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posição que é outorgada a um adolescente na sociedade. Os sujeitos, que adotam este
significante para identificá-los, estão dizendo de qual lugar partem. Identificar-se com o
significante adolescente em crise pode significar liberdade para ser depressivo, para ser
contestador, enfim, o significante adolescente em crise impede a emergência do sujeito
colocando limitações para sua ação e oferecendo formas específicas de gozo, como por
exemplo, a desresponsabilização pelo ato.
O significante impõe ao sujeito despojar-se de qualquer resto de natureza
biológica que poderia existir, falar do significante adolescência é buscar uma forma para
significar as supostas modificações, sejam elas hormonais ou sociais de um sujeito, é
representar o real partindo do registro do simbólico.
O que a prática da psicanálise descobre, precisamente, é que a linguagem,
longe de ser um instrumento a serviço de nossa vontade é um espaço que nos
constitui, com essa particularidade de confrontar-nos a uma perda de tudo pretendido
como ‘ser’ prévio (seja biológico, anatômico, etc.), a uma perda de ‘naturalidade’, de
que não há dialética hegeliana que nos possa restituir, sob a forma de um saber
absoluto, isto é, uma reconstrução no significante, esse ser ‘natural’ perdido. ‘Somos’
a partir de um dizer. (Valderrama, 1998, p. 17)
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Reconhecer, que a adolescência é uma categoria com variações ao longo da
história e com conotação social específica em cada momento, é de grande importância.
Mas não podemos deixar de articular a importância que esta categoria ganha ao ser vista
também como um significante. Não é apenas um significado referido a pessoas de uma
determinada faixa etária, adolescência, ou crise da adolescência, são significantes
constitutivos do sujeito que se identifica a eles, que se nomeia ou é nomeado desta
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Tradução livre, feita pelo autor da dissertação. Texto original: “Lo que la práctica del psicoanálisis
descubre, precisamente, es que el lenguaje, lejos de ser un instrumento al servicio de nuestra voluntad es
un espacio que nos constituye, con esa particularidad de confrontarnos a una pérdida de todo pretendido
‘ser’ previo (sea biológico, anatómico, etc.), a una pérdida de ‘naturalidad’, de la que no hay dialéctica
hegeliana que nos pueda restituir, bajo la forma de un saber absoluto, es decir, una reconstrucción en el
significante, ese ser ‘natural’ perdido. ‘Somos’ a partir de un decir.” (Valderrama, 1998, p. 17)