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divertimento, de acordo com a pesquisa, pode ser qualquer lugar, devido ao estilo nômade,
desde barzinhos, boates, cruzamento de ruas, postos de gasolina, festas, áreas de semáforo
etc; pelas possibilidades de locomoção (carros e motos); pela eficiência na divulgação de
programas variados para uma mesma noite (e-mails, messenger, orckut, pois a Internet
propicia uma vitrine com a divulgação dos eventos, contendo fotos, depoimentos de pessoas
sobre estes lugares, e até imagens on-line feitas no decorrer das festas etc). O público alvo
desta pesquisa foi constituído de jovens de 15 a 19 anos, “de classe média que estudam nas
boas escolas da cidade, freqüentam as boates e academias da moda, desfilam nos trechos
mais concorridos da praia e, eventualmente, espalham-se por outras áreas da cidade, quando
estas são incorporadas ao circuito da diversão” (ALMEIDA E TRACY, op. cit., p. 20). Esses
jovens geralmente fazem ingestão de diferentes bebidas alcoólicas, como cerveja, e bebidas
“ice-gummy, que é um drinque preparado com vodka, pó de suco de frutas e, eventualmente,
gelo ou água gelada” (op. cit., p. 36), não usam predominantemente o fumo, e as drogas só
esporadicamente, comparativamente com outros segmentos sociais da juventude do Rio de
Janeiro. Outro aspecto relevante, fruto desta investigação, diz respeito à linguagem destes
jovens, caracterizada pela pobreza de vocabulário, não correspondendo ao grau de
escolaridade que possuem, elaborando com ela muitas frases, utilizando referências
indeterminadas, mesmo que estejam falando de uma pessoa ou de um grupo especificamente,
revelando um estilo descomprometido, não assumido, como se não fizessem parte do
contexto que descrevem, como podemos depreender deste relato, inserido na obra de
Almeida e Tracy (op. cit.):
Antes da gente ter 18, a galera toda marcava na praça da Selva de Pedra. Todo
mundo morava lá, geral, descia de bermuda, não sei o que? Via pra onde ia. Daí
geral se arrumava e tal, se encontrava e partia. Aí quando fiz 18, geral, pegando o
carro, né? Muita gente, [por] que mora todo mundo ali perto, várias pessoas vão de
carro, param ali no posto Shell, não sei o quê. Tem nego que bebe, fica bebendo,
bota som alto. Lá tem várias mulheres também, aí já adianta pra night. E sempre
tem vários malucos com aqueles carrão com o maior somzão, assim. Mas nego lá
vai mais pra beber, tipo assim, uma pré-night, um aquecimento assim. (p. 85)
Esta pesquisa registrou comportamentos que facilmente podem ser identificados
ao nosso redor, mesmo em outros centros urbanos brasileiros e até em cidades interioranas
próximas dos grandes centros, uma vez que as experiências ocorrem geralmente em lugares
abertos e não em estabelecimentos de vida noturna, próprios para o lazer, divertimento e
convivência. Além do mais, a mídia televisiva se incumbe de legitimar estes estilos em
programas diferenciados (novelas, big brother, depoimentos de pessoas que têm imagem
pública e muitas vezes servem de modelos sociais etc). Num mundo globalizado, as
fronteiras culturais e sociais ficam diluídas.