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ANEXO B- Entrevista com autor do manual didático
Cara Adriana,
Tentarei responder da mesma forma como converso com os professores nesses encontros que
você já conhece, ou seja, em linguagem informal, em tom coloquial, sem maiores
preocupações acadêmicas. Então, conversemos:
1- Como você descreveria o público a que se destina o manual de sua autoria “Literatura
brasileira: das origens aos nossos dias?
Ele foi elaborado tendo como público-alvo o alunado de Ensino Médio. A primeira edição,
publicada em fins de 1984, era mais simples e se destinava ao alunado de E.M. em geral (na
época, os manuais mais vendidos eram alguns que vinham da década de 50/60 e o do Douglas
Tufano, da Editora Moderna; todos muito tradicionais e tratando exclusivamente dos textos
literários, sem qualquer trabalho paralelo). As duas últimas edições (já no final da década de
90) apresentaram tratamento mais elaborado na parte gráfica (ganharam cores e papel cuchê)
e um certo refinamento no conteúdo tanto na parte teórica quanto na parte de exercícios
e um trabalho mais intenso e sistematizado com as obras de arte; em outras palavras, tornou-
se um produto um pouco mais elitizado. Com isso, além do alunado de E.M., passou a atingir,
com mais intensidade, o alunado de faculdades de Letras. Mas o público-alvo, mesmo,
continua sendo o alunado de E.M.
2- Que critério(s) adota para selecionar as obras de arte e os textos que o compõem?
Aqui é preciso distinguir dois tipos de texto: 1. os literários do período estudado: têm de ser
representativos daquela estética; 2. os literários ou não-literários, verbais ou não-verbais, do
mesmo período estudado e/ou de outra época: têm de ser textos que permitam a realização de
um trabalho de intertextualidade.
3- O que o levou a aproximar letras de música, obras de arte e textos literários (e de
épocas distintas), bem como a indicação de filmes ao final dos capítulos?
Diria, inicialmente, que sempre tive duas pretensões: 1. levar o aluno a conhecer, entender e
gostar de Literatura e, em particular, de Literatura Brasileira; 2. formar um bom leitor, ou
seja, um leitor atento, crítico, reflexivo, portanto ativo, interativo (na verdade, tudo o que foi
dito sobre o bom leitor é pleonástico, redundante, já que não existe um ‘bom leitor’ que não
seja crítico, reflexivo, interativo, etc.). Em função dessas duas pretensões, passei a realizar,
em minhas aulas, um trabalho com diferentes textos e linguagens (sempre passei filmes para
meus alunos, tanto de colégios como de cursinhos; projetava slides de obras de arte e tocava
músicas de época; discutia a ‘última’ música de Chico, ou Caetano, ou Gil, ou João Bosco e
Aldir Blanc...). No livro, tentei apenas colocar essas minhas experiências que, ao longo dos
anos, se mostraram produtivas. Digo sempre que não acredito no aluno que SÓ sabe ler o
poema barroco; ou ele sabe ‘ler’ um poema, um altar, uma música, uma escultura do Barroco,
ou não sabe nada. Claro que essa ‘leitura’ não precisa ser técnica; aqui sigo as orientações dos
PCNs de E.M. (que aliás, nos colocaram na área de ‘linguagens e códigos’, num plural
perfeitamente empregado):
“ Apreciar produtos de arte, em suas várias linguagens, desenvolvendo tanto a fruição
quanto a análise estética, conhecendo, analisando, refletindo e compreendendo critérios
culturalmente construídos e embasados em conhecimentos afins, de caráter filosófico,
histórico, sociológico, antropológico, psicológico, semiótico, científico e tecnológico, dentre
outros.
Essa capacidade de apreciação frente a manifestações artísticas do próprio meio sociocultural
dos estudantes, e também as nacionais e internacionais que integram o patrimônio cultural