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ANDRÉA CRISTINA ULISSES DE JESUS
A UNIDADE INFORMACIONAL DE APÊNDICE NO PORTUGUÊS DO
BRASIL
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Estudos Lingüísticos
da Faculdade de Letras da Universidade
Federal de Minas Gerais, como requisito
parcial à obtenção do título de Mestre em
Lingüística Aplicada.
Área de concentração: Lingüística
Aplicada
Linha de Pesquisa F: Estudos em Línguas
Estrangeiras: Ensino/Aprendizagem,
Usos e Culturas
Orientador: Prof. Dr. Tommaso Raso
Co-orientadora: Profª. Drª. Heliana Mello
Belo Horizonte
Faculdade de Letras da UFMG
2008
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2
RESUMO
Este estudo teve como objetivo analisar a unidade informacional de apêndice segundo
o quadro teórico proposto por Cresti (2000) e denominado Teoria da Língua em Ato. Este
estudo, juntamente com o estudo realizado por Alves de Deus (em preparação) sobre a
unidade informacional de tópico, constitui-se como projeto piloto que orientará um projeto
mais amplo de constituição de um corpus do português do Brasil, o C-ORAL-Brasil.
A análise dos dados consistiu:
1. na segmentação entonacional de três textos falados em enunciados e unidades tonais e
na etiquetagem informacional de cada unidade;
2. na contagem e na avaliação das principais medidas da fala (número de turnos, de
enunciados e de unidades tonais por unidades de tempo; número de palavras por turno,
enunciado e unidade tonal; número de enunciados simples e complexos, etc.);
3. na contagem e na avaliação de algumas conjunções para mostrar a função pragmática
por elas desenvolvida;
4. na análise aprofundada das unidades informacionais de apêndice de comentário e
apêndice de tópico (correlatos entonacionais, funcionais e morfossintáticos, além dos
valores quantitativos).
Os resultados mostraram como a aplicação da Teoria ao português do Brasil pode trazer
novas contribuições em aspectos importantes da análise da fala e permitir uma comparação
rica de desdobramentos com as quatro línguas do projeto C-ORAL-ROM.
3
ABSTRACT
This study aimed at analyzing the informational unit of appendix according to the
theoretical framework proposed by Cresti (2000) named “Theory of Language in Act”. This
study and the one conducted by Alves de Deus (forthcoming) which focuses on the
informational unit of topic constitute a test project that will guide a broader project that aims
to constitute a corpus of Brazilian Portuguese, the C-ORAL-Brasil.
The data analysis consists of:
1. the prosodic tagging of three spoken texts into utterances and tone units and in the
linguistic annotation of each unit;
2. the measurement and evaluation of the main spoken measures (number of turns,
utterances, tone units by time; number of words by turns, simple utterances and
compound utterances, among others);
3. the measurement and evaluation of some conjunctions to point its pragmatic
functions;
4. the deep analysis of the informational units of comment appendix and topic
appendix (prosodic, functional and morph syntactical features).
The results pointed that the use of the Theory to the Brazilian Portuguese may offer
new contributions to some important aspects of spoken language analysis and allow a rich
comparison with the four languages of the C-ORAL-ROM project.
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4
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 ..................................................................................................................................... 24
Figura 2 ..................................................................................................................................... 25
Figura 3 ..................................................................................................................................... 26
Figura 4 ..................................................................................................................................... 27
Figura 5 ..................................................................................................................................... 27
Figura 6 ..................................................................................................................................... 27
Figura 7 ..................................................................................................................................... 30
Figura 8 ..................................................................................................................................... 31
Figura 9 ..................................................................................................................................... 34
Figura 10 ................................................................................................................................... 35
Figura 11 ................................................................................................................................... 36
Figura 12 ................................................................................................................................... 37
Figura 13 ................................................................................................................................... 38
Figura 14 ................................................................................................................................... 39
Figura 15 ................................................................................................................................... 40
Figura 16 ................................................................................................................................... 41
Figura 17 ................................................................................................................................... 42
Figura 18 ................................................................................................................................... 43
Figura 19 ................................................................................................................................... 44
Figura 20 ................................................................................................................................... 45
Figura 21 ................................................................................................................................... 47
Figura 22 ................................................................................................................................... 47
Figura 23 ................................................................................................................................... 48
Figura 24 ................................................................................................................................... 50
Figura 25 ................................................................................................................................... 50
Figura 26 ................................................................................................................................... 51
Figura 27 ................................................................................................................................... 52
Figura 28 ................................................................................................................................... 53
Figura 29 ................................................................................................................................... 54
Figura 30 ................................................................................................................................... 57
Figura 31 ................................................................................................................................... 59
Figura 32 ................................................................................................................................... 60
Figura 33 ................................................................................................................................... 61
Figura 34 ................................................................................................................................... 62
Figura 35 ................................................................................................................................... 63
Figura 36 ................................................................................................................................... 64
Figura 37 ................................................................................................................................... 64
Figura 38 ................................................................................................................................... 66
Figura 39 ................................................................................................................................... 66
Figura 40 ................................................................................................................................... 67
Figura 41 ................................................................................................................................... 68
Figura 42 ................................................................................................................................... 68
Figura 43 ................................................................................................................................... 70
Figura 44 ................................................................................................................................... 71
Figura 45 ................................................................................................................................... 92
Figura 46 ................................................................................................................................... 92
5
Figura 47 ................................................................................................................................... 93
Figura 48 ................................................................................................................................... 98
Figura 49 ................................................................................................................................... 99
Figura 50 ................................................................................................................................... 99
Figura 51 ................................................................................................................................. 100
Figura 52 ................................................................................................................................. 100
Figura 53 ................................................................................................................................. 113
Figura 54 ................................................................................................................................. 213
Figura 55 ................................................................................................................................. 213
Figura 56 ................................................................................................................................. 214
Figura 57 ................................................................................................................................. 214
Figura 58 ................................................................................................................................. 215
6
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 ................................................................................................................................... 87
Gráfico 2 ................................................................................................................................... 87
Gráfico 3 ................................................................................................................................... 87
Gráfico 4 ................................................................................................................................... 87
Gráfico 5 ................................................................................................................................... 88
Gráfico 6 ................................................................................................................................... 89
Gráfico 7 ................................................................................................................................... 89
Gráfico 8 ................................................................................................................................... 90
7
LISTA DAS TABELAS
Tabela 1.1 ................................................ 85
Tabela 1.2 ................................................ 85
Tabela 1.3 ................................................ 86
Tabela 10 ............................................... 198
Tabela 11 ............................................... 203
Tabela 12 ............................................... 206
Tabela 13 ............................................... 206
Tabela 14.1 ............................................ 207
Tabela 14.2 ............................................ 207
Tabela 15.1 ............................................ 208
Tabela 15.2 ............................................ 208
Tabela 16.1 ............................................ 208
Tabela 16.2 ............................................ 209
Tabela 17.1 ............................................ 209
Tabela 17.2 ............................................ 210
Tabela 18 ...............................................210
Tabela 19 ...............................................211
Tabela 2 ...................................................96
Tabela 20 ...............................................216
Tabela 21 ...............................................216
Tabela 22 ...............................................221
Tabela 23 ...............................................222
Tabela 24 ...............................................228
Tabela 3 .................................................104
Tabela 4 .................................................104
Tabela 5 .................................................114
Tabela 6 .................................................188
Tabela 7 .................................................193
Tabela 8 .................................................197
Tabela 9 .................................................197
8
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ALC: alocutivo.
AP: apêndice
APC: apêndice de comentário.
APT: apêndice de tópico.
AUX: auxílio dialógico.
COM: comentário
COMcomp: comentário de comparação
COMel: comentário de elenco
COMrelnec: comentário de relação necessária
CON: conativo
FAT: fático.
F
0
: freqüência fundamental
INP: incipitário
INX: inciso.
PB: português do Brasil
SN: sintagma nominal
SV: sintagma verbal
TOP: tópico.
9
INSTRUÇÕES PARA USO DO CD
Para facilitar a leitura e o uso da dissertação, o CD não contém apenas a cópia da
própria dissertação, mas também os seguintes itens:
1. os arquivos de som segmentados em arquivos de duração aproximada de 30 segundos
para facilitar o acesso à parte de textos específicos, e para facilitar o uso dos eventuais
arquivos no software Winpitch;
2. as transcrições segmentadas e etiquetadas dos textos para permitir um fácil acesso a
elas, sem ter que entrar na dissertação. Ao longo dos textos é indicado o arquivo de
som relativo a cada segmento para permitir uma comparação imediata entre os
arquivos de som e o segmento do texto relativo;
3. o software Winpitch para análise dos textos está disponível no site
www.winpitch.com.
10
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 13
JUSTIFICATIVA ................................................................................................................. 16
OBJETIVOS ......................................................................................................................... 17
OBJETIVOS GERAIS ...................................................................................................... 17
OBJETIVOS ESPECÍFICOS ........................................................................................... 17
ORGANIZAÇAO DA DISSERTAÇÃO .............................................................................. 19
CAPÍTULO 1 ............................................................................................................................ 21
1.1 Síntese e originalidade da Teoria da Língua em Ato ...................................................... 22
1.2 Aprofundamentos ............................................................................................................ 28
1.2.1 A definição de enunciados versus a definição de sentenças .................................... 28
1.2.2 Enunciados simples e complexos: a estrutura informacional .................................. 32
1.2.2.1 A unidade informacional de comentário (COM) .............................................. 33
1.2.2.2 A unidade informacional de Tópico (TOP) ...................................................... 38
1.2.2.3 A unidade informacional de apêndice (AP) ...................................................... 43
1.2.2.4 As unidades informacionais de auxílio dialógico (AUX) ................................. 46
1.2.2.5 A unidade informacional de inciso (INX) ........................................................ 49
1.2.2.6 A unidade informacional introdutor locutivo (INTL) ....................................... 52
1.2.3 Quando a correspondência não é biunívoca............................................................. 55
1.2.3.1 Comentários múltiplos ...................................................................................... 55
1.2.3.1.1 Ilocução de elenco ou comentário de elenco (COMel) .............................. 58
1.2.3.1.2 Ilocução de comparação (COMcomp) ....................................................... 61
1.2.3.1.3 Ilocução de hipótese ou relação necessária (COMrelnec) ......................... 62
1.2.3.1.4 Os pedidos de confirmação ........................................................................ 65
1.2.3.2 Comentário fracionado em mais unidades tonais ............................................. 69
1.3 O principio ilocucionário e seu enfraquecimento ........................................................... 73
1.3.1 A estrofe ................................................................................................................... 75
1.3.2 O ritmo ..................................................................................................................... 77
1.4 As principais classes ilocucionárias ................................................................................ 78
1.5 O C-ORAL-ROM ........................................................................................................... 81
1.5.1 Segmentação prosódica e critério de validação ....................................................... 82
1.5.2 A arquitetura dos corpora ........................................................................................ 84
1.5.3 As medidas e os dados estatísticos dos corpora ...................................................... 86
1.6 A definição, as funções e as características lingüísticas do apêndice de comentário e do
apêndice de tópico ................................................................................................................ 91
1.6.1 A definição de apêndice ........................................................................................... 91
11
1.6.1.1 A definição de apêndice de comentário ............................................................ 94
1.6.1.2 A definição de apêndice de tópico .................................................................... 97
1.6.2 As características entonacionais da unidade de apêndice de comentário ................ 98
1.6.3 A sintaxe da segmentação e o deslocamento à direita ........................................... 100
1.6.4 As características lingüísticas da unidade de apêndice .......................................... 102
1.6.4.1 A classificação morfossintática da unidade de apêndice ................................ 103
CAPITULO 2 .......................................................................................................................... 106
2.1 O contexto de gravação e os participantes da pesquisa ................................................ 106
2.1.1 O contexto de gravação .......................................................................................... 106
2.1.2 O perfil dos informantes da pesquisa ..................................................................... 107
2.1.2.1 A professora Fabiola (FBA) ........................................................................... 108
2.1.2.2 O aluno Gabriel (GBL) ................................................................................... 109
2.1.2.3 Os pesquisadores Andréa (ADA) e Luciano (VTR) ....................................... 109
2.2 Os procedimentos e os instrumentos de coleta de dados .............................................. 110
2.3 Os procedimentos de análise dos dados ........................................................................ 111
2.3.1 O software WinPitch .............................................................................................. 113
2.4 Tabela de símbolos utilizados na demarcação dos textos ............................................. 114
2.5 A amostra (texto I, II, III) ............................................................................................. 116
CAPITULO 3 .......................................................................................................................... 150
3.1 Algumas medidas da fala espontânea na amostra ......................................................... 150
3.1.1 Duração dos textos e número de palavras .............................................................. 152
3.1.2 Número de turnos ................................................................................................... 152
3.1.3 Número de Enunciados .......................................................................................... 152
3.1.4 Número de enunciados simples ............................................................................. 153
3.1.5 Número de enunciados complexos ........................................................................ 153
3.1.6 Número total de unidades tonais ............................................................................ 153
3.1.7 Média de enunciados por turno .............................................................................. 154
3.1.8 Média de unidades tonais por turno ....................................................................... 155
3.1.9 Média de unidades tonais por enunciado ............................................................... 155
3.2 Média de palavras por turno, por enunciados e por unidades tonais. ........................... 156
3.2.1 Média de palavras por turno .................................................................................. 156
3.2.2 Média de palavras por enunciado .......................................................................... 157
3.2.3 Média de palavras por unidade tonal ..................................................................... 157
3.3 Duração por tempo dos enunciados e média de palavras. ............................................ 158
3.3.1 Média de enunciados por minuto ........................................................................... 158
3.3.2 Média de palavras por segundo ............................................................................. 158
3.4 Número total de comentários múltiplos nos textos ....................................................... 159
12
3.4.1. Número total de comentários ligados ................................................................... 159
3.4.2 Número total de comentários de elenco ................................................................. 159
3.4.3 Número total de comentários de citação ................................................................ 160
3.4.4 Número total de comentários de relação necessária .............................................. 160
3.4.5 Número total de comentários de comparação ........................................................ 160
3.5 Algumas medidas relacionadas à estruturação lingüística dos enunciados .................. 165
3.5.1 Total de enunciados simples com verbo ................................................................ 167
3.5.1.1 Total de enunciados simples sem verbo.......................................................... 168
3.5.1.1.1 Total de ‘É’ (contabilizados no total de enunciados simples sem verbo) 168
3.5.1.1.2 Total de ‘Hum’ (contabilizados no total de enunciados simples sem verbo)
................................................................................................................................ 168
3.5.1.1.3 Total de ‘Tá’ (contabilizados no total de enunciados simples sem verbo)
................................................................................................................................ 168
3.5.2 Total de enunciados complexos com verbo ........................................................... 169
3.5.2.1 Total de enunciados complexos sem verbo .................................................... 169
3.5.3 Enunciados simples com verbos de forma finita ................................................... 170
3.5.3.1 Enunciados simples com verbos de forma não-finita ..................................... 170
3.5.4 Enunciados complexos com verbos de forma finita .............................................. 170
3.5.4.1 Enunciados complexos com verbos de forma não-finita ................................ 171
3.5.5 Freqüência de ocorrência das conjunções E, Mas, Porque, Que. .......................... 172
3.5.5.1 Números relativos à conjunção E ................................................................... 173
3.5.5.2 Números relativos à conjunção Mas ............................................................... 174
3.5.5.3 Números relativos à conjunção Porque .......................................................... 176
3.5.5.4 Números relativos à conjunção Que ............................................................... 177
CAPITULO 4 .......................................................................................................................... 186
4.1 Apêndice de comentário, número total e freqüência de ocorrência na amostra ........... 186
4.1.1 A função informacional do apêndice de comentário ............................................. 187
4.1.2 Os correlatos morfossintáticos da unidade de apêndice de comentário ................. 198
4.2 Apêndice de tópico, número total e freqüência de ocorrência na amostra ................... 211
4.2.1 A função informacional e o perfil entonacional do apêndice de tópico ................ 212
4.2.2 Os correlatos morfossintáticos do apêndice de tópico ........................................... 220
CAPITULO 5 .......................................................................................................................... 230
5.1 Principais resultados do estudo ..................................................................................... 230
5.2 Alguns indícios de especificidade do português do Brasil e sugestões para outros
estudos ................................................................................................................................ 233
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ................................................................................... 235
ANEXO .................................................................................................................................. 240
13
INTRODUÇÃO
O presente estudo analisa a unidade informacional de apêndice segundo o quadro
teórico proposto por Cresti (2000), e denominado Teoria da Língua em Ato
2
. Essa proposta
teórica constitui-se enquanto nova abordagem para estudos da língua falada, e foi utilizada
como teoria de base na realização de um projeto que prevê estudos contrastivos das quatro
principais línguas românicas européias (italiano, francês, espanhol e português de Portugal)
intitulado projeto C-ORAL-ROM (CRESTI; MONEGLIA 2005).
O projeto C-ORAL-ROM foi desenvolvido através de um consórcio envolvendo
grandes universidades européias, mais especificamente as universidades dos países cujas
línguas foram estudadas. Em linhas gerais, o projeto C-ORAL-ROM objetivou a constituição
de corpora multilíngües das quatro línguas românicas européias, com o intuito de realizar
uma análise contrastiva através da identificação de eventos de fala nos corpora
3
.
Seguindo o mesmo critério, esse estudo, juntamente com o estudo proposto por Alves
de Deus (em preparação) sobre a unidade informacional de tópico, constitue-se enquanto
piloto de um projeto mais amplo que recebeu o nome de C-oral-Brasil (
www.c-oral-
brasil.org). O C-oral Brasil constituirá a quinta vertente do projeto C-ORAL-ROM no estudo
de corpus do português brasileiro, e o objetivo geral centrar-se-á na análise da fala
espontânea (monólogos, diálogos e conversações informais) de material coletado na área
urbana de Belo Horizonte.
2
No capitulo 1 deste estudo apresentamos a síntese da Teoria da Língua em Ato descrevendo seus princípios de
base.
3
O projeto C-ORAL-ROM está melhor detalhado no capitulo 1 desse estudo, seção 1.5. O design do projeto C-
ORAL-ROM também pode ser acessado no endereço eletrônico:
http://lablita.dit.unifi.it/coralrom/papers/Specifications-CORALROM.pdf
14
Esse projeto envolve um grande número de pessoas e está sendo realizado em
parceria com os criadores do projeto C-ORAL-ROM e idealizadores da Teoria da Língua em
Ato, com a coordenação dos professores Tommaso Raso e Heliana Mello. O projeto tem
como objetivos específicos principais à realização de estudos sobre a estrutura informacional
dos enunciados e identificação de algumas ilocuções no português do Brasil (CRESTI 2000);
o mapeamento das características dialetológicas da fala de Belo Horizonte; a
esquematicidade de narrativas; a estrutura modo-tempo-aspectual nas narrativas e outras
tipologias da fala, e o uso das metáforas na fala. Para efetivação dos objetivos propostos
nesses estudos, o corpus a ser coletado compor-se-á de cerca de 150.000 palavras e 15 horas
de gravação da fala espontânea informal.
Os textos que constituirão o corpus terão uma dimensão pequena (cerca de 10-15
minutos em média, em um total de 100 textos) e privilegiarão a diafasia como principal
critério de variação. Esses textos serão transcritos no sistema Childes-Clan
(MACWHINNEY 2000 e
http://childes.psy.cmu.edu/) implementado para a identificação
dos enunciados, unidades tonais e unidades informacionais (CRESTI 2000). Logo o corpus
será etiquetado com base em unidades naturais, tais como: o turno dialógico (indicado
segundo o sistema Childes-Clan), o enunciado (sinalizado pela dupla barra //) e a unidade
tonal-informacional (sinalizada pela barra simples /).
Os textos analisados para o presente trabalho utilizaram essa mesma metodologia de
análise, e, enquanto projetos piloto objetivaram realizar todas as fases de constituição e
análise de corpus, conforme descrito em Cresti; Moneglia (2005), visando identificar,
analisar e solucionar os problemas decorrentes de um processo de implementação em um
nível de aprofundamento suficiente, em que fosse possível verificar a factibilidade do
projeto.
15
Em seguida, cada um dos pesquisadores responsáveis por cada um dos dois projetos
piloto, escolheram realizar uma investigação aprofundada de um determinado tipo de
problema, sem exaurir, contudo, as questões concernentes a esse problema. Entre os tópicos
existentes para problematização escolhemos tratar detalhadamente da unidade informacional
de tópico e da unidade informacional de apêndice.
À unidade de tópico, amplamente discutida na literatura, é definida e identificada
nesse trabalho de acordo com Cresti (2000). Isto é, o tópico é caracterizado como uma
unidade entonacional de prefixo, de caráter dependente, e que tem por função ser o campo de
aplicação da força ilocucionária.
em relação ao termo apêndice, esse é mais recente na literatura, e por vezes é
assemelhado a unidade de tópico devido à posição especular. A unidade de apêndice é
tratada nesse estudo conforme descrito no quadro teórico de Cresti (2000), ou seja, é
caracterizada como uma unidade de sufixo, que exerce a função de integração textual das
unidades de tópico e comentário. Logo, temos o apêndice de tópico (quando ocorre após a
unidade de tópico) e o apêndice de comentário (quando ocorre após a unidade de
comentário).
É importante salientar que a unidade de apêndice de tópico nunca recebeu um
tratamento mais específico, nem mesmo pela autora da teoria original. Portanto, pouco se
sabe sobre a função desempenhada pela unidade de apêndice de tópico na estruturação
informacional do enunciado e sobre seus correlatos morfo-sintáticos.
Quanto ao apêndice de comentário, esse teve um tratamento mais detalhado pela
autora da teoria da Língua em Ato, no que diz respeito aos critérios entonacionais, funcionais
e distribucionais da unidade. Além disso, uma monografia realizada por Tucci (2006)
descreve as características entonacionais, semânticas e morfo-sintáticas dessa unidade no
corpus de italiano falado (C-ORAL-ROM).
16
JUSTIFICATIVA
Diante dessa nova abordagem para estudos da língua falada baseados em corpora
significativos, a idealização desse estudo visou realizar todas as etapas de constituição,
segmentação e etiquetagem de corpus em uma dimensão menor e mais facilmente
controlável, para enfrentar um grande número de problemas possíveis, decorrentes da
implementação dessa abordagem, e garantir a factibilidade de um projeto mais amplo, como
o C-oral-Brasil.
Mediante os objetivos propostos pelo projeto brasileiro, apontamos algumas razões
importantes que justificam o tratamento dado ao material coletado para esse estudo, e que
norteará a composição futura do corpus do português do Brasil:
1. a necessidade de constituir um corpus de língua falada em que seja possível acessar
simultaneamente transcrição, som e curva de F
0
;
2. a importância de operar um software de análise acústica que possibilita o
alinhamento do texto com sua contrapartida sonora, e a visualização e identificação
de perfis entonacionais de fundamental importância para compreensão da estrutura
informacional da fala;
3. a presença de corpora das quatro principais línguas românicas realizados com uma
mesma arquitetura e uma mesma segmentação conforme proposto em Cresti (2000) e
Cresti & Moneglia (2005);
4. a presença de um corpus de português europeu com as mesmas características, que
assegura a comparabilidade entre as duas variedades, a européia e a brasileira, da
língua portuguesa.
17
OBJETIVOS
OBJETIVOS GERAIS
Este estudo tem como objetivos gerais testar em um nível de aprofundamento
aceitável, as dificuldades que poderiam decorrer da realização de um trabalho de corpus, e
que agora, a partir de um projeto piloto pode ser realizado em grande escala.
Por meio desse estudo verificamos a possibilidade de implementação de um projeto
maior voltado para a constituição de corpus e fundamentado na teoria de análise proposta
pelos pesquisadores italianos (CRESTI 2000; CRESTI & MONEGLIA 2005).
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Em relação aos objetivos específicos propostos para esse estudo, destacamos:
o processo de gravação dos textos e os problemas decorrentes: para reduzir possíveis
problemas técnicos relacionados a gravação, os textos foram gravados em uma
cabine acústica. Ainda assim, em algumas pequenas passagens dos textos a qualidade
do som não é ideal devido à posição e quantidade de microfones utilizados, devendo
esses dados serem observados cuidadosamente em um projeto maior;
o processo de transcrição dos textos e os problemas decorrentes: para a transcrição
ortográfica do texto oral foi criada uma tabela contendo todos os sinais diacríticos,
que em princípio serão utilizados na demarcação de todos os textos que constituirão o
projeto futuro;
18
o processo de segmentação dos textos e os problemas decorrentes: as dúvidas
relacionadas à notação entonacional foram resolvidas através de longos debates, até
atingirmos um nível de confiabilidade e o grau de consenso aceitável para
implementação do projeto brasileiro;
a validação estatística dos dados: o tamanho reduzido dos textos (com 33,32 minutos
de gravação, 5.337 palavras e 874 enunciados) inviabiliza a validação estatística dos
resultados obtidos. Porém, em um trabalho vertical que tem por objetivo testar a
aplicabilidade de uma nova abordagem de constituição e análise de corpus, é possível
identificar indícios sobre as características do português do Brasil;
o processo de alinhamento dos textos: a replicação do processo de alinhamento dos
textos que compõem nossa amostra foi realizada com sucesso. Através do software
WinPitch alinhamos texto-som que são armazenados em formato rich text;
o processo de etiquetagem dos textos e os problemas decorrentes: a identificação das
unidades informacionais é bastante complexa, o que gerou muitas fases de revisão
(parte por causa da qualidade da gravação, parte por causa dos pontos limites em que
a teoria está sendo testada na própria matriz, e em parte também pelos nossos limites
de análise em relação à competência prosódica), mas que representam uma minoria
em um quadro geral. Mesmo permanecendo algumas dúvidas de etiquetagem, que
estão sinalizadas na amostra em amarelo, atingimos um nível estatístico confiável
compatível com os objetivos estatísticos do projeto;
a análise das medidas da fala: a análise quantitativa das várias unidades de referência
da fala revelaram características interlíngüísticas comuns e outras idiossincráticas em
relação aos corpora, como também indícios de algumas características estruturais do
português do Brasil (por exemplo, uma maior quantidade de unidades informacionais
19
de tópico e de ilocuções de hipótese ou relação necessária), que poderão ser
demonstradas somente com material estatisticamente relevante;
o detalhamento das unidades informacionais: um tratamento detalhado foi dado a
duas das principais unidades informacionais (TOP
4
e APC), sem a pretensão de
esgotar as possibilidades de discussão sobre elas, mas apenas para aprofundar um
determinado aspecto;
o primeiro detalhamento da unidade de APT integra esse estudo;
o critério de definição dos domínios formal e informal: o critério de especificação do
contexto da interação que foi utilizado no C-ORAL-ROM precisa ser redefinido com
relação a uma língua/cultura não européia. Esse é um problema do qual se tem
consciência, mas que não poderia ser tratado no projeto piloto.
ORGANIZAÇAO DA DISSERTAÇÃO
Além deste capítulo introdutório, esta dissertação está dividida em três capítulos. No
primeiro, realizamos a contextualização do estudo em relação ao quadro teórico proposto por
Cresti (2000) a Teoria da Língua em Ato, para em seguida descrever o projeto C-ORAL-
ROM (CRESTI & MONEGLIA 2005) idealizado com base nessa mesma teoria, e
finalizarmos com uma descrição detalhada da unidade informacional investigada nesse
estudo, o apêndice.
O segundo capítulo trata da metodologia utilizada no presente estudo, enfatizando a
sua natureza, o contexto e os participantes investigados, os instrumentos empregados para a
4
Veja-se Alves de Deus em preparação.
20
coleta de dados, bem como os procedimentos para a sua análise. Neste capitulo é reportado
também a transcrição dos textos, segmentados e etiquetados em unidades informacionais.
O terceiro e último capítulo apresenta a análise e a discussão dos dados obtidos
através de medidas estatísticas. Primeiramente, apresentamos as principais medidas da fala
que correspondem às palavras, os fragmentos de palavras, as unidades tonais, os enunciados
e os turnos de fala. Em segundo, mostramos algumas medidas relacionadas às características
lingüísticas dos textos, como por exemplo, os correlatos morfossintáticos e lexicais das
unidades investigadas (FIRENZUOLI 2000). E por fim, nas considerações finais, fazemos
algumas observações em relação à possibilidade de realização de futuros estudos sobre
alguns aspectos que, a um primeiro olhar, parecem ser característicos do português do Brasil.
21
CAPÍTULO 1
CONTEXTUALIZAÇÃO
Este capítulo tem por objetivo apresentar a base teórica norteadora do presente estudo
sobre o português falado no Brasil, em uma perspectiva da teoria da Língua em Ato. Em
primeira instância, apresentamos a síntese da teoria da Língua em Ato e sua originalidade. Em
segunda, apresentamos os aprofundamentos teóricos que constituem os princípios de base da
teoria seqüenciados em três subseções. Na subseção 1.2.1 apresentamos a definição de
enunciado e justificamos sua escolha enquanto unidade analítica fundamental na teoria da
Língua em Ato. Na subseção 1.2.2 apresentamos a estrutura informacional de um enunciado
definindo e caracterizando as unidades que o constitui. Na subseção 1.2.3 apresentamos
alguns fenômenos de violação do princípio do isomorfismo que se estabelece entre unidade
tonal e unidade informacional. Em terceira instância, definimos o princípio ilocucionário e
apresentamos alguns casos em que ocorre o enfraquecimento desse principal fundamento que
caracteriza e identifica um enunciado. Em quarta, apresentamos a arquitetura do C-ORAL-
ROM, um projeto voltado para a realização de estudos contrastivos realizados com as
principais línguas românicas, tendo como teoria de base o aporte teórico que fundamenta esse
texto. E finalmente, em sexta instância, retomamos a discussão sobre a unidade de apêndice,
objeto de análise desse estudo, de forma a elucidar as funções desempenhadas por essa
unidade na estruturação da fala, no português do Brasil.
22
1.1 Síntese e originalidade da Teoria da Língua em Ato
A Teoria da Língua em Ato (CRESTI 2000)
5
fundamenta-se na hipótese que é
possível estabelecer a correspondência entre entidades de domínios distintos: entre a unidade
pertencente ao domínio da ação, o ato de fala (AUSTIN 1962)
6
, e a unidade de domínio
lingüístico, o enunciado, graças ao uso da entonação como interface.
De acordo com esse aporte teórico é possível segmentar entonacionalmente um
contínuo de fala em unidades mínimas significativas. Essas unidades mínimas são
denominadas de enunciados, e correspondem ao cumprimento de uma ação. Logo, o
enunciado equivale ao ato locutório e é visto como a contraparte lingüística do ato de fala, ou
seja, o ato ilocutório. O enunciado é identificado na fala através da percepção de variações
melódicas de valor terminal, e pode ser definido como um tipo de expressão que possui
interpretabilidade pragmática, independente de sua configuração sintática
7
.
Com base no estudo perceptual da entonação (T’HART; COLLIER; COHEN 1990), a
Teoria na qual baseia-se este texto assume que falantes competentes da língua são capazes de
julgar se um dado segmento de fala tem ou não a propriedade que permite uma interpretação
pragmática; isto é, o critério ilocucionário. Dessa forma, cada enunciado pode veicular apenas
um tipo de ilocução, constituindo assim, uma relação biunívoca entre enunciado e ilocução,
no sentido que cada unidade lingüística mínima corresponderá a uma única intenção
comunicativa do falante.
Um enunciado pode ser executado através de uma única unidade tonal (enunciado
simples), e pode ainda ser executado por uma combinação de várias unidades tonais
5
Para um resumo da teoria e uma primeira aplicação ao português do Brasil, veja-se Raso; Mello; Jesus; Deus
(no prelo).
6
Segundo esse teórico o ato de fala deve ser compreendido como o cumprimento simultâneo do ato locutório
(ato de dizer), o ato ilocutório (a intencionalidade ao dizer algo) e o ato perlocutório (efeitos e/ou motivações do
ato ilocutório).
7
Um maior detalhamento sobre a definição do enunciado e sua relação com a frase encontra-se na seção 1.2.
23
(enunciados complexos), sendo distintas uma da outra, através de quebras prosódicas não
terminais. A cada unidade tonal é possível atribuir um valor funcional, estabelecendo-se
assim, no interior de um enunciado, uma correspondência biunívoca entre unidade tonal e
unidade informacional (CRESTI 1995). Desse modo, os perfis terminais sinalizam a
conclusão de um enunciado, enquanto os perfis não terminais delimitam fronteiras entre as
unidades informacionais.
Na constituição de um enunciado, a unidade informacional de comentário é a única
obrigatória, por ser exatamente aquela que veicula a força ilocucionária (CRESTI, 2000:77).
Assim, enunciados simples são aqueles formados exclusivamente pela unidade de comentário,
necessária e suficiente para a constituição de um padrão informacional. E ao contrário, os
enunciados complexos são aqueles que possuem, além da unidade de comentário, uma ou
mais unidades opcionais, de funções diferentes, mas não aquela de veicular a força
ilocucionária. Essa forma de articulação das unidades informacionais possibilita também a
execução de um mesmo conteúdo locutivo, através de diferentes padrões entonacionais e
informacionais.
A estruturação informacional de um enunciado pode ser melhor compreendida
através dos exemplos abaixo. Um mesmo conteúdo locutivo, do tipo, João me ligou ontem
pode ser realizado de maneiras diferentes, através de diferentes padrões entonacionais, e
consequentemente, veicular estruturas informacionais distintas. A figura 01 mostra um perfil
entonacional executado em uma única unidade tonal. Essa unidade tonal corresponde à
unidade informacional de comentário, necessária e suficiente para o cumprimento da ilocução
expressa na letra B. Um possível contexto para realização apropriada desse enunciado poderia
ser
8
:
8
As figuras de 01 a 06 utilizadas na exemplificação foram retiradas de Raso; Mello; Jesus; Deus (no prelo).
24
A: Você recebeu alguma noticia dos amigos que conhecemos na praia?
B: João me ligou ontem //
9
A figura 02 mostra um enunciado com o mesmo conteúdo locutivo do enunciado
anterior; porém este, diferentemente daquele, é executado através de duas unidades tonais, a
unidade de tópico e a unidade de comentário. O perfil entonacional desse segundo exemplo é
constituído de contornos tonais distintos. O primeiro contorno, lado esquerdo da figura,
corresponde a um perfil entonacional de tópico, e a estrutura morfo-sintática correlata a esse
perfil é um SN com valor de sujeito, João. O segundo contorno, parte central e lado direito da
figura, corresponde a um perfil entonacional de comentário de estrutura morfo-sintática verbal
me ligou ontem. Um contexto em que a realização desse enunciado tornar-se-ia apropriada
seria:
9
Os sinais diacríticos (barra simples e barra dupla) utilizados na delimitação dos enunciados e das unidades
informacionais que correspondem as figuras de 01 a 06 serão explicitados em detalhe no capitulo 3 desse estudo,
seção 3.5. Por ora salientamos que a barra simples (/) sinaliza o perfil não terminal e a barra dupla (//) sinaliza o
perfil terminal.
Figura 1
25
A: Você recebeu noticias do João?
B: João / me ligou ontem //
Os contornos entonacionais da figura 02 mostram que o enunciado João / me ligou ontem // é
constituído por duas unidades informacionais (Tópico-Comentário)
10
, e portanto é
classificado como enunciado complexo.
Na figura 03, ainda com o mesmo conteúdo locutivo, tem-se a execução de um
enunciado complexo, também realizado em duas unidades tonais. Porém, contrariamente ao
exemplo anterior, a primeira unidade corresponde agora à unidade de comentário, enquanto a
segunda unidade corresponde à unidade informacional de apêndice. Um possível contexto
para realização desse enunciado seria:
10
As unidades informacionais de tópico e comentário serão aprofundadas na seção 1.2 deste capítulo.
Figura 2
26
A: Quem te ligou ontem?
B: JOÃO / me ligou ontem //
11
Os contornos entonacionais da figura 03 que correspondem ao enunciado JOÃO / me ligou
ontem // são constituídos também de duas unidades informacionais (Comentário-Apêndice)
12
e por isso classificado como enunciado complexo.
A identificação das formas de articulação de um enunciado é realizada através da
percepção dos diferentes perfis entonacionais. Logo os exemplos citados mostram
possíveis formas de estruturação desses perfis na constituição de um enunciado simples (fig.
01), um enunciado complexo com estrutura Tópico-Comentário (fig. 02) e um outro
enunciado complexo, mas de estrutura Comentário-Apêndice (fig. 03).
11
As maiúsculas em JOÃO tentam imitar a proeminência entonacional.
12
A unidade informacional de apêndice será detalhada na seção 1.2 e 1.6 desse capitulo.
Figura 3
27
Além da identificação dos enunciados em simples ou complexos, segundo a teoria é
possível identificar a força ilocucionária veiculada pela unidade de comentário, uma vez que
esta independe do conteúdo locutivo. Assim é possível realizar um mesmo conteúdo locutivo
com diferentes ilocuções, como também é possível através de conteúdos locutivos distintos
veicular uma mesma ilocução. Um conteúdo locutivo do tipo JOÃO, pode ser executado com
os seguintes perfis:
JOÃO JOÃO. JOÃO!
A figura 04 pode ser interpretada como um chamado, por exemplo, a alguém que tenha
esse nome, a figura 05 pode ser caracterizada como uma resposta a uma pergunta do tipo
‘quem te ligou?’, e finalmente a figura 06 pode expressar um tipo de surpresa, empregada por
alguém que encontra uma pessoa que não se anos. Dessa forma, o que permite ao
interlocutor identificar a atitude do locutor, expressa através de um determinado conteúdo
locutivo, é a entonação.
Ainda de acordo com esse aporte teórico, o interlocutor não atribui valor funcional as
diferenças microprosódicas que individualizam as curvas de diferentes conteúdos locutivos
Figura 4
Figura 5
Figura 6
28
com a mesma força ilocucionária, mas somente identificam as diferentes ilocuções, não
importando o tipo de conteúdo locutivo que a constitui.
1.2 Aprofundamentos
Esta seção trata com maior detalhamento dos princípios de base sobre os quais se
fundamenta a teoria proposta por Cresti (2000). A escolha do enunciado como principal
unidade analítica desse quadro teórico é justificada pelas características a ele concernente, e
que se mostraram apropriadas para a realização de uma análise dos eventos de fala de forma
completa e sistemática.
1.2.1 A definição de enunciados versus a definição de sentenças
Na teoria da língua em ato a entidade de referência da fala é o enunciado, por ser este o
correspectivo do ato lingüístico. Esta mesma característica não está associada à sentença que,
por estar baseada na predicação, é considerada a entidade de referência da escrita. Os estudos
lingüísticos tradicionais sobre linguagem provêm um amplo repertório de definições para
ambas as entidades. Porém, neste trabalho será utilizada a definição de enunciado e sentença
conforme proposto por Cresti (2000, 2001, 2005).
Segundo a autora da teoria os critérios comumente empregados na distinção entre
enunciado e sentença são: a variedade diamésica, a interpretabilidade pragmática e a
completude semântica. No que diz respeito à variedade diamésica, o enunciado é a entidade
característica da diamesia falada, enquanto a sentença é a entidade característica da diamesia
29
escrita. Segundo essa característica, na variedade diamésica falada, o principio de organização
da fala é pragmático-ilocutório, fundamentado no enunciado. Ao contrário, na variedade
diamésica escrita, o texto é organizado sob o princípio lógico-sintático, fundamentado na
sentença. Em relação aos outros dois critérios, o enunciado é caracterizado como um tipo de
expressão interpretável pragmaticamente. Ele é realizado entonacionalmente e não necessita
ter um verbo em sua constituição. a sentença é caracterizada como um tipo de expressão
interpretável semanticamente, independente do contexto de realização, e contrariamente ao
enunciado, necessita de uma predicação.
Assim, o enunciado vem definido como a menor expressão lingüística interpretável
pragmaticamente, e essa característica está vinculada a uma condição semântica (significância
da expressão) e à realização da expressão entoada segundo um padrão melódico de valor
ilocucionário. A identificação do enunciado é realizada prosodicamente. Através da
percepção, dessa forma, o interlocutor é capaz de identificar perfis melódicos de valor
terminal, que sinalizam a conclusão de um enunciado (CRESTI 1992). Ao mesmo tempo, o
interlocutor também é capaz de identificar um outro tipo de variação melódica, interna ao
enunciado, caracterizada como perfil não-terminal, que tem a função de individualizar as
diversas unidades informacionais e sua articulação.
Uma outra definição tradicionalmente associada ao enunciado é a de seqüência
existente entre dois silêncios, isto é, uma seqüência delimitada por pausas fortes. Contudo tal
definição é por si inconsistente, uma vez que é possível realizar seqüência de enunciados sem
qualquer ocorrência de pausas, como também é possível realizar um enunciado que contenha
pausas. Apresentamos a seguir, dois exemplos retirados das amostras analisadas para esse
estudo. O primeiro exemplo, figura 07, mostra a execução de dois enunciados, o primeiro
complexo e o segundo simples executados em uma mesma seqüência, sem qualquer silêncio
entre eles.
30
*FBA: eh / e foi &ass [/] ai eu fiquei preocupada / né / Andréa // eu falei assim //
13
O primeiro enunciado é complexo, constituído de várias unidades informacionais
eh / e foi &ass [/] ai eu fiquei preocupada / / Andréa //’. Esse enunciado é executado sem
a ocorrência de pausa, e sua delimitação no contínuo de fala é realizada através da percepção
de um perfil de valor terminal logo após a execução da última unidade informacional (Andréa
//). O segundo enunciado é simples, constituído apenas da unidade informacional de
comentário eu falei assim //’. Sua execução também é realizada sem pausas, e sua
delimitação é possível através da percepção de outro perfil de valor terminal ao final da
unidade de comentário (eu falei assim //).
A figura 08 exemplifica a realização de dois enunciados simples, novamente em uma
mesma seqüência, porém com a ocorrência de pausa entre eles. Neste caso, a ocorrência da
pausa não coincide com a marcação dos perfis terminais.
13
A barra simples entre colchetes indica retracting.
Figura 7
31
*GBL: o ensino ta [/] ta assim / difícil // mas tá mais fácil / né //
14
Em relação à sentença, a sua definição é assegurada por uma condição de completude
semântica, cuja interpretabilidade fundamenta-se na predicação. Segundo Cresti (2005), o
problema de identificação da sentença é gerado pela dificuldade de distinção entre os
conceitos de autonomia e interpretabilidade semântica. Por exemplo, expressões como: Hum
hum; Nossa; executadas em um dado contexto possuem interpretabilidade pragmática e
portanto são enunciados. A expressão hum hum pode ser interpretada como um ato de
resposta afirmativa a uma pergunta do tipo: Você é professora? Hum hum.’ Assim como a
expressão Nossa pode ser compreendida como um ato expressivo de surpresa, um tipo de
expressão realizada por alguém diante de uma situação inusitada: João ficou milionário.
Nossa!’. Entretanto essas mesmas expressões não podem ser consideradas sentenças, uma vez
14
Exemplo analisado por Alves de Deus (em preparação).
Figura 8
32
que não possuem sentido pleno fora de contexto, ou seja, não possuem interpretabilidade
semântica.
Assim, as características associadas ao enunciado justificam a sua escolha como
unidade analítica fundamental na teoria da Língua em Ato, pois ao considerar o enunciado
como entidade de referência da diamesia falada tornou-se possível descrever e explicitar os
níveis de articulação informacional da fala espontânea, de maneira completa e sistemática.
1.2.2 Enunciados simples e complexos: a estrutura informacional
Segundo o princípio da articulação informacional é possível demarcar um enunciado
graças à identificação de seu perfil entonacional (CRESTI 1994). Essa possibilidade está
relacionada ao fato de cada enunciado corresponder a um padrão prosódico e ao mesmo
tempo veicular apenas um tipo de ilocução. Assim, a identificação dos diferentes perfis
entonacionais é realizada através da análise dos movimentos da curva de F
0
, e a cada
configuração melódica desses movimentos resulta um perfil característico ao qual é possível
atribuir um valor funcional. Logo, as diferenças micromelódicas, que caracterizam cada
movimento a partir de expressões lexicais diversas, não são suficientes para levar a uma
alteração do valor perceptivo de todo o movimento, bem como da atribuição desse movimento
a um dado perfil.
A teoria da Língua em Ato assume existir uma biunivocidade entre estruturação
informacional e estruturação entonacional; isto é, a forma de estruturação informacional da
fala corresponderá a um determinado padrão entonacional. Nesse sentido, um enunciado pode
constituir-se de um padrão informacional simples, se composto apenas por uma unidade tonal,
suficiente para a constituição desse padrão, e por isso definida como unidade nuclear, ou,
33
informacionalmente, unidade de comentário. Ou pode ainda constituir-se de um padrão
informacional complexo, quando possui, além da unidade nuclear, outras unidades
informacionais dedicadas ao cumprimento de funções diferentes daquela de veicular a força
ilocucionária.
As unidades informacionais são identificadas no enunciado através de três critérios
distintos: o critério entonacional (perfil entonacional característico de cada unidade), o critério
informacional (função exercida pela unidade no enunciado) e o critério distribucional (posição
da unidade no enunciado). Dessa forma, a junção desses três critérios torna-se o parâmetro de
identificação das unidades informacionais que constituem o padrão informacional de cada
enunciado.
1.2.2.1 A unidade informacional de comentário (COM)
falamos da importância da unidade de comentário na constituição do enunciado.
Sua propriedade fundamental é a de veicular a ilocução, ou seja, expressar a força de ação que
permite interpretar pragmaticamente um enunciado atribuindo-lhe um valor acional. Por essa
razão o COM determina às vezes parcialmente ou às vezes totalmente o tipo de força
ilocucionária expresso no ato de fala. Quando apenas a identificação da unidade de COM não
é suficiente para definir a ilocução, essa deve ser aliada a critérios pragmáticos e semiológicos
como será detalhado na sessão 1.4 deste capítulo.
Há um número indefinido de forças ilocucionárias. Cresti (2000) identificou no corpus
de italiano falado cerca de 30 (trinta) perfis de COM diferentes, o que corresponde a mais de
80 (oitenta) tipos de ilocuções; esses números continuam aumentando devido à expansão do
corpus e às situações comunicativas analisadas. Por isso, os perfis entonacionais que
34
constituem a unidade de COM diferem muito entre si por veicularem forças ilocucionárias
diversas (FIRENZUOLI 2000b). Na fala é bastante comum à ocorrência de ilocuções
codificadas convencionalmente, que podem ser identificadas como um tipo de atitude voltada
para o interlocutor, isto é, a transformação de uma dada atitude em um comportamento
lingüístico.
A seguir, apresentamos alguns exemplos que mostram os diferentes perfis
entonacionais, resultantes da realização de algumas ilocuções presentes nas amostras
analisadas para este estudo. Ressaltamos que a identificação dos diferentes perfis de COM
não é objetivo de nosso trabalho, logo, a identificação das forças ilocucionárias veiculadas em
cada um dos enunciados dos exemplos abaixo são baseadas unicamente na impressão
intuitiva.
Exemplo 01: *ADA: hhh como é que você fez
COM
//
Figura 9
35
A figura 09 mostra um enunciado constituído de um padrão informacional simples,
composto apenas pela unidade de COM. Nesse exemplo, a unidade de COM veicula uma
ilocução de pergunta parcial caracterizada por um perfil em dois movimentos do tipo
ascendente-descendente.
Exemplo 02: *FBA: não tem reação nenhuma
COM
//
A figura 10 também mostra um enunciado de padrão informacional simples, cuja
unidade de COM veicula uma ilocução assertiva valorativa de constatação: não tem reação
nenhuma //. O perfil entonacional resultante da configuração dos movimentos da curva de F
0
corresponde ao perfil de toda a unidade.
Figura 10
36
Exemplo 03: *FBA: existe aluno
TOP
/ que já tem isso na cabeça
COM
//
A figura 11, por sua vez, mostra um enunciado de padrão informacional complexo,
constituído de uma unidade de tópico (TOP) que será definida na subseção a seguir, e uma
unidade informacional de COM. O COM (que tem isso na cabeça //), parte destacada em
preto na figura, veicula uma ilocução assertiva de dedução realizada em um movimento
contínuo ascendente - descendente.
Exemplo 04: *FBA: como se
AUX
/ aquilo ali
TOP
/ não fizesse parte da vida dele em momento
algum
COM
//
15
15
As unidades de Auxílio Dialógico (AUX) e Tópico (TOP) que aparecem no enunciado do exemplo 04 serão
detalhadas nas seções subseqüentes.
Figura 11
37
Por último, a figura 12 ilustra novamente um enunciado de padrão informacional
complexo com articulação Auxílio (AUX) - Tópico (TOP) Comentário (COM). A unidade
de COM, destacada em preto na figura, veicula uma ilocução assertiva de hipótese (não
fizesse parte da vida dele em momento algum //).
Como mostram os exemplos, a cada ilocução veiculada pela unidade de COM temos
um perfil característico identificado através de seu foco de saliência semântica
(FIRENZUOLI 2003). Além dessa característica, o COM é definido como uma unidade do
tipo nuclear que possui autonomia pragmática, independente de sua configuração sintática.
Essa unidade pode estar em qualquer posição no enunciado ocorrendo isoladamente ou aliada
a outras unidades opcionais. Aqui salientamos apenas que a presença do COM é condição
fundamental para se definir o ato de fala, uma vez que não existe enunciado sem a unidade de
comentário.
Figura 12
38
1.2.2.2 A unidade informacional de Tópico (TOP)
Uma segunda unidade informacional de grande relevância para articulação da
informação em um enunciado é a unidade de Tópico. Cresti (2000:119-131) define essa
unidade como aquela que tem por função ser o campo de aplicação da força ilocucionária, e
constitui, a nível de construção textual do enunciado, a premissa semântica de conteúdo
locutivo da unidade de COM. Esse conceito pode ser explicitado através de uma nova análise
do exemplo retirado da sessão 1.1 deste capitulo: João / me ligou ontem //’. A unidade de
COM que expressa uma força ilocucionária de resposta (me ligou ontem) se aplica ao campo
da unidade constituída por João’. Logo, através desse critério, entre outros, torna-se possível
identificar a unidade como TOP. Além desse exemplo, apresentamos alguns enunciados que
corroboram a definição apresentada no inicio deste parágrafo.
Exemplo 05: *FBA: determinados momentos
TOP
/ você tá estressado
INX
/ você não lembra de
nada
COM
//
Figura 13
39
Na figura 13 temos novamente um enunciado de padrão informacional complexo, com
articulação Tópico (TOP)-Inciso (INX)-Comentário (COM)
16
. A parte destacada de preto na
figura corresponde à unidade de TOP, cujo perfil entonacional é executado em dois
movimentos, sendo o primeiro de preparação e o segundo finalizado com uma subida
característica que corresponde ao foco de saliência semântica da unidade. A parte
preparatória, sinalizada pela seta, ocorre devido à consistência locutiva, ou seja, a quantidade
de labas na unidade. Assim, a ilocução de dedução (você não lembra de nada //) expressa
pela unidade de comentário, se aplica ao campo da unidade constituída por determinados
momentos /’.
Exemplo 06: *FBA: < mas >
AUX
/ &he / os professores
TOP
/ que trabalharam no Gabriela
APT
/ sentem isso
COM
/ né
AUX
//
16
A unidade informacional de Inciso (INX) será detalhada na sessão 1.2.5.
Figura 14
40
Na figura 14 apresentamos outro enunciado de padrão informacional complexo e
bastante longo. Sua articulação se configura através da seqüência AUX-TOP-Apêndice de
Tópico (APT)-COM-AUX
17
. Nesse perfil de TOP o movimento de preparação é descendente,
mas finalizado por uma subida que também corresponde ao foco de saliência semântica da
unidade. Nesse caso, a ilocução de conclusão (sentem isso/) aplica-se ao campo constituído
por ‘os professores’ integrado textualmente pela unidade de apêndice.
A unidade de TOP é realizada através de diversos perfis codificados; até a finalização
do presente trabalho Cresti (2000) havia identificado no corpus de italiano falado três perfis
característicos, como podemos identificar nos exemplos traduzidos a seguir:
18
a) Perfil tipo 1: o primeiro tipo, de realização mais canônica, possui um movimento
descendente ascendente, cujo alongamento corresponde à última sílaba tônica da unidade
(Fig. 15);
Fig. 15: de guarnição final
TOP
/ poderíamos ter também as maçãs
COM
//
19
b) Perfil tipo 2: o segundo tipo, caracteriza-se por um perfil realizado mais velozmente em um
movimento ascendente com a subida interrompida (Fig. 16);
17
A unidade de apêndice está detalhada na sessão 1.6 deste capítulo.
18
As figuras 15, 16 e 17 foram retiradas de Firenzuoli, V.; Signorini, S. (2003)
19
di guarnizione finale
TOP
/ ci potrebbero essere anche le mele
COM
// Traduzido literalmente dos exemplos
fornecidos por Firenzuoli, V.; Signorini, S. (2003).
Perfil tipo 1
Figura 15
41
Fig. 16: essa aqui
TOP
/ é o cabeçalho [///] a tela que vo/ no momento em que abre o
programa
COM
//
20
c) Perfil tipo 3: o terceiro tipo, caracteriza-se por um perfil de movimento ascendente
nivelado – descendente (Fig. 17).
Fig. 17: como ela vai embora à noite
TOP
/ no elevador não tem mais luz
COM
//
21
20
questo qua
TOP
/ è la testata [///] la schermata che vedi / al momento in cui apri il programma
COM
// Traduzido
literalmente dos exemplos fornecidos por Firenzuoli, V.; Signorini, S. (2003).
21
come lei va via la sera
TOP
/ nell’ascensore ‘un c’è più luce
COM
// Traduzido literalmente dos exemplos
fornecidos por Firenzuoli, V.; Signorini, S. (2003).
Perfil tipo 2
Figura 16
42
O TOP é uma unidade opcional de caráter dependente, ou seja, não é necessária para a
constituição de um padrão informacional. Sua ocorrência em um enunciado é sempre antes da
unidade obrigatória, isto é, a unidade de comentário, podendo assim ser caracterizada como
uma unidade de prefixo. Portanto, distribucionalmente, o tópico estará alinhado sempre antes
do COM, mas não necessariamente em posição contígua.
Os correlatos lexicais da unidade de TOP geralmente constituem-se de sintagmas
(nominais, verbais, adjetivais, adverbiais e preposicionais) e também de verdadeiras
sentenças. Do ponto de vista entonacional, a unidade de TOP não pode ser interpretada
isoladamente, pois não possui autonomia pragmática. Contudo, ainda assim, é considerada
como a principal estratégia de articulação informacional juntamente com a unidade de COM,
sendo a única unidade, além do COM, que possui um foco entonacional.
Perfil tipo 3
Figura 17
43
1.2.2.3 A unidade informacional de apêndice (AP)
A terceira unidade, que tratamos agora, é denominada unidade de apêndice e será
retomada na seção 1.6 deste capitulo, para um tratamento mais detalhado. Essa unidade,
informacionalmente, exerce a função de integração textual das unidades de TOP e COM
,
e
pode ser caracterizada como uma unidade opcional com nível de subordinação melódica.
Considerada uma unidade de sufixo, sua ocorrência é sempre depois de uma unidade de
núcleo (o COM) ou de uma unidade de prefixo (o TOP).
Dessa forma, se o apêndice estiver ordenado no enunciado a direita da unidade de
tópico será denominada apêndice de tópico (APT), e se estiver ordenado a direita da unidade
de comentário será denominado apêndice de comentário (APC)
22
. De modo geral, sua
principal função em termos informacionais é de mera compilação do texto, conforme mostram
os exemplos a seguir:
22
O apêndice de tópico e apêndice de comentário serão aprofundados na seção 1.6.
Figura 18
44
Exemplo 07: *FBA: que aquilo não é coisa de outro planeta
COM
/ pra ele
APC
//
Exemplo 08: *FBA: sentir que o aluno pelo menos num morto
COM
/ em relação a
língua
APC
// né
COM
//
Exemplo 09: *FBA:
FAT
/ um belo dia
TOP
/ você
APT
/ tá pensando em outra coisa
TOP
/ e [/] e
vem aquela visão
COM
//
Figura 19
45
Em relação a seu perfil entonacional, a unidade de AP é caracterizada por um
movimento uniforme, que sinaliza uma unidade não marcada tonalmente por ser privada de
um foco entonacional. Quando é o caso, o AP tende a reproduzir a forma da unidade de TOP
que a precede, porém realizada em uma freqüência fundamental mais baixa.
Linguisticamente, funções diversas podem estar relacionadas ao apêndice, sendo uma
das funções mais comum a de realizar a correção da unidade precedente, ou seja, explicitar
lexicalmente o sintagma ou o pronome que acompanha a unidade de COM ou a unidade de
TOP.
Figura 20
46
1.2.2.4 As unidades informacionais de auxílio dialógico (AUX)
Os chamados auxílios dialógicos
23
são unidades informacionais de conteúdo locutivo
diverso, e não participam da composição textual do enunciado. Essas unidades desempenham
diferentes funções, entre elas a de sinalizar, alertar ou se dirigir a alguém, sendo essas funções
voltadas para o interlocutor e não para locução propriamente dita. Além disso, são
consideradas unidades de fraco valor ilocucionário do tipo diretivo sem possibilidade de
interpretação em isolamento.
Os AUX têm distribuição livre no enunciado, podendo ocorrer em diferentes posições
e mais de uma vez em um mesmo enunciado. Essas unidades não correspondem a uma classe
lexical em específico, e são identificadas a partir de suas funções, que são amplas e múltiplas
(FROSALI 2006). Entre as ocorrências no corpus de italiano, a Teoria da Língua em Ato
considera como mais importantes os AUX que realizam a função de incipitários, fáticos,
alocutivos e conativos, conforme detalhamos a seguir.
Os incipitários (INP) o muito freqüentes na fala e sua posição normalmente é no
inicio dos enunciados. Essa unidade tem por função sinalizar a tomada de turno por parte do
locutor, independente de seu conteúdo lexical
24
.
Exemplo 10: *FBA: então
INP
/ assim
INX
/ teve alguns momentos
COM
//
23
Na literatura os auxílios dialógicos de forma geral são tratados como marcadores discursivos. Porém, mais
precisamente, os auxílios são aqueles marcadores que agem sobre o interlocutor e não aqueles com função
metatextual. Esses últimos correspondem à unidade informacional de inciso (da qual se falará mais a frente).
24
Os incipitários lexicalmente são constituídos de advérbios, conjunções subordinadas ou coordenadas que
assumem valor adverbial e de pronomes pessoais (sendo o mais difundido o pronome eu).
47
Os fáticos (FAT) dedicam-se ao controle e bom funcionamento da comunicação,
assegurando e mantendo a abertura do canal comunicativo. Eles podem ocorrer em qualquer
posição do enunciado, e sua realização fonética é muito breve, sendo seu perfil entonacional
pouco relevante.
Exemplo 11: *FBA: não
COM
/ né
FAT
//
Figura 22
Figura 21
48
Já os alocutivos (ALC) são menos freqüentes em alguns tipos textuais. Também
controlam a comunicação se dirigindo diretamente ao interlocutor, através de nomes próprios,
títulos, pronomes pessoais, adjetivos qualificativos afetuosos ou ofensivos. Sua distribuição
também é livre no enunciado, mas preferencialmente ao seu inicio. O ALC é isolado
prosodicamente, muitas vezes seguido por uma pausa breve, a configuração de seu
movimento é caracterizado por um movimento descendente. Tradicionalmente são
classificados como vocativos.
Exemplo 12: eh
FAT
/ e foi &ass + ai
AUX
/ eu fiquei preocupada
COM
/ né
FAT
/ Andréa
ALC
//
Por último caracterizamos os conativos (CON). De ocorrência mais rara na fala, estes
têm por função realizar uma pressão diretamente no interlocutor para que realize ou desista de
Figura 23
49
algo, ou ainda mude um determinado comportamento. Preferencialmente, ocorrem em posição
final de enunciado. Em 33,32 minutos de fala analisados para este estudo não encontramos
exemplos de ocorrência dessa unidade, possivelmente devido à tipologia textual das amostras.
Exemplo 13: *FRA: Mauro vai pegar as mexericas
COM
/ vai
CON
//
25
*SRE: usem ela
COM
/ vamos
CON
/ meninos
ALC
//
1.2.2.5 A unidade informacional de inciso (INX)
A próxima unidade informacional a ser caracterizada é denominada unidade de inciso.
O INX é uma unidade de função metalingüística, e faz de maneira direta o comentário sobre o
conteúdo da própria locução, isto é, fornece ao interlocutor instruções sobre como interpretar
o conteúdo do enunciado (FIRENZUOLI; TUCCI 2003a). Logo, não participa diretamente da
composição textual do enunciado, constituindo-se como uma espécie de instrução lingüística
direta ao interlocutor.
Os INXs podem ocorrer em qualquer posição no enunciado, menos em seu início.
Além disso, podem ficar dentro de uma outra unidade, dividindo-a em duas.
26
Também as
unidades de INXs são identificáveis segundo o critério entonacional, seu perfil é do tipo
assertivo conclusivo cuja realização mais comum apresenta valores mais baixos de freqüência
fundamental, sinalizado por um abaixamento do tom de voz, com aumento às vezes sensível
da velocidade de fala (TUCCI 2004). Algumas ocorrências de INX nas amostras podem ser
verificadas nos exemplos abaixo:
25
Tradução literal dos exemplo retirado de FROSALI (2006):
*FRA: Mauro
ALC
/ va’ a piglia’ i mandarini
COM
/ vai
CON
//
*SRE: utilizzatela
COM
/ daí
CON
/ ragazzi
ALC
//
26
Os auxílios dialógicos também podem ocorrer dentro de uma unidade, porém mais raramente.
50
Exemplo 14: * FBA: e / eu me baseei nisso / pra colocar um [/] assim
INX
/ o grau de
dificuldade dela maior / é / talvez
INX
/ do que é //
Exemplo 15: *GBL: ensino ta TOP [/] assim
INX
[/] difícil
COM
/ mas tá mais fácil
COM
/
AUX
//
27
27
Exemplos retirados das análises realizadas por Alves de Deus (em preparação).
Figura 24
Figura 25
51
Além dos perfis ilustrados nas figuras 25 e 26, identificamos em nossas amostras um
segundo tipo de INX, mais longo e menos freqüente nos textos analisados para este estudo,
como ilustra o exemplo 16 e o exemplo 17 a seguir.
Exemplo 16: *FBA: turmas
TOP
/ inclusive eu tava conversando até com uma diretora de
INX
+
Exemplo 17: *FBA: eu
TOP
/ já até [/] já tinha falado
INX
/ né
FAT
[/] mencionado isso com você
anteriormente
INX
/ &he / eu senti
TOP
/ &he / em muitos alunos
TOP
/
FAT
+
Figura 26
52
1.2.2.6 A unidade informacional introdutor locutivo (INTL)
A última unidade informacional a ser definida nessa seção são os introdutores
locutivos. Essa unidade exerce uma função importante na articulação informacional da fala
desempenhando a função de sinalizar o discurso direto citado (GIANI 2003).
O INTL, como todas as outras unidades informacionais, é definido através da função
exercida no enunciado. Essas unidades não correspondem a uma classe lexical específica,
sendo mais freqüentemente realizada através de verba dicendi (FIRENZUOLI; TUCCI
2003b). Distribucionalmente, o INTL deve anteceder uma citação ilocucionária.
Entonacionalmente, a unidade de introdutor locutivo tem uma realização fonética não muito
determinada, e em geral bastante breve. Consequentemente, seu perfil entonacional não é
muito definido, ocorrendo variações.
O perfil entonacional do introdutor locutivo, em alguns casos, pode assemelhar-se a
um tópico de pouca relevância, ou pode ainda assemelhar-se a um comentário assertivo ou
Figura 27
53
apresentacional fraco, porém sem o movimento característico que corresponde ao foco de
saliência da unidade. Na verdade, o principal traço de distinção do introdutor locutivo é de
não possuir um movimento que possa funcionar como foco, junto ao fato de ser realizado com
valor médio de F
0
mais baixo que o valor normal de um falante. Um outro traço indiretamente
distintivo dessa unidade é a estilização entonacional que caracteriza o comentário de citação,
que adquire sempre valores de F
0
mais altos para contrastar com o INTL. É esse contraste que
sinaliza a passagem do hic et nunc para um outro tempo, frequentemente uma outra pessoa, e
um outro lugar, como será detalhado nas próximas seções.
Exemplo 18: *FBA: então eu
TOP
/ acho que falei assim
INTL
/ aquela turma ali eu não tenho
’[/] não tô tendo muito trabalhar com ela
COM
’//
Figura 28
54
Exemplo 19: VTR: que que cê leva em consideração
COM
/ quando ela fala assim
INTL
/trabalhe em pares
COM
//
28
Nos exemplos 18 e 19 os introdutores locutivos introduzem comentários de citação,
com a finalidade de sinalizar para o interlocutor que a série de comentários e outras unidades
informacionais que o sucedem não devem ser interpretados pragmaticamente de forma direta,
mas sim através da relação entre os enunciados que constituem todo o episódio de citação.
Essa série de comentários que seguem ao introdutor locutivo retoma as coordenadas espaço-
temporais que não são aquelas do hic et nunc, mas referentes à situação em que foi
originariamente pronunciada. Na escrita, as aspas e os dois pontos corresponderiam à mesma
função que o introdutor locutivo desempenha na fala.
28
Exemplo retirado das amostras analisadas por Alves de Deus (em preparação).
Figura 29
55
1.2.3 Quando a correspondência não é biunívoca
Na seção 1 desse capítulo pontuamos que um enunciado constitui-se sempre a partir da
unidade de COM, responsável por veicular uma ilocução. Logo, essa unidade estaria sempre
em correspondência biunívoca com o enunciado, no sentido que cada enunciado possuiria
sempre uma e apenas uma unidade de COM. O mesmo tipo de correspondência se
estabeleceria entre unidade informacional e unidade tonal, uma vez que cada unidade tonal
corresponderia a um valor funcional, conforme detalhamos nas seções anteriores. Nesta seção,
retornamos a essa discussão para discutir o fenômeno de violação desse princípio.
A violação do principio do isomorfismo é de natureza diversa, sendo possível pontuar
para cada caso os fatores que ocasionaram a não correspondência entre enunciado e unidade
de COM, bem como entre unidade tonal e unidade informacional. Por ora salientamos que o
isomorfismo é o fundamento de qualquer fala espontânea, mesmo se em qualquer texto é
possível produzir segmentos de fala em que essa característica se perde.
1.2.3.1 Comentários múltiplos
Os comentários múltiplos correspondem a uma forma de estruturação em que não se
respeita o princípio segundo o qual cada enunciado deve possuir apenas um único COM de
valor ilocucionário. As ocorrências de comentários múltiplos estão presentes nos comentários
de citação, nas ilocuções de elenco, nas ilocuções de comparação, nas ilocuções de relação
necessária e nos pedidos de confirmação como explicitaremos nas próximas subseções.
Em relação aos comentários múltiplos o cumprimento da ilocução corresponde a
locuções múltiplas, fracionadas em mais de uma unidade tonal. Logo, existiriam alguns tipos
56
de ilocuções que se caracterizam pelo fato de que um único enunciado é constituído de duas
ou mais unidades de COM pela própria natureza da locução em questão.
O primeiro tipo de comentário múltiplo a ser aqui detalhado é o comentário de citação,
que tem em sua composição comentários múltiplos conforme ilustra o exemplo 20.
Exemplo 20: *VTR: o que cê leva em consideração
COM
/ quando ela fala assim
INTL
/ trabalhe
em pares
COM
’//
Na fala espontânea distingue-se dois tipos de citação: a citação literal e a citação
ilocucionária. Na citação literal tem-se a repetição do material lingüístico sem que esse,
contudo, veicule uma nova ilocução, como podemos observar no exemplo 21 analisado por
Cresti (2000, p. 151) e exemplo 22 retirado de nossa amostra.
Exemplo 21: *GIU: em sublocação //
*DAR: em sublocações ’ / ou qualquer coisa do gênero // [...]
29
Exemplo 22: *GBL: &he / a palavra
COM
/ com //
*VTR: com
COM
//
*GBL: com
COM
//
30
Outros tipos de citações literais seriam os provérbios, os ditos e as locuções de caráter
técnico ou cultural (notas). Esse último tipo pode ser realizado através de uma unidade tonal
dedicada, ou não.
29
Tradução literal do exemplo retirado de CRESTI (2000, p. 151):
*GIU: in subaffitto //
*DAR: in subaffitto ’/ o qualcosa del genere // [...]
30
Exemplo analisado por Alves de Deus (em preparação).
57
Exemplo 23: *GBL: <eu ia escrever>
INTL
/ com muito amor ’/
*VTR: hum hum
COM
//
*GBL: / e muito carinho
COM
’//
31
Na citação ilocucionária ocorre à dramatização do texto como uma tentativa de
reproduzir uma dada ilocução, porém realizada entonacionalmente de forma mais ou menos
mimética. Quando introduzimos a unidade de INTL neste capitulo, sinalizamos que o
comentário de citação tem uma realização característica, que permite distinguir a unidade
informacional de comentário propriamente dita (ou seja, ligada ao hic et nunc) daquela
realizada de forma dramatizada (GIANI 2005). Além dessa característica, podemos observar
que o comentário de citação é executado entonacionalmente de forma estilizada, possuindo
um valor da F
0
mais alto que a da parte anterior do enunciado e principalmente a de seu INTL.
Exemplo 24: *GBL: hhh / daí
AUX
/ ela pegou
INTL
/ uau
COM
//
32
31
Exemplo analisado por Alves de Deus (em preparação).
32
Exemplo analisado por Alves de Deus (em preparação).
Figura 30
58
Informacionalmente, a função associada ao comentário de citação é a de COM
propriamente dito, cuja ilocução é realizada com a finalidade de tornar mais adequado e
objetivo para o interlocutor o ponto de vista do falante. De forma geral, na constituição de um
comentário de citação, tem-se, além do INTL que sinaliza a citação, a própria citação
caracterizada pelo comentário de citação, ou ainda um enunciado todo de citação composto de
outras unidades informacionais como o TOP, o FAT e o COM.
Além dessas possibilidades de estruturação, o comentário de citação pode ser realizado
através de um enunciado complexo, com a presença de comentários de elenco ou comparação
na sua estrutura (exemplo 25), e pode ainda, mais raramente, ser realizado sem a presença do
INTL (exemplo 26).
Exemplo 25: *FBA: ah
COM
’// mas ele tem crítica
COMel
’/ conhecimento de &m [/] de mundo
COMel
’//
Exemplo 26: *FBA: ah
AUX
’/ aquela pessoa
TOP
’/ aquele dia
APT
/ me perguntou isso
COM
’/
FAT
//
1.2.3.1.1 Ilocução de elenco ou comentário de elenco (COMel)
Para realizar um elenco é necessária à presença de duas, ou mais unidades de
comentário. No caso de elenco com duas unidades de comentário, a primeira unidade de
comentário é de caráter representativo, excetuando sua parte final, cuja velocidade empregada
indica continuidade. A segunda unidade caracteriza-se por um relaxamento na velocidade da
fala, com perfil entonacional do tipo conclusivo. No elenco com três unidades de COM a
59
realização entonacional se configura de forma semelhante, embora a segunda unidade tenha
uma velocidade mais baixa com alongamento final que também sinaliza claramente
continuidade, com a terceira unidade mantendo um perfil entonacional conclusivo. Em nossas
amostras é freqüente a ocorrência de COMel com três unidades.
Exemplo 27: *FBA: você colaborou bastante
COMel
/ as conversas
COMel
/ tudo isso
COMel
/
FAT
//
Exemplo 28: *FBA: eh
FAT
/ principalmente depois da reorganização do espaço
COMel
/ a
questão de tá cobrando
COMel
/ de tá mais próximo deles
COMel
/ né
FAT
//
Figura 31
60
As ilocuções de elenco podem ser precedidas também por um INTL, quando ocorrem
dentro de um comentário de citação. Neste caso, o INTL serve para explicitar a suspensão da
interpretação pragmática da ilocução do comentário seguinte. Ou seja, os comentários da
ilocução de elenco não devem ser interpretados diretamente como ilocuções autônomas, mas
sim como elementos que compõem um ato ilocutório mais complexo.
Exemplo 29: *ADA: a questão de
INTL
/ <&he
*FBA: <violência>
COM
//
*ADA: / violência >
COMel
/ sexualidade
COMel
//
Cresti (2000) sinaliza que a estratégia de enumerar ou repetir uma dada ilocução, seja
ela de valor representativo ou diretivo, até a sua conclusão, constitui a especificidade que
caracteriza as ilocuções de elenco. Independente da quantidade de unidades de COM que
constitui um elenco, elas devem ser sempre interpretadas como uma ilocução única.
Figura 32
61
1.2.3.1.2 Ilocução de comparação (COMcomp)
A ilocução de comparação constitui-se de dois COM, cuja realização entonacional se
faz através de um movimento rápido com subida marcada. As duas unidades de COM devem
ter proximidade temporal e valor de F
0
semelhante, de forma a delinear entonacionalmente
um modelo perceptivo de comparação, sem a necessidade da estrutura lexical que sinalizaria a
comparação entre dois elementos.
Exemplo 30: *FBA: uns
TOP
/ reagiram pouco
COM
/ outros reagiram mais do que os outros
COMcomp
//
Exemplo 31: *FBA: uns
TOP
/ porque realmente não conseguem
COM
/ os outros
TOP
/ porque
APT
/ de um jeito ou de outro
TOP
/ tentam
COMcomp
/ né
AUX
//
Figura 33
62
A ilocução de comparação é menos difusa que as ilocuções de citação e as ilocuções
de elenco em nossas amostras. Sua constituição pode ser simples quando é composta apenas
pelas duas unidades de COM, como mencionamos, ou pode ainda ter uma constituição
informacional mais complexa, com a presença de um TOP ou uma unidade integradora de
AP, além da presença obrigatória das unidades de COM.
1.2.3.1.3 Ilocução de hipótese ou relação necessária (COMrelnec)
A ilocução de hipótese ou relação necessária é uma forma de estruturação do texto
falado, que ocupa um espaço bem maior do que na escrita. Na fala à relação entre duas
unidades em um período hipotético pode ser realizada através da estruturação TOP COM,
assemelhando-se à organização do texto escrito, ou através de comentários múltiplos,
particularidade do texto falado.
Figura 34
63
Exemplo 32: *FBA: determinados momentos
TOP
/ você estressado
COM
/ você não lembra
de nada
COMRelnec
//
A forma de estruturação da ilocução de hipótese é realizada também através da
articulação informacional COM-COM, sendo a primeira unidade de realização entonacional
assertiva com interpretabilidade incerta ou fraca, e, a segunda de realização entonacional
assertiva, porém com características de interpretabilidade forte ou diretiva, como ilustram os
exemplos 33 e 34.
33
Exemplo 33: *GBL: chega na prova
COM
/ é pau
COMrelnec
//
33
Os exemplos 31 e 32 foram analisados por Alves de Deus (em preparação).
Figura 35
64
Exemplo 34: *GBL: tá na [/] tá na língua
COM
/ eu falo
COMrelnec
//
Figura 36
Figura 37
65
Em relação às figuras 36 e 37, a parte destacada em preto corresponde à relação necessária
que se estabelece no enunciado, entre as unidades.
A relação necessária que se estabelece entre duas unidades em uma ilocução ocorre
sem operadores morfossintáticos ou lexicais, mas unicamente na base da gradação
entonacional
34
. É importante sinalizar que a relação COM assertivo fraco e COM tem sentido
mais amplo do que aquele do período hipotético. Nesse tipo de relação, a seqüência
informacional de COM está em relação necessária, e esta é motivada ou pela natureza
temporal ou pela semelhança da ação em jogo, não tendo, portanto, uma natureza lógica ou de
causa-efeito como no período hipotético.
1.2.3.1.4 Os pedidos de confirmação
A estratégia de utilização de um COM assertivo de ascendência mais fraca é
empregada também em ilocuções que não expressam na verdade um valor ilocucionário de
pergunta, e são mais propriamente caracterizadas como pedidos de confirmação ou tag
questions, como em ‘não é?’, ‘não acha?’ ‘né?’
35
Exemplo 35: *FBA: parece que tem dia que não tem ninguém participando
COM
/
COM
//
34
Cresti (2000)
35
Raso; Mello; Jesus; Deus (no prelo)
66
Exemplo 36: *FBA: <hoje
TOP
/ parece que modificou meu olhar>
COM
/ também
APC
/ né
COM
//
Figura 38
Figura 39
67
Em nossas análises constatamos que a realização do nem sempre se faz em forma
de pedidos de confirmação, como ilustram os exemplos anteriores. Para ser considerado um
pedido de confirmação, isto é, uma tag question, é preciso que o contexto permita. Isso
significa que os pedidos de confirmação devem ser compatíveis com o COM que os
antecedem, ou seja, quando o primeiro COM é totalmente assertivo, e não antecipa na
entonação nenhuma incerteza, o (ou outros elementos que o sucede) não pode ser um
pedido de confirmação. Logo, já na entonação do primeiro comentário é preciso a presença de
algo que reforce o fato de que o seja o pedido de confirmação daquele COM. Nesse
sentido, a entonação é diferente, porque o verdadeiro pedido de confirmação é realizado com
certa autonomia. Em muitos enunciados analisados em nossa amostra, pudemos constatar que
o é realizado como AUX.
Exemplo 37: *FBA: cê sentir que o aluno pelo menos num morto
COM
/ em relação a língua
APC
/
AUX
//
Figura 40
68
Exemplo 38: *FBA: ainda /
FAT
/ que seja uma turma agitada
COM
//
Exemplo 39: *FBA: igual / nossa mente
COM
/
AUX
//
Figura 41
Figura 42
69
Assim, em relação aos comentários múltiplos, a correspondência entre enunciado e um
comentário é violada, sem que isso implique na quebra do princípio segundo o qual um
enunciado corresponde a uma única ilocução, pois essa relação substancial é desrespeitada
apenas no aspecto locutivo. Os comentários de citações, bem como as ilocuções de elenco,
comparação e de relação necessária necessitam de locuções com estrutura múltipla para se
realizarem, fato que não contradiz o fundamento ilocutivo da informação, já que tal violação é
motivada pela natureza do fenômeno em si.
1.2.3.2 Comentário fracionado em mais unidades tonais
Um caso também freqüente em que o principio ilocutivo e informacional do enunciado
não apresenta isomorfismo, pode ser observado nos comentários fracionados. A estratégia de
fracionamento da unidade de comentário em mais unidades tonais é relativamente comum,
principalmente entre falantes em que se percebe uma menor complexidade em relação ao
domínio dos mecanismos da fala, ou pode ainda ser ocasionada por limites articulatórios, ou
por motivos expressivos.
Em textos monológicos, por exemplo, que geralmente são estruturados com locuções
longas demais para serem realizadas em uma única unidade tonal, ocorre à escansão de uma
mesma unidade informacional em mais unidades tonais.
Exemplo 40: *FBA: lógico que
AUX
/ uma coisa que não ficou ainda muito bem resolvida é a
questão da / administração do tempo
COM
/
AUX
//
70
o exemplo 41 abaixo, ilustra um tipo de comentário fracionado em mais unidades,
cuja estratégia de fracionamento tem motivações específicas. Nesse caso, a unidade de
comentário é fracionada não pela complexidade da locução, mas por uma estratégia de
execução em que cada elemento da locução tem uma realização fonética marcada, sem que
essa marcação seja uma indicação de perfil terminal ou de unidades autônomas, nem
indicação de perfil com outra funcionalidade.
Exemplo 41: *ADA: e o resultado / das provas / que eles <fazem >
COM
//
Figura 43
71
Na análise de nossas amostras, encontramos alguns exemplos em que é evidente a
função de fracionamento da unidade de comentário de forma rítmica, com o intuito de
explicitar o conteúdo semântico da ilocução; logo esse indício mostra a força do principio
ilocucionário.
Exemplo 42: *FBA: existe / isso /
COM
//
Exemplo 43: *ADA: / <né>
AUX
/ a questão de excelência / e de qualidade / na educação
COM
//
Quanto às locuções longas e complexas, essas merecem um maior detalhamento. Essas
locuções de difícil realização são executadas em forma de porções locutivas. O mesmo ocorre
com programas melódicos de unidade tonais cujo conteúdo se compõe de seqüências silábicas
longas. Nesses casos o falante precisa distribuir os elementos da locução em mais unidades,
porém utilizando uma entonação neutra. Esse estratagema vai sendo repetido até a conclusão
Figura 44
72
da expressão, com realização do movimento específico que permite o reconhecimento do
perfil entonacional em questão, apenas na parte final
36
.
Retomamos o exemplo 40 citado anteriormente. Esse é um caso característico de uma
locução mais longa, que por sua complexidade leva o falante a fracioná-la, de forma a cumprir
o que havia programado. A unidade de COM que constitui o enunciado do exemplo a seguir
possui cerca de 30 sílabas gráficas, como podemos verificar na parte em negrito do
enunciado.
*FBA: lógico que
AUX
/ uma coisa que não ficou ainda muito bem resolvida é a questão da /
administração do tempo
COM
/
AUX
//
O número de sílabas por unidade tonal é variável; essa variação tende-se a ampliar em
uma comparação entre nguas silábicas e línguas acentuais. Em línguas silábicas a distancia
entre as silabas gráficas e as fonéticas é limitada. Já nas línguas acentuais a distância pode ser
muito grande.
No italiano, a seqüência silábica oscila entre sete ou menos sílabas, alcançando o
máximo de onze sílabas gráficas. Em algumas situações esse limite é superado, mas escapa a
natureza e compreensão da fala, isto é, em italiano, unidades tonais com mais de 11 sílabas
não são plenamente compreensíveis. no português, a quantidade de sílabas por unidade
tonal é bem maior, sem que isso gere incompreensão. Por isso em italiano não temos unidades
com mais de onze silabas, enquanto em PB temos unidades bem maiores, sob o aspecto
gráfico.
A quantidade de sílabas por unidade tonal não é objetivo desse trabalho. Contudo,
alguns dados sobre essa questão são aqui discutidos sem maiores detalhamentos, devido a sua
36
Raso; Mello; Jesus; Deus (no prelo)
73
relação com o fenômeno de comentários fracionados. Nas amostras analisadas para esse
estudo muitos exemplos de unidades tonais com mais de vinte e cinco sílabas gráficas,
conforme ilustra os exemplos que seguem:
Exemplo 44: *FBA: eu tava [/] ano passado eu tava realizando um projeto com você
COM
/
FAT
//
Exemplo 45: *ADA: <e eu achei> muito interessante o fato de você ter escolhido a IC3
COM
//
Exemplo 46: *VTR: / de [/] é um menino que tem estudado com a Andréa desde quinta
série
COM
//
Dessa forma, conclui-se que o fracionamento de uma unidade informacional em mais
unidades tonais é ocasionado por um fenômeno de execução, o que pode acontecer
ocasionalmente com qualquer falante. Por outro lado pode constituir um traço idiossincrático
em particular de um falante. Em qualquer que seja o caso, o fenômeno em si é caracterizado
por uma dificuldade momentânea de realização, ou incapacidade do falante, ou ainda por um
objetivo expressivo (como mostra os exemplos 42 e 43), o que não configura violação do
principio informacional, sobre o qual se fundamenta a ilocução.
1.3 O principio ilocucionário e seu enfraquecimento
Nesta seção retornamos ao principio do isomorfismo que se estabelece entre
enunciado e ilocução, segundo o qual o enunciado, enquanto contraparte lingüística do ato de
fala, pode veicular uma e somente uma ilocução, para apresentarmos alguns exemplos de
74
interações em que esse princípio não é claramente identificado. Como dissemos, o critério
ilocucionário é condição fundamental para estruturação de qualquer fala espontânea, e é assim
considerado mesmo quando por alguma razão particular ele se perde. Reafirmamos, contudo,
que a ocorrência desse fato em particular não invalida o principio em si.
Na Teoria da Língua em Ato, o que se hipotetiza em relação à fala espontânea é que as
unidades acionais que correspondem a ilocução dizem respeito às ações e/ou intenções que se
cumprem a partir da interação entre falantes, ações essas capazes de modificar o mundo.
Logo, segundo essa premissa, um ato ilocucionário não será identificado a partir de princípios
lógicos ou lexicais, mas sim através da análise da língua em uso.
Assim, o principio ilocucionário é caracterizado, nesse arcabouço teórico, como o
critério de identificação dos enunciados através do reconhecimento de um padrão tonal
(CRESTI, 2000:47). Cada padrão tonal é composto de uma ou mais unidades tonais, e mais
especificamente, de uma unidade tonal que constitui o núcleo desse padrão, e que
denominamos de COM. Conforme elucidamos nas seções anteriores, a unidade de COM tem
por função veicular a força de ação que permite interpretar pragmaticamente um enunciado.
Logo, a força ilocucionária é realizada pela unidade de COM.
O reconhecimento de um padrão tonal de valor ilocucionário se faz por intermédio da
entonação. Essa afirmação fundamenta-se na hipótese de que aquilo que é sinalizado pela
entonação é a própria ilocução. Por esse motivo, a avaliação do caráter entonacional de uma
dada expressão é primeiramente perceptivo (T’HART; COLLIER; COHEN 1990), e a esse
critério pode aliar-se uma análise instrumental dos parâmetros acústicos do sinal sonoro,
constituindo-se assim o parâmetro formal de reconhecimento da ilocução.
Em qualquer sistema lingüístico as ilocuções corresponderão a uma dada atitude do
falante em relação ao interlocutor, em que a atitude é transformada em um comportamento
lingüístico. Como normalmente elas são codificadas convencionalmente na língua/cultura, o
75
interlocutor não é capaz de reconhecer seu valor acional, como também é impulsionado a
reagir a partir delas. Dessa forma, se uma dada expressão é executada com valor ilocucionário
de pergunta do tipo ‘que horas são?’, o interlocutor convencionalmente reage a ela através de
uma resposta. Ou ainda, se uma expressão vem realizada com valor acional de ordem como
em ‘fecha a porta!’, segue-se a essa uma reação por parte do interlocutor (CRESTI 2000:47).
A partir desses exemplos evidencia-se o fato de que a força ilocucionária fundamenta
seu conteúdo atitudinal de informação em relação ao interlocutor. Essa característica, muitas
vezes é identificada apenas pela força entonacional do comentário, e quando não é suficiente
alia-se aos aspectos pragmáticos e semiológicos convencionalmente regulamentados em cada
cultura. Esses aspectos manifestam-se através de índices lingüísticos, a entonação, que pode
estar acompanhada de itens lexicais que constituem o conteúdo semântico da intenção
ilocucionária, como também de itens morfossintáticos que constituem a gramaticalização.
Em alguns casos, a identificação da ilocução não é facilmente realizada,
principalmente nos casos em que a correspondência biunívoca entre o critério ilocucionário e
enunciado se enfraquece como veremos nas seções a seguir. Entretanto, existe a necessidade
de que uma expressão seja realizada entonacionalmente segundo um perfil nuclear, que
mesmo não sendo especifico seja adequado ao cumprimento de uma dada tipologia
ilocucionária. Portanto, para o cumprimento de um ato lingüístico é condição necessária a
realização de uma unidade de comentário entoada com características de perfil nuclear.
1.3.1 A estrofe
A estrofe é um fenômeno caracterizado pela perda do isomorfismo existente entre
enunciado e ilocução. A estrofe substitui o enunciado, em textos predominantemente
76
monológicos e formais, como uma conferência, um discurso político ou outro tipo de fala
estruturada textualmente e menos ligada à interação direta com o interlocutor. Esse tipo de
estruturação faz com que o texto adquira uma função mais importante, contrariamente ao que
acontece em interações dialógicas nas quais a ilocução é o elemento mais presente (CRESTI
2000:160).
Em relação à estrofe, com menor ou maior constância, a correspondência entre
unidade tonal e unidade informacional tende a se enfraquecer, como também se enfraquece a
correspondência entre enunciado e COM único, uma vez que se reduz a estruturação
ilocucionária do enunciado. Nessa forma de articulação do texto os enunciados se amplificam
e estendem-se em estrofes, cuja ilocução se distribui pelas várias unidades tonais
enfraquecidas. Essas unidades acabam compondo uma única ilocução, distribuídas em
unidades textuais diversas, as quais denominam comentários ligados.
Além da estruturação da estrofe realizada através de comentários ligados, temos a
estrofe estruturada de forma narrativa e estrofe estruturada de forma retórica. Na estrofe de
narração o texto constitui-se de uma seqüência de vários comentários que veiculam a mesma
ilocução, ou ilocuções semelhantes, porém com características fracas e difíceis de serem
reconhecidas. O segundo tipo, a estrofe retórica, é característico da diastratia culta e sua
estruturação constitui-se enquanto construção retórica do texto falado. Nesse caso a estratégia
de identificação dos vários enunciados que a compõe, e mais propriamente da ilocução, muda
completamente. Esta deixa de ser marcada unicamente pela entonação e passa a ser
identificada através da construção semântica e retórica de um argumento.
Em relação à estrofe de narração e à estrofe retórica, os enunciados não apresentam
tão claramente o principio fundamental que os constitui, que é o cumprimento claro de uma
ilocução. Logo, a segmentação desses textos em enunciados não pode ser realizada
unicamente através de um padrão entonacional, mas sinalizada pela constituição semântica ou
77
pela seqüência temporal dos eventos, produzidos pela locução. Ocasionalmente, em um
mesmo texto ocorre a passagem do critério ilocucionário fundamentado no enunciado, para o
critério baseado na estrofe. Tal mudança permite identificar com precisão os momentos em
que um texto dialógico espontâneo abandona a acionalidade própria das interações diretas;
portanto a perda do princípio ilocucionário para um princípio baseado na construção locutiva
do texto independente da acionalidade interativa é também um fenômeno lingüístico e
entonacional objetivo e mensurável.
Logo, a estrofe é um fenômeno ocasionado pela perda da espontaneidade característica
das interações livres que ocorrem entre os interlocutores. Como o principio ilocucionário é
característico das interações dialógicas, na qual o conteúdo da verbalização está direcionado
de forma direta ao interlocutor e suas reações, quando essa condição se enfraquece, como é o
caso dos textos monológicos e a diastratia culta, a segmentação do texto não pode ser
finalizada apenas através da ilocução ou da articulação informacional, mas sim segundo a
estruturação semântica e retórica da estrofe argumental.
1.3.2 O ritmo
O último fenômeno caracterizado pela perda do isomorfismo a ser discutido nesta
seção diz respeito ao ritmo. Trata-se na verdade de algumas tipologias orais transmitidas em
diamesias específicas como o rádio e a televisão, mais especificamente os anúncios
publicitários, os programas de entretenimento, o acompanhamento de trechos musicais por
jovens, as crônicas esportivas e alguns tipos de noticiários (CRESTI 2000:162).
Em casos como estes, o texto prescinde quase que completamente da dinâmica de
interação entre falante e interlocutor; logo, a entonação se realiza com base em picos
78
abnormes voltados para as expressões que não portam mais a saliência típica das
comunicações naturais; isto é, o foco entonacional dessas transmissões pode estar em artigos,
auxílios, preposições ou conjunções. Assim, a informação centra-se na adequação da
seqüência oral produzida e no ritmo empregado, que possibilitam a identificação da fonte de
som, o emitente, e da audience, e não mais, portanto, de falante que cumpre uma ilocução e
um interlocutor que percebe e reage a essa ilocução. Em resumo, esse tipo de transmissão
pauta-se especificamente na identificação recíproca do ouvinte e do remetente.
Em relação aos DJs, por exemplo, a fala se confunde tanto com o som que seu
conteúdo locutivo, composto de fórmulas rotineiras, passa a incorporar apenas características
sonoras que resultam no próprio ritmo. O mesmo ocorre na apresentação de canções do hit-
parade: essas se constituem de estruturas melódicas de padrão informacional afetivo, que se
baseiam não em focos informacionais de natureza semântica, mas sim em focos sonoros.
Logo, o ritmo e alguns tipos específicos de ritmos constituem o escopo dessas produções orais
que não podem ser considerados espontâneos, e tampouco podem ser considerados de fala.
1.4 As principais classes ilocucionárias
O termo ilocução foi primeiramente proposto por Austin (1962) que a define como
“aquilo que realizamos quando falamos, e o que realizamos com o dizer”. Segundo o filósofo,
a execução do ato lingüístico envolve o cumprimento de três atos simultâneos e distintos entre
si; o ato locutório, o ato ilocutório e o ato perlocutório. Esse conceito seria mais tarde
retomado por Searle (1969), para quem a ilocução de um ato é sempre identificada pelo
reconhecimento de um verbo performativo explícito ou implícito na locução.
79
Na teoria da Língua em Ato, a ilocução se fundamenta na pulsão afetiva. Esse por sua
vez é caracterizado como pulsão e representação, isto é “a ativação pulsional de um esquema
motor que implica em uma intervenção física no mundo” (CRESTI 2000: 43-44). Logo, a
manifestação do falante na interação está baseada na afeição que emerge entre ele, o locutor,
em relação ao seu interlocutor.
Assim, as principais classes ilocucionárias identificadas no corpus de italiano falado
estão baseadas nas características afetivas das ações humanas. Essa perspectiva de análise
possibilitou a confirmação parcial das macro classes ilocucionárias serleana (representação,
direção, declaração, expressão e comissão), e ao mesmo tempo, revelou a existência de muitas
classes e bastante freqüentes no corpus, não contempladas no quadro teórico proposto por
Searle. A nova classificação das classes ilocucionárias está categorizada segundo os diferentes
níveis e graus de ativação da afetividade, conforme definidos a seguir.
A recusa: atitude de liberdade ou independência do falante em relação ao interlocutor,
permitindo o confronto com este último.
A asserção: atitude de certeza do falante em relação a realização de seus próprios
pensamentos, permitindo a manifestação de julgamentos, descobertas, avaliações e
representações como um novo objeto no mundo.
A direção: disposição ou atitude de levar em consideração as habilidades,
possibilidades e disponibilidade do parceiro, enquanto espera transformar o mundo
através de ações, informações e movimentos, ou que o parceiro modifique a si próprio
em relação ao seu horizonte de atenção, seu conhecimento, habilidade ou ponto de
vista.
A expressão: disposição, atitude ou forma de manifestação estética de estados mentais,
sentimentos, emoções, crenças enquanto espera que o parceiro esteja consciente a isso
e compartilhe com empatia.
80
O rito: comportamento externo de realização de tarefas lingüísticas de efeitos legais e
sociais e que podem ser realizadas com o mínimo de participação afetiva.
As classes ilocucionárias identificadas através da verificação empírica nos corpora
foram definidas com base em critérios semiológicos, pragmáticos e cognitivos (CRESTI
2000: 89). São eles:
a) a abertura de canal comunicativo entre os interlocutores;
b) o compartilhamento do horizonte de atenção e do focus de atenção;
c) a modalidade da ação comunicativa;
d) o caráter perceptivo do objeto contextual de referência (próximo, distante, parado, em
movimento, conhecido);
e) a distância e a proxêmica dos falantes, sua disponibilidade e habilidade de
intervenção;
f) o caráter operacional da situação extralingüística;
g) a transformação do comportamento, da atenção, do conhecimento esperado do
interlocutor;
h) a expressão de emoção, de estado interior, de credulidade da parte do falante;
i) a idade, o sexo, o papel dos interlocutores e o nível social.
Os critérios acima de definição da ilocução têm valores diversos, uma vez que são
codificados convencionalmente segundo uma dada cultura e uma dada língua. Logo, uma
ilocução deve ser definida com base em conteúdos atitudinais, afetivos e em traços
pragmáticos específicos que constituem a codificação de um ato em cada língua.
81
1.5 O C-ORAL-ROM
O C-ORAL-ROM (CRESTI & MONEGLIA 2005) é um projeto europeu que está
orientando um estudo contrastivo das quatro principais línguas românicas (italiano, francês,
espanhol e português de Portugal), tendo como principio de análise a segmentação de textos
orais em enunciados e em unidades tonais (entendidos com base na teoria da Língua em Ato).
Os resultados frutíferos advindos desse projeto sinalizaram a possibilidade de aplicação desse
estudo em diferentes domínios teóricos e práticos, tais como estudos de percepção da
linguagem, aquisição inicial de padrões prosódicos, inter-compreensão multilíngües,
estruturação da informação na fala em situações comunicativas diversas, entre outras.
A realização do projeto foi idealizada através de um consórcio envolvendo grandes
universidades dos países participantes do projeto. O laboratório do departamento de
italianística (Lablita)
37
da Universidade de Firenze foi responsável pela constituição do corpus
de italiano e pela coordenação geral do projeto. O departamento de lingüística, línguas
modernas, lógica e filosofia da ciências juntamente com o laboratório de informática da
Universidade Autônoma de Madrid constituíram o corpus de espanhol. O centro de lingüística
da Universidade de Lisboa ficou responsável pela constituição do corpus de português, e a
Universidade de Aix-en-Provence realizou a constituição do corpus francês.
O C-ORAL-ROM contempla em sua estrutura um livro e um DVD, em que é possível
ter acesso a coleção de corpus multilíngües de fala espontânea das quatro línguas românicas,
com arquivos de som em formato MP3 e XML, integrado com software para análise acústica,
o software WinPitch
38
, que forneceu as medidas prosódicas adequadas para comparação entre
as línguas, além de um sistema de busca para os textos transcritos. A arquitetura do C-ORAL-
37
O laboratório do departamento de italianística pode ser acessado no endereço eletrônico:
http://lablita.dit.unifi.it
38
O software WinPitch idealizado por Philippe Martin permite a análise acústica de forma eficiente com
mostrador de freqüência fundamental em tempo real e mostrador espectrográfico. Essa ferramenta será mais bem
descrita no capitulo 3 deste estudo.
82
ROM constitui-se de 772 textos falados em 121:43:07 horas de fala gravadas (cerca de 30
horas de gravação para cada língua), realizada por 1.427 diferentes tipos de falantes. Como
estratégia de amostragem e comparação dos dados coletados foram utilizadas 300 mil
palavras para à constituição dos corpora.
A identificação de eventos da fala é o principal objetivo do C-ORAL-ROM. O corpus
se caracteriza por uma notação sistemática dos enunciados em um fluxo de fala, demarcados
entonacionalmente através do método perceptivo, e tem como objetivos específicos:
representar em um universo de fala a fala espontânea;
representar as principais formas de variação da fala, com especial atenção à variação
diafásica;
fornecer uma amostra comparável das quatro principais línguas românicas;
permitir a exploração direta e completa das unidades entonacionais presentes no sinal
acústico, para estudos lingüísticos;
identificação dos enunciados.
1.5.1 Segmentação prosódica e critério de validação
A segmentação de um texto é realizada através da percepção de quebras prosódicas em
um continuo de fala. Essas quebras são consideradas dicas relevantes para determinar a
fronteira de enunciados e a divisão interna do enunciado em mais unidades tonais, que são
distintas uma das outras com base em duas características principais: o valor terminal
(identifica a fronteira entre enunciados) e o valor não-terminal (especifica a divisão interna do
enunciado em mais unidades tonais
83
A validação das marcações no C-ORAL-ROM foi realizada por três avaliadores
expertos, na seguinte seqüência:
Primeira fase: Demarcação das quebras prosódicas e transcrição do texto realizados
simultaneamente pelo primeiro avaliador.
Segunda fase: Revisão das demarcações prosódicas e da transcrição do texto por um
segundo avaliador.
Terceira fase: Revisão do texto segmentado através da demarcação das quebras prosódicas
e alinhamento do texto com o sinal acústico por um terceiro avaliador (BUCHMAN et al.
2002; CRESTI ; MARTIN; MONEGLIA 1998; MONEGLIA 2002; MONEGLIA;
SCARANO; SPINU 2002).
Este processo assegura o controle e o grau de relevância das demarcações realizadas
entre os avaliadores, bem como confere o máximo de precisão na demarcação das quebras
prosódicas de valor terminal. Para a demarcação de quebras prosódicas de valor não terminal
certa margem de erro devido às especificidades do método adotado. A demarcação das
quebras prosódicas realizadas nos textos I, II e III, que constituem a base de dados para esta
pesquisa, utilizou a primeira e a segunda fase do processo de validação, uma vez que a
utilização desses três momentos faz sentido para notação de corpus amplo. Em
compensação, o fato dos textos terem sido etiquetados resolve praticamente qualquer dúvida
de segmentação.
No C-ORAL-ROM cada corpus foi segmentado em aproximadamente 40 mil
enunciados. Dado o tamanho das amostras, a validação das demarcações prosódicas foi
realizada com base em médias estatísticas; a proporção utilizada foi de 1/30 enunciados
escolhidos. Essa média corresponde a 1.300 enunciados em 1 hora e 30 minutos de fala
espontânea para cada uma das quatro línguas, em um total de seis horas. Essas medidas foram
84
consideradas estatisticamente suficientes para configuração de um quadro consultivo e
coerente em relação à quantidade de dados considerados.
1.5.2 A arquitetura dos corpora
A estratégia de amostragem adotada na arquitetura dos corpora baseia-se em uma
série de parâmetros variáveis que caracterizam um evento de fala. Essas variáveis dizem
respeito à estrutura dialógica, o contexto social, o domínio de uso e o canal de interação da
fala espontânea. Assim, as amostras analisadas devem ser amplas o bastante para contemplar
uma maior probabilidade de ocorrência dessas propriedades, e possibilitar a comparação entre
elas.
Considera-se também como principal critério de comparação entre as línguas no C-
ORAL-ROM, à representativa do corpus segundo a variação diafásica (situação
comunicativa). Essa escolha baseia-se na hipótese de que as variações na fala são
condicionadas principalmente por aspectos diafásicos, no que diz respeito à estruturação
ilocucionária e informacional, ou seja, é o objetivo comportamental em determinada situação
a principal condição que condiciona e estrutura da fala. Logo os corpora analisados
apresentam limites em relação à variação diacrônica e diatópica (não o representativas) e
também apresentam desequilíbrio do ponto de vista da variação diastrática.
Para cada evento de fala, formal e informal, o utilizados critérios de amostragem
diferenciados, conforme ilustra a tabela a seguir:
85
Tabela 1.1
Evento de fala Contexto social Estrutura do evento
de
comunicação
Informal Familiar / Privado
Público
Monólogo
Diálogo
Conversação (multi-diálogos)
Tabela 1.2
Evento de fala Canal Domínio de uso típico
Formal Contexto natural Discurso político, debate
político, pregação, ensino,
explicações profissionais,
negócios, lei.
Formal Mídia Programas de auditório,
reportagens, entrevistas,
programas de esporte,
noticiários, previsão do
tempo.
Informal Conversas telefônicas Conversa particular,
interações homem-máquina.
86
1.5.3 As medidas e os dados estatísticos dos corpora
As principais medidas das variações inter-linguísticas realizadas pelo C-ORAL-ROM
voltam-se para as propriedades quantitativas dos enunciados (tamanho dos enunciados,
tamanho das unidades tonais e tamanho dos turnos dialógicos em relação à quantidade de
palavras); a velocidade da fala (número de palavras por segundo), as mensurações lexicais
(porcentagem de verbos e nomes), a estrutura dos enunciados, os fenômenos de fragmentação,
entre outros. Os gráficos que ilustram cada uma das variações lingüísticas e estruturais dos
corpora utilizaram a seguinte legenda:
Tabela 1.3
Tel/priv Telefone / privado
Fam d/c Familiar – diálogo/conversação
Pub d/c Público – diálogo/conversação
Nat d/c Natural – diálogo/conversação
Fam m Familiar – monólogo
Media Mídia
Pub m Público - monólogo
Nat m Natural - monólogo
O tamanho médio dos enunciados, das unidades tonais e do turno dialógico em cada
uma das línguas é calculado em relação ao número de palavras que os constitui. Este número
é bastante variável segundo o contexto (familiar, privado, natural, mídia, ou telefone) e a
estrutura do evento de comunicação (monólogo, diálogo, conversação).
87
Gráfico 1. (Tamanho do enunciado)
Gráfico 3. (Tamanho do turno dialógico)
Gráfico 3. (Tamanho do turno dialógico)
A velocidade da fala é diferente nas quatro línguas analisadas (italiano, francês,
espanhol e português), uma vez que essa é limitada pela natureza de cada língua. Além disso,
há os limites determinados pela estrutura fonética especifica de cada uma das línguas.
Gráfico 1
Gráfico 2
Tamanho médio da unidade tonal
Gráfico 3
Tamanho do turno dialógico
Gráfico 4
Velocidade da fala
88
Os dados lexicais foram quantificados segundo a porcentagem de nomes e verbos
presentes nos textos que constitui os corpora. Esses dados serão retomados e detalhados no
capítulo 3 deste estudo
Gráfico 5 (Porcentagem de verbos, nomes entre outros nos corpora)
Em relação à estrutura dos enunciados em cada um dos corpora levou-se em
consideração o tipo (enunciados verbais e enunciados não-verbais) e a estruturação
(enunciados simples e enunciados complexos). Os verbos não finitos foram categorizados
como enunciados não verbais.
Gráfico 5
Porcentagem de verbos, nomes entre outros nos corpora
89
Gráfico 6. (Estrutura dos enunciados simples nos corpora)
enunciados quanto à estrutura nos corpora)
Gráfico 7 (Estrutura dos enunciados complexos nos corpora)
A origem geográfica dos falantes não está categorizada diatopicamente, uma vez que
os corpora representam à porcentagem de língua falada em relação a um centro urbano dos
Gráfico 6
Estrutura dos enunciados simples nos corpora
Gráfico 7
Estrutura dos enunciados complexos nos corpora
90
países das línguas analisadas (Madri, Lisboa, Marselha e Florença) e as áreas ao redor desses
centros.
Gráfico 8.
1.6 A unidade informacional de apêndice na amostragem
Gráfico 8
91
1.6 A definição, as funções e as características lingüísticas do apêndice de comentário e
do apêndice de tópico
Na seção dedicada aos enunciados complexos e à sua articulação informacional
definimos a unidade de apêndice, bem como a função e distribuição dessa unidade no
enunciado. Nesta seção voltamos a esses conceitos com maiores detalhes, de forma a
compreender melhor o papel desempenhado pela unidade de apêndice na estruturação dos
enunciados e a regularidade dessas funções na amostra do português do Brasil.
1.6.1 A definição de apêndice
A unidade de AP é uma unidade tonal de caráter opcional, e, portanto, não é suficiente
ou necessária para a constituição de um padrão informacional; essa função, como sinalizamos
na subseção 1.2.2.1, é realizada pela unidade informacional de COM. Na estruturação dos
enunciados complexos o papel da AP é sempre de integração textual das principais unidades
informacionais, o COM e o TOP. Logo, o AP é a unidade informacional que realiza a
compilação do texto em forma de correções, integrações lexicais, repetições, utilização de
material redundante entre outras possibilidades, como podemos verificar nos exemplos de
APC e APT a seguir:
Exemplo 47: *FBA: sentir que o aluno pelo menos num morto
COM
/ em relação a
língua
APC
/ né
AUX
//
Apêndice (integração lexical)
92
Exemplo 48: *FBA: que aquilo não é coisa de outro planeta
COM
/ pra ele
APC
//
Apêndice (integração lexical)
Figura 45
Figura 46
Exemplo 49: *ADA: mas
INP
FAT
/ que às vezes não dá certo
Apêndice (preenchimento frasal)
Os exemplos acima apresentados mostram a ocorrência de unidades de APC e
unidades de APT. Essas unidades terão um tratamento detalhado nas seções abaixo. De modo
geral, elas exercem a função de integração lexical do material locutivo expresso pela unidade
de TOP ou COM, e, segundo
diversas. Consideremos como exemplo uma interação dialógica informal. Um falante diante
da tarefa de realizar uma unidade de COM ou TOP, e percebendo problemas de execuçã
seja por questões de erros, por mudar de idéia quanto ao que
que disse não é adequado, imediatamente integra novas estruturas lingüísticas à unidade que o
precede em forma de apêndice, de modo a realizar a sua
reestruturação.
Figura 47
INP
/ assim
INX
/eu tô achando interessante
TOP
/ que às vezes não dá certo
COM
//
Apêndice (preenchimento frasal)
Os exemplos acima apresentados mostram a ocorrência de unidades de APC e
unidades de APT. Essas unidades terão um tratamento detalhado nas seções abaixo. De modo
geral, elas exercem a função de integração lexical do material locutivo expresso pela unidade
de TOP ou COM, e, segundo
Cresti
(2000), essa função realizada pelo AP tem motivações
diversas. Consideremos como exemplo uma interação dialógica informal. Um falante diante
da tarefa de realizar uma unidade de COM ou TOP, e percebendo problemas de execuçã
seja por questões de erros, por mudar de idéia quanto ao que
disse, ou por achar que aquilo
que disse não é adequado, imediatamente integra novas estruturas lingüísticas à unidade que o
precede em forma de apêndice, de modo a realizar a sua
expansão sem
93
TOP
/ você falar
APT
/
Os exemplos acima apresentados mostram a ocorrência de unidades de APC e
unidades de APT. Essas unidades terão um tratamento detalhado nas seções abaixo. De modo
geral, elas exercem a função de integração lexical do material locutivo expresso pela unidade
(2000), essa função realizada pelo AP tem motivações
diversas. Consideremos como exemplo uma interação dialógica informal. Um falante diante
da tarefa de realizar uma unidade de COM ou TOP, e percebendo problemas de execuçã
o,
disse, ou por achar que aquilo
que disse não é adequado, imediatamente integra novas estruturas lingüísticas à unidade que o
expansão sem
ântica, correção ou
94
De fato, a unidade de AP é sempre produzida a partir de uma expressão de COM ou
TOP das quais constitui uma mera repetição (50% dos casos analisados segundo os dados
provenientes do corpus de italiano falado), ou uma forma de expansão através de sinônimos
ou complementos circunstanciais (lugar, condição, tempo, modo, intensidade, etc).
1.6.1.1 A definição de apêndice de comentário
O APC é definido por Cresti (2000) como a unidade que realiza a integração textual da
unidade informacional de COM, e como tal, deve estar posicionada após a unidade da qual faz
a integração, nesse caso a unidade de COM. De modo mais específico, Tucci (2006) sinaliza
que a função informacional dos APCs são realizadas em forma de:
Repetições de expressões do tema do discurso: as repetições são distintas por tipologia
ou distribuição e podem ser literal (aquelas que não modificam uma dada expressão
lingüística) ou com variação (a repetição do conteúdo semântico apresenta variações
em forma de sinônimos, perífrases, preposições diferentes do termo repetido). Além
disso, distribucionalmente as repetições podem ocorrer: de forma contígua (o conteúdo
repetido é expresso no mesmo enunciado); o-contígua (o conteúdo repetido é
expresso em outro enunciado de um mesmo turno, ou fora de turno; ou ainda por Leit
Motiv quando ocorrem como um tipo de refrão no interior de uma conversação ou de
um monólogo).
Exemplo 50: *GBL: acho que foi da quinta
COM
// quando a gente tava &aprendendo [/] acho
que foi
COM
/ da quinta
APC
// (repetição literal não-contígua)
95
Exemplo 51: *GBL: / mas só que
AUX
/ do jeito que ela explica
TOP
/ fica acabando que a gente
fica mais [/] prestando mais atenção ^
COM
/ acaba ficando fácil
COM
/ <pra gente>
APC
//
(repetição com variação contígua)
Preenchimento: os preenchimentos realizam a expansão da unidade precedente sem
repetir seu conteúdo semântico ou acrescentar informações, geralmente constitui-se de
advérbios ou advérbios focalizadores (exatamente, realmente, etc);
Exemplo 52: *VTR: e / quê [/] quê que cê mais gosta
COM
/ na aula de inglês
APC
/ atualmente
APC
//
Retomada textual: referência ao discurso em si, ou retomada de parte do discurso.
Pode ser realizada em forma de dêixis discursiva (quando se refere ao discurso em si)
ou em forma de recontextualização (quando retoma sinteticamente uma parte do
discurso).
Exemplo 53: *FBA: aí
FAT
/ um belo dia
TOP
/ você
APT
/ tá pensando em outra coisa
TOP
/ e [/]
vem aquela visão
COM
/ né
AUX
[/] &n // aquela lembrança
COM
// aquela cena
COM
/ do passado
APC
hhh //
Informação tardia: as informações tardias dizem respeito ao acréscimo de novas
informações, quando a unidade de comentário em si é suficiente para cumprir a
ilocução.
96
Exemplo 54: *VTR: quê que cê acha ^
COM
/ desse uso do inglês dela ^
COM
/ em sala de aula
COM
//
*GBL: acho legal // que a gente já vai tendo [/] tipo
AUX
/ pegando a manha
COM
/ né
FAT
/
*VTR: hum hum
COM
//
*GBL: / do / como falar
APC
/ né
FAT
//
Ainda, segundo a sua função, o apêndice de comentário pode ocorrer mais de uma vez,
(até o máximo de três vezes em um mesmo enunciado, segundo os dados do corpus italiano),
como podemos observar nos exemplo 42 e 43.
Exemplo 55: e / quê [/] quê que cê mais gosta
COM
/ na aula de inglês
APC1
/ atualmente
APC2
//
Exemplo 56: *GBL: ela falou que eu tinha feito certinho
COM
/
APC1
/
*VTR: hum hum //
*GBL: / o negócio lá
APC2
//
A tabela 2 apresenta os números que correspondem à freqüência de ocorrência dessas
funções no corpus de italiano falado.
39
Tabela 2
Total Texto Informal Texto formal
Repetições 50% 47% 56%
Preenchimentos 5% 7% 3%
Retomada textual 12% 10% 16%
Informação tardia 33% 36% 26%
39
Dados retirados de Tucci (2006).
97
1.6.1.2 A definição de apêndice de tópico
Pouco se sabe sobre o APT, sua função e correlatos morfossintáticos uma vez que não
há estudos específicos realizados sobre essa unidade.
Assim como ocorre com APC, também a unidade de APT deve estar aliada após a
unidade a qual integra, nesse caso, o TOP. A seguir apresentamos alguns exemplos de
ocorrência de APT nas amostras analisadas para este estudo.
Exemplo 57: *ADA: mas
INP
/ assim
INX
/eu achando interessante
TOP
/ você falar
APT
/
FAT
/ que às vezes não dá certo
COM
//
Exemplo 58: *FBA: ah
AUX
’/ aquela pessoa
TOP
/ aquele dia
APT
/ me perguntou isso
COM
’/
FAT
//
Exemplo 59: *FBA: e
FAT
/ assim
INX
/ pra mim
TOP
/ a tranqüilidade
TOP
/ prum trabalho
APT
/
é hhh / essencial
COM
/ Andréa
ALC
//
O APT também pode ocorrer duas ou mais vezes no mesmo enunciado, como ilustram
os exemplos 60, 61 e 62.
Exemplo 60: e / quando as [/] as respostas
TOP
/ não eram de acordo
APT1
/ com aquilo que
eu esperava hhh
APT2
/ eu me frustrava
COM
//
Exemplo 61: mas
INP
/ uma das aulas que a gente conversou
TOP
/ naquelas sessões nossas
APT1
/ né
FAT
/ de reflexão sobre as aulas
APT2
/ é que você achou que nada deu certo
COM
//
98
Exemplo 62: e hoje
TOP
/ vendo as suas aulas
APT1
/ tendo essas conversas com você
APT2
/
&he / eu vejo que a turma
TOP
/ ela
APT3
/ tá muito engajada
COM
//
1.6.2 As características entonacionais da unidade de apêndice de comentário
40
A configuração do movimento que caracteriza a unidade de AP indica uma unidade de
sufixo por sua ocorrência sempre após uma unidade de raiz (o COM), ou após uma unidade de
prefixo (o TOP).
De modo geral, a unidade de AP é caracterizada como unidade sem marcação tonal,
uma vez que prescinde de um foco entonacional. Seu perfil é composto de um único
movimento do tipo nivelado-descendente, identificado por um abaixamento do tom de voz,
pela baixa intensidade e pelo fato desse movimento único corresponder à unidade tonal
inteira, sem variação de movimento independente da estruturação silábica (CRESTI;
FIRENZUOLI 2002).
40
As características entonacionais da unidade de apêndice de tópico serão tratadas no capitulo 4. Pois trata-se na
verdade de resultados obtidos a partir da análise dos dados.
Figura 48
99
Exemplo 63: *FBA: <hoje
TOP
/ parece que modificou meu olhar>
COM
/ também
APC
//
COM
//
Ainda em relação à configuração do perfil das unidades de AP, as analises do corpus
de italiano revelaram que essa unidade pode apresentar também uma espécie de cauda”
(coda) que se configura através da elevação repentina e forte da F
0
. A finalização do perfil do
AP com uma subida por vezes supera a altura do núcleo do TOP ou do próprio COM.
Figura 49
Figura 50
Em exemplos retirados de nossas amostras podemos observar que a unidade de AP
tem a configuraçã
o de seu perfil semelhante ao da figura 49. Entre algumas possibilidades
hipotetizamos que a elevação repentina da F
concluído por seu locutor. Além dessa hipótese as análises revelaram nos nossos textos um
freqüência de ocorrência superior desse tipo de perfil em relação ao italiano, o que sugere ser
uma característica do PB.
Exemplo 64:
*FBA: e você já tem a [/] hhh tá me dando as respostas
1.6.3
A sintaxe da segmentação e o deslocamento à direita
Na Teoria da Língua em Ato as relações existentes entre as unidades informacionais
o de natureza funcional e sobreordenadas às eventuais relações sintáticas inter
que diz respeito ao domínio da sintaxe, o quadro teórico supra citado compreende que no ato
locutório, isto é o ato de dizer algo, as relações que se estabelecem e
Figura 51
Em exemplos retirados de nossas amostras podemos observar que a unidade de AP
o de seu perfil semelhante ao da figura 49. Entre algumas possibilidades
hipotetizamos que a elevação repentina da F
0
tem por função indicar que o turno ainda não foi
concluído por seu locutor. Além dessa hipótese as análises revelaram nos nossos textos um
freqüência de ocorrência superior desse tipo de perfil em relação ao italiano, o que sugere ser
*FBA: e você já tem a [/] hhh tá me dando as respostas
COM
A sintaxe da segmentação e o deslocamento à direita
Na Teoria da Língua em Ato as relações existentes entre as unidades informacionais
o de natureza funcional e sobreordenadas às eventuais relações sintáticas inter
que diz respeito ao domínio da sintaxe, o quadro teórico supra citado compreende que no ato
locutório, isto é o ato de dizer algo, as relações que se estabelecem e
ntre as unidades que o
Figura 52
100
Em exemplos retirados de nossas amostras podemos observar que a unidade de AP
o de seu perfil semelhante ao da figura 49. Entre algumas possibilidades
tem por função indicar que o turno ainda não foi
concluído por seu locutor. Além dessa hipótese as análises revelaram nos nossos textos um
a
freqüência de ocorrência superior desse tipo de perfil em relação ao italiano, o que sugere ser
COM
/ sobre isso
APC
//
Na Teoria da Língua em Ato as relações existentes entre as unidades informacionais
o de natureza funcional e sobreordenadas às eventuais relações sintáticas inter
-unidades. No
que diz respeito ao domínio da sintaxe, o quadro teórico supra citado compreende que no ato
ntre as unidades que o
101
estruturam são determinadas pela funcionalidade ilocucionária e informacional nelas
expressas através da entonação, e não por condições sintáticas, que exercem uma função
efetiva somente dentro da unidade tonal.
Na primeira metade do século passado, alguns estudos se voltavam para os aspectos
entonacionais e sintáticos da diamesia falada (SAUSSURE 1916; BALLY 1932). As
propostas teóricas apresentadas continham certo grau de consenso em relação a alguns
construtos e aspectos morfossintáticos típicos do texto oral. Entre os construtos em geral
associados à expressão “sintaxe da segmentação” têm-se o deslocamento à direita e o
deslocamento à esquerda, as orações clivadas e pseudo-clivadas, os anacolutos, as inversões e
as frases nominais.
Na literatura tradicional, a funcionalidade do AP é caracterizada segundo a estrutura
de deslocamento à direita. Porém, no quadro teórico proposto por Cresti (2000), este e outros
aspectos funcionais devem ser considerados com bases na articulação informacional,
sinalizada pela entonação e comprovados através de análises complexas de corpora. As
análises têm revelado que diversos construtos e fenômenos de segmentação podem
apresentar-se de forma articulada em diferentes unidades tonais ou em forma linearizada.
Nessa perspectiva, uma seqüência de sintagma nominal ou preposicional, retomada
anafórica e fórmula clivada podem ocorrer em duas unidades informacionais distintas ou em
uma mesma unidade. Por exemplo, em relação ao deslocamento à direita, a pesquisa em
corpora orais constatou que a seqüência de sintagma nominal ou preposicional e a retomada
anafórica podem ocorrer de forma articulada com o sintagma em uma unidade de TOP e a
anáfora em uma unidade de COM, como também de forma linearizada, com toda a seqüência
sintagma e anáfora em uma mesma unidade COM. Do mesmo jeito, a seqüência pode ocorrer
com a catáfora em COM e o sintagma em APC ou de forma linearizada na mesma unidade de
COM.
102
È interessante notar que na fala espontânea do PB, com a perda dos clíticos, se perde a
diferença entre as estruturas deslocadas em unidades tonais diferentes e estruturas deslocadas
na mesma unidade tonal, principalmente nos deslocamentos à direita, em que a ordem natural
é mantida e nenhum elemento sintático sinaliza o deslocamento. Logo, em PB, contrariamente
às outras línguas do C-ORAL-ROM, os deslocamentos à direita correspondem todos a uma
unidade tonal suplementar colocada à direita do COM, seja ela uma APC ou um COM ligado.
1.6.4 As características lingüísticas da unidade de apêndice
Conforme sinalizamos anteriormente, a unidade informacional de AP geralmente é
utilizada para realizar a correção ou o acréscimo de material lexical das unidades de COM ou
TOP. Segundo o quadro teórico neste texto em discussão, o AP é produzido fora da ilocução
e, portanto, pode ser cancelado sem que isso comprometa a acionalidade do enunciado
(SINGNORINI 2003).
De acordo com os dados provenientes do corpus de italiano falado, os APs
constituem-se de nomes, sintagmas ou pronomes que seguem um TOP ou um COM, segundo
a estrutura de deslocamento à direita. Ou podem ainda, aparecer como uma seqüência
repetitiva como as frases
“forradas”, típicas de certos registros do italiano, como podemos ver
em tradução, no exemplo 69 (CRESTI 2000).
Exemplo 69: se te apanho
COM
/ se te
APC
//
41
41
Exemplo analisado por Cresti (2000: 134). Tradução literal: (se ti acchiappo
COM
/ se ti
APC
//)
103
Em muitos casos, os APs realizam a compilação textual de forma muito significativa,
ás vezes através de orações, ou através do preenchimento frasal, como ocorre nos
deslocamentos à direita.
Exemplo 70: *FBA: eu vou continuar tentando
COM
/ <fazer o melhor>
APC
// (APC = Oração)
Exemplo 71: *FBA: &he / a [/] a turma
TOP
/ no caso
APT
/ eu me preocupava muito
TOP
/
porque
APT
/ na participação
TOP
/ por exemplo
INX
/ eu inferia ^
COM
/
COM
// (APC =
Preenchimento Frasal)
Exemplo 72: *VTR: por que
COM
/ que gosta de estudar inglês
APC
// (APT = oração
subordinada)
1.6.4.1 A classificação morfossintática da unidade de apêndice
As expressões que constituem a unidade AP apresentam variações morfossintáticas
que não são decorrentes apenas da distinção entre textos formais e informais, mas também de
uma subdivisão informacional (expressões isoladas, sintagmas e orações).
As expressões isoladas constituem-se de advérbios, pronomes, adjetivos e nomes
próprios. A tabela 3 mostra o percentual de ocorrência de expressões isoladas no corpus de
italiano.
104
Tabela 3
Advérbios 12,97%
Adjetivos 1,25%
Pronomes 3,75%
Nomes pronomes 0,83%
Total 18,80%
As construções sintagmáticas representam 62,51% do total dos APs presente no
corpus de italiano e constituem-se de sintagmas nominais, sintagmas verbais, sintagmas
preposicionais, sintagmas adverbiais e sintagmas adjetivais. Na distinção entre texto formal e
informal a incidência dessas construções torna-se mais evidente, 81,34% de sintagmas no
texto formal e 58,28% de sintagmas nos texto informal. A ocorrência de sintagmas no corpus
de italiano está melhor detalhada na tabela 4.
Tabela 4
% Sobre o total de apêndices
Sintagma nominal 21,34%
Sintagma verbal 4,18%
Sintagma preposicional 34,31%
Sintagma adverbial 2,51%
Sintagma adjetival 0,42%
As orações são constituídas de orações subordinadas, coordenadas ou orações
principais. No corpus de referência, 14,71% dos APs são orações subordinadas de vários
tipos. A freqüência mais alta de ocorrência é de orações subordinadas relativas (43%), seguida
105
das orações subordinadas objetiva (26%). O percentual menor de ocorrência está entre as
subordinativas finais, temporais, modais, limitativas e explicativas. As orações coordenadas
representam 3% dos preenchimentos locutivos presentes nos APs.
106
CAPITULO 2
METODOLOGIA
Este capitulo apresenta a metodologia utilizada neste estudo e está dividido em seis
sessões. A primeira seção traz uma descrição do contexto investigado, no qual inclui-se o
perfil dos participantes. A segunda seção descreve os instrumentos de coleta de dados
utilizados. A terceira seção justifica os procedimentos de análise dos dados, adotados para
esse estudo. A quarta seção apresenta os simbolos de transcrição adotados para a demarcação
entonacional dos textos e, finalmente, a última seção apresenta os textos que constitui a
amostragem de dados desse estudo.
2.1 O contexto de gravação e os participantes da pesquisa
Nesta sessão faremos uma breve descrição do contexto de pesquisa. Logo em seguida,
será fornecido o perfil dos participantes envolvidos neste estudo.
2.1.1 O contexto de gravação
A coleta de dados para deste estudo foi realizada em uma cabine acústica da Faculdade
de Letras da UFMG. Essa escolha deve-se à natureza do estudo realizado, e visava garantir
uma melhor qualidade dos arquivos de áudio, que posteriormente seriam lidos por um
107
software de análise acústica, o WinPitch
42
. Essa qualidade dos áudios deve ser o bastante
para garantir a análise do sinal acústico através da freqüência fundamental, gerando assim, a
base de dados para a pesquisa.
Mesmo adotando esse critério, em alguns momentos da entrevista a qualidade do
áudio não é ideal, mas unicamente em alguns turnos dos entrevistadores (VTR no texto I e
ADA nos texto II e III) em que a curva não é bem identificada.
2.1.2 O perfil dos informantes da pesquisa
Essa pesquisa contou com a participação de uma das professoras que compunha o
corpo docente da escola pública investigada, de um aluno regulamente matriculado nessa
mesma escola, além dos pesquisadores envolvidos no projeto C-ORAL- Brasil
43
.
A participação dos informantes foi formalizada através de cartas convite endereçadas
aos professores, alunos, pais de aluno e direção da escola (ANEXO 01). Nessa oportunidade
reforçamos os esclarecimentos sobre os objetivos da pesquisa aos participantes e à direção da
escola, e também informamos sobre as possíveis demandas de trabalho advindas de sua
participação nesse estudo.
Em seguida, asseguramos aos envolvidos que o processo investigativo não iria
atrapalhar ou interromper suas tarefas diárias, como também não haveria exposição negativa
42
Para maior detalhamento do software veja seção 3.4.1 deste capitulo.
43
Conforme esclarecemos na capitulo introdutório desse texto, a pesquisadora responsável por este estudo
realizou grande parte da coleta e análise dos dados com o pesquisador Luciano C. Alves de Deus, uma vez que
objetivo era preparar um projeto piloto que constituirá o corpus do Português do Brasil, análogo ao C-oral-rom.
Porém os resultados e a discussão sobre os dados serão analisados em face aos objetivos propostos para cada um
dos estudos realizados.
108
de suas imagens ou da escola. As identidades de todos os participantes envolvidos na pesquisa
seriam resguardadas. Finalizando os esclarecimentos, a pesquisadora informou que o objetivo
da pesquisa era analisar a estrutura informacional do português do Brasil, tendo como suporte
teórico a Teoria da Língua em Ato (CRESTI, 2000).
2.1.2.1 A professora Fabíola (FBA)
Fabíola reside em Belo Horizonte, possuía 30 anos de idade até a data de realização da
coleta de dados para esta pesquisa, realizada em Dezembro de 2005 e Maio de 2006. Formada
três anos, graduou-se em licenciatura plena em Inglês em uma universidade federal de
Minas gerais e nunca freqüentou cursos livres de línguas. Tendo atuado por dois anos no
centro de extensão de línguas dessa mesma universidade, contava com pouco menos de dois
anos de experiência no magistério em rede pública de ensino.
A professora Fabíola atuava no primeiro turno da escola, ministrando aulas a crianças
que se encontravam na última fase do ciclo intermediário (11 anos de idade) e na primeira
fase do ciclo avançado (adolescentes de 12 anos de idade). Ela possuía nove turmas e cumpria
uma carga horária de 18 horas/aulas semanais.
A interação dialógica estabelecida entre a pesquisadora e a informante Fabiola
voltava-se para a adoção da pesquisa-ação colaborativa (BURNS 1999), o que foi utilizado
como tema de discussão em algumas entrevistas (textos II e III) que constituem parte das
amostras analisadas para esse estudo.
109
2.1.2.2 O aluno Gabriel (GBL)
Gabriel, nome fictício dado ao informante, reside na região metropolitana de Belo
Horizonte e tinha 14 anos de idade na data de realização da coleta de dados para essa
pesquisa. O informante Gabriel era estudante e cursava a série do ensino fundamental, não
possuindo outras atividades profissionais.
A interação dialógica estabelecida entre o pesquisador Luciano
44
e o informante
Gabriel versava sobre as representações de alunos de escola pública sobre o ensino de inglês
como língua estrangeira.
2.1.2.3 Os pesquisadores Andréa (ADA) e Luciano (VTR)
Andréa, pesquisadora responsável por este estudo, possuía na data de coleta de dados
33 anos. A pesquisadora é graduada pela Faculdade de Letras da UFMG e possui licenciatura
plena com habilitação específica em ngua inglesa e continuidade de estudos em língua
portuguesa. Atua oito anos como professora de inglês e português em escolas da rede
pública e privada, além de exercer a função de coordenadora da área de comunicação da
escola investigada.
Luciano, o segundo pesquisador, possuía na data de coleta de dados 26 anos de idade.
O pesquisador é graduado pela Faculdade de Letras da UFMG e possui licenciatura plena com
habilitação específica em língua inglesa. Luciano na data de realização desse estudo atuava
44
Na entrevista que corresponde ao texto I o pesquisador Luciano adotou o nome fictício de Vitor (VTR).
110
como professor de línguas do curso de extensão da Faculdade de Letras da UFMG e no
projeto de educação continuada (EDUCONLE)
45
realizado nessa mesma faculdade.
2.2 Os procedimentos e os instrumentos de coleta de dados
Para a coleta de dados foram utilizadas a observação não participativa do pesquisador
e a entrevista semi-estruturada e livre. Em relação às entrevistas, essas foram gravadas na
cabine acústica do laboratório de fonética da Faculdade de Letras da UFMG, em forma de
arquivos mono.wav para garantir uma melhor qualidade acústica do sinal sonoro. Tal fato não
descaracteriza os textos enquanto fala espontânea, uma vez os pesquisadores não tinham
controle sobre a dinâmica e/ou demandas de interação que se estabeleceria entre eles e os
informantes de suas pesquisas.
Na primeira fase de coleta foram realizadas observações não-participativas das aulas
da professora Fabíola com anotações de campo da pesquisadora. Essas observações do tipo
descritivas possibilitaram verificar a prática docente da professora, e posteriormente foram
reutilizadas em formato de perguntas semi-estruturadas na constituição de um roteiro para as
entrevistas que seriam realizadas entre a pesquisadora e a informante Fabíola.
Concomitantemente, o segundo pesquisador, Luciano, observava o processo/ensino
aprendizagem do informante Gabriel, e também utilizou essas observações na estruturação de
um roteiro de perguntas semi-estruturadas, que também foram utilizadas na fase de entrevista.
45
O projeto Educonle é coordenado pelas professoras Deise Dutra, Heliana Mello e Miriam Jorge, docentes da
UFMG, e tem por objetivo proporcionar experiências lingüísticas e metodológicas para formação continuada de
professores da rede pública de ensino, de forma a promover a reflexão e a conseqüente reestruturação da prática
docente.
111
Na segunda fase de coleta foi realizada a gravação das entrevistas, principal fonte de
dados para esse estudo. As entrevistas da informante Fabíola tiveram duração total de 1:70:69
horas de gravação (textos II e III), das quais utilizamos os 18,1 minutos iniciais de áudio,
desses 9,58 minutos corresponde ao texto II e 8,51 minutos correspondem ao texto III. A
entrevista do segundo informante de pesquisa, Gabriel, teve duração de 24,45 minutos de
gravação (texto I) em que se utilizou os primeiros 15, 22 minutos iniciais de áudio.
O texto I (entrevista de Gabriel), em 15,22 minutos de gravação, tem 2.602 palavras
das quais 27 são fragmentadas. Este texto é constituído de turnos breves, de estrutura
prevalentemente dialógica. Os textos II e III (entrevista de Fabíola) em seus 18,1 minutos
iniciais possuem ao todo 2.735 palavras das quais 35 são fragmentadas. Esses textos são
constituídos de turnos longos, principalmente o texto II, de estrutura prevalentemente
monológica.
2.3 Os procedimentos de análise dos dados
A análise dos dados é de caráter experimental, em que se fez uso também de métodos
estatísticos em razão da natureza da presente pesquisa. A análise das amostras obtidas foi
realizada em três fases distintas: na primeira fase realizamos a transcrição ortográfica do texto
oral em formato CHAT. em seguida realizamos a segmentação dos textos transcritos em
enunciados e unidades tonais e finalizamos o procedimento com a etiquetagem dos textos em
unidades informacionais e alinhamento do texto com sua contrapartida acústica com o auxílio
do software WinPitch.
112
A transcrição ortográfica dos textos I, II e III foi realizada em formato CHAT. Esse
formato foi escolhido por fornecer os critérios adequados para a representação dos diálogos
transcritos, e para a etiquetagem das unidades informacionais. O formato CHAT
(MCWHINNEY 1994) implementado para a transcrição do corpus de italiano falado, permite
expressar as propriedades funcionais da entonação na identificação e segmentação do
enunciado conforme proposto na teoria da Língua em Ato, isto é, a divisão dos turnos
dialógicos em enunciados e a divisão interna dos enunciados em unidades tonais.
Do ponto de vista da notação entonacional, a segmentação de um texto oral é realizada
através da escansão do enunciado em dois tipos de unidades tonais: a unidade tonal não
terminal e a unidade tonal terminal. A unidade tonal não terminal é sinalizada pelo sinal
diacrítico de barra simples (/), e a unidade tonal terminal é sinalizada pelo sinal diacrítico de
barra dupla (//), podendo ser sinalizada também por pontos de interrogação, exclamação e
reticências (?!...), não utilizados para a demarcação de nossas amostras. Além desses
principais sinais diacríticos utilizados na demarcação dos textos, foram utilizados o e-
comercial (&), a barra simples entre colchetes [/] e o sinal de mais (+), o apostrofe invertido
antes da barra simples (’/) e a barra simples que indica interseção de turno (/). Todos os sinais
diacríticos utilizados na segmentação da amostra estão detalhados na seção 3.5.
Uma vez demarcado o texto em unidades tonais não terminais e terminais foi realizada
a etiquetagem dessas unidades segundo a constituição de seu padrão informacional. Nessa
fase, as unidades tonais, que constituem o padrão informacional de cada enunciado, são
identificadas segundo o critério entonacional, funcional e distribucional. A análise dos
movimentos da curva de F
0
é realizada com o auxilio do software WinPitch.
113
2.3.1 O software WinPitch
WinPitch é um sofware inovador utilizado no alinhamento de corpora amplos. Esse
programa permite a análise de textos orais através de seu mostrador espectográfico em tempo
real e seu programa de dados prosódicos. Além disso, o WinPitch possui um método de
seleção do alinhamento das unidades tonais preciso e de fácil manuseio, o que torna possível
selecionar em um continuo fônico sílabas, enunciados e até mesmo vários turnos e textos
longos.
O software WinPitch possibilita estabelecer correspondência entre texto e áudio, uma
vez que as transcrições são alinhadas segundo a sua contrapartida acústica, com cada
segmento de fala definido em linhas independentes. Esse recurso torna possível gerar uma
base de dados de todos os enunciados que constitui o texto. Além do alinhamento texto-som,
o WinPitch permite analisar o sinal acústico através da freqüência fundamental em tempo
real, o mostrador espectográfico e a re-síntese depois da edição do parâmetro prosódico.
Figura 53
114
2.4 Tabela de símbolos utilizados na demarcação dos textos
Os sinais diacríticos utilizados na demarcação dos textos analisados neste estudo
foram padronizados conforme indicações C-ORAL-ROM (CRESTI & MONEGLIA 2005) e
são identificados na tabela a seguir:
Tabela 5
ADA:
Andréa (pesquisadora e informante dos texto II e III)
FBA:
Fabíola (informante dos textos II e III)
VTR:
Vitor ( pesquisador e informante do texto I)
GBL:
Gabriel (informante do texto I)
//
Quebra prosódica terminal (limite do enunciado)
/
Quebra prosódica não terminal (fronteira interna ao enunciado)
/
Interseção de turno
+
Quebra prosódica terminal: interrupção do enunciado
[/]
Quebra prosódica não-terminal causada por retracting com ou sem repetição do material
lingüístico.
’/ Sinaliza os elementos que constitui o comentário de citação
hhh
elementos paralingüísticos (riso, choro, etc)
< >
Sobreposição de vozes
&
Fragmentos (palavras incompletas e/ou fragmentos fonéticos- o sinal é posicionado no
inicio da palavra)
Interjeições:
Transcritas de acordo com a tradição lexicográfica do Português (*&he, ah, oh,
né, nó, uê, hum, hum hum)
115
* &he: marca tomada de tempo por parte dos interlocutores
Português não padrão:
transcrito conforme pronunciado pelo falante: (está), (estou),
tava (estava), prum (para um), pro (para o), pras (para as ) pros (para os), e cê (você)
COM
: Sigla utilizada para identificar a unidade informacional de comentário.
^COM:
Sigla utilizada para identificar os comentários ligados.
TOP:
Sigla utilizada para identificar a unidade informacional de tópico.
APC:
Sigla utilizada para identificar a unidade informacional de apêndice de comentário.
APT:
Sigla utilizada para identificar a unidade informacional de apêndice de tópico.
INX:
Sigla utilizada para identificar a unidade informacional de inciso.
AUX:
Sigla utilizada para identificar a unidade informacional de auxílio dialógico.
INP:
Sigla utilizada para identificar a unidade informacional de auxilio dialógico que realiza
a função de incipitário.
FAT:
Sigla utilizada para identificar a unidade informacional de auxilio dialógico que realiza
a função de fático.
ALC:
Sigla utilizada para identificar a unidade informacional de auxilio dialógico que realiza
a função de alocutivo.
CON:
Sigla utilizada para identificar a unidade informacional de auxilio dialógico que realiza
a função de conativo.
116
2.5 A amostra (texto I, II, III)
Os textos que constituem a amostra desse estudo estão demarcados segundo os critérios
descritos na seção 3.4 deste capitulo. O início de cada texto contém informações sobre o
participante, a data de coleta do texto, a situação de registro, o nome do transcritor, a duração
em minutos e classificação do texto segundo a tipologia estabelecida no C-ORAL-ROM.
Texto I
@ Participantes: Gabriel (GBL), homem, 13, estudante do ensino fundamental
Vítor (VTR), homem, 26, professor de inglês em curso livre e estudante de
mestrado.
@ Data: 07/12/2005
@ Situação: Entrevista
@ Tópico: As representações dos alunos de uma escola pública sobre o
Ensino/Aprendizagem de Inglês como Língua Estrangeira
@ Fonte: Português.
@ Classificação:
@ Duração: 15,22 minutos
@ Palavras: 2.619
@ Qualidade acústica: B
@ Transcritor: Luciano César Aves de Deus
@ Revisor(es): Andréa Cristina Ulisses de Jesus, Tommaso Raso.
Segmentação Final GBL
*VTR: nós vamos conversar sobre a aula de inglês
COM
/ (gbl01)
*GBL: hum hum
COM
//
*VTR: / tá
COM
/ de + cê é um menino que tem estudado com a Andréa desde quinta série
COM
//
117
*GBL: é
COM
//
*VTR: não é isso
COM
// Foi na quinta série que cê começou a estudar inglês
COM
//
*GBL: foi
COM
//
*VTR: cê tá
TOP
/ no Gabriela
APT
/ desde quando
COM
//
*GBL: desde do meio do ano da [/] da quarta série
COM
// <quando eu fiz a quarta série>
COM
//
*VTR: <hum>
COM
// tá
COM
// e depois cê foi pro Gabriela
COM
// (gbl02 a partir de “não”)
*GBL: não
COM
// eu
TOP
/ no início do ano até o [/] acho que &ju [/] até mais ou menos
outubro
TOP
/ eu tava lá no [/] no Angélica ^
COM
/ lá em Nações Unidas
COM
//
*VTR: hum hum
COM
//
*GBL: / fazendo a quarta série
COM
//
*VTR: Nações Unidas aqui em Belo Horizonte
COM
// ou lá em
COM
+
*GBL: lá em Sabará
COM
//
*VTR: é um bairro
COM
//
*GBL: é
COM
// aí
TOP
/ em &outu [/] em setembro
TOP
/ eu
TOP
/ &f [/] fui lá pra [/] pra [/]
*VTR: pro Fátima
COM
//
*GBL: / pro [/] pro Fátima
COMel
/ fiz a [/] o [/] o restante da quarta
COMel
/ aí
AUX
/ eu fui pra
quinta
COM
//
*VTR: ah / beleza
COM
//
*GBL: aí
AUX
/ eu tô até agora <hhh> // (gbl03 a partir de “hum // então / ta //”)
*VTR: <hum> // então
AUX
/ tá
COM
// eu esqueci de te perguntar
COM
// mas
AUX
/ pergunta
básica
INTL46
/ qual que é o seu nome ’//
*GBL: Marlon + todo
COM
//
*VTR: cê que sabe
COM
//
118
*GBL: Fabian
COM
//
*VTR: ok
COM
// quantos anos cê tem
COM
/ Marlon
ALC
//
*GBL: Catorze
COM
//
*VTR: cê estuda inglês
TOP
/ há quanto tempo
COM
//
*GBL: ((provavelmente usa as mãos para responder))
*VTR: três anos
COM
//
*GBL: três
COM
// (gbl04 a partir de “hum”)
*VTR: hum
COM
// então
COM
// eh
AUX
/ você gosta ^
COM
/ de estudar inglês
COM
/ Marlon
ALC
//
*GBL: gosto
COM
//
*VTR: Por que
COM
/ que cê gosta de estudar inglês
APC
//
*GBL: ah hhh
COM
// porque eu achei legal
COM
/ uê
AUX
//
*VTR: você acha interessante
COM
//
*GBL: é
COM
//
*VTR: aquele dia que a gente comentou
COM
/ lá no + eu tava em sala
TOP
/ cê comentou
comigo a diferença de inglês pra espanhol
COM
// como é que é
COM
/ essa diferença
APC
// você
acha que + (gbl05 a partir de “ah”)
*GBL: ah
COM
// aquele negócio lá
COM
// eh
FAT
/ por causa que
INP
/ ah
FAT
/ espanhol
TOP
/ se
você já [/] se você for lá na Espanha lá
TOP
/ cê já sabe comunicar
COM
// cê entende um pouco
as coisas que o pessoal fala lá
COM
/ né
FAT
//
*VTR: hum hum
COM
//
*GBL: ah
INP
/ inglês não
COM
// inglês cê tem que pegar mais sério
COM
// porque
AUX
/ é
poucas palavras que tem semelhança com o português
COM
/ né
FAT
//
*VTR: então cê acha que cê tem que + &he / quê que cê [/] quê que cê chama de pegar mais
sério
COM
//
119
*GBL: estudar
COM
/ mais
APC
//
*VTR: hum hum
COM
//
*GBL: ser mais atencioso
COM
/ né
FAT
// (gbl06 a partir de “isso”)
*VTR: isso
COM
// participar mais <da aula
COM
/ é isso>
COM
//
*GBL: <é >
COM
// participar
COM
//
*VTR: hum
AUX
/ tá
COM
//
*GBL: aprender
COM
/ né
AUX
//
*VTR: tá
COM
// &he / você acha + então
TOP
/
COM
// cê tá com a Andréa desde a quinta
série
COM
/ né
AUX
// cê acha que [/] que a Andréa mudou ^
COM
/ nesse período
COM
// de quinta
/ até a sétima [/] até a sétima agora // cê acha que / teve alguma mudança
COM
//
*GBL: teve
COM
//
*VTR: teve
COM
// que tipo de mudança
COM
//
*GBL: além no ensino
COM
/ né
AUX
//
*VTR: é
COM
// (gbl07 a partir de “ah”)
*GBL: ah
INP
/ eh
AUX
/ a aula
COM
/ né
FAT
// ficou diferente
COM
//
*VTR: por quê ^
COM
/ que cê acha que ficou diferente
COM
//
*GBL: ah
AUX
/ porque ficou
COM
/ uê
AUX
// ah
COM
// vamos supor
COM
// ela antes também
trabalhava com música
COM
/ sabe
AUX
//
*VTR: hum hum
COM
//
*GBL: mas ela agora tá mais animada ^
COM
/ na sala
COM
// igual
AUX
/ ela passou aquela
música / I feel good
COM
// ah hhh
COM
//
*VTR: <ah tá>
COM
//
*GBL: <até hoje> eu lembro
COM
//
*VTR: hum hum
COM
//
*GBL: / aquele gritão ^
COM
/ que ela deu lá
COM
//
120
*VTR: ah
INP
/ ela deu um grito na sala
COM
//
*GBL: hhh / dai
AUX
/ ela pegou
INTL
/ uau
COM
’//
*VTR: ah
COM
// é no final da &mus [/] <da &exi> + (gbl08 a partir de “<hum>”)
*GBL: <hum>
COM
// não
COM
// foi no início
COM
// que na hora que ele fala
INTL
/ I feel good
COM
’// aí
INP
/ dá <um grito>
COM
//
*VTR: <hhh>
*GBL: <hhh>
*VTR: é essa música
COM
//
*GBL: aí
INP
/ ele pegou ela
INTL
/ uau hhh
COM
’//
*VTR: hum
COM
//
*GBL: deu maior gritão lá <na sala>
COM
//
*VTR: <então
AUX
/ cê acha> que ela tá mais
COM
//
*GBL: animada
COM
//
*VTR: hum hum
COM
// e em relação às [/] às atividades ^
COM
/ que ela leva pra sala de aula
COM
// você acha que mudou
COM
// (gbl09 a partir de “mudou”)
*GBL: mudou
COM
//
*VTR: quê que cê &ach [/] o quê
COM
/ que cê acha que mudou
APC
/ por exemplo
INX
//
*GBL: ela tá trabalhando agora com mais em dupla
COM
/ grupo
COMel
/ né
AUX
//
*VTR: hum hum //
*GBL: trabalhando mais grupo
COM
// ela tá [/] o ensino tá [/] tá / assim
INX
/ difícil
COM
// mas
tá mais fácil
COM
/ né hhh
FAT
//
*VTR: não entendi
COM
// por que que tá mais difícil
COM
// o quê que tá mais <difícil>
COM
/
*GBL: <não>
COM
//
*VTR: / o quê que tá mais fácil
COM
//
121
*GBL: o ensino é difícil
COM
// na sétima série o inglês é difícil
COM
// igual
AUX
/ eu erro tudo
na prova <hhh>
COM
//
*VTR: <hhh> cê falou mesmo ^
COM
/ dessa dificuldade
COM
/ né
FAT
/ de +
*GBL: não / eu falo faço tudo certinho lá <na sala>
*VTR: <hum hum>
COM
//
*GBL: / de aula
TOP
/ chega na prova
COM
/ é pau
COMrelnec
// <pronto>
COM
//
*VTR: <cê> não consegue //
*GBL: <não
AUX
/ é> (gbl10 a partir de “não”)
*VTR: <quê que cê não> +
*GBL: / que eu faço + não sei
COM
// se eu fico nervoso ou o quê
COM
// <aí>
AUX
/
*VTR: <hum hum > //
*GBL: / eu pego e erro a prova toda
COM
// e eu pensando que +
*VTR: que foi bem
COM
//
*GBL: foi bem
COM
// igual
AUX
/ eu
TOP
/ na última prova me deu um pouco de raiva hhh
COM
// porque a professora tinha acabado de + foi + por causa que
AUX
/ deu uns problemas
TOP
/
AUX
/ não deu pra ela ir na nossa sala lá ensinar ^
COM
/
*VTR: hum hum // (gbl11 a partir de do primeiro “aí”)
* GBL: / o &nego [/] o negócio
COM
//
AUX
/ ela deu uma folha
TOP
/
AUX
/ me falaram que
era trabalho
COM
//
AUX
/ eu não tinha entendido a folha
COM
// traduzi a folha toda
COM
/ e
não entendia o quê que era
COMRelnec
//
AUX
/ chegou na prova
COM
/ caiu aquele negócio
COMRelnec
// aí
AUX
/ foi [/] na minha cabeça
TOP
/ fui colocando because
COM
// mas ela não tinha
me [/]
*VTR: hhh
122
*GBL: / me &ens [/] falado que tinha que inverter a frase
COM
/ entendeu
FAT
// que eu não
tinha &sa [/] não tava entendendo
COM
/
FAT
//
AUX
/ ela chegou
COM
//
AUX
/ eu cheguei
e falei com ela
COM
// ela falou que ia dar uns pontos extras
COM
/ né // não deu nada
COM
//
*VTR: hhh você acha que ela não deu não
COM
// (gbl12 a partir de “deu nada” )
*GBL: deu nada
COM
//
*VTR: &he
/ então
AUX
/ cê falou que o [/] o [/] a Aidéia [/] a Andréa também ela mudou em
relação [/] o relacionamento com vocês
COM
/ né //
*GBL: hum hum
COM
//
*VTR: &he
/ cê acha que foi pra melhor
COM
// como é que cê acha
COM
// cê acha &q +
*GBL: foi pra melhor
COM
//
*VTR: foi pra melhor
COM
// então
AUX
/ cê acha que ela + como é que cê falou
COM
// que ela
tava mais animada
COM
/ é isso
COM
//
*GBL: é
COM
// agora
COM
//
*VTR: sim
COM
// tá mais animada
COM
// e [/] e as habilidades
COM
// o tipo de atividades que
ela trabalha
COM
/ por exemplo
INX
// &he / que tipo de atividade que ela trabalhava antes ^
COM
/ que tipo de atividade que ela trabalha agora
COM
// (gbl13 a partir de “hum)
*GBL: hum
AUX
/ não tô lembrado muito bem da quinta série não
COM
// deixa eu ver da sexta
COM
//
*VTR: da sexta
COM
// vê se cê lembra da sexta
COM
//
*GBL: também não tô &lembra + ah
AUX
/ da sexta // ah
AUX
/ lembrei uma da [/] da [/] da
quinta
COM
//
*VTR: hum hum //
*GBL: acho que foi da quinta
COM
// quando a gente tava &aprenden [/] acho que foi
COM
/ da
quinta
APC
// ela ensinou música ^
COM
/ pra gente
COM
// ela ensinou
COM
//
*VTR: hum hum //
123
*GBL: a música
COMel
/ escreveu
COMel
/ ensinou a gente a cantar
COMel
// algumas músicas
^COM/TOP
/ é fácil
COM
/ <né>
FAT
//
*VTR: <hum hum> // (gbl14 a partir de “e / agora na sétima série /”)
*GBL: e
AUX
/ agora na sétima série
TOP
/ a gente ouve
COMel
/ e
AUX
/ a gente completa
COMel
/
e tenta entender a música
COMel
/ que ela fala
APC
//
*VTR: então
AUX
/ um pouco mais complexo
COM
/ <é isso>
COM
//
*GBL: <é>
COM
//
*VTR: tá
COM
// <e> +
*GBL: <mudou> bastante hhh
COM
//
*VTR: cê acha que + o quê que cê acha complexo
COM
// cê ainda não me falou
COM
//
*GBL: <o quê>
COM
//
*VTR: <cê falou> que é difícil e é fácil
COM
//
*GBL: eh
AUX
/ por causa que o ensino tá &di [/] é difícil
COM
/ né
FAT
// o dá sétima série é
difícil
COM
/ <né>
FAT
//
*VTR: <quê> que cê chama de ensino
COM
//
*GBL: <a> matéria
COM
//
*VTR: <o> [/] a matéria
COM
/ que tem que ser +
*GBL: a matéria é difícil
TOP
/ (gbl15 a partir de “a matéria é difícil” )
*VTR: hum hum
COM
//
*GBL: / mas só que
AUX
/ do jeito que ela explica
TOP
/ fica acabando que a gente fica mais [/]
prestando mais atenção
COMRelnec
/ acaba ficando fácil
COM
/ <pra gente>
APC
//
*VTR: <hum>
COM
// <tá >
COM
//
*GBL: <mas> na hora da prova fica difícil hhh
COM
//
*VTR: volta a ficar difícil
COM
//
124
*GBL: volta a ficar difícil
COM
// porque a gente esquece
COM
// a gente fica nervoso
COM
/
<com a prova>
APC
//
*VTR: <é>
COM
// tem que olhar isso
COM
// &he / a Andréa
TOP
/ &nn [/] ela [/] não sei se na
quinta série ela já fazia isso
COM
// mas
AUX
/ na sétima
TOP
/ por exemplo
INX
/ que é a turma
de vocês que eu tô acompanhando
INX
/ ela usa muito inglês ^
COM
/
*GBL: hum
COM
// (gbl16 a partir de “em sala de aula”)
*VTR: / não é
COM
/ em sala de aula
COM
// quê que cê acha ^
COM
/ desse uso do inglês dela
^
COM
/ em sala de aula
COM
//
*GBL: acho legal // que a gente já vai tendo [/] tipo
AUX
/ pegando a manha
COM
/ né
FAT
/
*VTR: hum hum
COM
//
*GBL: / do
APC
/ como falar
APC
/ né
FAT
// a gente já vai entendendo interpretando o que a
pessoa tá falando
COM
//
*VTR: hum hum //
*GBL: assim
AUX
/ a gente fica mais próximo
COM
/ né
FAT
/ do inglês
APC
//
*VTR: isso
COM
// e / quê [/] quê que cê mais gosta
COM
/ na aula de inglês
APC
/ atualmente
APC
//
*GBL: tudo hhh
COM
//
*VTR: tudo
COM
// cê gosta de tudo
COM
//
*GBL: tudo
COM
// da professora
COMel
/ da música
COMel
// (gbl17 a partir de “tudo // da ...” )
*VTR: hum hum
COM
//
*GBL: todo mundo
COM
// <tudo>
COM
//
*VTR: <das> atividades <que ela leva>
COM
//
*GBL: <das atividades>
COM
//
*VTR: hum hum
COM
// &he
/ e por quê que cê gosta
COM
/ dessas atividades
APC
// tem
alguma coisa que te chama atenção
COM
//
125
*GBL: ah
AUX
/ eu acho que é [/] ah
AUX
/ é por causa que eu gosto / mesmo
INX
/ de inglês
COM
/ <né>
FAT
//
*VTR: <cê>
???
/ sempre gostou ^
COM
/ de inglês
COM
// (gbl18 a partir de “eh”)
*GBL: eh
COM
/ assim
INX
// não foi sempre
COM
/ né
FAT
// na quinta série teve uma / negócio
COM
/ né
FAT
// porque a gente tava aprendendo
COM
//
*VTR: hum hum
COM
//
*GBL: a gente não tinha / ainda a manha
COM
// mas
AUX
/ depois a gente vai pegando a gente
vai querendo
COM
/ ficar mais e mais
APC
//
*VTR: quer aprender
COM
//
*GBL: aperfeiçoando
COM
//
*VTR: sim
COM
//
*GBL: e aprendendo
COM
//
*VTR: &he / então
COM
// em relação ao projeto de cartas
COM
// cê participou
COM
/ do
projeto de cartas
APC
/ não foi
COM
// escrita / de cartas / pro projeto
COM
//
*GBL: ah
COM
// fiz
COM
//
*VTR: como é que foi esse projeto
COM
/ pra você
APC
// cê gostou
COM
/ de <&partici> +
(gbl19 a partir de <nossa> )
*GBL: <nossa>
COM
// foi [/] foi legal
COM
// conheci a [/] foi a Daniele
COM
//
*VTR: hum hum //
*GBL: ela mora lá em BH
COM
// aí
AUX
/ ela me deu até o endereço
COM
// eu ia lá na casa dela
lá visitar ela
COM
/ <né>
FAT
//
*VTR: <hum hum>
COM
//
*GBL: mas não deu
COM
//
*VTR: hhh
*GBL: é
COM
// até que a última carta dela / também
INX
/ nem decifrei hhh
COM
//
126
*VTR: cê não + ah
AUX
/ tá
COM
// porque era em inglês
COM
//
*GBL: não
COM
// era em inglês
COM
//
*VTR: <hum hum>
COM
//
*GBL: <eu consegui> decifrar depois
COM
// porque eu não tinha pegado ela totalmente
COM
/
FAT
//
*VTR: hum hum
COM
//
*GBL: ela queria uma fotografia minha
COM
// mas
AUX
/ eu não tinha
COM
//
*VTR: tá
COM
// &he
/ cê + quais foram os [/] os pontos positivos ^
COM
/ de participar dessa
atividade
COM
// (gbl20 a partir de “eh” )
*GBL: a gente tava trabalhando a escrita
COM
/ né
FAT
//
*VTR: hum hum
COM
//
*GBL: a forma correta de escrever
COM
//
*VTR: foi tranqüilo isso
COM
// cê teve alguma dificuldade
COM
//
*GBL: sss [/] só um [/] numa palavra
COM
//
*VTR: hum hum //
*GBL: &he / a palavra
COM
/ com //
*VTR: com
COM
//
*GBL: com
COM
//
*VTR: e como <é que cê> +
*GBL: <eu ia escrever>
INTL
/ com muito amor ’/
*VTR: hum hum
COM
//
*GBL: / e muito carinho
COM
’//
*VTR: sim
COM
//
*GBL: com amor / e muito carinho
COM
// (gbl21 a partir de “com amor” )
*VTR: hum hum
COM
//
127
*GBL: aí
AUX
/ eu tava escrevendo / com / errado
COM
// só isso
COM
//
*VTR: tá
COM
//
*GBL: isso mesmo //
*VTR: e quando você tinha dificuldade
COM
/ por exemplo
INX
// como é que você resolvia
^
COM
/ essas dificuldades
COM
// quando você tinha uma dúvida
COM
/ por exemplo
INX
//
*GBL: perguntava a professora
COMel
/ se eu não entendesse da professora
TOP
/ eu ia no meu
irmão
COMel
/ perguntava
COMRelnec
// se eu não entendesse do meu irmão
TOP
/ voltava na
professora
COM
//
*VTR: hum hum
COM
//
*GBL: ou então
AUX
/ eu tentava &t [/] sozinho
COM
/ lá decifrar
APC
//
*VTR: tá
COM
// e
AUX
/ eu tenho percebido / também
INX
/ que / a Andréa permite que cês
usem muito / o dicionário
COM
//
*GBL: é
COM
// (gbl22 a partir de “é” )
*VTR: né
AUX
/ como é que é
^COM
/ pra você usar o dicionário
COM
// é importante
COM
// em
quê que ele te ajuda
COM
//
*GBL: oh
AUX
/ ajudar ele ajuda
COM
// mas ele é um pouco chato
COM
/ né hhh
FAT
//
*VTR: o uso / do dicionário
COM
//
*GBL: não
COM
// o dicionário
COM
/ é chato <hhh>
APC
//
*VTR: como / assim
INX
// <o dicionário / chato>
COM
//
*GBL: ah
AUX
/ é porque a gente vai traduzindo as palavras
TOP
/
*VTR: hum //
*GBL: / na hora que a gente vai ver
COM
// igual lá em casa
COM
// igual
AUX
/ eu pego um
texto
TOP
/ eu pego ele
TOP
/ e traduzo ele todo
COM
//
*VTR: <hum hum>
COM
// (gbl23 a partir de “hum hum”)
*GBL: <aí
AUX
/ eu olho> / as palavras que eu não sei / no dicionário
COM
// entendeu
AUX
// aí
128
AUX
/ eu + vai umas duas / três folhas / só de palavra ^
COM
/ que eu não sei
COM
/ sabe
AUX
//
AUX
/ eu
TOP
/ tenho que ficar lá &en [/] negoçando
COM
// &he / escrevendo elas
COM
//
fazendo ^
COM
/ o [/] o negócio
COM
// aí
TOP
/ depois eu &f [/] tento ler elas
COM
// mas não
decoro ^
COM
/ eu tem que olhar elas ^
COM
/ de novo no dicionário
COM
//
*VTR: hum hum
COM
// sim
COM
// &he / em relação a você
COM
// (gbl24 a partir de “sim”)
*GBL: hum
COM
//
*VTR: cê acha que cê mudou
COM
/ desse tempo
APC
// de [/] de quinta para sétima série
COM
//
*GBL: pro ensino
COM
//
*VTR: isso
COM
// em relação ao [/] ao [/] ao inglês
COM
/ por exemplo
INX
//
*GBL: mudei
COM
//
*VTR: o quê
COM
/ que cê mudou
APC
//
*GBL: agora eu já sei falar algumas coisa
COM
/ né
AUX
//
*VTR: hum hum
COM
//
*GBL: já sei até
^COM
/ xingar a professora
COM
//
*VTR: hhh cê xinga a professora em inglês
COM
//
*GBL: hhh não
COM
// xingo em português mesmo hhh
COM
//
*VTR: hhh
*GBL: hhh (gbl25a a partir do hhh )
*VTR: então
AUX
/ cê tá mais / &he
/ vamos dizer
INX
+ como que você se vê
COM
//
*GBL: agora
COM
//
*VTR: é
COM
//
*GBL: ah
AUX
/ mais esperto
COM
/ né
AUX
//
*VTR: hum hum
COM
// em relação ao inglês
COM
// quais as [/] as [/] as habilidades ^
COM
/ que
você utilizou
COM
//
*GBL: pra aprender
COM
//
129
*VTR: é
COM
// que você [/] que você acha que você desenvolveu
COM
// quais das + porque
tem [/] o inglês tem a escrita
COMel
/ a fala
COMel
/ a leitura
COMel
/ e a compreensão auditiva
COMel
// (gbl25b esse excerto completo do VTR)
*GBL: acho que foi a compreensão auditiva / (gbl26 a partir de “acho” )
*VTR: <hum hum>
COM
//
*GBL: / < e> a escrita
COM
//
*VTR: a escrita
COM
// e como que cê acha ^
COM
/ que cê desenvolveu essas [/] essas
habilidades
COM
//
*GBL: oh
AUX
/ a escrita
TOP
/ foi com as cartas
COM
/ né
FAT
// que a gente teve [/] a gente teve
mais contato com [/] com as palavras
COM
/ né
AUX
//
*VTR: hum hum
COM
//
*GBL: e
AUX
/ a auditiva
TOP
/ foi vendo a &profes [/] &he
/ &l [/] fazendo [/] &he /
traduzindo os textos
COMel
/ olhando as palavras
COMel
// aí
TOP
/ com a ajuda da professora
falando o meu inglês
COMel
/ né
AUX
// (gbl27 a partir de “isso” )
*VTR: isso
COM
// eu percebo
TOP
/ que
APT
/ &he
/ a sua relação
TOP
/ com a Andréa
APT
/ é
muito [/] é muito positiva
COM
// a quê que você / credita / isso
COM
//
*GBL: como / assim
COM
// <não entendi>
COM
//
*VTR: <esse bom> relacionamento ^
COM
/ com a professora
COM
// cê acha que influencia no
seu aprendizado
COM
//
*GBL: ah
AUX
/ influencia
COM
//
*VTR: de que maneira
COM
// (gbl28 a partir de “ah”)
*GBL: ah
COM
/ tipo assim
INX
// se você tem uma boa amizade com a professora
TOP
/ assim
INX
/ você não vai precisar / assim
INX
/ ter
COM
+ &p [/] vai poder chegar nela
COMel
/
conversar com ela
COMel
/ falar o que você não tá achando
COMel
// sem você ficar com / depois
INX
/ receio
COM
/ né
AUX
//
130
*VTR: hum hum
COM
//
*GBL: do que voachando ruim
COM
// pegar e ela &ach [/] &ch [/] achar que você
está / &preieiju [/] te xingando
COM
/ né
AUX
//
*VTR: hum hum
COM
//
*GBL: o trabalho dela
COM
/ né
AUX
//
*VTR: sim
COM
// (gbl29 a partir de “aí”)
*GBL: aí
AUX
/ acho que tendo uma boa [/] uma boa amizade / assim
INX
/ com o professor
TOP
/ além que + porque / assim
INX
/ a gente tem amizade
COM
// ela passa o que ela tem de bom
pra mim
COM
/ <eu>
TOP
/
*VTR: <hum hum>
COM
//
*GBL: / também INX / posso passar o que eu tenho de bom pra ela
COMrelnec
// assim
TOP
/ faz
a troca
COM
/ né
AUX
//
*VTR: isso
COM
// então
TOP
/ acha que / por exemplo
INX
/ &he
/ de um modo geral
TOP
/
isso influencia ^
COM
/ no seu aprendizado
COM
//
*GBL: <influencia>
COM
//
*VTR: <a Andréa>
TOP
/ ela [/] ela monitora muito
COM
/ a atividade que cês fazem
APC
/
<né>
AUX
// (gbl30 a partir de “né”)
*GBL: <hum hum>
COM
//
*VTR: dá a atividade
COM
/ e vai lá ver
COMrelnec
// e
AUX
/ assim
INX
/ vejo que cê não tem medo
nenhum
COM
/ de perguntar pra ela
INTL
/ ô Andréa
COM
’/ o quê que é isso
COM
’/ né
AUX
//
*GBL: < hum hum >
COM
//
*VTR: <diferentemente> de outros alunos
COM
// <como é que é isso>
COM
//
*GBL:<ah
INP
/ eu
TOP
/ han han>
COM
// eu falo mesmo hhh
COM
// na [/] na língua
COM
/ eu falo
COMrelnec
//
*VTR: hhh cê teve dificuldade
COM
/ cê <pergunta>
COMrelnec
//
131
(gbl31 a partir de “não” )
*GBL: <tive>
COM
// não
AUX
/ &quan [/] igual
AUX
/ tem palavra / assim
INX
/ que eu não
entendi
COM
//
*VTR: < hum hum > //
*GBL: <aí / eu pego> + igual + a mesma coisa com a professora de português
COM
// tem [/]
tem / &perg [/] umas [/] algumas palavras
COM
// igual
AUX
/ a gente tava fazendo os
exercícios de completar
COM
// com / jota
COMel
/
COMel
// aí / eu chegava pra ela e falava
INTL
/ professora
COM
’// qual que fica mais bonito
COM
’// hhh
*VTR: hhh
*GBL: aí
AUX
/ a professora chegava e falava a certa
COM
/ <entendeu>
COM
//
*VTR: <hum hum > // (gbl32a a partir de “hhh sem ela perceber ”)
*GBL: hhh sem ela perceber
TOP
/ ela fica me falando as coisas
COM
/ entendeu
COM
//
*VTR: hum hum
COM
// e [/] e a Andréa
TOP
/ cê
???
/
*GBL: <é> //
*VTR: / <do mesmo jeito>
COM
//
*GBL: <é
COM
/ uê>
AUX
//
*VTR: <como é que é>
COM
// (trecho completo a partir de “igual /eu to lembrando”
gbl32b) (gbl33 a partir de “aí / eu lembro que eu precisei / )
*GBL: a gente + eu pergunto ela
COM
// ela pega e me responde
COM
// igual
AUX
/ eu tô
lembrando agora
INX
/ eu acho que foi na sexta série
TOP
/ eu fiz um texto
TOP
/
AUX
/ eu
lembro que eu precisei de / cortar palavra / sabe
AUX
/ que não coube na linha
COM
// / eu
tive que cortar
COM
// pra colocar ela embaixo
COM
// na outra linha
COM
/
AUX
// / foi
COM
// sei que eu peguei
COM
/ conferi
COMRelnec
// ela falou que eu tinha feito certinho
COM
/
APC1
/
*VTR: hum hum //
132
*GBL: / o negócio lá
APC2
// (gbl34 a
partir de “sim”)
* VTR: sim
COM
// &he
/ então
INP
/ deixa eu ver agora
COM
// em relação hhh a [/] a Andréa
também
COM
// ela deixa
TOP
/ ela percebe
APT
/ dentro de sala de aula
APT
/ ela permite
TOP
/
que vocês
APT
/ &he
/ trabalhem muito em pares
COM
/
*GBL: hum hum //
*VTR: /
AUX
// em pares
COMel
/ em grupos
COMel
// que que leva em consideração
COM
//
quando ela fala assim
INTL
/
trabalhe em pares
COM
’// (gbl35 a partir de “ah”)
*GBL: ah
AUX
/
tem dia que enche o saco hhh
COM
//
tem dia que enche mesmo
COM
// porque /
<as> +
*VTR: <trabalhar> junto ^
COM
/
*GBL: não
COM
//
*VTR: / você fala
COM
// o <quê que enche o saco>
COM
//
*GBL: <é /
porque tem dia
que cê tá> com mais &m [/] com mau humor
COM
//
*VTR: hum hum
COM
//
*GBL: aí
AUX
/ cê fica ainda com uma pessoa lá
COM
// e
AUX
/ cê acaba tirando a pessoa
COM
//
a pessoa fica com raiva
COM
// é melhor cê / ficar sozinho
COM
//
*VTR: hum / (gbl36 a partir de “ce” )
*GBL:
???
+ igual
AUX
/ as [/] as vezes tem trabalho que eu faço sozinho
COM
/ quando eu
não tô bem
APC1
/ bem
???
//
*VTR: cê faz os trabalhos sozinho
COM
//
*GBL: faço o trabalho sozinho
COM
//
*VTR: tá
COM
// então
AUX
/ vamos supor
TOP
/ nesses dias
^COM
/ que cê tá bem
COM
//
*GBL: hum hum //
*VTR: cê quer
TOP
/ trabalhar com alguém
COM
// quem que cê escolhe
COM
//
133
*GBL: da minha sala
COM
//
*VTR: é
COM
// como é que cê + cê
INTL
/ ah
AUX
’/ eu vou trabalhar com essa pessoa
COM
’//
por quê que cê escolhe essa pessoa
COM
// (gbl37 a partir de “ah”)
*GBL: ah
AUX
/ depende
COM
// oh
COM
// eu
TOP
/ faço algum trabalho com uma pessoa
TOP
/
quando eu sei que ela vai fazer
COM
// que ela vai me ajudar
COM
//
*VTR: hum hum
COM
//
Texto II
@ Participante: FBA, Fabíola (mulher, 30, professora do ensino fundamental, entrevistada,
Belo Horizonte).
ADA, Andréa (mulher, 33, pesquisadora, entrevistadora, Belo Horizonte).
@ Data: 05/12/2005
@ Situação: Entrevista entre a participante e a pesquisadora sobre a adoção da pesquisa-ação
colaborativa e os resultados advindos dessa prática em sala de aula.
@ Tópico: Perfil dos alunos e o processo ensino/aprendizagem.
@ Fonte: Português.
@ Classificação: Informal, particular, monológico com algumas passagens dialógicas.
@ Duração: 574 segundos (ou 9,58 minutos)
@ Palavras: 1.456
@ Qualidade acústica: B
@ Transcritor: Andréa Cristina Ulisses de Jesus.
@ Revisor (es): Luciano César Alves de Deus, Tommaso Raso.
(FBA I – 1A)
*ADA: o que tá achando / da implementação / desse tipo de trabalho na sua sala de aula
COM
// da pesquisa-ação
COM
//
*FBA: sim
COM
// bastante positivo
COM
// eu
TOP
/ até [/] tinha falado
INX
/
FAT
[/]
mencionado isso com você anteriormente
INX
/ &he / eu senti
TOP
/ &he / em muitos alunos
TOP
134
/
FAT
+ eu notei / em vários alunos
TOP
/ assim
INX
/ reações
TOP
/ que eu não tinha visto antes
COM
//
(FBA I – 1B)
os alunos que / praticamente
INX
/ estavam ignorados ^
COM
/ ali no canto
COM
// &he /
principalmente depois da reorganização do espaço
COMel
/ a questão de estar cobrando
COMel
/
de estar mais próximo deles
COMel
/ né
COM
// e
INP
/ alguns alunos envolveram
^COM
/ de alguma
forma
COM
// não /
FAT
/ de forma que todo professor espera
COM
// mas
AUX
/ foi bastante
positivo
COM
// sentir que o aluno pelo menos num morto
COM
/ em relação a língua
APC
/
AUX
//
(FBA FINAL 1B)
ele não
+ que aquilo não é coisa de outro planeta
COM
/ pra ele
APC
// <uma [/] uma
participação> +
*ADA: <Morto em que sentido>
COM
//
(FBA I – 2A)
*FBA: eh
COM
// parado
COM
// aquele marasmo ^
COM
/ dentro da sala
COM
// não tem reação
nenhuma
COM
// como se
AUX
/ aquilo ali
TOP
/ não fizesse parte da vida dele em momento
algum
COM
// você [/] ele dentro da sala
TOP
/ mas somente o corpo
COM
hhh /
COM
// e
FAT
/ mas o pensamento
TOP
/ longe
COM
// e alguns alunos não ^
COM
/ que não faziam
atividade
COM
/ já fazem
COM
// a participação de alguns aumentaram
COM
// ainda / né
FAT
/ que
seja uma turma agitada
COM
//
(FBA I – 2B)
&eh / tem alunos
TOP
/ que não conseguem ficar o tempo todo concentrado
^COM
/ numa
coisa
COM
// mas mesmo assim
TOP
/ existem aqueles momentos que consegue
COM
/ voltar
atenção daqueles alunos
APC
// então
AUX
/ assim
AUX
/ teve alguns momentos
COM
// nem todo
135
o dia é igual ao outro
COM
/
FAT
// algumas aulas hhh
TOP
/ são piores do que as outras hhh
COM
// algumas aulas
TOP
/ cê não consegue nada ^
COM
/ mesmo
COM
/ né
COM
//
(FBA I – 2C)
tem aqueles dias
TOP
/ que [/] sente
COM
// não sei se é + vodando aula
TOP
/ não
consegue observar
COM
// parece que tem dia que não tem ninguém participando
COM
/
COM
// aqueles mesmos de sempre
COM
/
FAT
// e / é [/] e
INP
/ é aquela questão da indisciplina
que parece que tá mais complicada ^
COM
/ determinados dias
COM
/ né
FAT
// < eu acho que > +
(FBA I – 3A)
*ADA: < é
COM
// é verdade
COM
> // a gente vai / voltar nesse ponto
COM
// mas
INP
/ assim
INX
/ eu tô achando interessante
TOP
/ você falar
APT
/
FAT
/ que às vezes não certo
COM
// mas
INP
/ uma das aulas que a gente conversou
TOP
/ naquelas sessões nossas
APT
/
FAT
/ de
reflexão sobre as aulas
APT
/ é que você achou que nada deu certo
COM
// e ai
INP
/ depois
INX
/
eu conversando com você
INTL
/ nossa
INP
’/ os alunos responderam tanto
COM
’// foram tão
positivos <na forma de exposição >
COM
’//
(FBA – I 3B)
*FBA:
AUX
/ e depois eu
TOP
/ voltei
COM
/ né>
FAT
// &pens [/] voltei atrás e comecei a
lembrar
COM
/ também
APC/
/
FAT
// tem isso
COM
/
AUX
// &eh / às vezes você tem + igual
/ nossa mente
COM
/
AUX
// determinados momentos
TOP
/ você estressado
COMRelnec
/ você
não lembra de nada
COM
//
(FBA – I 3C)
FAT
/ um belo dia
TOP
/ você
APT
/ pensando em outra coisa
TOP
/ e [/] e vem aquela visão
COM
/
AUX
[/] &n // aquela lembrança
COM
// aquela cena
COM
/ do passado
APC
hhh // que
alguém hhh + aquela pessoa que cê nem esperava
COM
// isolada
COM
// ah
AUX
’/ aquela pessoa
TOP
’/ aquele dia
APT
/ me perguntou isso
COM
/
FAT
// aquela pessoa TOP / participou
^COM / em determinado dia
COM
// isso aconteceu comigo
COM
/ né
FAT
//
136
(FBA I – 3D)
&eh / ai
TOP
/ depois eu fui me acostumando
COM
// e
FAT
/ prestando mais atenção ^
COM
/
nesses alunos
COM
/
FAT
// uns
TOP
/ reagiram pouco
COM
/ outros reagiram mais do que os
outros
COMcomp
// mas
FAT
/ pelo menos
TOP
/ alguns / tiveram / reação
COM
/
AUX
// o que a
gente não esperava ^
COM
/ muito deles
COM
/ né
FAT
//
(FBA I – 4A)
*ADA: hum hum // você fala yyy / porque a [/] o foco / é a turma / IC [/] IC3
COM
/
*FBA: IC3
COM
//
*ADA: /
FAT
// e que você tinha descrito ^
COM
/ pra mim
COM
// que era uma turma
realmente complicada
COMel
/ que ela tinha mais problemas de aprendizagem
COMel
//
*FBA: sim
COM
//
*ADA: tem duas turmas que você fala muito
COM
/ delas
APC
// que é a IC1 e IC2
COM
// são
turmas que você consegue desenvolver um trabalho melhor
COM
/ < né >
FAT
//
*FBA: < hum hum >
COM
//
*ADA: aquela questão de [/] de que a aprendizagem está fluindo ^
COM
/ <mais facilmente>
COM
//
*FBA: < hum hum >
COM
// pelo menos na questão de números
COM
/ <né>
COM
//
*ADA: < não>
COM
+
(FBA I – 4B)
*FBA: <tanto> +
*ADA: <e eu achei> muito interessante o fato de você ter escolhido a IC3
COM
// que é uma
turma que / não
AUX
/ as coisas não estavam indo bem
COM
/
*FBA: sim
COM
//
*ADA: / né
COM
/ conforme a nossa conversa
INX
// e hoje
TOP
/ vendo as suas aulas
APT
/ tendo
essas conversas com você
APT
/ &he / eu vejo que a turma
TOP
/ ela
APT
/ tá muito engajada
COM
137
// e eles estão muito voltados
^COM
/ pra aquilo que você faz na sala de aula
COMel
/ pras
estratégias que você usa
COMel
/ pras atividades que você está levando pra turma
COMel
//
*FBA: hum hum
COM
//
(FBA I – 5A)
*ADA: como que cê via
COM
/ o processo antes
APC
/ por exemplo
INX
// que eu não
acompanhava as suas aulas antes
COM
//
*FBA: &he / antes
TOP
/ <por exemplo
INX
> +
*ADA: <dessa turma>
COM
//
*FBA: é
COM
// dessa turma
COM
// antes
TOP
/ o primeiro impacto
TOP
/ já causou um certo
susto
COM
/
FAT
// porque
INP
/ &he / por exemplo
INX
/ o primeiro &impa [/] o &primei [/]
no primeiro bimestre
TOP
/ parece que eu comecei a rotular hhh / <aquela turma> / como
turma fraca
COM
/ né
COM
//
*ADA: <hum hum>
COM
//
(FBA I – 5B)
*FBA: comecei a + &he /
AUX
/ eu observei as provas
COMel
/ a reação dentro da sala
COMel
/
&he / eu me preocupava
COM
// e tinha uma coisa também
COM
// o fato de me preocupar /
muito
TOP
/ com as respostas
APT
/ longe / daquilo que eu esperava
TOP
/ eu + era uma turma até
participativa
COM
// sempre foi
COM
//
(FBA I – 5C)
mas
INP
/ &he / e tinha alguns alunos
TOP
/ que era aquilo que eu te falei
COM
// que agora
tiveram reações ^
COM
/ e que antes o tinham nenhuma
COM
// ficavam na deles
COM
//
então / eu me preocupava / com aqueles TOP / que participavam
APT
/ e deixava os
outros
COM
// quietinhos ^
COM
/ tal
COM
// não davam trabalho
COM
/ deixo eles pra hhh
COMRelnec
// era
COM
/ tipo
INX
/ assim
COM
//
(FBA I – 5D)
138
e
FAT
/ essa
TOP
+ &he / a [/] a turma
TOP
/ no caso
APT
/ eu me preocupava muito
TOP
/ porque
APT
/ na participação
TOP
/ por exemplo
INX
/ eu inferia ^
COM
/ lá
COM
// &he / eu colocava &inf
[/] informações no quadro
COMel
// e ia puxando ^
COM
/
AUX
/ respostas
COMel
// tentava / com
algumas perguntas ^
COM
/ criar algum tipo de reação neles
COMel
//
(FBA I – 5E)
e / quando as [/] as respostas
TOP
/ não eram de acordo
APT
/ com aquilo que eu esperava hhh
APT
/ eu me frustrava
COM
// e achava
TOP
/ que APT / os meios que eu estava utilizando não
tavam valendo / de nada
COM
// então eu
TOP
/ acho que falei assim
INTL
/ aquela turma ali eu
não tenho ’[/] não tô tendo muito trabalhar com ela
COM
’//
(FBA I – 5F)
os &recur + ai
TOP
/ comecei a observar os resultados das provas
COM
// e
FAT
/ eu me baseei
nisso
COM
// pra colocar um [/] assim
INX
/ o grau de dificuldade dela maior / talvez
INX
/ do
que é
COM
//
(FBA I – 6A)
*ADA: e o resultado / das provas / <que eles fazem>
COM
//
*FBA: <o resultado das provas> e o resultado / da [/] da participação deles dentro de sala
COM
//
*ADA: hum hum
COM
//
*FBA: e
AUX
/ assim
INX
/ não sei
AUX
/ o [/] parece que
INX
/ os momentos de &lucide [/] luz
hhh
TOP
/ dentro da sala hhh
APT
/ eram praticamente esquecidos
COM
/ né
FAT
// eu me
preocupava mais
TOP
/ com aquilo que não dava certo <hhh>
COM
//
*ADA: <e hoje> hhh
COM
//
*FBA: <hoje
TOP
/ parece que modificou meu olhar>
COM
/ também
APC
/ né
COM
//
*ADA: <hhh porque mudou muito / até agora hhh
COM
> //
(FBA I – 6B)
139
*FBA: / e
AUX
/ lógico
INX
/ o projeto
TOP
/ ajudou bastante
COM
/ né
FAT
// ah
AUX
/ nós revemos
^
COM
/ algumas situações
COM
/
COM
// você colaborou bastante
COMel
/ as conversas
COMel
/
tudo isso
COMel
/
FAT
// a gente
TOP
/ sempre montando [/] planejando a aula ^
COM
/ dessa
turma
COMel
/ revendo questões
COMel
/ e dando certo
COMel
/
COM
// o que não
TOP
/ a
gente sempre &mudan [/] continua mudando
COM
/
AUX
// mas sim
COM
// <com certeza>
COM
//
(FBA I – 7A)
*ADA: <você acha> / que essas nossas conversas
TOP
/ e esse momento que a gente tem de [/]
de refletir
^COM
/ sobre aquilo
^COM
/
*FBA: <sim>
COM
//
*ADA: / <que aconteceu> na última aula
COM
// assim como / o planejamento
^COM
/ que a
gente faz <junto>
COM
//
*FBA: <sim>
COM
//
*ADA: <as ações>
COM
//
*FBA: <as revisões>
COM
/
COM
//
FAT
/ as sugestões
COM
// [/] a gente tá sempre + as
atividades
COM
// lógico que
AUX
/ uma coisa que não ficou ainda muito bem resolvida é a
questão da / administração do tempo
COM
/ né
AUX
//
(FBA I – 7B)
&he / por causa
TOP
/ deles
COM
/ mesmo
APC
// às vezes você tem que corrigir
^COM
/ alguma
coisa sem eles terminarem
^COM
// um determinado tempo
TOP
/ eles ainda
TOP
/ não o
muito disciplinados
COM
// prá / terminar ^
COM
/ a atividade
COM
/ &naque + uns
TOP
/ porque
realmente não conseguem
COM
/ os outros
TOP
/ porque
APT
/ de um jeito ou de outro
TOP
/
tentam
COMcomp
/ né
AUX
// tentam
TOP
/ fazer com que eu dê menos atividades
COM
//
(FBA I – 7C)
140
porque / eles [/] eles não eram ^
COM
/ acostumados
COM
// e parece
COM
// e parece
INP
[/] sei
INX
/ parece que os alunos
TOP
/ não são + é o que parece
COM
/ eu não sei / porque eu não
assisto outras aulas
INX
// mas parece que aluno
TOP
/ de escola pública
APT
/ &mu [/] não [/]
não são acostumados ^
COM
/ a fazer mais de uma atividade ^
COM
/ dentro da sala ^
COM
/
durante uma aula ^
COM
//
(FBA I – 8A)
*ADA: por que
que você acha ^
COM
/ que tem essa
COM
+
*FBA: pela + porque quando
TOP
/ nós modificamos
APT
+ e até &f [/] eu até forcei
COM
/ da
primeira vez
APC
// acabou o tempo
COM
/ pronto acabou
COMRelnec
// vamos corrigir
COM
//
vamos fazer juntos
COM
/ tal
APC
// &he / eu notei
TOP
/ que
APT
/ teve um pouco de resistência
^
COM
/ por parte de alguns
COM
// achou que tava muito hhh
COM
//
*ADA: muitas atividades
COM
//
*FBA: muitas atividades
COM
// na &primei [/] <num primeiro dia> +
*ADA: <e você concorda>
COM
// você achou
COM
//
*FBA: <não>
COM
//
*ADA: / <que foi mesmo>
COM
/ muitas
APC
//
*FBA: não / não achei não
COM
//
(FBA I – 8B)
*ADA: não
AUX
/ porque essa avaliação
TOP
/ a gente tem de fazer mesmo
COM
//
*FBA: não
COM
//
*ADA: porque
AUX
/ se foi uma mudança +
*FBA: não
COM
// mas / eu [/] eu [/] eu [/] eu considero uma mudança positiva
COM
/
COM
//
em relação às atividades
COM
// considero uma mudança positiva
COM
// às vezes
TOP
/ o que
fica difícil
TOP
/ ainda pra mim
APT
/ é um pouco administrar
COM
/ isso
APC
//
*ADA: hum hum // essa <quantidade> +
141
* FBA: <num &cur> + é
COM
// você + até num curso livre é complicado
COM
// mas num
curso livre
TOP
/ parece que o pessoal já tá preparado
COM
/ pra isso
APC
/ né
FAT
//
(FBA I – 8C)
na escola pública
TOP
/ tem todo um [/] um &pro [/] uma visão ^
COM
/ diferente
COM
/
FAT
//
em relação a língua
COM
// &he / eles tem / por exemplo
INX
+ pra eles
TOP
/ um professor é
sempre igual ao outro hhh
COM
/
FAT
// eles têm muitas matérias
COM
// então
TOP
/ existe
sempre uma comparação
COM
// não que eles tenham falado
COM
// isso / é o que eu senti ^
COM
/
FAT
/ da primeira reação
COM
// mas depois
TOP
/ também
APT
/ &he / foi normal
COM
//
<acostumaram>
COM
//
*ADA: <parece que eles foram se adaptando>
COM
//
* FBA: eles foram se adaptando
COM
// sim
COM
//
Texto III
@ Participante: FBA, Fabíola (mulher, 30, professora do ensino fundamental, entrevistada,
Belo Horizonte).
ADA, Andréa (mulher, 33, pesquisadora, entrevistadora, Belo Horizonte).
@ Data: 10/05/2006
@ Situação: Entrevista entre a participante e a pesquisadora sobre o processo ação-reflexão-
ação em face a adoção da prática investigativa na sala de aula.
@ Tópico: Identificação e resolução dos problemas vivenciados no contexto escolar.
@ Fonte: Português.
@ Classificação: Informal, particular, dialógico com momentos monológicos.
@ Duração: 511 segundos (ou 8,51 minutos)
@ Palavras: 1.179
@ Qualidade acústica: A
@ Transcritor: Andréa Cristina Ulisses de Jesus.
@ Revisor (es): Luciano César Alves de Deus, Tommaso Raso.
142
*ADA: ... em 2005 você estava no Gabriela, hoje você está em uma outra escola, outra
realidade, como é que foi, pra gente voltar um pouco nesse assunto como é que foi essa
mudança pra você Fabíola?
Pergunta que contextualiza
(FBA II-1A)
*FBA: Olha
INP
/ a mudança
TOP
/ foi [/] foi positiva
COM
/ sim
APC
/
FAT
// &porq [/] a
questão da [/] da independência
COM
/
FAT
// da + apesar de / eu não ter nem notado
COM
//
foi algo espontâneo
COM
// eu tava [/] ano passado eu tava realizando um projeto com você
COM
/ né
FAT
//
*ADA: hum hum
COM
//
(FBA II-1B)
*FBA: e / que deu &cer [/] que a gente tava sentido / e comentando que tava dando certo
COM
// e você tem a [/] hhh me dando as respostas
COM
/ sobre isso
APC
// mas
FAT
/ assim
INX
/
é muito interessante // porque eu [/] eu [/] eu tive
TOP
/ que me virar sozinha
COM
// <e> +
*ADA: <é verdade>
COM
//
(FBA II-2A)
*FBA:
COM
// &ach + tudo que é de bom
TOP
/ pra gente
APT
/ que a gente se sentindo /
que realmente fazendo
TOP
/ né
AUX
/ e [/] e que tendo retorno
APT
/ a gente continua hhh
COM
// <pelo menos> tenta continuar
COM
//
*ADA: <hum hum> //
*FBA: &he / e foi &ass + ai
AUX
/ eu fiquei preocupada
COM
/
FAT
/ Andréa
ALC
// e eu falei
assim
INT
/ puxa vida
AUX
’/ a Andréa podia voltar a fazer trabalho comigo
COM
’/ mesmo ’/
+ e eu pensei
^COM
/ antes que me ligaram hhh
COM
// <hhh mesmo numa outra escola>
COM
’//
143
*ADA: <hhh mesmo numa outra escola>
COM
//
*FBA: <talvez vai ser até mais legal>
COM
’/
*ADA: <hum hum>
COM
// com certeza
COM
//
(FBA II-2B)
*FBA: /
FAT
// que ela vai ter uma outra visão
COM
’// não só de Gabriela
COM
’// ai
FAT
/ &el
[/] foi interessante
^COM
/ porque aconteceu
COM
// e [/] e / foi interessante
^COM
/ também
INX
/
que entrou mais uma pessoa
COM
// entrou o Luciano
COM
// ainda que ele esteja pra
gravar hhh
COM
// então
FAT
/ eu acho que
AUX
/ <tudo isso foi ganho>
COM
//
*ADA: <mas é um apoio
COM
// com certeza>
COM
//
*
FBA
: <é>
COM
// tudo [/] / tudo isso foi ganho
COM
// &hum / então
TOP
/ &he / assim
INX
/
eu tô me sentindo mais calma
COM
//
ADA: hum hum //
*FBA: e
FAT
/ assim
INX
/ pra mim
TOP
/ a tranqüilidade
TOP
/ prum trabalho
APT
/ é hhh /
essencial
COM
/ Andréa
ALC
//
*ADA: uê
AUX
/ mas é
COM
//
(FBA II-3A)
hhh como é que você fez
COM
// porque
AUX
/ você chegou numa escola nova
TOP
/ outra
realidade
COMel
/ outros alunos
COMel
/ outras necessidades
COMel
//
*FBA: sim
COM
//
*ADA: <a gente &trabalh> +
*FBA: <totalmente diferente>
COM
//
*ADA: totalmente diferente
COM
/ <né>
FAT
//
*FBA: <tanto> que os professores até reclamaram
INTL/COM
/ esses
TOP
/ alunos
APT
/ são
muito mais defasados
COM
/ que os alunos do Gabriela
COMcomp ’
// existe / isso / lá
COM
//
(FBA II-3-B)
144
*ADA: <no geral>
COM
//
*FBA: <mas>
AUX
/ &he / os professores
TOP
/ que trabalharam no Gabriela
APT
/
*ADA: <hum hum> //
*FBA: / <sentem> isso
COM
/
FAT
// porque eles trabalharam com sétima
COM
// no Gabriela
eu trabalhei com quinta e &s [/] e sexta
COM
/
FAT
// eles trabalharam
^COM
/ com mais
turmas
COM
// então
FAT
/
*ADA: hum hum //
*FBA: / pegaram [/] tiveram mais experiências ^
COM
/ assim
INX
/ com outras séries
COM
/ que
eu
COMcomp
// eu não
COM
// eu já peguei
???
/ &he + eu tenho aquela questão
COM
// eu mantive a
minha visão
???
+
(FBA II-3C)
há turmas
TOP
/ inclusive eu tava conversando até com uma diretora de
INX
+ eu mantenho a
minha visão
TOP
/ &por [/] de que
APT
/ há realidades
TOP
/ que
APT
/ tomam contam da vida das
pessoas
COM
// &he / entra
TOP
/ por exemplo
INX
/ criminalidade
COMel
/ sexualidade
COMel
//
tudo precoce
COM
/ na vida deles
APC
// e
FAT
/ acabam
TOP
/ que eles
APT
/ acabam &ach [/] &el
[/] tornando
COM
/
FAT
/ o + a forma deles / é tornar aquilo que é ruim
TOP
/ em diversão
COM
/ pra eles
APC
//
(FBA II-3D)
e a gente não tem
COM
// porque parece que eles se tornam adultos
COM
// &e [/] eu tenho
experiência do Gabriela
COM
// então
AUX
/ entrar com algo
TOP
/ pra eles
APT
/ com língua
estrangeira
TOP
/
*ADA: hum hum
COM
//
*FBA: / que eles têm que ter motivação
TOP
/ pra aprender
APT
/ &he / eles não aprendem
matérias nenhuma
COM
/
FAT
// nem português
COMel
/ nem inglês
COMel
/ nem matemática
COMel
// então
AUX
/ assim
INX
/ inglês
TOP
/ pra eles
APT
/ é coisa do outro mundo
COM
//
145
(FBA II-3E)
não falando que eles não aprendam
COM
// uma coisa ou outra
TOP
/ o que é mais próxima
TOP
/ eles aprendem
COM
// que entrar
TOP
/ com essa abordagem comunicativa
APT
/ com
negociação de sentido
APT
/ algumas coisas que são essenciais
TOP
/ pra fluência em língua
inglesa
APT
/ &he / pra esses aluno problema
TOP
/ é mais complicado
COM
//
*ADA: hum hum //
*FBA: e tem outras coisas que vem antes ^
COM
/ igual nós falamos
COM
//
(FBA II-4A)
*ADA: esses alunos problemas estão relacionados a esses fatores /
*FBA: <a esses fatores>
COM
//
*ADA: / <&ex> [/] extracurriculares> ^
COM
/ que cê apontou
COM
// a questão de / <&he
*FBA: <violência>
COM
//
*ADA: / violência >
COMel
/ sexualidade
COMel
// até
AUX
/ questões relacionadas / &he / à
questão de afetividade
COM
//
*FBA: é
COM
//
*ADA: <tudo isso>
TOP
+
*FBA: <existe-se uma cobrança>
^COM
/
FAT
/ Andréa
ALC
/ em cima da gente
COM
/
COM
//
*ADA: isso que faz com que esses alunos <sejam alunos problemas >
COM
//
*FBA: <só> + isso é que faz
COM
//
(FBA II-4B)
*ADA: e em relação à aprendizagem
COM
/ deles
APC
//
*FBA: por exemplo
COM
// &he / <pra eles &apren> +
*ADA: <eles seriam também problema>
COM
//
*FBA: sim
COM
// eles são também problema
COM
// <e isso é no geral>
COM
//
146
*ADA: <mas é deficiência> da aprendizagem
COM
//
*FBA: <da aprendizagem>
COM
//
*ADA: <eles já tem uma deficiência>
COM
+
*FBA: < tem>
COM
// nós pegamos alunos / com deficiência na aprendizagem
COM
//
alguns
TOP
/ &he / não tem deficiência na aprendizagem
^COM
/ mas a situação deles é mais
atraente do que a escola
COM
// cê tá entendendo
COM
// <por exemplo>
COM
//
*ADA: <não>
COM
// como assim
COM
//
(FBA II-4C)
*FBA: por exemplo
COM
// &he / não gosto de escola
COM
’//
*ADA: hum //
*FBA: não gosto nem de estudar
COM
’// &he + ah / eu não gosto de música
COMel
’// &c [/]
não adianta cê me dar jogo
COMel
’/ não adianta você fazer o que fizer
COMel
’/ não vai me atrair
COMRelnec
’// existe aluno
TOP
/ que tem isso na cabeça
COM
/
COM
// então
INP
/ assim
INX
/
eu parei / de me preocupar / com coisa que eu não posso resolver
COM
//
(FBA II-4D)
*ADA: é
COM
/ <com certeza
COM
// é uma> +
*FBA: <e / &he> / e [/] e essa decisão / eu tomei / pra mim
COM
// conseguir ensinar aqueles
que eu posso
COM
/ <né>
COM
//
*ADA: <é
FAT
/ a gente> não pode realmente ter essa + a gente tenta fazer o melhor
COM
/
*FBA: tenta fazer o melhor
COM
// eu vou continuar tentando
COM
/ <fazer o melhor>
APC
//
*ADA: / <né
COM
// tentando> atingir esses alunos de alguma forma
COM
// mas
FAT
/ /
realmente
INX
/ a gente <não pode desconsiderar>
INX
/
*FBA: <não> +
*ADA: / <esses fatores> que você pontuou ai no inicio
TOP
/ que não depende
exclusivamente da gente
COM
//
147
(FBA II-5A)
*FBA: Porque existe-se uma idéia
^COM
/ de que nunca faz o suficiente
COM
// tem que
tentar
^COM/TOP
/ o que não existe
COM
// só
TOP
/ que
INP/TOP/APT
/ o que não existe
TOP
/ ainda
APT
/ não existe pra mim
COM
//
*ADA: hum hum
COM
//
*FBA: eu só vou tentar a partir do momento que ele nascer hhh
COM
// então
TOP
/ não dá
COM
/
FAT
// nós nos temos
TOP
/ &he / como se diz
INX
+ são [/] são problemas
TOP
/ que [/] de
outra alçada
COM
//
*ADA: hum //
FBA: / não é do [/] de professor
COM
//
(FBA II-5B)
então
AUX
/ assim
INX
/ eu parei de me preocupar ^
COM
/ &as [/] com aquelas cobranças
COM
//
professor
TOP
/ tem preocupação / em ensinar / cem por cento
COM
// preocupação
TOP
/ todo
professor tem
COM
// mas preocupação
TOP
/ assim
INX
/ não
^COM
/ &ce [/] cem por cento da
turma
COM
// alcançar
COM
/
FAT
// NAs
COMel
/ NEs
COMel
// isso é preocupação com números
COM
// que
TOP
/ uma gestão administrativa
TOP
/ tem
COM
// não educacional
COM
// porque
AUX
/
ser humano
TOP
/ é uma &reali + &he / num é um objeto
COM
//
(FBA II-5C)
não é produto de venda hhh
COM
// <então
COM
hhh> //
*ADA: <é
COM
// mas
INP
/
AUX
/ eu acho>
TOP
/ um pouco
INX
/ o que é tão problemático e
difícil na nossa profissão
COM
//
*FBA: < é > //
*ADA: <porque a gente> lidando
^COM
/ com pessoas
COM
// pessoas / realmente
INX
/ <não
são números>
COM
//
*FBA: <e as pessoas
TOP
/ querem> / pro nossa produção
COM
//
148
*ADA: é
COM
// e as pessoas
TOP
/ olham a educação
^COM
/ como se fosse / uma questão de [/]
de um produto final
COM
// que você tem que estar produzindo aquilo
^COM
/ e no final
TOP
/ os
alunos
TOP
/ tem que sair / em determinado patamar
COM
//
(FBA II-5D)
*FBA: hum <hum>
COM
//
*ADA: / <né>
AUX
/ a questão de excelência / e de qualidade / na educação
COM
// não
depende só de nós
^COM
/ mas isso é um trabalho / coletivo
COM
//
*FBA: coletivo
COM
//
(FBA II-6A)
*ADA: eu
TOP
/ realmente
INX
/ eu acredito
TOP
/ que
APT
/ o professor
APT
/ ele tem que ter
noções de [/] desses outros fatores
^COM
/ que vão influenciar a sala de aula
COM
// tem que
entender um pouco de administração sim
COMel
// você tem que / &he / entender / quais são os
repasses
^COM
/ que o Fundep passa
COMel
/ pra gente
APC
// o que nós temos direito
COMel
/ que
verbas que nós temos
COMel
/ até pra reivindicar estrutura
COMel
/ material
COMel
// é preciso ter
esse tipo de conhecimento
COM
// <concordo>
COM
//
*FBA: <hum hum>
COM
//
(FBA II-6B)
*ADA: mas são tantos fatores
TOP
/ que você tem que estar
APT
/ levando em consideração
APT
/ no momento de sala de aula
TOP
/ que às vezes
INX
/ a questão / do currículo
TOP/^COMel
/
mesmo
APT/APC
/ da sua matéria
TOP/^COMel
/ da [/] do desenvolvimento
TOP/^COMel
/
*FBA: <do desenvolvimento> /
*ADA: / <da prática>
TOP/^COMel
/
*FBA: <&he> [/]
*ADA: / fica em segundo lugar
COM
//
149
*FBA: com certeza
COM
// e parece
TOP
/ também
INX
/ que tem hora
APT
/ que
APT
/ eles querem
que nós avaliamos
TOP
/ não é a nossa matéria
COM
// então
AUX
/ pra que que ela existe
COM
//
(FBA II-6C)
ah ’// mas ele tem crítica
COMel
’/ conhecimento de &m [/] de mundo
COMel
’// mas
AUX
/
TOP
/ e
ai
COM
// na minha matéria ele não tem
COM
// não é crítico
COMel
/ não apresenta
TOP
/ essa
visão
COMel
/ não apresenta capacidade de negociar
COMel
/ capacidade de interpretar
COMel
//
pode apresentar
TOP
/ na &vis [/] uma visão / muitas vezes
INX
/ simples
COM
// muito fechada
COM
// como eu já vi alunos ^
COM
/ passarem
COM
/ aí
AUX
//
(FBA II-6D)
ah
FAT
’/ porque tem uma [/] ele tem uma ótima ’/ capacidade de argumentação
COM
’//
argumentar o que
COM
//
*ADA: hum hum
COM
//
*FBA: que a gente não tava junto
COM
// e na sala nunca mostrou pra ninguém hhh
COM
//
então
AUX
/ assim
INX
/ &he / existe / isso
COM
// e parece + ai / sua matéria vai ficando de lado
COM
// porque você tem que avaliar
TOP
/ <o que>
COM
//
*ADA: <outras> habilidades
COM
//
150
CAPÍTULO 3
ALGUMAS MEDIDAS DA FALA
Este capítulo apresenta algumas medidas da fala espontânea obtidas com base na
aplicação da teoria da Língua em Ato em uma amostra do português do Brasil, e está dividido
em cinco seções. Na primeira seção fornecemos as principais medidas que são unidades de
referência da fala (duração em tempo, número de palavras, número de turnos, número de
enunciados e número de unidades tonais). Na segunda seção apresentamos os números que
informam sobre a composição dos turnos, enunciados e unidades tonais no que diz respeito ao
número de palavras. Na terceira seção constam os dados referentes à média de duração dos
enunciados por minuto e de palavras por segundo (velocidade de elocução). Na quarta seção
mostramos, através de várias medidas, a importância do fenômeno de comentários múltiplos
na estruturação dos enunciados complexos. E finalmente, na última seção expomos algumas
medidas relacionadas à estruturação lingüística dos enunciados.
3.1 Algumas medidas da fala espontânea na amostra
As medidas gerais que apresentamos dizem respeito às principais unidades de
referência da fala e serão objeto de comparação nesse estudo, tanto em relação à tipologia dos
três textos quanto em relação às medidas das línguas analisadas no C-ORAL ROM (CRESTI
& MONEGLIA 2005). Dessa forma analisamos quantitativamente os turnos de fala, os
151
enunciados, as unidades tonais e as palavras, e apresentamos através das várias medidas
extraídas dos textos as diferenças de estruturação da fala entre um texto dialógico e textos
tendencialmente monológicos.
Os meros referentes aos textos I, II e III serão fornecidos separadamente, porém a
comparação serealizada entre o texto I em oposição aos textos II/III, uma vez que os dois
últimos têm os mesmos participantes, na mesma situação e com as mesmas características de
base. O texto I tem uma estrutura predominantemente dialógica, enquanto os textos II/III
apresentam uma estrutura monológica, além dos mesmos participantes, da mesma situação e
do mesmo assunto.
Porém, sugerimos observar também os dados do texto II individualmente. Por ser mais
monológico que o texto III, a oposição entre os textos I e II revelam diferenças muito
significativas em relação à estruturação de um texto segundo a sua tipologia. Quanto ao texto
III, esse se configura, em alguns aspectos, como um intermediário entre os textos I e II. Ele é
relativamente monológico, mas apresenta um maior número de passagens dialógicas.
Teoricamente as amostras analisadas para este estudo se enquadram dentro de um
contexto formal, contudo o conceito de formalidade deve ser avaliado segundo uma dada
cultura. Esse é um problema do qual se tem consciência, porém não como ser tratado neste
estudo. No C-ORAL ROM (CRESTI & MONEGLIA 2005) nossas amostras seriam
classificadas como formais, mas não se pode desconsiderar as diferenças profundas existentes
em uma relação professor/aluno e entre colegas na cultura brasileira, em comparação com a
cultura européia.
No texto I temos uma interação entre professor e aluno e nos textos II/III a interação
é entre professora-coordenadora e professora colega de trabalho. Em se tratando do texto I,
um dos participantes é um adolescente em processo de aquisição da norma culta e do
requisitos necessários para uma fala formal. Já nos textos II/III é o assunto da interação que
152
conduz a formalidade. Logo essas características dos textos relativizam a classificação da
amostra em formal ou informal.
3.1.1 Duração dos textos e número de palavras
Duração total texto I: 15 minutos e 22,5 segundos ou 922,5 segundos.
Duração total texto II: 9,58 minutos ou 574 segundos.
Duração total texto III: 8,51 minutos ou 511 segundos.
Duração total textos II/III: 18,09minutos ou 1085 segundos.
Número total de palavras texto I: 2.602
Número total de palavras texto II: 1.459
Número total de palavras texto III: 1.276
Número total de palavras textos II/III: 2.735
3.1.2 Número de turnos
Texto I: 299 (VTR = 150 / GBL = 149)
Texto II: 56 (ADA = 28 / FBA = 28)
Texto III: 84 (ADA = 42 / FBA = 42)
Texto II/III: 140 (ADA = 70 / FBA = 70)
3.1.3 Número de Enunciados
Texto I: 491 (incluindo 30 enunciados interrompidos).
Texto II: 198 (incluindo 26 enunciados interrompidos).
Texto III: 196 (incluindo 21 enunciados interrompidos).
Texto II/III: 394 (incluindo 47 enunciados interrompidos).
153
3.1.4 Número de enunciados simples
Texto I: 296 (ou 60,28% de ocorrência sobre o total de enunciados)
Texto II: 80 (ou 40,0% de ocorrências sobre o total de enunciados)
Texto III: 103 (ou 54,08% de ocorrências sobre o total de enunciados)
Texto II/III: 183 (ou 46,44% de ocorrências sobre o total de enunciados)
3.1.5 Número de enunciados complexos
Texto I: 195 (ou 39,72% de ocorrências sobre o total de enunciados)
Texto II: 121 (ou 60,0% de ocorrências sobre o total de enunciados)
Texto III: 93 (ou 45,92% de ocorrências sobre o total de enunciados)
Texto II/III: 214 (ou 53,55% de ocorrências sobre o total de enunciados)
3.1.6 Número total de unidades tonais
Texto I: 930 (366 unidades tonais não-terminais, 461 unidades tonais terminais, 30 unidades
tonais terminais de enunciados interrompidos, 73 unidades tonais não-terminais por
retracting).
Texto II: 533 (300 unidades tonais não-terminais, 170 unidades tonais terminais, 26 unidades
tonais terminais de enunciados interrompidos e 37 unidades tonais não-terminais por
retracting).
Texto III: 493 (265 unidades tonais não-terminais, 174 unidades tonais terminais, 21 unidades
tonais terminais de enunciados interrompidos e 33 unidades não-terminais por retracting).
Texto II/III: 1029 (565 unidades tonais não-terminais, 347 unidades tonais terminais, 47
unidades tonais de enunciados interrompidos e 70 unidades tonais não-terminais por
retracting).
154
Os textos I e II/III têm quase a mesma duração em tempo e uma pequena diferença em
relação ao número total de palavras. A diminuição em tempo entre os textos I e II/III é de
15,0% , e em palavras 4,86%. Porém o texto I apresenta mais que o dobro de turnos em
relação aos textos II/III.
Consequentemente, em um texto monológico o número de ilocuções
47
tende a ser
menor e de estrutura informacional mais complexa. No texto I, a estrutura dialógica
possibilitou a realização de 24,6% a mais de enunciados em um tempo menor, com um
número menor de palavras. Já nos textos II/III com maior duração em tempo e mais palavras,
o número de enunciados é menor, devido à complexidade de estruturação da fala,
característica peculiar dos textos tendencialmente monológicos.
Os textos II/III com um número menor de enunciados apresentam um aumento de
mais 10% de unidades tonais. Esse dado reforça o caráter complexo de estruturação dos textos
monológicos em relação aos textos dialógicos, porque um número maior de unidades tonais
em menos enunciados significa uma porcentagem maior de enunciados complexos. Logo, o
texto I tem uma média elevada de enunciados simples (60,28%), em comparação aos textos
II/III (47,05%).
3.1.7 Média de enunciados por turno
Texto I: 1,64 (GBL = 1,76 / VTR = 1,52)
Texto II: 3,62 (FBA = 5,92 / ADA = 1,85)
Texto III: 2,34 (FBA = 3,30 / ADA = 1,36)
Texto II/III: 2,85 (FBA = 4,16 / ADA = 1,56)
47
Relembramos que a priori um enunciado pode veicular apenas uma ilocução.
155
3.1.8 Média de unidades tonais por turno
Texto I: 3,11 (GBL = 3,67 / VTR = 2,54)
Texto II: 9,51 (FBA = 15,17 / ADA = 3,85)
Texto III: 5,93 (FBA = 8,78 / ADA = 3,02)
Texto II/III: 7,38 (FBA = 11,67 / ADA = 4,81)
3.1.9 Média de unidades tonais por enunciado
Texto I: 1,89 (GBL = 2,08 / VTR = 1,67)
Texto II: 2,71 (FBA = 2,95 / ADA =2,07)
Texto III: 2,52 (FBA = 2,65 / ADA = 2,21)
Texto II/III: 2,62 (FBA = 2,80 / ADA = 2,14)
A diferença da média de enunciados por turno do texto I em relação aos textos II/III é,
obviamente, o principal indicador da diferença entre um texto relativamente monológico em
comparação com o texto dialógico. A média de enunciados por turno nos textos II/III
apresenta um aumento de 73,78% em relação ao texto I. A estrutura monológica dos textos
II/III possibilita a realização de um número maior de enunciados por turno, uma vez que os
turnos são maiores.
A complexidade de estruturação dos textos II/III, monológico, em oposição ao texto I,
completamente dialógico, é confirmada também pela média de unidades tonais por turno,
aumento de 137%, e pela média de unidades tonais por enunciado, aumento de 38,62%. No
texto I, a dinâmica da interação requer, principalmente, a estruturação em enunciados simples,
ou seja, aqueles constituídos apenas por uma unidade tonal.
Se resolvêssemos excluir as unidades de auxílio dialógico nos três textos, a diferença
em número de enunciados simples e complexos entre o texto dialógico e monológico seria
156
ainda maior. Isso porque os auxílios dialógicos são a principal forma de estruturação dos
enunciados complexos no texto dialógico, já que veiculam funções relacionadas à interação e,
portanto, não compõem o texto
48
.
A média de unidades tonais por enunciado é outro dado que reforça essa diferença de
estruturação segundo a tipologia dos textos. Um texto dialógico como o texto I apresenta uma
média menor de unidades tonais por enunciado; como salientamos no parágrafo anterior a sua
estrutura é constituída preferencialmente em forma de enunciados simples. Por outro lado, os
textos II/III possibilitam a estruturação em enunciados complexos com um número maior de
unidades tonais por enunciado.
3.2 Média de palavras por turno, por enunciados e por unidades tonais.
Nesta seção apresentamos algumas medidas relativas ao total de palavras que
constituem os textos I e II/III. Esses números informam a composição dos turnos, dos
enunciados e das unidades tonais em relação ao número de palavras. Para esses dados
consideramos também os fragmentos de palavras e as interjeições portadoras de função
informacional, mas não os silêncios preenchidos e marcados na transcrição como &he.
3.2.1 Média de palavras por turno
Texto I: 8,31 (GBL = 9,88 / VTR = 6,80)
Texto II: 27,1 (FBA = 42,42 / ADA = 12,71)
Texto III: 15,37 (FBA = 21,54 / ADA = 9,04)
Texto II/III: 19,96 (FBA = 29,52 / ADA = 10,53)
48
As unidades de AUX estão detalhadas no capitulo, seção 1.2.2.
157
3.2.2 Média de palavras por enunciado
Texto I: 5,38 (GBL = 5,91 / VTR = 4,97)
Texto II: 7,44 (FBA = 7,16 / ADA = 8,47)
Texto III: 6,54 (FBA = 6,55 / ADA = 6,50)
Texto II/III: 6,99 (FBA = 7,03 / ADA = 7,34)
3.2.3 Média de palavras por unidade tonal
Texto I: 2,79 (GBL = 2,76 / VTR = 2,85)
Texto II: 2,73 (FBA = 2,52 / ADA = 3,29)
Texto III: 2,58 (FBA = 2,45 / ADA = 2,99)
Texto II/III: 2,66 (FBA = 2,52 / ADA = 3,29)
O aumento da média de palavras por turno dos textos II/III em comparação ao texto I é
de 140%. Em um texto dialógico como o texto I, a média de palavras por turno é menor, fato
ocasionado pela própria dinâmica de interação, contrariamente aos textos II/III cuja estrutura
tendencialmente monológica requer dos falantes uma estrutura discursiva mais elaborada e,
portanto, com uma média elevada de palavras.
A média de palavras por enunciado nos textos II/III é 30% maior do que no texto I. O
texto I apresenta uma estrutura discursiva mais dinâmica, com enunciados simples
constituídos por uma quantidade menor de palavras. a diferença entre a média de palavras
por unidade tonal entre o texto I, dialógico, e o texto II, mais monológico, é menos
significativa. Trata-se de um fator ligado a velocidade de fala do falante, não necessariamente
dependente do tipo de interação.
158
3.3 Duração por tempo dos enunciados e média de palavras.
Esta seção apresenta a média de duração dos enunciados por minuto e de palavras por
segundo, o que corresponde à densidade informacional da fala no cumprimento da ilocução.
3.3.1 Média de enunciados por minuto
Texto I: 32,26 (GBL = 17,27 / VTR = 14,98)
Texto II: 20,45 (FBA = 16,07 / ADA = 4,38)
Texto III: 22,91(FBA = 16,21 / ADA = 6,69)
Texto II/III: 21,61 (FBA = 16,21 / ADA = 6,69)
3.3.2 Média de palavras por segundo
Texto I: 2,82 (GBL = 1,64 / VTR = 1,18)
Texto II: 2,54 (FBA = 1,92 / ADA = 0,62)
Texto III: 2,49 (FBA = 1,77 / ADA = 0,72)
Texto II/III: 2,52 (FBA = 1,85 / ADA = 0,67)
A média de palavras por segundo entre os três textos é próxima e a comparação
poderia ser realizada se os participantes da interação fossem os mesmos; portanto, os dados
relativos à velocidade da fala são pouco conclusivos, e ligados à velocidade da fala dos
falantes. De modo geral, as interações com um número elevado de enunciados simples
possibilitam a execução de uma quantidade maior de enunciados.
159
3.4 Número total de comentários múltiplos nos textos
Nesta seção apresentamos o percentual de enunciados que têm em sua estrutura
comentários ltiplos. Esses dados evidenciam a relevância do fenômeno de comentários
múltiplos como estratégia importante na estruturação da fala. Consideramos nas medidas que
apresentamos abaixo, o percentual de comentários ligados, os comentários de elenco, os
comentários de citação, os comentários de relação necessária e os comentários de
comparação
49
.
Número total de comentários múltiplos
Texto I: 59
Texto II: 50
Texto III: 48
Textos II/III: 98
3.4.1. Número total de comentários ligados
Texto I: 26
Texto II: 34
Texto III: 21
Textos II/III: 55
3.4.2 Número total de comentários de elenco
Texto I: 12
Texto II: 07
49
O fenômeno de comentários múltiplo está detalhado no capitulo 1, seção 1.2.3.
160
Texto III: 12
Textos II/III: 19
3.4.3 Número total de comentários de citação
Texto I: 11
Texto II: 04
Texto III: 11
Textos II/III: 15
3.4.4 Número total de comentários de relação necessária
Texto I: 10
Texto II: 03
Texto III: 01
Textos II/III: 04
3.4.5 Número total de comentários de comparação
Texto I: 00
Texto II: 02
Texto III: 03
Textos II/III: 05
No texto I o percentual de ocorrência de comentários múltiplos sobre o total de
enunciados é igual a 12,01%; se considerarmos apenas os enunciados complexos o percentual
de ocorrência dos comentários múltiplos será 30,25%. As maiores freqüências de ocorrência,
dos principais tipos de comentário múltiplo sobre o número total de enunciados no texto I,
161
foram os comentários ligados 5,29%, os comentários de elenco 2,44%, os comentários de
citação 2,24% e os comentário de relação necessária 2,03%. Ao realizarmos o cálculo
apenas sobre o total de comentário múltiplo, os principais tipos se distribuem na seguinte
freqüência de ocorrência: 44% de comentários ligados, 20,33% de comentários de elenco,
18,64% de comentários de citação e 17% de comentários de relação necessária.
Nos textos II/III o percentual de ocorrência é mais que o dobro 25,06%. Este número
corresponde a um aumento de 108,65% de comentários múltiplos em relação ao texto I. Ao
considerarmos apenas o número total de enunciados complexos, o percentual de ocorrência
dos comentários múltiplos nos textos II/III será também bastante alto, isto é 47,34%. As
freqüências mais altas de ocorrência dos principais tipos de comentários múltiplos foram os
comentários ligados 14,06%, os comentários de elenco 4,85%, os comentários de citação
3,83%, os comentários de comparação 1,27% e os comentários de relação necessária 1,02%.
No cálculo realizado apenas sobre o total de comentário múltiplo, a freqüência de ocorrência
dos principais tipos será: 56% de comentários ligados, 19,38% de comentários de elenco,
15,3% de comentários de citação, 4% de comentários de relação necessária, 5,1% de
comentários de comparação.
Notamos que de modo geral os principais tipos de comentários múltiplos presentes
em um texto relativamente monológico e em um texto dialógico não são tão diferentes,
excetuando os comentários de relação necessária e os pedidos de confirmação, aqui não
tratados, que são mais freqüentes no texto dialógico
50
.
Os números fornecidos acima apontam indícios interessantes sobre os principais tipos
de comentários múltiplos utilizados na estruturação de um texto completamente dialógico, e
50
Os pedidos de confirmação trazem um problema delicado, que do ponto de vista ilocutivo não podem
equivaler a qualquer tipo de ‘né’ ou ‘não é’ (ou outra forma de pedido de confirmação). Muitas ocorrências de
‘né’ são realmente COM ligados (&he / principalmente depois da reorganização do espaço
COMel
/ a questão de
estar cobrando
COMel
/ de estar mais próximo deles
COMel
/ né
COM
//). Em outras ocorrências são FAT (eu
TOP
/
até [/] tinha falado
INX
/
FAT
[/] mencionado isso com você anteriormente
INX
/ &he / eu senti
TOP
/ &he / em
muitos alunos
TOP
/
FAT
). A distribuição entre os ‘né’ COM ou FAT depende de vários fatores, de natureza
tanto entonacional quanto contextual. Merecem, portanto, um estudo à parte e são excluídos da presente análise.
162
outro tendencialmente monológico. Em um monólogo, os elementos são categorizados em
medida maior através de relações lógicas e através da lexicalização, isto é, textualmente. Logo
o princípio ilocucionário é menos facilmente reconhecível uma vez que a acionalidade não
está tão diretamente ligada à situação, mas sim a estrutura do texto. No diálogo, a
categorização pragmática é mais facilmente individualizável, logo a complexidade dos
enunciados é relativa e a fala se torna menos elaborada.
Um dado interessante presente no texto I é a diferença de 150% de aumento para as
ocorrências de comentário de relação necessária, em comparação aos textos II/III. Este tipo de
comentário múltiplo parece ser uma característica dos textos dialógicos no qual a fala em
muitos momentos se traduz em forma de relações necessárias, como mostram os exemplos a
seguir.
Exemplo 73: *GBL: chega na prova
COM
/ é pau
COMrelnec
//
Exemplo 74: *GBL: tá na [/] tá na língua
COM
/ eu falo
COMrelnec
//
51
Em textos mais elaborados textualmente, esse tipo de estrutura provavelmente seria
substituído por uma estruturação mais complexa em Tópico-Comentário e poderia ser assim
realizada:
Exemplo 75: quando chega a prova
TOP
/ é um desastre
COM
//
Exemplo 76: se eu estiver com vontade
TOP
/ eu falo
COM
//
A relação necessária que se estabelece entre dois elementos é realizada unicamente
através da entonação, que tem por função veicular a relação lógica entre segmentos de textos.
51
Exemplos analisados por Alves de Deus (em preparação).
163
Esta é uma característica típica da fala dialógica informal, contraposta à fala monológica
formal, que lexicaliza e estrutura informacionalmente essa relação em unidades diferentes. A
observação detalhada dos textos evidenciou que as ocorrências de comentários de relação
necessária são mais freqüentes na fala do informante Gabriel (80% sobre o total de
ocorrências de COMrelnec), cujo nível de elaboração é claramente inferior.
A análise também revelou que grande parte dos comentários ligados presentes no texto
I correspondem a enunciados com ‘por que’ interrogativo, ou seja, eles dizem respeito a uma
característica das perguntas parciais e não a um nível de elaboração maior do texto. As
perguntas parciais, diferentemente das perguntas totais, requerem como resposta algo além de
‘sim’ ou ‘não’. Trata-se de perguntas construídas com como, quando, por que, o que, aonde e
quem.
Essas perguntas, e especialmente aquelas com por que, podem ser estruturadas
entonacionalmente e informacionalmente em forma de ^COM ou em forma de COM e APC.
Exemplo 77: *VTR: acha que [/] que a Andréa mudou ^
COM
/ nesse período
COM
// de
quinta / até a sétima [/] até a sétima agora // cê acha que / teve alguma
mudança
COM
//
*GBL: teve
COM
//
*VTR: teve
COM
// que tipo de mudança
COM
//
*GBL: além no ensino
COM
/ né
AUX
//
*VTR: é
COM
//
*GBL: ah
INP
/ eh
AUX
/ a aula
COM
/ né
FAT
// ficou diferente
COM
//
*VTR: por que
^COM
/ que cê acha que ficou diferente
COM
//
164
Exemplo 78: *VTR: hum
COM
// então
COM
// eh
AUX
/ você gosta ^
COM
/ de estudar inglês
COM
/
Marlon
ALC
//
*GBL: gosto
COM
//
*VTR: por que
COM
/ que cê gosta de estudar inglês
APC
//
Um critério de distinção importante entre os dois tipos de estruturação das perguntas
parciais pode ser o contexto. Se for evidente no contexto o conteúdo da pergunta, as
possibilidades de ser uma estruturação do tipo COM - APC aumentam, como ilustra o
exemplo 78. Caso contrário trata-se de um comentário múltiplo em forma de comentários
ligados. No exemplo 77 fica claro que o movimento está em cima do elemento novo (acha
).
Ainda em relação aos comentários ligados verificamos que o aumento de ocorrência
desse tipo de comentário múltiplo nos textos II/III é devido à redução do princípio
ilocucionário. Quando a identificação da ilocução não é facilmente realizada, principalmente
nos casos em que a correspondência biunívoca um enunciado, uma ilocução, se enfraquece
52
.
Logo, a diferença percentual de ocorrência entre os textos II/III em comparação ao texto I
seria ainda maior que parece, isto por causa da grande quantidade de perguntas parciais
presentes. Além disso, o assunto e o tipo de interação, uma entrevista, elevam o índice
percentual de ocorrência dos comentários ligados no texto I .
52
A violação do principio do isomorfismo que se estabelece entre enunciado e ilocução, bem como a ocorrência
dos fenômenos em que esse princípio não é claramente identificado, está detalhado no capitulo 1, seção 1.3.
165
3.5 Algumas medidas relacionadas à estruturação lingüística dos enunciados
Esta seção apresenta algumas medidas voltadas para a estruturação lingüística dos
enunciados. Aqui apresentamos:
a freqüência de enunciados simples com verbo e sem verbo;
a freqüência de enunciados complexos com verbo e sem verbo;
a freqüência de enunciados simples com verbo finito e verbo não-finito;
a freqüência de enunciados complexos com verbo finito e não-finito;
a freqüência de ocorrência de algumas conjunções coordenadas e subordinadas (mas,
e, porque, que).
Os enunciados com verbos foram divididos em duas categorias, os verbos de forma
finita e os verbos de forma não-finita. Consideramos dentro das formas finitas qualquer
enunciado que tenha uma forma finita, mesmo em casos em que o verbo não poderia ser
considerado o núcleo, e também as formas aparentemente não-finitas que refletem o
subjuntivo. No exemplo a seguir o verbo de forma finita presente nos enunciados não
constitui o núcleo regente.
Exemplo 79: não /
FAT
/ de forma que todo professor espera
COM
//
Exemplo 80: sentir que o aluno pelo menos num morto
COM
/ em relação a língua
APC
/
AUX
//
Os enunciados sem verbo foram divididos entre aqueles que realmente o continham
verbo algum, e aqueles que contêm somente ‘tá’ ou ‘é’, que são verbos, mas funcionalmente
são veiculadores de uma afirmação e poderiam ser substituídos por ‘sim’ ou ‘ok’. O exemplo
81 mostra um enunciado sem verbo.
166
Exemplo 81: *FBA: &he / por causa
TOP
/ deles
COM
/ mesmo
APC
//
Os exemplos seguintes mostram, nos enunciados de resposta, um caso de enunciado com ‘é’ e
outro com ‘tá’, que veiculam simplesmente uma afirmação.
Exemplo 82: *VTR: cê é um menino que tem estudado com a Andréa desde quinta série
COM
//
*GBL: é
COM
//
Exemplo 83: *GBL: aprender
COM
/ né
AUX
//
*VTR:
COM
//
Alguns casos de formas finitas como ‘teve’, ‘foi’, ‘gosto’ que funcionalmente veiculam
também uma afirmação, não foram consideradas como enunciado sem verbo, mas sim
enunciados com verbo de forma finita, uma vez que o nosso objetivo é mostrar o quanto é alta
a freqüência de enunciados sem verbo. Logo, para não correr riscos de aumentar a ocorrência
desse tipo de enunciados, resolvemos colocar os casos discutíveis dentro das formas com
verbo. Os casos de ‘é’ e ‘tá’, por serem muito freqüentes, foram contabilizados a parte.
Exemplo 84: *VTR: de quinta / até a sétima [/] até a sétima agora // cê acha que / teve
alguma mudança
COM
//
*GBL: teve
COM
//
Exemplo 85: *VTR: eh
AUX
/ você gosta
^COM
/ de estudar inglês
COM
/ Marlon
ALC
//
*GBL: gosto
COM
//
Exemplo 86: *VTR: foi na quinta série que cê começou a estudar inglês
COM
//
167
*GBL: foi
COM
//
As interjeições ‘hum’ ou ‘hum hum’ foram contabilizadas como enunciados sem
verbo. Essas expressões, em nossa amostra, veiculam uma afirmação ou uma concordância,
como ilustram os exemplos 87, 88 e 89.
Exemplo 87: *FBA: o que a gente não esperava
^COM
/ muito deles
COM
/ né
FAT
//
*ADA: hum hum //
Exemplo 88: *ADA: tem duas turmas que vofala muito
COM
/ delas
APC
// que é a IC1 e
IC2
COM
// são turmas que você consegue desenvolver um trabalho melhor
COM
/ < né>
FAT
//
*FBA: < hum hum >
COM
//
Exemplo 89: *FBA: nós já pegamos alunos / com deficiência na aprendizagem
COM
// alguns
TOP
/ &he / não tem deficiência na aprendizagem
^COM
/ mas a situação deles é
mais atraente do que a escola
COM
// entendendo
COM
// <por exemplo>
COM
//
*ADA: <não>
COM
// como assim
COM
//
*FBA: por exemplo
COM
// &he / não gosto de escola
COM
’//
*ADA: hum //
3.5.1 Total de enunciados simples com verbo
Texto I: 124
Texto II: 35
Texto III: 54
Textos II/III: 89
168
3.5.1.1 Total de enunciados simples sem verbo
Texto I: 172
Texto II: 45
Texto III: 49
Textos II/III: 94
3.5.1.1.1 Total de ‘É’ (contabilizados no total de enunciados simples sem verbo)
Texto I: 15
Texto II: 03
Texto III: 04
Texto II/III: 07
3.5.1.1.2 Total de ‘Hum’ (contabilizados no total de enunciados simples sem verbo)
Texto I: 53
Texto II: 07
Texto III: 14
Texto II/III: 21
3.5.1.1.3 Total de ‘Tá’ (contabilizados no total de enunciados simples sem verbo)
Texto I: 14
Texto II: 00
Texto III: 00
Texto II/III: 00
169
3.5.2 Total de enunciados complexos com verbo
Texto I: 166
Texto II: 111
Texto III: 82
Textos II/III: 193
3.5.2.1 Total de enunciados complexos sem verbo
Texto I: 29
Texto II: 10
Texto III: 08
Textos II/III: 18
Os números a seguir correspondem ao percentual de enunciados simples com verbo e
sem verbo, sobre o total de enunciados simples. A média percentual de enunciados simples
com verbo é 41,89% para o texto I e 48,63% para os textos II/III. A média de enunciados
simples sem verbo no texto I é 58,10%. Se excluirmos do total de enunciados simples sem
verbo os verbos de forma finita como ‘é’, ‘tá’ e também as interjeições ‘hum’ e ‘hum hum’, o
percentual de enunciados sem verbo no texto I sede 30,40% . Nos textos II/III o percentual
de enunciados simples sem verbo é igual a 51,36%, excluindo desse total os verbos de forma
finita é’ e ‘tá’, e também as interjeições ‘hum’ e ‘hum hum’, o percentual de enunciados
simples sem verbo nos textos II/III será igual a 36,06%.
O percentual de enunciados complexos com verbo e sem verbo foi calculado também
sobre o número total de enunciados complexos. O percentual de enunciados complexos com
verbo é 85,12% no texto I e 93,23% nos textos II/III. A média de enunciados complexos sem
verbo é 14,87% no texto I e 8,69% nos textos II/III. Os enunciados complexos têm uma
170
estrutura informacional mais elaborada e são mais longos, consequentemente a probabilidade
de serem estruturados com verbo é maior. os enunciados simples, de estrutura
informacional menos elaborada, freqüentemente não apresentam um verbo em sua
constituição. Nos três textos o percentual de enunciados simples sem verbo é maior do que o
percentual de enunciados simples com verbo.
3.5.3 Enunciados simples com verbos de forma finita
Texto I: 116
Texto II: 35
Texto III: 53
Textos II/III: 88
3.5.3.1 Enunciados simples com verbos de forma não-finita
Texto I: 08
Texto II: 00
Texto III: 01
Textos II/III: 01
3.5.4 Enunciados complexos com verbos de forma finita
Texto I: 159
Texto II: 102
Texto III: 74
Textos II/III: 176
171
3.5.4.1 Enunciados complexos com verbos de forma não-finita
Texto I: 07
Texto II: 03
Texto III: 03
Textos II/III: 06
A média de enunciados simples com verbos de forma finita sobre o total de
enunciados simples é 39,18% no texto I e 48,08% nos textos II/III. Os textos II/III,
relativamente monológicos, com um número menor de enunciados simples, apresentam um
aumento de 22,71% de enunciados simples com verbo de forma finita em relação ao texto I.
Os enunciados simples com verbo de forma não-finita correspondem à média de 2,7%
no texto I e 2,24% nos textos II/III. Os exemplos a seguir ilustram algumas ocorrências de
enunciados simples com verbo de forma não-finita na amostra.
Exemplo 90: *ADA: <tentando> atingir esses alunos de alguma forma
COM
//
Exemplo 91: *FBA: argumentar o que
COM
//
A diferença percentual é pouco significativa entre os três textos no que diz respeito à
estruturação dos enunciados simples com verbo de forma não-finita em textos dialógicos e
relativamente monológicos.
O percentual de enunciados complexos de forma finita é 81,53% no texto I e 91,19%
nos textos II/III. A diferença percentual de ocorrência de enunciados complexos de forma
172
finita entre os textos I e II/III é pequena. O percentual de enunciados complexos com verbo de
forma não-finita é igual a 3,58% no texto I e 3,10% nos textos II/III. Apresentamos abaixo
alguns exemplos de enunciados complexos com verbo de forma não-finita.
Exemplo 92: *ADA: até
AUX
/ questões relacionadas / &he / à questão de afetividade
COM
//
Exemplo 93: *FBA: alcançar
COM
/ né
FAT
// NAs
COMel
/ NEs
COMel
//
3.5.5 Freqüência de ocorrência das conjunções E, Mas, Porque, Que.
Os dados apresentados a seguir dizem respeito às funções e freqüência de ocorrência
das conjunções coordenadas e subordinadas ‘e’, ‘mas’, ‘porque’ e ‘que’ em nossa amostra,
com base em Cresti (2005b:240). A análise dos textos mostra que em sua grande maioria
essas conjunções são utilizadas para conectar atos de fala, ou unidades informacionais, e
raramente sintagmas.
Na contagem das conjunções coordenadas e subordinadas consideramos todos os
‘mas” e os ‘e’, e somente os ‘porque’ não interrogativos e os ‘que’ não interrogativos e em
começo de enunciado. Na contagem do ‘que’ foram considerados apenas os não interrogativos
em começo de enunciado para não complicar a análise com dados muito amplos, vista a
variabilidade dessa conjunção no PB (por quê que, o quê que, quando que, já que, etc.).
Para todas essas conjunções verificamos se ocupavam uma unidade tonal isolada. Por
último, averiguamos a freqüência de ocorrência dessas conjunções em início de enunciado,
173
em inicio de enunciado com unidade tonal dedicada, em início de unidade tonal e dentro de
unidade tonal.
Na contabilização da freqüência de ocorrência do porque’ consideramos apenas os
não interrogativos, do tipo empregado em resposta a uma pergunta:
Exemplo 94: *VTR: Por que
COM
/ que cê gosta de estudar inglês
APC
//
*GBL: ah hhh
COM
// porque eu achei legal
COM
/ uê
AUX
//
Na contagem do ‘que’ foi considerado apenas os não interrogativos em começo de
enunciado. Não contamos as várias ocorrências do ‘que’ para não tornar mais complexa à
análise com dados muito amplos, visto a variabilidade dessa conjunção no PB.
Assim contabilizamos as ocorrências dessas conjunções em início de enunciado (IE),
em início de enunciado com unidade tonal dedicada
53
(IED), em início de unidade tonal
(IUT), dentro de uma unidade tonal (DUT) e em início de turno.
3.5.5.1 Números relativos à conjunção E
Texto I: 34
IE: 11
IED: 06
IUT: 09
DUT: 08
53
Consideramos como unidade tonal dedicada os casos em que a conjunção ocupava sozinha uma unidade tonal,
como por exemplo: *FBA: e
INP
/ alguns alunos envolveram
^COM
/ de alguma forma
COM
//
174
Texto II: 33
IE: 14
IED: 09
IUT: 07
DUT: 03
Texto III: 25
IE: 13
IED: 04
IUT: 06
DUT: 02
Textos II/III: 54
IE: 27
IED: 13
IUT: 13
DUT: 01
3.5.5.2 Números relativos à conjunção Mas
Texto I: 12
IE: 07
175
IED: 04
IUT: 01
DUT: 00
Texto II: 11
IE: 05
IED: 04
IUT: 02
DUT: 00
Texto III : 15
IE: 09
IED: 04
IUT: 02
DUT: 00
Textos II/III: 26
IE: 14
IED: 08
IUT: 04
DUT: 00
176
3.5.5.3 Números relativos à conjunção Porque
Texto I: 12
IE: 07
IED: 03
IUT: 01
DUT: 01
Texto II: 12
IE: 02
IED: 05
IUT: 02
DUT: 03
Texto III: 10
IE: 05
IED: 02
IUT: 03
DUT: 00
Textos II/III: 22
IE: 07
177
IED: 07
IUT: 06
DUT: 02
3.5.5.4 Números relativos à conjunção Que
Texto I: 07
IE: 07
Texto II: 06
IE: 06
Texto III: 04
IE: 04
Textos II/III: 10
IE: 10
A maior freqüência de ocorrência da conjunção ‘e’ nos três textos é em início de
enunciado, ou em início de enunciado com unidade tonal dedicada. Nos casos em que a
conjunção e’ aparece em uma unidade tonal dedicada trata-se de um AUX, e provavelmente
de um INP, ou seja, daquela unidade que tem por função introduzir um ato de fala. Isso vale
para as outras conjunções também.
178
Exemplo 95: *FBA: tentava / com algumas perguntas
^COM
/ criar algum tipo de reação neles
COMel
// e
INP
/ quando as [/] as respostas
TOP
/ não eram de acordo
APT
/
com aquilo que eu esperava hhh
APT
/ eu me frustrava
COM
//
Exemplo 96: *FBA: os alunos que / praticamente
INX
/ estavam ignorados ^
COM
/ ali no
canto
COM
// &he / principalmente depois da reorganização do espaço
COMel
/ a
questão de estar cobrando
COMel
/ de estar mais próximo deles
COMel
/
COM
//
e
INP
/ alguns alunos envolveram
^COM
/ de alguma forma
COM
//
Exemplo 97: *FBA: votá [/] ele tá dentro da sala
TOP
/ mas somente o corpo
COM
hhh /
COM
// e
FAT
/ mas o pensamento
TOP
/ tá longe
COM
//
Exemplo 98: *FBA: parece que tem dia que não tem ninguém participando
COM
/
COM
//
aqueles mesmos de sempre
COM
/
FAT
// e / é [/] e
INP
/ é aquela questão da
indisciplina que parece que tá mais complicada ^
COM
/ determinados dias
COM
/ né
FAT
//
Exemplo 99: *FBA: &he / ai
TOP
/ depois eu fui me acostumando
COM
// e
FAT
/ prestando
mais atenção
^COM
/ nesses alunos
COM
/ né
FAT
//
Exemplo 100: *FBA: ai
TOP
/ comecei a observar os resultados das provas
COM
// e
FAT
/ eu me
baseei nisso
COM
// pra colocar um [/] assim
INX
/ o grau de dificuldade dela
maior / talvez
INX
/ do que é
COM
//
*ADA: e o resultado / das provas / <que eles fazem>
COM
//
179
Em outros casos, a ocorrência da conjunção ‘e’ é em início de unidade tonal, mas não em uma
unidade tonal dedicada, como ilustra os exemplos a seguir:
Exemplo 101: *FBA: aí
FAT
/ um belo dia
TOP
/ você
APT
/ tá pensando em outra coisa
TOP
/ e [/]
e vem aquela visão
COM
/ né
AUX
[/] &n //
Exemplo 102: *ADA: você fala yyy / porque a [/] o foco / é a turma / IC [/] IC3
COM
/
*FBA: IC3
COM
//
*ADA: / né
FAT
// e que você já tinha descrito ^
COM
/ pra mim
COM
//
Exemplo 103: *ADA: que é uma turma que / não
AUX
/ as coisas não estavam indo bem
COM
/
*FBA: sim
COM
//
*ADA: / né
COM
/ conforme a nossa conversa
INX
// e hoje
TOP
/ vendo as suas
aulas
APT
/ tendo essas conversas com você
APT
/ &he / eu vejo que a turma
TOP
/ ela
APT
/ tá muito engajada
COM
//
Exemplo 104: *FBA: &he / aí
AUX
/ eu observei as provas
COMel
/ a reação dentro da sala
COMel
/ &he / eu me preocupava
COM
// e tinha uma coisa também
COM
// o fato
de me preocupar / muito
TOP
/ com as respostas
APT
/ longe / daquilo que eu
esperava
TOP
/ eu +
Apenas em alguns casos de ocorrência nos textos I e II/III a conjunção ‘e’ está dentro de
unidade, e quando ocorre, essa conjunção serve quase sempre para compor uma perífrase
aspectual, que parece ser típica da fala coloquial brasileira contemporânea. Nestes casos, a
unidade composta pelos dois verbos conectados pela conjunção ‘e’ parece se configurar como
180
uma locução única para que o segundo verbo seja marcado no seu valor aspectual. Note-se
que todas as ocorrências dessas formas pertencem à fala do GBL:
Exemplo 105: *GBL: <aí>
AUX
/
*VTR: <hum hum > //
*GBL: / eu pego e erro a prova toda
COM
//
Exemplo 106: *GBL: aí
AUX
/ eu cheguei e falei com ela
COM
//
Exemplo 107: *GBL: pegar e ela &ach [/] &ch [/] achar que você está / &preieiju [/] te
xingando
COM
/ né
AUX
//
Exemplo 108: GBL: aí / eu chegava pra ela e falava
INTL
/ professora
ALC
’/ qual que fica mais
bonito
COM
’//
Exemplo 109: *GBL: aí
AUX
/ a professora chegava e falava a certa
COM
/ <entendeu>
COM
//
Exemplo 110: *GBL: ela pega e me responde
COM
//
Em nossa amostra contabilizamos apenas seis casos de ocorrência da conjunção ‘e’ dentro de
unidade tonal com função de conjunção sintática.
Exemplo 111: *FBA: que é a IC1 e a IC2
COM
//
181
Exemplo 112: *FBA: <o resultado das provas> e o resultado / da [/] da participação deles
dentro da sala
COM
//
Exemplo 113: *FBA: no Gabriela eu trabalhei com quinta e &s [/] e sexta
COM
/ né
FAT
//
Exemplo 114: *ADA: <mas
INP
/ ai / eu acho>
TOP
/ um pouco
INX
/ o que é tão problemático e
difícil na nossa profissão
COM
//
Exemplo 115: *VTR: <cê falou> que é difícil e é fácil
COM
//
Exemplo 116: *GBL: mas
AUX
/ depois a gente vai pegando a gente vai querendo
COM
/ ficar
mais e mais
APC
//
Considerando o total de ocorrência da conjunção ‘mas’ nos três textos verificamos
que, na maior parte dos casos, ela ocorre em inicio de enunciado com unidade tonal dedicada
ou não. Assim como ocorre com a conjunção ‘e’, também a conjunção ‘mas’ é utilizada para
conectar atos de falas.
Exemplo 117: *FBA: e
INP
/ alguns alunos envolveram
^COM
/ de alguma forma
COM
// não / né
FAT
/ de forma que todo professor espera
COM
// mas
AUX
/ foi bastante positivo
COM
//
Exemplo 118: *FBA: &he / tem alunos
TOP
/ que não conseguem ficar o tempo todo
concentrado
^COM
/ só numa coisa
COM
// mas mesmo assim
TOP
/ existem
aqueles momentos que cê consegue
COM
/ voltar atenção daqueles alunos
APC
182
//
Exemplo 119: *GBL: a matéria é difícil
TOP
/
*VTR: hum hum
COM
//
*GBL: / mas só que
AUX
/ do jeito que ela explica
TOP
/ fica acabando que a
gente fica mais [/] prestando mais atenção
COMRelnec
/ acaba ficando fácil
COM
/
<pra gente>
APC
//
*VTR: <hum>
COM
// <tá >
COM
//
*GBL: <mas> na hora da prova fica difícil hhh
COM
//
Exemplo 120: *GBL: porque a gente tava aprendendo
COM
//
*VTR: hum hum
COM
//
*GBL: a gente não tinha / ainda a manha
COM
// mas
AUX
/ depois a gente vai
pegando a gente vai querendo
COM
/ ficar mais e mais
APC
//
A freqüência de ocorrência da conjunção ‘porque’ não interrogativa sobre o total de
ocorrências é sempre em início de enunciado, com unidade tonal dedicada ou não. A
conjunção ‘porque’ é grande parte das ocorrências um AUX, mais precisamente um INP, com
a função de iniciar ou conectar um ato de fala.
Exemplo 121: *FBA: antes
TOP
/ o primeiro impacto
TOP
/ já causou um certo susto
COM
/ né
FAT
// porque
INP
/ &he / por exemplo
INX
/ o primeiro &impa [/] o &primei [/]
no primeiro bimestre
TOP
/ parece que eu já comecei a rotular hhh / <aquela
turma> / como turma fraca
COM
/ né
COM
//
183
Exemplo 122: *ADA: hhh como é que você fez
COM
// porque
AUX
/ você chegou numa escola
nova
TOP
/ outra realidade
COMel
/ outros alunos
COMel
/ outras necessidades
COMel
//
Exemplo 123: *GBL: inglês cê tem que pegar mais sério
COM
// porque
AUX
/ é poucas
palavras que tem semelhança com o português
COM
/ né
FAT
//
A freqüência de ocorrência da conjunção ‘que’ em inicio de enunciado na maior parte
dos casos também mostra a função de conectar atos de fala.
Exemplo 124: *FBA: cê sentir que o aluno pelo menos num tá morto
COM
/ em relação a
língua
APC
/ né
AUX
// ele não tá + que aquilo não é coisa de outro planeta
COM
/ pra ele
APC
//
Exemplo 125: *ADA: tem duas turmas que você fala muito
COM
/ delas
APC
// que é a IC1 e
IC2
COM
//
Exemplo 126: *ADA: como que cê via
COM
/ o processo antes
APC
/ por exemplo
INX
// que eu
não acompanhava as suas aulas antes
COM
//
A segmentação da fala em enunciados e unidades tonais sugere que certos elementos
têm função principalmente pragmática. A posição desses conectores, quase sempre em inicio
de enunciado, é muito significativa, e mostra que eles colaboram para a articulação dos atos
de fala e das unidades informacionais.
À medida que um texto se torna mais articulado, os conectores se intensificam, como
ocorre em textos tendencialmente monológicos. Isto porque os enunciados de um monólogo
precisam ser conectados uns aos outros, uma vez que não são facilmente interpretados
situacionalmente, como ocorre em um diálogo.
184
Nos casos em que a segmentação dos textos possa ser contestada, verificamos e
encontramos esses dados também em começo de turno e os ilustramos a seguir.
Texto I
E: 05
Mas: 03
Porque: 00
Que: 01
Texto II
E: 06
Mas: 00
Porque: 01
Que: 00
Texto III
E: 06
Mas: 03
Porque: 02
Que: 01
Textos II/III
E: 12
Mas: 03
Porque: 03
185
Que: 01
186
CAPITULO 4
RESULTADOS E DISCUSSÃO DOS DADOS
Este capítulo apresenta os resultados e discussão dos dados sobre a unidade
informacional de apêndice no PB e divide-se em duas seções. Na primeira, fornecemos os
números referentes à freqüência de ocorrência do APC em nossa amostra, as principais
funções por ele desempenhadas e seus correlatos morfossintáticos. Na segunda, apresentamos
uma primeira discussão sobre o APT e mostramos a freqüência de ocorrência dessa unidade
em nossa amostra, além de algumas observações sobre seus perfis entonacionais e correlatos
morfossintáticos.
4.1 Apêndice de comentário, número total e freqüência de ocorrência na amostra
Texto I: 25 (em um total de 491 enunciados, sendo 296 enunciados simples e 195 complexos)
Texto II: 14 (em um total de 198 enunciados, sendo 80 enunciados simples e 118 complexos)
Texto III: 07 (em um total de 196 enunciados, sendo 103 enunciados simples e 93 complexos)
Textos II/III: 21 (em um total de 394 enunciados, sendo 183 enunciados simples e 208
complexos)
187
O percentual de ocorrência do apêndice de comentário no texto I é 14,45% e nos
textos II/III é 10,14% sobre o total de enunciados complexos nos três textos. A diferença
percentual de ocorrência de apêndice de comentário entre os textos I e II/III é muito baixa.
Mesmo tendo os textos II/III um número maior de enunciados complexos, no texto I temos
um número de APCs um pouco maior. Esses dados indicam que o apêndice de comentário
não é a marca de complexidade mais freqüente na constituição dos enunciados, e
principalmente que o APC não é sensível ao tipo de interação, como também não é uma das
unidades informacionais responsável pela complexificação da fala monológica em relação à
dialógica.
4.1.1 A função informacional do apêndice de comentário
A unidade informacional de APC de modo geral realiza a integração textual da
unidade de comentário. As expressões que funcionalmente são realizadas como APC são
classificadas, com base em Tucci (2006), em repetições, preenchimentos, retomadas textuais e
informações tardias. Essas funções foram detalhadas no capitulo 1, seção 1.6 e retomamos
aqui alguns exemplos.
Repetição (repetições de expressões): pode ser literal ou com variação, contígua
(quando ocorre no mesmo enunciado) ou não contígua (quando ocorre em outro
enunciado de um mesmo turno, ou fora de turno).
*VTR: eu tava em sala
TOP
/ cê comentou comigo a diferença de inglês pra espanhol
COM
//
como é que é
COM
/ essa diferença
APC
//
188
Preenchimento: expansão da unidade que precede o apêndice de comentário sem
acréscimo de novas informações.
*FBA: <é
AUX
/ e depois eu
TOP
/ voltei
COM
/ né>
FAT
// &pens [/] voltei atrás e comecei a
lembrar
COM
/ também
APC/
/ né
FAT
//
Retomada textual: referência ao discurso em si, ou retomada sintética de parte do
discurso.
*GBL: e
AUX
/ agora na sétima série a gente ouve
COMel
/ e
AUX
/ a gente completa
COMel
/ e tenta entender a música
COMel
/ que ela fala
APC
//
Informação tardia: acréscimo de novas informações à unidade de comentário.
*FBA: sentir que o aluno pelo menos não morto
COM
/ em relação a língua
APC
/
AUX
//
As tabelas 6 e 7 a seguir, detalham as funções desempenhadas pelo apêndice de
comentário em nossa amostra. A classificação dessas funções não é tão simples, uma vez que
a categorização proposta por Tucci (2006) em alguns casos deixa margem à dúvida.
Tabela 6
TEXTO – I
APÊNDICE DE COMENTÁRIO
FUNÇÃO
1. *VTR: eh
AUX
/ você gosta
^COM
/ de estudar inglês
COM
/ Marlon
ALC
//
Repetição com
variação não-
189
*GBL: gosto
COM
//
*VTR: por que
COM
/ que cê gosta de estudar inglês
APC
// (GBL04)
contígua.
2. *VTR: eu tava em sala
TOP
/ cê comentou comigo a diferença de inglês pra
espanhol
COM
// como é que é
COM
/ essa diferença
APC
// (GBL 04)
Repetição com
variação não-
contígua.
3. *VTR: &he / quê que cê [/] quê que cê chama de pegar mais sério
COM
//
*GBL: estudar
COM
/ mais
APC
// (GBL 05)
Informação
tardia.
4. *VTR: e em relação às [/] às atividades
^COM
/ que ela leva pra sala de aula
COM
// você acha que mudou
COM
//
*GBL: mudou
COM
//
*VTR: quê que cê &ach [/] o quê
COM
/ que cê acha que mudou
APC
/ por
exemplo
INX
// (GBL 09)
Repetição com
variação não-
contígua
5. *GBL: ah
AUX
/ lembrei uma da [/] da [/] da quinta
COM
//
*VTR: hum hum //
*GBL: acho que foi da quinta
COM
// quando a gente tava &aprenden [/]
acho que foi
COM
/ da quinta
APC
// (GBL 13)
Repetição
literal não-
contígua.
190
6. *GBL: e
AUX
/ agora na sétima série a gente ouve
COMel
/ e
AUX
/ a gente
completa
COMel
/ e tenta entender a música
COMel
/ que ela fala
APC
//
(GBL 14)
Retomada
textual
7. *GBL: / mas só que
AUX
/ do jeito que ela explica
TOP
/ fica acabando que a
gente fica mais [/] prestando mais atenção ^
COM
/ acaba ficando fácil
COM
/
<pra gente>
APC
// (GBL 15)
Repetição com
variação
contígua.
8. *GBL: a gente fica nervoso
COM
/ <
com a prova
>
APC
// (GBL 15)
Informação
tardia
9. *VTR: quê que cê acha ^
COM
/ desse uso do inglês dela ^
COM
/ em sala de
aula
COM
//
*GBL: acho legal // que a gente já vai tendo [/] tipo
AUX
/ pegando a manha
COM
/ né
FAT
/
*VTR: hum hum
COM
//
*GBL: / do / como falar
APC
/ né
FAT
// (GBL 16)
Informação
tardia
10. *GBL: assim
AUX
/ a gente fica mais próximo
COM
/ né
FAT
/
do inglês
APC
// (GBL 16)
Informação
tardia
11. *GBL: a gente já vai entendendo interpretando o que a pessoa tá falando
COM
//
1. Informação
tardia
191
*VTR: hum hum //
*GBL: assim
AUX
/ a gente fica mais próximo
COM
/ né
FAT
/ do inglês
APC
//
*VTR: e / quê [/] quê que cê mais gosta
COM
/ na aula de inglês
APC
/
atualmente
APC
// (GBL 16)
2.
Preenchimento
12. *VTR: <das> atividades <que ela leva>
COM
//
*GBL: <das atividades>
COM
//
*VTR: hum hum
COM
// &he
/ e por quê que cê gosta
COM
/ dessas
atividades
APC
// (GBL 17)
Repetição com
variação não-
contígua.
13. *GBL: mas
AUX
/ depois a gente vai pegando a gente vai querendo
COM
/
ficar mais e mais
APC
// (GBL 18)
Informação
tardia
14. *VTR: em relação ao projeto de cartas
COM
// cê participou /
do projeto
de cartas
APC
/ não foi
COM
// (GBL 18)
Repetição com
variação não-
contígua.
15. *VTR: como é que foi esse projeto
COM
/
pra você
APC
// (GBL 18) Informação
tardia.
16.*GBL: se eu não entendesse do meu irmão
TOP
/ voltava na professora
COM
//
*VTR: hum hum
COM
//
Informação
tardia.
192
*GBL: ou então
AUX
/ eu tentava &t [/] sozinho
COM
/
lá decifrar
APC
//
(GBL 21)
17. *VTR: como é que é
^
COM
/ pra você usar o dicionário
COM
// é importante
COM
// em quê que ele te ajuda
COM
//
*GBL: oh
AUX
/ ajudar ele ajuda
COM
// mas ele é um pouco chato
COM
/ né hhh
FAT
//
*VTR: o uso / do dicionário
COM
//
*GBL: o dicionário
COM
/ é chato <hhh>
APC
// (GBL 22)
Repetição com
variação não-
contígua.
18. *VTR: &he / em relação a você
COM
//
*GBL: hum
COM
//
*VTR: cê acha que cê mudou
COM
/ desse tempo
APC
// (GBL 24)
Informação
tardia
19. *VTR: cê acha que cê mudou
COM
/ desse tempo
APC
// o quê
COM
/
que cê
mudou
APC
// (GBL 24)
Repetição
literal não-
contígua.
20. *VTR: <a Andréa>
TOP
/ ela [/] ela monitora muito
COM
/
a atividade que
cês fazem
APC
/ <né>
AUX
// (GBL 29)
Informação
Tardia.
21. *GBL:ela falou que eu tinha feito certinho
COM
/
APC1
/ 1.
Preenchimento
193
*VTR: hum hum //
*GBL: / o negócio lá
APC2
// (GBL 33)
2. Repetição
com variação
não-contígua.
22. *GBL: igual
AUX
/ as [/] as vezes tem trabalho que eu faço sozinho
COM
/
quando eu não tô bem
APC1
/ bem
APC2
// (GBL 36)
1. Informação
tardia
2. Repetição
literal
TOTAL DE APÊNDICES DE COMENTÁRIO: 25
Tabela 7
TEXTO II/III
APENDICE DE COMENTÁRIO
FUNÇÃO
1. *FBA: cê sentir que o aluno pelo menos num tá morto
COM
/
em relação
a língua
APC
/ né
AUX
// (FBA I – 1B)
Informação tardia.
2 *FBA: que aquilo não é coisa de outro planeta
COM
/
pra ele
APC
//
(FBA I – 1B)
Informação tardia.
3. *FBA: &he / tem alunos
TOP
/ que )não conseguem ficar o tempo todo
concentrado
^COM
/ só numa coisa
COM
// mas mesmo assim
TOP
/ existem
Informação tardia
194
aqueles momentos que cê consegue
COM
/
voltar atenção daqueles alunos
APC
// (FBA I – 2B)
4. *FBA: <é
AUX
/ e depois eu
TOP
/ voltei
COM
/ né>
FAT
// &pens [/] voltei
atrás e comecei a lembrar
COM
/ também
APC/
/ né
FAT
// (FBA I – 3B)
Preenchimento
5. *FBA: aí
FAT
/ um belo dia
TOP
/ você
APT
/ tá pensando em outra coisa
TOP
/ e [/] e vem aquela visão
COM
/ né
AUX
[/] &n // aquela lembrança
COM
// aquela cena
COM
/ do passado
APC
hhh // (FBA I – 3C)
Retomada textual
com
recontextualização
6
*
ADA:
tem duas turmas que você fala muito
COM
/
delas
APC
//
(FBA I – 4A)
Retomada textual
7.
*
ADA
:
e hoje
TOP
/ vendo as suas aulas
APT
/ tendo essas conversas com
você
APT
/ &he / eu vejo que a turma
TOP
/ ela
APT
/ muito engajada
COM
// e eles estão muito voltados
^COM
/ pra aquilo que você faz na sala de aula
COMel
/ pras estratégias que você usa
COMel
/ pras atividades que você está
levando pra turma
COMel
//
*FBA: hum hum
COM
//
*ADA: como que via
COM
/ o processo antes
APC
/ por exemplo
INX
//
que eu não acompanhava as suas aulas antes
COM
// (FBA I – 5A)
Informação tardia
8.
*
FBA
:
<hoje
TOP
/ parece que modificou meu olhar>
COM
/
também
APC
/ né
COM
// (FBA I – 6A)
Preenchimento
9. *FBA: lógico que
AUX
/ uma coisa que não ficou ainda muito bem
resolvida é a questão da / administração do tempo
COM
/
AUX
// &he /
por causa
TOP
/ deles
COM
/ mesmo
APC
// (FBA I – 7B)
Preenchimento
195
10. *FBA: pela + porque quando
TOP
/ nós modificamos
APT
+ e até &f [/]
eu até forcei
COM
/ da primeira vez
APC
// (FBA I – 7B)
Informação tardia
11.
*
FBA: acabou o tempo
COM
/ pronto acabou
COMRelnec
// vamos corrigir
COM
// vamos fazer juntos
COM
/ tal
APC
// (FBA I – 8A)
Preenchimento
12.
*
ADA: muitas atividades
COM
//
*FBA: muitas atividades
COM
// na &primei [/] <num primeiro dia> +
*ADA: <e você concorda>
COM
// você achou
COM
//
*FBA: <não>
COM
//
*ADA: / <que foi mesmo>
COM
/ muitas
APC
// (FBA I – 8A)
Repetição com
variação não-
contígua
13. *FBA: em relação às atividades
COM
// considero uma mudança
positiva
COM
// às vezes
TOP
/ o que fica difícil
TOP
/ ainda pra mim
APT
/ é
um pouco administrar
COM
/ isso
APC
// (FBA I – 8C)
Retomada textual
com
recontextualização
14. *FBA: às vezes
TOP
/ o que fica difícil
TOP
/ ainda pra mim
APT
/ é um
pouco administrar
COM
/ isso
APC
// até num curso livre é complicado
COM
//
mas num curso livre
TOP
/ parece que o pessoal já preparado
COM
/ pra
isso
APC
/ né
FAT
// (FBA I – 8B)
Repetição com
variação não
contígua
15.
*
FBA
:
Olha
INP
/ a mudança
TOP
/ foi [/] foi positiva
COM
/
sim
APC
/ né
FAT
// (FBA II – 1A)
Preenchimento
16. *FBA: e / que deu &cer [/] que a gente tava sentido / e comentando Retomada textual
196
que tava dando certo
COM
// e você já tem a [/] hhh tá me dando as
respostas
COM
/ sobre isso
APC
// (FBA II – 1B)
com
recontextualização
17. *FBA: &he / entra
TOP
/ por exemplo
INX
/ criminalidade
COMel
/
sexualidade
COMel
// tudo precoce
COM
/ na vida deles
APC
// (FBA II –
3C)
Informação tardia
18. *FBA: a forma deles / é tornar aquilo que é ruim
TOP
/ em diversão
COM
/ pra eles
APC
// (FBA II – 3C)
Retomada textual
com
recontextualização
19.
*
ADA
:
isso que faz com que esses alunos <sejam alunos problemas >
COM
//
*FBA: <só> + isso é que faz
COM
//
*ADA: e em relação à aprendizagem
COM
/ deles
APC
// (FBA II – 4B)
Retomada textual
com
recontextualização
20.
*
ADA
: <
é
FAT
/ a gente> não pode realmente ter essa + a gente tenta
fazer o melhor
COM
/
*FBA: tenta fazer o melhor
COM
// eu vou continuar tentando
COM
/
<fazer o melhor>
APC
// (FBA II – 4D)
Repetição literal
não-contígua.
21. *FBA: você tem que / &he / entender / quais são os repasses
^COM
/
que o Fundep passa
COMel
/ pra gente
APC
// (FBA II – 6A)
Informação tardia
TOTAL DE APÊNDICES: 21
197
O percentual de freqüência de ocorrência das funções do apêndice de comentário no
texto I e textos II/III está detalhado nas tabelas 8 e 9. A função mais freqüente sobre o número
total de ocorrência de apêndice é a informação tardia 43,46%, seguida da repetição 32,6%,
Tabela 8
TEXTO I TOTAL PERCENTUAL
REPETIÇÃO 11 44,0%
PREENCHIMENTO 02 8,0%
RETOMADA TEXTUAL 01 4,0%
INFORMAÇÃO TARDIA 11 44,0%
TOTAL 25 100%
Tabela 9
TEXTO II/III TOTAL PERCENTUAL
REPETIÇÃO 04 19,04%
PREENCHIMENTO 05 24,01%
RETOMADA TEXTUAL 05 23,72%
INFORMAÇÃO TARDIA 07 33,23%
TOTAL 21 100%
No corpus de italiano falado a repetição é o tipo de função mais freqüente para os
APCs, 50% de ocorrência. Em segundo lugar estaria a informação tardia com 33% das
ocorrências. Essas medidas estão melhor detalhadas no capitulo 1 deste estudo, seção 1.6.
198
4.1.2 Os correlatos morfossintáticos da unidade de apêndice de comentário
Em nossas amostras identificamos os principais correlatos morfossintáticos dos
apêndices de comentário, e sua freqüência de ocorrência. Os valores obtidos serão discutidos
nas próximas subseções. Inicialmente, apresentamos os apêndices de comentário presentes no
texto I e textos II/III e seus correlatos morfossintáticos.
Tabela 10
TEXTO – I CORRELATO
MORFO-
SINTPATICO
APÊNDICE DE COMENTÁRIO
1. *VTR: eh
AUX
/ você gosta
^COM
/ de estudar inglês
COM
/ Marlon
ALC
//
*GBL: gosto
COM
//
*VTR: por que
COM
/ que cê gosta de estudar inglês
APC
//
Oração
subordinada.
2. *VTR: eu tava em sala
TOP
/ cê comentou comigo a diferença de inglês pra
espanhol
COM
// como é que é
COM
/ essa diferença
APC
//
Sintagma
nominal
(sujeito)
3. *VTR: &he / quê que cê [/] quê que cê chama de pegar mais sério
COM
//
*GBL: estudar
COM
/ mais
APC
//
Expressão
isolada
(advérbio)
199
4. *VTR: e em relação às [/] às atividades
^COM
/ que ela leva pra sala de aula
COM
// você acha que mudou
COM
//
*GBL: mudou
COM
//
*VTR: quê que cê &ach [/] o quê
COM
/ que cê acha que mudou
APC
/ por
exemplo
INX
//
Oração
subordinada
5. *GBL: ah
AUX
/ lembrei uma da [/] da [/] da quinta
COM
//
*VTR: hum hum //
*GBL: acho que foi da quinta
COM
// quando a gente tava &aprenden [/]
acho que foi
COM
/ da quinta
APC
//
Sintagma
preposicional
6. *GBL: e
AUX
/ agora na sétima série a gente ouve
COMel
/ e
AUX
/ a gente
completa
COMel
/ e tenta entender a música
COMel
/ que ela fala
APC
//
Oração
subordinada
7. *GBL: / mas só que
AUX
/ do jeito que ela explica
TOP
/ fica acabando que a
gente fica mais [/] prestando mais atenção ^
COM
/ acaba ficando fácil
COM
/
<pra gente>
APC
//
Sintagma
preposicional
8. *GBL: a gente fica nervoso
COM
/ <
com a prova
>
APC
//
Sintagma
preposicional
200
9. *VTR: quê que cê acha ^
COM
/ desse uso do inglês dela ^
COM
/ em sala de
aula
COM
//
*GBL: acho legal // que a gente já vai tendo [/] tipo
AUX
/ pegando a manha
COM
/ né
FAT
/
*VTR: hum hum
COM
//
*GBL: / do / como falar
APC
/ né
FAT
//
Sintagma
preposicional
10. *GBL: assim
AUX
/ a gente fica mais próximo
COM
/ né
FAT
/
do inglês
APC
//
Sintagma
preposicional
11. *VTR: e / quê [/] quê que cê mais gosta
COM
/
na aula de inglês
APC
/
atualmente
APC
//
1. Sintagma
preposicional
2. Expressão
isolada
(advérbio)
12. *VTR: <das> atividades <que ela leva>
COM
//
*GBL:<das atividades>
COM
//
*VTR:hum hum
COM
// &he
/ e por quê que cê gosta
COM
/ dessas
atividades
APC
//
Sintagma
preposicional
13. *GBL: mas
AUX
/ depois a gente vai pegando a gente vai querendo
COM
/ Oração
201
ficar mais e mais
APC
//
subordinada
14. *VTR: em relação ao projeto de cartas
COM
// cê participou /
do projeto
de cartas
APC
/ não foi
COM
//
Sintagma
preposicional
15. *VTR: como é que foi esse projeto
COM
/
pra você
APC
// Sintagma
preposicional
16.*GBL: se eu não entendesse do meu irmão
TOP
/ voltava na professora
COM
//
*VTR: hum hum
COM
//
*GBL: ou então
AUX
/ eu tentava &t [/] sozinho
COM
/ lá decifrar
APC
//
Oração
subordinada
17. *VTR: como é que é
^
COM
/ pra você usar o dicionário
COM
// é importante
COM
// em quê que ele te ajuda
COM
//
*GBL: oh
AUX
/ ajudar ele ajuda
COM
// mas ele é um pouco chato
COM
/ né hhh
FAT
//
*VTR: o uso / do dicionário
COM
//
*GBL: o dicionário
COM
/ é chato <hhh>
APC
//
Oração
principal
18. *VTR&he / em relação a você
COM
//
*GBL: hum
COM
//
*VTR: cê acha que cê mudou
COM
/ desse tempo
APC
//
Sintagma
preposicional
202
19. *VTR: cê acha que cê mudou
COM
/ desse tempo
APC
// o quê
COM
/
que cê
mudou
APC
//
Oração
subordinada
20. *VTR: <a Andréa>
TOP
/ ela [/] ela monitora muito
COM
/
a atividade que
cês fazem
APC
/ <né>
AUX
//
Sintagma
nominal (objeto
com relativa)
21. *GBL:ela falou que eu tinha feito certinho
COM
/
APC1
/
*VTR: hum hum //
*GBL: / o negócio lá
APC2
//
1. Expressão
isolada
(advérbio)
2. Sintagma
nominal
(objeto)
22. *GBL: igual
AUX
/ as [/] as vezes tem trabalho que eu faço sozinho
COM
/
quando eu não tá bem
APC1
/ bem
APC2
//
1. Oração
subordinada
2. Expressão
isolada
(advérbio)
TOTAL DE APÊNDICES DE COMENTÁRIO: 25
203
Tabela 11
TEXTO II/III
APENDICE DE COMENTÁRIO
CORRELATO
MORFOSSIN-
TÁTICO
1. *FBA:cê sentir que o aluno pelo menos num ta morto
COM
/
em relação a
língua
APC
/ né
AUX
//
Sintagma
preposicional
2 *FBA:que aquilo não é coisa de outro planeta
COM
/
pra ele
APC
// Sintagma
preposicional
3. *FBA: &he / tem alunos
TOP
/ que não conseguem ficar o tempo todo
concentrado
^COM
/ só numa coisa
COM
// mas mesmo assim
TOP
/ existem
aqueles momentos que cê consegue
COM
/ voltar atenção daqueles alunos
APC
//
Oração
subordinada
4. *FBA: <é
AUX
/ e depois eu
TOP
/ voltei
COM
/ né>
FAT
// &pens [/] voltei
atrás e comecei a lembrar
COM
/ também
APC/
/ né
FAT
//
Expressão isolada
(advérbio)
5. *FBA: aí
FAT
/ um belo dia
TOP
/ você
APT
/ tá pensando em outra coisa
TOP
/ e [/] e vem aquela visão
COM
/ né
AUX
[/] &n // aquela lembrança
COM
//aquela cena
COM
/ do passado
APC
hhh //
Sintagma
preposicional
6
*
ADA
:
tem duas turmas que você fala muito
COM
/
delas
APC
// Sintagma
preposicional
7.
*
ADA
:
e hoje
TOP
/ vendo as suas aulas
APT
/ tendo essas conversas com
você
APT
/ &he / eu vejo que a turma
TOP
/ ela
APT
/ muito engajada
COM
//
e eles estão muito voltados
^COM
/ pra aquilo que você faz na sala de aula
COMel
/ pras estratégias que você usa
COMel
/ pras atividades que você está
204
levando pra turma
COMel
//
*FBA: hum hum
COM
//
*ADA:como que via
COM
/ o processo antes
APC
/ por exemplo
INX
// que
eu não acompanhava as suas aulas antes
COM
//
Sintagma nominal
(objeto)
8.
*
FBA
:
<hoje
TOP
/ parece que modificou meu olhar>
COM
/
também
APC
/
COM
//
Expressão isolada
(advérbio)
9. *FBA: lógico que
AUX
/ uma coisa que não ficou ainda muito bem
resolvida é a questão da / administração do tempo
COM
/
AUX
// &he / por
causa
TOP
/ deles
COM
/ mesmo
APC
//
Expressão isolada
(advérbio)
10. *FBA: mas parece que aluno
TOP
/ de escola pública
APT
/ &mu [/] não
[/] não são acostumados ^
COM
/ a fazer mais de uma atividade ^
COM
/ dentro
da sala ^
COM
/ durante uma aula ^
COM
//
*ADA: por que
que você acha ^
COM
/ que tem essa
COM
+
*FBA: pela + porque quando
TOP
/ nós modificamos
APT
+ e até &f [/]
eu até forcei
COM
/ da primeira vez
APC
//
Sintagma
preposicional
11.
*
FBA: acabou o tempo
COM
/ pronto acabou
COMRelnec
// vamos corrigir
COM
// vamos fazer juntos
COM
/ tal
APC
//
Expressão isolada
(advérbio)
12.
*
ADA
:
muitas atividades
COM
//
*FBA: muitas atividades
COM
// na &primei [/] <num primeiro dia> +
205
*
ADA
:
<e você concorda>
COM
// você achou
COM
//
*FBA: <não>
COM
//
*ADA: / <que foi mesmo>
COM
/ muitas
APC
//
Expressão isolada
(Adjetivo)
13. *FBA: em relação às atividades
COM
// considero uma mudança positiva
COM
// às vezes
TOP
/ o que fica difícil
TOP
/ ainda pra mim
APT
/ é um pouco
administrar
COM
/ isso
APC
//
Sintagma
Nominal
(Pronome com
função de objeto)
14. *FBA: até num curso livre é complicado
COM
// mas num curso livre
TOP
/ parece que o pessoal já tá preparado
COM
/ pra isso
APC
/ né
FAT
//
Sintagma
preposicional
15.
*
FBA
:
Olha
INP
/ a mudança
TOP
/ foi [/] foi positiva
COM
/
sim
APC
/ né
FAT
//
Expressão isolada
(advérbio)
16. *FBA: e / que deu &cer [/] que a gente tava sentido / e comentando que
tava dando certo
COM
// e você já tem a [/] hhh tá me dando as respostas
COM
/ sobre isso
APC
//
Sintagma
preposicional
17. *FBA: &he / entra
TOP
/ por exemplo
INX
/ criminalidade
COMel
/
sexualidade
COMel
// tudo precoce
COM
/ na vida deles
APC
//
Sintagma
preposicional
18. *FBA: a forma deles / é tornar aquilo que é ruim
TOP
/ em diversão
COM
/ pra eles
APC
//
Sintagma
preposicional
19.
*
ADA
:
isso que faz com que esses alunos <sejam alunos problemas >
COM
//
*FBA: <só> + isso é que faz
COM
//
Sintagma
preposicional
206
*
ADA
:
e em relação à aprendizagem
COM
/
deles
APC
//
20.
*
ADA
: <
é
FAT
/ a gente> não pode realmente ter essa + a gente tenta
fazer o melhor
COM
/
*FBA: tenta fazer o melhor
COM
// eu vou continuar tentando
COM
/
<fazer o melhor>
APC
//
Oração
subordinada
21. *FBA: você tem que / &he / entender / quais são os repasses
^COM
/ que
o Fundep passa
COMel
/ pra gente
APC
//
Sintagma
preposicional
As expressões que constituem a unidade informacional de apêndice de comentário no
texto I e textos II/III o variadas, variação essa condicionada pela função realizada pelo
apêndice de comentário no enunciado. Dessa forma distinguimos os sintagmas e as expressões
isoladas (advérbios, pronomes, adjetivos e nomes próprios). As tabelas 12 e 13 mostram o
percentual de ocorrência das expressões sintagmáticas e isoladas nos texto I e II/III.
Tabela 12
TEXTO I TOTAL PERCENTUAL
SINTAGMAS 21 84,0%
EXPRESSÕES ISOLADAS 04 16,0%
TOTAL 25 100%
Tabela 13
TEXTO II/III TOTAL PERCENTUAL
SINTAGMAS 14 66,66%
EXPRESSÕES ISOLADAS 07 33,34%
TOTAL 21 100%
207
O sintagma é o principal correlato morfo-sintático do apêndice de comentário nos
textos I e II/III, 76,08% de ocorrência. Os outros correlatos correspondem às expressões
isoladas 23,92%. A categorização morfossintática proposta por Tucci (2006) não foi utilizada
na íntegra neste estudo com o objetivo de preservar as funções sintáticas. Mas a autora propõe
a distinção entre sintagmas e expressões isoladas, além de considerar a parte as orações
coordenadas e subordinadas, critério que preferimos não adotar. A freqüência dos vários tipos
de sintagmas identificados na amostra está ilustrada nas tabelas a seguir.
Tabela 14.1
TEXTO I % SOBRE O TOTAL DE APÊNDICES
SINTAGMA NOMINAL 12,0%
SINTAGMA VERBAL 32,0%
SINTAGMA PREPOSICIONAL 40,0%
SINTAGMA ADVERBIAL 16,0%
SINTAGMA ADJETIVAL 0,0%
TOTAL 100%
Tabela 14.2
TEXTO I % SOBRE O TOTAL DE SINTAGMAS
SINTAGMA NOMINAL 12,0%
SINTAGMA VERBAL 32,0%
SINTAGMA PREPOSICIONAL 40,0%
SINTAGMA ADVERBIAL 16,0%
SINTAGMA ADJETIVAL 0,0%
TOTAL 100%
208
Tabela 15.1
TEXTO II/III % SOBRE O TOTAL DE APÊNDICES
SINTAGMA NOMINAL 14,3%
SINTAGMA VERBAL 4,8%
SINTAGMA PREPOSICIONAL 52,7%
SINTAGMA ADVERBIAL 23,4%
SINTAGMA ADJETIVAL 4,8%
TOTAL 100%
Tabela 15.2
TEXTO II/III % SOBRE O TOTAL DE SINTAGMAS
SINTAGMA NOMINAL 14,3%
SINTAGMA VERBAL 4,8%
SINTAGMA PREPOSICIONAL 52,7%
SINTAGMA ADVERBIAL 23,4%
SINTAGMA ADJETIVAL 4,8%
TOTAL 100%
Tabela 16.1
TEXTO I
% SOBRE O TOTAL DE SINTAGMA NOMINAL
SINTAGMA NOMINAL COM
FUNÇÃO DE SUJEITO
33,33%
SINTAGMA NOMINAL COM
FUNÇÃO DE OBJETO
66,67%
TOTAL 100%
209
Tabela 16.2
TEXTOS II/III % SOBRE O TOTAL DE SINTAGMA NOMINAL
SINTAGMA NOMINAL COM
FUNÇÃO DE SUJEITO
0,0%
SINTAGMA NOMINAL COM
FUNÇÃO DE OBJETO
100%
TOTAL 100%
As ocorrências de apêndice de comentário constituídos de orações são representadas
pelas orações subordinadas e orações principais. Sintaticamente não realizamos a
diferenciação entre orações coordenadas e subordinadas, mas entre oração principal e oração
subordinada. A média de freqüência destes dois tipos de correlatos de apêndice de comentário
está detalhada nas tabelas 17.1 e 17.2.
Tabela 17.1
TEXTO I % SOBRE O TOTAL DE SINTAGMAS
VERBAIS
ORAÇÃO PRINCIPAL 10,0%
ORAÇÃO SUBORDINADA 90%
TOTAL 100%
210
Tabela 17.2
TEXTO II/III % SOBRE O TOTAL DE SINTAGMAS
VERBAIS
ORAÇÃO PRINCIPAL 0,0%
ORAÇÃO SUBORDINADA 100%
TOTAL 100%
As expressões isoladas que constituem o apêndice de comentário são realizadas em
forma de advérbios e pronomes em nossa amostra. Na categorização de classificação
morfossintática proposta por Tucci (2006) são consideradas como expressão isolada todas as
ocorrências de advérbios, adjetivos, pronomes e nomes próprios. O percentual de ocorrência
das expressões isoladas está ilustrado nas tabelas 18 e 19.
Tabela 18
TEXTO I % SOBRE O TOTAL DE EXPRESSÕES
ISOLADAS
ADVÉRBIO 100%
ADJETIVO 0,0%
NOME PRÓPRIO 0,0%
PRONOME 0,0%
TOTAL 100%
211
Tabela 19
TEXTO II/III % SOBRE O TOTAL DE EXPRESSÕES
ISOLADAS
ADVÉRBIO 83,33%
ADJETIVO 16,67%
NOME PRÓPRIO 0,0%
PRONOME 0,0%
4.2 Apêndice de tópico, número total e freqüência de ocorrência na amostra
Texto I: 05 (em um total de 491 enunciados, sendo 296 enunciados simples e 195 complexos)
Texto II: 22 (em um total de 198 enunciados, sendo 80 enunciados simples e 118 complexos)
Texto III: 21(em um total de 196 enunciados, sendo 103 enunciados simples e 93 complexos)
Textos II/III: 43 (em um total de 394 enunciados, sendo 183 enunciados simples e 208
complexos)
O percentual de ocorrência de APTs sobre o total de enunciados complexos é igual a
2,56% no texto I e 20,19% nos textos II/II. A diferença percentual de ocorrência de apêndice
de tópico nos textos II/III, tendencialmente monológicos, em relação ao texto I,
completamente dialógico é extremamente maior. Essa diferença elevada de apêndice de
tópico nos textos II/III é uma prova de que o apêndice de tópico é uma unidade que marca
muito mais a complexidade informacional de um texto, do que o apêndice de comentário.
Obviamente o APT depende da presença de um TOP (objeto de estudo de Alves de Deus, em
212
preparação), que mostra como o TOP também é uma unidade chave para a construção da
complexidade do enunciado.
A contribuição pretendida por este estudo é coletar os apêndices de tópico, quantificar
a freqüência de ocorrência dessa unidade nos textos, mostrar o quanto os apêndices de tópico
contribuem para a complexidade de um texto, e fornecer algumas primeiras observações sobre
seus correlatos morfossintáticos e entonacionais. Ressaltamos que não há, por nenhuma
língua, estudos específicos sobre o APT, e que, portanto, as observações a seguir constituem o
primeiro aprofundamento sobre essa unidade.
4.2.1 A função informacional e o perfil entonacional do apêndice de tópico
O APT apresenta funções informacionais muito diferentes do APC, e, portanto, não
podem ser categorizados conforme proposto por Tucci (2006). Os perfis entonacionais do
APT têm variações significativas: podem ser nivelados, descendentes e com movimento
ascendente. Este último parece reproduzir em menor tamanho e duração o movimento do
tópico que o precede. Logo, as funções realizadas pelo APT são diferentes, talvez mais
amplas, e por vezes incompatíveis com as funções realizadas pelo APC.
A análise de nossa amostra revelou que a configuração do perfil do APT é
caracterizada por pelo menos três tipos de movimentos distintos entre si:
Perfil nivelado (sem movimento)
Exemplo 65: *VTR: cê tá
TOP
/ no Gabriela
APT
/ desde quando
COM
//
213
Perfil caracterizado por um movimento descendente
Exemplo 66: *FBA: porque quando
TOP
/ nós modificamos
APT
+
Figura 55
Figura 54
214
Exemplo 67: *FBA: tudo que é de bom
TOP
/ pra gente
APT
/ que a gente se sentindo / que
realmente fazendo
TOP
/
AUX
/ e [/] e que tendo retorno
APT
/ a gente continua hhh
COM
//
Figura 56
Figura 57
Unidade de APT da fig. 54a em detalhe
215
Perfil caracterizado por um movimento ascendente imitando a forma do tópico
precedente.
Exemplo 68: *FBA: e
FAT
/ assim
INX
/ pra mim
TOP
/ a tranqüilidade
TOP
/ prum trabalho
APT
/
é hhh / essencial
COM
/ Andréa
ALC
//
As tabelas 20 e 21 mostram a freqüência de ocorrência do apêndice de tópico em nossa
amostra.
Figura 58
216
Tabela 20
TEXTO – I LOCALIZAÇÃO
(arquivo de som)
APÊNDICE DE TÓPICO
1. *VTR: cê tá
TOP
/
no Gabriela
APT
/ desde quando
COM
// GBL 01
2. *VTR: eu percebo
TOP
/
que
APT
/ &he
/ a sua relação
TOP
/ com a Andréa
APT
/ é muito [/] é muito positiva
COM
//
GBL 27
3. *VTR: ela deixa
TOP
/
ela percebe
APT1
/
dentro
de sala de
aula
APT2
/ ela
permite
TOP
/ que vocês
APT3
/ &he
/ trabalhem muito em pares
COM
//
GBL 34
Total texto I: 05
Note-se que no texto I os APT são apenas cinco e aparecem em somente três enunciados,
todos proferidos por VTR. Nenhum APT aparece, portanto, na fala do adolescente (GBL).
Tabela 21
TEXTOS II/III LOCALIZAÇÃO
(arquivo de som)
APENDICE DE TÓPICO
1. *ADA: mas
INP
/ assim
INX
/ eu tô achando interessante
TOP
/
você falar
APT
/ né
FAT
/ que às vezes não dá certo
COM
//
FBA I – 3A
217
2. *ADA: mas
INP
/ uma das aulas que a gente conversou
TOP
/
naquelas
sessões nossas
APT
/ né
FAT
/ de reflexão sobre as aulas
APT
/ é que você
achou que nada deu certo
COM
//
FBA I – 3A
3. *FBA: aí
FAT
/ um belo dia
TOP
/
você
APT
/ tá pensando em outra coisa
TOP
/ e [/] e vem aquela visão
COM
/ né
AUX
[/] &n //
FBA I – 3C
4. *FBA: ah
AUX
’/ aquela pessoa
TOP
’/
aquele
dia
APT
/ me perguntou isso
COM
’/ né
FAT
//
FBA I – 3C
5. *ADA: e hoje
TOP
/
vendo as suas aulas
APT
/
tendo essas conversas
com você
APT
/ &he / eu vejo que a turma
TOP
/ ela
APT
/ tá muito engajada
COM
//
FBAI – 4B
6. *FBA: o fato de me preocupar / muito
TOP
/
com as respostas
APT
/ longe
/ daquilo que eu esperava
TOP
/ eu +
FBA I – 5 B
7. *FBA: então / eu já me preocupava / só com aqueles
TOP
/
que
participavam
APT
/ e deixava os outros
COM
//
FBA I – 5C
8. *FBA: e
FAT
/ essa
TOP
+ &he / a [/] a turma
TOP
/
no caso
APT
/ eu me
preocupava muito
TOP
/ porque
APT
/ na participação
TOP
/ por exemplo
INX
/
eu inferia
^COM
/ lá
COM
//
FBA I – 5 D
9. *FBA: e / quando as [/] as respostas
TOP
/
não eram de acordo
APT
/
com
aquilo que eu esperava hhh
APT
/ eu me frustrava
COM
// e achava
TOP
/ que
APT
/ os meios que eu estava utilizando não tavam valendo / de nada
COM
//
FBA I – 5 E
10.
*
FBA
:
e
AUX
/ assim
INX
/ não sei
AUX
/ o [/] parece que
INX
/ os
momentos de &lucide [/] luz hhh
TOP
/ dentro da sala hhh
APT
/ eram
praticamente esquecidos
COM
/ né
FAT
//
FBA I – 6A
11. *FBA: uns
TOP
/ porque realmente não conseguem
COM
/ os outros
TOP
/ FBA I – 7B
218
porque
APT
/ de um jeito ou de outro
TOP
/ tentam
COM
/ né
AUX
//
12. *FBA: mas parece que aluno
TOP
/
de escola pública
APT
/ &mu [/] não
[/] não são acostumados
^COM
/ a fazer mais de uma atividade
^COM
/ dentro
da sala
^COM
/ durante uma aula
^COM
//
FBA I – 7C
13.
*
FBA
:
pela + porque quando
TOP
/
nós modificamos
AP
T
+ FBA I – 8A
14. *FBA: &he / eu notei
TOP
/
que
APT
/ teve um pouco de resistência
^COM
/
por parte de alguns
COM
//
FBA I – 8A
15. *FBA: às vezes
TOP
/ o que fica difícil
TOP
/
ainda pra mim
APT
/ é um
pouco administrar
COM
/ isso
APC
//
FBA I – 8 B
16. *FBA: mas depois
TOP
/
também
APT
/ &he / foi normal
COM
//
<acostumaram>
COM
//
FBA I – 8C
Total texto II: 22
17.
*
FBA
:
&ach + tudo que é de bom
TOP
/
pra gente
APT
/ que a gente tá se
sentindo / que realmente tá fazendo
TOP
/ né
AUX
/ e [/] e que tá tendo
retorno
APT
/ a gente continua hhh
COM
//
FBA II – 2A
18. *FBA: e
FAT
/ assim
INX
/ pra mim
TOP
/ a tranqüilidade
TOP
/
para um
trabalho
APT
/ é hhh / essencial
COM
/ Andréa
ALC
//
FBA II – 2B
19.
*
FBA
: <
tanto> que os professores lá até reclamaram
INTL/COM
/ ah
AUX
/
esses
TOP
/ alunos
APT
/ são muito mais defasados
COM ’
/ que os alunos do
Gabriela
COMcomp ’
//
FBA II – 3A
20.
*
FBA
:
<mas>
AUX
/ &he / os professores
TOP
/
que trabalharam no
FBA II-3-B
219
Gabriela
APT
/
*ADA: <hum hum> //
*FBA: / <sentem> isso
COM
/ né
FAT
//
21. *FBA: eu mantenho a minha visão
TOP
/ &por [/]
de que
APT
/ há
realidades
TOP
/ que
APT
/ tomam contam da vida das pessoas
COM
//
FBA II-3C
22. *FBA: e
FAT
/ acabam
TOP
/
que eles
APT
/ acabam &ach [/] &el [/]
tornando
COM
/ né
FAT
/ o já + a forma deles / é tornar aquilo que é ruim
TOP
/ em diversão
COM
/ pra eles
APC
//
FBA II-3C
23.*FBA: então
AUX
/ entrar com algo
TOP
/
pra eles
APT
/ com língua
estrangeira
TOP
/
*ADA: hum hum
COM
//
*FBA: / que eles têm que ter motivação
TOP
/ pra aprender
APT
/ &he / eles
não aprendem matérias nenhuma
COM
/ né
FAT
//
FBA II-3-D
24. *FBA: então
AUX
/ assim
INX
/ inglês
TOP
/
pra eles
APT
/ é coisa do outro
mundo
COM
//
FBA II-3-D
25. *FBA:só que entrar
TOP
/
com essa abordagem comunicativa
APT
/
com
negociação de sentido
APT
/ algumas coisas que são essenciais
TOP
/ pra
fluência em língua inglesa
APT
/ &he / pra esses aluno problema
TOP
/ é
mais complicado
COM
//
FBA II- 3E
26. *FBA:
TOP
/ que
INP
/
TOP/APT
/ o que não existe
TOP
/
ainda
APT
/ não
existe pra mim
COM
//
FBA II -5A
220
27.
*
ADA
:
mas são tantos fatores
TOP
/
que você tem que estar
APT
/
levando em consideração
APT
/ no momento de sala de aula
TOP
/ que às
vezes
INX
/ a questão / do currículo
TOP/^COMel
/ mesmo
APT/APC
/ da sua
matéria
TOP/^COMel
/ da [/] do desenvolvimento
TOP/^COMel
/
*FBA: <do desenvolvimento> /
*ADA: / <da prática>
TOP/^COMel
/
*FBA: <&he> [/]
*ADA: / fica em segundo lugar
COM
//
FBA II -6B
28. *ADA: eu
TOP
/ realmente
INX
/ eu acredito
TOP
/
que
APT
/
o professor
APT
/ ele tem que ter noções de [/] desses outros fatores
^COM
/ que vão
influenciar a sala de aula
COM
//
FBA II – 6A
26.
*
FBA
:
e parece
TOP
/ também
INX
/
que tem hora
APT
/
que
APT
/ eles
querem que nós avaliamos
TOP
/ não é a nossa matéria
COM
//
FBA II -6B
Total Texto III: 21 + 02 duvidosos
Total texto II/III: 43
4.2.2 Os correlatos morfossintáticos do apêndice de tópico
Os correlatos morfossintáticos do APT nunca foram investigados, e assim como ocorre
com as funções informacionais, os correlatos morfossintáticos não podem ser analisados da
mesma forma que são analisados os APCs, e requerem um trabalho específico. Em nossa
221
amostra identificamos tanto os correlatos que são freqüentes em APC, mas também outros
correlatos que não seriam possíveis nos APCs, como as conjunções e os complementadores.
Exemplo 92: *FBA: e
FAT
/ essa
TOP
+ &he / a [/] a turma
TOP
/ no caso
APT
/ eu me preocupava
muito
TOP
/ porque
APT
/ na participação
TOP
/ por exemplo
INX
/ eu inferia
^COM
/ lá
COM
//
(APT 1 = sintagma preposicional / APT 2 = conjunção)
Exemplo 93: *VTR: eu percebo
TOP
/ que
APT
/ &he
/ a sua relação
TOP
/ com a Andréa
APT
/ é
muito [/] é muito positiva
COM
//
(APT = complementador)
As tabelas 22 e 23 mostram em detalhes todos os correlatos morfossintáticos para o APT em
nossa amostra.
Tabela 22
TEXTO I
APÊNDICE DE TÓPICO
CORRELATO
MORFO-
SINTÁTICO
1. *VTR: cê ta
TOP
/
no Gabriela
APT
/ desde quando
COM
// Sintagma
Preposicional
2. *VTR: eu percebo
TOP
/
que
APT
/ &he
/ a sua relação
TOP
/ com a Complementador
222
Andréa
APT
/ é muito [/] é muito positiva
COM
//
3. *VTR: ela deixa
TOP
/
ela percebe
APT1
/
dentro
de sala de aula
APT2
/
ela permite
TOP
/ que vocês
APT3
/ &he
/ trabalhem muito em pares
COM
//
APT1= Oração
principal
APT2= Sintagma
Preposicional
APT3=
Complementador +
sintagma nominal
com função de
sujeito (pronome)
Tabela 23
TEXTOS II/III
APENDICE DE TÓPICO
CORRELATOS
MORFOSSINTÁ-
TICOS
1. *ADA:mas
INP
/ assim
INX
/eu tô achando interessante
TOP
/
você falar
APT
/ né
FAT
/ que às vezes não dá certo
COM
//
Oração
subordinada
2. *ADA: mas
INP
/ uma das aulas que a gente conversou
TOP
/
naquelas
sessões nossas
APT
/ né
FAT
/ de reflexão sobre as aulas
APT
/ é que você
achou que nada deu certo
COM
//
Sintagma
Preposicional /
Sintagma
Preposicional
223
3. *FBA:aí
FAT
/ um belo dia
TOP
/
você
APT
/ tá pensando em outra coisa
TOP
/ e [/] e vem aquela visão
COM
/ né
AUX
[/] &n //
Sintagma Nominal
(Pronome com
função de sujeito)
4. *FBA: ah
AUX
’/ aquela pessoa
TOP
’/
aquele dia
APT
/ me perguntou
isso
COM
’/ né
FAT
//
Sintagma Nominal
(sem ligação
sintática)
5. *ADA:e hoje
TOP
/
vendo as suas aulas
APT
/
tendo essas conversas
com você
APT
/ &he / eu vejo que a turma
TOP
/ ela
APT
/ tá muito engajada
COM
//
APT 1= Oração
subordinada
APT 2= Oração
subordinada
APT 3= Sintagma
Nominal (Pronome
com função de
sujeito)
6. *FBA:o fato de me preocupar / muito
TOP
/
com as respostas
APT
/
longe / daquilo que eu esperava
TOP
/ eu +
Sintagma
Preposicional
7. *FBA: então
AUX
/ eu já me preocupava / só com aqueles
TOP
/
que
participavam
APT
/ e deixava os outros
COM
//
Oração
Subordinada
8. *FBA: e
FAT
/ essa
TOP
+ &he / a [/] a turma
TOP
/
no caso
APT
/ eu me
preocupava muito
TOP
/ porque
APT
/ na participação
TOP
/ por exemplo
INX
/ eu inferia ^
COM
/ lá
COM
//
APT 1= Sintagma
Preposicional
APT 2= Conjunção
9. *FBA: e / quando as [/] as respostas
TOP
/
não eram de acordo
APT
/ APT 1= Oração
224
com aquilo que eu esperava
hhh
APT
/ eu me frustrava
COM
// e achava
TOP
/ que
APT
/ os meios que eu estava utilizando não tavam valendo / de nada
COM
//
principal
APT 2= Sintagma
preposicional +
relativa
APT 3 =
Complementador
10.
*
FBA
:
e
AUX
/ assim
INX
/ não sei
AUX
/ o [/] parece que
INX
/ os
momentos de &lucide [/] luz hhh
TOP
/ dentro da sala hhh
APT
/ eram
praticamente esquecidos
COM
/ né
FAT
//
Sintagma
preposicional
11. *FBA: uns
TOP
/ porque realmente não conseguem
COM
/ os outros
TOP
/
porque
APT
/ de um jeito ou de outro
TOP
/ tentam
COM
/ né
AUX
//
Conjunção
12. *FBA: mas parece que aluno
TOP
/
de escola pública
APT
/ &mu [/] não
[/] não são acostumados ^
COM
/ a fazer mais de uma atividade ^
COM
/
dentro da sala ^
COM
/ durante uma aula ^
COM
//
Sintagma
Preposicional
13.
*
FBA
:
pela + porque quando
TOP
/
nós modificamos
APT
+ Oração principal
(se considerado
unicamente a
unidade tonal)
14. *FBA:&he / eu notei
TOP
/
que
APT
/ teve um pouco de resistência ^
COM
/ por parte de alguns
COM
//
Complementador
225
15. *FBA: às vezes
TOP
/ o que fica difícil
TOP
/
ainda pra mim
APT
/ é um
pouco administrar
COM
/ isso
APC
//
Advérbio
focalizador +
Sintagma
preposicional
16. *FBA: mas depois
TOP
/
também
APT
/ &he / foi normal
COM
//
<acostumaram>
COM
//
Advérbio
Total texto II: 22
17.
*
FBA
:
&ach + tudo que é de bom
TOP
/
pra gente
APT
/ que a gente tá
se sentindo / que realmente ta fazendo
TOP
/ né
AUX
/ e [/] e que tá tendo
retorno
APT
/ a gente continua hhh
COM
//
APT 1= Sintagma
Preposicional
APT 2= Oração
subordinada
18. *FBA: e
FAT
/ assim
INX
/ pra mim
TOP
/ a tranqüilidade
TOP
/
prum
trabalho
APT
/ é hhh / essencial
COM
/ Andréa
ALC
//
Sintagma
Preposicional
19.
*
FBA
: <
tanto> que os professores lá até reclamaram
INTL/COM
/ ah
AUX
/ esses
TOP
/ alunos
APT
/ são muito mais defasados
COM ’
/ que os alunos
do Gabriela
COMcomp ’
//
Sintagma Nominal
(com função de
sujeito)
20.
*
FBA
:
<mas>
AU
X
/ &he / os professores
TOP
/
que trabalharam no
Gabriela
APT
/
*ADA: <hum hum> //
*FBA: / <sentem> isso
COM
/ né
FAT
//
Oração
subordinada
relativa
21.*FBA: eu mantenho a minha visão
TOP
/ &por [/]
de que
APT
/ há APT 1=
226
realidades
TOP
/
que
APT
/ tomam contam da vida das pessoas
COM
// Complementador
APT 2=
Complementador
22. *FBA: e
FAT
/ acabam
TOP
/
que eles
APT
/ acabam &ach [/] &el [/]
tornando
COM
/ né
FAT
/ o já + a forma deles / é tornar aquilo que é ruim
TOP
/ em diversão
COM
/ pra eles
APC
// e
Complementador +
Sintagma nominal
(pronome com
função de sujeito)
23.*FBA: então
AUX
/ entrar com algo
TOP
/
pra eles
APT
/ com língua
estrangeira
TOP
/
*ADA: hum hum
COM
//
*FBA: / que eles têm que ter motivação
TOP
/ pra aprender
APT
/ &he /
eles não aprendem matérias nenhuma
COM
/ né
FAT
//
APT 1= Sintagma
Preposicional
APT 2= Oração
subordinada
24. *FBA:então
AUX
/ assim
INX
/ inglês
TOP
/
pra eles
APT
/ é coisa do
outro mundo
COM
//
Sintagma
Preposicional
25.*FBA:só que entrar
TOP
/
com essa abordagem comunicativa
APT
/
com negociação de sentido
APT
/ algumas coisas que são essenciais
TOP
/
pra fluência em língua inglesa
APT
/ &he / pra esses aluno problema
TOP
/
é mais complicado
COM
//
APT 1= Sintagma
Preposicional
APT 2= Sintagma
Preposicional
APT 3= Sintagma
Preposicional
26.*FBA:
TOP
/ que
INP
/
TOP/APT
/ o que não existe
TOP
/
ainda
APT
/ não
existe pra mim
COM
//
Advérbio
227
27.
*
ADA
:
mas são tantos fatores
TOP
/
que você tem que e
star
APT
/
levando em consideração
APT
/ no momento de sala de aula
TOP
/ que às
vezes
INX
/ a questão / do currículo
TOP/^COMel
/ mesmo
APT/APC
/ da sua
matéria
TOP/^COMel
/ da [/] do desenvolvimento
TOP/^COMel
/
*FBA: <do desenvolvimento> /
*ADA: / <da prática>
TOP/^COMel
/
*FBA: <&he> [/]
*ADA: / fica em segundo lugar
COM
//
APT 1= Oração
subordinada
APT 2= Oração
subordinada
28. *ADA: eu
TOP
/ realmente
INX
/ eu acredito
TOP
/
que
APT
/
o professor
APT
/ ele tem que ter noções de [/] desses outros fatores
^COM
/ que vão
influenciar a sala de aula
COM
//
APT 1=
Complementador
APT 2= Sintagma
Nominal (sem
ligação sintática)
26.
*
FBA
:
e parece
TOP
/ também
INX
/
que tem hora
APT
/
que
APT
/ eles
querem que nós avaliamos
TOP
/ não é a nossa matéria
COM
//
APT 1= Oração
subordinada
APT 2=
Complementador
Total texto III: 21 + 02 duvidoso
Total texto II/III: 42
228
Os correlatos morfossintáticos identificados para o APTs apresentam diferenças
significativas em comparação com os APCs. Essa diferença faz sentido uma vez que o
apêndice de tópico não pode ocorrer sem a unidade de tópico, o elemento que tem por função
ser o âmbito de aplicação da força ilocucionária, e não a de veicular a própria ilocução como é
o caso do COM. A tabela 24 ilustra de forma comparativa os principais correlatos
morfossintáticos para os APCs e APTs.
Tabela 24
CORRELATOS MORFOSSINTÁTICOS
APC
(TEXTOS I E
II/ III)
APT
(TEXTOS I E
II/ III)
Sintagma Nominal com função de sujeito 01 (2,17%) 03 (6,25%)
Sintagma Nominal com função de objeto 06 (8,6%) 00 (0,0%)
Sintagma Nominal sem ligação sintática 00 (0,0%) 02 (4,16%)
Sintagma Preposicional 21 (45,65%) 13 (27,08%)
Sintagma Preposicional+ Relativa 00 (0,0%) 01 (2,08)
Sintagma Verbal com função de oração principal 01 (2,17%) 02 (4,16%)
Sintagma Verbal com função de oração subordinada 09 (19,56%) 09 (18,75%)
Advérbio 09 (19,56) 03 (6,25%)
Adjetivo 01 (2,17%) 00 (0,0%)
Complementador 00 (0,0%) 07 (14,58%)
Conjunção 00 (0,0%) 02 (4,13%)
TOTAL DE APÊNDICES 46 48
229
Ao compararmos os correlatos morfossintáticos dos APCs e APTs observamos que
alguns correlatos morfosssintáticos são comuns às duas unidades com um percentual parecido
de ocorrência, como é o caso dos sintagmas verbais com função de oração subordinada e
principal. Porém, para todos os outros correlatos identificados as funções sintáticas mudam
significativamente. Ambos os APs apresentam uma porcentagem relevante de sintagmass
preposicionais e de advérbios, mas em quantidades bem diferentes: quase 46% de APC
sintagmas preposicionais contra 27% dos APTs; quase 20% de APCs advérbios contra pouco
mais de 6% dos APTs. Mais evidentes ainda as diferenças que seguem: os APCs apresentam
em grande parte sintagmas nominais com função de objeto e um único caso com função de
sujeito, enquanto para os APTs os sintagmas nominais realizam apenas a função de sujeito.
Ainda para os APTs temos correlatos morfossintáticos com função de complementadores ou
conjunções, porém nenhuma ocorrência desses mesmos correlatos para os APCs, nem
parecem possíveis para essa unidade.
Esses indicadores sobre os correlatos morfossintáticos dos APCs e APTs reforçam o
argumento de que essas unidades desempenham funções diferentes e devem ser tratadas como
unidades distintas. Isso é plenamente coerente com a lógica da teoria: que os dois APs
constituem a integração semântica de duas unidades funcionalmente tão diferentes como o
COM e o TOP, é de se esperar que eles herdem essas diferenças em todos os aspectos
investigáveis.
230
CAPITULO 5
CONCLUSÃO
Este capítulo constitui-se de duas partes. Na primeira, retomamos de forma sintética as
principais fases de aplicação da Teoria da Língua em Ato em amostras do PB, bem como a
factibilidade de implementação deste tipo de análise em projetos mais amplos. Na segunda,
apresentamos alguns indícios de especificidade a respeito do PB. Dada às limitações deste
estudo sugerimos futuros tópicos de investigação em corpus mais amplos.
5.1 Principais resultados do estudo
Este estudo, junto com Alves de Deus (em preparação), teve por objetivo realizar uma
primeira aplicação da Teoria da Língua em Ato (CRESTI 2000) ao português do Brasil.
Tendo como princípio de base este aporte teórico, realizamos um projeto piloto de análise de
três textos falados, coletados na região metropolitana de Belo Horizonte. Conforme
discutimos na introdução, este projeto piloto posteriormente orientará um projeto maior de
constituição de um corpus do português do Brasil, o C-ORAL-Brasil (
www.c-oral-brasil.org).
A análise consistiu na segmentação entonacional dos textos em enunciados e unidades
tonais. Após a segmentação dos textos realizamos a etiquetagem das unidades tonais em
unidades informacionais, e verificamos através das várias medidas extraídas como a teoria
permite avaliar e medir a complexidade de estruturação da fala.
231
Em seguida, dedicamos uma análise mais aprofundada às unidades informacionais de
apêndice de comentário e apêndice de tópico. Para o apêndice de comentário identificamos as
funções por ele desempenhadas e seus principais correlatos morfossintáticos. para o
apêndice de tópico, dada a inexistência de estudos anteriores sobre essa unidade, não foi
possível realizar uma análise mais refinada. Assim, verificamos a freqüência de ocorrência
desta unidade na amostra e o quanto ela colabora para a constituição mais complexa de um
texto. Além disto, a análise mostrou que esta unidade apresenta distinções em comparação
com o apêndice de comentários em seus aspectos entonacionais, funcionais e lingüísticos.
Entonacionalmente o apêndice de tópico apresenta variações de perfis em comparação
ao perfil entonacional apresentado para os APCs na bibliografia italiana (CRESTI 2000;
CRESTI; FIRENZUOLI 2002). Em nossa amostra identificamos, além do perfil nivelado, um
perfil com movimento ascendente que reproduz de forma menor o tópico que o precede,
porém sem foco, e um perfil descendente com valor de freqüência fundamental ás vezes mais
alto do que aquele do tópico. Os correlatos morfossintáticos do apêndice de tópico apresentam
variação. Em nossa amostra identificamos os complementadores, as conjunções e correlatos
complexos (como complementadores + sujeito) realizados como apêndice de tópico, além de
sintagmas e orações.
As várias medidas obtidas neste estudo e apresentadas no capitulo 3 mostraram como
um texto falado estrutura-se segundo uma dada tipologia. Um texto tendencialmente
monológico tem uma estruturação discursiva mais elaborada, com um número elevado de
enunciados complexos, constituídos além da unidade obrigatória de comentário, de outras
unidades informacionais. A estrutura mais complexa, em um monólogo, possibilita a
realização de um número menor de turnos, de enunciados, e consequentemente menos
ilocuções.
232
Ao contrário, no texto dialógico, as medidas mostraram que a forma de estruturação
discursiva é menos elaborada com um número elevado de enunciados simples, ou seja,
aqueles constituídos apenas pela unidade de comentário. Consequentemente, essa forma de
estruturação dos textos dialógicos possibilita a execução de um número maior de turnos, de
enunciados e de mais ilocuções.
Os meros relativos à velocidade média da fala em textos dialógicos e textos
relativamente monológicos são insuficientes para uma conclusão mais precisa. Os cálculos
relativos à velocidade média da fala são aproximativos uma vez que os participantes não são
os mesmos; além disso, é preciso considerar variantes especificas de cada um dos falantes.
Considerando ainda os dados relativos à estruturação informacional de um texto
segundo a sua tipologia, ressaltamos a função desempenhada pelos comentários múltiplos em
suas diferentes formas de ocorrência. Relembramos que os comentários múltiplos são formas
de estruturação nas quais não prevalece o principio no qual cada enunciado deva possuir
apenas uma unidade de comentário de valor ilocucionário. Para esta forma de estruturação, o
cumprimento da ilocução corresponde a locuções múltiplas, fracionadas em mais unidades
tonais. Logo os textos tendencialmente monológicos têm uma freqüência elevada de
ocorrência de comentários múltiplos uma vez que a acionalidade não é dada situacionalmente,
mas sim pela estrutura do texto, enquanto nos textos dialógicos o princípio ilocucionário é
mais facilmente individualizável, uma vez que a fala é menos elaborada. Exceção a essa regra
são os comentários de relação necessária, que, contrariamente aos outros comentários
múltiplos, são característicos de uma fala dialógica e informal.
233
5.2 Alguns indícios de especificidade do português do Brasil e sugestões para outros
estudos
A análise dos dados e os resultados obtidos através da aplicação da Teoria da Língua
em Ato apontaram alguns direcionamentos para possíveis particularidades observadas no
português do Brasil, surgidas da comparação com a bibliografia italiana, onde este estudo é
mais avançado. Entre elas apontamos:
O tamanho das unidades tonais: em nossa amostra é freqüente a ocorrência de
unidades tonais com mais de 25 sílabas gráficas, e em alguns casos com 30 sílabas
gráficas, enquanto para o italiano esse valor não ultrapassa a marca de 11 sílabas
gráficas. Esses dados estão detalhados no capitulo 1 deste estudo, subseção 1.2.3.2.
Os comentários múltiplos: a presença de um valor alto de ocorrências de comentários
de relação necessária no texto I, completamente dialógico, são indícios de como essa
forma de estruturação contribui para a constituição de textos em que a fala é menos
elaborada. Embora este estudo não tenha valor estatístico, parece que a freqüência de
ocorrência de COMrelnec no PB é alta comparado ao italiano;
Os perfis entonacionais para a unidade de apêndice: os perfis identificados para o
apêndice de tópico apresentam variações em relação aos perfis apresentados na Teoria
da Língua em Ato para os APCs.
Número elevado de TOP: a amostra revelou uma maior recursividade de tópicos, dos
quais um grande número constituídos de sentenças, conforme análise realizada por
Alves de Deus (em preparação).
Não temos a pretensão de afirmar que o português do Brasil tenha essas características
estruturais, porém, após ter analisado com cuidado os textos que constituem a amostra deste
234
estudo, ter refletido bastante sobre os resultados obtidos e ter realizado a comparação com o
corpus de italiano, acreditamos que essas possíveis especificidades devam ser investigadas em
futuros estudos de corpora mais amplos.
235
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
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________. Corpus di italiano parlato. Firenze: Accademia della Crusca. 2000, 2 vol. +
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________. Per una nuova definizione di frase. In: P. Bongralli, A. Dardi. M. Fanfani, R. Tesi
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2005/2006.
240
ANEXO 01
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
N.º Registro COEP: CAAE 0209.0.203.000-07
Título do Projeto: Estudos sobre a fala espontânea: diálogos, monólogos e conversações.
Prezado Senhor (a),
Este Termo de Consentimento pode conter palavras que vo não entenda. Peça ao
pesquisador que
explique as palavras ou informações não compreendidas completamente.
*1 ) Introdução
Você está sendo convidado(a) a participar de uma pesquisa com o objetivo de estudar
aspectos da fala da área de Belo Horizonte. Você foi selecionado porque mora na área de Belo
Horizonte, porém sua participação não é obrigatória. Segue uma rápida explicação do projeto
com sua justificativa e seus objetivos. Qualquer outra informação pode ser conseguida
entrando em contato com o pesquisador responsável ou conversando diretamente com o
pesquisador que entrou diretamente em contato com você para efetuar a gravação. As
amostras escolhidas para o estudo constarão em um CD ou outro suporte de acesso público.
Você vai poder, portanto, acessar as gravações que serão consideradas idôneas para formar o
corpus.
A pesquisa visa analisar a estruturação da fala espontânea na maior diversificação situacional
possível, para analisar os vários elementos que constituem a fala em relação às diferentes
funções para a qual a própria fala é utilizada. Ao falar, nós fazemos coisas diferentes
(pedidos, ordens, sugestões, reclamações, contos, etc.) em situações muito diferentes
(conversa entre amigos em lugar público ou particular, relação de trabalho, jantar em casa ou
fora, relação com filhos, com outros familiares, ou com outras pessoas e em outros contextos).
A combinação das possíveis ações e das possíveis situações gera uma grande variação que
influencia a estrutura da própria fala, junto com fatores de caráter individual.
Dispor de um corpus que permita o estudo dessas variáveis em combinação oferece a chance
de estudar como a fala se estrutura em relação à função específica que ela tem e até que ponto,
ao contrário, a fala se estrutura de maneira invariável ou ligada a fatores de ordem individual
(o tipo de voz, o tipo de articulação do som independente do contexto, a velocidade média de
fala, etc.).
Vale ressaltar que esse projeto tem como objetivo ser a ramificação brasileira de um projeto
(chamado C-ORAL-ROM) que foi financiado e realizado pela comunidade européia graças à
coordenação de E. Cresti e M. Moneglia da Universidade de Florença (Itália), com a
participação de pesquisadores das universidades de Florença, Lisboa, Madri e Aix-em-
Provence. O projeto C-ORAL-ROM jà oferece os dados comparáveis (pois coletados segundo
a mesma metodologia e arquitetura) para o italiano, o espanhol, o francês e o português
europeu. O presente projeto visa, portanto disponibilizar esses dados também para o
português do Brasil, na sua variedade belorizontina.
241
*2 ) Procedimentos do Estudo
Para participar deste estudo, solicito a sua especial colaboração em permitir que seja gravada
sua fala espontânea durante um intervalo de tempo de não mais de duas horas. A sua fala pode
ser gravada ou através de um microfone de ambiente ou através de microfone de lapela,
dependendo da situação.
No caso de a sua fala ter sido gravada, porque você entrou em uma situação em que estava
acontecendo a gravação, solicito a sua especial colaboração em permitir que essa gravação
seja utilizada para os fins de pesquisa indicados. Você tem o direito de exigir que a gravação
seja destruída. Você tem o direito de escutar a gravação antes de decidir sobre o destino dela.
*3 ) Riscos e desconfortos
Consideramos que a metodologia utilizada para coleta de dados não oferece riscos ou
desconforto, além daquele inevitável devido à necessidade de gravar a fala do informante (em
caso de diálogo entre duas pessoas e em alguns monólogos, o desconforto consiste em aplicar
ao informante um microfone de lapela, sempre sem fio, ou seja, sempre sem nenhuma
limitação de movimento).
*4 ) Benefícios
Consideramos que essa pesquisa não trará benefícios diretos para você
*5 ) Custos/Reembolso
Você não terá nenhum gasto com a sua participação no estudo e também não receberá
pagamento pelo mesmo
*6 ) Caráter Confidencial dos Registros
A sua identidade será mantida em sigilo. Os resultados do estudo serão sempre apresentados
como o retrato de um grupo e não de uma pessoa. Dessa forma, você o será identificado
quando o material de seu registro for utilizado, seja para propósitos de publicação científica
ou educativa.
Na parte da gravação que será publicada, o falante será indicado com uma sigla que não
permitirá de maneira alguma a sua identificação. Relacionados à sigla serão disponibilizados
somente os seguintes dados: faixa etária (dentro de um leque de pelo menos 10 anos); nível de
estudo (dividido entre nenhum, primeiro grau completo, segundo grau completo, terceiro grau
completo); sexo; tipologia de trabalho. O registro da correspondência de cada sigla ao
informante será mantido sigiloso e nunca será divulgado de alguma forma.
*7 ) Participação
Sua participação neste estudo é muito importante, porém é voluntária. Você tem o direito de
não querer participar ou de sair deste estudo a qualquer momento. Em caso de você decidir
retirar-se do estudo, favor informar o pesquisador e/ou a pessoa de sua equipe que esteja
atendendo-o.
*8) Informações
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de
Minas Gerais, que poderá ser contatado para esclarecimentos pelo telefone 3499-4592, por
email c[email protected] ou no seguinte endereço: Av. Antônio Carlos,6627 – Unidade
Administrativa II, sala 2005. CEP 31270-901 - Belo Horizonte, MG.
Os pesquisadores responsáveis poderão fornecer qualquer esclarecimento sobre essa pesquisa,
242
assim como tirar dúvidas, bastando contato no seguinte endereço e/ou telefone:
Nome do pesquisador: Heliana Ribeiro de Mello
Endereço: Faculdade de Letras – UFMG
Av. Antônio Carlos, 6627
Telefone: (31) 34996065
*9 ) Declaração de Consentimento
Li ou alguém leu para mim as informações contidas neste documento antes de assinar este
termo de consentimento. Declaro que toda a linguagem técnica utilizada na descrição deste
estudo de pesquisa foi satisfatoriamente explicada e que recebi respostas para todas as minhas
dúvidas. Confirmo também que recebi uma cópia deste Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido. Compreendo que sou livre para me retirar do estudo em qualquer momento, sem
perda de benefícios ou qualquer outra penalidade.
Dou meu consentimento de livre e espontânea vontade para participar deste estudo.
Nome do participante (em letra de forma)
___________________________________________________________________________
Assinatura do participante ou representante legal
Data: Belo Horizonte, ______ de ________________________ de ____________.
Obrigado pela sua colaboração e por merecermos sua confiança.
___________________________________________________________________________
Nome (em letra de forma) e Assinatura do pesquisador
Data: Belo Horizonte, _______ de ________________________ de ____________.