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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
JOSÉ WALDIR DE VASCONCELOS LEOPÉRCIO JÚNIOR
ABORDAGEM DESCRITIVA E ANALÍTICA DO
TABAGISMO DURANTE A GESTAÇÃO EM
UMA AMOSTRA DE GESTANTES NO
MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO
RIO DE JANEIRO
2008
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JOSÉ WALDIR DE VASCONCELOS LEOPÉRCIO JÚNIOR
ABORDAGEM DESCRITIVA E ANALÍTICA DO TABAGISMO DURANTE A
GESTAÇÃO EM UMA AMOSTRA DE GESTANTES
NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em Clínica
Médica da Faculdade de Medicina da
Universidade Federal do Rio de Janeiro,
como parte dos requisitos para a obtenção
do título de Mestre em Medicina, na Área de
Concentração em Clínica Médica, no Setor
de Pneumologia.
Orientadores : Profs. José Roberto Lapa e Silva e Alexandre Pinto Cardoso
Rio de Janeiro
2008
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JOSÉ WALDIR DE VASCONCELOS LEOPÉRCIO JÚNIOR
ABORDAGEM DESCRITIVA E ANALÍTICA DO TABAGISMO DURANTE A
GESTAÇÃO EM UMA AMOSTRA DE GESTANTES
NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em Clínica
Médica da Faculdade de Medicina da
Universidade Federal do Rio de Janeiro,
como parte dos requisitos para a obtenção
do título de Mestre em Medicina, na Área de
Concentração em Clínica Médica, no Setor
de Pneumologia.
Aprovada em
__________________________________________________________________
Fernanda Carvalho de Queiroz Mello, Pós Doutora, Profa. Adjunta da Faculdade de
Medicina da UFRJ
__________________________________________________________________
Alberto José de Araújo, Doutor, Diretor do Núcleo de Estudos e Tratamento do Tabagismo
do IDT-HUCFF/UFRJ e Pesquisador Associado do Mount Sinai School of Medicine - EUA
__________________________________________________________________
Ivan da Costa Barros, Doutor, Prof. Titular do Departamento de Medicina Clinica da UFF
A Deus, pelos dons que me deu,
Ao meu pai, pelos exemplos deixados,
À minha mãe, por ter sido pai e mãe com sabedoria,
Às minhas irmãs, pelo apoio incondicional,
À minha esposa, pelo amor e companheirismo,
Aos meus filhos, alegria da minha vida.
AGRADECIMENTOS
Aos meus orientadores, Lapa e Alexandre, pelos ensinamentos e compreensão;
Ao Guillermo e Ronir, pelas valorosas contribuições à pesquisa;
À Profa. Iná dos Santos, pela colaboração na construção do questionário;
Ao Fernando, pela criteriosa revisão do texto;
Ao Ivan, por mostrar-me o caminho de como ser um verdadeiro médico;
À Fernanda, Alberto, Lazzarini e Paschoal pela pronta atenção dispensada;
Aos profissionais dos postos de saúde que tornaram viável este trabalho;
Às gestantes, a verdadeira razão de todos os esforços;
À Elza e Cezarina, pela importância na formação dos meus valores;
Ao amigo Rogério, pela retidão e parceria;
Ao amigo Sérgio Côrtes, pelo incentivo e exemplo de empreendedorismo;
À Sabrina e Ana Lucia, pelo incansável apoio sem o qual a conclusão deste trabalho ficaria
comprometida;
Aos parentes e amigos, pelos momentos de alegria e descontração.
RESUMO
LEOPÉRCIO JÚNIOR, JOSÉ WALDIR DE VASCONCELOS. Abordagem descritiva e
analítica do tabagismo durante a gestação em uma amostra de gestantes no Município do Rio
de Janeiro, 2008. Dissertação (Mestrado em Clínica Médica, Área de Concentração: Clínica
Médica, Setor: Pneumologia), Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, 2008.
Objetivo: Contribuir para o conhecimento dos aspectos epidemiológicos do tabagismo
durante a gestação no município do Rio de Janeiro. Métodos: Foi realizado no Rio de Janeiro
um estudo transversal no período de junho de 2003 a julho de 2004, com a participação de
633 gestantes que responderam a um questionário para avaliar hábitos tabágicos durante a
gestação. Resultados: Em relação ao hábito de fumar, 18,8% das gestantes afirmaram ser
fumantes quando souberam que estavam grávidas. No início da gestação, fumavam 13,2 ±
10,2 cigarros por dia. A idade com que começaram a fumar foi de 14,5 ± 3,3 anos. Dentre as
entrevistadas, 39,5% começaram a fumar antes dos 14 anos. Quanto à duração, 49,6% das
fumantes tinham o hábito há mais de 10 anos. A quase totalidade das entrevistadas (99,0%)
detinha a informação de que fumar durante a gravidez era prejudicial à saúde da mãe e do
bebê e 98,3% acreditavam nesta informação. A maioria das gestantes (97,6%) acreditava que
seria importante a implementação de programas de apoio às fumantes grávidas para deixar de
fumar. Dentre as fumantes, 94,1% aceitariam participar de um programa desse tipo, caso fosse
criado. O hábito tabágico do companheiro e a crença nos malefícios do fumo na gravidez
tiveram influência sobre o comportamento das gestantes: as mulheres com parceiros não
fumantes apresentavam as menores prevalências e quando a gestante manifestou acreditar
nestes malefícios as chances de fumar foram 8% comparadas com as chances daquelas que
não acreditavam (p-valor < 0,001). A idade, o número de anos estudados e residir ou não com
parceiros não apresentou influência sobre o hábito tabágico das gestantes. Conclusão: O
estudo mostrou que ainda é elevado o número de grávidas fumantes que fazem pré-natal nos
Postos de Saúde do Rio de Janeiro. Mostrou também que acreditar nos malefícios do fumo,
bem como a existência de companheiro não fumante reduz significativamente a chance da
gestante ser fumante. Mesmo que os resultados deste estudo não possam ser extrapolados para
todo o território nacional, podem colaborar para a formulação de políticas públicas e privadas
de contenção do tabagismo durante a gestação no Brasil.
Palavras-chave: TABAGISMO, GRAVIDEZ, SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE
ABSTRACT
LEOPÉRCIO JÚNIOR, JOSÉ WALDIR DE VASCONCELOS. Abordagem descritiva e
analítica do tabagismo durante a gestação em uma amostra de gestantes no Município do Rio
de Janeiro, 2008. Dissertação (Mestrado em Clínica Médica, Área de Concentração: Clínica
Médica, Setor: Pneumologia), Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, 2008.
Objective: Add to the current knowledge about epidemiological aspects of smoking during
pregnancy in Rio de Janeiro City. Methods: This transversal survey was conducted in Rio de
Janeiro between July 2003 and July 2004. 633 pregnant women answered a questionnaire
aiming to evaluate smoking habits during pregnancy. Results: In relation to smoking habits,
18.8% pregnant women answered they were smokers when they first learned they were
pregnant. In the beginning of pregnancy, these women smoked a mean of 13.2 + 10.2
cigarettes a day. They started smoking at the age 14.5 + 3.3 years. Among them, 39.5%
started before they were 14. In relation to duration, 49.6% of smokers had kept such habit for
longer than 10 years. Almost all the women interviewed (99.0%) knew that smoking during
pregnancy was harmful to mother and fetus health and 98.3% believed on such information.
Most women (97.6%) believed that programs to support pregnant women to stop smoking
were important. Among smokers, 94.1% would accept taking part in such a program, if there
were any. The smoking habits of their partners and the belief on harmful effects of smoking in
pregnancy had an influence on pregnant women behavior: women with non-smoker partners
showed the least prevalence and when pregnant women answered they believed on such
noxious effects, chance was 8% of the chance if they answered they did not believe on them
(p-value < 0.001). Age, number of education years and living or not with their partners did
not show a significant influence on pregnant women’s smoking habits. Conclusion: This
survey showed that the number of pregnant women who are in pre-natal programs in Rio de
Janeiro City Public Health is still high. It also showed that both the belief on noxious effects
of smoking and the existence of non-smokers partners significantly decrease the chance of a
pregnant woman is smoker. Even though these results cannot be extrapolated to Brazil as a
whole, they can support the planning of public and private policies to cope with smoking
during pregnancy in Brazil.
Keywords: SMOKING, PREGNANCY, HEALTH CARE SYSTEM
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
QUADROS
Quadro 1 - Distribuição de algumas características das gestantes entrevistadas ....................... 42
Quadro 2 - Características do hábito tabágico das gestantes que se declararam fumantes no
início da gestação ........................................................................................................................ 44
Quadro 3 - Resultados da regressão logística para o hábito de fumar no momento da tomada de
conhecimento da gestação ............................................................................................................46
Quadro 4 - Resultados da regressão logística para o hábito de fumar segundo o parceiro..........47
GRÁFICOS
Gráfico 1 - Distribuição das grávidas com relação ao hábito de fumar no início da gravidez.... 43
Gráfico 2 - Porcentagem de fumantes por faixa etária................................................................ 44
Gráfico 3 - Porcentagem de companheiros fumantes ................................................................. 45
Gráfico 4 - Porcentagem de gestantes que detinham e acreditavam na informação sobre os
malefícios do tabagismo na gestação ...........................................................................................45
Gráfico 5 - Porcentagem de gestantes que achavam importante a criação de programa de apoio
às grávidas para deixarem de fumar e que teriam interesse em participar .................................. 46
ABREVIATURAS E SIGLAS
AVC – acidente vascular cerebral
BPN – baixo peso ao nascer
CO – monóxido de carbono
COex – teor de monóxido de carbono no ar expirado
COHb – carboxihemoglobina
CQCT – Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco
DP – desvio padrão
DPOC – doença pulmonar obstrutiva crônica
OMS – Organização Mundial de Saúde
PMCRJ – Prefeitura Municipal da Cidade do Rio de Janeiro
PNCT – Programa Nacional de Controle de Tabagismo
PTA – Poluição Tabágica Ambiental
SMS – Secretaria Municipal de Saúde
SIDA – Síndrome de Imunodeficiência Adquirida
SUS – Sistema Único de Saúde
TRN – Terapia de reposição de nicotina
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................13
1.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE O TABAGISMO................................................13
1.2 TABAGISMO NO BRASIL .............................................................................................14
1.3 O TABAGISMO E A MULHER......................................................................................15
1.4 TABAGISMO E GESTAÇÃO .........................................................................................18
1.4.1 Nicotina...........................................................................................................................20
1.4.2 Monóxido de carbono .....................................................................................................21
1.4.3 Prevenção e tratamento do tabagismo durante a gestação..............................................22
1.5 Tratamento do Fumante na Abordagem Intensiva............................................................26
1.5.1 Entrevista de avaliação....................................................................................................26
1.5.1.1História do hábito tabágico...........................................................................................27
1.5.1.2Tentativas anteriores.....................................................................................................27
1.5.1.3Apoio social..................................................................................................................27
1.5.1.4Dependência .................................................................................................................28
1.5.1.5Grau de motivação e prontidão.....................................................................................28
1.5.1.6Auto-eficácia.................................................................................................................29
1.5.1.7Co-morbidades Clínicas................................................................................................29
1.5.1.8Co-morbidades Psiquiátricas........................................................................................29
1.6 Seleção do melhor tipo de tratamento para o seu paciente................................................30
1.6.1 Tratamento individual ou em grupo................................................................................30
1.6.2 Tratamento Farmacológico.............................................................................................31
1.7 Abordagem de Tabagismo na Gestação............................................................................32
1.8 Avaliação crítica dos custos do combate ao tabagismo durante a gestação......................33
1.9 Tabagismo Passivo............................................................................................................34
2 JUSTIFICATIVA ................................................................................................................36
3 OBJETIVO ..........................................................................................................................37
3.1 OBJETIVO GERAL..........................................................................................................37
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS............................................................................................37
4 METODOLOGIA................................................................................................................38
4.1 Desenho do estudo.............................................................................................................38
4.2 Operacionalização do estudo.............................................................................................38
4.3 Instrumento de coleta de dados.........................................................................................39
4.4 Aspectos éticos..................................................................................................................39
4.5 População alvo e critério de inclusão................................................................................40
4.6 Cálculo do tamanho amostral............................................................................................40
4.7 Período e locais de coleta de dados...................................................................................40
4.8 Variáveis utilizadas no estudo...........................................................................................41
4.9 Banco de dados e análise estatística..................................................................................41
5 RESULTADOS ...................................................................................................................42
6 DISCUSSÃO.......................................................................................................................48
7 CONCLUSÃO.....................................................................................................................54
8 PERSPECTIVAS.................................................................................................................55
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................56
ANEXOS..................................................................................................................................68
ANEXO A - PARECER DA COMISSÃO DE ÉTICA EM PESQUISA ................................69
ANEXO B - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO.........................70
ANEXO C – QUESTIONÁRIO...............................................................................................71
APÊNDICES............................................................................................................................74
APÊNDICE A - ARTIGO DE REVISÃO: LEOPÉRCIO W, GIGLIOTTI A. TABAGISMO E
SUAS PECULIARIDADES.....................................................................................................75
DURANTE A GESTAÇÃO; UMA REVISÃO CRÍTICA. J BRAS PNEUMOL 2004, 30:176-
185. 75
APÊNDICE B - RESUMO APRESENTADO AO XIX CONGRESSO ABEAD, RIO DE
JANEIRO, SETEMBRO 2007 (PRÊMIO DE MELHOR POSTER) ....................................103
APÊNDICE C - RESUMO APRESENTADO AO XVIII CONGRESSO MUNDIAL DE
EPIDEMIOLOGIA, PORTO ALEGRE, SETEMBRO 2008 ................................................104
APÊNDICE D - RESUMO APRESENTADO AO XI SIMPÓSIO NACIONAL DE
TRATAMENTO DO TABAGISMO, RIO DE JANEIRO, NOVEMBRO DE 2008............105
APÊNDICE E - ARTIGO COMPLETO SUBMETIDO AO JORNAL BRASILEIRO DE
PNEUMOLOGIA: LEOPÉRCIO W, CARDOSO AP, COCA VELARDE LG, PRESMAN S,
LAPA E SILVA JR ................................................................................................................106
13
1 INTRODUÇÃO
1.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE O TABAGISMO
Embora os efeitos adversos do tabagismo sobre a saúde sejam conhecidos desde a
década de 50(1, 2), ainda hoje esta é a principal causa de morte evitável no mundo(3), sendo
uma das principais causas globais de óbito. Até recentemente, esta epidemia estava mais
restrita aos países industrializados e agora avança rapidamente para os países em
desenvolvimento. Estima-se que em 2000 o consumo de tabaco tenha sido responsável por 1
em cada 10 óbitos de adultos, sendo que metade destas mortes ocorreu em países de baixa
renda(4).
Em 2008 o tabaco será responsável por mais mortes do que a tuberculose, SIDA e
malária combinados(5). Se mantidas as tendências atuais, no ano de 2030 estima-se que o
total de mortes alcançará a faixa de 10 milhões anuais, gerando 1 bilhão de mortes neste
século(6, 7).
O tabagismo afeta globalmente o organismo, sendo que metade dos fumantes morre
prematuramente de doenças relacionadas ao tabaco(8-10). Sabe-se que todos os produtos
relacionados ao tabaco, incluindo fumo mascado, cigarrilhas, charutos e cachimbos podem
causar diversas doenças, dentre elas neoplasias malignas, além de causarem dependência(11).
Diversos autores vêm constatando que o fumo passivo, ou seja, a inalação da fumaça
de derivados do tabaco por indivíduos não-fumantes, que convivem com fumantes em
ambientes fechados(12), causa mortes prematuras e está relacionado a um risco 30% maior de
desenvolvimento de câncer de pulmão(13) e 24% de infarto do miocárdio(14). Em crianças
que convivem com a poluição tabágica ambiental (PTA) encontra-se um aumento da
freqüência de resfriados e infecções do ouvido médio, além de risco aumentado para o
desenvolvimento de doenças respiratórias, tais como pneumonia e bronquites, e piora dos
sintomas da asma. Em recém-nascidos os malefícios da PTA são ainda mais alarmantes,
14
podendo alcançar um risco 5 vezes maior de morte súbita sem causa aparente (síndrome da
morte súbita infantil), além de risco aumentado de doenças pulmonares dos que têm até 1 ano
de idade, proporcional ao número de fumantes em casa(8).
Diante de tal pandemia, a Organização Mundial de Saúde (OMS) criou o primeiro
tratado internacional de saúde pública de que se tem notícia – a Convenção-Quadro para o
Controle do Tabaco (CQCT) – que, através de um conjunto de medidas (tais como reduzir a
demanda e a oferta de tabaco, proteger o meio ambiente, aumentar a cooperação técnica,
científica e o intercâmbio de informações e abordar questões de responsabilidade civil), tem
como objetivo deter a expansão do consumo de tabaco e seus danos à saúde(15).
1.2 TABAGISMO NO BRASIL
No Brasil, o tabagismo também pode ser considerado uma epidemia, sendo responsável
por cerca de 200.000 mortes/ano(16). Entre 1996 e 2005, houve mais de 100.0000
hospitalizações relacionadas ao tabagismo no Sistema Único de Saúde (SUS), com custos em
torno de meio bilhão de dólares(17).
Embora seja o segundo maior produtor de tabaco no mundo(18), o Brasil é
reconhecido pela OMS como um dos países mais avançados em termos de desenvolvimento
de políticas públicas de controle de tabagismo(19, 20), tendo sido observado um declínio na
prevalência do uso do tabaco nos últimos anos. Houve uma queda de 35% para 18% no
período de 1989 a 2003(21), sendo ainda menor a prevalência em 2006, onde estimativas mais
recentes apontam um valor em torno de 16%(22). Esta queda no consumo de produtos
derivados do tabaco pode ser explicada pela adoção de diversas medidas pelo Programa
Nacional de Controle de Tabagismo (PNCT)(23), que mesmo antes da ratificação da CQCT,
já havia implementado uma série de ações preconizadas pela OMS no tratado mundial, tais
como a proibição da publicidade e propaganda, limitação nos teores de alcatrão, nicotina e
15
monóxido de carbono nos cigarros e advertências escritas com imagens impactantes impressas
nas embalagens de produtos derivados do tabaco. Além disto, o Brasil foi o primeiro país a
proibir adjetivos que levassem o consumidor de cigarro à interpretações errôneas dos
malefícios do fumo como é o caso das expressões “light”, “baixos teores” ou “suave”.
Outra ação importante foi a inserção do tratamento do tabagismo no Sistema Único de
Saúde (SUS), oferecendo à população atendimento cognitivo-comportamental e
medicamentos de primeira linha para a dependência do tabaco, conforme preconizado no
Consenso Brasileiro do Tabagismo(24). A implantação do tratamento do tabagismo no SUS é
uma estratégia fundamental para diminuir a sua prevalência no país, visto que o perfil do
fumante brasileiro está mais concentrado entre os grupos populacionais com baixa
escolaridade (prevalência 1,5 a 2 vezes maior entre aqueles que possuem pouca ou nenhuma
escolaridade que, em regra geral, são os de menor renda)(25).
1.3 O TABAGISMO E A MULHER
É consenso que o consumo de tabaco difere entre indivíduos, áreas geográficas e sexos.
Não obstante, nas últimas décadas, alterações em padrões tabágicos vigentes vêm sendo
observadas em todo o mundo, em especial quando considerado o grupo feminino após a
Segunda Guerra Mundial. Chollat-Traquet(26) afirma que a evolução do tabagismo difere
entre homens e mulheres, sendo que historicamente o consumo de tabaco entre mulheres antes
se restringia aos países desenvolvidos. Somente na década de 50, com as mudanças sociais
ocorridas na população feminina, registrou-se um incremento importante no consumo deste
grupo, que vem sendo mais expressivo nas faixas etárias mais jovens, e que atualmente é
considerada uma epidemia que desafia os sistemas de saúde pública.
Um dos efeitos diretos do aumento da prevalência de tabagismo no sexo feminino é o
incremento da mortalidade devido às doenças relacionadas ao tabaco, com cerca de meio
16
milhão de óbitos a cada ano, no mundo. O documento “Tobacco Atlas” publicado pela OMS
em 2002 mostrou que 4,2 milhões de pessoas morreram em todo mundo devido ao tabagismo
no ano de 2000 – destas 1,8 milhões foram do sexo feminino(18). Na União Européia, a taxa
de mortalidade por câncer de pulmão entre mulheres passou de 7,8/100.000 em 1991 para
11,2/100.000 em 2001(27).
Uma tendência observada em países industrializados é a redução da mortalidade
masculina concomitante ao aumento da mortalidade feminina(28). Em relação ao câncer de
pulmão tem-se observado um declínio nas taxas de mortalidade para os homens e, em
contrapartida, um incremento para as mulheres(29). De modo geral, as conseqüências do
tabagismo para as mulheres envolvem aumento da incidência de neoplasias, doenças
pulmonares obstrutivas, asma e doenças cardiovasculares(29-32). Para as gestantes existem
ainda implicações na saúde e no desenvolvimento do feto(33).
O padrão de fumar difere entre os sexos: mulheres consomem mais cigarros de baixos
teores de nicotina e alcatrão(34) e utilizam mais a nicotina para diminuir o estresse, afetos
negativos e o peso corporal quando comparadas com os homens(35, 36). Outra questão
bastante presente na literatura é que a associação entre tabagismo e depressão é mais forte nas
mulheres(37). A dependência da mulher é reforçada pela necessidade de ter algo nas mãos e
na boca e pela pressão social(38)
Além disto, mulheres experimentam maior prazer subjetivo
do que os homens com o fumo(39).
No Brasil, o Inquérito de Tabagismo em Escolares (VIGESCOLA)(40), foi realizado
em 2002 com estudantes de 13-15 anos em diversas capitais do Brasil. Em Curitiba e Porto
Alegre o consumo de tabaco apresentou maior prevalência entre as meninas do que entre os
meninos. Outro estudo realizado em 107 cidades brasileiras revelou que meninas entre 12 e
17 anos apresentaram maior prevalência de experimentação (16,2%) do que os meninos da
mesma faixa etária (15,2%)(41).
17
O crescente consumo de tabaco nas mulheres preocupa muito os especialistas, visto que a
literatura recentemente tem sugerido que as mulheres têm maior dificuldade em abandonar o
cigarro do que os homens(42-44). Além disto, o aumento da incidência do câncer de pulmão
em mulheres em vários países desenvolvidos, como os EUA, já ultrapassa o câncer de mama
como principal causa de mortalidade feminina por neoplasia(45). O hábito de fumar nas
mulheres está também diretamente relacionado a um maior risco de infertilidade, câncer de
colo de útero, menopausa precoce (em média 2 anos antes) e dismenorréia(46). Deve-se
considerar também o aumento dos riscos à saúde da associação do uso de pílula
anticoncepcional com o cigarro, sendo o risco de infarto do miocárdio, embolia pulmonar e
tromboflebite em mulheres jovens que usam contraceptivos orais e fumam, até 10 vezes maior
do que o das mulheres que não fumam e usam este método de controle da natalidade(47).
O aumento do consumo nas mulheres sofreu influência não só pela entrada da mulher
no mercado de trabalho, com a emancipação e conquistas de direitos mais próximos aos dos
homens, mas também com a maciça campanha da indústria do tabaco focalizando neste
público para aumentar seus lucros. Diversos estudos relatam a criação de marcas de cigarro
especificamente voltadas para o público feminino com campanhas de marketing bastante
agressivas(48-50), contribuindo para a associação do apelo do cigarro com a sensação de
liberdade, glamour, sucesso e magreza(36, 51, 52).
A maior preocupação que as mulheres tem é que, se
pararem de fumar, vão engordar… Este medo sem
dúvida impede muitas mulheres de desejarem parar de
fumar (53)
[As mulheres] não desejam parar de fumar, e no entanto
se sentem culpadas com preocupações por suas famílias
se o tabagismo vier a prejudicar seriamente sua própria
saúde... Assim, elas compensam ao fumar cigarros de
baixos teores de alcatrão (54)
As mulheres relataram preocupação sobre hálito,
odores domésticos e de cabelo, e um desejo por limpeza
associada ao cigarro (55).
18
1.4 TABAGISMO E GESTAÇÃO
O tabagismo durante a gravidez é um hábito comum. Estudos avaliando esta questão
mostram prevalências de 1:5 a 1:3 gestantes que fumam durante a gestação(56-58). O
Surgeon-General's Report on Women and Smoking”(59) mostrou um declínio desta
prevalência nos Estados Unidos de 34% em 1965 para 23% no final dos anos 90 e, segundo o
relatório não houve mudanças nestas taxas entre 1998 e 2000.
Existem diferenças entre as gestantes que abandonam o cigarro e aquelas que mantêm
o hábito. O uso continuado e de um número alto de cigarros está associado a nível sócio-
econômico mais baixo, estar sem companheiro e baixa renda(60, 61). Além das características
sociais, existem fatores psicológicos associados à continuidade do tabagismo na gestação,
especialmente depressão, estresse no trabalho, exposição à violência do parceiro e baixo nível
de suporte(62, 63). Outra questão associada é o medo do ganho de peso, que é ainda maior
durante a gestação(64).
O período da gestação é o momento em que existe maior concentração de mulheres
abandonando o cigarro. Nos Estados Unidos, por exemplo, mais de 40% das mulheres
fumantes abandonam o hábito antes da primeira visita de pré-natal(65), uma taxa maior do
que a encontrada na população em geral(66). Fumantes que param de fumar espontaneamente
em geral fumam menos, já experimentaram terem parado de fumar alguma vez na vida, têm
parceiro não fumante ou têm maior suporte e encorajamento em casa para deixar o cigarro.
Outro fator que influencia é a gestante ter fortes crenças acerca dos malefícios do fumo.
Embora as taxas de abandono espontâneo sejam altas, apenas um terço continua abstinente
depois de um ano(67).
McBride (2003)(68) ressalta que a gravidez é um excelente momento para estimular a
gestante a deixar o cigarro, descrevendo que o aumento na percepção de risco na gravidez
19
resulta em uma forte resposta afetiva e emocional que redefine o conceito pessoal da mulher e
o seu papel na sociedade.
Há várias décadas se discute os malefícios do fumo na gravidez(69). O tabagismo
durante a gestação tem implicações que vão além dos prejuízos à saúde materna. Os
malefícios sobre a saúde fetal são tantos que justificam a ousadia de dizermos que o feto é um
verdadeiro fumante ativo(70). Suas conseqüências são desastrosas tanto para a saúde
materna quanto a do bebê, favorecendo complicações gestacionais e o aumento da morbi-
mortalidade perinatal(67, 71, 72). Fumar também está associado a baixas taxas de
amamentação(73).
Além disto, muitos gastos com cuidados obstétricos e neonatais poderiam ser evitados
se as medidas para o controle do tabagismo durante a gestação fossem mais efetivas(74-76).
Apesar do reconhecimento destes custos financeiros, e especialmente humanitários, e a
despeito de todos os esforços empregados, a prevalência do fumo durante a gravidez continua
muito elevada(77-79).
Gestantes que fumam 2 cigarros em 10 minutos apresentam aumento de até 60% de
epinefrina e norepinefrina no plasma sanguíneo e elevação do nível de vasopressina(80).
Aquelas e outras catecolaminas atravessam a placenta, atingindo o líquido amniótico e o
sangue fetal. Pela vasoconstrição que provocam, reduzem o fluxo sanguíneo na placenta, o
qual pode diminuir em até 22%(81). A nicotina e a cotinina têm sido detectadas no líquido
amniótico de gestantes respectivamente nas concentrações de 31ng/ml e 129ng/ml(82). A
dosagem da nicotina no sangue do cordão umbilical mostra concentrações tanto mais elevadas
quanto menor é o intervalo entre a gestante fumar um cigarro e o momento do parto(83). O
aporte de oxigênio às células da placenta e ao feto, diminuído pela vasoconstrição, é agravado
pela intervenção de outro fator que é a carboxihemoglobina (COHb)(84), resultante da
20
combinação do monóxido de carbono produzido pela queima do cigarro e a hemoglobina do
sangue.
As concentrações de COHb no sangue de gestantes podem atingir de 7-9%, enquanto
nas abstêmias não chega a 1%(85). Com a diminuição do fluxo sanguíneo e do oxigênio,
constata-se, pelo termograma, queda da temperatura. Todo este processo provoca menor
desenvolvimento estrutural, lesões nas vilosidades da placenta e aumento compensativo desta
em relação ao feto. Isto, associado ao aumento das contrações musculares do útero, eleva o
risco do descolamento precoce da placenta (abruptio placentae)(86).
Gilliland e cols.(71) mostraram que a exposição fetal intra-uterina aos compostos do
tabaco compromete o crescimento dos pulmões e leva à redução das pequenas vias aéreas,
implicando em alterações funcionais respiratórias na infância que persistem ao longo da vida.
O desenvolvimento pulmonar modificado pode estar associado ao aumento do risco futuro de
doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), câncer de pulmão e doenças cardio-
vasculares(87-89).
1.4.1 Nicotina
A nicotina age nocivamente sobre o feto de várias maneiras: produzindo vaso
constrição, reduzindo o aporte de oxigênio, aumentando a contratilidade uterina, agindo sobre
os centros respiratórios nervosos e alterando a histo-arquitetura pulmonar(90).
A insuficiência útero-placentária tem sido vista como o principal mecanismo
responsável pelo retardo do crescimento fetal nas gestantes fumantes(91). A nicotina causa
constrição dos vasos do útero e da placenta, reduzindo o fluxo sangüíneo e a oferta de
oxigênio e nutrientes para o feto(92). No entanto, alguns autores(93-95)
acreditam que além
da nicotina, os danos biológicos celulares e moleculares provocados pelo monóxido de
21
carbono (CO) e por outras substâncias tóxicas também têm forte interferência no
desenvolvimento do feto.
O menor suprimento de sangue e de oxigênio, este último agravado pela elevação da
COHb, dificulta o crescimento do feto(96, 97). É maior a incidência de prematuridade,
entendida como neonatos abaixo de 2.500 g ou pequenos para a idade gestacional(81).
Pesquisas genéticas moleculares revelam que a diminuição do peso corporal dos
neonatos de mulheres que fumam durante a gestação não é somente devida ao menor aporte
de oxigênio, mas está também associada a condições genéticas reforçadoras da ação da
nicotina(98). Registra-se que nas gestantes fumantes coopera para este distúrbio o seu
genótipo, no qual estão envolvidos dois genes com grande polimorfismo: CYP1A1 e GSTT1.
O primeiro possui três manifestações: homozigótico AA, variante heterozigótica Aa e variante
homozigótica aa. Nas gestantes fumantes, há diferenças consideráveis entre os grupos
genéticos AA, sendo menor entre Aa e aa. Quando há associação das variantes Aa e aa do
gene CYP1A1 e ausência (deleção) do gene GSTT1, ocorre a maior redução do peso do
neonato, que atinge a 642 g, ao contrário da associação de AA de CYP1A1 e presença do gene
GSTT1, que é de 252 g(98).
1.4.2 Monóxido de carbono
O CO é um gás tóxico produzido pela combustão incompleta de matéria orgânica.
Embora existam outras fontes de exposição ao CO, tais como a poluição atmosférica, o fumo
passivo, a produção endógena e a exposição ocupacional, nada se compara ao tabagismo
ativo(99).
O CO se liga à hemoglobina materna e fetal no sítio onde deveria se ligar o oxigênio,
mas com uma afinidade 200 vezes maior(100). A hemoglobina fetal apresenta ligação com o
CO mais forte do que hemoglobina materna, resultando em níveis de COHb mais elevados na
22
circulação fetal(101). As altas concentrações de COHb provocam hipóxia tecidual,
estimulando a eritropoese e causando elevação do hematócrito da gestante fumante e de seu
feto(102).
Isto implica em uma hiperviscosidade sangüínea, aumentando o risco de infarto
cerebral e transfusão no neonato e de disfunção placentária(103). O CO altera a curva de
dissociação da oxihemoglobina, prejudicando a oxigenação dos tecidos(104). A hipóxia
celular crônica é um dos fatores que pode explicar o retardo do crescimento fetal(105).
1.4.3 Prevenção e tratamento do tabagismo durante a gestação
A base da prevenção e do tratamento do consumo de tabaco durante a gestação são as
medidas de combate ao tabagismo direcionadas à população geral. O binômio educação-
legislação é o resumo de todas estas intervenções que visam deter a admissão de crianças e
adolescentes ao tabagismo, proteger os não-fumantes e dar aos adultos toda a informação
necessária para que decidam conscientemente em relação à sua dependência à nicotina.
Fiore(106) preconiza que o perfil tabágico seja encarado como um um novo sinal
vital, indispensável em qualquer consulta médica, tal qual a verificação da temperatura,
pulso, freqüência respiratória e pressão arterial. Deveria ser indagado ao paciente e a resposta
obtida anotada no seu prontuário, abrindo espaço, a seguir, para uma abordagem mínima de
prevenção e tratamento do tabagismo(107).
Intervenções mínimas praticadas com a população em geral podem alcançar taxa de
sucesso de cessação do tabagismo de até 30%(108). Os resultados destes esforços são ainda
superiores quando direcionados especificamente às gestantes(109). A gestação e o pós-parto
são momentos ímpares para promoção da cessação do tabagismo(110).
No Brasil existe uma demanda reprimida em relação a vagas para tratamento da
dependência da nicotina. Pesquisas mostram que cerca de 80% dos fumantes desejam parar de
fumar, porém apenas 3% conseguem a cada ano(111). Destes, a maior parte consegue
23
sozinho, sem ajuda, o que coloca em evidência o grande potencial que a abordagem rotineira
do fumante possui para reduzir a prevalência do fumo(112).
Visando atenuar este panorama, o PNCT tem envolvido a articulação de diferentes tipos
de ações, tais como: capacitação de profissionais de saúde e financiamento de ações voltadas
para a abordagem e tratamento do fumante no SUS; elaboração de um consenso nacional
sobre métodos eficazes para cessação do tabagismo; divulgação destes métodos através de
campanhas, da mídia e de eventos dirigidos a profissionais de saúde e implantação do Disque
Pare de Fumar, com inserção do número deste serviço nas embalagens dos produtos derivados
de tabaco ao lado de advertências sanitárias contundentes.
Apesar destas ações estarem sendo executadas, ainda é muito restrito o acesso do
usuário aos serviços de saúde devido à pequena quantidade de profissionais capacitados e,
conseqüentemente, de unidades de saúde credenciadas para tal fim. Esta situação tem gerado
uma pressão intensa de fumantes que desejam parar de fumar e que precisam de tratamento
para a cessação do tabagismo.
Diante deste quadro, o Ministério da Saúde resolveu por meio da Portaria 1.798 de 12
de setembro de 2003 criar um grupo de trabalho no âmbito da Secretaria de Atenção à Saúde
(SAS) com a finalidade de proceder à revisão, atualização e aperfeiçoamento da Portaria
1.575. No dia 31 de maio de 2004, foi assinada pelo Ministro de Estado da Saúde a Portaria
1035/GM, que amplia o acesso à abordagem e tratamento do tabagismo para a rede de atenção
básica e de média complexidade do SUS, consolidando o PNCT.
Segundo o Plano de Abordagem do Ministério da Saúde, a atenção ao tabagista poderá
ocorrer de forma hierarquizada em toda a rede de serviços do SUS. Nesta rede estão incluídas
as unidades básicas de saúde – cujas formas de organização do trabalho podem ser na
estratégia de Saúde da Família ou no modelo tradicional – e as unidades de referência de
média e alta complexidade. Todas as unidades, desde que seus profissionais estejam
24
capacitados para a abordagem e tratamento do tabagismo, segundo o modelo preconizado pelo
PNCT, poderão atender ao fumante e oferecer, como tratamento, a abordagem cognitivo-
comportamental, material de apoio e, quando houver indicação, tratamento medicamentoso
com adesivo transdérmico de nicotina de 21 mg, 14 mg ou 7 mg e goma de mascar de nicotina
de 2 mg, associados ou não a Bupropiona na dose de 150 a 300 mg/dia.
De acordo com a Portaria MS nº 1.035/04, que amplia o acesso ao tratamento na rede
básica e de média complexidade, serão cadastradas unidades que atendam aos seguintes critérios:
§ ser integrante do SUS em qualquer nível hierárquico;
§ estar livre de poluição tabagística ambiental (unidade onde não é permitido fumar);
§ contar com no mínimo 1 profissional de saúde de nível superior (médico ou
enfermeiro), capacitado pelo PNCT;
§ possuir local para atendimento individual e em grupo;
§ garantir equipamentos e recursos para avaliação clínica;
§ contar com suporte local ou de referência para exames complementares.
O tratamento no SUS segue as diretrizes do PNCT do INCA/ Ministério da Saúde,
descritas no Consenso Abordagem e Tratamento do Fumante(24) e visa enfocar os três tipos de
dependência, ou seja, a física, a psicológica ou emocional e a comportamental ou de hábito. A
idéia básica é de reformular o modo como o fumante lida com seus sentimentos, promovendo
mudanças de hábitos e medicando, quando necessário, para controlar os sintomas de abstinência.
O tratamento se divide em dois momentos: o primeiro com objetivo de obtenção de
abstinência utilizando técnicas cognitivo-comportamentais para reformular a relação que o
fumante tem com o cigarro (com duração de 4 semanas); e o seguinte, com o foco principal na
manutenção da abstinência, ou seja, na consolidação da parada, visto que vários pacientes
conseguem deixar o cigarro mas sentem dificuldade para manter esta decisão a longo prazo. A
25
idéia é acompanhar o paciente por até um ano de tratamento, considerando que o maior número
de recaídas ocorre até este prazo.
Segundo o Consenso :
“Recomenda-se que todas as mulheres gestantes e nutrizes tenham acesso
a uma abordagem cognitivo-comportamental para cessação do uso do fumo.
Para isto, é importante que seja realizado treinamento para abordagem básica
mínima para profissionais da área de atenção à saúde materno-infantil e para
agentes comunitários de saúde. Estes, quando necessário, poderão referenciar as
fumantes que não conseguirem deixar de fumar para as unidades de saúde que
oferecem a abordagem intensiva/específica.”
No entanto, um programa específico para gestantes ainda não está previsto no
Consenso do Ministério. Diferentemente do Canadá, Estados Unidos e Inglaterra, o Brasil não
tem uma política bem definida de apoio às gestantes para a interrupção do fumo na gravidez.
Programas e diretrizes(113, 114) voltados especificamente para este grupo, com informações
práticas disponíveis inclusive na internet têm apresentado excelentes resultados e devem
servir de modelo para ações regionalizadas de mesma envergadura no Brasil.
O tabagismo é uma doença complexa e sua abordagem requer a integração de
diversos componentes que interagem e se potencializam para dar conta desta complexidade.
Não há dúvida de que medidas psicossociais são essenciais para o tratamento do fumante,
podendo ser comparadas ao tratamento farmacológico em termos de importância e impacto.
A abordagem cognitivo-comportamental é uma das principais técnicas utilizadas no
tratamento do tabagismo(115, 116), uma vez que este tipo de tratamento visa promover uma
série de mudanças no estilo de vida do paciente, bem como modificações nas crenças e
comportamentos relacionados ao ato de fumar.
26
O aconselhamento cognitivo-comportamental é breve e focal e tem como premissa
básica o uso de drogas (no caso, o fumo) como comportamento aprendido, desencadeado e
mantido por determinadas emoções e situações específicas, sendo necessário: modificação das
crenças disfuncionais, resolução de problemas e reajuste social para modificar tal
comportamento. Este trabalho pode ser desenvolvido por qualquer profissional de saúde,
porém o trabalho multidisciplinar é o mais eficaz(117).
Existem diversos estudos que avaliam a eficácia da terapia cognitivo-
comportamental no tratamento do tabagismo. Na maioria das revisões sistemáticas e
metanálises que estudam terapias comportamentais, a taxa de abstinência após 6 meses varia
de 15% a 25% (118). Evidências mostram que as seguintes ações tornam o tratamento mais
eficaz(119): (1) treinar habilidades e solução de problemas; (2) dar apoio social como parte do
tratamento; (3) ajudar o fumante a obter apoio social fora do tratamento.
1.5 TRATAMENTO DO FUMANTE NA ABORDAGEM INTENSIVA
1.5.1 Entrevista de avaliação
A abordagem intensiva se inicia com uma entrevista de avaliação. Esta avaliação tem
como principal objetivo definir qual é o plano de tratamento mais adequado para determinado
paciente. A avaliação deve ser realizada individualmente, uma vez que é de fundamental
importância conhecer os detalhes da relação do paciente com o cigarro a fim de se
estabelecer, durante o tratamento, estratégias para lidar com a retirada do tabaco. Para tanto as
seguintes questões devem ser abordadas:
27
1.5.1.1 História do hábito tabágico
É importante conhecer a relação do paciente com o cigarro, revendo o início do
consumo até o seu desenvolvimento ao nível atual. Perguntas do tipo como e quando foi o seu
início, quando passou a fumar regularmente e qual o seu padrão de uso atual em um dia típico
devem ser feitas. Vale ressaltar que alguns fumantes apresentam variações consideráveis no
consumo ao longo da semana, especialmente nos fins de semana.
1.5.1.2 Tentativas anteriores
Em geral, a maioria dos fumantes faz diversas tentativas de se abster do cigarro.
Conhecer os fatores de sucesso e as situações que os levaram à recaída durante as tentativas
prévias é essencial, uma vez que nos permite utilizar estes dados no planejamento de uma
nova tentativa. É importante avaliar ainda quais os métodos utilizados e as dificuldades
encontradas. Deve-se também investigar quais as crenças e expectativas criadas após o
fracasso das tentativas anteriores. Caso o paciente nunca tenha feito uma tentativa de largar o
cigarro é importante entender o porquê, investigando quais a crenças, os medos e as barreiras
que o impedem de fazê-lo.
1.5.1.3 Apoio social
O apoio social é fundamental. É necessário investigar como é o ambiente social e
familiar desse paciente - avaliar se alguém em sua casa fuma, se os familiares e colegas o
pressionam a deixar o cigarro ou se o incentivam no hábito de fumar e ainda se existe alguma
restrição ao fumo em seu lar ou no ambiente de trabalho.
28
1.5.1.4 Dependência
Deve-se avaliar o grau de dependência física do indivíduo utilizando o Teste de
Dependência de Nicotina de Fagerström(120) e discutir a necessidade e as opções de
farmacoterapia. Além disso, é importante pesquisar, além da dependência física, qual é a
relação psicológica daquele indivíduo com o cigarro e quais os seus hábitos mais freqüentes,
investigando assim aspectos da dependência comportamental e psicológica.
1.5.1.5 Grau de motivação e prontidão
É importante avaliar qual é o principal motivo pelo qual o paciente deseja largar o
cigarro. Cada fumante tem um motivo próprio para deixar de fumar: alguns se preocupam
com a saúde, outros, com o dinheiro gasto com os cigarros; pais fumantes podem se preocupar
com o exemplo dado aos filhos. É fundamental conhecer os fatores motivadores do paciente
para que se possam promover aconselhamentos personalizados que aumentem ainda mais a
sua motivação. Dois conceitos importantes devem ser avaliados neste momento: grau de
motivação e prontidão.
O tratamento deve ser adequado ao momento do paciente. Caso o paciente esteja
ambivalente, inseri-lo no tratamento voltado para pacientes que já estão preparados para
abandonar o cigarro pode não funcionar. Avaliar o estágio motivacional é essencial para
determinar o tratamento mais adequado para cada paciente(121):
a) Pré-contemplativo: O fumante não considera que tem um problema. Em geral,
em seu discurso nega os malefícios do tabaco. Frases do tipo: “todo mundo vai morrer um
dia” ou “conheço pessoas que fumam muito há muito tempo e estão ótimas, e outras que têm
estilo de vida saudável e vivem doentes” são bastante comuns.
29
b) Contemplativo: Considera que o hábito de fumar pode lhe trazer malefícios,
mas ao mesmo tempo percebe motivos para permanecer fumando.
c) Preparação para ação: Quer largar o cigarro e começa a fazer preparativos para
atingir este objetivo.
d) Ação: O paciente efetivamente pára de fumar.
e) Manutenção: Após o dia da parada o paciente permanece com o objetivo e o
propósito de não fumar.
f) Recaída: o paciente depois de parar de fumar, retorna a este hábito podendo ser
no mesmo padrão anterior à parada ou não.
1.5.1.6 Auto-eficácia
Desenvolvido por Bandura(122), este conceito está baseado no quanto o indivíduo
acredita em sua capacidade para atingir determinado objetivo. Algumas vezes, o fumante não
consegue parar de fumar, não por falta de motivação, mas sim por baixa auto-eficácia.
1.5.1.7 Co-morbidades Clínicas
Devem-se avaliar doenças que possam ter relação direta com o tabagismo, tais como:
hipertensão arterial, DPOC, acidente vascular cerebral (AVC), câncer, diabetes, problemas
cardíacos e respiratórios, dentre outras. A história familiar de doenças relacionadas ao tabaco
também deve ser investigada.
1.5.1.8 Co-morbidades Psiquiátricas
Algumas condições psiquiátricas também são particularmente relevantes. Depressão,
ansiedade e abuso ou dependência de outras drogas além do tabaco são particularmente mais
30
comuns entre fumantes. Deve-se fazer uma avaliação bastante detalhada, já que alguns
transtornos psiquiátricos podem ter seu quadro agravado quando o fumante largar o cigarro.
1.6 SELEÇÃO DO MELHOR TIPO DE TRATAMENTO PARA O SEU PACIENTE
Cada fumante tem uma relação única com o cigarro, ou seja, fuma por diferentes
razões e não necessariamente experimentam os mesmos sintomas de abstinência. Além disso,
diferem em: idade, presença de co-morbidades clínicas ou psiquiátricas, educação e classe
sócio-econômica. Estas singularidades devem ser consideradas na decisão de um tratamento
individualizado que vise atender à real necessidade do paciente.
1.6.1 Tratamento individual ou em grupo
O aconselhamento para a cessação do tabagismo pode ser realizado individualmente
ou em grupo e deve ser conduzido por um profissional capacitado na abordagem do fumante.
A eficácia dessa abordagem é diretamente proporcional ao tempo de permanência com o
paciente — quanto maior o tempo de tratamento, mais eficaz este se mostra(123).
O tratamento em grupo emprega essencialmente as mesmas técnicas do tratamento
individual, entretanto acredita-se que possa proporcionar algumas vantagens específicas, tais
como maior suporte social, maior facilitação da discussão de situações de risco e de meios de
lidar com as mesmas(124). Por outro lado, o tratamento individual permite maior atenção e
adaptação às características específicas de cada paciente.
Após a consulta de avaliação, o paciente deve ser encaminhado para o tratamento
mais adequado ao seu caso. Para tanto, todos os dados colhidos na avaliação devem ser
considerados, com particular atenção para os seguintes: presença de co-morbidades
31
psiquiátricas, grau de motivação, grau de auto-eficácia, histórico das tentativas anteriores e
qual a motivação do paciente.
Ao escolher entre o tratamento individual ou em grupo, o terapeuta deve responder a
algumas perguntas:
O paciente necessita de atenção e tratamento de alguma questão psiquiátrica ou
psicológica que esteja prejudicando a obtenção da abstinência do cigarro?
O paciente se beneficiaria de um tratamento em grupo?
O grupo se beneficiaria deste paciente?
O paciente tem condições cognitivas de acompanhar o grupo ou apresenta
déficit auditivo, de atenção ou de memória que exija um detalhamento maior das explicações
durante o tratamento?
1.6.2 Tratamento Farmacológico
É importante salientar que o apoio farmacoterápico tem um papel bem definido no
processo de cessação de fumar, que é o de minimizar os sintomas da síndrome de abstinência
quando estes representam uma importante dificuldade para o fumante deixar de fumar. Sua
função é, portanto, facilitar a abordagem cognitivo-comportamental na fase em que os
fumantes manifestam sintomas da síndrome de abstinência.
Em resumo, embora o apoio medicamentoso aumente as chances da cessação de fumar,
para que se alcance um resultado satisfatório não deve ser usado fora do contexto do apoio
comportamental, em que o fumante vai sendo paulatinamente estimulado e orientado a lidar
com a dependência psicológica e a se “descondicionar” das associações feitas com o cigarro.
Existem, no momento, algumas medicações de eficácia comprovada em auxiliar o
fumante a deixar de fumar. Estes medicamentos eficazes são divididos em duas
categorias(125):
32
a) nicotínicos;
b) não-nicotínicos.
Os medicamentos nicotínicos, também chamados de terapia de reposição de nicotina
(TRN), se apresentam nas formas de adesivo, goma de mascar, inalador e aerossol. As duas
primeiras correspondem a formas de liberação lenta de nicotina, e são, no momento, as únicas
formas disponíveis no mercado brasileiro. O inalador e o aerossol são formas de liberação
rápida de nicotina e que ainda não estavam disponíveis no mercado brasileiro até a data da
publicação desse documento. Os medicamentos não-nicotínicos são os antidepressivos
bupropiona, nortriptilina e a vareniclina.
1.7 ABORDAGEM DE TABAGISMO NA GESTAÇÃO
A cessação do tabagismo no início da gestação acarreta importante redução de riscos à
saúde fetal(126). A persistência da abstinência no pós-parto evita a exposição passiva do
neonato aos compostos do tabaco, que está associada a várias doenças, principalmente às
infecções respiratórias. A abstinência mantida definitivamente implicará no ganho de
qualidade de vida da criança e também na diminuição dos riscos maternos das doenças
relacionadas ao tabaco. Estes aspectos dão grande relevância à preocupação com o fenômeno
da recaída.
A prevenção e o tratamento da recaída devem ser intensamente trabalhados, pois este
fenômeno pode comprometer a chance de um abandono definitivo do tabagismo alcançado
pela motivação extraordinária da gestação.
Dempsey e Benowitz (127), em um detalhado artigo de revisão sobre o uso de TRN
durante a gestação, defendem a idéia de que nos casos onde a gestante não foi capaz de
interromper o tabagismo apenas com o auxílio de intervenções não-farmacológicas, deve-se
considerar o uso de TRN. Este tipo de terapia adjuvante dobra a taxa de cessação, aumentando
33
a chance da mãe e do feto serem poupados de mais de 4700 substâncias contidas no cigarro
(além da nicotina), especialmente do monóxido de carbono, que os autores consideram ser o
composto de maior toxicidade do tabaco. As formulações de liberação intermitente (goma de
mascar, por exemplo) devem ser preferidas por disponibilizarem ao feto uma dose total diária
de nicotina menor do que os dispositivos de liberação lenta (adesivo). Além disso, Dempsey e
Benowitz recomendam o uso de TRN para mães que precisam parar de fumar e estão
amamentando, já que a quantidade de nicotina excretada no leite materno é bem pequena,
trazendo um risco mínimo ao bebê, frente a um largo benefício pela possibilidade dele ser
protegido do tabagismo passivo. Outros autores(128) também entendem que, apesar da TRN
não estar idealmente indicada para uso durante a gestação, a sua utilização ainda é mais
segura que continuar fumando. Mediante as limitações do emprego da farmacoterapia no
controle ao tabagismo durante a gestação, os aspectos psicológicos da dependência devem ser
amplamente abordados por meio de psicoterapia.
1.8 AVALIAÇÃO CRÍTICA DOS CUSTOS DO COMBATE AO TABAGISMO
DURANTE A GESTAÇÃO
Os gastos para o tratamento das complicações decorrentes do tabagismo durante a
gestação envolvem os cuidados especiais dispensados não só às gestantes, mas também aos
neonatos e às crianças no primeiro ano de vida, que sofrem com a ação do tabaco ainda na
vida intra-uterina e/ou durante o período de amamentação e crescimento. Está bem
estabelecido que o hábito de fumar durante a gravidez acarreta maior risco de placenta prévia,
descolamento prematuro de placenta, prenhez ectópica e abortamento espontâneo(86, 129-
131). Os custos para o tratamento destas intercorrências obstétricas atingem cifras de 135 a
167 milhões de dólares-ano nos Estados Unidos(132).
Estimativas econômicas indicam que os custos médicos diretos com as complicações
perinatais das gestantes fumantes são 66% maiores do que das não-fumantes(133). Isto se
34
deve em grande parte às complicações fetais, como baixo peso ao nascer (BPN < 2500 g),
síndrome da morte súbita do bebê, distúrbios ventilatórios, dentre outras(134-136). Em
trabalho publicado(137), Adams e colaboradores concluem que o tabagismo durante a
gestação aumenta em US$ 700.000 os custos com a assistência neonatal.
Os programas de prevenção e tratamento do tabagismo apresentam a melhor relação
custo-benefício dentre todas as estratégias de promoção de saúde. O Banco Mundial assegura
que investir no controle do tabagismo é altamente rentável, sobretudo para os países em
desenvolvimento(138). Se considerarmos o combate ao tabagismo pontualmente durante a
gestação, esta relação custo-benefício ficará maximizada. Para cada dólar investido no
combate ao tabagismo durante a gestação se recupera de US$ 6 a 17 se estendermos o
somatório dos benefícios ao cabo do primeiro ano de vida do infante(139).
Estima-se que o tabagismo entre as gestantes brasileiras também comprometa milhares
de vidas e consuma milhões de reais que poderiam estar sendo empregados, por exemplo, na
melhoria da atenção pré-natal e no combate à mortalidade infantil.
Cabe às sociedades e entidades de classe exercer um importante papel de esclarecer,
apoiar e estimular o governo e às empresas privadas de assistência à saúde, para motivá-los a
implantar estratégias de combate ao tabagismo na gestação, cuja relação custo-benefício
extremamente favorável já foi amplamente demonstrada.
1.9 TABAGISMO PASSIVO
O fumo passivo pode ser definido como a inalação da fumaça derivada de produtos
relacionados ao tabaco. Segundo a OMS, a fumaça proveniente do tabaco é a principal causa
de poluição em ambientes fechados. Um dado alarmante: o tabagismo passivo é a terceira
maior causa de morte evitável no mundo(140). A exposição prolongada ao fumo passivo está
35
diretamente associada a um risco 30% maior de câncer de pulmão e 24% maior de infarto do
miocárdio do que em não-fumantes resguardados da fumaça do cigarro(141, 142).
Além disso, sabe-se que as crianças são bastante afetadas pelo fumo passivo,
apresentando maior incidência de resfriados e infecções de ouvido e maior risco de doenças
respiratórias, tais como pneumonia, bronquites e exacerbação da asma(143).
Mulheres gestantes não fumantes, expostas à poluição tabágica ambiental nos
domicílios e/ou locais de trabalho, têm níveis significativos de nicotina e cotinina no sangue,
no líquido amniótico e no cordão umbilical(82, 144). O feto recebe a nicotina e seu o
metabólito, configurando o fumante passivo de segunda linha. Vários países têm leis
obrigando os empregadores a manter ambientes 100% livre de fumo, conforme preconiza o
artigo 8 da CQCT.
36
2 JUSTIFICATIVA
No Brasil, o interesse por trabalhos científicos acerca do tabagismo tem sido crescente,
porém poucas publicações têm se dedicado a abordar especificamente o hábito entre as
gestantes(145). Os resultados deste trabalho podem ajudar no desenvolvimento de programas
de prevenção e tratamento especificamente voltados para gestantes, bem como a criação de
políticas públicas voltadas para esta população.
37
3 OBJETIVO
3.1 OBJETIVO GERAL
Contribuir para o conhecimento dos aspectos epidemiológicos do tabagismo durante a
gestação no Município do Rio de Janeiro, fornecendo informações que permitam a adoção de
medidas de prevenção e tratamento do tabagismo durante a gravidez.
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
detectar os fatores de risco e proteção associados ao tabagismo em mulheres
grávidas na cidade do Rio de Janeiro;
estimar o interesse das gestantes estudadas em obter auxílio para a cessação do
fumo;
gerar elementos para a criação de programas de controle de tabagismo durante
a gestação.
38
4 METODOLOGIA
4.1 DESENHO DO ESTUDO
Estudo observacional, transversal, com abordagem descritiva e analítica do problema
do tabagismo durante a gestação em uma amostra de gestantes da cidade do Rio de Janeiro.
4.2 OPERACIONALIZAÇÃO DO ESTUDO
Inicialmente foi feita uma seleção dos postos de saúde a serem incluídos no estudo. A
escolha foi orientada pela Gerência de Programas de Saúde da Mulher da Prefeitura
Municipal da Cidade do Rio de Janeiro (PMCRJ) de modo que todas as regiões da cidade
estivessem representadas. Também foram levados em consideração nesta seleção os postos
que tinham alto grau organizacional, com grande fluxo de pacientes, e que fossem localizados
em áreas acessíveis. Isto resultou na seleção de 5 postos (Quadro 1).
A coleta de dados se deu por meio da aplicação de questionários e foi executada
pessoalmente pelo autor do estudo com a colaboração de enfermeiras e técnicas de
enfermagem dos postos de saúde, autorizadas por suas respectivas chefias.
A apresentação e o convite para participar do estudo era feito às gestantes na sala de
espera, com seleção por ordem de chegada, independente da idade gestacional que se
achavam, até atingir a meta estipulada (mínimo de 100 gestantes entrevistadas por posto de
saúde). Não houve nenhuma recusa de participação. Após a apresentação do trabalho de
pesquisa à gestante e tendo esta manifestado a intenção de colaborar, era entregue um Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo B) para ser assinado. Cada gestante era
entrevistada individual e reservadamente para que suas respostas não fossem influenciadas
pelo grupo.
39
4.3 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS
Foi aplicado um questionário (Anexo C) às gestantes com 18 perguntas semi-
estruturadas. Tal instrumento foi confeccionado pelo autor deste projeto em colaboração
com os professores César Gomes Victora e Iná Santos, da Universidade Federal de Pelotas,
baseado em questionamentos da literatura e focalizado nos objetivos geral e específicos do
projeto.
Durante a fase-piloto, os questionários foram testados para identificação de problemas
de ordenamento, de aplicação e de interpretação das questões. Esta fase foi realizada no posto
CMS Píndaro de Carvalho Rodrigues (Gávea) e os questionários resultantes não foram
incluídos como dados na pesquisa.
4.4 ASPECTOS ÉTICOS
As entrevistas foram realizadas nos postos de saúde. Os participantes foram
devidamente informados sobre a pesquisa e assinaram um termo de consentimento de
participação, sendo-lhes garantido o anonimato e sigilo. Os entrevistados foram informados
previamente a respeito da natureza, conteúdo e destino das entrevistas, além do uso único e
exclusivo para a finalidade acadêmica. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da Cidade do Rio de Janeiro, constituído nos Termos da Resolução nº 196/96 do
Conselho Nacional de Saúde, através do memorando de nº 24 assinado em 30 de junho de
2003 (Anexo A).
Não houve apoio financeiro para elaboração e execução do estudo.
40
4.5 POPULAÇÃO ALVO E CRITÉRIO DE INCLUSÃO
A população alvo do estudo foram as gestantes em acompanhamento pré-natal nos
postos de saúde da PMCRJ . O critério de inclusão único foi de serem gestantes matriculadas
para o acompanhamento pré-natal nos postos de saúde selecionados previamente para o
estudo. As gestantes eram escolhidas por ordem de chegada para a consulta pré-natal. Não foi
necessária a adoção de qualquer critério de exclusão.
4.6 CÁLCULO DO TAMANHO AMOSTRAL
O número total de gestantes em acompanhamento pré-natal nos postos da PMCRJ não
pôde ser claramente definido, porque as estatísticas oficiais só consideram o número total de
consultas no período. Não são discriminados no sistema o número de consultas por gestante,
as consultas de primeira vez e os retornos. Logo, o cálculo estatístico do tamanho da amostra
fica prejudicado.
Baseando-se em questões operacionais de tempo, custo e acesso, optou-se por
estipular um número mínimo de 100 gestantes entrevistadas por posto, de modo a perfazer um
total de 500 questionários completos. Este tamanho amostral tornaria o trabalho viável e
estatisticamente suficiente, pois para uma prevalência esperada de 20% de fumo entre
gestantes, este tamanho geraria uma confiança de 95% com um erro amostral menor do que 4
pontos percentuais – o que a priori pareceu adequado aos objetivos do estudo.
4.7 PERÍODO E LOCAIS DE COLETA DE DADOS
O estudo de campo para a coleta dos dados ocorreu no período de julho de 2003 a
junho de 2004 em 5 postos de saúde da PMCRJ escolhidos com o auxílio da Gerência de
Programas Saúde da Mulher, de forma que todas as áreas programáticas da cidade fossem
41
incluídas. São eles: PAM Hélio Pelegrino (Matoso), CMS Píndaro de Carvalho Rodrigues
(Gávea), CMS Waldyr Franco (Bangu), CMS Belizário Penna (Campo Grande) e Hospital
Raphael de Paula e Souza (Jacarepaguá).
4.8 VARIÁVEIS UTILIZADAS NO ESTUDO
As seguintes variáveis demográficas e sócio-culturais foram avaliadas: idade,
educação, estado marital, estrutura familiar, idade gestacional, hábitos tabágicos ao início e no
seguimento da gestação, hábito tabágico do companheiro, conhecimento e crenças sobre os
malefícios do fumo na gravidez, importância e interesse acerca de um programa de tratamento
de tabagismo para gestantes.
4.9 BANCO DE DADOS E ANÁLISE ESTATÍSTICA
Os dados obtidos foram organizados em um banco constituído com o uso do aplicativo
Microsoft Office Excel. A análise estatística foi realizada com o auxílio do programa S-plus
versão 4.0. Foram usados testes de proporções para comparar a variável-resposta (hábito
tabágico no início da gestação) com as demais informações colhidas por meio do
questionário. Para a quantificação do efeito dos referidos fatores e sua significância estatística
foi utilizado um modelo de regressão logística.
42
5 RESULTADOS
A amostra final foi constituída por 633 gestantes em acompanhamento pré-natal em 5 postos
de saúde localizados no município do Rio de Janeiro. O Quadro 1 mostra a distribuição das
mulheres, sendo que a maior parcela é proveniente do posto Waldir Franco.
Postos de Saúde da Cidade do Rio de Janeiro
Características
maternas
Hélio
Pelegrino
N=115
(18,2%)
Píndaro de
Carvalho
Rodrigues
N=101
(16,0%)
Waldyr
Franco
N=213
(33,6%)
Belizário
Penna
N=104
(16,4%)
Raphael de
Paula e
Souza
N=100
(15,8%)
TOTAL
N=633
(100%)
Idade (anos)
11-20 48(41,7%) 28(27,7%) 63(29,6%) 23(22,1%) 17(17,0%) 179(28,3%)
21-30 46(40,0%) 52(51,5%) 116(54,5%) 56(53,8%) 46(46,0%) 316(49,9%)
31-40 20(17,4%) 20(19,8%) 33(15,5%) 24(23,1%) 35(35,0%) 132(20,9%)
41
1(0,9%) 1(1,0%) 1(0,4%) 1(1,0%) 2(2,0%) 6(0,9%)
Escolaridade
(anos completos)
0-4 43(37,4%) 41(40,6%) 53(24,9%) 26(25,0%) 27(27,0%) 190(30,0%)
5-8 52(45,2%) 35(34,6%) 78(36,6%) 31(29,8%) 35(35,0%) 231(36,5%)
9-11 20(17,4%) 25(24,8%) 74(34,7%) 46(44,2%) 36(36,0%) 201(31,8%)
12
0 0 8(3,8%) 1(1,0%) 2(2,0%) 11(1,7%)
Vive com marido
ou companheiro
Sim 79(68,7%) 87(86,1%) 151(70,9%) 89(85,6%) 87(87,0%) 493(77,9%)
Não 36(31,3%) 14(13,9%) 62(29,1%) 15(14,4%) 13(13,0%) 140(22,1%)
Idade gestacional
(semanas
completas)
12
31(27,0%) 38(37,6%) 52(24,4%) 8(7,7%) 15(15,0%) 144(22,8%)
13-24 36(31,3%) 28(27,7%) 88(41,3%) 34(32,7%) 47(47,0%) 233(36,8%)
25
48(41,7%) 35(34,7%) 73(34,3%) 62(59,6%) 38(38,0%) 256(40,4%)
Quadro 1 - Distribuição de algumas características das gestantes entrevistadas.
A média de idade foi de 25,1 ± 6,5 anos, com maior concentração (49,9%) na faixa etária de
21 a 30 anos. Em relação à escolaridade, metade das gestantes tinha no máximo 7 anos
completos de instrução e tempo médio de anos completos estudados de 6,6 ± 3,1 anos. No
Quadro 1 pode-se observar ainda que a maioria (66,5%) completou o correspondente ao
ensino fundamental e a minoria (1,8%) atingiu o nível superior. A maior parte das gestantes
(77,9%) residia com seu marido ou companheiro. Como estado civil 77,4% se declararam
43
casadas ou ajuntadas, 20,8% solteiras, 1,7% divorciadas ou separadas e nenhuma se disse
viúva. A entrevista foi efetuada com gestantes que estavam, em média, com 22,1 ± 10,8
semanas de gestação. Em relação ao hábito de fumar, 18,8% das gestantes afirmaram serem
fumantes quando souberam que estavam grávidas (Gráfico 1).
Gráfico 1 - Distribuição das grávidas com relação ao hábito de fumar no início da gravidez.
A média de cigarros fumados no início da gestação foi de 13,2 ± 10,2 por dia, sendo
que 37,0% fumavam 20 ou mais cigarros por dia – a quantidade de cigarros fumados variou
de 1 a 60 cigarros. A idade média com que começaram a fumar foi de 14,5 ± 3,3 anos, a idade
mínima 6 anos e a máxima 26 anos, sendo que 39,5% das entrevistadas começaram a fumar
antes dos 14 anos. Quanto à duração, 49,6% das fumantes tinham o hábito há mais de 10 anos
e a duração média do hábito foi de 11,6 ± 7,8 anos, variando de 0 a 29 anos de duração
(Quadro 2)
44
Características
Gestantes fumantes no início da gestação, N=119 (18,8%)
Menor Maior Média DP
Idade do início do hábito de
fumar (anos completos)
6 26 14,5 3,3
Duração do hábito (anos
completos)
0 29 11,6 7,8
Número médio de cigarros
fumados/dia
1 60 13,2 10,2
DP = desvio padrão
Quadro 2 – Características do hábito tabágico das gestantes que se declararam fumantes no
início da gestação
Apenas 0,3% das gestantes declararam fumar charuto, a mesma porcentagem declarou fumar
cachimbo e 0,6% fumavam cigarro de palha. A maior prevalência do tabagismo no início da
gestação (24,5%) se deu no grupo etário de 31 ou mais anos, seguido da faixa etária de 21 a
30 anos (17,4%) (Gráfico 2).
Gráfico 2 - Porcentagem de fumantes por faixa etária
45
Observou-se que 28,4% dos companheiros que co-habitavam com as gestantes
fumavam (Gráfico 3).
Gráfico 3 - Porcentagem de companheiros fumantes
Quase a totalidade das entrevistadas (99,0%) detinha a informação de que fumar
durante a gravidez é prejudicial à saúde da mãe e do bebê e 98,3% acreditavam nesta
informação (Gráfico 4).
Gráfico 4 - Porcentagem de gestantes que detinham e acreditavam na informação sobre os
malefícios do tabagismo na gestação
A maioria das gestantes (97,6%) acreditava ser importante a implantação de
programas de apoio às fumantes grávidas para deixarem de fumar. Dentre as fumantes, 94,1%
aceitariam participar de um programa desse tipo, caso fosse criado (Gráfico 5).
46
Gráfico 5 - Porcentagem de gestantes que achavam importante a criação de programa de
apoio às grávidas para deixarem de fumar e que teriam interesse em participar
Os resultados do ajuste do modelo de regressão logística multivariado encontram-se
resumidos no Quadro 3.
Fator Prevalência do
Tabagismo
N=119 (18,8%)
Razão de chances p-valor
Idade
11 – 20 30 (16,76%) 1,00
21 – 30 55 (17,41%) 1,05 0,854
31
34 (24,64%) 1,62 0,084
Anos completos de
estudo
0-4 41 (21,58%) 0,73 0,658
5-8 50 (21,65%) 0,74 0,660
9-11 25 (12,45%) 0,38 0,171
Maior a 11 3 (27,27%) 1
Vive com marido ou
companheiro
Não 33 (23,57%) 1
Sim 86 (17,44%) 0,69 0,102
Detém a informação
Alguém falou 118 (18,82%) 1,19 0,892
Ninguém falou 1 (16,67%) 1
Acredita na informação
Acredita que faz mal 111 (17,85%) 0,08 <0,001
Não acredita que faz mal 8 (72,73%) 1
Quadro 3 - Resultados da regressão logística para o hábito de fumar no momento da
tomada de conhecimento da gestação
47
A idade da gestante não foi um fator que tenha influenciado de forma significativa o
hábito de fumar, porém existe uma tendência ao aumento da prevalência com o aumento da
idade (apesar de não ser estatisticamente significativa).
O número de anos estudados não teve influência significativa estatisticamente nem
apresentou uma tendência clara como no caso da variável idade. Contudo, observamos que a
faixa de maior instrução teve a maior prevalência.
A crença de que fumar faz mal foi significativamente relacionada ao hábito de fumar,
sendo um fator de proteção contra o tabagismo.
Quando se inclui na análise o hábito de fumar do parceiro, os resultados são
relevantes: as mulheres com parceiros não fumantes apresentam as menores prevalências,
com diferenças significativas para aquelas cujos parceiros são fumantes e as que não co-
habitam com parceiros. Estes resultados aparecem no Quadro 4.
Prevalência Razão de chances P-valor
Parceiro fumante durante a
gestação
39,72% 2,27 0,002
Parceiro não fumante
durante a gestação
9,04% 0,34 <0,001
Sem parceiro
22,46% 1,00
Quadro 4: Resultados da regressão logística para o hábito de fumar segundo o parceiro
A desinformação sobre os malefícios do fumo não teve influência sobre as chances de
fumar (p-valor=0,892), porém, quando a gestante manifestou acreditar nestes malefícios as
chances de fumar foram 8% das mesmas chances entre as que não acreditam nos referidos
malefícios (p-valor < 0,001).
48
6 DISCUSSÃO
O presente estudo envolveu 633 gestantes que faziam acompanhamento pré-natal em
cinco postos de saúde do Rio de Janeiro. Embora houvesse uma representatividade das
diversas regiões do município, o interesse principal do trabalho não era de extrapolar os
resultados obtidos para toda a cidade, mas sim fazer comparações internas na amostra
estudada a fim de identificar os possíveis fatores de risco para o fumo na gravidez. O melhor
conhecimento de suas peculiaridades poderá contribuir para a implantação de medidas de
saúde pública que sejam mais eficazes para o controle do tabagismo na gestação.
É importante destacar que os resultados aqui apresentados se referem especificamente
ao momento em que as mulheres tomaram conhecimento de sua gestação. Portanto, ainda não
havia influência do status de “grávida” sobre os seus hábitos de fumar. As possíveis
mudanças destes hábitos ao longo da gestação, bem como os fatores correlacionados a estas
mudanças serão objeto de outro estudo.
A prevalência do tabagismo encontrada no início da gestação foi de 18,8%. O
“Inquérito Domiciliar sobre Comportamentos de Risco e Morbidade Referida de Doenças e
Agravos não Transmissíveis” realizado pelo Ministério da Saúde no período de 2002 a
2003(25) apontou um percentual de fumantes regulares do sexo feminino na capital do Rio de
Janeiro de 15,9%. Portanto, nossos resultados, em linha com os dados oficiais, refletem uma
queda progressiva da prevalência do tabagismo entre as mulheres da cidade do Rio de Janeiro,
tomando por base outros resultados oficiais de 1989 e 2000, onde as prevalências encontradas
eram respectivamente de 26,2% e 20,0%. No entanto, nosso questionário não foi desenhado
para mensurar o número de ex-fumantes na amostra, por não ser relevante aos objetivos da
pesquisa.
Os resultados relativos à carga tabágica e duração do hábito de fumar devem ser
considerados com muita atenção, pois denotam na amostra estudada um consumo diário
49
elevado e por um longo período. Um grande percentual das gestantes (37%) fumava 20 ou
mais cigarros por dia. Trabalhos anteriores(146-148) mostram que uma carga tabágica
elevada pode estar associada a uma maior dependência física, psicológica e/ou gestual sendo
um fator preditivo negativo para o abandono do fumo. Intervenções mais intensas deverão ser
criteriosamente consideradas nestas populações, inclusive com o auxílio de farmacoterapia. A
reposição de nicotina deve ser avaliada em casos bem selecionados de gestantes que não são
capazes de interromper o tabagismo apenas com o auxílio de outras intervenções não-
farmacológicas(127). De acordo com evidências atuais disponíveis, a bupropiona e a
vareniclina não são recomendadas para o tratamento do tabagismo durante a gestação(149).
Da mesma forma, a duração elevada do hábito (49,6% das gestantes tinham o hábito há mais
de 10 anos) indica a necessidade de abordagens diferenciadas neste grupo. Uma meta-
análise(125) envolvendo oitos estudos com nível de evidência A mostrou que intervenções
psicossociais pessoa-a-pessoa eram mais efetivas do que aconselhamentos breves usuais para
parar de fumar.
A idade média precoce do início do consumo apresenta uma grande convergência com
os relatos da literatura que têm mostrado que é na adolescência que a maior parte dos usuários
do tabaco inicia, desenvolve e estabiliza seu comportamento de fumar(150), influenciados
especialmente por fatores sócio-econômicos, ambientais, comportamentais e pela publicidade
promovida pela indústria do cigarro(151, 152). As atitudes adotadas pelos grupos de colegas e
pelos modelos de comportamento exercem grande influência na tomada de decisão dos
adolescentes. A idade de iniciação é mais precoce entre jovens que têm amigos, irmãos e/ou
pais que são fumantes(153). Todos estes dados e conhecimentos determinam que as ações de
prevenção do tabagismo na gravidez devam ser iniciadas antes mesmo da concepção. As
intervenções devem estar focalizadas nas pré-adolescentes e adolescentes e precisam incluir
nas abordagens o ambiente escolar e familiar.
50
O uso de outros derivados do tabaco como charuto, cachimbo e cigarro de palha
também acarreta malefícios à saúde da mãe e do feto(154). Apesar do consumo não ter sido
significativo na amostra estudada, o esclarecimento sobre suas implicações também deve ser
considerado nas intervenções, uma vez que alguns usuários de cigarro industrializado migram
para o consumo de outros derivados do tabaco (charuto, por exemplo) acreditando estar se
isentando de riscos.
A maior prevalência do tabagismo no início da gestação se deu no grupo de 31 ou
mais anos (24,5%). Embora a idade não tenha sido um fator que influenciou de maneira
significativa o hábito de fumar da gestante, houve uma tendência ao aumento da prevalência
com o aumento da idade. Estes achados divergem de estudos realizados em outros países(77,
155). No entanto, estão de acordo com as estatísticas do Brasil(25), onde as prevalências no
sexo feminino têm se mostrado maiores nas faixas etárias mais elevadas. Como nossos dados
se referem à prevalência no início da gestação, esperava-se que acompanhassem a tendência
das mulheres brasileiras, grávidas ou não grávidas. Diversos fatores já foram citados como
facilitadores do tabagismo em populações de idade mais avançada: depressão, desemprego,
parceiro fumante, dentre outros(156-158).
Alguns levantamentos(60, 159, 160) feitos em amostras de população brasileira e,
também estrangeira, mostram que a escolaridade guarda uma relação inversa com a
prevalência do tabagismo: quanto maior o grau de instrução, menor a prevalência do fumo na
população estudada. Em nossa pesquisa o número de anos de escolaridade não teve influência
significativa e nem apresentou uma tendência clara como no caso da variável idade. Contudo,
as maiores prevalências foram identificadas na faixa de maior grau de instrução. Resultados
semelhantes(155) também já foram apresentados. Independente da influência exercida pelo
grau de escolaridade sobre as taxas de prevalência do fumo, o importante é considerar os
diversos níveis de instrução das gestantes para tornar as intervenções mais acessíveis ao
51
entendimento. Os programas de controle do tabagismo são mais eficientes na medida em que
respeitam as características sócio-culturais de cada grupo(149).
Estudos revelam que existe uma prevalência maior do tabagismo entre as gestantes
solteiras do que entre as casadas(161-163) sendo, portanto, a relação estável um fator de
proteção ao fumo na gestação. Em nosso estudo, cerca de 80% das entrevistadas viviam com
seus companheiros. No entanto, esta suposta estabilidade de relacionamento não trouxe
proteção significativa quanto ao tabagismo. Nossos resultados evidenciaram que mais
importante que co-habitar ou não com o companheiro, foi o hábito de fumar do parceiro que
exerceu a maior influência sobre a atitude das gestantes em relação ao fumo. As mulheres
com parceiros não fumantes apresentaram as menores prevalências, com diferenças
estatisticamente significativas para aquelas cujos parceiros eram fumantes e para aquelas que
não co-habitavam com parceiros (prevalências de 9,04%, 39,72% e 22,46%,
respectivamente). A alta prevalência do tabagismo entre os companheiros que co-habitavam
com as gestantes (28,4%) e a relevância do seu comportamento como fator de proteção do
fumo para a parceira reforçam o conceito de que é fundamental a inclusão do companheiro
nos programas voltados para gestantes.
Quase a totalidade das entrevistadas (99,0%) detinha a informação de que fumar
durante a gravidez é prejudicial à saúde da mãe e do bebê. Isto mostra que o Brasil vem
alcançando excelentes resultados com as diversas campanhas informativas sobre o fumo,
especificamente sobre questões relativas à gravidez. Segundo a Resolução – RDC n. º 335, da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária(164), a indústria do tabaco é obrigada a veicular as
novas imagens de advertência nos maços de cigarro sobre os danos à saúde causados pelo
tabagismo, sendo duas delas diretamente voltadas para a gestante: “Fumar causa aborto
espontâneo” e “Em gestantes, fumar provoca partos prematuros e o nascimento de crianças
com peso abaixo do normal”. No entanto, os resultados do nosso trabalho mostraram que
52
apenas ter acesso às informações sobre os danos do fumo na gestação não é suficiente para
mudar o comportamento das grávidas quanto ao hábito de fumar. O fundamental é fazer com
que elas acreditem nas advertências sobre os malefícios do fumo para sua saúde e do bebê.
Quando as gestantes manifestaram acreditar nestes malefícios, as chances de fumar foram 8%
das mesmas chances entre as que não acreditaram nos referidos malefícios (p-valor < 0,001).
As informações sobre os malefícios e as orientações que contribuam para deixar de fumar
devem ser claras, exatas, específicas e fornecidas o mais precocemente possível, de forma
intensiva e por profissionais capacitados para melhorar o custo-efetividade das ações. Uma
meta-análise envolvendo 64 estudos de coorte com 20 mil gestantes mostrou significativa
redução do tabagismo durante a gravidez no grupo que recebeu intervenção precoce para
deixar de fumar (RR=0,94; IC95%:0,93-0,95)(149).
A maior parte das gestantes (97,6%) acreditava ser importante a implantação de
programas de apoio às fumantes grávidas para deixarem de fumar. Dentre as fumantes, 94,1%
aceitariam participar de um programa desse tipo, caso fosse criado. Apesar do Brasil ter
avançado nos últimos anos nas campanhas informativas, visto que a maioria da amostra tem
informações acerca dos malefícios do fumo, muitos fumantes são incapazes de abandonar o
hábito sem auxílio. Embora 70% dos tabagistas desejem parar de fumar(165), apenas um terço
consegue por um dia e menos de 10% o fazem por um ano(166). Uma a cada três gestantes
fumantes não abandona o cigarro durante a gravidez(167). Neste trabalho de pesquisa, o
percentual de desejo de abandonar o fumo foi bastante elevado, visto que 94,1% estariam
interessadas em participar de programas específicos para a cessação do fumo, demonstrando
assim a importância da implantação de políticas de tratamento de tabagismo para gestante. Os
maiores índices de cessação tabagística ocorrem durante a gravidez(168). As intervenções
devem ser oferecidas em todo o curso da gestação visando os benefícios para a saúde
materno-fetal. Secker e cols.(169) ressaltam que os benefícios serão ainda maiores se as
53
gestantes abandonarem o fumo até a 20ª semana da gestação. É importante destacar que o
controle do tabagismo na gestação inicia-se antes mesmo da gravidez. A intervenção mais
eficaz no tabagismo materno é a prevenção da iniciação e o estímulo à cessação nas jovens
antes de engravidarem, através de ações de proibição do fumo em todo ambiente público,
aumento do preço do cigarro, estímulo à prática de esportes e programas de cessação
tabagística, inclusive nos locais de trabalho.
No Brasil, ainda não existem medidas amplas que venham a abordar a questão do
tabagismo na gravidez. A capacitação de profissionais de saúde pré-natalistas, a inserção de
programas de apoio à cessação de tabagismo em maternidades e campanhas voltadas para os
parceiros da gestante precisam ser incentivadas.
54
7 CONCLUSÃO
Os avanços no controle do tabagismo foram significativos nas últimas décadas no
Brasil. No entanto, ainda é elevada a prevalência de fumo durante a gestação. O presente
estudo evidenciou que cerca de um quinto das gestantes dos Postos de Saúde analisados são
fumantes.
Acreditar nos malefícios do fumo na gravidez e ter um companheiro não-fumante
revelaram-se como fatores de proteção ao tabagismo durante a gestação. Por esta razão, os
programas de controle do fumo na gravidez devem ser intensificados e estendidos aos
companheiros.
Existia no grupo estudado uma grande expectativa pela criação de programas de apoio
às grávidas para deixarem de fumar e, dentre aquelas que eram fumantes, houve expressiva
manifestação de interesse em participar destes programas. Atenção especial às gestantes deve
ser considerada nas políticas públicas de controle do tabagismo.
Os resultados não revelaram diferenças estatisticamente significativas para fatores
como idade, escolaridade, co-habitar com o companheiro e estar informada sobre os riscos do
fumo na gravidez. Ainda assim, a importância destes fatores deve ser observada de maneira
criteriosa. Outros estudos são necessários para discutir a relevância de cada um deles.
Os resultados deste trabalho se referem a uma amostra de gestantes do Município do
Rio de Janeiro e, embora não possam ser extrapolados para todo o território nacional, podem
colaborar para a formulação de políticas públicas e privadas de controle do tabagismo no
Brasil e despertar o interesse de outros autores sobre os aspectos epidemiológicos do
tabagismo em gestantes brasileiras.
55
8 PERSPECTIVAS
As ações de prevenção do tabagismo na gravidez devem ser iniciadas antes
mesmo da concepção. As intervenções devem estar focalizadas nas pré-adolescentes e
adolescentes e precisam incluir nas abordagens o ambiente escolar e familiar.
O perfil tabágico precisa ser encarado como um “um novo sinal vital”. Deveria
ser indagado às gestantes na primeira consulta do pré-natal e a resposta obtida anotada no seu
prontuário, abrindo espaço, a seguir, para uma abordagem mínima de prevenção e tratamento
do tabagismo.
A gravidez é um excelente momento para estimular a mulher a abandonar o
fumo. A capacitação de profissionais de saúde da área materno-infantil e financiamento de
ações voltadas para a abordagem do tabagismo na gestação precisam ser estimuladas.
Não basta informar às grávidas sobre os malefícios do tabagismo. É
fundamental assegurar que elas acreditem nestas informações, pois isto se mostrou como um
fator de proteção contra o fumo. Programas dirigidos especificamente para gestantes devem
ser elaborados para melhorar a relação custo-efetividade das ações.
Nossos resultados evidenciaram que mais importante que co-habitar ou não
com o companheiro, foi o hábito de fumar do parceiro que exerceu a maior influência sobre a
atitude das gestantes em relação ao fumo. A alta prevalência do tabagismo entre os
companheiros que co-habitavam com as gestantes e a relevância do seu comportamento como
fator de proteção do fumo para a parceira reforçam o conceito de que é fundamental a
inclusão do companheiro nos programas voltados para gestantes.
Neste trabalho de pesquisa, o percentual de desejo de abandonar o fumo foi
bastante elevado. O acesso fácil e gratuito às diversas formas de tratamento do tabagismo
precisa ser garantido também às gestantes por meio das políticas de atenção básica do SUS.
56
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67
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associated with reductions in smoking during pregnancy. J Reprod Med1998
Nov;43(11):967-74.
68
ANEXOS
69
ANEXO A - PARECER DA COMISSÃO DE ÉTICA EM PESQUISA
70
ANEXO B - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E
ESCLARECIDO
A senhora está sendo convidada a responder um questionário sobre o hábito
de fumar.
Os dados obtidos farão parte de um trabalho de pesquisa feito pela UFR
J
em parceria com a Prefeitura da Cidade para conhecer o hábito de fuma
r
entre as gestantes do município do Rio de Janeiro.
O questionário não terá seu nome anotado, garantindo segredo sobre suas
informações.
A sua concordância ou recusa em participar da pesquisa não interferirá no
seu acompanhamento pré-natal habitual.
Caso você não tenha dúvidas sobre a pesquisa e sua participação nela e
concorde em responder ao questionário, pedimos que assine as duas vias
deste termo (uma via ficará com a senhora e a outra com o pesquisador).
Rio de Janeiro, / / .
De acordo.
____________________________________________________________
71
ANEXO C – QUESTIONÁRIO
QUESTIONÁRIO SOBRE O HÁBITO DE FUMAR CIGARROS
DURANTE A GESTAÇÃO
1. QUAL A SUA IDADE:
____________ANOS COMPLETOS
2. ATÉ QUE SÉRIE A SENHORA ESTUDOU:
___________SÉRIE DO _________GRAU
NÃO SABE LER E ESCREVER
SÓ ASSINA O NOME
3. VOCÊ MORA COM SEU MARIDO OU COMPANHEIRO?
SIM NÃO
4. QUAL O SEU ESTADO CIVIL:
SOLTEIRA
CASADA/AJUNTADA
DIVORCIADA/SEPARADA
VIÚVA
5. COM QUANTAS SEMANAS ESTÁ SUA GRAVIDEZ:
_____________________ SEMANAS COMPLETAS
não sabe (qual a data da sua última menstruação: ___/___/___ *calcular a idade
gestacional em semanas a partir da data da última menstruação)
6. VOCÊ FUMAVA CIGARROS QUANDO SOUBE QUE ESTAVA GRÁVIDA?
SIM NÃO
7. QUANTOS CIGARROS VOCÊ FUMAVA POR DIA: ________CIGARROS/DIA
não se aplica
8. COM QUE IDADE VOCÊ COMEÇOU A FUMAR: ___________________ANOS
COMPLETOS
não se aplica
72
9. VOCÊ FUMA CHARUTO?
SIM NÃO
10. VOCÊ FUMA CACHIMBO?
SIM NÃO
11. VOCÊ FUMA CIGARRO DE PALHA?
SIM NÃO
12.
ATUALMENTE, QUANTOS CIGARROS VOCÊ FUMA POR DIA?
_____________________ CIGARROS/DIA
PAROU DE FUMAR QUANDO SOUBE QUE ESTAVA GRÁVIDA
NÃO FUMAVA ANTES DESTA GRAVIDEZ
13. (se a gestante vive com seu marido ou companheiro): O SEU MARIDO OU
COMPANHEIRO ESTÁ FUMANDO DURANTE SUA GRAVIDEZ?
SIM NÃO
14. ALGUÉM JÁ LHE DISSE QUE FUMAR DURANTE A GRAVIDEZ FAZ MAL A
SAÚDE DA MÃE E DO BEBÊ?
SIM NÃO
15. QUEM: (pode escolher mais de uma opção)
FAMILIARES
AMIGOS
MEIOS DE COMUNICAÇÃO (RÁDIO, TV, REVISTAS, CARTAZES)
MÉDICOS
16. VOCÊ ACREDITA QUE FUMAR DURANTE A GRAVIDEZ FAZ MAL A SAÚDE DA MÃE E
DO BEBÊ?
SIM NÃO
17. VOCÊ ACHA IMPORTANTE QUE SE CRIE UM PROGRAMA PARA AJUDAR GRÁVIDAS
FUMANTES A PARAR DE FUMAR?
SIM NÃO
73
18. (se a gestante for fumante:) SE FOSSE CRIADO UM PROGRAMA PARA AJUDAR GRÁVIDAS
FUMANTES A PARAR DE FUMAR, VOCÊ PARTICIPARIA?
SIM NÃO
Obrigado pela colaboração!
74
APÊNDICES
75
APÊNDICE A - ARTIGO DE REVISÃO: LEOPÉRCIO W, GIGLIOTTI A. TABAGISMO E
SUAS PECULIARIDADES
DURANTE A GESTAÇÃO; UMA REVISÃO CRÍTICA. J BRAS PNEUMOL 2004, 30:176-
185.
76
Título: Tabagismo e suas peculiaridades durante a gestação: uma revisão
crítica
Autores: Waldir Leopércio (Mestrando do Instituto de Doenças do Tórax –
Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Analice Gigliotti (Chefe do Setor de Dependência Química da Santa
Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro)
Correspondência: Waldir Leopércio. Rua Conde de Irajá, 420. Rio de
Janeiro-Brasil. Cep: 22271-020. Tel/fax: 55(21)2535-5910.
E-mail: [email protected]
Título abreviado do trabalho: Tabagismo e gestação: revisão crítica
77
TABAGISMO E SUAS PECULIARIDADES DURANTE A
GESTAÇÃO: UMA REVISÃO CRÍTICA
1. RESUMO
A gestação é um momento especial para a promoção da cessação do tabagismo. A
preocupação com a saúde do feto gera uma motivação extraordinária na gestante.
Os resultados e o custo-efetividade das intervenções são melhores neste grupo do
que na população em geral e os ganhos extrapolam os benefícios à saúde da
mulher, pois permitem também o desenvolvimento de um feto saudável. O
conhecimento das peculiaridades do tabagismo durante a gestação é fundamental
para uma abordagem direcionada e com maior probabilidade de sucesso. Este
trabalho de revisão bibliográfica tem o objetivo de revelar a extensão dos malefícios
do fumo, tanto para a mulher gestante quanto para seu feto, e estimular o uso de
técnicas apropriadas à suspensão do tabagismo nesta população.
Tabagismo, tabaco, gestação.
78
SMOKING AND THEIR PECULIARITIES DURING THE
PREGNANCY: A CRITICAL REVISION
1. ABSTRACTS
The pregnancy is a special moment to promote the cessation of smoking. The fetus
health concerning generates an extraordinary motivation in the pregnant woman. The
results and cost-effectiveness of the interventions are better in this group than in the
population in general and the earnings extrapolate the benefits to of the woman’s
health, therefore they also allow the development of a healthy fetus. The knowledge
of the peculiarities of the smoking during pregnancy is fundamental for an addressed
approach and with larger success probability. This bibliographical work revision has
the aim to reveal the extension of the tobacco harms, so much for the pregnant
woman as for the fetus, and stimulate the use of appropriated techniques to the
stopping of smoking in this population.
Smoking, tobacco, pregnancy.
79
2. INTRODUÇÃO
O tabagismo durante a gestação tem implicações que vão além dos prejuízos à
saúde materna. Os malefícios sobre saúde fetal são tantos, que justificam a
ousadia de dizermos: “o feto é um verdadeiro fumante ativo”.
O fumo na gravidez é responsável por 20% dos casos de fetos com baixo peso ao
nascer, 8% dos partos prematuros e 5% de todas as mortes perinatais1. Estudos
mostram que o tabagismo na gestação pode contribuir para a Síndrome da Morte
Súbita do Bebê, além de causar importantes alterações no desenvolvimento do
sistema nervoso fetal2. Estimativas econômicas indicam que os custos com as
complicações perinatais são 66% maiores nos casos de mães que fumaram durante
a gravidez do que das mães não fumantes3. Embora os maiores benefícios para o
desenvolvimento fetal ocorram se a cessação do tabagismo se fizer ainda no início
da gestação4, a interrupção em qualquer momento da gravidez, ou mesmo no pós-
natal, tem significativo impacto na saúde da família. Em torno de 27% das crianças
americanas são expostas ao tabagismo passivo em suas residências5 e os custos
médicos anuais com os parentes de fumantes são estimados em 4,6 bilhões de
dólares 6. A manutenção da abstinência no decorrer da gestação e no pós-parto
terá papel fundamental na prevenção de doenças materno-infantis tabaco-
relacionadas.
O grande ganho à saúde da mãe, do feto e da criança e a extraordinária motivação
materna que a gravidez por si promove, justificam a aplicação de esforços especiais
para a interrupção do tabagismo na gestação. Inserido neste contexto, o objetivo
deste trabalho foi contribuir com uma revisão crítica dos principais artigos nacionais
80
e estrangeiros indexados no MEDLINE e LILACS, dentre outros, publicados até o
ano de 2003 sobre o tabagismo e suas peculiaridades durante a gestação.
81
3. OS MALEFÍCIOS DO TABAGISMO DURANTE A GESTAÇÃO
3.1. TOXICIDADE DOS COMPOSTOS DO TABACO NA GESTANTE E NO FETO
NICOTINA
A insuficiência útero-placentária tem sido indicada como o principal mecanismo
responsável pelo retardo do crescimento fetal nas gestantes fumantes. A nicotina
causa vasoconstricção dos vasos do útero e da placenta, reduzindo o fluxo
sangüíneo e a oferta de oxigênio e nutrientes para o feto. No entanto, alguns
autores
2,7
acreditam que além desta, os danos biológicos celulares e moleculares
provocados pelo CO e por outras toxinas também têm forte interferência no
desenvolvimento do feto.
A exposição pré e perinatal à nicotina tem sido relacionada a alterações da
cognição
8
, do desenvolvimento psico-motor
9
e sexual no jovem
10
. Estes efeitos
parecem ser secundários a neurotoxicidade da nicotina, que interage com os
receptores nicotínicos colinérgicos em fase precoce e inadequada durante a
gestação, prejudicando a neurogênese e a sinaptogênese
11
.
A Síndrome da Morte Súbita do Bebê tem mecanismos causais desconhecidos e
provavelmente multifatoriais. O fumo durante a gravidez é reconhecidamente um
elemento que eleva o risco de sua ocorrência
12
. Uma das hipóteses para explicar
esta relação é que a exposição prolongada da medula adrenal do feto à nicotina,
leva a perda de sua capacidade de responder reflexamente a hipóxia
13
. Sendo
assim, durante a apnéia transitória ou obstrução das vias aéreas do recém-nato não
haveria liberação de catecolaminas para redistribuição do fluxo sangüíneo para o
cérebro e coração e para manutenção da freqüência cardíaca enquanto persistisse a
hipóxia.
82
Gilliland e cols. mostraram que a exposição fetal intra-útero aos compostos do
tabaco compromete o crescimento dos pulmões e leva a redução das pequenas vias
aéreas, implicando em alterações funcionais respiratórias na infância, que persistem
ao longo da vida
14,15
. O desenvolvimento pulmonar modificado, pode estar associado
ao aumentando do risco futuro de DPOC, câncer de pulmão e doenças cardio-
vasculares
16-18
.
A nicotina provoca alterações súbitas e momentâneas no aparelho cardio-vascular
da gestante, com elevação da freqüência cardíaca e das pressões sistólicas e
diastólicas. Estas mudanças são dose-dependentes e parecem não provocarem
repercussão clínica significativa materno-fetal
19
.
MONÓXIDO DE CARBONO
O Monóxido de Carbono(CO) é um gás venenoso produzido pela combustão
incompleta de matéria orgânica. Embora existam outras fontes de exposição ao CO,
como a poluição atmosférica, o fumo passivo, a produção endógena e a exposição
ocupacional, nada se compara ao tabagismo ativo
20
.
O CO se liga a hemoglobina materna e fetal no sítio onde deveria se ligar o oxigênio,
sendo que sua afinidade é 200 vezes maior que a do oxigênio
21
. O produto desta
ligação é a Carboxihemoglobina(COHb), que tem uma meia vida de eliminação de 5-
6 horas
22
, com variação de concentração no sangue dos fumantes de 5 a 10%. A
hemoglobina fetal tem uma ligação com o CO mais forte que a hemoglobina
materna, resultando em níveis de COHb mais elevados na circulação fetal
23
. As altas
concentrações de COHb provocam uma hipóxia tecidual, estimulando a eritropoiese
e causando uma elevação do hematócrito da gestante fumante e de seu feto
24
. Isto
83
implica numa hiperviscosidade sangüínea, aumentando o risco de infarto cerebral e
transfusão no neonato
25
e no mau desempenho da placenta
26
.
O CO altera a curva de dissociação da oxihemoglobina, prejudicando a oxigenação
dos tecidos
23
. A hipóxia celular crônica é um dos fatores que pode explicar o retardo
do crescimento fetal
7
.
No sistema nervoso do feto, o CO tem ação de uma potente toxina, podendo causar
lesões neurológicas temporárias e/ou permanentes
27
.
No sistema cardio-vascular, provoca a elevação da freqüência cardíaca e a
hipertrofia miocárdica
28
.
OUTROS EFEITOS DE TOXICIDADE DOS COMPOSTOS DO CIGARRO
É sabido que o tabagismo leva ao comprometimento do sistema imunológico, com
diminuição da capacidade fagocitária dos macrófagos e alteração dos níveis de IgA
nas mucosas
29
. Isto pode explicar porque as gestantes fumantes têm maior risco de
abortamento
30
. A ruptura prematura das membranas seria subseqüente às rupturas
focais
31
, que por sua vez seriam secundárias às infecções locais facilitadas pela
toxicidade do fumo.
Outra causa importante de ruptura prematura das membranas e abortamento nas
fumantes é o fato de haver uma redução de 50% da concentração de ácido
ascórbico no líquido amniótico em comparação às não-fumantes
32
. A vitamina C,
além de ter papel significativo nas defesas imunológicas
33
, é imprescindível na
formação do colágeno que compõe a membrana aminiocoriônica
34
. O transporte de
aminoácidos pela placenta está reduzido nas fumantes
35
, interferindo na síntese
proteica e contribuindo para o mau desenvolvimento da membrana
aminiocoriônica
36
.
84
Mais um fator responsável pelo aumento de abortamentos na prenhez de fumantes é
a redução da síntese placentária de óxido nítrico, um potente relaxante do
miométrio
37
.
O Fator de Ativação das Plaquetas está envolvido no início e manutenção do
trabalho de parto, através da síntese de prostaglandinas. O tabagismo reduz a
inativação deste fator, podendo provocar contração uterina e parto prematuro
37
.
85
4. VALIDAÇÃO BIOQUÍMICA DO PERFIL TABÁGICO DA GESTANTE
A forte pressão social e o reconhecimento dos malefícios do tabagismo sobre a
saúde materna e fetal, constrange as gestantes, fazendo com que grande parte
delas não preste informações verídicas a respeito de seu hábito tabágico
38
. Daí a
importância, principalmente em levantamentos epidemiológicos e condução de
pesquisas científicas, destas informações sofrerem uma validação
39
.
Na atualidade, questiona-se inclusive a utilização indiscriminada da confirmação
bioquímica do “auto-relato”
40
. Sua importância está diretamente relacionada as
características da população estudada
41
. Nas situações onde o risco de falsas
informações é elevado (grupo “gestantes” está incluído), os auto-relatos precisam
ser confrontados para que os dados obtidos ganhem credibilidade. Estudos acerca
de tabagismo durante a gestação encontram discordância de 28 a 50% entre o
“auto-relato” e os testes de cotinina
42
.
No acompanhamento de gestantes, dependendo da informação que se esteja
buscando, o meio de validação pode variar. Hoje, os mais utilizados são a dosagem
da cotinina (saliva ou urina) e do COex, cada qual com suas características próprias.
Caso o foco seja definir o perfil tabágico da gestante (diferenciação entre “fumantes”
e “não-fumantes”), a dosagem da cotinina é o método de eleição, apesar de todas as
suas dificuldades técnicas. Se o objetivo é auxiliar-se de um método rápido que
comprove a alteração no número de cigarros consumidos, aumentar a motivação
para mudança de comportamento e avaliar o tabagismo passivo, a mensuração do
COex deve ser preferida
43,44
.
86
5. AVALIAÇÃO CRÍTICA DOS CUSTOS DO CONTROLE AO
TABAGISMO DURANTE A GESTAÇÃO
Os gastos com o tabagismo durante a gestação são conseqüência dos cuidados
especiais dispensados não só às gestantes, mas também aos neonatos e à criança
no primeiro ano de vida, que sofrem com o fumo de suas mães ainda na vida intra-
uterina e/ou durante o período de amamentação e crescimento.
Nos Estados Unidos, os custos com o tratamento das intercorrências obstétricas
provenientes do fumo na gravidez atingem cifras de 135 a 167 milhões de dólares-
ano
45
.
Estimativas econômicas indicam que os gastos médicos diretos com as
complicações peri-natais das gestantes fumantes são 66% maiores do que das não-
fumantes
46
. Isto se deve em grande parte às complicações fetais, como: baixo peso
ao nascer–BNP
47
(segundo a OMS, o fator isolado mais importante de
morbimortalidade infantil
48
), Síndrome da Morte Súbita do Bebê
12,49
, distúrbios
ventilatórios
14,15
, dentre outras
49
.
Nos países em desenvolvimento, o tabagismo durante a gestação é, ao lado da
desnutrição materna e da falta de assistência pré-natal, a principal causa de BPN
47
.
Nos países e centros desenvolvidos, passa a ser a primeira causa isolada
50
.
Em trabalho publicado na Health Economics
51
, Adams e colaboradores afirmam que
o fumo na gestação eleva o risco de assistência em UTI neonatal em 20% e, que o
tempo de permanência e os gastos com estas crianças na UTI neonatal são maiores
do que aqueles cujas mães não fumaram durante sua gravidez. Concluem que o
tabagismo durante a gestação aumenta em $700,00 os custos com a assistência
neonatal.
87
A manutenção deste hábito durante o primeiro ano de vida da criança, vai agravar os
prejuízos respiratórios, neurológicos e psico-motores que se iniciaram ainda intra-
útero
14,52
, avolumando os gastos com assistência médica dos filhos de fumantes.
Baseado na definição de Doubilet e cols de “custo efetivo” na Medicina
53
, para se
determinar o custo-benefício de um programa é necessário se avaliar o seu impacto
sobre a melhoria da saúde e economia de dinheiro proporcionada ou observar o
resgate dos benefícios de saúde mediante um custo aceitável. Os programas de
prevenção e tratamento do tabagismo apresentam a melhor relação custo-benefício
dentre todas as estratégias de promoção de saúde e tem o maior impacto sobre a
expectativa de vida do ser humano, se comparados a qualquer outra ação
preventiva isolada
54
. O Banco Mundial assegura que investir no controle do
tabagismo é altamente rentável, sobretudo para os países em desenvolvimento
55
. Se
considerarmos o controle ao tabagismo pontualmente durante a gestação, esta
relação custo-benefício ficará maximizada. Isto se deve:
a. Os benefícios gerados pela cessação não se resumem a saúde da gestante,
mas também do feto e de sua família. Se a gestante interromper o tabagismo
até a 20ª semana da gestação, o risco de ter um bebê com BPN iguala-se ao
risco das não fumantes56;
b. A consciência da gravidez, por si só já exerce uma motivação adicional na
gestante para considerar a cessação. Além disto, as visitas pré-natais
proporcionam várias oportunidades de reforço das intervenções para
interrupção do fumo, o que eleva a possibilidade de êxito
57
. Este é o momento
mágico para auxiliar uma mulher no abandono do tabagismo. As taxas de
sucesso dos programas de intervenção para o abandono do fumo são cerca
de três vezes maiores nas gestantes se comparadas com outros grupos
58
;
88
c. A precocidade e a facilidade da mensuração do retorno do investimento
motiva autoridades e gestores de saúde, uma vez que ao término da
gestação os ganhos com a saúde da gestante e do neonato e a economia
decorrente destes, já podem ser contabilizados.
Para cada dólar investido no controle ao tabagismo durante a gestação se recupera
de 6 (ganhos peri-natais) até 17 dólares se estendermos o somatório dos benefícios
ao cabo do primeiro ano de vida do infante
50,59
. Mesmo assim, em países como os
Estados Unidos e Canadá onde políticas governamentais anti-tabágicas são
agressivas e são empregados investimentos maciços para se controler o fumo
durante a gestação, muito há para se conquistar. Cerca de 20% das americanas
60
e
24% das canadenses
61
ainda fumam durante a gestação. Somente 49% dos gineco-
obstetras americanos advertem suas pacientes quanto às conseqüências do
tabagismo e, apenas 28% discutem estratégias de abandono
62
.
Em levantamento realizado em instituições públicas e privadas da Califórnia que
prestam assistência pré-natal, constatou-se que 8% não oferecem qualquer tipo de
apoio à gestante para cessação do tabagismo
63
.
Dentre os planos de managed care, somente 45% disponibilizam para as gestantes
guidelines padrões da Agency for Health Care Policy and Research
64
.
Apesar dos dados americanos não serem exatamente superponíveis aos do Brasil,
podemos inferir que a nossa realidade é tão cruel quanto, ou pior, do que a deles.
Ou seja, estima-se que o tabagismo entre as gestantes brasileiras também
compromete milhares de vidas e consome milhões de reais que poderiam estar
sendo empregados, por exemplo, na melhoria da atenção pré-natal e no controle à
mortalidade infantil.
89
6. PREVENÇÃO E TRATAMENTO DO TABAGISMO DURANTE A
GESTAÇÃO
A capacitação e o treinamento de profissionais em diversos níveis para tratamento
do tabagismo e a implementação de programas públicos e privados para apoio à
cessação também revelaram-se extremamente eficazes na redução do tabagismo
entre gestantes38,42,65.
A prevalência de americanas grávidas fumantes é maior entre as jovens (menos de
20 anos)66 e entre aquelas com baixa escolaridade67. Estudos com a população
brasileira confirmam esses achados68-71. Portanto, para se reduzir o tabagismo na
gestação, além de se investir em ações de saúde, deve-se também investir em
educação e ter as adolescentes como um dos alvos prioritário72.
Intervenções mínimas praticadas com a população em geral podem alcançar taxa de
sucesso de cessação do tabagismo de até 30%73. Os resultados destes esforços
são ainda superiores quando direcionados especificamente às gestantes58,74. A
gestação e o pós-parto são um momento ímpar para promoção da cessação do
tabagismo75. Logo, é mister que em todo acompanhamento pré-natal sejam
dispensados alguns minutos sobre o tema tabagismo e suas conseqüências. Na
verdade, toda mulher em idade fértil e que esteja considerando a hipótese de
engravidar, já deveria ser abordada pelo seu ginecologista, prevenindo sobre os
efeitos do tabagismo durante a gestação. Estas advertências também devem ser
estendidas às gestantes fumantes passivas76, e aos seus maridos, já que ter um
cônjuge fumante é fator preditivo de insucesso para cessação67.
No Brasil existe uma demanda reprimida em relação a vagas para tratamento da
dependência da nicotina
77
. Visando atenuar este panorama, em agosto de 2002 foi
assinada uma portaria do Ministério da Saúde
78
que inclui o tratamento contra o
90
fumo nos serviços do sistema público de saúde. No entanto, terapias específicas
para gestantes ainda não estão previstas.
A farmacoterapia e o aconselhamento são medidas de eficácia comprovada na
cessação do tabagismo. Cada qual tem sua eficácia individual, mas se somadas
aumentam as taxas de sucesso
79
. A combinação do aconselhamento com o uso da
Bupropiona e/ou formas de terapia de reposição de nicotina (TRN) apresenta taxa
pontual de cessação de 40-60% e, ao fim de um ano de 25-30%
79
. A terapia
farmacológica auxiliar na cessação do tabagismo tem uso muito restrito para
gestante. Mediante a possibilidade de toxicidade fetal, o emprego destas drogas tem
uma relação risco-benefício incerta. Isto reforça a necessidade de se trabalhar o
abandono do tabagismo antes mesmo da concepção.
Dempsey e Benowitz
7
, em um detalhado artigo de revisão sobre o uso de TRN
durante a gestação, defendem a idéia de que nos casos onde a gestante não foi
capaz de interromper o tabagismo apenas com o auxílio de intervenções não-
farmacológicas, deve-se considerar o uso de TRN. Este tipo de terapia adjuvante
dobra a taxa de cessação, aumentando a chance da mãe e do feto serem poupados
de mais de 4700 substâncias contidas no cigarro (além da nicotina), especialmente
do monóxido de carbono, que os autores consideram ser o composto de maior
toxicidade do tabaco. As formulações de liberação intermitente (goma de mascar,
por exemplo) devem ser preferidas por disponibilizarem ao feto uma dose total diária
de nicotina menor do que os dispositivos de liberação lenta (adesivo). Além disso,
Dempsey e Benowitz recomendam o uso de TRN para mães que precisam parar de
fumar e estão amamentando, já que a quantidade de nicotina excretada no leite
materno é bem pequena, trazendo um risco mínimo ao bebê, frente a um largo
benefício pela possibilidade dele ser protegido do tabagismo passivo. Outros
91
autores
80,81
também entendem que, apesar da TRN não estar idealmente indicada
para uso durante a gestação, a sua utilização ainda é mais segura que continuar
fumando. Mediante as limitações do emprego da farmacoterapia no controle ao
tabagismo durante a gestação, os aspectos psicológicos da dependência são
amplamente abordados por meio de psicoterapia. Variando de acordo com o grau de
motivação da gestante, várias técnicas podem ser empregadas com sucesso e
aplicadas individualmente ou em grupo
79,82-84
. Utiliza-se a Entrevista Motivacional
especialmente para as gestantes ambivalentes e a Terapia Cognitivo-
Comportamental para aquelas já motivadas, sendo esta a técnica mais aplicada nos
programas de tratamento do tabagismo
57
, inclusive o programa proposto pelo
Ministério da Saúde do Brasil
85
. Aconselhamento pessoal ou por telefone, também
mostram-se eficazes
79,82
. Materiais de auto-ajuda com orientações práticas de
técnicas de cessação do tabagismo sumarizadas em livretos, fitas K7 e de vídeo ou
em programas de computador têm resultado limitado se utilizados exclusivamente,
porém podem ser úteis se inseridos no contexto de outra forma de intervenção
59
.
Estes meios auxiliares são tão mais eficientes quanto mais específicos forem
orientados para o público-alvo
79,82
. Daí a importância de ações públicas e privadas
de controle ao tabagismo preverem programas e materiais individualizados para
gestantes. Diferentemente do Canadá, Estados Unidos e Inglaterra, o Brasil não tem
uma política bem definida de apoio às gestantes para a interrupção do fumo na
gravidez. Programas e guidelines
42,86
voltados especificamente para este grupo, com
informações práticas disponíveis inclusive na web
(www.surgeongeneral.gov/tobacco/prenatal.htm,www.cctc.ca,
www.smokefreefamilies.uab.edu/bpi_form.htm
) têm apresentado excelentes
92
resultados que devem servir de modelo para ações regionalizadas de mesma
envergadura no Brasil.
93
7. PREVENÇÃO DA RECAÍDA
A cessação do tabagismo no início da gestação acarreta importante redução dos
riscos à saúde fetal
4
. A persistência da abstinência no pós-parto evita a exposição
passiva do neo-nato ao compostos do tabaco, que está associada há várias
doenças, principalmente às infecções respiratórias. A abstinência mantida
definitivamente implicará no ganho de qualidade de vida da criança e, também, na
diminuição dos riscos maternos das doenças tabaco-relacionadas. Estes aspectos
dão grande relevância a preocupação com o fenômeno da recaída.
Apesar de 25-40% das fumantes pararem de fumar quando tomam ciência que
estão grávidas
59,87,88
ou reduzirem drasticamente o consumo de cigarros
89
, a recaída
pré e pós-parto é muito freqüente. Estima-se que cerca de 12-15% das gestantes
que alcançam a cessação, seja de forma espontânea ou com auxílio, vão recair
ainda durante a gestação
90
. Após o término da gravidez, o risco é muito maior,
atingindo taxas de 40-90% nos 12 primeiros meses pós-parto
91,92
.
As variáveis mais frequentemente citadas como preditivas de recaída durante a
gravidez são: pouca credibilidade sobre os malefícios do tabaco ao feto, julgamento
de baixa capacidade de manter-se sem fumar, multiparidade, falta suporte social
(convivência com fumantes), estresse, período curto de cessação antes da primeira
visita pré-natal, baixa escolaridade e gravidez precoce88,93.
Quinn e cols.93, estudando o comportamento de gestantes da Califórnia que
interromperam espontaneamente o hábito tabágico por ocasião de sua gestação,
encontraram uma taxa de recaída, ainda no pré-natal, em torno de 21%. Face aos
achados, fizeram um alerta sobre o alto índice de recaída entre as “cessadoras
94
espontâneas” e advertiram que estas devam ser identificadas e incluídas em um
programa especial para prevenção de recaída e, não simplesmente parabenizadas,
como costuma ocorrer.
Por outro lado, Secker-Walker e cols.94 mostram que os programas de prevenção
de recaída oferecidos no pré e pós-natal, tanto para as “cessadoras espontâneas”
como para as que cessaram com auxílio, não modificam a taxa de recaída a longo
prazo no pós-parto, no entanto, prolongam o tempo de abstinência, justificando sua
aplicação a todos os grupos de gestantes. Outros trabalhos também trazem
aspectos variados que justificam a importância destes programas, independentes da
taxa de recaída a longo prazo91.
Em um estudo prospectivo, McBride e cols.95 acompanharam 106 mulheres que
haviam parado de fumar durante a gestação. Na sexta semana pós-parto, 24% já
haviam retomado o tabagismo de forma regular e ao término do sexto mês, a taxa
de recaída era de 40%. Em concordância com os achados de Fingerhut96 e
Mullen92, também observaram que a recaída era gradual, com o maior risco por
volta do quarto mês, diferentemente do que ocorre com outros grupos, onde a
recaída se dá precocemente (em dias ou semanas).
Os fatores relacionados aos riscos de recaída após o término da gestação, são
vários:
Cessação tardia durante a gravidez
96
;
Interrupção precoce do aleitamento materno
97,98
;
Ganho de peso
97
;
Estresse com os cuidados do bebê
99
;
Cônjuge fumante
95
;
Depressão pós-parto
60
;
95
Término da licença maternidade, quando a mãe, além das tarefas
domiciliares, volta a assumir os conflitos profissionais, inclusive de
convivência com colegas fumantes do trabalho.
A prevenção e o tratamento da recaída devem ser intensamente trabalhados, pois
este fenômeno pode comprometer a chance de um abandono definitivo do
tabagismo alcançado pela motivação extraordinária da gestação.
96
8. COMENTÁRIOS FINAIS
A gestação é o momento sublime da vida de uma mulher. O poder devastador do
tabaco põe em risco este momento mágico. A criança, vítima inocente da escravidão
do vício materno, torna-se, ainda no útero, um “fumante ativo”, assumindo as
conseqüências desastrosas desta calamidade.
Dados recentes da OMS100 revelam que a cada ano cerca de cinco milhões de
pessoas morrem em todo o mundo pela ação do tabaco. Esses dados alarmantes
impelem a sociedade para uma cruzada de controle ao fumo.
As gestantes devem estar no centro das atenções desta luta. Os programas para
cessação direcionados às gestantes têm resultados muito superiores do que aqueles
destinados à população em geral. A relação custo-benefício fica otimizada. Com
pequenos investimentos alcança-se uma verdadeira transformação social:
eliminação da exposição materna e fetal ao tabaco e proteção do recém-nato, da
criança em desenvolvimento e dos demais parentes do fumo passivo, criando uma
família livre do tabaco. A figura da mãe é pilar na educação dos filhos e os seus
hábitos norteiam o comportamento social, podendo influenciar fortemente a decisão
de futuras gerações em iniciar-se no tabagismo.
Algumas situações e grupos merecem considerações e estratégias especiais
visando a abordagem do fumo na gravidez:
Jovens em idade fértil. A cessação antes da concepção é a garantia de proteção
máxima ao feto e, além disto, a farmacoterapia de apoio no tratamento da
dependência nicotínica pode ser utilizada nestas jovens sem as restrições da
gestação;
97
Gestantes com baixa escolaridade, pois o maior consumo de tabaco se concentra
entre as grávidas com baixa escolaridade;
Cessadoras espontâneas, pela alta prevalência de recaída;
Cônjuges fumantes, por influenciarem negativamente na tentativa de cessação da
gestante;
Gestantes que alcançaram a cessação durante a gravidez. O acompanhamento no
pós-parto se faz imprescindível para garantir uma cessação definitiva, já que existe
um alto risco de recaída após a gestação.
É necessário que obstetras e pediatras abracem esta causa e que enfermeiras e
agentes de saúde também sejam treinados e levados a serem bastiões da luta anti-
tabágica. Eles são a base do sucesso dos programas de abordagem do fumo na
gravidez e primeira infância. Para tornar bem sucedida esta realidade em nosso
país, o Brasil precisa desenvolver uma política mais forte e bem definida de apoio à
cessação do tabagismo durante a gestação. Cada seguimento da sociedade
(governo, imprensa, juristas, educadores, líderes religiosos e conselhos, sociedades
e entidades de classe da área de saúde) tem que reconhecer sua importância e
assumir com firmeza seu papel no propósito de um mundo mais saudável e livre das
drogas. Para tanto, cabe ressaltar que “ O controle ao tabagismo é o melhor (e mais
barato) meio de se prevenir, tratar e curar várias doenças! ”
98
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103
APÊNDICE B - RESUMO APRESENTADO AO XIX CONGRESSO ABEAD, RIO DE
JANEIRO, SETEMBRO 2007 (PRÊMIO DE MELHOR POSTER)
104
APÊNDICE C - RESUMO APRESENTADO AO XVIII CONGRESSO MUNDIAL DE
EPIDEMIOLOGIA, PORTO ALEGRE, SETEMBRO 2008
105
APÊNDICE D - RESUMO APRESENTADO AO XI SIMPÓSIO NACIONAL DE
TRATAMENTO DO TABAGISMO, RIO DE JANEIRO, NOVEMBRO DE 2008
106
APÊNDICE E - ARTIGO COMPLETO SUBMETIDO AO JORNAL BRASILEIRO DE
PNEUMOLOGIA: LEOPÉRCIO W, CARDOSO AP, COCA VELARDE LG, PRESMAN S,
LAPA E SILVA JR
Jornal Brasileiro de Pneumologia
Secretaria do Jornal Brasileiro de Pneumologi
a
SEPS 714/914 - Bloco E - Sala 220/223
Asa Sul - Brasília/DF - 70390-145
Fone/Fax: 0800 61 6218, email:
r
Brasília, domingo, 30 de novembro de 2008
Ilmo(a) Sr.(a)
Prof(a), Dr(a) JOSE WALDIR DE VASCONCELOS LEOPERCIO JUNIOR
Referente ao código de fluxo: 1706
Classificação: Artigo Original
Informamos que recebemos o manuscrito ABORDAGEM DESCRITIVA E ANALÍTICA DO
TABAGISMO DURANTE A GESTAÇÃO EM UMA AMOSTRA DE GESTANTES NO
MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO será enviado para apreciação dos revisores para possível
publicação/participação na(o) Jornal Brasileiro de Pneumologia. Por favor, para qualquer
comunicação futura sobre o referido manuscrito cite o número de referência apresentado
acima.
Obrigado por submeter seu trabalho a(o) Jornal Brasileiro de Pneumologia.
Atenciosamente,
Dr. Jose Antonio Baddini Martinez
Editor
107
ABORDAGEM DESCRITIVA E ANALÍTICA DO
TABAGISMO DURANTE A GESTAÇÃO EM UMA
AMOSTRA DE GESTANTES NO MUNICÍPIO DO RIO DE
JANEIRO
Descriptive and analytic approach of smoking during pregnancy among
pregnant women in Rio de Janeiro City
José Waldir de Vasconcelos Leopércio Júnior
Titulação: Especialista em Pneumologia e Mestre em Ciências Pneumológicas, Programa de Pós-
Graduação em Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro
Endereço: Rua Voluntários da Pátria, 445/1206, Botafogo
Rio de Janeiro-RJ CEP 22270-000
Telefone: 21 2535-5910
Fax: 21 2535-5910
e-mail: [email protected].br
Alexandre Pinto Cardoso
Titulação: Doutor em Ciências Pneumológicas pelo Programa de Pós-Graduação em Clínica Médica e
Professor Adjunto da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro
Luis Guillermo Coca Velarde
Titulação: Doutor em Ciências em Engenharia de Produção-Pesquisa Operacional, COPPE/UFRJ e
Professor Associado do Departamento de Estatística da Universidade Federal Fluminense
Sabrina Presman
Titulação: Psicóloga formada pela PUC-Rio e Especialista em Dependência Química pela UNIFESP
Jose Roberto Lapa e Silva
Titulação: PhD pelo National Heart & Lung Institute, Imperial College, Londres, Professor Titular de
Pneumologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro
Agradecimentos: Ao Prof. Fernando Farias pela revisão do texto.
108
RESUMO
Objetivo: Contribuir para o conhecimento dos aspectos epidemiológicos do tabagismo
durante a gestação. Métodos: Foi realizado no Rio de Janeiro um estudo transversal de junho
de 2003 a julho de 2004, com 633 gestantes que responderam a um questionário para avaliar
hábitos tabágicos na gestação. Resultados: No inicio da gestação 18,8% eram fumantes e
fumavam 13,2 ± 10,2 cigarros por dia. Começaram a fumar em média com 14,5 anos e 49,6%
tinham o hábito há mais de 10 anos. A maioria (99,0%) detinha a informação sobre os
malefícios do fumo na gestação e 98,3% acreditavam nesta informação. O hábito tabágico do
companheiro e a crença nos malefícios do fumo na gravidez tiveram influência sobre o
comportamento das gestantes: as mulheres com parceiros não fumantes apresentavam as
menores prevalências e quando a gestante manifestou acreditar nestes malefícios as chances
de fumar foram 8% das mesmas chances entre as que não acreditavam (p-valor < 0,001). A
idade, o número de anos estudados e residir ou não com parceiros não apresentou influência
sobre o hábito tabágico das gestantes. Conclusão: O estudo mostrou que ainda é elevado o
número de grávidas fumantes que fazem pré-natal nos Postos de Saúde do Rio de Janeiro.
Mostrou também que acreditar nos malefícios do fumo, bem como a existência de
companheiro não fumante reduz significativamente a chance da gestante ser fumante. Os
resultados não revelaram diferenças estatísticas significantes para fatores como idade,
escolaridade, co-habitar com o companheiro e estar informada sobre os riscos do fumo na
gravidez.
Palavras-chave: Tabagismo, Gravidez, Sistema Único de Saúde
109
ABSTRACT
Objective: Add to the current knowledge about epidemiological aspects of smoking during
pregnancy. Methods: Transversal survey was conducted in Rio de Janeiro between July 2003
and July 2004 where 633 pregnant women answered a questionnaire aiming to evaluate
smoking habits during pregnancy. Results: In the beginning of pregnancy, 18.8% of pregnant
women were smokers and smoked a mean of 13.2 + 10.2 cigarettes/day. They started smoking
at the mean age 14.5 years. Most of them had information about harmful effects of smoking
during pregnancy and 98.3% believed on such information. The smoking habits of their
partners and the belief on harmful effects of smoking in pregnancy had an influence on
pregnant women behavior: women with non-smoker partners showed the least prevalence and
when pregnant women answered they believed on such noxious effects, chance was 8% of the
chance if they answered they did not believe on them (p-value < 0.001). Age, number of
education years and living or not with their partners did not show a significant influence on
pregnant women’s smoking habits. Conclusion: This survey showed that the number of
pregnant women who are in pre-natal programs in Rio de Janeiro City Public Health is still
high. It also showed that both the belief on noxious effects of smoking and the existence of
non-smokers partners significantly decrease the chance of a pregnant woman is smoker. These
results did not show statistically significant difference for age, years of education, living with
partner and being informed about smoking in pregnancy.
Key words: Smoking, Pregnancy, Single Health System
110
I. Introdução
Embora os efeitos adversos do tabagismo sejam conhecidos desde a década de 50(1),
ainda hoje esta é a principal causa de morte evitável no mundo(2) e uma das principais causas
globais de morte.
O crescente consumo do tabaco entre as mulheres preocupa muito os especialistas, visto
que a literatura mais recente sugere que elas têm maior dificuldade em abandonar o cigarro do
que os homens(3).
Estudos avaliando a questão do fumo durante a gestação mostram prevalências de 1:5 a
1:3 gestantes fumando durante o período gestacional(4, 5). Há várias décadas se discutem os
malefícios do tabagismo na gravidez(6). Suas conseqüências são desastrosas para saúde
materna e do bebê, favorecendo complicações gestacionais e o aumento da morbimortalidade
infantil perinatal, além de estar associado a baixas taxas de amamentação(7). Os danos fetais
são tão significativos que cabe afirmar que o feto é um verdadeiro fumante ativo(8). Muitos
gastos com cuidados obstétricos e neonatais poderiam ser evitados se as medidas para o
controle do tabagismo durante a gestação fossem mais efetivas(9). Apesar do reconhecimento
destes custos financeiros e especialmente humanitários e, a despeito de todos os esforços
empregados, a prevalência do fumo durante a gravidez continua muito elevada(10).
Além das características sociais, existem fatores psicológicos associados à continuidade
do tabagismo na gestação, especialmente depressão e estresse no trabalho, exposição à
violência do parceiro e baixo nível de suporte(11). Outra questão associada é o medo do
ganho de peso que é ainda maior na gestação(12).
O presente estudo visou contribuir para o conhecimento da prevalência de tabagismo
ativo em gestantes acompanhadas em cinco postos de saúde do Município do Rio de Janeiro.
111
Métodos
Este estudo transversal foi realizado no período de junho de 2003 a julho de 2004 com
o objetivo de contribuir para o conhecimento dos aspectos epidemiológicos do tabagismo
durante a gestação no município do Rio de Janeiro.
A população-alvo foi formada por gestantes em acompanhamento pré-natal nos postos
de saúde da Prefeitura Municipal da Cidade do Rio de Janeiro (PMCRJ). Os postos foram
previamente selecionados de modo que todas as regiões da cidade do Rio de Janeiro
estivessem representadas. Além da localização, também foram levados em consideração para
a escolha aqueles que tinham alto grau organizacional, com grande fluxo de pacientes, e que
fossem situados em áreas acessíveis. Isto resultou na seleção de cinco postos (Tabela 1). O
estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da PMCRJ.
Postos de Saúde da Cidade do Rio de Janeiro
Características
maternas
Hélio
Pelegrino
N=115
(18,2%)
Píndaro de
Carvalho
Rodrigues
N=101
(16,0%)
Waldyr
Franco
N=213
(33,6%)
Belizário
Penna
N=104
(16,4%)
Raphael de
Paula e
Souza
N=100
(15,8%)
TOTAL
N=633
(100%)
Idade (anos)
11-20 48(41,7%) 28(27,7%) 63(29,6%) 23(22,1%) 17(17,0%) 179(28,3%)
21-30 46(40,0%) 52(51,5%) 116(54,5%) 56(53,8%) 46(46,0%) 316(49,9%)
31-40 20(17,4%) 20(19,8%) 33(15,5%) 24(23,1%) 35(35,0%) 132(20,9%)
41
1(0,9%) 1(1,0%) 1(0,4%) 1(1,0%) 2(2,0%) 6(0,9%)
Escolaridade
(anos completos)
0-4 43(37,4%) 41(40,6%) 53(24,9%) 26(25,0%) 27(27,0%) 190(30,0%)
5-8 52(45,2%) 35(34,6%) 78(36,6%) 31(29,8%) 35(35,0%) 231(36,5%)
9-11 20(17,4%) 25(24,8%) 74(34,7%) 46(44,2%) 36(36,0%) 201(31,8%)
12
0 0 8(3,8%) 1(1,0%) 2(2,0%) 11(1,7%)
Vive com marido
ou companheiro
Sim 79(68,7%) 87(86,1%) 151(70,9%) 89(85,6%) 87(87,0%) 493(77,9%)
Não 36(31,3%) 14(13,9%) 62(29,1%) 15(14,4%) 13(13,0%) 140(22,1%)
Idade gestacional
(semanas
completas)
12
31(27,0%) 38(37,6%) 52(24,4%) 8(7,7%) 15(15,0%) 144(22,8%)
13-24 36(31,3%) 28(27,7%) 88(41,3%) 34(32,7%) 47(47,0%) 233(36,8%)
25
48(41,7%) 35(34,7%) 73(34,3%) 62(59,6%) 38(38,0%) 256(40,4%)
Tabela 1 - Distribuição de algumas características das gestantes entrevistadas.
112
Baseando-se em questões operacionais de tempo, custo e acesso, optou-se por
estipular um número mínimo de 100 gestantes entrevistadas por posto, de modo a perfazer um
total de 500 questionários completos. Imaginou-se que este tamanho amostral tornaria o
trabalho viável e estatisticamente suficiente, pois para uma prevalência esperada de 20% de
fumo entre gestantes, este tamanho geraria uma confiança de 95% com um erro amostral
menor do que 4 pontos percentuais – o que a priori pareceu satisfatório aos objetivos do
estudo. A apresentação e o convite para participar do estudo foram feitos às gestantes na sala
de espera. Estas foram selecionadas por ordem de chegada, independente da idade gestacional
em que se achavam, até que a meta estipulada em número de participantes fosse atingida.
Após aceitar participar e assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, cada
gestante foi entrevistada individual e reservadamente para que suas respostas não fossem
influenciadas pela coletividade.
A coleta dos dados se deu por meio da aplicação de um questionário com 18
perguntas semi-estruturadas, que visava a colher informações sobre aspectos biológicos e
sociais das gestantes: idade, educação, estado marital, estrutura familiar, idade gestacional,
hábitos tabágicos ao início e no seguimento da gestação, hábito tabágico do companheiro
(quando co-habitava com este), conhecimento e crenças sobre os malefícios do fumo na
gravidez, importância e interesse acerca de um programa de tratamento de tabagismo para
gestantes.
Foi aplicado um questionário às gestantes com 18 perguntas semi-estruturadas.
Tal instrumento foi confeccionado pelo autor deste projeto em colaboração com os
professores César Gomes Victora e Iná Santos, da Universidade Federal de Pelotas, baseado
em questionamentos da literatura e focalizado nos objetivos geral e específicos do projeto.
Durante a fase-piloto, os questionários foram testados para identificação de problemas
de ordenamento, de aplicação e de interpretação das questões. Esta fase foi realizada no posto
113
CMS Píndaro de Carvalho Rodrigues (Gávea) e os questionários resultantes não foram
incluídos como dados na pesquisa.
Os dados obtidos nos postos foram organizados num banco constituído com o uso do
aplicativo Microsoft Office Excel. A análise estatística foi realizada com o auxílio do
programa S-plus versão 4.0. Foram usados testes de proporções para comparar a variável-
resposta (hábito tabágico no início da gestação) com as demais informações colhidas por meio
do questionário. Para a quantificação do efeito dos referidos fatores e sua significância
estatística foi utilizado um modelo de regressão logística.
Resultados
A amostra final foi constituída por 633 gestantes em acompanhamento pré-natal em 5
postos de saúde localizados no município do Rio de Janeiro. A Tabela 1 mostra a distribuição
das mulheres. A média de idade foi de 25,1 ± 6,5 anos, com maior concentração (49,9%) na
faixa etária de 21 a 30 anos. Em relação à escolaridade, metade das gestantes tinha no
máximo 7 anos completos de instrução e tempo médio de anos completos estudados de 6,6 ±
3,1 anos. A maior parte das gestantes (77,9%) residia com seu companheiro. Como estado
civil 77,4% se declararam casadas ou ajuntadas, 20,8% solteiras, 1,7% divorciadas ou
separadas e nenhuma se disse viúva. A entrevista foi efetuada com gestantes que estavam, em
média, com 22,1 ± 10,8 semanas de gestação. Em relação ao hábito de fumar, 18,8% das
gestantes afirmaram serem fumantes quando souberam que estavam grávidas.
A média de cigarros fumados no início da gestação foi de 13,2 ± 10,2 por dia, sendo
que 37,0% fumavam 20 ou mais cigarros por dia. A idade média com que começaram a fumar
foi de 14,5 ± 3,3 anos, sendo que 39,5% das entrevistadas começaram a fumar antes dos 14
anos. Quanto à duração, 49,6% das fumantes tinham o hábito há mais de 10 anos e a duração
média do hábito foi de 11,6 ± 7,8 anos.
114
Apenas 0,3% das gestantes declararam fumar charuto, a mesma porcentagem declarou
fumar cachimbo e 0,6% fumavam cigarro de palha. A maior prevalência do tabagismo no
início da gestação (24,5%) se deu no grupo etário de 31 ou mais anos.
Observou-se que 28,4% dos companheiros que co-habitavam com as gestantes
fumavam. Quase a totalidade das entrevistadas (99,0%) detinha a informação de que fumar
durante a gravidez é prejudicial à saúde da mãe e do bebê e 98,3% acreditavam nesta
informação. A maioria das gestantes (97,6%) acreditava ser importante a implantação de
programas de apoio às fumantes grávidas para deixarem de fumar. Dentre as fumantes, 94,1%
aceitariam participar de um programa desse tipo, caso fosse criado. Os resultados do
ajuste do modelo de regressão logística univariado encontram-se resumidos na Tabela 2.
Fator Prevalência Razão de chances p-valor
Idade
11 – 20 16,76% 1,00
21 – 30 17,41% 1,05 0,854
31
24,64% 1,62 0,084
Anos completos de
estudo
0-4 21,58% 0,73 0,658
5-8 21,65% 0,74 0,660
9-11 12,45% 0,38 0,171
Maior a 11 27,27% 1
Vive com marido ou
companheiro
Não 23,57% 1
Sim 17,44% 0,69 0,102
Detém a informação
Alguém falou 18,82% 1,19 0,892
Ninguém falou 16,67% 1
Acredita na informação
Acredita que faz mal 17,85% 0,08 <0,001
Não acredita que faz mal 72,73% 1
Tabela 2 - Resultados da regressão logística para o hábito de fumar no momento da tomada
de conhecimento da gestação.
A idade da gestante não foi um fator que tenha influenciado de forma significativa o
hábito de fumar, porém existe uma tendência ao aumento da prevalência com o aumento da
idade. O número de anos estudados também não exerceu influência significativa nem
apresentou uma tendência clara como no caso da variável idade. Contudo, observamos que a
115
faixa de maior instrução teve a maior prevalência. A crença de que fumar faz mal foi
apresentou relevância significativa sobre o hábito de fumar, sendo um fator de proteção contra
o tabagismo.
Quando se inclui na análise o hábito de fumar do parceiro, os resultados são
relevantes: as mulheres com parceiros não fumantes apresentam as menores prevalências, com
diferenças significativas para aquelas cujos parceiros são fumantes e as que não co-habitam
com parceiros (Tabela 3).
Prevalência Razão de chances P-valor
Parceiro fumante durante a
gestação
39,72% 2,27 0,002
Parceiro não fumante
durante a gestação
9,04% 0,34 <0,001
Sem parceiro
22,46% 1,00
Tabela 3 – Resultados da regressão logística para o hábito de fumar segundo o parceiro.
A desinformação sobre os malefícios do fumo não teve influência sobre as chances de
fumar (p-valor 0,892), porém quando a gestante manifestou acreditar nestes malefícios, as
chances de fumar corresponderam a 8% daquelas que não acreditaram nos referidos
malefícios (p-valor < 0,001).
Discussão
É importante destacar que os resultados do estudo se referem especificamente ao
momento em que as mulheres tomaram conhecimento de sua gestação. Portanto, ainda não
havia influência do status de estar “grávida” sobre os seus hábitos de fumar.
A prevalência do tabagismo encontrada no início da gestação foi de 18,8%. O
“Inquérito Domiciliar sobre Comportamentos de Risco e Morbidade Referida de Doenças e
Agravos não Transmissíveis” realizado pelo Ministério da Saúde no período de 2002 a
2003(13) apontou um percentual de fumantes regulares do sexo feminino na capital do Rio de
Janeiro de 15,9%. Portanto, nossos resultados, em linha com os dados oficiais, refletem uma
queda progressiva da prevalência do tabagismo entre as mulheres da cidade do Rio de Janeiro.
116
Os resultados relativos à carga tabágica e duração do hábito de fumar denotam na
amostra estudada um consumo diário elevado e por um longo período. Isto pode implicar em
uma maior dependência física, psicológica e/ou gestual, sendo um fator preditivo negativo
para o abandono do fumo. Intervenções mais intensas deverão ser criteriosamente
consideradas nestas populações, inclusive com o auxílio de farmacoterapia(14, 15).
A idade média precoce do início do consumo apresenta uma grande convergência com
os relatos da literatura que têm mostrado que é na adolescência que a maior parte dos usuários
do tabaco inicia, desenvolve e estabiliza seu comportamento de fumar, influenciados
especialmente por fatores sócio-econômicos, ambientais, comportamentais e pela publicidade
promovida pela indústria do cigarro (16, 17).
Todos estes dados e conhecimentos determinam
que as ações de prevenção do tabagismo na gravidez devam ser iniciadas antes mesmo da
concepção(18).
O uso de outros derivados do tabaco como charuto, cachimbo e cigarro de palha
também acarreta malefícios à saúde da mãe e do feto(19). Apesar do consumo não ter sido
significativo na amostra estudada, o esclarecimento sobre suas implicações também deve ser
considerado nas intervenções.
Embora a idade não tenha sido um fator que influenciou de maneira significativa o
hábito de fumar da gestante, houve uma tendência ao aumento da prevalência com o aumento
da idade. Estes achados divergem de estudos realizados em outros países(20, 21)
. No entanto,
estão de acordo com as estatísticas do Brasil(22), onde as prevalências no sexo feminino têm
se mostrado maiores nas faixas etárias mais elevadas. Como nossos dados se referem à
prevalência no início da gestação, era de se esperar que acompanhassem a tendência das
mulheres brasileiras, grávidas ou não grávidas.
Em alguns trabalhos(23, 24), a escolaridade guarda uma relação inversa com a
prevalência do tabagismo. Em nossa pesquisa o número de anos de escolaridade não teve
117
influência significativa. Contudo, as maiores prevalências foram identificadas na faixa de
maior instrução. Resultados semelhantes também já foram apresentados(20), inclusive no
Brasil(22). Independente da influência exercida pelo grau de escolaridade sobre as taxas de
prevalência do fumo, o importante é considerar os diversos níveis de instrução das gestantes
para tornar as intervenções mais acessíveis ao entendimento.
Residir com um companheiro é fator de proteção ao fumo na gestação(25). Em nosso
trabalho, cerca de 80% das entrevistadas viviam com seus companheiros. No entanto, esta
suposta estabilidade de relacionamento não trouxe proteção significativa. O hábito de fumar
do parceiro exerceu maior influência sobre a atitude das gestantes em relação ao fumo. As
mulheres com parceiros não fumantes apresentaram as menores prevalências, com diferenças
estatisticamente significativas para aquelas cujos parceiros eram fumantes e para aquelas que
não co-habitavam com parceiros (prevalências de 9,04%, 39,72% e 22,46%,
respectivamente). A alta prevalência do tabagismo entre os companheiros que co-habitavam
com as gestantes (28,4%) e a relevância do seu comportamento como fator de proteção do
fumo para a parceira reforça que é fundamental a inclusão do companheiro nos programas
voltados para gestantes.
Quase a totalidade das entrevistadas (99,0%) detinha a informação de que fumar
durante a gravidez é prejudicial à saúde da mãe e do bebê. Isto mostra que o Brasil vem
alcançando excelentes resultados com campanhas informativas sobre o fumo, especificamente
sobre questões relativas à gravidez. Segundo a RDC n. º 335, da Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (26), a indústria do tabaco passou a ser obrigada a veicular nos maços de
cigarros novas imagens de advertência sobre os danos à saúde causados pelo tabagismo,
sendo duas delas diretamente voltadas para a gestante: “Fumar causa aborto espontâneo” e
“Em gestantes, fumar provoca partos prematuros e o nascimento de crianças com peso abaixo
do normal”. No entanto, os resultados do nosso trabalho mostraram que apenas ter acesso às
118
informações não são suficientes para mudar o comportamento das grávidas quanto ao hábito
de fumar. O fundamental é fazer com que elas acreditem nas advertências. Quando as
gestantes manifestaram acreditar nestes malefícios, as chances de fumar foram 8% das
mesmas chances entre as que não acreditaram nos referidos malefícios (p-valor < 0,001). As
informações sobre os malefícios e as orientações que contribuam para deixar de fumar devem
ser claras, exatas, específicas e fornecidas o mais precocemente possível, de forma intensiva e
por profissionais capacitados para aumentar o custo-efetividade das ações(27).
A maior parte das gestantes (97,6%) acreditava ser importante a implantação de
programas de apoio às fumantes para deixarem de fumar. Dentre as fumantes, 94,1%
aceitariam participar de um programa desse tipo, caso fosse criado. Apesar do Brasil ter
avançado nos últimos anos nas campanhas informativas, muitos fumantes são incapazes de
abandonar o hábito sem auxílio. Embora 70% dos tabagistas desejem parar de fumar(28),
apenas um terço consegue por um dia e menos de 10% o fazem por um ano(29). Uma a cada
três gestantes fumantes não abandona o cigarro durante a gravidez(30). Neste trabalho de
pesquisa, o percentual de desejo de abandonar o fumo foi bastante elevado, visto que 94,1%
estariam interessadas em participar de programas específicos para a cessação do fumo,
demonstrando assim a importância da implantação de políticas de tratamento de tabagismo
para gestante.
O presente estudo evidenciou que cerca de um quinto das gestantes dos Postos de
Saúde analisados são fumantes. Acreditar nos malefícios do fumo na gravidez e ter um
companheiro não-fumante foram significantes para reduzir a chance da gestante ser fumante.
Por esta razão, os programas de controle do tabagismo na gestação devem ser intensificados e
estendidos aos companheiros para que estes tenham a consciência de sua importância sobre o
hábito de fumar da gestante.
119
Os resultados não revelaram diferenças estatísticas significantes para fatores como
idade, escolaridade, co-habitar com o companheiro e estar informada sobre os riscos do fumo
na gravidez. Ainda assim, a importância destes fatores deve ser observada de maneira
criteriosa. Outros estudos são necessários para discutir sua relevância.
Concluindo, este trabalho pode contribuir para despertar o interesse de outros autores
sobre os aspectos epidemiológicos do tabagismo em gestantes brasileiras, revelando possíveis
fatores de risco e proteção, o conhecimento e as crenças sobre os malefícios do fumo na
gestação e o interesse das grávidas em participarem de programas de cessação do tabagismo.
Os resultados se referem a uma amostra de gestantes do Município do Rio de Janeiro e,
embora não possam ser extrapolados para todo o território nacional, podem colaborar para a
formulação de políticas para o controle do tabagismo durante a gestação no Brasil.
120
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