sabe? Aí eu ligo pra todo mundo, olha eu tô procurando o Presidente, aí ninguém
entende nada, sabe? Aí tá. Quatro meses procurando o Lula, e nada, nada. Fala pra
um, falo pra outro, me descabelo, choro. Eu não aceito, não aceito, acho que tem que
me atender mesmo. É minha filha, é meu caso, entende? E acho que se ele tá la é
porque todo mundo votou. E tem quer atender mesmo, por mais que ele seja
importante. Ele é, antes de tudo, ser humano, cidadão como nós, né? Aí tá. Minha
filha caçula faz aula de música na escola Vila-lobos. Um belo dia eu venho, minha
filha errou o horário, e viemos uma hora mais cedo. Coisa de Deus mesmo. Vim e
deixei minha filha na e escolha e fui pra Cinelândia pra um compromisso. Fui pro
ponto de ônibus e tava chovendo muito, e eu tava de branco. Aí todo mundo correu
pra de baixo da marquise. Eu corri pra de baixo da marquise. Ai dois cidadãos do meu
lado: é, todo esse aparato do teatro municipal é porque o homem vem ai hoje. Aí eu
olhei pra ele, já pressentindo. Que homem? O lula? Olha, nessa hora, tava passando
uma Sra. com um guarda chuva enorme. Aí eu pedi uma carona no guarda chuva até o
Municipal. Cheguei na porta do Municipal, vi uns seguranças, botei minha postura e
falei: olha, tão me aguardando ali dentro. Mentira. Mas entrei. Fala com um, fala com
outro. Aí veio um cara da federal, esses que são da federal, da nata, sabe? E falou
assim: eu vou te ajudar. Aí eu expliquei o nosso caso pra ele, falei que tava há dias
procurando o Lula. Aí o cara virou pra mim e disse: tá vindo pra cá o assessor do
Presidente, vou explicar pra ele o assunto com calma e com certeza ele vai te levar até
ele. Mas eu disse pra ele: eu preciso ir em casa, pegar o material pra poder mostrar pro
Presidente. Ele falou: são 15 pras 3 e você só pode chegar aqui ate três e meia. Eu
entrei no taxi e quase enlouqueci o motorista. Corre moço, corre! [...] Aí cheguei em
casa e cadê a camiseta? Deu um branco? Peguei a camisa, passei, cheguei no teatro e
liguei pra Suzana: tira foto do projeto de lei, disso, daquilo, só deixaram eu chamar
mais uma mãe. Cheguei lá a tempo, o federal me olhou, riu pra mim e disse: deixa ela
entrar. Eu não respirei. Aí veio um assessor, só tava eu e ela, as duas falando ao
mesmo tempo, ai ele veio: um baiano, nordestino, simpático, boa praça, ele falou
tenho certeza que o Presidente vai recebê-las, mas primeiro quero falar como
deputado. Ligou pro deputado e o Molon foi pra lá. Chegaram a Suzana e o Molon,
quase ao mesmo tempo. O Presidente tinha ido dar medalha para as crianças que
tinham tirado nota alta na escola e tal. Crianças da escola pública. Ficamos quatro
horas esperando. Fome apertava, sede, lá fora tinha um pipoqueiro, mas cadê a
coragem? Podiam chamar a gente. Até que o cara nos chama. Juntas, em silencio total,
de mãos dadas, fomos andando. O coração ele batia aqui, né? Não da pra descrever o
que foi aquele momento. Ainda ficamos paradas um pouco. Até que a acessória vem e
nos pega. Fomos lá e caminhamos até o presidente que tava premiando os atores que
tinham atuado no tropa de elite. E ele veio: no que ele veio, ele veio olhando. Olha: foi
a surpresa mais grata que eu já tive. Foi surpresa muito grande pelo carinho que ele
teve, pela atenção, pelo respeito à nossa dor, à nossa historia. As duas falavam ao
mesmo tempo. Ele calado. Uma hora me deu uma falha de memória, e eu falava pra
ele e ele parado, me olhando. Ele tem um magnetismo fortíssimo. E ele ia olhando e
entendendo tudo.
Ao mesmo tempo o pessoal da acessória, mesmo o Molon, tavam achando que nós só
íamos tirar uma foto com ele, e acabou. Nada! O Presidente surpreendeu a todos, com
certeza ele ali quebrou o protocolo e conversou conosco. Eu pedi a ele, mostrei a foto
da Carol na hora, ele ficou olhando [...] e, e, falamos tudo, a Suzana pediu para que ele
acelerasse a votação do projeto junto a Alerj. Ele perguntou quem era o autor e
Molon falou: sou eu, presidente. E encaminhou para Graça Fortes da Petrobras, uma
pessoa fortíssima lá, e é a Petrobras que vende o gás pra Ceg. [ ...] E mandou que a
procurássemos em nome dele, coisa que vamos fazer agora. E ele pediu um relatório
do numero de vítimas e de vítimas com seqüelas irreversíveis. Teremos uma semana e
meia porque ele vai voltar ao Rio pra lançar as obras do PAC.
Foi uma semana e meia de maluquice. Eu ligava pra Renata [coordenadora da
Comissão de Direitos Humanos] e ela ficava louca. Era um relatório muito bem
elaborado porque se fosse muita coisa, ele não ia ler, então tinha que ser enxugado em
2 folhas para ele ler. E na pasta em anexo colocamos todos os casos. E colocamos
enfim e tal. Já recebemos, tiramos a foto, e já recebemos que foi enviado ao Ministro
da Minas e Energia. E nele eu pedi ao Presidente que fosse baixado um ato normativo
pelo ministério das minas e energia. Porque baixando esse ato normativo, obrigando a
102