma análise da teoria proposta por Freeman (1997) observa-se que no
processo de inovação, de caráter sistêmico e natureza complexa e interativa, a
importância não recai somente sobre fontes internas (departamento de P&D,
atividades de marketing e o processo produtivo), mas também, nas múltiplas
relações externas mantidas por uma firma, seja com instituições responsáveis por
fluxos de informações técnicas e científicas (institutos de pesquisa e tecnologia e
universidades, por exemplo), seja com outras firmas, clientes, fornecedores,
instituições de fomento, agências de governo e laboratórios. As características das
redes de relacionamento existentes, bem como os métodos de aprendizado e os
serviços executados, são bastante variados e dependem do tamanho das firmas, do
tipo de atividade, das tecnologias envolvidas e do ambiente institucional.
Apesar destas e de outras diferenças (tamanhos distintos e desenvolvimento
de diferentes produtos, por exemplo), entende-se que as empresas de software
possuem processo de produção, estrutura institucional e tecnologias relativamente
padronizadas, o que facilitaria a verificação da estratégia adotada pelas mesmas,
quando de seu processo de criação. Acredita-se ainda, que o diferencial se daria
pelo modo como essas empresas tratam as inovações.
Além disso, a escolha do setor a pesquisar levou em consideração os seguintes
aspectos:
- Grande universo amostral na região escolhida (Estado do Rio de Janeiro);
- A disponibilidade de dados cadastrais sobre o setor, utilizando-se os cadastros
de empresas da RioSoft “entidade criada em 1993 a partir do Programa
69
SOFTEX 2000, com a aglutinação de interesses da classe empresarial atuante
em Tecnologia da Informação, aliada à vontade política da Prefeitura da Cidade
do Rio de Janeiro, contando ainda com o apoio do SEBRAE-RJ, da ASSESPRO-
RJ e do SEPRORJ” (RIOSOFT, 2006) , interessada em realização de
pesquisas no setor;
- A premissa de que o setor possui empresas essencialmente inovadoras;
- Crescente importância do setor no país, demonstrado por programas como
Softex e Prosoft (desenvolvimento e promoção da indústria de software); e
- Em 2003, o Ministério de Desenvolvimento Econômico elegeu a indústria de
software (assim como os setores de bens de capital, medicamentos e
semicondutores) como estratégica para o país pelo seu potencial de exportação,
segundo dados da Softex. No entanto, poucas pesquisas foram realizadas com o
intuito de se explicar o processo inovativo (e conseqüente capacidade
exportadora em relação ao resto do mundo) nessas empresas.
4.3 Coleta de Dados
4.3.1 Instrumento
Como meio de atingir os atingir os objetivos propostos escolheu-se o
questionário (auto-administrado e composto por perguntas objetivas) como
instrumento para coleta de dados desta pesquisa.
Tal instrumento apresenta diversas vantagens como descritas por Gil (1989):
70
- Possibilidade de atingir grande número de pessoas, ainda que espalhadas
geograficamente: podem ser enviados pelo correio ou, como no caso dessa
pesquisa, por meio eletrônico;
- Economia de recursos financeiros, que o exige o treinamento de
pesquisadores;
- Garantia do anonimato dos participantes;
- Permite que os participantes respondam no momento em que lhes for
conveniente; e
- Elimina a influência do pesquisador no momento da resposta.
Como limitações o autor apresenta:
- Exclusão de pessoas que não são alfabetizadas esse problema não foi
encontrado no presente estudo, dado o perfil dos respondentes;
- Falta de maiores informações ao informante quando este o entende
perfeitamente as instruções ou perguntas;
- Impede que se saiba em que condições as perguntas foram respondidas
- Possibilidade de baixa amostragem por não devolução ou preenchimento
incorreto;
- Pela dificuldade de resposta em questionários muito extensos, envolvem número
limitado de questões; e
- Pode perder objetividade, pois os itens podem ter significados diferentes para
cada sujeito pesquisado.
71
As empresas respondentes foram selecionadas a partir de uma lista fornecida
pela RioSoft. A amostra constituiu-se de empresas desenvolvedoras de software (em
alguns casos as empresas executavam mais funções) e que possuíam endereço
eletrônico e contato telefônico.
Um email de apresentação da pesquisa, garantindo a confidencialiadade das
respostas, foi enviado juntamente com um link para o questionário disponível em um
provedor da Internet.
Este questionário foi enviado inicialmente para 500 participantes. Porém,
devido ao grande número de emails falhos, foi reenviado após alguns dias,
acrescentando-se novos endereços e atingindo o número de 533 envios.
4.3.1.1 Construção do Questionário
O questionário do presente estudo foi desenhado tendo como modelo os
questionamentos levantados por Castro (2004) em sua pesquisa. Foram feitas
algumas modificações para adequar o questionário ao universo pesquisado.
O autor utilizou para a elaboração do questionário, assim como neste estudo,
as estratégias de inovação identificadas por Freeman (1997), quais sejam:
- Ofensiva;
- Defensiva;
- Imitativa;
- Dependente;
- Tradicional; e
- Oportunista.
72
Para a identificação destas estratégias, correlacionou-se as mesmas com
algumas funções técnicas e científicas realizadas pelas firmas conforme mostrado
no Quadro 2. A seguir as funções listadas pelo autor:
- Pesquisa básica ou fundamental;
- Pesquisa aplicada;
- Desenvolvimento experimental;
- Engenharia de projeto;
- Controle de qualidade de produção;
- Serviços técnicos;
- Patentes;
- Informações técnicas e científicas;
- Educação e treinamento; e
- Previsões de longo prazo e planejamento de produto.
A aplicação do questionário no presente estudo teve por objetivo verificar
empiricamente, dada a teoria proposta pelo autor, as estratégias adotadas pelas
empresas do universo pesquisado.
Todas as questões, com exceção do valor do faturamento da empresa, eram
de respostas obrigatórias para não comprometer a análise dos resultados. Para
tornar efetivo o intuito do completo preenchimento, adotou-se uma opção disponível
no programa que impedia o reenvio das respostas antes do término. Outra técnica
adotada para estimular o preenchimento do questionário foi a garantia de
confidencialidade do nome das empresas participantes, bem como das respostas
dadas por cada uma delas. Foi ainda ressaltada a importância dos resultados da
pesquisa para o setor após o tratamento e análise dos dados.
73
A maioria das perguntas era fechada (com alternativas de respostas
disponíveis para escolha), porém, devido à abrangência do setor e a diversidade de
empresas que o compõe, em algumas respostas optou-se pelo campo aberto para a
resposta.
O questionário foi então dividido em três partes: a primeira compreende
questões que visam identificar o perfil da empresa (tempo no mercado, área de
atuação, faturamento bruto, número de profissionais vinculados à empresa, fonte de
idéias para o desenvolvimento do produto, tipo de software desenvolvido e a
existência ou não de fomento governamental na produção). Além disso, outras
perguntas serviram como dados adicionais ou instrumento de verificação de
respostas fornecidas na terceira parte do questionário como, por exemplo, o número
de funcionários envolvidos no desenvolvimento e aperfeiçoamento de produtos,
número de registros de software da empresa e participação em feiras e/ou
congressos.
A segunda parte do questionário foi construída a partir das funções técnicas e
científicas relacionadas à inovação com intuito de obter-se uma medição aproximada
e direta das estratégias de inovação. As perguntas foram direcionadas da seguinte
forma: 1) anuncia-se a função; 2) cada função é seguida de uma pequena
explicação mais didática para facilitar o entendimento do respondente conforme
orienta Gil (1989); e 3) as funções o classificadas pelo respondente conforme o
grau de importância da mesma dentro da empresa (“não desempenhada pela
empresa”, “pouca importância”, “média importância” e “muita importância”).
Na terceira parte, base para o tratamento estatístico das respostas, adotou-se
o modelo de Castro (2004) com algumas poucas adaptações. Foram formuladas 28
questões observando como regra o limite convencionado por Gil (1989), de cerca
74
de trinta perguntas relacionadas às funções técnicas e científicas propostas por
Freeman (1997), de modo a medir a importância de cada uma e, conseqüentemente,
avaliar a capacidade de inovação das empresas participantes do estudo, conforme
modelo exposto no quadro 2.
Para cada uma das perguntas, o respondente deveria expor sua opinião, a
partir de uma escala de cinco níveis, como uma escala Likert, assim formulada:
discordo fortemente (1), discordo (2), indiferente (3), concordo (4) e concordo
fortemente (5). Esse método de levantamento foi escolhido por ser mais objetivo o
que, segundo afirmação de Gil (1989), torna mais fácil o tratamento posterior das
respostas.
Castro (2004), na formulação das perguntas, objetiva a avaliação de cada
uma das funções e utiliza, para tanto, aspectos ressaltados pelo próprio Freeman
(1997). No entanto, características ressaltadas por outros autores foram também
incluídas, como segue.
Pelas características do setor pesquisado e, portanto, pela inadequação do
desenvolvimento de “pesquisa básica” no segmento, optou-se por analisar essa
função juntamente com a de “pesquisa aplicada”. As perguntas direcionadas à
avaliação dessas funções levaram em consideração os contatos de pesquisa
externos no processo de desenvolvimento tecnológico (pergunta 22) e o
desenvolvimento de tecnologias no laboratório central de P&D (pergunta 20) (FRIAR
& HORWITCH
,
1986, apud CASTRO, 2004). Pode-se verificar também, a
importância atribuída à pesquisa (básica ou aplicada), por exemplo, pela procura de
profissionais especializados (pergunta 23), conforme afirma Freeman (1997). Ele
ainda cita a necessidade desses profissionais (cientistas, técnicos) na perseguição
de uma estratégia ofensiva pela empresa (pergunta 21).
75
A atividade de resolução/previsão de problemas que ocorre durante o
processo produtivo é um importante meio para o desenvolvimento e
aperfeiçoamento de um produto. A partir da necessidade de solucionar um problema
é que as empresas usam a criatividade e experiência do seu pessoal, além do
estoque de conhecimento científico do qual dispõe (ZAWISLAK, GRAZIADIO e
MARQUES, 1997, apud MARQUES, 1997). Assim, o “desenvolvimento
experimental”, muito importante para a verificação das estratégias ofensiva e
defensiva propostas por Freeman (1997), tem sua relevância confirmada pelas
colocações de Porter (apud CASTRO, 2004), que afirma ser essa função uma das
formas de desaceleração da difusão de tecnologia em empresas inovadoras,
fazendo com que as mesmas usufruam de vantagem competitiva, fruto da liderança.
Essa função foi avaliada a partir da questão 27.
A função “engenharia de projeto” define a capacidade de desenvolvimento de
um plano para realizar algo, expressando este plano em plantas, desenhos, croquis
ou mesmo textualmente. A existência desses tipos de documentos pode comprovar
a preocupação com a essa função (pergunta 28). Da mesma forma, a existência de
profissionais qualificados (neste caso, para desenvolvimento de projetos) pode ser
um indicativo dessa preocupação (pergunta 29). Pode-se identificar esses
comportamentos em empresas que possuem estratégias ofensivas intensivas em
P&D e elevada capacidade em “engenharia de projetos” e pesquisa aplicada. No
entanto, pode-se observar a relevância desta função também nas empresas com
estratégia imitativa, que devem obter certas vantagens para competir com os
inovadores, podendo ser capazes de operar com alta eficiência o processo de
produção (FREEMAN, 1997).
76
A função “controle de qualidade da produção” corresponde, além do controle,
ao planejamento do processo produtivo e determina as condições em que o projeto
será realizado. Esta fase tem como objetivo a redução de falhas no processo e a
melhoria na produtividade. Ela também pode representar, segundo as colocações de
Freeman (1997), uma forma de avaliar a capacidade inovativa da empresa, que o
processo de criação influencia diretamente o produto ou serviço final. Por se tratar
de uma função de cil verificação, foi avaliada através de questionamentos diretos
sobre a existência de procedimentos de controle (perguntas 30 e 31) e de
certificações de qualidade, resultado de auditoria externa (pergunta 32).
O desenvolvimento e/ou comercialização de um produto ou serviço exige
também que a empresa passe pela implementação de práticas ou procedimentos
que maximizem os resultados almejados. A função “serviços técnicos” tem esse
objetivo no processo inovativo e foi avaliada através dos exemplos indicados por
Freeman (1997), como a existência de assistência técnica (pergunta 34) e manuais
de utilização (pergunta 35).
Além dos recursos aplicados nas atividades de P&D propriamente dito, os
investimentos em inovação tecnológica compreendem os dispêndios com uma gama
de atividades, que incluem a aquisição de tecnologia. As “patentes” no caso do
setor pesquisado adotou-se a expressão “registro de software” – são uma boa
medida da atividade citada e foi avaliada no questionário através de questões que
indagam sobre a intenção de registrar algum software desenvolvido pela empresa
(pergunta 36) e o registro efetivo de produtos (pergunta 37). Além disso, na primeira
parte do questionário foi perguntado sobre o número de registro de softwares da
empresa como forma de identificar o perfil dos participantes.
77
Em relação às fontes do processo de inovação, destaca-se a importância não
de fontes internas, mas também, das múltiplas relações externas mantidas por
uma firma (BRAZIL, 2004). Neste trabalho a função “Informações técnicas e
científicas” mede essa interação, seja nas relações com os responsáveis pelos
fluxos de informações técnicas e científicas (pergunta 40), seja com os concorrentes
(pergunta 41) ou clientes (pergunta 38). Além disso, foi avaliada a importância dada
pelas empresas participantes às tecnologias disponíveis no mercado como fonte
de desenvolvimento de produtos (questão 45).
Além das áreas ligadas diretamente ao desenvolvimento e controle de
produto e processo, também é importante para a execução do projeto o
recrutamento e o treinamento de pessoal para a realização das tarefas relacionadas
com o desenvolvimento e aprimoramento da tecnologia. Neste caso, quanto mais
qualificados forem os profissionais, melhores serão as condições para que a
empresa desenvolva os seus conhecimentos e se torne mais inovativa, mantendo,
por exemplo, uma estratégia ofensiva. A função “educação e treinamento” do
pessoal próprio, avaliadas pelas questões 42 e 43, pode ser traduzida, segundo o
próprio Freeman (1997), pela existência de cursos, universidades corporativas e pela
preocupação em ter profissionais treinados para lidar com P&D.
Bethlem (2004) afirma que a partir da definição da visão e previsões para a
organização são definidas as estratégias que vão fixar o futuro da organização.
Assim, a identificação da importância de “previsões de longo prazo e planejamento
do produto” é função importante para conhecer as estratégias (inclusive de
inovação) traçadas pela organização. Essa função foi avaliada no questionário
proposto através da questão 44.
78
As perguntas que foram informadas com o objetivo de obter indicativos da
adoção de determinada estratégia seguiram o modelo das perguntas formuladas por
CASTRO (2004) em sua pesquisa. Algumas destas perguntas dizem respeito a mais
de uma estratégia proposta por Freeman (1997), como colocado a seguir:
- Estratégia ofensiva: perguntas 24 e 47;
- Estratégia defensiva: perguntas 25, 26 e 47;
- Estratégia imitativa: perguntas 25, 26 e 46;
- Estratégia dependente: perguntas 33 e 39;
- Estratégia tradicional: perguntas 33 e 46;
- Estratégia oportunista: pergunta 39.
Tabela 6: Distribuição por Função das Perguntas da Terceira parte do Questionário
Funções Perguntas
Pesquisa básica e aplicada 20, 21, 22 e 23
Desenvolvimento experimental 27
Engenharia de projeto 28 e 29
Controle de qualidade da produção 30, 31 e 32
Serviços técnicos 34 e 35
Patentes 36 e 37
Informações técnicas e científicas 38, 40, 41 e 45
Educação e treinamento 42 e 43
Previsões de longo prazo e planejamento de produto 44
Perguntas indicativas da adoção de determinada estratégia 24, 25, 26, 33, 39, 46 e 47
O questionário completo disponibilizado para os participantes da pesquisa é
apresentado no Anexo IV, ao final desse trabalho.
79
5 RESULTADOS DA PESQUISA
As empresas que participaram da presente pesquisa estavam, em sua
totalidade, localizadas no Estado do Rio de Janeiro.
A partir dos 533 questionários enviados, obteve-se uma amostra efetiva de
279 empresas (emails visualizados) e 34 respostas espontâneas (12% de retorno).
As outras respostas foram conseguidas através de trabalho via contato telefônico,
onde foi solicitado o preenchimento do questionário. Assim, chegou-se ao número
de 45 questionários, atingindo 16% de taxa de resposta.
Três análises foram feitas a partir dos dados disponíveis: a primeira,
descritiva, diz respeito à caracterização da amostra; logo após foi realizada uma
análise fatorial, com intenção de reduzir e simplificar as variáveis; e, por último, foi
realizada a análise de clusters para agrupar as empresas participantes em grupos
por suas características individuais mais importantes.
5.1 Análise Descritiva
5.1.1 Caracterização da Amostra
Para esta análise, utilizou-se a primeira parte do questionário (perguntas de 1
a 10), como forma de apresentar o perfil das empresas participantes.
Com exceção da informação sobre o faturamento das empresas, todas as perguntas
eram de respostas obrigatórias. Assim, o número de observações para
cada questão é 45, enquanto que na questão 3 (faturamento bruto),
obteve-se 32 respostas.
80
Na maioria das perguntas criou-se alternativas de respostas para facilitar a
agregação dos resultados. Por esse motivo, as tabelas apresentadas nesta seção
são significativas dos resultados obtidos.
Tabela 7: Tempo de Atuação no Mercado
Anos
Quantidade de
empresas
Até 1 0 0%
De 1 a 3 7 16%
De 4 a 7 9 20%
De 7 a 10 13 29%
Mais de 10 16 36%
Foi perguntada aos respondentes dos questionários sua(s) área(s) de atuação
dentro da empresa. Assim, como se pode observar na Tabela 8, estes profissionais
concentraram-se, predominantemente, nas funções técnica, comercial e gerencial.
Tabela 8: Áreas de Atuação dos Respondentes (múltiplas respostas)
Área
Quantidade de
empresas
Técnica 31 69%
Comercial 25 56%
Gerencial 32 71%
Financeira 11 24%
Outras 5 11%
A pergunta a respeito do faturamento bruto possuía um campo aberto para a
resposta, devido à grande variedade de organizações (diferentes áreas de atuação,
produtos ou tamanho). Para facilitar a tabulação dos dados, depois de respondidos
os questionários, adotou-se uma classificação em 4 níveis, como apresentado na
tabela 8. O faturamento médio das empresas foi de R$ 1.443.067,00 (DP= R$
3.606.373,00) e mediana de R$ 300.000,00. O menor faturamento observado foi de
81
R$ 200,00 e o maior de R$ 20.225.823,57, o que explica o alto valor do desvio
padrão.
Tabela 9: Faturamento Bruto em 2004 (em R$ 1,00)
Valor
Quantidade de
empresas
Até 1 milhão 24 75%
De 1 a 2,5 milhões 3 9%
De 2,5 a 5 milhões 4 13%
De 10 a 50 milhões 1 3%
Tabela 10: Número de Profissionais Vinculados à Empresa
Número
Quantidade de
empresas
Até 10 20 44%
Entre 11 e 20 11 24%
Entre 21 e 50 7 16%
Entre 51 e 100 5 11%
Mais de 100 2 4%
5.1.2 Caracterização da Capacidade de Inovação das Empresas Pesquisadas
O número de funcionários envolvidos diretamente no desenvolvimento de
produtos pode ser uma boa medida da preocupação da firma com a inovação ou
lançamento de novos produtos no mercado. No entanto, pôde-se observar, a partir
da análise de clusters (objeto de maiores detalhes na seção 5.3), que esse número
pode estar também relacionado ao número de funcionários total da empresa, na
seguinte proporção: quanto mais profissionais, menor o percentual de pessoas
envolvidas diretamente no desenvolvimento de produtos.
82
Tabela 11: Funcionários Responsáveis pelo Desenvolvimento de Produtos
% de funcionários
Quantidade de
empresas
Até 10% 7 16%
De 10% até 25% 7 16%
De 25,1% até 50% 15 3%
De 50,1% até 75% 4 9%
De 75,1% até 100% 12 27%
O questionamento sobre o número de registros de softwares obtidos pela
empresa também foi apresentada com um campo aberto, que é provável o fato de
o universo apresentar empresas com diferentes preocupações e estratégias,
conforme procura-se identificar nesse trabalho. Cabe ressaltar que o valor mínimo
encontrado para essa resposta foi 0 (zero), o máximo 200 e o segundo maior
valor,15. Devido a esse valor máximo muito distinto dos demais, optou-se por
agrupar os dados (Tabela 12), para evitar que essa resposta distorcesse a média
obtida com as outras observações.
Tabela 12: Número de Softwares Registrados pela Empresa
Quantidade de
empresas
Nenhum 20 44%
1 a 3 16 36%
5 ou mais 9 20%
As perguntas 7 (principal fonte de idéias para o desenvolvimento de produtos)
e 8 (tipo de software desenvolvido pela empresa) estão diretamente relacionadas,
que empresas com foco no cliente, geralmente, desenvolvem produtos
customizados, mediante as necessidades dos mesmos. As Tabelas 13 e 14 indicam
essa relação.
83
Tabela 13: Fonte de Idéias para o Desenvolvimento de Produtos
Quantidade de
empresas
Clientes 26 58%
Funcionários 5 11%
Outros produtos no mercado 5 11%
Seminários e congressos técnicos 2 4%
Outros
7 16%
Tabela 14: Tipos de Softwares Desenvolvidos
Tipos
Quantidade de
empresas
Software pacote: desenvolvido para
comercialização em massa 5 11%
Software customizado: atendendo às
necessidades específicas dos clientes
22 49%
Ambos 18 40%
Tabela 15: Participação em Feiras e/ou Congressos em 2004
Quantidade
Quantidade
de empresas
Até 3 39 87%
Entre 4 e 7 3 7%
Entre 8 e 12 2 4%
13 ou mais 1 2%
O número médio de feiras e/ou congressos dos quais as empresas
participaram em 2004 foi de 2 eventos (DP=2,93). O número mínimo observado foi
de nenhum evento e o máximo de 15.
Tabela 16: Utilização de Fontes de Financiamento ou Fomento Governamental
Quantidade de
empresas
Sim 10 22%
Não 35 78%
84
Os resultados obtidos podem ser resumidos da seguinte forma:
- 36% de empresas com mais de 10 anos de atuação no mercado;
- 75% das empresas apresentaram faturamento bruto de até 1 (um) milhão de
reais;
- Grande parte das empresas aparenta ser de menor porte, com 44% delas com
até 10 profissionais vinculados à empresa e apenas duas, das 45 pesquisadas,
com mais de 100;
- Apesar de ter tido uma amostragem bem distribuída, o maior percentual
observado (27%) informou que 75 a 100% de seus profissionais estão envolvidos
na área técnica, de desenvolvimento de produtos;
- Quase metade das empresas não possui nenhum registro de software e 20%
delas apresentam mais de 5 registros;
- A maioria dos participantes (58%) declarou estar no cliente sua principal fonte de
idéias
- Quase metade das firmas (49%) desenvolve softwares customizados, atendendo
às necessidades específicas dos clientes;
- 87% dos respondentes participaram de até 3 feiras ou congressos em 2004
(média de 2 eventos); e
- 78% das firmas desenvolvem seus projetos sem depender de fontes de
financiamento ou fomento governamental.
A tabela abaixo traz o nível de importância dado pelas empresas às
atividades listadas, conforme questionamentos constantes da segunda parte do
questionário:
85
Tabela 17: Importância das Funções Inovadoras na Visão dos Respondentes
Não
desempenhada
pela empresa
Pouca
importância
Média
importância
Muita
importância
3 2 14 26 Pesquisa básica e
aplicada
7% 4% 31% 58%
3 4 15 23 Desenvolvimento
experimental
7% 9% 3% 51%
2 4 9 30
Engenharia de projeto
4% 9% 20% 67%
3 3 9 30 Controle e qualidade
da produção
7% 7% 20% 67%
3 3 11 28
Serviços técnicos
7% 7% 24% 62%
14 16 9 6
Registros de software
31% 36% 20% 13%
3 7 19 16 Informações técnicas
e científicas 7% 16% 42% 36%
2 6 14 23 Educação e
treinamento
4% 13% 31% 51%
3 5 16 21 Previsões de longo
prazo e de produto 7% 11% 36% 47%
86
5.2 Análise Fatorial
5.2.1 Discussão Metodológica e Definição dos Fatores
Segundo Hair et al (2005), análise fatorial é o nome atribuído a uma classe de
métodos estatísticos multivariados, cujo propósito principal é definir uma estrutura
subjacente a partir de uma matriz original de dados. Essa nova estrutura tem por
objetivo minimizar o problema de analisar as inter-relações (correlações) entre um
grande número de variáveis, definindo, assim, um conjunto de dimensões latentes
comuns, chamadas de fatores.
Pode-se identificar duas técnicas para análise multivariada de dados: a
técnica de dependência – onde uma variável (ou um conjunto delas) é definida como
a “variável dependente” a ser explicada por todas as outras, as “variáveis
independentes” e a técnica de interdependência, que envolve a análise de todas
as variáveis em conjunto (nenhuma é definida como dependente ou independente).
Neste caso, pode-se definir a análise fatorial como uma técnica de interdependência
na qual todas as variáveis são simultaneamente consideradas, cada uma
relacionada com todas as outras, desenhando, então, o conceito de variável
estatística (composição linear de variáveis). Estas variáveis (fatores) o extraídas,
portanto, para maximizar seu poder de explicação do conjunto inteiro de variáveis, e
não para prever uma variável dependente (HAIR et al, 2005).
Para esta análise foram utilizadas as respostas às vinte e oito perguntas da
terceira parte do questionário. As perguntas eram objetivas, com resposta limitada a
cinco opções pré-definidas, distribuídas em uma escala Likert (que se enquadra na
gradação utilizada por Freeman), como mostrado a seguir:
87
Quadro 5: Tipo de Resposta da Terceira parte do Questionário
1 2 3 4 5
Discordo
Fortemente
Discordo Indiferente Concordo
Concordo
Fortemente
Para verificar a efetividade e adequação da aplicação da técnica foram
realizados alguns testes. O teste de esfericidade de Bartlett testa se a matriz de
correlação é uma matriz identidade, isto é, se a cada variável correlaciona-se
consigo própria e não se correlaciona com as demais. Para Hair et al (2005),
considera-se para a análise matrizes com significância menor que 0,100. No
presente estudo encontrou-se o valor 0,000, concluindo-se que os dados o
adequados para o processo da análise fatorial.
Uma outra medida para qualificar o grau de intercorrelações entre as variáveis
e a adequação da análise fatorial é a medida de adequação da amostra (KMO-
MSA). Esse índice varia de 0 a 1, alcançando 1 quando cada variável é
perfeitamente prevista sem erro pelas outras variáveis. A medida pode ser
interpretada com as seguintes orientações: 0,80 ou acima, admirável; 0,70 ou acima,
mediano; 0,60 ou acima, medíocre; 0,50 ou acima, ruim; e abaixo de 0,50,
inaceitável. Para os dados apresentados obteve-se um índice de 0,607 mostrando
que, apesar de aceitável, alcançou-se um baixo valor para as correlações da
amostra. No entanto, Hair et al (2005) afirmam que o valor do MSA é diretamente
proporcional ao tamanho da amostra, o que deve explicar o baixo índice verificado.
Verificada a validade da análise para o presente estudo, cabe observar que
como muitas das perguntas visavam medir uma mesma função proposta por
Freeman (1997), conforme mostrado na tabela 6, decidiu-se agrupar as respectivas
88
respostas, a partir de uma média, em 9 variáveis. Como regra geral, o tamanho da
amostra deve ter, no mínimo, cinco vezes mais observações do que o número de
variáveis a serem analisadas (HAIR et al, 2005), número esse atingido nessa
pesquisa (45 respostas para 9 variáveis). O programa utilizado para fazer toda a
análise foi o SPSS versão 13.
O primeiro passo para a análise fatorial focaliza-se em calcular a matriz de
correlação. Uma vez que as variáveis são especificadas e a matriz de correlação é
preparada, pode-se aplicar a análise fatorial para identificar a estrutura latente de
relações. Um dos métodos utilizados para tal é a análise de “fatores comuns”, que é
usada principalmente para identificar fatores ou dimensões latentes que refletem o
que as variáveis têm em comum. O outro método utilizado é o de “componentes
principais”, que tem como preocupação central a determinação do número mínimo
de fatores que expliquem a variância total.
O conceito de comunalidades, ligado à análise de “fatores comuns”, indica
estimativas da variância compartilhada entre as variáveis, ou seja, a quantia total da
variância que uma variável compartilha com todas as outras variáveis incluídas na
análise. Hair et al (2005) destacam que quando o número de variáveis exceder 30
ou o valor encontrado para cada variável for acima de 0,60, os dois métodos de
análise tendem a apresentar resultados muito próximos ou idênticos. Os valores
encontrados são apresentados na tabela a seguir:
89
Tabela 18: “Comunalidade” das Variáveis Originais
Valores Iniciais Valores extraídos
Pesquisa básica e aplicada 1,000 0,754
Desenvolvimento experimental 1,000 0,751
Engenharia de projeto 1,000 0,684
Controle de qualidade da produção 1,000 0,568
Serviços técnicos 1,000 0,879
Patentes 1,000 0,811
Informações técnicas e científicas 1,000 0,671
Educação e treinamento 1,000 0,795
Previsões de longo prazo e planejamento de produto 1,000 0,725
Os índices encontrados indicam que, independentemente do método adotado,
o resultado da análise fatorial tende a ser próximo. Adotou-se neste trabalho o
método de componentes principais, disponível no SPSS.
Outra orientação de Hair et al (2005), indica que as variáveis que apresentam
valores maiores que 1 e/ou menores que 0 são inválidas, exigindo a eliminação da
análise, o que não aconteceu nas comunalidades encontradas.
Há diversos processos para determinação do número de fatores como o
“critério a prioriem que o pesquisador tem uma idéia inicial de quantos fatores
devem ser extraídos; o “critério da raiz latente”, com base nos autovalores ou raízes
latentes (eigenvalues) maiores que a unidade; o critério de “percentagem da
variância”, com base no cálculo do percentual de variância total acumulada
explicada pelos fatores; e, finalmente, o “critério do teste scree” (HAIR et al., 2005).
O critério adotado neste estudo foi o da raiz latente, técnica mais comumente
usada, onde qualquer fator individual deve explicar a variância de pelo menos uma
variável para ser mantido para a análise. Cada variável contribui com um valor 1 do
autovalor total. Portanto, apenas fatores que tem raízes latentes maiores que 1 são
90
considerados significantes. A tabela abaixo mostra os autovalores encontrados e o
número de fatores a serem extraídos.
Tabela 19: Autovalores, Percentual de Variância e Percentual de Variância
Acumulada
Componentes
Autovalores Número de Fatores
Total
% da
Variância
%
Acumulado
Total
% da
Variância
%
Acumulado
1 2,775 30,830 30,830 2,775 30,830 30,830
2 1,624 18,049 48,879 1,624 18,049 48,879
3 1,231 13,676 62,555 1,231 13,676 62,555
4 1,008 11,204 73,759 1,008 11,204 73,759
5 0,780 8,661 82,420
6 0,503 5,594 88,014
7 0,453 5,033 93,047
8 0,340 3,778 96,825
9 0,286 3,175 100,00
Complementarmente, uma ferramenta importante na interpretação de fatores
é a rotação fatorial, onde os eixos de referência dos fatores são rotacionados em
torno da origem até que alguma outra posição seja alcançada. Isso é realizado
porque as soluções de fatores não-rotacionados extraem fatores na ordem de sua
importância. Assim, o primeiro fator tende a ser um fator geral com quase toda a
variável com carga significante, e explica a quantia maior de variância. O segundo
fator e os seguintes são então baseados na quantia residual de variância. Deste
modo, cada fator explica porções sucessivamente menores de variância. Logo, o
objetivo final de rotacionar a matriz fatorial é redistribuir a variância dos primeiros
fatores para os últimos com objetivo de atingir um padrão fatorial mais simples e
teoricamente mais significativo (HAIR et al, 2005).
91
Na prática, o objetivo de todos os métodos de rotação é simplificar as linhas e
colunas da matriz fatorial para facilitar a interpretação as colunas representam
fatores e as linhas correspondem às cargas
5
de uma variável ao longo dos fatores.
Hair et al (2005) explicam que por simplificação das linhas, entende-se tornar o
máximo de valores em cada linha tão próximos de zero quanto possível (isto é,
maximizar a carga de uma variável em um único fator). a simplificação das
colunas, similarmente, significa tornar o máximo de valores em cada coluna tão
próximos de zero quanto possível (ou seja, tornar o número de cargas “elevadas” o
menor possível).
O critério de rotação matricial utilizada nesse estudo é o VARIMAX, onde
observa-se uma tendência para algumas cargas altas, ou seja, próximas a -1 ou +1,
e algumas cargas próximas de 0 em cada coluna da matriz. Isso torna análise mais
fácil, pois pode-se identificar facilmente uma correlação (positiva ou negativa) alta,
quando as cargas fatoriais estão próximas de +1 ou-1 ou baixa, quando se
aproximam de 0.
Além disso, para que se tenha significância prática, considera-se que as
cargas fatoriais maiores que 0,30 atingem o vel mínimo, enquanto cargas de 0,40
são consideradas mais importantes; se as cargas são iguais ou maiores que 0,50,
elas são consideradas com significância prática. Logo, quanto maior o valor absoluto
da carga fatorial, mais importante a carga na interpretação da matriz fatorial.
Como a carga fatorial é a correlação da variável e do fator, a carga ao
quadrado é a quantia de variância total da variável explicada pelo fator (HAIR et al,
2005). Assim, uma carga de 0,50 (0,50²=0,25) denota que 25% da variância é
5
correlação de cada variável com o fator, onde cargas maiores indicam que a variável representativa
do fator
92
explicada pelo fator. Se a carga exceder, então, 0,70, o fator explica 50% ou mais da
variância.
Os fatores e as cargas fatoriais da matriz rotacionada são apresentados no
quadro 6.
Quadro 6: Matriz Fatorial Rotacionada
Fatores
Variáveis
1 2 3 4
8 - Educação e treinamento 0,875
4 - Controle de qualidade da produção 0,710
1 - Pesquisa básica e aplicada 0,680
2 - Desenvolvimento experimental 0,817
3 - Engenharia de projeto 0,817
6 - Patentes 0,861
7 - Informações técnicas e científicas 0,660
5 - Serviços técnicos 0,866
9 - Previsões de longo prazo e planejamento de produto 0,654
Para verificar a confiabilidade ou consistência do resultado, podemos utilizar o
alfa de Cronbach, uma medida de consistência interna (inter-relação das variáveis
de cada fator), que varia de 0
a 1, indicando baixa e alta correlação,
respectivamente. Os alfas dos 4 fatores gerados são:
Tabela 20: Alfas de Cronbach dos Fatores
Fatores Alfas de Cronbach
Fator 1 0,657
Fator 2 0,632
Fator 3 0,554
Fator 4 0,618
93
Pelas orientações de Hair et al (2005) o limite inferior do alfa de Crombach em
uma pesquisa exploratória deveria ser 0,60. No entanto, apesar de três fatores
estarem acima desse limite, o fator 3 apresenta valor um pouco abaixo. Acredita-se
que o fato possa ter ocorrido em função do tamanho da amostra.
5.2.2 Interpretação dos Fatores
Após a rotação da matriz fatorial encontrou-se, portanto, 4 fatores que são
explicados pelo agrupamento dos fatores iniciais.
O fator 1 é formado pelas funções “Pesquisa Básica e Aplicada”, “Controle de
Qualidade da Produção” e “Educação e Treinamento”. Esse fator responde por
30,83% da variância total e foi denominado Função P&D Propriamente Dito. Esse
fator não é explicado apenas pela pesquisa básica e aplicada, mas por outras
funções que podem ser relacionadas. A função “Educação e Treinamento” pode
explicar, em grande parte, o desenvolvimento de pesquisa dentro das empresas
pesquisadas. Acredita-se também, que o “controle e qualidade da produção” pode
ser conseqüência das outras duas variáveis.
O segundo fator encontrado compreende 18,049% da variância total e
denominou-se, para fins de interpretação, de Fator Processo Produtivo. As
variáveis que compõem esse fator são: Desenvolvimento Experimental e Engenharia
de Projeto. Acredita-se que ambas as variáveis estão ligadas à preocupação com a
eficiência do processo de produção, tanto em seu planejamento (engenharia de
projeto), quanto no processo em si (desenvolvimento experimental).
94
O que se chamou de Fator Função Técnica, engloba os fatores “Patentes” e
“Informações Técnicas e Científicas”. O fator corresponde a 13,676% da variância
total e é explicada pela busca e proteção das informações técnicas.
O último fator representa 11,204% da variância total e é composto pelas
variáveis “Serviços cnicos” e “Previsões de longo prazo e planejamento de
produto”. Esse fator foi denominado de Fator Ações Orientadas para o Mercado.
O quadro 7 apresenta um resumo dos fatores extraídos, bem como a média
de respostas (variando de 1 a 5) e o desvio padrão.
Quadro 7: Resumo das Respostas de cada Fator
Fator Itens Média
Desvio
Padrão
Pesquisa básica e aplicada 3,5 0,8
Controle de qualidade da produção 3,7 0,6
Fator1
Educação e treinamento 3,4 0,7
Desenvolvimento experimental 4,2 0,8
Fator2
Engenharia de projeto 4,0 0,9
Patentes 3,2 1,1
Fator3
Informações técnicas e cientificas 3,2 0,7
Serviços técnicos 4,2 0,8
Fator4
Previsões de longo prazo e planejamento de produto 3,8 0,9
Pode-se observar, a partir da análise do quadro 6, que o fator 1, ligado ao
desenvolvimento de pesquisa na empresa, não obteve os índices de respostas mais
altas para cada função. Ao contrário, o fator 2 (Função Técnica) e o fator 4 (Ações
Orientadas para o Mercado) obtiveram a maior média de importância ligadas às
funções relacionadas, com destaque para “Desenvolvimento Experimental” e
“Serviços Técnicos”. Esse fato leva a crer que a qualidade e o pós-venda do produto
sejam fatores importantes para a permanência ou entrada no mercado. Cabe
95
destacar, ainda, que o Fator 3 (Função Técnica) obteve menor importância de
acordo com a média de respostas dos participantes, o que pode significar falta de
necessidade na busca e proteção de informações para a permanência no mercado
ou, inclusive, falta de uma estrutura que possibilite (ou facilite) essas ações na
região.
5.3 Análise de Clusters
5.3.1 Discussão Metodológica
A Análise de Clusters, bem como a análise fatorial, é uma metodologia
multivariada de análise de dados. Entretanto, o objetivo aqui não é agrupar
variáveis, mas observações (no caso, empresas) semelhantes, tomando por base as
variáveis (características) que as definem.
Deve-se deixar claro que a análise de clusters é caracterizada por Hair et al
(2005) como descritiva, sem base teórica, e é utilizada para esboçar inferências
estatísticas sobre uma amostra da população em um estudo exploratório. Assim,
cabe ao pesquisador definir o todo de comparação simultânea a ser adotado,
bem como as variáveis a serem utilizadas.
Para a determinação dos clusters utilizou-se o procedimento hierárquico, que
envolve a definição de uma hierarquia em uma estrutura tipo árvore. Os tipos de
procedimentos hierárquicos de agrupamento são denominados divisivos e
aglomerativos. O método adotado neste trabalho foi o aglomerativo que, ao contrário
do divisivo, que parte de um grande agregado que se subdivide em agrupamentos
menores, considera, inicialmente, cada observação em seu próprio agrupamento.
96
Nos passos posteriores, procura-se juntar as observações com o objetivo de formar
clusters com características semelhantes (HAIR et al, 2005).
O procedimento acima descrito gera um gráfico parecido com uma árvore,
denominado dendograma ou diagrama vertical e inicia-se com a computação de uma
matriz de distâncias entre as observações, sendo repetido em diferentes níveis até
formar uma árvore que mostra as sucessivas fusões, culminando com a fase em que
todas estão em um mesmo cluster.
A decisão do número de clusters ou classes para análise é tomada,
geralmente, a partir do exame do dendograma, onde podem ser visualizadas as
distâncias entre os clusters nas diferentes fases do método. Um grande salto nas
distâncias exibidas pelo dendograma indica que a agregação reuniu dois clusters
muito distantes ou diferentes e, em razão disso, deve-se definir o número de clusters
anterior a esse salto.
5.3.2 Clusters Obtidos
Para o tratamento dos dados deste trabalho foi utilizada a Análise de Cluster
pelo método de Ward, com similaridade medida pela distância chi-square
6
- foram
utilizadas as variáveis da primeira parte do questionário, mas, a fim de facilitar as
análises, foram eliminadas duas questões na determinação dos agrupamentos.
A pergunta 3, por ser de preenchimento facultativo, continha resposta de
apenas 13 das 45 empresas. Entretanto, pôde-se observar uma alta correlação
positiva entre essa questão e a variável “número de profissionais”, que entrou na
análise.
6
No método de Ward a distância entre dois agrupamentos é a soma dos quadrados entre dois agrupamentos feita
sobre todas as variáveis (HAIR et al, 2005)
97
A pergunta 2 (áreas de atuação do respondente) também foi excluída da
análise por acreditar-se que a mesma deveria ser considerada apenas em uma
primeira identificação do perfil geral dos participantes, não sendo variável relevante
para a formação dos clusters.
Cabe ressaltar que, como explicado na análise descritiva (item 5.1 deste
trabalho), a questão 6 (registros de software) entrou na análise como variável
categórica em três níveis.
A partir da análise do dendograma, optou-se por adotar 3 clusters. A figura 4
demonstra o dendograma resultante e a tabela 21 aponta as empresas presentes
em cada cluster. Os clusters encontrados podem ser sintetizados como segue:
O Cluster 1, com 24 observações, é composto por empresas menores (63%
com até 10 funcionários) e com o maior percentual de profissionais envolvidos com o
desenvolvimento de produtos. Acredita-se que essa segunda característica se
relaciona com o tamanho da empresa, ou seja, em uma empresa com poucos
profissionais a maioria deve estar envolvida com a atividade principal da firma.
Esse grupo também se caracteriza por ser composto por um maior percentual
de empresas especializadas em software pacote (desenvolvidos para a
comercialização em massa) e por um menor percentual de firmas que fazem uso de
fontes de financiamento governamental. As empresas demonstraram pouco
interesse (ou condições) na busca de informações técnicas externas, quase não
tendo participado de feiras e congressos.
Uma das conclusões possíveis é afirmar que as empresas do Cluster 1 são
empresas novas no mercado e por isso desenvolvem produtos para clientes
genéricos (já que ainda não teriam clientela formada), além de apresentarem
dificuldades de acesso a informações ou financiamento. Cabe destacar, entretanto,
98
que, diferentemente do modelo de negócios apresentado anteriormente, pressupõe-
se que os “pacotes” aqui desenvolvidos atendam a um número menor de clientes.
Figura 4: Dendograma
C A S E 0 5 10 15 20 25
27

44

42

28

12

38
 
07

22
 
40

45
 
43

10

26

19
 
32
 
02

24
 
14

15
 
09

25

34

35
 
18

20
 
36

01
 
08

13
 
23

05
 
11

16

04
 
21

06
 
03
 
39

41
 
29
 
33
 
30

31

17

37

99
Tabela 21: Distribuição das Empresas por Clusters
Cluster Empresas
1 1 3
4
5
6
8
11
13
16
17
18
20
21
23
29
30
31
33
34
35
36
37
39
41
2 2 9
10
14
15
19
24
25
26
32
3 7 12
22
27
28
38
40
42
43
44
45
o Cluster 2 é formado por 10 pequenas e médias empresas, com
percentual médio de profissionais envolvidos no desenvolvimento de produtos (60%
das empresas possuem de 25 a 50% dos profissionais envolvidos nesta atividade).
Essas empresas possuem o maior percentual de empresas com registros de
software (40% das empresas possuem 5 ou mais registros) e 90% delas afirmam ser
os clientes a principal fonte de idéias. Esse grupo apresentou o maior percentual de
empresas que fazem usos de fontes de financiamento governamental.
É razoável inferir que o cluster 2 representa um grupo de empresas
essencialmente desenvolvedoras de software (não realizam atividades paralelas ou
complementares) e estruturadas no mercado. A preocupação com registros de
software demonstra a importância dada às informações e à parte técnica dentro da
organização.
As 11 observações restantes deram origem ao Cluster 3, no qual 55% das
empresas estão há mais de 10 anos no mercado. Este cluster é formado por
empresas maiores (54% com mais de 50 profissionais) e menor percentual de
profissionais envolvidos com o desenvolvimento direto de produtos (45% delas com
até 10% dos funcionários). Essas empresas afirmaram ser mais especializadas em
softwares customizados (que atendem a necessidades específicas dos clientes) e
possuem maior participação, em comparação às empresas dos outros clusters, em
feiras e congressos.
100
Pelas características encontradas podemos deduzir que esse grupo é
composto por firmas que desenvolvem mais de uma atividade no mercado. Isso
explicaria o fato do pequeno percentual de profissionais envolvidos no
desenvolvimento de software e a especialização em software customizado (essas
empresas, em geral, desenvolvem programas como forma de apoio a outras
atividades consultoria empresarial, por exemplo e de acordo com a necessidade
de cada cliente).
Os anexos I e II apresentam, respectivamente, a análise descritiva dos
clusters e os índices médios, por cluster, das respostas às variáveis da terceira parte
do questionário. A partir da análise dessas tabelas, pode-se tirar conclusões sobre
as estratégias de inovação adotadas pelas firmas, baseado no modelo proposto por
Freeman (1997). Essas conclusões são apresentadas no próximo item deste estudo.
5.4 Conclusões sobre os Resultados da Pesquisa
Para as conclusões sobre os resultados das análises realizadas utilizou-se
primeiramente a média do índice de respostas das perguntas 20 a 47, distribuídas
de acordo com os clusters encontrados. Para tanto, encontrou-se a média relativa a
cada função que se desejava analisar por meio das respostas contidas na tabela 32,
do anexo II. Os resultados obtidos são apresentados abaixo:
101
Tabela 22: Resumo das Respostas da Terceira Parte do Questionário
Cluster
Atividade
1 2 3
Pesquisa básica e aplicada 3,4 3,7 3,7
Desenvolvimento experimental 4,5 4,0 3,8
Engenharia de projeto 4,2 3,6 4,1
Controle de qualidade da produção 3,6 3,9 3,4
Serviços técnicos 4,3 4,3 4,0
Registros de Software 3,1 3,5 3,3
Informações técnicas e científicas 3,2 3,1 3,4
Educação e treinamento 3,8 3,3 3,6
Previsões de longo prazo e planejamento de
produto
4,1 3,1 3,6
A partir destes resultados, partiu-se para a alocação e verificação dos índices
com base no modelo proposto por Freeman (1997), conforme apresentado no
quadro 2.
Foi possível verificar que o Cluster 2 teria uma estratégia claramente
defensiva enquanto os Clusters 1 e 3 adotariam estratégias defensivas ou imitativas,
sem uma distinção clara. Entretanto, é curioso observar que ao perguntarmos
diretamente sobre a importância atribuída a cada função do modelo proposto por
Freeman (segunda parte do questionário), poder-se-ia concluir que as empresas
teriam estratégias diferentes daquelas inicialmente encontradas. A tabela 23 mostra
os resultados obtidos para as perguntas de 11 a 19:
102
Tabela 23: Índice Médio de Importância dada às Atividades Realizadas pelas
Empresas
Cluster
Atividade
1 2 3
Pesquisa aplicada 3,6 3,2 3,1
Desenvolvimento experimental 3,5 3,2 2,9
Engenharia de projeto 3,4 3,4 3,8
Controle de qualidade da produção 3,4 3,3 3,7
Serviços técnicos 3,42 3,4 3,5
Registros de Software 2,3 2,2 1,8
Informações técnicas e científicas 3,2 2,6 3,3
Educação e treinamento 3,3 3,0 3,6
Previsões de longo prazo e planejamento de
produto
3,4 2,7 3,4
Por esses resultados é possível inferir que nenhum dos clusters teria
estratégia defensiva. As estratégias adotadas seriam a “imitativa” no caso do Cluster
3 e “Dependente” no Cluster 1. No Cluster 2 o foi possível determinar claramente
a estratégia seguida, mas poderia ser uma das adotadas pelos outros dois grupos.
Uma terceira análise diz respeito às perguntas elaboradas com o intuito de
indicar a adoção de determinada estratégia pelas empresas (perguntas 24, 25, 26,
33, 39, 46 e 47). O maior índice encontrado entre essas perguntas foi relativo às
respostas da questão 39, que era indicativa de uma estratégia dependente ou
oportunista, como descrito na metodologia deste estudo. Os três clusters tiveram
índices de respostas acima de 4 para essa questão (Cluster 1: 4,46; Cluster 2: 4,3; e
Cluster 3: 4,36).
Por último, a partir do quadro 7 identifica-se que, quando as empresas são
colocadas em um único grupo, identifica-se a adoção de uma estratégia defensiva.
Assim, apesar de ser possível verificar uma diferenciação entre a importância
dada às questões indicativas de inovação e as ações das empresas, os resultados
103
parecem consistentes e aceitáveis, dado que podem existir significativas diferenças
entre as percepções dos respondentes e suas ões efetivas. Logo, por todas as
análises e correlações, supõe-se que todas as empresas adotem estratégias
“Defensiva”, “Imitativa” ou “Dependente”, sem uma clara distinção de estratégia entre
os clusters estudados.
104
6 Considerações Finais
6.1 Conclusões
O objetivo desta pesquisa foi identificar o grau de importância dado às
estratégias de inovação nas empresas desenvolvedoras de software do Estado do
Rio de Janeiro. Para tanto, adotou-se o modelo proposto por Freeman (1997), que
identifica 6 possíveis estratégias, conforme demonstrado neste trabalho.
Pelos resultados obtidos de-se identificar empresas de diversos perfis, com
tamanhos e produtos diferentes. Contudo, os fatores encontrados na análise fatorial,
mostram empresas pouco preocupadas com a parte técnica (busca e proteção de
informações) e com claro direcionamento para o mercado.
Os grupos encontrados na análise de Clusters revelam que, apesar de
clusters bem definidos e com perfis distintos, as empresas adotam estratégias de
inovação semelhantes (indo da “defensiva” em direção à “dependente”).
Acredita-se que esses resultados indiquem uma forma de estratégia seguida
em todo o pai, já que as empresas líderes (com estratégias ofensivas) e mais
estruturadas situam-se no mercado externo. É importante destacar, no entanto, que
algumas repostas demonstram, sim, uma preocupação com a inovação: a afirmação
33, “Ter um preço mais baixo que os concorrentes é mais importante que ter
produtos diferenciados dos deles”, que demonstraria um distanciamento de
estratégias de inovação, foi a que obteve menor índice de resposta na escala Likert
(o Cluster 1 obteve 1,79 na escala de 1 a 5). Assim, pode-se deduzir, ainda, que a
falta de incentivo (financeiro ou para a proteção das informações, essencial na
manutenção de uma vantagem competitiva) faz com que as empresas não invistam
105
significativamente em fatores ligados à pesquisa e treinamento e busquem nos
anseios do mercado, uma forma de sobreviver.
O trabalho de Castro (2004), que serviu de base para o desenvolvimento da
presente pesquisa, foi realizado no setor máquinas e implementos agrícolas do
Brasil. Castro (2004) também encontrou 3 clusters, porém, com características
distintas dos encontrados neste estudo: em todos os grupos pôde-se identificar com
mais clareza a estratégia adotada, que se encontrava entre as primeiras estratégias
do modelo proposto por Freeman (“ofensivas”, “defensivas” e “imitativas”).
A diferença entre os resultados pode ser explicada pelo setor pesquisado por
Castro, mais estruturado e com maiores dificuldades de entrada, o que estimula o
investimento com vistas a um retorno financeiro e sustentabilidade competitiva.
Logo, acredita-se que no médio prazo, com políticas de incentivos e o
amadurecimento do setor de software no Brasil (mais especificamente na região do
Rio de Janeiro), as estratégias adotadas pelas empresas pesquisadas possam se
modificar.
6.2 Limitações da Pesquisa
Durante o desenvolvimento da pesquisa foram encontradas três limitações
principais:
- Tamanho da amostra. A amostra encontrada foi suficiente para fazer as
inferências estatísticas, conforme as orientações de Hair (2005). No entanto,
acredita-se que, devido ao tamanho do universo de empresas do setor
pesquisado, uma amostra maior traria resultados mais representativos;
106
- Formulação das perguntas e viés dos respondentes. O método de pesquisa
adotado (survey) leva a alguns inconvenientes como a ausência do pesquisador
para esclarecer dúvidas do respondente e o viés na resposta dos participantes.
Esse segundo problema foi identificado quando se comparam os
questionamentos diretos (parte 2 do questionário), com os indiretos (parte 3 do
questionário), encontrando-se resultados distintos;
- Representatividade do modelo. Encontrou-se alguma dificuldade em adequar
os resultados obtidos ao modelo proposto por Freeman (1997). Essa dificuldade
deu-se, principalmente, pelo modelo constituir-se de variáveis com índices pré-
definidos, ocorrendo casos em que o modelo não apresentava o índice
encontrado.
6.3 Sugestões para estudos futuros
A partir das limitações apresentadas, surgem duas sugestões para trabalhos
futuros: a primeira consiste em analisar o modelo de Freeman, com vistas a tecer
críticas e/ou aperfeiçoar o mesmo.
O segundo ponto diz respeito ao tamanho da amostra. Como já colocado, crê-
se que uma amostra maior poderia ser mais representativa das estratégias adotadas
por todo o setor. A ampliação da região a ser pesquisada poderia, também, ser útil
para analisar o perfil das empresas do país.
Uma última sugestão está relacionada ao dinamismo do setor em questão: a
reprodução da pesquisa no futuro poderia apresentar um panorama do
desenvolvimento da indústria de software no país.
107
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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TEECE, D., PISANO, G., SCHUEN, A.. Dynamic Capabilities and Strategic
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112
8 ANEXOS
8.1 Anexo I: Análise Descritiva dos Clusters
Tabela 24: Anos no Mercado
Cluster
Anos
1 2 3
Total
0 0 0 0
Até 1
0% 0% 0%
5 1 1
De 1 a 3
21% 10% 9%
7
4 4 1
De 4 a 7
17% 40% 9%
9
6 4 3
De 7 a 10
25% 40% 27%
13
9 1 6
Mais de 10
38% 10% 55%
16
Total
24 10 11 45
Tabela 25: Número de Profissionais
Cluster
Número
1 2 3
Total
15 5 0
Até 10
63% 50% 0%
20
6 3 2
Entre 11 e 20
25% 30% 18%
11
2 2 3
Entre 21 e 50
8% 20% 27%
7
1 0 4
Entre 51 e 100
4% 0% 36%
5
0 0 2
Mais de 100
0% 0% 18%
2
Total
24 10 11 45
113
Tabela 26: Profissionais Responsáveis pelo Desenvolvimento de Produtos
Cluster
% de funcionários
1 2 3
Total
2 0 5
Até 10%
8% 0% 45%
7
4 0 3
De 10% até 25%
17% 0% 27%
7
7 6 2
De 25,1% até 50%
29% 60% 18%
15
3 1 0
De 50,1% até 75%
13% 10% 0%
4
8 3 1
De 75,1% até 100%
33% 30% 9%
12
Total
24 10 11 45
Tabela 27: Registros de Software
Cluster
Registros
1 2 3
Total
10 4 6
Nenhum
42% 40% 55%
20
10 2 4
1 a 3
42% 20% 36%
16
4 4 1
5 ou mais
17% 40% 9%
9
Total
24 10 11 45
Tabela 28: Utilização de Fontes de Financiamento e Fomento Governamental
Cluster
Utilização
1 2 3
Total
3 4 3
Sim
13% 40% 27%
10
21 6 8
Não
88% 60% 73%
35
Total 24 10 11 45
114
Tabela 29: Quantidade Média de Participação de Feiras em Congressos
Cluster
1 2 3
Participação em
2004
0,25 2,4 5,27
Tabela 30: Principal Fonte de Idéias
Cluster
Fonte
1 2 3
Total
11 9 6
Clientes
46% 90% 55%
26
4 1 0
Funcionários
17% 10% 0%
5
4 0 1
Outros produtos no
mercado
17% 0% 9%
5
0 0 2
Seminários e
congressos técnicos
0% 0% 18%
2
5 0 2
Outros
21% 0% 18%
7
Total
24 10 11 45
Tabela 31: Tipos de Softwares Desenvolvidos
Cluster
Tipo
1 2 3
Total
4 1 0
Software pacote:
desenvolvido para
comercialização em
massa
17% 10% 0%
5
10 4 8
Software
customizado:
atendendo às
necessidades
específicas dos
clientes
42% 40% 73%
22
10 5 3
Ambos
42% 50% 27%
18
Total
24 10 11 45
115
8.2 Anexo II: Análise de Cluster para a Terceira Parte do Questionário
Tabela 32: Índice Médio de Concordância com as Afirmativas da Terceira Parte do
Questionário (por cluster)
Cluster
Afirmativas
1 2 3
20) Da pesquisa científica ou acadêmica surgem idéias para novos
produtos na minha empresa.
3,42 3,70 3,00
21) Ter funcionários com pós-graduação é fundamental para o
desenvolvimento de novos produtos na minha empresa.
3,04 3,60 3,36
22) Parcerias com instituições de pesquisas ou universidades é
fundamental para desenvolver novos produtos.
3,21 3,40 3,91
23) Universidades e instituições de pesquisa são bons lugares para
contratar profissionais para a empresa.
3,92 4,10 4,36
24) Minha empresa tem preocupação de lançar produtos inéditos no
mercado periodicamente.
3,54 4,10 3,64
25) O ponto de partida para o desenvolvimento de um novo produto
na minha empresa é um produto próprio já lançado.
3,08 2,90 3,27
26) Grande parte do desenvolvimento de novos produtos na minha
empresa baseia-se na melhoria de produtos de meus concorrentes.
2,63 2,70 2,45
27) Minha empresa considera testes com protótipos fundamentais
antes da comercialização de novos produtos.
4,46 4,00 3,82
28) Minha empresa detalha no papel (ou no computador) qualquer
idéia de um novo produto antes de desenvolver um protótipo ou
produzir para fins comerciais.
4,38 4,10 4,00
29) Uma das tarefas mais importantes dos técnicos da minha empresa
é detalhar o projeto de um novo produto.
4,00 3,10 4,18
30) O controle de qualidade através da avaliação do produto pronto é
suficiente para garantir um bom produto a meus clientes.
3,17 3,10 2,45
31) O controle de qualidade deve ser feito em várias etapas durante o
processo de desenvolvimento do software.
4,42 4,70 4,45
32) Minha empresa procura ter e manter certificações de qualidade. 3,17 3,90 4,00
33) Ter um preço mais baixo que os concorrentes é mais importante
que ter produtos diferenciados dos deles.
1,79 2,30 2,55
34) Dar assistência técnica aos clientes faz parte da estratégia de
venda da empresa.
4,54 4,50 4,27
35) A empresa considera elaborar manuais ou ministrar cursos de
utilização de seus produtos uma forma importante de se aproximar de
seus clientes.
3,96 4,10 3,82
36) Há uma preocupação em que os produtos desenvolvidos gerem
um registro de software.
3,00 3,40 3,00
37) O registro de software é uma forma importante de proteção contra
cópias de meus produtos.
3,25 3,50 3,55
116
38) Antes de lançar um produto sempre faço (ou encomendo) uma
pesquisa para verificar a aceitação deles.
2,92 2,30 2,82
39) A empresa desenvolve produtos em função da necessidade de
clientes.
4,46 4,30 4,36
40) Minha empresa considera a participação em simpósios,
congressos e seminários técnicos e científicos
uma atividade de muita
importância para o desenvolvimento de novos produtos.
3,42 3,50 3,91
41) Minha empresa considera e participação em feiras e exposições
uma ótima oportunidade para conhecer os produtos lançados pelos
concorrentes.
3,75 3,70 3,82
42) A escolaridade de meus funcionários é mais relevante que a
experiência no momento da contratação.
2,67 2,60 2,91
43) Minha empresa considera iniciativas de treinamento e qualificação
profissional dos empregados fundamentais para o desenvolvimento de
novos produtos.
4,08 3,90 4,27
44) Minha empresa traça cenários de longo prazo para definir
antecipadamente em quais projetos devem investir.
4,13 3,10 3,64
45) É mais importante estar atualizado aos programas disponíveis no
mercado do que desenvolver um produto totalmente inédito.
2,75 2,70 3,00
46) Novos produtos não são prioridade na minha empresa, pois
preferimos investir em produtos já consagrados pelo mercado.
2,21 1,80 2,73
47) O lançamento de produtos pelas empresas líderes do mercado
nos exige algum tipo de inovação em nossos produtos.
3,50 3,50 3,82
117
Questão 20
Questão 22
Questão 24
Questão 21
Questão 23
Questão 25
8.3 Anexo III: Histograma das Respostas às Questões 20 a 47
Figura 5: Histograma das respostas (perguntas 20 a 25)
118
Questão 26
Questão 28
Questão 30
Questão 32
Questão 27
Questão 29
Questão 31
Questão 33
Figura 6: Histograma das respostas (perguntas 26 a 33)
119
Questão 34
Questão 36
Questão 38
Questão 40
Questão 35
Questão 37
Questão 39
Questão 41
Figura 7: Histograma das respostas (perguntas 34 a 41)
120
Questão 42
Questão 44
Questão 46
Questão 43
Questão 45
Questão 47
Figura 8: Histograma das respostas (perguntas 42 a 47)
121
8.4
Anexo IV: Questionário
Figura 9: Apresentação do questionário
122
Figura 10: Questionário (parte 1 de 9)
Figura 11: Questionário (parte 2 de 9)
123
Figura 12: Questionário (parte 3 de 9)
Figura 13: Questionário (parte 4 de 9)
124
Figura 14: Questionário (parte 5 de 9)
Figura 15: Questionário (parte 6 de 9)
125
Figura 16: Questionário (parte 7 de 9)
Figura 17: Questionário (parte 8 de 9)
126
Figura 18: Questionário (parte 9 de 9)
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