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DENISE CURANISHI
ABORDAGEM DE SEGURANÇA ALIMENTAR PARA A SELEÇÃO DE
AMT – TECNOLOGIA AVANÇADA DE MANUFATURA
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Engenharia de Produção e Sistemas da
Pontifícia Universidade Católica do Paraná, como
requisito parcial para obtenção do título de Mestre em
Engenharia de Produção e Sistemas.
CURITIBA
2004
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DENISE CURANISHI
ABORDAGEM DE SEGURANÇA ALIMENTAR PARA A SELEÇÃO DE
AMT – TECNOLOGIA AVANÇADA DE MANUFATURA
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Engenharia de Produção e Sistemas da
Pontifícia Universidade Católica do Paraná, como
requisito parcial para obtenção do título de Mestre em
Engenharia de Produção e Sistemas.
Área de Concentração: Automação e Controle de
Sistemas
Orientador: Prof. Dr. Marco Antônio Busetti de Paula
Co-orientador: Prof. Dr. Sérgio Eduardo Gouvêa da Costa
CURITIBA
2004
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Curanishi, Denise
Abordagem de segurança alimentar para a seleção de AMT – Tecnologia
Avançada de Manufatura. Curitiba, 2004. 133p.
Dissertação – Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Programa de
Pós-Graduação em Engenharia de Produção e Sistemas.
1. Segurança alimentar 2. APPCC 3. Tecnologia avançada de manufatura
4. Abordagem por processos.
I.Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Centro de Ciências Exatas e de
Tecnologia. Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção e
Sistemas.
ii
“Para fazer uma obra de arte
não basta ter talento, não basta ter força,
é preciso também viver um grande amor.”
(Wolfgang Amadeus Mozart)
Esta obra é dedicada ao meu grande amor,
Edimar.
iii
Agradecimentos
Ao Prof. Busetti, pela confiança em mim e em meu trabalho, e pelas orientações,
compreensão e incentivo, que possibilitaram a conclusão desta dissertação.
Ao Prof. Sérgio Gouvêa, por guiar-me pelos caminhos dos AMT, abordagem por processos
e condução de casos.
Ao Prof. Amauri, pelo incentivo, apoio nos momentos difíceis e, principalmente, pela
amizade e correção do texto.
À empresa e profissionais que contribuíram para o estudo de caso, pela participação nesta
importante conquista.
À PUCPR, por me conceder esta oportunidade de realizar o mestrado.
Aos colegas do mestrado, especialmente aos amigos Viviane e Avides, pelos momentos de
alegria, amizade e por motivarem o desenvolvimento deste trabalho.
Aos meus padrinhos, Adhemar e Margarida, por me acolherem durante a realização do
estudo de caso.
Ao meu marido Edimar, que sempre me entendeu e deu muita força para seguir nesta
trajetória de desenvolvimento profissional.
Aos meus pais, Fucuo e Keiko, e meu irmão Elcio, pelo apoio nesta caminhada.
A todos aqueles que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização deste trabalho.
iv
Sumário
LISTA DE FIGURAS................................................................................................................... VII
LISTA DE QUADROS ............................................................................................................... VIII
LISTA DE ABREVIATURAS ........................................................................................................ X
RESUMO...................................................................................................................................... XI
ABSTRACT ................................................................................................................................ XII
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................................... 1
1.1.
CONTEXTO ........................................................................................................................... 1
1.2.
PROPOSTA ........................................................................................................................... 2
1.3.
MOTIVAÇÃO.......................................................................................................................... 3
1.4.
ESTRUTURA ......................................................................................................................... 4
2 ESTRATÉGIA E MÉTODOS DE PESQUISA............................................................................ 6
2.1.
ESTRATÉGIA DE PESQUISA: ESTUDO DE CASO ........................................................................ 6
2.1.1. Seleção da estratégia de estudo de caso................................................................... 6
2.1.2. Projeto de pesquisa .................................................................................................... 8
2.1.3. A importância do desenvolvimento da teoria............................................................ 10
2.1.4. Critérios para se julgar a qualidade dos estudos de caso ........................................ 10
2.1.5. Tipos de estudo de caso........................................................................................... 11
2.2.
ABORDAGEM POR PROCESSOS ............................................................................................ 13
2.2.1. Desenvolvimento da abordagem por processos ...................................................... 13
2.2.2. Características da abordagem por processos .......................................................... 15
2.2.3. Avaliação do processo.............................................................................................. 18
2.3.
PESQUISA-AÇÃO................................................................................................................. 19
2.3.1. Definições e objetivos ............................................................................................... 19
2.3.2. Organização da pesquisa-ação ................................................................................ 21
2.4.
RESUMO DO CAPÍTULO ........................................................................................................ 22
3 FUNDAMENTOS CONCEITUAIS ........................................................................................... 23
3.1.
INDÚSTRIA DE ALIMENTOS ................................................................................................... 23
3.1.1. A indústria de alimentos como um sistema produtivo .............................................. 23
v
3.1.2. Etapas de processamento na indústria de alimentos ............................................... 25
3.1.3. A importância dos microorganismos nas indústrias de alimentos............................ 28
3.2.
APPCC ............................................................................................................................. 32
3.2.1. Conceito .................................................................................................................... 32
3.2.2. Histórico .................................................................................................................... 33
3.2.3. Princípios .................................................................................................................. 34
3.2.4. Seqüência lógica de aplicação dos princípios do APPCC........................................ 35
3.2.5. O APPCC e a segurança alimentar sob o conceito da Qualidade ........................... 39
3.3.
TECNOLOGIA AVANÇADA DE MANUFATURA........................................................................... 43
3.3.1. Conceito .................................................................................................................... 43
3.3.2. Classificação ............................................................................................................. 44
3.3.3. Benefícios dos AMT .................................................................................................. 53
3.3.4. O processo de escolha de AMT................................................................................ 55
3.4.
RESUMO DO CAPÍTULO ........................................................................................................ 59
4 INDÚSTRIA DE LATICÍNIO..................................................................................................... 60
4.1.
O LEITE.............................................................................................................................. 60
4.2.
LEITE PASTEURIZADO.......................................................................................................... 62
4.2.1. Processamento do leite pasteurizado....................................................................... 63
4.2.2. Enfermidades transmitidas pelo leite pasteurizado .................................................. 68
4.3.
GESTÃO DA QUALIDADE NA INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS............................................................ 69
4.4.
CUIDADOS COM A APLICAÇÃO DO SISTEMA APPCC EM LATICÍNIO .......................................... 70
4.5.
AMT NA INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS ....................................................................................... 74
4.6.
RESUMO DO CAPÍTULO ........................................................................................................ 75
5 CONSTRUÇÃO DO FRAMEWORK E PROCESSO OPERACIONAL................................... 77
5.1.
CONSTRUÇÃO DO FRAMEWORK DE GARANTIA DE SEGURANÇA ALIMENTAR ............................. 77
5.2.
OPERACIONALIZAÇÃO DO FRAMEWORK: DESENVOLVIMENTO DO PROCESSO ........................... 81
5.3.
DESCRIÇÃO DO PROCESSO DE OPERACIONALIZAÇÃO DO FRAMEWORK ................................... 83
5.3.1. Fase 0: Preparativos e ponto de entrada.................................................................. 83
5.3.2. Fase 1: Análise de Perigos ....................................................................................... 84
5.3.3. Fase 2: Seleção de Tecnologias Avançadas de Manufatura (AMT) ........................ 96
5.3.4. Fase 3: Síntese ......................................................................................................... 99
5.3.5. Fase 4: Verificação ................................................................................................. 100
5.4.
RESUMO DO CAPÍTULO ...................................................................................................... 101
6 REFINAMENTO E TESTE DO FRAMEWORK E DO PROCESSO DE
OPERACIONALIZAÇÃO .................................................................................................................... 102
6.1.
REFINAMENTO E TESTE DO FRAMEWORK E PROCESSO ATRAVÉS DE ESTUDO DE CASO .......... 102
6.1.1. Contexto.................................................................................................................. 102
vi
6.1.2. Gestão do processo ................................................................................................ 103
6.1.3. Apresentação dos resultados de cada fase............................................................ 105
6.1.4. Avaliação do método............................................................................................... 113
6.2.
REFINAMENTO DO FRAMEWORK E PROCESSO ATRAVÉS DE ENTREVISTAS............................. 114
6.2.1. Perfil dos entrevistados........................................................................................... 114
6.2.2. Condução das entrevistas ...................................................................................... 114
6.2.3. Principais contribuições .......................................................................................... 116
6.3.
PROCESSO REFINADO ....................................................................................................... 117
6.3.1. Fase 1: Análise de Perigos ..................................................................................... 118
6.3.2. Fase 2: Seleção de AMT ........................................................................................ 119
6.3.3. Fase 3: Verificação ................................................................................................. 120
6.4.
CONCLUSÕES................................................................................................................... 121
7 CONCLUSÕES E CONTINUIDADE DO TRABALHO.......................................................... 122
7.1.
CONSIDERAÇÕES EM RELAÇÃO AOS OBJETIVOS PROPOSTOS............................................... 122
7.2.
CONTRIBUIÇÕES ............................................................................................................... 125
7.3.
LIMITAÇÕES DO ESTUDO.................................................................................................... 126
7.4.
CONTINUIDADE DO TRABALHO ........................................................................................... 127
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................ 128
APÊNDICE A SURTOS DE DTA SEGUNDO GRUPOS DE ALIMENTOS ENVOLVIDOS ..... 133
APÊNDICE B FATORES INTRÍNSECOS E EXTRÍNSECOS QUE CONTROLAM O
DESENVOLVIMENTO MICROBIANO NOS ALIMENTOS ................................................................. 134
B.1.
FATORES INTRÍNSECOS .................................................................................................... 134
B.2.
FATORES EXTRÍNSECOS ................................................................................................... 138
APÊNDICE C CONTROLE DO DESENVOLVIMENTO MICROBIANO NOS ALIMENTOS .... 141
APÊNDICE D CRONOGRAMA DO PROJETO........................................................................ 144
APÊNDICE E FICHAS DE AVALIAÇÃO DO PROCESSO ...................................................... 145
E.1.
FOLHA DE ANOTAÇÃO DO FACILITADOR .............................................................................. 145
E.2.
FICHA PARA AVALIAÇÃO DA FASE ....................................................................................... 148
E.3.
FICHA PARA AVALIAÇÃO DO MÉTODO ................................................................................. 149
APÊNDICE F ESTUDO DE CASO: FOLHAS DE TAREFAS PREENCHIDAS........................ 150
F.1.
FOLHA DE TAREFA 4: BRAINSTORMING DE PERIGOS............................................................ 150
F.2.
FOLHA DE TAREFA 6: CARACTERÍSTICAS DOS PERIGOS....................................................... 153
F.3.
FOLHA DE TAREFA 9: AMT PARA OS PERIGOS .................................................................... 154
vii
Lista de figuras
Figura 1.1 Lógica e estrutura da dissertação.......................................................................... 5
Figura 3.1 Passos para implantação do APPCC.................................................................. 35
Figura 3.2 Diagrama da árvore decisória para identificação do ponto crítico....................... 38
Figura 3.3 Abordagem estratégica para seleção de AMT .................................................... 56
Figura 3.4 Processo para operacionalização do framework para seleção estratégica
de AMT ..........................................................................................................................57
Figura 3.5 O processo de seleção de AMT com suas fases e passos................................. 58
Figura 4.1 Fluxograma do processo de leite fluido pasteurizado ......................................... 64
Figura 5.1 Segurança alimentar como exigência do mercado.............................................. 77
Figura 5.2 APPCC como sistema de segurança alimentar recomendado por organismos
internacionais................................................................................................................. 78
Figura 5.3 APPCC como exigência legal.............................................................................. 78
Figura 5.4 Princípios do sistema APPCC ............................................................................. 79
Figura 5.5 AMT para monitoramento e controle de PCC...................................................... 80
Figura 5.6 Framework de garantia de segurança alimentar ................................................. 80
Figura 5.7 Processo de operacionalização do framework de garantia de segurança
alimentar ........................................................................................................................ 81
Figura 5.8 Processo de operacionalização do framework .................................................... 82
Figura 5.9 Folha de tarefa 4 – Brainstorming de perigos...................................................... 88
Figura 5.10 Árvore Decisória ................................................................................................ 90
Figura 5.11 Folha de tarefa 6 – Características dos perigos................................................ 91
Figura 5.12 Folha de tarefa 9 – AMT para os Perigos.......................................................... 97
Figura 6.1 Diagrama operacional do leite fluido pasteurizado............................................ 106
viii
Lista de quadros
Quadro 2.1 Táticas do estudo de caso para os testes de projeto ........................................ 11
Quadro 2.2 Características desejáveis dos processos......................................................... 16
Quadro 3.1 Principais operações utilizadas pela tecnologia de alimentos........................... 26
Quadro 3.2 Principais medidas preservativas ...................................................................... 27
Quadro 3.3 Métodos de conservação................................................................................... 28
Quadro 3.4 AMT e suas classificações................................................................................. 45
Quadro 3.5 AMT por grupo funcional para indústrias de alimentos..................................... 46
Quadro 3.6 Benefícios da adoção de tecnologia avançada ................................................. 54
Quadro 4.1 Composição geral do leite ................................................................................. 61
Quadro 4.2 Constantes físico-químicas do leite ................................................................... 61
Quadro 5.1 Descrição dos passos da fase 1........................................................................ 84
Quadro 5.2 Participação sugerida e estratégia de campo na fase 1.................................... 84
Quadro 5.3 Folha de tarefa 1 – Equipe de Análise de Perigos............................................. 85
Quadro 5.4 Folha de tarefa 2 – Formulário de descrição do produto................................... 86
Quadro 5.5 Folha de tarefa 3 – Formulário para indicação da composição do produto....... 86
Quadro 5.6 Folha de tarefa 5 – Matriz de decisão das etapas do processo ........................ 90
Quadro 5.7 Folha de tarefa 7 – Verificação do NPR ............................................................ 93
Quadro 5.8 Critério de avaliação de severidade................................................................... 94
Quadro 5.9 Critério de avaliação de ocorrência ................................................................... 95
Quadro 5.10 Critério de avaliação de detecção.................................................................... 95
Quadro 5.11 Folha de tarefa 8 – Síntese da Análise de perigos.......................................... 96
Quadro 5.12 Descrição dos passos da fase 2...................................................................... 96
Quadro 5.13 Participação sugerida e estratégia de campo na fase 2.................................. 97
Quadro 5.14 Folha de tarefa 10 – AMT e suas características ............................................ 98
Quadro 5.15 Descrição dos passos da fase 3...................................................................... 99
Quadro 5.16 Participação sugerida e estratégia de campo na fase 3.................................. 99
Quadro 5.17 Folha de tarefa 11 – Verificação do novo NPR.............................................. 100
Quadro 5.18 Folha de tarefa 12 – Verificação da melhoria da segurança alimentar.......... 101
Quadro 6.1 Folha de tarefa 7 preenchida – Verificação do NPR........................................ 107
Quadro 6.2 Folha de tarefa 8 preenchida – Síntese da Análise de Perigos....................... 107
ix
Quadro 6.3 Folha de tarefa 10 preenchida – AMT e suas características.......................... 109
Quadro 6.4 Folha de tarefa 11 preenchida – Verificação do novo NPR............................. 111
Quadro 6.5 Folha de tarefa 12 preenchida – Verificação da melhoria na segurança alimentar
..................................................................................................................................... 112
Quadro 6.6 Avaliação das fases e do método.................................................................... 113
Quadro 6.7 Folha de tarefa 6 (nova) – Medidas de monitoramento ................................... 118
Quadro 6.8 Folha de tarefa 11 (nova) – Medidas de monitoramento com AMT................. 119
Quadro 6.9 Folha de tarefa 10 – AMT e suas características ............................................ 119
Quadro 6.10 Folha de tarefa 13 – Lista ordenada de AMT ................................................ 120
x
Lista de Abreviaturas
Aa Atividade de água
AMT Tecnologia Avançada de Manufatura (Advanced Manufacturing Tecnologies)
APPCC Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle
BPF Boas Práticas de Fabricação
CAD Projeto auxiliado por computador (Computer aided design)
CAE Engenharia auxiliada por computador (Computer aided engineering)
CAM Manufatura auxiliada por computador (Computer-aided manufacturing)
CMT Teste de mastite (Califórnia Mastitis Test)
DTA Doenças transmitidas por alimentos
Eh Potencial de oxi-redução
ETA Enfermidades transmitidas por alimentos
FDA Administração de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos
FMEA Análise de Modos e Efeito de Falhas (Failure, Mode and Effect Analysis)
HACCP Hazard Analysis and Critical Control Points (APPCC em inglês)
HTST Pasteurização rápida (High temperature - short time)
ICMSF Comissão Internacional de Especificações Microbiológicas para Alimentos
(International Commission on Microbiological Specifications for Foods)
LAN Rede local de dados (Local area network)
LTLT Pasteurização lenta (Low temperature - long time)
NASA Administração Nacional da Aeronáutica e do Espaço (National Aeronautics and
Space Administration)
NIR Análise de infra-vermelho (Near infra-red)
NPR Número de prioridade de risco
OMS Organização Mundial de Saúde
PCC Pontos Críticos de Controle ou Ponto de Controle Crítico
pH Acidez
PIQ Padrão de Identidade e Qualidade
PPHO Procedimentos Padrões de Higiene Operacional
SIF Serviço de Inspeção Federal
UR Umidade relativa
WAN Rede de dados de grande abrangência (Wide area network)
xi
RESUMO
O consumo de alimento contaminado pode causar danos físicos e emocionais aos
consumidores, que podem sofrer desde alguns dias de desconforto, inconveniência e tempo
perdido no trabalho ou na escola, até internamentos em hospitais, incapacidade e morte.
Alem disso, os danos financeiros, tanto para os consumidores quanto para as empresas
processadoras do alimento, não podem ser ignorados. A empresa pode ser obrigada a
pagar indenizações, ver o valor das suas ações em queda, ou mesmo ter suas portas
fechadas. Para os consumidores, há os custos com médicos, horas sem trabalhar e custos
extras no lar. Com o objetivo de garantir a segurança alimentar e evitar todos esses
prejuízos, foram desenvolvidos, nesta dissertação, um framework e um processo de
operacionalização baseados nos princípios do sistema APPCC e seleção de AMT. O
framework foi construído a partir de argumentos levantados na literatura e evidencia de
forma gráfica que a segurança alimentar, exigida pelo mercado (clientes e consumidores) e
pela legislação, pode ser alcançada em um nível mais alto através da utilização dos
princípios do sistema APPCC e associação de AMT aos Pontos Críticos de Controle (PCC).
O framework proposto e as diretrizes da abordagem por processos foram referências para o
desenvolvimento do processo de operacionalização, contando inicialmente com 4 fases e 12
folhas de tarefas, que conduz à definição dos perigos, pontos críticos de controle e
tecnologias de prevenção, monitoramento e controle para garantir a segurança de produtos
alimentícios. O teste e refinamento do framework e processo foram realizados através de
um estudo de caso, utilizando-se a abordagem por processo e o método de pesquisa-ação,
e entrevistas com especialistas. O resultado da avaliação do estudo de caso demonstrou
que o processo é factível, usável e útil, possibilitando um aumento da garantia da segurança
alimentar. O refinamento do processo de operacionalização propôs melhorias de
representação gráfica, alteração de folha de tarefa e incorporação de passos e folhas de
tarefas, resultando em um processo com 3 fases e 14 folhas de tarefas.
xii
ABSTRACT
Contaminated food can cause both physical and emotional damages to consumers that
can suffer discomfort, inconvenience and lost of workdays or in the school activities even
place in hospitals, incapacity and death. Besides, the financial damages so much for
consumers as for the food industry cannot be unknown. The company can be forced to pay
reparations, see the value of share of stock in fall or even have the industry interdicted. For
consumers there are costs with doctors, hours without working and extra costs in home. To
guarantee the food safety and to avoid all those damages, a framework and operational
process were developed based on the principles of HACCP system and selection of AMT.
The framework was built from arguments of the literature and it evidences in a graphic way
that the food safety, demanded by the market (customers and consumers) and for legislation,
can be reached in higher level through the use of HACCP principles and association of AMT
to the Critical Control Points (CCP). The proposed framework and the guidelines of the
processes approach went references to the development of the operational process, that
counts with 4 phases and 12 worksheets that lead to definition of hazards, critical control
points, and prevention, monitoring and control technologies to guarantee the food safety. The
test and refinement of the framework and process was accomplished through case study,
using process-approach and action-research method, and interviews with specialists.
Through of that case, the process was shown feasible, usable and useful making possible an
increase of food safety's warranty. The refinement of the operational process propose
improvements on graphic representation, modification in worksheet and incorporation of
steps and worksheets, resulting in a process with 3 phases and 14 worksheets.
1
1
Introdução
"A definição de propósitos é o ponto de partida de qualquer empreendimento."
(Clement Stone)
1.1. Contexto
“Uma forte intoxicação alimentar levou ao hospital 11 mil japoneses na semana
passada. Eles tomaram leite contaminado produzido pela Snow Brand, a maior indústria
leiteira do país. O problema pode ter sido causado por uma bactéria que proliferou em
tanques mantidos em más condições de higiene. O presidente da Snow Brand, Tetsuro
Ishikawa, renunciou ao cargo na quinta-feira 6, alvejado pela ira dos acionistas e pela
reprovação da opinião pública. A indenização às vítimas custará US$ 18,7 milhões. O valor
das ações da companhia caiu 30% após o incidente.”
1
O termo intoxicação alimentar é usado para descrever muitas doenças que resultam
da ingestão de alimentos ou bebidas contaminados. Infelizmente, muitas pessoas irão
experimentar alguma espécie de alimento contaminado e irão contrair uma intoxicação
alimentar severa em algum tempo de suas vidas (RICHARDS, 2003). Somente nos Estados
Unidos, especialistas em segurança alimentar acreditam que os alimentos contaminados
resultem em mais de 76 milhões de doentes, 325.000 hospitalizações e 5.000 mortes por
ano (DEWAAL, 2003 e TAUXE, 2002).
Os surtos de intoxicação alimentar, além de causarem danos à saúde do consumidor,
trazem grandes prejuízos à empresa. A segurança alimentar, definida como o risco aceitável
dos perigos para os consumidores, que pode ser vista como uma dimensão da qualidade –
conformidade -, deve ser considerada prioridade máxima nas indústrias de alimentos, tanto
para suprir exigências do consumidor, quanto da legislação.
Que o produto seja seguro é uma exigência não escrita de muitas especificações de
clientes. Passa sem ser dito, e, ao contrário de muitos outros atributos do produto
(aparência, sabor, preço), não é negociável. Clientes esperam alimentos seguros e a
1
Reportagem da revista Época de 10 de julho de 2000, edição 112.
2
indústria de alimentos tem a responsabilidade de suprir suas expectativas (MORTIMORE e
WALLACE,1994).
No Brasil, por meio da portaria 1428/93, do Ministério da Saúde, a adoção do método
APPCC – Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle, para a garantia de qualidade de
produtos e serviços, é obrigatória em toda a cadeia alimentar (BRASIL, 1993).
1.2. Proposta
Diante da necessidade crescente das empresas de alimentos se adequarem às novas
exigências do mercado quanto à qualidade do produto, além de exigências legais quanto à
segurança do produto, esta dissertação visa responder à seguinte questão:
Como aumentar a garantia de segurança
de produtos alimentícios ?
Para fornecer o direcionamento de ‘o quê’ se deve estudar, é enunciada a seguinte
proposição de estudo:
O aumento da garantia de segurança de produtos alimentícios pode ser alcançado
através de AMT – Tecnologias Avançadas de Manufatura – apropriados, e em pontos
específicos determinados por uma análise de perigos, baseada no sistema APPCC –
Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle.
Assim, tem-se por objetivo central:
Desenvolvimento e refinamento de um framework e um processo que o operacionalize
para garantir a segurança de produtos alimentícios através de AMT
2
– Tecnologias
Avançadas de Manufatura – apropriados, e em pontos específicos determinados por uma
análise de perigos, baseada no sistema APPCC – Análise de Perigos e Pontos Críticos de
Controle.
Como objetivos específicos, têm-se:
avaliar os princípios do sistema APPCC e o framework de seleção de AMT;
avaliar uma base de dados de AMT associados à indústria de alimentos;
propor um framework de garantia de segurança alimentar;
construir um processo de operacionalização do framework proposto;
testar e refinar o framework e o processo de operacionalização.
2
AMT, sigla em inglês de Advanced Manufacturing Technologies.
3
1.3. Motivação
Os conceitos tradicionais para controle de alimentos estão baseados na inspeção e
análise, realizados por equipe de controle de qualidade e oficiais da vigilância sanitária.
Segundo ICMSF (1997), para proteger o consumidor de fraudes, adulterações e
doenças, os organismos locais, nacionais e internacionais estabeleceram e difundiram
regulamentos, códigos de práticas e leis de processamento, manuseio e venda de
alimentos. A inspeção tem por objetivo verificar o cumprimento desses regulamentos. Todo
este esforço, no entanto, sofre com limitações, como os termos vagos das normas, por
exemplo, ‘limpos freqüentemente tanto quanto necessário’, ‘recipientes adequados’,
‘métodos adequados’, ‘quando necessários’, entre outros, que colocam em dúvida em que
se constitui o cumprimento, além de retratar apenas o momento das visitas periódicas, que
está limitado a um período de tempo determinado. A análise microbiológica, a outra base
dos conceitos tradicionais para controle de alimentos, é uma forma de comprovar que um
produto é microbiologicamente perigoso ou não, através de testes. As principais limitações
no controle dos perigos microbiológicos dos alimentos, através de análises, são a
amostragem e o número suficiente de unidades amostrais para obter informações
significativas da condição microbiológica do lote, e o tempo e o custo na obtenção do
resultado. É impraticável aguardar os resultados da análise microbiológica para liberar
produtos perecíveis; e dispendioso com armazenamento, para liberar produtos estáveis.
Além disso, a análise usualmente identifica os efeitos e não identifica e nem controla as
causas.
O APPCC vem suprir essas deficiências, apresentando uma abordagem racional para
o controle dos perigos microbiológicos, físicos e químicos dos alimentos. É uma proposta
sistematizada de identificação, determinação e controle dos perigos, que evita as fraquezas
inerentes à proposta da inspeção e não depende da espera das análises microbiológicas do
produto final. Por focalizar a atenção em fatores que afetam diretamente a segurança e
qualidade microbiológica, este sistema elimina o emprego desnecessário de recursos e as
considerações estranhas e supérfluas, além de favorecer a relação custo-benefício.
O êxito do sistema APPCC, segundo Tronco (1997), exige compromisso total, com a
participação da administração e funcionários. O Manual Genérico para APPCC em
indústrias de produtos de origem animal (BRASIL, 1998) prevê alguns requisitos básicos
para a implantação do APPCC, como sensibilização dos dirigentes da empresa para a
qualidade, comprometimento da direção da empresa com o plano de APPCC, capacitação
do corpo funcional com relação ao sistema APPCC, fornecimento, pela empresa, das
condições necessárias para a implantação e execução do sistema APPCC e
4
responsabilidade da direção geral e nível gerencial pela conscientização de todo corpo
funcional sobre a importância da execução das atividades do Programa APPCC.
Outro aspecto importante para o sucesso do programa é ter responsáveis pelo
monitoramento
3
conscientes da importância de sua função e que registrem precisamente as
informações nos formulários específicos, além de operadores do processo que saibam
exatamente o que fazer e estejam autorizados a adotar as ações corretivas, caso haja
desvios nos limites críticos estabelecidos (BRASIL, 1998).
Neste sentido, os processos automatizados vêm ao encontro dos esforços pela
segurança alimentar. As tecnologias avançadas de manufatura (AMT) podem monitorar
mais rigorosamente os limites críticos, como temperatura, tempo, pH, e também podem
controlar automaticamente o processo e armazenar dados do processo que auxiliam no
rastreamento de problemas (HEGENBART, 2002).
1.4. Estrutura
A dissertação está estruturada em sete capítulos.
O capítulo 1, aqui apresentado, refere-se à introdução e apresentação dos objetivos.
O capítulo 2 trata da estratégia e métodos de pesquisa adotados.
O capítulo 3 apresenta os fundamentos conceituais necessários para o
desenvolvimento desta dissertação. São abordados os conceitos de indústria de alimentos,
sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC) e Tecnologia
Avançada de Manufatura (AMT).
No capítulo 4, faz-se uma descrição do leite e do processo de produção de leite
pasteurizado de forma genérica, visando compreendê-lo sob os conceitos apresentados no
capítulo anterior.
O capítulo 5 traz o framework de garantia de segurança alimentar baseado no sistema
APPCC e seleção de AMT e a descrição do processo de operacionalização do framework.
O capítulo 6 descreve a aplicação do método construído em um estudo de caso na
unidade de processamento de leite pasteurizado e traz as contribuições de entrevistas com
especialistas.
O capítulo 7 evidencia as conclusões sobre os resultados encontrados na dissertação,
assim como suas limitações, e propõe trabalhos futuros.
3
O manual genérico de procedimentos para APPCC do Ministério da Agricultura apresenta o termo como
monitorização; no entanto, nesta dissertação se estabelece o termo monitoramento.
5
A figura 1.1 mostra a lógica e a estrutura da dissertação.
Figura 1.1
Lógica e estrutura da dissertação
Capítulo 1:
Introdução
Indústria de
alimentos
AMT
APPCC
Capítulo 4:
Indústria de laticínios
Capítulo 2:
Metodologia
Capítulo 5:
Framework e processo
o
p
eracional
Capítulo 6:
Teste e refinamentos
Capítulo 3:
Fundamentos Conceituais
Capítulo 7:
Conclusões
6
2
Estratégia e métodos de pesquisa
O caminho mais seguro para a inspiração é a preparação.
(Lloyd George)
Este capítulo trata da estratégia de pesquisa a ser adotada: o estudo de caso, além
de abordar os métodos de abordagem por processos e pesquisa-ação.
2.1. Estratégia de pesquisa: Estudo de caso
Estudo de caso será a estratégia principal de pesquisa. Nesta seção, serão descritos
como foi selecionada a estratégia de estudo de caso, definido o projeto de pesquisa, a
importância da teoria, os critérios para a qualidade e os tipos de estudo de caso.
2.1.1. Seleção da estratégia de estudo de caso
Como toda atividade racional e sistemática, a pesquisa exige que as ações
desenvolvidas ao longo de seu processo sejam efetivamente planejadas. O planejamento da
pesquisa (estratégia a ser adotada), portanto, pode ser definido como um processo
sistematizado, mediante o qual se pode conferir maior eficiência à investigação para
alcançar o conjunto das metas estabelecidas.
Para Gil (1991), as estratégias (procedimentos técnicos utilizados) podem ser divididas
em: Pesquisa bibliográfica;
Pesquisa documental;
Pesquisa experimental;
Levantamento;
Estudo de caso;
Pesquisa-ação;
Pesquisa participante.
7
Segundo Yin (2001), existem três condições que diferenciam as estratégias de
pesquisa:
1. tipo de questão de pesquisa proposto;
2. extensão de controle que o pesquisador tem sobre eventos comportamentais
efetivos; e
3. grau de enfoque em acontecimentos históricos em oposição a acontecimentos
contemporâneos.
A primeira condição trata da questão da pesquisa. As questões podem ser
categorizadas com a série: “quem”, “o quê”, “onde”, “como” e “por quê”.
Se as questões da pesquisa salientam apenas questões do tipo “o quê”, surgem duas
possibilidades:
1°) Questões exploratórias com objetivo de desenvolvimento de hipóteses e
proposições pertinentes a inquirições, podendo utilizar qualquer uma das cinco estratégias
apresentadas por Yin (2001) – experimento, levantamento, análise de arquivos, pesquisa
histórica ou estudo de caso.
2°) Investigação na linha “quanto” ou “quantos”: favorece a estratégia de levantamento
de dados ou de análise de arquivos.
Questões do tipo “quem” e “onde” também favorecem estratégias de levantamento de
dados ou análise de registros arquivais.
Já, as questões do tipo “como” e “por quê” são mais explanatórias e levam ao uso de
estudos de casos, pesquisas históricas e experimentos como estratégias de pesquisa.
Nestes casos, faz-se necessária uma distinção adicional através da abrangência do
controle que o pesquisador tem sobre eventos comportamentais efetivos e o acesso a eles.
Pesquisa histórica: lida com o passado “morto” (não existe controle ou
acesso).
Estudo de caso: examina acontecimentos contemporâneos, mas não se
podem manipular comportamentos relevantes. É capaz de lidar com uma
ampla variedade de evidências.
Experimentos: pesquisador pode manipular o comportamento de forma
direta, precisa e sistematicamente.
Voss, Tsikriktsis e Frohlich (2002) destacam que o estudo de caso não é bom somente
para investigações de questões “como” e “por quê”, mas também é adequado para o
desenvolvimento de teorias e idéias e ainda pode ser utilizado para testar e refinar teorias.
8
Para esta dissertação, a questão proposta foi enunciada da seguinte forma na seção
1.2:
Como aumentar a garantia de segurança
de produtos alimentícios ?
Dentro desta questão, a dissertação irá examinar acontecimentos contemporâneos,
cujos comportamentos relevantes não podem ser manipulados. Além disso, a pesquisa é
capaz de lidar com uma ampla variedade de evidências. Com base nessas características,
conclui-se que a pesquisa em questão será adequadamente tratada com a estratégia de
estudo de caso. Além disso, uma teoria será desenvolvida e testada.
2.1.2. Projeto de pesquisa
Depois de definida a estratégia de pesquisa, faz-se o delineamento da estratégia,
sendo que cada estratégia tem um delineamento característico. O delineamento, ou projeto
de pesquisa, pode ser definido como um “esquema” de pesquisa, que trata de, pelo menos,
quatro problemas: quais questões estudar, quais dados são relevantes, quais dados coletar,
e como analisar os resultados (YIN, 2001).
Como o estudo de caso se caracteriza por grande flexibilidade, é impossível
estabelecer um roteiro rígido que determine com precisão como deverá ser desenvolvida a
pesquisa (GIL, 1991).
Entretanto, para a maioria dos estudos de caso, o delineamento – ou projeto de
pesquisa, como é chamado por Yin (2001) – pode ser composto por cinco componentes:
(1) As questões de um estudo.
(2) Suas proposições, se houver.
(3) Sua(s) unidade(s) de análise.
(4) A lógica que une os dados às proposições; e
(5) Os critérios para se interpretarem as descobertas.
As questões de estudo já foram descritas anteriormente, sendo que as do tipo
“como” e “por quê” podem ser tratadas adequadamente pelo estudo de caso.
O segundo componente, proposições de estudo, é importante para destinar atenção
às coisas que devem ser examinadas dentro do escopo do estudo.
9
O terceiro componente, unidade de análise, deve ser delimitado para se definir a
unidade que constitui o caso em estudo, podendo ser uma pessoa, uma família, uma
comunidade, um conjunto de relações ou processos, ou mesmo uma cultura (GIL, 1991).
O quarto componente, coleta de dados, é constituído mediante concurso dos mais
diversos procedimentos (evidências): documentação, registros em arquivos, entrevistas,
observação direta, observação participante, artefatos físicos, filmes, fotografias, histórias de
vida, entre muitos outros (YIN, 2001 e GIL, 1991).
A análise de dados, quinto componente, consiste em examinar, categorizar,
classificar em tabelas ou, pelo contrário, recombinar as evidências tendo em vista
proposições iniciais de um estudo (YIN, 2001).
Tratar desses cinco componentes de projetos de pesquisa forçará efetivamente a se
iniciar a formulação de uma teoria preliminar relacionada ao seu tópico de estudo. Os
contatos de campo relevantes dependem da compreensão – ou da teoria – do que está
sendo estudado, daí a importância da elaboração da teoria, anterior à realização de
qualquer coleta de dados. O desenvolvimento de teorias não apenas facilita a fase da coleta
de dados como também é o nível no qual ocorrerá a generalização dos resultados do estudo
de caso, caracterizado como “generalização analítica” (YIN, 2001).
A questão de estudo desta dissertação já foi tratada na seção anterior e a proposição,
descrita na seção 1.2, é apresentada novamente, para facilitar a leitura:
“O aumento da garantia de segurança de produtos alimentícios pode ser alcançado
através de AMT – Tecnologias Avançadas de Manufatura – apropriados, e em pontos
específicos, determinados por uma análise de perigos, baseada no sistema APPCC –
Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle.”
Para determinar e testar a proposição enunciada, será estudada uma linha de produto
da indústria de processamento de leite: o leite pasteurizado. Esta escolha foi feita
considerando-se os dados de surtos de doenças transmitidas por alimentos (DTA), que
indica o leite e derivados como o terceiro alimento mais associado com as DTA no Estado
do Paraná entre 1978 e 2001 (ver apêndice A). Além disso, considerou-se a experiência da
autora neste setor da indústria de alimentos.
Os componentes 4 e 5, lógica que une os dados às proposições e os critérios para
interpretar as descobertas, são definidos no framework apresentado no capítulo 5.
Esta pesquisa exigirá o desenvolvimento de uma fundamentação conceitual que
envolve indústria de alimentos, sistema de análise de perigos e pontos críticos de controle e
tecnologias avançadas de manufatura, apresentados no capítulo 3.
10
2.1.3. A importância do desenvolvimento da teoria
O desenvolvimento da teoria é essencial para o projeto de estudo de caso,
principalmente se o propósito decorrente do estudo de caso for determinar ou testar a teoria
(YIN, 2001).
A teoria, segundo Yin (2001), tem por objetivo fornecer um esquema de estudo,
determinando quais dados devem ser coletados e as estratégias de análise desses dados.
Para Voss, Tsikriktsis e Frohlich (2002), a teoria é composta por quatro componentes:
definição dos termos ou variáveis, domínio – o cenário exato em que a teoria pode ser
aplicada, estabelecimento de relações e predições específicas.
Uma vez desenvolvida a teoria, as idéias expostas darão cada vez mais conta de
questões, proposições, unidades de análise, ligações lógicas dos dados às proposições e
critérios de interpretação das descobertas – ou seja, os cinco componentes necessários ao
projeto de pesquisa. Assim, o projeto completo possui uma “teoria” do que está sendo
estudado (YIN, 2001).
Quando o estudo de caso é utilizado para testar uma teoria, essa se torna ainda mais
importante sendo necessária uma especificação das proposições teóricas derivadas de
teorias existentes. Os resultados da coleta e análise dos dados são comparados com as
expectativas preditas pelas proposições e então, a teoria pode ser validada ou considerada
inadequada, podendo ser refinada com base nos resultados encontrados (DARK, SHANKS
e BROADBENT, 1998).
2.1.4. Critérios para se julgar a qualidade dos estudos de caso
Quatro testes vêm sendo utilizados para se determinar a qualidade dos estudos de
caso (YIN, 2001):
Validade do constructo: estabelecimento de medidas operacionais corretas
para os conceitos que estão em estudo.
Validade interna: estabelecimento de relações causais, por meio das quais
são mostradas certas condições que levam a outras condições.
Validade externa: estabelecimento de domínios aos quais as descobertas de
um estudo podem ser generalizadas; e
Confiabilidade: demonstração de que as operações de um estudo podem ser
repetidas, apresentando os mesmos resultados.
11
Para cada um desses testes, Yin (2001) recomenda várias táticas para lidar com eles.
No quadro 2.1 estão ilustrados os testes, as táticas recomendadas e a fase da pesquisa na
qual a tática deve ser aplicada.
Quadro 2.1
Táticas do estudo de caso para os testes de projeto
Testes Tática do estudo de caso
Fase da pesquisa na qual a
tática deve ser aplicada
Validade do constructo
- utilizar fontes múltiplas de
evidências
- estabelecer encadeamento de
evidências
- o rascunho do relatório deve
ser revisado por informantes-
chave
Coleta de dados
Coleta de dados
Composição
Validade interna
- fazer adequação ao padrão
- fazer construção da
explanação
- fazer análise de séries
temporais
Análise de dados
Análise de dados
Análise de dados
Validade externa
- utilizar lógica de replicação
em estudos de casos
múltiplos
Projeto de pesquisa
Confiabilidade
- utilizar protocolo de estudo de
caso
- desenvolver banco de dados
para o estudo de caso
Coleta de dados
Coleta de dados
Fonte: Yin (2001)
2.1.5. Tipos de estudo de caso
Yin (2001) apresenta quatro tipos de estudo de caso:
a) projetos de caso único (holístico);
b) projetos de caso único (incorporados);
c) projetos de casos múltiplos (holísticos); e
d) projetos de casos múltiplos (incorporados).
Segundo Yin (2001), existem três fundamentos que representam as razões principais
para se conduzir um estudo de caso único. São eles:
Caso decisivo: o caso único pode ser utilizado para se determinar se as
proposições de uma teoria são corretas ou se algum outro conjunto
alternativo de explanações pode ser mais relevante. Neste caso, a
formulação da teoria deve especificar claramente um conjunto de
12
proposições, assim como as circunstâncias nas quais se acredita que as
proposições são verdadeiras.
Caso raro ou extremo: essa é, em geral, a situação na psicologia clínica,
na qual uma lesão ou distúrbio específico pode ser tão raro que vale a pena
documentar e analisar qualquer caso único.
Caso revelador: quando o pesquisador tem a oportunidade de observar e
analisar um fenômeno previamente inacessível à investigação científica,
mesmo facilmente encontrado em todo o país, justifica-se a utilização de
um estudo de caso único.
Uma etapa fundamental, ao se projetar e conduzir um caso único, é definir a unidade
de análise. O estudo de caso pode examinar apenas a natureza global da unidade de
análise, denominando-se assim um projeto holístico; ou, em contraste, pode ser
acrescentado de subunidades de análises, de forma que se possa desenvolver um projeto
mais complexo – ou incorporado (YIN, 2001).
O mesmo estudo pode conter mais de um caso único. Quando isso ocorrer, o estudo
precisa utilizar um projeto de casos múltiplos.
O estudo de caso múltiplo é visto como sendo mais robusto e suas provas são
consideradas mais convincentes. Também exigem mais tempo e amplos recursos. Yin
(2001) afirma que é importante que cada caso sirva a um propósito específico dentro do
escopo global da investigação e deve seguir uma lógica de replicação, com resultados
similares (replicação literal) ou contraditórios (replicação teórica) previstos explicitamente no
princípio da investigação.
Os casos individuais, dentro de um projeto de estudo de casos múltiplos, podem ser
holísticos ou incorporados.
Nesta dissertação, será realizado um estudo de caso único com o objetivo de validar
as proposições de uma teoria (caso decisivo), contemplando a unidade de análise –
processamento de leite pasteurizado – como um todo.
13
2.2. Abordagem por processos
A abordagem por processos, apresentada por Platts (1993), é uma metodologia de
pesquisa aplicada para o desenvolvimento, teste e refinamento de processos. Assim, não se
constitui num tipo de pesquisa que visa o desenvolvimento de uma teoria descritiva, e sim, o
desenvolvimento de processos que irão operacionalizar frameworks já existentes e fornecer
uma abordagem prática aos gerentes, melhorando suas operações.
Nesta dissertação, a metodologia de abordagem por processos será utilizada para
desenvolver o processo de operacionalização do framework a ser construído.
2.2.1. Desenvolvimento da abordagem por processos
A abordagem por processos veio suprir as deficiências das abordagens tradicionais.
Em seu artigo, Platts (1993) apresenta três limitações das estratégias de pesquisas
tradicionais identificadas a partir da literatura. São elas:
base conceitual pobre: Platts (1993) cita diversos autores que criticam a base
conceitual pobre das pesquisas, as quais utilizam freqüentemente conceitos
ambíguos, definições não fundamentadas e teorias que não levam em
consideração as já existentes. Desta forma, as contribuições não convergem e
estão susceptíveis às opiniões particulares dos autores.
Baixo nível de trabalho empírico e de testes da teoria: Segundo o autor, a
maioria das pesquisas na área de estratégia são trabalhos conceituais de
construção de teoria, e poucos são os empíricos e os que envolvem testes da
teoria.
Falta de relevância para o mundo real: Platts (1993) cita que os
pesquisadores, em busca de assegurarem a validade interna de suas
pesquisas, estão se esquecendo da validade externa, ou relevância prática
para as empresas.
A partir das deficiências identificadas, Platts (1993) afirma que os processos devem
atender aos seguintes requisitos:
Necessitam ter links com os frameworks existentes.
Testes empíricos e verificações adequadas são necessárias a qualquer
processo proposto.
Os resultados necessitam ser relevantes para o mundo prático dos gerentes.
14
A metodologia proposta por Platts (1993) é composta de três estágios:
1- criação de um processo (de formulação de estratégia);
2- teste e refinamento do processo;
3- investigação da extensão da aplicabilidade do processo.
1- Criação de um processo (de formulação de estratégia):
O primeiro passo consiste no estabelecimento do processo, que envolve a aquisição e
síntese de informações e técnicas provenientes de três fontes principais: literatura,
empresas de manufatura e consultoria.
2- Teste e refinamento do processo:
Este estágio consiste na aplicação do processo tanto para testar a factibilidade quanto
para o refinamento e desenvolvimento do processo.
Platts (1993) sugere que o processo seja aplicado utilizando-se o método de pesquisa-
ação, em que o pesquisador influencia na maneira com que a atividade é conduzida. Ele
impõe o framework conceitual e interpreta os eventos a partir do framework. O processo é
conduzido por um facilitador que guia e estrutura o processo sem, no entanto, impor seu
ponto de vista.
Durante a aplicação do processo, este deve ser modificado conforme se ganha
experiência, resultando num processo mais robusto e útil.
O objetivo desta fase é testar a factibilidade do processo em diferentes situações,
abrangendo vários setores e tipos de empresas. O autor, em sua pesquisa, selecionou
empresas de projeto, manufatura em linha e em batelada, produção e montagem, indústrias
dos setores elétrico e mecânico.
3- Investigação de extensão da aplicabilidade do processo:
Este estágio investiga a extensão da aplicabilidade do processo, fornece dados e
identifica características particulares do processo para melhorar as chances de sucesso na
aplicação. Como objetivos específicos, têm-se:
determinar o uso que tem sido dado ao processo e as características de seus
usuários;
buscar feedback específico dos usuários, observando o uso das folhas de
tarefa e a maneira com que estruturaram e seguiram o processo;
determinar a efetividade do processo;
buscar feedback geral sobre conteúdo, factibilidade, usabilidade e utilidade do
processo proposto e razões de não-uso.
15
Platts (1993) conduziu um survey para avaliar a validade externa do processo
desenvolvido.
2.2.2. Características da abordagem por processos
Platts (1994), em seu artigo, apresenta quatro características que estão presentes nas
metodologias bem sucedidas:
procedimento: estabelecer os passos lógicos do processo;
participação: garantir o envolvimento de todos os atores-chave;
gestão do projeto: garantir que o processo seja adequadamente abastecido
com recursos necessários e caminhe de acordo com um plano definido;
ponto de entrada: forma de apresentar o processo e obter comprometimento.
Essas quatro características serão descritas mais detalhadamente a seguir e estão
ilustradas no quadro 2.2.
Procedimento
O procedimento, que especifica os passos a serem dados, é uma exigência
fundamental do processo.
É importante que o processo tenha procedimentos bem definidos, ferramentas e
tecnologias simples e relatórios escritos.
Além disso, gerentes operacionais sentem-se mais confortáveis quando conseguem
visualizar a estrutura geral do processo e compreender como as partes se unem.
Os relatórios escritos são importantes para garantir que os dados e as premissas
possam ser revisados futuramente.
Participação
A utilização de grupos de trabalho, particularmente envolvendo grupos multifuncionais,
apresenta muitos benefícios, como os apresentados a seguir:
provê um fórum onde conceitos errados, e erros na coleta de dados, podem ser
detectados num estágio inicial;
provê informações de diferentes funções dentro da companhia e fornece
conhecimentos específicos que podem auxiliar a todo o grupo;
16
possibilita que uma grande variedade de opiniões possa ser apresentada e
discutida de forma relativamente rápida e provê um meio de se atingir
consenso a cada estágio, antes de se avançar para os estágios seguintes;
assegura que as pessoas, na empresa, envolvam-se durante o andamento do
processo e que, desta forma, sintam-se “donas” dos resultados obtidos.
Quadro 2.2
Características desejáveis dos processos.
Procedimento Participação Gestão do projeto Ponto de entrada
Bem definido
Estágios de:
- busca de informações
- análise de informações
- identificação de
oportunidades para
mudanças/ melhorias
Ferramentas e técnicas
simples e facilmente
entendidas
Relatório escrito dos
resultados de cada etapa
Atividades individuais e
em grupo
Busca-se obter:
- entusiasmo
- compreensão
- comprometimento
Intervenções do tipo
workshop para:
- concordância de
objetivos
- identificação de
problemas
- desenvolvimento de
melhorias
- catalisar envolvimento
Fórum de tomada de
decisão que direciona a
ação
Prover recursos
adequados
Identificar:
- Grupo coordenador
- Grupo de apoio
- Grupo de operação
Cronograma de consenso
Definir claramente as
expectativas
Obter compreensão e
concordância do grupo
coordenador
Estabelecer
comprometimento dos
grupos, coordenador e
dos demais membros do
grupo
Fonte: adaptado por Gouvêa da Costa (2003) de Platts (1994)
17
Gestão de projeto
A gestão de projeto visa assegurar que o projeto contará com os recursos
necessários e irá trabalhar com três grupos:
Grupo coordenador: pessoal da companhia responsável por garantir que o
projeto progrida. É de sua responsabilidade fazer com que a importância do
processo seja reconhecida e buscar um ponto de integração, com a
cooperação de diferentes funções.
Grupo de apoio: a função deste grupo envolve conduzir o processo através
dos vários estágios, organizar reuniões, garantir que o processo seja
adequadamente registrado, guiar e fazer progredir as ações entre as reuniões e
realizar, quando necessário, a função de fiscalizador e “advogado do diabo”.
Em muitos casos, o grupo de apoio é constituído de apenas uma pessoa,
denominada de facilitador. Entre as suas habilidades, estão: senso crítico e
independente, capacidade de questionar, e, ainda, deve ser aceito pelos
gerentes por seu estilo participativo e democrático.
Grupo operacional: compreende as pessoas que realizam a coleta e análise
de dados, avaliam as exigências do negócio e consideram políticas
alternativas.
Ponto de entrada
O ponto de entrada é necessário para prover o mecanismo de introdução do
processo na organização. O ponto de entrada deve fornecer uma clara visão do que está
envolvido no processo e quais resultados são esperados.
O processo deve ser “vendido” ao pessoal que está intimamente envolvido com o
processo, e principalmente, obter o envolvimento de gerentes com o processo.
18
2.2.3. Avaliação do processo
A avaliação do processo tem por objetivo determinar se o processo forneceu passos e
procedimentos práticos para a finalidade proposta (formulação da estratégia). Assim, Platts
(1993) estabeleceu três critérios de avaliação:
factibilidade: avaliar se o processo pode ser seguido;
usabilidade: avaliar quão facilmente o processo pode ser seguido;
utilidade: avaliar se o processo fornece passos úteis para o processo (de
formulação da estratégia).
Factibilidade:
A factibilidade pode ser testada a partir da constatação de que o processo pôde ser
seguido. No entanto, esta constatação está restrita a uma empresa em particular, que
aplicou o processo, e ao facilitador. Para minimizar os efeitos desta restrição, a factibilidade
deve ser testada aplicando-se o processo em várias empresas e utilizando-se diferentes
facilitadores.
Usabilidade:
Este critério visa identificar problemas ocorridos em cada estágio do processo e a
forma como cada estágio do processo foi conduzido. Além de testar o processo inicialmente
desenvolvido, esta avaliação tem por objetivo refiná-lo.
Utilidade:
A utilidade pode ser julgada num nível prático – identificando-se os resultados em
termos de definição dos objetivos da manufatura, identificação de problemas e geração de
planos de ação – ou através da subjetividade, através de entrevistas com os usuários.
19
2.3. Pesquisa-ação
A pesquisa-ação pode ser vista como um modo de conceber e de organizar uma
pesquisa social de finalidade prática e que esteja de acordo com as exigências próprias da
ação e da participação dos atores da situação observada (THIOLLENT, 1996).
Nesta dissertação, a pesquisa-ação será utilizada como um método para testar o
processo de operacionalização do framework.
2.3.1. Definições e objetivos
Uma pesquisa pode ser qualificada de pesquisa-ação quando houver realmente uma
ação por parte das pessoas ou grupos implicados no problema sob observação. Além disso,
os pesquisadores desempenham um papel ativo no equacionamento dos problemas
encontrados, no acompanhamento e na avaliação das ações desencadeadas em função dos
problemas (THIOLLENT, 1996).
Coughlan e Coghlan (2002) definem a pesquisa-ação como, ao invés de uma pesquisa
sobre ação, uma pesquisa em ação que requer a participação dos envolvidos no processo;
na pesquisa ação, segundo os autores, a pesquisa é concorrente com a ação, onde o
objetivo é atingir simultaneamente uma ação efetiva e construção do conhecimento; além
disso, a pesquisa-ação é tanto uma seqüência de eventos quanto uma abordagem de
resolução de problemas.
Thiollent (1996) resumindo os principais aspectos, definiu a pesquisa-ação como uma
estratégia metodológica da pesquisa social na qual:
a) há uma ampla e explícita interação entre pesquisadores e pessoas implicadas na
situação investigada;
b) resulta, desta interação, a ordem de prioridade dos problemas a serem
pesquisados e das soluções a serem encaminhadas sob forma de ação concreta;
c) o objeto de investigação não é constituído pelas pessoas e sim pela situação
social e pelos problemas de diferentes naturezas encontrados na situação;
d) o objetivo da pesquisa-ação consiste em resolver ou, pelo menos, em esclarecer
os problemas da situação observada;
e) há, durante o processo, um acompanhamento das decisões, das ações e de toda
a atividade intencional dos atores da situação;
f) a pesquisa não se limita a uma forma de ação (risco de ativismo): pretende-se
aumentar o conhecimento dos pesquisadores e o conhecimento ou o “nível de
consciência” das pessoas e grupos considerados.
20
Thiollent (1996) identifica dois tipos de objetivos da pesquisa-ação:
objetivo prático: visa contribuir para o melhor equacionamento possível do
problema considerado como central na pesquisa, com levantamento de soluções e
propostas de ações correspondentes às soluções para auxiliar o agente (ou ator)
na sua atividade transformadora da situação.
objetivo de conhecimento: visa obter informações que seriam de difícil acesso
por meio de outros procedimentos.
De acordo com Coughlan e Coghlan (2002), a pesquisa-ação sempre deve envolver
os dois objetivos: solução de problemas e contribuição para a ciência.
Thiollent (1996) diz que a ênfase da pesquisa pode ser dada a um dos três aspectos:
resolução de problemas, tomada de consciência ou produção de conhecimento.
Existem casos em que a pesquisa tem um propósito limitado à resolução de um
problema prático de ordem técnica, em que o objetivo é sobretudo ”instrumental”; em outros,
não se trata apenas de resolver um problema imediato e sim desenvolver a consciência da
coletividade; e, numa terceira situação, o objetivo é voltado para a produção de
conhecimento.
Entre os objetivos de conhecimento potencialmente alcançáveis em pesquisa-ação e
visados nesta dissertação, estão:
produção de guias ou de regras práticas (ou ainda frameworks) para resolver
os problemas e planejar as correspondentes ações;
ensinamentos positivos ou negativos quanto à conduta da ação e suas
condições de êxito.
Nos casos de estudo de inovações ou de transformações técnicas e sociais nas
organizações, a pesquisa-ação possibilita estudar dinamicamente os problemas, decisões,
ações, negociações, conflitos e tomadas de consciência que ocorrem entre os agentes
durante o processo de transformação da situação. Este processo pode ser observado
através de reuniões e seminários nos quais participam pessoas de diversos grupos
implicados na transformação. As reuniões e seminários podem ser alimentados por
informações obtidas em grupos de pesquisa especializados por assuntos, e também por
informações provenientes de outras fontes, como entrevistas e documentações.
21
2.3.2. Organização da pesquisa-ação
O planejamento de uma pesquisa-ação é muito flexível em função das circunstâncias
e da dinâmica interna do grupo de pesquisadores no seu relacionamento com a situação
investigada (THIOLLENT, 1996).
A seguir, serão tratados alguns itens relacionados com os aspectos práticos da
organização de uma pesquisa-ação, citados por Thiollent (1996).
Seminário
A partir do momento em que os pesquisadores e os interessados na pesquisa estão
de acordo sobre os objetivos e problemas a serem examinados, começa a constituição dos
grupos que irão conduzir a investigação e o conjunto do processo. A técnica principal, ao
redor da qual as outras gravitam, é a do seminário.
O papel do seminário consiste em examinar, discutir e tomar decisões acerca do
processo de investigação. As ações são objeto de permanente acompanhamento e de
avaliações periódicas.
Os principais assuntos debatidos em cada sessão devem ser descritos sob forma de
atas e analisados em seguida. As atas e relatórios são concebidos e arquivados de modo
adequado a uma fácil consulta por parte de qualquer participante.
A organização do seminário deve ser metódica: é preciso, em cada instante, procurar
informações pertinentes relacionadas com o assunto focalizado.
Coleta de dados
A coleta de dados é efetuada por grupos de observação (constituídos por
pesquisadores e participantes comuns) e pesquisadores, sob controle do seminário central.
As principais técnicas utilizadas são a entrevista coletiva e a entrevista individual. Ao lado
dessas técnicas, também podem ser utilizados questionários convencionais e análise
documental, entre outras.
Sejam quais forem as técnicas utilizadas, os grupos de observação procuram a
informação que é julgada necessária para o andamento da pesquisa, respondendo a
solicitações do seminário central. As informações coletadas são discutidas, analisadas e
interpretadas.
22
Saber formal/ saber informal
Dentro da concepção da pesquisa-ação, o estudo da relação entre saber formal e
saber informal visa estabelecer (ou melhorar) a estrutura de comunicação entre dois
universos culturais: o dos especialistas (técnicos e pesquisadores) e o dos interessados.
O saber formal dos especialistas é dotado de certa capacidade de abstração, e, o
saber informal, baseado na experiência concreta dos participantes comuns.
Os pesquisadores precisam estabelecer alguma forma de comunicação e buscar
meios de intercompreensão com os agentes do saber popular.
Papel do pesquisador
De acordo com Thiollent (1996), o principal ator é quem faz ou quem está
efetivamente interessado na ação. O pesquisador desempenha um papel auxiliar, ou do tipo
“assessoramento”, embora haja situações nas quais os pesquisadores precisam assumir
maior envolvimento e responsabilidade.
Nesta dissertação, o papel do pesquisador, na etapa de testes do processo de
operacionalização do framework utilizando pesquisa-ação, será o de “facilitador”, conforme
cita Platts (1993). O pesquisador não deve atuar como consultor, que faz recomendações
baseadas em suas observações, mas como “facilitador”, guiando e estruturando o processo.
2.4. Resumo do capítulo
Seguindo-se as orientações de Yin (2001), definiu-se o estudo de caso como a
estratégia de pesquisa a ser adotada. Em seguida, o projeto de pesquisa foi delineado
estabelecendo-se a questão do estudo, a proposição e a unidade de análise. A lógica que
une os dados à proposição, e os critérios para se interpretarem as descobertas, serão
apresentadas no framework proposto, descrito no capítulo 5.
O desenvolvimento do framework (teoria) é de extrema importância nesta dissertação,
visto que o objetivo deste estudo de caso único (caso decisivo) é determinar e testar o
framework e seu processo de operacionalização.
O processo de operacionalização do framework será desenvolvido utilizando-se o
método da abordagem por processos de Platts (1993), e o seu teste e refinamento serão
baseados no método de pesquisa-ação.
23
3
Fundamentos Conceituais
Nenhum proveito se tira da ignorância, porque até para perguntar é preciso saber.”
(Célio Devenat)
Este capítulo apresenta os fundamentos conceituais necessários para o
desenvolvimento desta dissertação. São abordados os conceitos de indústria de alimentos,
sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC) e Tecnologias
Avançadas de Manufatura (AMT).
3.1. Indústria de alimentos
A indústria de alimentos é um sistema produtivo que apresenta particularidades nas
suas operações de processamento e onde a preocupação com os microorganismos é
bastante importante. A seguir, serão revisados: sistemas produtivos, etapas de
processamentos e a importância dos microorganismos para as indústrias de alimentos.
3.1.1. A indústria de alimentos como um sistema produtivo
Segundo Turbino (1997), os sistemas produtivos, que abrangem tanto a produção de
bens como a de serviços, exercem uma série de funções operacionais para atingir seus
objetivos. Essas funções podem ser agrupadas em três funções básicas: Finanças,
Produção e Marketing.
A função Produção é o centro dos sistemas produtivos e tem a responsabilidade de
gerar bens e serviços, através das atividades relacionadas à produção. A essência dessa
função é adicionar valor aos bens e serviços.
A função Marketing é encarregada de vender e promover os bens e serviços
produzidos pela empresa. Suas atividades abrangem a decisão da estratégia de
publicidade, estimativa de preço, bem como sentir o mercado, captando informações sobre
demanda e necessidades do cliente.
24
A função Finanças é encarregada de administrar os recursos financeiros da empresa e
alocá-los onde forem necessários.
Turbino (1997) acrescenta que, com o crescimento dos sistemas produtivos, uma série
de funções é destacada das funções básicas e agrupadas em departamentos de suporte ou
apoio, como a engenharia, suprimentos, manutenção e recursos humanos.
Slack et al. (1997) define a função produção como aquela que produz os serviços e
bens demandados pelos consumidores, e estabelece cinco objetivos de desempenho
importantes para saber se a operação está sendo bem sucedida.
Os objetivos de desempenho da produção, que possibilitam a obtenção de “vantagem
baseada em produção”, são:
- vantagem em qualidade: fazer certas as coisas;
- vantagem em rapidez: fazer as coisas com rapidez;
- vantagem em confiabilidade: fazer as coisas em tempo;
- vantagem de flexibilidade: preparado para mudar o que faz;
- vantagem de custo: fazer as coisas o mais barato possível.
Slack et al. (1997) cita que uma forma útil de determinar a importância relativa dos
objetivos de desempenho é distinguir entre os fatores “ganhadores de pedidos” e os“
qualificadores”.
Critério ganhador de pedidos foi definido por Slack et al. (1997) como o que “direta e
significativamente contribui para a realização de um negócio, para conseguir um pedido”.
Ainda segundo ele, “aumentar o desempenho em um critério ganhador de pedidos resulta
em mais pedidos ou melhora a probabilidade de ganhar mais pedido”.
Os critérios qualificadores, de acordo com Slack et al. (1997), “podem não ser os
principais determinantes do sucesso competitivo, mas são importantes de outra forma. São
aqueles aspectos da competitividade nos quais o desempenho da produção deve estar
acima de um nível determinado, para ser pelo menos considerado pelo cliente. Abaixo deste
nível ”qualificador” de desempenho, a empresa provavelmente nem mesmo será
considerada como fornecedora potencial por muitos consumidores”.
Para as indústrias de alimentos, a qualidade dos produtos é um objetivo de
desempenho muito importante, podendo ser classificada como um critério qualificador.
Afinal, clientes esperam alimentos com qualidade e seguros e a indústria de alimentos tem a
responsabilidade de suprir suas expectativas.
25
Groover (2001), em uma linguagem mais tecnológica, define sistemas produtivos
como um conjunto de pessoas, equipamentos e procedimentos organizados, que tem como
objetivo realizar operações de manufatura da companhia ou organização.
A manufatura, segundo Groover (2001), é a aplicação de processos físicos e/ou
químicos para alterar a geometria, propriedades e/ou aparência de um dado material inicial,
produzindo partes, produtos ou produtos montados.
As indústrias de manufatura são classificadas por Groover (2001) como indústrias
secundárias
4
, podendo ser do tipo de indústria de processos, que trabalha com um montante
de material (líquido, gases ou pós) ou indústria de processos discretos, que envolve
quantidade de material (partes ou produtos discretos).
3.1.2. Etapas de processamento na indústria de alimentos
A indústria de alimentos se enquadra dentro da indústria de processos e tem por
finalidade transformar matérias-primas alimentares em produtos adequados ao consumo
humano, com longa vida de prateleira, através de processos físicos, químicos e biológicos
(EVANGELISTA, 1994).
Evangelista (1994) classifica as indústrias de alimentos de acordo com os alimentos
industrializados por elas, por exemplo, açúcar, bebidas, carnes, cereais, condimentos,
laticínios e derivados, massas / biscoitos, óleos / gorduras, pescados e derivados, entre
outros.
Independentemente, do tipo de alimento industrializado, as indústrias de alimentos
realizam quatro fases de processamento, descritas por Evangelista (1994) como sendo:
(1) beneficiamento,
(2) elaboração,
(3) preservação e conservação e
(4) armazenamento.
A etapa de beneficiamento, ou pré-tratamento como denominam Baruffaldi e Oliveira
(1998), constitui a primeira etapa de utilização da matéria-prima selecionada, que inclui
limpeza, armazenamento, classificação, seleção, separação de partes não comestíveis e
higienização.
4
Classificação das indústrias: primária (exploração de recursos naturais), secundária (manufatura) e
terciária (serviços).
26
A segunda etapa, de elaboração, é a que modifica as características iniciais da
matéria-prima, transformando-a em produto final. As principais operações utilizadas pela
tecnologia de alimentos podem ser classificadas em operações de ordem física, química,
físico-química e biológica, e estão listadas no quadro a seguir.
Quadro 3.1 Principais operações utilizadas pela tecnologia de alimentos
De ordem física
Moagem
Trituração
Extração (prensagem)
Destilação
Evaporação
Mistura
Transmissão de calor e frio
De ordem química
Emprego de aditivos
Extração (por solvente)
Emprego de substâncias coadjuvantes
Reguladores de pH
De ordem físico-química
Refinação
Hidrolização
Dissolução
Emulsificação
Caramelização
De ordem biológica
Ação de microorganismos
Ação enzimática
Fonte: Evangelista (1994)
A fase de preservação e conservação é responsável por eliminar a flora normal
inconveniente, a flora patogênica e enzimas produtoras de alterações. As principais medidas
preservativas estão listadas no quadro 3.2, e, os métodos de conservação, no quadro 3.3.
27
Quadro 3.2 Principais medidas preservativas
Ligadas à higiene
Cumprimento dos cuidados higiênicos gerais
Impedimento e eliminação de focos toxi-
infecciosos
Ligadas a agentes físicos e químicos
Promoção de vácuo
Adicionamento de aditivos
Uso de gases inertes
Aplicação de inseticidas, fungicidas e
bactericidas
Ligadas ao manuseio
Exclusão de manobras impróprias, capazes
de prejudicar os valores organolépticos
Ligadas à embalagem
Emprego adequado de embalagens rígidas,
semi-rígidas e flexíveis
Ligadas ao armazenamento
Condições ambientais convenientes
(temperatura, umidade, etc.)
Ligadas ao transporte Condições apropriadas de transporte
Ligadas aos macroelementos Combate aos insetos e animais predatórios
Fonte: Evangelista (1994)
A quarta fase, de armazenamento, constitui-se na preservação, para que os produtos
alimentícios não se deteriorem. As causas de alterações de produtos armazenados incluem
temperatura ambiental inadequada, umidade, composição do ar atmosférico, imperfeições
da embalagem, absorção de odores e ação de predadores.
28
Quadro 3.3 Métodos de conservação
Por calor
Branqueamento
Tindalização
Pasteurização
Esterilização
Defumação
Por ação direta sobre o
microorganismo
Por radiação
Radurização
Radicidação
Radappertização
Por frio
Refrigeração
Congelamento
Liofilização
Por secagem
Natural (sal)
Artificial (desidratação)
Concentração (evaporação)
Por adição de elementos
Aditivos
Salga e cura
Açúcar
Gases
Por fermentação
Acética
Alcoólica
Láctica
Por osmose
Por ação indireta sobre o
microorganismo,
modificando o substrato
Por ação de embalagem
Fonte: Evangelista (1994)
3.1.3. A importância dos microorganismos nas indústrias de alimentos
Os microorganismos de interesse em alimentos, segundo Franco e Landgraf (2003),
compreendem os fungos (bolores e leveduras), as bactérias e os vírus. Esses
microorganismos podem desempenhar papéis muito importantes nos alimentos, sendo
possível classificá-los em três grupos distintos, dependendo do tipo de interação existente
entre microorganismo e alimento (FRANCO e LANDGRAF, 2003):
- microorganismos patogênicos, que podem representar um risco à saúde do
homem. As características das doenças que esses microorganismos causam dependem de
29
fatores inerentes ao alimento, ao microorganismo patogênico em questão e ao indivíduo
afetado. Os microorganismos patogênicos podem chegar ao alimento por inúmeras vias,
sempre refletindo condições precárias de higiene, durante a produção, armazenamento,
distribuição ou manuseio em nível doméstico.
- microorganismos causadores de alterações químicas prejudiciais, resultando na
deterioração microbiana. Esta deterioração resulta em alterações de cor, odor, sabor,
textura e aspecto do alimento. Essas alterações são conseqüência da atividade metabólica
natural dos microorganismos que estão apenas tentando perpetuar a espécie, utilizando o
alimento como fonte de energia.
- microorganismos causadores de alterações benéficas em um alimento,
modificando suas características originais de forma a transformá-lo num novo alimento.
Neste grupo estão todos os microorganismos utilizados na fabricação de alimentos
fermentados: queijos, vinhos, cervejas, pães, vegetais. Esses microorganismos são
intencionalmente adicionados aos alimentos ou já estão naturalmente presentes nestes.
3.1.3.1. Sintomas e complicações da intoxicação alimentar
De acordo com Richards (2003), a locução intoxicação alimentar descreve, de maneira
geral, as doenças causadas pelos microorganismos (patogênicos) que podem atacar as
pessoas através dos alimentos. Os sintomas podem variar muito, dependendo do tipo de
microorganismo que está atacando a pessoa, de como ela causa a doença, da parte do
corpo que foi atacada, e do estado de saúde do doente. A maioria das pessoas que sofre
uma intoxicação alimentar no trato digestivo, provavelmente terá uma combinação dos
seguintes sintomas:
Diarréia, às vezes com sangue, muco ou bile;
Náuseas (sensação de enjôo);
Vômito
Dores de cabeça;
Febre (alta temperatura geralmente acompanhada de tremedeiras e
suadouros);
Dores de estômago e/ou cãibras;
Tonturas.
A intensidade de qualquer um destes sintomas pode variar de fraco a extremamente
severo, mas em pessoas saudáveis, estes sintomas irão desaparecer entre um e cinco dias.
30
Para bebês, crianças pequenas e idosos, no entanto, sintomas como vômito, diarréia e
febre podem ser perigosos. O ato físico de vomitar e a diarréia podem causar ferimentos nos
tecidos internos do organismo; e a freqüência desses atos pode levar rapidamente a uma
desidratação, com resultados potenciais sérios. A febre, por sua vez, pode provocar
convulsões em crianças cujo organismo não está completamente desenvolvido para lidar
com ela.
De acordo com Käferstein (2003), em países em desenvolvimento, a diarréia infantil é
o problema de saúde mais importante relacionado com alimentos contaminados.
Segundo Richards (2003), podem surgir complicações da intoxicação alimentar
quando um microorganismo ou a sua toxina penetra no trato digestivo e invade outras partes
do organismo. A autora cita que a toxina produzida pela bactéria Clostridium botulinum, que
causa o botulismo, afeta o sistema nervoso causando sintomas como visão dupla, tontura,
náuseas, dor de cabeça e, se não tratada, eventualmente até mesmo a paralisia e a morte.
O vírus da hepatite A afeta o fígado, causando a icterícia. A bactéria Salmonella typhi, que
causa o tifo, invade o sistema circulatório e o baço, causando febre prolongada e, sem
tratamento, complicações múltiplas e morte.
Richards (2003) cita outras complicações que podem advir da intoxicação alimentar
como:
Septicemia;
Inchaço dos tecidos em torno do coração e danos às válvulas e vasos
sangüíneos do coração;
Meningite;
Danos a ossos e articulações, incluindo um tipo de artrite;
Danos a rins, fígado e outros órgãos vitais;
Paralisia;
Pneumonia;
Abortos;
Danos cerebrais.
31
3.1.3.2. Fatores intrínsecos e extrínsecos que controlam o desenvolvimento
microbiano nos alimentos
A capacidade de sobrevivência e multiplicação dos microorganismos que estão
presentes em um alimento depende de fatores relacionados com as características próprias
do alimento (fatores intrínsecos) e fatores relacionados com o ambiente em que o alimento
se encontra (fatores extrínsecos). Entre os fatores intrínsecos estão atividade de água (Aa),
acidez (pH), potencial de oxi-redução (Eh), composição química e presença de fatores
antimicrobianos naturais. Entre os fatores extrínsecos mais importantes estão umidade,
temperatura ambiental e composição química da atmosfera que envolve o alimento
(FRANCO e LANDGRAF, 2003).
Esses fatores intrínsecos e extrínsecos que controlam o desenvolvimento microbiano
nos alimentos estão descritos no apêndice B.
3.1.3.3. Controle do desenvolvimento microbiano nos alimentos
O controle do desenvolvimento microbiano nos alimento visa eliminar riscos à saúde
do consumidor, bem como prevenir ou retardar o surgimento de alterações indesejáveis aos
alimentos. Existem diversas maneiras para que esse controle seja exercido: (FRANCO e
LANDGRAF, 2003)
limpeza e desinfecção;
uso de métodos mecânicos para remoção dos microorganismos presentes;
manutenção de condições atmosféricas desfavoráveis à multiplicação
microbiana;
uso de temperaturas elevadas;
uso de baixas temperaturas;
desidratação;
uso de conservadores químicos;
irradiação de alimentos;
No contexto desta dissertação, as formas de controle mais importantes são a limpeza
e desinfecção, remoção por centrifugação, uso de temperaturas elevadas e de baixas
temperaturas, que estão detalhados no apêndice C.
32
3.2. APPCC
O APPCC, como já foi citado na motivação (seção 1.3), vem suprir as deficiências dos
conceitos tradicionais para controle de alimentos baseados na inspeção e análise. Nesta
seção serão apresentados conceito, histórico, princípios e seqüência lógica de aplicação do
APPCC e uma rápida discussão sobre o conceito e dimensões de qualidade.
3.2.1. Conceito
O Sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle – APPCC, do inglês
Hazard Analysis and Critical Control Points – HACCP, “é uma abordagem científica e
sistemática para o controle de processos, elaborado para prevenir a ocorrência de
problemas, assegurando que os controles são aplicados em determinadas etapas no
sistema de produção de alimentos, onde possam ocorrer perigos ou situações críticas”
(BRASIL, 1998).
O APPCC é uma proposta sistematizada de identificação, determinação de perigos e
riscos associados com o processamento de alimentos e definição de meios de controle.
Pode ser aplicado em todas as etapas da cadeia de alimentos, desde a produção de
matérias-prima, processamento, transporte, comercialização até o seu uso em
estabelecimentos de alimentação e residências (ICMSF, 1997).
O APPCC é um sistema lógico de controle, baseado na prevenção de problemas.
Identificando os pontos em que os perigos costumam ocorrer no processo, tem-se a
oportunidade de aplicar medidas necessárias para prevenir que estes perigos ocorram. Uma
abordagem de senso comum para o gerenciamento da segurança alimentar (MORTIMORE
e WALLACE, 1994).
O APPCC é um sistema de análise que identifica perigos específicos de origem
biológica, química ou física e baseia-se no estabelecimento de pontos de monitoramento em
uma linha específica de produção e prevenção, eliminação ou remoção dos perigos em
todas as etapas da cadeia produtiva. Este sistema tem por objetivo assegurar a inocuidade
e a qualidade dos alimentos, garantindo a segurança do produto final (VIALTA et al., 2002 e
TRONCO, 1997).
Vale salientar que o plano APPCC é específico para cada linha de processamento,
pois como mostra Sperber (2001), apesar de a maioria dos planos APPCC apresentar os
mesmos PCC, pode ocorrer que em uma empresa talvez um deles não apresente tantos
problemas.
33
3.2.2. Histórico
De acordo com Tronco (1997), o conceito do sistema APPCC teve origem na década
de 50, em setores ligados à indústria química da Grã-Bretanha. Nas décadas de 50, 60 e 70
foi utilizado pela Comissão Americana de Energia Atômica para o planejamento de usinas
nucleares. Nesta época, o sistema objetivava avaliar o tempo médio de falha da instalação
como um todo. Após, os criadores de missões espaciais americanas utilizaram a lógica de
análise de riscos de falha da instalação para o desenvolvimento de equipamentos espaciais
de vôos tripulados. Ao final dos anos 60, a NASA (National Aeronautics and Space
Administration) sugeriu que o sistema APPCC fosse utilizado para a produção de alimentos
seguros a fim de evitar a chance de ocorrência de doenças de origem alimentar aos
tripulantes desses vôos.
Naquele tempo, segundo Mortimore e Wallace (1994), a maioria dos sistemas de
qualidade e segurança alimentar eram baseados em testes do produto final, mas percebeu-
se que só poderiam assegurar completamente a segurança dos alimentos testando 100%
deles, um método que obviamente não poderia funcionar, já que todo o produto teria sido
usado para os testes. Tornou-se claro, então, que era necessário um sistema preventivo que
pudesse apresentar um alto grau de garantia da segurança alimentar, o sistema APPCC.
O sistema original foi desenhado pela Pillsbury Company trabalhando lado a lado com
a NASA e os laboratórios do exército de Natick dos Estados Unidos. O APPCC foi baseado
no sistema de engenharia Análise de Modos e Efeito de Falhas (FMEA, do inglês Failure,
Mode and Effect Analysis) que analisa o quê potencialmente poderia dar errado em cada
estágio de cada operação, além das possíveis causas e o efeito desejado, antes de dispor
os mecanismos de controle efetivo.
Como o FMEA, o APPCC procura os perigos, ou o quê poderia dar errado no senso da
segurança alimentar. Sistemas de controle e gerenciamento foram implementados para
garantir produtos seguros e nenhum dano ao consumidor.
O APPCC, portanto, utiliza conceitos que analisa simultaneamente princípios de
microbiologia de alimentos, controle de qualidade e avaliação de riscos durante a obtenção
de um alimento o mais seguro possível.
Garcia (2000) acrescenta que o sistema foi apresentado pela primeira vez durante a
Conferência Nacional sobre Proteção de Alimentos em 1971, nos Estados Unidos e logo
depois serviu como base para a Administração de Alimentos e Medicamentos dos Estados
Unidos (FDA) desenvolver a regulamentação para a indústria de alimentos de baixa acidez.
34
Em 1973, foi publicado o primeiro documento detalhando a técnica APPCC, “Food
Safety through the Hazard Analysis and Critical Control Point System”, pela Pillsbury
Company, o qual serviu de base para o treinamento dos inspetores da FDA.
Em 1980, a Organização Mundial da Saúde, em conjunto com a International
Commission on Microbiological Specifications for Foods (ICMSF) e o Codex Alimentarius
recomendaram o uso do sistema por este apresentar uma melhor relação custo-benefício
quando comparado com outras abordagens (TRONCO, 1997).
Desde 1991, o comitê do Codex, que trata da higiene dos alimentos, vem
recomendando o uso do sistema APPCC a todos os países-membros da ONU e, em 1993, o
Codex estabeleceu o Codex Guidelines for the application of the HACCP System (TRONCO,
1997 e GARCIA, 2000).
No Brasil, seguindo-se as recomendações do Codex Alimentarius, o Ministério da
Saúde estabeleceu obrigatoriedade da implantação do sistema nas indústrias de alimentos a
partir de 1994, através da portaria 1428 (BRASIL, 1993).
Em 10 de fevereiro de 1998, o Ministério da Agricultura publicou a Portaria número 46,
instituindo o sistema APPCC, com a implantação gradativa, nas indústrias de produtos de
origem animal, de acordo com o Manual Genérico de Procedimentos anexo à Portaria
(BRASIL, 1998).
Em setembro de 2002, foi lançada a NBR ISO 14900 que estabelece, implementa e
mantém um sistema de gestão para assegurar a aplicação dos princípios do APPCC
(BOSQUIROLI, 2003).
3.2.3. Princípios
O APPCC constitui-se de sete princípios básicos: (BRASIL, 1998)
Princípio 1: Listar e identificar os perigos, analisar os riscos e considerar as medidas
preventivas de controle;
Princípio 2: Identificar os pontos críticos de controle (PCC);
Princípio 3: Estabelecer os limites críticos para cada PCC;
Princípio 4: Estabelecer o sistema de monitoramento para cada PCC;
Princípio 5: Estabelecer as ações corretivas;
Princípio 6: Estabelecer os procedimentos de verificação;
Princípio 7: Providenciar a documentação e estabelecer os procedimentos de
registros dos resultados.
35
3.2.4. Seqüência lógica de aplicação dos princípios do APPCC
Para a implantação do sistema APPCC são necessários doze passos que estão
ilustrados na figura 3.1 e descritos a seguir. Os passos de 6 a 12 referem-se aos sete
princípios básicos do plano (BRASIL, 1998).
Passo 1:
Formar equipe de APPCC
Passo 2:
Descrever o produto
Passo 3:
Identificar a utilização pretendida
Passo 4:
Montar fluxograma do processamento
Passo 5:
Verificar in loco o fluxograma
Passo 7:
Determinar PCC
Passo 8:
Estabelecer os limites críticos
Passo 9:
Estabelecer sistema de monitoramento
Passo 10:
Estabelecer ações corretivas
Passo 12:
Estabelecer os relatórios
Passo 11:
Estabelecer sistema de verificação
Passo 6:
Listar perigos potenciais e
determinar as medidas preventivas
Figura 3.1
Passos para implantação do APPCC
36
Passo 1. Formar a equipe de APPCC
A equipe deve ser constituída de pessoal que esteja familiarizado com os produtos,
seus métodos de elaboração e com o estabelecimento produtor, podendo incluir: gerente,
microbiologistas, compradores, técnicos especializados, capatazes, chefes de seções
específicas e operários, coordenados por um responsável técnico do controle de qualidade,
devidamente capacitado em APPCC.
Passo 2. Descrever o produto
Compilar uma descrição completa do produto, incluindo informações sobre a
composição, prazo de validade, embalagem, dizeres de rótulos, cuidados de
armazenamento e transporte, locais de venda e distribuição, e ademais informações
pertinentes.
Passo 3. Identificar o uso pretendido e consumidor do produto
Devem-se providenciar informações sobre como, onde e por quem o produto vai ser
utilizado.
Passo 4. Construir o diagrama operacional
O diagrama operacional é uma representação gráfica de todas as etapas operacionais
em seqüência ordenada, na elaboração do produto e deverá conter todas as etapas do
processamento, de forma seqüencial, clara e simples.
Passo 5. Verificar, na prática, a adequação do diagrama operacional
Uma vez estabelecido o diagrama operacional, deverá ser efetuada uma inspeção no
local, verificando a concordância das operações descritas com o que foi representado.
Passo 6. Listar e identificar os perigos, analisar os riscos e considerar as
medidas preventivas de controle
(Princípio 1)
Primeiramente, serão definidos os termos perigo, risco, análise de risco e medida
preventiva.
Perigo: Causas potenciais de danos inaceitáveis que possam tornar um alimento
impróprio ao consumo e afetar a saúde do consumidor, ocasionar a perda da qualidade e da
integridade econômica dos produtos. Genericamente, o perigo é qualquer uma das
seguintes situações:
- presença inaceitável de contaminantes biológicos, químicos ou físicos na matéria-
prima ou nos produtos semi-acabados ou acabados;
37
- crescimento ou sobrevivência inaceitável de microorganismos patogênicos e a
formação inaceitável de substâncias químicas em produtos acabados ou semi-acabados, na
linha de produção ou no ambiente;
- contaminação ou recontaminação inaceitável de produtos semi-acabados ou
acabados por microorganismos, substâncias químicas ou materiais estranhos;
- não conformidade com o Padrão de Identidade e Qualidade (PIQ) ou Regulamento
Técnico estabelecido para cada produto.
Risco: É a probabilidade de ocorrência de um perigo à saúde pública, de perda da
qualidade de um produto ou alimento ou de sua integridade econômica.
Análise de risco: Consiste na avaliação sistemática de todas as etapas envolvidas na
produção de um alimento específico desde a obtenção das matérias-primas até o uso pelo
consumidor final, visando estimar a probabilidade da ocorrência dos perigos, levando-se
também em consideração como o produto será consumido.
Medida preventiva: Procedimentos ou fatores empregados nas etapas ou processos
de produção que visam controlar um perigo à saúde, de perda da qualidade de um produto
ou alimento ou de sua integridade econômica
Neste passo 6, todos os perigos identificados, associados a cada etapa do processo,
devem ser listados e sua severidade avaliada. Os riscos devem ser analisados em relação à
sua importância para a saúde pública (microorganismos patogênicos ou produtores de
toxina, matérias estranhas ou resíduos orgânicos), à perda da qualidade de um produto ou
alimento (deterioração, rancidez, partículas queimadas) e à sua integridade econômica
(adição de água, soro, leitelho, supressão de um ou mais elementos ou substituição/adição
de outros). As medidas preventivas para controlar os perigos identificados devem ser
listadas.
Passo 7. Identificar os PCC e aplicar a árvore decisória
(Princípio 2)
A análise de perigos consiste em fazer uma série de perguntas para cada etapa de
elaboração do produto, usando como referência o diagrama da árvore decisória para
identificação do ponto crítico, que são os pontos em que os perigos devem ser prevenidos,
reduzidos ao mínimo ou eliminados. O diagrama da árvore decisória está ilustrado a seguir.
38
O perigo é controlado
pelo programa de pré-
requisito?
Existem medidas
preventivas para
o perigo
identificado?
Esta etapa elimina
ou reduz o perigo a
níveis aceitáveis?
Modificar etapa
do processo ou
produto
O controle desta
etapa é necessário
para a segurança?
É importe analisar
como Ponto de
Controle (PC)?
O perigo pode
aumentar a níveis
inaceitáveis?
Uma etapa subseqüênte
eliminará ou reduzirá o
perigo a níveis aceitáveis?
É um Ponto de
Controle Crítico
(PCC).
Não
Sim
Sim
Não
Sim
Não
Sim
Sim
Não
Sim
Não é PCC
e nem PC.
É um PC.
Não Sim
Não
Não
Q1
Q2
Q3
Q4
Q5
Fonte: Adaptado de IDFA (2002)
Figura 3.2 D
iagrama da árvore decisória para identificação do ponto crítico
Passo 8. Estabelecer os limites críticos para cada PCC
(Princípio 3)
Os limites críticos são os valores que separam os produtos aceitáveis dos inaceitáveis,
podendo ser qualitativos ou quantitativos, por exemplo, tempo, temperatura, pressão, pH,
umidade, atividade de água, acidez titulável, concentração salina, cloro residual livre,
viscosidade, preservativos, textura, aroma, peso líquido.
Passo 9. Estabelecer o sistema de monitoramento para cada PCC
(Princípio 4)
O monitoramento deve ser capaz de detectar qualquer desvio do processo (perda de
controle) com tempo suficiente para que medidas corretivas possam ser adotadas antes da
distribuição do produto.
39
Passo 10. Estabelecer as ações corretivas (Princípio 5)
Quando se constatar um desvio nos limites críticos estabelecidos, serão
imediatamente executadas as ações corretivas para colocar o PCC novamente sob controle.
Para cada PCC devem estar estabelecidas uma ou mais ações corretivas.
Passo 11. Estabelecer os procedimentos de verificação
(Princípio 6)
Os procedimentos de verificação visam determinar se os princípios do Sistema
APPCC estão sendo cumpridos no plano e/ou se o plano necessita de modificações e
reavaliação, bem como comprovar o funcionamento do APPCC e o atendimento da
legislação vigente nos aspectos de formulação, padrões físico-químicos e microbiológicos.
Passo 12. Providenciar a documentação e estabelecer os procedimentos de
registro
(Princípio 7)
Todos os dados e informações obtidos durante os procedimentos de verificação e
resultados laboratoriais devem ser registrados em formulários próprios de cada
estabelecimento industrial e, sempre que possível, resumidos em forma de gráficos ou
tabelas. Devem-se registrar, também, os desvios, as ações corretivas e as causas dos
desvios.
3.2.5. O APPCC e a segurança alimentar sob o conceito da Qualidade
Com o objetivo de determinar se a garantia de segurança de alimentos gera melhorias
na qualidade destes produtos, será realizada uma fundamentação conceitual sobre a
qualidade e suas dimensões.
Conceito de qualidade
Garvin (1992) identifica cinco abordagens principais para a definição da qualidade: a
transcendente, a baseada no produto, a baseada no usuário, a baseada na produção e a
baseada no valor.
De acordo com a visão transcendente, qualidade é sinônimo de “excelência inata”,
algo absoluto e universalmente reconhecível. Não se pode definir qualidade com precisão,
não sendo passível de análise, no entanto, aprendemos a reconhecê-la pela experiência. O
obstáculo desta abordagem é que ela proporciona pouca orientação prática.
A definição baseada no produto indica a qualidade como uma variável precisa e
mensurável. Os produtos podem ser classificados de acordo com a quantidade do atributo
40
desejável por ele possuído, conferindo uma dimensão hierárquica ou vertical para a
qualidade. Um produto de qualidade implica, dentro desta visão, em um produto mais caro
visto que um produto com maior quantidade dos atributos desejáveis só pode ser obtido a
um custo mais alto. As limitações aparecem quando os produtos apresentam conceitos
diferentes, ao invés de possuírem mais de um determinado atributo. Quando a qualidade se
trata de estética, esta abordagem deixa a desejar, pois não consegue levar em conta as
diferenças de gosto.
A abordagem baseada no usuário define os produtos de alta qualidade como aqueles
que satisfazem melhor as necessidades da maioria dos consumidores. É, portanto, uma
visão pessoal e subjetiva, que deu origem à noção de “pontos ideais” pela literatura de
marketing e adequação ao uso, pela de administração de operações. O problema desta
abordagem é que ela iguala qualidade à satisfação máxima, que embora estejam
relacionadas não são idênticas. Um produto que maximize a satisfação é preferível a outro
que satisfaça a menos necessidades, mas será melhor ?
O enfoque baseado na produção está relacionado com a engenharia do produto e
produção, que define a qualidade como conformidade com as especificações. A excelência
está em atender às especificações e fazer certo da primeira vez, o que leva a uma redução
dos custos. A principal fraqueza desta abordagem é a pouca atenção ao elo que os
consumidores reconhecem entre qualidade e características do produto além da
conformidade.
O produto de qualidade, na definição baseada no valor, é um produto que foi
produzido em conformidade a um custo aceitável ou um produto que apresente bom
desempenho a um preço aceitável. É uma definição altamente subjetiva e de difícil aplicação
na prática.
De acordo com os conceitos apresentados, observa-se que a segurança alimentar
pode estar associada à qualidade quando esta está sob o enfoque baseado na produção,
que define qualidade como conformidade às especificações, neste caso, ausência de
perigos que podem provocar danos à saúde dos consumidores. Nas demais abordagens, a
segurança alimentar não chega a ser uma característica de qualidade, mas deve ser tratada
como um critério qualificador (termo apresentado por Slack et al., 1997). Um produto sem
garantia de segurança alimentar provavelmente não será considerada como fornecedora
potencial por muitos consumidores.
41
As múltiplas dimensões da qualidade
Garvin (1992) desagregou a qualidade em oito dimensões ou categorias:
1. Desempenho;
2. Características;
3. Confiabilidade;
4. Conformidade;
5. Durabilidade;
6. Atendimento;
7. Estética;
8. Qualidade percebida.
A dimensão desempenho se refere à característica operacional básica do produto e
depende da aplicação específica, do trabalho a ser executado. Envolve uma combinação
dos conceitos de qualidade baseada no produto e no usuário.
A segunda dimensão da qualidade, a característica, é o adereço do produto, aquelas
características secundárias que suplementam o funcionamento básico. A importância das
características é afetada pelas preferências pessoais.
A confiabilidade está associada à probabilidade de um mau funcionamento de um
produto ou de ele falhar num determinado período. As medidas mais comuns são o tempo
médio para a primeira falha, tempo médio entre falhas e taxa de falhas por unidade de
tempo. Essas medidas exigem que o produto esteja sendo usado durante algum tempo,
portanto esta dimensão é mais relevante para os bens duráveis.
A conformidade, ou o grau em que o projeto e as características operacionais de um
produto estão de acordo com padrões pré-estabelecidos, constitui-se na quarta dimensão da
qualidade. Conformidade, segundo a abordagem do pensamento norte-americano, se iguala
ao cumprimento de especificações. As especificações raramente têm um único valor, e sim
uma dimensão alvo ou centralizadora e uma faixa permissível de variação ou tolerância.
Esta dimensão está intimamente associada a técnicas de controle de processo e
amostragem. Tanto a confiabilidade quanto a conformidade se enquadram dentro do
conceito de qualidade baseada na produção. Defeitos, falhas após a venda e os erros de
processamento são considerados indesejáveis por praticamente todos os consumidores,
portanto, melhoras em ambas as medidas simbolizam ganhos de qualidade. A vantagem
desta dimensão é que as medidas são relativamente objetivas, tendo menos probabilidade
de refletir preferências pessoais.
A durabilidade é uma medida da vida útil do produto, definida como o uso
proporcionado por um produto até ele se deteriorar fisicamente. A interpretação da
42
durabilidade torna-se difícil quando se podem fazer reparos. Durabilidade passa a ser,
então, o uso que se consegue de um produto antes de ele se quebrar e a substituição ser
considerada preferível aos constantes reparos.
O atendimento é a sexta dimensão da qualidade e pode ser entendida como rapidez,
cortesia e facilidade de reparo. Os consumidores se preocupam com o atendimento às
chamadas, seu relacionamento com o pessoal de atendimento e a freqüência com que as
chamadas para serviço ou reparo deixam de resolver os problemas. Quando as
reclamações são formais, as normas de tratamento das reclamações também influenciarão
na avaliação final da qualidade. A qualidade do atendimento pode ser medida objetivamente
através do tempo médio para reparo e a competência técnica, através do número de
chamadas para se resolver um único problema.
A estética é uma dimensão subjetiva da qualidade e está relacionada à aparência do
produto, o que se sente com ele, qual o seu som, sabor ou cheiro, sendo uma questão de
julgamento pessoal e reflexo das preferências individuais.
Os consumidores nem sempre possuem informações completas sobre um produto ou
os atributos de um serviço, sendo as medidas indiretas a única base de comparação das
marcas. Neste julgamento da qualidade, imagens, propagandas e nomes de marcas servem
para inferir a qualidade. Desta forma, a reputação, a força histórica, é um dos principais
fatores que contribuem para a qualidade percebida.
Dentre as oito dimensões da qualidade, a segurança alimentar está mais fortemente
associada à dimensão conformidade. No entanto, também pode afetar a dimensão
qualidade percebida da qualidade de um produto, visto que um surto de intoxicação
alimentar pode abalar, e muito, a reputação da empresa fornecedora.
43
3.3. Tecnologia Avançada de Manufatura
Nesta seção serão tratados conceito, classificação e processo de seleção de
Tecnologia Avançada de Manufatura (AMT).
3.3.1. Conceito
Gouvêa da Costa (2003), em sua tese de doutorado, observou que os conceitos e
definições de AMT encontrados na literatura são vagos se não houver uma clara explicação
do que se entende pelos termos ‘tecnologias’, ‘avançado’ e ‘manufatura’, propondo assim a
necessidade de definir estes termos para, depois, conceituar AMT.
Na visão de Gouvêa da Costa (2003),
manufatura pode ser bem definida como “uma
série de atividades inter-relacionadas e operações envolvendo projeto, seleção de materiais,
planejamento, produção, garantia de qualidade, gestão e marketing de bens duráveis”.
A fim de conceituar AMT,
tecnologia foi definida por Gouvêa da Costa (2003) como
equipamento e aparato (hardware e software) utilizados dentro da manufatura.
O termo
avançado, dentro do contexto de AMT, refere-se à fase de desenvolvimento
industrial a que a tecnologia pertence. A primeira fase de desenvolvimento industrial se deu
com a mecanização primária, onde o trabalho manual do homem foi substituído pela água e
vapor. A segunda fase foi a mecanização secundária, com o início da aplicação de
máquinas movidas à eletricidade para a produção de bens. A terceira fase, à qual se refere
o termo avançado, é a mecanização terciária que faz uso da tecnologia baseada na
microeletrônica.
Com os termos fundamentais definidos, tecnologia avançada de manufatura (AMT)
será conceituada, nesta dissertação, como aparato de base numérica e computacional
(software e hardware), projetados para executar ou suportar atividades de manufatura, a
partir dos quais se realizará a implementação dos sistemas automatizados.
Groover (2001) entende por automação a tecnologia que realiza processos e
procedimentos sem assistência humana. Já Parasuraman et al (2000), enfatizando a
comparação homem-máquina, prefere defini-la como um dispositivo ou sistema que realiza
(parcialmente ou totalmente) a função que foi previamente, ou conceitualmente pode ser,
executada (parcialmente ou totalmente) pelo operador humano.
44
3.3.2. Classificação
Existem diferentes classificações para AMT: pela funcionalidade, pela natureza do
aparato, nível de integração, entre outros, sendo difícil avaliar qual a melhor ou mais
consistente classificação para os AMT. Isto vai depender da razão da classificação. Gouvêa
da Costa (2003) sintetizou as diferentes classificações no quadro 3.4.
Na indústria de alimentos, de acordo com Baldwin et al. (1999), AMT
5
são utilizados
em todas as etapas do processo produtivo. Nos estágios iniciais de pré-processamento,
AMT são utilizados para avaliar e melhorar a qualidade. Durante a preparação do material e
manuseio, AMT são utilizados para manipular e transportar matérias-prima. Durante o
processamento – envolvendo as etapas de elaboração, e preservação e conservação – os
AMT transformam matérias-prima em produto final com preservação térmica e não-térmica,
métodos de separação e concentração, e algumas vezes, adição de ingredientes para
aumentar a segurança e/ou realçar o sabor.
Tecnologias avançadas de manufatura (AMT) também são utilizadas no controle de
processo para monitorar o processamento, regulando a segurança e a qualidade. No
controle de qualidade, AMT são utilizados para assegurar a qualidade final através de testes
do processo e produto. Sistemas avançados de comunicação são usados para interconectar
as etapas do processo e prover informações necessárias para que operadores e gerentes
façam as devidas intervenções. AMT na área de embalagem é utilizado para evitar que os
alimentos se estraguem antes de chegar ao consumidor e facilitar o manuseio. AMT
utilizados no armazenamento e distribuição permitem a automação do processo de
distribuição e a coordenação da entrega pontual ao cliente através do uso de sistema de
código de barras. Além disso, AMT de desenvolvimento e engenharia auxiliam no
desenvolvimento de novos processos (BALDWIN et al., 1999).
Baldwin et al. (1999) identificaram sessenta e dois AMT, envolvendo nove grupos de
tecnologia funcional. Os grupos são: (1) processamento, (2) controle de processo, (3)
controle de qualidade, (4) armazenamento e distribuição, (5) sistemas de gerenciamento e
comunicação, (6) preparação de materiais e manuseio, (7) pré-processamento, (8)
embalagem, e (9) desenvolvimento e engenharia. Os grupos de tecnologia funcional e os
AMT associados a eles estão descritos a seguir e listados no quadro 3.5.
5
Os autores Baldwin et al. (1999) utilizam o termo “tecnologia avançada”, no entanto, nesta dissertação será
utilizado AMT – tecnologia avançada de manufatura –, para manter a coerência do texto.
45
Quadro 3.4
AMT e suas classificações
AUTOR
US Depart of Commerce (1989)
9 9
9 9
9
ADLER (1988)
9 9
9
9 9 9
SOHAL (1997)
MEREDITH e SURESH (1986)
9 9 9
SMALL e YASIN (1997)
9 9 9 9 9 9 9 9 9 9 9
BRANDYBERRY et al. (1999)
9 9 9
KOTHA e SWAMIDASS (2000)
9 9 9 9
Nível de
integração
Aplicação
funcional
Natureza do
instrumento
Nível de
integração
organizacional
Capacidade de
processamento
de informação
CLASSIFICAÇÃO
Isolado
Intermediário
integrado
Projeto e engenharia
Fabric./usinagem & montagem
Logística relacionada
Manejo automatiz. de material
Inspeção e teste automaiz.
Tecnol. flexível de manufatura
Manuf. integ. por computador
Tecnol. geren. / informação
Comunicações e controle
hardware
software
Planta & equipamento
Amt isolado
Amt funcionalmente orientado
CIM
Tecnol. de projeto de produto
Tecnol. troca inform. e planejam.
Tecnol. de autom. de alto-vol.
Tecnol. de autom. de baixo-vol
NC – numerically control
9
9
9
CNC – comp. numerical control
9
9
9 9
9
DNC – direct numerical control
9
9
CAD – computer aided design
9
9
9
9
9 9
CAE – computer aided enginee.
9
9 9
CAM – computer aided manufac.
9
9
9
9
CAPP–comp.aided proc.planning
9
9
MRP – mat.requirement planning
9
9
9
9
MRP II – manuf.resour. planning
9 9
9
9
9
AGV/AGVS – autom. Guided
vehicle system
9 9 9
Robots (general)
9
9
9 9
9
Pick and Place Robots
9
9
9
AS/RS – automated storage /
retrieval systems
9 9 9 9 9
AMHS – automated material
handling systems
9 9
FAS – flexible assembly systems
9
9
AITS – automatic inspection and
testing systems
9 9 9
Automated shop-floor data
collections systems
9
FMC – flexible manufac. cells
9
9
9
9
FMS – flexible manufac. system
9
9
9
9
9
9
CIM – computer int. manufact.
9
9
9
PLC – program. logic controllers
9
9
LAN – local area network –
digital I/O and messages
9 9 9
WAN – wide area network
9
9
Data base management system
9
TECNOLOGIA
Fonte: Gouvêa da Costa (2003)
46
Quadro 3.5
AMT por grupo funcional para indústrias de alimentos
Grupos de tecnologias funcionais AMT
1. Processamento
1.1. Preservação térmica
Processamento asséptico
Embalagens flexíveis (retortable
flexible packages)
Aquecimento infravermelho
Aquecimento ôhmico
Aquecimento por microondas
1.2. Preservação não-térmica
Técnicas de ultra-som
Esterilização por alta pressão
Deep chilling
1.3. Separação, concentração e remoção de água
Processo por membrana
Tecnologia de filtração
Centrifugação
Troca iônica
Secagem por microondas a vácuo
Controle da atividade de água
1.4.Outros
Eletrotecnologia
Microencapsulação
2. Controle de processos
Equipamentos de automação
baseados em sensores
Controle estatístico de processo
automatizado
Máquinas de visão
Códigos de barra
Controladores lógico programáveis
Controle de processos
computadorizados
3. Controle de qualidade
3.1. Teste de laboratório
Testes de laboratório automatizados
3.2. Simulação
Modelagem matemática de qualidade
ou segurança
47
Grupos de tecnologias funcionais AMT
4. Armazenamento e distribuição
Código de barras
Transporte automatizado de produtos
5. Sistemas de gerenciamento de informações e
comunicação
LAN
WAN
Rede de computadores entre
empresas
Internet – para marketing ou
promoções
Internet – busca, pesquisa, etc.
6. Preparação de materiais e transporte
Equipamentos integrados controlados
eletronicamente
Equipamento individual não-integrado
controlado eletronicamente
Detecção eletrônica de falha de
máquina
7. Atividades de pré-processamento
7.1. Avaliação da qualidade da matéria-prima
Graduação eletrônica ou ultrasônica
Investigação de colágeno, cor ou PSE
Análise de infra-vermelho (NIR)
Avaliação ou classificação de cor
Separação eletromecânica de
defeitos
8. Embalagem
8.1. Equipamento
Equipamento de envase não-
integrado controlado eletronicamente
Equipamento de envase integrado
controlado eletronicamente
9. Tecnologias de desenvolvimento e engenharia
CAD/CAE
CAD/CAM
Simulação e protótipos auxiliados por
computador
Representação digital da saída do
CAD utilizada nas atividades de
suprimento
Fonte: adaptado de Baldwin et al.(1999)
48
1- Processamento
Vinte AMT de processamento foram identificados por Baldwin et al.(1999) e foram
agrupados em cinco sub-grupos funcionais: preservação térmica; preservação não-térmica;
separação, concentração e remoção de água; aditivos e ingredientes; e outros AMT de
processamento. Nesta dissertação não serão considerados AMT os antimicrobianos
químicos, enquadrados no sub-grupo preservação não-térmica e as técnicas constantes no
sub-grupo aditivos e ingredientes.
1.1- Preservação térmica:
Estas tecnologias utilizam o calor para transformar, esterilizar ou pasteurizar produtos
alimentícios. As novas tecnologias térmicas têm vantagens sobre os métodos tradicionais
como utilização de temperaturas mais baixas ou menor tempo de processamento, os quais
melhoram a qualidade do produto como sabor, textura e aparência.
Cinco AMT foram identificados pelos autores nesta sub-área.
Processamento ou
envase asséptico
consiste em colocar um produto estéril dentro de uma embalagem estéril,
sendo hermeticamente fechado – tudo isto realizado em um ambiente estéril.
Embalagens
flexíveis
(retortable flexible packages) utilizam um filme de polímero laminado em um
formato de bolsa achatada que permite a esterilização dos produtos em uma embalagem
flexível e conveniente. Os outros três AMT de preservação térmica são o aquecimento por
infravermelho, ôhmico e microondas (ou outras freqüências mais altas). O
aquecimento por
infravermelho
utiliza energia radiante para aquecer as superfícies, aquecimento ôhmico
envolve passagem de corrente elétrica pelo produto, e
aquecimento por microondas
utiliza fornos de microondas.
1.2- Preservação não-térmica:
Quando aplicados, os AMT desta sub-área produz alimentos seguros e aumenta a
vida de prateleira, sem causar os efeitos indesejáveis na qualidade do produto causados
pelos métodos de processamento térmico. Quatro AMT ou grupo de AMT foram
identificados pelos autores: antimicrobianos químicos (não sendo considerado AMT nesta
dissertação), técnicas de ultra-som, esterilização por alta pressão e técnicas de deep-
chilling.
Técnicas de ultra-som empregam um campo de energia de ultra-som para quebrar
ou transformar fisicamente as proteínas globulares.
Esterilização por alta pressão utiliza
pressão hidrostática extremamente alta para esterilizar ou pasteurizar certos produtos
alimentícios. Deep-chilling é o processo pelos quais produtos alimentícios como carne e
peixe são resfriados a uma temperatura ligeiramente acima de seu ponto de congelamento.
49
1.3- Separação, concentração e remoção de água:
Uma necessidade comum no processamento de alimentos é a separação e/ou
concentração de um componente constituinte da matéria-prima, incluindo a remoção ou
neutralização da água nela contida. Os seis AMT identificados neste grupo são processo por
membrana, tecnologia de filtração, centrifugação, troca iônica, secagem por microondas a
vácuo e controle da atividade de água.
O
processo por membrana utiliza processos e membranas avançados que são
ativados por pressão para separar ou concentrar substâncias sem a mudança de fases
(líquido para sólido).
Tecnologia de filtração como filtração tangencial ou ultrafiltração é
utilizada para fracionar, separar ou concentrar substâncias sem a mudança de fases e
também conta com a tecnologia de membrana avançada. Com a centrifugação obtêm-se
os mesmos resultados, utilizando-se centrífugas de alta rotação (como a ultracentrifugação).
Troca iônica substitui elementos químicos em fluidos por outros íons. Secagem por
microondas a vácuo
remove a água de produtos como as batatas e frutas, mantendo suas
qualidades.
Controle da atividade de água é um processo de neutralização ao invés de
remover o conteúdo de água do produto.
1.4- Outras tecnologias de processamento:
Este grupo inclui a eletrotecnologia e microencapsulação. A
eletrotecnologia utiliza a
eletricidade para controlar a acidez e oxidação, e inativar bactérias termorresistentes, mofos
e leveduras.
Microencapsulação imobiliza enzimas, células ou outras espécies moleculares
cobrindo-os com um fino revestimento.
2- Controle de processo
Controle preciso e conveniente de todos os aspectos do processamento (como
temperatura e pressão) é essencial para garantir qualidade do produto, segurança e
operações eficientes. Seis AMT de controle de processo foram incluídos no survey de
Baldwin et al. (1999).
Equipamentos de automação baseados em sensores incorporam
tecnologias capazes de medir as propriedades dos alimentos (como cor, umidade e peso)
dos produtos de entrada ou em processo.
Controle estatístico de processo automatizado
compara dados do processo em tempo real com padrões de performance estatísticos.
Máquinas de visão utilizam métodos de processamento de imagens para identificar uma
imagem digital de um objeto para determinar se alguma ação de controle deve ser tomada.
Isto permite uma inspeção em linha de todos os itens.
Códigos de barra são utilizados para
identificar ingredientes que estão sendo manipulados na linha de processamento e podem
50
ser parte do processo de automação. Controladores lógico programáveis são os
mecanismos de controle industrial utilizados para chavear dispositivos. No
controle de
processos computadorizado
, computadores são usados para monitoramento contínuo e
ajuste de partes do processo de produção para manter os padrões de performance total.
3- Controle de qualidade
Controle de qualidade nas indústrias de processamento de alimentos garante que o
produto final atende às expectativas com relação às características de qualidade como
sabor, textura e aparência. O controle de qualidade também é a área funcional responsável
por garantir os padrões de segurança dos produtos definidos pela empresa e pela
legislação. Este grupo envolve testes das características dos produtos, estabelecimento de
especificações e testes de matérias-primas ou ingredientes, instrução e supervisão dos
empregados e manutenção de registros.
Existem três sub-áreas dentro de tecnologia de controle de qualidade: teste de
processo, teste de laboratório e simulação. Nesta dissertação as tecnologias enquadradas
na sub-área teste de processo (cromatografia, anticorpo monoclonal, investigação de DNA e
técnicas de testes rápidos) não serão consideradas como AMT.
3.1- Teste de laboratório
Testes de laboratório automatizados referem-se à automatização das funções
realizadas no laboratório.
3.2- Simulação
Modelagem matemática da qualidade ou segurança é o uso de técnicas de simulação
para identificar as possíveis implicações de qualidade e segurança de propostas de novos
processos.
4- Armazenamento e distribuição
AMT de armazenamento e distribuição estão associados com a automação destas
funções.
Código de barras providencia identificação eletrônica e é utilizado para localizar e
monitorar o inventário de entrada e saída.
Transporte automatizado de produtos envolve
estocagem automatizada e sistema de busca baseado na utilização de freqüências de rádio.
51
5- Sistemas de gerenciamento de informações e comunicação
Novas tecnologias de informação têm revolucionado o gerenciamento de informações
e sistemas de comunicação, permitem o acesso instantâneo a informações detalhadas.
Local area network (LAN) conecta os computadores do estabelecimento, permitindo a
troca de dados entre gerência, chão de fábrica e demais departamentos.
Wide area
network (WAN)
conecta computadores localizados em diferentes plantas e escritórios da
mesma empresa.
Inter-company computer network conecta o estabelecimento com
subcontratantes, fornecedores e clientes. A
Internet ou World Wide Web pode ser utilizado
para atividades de marketing e promoções, ou para obter dados de pontos de vendas e
realizar pesquisas.
6- Preparação de materiais e transporte
AMT de preparação de materiais e transporte são usados para manipular e mover
matérias-primas e produtos.
Equipamento integrado controlado eletronicamente são
veículos guiados eletronicamente utilizados para o transporte de materiais e produtos dentro
do chão de fábrica.
Equipamento individual controlado eletronicamente não-integrado
refere-se a equipamentos como robôs que são reprogramáveis, manipuladores
multifuncionais de materiais, partes e ferramentas. Detecção eletrônica de falha de
máquina
envolve o uso de sensores eletrônicos para localizar imediatamente a origem de
problemas mecânicos.
7- Atividades de pré-processamento
A qualidade dos produtos finais é fortemente dependente da qualidade das matérias-
primas ou produtos semi-processados. AMT das atividades de pré-processamento são
aqueles que contribuem para avaliar a qualidade da matéria-prima. As tecnologias que
contribuem para melhorar a qualidade das matérias-primas (redução de tensão do animal,
remoção do farelo antes da moagem do trigo e separação de micro-componentes)
identificadas pelo autor não serão consideradas AMT nesta dissertação.
7.1- Avaliação da qualidade da matéria-prima
Baldwin et al (1999) identificou seis AMT neste sub-grupo:
Graduação eletrônica ou
ultrasônica
é utilizada para medição não-invasiva de gordura da carcaça; Investigação de
colágeno
, mede a maciez da carne; e cor e PSE, são utilizadas para medir os níveis de
músculo e de gordura;
Análise de infra-vermelho (Near infra-red – NIR) é utilizada para
52
medir o teor de umidade, gordura e proteína; Avaliação ou classificação por cor é
utilizado quando características de qualidade estão relacionadas com a cor (como o estado
de maturação de frutas), e a cor é detectada eletronicamente;
Separação eletromecânica
de defeitos
envolve a identificação eletrônica de defeitos; Técnicas de testes rápidos
identifica pesticidas e resíduos de antibióticos, contaminação e deterioração (Nesta
dissertação, as técnicas de testes rápidos não serão considerados AMT).
8- Embalagem
Embalagens são usadas para proteger os produtos alimentícios de contaminação e
deterioração, além de permitir um manuseio conveniente. Sete AMT de embalagem foram
classificados por Baldwin et al. (1999) em três sub-grupos: equipamentos, preservação
(atmosfera modificada) e materiais avançados (embalagem ativa, laminado e multi-camada).
Nesta dissertação somente o sub-grupo equipamentos será considerado AMT.
8.1- Equipamentos
Equipamentos de envase automático são utilizados para reduzir custos e adicionar
flexibilidade à operação.
Equipamento integrado controlado eletronicamente e
Equipamento não-integrado controlado eletronicamente são dois tipos de AMT de
embalagem. Ambos são controlados eletronicamente, sendo que a versão integrada está
conectada a um computador central.
9- Projeto e engenharia
Nesta área funcional, Baldwin et al. (1999) identificou quatro tipos ou combinações de
AMT:
Projeto auxiliado por computador (Computer aided design – CAD) e/ou Engenharia
auxiliada por computador
(Computer aided engeneering – CAE), onde o CAD permite que
o usuário produza, altere ou armazene projetos facilmente e o CAE utiliza o computador
para analisar e testar projetos de produto desenvolvidos pelo sistema CAD; saída do CAD
utilizada para controlar máquinas de manufatura
(CAD/CAM), onde o CAM (Computer-
aided manufacturing) utiliza a saída produzida pelo sistema CAD para controlar as máquinas
que manufaturam partes ou produtos.
Simulação auxiliada por computador e protótipos
é o uso de programação e modelos físicos para testar novos produtos ou processos.
Representação digital da saída do CAD utilizado em atividades de suprimento, é o uso
de saídas digitais do CAD para controlar equipamentos de suprimento utilizados na
manufatura de partes ou produtos.
53
3.3.3. Benefícios dos AMT
Os benefícios dos AMT freqüentemente citados são (CO et al., 1998; WALDECK, 2000
e LIN e NAGALINGAM, 2000):
- redução da mão-de-obra direta;
- melhoria da qualidade;
- expansão da flexibilidade de produtos e processos;
- controle efetivo dos processos de manufatura;
- redução do tempo de set-up, estoque e lead time;
- redução do tempo de desenvolvimento de produtos e processos; e
- redução do custo operacional.
No contexto desta dissertação, o benefício de AMT mais relevante é a melhoria na
qualidade do produto. O controle de processos simplifica o diagnóstico de problemas,
minimiza erros humanos e automatiza os procedimentos de qualidade assegurada. Além
disso, nos processos de manufatura controlados por computador, as variáveis de processos
importantes podem ser coletados online para análise imediata e subseqüente refinamento
(CO et al., 1998).
O quadro 3.6, apresentado por Baldwin e Sabourin (2002), mostra o resultado de um
survey em que gerentes de empresas de alimentos do Canadá foram questionados a
avaliar a importância de uma lista de treze benefícios resultantes da adoção de AMT. As
questões foram classificadas em três categorias: ganho em produtividade; melhoria do
produto; e atendimento às normas. Nas colunas estão listadas as porcentagens dos
estabelecimentos que consideram importante o benefício indicado, de acordo com o número
de tecnologias adotadas (grupo entre 1-5 tecnologias, 6-10 tecnologias e mais de 10
tecnologias).
Baldwin e Sabourin (2002) observaram que os benefícios de atendimento às normas
são os mais importantes, seguidos pela melhoria do produto e, por último, redução dos
custos de produção.
Setenta e sete por cento das empresas pesquisadas consideram a segurança
alimentar um benefício importante proveniente da utilização de AMT, sendo o benefício mais
citado como importante. Em segundo lugar, com quase 10% de diferença, estão os
benefícios de aumentar a segurança do trabalhador e melhorar o sabor do produto. Esse
resultado, de acordo com Baldwin e Sabourin (2002) é semelhante à realidade das
indústrias de alimentos dos Estados Unidos, que consideram a melhoria da segurança
54
alimentar e aumento da qualidade do produto como principais motivadores para a mudança
tecnológica.
Quadro 3.6 Benefícios da adoção de tecnologia avançada
Número de tecnologias adotadas
1-5 6-10 Mais de 10 Todos
Benefícios da adoção
(Porcentagem de estabelecimentos que indicaram
importante um benefício específico)
Melhoria da produtividade
redução da mão-de-obra
redução de material
redução de capital
redução de tempo de set-up
redução da taxa de rejeição
45
33
36
35
43
65
50
47
53
62
74
53
56
56
68
60
44
46
47
57
Melhoria do produto
nutrição
sabor ou aparência
vida de prateleira
conveniência para o consumidor
46
57
56
56
51
72
66
69
51
75
72
68
49
67
64
64
Atendimento às normas
segurança do trabalhador
segurança do alimento
proteção ambiental
composição do produto
58
67
59
54
73
79
69
65
77
88
70
62
69
77
65
60
Fonte: Baldwin e Sabourin (2002)
55
3.3.4. O processo de escolha de AMT
Gouvêa da Costa (2003) cita que a literatura que trata da adoção e implementação de
AMT apresenta diversos frameworks que descrevem as principais fases e variáveis a serem
consideradas no processo de seleção e implantação de AMT, dentre eles, o autor descreve
os modelos de gestão de AMT proposto por Voss (1988); Chen e Small (1994); Small e
Yasin (1997); Lin e Nagalingam (2000); e Efstathiades, Tassou e Antoniou (2002).
O processo de escolha de AMT desta dissertação foi inspirado no framework para
seleção estratégica de AMT proposto por Gouvêa da Costa (2003), ilustrado na figura 3.3.
De acordo com a proposta de Gouvêa da Costa (2003), uma avaliação das
necessidades do mercado e uma auditoria do atual sistema de manufatura são responsáveis
por subsidiar a formação da visão da manufatura. A partir da visão, que é um conjunto de
capacitações
6
relacionadas à manufatura que o negócio espera desenvolver, busca-se
identificar um conjunto de AMT que possa realizar/ suportar tal visão.
Partindo-se da visão da manufatura e do conhecimento do sistema de manufatura,
Gouvêa da Costa (2003) propõe a reestruturação do sistema de desempenho; e as suas
respectivas medidas de desempenho vão servir como base para a seleção de um segundo
grupo de AMT a eles relacionados.
Os AMT identificados, a partir das capacitações e sistemas de desempenho, são
avaliados individualmente tendo-se como referência a estratégia da manufatura, analisando-
se os impactos nas dimensões de desempenho e nas áreas de decisão. Como para uma
mesma capacitação pode estar relacionado mais de um AMT, a verificação da aderência
dos AMT à estratégia de manufatura é de fundamental importância e vai servir para um
refinamento da escolha e priorização dos AMT.
6
Capacitação é, de acordo com Gouvêa da Costa (2003) citando Mills et al., uma habilidade de se fazer uma
coisa, e cada capacitação é suportada por um pacote de recursos organizados em uma forma particular.
56
Fonte: Gouvêa da Costa (2003)
Figura 3.3
Abordagem estratégica para seleção de AMT
A grande contribuição de Gouvêa da Costa (2003) diz respeito à operacionalização do
framework para seleção estratégica de AMT proposto por ele. O método desenvolvido
possui 5 fases, descritas a seguir e ilustradas na figura 3.4 :
Fase 1: levantamento dos requerimentos do mercado
Fase 2: auditoria do sistema de manufatura
Fase 3: criação da visão da manufatura e identificação de AMT que correspondam às
capacitações declaradas
Fase 4: reconfiguração do sistema de medição e controle de desempenho, e
identificação de AMT que possam viabilizá-lo
Fase 5: testes de consistência e aderência dos AMT com a estratégia de manufatura
57
DEFINIÇÃO DE OBJETIVOS
DEF. DE
CONTRL.
Requerim.
do
Mercado
Visão pra
Manufat. e
AMT
Auditoria
do Sist.
de
Manufat.
Medição e
Controle
Desemp.
AMT e
Estrat. de
Manufat.
PR
É
-
SELEÇÃO
DE AMT
Fonte: Gouvêa da Costa (2003)
Figura 3.4
Processo para operacionalização do framework para seleção estratégica de AMT
As três primeiras fases estão relacionadas com o estabelecimento de objetivos.
A partir da visão da manufatura e dos AMT identificados, e das informações a respeito
dos requerimentos do mercado e das condições atuais do sistema de manufatura, são
estabelecidos os controles correspondentes. Tem-se então a fase 4.
A partir dos dois conjuntos de AMT obtidos (nas fases 3 e 4), fazem-se os testes de
consistência e aderência dos AMT com a estratégia de manufatura da empresa (fase 5) que
resulta na pré-seleção de AMT.
Gouvêa da Costa (2003) estruturou as 5 fases do processo em 23 passos e 22 folhas
de tarefas (worksheets), cuja seqüência e preenchimento conduzem o processo de escolha
e garantem a sua lógica. A maioria dos passos é baseada em workshops envolvendo
diversos participantes da empresa; alguns passos são realizados através de entrevistas ou
reuniões envolvendo o grupo de coordenação. A figura 3.5 mostra o processo da figura 3.4
‘explodido’.
Nesta dissertação, serão desenvolvidos um framework e um processo de
operacionalização para selecionar AMT com o objetivo de suportar a garantia de segurança
alimentar. Esta proposta foi inspirada na tese de doutorado de Gouvêa da Costa (2003) que
desenvolveu um framework e um processo de operacionalização para selecionar AMT que
suportassem a estratégia da manufatura.
Na abordagem estratégica de Gouvêa da Costa (2003), a identificação de AMT deve
ocorrer a partir da visão da manufatura, construída através da avaliação das necessidades
do mercado e uma auditoria do atual sistema de manufatura; e das novas medidas de
desempenho, resultado da reestruturação do sistema de desempenho.
Na abordagem de segurança alimentar, a identificação de AMT deve ser feita a partir
dos perigos à saúde do consumidor encontrados no processamento de alimentos. Esses
perigos podem ser identificados utilizando-se os princípios do sistema APPCC.
58
Após identificar os AMT, Gouvêa da Costa (2003) propõe testes de consistência e
aderência dos AMT com a estratégia de manufatura da empresa. Nesta dissertação deverão
ser desenvolvidos instrumentos para verificar os benefícios dos AMT para a segurança
alimentar.
Abordagem
Estratégica
para a Seleção
de AMT
(abordagem
por processo)
(5 fases)
Fase 1
Requerim.
do Mercado
(6 passos)
Fase 2
Auditoria do
Sistem. de
Manuf.
(4 passos)
Fase 3
Visão da
Manufat. e
AMT
(6 passos)
Fase 4
Sist. Med. de
Desemp. e
AMT
(3 passos)
Fase 5
AMT e
Estratégia
de Manufat.
(4 passos)
Fonte: Gouvêa da Costa (2003)
Figura 3.5
O processo de seleção de AMT com suas fases e passos
59
3.4. Resumo do capítulo
A indústria de alimentos, como todo sistema produtivo, exerce uma série de funções
operacionais para atingir seus objetivos, que são realizadas pelas Finanças, Produção,
Marketing, Engenharia, Suprimentos, Manutenção e Recursos Humanos, por exemplo. Para
a função produção das indústrias de alimentos o objetivo de desempenho mais importante é
a qualidade podendo ser classificada como um critério qualificador. Isso porque tanto o
mercado quanto a legislação exigem produtos de qualidade – com determinadas
características físicas, químicas e higiênicas.
As operações nas indústrias de alimentos ocorrem em quatro fases de processamento
que são: beneficiamento ou pré-tratamento; elaboração; preservação e conservação; e
armazenamento. Todas estas fases são importantes para transformar matérias-primas em
produtos adequados ao consumo humano.
A conservação, no entanto, tem um papel de destaque uma vez que é a fase na qual
serão eliminados e/ou controlados o desenvolvimento de microorganismos, principalmente
os patogênicos que representam um risco à saúde do homem. Existem diversas maneiras
de exercer o controle dos microorganismos, cujo desenvolvimento depende de fatores
intrínsecos e extrínsecos aos alimentos.
Somente a aplicação de métodos de conservação, porém, não são suficientes para
garantir a segurança alimentar. Daí a importância de se utilizar o APPCC, uma proposta
sistematizada que tem por objetivo assegurar a inocuidade e a qualidade dos alimentos,
garantindo a segurança do produto final.
Para auxiliar o sistema APPCC propõe-se a utilização de AMT, que podem ser
definidos como aparato de base numérica e computacional (software e hardware),
projetados para executar ou suportar atividades de manufatura. Dentre as diversas
classificações de AMT, nesta dissertação será utilizada a classificação pela funcionalidade
utilizada por Baldwin et al. (1999) em um survey realizado no Canadá.
60
4
Indústria de laticínio
“Não nos devemos iludir com as aparências:
o tambor, apesar de todo o barulho que faz, está somente cheio de ar.” (Zoroastro)
4.1. O leite
De acordo com a Instrução Normativa n° 51 de 18/09/2002 do Ministério da Agricultura
(BRASIL, 2002), “entende-se por leite, sem especificar a espécie animal, o produto obtido da
ordenha completa e ininterrupta, em condições de higiene, de vacas leiteiras sãs, bem
alimentadas e em repouso. O leite de outros animais deve denominar-se segundo a espécie
da qual proceda”.
Como alimento, os produtos lácteos contribuem muito para assegurar os aportes
nutritivos recomendados pela Organização Mundial de Saúde – OMS. Segundo dados do
Serviço de Nutrição da Junta Leiteira do Canadá, citado por Amiot (1991), o consumo de
leite e produtos lácteos supre mais de 20% das necessidades de proteína, cálcio, fósforo,
vitamina A, riboflavina e niacina de adolescentes e adultos.
Do ponto de vista físico-químico, o leite é um sistema coloidal constituído por uma
solução aquosa de lactose, sais e muitos outros elementos em estado de dissolução, onde
se encontram as proteínas em estado de suspensão e a gordura em estado de emulsão
(AMIOT, 1991).
A composição geral do leite está ilustrada no quadro 4.1. e as constantes físicas do
leite, no quadro 4.2.
61
Quadro 4.1
Composição geral do leite
Componentes majoritários
Água 86,9%
Gordura 3,9%
Proteína 3,2%
Carboidratos 5,1%
Sais 0,9%
Componentes minoritários
Enzimas
Vitaminas
Pigmentos
Células diversas
Outros elementos
Substâncias estranhas
Fonte: Amiot (1991)
Quadro 4.2 Constantes físico-químicas do leite
Constantes Valores
Potencial de óxido-redução + 0,10 a 0,20 V
Tensão superficial 50 dinas. cm
-1
a 20°C
(72,7 dinas. cm
-1
a 20°C para a água)
Índice de refração n
D
20
= 1,3440 a 1,3485
Condutância 0,004 a 0,005 ohm
-1
.cm
-1
Calor específico leite desnatado 0,933 a 0,954 cal. g
-1
.°C
-1
gordura 0,52 cal. g
-1
.°C
-1
Atividade de água 0,995
Acidez titulável 15 a 18°Dornic
pH (a 20°C) 6,5 a 6,7
Densidade 1,027 a 1,033
Temperatura de congelamento -0,535 a -0,551°C
Fonte: Bourgeois et al, 1994 e Oliveira et al., 1999.
62
Para os microorganismos, o leite é um substrato ideal para a sua multiplicação.
Apresenta todos os nutrientes essenciais para o crescimento microbiano: carboidratos,
proteínas, lipídios, minerais e vitaminas. Além disso, possui Aa e ph favoráveis à
multiplicação dos microorganismos.
Os microorganismos patógenos aos homens, que podem ser encontrados no leite, são
provenientes de três fontes principais: úbere de animais doentes (mastite), ambiente (fezes,
solo, cama, alimentos, equipamentos de ordenha) e manipuladores. Entre esses
microorganismos estão: Mycobacterium bovis, Mycobacterium tuberculosis, Brucella
abortus, B. melitensis, B. suis, Streptococcus agalactiae, Escherichia coli, Salmonella,
Leptospira, Listeria monocytogenes, Bacillus cereus, Pasteurella multocida, Clostridium
perfringes, Coxiella burnetti, Campylobacter, Yersinia e Staphylococcus aureus
(BOURGEOIS et al., 1994 e ROQUE-SPECHT, 2002).
Para o homem, o leite tem sido um alimento de grande importância desde a
domesticação dos animais. Além do leite fluido, através do desenvolvimento da tecnologia, o
leite passou a ser consumido pelo homem na forma de queijos, leites fermentados, manteiga
e nata. Mais tarde os sucessivos avanços tecnológicos tornaram possíveis a fabricação de
sorvetes, leite concentrado e em pó e mais recentemente, os produtos lácteos UHT e
produtos funcionais.
4.2. Leite pasteurizado
A Instrução Normativa n° 51 de 18/09/2002 do Ministério da Agricultura (BRASIL,
2002) define leite pasteurizado como “o leite fluido elaborado a partir do Leite Cru
Refrigerado na propriedade rural, que apresente as especificações de produção, de coleta e
de qualidade dessa matéria-prima contidas em Regulamento Técnico próprio e que tenha
sido transportado a granel até o estabelecimento processador. O Leite Pasteurizado deve
ser classificado quanto ao teor de gordura como integral, padronizado a 3% m/m (três por
cento massa/massa), semidesnatado ou desnatado, e, quando destinado ao consumo
humano direto na forma fluida, submetido a tratamento térmico na faixa de temperatura de
72 a 75ºC (setenta e dois a setenta e cinco graus Celsius) durante 15 a 20s (quinze a vinte
segundos), em equipamento de pasteurização a placas, dotado de painel de controle com
termo-registrador e termo-regulador automáticos, válvula automática de desvio de fluxo,
termômetros e torneiras de prova, seguindo-se resfriamento imediato em aparelhagem a
placas até temperatura igual ou inferior a 4ºC (quatro graus Celsius) e envase em circuito
fechado no menor prazo possível, sob condições que minimizem contaminações.
63
Imediatamente após a pasteurização o produto assim processado deve apresentar teste
negativo para fosfatase alcalina, teste positivo para peroxidase e coliformes 30/35°C
(trinta/trinta e cinco graus Celsius) menor que 0,3 NMP/ml (zero vírgula três Número Mais
Provável /mililitro) da amostra”
4.2.1. Processamento do leite pasteurizado
O fluxograma e descrição do processo básico de produção de leite fluido pasteurizado
estão ilustrado e descrito a seguir, de acordo com SEBRAE (1999), Madrid Vicente et al.
(1996), Varnam e Sutherland (1995) e Amiot (1991).
Descrição do processo:
Recepção do leite cru / indústria:
O leite cru transportado em caminhão-tanque em temperatura de até 7°C deverá estar
com acidez máxima de 18°D e isento de qualquer tipo de fraude.
Pesagem:
É realizada a pesagem do caminhão-tanque.
Filtração:
Tem por finalidade remover as impurezas maiores, evitando que estas fiquem aderidas
ao resfriador.
A filtração consiste em passar o leite sob pressão por um conjunto de filtros que
funcionam alternadamente, com o intuito de facilitar a etapa de limpeza. O filtro é um
recipiente cilíndrico de aço inox perfurado contendo no seu interior o material filtrante. O leite
passa sob pressão pelo conjunto de filtros e é filtrado pela tela filtrante instalada dentro do
tubo de aço inox.
Resfriamento:
Tem por objetivo manter a qualidade do leite inalterada até o momento de sua
industrialização. Deve ser resfriado, no máximo, a 4°C.
Estocagem do leite cru:
Feita em tanques isotérmicos para dificultar a troca térmica do leite com o meio
ambiente.
64
Recepção leite cru/
Indústria
Estocagem
leite cru
Pesagem / Filtração
Resfriamento
Filtração/
Clarificação
Padronização/
Desnate
Pasteurização
Armazenamento
Empacotamento
Estocagem /
Transporte
Fonte: SEBRAE (1999)
Figura 4.1 Fluxograma do processo de leite fluido pasteurizado
65
Filtração/Clarificação:
Tem como objetivo eliminar as sujidades menores do leite, pela centrifugação. Além
dessas sujidades, também há remoção de um número considerável de células epiteliais. O
equipamento utilizado para a clarificação do leite consiste de uma centrífuga de pratos (40 a
80 pratos) onde o leite entra pela parte superior e é centrifugado a alta velocidade (1.000 a
2.000 rpm), a uma temperatura ao redor de 35°C. Durante a clarificação, as impurezas são
projetadas contra a parede do tambor da centrífuga, formando um resíduo cinza
denominado “lama do leite”. O resíduo composto pelas impurezas, por apresentar uma
densidade maior, é separado do leite clarificado e retirado pela parte lateral da centrífuga
através de um sistema automático de descarga de resíduo.
O controle da eficiência da clarificação pode ser observado aplicando o teste de
lactofiltração no leite clarificado.
Padronização:
O leite deverá ser padronizado para 3,0% de gordura. Esta etapa é efetuada por uma
centrífuga de pratos denominada padronizadora ou desnatadeira.
O leite integral, previamente aquecido a 35-40°C, é introduzido pela parte superior da
padronizadora, desce pela parte central do tambor, que gira a uma velocidade entre 3.000 a
4.000 rpm, até alcançar a parte inferior, onde se encontra o primeiro prato. À medida que o
leite gira a alta velocidade e passa entre os sucessivos pratos, ele vai sendo desnatado,
ocorrendo o enriquecimento de gordura na parte central, próxima ao eixo de rotação e o
empobrecimento do leite desnatado, que vai se projetando contra a parede do tambor.
Assim, o leite desnatado, que possui densidade maior que a gordura, quando chega ao
último prato pela parte externa é retirado pela parte inferior em relação à saída de gordura.
Pasteurização:
Pasteurizar o leite em trocador de calor a placas a 72°C por 15 segundos. O processo
de pasteurização foi desenvolvido em 1890 por Louis Pasteur e consiste num tratamento
térmico que visa destruir todos os microorganismos patogênicos que possam estar
presentes no leite cru e 90 a 95% da flora banal, procurando alterar o menos possível a
estrutura física das proteínas do leite, o equilíbrio químico, o conteúdo de vitaminas e as
características organolépticas.
O efeito destruidor de microorganismos se deve à combinação da temperatura e do
tempo de manutenção ou retenção. Este binômio tempo-temperatura é estabelecido através
de ensaios e depende da natureza e composição do alimento.
66
No caso do leite, até 1956, o microorganismo padrão de resistência ao calor era o
Mycobacterium tuberculosis, bacilo patogênico causador da tuberculose, cuja temperatura e
tempo necessários para sua destruição é de 63°C por 6 minutos ou 71°C por 6-8 segundos.
A partir de 1956, o controle de aquecimento para pasteurização de leite passou a ser
baseado no microorganismo denominado
Coxiella burnetti, microorganismo patogênico
causador da febre Q, o qual é mais resistente ao calor que o
Mycobacterium tuberculosis,
cuja temperatura e tempo de sua destruição é de 71,7°C por 15 segundos, ou 63°C por 30
minutos.
Assim, existem duas combinações de tempo-temperatura mais utilizadas para a
pasteurização do leite:
a) pasteurização lenta (LTLT –
Low temperature - long time): 63-65°C por
30 minutos;
b) pasteurização rápida (HTST – High temperature - short time): 72-75°C
por 15 a 20 segundos.
É importante relatar que esses dois processos de pasteurização não são suficientes
para destruir microorganismos esporulados ou seus esporos (
Bacillus cereus, Bacillus
subtilis
), sendo importante a higiene na etapa de ordenha.
No Brasil, o emprego da pasteurização pelo método HTST (rápido) iniciou-se por volta
da década de 60 e é atualmente o método estabelecido por lei para a pasteurização do leite
destinado ao consumo humano. O equipamento utilizado para a pasteurização do leite pelo
método HTST é o trocador de calor a placas.
O trocador de calor consiste em um equipamento formado por uma série de placas de
aço inox, de superfície irregular (ondulada ou com nervuras), de forma geralmente
retangular e dispostas paralelamente umas às outras, de tal maneira que a distância entre
elas é de 3 a 4 mm. A circulação sinuosa do líquido passa entre as placas, formando um
filme.
O trocador de calor a placas é dividido em seções que variam em número e disposição
conforme a marca do equipamento; no entanto, geralmente é dividido em quatro seções:
1 – seção de recuperação ou regeneração,
2 – seção de aquecimento,
3 – seção de retenção,
4 – seção de resfriamento.
Na seção de recuperação, o leite pasteurizado, antes de alcançar a seção de
resfriamento, transmite parte de seu calor ao leite cru que está entrando para substituí-lo
67
dentro do pasteurizador. Com isso, ocorre uma troca térmica entre o leite pasteurizado e o
leite que está entrando para ser pasteurizado, o que se constitui em uma considerável
recuperação de energia, fator de grande importância econômica.
Na seção de aquecimento, o leite é aquecido através de água quente ou a vapor de
baixa pressão, que flui entre as placas em sentido oposto ao fluxo de leite. O leite que sai da
seção de regeneração é aquecido a 72-75°C, para posteriormente entrar na seção de
retenção.
Na seção de retenção, o leite aquecido a 72-75°C é mantido por 15 a 20 segundos
para que ocorra o efeito térmico de destruição do microorganismo mais termorresistente, e
cerca de 90 a 95% da flora banal. O controle da temperatura do leite na saída da seção de
retenção é fundamental para garantir a eficiência da pasteurização. Quando for constatado
que o aquecimento do leite foi insuficiente, uma válvula reversora de fluxo deve desviar o
leite subpasteurizado ao tanque de leite cru, para que seja novamente admitido na seção de
regeneração, de forma automática.
Na seção de resfriamento, o leite é resfriado a 2-4°C, através da circulação de água
gelada (0 -10°C) que ocorre entre as placas em sentido oposto ao leite.
Armazenamento:
Armazenar o leite pasteurizado em tanques isotérmico abaixo de 4°C.
Empacotamento:
Proceder ao envase.
No Brasil, a embalagem plástica para acondicionar leite pasteurizado é a mais
utilizada (além desta, existe a embalagem de papel cartonado – polietileno/ cartão impresso/
polietileno). As embalagens plásticas (saquinhos de polietileno) utilizadas para acondicionar
o leite pasteurizado são feitas de material translúcido, de cor branca, de espessura média de
0,80 mm. Essa embalagem apresenta a vantagem de possuir um peso reduzido no
transporte, porém seu manuseio não é prático, necessitando de uma estrutura auxiliar para
manter-se em pé, por não apresentar a resistência mecânica desejável.
As embalagens de polietileno não devem conter substâncias que migrem para o
produto, afetando seu odor ou sabor, ou causando danos à saúde do consumidor.
Estocagem/ Transporte:
O fator mais importante em termos de estocagem, distribuição e comercialização é a
temperatura em que o produto permanece. Todo o leite pasteurizado deve ser mantido sob
68
refrigeração (no máximo a 7°C), desde a saída da linha de processamento até o refrigerador
do consumidor.
4.2.2. Enfermidades transmitidas pelo leite pasteurizado
Segundo Varnam e Sutherland (1995), o consumo de leite pasteurizado tem
provocado algumas intoxicações alimentares nos últimos anos, entre elas, um surto de
salmonelose em 1985 em Chicago, com 16.284 afetados.
Campylobacter também tem causado enfermidades associadas ao consumo de leite
pasteurizado. A principal causa é o tratamento incorreto do leite, sendo mais freqüente que
uma contaminação posterior ao mesmo, embora esta última represente um grande risco
potencial.
Os principais fatores que levam à contaminação do leite por
Salmonella e
Campylobacter, segundo Varnam e Sutherland (1995), são o desenho incorreto da planta, a
inadequada formação dos operários e a deficiente supervisão do processo.
Varnam e Sutherland (1995) citam outro evento, em que o leite pasteurizado foi
veículo de uma intoxicação por
Listeria monocytogenes, que afetou 49 pessoas nos Estados
Unidos. Esse surto teve grande importância, segundo os autores, pois os estudos
epidemiológicos não resolveram o caso e concluiu-se que
Listeria monocytogenes não havia
sido destruído por um tratamento de pasteurização HTST (
high temperature – short time)
corretamente aplicado. Esta conclusão originou uma extensa investigação sobre a
resistência ao calor de
Listeria monocytogenes, presente nos leites obtidos a partir de
úberes infectados, em condições normais de pasteurização HTST. Estudos posteriores, no
entanto, afirmam que o tratamento normal de pasteurização HTST é suficiente para inativar
Listeria monocytogenes em níveis normais no leite.
Yersinia enterocolitica também tem originado grandes surtos associados com o
consumo de leite pasteurizado. De acordo com Varnam e Sutherland (1995), o maior deles
afetou várias centenas de pessoas em Menphis e outras áreas dos Estados Unidos. O
microorganismo chegou ao leite no momento do consumo, devido a uma contaminação na
superfície externa da embalagem. A contaminação teve origem na incorreta limpeza das
caixas que haviam sido utilizadas para transportar leite de devolução até uma granja.
Staphylococcus aureus foi relacionado poucas vezes com intoxicações alimentares
devido ao consumo de leite pasteurizado. Um caso, citado por Varnam e Sutherland (1995),
aconteceu na Califórnia e afetou 500 estudantes. A intoxicação esteve associada ao
69
consumo de leite com chocolate e foi atribuída ao crescimento do microorganismo no leite
cru e a resistência da enterotoxina ao tratamento de pasteurização.
4.3. Gestão da qualidade na indústria de laticínios
Em um trabalho realizado por Scalco e Toledo (2001), foi diagnosticada e analisada a
gestão da qualidade na indústria de laticínios do Estado de São Paulo, através de pesquisa
do tipo
survey.
Vinte e uma empresas, que correspondem a 42% de um total de 50 laticínios do
Estado de São Paulo, que tem uma recepção diária de leite superior a 20.000 litros,
responderam ao questionário. E este demonstrou que as indústrias de laticínios não estão
se adequando aos novos conceitos, padrões e práticas de gestão da qualidade.
Para os autores, a qualidade de produtos lácteos pode ser observada por duas
perspectivas. Uma objetiva, relacionada ao conjunto de características intrínsecas ao
produto; e outra subjetiva, associada às preferências do consumidor. Sendo assim, uma
gestão da qualidade eficiente e eficaz, segundo Scalco e Toledo (2001), é aquela que atua
nos aspectos básicos de garantia de qualidade e na busca da satisfação do consumidor,
superando suas expectativas.
No trabalho, as atividades básicas do sistema de gestão da qualidade foram divididas
em: controle de qualidade da matéria-prima, controle de qualidade do processo, controle de
qualidade do produto final, controle de qualidade no transporte e distribuição e controle de
qualidade do produto no ponto de venda.
O resultado da pesquisa aponta que o controle de qualidade da matéria-prima (leite) é
baseado na inspeção na maioria das indústrias de laticínios do Estado de São Paulo. Essa
prática possui uma característica corretiva, sendo que o mais adequado seria uma
abordagem preventiva, como pagamento do leite por qualidade e assistência técnica
preventiva, por exemplo.
No controle de qualidade do processo de produção, os fatores críticos para a
qualidade do produto, apontados por 76,2% das indústrias, são a limpeza e higienização.
Estes fatores dependem da qualidade da mão-de-obra, visto que a limpeza, em metade das
empresas, é manual, e as plantas de queijo não são automatizadas. A capacitação e
treinamento da mão-de-obra, no entanto, não são priorizados pelas indústrias. Outra
deficiência verificada com o trabalho diz respeito à aplicação de metodologias e ferramentas
para a gestão da qualidade, que não é significativa nas indústrias de laticínios, nem ao
70
menos as específicas do setor alimentício, obrigatórias por lei (BPF – Boas práticas de
fabricação – e APPCC).
No controle de qualidade do produto final, as indústrias estão preocupadas em garantir
a qualidade do produto com grandes quantidades de inspeções (microbiológicas e físico-
químicas), já que não garantem a qualidade da matéria-prima e do processo. A satisfação
do consumidor nos aspectos sensoriais do produto não são prioridades na maioria das
indústrias, sendo que apenas 19% priorizam esta atividade, das quais 80% são empresas
estrangeiras.
O transporte e distribuição dos produtos é uma etapa fundamental para a garantia da
qualidade do produto, sabendo-se que os produtos mais comuns e representativos nas
empresas pesquisadas necessitam de refrigeração (leite fluido pasteurizado tipos B e C,
manteiga, queijo e requeijão). 47% das indústrias, no entanto, passam a responsabilidade
desta etapa para empresas de serviços de transporte terceirizado, sendo que 60% das
indústrias estão insatisfeitas, e acreditam que os serviços são insuficientes e comprometem
a qualidade do produto.
O controle de qualidade no ponto de venda, de acordo com o levantamento, é
realizado através de orientações a atacadistas ou varejistas em 71,43%. As orientações
envolvem forma de acondicionamento dos produtos nas prateleiras de exposição, forma de
empilhamento, manuseio e temperatura de armazenagem. Apenas 14,3% das indústrias
realizam vistorias em pontos de vendas escolhidos aleatoriamente.
4.4. Cuidados com a aplicação do sistema APPCC em laticínio
Nesta seção, serão citadas observações de Hajdenwurcel (2002), que apresenta a
experiência adquirida como consultora na implantação dos programas de segurança
alimentar nas indústrias de laticínios do Brasil, no período de 1998 a 2002, ressaltando as
principais dificuldades enfrentadas, os pontos fundamentais para o sucesso de implantação
dos programas e as principais vantagens obtidas.
Comprometimento da alta direção
De acordo com Hajdenwurcel (2002), o apoio e o comprometimento da alta direção da
empresa são fundamentais para o êxito do programa de segurança alimentar, sendo a falta
destes o principal motivo pelo qual alguns laticínios não conseguiram implantar o sistema
APPCC. O apoio e comprometimento envolvem questões técnicas e econômicas, como
remanejamento e contratação de pessoal, modificações e investimentos na fábrica,
71
investimentos no laboratório, otimização do controle do processo, tomada de decisões na
rejeição de matérias-primas, reprocesso ou descarte de produto acabado.
Equipe APPCC
Hajdenwurcel (2002) afirma que o coordenador do programa deve ser uma pessoa
motivada, com capacidade de liderança, de trabalhar em equipe, habilitada no sistema
APPCC e conhecedora dos processos produtivos da empresa. Além disso, deve ter bom
relacionamento com a alta direção e acesso às informações estratégicas da empresa. Em
alguns casos, Hajdenwurcel (2002) relata que gerentes técnicos ou administrativos não são
os mais indicados para a função de coordenador da equipe, devido às diversas atribuições
de seu cargo.
Para compor a equipe multidisciplinar, Hajdenwurcel (2002) propõe integrantes da
área de produção, controle de qualidade, engenharia, manutenção e captação da matéria-
prima.
Programas de Pré-Requisitos (BPF e PPHO)
Hajdenwurcel (2002) lembra que as Boas Práticas de Fabricação – BPF e os
Procedimentos Padrões de Higiene Operacional – PPHO são pré-requisitos essenciais para
o Sistema APPCC e em muitas situações estabelecem ou constituem medidas preventivas
para o controle dos perigos. A literatura prevê a consolidação destes programas antes da
implementação do Sistema APPCC. No entanto, Hajdenwurcel (2002) vivenciou situações
em que a equipe multidisciplinar trabalhou na adequação dos pré-requisitos e, ao mesmo
tempo, na elaboração dos Planos APPCC. Algumas vezes, isto ajudou a ressaltar a
importância da adequação de um determinado requisito para controle do perigo.
Os diagnósticos devem sempre ser realizados com a ajuda de recursos de fotografias
e
check-list, a fim de apresentar à alta administração e aos colaboradores os resultados
obtidos. As não-conformidades detectadas por Hajdenwurcel (2002) nas suas consultorias
estavam relacionadas às necessidades de melhorias e investimentos na fábrica e às falhas
nas atitudes comportamentais e operacionais dos colaboradores.
Necessidades de investimentos e reformas, priorizando os pontos que afetam a
segurança dos produtos, devem ser apresentadas à alta administração, para que decisões
sejam tomadas para a sua melhoria e adequação.
Hajdenwurcel (2002) constatou que muito tempo foi despendido na elaboração dos
procedimentos operacionais, nas instruções de trabalho, nas planilhas de registros, do
Manual de Boas Práticas de Fabricação, das especificações técnicas das matérias-primas e
72
produtos acabados, e a dedicação da equipe multidisciplinar foi fundamental para o êxito do
Programa.
Para Hajdenwurcel (2002), a prática de registros, procedimentos escritos, ou seja, a
formalização das tarefas executadas, foi uma das grandes mudanças introduzidas com a
implantação do Sistema APPCC. No início, houve uma certa dificuldade por parte dos
colaboradores no sentido de registrar diariamente os dados, de ler procedimentos, mas, com
o passar do tempo e com treinamento intensivo, isso foi superado.
Programa de Capacitação Técnica
Para Hajdenwurcel (2002), esse Programa deve focalizar os pontos fracos individuais,
reciclar conhecimentos e fornecer conceitos atualizados, relacionados com o produto e
processo e também com o Sistema APPCC.
A implantação desse Programa, segundo Hajdenwurcel (2002), origina significativos
ganhos, na proporção em que se verifica uma mudança comportamental.
Disponibilidade de Recursos Financeiros
Hajdenwurcel (2002) acredita que é essencial definir os recursos financeiros que serão
disponibilizados e o comprometimento da alta direção é fundamental. Reformas prediais,
aquisição de equipamentos industriais e laboratoriais, contratação de pessoal, capacitação
dos recursos humanos foram as principais necessidades encontradas nos laticínios.
Elaboração e Validação do Plano APPCC
A escolha de linha(s) de produto(s) para implantar o sistema APPCC depende dos
objetivos da empresa. Hajdenwurcel (2002) cita que uma empresa na qual atuou optou por
implantar o sistema em todas as linhas de processos ao mesmo tempo; em outras, a equipe
multidisciplinar escolheu as linhas de processo de produtos onde o mercado exigiu a
implantação do APPCC; e ainda outras, escolheram uma ou 2 linhas de processos onde os
produtos apresentavam maior suscetibilidade a perigos.
Hajdenwurcel (2002) relata que na etapa de elaboração de formulários contendo a
descrição do produto, composição e fluxograma do processo, foram constantes as reuniões,
discussões, consultas à bibliografia e a especialistas. Além disso, na etapa de
estabelecimento dos limites críticos, foram necessários experimentos práticos laboratoriais e
na indústria. Alguns laticínios contrataram consultoria de um especialista em físico-química
de leite para dar suporte à elaboração dos métodos e otimização dos controles de processo.
73
Após a elaboração do Plano APPCC, Hajdenwurcel (2002) recomenda validar o Plano,
avaliado se tudo o que foi planejado possui base técnica e científica, além de ser confiável e
exeqüível.
Transferência da Responsabilidade para os Colaboradores da Fábrica e Treinamento
Hajdenwurcel (2002) diz ser fundamental a conscientização dos colaboradores da
empresa, em particular daqueles envolvidos com a linha de produção e com as atividades
de controle de qualidade. Treinamentos devem ser realizados para ressaltar o papel e as
responsabilidades de cada um. Constantes reuniões devem ser realizadas com os
supervisores para que eles possam transmitir para seus subordinados todos os cuidados,
controles e necessidades de registros inerentes à responsabilidade de cada um.
Os monitores devem receber orientação prática sobre a forma de monitorar e registrar
os pontos críticos, além de receber treinamento para obter maior embasamento técnico das
atividades operacionais, de forma que possam ter mais autonomia e condições de efetuar as
ações corretivas imediatas com maior segurança e responsabilidade.
Vantagens obtidas
Hajdenwurcel (2002) cita que as vantagens obtidas com a implantação do Sistema
APPCC em laticínios foram:
- otimização das análises do produto acabado, refletindo na redução do custo de
laboratório;
- redução do plano de amostragem no controle do processo, graças ao controle de
qualidade preventivo;
- aumento da produtividade de fabricação;
- redução no custo de produção, graças à maior eficiência e controle do processo,
além de economia no consumo de energia, produtos químicos e água utilizados nos
procedimentos de higienização;
- diminuição de não-conformidades;
- redução de erros operacionais – falhas humanas –, graças à conscientização e
melhor capacitação dos colaboradores;
- rastreabilidade, permitindo-se verificar o histórico da produção;
- mudança de atitude e comportamento dos colaboradores;
- aparência dos colaboradores, em que o asseio e a higiene ficaram bastante visíveis;
- consciência dos colaboradores quanto à importância do trabalho de equipe e à
necessidade de contínuo aperfeiçoamento de todos.
74
4.5. AMT na indústria de laticínios
Nos Estados Unidos, de acordo com Ilyukhin, Haley e Singh (2001), as indústrias de
alimentos apresentaram um crescimento sem precedentes e se tornaram uma das principais
potências da economia americana. Apesar desse crescimento, os autores citam que as
pesquisas indicam que as indústrias de alimentos tem sido bastante lentas para adotar
novas tecnologias de automação.
No Brasil, o processo é ainda mais lento que nos países desenvolvidos e as indústrias
de laticínios e boa parte das indústrias de alimentos ainda estão em estágio inicial de
evolução tecnológica e utilização de AMT.
Segundo Oliveira
et al.(2003), isto se deve na maioria das vezes à falta de capital
excedente e aos altos custos para investir no negócio.
Em países desenvolvidos, a indústria de laticínios ocupa uma posição de destaque
quando comparada com outras indústrias de alimentos, no que se refere ao uso de
tecnologias avançadas de manufatura. A pesquisa canadense realizada por Baldwin
et al.
(1999), citada na seção 3.3.2, aponta que 95% das indústrias de laticínios utilizam pelo
menos um dos 61 AMT identificados no
survey. 21% dos laticínios pesquisados utilizam 20
ou mais AMT, em contraste com os apenas 7% do total das indústrias de alimentos
pesquisadas.
Dentre os AMT utilizados nas indústrias de laticínios, os mais citados foram os da área
de processamento e controle de processo (com 77%). Dos AMT de processamento, os mais
utilizados pela indústria de laticínios, estão o processamento asséptico de preservação
térmica e centrifugação. Na área funcional de controle de processo, os AMT de maior
importância para a indústria em questão são os controladores lógico programáveis e o
controle de processo computadorizado.
Saguy (1983) cita que AMT podem ser aplicados nas indústrias de laticínios para
controlar a padronização e coordenar processos de pasteurização com as vantagens de
aumentar a produção, diminuir custos operacionais e realizar mudanças na produção de
forma rápida e eficiente.
De acordo com Oliveira
et al. (2003), desde 1952 a legislação brasileira requer alguns
controles mínimos automatizados em alguns processos de industrialização do leite, incluindo
a automação do controle da pasteurização.
O controle da pasteurização do leite inclui o controle de temperatura do aquecimento
do leite e controle da válvula de refluxo de leite após o tubo de retenção, a fim de evitar a
mistura de leite não-pasteurizado. O funcionamento consiste em medir continuamente a
75
temperatura do leite em seções do pasteurizador, através de um sensor, que envia o sinal
para o painel, o qual compara o sinal recebido com um valor pré-estabelecido e, caso ocorra
uma tendência de a temperatura diminuir, o controlador envia um sinal para a seção de
produção de água quente, abrindo-se mais a válvula de entrada de vapor, aumentando a
temperatura da água e, conseqüentemente, elevando a temperatura do leite. Se ocorrer, no
entanto, de a temperatura do leite a ser pasteurizado cair para abaixo de um mínimo, o
controlador envia um sinal para o painel central, que aciona a válvula de fluxo de leite,
retornando o leite cru para o tanque de equilíbrio, e dispara um alarme para alertar o
operador sobre a anormalidade ocorrida.
Oliveira
et al. (2003) afirma que “a automação do pasteurizador é indispensável, pois
como é praticamente impossível o acionamento manual dos controles de temperatura da
água quente, de pasteurização e da válvula de controle de fluxo, com certeza ocorreriam
constantes misturas de leite cru com pasteurizado”.
4.6. Resumo do capítulo
Para chegar ao consumidor como leite fluido pasteurizado, o leite passa por uma série
de operações que inclui recepção, pesagem e filtragem, resfriamento, estocagem do leite
cru, filtração e clarificação, padronização, pasteurização, armazenamento, empacotamento,
estocagem e transporte.
Como vimos no capítulo anterior, somente a pasteurização (que é o método de
conservação utilizado no processamento de leite pasteurizado) não é suficiente para garantir
a segurança do produto, sendo recomendável a utilização de sistemas de gestão da
qualidade como o APPCC. Infelizmente, a realidade diagnosticada por Scalco e Toledo
(2001) revela que as indústrias de laticínios do Estado de São Paulo não estão se
adequando aos novos conceitos, padrões e práticas de gestão da qualidade, e estão
deixando de aplicar até mesmo as metodologias e ferramentas obrigatórias por lei para
indústrias de alimentos, como o BPF e APPCC.
Espera-se no entanto que este quadro seja revertido, visto que se obtêm inúmeras
vantagens com a implantação do sistema APPCC, como redução de não-conformidades,
erros operacionais, plano de amostragem, bem como otimização de análises, aumento da
produtividade e rastreabilidade, citados por Hajdenwurcel. Essas vantagens, porém, só
serão alcançadas se houver comprometimento da alta direção, dedicação da equipe
APPCC, disponibilidade de recursos financeiros, cumprimento dos programas de pré-
76
requisitos, correta elaboração e validação do plano APPCC e transferência da
responsabilidade para os colaboradores da fábrica.
Se nem sistemas de qualidade exigidos por lei estão sendo aplicados nas indústrias
de laticínios do Brasil, não é de se estranhar que ainda estão em estágio inicial de evolução
tecnológica e utilização de AMT. Nos países desenvolvidos, no entanto, as indústrias de
laticínios destacam-se das outras indústrias de alimentos no que se refere ao uso de AMT.
77
5
Construção do framework e processo operacional
"Quem ignora um rumo não chega ao seu destino..."
(Menotti Del Picchia)
Este capítulo traz o
framework de garantia de segurança alimentar baseado nos
princípios do sistema APPCC e seleção de AMT e a processo operacional do
framework.
5.1. Construção do framework de garantia de segurança alimentar
Um framework conceitual explica, pela definição de Gouvêa da Costa (2003),
“graficamente ou na forma narrativa, as principais coisas a serem estudadas – os fatores-
chave, constructos ou variáveis – e as presumidas relações entre eles.
Frameworks podem
ser rudimentares ou elaborados, baseados em teoria ou senso comum, descritivos ou
causais”.
A construção do
framework tem como referência argumentos levantados na revisão da
literatura. O encadeamento destes argumentos leva à lógica do
framework proposto, e será
apresentado a seguir.
Exigência do mercado (clientes e consumidores) por produtos seguros:
Para o mercado, a segurança do produto é um critério qualificador. Clientes esperam,
no mínimo, que os alimentos sejam seguros e a indústria tem a responsabilidade de suprir
suas expectativas (MORTIMORE e WALLACE, 1994).
Exigência do
mercado
Segurança
alimentar
Figura 5.1 Segurança alimentar como exigência do mercado
78
APPCC como sistema de segurança alimentar recomendado por organismos
internacionais:
Já em 1980, a Organização Mundial da Saúde (OMS), em conjunto com a International
Commission on Microbiological Specifications for Foods (ICMSF) e o Codex Alimentarius,
recomendou o uso do sistema APPCC para a produção de alimentos seguros, por este
apresentar uma melhor relação custo-benefício quando comparado com outras abordagens
(inspeção e testes), diz Tronco (1997).
Figura 5.2 APPCC como sistema de segurança alimentar recomendado por organismos
internacionais
APPCC como exigência legal:
Além das exigências do mercado, as indústrias de alimentos têm de se adequar às
exigências legais quanto à segurança do produto. O Ministério da Saúde estabeleceu
obrigatoriedade, a partir de 1994, da implantação do sistema APPCC nas indústrias de
alimentos, através da Portaria 1428 (BRASIL, 1993).
Figura 5.3 APPCC como exigência legal
Princípios do sistema APPCC:
O APPCC é um sistema lógico de controle, baseado na prevenção de problemas de
uma linha específica de produção de alimentos. Identificando os pontos em que os perigos
costumam ocorrer no processo, temos a oportunidade de aplicar medidas necessárias para
prevenir que esses perigos ocorram (MORTIMORE e WALLACE, 1994).
Os PCC (pontos críticos de controle) são os pontos em que perigos devem ser
prevenidos, reduzidos ao mínimo ou eliminados. Para cada PCC, são estabelecidos limites
APPCC
Exigência
le
g
al
Segurança
alimenta
r
APPCC
OMS, ICMSF, Codex
79
críticos que devem ser monitorados e, caso seja constatado desvio, ações corretivas devem
ser tomadas (BRASIL, 1998).
Os responsáveis pelo monitoramento devem registrar precisamente as informações
nos formulários específicos e os operadores do processo devem saber exatamente o que
fazer e devem estar autorizados a adotar as ações corretivas, caso haja desvios nos limites
críticos estabelecidos (BRASIL, 1998).
APPCC
Identificar
Perigos
Identificar os
PCC
Estabelecer
caract. perigo
Medidas
preventivas
Sistema de
monitoramento
Lmites críticos/
Ação corretiva
Figura 5.4 Princípios do sistema APPCC
AMT podem auxiliar na melhoria da qualidade (segurança) do produto:
Os AMT podem simplificar o diagnóstico de problemas, minimizar erros humanos,
reduzir variações nos parâmetros de operação e automatizar os procedimentos de qualidade
assegurada. Além disso, com os AMT, as variáveis de processos importantes podem ser
coletadas
on line para análise imediata e subseqüente refinamento. (CO et al., 1998;
OLIVEIRA
et al., 2003). Assim, AMT podem prevenir, monitorar e/ou controlar os perigos de
contaminação biológica, química e/ou física dos alimentos.
AMT
AMT
AMT
AMT
AMT
AMT
AMT
AMT
Medidas
preventivas
Sistema de
monitoramento
Lmites críticos/
Ação corretiva
AMT
AMT
AMT
AMT
AMT
AMT
AMT
AMT
AMT
AMT
AMT
AMT
AMT
AMT
AMT
AMT
80
Figura 5.5
AMT para monitoramento e controle de PCC
Framework de garantia de segurança alimentar baseado no sistema APPCC e
seleção de AMT:
O framework que sintetiza todas as observações anteriormente citadas é apresentado
na figura 5.6.
Exigência do
mercado
Seguraa
alimentar
APPCC
Exigência
legal
Identificar
Perigos
OMS, ICMSF, Codex
AMT
AMT
AMT
AMT
AMT
AMT
AMT
AMT
Identificar os
PCC
Estabelecer
caract. perigo
Medidas
preventivas
Sistema de
monitoramento
Lmites críticos/
Ação corretiva
AMT
AMT
AMT
AMT
AMT
AMT
AMT
AMT
AMT
AMT
AMT
AMT
AMT
AMT
AMT
AMT
Figura 5.6 Framework de garantia de segurança alimentar
Essa figura mostra que os AMT podem auxiliar na garantia de segurança alimentar
requerida pelo mercado, sustentando os PCC através da prevenção, monitoramento ou
controle dos perigos biológicos, físicos ou químicos que podem atingir o homem causando-
lhe danos à saúde. Esses AMT podem ser identificados por meio de uma análise de perigos
e determinação de pontos críticos de controle, baseados no sistema APPCC exigido por lei.
81
5.2. Operacionalização do framework: desenvolvimento do processo
O processo que operacionaliza o framework de garantia de segurança alimentar
baseado nos princípios do sistema APPCC e seleção de AMT tem por referência, além do
próprio
framework, características da abordagem por processos levantadas na revisão da
literatura (capítulo 2).
O processo de operacionalização do
framework é constituído de 4 fases. A primeira
fase do processo constitui-se na
Análise de Perigos, baseada nos princípios do sistema
APPCC, para a identificação dos perigos e pontos críticos de controle; a segunda fase, de
seleção de AMT, busca identificar AMT que possam suportar (prevenir, detectar ou
controlar) os perigos. Depois, faz-se a
síntese teórica dos AMT selecionados com o
processo inicial (fase 3). E, finalmente, na fase 4 realiza-se a
verificação das melhorias em
segurança alimentar alcançadas com os AMT.
A figura 5.7 apresenta o processo de operacionalização do
framework indicando as
suas fases.
Fase 1:
Análise de
perigos
Fase 2:
Seleção
de AMT
Fase 3:
Síntese
Fase 4:
Verificação
Figura 5.7 Processo de operacionalização do framework de garantia de segurança
alimentar
Cada fase do processo é estruturada em passos a serem seguidos e folhas de tarefas
a serem preenchidas que conduzem à definição dos perigos, pontos críticos de controle e
tecnologias de prevenção, monitoramento e controle para garantir a segurança de produtos
alimentícios. As folhas de tarefas (FT) são instrumentos desenvolvidos para capturar
informações.
A figura 5.8 mostra o processo da figura 5.7 com mais detalhes.
82
Processo
alimentício
Proposta de
alimento seguro
Equipe de Análise
de Perigos
(
1 folha de tarefa)
Construção do
diagrama
operacional
Identif. de perigos
e causas
(
1 ft/ tipo de perigo)
Identificação dos
PCC – Árvore dec.
(
1 folha de tarefa)
Medidas de monit.,
lim. crít., ação corr
(
1 folha de tarefa)
Verif. sever., ocorr.
e detecção (NPR)
(
1 folha de tarefa)
Encontro n° 1
Encontro n° 2
Encontro n° 3
1.7
1.4
1.1
1.2
Descrição do
produto
(
2 folha de tarefa)
1.3
1.6
1.5
1.8
ntese da Análise
de Perigos
(
1 folha de tarefa)
1.8
ntese da Análise
de Perigos
(
1 folha de tarefa)
Fase 1: Análise de Perigos
AMT para os
perigos
(
1 folha de tarefa)
2.1
AMT para os
perigos
(
1 folha de tarefa)
2.1
Características e
priorização AMT
(
1 folha de tarefa)
2.2
Características e
priorização AMT
(
1 folha de tarefa)
2.2
Diagrama
operacional com
AMT
3.1
Diagrama
operacional com
AMT
3.1
Novo NPR
(1 folha de tarefa)
3.2
Novo NPR
(1 folha de tarefa)
3.2
Verificação da
melhoria
(1 folha de tarefa)
4.1
Verificação da
melhoria
(1 folha de tarefa)
4.1
Encontro n° 4
Encontro n° 5
Encontro n° 5
Encontro n° 5
Fase 2: AMT Fase 3: Síntese Fase 4: Verificação
Pré-seleção
de AMT
Figura 5.8 Processo de operacionalização do framework
A fase 1, de Análise dos Perigos fundamenta-se em 8 passos e 8 folhas de tarefas. A
fase 2, de seleção de Tecnologias Avançada de Manufatura (AMT) é composta de 2 passos
e 2 folhas de tarefas. A fase 3, de síntese, que faz a integração teórica dos AMT ao
processo conta com 2 passos e 1 folhas de tarefas. E a fase 4, que se baseia na verificação
da veracidade da proposta, é realizada com preenchimento de 1 folha de tarefa.
A aplicação desse processo resultará em uma pré-seleção de AMT capazes de
suportar a garantia de segurança alimentar. A seleção final dependerá de um maior número
83
de fatores, como viabilidade econômico-financeira, propostas de fornecedores e
compatibilidade com tecnologias já existentes.
5.3. Descrição do processo de operacionalização do framework
Nas seções seguintes, cada fase e seus respectivos passos e folhas de tarefas serão
apresentados.
5.3.1. Fase 0: Preparativos e ponto de entrada
De acordo com Platts (1993), o ponto de entrada é necessário para prover o
mecanismo de introdução do processo na organização. O processo deve ser “vendido”
ao pessoal que está intimamente envolvido com o processo, e, principalmente, obter o
envolvimento de gerentes com o processo.
Gouvêa da Costa (2003) propõe que a primeira ação, após os contatos iniciais, é
fazer uma apresentação para o nível gerencial da empresa, quando são apresentados os
objetivos gerais, ferramentas e benefícios esperados.
Em seguida, após a aceitação da empresa em participar do projeto, faz-se
necessário escolher um líder, um facilitador e um grupo de coordenação.
Segundo Gouvêa da Costa (2003), o líder do projeto será o responsável pelo
projeto e tipicamente é o gerente geral do negócio. O facilitador gerencia e facilita o
método e pode ser alguém interno ou externo à empresa. O grupo de coordenação
supervisiona e guia o andamento do projeto e participa de praticamente todas as
atividades.
Gouvêa da Costa (2003) cita que a utilização de um cronograma minimiza as
dificuldades em visualizar os encontros, participantes e datas. No apêndice D, encontra-
se a planilha-cronograma proposta.
84
5.3.2. Fase 1: Análise de Perigos
Esta primeira fase tem por objetivo identificar os perigos, pontos críticos de controle,
variáveis de monitoramento, limites críticos e ações corretivas; e estimar o número de
prioridade de risco (NPR). O desenvolvimento desta etapa foi baseado no manual genérico
de procedimentos para APPCC em indústrias de produtos de origem animal, anexo à
portaria n° 46 de 10 de fevereiro de 1998 do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento. Esta dissertação, no entanto, não tem por objetivo a implantação do sistema
APPCC, apenas utiliza seus princípios e alguns instrumentos para identificar os perigos e
caracterizá-los. Esta etapa foi estruturada em 8 passos, que serão abordados com detalhes
a seguir.
Quadro 5.1 Descrição dos passos da fase 1
PASSO FT DESCRIÇÃO OBJETIVO
1.1 1
Equipe de Análise
de Perigos
Formar e capacitar a equipe que irá analisar os
perigos
1.2 2 e 3 Produto
Descrever o produto, identificar o uso pretendido e
identificar as matérias-primas e ingredientes.
1.3 -
Diagrama
operacional
Construir o diagrama operacional e verificar, na
prática, a sua adequação
1.4 4 Perigos
Listar e identificar os perigos e considerar as causas
(medidas preventivas de controle)
1.5 5 PCC
Identificar os pontos críticos de controle através da
aplicação da árvore decisória
1.6 6
Características dos
perigos
Estabelecer, para cada perigo, medidas de
monitoramento, limites críticos e ações corretivas
1.7 7 NPR
Verificar índice de severidade, ocorrência e detecção
e calcular o NPR
1.8 8
Síntese das
características dos
perigos
Reunir as informações sobre os perigos: medidas
preventivas, monitoramento, limites críticos e ações
corretivas
Quadro 5.2 Participação sugerida e estratégia de campo na fase 1
PASSO DESCRIÇÃO PARTICIPAÇÃO SUGERIDA ESTRATÉGIA
1.1
Equipe de Análise de
Perigos
Produção, controle de qualidade,
engenharia, manutenção, captação da
matéria-prima e fiscal do SIF
Reunião com o
líder/ Palestra
1.2 Produto
Equipe de Análise de Perigos, vendas,
compras
Entrevistas
1.3 Diagrama operacional Equipe de Análise de Perigos, produção
Observação direta e
entrevistas
1.4 Perigos
Equipe de Análise de Perigos e
especialista em microbiologia
Brainstorming
1.5 PCC Equipe de Análise de Perigos
Seminário com
árvore decisória
1.6
Características dos
perigos
Equipe de Análise de Perigos e
especialista em físico-química
Seminário
1.7 NPR
Equipe de Análise de Perigos, controle
de qualidade
Entrevistas e
análise documental
1.8
Síntese das caract. dos
perigos
Equipe de Análise de Perigos Reunião
85
Passo 1.1. Formação e capacitação da equipe de Análise de Perigos
A equipe de Análise de Perigos deverá ser definida pelo líder do projeto e pode ser
constituída por pessoal da produção, controle de qualidade, engenharia, manutenção e
captação da matéria-prima. É sugerida também a participação do fiscal do SIF (Serviço de
Inspeção Federal) para os estabelecimentos processadores de alimentos de origem animal.
Essa participação é bastante interessante tanto para o SIF, que passará a interagir com a
empresa obtendo mais conhecimento sobre o processo e os sistemas de qualidade da
empresa; quanto para a empresa, que poderá ser bem avaliado pelo SIF por conhecer
melhor a visão do inspetor e o ter como colaborador na análise de perigos (o inspetor será
um dos “donos” do projeto). Mortimore (2001) ressalta que para um sistema APPCC
realmente funcionar na prática há a necessidade de uma equipe competente para o
desenvolvimento do plano, além da competência de quem o opera e dos programas de pré-
requisitos.
A equipe de Análise de Perigos formada deverá passar por uma capacitação técnica,
que pode ser realizada pelo facilitador. O conteúdo programático do programa de
capacitação técnica deve abranger:
a) sensibilização para a qualidade;
b) perigos para a saúde pública ocasionados pelo consumo de alimentos;
c) deterioração de alimentos perecíveis;
d)
lay-out operacional;
e) programas de higiene;
f) etapas de elaboração e implantação do sistema APPCC (parte teórica e exercícios
práticos na indústria).
A equipe formada deve ser explicitada na folha de tarefa 1.
Quadro 5.3
Folha de tarefa 1 – Equipe de Análise de Perigos
Nome
Função
Experiência / Estudo
Comentários
Passo 1.2.
Descrever o produto e identificar o uso pretendido
86
Neste passo deverão ser providenciadas todas as informações que servem para
descrever, identificar o produto e o uso pretendido. As informações devem ser anotadas na
folha de tarefa 2 e 3.
Quadro 5.4
Folha de tarefa 2 – Formulário de descrição do produto
Nome do produto
Características importantes do
produto final
Forma de uso do produto final
Características da embalagem
Prazo de validade
Onde o produto será vendido
Instruções contidas no rótulo
Controles especiais durante
distribuição e comercialização
Fonte: Brasil (1998)
Características importantes do produto final: pH, Atividade de água, Potencial de oxi-
redução.
Características da embalagem: tipo de material, impressão.
Quadro 5.5
Folha de tarefa 3 – Formulário para indicação da composição do produto
87
Matéria-prima
Ingredientes
Secos
Ingredientes
líquidos
Outros
ingredientes
Aromatizantes Conservadores
Material de
embalagem
Fonte: Brasil (1998)
Passo 1.3.
Construir o diagrama operacional e verificar, na prática, a sua adequação
Diagrama operacional é uma representação gráfica de todas as etapas operacionais
em seqüência ordenada, na elaboração do produto.
O diagrama operacional de cada produto deverá conter todas as etapas do produto, de
forma seqüencial, clara e simples.
Deverão acompanhar o diagrama todas as adições feitas antes, durante e após o
processamento, bem como informações detalhadas de cada etapa do processo.
Uma vez estabelecido o diagrama operacional, deverá ser efetuada uma inspeção no
local, verificando a concordância das operações descritas com o que foi representado.
Passo 1.4. (Princípio 1) Listar e identificar os perigos e considerar as causas
Este passo envolve a listagem e identificação dos perigos que podem ocorrer em toda
a cadeia produtiva, além das causas dos perigos identificados; e conta com 1 folha de tarefa
a ser preenchida através da estratégia de
brainstorming dos perigos e causas. A folha de
tarefa 4 foi desenvolvida utilizando-se a técnica de mapa mental (chamada também de
memograma), que apresenta uma série de benefícios, como: (VILELA, 2002)
Desenvolve a busca e a percepção de múltiplos aspectos de um assunto ou
situação;
Estimula a visão de uma idéia em um contexto mais amplo;
88
Desenvolve a objetividade, filtrando idéias que não se encaixam no todo ou que
não são essenciais;
Desenvolve a habilidade de organizar conhecimentos;
Desenvolve a habilidade de pensar por relações;
Desenvolve as habilidades tanto de síntese quanto de análise;
Estimula a liberdade de pensamento, entre muitos outros benefícios.
No primeiro nível dos ramos estão fixados os tipos de perigos: biológico, químico e
físico. No segundo nível devem ser listados os perigos que podem ocorrem e, no terceiro
nível, a etapa do processamento em que o perigo ocorre. No quarto e último nível as causas
dos perigos são identificadas e listadas.
Figura 5.9 Folha de tarefa 4 – Brainstorming de perigos
Perigos biológicos
Perigos físicos
Perigos químicos
Brainstorming de
perigos e causas
- Instruções -
Perigo 1
(Listar perigos)
Etapa do
processamento
Como o perigo atingiu o alimento/
Pq o perigo está presente nesta
etapa do processamento ?
Etapa do
processamento
Como o perigo atingiu o alimento/
Pq o perigo está presente nesta
etapa do processamento ?
Perigo 2
(Listar perigos)
Na identificação dos perigos, a equipe deve considerar os seguintes pontos:
- Lay-out do estabelecimento industrial para estudo do fluxo de produção,
possibilidades de contaminação cruzada, entre outros;
- Formulação: matérias-primas e ingredientes utilizados;
- Técnica de elaboração: práticas de manipulação, programa de higiene;
- Hábitos do consumidor: uso que se espera do produto, baseado na utilização
normal pelo consumidor final;
- Consumidor: pode ser o público alvo em geral ou um segmento particular da
população (crianças, adultos, idosos, enfermos, estabelecimentos industriais e
comerciais).
Alguns exemplos de perigos podem ser citados:
89
- Perigos biológicos: microrganismos patogênicos ou produtores de toxinas
(
Salmonella sp, Staphylococcus aureus, E. coli, Bacillus cereus, Listeria sp,
Clostridium sp);
-
Perigos físicos: matérias estranhas (fragmentos de vidro, metais, madeira, plástico);
-
Perigos químicos: resíduos orgânicos e inorgânicos (antibióticos, quimioterápicos,
metais pesados, praguicidas)
Passo 1.5.
(Princípio 2) – Identificar os PCC aplicando a árvore decisória
Este passo consiste em fazer uma série de perguntas para cada perigo de cada etapa
de elaboração do produto, usando como referência o diagrama da árvore decisória,
apresentada na figura 3.2 e repetida na figura 5.10, para identificação do perigo crítico e
ponto crítico de controle. As perguntas são respondidas em seqüência e formuladas para
cada perigo de cada etapa do processo de elaboração.
Um ponto crítico de controle pode ser definido como qualquer ponto, operação,
procedimento ou etapa do processo de fabricação ou preparação do produto, onde se
aplicam medidas preventivas de controle sobre um ou mais fatores, com o objetivo de
prevenir, reduzir a limites aceitáveis ou eliminar os perigos para a saúde do consumidor.
Os perigos críticos e pontos críticos de controle devem ser identificados na folha de
tarefa 5, bem como as respostas à aplicação da árvore decisória.
90
O perigo é controlado
pelo programa de pré-
requisito?
Existem medidas
preventivas para
o perigo
identificado?
Esta etapa elimina
ou reduz o perigo a
níveis aceitáveis?
Modificar etapa
do processo ou
produto
O controle desta
etapa é necessário
para a segurança?
É importe analisar
como Ponto de
Controle (PC)?
O perigo pode
aumentar a níveis
inaceitáveis?
Uma etapa subseqüênte
eliminará ou reduzirá o
perigo a níveis aceitáveis?
É um Ponto de
Controle Crítico
(PCC).
Não
Sim
Sim
Não
Sim
Não
Sim
Sim
Não
Sim
Não é PCC
e nem PC.
É um PC.
Não Sim
Não
Não
Q1
Q2
Q3
Q4
Q5
Fonte: adaptado de IDFA (2002)
Figura 5.10 Árvore Decisória
Quadro 5.6
Folha de tarefa 5 – Matriz de decisão das etapas do processo
Perigo potencial
específico:
- Biológico
- Químico
- Físico
Etapa do
processo /
Ingrediente
Q1 Q2 Q3 Q4 Q5
PC/
PCC
Notas
Fonte: adaptado de Mortimore e Wallace (1994)
91
Perigo potencial específico: Listar o perigo, identificando-o com B (Biológico), Q (Químico)
ou F (Físico)
Q1 / Q2 / Q3 / Q4 / Q5: Refere-se às perguntas numeradas da árvore decisória. Devem ser
preenchidas com S (Sim) ou N (Não), de acordo com as respostas.
PC / PCC: Indicar se o perigo/ etapa do processamento é um Ponto Crítico (PC) ou um
Ponto Crítico de Controle (PCC) ou não é nem PC e nem PCC ( – ).
Passo 1.6. (Princípios 3, 4 e 5) – Características dos perigos: estabelecer medidas de
monitoramento, limites críticos e ações corretivas
Este passo deverá ser cumprido com o preenchimento da folha de tarefa 6.
Figura 5.11 Folha de tarefa 6 – Características dos perigos
PCC 2
PCC 1
Características
dos perigos
Perigo 1
- Como este perigo pode
ser detectado ?
- Que medida pode indicar
a presença deste perigo ?
Qual o limite desta medida
no qual o perigo é aceitável ?
O que deve ser feito caso
o limite crítico seja excedido ?
- Como este perigo pode
ser detectado ?
- Que medida pode indicar
a presença deste perigo ?
Qual o limite desta medida
no qual o perigo é aceitável ?
O que deve ser feito caso
o limite crítico seja excedido ?
Perigo 2
O primeiro nível desse mapa mental é constituído pelos PCC identificados no passo
anterior (etapas do processamento em que há pelo menos um perigo crítico). O segundo
nível conta com o perigo identificado como crítico. O nível três visa identificar formas de
detecção ou indicação da presença do perigo (medidas de monitoramento). O nível quatro
lista, para cada medida de monitoramento, os limites críticos e as ações corretivas caso haja
desvios desses limites.
Os níveis 1 e 2 devem ser preenchidos antes do encontro.
As medidas de monitoramento podem ser qualitativas ou quantitativas. Como exemplo
podem ser citados:
tempo,
temperatura,
92
pressão,
pH,
umidade,
atividade de água,
acidez titulável,
concentração salina,
cloro residual livre,
viscosidade,
preservativos,
textura,
aroma,
peso líquido.
A forma de monitoramento dessas medidas pode ser por meio de observações,
análises laboratoriais ou utilização de instrumentos de medida. Os métodos analíticos
devem ser continuamente validados e os instrumentos aferidos e calibrados.
Os limites críticos são os valores ou atributos estabelecidos que não devem ser
excedidos no controle do ponto crítico. É o que separa os produtos aceitáveis dos
inaceitáveis e Mortimore (2000) relata que a determinação dos limites críticos pode ser feita
a partir de informações em publicações científicas, legislação ou por determinação
experimental.
Quanto se constatar um desvio nos limites críticos estabelecidos, ações corretivas
devem ser imediatamente executadas para colocar o PCC novamente sob controle.
As ações corretivas devem ser específicas o suficiente para a eliminação de perigo
após a sua aplicação. As ações corretivas podem ser:
recalibrar equipamentos;
rejeitar a matéria-prima;
reprocessar.
Passo 1.7. Determinar o número de prioridade de risco – NPR
A verificação do índice de risco (NPR – número de prioridade de risco) consiste em
quantificar o risco e a severidade de cada PCC. Alguns estudos, como o de Hoornstra
et al.
(2001), ressaltam a necessidade de inclusão de análises quantitativas no sistema APPCC,
sugerindo a incorporação da Análise de Risco. Nesta dissertação, a forma de quantificar o
risco de um PCC será baseada no método FMEA – Análise de Modo e Efeitos de Falha. O
NPR é o produto dos índices de severidade (S), ocorrência (O) e detecção (D) e varia de 1 a
93
1000. Os NPR de cada PCC devem ser calculados e anotados na folha de tarefa 7. Os
índices de severidade (S), ocorrência (O) e detecção (D) devem ser quantificados utilizando-
se os critérios dos quadros 5.8, 5.9 e 5.10, respectivamente.
Quadro 5.7 Folha de tarefa 7 – Verificação do NPR
Etapa Perigo Severidade Ocorrência Detecção NPR
Fonte: adaptado de Palady (1997)
Etapa: Identificar a etapa de processamento
Perigo: Listar o perigo, com indicação do tipo B (Biológico), Q (Químico) ou F (Físico)
Severidade (S): quantificar a severidade de acordo com o critério de severidade
apresentado no quadro 5.8.
Ocorrência (O): quantificar a ocorrência de acordo com o critério de ocorrência apresentado
no quadro 5.9.
Detecção (D): quantificar a detecção de acordo com o critério de detecção apresentado no
quadro 5.10.
NPR: Número de prioridade de risco, calculado multiplicando-se os índices de severidade,
ocorrência e detecção (NPR = S x O x D)
94
Quadro 5.8
Critério de avaliação de severidade
Efeito Critério
Índice de
Severidade
Muito
perigoso
Perigoso, ameaça a vida ou pode provocar incapacidade
permanente ou outro custo significativo da intoxicação
alimentar que coloca em risco a continuidade operacional
da fábrica
10
Perigoso
Efeito crítico que provoca a insatisfação do consumidor,
gera custos significativos da intoxicação e impõe um leve
risco de segurança (não ameaça a vida nem provoca
incapacidade permanente) ao consumidor
9
Muito alto
Efeito significativo, resultando em intoxicação grave,
entretanto, não coloca a segurança do consumidor em risco
e não resulta em custos significativos da intoxicação
alimentar
8
Alto
Efeito moderado, resultando em intoxicação leve que
prejudica a saúde do consumidor
7
Moderado
Efeito menor, que prejudica o bem estar do consumidor,
fazendo com que o consumidor procure o Procon ou o SAC
da empresa
6
Baixo
Efeito menor, que prejudica o bem estar do consumidor,
mas não faz com que o consumidor procure o Procon ou o
SAC da empresa
5
Muito
baixo
Efeito insignificante que perturba o consumidor e faz com
que procure o Procon ou o SAC da empresa
4
Menor
Efeito insignificante que perturba o cliente, mas não faz
com que procure o Procon ou o SAC da empresa
3
Muito
menor
Efeito bastante insignificante, percebido pelo consumidor;
entretanto, não faz com que o consumidor procure o
Procon ou o SAC da empresa
2
Nenhum Efeito não percebido pelo consumidor 1
Fonte: baseado em Palady (1997)
95
Quadro 5.9
Critério de avaliação de ocorrência
Probabilidade de
ocorrência
Critérios
Índice de
ocorrência
1 em 2
10
Muito alta
1 em 3 9
1 em 8 8
Alta
1 em 20 7
1 em 80 6
1 em 400 5
Moderada
1 em 2.000 4
Baixa 1 em 15.000 3
Muito baixa 1 em 150.000 2
Improvável
1 em 1.500.000
1
Fonte: Chrysler, Ford e General Motors (1997)
Quadro 5.10 Critério de avaliação de detecção
Detecção Critério
Índice de
detecção
Quase impossível
Não são conhecidos controles disponíveis para
detectar o perigo
10
Muito remota
Probabilidade muito remota de que os controles atuais
irão detectar o perigo
9
Remota
Probabilidade remota de que os controles atuais irão
detectar o perigo
8
Muito baixa
Probabilidade muito baixa de que os controles atuais
irão detectar o perigo
7
Baixa
Probabilidade baixa de que os controles atuais irão
detectar o perigo
6
Moderada
Probabilidade moderada de que os controles atuais
irão detectar o perigo
5
Moderadamente alta
Probabilidade moderadamente alta de que os controles
atuais irão detectar o perigo
4
Alta
Probabilidade alta de que os controles atuais irão
detectar o perigo
3
Muito alta
Probabilidade muito alta de que os controles atuais irão
detectar o perigo
2
Quase certamente
Controles atuais quase certamente irão detectar o
perigo
1
Fonte: Chrysler, Ford e General Motors (1997)
96
Passo 1.8. Reunir as informações sobre os perigos críticos: medidas preventivas,
monitoramento, limites críticos e ações corretivas
Neste passo devem ser reunidas as informações sobre os perigos críticos, capturadas
através das folhas de tarefas 4 e 6. Essas informações irão compor a folha de tarefa 8.
Quadro 5.11 Folha de tarefa 8 – Síntese da Análise de perigos
Etapa Perigos
Medidas
preventivas
Medidas de
monitoramento
Limite crítico
Ação
corretiva
Fonte: adaptado de Mortimore e Wallace (1996)
5.3.3. Fase 2: Seleção de Tecnologias Avançadas de Manufatura (AMT)
Esta fase é constituída de 2 passos, com o objetivo de identificar tecnologias que
previnem, detectam ou controlam os perigos identificados na fase 1.
Quadro 5.12
Descrição dos passos da fase 2
PASSO FT DESCRIÇÃO OBJETIVO
2.1 9 AMT para os Perigos
Identificar e relacionar AMT que possam monitorar ou
controlar os perigos e garantir a segurança alimentar
2.2 10
Descrição dos AMT
e seus atributos
Descrever os AMT selecionados, fornecendo
características e informações sobre suas contribuições
para a segurança alimentar
97
Quadro 5.13
Participação sugerida e estratégia de campo na fase 2
PASSO DESCRIÇÃO PARTICIPAÇÃO SUGERIDA ESTRATÉGIA
2.1 AMT para os Perigos
Grupo de coordenação e pessoal com
conhecimento apropriado
Seminário
2.2
Descrição dos AMT e
seus atributos
Pessoal e gerentes de produção e
outros com conhecimento adequado
Reunião
Passo 2.1.
AMT para os Perigos
Este passo tem por objetivo identificar AMT que sirvam de suporte para a prevenção,
monitoramento e controle dos perigos definidos na fase anterior. As informações devem ser
listadas na folha de tarefa 9.
No primeiro nível dos ramos do mapa mental para identificar os AMT devem ser
listados os PCC e, no segundo nível, os perigos associados a eles. Em seguida, no terceiro
nível, devem ser identificadas e listadas funções de AMT que contribuem com a garantia de
segurança do produto contra o perigo listado. No quarto nível faz-se a explicitação desse
AMT.
Os níveis 1 e 2 desse mapa mental devem ser preenchidos antes do encontro.
Figura 5.12
Folha de tarefa 9 – AMT para os Perigos
PCC 1
PCC 2
AMT para
os Perigos
- Instruções -
Perigo 1:
Existe algum AMT que:
- previne;
- detecta ou
- controla o perigo ?
O que ele faz ?
Qual é este AMT ?
Existe algum AMT que:
- previne;
- detecta ou
- controla o perigo ?
O que ele faz ?
Qual é este AMT ?
Perigo 2:
98
Passo 2.2. Descrição dos AMT e seus atributos.
Os AMT identificados são listados, com a indicação dos Perigos relacionados e as
características que descrevem a sua especificação, na coluna 2 da folha de tarefa 10.
Após o preenchimento das informações acima, priorizam-se os AMT em alta, média ou
baixa prioridade, em termos de seqüência lógica de implementação, do número de Perigos
relacionados, necessidades competitivas, etc., indicando-se as faixas de prioridades na
coluna 1 da folha de tarefas 10.
Quadro 5.14
Folha de tarefa 10 – AMT e suas características
Prioridade AMT
(Entre com o AMT aqui)
(Entre com os Perigos relacionado e as formas de controle esperadas aqui)
(Entre com as características aqui)
(Entre com o AMT aqui)
(Entre com os Perigos relacionado e as formas de controle esperadas aqui)
(Entre com as características aqui)
Fonte: adaptado de Gouvêa da Costa (2003)
99
5.3.4. Fase 3: Síntese
A terceira fase do framework, síntese, constitui-se de 2 passos:
Quadro 5.15 Descrição dos passos da fase 3
PASSO FT DESCRIÇÃO OBJETIVO
3.1 -
Processo com garantia de
alimento seguro
Listar os AMT selecionados no diagrama de
processo
3.2 11 Novo NPR dos Perigos
Calcular o NPR dos Perigos, para o processo
com garantia de alimento seguro
Quadro 5.16 Participação sugerida e estratégia de campo na fase 3
PASSO DESCRIÇÃO PARTICIPAÇÃO SUGERIDA ESTRATÉGIA
3.1
Processo com
garantia de alimento
seguro
Grupo de coordenação
Reunião
3.2
Novo NPR dos
Perigos
Grupo de coordenação e pessoal
com conhecimento apropriado sobre
os AMT
Reunião
Passo 3.1:
Processo com garantia de alimento seguro
Em uma cópia do fluxograma de processamento construído no passo 1.3, devem ser
listados os AMT selecionados na fase 2. Assim, consegue-se visualizar cada etapa do
processamento com todos os AMT selecionados que auxiliam a garantia de alimentos
seguros.
Passo 3.2:
Novo NPR dos Perigos
Após a incorporação dos AMT no fluxograma de processamento, faz-se uma nova
análise do número de prioridade de risco – NPR. O índice de severidade de cada PCC deve
ser o mesmo quantificado no passo 1.7. Os índices de ocorrência e detecção devem ser
reavaliados seguindo os mesmos critérios descritos nos quadros 5.9 e 5.10. Os novos
valores devem ser anotados na folha de tarefa 11.
100
Quadro 5.17
Folha de tarefa 11 – Verificação do novo NPR
Etapa Perigo Severidade Ocorrência Detecção Novo NPR
Fonte: adaptado de Palady (1997)
Severidade (S): o índice de severidade deve ter o mesmo valor do apresentado na folha de
tarefa 7.
Ocorrência (O): quantificar a ocorrência de acordo com o critério de ocorrência apresentado
no quadro 5.9, levando-se em consideração os AMT identificados no fluxograma.
Detecção (D): quantificar a detecção de acordo com o critério de detecção apresentado no
quadro 5.10, levando-se em consideração os AMT identificados no fluxograma.
Novo NPR: Novo Número de prioridade de risco, calculado multiplicando-se os índices de
severidade, ocorrência e detecção (NPR = S x O x D)
5.3.5. Fase 4: Verificação
Esta fase conta com apenas 1 passo, verificação da veracidade da proposta, e 1 folha
de tarefa. Este passo tem por objetivo verificar se a incorporação de AMT ao processo,
selecionados a partir da aplicação dos princípios do sistema APPCC, melhora a garantia de
segurança do alimento e poderá ser realizada em uma reunião. Sugere-se a participação do
grupo coordenador e gerentes de produção.
Os NPR dos perigos calculados para o processo com garantia de segurança alimentar
serão analisados comparando-os com os NPR dos perigos para o processo inicial, tendo em
vista a veracidade da proposição inicial do estudo: o aumento da garantia de segurança do
produto através da seleção de AMT e princípios do APPCC.
Esta fase deve ser cumprida preenchendo-se a folha de tarefa 12.
101
Quadro 5.18
Folha de tarefa 12 – Verificação da melhoria da segurança alimentar
Perigo Etapa
NPR do
processo inicial
NPR do processo
com AMT
Melhoria na
segurança do
produto
Escala: (adaptado de Gouvêa da Costa, 2003)
(Melhoria na segurança do produto)
-2 Fortemente Negativo; -1 Negativo; 0 Neutro; +1 Positivo; +2 Fortemente Positivo
Realizada a verificação das melhorias que podem ser alcançadas com a introdução
dos AMT identificados, chega-se a uma pré-seleção dos AMT. A aquisição e emprego
desses AMT, no entanto, devem resultar de uma análise mais aprofundada de questões
como custos de equipamento, de software, de integração, de operação, recursos financeiros
da indústria, prioridades da gerência, habilidades e treinamento de recursos humanos,
propostas de fornecedores e compatibilidade com tecnologias já existentes.
5.4. Resumo do capítulo
Argumentos levantados na literatura formaram a estrutura do framework de garantia de
segurança alimentar baseado na seleção de AMT e nos princípios do sistema APPCC. O
framework apresenta, de forma gráfica, que o aumento da garantia de segurança de
produtos alimentícios, exigida tanto pelo mercado quanto pelos órgãos legais, pode ser
alcançado através de AMT apropriados em pontos específicos, determinados pela análise
de perigos baseada nos princípios do sistema APPCC.
O processo de operacionalização do
framework foi disposto em quatro fases. A
primeira fase tem por objetivos principais identificar e caracterizar os Perigos e os PCC, com
8 passos e 8 folhas de tarefas. A segunda fase, de Seleção de AMT, visa identificar AMT
que previnem, detectam ou controlam os perigos e conta com 2 passos e 2 folhas de
tarefas. A fase 3 faz a síntese dos AMT identificados na fase 2 com o processo inicial
descrito na fase 1 e conta com 2 passos e 1 folha de tarefa. E, por fim, na fase 4 realiza-se a
verificação das melhorias obtidas com os AMT com 1 passo e 1 folha de tarefa. Para cada
passo foram estabelecidas participação sugerida e estratégia a ser utilizada.
102
6
Refinamento e teste do framework e do processo de
operacionalização
“O caminho para alcançar êxito começa em termos primeiramente de uma idéia definida,
clara e prática, uma meta, um objetivo; em segundo lugar possuir os meios necessários para
atingir nossos fins: sabedoria, dinheiro, materiais e métodos; em terceiro combinar todos os
elementos para uma finalidade. “
(Aristóteles)
Neste capítulo, será descrito o estudo de caso conduzido, apresentando os resultados
e as entrevistas com especialistas.
6.1. Refinamento e teste do framework e processo através de estudo de caso
Nesta seção, serão apresentadas as características da gestão do processo, os
resultados, dificuldades e lições aprendidas durante o estudo de caso, com o objetivo de
refinar e testar o
framework e o processo desenvolvido.
6.1.1. Contexto
A empresa em estudo atua no setor de laticínios, processando diversos produtos além
do leite fluido pasteurizado, e está situada no interior do Estado do Paraná. Em 2003, teve
um faturamento de R$ 137.922.806,00 , com 372 empregados diretos e indiretos.
A empresa foi fundada há 22 anos e atualmente recebe, em média, 780.686 litros de
leite por dia. A capacidade de industrialização de leite fluido pasteurizado é de 140.00 litros
por dia, sendo a produção média diária de 65.000 litros.
Além das funções básicas como Produção, Controle de Qualidade, Finanças,
Contabilidade, Vendas, Compras, Manutenção, a empresa conta com o Setor da Garantia
da Qualidade, que centraliza todas as informações e projetos relativos à garantia da
qualidade. Atualmente, existem quatro programas de qualidade em execução:
103
Programa D´OLHO (5S);
BPF – Boas Práticas de Fabricação;
APPCC – Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle;
Auditoria interna.
Além desses programas, o Setor da Garantia da Qualidade realiza anualmente a
“Semana da Qualidade”, quando acontecem várias palestras, teatros e gincanas
relacionados com a qualidade.
6.1.2. Gestão do processo
Nesta seção, serão descritos a unidade de análise, líder do projeto, facilitador, grupo
de coordenação, demais participantes, tempo longitudinal e avaliação do processo.
Unidade de análise
A unidade de análise já foi definida no projeto de pesquisa como sendo uma linha de
processamento de leite fluido pasteurizado. A justificativa dessa escolha foi baseada nos
dados de surtos de DTA no Estado do Paraná, apresentada no apêndice A, e na experiência
da autora neste setor da indústria de alimentos.
Pode-se citar, ainda, que o leite fluido pasteurizado é um produto perecível, sendo
impraticável aguardar os resultados da análise microbiológica para liberar o produto,
fazendo com que seja imprescindível uma abordagem que previna a ocorrência de
problemas, como o APPCC.
Líder do projeto
A líder do projeto foi a responsável pelo Setor da Garantia da Qualidade, especialista
em gestão da qualidade de alimentos, que comanda os programas BPF e APPCC da
empresa..
Facilitador
Este estudo de caso teve como facilitador a autora do trabalho.
Grupo de coordenação
O grupo de coordenação foi composto por 3 pessoas: a líder do projeto, a supervisora
da Qualidade e um engenheiro de produção.
104
Demais participantes
Além dos três participantes do grupo de coordenação, houve a participação de mais 9
pessoas. Seis pessoas formaram a equipe de Análise de Perigos (fase 1): além do grupo de
coordenação, fizeram parte dessa equipe o responsável pelo Controle de Qualidade, o
Supervisor da Produção e um funcionário da linha de processamento do leite fluido
pasteurizado. Os demais participantes contribuíram com o estudo de caso através das
entrevistas.
Tempo longitudinal
A aplicação do método teve duração de 5 dias, em tempo integral. Esse tempo foi
suficiente devido ao conhecimento que a autora do trabalho detém sobre a empresa em
estudo e o acesso a ela.
Avaliação do processo
Para o acompanhamento, registro e avaliação do andamento do processo, foram
utilizados os seguintes instrumentos, desenvolvidos por Gouvêa da Costa (2003):
Folha de anotações do facilitador (apresentada no apêndice E.1): foi organizada
para o registro do andamento das reuniões. Nela, há campos para observações
sobre os participantes, horários, cumprimento de objetivos, participação, estrutura do
processo, tempo, facilidade na condução do processo e atingimento de consenso,
resultados e satisfação dos participantes. Há um campo, também, para sugestões de
melhorias e observações consideradas importantes (Gouvêa da Costa, 2003).
Ficha para avaliação da fase (apresentada no apêndice E.2): foi preenchida pelos
participantes ao final das fases. O participante usa uma escala de um a cinco (muito
pouco, pouco, médio, bom ou muito bom) para responder perguntas relacionadas
com os critérios adotados para a avaliação do processo – factibilidade, usabilidade e
utilidade. Sobre estes critérios, Gouvêa da Costa elaborou a ficha contendo
perguntas sobre os objetivos, participação, estrutura do processo, tempo, resultados,
concordância, aprendizado/contribuição e satisfação. Ao lado de cada pergunta,
além do campo para a atribuição da nota, há um campo para observações. Não é
solicitada a identificação do respondente.
Ficha para avaliação do método (apresentada no apêndice E.3): foi apresentada
ao final do estudo de caso, quando foram feitas perguntas utilizando-se os mesmos
escores da ficha para avaliação da fase, sobre factibilidade, utilidade e usabilidade
do processo, tendo ao lado de cada pergunta um campo para observações.
105
6.1.3. Apresentação dos resultados de cada fase
Nesta seção, serão apresentados os resultados de cada fase e as dificuldades
encontradas na aplicação de cada uma delas.
6.1.3.1. Fase 1: Análise dos Perigos
Esta primeira fase do processo tem por objetivo identificar e caracterizar os perigos
biológicos, físicos e químicos que podem causar dano à saúde do consumidor e teve a
participação da equipe de Análise de Perigos, composta pela líder do projeto, supervisora da
Qualidade, engenheiro de produção, responsável pelo Controle de Qualidade, supervisor da
produção e funcionário da produção de leite fluido pasteurizado. O fiscal do SIF foi
convidado e se interessou pelo projeto, no entanto, não pôde comparecer aos encontros
devido a um processo de auditoria que estava ocorrendo na empresa naquele período. Essa
equipe foi definida em uma reunião com a líder do projeto e a capacitação não foi
necessária, pois os constituintes já possuem os conhecimentos considerados importantes
para a realização desta fase.
As folhas de tarefas 2 e 3, referentes à descrição e identificação do produto, foram
preenchidas através de entrevistas, pesquisas documentais e observação direta. O
diagrama operacional (passo 1.3) foi construído com informações provenientes de planos
APPCC já implantados (de outras linhas que, inicialmente, passam pelo mesmo processo do
leite fluido pasteurizado) e entrevistas com pessoal da produção. Esse diagrama operacional
foi verificado pelo funcionário da produção de leite fluido pasteurizado que fez parte da
equipe de Análise de Perigos, e está ilustrado na figura 6.1.
No primeiro encontro da equipe de Análise de Perigos, foi realizado o ponto de
entrada, apresentando-se o
framework e o processo de operacionalização e demonstrando-
se os objetivos e resultados esperados. Nesse mesmo encontro, foi cumprido o passo 1.4,
Brainstorming de perigos (a folha de tarefa preenchida encontra-se no apêndice F.1). Esse
passo foi relativamente tranqüilo, uma vez que os participantes estavam familiarizados com
os conceitos de perigos (biológicos, físicos e químicos) para a segurança alimentar. No
início, no entanto, houve certa resistência em listar todos os perigos possíveis e tendência
em adiantar o processo, pensando-se nos pontos críticos de controle (PCC), devido à
experiência do grupo na descrição de planos APPCC. Esse primeiro encontro teve duração
de uma hora e meia.
O passo 1.5, de identificação dos Pontos Críticos de Controle, foi realizado em outro
encontro, em formato de seminário, com duração de uma hora, e contou com a participação
106
da equipe de Análise de Perigos. A conclusão deste passo indicou a presença de 3 pontos
críticos de controle na linha de processamento de leite fluido pasteurizado: Análise do leite
cru, Filtração e Pasteurização.
Leite armazenado
em caminhões tanque
T
a
5 a 10°C
Pesar caminhão
Agitar o leite e
coletar amostra
Descarregar o leite
Rejeitar leite
sem padrão
OK
Não
OK
Filtrar o leite
Resfriar o leite
T
a
5°C
Estocar o leite
T
a
= 5°C e tempo máx 48h
A
A
Padronizar a
3,2% de gordura
Homogeneizar
Pasteurizar
T
a
75°C / 15 segundos
Estocar leite
Pasteurizado T
a
= 5°C
Análise do
produto
Análise do
produto
Embalar produto em
embalagem de 1000ml
Análise do
produto
Análise do
produto
Embalagem
polietileno
Acondicionar em
caixas plásticas
Caixas
plásticas
Estocar o produto
em câmara fria
Distribuir produto
Resultado
da análise
Resultado
da análise
Figura 6.1 Diagrama operacional do leite fluido pasteurizado
Definidos os PCC, foram identificados, para cada perigo, as medidas de
monitoramento, limites críticos e ações corretivas. A folha de tarefa 6 (ilustrada no apêndice
F.2) foi preenchida e discutida pela equipe APPCC, no terceiro encontro, e foi de fácil
consenso. Esse encontro teve duração de uma hora e utilizou a estratégia de seminário.
A folha de tarefa 7 foi preenchida através de entrevistas com funcionários dos setores
de Controle de Qualidade e Controladoria e pesquisas documentais. Para o preenchimento
do índice de ocorrência, foi observada a freqüência com que as medidas de monitoramento
se desviavam dos limites críticos e o índice de detecção levou em consideração a
amostragem, o método e os procedimentos utilizados.
107
O quadro 6.1 mostra a folha de tarefa 7 com o índice de risco inicial (NPR) e o quadro
6.2, a folha de tarefa 8 preenchida (síntese da Análise de Perigos).
Quadro 6.1 Folha de tarefa 7 preenchida – Verificação do NPR
Etapa Perigo Severidade Ocorrência Detecção NPR
Presença de
antibiótico
8 6 3 144
Análise
Presença de toxina
estafilocócica
8 3 3 72
Filtração
Presença de
sujidades e
fragmentos sólidos
4 3 7 84
Pasteurização
Sobrevivência de
microrganismos
patogênicos
10 2 3 60
Quadro 6.2 Folha de tarefa 8 preenchida – Síntese da Análise de Perigos
Etapa Perigos
Medidas
preventivas
Variáveis de
monitoramento
Limite crítico Ação corretiva
Presença de
antibiótico
- Controle do
uso de
antibiótico
- Assistência ao
produtor
- Avaliação do
método de
detecção de
antibiótico (CQ)
- Treinamento de
funcionários do
Controle de
Qualidade
- (teste de)
antibiótico
Ausente
(limite do teste)
Rejeitar o leite
Análise
Presença de
toxina
estafilocócica
- Controle da
mastite
- Assistência
técnica ao
produtor
- Manutenção do
leite sob
refrigeração
- Avaliação do
método de
detecção de
mastite (CQ)
- Treinamento de
funcionários do
Controle de
Qualidade
- temperatura
- teste CMT
- máx. 10°C
- ausência de
coágulos
Rejeitar o leite
108
Etapa Perigos
Medidas
preventivas
Variáveis de
monitoramento
Limite crítico Ação corretiva
Filtração
Presença de
sujidades e
fragmentos
sólidos
- Manutenção
preventiva dos
filtros
- Inspeção visual
Ausência de
danos no filtro
Trocar filtro
Pasteurização
Sobrevivência de
microrganismos
patogênicos
- Adoção de
tempo/
temperatura
adequados
- Válvula de
desvio
funcionando
adequadamente
- fosfatase
- tempo /
temperatura de
pasteurização
- negativo
- 15 segundos a
75°C
Desviar o leite
para o tanque de
equilíbrio
(proceder a nova
pasteurização)
Lições aprendidas:
No passo 1.4, é importante deixar bem claro que todos os perigos devem ser listados,
mesmo aqueles que são controlados por programas como BPF e PPHO e os que não foram
considerados PCC em planos APPCC já descritos pela empresa. A folha de tarefa 4,
utilizada nesse passo, mostrou-se útil e interessante para a técnica de
brainstorming, pois
não limita os pensamentos nas células de tabelas. Recomenda-se, no entanto, que seja feito
um mapa mental para cada perigo: perigo biológico; perigo físico e perigo químico, devido à
quantidade de informações a serem listadas.
A árvore decisória do passo 1.5, de identificação dos pontos críticos de controle,
mostrou-se confusa e pode dar margem a suposições sem a devida comprovação,
considerando os perigos como controlados por programas de pré-requisitos como Boas
Práticas de Fabricação (BPF) e Procedimentos Padrões de Higiene Operacional (PPHO). O
resultado desse passo está coerente com bibliografias pesquisadas, no entanto, propõe-se a
eliminação da primeira pergunta da árvore decisória fazendo com que todos os perigos
listados, independentemente de estarem sendo controlados por programas de pré-requisitos
ou não, passem pelas próximas perguntas da árvore decisória.
O passo 1.7, de verificação do NPR, foi muito interessante, não só por quantificar a
severidade e o risco de um perigo, mas, também, por propiciar maior conhecimento sobre
amostragem para análises e planilhas de análises e de processos, possibilitando questionar
as práticas atuais e melhorá-las.
109
6.1.3.2. Fase 2: Seleção de AMT
A fase 2 teve início no quarto encontro, em formato de reunião, quando o grupo de
coordenação realizou o preenchimento da folha de tarefa 9, apresentada no apêndice F.3,
com o objetivo de identificar AMT que suportem os perigos analisados na fase 1. A folha de
tarefa 10 foi preenchida após esse encontro pela facilitadora e, no encontro seguinte, o
grupo de coordenação procedeu à priorização. O resultado está ilustrado no quadro 6.3.
Quadro 6.3 Folha de tarefa 10 preenchida – AMT e suas características
Prioridade AMT
AMT: Sistema de rastreabilidade no campo
Perigos controlados ou detectados: Previne os perigos químicos de presença
de antibióticos e presença de toxina estafilocócica na etapa de análise.
Características: Identificar cada animal com um chip (transponder), onde serão
registrados dados sobre a saúde (doenças, vacinas e medicamentos),
manejo e controle nutricional (origem e qualidade de insumos utilizados na
formulação de dietas). Gerenciar essas informações e descartar o leite
Média
proveniente de vacas com mastite ou em tratamento com antibióticos.
AMT: Sistema de manutenção preventiva automatizada.
Perigos controlados ou detectados: Previne falhas de equipamentos que
podem causar sobrevivência de microrganismos na pasteurização e
presença de sujidades e fragmentos sólidos na filtração. Além disso, assegura
o correto funcionamento da válvula de desvio da pasteurização.
Características: Coletar automaticamente dados da produção, analisar esses
dados acompanhando os desgastes dos equipamentos, planejar e enviar
ordens de manutenção à produção e identificar e notificar falhas e quebras de
Alta
equipamentos ao pessoal de manutenção (filtro, pasteurizador, válvula desvio).
AMT: CEP automatizado
Perigos controlados ou detectados: Detecta e previne a possibilidade de
sobrevivência de microrganismos durante a pasteurização.
Características: Monitorar temperatura de pasteurização e analisar os dados,
buscando informações sobre os pontos / horários em que houver queda dessa
temperatura e realizar ajustes.
Alta
110
Lições aprendidas:
A folha de tarefa 8 mostrou-se bastante útil para a identificação de AMT. Observando-
se a síntese da Análise de Perigos, os AMT foram facilmente identificados através das
colunas
medidas preventivas, monitoramento e ações corretivas.
Além dos AMT apresentados no quadro 6.3, foram identificados
kits de testes rápidos
para monitoramento de antibióticos e mastite (CMT), que já são utilizados pela empresa (e
nesta dissertação não são considerados AMT), e registradores e controladores de
temperatura e válvula de desvio de leite não-pasteurizado, já existentes no processo de
pasteurização.
Apesar da facilidade na identificação, os AMT dificilmente serão aplicados na indústria
estudada, a curto ou médio prazo. O investimento nesses AMT seria bastante grande, uma
vez que seriam necessários, além dos
hardwares e softwares específicos para a
manutenção preventiva e CEP automatizado, toda a infra-estrutura para coleta e
transmissão de dados. Além disso, muitos outros investimentos na fábrica têm prioridade
maior do que a utilização desses AMT.
A aplicação do sistema de rastreabilidade esbarra em outras dificuldades, encontra-se
fora da área de atuação da fábrica e, atualmente, paga-se pouco pelo litro de leite, o que
desmotiva o produtor a investir em qualidade.
111
6.1.3.3. Fase 3: Síntese
Esta fase foi cumprida no mesmo encontro de priorização dos AMT (passo 2.2). Antes
do encontro, a facilitadora acrescentou os AMT identificados na fase 2 ao diagrama
operacional construído no passo 1.3. Observando-se o novo diagrama operacional e as
características dos AMT (folha de tarefa 10), o grupo de coordenação quantificou os novos
índices de ocorrência e detecção e, em seguida, calculou o novo NPR. O quadro 6.4 mostra
a folha de tarefa 11 preenchida com os novos índices de ocorrência e detecção e o novo
NPR.
Quadro 6.4
Folha de tarefa 11 preenchida – Verificação do novo NPR
Etapa Perigo Severidade Ocorrência Detecção Novo NPR
Presença de antibiótico 8
2 3 48
Análise
Presença de toxina
estafilocócica
8
2 3 48
Filtração
Presença de sujidades
e fragmentos sólidos
4
2 5 40
Pasteurização
Sobrevivência de
microrganismos
patogênicos
10
1 1 10
Lições aprendidas
Não houve dificuldades durante esta fase, pois os AMT já haviam sido discutidos na
fase anterior e os índices de ocorrência e detecção já haviam sido utilizados no passo 1.7.
112
6.1.3.4. Fase 4: Verificação
A folha de tarefa 12 foi preenchida pela equipe de coordenação no mesmo encontro
de priorização dos AMT e verificação do novo NPR, e está ilustrada no quadro 6.5.
Quadro 6.5 Folha de tarefa 12 preenchida – Verificação da melhoria na segurança alimentar
Etapa Perigo
NPR do processo
inicial
NPR do processo
com AMT
Melhoria na
segurança do
produto
Presença de
antibiótico
144 48 + 2
Análise
Presença de toxina
estafilocócica
72 48 + 1
Filtração
Presença de
sujidades e
fragmentos sólidos
84 40 + 2
Pasteurização
Sobrevivência de
microrganismos
patogênicos
60 10 + 2
Escala:
(Melhoria na segurança do produto)
-2 Fortemente Negativo; -1 Negativo; 0 Neutro; +1 Positivo; +2 Fortemente Positivo
Lições aprendidas
A verificação da melhoria de segurança do produto foi facilmente visualizada graças à
comparação numérica dos índices de risco (NPR).
113
6.1.4. Avaliação do método
Ao final de cada fase (1, 2, 3 e 4), foram aplicadas as fichas de avaliação da fase, e,
ao final de todo o processo, foi aplicada a ficha de avaliação do método.
O quadro 6.6 apresenta os percentuais obtidos em cada critério de avaliação.
Quadro 6.6 Avaliação das fases e do método
Fase/
Método
Critério
Muito
pouco (%)
Pouco
(%)
Médio
(%)
Bom
(%)
Muito bom
(%)
Factibilidade 6 27 67
Usabilidade 33 67
Fase 1
Utilidade 8 25 67
Factibilidade 25 75
Usabilidade 10 90
Fase 2
Utilidade 4 12 46 38
Factibilidade 15 85
Usabilidade 15 85
Fase 3
Utilidade 4 8 38 50
Factibilidade 15 85
Usabilidade 20 80
Fase 4
Utilidade 4 4 17 75
Factibilidade 30 70
Usabilidade 10 90
Método
Utilidade 12 12 76
A partir do quadro 6.6, pode ser observado que o método como um todo foi bem
avaliado nos critérios de factibilidade, usabilidade e utilidade.
Na fase 1, a factibilidade foi considerada média por 6% dos avaliadores devido aos
questionamentos sobre os perigos que deveriam ser listados no passo 1.4, considerando
que os objetivos desse item não foi bem esclarecido (Essa questão já foi discutida na
seção 6.1.3.1).
O critério utilidade apresentou algumas respostas nos campos
pouco e médio após a
fase 1, pois a empresa não tem intenção em investir em AMT no curto e médio prazo e,
portanto, não há utilidade em identificar AMT que pudessem suportar os perigos, embora
haja a preocupação com a qualidade. Além disso, um AMT identificado não se encontra
dentro da área de atuação da empresa.
114
O resultado dessa avaliação, tanto das fases quanto do método, está de acordo com a
percepção que a facilitadora teve durante a aplicação do método.
6.2. Refinamento do framework e processo através de entrevistas
O framework e processo desenvolvidos, apresentados no capítulo 5, foram refinados
através de entrevistas com especialistas.
6.2.1. Perfil dos entrevistados
Foram entrevistados 4 especialistas. As entrevistas tiveram tempo variável entre 50
minutos e 1 hora e 30 minutos.
Um entrevistado, especialista em gestão da qualidade de alimentos, atuava no
Controle de Qualidade de uma empresa de alimentos e os demais atuavam como docentes
na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), no Programa de Pós-Graduação
em Engenharia de Produção e Sistemas.
6.2.2. Condução das entrevistas
Para a condução das entrevistas, foi utilizada como referência uma lista de perguntas
semi-estruturadas, adaptada de Gouvêa da Costa (2003) e apresentada a seguir.
Objetivos do trabalho e processo:
o Relevância dos objetivos do trabalho: você acha relevantes os objetivos
do trabalho ?
o Compreensão dos objetivos: eles são claros ?
Lógica do processo:
o O processo possui uma estrutura lógica ?
o A visualização do processo: é possível compreender o processo a partir da
sua representação gráfica e visualização das suas fases, passos e folhas de
tarefas ?
Número de passos:
o O número de passos é muito grande? Você acha possível (factibilidade e
usabilidade) aplicar este processo em uma empresa?
115
o Estratégias para o preenchimento: você acha que as estratégias
escolhidas para o preenchimento das tabelas foram adequadas? (seminário,
entrevistas)
Tempo demandado
o O tempo demandado para o desenvolvimento do processo é razoável?
o O tempo demandado para o desenvolvimento do processo é compatível com
os resultados esperados?
Pessoas envolvidas
o O número de pessoas envolvidas é muito grande/ pequeno? É proporcional
aos temas tratados?
o O que você acha das pessoas cuja participação é recomendada em cada
fase / passo? Você acha que alguma área da empresa / especialidade não
foi lembrada?
Relação entre a profundidade e a superficialidade em certos temas
o Você considera que os temas foram tratados com a profundidade devida?
Existe alguma parte que você acha que foi tratada com excessivo detalhe?
Ou com excessiva superficialidade?
Avaliação do processo
o O que você acha dos critérios de avaliação definidos (factibilidade,
usabilidade e utilidade)?
o O que você acha do número de avaliações previstas?
o O que você acha dos momentos escolhidos para as avaliações?
Sugestão de novos entrevistados
o Quem você acha que poderia trazer boa contribuição para o refinamento do
processo, através de entrevista?
Pergunta aberta sobre considerações gerais
o Pergunta aberta para oportunizar que o entrevistado fizesse observações,
sugestões e críticas que não surgiram durante a entrevista
116
6.2.3. Principais contribuições
As principais contribuições provenientes das entrevistas estão listadas a seguir. As
melhorias efetuadas no
framework e no processo são apresentadas na seqüência.
Equipe de Análise de Perigos
Foi sugerida a participação de operadores da linha de produção em análise, uma
vez que, estando no dia-a-dia do processamento, conhecem muito bem o que pode
acontecer e por que ocorre, bem como o fluxograma do processo. O sucesso da estratégia
de seminários (com prévio preenchimento individual) e participação nas reuniões, durante a
fase 1, depende de uma boa escolha da equipe de Análise de Perigos, sendo imprescindível
que seja uma equipe multidisciplinar. É importante deixar claro que todos devem contribuir
igualmente, não existindo uma hierarquia de saberes, pois não existe uma única solução
correta para os problemas. Além disso, na fase de Análise de Perigos, é imprescindível que
os participantes tenham sido capacitados nos princípios APPCC.
Ainda com relação à equipe de análise de perigos, foi recomendado que a formação e
capacitação sejam realizadas na fase 0, antes do início da aplicação do processo.
Validação das folhas de tarefas preenchidas fora do seminário
Um entrevistado alertou que todas as folhas de tarefas preenchidas fora do seminário,
pelo facilitador ou grupo de operação, devem ser validadas pelo grupo de coordenação, em
seminário, antes de seguir para os próximos passos.
Fixar critérios para priorizar os AMT
É importante que os critérios de priorização dos AMT estejam explícitos no método, a
fim de evitar a subjetividade.
Melhorar a representação gráfica do processo
O processo pode ser visualizado com mais clareza quando os passos seguem uma
trajetória linear, de cima para baixo. Foi, então, sugerida uma reestrutração da
representação gráfica do processo.
Folha de tarefa para documentar características das medidas de monitoramento
É interessante documentar as características das medidas de monitoramento, que
foram listadas no mapa mental. Além disso, esta folha de tarefa pode servir de instrumento
para capturar informações úteis para o preenchimento da folha de tarefa de verificação do
NPR.
117
* Novo passo e nova folha de tarefa
** Passos e folhas de tarefas da antiga fase 3
*** Antiga fase 4
6.3. Processo refinado
Processo
alimentício
Proposta de
alimento seguro
Passo 1.2.
Constr. do diagrama
operacional
FT 2
Passo 1.1.
Descrição do
produto
Fase 1: Análise de Perigos
Passo 1.3.
Identif. de perigos e
causas
FT 3
Passo 1.5.
Medidas de monit.,
lim. crít., ação corr
FT 5
Passo 1.5.
Medidas de monit.,
lim. crít., ação corr
FT 5
Passo 1.4.
Identificação dos
PCC – Árvore dec.
FT 4
Passo 1.4.
Identificação dos
PCC – Árvore dec.
FT 4
FT 1
Passo 1.6. *
Características das
medidas de monit.
FT 6
Passo 1.6. *
Características das
medidas de monit.
FT 6
FT 8
Passo 1.8.
Síntese da Análise
de Perigos
FT 8
Passo 1.8.
Síntese da Análise
de Perigos
Passo 2.1.
AMT para os perigos
FT 9
Passo 2.1.
AMT para os perigos
FT 9
Fase 2: Seleção de AMT
Passo 1.7.
Verif. sever., ocorr. e
detecção (NPR)
FT 7
Passo 1.7.
Verif. sever., ocorr. e
detecção (NPR)
FT 7
Passo 2.3. **
Diagrama operac.
com AMT
Passo 2.4. *
Sistema de monitor.
com AMT
FT 11
Passo 2.4. *
Sistema de monitor.
com AMT
FT 11
Passo 2.2.
Características do
AMT
FT 10
Passo 2.2.
Características do
AMT
FT 10
Passo 2.5. **
Novo NPR
FT 12
Passo 2.5. **
Novo NPR
FT 12
Passo 3.1.
Verificação da
melhoria
FT 13
Passo 3.1.
Verificação da
melhoria
FT 13
Fase 3: Verificação ***
Passo 3.2.*
Lista ordenada de
AMT (pré-seleção)
FT 14
Passo 3.2.*
Lista ordenada de
AMT (pré-seleção)
FT 14
118
6.3.1. Fase 1: Análise de Perigos
As alterações da fase 1 consistem na eliminação do antigo passo 1.1, de formação da
equipe de análise de perigos, e incorporação de mais um passo e uma folha de tarefa com o
objetivo de documentar as características das medidas de monitoramento.
A formação e capacitação da equipe de análise de perigos deverão ser realizadas na
etapa 0, antes de iniciar o processo.
Foram adicionados um passo e uma folha de tarefa, para documentar as
características das medidas de monitoramento e auxiliar no preenchimento da folha de
tarefa referente à verificação do NPR (folha de tarefa 7 – nova numeração). A nova folha de
tarefa 6 está ilustrada no quadro a seguir (as folhas de tarefas e passos foram re-numerados
após a retirada do antigo passo 1.1.).
Quadro 6.7 Folha de tarefa 6 (nova) – Medidas de monitoramento
Medida de monitoramento
Perigo relacionado
Limite crítico
Ação corretiva
Quem mede? Instrumento?
Freqüência / Amostragem
Ocorrência de desvios (freq.)
Fonte: adaptado de Gouvêa da Costa (2003)
Medida de monitoramento: Identificar a medida de monitoramento
Perigo relacionado: Listar o perigo associado a esta medida de monitoramento
Limite crítico/ Ação corretiva: Listar o limite crítico para esta medida de monitoramento e
ações corretivas caso haja desvio do limite crítico.
Quem mede? Instrumento?: Identificar o responsável pela medição e qual o instrumento
utilizado.
Freqüência / Amostragem: Identificar qual a freqüência da medição e qual a amostragem
utilizada.
Ocorrência de desvios (freq.): Identificar com que freqüência os desvios ocorrem.
Os demais passos e folhas de tarefas da fase 1 não sofreram alterações de conteúdo,
somente de numeração.
119
6.3.2. Fase 2: Seleção de AMT
A nova fase 2 agrupou as antigas fases 2 e 3, recebeu novo passo e folha de tarefa e
uma alteração na folha de tarefa 10 – características dos AMT.
A antiga fase 3, de síntese, mostrou-se desconectada do processo e, através das
entrevistas e estudo de caso, verificou-se a possibilidade de unir as antigas fases 2 e 3
numa única fase, a nova fase 2.
Foram acrescentados um novo passo e folha de tarefa, semelhantes aos apresentados
na fase 1, com o objetivo de obter informações sobre as mudanças nas características das
medidas de monitoramento com a utilização dos AMT e auxiliar na verificação do novo NPR.
A nova folha de tarefa 11 está ilustrada no quadro 6.8.
Quadro 6.8
Folha de tarefa 11 (nova) – Medidas de monitoramento com AMT
Medida de monitoramento
Perigo relacionado
Limite crítico
Ação corretiva
Estado Inicial Com AMT
Quem mede? Instrumento?
Freqüência / Amostragem
Ocorrência de desvios (freq.)
Fonte: adaptado de Gouvêa da Costa (2003)
A folha de tarefa 10, características dos AMT, sofreu uma alteração, sendo eliminada a
coluna 1 da antiga folha de tarefa referente à priorização. Essa folha de tarefa contará
apenas com as características dos AMT. A priorização será feita no último passo do
processo (passo 3.2).
Quadro 6.9 Folha de tarefa 10 – AMT e suas características
AMT
(Entre com o AMT aqui)
(Entre com os perigos relacionados e as formas de controle esperadas aqui)
(Entre com as características aqui)
Fonte: adaptado de Gouvêa da Costa (2003)
120
6.3.3. Fase 3: Verificação
A nova fase 3 refere-se à antiga fase 4. Nesta nova fase, foram adicionados um passo
(passo 3.2) e uma folha de tarefa (FT 13), a fim de gerar uma lista ordenada de AMT.
A folha de tarefa 13 está ilustrada no quadro a seguir.
Quadro 6.10 Folha de tarefa 13 – Lista ordenada de AMT
Prioridade AMT
(Entre com o AMT aqui)
(Entre com os perigos relacionados e as formas de controle esperadas aqui)
(Entre com as características aqui)
(Entre com o AMT aqui)
(Entre com os perigos relacionados e as formas de controle esperadas aqui)
(Entre com as características aqui)
Fonte: adaptado de Gouvêa da Costa (2003)
As informações da segunda coluna da folha de tarefa 13 são provenientes da folha de
tarefa 10 e a priorização deve ser feita da seguinte forma:
1. o AMT de maior prioridade será aquele associado ao perigo que apresenta
maior número de prioridade de risco inicial (NPR); caso haja mais de um perigo
associado ao mesmo AMT, prevalece o perigo de maior NPR inicial;
2. em caso de perigos com mesmo NPR inicial, o critério de desempate será o
número de perigos associados ao mesmo AMT. O AMT que apresentar maior
número de perigos associados terá maior prioridade;
121
3. se ainda assim não for suficiente, deverá ser considerada a redução do NPR
(NPR inicial – novo NPR). O AMT que estiver associado ao perigo que sofreu
maior redução do NPR terá maior prioridade.
6.4. Conclusões
O estudo de caso, utilizando-se o método de pesquisa-ação, mostrou-se válido e
eficiente para o teste e refinamento do
framework proposto e do processo de
operacionalização.
Comprovando a percepção positiva que a facilitadora teve no emprego do método, o
resultado da avaliação demonstrou que o
framework proposto e o processo de
operacionalização são factíveis, usáveis e úteis. Esse último critério foi mais bem avaliado
na fase 1, onde são analisados os perigos, devido à importância da segurança alimentar
para as indústrias de alimentos que, como já descrito, é uma exigência legal. Nas demais
fases, apesar de a utilidade ter sido bem avaliada, existem várias barreiras que impedem
que os resultados obtidos sejam utilizados (custos dos equipamentos, infra-estrutura da
fábrica, baixa prioridade em adotar AMT, limites da fábrica).
Entre os pontos positivos do método, destaca-se a participação do engenheiro de
processo, responsável pela manutenção dos equipamentos da fábrica, em todas as fases do
processo, contribuindo para a conscientização da importância da atividade de manutenção
para a segurança do produto.
O processo, após o estudo de caso, permaneceu com a lógica inicial, sendo sugeridas
modificações na folha de tarefa 4: utilização de uma folha de tarefa para cada tipo de perigo
(biológico, físico e químico) e eliminação da questão 1 da árvore decisória.
As entrevistas com especialistas trouxeram grandes contribuições ao processo de
operacionalização, que passou por melhorias de representação gráfica, alteração de folha
de tarefa e incorporação de passos e folhas de tarefas.
122
7
Conclusões e continuidade do trabalho
"A Máxima consiste em um mínimo de palavras e um máximo de significados."
(Mark Twain)
Este capítulo evidencia as conclusões sobre os resultados encontrados na dissertação,
assim como as limitações, e propõe trabalhos futuros.
7.1. Considerações em relação aos objetivos propostos
Podem-se fazer as seguintes considerações, em relação aos objetivos declarados na
dissertação:
“Avaliar os princípios do sistema APPCC e o framework de seleção de AMT”
O capítulo 3 apresentou a revisão da literatura, onde foi analisada a utilidade dos
princípios e etapas de implantação do sistema APPCC, bem como do
framework de seleção
de AMT, para a garantia da segurança alimentar.
O APPCC foi concebido para garantir a segurança dos alimentos, baseado no método
FMEA, não deixando dúvidas de que esse sistema é de grande valia para a segurança
alimentar.
A aplicação de AMT apresenta inúmeros benefícios para as empresas, sendo que nas
indústrias de alimentos o benefício mais importante, revelado por uma pesquisa canadense, é
a garantia de segurança alimentar.
Assim, identificou-se a possibilidade de aumentar a garantia de segurança alimentar
aplicando-se AMT, associado ao uso dos princípios do sistema APPCC.
“Avaliar uma base de dados de AMT associados à indústria de alimentos”.
Ainda no capítulo 3, foi apresentada uma base de dados de AMT específica para
indústrias de alimentos, utilizada em uma pesquisa canadense. Alguns AMT apresentados
ainda não são realidade no Brasil; no entanto, como não foi encontrada na literatura uma
123
base nacional equivalente, a base de dados canadense foi utilizada como referência nesta
dissertação.
A base de dados utilizada foi apresentada por Baldwin
et al. (1999) e classifica os AMT
pela funcionalidade, dividindo-os em nove grupos: (1) processamento, (2) controle de
processo, (3) controle de qualidade, (4) armazenamento e distribuição, (5) sistemas de
gerenciamento e comunicação, (6) preparação de materiais e manuseio, (7) pré-
processamento, (8) embalagem, e (9) desenvolvimento e engenharia.
“Propor um framework de garantia de segurança alimentar”
O framework proposto mostra, de forma gráfica, que a segurança alimentar, exigida
pelo mercado (clientes e consumidores) e pela legislação, prescreve a utilização dos
princípios do sistema APPCC e pode ser alcançada, em um nível mais alto, através da
utilização de AMT capazes de prevenir, monitorar ou controlar perigos.
Os AMT, portanto, podem auxiliar no aumento da garantia de segurança alimentar e
podem ser selecionados a partir de uma análise de perigos, baseada nos princípios do
sistema APPCC.
O
framework foi apresentado no capítulo 5 e teve como referência argumentos
levantados na revisão da literatura.
“Construir um processo de operacionalização do framework proposto”
A partir do framework proposto, foi desenvolvido um processo passo-a-passo para
operacionalizá-lo. O processo apresenta características do método de abordagem por
processo de Platts (1993), e foi descrito no capítulo 5. O processo leva a uma pré-seleção de
AMT, capazes de aumentar a garantia de segurança alimentar.
O processo de operacionalização proporciona, além da lógica para a análise de
perigos, seleção de AMT e verificação da melhoria da garantia de segurança alimentar,
instrumentos que conduzem estas fases. Inicialmente, o processo foi estruturado em 4 fases
contendo 13 passos a serem seguidos e 12 folhas de tarefas a serem preenchidas.
“Testar e refinar o framework e o processo de operacionalização”
O framework e seu processo de operacionalização foram testados e refinados em uma
indústria de laticínios, na linha de processamento de leite fluido pasteurizado. O processo foi
conduzido utilizando-se a técnica de pesquisa-ação e mostrou-se factível, usável e útil. Ou
seja, pôde ser seguido, foi fácil de ser seguido e apresentou passos úteis para a análise de
perigos, seleção de AMT e verificação da melhoria da segurança alimentar. Com o estudo de
caso foi possível observar a dinâmica do processo dentro de uma empresa real, o que
propiciou muitos aprendizados, como a importância da clareza no estabelecimento dos
124
objetivos, ajustes nas folhas de tarefas, validade de índices quantitativos, além de aumentar o
conhecimento e consciência dos participantes sobre os temas envolvidos.
A fim de refinar ainda mais o processo, foram conduzidas entrevistas com especialistas
em gestão da qualidade de alimentos e em desenvolvimento de processos baseado na
abordagem por processos. As entrevistas trouxeram importantes contribuições, possibilitando
melhorias nos aspectos relacionados à representação gráfica do
framework, critérios para
priorizar os AMT, documentação das características das medidas de monitoramento,
validação das folhas de tarefas e importância da equipe multidisciplinar na fase de Análise de
Perigos.
Os resultados do teste com estudo de caso, contribuições de entrevistas e o
refinamento do
framework e processo de operacionalização foram expostos no capítulo 6.
Considera-se, assim, atingido o objetivo central da dissertação:
Desenvolvimento e refinamento de um
framework e um processo que o operacionalize,
para garantir a segurança de produtos alimentícios através de AMT apropriados e em pontos
específicos, determinados por uma análise de perigos, baseada no sistema APPCC – Análise
de Perigos e Pontos Críticos de Controle.
125
7.2. Contribuições
O trabalho traz as seguintes contribuições:
Possibilita o aumento da garantia de segurança alimentar, pois:
o propõe um framework que agrega os benefícios dos AMT aos dos
princípios do APPCC;
o apresenta um processo instrumentalizado que operacionaliza o
framework.
Possibilita a disseminação dos benefícios dos AMT para as indústrias de
alimentos.
Utiliza a abordagem por processos e a apresenta como instrumento
metodológico importante nos estudos de desenvolvimento de sistemas de
qualidade.
Introduz um índice quantitativo no sistema APPCC (puramente qualitativo),
possibilitando priorizarem-se os perigos e verificar melhorias na garantia de
segurança alimentar.
Auxilia as empresas a encontrar os pontos de maior risco à segurança alimentar
e a decidir quais tecnologias devem ser utilizadas.
Dispõe, para as empresas fornecedoras de equipamento e integradoras de
sistemas, uma ferramenta para encontrar soluções mais adequadas aos anseios
de garantia de segurança alimentar de seus clientes, diferenciando-se dos seus
concorrentes, que propõem “pacotes” que não correspondem às reais
necessidades das empresas.
126
7.3. Limitações do estudo
O processo desenvolvido não leva a uma seleção final de AMT e sim a uma pré-
seleção;
No quadro de funcionários de indústrias de alimentos raramente se encontram
profissionais preparados para responder às questões relativas a AMT;
Não é possível ser conclusivo sobre a qualidade (factibilidade, usabilidade e utilidade)
do método, uma vez que foi conduzido apenas um caso. No entanto, a dissertação
está apoiada na lógica de trabalhos já testados e validados e possui um sólido
embasamento metodológico, constituído pelo estudo de caso, abordagem por
processos e pesquisa-ação, esperando-se assim que os resultados da aplicação de
outros casos sejam satisfatórios. Além disso, as entrevistas com especialistas
trouxeram grandes contribuições, tornando o processo mais refinado;
Não pode ser conclusivo sobre a generalidade do método no que diz respeito a outros
setores da indústria de alimentos, e outros pontos da cadeia produtiva (produção de
matérias-primas, transporte, comercialização), sendo necessário conduzir mais casos,
incluindo outros setores e pontos da cadeia produtiva;
A dissertação cobriu os estágios 1 e 2 da metodologia proposta por Platts (1993) –
criação, teste e refinamento do processo, não sendo realizado o estágio 3, de
investigação da extensão da aplicabilidade do processo, já que o processo deve
passar por mais testes e refinamentos.
127
7.4. Continuidade do trabalho
Conduzir pelo menos mais 5 casos, sendo mais dois de refinamento e 3 de validação.
O refinamento tem por objetivo modificar os instrumentos à medida que se tem a
realimentação; e a validação, validar o instrumento na forma em que ele se encontra.
Ampliar o framework, para que incorpore a análise dos AMT nas prioridades
competitivas e nas áreas de decisão, bem como a aderência dos AMT à estratégia da
manufatura, como propõe Gouvêa da Costa (2003).
Acrescentar ao framework uma análise para identificar o nível de automação mais
apropriado para a empresa, verificando o impacto dos diversos níveis de automação
no NPR de cada perigo.
Desenvolver uma base de dados de AMT para a indústria de alimentos de acordo com
a realidade do Brasil.
Reavaliar e aprimorar os critérios para os índices de severidade, ocorrência e
detecção, utilizados no cálculo do NPR.
128
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133
Apêndice A
Surtos de DTA segundo grupos de alimentos envolvidos
Fonte: Secretaria de Estado da Saúde do Paraná (Atualizado em 16/10/2002)
134
Apêndice B
Fatores intrínsecos e extrínsecos que controlam o desenvolvimento
microbiano nos alimentos
B.1. Fatores intrínsecos
Entre os fatores intrínsecos que controlam o desenvolvimento microbiano nos alimentos
estão atividade de água (Aa), acidez (pH), potencial de oxi-redução (Eh), composição química
e presença de fatores antimicrobianos naturais.
Atividade de água (Aa):
A água é utilizada para o crescimento dos microorganismos de duas formas: como
solvente de nutrientes, que permite seu transporte e disponibilidade no citoplasma; e como
agente químico, nas reações hidrolíticas que disponibilizam monômeros (aminoácidos,
açúcares e ácidos graxos), necessários para a síntese microbiana e para as reações
energéticas (BOURGEOIS
et al., 1994).
Esta água, no entanto, deve estar na forma disponível. Se a água estiver ligada a
macromoléculas por forças físicas, ela não estará livre para agir como solvente ou para
participar de reações químicas, portanto, não poderá ser aproveitada pelos microorganismos
(FRANCO e LANDGRAF, 2003).
A atividade da água é o parâmetro que mede a disponibilidade de água em um alimento
e é definida como sendo a relação existente entre a pressão parcial de vapor de água
contida no alimento (P) e a pressão parcial da água pura (P
o
), a uma dada temperatura: Aa =
P/P
o
(FRANCO e LANDGRAF, 2003).
Os microorganismos têm um valor mínimo, um valor máximo e um valor ótimo de Aa
para a sua multiplicação. Considerando-se que a Aa da água pura é 1,00 e que os
microorganismos não se multiplicam em água pura, o limite máximo para o crescimento
microbiano é ligeiramente inferior a 1,00. Os valores mínimos de Aa são menores para os
bolores, que necessitam de uma Aa mínima de 0,8, e os bolores xerofílicos de 0,6; leveduras
necessitam no mínimo 0,85 de Aa, e as leveduras osmofílicas, 0,6 a 0,7; as bactérias são as
mais exigentes, necessitando de uma Aa mínima de 0,9 para as bactérias gram-positivas e
0,93 para as bactérias gram-negativas, com exceção do
Staphylococcus aureus, com 0,85 e
bactérias halofílicas, com 0,75 (FRANCO e LANDGRAF, 2003 e RAY, 1996).
135
A maioria dos produtos frescos, como as frutas, verduras, carnes, leite e pescados
apresentam Aa superior a 0,95. Todos esses alimentos, portanto, são favoráveis ao
crescimento microbiano.
Acidez (pH)
pH indica a concentração de íons hidrogênio no sistema e é expresso como -log [H
+
], o
logaritmo negativo da concentração de íons hidrogênio ou prótons. Ele varia de 0 a 14, com 7
sendo o pH neutro. A acidez está inversamente relacionada com o pH, portanto, um sistema
com alta acidez possui um baixo pH e vice-versa (RAY, 1996).
A ação do pH sobre o crescimento dos microorganismos pode situar-se em três níveis
(BOURGEOIS
et al., 1994):
- o meio: a disponibilidade de certos nutrientes no meio de cultivo sofre modificações
em função do equilíbrio iônico. Em pH ácido, por exemplo, os íons de magnésio formam
complexos insolúveis; e em pH básico, isto ocorre com os íons de zinco, cálcio e ferro;
- a permeabilidade da membrana: em meios ácidos, as permeases catiônicas se
saturam de íons hidrogênio [H
+
], o que limita ou anula o transporte de cátions indispensáveis;
em meios alcalinos, são os íons hidroxila [OH
-
] que saturam a membrana, impedindo a
transferência de ânions;
- a atividade metabólica: as reações enzimáticas possuem um pH ótimo de atividade e
toda variação de pH resulta na diminuição da atividade enzimática e, portanto, do
crescimento microbiano.
De acordo com Franco e Landgraf (2003), assim como ocorre com a atividade de água,
os microorganismos têm valores de pH mínimo, ótimo e máximo, para sua multiplicação.
Verifica-se que pH em torno da neutralidade (6,5 e 7,5) é o mais favorável para a maioria dos
microorganismos. Alguns microorganismos são favorecidos pelo meio ácido, como ocorre
com as bactérias láticas. Os bolores e leveduras mostram maior tolerância ao pH, sendo que
os bolores podem multiplicar-se em valores de pH mais baixos que as leveduras, sendo estas
mais tolerantes que as bactérias a valores baixos de pH. Entre as bactérias, verifica-se que
as patogênicas são as mais exigentes em termos de pH.
De acordo com o pH, os alimentos são subdivididos em três grandes grupos: os
alimentos de baixa acidez, que têm pH superior a 4,5; os alimentos ácidos, que têm pH entre
4,0 e 4,5; e os alimentos muito ácidos, que têm pH inferior a 4,0. Esta classificação está
baseada no pH mínimo para a multiplicação e produção de toxina de
Clostridium botulinum
(4,5) e no pH mínimo para a multiplicação da grande maioria das bactérias (4,0). Desta forma,
alimentos de baixa acidez (pH > 4,5) são os mais sujeitos a multiplicação microbiana, tanto
de espécies patogênicas quanto de espécies deteriorantes. Já nos alimentos ácidos (pH entre
4,0 e 4,5), há predominância do crescimento de leveduras, bolores e algumas poucas
136
espécies bacterianas, principalmente bactérias láticas, e algumas espécies de Bacillus. Nos
alimentos muito ácidos (pH < 4,0), o desenvolvimento microbiano fica restrito quase que
exclusivamente a bolores e leveduras (FRANCO e LANDGRAF, 2003).
Potencial de oxi-redução (Eh)
O potencial de oxi-redução (expresso pelo símbolo Eh) pode ser definido como sendo a
facilidade com que determinado substrato ganha ou perde elétrons em processos de
oxidação e redução, relacionados com a troca de elétrons entre compostos químicos. Quando
um elemento perde elétron, ele é dito oxidado, e quando ganha elétrons, reduzido. Quando
ocorre a transferência de elétrons de um composto para outro, estabelece-se uma diferença
de potencial entre os mesmos, a qual pode ser medida com instrumentos apropriados, sendo
expressa em volts (V) ou em milivolts (mV). Quanto mais oxidado é um composto, mais
positivo é seu potencial de oxi-redução, e quanto mais reduzido é um composto, mais
negativo é esse potencial (FRANCO e LANDGRAF, 2003).
Meios que contenham substâncias fortemente hidrogenadas, radicais -SH, açúcares
redutores e outros compostos, como o ácido ascórbico e tocoferóis, serão redutores
(BOURGEOIS
et al, 1994). Se oxigênio livre (atmosférico) estiver presente no sistema, seja
na superfície (carnes) como no interior (vegetais, graças aos parênquimas lacunosos e
estômatos), então ele pode atuar como um receptor de elétrons, fazendo com que o produto
tenha um Eh positivo (RAY, 1996 e BOURGEOIS
et al, 1994).
Crescimento dos microorganismos e reações metabólicas específicas para geração de
energia são extremamente dependentes do potencial de oxi-redução dos alimentos. O
potencial de oxi-redução (Eh) pode atuar sobre o equilíbrio (sentido) de muitas reações
importantes para o metabolismo dos microorganismos. Um Eh fortemente positivo favorece
as reações no sentido da oxidação e um Eh negativo pode inibir ou até mesmo provocar uma
inversão do ciclo (RAY, 1996 e BOURGEOIS
et al, 1994).
O oxigênio influi sobre o valor de Eh do meio, e também pode ser utilizado por alguns
microorganismos como receptor final dos elétrons, através da respiração aeróbica
(BOURGEOIS
et al, 1994).
Os microorganismos se classificam em três grupos, em função de suas exigências de
oxigênio e/ou sua toxidade ao mesmo. Para cada um desses grupos, existe uma faixa de Eh
na qual os microorganismos podem se desenvolver:
microorganismos aeróbios, requerem
Eh entre +500 e +300 mV e estão incluídas neste grupo a maioria dos bolores, as leveduras
oxidativas e muitas bactérias, principalmente as causadoras de deterioração dos alimentos e
algumas espécies de bactérias patogênicas, como
Bacillus cereus; microorganismos
aeróbios facultativos,
requerem Eh entre +300 e -100 mV e constituem os microorganismos
que podem se desenvolver tanto na presença quanto na ausência de oxigênio, como as
137
enterobactérias; microorganismos anaeróbios estritos, requerem Eh entre +100 e -250mV
e estão incluídas neste grupo bactérias patogênicas, sendo
Clostridium a mais importante, e
bactérias deteriorantes. (BOURGEOIS
et al, 1994, RAY, 1996 e FRANCO e LANDGRAF,
2003).
Nos alimentos, o potencial de oxi-redução é influenciado pela composição,
processamento e condições de armazenamento (RAY, 1996). De modo geral, alimentos de
origem vegetal têm valores de Eh entre +400 e +300mV, sendo afetados pela deterioração
por bactérias aeróbias e bolores. Carnes em grandes pedaços têm Eh em torno de -200mV,
enquanto que, nas moídas, o valor de Eh pode subir para até +200mV. Queijos têm valores
de Eh bastante variáveis, dependendo das condições de fabricação, podendo apresentar Eh
entre -20 e -200mV (FRANCO e LANDGRAF, 2003). O leite apresenta Eh entre +100mV e
+200mV.
Composição química
Segundo Franco e Landgraf (2003), para que a multiplicação microbiana seja possível,
os seguintes nutrientes devem estar disponíveis: água, fonte de energia, fonte de nitrogênio,
vitaminas e sais minerais.
Como fonte de energia, os microorganismos são capazes de utilizar açúcares
complexos, álcoois e aminoácidos. Alguns microorganismos são capazes de utilizar açúcares
complexos, como amido e celulose como fonte de energia, transformando-os em açúcares
simples. Lipídios também podem servir de fonte de energia, mas esses compostos são
metabolizados por um número reduzido de microorganismos encontrados nos alimentos.
As fontes de nitrogênio mais importantes para os microorganismos são os aminoácidos,
mas grande variedade de outros compostos nitrogenados também pode ser utilizada.
As vitaminas são importantes fatores de crescimento de microorganismos, uma vez que
fazem parte de diversas coenzimas envolvidas em várias reações metabólicas. Entre as
vitaminas, as mais importantes são as do complexo B, a biotina e o ácido pantotênico.
Embora necessários em quantidades muito reduzidas, os minerais são indispensáveis
para a multiplicação microbiana, pois estão envolvidos em muitas reações enzimáticas. Entre
esses minerais, merecem destaque o sódio, o potássio, o cálcio e o magnésio. Outros, como
ferro, cobre, manganês, molibdênio, zinco, cobalto, fósforo e enxofre podem ser igualmente
importantes.
As bactérias são os microorganismos mais exigentes quanto aos nutrientes para a
multiplicação, seguidas pelas leveduras e mofos. Em geral, os produtos alimentícios contêm
todos os nutrientes necessários para o desenvolvimento dos microorganismos. As diferentes
composições dos produtos alimentícios, no entanto, terão um efeito seletivo sobre a flora
microbiana, que irá se multiplicar (RAY, 1996 e BOURGEOIS
et al, 1994).
138
Fatores antimicrobianos naturais
A estabilidade de alguns alimentos frente ao ataque de microorganismos, segundo
Franco e Landgraf (2003), é devida à presença de algumas substâncias naturalmente
presentes nesses alimentos, tendo a capacidade de retardar ou mesmo impedir a
multiplicação microbiana.
O leite proveniente de vacas contém numerosas substâncias antimicrobianas naturais,
como imunoglobulina, os macrófagos e linfócitos. A lactoferrina no leite tem também atividade
antimicrobiana. Trata-se de uma proteína que inibe a multiplicação, através da retirada de
íons ferro do leite. Outras substâncias, como a lisozina, naturalmente presente no leite,
também são importantes no controle do desenvolvimento microbiano (FRANCO e
LANDGRAF, 2003).
Entre os fatores antimicrobianos naturais, devem ser incluídas as estruturas biológicas
que funcionam como barreiras mecânicas para a penetração de microorganismos. Nessa
categoria, estão a casca de nozes, das frutas, ovos, a pele dos animais e a película que
envolve as sementes (FRANCO e LANDGRAF, 2003).
Além dos fatores antimicrobianos naturalmente presentes nos alimentos, têm
importante papel os compostos químicos propositalmente adicionados aos alimentos
(conservadores), como recurso tecnológico para estender sua vida útil (FRANCO e
LANDGRAF, 2003).
B.2. Fatores extrínsecos
Entre os fatores extrínsecos mais importantes, que controlam o desenvolvimento
microbiano nos alimentos, estão umidade, temperatura ambiental e composição química da
atmosfera que envolve o alimento.
Temperatura ambiental
O fator ambiental mais importante que afeta a multiplicação de microorganismos é a
temperatura (FRANCO e LANDGRAF, 2003).
A temperatura determina o estado físico da água em um determinado meio e, portanto,
sua maior ou menor disponibilidade para o crescimento de microorganismos. O congelamento
e a ebulição diminuem a fração líquida, o que leva a alterações celulares (BOURGEOIS
et al,
1994).
A temperatura atua também sobre a velocidade de reações químicas e bioquímicas
(principalmente reações enzimáticas), responsáveis pela multiplicação microbiana. A cada
aumento de 10°C na temperatura, dentro da faixa de reação, a taxa das reações enzimáticas
139
duplica. Do mesmo modo, a taxa de reação enzimática é reduzida à metade pelo decréscimo
da temperatura em 10°C (BOURGEOIS
et al, 1994 e RAY, 1996).
Os microorganismos podem multiplicar-se em uma faixa bastante ampla de
temperatura, e podem ser classificados, de acordo com a temperatura ideal de multiplicação,
em quatro grupos (FRANCO e LANDGRAF, 2003):
- microorganismos psicrófilos, que têm a temperatura de multiplicação entre 0°C e
20°C, com um ótimo entre 10°C e 15°C;
- microorganismos psicrotróficos, que têm capacidade de se desenvolver entre 0°C e
7°C. Os microorganismos psicrófilos e psicrotróficos multiplicam-se bem em alimentos
refrigerados, sendo os principais agentes de deterioração de carnes, pescados, ovos e leite;
- microorganismos mesófilos, que têm temperatura ótima de multiplicação entre 25°C e
40°C, mínima entre 5°C e 25°C e máxima entre 40°C e 50°C. Este grupo corresponde à
grande maioria dos microorganismos de importância em alimentos, inclusive a maior parte
dos patógenos de interesse;
- microorganismos termófilos, que têm temperatura ótima de multiplicação entre 45°C e
65°C, mínima entre 35°C e 45°C, e máxima entre 60°C e 90°C. A maioria das bactérias deste
grupo, importantes em alimentos, pertence aos gêneros
Bacillus e Clostridium, incluindo tanto
espécies deteriorantes quanto espécies patogênicas.
Os fungos são capazes de crescer em faixa de temperatura mais ampla do que as
bactérias. Muitos fungos são capazes de se multiplicar em alimentos refrigerados. As
leveduras, por sua vez, não toleram bem temperaturas altas, preferindo as faixas mesófila e
psicrófila (FRANCO e LANDGRAF, 2003).
Os alimentos são expostos a diferentes temperaturas, desde a produção até o
consumo. Dependendo das condições de processamento, o alimento pode ser submetido a
altas temperaturas, entre 60°C e 65°C, ou mais de 100°C, no processamento de ultra-alta
temperatura. Durante o armazenamento, o alimento pode ser mantido a 5°C, sob
refrigeração; ou a -20°C, sob congelamento. Alguns alimentos estáveis podem ser mantidos
em temperaturas entre 10°C e 35°C, em temperatura ambiente.(RAY, 1996).
Umidade relativa do ambiente
Há uma correlação estreita entre a atividade de água (Aa) de um alimento e a umidade
relativa de equilíbrio do ambiente. Quando o alimento está em equilíbrio com a atmosfera, a
umidade relativa (UR) é igual a Aa
× 100. Assim, alimentos conservados em ambiente com
UR superior à sua Aa tenderão a absorver umidade do ambiente, causando um aumento em
sua Aa. Por outro lado, os alimentos perderão água se a umidade ambiental for inferior à sua
Aa, causando uma diminuição nesse valor. Essas alterações provocarão modificações na
140
capacidade de multiplicação dos microorganismos presentes, que será determinada pela Aa
final, conforme discutido anteriormente (FRANCO e LANDGRAF, 2003).
Composição gasosa do ambiente
A composição gasosa do ambiente que envolve o alimento pode determinar os tipos de
microorganismos que poderão nele predominar. A presença de oxigênio favorecerá a
multiplicação de microorganismos aeróbios, enquanto que sua ausência causará
predominância dos anaeróbios, embora haja bastante variação na sensibilidade dos
anaeróbios ao oxigênio. Portanto, modificações na composição gasosa são capazes de
causar alterações na microbiota que sobrevive ou que se multiplica em determinado alimento
(FRANCO e LANDGRAF, 2003).
141
Apêndice C
Controle do desenvolvimento microbiano nos alimentos
No contexto desta dissertação, as formas de controle do desenvolvimento microbiano
nos alimentos mais importantes são limpeza e desinfecção, remoção por centrifugação, uso
de temperaturas elevadas e de baixas temperaturas.
Limpeza e desinfecção
O principal objetivo da limpeza e desinfecção, de acordo com Ray (1996), é minimizar o
acesso dos microorganismos no alimento, em todos os estágios de manipulação.
A limpeza e desinfecção adequadas auxiliam a redução da carga microbiana a níveis
desejáveis no produto processado. Baixa quantidade de microorganismos no leite cru, por
exemplo, produzido num ambiente limpo e desinfetado, possibilita facilmente a produção de
leite pasteurizado de acordo com padrões microbiológicos (RAY, 1996). Além disso, diz Ray
(1996), a adequada limpeza e desinfecção ajudam a produzir alimentos que, quando
adequadamente manipulados e armazenados, terão uma longa vida-de-prateleira (
shelf life).
E mais do que isto, acrescenta Ray (1996), ajudam a reduzir a incidência de toxinfecções
alimentares.
Em geral, o acesso dos microorganismos no alimento pode ocorrer de três formas
(BOURGEOIS
et al, 1994):
- pelo material em contato com o alimento (superfícies e equipamentos), que pode ser
minimizado realizando-se a limpeza e desinfecção do material com produtos desinfetantes e
ação mecânica;
- pelo ar, que pode ser reduzido mediante meios físicos, como utilização de radiações
ultravioleta, filtração e calor, ou meio químicos, como aplicação de aerossol e nebulização ou
pulverização com produtos desinfetantes;
- pelo manipulador, que pode minimizar o acesso dos microorganismos nos alimentos
mantendo as mãos e botas sempre limpas e desinfetadas.
A ação dos produtos desinfetantes ocorre em duas fases: na primeira, produz uma
inibição momentânea da multiplicação celular, com efeito bacteriostático; e, na segunda fase,
produz a morte das células, com efeito bactericida (BOURGEOIS
et al,, 1994).
Inicialmente, ocorre a fixação do desinfetante na parede bacteriana. Em seguida, o
desinfetante penetra através da parede celular e da membrana e pode atuar de duas formas:
142
- alterando a membrana citoplasmática, provocando uma desorganização do
metabolismo (equilíbrio osmótico e permeabilidade celular), saída de substâncias,
degeneração celular e, por último, a morte.
- ou desnaturando as proteínas enzimáticas que se encontram no citoplasma e
controlam uma infinidade de reações do metabolismo celular. A morte dos microorganismos
se dá pelas alterações irreversíveis nessas enzimas.
Controle dos microorganismos por remoção
A remoção de microorganismos presentes pode ser realizada pelos processos de
lavagem, centrifugação e filtração (FRANCO e LANDGRAF, 2003).
A centrifugação, utilizada na indústria de leite, retira partículas em suspensão e, em alta
velocidade, remove a maioria dos esporos.
Conservação pelo emprego de altas temperaturas
O conceito de altas temperaturas na conservação de alimentos está fundamentado nos
efeitos deletérios que o calor tem sobre os microorganismos. Temperaturas elevadas causam
a desnaturação de proteínas e a inativação de enzimas necessárias ao metabolismo
microbiano (FRANCO e LANDGRAF, 2003).
Existem duas categorias de tratamento térmico:
- pasteurização, que tem por finalidade a destruição de todos os microorganismos
causadores de doenças e a destruição ou redução do número de microorganismos
deteriorantes;
- esterilização, que significa a destruição de todas as células viáveis que possam ser
enumeradas por técnica apropriada de semeadura. Em alimentos, emprega-se o termo
“esterilização comercial” para indicar que nenhum microorganismo viável pode ser detectado
pelos métodos usuais de semeadura, ou, ainda, que o número de sobreviventes é tão baixo
que nessas condições de envase e armazenamento é insignificante.
Controle do desenvolvimento microbiano pelo emprego de baixas temperaturas
O principal objetivo microbiológico da preservação de alimentos a baixas temperaturas
é evitar ou reduzir a multiplicação de microorganismos. Baixa temperatura também reduz ou
evita a atividade enzimática e a germinação de esporos (RAY, 1996).
A atividade metabólica, as reações enzimáticas e a taxa de multiplicação dos
microorganismos são máximas na temperatura ótima de crescimento. Conforme a
temperatura diminui, a atividade microbiana relacionada à multiplicação também diminui.
Normalmente, o tempo de geração dobra a cada redução de 10°C na temperatura. Nas faixas
143
de temperatura mais baixas, o tempo de geração pode ser ainda maior que o dobro para
cada redução de 10°C na temperatura (RAY, 1996).
O controle do desenvolvimento microbiano pelo emprego de baixas temperaturas pode
ser realizado através da refrigeração ou congelamento. A temperatura de refrigeração é
aquela situada entre a faixa de 0° a 7°C, e, a de congelamento, abaixo de -18°C. Nessa
temperatura, praticamente cessa o crescimento de todos os microorganismos, com raras
exceções, que o realizam em velocidade extremamente baixa (FRANCO e LANDGRAF,
2003).
A temperatura mínima de crescimento para a maioria dos microorganismos está ao
redor de 10°C. Assim, os mesófilos não representam problema em alimentos sob
refrigeração, pois não se desenvolvem nessa temperatura. No entanto, alguns
microorganismos causadores de doenças de origem alimentar são capazes de se
desenvolver ou produzir toxinas em temperaturas de refrigeração (microorganismos
psicrotróficos), sendo possível seu crescimento até 4,4°C. A
Yersinia enterocolitica, Listeria
monocytogenes
e Clostridium botulinum tipo E são alguns exemplos (FRANCO e
LANDGRAF, 2003).
144
Apêndice D
Cronograma do projeto
Empresa ___________________________________ - CRONOGRAMA DE ATIVIDADES
PASSO
DATA
SUGERIDA
HORÁRIO ENVOLVIDOS
TEMPO
PREVISTO
OBSERVA-
ÇÕES
145
Apêndice E
Fichas de avaliação do processo
E.1. Folha de anotação do facilitador
ESTUDO DE CASO: _______________________________________________
Fase: _______________________________________________
Passo: _______________________________________________
Horário de início e término: _______________________________________________
Tempo previsto / real: _______________________________________________
Data do encontro: _______________________________________________
Presentes: __________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Objetivos
Quais passos do processo estavam previstos para serem trabalhados no encontro ?
Quais passos do processo foram efetivamente cobertos no encontro ?
Participação
Liste as pessoas que chegaram tarde e/ou saíram cedo.
Quais foram os principais participantes ?
Alguma(s) pessoa(s) tendeu (tenderam) a dominar o encontro, em termos de participação ou
das conclusões ? Quem, de que forma e por quê ?
146
Estrutura do processo
A composição do grupo foi adequada ? Quem (ou representante de que área(s)) faltou e
quem não precisaria estar presente ?
Os participantes conseguiram acompanhar o desenrolar das atividades ? Conseguiam fazer
relações entre as fases / passos anteriores e os que estavam sendo desenvolvidos ?
Em algum momento, o processo desviou-se dos objetivos ? Por quê ?
Houve fases de longo silêncio durante o processo ? O que era tratado e quem o quebrou ?
Foi muito difícil a obtenção de consenso ? Quanto dificil ?
Há alguma melhoria ou modificação a ser feita no processo ?
Tempo
O tempo previsto foi suficiente ? Caso não tenha sido, qual seria a sugestão (propor mais
tempo para o encontro, propor mais encontros para tratar do assunto, etc.)
Concordância
Que aspectos, do que foi discutido, foram de maior e menor interesse, respectivamente?
Que assuntos obtiveram maior discordância durante o processo ?
E em relação ao final do processo ?
147
Resultados
Você sentiu que o encontro teve sucesso? Por quê?
Satisfação
Como você se sentiu ao início do processo (atmosfera do início) ?
Como você se sentiu ao final do processo (atmosfera do final)?
Anote qualquer acontecimento que você considere como importante.
Fonte: Gouvêa da Costa (2003)
148
E.2. Ficha para avaliação da fase
AVALIAÇÃO DA FASE
Marque o número que melhor expressa a sua resposta, de acordo com o seguinte:
1 muito pouco; 2 pouco; 3 médio; 4 bom; 5 muito bom
DIMENSÃO ESCORES OBSERVAÇÕES
OBJETIVO
Os objetivos do encontro ficaram
claros desde o início da reunião?
1 2 3 4 5
Os objetivos do encontro foram
alcançados?
1 2 3 4 5
PARTICIPAÇÃO
Qual foi o seu grau de participação
no encontro?
1 2 3 4 5
Você teve oportunidade de dar as
contribuições que gostaria?
1 2 3 4 5
FACTIBILIDADE
As suas contribuições foram levadas
em consideração?
1 2 3 4 5
ESTRUTURA DO PROCESSO
A composição do grupo foi
adequada?
1 2 3 4 5
A metodologia de seminário foi
adequada?
1 2 3 4 5
As folhas de tarefas foram de fácil
preenchimento?
1 2 3 4 5
As folhas de tarefas eram úteis,
considerando os objetivos do
encontro?
1 2 3 4 5
USABILIDADE
Foi possível acompanhar o
desenrolar do processo?
1 2 3 4 5
TEMPO
O tempo atribuído ao encontro foi
suficiente para os objetivos
propostos?
1 2 3 4 5
O seu tempo individual, que foi
dedicado ao encontro, foi adequado?
1 2 3 4 5
RESULTADOS
Os resultados alcançados foram
úteis?
1 2 3 4 5
CONCORDÂNCIA
Você concorda com as conclusões
do encontro?
1 2 3 4 5
APRENDIZADO/CONTRIBUIÇÃO
Este encontro contribuiu para a sua
melhor compreensão do assunto
tratado?
1 2 3 4 5
SATISFAÇÃO
UTILIDADE
Qual o seu grau de satisfação com o
progresso alcançado com o
encontro?
1 2 3 4 5
Fonte: adaptado de Gouvêa da Costa (2003)
149
E.3. Ficha para avaliação do método
AVALIAÇÃO DO MÉTODO
Marque o número que melhor expressa a sua resposta, de acordo com o seguinte:
1 muito pouco; 2 pouco; 3 médio; 4 bom; 5 muito bom
DIMENSÃO ESCORES OBSERVAÇÕES
FACTIBILIDADE
O processo foi claramente definido? 1 2 3 4 5
Havia informações suficientes para as
conclusões / escolhas em cada fase?
1 2 3 4 5
USABILIDADE
Em cada fase, o processo estava
claramente definido e era fácil de ser
seguido?
1 2 3 4 5
O processo cria um envolvimento que
proporciona / facilita o atingimento dos
objetivos?
1 2 3 4 5
UTILIDADE
O resultado final do processo foi útil? 1 2 3 4 5
O processo possibilita uma
participação ativa dos envolvidos e
discussões em grupo?
1 2 3 4 5
Os resultados parciais de cada fase
(encontro) justificam o tempo dedicado
/ despendido?
1 2 3 4 5
O processo aumentou a minha
segurança / confiança com relação aos
resultados encontrados?
1 2 3 4 5
O processo auxiliou na minha melhor
compreensão das questões que
envolvem a segurança alimentar?
1 2 3 4 5
Fonte: adaptado de Gouvêa da Costa (2003)
150
Apêndice F
Estudo de caso: folhas de tarefas preenchidas
F.1. Folha de tarefa 4: Brainstorming de perigos
151
152
153
F.2. Folha de tarefa 6: Características dos perigos
154
F.3. Folha de tarefa 9: AMT para os perigos
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
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