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toda responsabilidade, tu tem tipo ah, quando tu é menor, “ah mãe eu quero
isso”, tua mãe vai lá e faz, agora não, se tu quer, tu vai lá e faz. (...) Tipo ah,
eu tenho que sair tenho prova do colégio, tenho que fazer trabalho, tenho
que dar um jeito de fazer tudo (...) ter responsabilidade, a ter educação, no
caso, ah, eu sou pequena eu falo as coisas sem pensar, agora eu não posso
ficar falando tudo que eu quero pra todo mundo (...) respeito, educação,
maturidade. Eu descobri no caso, como é que eu posso, me mandar entre
aspas, tipo eu decido uma coisa que vai ser pra mim, ah, hoje eu vou fazer
isso, isso, isso e isso...quando eu era pequena, eu não fazia isso (1F).
A adolescência pode caracterizar-se também por essa transição, ou seja, o estar entre o
ainda ser criança e o ainda não ser adulto. Logo, podemos referir que “a adolescência traz
consigo a idéia de indivíduos definindo-se e transformando-se para estabelecer seu processo
de vida, o que vai lhes conferir potencial de emancipação, autonomia e responsabilidade
social” (ROZENBERG e TENDRIH, 2007, p.36). Para Heidemann (2006, p.13), “adolescer é
tornar-se adulto”. Desta forma, “a autonomia é importante para o ser humano, mas é na
adolescência que ela assume proporções diferentes. O adolescente tem mais força e
necessidade de autonomia que a criança, porque está se preparando para ser adulto” (TIBA,
1986, p.52). Assim, as famílias compõem fronteiras mais maleáveis, permitindo a/o
adolescente aproximar-se e ser dependente quando não consegue dirigir sua vida sozinha/o, e
se abduzir e conhecer desafios, com níveis crescentes de independência, quando se encontram
preparadas/os (CRUZ, 2007).
É comum, também, nesta fase, a/o adolescente muitas vezes sentir-se confusa/o, pois
ao mesmo tempo em que deseja ser adulta/o, quer voltar a ser criança, fato este que
caracteriza este período de transição típico da adolescência:
(...) às vezes eu quero ser maior, pra poder ter a minha casa, ninguém me
mandando, outras vezes quero voltar a ser criança de novo pra poder
brincar, parece que fica feio tu ficar brincando correndo na rua (risos) o
que vão pensar aquela guria grande brincando (...) sempre gostei de ficar
montando coisas, brincar na rua, correr, eu acho que fica meio estranho (...)
muitas vezes eu quero ser maior (...) (10F).
(...) brincava muito, acho que brincar tu brinca até com vinte anos, mas
agora não, agora eu não tenho mais essa frescura de brincar de boneca (...)
porque imagina, uma pessoa, uma guria de 14 anos fazendo brincadeira
(7F).
(...) é uma idade que tu passa por mudanças, tu passa do comportamento de
ser criança pra já um pouco mais maduro, até chega a idade adulta, (...) tem
mais responsabilidade, leva as coisa assim mais a sério (...) pra mim tá
sendo bom, melhor do que na parte de ser criança (...) porque as pessoas
confiam mais em ti (8M).