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um grupo restrito da elite colonial - o dos senhores de engenho de açúcar de
Pernambuco.
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A autora traça um quadro da diversidade econômica e social do
largo território que constituía os domínios portugueses na América entre os
séculos XVI e XIX - realidade que não poderia ser acomodada nos estreitos
limites do engenho ou da fazenda.
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No seu modo de ver, Gilberto Freyre e
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CORRÊA, Mariza. Repensando a Família Patriarcal Brasileira. In: ARANTES, Antonio A.
et al. Colcha de Retalhos: estudos sobre a família no Brasil. 3. ed., Campinas: Editora da
UNICAMP, 1994. O trabalho foi publicado antes nos Cadernos de Pesquisa da Fundação
Carlos Chagas, de maio de 1981.
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Nas palavras da autora: “O litoral brasileiro abrigou, na Bahia e em Pernambuco, mas
também no Rio de Janeiro e em São Vicente, os engenhos de açúcar e de aguardente. Mas não
só: a Bahia foi um grande produtor de tabaco, quase simultaneamente à sua produção de
açúcar, produto que em determinadas épocas rendeu mais que o ouro das Gerais aos cofres
portugueses, além de ter sido o lugar onde se estabeleceram os primeiros pequenos
cultivadores de algodão. Essas duas culturas – o algodão e o tabaco - implicavam um
investimento inicial de capital muitíssimo menor do que o engenho de açúcar, não exigiam a
presença de um número elevado de escravos, em alguns casos até os dispensando, se o
cultivo se dava num terreno controlável pelo produtor e sua família. (...) devem-se lembrar
ainda os diferentes tipos de mão-de-obra envolvidos: no engenho não apenas escravos, mas
também o trabalho livre foi bastante utilizado – donos de sesmarias que não tinham condições
de cultivá-las inteiramente entregavam parte delas a lavradores, homens e mulheres que
muitas vezes, depois de anos e anos de posse, recusavam-se a continuar pagando a ‘meia’ ou
a ‘terça’, fosse qual fosse o regime de prestação de contas utilizado. Além desses lavradores,
técnicos no trabalho do engenho (...) eram também assalariados e livres. Se a esses
acrescentarmos os artesãos que viviam nas vilas,(...) os pequenos proprietários que cultivavam
algodão, tabaco ou gêneros de subsistência, a composição da sociedade colonial da costa
Bahia-Pernambuco teria uma tonalidade bem diferente da evocada por Gilberto Freyre. (...)
Dos engenhos pernambucanos e dos núcleos povoadores paulistas (...) partiram expedições
que deram origem, em ambas as margens do rio São Francisco, onde se encontraram, a um
outro tipo de ocupação da terra: as fazendas de criação de gado. Exigindo grandes extensões
de terra, muitas vezes obtidas através de doações por serviços prestados à Coroa, outras
vezes pela ocupação pura e simples, quando não pela usurpação, estas fazendas também não
exigiam grande investimento de capital: alguns poucos peões davam conta do gado e eram em
sua maioria homens “livres” (...). Com eles conviviam também moradores,pequenos produtores
de gêneros alimentícios e posseiros. (... Vemos então que à fixidez do engenho, produzindo
para o exterior, localizado perto dos centros de controle e decisão (...) podemos opor a intensa
mobilidade dos paulistas (...). Outro ponto de contraste entre eles é o tipo de trabalho e seu
destino: num caso o trabalho é coletivo, controlado coletivamente (...) e produzido para o
exterior. No outro, o trabalho é principalmente individual ou organizado pelo grupo doméstico,
e produzido para o consumo colonial interno. (...) um terceiro tipo de atividade produtiva,
importante pela larga escala em que empregou mão-de-obra indígena – escrava primeiro,
depois ‘livre’ e ‘assalariada’: a indústria extrativa do Norte, especialmente do Pará e do
Maranhão. Sobre as minas, é suficiente lembrar aqui que elas deram origem a uma intensa
migração interna de mão-de-obra escrava, ocasionando uma das mudanças estruturais
fundamentais na economia agrária do Nordeste e do Sul do país: o começo da ‘decadência’ da
instituição ‘engenho’ e a constituição de uma mão-de-obra disponível para as fazendas de
café (...) no Rio e em São Paulo, após se esgotarem o ouro e os diamantes do sertão mineiro e
goiano, além de terem deixado um rastro populacional que iria criar uma importante rede de