Download PDF
ads:
D
D
I
I
S
S
S
S
E
E
R
R
T
T
A
A
Ç
Ç
Ã
Ã
O
O
D
D
E
E
M
M
E
E
S
S
T
T
R
R
A
A
D
D
O
O
P
P
R
R
O
O
F
F
I
I
S
S
S
S
I
I
O
O
N
N
A
A
L
L
I
I
Z
Z
A
A
N
N
T
T
E
E
E
E
M
M
E
E
C
C
O
O
N
N
O
O
M
M
I
I
A
A
A
A
B
B
E
E
R
R
T
T
U
U
R
R
A
A
C
C
O
O
M
M
E
E
R
R
C
C
I
I
A
A
L
L
E
E
C
C
R
R
E
E
S
S
C
C
I
I
M
M
E
E
N
N
T
T
O
O
E
E
C
C
O
O
N
N
Ô
Ô
M
M
I
I
C
C
O
O
:
:
U
U
M
M
A
A
A
A
N
N
Á
Á
L
L
I
I
S
S
E
E
C
C
R
R
O
O
S
S
S
S
-
-
S
S
E
E
C
C
T
T
I
I
O
O
N
N
R
R
O
O
D
D
R
R
I
I
G
G
O
O
F
F
E
E
R
R
R
R
A
A
Z
Z
L
L
E
E
I
I
T
T
Ã
Ã
O
O
Orientador: Prof. Dr. Fernando Adeodato Veloso
Co-orientador: Prof. Dr. Antonio Fiorencio
F
F
F
A
A
A
C
C
C
U
U
U
L
L
L
D
D
D
A
A
A
D
D
D
E
E
E
S
S
S
I
I
I
B
B
B
M
M
M
E
E
E
C
C
C
P
P
P
R
R
R
O
O
O
G
G
G
R
R
R
A
A
A
M
M
M
A
A
A
D
D
D
E
E
E
P
P
P
Ó
Ó
Ó
S
S
S
-
-
-
G
G
G
R
R
R
A
A
A
D
D
D
U
U
U
A
A
A
Ç
Ç
Ç
Ã
Ã
Ã
O
O
O
E
E
E
P
P
P
E
E
E
S
S
S
Q
Q
Q
U
U
U
I
I
I
S
S
S
A
A
A
E
E
E
M
M
M
A
A
A
D
D
D
M
M
M
I
I
I
N
N
N
I
I
I
S
S
S
T
T
T
R
R
R
A
A
A
Ã
Ã
Ã
O
O
O
E
E
E
E
E
E
O
O
O
N
N
N
O
O
O
M
M
M
I
I
I
A
A
A
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
Aos meus pais,
Luiz Fernando e Maria Elizabeth.
ads:
AGRADECIMENTOS
A lista de agradecimentos abaixo pretende homenagear as pessoas que, em algum
momento, contribuíram de forma decisiva para a realização deste trabalho.
Ao Thomas Wu pela inquestionável ajuda nos tempos de graduação.
Ao Luiz Ozório por acreditar em mim desde o início, aqui no Ibmec.
Ao Pedro Paulo Arruda pelo incentivo em iniciar este curso de Mestrado.
Ao pessoal da faculdade: Delfina, Geovah, e em especial ao professor Antonio
Freitas pela oportunidade.
Aos professores Fernando Veloso e Antonio Fiorencio pelo apoio técnico.
Aos meus pais pela força dada a cada dia.
RESUMO
O objetivo deste trabalho é verificar empiricamente a relação entre
abertura comercial e crescimento econômico, através das suas fontes de
crescimento: capital físico por trabalhador; capital humano por trabalhador e a
produtividade total dos fatores (PTF). A partir de uma amostra de sessenta países
ricos, pobres e em desenvolvimento no intervalo que abrange o período de 1960 a
1989, foram realizadas regressões Ordinary Least Squares (OLS); Two Stage
Least Squares (TSLS) e Pooled cross-section, levando-se em consideração uma
cuidadosa análise da questão da endogeneidade dos indicadores de abertura – um
problema típico neste tipo de estudo. Os resultados apontam para uma relação
positiva, ainda que quantitativamente baixa, entre abertura comercial e
crescimento econômico através do crescimento da PTF.
ABSTRACT
The aim of this study is to empirically establish a relationship between trade
openness and economic growth through its sources of growth: physical capital
per worker, human capital per worker and the total factor productivity (TFP).
From a sample of sixty rich, poor and developing countries in a period ranging
from 1960 to 1989, Ordinary Least Squares (OLS), Two Stage Least Squares
(TSLS) and Pooled cross-section regressions were performed, regarding a careful
analysis of the question of endogeneity of the openness indicators – a typical
problem in this type of study. The results suggest a positive relationship,
although quantitatively low, between trade openness and economic growth
through the growth of the TFP.
LISTA DE TABELAS
TABELA1 – Estatística Descritiva.............................................................................49
TABELA2 - Regressões OLS: Variável OPEN2 .......................................................53
TABELA 3 - Regressões TSLS: Variável OPEN1 ....................................................54
TABELA 4 - Regressões Pooled LS: Variável OPEN2 ............................................55
TABELA 5 – Regressões Pooled IV/TSLS: Variável OPEN1 ..................................56
TABELA A1 - TSLS: Variável de Abertura OPEN3 (1960-1989)............................68
TABELA A2 - Pooled IV/TSLS: Variável OPEN3 (1960-1989)..............................69
TABELA A3 - TSLS: Variável de Abertura OPEN3 (1960-2000)............................70
TABELA A4 - Pooled IV/TSLS: Variável OPEN3 (1960-2000)..............................70
TABELA A5 - TSLS: Variável de Abertura OPEN1 (1960-2000)............................73
TABELA A6 - Pooled IV/TSLS: Variável OPEN1 (1960-2000)..............................74
TABELA A7 - OPEN1 (Especificação completa).....................................................75
TABELA A8 - OPEN1 (Especificação simples)........................................................75
TABELA A9 - Estatísticas-t e p-valores para Testehaus1..........................................78
TABELA A10 - Estatísticas-t e p-valores para Testehaus2........................................79
TABELA A11 - Estatísticas-t e p-valores para Testehaus3........................................80
TABELA A12 - Regressões OLS: Variável OPEN1..................................................83
TABELA A13 – Regressões TSLS: Variável OPEN2...............................................83
TABELA A14 - Regressões Pooled LS: Variável OPEN1 .......................................85
TABELA A15 – Regressões Pooled IV/TSLS: Variável OPEN2..............................85
SUMÁRIO
1. Introdução ............................................................................................................ 7
2. Revisão da Literatura: Abertura Comercial e Crescimento Econômico ............ 12
2.1. A literatura e os Resultados Empíricos.......................................................... 15
2.1.1. Sachs e Warner (1995)............................................................................... 16
2.1.2. Frankel e Romer (1996) ............................................................................. 18
2.1.3. Dollar (1992).............................................................................................. 20
2.1.4. Edwards (1998).......................................................................................... 21
2.1.5. Ben-David (1993) ...................................................................................... 22
2.1.6. Rodrik e Rodriguez (1999) ........................................................................ 23
2.1.7. Baldwin (2003) .......................................................................................... 27
2.1.8. Alcalá e Ciccone (2003 e 2004)................................................................. 29
3. Descrição das Variáveis e Bases de Dados........................................................ 32
3.1. Fontes de Crescimento ................................................................................... 32
3.2. Variáveis de Abertura e Controles ................................................................. 38
3.2.1. Variável de Abertura Exportações+Importações/PIB................................ 38
3.2.2. A Dummy Sachs-Warner adaptada como Variável de Abertura................ 39
3.2.3. As Variáveis de Controle ........................................................................... 41
3.2.4. O Uso de Variáveis Geográficas como Instrumentos ................................ 44
3.3. As Técnicas Econométricas Utilizadas .......................................................... 46
3.4. Estatística Descritiva...................................................................................... 49
4. Resultados .......................................................................................................... 51
4.1. OLS e TSLS................................................................................................... 52
4.2. Pooled Cross-section...................................................................................... 54
5. Conclusão........................................................................................................... 58
6. Referências......................................................................................................... 61
APÊNDICE................................................................................................................ 66
A.1 Resultados para a Variável de Abertura Real ................................................ 66
A.2 Resultados para a Variável OPEN1 no Período de 1960 a 2000 ................... 72
A.3 A Presença de Endogeneidade e o Teste de Hausman................................... 77
A.4 Regressões OLS para a Variável OPEN1 e TSLS para OPEN2.................... 82
ANEXO...................................................................................................................... 87
7
1. Introdução
Apesar de alguns estudos terem procurado estabelecer uma relação entre
abertura comercial e crescimento econômico, os pesquisadores têm encontrado
dificuldades em sustentar as suas teses. Basicamente o problema reside no fato de que
estudos de casos esbarram em aspectos idiossincráticos dos países estudados,
enquanto que análises baseadas em regressões são contaminadas por questões de
endogeneidade. Estudos empíricos, dentre os quais os mais famosos são os de Dollar
(1992), Sachs e Warner (1995), Edwards (1998) e Ben-David (1993), conseguiram
estabelecer tal relação, demonstrando que os países que mais abriram suas economias
vêm sendo os mais bem-sucedidos em transformar comércio em crescimento.
Por outro lado, o que essas diferentes experiências indicam é que os elos entre
comércio e crescimento são muito menos óbvios do que defendem alguns teóricos. O
estudo mais conhecido neste sentido foi realizado por Rodriguez e Rodrik (1999),
onde os autores apontam várias falhas na condução das pesquisas mencionadas
anteriormente.
Os principais determinantes do crescimento econômico são o progresso
técnico, entendido como a produtividade total dos fatores (PTF), a acumulação de
capital físico e o capital humano. O impacto da abertura sobre o crescimento
econômico se dá, de maneira indireta, na medida em que afete um desses
8
componentes. A idéia é que a ampliação do fluxo de comércio promove acesso à
tecnologia mais sofisticada via insumos importados, possibilitando sua imitação,
estimulando a inovação e a produtividade e, conseqüentemente, elevando o potencial
de crescimento da economia.
Nosso trabalho pretende investigar o impacto da adoção de políticas
comerciais livres no crescimento de uma economia. Mas, diferentemente dos estudos
tradicionais, os quais têm concentrado esforços exclusivamente no impacto da
abertura comercial sobre o crescimento da renda per capita, aqui teremos especial
interesse nas fontes de crescimento: a acumulação de capital físico e humano, além da
produtividade total dos fatores, a PTF. Como veremos mais tarde, a abertura
comercial pode influenciar a economia de uma nação através dos mais diversos
canais, tais como: ganhos de eficiência, a partir da incorporação de tecnologia mais
avançada; além de ganhos de escala, via ampliação e conquista de novos mercados.
A metodologia seguirá basicamente aquela desenvolvida por Gomes, Pessôa e
Veloso (2003), usando dados da Penn World Table versão 6.1; de Barro e Lee (2000);
de Sachs e Warner (1995), além de séries do Banco Mundial - todos para uma
amostra de 60 países em um período abrangendo os anos de 1960 a 1989
1
.
São usadas duas medidas de abertura para as regressões:
exportações+importações/PIB, e a dummy desenvolvida por Sachs e Warner (1995).
Cabe ressaltar que usamos duas especificações: uma, mais completa, utiliza um vetor
1
A lista de países usados na amostra está disponível no Anexo.
9
de controles mais amplo, com variáveis que tentam capturar não só os efeitos de
políticas econômicas como também a estabilidade política de um país; e outra, mais
simples, que se limita a identificar níveis de escolaridade e renda per capita inicial.
A variável exportações+importações/PIB apresenta um forte componente de
endogeneidade, já que é de se esperar que não só exportações e importações tenham
efeito sobre o PIB, como também diferentes níveis de PIB possam estar associados a
um maior nível de transações no mercado internacional. Em função disso serão
testadas medidas alternativas para se resolver a questão da endogeneidade.
A primeira delas envolve variáveis instrumentais como alternativa às medidas
tradicionais de abertura. No nosso caso específico usamos variáveis geográficas como
instrumentos em regressões TSLS (Two Stage Least Squares) a partir de dados de
Sachs, Mellinger e Gallup (1999).
Segundo Alcalá e Ciccone (2003 e 2004), a variável
exportações+importações/PIB medida em valores nominais pode distorcer alguns
resultados, já que segundo a hipótese de Balassa-Samuelson, a diferença de
produtividade dos países pode afetar o preço relativo dos setores da economia e em
função disso adaptações devem ser feitas. De acordo com os autores, as vantagens
deste procedimento seriam resultados mais robustos para a abertura comercial.
Mesmo que a hipótese de Alcalá e Ciccone (2003 e 2004) esteja correta, não
invalida os resultados obtidos neste trabalho, uma vez que usamos uma segunda
10
variável de abertura: a dummy Sachs-Warner. Esta variável, usada para contornar o
problema de endogeneidade, é composta por cinco aspectos relacionados diretamente
com políticas comerciais e que, analisados simultaneamente, possibilitam classificar
um país como aberto ou fechado.
Com o intuito de utilizar melhor o número de observações disponíveis na
amostra, nos valemos também de técnicas de Pooled cross-section, usando médias de
cinco anos para cada variável no intervalo de 1960 a 1989. Este recurso nos
proporciona um maior grau de liberdade para a amostra, já que aumenta o número de
observações consideravelmente.
Os resultados obtidos em regressões OLS (Ordinary Least Squares) e Pooled
Least Squares com a dummy e as regressões Pooled Two Stage Least Squares com a
variável exportações+importações/PIB indicam uma relação positiva e
estatisticamente significativa ao nível de 5% entre abertura comercial e crescimento
econômico. E mais, a maneira pela qual o comércio internacional parece estar
afetando o crescimento é via PTF.
Ainda assim estes resultados devem ser avaliados com cautela uma vez que,
apesar de estatisticamente significativos, os valores obtidos para os coeficientes de
abertura são relativamente baixos, variando de um mínimo de 0,03% em regressões
Pooled Two Stages Least Squares para a variável exportações+importações/PIB, até
um máximo de 0,21% em regressões Pooled Least Squares com a dummy Sachs-
Warner.
11
A seção A.1 do apêndice apresenta os cálculos com base na variável proposta
por Alcalá e Ciccone (2003 e 2004), a “abertura real”. Confirmando os dados
apresentados ao longo deste trabalho, as regressões com esta medida de abertura
sugerem que países mais abertos tendem a apresentar um crescimento maior que o de
países fechados para o comércio internacional.
Na seção A.2 do apêndice disponibilizamos os resultados de regressões com a
variável de abertura exportações+importações/PIB, OPEN1, utilizando um intervalo
relativamente maior: de 1960 a 2000. Tal procedimento não pôde ser feito ao longo
deste trabalho uma vez que só existem dados da dummy Sachs-Warner para esta
amostra de 60 países no período que vai de 1960 a 1989; o que, para critérios de
comparação de resultados entre as duas variáveis de abertura, restringe o intervalo
disponível para a análise.
O texto está organizado da seguinte forma: na seção 2 apresentamos uma
revisão da literatura que trata do tema. Na seção 3 descrevemos passo-a-passo a
metodologia utilizada. Na seção 4 apresentamos os principais resultados, seguido da
conclusão na seção 5.
12
2. Revisão da Literatura: Abertura Comercial e Crescimento Econômico
De uma maneira geral podemos resumir a teoria de política comercial em três
linhas de pensamento [Rodrik e Rodriguez (1999)]:
a) Modelos estáticos – Sem imperfeições de mercado o efeito de restrições comerciais
é o de reduzir o nível de renda. Apenas na presença de falhas de mercado as barreiras
comerciais podem atuar de forma a aumentar a renda.
b) Modelos standard (Modelo Neo-clássico) – Considerando-se retornos decrescentes
de escala e inovações tecnológicas exógenas, uma restrição comercial não tem efeito
na taxa de crescimento da renda no longo-prazo, apenas na transição para o estado
estacionário.
c) Modelos de crescimento endógeno – A absorção de tecnologia pode gerar retornos
crescentes de escala pela acumulação do conhecimento adquirido no processo
produtivo (learning-by-doing). Com este conhecimento, cada país tende então a
orientar seus recursos para as áreas onde possui maior vantagem competitiva e, com
isso, gerar mais crescimento.
Na prática, a abertura afeta o crescimento através de uma combinação de
canais, que em última análise, estão ligados direta ou indiretamente com ganhos de
eficiência e produtividade:
O aumento da competição
13
A introdução de novas tecnologias através da importação de bens de
capital
A implementação de novos métodos de produção
A expansão do número de bens intermediários disponíveis
A reorganização das indústrias
A conquista de novos mercados
A abertura comercial introduz um novo cenário na estrutura competitiva
doméstica devido à entrada de similares importados, que concorrem seja por
qualidade, seja por preço, com os bens nacionais. O próprio contato com os produtos
importados propicia o aparecimento de novos métodos de produção que sejam mais
eficientes e competitivos. No fim as indústrias acabam inseridas em um equilíbrio
competitivo bem distinto daquele prevalecente em um regime de competição
limitada. Neste contexto, muitas indústrias afloram enquanto outras acabam
sucumbindo.
A importação de bens de capital mais avançados tecnologicamente possibilita
a introdução de uma estrutura produtiva mais eficiente e que se traduz tanto em
redução de preços quanto em maior qualidade dos bens produzidos. Essa
oportunidade se apresenta ainda mais promissora quando se tem em conta que o
potencial de vendas para novos mercados é inquestionavelmente maior e que isto
pode gerar um ganho de produtividade ainda mais significativo.
14
Há ainda um ganho adicional com a abertura comercial para os países em
desenvolvimento no que se refere à percepção de risco por parte de potenciais
investidores, mas que freqüentemente é ignorado pelos estudos tradicionais. Bacha
(2002) desenvolve um elo financeiro entre competitividade externa e crescimento. Ele
argumenta que a meta principal de uma política sustentada de crescimento deve ser a
ampliação do financiamento doméstico de longo prazo e que isso só poderá ser
alcançado com um significativo aumento da proporção da produção doméstica que é
“exportável”, ou seja, que tenha competitividade internacional suficiente para ser
vendida sem problemas no exterior. A acumulação de reservas cambiais melhora a
percepção do risco-país e permite a captação de financiamentos a um custo mais
baixo.
Em outras palavras, o risco-país reflete, de certa forma, a relação entre o “grau
de exportabilidade” da economia e sua alavancagem financeira externa, sendo que
uma forma de reduzir esse risco é aumentando as trocas comerciais, resultando em
exportações mais elevadas e uma produção doméstica competitiva com relação às
importações [Giambiagi, Reis e Urani (2004)]. Para se ter uma idéia, em 2000 a
razão dívida externa/exportações rondava a casa dos 170% para a média da América
Latina e 75% para os países do Leste Asiático [Banco Mundial (2002)].
Em suma, um aumento na abertura comercial deve levar a um aumento da
produtividade, à redução dos custos de investimento e à queda significativa do risco-
país, reduzindo o custo do capital financeiro. Contudo, faz-se necessária uma
elevação expressiva das exportações e para isso são necessários não só
15
competitividade como também uma política comercial. No caso de países em
desenvolvimento o comércio internacional se mostra ainda mais importante, uma vez
que pode servir como instrumento de acumulação de reservas cambiais, melhorando a
percepção de risco e as taxas de financiamento para alavancagem da produção
interna.
2.1. A literatura e os Resultados Empíricos
Até agora vimos que a teoria nos mostra que a abertura comercial pode
influenciar o crescimento econômico de várias formas: o contato com novos
mercados consumidores, a absorção de modos de produção mais avançados, uma
maior variedade de fornecedores de insumos, enfim uma série de fatores que acabam
por impulsionar a dinâmica do processo produtivo. Em todos estes casos o elo entre
abertura e crescimento se dá através de ganhos de escala, eficiência e produtividade.
Mas o que os estudos empíricos mostram a respeito deste tema? Há trabalhos
que apontam para uma evidência positiva entre o processo de liberalização comercial
e seus impactos na economia. Neste momento de transição os ganhos de
produtividade são inquestionáveis e a economia apresenta um salto na sua taxa de
crescimento. Mas o nosso interesse específico vai além dos ganhos com a
liberalização. O que queremos medir são os efeitos da abertura comercial no longo
prazo.
16
Apesar da vasta literatura a respeito do tema, analisaremos aqui apenas os
artigos que usualmente são considerados como referência. Vejamos então o que os
estudos mais conhecidos neste campo conseguiram encontrar.
2.1.1. Sachs e Warner (1995)
Neste estudo a classificação para a abertura de um país se baseia em uma
dummy composta de cinco elementos que caracterizam se um país é fechado: a
presença de barreiras não-tarifárias abrangendo 40% ou mais do comércio; tarifas
médias de 40% ou mais; a existência de um ágio no mercado paralelo (black market
premium) que exceda em 20% o câmbio oficial nos anos 70 e 80; a presença de um
sistema socialista; além de monopólio estatal nos produtos exportados mais
importantes. Desta maneira considera-se um país aberto se nenhuma das condições
acima se aplicarem. Além disso, se um país era fechado e posteriormente vem a se
abrir (no intervalo da amostra), então ele é tratado como fechado.
As regressões demonstram a potência desta variável: a adoção de uma política
comercial livre acarreta em um crescimento de quase dois e meio pontos percentuais
a mais que países fechados para o comércio externo, com uma estatística t de 5,50.
Uma evidência adicional dá conta de que a integração econômica induz à
convergência econômica, ou seja, países mais pobres tendem a crescer mais
17
rapidamente que países ricos desde que estejam ligados pelo comércio internacional.
Os resultados mostram que dentro do grupo considerado fechado, o crescimento
médio dos países em desenvolvimento é de 0,69% enquanto que para os países ricos
esta taxa é de 0,74%. O contrário ocorre para economias abertas; com os países em
desenvolvimento crescendo a taxas de 4,49% contra 2,29% para os países
desenvolvidos. Isto sugere que em economias abertas há uma tendência típica de
convergência. Dito de outra maneira, podemos perceber que os países mais ricos
conseguiram superar os mais pobres em função da política de fechamento dos
últimos. Mais do que isso, alguns países mais pobres chegaram a experimentar taxas
de crescimento per capita negativas, o que aumentou ainda mais a disparidade entre
as nações pobres e ricas.
Na opinião de Sachs e Warner a convergência é possível não só para um
restrito grupo de países, mas também para aqueles em que a renda per capita ou o
nível de capital humano sejam inicialmente baixos, desde que lhes seja garantido o
acesso ao comércio internacional.
Além disso, há uma forte evidência de que políticas protecionistas reduzem o
crescimento quando se controla para outras variáveis. Como estas políticas também
afetam as taxas de investimento em relação ao PIB e a acumulação de capital
humano, é de se esperar que também afetem a taxa de crescimento de uma economia.
Resumidamente as regressões indicam quatro conclusões:
18
1. Há forte evidência de que existe uma convergência absoluta para
países abertos, mas não há evidência que haja convergência absoluta para países
fechados.
2. Países fechados crescem a taxas menores que países abertos.
3. A política comercial continua a ter impacto mesmo após controlar para
outros fatores de crescimento.
4. Políticas comerciais afetam o crescimento diretamente e também
indiretamente, através de investimento em capital físico e humano.
2.1.2. Frankel e Romer (1996)
O objetivo do estudo é mensurar o impacto do comércio internacional nos
padrões de vida através de regressões que usam variáveis instrumentais. Esta
metodologia é necessária já que há uma certa dificuldade de se dissociar os efeitos da
política comercial, de políticas fiscais e monetárias. A idéia é então usar aspectos
geográficos como instrumento alternativo para o comércio. As variáveis geográficas
conseguem por si só explicar o fluxo de comércio entre países, mas, além disso,
também têm a vantagem de não estarem relacionadas com outros fatores que afetam a
renda. Este artifício se faz necessário uma vez que as medidas de abertura comercial
convencionais tendem a estar correlacionadas com variáveis omitidas nas equações de
renda, resultando em estimações inconsistentes.
19
Para a construção dos instrumentos são usadas duas abordagens: uma
puramente geográfica e outra que eles chamam de “abordagem de fatores de
acumulação”. Na primeira, as medidas de geografia são: o tamanho do país; a
distância entre países; o fato de compartilharem fronteiras e de possuírem ou não
acesso direto para o mar (landlocked).
A segunda abordagem procura adicionar às equações, componentes que dêem
informações sobre a renda dos países. Segundo a literatura gravitacional, a renda dos
parceiros comerciais é determinante para os padrões comerciais destes países. Como
o uso da renda diretamente traria problemas de endogeneidade, os autores se valem de
fatores que estejam ligados de alguma forma à renda. Neste caso, capital físico e
crescimento populacional
2
.
As regressões, baseadas em OLS e IV, apresentam os seguintes resultados:
a) Não há evidência de que países ricos por outras razões se engajem em mais
comércio (reverse causation)
3
.
b) As estimativas indicam que o impacto do comércio é substancial. Aumentando-se
o nível de comércio internacional (exportações+importações) em um ponto percentual
implica em um aumento da renda em dois pontos percentuais.
2
Ver Frankel e Romer (1996), p.4. Segundo eles estas medidas de acumulação não estão
correlacionadas com a renda e por isso podem ser usadas como instrumentos.
3
Há uma série de argumentos que apontam para uma relação de causalidade da renda para o
comércio. Um deles pode ser um surto de crescimento em uma economia que eleve o nível de
exportações. Uma outra razão é que países mais ricos, com tecnologias mais avançadas, apresentam
uma maior produtividade em relação a países mais pobres. Esta vantagem comparativa acaba fazendo
com que países mais ricos se engajem em mais comércio exterior.
20
c) Apesar do que foi dito acima, o impacto do comércio na renda é impreciso, ou seja,
apesar de se conseguir rejeitar a hipótese nula de que o comércio não tem efeito sobre
a renda, a magnitude deste impacto permanece uma questão aberta.
2.1.3. Dollar (1992)
Este trabalho se baseia na construção de dois índices que tentam capturar o
que Dollar chama de outward orientation, ou orientação para fora, e medir a relação
destes com o crescimento da renda per capita. Uma orientação para fora pressupõe
que haja um baixo nível de proteção comercial e que a variabilidade da taxa de
câmbio seja baixa (taxas de câmbio muito voláteis podem afetar o nível de comércio
por gerar incerteza nas transações). Seus índices, DISTORTION e VARIABILITY,
tentam então capturar a distorção e a variação da taxa de câmbio real de cada país em
relação à sua trajetória estimada, tomando como base a moeda americana no período
de 1976 a 1985 para uma amostra de 95 países em desenvolvimento.
Suas regressões encontram um coeficiente de -0,018 para a variável
DISTORTION e -0,080 para VARIABILITY, ambos significativos a um nível de 1%,
e consistentes com a idéia de que distorções na taxa de câmbio, bem como um alto
grau de variabilidade, são prejudiciais ao crescimento econômico.
21
2.1.4. Edwards (1998)
O trabalho de Edwards foge dos estudos tradicionais que tentam estabelecer
uma relação entre abertura comercial e crescimento, se concentrando na análise da
robustez de alguns índices de abertura. Ele baseia seu estudo em regressões com a
PTF, usando como regressores nove diferentes indicadores de abertura. São eles: a
dummy Sachs-Warner; a classificação subjetiva de estratégias comerciais do Banco
Mundial do World Development Report 1987; o índice de abertura de Edward Leamer
(1988); a média do ágio no mercado paralelo; a média de tarifas de importação da
UNCTAD via Barro e Lee (1994); a cobertura média de barreiras não-tarifárias,
também da base da UNCTAD; o índice subjetivo de distorções no mercado
internacional; a fração do total de receitas tarifárias do comércio exterior em relação
ao total de exportações mais importações; e o índice de distorções em importações
baseado nas regressões de Holger Wolf (1993). Sua amostra abrange noventa e três
países ricos ou em desenvolvimento no período de 1960 a 1990.
Usando regressões WLS (Weighted Least Squares), ponderado pela renda em
1985, Edwards encontra coeficientes significativos em seis dos nove regressores.
Apenas o índice de Leamer, a cobertura de barreiras não-tarifárias e o índice de
distorções de Wolf aparecem não-significativos. Suas regressões usando variáveis
instrumentais
4
encontram cinco índices significativos a um nível de 10%. Os únicos a
não apresentarem bons resultados são a dummy Sachs-Warner, o índice de Leamer, o
4
Os instrumentos utilizados foram: crescimento da PTF na década de 70; relação exportações/PIB na
década de 70; a média do ágio no mercado paralelo na década de 70; o índice de proteção de
propriedades da Heritage Foundation; além das mudanças nos termos-de-troca.
22
ágio no mercado paralelo, a média de tarifas de importação, a cobertura de barreiras
não-tarifárias e o índice de distorções de Wolf.
Por fim Edwards constrói um indicador de abertura baseado em uma
composição entre os seguintes índices: a dummy Sachs-Warner; o ágio no mercado
paralelo; a média de tarifas de importações da UNCTAD; a cobertura das barreiras
não-tarifárias e o índice de distorções de importação de Wolf. Mais uma vez seus
resultados apontam para um indicador robusto e com o sinal correto, com coeficiente
de -0,0070 e uma estatística t de -2,38.
2.1.5. Ben-David (1993)
Ben-David procura evidências dos efeitos de liberalização comercial na
redução da dispersão dos níveis de renda entre os países. Seu trabalho es
fundamentado no Teorema da Equalização dos Preços dos Fatores
5
. À medida que as
barreiras comerciais são postas de lado, haveria então uma tendência à convergência
na renda per capita dos países em transição em relação a países mais desenvolvidos.
Concentrando seus esforços nos países da Comunidade Européia, Ben-David
mostra que ocorre uma diminuição da dispersão da renda no período pós-guerra. De
5
O Teorema diz que os preços dos fatores de produção, como o salário, tendem a ser iguais nos
diferentes países, desde que não haja barreiras comerciais. O país vai orientar a sua produção para a
atividade onde o fator é mais abundante, e portanto, mais barato. Contudo, este incentivo aumenta a
demanda por este fator, o que acaba levando ao aumento do seu preço, igualando-os ao de outros
países. Desta forma, choques na disponilidade de fatores só causam desequilíbrios temporários. No
longo prazo a paridade é restabelecida.
23
fato, verifica-se um aumento da taxa de crescimento dos chamados EC5 (Bélgica,
França, Holanda, Itália e Alemanha) de 3,45% entre 1945 e 1994, contra 1,21% entre
1900 e 1939 e 1,16% entre 1870 e 1899.
Sua conclusão é de que esta convergência não é simplesmente resultado de
uma tendência de longo-prazo nos países da Comunidade Européia, mas de uma
maior integração comercial no pós-guerra. Além disso, argumenta ele, as nações
européias que não aderiram ao modelo de economia aberta, dentre elas, Grã-Bretanha,
Irlanda e Dinamarca, não experimentaram um maior crescimento até que tivessem
baixado o nível de proteção de seus mercados e aderido ao comércio internacional.
Segundo ele, uma evidência ainda mais sólida é o fato de que os países
membros do EFTA (European Free Trade Agreement - organização formada
inicialmente por Áustria, Dinamarca, Noruega, Portugal, Suécia, Suíça e Grã-
Bretanha) só conseguiram experimentar convergência com os outros países europeus
após a criação deste organismo.
2.1.6. Rodrik e Rodriguez (1999)
O estudo desenvolvido por Rodrik e Rodriguez (1999) é uma extensa e
cuidadosa análise dos resultados empíricos encontrados nos trabalhos mais
renomados sobre abertura comercial: Dollar (1992); Sachs e Warner (1995); Edwards
24
(1998) e Ben-David (1993), todos já descritos anteriormente. Abaixo seguem as
observações mais importantes sobre cada um destes trabalhos:
O Modelo de Dollar - Segundo Rodrik e Rodriguez, a Lei do Preço Único (base
teórica do trabalho de Dollar) não encontra fortes evidências no mundo real e com
isso algumas das hipóteses para o uso das variáveis de distorção e variabilidade da
taxa de câmbio acabam perdendo sentido. Na verdade, estas variáveis só servem
como uma boa medida de restrição comercial quando três condições muito
específicas prevalecem: não há tarifas de exportação ou subsídios; a Lei do Preço
Único se verifica; e quando não há diferenças sistemáticas nos níveis de preços
oriundos de fatores geográficos e custos de transporte. Como as três condições são
dificilmente observáveis na prática, os autores não vêem aplicabilidade nas variáveis
criadas por Dollar.
O modelo Sachs-Warner (1995) – Para os autores, a força da dummy vem de apenas
dois de suas componentes: o ágio no mercado paralelo e a existência de monopólio
estatal para as exportações; uma vez que a exclusão das outras componentes traz
pouco impacto no poder explicativo da dummy. A justificativa do uso da variável de
monopólio estatal está baseada no teorema de Lerner (1936) da equivalência entre a
taxação de importados e exportados
6
. Neste caso a taxação das exportações levaria à
diminuição do comércio como um todo. A restrição à conversão cambial livre e a
existência de um mercado negro também podem servir como uma barreira ao
6
O Teorema da Simetria de Lerner afirma que a taxação de importações e exportações tem o mesmo
efeito alocativo desde que os recursos desta taxação sejam gastos da mesma maneira. Os resultados
deste modelo dependem fortemente do equilíbrio da Balança de Pagamentos e da inexistência de
moeda na economia.
25
comércio já que distorcem os preços dos produtos comercializáveis. O problema de se
usar esta variável é que a existência de um mercado negro de câmbio pode ocorrer em
situações não relacionadas ao comércio diretamente, sendo na verdade resultado de
desequilíbrios macroeconômicos ou de políticas monetárias.
O Modelo de Edwards (1998) – A crítica de Rodrik e Rodriguez se baseia na
argumentação de que a ponderação utilizada por Edwards para alguns países parece
alta demais. Em função disso eles refazem as regressões usando a matriz de
covariância de White. O resultado é que quatro dos nove indicadores de abertura
aparecem significativos nas equações de mínimos quadrados enquanto que somente
dois dos nove coeficientes nas regressões por variáveis instrumentais são
significativos. E o pior, apenas doze dos dezoito coeficientes apresentam sinal
correto.
Um segundo problema apontado é a base de dados usada por Edwards.
Através de dados brutos do FMI, Edwards chega a uma tarifa média de 2,4% para a
Índia (reconhecidamente um país com altas tarifas), enquanto que o Chile tem uma
tarifa média de 2,3%. Usando dados do Banco Mundial de 1998, Rodrik e Rodriguez
chegam a uma tarifa média de 37,3% para a Índia, o que parece bem mais coerente.
Refazendo as regressões para tarifas médias com estes dados, este coeficiente perde
seu poder de explicação.
A conclusão dos autores é de que, ao contrário do que afirmou Edwards, não
parece haver robustez na relação entre os coeficientes de abertura e produtividade e
26
isso é resultado tanto de uma ponderação questionável nas regressões, quanto de
fatores de classificação subjetivos.
O Modelo de Ben-David (1993) – Defendendo que a Alemanha representava um
outlier na amostra, Ben-David exclui este país dos estudos e ao fazê-lo, argumentam
Rodrik e Rodriguez, acaba enviesando a amostra já que à época da criação da CEE a
Alemanha já estava em pé de igualdade com os países membros. Adicionando a
Alemanha, a dispersão parece estar em queda desde 1870, o que torna mais difícil a
idéia de que este movimento se iniciou somente no pós-guerra.
De fato houve uma substancial convergência dos países da EFTA e CEE em
relação à média de outros países europeus, mas Rodrik e Rodriguez se mostram
céticos quanto a este processo ser devido à liberalização comercial. Através de um
estudo sobre a contribuição da variância dos países membros na média européia, eles
notam que todos têm apresentado convergência, mas a variância dos países não-
membros da CEE e EFTA foi menor, o que representa uma evidência contra o fato de
que a liberalização comercial tenha sido a raiz deste processo.
Por último Rodrik e Rodriguez argumentam que o uso de sub-amostras
específicas para analisar a convergência em diferentes regiões do mundo pode trazer
resultados não confiáveis. Como evidência eles demonstram que os países do leste
asiático (economias reconhecidamente abertas) têm experimentado divergência
enquanto que países da América do Sul apresentam convergência. O mais
27
impressionante é que somente no período em que os países sul-americanos passam a
se abrir ao comércio exterior é que esta dispersão aumenta.
A conclusão do estudo de Rodrik e Rodriguez é que existe um grande hiato
entre o que a teoria define e o que se consegue provar na prática. Tipicamente os
indicadores de abertura utilizados são medidas de restrição comercial problemáticas
ou estão contaminadas por questões de endogeneidade difíceis de corrigir, além do
que, medidas de política comercial acabam se confundindo com outras fontes de
desempenho econômico. Tudo isso faz com que seja difícil estabelecer evidências
claras entre abertura comercial e crescimento econômico.
2.1.7. Baldwin (2003)
Baldwin começa sua análise no período pós-guerra, quando começou a ganhar
força a idéia de proteção comercial por parte de países em desenvolvimento. A idéia,
baseada no argumento da infant industry, era que os países mais atrasados
tecnologicamente deveriam ser protegidos da concorrência externa até o momento em
que o desenvolvimento de uma indústria local pudesse chegar a um estágio de
competitividade compatível aos mercados internacionais.
Como é sabido, este período de proteção funcionou no princípio e algumas
indústrias tiveram êxito, mas a um custo macroeconômico muito elevado. Inflação e
desequilíbrios no Balanço de Pagamentos geraram graves crises nestes países e o
28
resultado final foi, via de regra, um declínio generalizado na taxa de crescimento
destas economias.
Para Baldwin dois erros geraram estes resultados negativos. O primeiro deles
foi a base da argumentação da infant industry, que pretendia proteger a indústria
nacional que naquele momento nascia com custos unitários de produção ainda muito
elevados para padrões internacionais. Baldwin sugere que as indústrias nascentes
deviam se valer de financiamento no mercado de capitais para este período inicial;
mesmo sabendo que as condições de financiamento poderiam ter sido mais difíceis
para alguns países. Ainda assim, segundo ele estes custos seriam menores que as
contrapartidas macroeconômicas produzidas no período de proteção. Uma alternativa
para impulsionar o processo de industrialização, caso o financiamento externo se
apresentasse inviável, seria por exemplo o uso de subsídios que teriam o mesmo
efeito propulsor, mas sem desequilíbrios tão pronunciados.
O segundo problema é que, como o sistema de proteção beneficiava apenas
alguns setores da indústria, criou-se uma alocação de recursos ineficiente. No fim das
contas essa competitividade se mostrou artificial, gerando um equilíbrio competitivo
não sustentável para vários setores e o esforço inicial foi, em muitos casos, jogado
fora.
Com os contratempos gerados pela ideologia de proteção comercial, alguns
economistas desenvolveram estudos para se medir os benefícios de uma abordagem
oposta: a abertura comercial. Entretanto, esbarrando em dados imprecisos e técnicas
29
econométricas inapropriadas, os resultados desses estudos não chegaram a um lugar
comum e suas conclusões deixam margem para dúvidas na relação entre abertura
comercial e crescimento da renda. Além disso, os indicadores de abertura comercial
tendem a estar associados a outras variáveis, que por sua vez estão intimamente
ligadas a políticas monetárias e fiscais, tornando assim, a medição dos efeitos da
abertura comercial uma fonte de problema.
São nesses argumentos que estão a força do estudo realizado por Rodrik e
Rodriguez (1999). Suas críticas aos trabalhos mais reconhecidos internacionalmente
sempre apontam para algumas dessas fraquezas típicas do estudo empírico: a análise
da relação entre as barreiras tarifárias e não-tarifárias no crescimento; a introdução de
variáveis de controle não diretamente relacionadas ao comércio; e a utilização de
técnicas econométricas alternativas.
2.1.8. Alcalá e Ciccone (2003 e 2004)
Em um estudo recentemente publicado, Alcalá e Ciccone (2004) verificam
uma relação positiva entre abertura comercial e produtividade de uma economia,
adotando uma medida de abertura que é, em parte, totalmente nova.
Segundo os autores, a medida de abertura exportações+importações/PIB,
tradicionalmente usada em trabalhos empíricos e onde todos os seus componentes são
medidos em termos nominais, pode resultar em conclusões enganosas em termos de
30
ganhos de produtividade de uma economia. A idéia principal do seu argumento reside
no fato de que a abertura comercial tende a aumentar a produtividade do setor de
tradables através de ganhos de especialização, conforme a hipótese de Balassa-
Samuelson. Entretanto este processo não acarreta necessariamente em um aumento da
abertura, como se pode inicialmente supor. Isso porque a maior produtividade do
setor tradables em relação ao setor de non-tradables tende a aumentar o preço
relativo dos serviços e o resultado final pode ser uma diminuição da abertura medida
em termos nominais.
Note-se porém, que a argumentação dos autores está fortemente baseada em
duas premissas. A primeira delas é a validade da hipótese Balassa-Samuelson, que
prevê que a diferença na produtividade entre os países atua mais intensamente no
setor de tradables, o que tende a gerar um aumento nos preços dos non-tradables, já
que ambos competem pelos mesmos recursos. Além disso, assume-se que todos os
ganhos de produtividade são absorvidos apenas pelo setor de tradables e que a
demanda por non-tradables é inelástica.
Como resultado os autores usam uma nova medida de abertura, a “abertura
real”, obtida pela soma de exportações e importações em dólares, dividido pelo PIB
medido com base na paridade do poder de compra (PPP). Essa medida, segundo eles,
elimina as distorções causadas pelas diferenças entre os preços relativos dos
diferentes países, gerando assim, melhores estimativas.
31
De fato, os resultados das regressões com a produtividade
7
sugerem
coeficientes quantitativamente maiores para a variável “abertura real” se comparados
aos resultados da mesma variável sem a adaptação proposta. Adicionalmente, eles
afirmam que o canal através do qual o comércio atua na produtividade média do
trabalhador é a PTF.
Partindo deste mesmo indicador de abertura, Alcalá e Ciccone (2003)
demonstram que tanto o comércio como o tamanho dos mercados, medido pelo
tamanho da população, são fatores cruciais no crescimento econômico de um país.
A idéia de se acrescentar o tamanho dos mercados (medido pelo tamanho da
população) como uma variável determinante de crescimento se baseia na hipótese de
Alesina, Spolaore e Wacziarg (1997) que argumenta que a liberalização comercial e o
tamanho de um país são variáveis inversamente relacionadas.
Com dados que abrangem o período de 1960 a 1996, os autores afirmam não
apenas que o comércio internacional gera crescimento, como também esta relação é
ainda mais forte quanto menor o tamanho dos mercados domésticos. Ou seja, o
impacto do comércio no crescimento de um país está intimamente ligado ao tamanho
do seu mercado interno. Com efeito, os resultados apresentados sugerem que o
aumento no grau de abertura real está associado a um aumento de 0,8% na taxa de
crescimento anual.
7
A sua medida de produtividade, chamada de produtividade média do trabalho, é dada pelo log da
razão entre o PIB por trabalhador ajustado pela paridade do poder de compra (PPP) e a força de
trabalho.
32
A conclusão destes inúmeros estudos de caso e análises cross-country é que a
remoção de barreiras ao comércio é uma maneira mais eficaz de se atingir taxas de
crescimento sustentáveis mais altas do que a utilização de políticas restritivas. Mas
talvez ainda mais importante seja a consciência de que políticas comerciais liberais
devam ser acompanhadas de outras medidas; como um sistema cambial estável,
política monetária e fiscal prudentes, além da obediência à regra da lei.
3. Descrição das Variáveis e Bases de Dados
Nesta seção descrevemos a origem e os cálculos envolvidos em todas as séries
de variáveis utilizadas neste estudo.
3.1. Fontes de Crescimento
Desenvolvemos o conceito de crescimento econômico baseando-nos em uma
função de produção agregada. Nesta função admitimos uma relação entre o produto e
os fatores de produção, capital e trabalho, em que haja retornos constantes de escala,
ou seja, qualquer unidade adicional dos fatores no processo produtivo acarretará em
um aumento do produto em mesma proporção. Matematicamente esta hipótese
significa que estaremos trabalhando como uma função de produção homogênea de
33
grau 1. Como resultado desta propriedade este trabalho se focará no estudo das
variáveis por trabalhador.
Além disso, acrescentamos a variável educação na equação de produção. A
introdução da educação, ou capital humano, na função de produção se baseia na
proposição minceriana de que a educação é uma variável que pode afetar a renda do
indivíduo [Bils e Klenow (2000)]. A idéia é que os agentes tendem a investir em
capital humano sempre que o retorno desta alternativa seja maior que o custo de cada
ano a mais de escolaridade. Além disso, é importante notar que níveis mais altos de
educação estão comumente associados a maiores níveis de produtividade por
trabalhador, o que quer dizer que para um mesmo número de horas, um trabalhador
com mais escolaridade é capaz de desenvolver mais quantidade de serviços na
produção
8
.
Há outro fator que devemos levar em conta na análise da capacidade produtiva
de uma nação e diz respeito à eficiência intrínseca no processo produtivo: é a
chamada Produtividade Total dos Fatores (PTF). Em última análise, a PTF nada mais
é que o potencial de geração de produto, dado o nível de capital e educação.
Como uma última observação vale ressaltar que, seguindo a metodologia de
Gomes, Pessôa e Veloso (2003), os parâmetros da função de produção e funções
auxiliares serão iguais para todos os países da amostra. A idéia é que as diferenças
8
Estudos empíricos mostram que a elevação do emprego dos serviços de capital em 10% elevam o
produto por trabalhador em 4%. Já os dados de escolaridade indicam que um ano adicional de estudos
eleva o salário por hora trabalhada em 10% [Pessôa (2003)].
34
entre as economias sejam reflexo apenas dos fatores de produção: capital e educação,
além do fator de eficiência da produção de cada país, a PTF.
Sabemos que no Modelo Cobb-Douglas a função de produção pode ser
representada pela equação:
y
it
= A
it
f (k
it
,H
it
) onde:
y
it
é o produto por trabalhador da i-ésima economia no instante t;
A
it
é a PTF;
k
it
é o capital por trabalhador;
H
it
é o capital humano por trabalhador
Como podemos notar pela equação acima, para o cálculo das variáveis por
trabalhador necessitamos de dados não só para os níveis de produto e capital como
também da PEA, a qual é obtida pela razão entre o PIB real per capita e o PIB real
por trabalhador; ambos disponíveis na Penn World Table (PWT) versão 6.1. O
produto por trabalhador é então obtido da razão entre o PIB e PEA. Como veremos
adiante, antes de calcularmos o capital físico por trabalhador precisamos fazer alguns
ajustes para obtenção da própria série do capital físico.
No caso deste trabalho usaremos uma especificação da função de produção
Cobb-Douglas, dada por:
35
y
it
= A
it
k
it
α
H
it
1-α
,
sendo α a elasticidade do produto em relação ao capital, a qual é igual à participação
do capital na renda em equilíbrio competitivo. Usaremos um α de 0,4 para todos os
países; como em Gomes, Pessôa e Veloso (2003), uma vez que este valor tende a não
diferir muito entre as economias [ver Gollin (2002)].
No nosso caso o capital humano fica estabelecido como se segue:
)(
it
h
it
eH
φ
=
sendo
h
it
os anos médios de escolaridade da PEA, onde associamos à função φ a
seguinte equação:
ψ
ψ
θ
φ
=
1
1
)( hh
A evidência empírica com estudos cross-section parece apontar para taxas de
retorno decrescentes para cada ano adicional de escolaridade. Desta forma
estabelecemos 0 <
ψ
< 1 e
θ
> 0 para os parâmetros da função φ. Usando a taxa de
retorno minceriano em uma amostra de 56 países, Bils e Klenow (2000), chegam a
um valor de
ψ
= 0,58, o que estabelece uma relação decrescente entre anos de
escolaridade e retorno de educação. Ainda segundo Bils e Klenow, o
θ
associado a
36
este
ψ
é de 0,32. Estes são os valores que utilizaremos para os parâmetros da função
φ.
Para o cálculo do capital usamos a método do inventário perpétuo, que pode
ser descrito pela seguinte regra:
K
t+1
= (1 - δ) K
t
+ I
t
ou seja, o capital do período seguinte, K
t+1,
é igual ao nível de capital no período t não
depreciado, (1 - δ) K
t,
mais o investimento no período, I
t
. A depreciação é dada pelo
parâmetro δ e para o qual usamos o valor de 0,05, conforme Hall e Jones (1999).
Um problema ao se usar este método é que para vários países os dados de
capital agregado não estão disponíveis. A fim de se uniformizar o cálculo do capital
inicial temos que fazer uma suposição inicial: a de que a economia estava em
crescimento balanceado no início do período. Esta hipótese pressupõe que a relação
capital por trabalhador, k, e produto por trabalhador, y, crescem a uma mesma taxa
constante, equivalente à evolução do progresso tecnológico, g.
Com isso chegamos à formulação básica para o capital inicial:
)1()1)(1(
0
0
δ
++
=
ng
I
K
37
onde I
0
é o investimento bruto inicial.
Para g usamos um valor de 1,8% a.a., obtida em Jones (2002). O valor de n se
refere à média de crescimento populacional anual verificada para cada país no
período de 1960 a 1989, com base nos dados da PWT versão 6.1.
A fim de evitar distorções, consideraremos o investimento inicial, I
0
, como a
média geométrica do investimento nos cinco primeiros anos, de tal sorte que:
5
1
)1()1()1(
)1(
1964
4
1964
1963
3
1963
1962
2
1962
1961
1961
1960
1960
0
0
+
+
+
+
+
+
+
+=
Lg
I
Lg
I
Lg
I
Lg
I
L
I
L
I
onde L
t
é a PEA, que deve ser levada em consideração uma vez que o objetivo final é
obter o capital por trabalhador. A série do nível de Investimento é obtida diretamente
da PWT versão 6.1.
Para o cálculo da PTF apenas temos que rearranjar a fórmula original da
função de produção até chegarmos a:
α
=
1α
it
it
)(k
y
it
it
H
A
38
3.2. Variáveis de Abertura e Controles
Nas subseções abaixo descreveremos alguns aspectos envolvendo nossas duas
variáveis de abertura: exportações+importações/PIB e a dummy Sachs-Warner; as
variáveis de controle; as variáveis geográficas como instrumentos; bem como as
técnicas econométricas utilizadas.
3.2.1. Variável de Abertura Exportações+Importações/PIB
A variável exportações+importações/PIB é obtida diretamente da série OPenk,
abertura a preços constantes, na PWT versão 6.1 e não requer maiores detalhes. No
entanto deixaremos para as próximas linhas uma explicação mais minuciosa a
respeito do uso da dummy, das variáveis de controle e das variáveis geográficas.
Cabe neste ponto fazer uma ressalva. A fim de manter a consistência dos
resultados obtidos com as duas variáveis de abertura: exportações+importações/PIB e
a dummy Sachs-Warner, tivemos que restringir a nossa análise ao período de 1960 a
1989; os únicos anos disponíveis com valores da dummy para a amostra de 60 países.
No entanto, como há dados de todas as outras variáveis para um período
relativamente maior: de 1960 a 2000, na seção A.1 do apêndice descrevo os
resultados do estudo da abertura comercial usando somente a variável
exportações+importações/PIB.
39
3.2.2. A Dummy Sachs-Warner adaptada como Variável de Abertura
Sachs e Warner (1995) tentam mostrar que as economias abertas criam um
cenário mais favorável ao crescimento econômico. Com o intuito de conseguir uma
variável indicativa de política comercial que não traga os problemas típicos de
endogeneidade ou de erros de medição, os autores criam uma dummy que abrange
vários aspectos relacionados ao comércio internacional. Segundo os autores, o uso da
dummy evita problemas de endogeneidade típicos já que seus cinco componentes
estão correlacionados apenas com a variável de abertura e não com as variáveis
dependentes, sejam elas o crescimento do produto por trabalhador, do capital físico e
humano, ou mesmo da PTF.
Além disso, o propósito de se juntar estas variáveis em uma só é evitar que
haja multicolinearidade, já que todas são medidas representativas de abertura
comercial e a presença delas separadamente poderia resultar em um estimador não
eficiente. Esta dummy assume os valores 0 ou 1 de acordo com os seguintes critérios:
1. se o país apresentou médias de tarifas maiores que 40%.
2. se as barreiras não-tarifárias cobriam na média mais que 40% das
importações.
3. se havia a presença de um sistema socialista – historicamente países
socialistas utilizam medidas comerciais restritivas como parte da estratégia de
política de planejamento central da economia.
40
4. se havia monopólio estatal para a maioria dos produtos exportados –
segundo Lerner (1936), medidas de controle de exportações têm efeito
simétrico ao controle de importações, restringindo a política comercial de um
país. A restrição de exportações é um instrumento de controle de preços
internos, já que ao inibir a saída de insumos, garante o abastecimento do
mercado interno e reduz a possibilidade de que ocorram pressões
inflacionárias.
5. se o ágio no mercado paralelo excedeu 20% nas décadas de 70 e 80 – um
alto prêmio pago no mercado de câmbio negro é uma medida de controle
cambial que tende a prejudicar as importações através do racionamento de
moeda estrangeira.
O país é considerado fechado se qualquer um dos critérios assinalados acima
se verificar em um determinado ano. Veja-se que a classificação se refere a qualquer
um dos cinco critérios estabelecidos, ou seja, basta que apenas uma das condições
citadas se verifique para que o país seja considerado fechado. Aqui fazemos uma
distinção em relação ao trabalho original de Sachs e Warner (1995). No modelo
original se um país era fechado e posteriormente se abre, ele permanece classificado
como fechado. Aqui usamos o somatório das dummies no período de 1960 a 1989
9
9
Em sua versão original, Sachs e Warner (1995) usam dados para a dummy em um intervalo que
abrange o período de 1970 a 1989. Entretanto, como os autores disponibilizam dados de 1950 a 1992,
usamos o período de 1960 a 1989 para todas as regressões a fim de aumentar o número de
observações.
41
para fazer esta classificação, de modo que cada país terá um grau de abertura
proporcional ao tempo em que permaneceu aberto
10
.
3.2.3. As Variáveis de Controle
Utilizamos as variáveis de controle típicas para análise de crescimento
agregado: a renda per capita inicial; nível de escolaridade média, e as relações Gastos
do Governo/PIB e Nível de Investimento/PIB. Os dados da renda inicial e das razões
Gastos do Governo/PIB e Investimento/PIB foram obtidos nas séries da PWT versão
6.1. Os dados de escolaridade foram obtidos na base de dados de Barro e Lee (2000) e
a partir dos quais formamos a média de anos de estudo para pessoas com idade
superior a 15 anos de idade. Para a renda inicial usamos o log desta variável no
primeiro ano da amostra enquanto que para Gastos do Governo/PIB e
Investimentos/PIB os dados usados nos cálculos se referem à média anual do período
analisado.
A idéia de se usar o log da renda inicial (LOGY60) como variável de controle
se origina na teoria que sugere uma relação negativa entre nível de renda e taxa de
crescimento. Desta forma, países mais ricos tendem a crescer a um ritmo mais lento
enquanto países em desenvolvimento apresentariam taxas de crescimento mais
elevadas. No longo prazo, países ricos e pobres acabariam por convergir
10
Os dados para esta classificação foram obtidos por Sachs e Warner das mais diversas fontes:
barreiras não-tarifárias são de Lee (1993); tarifas, Barro e Lee (1993), monopólio estatal de
exportações, Banco Mundial (1994); classificação para países socialistas e não-socialistas, Kornai
(1992) e, finalmente, os dados de ágio no mercado paralelo são construídos a partir de informações de
Cowitt (1986).
42
economicamente. Este processo decorre de dois fatores: países em desenvolvimento
têm mais oportunidades de investimento ainda não exploradas, o que aumenta suas
taxas de retorno e consequentemente gera aprofundamento de capital.
Outro motivo, corroborado por Sachs e Warner (1995), é que países mais
pobres são mais atrasados tecnologicamente e, desde que suas economias estejam
abertas ao comércio exterior, podem importar maquinário mais desenvolvido (e a
partir daí gerar tecnologia própria), aumentando tanto a produtividade quanto a taxa
de crescimento. O efeito final combinado seria de um catch-up com os países mais
ricos.
Países com maiores níveis de educação parecem desenvolver uma maior
produtividade, o que, por sua vez pode aumentar o crescimento econômico. A idéia é
que maiores níveis de escolaridade tendem a proporcionar uma melhor capacitação da
força de trabalho e com isso, possibilitam uma maior absorção de novas tecnologias
utilizadas no processo produtivo. Por isso adicionamos no vetor de controle uma
variável que capte este investimento em capital humano. Os anos de escolaridade
média foram calculados a partir da base de dados de Barro e Lee (2000), que contêm
valores para cada período de cinco anos, abrangendo o intervalo que vai de 1960 a
2000, numa amostra de homens e mulheres com idade superior a 15 anos. Para os
anos sem informações usamos o critério descrito em Gomes, Pessôa e Veloso (2003):
a interpolação linear.
43
A participação dos gastos do governo como proporção do PIB (GOVPIB) é,
por assim dizer, uma medida de eficiência da economia. Via de regra, países com
forte presença do Estado na economia são menos eficientes, já que o governo tende a
não otimizar a alocação de seus recursos no processo produtivo.
A proporção Nível de Investimentos/PIB (INVPIB) tenta capturar os efeitos
de diferentes taxas de investimento por parte de determinandas economias, o que,
caeteris paribus, afeta as taxas de crescimento econômico de um país.
Adicionalmente usamos três variáveis que traduzem os níveis de segurança
institucional das diferentes economias. Seguindo o padrão de Sachs e Warner (1995)
e Rodrik e Rodriguez (1999) usamos dados do Global Development Network (GDN)
do Banco Mundial para:
1. Número de golpes de estado contra o governo de um país ao longo de um
ano (GOLPES).
2. Número de assassinatos ou tentativa de assassinatos a dirigentes de um país
(ASSAS).
3. Número de tentativas de formação de estados independentes do governo
central (REVOL).
A percepção de um ambiente seguro, onde prevalece a estabilidade política e
social e a regra da lei (rule of law), aumenta a atração de investimentos por parte dos
agentes econômicos [Giambiagi, Reis e Urani (2004)]. Tipicamente, países com uma
44
história político-social turbulenta tendem a inibir o interesse de investidores; com
impacto direto no potencial de acumulação de capital produtivo e crescimento
econômico.
Para cada país da amostra estas variáveis de segurança institucional serão
representadas pelo número de golpes de Estado, assassinatos políticos e revoluções,
ocorridos no período de 1960 a 1989.
3.2.4. O Uso de Variáveis Geográficas como Instrumentos
A estimação por OLS pode ser inconsistente se acreditamos que algumas
variáveis estão omitidas na equação. No nosso caso específico o problema ocorre com
a variável de abertura comercial. Países que adotam políticas de mercado livre para o
comércio também se valem de políticas de mercado livre para suas políticas fiscais e
monetárias. Como essas políticas tendem a afetar a renda, políticas comerciais
tendem a estar correlacionadas com fatores que são omitidos desta equação. As
dificuldades são ainda maiores quando usamos a variável
exportações+importações/PIB, já que ela carrega um forte componente de
simultaneidade no caso da estimação da variável de crescimento do produto por
trabalhador. A simultaneidade, ou causalidade reversa, tende a ocorrer neste caso já
que diferentes níveis de renda podem estar associados a diferentes níveis de comércio
internacional. Desta forma, países que crescem mais podem simplesmente desejar
engajar em mais comércio e vice-versa.
45
Baseando-nos em Frankel e Romer (1996), usamos variáveis geográficas
como instrumentos para abertura comercial. Os próprios argumentos geográficos
conseguem por si só explicar o fluxo de comércio entre países, mas, além disso,
também têm a vantagem de não estarem correlacionados com outros fatores que
afetam a renda. Na verdade, segundo Sachs e Warner, alguns fatores geográficos têm
efeito direto no crescimento econômico. Para que não recaiamos no problema de
endogeneidade, usaremos apenas aqueles em que esta relação direta não é observada.
Frankel e Romer (1996) usaram quatro variáveis geográficas como
instrumentos: o tamanho do país; a distância entre os países; se compartilham
fronteiras e se têm acesso direto ao mar. Neste trabalho nos limitaremos a apenas
duas delas
11
: o log da área do país (LNAREA)
12
e a dummy de acesso direto ao mar
(LLOCKED)
13
.
O tamanho do país pode influenciar o nível de comércio internacional na
medida em que países com menor área geográfica tendem a engajar em mais trocas
internacionais pela própria limitação de seu espaço físico. Mas, apesar disso, não há
11
Dados das variáveis geográficas retirados de Sachs, Gallup e Mellinger (1999) a partir do site do
Center for International Development, no endereço eletrônico:
<http://www.cid.harvard.edu/ciddata/ciddata.html>.
12
Área do país medida em Km
2
, subtraindo-se a parte submersa do território.
13
LLOCKED – Dummy que indica se um determinado país possui fronteiras oceânicas: 1 em caso
positivo e 0 para fronteiras fechadas. Exclui-se desta classificação os países da Europa Ocidental e
Europa Central (Áustria, República Tcheca, Hungria, a antiga República Iugoslava da Macedônia,
Eslováquia e Suíça) por estarem perfeitamente integrados economicamente.
46
qualquer relação direta entre o tamanho e a renda de um país. Por isso a variável
tamanho foi escolhida.
Da mesma forma, países com acesso direto ao mar têm à sua disposição as
rotas comerciais usadas pelos mercados internacionais; o que por sua vez pode
influenciar positivamente em uma maior adesão ao comércio internacional. Mas,
assim, como ocorre com a variável tamanho, não há razão para supor uma relação
direta entre acesso ao mar e renda.
3.3. As Técnicas Econométricas Utilizadas
De posse de todas as variáveis necessárias, nos voltamos para o modelo
econométrico. A fim de testar as hipóteses da relação entre abertura comercial e
crescimento econômico usaremos quatro técnicas econométricas distintas, baseando-
nos em uma análise cuidadosa da questão da endogeneidade de nossas variáveis de
abertura.
A presença de endogeneidade na variável exportações+importações/PIB já foi
abordada na seção 3.2.4 e, como vimos, a questão da simultaneidade se apresenta
como um forte indicativo de que tenhamos que usar instrumentos em regressões
envolvendo esta variável.
47
Além disso, segundo o estudo realizado por Rodrik e Rodriguez (1999),
alguns dos indicadores de abertura que compõem a nossa outra variável - a dummy,
podem estar correlacionados com outras medidas de política econômica. Um exemplo
citado pelos autores é o ágio no mercado paralelo que, apesar de ser uma medida
representativa de racionamento de câmbio, tende a estar relacionada também com
aspectos de política monetária omitidos nas equações.
Com o intuito de confirmar a presença de endogeneidade nas duas variáveis
de abertura realizamos o Teste de Hausman nas equações das nossas quatro variáveis
dependentes. O teste confirma a existência de endogeneidade para a variável
exportações+importações/PIB nas equações do crescimento do produto por
trabalhador a um nível de significância de 1%, no crescimento da PTF a 5% e no
crescimento do capital físico por trabalhador a 10%. Contudo, para a dummy não há
evidências de endogeneidade em quaisquer das equações, o que elimina a necessidade
de regressões com o auxílio de instrumentos para esta variável.
Em seguida testamos a qualidade de nossas variáveis geográficas como
instrumentos para a variável exportações+importações/PIB. Com um p-valor de
0,0000 o teste comprova a correlação entre esta variável de abertura e as variáveis
acesso direto ao mar e tamanho do país, demonstrando desta forma, que tais aspectos
geográficos são de fato bons instrumentos.
Na seção A.3 do apêndice apresentamos os cálculos para a detecção de
endogeneidade e verificação do nível de qualidade dos instrumentos de forma
48
detalhada, enquanto que na seção A.4 disponibilizamos as regressões usando
variáveis geográficas como instrumentos também para OPEN2.
Tendo confirmado tanto a presença de endogeneidade para a variável
exportações+importações/PIB quanto a qualidade de nossas variáveis geográficas
como instrumentos para este indicador de abertura, podemos seguir para a parte
econométrica deste estudo. Para tanto nos valemos de dois procedimentos: o primeiro
deles é usar a dummy Sachs-Warner (OPEN2) como medida de abertura em
regressões Ordinary Least Squares (OLS). A segunda alternativa envolve o uso de
instrumentos em regressões Two Stage Least Squares (TSLS) para a variável de
abertura exportações+importações/PIB (OPEN1).
Em seguida usamos regressões Pooled cross-section com seis observações
para cada país no período de 1960 a 1989. Neste caso cada observação representa a
média das variáveis em intervalos de cinco anos. A técnica de Pooled Least Squares
(Pooled LS) será usada para a dummy Sachs-Warner enquanto que para a variável
exportações+importações/PIB nos valemos de instrumentos em regressões Pooled
Two Stage Least Squares (Pooled TSLS).
Ainda assim apresentamos no apêndice os resultados das regressões OLS e
Pooled LS com a variável OPEN1 e as regressões TSLS e Pooled TSLS para a
variável OPEN2, apenas para efeito de comparação.
49
3.4. Estatística Descritiva
A fim de obtermos um pequeno resumo sobre a composição dos países de
nossa amostra, disponibilizamos uma tabela com a estatística descritiva de todas as
variáveis utilizadas para os 60 países no período de 1960 a 1989.
Como podemos ver, as variáveis dependentes: crescimento do produto por
trabalhador, crescimento do capital físico por trabalhador, crescimento do capital
humano por trabalhador e crescimento da PTF apresentam um desvio-padrão alto em
função da composição de países da amostra, que engloba economias ricas, em
desenvolvimento e pobres. As variáveis de abertura reforçam estas diferenças, uma
vez que refletem estratégias comerciais bastante distintas.
50
A variável Exportações+Importações/PIB tem média de pouco mais de 47%,
mas apresenta um máximo de 114%, típico de países asiáticos altamente dependentes
do comércio exterior, e um mínimo em torno de 9%, refletindo estratégias de
economias consideradas fechadas, como é o caso de alguns países da América Latina.
A dummy Sachs-Warner apresenta o mesmo padrão de comportamento com um
máximo de 30, ou seja, países que segundo a classificação adotam políticas
comerciais livres nos trinta anos da amostra. Em contrapartida há países que neste
mesmo período se mantiveram fechados todos os anos. São aqueles com um mínimo
de 0.
As variáveis que capturam o nível de segurança institucional também
demonstram as diferenças das economias. O número total de assassinatos políticos,
por exemplo, vai de 0 a 74 e o número total de revoluções de 0 a 23 no intervalo da
amostra, refletindo períodos de instabilidade em economias mais frágeis.
Apesar de também apresentarem valores distantes de suas médias, as variáveis
de escolaridade média, log da renda em 1960, gastos do governo e investimento,
ambos como proporção do PIB, não têm um desvio-padrão tão alto quanto as outras
séries.
No anexo relacionamos todos os países presentes na amostra utilizada neste
trabalho.
51
4. Resultados
Ampliamos o escopo deste trabalho para que nossos estudos capturassem não
só a relação da abertura comercial com o crescimento do produto por trabalhador,
mas também com cada um de seus componentes, ou seja, o crescimento da PTF, do
capital físico por trabalhador e do capital humano por trabalhador.
As tabelas a seguir descrevem os valores obtidos para os coeficientes das
variáveis independentes e suas respectivas estatísticas-t. Para as regressões OLS e
TSLS implementamos o Teste de White para verificar a presença de
heterocedasticidade. Desta forma, em algumas regressões foi utilizada a Matriz de
Covariância de White para correção de heterocedasticidade e suas estatísticas-t estão
assinaladas com um asterisco
14
.
As tabelas 2 a 5 descrevem os resultados mais importantes deste trabalho,
organizadas da seguinte maneira:
Tabela 2 – Valores dos coeficientes e estatística-t das regressões OLS usando a
dummy Sachs-Warner (OPEN2).
Tabela 3 - Valores dos coeficientes e estatística-t das regressões TSLS usando a
variável de abertura exportações+importações/PIB (OPEN1).
14
Para as regressões Pooled Cross-section o teste não está disponibilizado no E-views e por isso não
foram feitos.
52
Para ambos os casos disponibilizamos os resultados das regressões com a
especificação mais simples; que inclui as variáveis do log da renda per capita inicial
(LOGY60) e a escolaridade média (ESCOLA), e a especificação mais completa, que
além destas inclui a proporção dos gastos do governo no PIB (GOVPIB); o nível de
investimento em relação ao PIB (INVPIB); e as variáveis do número de golpes de
Estado (GOLPES), assassinatos políticos (ASSAS) e revoluções (REVOL). Nas
regressões TSLS as variáveis instrumentais são a dummy de acesso direto ao mar
(LLOCKED) e o log da área do país (LNAREA).
Tabela 4 - Valores dos coeficientes e estatística-t das regressões Pooled LS usando a
dummy Sachs-Warner (OPEN2).
Tabela 5 - Valores dos coeficientes e estatística-t das regressões via Pooled TSLS
usando a variável de abertura exportações+importações/PIB (OPEN1).
4.1. OLS e TSLS
Vamos analisar agora os resultados do nosso primeiro grupo de regressões:
OLS com a dummy Sachs-Warner (OPEN2). Pela tabela 2 podemos notar que os
coeficientes de abertura apresentam sinal positivo e estatisticamente significativo ao
nível de 1% nas equações de crescimento do produto por trabalhador e ao nível de 5%
para o crescimento da PTF. A leitura dos valores nos coeficientes das colunas 1a e 4a
nos mostra que um ano adicional de abertura eleva a taxa anual de crescimento do
53
produto por trabalhador em 0,04%. Da mesma forma, um ano adicional de abertura
eleva a taxa anual de crescimento da PTF em 0,03%. Ou seja, a maneira pela qual o
comércio internacional parece afetar o crescimento destes países é via aumento de
produtividade
15
.
As regressões por TSLS com a variável OPEN1 não apresentam quaisquer
resultados significativos; o que pode ser visto abaixo, na tabela 3
16
.
15
Na verdade a equação com a especificação mais simples do crescimento do capital físico por
trabalhador apresenta um coeficiente positivo e significativo ao nível de 5%. Entretanto, optamos por
reportar no texto apenas os resultados obtidos com o vetor de controles completo por serem aqueles
tecnicamente corretos.
16
A equação com a especificação mais simples do crescimento do produto por trabalhador apresenta
um coeficiente positivo e significativo a 10%.
54
4.2. Pooled Cross-section
Em linhas gerais os resultados obtidos através de regressões Pooled cross-
section para a variável OPEN2 são bastante semelhantes àqueles apresentados nas
regressões anteriores, exceto pelo fato de que os coeficientes das variáveis de abertura
são sistematicamente maiores.
As colunas 1a e 4a da tabela 4 mostram coeficientes positivos e significativos
ao nível de 5% para as equações de crescimento do produto por trabalhador e da PTF.
Os dados indicam que um ano adicional de abertura eleva a taxa anual de crescimento
55
do produto por trabalhador em 0,21%. O mesmo valor que encontramos para o
crescimento da PTF
17
.
As regressões Pooled TSLS também apresentam o mesmo padrão:
coeficientes positivos e significativos nas equações do crescimento do produto por
trabalhador e da PTF. Nas colunas 1a e 4a da tabela 5 temos que para cada um 1% de
aumento no grau de abertura há um crescimento adicional de quase 0,03% tanto para
o produto por trabalhador quanto para a PTF - o primeiro significativo ao nível de 5%
enquanto o segundo aparece significativo a 10%.
17
A equação com a especificação mais simples do crescimento do capital físico por trabalhador
apresenta um coeficiente positivo e significativo a 1%.
56
Uma possível explicação para estes resultados pode ser que a abertura
comercial de fato promova tanto uma nova estrutura na cadeia produtiva de alguns
setores da economia quanto um novo equilíbrio competitivo.
O contato com bens intermediários mais avançados tecnologicamente pode
modernizar a produção, trazendo maior eficiência e produtividade. Além disso, a
entrada de concorrentes estrangeiros gera um maior nível de competitividade para a
economia, com os fornecedores domésticos necessitando desenvolver novas técnicas
para baixar custos e manter qualidade pelo menos comparável aos similares
importados.
Cabe ressaltar ainda que, apesar de estatisticamente significativos, os
resultados obtidos nas regressões de crescimento tanto do produto por trabalhador
57
quanto da PTF apontam uma relação quantitativamente fraca entre abertura comercial
e crescimento. Em outras palavras, apesar de conseguirmos estabelecer tal relação, a
mesma deve ser vista com cautela, já que o efeito quantitativamente comprovável do
comércio internacional sobre o crescimento da economia é baixo.
Na seção A1 do apêndice descrevemos os resultados de regressões realizadas
através da variável “abertura real”, proposta por Alcalá e Ciccone (2003 e 2004). Em
linha com as conclusões apresentadas pelos autores, as regressões com este indicador
confirmam os resultados apresentados neste trabalho, estabelecendo uma relação
positiva entre abertura comercial e crescimento econômico.
58
5. Conclusão
Este trabalho tem como objetivo mensurar os efeitos da abertura comercial no
crescimento econômico, medido pelo produto por trabalhador e seus componentes:
capital físico por trabalhador, capital humano por trabalhador e PTF. As metodologias
utilizadas envolvem regressões OLS, TSLS e Pooled cross-section. Os indicadores de
abertura são exportações+importações/PIB, OPEN1, e a dummy criada por Sachs e
Warner (1995), OPEN2. Para as regressões TSLS com a variável OPEN1 usamos
como variáveis instrumentais aspectos geográficos, como a área do país, e uma
dummy para ausência de acesso direto ao mar. Este procedimento visa expurgar
possíveis efeitos de endogeneidade da variável de abertura.
Contudo, assim como vem acontecendo com a maioria dos estudos que tentam
medir os efeitos da abertura econômica em variáveis de crescimento, os dados não
apresentam evidências definitivas a respeito desta relação. A fonte desses problemas
pode estar de fato na endogeneidade dos indicadores de abertura. Os resultados com a
dummy em regressões LS reforçam essa impressão. O mesmo acontece quando
trabalhamos com regressões TSLS, em que aspectos geográficos são usados como
instrumentos.
Duas das quatro regressões OLS usando a dummy Sachs-Warner, OPEN2,
conseguem estabelecer uma relação positiva, ainda que fraca, entre abertura e
crescimento do produto por trabalhador e PTF. Estes resultados se repetem para a
variável OPEN2 nas regressões Pooled Least Squares.
59
Quando usamos instrumentos nas regressões TSLS o coeficiente de abertura
OPEN1 é positivo e significativo apenas na regressão com especificação mais simples
da equação do crescimento do produto por trabalhador. Já nas regressões Pooled
TSLS os coeficientes de abertura são significativos nas equações do crescimento do
produto por trabalhador e da PTF.
Como podemos verificar a partir dos valores dos coeficientes de abertura
apresentados
ao longo deste trabalho, os resultados sugerem que de maneira geral
uma política comercial livre tende a ser de fato mais benéfica que uma orientação
voltada para dentro. Desta forma, mesmo sabendo que os resultados não são
totalmente conclusivos, a adoção de políticas comerciais livres parece impulsionar a
economia através de ganhos de produtividade; o que pode ser constatado em algumas
das regressões realizadas neste estudo.
De fato, as regressões LS usando a dummy OPEN2 e aquelas que utilizam
instrumentos para eliminar problemas causados por endogeneidade na variável
OPEN1 apresentam uma relação positiva e significativa entre abertura comercial e
crescimento econômico via PTF.
No entanto, é importante ressaltar que estes resultados demandam uma
apreciação cautelosa, uma vez que os coeficientes para as variáveis de abertura
indicam um impacto muito pequeno do comércio internacional no crescimento
econômico.
60
O contato com tecnologias mais sofisticadas, presentes nos bens importados, e
o aumento da concorrência com a entrada de similares pode ser uma explicação para
o aumento de produtividade de economias abertas ao comércio internacional.
Tipicamente, a entrada de bens de capital tecnologicamente mais avançados tende a
aumentar a produtividade das empresas que se valem destes recursos e no longo prazo
a própria tecnologia acaba sendo absorvida pela economia importadora.
Da mesma maneira, a entrada de similares importados gera uma maior disputa
com os fornecedores nacionais, o que por sua vez demanda novas estratégias para
redução de custos e aumento de qualidade do próprio processo produtivo. O efeito
final é, via de regra, um aumento de eficiência traduzida em uma maior PTF.
61
6. Referências
ALCALÁ, F., CICCONE, A. Trade and Productivity.
Quarterly Journal of
Economics
, p. 613-646, Maio 2004.
ALCALÁ, F., CICCONE, A. Trade, Extent of the Market, and Economic Growth
1960-1996.
Textos para Discussão, Universat Pompeu Fabra, Dezembro 2003.
ALESINA, A., SPOLAORE. E., WACZIARG, R. Economic Integration and
Political Disintegration.
NBER Working Paper, nº.6163, Setembro 1997.
BACHA, E. Do Consenso de Washington ao Dissenso de Cambridge. Inc A. C.
Castro (org).
Desenvolvimento em Debate: Novos Rumos do Desenvolvimento no
Mundo, BNDES, 2002.
BALDWIN, ROBERT. E. Openness and Growth: What's the Empirical
Relationship?.
NBER Working Paper, nº. 9578, 2003.
Banco Mundial.
Global Development Network Growth Database. Por Wiiliam
Easterly e Mirvat Sewadeh.
<http://www.worldbank.org/research/growth/GDNdata.htm>
62
Banco Mundial.
World Tables. Baltimore, Johns Hopkins University Press, editado
por Wright, John W., 1993. The Universal Almanac, Kansas City, editado por
Andrews e Mc Meel, 1994.
BARRO, R.J., LEE, J. International Comparison of Educational Attainment.
Journal
of Monetary Economics,
v.32, nº 3, p.363-394, 1993.
BARRO, R.J., LEE, J. Data Set for a Panel of 138 Countries. Harvard University,
Janeiro 1994.
BARRO, R. J., LEE, J. International data on educational attainment: updates and
implications.
NBER Working Paper, nº. 7.911, 2000.
BEN-DAVID, D. Equalizing Exchange: Trade Liberalization and Income
Convergence.
Quarterly Journal of Economics, v. 108, nº.3, p.653-679, 1993.
BILS, M., KLENOW, P.J. Does Schooling cause growth?
American Economic
Review
, v. 90, nº.5, p.1160-1183, 2000.
COWITT, Philip P.1985
World Currency Yearbook. Brooklyn, NY, International
Currency Analysis, Inc, 1986.
63
DOLLAR, D. Outward-Oriented Developing Economies Really Do Grow More
Rapidily: Evidence form 95 LDCs, 1976-1985".
Economic Development and
Cultural Change
, v.40, nº.3, p. 523-544, 1992.
EDWARDS, S. Openness, Productivity and Growth: What do we Really Know?
Economic Journal, v. 108, p. 383-398, Março 1998.
EDWARDS, S. Trade and Industrial Reform in Latin America.
NBER Working
Paper
, n.4772, Junho 1994.
FRANKEL, J. A., ROMER, D. Trade and Growth: An Empirical Investigation.
NBER Working Paper, nº. 5476, 1996.
GIAMBIAGI, F., REIS, J.G., URANI, A.
Reformas no Brasil: Balanço e Agenda.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2004. 543 p.
GOMES, V., PESSÔA S., VELOSO, F. Evolução da Produtividade Total dos
Fatores na Economia Brasileira: Uma Análise Comparativa.
Pesquisa e
Planejamento Econômico
, Rio de Janeiro, v.33, n.3, p. 389-434, 1993.
HALL, R. E., JONES, C. I. Why do some countries produce so much more output
per worker than others?
Quarterly Journal of Economics, v. 114, p. 83-116,
Fevereiro 1999.
64
Human Development Report 2003.
Millennium Development Goals: A compact
among nations to end human poverty. <http://hdr.undp.org/reports/global/2003>.
Acesso em dezembro 2004.
JONES, C. I.
Introduction to Economic Growth. 2ª edição. W. W. Norton &
Company, 2002.
KORNAI, Janos.
The Socialist System: The Political Economy of Communism.
Princeton, NJ, Princeton University Press, 1992.
LEAMER, E. E.
Measures of Openness. In Trade Policy Issues and Empirical
Analysis, editado por Robert E. Baldwin. Chicago, University of Chicago Press,
1988.
LEE, J. International Trade, Distortions, and Long-Run Economic Growth.
International Monetary Fund Staff Papers, v. 40, nº 2, p.299-328.
LERNER, A. P. The Symmetry Between Import and Export Taxes.
Economica v. 3
p. 306-313. Agosto 1936.
PESSÔA, S., A experiência de crescimento das economias de mercado nos últimos
40 anos.
Ensaios Econômicos, EPGE-FGV, 2003.
RODRIGUEZ, F., RODRIK, D. Trade Policy and Economic Growth: A Skeptic's
Guide to the Cross-National Evidence.
NBER Working Paper, nº. 7081, 1999.
65
SACHS, J. D., WARNER, A. M. Economic Reform and the Process of Global
Integration.
Brookings Papers on Economic Activity, v. 1, p. 1-118, Agosto 1995.
SACHS, J., GALLUP, J., MELLINGER, A. Geography and Economic
Development.
CID Working Paper, nº.1, Março 1999.
WOLF, H., Trade Orientation: Measurement and Consequences.
Estudios de
Economia
, v. 20, nº. 20, p. 52-72, 1993.
66
APÊNDICE
A.1 Resultados para a Variável de Abertura Real
De acordo com Alcalá e Ciccone (2003 e 2004) a questão da endogeneidade
não é o único empecilho encontrado nos estudos sobre abertura comercial. Os autores
argumentam que a utilização da variável exportações+importações/PIB medida em
termos nominais também apresenta problemas que podem ser contornados através de
uma simples adaptação. O efeito final seria uma variável robusta com resultados
significativos para o impacto da abertura comercial no crescimento econômico.
Os autores descrevem três razões através das quais o uso desta variável de
abertura pode trazer resultados ambíguos ou inconsistentes. São elas:
Supondo-se dois países que produzem e comercializam as mesmas
quantidades de bens e que em um deles o preço relativo dos non-tradables
seja maior, então eles terão diferentes valores para a abertura comercial
medida em termos nominais. O uso da variável de abertura real elimina este
efeito, fazendo com que ambos os países apresentem o mesmo grau de
abertura.
Se no caso acima o preço relativo maior em um dos países for resultado do
efeito Balassa-Samuelson, então o país com maior produtividade média do
trabalho terá uma menor abertura nominal. Isso poderia levar à conclusão
errada de que o comércio pode ser prejudicial para a produtividade de um
67
país, embora por construção os dois países transacionem as mesmas
quantidades.
A terceira razãoo se baseia em duas premissas. A primeira delas é a hipótese
Balassa-Samuelson que sugere que os ganhos de produtividade com o
aumento no comércio internacional são sentidos mais fortemente no setor de
tradables. A segunda hipótese assume que a demanda por non-tradables é
inelástica. O aumento do comércio gera então ganhos de produtividade no
setor de tradables em função de um maior grau de especialização. Mas isso
não leva necessariamente a um aumento do grau de abertura, já que a maior
produtividade do setor de tradables tende a elevar o preço relativo dos
serviços e como conseqüência temos um menor grau de abertura medida em
termos nominais.
Em função destas questões os autores adotam uma variável que visa eliminar
as distorções causadas pelas diferenças entre os preços relativos dos países. É a
chamada “abertura real”, calculada com dados da PWT versão 6.1 e neste trabalho
denominada OPEN3
18
.
Nas tabelas abaixo disponibilizamos os resultados das regressões TSLS e
Pooled TSLS para a variável de abertura real, OPEN3.
18
Para a construção da variável de abertura real multiplica-se a variável preço “p” pela variável de
abertura “openc”. Com o intuito de facilitar a visualização dos resultados por parte do leitor
multiplicamos os resultados dos coeficientes de abertura por 1000, sem qualquer prejuízo para uma
análise quantitativa ou qualitativa.
68
Pela tabela A1 vemos que as regressões TSLS apresentam coeficientes
significativos na equação do crescimento do produto por trabalhador ao nível de 10%
e na equação do crescimento da PTF ao nível de 5%. Partindo da série da variável
OPEN3 os resultados indicam que um aumento na abertura real do 25º percentil para
o 75º percentil está associado a um aumento de 0,46% no crescimento do produto por
trabalhador e a um aumento de 0,43% no crescimento da PTF.
Abaixo a tabela A2 com os coeficientes obtidos com regressões Pooled TSLS
para a variável OPEN3.
69
Neste caso os coeficientes são levemente maiores e significativos ao nível de
5% para a equação do crescimento do produto por trabalhador e ao nível de 10% para
o crescimento da PTF. Os resultados indicam que um aumento na abertura real do
25º percentil para o 75º percentil gera um aumento de 0,64% no crescimento do
produto por trabalhador e um aumento de 0,62% no crescimento da PTF.
Como pode ser constatado nas tabelas A3 e A4 abaixo, os resultados para as
equações do crescimento do produto por trabalhador e do crescimento da PTF
usando-se a amostra de 1960 a 2000 não são muito diferentes, tanto em termos de
valores dos coeficientes quanto para o seu nível de significância. As regressões TSLS
vistas na tabela A3 nos indicam que um aumento na abertura real do 25º para o 75º
percentil representa um aumento de 0,50% no crescimento produto por trabalhador e
de 0,42% no crescimento da PTF.
70
A diferença maior fica por conta da regressão do crescimento do capital físico
por trabalhador na técnica de Pooled TSLS, onde temos um coeficiente significativo
ao nível de 10% (tabela A4 abaixo).
71
A análise dos dados desta tabela nos mostra que um aumento na abertura real
do 25º percentil para o 75º percentil está associado a um aumento de 0,34% no
crescimento do capital por trabalhador, de 0,50% no crescimento do produto por
trabalhador e de 0,42% no crescimento da PTF
19
.
Acreditamos que, em linha com os resultados apresentados pelas
regressões OLS e Pooled LS com a variável OPEN2 e pelas regressões TSLS e
Pooled TSLS com a variável OPEN1, os dados obtidos com a medida de abertura
proposta por Alcalá e Ciccone (2003 e 2004), aqui chamada de OPEN3, confirmam
a evidência empírica de que o nível de abertura comercial está relacionado
positivamente com o crescimento econômico de um país.
19
Em Alcalá e Ciccone (2003) os autores chegam a valores bastante semelhantes aos apresentados
nesta seção. De fato os seus resultados indicam que o aumento da abertura real do 25º percentil para o
75º percentil está associado a um aumento de 0,8% na taxa de crescimento da economia.
72
A.2 Resultados para a Variável OPEN1 no Período de 1960 a 2000
Ao longo dos estudos a respeito das conseqüências da adoção de uma política
comercial livre sobre o crescimento econômico de um país, bem antes de começar a
escrever esta dissertação, percebemos que um problema mencionado em
praticamente todos os textos era a dificuldade de se encontrar uma variável que não
apresentasse endogeneidade.
Uma solução foi utilizar a dummy desenvolvida por Sachs e Warner (1995),
citada em vários trabalhos acadêmicos sobre o tema. A dummy, composta por cinco
aspectos relacionados à política comercial, visava exatamente eliminar os efeitos de
endogeneidade que acompanhavam vários indicadores de abertura.
Contudo, os autores só disponibilizam dados para a dummy do período que
vai de 1960 a 1989 para a amostra de 60 países que usamos neste trabalho. Desta
forma, apesar de termos observações de 1960 até 2000 para todas as outras variáveis,
tivemos que restringir a nossa análise até 1989 a fim de manter a consistência dos
resultados quando os comparamos com aqueles obtidos pela variável
exportações+importações/PIB, chamada de OPEN1.
Neste complemento aos resultados principais, mostramos que ao estendermos
a amostra até o ano de 2000, os resultados para a variável de abertura OPEN1 de uma
forma geral se mantêm próximos àqueles descritos ao longo deste trabalho.
73
Regressões TSLS
Como pode ser visto na coluna 1a da tabela A5, apenas as regressões com a
especificação mais simples do vetor de controles apresenta resultados significativos
ao nível de 10% nas regressões do crescimento do produto por trabalhador e da PTF.
Aqui, para cada um 1% de aumento no grau de abertura gera-se um crescimento
adicional de 0,025% para o produto por trabalhador e de 0,021% para o capital físico
por trabalhador.
74
Regressões Pooled Cross-section
20
Já para as regressões por Pooled TSLS os resultados são significativos não só
para o crescimento do produto por trabalhador como para o crescimento do capital
físico por trabalhador e para a PTF, em quaisquer das especificações utilizadas.
Como pode ser visto na tabela A6, colunas 1a, 2a, e 4a, respectivamente, para cada
um 1% de aumento no grau de abertura comercial temos 0,023% de crescimento do
produto por trabalhador; 0,014% para o capital físico por trabalhador e 0,018% para
a PTF
21
.
20
Nas regressões Pooled Cross-section o período analisado é de 1960 a 1999, o que corresponde a
oito períodos iguais de cinco anos.
21
Assim como fizemos ao longo do trabalho, apesar de as equações com especificação mais simples
apresentarem coeficientes significativos, concentramos nossas análises apenas nas equações com o
vetor de controles completo por serem aquelas tecnicamente corretas.
75
Abaixo disponibilizamos duas tabelas com os valores do coeficiente de
abertura OPEN1 nas equações do crescimento do: produto por trabalhador; capital
físico por trabalhador; capital humano por trabalhador e PTF, para os dois períodos
analisados - 1960 a 1989 e 1960 a 2000. A tabela A7 descreve os resultados para a
variável OPEN1 quando usamos a especificação mais completa para as variáveis de
controle, enquanto que a tabela A8 possui apenas os resultados nas especificações
mais simples.
Podemos notar pela tabela A7 que na técnica de Pooled TSLS o coeficiente
de abertura na equação do crescimento por trabalhador passa de um nível de
significância de 5% para 1% quando utilizamos a amostra de 1960 a 2000. Além
disso, a regressão do crescimento do capital físico por trabalhador passa a apresentar
76
um coeficiente de 0,014%, significativo ao nível de 10%. Já na equação do
crescimento da PTF o nível de significância de mantém constante em 10%.
A tabela A7 nos mostra que no período de 1960 a 1989, usado ao longo de
todo o trabalho, o valor do coeficiente de abertura na equação do crescimento do
produto por trabalhador é de 0,029%, enquanto que na amostra de 1960 a 2000 o
coeficiente é levemente menor, com 0,023%. O mesmo acontece com o crescimento
da PTF , onde o valor do coeficiente também cai levemente, de 0,025% para 0,018%.
Os dados apresentados neste apêndice reforçam aqueles obtidos ao longo
deste trabalho, já que mais uma vez temos coeficientes positivos para o crescimento
do produto por trabalhador e o crescimento da PTF. No nosso entender, consistente
com a análise feita na amostra de 1960 a 1989, estes resultados empíricos fornecem
uma evidência positiva entre abertura comercial e crescimento econômico via PTF.
Ainda assim é importante esclarecer que apesar de estatisticamente verificável, o
impacto da abertura no crescimento é quantitativamente baixo.
77
A.3 A Presença de Endogeneidade e o Teste de Hausman
O objetivo deste trabalho é, como sabemos, verificar empiricamente qual a
relação entre abertura comercial e o crescimento econômico de um país.
Entretanto, como vem ocorrendo com vários estudos que tratam deste tema, a
mensuração dos efeitos de política comercial apresenta dificuldades econométricas,
já que os indicadores de abertura tradicionalmente usados caracterizam-se por um
forte componente de endogeneidade.
É o que acontece, por exemplo, com a variável de abertura
exportações+importações/PIB, OPEN1. Uma das soluções para se contornar este
problema foi o uso de variáveis geográficas como instrumentos para OPEN1. A outra
foi usar a dummy Sachs e Warner, OPEN2, como medida alternativa de abertura.
Além disso, estendemos a análise de endogeneidade também para a variável utilizada
na seção A.1 do apêndice: a “abertura real”, proposta por Alcalá e Ciccone (2003 e
2004).
A fim de verificar a presença de endogeneidade realizamos o Teste de
Hausman para as três variáveis de abertura: exportações+importações/PIB, OPEN1, a
dummy Sachs-Warner, OPEN2 e a variável de abertura real, OPEN3. Os passos
descritos abaixo foram desenvolvidos para ambos indicadores de abertura.
78
Seguindo o procedimento padrão, inicialmente regredimos as variáveis de
abertura contra todas as variáveis exógenas, inclusive os instrumentos: acesso direto
ao mar e log do tamanho do país, por OLS. Incluindo o resíduo desta regressão em
uma regressão OLS para cada uma de nossas variáveis dependentes temos os valores
das estatísitcas-t e p-valores para a série de resíduos - aqui chamadas de Testehaus1,
no caso da variável OPEN1, Testehaus2 para OPEN2 e Testehaus3 para OPEN3.
Pela tabela A9 podemos constatar a presença de endogeneidade para a
variável OPEN1 em pelo menos três regressões: no crescimento do produto por
trabalhador ao nível de 1%; no crescimento do capital físico por trabalhador ao nível
de 10% e no crescimento da PTF ao nível de 5%
22
.
Este é o argumento técnico no qual nos baseamos para realizarmos regressões
com uso de instrumentos para a variável de abertura exportações+importações/PIB,
OPEN1.
22
Ao usarmos a amostra de 1960 a 2000 os resultados para endogeneidade se alteram levemente.
Podemos detectar a presença de endogeneidade ao nível de 1% para a equação do crescimento do
produto por trabalhador, ao nível de 5% para o capital físico por trabalhador e ao nível de 10% para o
crescimento da PTF. Na equação do crescimento do capital humano por trabalhador, com um p-valor
de 0,8849, não pudemos comprovar a existência de endogeneidade para a variável OPEN1 de forma
geral. Ainda assim, a fim de manter a consistência com as regressões usadas ao longo do trabalho,
mantivemos o uso de instrumentos para OPEN1 em regressões TSLS e Pooled TSLS também na
amostra de 1960 a 2000, apresentada na seção A.2 deste apêndice.
79
A tabela A10 abaixo mostra os valores das estatísticas-t e p-valores para
Testehaus2. Os dados mostram que, em linha com que afirmam Sachs e Warner
(1995), a dummy criada por eles não apresenta evidências de endogeneidade, o que,
por sua vez, elimina a necessidade de instrumentos para regressões com esta variável
de abertura.
A tabela A11 descreve os resultados para a variável OPEN3. Nela podemos
comprovar a presença de endogeneidade em pelo menos dois casos: na equação do
crescimento do produto por trabalhador ao nível de 10% e na equação do
crescimento da PTF ao nível de 5%
23
. Ainda assim, por uma questão de
conservadorismo, decidimos adotar instrumentos também para a variável OPEN3,
assim como o fizeram Alcalá e Ciccone (2003 e 2004)
24
.
23
Quando usamos a amostra de 1960 a 2000 há a presença de endogeneidade para a variável OPEN3
na equação do capital humano por trabalhador ao nível de 10% e na equação do crescimento da PTF
ao nível de 5%.
24
Apesar de não apresentarmos os resultados neste trabalho, também realizamos regressões OLS e
Pooled LS para as equações com a variável OPEN3. Em nenhum dos casos porém, obtivemos
coeficientes significativos.
80
O próximo passo, depois de já confirmada a presença de endogeneidade para
OPEN1, é testar a qualidade das variáveis geográficas como instrumentos. Como
sabemos, um instrumento é considerado bom se estiver pelo menos parcialmente
correlacionado com a variável endógena, mas não correlacionado com variáveis
omitidas da equação estrutural.
A partir da regressão do coeficiente de abertura OPEN1 contra todas as
variáveis exógenas (primeiro estágio do Teste de Hausman), testamos a hipótese nula
de que o coeficiente das variáveis geográficas: acesso direto ao mar (LLOCKED) e
log do tamanho do país (LNAREA) sejam zero, através de um Teste F. O resultado é
um F igual a 13,78, com um p-valor de 0,0000. Isso significa dizer que ao nível de
1% podemos rejeitar a hipótese de que OPEN1 e as variáveis geográficas sejam não
correlacionados. Em outras palavras, as variáveis LLOCKED e LNAREA são de fato
um bom instrumento para OPEN1
25
.
25
Ao usarmos a amostra do período de 1960 a 2000 para testar a qualidade das variáveis instrumentais
para OPEN1, o resultado não se alterou (F = 11,65 e p-valor = 0,0001).
81
Apesar de não termos constatado a presença de endogeneidade na dummy
OPEN2, decidimos testar a qualidade dos instrumentos para esta variável, já que
disponibilizamos os resultados das regressões TSLS com a dummy na seção A.4
deste apêndice. O teste retorna um F igual a 1,65 com um p-valor de 0,2018. Ou seja,
neste caso as variáveis geográficas não parecem estar correlacionadas com esta
variável de abertura, o que faz delas um instrumento ruim para OPEN2 mesmo se
houvéssemos comprovado a presença de endogeneidade. Com efeito, como podemos
ver na seção A.4 do apêndice, as regressões TSLS e Pooled TSLS não apresentam
quaisquer resultados significativos para a variável OPEN2.
Finalmente usamos o mesmo procedimento para verificar a qualidade dos
instrumentos para a variável OPEN3 e usada no apêndice A.1 deste trabalho. Neste
caso o teste F retorna um valor de 14,17 e um p-valor de 0,0000, o que confirma a
qualidade das variáveis geográficas como instrumentos para OPEN3 ao nível de
significância de 1%
26
.
26
Ao usarmos a amostra do período de 1960 a 2000 para testar a qualidade das variáveis instrumentais
para OPEN3, o resultado também não se altera (F = 22,01 e p-valor = 0,0000).
82
A.4 Regressões OLS para a Variável OPEN1 e TSLS para OPEN2
Como vimos na seção A.3 do apêndice, a análise da questão da
endogeneidade é fundamental para o procedimento empírico envolvendo a relação
entre abertura comercial e crescimento econômico. Por isso deixamos somente as
regressões que consideram este aspecto como aquelas nas quais baseamos nossas
conclusões.
Entretanto, apenas para efeito de comparação, disponibilizamos nesta seção
as regressões realizadas sem levar em consideração uma análise cuidadosa a respeito
da questão da endogeneidade. São elas as regressões OLS e Pooled LS usando a
variável OPEN1 e as regressões TSLS e Pooled TSLS com a variável OPEN2.
Enquanto o grupo de regressões usando a variável OPEN1 enfrenta
problemas de endogeneidade (ver tabela A12 abaixo), as regressões TSLS com a
variável OPEN2 não se mostram eficientes, uma vez que, como pudemos comprovar
pelo estudo da seção A.3, não só não há evidências de que a dummy OPEN2 tenha
componentes de endogeneidade, como as variáveis geográficas tampouco se
apresentam como bons instrumentos nestes casos (tabela A13).
83
84
A tabela A12 apresenta coeficientes significativos apenas para as regressões
do crescimento do capital físico por trabalhador e do capital humano por trabalhador;
sendo que no primeiro o coeficiente, significativo ao nível de 5%, aparece com sinal
negativo, sugerindo que um maior grau de abertura traria um menor crescimento do
capital físico por trabalhador. Com relação ao capital humano os resultados indicam
que o aumento de 1% no grau de abertura geraria um crescimento de
aproximadamente 0,006% no capital humano por trabalhador. Já a tabela A13, como
era de se esperar, não apresenta coeficientes significativos em quaisquer regressões.
Nem mesmo quando usamos técnicas mais avançadas, como o Pooled LS
para a variável OPEN1 e o Pooled TSLS com a dummy OPEN2, obtivemos
resultados melhores. Pela tabela A14 temos novamente um coeficiente positivo e
significativo ao nível de 10% para o crescimento do capital humano por trabalhador.
Neste caso, para cada 1% de aumento no grau de abertura temos 0,014% de
crescimento do capital humano por trabalhador. Em contrapartida, os dados para a
PTF apontam uma relação negativa entre abertura comercial e crescimento. O
coeficiente da variável de abertura OPEN1 nos indica que para cada 1% de aumento
no grau de abertura temos uma diminuição de 0,012% no crescimento da PTF.
85
Finalmente, pela tabela A15 podemos ver que mais uma vez o uso de
instrumentos para a dummy não se mostra uma medida eficaz, já que nenhum dos
coeficientes apresenta coeficientes significativos.
86
As regressões apresentadas nesta seção demonstram que uma análise
detalhada das questões econométricas envolvidas na execução de um estudo como
este é vital para se obter resultados confiáveis. De fato, se não houvéssemos
considerado a presença de endogeneidade, algumas conclusões descritas neste estudo
simplesmente não poderiam ter sido formuladas. Resultados ambíguos, como os
apresentados nesta seção, são um exemplo disso.
87
ANEXO
Lista de Países utilizados neste estudo:
África do Sul
Argentina
Austrália
Áustria
Bélgica
Bolívia
Brasil
Camarões
Cana
Chile
Colômbia
Costa Rica
Dinamarca
Egito
El Salvador
Equador
Espanha
EUA
Filipinas
Finlândia
França
Gana
Grã-Bretanha
Grécia
Guatemala
Holanda
Honduras
Hong Kong
Índia
Irã
Irlanda
Israel
Itália
Jamaica
Japão
Jordânia
Kênia
Madagascar
México
Níger
Nigéria
Noruega
Nova Zelândia
Paquistão
Paraguai
Peru
Portugal
Rep. Dominicana
Rep.da Coréia
Senegal
Sri Lanka
Suécia
Suíça
Tailândia
Togo
Trinidad e Tobago
Turquia
Uganda
Uruguai
Venezuela
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo