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milho e de outros cereais, contribuíam para a abundância de produtos na região. No
século XIX, o arroz foi responsável por um surto de relativo progresso na região.
Tamanha era a produção que não havia mão de obra para suportá-la, o que fez o
governo incentivar a imigração. Essas imigrações provocam um crescimento
populacional, estimulando novos núcleos de povoamento (Mirabelli e Vieira, 1992). No
entanto, a estrutura para o escoamento da produção era precária.
A colheita do arroz era feita de modo artesanal, na qual os cachos eram
retirados à mão, utilizando apenas um canivete, um a um. Isso trazia pouco resultado
aos lavradores, ao passo que utilizando o sistema de ceifa a produção seria
multiplicada. Estes lavradores trabalhavam em regime de parceria nas fazendas,
tornando-se posseiros ou pequenos proprietários de terras próximas. A
institucionalização do regime republicano no Brasil, por volta de 1892, previa e
regulamentação da propriedade de terra, em que passavam a ser proprietários aqueles
que possuíam os títulos de terras. Apenas alguns conseguiram seus títulos de
propriedade, dentre eles, a maior parte de latifundiários e alguns poucos imigrantes
(Mirabelli e Vieira, 1992). Essa instável situação provocou o êxodo de lavradores,
seguida pela evasão de senhores e escravos. Consequentemente, a cultura do arroz
entrava em crise, junto aos problemas de comercialização. Da ruralização ocorrida
regionalmente, tipificam-se grupos humanos locais, dentre os quais, o caiçara, o
quilombola e o caipira (Mirabelli e Vieira, op.cit.).
Cananéia dá início ao século XX com o seguinte panorama: os habitantes
remanescentes, sitiantes, pautavam sua produção em bases familiares, e conforme
deixam a produção regional, voltam-se à agricultura de subsistência e ao mercado à
base de trocas. A agricultura itinerante, nas quais se fazia cultivos rotativos, era
realizada em sítios no continente. Era conjugada com a pesca da tainha, que era
praticada na zona lagunar e à beira mar e durava cerca de dois meses por ano
(Mourão, 2003). Nessas temporadas, as famílias passavam alguns dias em seus
ranchos de pesca, nas áreas que beiram o estuário ou nas áreas insulares, o que
facilitava as saídas dos homens e a manipulação dos pescados pelas mulheres. A
pesca, até então, era uma atividade destinada à complementação da dieta. A tainha era
capturada em cercos de pesca, feitos de taquara, ou com redes (Mourão, op.cit.). O