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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
PROGRAMA DE PROCESSOS DE DESENVOLVIMENTO HUMANO E SAÚDE
ADOLESCENTES TALENTOSOS: CARACTERÍSTICAS INDIVIDUAIS E
FAMILIARES
JANE FARIAS CHAGAS
Brasília, junho de 2008
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ii
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
PROGRAMA DE PROCESSOS DE DESENVOLVIMENTO HUMANO E SAÚDE
ADOLESCENTES TALENTOSOS: CARACTERÍSTICAS INDIVIDUAIS E
FAMILIARES
JANE FARIAS CHAGAS
Tese apresentada ao Instituto de Psicologia da
Universidade de Brasília, como requisito parcial à
obtenção do título de Doutora em Processos de
Desenvolvimento Humano e Saúde, área de
concentração Desenvolvimento Humano e
Educação.
ORIENTADORA: PROFa. Dra. DENISE DE SOUZA FLEITH
Brasília, junho de 2008
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iii
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
TESE DE DOUTORADO AVALIADA PELA SEGUINTE BANCA EXAMINADORA:
_______________________________________________________________
Prof(a). Dr(a). DENISE DE SOUZA FLEITH - PRESIDENTE
Universidade de Brasília
_______________________________________________________________
Prof(a). Dr(a). CRISTINA MARIA CARVALHO DELOU - MEMBRO
Universidade Federal Fluminense
________________________________________________________________
Prof(a). Dr(a). EUNICE MARIA LIMA SORIANO ALENCAR - MEMBRO
Universidade Católica de Brasília
_______________________________________________________________
Prof(a). Dr(a). MARIA AUXILIADORA DESSEN - MEMBRO
Universidade de Brasília
_______________________________________________________________
Prof(a). Dr(a). MARÍLIA GONZAGA MARTINS SOUTO DE MAGALHÃES -
MEMBRO
Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal
________________________________________________________________
Prof(a). Dr(a). MARIA CLAÚDIA SANTOS LOPES DE OLIVEIRA – SUPLENTE
Universidade de Brasília
iv
AGRADECIMENTOS
À Deus, por não me ter deixado desistir ainda cedo, o meu louvor e adoração.
Aos meus queridos Edson, Andressa, Larissa e Carolina, pela compreensão em
tempos de “encasulamento”, o meu profundo amor.
À minha mãe, irmãos, sogros e cunhados, por acreditarem e me encorajarem a
prosseguir, meu carinho especial.
À Denise de Souza Fleith, minha mestra-orientadora, por sua parceria, amizade,
competência e compromisso com a qualidade, a minha mais profunda admiração e carinho.
Aos colegas, amigos e irmãos, que caminharam comigo por essa jornada; cuja
companhia foi um conforto, meu sorriso mais escancarado e um abraço forte.
Aos profissionais do Programa de Atendimento ao Aluno Superdotado da SEE/DF,
minha admiração e respeito. Entre os quais, destaco aqueles que se envolveram nessa
pesquisa, com uma dedicação motivada por uma sincera amizade e compromisso com uma
educação de qualidade: Valeu!
À cada participante que doou de seu tempo e sua vida, meu compromisso firmado e
permanente com a disseminação do conhecimento e crescimento dessa área de pesquisa,
minha gratidão mais terna.
Às minhas colaboradoras: Zaniske Freitas Brito, pela transcrição das entrevistas e
auxílio precioso na organização do material de pesquisa; Luzia Farias Ferreira, pela ajuda
na revisão das referências e Maria Aparecida Alves de S. M. Oliveira pelo envolvimento
na revisão do texto, meu apreço profundo. Vocês são prova da generosidade humana!
Aos membros da banca examinadora, cuja competência e dedicação me inspiram,
meus agradecimentos sinceros.
À CAPES pelo apoio financeiro concedido, sem o qual seria inviável esse projeto.
“A convivência é uma obra de arte, só cresce quem aprende a conviver”
v
RESUMO
Embora se observe um aumento no volume de pesquisas com indivíduos talentosos,
especialmente nos últimos 30 anos, o desenvolvimento de talentos na adolescência é,
ainda, um tema pouco investigado. Entre os tópicos emergentes para o estudo com
adolescentes talentosos, destacamos a necessidade de serem focalizados aspectos do
desenvolvimento humano. A partir dessa perspectiva e dos pressupostos preconizados no
Modelo Bioecológico de Bronfenbrenner, essa investigação teve como objetivo descrever
as características individuais e familiares de adolescentes talentosos a partir da percepção
de adolescentes, seus familiares e professores. Os dados foram coletados em duas fases. Na
primeira fase, os instrumentos utilizados foram: Lista de Habilidades, Interesses,
Preferências, Características e Estilos de Aprendizagem, Questionário para
Caracterização do Sistema Familiar, Inventário de Atitudes Parentais, na versão filhos e
pais. Participaram dessa fase, 42 adolescentes com idade entre 12 e 18 anos e seus
genitores ou responsáveis. Na segunda fase de coleta, foram realizadas entrevistas semi-
estruturadas com 4 adolescentes talentosos, seus familiares (4 mães, 3 pais e 5 irmãos) e
professoras (3 da sala de recursos e 2 do ensino regular). Os resultados demonstraram que
as habilidades, preferências, interesses, aspectos motivacionais, características pessoais e
relações interpessoais e acadêmicas dos adolescentes talentosos diferiam em função do tipo
de talento. Quanto ao estilo de aprendizagem, os adolescentes informaram que aprendiam
melhor com atividades que envolviam a leitura e a discussão de idéias. Entre as
características cognitivas e acadêmicas mais reconhecidas, nesses jovens, foram destacadas
o autodidatismo, a facilidade de aprender, a dedicação aos estudos e o desempenho escolar
acima da média. Da mesma forma, as características afetivas e emocionais mais percebidas
foram a determinação, a timidez, a responsabilidade na execução das atividades, o
envolvimento com sua área de interesse, o perfeccionismo, a criatividade e o bom humor.
As relações sociais parecem ser mediadas pelas práticas e estilos parentais e foram
descritas em termos da preferência pelo isolamento social, tendência a negar o talento,
relação harmoniosa com os pais e pares e parcialmente conflituosa com os irmãos. Com
relação às características familiares ficou evidenciado que mais da metade das famílias
com adolescentes talentosos possuía uma configuração tradicional: cônjuges com filhos
nascidos de sua própria união conjugal. Essas famílias priorizavam a educação e o
desenvolvimento do talento dos filhos e estava envolvida em um leque variado de
atividades rotineiras e de lazer. Cerca de 90% das famílias moravam em centros urbanos e
vi
eram religiosas. Os adolescentes talentosos ocupavam posição especial na família:
aproximadamente 3/4 eram filhos únicos, primogênitos ou caçulas. Os resultados
demonstraram que os genitores avaliavam a si mesmos de forma mais positiva quando
comparados aos filhos adolescentes em todas as subescalas do Inventário de Atitude
Parental: comunicação, uso do tempo, ensino, frustração, satisfação e necessidade de
informação. As mães e pais tinham uma percepção bastante similar em cada uma dessas
subescalas, sendo que os adolescentes avaliaram os pais de forma mais negativa. O suporte
familiar e o atendimento em sala de recursos foram os dois principais fatores apontados
como favoráveis ao desenvolvimento do talento. Os resultados indicaram, ainda, uma
preferência maior entre os participantes pelo uso do termo talento para designar pessoas
com habilidades superiores. Na discussão foram apresentadas as contribuições e limitações
do estudo, a confluência das características individuais e familiares com relação a aspectos
vinculados à resiliência, ao bullying, às interações e relações entre família e escola e às
políticas públicas educacionais. Para pesquisas futuras recomendamos o planejamento de
estudos longitudinais e transversais com adolescentes talentosos e suas famílias.
vii
ABSTRACT
Although an increase on the number of studies with talented individuals is noticed,
especially during the last 30 years, the development of talents in adolescence is still a
theme that is not so much investigated. Among the emerging topics for the study with
talented adolescents, we highlight the need to focus on aspects of human development.
From this perspective and based on the assumptions of the Bioecological Model of
Bronfenbrenner, the purpose of this investigation was to describe individual and family
characteristics of the talented adolescents based on the perception of adolescents, their
families and teachers. The data were collected in two phases. In the first phase the
instruments used were: List of Abilities, Interests, Preferences, Characteristics and
Learning Style, Family Characteristics Questionnaire, Parental Attitudes Inventory,
children’s and parents’ versions. In this phase, 42 adolescents aged from 12 to 18 years old
and their parents or responsible ones participated. In the second phase of collection, semi-
structured interviews were conducted with four talented adolescents, their relatives (4
mothers, 3 fathers and 5 siblings) and teachers (3 from resources room and 2 from the
regular classrooms). The results indicated that the abilities, preferences, interests,
motivational aspects, personal and interpersonal characteristics and academic relations of
the talented adolescents can differ depending on the type of talent. As for the learning
style, the adolescents informed that they learned better with activities involving reading
and discussion of ideas. Among the most acknowledged cognitive and academic
characteristics of these youngsters, it can be highlighted: Autodidactism, easiness to learn,
dedication to the studies and high academic performance. In the same way, the effective
and emotional characteristics that were noticed were determination, shyness, responsibility
for executing activities, and involvement in their area of interest, perfectionism, creativity
and good humor. The social relations seem to be mediated by parental practices and styles
and were described in terms of preference for social isolation, tendency to deny the talent,
harmonious relationship with parents and partners and partially conflicting with siblings.
Regarding to family characteristics it was evident that more than half of the families with
talented adolescents had a traditional figure: spouses with children born of their own
conjugal union. These families prioritized education and the development of their
children’s talents and were involved in a wide range of options of routine and leisure
activities. About 90% of the families lived in urban centers and were religious. The
talented adolescents occupied a special position in the family: about ¾ were only children,
viii
first-borns or the youngest. The results demonstrated that the parents evaluated themselves
in a more positive way when comparing to the adolescent children in all the subscales of
the Parental Attitudes Inventory: communication, use of time, teaching, frustration,
satisfaction and the need of information. Mothers and fathers had a very similar perception
in each of these subscales, although adolescents evaluated their parents in a more negative
way. Family support and services in the resources room were the two main factors listed as
favorable to the development of talents. The results also indicated that the participants
prefer to use the term talent to designate people with superior abilities. In the discussion
were presented the contributions and limitations of the study, the confluence of individual
and family characteristics related to issues of resilience, bullying, interactions and relations
between family and school, and educational public policies. For future research we
recommend the implementation of longitudinal and transversal studies with talented
adolescents and their families.
ix
ÍNDICE
Agradecimentos
iv
Resumo
v
Abstract
vii
Lista de Tabelas
xii
Capítulos
I. Introdução ..............................................................................................................
1
O Desenvolvimento do Talento na Adolescência .................................................... 3
A Pesquisa com Adolescentes Talentosos ............................................................... 5
II. Revisão de Literatura ............................................................................................
8
O Conceito de Talento e suas Implicações .............................................................. 8
O Desenvolvimento de Adolescentes Talentosos: Aspectos Teóricos e Empíricos 14
Aspectos Biológicos e Cognitivos Associados ao Desenvolvimento do
Adolescente Talentoso ............................................................................................. 16
O Desenvolvimento Emocional e Social do Adolescente Talentoso ...................... 20
O Desenvolvimento da Identidade e Questões de Gênero entre Adolescentes
Talentosos ................................................................................................................ 23
O Desenvolvimento Moral em Adolescentes Talentosos ........................................ 26
Família e Escola: Nichos de Desenvolvimento do Talento na Adolescência .......... 28
III. Definição do Problema ..........................................................................................
36
IV. Metodologia ............................................................................................................
41
O Paradigma Sistêmico e o Modelo Bioecológico de Bronfenbrenner:
Implicações para a Pesquisa do Talento na Adolescência ....................................... 41
O Modelo Bioecológico de Bronfenbrenner .......................................................... 45
Método ....................................................................................................................
48
Delineamento ............................................................................................ 48
O Programa de Atendimento ao Aluno Superdotado do Distrito Federal . 49
Participantes .............................................................................................. 52
Critérios de Seleção dos Participantes....................................................... 52
Participantes da Primeira Fase de Coleta de Dados .................................. 52
Participantes da Segunda Fase de Coleta de Dados .................................. 59
Instrumentos .............................................................................................. 60
x
Instrumentos da Primeira Fase de Coleta de Dados .................................. 60
Instrumentos da Segunda Fase de Coleta de Dados .................................. 63
Procedimentos ........................................................................................... 64
Procedimentos da Primeira Fase de Coleta de Dados ............................... 64
Procedimentos da Segunda Fase de Coleta de Dados ............................... 67
Análise de Dados ....................................................................................... 68
V. Resultados ..............................................................................................................
70
Questão de pesquisa 1: Quais são as habilidades, as preferências, os
interesses, os aspectos motivacionais e os estilos de aprendizagem de
adolescentes talentosos? .......................................................................... 70
Questão de pesquisa 2: Quais são as características familiares de
adolescentes talentosos em termos de constelação e dinâmica familiar? 90
Questão de pesquisa 3: Quais são as características familiares de
adolescentes talentosos relacionadas à comunicação, uso do tempo,
ensino, frustração, satisfação e necessidade de informação parental? ...... 94
Questão de Pesquisa 4: Quais são as características cognitivas e
acadêmicas de adolescentes talentosos na percepção dos adolescentes,
seus familiares e seus professores? .......................................................... 96
Questão de Pesquisa 5: Quais são as características afetivas e sociais
de adolescentes talentosos na percepção dos adolescentes, seus
familiares e seus professores? .................................................................. 100
Questão de Pesquisa 6: Quais são as estratégias implementadas por
adolescentes talentosos, suas famílias e rede de apoio social para o
desenvolvimento do talento? .................................................................... 110
Questão de Pesquisa 7: Qual a definição que os adolescentes
talentosos, seus familiares e seus professores têm sobre superdotação e
talento? ...................................................................................................... 128
VI. Discussão ................................................................................................................
138
Aspectos Teórico-Metodológicos ............................................................................ 138
Resultados ................................................................................................................ 142
VII. Considerões Finais e Implicações para Pesquisas Futuras ............................
161
Referências .............................................................................................................
169
xi
Anexos ....................................................................................................................
187
1. Lista de Habilidades, Interesses, Preferências, Características e Estilos
de Aprendizagem – LHIPCEA .................................................................. 188
2. Questionário para Caracterização do Sistema Familiar – QCSF ............. 199
3. Indicadores de Sucesso Parental (PSI) – Versão Adolescentes .............. 204
4. Indicadores de Sucesso Parental (PSI) – Versão Pais ............................. 212
5. Roteiro de Entrevista Semi-estruturada – Adolescentes ........................... 220
6. Roteiro de Entrevista Semi-estruturada – Pais .......................................... 221
7. Roteiro de Entrevista Semi-estruturada – Irmãos ..................................... 222
8. Roteiro de Entrevista Semi-estruturada – Professoras da Sala de
Recursos .................................................................................................... 223
9. Roteiro de Entrevista Semi-estruturada – Professoras do Ensino Regular 224
10. Carta de Apresentação e Agradecimento e Orientações para Professores
e Psicólogos .............................................................................................. 225
11. Carta de Apresentação – Pais .................................................................. 227
12. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido .......................................... 228
xii
LISTA DE TABELAS
Tabelas
1 Variáveis para o Estudo do Desenvolvimento do Talento com Base no Modelo
Bioecológico de Bronfenbrenner .......................................................................... 44
2 Nível de Escolaridade dos Adolescentes Talentosos - Distribuição por Série ..... 53
3 Distribuição dos Adolescentes por Idade, Tipo de Talento, Posição, Constelação
e Renda Familiar...................................................................................................... 56
4 Número de Respondentes para Cada Tipo de Instrumento Aplicado ..................... 66
5 Duração das Entrevistas Realizadas com Adolescentes, Pais, Irmãos e
Professores .............................................................................................................. 69
6 Porcentagens Relacionadas às Habilidades de Adolescentes Talentosos............... 71
7 Porcentagens Relacionadas às Habilidades de Adolescentes com Talento
Acadêmico .............................................................................................................. 72
8 Porcentagens Relacionadas às Habilidades de Adolescentes com Talento
Artístico .................................................................................................................. 73
9 Porcentagens Relacionadas às Habilidades de Adolescentes com Duplo Talento.. 73
10 Porcentagens Relacionadas às Características Pessoais de Adolescentes
Talentosos ............................................................................................................... 74
11 Porcentagens Relacionadas às Características Pessoais de Adolescentes
Talentosos por Tipo de Talento............................................................................... 76
12 Porcentagens Relacionadas às Preferências, Interesses e Aspectos Motivacionais
de Adolescentes Talentosos .................................................................................... 79
13 Porcentagens Relacionadas às Preferências, Interesses e Aspectos Motivacionais
de Adolescentes Talentosos por Tipo de Talento ................................................... 81
14 Porcentagens Relacionadas às Relações Interpessoais e Acadêmicas de
Adolescentes Talentosos......................................................................................... 86
15 Porcentagens Relacionadas aos Estilos de Aprendizagem de Adolescentes
Talentosos............................................................................................................... 88
16 Média e Desvio Padrão nas Subescalas dos Indicadores de Sucesso Parental ...... 95
17 Resultados do Teste t para Subescalas dos Indicadores de Sucesso Parental ........ 95
18 Identificação dos Adolescentes como Talentosos ou Superdotados ...................... 136
xiii
“O que agora vemos é como uma imagem imperfeita num
espelho embaçado, mas depois veremos face a face. Agora o
meu conhecimento é imperfeito, mas depois conhecerei
perfeitamente, assim como sou conhecido por Deus.”
I Coríntios 13:12
1
CAPÍTULO I
INTRODUÇÃO
O conceito de adolescência não é consensual e apresenta uma diversidade de
expressões nas diferentes sociedades e culturas (UNICEF, 2002a). Não é razoável uma
homogeneização desse termo, uma vez que é difícil pensar em apenas um tipo de
adolescente e de adolescência. A grande diversidade e desigualdade social, em seus
aspectos naturais e sócio-culturais, imprimem a necessidade de serem investigadas várias
maneiras de ser adolescente e os diversos tipos de adolescências (Palacios & Oliva, 2004;
UNICEF, 2002a). Dessa constatação emerge o imperativo de conhecer melhor o
adolescente talentoso e investigar características de seu desenvolvimento.
A adolescência como uma categoria distinta do desenvolvimento infantil é uma
construção elaborada ao longo do século XX (Palacios & Oliva, 2004). De certa forma, a
descoberta de que “o homo sapiens é o único primata que experimenta uma explosão de
crescimento após a infância” (Cole & Cole, 2004, p. 625) elevou a adolescência a um
status de grande importância para o estudo da evolução humana.
Essa compreensão é atrelada, também, à proliferação de pesquisas longitudinais,
que levaram os pesquisadores a se interessarem gradualmente por todo o ciclo vital. O
aumento nesse tipo de investigação ampliou a necessidade de explicar o desenvolvimento
físico, cognitivo e sócio-emocional do adolescente de forma interligada com o curso de
vida (Palacios & Oliva, 2004; Papalia, Olds & Feldman, 2006; Saito, 2001).
Grande parte das publicações sobre o desenvolvimento na adolescência trata das
mudanças biológicas, psicológicas e sociais desencadeadas a partir da puberdade (Cole &
Cole, 2004; Papalia, Olds & Feldman, 2006). Apesar de serem apresentados, via de regra,
de forma fragmentada, esses aspectos devem ser integrados em um continuum temporal de
forma dinâmica e complexa (Papalia, Olds & Feldman, 2006).
Entre as questões atuais que visam explicar a adolescência, podemos destacar, entre
outras variáveis, as formas de subjetivação, os eventos e contradições que têm impacto na
identidade do adolescente e o mapeamento das teias e redes de interconexões complexas e
dinâmicas entre as relações individuais e os eventos sócio-histórico-culturais que marcam
esse tempo de vida (Palacios & Oliva, 2004).
No Brasil, alguns avanços legais impulsionaram a implementação de políticas
públicas voltadas para a adolescência. A promulgação do Estatuto da Criança e do
Adolescente, em 1990, representa um marco histórico na direção de atender às
2
necessidades específicas do adolescente. Apesar de reconhecerem essas iniciativas,
diversos autores detalham problemas e lacunas referentes à saúde e educação dos
adolescentes que precisam de urgente atenção e intervenção especializada (Bianculli, 1997;
Hutz, 2002; Schoen-Ferreira & cols., 2002; Stroili, 2001).
Schoen-Ferreira e cols. (2002) e Bianculli (1997) destacam entre os principais
problemas que afetam a saúde dos adolescentes e que levam a uma diminuição na
qualidade de vida: a gravidez indesejada, as doenças sexualmente transmissíveis, os
acidentes envolvendo veículo motor, o consumo de álcool, fumo e outros tipos de drogas, a
evasão escolar e a vitimização por muitas formas de violência. Essa realidade não está
dissociada das condições sócio-familiares em que o adolescente está inserido e
representam, além de um grande problema social, a limitação das possibilidades futuras do
adolescente.
De acordo com relatório da UNICEF (2002a, 2002b) sobre a situação da
adolescência no Brasil, 12,5% da população têm idade entre 12 e 18 anos incompletos, o
que representa cerca de 21,3 milhões de adolescentes. Os dados do Censo (Brasil, 2000)
apontam que os brasileiros com idade entre 15 e 19 anos são as maiores vítimas da
violência e do número de óbitos por suicídio, homicídio e acidentes de trânsito.
Adolescentes do sexo masculino, nessa faixa etária, têm uma taxa de sobremortalidade
muito superior: morrem de 6,4 rapazes para cada moça da mesma idade (Brasil, 2000;
Costa, Ludemir & Avelar, 2007). Esse quadro de mortes prematuras numa etapa altamente
criativa e produtiva da vida “não só pune o indivíduo e o grupo que lhe é próximo, mas
também priva toda a coletividade de seu potencial intelectual e econômico” (Costa,
Ludemir & Avelar, 2007, p. 1194).
Outro dado relevante, que nos chama a atenção, está relacionado com a educação.
Do total de adolescentes com idade entre 15 e 17 anos, 47% estão defasados idade-série ou
evadidos da escola. Vários pesquisadores assinalam que os processos e eventos que
ocorrem na escola, durante a puberdade, produzem mudanças no curso do desenvolvimento
dos sujeitos e provocam intensa reformulação na identidade do adolescente (Bianculli,
1997; Graber, Brooks-Gunn & Petersen, 1996; Schoen-Ferreira & cols., 2002).
A dificuldade de aprendizagem, de adaptação escolar e os problemas de
comportamento são fatores que podem bloquear o desenvolvimento do adolescente e que
necessitam de atendimento especializado. Nesse sentido, Stroili (2001) reitera que a escola,
como instituição social, necessita de uma profunda e honesta revisão de seu papel na
3
formação do adolescente, uma vez que essa não corresponde à sua idealização e não o
auxilia na formulação de um projeto pessoal e na construção de uma identidade integrada.
Diante desse panorama desolador e desafiador, podemos inferir a situação de
vulnerabilidade a que está submetido o adolescente talentoso, uma vez que sentimentos de
isolamento, solidão e confusão, característicos da adolescência, podem ser acentuados em
função do seu funcionamento intelectual e sócio-emocional peculiar (Blos, 1994).
Ademais, esse quadro pode agravar ainda mais a necessidade que o jovem talentoso tem de
vislumbrar condições de realizar seus sonhos, ideais e potencialidades.
A desatenção e a insuficiência de políticas públicas voltadas para a inclusão de
adolescentes talentosos nos sistemas de ensino, de forma adequada, podem acarretar o
desperdício do maior tesouro da civilização que é o potencial humano. Com isso,
parafraseando (Bianculli, 1997), toda a sociedade acabará por pagar “um alto preço por
esta negligência culpável” (p. 38).
O Desenvolvimento do Talento na Adolescência
Durante a adolescência há uma intensa conciliação entre os ideais emergentes sobre
o mundo, as perspectivas futuras e as ações presentes do indivíduo talentoso. O
adolescente se envolve em formas cada vez mais complexas de atividades cognitivas,
sociais e culturais. Assim, a autocrítica, a consciência de suas próprias habilidades e
experiências somadas à exploração de novos papéis são competências que têm implicações
diretas sobre a maneira como o adolescente empreenderá esforços para desenvolver suas
habilidades e talento. Nesse sentido, além dos aspectos sócio-histórico-culturais, dois
nichos se destacam no agenciamento do talento: a escola e a família.
A família é o principal agente na promoção do desenvolvimento do adolescente
(UNICEF, 2002a, 2002b). A adolescência é considerada uma etapa do próprio ciclo de
vida familiar (Carter & McGoldrick, 1995; Dessen, 2007). De acordo com os resultados de
pesquisa divulgada pela UNICEF (2002b), os adolescentes avaliaram a família como a
maior responsável pela garantia de seus direitos e bem-estar e consideram-na uma
instituição basilar para a sociedade. Esses resultados apontaram a relação familiar como
principal motivo tanto de felicidade quanto de infelicidade para os adolescentes. A
expectativa do adolescente sobre a família representa um desafio, principalmente para os
pais, em termos de responsabilidade, suporte e busca de acesso a oportunidades.
O desenvolvimento de cada membro da família afeta o sistema familiar como um
todo. Esse fato imputa aos pais a responsabilidade de reconhecerem, valorizarem e
4
investirem tempo, recursos e atenção nas habilidades dos filhos. Se a família do
adolescente talentoso não consegue mudar o seu funcionamento, organizando-se de forma
a atender suas demandas, ela pode afetar de forma negativa o seu crescimento (Chagas,
2003). O desenvolvimento de habilidades artísticas, por exemplo, requer o investimento
familiar em equipamentos e materiais adequados, a orientação por profissionais
especializados e o acompanhamento em eventos. Se essas habilidades não forem
valorizadas pela família, o adolescente pode ser desmotivado e até mesmo impedido de
desenvolver suas habilidades nesse campo.
As famílias de adolescentes talentosos possuem vários desafios, entre eles o de lidar
com as habilidades avançadas, a competitividade entre irmãos, os comportamentos
incompatíveis com o que é esperado para a idade cronológica e as demandas por educação
e atendimentos especializados (Chagas, 2003). Conhecer o funcionamento das famílias
com adolescentes talentosos é um caminho promissor para compreender o
desenvolvimento do talento na adolescência.
A escola é outro sistema de fundamental importância no desenvolvimento do
talento na adolescência, uma vez que é responsável pela estruturação e acesso a
oportunidades. As estratégias educacionais oferecidas nesse ambiente devem proporcionar
ocasião para aprender, exercitar e aperfeiçoar habilidades, estimular a criatividade,
solucionar problemas, produzir inovações e auxiliar no enfretamento dos desafios
propostos pela sociedade contemporânea. Os adolescentes talentosos devem ser
submetidos a uma ampla variedade de atividades planejadas no sentido de favorecer o
desenvolvimento pleno de suas potencialidades e a excelência (Alencar, 2007b; Pereira &
Guimarães, 2007; Virgolim, 2007a).
As condições sócio-políticas, também, afetam significativamente os processos de
regulação e estruturação de oportunidades para o desenvolvimento do talento. Conforme
Ambrose (2006), essas condições corroboram a formação de opiniões, notadamente
aquelas que são associadas a ideologias, regimes políticos e econômicos e ao papel da
mídia. Esses fatores podem exercer impacto mais intenso e limitador, com relação ao
desenvolvimento do talento na adolescência, por causa da escassez de pesquisa na área e
da pouca disseminação do tema na sociedade. Essa perspectiva pode ser exemplificada
pela recente organização dos sistemas de ensino para o oferecimento de programas e
propostas educacionais específicos para alunos talentosos, apesar de a legislação
educacional brasileira prever e garantir o atendimento especializado a essa clientela, desde
1996 (Delou, 2007a; Pereira & Guimarães, 2007).
5
Em certa medida, o talento é desenvolvido e conquistado frente à sociedade, nas
relações com a família e com os pares e pela testagem que o adolescente faz de seus
valores, crenças e habilidades. Para Gardner (1995) “o período entre as idades de quinze e
vinte e cinco anos representa o momento da verdade no desenvolvimento da matriz do
talento” (p. 55).
Gardner (1995) enfatiza, especialmente com relação ao talento artístico, que
somente o indivíduo que continuou dominando seu meio simbólico ao longo da infância e
adolescência é que se tornará um artista pleno na fase adulta. Ou seja, é durante a
adolescência que o talento desabrocha para a maturidade e cabe ao adolescente talentoso
decidir sobre os rumos de sua produção criativa.
É importante ressaltar, finalmente, que as mudanças e continuidades psicológicas,
biológicas e sociais observadas durante a adolescência são integradas no organismo e não
podem ser dissociadas do contexto sócio-histórico-cultural. (Palacios & Oliva, 2004). Ou
seja, ao mesmo tempo em que é parte do tecido social, formado por suas experiências e
referências individuais, familiares, comunitárias e sociais, o adolescente talentoso
desempenha papéis, assume funções e se envolve em atividades. Esses processos
singulares e circulares contribuem para o seu próprio desenvolvimento e para a
transformação da sociedade como um todo. São esses processos e características filo e
ontogenéticas que marcam a transição para a vida adulta, influenciam a trajetória e o
desenvolvimento posterior do adolescente, ao mesmo tempo em que representam um
contínuo experienciado desde a infância que devem constar das pautas de pesquisa com
jovens talentosos.
A Pesquisa com Adolescentes Talentosos
Vários pesquisadores têm chamado atenção para o fato de que, embora se observe
um aumento no volume das pesquisas com indivíduos talentosos, especialmente nos
últimos 30 anos (Alencar & Fleith, 2001; Chagas, 2007; Guenther, 2006a), o
desenvolvimento de talentos na adolescência é, ainda, um tema pouco investigado
(Fahlman, 2000). Entre tópicos emergentes de estudo nesta área, podemos destacar: o
estudo do talento a partir da ótica do desenvolvimento humano (Mönks, 2003; Subotnik,
2003), os problemas de aprendizagem e a dupla excepcionalidade (Baum, Olenchack &
Owen, 1998; Moon, Zentall, Grskovic, Hall & Stormont-Spurgin, 2001; Ourofino, 2005) e
a influência de ambiente em desvantagem sócio-econômica sobre o desenvolvimento do
talento (Borland, Schnur & Wright, 2000; Chagas, 2003; Chagas & Fleith, 2006). Vale
6
salientar que há uma prevalência dos aspectos associados à infância nos estudos da área em
comparação ao período da adolescência (Aspesi, 2003; Sankar-DeLeeuw, 2004).
O crescente interesse por essa área parece estar relacionado ao estudo da natureza
de processos psicológicos superiores como inteligência e criatividade, à demanda por
inovação e tecnologia e ao incremento nos investimentos direcionados aos programas e
serviços de atendimento especializados destinados aos indivíduos talentosos (Alencar,
2001; Chagas, 2007; Virgolim 2007a).
Concomitantemente, ao avanço apontado prevalecem, ainda, algumas limitações
como: (a) a falta generalizada, em muitos países, de leis e políticas públicas que evitem o
desperdício do potencial humano; (b) o desvirtuamento do talento, ora marginalizado ou
“marginalizante” nas periferias das grandes metrópoles, ora supervalorizado ou banalizado
como mercadoria negociada por olheiros capitalistas de grandes corporações globais; (c) a
invisibilidade nas instituições educacionais dos potenciais latentes e o evidente despreparo
desses estabelecimentos em reconhecer, atender e lidar com a diversidade, complexidade e
demandas da contemporaneidade e (d) o escasso investimento em valores sociais
subjacentes ao desenvolvimento do talento.
Em geral, os estudos com adolescentes talentosos focalizam o desenvolvimento
sócio-emocional e cognitivo, as diferenças quanto ao gênero e aspectos do ambiente
escolar e familiar (Mönks, 2003; Neihart, 2006; Reis, 2002). As investigações de âmbito
escolar enfocam as características individuais de alunos a partir da percepção e atitude de
professores e as características do ambiente escolar que favorecem o desenvolvimento das
habilidades superiores (Chan, 2000; Runnels, Tirri & Adams, 2000; Gallagher &
Harradine, 1997). Com relação à família, são examinados aspectos da organização e
dinâmica familiar que estimulam e priorizam o desenvolvimento do talento (Chagas 2003;
Downey, 2001; Snowden & Christian, 1999; Zajonc, 2001). Como, em geral, esses fatores
são estudados isoladamente, é cada vez mais imperativa a realização de pesquisas que
descrevam e avaliem as interconexões e influências mútuas entre fatores individuais e
contextuais ao longo do curso de desenvolvimento do individuo talentoso.
Diante do panorama exposto é imprescindível a execução de pesquisas que
elucidem os meandros do desenvolvimento do talento durante a adolescência em seus
múltiplos aspectos e interconexões. Esses estudos devem, também, fornecer subsídios que
auxiliem no planejamento e na ampliação da oferta de serviços e atendimentos sócio-
educacionais eficientes e efetivos para o adolescente talentoso e sua família. Nesse sentido,
no planejamento desta pesquisa tomamos por base (a) a atual conjuntura dos estudos na
7
área de desenvolvimento humano e do desenvolvimento do talento, (b) os paradigmas
sistêmicos, que consideram o desenvolvimento como uma organização hierarquizada em
múltiplos níveis interdependentes e (c) os pressupostos teórico-metodológicos do Modelo
Bioecológico de Bronfenbrenner.
Esses referenciais são descritos no próximo capítulo e preconizam a necessidade de
que as pesquisas que envolvem os fenômenos do desenvolvimento sejam planejadas
levando em consideração pelo menos dois sistemas ecológicos diferentes, que tenham
delineamento com base no modelo processo-pessoa-contexto-tempo e que abranjam
diferentes pontos de vistas, inclusive a percepção do indivíduo sobre si mesmo
(Bronfenbrenner, 1989, 1996). Em função da adoção desse conjunto de pressupostos, o
objetivo dessa pesquisa foi descrever as características individuais e familiares do
adolescente talentoso, a partir da percepção do indivíduo talentoso, de seus familiares e
professores estabelecendo relações intra e interssistêmicas. Esse objetivo foi traçado com
vistas a fornecer subsídios a gestores que atuam na elaboração de políticas públicas e a
educadores que atendem alunos superdotados, bem como orientar pais na implementação
de práticas favoráveis ao desenvolvimento do talento de seus filhos.
8
CAPÍTULO II
REVISÃO DE LITERATURA
Ao longo deste capítulo apresentaremos considerações sobre o conceito de talento e
suas implicações e descreveremos os aspectos teóricos e empíricos associados ao
desenvolvimento do adolescente talentoso com relação aos processos biológicos,
cognitivos, emocionais e sociais. Também será realizada breve caracterização da família e
da escola como nichos de desenvolvimento humano e apontadas limitações dos estudos na
área.
O Conceito de Talento e suas Implicações
O conceito de talento adotado tem implicação direta sobre os procedimentos e
técnicas de identificação utilizadas, a seleção de estratégias de atendimento, a estrutura de
oportunidades e serviços educacionais oferecidos a essa clientela (Alencar & Fleith, 2001;
Freeman & Guenther, 2000; May, 2000; Solow, 2001; Virgolim, 2007a). Vários
pesquisadores argumentam, ainda, que os conceitos, muitas vezes problemáticos, que
reforçam mitos e idéias preconceituosas sobre o indivíduo superdotado, acabam por elitizar
ou enviesar qualquer iniciativa de atendimento e desenvolvimento do talento (Alencar,
2007a; Ambrose, 2006; Chagas, 2007).
Na literatura internacional e em publicações brasileiras encontramos várias
expressões para designar pessoas com habilidades superiores, utilizadas, via de regra,
como sinônimos: mais capazes (Delou, 2007a; Freeman & Guenther, 2000), capacidade e
talento (Guenther, 2006a, 2006b); bem-dotados (Campos, 2002; Miller, 1994);
superdotados (Alencar & Fleith, 2001), indivíduos com altas habilidades, potencial
humano (Fleith & Alencar, 2007) e altas habilidades/superdotação (Brasil, 1995; Brasil,
2006a, 2006b; Fleith, 2007a; Pérez, 2006; Virgolim, 2007a).
No decorrer deste trabalho, a palavra talento será utilizada como sinônimo de
superdotação/altas habilidades. Em primeiro lugar, essa postura foi adotada devido a
questionamentos com relação à utilização dos termos superdotação e superdotado. Como
assinala Alencar (2007a), muitos especialistas têm entendido que esses termos sugerem
uma bipolaridade (superdotado e não-superdotado), geram resistência à melhoria de
serviços e acesso a oportunidades educacionais e fortalecem idéias errôneas sobre questões
genéticas e desempenho ou habilidades extremas.
Em segundo lugar, entendemos que além de equivalente, o termo talento: (a) nos
remete a uma visão menos elitista do fenômeno do que a utilização dos termos
“superdotação” ou “altas habilidades” que nos induz a ênfase em habilidades extremas,
9
raras ou incomuns; (b) favorece a compreensão dos aspectos dinâmicos, complexos e
multifacetados que envolvem a interação entre o indivíduo talentoso (habilidades
cognitivas e psicossociais, traços de personalidade) e o ambiente onde está inserido; (c)
flexibiliza e democratiza a inserção de toda a gama de habilidades humanas em seu bojo
(Feldhusen & Jarwan, 2000; Lassig, 2002; Renzulli & Reis, 1997; Sabatella, 2005; Vieira,
2006); (d) contribui para a valorização de aspectos personológicos e motivacionais
(Wechsler, 1998) e (e) possui ampla utilização na literatura (Alencar, Feldhusen & French,
2004; Feldhusen, 1995; Guenther, 2006a, 2006b; Renzulli & Reis, 1997; Sabatella, 2005;
Winner, 1998).
Alguns pesquisadores fazem distinção entre os termos superdotação e talento.
Gagné (2004), por exemplo, define talento como desempenho superior dentro de um
campo em particular, enquanto a superdotação seria inata e estaria relacionada a um
conjunto de habilidades naturais não treinadas e expressas espontaneamente que são
desenvolvidas na direção da aquisição da expertise. A diferenciação desses termos, no
entanto, encontra opositores na literatura. Simonton (2004) sugere que a proposta de Gagné
desconsidera dois conceitos, de cunho genético, implicados na trajetória de vida e no
desenvolvimento do talento: a emergênese
1
e a epigênese
2
. Segundo o autor, essas duas
variáveis modificam probabilisticamente o desenvolvimento das habilidades superiores, o
que contraria a idéia de que as habilidades naturais são determinantes, por exemplo.
Na mesma direção, Guenther (2004) argumenta que a distinção entre os termos
talento e superdotação, como elaborado por Gagné (2004), parece realçar a dicotomia entre
hereditariedade e ambiente. Corroborando a posição de Simonton (2004) e Guenther
(2004), Pérez (2006) sinaliza que aceitar a diferenciação, entre outros aspectos, pode
favorecer a hierarquização, a supervalorização ou supremacia de uma concepção em
detrimento da outra.
É importante ressaltar que a adoção de um conceito de talento não envolve uma
questão de “ser ou não ser”. Pelo contrário, agrega-se à importância dessa escolha a
necessidade de ampliação e reconfiguração (a) de indicadores que acoplem toda a
diversidade e multidimensionalidade das habilidades humanas ao longo do curso de vida,
(b) dos processos dinâmicos envolvidos na produção criativa, (c) de fatores subjetivos que
precedem ou sucedem as circunstâncias de vida e (d) das oportunidades sócio-culturais
1
Emergênese: consiste na necessidade de ser herdado um conjunto de componentes genéticos a fim de que
haja a expressão de um dado traço ou habilidade.
2
Epigênese: diz respeito à dinâmica, mudança ou modificações transmissíveis e reversíveis das expressões
dos genes, sem que ocorra alteração estrutural na seqüência de DNA (Gottlieb, 2003).
10
disponíveis em certos tempos históricos. Por outro lado, o emprego de perspectivas
atualizadas para a investigação do talento deve ser capaz de promover, não somente um
melhor entendimento das potencialidades humanas, mas um maior engajamento da
sociedade em termos de prioridade, investimento, valorização e linhas de ação na direção
de seu desenvolvimento (Ambrose, 2006; Guenther, 2006a).
Inferir um conceito de superdotação ou talento implica, obviamente, considerar
traços e características pessoais, visão multidimensional de inteligência e a observação de
aspectos sócio-histórico-culturais. Além disso, esses fatores devem ser conjugados aos
processos de identificação do talento e ao reconhecimento da diversidade sócio-cultural e
das habilidades específicas num continuum direcionado a auto-realização. Nessa direção, é
importante observar que um conceito que visa explicar o talento ou comportamentos de
superdotação deve ser baseado: (a) em dados empíricos, (b) possibilitar a construção ou
seleção de estratégias e instrumentos direcionados ao processo de identificação e ao
atendimento das necessidades dessa clientela e (c) permitir a investigação de sua validade
(Alencar & Fleith, 2001).
O conceito de superdotação ou talento também está sujeito a variações sócio-
histórico-culturais (Chagas, 2003; Soares, Arco-Verde & Baibich, 2004; Virgolim, 2007a).
Essas variáveis podem interferir no processo de identificação de indivíduos talentosos,
mediar o acesso e a oferta de oportunidades e atrair certos indivíduos com certas
características e habilidades para determinados campos e domínios (Ambrose, 2006).
Assim, uma sociedade que valoriza, por exemplo, a racionalidade e as habilidades
lingüísticas pode elevar os níveis de desempenho de áreas do conhecimento que
privilegiam essas características. Por outro lado, comunidades que valorizam a força, a
aparência física e o trabalho braçal, avaliarão o talento a partir de critérios distintos. Desse
modo, dependendo da cultura e do momento histórico, poderá haver um aumento na
demanda social por especialistas, produção e elevação nos níveis médios de desempenho
de certas áreas em detrimento de outras (Chagas, 2003; Virgolim, 2007a; Winner, 1998).
Nesse sentido, Elias (1995) argumenta que “a criação de um produto artístico exige
que a fantasia pessoal do produtor se subordine a um padrão social de produção artística,
consagrado pela tradição e garantido pelo poder de quem consome arte” (p. 49). Para o
autor, mesmo para indivíduos talentosos, é difícil romper com as regras sociais, impressas
em certo tempo histórico, para seguir o fluxo de sua própria imaginação. Essa ruptura, por
vezes, confere à pessoa uma condição de desvio social que marca o seu destino social, em
11
geral, rumo à marginalização. Ou seja, as possibilidades, a condição e a vontade humanas
(individuais) são limitadas pelos parâmetros sociais (Elias, 1994, 1995).
A história familiar, a percepção e as crenças e valores parentais também são fatores
sócio-culturais que exercem forte influência na maneira como a família concebe o talento
(Solow, 2001). Via de regra, as experiências prévias dos membros da família com essa
temática direciona e configura a maneira como as habilidades superiores ou tipos de
talento serão ou não estimulados e reconhecidos.
Os pais podem reagir de forma recriminatória ao envolvimento do adolescente com
o desenho ou artes, proibindo ou cerceando a produção nessa área. Ou, pelo contrário, pode
exigir uma performance superior, assumindo uma postura de exibicionismo ou
superestimulação (Chagas, 2003). Em sentido mais amplo, vários pesquisadores (Fleith &
Guimarães, 2006; Sabatella, 2007) ressaltam a necessidade de serem criados serviços de
orientação e aconselhamento familiar com a finalidade de informar os pais sobre as
características e necessidades dos filhos talentosos e sobre alternativas para lidarem com
essas peculiaridades e reconhecerem e nutrirem o talento.
O conceito de superdotação tem sido, historicamente, mesclado ao conceito de
inteligência e suas medidas (Alencar 2007a; Sabatella, 2005). A partir dessa perspectiva,
era considerado superdotado ou talentoso o indivíduo com elevado desempenho intelectual
medido por testes de inteligência. Essa postura tem sido questionada, nas últimas décadas,
devido ao entendimento de que esses testes são limitados para avaliar as várias dimensões
do intelecto e não contemplam variáveis importantes associadas ao desenvolvimento do
talento como criatividade, motivação e liderança (Alencar, 2007a; Guimarães & Ourofino,
2007; Virgolim, 2007a).
Esse entendimento atual tem levado à adoção de novos procedimentos e
paradigmas para identificação e definição do talento (Alencar, 2007b). Entre as
transformações notadas salienta-se o uso de processos e procedimentos observacionais e
contextuais na identificação de indivíduos talentosos, onde têm sido incorporados: (a) um
conceito multidimensional de inteligência, influenciado, principalmente, pela teoria das
inteligências múltiplas elaborada por Gardner (1994, 1995) e (b) a incorporação de fatores
criativos, motivacionais e de liderança (Guimarães & Ourofino, 2007).
Corroborando essa tendência, Guenther (2006a) salienta que
a procura do talento já não se limita a selecionar crianças que alcancem
determinado padrão de desempenho, como pontos em um teste, ou respostas em
algum instrumento destinado a apresentar “resultado”. Ao contrário implica
12
averiguar a postura geral da pessoa no processo de produção e compreensão, seu
estilo de ser, perceber e agir (p. 55).
No Brasil, duas definições são mais utilizadas em documentos oficiais e em
publicações: a do relatório Marland e a elaborada por Renzulli e Reis (1997). A primeira
definição foi publicada, originalmente, pelo Departamento de Saúde, Educação e Bem-
estar dos Estados Unidos em 1972, no Relatório Marland e consta nos principais
documentos oficiais brasileiros e em diretrizes educacionais (Brasil, 1994, 1995, 2006a;
Distrito Federal, 2006).
Segundo esses documentos são consideradas crianças superdotadas e talentosas as
que apresentam notável desempenho e/ou elevada potencialidade em qualquer um dos
seguintes aspectos: (a) capacidade intelectual superior, (b) aptidão acadêmica específica,
(c) pensamento criador ou produtivo, (d) capacidade de liderança, (e) talento especial para
artes visuais, artes dramáticas e música e (f) capacidade motora. Essas categorias podem
ser combinadas ou isoladas na identificação de pessoas talentosas (Brasil, 1995; Distrito
Federal, 2006).
Algumas críticas têm sido apresentadas a essa definição, entre as quais destacamos
duas: (a) ênfase nas características intelectuais em detrimento dos fatores motivacionais,
amplamente reconhecidos como essenciais para o estudo de pessoas proeminentes ou
talentosas e (b) natureza não-paralela das seis categorias que compõem a definição.
Conforme, Renzulli, citado em Alencar & Fleith (2001), a habilidade acadêmica e o talento
para artes são campos de atividades humanas ou áreas de desempenho, enquanto, por
exemplo, o pensamento criador e a capacidade de liderança são processos que podem ser
aplicados em qualquer área de desempenho nos quais os talentos e habilidades se
manifestam (Alencar, 2007a; Alencar & Fleith, 2001).
Para atender aos objetivos dessa pesquisa, adotamos a definição baseada em
modelo multifatorial desenvolvida por Renzulli (1986) e Renzulli e Reis (1997) descrita no
Modelo dos Três Anéis. Essa decisão foi tomada por entendermos que o talento é um
fenômeno multifacetado e dinâmico que envolve a interação de capacidades individuais
multiníveis associadas a componentes multidimensionais do contexto sócio-histórico-
cultural. Além disso, essa concepção é amplamente citada na literatura e em publicações
recentes de vários países, inclusive no Brasil, vinculadas a documentos oficiais e
programas educacionais (Brasil, 2006a, 2006b; Distrito Federal, 2006; Fleith, 2007a;
Virgolim, 2007a).
A definição elaborada por Renzulli (1986) e Renzulli e Reis (1997), no Modelo dos
13
Três Anéis, envolve a interação dinâmica entre três fatores ou anéis interligados: habilidade
acima da média, criatividade e envolvimento com a tarefa. A habilidade acima da média
pode ser geral ou específica.
As habilidades gerais consistem no engajamento de processos de pensamento
abstrato, na capacidade de processar informações e na integração de experiências que
resultem em respostas adaptativas ou adequadas a novas situações e problemas. Essas
habilidades são relacionadas, por exemplo, à memória, à fluência verbal, ao raciocínio
lógico e numérico e às relações espaciais.
As habilidades específicas são relacionadas à capacidade de adquirir conhecimentos
e dominar técnicas e estratégias aplicadas a um domínio em particular como música,
literatura, física, dança e astronomia. Ao contrário das habilidades gerais, as habilidades
específicas não são facilmente medidas em testes psicométricos.
O envolvimento com a tarefa é o anel relacionado aos fatores motivacionais, que
são descritos por Renzulli e Reis (1997) em termos de altos níveis de perseverança,
energia, concentração e dedicação investidos na execução de um projeto, problema ou área
de performance em particular.
A criatividade é o fator que reúne características do pensamento criativo (fluência,
flexibilidade e originalidade), traços de personalidade (abertura a novas experiências,
sensibilidade, coragem de correr riscos e curiosidade) e características de produção criativa
(inovação, abundância ou riqueza de detalhes). O conjunto desses três fatores não é
encontrado em todas as pessoas, em todas as circunstâncias, em todo o tempo ou em igual
proporção. Por isso, requerem o planejamento variado de oportunidades educacionais e
sociais a fim de serem desenvolvidos (Renzulli & Reis, 1997).
Para Renzulli (1986) e Renzulli e Reis (1997) há dois tipos de superdotação: uma
acadêmica ou escolar e a outra criativo-produtiva. A superdotação acadêmica, como o
próprio nome indica, está relacionada às habilidades acadêmicas como aprender
rapidamente e tirar boas notas. Por outro lado, a superdotação criativo-produtiva “diz
respeito àqueles aspectos da atividade humana na qual se valoriza o desenvolvimento de
produtos originais” (Alencar, 2007a, p. 22). Para esses autores, os tipos de superdotação
são igualmente importantes e estão associados a determinadas características e habilidades
individuais e às demandas sócio-culturais do ambiente em que o indivíduo está inserido
(Chagas, 2007).
Diante das considerações sobre a definição de talento e suas implicações, passamos
a delinear uma seqüência de eventos dinâmicos e contínuos que configuram e solicitam
14
desempenho, tarefas ou atividades específicas amplamente relacionadas ao
desenvolvimento de adolescentes talentosos.
O Desenvolvimento de Adolescentes Talentosos: Aspectos Teóricos e Empíricos
O estudo do talento a partir de uma perspectiva do desenvolvimento é recente e se
traduz em um dos desafios para a área (Subotnik, 2003). A maioria das pesquisas com
indivíduos talentosos ainda é centralizada no período da infância, em situação escolar ou
familiar, por breves períodos de tempo e com pouca consideração das interconexões
multidimensionais que envolvem os processos de desenvolvimento humano ao longo do
tempo.
Tal inferência demonstra a necessidade de sistematização do conhecimento sobre
indivíduos talentosos à luz de pressupostos da ciência do desenvolvimento humano. E,
igualmente, evidencia a emergência de planejamentos de pesquisas que considerem a
combinação complexa de variáveis. Combinação essa que tece uma rede específica ou
fluxo de influências significativas entre o indivíduo talentoso e o contexto (mudanças,
estabilidades, competências pessoais e sociais, demandas ambientais) e que formata
trajetórias únicas (Aspesi, Dessen & Chagas, 2005; Gagné & Schader, 2006; Simonton,
2004).
Nesse sentido, o estudo com adolescentes talentosos pode ajudar a preencher a
lacuna percebida na literatura quanto ao desenvolvimento do talento ao longo do curso de
vida. A adolescência marca o fim do ciclo infantil e o início da vida adulta. Esse fato torna
imprescindível a compreensão dos processos que caracterizam essa etapa evolutiva, uma
vez que as mudanças que ocorrem durante a adolescência são tendências ou interesses
dinâmicos que orientam o desenvolvimento para novas direções, ações e emoções (Oliva,
2004a, 2004b).
De acordo com Vygotsky (2000), as transformações que ocorrem em um nível do
desenvolvimento do adolescente têm reflexo nos demais níveis e não podem ser vistas de
forma isolada ou uniforme. Com relação ao funcionamento psíquico, por exemplo, a
habilidade intelectual elevada do adolescente talentoso pode estar relacionada a um alto
nível de concentração e de sensibilidade sensorial; a moralidade precoce pode ser
conjugada a habilidades lingüísticas e verbais acima da média. Ademais, o senso de justiça
pode ser associado às características criativas como o questionamento de regras e de
autoridade; assim como o intenso processamento de pensamento analítico pode ser
relacionado com maiores níveis de autoconsciência (Fortes-Lustosa, 2007; May, 2000).
15
As relações mencionadas anteriormente não garantem o desenvolvimento
sincrônico entre as habilidades cognitivas superiores e as habilidades motoras, afetivas ou
sociais. A assincronia é uma característica importante do desenvolvimento de crianças e
adolescentes talentosos e diz respeito a certos níveis de discrepância entre o
desenvolvimento intelectual, social, emocional e físico (Lovecky, 1997; Rimm, 2002;
Silverman, 2002). Esses níveis de discrepâncias podem desencadear conflitos inter e
intrapessoais entre talentosos, suas famílias e pares, promovendo situações de dilema e
estresse. A assincronia é um fenômeno percebido durante a infância e adolescência, que
pode perdurar por toda a vida dependendo da trajetória, da configuração social e do tipo de
talento (Edmunds & Edmunds, 2005; Olenchak, 1999; Sabatella, 2005; Sankar-
DeLeeleuw, 2004; Tolan, 1994).
Em geral, as discrepâncias entre os níveis de desenvolvimento são mais acentuadas
em indivíduos talentosos quando comparados aos seus pares (Gross, 2002; Ourofino &
Guimarães, 2007; Silverman, 2002). Crianças e adolescentes talentosos tendem a
demonstrar maiores níveis de intensidade e sensibilidade emocional e intelectual
(denominados superexcitabilidades). Essas características impactam o desenvolvimento ao
longo do curso de vida e são amplamente citadas na literatura (Fortes-Lustosa, 2007;
Fleith, 2007b; O’Connor, 2002).
As superexcitabilidades foram descritas por Dabrowski, conforme citado em
Silverman (1993), como a capacidade de responder a uma quantidade variada de estímulos.
De acordo com Dabrowski, existem cinco formas ou maneiras de expressão das
superexcitabilidades: psicomotora, sensorial, imaginativa, intelectual e emocional. A
superexcitabilidade psicomotora está associada aos altos níveis de energia e entusiasmo,
impulsividade, compulsividade no falar, hábitos nervosos, organização extremada,
competitividade (Fleith, 2007b).
A superexcitabilidade sensorial está integrada ao prazer obtido por meio dos
sentidos, prazer estético (apreciação da beleza de objetos, estilos de escrita), desejo de
aparecer e ser elogiado. A superexcitabilidade intelectual diz respeito à curiosidade,
planejamento detalhado de projetos, grande capacidade de concentração, introspecção,
desenvolvimento de hierarquia de valores, metacognição e integração de pensamentos
conceituais e intuitivos (Silverman, 1993).
A superexcitabilidade imaginativa é caracterizada pelo uso freqüente de imagens e
metáforas, facilidade de fantasiar e inventar coisas, percepção dramática, poética e
pensamentos mágicos e animistas. Finalmente, a superexcitabilidade emocional evidencia-
16
se pela expressão intensa de sentimentos positivos (intensa alegria, entusiasmo), negativos
(inadequação, inferioridade, medo) e ambíguos (chorar e rir ao mesmo tempo), oscilação
de humor, somatizações (dores de estômago e de cabeça, alergias), altos níveis de empatia
ou dificuldade de ajustamento a novos ambientes, suscetibilidade à depressão e ideação
suicida (Fleith, 2007b; O’Connor, 2002; Silverman, 1993).
Com relação ao desenvolvimento de adolescentes talentosos é importante ressaltar,
ainda, que esses indivíduos não formam uma população homogênea (Alencar 2007a;
Chagas, 2007). Por isso, algumas características apresentadas ao longo desse capítulo
podem ser observadas em alguns adolescentes talentosos e em outros não. Também é
igualmente relevante mencionar que, apesar deste estudo apresentar um recorte e ênfase na
adolescência, o desenvolvimento do talento é contínuo, dinâmico e multifacetado.
Aspectos Biológicos e Cognitivos Associados ao Desenvolvimento do Adolescente
Talentoso
Vários teóricos do desenvolvimento apontam a puberdade como um processo
acentuadamente marcado por alterações biológicas (hormonais) que principia e caracteriza
a primeira fase da adolescência (Campos, 2002; Cole & Cole, 2004; Hockenbury &
Hockenbury, 2001; Palacios & Oliva, 2004; Papalia, Olds & Feldman, 2006). A puberdade
pode irromper antes do término da primeira década de vida e estender-se para além da
segunda, dependendo da cultura e de características individuais (Hutz, 2002; Palacios &
Oliva, 2004).
Os eventos pubertários, apesar de terem caráter universal, podem variar de
indivíduo para indivíduo com relação a sua expressão, ritmo ou extensão (Papalia, Olds &
Feldman, 2006). Os processos biológicos desencadeados nesse período modificam os
aspectos psicossociais e direcionam o desenvolvimento posterior. Essa conjuntura torna a
adolescência uma importante fase evolutiva para o estudo dos processos de
desenvolvimento humano (Mangrulkar, Whitman & Posner, 2001).
As mudanças biológicas são relativamente rápidas durante a puberdade e
modificam o funcionamento emocional e social. De certa forma, a puberdade desfaz a
aparente estabilidade obtida na primeira década da vida e gera conflitos intra e
interpessoais na busca da definição e consolidação de uma identidade adulta (Bianculli,
1997; Marcondes-Filho & cols., 2002). Esses eventuais desconfortos com as mudanças
biológicas podem acarretar riscos à saúde como a adoção de dietas pouco saudáveis para
corresponder às pressões sociais em torno dos padrões de beleza ou o início prematuro da
17
atividade sexual (Cole & Cole, 2004).
Também é reconhecido que as mudanças neuropsicológicas dessa fase interferem
na organização cognitiva e nos níveis de desenvolvimento de habilidades intelectuais,
afetivas e sociais de adolescentes talentosos (Csikszentmihalyi, Rathunde & Whalen, 1993;
Winner, 1998). Sendo assim, os eventos biológicos pubertários não podem ser
considerados isoladamente, mas devem ser vistos como parte constitutiva do sujeito como
um todo. Seus processos são interconectados de forma complexa aos demais processos
dinâmicos que envolvem o sujeito, suas relações e o contexto sócio-histórico-cultural no
qual está inserido.
Em geral, os estudos realizados com adolescentes talentosos focalizam as
características intelectuais excepcionais. Essas habilidades são identificadas na infância e
evoluem, especialmente, na adolescência, quando são aperfeiçoadas e elaboradas de
maneira mais consciente (Gardner, 1997). Do ponto de vista neurológico, as características
intelectuais são associadas à alta eficiência do funcionamento e às diferenças qualitativas
da organização cerebral (Fingelkurts & Fingelkurts, 2003; Sabatella, 2005; Winner, 1998,
2000).
Entre as características da organização cerebral de adolescentes talentosos são
citadas as conexões neuronais mais complexas e a densidade de atividade no córtex e área
frontal do cérebro (Staudt & Neubauer, 2006). Alguns estudos com adolescentes
superdotados com habilidades superiores, principalmente nas áreas de matemática e
música, têm demonstrado que a organização cerebral é mais bilateral e simétrica que o
usual e que o hemisfério direito participa em atividades que são ordinariamente reservadas
ao hemisfério esquerdo (O’Boyle, 2005; Staudt & Neubauer, 2006; Winner, 2000).
Com relação à eficiência neural, Staudt e Neubauer (2006) realizaram estudo
comparativo com 31 adolescentes com idade entre 15 e 18 anos. Os participantes foram
selecionados com base em testes psicométricos de inteligência geral (QI), de habilidades
intelectuais verbais, numéricas e viso-espacial. Os resultados revelaram que os
adolescentes com QI acima da média eram mais fluentes na produção de idéias e palavras
e, durante a realização das tarefas previstas, mantiveram um baixo nível de ativação
cortical quando comparados aos estudantes com QI médio. Esses resultados parecem
demonstrar maior nível de especialização do cérebro ou eficiência neural.
Ainda dentro dessa perspectiva, Fingelkurts e Fingelkurts (2003) sugerem que o
potencial para a superdotação é um fator biológico inato e que o desenvolvimento e a
realização do talento são, respectivamente, uma questão biossocial e psicobiológica. Para
18
esses últimos autores o estudo do funcionamento e estrutura cerebral de indivíduos
superdotados intelectualmente constitui uma oportunidade única para conhecer o potencial
humano em geral.
Singh e O’Boyle (2004) compararam as interações cerebrais inter-hemisféricas
globais e locais de adolescentes superdotados em matemática (idade média de 13,7 anos),
com um grupo controle formado por adolescentes e universitários, com idade média de
13,1 anos e 20,3 anos, respectivamente. Os resultados sugerem que há uma cooperação
reforçada entre os hemisférios cerebrais de adolescentes superdotados na área de
matemática. Essa cooperação é diferente em termos da ativação seletiva de regiões do
cérebro, fluxo de informações e comunicação entre hemisférios. Os pesquisadores
conjecturam que essa característica funcional pode ser exclusiva do cérebro desses
adolescentes.
Alguns pesquisadores também mencionam a relação entre as habilidades
intelectuais de adolescentes e pré-adolescentes superdotados de ambos os sexos com os
níveis de testosterona (Ostatnikova & cols., 2000; Winner, 2000). A pesquisa realizada por
Ostatnikova e cols. (2000) demonstrou que os níveis de concentração de testosterona na
saliva de pré-adolescentes superdotados eram menores quando comparados aos estudantes
não superdotados. Esse resultado, apesar de exploratório, corrobora outros estudos citados
em Ostatnikova e cols. sobre o espectro das atividades do sistema endócrino sobre o
desenvolvimento do talento. Esses achados sugerem que a secreção da testosterona afeta as
características físicas e o funcionamento e a estrutura cerebral ao longo da vida. Esses
níveis podem estar associados à maior complexidade de respostas neuronais ou conexões
sinápticas com conseqüências sobre o comportamento cognitivo de indivíduos
superdotados na adolescência (Ostatnikova & cols. 2000).
Outro estudo conduzido com adolescentes talentosos por Hassler e Birbaumer,
citado em Winner (2000) e Ostatnikova (2000), traz evidências de que há uma associação
das bases hormonais com o talento musical. Os resultados demonstraram que o nível de
testosterona em adolescentes com talento musical é mais baixo quando comparado ao de
seus pares.
Além das bases biológicas relacionadas aos processos intelectuais, vários teóricos
do desenvolvimento mencionam a ocorrência de mudança significativa na estrutura e
funcionamento do pensamento durante a adolescência (Piaget, 1983, 1990; Wallon, 1995).
Um novo patamar de construções endógenas é atingido quando o adolescente começa a
compreender a inversão, reversibilidade e irreversibilidade.
19
Essa capacidade emergente de estabelecer relações possibilita a tomada de decisão,
a solução de problemas e construção de um projeto de vida próprio (Inhelder & Piaget,
1976). Os adolescentes tendem a desenvolver e refinar uma variedade de capacidades do
pensamento operacional formal, como: (a) raciocinar sobre problemas hipotéticos, (b)
pensar abstratamente, (c) explorar possibilidades e alternativas, (d) utilizar estratégias
sofisticadas de armazenamento e recuperação de eventos na memória, (e) pensamento
recursivo e (f) capacidade de antecipação.
O pensamento formal colabora, segundo Piaget e Inhelder (1982), com o manejo e
construção de idéias racionais, estéticas e sociais e de valores ideais ou supra-individuais.
A essas características Papalia, Olds e Feldman (2006) acrescentam o acúmulo gradual de
conhecimento e de saberes em campos específicos, aumento na capacidade de
processamento de informações, desenvolvimento da metacognição, da consciência ou
monitoramento de seus próprios processos e estratégias mentais. Para Wallon (1995) e
Mahoney e Almeida (2006), nessa fase há o fortalecimento do pensamento categorial, onde
tarefas como definir e explicar se tornam mais abrangentes. Além disso, o adolescente tem
uma melhor apreensão da noção de tempo futuro e maior consciência de si; a oposição ou
confronto na busca de uma identidade autônoma leva a auto-afirmação e possibilita a
discriminação de idéias, sentimentos, valores e limites. Nesse sentido, “os recursos
intelectuais enriquecem as possibilidades do eu, ampliando-o e flexibilizando-o” (Galvão,
1995, p. 98).
Estudos com indivíduos talentosos revelam que, desde muito cedo, eles se
envolvem em questões filosóficas, políticas e morais e demonstram alto nível de
metacognição e reflexão abstrata (Chagas & Fleith, 2006; Lovecky, 1997; Vieira, 2005).
De certa forma, crianças talentosas operam mentalmente com bases mais formais e
utilizam o raciocínio lógico-dedutivo e abstrato mais cedo do que seus pares. Essas
especificidades ampliam as possibilidades de interiorização de esquemas de ação ou
pensamento intuitivo durante a adolescência (Freeman, 2001; Piaget, 1970; Ramozzi-
Chiarottino; 2005).
O desenvolvimento precoce de habilidades cognitivas e verbais superiores podem
atuar tanto como agente facilitador quanto dificultador das interações inter e intrapessoais
na adolescência (Neihart, 1999; Lee, 2002). Ainda em tenra idade, indivíduos talentosos
demonstram maior disciplina mental, atenção mais focada e apreensão da noção de tempo
futuro. Essas características parecem facilitar as interações consigo mesmo e com os pares.
De certa forma, elas antecipam, em parte, o que é esperado para adolescência como a
20
consciência de si mesmo, a diferenciação dos outros e o estabelecimento, questionamento e
julgamento de valores (Fortes-Lustosa, 2004; Galloway & Porath, 1997; Mahoney &
Almeida, 2006; Mönks, 2003; Neihart, 1999, 2002; Olenchak, 1999; Sabatella; 2005; Zuo
& Tao, 2001).
No entanto, outras características intelectuais típicas de crianças talentosas podem
ser acentuadas durante a adolescência e impactar de forma negativa a interação com os
pares (Lee, 2002). Entre os atributos que dificultam a socialização do adolescente talentoso
destacamos aqueles assinalados por Winner (1998) e Lee (2002): precocidade no
desenvolvimento físico, cognitivo e social, altos níveis de atenção e concentração,
memória de reconhecimento exacerbada, preferência por novidades, linguagem oral
avançada.
O Desenvolvimento Emocional e Social do Adolescente Talentoso
De forma geral, na adolescência, os relacionamentos sociais sofrem uma
reorganização marcante (Lerner & Castellino, 2002; Papalia, Olds & Feldman, 2006). Os
adolescentes costumam passar duas vezes mais tempo em companhia de outros
adolescentes do que com seus pais e outros adultos. Essa mudança observada nas
interações sociais parece orientada para a busca de apoio, auto-estima e identidade (Costa,
2006). A adesão a padrões comportamentais de grupo é voluntária e funciona como via de
acesso para se fazer novos amigos (Cole & Cole, 2004; Oliva, 2004b).
Estudo clássico realizado por Csikszentmihalyi, Rathunde e Whalen (1993) com
208 adolescentes talentosos das áreas de matemática, ciências, música, artes e esportes é
repleto de detalhes sobre os aspectos do desenvolvimento emocional e social. Os
resultados evidenciaram que os adolescentes do estudo despendiam mais tempo em
atividades relacionadas ao seu talento, área de interesse e hobbies. Quanto à escolha de
companhia, eles não diferiram de seus pares, preferindo, na maior parte do tempo, estar
com outros adolescentes. No entanto, demonstraram maiores níveis de interação com seus
pais e irmãos.
Os adolescentes talentosos investigados por Csikszentmihalyi, Rathunde e Whalen
(1993) tendiam, com maior freqüência, a ocupar o tempo livre com atividades de estudo e
lazer estruturado relacionado ao seu domínio de talento. Esses adolescentes também se
referiam a si mesmos como mais alegres e satisfeitos com as atividades acadêmicas. Eles
se percebiam como mais dispostos e engajados em experiências positivas e atividades
produtivas e demonstravam um senso claro de identidade e do que desejavam se tornar
21
quando adultos. Além disso, possuíam níveis mais altos de concentração e motivação
intrínseca, persistência, curiosidade, desejo de superar-se e de dominar conhecimentos e
técnicas de sua área de talento. Eles, ainda, pareciam fortemente influenciados por fatores
exógenos como participação em eventos, concursos, competições e premiações e o
reconhecimento do talento por meio de elogios e certo status social (como por exemplo,
tornar-se popular, famoso ou admirado pelos pares).
Resultados semelhantes foram encontrados em outro estudo clássico realizado por
Bloom (1985). Essa pesquisa contou com a participação de 120 indivíduos das áreas de
música (pianistas) e artes (escultores), esportes (nadadores, tenistas), matemática e
ciências. Com relação ao período da adolescência, ficou demonstrado que os participantes
eram envolvidos em uma variedade de atividades como recitais, competições, concertos e
exposições. Essas atividades mantinham os adolescentes engajados, na maior parte de seu
tempo livre, com o aperfeiçoamento de suas habilidades e centrados em metas e objetivos
de alta performance. O envolvimento nesse tipo de atividades parece estabelecer um ciclo
dinâmico e retroalimentado de reconhecimento do talento, motivação para alta
performance e auto-realização.
Na mesma direção, Csikszentmihalyi, Rathunde e Whalen (1993) salientaram,
entre outros aspectos, que a motivação intrínseca e extrínseca interagem mútua e
ciclicamente no desenvolvimento do talento. Nesse sentido, o reconhecimento das
habilidades pelo domínio e o campo, o background e o suporte familiar associados a
alguns traços de personalidade foram apontados como imprescindíveis para o
desenvolvimento do talento e promoção do sucesso de adolescentes talentosos.
Sak (2004) comparou os resultados de 40 estudos realizados com 5.723
adolescentes com relação a fatores personológicos. Os resultados dessa investigação
demonstraram que adolescentes talentosos parecem ser mais introvertidos, intuitivos,
conclusivos, impacientes e interessados por situações complexas e novidades, quando
comparados aos adolescentes em geral. Quando comparados entre si, foram observadas
diferenças com relação ao tipo de talento, características individuais e intelectuais e
gênero. As adolescentes talentosas demonstraram ser mais extrovertidas, intuitivas e
possuir preferência acadêmica por atividades baseadas em sentimento e julgamento quando
comparadas aos rapazes talentosos. Em geral, os rapazes pareciam ser mais introvertidos e
lógicos e possuir preferência por ambiente de aprendizagem tranqüilo e trabalho
individual.
O ajustamento comportamental e emocional de adolescentes talentosos alimenta
22
um debate controverso (Richards, Encel & Shute, 2003). De um lado as pesquisas revelam
que esses adolescentes são mais ajustados quando comparados com seus pares o
talentosos (Freeman, 1997; Neihart, 1999; Terman, 1971; Winner, 1998). Essas pesquisas
revelam que a capacidade intelectual pode funcionar como fator de proteção,
proporcionando aos jovens talentosos a possibilidade de apresentarem menor nível de
depressão, grande senso de adequação, níveis superiores de atenção, maior maturidade
intelectual, habilidades avançadas de resolução de problemas, atitude mais positiva frente
às adversidades ambientais, desenvolvimento social precoce, auto-estima elevada e
autoconceito mais positivo (Field & cols., 1998; Richards, Encel & Shute, 2003).
A literatura demonstra que a relação com os pares é fundamental e auxilia o
adolescente na testagem da identidade e confiança em si mesmo (Lee, 2002; Oliva, 2004a,
2004b). Os adolescentes talentosos exibem algumas características que podem dificultar a
sua socialização com os pares: envolvimento intenso em atividades de seu interesse,
independência, motivação intrínseca, altos níveis de concentração, precocidade,
complexidade de raciocínio, intensidade e oscilação emocional e perfeccionismo (Lee,
2002).
Há autores que sugerem que adolescentes talentosos, especialmente aqueles com
habilidades extremas, apresentam maior vulnerabilidade a problemas emocionais e sociais
e maiores riscos para a depressão, ansiedade e suicídio (Greenspon, Parker & Schuler,
2000; Grobman, 2006; Gross, 2002; Jackson & Peterson, 2003; Neihart, 2006; Peterson,
2001; Rimm, 2002; Schultz & Deslile, 2003). Nessa direção, Schuler (2002) chama a
atenção para os estudos desenvolvidos por Barker e Roberts e Lovett que apontam altos
níveis de perfeccionismo entre adolescentes superdotados. Schuler (2002) define o
perfeccionismo como uma combinação entre pensamentos e comportamentos associados a
altas expectativas sobre o desempenho. A autora aponta o perfeccionismo como um dos
múltiplos fatores que favorecem a elevação dos problemas emocionais na adolescência e o
risco para o suicídio.
Cassady e Cross (2006) assinalam, também, uma correlação positiva entre a
depressão, a rejeição pelos pares, o desespero e baixa auto-estima com a ideação suicida e
o suicídio entre adolescentes talentosos. O estudo comparativo realizado por esses autores,
contou com a participação de 334 adolescentes superdotados da área acadêmica e 287
estudantes com habilidades medianas. A pesquisa teve como objetivo descrever as
diferenças entre os dois grupos com relação a componentes da ideação suicida. Os
resultados revelaram que adolescentes superdotados estruturam a ideação suicida de
23
maneira diversa dos demais adolescentes com relação a quatro fatores ambientais: planos e
desejos suicidas, fixação mórbida (atenção focalizada na morte e doenças ou ferimentos
graves), isolamento social e impacto social da comunicação da ideação sobre os outros.
Os resultados conflitantes com relação ao ajustamento emocional e social de
adolescentes talentosos apresentados na literatura podem ser explicados, em parte, pela
diversidade metodológica utilizada (estudos de caso, estudos clínicos, entrevistas com pais,
opinião de especialistas), pelo foco em fatores endógenos, exógenos e estressores
específicos e pelo estudo de subgrupos de indivíduos talentosos (Olenchak, 1999; Osborne
& Kenny, 2005; Richards, Encel & Shute, 2003).
Apesar dos resultados contraditórios encontrados na literatura sobre o ajustamento
emocional do indivíduo talentoso, os amigos e a família são apontados como agentes
importantes para a construção da identidade, a estabilidade emocional e bem-estar, adesão
a novas aspirações, interesses e habilidades e para a escolha da futura carreira profissional
do adolescente talentoso (Lee, 2002; Neihart, 2006).
É importante ressaltar que as características dos adolescentes talentosos não devem
ser vistas como atributos isolados ou que possam ser atribuídos de forma homogênea ao
universo desses indivíduos. Pelo contrário, torna-se imprescindível que essas
peculiaridades sejam analisadas à luz de processos dinâmicos, multifacetados e
interconectados. Processos esses que envolvem a complexidade das interações e relações
do organismo e dos sistemas ecológicos em seus múltiplos níveis.
Entre os processos que impactam o desenvolvimento do talento na adolescência
passamos a considerar aqueles que envolvem a elaboração e integração da identidade e
questões relacionadas ao gênero.
O Desenvolvimento da Identidade e Questões de Gênero entre Adolescentes Talentosos
Há uma série de desafios que emergem durante a adolescência. De acordo com
vários pesquisadores do desenvolvimento, o principal é a necessidade de conceber e
integrar uma identidade a partir de possíveis combinações entre crise, exploração e
compromisso (Cole & Cole, 2004; Erickson, 1971; Mussen & cols., 1995).
É esperado, no decorrer dessa etapa, que novos papéis sejam desempenhados e
decisões importantes sejam tomadas quanto ao futuro: emprego, profissão, casamento e
independência (Mussen & cols., 1995). A conquista da identidade é considerada um
requisito imprescindível para o ajustamento psicológico nas fases posteriores. A identidade
integra os componentes da personalidade e dota as ações do adolescente de significado
24
(Oliva, 2004a). Nesse sentido, Erickson (1971) propõe:
O sentimento de identidade do ego, então, é a segurança acumulada de que a
coerência e a continuidade interiores elaboradas no passado equivalem à coerência
e à continuidade do próprio significado para os demais, tal como se evidencia na
promessa tangível de uma “carreira” (p. 241).
A partir dessa perspectiva, Neihart (2006) e Howard-Hamilton e Franks (1995)
sugerem que a formação da identidade de adolescentes talentosos é fortemente mediada
por aspectos culturais vinculados à classe social, raça, gênero e etnicidade. Em algumas
culturas, atitudes e comportamentos de liderança são considerados traços “masculinos”
incompatíveis com os estereótipos e papéis sociais femininos. Com isso, a conjunção
inteligência e feminilidade, por exemplo, apesar de serem atributos desejáveis, muitas
vezes, tornam as adolescentes alvo de hostilidade nesses grupos. Também parecem
igualmente excludentes, em certos grupos, a associação criatividade e masculinidade.
Rapazes altamente criativos podem ser discriminados por seus pares por apresentarem
níveis mais altos de “sensibilidade estética” e traços atribuídos a papéis femininos
recebendo baixa motivação ambiental para a sua expressão (Howard-Hamilton & Franks,
1995; Neihart, 2006).
Da mesma maneira, adolescentes de grupos étnicos, minoritários ou provenientes de
ambientes em desvantagem econômica, também podem ser questionados sobre aspirações,
crenças e valores que pareçam contraditórios às expectativas sócio-culturais do grupo a que
pertencem. Essa dissonância pode levar a apatia, conflitos de afiliação, autoconceito
negativo e baixa auto-estima (Neihart, 2006).
As aspirações de adolescentes talentosas intelectualmente e de classes minoritárias
parecem declinar com o passar do tempo (Neihart, 2006). Esse fenômeno pode estar
associado a sentimentos de invisibilidade, marginalidade, isolamento, impotência,
inadequação, discriminação ou rejeição por parte dos colegas e da família. Essas atitudes
discriminatórias tendem a ser relacionadas com as diferenças na maneira de falar, de vestir-
se ou de comportar-se e levam a internalização de experiências negativas. Esse cenário
aponta a urgência e importância de serem criados e expandidos serviços que auxiliem no
desenvolvimento de autoconceito positivo, estratégias de autoproteção, fortalecimento de
valores, crenças e aspirações e o treinamento de habilidades sociais.
Outra variável importante a ser considerada com relação à formação da identidade é
o suporte familiar (Neihart, 2006), que parece ter maior impacto na constituição da
identidade de indivíduos talentosos do que os aspectos demogficos. A relação e a
25
dinâmica familiar harmoniosa e saudável tendem a promover saúde emocional,
competência social e auto-eficácia (Neihart, 2006). O estilo parental, por exemplo,
influencia no desenvolvimento da independência e autonomia. Em geral, adolescentes
talentosos com maiores níveis de sensibilidade e motivação podem ser influenciados de
forma negativa por pais autoritários que restringem sua autonomia. Por outro lado, pais
permissivos que impõem poucos limites podem ter baixas expectativas sobre o
desempenho do adolescente, o que pode levar ao desânimo.
Encontramos resultados nas pesquisas que apontam diferenças entre adolescentes
do sexo feminino e masculino com relação à formação da identidade e maneira como lidam
com o desenvolvimento do talento (Reis, 2002). As adolescentes talentosas tendem a negar
ou minimizar o talento na adolescência, como estratégia de filiação a um grupo, de
enfrentamento da pressão exercida pelos pares, de ajustamento quanto aos papéis ligados
aos estereótipos sexuais ou para atender a expectativas parentais (Dalzell, 1998).
O baixo nível de autoconfiança, o não reconhecimento e a não aceitação de suas
próprias habilidades ou competência intelectual podem se tornar barreiras internas ao
desenvolvimento do talento. Essas barreiras podem ser agravadas durante a adolescência,
em virtude das transformações biopsicossociais mencionadas anteriormente e que são
típicas dessa fase da vida (Nelson & Smith, 2001; Reis, 2002; Soffner & Newsome, 2001).
Ainda com relação ao gênero, os estudos revelam que a maioria dos estudantes
atendidos em programas destinados ao desenvolvimento do talento é do sexo masculino
(Chagas, 2003; Magalhães, 2006; Maia-Pinto & Fleith, 2004; Reis, 2002). Ao contrário do
que acontece com as adolescentes, os adolescentes talentosos são estimulados a
desenvolverem o seu potencial, apresentam autoconceito mais positivo e elevada auto-
estima quando comparados a adolescentes do sexo feminino (Dalzell, 1998). Eles
demonstram, ainda, maior nível de confiança em suas habilidades e disposição para correr
riscos (Dalzell, 1998).
Uma característica comum a adolescentes, do gênero masculino e feminino,
altamente inteligentes e criativos é a androgenia (Hébert, 2002; Howard-Hamilton &
Franks, 1995). A androgenia é definida como uma habilidade pessoal que possibilita que a
pessoa seja ao mesmo tempo agressiva e passiva, sensível e rígida, dominante e submissa
(Hébert, 2002). Essa característica impacta o desenvolvimento da identidade do
adolescente talentoso e parece estar associada aos níveis de intensidade e sensibilidade
emocional e intelectual e à capacidade de responder a um variado espectro de estímulos
(superexcitabilidade).
26
Howard-Hamilton e Franks (1995) investigaram 167 estudantes superdotados, com
idade média de 17 anos, que freqüentaram curso de verão para estudantes superdotados,
em uma universidade. Os resultados encontrados contrariam os de outras pesquisas (Kerr
& Nicpon, 2003; Reis, 2002), uma vez que não foram encontradas diferenças entre
adolescentes do gênero masculino e feminino quanto à identidade do ego, identificação
com papéis sociais e aspirações profissionais. No entanto, ficou evidenciada certa
prevalência de papéis considerados andrógenos e masculinos entre as adolescentes como
habilidades para liderança e tomada de decisão. Os resultados indicaram, ainda, que os
adolescentes talentosos, em geral, além de funcionarem em níveis intelectuais elevados
também eram bem-sucedidos do ponto de vista psicossocial.
Estudo retrospectivo realizado por Schlosser e Yewchuk (1998), com mulheres
canadenses eminentes, evidenciou o papel relevante da família no desenvolvimento da
identidade na adolescência. Os resultados indicaram que a dinâmica familiar favoreceu e
fortaleceu o relacionamento interpessoal, o reconhecimento do talento e encorajamento
para o desenvolvimento do potencial e carreira profissional. Estes aspectos foram
considerados importantes para o sucesso e o engajamento futuro no mercado de trabalho e
para o desenvolvimento das habilidades superiores.
Além disso, há autores que apontam a necessidade premente de uma educação
voltada para o desenvolvimento da personalidade e identidade do adolescente talentoso. O
fortalecimento desses fatores associado a aspectos do desenvolvimento cognitivo é
reconhecido também como elemento essencial para a apreensão de valores, virtudes e
sentimentos morais, para a melhoria da motivação e auto-estima e o desenvolvimento do
talento na adolescência (Fortes-Lustosa, 2007; Guenther, 2006a, 2006b).
O Desenvolvimento Moral em Adolescentes Talentosos
Os adolescentes talentosos, em geral, possuem um desenvolvimento privilegiado
com relação a vários aspectos morais: julgamento, sensibilidade, atitude, imaginação e
motivação (Fortes-Lustosa, 2004, 2007). Esse fato parece estar associado a aspectos da
precocidade intelectual na infância (Lovelock, 1997). Estudo realizado por Pagnin e
Andreani, citado em Fortes-Lustosa (2007), demonstrou que os estudantes talentosos
apresentaram nível superior de princípios abstratos e gerais, em leis e contratos, em
coerência com a teoria de Kohlberg. No entanto, vale destacar que a antecipação no
desenvolvimento moral não prediz um julgamento moral maduro (Tirri & Pehkonen,
2002).
27
Pesquisa realizada por Fortes-Lustosa (2004) com adolescentes talentosos
demonstrou que esses alunos apresentavam maiores níveis de reflexividade, orientação
para o futuro e certa ambivalência em questões de julgamento moral. Esses indivíduos
centralizavam sua atenção na coerência lógica em detrimento de sentimentos mais
imediatos de empatia. Fortes-Lustosa conclui que mesmo entre adolescentes com um
nível cognitivo elevado, motivados e criativos, o desenvolvimento da moralidade depende
de outros elementos, como a motivação para agir moralmente” (p. 229).
Derryberry e cols. (2005) compararam dois grupos de adolescentes quanto ao
julgamento moral. O primeiro grupo era composto por 97 adolescentes superdotados, com
idade entre 12 e 16 anos. Esses adolescentes tinham habilidades verbais e matemáticas
superiores medidas em testes psicométricos e educacionais. O segundo grupo era composto
por 140 estudantes, com idade entre 17 e 52 anos. Os estudantes desse último grupo
freqüentavam vários cursos de graduação na mesma universidade onde o primeiro grupo
participou de programa de verão destinado a indivíduos superdotados. Os resultados
demonstraram que os adolescentes superdotados possuíam desenvolvimento e julgamento
moral mais avançado do que os seus pares mais velhos e com instrução formal mais
adiantada. Os autores argumentaram que essas evidências se justificam, em parte, pelo
desenvolvimento cognitivo e intelectual mais avançado desses alunos como o desejo de
refletir profundamente sobre certos conhecimentos e informações sobre si mesmos e sobre
os outros. Essas características parecem ser indicadores para o melhor preparo desses
alunos, inclusive, para responder e assimilar orientações acadêmicas e educacionais.
O’Leary (2005) também comparou o desenvolvimento de aspectos da personalidade
e raciocínio moral entre adolescentes superdotados e não superdotados. O pesquisador
coletou dados com 1053 adolescentes com idade entre 13 e 17 anos. Os resultados da
pesquisa indicaram que os adolescentes superdotados possuem nível mais intenso de
raciocínio moral, atitudes mais altruístas e filantrópicas quando comparados com seus
pares. Entre os adolescentes superdotados havia difereas quanto ao gênero. As
adolescentes tinham um nível de raciocínio moral mais elevado quando comparadas aos
adolescentes.
Além de ser um aspecto central na experiência do adolescente talentoso, a
sensibilidade e o raciocínio moral são expressos, muitas vezes, como uma preocupação
exacerbada com problemas mundiais ou como empatia ao sofrimento e aos problemas
alheios. Essas habilidades quando desenvolvidas podem se transformar em produtos que
promovem o bem-estar para a sociedade em geral. Por outro lado, podem se tornar um
28
risco se não foram contempladas e estimuladas de maneira positiva, uma vez que podem
ser colocadas a serviço de fins indesejáveis, como ressaltam Fortes-Lustosa (2007) e
O’Leary (2005).
Resumindo, a compreensão mais ampla das características biológicas, cognitivas ou
sócio-emocionais envolve a investigação de uma teia complexa e interativa de fatores
dinâmicos presentes nos vários sistemas ecológicos onde o indivíduo está inserido ao longo
de sua trajetória de vida. Com isso, essas características não devem ser estudadas isoladas
do contexto sócio-histórico-cultural e nem padronizadas de forma caricatural para toda
população de adolescentes talentosos.
Entre as interconexões sistêmicas primárias na promoção do desenvolvimento
humano e do talento na adolescência estão aquelas que ocorrem na família e na escola, as
quais passamos a descrever.
Família e Escola: Nichos de Desenvolvimento do Talento na Adolescência
Dois nichos ecológicos de fundamental importância para o desenvolvimento do
potencial humano, especialmente na adolescência, são a família e a escola
(Bronfenbrenner, 1986b; Costa, 2006; Krebs, 2006). Nesses dois contextos são construídas
as teias de interações sociais, transmitidos os padrões de comunicação e o conjunto de
tradições, crenças e valores. É na interseção entre escola e família que são tecidas as redes
de apoio que transcendem as gerações, impactam o desenvolvimento ao longo do curso de
vida e promovem o desenvolvimento do talento (Bronfenbrenner, 1994; Dessen, 2007).
Com relação às características familiares de adolescentes talentosos, são
encontrados resultados controversos na literatura. Estudos citados em Schilling, Sparfeltd e
Rost (2006) indicaram que as famílias com adolescentes talentosos tendem a enfrentar
problemas específicos ou ter seus problemas intensificados devido ao desenvolvimento
atípico ou assincrônico. Por outro lado, estudos desenvolvidos por Meckstroth, Wittmann e
Holling, também relacionados em Schilling, Sparfeltd e Rost (2006), não revelaram
diferenças significativas entre as famílias com e sem adolescentes talentosos.
De acordo com Schilling, Sparfeltd e Rost (2006), esses resultados contraditórios
parecem ter íntima relação com questões metodológicas associadas a critérios de seleção
da amostra. Em sua maioria, essas amostras foram selecionadas de programas de
enriquecimento, com elevada variabilidade de idade entre os participantes e falta de
controle do status sócio-econômico. Os mesmos autores mencionaram, ainda, a escassez de
estudos que investigam a família como um sistema.
29
Schilling, Sparfeldt e Rost (2006) investigaram 84 famílias de adolescentes
superdotados e 95 famílias de estudantes com habilidades medianas. Foram estudadas
variáveis do sistema familiar que contribuem para o desenvolvimento do talento como:
coesão, estilo parental, organização familiar, orientação para a realização de tarefas,
comunicação e orientação intelectual-cultural. Os resultados indicaram não haver
diferenças significativas entre as famílias com relação a esses fatores.
Outro estudo comparativo foi realizado por Chagas (2003) com 14 famílias com
pré-adolescentes e adolescentes superdotados e 14 famílias com pré-adolescentes e
adolescentes de habilidades medianas provenientes de ambiente sócio-econômico
desfavorecido. Os resultados demonstraram que os adolescentes superdotados diferiam de
seus pares com relação à posição que ocupavam na família. Eram em sua maioria filhos
unigênitos ou primogênitos. As famílias desses adolescentes dispunham de mais recursos
materiais em casa, eram mais envolvidas com a vida acadêmica dos filhos e tinham
práticas parentais semelhantes às práticas de famílias de classe média-alta. Os resultados
indicaram que essas famílias possuíam altas expectativas com relação ao desempenho dos
filhos, valorizavam a educação como prioridade e centralizavam e direcionavam os
recursos humanos e materiais da família para o desenvolvimento do talento (Chagas, 2003;
Chagas & Fleith, 2006).
O estudo revelou, ainda, com relação a características do desenvolvimento, que os
adolescentes do estudo apresentaram habilidades e interesses incomuns em tenra idade.
Estavam envolvidos em uma quantidade maior de atividades durante o tempo livre e
possuíam níveis superiores de criatividade quando comparados aos adolescentes não
superdotados (Chagas & Fleith, 2006). É interessante ressaltar, também que não foram
encontradas diferenças quanto à defasagem idade e série entre os dois grupos de
adolescentes investigados (Chagas, 2003).
Também Van Tassel-Baska (1989a) conduziu investigação com 15 adolescentes de
famílias em desvantagem econômica. Seus resultados revelaram que as aspirações, as
expectativas e o alto padrão estabelecido, principalmente, pelas mães e avós tiveram um
impacto positivo sobre o desenvolvimento do talento. As expectativas quanto ao
desempenho e os valores parentais a respeito da educação dos filhos têm sido apontados
como fatores que exercem forte influência sobre os superdotados oriundos de ambientes
desfavorecidos sócio-economicamente (Chagas, 2003; Snowden & Christian, 1999).
A pesquisa realizada por Bloom (1985) demonstrou a importância do papel parental
no desenvolvimento do talento na adolescência. Entre os resultados encontrados,
30
destacamos o envolvimento dos pais no estímulo e monitoramento dos estudos e
aprimoramento na área específica de domínio, o investimento de tempo e recursos
(instrumentos, equipamentos, mentores) e as altas expectativas em relação ao desempenho
do filho. Em alguns casos, o investimento na carreira e desenvolvimento do talento é
extremamente alto, o que requer da família um nível diferenciado de tomada de decisão
quanto à aplicação dos recursos financeiros.
Vários fatores familiares são mencionados na literatura como favoráveis ao
desenvolvimento de indivíduos talentosos (Aspesi, 2007; Chagas, 2007; Delou, 2007a;
2007c; Dessen, 2007) entre os quais destacamos:
(a) altas expectativas parentais com relação ao desempenho do filho;
(b) conjunto de valores e crenças parentais que priorizam a educação;
(c) o nível de escolaridade e a profissão dos pais;
(d) estilo parental responsivo;
(e) centralização nas demandas e necessidades dos filhos;
(f) ambiente familiar enriquecido;
(g) monitoramento e acompanhamento das atividades escolares;
(h) liderança efetiva na defesa e na busca de provisão das necessidades do filho;
(i) estimulação da criatividade, fantasia e imaginação do filho;
(j) encorajamento do filho a correr riscos e vencer desafios;
(l) relações familiares mais coesas e harmoniosas.
Para Freeman e Guenther (2000), Delou (2007a, 2007c) e Sabatella (2007), a
maioria dos problemas enfrentados pelo indivíduo talentoso está associada à maneira como
a família percebe e lida com as suas características peculiares. Especialmente, aquelas
atreladas aos aspectos assincrônicos, emocionais e motivacionais. Por outro lado, “grande
parte do sucesso no desenvolvimento saudável dos alunos de maior potencial depende do
envolvimento familiar” (Sabatella, 2007, p. 148). Essas considerações elegem a orientação
aos pais, a disseminação de informações, a troca de experiências entre famílias com
indivíduos talentosos e o aconselhamento como estratégias de fundamental importância
para o desenvolvimento do potencial humano.
Além das características parentais e familiares, há outros fatores vinculados à
escola que são amplamente citados na literatura como a necessidade de serem criadas
estratégias educacionais adequadas ao atendimento de crianças e adolescentes talentosos, a
formação de professores e a reestruturação e enriquecimento curricular (Alencar & Fleith,
2001; Fahlman, 2000; Fleith, 2007c; Guenther, 2006a; Magalhães, 2006; Maia-Pinto &
31
Fleith, 2004; Olszeweski-Kubilius & Lee, 2003). Nessa direção, Alencar (2003) salienta
que:
Boa parte dos problemas observados entre alunos que se destacam por um
potencial superior tem a ver com o estímulo e frustração sentido por eles diante de
um programa acadêmico que prima pela repetição e monotonia (...) a escola não
responde de forma adequada aos alunos que apresentam habilidades intelectuais
superiores, o que ajuda a explicar a apatia e o ressentimento, às vezes, apresentados
por esses alunos (p. 63).
Independente das estratégias educacionais a serem adotadas, Pereira e Guimarães
(2007), Chagas, Maia-Pinto e Pereira (2007), Fleith (2007b, 2007c) e Alencar (2007b)
assinalam algumas ações que devem ser observadas no atendimento a crianças e
adolescentes talentosos como: o respeito e mapeamento de habilidades, interesses, estilos
de aprendizagem e expressão, o planejamento de atividades que estimulem o pensamento
criativo, a utilização de técnicas de pesquisa, o treinamento de habilidades sociais e a
utilização das tecnologias educacionais. Casey (2000) ressalta, ainda, a importância do
acompanhamento por mentores para o desenvolvimento afetivo, social e vocacional de
adolescentes talentosos.
Olszeweski-Kubilius e Lee (2003) chamam a atenção para o grande interesse dos
adolescentes talentosos pelos meios eletrônicos e pela internet. Eles sugerem que essas
ferramentas devem ser utilizadas de forma mais efetiva para a educação e desenvolvimento
de talentos, como uma forma de enriquecimento escolar e aceleração de estudos.
Sheffield (2007) salienta o fato de os adolescentes contemporâneos serem
indivíduos nativos de um mundo tecnológico, digital e informacional. Com isso, há uma
crescente demanda pela incorporação e ampliação de ofertas e oportunidades de
aprendizagem que utilizem essas tecnologias nas práticas instrucionais de adolescentes
talentosos. Entre as várias possibilidades existentes, podemos elencar: a organização de
ambientes de aprendizagem colaborativa, cursos a distância online e a utilização de
ferramentas virtuais para o fortalecimento da comunicação entre pares, treinamento de
habilidades e a oferta de serviços em geral.
No sentido de observar o impacto das tecnologias na educação de adolescentes
talentosos, Dixon, Cassady, Cross e Williams (2005) realizaram pesquisa com 99
adolescentes com idade média de 16 anos. Eles verificaram o efeito da tecnologia no
pensamento crítico e na produção de ensaios escritos. Os resultados demonstraram que
existem diferenças na produção dos adolescentes com relação ao uso do computador. Os
32
adolescentes que usaram o computador produziram um número maior de palavras,
sentenças e parágrafos quando comparados aos alunos que não usaram o computador.
Em relação às práticas educacionais, Maia-Pinto e Fleith (2004) avaliaram um
programa de atendimento a alunos superdotados e talentosos. Participaram do estudo
crianças e adolescentes talentosos com idade entre 7 e 18 anos. Os resultados indicaram
que os alunos talentosos da área acadêmica tinham um desempenho escolar superior
quando comparados aos da área artística, que por sua vez, obtiveram escores superiores
nos testes de criatividade. As práticas educacionais aplicadas nas salas de atendimento do
programa eram moderadamente diferentes daquelas implementadas nas salas de aula
regular e vistas de forma positiva pelos pais.
O’Leary (2005) chama a atenção, na conclusão de seu estudo, para a necessidade
dos adolescentes talentosos, na escola, serem envolvidos em atividades onde possam
examinar aspectos morais e éticos aplicados a situações do cotidiano. O pesquisador
ressalta a importância de que esses indivíduos sejam treinados a lidarem consigo mesmo e
com os seus pares e que desenvolvam atitude e autoconceito positivos a respeito de suas
habilidades e potencialidades.
Ainda com relação a fatores educacionais, salientamos alguns desafios associados à
escola e à educação no Brasil, como: a necessidade de serem criadas e planejadas
estratégias que favoreçam a manutenção do adolescente talentoso na escola (Guenther,
2006a, 2006b; Sabatella, 2005), a disseminação de processos de identificação e avaliação
do talento (Guimarães, 2007), a adoção de práticas educacionais que valorizem, promovam
e estimulem o desenvolvimento da criatividade (Alencar, 2007b; Nakano & Wechsler,
2007) e o planejamento de estratégias de inclusão de alunos com baixa renda em
programas destinados ao desenvolvimento de talentos (Gama, 2007).
Entre as práticas escolares que limitam o desenvolvimento da criatividade,
característica presente no indivíduo talentoso, Alencar (2007b) destaca o ensino voltado
para o passado, exercícios que só permitem um único tipo de reposta correta, ênfase no
erro, ignorância e incapacidade do aluno, conteúdo curricular limitado com relação ao
desenvolvimento de habilidades intrapessoais, padronização de conteúdos e procedimentos
e pouca valorização da fantasia.
Com relação às estratégias que devem ser adotadas na escola no sentido de
promover o desenvolvimento do talento, Alencar (2007b) e Sabatella e Cupertino (2007)
descrevem a necessidade de que os alunos sejam:
(a) encorajados a apresentar e defender idéias,
33
(b) envolvidos em atividades que requeiram iniciativa, independência, tomada de
decisão e gerenciamento de etapas para a solução de problemas,
(c) estimulados a usar a criatividade, a permanecerem atentos e curiosos,
(d) desafiados a pensar e desenvolver idéias novas,
(e) submetidos a variada gama de atividades e experiências,
(f) protegidos de críticas e zombaria com relação à sua produção,
(g) elogiados pela realização de suas tarefas,
(h) tratados em função de suas potencialidades e não sob o prisma das suas
dificuldades,
(i) incentivados a ampliarem seus conhecimentos.
Além dessas estratégias, os adolescentes talentosos devem participar de
atendimentos alternativos que possibilitem a aceleração, flexibilização, adaptação e
enriquecimento curricular. Esse atendimento pode ser oferecido em agrupamentos
específicos na sala de aula regular, em agrupamentos especiais em sala de recursos,
programas de tutoria e monitoria ou em contextos instrucionais abertos, interativos ou
auto-regulados (Chagas, 2007b; Sabatella & Cupertino, 2007).
A flexibilização ou aceleração curricular é caracterizada pelo acesso precoce à
escola, avanço para uma série mais avançada, flexibilização ou dispensa no estudo
seqüencial de conteúdos ou disciplinas por comprovada competência ou domínio. A
aceleração pode ser oferecida ao adolescente por meio da participação em cursos especiais,
paralelos ou de férias, cursos a distância, no período contrário às aulas da sala de ensino
regular e atendimento com especialistas ou mentores (Sabatella & Cupertino, 2007).
As adaptações curriculares permitem a participação em programa educacional com
planejamento individualizado. Os objetivos, conteúdos, metodologias e critérios de
avaliação são modificados com a finalidade de atender, simultaneamente, às exigências do
sistema de ensino e às necessidades cognitivas e sócio-afetivas do adolescente talentoso.
As adaptações podem ser específicas ou amplas. As ampliações curriculares dizem respeito
ao aprofundamento de conteúdos e atividades. As adaptações específicas visam atender o
talento específico do adolescente, podendo ser realizadas por meio de tutorias ou
monitorias (Sabatella & Cupertino, 2007).
O enriquecimento curricular pode ser oferecido por meio da diversificação
curricular e de contextos e agrupamentos enriquecidos com a finalidade de atender as
demandas do adolescente talentoso. Algumas estratégias de enriquecimento são a
elaboração de projetos independentes ou em pequenos grupos, o engajamento na solução
34
de problemas reais ou futuros, participação em projetos de pesquisa e em atividades
extracurriculares (Sabatella & Cupertino, 2007).
Apesar dos avanços legais e dos esforços empreendidos no que tange à educação
inclusiva e ao reconhecimento das necessidades educacionais especiais do aluno talentoso,
as políticas públicas nacionais são caracterizadas, ainda, pela descontinuidade e
fragmentação de suas ações (Delou, 2007b). O atual estado da relação escola e adolescente
talentoso pode ser expresso na afirmação de Delou: “ao contrário do que se possa
imaginar, alunos com altas habilidades/superdotação podem ser reconhecidos pelo alto
desempenho escolar, mas (...) eles não têm acesso aos níveis mais elevados de ensino, da
pesquisa e da criação artística” (p. 27). Acesso que é previsto e garantido em lei desde
1996, conforme informa Delou (2007b).
Essa realidade, no entanto, começa a mudar, especialmente, depois da implantação
dos Núcleos de Atividades para Altas Habilidades e Superdotação – NAAHS em cada
estado brasileiro, numa parceria entre o Ministério da Educação e as Secretarias Estaduais
de Educação. Esses núcleos têm entre os seus objetivos: a formação de professores e
profissionais da educação para a identificação dos alunos com altas
habilidades/superdotação; o efetivo atendimento e ampliação da oferta de processos de
aprendizagem que visem o pleno desenvolvimento das potencialidades desses alunos, a
orientação às famílias e a disseminação de informações sobre as necessidades educacionais
especiais dos alunos com altas habilidades/superdotação (Brasil, 2006b).
De uma maneira mais ampla, as demandas atuais relacionadas ao estudo do
desenvolvimento do talento na adolescência, nos remetem não somente às lacunas nos
sistemas educacionais, mas também à urgente necessidade de integrar teorias que estudam
o ser humano. A partir dessa perspectiva, entender o ser humano como um ser constituído
por sua integralidade subjetiva, orgânica e social requer postura investigativa inter e
transdisciplinar (Aspesi, Dessen & Chagas, 2005). De certa forma, mesmo delimitado
nosso foco, em função de nossos objetivos e questões de investigação, será preciso
considerar que o curso de vida humano oferece ilimitadas oportunidades, enquanto são
limitados nossos métodos para auferi-lo ou explicá-lo.
O desafio parece maior, quando consideramos a amplitude do potencial a ser
realizado, o devir humano, as múltiplas possibilidades de cada trajetória, por assim dizer,
inacabadas. Como argumenta Novaes (2005), “o tempo delimita e configura o nosso trajeto
vital; é soberano em comandar, fazer e desfazer os nós e tramas dos nossos caminhos” (p.
19) e complementa:
35
Isso pode demonstrar que, depois da ansiedade da juventude, que exige tudo para
ontem, querendo aproveitar cada segundo da forma mais intensa e imediata
possível, e depois da tranqüilidade de dar tempo ao tempo, as pessoas percebem
que ele (o tempo) é insuficiente (p. 31).
36
CAPÍTULO III
DEFINIÇÃO DO PROBLEMA
A adolescência é uma fase fundamental para o processo evolutivo da espécie
humana (Cole & Cole, 2004; Palacios & Oliva, 2004; Oliva 2004a; Saito, 2001). As
transformações que ocorrem nesse tempo de vida reconfiguram as experiências vividas na
infância e abrem novas possibilidades de desenvolvimento para a vida adulta. Alguns
processos basilares para construção da identidade do adolescente, em geral, também são
apontados como fatores relevantes para o ajustamento psicológico nas fases posteriores do
desenvolvimento humano e para a ampliação das possibilidades de promoção do talento na
adolescência (Cole & Cole, 2004). Entre eles, podemos destacar a capacidade intelectual
para lidar com operações abstratas reflexivas, o raciocínio hipotético-dedutivo, o
pensamento lógico e a comparação mais aguçada entre o que é experienciado na realidade
e o que é idealizado pelo adolescente (Campos, 2002; Oliva, 2004a).
Os adolescentes se envolvem em atividades cognitivas e sociais cada vez mais
complexas, o que demanda dos pais atenção às habilidades e interesses dos filhos. Nesse
período, os jovens talentosos possuem capacidade incomum para estabelecer relações
hipotéticas, fluência de idéias, predisposição à empatia em relação ao trabalho dos outros e
maior consciência sobre aspectos de seu potencial (Fahlman, 2000). A consciência de suas
próprias habilidades e experiências, somadas à exploração de novos papéis e
relacionamentos sociais, exerce influência na percepção que o adolescente talentoso tem de
si mesmo e de suas habilidades.
O nível de iniciativa e competência obtido nos anos pré-púberes influencia
diretamente a maneira como o adolescente empreenderá esforços para o desenvolvimento
de suas capacidades (Gardner, 1997). Com a exacerbação crescente da autocrítica, o
adolescente passa a julgar e comparar a sua produção com o trabalho de outras pessoas e
com o conhecimento acumulado em sua área de domínio. Se o adolescente talentoso,
especialmente aqueles que se dedicam às artes em geral, julgar a sua obra satisfatória,
aumenta a probabilidade de continuar investindo no desenvolvimento de seu potencial. Se
pelo contrário, julgar sua obra como insuficiente ou insatisfatória, ele tenderá a abandonar
ou negar o seu talento (Gardner, 1997).
Fahlman (2000) e Virgolim (2007b) argumentam que a motivação e a percepção
que o individuo talentoso tem de si mesmo são ingredientes importantes para a auto-
atualização e o desenvolvimento do talento. Uma auto-imagem positiva e o sentimento de
37
competência e de satisfação consigo mesmo e com suas realizações são fundamentais.
Esses fatores influenciam os processos de comunicação, aprendizagem e tomada de
decisão. Eles moldam as escolhas e afetam a percepção e a avaliação que o adolescente faz
de si mesmo e a maneira como reage aos outros e ao mundo. Por outro lado, as
expectativas irrealistas e o perfeccionismo podem interferir na percepção do adolescente
reduzindo a motivação e elevando os níveis de frustração (Schuler, 2002; Virgolim,
2007b).
A maioria dos estudos com indivíduos talentosos investiga o desenvolvimento
cognitivo e sócio-emocional e as características individuais e ambientais relacionadas à
escola e à família (Evans, Bickel & Pendavir, 2000; Gallagher & Harradine, 1997; Pardo &
Fernández, 2002). No entanto, observa-se que esses processos, em geral, são estudados de
forma isolada, enfocados na infância, por breves períodos de tempo e com limitada
consideração das interconexões sistêmicas multidimensionais De acordo com
Bronfenbrenner (1994) e Shanahan, Sulloway e Hofer (2000), são as seqüências e os
eventos dinâmicos e contínuos que desencadeiam processos de desenvolvimento em
diversas direções e à aquisição de competências para lidar com as variadas exigências da
vida. Essa constatação demonstra a necessidade de sistematização, integração e ampliação
do conhecimento na área e a adoção de uma abordagem sistêmica do desenvolvimento
humano (Gardner, 1995). No sentido de preencher essa lacuna, o nosso estudo pretende
ampliar o foco dos estudos realizados na área ao considerar as múltiplas redes de
interações em que o indivíduo talentoso está imerso, por adotar uma perspectiva do
desenvolvimento humano e por estender a atenção às características relacionadas ao
desenvolvimento do adolescente talentoso.
Os estudos com adolescentes talentosos são recentes e investigam aspectos do
desenvolvimento cognitivo e emocional com uma prevalência dos aspectos intelectuais,
além de diferenças de gênero (Mönks, 2003; Neihart, 2006). Vários autores demonstram a
necessidade de serem examinados mais acuradamente fatores qualitativos relacionados ao
desenvolvimento e funcionamento mental do adolescente talentoso e os processos de
construção de identidade e seu impacto sobre a percepção de habilidades e capacidades
(Dalzell, 1998; Fahlman, 2000; Schilling, Sparfeldt & Rost, 2006). Os mesmos
pesquisadores indicam, ainda, outros temas relevantes a serem examinados: a percepção
subjetiva sobre as mudanças que ocorrem durante a adolescência, a influência do
autoconceito, da motivação intrínseca e da auto-estima no desenvolvimento do talento e as
38
características familiares e escolares que favorecem o desenvolvimento do talento na
adolescência (Dalzell, 1998; Fahlman, 2000; Schilling, Sparfeldt & Rost, 2006).
É importante ressaltar que os adolescentes talentosos, como os demais
superdotados, não constituem um grupo homogêneo (Alencar & Fleith, 2001; Fahlman,
2000; Sabatella, 2005). Portanto, o desenvolvimento de suas habilidades, a qualidade de
vida e o seu sucesso ou a auto-realização dependem de um conjunto complexo de variáveis
individuais e ambientais. Esses fatores compõem uma teia específica ou fluxo de
influências significativas entre o processo-pessoa-contexto-tempo. As competências e
características pessoais estimuladas por demandas sócio-histórico-culturais vão tecendo a
trajetória única de cada indivíduo talentoso ao longo do seu curso de vida (Aspesi, Dessen
& Chagas, 2005).
Diante disso, podemos inferir que poucos desenvolvem de forma mais plena o seu
potencial. As características pessoais associadas a uma configuração ambiental constroem
uma rede de possibilidades e prioridades de desenvolvimento selecionando certas
características em detrimento de outras. Dessa maneira, o talento pode ser mantido latente
até encontrar oportunidade, circunstância ou outros fatores favoráveis ao seu
desenvolvimento. Em alguns casos, a inexistência de acesso à estrutura de oportunidades
sociais pode sentenciar o talento a pouca ou nenhuma expressividade ou evidência
(Ambrose, 2006; Virgolim, 2007a). Se na escola, por exemplo, não são oferecidas
oportunidades para os adolescentes cantarem, representarem ou esculpirem dificilmente
essas habilidades serão demonstradas nesse contexto. Se as famílias não estimularem a
expressão criativa de idéias e produtos, dificilmente esse tipo de habilidade será valorizado
por seus membros. Essa constatação corrobora o argumento desenvolvido por Renzulli de
que o talento ou superdotação é um fenômeno dinâmico que está presente em “certas
pessoas, em certos lugares e sob certas circunstâncias” (Renzulli & Reis, 1997, p. 8). Em
suma, o desenvolvimento do talento na adolescência é desencadeado por meio de uma teia
de processos complexos, multidimensionais, contínuos, interativos e multiníveis entre a
pessoa e o contexto.
Dentre os vários contextos que promovem o desenvolvimento, a família tem sido
apontada como um dos nichos ecológicos de maior importância para o desenvolvimento do
talento (Alencar & Fleith, 2001; Amabile, 1989; Aspesi, 2007; Dessen, 2007; Freeman &
Guenther, 2000; Robinson, Reis, Neihart & Moon, 2002). De acordo com Dessen (2007), a
família é o sistema primário que promove uma cultura específica de comunicação, um
clima emocional particular, o reconhecimento e o suporte para o desenvolvimento ou não
39
das habilidades dos filhos.
Alguns fatores familiares que exercem influência sobre o desenvolvimento do
talento são apontados por Solow (2001), Aspesi (2007) e Chagas (2007): história familiar;
percepção, crenças e valores parentais; altas expectativas parentais; priorização da
educação pela família, ambiente familiar enriquecido e nível de escolaridade dos pais. Para
compreender os processos que promovem o desenvolvimento do talento durante a
adolescência é imprescindível conhecer o funcionamento das famílias de adolescentes
talentosos e sua intricada rede de apoio social (Dessen, 2007). Apesar dos estudos que
investigam variáveis do ambiente familiar de adolescentes talentosos ainda serem escassos
na literatura, Robinson, Reis, Neihart e Moon (2002) e Delou (2007b) reconhecem a
importância do suporte familiar e das expectativas parentais para o desenvolvimento de
habilidades superiores, o bem-estar e o sucesso do adolescente talentoso.
Tendo em vista as implicações teóricas e metodológicas anteriormente mencionadas
e relacionadas ao estudo do desenvolvimento do talento na perspectiva do
desenvolvimento humano, o objetivo dessa pesquisa foi descrever as características
individuais e familiares de adolescentes talentosos. As características individuais serão
abordadas de forma interconectada e multidimensional em seus aspectos cognitivos,
afetivos e psicossociais. As características familiares serão descritas a partir de interações
inter e intra-sistêmicas que envolvem o indivíduo talentoso, os membros da família, a
escola e sua rede de apoio-social. Nesse sentido, foram formuladas as seguintes perguntas:
1. Quais são as habilidades, as preferências, os interesses, os aspectos
motivacionais e os estilos de aprendizagem de adolescentes talentosos?
2. Quais são as características familiares de adolescentes talentosos em termos de
constelação e dinâmica familiar?
3. Quais são as características familiares de adolescentes talentosos relacionadas à
comunicação, uso do tempo, ensino, frustração, satisfação e necessidade de informação
parental?
4. Quais são as características cognitivas e acadêmicas de adolescentes talentosos
na percepção dos adolescentes, seus familiares e seus professores?
5. Quais são as características afetivas e sociais de adolescentes talentosos na
percepção dos adolescentes, seus familiares e seus professores?
6. Quais são as estratégias implementadas por adolescentes talentosos, suas
famílias e rede de apoio social para o desenvolvimento do talento?
40
7. Qual a definição que os adolescentes talentosos, seus familiares e seus
professores têm sobre superdotação e talento?
41
CAPÍTULO IV
METODOLOGIA
Este capítulo foi dividido em duas subseções. Na primeira, são apresentadas
considerações e implicações da abordagem sistêmica para o estudo do talento na
adolescência e são delineados os principais conceitos que embasam o Modelo
Bioecológico de Bronfenbrenner, adotado como pressuposto teórico-metodológico nesse
estudo. Em seguida, são descritos aspectos relacionados ao método, destacando-se a
descrição dos participantes e dos instrumentos utilizados, os procedimentos e estratégias
para seleção dos participantes e coleta de dados e as técnicas de análise de dados.
Referencial Teórico-Metodológico
O Paradigma Sistêmico e o Modelo Bioecológico de Bronfenbrenner: Implicações para
a Pesquisa do Talento na Adolescência
A pesquisa com enfoque no desenvolvimento humano deve investigar o indivíduo
inserido em uma teia de relações em diferentes níveis de complexidade social somados a
múltiplas interconexões entre os elementos sócio-histórico-culturais (Chagas, Aspesi &
Fleith, 2005; Gottlieb, 1996). A partir dessa perspectiva, estudar o desenvolvimento do
adolescente talentoso implica considerar um amplo espectro de variáveis que influenciam o
curso de vida humano e as transformações estruturais e funcionais do organismo em seus
aspectos biológico, psicológico e social, relacionados aos aspectos multidimensionais do
ambiente.
Para descrever o desenvolvimento do adolescente talentoso é imprescindível levar
em consideração os processos proximais, a organização multinível e hierárquica do
organismo e interconexões do organismo com o ambiente (Lerner & Castellino, 2002;
Shanahan, Sulloway & Hofer, 2000). Tomando por base os desafios atuais para o estudo
do desenvolvimento humano apontados por Aspesi, Dessen e Chagas (2005), Dasen e
Mishra (2000) e Tudge, Putnam e Valsiner (1996), é importante que os estudos com
adolescentes talentosos, entre vários aspectos, (a) contemplem e descrevam os mecanismos
genéticos que atuam sobre o comportamento, (b) examinem quais e como as características
individuais são mediadas pela cultura e (c) descrevam quais são as variáveis mais
relevantes para a compreensão dos processos dinâmicos do desenvolvimento do talento na
adolescência. Além disso, outro aspecto a ser destacado é o questionamento sobre quais
são os melhores procedimentos de intervenção ou prevenção a serem adotados no sentido
de possibilitar o desenvolvimento saudável desses indivíduos e definir, em parceria com a
42
sociedade, qual o nível de aplicação social que esse tipo de pesquisa deve ter (Dessen,
2005).
A adoção do paradigma sistêmico, ancorado, particularmente, no Modelo
Bioecológico de Bronfenbrenner (Bronfenbrenner, 1977, 1989, 1994, 1999) não somente
amplia o foco das pesquisas com adolescentes talentosos, como desloca sua ênfase: (a) dos
traços pessoais para as interconexões dinâmicas e complexas que ocorrem entre a pessoa,
os objetos e os ambientes ecológicos proximais, distais, compartilhados e não-
compartilhados, dentro de uma lógica hierárquica de inter-relações; (b) da quantidade ou
qualidade da produção ou resultados em um domínio para as múltiplas interações e
configurações dos relacionamentos; (c) dos comportamentos ou habilidades específicas
para a inteireza da natureza humana em todas as suas possibilidades de vir a ser biológico,
psicológico, social e espiritual; (d) da linearidade dicotômica entre herdado e adquirido
para a reorganização contínua, plural e interdependente das ações, percepções, atividades e
interação do indivíduo com o seu mundo dentro de uma unidade tempo-espacial; (e) da
unilateralidade das interações para a reciprocidade ou bidirecionalidade, onde o ambiente
influencia o desenvolvimento do talento, e vice-versa; (f) da competência individualizada
para a configuração dos papéis, perfis, oportunidades e demandas estruturadas cultural e
socialmente; e (g) do isolamento entre as disciplinas que estudam o ser humano para uma
postura inter e transdisciplinar.
Essas implicações teórico-metodológicas configuram um conjunto de demandas
para a investigação do talento humano. Segundo Dessen (2005), “uma ciência, que se
propõe a investigar processos de mudança e estabilidade no decorrer do ciclo de vida do
indivíduo, necessita de modelos teóricos etodos de coleta de dados compatíveis com
seus próprios objetivos” (p. 264). Nesse sentido é recomendado que as pesquisas
contemplem no mínimo dois diferentes sistemas ecológicos, aspectos temporais associados
ao desenvolvimento e que empreguem procedimentos de análise apropriados (Appelbaum
& McCall, 1983; Bronfenbrenner, 1999; Bronfenbrenner & Morris; 1998; Dessen & Braz;
2005; Fleith & Costa-Júnior, 2005; Litlle, 2000; Nesselroade & McCollam, 2000; Von Eye
& Schuster, 2000; Winegar, 1997).
Os procedimentos e as técnicas para coleta de dados devem capturar a
temporalidade e a complexidade dos fenômenos por meio da conjugação de vários tipos de
instrumentos que permitam a triangulação dos dados. Além disso, o recorte metodológico
deve possibilitar a combinação de um conjunto de variáveis associadas à
43
multidimensionalidade dos ambientes ecológicos em seus diversos níveis conforme pode
ser verificado na Tabela 1.
44
Tabela 1
Variáveis para o Estudo do Desenvolvimento do Talento com Base no Modelo Bioecológico de Bronfenbrenner
RELAÇÕES MICROSSISTÊMICAS
RELAÇÕES
MACROSSISTÊMICAS
RELAÇÕES
CRONOSSISTÊMIC
AS
Resposta e reação às demandas sociais, culturais e temporais
Seleção e transmissão de
informações
Seleção e priorização de
informações
ASPECTOS ESPACIAIS
A PESSOA E SUAS RELAÇÕES: pessoa-pessoa, pessoa-objeto, pessoa-processo, pessoa-ambiente
ASPECTOS CULTURAIS
E SOCIAIS
ASPECTOS
TEMPORAIS E
HISTÓRICOS
PESSOA FAMÍLIA
ESCOLA
TRABALHO
INSTITUIÇÕES/
LUGARES
Valores e crenças
Características
Individuais
Temperamento
Processos
motivacionais
Processos
Cognitivos
Processos Afetivos
Processos
Bioquímicos
Fatores Genéticos
Hábitos
Processos Sociais
Processos
biológicos e
fisiológicos
Processos
psicológicos básicos
e superiores
Valores e crenças
Transgeracionalidade
Dinâmica familiar
Expectativas Parentais
Estrutura familiar
Fatores demográficos
Nível de coesão
Atitudes e Práticas
parentais
Estilos parentais
Relação Conjugal
Relação Fraternal
Tipos de família
Padrões de interação
intra e inter-familiar
Tamanho do grupo
familiar
Status sócio-
econômico da família
Posição na família
Formação do
professor
Currículo
Políticas
Educacionais
Relação
professor-aluno
Educação
formal e
informal
Clima em Sala
de Aula
Clima
organizacional
Formação
profissional
Produção
Valorização
Profissional
Relação entre
chefia-subordinado
Divisão do
trabalho
Tipos de
Organizações
Demandas de
mercado
Agremiações
Clubes
Instituições
religiosas
Comunidade ou
Vizinhança
Associações
Conjuntos musicais
Rede social de
apoio
Fundações
ONGS
OSCIPS
Comercio
Shopping
Estacionamento
Internet
Parque de diversão
Playground
Sistema simbólico
Valores e crenças sociais,
culturais e religiosas
Investimento de recursos
Estrutura econômica
Estilos de Vida
Estrutura de oportunidades
Estrutura política partidária
Padrões de interação social
inter-classes
Domínio: Conjunto, regras
ou procedimentos
Campo: critérios de
julgamento e avaliação de
produtos
Grupos minoritários
Etnias
Estereótipos sociais
Legislação
Características e estruturas
geográficas: país, nação,
região, continente,
território.
Eventos históricos:
guerras, atentados,
catástrofes naturais,
crises econômicas,
epidemias...
Décadas
Séculos
Idade
Faixa etária
Fases, etapas ou
estágios do
desenvolvimento
Períodos históricos:
Renascimento, idade
Média, Idade
Moderna...
Movimentos:
Iluminismo,
Humanismo,
Positivismo,
modernismo, pós-
modernismo.
Globalização
RELAÇÕES MESO E EXOSSISTÊMICAS
Escola-família,
Família-trabalho
Trabalho-escola
Comunidade-escola
Nota. Tabela adaptada de Chagas, Aspesi e Fleith (2005).
45
Dessa forma, variáveis da pessoa como características cognitivas, motivacionais ou
sócio-emocionais, por exemplo, podem ser relacionadas a eventos temporais considerando-
se as interações mesossistêmicas (família-escola), ao passo que variáveis do microssistema
familiar podem ser estudadas com base na combinação de aspectos sócio-culturais (grupo
étnico, estrutura econômica) demarcados por um período histórico específico do
desenvolvimento humano (Chagas, Fleith & Aspesi, 2005).
Vale ressaltar, no entanto, que apesar dos atributos ou características individuais
modelarem o curso do desenvolvimento humano e refletirem de forma ativa, seletiva e
estruturada a orientação oriunda do ambiente, nenhuma característica da pessoa exerce
influência isolada sobre o meio onde está inserida. Múltiplos fatores interagem de forma
diversa sobre cada ambiente específico. Desse modo, as experiências, a configuração
sócio-cultural, os processos cognitivos e sócio-afetivos e um dado período da história,
podem modificar o curso do desenvolvimento. Esses processos podem fortalecer ou
desencorajar certas características individuais, fomentar ou interromper o processo de
crescimento individual, ampliar ou reduzir diferentes oportunidades e evocar certos tipos
de reação no ambiente e nas pessoas (Bronfenbrenner, 1989; Elias, 1994, 1995).
O Modelo Bioecológico de Bronfenbrenner
Tendo como base a abordagem sistêmica, foi adotado como modelo metodológico,
nesta pesquisa, o Modelo Bioecológico, elaborado por Bronfenbrenner (1977, 1986a, 1994,
1996, 1999), que propõe visão dinâmica, multifacetada, ampla e diferenciada dos
processos e interações da pessoa com o ambiente (Aspesi, Dessen & Chagas, 2005;
Bronfenbrenner & Morris, 1998).
A concepção de processo é central no Modelo Bioecológico e é definido em termos
da relação funcional entre o ambiente e as características do desenvolvimento da pessoa.
Os processos proximais se tornam, progressivamente, mais complexos e variam
sistematicamente em função das interações e atividades recíprocas entre o organismo
biopsicológico, os objetos e os símbolos presentes no ambiente imediato ou distal, em
longos períodos de tempo (Bronfenbrenner, 1999).
Neste sentido, desenvolver-se sugere a acomodação progressiva e mútua entre um
ser ativo e as propriedades de um conjunto de estruturas ou uma rede de sistemas que o
afetam, em uma função de forças que emanam de múltiplos sistemas, interações e relações.
O conjunto de estruturas ou ambientes ecológicos é composto pelo microssistema,
46
mesossistema, exossistema, macrossistema e cronossistema (Bronfenbrenner, 1977, 1999).
O microssistema corresponde ao ambiente imediato onde a pessoa está inserida. Ele não se
refere somente ao espaço físico e suas propriedades, mas às atividades, papéis, relações
interpessoais, processos proximais, relações entre pessoa, símbolos, atividades e objetos
culturalmente dispostos no ambiente imediato ou distal (Bronfenbrenner, 1994, 1999). Os
processos que ocorrem no microssistema são recíprocos - iniciados e respondidos no
mínimo em duas direções (bidirecionalidade) - não estão limitados às interações
interpessoais, mas envolvem também as interações com objetos e símbolos e têm o poder
de reduzir o efeito das diferenças ambientais. O microssistema é o nível mais interno da
rede de sistemas. São exemplos de microssistema a família, a escola, a igreja e o local de
trabalho.
O mesossistema é constituído a partir das interações entre dois ou mais
microssistemas onde a pessoa está inserida, compreendendo todas as suas interconexões.
Esse sistema é formado, ampliado ou reorganizado cada vez que a pessoa em
desenvolvimento ingressa e participa de um novo ambiente. Por exemplo, a relação entre a
família e a escola da criança, entre a escola e a comunidade próxima e entre a família e o
local de trabalho dos pais, podem ser estudados com base na relação recíproca dos
ambientes com certos processos de desenvolvimento que ocorrem ao longo do tempo em
certo indivíduo ou grupo.
O exossistema envolve as interações e relações entre ambientes em que a pessoa em
desenvolvimento não está inserida e não participa ativamente, mas cujos eventos
influenciam as interações que ocorrem no ambiente imediato (microssistema). Um
exemplo clássico de exossistema é o local de trabalho dos pais, cujos processos e relões
afetam as interações dos pais com seus filhos e vice-versa, sendo que os filhos não
exercem qualquer atividade, papel ou função direta sobre os processos que acontecem no
ambiente de trabalho dos pais.
O macrossistema é um dos elementos que está no nível mais exterior do ambiente
bioecológico. Ele abrange os aspectos culturais, econômicos, sociais, educacionais, legais e
políticos. Segundo Bronfenbrenner (1977, 1986a, 1994), esse sistema es implícito nos
demais, uma vez que não está limitado a um contexto específico ou a uma pessoa em
particular. O macrossistema, de certa forma, é um protótipo geral, informal ou formal,
implícito ou explícito por meio de leis, regulamentos, regras, estrutura de oportunidades
sociais, crenças e valores. Apesar dos padrões de estruturas e atividades macrossistêmicas
47
ocorrerem nos níveis mais externos da rede de sistemas, esse sistema perpassa
reciprocamente todas as estruturas mais internas do ambiente bioecológico.
O cronossistema foi o último sistema incluído no Modelo Bioecológico
(Bronfenbrenner, 1999; Krebs, 2006) e diz respeito aos aspectos temporais envolvidos no
desenvolvimento humano. Esse sistema permeia as demais estruturas, permitindo a
investigação das mudanças e continuidades ao longo do tempo, o exame dos efeitos
cumulativos sobre um período de tempo mais extenso no curso de vida da pessoa, de uma
seqüência completa de transições normativas e não-normativas e o impacto de eventos
históricos sobre o desenvolvimento.
De acordo com Lerner e Castellino (2002), a evolução dos estudos do
desenvolvimento humano em geral, com base na perspectiva sistêmica, tem influenciado
de forma sucessiva e sistemática os estudos com adolescentes. Os estudos passaram a
associar, de forma recíproca e interdependente, as mudanças que ocorrem em um nível de
organização (mudanças na personalidade ou nos processos cognitivos do adolescente) com
outros níveis e mudanças no desenvolvimento (mudanças nas práticas parentais, no
relacionamento conjugal ou em níveis de organização da dinâmica familiar do
adolescente). De acordo com os mesmos autores, as mudanças que ocorrem na pessoa
acarretam transformação nas relações e no contexto, uma vez que o desenvolvimento
acontece de forma organizada, sucessiva, multinível e integrado. Independente da unidade
de análise sistêmica (família, curso de vida, grupo de pares, sala de aula) os processos de
desenvolvimento são contínuos.
Podemos destacar, a partir dessa perspectiva, que as características do adolescente
talentoso como o status psicológico, os atributos cognitivos, a personalidade e o
temperamento não podem ser desconectados de seu comportamento, da percepção de si
mesmo e do contexto social. Os processos biológicos que desencadeiam a puberdade, por
exemplo, provocam mudanças na percepção do ambiente e reformulam os
relacionamentos. Essas mudanças e transições configuram possibilidades diferenciadas de
desenvolvimento dos potenciais e talento e formatam cada trajetória de vida de forma
única.
Ainda, tomando como base os pressupostos elaborados por Bronfenbrenner, o
desenvolvimento do adolescente talentoso deve ser concebido como uma série de
acomodações contínuas e mútuas entre um ser humano ativo (organismo) e as propriedades
mutantes e interconectadas dos ambientes imediatos em que a pessoa vive, levando-se em
consideração suas relações com os contextos mais amplos ao longo do tempo
48
(Bronfenbrenner, 1977, 1986a, 1994, 1999; Cohen & Siegel, 1991). Essa perspectiva
pressupõe que todos os processos dinâmicos e complexos relacionados ao desenvolvimento
humano vão desde a concepção até a morte. Nesse sentido, devem ser analisados,
igualmente, os aspectos transgeracionais, as continuidades, descontinuidades e
periodicidade de ocorrência de eventos e processos que envolvem o conceito, as atividades,
os papéis e as expectativas sobre o desempenho de adolescentes talentosos. Devem ser
examinadas ainda sua trajetória de vida e suas relações com eventos ocorridos nas diversas
estruturas dos sistemas sociais e ambientes bioecológicos (Aspesi, Dessen & Chagas,
2005; Dasen & Mishra, 2000; Elder, 1996).
Tendo em mente as implicações teórico-metodológicas que envolvem o estudo do
desenvolvimento do humano a partir de referencial sistêmico bioecológico serão
consideradas, nessa pesquisa, as características individuais e familiares de adolescentes
talentosos e suas interconexões sistêmicas.
Método
Delineamento
Esta investigação tem um delineamento descritivo e o objetivo de descrever as
características individuais e familiares de adolescentes talentosos a partir da percepção de
adolescentes, suas famílias e professores estabelecendo interconexões sistêmicas, com base
nos pressupostos sistêmicos esboçados no Modelo Bioecológico de Bronfenbrenner
(Bronfenbrenner, 2004). Para tanto utilizamos uma abordagem de pesquisa mista:
quantitativa e qualitativa. Essa decisão é apoiada pela natureza multifacetada das perguntas
a serem respondidas.
Na primeira etapa da coleta de dados foi realizado um levantamento mais
abrangente das características individuais e familiares de adolescentes talentosos por meio
de instrumentos elaborados e adaptados para essa finalidade. A abordagem quantitativa se
mostra adequada por assegurar o inventário de dados por amostragem e a generalização
para uma população mais ampla (Günther, 2006).
Na segunda etapa da coleta optamos por uma abordagem qualitativa, uma vez que
pretendíamos um maior detalhamento das interconexões sistêmicas entre as características
individuais e familiares dos adolescentes talentosos. A investigação qualitativa é
caracterizada por assumir uma postura que é ao mesmo tempo interativa, construtiva e
interpretativa. Há uma ênfase no caráter processual, na reflexão e nos significados
49
subjetivos e comunicativos. Günther (2006) esclarece que o pesquisador ultrapassa o
caráter meramente descritivo para construir conhecimento acerca do fenômeno investigado
como sujeito integrante, ativo e reflexivo. O conhecimento produzido nesse tipo de estudo
deve ser contextualizado e abrangente. Ou seja, “o objeto de estudo qualitativo sempre é
visto dentro de sua historicidade, no que diz respeito ao processo de desenvolvimento do
indivíduo e no contexto dentro do qual o indivíduo se formou” (Günther, 2006, p. 2).
Günther também chama a atenção para a participação intencional do pesquisador na
seleção de métodos e procedimentos e a relação implícita destes com o contexto de estudo
e as perspectivas teóricas adotadas. A partir da adoção de paradigmas sistêmicos, o método
deixa de ser encarado apenas como um conjunto de técnicas e passa a ser visto como um
sistema interpretativo que é coerente com as questões de pesquisa e os procedimentos
adotados. Nesse sentido, Denzin e Lincoln (2000) e Günther (2006) citam as narrativas, as
observações e as entrevistas como técnicas de coleta de dados características de pesquisas
qualitativas.
No presente estudo, optamos pela utilização de uma abordagem multimetodológica,
a fim de promover a triangulação dos dados e envolver a participação de diferentes atores
com o objetivo de caracterizar o adolescente talentoso e sua família. Antes de
apresentarmos os participantes da pesquisa, descreveremos o Programa de Atendimento ao
Aluno Superdotado da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal, no qual eram
atendidos os alunos selecionados para esta pesquisa.
O Programa de Atendimento ao Aluno Superdotado do Distrito Federal
Os adolescentes talentosos, foco deste estudo, freqüentavam o Programa de
Atendimento ao Aluno Superdotado no Distrito Federal que é vinculado à Secretaria de
Estado de Educação dentro do organograma da Diretoria de Ensino Especial do DF. O
Programa teve início em 1976 com a criação do Núcleo de Apoio à Aprendizagem do
Superdotado (Magalhães, 2006). De acordo com documento que orienta as ações do
Programa, esse atendimento tem por objetivo geral: “subsidiar de forma teórico-prática o
atendimento educacional especializado das necessidades educacionais especiais de
aprendizagem do aluno superdotado/talentoso oferecendo-lhes condições favoráveis ao seu
pleno desenvolvimento” (Distrito Federal, 2006, p. 11).
O Programa atende alunos oriundos da rede de ensino pública e particular das três
etapas da educação básica: Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. Desde
2000, o programa adota o Modelo de Enriquecimento Escolar proposto por Renzulli e Reis
50
(1997) como proposta interventiva (Magalhães, 2006). Esse modelo é composto por três
outros modelos que orientam a concepção de superdotação (Modelo dos Três Anéis),
descrito no capítulo de revisão de literatura, a forma de acesso ao programa (Modelo das
Portas Giratórias) e as atividades pedagógicas conduzidas com os alunos (Modelo Triádico
de Enriquecimento).
O Modelo de Enriquecimento Escolar é implementado em salas de recursos em
horário contrário ao que o aluno estuda no ensino regular. As salas de recursos são
descritas como um
Local especial, com professor especializado e com programa de atividades
específicas, que tem por objetivos o aprofundamento e o enriquecimento do
processo ensino-aprendizagem, a criação de oportunidades para trabalhos
independentes e para a investigação nas áreas das habilidades e talentos (Distrito
Federal, 2006, p. 24).
O atendimento em sala de recursos pode ser individual ou em grupo. As atividades
desenvolvidas com os alunos levam em consideração as necessidades e habilidades de cada
aluno, em particular. Essas atividades são orientadas pelo Modelo Triádico de
Enriquecimento proposto por Renzulli e Reis (1997). Nesse sentido, três tipos de
atividades são, comumente, implementadas: atividades de exploração (tipo 1), atividades
de instrumentação e treinamento de habilidades (tipo 2) e atividades de solução de
problemas reais ou projetos em pequenos grupos (tipo 3).
As atividades exploratórias (tipo I) visam colocar o aluno em contato com eventos,
áreas do conhecimento e atividades que não fazem parte do currículo do ensino regular a
fim de despertar seu interesse e aguçar a curiosidade. Exemplos desse tipo de atividades
são as excursões, visitas a exposições, museus, teatros e instituições de pesquisa (Renzulli
& Reis, 1997).
As atividades do tipo II visam o desenvolvimento de habilidades de pesquisa,
treinamento de habilidades sociais, de pensamento criativo e uso de ferramentas de coleta
de dados. Entre as muitas possibilidades de planejamento de atividades do tipo II,
destacamos a elaboração de relatórios de pesquisa, a busca de referências em banco de
dados e o manejo de técnicas e ferramentas para o desenvolvimento do pensamento
criativo (Renzulli & Reis, 1997).
As atividades do tipo III são atividades de resolução de problemas reais e de
desenvolvimento de projetos de pesquisa, performance, produtos ou serviços. Essas
atividades envolvem o estudo aprofundado e a autonomia na condução de projetos. A
51
execução desse tipo de atividade envolve a participação de mentores ou tutores em áreas de
conhecimento específicos. Entre essas atividades podemos citar o desenvolvimento de
tecnologia, a elaboração de livros, a exposição de trabalhos artísticos ou o oferecimento de
serviços especializados (Renzulli & Reis, 1997).
Os alunos encaminhados ao Programa de Atendimento ao Aluno Superdotado são
avaliados por equipe multidisciplinar por meio de procedimentos psicométricos e
observacionais. Participam desse processo os professores da sala de recursos, os psicólogos
do Programa, professores do ensino regular e a família do aluno. Os alunos são
identificados, encaminhados e atendidos nas áreas acadêmicas tradicionais e na área de
habilidades artísticas (Distrito Federal, 2006; Magalhães, 2006).
O processo de encaminhamento ou acesso dos alunos obedece ao que está previsto
no Modelo das Portas Giratórias (Renzulli & Reis, 1997). Os alunos podem ser nomeados
ou indicados pelos pais, professores e colegas, podendo também se auto-indicarem para
participar do Programa. Após a indicação eles são avaliados durante um período de
observação que pode durar de 4 a 16 semanas. O período de observação pode ser estendido
mediante estudo de caso. Ao final do período o aluno é ou não efetivado na sala de
recursos (Distrito Federal, 2006).
Desde 2005, o Programa conta com o apoio do Núcleo de Atividades de Altas
Habilidades/Superdotação – NAAHS/DF criado em parceira com a Secretaria de Educação
Especial do Ministério da Educação (Brasil, 2006b). O NAAHS/DF tem como objetivo dar
suporte às ações desenvolvidas pelo Programa por meio das salas de recursos e é
constituído de quatro unidades de apoio: Unidade de Apoio ao Professor, Unidade de
Apoio às Famílias, Unidade de Apoio aos Alunos e Unidade de Apoio Logístico. Esta
última unidade foi acrescida ao projeto original do MEC.
A estrutura do Programa em 2006-2007, conforme dados disponibilizados pelo
Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação do DF, contava com 27 salas de
recursos, distribuídas em nove Diretorias Regionais de Ensino: Ceilândia, Sobradinho,
Planaltina, Taguatinga, Guará, Samambaia, São Sebastião, Plano Piloto (Asa Sul, Asa
Norte e Cruzeiro) e Gama. Atuavam no Programa à época dessa pesquisa: 8 psicólogos, 10
professores itinerantes
3
, 3 coordenadores e 51 professores de salas de recursos
3
Professor itinerante: professor responsável pela articulação da área de superdotação junto à gerência da
área, às salas de recursos, às escolas e às Diretorias Regionais de Ensino. Ele é responsável, ainda, pelo
suporte pedagógico e administrativo em sala de aula como: orientação aos professores, coleta de dados sobre
o atendimento, encaminhamento de alunos (Distrito Federal, 2006).
52
Das 27 salas de recursos distribuídas nas nove Regiões Administrativas,
participaram da pesquisa os adolescentes de 15 salas de recursos, distribuídas em cinco
Diretorias Regionais de Ensino: Ceilândia, Planaltina, Plano Piloto, Sobradinho e
Taguatinga. O intenso envolvimento e participação em concursos, em exposições e no
preenchimento de dados cadastrais solicitados pela Diretoria de Ensino Especial, durante o
período de coleta de dados, invibializou a participação dos adolescentes que freqüentavam
duas salas de recursos das Diretorias Regionais do Plano Piloto, duas da Ceilândia, uma da
Samambaia e uma do Gama. Três salas que funcionavam no Plano Piloto, uma em
Taguatinga, uma em São Sebastião e uma no Guará atendiam exclusivamente alunos da
Educação Infantil e séries iniciais.
Participantes
Critérios de Seleção dos Participantes
Foi considerado adolescente talentoso, para fins dessa pesquisa, o aluno que
freqüentava o Programa de Atendimento ao Aluno Superdotado da Secretaria de Educação
do Distrito Federal com idade entre 12 e 18 anos. O parâmetro etário foi estabelecido com
base no que é preconizado no artigo 2º do Estatuto da Criança e do Adolescente (Brasil,
1990).
Participaram da primeira fase de coleta de dados 42 adolescentes e seus genitores,
das várias áreas de talento, indicados pelos professores e psicólogos do Programa. Para a
segunda fase da coleta de dados foram selecionados, entre os participantes da primeira
fase, 04 adolescentes e seus familiares (pai, mãe e irmãos) com base no pareamento de
dados demográficos como: idade, tipo de talento, posição na família, constelação familiar e
renda familiar.
Com relação aos professores do Programa e do Ensino Regular, foram selecionados
somente aqueles que atendiam aos quatro alunos à época da pesquisa. Com relação às
professoras do Ensino Regular, as duas foram escolhidas por conveniência entre os
professores que atendiam a um dos alunos (sem levar em consideração a área de talento) e
que tinham disponibilidade para a coleta de dados.
Participantes da Primeira Fase da Coleta de Dados
Adolescentes talentosos. Participaram da primeira fase de coleta de dados 42
adolescentes com idade entre 12 e 18 anos (M = 13,8 anos, DP = 1,82). Desses, 29 eram do
sexo masculino e 13 do sexo feminino. Quanto à escolaridade, 27 adolescentes
53
freqüentavam o Ensino Fundamental, 12 estavam no Ensino Médio e 1 havia completado o
Ensino Médio e dois não responderam essa questão (veja Tabela 2). Com relação ao
desempenho escolar (N = 40), 65% informaram que tinham notas escolares acima da média
(n = 26), 30% que tinham notas na média (n = 12) e 5% que tinham notas abaixo da média
(n = 2).
Tabela 2
Nível de Escolaridade dos Adolescentes Talentosos - Distribuição por Série
Etapa da Educação Básica Série ( N = 40) n %
Ensino Fundamental
4a. série 1 2,5
5a. série 4 10
6a. série 5 12,5
7a. série 8 20
8a. série 8 20
9a.série 1 2,5
Ensino Médio
1o. ano 4 20
2o. ano 7 17,5
3o. ano 1 2,5
Ensino Médio Completo pré-vestibular 1 2,5
Ademais, 76,2% dos adolescentes estudavam em escolas públicas (n = 32), 16,7%
estudavam em escolas particulares (n = 7) e 3 não responderam (7,1%). Entre os que
responderam (n = 39), 71,8% estudavam no turno matutino e 28,2% no turno vespertino.
Além da escola regular e da sala de recursos, esses adolescentes participavam de outras
atividades e cursos complementares: atividades esportivas (n = 7), curso de artes (n = 6),
cursos de idioma (n = 4), curso de informática (n = 4), curso técnico (n = 1), música (n =
1), dança (n = 1) e preparatório para o vestibular (n = 1).
Os adolescentes que participaram dessa pesquisa freqüentavam as salas de recursos
das seguintes Regiões Administrativas do DF: 1 aluno freqüentava a sala da Ceilândia; 6
eram das salas de recursos de Taguatinga; 7 alunos freqüentavam a Sala de Recursos de
Sobradinho, 11 eram das salas de Planaltina, 17 eram das salas do Plano Piloto, destes 9
eram das salas da Asa Sul, 4 das salas da Asa Norte e 4 do Cruzeiro.
Com relação à área de talento em que eram atendidos no Programa: 20 alunos eram
atendidos em uma área artística (música, artes plásticas/desenho, artes cênicas), 17 alunos
eram atendidos em uma área acadêmica (portugs/literatura, matemática, ciências,
54
geografia, informática/robótica), 1 aluno era atendido em ambas as áreas: artística e
acadêmica (artes plásticas/desenho e matemática), 1 aluno era atendido em duas áreas de
talento artístico (artes cênicas e artes plásticas/desenho), 1 era atendido em duas áreas
acadêmicas (ciências e história), 1 alunos era atendido em três áreas acadêmicas, a saber
matemática, história e geografia e 1 aluno era atendido em três áreas acadêmicas
(português-matemática-robótica) e em talento artístico (desenho). Os dois adolescentes
atendidos na área de música eram alunos com dupla excepcionalidade incluídos em salas
de aula regular: síndrome de asperger
4
e deficiência física (cadeirante).
Os adolescentes ocupavam as seguintes posições de nascimento
5
: filho único (n =
5), primogênito (n = 11), segundo filho (n = 11), terceiro filho (n = 2), quarto filho (n =3),
filho mais novo (n = 8), não informaram (n = 2). No entanto, essas posições eram
diferenciadas quando se tratava da posição funcional na família
6
. Com relação à posição
funcional, 40,5% deles ocupavam a posição de filhos únicos (n = 17), 14,3% eram segundo
filhos (n = 6), 14,3% eram primogênitos (n = 6), 14,3% eram caçulas (n = 6) e os demais
16,6% ocupavam outra posição (n = 5) ou não responderam (n = 2) (veja Tabela 3).
Familiares. Participaram da primeira fase da coleta os familiares de 41
adolescentes talentosos, um familiar não respondeu ao questionário. Dos 41 familiares, 35
eram mães, 4 pais e 2 responsáveis (1 madrasta e 1 tia). Com relação à idade, a média das
mães era de 43,2 anos, variando entre 29 e 57 anos (DP = 6,42); os pais tinham 55,1 anos
em média, sendo a idade mínima 41 anos e a máxima de 62 anos (DP = 9,62). As duas
responsáveis tinham 38 e 42 anos, respectivamente.
Com relação ao nível de escolaridade, 8 mães tinham o Ensino Fundamental
incompleto, 2 o Ensino Fundamental completo, 1 o Ensino Médio incompleto, 13 mães
tinham Ensino Médio completo, 6 tinham graduação completa, 5 estavam cursando ou
haviam completado a pós-graduação. Entre os pais, 1 não havia estudado (analfabeto), 1
tinha o Ensino Fundamental incompleto, 1 tinha o Ensino Médio completo e 1 tinha pós-
graduação. As duas responsáveis tinham o ensino fundamental incompleto.
A renda familiar variou entre 1 e 39,5 salários mínimos com uma média de 7,08
salários (DP = 7,06). A renda foi classificada em cinco faixas: (1) de 1 a 3 salários
4
Síndrome de Asperger – Indivíduos superdotados com esta síndrome, geralmente, apresentam aspectos
cognitivos avançados, deficiência na socialização, comportamento repetitivo, baixa tolerância a mudanças,
dificuldade em expressar emoções, literalidade no uso e no entendimento da linguagem, hiperlexia, interesses
altamente focados, memorização avançada e dificuldades motoras (Delou, 2007a; Guimarães & Ourofino
(2007).
5
Posição de nascimento – diz respeito a ordem de nascimento do indivíduo na família.
6
Posição funcional – diz respeito a posição que o indivíduo ocupa na família, que pode ser diferente da
ordem de nascimento devido a morte, adoção ou saída de casa de um irmão.
55
mínimos; (2) de 3 a 5 salários mínimos; (3) acima de 5 e menos de 10 salários mínimos;
(4) de 10 a 15 salários mínimos e (5) acima de 15 salários mínimos. Do total de famílias (N
= 40), 37,5% estavam na faixa 1 (n = 15), 15% na faixa 2 (n = 6), 17,5% na faixa 3 (n = 7);
25% na faixa 4 (n = 10) e 5% na faixa 5 (n = 2). Duas famílias não informaram a renda. O
valor do salário mínimo à época da pesquisa era de R$ 380,00 (Trezentos e oitenta reais).
56
Tabela 3
Distribuição dos Adolescentes por Idade, Tipo de Talento, Posição, Constelação e Renda Familiar
Id. Idade nero
Posição de
Nascimento
Posição
Funcional
Área de Talento
Renda
Total (R$)
Renda em
Salários
Mínimos
Constelação Familiar
Descrição n
1 17a feminino segundo filho segundo filho artes cênicas 1460,00 3,84 M.Pd, I(2) 5
2 15a masculino segundo filho segundo filho talento duas áreas 800,00 2,20 M, P , I(3) 6
3 16a masculino segundo filho filho único artes plásticas/desenho 400,00 1,05 M, P 3
4 12a masculino Primogenitor caçula artes plásticas/desenho 2500,00 6,6 TI, Pr.(2) 4
5 12a masculino quarto filho caçula acadêmico 3 áreas e talento 4200,00 11,0 M, A, I(3) 6
6 16a masculino segundo filho filho único artes plásticas/desenho
a
3650,00 9,6 M, P, I(2) 5
7 15a masculino quarto filho quarto filho artes plásticas/desenho 4560,00 12,0 M, P I(5) 8
8 14a masculino filho único filho único artes plásticas/desenho 5000,00 13,1 M, P, I(2) 5
9 12a masculino segundo filho filho único artes plásticas/desenho 860,00 2,20 M, P, I
10 12a masculino Caçula caçula artes plásticas/desenho
a
3800,00 10,0 M, P, I(2) 5
11 12a masculino Caçula filho único acadêmico portugues/literatura 6000,00 15,7 M 2
12 16a masculino terceiro filho terceiro filho artes plásticas/desenho 580,00 1,50 P, I(5) 6
13 15a masculino filho único filho único acadêmico ciências 760,00 2,00 M 2
14 14a masculino filho único filho único artes plásticas/desenho 500,00 1,30 M 2
15 17a feminino segundo filho caçula música
b
4500,00 11,8 M, P, I(2) 5
16 14a feminino Primogenitor primogênito artes plásticas/desenho 2700,00 7,10 M, P, I(1) 4
Nota. Id= Identificação, M = Mãe, Md= madrasta, P= pai, Pd= padrasto, A= Avó, As= Avós, Ti= tios, Pr= primos, I= irmãos.
57
a
Alunos participantes da segunda fase de coleta de dados.
b
Alunos com dupla excepcionalidade. (tabela continua)
Tabela 3 (continuação)
Id. Idade nero
Posição de
Nascimento
Posição
Funcional
Área de Talento
Renda
Total (R$)
Renda em
Salários
Mínimos
Constelação Familiar
Descrição n
17 13a feminino Caçula única acadêmico/português 3000,00 7,9 M, P, I(1) 4
18 14a masculino Primogenitor primogênito artes plásticas/desenho 1500 3,9 P, Md, I(3) 6
19 12a masculino segundo filho segundo filho acadêmico portugues/literatura 900,00 2,36 M, Pd, I(7) 10
20 12a masculino segundo filho primogênito música
b
780,00 2,05 M, P, I(2) 5
21 14a feminino Caçula filho único acadêmico portugues/literatura 400,00 1,05 M 2
22 13a feminino Caçula filho único acadêmico portugues/literatura 1000,00 2,60 M, Pr, As 5
23 14a feminino segundo filho segundo filho área acadêmica e talento 580,00 1,50 M, As, I(2) 6
24 13a feminino - - artes plásticas/desenho - - -
25 12a masculino terceiro filho terceiro filho artes plásticas/desenho 500,00 1,31 M, P, I(2) 5
26 12a masculino Único único artes cênicas 3000,00 7,9 M,P 3
27 15a masculino Único único artes cênicas 3500,00 9,2 M 2
28 18a feminino segundo filho segundo filho artes plásticas/desenho
a
4000,00 10,5 M, P, I(2) 5
Nota. Id= Identificação, M = Mãe, Md= madrasta, P= pai, Pd= padrasto, A= Avó, As= Avós, Ti= tios, Pr= primos, I= irmãos.
a
Alunos participantes da segunda fase de coleta de dados.
b
Alunos com dupla excepcionalidade.
(tabela continua)
58
Tabela 3 (continuação)
Id. Idade nero
Posição de
Nascimento
Posição
Funcional
Área de Talento
Renda
Total (R$)
Renda em
Salários
Mínimos
Constelação Familiar
Descrição n
29 12a masculino Primogenitor primogênito artes plásticas/desenho 3000,00 7,8 M, P, I(1) 4
30 16a feminino Caçula caçula acadêmico portugues/literatura 380,00 1,00 M, P, I(3) 6
31 15a masculino - - acadêmico portugues/literatura - - -
32 12a masculino Primogenitor primogênito acadêmico informática/robótica 760,00 2,00 M, P, I(2) 5
33 13a masculino Primogenitor único acadêmico ciências 15000,00 39,4 P, Md, I(2) 5
34 13a masculino Primogenitor filho único acadêmico 3 áreas 5000,00 13,1 M, Pd, I(1) 4
35 13a feminino Primogenitor filho único acadêmico duas áreas 1200,00 3,10 M, P, I(2) 5
36 12a masculino Primogenitor primogênito artes plásticas/desenho 5500,00 14,5 M, Pd, I(2) 5
37 16a masculino Primogenitor filho único acadêmico ciências 1200,00 3,10 M, P, I(1) 4
38 12a feminino Caçula caçula artes plásticas/desenho
a
5700,00 15,0 M, P, I(2) 5
39 12a feminino Caçula filho único acadêmico ciências 5000,00 13,1 M, P, I(1) 4
40 14a masculino Primogenitor filho único acadêmico ciências 1700,00 4,50 M, P, I(1) 4
41 13a masculino segundo filho segundo filho acadêmico matemática 1500,00 3,90 M, I(1), Ti 4
42 18a masculino filho único filho único acadêmico ciências 700,00 1,80 M, P 3
Nota. Id= Identificação, M = Mãe, Md= madrasta, P= pai, Pd= padrasto, A= Avó, As= Avós, Ti= tios, Pr= primos, I= irmãos.
a
Alunos participantes da segunda fase de coleta de dados.
59
Participantes da Segunda Fase da Coleta de Dados
Participaram da segunda fase de coleta de dados desta pesquisa, quatro adolescentes
talentosos e seus familiares, três professoras das salas de recursos (uma do Plano Piloto,
uma de Taguatinga e uma de Planaltina) e duas professoras que atendiam a um dos alunos
no ensino regular.
Adolescentes. Foram selecionados quatro adolescentes talentosos da área de artes
plásticas/desenho pareados com base nos critérios: idade, gênero, tipo de talento (artes
plásticas/desenho), posição na família, constelação familiar e renda familiar. O pareamento
destes três últimos critérios foi aproximado, devido à grande heterogeneidade da amostra
(veja Tabela 3). Dos quatro adolescentes, dois estavam na fase inicial da adolescência (12
anos) e dois na fase final (16 e 18 anos), dois eram do sexo masculino e dois do sexo
feminino. Os adolescentes do gênero masculino freqüentavam a sala de recursos do Plano
Piloto e moravam em Regiões Administrativas diferentes de onde estava situada a sala de
recursos: 1 morava em Santa Maria e o outro em Taguatinga. Já as adolescentes moravam
nas Regiões Administrativas onde se situava a sala de recursos que freqüentavam - uma em
Taguatinga e a outra em Planaltina. Esses adolescentes ocupavam as seguintes posições na
família: dois adolescentes mais velhos eram segundos-filhos (um gêmeo e o outro
funcionalmente ocupava a posição de filho único) e os outros dois eram caçulas.
Com a finalidade de manter em sigilo a identidade desses adolescentes e de suas
famílias e professores, ao longo desse trabalho, os mesmos serão chamados pelos
codinomes: Jorge (12 anos), Adalberto (16 anos), Naiana (12 anos) e Elisa (18 anos).
Familiares. Participaram da segunda fase da coleta de dados quatro mães, três pais
e cinco irmãos dos adolescentes talentosos pareados pelos critérios acima descritos. Dessas
famílias, três tinham uma constelação familiar semelhante: pai, mãe e três filhos e uma
família era constituída de pai, mãe e duas filhas. Essas famílias tinham uma faixa salarial
entre 10 e 15 salários mínimos aproximadamente. A renda mensal variava de R$ 3.600,00
a R$ 5.700,00. Os pais eram casados pela primeira vez e tinham uma média de tempo civil
de 20 anos, que variava entre 19 e 21 anos. Três famílias freqüentavam regularmente a
igreja católica e uma declarou não ter religião. Todas as famílias residiam em casa própria
no perímetro urbano, sendo que duas estavam localizadas no centro (1 em Taguatinga, 1
em Santa Maria) e duas na periferia (1em Taguatinga, 1 em Planaltina).
As mães que participaram dessa fase do estudo tinham idade média de 44,7 anos,
que variava entre 44 e 46 anos. Com relação ao nível de escolaridade: uma tinha o Ensino
60
Fundamental incompleto; uma, o Ensino Fundamental completo, uma tinha graduação
completa e uma, pós-graduação incompleta.
Os pais que participaram desta etapa tinham idade média de 47,5 anos, que variava
entre 40 e 52 anos. Com relação à escolaridade dois tinham o Ensino Fundamental
incompleto, um tinha o Ensino Fundamental completo e um o Ensino Médio completo.
Comparados às suas esposas, os pais tinham um nível de escolaridade inferior.
Dos sete irmãos dos adolescentes, cinco foram entrevistados nessa fase e tinham
idade média de 18,2 anos que variou entre 14 e 22 anos. Desses, quatro eram do gênero
feminino e um do gênero masculino. Com relação à posição de nascimento na família: três
eram primogênitos, uma era caçula e uma era gemelar. O nível de escolaridade variou entre
o Ensino Fundamental incompleto (n = 1), graduação incompleta nas áreas de informática
e educação física (n = 2) e pré-vestibular (n = 2).
Professores. Participaram dessa pesquisa cinco professoras, três da sala de recursos
e duas do ensino regular que atendiam aos alunos selecionados. As professoras das salas de
recursos eram formadas na área de artes plásticas e tinham um tempo de atuação no
magistério de 9, 13 e 24 anos, respectivamente. Essas professoras tinham idade média de
46,3 anos, variando de 41 a 50 anos. Uma professora estava há 18 anos no Programa e as
outras duas atuavam há aproximadamente 1 ano e meio. Uma única professora atendia os
alunos do gênero masculino que foram selecionados.
As professoras do ensino regular tinham, respectivamente, 27 e 53 anos de idade.
Uma tinha 7 anos de atuação no magistério e era formada em pedagogia, a outra tinha 33
anos de atuação no magistério e era formada em Letras-Português. Uma era vice-diretora
da escola há pouco tempo e a outra era professora de um dos alunos atendidos no programa
na área de artes. O professor de artes não participou da pesquisa, área de talento do aluno,
porque havia chegado à escola há menos de dois dias. Ambas as professoras conheciam e
atendiam ao aluno Jorge. A vice-diretora estava em sala de aula por falta de professores.
Instrumentos
Instrumentos da Primeira Fase da Coleta de Dados
Os dados foram coletados em duas fases distintas. Na primeira fase foram aplicados
a Lista de Habilidades, Interesses, Preferências e Estilos de Aprendizagem - LHIPCEA, o
Questionário para Caracterização do Sistema Familiar – QCSF e o Inventário de
Indicadores de Sucesso Parental - PSI na versão adolescentes e na versão para pais. Esses
instrumentos foram selecionados com o objetivo de descrever as características individuais
61
e familiares de adolescentes talentosos a partir da percepção de adolescentes, seus
familiares e professores estabelecendo interconexões para melhor compreensão do
desenvolvimento do talento.
Lista de Habilidades, Interesses, Preferências, Características e Estilos de
Aprendizagem - LHIPCEA. Essa lista foi elaborada, pela pesquisadora, com base na
Teoria das Inteligências Múltiplas (Chen, Isberg & Krechevsky, 2001; Gardner, 1994,
1995), na Teoria de Dabrowski (Fleith, 2007b; Fortes-Lustosa, 2004), na Escala para
Avaliação das Características Comportamentais de Alunos com Habilidades Superiores,
revisada por Renzulli, Smith, White, Callahan, Hatman e Westberg (2000), e no Inventário
de Estilos de Aprendizagem desenvolvido por Renzulli e Smith (2001). A LHIPCEA é
composta por cinco categorias: (1) habilidades, (2) preferências, interesses e aspectos
motivacionais, (3) características pessoais, (4) relações interpessoais e acadêmicas e (5)
estilos de aprendizagem.
As habilidades foram dispostas de acordo com o tipo de inteligência definida por
Gardner (1994, 1995) e Chen, Isberg e Krechevsky (2001): linguística-verbal (23 itens),
lógico-matemática (21 itens), viso-espacial (18 itens), musical (15 itens), cinestésica,
subdividida em corporal-cinestésica (13 itens) e mecânica-construção (18 itens),
interpessoal (17 itens), intrapessoal (11 itens) e naturalista (18 itens). Os itens dessas oito
subcategorias foram assinalados de acordo com escala com quatro níveis de respostas: faço
bem, faria bem se soubesse, não faço bem e não faço.
As preferências, interesses e aspectos motivacionais e características pessoais foram
compostas respectivamente por 47 e 37 itens, assinalados quanto à ocorrência: sim, não e
às vezes. As categorias relações interpessoais e acadêmicas e os estilos de aprendizagem
tinham 19 e 27 itens respectivamente e foram assinaladas com relação a ocorrência ou não
de cada item (veja Anexo 1).
Questionário para Caracterização do Sistema Familiar - QCSF. Foi adaptado
com base em questionário utilizado pelo Laboratório de Desenvolvimento Familiar do
Instituto de Psicologia da Universidade, elaborado por Dessen (2006). Esse questionário é
composto por perguntas abertas e fechadas que envolvem a caracterização do sistema
familiar em termos de dados demográficos, constelação, dinâmica e rotina familiar e
conceito de talento/superdotação (veja Anexo 2).
Indicadores de Sucesso Parental - PSI. Este inventário tem o objetivo de
identificar as qualidades e comportamentos favoráveis dos pais na educação dos filhos
(Chagas, 2003; Strom & Strom, 1998). O PSI possui duas versões, uma destinada a pré-
62
adolescentes e adolescentes (Anexo 3) e outra para os pais (Anexo 4). Esse instrumento
visa comparar as impressões dos filhos e dos pais sobre o desempenho parental, com
objetivo de traçar e comparar o perfil de atitudes e comportamentos parentais.
O PSI possui seis subescalas com dez itens cada uma:
(1) Comunicação, que argüi como os pais orientam, ouvem e aprendem com os
filhos. São exemplos de itens da versão do adolescente - “Meu pai, mãe ou responsável vê
o lado positivo das situações”, “Meu pai, mãe ou responsável conversa comigo sobre os
programas de televisão que assistimos juntos” - e da versão dos pais: “Converso sobre
namoro com o meu (minha) filho(a)” e “Aceito as críticas vindas do meu (minha) filho(a)”;
(2) Uso do tempo, revela como o tempo é administrado, organizado e decidido pela
família. Como exemplo da versão dos filhos, destacamos: “Meu pai, mãe ou responsável
tem dificuldade em conseguir tempo para participar de minhas atividades escolares”. Da
versão dos pais destacamos: “Sou paciente com meu (minha) filho(a)”, “Permito que
meu(minha) filho(a) tome decisões sobre o uso de seu tempo”;
(3) Ensino, demonstra a extensão e o envolvimento dos pais no ensino e na
orientação aos filhos. São exemplos dessa subcategoria na versão dos filhos: “Meu pai,
mãe ou responsável me ensina a lidar com o estresse”, “Meu pai, mãe ou parente me ensina
a usar a imaginação e ser criativo”. Exemplos da versão dos pais: “Ensino meu (minha)
filho(a) a tratar as pessoas de ambos os sexos igualmente”;
(4) Frustração, lista comportamentos dos filhos que causam frustração nos pais,
que foram manifestos. Na versão dos filhos temos: “Meu pai, mãe ou responsável fica
frustrado(a) com meus hábitos de estudo”. Na versão dos pais: “Aceito a influência dos
amigos de meu(minha) filho(a)”, e “Aceito o estilo de roupa, filmes e músicas preferidas
pelo(a) meu(minha) filho(a)”;
(5) Satisfação, visa demonstrar o grau de satisfação dos pais em relação aos
comportamentos e atitudes dos filhos. Exemplos de itens na versão dos filhos são: Meu
pai, mãe ou responsável fica satisfeito com a maneira como eu me relaciono com os outros
membros da família”. Na versão dos pais: “Gosto do sentimento de autoconfiança de
meu(minha) filho(a)” e “Gosto do jeito como meu(minha) filho(a) me trata”;
(6) Necessidade de informação, trata de assuntos ou temas que os pais necessitam
saber para ajudar os filhos. Apresentamos como exemplo de itens desta subescala na
versão dos filhos: “Meu pai, mãe ou responsável precisa de mais informações de como me
ajudar a lidar com conflitos”. Destacamos da versão dos pais: “Sei como ajudar meu
63
(minha) filho(a) a lidar com questões sobre sexo”e “Sei como ajudar meu (minha) filho(a)
a escolher uma profissão”.
O PSI é questionário com escala do tipo likert com 4 pontos de ancoragem que vai
de “sempre a nunca”, na versão dos filhos, e de “concordo totalmente a discordo
totalmente” na versão dos pais. Os mesmos itens estão presentes nas duas versões do
instrumento. No entanto, na versão dos filhos a escala é invertida nas subcategorias: uso do
tempo, frustração e necessidade de informação. No final do inventário, há espaço para
observações dos participantes. O nível de consistência interna geral do instrumento variou
entre 0,88 a 0,96 e o índice para cada subescala variou entre 0,67 a 0,93 (Strom & Strom,
1998).
Esse instrumento tem sido amplamente aplicado em participantes de minorias
étnicas, superdotados, imigrantes e em pais de crianças com deficiência mental, tendo
demonstrado sua adequabilidade e eficiência em prover informações que ajudam na
compreensão da interação entre a família e a escola em diferentes culturas (Chagas, 2003;
Strom & Strom, 1998). Esse instrumento, além de adequado aos objetivos da pesquisa, foi
traduzido e utilizado por essa pesquisadora em outro estudo com pré-adolescentes e
adolescentes talentosos (Chagas, 2003). Entre as vantagens percebidas, destacamos o
procedimento simples de aplicação e reduzido custo para o respondente, em termos de
esforços e de tempo requeridos.
Instrumentos da Segunda Fase da Coleta de Dados
Na segunda fase da pesquisa, visando maior detalhamento dos dados apurados na
primeira fase, foram selecionados quatro adolescentes, suas famílias e professores para
serem entrevistados. As entrevistas foram realizadas a partir de roteiro de entrevista semi-
estruturado organizado pela pesquisadora.
Indicadores de Sucesso Parental – PSI. Instrumento descrito na fase anterior (veja
Anexos 3 e 4). Apenas os pais e os adolescentes responderam esse instrumento, uma vez
que os adolescentes e suas mães já o haviam respondido na primeira fase de coleta de
dados.
Roteiro de Entrevista Semi-estruturada. Os protocolos de entrevistas foram
elaborados pela pesquisadora. Na versão dos pais e adolescentes, o roteiro é composto por
questões abertas que discorrem sobre as características individuais e familiares, aspectos
relacionados ao diagnóstico e às práticas parentais, rede de apoio social, expectativas
futuras, dinâmica familiar e conceito de talento e superdotação (veja Anexos 5 e 6).
64
Semelhantemente, o protocolo de entrevistas direcionado aos irmãos e professores (veja
Anexos 7, 8 e 9, respectivamente) contém perguntas abertas que versam sobre as
características pessoais e familiares do adolescente talentoso, o relacionamento
interpessoal, aspectos do ambiente escolar e familiar sobre a concepção de talento e
superdotação.
Procedimentos
Antes de ser iniciada a primeira fase de coleta de dados, foi realizado um estudo
piloto com a finalidade de verificar a adequação dos protocolos de entrevistas e dos demais
instrumentos a serem utilizados durante o processo de coleta. Participaram do estudo piloto
dois adolescentes com idades de 16 e 18 anos, seus pais (mãe e pai) e dois professores
sendo um do Programa de Atendimento ao Aluno Superdotado e outro do ensino regular.
Todas as sugestões com relação à forma e ao conteúdo foram acatadas pela pesquisadora.
A maior parte das sugestões foram direcionadas à Lista de Habilidades, Interesses,
Preferências e Estilos de Aprendizagem - LHIPCEA e ao Questionário para Caracterização
do Sistema Familiar - QCSF. Com relação à LHIPCEA, as sugestões foram no sentido de
corrigir itens duplicados, suprimir e reformular frases e restringir a marcação dos itens que
se referem aos estilos de aprendizagem apenas à sua ocorrência. Com relação ao QCSF as
sugestões visavam uma melhor identificação dos aspectos relacionados à ocupação
profissional.
Primeira Fase da Coleta de Dados
Inicialmente, os professores de todas as salas de recursos foram abordados pela
pesquisadora em reunião de professores (n = 31), com a finalidade de preencherem lista
indicando o nome de adolescentes talentosos que participavam de suas salas. Com base nas
listas recebidas (n = 9) foram providenciadas as cópias dos instrumentos a serem aplicados.
Em seguida, foi mantido contato com os professores itinerantes, psicólogos e professores
da sala de recursos de seis Regiões Administrativas do Distrito Federal (Ceilândia,
Planaltina, Plano Piloto - Cruzeiro, Asa Sul e Asa Norte, Samambaia, Sobradinho e
Taguatinga) para a entrega dos instrumentos e explicação dos procedimentos a serem
adotados durante a primeira fase da pesquisa. As demais salas não devolveram as listas ou
não atendiam alunos adolescentes.
Os professores itinerantes e a pesquisadora ficaram responsáveis pelo repasse do
material aos professores das salas de recursos e monitoramento dos procedimentos de
65
coleta. Nesse período foram distribuídos 92 conjuntos contendo os quatro instrumentos
destinados a essa fase, a carta de apresentação e termo de consentimento informado. Foram
ainda entregues oito conjuntos com folha de orientação para os professores e psicólogos
sobre os procedimentos a serem adotados na aplicação dos instrumentos, modelos do
Questionário para Caracterização do Sistema Familiar preenchidos e carta de apresentação
e agradecimento (veja Anexo 10). Os conjuntos foram assim distribuídos: 12 para as salas
de recursos das Regiões Administrativas de Ceilândia, Sobradinho e Taguatinga, 30 para a
Região Administrativa de Brasília (Asa Sul, Asa Norte e Cruzeiro), 20 para Planaltina e 6
para Samambaia.
Na primeira fase foi entregue a Carta de Apresentação (veja Anexo 11) e assinado o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (veja Anexo 12) pelos adolescentes e seus
pais. Os instrumentos foram aplicados, em sua grande maioria, pelos professores e
psicólogos do Programa de Atendimento ao Aluno Superdotado durante os meses de
agosto e setembro de 2007. Alguns pais e alunos que haviam deixado instrumentos
incompletos ou que não tinham completado os conjuntos de instrumentos foram contatados
pela pesquisadora, por telefone, para proceder ao preenchimento dos itens que faltavam.
Dos 92 conjuntos entregues foram devolvidos 26 completos, 26 incompletos, 28
com instrumentos em branco e 12 não foram devolvidos pelos alunos ou foram
extraviados. Das seis Regiões Administrativas para onde foram enviados os conjuntos,
uma devolveu todos os instrumentos em branco sob a justificativa de acúmulo de
atividades propostas aos alunos no período: exposição, participação em concursos e
preenchimento de formulários para cadastro de alunos.
Dos 52 conjuntos recebidos, 5 foram descartados pelo fato de os alunos não terem
12 anos completos, 28 estavam completos e 19 estavam incompletos. Esses 19 alunos e
seus familiares foram contatados pela pesquisadora por telefone para o preenchimento dos
itens dos instrumentos que estavam faltando. Dos 47 conjuntos restantes, 32 ficaram
completos, 6 ficaram faltando um instrumento (3 PSI-pais, 2 PSI-adolescentes e 1
LHIPCEA), 4 ficaram faltando dois instrumentos (3 LHIPCEA, 2 QCSF, 2 PSI-pais e 1
PSI-Adolescentes) e 5 conjuntos foram descartados por conterem apenas um instrumento
preenchido.
Somente os alunos que tinham a idade entre 12 e 18 anos de idade, cujos pais
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e cujos conjuntos continham
pelo menos dois dos quatro instrumentos preenchidos tiveram seus dados incluídos nesse
66
estudo (n = 42). Veja na Tabela 4 o número final de respondentes para cada tipo de
instrumento aplicado.
Tabela 4
Número de Respondentes para Cada Tipo de Instrumento Aplicado
Respondente LHIPCEA QCSF
PSI versão
Adolescente
PSI versão
Pais
Total de
instrumentos
Adolescente (N = 42) 38 - 39 - 77
Pai (N = 4) - 2 - 4 6
Mãe (N = 36) - 36 - 33 69
Outro responsável (N = 2)
(tia, madrasta) - 2 - - 2
Total de instrumentos
respondidos 38 40 39 37 154
Sem resposta 4 2 3 5 14
Total de conjuntos 42 42 42 42 168
Nota. LHIPCEA= Lista de habilidades, interesses, características e estilos de aprendizagem; QCSF=
Questionário para Caracterização do Sistema Familiar; PSI= Inventário de Atitudes Parentais.
Durante o período de aplicação dos instrumentos, a pesquisadora visitou as salas de
recursos para acompanhamento do processo de coleta de dados e complementação dos kits
de instrumentos. Os alunos responderam ao Inventário de Indicadores de Sucesso Parental
e à Lista de Habilidades, Interesses, Preferências e Estilos de Aprendizagem na sala de
recursos durante o horário normal de atendimento, com uma média de duração de 8 e 14
minutos, respectivamente.
Os instrumentos destinados à família foram enviados pelos alunos para o
preenchimento pelos pais. Os pais que tiveram alguma dificuldade no preenchimento dos
instrumentos foram auxiliados pela pesquisadora ou pelos profissionais da sala de recursos
(professores e psicólogos) em reunião na sala de recursos agendada com a finalidade de
dirimir dúvidas. As dúvidas em sua maioria foram quanto ao preenchimento do item 12 do
Questionário para Caracterização do Sistema Familiar (veja Anexo 4) sobre a constelação
familiar, dados demográficos e acadêmicos sobre os filhos que moram com a família. Os
pais consideraram confusa a associação dos números às categorias com os quais deviam
preencher a tabela disponibilizada sobre dados acadêmicos dos filhos. Nesse caso, a
67
pesquisadora, as psicólogas ou as professoras da sala de recursos explicaram como esses
campos deveriam ser preenchidos.
Segunda Fase de Coleta de Dados
Os quatro adolescentes selecionados para a segunda fase de coleta de dados,
preencheram antes da realização das entrevistas, os Indicadores de Sucesso Parental com
base na sua percepção com relação aos pais. Também seus pais responderam ao mesmo
instrumento. As mães desses adolescentes (n = 4) já haviam preenchido ao PSI na primeira
etapa da coleta de dados.
Na segunda fase, os dados foram coletados por meio de entrevistas com
adolescentes talentosos, membros de suas famílias (pai, mãe e irmãos) e com os
professores da Sala de Recursos e do Ensino Regular que atendiam aos alunos à época da
pesquisa.
Todos os pais e alunos que participaram da fase anterior indicaram o melhor dia e
horário para agendar as entrevistas, caso fossem selecionados para a segunda fase. Com
base nessas informações, as entrevistas foram agendadas por telefone com os adolescentes,
seus pais e irmãos.
As entrevistas foram realizadas individualmente com cada membro da família em
local onde a privacidade pudesse ser mantida. As entrevistas foram gravadas na casa dos
participantes, duas delas na sala de estar, uma na varanda e outra na cozinha, exceto a
entrevista com um dos pais que foi realizada na sala de reuniões do atendimento. Um pai
não participou da entrevista devido a compromissos de trabalho. No período de coleta de
dados, encontrava-se trabalhando em outra cidade.
Concomitantemente à realização das entrevistas com a família, foram agendadas as
entrevistas com os professores da sala de recursos. Esses professores foram selecionados
por atenderem os alunos selecionados para essa fase e contatados por telefone para o
agendamento das entrevistas. As entrevistas com esses profissionais foram realizadas na
sala de recursos onde atendiam ou na sala de reuniões de professores no horário
previamente agendado. As entrevistas foram realizadas individualmente e gravadas.
Foram efetuados vários contatos telefônicos com as escolas em que os adolescentes
talentosos, que participavam da pesquisa, estudavam no ensino regular. Devido ao tempo
disponível para a coleta de dados, os procedimentos ficaram restritos a uma única escola,
onde foi possível agendar reunião com professores. Durante contato telefônico com a
68
direção da escola foi explicado os objetivos da pesquisa e combinado o dia para o contato
com os professores para a realização das entrevistas.
No dia previamente agendado, a pesquisadora se dirigiu à sala de coordenação, na
qual os professores estavam reunidos. Duas professoras foram designadas pelo grupo de
professores e atenderam ao convite: uma professora estava ocupando o cargo, há pouco
tempo, de vice-diretora e a outra era professora de português do aluno. Ambas conheciam
bem o aluno foco de nossa pesquisa e o atendiam em sala de aula regular. As entrevistas
com essas professoras foram realizadas simultaneamente devido à condição imposta pela
professora de português de não falar de nenhum aluno ou prestar informações sem o
conhecimento assistido da direção da escola. Além disso, o espaço físico e a
disponibilidade de tempo das envolvidas eram limitados.
Todas as entrevistas foram gravadas em formato MP3 e transcritas posteriormente
para análise de conteúdo. Veja na Tabela 5 a duração de cada entrevista realizada.
Análise de Dados
As informações fornecidas por meio dos instrumentos, na primeira fase do processo
de coleta de dados, foram analisadas por meio de análise estatística descritiva e inferencial.
Para tanto foi empregado o pacote estatístico SPSS na versão 11.0.
Para o exame dos dados obtidos a partir das entrevistas foi utilizada a técnica de
análise de conteúdo (Bardin, 1977; Berg, 1998). A análise de conteúdo foi aplicada ao
conteúdo das entrevistas considerando como núcleo de sentido o tema e sua freqüência
como regra de enumeração para a construção de categorias (Setúbal, 1999). Para a
construção de categorias nos valemos dos seguintes critérios: (a) exclusão mútua, cada
elemento só pode aparecer em uma única categoria; (b) homogeneidade, único princípio de
classificação para a condão e organização das categorias; (c) pertinência, diz respeito à
coerência entre os objetivos e perguntas da investigação; (d) objetividade e fidelidade,
todas as categorias devem ser codificadas da mesma maneira; e (e) produtividade, as
categorias devem gerar índices de inferências, hipóteses novas e dados exatos (Bardin,
1977).
69
Tabela 5
Duração das Entrevistas Realizadas com Adolescentes, Pais, Irmãos e Professores
Categoria Adolescentes Duração da Entrevista Duração Média
Adolescentes
Jorge (12 anos) 10’59”
23’19”
Adalberto (16 anos) 42’00”
Naiana (12 anos) 13’38”
Elisa (18 anos) 25’19”
Mãe
Jorge 12’04”
18’14”
Adalberto 20’45”
Naiana 16’00”
Elisa 22’43”
Pai
Adalberto 17’15”
18’28” Naiana 14’02”
Elisa 22’47”
Irmãos
Jorge 14’39”
13’41”
Adalberto 11’17”
Naiana 14’10”
Elisa I 13’26”
Gemelar - Elisa II 14’17”
Professoras da
Sala de Recursos
Jorge e Adalberto 45’12”
34’00” Naiana 36’50”
Elisa 20’40”
Professoras do
Ensino Regular
Jorge 35’38”
70
CAPÍTULO V
RESULTADOS
Neste capítulo serão apresentados os resultados que visam descrever as
características individuais e familiares de adolescentes talentosos. Os resultados apontados
no sentido de responder as questões de pesquisa 1 e 2 correspondem à analise dos dados
coletados por meio da Lista de Habilidades, Interesses, Preferências e Estilos de
Aprendizagem, do Questionário para Caracterização do Sistema Familiar e do Inventário
de Atitudes Parentais na versão filhos, na primeira fase. Na questão 3, os resultados
englobam as respostas coletadas com os adolescentes e seus genitores por meio do
Inventário de Atitudes Parentais aplicados na primeira e segunda fases de coleta de dados.
As respostas para as questões 4, 5 e 6 foram obtidas com base nas entrevistas semi-
estruturadas realizadas na segunda fase de coleta de dados. Os resultados da questão 7
incluem os itens sobre os conceitos de talento e superdotação que constavam da Lista de
Habilidades, Interesses, Preferências e Estilos de Aprendizagem, do Questionário para
Caracterização do Sistema Familiar (primeira fase) e dos itens contidos nos roteiros de
entrevistas (segunda fase).
Questão de pesquisa 1: Quais são as habilidades, as preferências, os interesses, os
aspectos motivacionais e os estilos de aprendizagem de adolescentes talentosos?
Habilidades
Os adolescentes talentosos informaram apresentar um melhor desempenho
associado às habilidades intrapessoal (77%), interpessoal (68%) e lingüística-verbal (60%).
As expectativas de bom desempenho na percepção de 34% dos adolescentes estavam
direcionadas às habilidades musicais. As habilidades associadas à área naturalista foram
pouco mencionadas pelos adolescentes (28%) (veja Tabela 6).
71
Tabela 6
Porcentagens Relacionadas às Habilidades de Adolescentes Talentosos (N = 38)
Habilidades
Faço
Bem
Faria Bem
Se Soubesse
Não Faço
Bem
Não Faço
% % % %
Intrapessoal (11 itens) 77 6 11 7
Interpessoal (17 itens) 68 9 11 12
Lingüística-Verbal (23 itens) 60 19 12 9
Lógico-Matemática (21 itens) 50 18 17 15
Corporal-Cinestésica (13 itens) 48 15 15 22
Mecânica-Construção (18 itens) 46 20 15 19
Naturalista (18 itens) 45 17 9 28
Viso-espacial (18 itens) 42 22 13 22
Musical (14 itens) 33 34 11 22
Nota. As porcentagens se referem ao número de itens respondidos em cada categoria.
Quando comparados entre si, os adolescentes apresentaram percepção diferenciada
nos quatro itens da escala: faço bem, faria bem se soubesse, não faço bem e não faço. Os
adolescentes com talento acadêmico assinalaram um melhor desempenho nas áreas
intrapessoal (83%), interpessoal (75%), lingüístico-verbal (68%) e lógico-matemática
(54%). Os adolescentes com talento artístico relataram melhor desempenho nas áreas:
interpessoal (60%), intrapessoal (56%) e lingüístico-verbal. Já os adolescentes com duplo
talento informaram melhor desempenho nas áreas: musical (92%), interpessoal (91%) e
intrapessoal (82%) (veja Tabelas 7, 8 e 9).
Quanto às expectativas de bom desempenho, quase um quarto dos adolescentes com
talento acadêmico vislumbravam essa possibilidade com relação às habilidades musicais
(26%), viso-espaciais (26%) e lógico-matemáticas (24%). Os adolescentes com talento
artístico informaram a área de mecânica-construção (25%), seguida da lingüística-verbal
(22%) e viso-espacial (21%). Os adolescentes com duplo talento tinham expectativas
maiores com relação às habilidades na área naturalista (17%) e de mecânica-construção
(17%) (veja Tabelas 7, 8 e 9).
72
A performance inferior (não faço bem) foi vinculada pelos adolescentes com talento
acadêmico às habilidades relacionadas à área de mecânica e construção (15%), enquanto os
com talento artístico informaram a área lógico-matemática (24%). Os alunos com duplo
talento referiram menor desempenho nas habilidades corporais-cinestésicas (24%) (veja
Tabelas 7, 8 e 9).
As habilidades pouco mencionadas por uma maior percentagem de adolescentes
com talento acadêmico foram as associadas às áreas musical (32%), naturalista (31%) e
corporal-cinestésica (29%). No mesmo sentido, os adolescentes com talento artístico
assinalaram as habilidades ligadas às áreas naturalista (28%), viso-espacial (23%) e
musical (23%), enquanto os adolescentes com duplo talento apontaram as áreas lógico-
matemática (14%) e viso-espacial (14%). Maiores detalhes podem ser visualizados nas
Tabelas 7, 8 e 9.
Tabela 7
Porcentagens Relacionadas às Habilidades de Adolescentes com Talento Acadêmico (n =
20)
Habilidades
Faço
Bem
Faria Bem Se
Soubesse
Não Faço
Bem
Não Faço
% % % %
Intrapessoal (11 itens) 83 5 12 1
Interpessoal (17 itens) 75 8 9 8
Lingüística-Verbal (23 itens) 68 15 10 7
Lógico-Matemática (21 itens) 54 24 9 13
Corporal-Cinestésica (13 itens) 48 13 10 29
Mecânica-Construção (18 itens) 46 15 15 24
Naturalista (18 itens) 41 21 7 31
Viso-espacial (18 itens) 38 26 13 22
Musical (14 itens) 30 26 11 32
Nota: As porcentagens se referem ao número de itens respondidos em cada categoria.
73
Tabela 8
Porcentagens Relacionadas às Habilidades de Adolescentes com Talento Artístico (n =
16)
Habilidades
Faço Bem Faria Bem Se
Soubesse
Não Faço
Bem
Não Faço
% % % %
Interpessoal (17 itens) 60 11 12 17
Intrapessoal (11 itens) 56 6 7 10
Lingüística-Verbal (23 itens) 51 22 15 12
Naturalista (18 itens) 46 14 12 28
Lógico-Matemática (21 itens) 45 15 24 16
Corporal-Cinestésica (13 itens) 45 17 19 19
Viso-espacial (18 itens) 43 21 13 23
Musical (14 itens) 43 18 15 23
Mecânica-Construção (18 itens) 42 25 16 17
Nota: As porcentagens se referem ao número de itens respondidos em cada categoria.
Tabela 9
Porcentagens Relacionadas às Habilidades de Adolescentes com Duplo Talento (n = 2)
Habilidades
Faço Bem Faria Bem Se
Soubesse
Não Faço
Bem
Não Faço
% % % %
Musical (14 itens) 92 8 0 0
Interpessoal (17 itens) 91 0 9 0
Intrapessoal (11 itens) 82 0 18 0
Lingüística-Verbal (23 itens) 78 13 7 2
Naturalista (18 itens)
78 17 0 6
Mecânica-Construção (18 itens) 77 17 3 3
Corporal-Cinestésica (13 itens) 68 8 24 0
Lógico-Matemática (21 itens) 67 10 10 14
Viso-espacial (18 itens) 58 11 17 14
Nota: As porcentagens se referem ao número de itens respondidos em cada categoria.
74
Características Pessoais
Com relação às características pessoais contidas na Lista de Habilidades, Interesses,
Preferências e Estilos de Aprendizagem, os resultados revelaram que mais de 70% dos
adolescentes talentosos percebiam-se como persistentes (84,2%), exigentes consigo
mesmos (76,3%), possuidores de valores morais sólidos (76,3%) e criativos (71,1%).
Quase metade desses alunos declarou que não era sensível a cheiros e gostos e que não
ficam irritados, emocionados ou choram facilmente (47,4%). O perfeccionismo e a
indecisão foram apontados como características sazonais (que ocorrem às vezes) por
44,7% dos adolescentes. Maiores detalhes sobre as características dos adolescentes podem
ser visualizados na Tabela 10.
Tabela 10
Porcentagens Relacionadas às Características Pessoais de Adolescentes Talentosos (N =
38)
Características Pessoais
Sim
%
Não
%
Às vezes
%
1. Tenho excelente memória 52,6 18,4 28,9
2. Sou idealista 65,8 7,9 26,3
3. Aprendo com facilidade sobre qualquer tópico ou tema 57,9 15,8 26,3
4. Sou perfeccionista 42,1 13,2 44,7
5. Sou exigente com os outros 52,6 15,8 31,6
6. Sou criativo 71,1 5,3 23,7
7. Gosto de chamar a atenção sobre mim 26,3 39,5 34,2
8. Sinto grande empatia e compaixão pelos outros 65,8 5,3 28,9
9. Sou indeciso 28,9 26,3 44,7
10. Costumo tomar decisões rápidas 39,5 23,7 36,8
11. Tenho interesse por muitas coisas ao mesmo tempo
12. Se sim, quais? _____________________________
55,3 23,7 18,4
13. Sou sensível a certos tipos de toque 44,7 36,8 18,4
14. Sou sensível a certos tipos de iluminação 36,8 44,7 18,4
15. Sou sensível a certos tipos de cheiros 36,8 47,4 15,8
16. Sou sensível a certos tipos de alimentos 44,7 39,5 15,8
17. Gosto de dormir mais de 8h por dia 50,0 21,1 28,9
18. Fico irritado facilmente 23,7 47,4 28,9
(tabela continua)
75
Tabela 10 (continuação)
Características Pessoais Sim
%
Não
%
Às vezes
%
19. Sou agitado e inquieto 31,6 44,7 23,7
20. Choro e fico emocionado com facilidade 36,8 47,4 15,8
21. Sou extrovertido 47,4 34,2 18,4
22. Sou tímido 55,3 13,2 31,6
23. Sou curioso 60,5 7,9 31,6
24. Sou organizado e disciplinado 60,5 7,9 31,6
25. Sou persistente 84,2 5,3 10,5
26. Sou exigente comigo mesmo 76,3 5,3 18,4
27. Tenho uma auto-imagem positiva 68,4 10,5 21,1
28. Tenho valores morais sólidos 76,3 5,3 18,4
30. Sou ético nas minhas ações 65,8 5,3 28,9
31. Sou crítico 57,9 13,2 26,3
32. Sou independente 47,4 18,4 34,2
33. Tenho iniciativa 63,2 15,8 21,1
34. Tenho senso de humor 65,8 2,6 31,6
35. Sou sensível às injustiças 65,8 5,3 28,9
36. Realizo as tarefas de que gosto com intensidade 68,4 10,5 21,1
37. Sou conformista, aceito as coisas como elas são 44,7 28,9 26,3
38. Outra: ____________________________________ 2,6 10,5 2,6
As características pessoais que se destacaram na perceão de adolescentes com
talento artístico foram a criatividade (75%), a ética nas ações (75%), os valores morais
sólidos (70%), o interesse por muitas coisas ao mesmo tempo (65%), a realização intensa
de atividades de que gostavam (65%), a sensibilidade a certos tipos de toque (60%), a
preferência por dormir mais de 8h por dia (60%) e a sensibilidade a certos tipos de
iluminação (45%). Por outro lado, uma porcentagem maior de adolescentes com talento na
área acadêmica se percebiam como emotivos (chorar e ficar emocionado com facilidade)
(93,8%), organizados e disciplinados (93,8%), extrovertidos (87,5%), persistentes (87,5%),
idealistas (68,8%) e perfeccionistas (50%). A totalidade dos adolescentes com duplo
talento e a maioria daqueles com talento acadêmico não se consideravam conformistas e
não aceitavam as coisas como elas são. A porcentagem de adolescentes desses dois grupos
que assinalaram que eram indecisos, irritadiços, agitados e inquietos era maior quando
comparada aos dos adolescentes com talento artístico. Veja maiores detalhes sobre as
características pessoais na Tabela 11.
76
Tabela 11
Porcentagens Relacionadas às Características Pessoais de Adolescentes Talentosos por Tipo de Talento
Características Pessoais Artístico (n = 20) Acadêmico (n = 16) Duplo Talento (n = 2)
Sim
%
Não
%
Às vezes
%
Sim
%
Não
%
Às vezes
%
Sim
%
Não
%
Às vezes
%
1. Tenho excelente memória 55 15 30 50 18,8 31,2 50 50 -
2. Sou idealista 60 15 25 68,8 - 31,2 100 - -
3. Aprendo com facilidade sobre qualquer tópico ou tema 55 20 25 56,3 12,5 31,2 100 - -
4. Sou perfeccionista 35 20 45 50 6,2 43,8 50 - 50
5. Sou exigente com os outros 55 25 20 62,5 12,5 25 100 - -
6. Sou criativo 75 25 - 25 37,5 37,5 50 - 50
7. Gosto de chamar a atenção sobre mim 25 45 30 62,5 6,3 31,2 100 - -
8. Sinto grande empatia e compaixão pelos outros 65 5 30 18,8 18,8 62,4 100 - -
9. Sou indeciso 30 35 35 31,2 18,8 50 100 - -
10. Costumo tomar decisões rápidas 40 30 30 43,8 37,5 12,5 50 50 -
11. Tenho interesse por muitas coisas ao mesmo tempo
Se sim, quais? _____________________________
65 10 25 18,8 68,8 12,4 100 - -
12. Sou sensível a certos tipos de toque 60 25 15 25 50 25 50 - 50
13. Sou sensível a certos tipos de iluminação 45 30 25 43,8 37,4 18,8 50 50 -
14. Sou sensível a certos tipos de gostos 30 45 25 37,5 50 12,5 50 - 50
15. Sou sensível a certos tipos de cheiros 30 55 15 31,2 31,2 37,6 100 - -
16. Sou sensível a certos tipos de alimentos 50 35 15 12,4 68,8 18,8 100 - -
17. Gosto de dormir mais de 8h por dia 60 15 25 12,4 68,8 18,8 100 - -
(tabela continua)
77
Tabela 11 (continuação)
Características Pessoais Artístico (n = 20) Acadêmico (n = 16) Duplo Talento (n = 2)
Sim
%
Não
%
Às vezes
%
Sim
%
Não
%
Às vezes
%
Sim
%
Não
%
Às vezes
%
18. Fico irritado facilmente 25 35 40 68,8 12,4 18,8 100 - -
19. Sou agitado e inquieto 30 60 20 43,8 12,4 43,8 100 - -
20. Choro e fico emocionado com facilidade 20 60 20 93,8 - 6,2 50 - 50
21. Sou extrovertido 40 45 15 87,5 - 12,5 100 - -
22. Sou tímido 65 5 30 68,8 12,4 18,8 50 - 50
23. Sou curioso 55 5 40 43,8 12,4 43,8 50 - 50
24. Sou organizado e disciplinado 75 5 20 93,8 - 6,2 50 50 -
25. Sou persistente 80 5 15 87,5 - 12,5 50 50 -
26. Sou exigente comigo mesmo 70 5 25 68,8 6,2 25 50 - 50
27. Tenho uma auto-imagem positiva 70 15 15 81,3 6,3 12,4 100 - -
28. Tenho valores morais sólidos 70 5 25 50 6,2 43,8 100 - -
29. Sou ético nas minhas ações 75 5 20 62,5 12,5 25 50 - 50
30. Sou crítico 50 15 35 43,8 12,4 43,8 100 - -
31. Sou independente 50 25 25 62,5 6,2 31,3 100 - -
32. Tenho iniciativa 60 25 15 68,8 6,2 25 100 - -
33. Tenho senso de humor 60 - 40 56,3 - 43,7 100 - -
34. Sou sensível às injustiças 70 10 20 68,8 18,8 12,4 100 - -
35. Realizo as tarefas de que gosto com intensidade 65 5 30 37,5 37,5 25 50 - 50
36. Sou conformista, aceito as coisas como elas são 50 25 25 6,3 93,7 - - 100 -
37. Outra: _________________________________
78
Preferências, Interesses e Aspectos Motivacionais
Entre as preferências, interesses e aspectos motivacionais com quais os adolescentes
de uma forma geral mais se identificaram, encontravam-se ainda: ter muitas idéias sobre
muitas coisas (89,5%), ir até o fim quando buscavam atingir um objetivo (86,8%), gostar de
tirar boas notas na escola (81,6%), gostar de experimentar coisas novas (78,9), perder a noção
de tempo quando trabalha com coisas do interesse (78,9%), defender rigidamente os pontos de
vista (73,7%). As categorias que se seguem correspondem à preferência de 71,1% dos
adolescentes: preferir situações onde possa tomar iniciativa e conduzir o trabalho, valorizar a
fantasia e a imaginação, gostar de desafios, usar a imaginação para resolver problemas e ter
medo de errar. O que os adolescentes menos apreciavam era seguir rotinas e ter que fazer as
coisas sempre do mesmo jeito (36,8%) e colecionar coisas (31,6%).
Ainda com relação às preferências, interesses e aspectos motivacionais, 55% dos
adolescentes talentosos declararam possuir muitos interesses. Entre os interesses indicados
pelos adolescentes no item “outros” e que não estavam relacionados no questionário, foram
citadas as atividades associadas ao talento e às disciplinas escolares: artes (f = 14), estudo e
leitura (f = 8), história (f = 6), geografia (f = 6), ciências (f = 6), biologia (f = 6), esportes (f =
5), arquitetura (f = 5), engenharia (f = 5) e maquetes (f = 5). Detalhes sobre as preferências e
os aspectos motivacionais podem ser visualizados na Tabela 12.
A maioria dos adolescentes com talento artístico evidenciou ir até o fim quando
buscam atingir um objetivo (95%), gostar de experimentar coisas novas (85%), defender
rigidamente seus pontos de vista (80%) e confiar em sua intuição (75%). Os adolescentes da
área acadêmica assinalaram ter muitas idéias sobre muitas coisas (93,8%), gostar de ser o
centro das atenções (62,5%), gastar mais tempo com coisas de seu interesse (62,5%), gostar
de liderar projetos e grupos (62,5%), preferir tomar a iniciativa (62,5%), gostar de ler sobre
vários assuntos (56,2%), ter menos dificuldade em estabelecer e obedecer a limites (56,3%) e
não gostar de rotinas e de fazer as coisas sempre do mesmo jeito (43,7%). Apenas 18,8%
desses adolescentes preferiam continuar trabalhando em projetos que não estavam dando
certo, demonstrando com isso o seu nível de comprometimento com a tarefa e persistência.
Entre os alunos com duplo talento, o que menos preferiam era rotina, tomar iniciativa e se
envolver com uma coisa de cada vez. Maiores detalhes sobre as preferências e aspectos
motivacionais podem ser visualizados na Tabela 13.
79
Tabela 12
Porcentagens Relacionadas às Preferências, Interesses e Aspectos Motivacionais de
Adolescentes Talentosos (N = 38)
Preferências, Interesses e Aspectos Motivacionais
Sim
%
Não
%
Às vezes
%
1. Gosto de correr riscos 34,2 28,9 36,8
2. Tenho muitas idéias sobre muitas coisas 89,5 5,3 5,3
1. Valorizo a fantasia e a imaginação 71,1 7,9 21,1
2. Prefiro lidar com idéias e coisas lógicas e palpáveis 47,4 23,7 28,9
3. Gosto de ser diferente 65,8 13,2 21,1
4. Tenho um espírito aventureiro 57,9 18,4 23,7
5. Gosto de questionar 65,8 10,5 23,7
6. Defendo rigidamente meus pontos de vista 73,7 2,6 23,7
7. Costumo ser bem humorado(a) 65,8 5,3 28,9
8. Gosto de experimentar coisas novas 78,9 5,3 15,8
9. Confio em minhas habilidades 68,4 13,2 18,4
10. Gosto de rotinas e de fazer as coisas sempre do mesmo jeito 36,8 36,8 26,4
11. Tenho interesse por muitas coisas diferentes 65,8 15,8 18,4
12. Tenho dificuldade em estabelecer e obedecer a limites 26,3 42,1 31,6
13. Vejo sempre o lado positivo das coisas, eventos e
circunstâncias
68,4 7,9 23,7
14. Gosto de fazer comparações entre coisas diferentes 63,2 15,8 21,0
15. Gosto de ser independente 55,3 7,9 36,8
16. Costumo ter idéias incomuns e originais 47,4 15,8 36,8
17. Gosto de elaborar novas utilidades para coisas e objetos 60,5 21,1 18,4
18. Uso a imaginação para resolver problemas 71,1 7,9 21,1
19. Confio em minha intuição 60,5 13,2 26,3
20. Tenho medo de errar 71,1 13,2 15,8
21. Tenho medo de parecer ridículo ou tolo ao expor
minhas idéias
55,3 15,8 28,9
22. Gosto de criar novos caminhos e alternativas 57,9 10,5 31,6
23. Costumo ser impaciente com idéias comuns 68,4 18,4 13,2
24. Gosto de desafios 71,1 13,2 15,8
(tabela continua)
80
Tabela 12 (continuação)
Preferências, Interesses e Aspectos Motivacionais Sim
%
Não
%
Às vezes
%
25 Gosto de colecionar coisas 52,6 31,6 15,8
26 Gasto muito tempo com coisas de seu interesse 50,0 13,2 36,8
27 Gosto de ler sobre vários assuntos 50,0 21,1 28,9
28 Gosto de ser o centro das atenções 55,3 26,3 18,4
29 Perco a noção de tempo quando trabalho em coisas do
meu interesse
78,9 5,3 13,2
30 Gosto de tirar boas notas na escola 81,6 10,5 7,9
31 Gosto de estudar 63,2 10,5 26,3
32 Gosto de liderar projetos e grupos 57,9 10,5 31,6
33 Gosto de tomar a iniciativa 65,8 10,5 23,7
34 Gosto de ficar sozinho(a) na maior parte do meu tempo livre 47,4 18,4 34,2
35 Gosto de planejar as coisas nos mínimos detalhes 63,2 7,9 28,9
36 Prefiro envolver-me com uma coisa de cada vez 52,6 18,4 28,9
37 Gosto de ficar ao ar livre observando a natureza 50,0 13,2 36,8
38 Gosto de fazer experiências e experimentações 42,1 26,3 31,6
39 Gosto de trabalhar com pouca orientação 44,7 21,1 34,2
40 Costumo ir até o fim quando busco atingir um objetivo 86,8 2,6 10,5
41 Prefiro situações onde posso tomar a iniciativa e conduzir
meu trabalho
71,1 5,3 23,7
42 Prefiro continuar trabalhando em um projeto mesmo quando
as coisas não estão dando muito certo
39,5 18,4 42,1
43 Prefiro a companhia de pessoas mais velhas 39,2 10,5 55,3
44 Prefiro a companhia de pessoas da minha idade 47,4 2,6 50,0
81
Tabela 13
Porcentagens Relacionadas às Preferências, Interesses e Aspectos Motivacionais de Adolescentes Talentosos por Tipo de Talento
Preferências, Interesses e Aspectos
Motivacionais
Talento Artístico (n = 20) Talento Acadêmico (n = 16) Talento Duplo (n = 2)
Sim
%
Não
%
Às vezes
%
Sim
%
Não
%
Às vezes
%
Sim
%
Não
%
Às vezes
%
1 . Gosto de correr riscos 30 40 30 37,5 18,8 43,8 50 - 50
2. Tenho muitas idéias sobre muitas coisas 85 5 10 93,8 6,3 - 100 - -
3. Valorizo a fantasia e a imaginação 75 10 15 62,5 6,3 31,2 100 - -
4 Prefiro lidar com idéias e coisas lógicas e
palpáveis
50 25 25 37,5 25 37,5 100 - -
5. Gosto de ser diferente 70 15 15 56,3 12,5 31,2 100 - -
6. Tenho um espírito aventureiro 65 10 25 43,8 31,2 25 100 - -
7. Gosto de questionar 60 15 25 68,7 6,3 25 100 - -
8. Defendo rigidamente meus pontos de vista 80 5 15 62,5 - 37,5 100 - -
9. Costumo ser bem humorado(a) 70 5 25 56,3 6,3 37,5 100 - -
10. Gosto de experimentar coisas novas 85 5 10 68,7 6,3 25 100 - -
11. Confio em minhas habilidades 70 10 20 62,4 18,8 18,8 100 - -
12. Gosto de rotinas e de fazer as coisas sempre do
mesmo jeito
40 30 30 37,5 43,7 18,8 - 50 50
(tabela continua)
82
Tabela 13 (continuação)
Preferências, Interesses e Aspectos Motivacionais
Talento Artístico (n = 20) Talento Acadêmico (n = 16) Talento Duplo (n = 2)
Sim
%
Não
%
Às vezes
%
Sim
%
Não
%
Às vezes
%
Sim
%
Não
%
Às vezes
%
13. Tenho interesse por muitas coisas diferentes 55 15 30 75 18,8 6,2 100 - -
14. Tenho dificuldade em estabelecer e obedecer a
limites
40 35 25 6,3 56,3 37,4 50 - 50
15. Vejo sempre o lado positivo das coisas, eventos
e circunstâncias
65 10 25 68,7 6,3 25 100 - -
16. Gosto de fazer comparações entre coisas
diferentes
70 15 15 50 18,8 31,2 100 - -
17. Gosto de ser independente 50 5 45 56,3 12,5 31,2 100 - -
18. Costumo ter idéias incomuns e originais 45 15 40 43,8 18,8 37,4 100 - -
19. Gosto de elaborar novas utilidades para coisas e
objetos
65 20 15 50 25 25 100 - -
20. Uso a imaginação para resolver problemas 75 5 20 62,5 12,5 25 100 - -
21. Confio em minha intuição 75 15 10 43,8 12,5 43,8 50 - 50
22. Tenho medo de errar 75 10 15 62,4 18,8 18,8 100 - -
23. Tenho medo de parecer ridículo ou tolo ao
expor minhas idéias
65 10 25 43,8 25 31,2 50 - 50
(tabela continua)
83
Tabela 13 (continuação)
Preferências, Interesses e Aspectos Motivacionais
Talento Artístico (n = 20) Talento Acadêmico (n = 16) Talento Duplo (n = 2)
Sim
%
Não
%
Às vezes
%
Sim
%
Não
%
Às vezes
%
Sim
%
Não
%
Às vezes
%
24. Gosto de criar novos caminhos e alternativas 60 10 30 56,3 12,5 31,2 50 - 50
25. Costumo ser impaciente com idéias comuns 65 20 15 68,7 18,8 12,5 100 - -
26. Gosto de desafios 75 10 15 62,4 18,8 18,8 100 - -
27 Gasto muito tempo com coisas de meu interesse 40 15 45 62,5 12,5 25 50 - 50
28 Gosto de colecionar coisas 50 35 15 50 31,2 18,8 100 - -
29 Gosto de ler sobre vários assuntos 45 20 35 56,2 25 18,8 50 - 50
30 Gosto de ser o centro das atenções 45 40 15 62,5 12,5 25 100 - -
31 Perco a noção de tempo quando trabalho em
coisas do meu interesse
80 5 10 75 6,2 18,8 100 - -
32 Gosto de tirar boas notas na escola 80 10 10 87,5 12,5 - 50 - 50
33 Gosto de estudar 60 10 30 62,5 12,5 25 100 - -
34 Gosto de liderar projetos e grupos 50 15 35 62,5 6,3 31,2 100 - -
35 Gosto de tomar a iniciativa 65 10 25 75 6,2 18,8 - 50 50
(tabela continua)
84
Tabela 13 (continuação)
Preferências, Interesses e Aspectos Motivacionais
Talento Artístico (n = 20) Talento Acadêmico (n = 16) Talento Duplo (n = 2)
Sim
%
Não
%
Às vezes
%
Sim
%
Não
%
Às vezes
%
Sim
%
Não
%
Às vezes
%
27 Gosto de ficar sozinho(a) na maior parte do
meu tempo livre
45 20 35
43,7 18,8 37,5 100 - -
28 Gosto de planejar as coisas nos mínimos
detalhes
65 5 30
62,5 12,5 25 50 - 50
29 Prefiro envolver-me com uma coisa de cada vez
40 15 45
68,7 18,8 12,5 50 50 -
30 Gosto de ficar ao ar livre observando a natureza
60 10 30
31,2 18,8 50 100 - -
31 Gosto de fazer experiências e experimentações
50 35 15
31,2 18,8 50 50 - 50
32 Gosto de trabalhar com pouca orientação
45 25 30
37,4 18,8 43,8 100 - -
33 Costumo ir até o fim quando busco atingir um
objetivo
95 - 5
75 6,2 18,8 100 - -
34 Prefiro situações onde posso tomar a iniciativa
e conduzir meu trabalho
75 5 20
68,8 6,2 25 50 - 50
35 Prefiro continuar trabalhando em um projeto
mesmo quando não estão dando muito certo
55 25 20
18,8 12,5 68,7 50 - 50
36 Prefiro a companhia de pessoas mais velhas
40 5 55
25 18,8 56,2 50 - 50
37 Prefiro a companhia de pessoas da minha idade
60 - 40
37,4 6,3 56,2 - - 100
38 Outros:
85
Relações Interpessoais e Acadêmicas
A respeito das relações interpessoais e acadêmicas, os resultados demonstraram que
quase a totalidade dos adolescentes informou que se considerava aceita e integrada em todos
os microssistemas onde estavam inseridos: família (97,4%), escola (97,4%), sala de recursos
(100%), comunidade (94,7%), igreja e clube (89,5%). No entanto, 55% dos adolescentes com
talento artístico, 43,6% dos que tinham talento acadêmico e 50% daqueles com duplo talento
informaram ter recebido algum tipo de apelido pejorativo por causa do seu talento. Apesar de
a maioria dos adolescentes ter relatado não ter sofrido agressão verbal (81,6%) ou física
(89,5%) por causa de seu talento, entre os adolescentes com talento artístico essa porcentagem
pode ser considerada alta. Quase um terço dos adolescentes com talento artístico declarou se
sentir constrangido, rejeitado ou discriminado por causa do seu talento (30%), 20% assinalou
que sofreu algum tipo de agressão verbal e 15% que foram vítimas de agressão física (15%).
Outro dado que chama atenção é que quase metade dos adolescentes com talento acadêmico
informou ter se envolvido em algum tipo de briga (43,8%).
Entre os adolescentes em geral, 89,5% informaram tirar boas notas na escola, 80%
tiveram um professor ou mentor que os influenciou de forma positiva e 55,3% receberam
algum tipo de prêmio pela participação em concursos. Com relação às disciplinas em que se
destacavam foram assinaladas: história/geografia (f = 16), todas (f = 10), matemática (f = 9),
português (f = 7), artes (f = 4) e ciências (f = 3). Outras disciplinas indicadas com apenas uma
ocorrência foram: física, biologia e química. Dois adolescentes assinalaram que não tiravam
boas notas nas disciplinas escolares e três não responderam à questão. Detalhes sobre as
características interpessoais e acadêmicas podem ser observados na Tabela 14.
86
Tabela 14
Porcentagens Relacionadas às Relações Interpessoais e Acadêmicas de Adolescentes
Talentosos – Resultado Geral e por Tipo de Talento
Relações Interpessoais e Acadêmicas Total
Geral
(N = 38)
Talento
Artístico
(n = 20)
Talento
Acadêmico
(n = 16)
Talento
Duplo
(n = 2)
% % % %
1. Sou aceito e integrado na minha família 97,4 95 100 100
2. Sou aceito e integrado na escola 97,4 100 93,8 100
3. Sou aceito e integrado na sala de recursos 100 100 100 100
4. Sou aceito e integrado na comunidade onde moro 94,7 95 93,8 100
5. Sou aceito e integrado em outros locais que
freqüento (igreja, clube, etc)
89,5 95 87,5 100
6. Tenho muitos amigos 71,1 70 68,8 100
7. Sinto-me constrangido, rejeitado ou discriminado
por ser talentoso
23,7 30 18,8 100
8. Costumo tirar boas notas na escola
Se sim, em quais disciplinas: _______________
89,5 80 100 100
9. Costumo fazer coisas originais 71,1 60 81,3 100
10. Já me colocaram apelidos pejorativos 50 55 43,8 50
11. Já sofri agressão verbal por causa do meu talento 18,4 20 12,5 50
12. Já sofri agressão física por causa do meu talento 10,5 15 6,7 100
13. Já me envolvi em brigas 28,9 15 43,8 50
14. Já recebi prêmios em concursos 55,3 55 50 100
15. Tive ou tenho um professor (mentor) que me
influenciou de forma positiva
80 75 86,7 100
16. Tive ou tenho um professor que me influenciou
de forma negativa
21,1 20 20 50
17. Encontrei obstáculos quanto ao desenvolvimento
do meu talento - Se sim, qual(is)? ____________
34,2 40 25 50
18. Um evento ou projeto em particular influenciou
ou tem influenciado o desenvolvimento do meu
talento? Se sim, qual(is)? __________________
50 45 56,3 50
19. Admiro alguém que me serve de modelo ou
inspiração - Se sim, quem? _________________
O que você mais admira nessa(s) pessoa(s)?
63,2 60 66,7 100
87
Barreiras e Fatores Favoráveis ao Desenvolvimento do Talento
Foram poucas as barreiras apresentadas pelos adolescentes. Esses obstáculos eram
de ordem interna e externa e tiveram freqüência igual a 1. Entre os aspectos de ordem
interna foram citados: a falta de paciência, calma, interesse, criatividade e a timidez. Entre
as barreiras externas foram citadas: a dificuldade financeira e a distância que devia ser
percorrida pelo adolescente entre o local de residência e a sala de recursos onde era
atendido.
Os adolescentes percebiam como fatores que influenciavam de forma positiva o
desenvolvimento do talento a mediação de professores e familiares (f = 23), a participação
na sala de recursos (f = 10), a participação em eventos como oficinas, mostras, exposição e
lançamento de livros (f = 5).
Entre as pessoas que os adolescentes mais admiravam ou que serviram de modelo
estavam os pais (f = 15), os professores (f = 8), personalidades públicas ou artistas famosos
(f = 4), colegas e amigos (f = 3), avós e irmãos (f = 3), os próprios adolescentes (f = 2) e
Deus (f = 2). O que os adolescentes mais apreciavam nessas pessoas, incluindo a si
próprios, foram listadas virtudes como determinação (f = 4), influência que exerciam sobre
outras pessoas (f = 4), perseverança (f = 4) e coragem, amor, calma e persistência (f = 3).
Estilos de Aprendizagem
Os adolescentes participantes, em geral, informaram que aprendiam com mais
facilidade por meio da leitura (71,1%), discutindo suas idéias (71,1%), conversando com
outras pessoas (65,5%), observando como as coisas são realizadas (63,2%) e respondendo
perguntas (60,5%). As atividades que menos apreciavam eram planejar passos ou
atividades (28,9%), elaborar relatórios (28,9%), estudar biografias (26,3%) e dramatizar
(21,1%).
Os adolescentes com talento artístico tinham preferência pelo trabalho em grupo
(75%), pela leitura (70%) e por discutir idéias com outras pessoas (65%). Um quarto
desses adolescentes assinalou que as atividades que menos favoreciam o seu aprendizado
eram o estudo de biografias, trabalho com movimento, dramatização e estabelecimento de
relações. Entre os adolescentes com talento acadêmico havia uma primazia pela leitura
(81,3%), discussão de idéias (81,3%) e a conversa com outras pessoas (81,3%). Entre as
atividades que menos apreciavam estava a dramatização (12,5%) e a elaboração de
relatórios (18,8%). Nenhum dos dois alunos com duplo talento tinha preferência pela
elaboração de relatórios. Veja detalhes sobre os estilos de aprendizagem na Tabela 15.
88
Ainda com relação aos estilos de aprendizagem, 60,5% dos adolescentes relataram
aprender trabalhando em grupo ou individualmente. Além das atividades contidas na Lista,
três adolescentes acrescentaram: pesquisar, pensar enquanto tomam banho e estudar
ouvindo música.
Tabela 15
Porcentagens Relacionadas aos Estilos de Aprendizagem de Adolescentes Talentosos –
Resultado Geral e por Tipo de Talento
Estilos de Aprendizagem Total
Geral
(n = 38)
Talento
Artístico
(n = 20)
Talento
Acadêmico
(n = 16)
Talento
Duplo
(n = 2)
%% % %
Aprendo:
1. Lendo
71,1 70 81,3 0
2. Escrevendo 52,6 50 56,3 50
3. Fazendo experimentos 55,3 50 62,5 50
4. Por meio de elementos visuais: gráficos, esquemas,
esboços
50 50 50 50
5. Por meio de elaboração de relatórios 28,9 40 18,8 0
6. Observando como se faz 63,2 60 68,8 50
7. Discutindo minhas idéias com outras pessoas 71,1 65 81,3 50
8. Ensinando para outras pessoas 55,3 50 62,5 50
9. Elaborando perguntas 50 50 50 50
10. Respondendo a perguntas 60,5 50 75 50
11. Fazendo comparações entre uma informação com outros
fatos e eventos
50 60 37,5 50
12. Conversando com outras pessoas 65,8 55 81,3 50
13. Trabalhando em grupo 60,5 75 43,8 50
14. Trabalhando sozinho 60,5 60 62,5 50
15. Trabalhando no desenvolvimento de projetos 55,3 50 62,5 50
16. Ouvindo aulas expositivas 57,9 60 56,3 50
17. Assistindo palestras 47,4 55 37,5 50
18. Observando detalhadamente pessoas, objetos ou
elementos naturais
44,7 50 37,5 50
19. Planejando passos ou atividades 28,9 30 25 50
20. Participando de atividades práticas 50 45 56,3 50
21. Estudando biografias 26,3 25 25 50
22. Participando de projetos independentes ou autodirigidos 34,2 35 37,5 -
23. Participando de debates 36,8 35 37,5 50
24. Trabalhando com movimento 36,8 25 50 50
25. Dramatizando 21,1 25 12,5 50
26. Estabelecendo relações e comparações 31,6 25 37,5 50
27.Outro: _____________________________________ 15,8 15 12,5 50
89
Podemos sintetizar os resultados com relação às habilidades, preferências,
interesses aspectos motivacionais e estilos de aprendizagem dos adolescentes destacando
que:
Independente do tipo de talento, os adolescentes informaram maior habilidade
nas áreas intrapessoal, interpessoal e linguística-verbal. As áreas menos
mencionadas foram a naturalista, musical e corporal-cinestésica.
As características pessoais, as preferências, interesses e os aspectos
motivacionais estavam mais intimamente associados ao tipo de talento. Por
exemplo, a sensibilidade a certos tipos de toque e iluminação e a preferência por
dormir mais de 8h por noite foram características mais apontadas pelos
adolescentes com talento artístico. Enquanto a emotividade, organização,
disciplina e a extroversão foram atributos mais assinalados pelos adolescentes
com talento acadêmico. Com relação às características acadêmicas, quase a
totalidade dos adolescentes indicou ter um bom desempenho acadêmico.
Apesar de mais de 90% dos adolescentes se considerarem aceitos e integrados na
maioria dos microssistemas em que estavam inseridos, de 15% a 30% dos
adolescentes com talento artístico pontuaram ser vítimas de constrangimento,
agressão verbal ou física relacionada com o seu talento. Quase metade dos
alunos com talento acadêmico também informaram ter se envolvido em algum
tipo de briga.
Entre os fatores que mais influenciaram os adolescentes foram destacadas a
mediação de mentores e a participação na sala de recursos e em eventos como
concursos e exposições.
A leitura e discussão de idéias foram as atividades relacionadas ao estilo de
aprendizagem mais apreciadas pelos adolescentes, enquanto a dramatização e a
elaboração de relatórios estavam entre as que menos desejavam estar envolvidos.
90
Questão de pesquisa 2: Quais são as características familiares de adolescentes
talentosos em termos de constelação e dinâmica familiar?
Os resultados apresentados nessa seção foram obtidos por meio da análise do
Questionário para Caracterização do Sistema Familiar – QCSF e a parte inicial do
Inventário de Atitudes Parentais – PSI, (versão filhos) e serão descritos em termos do
estado civil dos genitores, constelação familiar, situação profissional dos genitores, renda
familiar, situação da moradia, aspectos sobre a religiosidade, rotina e lazer da família. O
questionário foi respondido pelos genitores ou responsáveis (N = 40) e o Inventário de
Atitudes Parentais pelos adolescentes (N = 39). Esses participantes informaram por meio
desses instrumentos as características familiares e os aspectos demográficos sobre pais e
mães relacionados à totalidade das famílias pesquisada (N = 42).
Constelação Familiar e Estado Civil dos Genitores
A constelação familiar predominante foi mãe, pai e filhos do próprio casamento.
Mais da metade dessas famílias possuía estrutura nuclear biparental (57,5%), 27,5% eram
nucleares monoparentais, 12,5% tinham a presença de um padrasto ou madrasta e um
adolescente morava com sua tia (2,5%). O número de pessoas que constituíam a família e
que residiam no mesmo local variou entre 2 e 10 pessoas, sendo que 60% das famílias
eram compostas por 4 ou 5 pessoas, 15% por 6 pessoas, 12,5% por 2 pessoas, 7,5% por 3
pessoas e 5% por 8 a 10 pessoas.
Algumas famílias residiam com parentes (n = 5). A maioria desses parentes era de
origem materna (1 avô, 2 avós, 1 tia e duas sobrinhas) e apenas 1 parente era paterno (avô).
A quantidade de tempo que esses parentes residiam com as famílias variou de 1 a 27 anos.
Do ponto de vista dos filhos que moravam com a família, 10 famílias tinham apenas
um filho morando consigo (25%), 12 famílias tinham dois filhos (30%), 12 famílias tinham
três filhos (30%), 3 famílias tinham quatro filhos (7,5%), 2 famílias tinham seis filhos
(5%), 1 família tinha cinco filhos (2,5%). Do total de filhos (n = 105), oito não residiam
com suas famílias: 5 por terem casado, 2 por trabalharem em outro estado e 1 morava com
o cônjuge separado.
Foram coletadas informações sobre 63 irmãos dos adolescentes. A idade média
desses irmãos era de 13,8 anos, variando entre 4 e 26 anos. Entre os adolescentes do estudo
e seus irmãos mais próximos havia uma diferença média de idade de 5,5 anos, variando
entre 1 e 12 anos. Destes, 21,7% estavam na Educação Infantil, 30% no Ensino
91
Fundamental, 20% no Ensino Médio, 11,7% faziam pré-vestibular, 6,6% estavam no
Ensino Superior e sobre 10% não foi informado o nível de escolaridade.
Entre as atividades complementares em que os irmãos estavam engajados ou
lugares que freqüentavam para o desempenho dessas atividades foram citados: a sala de
recursos para alunos talentosos (n = 2), cursos de idiomas (n = 4), cursos de
informática/computação (n = 2), cursos de artes (n = 1), atividades esportivas (n = 6) e
preparatório para o vestibular (n = 7). Dois irmãos estavam envolvidos em alguma
atividade, mas essas não foram identificadas. Do total de irmãos, quase 2/3 não estavam
envolvidos em nenhuma atividade complementar (n = 39).
A respeito do estado civil dos genitores, os resultados revelaram que 52,4% eram
casados pela primeira vez (n = 22), 19% eram separados ou divorciados (n = 8), 19% eram
solteiros (n = 8), 4,8% eram casados pela segunda vez (n = 2), 2,4% eram viúvos (n = 1) e
2,4% eram casados pela terceira vez ou mais (n = 1). O tempo de convívio com o
companheiro atual variou de 4,3 a 28 anos, com uma média de 13,05 anos (DP = 8,31).
Aspectos Profissionais dos Genitores e Situação da Moradia
Com relação à profissão das mães (N = 42), os dados revelaram que 21,4% das
mães dos adolescentes eram profissionais da educação (n = 9), 14,3% trabalhavam com
comércio e venda (n = 6), 11,9 % eram estudantes (n = 5), 9,5% trabalhavam em serviços
básicos (n = 4), 9,5% em serviços técnicos (n = 4), 9,5% eram do lar (n = 4), 7,2%
executavam serviços administrativos (n = 3), 4,8% trabalhavam com serviços de beleza e
estética (n = 2), 2,4% eram profissionais liberais (n = 1) e 9,5% não informaram (n = 4).
O tempo de serviço das mães variou de 1 a 20 anos com uma média de 5,6 anos
(DP = 7,63). Com relação à jornada diária de trabalho, 38,1% trabalhavam 8 horas por dia
(n = 16), 9,5% meio período, por escala ou esporadicamente (n = 4), 2,4% mais de 8 horas
por dia (n = 1) e 50% não responderam à questão (n = 21). Destas, 47,6% trabalhavam
semanalmente de segunda a sexta (n = 20), 4,8% todos os dias da semana (n = 2), 2,4% de
segunda a sábado (n = 1) e 45,2% não informaram os dias (n = 19).
Entre os pais (N = 42), ficou demonstrado que 21,4% eram trabalhadores que
atuavam com comércio e venda (n = 9), 7,1 % trabalhavam com serviços técnicos (n = 3),
7,1% exerciam funções operacionais gerais (n = 3), 4,8% trabalhavam com serviços
básicos (n = 2), 4,8% eram profissionais liberais (n = 2), 4,8% tinham outras profissões (n
= 2), 2,4% era profissional da educação (n = 1), 9,5% trabalhavam em casa (n = 4) e 33,4%
não informaram a profissão (n = 14).
92
O tempo de serviço dos pais variou de 2 meses a 35 anos com uma média de 6,8
anos (DP = 9,86). Com relação à jornada diária de trabalho, 21,4% informaram trabalhar 8
horas por dia (n = 9), 9,5% trabalhavam mais de 8 horas por dia (n = 4), 4,8% trabalhavam
meio período (n= 2), 4,8% trabalhava por escala e 30 horas semanais (n = 2) e 59,5% não
informaram a quantidade de horas trabalhadas por dia. Destes, 23,8% trabalhavam
semanalmente de segunda a sexta (n = 10), 14,3% de segunda a sábado (n = 6); 4,8%
trabalhava por escala e 57,2% não informaram os dias de semana (n = 24).
Com relação à situação da moradia, ficou evidenciada que a maioria das famílias
(88,1%) morava na zona urbana, enquanto 7,1% moravam em zona rural. Entre as que
moravam na zona urbana, 50% moravam no centro e 45,2% na periferia. O tipo de moradia
predominante era casa (66,7%), seguida de apartamento (21,4%) e barraco (7,1%). Das
residências, 76,2% eram de propriedade das famílias, 9,5% eram cedidas, 4,8% eram
alugadas e 4,8% tinham outra situação imobiliária. Duas famílias não responderam sobre
questões de moradia (4,8%).
Aspectos da Religiosidade, Rotina e Lazer Familiar
Com relação a aspectos da religiosidade familiar, foram coletados dados com 38
famílias. Destas, 50% declararam ser católicas (n = 19), 31,5% eram evangélicas ou
protestantes (n = 12), 5,3% eram espíritas (n = 2), 5,3% não possuíam religião (n = 2),
5,3% não responderam (n = 2) e 2,6% alegaram ser atéias (n = 1). Entre os que possuíam
religião, 77,5% freqüentavam semanalmente as atividades eclesiásticas, 10% freqüentavam
esporadicamente, 10% não freqüentavam e 2,5% participavam mensalmente.
Com relação ao tipo de atividades realizadas pelas famílias foram destacadas as
rotineiras e as de lazer. As atividades rotineiras mais citadas estavam associadas ao
descanso (f = 39), escola (f = 26), profissão (f = 19), religião (f = 14) e serviços domésticos
(f = 13).
Entre as atividades de lazer realizadas pelas famílias, semanalmente, se destacaram
as visitas a familiares (28,6%). Com uma freqüência de 1 a 3 vezes por mês foram
assinaladas as festas e comemorações em geral (21,4%) e idas ao shopping (21,4%). Entre
as atividades realizadas esporadicamente foram informadas: a ida a centros culturais
(47,9%), passeios (42,9%), viagens curtas (33,4%), participação em festas típicas (33,4%)
e as viagens longas (31%). Mais da metade das famílias informou que as atividades de
lazer eram realizadas com o casal, os filhos e parentes que residiam no mesmo local
(59,5%). As demais famílias compartilhavam as atividades de lazer apenas entre mães e
93
filhos (16,7%) ou entre os pais e os filhos (19,1%), 4,7% não responderam à questão. Com
relação a essas atividades, 15% das famílias (n = 6) informaram que os adolescentes
talentosos não costumavam participar de todas as atividades de lazer realizadas pela
família, preferindo atividades relacionadas à sua área de talento.
Entre as atividades de lazer compartilhadas pelos membros da família, no interior
de suas residências, foram elencadas: assistir a filmes (f = 18) e televisão (f = 15), jogar
xadrez, dominó ou dama (f = 10), usar o computador (f = 9), realizar afazeres domésticos,
almoço e cozinhar (f = 4), ler (f = 4), ouvir música (f = 3), participar em lazer no córrego
ou quintal (f = 2)
7
, comemorar aniversários (f = 1), fazer trabalhos manuais (f = 1) e jogar
tênis (f = 1).
Entre as atividades de lazer realizadas na vizinhança, os membros da família
costumavam brincar e praticar esportes (f = 9), ir a festas e aniversários (f = 5), conversar
(f = 3), jogar videogame (f = 1). Com parentes e amigos as atividades mais praticadas eram
fazer churrascos e almoços (f = 9), realizar visitas e encontros (f = 9), participar em festas
(f = 8), jogar videogame (f = 1), ir à piscina (f = 1), visitar a casa da avó (f = 1), visitar a
fazenda (f = 1) e participar em grupos de estudo (f = 1).
Entre as atividades de lazer realizadas pelas famílias em locais públicos foram
citadas: parques e piqueniques (f = 8), ida ao shopping (f = 5), cinema (f = 4), igreja (f =
4), ida a restaurantes e lanchonetes (f = 3), clubes (f = 3), exposições (f = 3), teatro (f = 2),
caminhadas (f = 2), feiras (f = 1), ação social promovida pela Rede Globo de Televisão (f =
1), passeios (f = 1), parque de diversão (f = 1) e estádio de futebol (f = 1).
No sentido de resumir os resultados sobre as características estruturais e a dinâmica
das famílias com adolescentes talentosos, destacamos que
Cerca de 85% das famílias tinham estrutura nuclear biparental ou
monoparental, sendo a constelação familiar predominante pai, mãe e filhos
nascidos do próprio casamento. O tempo médio de convivência conjugal foi de
13,05 anos. Mais da metade das famílias eram compostas por 4 ou 5 membros.
As mães dos adolescentes tinham um nível de escolaridade superior, quando
comparadas aos pais e uma idade média de 43,2 anos. A maioria das mães
trabalhava fora de casa e as profissões mais exercidas por elas eram a de
professora, técnico/administrativo e de comercio e venda. Aproximadamente
1/3 das mães tinham uma jornada de trabalho igual ou inferior 40 horas
semanais.
7
Algumas famílias moravam em chácaras na Zona Rural.
94
Os pais tinham uma idade média de 43,2 anos e a profissão mais exercida entre
eles era a de comércio e venda. Esses genitores tinham uma jornada de trabalho
superior a que foi informada pelas mães. A quantidade de pais e mães que
trabalhavam em casa era igual (n = 4).
Cerca de 70% das famílias tinham uma renda entre 1 e 10 salários mínimos. A
maioria morava na zona urbana e em casas próprias.
A maioria das famílias era religiosa e freqüentava atividades que envolvia
aspectos de sua religiosidade semanalmente.
A dinâmica familiar envolvia atividades vinculadas ao descanso, escola,
profissão, religião e serviços domésticos. Entre as atividades mais
compartilhadas por seus membros estavam: assistir à televisão e filmes, visitas
a familiares, participação em festas e comemorações e ir ao shopping.
Interessante notar que 15% das famílias informaram que nem sempre os
adolescentes talentosos acompanhavam a família nas atividades de lazer,
preferindo se envolver em atividades relacionadas ao seu talento.
Questão de pesquisa 3: Quais são as características familiares de adolescentes
talentosos relacionadas à comunicação, uso do tempo, ensino, frustração, satisfação e
necessidade de informação parental?
Para responder a essa questão foram analisadas as respostas de pais, mães e
adolescentes aos itens do Inventário de Atitude Parental – PSI. Foram respondidos 43
inventários pelos adolescentes (39 na primeira fase e 4 na segunda fase) e 41 pelos
genitores (33 mães e 4 pais na primeira fase e 4 pais, na segunda fase).
Os resultados demonstraram que os genitores avaliavam a si mesmos de forma
mais positiva do que os adolescentes os avaliaram em todas as subescalas do PSI:
comunicação, uso do tempo, ensino, frustração, satisfação e necessidade de informação.
Mães e pais tinham uma percepção bastante similar com relação a todos os fatores
avaliados. Os adolescentes talentosos tinham percepção diferenciada sobre a atitude de pais
e mães. A percepção associada aos pais era mais negativa quando comparada com as mães,
exceto com relação à subescala uso do tempo (veja Tabela 16).
Utilizamos o teste t para verificar se havia diferenças significativas entre as
percepções dos adolescentes sobre a atitude de suas mães e pais e entre a percepção das
mães e pais. As análises revelaram que não havia diferenças significativas entre a
95
percepção dos adolescentes com relação às mães e a percepção das mães, entre a percepção
dos adolescentes com relação aos pais e a percepção dos pais e nem entre a percepção de
pais e mães em nenhuma das subescalas do PSI (veja na Tabela 17).
Tabela 16
Média e Desvio Padrão nas Subescalas do Inventário de Atitudes Parentais
Subescalas do PSI
Adolescentes -
Mães (n = 35)
Adolescentes -
Pais (n = 8)
Mães
(n = 33)
Pais
(n = 8)
M DP M DP M DP M DP
Comunicação 3,15 0,57 2,95 0,63 3,43 0,37 3,46 0,47
Uso do Tempo 2,96 0,47 2,97 0,63 3,33 0,42 3,29 0,36
Ensino 3,54 0,34 2,80 0,83 3,63 0,32 3,62 0,27
Frustração 3,11 0,58 2,93 0,55 3,16 0,41 3,12 0,56
Satisfação 3,42 0,41 2,83 0,53 3,50 0,38 3,43 0,44
Necessidade de
informação
3,25 0,68 3,08 0,75 3,39 0,41 3,36 0,75
Tabela 17
Subescalas do Inventário de Atitudes Parentais Resultados do Teste t
Subescalas do PSI
Adolescentes - mãe
e suas mães
Adolescentes – pai
e seus pais
Mães e Pais
gl t p gl t p gl t P
Comunicação 64 5,84 0,28 15 1,36 0,42 37 1,04 0,26
Uso do Tempo 64 4,48 0,65 16 1,03 0,13 42 3,81 0,48
Ensino 64 6,36 0,67 16 0,79 0,65 42 1,88 0,35
Frustração 64 5,99 0,39 14 1,36 0,97 40 0,86 0,49
Satisfação 63 6,27 0,95 16 1,36 0,52 42 1,28 0,76
Necessidade de
informação
63 5,67 0,86 15 1,46 0,22 41 1,74 0,68
96
Questão de Pesquisa 4: Quais são as características cognitivas e acadêmicas de
adolescentes talentosos na percepção dos adolescentes, seus familiares e seus
professores?
Para o detalhamento das características individuais e familiares dos adolescentes
talentosos foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com 4 adolescentes atendidos na
área de artes plásticas/desenho, seus familiares (4 mães, 3 pais e 5 irmãos) e professoras (3
da sala de recursos e 2 do ensino regular). Na apresentação dos resultados das questões 4, 5
e 6, utilizaremos pseudônimos para identificar os adolescentes talentosos com a finalidade
de resguardar a identidade dos participantes, sendo seus familiares e professores também
nomeados de conformidade com esses codinomes: Jorge (12 anos), Adalberto (16 anos),
Naiana (12 anos) e Elisa (18 anos). As freqüências indicadas nessa seção dizem respeito ao
número de respostas e não ao número de participantes.
Características Cognitivas
Os resultados demonstraram que a característica cognitiva mais notada em
adolescentes talentosos na área de artes plásticas/desenho foi a capacidade de aprender
coisas com rapidez, facilidade, autonomia e autodidatismo (f = 11). Essa categoria aparece
na fala dos adolescentes (f = 4), mães (f = 1) irmãos (f = 3) e professoras da sala de
recursos (f = 3). As professoras do ensino regular não se manifestaram a respeito dessa
característica. A capacidade de aprender foi relacionada a qualquer tema ou disciplina
acadêmica e não estava reduzida à área de talento. Aliadas a esse atributo aparecem outras
subcategorias exclusivas da fala dos adolescentes, com freqüência menor: facilidade de
expressão e comunicação (f = 2), boa memória (f = 1), capacidade de síntese e crítica (f =
1). Além desses aspectos, os quatro adolescentes descreveram os processos mentais nos
quais se envolviam durante a elaboração de desenhos.
No sentido de ilustrar a capacidade de aprender, a mãe do Adalberto declarou a
respeito do filho: “Aprendeu ali sozinho, praticando, percebia que ele tinha um avanço
cognitivo, quando ele criticava. Que ele é ótimo em criticar os outros. Ele criticava, ele ria,
ele falava do outro. A professora também enxergou isso nele”.
A professora da sala de recursos detalhou sobre Jorge que “ele aprende as coisas
com facilidade e muito rapidamente”, o mesmo comentário foi tecido a respeito do
Adalberto: “ele tem muita facilidade em trabalhar qualquer tema”.
Concomitante à capacidade de aprender, os adolescentes revelaram como era o
97
processo mental em que se envolviam durante a elaboração de desenhos. Eles descreveram
processos semelhantes que se iniciavam em suas mentes a partir de estímulos internos ou
externos. Em seguida, a imagem mental era reproduzida em papel, sendo explorada até que
houvesse uma correspondência entre o que foi pensado e o que estava sendo executado.
Para Naiana esse processo era iniciado a partir de uma motivação intrínseca que a
impulsionava na procura de algum estímulo extrínseco para elaborar e detalhar seus
desenhos: “Eu penso, né. Aí dá vontade de desenhar. Aí eu vou, procuro alguma coisa,
uma idéia e vou desenhar, copiando, às vezes, no pensamento mesmo”.
Jorge descreveu um processo inverso, quando a partir de um estímulo visual, ele
criava algo original. Em suas próprias palavras, ele pormenoriza:
Por exemplo, eu posso ver um desenho na parede, vamos supor aquele grafite lá,
um desenho de um alienígena, aí eu gravo aquele desenho na cabeça e passo pro
papel com algumas modificações minhas. Aí modifico o desenho todo... na hora
que você faz um desenho na sua mente, ninguém tem esse desenho, foi você
mesmo que inventou.
Além dos processos mentais, Adalberto acrescentou outros aspectos na procura pela
correspondência entre o que era elaborado na mente e o que era executado. Também
narrou acerca de fatores externos, como a presença de outras pessoas interfere de forma
negativa no processo de desenhar:
Primeiro, antes de desenhar eu paro, penso durante muito tempo antes de fazer uma
coisa. Eu penso tudo, passo a passo, como eu vou fazer. Sistematicamente o que eu
vou fazer. Pra depois começar a fazer. Então pra desenhar eu faço isso: eu paro,
avalio o que vou fazer e começo a desenhar e vou até o fim. Se quando acabar, ficar
legal, beleza. Agora, se quando acabar, eu olhar, ficar assim... posso melhorar...
sabe o que eu faço? Eu amasso o papel e começo tudo de novo. Sempre fica melhor.
Eu faço isso porque eu sei que sempre vai ficar melhor. Não tem como piorar.
Geralmente, eu faço um desenho três vezes. Depois da terceira vez que eu olho
assim, saiu bem legal, é o desenho definitivo. Se não saiu legal vou fazer mais
vezes, até ficar ótimo. A pior parte no desenho é que eu tenho que ficar isolado, eu
não desenho se tiver uma pessoa ao meu redor. A pessoa pode tá calada, parada, se
tiver do meu lado, eu não consigo desenhar.
Com relação à correspondência entre o que foi imaginado e o que era executado
Elisa declarou:
98
Começa na cabeça, você pensa vou desenhar isso com isso. Você pode pegar
referências, uma pesquisa. Melhor é você anotar. Aí, você anota o que você
pretende desenhar. Aí, você passa pro papel. Aí, se você não gostou você faz outro,
outro. Aí, vai saindo o desenho. Às vezes, começa o desenho sem o projeto.
Características Acadêmicas
Os resultados evidenciaram algumas características acadêmicas de adolescentes
talentosos como dedicação em relação aos estudos e tarefas escolares (f = 12), desempenho
escolar acima da média (f = 10) em contraponto com a dificuldade em algumas disciplinas
(f = 4).
Dedicação aos estudos
A dedicação aos estudos e tarefas escolares foi freqüente na fala de mães (f = 3),
pais (f = 5), irmãos (f = 1), professores da sala de recursos (f = 1) e professoras do ensino
regular, (f = 2). Essa categoria foi definida como uma iniciativa própria do adolescente em
ser assíduo na escola e optar por fazer as tarefas escolares com esmero e capricho.
Para ilustrar a dedicação com as atividades acamicas, destacamos o que foi
relatado pelo pai da Naiana: “Às vezes eu falo, minha filha, pra que esse tanto de capricho?
Ela diz que tem que ser assim mesmo. Ela é muito dedicada”. Sua mãe declarou ainda: “Eu
nunca mandei ela fazer dever, ela chega e faz os deveres dela, depois ela vai brincar.
Primeiro a obrigação depois a diversão. Ninguém nunca ensinou”.
Na mesma direção, foi enfatizado pela mãe da Elisa: “Sempre estudou, não precisa
ficar brigando: olha o dever da escola!”. Sua irmã revelou também: “Na escola é a CDF.
Ela gosta de estudar, tipo ela é dedicada”.
Com relação ao Jorge, a professora do ensino regular também ressaltou a dedicação
e responsabilidade na execução das atividades em sala de aula:
Se tiver que tirar um momento pra desenhar na aula, ele fica, pede, faz primeiro a
tarefa ... Nunca tive problema em relação a exercício não feito... Não é como alguns
alunos de altas habilidades que a gente tem, que se a gente descuidasse, desenhava o
tempo todo. Ele tem esse diferencial, é dedicado.
Desempenho escolar acima da média
O desempenho escolar acima da média foi uma categoria presente na fala de
adolescentes (f = 2), mães (f = 6), pais (f = 1) e professoras da sala de recursos (f = 1)
99
sendo definida como tirar notas acima da média, estar adiantado na escola, não ter sido
reprovado em nenhuma série ou ocupar posição de destaque na escola. Com relação a esse
aspecto, a Elisa declarou: “nunca fiquei para recuperação, não tirava nota baixa, fui
destaque como melhor aluna”. Seu depoimento foi corroborado por seu pai: “Sempre,
sempre foi atenciosa no colégio. Nunca gostou de matar aula. Sempre foi o destaque do
colégio” e reiterado por sua mãe: “Sempre foi boa aluna. Ela nunca repetiu de ano, sempre
foi uma aluna exemplar”.
O desempenho superior também foi evidenciado na fala mãe da Naiana: “Por isso
que ela tá adiantada, com doze anos na sétima, porque não fez o Jardim II” e de sua
professora da sala de recursos: “Ela só tira nota boa, apresenta trabalho no dia”.
Dificuldades em algumas disciplinas
A dificuldade em algumas disciplinas foi contrastada com o desempenho escolar
acima da média, principalmente pelas mães dos adolescentes do gênero masculino e uma
professora do ensino regular (mães, f = 3 e professoras do ensino regular, f = 1). As
dificuldades mencionadas estavam vinculadas a disciplinas e conteúdos específicos e não a
área de talento. Com relação a esse aspecto, a mãe do Adalberto revelou:
Em tudo o que se relaciona a arte, Adalberto é maravilhoso na matéria de arte! Em
português, quando é pra ele, ser um diretor... Tudo dele é ótimo. As notas
maravilhosas. Filosofia. A mente dele, o discurso dele em filosofia, a oralidade. O
professor diz que é espantoso! Agora a escrita... ô negação! Ele é ruim na ortografia
Em algumas matérias exatas, ele passa empurrado.
A mãe do Jorge, por outro lado se declarou surpresa com o desempenho do filho:
“Esse ano eu até me surpreendi. Esse ano, só não em Inglês, mas nas outras
matérias ele já tá passado. Nota boa, principalmente em Matemática, chama atenção
em Matemática”.
No sentido de resumir os resultados relativos às características cognitivas e
acadêmicas dos adolescentes talentosos, destacamos:
A característica cognitiva e acadêmica mais percebida em adolescentes
talentosos foi o autodidatismo ou facilidade para aprender.
Entre as características acadêmicas foram assinaladas: a dedicação ao estudo e
o desempenho escolar acima da média. De forma semelhante, aos resultados da
primeira fase de coleta de dados, a dificuldade de aprendizagem em algumas
disciplinas foi citada em contraponto ao desempenho acadêmico superior.
100
Questão de Pesquisa 5: Quais são as características afetivas e sociais de adolescentes
talentosos na percepção dos adolescentes, seus familiares e seus professores?
Além dos resultados encontrados com relação às características afetivas e sociais,
apresentaremos uma terceira categoria que emergiu da fala dos adolescentes, seus
familiares e professoras que corresponde a diferenças percebidas no desenvolvimento de
crianças e adolescentes talentosos e o impacto dessas características no reconhecimento do
talento no ambiente escolar. As freqüências indicadas nessa seção dizem respeito ao
número de respostas e não ao número de participantes.
Características Afetivas
Com relação às características afetivas, os resultados demonstraram que os
adolescentes talentosos eram percebidos com maior freqüência como determinados (f =
12), tímidos (f = 9), responsáveis, maduros e sérios (f = 8), envolvidos com sua área de
interesse (f = 8), perfeccionistas (f = 6), tranqüilos (f = 5), criativos (f = 4) e bem-
humorados (f = 4).
Determinação
A determinação foi freqüente na fala de mães (f = 2), pais (f = 2), irmãos (f = 7) e
professoras da sala de recursos (f = 1). Essa categoria foi definida como o desejo
deliberado em fazer algo, ausência de dúvida sobre projetos e atividades a serem
executados. Entre os irmãos, essa foi uma das características mais salientada, sendo
apontada inclusive como um atributo que os diferenciavam. Nesse sentido, a irmã gêmea
da Elisa declarou: “Eu fico com as minhas dúvidas, mas quando ela vai fazer, ela já vai
logo pra fazer!”. Sua outra irmã corroborou: “Quando ela vai fazer alguma coisa, ela leva
a sério mesmo. Acho interessante! Ela corre atrás do que ela quer”. Com relação ao
Adalberto, sua irmã enfatizou: “Tudo o que ele quer, ele corre atrás mesmo pra
conseguir!”.
Timidez
A timidez foi um traço percebido em três adolescentes talentosos: Elisa, Adalberto
e Naiana. A timidez foi descrita por mães (f = 3), pais (f = 1), irmãos (f = 2) e professoras
da sala de recursos (f = 3) relacionada à introspecção e ao fato de serem sistemáticos e
reservados. Essa percepção sobre Naiana foi expressa pela professora da sala de recursos:
101
“Ela é introspectiva. Ela precisa se sentir muito à vontade pra se soltar, brincar, rir com os
colegas”. Outra professora da sala de recursos declarou sobre a Elisa: “No início, ela era
muito caladinha. Não conversava quase nada, nem com ninguém. Agora, ela já se
relaciona bem melhor com os colegas, essa coisa de timidez, talvez ela tenha perdido um
pouco”. Ainda com relação à Elisa, sua irmã mais velha informou: “Ela é mais reservada,
não é mal humorada, como eu vou falar... tipo ela é mais na dela”.
Na mesma direção, o Adalberto se autodescreveu “eu sempre fui reservado. Por
isso eu prefiro ter um amigo só. Porque eu mesmo não gosto de muita gente... eu mais uma
ou duas pessoas”. Ainda com relação ao Adalberto seu pai relatou: “Ele é sistemático”.
Responsabilidade, maturidade e seriedade
A responsabilidade, maturidade e seriedade foram características atribuídas aos
quatro adolescentes por mães (f = 5), pais (f = 2) e professoras da sala de recursos (f = 1).
Essa categoria foi descrita como uma atitude positiva e pró-ativa frente à vida e aos
objetivos traçados pelos próprios adolescentes. Esses atributos sempre apareceram
associados como sinônimos. Exemplifica e resume a percepção dos participantes, o que foi
dito sobre a Naiana por seu pai: “Ela é muito madura. Ela é responsável demais, luta pelo
objetivo dela”.
Envolvimento com a área de interesse
O envolvimento com a área de interesse foi um aspecto mencionado pelas mães (f =
4), irmãos (f = 2) e professoras do ensino regular (f = 2), sendo reconhecido como um foco
permanente em atividades relacionadas à área de talento do adolescente. Essa categoria
pode ser exemplificada pela narrativa da irmã do Adalberto: “Passa a tarde desenhando.
Pergunto o que você tá fazendo? Ah, tô desenhando. Tudo é desenho” e de uma professora
do ensino regular: “O aluno de altas habilidades é inquieto, não tem questão de limite com
a questão do interesse, foca o interesse. É diferente mesmo!”
Perfeccionismo
O perfeccionismo foi uma categoria freqüente na fala de mães (f = 2), pais (f = 1),
irmãos (f = 2) e uma professora da sala de recurso (f = 1). Essa característica foi descrita
em relação aos quatro adolescentes como o desejo e a intenção de fazer as coisas da forma
mais perfeita possível. Esse traço foi resumido pela irmã da Naiana: “Tudo o que ela se
propõe a fazer, ela faz bem, ela procura fazer bem, perfeito”.
102
Tranqüilidade
A tranqüilidade foi uma característica apontada pelas professoras do ensino regular
(f = 4) e pais (f = 1). Esse atributo foi associado pelas professoras e um pai ao fato de o
aluno ser atendido. Na opinião das professoras, os adolescentes talentosos que têm suas
habilidades desenvolvidas se tornam mais tranqüilos em sala de aula e no relacionamento
com os demais alunos. Com relação ao Jorge informaram: “Ele é muito tranqüilo, participa
da aula” e complementaram: “a gente sabe disso, que quando um aluno é atendido ele é
mais tranqüilo, mais direcionado”.
Criatividade
A criatividade foi uma característica percebida nos quatro adolescentes e vinculada
tanto à área de interesse quanto à manipulação de objetos e maneira de lidar com o tempo
livre. Essa categoria foi freqüente na fala dos irmãos (f = 3) e professoras da sala de
recursos (f = 2). A irmã do Adalberto relatou: “Ele é muito criativo. Ele pega uma coisa
que nunca viu, que ele nunca observou e se pede pra desenhar, ele faz”. O mesmo foi
reconhecido pelo irmão do Jorge: “Ele tem muita criatividade. Aqui em casa tem as
árvores, tem um pedaço de pau, ele pega e emenda, faz um carrinho, faz uma espada, e
brinca, e corre sozinho dentro de casa”. A professora da Naiana descreveu: “Ela é criativa.
Ela trabalha com a cor muito bem e de uma forma intuitiva”. Sobre a Elisa, sua irmã mais
velha revelou: “Ela sabe desenhar, ela cria e ningm mais faz isso, é só ela. O jeito dela
criar, como ela faz, é da personalidade dela”.
Bom humor
Ser brincalhão e divertido foi uma característica apontada pelos irmãos (f = 4) dos
adolescentes de gênero masculino. Esse atributo foi descrito como a habilidade de fazer rir,
gostar de brincar e ser engraçado: “Ele sempre fala coisas que faz a gente rir. Ele sempre é
muito engraçado”, comentou a irmã do Adalberto.
Outras características afetivas apontadas com menor freqüência foram paciência
(irmãos, f = 1; professoras do ensino regular, f = 2), meiguice (mãe, f = 1, pai, f = 1;
professora da sala de recursos, f = 1), resignação (pais, f = 2), independência (professoras
da sala de recursos, f = 2), ansiedade (professoras da sala de recursos, f = 2) e curiosidade
(professoras da sala de recursos, f = 1).
Os adolescentes, exceto o Adalberto, não discorreram sobre suas características
afetivas, eles se detiveram mais em suas habilidades cognitivas e processos mentais. O
103
Adalberto destacou duas características: espontaneidade (f = 1) e sinceridade (f = 1).
Ambas descritas em função da maneira como se comunicava e se expressava com as
pessoas.
Características Sociais
Com relação às características sociais, os resultados evidenciaram que os
adolescentes talentosos tinham preferência pelo isolamento social (f = 16), tendência a
negar o talento (f = 10) e uma relação interpessoal harmoniosa (f = 12) em termos gerais,
porém parcialmente conflituosa com os irmãos (f = 5).
Preferência pelo isolamento social
A preferência pelo isolamento social foi uma categoria freqüente na fala de
adolescentes (f = 3), mães (f = 6), pais (f = 2), irmãos (f = 4) e professoras da sala de
recursos (f = 1). Essa característica parecia ser cultivada pelos adolescentes desde a
infância e foi descrita em termos de ter poucos amigos, preferência por realizar atividades
de forma solitária e manter pouco diálogo ou conversa com seus pares.
Esse atributo também era valorizado e favorecido pelas práticas e estilos parentais.
Esses pais postulavam que a amizade era uma relação que devia ser selecionada e
monitorada para evitar riscos desnecessários. Os pais viam no isolamento um fator protetor
com relação aos riscos a que está submetida à juventude moderna, como, por exemplo, as
drogas.
De uma forma geral, os adolescentes e seus familiares distinguiam os amigos dos
colegas. Os amigos deviam ser poucos, enquanto os colegas não tinham o mesmo nível de
intimidade ou relacionamento. A fala do pai da Elisa exemplifica bem a postura das mães e
pais desses adolescentes:
Ela sabe escolher os amigos que tem por causa da gente. A gente cobra muito em
termos de amizade, porque amizade pode levar o outro a perder. Então, a gente
conversa muito. Então, as amizades dela são, como se diz, peneiradas. Aquelas
meninas que são comportadas, aquelas que gostam do pai e da mãe e respeitam.
Com elas têm amizade, tanto as meninas quanto os meninos, não tem diferença
não.
Posição semelhante à do pai da Elisa foi evidenciada pela mãe da Naiana: “Eu
sempre falo pra ela, você tem que selecionar suas amigas. Colegas de escola, conversa e
tudo, mas pra ser sua amiga você tem que saber selecionar”.
104
O pai do Adalberto corroborou: “Ele tem poucos amigos, tem só dois. É estudioso,
fora das drogas ... Só o filho fora das drogas já é um troféu!”
A mãe do Jorge compartilhava da mesma opinião: “As amizades, se a gente não
tiver de cima, o filho vai pras drogas, acontece muita coisa ruim. Tem muita mocinha
ficando grávida, menino se perdendo na marginalidade. A família tem de tá de cima”
Por outro lado, o isolamento não era percebido pelos adolescentes como
desagregador, pelo contrário, contribua para o aperfeiçoamento das habilidades de desenho
e para torná-los mais fortes diante das adversidades. Esse entendimento pode ser
exemplificado pela fala do Adalberto:
Esse isolamento me ajudou muito, muito, muito. Por exemplo, se acontecer alguma
coisa muito ruim comigo, o que eu vou falar: de novo! Isso não é nada pra
mim, não me influencia em nada. Uma irmã minha, se acontecer uma coisa ruim
com elas. Elas desmoronam, porque isso nunca aconteceu com elas, isso é uma
novidade pra elas, isso pra elas vai ser terrível.
A preferência pelo isolamento social também foi uma condição relacionada pelas
mães (f = 6) e pelos irmãos (f = 4) à constelação familiar, posição de nascimento na família
e ao contexto social. Os dois adolescentes com 12 anos eram filhos caçulas e havia uma
diferença de mais de 6 anos entre eles e os irmãos mais velhos. O adolescente de 16 anos
era o único filho do gênero masculino. Três adolescentes moravam em localidades que não
propiciavam o brincar coletivo, o que os motivou a estarem sempre brincando sozinhos.
Nesse sentido o irmão do Jorge declarou: “Aqui perto de casa, ele não tem muito amigo.
Ninguém vem aqui. O condomínio é fechado e eles (os pais) têm o hábito de deixar os
filhos brincar muito em casa, na rua fica meio complicado”. A mãe do Adalberto enfatizou:
“por ser um homem no meio de duas mulheres e mais a mãe, creio eu que ele se refugiava
fazendo atividades sozinho. Sozinho, então, ele se isolava e nesse isolamento ele
desenhava, ele escrevia, desde pequeno”.
Tenncia a negar o talento
A tendência a negar o talento foi uma categoria exclusiva da fala dos quatro
adolescentes (f = 6), expressa no sentido de manter-se na média com relação às disciplinas
escolares e área de talento e não demonstrar as habilidades superiores para que a relação
com os pares pudessem ser mais harmoniosas. Essa atitude pode ser resumida no que
relatou Adalberto:
Já que eu tenho um talento, eu tento me manter na média. Pra não deixar os outros
105
meio reservados comigo. Eu me mantenho na média. Eu tento diminuir. Tento
diminuir um pouco o passo. Mas mesmo assim, eu ainda sou muito acima do nível
deles, do nível de aprendizagem deles, essas coisas.
Relação interpessoal harmoniosa
Na percepção dos genitores (mães, f = 4; pais, f = 3) e professores da sala de
recursos (f = 3), os adolescentes apresentavam uma relação interpessoal harmoniosa,
cooperativa e amistosa com os pais e com seus pares. Os pais e mães consideraram que
seus filhos “não davam trabalho” e eram “respeitosos” no tratamento aos pais e pessoas
mais velhas. As professoras da sala de recursos emitiram opinião semelhante às dos
genitores. Essa categoria pode ser exemplificada pela fala do pai da Elisa e do Adalberto,
respectivamente: “filha comportada, que obedece, que sabe conversar, respeitar, gosta dos
avós. Eu estou muito satisfeito...” e “meu filho graças a Deus não me dá trabalho. Uma boa
pessoa, bom menino, nunca deu trabalho... Fora de série”.
Na relação com os pares, Naiana tinha percepção similar aos pais e professoras:
“Tenho muitos amigos, colegas. É legal! Eu converso com todos, eu não tenho nenhum
inimigo na escola, eu converso com todo mundo. Todo mundo gosta muito de mim na
escola”.
No entanto, os demais adolescentes revelaram possuir um relacionamento
competitivo com seus amigos mais próximos. Geralmente, seus amigos mais próximos
tinham habilidades e interesses muito semelhantes. O que além de nutrir a amizade e os
interesses comuns, gerava o aperfeiçoamento da habilidade de desenhar. Não se tratava de
uma competição acirrada ou negativa, mas do desejo de superar o outro. No caso dos
adolescentes mais velhos, essa influência era ainda mais evidente e pode ser sintetizada
pelo relato do Adalberto:
Eu tive a influência de um amigo, e eu tenho até hoje, que também é desenhista
com altas habilidades. Aí ele tipo me mostrava os desenhos que ele fazia e aí eu ia
lá e fazia desenhos melhores que os dele. Aí ele pegava e fazia desenhos melhores
que os meus. Aí ficava nessa, né. Cada um ia melhorando o desenho do outro.
Relação parcialmente conflituosa com os irmãos
Na percepção de três irmãos (f = 3), um pai (f = 1) e uma mãe (f = 1), a relação
fraterna do adolescente talentoso era conflituosa (f = 5) e considerada como normal entre
irmãos: “É coisa de irmão, mesmo!”, ponderou a irmã da Naiana. Ademais, o conflito foi
106
apontado pelos irmãos como mais freqüente durante a infância, tendo diminuído na
adolescência. Durante a infância, esses episódios foram associados à disputa de brinquedos
e de atenção parental. No entanto, para o pai do Adalberto, a situação conflituosa parecia
mais intensa na adolescência. Quando questionado pela pesquisadora sobre o
relacionamento do adolescente com as irmãs, o pai declarou: “Com as irmãs é péssimo,
falar a verdade... Ele não aceita que as meninas entrem no quarto dele sem bater, lá na
porta né? Ele tem ciúme do quarto dele. Adolescente é mesmo assim”.
Entre as queixas ressaltadas pelos irmãos com relação ao adolescente talentoso
foram citadas: a busca por individualidade (não permitir que o irmão entre em seu quarto),
resistência à autoridade fraterna (achar que não tem que obedecer ao irmão mais velho) e o
diagnóstico de superdotação. Com relação a esse último aspecto, a irmã do Adalberto
confidenciou: ”Ele ficou se achando, dizendo que tem altas habilidades, que a gente não
tem. Ele ficou malhando dizendo que ele é superdotado. Mas só que depois ele parou”.
A comparação entre irmãos era percebida como algo inevitável. No entanto, três
irmãos dos adolescentes talentosos achavam que essa atitude é mais evocada quando se
tem um irmão talentoso. A comparação com seus irmãos talentosos (f = 3) foi apontada
como um fator negativo. Os irmãos mais velhos lidavam melhor com essa situação do que
os irmãos mais novos, que achavam muito “chato” ter que ficar toda hora justificando
porque não desenhavam como seus irmãos. As irmãs do Adalberto e Elisa declararam que
já se acostumaram a essa cobrança, respondendo com “paciência” que elas não levam o
menor jeito e que não gostam de desenhar. A comparação foi indicada pela irmã gêmea da
Elisa como ainda mais acentuada, no seu caso:
Não perguntam pra P. o quanto perguntam pra mim. Às vezes ficam: vocês são
gêmeas! Nossa, ela sabe fazer isso e você não sabe? Mas vocês não são gêmeas? ...
Acho que as pessoas acham que porque ela desenha, eu também tenho que
desenhar. Se ela é séria, eu também sou séria, tipo, não é assim. Eu tento explicar,
mas tem gente que não entende.
Por outro lado, os irmãos relataram que tiravam proveito das habilidades dos
adolescentes pedindo para que ilustrassem trabalhos escolares (f = 3) e aprendendo com as
experiências e interesses que eles tão vividamente compartilhavam em casa (f = 3). Eles
costumavam, também, mostrar os trabalhos do irmão talentoso para parentes e amigos. A
reação de admiração manifestada com a competência técnica e a produção do adolescente
era motivo de satisfação (f = 3) e orgulho (f = 3). Esse tipo de sentimento fica bastante
evidente na fala da irmã da Naiana: “Eu babo demais a Naiana, nossa! Uma vez, veio uma
107
prima aqui, eu falei isso aqui é da minha irmã, isso aqui também... E todo mundo fica:
Naiana faz isso aqui! Aí eu fico assim: ó minha irmã!”
Dois pais relataram os mesmos sentimentos com relação à produção dos filhos
talentosos (satisfação, f = 3; orgulho, f = 2). Eles associaram a esses sentimentos à “imensa
gratidão” que nutriam pelo que as professoras da sala de recursos estavam promovendo em
relação ao desenvolvimento do talento de seus filhos e ao acesso a novas oportunidades (f
= 4). Na opinião desses pais, o(a) seu (sua) filho(a) havia ganho “uma outra mãe!”.
Aspectos do Desenvolvimento Infantil e Adolescente e seu Impacto no Reconhecimento
do Talento no Ambiente Escolar
Além das características afetivas e sociais, emergiu da fala dos participantes alguns
aspectos relacionados ao desenvolvimento infantil e adolescente que têm impacto sobre o
desenvolvimento e reconhecimento do talento, principalmente, no ambiente escolar.
Desenvolvimento infantil. A precocidade foi a principal característica do
desenvolvimento infantil do indivíduo talentoso apontado por mães (f = 4), pais (f = 4),
irmãos (f = 3) e professoras da sala de recursos (f = 1). A preocidade foi relacionada à área
de interesse do adolescente e a aspectos ligados à aquisição das habilidades de leitura e
escrita.
Com relação à precocidade, a mãe da Naiana relatou: “Na escola, ela aprendeu a ler
com cinco anos. Ela foi alfabetizada muito cedo”. No mesmo sentido, corroborou Jorge:
“Nunca aprendi a desenhar. Aprendi a desenhar sozinho, ninguém me ensinou. Eu era
criancinha... Eu via meus irmãos desenharem, aí eu queria desenhar. Mas eles desenhavam
olhando pra revista, eu não”. A mãe da Elisa acrescentou: “Ela começou no “prézinho”,
tudo que ela olhava, ela desenhava. Aí, ela pediu pra outra professora da escola que
encaminhasse ela pra sala de recursos quando ela era ainda criança, só que essa professora
não quis”.
Desenvolvimento adolescente. Com relação à adolescência, um pai, uma mãe e
uma professora do ensino regular e da sala de recursos percebiam essa fase como mais
complicada e conflituosa, quando comparada à infância, principalmente na relação com os
irmãos. Nessa direção, a mãe do Adalberto revelou:
Só que hoje tem o problema da adolescência: é de um achar que não precisa mais
ser mandado pelo outro... Isso gera confusão entre eles. Então, eu acho que essa
fase da adolescência, para mim, tá sendo mais grave. Tá sendo mais complicada.
108
Apesar de reconhecerem a maturidade, responsabilidade e os avanços no
desenvolvimento do talento e de apresentarem sinais fisiológicos de entrada na puberdade,
houve o relato dos próprios adolescentes mais novos, seus pais e irmãos que esses ainda
não haviam feito a transição para a adolescência. Os dois alunos, que se encontravam no
início da adolescência, admitiram que não se sentiam como adolescentes e que cultivavam
várias práticas infantis como brincar de bonecas, carrinhos e jogos. Essa percepção era
corroborada pelo pai da Naiana e pela mãe e irmão do Jorge, que durante a entrevista se
referiram aos adolescentes ora como crianças ora como adolescentes. Nessa direção, o pai
da Naiana observou: “Nessa fase de adolescência, ela ainda brinca de boneca como se
fosse uma criança mesmo. A prima dela tava aqui e tava todo mundo no quarto brincando
de boneca, conversando com os brinquedos”.
O relato da Naiana corrobora a percepção de seu pai: “Eu ainda não me sinto muito
adolescente assim, não... Eu me sinto mais criança. Eu ainda brinco muito, então eu não
sou muito adolescente não”. A mesma posição era compartilhada pelo Jorge:
“Adolescente, eu não me sinto muito não” e apoiada por sua mãe, quando lhe foi
perguntado como é conviver com um adolescente talentoso e se houve alguma mudança da
infância para a adolescência: “Não, até agora não tem nenhum tipo de mudança, até parece
que ele não quer mudar. Continua criança.”
Comparações entre as características infantis e adolescentes com relação ao
desenvolvimento do talento na área de desenho. Os adolescentes percebiam o desenho
infantil como menos estruturado quando comparado ao desenho do adolescente, em termos
de riqueza de detalhes (f = 3). Na opinião desses adolescentes (f = 3) e uma mãe (f = 1), os
professores reconhecem com mais facilidade o talento das crianças. Para as professoras da
sala de recursos (f = 4), as crianças talentosas são mais indecisas e não sabem o que
querem com relação ao seu talento e, muitas vezes, nem mesmo têm consciência de suas
habilidades. Os adolescentes foram descritos pelas professoras da sala de recursos (f = 4) e
por um pai (f = 1) como mais autônomos e determinados quando comparados com as
crianças.
Impacto das características infantis e adolescentes no reconhecimento do talento
na escola. Dois adolescentes (f = 2), duas mães (f = 3) e duas professoras (f = 3) - uma da
sala de recursos e uma do ensino regular - percebiam um maior envolvimento e interesse
do professor com relação à criança talentosa. A diferença no reconhecimento do talento na
escola durante a infância e adolescência pode ser inferida a partir do depoimento da mãe
do Adalberto:
109
Nas séries iniciais, a professora da 3a. série percebia que ele tinha um avanço...
cognitivo... De 5a. a 8a., no ensino fundamental, ele teve um apoio da professora de
artes, que trabalhava com música. Essa professora viu essa habilidade nele e o
incentivou. Hoje, ele está no ensino médio, no segundo ano, concluindo. É difícil
para os professores aceitarem que ele tem uma habilidade mais desenvolvida na
área das artes... Aí, se não aceita, não usa o conhecimento que ele tem. Não usando,
ele fica prejudicado.
Essa percepção é corroborada pelo próprio Adalberto:
Na escola, de apoio sobre o meu talento, pelo menos agora no ensino médio, eu não
tenho nenhum! Agora, antigamente, no ensino fundamental, os professores já
buscavam o aluno que tinha talento, já achavam ótimo, já procuravam a ajuda dele.
Agora, já no ensino médio, que já é a adolescência, mesmo, não tem nenhum
incentivo.
Jorge, pelo contrário, achava que na adolescência ficou mais fácil o
desenvolvimento do talento, porque quando ele era criança não tinha ninguém para orientá-
lo com relação as suas habilidades: “Agora tá sendo mais fácil. Antes eu não tinha
ninguém pra me aconselhar, eu desenhava, desenhava e ninguém olhava pros meus
desenhos”.
Na percepção de três adolescentes (f = 7), duas professoras da sala de recursos (f =
4) e uma professora do ensino regular (f = 1), o nível de cobrança parece mais exacerbado
sobre os adolescentes quando comparados com as crianças. De certa forma, o fato de uma
criança ser talentosa desperta admiração e é visto como uma vantagem, enquanto com o
adolescente implica uma demonstração cada vez mais excepcional de suas competências e
habilidades. Essa cobrança foi apontada como um fator tanto endógeno como exógeno
associado ao talento. Essa percepção pode ser resumida pela declaração do Adalberto:
Bem é mais fácil ser criança, porque uma criança talentosa... O que as pessoas vão
dizer? “Ah, esse menino tem talento, ele sabe desenhar, que bonitinho! Que fofo,
que bom!” Agora, o adolescente, não. Eles vão dizer o quê? Eles têm uma cobrança
sobre ele. Já que ele sabe alguma coisa, já que ele sabe desenhar, então, não vão
aceitar pouca coisa dele! Tem que ser o melhor dele! Então, aí tem essa cobrança,
principalmente, por parte de algumas pessoas que já sabem que você tem talento.
Eles já me cobram de uma maneira diferente! Cobram mais de mim do que dos
outros!
110
Resumindo os resultados com relação às características afetivas e sociais de
adolescentes talentosos na área artística, destacamos:
Entre as características afetivas foram salientadas a determinação, a timidez,
a responsabilidade na execução das atividades, o envolvimento com sua
área de interesse, o perfeccionismo, a criatividade e o bom humor.
O perfeccionismo é uma característica que pode estar associada aos
processos mentais descritos pelos adolescentes.
Entre as características sociais sobressaíram a preferência pelo isolamento
social, a tendência a negar o talento, a relação harmoniosa com os pais e
pares e parcialmente conflituosa com os irmãos. Esses resultados estão em
consonância com os resultados da questão 1.
O isolamento social foi relacionado ao estilo e práticas parentais, ao tipo de
talento e fatores contextuais.
A precocidade foi a principal característica associada à criança talentosa que
tem impacto no desenvolvimento do adolescente.
O nível de cobrança acentuado com relação ao desempenho superior do
adolescente talentoso foi apontado como um fator distintivo no
reconhecimento do talento na adolescência quando comparado à infância.
Questão de Pesquisa 6: Quais são as estratégias implementadas por adolescentes
talentosos, suas famílias e rede de apoio social para o desenvolvimento do talento?
No sentido de responder a essa pergunta, foram elaboradas cinco categorias, a partir
da análise de conteúdo das entrevistas: fatores favoráveis ao desenvolvimento do talento,
barreiras encontradas com relação ao desenvolvimento do talento, mudanças associadas ao
atendimento em sala de recursos, expectativas futuras com relação ao adolescente talentoso
e conselhos aos adolescentes e suas famílias. As freqüências apresentadas nessa seção
dizem respeito ao número de respostas e não ao numero de participantes.
Fatores Favoráveis ao Desenvolvimento do Talento
Entre as estratégias implementadas no sentido de favorecer o desenvolvimento do
talento foram identificados quatro fatores: estratégias educativas ou pedagógicas, suporte
familiar, rede de apoio social e estratégias individuais.
111
Estratégias Educativas e Pedagógicas
As estratégias educativas ou pedagógicas (f = 55) foram percebidas como um fator
positivo no desenvolvimento dos adolescentes. Essa categoria foi definida em termos do
atendimento em sala de recursos (f = 43) e a participação em eventos como exposições,
concursos, visitas a museus e apresentação de trabalhos (f = 12).
Atendimento em Sala de Recursos. O atendimento em sala de recursos foi um dos
aspectos mais favoráveis para o desenvolvimento do talento sendo entendido pelos
participantes como um “divisor de águas”. As principais mudanças relatadas a partir do
atendimento na sala de recursos, na percepção dos adolescentes, seus familiares e
professores, estavam associadas ao reconhecimento e valorização do talento (f = 16),
aperfeiçoamento das habilidades superiores (f = 8), mudança na rotina individual e familiar
(f = 6) e acesso a oportunidades (f = 6). Outras mudanças mencionadas com menor
freqüência foram o maior nível de cobrança (f = 3), melhoria em lidar com os sentimentos
(f = 2), maior produtividade e melhora nos relacionamentos (f = 2).
O reconhecimento e valorização do talento foi uma subcategoria freqüente na fala
dos quatro adolescentes (f = 12). Eles observaram mudanças na maneira como a família e
os pares percebiam seu talento. Essas mudanças podem ser resumidas a partir do
depoimento do Adalberto: “Minha família aprendeu a me olhar e me valorizar mais... Eles
agora começaram a pensar mais em mim, me observar mais. Agora, eles sabem que eu sou
capaz de fazer alguma coisa legal”.
Além dos adolescentes, duas mães (f = 3) e um irmão (f = 1) percebiam essa
mudança após o atendimento em sala de recursos. A mãe do Jorge relatou: “Ele está sendo
trabalhado, está sendo reconhecido, está sendo valorizado, respeitado”; enquanto seu irmão
descreveu: “Minha mãe, quando ele desenhava, ela falava: ah! fica rabiscando caderno,
rabiscando livro, isso é livro da escola... E depois que ele foi identificado melhorou,
porque minha mãe abriu mais espaço”.
O aperfeiçoamento das habilidades foi uma subcategoria freqüente na fala de dois
adolescentes (f = 2), uma mãe (f = 1), um pai (f = 1), um irmão (f = 1) e duas professoras
da sala de recursos (f = 3). Esses participantes viam como resultado do atendimento, em
sala de recursos, o aperfeiçoamento das habilidades do adolescente. Essa percepção da
família pode ser resumida pelo trecho selecionado da entrevista com a mãe do Jorge: “O
jeito dele desenhar, fiquei apaixonada pelo desenho. Pra mim, aquilo é um sonho muito
grande! Eu via ele desenhar, mas eu não sabia que ele poderia chegar aonde ele tá
chegando.” Com relação a esse aspecto o Adalberto, ainda, comentou: “A sala de recursos
112
é um lugar onde eu vou lá pra aprimorar meus conhecimentos, minhas coisas. Agora, se
não tivesse a sala de recursos, onde é que eu iria mostrar meu dom?”
A mudança na rotina individual e familiar foi uma subcategoria exclusiva da fala
dos adolescentes (f = 3), mães, (f = 1) e irmãos (f = 2). As mudanças percebidas na esfera
individual estavam relacionadas à quantidade de atividades e projetos a serem executados e
à elaboração de objetivos. As mudanças no âmbito familiar se referiam ao suporte e
acompanhamento familiar nas atividades desenvolvidas em sala de recursos, na
participação em eventos e na distribuição das tarefas domésticas. Nesse sentido, o
Adalberto comentou:
Mudou porque eu aprendi a mostrar mais aquilo que eu sei fazer. Também mudou
meu estilo de vida porque antes eu não tinha nada para fazer a não ser estudar.
Agora, além de estudar eu tenho planos de fazer meus desenhos para exposições
que eu já tenho previstas. Agora minha rotina aumentou. Agora eu tenho objetivos
também, além de outros objetivos, o objetivo de me formar, eu tenho os trabalhos
de arte, exposições.
As mudanças percebidas na rotina e dinâmica familiar implicavam também um
maior envolvimento dos pais no transporte do aluno e na compra de recursos materiais.
Isso pode ser exemplificado pela fala do pai da Naiana:
Quinta feira é pra ela! A gente tem que levar, agora que a gente tá sem carro, vou
de ônibus e fico esperando ela pra não ter que voltar aqui de novo. Fico de oito
horas até onze, esperando acabar. A gente tem que dar mais atenção nesse sentido
assim.
As mudanças na rotina e dinâmica familiar também haviam alterado a distribuição
das tarefas domésticas. Nesse sentido, a irmã do Adalberto comentou: “A rotina mudou.
Quando ele vai pra sala de recursos quem tem que arrumar a casa sou eu.”
Acesso a oportunidades. O acesso a oportunidades foi definido por adolescentes (n
= 3) e suas mães (n = 3) como um fator associado à sala de recursos que teve impacto
positivo no desenvolvimento do talento. Essa categoria pode ser resumida no que relatou
Jorge: “ a sala de recursos é um lugar onde eu vou lá pra aprimorar meus conhecimentos,
minhas coisas, meu desenvolvimento e demonstrar pros outros em exposições e galerias”.
Participação em eventos, exposições e concursos. A participação em eventos,
exposições e concursos foi considerada um fator preponderante no desenvolvimento do
talento pelos adolescentes (f = 6), mães (f = 2), pais (f = 2) e professoras da sala de
recursos (f = 2). Todos os alunos informaram ter participado de alguma exposição e três já
113
haviam ganho alguma premiação em concursos de poesias ou desenho. Nesse sentido, o
pai da Naiana relatou: Agora, quando teve a exposição, ano passado, dos quadros dela, eu
fui lá olhar. Fiquei emocionado porque eu não tinha visto ainda. Foi muito bonito. Levei
minha mulher, a avó dela... Nossa! Um espetáculo! Gostei demais”. Sua mãe corroborou:
“As professoras levam nas exposições. Ela voltou encantada com a do Picasso. Ela voltou
contando o que ele fazia da vida particular dele... Influenciou bastante. É um ato que
marcou muito”. A mãe do Jorge relatou: “fiquei apaixonada pelo desenho, pra mim aquilo
é um sonho muito grande. Às vezes tem coisas que a gente nem acredita. Eu vi o Jorge
desenhar, mas eu não sabia que ele poderia chegar aonde ele tá chegando”.
Suporte Familiar
O suporte familiar (f = 53) foi percebido pelos adolescentes, seus familiares e
professoras como o fator de maior impacto no desenvolvimento do talento. Esse suporte foi
definido em termos do estilo parental (f = 37) e práticas parentais (f = 16). A importância
do suporte familiar pode ser resumida no que foi declarado pela irmã da Naiana:
Se ela não tivesse apoio de ninguém (da família), ela já tinha desistido, eu acho. Ela
não ia pegar ônibus sozinha, lá pra Taguatinga Sul e voltar... Então é isso, a gente
fez a inscrição dela. Na exposição vou eu, minha mãe, minha avó, tia, todo mundo.
Eu acho muito importante a família tá ajudando, tá apoiando. Quem ajuda mais é
meu pai, que leva e traz.
Estilo Parental. O estilo parental era caracterizado pelos adolescentes (f = 8), mães
(f = 11), pais (f = 6), irmãos (f = 5), professoras da sala de recursos (f = 5) e professoras do
ensino regular (f = 2) como aquele em que o reconhecimento, elogio, valorização,
monitoramento e incentivo parental ao desenvolvimento do talento e a aspectos
disciplinares baseados no diálogo são a essência.
O estilo parental pode ser evidenciado pelo que a mãe da Elisa descreveu:
Eu acho assim, que o pai tem que participar mesmo da vida do filho, na escola
desde o primeiro dia. Eu levava no colégio e buscava todos os dias, desde
pequenininhas, desde o “prézinho”. Até hoje que elas fizeram 18 e a mais velha tem
19, eu ainda levo pro cursinho e busco. Todos os amigos delas falam: mamãe vou
fazer trabalho na casa da fulana. Eu falo assim: você não prefere trazer pra casa aí
eu podia conhecer ele melhor, entendeu? Mas agora, quando elas eram
adolescentes, os amigos falavam, mamãe tem que trazer, tem que buscar... Eles
caçoavam.
114
Práticas Parentais. As práticas parentais foram relacionadas à priorização da
educação pela família (mães, f = 3; pais, f = 4; irmãos, f = 1) e à intervenção materna nos
processos de encaminhamento e identificação (adolescentes, f = 3; mães, f = 3; pais, f = 2).
As práticas parentais de priorização da educação eram bastante coerentes com os
estilos parentais. Além do investimento parental em termos de atender às demandas de
recursos materiais (telas, tintas, molduras) e de transporte dos adolescentes, os pais não
mediam esforços para manterem seus filhos na escola. A mãe do Jorge relatou que a
família mudou para um bairro mais periférico para que os filhos pudessem ser mantidos em
escolas do Plano Piloto: “Não gosto dos colégios que têm aqui, então aluguei minha casa e
vim pra mais distante, pra manter os meninos na escola do Plano”. A mãe da Elisa
informou, na mesma direção: “a gente não viaja, só aqui no trabalho para o bem delas, pra
educação delas”.
Na percepção da mãe do Adalberto, todo o esforço dos pais, muitas vezes, não
impede as dificuldades e certa “discriminação” em relação ao aluno que mora em regiões
mais periféricas:
O acesso é difícil! Ele estava conversando comigo essa semana, falando que ia para
a exposição. Eu perguntei de que maneira que ele ia. E ele falou: minha professora
vai me levar. Eu vou de ônibus até a escola e de lá ela me leva. E eu falei e os
outros? Mãe, só eu moro fora de Brasília, o resto tudo mora lá! Então, a idéia que
eu tive foi de que quem está fora, na periferia, não tem acesso. Não estou querendo
generalizar, mas o Adalberto está sendo uma exceção. O acesso é restrito, é
limitado. É difícil! Era preciso ter salas de recursos em todas as regiões
administrativas.
A intervenção materna foi um fato marcante, na opinião dos adolescentes (f = 3),
mães (f = 3), pais (f = 4) e irmão (f = 1). Três mães foram diretamente responsáveis pelo
processo de encaminhamento dos adolescentes para o atendimento em sala de recursos.
Além disso, elas serviam de modelo para seus filhos e eram as maiores incentivadoras e
divulgadoras do talento deles. Essa influência fica bastante evidente nos relatos do
Adalberto e de sua mãe:
Uma coisa que influenciou e marcou foi o incentivo da minha mãe em falar que eu
sou melhor do que os outros em alguma coisa, que eu tenho um dom. Essa foi o
meu maior incentivo porque nunca ninguém falou uma coisa tão positiva a meu
respeito... Minha mãe prestou atenção em mim, que bacana, que lega! Isso foi
interessante, isso foi o que marcou mesmo a minha vida... Minha mãe me ajudou
115
muito. Quando eu to fazendo um desenho, eu termino o desenho. Aí, chega a minha
mãe e fala: Oh, tem que desenhar direito, tem que entregar no prazo, tem que
mostrar serviço, quer que eu melhore sempre. Minha mãe não deixa que eu folgue.
A mãe do Adalberto comenta:
A experiência marcante foi eu perceber a habilidade dele na arte, foi positivo eu
perceber isso, me deixa muito coruja! Eu considero que eu consegui um
atendimento muito tarde. Porque se tivesse conseguido mais cedo, ele estaria muito
melhor.
A intervenção materna, na percepção das duas adolescentes, foi descrita como
fundamental para o desenvolvimento do talento feminino:
Tem muitas mães que falam assim: a minha filha desenha, mas ela precisa ficar em
casa, pra ajudar a mãe, cuidar dos irmãos e tal. Nesses serviços domésticos, em
casa, são mais as meninas, sendo que todo mundo que tem que fazer (Naiana).
Lá na sala tem mais meninos, eu acho que é por isso. Eu acho que eu sou mais
incentivada porque minha mãe desenha (Elisa).
Rede de Apoio Social
A rede de apoio social, representada pelos vizinhos, amigos e comunidade religiosa,
na percepção dos adolescentes e seus pais, pode favorecer o desenvolvimento do talento.
Segundo os mesmos, esses atores sociais funcionam como divulgadores e consumidores
primários da produção de indivíduos talentosos (adolescentes, f = 2; mães, f = 4 e pais, f =
3). Essa percepção pode ser resumida pela declaração do Adalberto:
Geralmente, os vizinhos, os amigos também, ajudam a divulgar. Minha mãe sai
falando para todo mundo, fala que estou com exposições, desenhos, amostra em
algum lugar. E aí eles falam: Que bom! Que legal! Encorajavam você a continuar.
Vão de boca em boca divulgando, falando.
Com relação à comunidade religiosa, a mãe da Naiana observou: “Eles incentivam,
falam, parabenizam pelos trabalhos. Às vezes, um fala: Naiana, você tem que fazer
um quadro pra mim, eu quero um quadro seu”.
Estratégias Individuais
As estratégias individuais aplicadas na resolução de problemas foram apontadas
pelos quatro adolescentes como outro fator que favorece o desenvolvimento do talento.
Essas estratégias foram descritas como uma atitude positiva frente a adversidades (f = 6) e
116
o gerenciamento de tempo e das oportunidades a fim de aperfeiçoarem as suas habilidades
(f = 4).
Atitude positiva frente às adversidades. A atitude positiva frente às adversidades
foi manifesta como uma postura diante da vida e como uma forma de lidar com críticas e
medos. Nessa direção, Adalberto revelou:
Se for negativo, não interessa o que os outros pensam. Interessa o que você pensa...
Quando você tem medo o que você faz? Vence esse medo pra acabar de uma vez.
Se você tem medo de alguma coisa e correr dele, ele vai ficar sempre te perseguindo
e sempre vai ter esse receio. Mas se você enfrentar ele de uma vez e falar é aquilo.
Pronto acabou, já aconteceu, já passou.
Elisa, também observou: “Porque tem muita gente que não dá valor. Eu tento ser
boa no que eu faço, eu tento ser a melhor. Aí o dou importância”.
A Naiana demonstrou essa atitude pela postura que assumiu com relação à demora
em ser atendida na sala de recursos: “Demorou esse tempão pra me chamarem, mas eu
nunca desisti. Eu sempre procurava alguma coisa pra fazer, assim, cursos, algumas coisas
assim, pra nunca parar”.
E o Jorge revelou sobre esse processo interior:
Encontrei uma dificuldade no dia que eu queria copiar. À noite de tanto eu desenhar
eu não conseguia copiar ... fiquei uns dias sem desenhar, aí eu fui começando a
olhar pro papel e fui desenhando. Até que eu consegui copiar bem e desenhar bem
sem olhar.
Gerenciamento de tempo e oportunidades. Os adolescentes relataram, ainda, como
dividem o tempo entre as atividades escolares, os serviços domésticos e o aperfeiçoamento
de suas habilidades de desenho. Naiana declarou: “de manhã eu faço os deveres e as coisas
de casa, à tarde eu vou pra escola e à noite eu vou desenhar”. Jorge relatou:
Todo dia eu faço as atividades do colégio, faço de noite, durante o dia vou pra aula
de desenho. Qualquer hora eu desenho. Quando eu tô com vontade de desenhar eu
pego o papel, pego o lápis e começo a desenhar. Qualquer lugar, até dentro do
ônibus!
O mesmo pode ser observado com relação à Elisa e ao Adalberto:
Em qualquer hora vaga, quando eu podia ter um papel, eu tava desenhando. Quanto
mais você desenha, você aperfeiçoa o traço. Aí, em qualquer papelzinho você pode
desenhar, pode ser uma coisa abstrata, um monte de riscos. Primeiro o dever da
escola, depois e, às vezes, durante, o desenho. (Elisa)
117
Eu estudo à tarde, então o que eu faço, eu não gosto de levar trabalho de escola pra
casa. Então, o que eu tenho que fazer de dever da escola, essas coisas, eu faço na
escola. Eu não faço dever de escola em casa. Mas, geralmente, eu tento fazer tudo
de uma vez e num tempo só. Eu tiro um sábado e faço tudo o que eu tenho que fazer
da escola. O que eu faço de manhã: de manhã, meu tempo é livre. Eu não faço nada
de manhã. De manhã eu gosto de ficar... o tempo é meu de manhã. Agora, sobre os
desenhos: eu gosto de fazer meus desenhos à noite. À noite quando todo mundo tá
dormindo. Porque é difícil você conseguir se concentrar com um monte de gente
falando no seu ouvido, um monte de gente de um lado pro outro, mandando você
fazer uma coisa. Então é a noite mesmo que eu gosto de desenhar porque não tem
ninguém. É só eu, o papel, o lápis e a borracha (Adalberto).
Barreiras Encontradas com Relação ao Desenvolvimento do Talento
Os adolescentes, seus familiares e professores apresentaram algumas barreiras que
representavam obstáculos ao desenvolvimento do talento e que, na percepção dos mesmos,
precisavam ser superados. Quatro categorias de barreiras foram elaboradas com base nas
entrevistas realizadas com esses participantes: educacionais (f = 44), institucionais ou
políticas (f = 29) e de difusão ou disseminação do conhecimento sobre o talento (f = 12).
Barreiras Educacionais
As subcategorias relacionadas às barreiras educacionais elaboradas a partir do
relato dos participantes foram: a dificuldade de acesso ao programa (f = 24), a formação
dos professores do ensino regular (f = 16), a descontinuidade do atendimento após o
encerramento da educação básica (f = 4). Outras categorias exclusivas da fala das
professoras com freqüência igual ou menor que 2 foram: a rotatividade de professores no
ensino regular, quantidade de alunos em sala de aula, o excesso de atividades
administrativas que atrapalha as atividades pedagógicas e práticas pedagógicas
tradicionais.
Dificuldade de acesso ao Programa. O acesso ao Programa de Atendimento ao
Aluno Superdotado foi definido como restrito e limitado, uma vez que não abrangia todas
as regiões administrativas do DF e o processo de identificação e encaminhamento do aluno
ao programa foi percebido como moroso. O acesso ao programa foi apontado como uma
das maiores barreiras enfrentadas pelos adolescentes e suas famílias (adolescentes, f = 4;
118
mães, f = 10; pai, f = 1; irmãos, f = 2; professoras da sala de recursos, f = 2; professoras do
ensino regular, f = 5).
Na opinião de três mães e um pai, os adolescentes chegaram muito tarde ao
atendimento, uma vez que desde pequenos evidenciavam a facilidade que tinham para o
desenho. Mesmo sendo identificados na pré-escola e nas primeiras séries do Ensino
Fundamental, o atendimento demorou: a Elisa só passou a freqüentar o Programa de
Atendimento ao Aluno Superdotado no final do Ensino Médio. A Naiana começou a ser
atendida na sala de recursos na 5ª. série e o Adalberto no 1º ano do Ensino Médio.
No sentido de detalhar o sentimento das famílias e professoras com relação ao
acesso ao programa, transcrevemos alguns fragmentos que nos relevam a percepção desses
participantes. A mãe da Naiana acreditava
Que as professoras têm que dar um incentivo maior. Ou tentar descobrir esses
talentos, encaminhando. Porque a Naiana estava na escola e o pessoal do apoio foi
fazer as inscrições. Isso demorou uns quatro anos pra ela ser chamada. É bem
complicado o acesso na rede pública, eles não dão apoio nenhum.
A mãe da Elisa, na mesma direção, relatou:
Ela (Elisa) pediu pra outra professora da escola que encaminhasse ela pra sala de
recursos quando ela era ainda criança, só que essa professora não quis. Aí, quando
ela tava quase terminando o 2º grau, um amigo dela levou ela pra sala de recursos.
Ela tava com 17 anos, ela pôde ficar só um ano lá, foi muito rápido.
A mãe do Adalberto, acreditava que se o seu filho tivesse sido atendido mais cedo,
teria suas habilidades mais desenvolvidas: “eu considero que eu consegui um atendimento
muito tarde. Por que se tivesse conseguido mais cedo, ele estaria muito melhor”.
Com relação ao processo de encaminhamento uma professora do ensino regular se
queixou da morosidade do processo, que muitas vezes pára ainda dentro da escola:
A partir do momento que o professor detecta e faz um encaminhamento e esse
encaminhamento fica a perder de vista, eu tenho essa queixa. Mas é uma queixa
dolorida! Eu estou vendo o aluno dando trabalho na sala, sei que são altas
habilidades, sei que o professor não tem obrigação e nem condição de enxergar isso,
tá!? A gente encaminha esse aluno para a equipe que tem competência para isso. O
processo é moroso demais. Esse aluno vai ser o quê? Diagnosticado, quando estiver
na 8ª. Série? Por que ele está na 5ª. série e ainda não foi?
A outra professora acrescentou:
119
Ainda tem outra situação, que é a sobreposição do administrativo sobre o
pedagógico (na escola). A pessoa que é responsável por fazer esses
encaminhamentos, ela entrou de licença-prêmio. Como a professora falou, nós
tivemos várias trocas de professores, tivemos períodos longos, sem um, dois ou três
professores na escola. E no caso, era para pegar o material e enviar para a equipe,
mas ficou no meio do caminho, no meio desse processo mesmo.
A professora da Naiana pondera que é
Preciso talvez encontrar outro meio de tá avaliando, de trazer esses meninos pra
sala (de recursos). Porque, às vezes, a gente fica só aguardando encaminharem. E,
tem professor que não tem interesse. Existem professores, no regular, que não
acreditam no projeto, no atendimento.
Na opinião de outra professora da sala de recursos, parece haver uma falta de
sintonia entre o que é realizado no programa, o que é divulgado e a ação efetiva dos
professores que estão no ensino regular:
Não sei, parece que não há sintonia, sabe? Porque a gente sabe que a divulgação tá
sendo feita, mas mil coisas acontecem. Às vezes, o professor sabe que tem um
aluno talentoso dentro da sala e não encaminha, e fala que não sabia que tinha essa
sala de apoio pro aluno. E às vezes também eles não sabem que o aluno é talentoso.
Eu tive um monte de alunos que foram encaminhados por colegas e não por
professores.
Formação dos professores do ensino regular. A formação dos professores foi outra
subcategoria das barreiras educacionais apontada pelos adolescentes (f = 4), mães (f = 4),
irmãos (f = 1), professoras da sala de recursos (f = 2) e professoras do ensino regular (f =
4). Na opinião desses participantes, a formação inadequada dos professores tem um
impacto negativo sobre o processo de encaminhamento. Muitas vezes o professor até
reconhece o talento em sala de aula, mas o aluno não é encaminhado para o programa. Para
a mãe da Naiana: “um professor com um outro preparo, mais bem preparado, que tem uma
sensibilidade de perceber” tem maior competência para iniciar o processo de identificação
do aluno. O que foi expresso por uma professora do ensino regular ilustra bem a percepção
sobre essa dificuldade:
O professor que é formado em licenciatura não tem essa formação específica. Então
o que acontece o professor que é de 5ª. ao ensino médio, ele não sabe lidar com
essa situação nova... Eu acho que é preciso haver um preparo melhor do professor,
as escolas hoje, não preparam, deixam muito a desejar.
120
As professoras associaram aos problemas na formação do professor outros aspectos
que acabam por dificultar a atuação do professor no atendimento do aluno talentoso em sala
de ensino regular: rotatividade de professores (professoras do ensino regular, f = 2),
quantidade de alunos em sala de aula (professoras da sala de recursos, f = 1; professoras do
ensino regular, f = 1), excesso de atividades administrativas atribuídas ao professor
(professoras do ensino regular, f = 2) e práticas pedagógicas tradicionais (professoras da
sala de recursos, f = 2). Para ilustrar essas categorias destacamos a fala de uma professora
do ensino regular:
Essa troca de professores atrapalha muito a reconhecer o aluno (...) chega no último
conselho de classe, ele (o professor) vai ter algo mais pra falar do aluno. Pra se
lembrar dele, do que o aluno construiu, o que construíram juntos ao longo do ano.
(Professora do ensino regular)
Descontinuidade no atendimento. A descontinuidade no atendimento após a
conclusão do Ensino Médio foi uma subcategoria exclusiva da fala das professoras da sala
de recursos (f = 4). Elas entendiam que esse fator gerava angústia ao aluno e ao professor
que não vislumbravam possibilidades de continuação do desenvolvimento do talento que
fora iniciado na sala de recursos. Duas professoras sugeriram que o atendimento devia ser
ampliado até a inserção do aluno no mercado de trabalho ou sua entrada no ensino
superior. Para ilustrar esse entendimento destacamos o que foi relatado por duas
professoras:
Eu vejo alunos aqui que já foram de outras professoras, alunos que já estão com 16,
17 anos, que passaram no vestibular e não puderam estudar e que hoje vem aqui
pedir emprego pra nós. A gente não pode deixar isso acontecer (Professora do Jorge
e do Adalberto).
E tem mais dois alunos que estão concluindo esse ano que querem continuar, é
preciso continuar. Dependendo da disponibilidade deles... Podem continuar tendo
esse atendimento. Um limite de tempo x. Digamos que um ano após. Eu acho que
tinha que ser oficializado sim. Porque eles ficam perdidos. Porque se não passar no
vestibular, não tá no 3ºano, já não tá naquele convívio com todos os colegas, aquela
responsabilidade de ir à escola todo dia, não tem mais a sala de recursos. Eu acho
que perde o estímulo até pra estudar (Professora da Elisa).
121
Barreiras Institucionais ou Políticas
Somadas às dificuldades relativas ao acesso ao programa foram citadas
especialmente pelos adolescentes, seus pais e professoras da sala de recursos, algumas
barreiras institucionais ou políticas como a escassez de políticas públicas (f = 7), a falta de
apoio institucional (f = 10), falta de acesso ao mercado de trabalho (f = 8) e a falta de
oportunidade ou de espaço adequado para mostrar o talento (f = 4).
Escassez de políticas públicas. Essa subcategoria foi percebida pelos adolescentes
(f = 2), mães (f = 3), pais (f = 1) e por uma professora do ensino regular (f = 1), como
descaso aparente do governo, não somente com as questões ligadas ao atendimento do
aluno com talento, mas com políticas educacionais de uma forma geral. Com relação à
insuficiência de políticas públicas, o desabafo do pai da Elisa exemplifica de forma
abrangente a opinião dos demais participantes: “falta incentivo do governo, do povo, pra
não deixar acontecer o que tá acontecendo: escola fechando, escola pichada, escola caindo
aos pedaços... Se o governo disse que prioridade era saúde e educação, não tá tendo”.
Falta de apoio institucional. A falta de apoio institucional foi uma subcategoria
evidenciada na fala das mães (f = 4), um pai (f = 1); um irmão (f = 1) e professoras da sala
de recursos (f = 4). Esses participantes entendiam que o atendimento oferecido tinha
problemas estruturais como a ausência de um lugar fixo para o funcionamento das salas de
recursos, ambiente físico e recursos materiais adequados para que os professores pudessem
realizar as atividades na sala de recursos. Os genitores da Naiana declararam que a sala de
recursos onde sua filha era atendida estava sendo remanejada. Ao que a mãe da aluna
apontou:
Não sei se foi o secretário que pediu as salas ou foi a Regional de Ensino, que disse
que elas não vão poder mais ficar lá. Então, não tem espaço, falta muita coisa assim
por parte do governo pra essas crianças. Nós assinamos um abaixo-assinado pra ver
se permanece lá ou arruma outro lugar pra eles continuarem.
Na mesma direção, o Adalberto chamou à atenção: “eu acho que eu só vi até hoje
esse atendimento da sala de recursos, mesmo assim, ainda estão querendo acabar com ele.
Pra você ver, não tem incentivo nenhum pra superdotação”. Uma professora da sala de
recursos confidenciou:
Muitas vezes quando eu tenho um tempo disponível eu tô atrás de material porque
não tem muito apoio. A gente tem recursos mínimos, mas se quiser um material
adequado a gente não tem. Mas nós somos cobrados por um trabalho de
qualidade... mas cadê o apoio da gestão?
122
Outras duas professoras da sala de recursos discorreram sobre a falta de apoio
institucional no que se refere a espaço apropriado, recursos materiais adequados para o
trabalho com os alunos talentosos em artes e desenho. Elas informaram, ainda, que havia
um excesso de atividades extras a cargo do professor, como o preenchimento de relatórios.
Essa percepção pode ser sintetizada pela fala da professora da Elisa:
Primeiro, eu acho que o espaço físico não é ideal... O espaço físico é precário.
Número um, né? Número dois é material. A gente quase não tem material e a
maioria dos nossos alunos é carente. Número três, eu acho que há muita mudança
brusca, sabe? Você tem um monte de informações esse mês e no mês que vem não
era aquilo. Você tem que interromper muitas vezes as atividades, tem que mudar de
horários, tudo isso pra se adaptar às normas que ficam mudando o tempo todo. Não
sei se são as normas que mudam ou são desencontros de informações. É um monte
de relatórios!
Em contraponto à falta de apoio institucional, ficaram evidenciados o compromisso
das professoras da sala de recursos com o atendimento adequado dos seus alunos e a
parceria da família. Duas professoras da sala de recursos informaram que recolhiam
materiais alternativos como sucatas, revista ou compravam o material necessário e doavam
para os alunos. Nessa direção, a professora da Naiana informou: “Eu tô na rua e vejo uma
coisa legal pro meu aluno, eu pego, cato e ponho no carro. Então, assim a gente vai
juntando materiais alternativos que vão dando origem a outros trabalhos”. O compromisso
da professora da Elisa pôde ser observado quando descreveu:
Eu passo final de semana procurando revista, pesquisando, o que pode ser útil. No
mais, a gente corre atrás. A gente quase não tem material e a maioria dos nossos
alunos é carente... Eu compro, muitas vezes, material pros meninos. Eu quero que
eles trabalhem o talento... então acabo doando.
A parceria com os pais propiciava, aos alunos da professora da Naiana, a aquisição
de material adequado para o desenvolvimento das atividades em sala de recursos:
Eu trouxe os pais pra dentro da sala (de recursos). Eles participam. Se tem algum
problema os pais vêm resolver em coletividade. Com isso, não falta material. Eu
tenho tudo de primeira na minha sala. Lápis de cor, eles trabalham com o melhor
lápis, com o número maior que tem pra vender, papel, tinta.
Falta de acesso ao mercado de trabalho. Na percepção de um adolescente (f = 1),
duas mães (f = 2), um pai (f = 1) e duas professoras da sala de recursos (f = 4) era preciso
criar oportunidades para a inserção dos alunos talentosos no mercado de trabalho em sua
123
área de interesse. Para esses participantes, essa era providência que poderia evitar o
desperdício do potencial dos adolescentes. Nessa direção, a Elisa exemplificou:
Vamos supor: eu gosto de desenhar, eu poderia entrar numa gráfica pra desenvolver
e ajudar... É preciso oportunidade pras pessoas poderem trabalhar, pra ver como é
que é mesmo o trabalho. Agora, a gente sai (ensino médio) e fica assim: o que a
gente vai fazer agora?
Uma professora da sala de recursos avaliou:
O programa tem uma característica bonita, ele tem diversidade. Mas no momento
ele não esta propiciando um encaminhamento profissional pra esses alunos. Não
tem apoio, eu não me sinto apoiada. Aqui no programa tem muitos alunos que já
poderiam estar com o trabalho direcionado, com uma audiência presente, não só
exposições, mas ganhando mesmo com seu trabalho.
Falta de oportunidade e espaço adequados para mostrar o talento. A falta de
oportunidade e espaço para mostrar o talento foi uma barreira que emergiu da fala de um
adolescente (f = 1) e seus familiares (mãe, f = 1; pai, f = 1 e irmão, f = 1). Nesse sentido, o
Adalberto ponderou que nem sempre a escola é o melhor lugar para expor o trabalho dos
alunos:
Porque sempre tem que ter algum lugar onde você se avalie e melhore. E
oportunidade de você demonstrar o que você sabe fazer pros outros. Pra não ficar
só melhorando, melhorando, melhorando e ficar guardado pra você. Tem que
melhorar e mostrar. Na escola em si, o que o professor vai querer, vai querer uma
média de todos os alunos, que sejam praticamente iguais entre si, só que bons. Bons
só que iguais. Ele (professor) não vai querer que alguém se destaque do nada lá. O
que ele vai fazer? Vai deixar ele isolado lá. Na escola, um aluno superdotado, com
altas habilidades, não tem desenvolvimento nenhum. Ele se reprime na escola.
Agora, se você tiver um local pra mostrar o que você é capaz e mostrar que você
pode ser muito mais ainda e for demonstrar essas habilidades pro povo, pras
pessoas. Aí, sim.
O pai da Elisa revelou:
Se eu ganhasse mais apoio, mais espaço e lugares pra eles (alunos superdotados)
mostrarem o talento deles, seria ideal pra cada cidade, né? Eu digo no Distrito
Federal, em cada satélite, então a gente tem que correr atrás... Então, se o governo
investisse mais nos adolescentes ia ter uma Brasília muito melhor. Daqui há dez
124
anos seria melhor! Só que não é assim como a gente quer. É do jeito que eles
querem.
Barreiras Relacionadas à Difusão e Disseminação do Conhecimento sobre Talento
Entre as subcategorias de barreiras associadas à difusão ou disseminação do
conhecimento na área do talento emergiram o desconhecimento sobre o tema pelos
professores e autoridades (f = 7) e a pouca valorização ou reconhecimento do talento pela
sociedade em geral (f = 5).
Desconhecimento sobre o tema e sobre o atendimento em sala de recursos. Essa
subcategoria foi freqüente na fala dos familiares (mãe, f = 1; pai, f =1 e irmão, f = 1) e
professoras da sala de recursos (f = 2) e do ensino regular (f = 2). Na opinião dos pais e
professoras, esse desconhecimento estava associado à formação dos professores e à falta de
informação que pais e professores tinham sobre a existência desses indivíduos e de
atendimento especializado. Nesse sentido, o pai da Elisa avaliou: “Devido à gente morar
mais longe, a gente não percebia que aqui em Planaltina tinha esse colégio, de pessoas com
superação maior”.
O irmão do Jorge salientou a necessidade de serem realizadas pesquisas na área
como acontece em outros países fora do Brasil como forma de ajudar a disseminar o
conhecimento sobre a criança ou adolescente talentoso:
Devia ter uma forma de ajudar a criança ou adolescente que tem esse tipo de
raciocínio mais adiantado do que os meninos da idade dele. Como, por exemplo,
estudos. Pesquisas são feitas em outros países, como Estados Unidos da América.
Na Europa, são feitos estudos na vida da criança, no âmbito familiar, no âmbito
escolar. Assim, as pessoas conhecem mais sobre elas.
Pouca valorização e reconhecimento do talento pela sociedade. Essa
subcategoria foi freqüente na fala dos adolescentes (f = 2), mães (f = 1) e irmãos (f =
2). Eles foram unânimes em destacar o pouco reconhecimento e a desvalorização do
talento tanto na escola como na sociedade em geral: “A escola não reconhece e nem
valoriza, comentou a mãe do Jorge. “Falta as pessoas conhecerem. Tem que ver que é
um trabalho e dar valor”, corroborou seu irmão. Enquanto a Elisa ponderou: “Lá na
escola que a gente estudava eram poucas pessoas que valorizavam. Elas (professoras)
nem se importavam. Elas só se importavam quando viam realmente que a pessoa
sabia”.
125
Expectativas Futuras
Os resultados demonstraram que entre as expectativas relacionadas ao futuro dos
adolescentes talentosos sobressaíram aquelas associadas à carreira e profissão (f = 15), ao
desejo de reconhecimento e valorização do talento (f = 10) e ao aperfeiçoamento do talento
(f = 8). Subcategorias com freqüência igual a 1 foram: constituir família e ser feliz.
Carreira e profissão
A idéia de ter uma profissão relacionada com as habilidades de desenho estava no
ideário de cada adolescente (f = 5):
Eu gostaria de estar desenhando, continuar desenhando, só que o lugar eu não sei.
Queria um trabalho assim... Um emprego (Jorge).
Meu futuro, eu vejo assim: desenho, emprego e família (Adalberto).
Meu sonho, assim, é crescer, estudar muito, ter um bom emprego e sempre
continuar pintando e fazendo meus desenhos (Naiana).
Se eu continuar eu posso ser boa no que eu faço, posso ganhar melhor, posso
ganhar um reconhecimento no meio do desenho. Tipo, um brasileiro com o nome
tal, você reconhece isso pelo nome da pessoa, isso é da pessoa, essa marca é da
pessoa, isso é importante, é legal (Elisa).
Essa categoria também foi freqüente na fala das mães (f = 3), dos pais (f = 4) e das
professoras da sala de recursos (f = 3). Na percepção da família, a decisão sobre a carreira
e profissão era uma atribuição do adolescente direcionada para a sua realização pessoal,
que receberia o apoio parental. Essa atitude pode ser inferida a partir do relato da mãe da
Elisa ou do pai do Adalberto, respectivamente: “Eu espero, se ela se decidir, quiser fazer
artes, a profissão que ela escolher eu vou apoiá-la, incentivá-la” e “... o filho da gente ele
segue o que ele quer. O sonho dele é ser militar. E, computação gráfica sempre tem muito
emprego” .
Desejo de reconhecimento do talento
Essa categoria emergiu da fala dos adolescentes (f = 2), mães (f = 2), pais (f = 1),
professoras da sala de recursos (f = 4) e professora do ensino regular (f = 1). Essa
percepção estava atrelada à inserção no mercado de trabalho e ao desejo de ser reconhecido
como um bom profissional. Esse entendimento era semelhante entre esses participantes,
podendo ser resumido pela fala da professora do Jorge e Adalberto: “Ser encaminhado pro
mercado de trabalho... Faz parte da vontade deles, do seu trabalho ser valorizado, não só
por eles, não só pela família, mas num contexto profissional”.
126
Aperfeiçoamento das habilidades
Essa categoria apareceu na fala dos adolescentes (f = 2), mães (f = 1),
professoras da sala de recursos (f = 1), sendo mais freqüente entre os irmãos (f = 4).
Dos cinco irmãos que foram entrevistados, quatro tinham essa expectativa. Eles eram
unânimes em desejar que o irmão ou irmã desenvolvesse suas habilidades e se
tornassem artistas ou melhores naquilo que já faziam bem. Essa intenção pode ser
resumida pelo que disse a irmã mais velha da Elisa: “Que ela consiga um espaço pra
mostrar os desenhos... Eu acho que ela vai desenvolver mais, vai aprender mais, vai
fazer desenho industrial”.
Conselhos aos Adolescentes e suas Famílias
Os conselhos ou orientações a outros adolescentes e suas famílias foram
recomendados exclusivamente pelos adolescentes, suas mães e irmãos. Esses conselhos ou
orientações foram expressos em termos da manutenção do apoio e incentivo familiar
(adolescentes, f = 1; mães, f = 7; irmãos, f = 4), da persistência (correr atrás e nunca
desistir) (adolescentes, f = 4) e da busca pelo aperfeiçoamento das habilidades
(adolescentes, f = 2).
Apoio e incentivo familiar
Os conselhos dirigidos aos adolescentes podem ser resumidos na fala da Naiana:
“nunca desistir, como eu nunca desisti. Demorou esse tempão pra me chamarem, mas eu
nunca desisti”.
Entre os conselhos dirigidos às famílias destacamos àqueles dirigidos à família em
geral e a membros em particular. Com relação à família em geral, foi recomendado
“sempre aconselhar, sempre tá junto, nunca deixar de lado. Porque se deixar de lado a
gente perde as esperanças”. Entre os conselhos dirigidos a membros específicos da família,
elegemos um dirigido aos irmãos: “Então é apoiar mesmo, dar todo apoio, toda força,
ajudar mesmo quando precisa. Às vezes, eu fico olhando Naiana, isso aqui tá torto, isso tá
melhor, pinta assim... Eu diria isso, vamos apoiar, ser amigo”.
Aperfeiçoamento das habilidades
Essa categoria foi exclusiva da fala dos dois adolescentes do gênero masculino (f =
2). Nesse sentido, o Jorge e o Adalberto enfatizaram, respectivamente: “Eu mandava ele
127
criar os desenhos sem copiar pra ele se aperfeiçoar mais um pouco” e “tem que pegar no
pé dele, pra ele se aperfeiçoar. Aperfeiçoar as habilidades”.
No sentido de resumir os resultados encontrados com relação às estratégias
implementadas pelos adolescentes talentosos, suas famílias e rede de apoio social,
destacamos:
As estratégias implementadas pela família e escola que mais auxiliam no
desenvolvimento do talento foram: o atendimento em sala de recursos, a
participação em eventos.
O suporte familiar foi um dos principais fatores promocionais do
desenvolvimento do talento. Ele foi descrito em termos do elogio,
reconhecimento, monitoramento, incentivo, priorização da educação pela
família, o investimento parental de tempo e recursos e a intervenção
materna nos processos de identificação e encaminhamento do aluno.
O atendimento do aluno talentoso em sala de recursos foi apontado como
um fator que contribui para o reconhecimento e valorização do talento, o
aperfeiçoamento das habilidades superiores e o acesso a oportunidades.
Foram apontadas barreiras educacionais ao desenvolvimento do talento
entre as quais se destacaram: a dificuldade de acesso ao programa, a
formação precária dos professores que atuam no ensino regular e a
descontinuidade do atendimento após a educação básica.
Entre as barreiras institucionais foram elencadas a escassez de políticas
públicas e o apoio institucional para a promoção do talento. No entanto, é
importante ressaltar a parceria entre pais e professores na tentativa de
diminuir o impacto negativo desses fatores.
Os participantes apontaram a necessidade de maior divulgação do tema, por
meio de estudos e pesquisas, para uma maior valorização e envolvimento da
sociedade no desenvolvimento do talento.
A expectativa futura predominante entre os adolescentes entrevistados e
seus familiares foi o acesso a uma carreira profissional próxima à área de
talento do adolescente.
Entre os conselhos dirigidos às famílias, o incentivo e apoio familiar se
somaram ao desejo de aperfeiçoamento do talento.
128
Questão de Pesquisa 7: Qual a definição que os adolescentes talentosos, seus
familiares e seus professores têm sobre superdotação e talento?
Os dados analisados para responder a essa questão foram coletados na primeira e na
segunda fase de coleta de dados descritas no capítulo anterior. Na primeira fase, dos 42
adolescentes participantes, 38 responderam aos itens finais da Lista de Habilidades,
Interesses, Preferências, Características e Estilos de Aprendizagem que versavam sobre
aspectos relacionados à definição de talento e superdotação. Da mesma forma, os itens
finais do Questionário para Caracterização do Sistema Familiar indagavam os pais sobre os
mesmos aspectos. Entre os 40 participantes que responderam ao Questionário, apenas 28
mães e 2 pais registraram sua percepção. Todos os participantes da segunda fase de coleta
de dados responderam aos itens que constavam no protocolo de entrevista sobre a
definição de talento e superdotação, acrescentando sua opinião sobre o adolescente, foco
da pesquisa. As freqüências expressas nessa seção dizem respeito ao número de respostas
emitidas pelos participantes.
Definição de Talento
Resultados da Lista de Habilidades, Interesses, Preferências, Características e Estilos de
Aprendizagem e Questionário para Caracterização do Sistema Familiar
Os participantes (adolescentes, n = 38; mães, n = 28 e pais, n= 2) definiram talento
como um conjunto de fatores relacionados com desempenho superior (f = 34), habilidades
acima da média (f = 33), facilidade para aprender (f = 10), dom (f = 8), habilidade inata (f
= 7), criatividade (f = 4), interesse ou motivação (f = 3). Outros fatores pouco
mencionados, com freqüência igual a 1, foram: atingir metas, é algo que todo mundo tem,
inclinação para uma área específica, ser admirado ou notado, ciências naturais, são pessoas
que se superam. Cinco adolescentes e três mães não responderam à questão sobre o
conceito de talento.
Desempenho superior. O desempenho superior foi definido pelos adolescentes (f =
20), mães (f = 13) e pai (f = 1) como a capacidade para fazer ou executar algo bem, com
dedicação ou prazer. As duas frases a seguir resumem as respostas escritas por esses
participantes: “Talento é aquilo que alguém faz de melhor” ou “alguma coisa que alguém
faz muito bem”.
129
Habilidades acima da média. As habilidades acima da média foram definidas pelos
adolescentes (f = 13) e mães (f = 20) em termos de habilidade específicas superiores em
áreas como computação, física, química, artes, desenho ou escrita. Essas habilidades
diferenciam e destacam o indivíduo talentoso de outras pessoas por sua aptidão ou
destreza. Podemos sintetizar a idéia que esses participantes tinham sobre essa categoria a
partir da resposta dada por um adolescente: “É quando temos algo que se destaca em nós,
tanto na arte, quanto nas matérias, ou seja, dominar computação, artes em geral, física,
química etc”.
Facilidade para aprender. A facilidade para aprender foi descrita pelos
adolescentes (f = 10) e por uma mãe (f = 1) como a capacidade de aprender coisas de seu
interesse ou relacionadas à sua área de habilidade com pouca ajuda ou sozinho
(autodidatismo). “É algo que alguém faz sem ninguém ensinar e desenvolve de maneira
habilidosa”.
Dom. O talento foi percebido pelos adolescentes (f = 4) e mães (f = 4) como algo
especial, inexplicável ou divino. A idéia dos adolescentes estava mais voltada para uma
característica especial que acompanha a pessoa e que não tem uma explicação: “Talento é
algum dom que acompanha uma pessoa, e que, geralmente, faz as pessoas admirarem e
notarem ela.” Para as mães, o dom estava relacionado a algo divino que podia ser
desenvolvido: “um dom de Deus para certas áreas” e “talento é um dom que com o tempo
a pessoa vai disciplinando”.
Habilidade inata. O talento foi definido pelos adolescentes (f = 3), mães (f = 3) e
pai (f = 1) como uma aptidão natural que nasce com a pessoa, algo “que já é da pessoa.
Não se conquista, já nasce com ela”. A habilidade inata estava mais vinculada à
hereditariedade, diferente do dom que tinha uma conotação sobrenatural ou divina.
Criatividade. A criatividade foi definida pelas mães (f = 3) e adolescente (f = 1)
como a capacidade para pensar ou fazer algo novo, original e diferente e como uma
característica da pessoa. O talento para esses participantes era uma “demonstração de
criatividade”.
Interesse ou motivação. O interesse e a motivação eram reconhecidos pelas mães (f
= 3) como uma característica de quem se dedica e tem interesse maior por uma área de
conhecimento, cujo “desempenho é bom, porque se propõe a fazer com dedicação, gosto e
prazer”.
130
Resultados das Entrevistas
Responderam às perguntas sobre talento, 4 adolescentes, 4 mães, 3 pais, 5 irmãos, 3
professoras da sala de recursos e 2 professores do ensino regular. Os resultados
evidenciaram que a maioria dos entrevistados diferenciava e utilizava de maneira distinta
os termos talento e superdotação (n = 18). Ficou evidenciado também, que as professoras
(sala de recursos, n = 3; ensino regular, n = 2) preferiam empregar as expressões talento ou
altas habilidades para identificar os alunos que eram atendidos no Programa. Duas
professoras da sala de recursos e uma do ensino regular declararam:
Eu acho que a minha dificuldade, na verdade, é absorver o nome superdotado, essa
nomenclatura, esse conceito... Eu trabalhar com um aluno e falar você é
superdotado, jamais! Eu acho muito pesado, eu acho difícil esse conceito. Você é
superdotado, até mesmo na área de talento, eu identificando isso é uma
responsabilidade (Professora da Elisa).
Porque essa palavra super, ela ganha texto e eu tenho certeza que pelo diálogo que
eu já ouvi na sala, pelo diálogo que já trocamos com alunos e pais, é muito forte, e
acaba sendo um peso. Eu gosto muito de falar altas habilidades, porque é outro
termo... E dá uma certa leveza (Professora do Jorge e Adalberto).
Eu não concordo com esse rótulo, pra mim a pessoa pode ter altas habilidades em
uma área só (Professora do ensino regular).
Essa preferência foi demonstrada inclusive quando uma professora da sala de
recursos se referia ao seu local de trabalho a terceiros:
Encontro amigos, pessoas com as quais eu estava trabalhando em outro lugar, e me
perguntam: Onde você está? Eu digo que eu estou no Programa de Altas
Habilidades e Superdotação. ___ Nossa! Você agora está trabalhando com a nata da
sociedade! Você agora é uma profissional de elite. E isso me causou medo. A partir
daquele momento, eu não disse mais que estava no Programa para Superdotados.
Em respeito aos meus alunos, em respeito ao programa. Porque eu sei que o
Programa é muito mais do que isso.
Os entrevistados definiram talento como facilidade para aprender ou executar
atividades específicas (f = 12); habilidades superiores em áreas específicas (f = 10),
criatividade (f = 5), algo que pode ser desenvolvido (f = 5), determinação e esforço pessoal
(f = 4) e dom (f = 3). Além disso, eles consideravam que existem vários tipos de talentos,
em várias áreas e não somente em artes (f = 2). Outras características associadas ao
conceito de talento, com freqüência igual a 1 foram: desempenho escolar acima da média,
131
ser reconhecido precocemente, algo que temos de mais precioso como seres humanos,
habilidade inata e ser bem educado.
Para definir o talento, uma professora da sala de recursos usou a seguinte metáfora:
Talento pra mim é o que nós temos de mais precioso. Ele atua como a coruja. A
coruja ela olha em todas as direções. É como a águia. O olhar da águia vai muito
longe... E na maioria das vezes ela é certeira, porque ela foca. Talento pra mim é o
ser humano em si.
Facilidade para aprender ou executar atividades específicas. Essa categoria foi
descrita pelos adolescentes (f = 2), mães (f = 1), pais (f = 1), irmãos (f = 2), professoras da
sala de recursos (f = 2) e professoras do ensino regular (f = 2) como a habilidade de
executar tarefas e atividades de maneira diferente das demais pessoas, de forma correta e
com maior facilidade. Podemos sintetizar a percepção dos participantes com o relato da
irmã mais velha e da mãe da Elisa, respectivamente: “Acho que talento é algo que você
faz, que ninguém mais faz” e “Talento? É uma, vamos dizer, uma coisa especial no caso,
que a pessoa tem. Ela consegue fazer coisas que uma outra pessoa não consegue fazer
Habilidades superiores em uma área específica. As habilidades específicas
superiores foram definidas, pelos adolescentes (f = 1), mães (f = 3), irmãos (f = 2),
professoras da sala de recursos (f = 2) e professoras do ensino regular (f = 2), vinculadas às
áreas de interesse dos alunos em que eles se destacavam por sua facilidade de desempenho.
Essa categoria pode ser resumida por meio da percepção da mãe do Adalberto: “é a pessoa
que tem habilidades superiores, que consegue resolver uma atividade, seja manual ou
intelectual, é com muito mais facilidade do que outras”.
Criatividade. A criatividade foi uma categoria exclusiva da fala dos irmãos (f = 5)
que definiram talento como uma característica pessoal relacionada à habilidade de inventar
coisas, criar novas possibilidades e ter idéias originais e incomuns. Essa idéia é bastante
consistente na fala do irmão do Jorge, que resume bem o que foi dito pelos demais irmãos:
Acho que uma pessoa talentosa, pra mim, tem idéias novas, com um material que as
pessoas normais utilizam, ela faz algo novo, algo diferente. Uma pessoa talentosa,
no caso dele (Jorge); qualquer pessoa com lápis e papel na mão sabe fazer um
desenho, mas ele tem a criatividade; ele não faz apenas o desenho ele faz uma coisa
nova, diferente.
Característica que pode ser desenvolvida. Os pais (f = 3) e as professoras da sala
de recursos (f = 2) identificaram o talento como algo que pode ser “desenvolvido,
aperfeiçoado e amadurecido ao longo do tempo”.
132
Determinação e esforço pessoal. O esforço e a determinação pessoal, na opinião
dos familiares (mães, f = 2; pais, f = 1 e irmãos, f = 1), são características que tornam um
indivíduo talentoso. Nesse sentido, a mãe da Elisa declarou: “O aluno talentoso é
simplesmente um aluno esforçado, entendeu? Não é aquele aluno, assim, gênio, é porque
ele é esforçado”.
Dom. A percepção de talento como um dom divino é uma categoria que aparece na
fala das mães (f = 2) e irmãos (f = 1). A fala da mãe do Jorge exemplifica de forma
abrangente essa percepção: “Eu acredito que talento é quando a gente nasce
predestinado, já com um dom, a facilidade de aprender alguma coisa, pra mim é assim”.
Definição sobre Superdotação
Resultados da Lista de Habilidades, Interesses, Preferências, Características e Estilos de
Aprendizagem e Questionário para Caracterização do Sistema Familiar
Com relação ao conceito de superdotação, os adolescentes e seus pais definiram
esse fenômeno como um conjunto de traços associados a conhecimentos e habilidades
extremas ou incomuns (f = 29), inteligência superior (f = 24), facilidade para aprender (f =
22), criatividade (f = 5) e dom (f = 5). Outras características utilizadas para definir
superdotação, pelos adolescentes, com freqüência igual a 1 foram: ser uma pessoa normal,
ter muitos talentos e ser uma “locomotiva sem noção mental”. Entre as mães, as
características pouco mencionadas foram: persistência, esforço e cuidar com carinho de
uma criança. Entre os pais, apenas uma categoria teve freqüência igual a 1: ser diferente.
Conhecimentos e habilidades superiores. Essa categoria foi definida pelos
adolescentes (f = 18) e mães (f = 11) como capacidade ou habilidade aguçada, excepcional,
incomum, extraordinária, extrema ou talento acima do normal. Na opinião de um
adolescente “é a capacidade excepcional em determinada área do conhecimento, que
permite que o indivíduo realize feitos significativos e originais em tal matéria”. Na mesma
direção, uma mãe escreveu; “é um talento diferenciado e com habilidades especiais super
desenvolvidas”.
Inteligência superior. A inteligência superior foi descrita pelos adolescentes (f = 9),
mães (f = 14) e pais (f = 1) como inteligência fora do padrão, raciocínio lógico rápido,
memória superior, ter conhecimento avançado, ser “uma pessoa mais inteligente” ou um
“menino que sabe tudo”. A percepção desses participantes pode ser sintetizada pelo que
escreveu um pai e uma mãe, respectivamente: “acredito que é uma situação de poucos,
133
pessoa com inteligência fora do padrão” e “pessoa inteligente que termina os estudos mais
cedo, inteligência acima da média”.
Facilidade para aprender. A facilidade para aprender foi vinculada pelos
adolescentes (f = 11) e mães (f = 11) à rapidez no processamento mental de informações,
apreensão correta de conceitos, capacidade de absorção acima da média, autodidatismo ou
facilidade de assimilar coisas. Selecionamos duas respostas que sintetizam bem o
pensamento dos participantes. Nas palavras de um adolescente é “quando alguém não
precisa de outras pessoas para ensinar certas coisas”. Uma mãe definiu: “É a pessoa que
sabe fazer algo sem nunca ter recebido instrução, autodidata ou que aprende muito cedo ou
que está além das expectativas”. E uma outra, ainda, ponderou “pessoa que tem capacidade
de aprender assuntos complexos com plena facilidade”.
Criatividade. A criatividade foi avaliada pelos adolescentes (f = 1) e suas mães (f =
4) como a capacidade de fazer coisas novas, diferentes ou originais. Essa categoria aparece
principalmente na fala das mães que eram professoras. Elas relacionaram a criatividade às
habilidades acima da média e aos aspectos motivacionais, o que pode evidenciar que essas
mães adotavam o conceito utilizado pelos profissionais que atuavam no Programa: “é
quando uma pessoa possui habilidade acima da média, ou talento em determinada área ou
assunto que lhe confere um desempenho superior, estando presentes também o interesse, a
motivação e a criatividade”.
Dom. Os adolescentes (f = 2) e suas mães (f = 3) percebiam a superdotação como
um dom divino mais aperfeiçoado. Essa categoria pode ser resumida pelo que escreveu um
adolescente “são pessoas que nascem com um dom maior que os outros. São pessoas que
têm um nível de sabedoria maior, dado por Deus”.
Resultados das Entrevistas
Os resultados obtidos por meio da análise de conteúdo das entrevistas sugerem, a
partir da fala dos pais, que o conceito de superdotação recebe influência da mídia televisa
(f = 3). Nesse sentido, o pai da Elisa declarou: “Superdotação. A criança que já nasce... As
novelas mesmo falam que, as crianças que imaginam um acidente, imaginam coisas, né... e
como o pessoal elevado, né. Um ser humano que tem mais neurônio que o outro”. O pai
da Naiana, do mesmo modo, complementou: “na televisão mostra um menino não sei
quantos anos já lê, faz tudo sozinho... Isso que eu acho que é superdotado”. E, por fim, o
pai do Adalberto mencionou: “Superdotado, que eu já ouvi falar na televisão, e que eu
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acho que é uma pessoa muito inteligente, já veio assim desde criança, tudo que ela vai
fazer não precisa ensinar que ela já sabe tudo”.
A superdotação foi definida como um conjunto de habilidades e conhecimentos
superiores (f = 13), facilidade para aprender (f = 9), inteligência excepcional (f = 8) e
habilidade inata (f = 4). Outros fatores também associados à superdotação pouco
mencionados (f = 1) foram: é um rótulo “muito forte”, pessoa esforçada, ser diferente e
possuir déficit em algumas áreas.
Habilidades e conhecimentos superiores. Esse conjunto de habilidades e
conhecimentos superiores foi definido pelos adolescentes (f = 2), mães (f = 1), pais (f = 2),
irmãos (f = 1), professoras da sala de recursos (f = 3) e professoras do ensino regular (f =
4) como avançado, excepcional, fora do padrão e incomum ou um “talento mais
acentuado”.
Facilidade para aprender. A facilidade para aprender foi concebida como
autodidatismo e a capacidade de aprender com maior rapidez e de forma correta. Essa
categoria aparece na fala dos adolescentes (f = 2), pais (f = 3) e irmãos (f = 4). A opinião
de um irmão reflete resumidamente a percepção dos demais participantes: “é a pessoa que
tem um conhecimento, que tá num nível de estudo, de aprendizado, maior do que os outros
da mesma idade, que aprende mais rápido e certo”.
Inteligência excepcional. A inteligência excepcional aparece apenas na fala dos
adolescentes (f = 2) e seus familiares (mães, f = 1; pais, f = 4 e irmãos, f = 1). A
inteligência do superdotado era percebida como avançada, extraordinária, incomum e
relacionada com a facilidade de aprender e o inatismo. Essa percepção pode ser
exemplificada pela fala de um pai: “superdotado é uma pessoa muito inteligente, já veio
assim desde criança, tudo que ela vai fazer não precisa ensinar que ela já sabe tudo”
Habilidade inata. A superdotação associada a uma condição inata, inerente à
pessoa desde o seu nascimento, e apontada como hereditária, foi relatada apenas pelas
mães (f = 2) e pais (f = 2). Essa percepção pode ser resumida pela fala da mãe do
Adalberto: “Adalberto nasceu com isso, porque não foi ensinando pra ele, ele desenvolveu
ali sozinho, no dia-a-dia dele, uma coisa hereditária”.
135
Identificação dos Adolescentes como Talentosos ou Superdotados
Resultados da Lista de Habilidades, Interesses, Preferências, Características e Estilos de
Aprendizagem e Questionário para Caracterização do Sistema Familiar
Além das questões sobre o conceito de talento e superdotação foi pedido aos
adolescentes para assinalarem se eles se consideravam superdotados ou talentosos. Dos 38
adolescentes que responderam à Lista de Habilidades, Interesses, Preferências,
Características e Estilos de Aprendizagem, 20 se consideravam exclusivamente como
talentosos, 8 como superdotados e talentosos, 6 como superdotados e 4 não se
consideravam nem como superdotado e nem como talentoso.
Os 20 adolescentes que se avaliaram como talentosos apresentaram como
justificativa o autodidatismo ou facilidade para aprender sozinho (f = 11), a facilidade para
executar tarefas ou atividades com nível de desempenho superior (f = 11), possuir
habilidades específicas superiores (f = 7), ser reconhecido como uma pessoa talentosa (f =
7) e ter idéias interessantes ou criativas (f = 2). Outras explicações mencionadas por
adolescentes com freqüência igual a 1 foram: ter uma elevada auto-estima, procurar
descobrir talentos em si mesmo, gostar de fazer o bem, ter um dom além do normal, ser
persistente, expressar-se bem , relacionar-se bem e ter uma característica inerente a todo
ser humano.
Entre esses 20 adolescentes, 16 apresentaram motivos pelos quais não se
consideravam superdotados. Eles acreditavam possuir habilidades e conhecimentos
comuns (f = 12), tinham dificuldade de aprendizagem em alguma área ou disciplina (f = 8),
tinham necessidade de aprimorar e aperfeiçoar suas habilidades (f = 3) e não se sentiam
especiais ou diferentes (f = 3) e achavam o termo superdotado exagerado, e não se
enquadravam no perfil (f = 3).
As justificativas mais utilizadas pelos 8 adolescentes que se consideravam tanto
talentosos como superdotados foram a facilidade de aprender, desenhar e agir (f = 10), ter
um desempenho superior nas atividades que realizava (f = 3), ter muitas habilidades (f =
2). Outros argumentos utilizados com freqüência igual a 1, foram: ter uma alta auto-estima,
observar muito, ter seus talentos e habilidades reconhecidos, ter um dom, ser criativo,
tomar iniciativa e sentir-se superdotado.
Entre os 6 adolescentes que se consideraram exclusivamente superdotados, os
argumentos utilizados foram: a facilidade para aprender coisas e o destaque naquilo que
faziam (f = 6), realizar coisas e ter idéias criativas (f = 2) e tirar boas notas na escola (f =
136
2). Entre os argumentos com freqüência igual a 1 estavam: ter habilidades aguçadas, ser
diferente, ter inteligência superior e ter realizado muitas experiências.
Quatro adolescentes não se consideravam nem talentosos e nem superdotados. As
justificativas apresentadas por esses adolescentes foram: não se considerar diferente ou
especial quando comparado a outros adolescentes (f = 4) e ter dificuldades em aprender
certas disciplinas (f = 1).
Infelizmente, devido a uma falha na impressão dos Questionários para
Caracterização das Famílias, os pais não responderam se reconheciam ou não seus filhos
como superdotados ou talentosos.
Resultados das Entrevistas
Quando perguntamos especificamente aos entrevistados se os quatro adolescentes,
foco da pesquisa, eram talentosos ou superdotados, as respostas foram as seguintes: 13
participantes consideraram os adolescentes exclusivamente como talentosos, 5
participantes os avaliaram como superdotados, 2 participantes os identificaram como sendo
talentosos e superdotados indistintamente e uma professora da sala de recursos preferiu não
rotular os seus alunos (veja detalhes na Tabela 18).
Tabela 18
Identificação dos Adolescentes como Talentosos ou Superdotados
Adolescente
Reconhecido
como
Reconhecido pelo (a)
Próprio
Adolescente
Mãe Pai Irmãos Professora
da SR
Professora
do ER
Jorge Talentoso X X - - - - -
Superdotado X X - X - XX
Adalberto Talentoso X X X - - -
Superdotado - - - X - -
Naiana Talentosa X X X X X -
Superdotada - - - -- - -
Elisa Talentosa X X - XX X -
Superdotada - - X -- - -
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No sentido de sintetizarmos os resultados relacionados ao conceito de talento e
superdotação, destacamos:
Os participantes, de uma forma geral, demonstraram ter maior dificuldade
em utilizar o termo superdotação para identificar o adolescente com
habilidades superiores. Havia entre as professoras uma preferência pelo uso
das expressões altas habilidades e talento.
Algumas categorias foram consideradas comuns na definição de talento e
superdotação: habilidade e desempenho superior ou acima da média,
facilidade para aprender, criatividade e dom. Isso pode indicar uma fraca
diferenciação entre os termos, apesar dos participantes informarem o
contrário.
A elaboração do conceito de superdotação pareceu ser mais influenciada
pela mídia televisa.
Ao definirem superdotação, os participantes associaram aos atributos
superlativos como: extremo, incomum, fora do padrão, extraordinário,
avançado e excepcional. Isso parece indicar que na percepção desses
indivíduos a superdotação seria um nível mais avançado ou extremo do
talento.
A metade dos adolescentes foi reconhecida como talentosa, em torno de
30% foram avaliados como talentosos e superdotados, 15% se avaliaram
exclusivamente como superdotados e 15% se consideravam pessoas
comuns, nem talentosos e nem superdotados.
Os resultados da segunda fase corroboram os resultados obtidos na primeira
fase de coleta de dados.
138
CAPÍTULO VI
DISCUSSÃO
Neste capítulo, serão discutidos, em primeiro lugar, os aspectos teórico-
metodológicos do estudo e, em seguida, os resultados apresentados no capítulo anterior. As
características individuais e familiares dos adolescentes talentosos serão discutidas a partir
das interações inter e intra-sistêmicas que envolviam o adolescente, a família, a escola e
sua rede de apoio-social.
Aspectos Téorico-Metodológicos
Pressupostos Teórico-Metodológicos
Esse estudo foi realizado com base nos pressupostos teórico-metodológicos
sistêmicos desenvolvidos por Bronfenbrenner em seu Modelo Biológico do
Desenvolvimento Humano (1977, 2004). A partir dessa perspectiva, o individuo é
concebido a partir de um amplo e dinâmico conjunto de variáveis multiníveis
interconectadas que envolvem o organismo inserido em ambiente multidimensional. Com
isso, para descrever características individuais e familiares de adolescentes talentosos,
foram investigados os microssistemas: indivíduo, família e escola e suas relações
mesossistêmicas. As estruturas do crono e macrossistema associadas ao desenvolvimento
do talento foram examinadas a partir de questões contidas no Questionário para
Caracterização do Sistema Familiar e nos roteiros de entrevista semi-estruturada.
A adoção dos pressupostos teórico-metodologicos apontados no Modelo
Bioecológico trouxe implicações para o planejamento de pesquisa, no sentido de considerar
os processos e interações microssistêmicas e para a estratégia de coleta de dados. A coleta
de dados foi realizada em duas fases, visando o detalhamento de vários processos que
envolvem o desenvolvimento do talento e uma visão mais abrangente do que os
participantes percebiam sobre o objeto de estudo. Mapear as características individuais e
familiares de adolescentes é uma tarefa complexa. Essa atividade envolve, no mínimo, a
integração dos resultados obtidos, uma vez que esses atributos refletem de forma ativa,
seletiva, estruturada e simultânea uma orientação dos aspectos multiníveis do organismo e
do ambiente.
139
Delineamento da Pesquisa
Esta pesquisa teve delineamento descritivo e procedimento de coleta que envolveu
a triangulação dos dados e a análise descritiva e inferencial. O estudo descritivo é uma
fonte valiosa de levantamento de evidências e formulação de hipóteses por apresentar
informação detalhada sobre incidência ou prevalência de eventos e características com
relação à população estudada e possibilitar o estabelecimento de relação entre variáveis.
No entanto, seus resultados não indicam relações de causa e efeito, têm pouco valor
preditivo e não possuem representatividade estatística da população em estudo. Esse tipo
de estudo exige, ainda, o domínio técnico do assunto ou fenômeno a ser estudado e maior
capacidade interpretativa do pesquisador (Denzin & Lincoln, 2000; Günther, 2006).
Com relação à representatividade, o pequeno número de alunos talentosos sendo
atendidos em classes ou programas específicos traz implicações sobre o planejamento de
pesquisas. Com relação à seleção de participantes, por exemplo, não é possível adoção de
técnicas de amostragem randômica. Com isso, os resultados desses estudos são pouco
generalizáveis. Essa realidade, de certa forma, reflete a atual conjuntura do atendimento
desses indivíduos e reforça a necessidade de serem ampliados os programas e serviços
destinados a essa modalidade de ensino especial.
Procedimentos e Coleta de Dados
Além da complexidade relacionada à adequação dos pressupostos teórico-
metodológicos ao planejamento da pesquisa, alguns aspectos macro e cronossistêmicos
interferiram no processo de coleta de dados e no pareamento dos alunos para a segunda
fase de coleta de dados, entre os quais destacamos: (1) o momento de transição política e
de gestão na Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal com exigência de
recadastramento dos alunos atendidos no Programa; (2) o envolvimento das salas de
recursos em exposições e mostras de trabalho dos alunos e (3) o número reduzido de
alunas sendo atendidas no programa. Esses fatores impediram a participação de um
contingente maior de alunos na pesquisa, não somente pelo grande número de instrumentos
e fichas a serem preenchidos pelos alunos e suas famílias, como também pelo fato desses
adolescentes, no segundo semestre, terem um maior volume de projetos e produções sendo
finalizados para os eventos agendados pelas salas de recursos.
Com relação à coleta de dados, cabe salientar o interesse e a cooperação dos
professores itinerantes, psicólogos e professores das salas de recursos em participar da
pesquisa. Os alunos foram indicados por esses profissionais e o contato inicial com as
140
famílias foi mantido por estes. Todos os que o fizeram se mostraram muito receptivos e
responsivos com relação aos objetivos da pesquisa. Tanto os pais como os professores
fizeram questão de registrar o desejo de que o aumento nas pesquisas na área pudesse
contribuir para a melhora das condições de atendimento das pessoas talentosas no país.
Ainda com relação aos procedimentos adotados, a coleta de dados fluiu melhor
quando os instrumentos foram entregues diretamente aos pais dos adolescentes para serem
preenchidos na sala de recursos. Aproximadamente, 15% dos instrumentos enviados aos
pais pelos adolescentes foram extraviados ou demoraram a retornar, sendo que alguns
tiveram que ser novamente preenchidos.
Limitações Metodológicas
Uma limitação metodológica deste estudo pode ser considerada a indicação dos
alunos pelos professores. A nomeação ou recomendação dos alunos ou famílias poderia
ocorrer em função da relação afetiva de maior proximidade com o professor, do nível de
produção mais elevado, de famílias com características mais responsivas ou com padrões
sócio-culturais mais semelhantes ao dos professores. No sentido de minimizar esse
impacto, pedimos aos professores que indicassem o maior número de adolescentes com
idade entre 12 e 18 anos, com o objetivo de cobrir todo o período da adolescência e que
fossem representativos dos vários extratos sociais. Os alunos e famílias que participaram
do estudo eram provenientes de distintas camadas sociais. É importante ressaltar,
entretanto, com relação à idade, que o número de adolescentes que freqüentam o Programa,
com idade superior a 16 anos, é menor quando comparado com os pré-adolescentes e
crianças, em virtude da ênfase do atendimento no Programa estar voltada para o Ensino
Fundamental (Distrito Federal, 2006).
Outro ponto importante a ser considerado na discussão das limitações deste estudo
é o fato dos instrumentos não terem sido aplicados exclusivamente pela pesquisadora, mas
em sua maioria pelos professores e psicólogos do Programa. Essa estratégia pode
comprometer a padronização do processo de coleta de dados devido à impossibilidade de
controle de variáveis intervenientes como a maneira como o adolescente e a família foram
abordados para participar da pesquisa, o tipo de orientação inicial apresentada a cada
participante, as explicações direcionadas a dúvidas ou questionamentos relacionados ao
preenchimento dos instrumentos, a ordem de aplicação entre outras. Essas variáveis podem
influenciar na maneira como o respondente elaborou a sua resposta aos instrumentos. No
sentido de minimizar o impacto desses fatores no processo de coleta de dados, foi
141
elaborado documento contendo orientações de preenchimento dos instrumentos e o passo a
passo do procedimento a ser adotado (veja Anexo 10). Também é importante ressaltar a
experiência que esses profissionais tinham no preenchimento de instrumentos avaliativos e
de pesquisa.
Mesmo tendo sido tomados os cuidados oportunos e terem sido efetuadas as
revisões necessárias, cabe ressaltar, ainda, com relação à coleta de dados, a falha na
impressão da última página do Questionário para Caracterização do Sistema Familiar que
inviabilizou a comparação entre a percepção dos adolescentes sobre si mesmos e a
percepção dos pais com relação à identificação do adolescente como superdotado ou
talentoso.
Contribuições do Estudo
Consideramos uma relevante contribuição desse estudo, a investigação dos fatores
individuais e familiares que envolvem o desenvolvimento do adolescente talentoso a partir
de uma perspectiva sistêmica apoiada no Modelo Bioecológico de Bronfenbrenner. Essa
postura vem preencher uma lacuna mencionada por Schilling, Sparfeldt e Rost (2006) nos
estudos da área. Nesse sentido, o indivíduo foi considerado um sistema organizado e
integrado ao contexto sócio-histórico-cultural onde está inserido. Por isso, os processos
que o envolvem não devem ser investigados de forma isolada. Da mesma maneira, a
família foi concebida como um sistema aberto que se move através do tempo e que recebe
influência do ambiente proximal e distal e que tem sua dinâmica modificada a partir do
funcionamento de seus vários subsistemas: conjugal, parental e fraternal (Carter &
McGoldrick, 1995; Minuchin, 1990). As relações e interações familiares também são
modificadas pelas características individuais de seus membros e pelas crenças e valores
que permeiam suas práticas e vivências. A família sofre transformações ao longo de seu
ciclo e influencia os demais sistemas com os quais se relaciona. Essas relações impactam,
modificam e re-significam os seus processos internos e externos e as interações entre os
seus membros.
Esse entendimento foi refletido no planejamento da pesquisa e na triangulação dos
dados. Com isso, foram selecionados instrumentos que pudessem captar a percepção dos
adolescentes sobre si mesmos e de pessoas que participavam de dois microssistemas de
fundamental importância para o desenvolvimento do talento: a família e a escola. A família
foi acessada por meio de indivíduos que participavam de dois diferentes subsistemas
142
familiares: parental (mães e pais) e fraternal (irmãos) e a escola pelos subsistemas: sala de
aula do ensino regular e sala de recursos.
Também no planejamento da pesquisa foram consideradas as observações de
Schilling, Sparfeldt e Rost (2006), associadas aos critérios de seleção da amostra do estudo
com famílias. Especialmente na segunda fase de coleta de dados, foram estabelecidos
critérios que abrangeram a variabilidade de idade entre os participantes, o tipo de talento, a
constelação familiar e o status sócio-econômico.
Os resultados relacionados às características familiares representam outra relevante
contribuição, uma vez que evidenciaram diferenças na percepção do adolescente talentoso
sobre aspectos ligados à comunicação, uso do tempo, ensino, satisfação e frustração
parental e necessidades de informação entre pais e mães. Esses aspectos devem ser mais
bem investigados em pesquisas futuras.
De certa forma, esse estudo inaugura o entendimento sobre o relacionamento do
adolescente talentoso com seus irmãos, revelando uma relação parcialmente conflituosa.
Os irmãos desses adolescentes parecem ser mais cobrados em termos de suas habilidades
ao serem comparados com seus irmãos talentosos. Apesar dessa constatação, aqueles
também informaram apreciar e admirar o desempenho desses irmãos. Esses resultados, do
mesmo modo, precisam ser melhor explicados, por exemplo, à luz das transformações que
ocorrem durante a adolescência, da comparação entre famílias com e sem adolescentes
talentosos e da posição ordinal familiar, uma vez que há um prevalência de adolescentes
talentosos que são primogênitos, únicos e caçulas.
Resultados
Características Individuais: Habilidades e Preferências
Com relação às características individuais ficou demonstrado que os adolescentes
talentosos diferiam entre si em função do tipo de talento que possuíam. As diferenças
foram mais acentuadas entre adolescentes com duplo talento quando comparados aos com
talento artístico e acadêmico. Essa diferença foi mais evidenciada, principalmente, com
relação à habilidade musical. Entre os adolescentes com duplo talento essa habilidade
ocupou a primeira posição entre aquelas em que tinham melhor performance, enquanto
entre os adolescentes com talento acadêmico e artístico ocupava as últimas posições. Esses
resultados parecem, no entanto, mediados pelo número menor de participantes com duplo
talento.
143
Também entre adolescentes com talento acadêmico e artístico houve diferenças nas
performances informadas em várias habilidades. Os adolescentes com talento acadêmico,
por exemplo, percebiam suas habilidades na área intrapessoal, lógico-matemática e
mecânica-construção de maneira mais positiva quando comparados aos adolescentes com
talento artístico. Por outro lado, os adolescentes com talento artístico declararam ser mais
criativos, ter maior sensibilidade ao toque e maior intensidade na realização das tarefas de
que gosta. Com base nessas evidências, podemos inferir que um conjunto de
características, habilidades e interesses seja mais comum a determinado subgrupo de
adolescentes com talento em campos específicos, do que aos adolescentes talentosos em
termos gerais. Csikszentmihalyi, Rathunde e Walen (1993) também encontraram
diferenças entre as habilidades e características individuais de adolescentes talentosos
associadas a diversos tipos de talento.
Apesar das diferenças observadas, os adolescentes, em geral, tinham uma
percepção bastante positiva de suas habilidades intra e interpessoais. Esses jovens
informaram ser éticos em suas ações e terem valores morais sólidos. Essas características
pessoais, no entanto, parecem estar sujeitas às experiências e condições contextuais e não
somente à intencionalidade desses jovens. Neste sentido, Fortes-Lustosa (2004) observa
que alguns aspectos podem contribuir para o desenvolvimento peculiar de sentimentos e
valores morais e um nível maior de envolvimento dos adolescentes talentosos com o seu
próprio desenvolvimento moral: configuração subjetiva, habilidades cognitivas e criativas
mais elevadas, a metacognição, a consciência do seu próprio potencial e a orientação para
o futuro.
Características Afetivas, Sociais e Aspectos Motivacionais
A maioria dos adolescentes referiu sentir-se aceita e integrada nos microssistemas
nos quais estava inserida: família, escola, sala de recursos, comunidade e igreja ou clubes.
O relacionamento desses jovens com os pais e pares foi descrito como harmonioso,
amistoso e cooperativo. Apesar dessas características, os resultados revelaram que os
adolescentes talentosos tendem a negar o talento como uma estratégia de adesão ao grupo
de pares.
Os pares da mesma idade passam a ter um importante papel nos processos de
socialização durante a adolescência. A literatura apresenta esses pares como mais
tolerantes com os sentimentos e as visões de mundo do adolescente do que a família e a
escola (Oliva, 2004b; Oliveira, 2007). No entanto, no caso dos adolescentes talentosos,
144
parece que há certa dificuldade do adolescente em ser aceito nesses grupos. A adesão ao
grupo, entre esses adolescentes, parece ser conseguida em detrimento do desenvolvimento
de suas habilidades superiores. Essa constatação encontra respaldo no depoimento dos
jovens de nossa pesquisa, ao descreverem a tendência a negar o talento como uma
estratégia adaptativa. Como explica Winner (1998), com base nos estudos de
Csikszentmihalyi, Rathunde e Walen (1993), os adolescentes talentosos
parecem ter problemas, não devido a alguma dificuldade social ou emocional
inerente, mas antes porque são tão diferentes dos outros. Eles parecem
“dessincronizados”. Se pudessem encontrar outros como eles, é bem possível que
seus problemas sociais desaparecessem (p. 179).
A percepção positiva associada às habilidades intra e interpessoais parece
dicotômica quando vinculada ao tipo de talento e à relação com irmãos e amigos mais
próximos. Nessa perspectiva, foi informada, com relação aos adolescentes que
participaram da segunda fase de coleta de dados, interação parcialmente conflituosa com
os irmãos e certo nível de competitividade com os amigos mais íntimos. Ambas as
interações foram consideradas naturais e comuns na relação entre adolescentes.
Ainda considerando as habilidades intra e interpessoais e os aspectos afetivos e
sociais, é preciso ressaltar que quase 1/3 dos adolescentes com talento artístico e mais de
40% daqueles com talento acadêmico informaram envolvimento em brigas.
Aproximadamente a metade dos adolescentes da pesquisa recebeu algum apelido
pejorativo. Aproximadamente 20% dos adolescentes com talento artístico e acadêmico
sofreram algum tipo de agressão verbal e física, sendo que 100% dos adolescentes com
duplo talento informaram terem sido agredidos fisicamente. Esses dados nos alertam
quanto à questão do bullying, muitas vezes associados, na literatura e na mídia, aos
indivíduos que apresentam habilidades superiores (Peterson & Ray, 2006).
O bullying é uma ação ameaçadora, preconceituosa e agressiva. Nesses episódios o
agressor pode utilizar força física, ironia, apelidos pejorativos e escárnio sempre no sentido
de desqualificar, fragilizar ou intimidar a pessoa-alvo (Torrance, 2000). Alguns aspectos
do ajustamento emocional de indivíduos talentosos como: depressão, ideação suicida,
baixa auto-estima e dificuldades nas relações sociais, especialmente relacionadas a jovens
com habilidades extremas (Neihart, 2002; Rimm, 2002; Schuler, 2002) podem estar
vinculados aos efeitos do bullying. É possível que esses resultados sejam intensificados
entre adolescentes talentosos devido a características afetivas como hiper-sensibilidade,
senso de justiça, perfeccionismo e introversão (Peterson & Ray, 2006). O estudo de
145
Peterson e Ray demonstrou que nem sempre esses eventos são provocados pelos talentosos
e que, muitas vezes, esses reagem de forma agressiva ao bullying.
A agressividade, além de uma reação a fatores externos, também pode ser associada
a algumas características do pensamento criativo de indivíduos talentosos. Tacher e
Readdick (2006) encontraram relação positiva entre traços de agressividade e
características do pensamento criativo medidos pelo TTCT (Teste de Pensamento Criativo
de Torrance). Os traços de agressão estavam relacionados positivamente a subescala de
flexibilidade verbal e à subescala de originalidade figural. A agressão verbal foi
relacionada à fluência, flexibilidade e originalidade da subescala verbal. A agressão física
estava correlacionada à flexibilidade da subescala verbal. Como os adolescentes talentosos
costumam ser altamente criativos, é possível que esses resultados possam ser mediados por
essa característica. No entanto, independente da explicação que os resultados do nosso
estudo possam ensejar, é notório que esses dados merecem atenção especial por parte da
escola e da família, devendo, ainda ser objeto de pesquisas futuras.
As características afetivas e motivacionais dos adolescentes talentosos, reveladas
nesse estudo, são amplamente citadas na literatura associadas aos indivíduos talentosos e
criativos (Chagas, 2007; Csikszentmihalyi, 1996; Fleith, 2007b; Winner, 1998). Entre os
atributos encontrados destacamos: persistência, determinação, nível de exigência mais
elevado consigo mesmo, criatividade, perfeccionismo, defesa mais rígida de pontos de
vista, envolvimento intenso com a área de interesse, gosto por experimentar coisas novas,
iniciativa, preferência por desafios, valorização da imaginação e fantasia e atitude positiva
frente ao erro e bom humor.
O conjunto de resultados sobre as características individuais dos adolescentes de
nosso estudo revela que muitos desses atributos estão em consonância com a literatura
sobre indivíduos resilientes. Entre os traços convergentes destacamos aqueles apontados
por Wolin e Wolin (citados em Kotliarenco, Cáceres & Fontecilla, 1997) e Molina-Loza
(2003): (a) introspecção, associada à metacognição, (b) independência, entendida como a
capacidade de manter distância emocional, (c) habilidade para relacionar-se, estabelecendo
laços íntimos e satisfatórios com outras pessoas (d) iniciativa no sentido de exercer
controle sobre os problemas, (e) humor, definido como inclinação para encontrar graça em
meio à tragédia, (f) criatividade, competência exercida na direção de criar ordem, beleza e
finalidade em meio ao caos e (g) moralidade, capacidade de comprometer-se com valores e
discriminar entre o bem e o mal. Os mesmos autores somam a estas características:
ausência de déficit orgânico, temperamento fácil, autonomia, lócus de controle interno,
146
motivação intrínseca, alta auto-estima, maior coeficiente intelectual, amplo leque de
interesses e habilidades de resolução de problemas.
A resiliência está intimamente ligada à capacidade de enfretamento e adaptação
frente às situações adversas. É multideterminada e um produto da interação de forças que
atuam num contexto ecossistêmico de desenvolvimento. Trata-se de uma habilidade
universal do ser humano, inerente ao seu processo evolutivo e passível de desenvolvimento
por meio das interações entre a pessoa e o meio onde es inserida (Kotliarenco, Cáceres,
& Fontecilla, 1997).
Podemos inferir, a partir do depoimento dos adolescentes e seus familiares,
especialmente, com relação ao enfrentamento das dificuldades de acesso ao Programa e na
maneira como esses participantes lidavam com as situações adversas e as barreiras ao
desenvolvimento do talento que a resiliência é um fator presente. A resiliência dos
participantes foi evidenciada, por exemplo, pela persistência dos adolescentes em se
manterem produtivos durante o tempo de espera para o atendimento no programa, na
parceria entre pais e professores na busca pelos recursos necessários para o
aperfeiçoamento das habilidades identificadas e atendidas em sala de recursos e pela
postura dos adolescentes frente às críticas e cobranças quanto ao seu desempenho.
É importante ressaltar que as características individuais não concorrem
isoladamente para os comportamentos ou traços resilientes. Esses atributos estão
associados a variáveis sócio-histórico-culturais. De acordo com Kotliarenco, Cáceres e
Fontecilla (1997) e Waller (2001), alguns fatores ambientais favorecem a manutenção e o
desenvolvimento da resiliência. Na comunidade é salientada a necessidade de existência de
recursos adequados para a saúde e nutrição, senso de comunidade, suporte entre amigos e
vizinhos, ampliada rede de apoio social formal e informal e oportunidade para que os
jovens se envolvam em atividades esportivas, religiosas e comunitárias. Entre os aspectos
relacionados à cultura recebem destaque a identidade étnica positiva, a identificação com
crenças e valores culturais e a socialização entre grupos de pares. Com relação à família, os
autores assinalam a competência e o estilo parental, a presença de adulto como apoio
social, a ausência de traumas, separações ou perdas em idade precoce, a coesão familiar e o
nível de escolaridade dos pais.
Estilos de Aprendizagem e Características Cognitivas e Acadêmicas
Entre as atividades associadas ao estilo de aprendizagem, os resultados indicaram
que os adolescentes talentosos aprendem com mais facilidade lendo e em atividades
147
interativas como discutir idéias, conversar com outras pessoas, responder perguntas e
observar como as coisas são realizadas. Além disso, é importante ressaltar que a
percentagem de alunos que preferem atividades em grupo e individuais foi a mesma. Os
adolescentes com talento artístico, principalmente aqueles com habilidades em desenho,
por exemplo, demonstraram preferência por atividades individuais e isoladas quando
executavam seus trabalhos. Esses estilos parecem estar associados às disciplinas escolares
e ao tipo de talento. Isso nos leva a inferir a necessidade de um mapeamento específico
para cada grupo de alunos a ser atendido e não a adoção das atividades evidenciadas como
a melhor estratégia para o desenvolvimento do talento em sala de aula.
O desempenho escolar acima da média é outro resultado amplamente respaldado na
literatura como uma característica de indivíduos talentosos, sobretudo entre aqueles do
contexto educacional (Alencar 2007a; Chagas, 2007; Ourofino & Guimarães, 2007;
Renzulli & Reis, 1997; Virgolim, 2007b). No entanto, ressaltamos que essa característica
não deve ser entendida como um pré-requisito para a identificação e encaminhamento de
alunos talentosos para programas especiais ou como um atributo distintivo geral dessa
população. Pelo contrário, os indivíduos talentosos, independente do tipo de talento, não
constituem um grupo homogêneo e podem apresentar dificuldades ou distúrbios de
aprendizagem (Olenchak & Reis, 2002; Winner, 1998), desempenho escolar abaixo da
média (Chagas, 2003) e apresentar dupla excepcionalidade - uma habilidade superior
associada à perda, atraso, má formação ou disfunção intelectual, motora ou sensorial
(Alencar, 2007b; Ourofino, 2007). A dificuldade em algumas disciplinas, inclusive, foi
uma peculiaridade mencionada por alguns participantes desse estudo.
Outras características cognitivas e acadêmicas percebidas nos adolescentes
talentosos desta pesquisa foram a dedicação aos estudos e a facilidade para aprender. Esses
atributos favorecem o desempenho escolar acima da média, especialmente nas áreas de
talento do adolescente ou áreas correlatas. A dedicação aos estudos aparece como uma
orientação interna do adolescente no sentido de dominar assuntos de sua área de interesse.
Winner (1998) e Csikszentmihalyi, Rathunde e Walen (1993) ressaltam a necessidade que
os adolescentes talentosos têm para dominar assuntos de seu interesse e o fato de
aprenderem com instrução mínima. O fascínio pelo domínio de conhecimentos gerais ou
específicos de um campo do conhecimento, em certa medida, pode estar relacionado à
facilidade para aprender. Facilidade que foi interpretada como autodidatismo, rapidez na
aquisição de informações, apreensão correta de conceitos e capacidade de absorção acima
da média.
148
A intensidade com que esses adolescentes se dedicam a aprender pode levá-los a
um estado de fluxo que é caracterizado por altos níveis de satisfação, alta concentração e
perda da consciência (Csikszentmihalyi, 1996). Esse estado, segundo Csikszentmihalyi, é
decisivo para o desenvolvimento do talento, uma vez que leva o adolescente a se
comprometer durante bastante tempo com o domínio de habilidades e com atividades
associadas à sua área de talento.
Ainda com relação aos aspectos acadêmicos, os resultados evidenciaram o papel
relevante da mediação de mentores no desenvolvimento do talento, da participação na sala
de recursos e em eventos como mostras, exposições, feiras, lançamento de livros e
concursos. Entre os adolescentes que participaram da pesquisa, 80% indicaram ter recebido
influência de um mentor ou professor e mais da metade declarou ter recebido algum tipo
de prêmio em concursos. Além disso, a participação na sala de recursos (atividades
realizadas, acesso a oportunidades sociais e culturais e a relação professor-aluno) foi
indicada como uma das experiências mais marcantes na promoção do desenvolvimento do
talento. A sala de recursos foi o único microssistema onde 100% dos adolescentes
informaram se sentir aceitos e integrados.
Esses resultados ressaltam a importância de atendimento adequado e especializado
ao adolescente talentoso e o seu envolvimento em eventos sócio-culturais. Nesse sentido,
vários pesquisadores (Alencar, 2007a; Fleith, 2007a; Virgolim, 2007a) têm alertado sobre
o mito de que o indivíduo talentoso possui recursos suficientes para desenvolver sozinho o
seu potencial. É de extrema importância a ampliação da oferta de oportunidades que visem
o desenvolvimento e o reconhecimento do talento. Apesar de previsto em lei (Brasil,
1996), planejar e executar alternativas de atendimento ao indivíduo talentoso ao longo do
curso de vida, ainda é um desafio complexo que deverá constar da pauta das discussões
sobre educação e sobre desenvolvimento sustentável nas próximas décadas no país.
O Microssistema Família
Entre os vários resultados associados ao microssistema familiar iremos discutir
aqueles vinculados à posição ordinal na família, à estrutura e constelação familiar, à
dinâmica familiar e aos subsistemas parental e fraternal.
Posição Ordinal na Família
A literatura demonstra com relação à posição na família, que há uma prevalência de
filhos unigênitos, primogênitos e caçulas entre os indivíduos talentosos (Chagas, 2003;
Fortes-Lustosa, 2004; Simonton, 2002; Winner, 1998). Essa prevalência também foi
149
observada entre os adolescentes que participaram do nosso estudo, considerando tanto a
posição de nascimento quanto a posição funcional. Com relação à posição de nascimento,
55% dos adolescentes eram filhos únicos, primogênitos ou caçulas. Essa porcentagem
chegou a 71% quando foi considerada a posição funcional.
Simonton (2002) sugere uma diferença entre ordem biológica e a ordem funcional.
A ordem biológica ou de nascimento tem menor interesse ao estudo do desenvolvimento,
uma vez que, ao longo da trajetória de vida, várias circunstâncias podem modificar
funcionalmente essa posição como a morte de um irmão, a adoção ou um segundo
casamento dos pais. É importante considerar a real posição que o indivíduo ocupa na
família, vivenciada ao longo de seu crescimento, a ordem funcional.
No sentido de explicar o efeito da ordem de nascimento sobre o desenvolvimento
de pessoas talentosas, apontamos dois modelos elaborados por Zajonc (2001) e Downey
(2001). Zajonc (2001) desenvolveu o Modelo de Confluência. Nesse modelo o autor
postula que os filhos primogênitos e unigênitos são expostos por mais tempo à convivência
e à linguagem adulta, o que pode favorecer a maturidade intelectual precoce. Além disso,
Zajonc (2001) considera que entre os primogênitos do gênero masculino, principalmente,
há expectativas sociais e culturais de supremacia em assuntos de sucessão familiar. Essas
expectativas podem gerar, com relação aos primogênitos, níveis mais altos e diferenciados
de expectativas, exercício ativo de liderança e o desempenho de papel de tutoria em
relação aos irmãos mais novos.
O modelo desenvolvido por Downey (2001), Modelo de Diluição de Recursos,
apresenta os efeitos diretos do investimento dos recursos parentais relacionado ao número
de filhos. Os recursos parentais como tempo, dinheiro, oportunidades, recursos físicos e
afetivos são limitados e finitos. Isso implica redução de cotas a cada nascimento, o
investimento direcionado ao membro da família com a responsabilidade social ou cultural
de manter o patrimônio da família ou a competição entre as oportunidades. Quanto maior a
prole, menor os recursos econômicos e interpessoais que precisam ser partilhados por toda
prole e maior a necessidade de rede de apoio social. Cada nascimento, portanto, afeta a
decisão parental sobre o tipo de provimento necessário e obrigatório para cada filho. Os
investimentos parentais, segundo o modelo, assumem dimensões diferenciadas de
importância ao longo da vida.
Ainda com respeito à posição ordinal na família, Simonton (2002) descreve a
necessidade que os filhos caçulas têm de utilizar estratégias diversificadas e alternativas
para otimizar a sua aptidão adaptativa. Com isso, tornam-se mais sensíveis a novas
150
oportunidades e adotam procedimentos inovadores que os levam a se engajarem em
atividades revolucionárias e criativas. Simonton explica que os filhos mais velhos têm uma
tendência a se saírem melhor na escola e a corresponderem às expectativas parentais,
enquanto os filhos caçulas procuram carreiras menos convencionais e reacionárias,
engajando-se em atividades políticas e relacionadas à pesquisa e às artes.
No caso dos adolescentes do nosso estudo, os modelos desenvolvidos por Zajonc
(2001) e Downey (2001) nos parecem consistentes para explicar a posição especial em
sentido restrito como à dispersão dos recursos parentais e familiares no provimento da
educação dos filhos. Cerca de 85% das famílias tinham uma prole pequena entre 1 e 3
filhos.
No entanto, a estimulação que pode levar a uma vantagem cognitiva, associada à
posição especial na família, não pode ser explicada de forma isolada, sem que sejam
considerados os fatores ambientais e genéticos implicados nesse processo. Nesse sentido,
Simonton (2002) chama a atenção para a necessidade de “discernir a dinâmica familiar que
está por trás da posição ordinal” na família (p. 190).
Dinâmica Familiar
Os resultados evidenciaram que as famílias com adolescentes talentosos têm a sua
dinâmica modificada em função das características do adolescente e do seu atendimento
em sala de recursos. Os pais relataram que os adolescentes talentosos, desde a infância,
demonstraram serem precoces em sua área de interesse. Essa precocidade impingiu à
família expectativas sobre o desempenho do filho. O atendimento em sala de recursos re-
configurou, em alguns casos, a divisão das tarefas domésticas, a utilização do tempo livre e
aumentou a demanda por acompanhamento parental. Um dos pais entrevistados dedicava
duas manhãs por semana, exclusivamente para acompanhar a filha, devido à distância a ser
percorrida de seu local de residência até a sala de recursos. Não somente a família nuclear,
mas também a família ampliada (avós, tios, primos) também se deslocava aos locais onde
eram realizadas exposições e mostras da produção do adolescente.
Ainda considerando a dinâmica familiar, as atividades rotineiras mais partilhadas
pelos membros da família eram assistir à televisão e aos filmes. As atividades de lazer
eram na maior parte, compartilhadas pelos pais e filhos que moravam no mesmo local.
Essa constatação parece corroborar os resultados encontrados por Csikszentmihalyi,
Rathunde e Whalen (1993), que verificaram que os adolescentes talentosos costumam
151
despender mais tempo na companhia de seus pais e irmãos, quando comparados a outros
adolescentes.
Sobressai na dinâmica dessas famílias o tempo empreendido na participação em
eventos eclesiásticos. Os valores religiosos eram cultivados por essas famílias que, em
geral, eram católicas e protestantes praticantes, resultado que corrobora os achados de
Csikszentmihalyi, Rathunde e Whalen (1993). A participação semanal em atividades de
cunho religioso influencia os estilos e práticas parentais e favorece a coesão familiar em
torno de valores cristãos. Não encontramos na literatura estudos que tenham investigado o
impacto das crenças e práticas religiosas sobre o desenvolvimento do talento.
Estrutura e Constelação Familiar
Com relação à estrutura e constelação familiar, os resultados revelaram que mais da
metade dos genitores eram casados pela primeira vez. Esses dados são importantes porque
demonstram os padrões de formação e dissolução das famílias com indivíduos talentosos
que parecem ser mais estáveis com relação à conjugalidade. Também sugere que a
estrutura familiar em termos da função paterna e materna, a divisão de papéis entre os
membros da família e os processos de comunicação familiar eram tradicionais. No entanto,
esses fatores precisam ser melhor investigados à luz das desigualdades sociais, raciais e
econômicas.
O arranjo ou constelação familiar predominante era nuclear. Mais da metade das
famílias era nuclear biparental, ou seja pais e filhos nascidos do próprio casamento
convivendo no mesmo domicílio. Quase um 1/3 dessas famílias era nuclear monoparental,
ou seja, mãe ou pai residindo com seus filhos. Poucas famílias eram estendidas ou residiam
com parentes. A maioria das famílias residia na zona urbana em casas próprias. Essas
características da constelação familiar parecem coincidir com resultados encontrados em
outros estudos sobre a família de indivíduos talentosos (Aspesi, 2003, 2007; Chagas,
2003).
As famílias com adolescentes talentosos, em sua maioria, eram compostas por 2 a 5
pessoas. No que se refere ao tamanho, essas famílias acompanham uma tendência
contemporânea de que as famílias sejam mais reduzidas em número de membros (Brasil,
2000). As famílias mais reduzidas dão aos pais maiores possibilidades de acompanharem
sua prole e atender às suas demandas de atenção, educação e cuidados, o que pode
favorecer o desenvolvimento do talento de seus membros ao longo do ciclo de vida
(Downey, 2001).
152
O Subsistema Parental
O funcionamento eficiente do subsistema parental revela atitudes, estilos e práticas
parentais que visam o cuidado e o monitoramento dos filhos pelos pais por meio de uso
diferenciado de autoridade. Durante a adolescência é requerido dos pais uma maior
flexibilização das regras. Esse subsistema é de extrema importância para o
desenvolvimento do sentido de filiação e pertença familiar (Minuchin, 1990). Nesse
sentido, o monitoramento e engajamento parental tiveram um impacto positivo no
aperfeiçoamento das habilidades dos adolescentes talentosos. A intervenção materna, em
especial, foi um fator imprescindível no encaminhamento desses jovens ao Programa de
Atendimento ao Aluno Superdotado. As mães foram consideradas as principais
incentivadoras e divulgadoras da produção do adolescente. Resultados semelhantes sobre a
intervenção materna foram encontrados por Shumow (1997).
Talvez, a mediação materna, nesse caso, seja um reflexo do nível de escolaridade,
profissão e jornada de trabalho. As mães do nosso estudo tinham um nível de escolaridade
mais avançado e uma jornada de trabalho menor quando comparadas aos pais.
Aproximadamente 1/3 dessas mães desenvolviam atividades associadas à educação, como
professoras ou estudantes. Essas características parecem ter facilitado o acesso a
informações sobre os indivíduos talentosos e as oportunidades de atendimento.
Estilos, Atitudes e Práticas Parentais
Os resultados demonstraram que os genitores conjugavam altas expectativas com
relação ao desempenho do adolescente talentoso com uma disciplina rígida. Possam um
estilo parental que mesclava exigência e autoridade (Aspesi, 2007; Winner, 1998). Esses
pais encorajavam os filhos a vencerem desafios e a se manterem engajados naquilo que
gostavam de fazer (Bloom, 1985; Csikszentmihalyi, Rathunde & Whalen, 1993).
Geralmente, comunicavam suas expectativas e acompanhavam de perto a vida escolar do
adolescente, desde a infância. Os padrões de interação com os pares eram claramente
estabelecidos, inclusive o grau de proximidade e intimidade que deveriam ter com os
colegas da escola.
Esses pais eram centrados nos filhos, priorizavam a educação e investiam tempo e
recursos para que seus filhos recebessem uma educação de qualidade. Eram
comprometidos com o desenvolvimento do talento e potencialidades de seus filhos,
arcando, em muitas ocasiões, em parceria com os professores da sala de recursos, com os
153
recursos necessários para a produção de qualidade e o acesso a oportunidades de
divulgação. Eles reconheciam e valorizavam o talento dos filhos e eram consumidores e
divulgadores primários da produção do adolescente.
Os estilos e práticas parentais parecem estar associados à preferência pelo
isolamento social, relatada pelos adolescentes. Os pais, que participaram da segunda fase
de coleta de dados, descreveram estilo e prática parental que valorizavam o brincar apenas
entre irmãos e entre irmãos do mesmo gênero. A amizade era restrita e monitorada desde a
infância. Além disso, os pais informaram adotar um estilo parental que demonstrava
autoridade e responsividade, centrado na disciplina e educação dos filhos, em valores
familiares, dos bons costumes e da moral (Bloom, 1985). Esses pais percebiam o
isolamento social do adolescente, inclusive, como um fator protetor quanto aos riscos de
envolvimento com drogas, gravidez na adolescência e marginalidade.
A preferência pelo isolamento social parece ser favorecida também pelo tipo de
talento e os processos mentais envolvidos na criação e elaboração de desenhos, por
características afetivas do adolescente, entre as quais destacamos a timidez. A timidez foi
descrita em termos da introspecção, reserva, pouco diálogo e ações sistemáticas, atributos
que podem estar associados aos processos mentais descritos pelos adolescentes que
participaram da segunda fase de coleta de dados. O processo de criação e elaboração de
desenhos requeria, desses adolescentes, certo nível de isolamento social. Essa necessidade
tem sido relatada por vários indivíduos criativos e talentosos como condição inerente ao
processo criativo (Root-Bernstein & Root-Bernstein, 2001) e parece corroborar resultados
encontrados por Csikszentmihalyi (1996) e Csikszentmihalyi, Rathunde e Whalen (1993).
Ainda nessa direção, o contexto social, no qual a família estava inserida, do mesmo
modo parece colaborar para o isolamento do adolescente. As famílias entrevistadas
moravam em condomínios fechados, em área de assentamento urbano ou distante da escola
onde o aluno estudava e da sala de recursos. Esta conjuntura somada ao estilo e prática
parental pode contribuir para o isolamento social.
Com relação às atitudes parentais descritas pelo Inventário de Atitudes Parentais -
PSI, os resultados evidenciaram que pais e mães são percebidos pelos adolescentes de
forma diversa. As mães foram mais bem avaliadas em todas as subescalas: comunicação,
uso do tempo, ensino, frustração, satisfação e necessidade de informação, pelos filhos.
Apesar de serem percebidos, pelos filhos de forma mais negativa, os pais se auto-avaliaram
de forma mais positiva quando comparados aos demais participantes. A percepção de
ambos os genitores era mais positiva em comparação à percepção de seus filhos. O uso do
154
tempo foi o fator mais negativo relacionado às mães enquanto entre os pais estavam as
atitudes voltadas para o ensino.
Com relação aos aspectos ligados à frustração e satisfação parental, os adolescentes
talentosos e seus genitores possuem uma percepção semelhante. As mães parecem ser mais
satisfeitas e ao mesmo tempo mais frustradas com alguns comportamentos dos filhos. Esse
resultado, aparentemente contraditório, pode estar associado às altas expectativas parentais,
mais presentes entre as mães. As altas expectativas parentais têm profundo impacto sobre a
percepção que o adolescente tem de si mesmo e sobre o seu desempenho
(Csikszentmihalyi, Rathunde & Whalen, 1993; Winner, 1998).
Os resultados revelam, com relação ao uso do tempo, a satisfação e a necessidade
de informação que a percepção de pais e filhos é invertida. Os pais têm uma percepção
mais positiva de sua performance. Esses dados indicam que pais e filhos talentosos
possuem parâmetros diversos ao avaliarem a qualidade, quantidade e intensidade das
interações estabelecidas.
O Subsistema Fraternal
O subsistema fraternal é importante no estabelecimento das interações sociais, por
propiciar as primeiras relações com iguais (Minuchin, 1990). Como já mencionado
anteriormente, a relação fraternal dos adolescentes talentosos era parcialmente conflituosa.
Seus irmãos e pais relataram que os motivos desse conflito estavam relacionados, muitas
vezes, às questões que envolviam privacidade, como não entrar no quarto e mexer nas
coisas uns dos outros, e a distribuição de tarefas domésticas. No entanto, o conflito era
percebido como algo natural da relação fraterna.
Apesar dos conflitos, os irmãos aprendiam com os adolescentes talentosos a
respeito de seus interesses, temas e atividades em que estavam envolvidos. Em muitas
situações, esses irmãos pediam ao talentoso para auxiliá-los em suas atividades escolares
relacionadas à área de talento do irmão. Além disso, informaram apreciar a produção de
seu irmão talentoso e admirar algumas de suas características, entre as quais foram
destacadas a dedicação e persistência.
Também emerge da relação fraternal, o papel dos ambientes compartilhados e não-
compartilhados. De acordo com Simonton (2002), o ambiente compartilhado é aquele que
todos os irmãos partilham e vivenciam juntos, no mesmo lar e com os mesmos pais. O
ambiente não-compartilhado é exclusivo de cada irmão e é responsável por tudo aquilo que
não pode ser atribuído à hereditariedade. Quando comparados aos seus irmãos, os
155
adolescentes talentosos estavam envolvidos em uma quantidade maior de atividades
complementares e extra-escolares em ambienteso-compartilhados por seus irmãos.
Essa constatação parece corroborar os resultados encontrados por Csikszentmihalyi,
Rathunde & Whalen (1993) que verificaram que os adolescentes talentosos se envolviam
com atividades relacionadas ao seu domínio de talento por uma quantidade de tempo
superior quando comparados a outros adolescentes. Entre as principais atividades e
ambientes não-compartilhados foram destacados a participação na sala de recursos e em
atividades esportivas, artes e cursos de idioma e de informática.
O Microssistema Escola
O microssistema escola foi investigado a partir de dois subsistemas: a escola
regular e seu modus operandi e a sala de recursos. A escola regular, representada pela sala
de aula regular, práticas pedagógicas, currículo e sistema de gestão, foi percebida como
despreparada e negligente no atendimento das necessidades especiais do aluno talentoso,
principalmente durante a adolescência. Os adolescentes, suas famílias e suas professoras
reconheceram a formação inadequada dos professores como uma barreira para a
identificação de adolescentes talentosos e sua efetiva inclusão educacional.
A Escola Regular
Os professores do ensino regular, na percepção dos entrevistados, eram capazes de
identificar as habilidades acima da média, contudo não sabiam como atender ao aluno.
Além disso, o encaminhamento desses alunos para a sala de recursos ficou, muitas vezes,
prejudicado ou impedido pelo desconhecimento por parte dos professores da existência do
atendimento, pelos trâmites internos dos documentos na escola e pelas demandas
curriculares dos professores do ensino regular.
Com relação aos processos escolares desenvolvidos nesses espaços, os participantes
descreveram um nível de cobrança acentuado com relação ao desempenho do adolescente
identificado como talentoso na escola. Dentro dessa perspectiva, a precocidade e as
habilidades superiores reconhecidas nesses adolescentes desde a sua infância foram pouco
aproveitadas na escola. No entanto, ao serem atendidos em salas de recursos, a expectativa
em torno do seu desempenho acadêmico parece ter sido acentuada não somente com
relação a sua área de talento como em todo o contexto acadêmico.
156
A Sala de Recursos
Por outro lado, a sala de recursos foi considerada o ambiente onde as interações e
relações tiveram um impacto positivo na integração do adolescente como pessoa e no
desenvolvimento de seu potencial. Entre outros aspectos, a sala de recursos oportunizava
aos adolescentes a participação ativa e passiva em eventos culturais, a mediação de
mentores e tutores especializados na área de talento do aluno e a interação com pares
talentosos. A sala de recursos era percebida, pelos participantes, como um marco
importante para o aperfeiçoamento das habilidades dos adolescentes além de contribuir
para o reconhecimento e a valorização do talento.
A interação professor-aluno era caracterizada por respeito e compromisso com a
qualidade. Esses professores demonstraram um profundo comprometimento com o
desenvolvimento de seus alunos, utilizando, inclusive, suas horas de lazer e de tempo livre
para o planejamento de atividades e para a seleção e compilação de materiais adequados
para uma produção qualitativamente superior. Muitas vezes, os recursos materiais para o
desenvolvimento da produção do adolescente eram providos por esses profissionais e em
parcerias com a família.
Esses resultados apontam a relevância das atividades desenvolvidas nas salas de
recursos do Programa, como ambiente especializado capaz de dar suporte à inclusão e
atendimento efetivo do adolescente talentoso em suas necessidades educacionais especiais.
Relações Mesossistêmicas entre Família-Escola e a Rede de Apoio Social
De certa forma, os resultados assinalam os processos desencadeados na família
como mais decisivos para o desenvolvimento do talento do que aqueles promovidos na
escola regular. Nessa direção, o suporte familiar, expresso por meio de estilo e prática
parentais que demonstram responsividade, exigência, altas expectativas e a priorização da
educação, aparece, na fala dos participantes, em contraponto ao descaso e despreparo da
escola e seus atores em reconhecer e identificar o talento.
A importância do suporte familiar também ficou estabelecida na parceria efetuada
entre família e professor da sala de recursos. Essa associação parece profícua e
indispensável no provimento dos recursos adequados para uma produção de qualidade,
principalmente quando não há investimento institucional ou governamental adequado
(Gama, 2007).
Os adolescentes eram estimulados, pelos pais, a se manterem produtivos e a
desenvolverem e aperfeiçoarem suas capacidades e aspectos técnicos. Os pais dos
157
adolescentes acreditavam no potencial de seu filho e não mediam esforços para que
recebessem o melhor em termos de educação e treinamento de suas habilidades. Esses
esforços eram empreendidos, em alguns casos, em detrimento de outros projetos familiares
como moradia, viagens e passeios. Winner (1998) e Csikszentmihalyi, Rathunde e Whalen
(1993) chamam atenção para essa postura parental como um diferencial importante para o
desempenho superior de adolescentes talentosos.
A comunidade, constituída dos vizinhos, parentes e participantes dos mesmos
grupos religiosos, foi mencionada como rede de apoio social importante na divulgação e
disseminação da produção dos adolescentes talentosos. Além de serem vistos como
consumidores primários, os adolescentes relataram a importância de serem reconhecidos
por esses agentes, uma vez que o prestígio entre esses atores fortalecia a percepção do
próprio adolescente sobre si mesmo e confirmava o reconhecimento da família.
Aspectos Macrossistêmicos associados ao Desenvolvimento do Talento
Ambrose (2006) chama a atenção para aspectos macrossistêmicos que influenciam
na criação e manutenção de oportunidades sócio-culturais que promovem o
desenvolvimento do talento e das aspirações de jovens talentosos. Para o pesquisador, o
contexto econômico, sócio-político e as ideologias das classes dominantes exercem
influência na mídia, na dimensão ética e nos sistemas interpretativos e de valores de uma
sociedade. Esses fatores podem prover uma enorme vantagem para o desenvolvimento do
talento de alguns indivíduos e se transformar em uma barreira opressiva para outros.
Ambrose (2006) também ressalta que os indivíduos talentosos oriundos de
ambientes com privação socioeconômica ou que nasceram em comunidades segregadas ou
estigmatizadas têm menor condições que seus pares mais abastados de terem acesso a
oportunidades sociais ou culturais. A desigualdade social pode ser uma séria barreira ao
desenvolvimento das aspirações, talentos e sucesso, principalmente em um mundo
globalizado altamente competitivo. Esse último aspecto foi salientado, especialmente, por
duas mães ao relatarem o esforço familiar para manter os filhos em escolas que julgavam
mais adequadas e no Programa de Atendimento ao Aluno Superdotado. Tanto a mediação
das professoras da sala de recursos quanto os esforços empreendidos pela família estavam
concentrados em aspectos básicos para uma produção de qualidade e a divulgação e
escoação desses produtos como materiais específicos adequados e transporte.
Entre as principais barreiras ao desenvolvimento do talento, na percepção dos
adolescentes, seus familiares e professores, foram citados o acesso ao Programa de
158
Atendimento ao Aluno Superdotado, a formação de professores do ensino regular e a
escassez de políticas públicas e apoio institucional. A dificuldade de acesso ao programa
pode ser mais bem dimensionada ao compararmos os números do Programa com os dados
divulgados pelo Censo Escolar do mesmo ano-base e a probabilidade estatística de
indivíduos talentosos em uma população preconizada no Modelo de Enriquecimento
Escolar (15 a 20%) (Renzulli & Reis, 1997). É importante lembrar que esse modelo era
adotado pelo Programa e foi utilizado como referencial conceitual nessa pesquisa. Outro
fato importante é que o Programa atende alunos matriculados na rede pública e na rede
privada de ensino (Distrito Federal, 2006).
Segundo o Censo (Brasil, 2007), o número de estabelecimentos de ensino no
Distrito Federal, em funcionamento, era de 965 escolas, sendo 621 na rede pública de
ensino e 344 na rede privada. O número total das matrículas na Educação Básica do
Distrito Federal era de 687.709, sendo 521.583 na rede pública e federal e 166.105 na rede
privada. Desse total de matrículas, 7.515 alunos eram atendidos no Ensino Especial, 3.896
na rede pública e 1.139 na rede privada. Desse total de alunos do Ensino Especial, apenas
262 eram alunos atendidos em salas de recursos de altas habilidades/superdotação.
Comparando esses dados com aqueles disponibilizados pelo Programa, para o
mesmo ano-base, ficaram configurados o enorme desafio de expansão do atendimento e a
discrepância entre os dados do Programa e os dados informados pelo Censo Escolar. Nesse
período, o Programa contava com 27 salas de recursos distribuídas em 19 escolas de 09
Diretorias Regionais de Ensino, com um total aproximado de 1.200 alunos atendidos.
Tomando por base o contingente das matrículas e número de estabelecimentos de ensino, o
número de alunos atendidos no Programa corresponde a 1,7% do universo de matrícula e o
número de escolas onde as salas estavam situadas representa 0,19% dos Estabelecimentos
de Ensino do Distrito Federal.
A discrepância nos números de alunos informados pelo Programa (1.200 alunos) e
os dados do Censo (262 alunos) pode ser explicada, parcialmente, pela forma como os
dados são disponibilizados para a Secretaria Escolar, setor responsável pela inserção nos
dados no Sistema. Como não há uma matrícula específica para a modalidade de Educação
Especial, a transmissão desses dados pode ficar prejudicada.
A dificuldade de acesso ao Programa pode também estar atrelada a questões
relacionadas às políticas públicas, ao apoio institucional e aspectos vinculados à gestão
mencionados como barreiras enfrentadas pela família no desenvolvimento do talento. Essa
percepção é corroborada pelos resultados do estudo realizado por Magalhães (2006) sobre
159
o mesmo Programa. Na discussão apresentada pela pesquisadora fica evidenciada,
inclusive, a quantidade inferior de investimento para esse tipo de atendimento em relação
aos demais atendimentos oferecidos na Educação Especial.
O Conceito sobre Talento e Superdotação
Os participantes de nosso estudo demonstraram dificuldade no uso do termo
superdotação para designar adolescentes com habilidades superiores. Independentemente
do tipo de talento, houve uma preferência maior pela utilização dos termos talento e altas
habilidades. Esses resultados parecem corroborar o que vem sendo discutido por vários
pesquisadores com relação às questões de conceituação (Alencar, 2007a; Chagas, 2007;
Solow, 2001; Virgolim, 2007b). Nesse sentido, Alencar, Fleith e Blumen (2002)
argumentam que a palavra superdotação passa a idéia errada de que o superdotado é um
super homem que dará conta de tudo. De certa forma, esse termo acentua mitos que
associam superdotação com genialidade, habilidades excepcionais inatas e desempenho
superior em todas as áreas. De acordo com esses autores, essa é uma palavra muito forte
que carrega uma conotação muito negativa. Ainda nessa direção, é importante ressaltar que
a maneira como a sociedade conceitua o talento interfere na criação e acesso a
oportunidades para o seu desenvolvimento (Ambrose, 2006).
A maior parte dos participantes diferenciava talento e superdotação, no entanto, ao
definirem esses conceitos, houve uma sobreposição das categorias. As categorias quando
associadas à superdotação vinham acompanhadas de superlativos. Entre alguns
participantes havia o entendimento de que a superdotação era um nível mais avançado do
talento. O conceito de superdotação parece também receber maior impacto do que é
veiculado na mídia televisiva. Todos esses fatores reforçam mitos e idéias errôneas sobre
os indivíduos talentosos.
Quase metade dos adolescentes não se reconhecia e não eram reconhecidos como
superdotados. Além de refletir as questões associadas ao conceito, existem aspectos
subjetivos que nos induzem a pensar nas estratégias de inclusão a serem adotadas para
atender a essa população. Os adolescentes talentosos estão matriculados nas salas de aula
comuns e, na maioria das vezes, permanecem nos Sistemas de Ensino sendo penalizados,
não poucas vezes, a funcionarem e desempenharem na média de seus pares. É preconizado
pela Lei de Diretrizes e Bases de Educação (Brasil, 1996) que esses alunos têm direito,
enquanto estiverem na Educação Básica, a atividades que favoreçam o aprofundamento e
enriquecimento curricular, a desafios suplementares nas classes comuns, sala de recursos
160
ou em outros espaços educativos e à conclusão em menor tempo da série ou etapa escolar
em que estão inseridos. No entanto, é notório por meio dos resultados explicitados, que
esses alunos continuam sendo submetidos a um ambiente acadêmico pouco estimulante e
discriminatório e a procedimentos pedagógicos padronizados, repetitivos e inflexíveis.
Finalmente, é preciso considerar toda a complexidade de ser adolescente talentoso
nesse início do século XXI. Viver em um mundo globalizado impõe à dinâmica familiar e
aos indivíduos uma série de demandas como a acentuação do individualismo e da
competitividade e o acesso a tecnologias e informações. Há riscos e situações, sem
contraponto na história, que precisam ser solucionados e superados (Giddens, 2000). Por
isso, é cada vez mais urgente que jovens e adolescentes respondam a esses desafios e
encontrem seu lugar nesse espaço sócio-cultural e nesse momento histórico. Com isso, se
torna ainda mais relevante o papel da família e da escola nos processos de
desenvolvimento do potencial dos adolescentes, pois “nenhuma pessoa isolada, por maior
que seja a sua estatura, poderosa sua vontade, penetrante sua inteligência, consegue
transgredir as leis autônomas da rede humana da qual provêm seus atos e para a qual eles
são dirigidos” (Elias, 1994, p. 48).
161
CAPÍTULO VII
CONSIDERAÇÕES FINAIS E IMPLICAÇÕES DO ESTUDO
Este estudo teve como objetivo descrever as características individuais e familiares
de adolescentes talentosos a partir da percepção de adolescentes, seus familiares e
professores. As informações analisadas e os resultados apresentados demonstraram que os
adolescentes talentosos não formam um grupo homogêneo e que suas características são
dependentes de uma rede complexa de fatores interconectados que envolvem o individuo e
o ambiente onde está inserido.
A adolescência entendida como uma categoria distinta da infância e como um
continuum dos processos evolutivos ao longo do curso de vida, nos leva a considerar o
adolescente a partir das múltiplas possibilidades de ser adolescente. Por isso, as
características apontadas nesse estudo não podem ser desconectadas dos eventos sócio-
histórico-culturais em que as respostas foram produzidas. A categorização dessas respostas
nos ajuda a compreender vários aspectos do desenvolvimento do talento desses
adolescentes. No entanto, não pode dar conta das minúcias de cada trajetória única. Além
disso, é preciso trazer à tona que os significados dessas respostas foram mediados e
negociados na família, na escola e na comunidade como fruto de crenças e valores
moldados a partir de elementos ideológicos macrossistêmicos presentes nos sistemas
políticos, econômicos e midiáticos e que influenciam na forma como interpretamos a
realidade (Ambrose, 2006).
Os resultados desse estudo corroboram as pesquisas que têm demonstrado o papel
relevante da família e da escola como os principais nichos promotores do desenvolvimento
saudável durante a adolescência, especialmente entre adolescentes talentosos (Chagas,
2003; Freeman & Guenther, 2000; UNICEF, 2002b). O suporte familiar em termos do
reconhecimento e valorização das habilidades superiores, o monitoramento escolar e a
priorização da educação são elementos que demonstraram ter impacto favorável no acesso
a oportunidades de atendimento e na produção efetiva do adolescente em sua área de
talento. Ressaltamos que as práticas e estilos parentais têm uma multiplicidade de
referências e significados sócio-culturais e religiosos, que precisam ser mais bem
investigados. É imprescindível considerar, igualmente, que os diálogos, a negociação de
regras e a dinâmica familiar afetam e são afetados, por exemplo, pelas demandas do
adolescente, pela configuração familiar e por aspectos sócio-econômicos (Chagas & Fleith,
2006; May, 2000; Winner, 1998).
162
O reconhecimento da importância da relação mesossistêmica entre família e escola,
para os processos de desenvolvimento do talento, torna imprescindível a formação
continuada das pessoas envolvidas nesses microssistemas. Os pais, inicialmente e depois
os professores são os primeiros agentes mobilizadores para o provimento das necessidades
especiais de indivíduos talentosos durante a infância e a adolescência. Por isso, a partir do
investimento em ações educativas desses atores será possível o reconhecimento e o
encaminhamento precoces desses indivíduos a atendimento adequado e especializado.
Tendo em mente esse desafio, passamos a apresentar as implicações educacionais,
familiares e para pesquisas futuras, embasadas nos resultados obtidos e discutidos nesse
estudo.
Implicações Educacionais
O atendimento em sala de recursos foi notadamente um dos fatores que mais
contribuiu para o desenvolvimento do talento, além de ser o microssistema onde os
adolescentes se sentiam 100% integrados. No entanto, os resultados indicam a necessidade
de serem repensadas as formas de acesso ao Programa, a ampliação da oferta e estratégias
de manutenção dos adolescentes talentosos nesse tipo de atendimento, uma vez que esses
aspectos foram mencionados como as principais barreiras educacionais associadas ao
desenvolvimento do talento.
Com relação ao processo de encaminhamento ao Programa de Atendimento e à
identificação do talento, parece haver, ainda, a necessidade de serem disponibilizados aos
professores que atuam no ensino regular instrumentos que permitam o mapeamento do
talento durante a adolescência. Esses instrumentos devem ser elaborados no sentido de
auxiliar na identificação das habilidades superiores e facilitar o acesso do adolescente
talentoso em programas e oportunidades educacionais independente de sua raça, cor,
condição sócio-econômica, gênero ou tipo de talento.
Outros fatores educacionais favoráveis ao desenvolvimento do talento de
adolescentes mencionados, associados à sala de recursos, foram a participação em eventos
e a orientação e mediação de mentores ou instrutores. A participação desses jovens em
eventos não estava limitada ao consumo cultural, mas à mostra e divulgação da produção
do próprio adolescente. Sem o acesso a esse tipo de evento, o talento fica restrito ao
interior das escolas e das famílias. Por isso, também se tornam imperativas a ampliação de
oportunidades culturais e a mediação de mentores na promoção e divulgação dos produtos
criativos e projetos desenvolvidos pelos adolescentes talentosos.
163
Com relação à escola regular, destacamos o despreparo dos professores para
atender o adolescente talentoso. As demandas por enriquecimento, diferenciação e
flexibilização curricular, aceleração ou progressão serial, que visam o atendimento dessa
população, parecem pouco reconhecidas ou vistas com reservas por esses profissionais.
Essa realidade pode acentuar alguns traços evidenciados pelos adolescentes talentosos
como a tendência a negar o talento e a preferência pelo isolamento social. Uma maior
divulgação dos resultados de pesquisa e da literatura existente sobre o tema pode contribuir
na formação dos profissionais que atuam na educação. Formação que deve incluir em seu
currículo as características peculiares de indivíduos talentosos e as estratégias pedagógicas
e curriculares mais eficientes e eficazes no acolhimento de suas necessidades especiais.
Os professores devem ser capazes de reconhecer os vários estilos de aprendizagem
e de expressão com a finalidade de promover por meio de atividades intencionalmente
planejadas o desenvolvimento das potencialidades de seus alunos. Essas atividades devem
privilegiar o desenvolvimento das habilidades de pensamento criativo, solução de
problemas reais e elaboração de projetos e de pesquisas. Com base nos resultados deste
trabalho, entre as estratégias voltadas para o atendimento de alunos talentosos, no entanto,
devem ser privilegiadas aquelas que envolvam leitura e discussão de idéias.
Além da adoção de um currículo mais flexível nos espaços de ensino regular por
meio do enriquecimento, compactação e modificação curricular, outro aspecto a ser
considerado é o acesso à tecnologia. Os adolescentes talentosos devem ter amplo acesso às
redes e bancos de dados, aos meios computacionais, técnicas e ferramentas de inovação
tecnológica e educação a distância online com a finalidade de encontrar os meios
necessários ao desenvolvimento de suas habilidades. A inclusão desses alunos no meio
tecnológico requer maior investimento financeiro no desenvolvimento dos talentos e a
parceria entre instituições de pesquisa e de fomento.
Ainda no sentido da inclusão educacional desses alunos, seria importante não
somente a ampliação da oferta de atendimento, porém uma melhor definição de políticas
públicas e estratégias institucionais que promovam o desenvolvimento do potencial e do
talento ao longo da vida. A lógica do fracasso e das dificuldades precisa ser invertida a
favor das possibilidades e do sucesso escolar. Essa mudança de ótica propiciaria não
somente o desenvolvimento de indivíduos talentosos, mas poderia representar uma
melhoria nos processos de desenvolvimento do país. Dentro dessa perspectiva, a
continuidade do atendimento após o término da Educação Básica é uma iniciativa de
extrema importância apontada pelos participantes do nosso estudo.
164
Os adolescentes talentosos após a conclusão do Ensino Médio, que não ingressam
em cursos de graduação ou que ingressam em cursos que não são próximos de sua área de
talento, têm o seu processo de formação interrompido ainda em fase de produção
emergente. Essa ruptura e a falta de incentivo governamental e institucional podem levar
ao desperdício do talento e do potencial (Alencar, 2007a), uma vez que o adolescente,
dificilmente, conseguirá inserir-se no mercado, em sua área de talento, sem uma mediação
adequada.
A partir dos resultados desse estudo emerge, também, a necessidade de serem
amplamente planejadas e empregadas atividades que visam o treinamento de habilidades
sociais nas escolas e, principalmente, nos programas que atendem adolescentes talentosos.
Várias atividades devem ser planejadas de forma sistemática no sentido de auxiliar:
(a) no fortalecimento e na construção de auto-imagem, auto-estima e autoconceito
positivos,
(b) na construção de uma identidade integrada,
(c) na elaboração de estratégias não-violentas de enfrentamento do bullying,
(d) na manutenção de relacionamento interpessoal positivo, sem, no entanto, abrirem
o de suas habilidades e interesses ou mesmo virem a negar o talento.
Implicações Familiares
É de fundamental importância a orientação das famílias sobre as características dos
indivíduos talentosos e as opções de atendimento disponíveis como estratégia para
disseminação das informações sobre esse tema, uma vez que os resultados indicam o
suporte familiar como um fator preponderante no desenvolvimento do talento de
adolescentes. Para tanto, sugerimos a ampliação de serviços destinados à orientação e
aconselhamento familiar como grupos de estudos, escolas de pais, grupos terapêuticos,
voltados para a discussão de temas e problemas que esses atores julgarem importantes para
o desenvolvimento saudável de seus filhos (Fleith & Guimarães, 2006; Moon, 2003)
As famílias deveriam ser estimuladas, a exemplo de outros segmentos, a se
organizarem em associações e agremiações com a finalidade de ampliar o acesso a
oportunidades educacionais e sociais para o desenvolvimento do talento, especialmente
após a conclusão da Educação Básica. As famílias deveriam ser engajadas na busca de
parcerias que pudessem realizar as expectativas dos adolescentes de continuarem a
aperfeiçoar o seu talento no exercício de uma carreira profissional.
165
Os resultados demonstraram que as famílias dos adolescentes valorizam e priorizam
a educação e têm uma dinâmica familiar focada no suprimento das demandas educacionais
dos filhos. O monitoramento parental com relação às atividades escolares e o
relacionamento com amigos têm uma influência positiva no desempenho escolar e no
desenvolvimento das habilidades desses adolescentes. Nesse aspecto, concordamos com
Winner (1998) ao considerar que o papel da família no desenvolvimento do talento
transcende o papel da escola em importância. Contudo, é imprescindível ressaltar que a
qualidade da intervenção familiar está vinculada, entre outros fatores, às condições sócio-
econômicas (Chagas, 2003; VanTassel-Baska, 1989b).
Como implicação desse estudo, vale ressaltar também, a necessidade das famílias
com adolescentes talentosos promoverem um clima harmonioso e coeso que favoreça a
manutenção do diálogo e um equilíbrio entre o estabelecimento de regras e a flexibilização
dos limites. Os pais dessa pesquisa podem ser caracterizados por um estilo parental que
combinava exigência e responsividade. Eram pais com autoridade e não autoritários. Entre
as características parentais e familiares apontadas nesse estudo, destacamos aquelas que
devem ser observadas por outras famílias com adolescentes talentosos:
(a) É preciso que os pais tenham altas expectativas com relação ao desempenho
dos filhos sem, no entanto, restringir a sua autonomia e autoconfiança.
(b) Os pais devem expressar claramente padrões e regras de comportamento sem
desestimular a criatividade, a curiosidade e a necessidade que o adolescente
talentoso tem de correr riscos.
(c) As exigências e a estipulação de regras, principalmente durante a
adolescência, devem ser negociadas e não devem provocar estados
depressivos, ressentimento, manifestação exagerada de raiva ou
comportamentos agressivos, independente do adolescente ser ou não talentoso.
(d) Os pais devem estar atentos às demandas do adolescente talentoso intervindo
de forma a garantir a sua integridade física, psicológica e social. Será preciso,
em várias oportunidades, lembrar a outros membros da família, professores
etc, que o adolescente talentoso deve ter um desenvolvimento integral e não
apenas voltado para a sua área de talento.
(e) Os pais e demais membros da família devem expressar, por meio do elogio,
sua apreciação, reconhecimento e valorização da produção do adolescente.,
evitando comparações e o demérito de sua obra.
(f) Os pais devem estimular o adolescente a vencer desafios e superar-se. Como
166
disse um adolescente desse estudo: “é preciso ficar no pé”.
(g) A família deve acompanhar o adolescente em exposições, feiras e mostras
onde o seu trabalho estiver sendo apresentado ou exposto e, na medida do
possível, propiciar a sua participação em eventos relacionados à sua área de
interesse e talento.
(h) Os pais devem engajar-se na formação de redes de apoio com a finalidade de
que sejam garantidos os direitos que seus filhos têm de terem as suas
necessidades educacionais especiais atendidas.
(i) Os pais precisam promover um ambiente familiar acolhedor, no qual o
adolescente talentoso sinta-se seguro, protegido e ao mesmo tempo respeitado
em seus pontos de vista, sejam esses convergentes ou divergentes.
Implicões para Pesquisas Futuras
Destacamos, com base nos resultados dessa pesquisa, algumas implicações para
pesquisas futuras. Como a adolescência é um período complexo de transição entre a
infância e fase adulta, consideramos importante o planejamento de pesquisas longitudinais
e transversais para maior detalhamento das características evolutivas do desenvolvimento
do talento ao longo do ciclo de vida. Entre as variáveis a serem contempladas enfatizamos
as diferenças de gênero, tipos de talentos e estabilidades e mudanças ao longo do tempo.
Como as transformações biológicas que ocorrem na puberdade impactam o
desenvolvimento do talento durante a adolescência, ainda é um tema pouco explorado.
Aspectos vinculados à família do adolescente talentoso, como estilos e práticas
parentais, precisam ser mais bem investigados com relação às crenças e valores religiosos.
A maioria das famílias desse estudo revelou a participação ativa em atividades religiosas.
Essas atividades, inclusive, ocupavam destaque entre aquelas que eram realizadas pelos
membros da família, semanalmente. Além de impactar a dinâmica familiar, é possível que
esses aspectos influenciem na disciplina, na tomada de decisão, na priorização da
educação, na estimulação de certas características individuais e em outros aspectos
relacionados ao desenvolvimento dos talentos.
Da mesma maneira, as interações que ocorrem nos vários subsistemas familiares
têm sido pouco estudados com relação aos indivíduos talentosos. Os resultados desse
trabalho revelaram uma relação fraterna parcialmente conflituosa que merece maior
atenção em pesquisas futuras. Outro aspecto, que também merece especial atenção, seria as
diferenças entre as interações diádicas entre adolescente-mãe e adolescente-pai. Este
167
estudo demonstrou que a percepção do adolescente com relação ao pai é mais negativa
quando comparada à percepção das mães, com relação a aspectos como comunicação,
ensino, satisfação e frustração parental, uso do tempo e necessidade de informação.
Devido à constatação de certa prevalência do atendimento de indivíduos talentosos
apenas durante a infância e uma descontinuidade dos atendimentos nos demais tempos de
vida, julgamos importante verificar o impacto de fatores macrossistêmicos (contexto sócio-
político, sistemas ideológicos e econômicos, interferência da mídia) na formulação de
políticas públicas voltadas para o desenvolvimento do talento de jovens talentosos e sua
influência nas crenças e valores familiares e escolares. Essas pesquisas têm uma grande
relevância social no sentido de embasar e promover a ampliação da oferta de
oportunidades educacionais e sociais destinadas ao desenvolvimento do potencial humano
ao longo do curso de vida.
Dois outros tópicos para pesquisa futura, que emergem da discussão dos resultados,
é a necessidade de investigar de forma mais acurada os efeitos do bullying sobre o
ajustamento emocional, a construção da identidade e o relacionamento com os pares de
adolescentes talentosos e os comportamentos de resiliência. Com relação ao bullying, esses
episódios devem ser analisados sob vários aspectos: motivacionais (quem inicia a ação,
motivada ou provocada por quem), conteúdo, forma, duração e impacto sobre o
desenvolvimento futuro do talento. Associado à resiliência é importante considerar a
confluência das características individuais e sócio-histórico-culturais no desenvolvimento
do talento.
Apesar de ficar demonstrado que o adolescente talentoso está envolvido em uma
quantidade e qualidade de atividades maior quando comparados aos seus irmãos, é
importante investigar o papel e o impacto dos ambientes compartilhados e não-
compartilhados no desenvolvimento dos talentos durante a adolescência.
Com relação aos aspectos metodológicos, é imprescindível a ampliação do
atendimento ao aluno talentoso no Brasil, para que sejam oportunizadas a realização de
pesquisas comparativas entre subgrupos de adolescentes talentosos e com uma amostra
mais significativa da população a fim de que tenhamos, em breve, entre outros aspectos a
possibilidade de realizar pesquisas com uma amostragem randômica e com maior poder de
generalização.
Com relação a aspectos macrossistêmicos, é possível que os avanços nas políticas
públicas de inclusão educacional e de inclusão social tenham um impacto positivo no
processo de identificação e atendimento de adolescentes talentosos. Aspectos como
168
melhoria nos sistemas de transporte, programas como bolsa-família, de acesso ao mundo
digital, de melhoria na qualidade de vida e na remuneração do trabalho podem, a médio e
longo prazo, interferir de forma positiva na identificação e atendimento de indivíduos
talentosos, inclusive, daqueles que são oriundos de famílias menos favorecidas sócio-
economicamente. Ambrose (2006) argumenta que as pesquisas com indivíduos talentosos
devem, igualmente, contribuir para o debate e resolução das questões sociais subjacentes
ao desenvolvimento do talento.
Considerações Acerca da Terminologia Empregada em Documentos Oficiais e
Programas
Os resultados também sugerem preferência e melhor aceitação do termo talento
entre os adolescentes, seus familiares e suas professoras. Entre outras possibilidades,
inferimos a necessidade de ser colocada em pauta a discussão sobre a terminologia a ser
adotada em documentos oficiais e programas de atendimento ao aluno talentoso. Os
adolescentes, pais e professores que participaram desse estudo demonstraram certa
dificuldade na utilização do termo superdotação e na identificação de pessoas com esse
perfil. Essa percepção e reação foram associadas, principalmente, ao entendimento que
esse termo evoca em termos de habilidades raras e extremas, que induz, do mesmo modo, à
cobrança de desempenho e produção em níveis elevados e incomuns.
Finalmente, compreendemos que a adolescência é um tempo de vida que envolve
processos intra e interpessoais complexos, por isso temos clareza de que há muito a ser
investigado sobre as características individuais e familiares de adolescentes talentosos e
que, portanto, nem de longe, esgotamos as possibilidades teóricas e metodológicas que
devem conduzir outras pesquisas. Aproveitamos para ressaltar o fio condutor desse estudo
que é a nossa crença, também compartilhada por outros pesquisadores (Bronfenbrenner,
1994; Freire, 1982; Guenther, 2006a; 2006b), na capacidade que todo o ser humano tem de
se adaptar e de criar ecologias ainda não vivenciadas, de se transformar e de transformar a
realidade e de, a par das múltiplas possibilidades do vir a ser, construir uma trajetória
única. Cada trajetória reflete, no tempo e espaço, a diversidade dos talentos e o fluxo plural
da natureza humana. Fluxo que é marcado por mudanças e estabilidades ao longo do ciclo
de vida e que, de certa forma, ajuíza o que foi dito por Heráclito de Éfeso, muito tempo
atrás: “não se pode entrar duas vezes no mesmo rio”.
169
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187
ANEXOS
188
ANEXO 1
Nome: __________________________________ Idade: ______ Sexo: Feminino Masculino
Escola de origem: Pública Particular Escola: _________________________ Série: _______
Freqüenta a Sala de Recursos (RA) ___________________________ desde: _________________
Área de talento: ________________________ Área Acadêmica: ______________________
Nome do professor da SR.: ____________________ Preenchido em: ____/____/____ ID:______
Prezado aluno(a):
Ao responder a essa lista leia as afirmações com cuidado e assinale-as de acordo
com o que melhor descrever suas habilidades, interesses, preferências, características,
relações e estilos de aprendizagem. Não há respostas certas ou erradas. O importante é
que cada item assinalado reflita a sua percepção sobre os aspectos listados.
Desde já, OBRIGADA pela sua participação e atenção!
LISTA DE HABILIDADES, INTERESSES,
PREFERÊNCIAS, CARACTERÍSTICAS E
ESTILOS DE APRENDIZAGEM
189
LISTA DE HABILIDADES, INTERESSES E PREFERÊNCIAS E ESTILOS DE
APRENDIZAGEM
I. HABILIDADES
Assinale faço bem, faria bem se soubesse, não faço bem ou não faço com relação a cada item.
Lingüísticas ou verbais Faço bem
Faria bem se
soubesse
Não faço
bem
Não faço
1. Memorizar textos
2. Falar em público
3. Produzir textos
4. Argumentar e defender idéias
5. Sintetizar e resumir textos
6. Buscar e selecionar informações
7. Brincar com as palavras
8. Escrever poesias
9. Ler histórias
10.Contar histórias
11.Participar de debates
12.Escrever peças de teatro
13.Apresentar seminários
14.Ministrar palestras
15.Ler clássicos da literatura
16.Transmitir e ensinar conceitos
17.Falar outras línguas e idiomas
18.Fazer palavras cruzadas
19.Organizar idéias por escrito
20.Entrevistar pessoas
21.Comentar filmes
22.Escrever livros
23.Relatar notícias
Lógico-Matemáticas Faço bem
Faria bem se
soubesse
Não faço
bem
Não faço
1. Fazer cálculos
2. Trabalhar com estruturas lógicas
3. Resolver ou solucionar problemas matemáticos
4. Trabalhar com números
190
5. Construir gráficos e tabelas
6. Construir padrões e seqüências numéricas
7. Contar e classificar objetos
8. Fazer estatísticas
9. Programar passos e etapas de projetos
10. Utilizar estratégias diversificadas para quantificar
coisas
11. Construir teorias e hipóteses a partir de números
12. Calcular pesos e medidas
13. Relacionar área e volume
14. Calcular usando a medida de tempo
15. Montar cronogramas e calendários
16. Fazer estimativas
17. Identificar relações numéricas
18. Elaborar charadas e desafios com números
19. Desenvolver estratégias para jogos
20. Generalizar regras
21. Trabalhar com processos complexos
Mecânicas e de Construção Faço bem
Faria bem se
soubesse
Não faço
bem
Não faço
1. Construir engenhocas e objetos
2. Arquitetar estruturas
3. Construirquinas
4. Desmontar e montar coisas
5. Consertar objetos
6. Montar objetos com blocos tipo Lego
7. Construir brinquedos
8. Inventar novas utilidades para objetos e coisas
9. Manipular objetos
10. Consertar carros
11. Trabalhar com equipamentos eletrônicos
12. Participar de simulações
13. Desmontar e montar computadores
14. Criar por meio da computação gráfica
15. Descobrir novas fuões para peças e utensílios
16. Montar quebra-cabeças
17. Construir robôs (robótica)
18. Utilizar diversas ferramentas
191
Espaciais ou visuais Faço bem
Faria bem se
soubesse
Não faço
bem
Não faço
1. Desenhar
2. Planejar e organizar os ambientes (design)
3. Criar cenários de peça
4. Criar e elaborar a apresentação de sites
5. Fazer apresentações em multimídia
6. Interpretar mapas e diagramas
7. Filmar eventos e pessoas
8. Fazer gravuras
9. Grafitar
10. Misturar e combinar cores
11. Criar estruturas com materiais diversos
12. Esculpir
13. Trabalhar com artes gráficas
14. Construir maquetes
15. Trabalhar com conceitos geométricos
16. Construir roteiros de viagem e trajetos
17. Fazer transformações nos espaços
18. Fotografar
Musicais Faço bem
Faria bem se
soubesse
Não faço
bem
Não faço
1. Cantar
2. Compor músicas
3. Brincar com sons
4. Trabalhar com sonoplastia
5. Interpretar músicas
6. Tocar instrumentos
7. Reger
8. Fazer arranjos musicais
9. Criar musicais
10. Escrever letras de músicas
11. Musicar letras e poemas
12. Discutir sobre gêneros e estilos musicais
13. Imitar sons da natureza
14. Brincar com a voz
15. Ouvir música
Corporais e cinestésicas Faço bem Faria bem se Não faço Não faço
192
soubesse bem
1. Praticar esportes
2. Dançar
3. Explorar o ambiente por meio de movimentos
4. Dramatizar
5. Criar coreografias
6. Realizar mímicas
7. Imitar pessoas
8. Fazer mágicas
9. Inventar movimentos corporais diferentes
10. Dar cambalhotas e fazer piruetas
11. Saltar
12. Comunicar-se por meio de gestos
13. Imitar o movimento de máquinas e animais
Interpessoais Faço bem
Faria bem se
soubesse
Não faço
bem
Não faço
1. Relacionar-me com as pessoas
2. Comunicar pensamentos e idéias
3. Ouvir e argumentar sobre opiniões
4. Cooperar com atividades em grupo
5. Fazer amigos
6. Organizar grupos
7. Liderar grupos
8. Resolver e solucionar conflitos
9. Compreender os sentimentos alheios
10. Colocar-me na posição do outro
11. Planejar e executar atividades de assisncia social
12. Aconselhar
13. Organizar eventos culturais e sociais
14. Promover e organizar festas
15. Ouvir as pessoas
16. Perceber e reconhecer as intenções das pessoas
17. Influenciar as opiniões e ações dos outros
Intrapessoais Faço bem
Faria bem se
soubesse
Não faço
bem
Não faço
1. Fazer as coisas no meu ritmo
2. Refletir sobre meus sentimentos e idéias
3. Trabalhar com pesquisa
193
4. Observar pessoas e fenômenos
5. Pensar em várias alternativas para solucionar
problemas
6. Gerenciar tempo, emões e aprendizagem
7. Reconhecer meus fracassos e sucessos
8. Estabelecer metas e planos pessoais
9. Estabelecer padrões e valores morais e éticos
10. Agir de acordo com minha intuição
11. Reconhecer limites e regras
Naturalistas Faço bem
Faria bem se
soubesse
Não faço
bem
Não faço
1. Participar de passeios e trilhas ecológicas
2. Explorar a natureza
3. Estudar sobre plantas e animais
4. Estudar os biossistemas ecológicos
5. Identificar e classificar os seres vivos
6. Reconhecer como interagem os elementos da natureza
7. Identificar galáxias, estrelas e planetas
8. Manipular e observar objetos ao microscópio
9. Colecionar insetos
10. Colecionar rochas
11. Cuidar de hortas e jardins
12. Cuidar de animais
13. Participar de programas e projetos de proteção ao
meio ambiente
14. Observar o comportamento animal
15. Observar e identificar características climáticas
16. Realizar experimentos
17. Participar de feiras de ciências
18. Catalogar espécies
II. PREFERÊNCIAS, INTERESSES E ASPECTOS MOTIVACIONAIS
Assinale sim, não ou às vezes para cada uma das preferências listadas.
Sim o Às vezes
1. Gosto de correr riscos
2. Tenho muitas idéias sobre muitas coisas
3. Valorizo a fantasia e a imaginação
4. Prefiro lidar com idéias e coisas lógicas e palpáveis
194
5. Gosto de ser diferente
6. Tenho um espírito aventureiro
7. Gosto de questionar
8. Defendo rigidamente meus pontos de vista
9. Costumo ser bem humorado(a)
10. Gosto de experimentar coisas novas
11. Confio em minhas habilidades
12. Gosto de rotinas e de fazer as coisas sempre do mesmo jeito
13. Tenho interesse por muitas coisas diferentes
14. Tenho dificuldade em estabelecer e obedecer a limites
15. Vejo sempre o lado positivo das coisas, eventos e circunstâncias
16. Gosto de fazer comparações entre coisas diferentes
17. Gosto de ser independente
18. Costumo ter idéias incomuns e originais
19. Gosto de elaborar novas utilidades para coisas e objetos
20. Uso a imaginação para resolver problemas
21. Confio em minha intuição
22. Tenho medo de errar
23. Tenho medo de parecer ridículo ou tolo ao expor minhas idéias
24. Gosto de criar novos caminhos e alternativas
25. Costumo ser impaciente com idéias comuns
26. Gosto de desafios
27. Gasto muito tempo com coisas de seu interesse
28. Gosto de colecionar coisas
29. Gosto de ler sobre vários assuntos
30. Gosto de ser o centro das atenções
31. Perco a noção de tempo quando trabalho em coisas do meu interesse
32. Gosto de tirar boas notas na escola
33. Gosto de estudar
34. Gosto de liderar projetos e grupos
35. Gosto de tomar a iniciativa
36. Gosto de ficar sozinho(a) na maior parte do meu tempo livre
37. Gosto de planejar as coisas nos mínimos detalhes
38. Prefiro envolver-me com uma coisa de cada vez
39. Gosto de ficar ao ar livre observando a natureza
40. Gosto de fazer experiências e experimentações
41. Gosto de trabalhar com pouca orientação
42. Costumo ir a o fim quando busco atingir um objetivo
43. Prefiro situações onde posso tomar a iniciativa e conduzir meu trabalho
44. Prefiro continuar trabalhando em um projeto mesmo quando as coisas
195
não estão dando muito certo
45. Prefiro a companhia de pessoas mais velhas
46. Prefiro a companhia de pessoas da minha idade
47. Outros:
III. CARACTERÍSTICAS PESSOAIS
Assinale sim, não ou às vezes para cada uma das características listadas.
Sim Não
Às
vezes
1. Tenho excelente memória
2. Sou idealista
3. Aprendo com facilidade sobre qualquer tópico ou tema
4. Sou perfeccionista
5. Sou exigente com os outros
6. Sou criativo
7. Gosto de chamar a atenção sobre mim
8. Sinto grande empatia e compaixão pelos outros
9. Sou indeciso
10. Costumo tomar decisões rápidas
11. Tenho interesse por muitas coisas ao mesmo tempo
Se sim, quais? __________________________________________
12. Sou sensível a certos tipos de toque
13. Sou sensível a certos tipos de iluminação
14. Sou sensível a certos tipos de gostos
15. Sou sensível a certos tipos de cheiros
16. Sou sensível a certos tipos de alimentos
17. Gosto de dormir mais de 8h por dia
18. Fico irritado facilmente
19. Sou agitado e inquieto
20. Choro e fico emocionado com facilidade
21. Sou extrovertido
22. Sou tímido
23. Sou curioso
24. Sou organizado e disciplinado
25. Sou persistente
196
26. Sou exigente comigo mesmo
27. Tenho uma auto-imagem positiva
28. Tenho valores morais sólidos
29. Sou ético nas minhas ações
30. Sou crítico
31. Sou independente
32. Tenho iniciativa
33. Tenho senso de humor
34. Sou sensível às injustiças
35. Realizo as tarefas de que gosto com intensidade
36. Sou conformista, aceito as coisas como elas são
37. Outra: __________________________________________________
IV. RELAÇÕES INTERPESSOAIS E ACADÊMICAS
Assinale sim ou não de acordo com a sua percepção sobre os relacionamentos listados.
Sim Não
1. Sou aceito e integrado na minha família
2. Sou aceito e integrado na escola
3. Sou aceito e integrado na sala de recursos
4. Sou aceito e integrado na comunidade onde moro
5. Sou aceito e integrado em outros locais que freqüento (igreja, clube, etc)
6. Tenho muitos amigos
7. Sinto-me constrangido, rejeitado ou discriminado por ser talentoso
8. Costumo tirar boas notas na escola
Se sim, em quais disciplinas: _____________________________________
9. Costumo fazer coisas originais
10. Já me colocaram apelidos pejorativos
11. Já sofri agressão verbal por causa do meu talento
12. Já sofri agressão física por causa do meu talento
13. Já me envolvi em brigas
14. Já recebi prêmios em concursos
15. Tive ou tenho um professor (mentor) que me influenciou de forma positiva
16. Tive ou tenho um professor que me influenciou de forma negativa
17. Encontrei obstáculos quanto ao desenvolvimento do meu talento
197
Se sim, qual(is)? ______________________________________________________
18. Um evento ou projeto em particular influenciou ou tem influenciado o
desenvolvimento do meu talento?
Se sim, qual(is)? ______________________________________________________
19. Admiro alguém que me serve de modelo ou inspiração
Se sim, quem? ________________________________________________________
O que você mais admira nessa(s) pessoa(s)?_________________________________
VI. ESTILOS DE APRENDIZAGEM
Assinale com um “X” a maneira como você aprende melhor
1. Lendo
2. Escrevendo
3. Fazendo experimentos
4. Por meio de elementos visuais: gráficos, esquemas, esboços
5. Por meio de elaboração de relatórios
6. Observando como se faz
7. Discutindo minhas idéias com outras pessoas
8. Ensinando para outras pessoas
9. Elaborando perguntas
10. Respondendo a perguntas
11. Fazendo comparações entre uma informação com outros fatos e eventos
12. Conversando com outras pessoas
13. Trabalhando em grupo
14. Trabalhando sozinho
15. Trabalhando no desenvolvimento de projetos
16. Ouvindo aulas expositivas
17. Assistindo palestras
18. Observando detalhadamente pessoas, objetos ou elementos naturais
19. Planejando passos ou atividades
20. Participando de atividades práticas
21. Estudando biografias
22. Participando de projetos independentes ou autodirigidos
23. Participando de debates
24. Trabalhando com movimento
25. Dramatizando
26. Estabelecendo relões e comparações
27. Outro: _______________________________________________________________
198
1. O que é talento para você?
2. O que é superdotação para você?
3. Você se considera uma pessoa talentosa? ( ) sim ( ) não
Por quê?
4. Você se considera uma pessoa superdotada? ( ) sim ( ) não
Por quê?
199
ANEXO 2
QUESTIONÁRIO PARA CARACTERIZAÇÃO DO SISTEMA FAMILIAR
Maria Auxiliadora Dessen
Laboratório de Desenvolvimento Familiar - Instituto de Psicologia - Universidade de Brasília - UnB
I - IDENTIFICAÇÃO
1. Família: nº ________ 2. Adolescente Iniciais : __________ 3. Data de nascimento: ___/___/___
4. Posição do filho participante do estudo na Família: único primogênito caçula outro: ___________________
5. O aluno reside com: mãe pai madrasta padrasto outro responsável: __________________
5. Questionário respondido por: mãe pai madrasta padrasto outro responsável:_______________
6. Aplicador: ____________________________ Data: ___/___/___ Início: ___hs ___min - Término: ___hs ___min
II – DADOS DEMOGRÁFICOS
1. Nome da mãe ou madrasta (iniciais): _______________________________________
Nome do pai ou padrasto (iniciais):_________________________________________
Nome do responsável (iniciais): ____________________________________________
2. Idade (anos, meses):
Mãe biológica: _____________ Madrasta: ______________ Responsável: ____________
Pai biológico: ______________ Padrasto: ______________
3. Estado civil atual:
a) casados vivem juntos separado/divorciado viúvo solteiro
b) 1
o
companheiro 2
o
companheiro 3
o
companheiro 4
o
companheiro ou +
c) Há quanto tempo você vive com o seu(sua) companheiro(a) atual? (anos e meses) __________________________
d) Há quanto tempo você se separou do pai/mãe biológico(a) do adolescente? (anos e meses) ___________________
4. Quantos filhos teve com cada companheiro(a)?
1
o
companheiro(a) ____________________ 2
o
companheiro(a) ____________________
3
o
companheiro(a) ____________________ 4
o
companheiro(a) ou + _________________
5. Escolaridade:
Primeiro
Grau
Segundo Grau Graduação Pós-Graduação Completo Incompleto
Mãe
Pai
Madrasta
Padrasto
Responsável
200
6. Ocupação atual: _________________________________________________________________________________
6.1. ( ) Funcionário público ( ) Funcionário privado 6.2. ( ) Desempregado ( ) Aposentado
A) CATEGORIAS DE OCUPAÇÃO
Mãe Mdra Pai Pdra Resp.
B) JORNADA DE TRABALHO
Tempo
de
serviço
Horas
por
dia
Dias por
semana
(2
a
. a dom.)
Escala
de
serviço
1. Serviços Básicos (Limpeza,
Domésticos)
2. Serviços Administrativos e Gerenciais
3. Serviços técnicos em geral
4. Serviços de comércio e venda
5. Operacionais gerais (secretaria,
almoxarifado, laboratório)
6. Serviços de estética e beleza
7. Profissionais Liberais
8. Profissionais da educação
10. Militar
11. Outros (especificar)_____________
12. Trabalho em casa
Nota: mdra = madrasta, pdra = padrasto e resp. = responsável.
7. Religião
a) Possui religião? Sim o
b) Qual? Católica Evangélico Espírita Protestante Outras (especificar): _______________________
c) Freqüência às atividades da comunidade religiosa
Semanalmente Mensalmente Quinzenalmente
Esporadicamente (pelo menos uma vez por ano) não freqüento
8. Renda Familiar ATUAL (pors):
Mãe (ou madrasta) = R$ ______________ Pai (ou padrasto) = R$ _____________ Responsável: R$ _____________
Outros (que contribuam): Quem? ___________________________ Valor = R$_______________________________
TOTAL= R$_________________________________ Total em salários mínimos:______________________
9. Residência:
Área urbana: __________________ Área rural: ____________________
Centro: ____________________ Periferia: _________________
10. Moradia
a) Tipo de moradia: Casa Apartamento Barraco Sem teto Outros
b) Situação da moradia: Própria Alugada Invasão Cedida Outros
201
11. Quem mora na casa? Há quanto tempo (anos; meses)?
Parentes por parte de pai
Parentes por parte da mãeo familiares
Avô – Tempo: ___________ Avô – Tempo: ___________ Empregada - Tempo ______
Avó – Tempo: ___________ Avó – Tempo: ___________ Outro: ________ - Tempo: _____
Tio – Tempo: ___________ Tio – Tempo: ___________ Outro: ________ - Tempo: _____
Tia – Tempo: ___________ Tia – Tempo: ___________ Outro: ________ - Tempo: _____
Outro: ________ - Tempo: _____ Outro: ________ - Tempo: _____ Outro: ________ - Tempo: _____
12. Constelação familiar:
a) Número de filhos que residem com a família: ______ Pai: ______ mãe: _____ Padrasto: _____ Madrastra: ____
b) Há algum filho morando com parentes ou amigos? Sim Não
Motivo: __________________________________________________________________________________________
c) Dados demográficos e acadêmicos sobre os filhos que moram com a família:
• Idade • Sexo: (1) Masculino (2) Feminino
Dados acadêmicos:
• Etapa do Ensino: (1) Educação Infantil (2) Ensino Fundamental (3) Ensino Médio (4) Ensino Superior
• Instituição: (1) Pública (2) Privada
• Período: (1) Matutino (2) Vespertino (3) Noturno (4) Integral - diurno
Atividades complementares: (1)Sala de Recursos (2) Curso de Idiomas (3) Curso de informática/computação
(4) Curso de Artes (5) Esportes (6) Outro (especificar)_________________
FILHOS
Idade Sexo
Etapa de
Ensino
Instituição Período
Atividades
Complementares
Filho identificado
como Talentoso
Único
Primogênito
Segundo
Terceiro
Quarto
Outros
Obs.: Assinalar com um X o filho que está participando da pesquisa. Se necessário utilize o verso do questionário para
listar os demais filhos.
III – CARACTERIZAÇÃO DO SISTEMA FAMILIAR
A) Quanto às atividades de lazer da família
1. Local
LOCAL
ATIVIDADES
Dentro de casa
Na vizinhança
Na residência de parentes e amigos
Em locais públicos
Outros - __________________
202
2. Tipo de atividades de lazer
ATIVIDADES SOCIAIS
FREQÜÊNCIA
Diariamente
1 vez por
semana
1 a 3 vezes ao
mês
Menos que uma
vez por mês
Nunca
Religiosas
Grupos de estudo
Missas/ Cultos em geral
Eventos sociais / festas
Assistência à comunidade
Encontros sociais com
familiares / amigos
Visitas
Festas e Comemorações em geral
Passeios
Culturais/Sociais
Festas típicas
Cinema, teatro
Visitas a centros culturais
Viagens curtas
Viagens longas
Shoppings
Clubes
Outras alternativas – Indicar:
___________________________
Não participamos de
atividades de lazer
3. Com quem a família compartilha as atividades de lazer?
a) Família com filhos do próprio casal
Todos os membros da família (que residem no mesmo local) Toda família com avós
Apenas mãe e filhos Toda família com parentes em geral
Apenas pai e filhos Toda família com amigos
b) Família com pais separados
Apenas os membros da família do pai Apenas os membros da família do pai e da madrasta
Apenas os membros da família da mãe Apenas os membros da família da mãe e do padrasto
Todos os membros da família (que residem no mesmo local) Toda família com amigos
Todos os membros da família (inclusive os que não residem no mesmo local)
Toda família com parentes em geral
c) Família do responsável
Todos os membros da família (que residem no mesmo local) Toda família com parentes em geral
Apenas o responsável com filhos Toda família com amigos
Apenas o responsável e o participante da pesquisa
203
4. Quais as atividades rotineiras dos membros da família que residem no mesmo local durante a semana?
_________________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________________
5. Qual o seu conceito de superdotação?
_________________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________________
6. Qual o seu conceito de talento?
_________________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________________
7. Você considera seu (sua) filho(a) superdotado? Sim Não Por que?
_________________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________________
8. Você considera seu (sua) filho(a) talentoso? Sim Não Por que?
_________________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________________
204
ANEXO 3
INDICADORES DE SUCESSO PARENTAL
Versão Adolescentes
Robert D. Strom e Shirley K. Strom
Traduzido por Jane Farias Chagas
Usado com Permissão
205
Você deve responder às perguntas deste questionário pensando em seu pai, sua mãe ou
em outra pessoa que é responsável por você. Escolha um deles como referência para
suas respostas.
Identificação do Aluno
Nome do aluno: ___________________________________________________________
Escreva o nome de quem você está pensando enquanto responde a esse questionário:
pai, e ou responsável: ________________________________________________
1. Eu sou:
1)___ do sexo masculino
2)___ do sexo feminino
2) Minha idade é :
1)___12 anos
2)___13 anos
3)___14 anos
4)___15 anos
5)___16 anos
6)___17 anos
7)___18 anos
3) Minhas notas escolares são:
1)___acima da média
2)___na média
3)___abaixo da média
4) Este pai/ mãe ou responsável indicado é:
1)___casado(a) pela 1vez
2) __ casado(a)pela 2 vez
3)___separado(a)
4)___divorciado(a)
5)___solteiro(a)
6)___viúvo (a)
5) Este responsável é meu :
1)___ padrasto
2)___ madrasta
3)___ avô
4)___ avó
5)___outro – especifique:_______________
6) A idade deste pai/ mãe/ responsável é :
1)___menos de 30 anos
2)___30 a 39 anos
3)___40 a 49 anos
4)___mais de 50 anos
7) O tanto de tempo que gasto
conversando com ele(a) é:
1)___menos de 1 hora
2)___1 a 3 horas
3)___3 a 5 horas
4)___5 a 10 horas
5)___mais de 10 horas
8) Este pai/ mãe/ responsável
1)___trabalha meio-período
2)___trabalha 8 horas por dia
3)___trabalha mais de 8 horas por dia
4)___não trabalha
5)___trabalha em casa.
206
Indicadores de Sucesso Parental – Versão Filhos
Instruções: Você deve marcar apenas uma resposta que se aproxima ao máximo dos
seus sentimentos em relação ao pai, mãe ou responsável indicado.
Meu pai, minha mãe ou responsável:
1. Escuta o que eu tenho a dizer.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
2. Vê o lado positivo das situações.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
3. Conversa comigo sobre os programas de televisão que assistimos juntos.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
4. É bastante honesto(a) comigo ao expressar seus sentimentos.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
5. Demonstra que aprende comigo.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
6. Confia em mim.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
7. Costuma me disciplinar de forma justa e adequada.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
8. Conversa comigo sobre minhas amizades.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
9. Conversa comigo sobre namoro.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
10. Aceita minhas críticas.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
207
Meu pai, minha mãe ou responsável:
11. Tem dificuldade em conseguir tempo para participar de minhas atividades
escolares.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
12. Tem dificuldade em limitar o tempo que eu gasto assistindo televisão.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
13. Tem dificuldade em aceitar a forma como eu organizo o meu tempo.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
14.o tem tempo para ficar comigo.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
15. Tem dificuldade de fazer coisas comigo porque ele(a) está cansado(a).
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
16. Tem dificuldade em ser paciente comigo.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
17. Tem dificuldade em me deixar tomar decisões.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
18. Tem dificuldades em permitir que eu passe tempo com meus amigos.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
19. Tem dificuldade em permitir que eu tenha tempo para ficar sozinho.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
20. Tem dificuldades em arranjar tempo para ele(a) mesmo(a).
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
208
Meu pai, minha mãe ou responsável:
21. Ensina-me a viver de forma saudável.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
22. Ensina-me a respeitar os sentimentos das outras pessoas.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
23. Ensina-me a perceber e distinguir entre o que é certo e o que é errado.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
24. Ensina-me a lidar com o estresse ou frustração.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
25. Ensina-me a usar a imaginação e ser criativo.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
26. Ensina-me a tratar igualmente as pessoas de ambos os sexos.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
27. Ensina-me a refletir sobre meus próprios atos e avaliar-me a mim mesmo.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
28. Ensina-me como gastar dinheiro.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
29 Ensina-me que o esforço é a chave do sucesso.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
30. Ensina-me sobre religião e é um bom exemplo.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
209
Meu pai, minha mãe ou responsável:
31. Demonstra frustração ou insatisfação com a forma como sigo regras.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
32. Demonstra frustração ou insatisfação em relação ao meu modo de falar.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
33. Demonstra frustração ou insatisfação com os valores que tenho adotado.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
34. Demonstra frustração ou insatisfação com a maneira como eu faço as tarefas de
casa (domésticas).
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
35. Demonstra frustração ou insatisfação com o meu modo de agir.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
36. Demonstra frustração ou insatisfação com o tipo de amigos que tenho.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
37. Demonstra frustração ou insatisfação com a minha escolha de roupas, filmes e
músicas.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
38. Demonstra frustração ou insatisfação com o tanto de tempo que eu falo ao
telefone.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
39. Demonstra frustração ou insatisfação quando fico de mau humor.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
40. Demonstra frustração ou insatisfação com meus hábitos de estudo.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
210
Meu pai, minha mãe ou responsável:
41. Gosta de estar comigo.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
42. Está satisfeito com a maneira como me relaciono com os outros membros da
família.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
43. Está satisfeito(a) com a maneira como me relaciono com meus amigos.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
44. Está satisfeito(a) com a maneira como eu ajudo os outros.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
45. Está satisfeito(a) com a maneira como eu lido com as conseqüências de minhas
decisões.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
46. Está satisfeito(a) com a maneira como assumo minhas responsabilidades.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
47. Está satisfeito(a) com minhas notas escolares.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
48. Está satisfeito(a) com a confiança que eu tenho em mim mesmo.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
49. Está satisfeito(a) com a maneira como eu o(a) trato.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
50. Está satisfeito(a) com o meu jeito de lidar com as críticas.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
211
Meu pai, minha mãe ou responsável:
51. Precisa de mais informações acerca de como me ajudar a ser bem sucedido na escola.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
52. Precisa de mais informações acerca de como me ajudar a lidar com gangues e brigas.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
53. Precisa de mais informações acerca de como me ajudar a me livrar de cigarros,
drogas e álcool.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
54. Precisa de mais informações acerca de como me ajudar a apreciar pessoas de outras
culturas.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
55. Precisa de mais informações acerca de como me ajudar em relação a questões sobre
sexo.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
56. Precisa de mais informações acerca de como me ajudar a estabelecer metas.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
57. Precisa de mais informações acerca de como me ajudar a escolher uma profissão.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
58. Precisa de mais informações acerca de como me ajudar a lidar com conflitos.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
59. Precisa de mais informações acerca de como me ajudar a lidar com medos e
preocupações.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
60. Precisa de mais informações sobre o que esperar de mim na minha idade.
( ) sempre ( ) muitas vezes ( ) raramente ( ) nunca
Se desejar acrescentar algo que você considera importante a respeito de sua relação
com seus pais, por favor, utilize o verso desta folha.
212
ANEXO 4
INDICADORES DE SUCESSO PARENTAL
Para Pais
Robert D. Strom e Shirley K. Strom
Traduzido por Jane Farias Chagas
Usado com Permissão
213
Nome do Pai, Mãe ou responsável: ____________________________________________
Nome do filho(a) :_________________________________________________________
Este instrumento tem como objetivo ajudá-lo(a) a identificar pontos fortes e
reconhecer aspectos do relacionamento familiar que precisam de crescimento. Durante a
leitura você obterá informações sobre seis áreas do desenvolvimento parental:
COMUNICAÇÃO: Maneira de orientar seus filhos e aprender com eles.
USO DO TEMPO: Tomada de decisão sobre a administração e organização do tempo.
ENSINO: Conjunto de orientações transmitido pelos pais.
FRUSTRAÇÃO: Tipos de comportamentos dos filhos que causam frustração ou
insatisfação nos pais.
SATISFAÇÃO: Aspectos da paternidade ou maternidade que geram satisfação.
NECESSIDADE DE INFORMAÇÃO: Coisas que os pais devem saber sobre os filhos.
É importante observar que as respostas às perguntas para cada área deverão ser
assinaladas de acordo com a seguinte escala:
4 - Concordo Totalmente: a afirmação é totalmente verdadeira em relação à sua prática.
3 - Concordo: a afirmação é parcialmente aplicada à sua prática
2 - Discordo: a afirmação é raramente aplicada à sua prática
1 - Discordo Totalmente: a afirmação é completamente falsa em relação à sua prática.
Indicadores de Sucesso Parental – Versão para pais
214
COMUNICAÇÃO PARENTAL
4 3 2 1
1. Escuto o meu filho.
2. Vejo o lado positivo das situações.
3. Discuto com o meu filho sobre o que assistimos na televisão.
4. Sou honesto ao expressar meus sentimentos a meu filho.
5. Aprendo com meu filho.
6. Demonstro confiança no meu filho.
7. Disciplino de forma justa o meu filho.
8. Converso com meu filho sobre seus amigos.
9. Converso com meu filho sobre namoro.
10. Aceito as críticas vindas do meu filho.
215
USO DO TEMPO PELOS PAIS
4 3 2 1
11. Participo das atividades escolares do meu filho.
12. Estabeleço limites quanto ao uso da televisão.
13. Aceito a forma como meu filho administra e organiza
seu tempo.
14. Dedico bastante tempo a meu filho.
15. Eu gosto de passar tempo com meu filho.
16. Sou paciente com meu filho.
17. Dou tempo ao meu filho para que ele tome decisões.
18. Permito que meu filho passe tempo com os seus
amigos.
19. Permito que meu filho reserve um tempo para si
mesmo.
20. Sempre arranjo tempo para o lazer.
216
ENSINO POR PARTE DOS PAIS
4 3 2 1
21. Ensino ao meu filho um estilo de vida saudável.
22. Ensino ao meu filho a se importar com os sentimentos das
outras pessoas.
23. Ensino ao meu filho sobre o que é certo e errado.
24. Ensino ao meu filho a lidar com o estresse.
25. Ensino ao meu filho a usar a imaginação e ser criativo.
26. Ensino ao meu filho como tratar as pessoas de ambos os
sexos igualmente.
27. Ensino ao meu filho a avaliar a si mesmo.
28. Ensino ao meu filho como gastar dinheiro.
29. Ensino ao meu filho que o esforço e a dedicação são a
chave para o sucesso.
30. Ensino sobre religião ao meu filho dando um bom
exemplo.
217
FRUSTRAÇÃO DOS PAIS
4 3 2 1
31. Aceito a maneira como meu filho segue as regras.
32. Aceito o jeito de falar do meu filho.
33. Aceito os valores do meu filho.
34. Aceito a maneira como meu filho realiza as tarefas de
casa (domésticas).
35. Aceito o jeito de ser do meu filho.
36. Aceito a influência dos amigos do meu filho.
37. Aceito o estilo de roupa, filmes e músicas preferidas
do
meu filho.
38. Aceito a maneira como o meu filho usa o telefone.
39. Aceito o comportamento mal humorado do meu filho.
40. Aceito os hábitos de estudo de meu filho.
218
SATISFAÇÃO DOS PAIS
4 3 2 1
41. Gosto de estar com meu filho.
42. Gosto da maneira como meu filho se relaciona com os
outros membros da família
43. Gosto da maneira como o meu filho se relaciona com os
seus amigos.
44. Gosto da maneira como meu filho ajuda os outros.
45. Gosto da maneira como meu filho considera as
conseqüências de suas próprias decisões.
46. Gosto da maneira como meu filho lida com suas
responsabilidades.
47.Gosto das notas que meu filho tira na escola.
48. Gosto do sentimento de autoconfiança do meu filho.
49. Gosto do jeito como meu filho me trata.
50. Gosto do jeito como meu filho lida com as críticas.
219
NECESSIDADE DE INFORMAÇÃO
4 3 2 1
51. Sei como ajudar o meu filho a ter sucesso na escola.
52. Sei como ajudar o meu filho a lidar com gangues e
brigas.
53. Sei como ajudar o meu filho a livrar-se do fumo, das
drogas e do álcool.
54. Sei como ajudar o meu filho a apreciar pessoas de
outras culturas
55. Sei como ajudar o meu filho a lidar com questões
sobre sexo.
56. Sei como ajudar o meu filho a traçar metas.
57. Sei como ajudar o meu filho a escolher uma profissão.
58. Sei como ajudar o meu filho a lidar com os conflitos.
59. Sei como ajudar o meu filho a lidar com medos e
preocupações.
60. Sei o que esperar do meu filho nesta idade.
Se você desejar, poderá acrescentar alguma informação sobre o seu relacionamento com
seu filho, utilize o verso desta folha.
220
ANEXO 5
Protocolo de Entrevista com o Adolescente Talentoso
1. Mudou alguma coisa em sua vida e/ou na estrutura da sua família depois que vo
foi identificado como superdotado/talentoso? Se sim, o que mudou?
2. Como é ser um adolescente talentoso? Como é conviver e se relacionar com as
outras pessoas (família, escola, sala de recursos, comunidade em geral)?
3. Qual a participação ou importância da família para o desenvolvimento de seu
talento?
4. Que tipo de apoio você tem encontrado (na família, na escola, comunidade em
geral) e que tem contribuído para desenvolver o seu talento?
5. Você encontrou algum obsculo quanto ao desenvolvimento do seu talento? O que
você fez para superá-lo? Alguém o ajudou? Quem?
6. Como você concilia as atividades do ensino regular com as atividades
desenvolvidas na sala de recursos?
7. Quais são as suas expectativas quanto ao futuro?
8. Existe alguma coisa que você gostaria que outras crianças e adolescentes talentosos
soubessem e que poderia facilitar no desenvolvimento do talento delas?
9. O que é superdotação para você? Você se considera superdotado(a)?
10. O que é talento para você? Você se considera talentoso(a)?
221
ANEXO 6
Protocolo de Entrevista com os Pais
1. Como você descreveria seu(sua) filho(a)? (habilidades e interesses, preferências
pessoais, características pessoais, relações interpessoais e acadêmicas e estilos de
aprendizagem)?
2. Como é conviver com um adolescente talentoso?
3. Qual a participação ou importância da família para o desenvolvimento de seu filho?
4. A família tem auxiliado no desenvolvimento do talento do(a) seu(sua) filho(a)? De
que forma?
5. Que tipo de suporte ou apoio você tem encontrado na escola e na sociedade em
geral com relação ao desenvolvimento do talento de seu(sua) filho(a)?
6. Você encontrou algum tipo de obstáculo ou barreira ao reconhecer ou ser
informado sobre o talento do seu filho?
7. Quais as suas expectativas acerca do futuro de seu (sua) filho(a)?
8. Que conselho você daria aos pais de adolescentes talentosos?
9. O que é superdotação para você? Você considera seu (sua) filho(a)
superdotado(a)?
10. O que é talento para você? Você considera seu (sua) filho(a) talentoso(a)?
222
ANEXO 7
Protocolo de Entrevista com os Irmãos
I. Identificação
Nome: ____________________________________________________Gênero: ______
Idade: _____________________ Escolaridade: __________________________________
Graduação/profissão: _______________ Posição na família:________________________
II. Perguntas
1. Como você descreveria seu(sua) irmão(ã)? (habilidades e interesses, preferências
pessoais, características pessoais, relações interpessoais e acadêmicas e estilos de
aprendizagem)?
2. O que você mais aprecia em seu(sua) irmão(ã)?
3. Existem outras pessoas na família com características parecidas? Quais?
4. Como é o seu relacionamento com o seu(sua) irmão(ã)? Mudou alguma coisa no
relacionamento de vocês depois que ele(a) foi identificado como
talentoso/superdotado? O que mudou?
5. Como é o relacionamento dele(a) com os colegas?
6. Mudou alguma coisa na rotina ou estrutura familiar? O que mudou?
7. Em que sua família tem contribuído para o desenvolvimento do talento de seu
irmão(ã)?
8. Que tipo de apoio ele tem encontrado na família, na escola e na sociedade em geral
para o desenvolvimento do talento dele(a)?
6. No seu ponto de vista, quais a maiores barreiras que o seu irmão(ã) tem encontrado
para o desenvolvimento do talento dele(a)?
7. O que você espera que aconteça ao seu(sua) irmão(ã) no futuro?
8. O que é superdotação para você? Você considera seu(sua) irmão(ã) superdotado(a)?
9. O que é talento para você? Você considera seu(sua) irmão(ã) talentoso(a)?
223
ANEXO 8
Protocolo de Entrevista com Professor Atual do Adolescente da Sala de Recursos
I. Identificação
Nome: __________________________________ Gênero: ______ Idade: __________
Formação Profissional: _______________ Tempo de atuação no magistério: ________
Há quanto tempo trabalha com superdotados: ________ Área: ____________________
Sala de Recursos – RA: ________________________ Área: ____________________
É professor do adolescente desde _____/____________ (mês/ano)
II. Perguntas
1. Como você descreve o seu(sua) aluno(a)? (habilidades e interesses, preferências
pessoais, características pessoais, relações interpessoais e acadêmicas e estilos de
aprendizagem)
2. Como vodescreve o relacionamento deste aluno com você e com os colegas?
3. Houve alguma mudança no aluno desde que ele começou a freqüentar o Programa?
Qual?
4. Quais as estratégias que têm sido implementadas na sala de recursos para o
desenvolvimento do talento deste adolescente?
5. A família acompanha o trabalho desenvolvido com este adolescente na sala de
recursos? O incentiva a desenvolver seu talento ou sua área de interesse?
6. No seu ponto de vista, quais são as contribuições ou participação da família no
desenvolvimento do talento do(a) __________________________?
7. Quais as suas expectativas com relação ao desempenho e ao futuro do aluno?
8. O que é superdotação para você? Você considera seu(sua) aluno(a) superdotado(a)?
9. O que é talento para você? Você considera seu(sua) aluno(a) talentoso(a)?
224
ANEXO 9
Protocolo de Entrevista com Professor Atual do Ensino Regular
I. Identificação
Nome: ____________________________________Gênero: ________ Idade: _______
Formação Profissional: _______________ Tempo de atuação no magistério: ________
Disciplina: ____________________________ Série: __________________________
É professor do adolescente desde: ________/___________(mês/ano)
II. Perguntas
1. Como você descreveria o aluno_____________________? (habilidades e interesses,
preferências pessoais, características pessoais, relações interpessoais e acadêmicas e
estilos de aprendizagem)
2. Ele se destaca em algum tipo de atividade na sala de aula ou na escola em outras
situações? Qual(is)?
3. Como você percebe a relação do aluno com os colegas na escola?
4. A família acompanha o desenvolvimento escolar do aluno? De que forma?
5. Na sua opinião, quais são as contribuições da família para o desenvolvimento do
talento do(a) _______________________?
6. O talento desse aluno é cultivado e valorizado na escola?
7. Quais estratégias você tem utilizado para auxiliar no desenvolvimento do talento deste
aluno?
8. Este aluno já enfrentou alguma dificuldade ou discriminação por apresentar um talento
ou demonstrar ter altas habilidades em alguma área?
10. O que é superdotação para você? Você considera seu(sua) aluno(a) superdotado(a)?
11. O que é talento para você? Você considera seu(sua) aluno(a) talentoso(a)?
225
ANEXO 10
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PROCESSOS DE
DESENVOLVIMENTO HUMANO E SAÚDE
Prezado Colega,
Agradeço imensamente a sua colaboração na primeira fase de coleta de dados dessa
pesquisa. Nosso objetivo é descrever as características individuais e familiares de
adolescentes talentosos, com idade entre 12 e 18 anos. Nesse sentido, serão utilizados 04
instrumentos de coleta de dados, de fácil aplicação:
Alunos
1. Lista de Habilidades, interesses, preferências, características e estilo de
aprendizagem – O aluno deve assinalar cada item como indicado no instrumento.
2. Indicadores de Sucesso Parental versão filhos –O aluno deve preencher o
instrumento pensando em apenas um dos genitores ou responsável. Assinalando
com um x” as alternativas como indicado no instrumento.
Pais
1. Questionário para caracterização do sistema familiar – deve ser aplicado pelo
professor ou psicólogo segundo orientações fornecidas pela pesquisadora.
2. Indicadores de Sucesso Parental – versão dos pais - um dos genitores deve
preencher de acordo com o que está indicado no instrumento.
O Termo de Consentimento Informado deve ser preenchido pelo aluno e um de seus
pais como condição para participar da pesquisa. É importante ressaltar, ainda, que (a) a
identidade dos participantes será mantida em sigilo e (b) é facultado a cada sujeito decidir
pela não participação na pesquisa a qualquer momento que desejar.
Caso haja alguma dúvida sobre os procedimentos a serem adotados, por favor, entre
em contato conosco:
Jane Farias Chagas
Fone: (61) 3387-9286/9203-6333
Endereço: Quadra 05 conjunto F casa 53
Sobradinho. DF – 73.030-056.
Denise de Souza Fleith
(professora orientadora)
Universidade de Brasília
Fone: 3307-2625 R: 402
E-mail: fleith@unb.br
Cordialmente, agradecemos o seu apoio.
Jane Farias Chagas
P.S.: A segunda fase da coleta será conduzida pela pesquisadora (entrevistas com alunos e famílias)
226
ORIENTAÇÕES PARA A APLICAÇÃO DOS INSTRUMENTOS
1. Cada sala de recursos está recebendo kits contendo os 04 instrumentos a serem aplicados em
adolescentes com idade entre 12 e 18 anos e um de seus genitores ou responsável. Os
instrumentos que não forem preenchidos devem ser devolvidos.
2. Durante a aplicação dos instrumentos é necessário registrar na Folha de Aplicação (a) o dia, o
horário e o tempo que o participante levou para responder os instrumentos e (b) a ocorrência
de algum evento como: observação ou comentários feitos pelos participantes, pedido de ajuda,
item em que houve dificuldade para responder ou dúvidas.
3. Depois que cada participante preencher os instrumentos, é importante verificar se todos os itens
foram respondidos. Se algum item for deixado em branco, pedir ao participante que
complemente com a informação que falta.
4. Os instrumentos preenchidos devem ser mantidos em sigilo e encaminhados à pesquisadora até a
última semana de Agosto.
5. O QUESTIONÁRIO PARA CARACTERIZAÇÃO DO SISTEMA FAMILIAR deve ser
aplicado pelo professor da SR ou psicólogo de acordo com o modelo preenchido.
6. Os instrumentos podem ser lidos e preenchidos pelo professor ou psicólogo do atendimento,
quando o nível de escolaridade do pai for muito baixo. Nesse caso, é importante registrar na
Folha de Aplicação se esse procedimento foi adotado.
PASSOS PARA A APLICAÇÃO DOS INSTRUMENTOS
ADOLESCENTES
1. Leitura da Carta de Apresentação e assinatura do TERMO DE CONSENTIMENTO
INFORMADO.
2. Preencher o instrumento INDICADORES DE SUCESSO PARENTAL
3. Preencher a LISTA DE HABILIDADES, INTERESSES, PREFERÊNCIAS,
CARACTERÍSTICAS DE ESTILOS DE APRENDIZAGEM.
PAIS
1. Leitura da Carta de Apresentação e assinatura do TERMO DE CONSENTIMENTO
INFORMADO.
2. Preencher o instrumento INDICADORES DE SUCESSO PARENTAL
3. O QUESTIONÁRIO PARA CARACTERIZAÇÃO DO SISTEMA FAMILIAR deve ser
aplicado pelo professor ou psicológico da Sala de Recursos.
OBSERVAÇÃO: Os dados coletados juntamente com as análises realizadas serão disponibilizados
ao NAAHS/DF, com o objetivo de comporem o banco de dados sobre o Programa de Atendimento
ao Aluno Superdotado da SEE/DF.
MUITO OBRIGADA POR SEU ENVOLVIMENTO E COOPERAÇÃO
227
ANEXO 11
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PROCESSOS DE
DESENVOLVIMENTO HUMANO E SAÚDE
Senhores pais ou responsáveis,
Sou aluna do curso de doutorado em Processos de Desenvolvimento Humano e
Saúde do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília e estou realizando estudo
sobre o desenvolvimento de talentos na adolescência. Nosso objetivo é descrever as
características individuais e familiares de adolescentes talentosos, com base na percepção
de adolescentes talentosos, suas famílias e professores, com a finalidade de subsidiar
pesquisas futuras e o desenvolvimento de programas e políticas que possam melhor atender
a essas especificidades. Nesse sentido, estamos convidando você e sua família para
participar de nossa pesquisa.
No entanto, para iniciarmos o processo de coleta de dados é necessário que o
Termo de Consentimento Informado seja assinado, datado e devolvido ao professor ou
psicólogo da sala de recursos, onde seu filho(a) recebe atendimento. Esclarecemos, ainda
que (a) alguns participantes serão entrevistados numa segunda fase da coleta de dados para
melhor compreensão dos fatores listados nos instrumentos preenchidos; (b) a identidade
dos participantes será mantida em sigilo e (c) é facultado ao participante decidir pela não
participação na pesquisa a qualquer momento que desejar.
Caso haja alguma dúvida sobre os procedimentos a serem adotados, por favor, entre
em contato conosco:
Jane Farias Chagas
Fone: (61) 3387-9286/9203-6333
Endereço: Quadra 05 conjunto F casa 53
Sobradinho. DF – 73.030-056.
Denise de Souza Fleith
(professora orientadora)
Universidade de Brasília
Fone: 3307-2625 R: 402
Desde já agradecemos o seu apoio e interesse.
Cordialmente,
Jane Farias Chagas
228
ANEXO 12
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PROCESSOS DE
DESENVOLVIMENTO HUMANO E SAÚDE
Termo de Consentimento Informado
Eu, ______________________________________________________________________
desejo participar e autorizo meu(minha) filho(a) _________________________________
_________________ a participar do estudo sobre Características individuais e familiares
de adolescentes talentosos conduzido por Jane Farias Chagas, aluna de doutorado do
Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília.
Brasília, ____ de _______________ de 2007.
________________________________________________________
Assinatura do(a) aluno(a)
_____________________________________________________
Assinatura do Pai, Mãe ou Responsável
Telefone ou e-mail para contato: ______________________________________________
Dia e horário disponível para entrevista: ________________________________________
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