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instância, busca a ordem nos meios de produção e na luta de classes, legitimando, nesses
espaços modos de fazer, de ser e de dizer. “Existe política quando existe um lugar e
formas para o encontro entre dois processos heterogêneos” (p. 43).
Nessa nova ordem dos corpos, some-se a isso o empobrecimento do povo russo no
campo, a fome, as injustiças sociais, a entrada da Rússia na 1ª Guerra Mundial e as
sucessivas derrotas que levaram a Rússia a ser conhecida por suas contradições, por sua
opacidade social e pelo profundo nível de pobreza e servidão, o que levou os operários
pobres e camponeses a se submeterem às leis tzaristas. Com efeito, se houve libertação
do estado de servidão, nem por isso os mujiques
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adquiriram a condição de cidadãos
livres, como os demais, que permaneceram vinculados à comuna, submetidos e julgados,
em eventuais querelas, conforme as normas do direito costumeiro. Torna-se contraditório
o mesmo órgão que cria dispositivos para organizar e regular as sociedades fiscalizar o
seu funcionamento, a sua eficácia e aplicar penas aos que infringem as normas, pois se
corre o risco de advogar sempre em causa própria.
A queda do tzar em oito de março de 1917 levou ao poder um governo provisório
comandado pela burguesia russa. Por conseqüência, aboliram-se a censura à imprensa e a
pena de morte aos que praticassem crimes políticos, dando a todos os partidos o direito
de manifestação. Porém, em julho, o governo provisório, então liderado por Lvov, tentou
reprimir manifestações bolcheviques e foi derrubado. Seu substituto foi Alexander
Kerenski
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. Em outubro, Lênin
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, apoiado por Trotsky e pelas forças bolcheviques,
constituídas por soldados e operários armados, tomou o poder. Lênin logo tirou a Rússia
da guerra, eliminou os latifúndios, decretou o controle operário sobre as fábricas,
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Uma das manifestações do movimento operário na Rússia foi consolidada através dos mujiques
(designação dada aos camponeses russos que eram muito pobres), em janeiro de 1905, operários e
proletariado, em São Petersburgo, liderados pelo padre Gapon, da Igreja Ortodoxa Russa, na qual foram
massacrados pelos cossacos (nome dado à tropa de soldados imperial). Nessa passeata, levariam ao czar
Nicolau II um documento clamando por alguns direitos sociais, políticos, religiosos, trabalhistas, além da
convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte. Mas czar reagiu e ordenou o seu massacre, que
ficou conhecido como o Domingo Sangrento. Numa reação ao Domingo Sangrento, houve greves,
manifestações estendendo-se às unidades militares, a greve dos marinheiros do encouraçado Potemkim, o
maior navio de guerra do império, e o surgimento dos sovietes e os partidos liberais russos. As passeatas
contra Nicolau II multiplicavam-se e suas tropas, cansadas da guerra provocada pela aristocracia, em
número cada vez maior, tomavam o partido do povo.
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Kerensky chega ao poder pela revolução burguesa, que é chamada de Revolução Menchevique
(minoria), em março de 1917. Tudo que os burgueses prometeram (terras, comida, tirar a Rússia da guerra)
não foi cumprido, intensificando ainda mais a revolta do povo russo.
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Em outubro de 1917, ocorre a segunda revolução, a Revolução Bolchevique (maioria), cujo lema era:
"Paz, Terra e Pão". Paz (saída da Rússia da Guerra), Terra (Reforma Agrária) e Pão (comida para todo
mundo), tendo um amplo sucesso de adesão aos seus princípios. Outro lema promovido por Lênin é:
"Todo poder aos sovietes". Sovietes são assembléias populares formadas por soldados, camponeses e
proletariado.