BORGES, Juliano Luis. A transição do MST para a agroecologia. 2007. 183f. Dissertação
(Mestrado em Ciências Sociais). Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2007.
RESUMO
Este trabalho tem por objetivo analisar historicamente as concepções do Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) sobre a organização da produção e do trabalho nos
assentamentos rurais, remontando ao período de sua formação, organização estrutural e
implementação do projeto de desenvolvimento. O MST surgiu num período marcado pelo
processo de modernização da agricultura e pela transição político-partidária no Brasil. Desde
sua formação, o Movimento busca viabilizar os assentamentos rurais através de estratégias
produtivas que permitam a resistência dos trabalhadores na terra. No final da década de 80, o
MST adotou o cooperativismo como principal forma de organização do trabalho e da
produção. Para implementar esse projeto de desenvolvimento, constituiu uma estrutura
organizacional – de abrangência local, estadual e nacional – baseada nos princípios de sua
“teoria da organização no campo”. Nesse sentido, incentivou a criação de cooperativas de
produção – consideradas forma superior de empreendimento agrícola – em várias regiões do
país. O trabalho no interior das cooperativas deveria ser conduzido por um novo sujeito (“sem
terra”), pautado por valores e práticas voltados, essencialmente, para o coletivo. A base dessa
nova representação social seria construída pela superação dos “vícios” contidos nas relações
sociais e produtivas do campesinato (agricultura tradicional). Nesse conflito de
representações, as práticas adotadas pelo MST sofreram resistências e rupturas. A partir de
fatores internos e externos, o cooperativismo do Movimento começou a entrar em crise.
Internamente, a produção em larga escala de monoculturas, voltada para a
agroindustrialização e mercado externo, não era compatível com a organização dos
assentamentos, que possuíam mão-de-obra abundante e poucos recursos para custeio das
lavouras – dependentes de recursos externos como insumos químicos, equipamentos e
máquinas. Além disso, a coletivização do trabalho encontrava resistência nos assentados,
causando um descompasso com a orientação do MST (Direção Nacional). Externamente, o
governo FHC criminalizou a luta pela terra e extinguiu o crédito especial para a reforma
agrária, restringindo as políticas públicas voltadas para essa demanda. O esgotamento do
paradigma de produção adotado possibilitou a incorporação de novos elementos à luta pela
terra e à organização da produção e do trabalho. Esses elementos aproximaram o MST da
noção de sustentabilidade, orientada, fundamentalmente, pela agroecologia. A partir daí, o
paradigma agroecológico tornou-se princípio para transformação social. De um lado,
questionando o modelo agroexportador atual; de outro, reorientando as estratégias nos
assentamentos rurais. A produção, antes voltada somente para a esfera econômica, adquire
novas dimensões: social e ambiental. Para isso, inicia um processo de
desconstrução/reconstrução de suas bases, as quais devem voltar-se para as particularidades
sociais, econômicas, políticas e culturais construídas na localidade. Saberes e práticas que
vinham sendo considerados, pelo MST, inadequados à realidade dos assentamentos rurais, por
mais de uma década, passaram a ser resgatados como princípios fundamentais da
agroecologia. A luta pela terra e a resistência dos trabalhadores assentados passam por novos
componentes como a preservação dos recursos naturais e a valorização do conhecimento
tradicional. O projeto de desenvolvimento agroecológico apresenta-se, atualmente, como o
principal enfoque do MST, em busca de uma nova perspectiva para os assentamentos rurais
em todo o país.
Palavras-chave: MST, assentamentos rurais, cooperativismo, sustentabilidade, agroecologia.