Download PDF
ads:
0
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
CENTRO DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
Marilene Silva Maués
A TEMÁTICA GÊNERO NAS PRODUÇÕES
PROVENIENTES DOS GRUPOS DE PESQUISA DA UNIVERSIDADE
FEDERAL DO PARÁ
Belém
2007
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
1
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
CENTRO DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
Marilene Silva Maués
A TEMÁTICA GÊNERO NAS PRODUÇÕES
PROVENIENTES DOS GRUPOS DE PESQUISA DA UNIVERSIDADE
FEDERAL DO PARÁ
Dissertação apresentada à Linha de Pesquisa Currículo e
Formação de Professores como exigência para obtenção
do título de Mestre em Educação.
Orientador: Prof. Dr. Paulo Sérgio de Almeida Corrêa.
Belém
2007
ads:
2
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) –
Biblioteca Profa. Elcy Rodrigues Lacerda/Centro de Educação/UFPA, Belém-PA
Maués, Marilene Silva.
A Temática gênero nas produções provenientes dos grupos de
pesquisa da Universidade Federal do Pará; orientador, Prof. Dr.
Paulo Sérgio de Almeida Corrêa. _ 2007.
Dissertação (Mestrado em Educação) Universidade Federal do Pará,
Centro de Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação, Belém,
2007.
1. Ensino Superior - Pesquisa Belém (PA). 2. Universidade Federal
do Pará Pós-Graduação. 3. Currículos – Belém (PA). I. Título.
CDD - 21. ed.: 378.007098115
3
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
CENTRO DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
Marilene Silva Maués
A TEMÁTICA GÊNERO NAS PRODUÇÕES
PROVENIENTES DOS GRUPOS DE PESQUISA DA UNIVERSIDADE FEDERAL
DO PARÁ
Dissertação apresentada à Linha de Pesquisa Currículo e
Formação de Professores como exigência para obtenção
do título de Mestre em Educação.
Defesa: Belém (PA), 11 de junho de 2007
Banca examinadora
Prof. Dr. Paulo Sérgio de Almeida Corrêa
Orientador, UFPA
Profa. Dra. Diomar da Graças Motta
Examinadora, UFMA
Profa. Dra. Josenilda Maria Maués da Silva
Examinadora, UFPA
Profa. Dra. Wilma de Nazaré Baia Coelho
Examinadora, UFPA
4
Aos dois Sóis da minha vida:
Maria José da Silva Maués, mãe amada, mulher corajosa, que mesmo
diante do momento mais doloroso de nossas vidas encontrou forças para
não me deixar sucumbir.
Denis Marcelo Vilhena Rabelo, esposo e companheiro, grande amor que
viveu as ausências que minha presença solicitava; burlou uma concepção
tradicional na relação de gênero em nosso cotidiano e compartilhou das
minhas inquietações acadêmico-científicas.
5
AGRADECIMENTOS
A Deus por ter me permitido viver mais essa conquista com tamanha intensidade, por
ter me acolhido também nos momentos de profunda aflição que atravessaram impetuosamente
minha vida e minha produção científica.
A minha sogra Graci Sueli Vilhena Rabelo e a meu sogro Rubens de Sousa Rabelo
(in memoriam) pelas palavras de esperança.
Um especial agradecimento para meu querido orientador Prof. Dr. Paulo Sérgio de
Almeida Corrêa, grande profissional e ser humano, que jamais deixou a desejar em seu
trabalho junto a essa produção, que me escutou com diligência inclusive quando os
problemas, em tese, não faziam parte de nossa investigação e prudentemente me fez retomar
novo fôlego quando as energias pareciam fenecer. A você meu estimado amigo Paulo, meu
respeito e meus agradecimentos.
com os olhos marejados pelas saudades, agradeço às amizades da Pós-Graduação
que suscitaram profícuas discussões acadêmicas e momentos de lazer que chegavam a se
misturar em encontros casuais ou organizados, muito obrigada Amélia Mesquita (Mel), Ana
Cláudia Cristo, Carlos Amorim (Carlinhos), Damião Bezerra (Dami), Gleice Oliveira,
Jacirene Vasconcelos (Jaci), Joana D’Arc (Marquesa), Sandra Karina, Solange
Mochiutti, Rosana Castro, Rosângela Farias (Rô) e Vera Solange (Sol).
Às minhas amigas, irmãs e cúmplices, Amélia Mesquita, pelo seu generoso
companheirismo, Vera Solange e Shyrley Santos, a todas pelas contribuições e apoio
incondicional concedido a mim durante essa caminhada formativa.
A todas as pessoas responsáveis por esse insigne Programa de Pós-Graduação em
Educação do Centro de Educação da Universidade Federal do Pará, marco de formação
paraense, por ter concedido oportunidade e credibilidade à minha proposta de pesquisa.
À secretária do Programa Conceição Mendes e à bolsista Fabianne Luz que sempre
receberam nossos apressados pedidos com paciência e cordialidade.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela
bolsa de estudos que viabilizou financeiramente a execução deste trabalho.
À Profª Dra. Wilma de Nazaré Baia Coelho, por suas preciosas contribuições no
momento da pré-qualificação do projeto e por suas palavras de incentivo.
À Profª Dra. Josenilda Maria Maués da Silva e Profª Dra. Wilma de Nazaré Baia
Coelho, pelas proveitosas considerações na qualificação deste trabalho e estímulo dado à
pesquisadora que em mim se desenvolve.
6
A todos os membros que aceitaram gentilmente fazer parte da banca examinadora com
críticas e sugestões a esse trabalho.
Ao corpo docente da Linha Currículo e Formação de Professores, pelo nível
formativo com que fui agraciada e pelas saudáveis provocações que suscitaram dúvidas que
fizeram essa investigação avançar.
Ao Prof. Dr. Ronaldo Lima Araújo, por sua gentileza e disposição em responder
nossas insistentes perguntas e providenciar com sucesso nossas demandas em nível
administrativo.
A Maria Auxiliadora Maués Araújo, pelo apoio nas dificuldades iniciais do
mestrado.
7
Ao nascermos somos pinho de riga pura, mas logo
começam as demãos de tinta. A tinta são as palavras.
As palavras educam, grudam no corpo, entram na
carne. Somos educados, mas quem somos? O
intervalo entre o nosso desejo e aquilo que os desejos
dos outros fizeram de nós.
Oliveira, 2006
8
RESUMO
Neste estudo objetivou-se realizar um mapeamento que revelasse as produções científicas
das/os pesquisadoras/es vinculadas/os a grupos de pesquisa situados na Universidade Federal
do Pará, visando analisar como a temática gênero ganhava evidência em pesquisas realizadas
no cenário acadêmico-científico daquela instituição, no período de 1995-2006. Nesse sentido,
foram levantados os seguintes questionamentos: 1) O que se tem discutido, no campo
acadêmico, em torno das questões de gênero? 2) Como está evidenciada a produção científica
generificada na base de dados dos grupos de pesquisa cadastrados no CNPq durante o período
1995 a 2006? 3) Como se apresenta a produção generificada das/os pesquisadoras/es, nos
grupos de pesquisa, a partir dos indicadores estatísticos no Campus da UFPA de Belém? Os
dados foram analisados quanti/qualitativamente por meio do cruzamento dos indicadores de
produtividade científica disponíveis no site do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (http://www.cnpq.br) com os referenciais teóricos balizadores da
temática gênero – Louro (2001) e Rosemberg (2001) –, aspecto que permitiu fazer uma
radiografia da produção generificada no cenário nacional para posterior incursão na produção
dos grupos de pesquisa da UFPA. Constatou-se que grande parte das pesquisas em torno do
gênero tem abordado principalmente questões alusivas à mulher e que aquelas pesquisas
refutam as explicações de cunho biologicista na composição de femininos e masculinos, bem
como asseveram que culturalmente relações de poder entre os sexos; além disso, o estudo
revelou que no panorama nacional o gênero encontrou guarida principalmente nos grupos de
pesquisa na área das Ciências Humanas; no tocante à participação feminina na Ciência,
observou-se um parâmetro androcêntrico na estrutura do fazer científico, aspecto esse que
ressoa no quantitativo das produções acadêmicas de autoria feminina, posto que elas ainda
precisam conciliar a carreira profissional com as exigências do mundo privado; mas, apesar
do domínio masculino nas produções científicas, os estudos sobre gênero ganham
envergadura nas pesquisas desenvolvidas por mulheres, tanto em nível nacional como local.
No que tange especificamente aos indicadores da UFPA, o gênero ganhou lugar de destaque
na produção paraense e essas/es intelectuais têm se esmerado naquele campo exibindo uma
produção freqüente em um período de 11 anos, embora tenham que assumir um acréscimo
incomensurável de trabalho em conseqüência de a maioria fazer parte dos quadros docentes
em programas de pós-graduação vigentes na UFPA. Com isso, reafirma-se que os grupos de
pesquisa da Instituição em destaque, ainda que com menor expressão quantitativa em relação
ao cenário nacional, o de grande relevância para a fertilização dos estudos de gênero na
região Norte e para a projeção dessa Universidade como lugar institucional em que se
produzem pesquisas que garantem a ela destaque nacional.
Palavras-chave: Gênero, Produção Científica, Grupos de Pesquisa
9
ABSTRACT
This paper aimed to carry out a mapping that would show the researchers’ scientific
productions linked to groups of research in the Federal University of Pará (UFPA), it also
aims to analyze how the gender theme gained evidence in researches carried out in the
academic-scientific scenario of that institution, in the period of 1995-2006. Thus, the
following questions had been raised: 1) What have they have been arguing about in the
academic field, around the questions of gender? 2) How the scientific production generated in
the data basis of research groups registered in the CNPq during the period of 1995-2006 is
evidenced? 3) How the production generated by the researchers, in the research group is
presented, taking into account the statistical figures in the UFPA campus in Belém? The data
had been analyzed considering its quantity and quality by crossing the figures of scientific
productivity - available in the site of the National Council of Scientific and Technological
Development (http://www.cnpq.br) - with the theoretical references which delimitates the
gender theme - Louro (2001) and Rosemberg (2001) -, aspects that allowed to make an x-ray
of the production generated in the national scenario for posterior verticalization with the
production research of the UFPA. Evidenced that great part of the research around the gender
theme has approached allusive questions related to women and that those researches refute the
explanations of biological basis in the composition of female and male, as well as they
assume that culturally there is a relationship of power between opposite sexes. Moreover, the
study showed that in the national panorama the genre found its place in the research group in
the Human Sciences area; regarding to female participation in Science it was observed an
androcentric parameter in the structure of scientific deeds, this aspect resounds in the
quantitative process of academic productions of female authorship, considering that they still
need to conciliate the professional career with the requirements of the private world; but,
despite the male domain in the scientific productions, the studies on gender have been gaining
praise in the research developed by women, not only in the national level but also in the local
one. Regarding the figures of the UFPA, the gender have gained a place of prominence in the
paraense production and these professionals have performed with care in that field showing a
frequent production in a period of 11 years, even so they had to take on an incommensurable
addition of work in consequence of the majority to be part of the teaching stuff of Post
Graduation Programs in the UFPA. Thus, it is reassured that the research groups of the
Institution mentioned here, even though with lesser quantitative expression in relation to the
national scenario, they are of great relevance for the spread of the studies on this theme in the
North region and for the projection of this university as an institutional place where the
research produced guarantees national highlight.
Key words: Gender, Scientific Production, Research Groups
10
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Gráfico 1
predominante nas atividades dos grupos cadastrados no CNPq, 2000-2004.....................
69
Gráfico 2 Distribuição dos grupos de pesquisa, segundo a região geográfica, 2000-
2004....................................................................................................................................
72
Gráfico 3 Distribuição dos grupos de pesquisa no Brasil que abordam a temática
gênero segundo a região geográfica, 2006.........................................................................
73
Gráfico 4
Distribuição das/os pesquisadoras/es segundo a região, 1995
-
2004....................................................................................................................................
75
Gráfico 5 Evolução de pesquisadoras e pesquisadores brasileiras/os cadastradas/os
como líderes nos Diretórios dos Grupos de Pesquisa do CNPq, 1995-2004.....................
93
Gráfico 6 Distribuição de pesquisadoras e pesquisadores o-líderes cadastradas/os
nos Diretórios dos Grupos de Pesquisa do CNPq, 1995-2004...........................................
95
Gráfico 7 Área de estudo e liderança agrupada por sexo nos grupos de pesquisa que
adotam a temática gênero no Diretório dos Grupos de Pesquisa do CNPq, 2006.............
97
Gráfico 8
Área de formação das/os pesquisadoras/es doutoras/es dos Grupos que
discorrem sobre gênero na UFPA......................................................................................
110
Gráfico 9 – Projetos de pesquisa (aprovados) de pesquisadoras/es integrantes de grupos
que fazem interlocuções em torno da temática gênero na UFPA, 1995-2006...................
112
Gráfico 10 – Distribuição de pesquisadoras/es, partícipes dos grupos que discutem
gênero, nos projetos aprovados na UFPA durante o período de 1995-2006......................
115
Gráfico 11
Coordenação dos projetos de pesquisa aprovados na UFPA,
por sexo
1995-2006...........................................................................................................................
116
Gráfico 12 Artigos completos sobre gênero publicados em periódicos especializados
de circulação nacional e internacional, 1995-2006............................................................
118
Gráfico 13 Capítulos de livros ou livros publicados/organizados ou edições
referenciados por questões de gênero, relativos aos grupos de pesquisa da UFPA 1995-
2006....................................................................................................................................
120
Gráfico 14
Trabalhos completos publicados pelas/os pesquisadoras/es ligadas/os aos
Grupos de Pesquisa sobre gênero em anais de eventos 1995-2006...................................
121
Gráfico 15 Resumos publicados pelas/os pesquisadoras/es ligadas/os aos grupos de
pesquisa de gênero em anais de eventos, 1995-2006.........................................................
123
Gráfico 16 Trabalhos técnicos realizados por pesquisadoras/es dos grupos de
pesquisa sobre gênero na UFPA 1995-2006......................................................................
124
11
Gráfico 17
Publicação de textos das/os p
esquisadoras/es ligadas/os aos grupos de
pesquisa sobre gênero em jornais de notícias/revistas, 1995-2006....................................
126
Gráfico 18 – Produção artística e cultural das/os pesquisadoras/es ligadas/os aos grupos
de pesquisa sobre gênero, 1995-2006.................................................................................
127
Gráfico 19 Participação das/os pesquisadoras/es ligadas/os aos grupos de pesquisa
sobre gênero em orientações de iniciação científica, trabalho de conclusão de curso de
graduação, monografias de cursos de aperfeiçoamento/especialização, dissertações de
mestrado e teses de doutorado, 1995-2006........................................................................
128
Gráfico 20
Participação ger
al de pesquisadoras/es que discutem gênero em grupos de
pesquisa na UFPA, distribuída por sexo, 1995-2006.........................................................
130
12
LISTA DE TABELAS
Tabela 1
Universidades que apresentam dissertações cadastradas no
site da CAPES
que versam sobre os sexos ou relações de gênero, 2004....................................................
32
Tabela 2 Número de grupos cadastrados no Diretório dos Grupos de Pesquisa do
CNPq em 2006, que discutem o gênero em cada área do conhecimento...........................
66
Tabela 3 Distribuição institucional dos grupos de pesquisa no Brasil que realizam
estudos concernentes às questões de gênero, 2006............................................................
79
Tabela 4
Distribuição dos grupos de pesquisa no Brasil que estudam a temática
gênero, segundo as unidades da federação, 2006...............................................................
81
Tabela 5 – Distribuição de pesquisadoras/es por sexo e faixa etária, 2000-2004..............
84
Tabela 6 – Número de pesquisadoras/es doutoras/es por sexo na UFPA, 2000-2004.......
104
Tabela 7
Grupos de pesquisa da UFPA que contribuem para produções em torno da
temática gênero distribuídos por ano de formação, área do conhecimento e sexo,
durante o ano de 2006........................................................................................................
107
Tabela 8
Grupos de pesquisa na UFPA distribuídos por área de atuação e
liderança
segundo o sexo, 2006.........................................................................................................
109
13
LISTA DE SIGLAS
Instituições de pesquisa
ANIS – Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero
CEBRAP – Centro Brasileiro de Análise e Planejamento
CEFET/PR – Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná
ENCE – Escola Nacional de Ciências Estatísticas
EST – Escola Superior de Tecnologia
FAJE – Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia
FBDC – Fundação Baiana para Desenvolvimento das Ciências
FCC – Fundação Carlos Chagas
FCMSCSP – Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo
FEAD – Faculdade de Estudos Administrativos
FEE – Fundação de Economia e Estatística
FIC – Faculdade Integrada do Ceará
FIDENE – Fundação de Integração, Desenvolvimento e Educação do Nordeste do Estado
FIOCRUZ – Fundação Oswaldo Cruz
FTC – Faculdade de Tecnologia e Ciências
FtecBrasil – Faculdade de Tecnologia
FUEC – Federação Universitária de Esportes Capixaba
FURB – Universidade Regional de Blumenau
FURG – Fundação Universidade Federal de Rio Grande
IAPAR – Instituto Agrônomo do Paraná
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IBICT – Instituto Brasileiro de Informação em Ciências e Tecnologia
IS – Instituto de Saúde
Mackenzie – Universidade Presbiteriana Mackenzie
MPEG – Museu Paraense Emílio Goeldi
PUC – Pontifícia Universidade Católica
PUC/CAMPINAS – Pontifícia Universidade Católica de Campinas
PUC/RJ – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
PUC/RS – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
PUC-SP – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
SEADE – Fundação Sistema Estadual de Análises de Dados
UCAM – Universidade Cândido Mendes
UCB – Universidade Castelo Branco
UCB/DF – Universidade Católica de Brasília
UCB-RJ – Universidade Castelo Branco do Rio de Janeiro
UCDB – Universidade Católica Dom Bosco
UCG – Universidade Católica de Goiás
UCPEL – Universidade Católica de Pelotas
UCSal – Universidade Católica de Salvador
UDESC – Universidade do Estado de Santa Catarina
UECE – Universidade Estadual do Ceará
UEFS – Universidade Estadual de Feira de Santana
UEG – Universidade Estadual de Goiás
UEL – Universidade Estadual de Londrina
UEM – Universidade Estadual de Maringá
14
UEMA – Universidade Estadual do Maranhão
UENF – Universidade Estadual do Norte Fluminense
UEPB – Universidade Estadual da Paraíba
UERJ – Universidade do Estado do Rio de Janeiro
UERN – Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
UESPI – Universidade Estadual do Piauí
UFAL – Universidade Federal de Alagoas
UFAM – Universidade Federal do Amazonas
UFBA – Universidade Federal da Bahia
UFC – Universidade Federal do Ceará
UFCG – Universidade Federal de Campina Grande
UFES – Universidade Federal do Espírito Santo
UFF – Universidade Federal Fluminense
UFG – Universidade Federal de Goiás
UFGD – Universidade Federal da Grande Dourados
UFJF – Universidade Federal de Juiz de Fora
UFLA – Universidade Federal de Lavras
UFMA – Universidade Federal do Maranhão
UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais
UFMS – Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
UFMT – Universidade Federal de Mato Grosso
UFPA – Universidade Federal do Pará
UFPB – Universidade Federal da Paraíba
UFPE – Universidade Federal de Pernambuco
UFPel – Universidade Federal de Pelotas
UFPI – Universidade Federal do Piauí
UFPR – Universidade Federal do Paraná
UFRB – Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul
UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte
UFRPE – Universidade Federal Rural de Pernambuco
UFRRJ – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
UFS – Universidade Federal de Sergipe
UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina
UFSCar – Universidade Federal de São Carlos
UFSJ – Universidade Federal de São João Del-Rei
UFSM – Universidade Federal de Santa Maria
UFT – Universidade Federal do Tocantins
UFV – Universidade Federal de Viçosa
UGF – Universidade Gama Filho
UMESP – Universidade Metodista de São Paulo
UNAERP – Universidade de Ribeirão Preto
UnB – Universidade de Brasília
UNC – Universidade do Contestado
UNEB – Universidade do Estado da Bahia
UNESA – Universidade Estácio de
UNESP – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
UNIABC – Universidade do Grande ABC
UNIBAN – Universidade Bandeirante de São Paulo
15
UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas
UNICENTRO – Universidade Estadual do Centro-Oeste
UNICEUB – Centro Universitário de Brasília
UNIFACS – Universidade Salvador
UNIFAL/MG – Universidade Federal de Alfenas
UNIFESP – Universidade Federal de São Paulo
UNIFRA – Centro Universitário Franciscano
UNIGRANRIO – Universidade do Grande Rio
UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul
UNILASALLE – Centro Universitário La Salle
UNIMEP – Universidade Metodista de Piracicaba
UNIMONTES – Universidade Estadual de Montes Claros
UNIOESTE – Universidade Estadual do Oeste do Paraná
UNIPAC – Universidade de Presidente Antonio Carlos
UNIPAR – Universidade Paranaense
UNIR – Fundação Universidade Federal de Rondônia
UNISA – Universidade de Santo Amaro
UNISAL – Centro Universitário Salesiano de São Paulo
UNISINOS – Universidade do Vale do Rio dos Sinos
UNISUAM – Centro Universitário Augusto Mota
UNIT – Universidade Tiradentes
UNITAU – Universidade de Taubaté
UNITINS – Universidade do Tocantins
UNIVALE – Universidade Vale do Rio Doce
UNIVALI – Universidade do Vale do Itajaí
UNIVASF – Universidade Federal do Vale do São Francisco
UNIVATES – Centro Universitário Univates
Universidade FUMEC – Fundação Mineira de Educação e Cultura
UNIVERSO – Universidade Salgado de Oliveira
UNIVILLE – Universidade da Região de Joinville
UNOCHAPECO – Universidade Comunitária Regional de Chapecó
UNP – Universidade Potiguar
UPe – Universidade de Pernambuco
UPF – Universidade de Passo Fundo
UPI – United Press International
URCA – Universidade Regional do Cariri
URCAMP – Universidade da Região da Campanha
USM – Universidade São Marcos
USP – Universidade de São Paulo
UTP – Universidade Tuiuti do Paraná
16
Outros
CAPES – Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior
CA – Comitê Assessore
CD – Conselho Deliberativo
CED – Centro de Educação
CFCH – Centro de Filosofias e Ciências Humanas
CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
CTC – Conselho Técnico Científico
DGP – Diretório dos Grupos de Pesquisa
DMTOE – Departamento de Métodos, Técnicas e Orientação da Educação
FINEP – Financiadora de Estudos e Projetos
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IC – Iniciação Científica
INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
MEC – Ministério da Educação
MTC – Ministério da Ciência e Tecnologia
PNPG – Plano Nacional de Pós-Graduação
PPGE – Programa de Pós-Graduação em Educação
PROPESP – Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-graduação
PROPLAN – Pró-Reitoria de Planejamento e Desenvolvimento
TCC – Trabalho de Conclusão de Curso
17
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
.............................................................................................................
..
....
18
CAPÍTULO I: A TEMÁTICA GÊNERO NA PRODUÇÃO CIENTÍFICA DE
PESQUISADORAS/ES.......................................................................................................
26
1.1 ESTUDOS SOBRE A TEMÁTICA GÊNERO NA PRODUÇÃO ACADÊMICA........
27
1. 2 GÊNERO: CIÊNCIA, CONCEITO E (RE)CONSTRUÇÃO ....................................... 34
1.2.1 Pinçando alguns elementos: do modelo do sexo único e hierárquico à
diferenciação sexual.............................................................................................................
37
1.2.2 No princípio... Era o Femini
no
.
..
...........................................................................
....
40
1.2.3 O fragor do gênero
...
...................................................................................................
46
1.2.4 A díade relacional
.
.
.....
....
..........................................................................................
..
50
1.2.5 O refinamento social das relações de gênero
............................................................
55
CAPÍTULO II: A PRODUÇÃO CIENTÍFICA GENERIFICADA NOS GRUPOS
DE PESQUISA BRASILEIROS........................................................................................
63
2.1 O PANORAMA CIENTÍFICO DA PRODUTIVIDADE NO CNPQ: MAPEANDO
QUESTÕES REFERENTES AO GÊNERO.........................................................................
65
2.1.1 Os estudos generificados nas áreas do conhecimento
.
.
............
.............................
...
66
2.1.2 No esboço assimétrico das regiões geográficas brasileiras, a temática gênero
.
.
.
..
71
2.1.3 O
s grupos no contexto das instituições de pesquisa e das unidades federativa
....
78
2.2 NOS GRUPOS, AS/OS PESQUISADORAS/ES: O FRONTISPÍCIO DE UMA
CIÊNCIA MASCULINA......................................................................................................
83
2.2.1 A segmentação na liderança científica: um quadro em mudança
..........................
84
CAPÍTULO III: A PRODUÇÃO CIENTÍFICA GENERIFICADA NOS GRUPOS
DE PESQUISA SEDIADOS NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PA.................
102
3.1
MAPEANDO O PERFIL DA PESQUISA GENERIFICADA NA UNIVERSIDADE
FEDERAL DO PARÁ...........................................................................................................
103
3.2 A PRODUTIVIDADE GENERIFICADA NOS CURRÍCULOS LATTES DE
PESQUISADORAS E PESQUISADORES DOUTORAS/ES NA UFPA, DURANTE O
PERÍODO 1995-2006............................................................................................................
111
3.2.1 Projetos de investigação desenvolvidos pelos grupos de pesquisa sobre gênero
na UFPA...............................................................................................................................
112
3.2.2 A produção científica alusiva aos grupos d
e pesquisa sobre gênero na UFPA
..... 117
CONSIDERAÇ
ÕES FINAIS
..............................................................................................
13
5
REFERÊNCIAS..................................................................................................................
154
ANEXOS
...............................................................................................................................
166
18
INTRODUÇÃO
Esta dissertação foi balizada por uma atitude investigativa que procurou compreender
e interpretar a produção generificada do conhecimento no interior da Universidade Federal do
Pará. Nesse contexto, foram radiografados os indicadores de produtividade científica,
concernentes às relações de gênero, dos grupos de pesquisa cadastrados no Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), durante o período de 1995 a 2006.
O significativo aumento do número de programas de pós-graduação, a partir de 1965,
possibilitou que mais pessoas se empenhassem na dedicação às pesquisas brasileiras,
aumentando a quantidade de pesquisadoras/es e, conseqüentemente, a ampliação nos números
dos grupos de pesquisa. Nesse período, as investigações sobre a mulher e relações de gênero
estavam adstritas aos pouco freqüentes estudos que, ligados às concepções tradicionais das
disciplinas, não geravam interesses, pois eram considerados pelas academias como temas de
menor importância.
No decorrer do período de 1970-1975 em âmbito internacional o movimento feminista
se manifestava com grande força, enquanto no Brasil ainda estávamos emergindo nestas
discussões, pois havia um grande entrave situado naquele conturbado tempo histórico em que
o país vivia. O feminismo era encarado como um estilo de vida burguês e moda importada,
entretanto, o tema era mal visto tanto na seara política, como no campo acadêmico, nesse
sentido, tornou-se incompatível o interesse pelo tema e a vida profissional.
Porém, essas discussões tiveram acolhida em espaços importantes como é o caso da
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC)
1
que em 1972 incluía em sua
agenda estudos concernentes à mulher; em 1975 constituiu uma mesa-redonda e mais tarde
passou a aceitar trabalhos de grupos feministas mesmo que não tivessem vínculo com a
referida instituição promotora. A partir de 1974 a Fundação Ford foi aos poucos percebendo o
interesse pelo tema entre pesquisadoras/es brasileiras/os e também passou a apoiar seus
estudos. Em 1977 foi a vez do CNPq e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (INEP) e no ano de 1978, a Fundação Carlos Chagas (FCC)
promoveu o primeiro concurso de pesquisas sobre a mulher brasileira.
Embora no princípio a difusão desse tipo de estudo tivesse se deparado com a ausência
de financiamentos, o processo de ampliação dos espaços institucionais abertos a discussões
em torno da mulher e posteriormente das questões de gênero havia se tornado inevitável e
19
necessário. Mais tarde, as pesquisadoras que davam ênfase ao especialmente feminino
sentiram a necessidade de mais expansão e compreenderam que os estudos sobre a mulher
diziam respeito também aos homens, a partir de então passou a falar em estudos das relações
entre os sexos ou das relações de gênero (afim de desbiologizar a noção de sexo).
Na atualidade é inegável a expansão dos estudos de gênero no Brasil. As pesquisas em
torno deste tema espalharam-se pelo país (com as disparidades regionais que marcam toda
produção científica brasileira), pesquisadoras/es de várias filiações teóricas e disciplinares têm
contribuído significativamente para a ampliação das discussões acerca das relações de gênero
atreladas à compreensão e à análise das questões sociais e educacionais.
A academia tem se mostrado partícipe no processo de compreender e colaborar com
outras perspectivas na abordagem da temática propondo seminários, congressos, encontros,
linhas de pesquisa, grupos de trabalho, núcleos de estudo, grupos de pesquisa, entre outros.
Em especial, os grupos de pesquisa brasileiros também têm se esmerado nessa discussão, seja
promovendo eventos, seja produzindo e divulgando suas pesquisas acadêmicas ou mesmo
fomentando a participação das/os aprendizes de pesquisa nas suas empreitadas em torno de
uma determinada preocupação investigativa que envolva as relações de gênero.
O crescente surgimento dos grupos de pesquisa que se debruçam nos estudos em torno
do gênero provou a articulação da temática a outras dimensões como raça/etnia, religião,
classe, nacionalidade, entre outras, e potencializou ainda mais a pluralidade teórico-
metodológica e temática existente na produção desse tipo de conhecimento, alimentando a
pesquisa intelectual brasileira com um maior volume de trabalhos acadêmicos.
A escolha do tema se justifica pela ocorrência de estudos realizados em dois
momentos ímpares da trajetória acadêmica da pesquisadora no curso de Licenciatura Plena
em Pedagogia da Universidade Federal do Pará. O ano de 2001 marcou o primeiro momento,
quando na condição de bolsista de iniciação científica (IC)
2
fez parte da equipe que atuava no
projeto de pesquisa intitulado “Memórias de professoras: um estudo sobre a escolarização em
educandários paraenses nos anos de 50/60”
3
. No segundo, ao deter-se em uma continuação
daquele estudo, na ocasião da produção do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) intitulado
“Formação de professoras em escola confessional em Abaetetuba-PA nos anos 50/60”
(MAUÉS; SANTOS, 2003). Estes estudos aliados às inquietações pessoais provocadas
1
Que deu mostras de seu relevante papel político como espaço alternativo de oposição ao contexto brasileiro
vivenciado na década de 1970.
2
Contando com o apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq).
20
pela/na vivência de um ser feminino, impulsionaram na pesquisadora a vontade de pesquisar
questões relativas ao gênero.
A opção pelo período de 1995 a 2006 se deu em razão das séries históricas (dados)
necessárias à realização da presente pesquisa, estarem em maior disponibilidade para o acesso
no site do CNPq durante o tempo transcorrido em questão, além de ser uma periodização que
marca o ano de formação dos grupos em foco na UFPA. Portanto, este estudo permite
vislumbrar, em um período de onze anos, a proliferação salutar das produções acadêmicas e
Grupos de Pesquisa que trabalharam questões alusivas ao gênero no âmbito nacional e local.
A pretensão inicial para esta pesquisa objetivou realizar um estudo que tinha a
proposição de pesquisar como as questões alusivas ao gênero se entrecruzavam nos percursos
formativos de pesquisadoras/es do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) do
Centro de Educação (CED) localizado na Universidade Federal do Pará (UFPA). O tripé
temático memória-formação docente-gênero atravessaria a abordagem teórico-metodológica
desta proposta, na qual eu pretendia tecer uma interface entre a discussão do trabalho com a
memória e os depoimentos orais das/os pesquisadoras/es da UFPA.
Nessa proposta, os momentos que balizaram o processo de formação para o doutorado
seriam a referência principal para o alcance das questões norteadoras, uma vez que a memória
teria um papel crucial nos caminhos dessa investigação, pois foi vislumbrado que através de
depoimentos dos sujeitos da pesquisa, seria possível compreender melhor como os gêneros
são aprendidos também nos espaços onde ocorre a qualificação no âmbito stricto sensu, uma
vez que este lugar o esincólume à formação que (re)produz subjetividades femininas ou
masculinas.
Através dessa primeira proposta de trabalho vislumbrava-se uma proficiente reflexão
acerca da realidade concreta, a partir do esforço que levasse a uma atividade de abstração, ou
seja, um certo distanciamento que possibilitasse aos sujeitos desfiar com acuidade o enredo de
sua própria história adeslanchar em sua prática formativa para reavaliá-la, modificá-la ou
mesmo mantê-la.
Entretanto, um novo interesse surgiu a partir de uma sugestão lançada pela Banca
Examinadora à época da qualificação no mestrado, através da qual deveria ser trazido para os
holofotes acadêmicos um mapeamento do conhecimento produzido pelos grupos de pesquisa
que realizam apreciações no campo do estudo das relações entre os sexos, no contexto da
3
Esse projeto de pesquisa contou com a Coordenação da Profa. Dra. Josenilda Maria Maués da Silva, lotada no
Departamento de Métodos, Técnicas e Orientação da Educação (DMTOE/CED/UFPA).
21
região Norte, alertando para a reflexão do quadro apresentado pelas/os pesquisadoras/es da
UFPA. Sugestionado pela banca optou-se pelo novo desafio.
A participação e publicação de trabalhos acadêmicos em vários eventos científicos
durante o trajeto no curso de Pedagogia, bem como no mestrado, ao constituírem minha
formação também tiveram sua parcela de responsabilidade nas escolhas nesta investigação.
A pertinência deste estudo reside na apresentação e disponibilização de uma
radiografia da produção acadêmica generificada de pesquisadoras/es vinculadas/os aos grupos
de pesquisa distribuídos pelas instituições brasileiras, em especial, a Universidade Federal do
Pará. Porque admitir que o fato de vermos que persiste uma maioria de mulheres ou de
homens em determinados espaços, implica reconhecer que em qualquer seguimento de
trabalho, “[...] seja exercido por homens ou por mulheres, o gênero faz diferença. E que a
incorporação dessa perspectiva não pode ser apenas um aditivo às nossas análises habituais,
[...] mas exige uma revisão de todas as categorias explicativas” (CARVALHO, 1996, p. 79).
Neste contexto, as discussões em torno das relações de gênero, não devem ser
utilizadas “[...] como uma especificidade a ser adicionada a posteriori à análise global, mas
como uma determinação que pode estar alterando o significado de categorias e processos [...]”
(CARVALHO, 1996, p. 80), posto que, estar na condição de pesquisadora ou pesquisador,
coopera para o fazer Ciência de maneira histórica e culturalmente diferenciadas.
Portanto, ao trilhar os caminhos investigativos desta pesquisa, tenciona-se trazer para a
discussão teórica paraense a urgente necessidade de fomento a estudos que se proponham
refletir no campo da temática aqui averiguada, pois como iremos ver mais adiante, são poucos
os grupos de pesquisa que optaram pelo empenho na produção desse tipo de conhecimento,
embora tenhamos em nível nacional uma vasta produção nesse sentido, a região Norte precisa
contribuir com novas pesquisas e com números mais elevados de grupos de pesquisa,
ademais, como demonstrou a pesquisa de Meyer; Ribeiro e Ribeiro (2004), eles são
responsáveis por uma considerável parcela das produções existentes em todas as áreas.
Assim, procura-se trazer para a UFPA, enquanto importante espaço histórico e
formador de profissionais da região, um alerta que aponte para a necessidade da produção de
trabalhos que tenham como foco central uma preocupação que enfeixe as relações de gênero e
a produção de pesquisadoras e pesquisadores.
Também se pretende contribuir com o Programa de Pós-Graduação em Educação, no
sentido de fornecer uma produção teórica que possa auxiliar no desenvolvimento de outras
22
ações e práticas investigativas que culminem em um olhar multirreferencial
4
acerca da
produção intelectual de pesquisadoras/es e de sua relação com os universos que compreendem
as questões de gênero, embebidas/os por “[...] uma postura investigativa que assuma
plenamente a complexidade da realidade, sob diferentes ângulos e perspectivas que não
sejam, necessariamente excludentes” (PIMENTA; LISITA, 2004, p.107) e nem tampouco
displicentemente generalizantes. De igual modo, esta investigação proporciona ao jovem
PPGE da UFPA somar-se aos poucos, mas crescentes estudos de gênero nas estatísticas da
região Norte.
Para a Linha Currículo e Formação de Professores, por meio deste estudo propõe-se o
surgimento de elementos que colaborem para o debate e a reflexão em torno da temática em
foco, além de proporcionar para estudantes de Pós-Graduação vinculadas/os ou não à Linha
uma possibilidade de consulta ao conteúdo expresso nesse trabalho.
Em relação à perspectiva científica, este trabalho possibilita que a partir da reflexão de
uma determinada realidade dentro do país, possa-se contribuir com o estudo mais amplo das
questões de gênero no contexto social brasileiro. No aspecto restrito, sua relevância está na
compreensão de como os estudos de gênero têm reverberado na produção de pesquisadoras/es
doutoras/es pertencentes a grupos de pesquisa da UFPA.
Do ponto de vista pessoal, este estudo oportunizou um maior amadurecimento na
tarefa de pesquisar, ler, escrever, agir e conhecer. Do mesmo modo como contribuiu também
para amadurar o olhar sobre a vida e sua relação com a profissão escolhida, onde dentre outras
atribuições, inclui a dinâmica do aprender-ensinar-aprender e tornar-se pesquisadora
subsumida por um marco indicativo de gênero.
Ao comungar das palavras de Louro (2004, p. 03) quando declarou que “[...] temos de
admitir que a tarefa de conhecer é sempre incompleta, sem fim.” E ainda nos alerta, pois
“além de uma boa dose de onipotência, a pretensão ao domínio pode significar [...] satisfazer-
se com as respostas ou as soluções que se encontrou [...] e, enfim, deixar de se empenhar”, a
pesquisadora foi impulsionada a reconhecer, não obstante sua trajetória acadêmica, que sabe
pouco acerca dos debates e acomodações que envolvem as temáticas gênero e produção de
pesquisadoras/es, e ainda como os sujeitos envolvidos nestas temáticas o concretude a elas,
portanto este trabalho, perturbado por outras leituras, decerto auxiliou na tarefa do conhecer.
Deve-se reiterar que o envolvimento da pesquisadora nesta empreitada, leva em
consideração que alguns sujeitos envolvidas/os em sua pesquisa são formadoras/es e
4
Expressão utilizada por Ardoíno apud Pimenta e Lisita (2004, p. 107).
23
formadas/os no espaço onde se encontra na condição de mestranda, estando, portanto, sendo
formada e formando a partir das experiências generificadas destas/es pesquisadoras/es. Essa
relação leva a pesquisadora a perceber que através deste estudo pode refazer a si mesma,
que como assevera Corazza (2002, p. 127) “[...] uma prática de pesquisa está implicada por
nossa própria vida [...]” e para desenhá-la de outras maneiras é necessário que “[...] o/a
pesquisador/a empenhe-se em fazer sua existência de outro modo, a mudar suas relações com
o saber e o poder, a perder a verdade de sua própria formação identitária para que o si
mesmo/a seja refeito” (CORAZZA, 2002, p. 127).
As reflexões construídas neste estudo tiveram como eixo basal as seguintes questões
propulsoras: 1) O que se tem discutido, no campo acadêmico, em torno das questões de
gênero? 2) Como está evidenciada a produção científica generificada na base de dados dos
grupos de pesquisa cadastrados no CNPq durante o período 1995 a 2006? 3) Como se
apresenta a produção generificada das/os pesquisadoras/es, nos grupos de pesquisa, a partir
dos indicadores estatísticos no Campus da UFPA de Belém?
O objetivo geral neste estudo foi realizar um mapeamento a respeito das produções
científicas das/os pesquisadoras/es vinculadas/os a grupos de pesquisa situados na UFPA, no
período de 1995-2006, visando analisar como as questões referentes ao gênero se projetaram
em pesquisas realizadas naquela instituição no decorrer do período supracitado.
No aspecto tocante às inquietações de cunho específico, destaca-se aqui os três eixos
retratados na investigação: I) Refletir sobre referenciais balizados pelos estudos das questões
de gênero apontados em produções teóricas brasileiras; II) Identificar, a partir dos dados
fornecidos pelo CNPq, como está incidida a produção científica generificada dos grupos de
pesquisa brasileiras/os; III) Analisar de que maneira se apresenta a produção intelectual na
UFPA, a partir dos indicadores da pesquisa científica que apontam para os estudos referentes
às questões de gênero realizados por pesquisadoras/es do Campus de Belém.
Com relação aos procedimentos metodológicos adotados para efetivar a concretização
desta pesquisa foi realizada, em primeiro lugar, a revisão da literatura referente aos eixos
centrais da investigação, através do levantamento de fontes bibliográficas com o intuito de
produzir um olhar informado pela perspectiva do gênero. Após isto aconteceu a organização e
leitura minuciosa dos textos selecionados.
Passados estes primeiros momentos, inicialmente foram escolhidos como campos
fornecedores de dados estatísticos necessários à pesquisa, a Coordenadoria de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (CAPES) situados no site
http://www.capes.gov.br e do CNPq localizado no http://www.cnpq.br/index.htm. Para ter
24
acesso a essas informações foi utilizado o recurso da Internet, porém ao buscar as fontes
notou-se que nos quadros fornecidos pela CAPES não estavam tabuladas estatísticas
demográficas sobre pesquisadoras/es. Ao entrar em contato, via e-mail, com a mencionada
instituição através do endereço eletrônico [email protected] (LOURENÇO,
2006), obteve-se a confirmação da constatação inicial. Todavia, esse fato comprometeria o
andamento dos estudos, por esse motivo escolheu-se apenas o CNPq como base para a coleta
de dados.
No próximo passo, em busca de uma visão panorâmica dos grupos de pesquisa,
solicitou-se junto ao Diretório dos Grupos de Pesquisa (DGP) do CNPq que revelasse os
grupos nele cadastrados. Com o resultado, as informações foram organizadas a fim de obter o
número real de grupos que declararam realizar atividades de pesquisa em torno das relações
de gênero; nos grupos que levantavam dúvidas foi necessário abrir outras janelas virtuais para
verificar as palavras-chave, as linhas de pesquisa em que os grupos atuavam na instituição e
por fim o resumo que indicava as atividades de cada grupo em questão. Na continuidade,
foram averiguados também quantos grupos existiam em cada instituição, o número deles
divididos por área de estudo, como estava composta a liderança sob a ótica dos sexos e a
quantidade de pesquisadoras e pesquisadores participantes que possuem o título de
doutoramento.
Em seguida, visando ampliar a margem de segurança que as informações relatadas
acima haviam me garantido, efetuou-se uma análise complementar de outros dados
encontrados nas séries históricas e súmulas estatísticas sobre os grupos de pesquisa em geral,
as linhas de pesquisa e pesquisadoras/es doutoras/es.
O próximo caminho consistiu no requerimento dos trâmites legais necessários à
cessão, por parte da Pró-Reitoria de Planejamento e Desenvolvimento (PROPLAN), do
número de pesquisadoras/es doutoras/es vinculadas/os à Universidade Federal do Pará durante
o período de escolha para a realização deste estudo, de modo a garantir com clareza quantas
pessoas estudavam as relações de gênero na instituição elencada para a realização desta
investigação e como estavam distribuídas segundo as respectivas áreas do conhecimento.
Para dar prosseguimento a essa fase da pesquisa, na qual se objetivou a análise dos
índices da produção generificada de pesquisadoras/es doutoras/es ligadas/os à UFPA,
considerou-se o cadastro de dados curriculares registrados na base de dados do Currículo
Lattes (http://lattes.cnpq.br/curriculo/htm), mantido sob o acompanhamento e avaliação do
CNPq. Nesse sítio, foram alvos do esquadrinhamento realizado, os seguintes itens: formação
acadêmica/titulação, atuação profissional, orientações (iniciação científica, TCC,
25
monografias, dissertações e teses), participação em projetos de pesquisa, produção científica,
tecnológica e artística; que por sua vez estão organizados em artigos completos publicados em
periódicos, livros publicados/organizados ou edições, capítulos de livros publicados, trabalhos
completos publicados em anais de congressos, resumos publicados em anais de congressos,
produção técnica.
Todos os dados encontrados foram organizados e impressos, para na seqüência serem
tabulados, confrontados e analisados a partir das orientações e base teórica adquirida
anteriormente e no decorrer de todo o processo, para posterior armazenamento em arquivos
pessoais.
A estrutura da dissertação se encontra concatenada da seguinte maneira:
O primeiro capítulo intitulado “A temática gênero na produção científica de
pesquisadoras/es”, explora os resultados de um estudo realizado acerca das produções em
nível de dissertações de mestrado cadastradas no Banco de Teses da CAPES, através do qual
foram verificadas as principais tendências de pesquisas que relacionaram debates
concernentes ao gênero. Procura discutir, a partir do referencial teórico adotado, a categoria
de análise gênero.
No segundo capítulo, “A produção científica generificada nos grupos de pesquisa
brasileiros”, encontra-se a descrição e a apreciação dos indicadores estatísticos disponíveis no
site do CNPq, relativos aos grupos que contribuíram para o surgimento de produções
intelectuais acerca da temática gênero.
O terceiro capítulo, intitulado A produção generificada dos grupos de pesquisa
sediados na Universidade Federal do Pará”, traz à baila os índices da produtividade
generificada de pesquisadoras/es doutoras/es no decorrer do período de 1995-2006. Na esteira
desse levantamento, o capítulo mostra uma análise da produção generificada do conhecimento
acadêmico no copioso interior da instituição citada.
Nas considerações finais, com amparo na perspectiva do gênero argumenta-se que as
construções culturais por tecerem um tipo de mulher e homem, baseadas em uma sociedade
patriarcal renderam à Ciência um caráter masculino que acabou criando entraves à
participação feminina naquele campo. Reitera-se que os interessantes números dos grupos de
pesquisa brasileiros que consideram a temática gênero em suas investigações garantem a
divulgação e elevação desse tipo de conhecimento no âmbito acadêmico. Para finalizar,
discute-se que a produção intelectual sobre gênero na UFPA comprova a posição de destaque
que a referida instituição assume no quadro nacional e tem ligação direta com a atuação de
26
pesquisadoras e pesquisadores situadas/os em posição de vanguarda que atuam em seus
grupos de pesquisa.
27
CAPÍTULO I
A TEMÁTICA GÊNERO NA PRODUÇÃO CIENTÍFICA
DE PESQUISADORAS/ES
O mundo social constrói o corpo como realidade sexuada e
como depositário de princípios de visão e de divisão
sexualizantes. Esse programa social de percepção incorporada
aplica-se a todas as coisas do mundo e, antes de tudo ao próprio
corpo, em sua realidade biológica: é ele que constrói a
diferença entre os sexos biológicos, conformando-a aos
princípios em uma visão mítica do mundo, enraizada na relação
arbitrária de dominação dos homens sobre as mulheres. [...] A
diferença biológica entre os sexos, isto é, entre o corpo
masculino e o feminino, e, especialmente, a diferença
anatômica entre os órgãos sexuais, pode assim ser vista como
justificativa natural da diferença socialmente construída entre
os gêneros e, principalmente, da divisão social do trabalho.
(BOURDIEU, 2002, p. 20, grifos no original)
Pretende-se neste capítulo sondar o que se tem discutido, no campo acadêmico, em
torno das questões de gênero. Para investir na reflexão dos referenciais apontados nas
produções teóricas brasileiras, decidiu-se averiguar produções em nível de mestrado que
alegaram ter realizado pesquisas em torno da temática gênero. No prosseguimento, buscou-se
aportes teóricos para compreender os enleios da categoria que enfeixa esta pesquisa.
Desenvolvido inicialmente na esfera das Ciências Humanas e Sociais, o tema gênero
trouxe à baila o estudo das relações de gênero, travando uma discussão nos espaços capilares
da sociedade a respeito de mulheres e homens. Essa interseção foi traçada ao abrigo das
teorias críticas feministas no começo dos anos de 1980 e nos legaram um importante
construto analítico, através do qual abordar o feminino sem relacioná-lo ao masculino (o
sentido inverso é igualmente aplicável) é uma atitude cáustica aos estudos dessa natureza.
Nesse panorama, a proposta de (des)construção do gênero necessariamente trabalha
com mulheres e homens, procurando entrever que as relações de nero são
peremptoriamente, animadas pela cultura e pela história. Esses núcleos aglutinadores erguem
princípios sociais e condutas para os sexos que, por sua vez, são acometidos por mudanças
que se espraiam em tempos e espaços diferentes dando seqüência a outros matizes, ao
contrário da visão biologicista que procura manter-se incólume e indelével ao tergiversar em
torno de questões legitimadoras das distinções sexuais através de uma suposta naturalidade,
28
logo, contra esse estado de coisa nada se pode fazer, porque originalmente se é natural, é
perene.
1.1 ESTUDOS SOBRE A TEMÁTICA GÊNERO NA PRODUÇÃO ACADÊMICA
Para ter um conhecimento mais atualizado acerca do que se tem produzido sobre a
temática relativa ao gênero no campo da pós-graduação brasileira, escolheu-se garimpar as
dissertações de mestrado cadastradas no Banco de Teses da CAPES e localizadas em seu site
oficial http://www.capes.gov.br/, uma vez que essa base de dados torna disponíveis os
resumos de dissertações e teses defendidas em todos os programas de pós-graduação
brasileiros. Como fonte de informação, selecionei apenas as dissertações em vista de
inicialmente buscar uma exposição geral do tipo de produção generificada que se encontra em
nível de mestrado, lugar onde também se situa minha investigação.
Também vale ter presente que as produções acadêmicas analisadas, neste primeiro
momento, foram defendidas no decurso do ano de 2004 e são consideradas as mais recentes,
pois para além deste tempo não há registros no cadastro eletrônico fornecido pela CAPES.
A pesquisa se deu a partir da solicitação do assunto gênero, a princípio surgiram 196
dissertações cadastradas, mas, após minuciosa leitura dos títulos, palavras-chave e resumos
das referidas produções, restaram apenas 69 delas, distribuídas segundo a ordem de maior
número de produtividade entre as áreas de Educação, Serviço Social, Sociologia, História,
Psicologia, Letras, Educação Física, Teologia, Economia Doméstica, Tecnologia, Direito,
Geografia, Literatura Brasileira, Lingüística, Filosofia, Ciências Sociais, Antropologia,
Administração e Sexologia. Após a impressão e releitura das informações encontradas,
defrontou-se com as seguintes características:
Dos 69 trabalhos que versam sobre a temática gênero, um total de 26,07% (18)
abordam a identidade, dedicam-se à educação 21,74% (15), focalizam o trabalho 17,4% (12),
tratam da violência 11,6% (8), ocupam-se das representações 10,14% (7), estudam a formação
docente 2,9% (2), pesquisam questões acerca dos movimentos sociais 2,9% (2), faz
considerações em torno do currículo 1,45% (1), do espaço 1,45% (1), versa sobre o direito
1,45% (1), as relações sociais 1,45% (1) e tecnologia 1,45% (1).
Para efeito de melhor visualização, dividiu-se a seguir os temas descritos acima em
dois grupos. No primeiro, estão elencados os que somam um maior número de assuntos
relacionados aos respectivos temas. No segundo, constam aqueles que têm assuntos cujos
temas foram pouco abordados.
29
Grupo 1
Nas pesquisas que abordam as questões de gênero ligadas ao tema identidade
encontrou-se estudos sobre contos de fada contemporâneos, revistas feministas,
masculinidade, romances femininos e brasileiros, religião, raça, mulheres jovens, docência,
educação superior (pós-graduação), terceira idade e transexualismo. No campo da educação
aparecem análises como: educação ambiental, educação infantil, educação física,
escolarização, ecologia, mulheres na família, masculinidade, escolas agrotécnicas, educação
feminina e sexualidade. O tema trabalho inclui cuidados especiais com a discriminação,
trabalhadoras/es rurais, mulheres empreendedoras, mulheres ribeirinhas, escravidão, trabalho
feminino, educação superior, feminização, agricultura familiar, saúde da mulher e
subordinação feminina. Por sua vez as análises concernentes à violência inspecionaram a
relação conjugal, escolar, sexual, mulheres carcerárias e exploração sexual de crianças e
jovens do sexo feminino. as representações dedicam-se à publicidade turística, histórias
infantis, relação com o corpo, educação escolar, magistério e revistas voltadas ao público
feminino ou masculino.
Grupo 2
Os estudos sobre formação docente nas dissertações estudadas trabalham com a
formação em nível de magistério e educação superior (Pedagogia). As apreciações que
privilegiaram gênero e os movimentos sociais discorreram sobre militância feminina e
trabalho rural. O exame de questões curriculares, por seu turno, leva em consideração eventos
relacionados à docência. No que diz respeito ao espaço enquanto resultado de uma construção
que recebeu influências marcadas pelo gênero, este estudo recorre aos aspectos da chamada
geografia feminina. Em relação ao campo do direito, nota-se uma abordagem acerca da
contribuição da filosofia para a formulação dos direitos legais da mulher. No tocante ao tema
relações sociais, o alcoolismo feminino é incluído como pauta de discussão e por último
focaliza-se o fenômeno da tecnologia aliado às relações de gênero no contexto de uma
organização não-governamental do Brasil.
Nota-se nos grupos 1 e 2 a multiplicidade de conceitos que parecem agitarem-se para
direcionamentos o coincidentes, inclusive procurando consistências explicativas em
diferentes matrizes. Essa dessemelhança pode ter em seu âmago relação com os diferentes
30
posicionamentos disciplinares e teóricos que a categoria gênero transporta em sua bagagem
histórica.
Outra característica desses grupos é a insistência de pesquisas relacionadas
diretamente com a questão feminina. Isso é muito emblemático, pois, a despeito de as 69
dissertações estarem disponíveis segundo uma dada perspectiva dos estudos das relações de
gênero, considerou-se que apenas 34,78% (24) trazem de fato contribuições naquele sentido,
uma vez que 50,72% (35) discutem questões referentes exclusivamente à mulher e 14,5% (10)
tratam somente a respeito dos homens.
A maior parte das dissertações (38) faz alusão direta ao gênero em seus títulos,
entretanto, 26 deles tratam do sexo feminino ou do masculino, restando nesse conjunto
analisado apenas 12 dissertações que de fato parecem cumprir com a proposta de estudo
anunciada no título. A situação contrária também ocorre, pois, na outra ponta, alguns
trabalhos (3), ao fazerem referência a um dos sexos em seus títulos, acabam discutindo nos
resumos, assuntos consubstanciados nas relações de gênero. Outros (30) ainda indicam em
seus resumos ter vínculos com a temática aqui discutida, porém no prosseguimento da leitura
daquele elemento, é perceptível a preocupação com o sondamento da realidade de mulheres
ou apenas de homens.
Como verificado, 65,2% (45) das dissertações escolhidas para esse estudo parecem
estar ancoradas na idéia de que mulher (principalmente) ou homem são sinônimos de nero,
o problema está na maneira como esses sujeitos aparecem, na maioria dos casos, de modo
dicotomizado e hierárquico, encarados a partir do pólo dominada-dominador. Deve-se
lembrar que não se pretende diminuir ou pulverizar as contribuições que as dissertações
encaixadas nessa análise trazem não para o seleto meio acadêmico, como também para a
sociedade em geral.
É interessante como um expressivo número de dissertações que afirmam estar atentas
às questões de gênero, são constantemente flagradas exibindo uma idéia fixa acerca de
estudos circunscritos em torno da mulher, chegando a não distinguir as categorias gênero e
mulher quando efetivam a permutação de uma palavra pela outra sem qualquer diferenciação.
É importante avivar esse acontecimento, em vista de chamar a atenção para o fato de
trabalhos, cujas/os autoras/es optaram pela escolha do elemento basal mulher serem
diferenciados daqueles que têm como substrato o gênero, na medida em que trabalhos que
abordam as mulheres não são a mesma coisa que trabalhos que examinam acerca do gênero.
Jardim e Abramowicz (2005) ao procurarem explicitar as tendências da produção
sobre gênero e educação nas dissertações de mestrado paulistas, notaram que essa confusão
31
entre gênero e mulher é uma característica bastante comum nos trabalhos analisados e que
tem suas raízes no despertar da categoria gênero, originária do bradar feminista ávido por seus
direitos, onde nesse bojo também exigiam que as mulheres saíssem do anonimato histórico,
fundamentalmente, através de estudos sobre a condição feminina.
Logo, o gênero ainda é referido às mulheres justamente porque surgiu de uma
recalcitrante batalha de cunho feminista. Segundo as autoras, essa informação guarda a
possibilidade de constituir-se em uma indicação para compreendermos porque algumas
pesquisas ainda continuam abordando o gênero de forma a não explorar as potencialidades
que essa categoria traz consigo. Para Bruschini e Umbehaum (2002) essa dificuldade em
reconhecer as distinções entre nero e mulher pode indicar que os estudos em torno dessa
temática têm adotado uma forma bastante restrita de explanação, porque não estão explorando
as potencialidades que a categoria contém.
No caso específico deste estudo, fica provado que a limitação da categoria gênero o
é um problema apenas detectado na área da educação (ROSEMBERG, 2001a), pois, a partir
da averiguação das áreas, onde estão vinculadas as dissertações aqui declaradas, ficou
evidenciado que além da educação, outras 18 áreas do conhecimento mostraram estar ligadas
à produção de estudos relacionados ao gênero e que através de seus resumos apontaram para
os equívocos descritos acima.
Alguns trabalhos que correspondem a 65,2% (45), ao assumirem como referência a
categoria gênero, mesmo frisando seu aspecto relacional, incorrem no erro de proporem o-
somente a relação menina e menino, mulheres e homens, sem recorrer a outros vértices como,
por exemplo, raça, classe, etnia, sexo, cultura, dentre outros possíveis de serem operados em
uma determinada preocupação de estudo. Por outro lado, também aqueles que procuram
compreender o que pensam mulheres e homens sobre determinados aspectos da realidade,
visualizando a relação entre os sexos e fazendo com que a categoria gênero seja evidenciada
de outra maneira, todavia isso acontece em apenas 34,8% (24) dos trabalhos em questão.
No que diz respeito à autoria, a impressionante marca de 92,75% (64) das pesquisas
em debate foram realizadas por mestrandas e somente 7,25% (5) da amostra eram mestrandos.
Isso é sintomático, pois a maciça presença de mulheres foi insofismável no processo de
engendramento da área de estudos a respeito das mulheres, porém Louro nos lembra que estas
primeiras investigações foram resultado [...] de uma construção teórica marcadamente
conduzida por mulheres brancas, heterossexuais, urbanas e de classe média” (2001, p. 47).
Segundo a apreciação de Sorj e Heilborn (apud JARDIM; ABRAMOWICZ, 2005)
historicamente existe uma vigorosa fusão entre o movimento de mulheres e a área dos estudos
32
de gênero, o que possivelmente esteja causando embaraços a uma presença masculina mais
significativa em termos de quantidade, fazendo com que estes estudos continuem sendo
encarados como uma espécie de reduto feminino. Portanto, as questões concernentes ao
gênero parecem continuar atraindo o interesse de mulheres em detrimento aos dos homens.
Quando o assunto é orientação, os números apontam para 73
5
pessoas no total, das
quais 71,23% (52) pertencem ao sexo feminino e 28,77% (21) ao masculino. Estes dados
podem ser traduzidos diante da preferência por orientadoras e/ou pelo fato destas, em maior
número, estarem dedicando-se a temáticas relacionadas ao gênero, restando assim menos
opções de escolha por orientadores do sexo masculino, uma vez constatado a pouca
freqüência com que eles incluem o interesse por esses estudos, em sua área de conhecimento.
Essa análise também pode ser transposta para a realidade das bancas examinadoras, onde
foram registradas a presença de 152 avaliadoras/es divididas/os em 75% (114) mulheres
contra 25% (38) de homens.
Comparando-se os índices de 92,75% (64) de orientandas e 71,23% (52) de
orientadoras, vamos perceber que houve um decréscimo na quantidade dessas últimas em
relação às primeiras. Essa diferença entre autoria e orientação pode estar refletindo os
dissabores da dominação de gênero no mercado de trabalho, neste caso, trata-se de um campo
onde ocorre deliberadamente a preponderância de mulheres. No entanto, conforme
Rosemberg (2001a) e Paschoali (2005) alguns homens subitamente conquistam posições de
relevo até mesmo em decorrência dos incentivos que lhes são conferidos, no entanto a
situação inversa dificilmente será vivenciada por mulheres que porventura estejam inseridas
em profissões ou atividades consideradas masculinas.
Na contramão dessa grande quantidade de pesquisadoras e orientadoras envolvidas
com os estudos de gênero, detectou-se que, inadvertidamente, uma utilização de termos no
genérico masculino, mesmo nas dissertações que afirmam estar analisando na seara das
discriminações sexuais. Essa consignação nos remete ao candente debate acerca da
linguagem, pois quando nos dispomos a compreender que ela foi/é atuante na constituição dos
sujeitos e que a estamos construindo a partir da cultura, torna-se nítido que a imposição do
masculino como regra na linguagem não só expressa como institui o ocultamento do feminino
(LOURO, 1995). Esse tipo de linguagem produz um efeito tão real e inquestionável quanto
durador, que se naturaliza a ponto das próprias mulheres, ao fazerem referência a si, falarem
5
Algumas dissertações foram auxiliadas com a presença de mais que um/a orientador/a.
33
no masculino recorrendo a uma linguagem dita asséptica, generalizante e neutra
(ESTUMANO, 2004).
Consultando as universidades brasileiras, com as quais estão vinculadas as
dissertações antepostas para essa análise, corroborou-se que durante o ano de 2004 houve uma
concentração de produções em algumas universidades em prejuízo de outras. A tabela abaixo
mostra com detalhes essa informação:
Tabela 1 – Universidades que apresentam dissertações cadastradas no site da CAPES
que versam sobre os sexos ou relações de gênero, 2004
Universidades
Nº. de dissertações
Universidades
Nº. de dissertações
UFPE
4
UFC
1
UFSC 4 FURG 1
UFRJ 4 EST 1
UFPR 3 UFMT 1
USP
3
UFPI
1
UFRN 3 UFES 1
UCPEL 2 UFPel 1
UFF 2 FUEC 1
UEL
2
UNESA
1
UFMG 2 UNISINOS 1
UNIJUÍ 2 USM 1
FAJE 2 UERJ 1
UFV
2
ENCE
1
UFBA 2 UFRGS 1
PUC/SP 2 UFMS 1
CEFET/PR 2 UNIOESTE 1
UFPB
2
UFPA
1
Unicamp 2 UGF 1
Unesp 2 UCG 1
UCB 2 UMESP 1
Fonte: CAPES (2004).
Pode-se depreender que uma pequena quantidade de 06 universidades, correspondendo
ao percentual de 15% do total dessas instituições, possuem trabalhos que foram produzidos
objetivando colocar em evidência questões relacionadas ao gênero ou mulher/homem. Em
primeiro lugar aparecem a UFSC, UFPE e UFRJ cada uma exibindo 5,8% (4) de estudos
34
naquele campo mencionado; em segundo estão a UFPR, USP e UFRN apresentando
individualmente 4,34% (3) daquelas pesquisas. Nesse grupo ocorre a predominância dos
números nas regiões Nordeste (UFPE e UFRN), Sudeste (UFRJ e USP) e Sul (UFSC e
UFPR), onde cada uma delas é dona de 07 produções defendidas durante o período em
análise. Vale ressaltar que a UFPA apresenta somente 01 dissertação defendida no ano de
2004, isso pode nos demonstrar a parca quantidade de produções acerca do gênero nessa
instituição.
No aspecto geral, a hierarquia das regiões fica organizada de maneira que a região
Sudeste abraça 36,23% (25) das produções, a Sul conta com 30,44% (21), em seguida a região
Nordeste soma 18,84% (13) dos trabalhos, depois veremos o Centro-Oeste com 13,04% (9) e
por fim a região Norte surge como a última colocada apontado para 1,45% (1). Nota-se, nessa
pequena amostra, que as pesquisas fomentadas pelos estudos de gênero ou por referenciais de
sexo aparecem distribuídas pelas regiões brasileiras de maneira desigual, fato que pode ser
esclarecido quando se verifica, por meio eletrônico, os dados fornecidos através do CNPq
(2004), onde é divulgada a quantidade de pesquisadoras/es e grupos de pesquisa ligados à
temática em questão.
Como se procurou demonstrar até aqui, ao realizar um laborioso levantamento das
dissertações que vaticinaram estar sondando em torno das questões de gênero, ficou claro que
bastante se tem tratado do assunto em pesquisas circunscritas no âmbito científico. Ademais,
quando se considera a recente penetração dos estudos de gênero no Brasil, compreende-se
prontamente que muito se avançou em nível de produção acadêmica. Porém, até o momento,
o estudo realizado permite fazer algumas ilações, no sentido de afirmar que ainda se faz
necessário a realização de um mapeamento dos grupos de pesquisa que promovem
averiguações acadêmicas imbricadas aos estudos de gênero e que tenham como lócus
principal as instituições de nível superior brasileiras, e mais especificadamente a Universidade
Federal do Pará.
Dentre os estudos acadêmicos investigados neste primeiro momento, encontrou-se
apenas dois que tratavam de assuntos que relacionavam a educação superior, sendo que um se
deteve na circunscrição da graduação (Pedagogia) e o outro da pós-graduação (doutorado).
Todavia, ambos prendiam suas atenções unicamente em compreensões sobre a condição
feminina. Nesse sentido, esta pesquisa procura se distanciar em relação a essa literatura
especializada, ao buscar um trilho que torne possível o deslizar por outras veredas quando
proponho uma espécie de raio-X dos grupos de pesquisa, visto que as inquietações focalizam
35
as relações de gênero e não uma situação de mulheres ou de homens esquadrinhados
isoladamente.
Em linhas gerais, encontrou-se nas pesquisas de Pimenta e Lisita (2004) que as
produções pautadas nas discussões em torno do gênero estão amplamente voltadas para o sexo
feminino e raramente vamos ver investimentos de pesquisa que tratem do sexo masculino,
portanto afunilam-se as possibilidades de estudos que vão ao encontro de uma perspectiva
relacional entre os sexos aqui tratados. Ainda segundo as autoras, quando as atenções miram o
nível superior as pesquisas que recorrem às questões de gênero no terreno da educação, em
média, situam-se em análises restritas ao curso de Pedagogia, sem contar que é muito comum
que referências em torno dessas questões apareçam massivamente também nos itens escola
normal e formação contínua (em nível de magistério).
É sempre muito auspiciosa a disposição em se pensar sobre os efeitos das produções
acadêmicas na realidade concreta, pois o simples fato das pesquisas mencionarem as relações
de gênero faz grande diferença, mas é preciso que se busquem outras interferências para
que os estudos de gênero possam trazer contribuições aos dilemas de nossa época, a fim de
superar o que Rosemberg (2001a) afirma ser uma frágil comunicação entre essas temáticas
nos trabalhos de cunho acadêmico.
Tendo em vista as considerações edificadas até aqui, procurou-se orientações teóricas
que pudessem auxiliar nessa busca de compreender e interpretar a produção generificada do
conhecimento, através das interlocuções com os estudos de gênero.
1. 2 GÊNERO: CIÊNCIA, CONCEITO E (RE)CONSTRUÇÃO
Que fatos estão organicamente ligados à preocupação que a maioria de nós carrega em
não parecermos “excêntricos”, não nos distanciando do “padrão” de mulher ou de homem
muito estabelecido? Essa inquietação humana parece se refletir em nossa vida mesmo antes de
nosso nascimento, pois a primeira pergunta que comumente se faz é: - menina ou menino?
Essa parece ser uma necessidade tão premente que nos tempos onde os avanços da
medicina ainda não consentiam aos olhos humanos identificar as esplendorosas
transformações do pequeno corpo em desenvolvimento, eram (ainda é!) muito freqüentes as
especulações que tinham por objetivo vaticinar o sexo da criança que ainda estava por vir.
Fagundes (1999, p. 170) expõe alguns destes jogos populares:
36
Um homem e uma mulher agarram cada um uma ponta da forquilha (de
galinha) e puxam ao mesmo tempo em direção contrária, até despedaçá-la.
Se a parte mais comprida ficar na mão do homem, vai nascer um garoto...
O ventre mais pontudo da mãe durante a gravidez é sinal de que vai nascer
um menino (alusão ao falo), ao passo que um ventre mais chato, largo
distendido, indica que vai nascer uma menina...
Se a gestante está de bom humor, nascerá um macho; de mau humor,
nascerá uma menina...
Se a pulsação cardíaca do feto for rápida será um garoto; se for lenta, uma
menina...
Nota-se uma ligação entre essas conjecturas populares e os usuais estereótipos sexuais
que presenciamos envolver meninas e meninos, mulheres e homens. Esses valores
estereotipados alastram-se por todas as instâncias da vida humana e “através de
generalizações forçadas [...] diferenças vão sendo estabelecidas entre homens e mulheres,
tornando seres humanos essencialmente iguais, em diferentes” (PASSOS apud FAGUNDES,
1999, p. 175).
Ao detectarem o sexo do bebê, ou mesmo antes disso, os pais ou responsáveis
6
imediatamente constroem uma série de intenções atuais ou futuras dentro de uma cultura que
dita como devem ser o sujeito feminino e o masculino, é nesse sentido que se a construção
de um corpo sexuado. Essa/e recém-nascida/o tem o compromisso de construir seu projeto
identificatório, entretanto a ela/e só é concedida uma possibilidade de escolha, a que a
biologia lhe permitiu, a priori.
No estudo relativo à construção social de mulheres e homens, Fernández (1994)
averigua que o corpo feminino ou masculino não é só produto de sua história e de seu projeto
identificatório, como também os produz. Estes corpos vão sendo construídos ao longo da vida
humana, através de eventos que são sancionados ao infante por dois sentidos: o primeiro deles
é a evidência de seu inequívoco organismo genital e o segundo tem relação com a simbologia
que envolve o fato de ter nascido mulher ou homem e pelo mito que a/o envolve dentro do
contexto vivenciado. Em razão disso, a aprendizagem a que um bebê é submetido não faz
parte de um processo assexuado, assim como no ensino formal também não o será. A respeito
disso, a referida autora comenta:
O bebê aprenderá a ser homem ou mulher, aprenderá como mulher ou como
homem, constituirá um corpo masculino ou feminino. O bebê aprenderá a
caminhar porque e somente se houver ensinantes que o ensinem a caminhar.
Não vai aprender apenas porque seu organismo tem pernas que podem
6
Sabemos que a constituição de uma família não se dá necessariamente com a composição de uma mãe e um pai
ou mesmo de uma mulher e um homem.
37
mover-se. Vai caminhar quando articular seu desejo de caminhar com o
desejo de seus ensinantes de que ele caminhe. Mas, além disso, quem vai
aprender a caminhar é um menino ou uma menina e quem vai ensinar estará
ensinando a um homem ou a uma mulher. Estará transmitindo, então, junto
com a mão que segura ou os braços que esperam esse primeiro passo de
autonomia, um significado do que é ser homem ou mulher, um significado
em relação a como caminham as mulheres ou os homens (FERNÁNDEZ,
1994, p. 38).
Se ainda aconchegado no ventre de sua mãe o bebê “chuta” com freqüência, as
pessoas logo afirmam que se trata de um menino, mas, ao nascer menina fica evidenciada a
não-correspondência entre a atividade (chutar) e a feminilidade. Esse tipo de cultura forjada
para recepcionar uma pessoa desde o seu nascimento será absorvida pela/o recém-nascida/o
que por sua vez irá tomá-la, aos poucos, como elemento atuante na construção de seu corpo,
bem como será obrigada/o - às vezes sem se dar conta disso - a seguir o caminho que seu
organismo sexuado determina (pelo menos até certa idade!).
A partir desse prisma o bebê constrói um corpo sexuado, pois aprende a se comunicar
como mulher ou como homem, conforme os papéis que se deseja de cada um dos sexos.
Nesse movimento, nem mesmo as carícias provenientes das/os adultas/os escapam de uma
significação generificada.
Para Valenzuela e Gallardo (apud FINCO, 2005, p. 08):
As crianças aprendem o sexismo na escola ao se defrontar com a hierarquia
do sistema escolar, onde os papéis feminino e masculino estão determinados.
Tal sistema define que, no futuro, os homens serão dirigentes no mundo do
trabalho, enquanto às mulheres está destinado o segundo lugar nos processos
de decisão. Isto imprime no consciente das meninas um limite para suas
ambições.
Como observado na compreensão de Fernández (1994), esse processo é iniciado
mesmo antes da escola. A questão é que se tornou lugar comum a anulação desta diferença de
gênero que perpassa não a linguagem, mas também a construção do conhecimento em
geral. Nessa direção, as áreas do conhecimento que discutem a criança, primeiro falam de
uma construção do corpo para posteriormente tratarem acerca da construção de um sexo.
Dessa forma, vistos de maneira separada, pouco contribui para uma mudança ou um
estranhamento da maneira como foram/estão naturalizadas essas relações.
Mediante o impasse de que posturas femininas e masculinas são ensinadas antes ou a
partir da escola, reconhece-se que a educação ocorre em uma variedade de espaços que não
38
estão necessariamente localizados nas instituições escolares e como afirmam Giroux e
MClarem (1995, p. 144) a pedagogia está ativa onde ocorre a produção do conhecimento,
independente do lugar ou situação no qual ele ganha corpo, “[...] em qualquer lugar em que
existe a possibilidade de construir verdades, mesmo que essas verdades pareçam
irremediavelmente redundantes, superficiais e próximas ao lugar-comum”.
Sendo assim contempla-se na atualidade a coexistência de inúmeros cenários que
protagonizam concepções de gênero, como também raça, classe, etnias, entre outros.
Tomando como eixo de referência o capcioso e atuante discurso científico, vejamos como
tiveram berço os mecanismos que cotejaram o dédalo de homens e mulheres e deram força às
discussões acerca de questões concernentes aos sexos.
1.2.1 Pinçando alguns elementos: do modelo do sexo único e hierárquico à diferenciação
sexual
Na atualidade diferenciar os sexos, salvo algumas exceções, não é tarefa difícil, pois
ao longo da existência humana se tratou de alinhar os corpos de mulheres e homens de
maneira que não ludibriassem os olhos que pretendessem identificá-los apesar das respectivas
evidências anatômicas.
No entanto, essa anatomia nem sempre foi tão denunciativa da diferença que
demarcava o sexo feminino do masculino. É o que afirma Laqueur (2001), pois ao contrário
do que podemos supor, o aspecto anatômico também foi pensado e significado de diferentes
formas no decorrer do impetuoso percurso histórico. O mesmo autor, ao realizar um paciente
estudo em documentações médicas do século XVIII, revela que foi dado como certo que o
sexo era apenas um, portanto, igual para mulheres e homens.
Weeks (2000) afirma que neste paradigma o corpo feminino era entendido como
inferior ao masculino, apesar de supostamente terem a mesma estrutura. Esse modelo
hierárquico, mas de sexo único, ao primeiro olhar pode parecer incongruente, todavia
indubitavelmente é coerente dentro da lógica que assim os qualificou, pois se lembrarmos que
o homem era o etéreo parâmetro da perfeição, fica perceptível a (des)organização desse tipo
de raciocínio. No tocante às relações sexuais é importante destacar que essa prerrogativa
associada a um parâmetro masculino, considerava também o prazer feminino como ponto
fulcral para que acontecesse a fecundação.
Este tipo de pensamento tinha suas bases de apoio no entendimento de que “durante
milhares de anos acreditou-se que as mulheres tinham a mesma genitália que os homens,
39
que [...] ‘a delas fica dentro do corpo e não fora’”. (LAQUEUR, 2001, p. 16, grifos no
original).
A gênese desse modo de pensar dominante, segundo Stasevskas (2004), foi
desenvolvida por Galeno
7
no século II depois de Cristo (d. C). Em sua teoria, o órgão
reprodutivo masculino habitava não somente o corpo de homens, como também o de
mulheres, só que devido à ausência de “calor vital-perfeição” (p. 13) o aparato genital
feminino estava localizado na parte interna da mulher, tratava-se do ovário
8
que imitava
internamente o aparato genital masculino externo. Nessa estrutura, a mulher era vista como
essencialmente um homem inferior e imperfeito
9
. Logo:
Ser homem ou ser mulher era manter uma posição social, assumir um papel
cultural e não ser organicamente de um ou outro de dois sexos
incomensuráveis. Em outras palavras, o sexo antes do século XVII era ainda
uma categoria sociológica e não ontológica (LAQUEUR, 2001, p. 19).
A partir de 1836 desmoronou-se rapidamente o ideário que bastante tempo
vigorava e então houve a dissociação entre o orgasmo e a concepção, a partir de então “[...] a
natureza da mulher podia ser redefinida, debatida, negada ou qualificada” (LAQUEUR, 2001,
p. 15).
O adventício século XIX trouxe novas descobertas científicas, a partir delas tornou-se
possível voltar à idéia do sexo único, porém sustentar tal “verdade” não era culturalmente
relevante e conforme Weeks (2000), através da promoção de debates políticos e médicos,
chegou-se à conclusão de que seria mais conveniente buscar vestígios que fundamentassem a
constatação da coexistência inapelável de dois sexos distintos, onde a inerente diferença era
marca principal. Nesse sentido, o ciclo reprodutivo da mulher passou a ser visto como
7
Galeno, por seu turno, estava inspirado em um anatomista que viveu durante o século III antes de Cristo (a.C.).
8
Conforme Stasevskas (2004) por dois mil anos o ovário não recebeu um nome específico, e hoje representa um
marco da referência biológica feminina.
9
Ironicamente muitos anos depois, esta perspectiva se inverteria após a descoberta de uma americana chamada
Jan Johnson que apesar de possuir aparência e órgão sexuais femininos, geneticamente era considerada um
homem. Mais tarde descobriu-se que esse fenômeno aconteceu em vista de um defeito no gene chamado SRY,
que é responsável pela produção dos órgãos sexuais masculinos, em decorrência disso Jan o desenvolveu os
testículos, órgãos responsáveis pela produção do hormônio masculino (testosterona). Estava assim decifrado o
enigma da esfinge, pois apesar dela possuir os cromossomos “X” “Y” o nasceu homem porque o gene SRY
não foi ativado. Mas a questão principal é que como Jan tem genitália feminina, logo se chegou à conclusão que
durante o prazo de seis semanas de gestação (tempo em que o gene SRY tem para ser acionado) somos, sem
exceção, fêmeas. O homem seria uma forma readaptada da mulher que o sexo feminino é - pelo menos em
princípio - o padrão da humanidade. Essa incrível descoberta coloca em cheque inclusive o discurso religioso em
torno das escrituras bíblicas ao afirmarem que Eva nasceu da costela de Adão, mas segundo reza aquela teoria,
talvez Adão é que tivesse nascido da costela de Eva! (HOMEM E MULHER, 2004)
40
portador, por excelência, de um mecanismo automático, prescindindo de qualquer sensação
sexual.
As diferenças ganharam um sentido politicamente relevante e tinham menos a ver com
o progresso científico e mais relação com interesses políticos, pois vislumbravam novas
formas de produzir realidades sociais e constituir sujeitos baseados na “[...] diferença e
divisão, ao invés da similaridade e da complementaridade” (WEEKS, 2000, p. 58). Nessa
perspectiva, a intenção não era subverter a ordem estabelecida, mas ao contrário, o propósito
era de unificar e manter certos padrões sociais confortáveis àqueles que tinham o poder de
estabelecer os regulamentos da realidade vigorante.
A partir dessas novas configurações sociais e políticas, reformularam-se as relações de
gênero, pois mulheres e homens doravante possuíam corpos singulares e não mais
parcialmente diferentes, passaram ao status de serem ou femininos ou masculinos. Sob essa
nova roupagem Stasevskas (2004, p. 15) comenta que:
O corpo de homens e mulheres, antes vistos como versões hierárquicas e
ordenadas verticalmente em graus de perfeição, sob uma ótica metafísica ao
longo do eixo do corpo masculino, foi dividido em dois, cada um com
propriedades naturais específicas, sendo que tais diferenças direcionam um
resultado comportamental. Homens e mulheres deviam ter um tipo de prazer
sensual, de conduta social e de vida emocional adequados à natureza
biológica de “seus sexos”, pela conformidade à finalidade sexual de suas
supostas “naturezas biológicas” (grifos no original).
Como podemos constatar, o discurso sobre a diferença sexual tem uma história
recente. Os órgãos sexuais entendidos a partir do modelo do sexo único e hierárquico foram
amiúde inseridos em uma lógica que passou a diferenciá-los, e sem dúvida a parafernália
montada para provocar uma mudança radical desse porte não se deu de maneira fortuita e
rápida. Dessa forma:
[...] o novo paradigma da diferença sexual, que se instituiu então como um
imperativo teceu-se pela reflexão e pela pesquisa, pela formulação do
postulado da existência de uma diversidade radical de fundamentos sobre o
ser do homem e o ser da mulher (BIRMAN apud STASEVSKAS, 2004, p.
16).
Os fundamentos biológicos, da ordem moral foram explicitados por vários estudos
científicos, que aquinhoavam seu reconhecimento perante a sociedade e garantiram o
empreendimento político e cultural que apontava para uma relação de diferença e
inferioridade entre mulheres e homens, na qual o “natural” e o social eram propiciamente
41
distintos e inconciliáveis. Para tornar impecável essa urdidura, investiu-se na superação dos
considerados obstáculos de natureza sociocultural para que a comprovação das bases
biológicas se fizesse em fim factível. Nessa direção, não se pode desprezar que os cientistas
envolvidos com a comprovação de uma suposta inferioridade feminina, estavam imersos em
um contexto social eivado de preconceitos que empurraram a mulher para o campo da
negatividade, da ausência, do silêncio.
[...] a mulher tem ovários, um útero; eis as condições singulares que a
encerram na sua subjetividade; diz-se de bom grado que ela pensa com as
glândulas. O homem esquece soberbamente que sua anatomia também
comporta hormônios e testículos. Encara o corpo como uma relação direta e
normal com o mundo que acredita apreender na sua objetividade, ao passo
que considera o corpo da mulher sobrecarregado por tudo o que o especifica:
um obstáculo uma prisão. [...] A mulher determina-se em relação ao homem e
não este em relação a ela; a fêmea é o inessencial perante o essencial. O
homem é o Sujeito, o Absoluto; ela é o Outro (BEAUVOIR, 1980, p. 10).
Debruçado sobre uma visão naturalista da diversidade sexual, o referencial biológico
atribuiu essências diferentes para o feminino e o masculino, essa atitude gerou um temeroso
abismo entre os sexos “[...] já que uma essência particular e perene os diferenciava”
(BEAUVOIR, 1980, p. 17). Essa concepção de diferenças essenciais entre mulher e homem
valorizou as faculdades morais e psíquicas como distintas, da mesma forma como
dimensionou os aspectos biológicos em sua perenidade, negligenciando inclusive a
irrecorrível capacidade de mutabilidade que a biologia inescapavelmente possui.
Em seus estudos Bourdieu (2002) argumenta que a primazia histórica outorgada aos
homens acabou lhes concedendo a melhor parte, uma vez que o princípio masculino foi
tomado como universal, por isso esses ditos arquétipos da humanidade foram associados ao
que havia de melhor no ser humano, pois eles eram o tipo absoluto dotado com características
que prezavam pela objetividade, neutralidade e racionalidade representavam a própria
imagem da Ciência.
A distinção biológica entre os sexos buscava ser o argumento final para a composição
de pessoas, desse modo “seja no âmbito do senso comum, seja revestida por uma linguagem
‘científica’, a distinção biológica, ou melhor, a distinção sexual serve para compreender e
justificar a desigualdade social” (LOURO, 2001, p. 34, grifo no original).
1.2.2 No princípio... Era o Feminino
42
Falar sobre o movimento feminista é ponto de partida obrigatório para quem deseja
participar do debate acerca das questões de gênero, para isso é imperativo mergulhar nas
implicações históricas que levaram a insurreição dessa palavra o usual na atualidade, visto
que como explicitou Louro, é uma necessidade imperiosa admitir que “[...] as palavras têm
história, ou melhor, elas fazem história [...]” (2001, p. 14).
O feminismo, segundo os estudos de Amâncio (2006), surgiu no século XVIII com a
modernidade e seguiu o seu processo evolutivo até desembocar nos dias atuais. Apesar de sua
diversidade, no tocante às questões que defendiam e das maneiras de colocá-las em prática, a
reflexão crítica sobre os aspectos contraditórios da modernidade é uma das características
marcantes no transcorrer dos tempos que perfazem mais de dois séculos deste fenômeno
histórico.
Mas foi no século XIX que o feminismo passou a ser a referência de uma ideologia
política, um movimento social organizado (LOURO, 2001; SHOWALTER, 2006).
Entretanto, foi nas duas últimas cadas do século XX que o pensamento feminista apareceu
no território acadêmico, projetando-se como um aporte teórico de estarrecedor potencial
crítico e político.
Para Showalter (2006, p. 02) a magnitude dos estudos feministas está na promoção de:
[...] um deslocamento radical de perspectiva ao assumirem como ponto de
partida de suas análises o direito dos grupos marginalizados de falar e
representar-se nos domínios políticos e intelectuais que normalmente os
excluem, usurpam suas funções de significação e representação e falseiam
suas realidades históricas.
Nesse sentido, a crítica feminista procurou articular seus anseios às determinações
históricas e políticas. Mas, esse movimento que impactou a sociedade e gozou de grande
poder cooptador não era/é homogêneo, sobretudo porque de acordo com os estudos realizados
por Costa, Barroso e Sarti (1985, p. 05) “O feminismo agrupou, ou melhor, serviu de guarda-
chuva para uma grande variedade de tendências e orientações político-ideológicas” que
tinham em comum o interesse pela luta contra as desigualdades entre os sexos, alicerçadas
sobre o preceito da opressão desfechada contra as mulheres.
As feministas falavam apoiadas em perspectivas que concediam privilégios à denúncia
e ao desejo, que incluía a aspiração pelo fim da exploração feminina, pela superação das
assimetrias vivenciadas nas relações de gênero e pela supressão das dessemelhanças entre os
sexos. Essas características do movimento feminista, em princípio, indicaram formulações
43
diversas que estiveram baseadas em fundamentações não coincidentes e caminhavam em
campos de contestação diferentes, porém, não excludentes.
No entender de Silva (2000) os movimentos brasileiros de mulheres carregavam essa
característica de heterogeneidade em vista de não possuírem uma linearidade, posto que suas
diversas abordagens eram fruto das diferentes matrizes coexistentes. Nesse sentido, os
objetivos e os modos de intervirem na realidade foram também diferenciados a partir do lugar
onde eclodiram aquelas vozes, conforme o país, a região, a localidade, a classe, a religião e a
raça dos sujeitos em atuação. Aliás, na atualidade essa peculiaridade ainda é ponto capital
desse movimento, sobre isso, Louro e Meyer garantem que “[...] essa característica se
constitui em uma das ‘marcas’ mais instigantes e produtivas do feminismo e que, portanto,
não há sentido em negá-la” (2001, p. 513, grifo das autoras).
Para Louro (1996) as teorizações feministas tinham como ponto basal construções
teóricas que se fizeram comprometidas e engajadas, ou seja, eram teorizações
inequivocadamente políticas, não obstante a existência de suas múltiplas vertentes e
perspectivas com variadas denominações. Nesse sentido, essa característica exigiu que as
teorias e as práticas políticas se articulassem renovadamente a fim de assegurar sua
sobrevivência.
O rompimento de uma lógica androcêntrica que imperava na produção do
conhecimento científico, era uma das metas a serem alcançadas através da luta empenhada
pelo movimento feminista, uma vez que aquela lógica amalgamada à marginalização social e
política foi responsável pela invisibilidade da mulher, enquanto sujeito do conhecimento
científico. Essa deliberação foi proveniente de uma Ciência que segundo Louro (2001) era (é)
pretensamente representante de todos, e que foi engendrada por homens brancos ocidentais,
pertencentes à classe dominante.
Essa Ciência, ao lavrar o argumento das diferenças biológicas entre mulheres e
homens, naturalizou as relações que por sua vez estavam materializadas em mecanismos
eivados de poder que tinham o determinismo biológico ou a causalidade econômica como
seus esteios. Mas, o grande problema era a idéia de poder que estava introjetada nesses
emblemáticos círculos ideológicos, haja vista que a partir desse entendimento a mulher
apareceu como um sujeito vitimizado, onde era afligida e acuada socialmente. A partir desse
eloqüente pensamento a figura feminina estava destinada de antemão a atuar apenas em
alguns grupos de resistência.
Neste cenário o feminismo inseriu uma nova temática no distinto e disputado mundo
da pesquisa, entretanto, ao contrário do que se pode pensar, a adoção dos pressupostos
44
ideológicos do movimento não foi uma atitude levada a cabo por todas as pessoas que se
lançaram ao estudo da questão. Pois:
Tratava-se da descoberta de um problema para investigação científica,
descoberta realizada sob o impacto do movimento social de mulheres por
parte de pesquisadores que compartilham ou não da opção feminista. A
pertinência do interesse pelo tema é conferida pelo movimento externo às
instituições científicas (COSTA; BARROSO; SARTI, 1985, p. 06).
Portanto, o tema sob o prisma de problema científico se tornou legítimo através do
feminismo, que fundamentalmente atuou como uma espécie de parâmetro simbólico dos então
noviços estudos sobre a mulher. Inicialmente os estudos feministas impregnados da
militância, mostravam-se com um caráter predominantemente descritivo ligado às iniciativas
que visavam denunciar a opressão sofrida pelas mulheres em suas condições de vida e
trabalho e falavam das desigualdades acometidas no campo social, político, econômico,
jurídico, entre outros (LOURO, 1996; 2001). Algum tempo depois, estes estudos foram
tornando-se mais refinados e provocaram intensas articulações teóricas que se fizeram sentir
em várias áreas do conhecimento, dentre elas a educação.
Obviamente, o se pode desprezar a valorosa relevância destes primeiros estudos
preocupados com questões referentes às mulheres, pois, eles deram voz a elas, que se fizeram
ouvir ecolalicamente e construíram, a contrapelo, discussões em diferentes espaços que
tinham em comum grandes lacunas acerca do assunto mulher. Ineludivelmente, esses esforços
analíticos estavam invadidos pelo olhar feminino, mas elas estavam inteiramente conscientes
disso e eram intransigentes ao sustentar tal atitude na medida em que assim, deixavam às
claras que suas produções faziam questão de não serem neutras. Dessa maneira, resistiam e
questionavam transgredindo os princípios de objetividade e neutralidade, à época,
obrigatórios à produção científica.
Nessa dinâmica, metodologias e procedimentos o-convencionais foram utilizados,
textos eram escritos em primeira pessoa e vociferavam que de fato se queria mudar a
(des)ordem das coisas na sociedade, e para tanto contribuiria o fato de as pesquisas espelhadas
nesse contexto não se constituírem meramente em letra morta. As estudiosas feministas
contribuíram para:
[...] a revalorização de estudos do cotidiano, de registros de experiência,
história oral; contribuindo para tirar do “plano inferior da irracionalidade”,
“os sentimentos”, “o desejo”, “a empatia”, “a afetividade” – elementos que,
45
[...] são considerados ligados às mulheres, entendidos como restritos à
esfera doméstica e, portanto, como necessariamente excluídos da esfera
pública e das instituições políticas (LOURO, 1996, p. 38).
Naquele período, pesquisadoras/es vivenciavam tempos de tensão e ambigüidade, pois
de um lado tinham que garantir constantemente às/aos colegas da comunidade acadêmica e
das agências de fomento que seus objetivos, ao se preocuparem com estudos acerca da
mulher, eram indubitavelmente científicos e não denunciativos partindo de alguém
embebida/o pela militância, por outro lado as/os pesquisadoras/es também tinham que
assegurar às feministas que seu empenho na academia era resultado da afeição à causa
coletiva e não pelo possível aceno da promissão de uma carreira pessoal.
Na sociedade ocidental o masculino regia em todos os campos sociais. Segundo os
estudos feitos por Arán (2003), a espoliação milenar feminina só começou a ser mitigada
quando a estrutura homem-público e mulher-privado passou a manifestar os primeiros abalos
a partir do pós 45 do século XX, com a crise da família nuclear (monogâmica e
heterossexual). Esta instituição que representava a necessidade política da constituição do
privado passou a não ser mais a derradeira coadjuvante da construção basal do sujeito. Com
isso, uma série de mudanças ocorridas nas relações conjugais também conspiraram para um
abalo na estrutura até então sacralizada composta por pai-mãe-filha/o, foi quando começaram
a ser redefinidos os “papéis” de mulheres e homens na sociedade.
A esse conjunto de acontecimentos, como sugere Áran (2003), soma-se a entrada da
mulher no mercado de trabalho e a separação entre sexualidade e reprodução, com o
surgimento da pílula contraceptiva durante os anos 1960 e 1970, que impulsionaram a
liberdade feminina sobre o próprio corpo, uma vez que elas passariam a vislumbrar o acesso a
uma sexualidade não reprodutiva. Esses deslocamentos, segundo a pesquisadora,
proporcionaram às mulheres a libertação do destino da “natureza”.
No final da década de 1960, mais precisamente em 1968
10
, conforme os estudos de
Guacira Lopes Louro (1996), dentre os movimentos de contestação ocorridos no Brasil,
marcaram-se de maneira especial para as mulheres o cânon da história brasileira com o
movimento feminista que reivindicava um outro tratamento à mulher. Paralelo a este se
10
Neste momento, apoiada nos estudos de Louro (1996), deve-se advertir às/aos leitoras/es que o ano de 1968
tem sido aclamado como um grande sinalizador de tempos eivados por rebeldia e contestação, mormente, para o
movimento feminista. Entretanto, tais manifestações também eram representativas certo tempo antes em
países como Alemanha, Estados Unidos, França e Inglaterra. Portanto, 1968 também deve ser remetido a um
processo mais amplo, cujo movimento veio adquirindo desdobramentos mais específicos.
46
tornou perceptível, do ponto de vista da pesquisa científica, o surgimento historiográfico do
percurso das mulheres.
À luz de leituras realizadas em torno das incursões de mulheres na história, encontrei
que:
A emergência da história das mulheres como campo de estudo acompanhou as
campanhas feministas para a melhoria das condições profissionais e envolveu
a expansão dos limites da história. Mas esta não foi uma operação concreta,
linear, não foi somente uma questão de adicionar algo que estava
anteriormente faltando. Em vez disso, há uma incômoda ambigüidade inerente
ao projeto da história das mulheres, pois ela é ao mesmo tempo um
suplemento inócuo à história estabelecida e um deslocamento radical dessa
história (SCOTT, 1992, p. 75).
Embalado por toda uma conjuntura internacional, o movimento feminista brasileiro,
no início dos anos 1970, converteu-se no baluarte dos trabalhos de reflexão e produção
acadêmica, ideando franquear maior visibilidade à mulher que outrora estava relegada à torpe
condição de versão inferior e invertida do masculino. Esse movimento se especificou em
relação aos outros porque sugeriram “[...] uma nova articulação entre a política e a vida
cotidiana, entre esfera privada, esfera social e esfera pública” (SILVA, 2000, p. 09).
Através desse princípio, a mulher ao sair da esfera privada para reivindicar pela esfera
pública, consequentemente, ganhou notoriedade no domínio social. Portanto, a sublevação
feminista ao ganhar publicidade, buscou a partir da força dos Estudos Feministas empenhados
em sua teorização, não somente que a história oficial acoplasse a si uma história das mulheres,
mas sim realizasse uma virada epistemológica.
Assim, na envergadura do movimento feminista, explodiram outros movimentos e
discussões nas décadas de 1960 e 1970 que, como assegura Louro (2001), partiram de
diversos grupos que reivindicaram seu desocultamento, dentre eles negros/as, estudantes,
jovens, intelectuais e homossexuais, que trouxeram para o campo do debate a necessidade de
se repensar a política e a idéia aentão disseminada acerca desses grupos que, na apreciação
de Silva (2000), também modificaram mentalidades e lugares.
Esses novos movimentos sociais investiram na quebra da unidade de conceitos
tradicionais e, dessa forma, abriram espaço para outras maneiras de compreensão do mundo.
Para Melucci (apud SILVA, 2000) essas manifestações tiveram como centro ões de
coletividade apoiadas na solidariedade e que ainda se mostraram originais porque romperam
os limites do sistema ao materializarem-se através de conflitos.
47
Uma pesquisa conduzida por Showalter revelou que a ebulição de questões em torno
da identidade e diferença, nas décadas de 60 e 70 do século XX, foram extremamente
relevantes para outras modalidades de expressão institucionais encontrarem brechas para
desenvolver seu trabalho, como foi o caso da imprensa feminista, o cinema de mulher e os
estudos feministas enquanto campo de conhecimento. Nesse panorama, a categoria gênero ao
ser introduzida mais tarde “[...] representou o aprofundamento e a expansão das teorias
críticas feministas” (2006, p. 07).
1.2.3 O fragor do gênero
Conceitualmente a palavra gênero, no sentido aqui tratado, tem uma ligação intrínseca
com o movimento contemporâneo feminista
11
. Segundo Alvarez (2006), no decurso dos anos
de 1970, um grupo formado por estudiosas feministas da Universidade de Sussex (Inglaterra)
criou a categoria de análise gênero e, a partir do projeto “A contínua subordinação das
mulheres” o grupo pesquisou acerca de como a formação das pessoas assumiu
comportamentos diferenciados na sociedade, a partir da perspectiva dos sexos.
Naquele grupo de feministas, definiu-se a compreensão de que o estudo realizado o
deveria ser encaminhado no sentido de se inocular na “opressão sofrida pelas mulheres” ou “o
problema da mulher” como um tema hermeticamente fechado em si, “mas enfocar as relações
de gênero, ou seja, as relações que a sociedade foi construindo e passando de geração em
geração, cristalizando papéis diferenciados para mulheres e homens, que possibilitaram a
subordinação do gênero feminino ao masculino” (ALVAREZ, 2006, p. 01).
Com esse entendimento o grupo concluiu que nascer fêmea ou macho fazia parte de
um desígnio da natureza, entretanto, a educação a que estes sujeitos eram submetidos e seus
respectivos comportamentos apresentados em sociedade, caracteriza-se como uma questão
genuinamente cultural e por este motivo estava sujeito a mutações, ou melhor, que decerto
deveria ser disposto de outro modo.
Assim, “[...] gender passa a ser usado como distinto de sex
12
(LOURO, 2001, p. 21),
através do qual as feministas almejavam destacar que as distinções aclimatadas no sexo
tinham como eixo basilar o social. Destarte, o conceito de gênero carregou duas poderosas
11
Conforme Louro (2001) as clássicas obras de Simone Beauvoir (1949) Le deuxiène sexe, de Betty Friedman
(1963) The feminine mystique e de Kate Millet (1969) Sexual politics demarcaram o renascimento do movimento
feminista contemporâneo.
12
Os grifos são do original.
48
características: a de se configurar como uma ferramenta analítica e política
concomitantemente.
Mas o surgimento do conceito gênero não se deu sem traumas, porquanto
imediatamente apareceu como uma outra perspectiva teórica e poderia implicar em mais um
exílio feminino da história. Outro problema foi o de caráter lingüístico, uma vez que na língua
inglesa a palavra gender dicotomizava um sentido relacionado à diferença sexual, à
sexualidade (e um sentido distinto de sex), em contra partida, na língua portuguesa (como
também na espanhola e na francesa) o dicionário não remetia a tal significação
13
. Nesse
sentido, conforme Louro (1996), a distinção entre gender e sex utilizada pelas feministas
inglesas e americanas contra as investidas biologicistas não encontrava a mesma tradução em
outros idiomas. Assim, a distinção entre gênero e sexo pode ter provocado uma intensa
separação entre essas duas categorias.
Por isso:
A dimensão e expressão biológica do gênero parece portanto ter ficado sub-
dimensionada no esforço analítico com ênfase no plano sócio-cultural,
incorporando ainda uma polarização que o conceito se propunha enfrentar.
Essa inflexão, mesmo ressalvada pela complexidade das tramas de construção
de um instrumental analítico se propõe recolocar a história na compreensão
das experiências vividas por homens e mulheres, delineia ainda a existência
de pontos tencionados no sentido da articulação natureza/história/cultura no
interior da discussão do gênero (SILVA, 1998, p. 204).
No Brasil as estudiosas feministas passam a utilizar parcamente o termo gênero
somente no final dos anos de 1980, para posteriormente ampliar sua utilização, dando provas
irrefutáveis de que o valor de uma categoria analítica o é necessariamente anulado pela
consciência crítica de sua especificidade histórica e limites culturais” (HARAWAY apud
LOURO, 1996, p. 02).
Dito isto, não se pode negar que a linguagem é um construto camaleônico que está em
constante transformação, porque por excelência é uma produção humana que teima em não
cessar. Nesta direção, Louro (1996, p. 02) reconhece que “[...] passamos também a instituir,
através de nossas práticas, um novo sentido para a palavra.” Portanto, é preciso esclarecer que
os conceitos de gênero e sexo são diferentes, apesar de sua inescusável interdependência.
13
Segundo os estudos de Louro no dicionário Aurélio eletrônico (Nova Fronteira) “Em português, gênero se
refere à ‘classe, espécie, variedade, ordem, qualidade, tipo ou ‘maneira, modo, estilo’, ou ‘uma unidade em
sistemas de classificação’; pode ser ainda uma categoria gramatical, quando por meio de desinências, ‘indica
uma divisão dos nomes baseada em critérios como sexo e associações psicológicas’” (1996, p. 07)
49
Sobre isso, Yannoulas et al. convidam a adentrar no campo da conceitualização afim de que se
evitem os equívocos.
A palavra sexo provém do latim, sexus e refere-se à condição orgânica que
distingue o macho da fêmea. Sua principal característica reside na
estabilidade através do tempo. A categoria gênero provém do latim genus e
refere-se ao código de conduta que rege a organização social das relações
entre homens e mulheres. Sua principal característica está na mutabilidade
(2000, p. 427).
Da correlação de forças entre gênero e sexo, percebeu-se que o determinismo
biológico sozinho não mais poderia continuar ditando as diferenças entre homens e
mulheres, no qual aqueles eram biologicamente distintos destas e por isso mesmo
“naturalmente” superiores. Então, investiu-se:
[...] na tentativa de superação da exclusividade do patamar biológico como
diferenciador de homens e mulheres, para situá-lo também no campo das
construções histórico-culturais, articulando inclusive aportes subjetivos e
conjunções de determinações e divisões sociais. Isso compreendeu a
necessidade de que se passasse a estudar também os homens, que se levasse
em conta o outro sexo, refinando-se a noção de relacionalidade (SILVA,
1998, p. 203).
Neste sentido, na década de 80 do século XX, as feministas americanas entenderam
que não mais se tratava de estudar aspectos relativos às mulheres, mas de incluir em suas
pesquisas os processos de formação, seja da feminilidade, seja da masculinidade entendidas
como posições de sujeitos, não obrigatoriamente restritas a fêmeas ou machos biológicos
(SCOTT, 1992).
Este fato evidenciou que a categoria gênero contém um aspecto relacional, é esse
entendimento que Lopes explicita ao fazer a seguinte afirmação:
[...] os estudos de gênero supõem que se estude também, os homens [...] não
mais uma história das mulheres, mas também não mais uma história em que o
universal pressupõe o homem e exclui a mulher [...] leva em conta o outro
sexo [...] um gênero se constitui culturalmente na sua relação com o seu outro,
em presença ou ausência (1994, p. 25).
Os estudos das relações de gênero estão preocupados em analisar os processos de
produção destas conexões e sob o olhar atento aos momentos históricos e sociais procurou
compreender de que maneira o poder articulava essas relações que iam se metamorfoseando
50
dentro e através dos tempos, provocando cintilações que inviabilizaram o trato da diferença
sexual como uma prerrogativa “natural”.
Assim:
[...] as pesquisas passam a apontar também o caráter relacional entre os sexos
que é construído socialmente a partir das relações de poder e
consequentemente apresentam hierarquias que conduzem à desigualdade
social. Não basta estudar as mulheres, é preciso estudar as relações sociais
entre os sexos (SILVA, 2000, p. 04).
Da mesma forma Sabat (2001) ao abordar as questões de gênero mostrou que os
estudos feministas inicialmente se ocuparam apenas com temáticas referentes às mulheres,
porém, mais tarde passaram a se empenhar na construção social de femininos e masculinos.
Por essa razão, Scott anunciava que “[...] o se pode conceber mulheres, exceto se elas
forem definidas em relação aos homens, nem homens, exceto quando eles forem
diferenciados das mulheres” (1992, p. 87).
A partir desta prerrogativa a categoria gênero, que inicialmente teve sua utilização
predestinada a teorizar acerca das diferenças entre os sexos, foi ampliada para questões
concernentes ao trato da diferença no interior das diferenças, uma vez que, enquanto uma
categoria de análise está relacionada ao fato de não conseguir explicar sozinha a complexa
realidade social em que está envolta. Mas, o que poderia parecer uma grande desvantagem,
torna-se virtude, pois a categoria em questão precisa acionar outras, como por exemplo, classe
social, faixa etária, raça, etnia, a fim de realizar seu trabalho de interpretação e análise do real.
Importa ainda observar que o conceito de gênero não tem seguido uma unilateralidade
teórica no que diz respeito à produção de mulheres e homens, mesmo porque na sua própria
construção não seguiu percursos lineares e calmos por isso “a trajetória dessa construção
aponta para caminhos conflitantes e pontuados por impasses e instabilidades digno de uma
categoria que pretende escapar de postulações universalizantes” (SILVA, 1998, p. 203).
É preciso discutir as relações de gênero sob uma ótica que rejeite definitivamente
explicações de cunho essencialista, pretensiosamente apresentada como imutáveis e
universais e, portanto a-históricas. Não é fácil um exercício nessa direção, principalmente
quando nesse jogo social, mulheres e homens vêm sendo forjadas/os como pessoas
destinadas, por força da inegável evidência de seus respectivos sexos, a assumirem papéis
considerados “normais” para cada gênero. Mas,
51
Achar, por exemplo, que mulheres/meninas são naturalmente mais sensíveis
ou que os homens/meninos são mais agressivos são idéias muito difundidas
ainda hoje e que precisam ser problematizadas e historicamente
compreendidas. um enorme investimento da sociedade em geral para que
os sujeitos sejam ou se comportem desta ou daquela forma, que gostem de
determinadas coisas em função de seu sexo (FELIPE, 2000, p. 169).
Sendo assim, é essencial admoestar para o que se construiu historicamente, posto que
a partir daí acredito ser possível verificar como os neros foram erigidos. Na esteira desses
acontecimentos é irrefragável que a constituição daqueles personagens guarda peculiaridades
que devem ser consideradas, porque eram geradas tendo como proscênio um determinado
lugar social que tinha sua engrenagem funcionando a toda potência, regada por uma lógica de
hegemonia androcêntrica. Por isso, as trajetórias de mulheres e homens nos contam histórias
que se fizeram diferenciadas por conta de seus respectivos sexos.
1.2.4 A díade relacional
O gênero aqui é tomado a partir do “[...] modo como as diferenças sexuais são
compreendidas numa dada sociedade, num determinado grupo, em determinado contexto”
(LOURO, 1997, p. 77), ou seja, está ligado a uma condição social que entende os sujeitos
como homem ou mulher. Por conseguinte, neste trabalho o propósito é discutir a categoria
gênero a partir da ótica que a interpreta como produto de uma construção social, engendrada
por uma determinada cultura que diferencia socialmente pessoas do sexo feminino daquelas
do sexo masculino.
As relações de gênero acabam espelhando concepções de gênero internalizadas por
mulheres e homens, nesse sentido constituimo-nos através das relações com as pessoas, com o
mundo dado, objetivo. O conceito de gênero procura desconstruir a decantada ideologia que
objetivou amalgamar as mulheres à natureza, bem como distingue e descreve categorias
sociais (uso empírico) e explica as relações que se estabelecem entre elas (uso analítico).
Nesse sentido, o conceito desde sua emergência, está mergulhado em uma dimensão política,
pois pleiteia uma mudança nas relações de poder no eixo público-privado, almejando extirpar
qualquer forma de dominação-exploração nas relações sociais.
Sobre estes aspectos é possível compreender que o significado atribuído ao gênero é
dialeticamente (re)composto em situações e contextos sócio-culturais, inventariados por uma
variedade de linguagens e práticas que codificaram modos de ser femininos e masculinos.
Diante dessa compreensão, para tratarmos sobre a discussão em torno da construção dos
52
gêneros, como explicita Louro, torna-se necessário a consideração de que esse engendramento
seja percebido não como mera aprendizagem de papéis, mas “[...] sendo construído e
instituído pelas múltiplas instâncias e relações sociais, instituições, símbolos, formas de
organização social, discursos e doutrinas” (1996, p. 03). E como numa via de mão dupla,
essas instâncias sociais são (re)inventadas pelos gêneros dentro de um processo contínuo de
reciprocidade, ou seja, gênero e instâncias sociais influenciam-se mutuamente.
Tal conexão também se produz no âmbito das instituições/espaços de produção e
circulação da produção científica, uma vez que estes lugares estão compostos de pessoas que
carregam consigo histórias de vida generificadas que não são apenas propriedades particulares
porque foram/são compartilhadas e recriadas constantemente com outras pessoas. Essas
histórias não ficam do lado de fora da vida profissional-acadêmica, muito menos congeladas
esperando o momento oportuno para sofrerem o degelo, ao contrário elas são pulsantes e em
grande medida fazem parte das investigações científicas e também chegam a marcar toda uma
trajetória acadêmica.
Muito embora nem todas/os as/os pesquisadoras/es tenham como objeto de estudo
abordagens que se situem na seara do gênero, estas/es profissionais são inapelavelmente
generificadas/os e de alguma maneira têm seus estudos contaminados por essa condição, além
de serem atravessadas/os pelas relações entre feminino e masculino nos fazeres da Ciência.
Os gêneros devem ser compreendidos de maneira relacional, impregnados pela leitura
de que foram erguidos sob condições históricas e sociais, sendo assim, neste raciocínio, não
apenas aos homens fica destinada a posição de sujeito, mas também às mulheres. É
importante destacar que a investigação voltada para a questão do gênero, neste estudo, não
busca endossar o discurso do dualismo sexual, a partir do qual se procura inculcar a idéia de
que masculino e feminino se constituem como pólos opostos, onde numa extremidade
encontra-se o dominador (homem) e na outra, a frágil dominada (mulher).
Em face dessa discussão o presente trabalho comunga com o posicionamento
explicitado por Louro (2001) ao afirmar que é necessário desconstruir e superar esta oposição
binária, porque provocar o desassossego dessa lógica significa acenar com a possibilidade de
inclusão de outras formas de construção do feminino e masculino.
Portanto, urge a percepção de que estas oposições para além de históricas são também
lingüisticamente (re)produzidas, por esse motivo Scott afirma “[...] uma necessidade de
rejeição do caráter fixo e permanente da oposição binária, de uma historização e de uma
desconstrução genuína dos termos da diferença sexual” (1995, p. 84). Neste caso é imperativo
53
visualizar a relação entre os sexos sob a ótica de sua historicidade e conflitos que não foram -
e não são - poucos:
Não é a identidade entre homens e mulheres que queremos reclamar, mas uma
diversidade historicamente variável mais complexa que aquela que é
permitida pela oposição macho/fêmea, uma diversidade que é também
diferentemente expressada para diferentes propósitos em diferentes contextos.
Na verdade, a dualidade criada por essa oposição traça uma linha de
diferença, investe-a com explanações biológicas, e então trata cada lado da
oposição como fenômeno unitário. [...] A identidade construída em cada lado
da oposição binária esconde o múltiplo jogo de diferenças e mantém sua
irrelevância e invisibilidade (SCOTT, 1995, p. 46).
Poder e diferença aqui ganham um relevo interessante, pois constituir-se mulher ou
homem significa ter a obrigatoriedade de rezar na cartilha que a sociedade escreveu acerca do
que é ser “diferente” ou normal”, obedecendo aos parâmetros instituídos para cada gênero.
“No processo de análise e de desconstrução dessa lógica binária haveria que reconhecer que
uma dicotomia só ‘funciona’ na medida em que seus termos são percebidos como exteriores
um ao outro e não como enredados mutuamente [...]” (LOURO, 2004, p. 07, grifos no
original). Aqui as relações de poder se inscrevem como multifacetadas e produtivas, pois, a
partir dessa perspectiva, se cristalizam quando abrem espaço para a materialização das
resistências.
A propósito disso, não existe um poder com características indestrutíveis, que nos
tome por completo, eliminando da inteligência humana qualquer probabilidade de insurreição,
posto que a capacidade de se insurgir, de se rebelar, de resistir são pontos construtivos das
relações de poder, pois estão presentes e complementam o campo de forças onde as relações
de poder e os pontos de resistência se entrelaçam” (NETO, 2004, p. 04).
É partindo dessa prerrogativa que se deve evitar também a polarização natural/social,
buscando entender o biológico a partir de sua historicização. Neste sentido Souza e Altmann
lembram que:
Se os corpos assumem a organização social, a política e as normas religiosas e
culturais, também é por seu intermédio que se expressam as estruturas sociais.
Assim, há uma estreita e contínua imbricação entre o social e o biológico [...]
Portanto, o processo de educação de homens e mulheres supõe uma
construção social e corporal dos sujeitos, o que implica – no processo
ensino/aprendizagem de valores, conhecimentos, posturas e movimentos
corporais considerados masculinos ou femininos (1999, p. 54, grifos da
pesquisa).
54
Por isso é essencial incorporar aos debates que a construção do gênero está entrelaçada
à discussão do corpo, uma vez entendida a afirmação irrecorrível de que as diferenças
biológicas existem, o próximo passo é aceitar que elas não estão alheias à história e ao campo
social. Porque nossos corpos são sexuados biológica, social e historicamente, porque é
também nessas arenas que somos educadas/os para nos diferençar, sem subterfúgios, do sexo
oposto. Nesse sentido, o elemento educativo não fabrica a realidade apenas no conteúdo posto
envolvendo todos os elementos corpóreos que estão presentes no momento em que ocorre o
processo através do qual se aprende a ser mulher ou homem dentro de um processo
indelevelmente cultural e pluralista.
Nessa discussão o processo de significação construído pela linguagem ganha corpo,
posto que buscar a compreensão dos “[...] poderosos papéis que os símbolos, as metáforas e
os conceitos jogam na definição da personalidade e da história humanas é fundamental.”
(SCOTT, 1995, p. 11). Nesse conjunto de proposições, arrisco-me a vislumbrar que a
produção acadêmica de um conhecimento generificado (ou sexista), desde a escolha de um
problema de pesquisa, até a maneira pela qual se escreve utilizando expressões genéricas
(masculinas) ou não, também está resgarnecida não somente por práticas, mas também por
linguagens que são resultantes de desdobramentos ligados às questões de gênero ocorridas na
vida pessoal e profissional das pessoas.
Thompson (1992) ao se referir aos estudos de Jaques Lacan
14
(s.d.) também adverte
para a atuação fundante da linguagem como parte do que ele denomina de simbolismo
cultural, posto que para este autor:
[...] o inconsciente está estruturado como na linguagem e a aquisição da
identidade sexual e pessoal como um processo simultâneo e sempre precário,
cujos alicerces são lançados à medida que a criança pequena ingressa na
linguagem quando se começa a falar com ela e ela começa a escutar e a
aprender a falar. A masculinidade e a feminilidade são, pois, impostas à
psique mais profunda da criança pequena, muito antes que as diferenças entre
os sexos tenham qualquer significado imediato, por meio do simbolismo
cultural inconsciente do gênero embutido na linguagem (p. 203).
Em nossa sociedade é patente a atribuição de diferentes papéis sociais para mulheres e
homens, esses elementos começam a ser incutidos nas pessoas mesmo antes de seu
nascimento, pois, ao se detectar o sexo da criança, esta já vem ao mundo tendo roupas com
cores pré-definidas, como por exemplo o rosa para a menina e o azul para o menino.
14
Reinterpretou a psicanálise freudiana, dando especial ênfase ao campo da linguagem enquanto parte do
simbolismo.
55
Como parte integrante da linguagem, o brinquedo também é entregue à criança com o
objetivo de reforçar sua condição de gênero. Nessa direção Felipe (2000) assevera que os
brinquedos considerados de meninos geralmente trazem como temas o esporte, os super-
heróis e os jogos, exigindo dos brincantes atitudes repletas de movimentos bastante amplos,
competitividade, força física, certa carga de agressividade, concentração, raciocínio lógico e
espacial. Por outro lado, os apetrechos de entretenimento voltados para as meninas se
caracterizam pelo forte apelo ao cultivo da beleza, à domesticidade e à maternidade. Vale
lembrar que, em geral, os materiais que tematizam o universo doméstico e instigam a
maternidade sempre aparecem associados.
Neste caso, às meninas é permitido o brincar em espaços reduzidos e com pouca
atividade de mobilização corporal, onde o que se impõe a elas é a assunção de uma postura
que se quer “naturalmente” mais sensível, caprichosa e inteiramente dedicada ao lar e à
família. Sob este prisma, masculino e feminino também são constituídos através dos
brinquedos que como uma das muitas “pedagogias culturais em circulação” (FELIPE, 2000)
fazem revolutear concepções de gênero, etnia, sexualidade, raça, infância, classe social,
geração. Alicerçadas sob essa ótica, ardis mensagens simbólicas ensinam desde muito cedo o
devido lugar de cada um/a, ensinam a ter um olhar dividido que supõe e espera desempenhos
diferenciados para o masculino e para o feminino. De acordo com a percepção de Thompson:
Imediatamente a partir desses momentos iniciais do desenvolvimento da
consciência social, a menina pequena aprende que é uma fêmea que ingressa
numa cultura que privilegia a masculinidade e, por isso, privilegia os homens,
exatamente como na linguagem a forma masculina tem sempre prioridade
como regra, e a forma feminina só entra como exceção. Para assumir um lugar
positivo no mundo da cultura, ela tem que lutar desde o início; mas é uma luta
desigual. Em culturas de escrita pictórica, as mesmas lições serão
internalizadas por uma segunda vez, à medida que ela aprende a ler: uma
menina chinesa irá descobrir que o caráter que designa o homem é formado
pelos símbolos de campo e força, enquanto o que designa mulher, pelo tear ou
útero (1992, p. 203).
Partindo do princípio de que a linguagem se através do plano sonoro, escrito e
corporal, pode-se entrevê-la como algo que (re)cria o sujeito, (re)produz maneiras de ser,
condiciona nossas escolhas; mostrando que as diferenças entre homens e mulheres, para além
de práticas, também são realizadas na seara discursiva onde o investimento que se faz em
torno dos gêneros é conveniente para “harmonizar” a atmosfera populacional.
Os diversos tipos de linguagens e práticas sociais partem de um olhar dividido para o
feminino e o masculino, sulcando em nosso cotidiano mudanças de cunho generificado que
56
coadjuvadas por fontes seivadas de preconceitos e desvalorizações projeta um perfil “normal”
de pessoas, validando e instituindo regras e modelos, através dos quais os sujeitos devem
fabricar e vivenciar suas identidades de gênero e sexuais.
Nesse sentido, para configurar homens e mulheres, também entram em ação os
processos miméticos, pois historicamente a sociedade criou adjetivos para marcar os gêneros
e dessa forma, buscou-se criar legiões de femininos e masculinos estruturados de maneira
bem parecida (LANG, 2006). Aquelas/es que num audacioso ato conjuratório, obstinam-se
em não se encaixar naquela estrutura preventória dos gêneros, em geral, são golpeadas/os com
constantes e variados tipos de violências (permitidas!), pois é preciso lembrar a todas/os que
estes sujeitos transgressores ao negarem seu enquadramento na (des)ordem de normalidade
estabelecida, ofendem nossos princípios mais caros porque buscam aniquilar o truísmo
mulher-homem e por esse motivo devem ser condenadas/os ao opróbrio e à risivibilidade.
1.2.5 O refinamento social das relações de gênero
Ao fazer uma leitura psicopedagógica do ser mulher ou ser homem em nossa
sociedade, Fernández (1994) nos conduz a observar que de maneira ardil as formas culturais
15
(ou pedagogias culturais) transformam alguns significantes específicos das formas somáticas
16
com a finalidade de tomá-las a serviço dos mitos, deixando na latência ou mesmo anulando
outras, pelo fato de não serem convenientes para seus interesses ou mesmo porque apontam
para a incoerência com a certeza do embuste que estas formas culturais provêm.
Com isso, as formas culturais (femininas e masculinas) entram em desacordo com as
formas somáticas. Esse conturbado evento obriga a subjetividade dos sujeitos em questão, a
realizar um esforço suplementar no processo em que se aprende a ser mulher ou homem. É o
que vamos notar quando as formas culturais estabelecem que ser mulher tem ligação
intrínseca com o ser mãe, essa prerrogativa se tornou o eixo central da constituição de uma
identidade e da identificação com o feminino:
[...] a função materna aqui parece se constituir como o núcleo central da
mulher, ou seja, é na maternidade que está a possibilidade da mulher se
realizar plenamente enquanto sujeito e, o ser mãe é ser vazio de sua
potência, de sua importância (também do valor que se para a vida) e de
sentido para a vida (STASEVSKAS apud STASEVSKAS, 2004, p. 06-07).
15
Esta expressão é utilizada pela autora para afirmar que a constituição do feminino e do masculino se com a
participação de mitos (presença do passado no presente), da linguagem, dos meios de comunicação e dos
sistemas de ensino, todas essas formas culturais estariam compostas por algum tipo de discriminação, neste caso
a sexista.
16
A autora se refere ao aspecto e à figura do organismo.
57
É atemorizador a maneira pela qual alguns mecanismos de ajustamentos de mulheres e
homens são insistentemente (re)colocados ao longo da história. Nesse jogo de (re)significação
cultural, ser sujeito-mulher tem relação direta com o ser mãe, maternidade e maternagem se
confluem para dar condições a constituição da subjetividade feminina. Ora, mas do outro
lado, o homem não é freqüentemente relacionado com o ser pai. Ambos os sexos ficam assim
privados: ela de usufruir sua sexualidade, ele de sua paternidade.
No que tange às formas somáticas, vamos notar que o organismo feminino está
preparado para chegar ao ápice do prazer sem necessariamente abrir possibilidades de gerar
um bebê, e isso acontece na maioria esmagadora dos dias, já que a ovulação ocorre um dia por
mês e apenas durante alguns anos. No caso do organismo masculino uma inseparável
ligação entre o orgasmo e a ejaculação, pois “[...] cada ato sexual implica o organismo como
pai potencial” (FERNÁNDEZ, 1994, p. 39). As formas culturais se apossam destas realidades
das formas somáticas e, conforme seus objetivos as remodelam e com isso garantem a
dominância de seus preceitos e mecanismos disciplinadores.
Os processos de educação pelo qual passam mulheres e homens pressupõem o
uma construção social, mas política, cultural, científica, religiosa, ideológica e corporal,
que implica, por excelência, numa aprendizagem diferenciada para cada sexo. Em função
disso, é necessário todo um aparato que garanta a assunção de papéis entendidos como
corretos pela sociedade, daí são ensinados e aprendidos gestos, comportamentos, tonalidades
de vozes, saberes, cores, cheiros, vestimentas, memórias que evidenciem constantemente que
o gênero não traiu o sexo de cada um/a. Isto remete a:
Uma produção ou construção que, certamente, não se apenas pelos
ensinamentos explícitos ou diretos que uma pessoa sofre na família ou na
escola, mas na construção na qual esimplicada toda sociedade com suas
diferentes instituições, seus diferentes discursos, dispositivos e práticas
(LOURO, 1995, p. 173).
Existem estudos que se dedicaram a debater e afirmar que diferenças significativas
entre a memória das mulheres e dos homens, conforme verificado nos trabalhos de Maluf
(1995), Thompson (1992), Perrot (1989) e Sousa et al. (1996). Nesse debate, apesar de serem
diferentes as modalidades de análise, todas/os são concordes em afirmar que as distinções
entre o funcionamento daquelas memórias tem íntima ligação com o lugar ocupado por ambos
os sexos em conjunto com as atividades assumidas no campo social.
que se considerar aqui que as mudanças nas formas de organização da sociedade
foram forçosamente ou sub-repticiamente se impondo, deslocando novas práticas cotidianas,
58
criando outros sentidos em torno da discussão do que é ser homem ou mulher, a ponto de
atualmente ser imprudente discuti-los sem antes situar esses sujeitos historicamente. Contudo,
o que o se pode deixar de registrar é que os conceitos de gênero também foram
modificados, pluralizados, provando que eles não se comportam como algo comum a todos e
todas, transhistórico ou alheio às mudanças.
Nesse momento, faz-se imperativo termos a clareza de que a insistente perpetuação de
certos princípios passa por um refinamento, ou seja, não é mera repetição. Através deles se
(re)criam práticas, renovam-se sentidos, que silenciam, conformam, estabelecem; mas que
também revoltam, gritam e se rebelam. É essa condição que faz o conceito de gênero ter uma
característica plural, onde femininos e masculinos foram/são constituídos de maneira histórica
e socialmente diversificada.
A idéia de pluralidade implicaria admitir não apenas que sociedades
diferentes teriam diferentes concepções de homem e de mulher, como também
que no interior de uma sociedade essas concepções seriam diversificadas,
conforme a classe, a religião, a raça, a idade etc.; além disso, implicaria
admitir que os conceitos de masculino e feminino se transformam ao longo do
tempo. Assim, o conceito buscava se contrapor a todos/as que apoiavam suas
análises em argumentos essencialistas, ou seja, apontava não para uma
essência feminina ou masculina (natural, universal ou imutável), mas para
processos de construção ou formação, histórica, lingüística e socialmente
determinados (e, então, múltiplos) (LOURO, 1996, p. 02)
Estudos como os de Heilborn e Carrara (1998), Oliveira (1998), Silva (1998),
Stasevskas (2004), Pires (2006) e Welzer-Lang (2006) questionam a existência de um modelo
que se quer universal, pois estamos contingenciadas/os às interferências históricas que, sem
cerimônia, invadem todas as instâncias sociais, proscrevendo ou apenas borrando modelos
que se elegeram hegemônicos em detrimento de outros.
Conforme o conceito de gênero referenciado por Louro (2001), este vai acentuar a
idéia de que no decurso de nossa vida, ao estabelecermos os inevitáveis contatos com as
variadas instituições e práticas-sociais, nós nos constituímos e somos constituídas/os em meio
a uma dinâmica que não se faz linear, harmônica ou mesmo que se dá por plenamente
resolvida e finalizada. Por isso a idéia de modelo único deve ser refutada.
Partindo da concepção que propugna a o existência de um tipo de mulher e homem
transcendental, que possa ilicitamente ludibriar o decurso da história e manter-se ilibada/o, é
inexeqüível se falar de feminilidade e/ou masculinidade sem adjetivá-los, porquanto, da
mesma forma que existem feminilidades, masculinidades (WELZER-LANG, 2006). Por
que são diferentes os contextos e situações sociais em que estão envolvidos os sujeitos,
59
embora no borbulhar das relações humanas há de se concordar que existem circunstâncias que
favorecem o sobrepujamento de um paradigma sobre o outro.
No rastro dessas possibilidades deve-se compreender que:
[...] o exercício epistemológico com o gênero obriga-nos a conviver com a
dinâmica da instabilidade na qual os “pontos fixos” têm razão de ser em
sua contextualidade. Uma contextualidade que, no entanto, não pode
restringir-se a localismos e relativismos mas que, atenta a essas questões, tem
em mira a movimentação social global onde tantas instabilidades têm gênese e
desdobramentos (SILVA, 1998, p. 213).
Isso nos leva a perceber a transitoriedade das estruturas de poder, uma vez que estão
procurando constantemente se ajustar a um movimento que as legitime e guarde suas
características para, enfim, enraizá-las como coisas naturais e perenes. Não se pode refutar
que nessa envergadura, um conjunto de elementos simbólicos trabalha para que os indivíduos
(re)produzam a própria sociedade que os fabrica. Mitos, narrativas, slogans, ideais,
caricaturas, entre outros conspiram para que se busque este modelo e não aquele.
Assim, quando se anuncia a categoria gênero tendo em mente que não há possibilidade
de vinculação com uma posição uníssona, sem conflitos, que dentro de um mesmo grupo
social ocorrem posições dissidentes, da mesma forma que existem várias proposições
conflitantes, empunhadas por diferentes grupos sociais em luta.
É imprescindível a compreensão acerca do conceito de gênero como algo que além de
engendrar, ainda, legitima as relações sociais através do qual sociedade e gênero se integram
com reciprocidade, apesar de se materializarem conforme as diferenças que lhes o
específicas e historicamente estão situadas de maneiras também particulares, relações sociais
e gênero se (re)compõem em um movimento recidivo.
Baseado nessa dinâmica Anyon (apud CERISARA, 2002) levanta uma questão de
suma importância, ao duvidar do discurso sofismático que sustenta a idéia da existência de um
convívio harmônico entre os “papéis” sexuais, uma vez que mulheres e homens não só
aceitam, mas também rejeitam os imperativos construtos sociais, como sujeitos que apenas
recebem uma ação ou como sujeitos que (re)agem a ela. Demonstrando que a construção do
gênero não é um processo impoluto gestado unicamente pelas mãos de ferro da sociedade.
Nas palavras do autor:
Discordei [...] da visão prevalecente de que o desenvolvimento do gênero seja
um processo unilateral de imposição, pela sociedade de valores e atitudes
60
internalizados [...] Ao contrário, postulo que o desenvolvimento do gênero
envolve tanto recepção passiva quanto resposta ativa às contradições sociais
(ANYON apud CERISARA, 2002, p. 34).
Ao corroborar com esse entendimento Louro acrescenta:
Tornar-se homem ou torna-se mulher (expressão cunhada por Simone de
Beauvoir) supõe, portanto, um trabalho de socialização de sujeitos – homens e
mulheres onde estes, longe de serem depositários passivos de uma cultura,
integram-na de forma ativa e própria (1994, p. 43).
Sendo assim poder e resistência são inseparáveis lados de uma mesma moeda. São fios
que se cruzam na tessitura de um tecido, consolidando pontos firmes que ajudam na
composição do corpo social em toda sua extensão. São enredos que nos compõem, marcam
nossos espaços, constituem nossos gestos e ditam comportamentos, também nos ensinam a ser
femininas ou masculinos.
Nesse sentido, não se fala de um sujeito autômato ou monolítico que totalmente
entregue ao niilismo se reifica, tornando-se desertor de si próprio, mas que, ao contrário,
como donas/os da mais estrondosa e fascinante inteligência de que já se ouviu falar, (re)agem,
são ativas/os, cercam e são cingidos por estas aprendizagens, negando-as ou assumindo-as
inteiramente. Neste veio, Não estamos condenados/as a continuarmos a ser e a fazer o que
fazemos em nossas vidas e espaços de trabalho” (BARBOSA; CARVALHO, 2006, p. 04).
Os processos de formação de mulheres e homens têm sido direcionados segundo um
padrão que hierarquiza e divide “papéis” sexuais. Porém, embora elas/es aprendam a pensar e
agir de maneira cuidadosamente esperada “[...] não existe a aceitação ou rejeição completa de
atitudes e comportamentos apropriados aos papéis sexuais” (CERISARA, 2002, p. 33). Essas
posições de sujeitos são preenchidas pelo dinamismo atuante nas oposições e determinações
existentes em cada sociedade e nos variados estratagemas que emanam pontos de resistência e
acomodação manifestadas por mulheres e homens diante dos arcebos papéis sexuais.
Mas apesar de tudo, a construção do gênero permanece ali, inadiável, materializando-
se através dos vários construtos humanos, e problematizar essa questão é proveitoso para se
questionar a lógica que nos inscreve enquanto sujeitos do pensar e (re)fazer científico, para
quem sabe, (re)textualizar outras formas não pasteurizadoras de fazê-lo. Pois, a recusa em se
discutir determinadas questões, pode ser uma pista de que tal reação seja fruto da apreensão
que questionamentos como este possam fomentar ao colocar em suspeição os alicerces que
dão segurança à fundamentação de uma cultura que tem comandado as relações sociais, além
61
de ser o sustentáculo das matrizes que projetam protótipos de feminino e masculino como
referências modelares de pessoas.
Ainda que o poder pareça ter um sexo, pequenas lutas diárias nos alertam que existem
possibilidades permanentes de fintar as inexoráveis investiduras do cotidiano que parece
organizar incansavelmente novéis prisões aos gêneros. São esses pequenos, mas significativos
fluxos incapturáveis que nos permitem ir além de qualquer sistema classificatório e num ato
de ousadia criar outras maneiras de se viver o gênero sem relações umbilicais com os
parâmetros hegemônicos, porque “paradoxalmente, a construção do gênero também se faz por
meio de sua desconstrução” (LAURETIS apud LOURO, 2001, p. 35).
Fundamentada nos construtos analíticos deste capítulo, fica evidente o lugar do
desprestígio a que sucumbiu a figura feminina diante da distribuição dos papéis sociais que
propositalmente colocaram o homem atuando no espaço público e a mulher no campo
privado/doméstico. É interessante como a dicotomia desses conceitos adquiriu imagens
isoladas e excludentes quando se fala de gênero, entendidos dessa forma esses espaços
dificultaram não só no passado, como também no presente, um olhar perspectivado pelo
relacional que atua no binômio público/privado, nesse contexto. Talvez o mais interessante
seja tratá-los como dimensões presentes em todas as relações sociais e não como mundos ou
universos, conceitos, espacializados, que nos levam a delimitar lugares e pessoas relativos a
cada um” (CARVALHO, 1998, p. 385).
Assim como as grandes construções arquitetônicas, sejam elas antigas ou modernas,
foram adjuvadas por muitas pessoas anônimas que não desfrutaram de reconhecimento, ao
contrário dos poucos arquitetos (homens!), a Ciência também não é resultado do labor de
poucas pessoas, mas de muitas que se dedicaram durante séculos à formação de
conhecimentos hoje disponíveis a tantas/os de nós, porém, alguns nomes acabaram
sobressaindo-se na Ciência, e não por acaso pertencem aos homens.
O sujeito cartesiano, unitário e centrado, está na raiz mesma do projeto
científico, é macho, branco e europeu. A “razão” que preside o
empreendimento científico, longe de representar um ser universal, expressa a
experiência e a perspectiva do homem e de um homem muito particular
(SILVA, 1998, p. 189).
No rastro da quase ausência de mulheres na história da Ciência, percebe-se que nas
primeiras décadas do século XX, a práxis científica encontrava-se culturalmente demarcada
como uma carreira não destinada às mulheres, assim como na segunda metade do século XX,
62
foram apontadas as profissões próprias para mulheres e outras somente para homens
17
.
Seguindo aquelas orientações, as meninas são desencorajadas a seguirem estudos em áreas
classificadas como masculinas e evidentemente que esse tipo de reserva arbitrária, que ainda
ocorre em algumas profissões ditas mais indicadas para mulheres ou para homens, não se
revela de maneira aberta, mas sim apoiada por uma justificativa de cunho naturalizante.
Esta questão possibilita fazer um reporte ao modelo burguês que se tornou
hegemônico no mundo, onde o parâmetro “homem-provedor/mulher-procriadora” (SILVA,
2005, p. 18) ditou o comportamento de legiões de homens e mulheres durante séculos,
forjando uma espécie de divisão generificada do trabalho como resultado de uma lógica
patriarcal que nos legou uma herança machista a partir da qual a produção de bens seria
realizada pelo homem, enquanto que a reprodução da mão-de-obra restaria às mulheres, já que
elas “naturalmente” afinadíssimas ao lar demonstravam capacidades para desenvolver
determinados tipos de trabalhos em detrimento de outros tidos como mais complexos, e por
essa vicissitude estavam destinados aos homens.
O caráter masculino da Ciência caminhou na lógica descrita acima, através da qual se
afirmou como o lugar da objetividade, impessoalidade e universalidade em oposição absoluta
ao domínio da subjetividade, afetividade, paixões e sentimentos sublinhados como atributos
femininos. Neste sentido, a exclusão ou ocultamento
18
das mulheres, no que tange aos
aspectos ligados a criação e produção na Ciência, persiste e ainda tem sido apoiada por uma
divisão entre o trabalho intelectual pertencente aos homens, e emocional considerado de
responsabilidade inerentemente feminina.
No Brasil, os estudos que entrelaçam Ciência e gênero ainda são recentes, mas não
resta dúvida da enérgica presença das idéias de cunho feminista manifestas em grande medida
nos aspectos de nossa cultura contemporânea, porém ainda existem cicatrizes que latejam
avigoradas por discriminações que parecem não cessar.
As diversas áreas do conhecimento têm sido palco de muitos debates acerca da
relevância das discussões sobre o gênero para o meio científico e o quanto as mulheres têm
contribuído - bastante tempo - com a produção de saberes naquele lugar, as promoções
deste tipo de ação rendem tributos no sentido de fomentar superações dos ideários que
17
Diga-se a propósito que, na atualidade continuamos a presenciar, por exemplo, cursos como o de Pedagogia
freqüentado em grande parte por mulheres ou de Engenharia Mecânica majoritariamente cursada por homens.
Nesse sentido parece que tacitamente tem se prolongado a circunscrição de espaços e carreiras segundo
orientações sexistas.
18
Conforme Chassot (2006a), no século XIX, para burlar os sistemas sexistas, algumas mulheres a fim de obter
créditos na Academia e ver seus textos reconhecidos como produções científicas, acabaram publicando seus
trabalhos com pseudônimos masculinos.
63
apregoavam o demérito feminino no fazer científico e os Grupos de Pesquisa espalhados pelo
país, sem dúvida, converteram-se nos grandes interlocutores destes frutíferos momentos.
A suposta invisibilidade das mulheres na Ciência esconde uma participação que se fez
acontecer em diversos momentos da história, mas que não foi evidenciada porque era mais
conveniente mantê-las agindo nas sombras da História e do conhecimento. Àquelas que
resistiram, o controle cruel foi a solução e através destes “métodos” muitas foram
covardemente silenciadas, tudo em nome da supremacia masculina na assunção de um poder
que o poderia ser ameaçado por seres considerados inferiores. Foram essas atitudes que
também nos fizeram acreditar que as mulheres não atuaram no meio científico de maneira
proficiente, uma vez que quase não figuram entre as incontáveis constelações de pessoas que
tiveram na produção de conhecimento científico seus nomes marcados no universo histórico
da humanidade.
A materialização destas sentenças se aninha na quantidade menor das produções de
autoria feminina em decorrência do acesso tardio aos patamares acadêmicos, onde aos poucos
a presença feminina foi permitida. Todavia, o fato de estarem freqüentando uma instituição de
nível superior para elas não teve o doce sabor de se verem livres das amarras de uma
educação que lhes lançava um olhar diferenciado.
Tendo em vista essas considerações, os reflexos de tal processo na produção dos
grupos de pesquisa em instituições brasileiras, sobretudo no que se refere à UFPA, de alguma
maneira foram sentidos, filtrados e (re)significados mostrando-nos que as relações de gênero
construídas no bojo histórico do contexto social, resvalaram para o científico encontrando
tradução também nas produções de cunho acadêmico-científicas.
64
CAPÍTULO II
A PRODUÇÃO CIENTÍFICA GENERIFICADA
NOS GRUPOS DE PESQUISA BRASILEIROS
[...] não há nada no mundo científico que o diferencie das
demais esferas da atividade humana. A Ciência, como qualquer
outra forma de conhecimento, é socialmente construída e
incorpora os valores e práticas de seu contexto, incluindo
aqueles que permeiam a relação entre gêneros.
(VELHO; PROCHAZKA, 2003, p. 5)
No presente capítulo, passa-se a discutir como se encontra a produção científica que se
preocupa com as questões de gênero no Brasil, usando como lente os dados fornecidos pelos
grupos de pesquisa cadastrados no site do CNPq, durante o período 1995 a 2006, procurando
entrever como reverberam as relações de gênero no contexto científico nacional.
Quando se fala em pesquisa acadêmica no Brasil, é preciso que se leve em
consideração o fato de sua existência ser recente, pois segundo Corrêa (2003), no que tange ao
aspecto institucional, foi somente no final dos anos 1960 com o surgimento dos cursos de pós-
graduação no país que a investigação sistemática começou a ebulir. Nesse sentido, os rumos
percorridos pela pesquisa brasileira não foram (e não são) tranqüilos, posto que os
investimentos estavam voltados para o ensino no interior das universidades. Por outro lado, a
pesquisa fadada a uma espécie de guetização estava reservada ao escasso número de pessoas
que puderam fruir de uma formação em nível de pós-graduação concebida fora do território
nacional.
É sempre bom lembrar que apesar da pesquisa ser o foco da pós-graduação, no Brasil
seus caminhos iniciais historicamente não coincidem, seja no tocante ao aspecto cronológico,
seja nos espaços geográficos.
Conforme Machado e Alves (2005) desde o século XX, docentes formados no exterior
tomavam iniciativas de pesquisa em universidades, entretanto essas ações além de isoladas
não contavam com incentivos e por essa razão o proliferavam. Em 1930 um considerável
número de cientistas requereu a ocupação do espaço universitário, contudo, somente a partir
65
de 1965
19
, com a oficialização da pós-graduação no país, é que a pesquisa foi de fato instalada
como prática no interior da academia
20
. Por isso torna-se imperioso levarmos em consideração
as preciosas atitudes de reivindicação daquelas pessoas que, resistindo à lógica existente,
uniram forças para incluir a pesquisa no seio acadêmico, local este embebido pela tradição do
ensino de coloração clássico-humanístico.
Para Cury (2005) o não estímulo à qualificação de pesquisadoras/es em terras
brasileiras acarretou sérios entraves ao ensino superior no país, pois, no eixo estrutural,
obstruiu uma consolidação autônoma e ampliada desse nicho educacional. O resultado disso
foi uma qualificação de pesquisadoras/es que procurou espelhar um modelo de sistema pós-
graduado e autônomo com características externas ao país.
de se ressaltar que o aumento quantitativo de professoras/es e pesquisadoras/es no
Brasil decorreu do sintagma das competências angariadas, tanto no exterior quanto dentro do
país, e dos investimentos aplicados através do Estado em busca das formações recebidas no
exterior. Advindas dessas diferentes qualificações profissionais aquelas pessoas
proporcionaram as reais condições para a operacionalização do sistema. A pesquisa então
passou a ser configurada como uma das atividades vitais ao bom desempenho das funções
acadêmicas, posto que ao ser desenvolvida ela apontou para o surgimento de novos
conhecimentos e geração de tecnologias.
Dentre os novos ramos do saber assiste-se à emersão dos grupos que se dedicavam à
produção de conhecimentos através de pesquisas acadêmicas e científicas, primeiramente em
torno da mulher e mais tarde, das relações de gênero. Um estudo realizado por Costa, Barroso
e Sarti (1985) verificou que em 1981 o Brasil ganhou os primeiros grupos daquele porte, um
deles ligado ao Departamento de Ciências Sociais e Filosofia da Universidade Federal do
Ceará (UFCE) batizado de Núcleo de Estudos, Documentação e Informação sobre a Mulher
(NEDIM); e o Outro Núcleo de Estudos sobre a Mulher (NEM) relacionado ao Departamento
de Sociologia e Política da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ).
Exortados por uma realidade que conspirava a favor da patrilineagem na academia e
do demérito feminino naquele lugar, esses grupos espraiaram-se e provocaram desterros na
estrutura dos elementos sociais que buscavam ajustar aqueles desalentadores ideais. Na
19
Machado e Alves (2005) nos lembram que a Universidade de São Paulo (USP) possuía cientistas e
pesquisadores estrangeiros, em sua maioria franceses, mesmo antes de 1965, período em que o paradigma
europeu de pesquisa e pós-graduação, à miúde, foi perdendo força e abrindo espaço para o norte-americano.
20
A esse respeito consultar o estudo dissertativo de Damião Bezerra Oliveira intitulado “As
dimensões ensino e pesquisa enquanto premissas institucionais da formação
acadêmica no arquipélago Universidade Federal do Pará”.
66
atualidade estes grupos de pesquisa criaram um leque de discussões envolvendo a temática
gênero, ampliaram seu panorama de atuação, proporcionaram esforços autônomos de
pesquisa, estimularam a formação de equipes (multidisciplinares), facilitaram a captação de
recursos, organizam e sistematizam a formação de acervos documentais e dilataram a geração
de novos saberes científicos.
2.1 O PANORAMA CIENTÍFICO DA PRODUTIVIDADE NO CNPQ: MAPEANDO
QUESTÕES REFERENTES AO GÊNERO
Partindo da premissa anunciada através do estudo de Meyer, Ribeiro e Ribeiro (2004)
relacionada à afirmativa de que os grupos de pesquisa brasileiros são, afortunadamente,
responsáveis por uma considerável parcela das produções existentes em todas as áreas do
conhecimento, procurei investir em uma busca virtual no site do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), onde aparecem os grupos de pesquisa
cadastrados. Com a atenção voltada para o sondamento dos grupos que na atualidade,
realizam estudos balizados pela temática gênero, solicitei ao sistema que revelasse todos
aqueles que versavam sobre a palavra exata “gênero”, o resultado apontou para a existência de
634 grupos de pesquisa registrados no ano de 2006.
Depois de um laborioso trabalho de organização das informações colocadas à
disposição através do Diretório dos Grupos de Pesquisa do CNPq, resolvi ter a certeza de que
os 634 grupos apresentados de fato aplicavam seus esforços de pesquisa em torno da temática
em questão, pois ela tem muitas acepções e advertida por esta peculiaridade tornou-se
imperativo que eu me certificasse de que aqueles grupos discutiam gênero à luz de
perspectivas próximas às que assumo nesta dissertação e não em torno de gênero literário,
alimentício, textual, bacteriano, lingüístico, musical entre outros.
Da seleção dos nomes que identificam os grupos chegou-se ao número de 149 que
correspondiam às expectativas desta pesquisa. Entretanto, após esse primeiro
esquadrinhamento, notou-se a presença de outros grupos que não evidenciavam a temática em
seus nomes, mas faziam através de suas palavras-chave e/ou dos respectivos resumos de
repercussões dos trabalhos do grupo. Isso provocou uma nova seleção junto ao sistema
eletrônico do CNPq, obtendo-se uma amostra de 494 grupos, doravante pode-se visualizar não
os que declaram estar estudando diretamente a temática mencionada, como também
aqueles que de maneira indireta também o fazem.
67
2.1.1 Os estudos generificados nas áreas do conhecimento acadêmico
Distribuídos por 28 áreas de estudo, os grupos cadastrados junto ao Diretório dos
Grupos de Pesquisa do CNPq, ao declararem que sondavam as relações de gênero em suas
investigações científicas, aparecem sumarizados conforme a organização dos dados na Tabela
2.
Tabela 2 – Número de grupos
21
cadastrados no Diretório dos Grupos de Pesquisa do CNPq em 2006,
que discutem o gênero em cada área do conhecimento
ÁREA DE ESTUDO NÚMERO DE GRUPOS
Educação 71
Sociologia 65
História 58
Saúde Coletiva
43
Psicologia
43
Letras
34
Antropologia
32
Serviço Social 28
Enfermagem 18
Educação Física 15
Lingüística 12
Administração
11
Medicina
10
Ciência Política
9
Direito
7
Economia 6
Teologia 5
Comunicação 5
Economia Doméstica 3
Demografia
3
Geografia
3
Filosofia
3
Ciência da Informação
3
Arquitetura e Urbanismo 2
Planejamento Urbano e Regional 2
Arqueologia 1
Artes 1
Desenho Industrial
1
TOTAL 28 494
Fonte: CNPq (2006)
Os dados evidenciados na Tabela 1 levam à percepção de que no âmbito nacional, a
Educação com 14,37% (71) dos grupos se constitui como uma das áreas do conhecimento que
68
mais possuem grupos de pesquisa envolvidos com a discussão das questões de gênero. A
Sociologia aparece em segundo lugar com 13,2% (65) do total, seguida pelas de História com
11,7% (58), Saúde Coletiva e Psicologia totalizando 8,7% (43) cada uma, Letras com o índice
de 6,88% (34) e a Antropologia com 6,48% (32).
Posteriormente a essas 07 áreas, seguem-se mais 21 que colaboram para o
avolumamento dos estudos de gênero efetivados através dos grupos de pesquisa: Serviço
Social participando com 5,67% (28), Enfermagem contendo 3,64% (18), Educação Física com
3,04% (15), Lingüística apresentando 2,41% (12), Administração somando 2,23% (11),
Medicina contribuindo com 2,02% (10), Ciência Política com 1,82% (9), Direito com 1,46%
(7), Economia 1,21% (6), Teologia e Comunicação com 1,01% (5) cada; as áreas de
Economia Doméstica, Demografia, Geografia, Filosofia e Ciência da Informação apontam
cada uma para 0,61% (3) dos grupos de pesquisa, por sua vez as áreas de Arquitetura e
Urbanismo e Planejamento Urbano e Regional possuem separadamente 0,4% (2) grupos;
enquanto que a Arqueologia, Artes e Desenvolvimento Industrial contam com 0,2% (1) grupo
respectivamente.
É meritório lembrar que, conforme o censo CNPq (2004)
22
a área da Educação é a
segunda que mais predomina enquanto número de atividades realizadas pelos grupos de
pesquisa contendo 2.990 linhas de pesquisa, 7.811 pesquisadoras/es, distribuídas/os em 1.194
grupos de pesquisa. Logo, desse total de grupos, somente 71 deles tratam de questões
referentes ao gênero na área da Educação, ou seja, o equivalente a 5,95% da área pesquisada.
Outro fato que nos chama atenção é protagonizado pelo número total de áreas do
conhecimento que possuem grupos de pesquisa cadastrados no CNPq, uma vez que esses
grupos aparecem distribuídos por 76 áreas e dessas 36,84% (28) trabalham com questões de
gênero. Esses indicativos trasladam a prova mais cabal de que as pesquisas em torno do
gênero além de, a princípio, terem incitado a área das Ciências Humanas, provocou uma
epidemia de longo alcance no campo das Ciências Biológicas, Ciências da Saúde, Ciências
Sociais Aplicadas, Lingüística, Letras e Artes; atingindo até mesmo áreas ditas ciências
“duras” como as Ciências Exatas e da Terra, Ciências Agrárias, Engenharias e Ciências da
Computação.
É interessante perceber que dentre as áreas de destaque na tabela acima, estão aquelas
que após o surgimento da temática gênero, logo foram enlaçadas por discussões envoltas com
21
Pelo menos até o ano em que a pesquisa foi realizada, todos os grupos aqui referendados estavam cadastrados
no Diretório dos Grupos de Pesquisa do CNPq.
69
a categoria, entre elas Sociologia, História, Antropologia e Psicologia se caracterizam pelo
considerável tempo em que trazem contribuições para as/os estudiosas/os do campo. Por sua
vez, Educação vem exibindo um número cada vez maior de produções, talvez almejando
superar a decantada fragilidade teórico-prática em torno das conexões que busca realizar com
a categoria mencionada (ROSEMBERG, 2001a; JARDIM; ABRAMOWICZ, 2005).
Essas estatísticas revelam um considerável avanço para os estudos de gênero, dada a
recente composição e expansão da própria pesquisa acadêmica no Brasil com o advento da
pós-graduação (strictu sensu) em 1965 (SAVIANI, 2000; CORRÊA, 2003; ROMÊO;
ROMÊO; JORGE, 2004, MACHADO; ALVES, 2005) e ainda a recente formulação da
própria categoria gênero a partir dos anos 1970, somente chegando ao espaço nacional no
período posterior aos anos 1980, quando começou a ter maior fôlego.
A título de comparação, verificou-se o número de grupos de pesquisa existentes nas 28
áreas do conhecimento anteriormente referendadas (Gráfico 1).
Como se pode notar, durante o período 2000-2004 houve um gradativo crescimento na
quantidade dos grupos de pesquisa na maioria das áreas destacadas, as exceções ficam por
conta da Arqueologia que durante o período 2000-2002 permaneceu com 26 grupos para
somente em 2004 somar 37 deles; outro caso foi apresentado pela Demografia que apontou
em 2002 para a diminuição de 1 grupo de pesquisa, saindo de 23 em 2000 e retrocedendo para
22 no biênio seguinte, porém no ano de 2004 registrou um aumento de 36,36% (30); e
finalmente, no rastro dessas poucas excepcionalidades temos ainda a Economia Doméstica
que além de ter os menores índices dos grupos de pesquisa registrados, no último biênio
obteve queda de um grupo, pois os dados mostram que em 2002 possuía apenas 0,09% (6)
grupos de pesquisa e em 2004 teve que contar com 0,06% (5) deles constituindo-se, nessa
amostra, como a única área que foi acometida por uma subtração numérica no ano de 2004.
22
Até o momento da análise destes dados o CNPq ainda não havia publicado os dados referentes ao biênio 2005-
2006.
70
Gráfico 1 – Distribuição dos grupos de pesquisa segundo a área do conhecimento predominante nas
atividades dos grupos cadastrados no CNPq, 2000-2004
Fonte: CNPq (2006)
No Gráfico 1, as áreas de Medicina e Educação ganham grande destaque porque
exibem um crescimento não acompanhado pelas demais, conseguindo manter-se no topo do
gráfico desfrutando de um número de grupos de pesquisa bem mais expressivos.
26
1.257
1.194
521
454
415
385
326
364
301
296
492
230
181
253
366
205
268
270
120
154
128
150
103
54
93
76
5
12
71
200
23
37
28
72
74
95
98
100
103
113
115
108
165
187
193
221
226
243
268
289
631
737
61
85
6
30
22
41
111
95
111
161
196
158
206
142
158
144
311
240
231
290
272
294
306
397
388
899
985
78
5
52
30
0 200 400 600 800 1000 1200 1400
Medicina
Educação
S.Coletiva
Psicologia
Letras
Lingüística
Economia
História
Enfermagem
Sociologia
Administração
Filosofia
Antropologia
Artes
Direito
A.Urbanismo
E.Física
Comunicação
P.Urb.Reg.
S.Social
C.Política
Geografia
C.Informação
Teologia
Arqueologia
Demografia
D.Industrial
E.Doméstica
2000 2002 2004
71
Comparando-se a quantidade
23
dos grupos de pesquisa cadastrados por área no gráfico
acima, a Medicina que possuía 14,6% (1.257) dos grupos em seu quadro nacional no ano de
2004 segundo o CNPq, contava em 2006 com 0,8% (10) deles envolvidos com pesquisas que
fazem algum tipo de referência às questões de gênero; em segundo lugar apareceu a Educação
com 13,87% (1.194) no total de grupos e destes 5,95% (71) ocupavam-se da temática gênero;
a Saúde Coletiva em terceiro possuindo 6,05% (521) para 8,25% (43) de grupos ligadas/os a
estudos que se preocupam com o gênero; na quarta posição estava a Psicologia somando
5,27% (454) para 9,47% (43) dos grupos; ocupando a quinta colocação Letras aparecia com
4,82% (415) para 8,19% (34) de grupos atuando em pesquisas que envolvem as discussões em
torno do gênero; a Lingüística tinha 4,47% (385) para 3,12% (12); assumindo o sétimo lugar a
História surgiu com 4,23% (364) grupos e destes 1,59% (58) engrossam na somatória de
grupos que tomam o gênero como parte de suas preocupações.
a área da Sociologia tinha 3,44% (296) para 2,2% (65); por sua vez a Economia
ficou com 3,79% (326) para 1,84% (6) de grupos; a Enfermagem com 3,5% (301) para 5,98%
(18); a área do conhecimento Administração com 5,71% (492) possui 2,24% (11); a
Antropologia 2,1% (181) para 1,77% (32); a Filosofia de 2,67% (230) grupos para 1,30% (3);
Comunicação somava 3,13% (270) para o percentual de 1,85% (5); Planejamento Urbano e
Regional contava com 1,39% (120) para 1,67% (2); Arquitetura e Urbanismo despontava com
2,38% (205) em 2004 para 0,98% (2) em 2006; Ciência Política contribuía com a quantidade
de 1,49% (128) de grupos para 7,03% (9); Direito com 4,25% (366) para 1,91% (7).
Na continuidade Educação Física continha 3,11% (268) grupos para 5,6% (15) dos que
mergulham na temática gênero; Geografia com 1,74% (150) para 2% (3); Artes somava
2,94% (253) para uma relação de 0,4% (1); Serviço Social com 1,79% (154) para 1,82% (28);
Ciência da Informação sobrevinha com 1,19% (103) para 2,91% (3), Demografia com 0,35%
(30) do total brasileiro dos grupos de pesquisa para 10% (3) de grupos que perscrutam o
gênero; Desenho Industrial com 0,6% (52) para 1,92% (1); Economia Doméstica com 0,06%
(5) para 60% (3); Teologia 0,63% (54) para 9,26% (5) e Arqueologia que manifestava 0,43%
(37) na somatória dos grupos em nível nacional, apontou para 2,7% (1) dos que declararam
perquirir a respeito da temática.
Em que pesem as diferenças, no aspecto geral, a relação do total numérico dos grupos
de pesquisa brasileiros e o quantitativo nacional dos que estão cadastrados como partícipes da
construção de conhecimentos sobre a temática nero, projeta o interessante revel que foram
23
Os dados constantes nessa página se referem respectivamente ao percentual do total de grupos de pesquisa em
2004 e do percentual de pesquisas sobre gênero dentro desses grupos.
72
adquirindo os assuntos que privilegiam aquela temática no meio científico, sem contar que
apesar dos vorazes encalços, suas discussões se fizeram sentir com mais veemência no Brasil
em meados da década de 1990. Com isto, em 2006 temos mais de um decênio daquele tempo
e isso diante do tipo de incentivo que se para a pesquisa em nosso país, tem a
representatividade da velocidade de um rastilho de pólvora.
Ressalta-se ainda que para se formar um grupo de pesquisa é necessário minimamente
um projeto de pesquisa com qualidade, uma equipe de pessoas qualificadas, disponibilidade
de tempo, gosto pelo tema a ser pesquisado e um bom financiamento a fim de que os estudos
possam ser operacionalizados com tranqüilidade e segurança. Por vezes, essas peculiaridades
do mundo acadêmico e científico absorvem bastante tempo e acarretam um menor número de
grupos produzindo conhecimento.
É interessante perceber-se que a hierarquia posta em prática entre as 28 áreas do
conhecimento, no que diz respeito à quantidade dos grupos de pesquisa que realizam estudos
no âmbito de questões referentes ao gênero (Tabela 2), apresenta ligação direta com o número
total de grupos vinculados em cada área (Gráfico 1), ou seja, quanto menos grupos cada área
possuir, menor é a possibilidade da existência de grupos que objetivam trazer contribuições
para a produção de conhecimentos na seara do gênero, pois no cotejamento dos dados
mencionados, das primeiras 10 áreas constituídas de grupos que estudam gênero, 07 delas
estão entre aquelas que mais somam grupos de pesquisa no país.
2.1.2 No esboço assimétrico das regiões geográficas brasileiras, a temática gênero
Como sabemos, as regiões de nosso país passaram por processos que asseguraram
desenvolvimentos diferenciados a cada uma delas. Para os propósitos dessa pesquisa nossa
investigação averiguou que tal característica também invadiu as academias científicas. Com a
finalidade de corroborar esta assertiva, passemos a visualizar no Gráfico 2 como se
apresentou a distribuição dos grupos de pesquisa brasileiros por regiões geográficas.
Conforme os dados do CNPq, todas as regiões brasileiras apontam para o crescimento
dos grupos de pesquisa no decorrer do período 2000-2004. Mas o que aflige é a notória
discrepância entre as regiões, através da qual se torna manifesta a região Sudeste reinando
absoluta durante todo o tempo em análise, chegando até mesmo a ostentar sozinha o maior
número de grupos cadastrados, ou seja, nem mesmo a soma das outras quatro regiões é
73
suficiente para ultrapassar a marca que grafa historicamente um desenvolvimento largo e
progressivo.
7.855
10.221
3.630
4.580
1.720
2.274
2.760
636
809
1.139
354
590
770
6.733
2.317
0
2.000
4.000
6.000
8.000
10.000
12.000
2000 2002 2004
Sudeste Sul Nordeste Centro-Oeste Norte
Gráfico 2 – Distribuição dos grupos de pesquisa, segundo a região geográfica, 2000-2004
Fonte: CNPq (2006)
Para se ter mais clareza da real situação, ao observar os veis de diferença em termos
de quantidade que a região Sudeste abriu em relação às demais, se nota a partir do total de
grupos cadastrados (19.470), as seguintes gradações: com relação à região Sul que em 2004
possuía 23,5% (4.580) grupos de pesquisa expressava uma diferença de 29%; no que tange ao
Nordeste com 14,2% (2.760) dos grupos no mesmo ano, demonstrava uma diferença de
38,3%, com o Centro-Oeste que possuía 5,9% (1.139) daquela fatia, ou seja, menos da
metade da região anterior, apareceu com 46,6% de prejuízo ao ser equiparada aos números da
região Sudeste; e a Norte que contava com 4% (770) grupos de pesquisa, demonstra uma
desarmonia de 48,5%. Neste sentido, lamentavelmente, nós, as/os nortistas contamos com
uma presença mais reduzida de grupos atuantes no país.
Essa incômoda realidade parece colaborar para que as produções em torno do gênero
se materializem de maneira a deixar transparecer uma ingente dessemelhança entre as regiões
geográficas brasileiras. Nos períodos sob exame é destacável que os percentuais anunciaram
um importante crescimento dos grupos em cada região brasileira, donde se nota que aquela
ordem hierárquica se alterou demasiadamente, pois a região Norte alavancou para a primeira
posição com o crescimento de 117,51%; o Sul continuou no segundo lugar porque cresceu
74
97,67%; o Centro-Oeste subiu para a terceira colocação com seus 79,09%; na seqüência a
região Nordeste demonstrando 60,46% e por último o Sudeste que despencou em vista do
índice de 51,80% de crescimento mais baixo em relação aos outros.
Esses índices de crescimento nos remontam a um conseqüente aumento no número dos
grupos de pesquisa, especialmente nas regiões que possuem quantidades menores deles, mas é
preciso advertir que essas proporções ainda continuam excessivamente discrepantes e que
para uma região como a Norte serão necessários muitos anos de crescimento para que se
atinja o patamar numérico da região Sul, e ainda assim, é possível que aquela permaneça com
índices abaixo dessa pelo fato de que dificilmente seu crescimento cessará, uma vez que isso
nem deve ser desejado caso se queira impulsionar o bom andamento da pesquisa e do
desenvolvimento nacional.
Constatado o número dos grupos de pesquisa que realizam estudos acerca da temática
gênero, procurou-se, através das instituições em que estes grupos afirmaram estar atrelados,
concatená-los para descobrir em que regiões estavam situados. Vejamos então como estes
números se comportam nas regiões brasileiras abaixo destacadas:
Gráfico 3 – Distribuição dos grupos de pesquisa no Brasil que abordam a temática gênero
segundo a região geográfica, 2006
Fonte: CNPq (2006)
Na dianteira dessa paisagem discordante, a região Sudeste com enorme vantagem em
relação às outras alardeia 46,36% (229) dos grupos de pesquisa, sendo anunciada como o
grande núcleo aglutinador de pesquisas envolvendo a temática nero no Brasil; com uma
diferença de 114 grupos, ao ser equiparada à região Sudeste, o Sul destaca-se em segundo
lugar contando 23,28% (115) dos grupos; posteriormente declarando 20,85% (103) deles
229
115
103
26
21
0 50 100 150 200 250
Sudeste
Sul
Nordeste
Norte
Centro-Oeste
75
encontraremos a região Nordeste na terceira posição; mostrando sinais de atipismo teremos
região Norte ocupando uma posição à frente do Centro-Oeste, onde aquela soma 5,26% (26)
e esta 4,25% (21) dos grupos cadastrados na base de dados do CNPq, entretanto o que se
constata é uma diferença de apenas 5 grupos no entremeio da quarta e quinta posições, mas
que não deve ser desconsiderada porque essas disposições entre Norte e Centro-Oeste
parecem ser extraordinárias no cenário dos números que sondam a produção acadêmica
nacional, posto que a região Norte é comumente localizada na última posição dos quadros
estatísticos do CNPq.
Através dos dados contidos nessa representação o que se nota é a tradução de um
mapa das desigualdades regionais, que em pequenas proporções, pois o que vemos é uma
cópia reduzida dos reflexos das disparidades e desenvolvimentos espelhados nas pesquisas
científicas brasileiras, através do qual o território nacional aparece fragmentado com níveis
gritantes de índices entre as regiões. Para adensar ainda mais essas desavenças numéricas
entre Sudeste, Sul, Nordeste, Centro-Oeste e Norte, a porção de pesquisadoras/es atuantes em
cada região igualmente supõe desníveis críticos que resvalam para a quantidade das
produções que se ocupam de pesquisas relacionadas ao gênero.
No que se refere à distribuição de pesquisadoras/es cadastradas/os, observa-se que as
cinco regiões brasileiras obtiveram um significativo crescimento na quantidade dessas/es
profissionais ao longo dos anos 1995-2004. Entretanto, três regiões ganham destaque: a região
Sudeste realça como a que mais possuiu percentuais quantitativos de 71,9% (10.170) de
pesquisadoras/es no ano de 1995, o Sul que apresentou o índice de 13,2% (1.869) e o
Nordeste com 9,7% (1.367). Posteriormente, aparecem as regiões com os índices menores de
quantidade, como é o caso da Centro-Oeste que projetou 3,7% (520) e do Norte com apenas
1,6% (225).
Em 2004 a região Sudeste recrutou ainda mais pesquisadoras/es apontando para uma
predominância dos valores numéricos com a indicação de 55,7% (28.838), seguida ao longe
pelas regiões Sul e Nordeste com 19,9% (10.312) e 14,1% (7.294) respectivamente.
Novamente se repete as dissimilitudes de grandes proporções onde teremos a região Centro-
Oeste possuindo 7,0% (3.632) e a Norte com 3,3% (1.722) pesquisadoras/es.
Mais uma vez, em relação aos índices de crescimento no decorrer de 1995-2004,
acompanha-se uma intensa modificação nos indicadores das regiões em destaque no gráfico
abaixo, no qual o aumento quantitativo de pesquisadoras/es localizadas/os no Sudeste se
comprimiu enquanto aqueles relativos ao Norte foram ampliados, formando uma nova
seqüência na ordem das hierarquias que ganharam a seguinte formatação: em primeiro lugar a
76
região Norte demonstrou ter chegado a 665,33% de crescimento; em segundo o Centro-Oeste
com 598,46% percentuais; o Sul se mostrou ocupando a terceira colocação atingindo 451,74%
dos índices em questão; 433,58% representaram a região Nordeste na quarta posição e
183,56% de crescimento foram obtidos pela região Sul que passou assumir o último lugar na
categoria indicada pelo Gráfico 4.
Gráfico 4 – Distribuição das/os pesquisadoras/es segundo a região, 1995-2004
Fonte: CNPq (2006)
Esses valores de crescimento podem ser os responsáveis por um aumento do número
de produções que abordam aspectos relacionados às questões de gênero, uma vez que se
crescem os números de pesquisadoras/es, podem se ampliar tanto as quantidades dos grupos
de pesquisa quanto as da produtividade na esfera da temática gênero. Entretanto, de se
considerar que em relação às regiões detentoras dos maiores índices de crescimento, a região
Norte precisará de muitos anos de trabalho e incentivos para chegar próximo aos valores
exibidos pelas regiões mais dotadas de pesquisadoras/es.
Ao contrário do que se observa nos indicativos estatísticos de crescimento, esses dados
revelam que durante o período 1995-2004 não houve modificações na quantidade assimétrica
do número de pesquisadoras/es cadastradas/os junto ao CNPq, nas cinco regiões brasileiras,
uma vez que o fato de a região Norte ter conseguido um salutar índice de elevação anual não
lhe foi o bastante para alcançar a metade do índice quantitativo da região Centro-Oeste, a
penúltima colocada em número de pesquisadoras/es no Brasil.
0
10.000
20.000
30.000
40.000
Sudeste
10.170 12.533 17.354 20.540 28.838
Sul
1.869 3.080 5.034 7.165 10.312
Nordeste
1.367 2.133 3.705 5.168 7.294
Centro-Oeste
520 928 1.873 2.404 3.632
Norte
225
289
705
1.152
1.722
1995 1997 2000 2002 2004
77
Ao procurar compreender onde se localiza o cerne que fez irisar tais
desproporcionalidades, encontrou-se que esses índices têm relação com a distribuição dos
Programas de pós-graduação reconhecidos pelas CAPES, logo as regiões que pouco oferecem
qualificação de pesquisadoras/es em seu território, certamente contarão com um número
reduzido delas/es atuando in loco.
É o que nos mostrou o estudo de Corrêa (2003) ao verificar a distribuição da oferta de
programas de mestrado e doutorado reconhecidos pela CAPES segundo as regiões brasileiras.
Conforme esse autor, os programas em nível de doutorado o necessariamente ofertados
pelas regiões Sudeste, Sul e Nordeste, enquanto que o Centro-Oeste e o Norte estão situadas
na classificação das regiões que menos contribuem para o processo de qualificação das/os
docentes-pesquisadoras/es no país.
Os números que escancaram um progresso desigual da pós-graduação brasileira
também são conseqüência de uma repartição desproporcional de cursos e programas entre as
regiões, uma vez que a partir dos dados disponíveis no V PNPG (BRASIL, 2004)
24
fica
manifesto que a região Sudeste concentra sozinha 66,6% (689) dos cursos e programas de
doutorado, a região Sul 17,1% (177), o Nordeste 10,3% (107), o Centro-Oeste 4,1% (42) e o
Norte 1,8% (19). Logo, torna-se evidente a razão pela qual o Sudeste ultrapassa as outras
regiões no quesito maior incidência de pesquisadoras/es.
Mas, o documento citado causa certo melindre quando ressalta que sob o foco
analítico das taxas de crescimento, a região Norte é que concretizou o maior índice de
crescimento chegando à marca de 15% ao ano, quando as regiões Centro-Oeste e Sul
demonstraram 12%, o Nordeste 9,6% e o Sudeste 6,3%. O problema é que estes meandros não
tiveram força o bastante para modificar o quadro da ausência de simetrias reinantes entre as
regiões.
Como podemos notar é evidente a urgente necessidade de mais esforços no sentido de
provocar maior participação das regiões menos favorecidas em número de pesquisadoras/es.
Para superar esse quadro pouco alentador, Corrêa (2003, p. 290-291) explicita que “[...] é
necessário que os docentes e os pesquisadores fixados nessas regiões estejam qualificados em
nível stricto sensu, participem da coordenação de projetos de pesquisa, elaborem e publiquem
os artigos, resultantes das suas investigações.”
Nesse viés a desigualdade na distribuição dos programas de pós-graduação em âmbito
regional, segundo ele, pode ser solucionada através da inauguração e da habilitação para o
24
Os dados se referem ao período de 1990-2004.
78
exercício de novos programas nos locais que se ressentem de vantagens acadêmicas e
científicas, tal iniciativa deveria ser solidificada através de uma política que resultasse da
proficiente articulação intra e interinstitucional.
Outro fator ligado aos desníveis regionais tem relação com a significativa
concentração populacional nas regiões Sudeste e Sul, indubitavelmente bem mais
desenvolvidas do ponto de vista econômico, que acabaram criando o ambiente propício para a
concentração dos centros de produção econômica e científica. Assim, por razões
historicamente estruturais e conjunturais, especialmente, a região Norte do país apresenta um
nível de desenvolvimento menor em detrimento das regiões Sudeste e Sul, entendidas como
superiormente ricas e desenvolvidas.
Se, nas políticas e discursos oficiais da pós-graduação, esta aparece sempre
como fator indispensável ao desenvolvimento, desta realidade depreende-se
que que se fazer uma melhor distribuição dos programas sem prejuízo
daqueles já instalados, incentivando a criação de novos centros de saber (ou
estimulando os existentes) nas áreas menos desenvolvidas no país.
Depreende-se também a necessidade de usar o conhecimento produzido nos
grandes centros para criar, desenvolver e estimular o desenvolvimento
técnico/científico nas regiões Nordeste, Centro-Oeste e Norte (ROMÊO;
ROMÊO; JORGE, 2004, p. 43)
Ainda utilizando os autores em destaque, no excerto acima, outro motivo indicado
como sintomático das assimetrias regionais tem ligação com os investimentos orçamentário-
financeiros, uma vez que uma existência de um número mais elevado de docentes doutores ou
maior Produto Interno Bruto (PIB), na mesma proporção se faz maior o valor dos
investimentos absolutos, ainda que os aportes financeiros feitos por pesquisadora/r tenham
similitudes de uma região para outra. Essa lógica, além de atrapalhar o desenvolvimento das
áreas tradicionalmente relevantes nas regiões poucos favorecidas, ainda prejudica o
surgimento de outros programas e novas áreas do conhecimento.
Todavia, reduzir os investimentos nos grupos mais qualificados é uma atitude que,
incontestavelmente, causará sérias lesões ao sistema. Na opinião de Barreto [2004 ou 2005] é
uma possibilidade que não deve ser aventada. Contudo, torna-se vital pensar em outras
soluções para estimular o desenvolvimento dos grupos de pesquisa instituídos em regiões que
possuem um menor volume deles. Na ocasião, o autor em questão aproveita para lembrar que
os governos estaduais deveriam admitir que o desenvolvimento do estado e da região, também
é provocado quando estes espaços procuram garantir a qualificação de recursos humanos
locais.
79
Para Ramalho e Madeira (2005) continuam lancinantes as batalhas a serem
enfrentadas pela região Norte. Porém, a diferença que a atualidade conduz, em relação ao
passado, é que a região possui capacidades instaladas para dar conta das demandas, mesmo
com um desagradável histórico de desequilíbrios regionais e intra-regionais, que
negativamente insistem em serem (re)produzidos na mentalidade e visão da própria academia.
Mas, “De toda forma, percebe-se um amadurecimento no discurso das representações
regionais. Antes, o enfoque estava muito mais nas discrepâncias regionais; hoje, volta-se de
preferência para as políticas públicas da educação” (RAMALHO; MADEIRA, 2005, p. 74).
Todavia o se pode ignorar que a política institucional dos Planos Nacionais de Pós-
Graduação
25
do I PNPG (1974-1979)
26
ao V PNPG (2005-2010) têm evidenciando a
necessidade de mais investimentos na qualificação de pesquisadoras/es em todas as regiões do
país, em virtude de que o Brasil obtenha no ano de 2010 o número de doutoras/es por 100 mil
habitantes que a Coréia logrou desde 1985, ou seja, mais de 16.000 doutoras/es (BRASIL,
2004).
2.1.3 Os grupos no contexto das instituições de pesquisa e das unidades federativas
Conforme podemos depreender Tabela 3, os números das desigualdades regionais
parecem buscar acolhida também no campo das instituições brasileiras que se firmaram como
proscênio de pesquisas.
Contudo, é preciso que se leve em consideração que cada instituição abaixo
especificada tem um determinado contexto de surgimento e trajetória, ademais também
contam a seu favor a região e a cidade onde estão situadas, uma vez que se posicionar em
locais mais avançados, em relação ao desenvolvimento econômico, é quase sempre garantia
de maior prestígio, mais fomentos, elevação de pessoal qualificado, maiores índices de
produção acadêmica, entre outros.
Verifica-se na Tabela 3 como essa dinâmica se comportou nas instituições de
pesquisa, quando os eixos são os grupos que pensam o gênero no Brasil.
25
Trata-se da formulação de políticas institucionais que visavam dentre outras coisas, a formação acadêmica
das/os pesquisadoras/es brasileiras/os. Desde 1975 vêm sendo elaborados e postos em prática os Planos
Nacionais de Pós-Graduação (PNPG), através deles se objetivou a construção e desenvolvimento da pós-
graduação no Brasil, conforme consta no documento oficial do Plano Nacional de Pós-Graduação 2005-2010
(BRASIL, 2004).
26
Conforme Silva, Bittar e Veloso (2004), o I PNPG estava previsto para ser efetivado no transcorrer de um
período que compreendia cinco anos, entretanto, prolongou-se até o ano de 1982, época em que foi aprovado o II
PNPG, em plena vigência governamental do General e Presidente João Batista Figueiredo.
80
Tabela 3 – Distribuição institucional dos grupos de pesquisa no Brasil que realizam estudos
concernentes às questões de gênero, 2006
Fonte: CNPq (2006)
Do total de 494 grupos distribuídos de maneira dessimétrica por 136 instituições que
realizam pesquisa no Brasil, em 2006 a Universidade de São Paulo (USP) com 4,67% (23) se
mostrou como aquela que continha a maior soma em grupos de pesquisa que assumem
também ou nomeadamente o gênero como uma de suas categorias fomentadoras. Para efeitos
de comparação, conforme os índices divulgados pelo CNPq
28
no ano de 2004
29
dos 19.470
27
CEBRAP, FBDC, FCC, FCMSCSP, FEAD, FEE, FIC, FTC, IAPAR, IBICT, MPEG, PUC/MINAS, UCAM, UCB-DF,
UCB-RJ, UCPEL, UEFS, UEG, UENF, UEPA, UERN, UESPI, UFGD, UFJS, UFLA, UFMS, UFRB, UFSJ, UFV,
UNAERP, UNC, UNESA, UNIABC, UNICEUB, UNIFAL/MG, UNIFESP, UNIFRA, UNIGRANRIO, UNIJUI,
UNILASALLE, UNIOESTE, UNIPAC, UNISAL, UNISUAM, UNITAU, UNITINS, UNIVALE, UNIVATES, UNIVILLE,
UNP, UPF, URCAMP,UTP, cada uma contendo 01 grupo de pesquisa, correspondendo a 0,2% do total.
28
Consultar o site http://dgp.cnpq.br/censo2004/sumula_estat_/index_grupo.htm 07/07/06.
29
Em razão do CNPq não fornecer os dados de quantos grupos brasileiros atuaram no período correspondente a
2006 foram cotejadas as quantidades do total nacional dos grupos no ano de 2004 com os números dos grupos
que estudam gênero cadastrados até o ano de 2006.
INSTITUIÇÃO GRUPO INSTITUIÇÃO GRUPO INSTITUIÇÃO GRUPO
USP 23 UFRRJ 5 UNOCHAPECO 3
Unesp 21 ULBRA 5 EST 2
UFRJ 18 UNICENTRO 5 UFPEL 2
UFPE 16 USS 5 FURB 2
PUC/SP
14
FURG
4
SEA
DE
2
UFSC
14
IS
4
PUC/RJ
2
UERJ
13
MACKENZIE
4
UEMG
2
UFBA
13
PUC/RS
4
UESB
2
Unicamp 13 UCG 4 UESC 2
UFRGS 12 UDESC 4 UFAM 2
UFES 10 UFC 4 UFRPE 2
UEL 9 UFT 4 UFSM 2
UFMG
9
UNIR
4
UFS
2
UFSCAR
9
UPE
4
UNEB
2
FIOCRUZ
9
UCS
3
UNEMAT
2
UFF
8
UFAC
3
UNESC
2
UNB 8 UFJF 3 UNIFRAN 2
UFMA 7 UFMT 3 UNIMONTES 2
UFPR 7 UEPG 3 UNIRIO 2
UEM 6 UFRR 3 UNIT 2
UFAL
6
UNIVERSO
3
UVA
-
CE
2
UFPA
6
UTFPR
3
FNH
2
UFPB
6
UNISINOS
3
UCSAL
2
UFPI
6
PUC/Campinas
3
UFG
2
UFRN 6 UECE 3 UNIPAR 2
UEPB 5 UEMA 3 URCA 2
UFU 5 UGF 3 URI 2
UFCG 5 UNIVALI 3 OUTRAS
27
53
81
grupos de pesquisa brasileiros, essa academia já denteava 9,7% (1.884) deles, dos quais
1,22% (23) discorrem em torno da temática gênero, mostrando dessa forma, que os grupos de
pesquisa também são responsáveis pela magnificente liderança que a USP ocupa no campo da
produção científica nacional.
Ainda acompanhando as informações da Tabela 3, veremos que a Universidade
Estadual Paulista (Unesp) segue de perto a USP, pois apresenta 2,93% (21) grupos que se
esmeram no estudo das questões de gênero em 2006, possuindo no ano de 2004 o indicativo
de 3,7% (716) grupos no total das instituições.
No ano de 2006 na terceira posição aparece a Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ) que com o total de 4,9% (963) dos grupos vinculados a essa instituição em 2004,
demonstrou a partir daquela estimativa, possuir apenas 1,87% (18) de grupos que se voltaram
para preocupações em torno do gênero. Na quarta, a Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE) declarou que na soma de 1,8% (354) grupos ligados à instituição 4,52% (16) deles
abordam o gênero.
Já a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) e a Universidade Federal
de Santa Catarina (UFSC) aparecem em quinto lugar na tabela acima que em meio a um total
nacional de grupos 0,9% (182) e 2,0% (398), respectivamente, extrai-se que destes 7,69%
(14) e 3,52% (14) dedicam-se a estudos que se relacionam à temática citada. Ao avançarmos
um pouco mais nos dados da tabela avistaremos que a Universidade Federal do Pará (UFPA)
em 2006 apareceu, compartilhando com outras cinco universidades, a décima segunda
posição, se equipararmos com o ano de 2004 quando a referida instituição contava com 0,8%
(157) do total dos grupos de pesquisa brasileiros atuando, concluiremos que 3,82% (6) deles
ocupavam-se das questões de gênero no ano de 2006.
Partindo de uma visão panorâmica, não deixa de ser animador que a UFPA tenha
algum tipo de destaque na colocação dentre as instituições mencionadas na tabela acima,
mormente se lembrarmos que estamos falando de 136 instituições brasileiras de pesquisa que
juntas somam 494 grupos que declararam estarem debruçando-se sobre as questões de gênero
em âmbito nacional. Sob esse enfoque, arrisco-me na assertiva que garante a UFPA como a
representante dos estudos de gênero na região Norte, pois essa instituição é na atualidade a
que mais abarca grupos de pesquisa sobre gênero. No estado do Pará essa Universidade ainda
divide seus lauréis apenas com outras duas instituições: a Universidade Estadual do Pará
(UEPA) e o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), ambas com 01 (0,2%) grupo de
pesquisa atuando.
82
Não é demasiado reiterar que, com relação à distribuição institucional dos 19.470
grupos de pesquisa brasileiros, continuou-se vendo números ancorados nas desigualdades em
que se deram os desenvolvimentos regionais, onde algumas instituições gozam de privilégios
acadêmicos e científicos em detrimento de outras. Quanto às unidades da federação a que
estas instituições estão atreladas fica evidenciado o predomínio do eixo São Paulo (SP) - Rio
de Janeiro (RJ) sobre as demais unidades que parecem não conseguir alcançar os valores
absolutos daquelas duas primeiras.
São Paulo toma para si 21,46% (106) dos grupos em foco, dessa forma nos declara que
detém sozinha grande parte deles estando inclusive 24 grupos à frente da segunda colocada
que é o Rio de Janeiro com 16,59% (82); na terceira posição encontra-se Rio Grande do Sul
contabilizando 9,11% (45), na quarta Paraná 8,7% (43), na quinta Minas Gerais 7,7% (38), na
sexta colocação Santa Catarina apontando para 5,47% (27), Bahia e Pernambuco sinalizam o
sétimo e o oitavo lugar cada uma, marcando 4,45% (22) e 4,25% (21) separadamente. Após
quatro posições, na décima terceira ordem situa-se o Pará revelando 1,82% (9) dos grupos
sondados.
Tabela 4 – Distribuição dos grupos de pesquisa no Brasil que estudam a temática gênero, segundo as
unidades da federação, 2006
UNIDADES DA
FEDERAÇÃO
NÚMERO DE
GRUPOS
UNIDADES DA
FEDERAÇÃO
NÚMERO DE
GRUPOS
São Paulo 106 Alagoas 8
Rio de Janeiro 82 Paiuí 7
Rio Grande do Sul
45
Goiás
5
Paraná
43
Mato Grosso
5
Minas Gerais
38
Tocantins
5
Santa Catarina
27
Sergipe
4
Bahia 22 Rondônia 4
Pernambuco 21 Espírito Santo 3
Ceará 12 Roraima 3
Paraíba 11 Acre 3
Distrito Federal
10
Amazonas
2
Maranhão
9
Mato Grosso do Sul
1
Rio Grande do Norte
9
Amapá
-
Pará
8
BRASIL 494
Fonte: CNPq (2006)
Dentre as unidades da federação brasileira, pode-se inferir que os números mais altos
dos grupos de pesquisa estão elencados na seguinte disposição: São Paulo, Rio de Janeiro, Rio
Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais, Santa Catarina, Bahia e Pernambuco. Essa seqüência
itera aquela idéia das regiões Sudeste, Sul e Nordeste no comando expressivo dos estudos em
83
torno do gênero, enquanto as unidades pertencentes às regiões Centro-Oeste e Norte ficam
timidamente posicionadas na composição desse quadro representativo que de maneira profusa
cria unidades que não possuem grupos (no sentido aqui discutido) cadastrados no CNPq,
como é o caso do Amapá que no mesmo espaço de tempo convive com unidades como São
Paulo que pompeia 106 grupos.
A questão que preocupa em decorrência dessa realidade, é que ela delineia os lugares
dos financiamentos, do crescimento e da projeção, criando e retroalimentando polêmicos
“centros” de produção acadêmica. Para os que estão de fora desses centros parece restar a
“periferia”, mas não se pode prescindir que esses lugares alavancam copiosos esforços para
avançar em seus empreendimentos de pesquisa.
Portanto, urge que as regiões menos desenvolvidas absorvam mais investimentos, a
fim de promover alguma proximidade com as mais avançadas. Em razão disso, o
credenciamento de programas em municípios distantes dos grandes centros é muito bem
vindo, por certo que isto deve acontecer sem abrir mão dos padrões de qualidade.
A respeito disso, segundo a Assessoria de Imprensa da CAPES
30
, durante o ano de
2004, em meio às discussões do V PNPG surgiu o programa “Acelera Amazônia” com o
objetivo de solucionar a equação que tem provocado desequilíbrios nos investimentos
destinados às regiões. Para inaugurar as ações deste programa, a Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior do Ministério da Educação (CAPES/MEC)
liberou para a região Norte a quantia de R$ 2 milhões, para “[...] a concessão de bolsas de
apoio a recém-doutores, bolsas de iniciação científica para jovens interessados em fazer a
carreira científica e desenvolvimento de laboratórios” (COORDENAÇÃO DE
APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL DE NÍVEL SUPERIOR, 2006, não paginado).
Segundo o site da CAPES, José Fernandes de Lima, diretor de Programas da referida
Coordenação, assegura que o Acelera Amazônia visa também a estimulação de mobilidade
em instituições diferentes e entre grupos consolidados e emergentes.
Como parte da política que fomenta a criação de novos cursos, formação e fixação de
mestres e doutores nos estados da região Norte, no ano de 2005, o sinal de positivo da CAPES
legalizou o número de 23 novos cursos de pós-graduação (18 de Mestrado e 05 de doutorado),
contribuindo para o saudável crescimento de 25% para os programas de mestrado e de 33%
para os de doutorado, quando comparado com o ano de 2004.
30
Informações disponíveis em: <http: www.capes.gov.br/capes/portal/conteudo/dez/N_14032006S.htm>. Acesso
em: 22 set. 2006.
84
Com isso a partir do prisma regional, elevam-se as expectativas de um crescimento
qualitativo e quantitativo do Sistema Nacional de Pós-Graduação como um todo, levando-se
em conta uma política que inclua modelos possíveis e ões focadas nas vicissitudes de cada
realidade, fomentando com isso o aumento de pesquisadoras/es e grupos de pesquisa,
especialmente nas unidades rotuladas como “periféricas”.
2.2 NOS GRUPOS, AS/OS PESQUISADORAS/ES: O FRONTISPÍCIO DE UMA CIÊNCIA
MASCULINA
A Ciência ao longo de sua existência tem nos provado que não é merecedora de
acusações do tipo maniqueístas, pois como não é um ente individuado, foi/é resultado de
ações humanas (de mulheres e homens) que a empregam para fins considerados bons ou
maus, e longe de ser neutra, continua sendo objeto de caudalosas contendas envidadas por
pessoas ou grupos sequiosos pela legitimidade da autoria de se falar e agir, pela autarquia que
esse poder facultará a quem dele possuir.
Ao se pensar nestas alterações, não dificuldades em se compreender que as
mulheres entram nelas com largas desvantagens, ao passo que a Ciência permanece dominada
por homens. Conforme a pesquisa de Carvalho (2006), até mesmo nas Ciências Humanas
onde o contingente de mulheres é espantoso, “os grandes nomes” continuam sendo os da
figura masculina.
Assim, a semelhança de outros espaços considerados masculinos, a penetração das
mulheres no meio científico não foi obra de mera concessão ou casualidade, mas sim
resultado de árduas batalhas travadas até os dias hodiernos. Como vimos, são diversas as
áreas do conhecimento que realizam estudos e discutem a relevância das questões
concernentes ao gênero e o quanto precisamos estar atentivas/os a esses debates em nossas
relações científicas e cotidianas para que percorramos em direção da superação diária dos
discursos e práticas misóginas, sejam eles sutis ou não, pois sempre são agressivos.
Na obra “A Ciência é masculina? É sim senhora!”, Attico Chassot (2006a) nos
explicita que a inculcação continuada de uma Ciência masculina encontrou acolhida e
robustecimento a partir de nossas raízes mais profundas, ou seja, de nossa tríplice
ancestralidade greco-judaico-cristã que nos forjou com a ajuda de seu mais forte tentáculo, o
religioso. Para cada uma daquelas três origens, emergiram tentativas de interpretações, onde
na grega foram abordadas as concepções biológicas de fecundação propagadas por Aristóteles
e as influências da mitologia; na judaica, a cosmogonia (em especial a criação de Adão e
85
Eva); e na cristã, as explicações advindas do judaísmo complementadas pelas explanações
radicalistas de teólogos como Santo Agostinho, Santo Isidoro e Santo Tomás de Aquino.
Fatores históricos como estes aditados a outros refinamentos sociais, proporcionam
não a Ciência, mas também boa parte da produção intelectual, um fronte
predominantemente masculino.
2.2.1 A segmentação na liderança científica: um quadro em mudança
No caso específico da quantidade de pesquisadoras/es cadastrados no CNPq, os dados
mostram que a presença deles, os homens, é majoritária, conforme demonstrado na Tabela 5,
observando os itens sexo e idade.
Os números expressam que na faixa etária balizada a24 e de 25 a 29 anos de idade,
durante o período 2000–2004 registra-se a presença de pesquisadoras em maior número, ao
contrário do que se observa no caso dos pesquisadores. No entanto, na faixa etária de 30 a 65
anos ou mais, é estrondosa a predominância de pesquisadores, nesse sentido, durante o
período em questão os homens confirmam sua presença majoritária na seara da pesquisa
acadêmica.
Tabela 5 – Distribuição de pesquisadoras/es por sexo e faixa etária, 2000 – 2004
IDADE
FEMININO
MASCULINO
2000 2002 2004 2000 2002 2004
Até 24
158
172
499
117
131
388
[25-29] 1.116 1.453 2.454 972 1.187 2.297
[30-34] 2.539 3.015 4.704 2.987 3.232 4.819
[35-39] 4.070 4.890 6.221 4.985 5.678 7.114
[40-44] 4.085 4.879 6.811 5.014 5.625 7.458
[45
-
49]
3.985
4.855
6.136
4.832
5.304
6.498
[50
-
54]
2.727
3.574
4.749
3.850
4.648
5.820
[55
-
59]
1.285
1.917
2.680
2.240
2.754
3.656
[60-64] 536 819 1.180 1.126 1.351 1.816
[65 ou mais] 309 446 638 705 940 1.283
Total
20.810
26.020
36.072
26.828
30.850
41.149
Fonte: CNPq (2006)
A partir da faixa etária que demarca dos 30 aos 34 anos de idade, afora o ano de 2004
para o feminino, nota-se que houve uma duplicação na quantidade de pesquisadoras e
pesquisadores, porém, ainda que o número de mulheres tenha sido bastante enriquecido na
referida faixa etária, não foi o suficiente para continuar mantendo a marca que garantia
posição à frente do número de pesquisadores, sendo a faixa de 35-39 aquela que testemunhou
86
um crescimento ainda maior de homens em relação às suas pares femininas, isso se “[...]
provavelmente por coincidir com a fase reprodutiva da mulher, nessa categoria social”
(TAVARES, 2005, p. 1).
Com relação à faixa etária anterior (35-39) no ano de 2002, dos 40 aos 44 do mesmo
ano se registra uma subtração equivalente a 0,23% (11) para elas e 0,93% (53) para eles,
porém nos outros biênios (2000 e 2004) esses percentuais voltaram a crescer, no caso das
pesquisadoras fica a impressão de que após o alcance da maternidade, passados os difíceis
estados do puerpério e os primeiros momentos que requerem uma maternagem muito mais
diligente, elas procuram retornar às atividades que exigem a pesquisa.
no grupo etário que compreende dos 45 aos 49 anos começa a diminuir a
quantidade tanto de pesquisadoras quanto de pesquisadores, todavia elas passam a nos
prestigiar bem menos com sua participação nos espaços destinados à pesquisa brasileira.
Além disso, é importante registrar que com o advento dessa faixa etária não mais veremos o
incremento de pessoas dedicadas à pesquisa, mas sim um decréscimo de maneira gradual.
No decorrer dos tempos históricos 2000, 2002 e 2004 as pesquisadoras representavam
43,7% (20.810), 45,7% (26.020) e 46,7% (36.072) respectivamente, por seu turno os
pesquisadores eram 56,3% (26.828), depois 54,2% (30.850) e 53,3% (41.149) mostrando-nos
que apesar daquela queda denotada nos índices de pesquisadoras/es durante o decurso etático
que tem seu início a partir dos 45 anos de idade, houve um constante aumento dessas/es
profissionais.
Do ponto de vista vertical, fica a impressão de que este crescimento tem se efetivado
na parte masculina da balança, porque eles ainda representam a maioria no campo da pesquisa
científica, mas se o ângulo for o horizontal as mulheres ganham vantagem com um
crescimento de 73,34% (15.262) em relação aos colegas de profissão com 53,38% (14.321),
marcando uma diferença de 941 a mais para elas. Aqui o que se nota é que eles têm
demonstrado que sua presença é majoritária no meio acadêmico-científico, entretanto é o sexo
oposto que vêm apressando o passo nesse nicho ocupacional e conquistando os maiores
indicativos de crescimento.
No ano de 2000 o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
31
, embora
estivesse apresentando um quantitativo diferente pelo fato de possuir instrumentos específicos
de coleta dos dados, já apontava para fulgurações de um resultado bem parecido ao da Tabela
5 e procurava encontrar as raes do menor envolvimento profissional feminino na pesquisa
31
Ver site: http://www.ibge.gov.br.
87
brasileira pelo motivo de as mulheres, em grande número, até o presente momento ainda
precisarem ratear seu tempo entre estudo, trabalho e família.
Talvez por esta razão Estumano (2004), quando procurou conhecer em pesquisadoras
e pesquisadores que realizaram estudos acadêmicos a partir do eixo gênero viviam em seu
cotidiano (familiar e profissional) as inevitáveis práticas sociais que apareciam revestidas por
questões de gênero, traga como um dos resultados provenientes de sua dissertação, que as
falas das mulheres pesquisadoras davam-se tendo como ponto de partida a família, em sentido
oposto, as vozes masculinas norteavam-se a partir da referência no trabalho, isso ocorria ainda
que todas/os as/os entrevistadas/os tivessem participações tanto na família quanto no trabalho.
“Assim, para os homens, a família retira um tempo que poderia ser investido em trabalho e
para as mulheres, o trabalho retira um tempo que poderia estar sendo dedicado à família”
(ESTUMANO, 2004, p. 26).
De acordo com Sabbatini (1998) para as mulheres que desejam constituir uma família
o ritmo de vida de uma pesquisadora se transformou em um grande desafio, pois se acaso
entre suas aspirações estiver a manutenção de certo padrão de avanço profissional é
necessário que ela tenha dedicação ao estudo por delongadas horas, durante alguns anos, o
que seguramente causa sérios transtornos em sua vida particular.
Nesse sentido, raramente uma estudante de pós-graduação pode ter filhas/os antes dos
35 anos de idade, quiçá esta realidade seja responsável pelo não acompanhamento do
crescimento quantitativo de pesquisadores a partir da faixa etária dos 30-34 anos de idade,
porque algumas mulheres optam por ter filhas/os e, convenhamos, não parece nada fácil
contentar uma carreira científica e docente com casamento e maternidade. Isso acontece
porque as tarefas de organização doméstica ainda continuam sendo delegadas
primordialmente às mulheres, mas é salutar trazer à memória que esse fenômeno não está
restrito à jurisdição brasileira, posto que se espalhou inadvertidamente por outros países.
Ao discutir sobre os pesados encargos que a mulher cientista precisa superar,
praticamente sozinha, em sua profissão a partir do advento da maternidade, Chassot nos
propõe que:
Se com nossos esforços pudermos vencer aquela que se colocou como a
primeira das explicações, a histórica, em que teremos que fazer continuado
suplantarmos resquícios de uma latente misoginia, mesmo que esta ainda
esteja fortemente entranhada em nosso imaginário masculino, e a segunda
das implicações, a biológica, pela cada vez mais continuada valorização da
maternidade, poderemos deixar de fazer dela um ônus à medida que, como
homens, exercermos uma paternidade cada vez mais responsável. São
utopias não impossíveis de se transformarem em realidades, por isso sempre
88
e cada vez mais devem ser recordadas olhando a história que tecemos
(2006a, p. 92).
De modo oblíquo as estudiosas Santos, Ichikawa e Cargano (2006) instigam a pensar
numa reinvenção da atividade científica, ao invés de se consumir demasiadamente com
críticas diatribes em torno das posturas e subserviências femininas em busca de sobrelevar os
entraves à sua carreira científica. A propósito disso, recriar a participação das mulheres no
produzir científico é causar abalos no “modelo masculino” que vem ditando como fazer
Ciência, uma vez que na compreensão das autoras esse “[...] modelo masculino de sucesso
acadêmico envolve compromisso de tempo integral ao trabalho científico e as relações
academicamente competitivas com seus pares” (2006, p. 15).
Na contramão desse modelo de êxito científico, que força uma consagração ao mundo
do trabalho/acadêmico nos intimando a uma devoção total mesmo afora daquele cenário,
outro modelo possível de ser executado, que por sua vez, tem-se denominado de “feminino”
porque objetiva ater-se também às demandas da vida particular.
Mas essa proposta pode ter duas faces, posto que a resistência colocada talvez tenha
força para outras cintilações perigosamente reprodutivistas, pois:
[...] a reprodução social ocorre tanto com a complacência espontânea como
com a recusa ativa de suas próprias vítimas - um exemplo impressionante
de como a hegemonia é mantida pela classe dominante no nível cultural
através da própria resistência [...] à lógica opressiva (MCLAREN, 1997, p.
235, grifos no original).
Nesse sentido, por não serem vítimas passivas elas:
[...] contestam ativamente a hegemonia da cultura dominante através da
resistência [...] agem em oposição ao processo de reprodução social, mas,
como resultado deste mesmo ato de oposição, tristemente cerram as poucas
opções que lhes são disponíveis de romper sua condição [...] subordinada.
(MCLAREN, 1997, p.235, grifos no original).
Noutra direção, o autor foi assertivo quando afirmou que não se pode refutar
indiscriminadamente as resistências, em razão de não se fechar os olhos para a posição social
de subordinação que os sujeitos preenchem e que foram resultado da tessitura histórica de
“campos culturais” que se fizeram opostos e desiguais gerando relações conflituosas não só
nas questões de gênero, como também raça e classe.
89
Porém o não reconhecimento, tanto por parte das mulheres quanto dos homens, de que
uma dominação que se quer hegemônica, faz com que elas e eles aceitem e até contribuam
para fortalecer essa dominação que não obrigatoriamente vem de uma nação imperialista ou
de um governo despótico, mas talvez de um movimento social organizado ou de suas
pedagogias como panfletos, folhetins, palavras de ordem para conseguir mais adeptas/os
sensibilizadas/os com a causa, porque esses movimentos clamam pela aquisição desse poder e
também querem estar no topo prescrevendo as suas regras. Entretanto, não se pode generalizar
que o fato de se ter consciência da existência dessas relações de dominação seja o bastante
para combatê-las e alterá-las.
A tendência de uma menor presença de pesquisadoras nas academias brasileiras, ao
contrário do que se observa no caso da presença de pesquisadores, é antagônica ao que vinha
ocorrendo desde os últimos 25 anos nos EUA
32
, onde o número de mulheres que almejavam
um lugar em carreiras acadêmicas granjeou enormes saltos, contudo, nos tempos atuais vem
decrescendo em proporções surpreendentes, e muitas pesquisadoras estão abrindo mão de
suas profissões em frações bem maiores que os pesquisadores.
No ano de 1972, segundo a National Science Foundation (SABBATINI, 1998) as
pesquisadoras universitárias representavam menos de 9% do corpo docente, e grande parte
das faculdades tradicionais como é o caso de Medicina, Engenharia e Direito tinham seu
quadro docente constituído unicamente por homens (no Brasil, a Faculdade de Medicina da
USP passou a ter duas professoras titulares em seu colegiado apenas em 1996). Somente nas
décadas posteriores, com a liberação social e política das mulheres que se conseguiu
visualizar um aumento gradativo na participação profissional feminina nas universidades,
chegando a 22% na década de 1990. Este acontecimento ficou conhecido como o fenômeno
“supermães”, pois aquelas mulheres congraçaram suas carreiras científica e docente com o
matrimônio e a condição de mãe, mas certamente essa escolha exigiu um rigor frenético de
trabalho regado a grandes doses de sacrifícios.
Na atualidade esses números vêm cada vez mais sofrendo uma decaída, isso se deve
tanto no caso dos EUA como no do Brasil (resguardadas as especificidades da cada país) ao
fato de que a carreira científica é cada vez menos atrativa para jovens egressas das
universidades, devido aos baixos salários ofertados às iniciantes e ao longo tempo para que
ocorra uma progressão profissional por conta da sucessão dos anos exigida no investimento
da devida qualificação. Esses fatos contribuem significativamente para afugentar as mulheres
32
É meritório lembrar que este país é considerado o mais avançado quando o assunto é o fomento aos programas
afirmativos de recrutamento de professores e cientistas do sexo feminino.
90
do meio acadêmico, logo elas passam a procurar o mercado de trabalho fora das universidades
e que lhes proporcione uma vida melhor em um espaço de tempo mais reduzido e talvez
menos atribulado.
A tendência é nefasta, pois a universidade é o espelho da sociedade e, ao
mesmo tempo, um de seus principais agentes de transformação social.
Centenas de estudos têm comprovado que a condição feminina melhora
espetacularmente em proporção ao grau de instrução, afetando desde o
salário que a mulher ganha, até o número de filhos que ela escolhe ter. Uma
universidade precisa ter uma proporção representativa de mulheres em seu
corpo docente, para ser dinâmica e conectada com a sociedade, além disso
dar um bom exemplo para as conquistas profissionais pelo corpo discente
feminino (SABBATINI, 1998, não paginado).
Um estudo coordenado por Velloso (2004) concluiu que o período transcorrido entre o
término da graduação e a obtenção do título de doutoramento no Brasil é de aproximadamente
11 anos, isso sem contar com as intempéries de ordem pessoal que podem colocar em
suspensão temporária a continuidade do trabalho de pesquisa, sujeitando atrasos no tempo de
formação, como bem nos lembra Corrêa (2006) ao citar Machado e Lehmkuhl quando se
referiu aos obstáculos no processo de orientação de teses e dissertações; e Velloso (2000) ao
constatar, em outra pesquisa, que a trajetória do tempo aplicado para o ápice da formação
acadêmica das/os “sempre bolsistas” é de mais de uma década antes das/os “nunca bolsistas”.
Em contrapartida, as nações centrais do ponto de vista científico demonstram que a
qualificação de pessoas em nível acadêmico é realizada com mais brevidade de tempo.
Obstáculos como os preconceitos ainda são desferidos contra mulheres que procuram
galvanizar uma carreira científica, um exemplo disso ocorreu em janeiro do ano de 2005,
quando em uma palestra o reitor Lawrence Summers da famosa Universidade de Harvard, fez
a polêmica declaração de que as diferenças inatas entre os gêneros poderiam explicar por que
menos mulheres são bem-sucedidas na Ciência. É espantoso como se buscam explicações
científicas para que preconceitos ineptos continuem sendo legitimados nos mais variados
campos.
[...] a procura de um fator biológico um gene ligado ao sexo, um
hormônio ou uma diferença cerebral, por exemplo que pudesse estar na
base da alegada capacidade inferior natural das mulheres para se dedicarem
à execução de atividades científicas continua ainda hoje, malgrado o
repetido insucesso de quaisquer investigações em demonstrar que a biologia
torna as mulheres menos capazes que os homens no que respeita às aptidões
visuo-espacial, analítica ou matemática associadas com a capacidade
científica (SAYERS apud CHASSOT, 2006a, p. 82).
91
A afirmação de Sayers que data de 1989, não está desatualizada, mesmo quando ela
afirma “ainda hoje”, posto que na atualidade continua-se a vivenciar repetidas miradas em
asserções que dizem estar fundamentadas nos estudos e discursos androcêntricos para
aumentar o fosso das diferenças e inferioridades sexistas.
Recentemente foi a vez da revista Veja (2007), ao trazer uma reportagem jornalística
que divulgou descobertas sobre as diferenças fisiológicas entre mulheres e homens que
possivelmente podem suscitar distintos tipos de prevenção, diagnóstico e tratamento de
doenças em consonância com o sexo da/o paciente. Entretanto, no meio da matéria, escrita por
mulheres (PASTORE; NEIVA, 2007), aparece um grande quadro com o seguinte título: “É
uma questão de natureza: Muitas das diferenças entre o comportamento feminino e o
masculino são determinadas pela genética – e não por questões culturais”, os comentários que
vieram abaixo desse título foram inspirados no estudo de um neurologista e nos livros de
“auto-ajuda” direcionados para o público feminino intitulados de “Por que os homens fazem
sexo e as mulheres fazem amor?” (PEASE; PEASE, 2000) e “Por que os homens nunca
lembram e as mulheres nunca esquecem?” (LEGATO, 2005).
A soma destes referenciais resultou em um texto, que chegou às mãos de leitoras e
leitores da citada revista, alicerçado em afirmativas generalizantes e essencialistas que ligam
biologicamente as mulheres a um corpo inferior, problemático e que precisa ter controlado
seus impulsos naturais a fim de viver melhor em um mundo que é masculino. As mulheres
ainda foram relacionadas à maternidade, vínculos afetivos veementes, dificuldades de
localização espacial por conta do hemisfério direito do cérebro ser menos desenvolvido que o
masculino, entre outros.
Para completar, a capa da revista destacou o seguinte título: Enfim a Ciência
entendeu a mulher”, mas na foto estampada por aquele veículo de comunicação e formação de
opiniões há uma mulher completamente despida. Diante desse tipo de imagem faço um
adendo ao retomar o estudo de Felipe (2000) quando afirmou que as pedagogias culturais em
circulação se valem também desses cenários como contextos educacionais, que fazem parte
das produções culturais a nos interpolar avidamente, intentando nos persuadir a partir de sua
visão de mundo. Nessa linha de raciocínio, essas diversas pedagogias culturais existentes têm
contribuído assustadoramente para a produção de sujeitos femininos, que pautados em um
ideal de insistente apelo à beleza estética correm sérios riscos de vida submetendo seus corpos
a procedimentos cirúrgicos que no mínimo são duvidáveis; a doenças como anorexia e/ou
bulimia; arriscadas aplicações de substâncias sobre ou dentro da pele, que nem sequer têm sua
92
eficácia ou mesmo nível de salubridade assegurado cientificamente; ao consumo desenfreado
de remédios ou produtos que se auto-anunciam como “alimentos”.
Buscando ser exemplo de beleza e sensualidade a todas e todos, alguns corpos
femininos são expostos narcisicamente para o deleite de uma pedagogia que “[...] vincula um
modelo de feminilidade onde o exercício do poder parece estar restrito apenas aos campos do
erotismo e da sedução” (FELIPE, 2000, p.174). Esse corpo feminino, celebrado e coagido,
concomitantemente, participa da (re)produção de um certo tipo de conhecimento que adequou
a mulher em um determinado formato.
Conforme Osada (2006), outro anúncio foi emitido pela professora doutora Suely
Villela, primeira reitora mulher da Faculdade de Ciências Farmacêuticas do campus de
Ribeirão Preto da USP, quando em seu discurso de posse revelou “[...] não é porque sou
mulher ou do interior que me tornei reitora [...]” preocupada em se referir conforme a
importância de se dirigir numa perspectiva da Ciência masculina, pois, “[...] elementos
contextuais, como background, gênero ou local de atuação cidade ou campo não devem
ser levados em conta na construção de uma Ciência neutra, objetiva e universal” (OSADA,
2006, p. 5).
Pronunciamentos como estes nos fazem refletir que as desigualdades de gênero, dentre
outras, também m seu eco em instituições de pesquisa e ensino que acarretam dificuldades
nesta carreira, funcionando como uma espécie de “Efeitos Matildas”
33
(OSADA, 2006), ou
seja, obstruindo o progresso das mulheres nestes lugares que em alguns casos se tornam não-
lugares.
Assim, é necessário e urgente se esclarecer que os embaraços ao prosseguimento de
mais mulheres na carreira científica não estão somente fixados ao mundo privado, doméstico
e familiar, caso contrário estaremos arriscadas/os a incorrer em descrições e interpretações
omissas e sexistas que “[...] tendem a naturalizar construção social e histórica, alimento rico
para a produção ideológica que, por sua vez, tende a reforçar dominação de gênero”
(ROSEMBERG, 2001b, p. 531).
Como se pode perceber uma necessidade premente de que sejam criadas políticas
científicas que despertem o interesse de mulheres para o ingresso na pós-graduação brasileira,
mormente no campo de formação para a atuação em pesquisa. Outra possibilidade é pensar
33
A autora afirma tomar de empréstimo essa expressão, que foi utilizada em 1993, pela pesquisadora Margaret
Rossiter quando abordou as dificuldades da mulher nas ciências; um paralelo ao efeito Matheus, pesquisado pelo
sociólogo da ciência Robert Merton, para discutir em torno do reconhecimento de que usufruem cientistas que
estão no ápice da profissão em prejuízo aos pesquisadores jovens. Merton então se auxiliou na bíblia, Matheus
13:12, “[...] àqueles que tem será acrescentado, àqueles que não têm, será tirado.”
93
em uma diminuição do tempo que se leva para concluir os estudos na pós-graduação, posto
que esse período de dedicação provoca alguns conflitos na vida particular tanto para
mulheres, quanto para os homens. Isso traria benefícios principalmente às mulheres, pois se
elevariam as chances de angariar um emprego fixo antes dos 30 anos, e para aquelas que
almejam ter filhas/os ficaria salvaguardada a idade reprodutiva que se considera adequada.
Também seriam bem vindas políticas de incentivo ao retorno de mulheres ao mercado
de trabalho acadêmico, dessa forma, as IES reabririam espaços àquelas que inicialmente
optaram pela dedicação familiar e maternal, para posteriormente trilhar o caminho de volta à
vida acadêmica, investindo no aperfeiçoamento profissional e atuando em suas carreiras
docente e científica. Mas, paralelo a essas sugestões é de importância capital que a militância
feminina mobilize com mais freqüência esse debate, tanto nas instituições acadêmicas, quanto
na sociedade brasileira.
Rosemberg (2001b, p. 25), ao constatar nas universidades brasileiras a grande
quantidade de mulheres pós-graduadas que produziam no período de vida familiar
relacionados à idade de procriação, enfrentando enormes desafios para retomarem a carreira,
dirige-se à premente “[...] necessidade de que as agências de fomento tratem com seriedade,
humanidade e eqüidade a questão da licença-maternidade, questão omitida nos debates
contemporâneos sobre eficiência da pós-graduação e da agenda feminista [...]”. a
vulcanóloga brasileira Rosaly Lopes
34
, em entrevista concedida a Pascoali (2005) advogou
que as mulheres devem ser encorajadas a se tornarem cientistas. Para isso, o trabalho deve
começar com as meninas a fim de que elas possam visualizar a profissão de cientista como
algo viável, e a partir daí comecem a nutrir interesse pela carreira.
Desta maneira, além de se elevarem o número de pesquisadoras aumentariam as
probabilidades de mais mulheres ocupando os cargos de liderança nos grupos de pesquisa,
pois em se considerando a divisão de pesquisadoras/es conforme a assunção ou não da
liderança junto aos grupos veremos a seguinte situação:
34
Doutora em Geologia dos Planetas e pesquisadora da Nasa.
94
6.485
8.569
11.058
5.820
6.572
9.971
12.493
15.431
3.912
3.020
0
2.000
4.000
6.000
8.000
10.000
12.000
14.000
16.000
18.000
1995 1997 2000 2002 2004
Feminino Masculino
Gráfico 5 – Evolução de pesquisadoras e pesquisadores brasileiras/os cadastradas/os como
líderes nos Diretórios dos Grupos de Pesquisa do CNPq, 1995-2004
Fonte: CNPq (2006)
Trata-se de ponderável diferença que declara, nos biênios em questão, a
preponderância contínua de homens na liderança científica. No detalhe, o viriarcado
35
exposto nos números é mais impressionante ainda: em 1995 as instituições brasileiras de
pesquisa contavam 66% (5.820) pesquisadores líderes e 34% (3.020) pesquisadoras líderes;
1997 marca os índices de 63% (6.572) deles e 37% (3.912) delas; 2000 demonstrou 61%
(9.971) para homens e 39% (6.485) para as mulheres; 2002 apontou 59% (12.493) contra
41% (8.569); 2004 apresentou 58% (15.431)para o sexo masculino e 42% (11.058) para o
feminino.
Ainda assim, se focarmos mais de perto as lentes de nosso microscópio, de se
considerar que se por um lado os pesquisadores líderes denotaram um crescimento de
165,14% (9.611) e deliberadamente representam a maioria durante o período em análise, por
outro as pesquisadoras cresceram 266,16% (8.038), ou seja, com esses valores o que se
verifica é uma possível tendência ao aumento da liderança científica feminina no Brasil e se
as pesquisadoras continuarem dando solidez a esses números, vertiginosamente poderá
ocorrer uma inversão nos pilares da liderança de pesquisadoras e pesquisadores, turvando-se a
intensa característica de segmentação sexual, sacudindo a idéia de Ciência como reserva
masculina e provocando um deslizamento na fonte dos códigos e práticas vigentes nos
campos das relações generificadas.
35
Segundo Wenzer-Lang (2006) o termo viriarcado foi proposto por Nicole-Claude Mathieu em 1985, e definido
como o poder dos homens, independente de serem pais ou não, de as sociedades se configurarem como
patrilineares, patrilocais ou não.
95
Tal revolução poderia se refletir em outras esferas acadêmicas, como por exemplo, na
composição dos Comitês Assessores
36
que julgam os projetos de pesquisa via CNPq, que
atualmente tem em seu grupo apenas 3 (4%) mulheres de um total de 75 membros que
formam os comitês das Engenharias, Ciências Exatas e da Terra. As decisões coletivas são
tomadas por 64 homens e 16 (20%) mulheres nas áreas de Ciências da Vida, mas em comitês
como os de Agronomia e Genética são preenchidos somente por homens. Lamentavelmente,
só nas Ciências Humanas e Sociais é que se notam ambos os sexos com participações
equivalentes, onde eles somam 20 e elas 21 (51,22%).
Avalizar a relevância dos CA e dos CD a partir do papel que desempenham,
designadamente nos processos de análise e avaliação das propostas de apoio à pesquisa e à
formação de recursos humanos enviados ao CNPq pelas/os pesquisadoras/es, pode ser
elucidativo para se chegar a uma conclusão a respeito das situações que se assomaram para o
triunfo masculino nos grupos de pesquisa e nas lideranças da Ciência, pois essas instâncias,
conforme Tavares (2005), têm perseverado em composições majoritariamente de
pesquisadores do sexo masculino.
Similarmente, outros incontáveis exemplos podem ser propalados acerca do modesto
envolvimento de mulheres pesquisadoras nos círculos que emanam poder de decisões, mas
por hora é suficiente procurar entrevermos quem ocupa os cargos das reitorias, pró-reitorias,
diretorias, conselhos superiores das agências de fomento, que as evidências chegam a ser
truísmo.
Para Velho e Prochazka (2003) hierarquia implica em poder de deliberação, que é vital
para a seleção de temáticas de pesquisa e alocação de recursos, mas para nossa desventura, é
nesse domínio que a posição das mulheres deteriora sensivelmente.
Grossi
37
(ComCiência, 2003, p. 3) denominou estas ausências femininas de “teto de
vidro”, pois para a pesquisadora “as mulheres têm a ilusão de que elas podem subir, mas em
algum momento alguma coisa impede” isso faz com que os cargos de remuneração e status
mais elevados nas instituições científicas ainda permaneçam em sua maioria esmagadora
sendo ocupados por homens.
Ao se averiguar o intenso avanço do ponto de vista quantitativo, deve-se acautelar com
antecipação que tais índices podem encobrir certos aspectos de exclusão e segmentação
aplicados nos processos femininos de entrada e expansão no ramo da pesquisa, pois a
36
Os Comitês Assessores (CA) são constituídos por pesquisadoras/es designadas/os por associações acadêmicas,
mas selecionadas/os pelo Conselho Deliberativo (CD) que, por sua vez é a instância máxima do CNPq.
96
igualdade numérica não se traduz obrigatoriamente em uma eqüidade de gênero, nesse prisma
as pesquisadoras têm presença minoritária em cargos de alta superioridade dentro das
estruturas hierárquicas do meio científico e acadêmico. Isso nos leva a pensar que o sistema
androcentrista ainda perdura para assegurar a preeminência masculina nos postos mais
elevados da Ciência.
Quando se considera pesquisadoras/es que não ocupam liderança científica nas
instituições teremos a seguinte representação (Gráfico 6):
Gráfico 6 – Distribuição de pesquisadoras e pesquisadores não-líderes cadastrados nos Diretórios dos
Grupos de Pesquisa do CNPq, 1995-2004
Fonte: CNPq (2006)
A visualização gráfica oportuniza afirmar que o triênio formado pelo conjunto 1995,
1997 e 2000 remontaram aos índices mais altos de diferenças entre os sexos na categoria não-
liderança, respectivamente as quantias foram de 59% (10.602) para pesquisadores do sexo
masculino e 41% (7.324) para as pesquisadoras; 56% (12.974) entre eles e 44% (10.227) entre
elas; 54% (17.423) no intervalo correspondente aos homens e 46% (14.767) às mulheres.
2002 e 2004 balizaram menor diferença em torno de pesquisadoras e pesquisadores não-
líderes, nessa direção esse biênio estava composto por 51% (25.741) homens e 49% (25.022)
mulheres em 2002, e aquele no ano de 2004 por seu turno tinha 51% (18.366) entre os
homens e 49% (17.453) entre as mulheres.
37
Grossi é uma das 3 mulheres, dentre 20 pessoas, que ocupam cargos de representação nos Conselhos Técnicos
Científicos (CTC) pertencentes à CAPES.
10.602
7.324
10.227
14.767
17.453
25.022
17.423
25.741
18.366
12.974
1995
1997
2000
2002
2004
Feminino Masculino
97
A exemplo do Gráfico 5, houve também indicativos de crescimento, que nesse caso
em comparação ao anterior a expansão foi menor, no qual os números de homens
pesquisadores se elevaram a 143% (15.139) e as pesquisadoras novamente demonstraram
alçar mais vantagens quando 242% (17.698) delas contribuíram para que se vislumbre maior
inclinação à igualdade e posteriormente a superação dos quantitativos masculinos nessa
categoria.
No cotejamento dos dados organizados nos Gráficos 5 e 6, nota-se que o número de
pesquisadores é sempre mais elevado do que o de pesquisadoras, entretanto, ao realizar um
levantamento no DGP brasileiro (Censo CNPq, 2004), depois de um laborioso trabalho de
catalogação, observou-se que a situação anteriormente posta sofre um abalo frontal, quando se
volta o olhar para os grupos que envolvem, de uma maneira ou de outra, discussões em torno
das questões de gênero em seus esforços de pesquisa. Com esse parâmetro procurou-se
verificar qual o sexo que predominava nos cargos de liderança dos grupos citados, no
processo, detectou-se nomes que suscitavam dúvidas a respeito do sexo, nestes casos
recorreu-se ao currículo lattes, na secção dados pessoais, para dirimir as dúvidas e o resultado
final foi surpreendente, conforme podemos evidenciar no Gráfico 7.
Chama a atenção o número bastante superior que marca a presença de pesquisadoras
que estão na liderança dos grupos de pesquisa investigados, além do mais é no mínimo
curioso o esboço que o gráfico abaixo revela mostrando-se às avessas do Gráfico 5 que
apresenta uma dominância masculina na liderança assumida por pesquisadores homens.
Portanto, pelo menos nessa amostra de grupos espalhados pelas plagas nacionais, reside a
certeza provisória de que a mulher/cientista rompeu barreiras no espaço dominado pelo
universo masculino.
Nos pormenores da representação abaixo, a área da Educação possui 87,32% (62)
mulheres e 12,68% (9) pesquisadores, portanto, aa data de realização da coleta de dados,
era a que mais acumulava pesquisadoras na escala nacional dos grupos de pesquisa que
realizavam estudos em torno do gênero; Sociologia veio em segundo lugar quando somou
83,08% (54) pesquisadoras e 16,92% (11) pesquisadores, seguida de perto por História com
79,31% (46) delas e 20,69% (12) deles, depois avistávamos a área da Saúde Coletiva em
quarto lugar demonstrando 86,05% (37) e 13,95% (6); no quinto Psicologia exibindo 74,42%
(32) de mulheres e 25,58% (11) homens; dando prosseguimento aparecia a área do
conhecimento Serviço Social que mostrava ter 96,43% (27) de pesquisadoras nos grupos e
3,57% (1) de pesquisadores; posteriormente Letras apontou para o percentual de 73,53% (25)
e 26,47% (9); na oitava posição Antropologia tinha 71,88% (23) e 28,12% (9); Enfermagem
98
94,44% (17) e 5,56% (1); Lingüística 91,67% (11) e 8,33% (1); e Administração 90,91% (10)
e 9,09% (1).
Apareceram ainda outras 16 áreas que projetaram menor quantidade de pesquisadoras:
dentre elas Medicina revelando-se no décimo segundo lugar com 60% (6) pesquisadoras e
40% (4) pesquisadores; no mesmo encalço víamos Ciência Política expondo 66,67% (6) e
33,33% (3); a área do Direito sinalizando 71,43% (5) de mulheres no comando e 28,57% (2)
de homens; a Educação Física com os índices de 26,67% (4) para as profissionais e 73,33%
(11) para os profissionais; Economia 66,67% (4) e 33,33% (2); Comunicação 80% (4) e 20%
(1); Teologia 60% (3) e 40% (2).
Gráfico 7 Área de estudo e liderança agrupada por sexo nos grupos de pesquisa que adotam a
temática gênero no Diretório dos Grupos de Pesquisa do CNPq, 2006
Fonte: CNPq (2006)
Economia Doméstica e Demografia manifestavam-se cada uma somente com
mulheres equivalentes ao percentual estatístico de 0,7% (3); Geografia, Filosofia e Ciência da
Informação 66,67% (2) das mulheres e 33,33% (1) dos homens; Arquitetura e Urbanismo
cadastrou 0,5% (2) de pesquisadoras apenas; Planejamento Urbano e Regional 50% (1) do
sexo feminino e 50% (1) do masculino; e finalmente Arqueologia, Artes e Desenho Industrial
87,32
83,08
79,31
86,05
74,42
96,43
73,53
71,88
94,44
91,67
90,91
60
66,67
71,43
26,67
66,67
80
60
100 100
66,6766,6766,67
100
50
100 100 100
12,68
16,92
20,69
13,95
25,58
3,57
26,47
28,12
5,56
8,33
9,09
40
33,33
28,57
73,33
33,33
20
40
33,3333,3333,33
50
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Ed
u
c
a
ção
Sociologi
a
Hi
stór
ia
Saúde Coletiva
Psicolo
g
ia
Servi
ço
Social
Letra
s
Ant
ro
po
lo
gia
E
nfe
rma
gem
Lingüíst
ica
A
d
mini
s
tração
Medici
n
a
Ciência Política
Dire
i
t
o
Educ
a
ção Física
E
c
o
n
omia
C
om
u
nica
ç
ão
Te
olo
g
ia
Econômia Doméstic
a
D
e
mog
ra
f
ia
Geograf
ia
F
il
osof
i
a
Ciê
n
c
i
a
d
a In
f
o
r
m
a
ção
A
rqu
i
tetu
r
a e Urbanismo
Pl
an
ej
amen
t
o
Urb
.
e
Re
g.
A
rqu
e
olo
g
ia
Artes
Desenho Industrial
Feminino Masculino
99
igualmente confessavam estar ocupando a liderança de seus respectivos grupos de pesquisa
0,2% (1) de pesquisadoras.
Outro fato perspícuo é que, com exceção da área de Educação Física, em nenhum
outro momento o número de pesquisadores chega a ultrapassar o de pesquisadoras, na medida
em que na maioria extensiva dos casos a supremacia feminina é bastante robusta, pois como
está comprovado, as pesquisadoras atraíram 78,29% (393) dos cargos de liderança existentes
nos grupos que lidam com as questões de gênero. Os pesquisadores, por seu turno,
preencheram apenas 21,71% (109) da liderança.
É somente a partir da décima segunda posição, ocupada pela Medicina, que se inicia
um equilíbrio entre os índices de mulheres e homens. casos, como os de Serviço Social,
Enfermagem, Lingüística e Administração que chegam a contar com apenas um pesquisador
do sexo masculino, em cada área, para proporções consideradas altas do sexo oposto. Existem
ainda conjuntos de grupos que simplesmente o possuem participação alguma de
pesquisadores na liderança, é o que sucede com as áreas de Economia Doméstica,
Demografia, Arquitetura e Urbanismo, Arqueologia, Artes e Desenho Industrial.
Este fato também foi perceptível quando se reviu as autoras e os autores utilizadas/os,
até o momento, na condução do e capítulos desta dissertação. À vista disso verificou-se
que dos textos utilizados 74,73% deles são de autoria feminina e apenas 25,27% de autoria
masculina. Isso impõe a provisória conclusão de que as discussões em torno das relações de
gênero ainda vêm sendo materializadas majoritariamente por mulheres pesquisadoras e os
homens pesquisadores aos poucos marcam sua participação nessa promissora arena de
debates.
O interesse científico em torno da temática gênero estrema de modo inequívoco os
sexos, donde se contempla uma maioria de pesquisadoras inquirindo sobre gênero em várias
áreas do conhecimento como visto anteriormente. Cabe lembrar que os sexos parecem ter sido
a única experiência largamente compartilhada por pesquisadoras/es brasileiras/os e as veredas
que as/os impulsionaram ao estudo dessa temática são bastante díspares, sem embargo de
existirem em programas de pós-graduação linhas de pesquisa direcionadas ao tema, mas como
se traduzem os dados do Gráfico 7, no universo do DGP-CNPq, ainda não bastaram para
aumentar a participação de pesquisadores nesses grupos e conseqüentemente nas produções.
Diante da reduzida cota de pesquisadores do sexo masculino na autoria de produções
acerca do gênero, Costa, Barroso e Sarti (1985) já assinalavam que a princípio, pode ser
ressonância tanto dos tempos em que foi apregoado a esse tipo de pesquisa o fardo do
desprestígio intelectual, quanto resultado da auto-referência destes estudos que implicaram
100
também no “adulto-centrismo”
38
, somados a posturas radicais de algumas pesquisadoras que
imbuídas de militância fervorosa proclamavam a exclusão dos homens como ponto capital.
Bruschini e Unbehaum (2002) ao confirmarem a atuação majoritária de mulheres nas
produções que demarcam preocupações com o gênero, ponderam que um tipo específico de
mulheres (brancas e educadas em humanidades) foram responsáveis pelo amálgama fundante
desta temática que ainda se mostra aliançada naqueles princípios que decerto não atuam mais
com a mesma intensidade do começo.
Jardim e Abramowicz (2005, p. 105) ao citarem Sorj e Heilborn, comentaram que os
fortes laços que cingem a área dos estudos de gênero ao movimento de mulheres podem estar
barreirando uma participação mais volumosa de pesquisadores, porém [...] é preciso
reconhecer que foram elas a questionar as relações de poder e a denunciar as desigualdades às
quais estão historicamente submetidas.”
Distanciando-se dos argumentos de caráter essencialista e ingênuo, estribada em Silva
(2005), afirma-se que em qualquer campo de atuação humana faz diferença significativa
quando o sujeito que fala é do sexo feminino ou masculino, pois essas vozes, longe de serem
insulares, advêm a partir do que fazemos e do lugar que ocupamos na sociedade em que
vivemos sendo ainda configuradas/os segundo as clivagens produzidas nas relações sociais de
poder que aí foram e estão (re)constituindo-nos incessantemente.
Ao rastrear nos dados difundidos pelo CNPq até que ponto as questões de gênero
reverberaram em produções científicas realizadas por grupos de pesquisa brasileiros tendo
como apoio os tempos históricos de 1995 a 2006, tornou-se manifesto que esses grupos
dispõem de um respeitável contingente intelectual de pesquisadoras/es que empreendem
estudos sobre gênero, espalhadas/os por 494 grupos, 28 áreas do conhecimento, 5 regiões
brasileiras, 136 instituições de pesquisa, 26 unidades da federação e 502 componentes
assumindo as coordenações. Esses números testemunham que as pesquisas articuladas à
temática em exame não se mostram tímidas no Brasil mesmo que o desenvolvimento e a
expansão da pesquisa no país, e mais tarde os estudos de gênero, só tenham chegado depois
de um delongado tempo e mesmo assim essa categoria acabou enfrentando muitas resistências
na academia para poder se estabelecer enquanto conhecimento válido.
No quadro das regiões geográficas brasileiras onde estão localizados os grupos de
pesquisa que afirmaram realizar abordagens acerca do gênero, o Norte ocupava a quarta
posição nacional com 5,26% (26) deles, quando a análise se estreitou ainda mais visualizamos
38
Onde mulheres adultas estudam sobre mulheres adultas (LOURO, 2001, p. 26)
101
que o Pará se posicionava no décimo segundo lugar possuindo 1,82% (9) dos grupos dentre as
demais unidades da federação e por fim, no interior desse estado a UFPA apareceu em décimo
primeiro lugar quando a comparação foi realizada entre as instituições de pesquisa que atuam
em território nacional.
Os índices apresentados nos apontam que existe um interessante quantitativo de
produções acadêmicas que tratam do gênero no interior da UFPA, essa constatação nos
garante projeção no disputado cenário nacional, apesar das imensas desproporcionalidades
numéricas em decorrência dos desníveis que incidiram no desenvolvimento, expansão e
financiamento da pesquisa nas regiões e nas instituições brasileiras.
Na trilha desse rastreamento, notou-se que a Ciência apresenta um caráter
evidentemente masculino que edificado historicamente parece não somente ser a causa da
dominância quantitativa de produções acadêmico-científicas, em termos da autoria de
pesquisadores, como também esse aspecto viesado ressoa na ocupação dos cargos de
liderança nos grupos de pesquisa e dos que dizem respeito às posições de topo na carreira
acadêmica. Logo geralmente o atribuídas às mulheres funções que reportam, mesmo de
forma remota, à definição tradicional de atividades qualificadas como femininas.
Partindo do ponto de vista que entende a Ciência como uma linguagem é possível
vislumbrar que ela, assim como foi inscrita, inscreve pessoas a partir de seu legado histórico e
entrever isso pode nos ajudar na compreensão de nós mesmas/os. Nesse contexto o fazer
Ciência sorve as complexas relações de gênero porque o sujeito da ação foi feito (e se fez/faz)
generificado, feminino ou masculino.
Em razão disso, a produção do conhecimento por excelência é uma realização social
profundamente lesionada por elementos socioculturais, políticos, econômicos e de gênero que
de maneira alguma podem ser examinados como simples contaminadores externos à produção
científica, mas ao contrário merecem ser lidos como fatores que o forma ao seu exercício,
às suas contradições. Diante dessa constatação talvez fosse mais interessante que grande parte
das diferenças entre os sexos, conformadas pela Ciência, tivessem vindo com prazo de
validade previamente definido, pois os que tinham (têm) autoridade para ditar tais diferenças
foram produto e produtores de um determinado contexto que seguramente sofreu alterações e
sucumbiu mediante a inexorável sucessão dos tempos históricos, ganhando outras gradações
na tentativa de continuar atuando.
As questões de gênero no campo da produção científica explicitam que as lutas para
conquistar poder e dominação, também vigoram nas instituições acadêmicas através das
relações entre mulheres e homens nos fazeres da Ciência. Nesse lugar, as relações humanas
102
procuraram tornar implícitos os preconceitos, que no limiar do terceiro milênio ainda
provocam impedimentos fazendo com que as invisibilidades permaneçam a ponto de
usualmente não serem valorizadas de maneira significativa as contribuições femininas.
Lamentavelmente, as ações discriminatórias contra o sexo feminino se repetem no mundo da
Ciência, onde se acreditava ser orientada por critérios universalistas e meritocráticos que em
tese consideravam unicamente a qualidade do trabalho realizado e não a idiossincrasia de
quem o concretizou, ou seja, características relativas ao gênero, raça, religião, classe social,
cultura e poder.
103
CAPÍTULO III
A PRODUÇÃO CIENTÍFICA GENERIFICADA NOS GRUPOS DE
PESQUISA SEDIADOS NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
De fato, se não se tiver em conta a historicidade dos indicadores
científicos e suas análises, e dos desafios colocados às mulheres
que se aventuram no mundo das ciências, da tecnologia, da
inovação continuaremos 'sempre', como exceções à regra,
tentando 'vencer barreiras'.
(LOPES, 2003)
Neste capítulo, verifica-se em que medida os grupos de pesquisa da UFPA (Belém-
PA) deram vazão aos estudos que manifestavam inserções científicas em torno das relações de
gênero, a ponto de torná-las parte de seus problemas e objetos de pesquisa. As estatísticas do
CNPq e os dados registrados nos currículos lattes de pesquisadoras e pesquisadores
vinculadas/os aos grupos referenciados deram a cristalização necessária frente a uma
realidade paraense que foi palmilhada nos anos de 1995 a 2006.
A Universidade Federal do Pará (UFPA) foi fundada pela Lei 3.191, de 02 de julho
de 1957, aprovada pelo então Presidente Juscelino Kubischek de Oliveira que concedeu sua
sanção após terem decorrido cinco anos de tramitação legislativa da referida Lei. Desde o ano
que marca a criação desta instituição de nível superior, pelo menos até o ano venturo de 2009,
10 homens já assumiram o cargo de Reitor e somente 1 mulher conseguiu tal proeza.
De acordo com o portal eletrônico da UFPA
39
, essa instituição federal de ensino
superior encontra-se ordenada sob forma de autarquia, ligada ao Ministério da Educação
(MEC) através da Secretaria de Ensino Superior (SESu). A pedra fundamental da UFPA é o
tripé ensino-pesquisa-extensão, o que lhe tem garantido grande notabilidade social, acadêmica
e científica na região Norte, bem como no Brasil.
Portanto, a UFPA consolidou-se como uma das universidades que mais se expandiu no
Pará e adquiriu imensa relevância entre as instituições do Trópico Úmido, acolhendo
aproximadamente 42.000 pessoas entre 2.170 professoras/es (efetivas/os do ensino superior e
do ensino sico, substitutas/os e visitantes); 2.133 servidoras/es (técnico-administrativas/os);
37.712 alunas/os (nos cursos de pós-graduação, graduação, no ensino fundamental e médio da
39
Consultar o endereço eletrônico <http://www.ufpa.br/portalufpa/historicoestrutura.php>
104
escola de aplicação e dos cursos livres oferecidos pelo Centro de Letras e Artes (CLA),
Núcleo de Arte (NUAR), Escola de Teatro e Dança, Escola de Música e Casa de Estudos
Germânicos). A instituição oferece 76 cursos de graduação e 31 de pós-graduação stricto
sensu (23 de mestrado e 8 de doutorado).
Sua existência vem garantindo que mais pessoas usufruam do acesso e das benesses de
uma formação de qualidade, onde também são consubstanciadas atividades de pesquisa
convidativas ao aprofundamento de ões investigativas em níveis cada vez mais elevados de
qualificação profissional. Nesse bojo, (re)surgem grupos de pesquisa que movimentam uma
rede de produções acadêmico-científicas que chegam a transbordar os limites do nacional,
além de evidenciar que pesquisadoras e pesquisadores paraenses também produzem
conhecimentos que devem ser tão considerados como os do Centro-Sul, porque também são
resultados de investigações sérias e pertinentes, muitas vezes avigoradas por preocupações em
torno da realidade nortista.
Em consonância com o aumento do incentivo à pesquisa nas instituições de ensino
superior brasileiras, houve uma variedade de grupos de pesquisa que buscaram atuação na
UFPA, contribuindo com a produção, a socialização e a legitimação de conhecimentos
principalmente na região Norte, dentre eles destaco os grupos localizados do Campus de
Belém, que produziram saberes relacionados à temática gênero no período de 1995-2006,
buscando mapear, através dos filtros do CNPq, como estão projetadas tais pesquisas no
cenário local.
3.1 MAPEANDO O PERFIL DA PESQUISA GENERIFICADA NA UNIVERSIDADE
FEDERAL DO PARÁ
Como visto no capítulo anterior, os índices apontados pelo CNPq demonstraram que a
UFPA ocupa um lugar de destaque, em âmbito nacional, no que se refere à produção
científica que sonda as questões de gênero. Doravante, mergulharemos nos universos
responsáveis por esse relevo no conjunto nacional das instituições de pesquisas.
Assumindo como referência os anos de 2000 a 2004, a Tabela 6 coloca à mostra que,
através da quantidade de pesquisadoras e pesquisadores doutoras/es na UFPA, a demanda de
mulheres e homens na instituição citada assumiu contornos que nos remetem a parâmetros
nacionais, como fica visível nos indicadores abaixo:
105
Tabela 6 Número de pesquisadoras/es doutoras/es por sexo na UFPA, 2000-2004
ANO
TOTAL DE
PESQUISADORAS/ES
PESQUISADORAS/ES
FEMININO MASCULINO
2000 209 56 153
2002 349 115 234
2004 488 176 312
TOTAL GERAL 1.046 347 699
Fonte: CNPq, 2007
Conforme as informações da Tabela 6, pode-se deduzir que na transcorrência do
período em questão, a quantidade total de pesquisadoras/es doutoras/es vinculadas/os à UFPA
veio adquirindo constantes somas. Essa realidade faz parte do quadro de crescimento regional
de pesquisadoras/es qualificadas/os em nível de doutorado que acompanhamos anteriormente
no Gráfico 4 do capítulo II e que vem se traduzindo como um reflexo da distribuição irregular
de programas de pós-graduação stricto sensu nas regiões e instituições brasileiras, porque
foram erigidos em meio a uma realidade composta de contradições e conflitos que marcaram
a dinâmica social brasileira, nesse sentido a UFPA não se fez exceção à regra.
Em relação ao sexo das/os pesquisadoras/es doutoras/es lotadas/os na UFPA e
cadastradas/os no CNPq, observa-se que os pesquisadores representavam a maioria
totalizando 66,83% (699), enquanto que as pesquisadoras 33,17% (347), entretanto, apesar de
eles demonstrarem um quantitativo bem mais elevado do que o delas, a Tabela 6 evidencia
que essas últimas vêm emplacando um crescimento maior com 214,30% enquanto que eles
cresceram 103,92%.
Essa constatação não deixa de ser interessante porque os índices da presença de
mulheres pesquisadoras na UFPA, durante os biênios em questão, foram reincidivamente bem
menores quando comparados aos da presença de homens pesquisadores, como podemos
constatar quando em 2000 os índices apontavam para 26,79% (56) delas e 73,21% (153)
deles; por sua vez em 2002 trouxeram 32,95% (115) para elas e 67,05% (234) para eles; por
fim 2004 acrescentou aos índices de pesquisadoras da instituição mencionada 36,07% (176) e
para os pesquisadores 63,93% (312).
Ao que tudo indica, os biênios que compreendem 1995-1996, 1997-1998 e 2005-2006
possivelmente tenham registrado aquela tendência que anunciava um aumento quantitativo de
pesquisadoras na UFPA, provavelmente com outros índices de crescimento. Todavia a análise
106
temporal do diferencial de participação de mulheres e homens neste âmbito acadêmico não
pôde ser realizada, uma vez que o Censo dos biênios acima não estavam disponíveis para
consulta virtual no CNPq. Em contra partida o Departamento de Informações Institucionais da
PROPLAN e PROPESP, apesar de possuírem o quantitativo de pesquisadoras/es com
titularidade de doutoras/es, alegaram não dispor de estatísticas desagregadas por sexo, o que
demonstra a limitação desses sistemas em relação aos dados que dizem algo a respeito das
questões de gênero na UFPA.
Em vista desta ausência ficou apenas a promessa, por parte do responsável pelo
Departamento de Informações Institucionais da PROPLAN, de que futuramente este
importante órgão tenha à disposição tais índices, uma vez que conforme o portal eletrônico da
UFPA, a tarefa fundamental do departamento citado é formar o banco de dados, alimentando
dessa forma o processo decisório nos diversos níveis, além de elaborar e divulgar o relatório
anual, o anuário estatístico e outras informações, de maneira a colaborar com a avaliação
institucional.
Retomando a discussão anterior, nota-se que a elevação da quantidade de
pesquisadoras doutoras na UFPA é coerente com o que vem mostrando o quadro nacional do
crescimento das taxas femininas na maioria das áreas e em todas as titulações formativas,
academicamente falando. Nesse contexto, não se pode deixar de considerar que o crescimento
de pesquisadoras e pesquisadores, em âmbito nacional, também foi resultado da expansão do
ensino superior como um todo, o que contribuiu para a geração de oportunidades tanto para
mulheres, quanto para homens.
Na leitura de Bruschini (2000) as mudanças na participação de mulheres e homens em
cada carreira universitária são decorrentes de alterações que irromperam a arena cultural e
provocaram modificações no processo de escolarização feminino. A título de exemplificação
destes fenômenos temos a perda gradual e intensa de prestígio do Curso Normal, assim como
a maior diversificação de carreiras para as quais as mulheres realizam o exame do vestibular e
são aprovadas. Nesses novos desenhos é possível flagrar entre um traço e outro a pertinácia de
algumas continuidades, porém em todas as áreas se assiste a um maior ou menor alargamento
da presença de mulheres.
Guedes (2006) ao analisar a participação feminina nos cursos universitários e pós-
graduações brasileiras destacou que o fato de os programas de mestrado e doutorado estarem
caracterizando-se como redutos femininos, pode ser reflexo das parcas oportunidades no
mercado de trabalho que acabam rendendo uma opção feminina pela continuidade de seus
estudos, destarte, elas se projetam para além dos patamares da graduação. No caso masculino
107
a desistência do curso universitário ou a diminuição do alcance à pós-graduação pode estar se
manifestando em decorrência da necessidade de trabalhar. Esta exigência se articula a uma
construção tradicional que vê homem como o “provedor” da família e para isso precisa
abdicar dos objetivos que requerem formação profissional por tempo delongado.
Certamente, estas apreciações requerem um olhar que se direcione para este estrato
educacional em busca da relativização da idéia de que a carreira científica funciona como o
lugar masculino e o não-lugar feminino. Sendo assim,
Apesar da conclusão de um curso de mestrado ou doutorado não representar
diretamente melhores salários no mercado de trabalho e deste ser um nicho
ocupacional cada vez mais procurado diante da escassez de empregos mesmo
para uma mão-de-obra qualificada, como a que estamos trabalhando, o acesso
crescente de mulheres a esses espaços representa um avanço se considerarmos
a educação como um bem intrínseco estruturador de novas relações de poder
(GUEDES, 2006, não paginado).
Assim, o avanço da participação de mulheres pesquisadoras no contingente
populacional da UFPA que concluiu o doutorado, reforça a teoria de que a seara acadêmica
estaria despontando como um setor que vem passando por processo de feminização, logo,
diante dos dados expostos, parece próximo os tempos em que a Ciência contacom maior
massa de intelectuais de rosto feminino, talvez num processo parecido ao que o país vivenciou
na ocasião em que o Curso Normal passava de exclusividade masculina à prioridade feminina,
no ínterim de cinco décadas, conforme explicitou Villela (2000).
Tomando como mote os dados disponíveis no site do CNPq, pois conforme esse banco
de dados somente é possível buscar informações sobre os grupos contidos na base corrente
(atual) do Diretório, verifica-se então como esse quadro de pesquisadoras/es esteve
comportando-se em relação aos grupos de pesquisa
40
que produzem acerca da temática gênero
na UFPA.
40
Na página virtual de cada grupo do DGP consta que as informações ali disponíveis foram atualizadas no ano
de 2007 para dois deles e em 2006 para 3 dos grupos.
108
Tabela 7 – Grupos de pesquisa da UFPA que contribuem para produções em torno da temática gênero
distribuídos por ano de formação, área do conhecimento e sexo, durante o ano de 2006
GRUPOS
ANO DE
FORMAÇÃO
ÁREA DO
CONHECIMENTO
PESQUISADORAS/ES
41
FEM MAS
Grupos de Estudos e Pesquisa
Eneida de Moraes Sobre Mulher e
Relações de Gênero
1994 Ciência Política 13 0
Cidade, Aldeia e Patrimônio 1999 Antropologia 4 1
Grupo de Estudos Elei
torais e
Legislativos do Estado do Pará
(GEELPARÁ)
2000 Ciência Política 3 4
Antropologia, Relações Raciais e
de Gênero
2000 Antropologia 1 0
Constituição do Sujeito, Cultura
e Educação (GP ECOS)
2002 Educação 4 2
TOTAL 25 7
Fonte: CNPq, 2006
Ao realizar uma busca virtual no site do Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil
cadastrados no sítio do CNPq, encontrou-se que de um total de 157 grupos de pesquisa que a
UFPA possuía, apenas 3,18% (5)
42
deles declararam pôr em prática discussões que fazem
alusão à temática gênero. Entretanto, é importante que se esclareça que alguns deles fazem
isso com bastante intensidade porque as questões relacionadas ao gênero dizem respeito a
preocupações que têm presença fundante no grupo; e outros de maneira não o copiosa, pois
a temática o se configura como a grande força motriz do grupo, mas se constitui como um
dos eixos paralelos que podem ou não compor as pesquisas desenvolvidas pelas/os seus
integrantes.
Todos os grupos rastreados estão compondo a grande área do conhecimento Ciências
Humanas que por si é um forte indicativo de predominância feminina, área em que
segundo Barbosa (2005) os percentuais de mulheres que entram na graduação permanecem
até a pós-graduação, onde a quantidade de bolsas concedidas para pesquisas em Ciências
41
Houve dupla contagem, pois 4 pesquisadoras participam de até dois dos Grupos citados.
42
Na Tabela 3 do capítulo II indicou-se que a UFPA possuía 6 dos grupos de pesquisa cadastrados que
realizavam estudos concernentes às questões de gênero, porém neste momento é preciso esclarecer que um
desses grupos se encontra localizado no Campi da UFPA do Baixo Tocantins, mais precisamente no município
de Abaetetuba, e apesar de estar cadastrado no CNPq e ter sido fundado em 2006, o “Grupo de Pesquisa Gênero
e Educação-GEPEGE” não fez parte das análises aqui postas, uma vez que este estudo visou apenas os grupos
situados na UFPA do Campus do Guamá (Belém-PA).
109
Humanas pelo CNPq é predominantemente feminina como mostram os índices de 2001 a
2005 do referido órgão de fomento com a soma de 18.346 bolsas liberadas para elas e 11.016
para eles (CONSELHO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E
TECNOLÓGICO, 2006).
Nessa direção, os números representados na Tabela 7, com relação ao sexo de
pesquisadoras/es também são majoritariamente femininos com percentuais em termos da
totalidade de 78,13% (25) para elas e 21,88% (7) para eles. Em sentido restrito, nota-se que
apenas um grupo possui maioria masculina, porém com vantagem de apenas um componente
a mais em relação às pesquisadoras do mesmo grupo. Outro detalhe que merece consideração
é o fato de dois grupos de pesquisa não contarem com participações de pesquisadores homens
com titulação de doutorado e ainda um desses (o mais antigo) ostentar um quantitativo de 13
pesquisadoras que produzem conhecimento na temática gênero.
Em relação às/aos pesquisadoras/es que dão materialidade a esses 5 grupos em cada
área, percebe-se que na Ciência Política havia um maior número delas, pois nessa área
estavam contabilizadas 20 pessoas das quais 80% (16) somavam para o sexo feminino e 20%
(4) para o masculino; a área da Antropologia foi contemplada com a presença de 6
doutoras/es, destas/es 83,33% (5) são mulheres e 16,67% (1) homens; a Educação também
estava dispondo de 6 pessoas qualificadas em nível de doutorado, porém se encontrava
galardoada com 66,67% (4) de doutoras e 33,33% (2) de doutores.
Os Grupos localizados estão organizados em três áreas do conhecimento que abrangem
Ciência Política e Antropologia, ambas possuindo 40% (2) dos grupos e Educação com 20%
(1). É bom iterar que, ao contrário do que se percebe na UFPA, a área da Educação aparece
em destaque na paisagem nacional com a primeira posição alardando 71 grupos de pesquisa
brasileiros que discutem gênero (Tabela 2).
Nesse panorama é preciso considerar também que a diferença entre uma e outra área
do conhecimento, no que tange à quantidade de grupos de pesquisa e de trabalhos científicos
produzidos acerca da temática gênero, pode ser resultado de singularidades inerentes a cada
área e que, por vezes, inspiram uma demanda maior de tempo no decorrer processual de
execução da pesquisa.
A interpretação de qualidade, volume e regularidade da produção científica
pode variar entre áreas. [...] enquanto em certas áreas a natureza do trabalho
científico pode estimular a produção mais rápida de artigos, em outras, uma
pesquisa exige anos de trabalho experimental ou de campo, sujeito a todas as
110
vicissitudes inerentes a uma atividade desta natureza (JÚNIOR; LOURENÇO
apud MARCHELLI, 2005, p. 8).
Olhando para a plêiade representada na Tabela 7, percebe-se que essa rara constelação
de 5 grupos que se organizaram principalmente ou também em torno da temática gênero tendo
como habitat a célebre UFPA, caracterizam-se de maneira bastante diferente apesar de todos
estarem situados na grande área do conhecimento chamada de Ciências Humanas, de alguns
dos seus grupos comungarem das mesmas sub-áreas do conhecimento, pesquisarem muitas
vezes juntos. Essa peculiaridade nos revela que as produções resultantes de suas/seus
pesquisadoras/es possuem um teor bastante diversificado posto que se originaram em meio às
especificidades de cada grupo, que têm relação inclusive com o ano de formação porque
vivenciaram determinados tempos históricos e a quantidade de mulheres e homens de cada
grupo, que também trazem consigo suas vivências subjetivamente generificadas.
Ao mirar a atenção para a maneira pela qual estavam organizados os postos de
liderança nos grupos que produzem em torno da temática gênero na UFPA, mais uma vez
deparou-se com a situação produzida pelos dados nacionais (Gráfico 7) expostos no capítulo
anterior, no qual as pesquisadoras assumem consideravelmente a maior fatia das lideranças
em grupos de pesquisa que tratam das questões relacionadas ao gênero. Observemos então a
tabela que se segue:
Tabela 8 – Grupos de pesquisa na UFPA distribuídos por área de atuação e liderança
segundo o sexo, 2006
ÁREA DE ATUAÇÃO
LIDERANÇA
FEMININO MASCULINO
CIÊNCIA POLÍTICA 3 1
ANTROPOLOGIA 3 0
EDUCAÇÃO 2 0
TOTAL GERAL 8 1
Fonte: CNPq, 2006
Dentro dos grupos elencados acima, verifica-se que na área de Ciência Política havia
75% (3) de mulheres exercendo a liderança nos grupos até então atuantes, mas esta área
também conta com a liderança masculina que na altura representava 25% (1); Por seu turno,
Antropologia e Educação apresentaram uma predominância absoluta de pesquisadoras em
relação aos homens, porém a primeira somava o quantitativo de 3 pesquisadoras e a segunda
2. A quantidade de pessoas do sexo feminino que atuam na liderança naquelas três áreas,
111
corresponde à maioria. Em se tratando de porcentagem elas expressam 88,89% (8) contra
11,11% (1) do sexo oposto que rateia a liderança com 1 mulher no mesmo grupo,
evidenciando claramente a predominância do sexo feminino no exercício da liderança nos
Grupos que tematizam o gênero na instituição em questão.
Estes números certamente fazem muita diferença para uma instituição da envergadura
da Universidade Federal do Pará, localizada em uma cidade que possui 1.280.614 habitantes,
sendo 672.361 do sexo feminino e 608.253 do masculino (INSTITUTO BRASILEIRO DE
GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2000)
43
, dos/as quais aproximadamente 347 mulheres e 699
homens usufruíram do título de doutoramento (Censo CNPq, 2004), ou seja, de 1.046
pesquisadoras e pesquisadores um percentual de 2,46% (26) demonstraram algum tipo de
produção voltada para a temática gênero, lembrando que nos grupos analisados, averiguamos
que 8% (2) das pesquisadoras e 57,14% (4) dos pesquisadores não continham em seus
respectivos currículos lattes qualquer indício de produções voltadas para essa preocupação.
Para compreender a composição de uma geografia dos estudos de gênero na UFPA é
necessário que se considere também o campo formativo no qual as/os intelectuais em
evidência estiveram ligadas/os (observar as informações contidas no Gráfico 8):
Gráfico 8 Área de formação das/os pesquisadoras/es doutoras/es dos grupos
que discorrem sobre gênero na UFPA
Fonte: CNPq, 2007
43
O IBGE define como unidade de coleta principalmente o estabelecimento de domicílio, em razão dessa
particularidade, possui instrumentos específicos de coleta que o diferencia dos que o CNPq elege para a
produção de seus dados.
6
5
4
3
3
2
2
1
1
1
0 1 2 3 4 5 6 7
Ciência Política
Educação
Sociologia
Ciência Social
História
Antropologia
Estudos Literários
Psicologia
Serviço Social
Teoria e História Literária
112
Ciência Política se destacou como a área do conhecimento que mais somou
pesquisadoras/es que asseguram a titularidade doutoral com 21,43% (6) delas/es, Educação
contou com a preferência formativa de 17,86% (5), a Sociologia garantiu para si 14,29%
(4) de mulheres, em seguida a História ficou com 10,71% (3) delas, posteriormente apareceu
Ciência Social apontando para 10,71% (3) de doutoras e doutor, Antropologia e Estudos
Literários exibiram igualmente 7,14% (2) das/os intelectuais qualificadas/os para a pesquisa;
por fim as áreas de Psicologia, Serviço Social e Teoria e História Literária conquistaram o
índice de 3,57% (1) das pessoas do sexo feminino que alcançaram o título doutoral.
As áreas descritas no Gráfico 8 são de alta valia para compreendemos as entrelinhas
da produção de pesquisadoras/es nos grupos de pesquisa da UFPA, pois são grandes as
probabilidades dos estudos de nero efetivados naquela Universidade terem recebido
vigorosas influências, uma vez que cada uma das 10 áreas em destaque pode ter atribuído um
ou vários tipos de composições nos respectivos objetos investigativos das/os estudiosas/os em
debate, essas tonalizações diferenciadas são acometidas em função das próprias constituições
científicas em que foram banhadas cada área do conhecimento.
Nos currículos analisados, nossas/os pesquisadoras/es, registraram que a temática
gênero pouco transitou como eixo central de suas dissertações e teses. Essa afirmativa teve
como base os títulos e palavras-chave anunciados na seção formação acadêmica/titulação,
revelando que 7 das produções mencionadas abordaram o gênero, sendo que 2 o fizeram
somente no mestrado e as demais garantiram essa discussão tanto no mestrado quanto no
doutorado. Com isso, nota-se que o interesse científico pela temática parece ter surgido,
principalmente, após o doutoramento, entretanto, é possível que o gênero tenha atravessado de
alguma maneira aquelas produções que aparentemente demonstraram não o ter considerado
como o farol orientador das pesquisas que lhes conferiu títulos em nível de pós-graduação.
3.2 A PRODUTIVIDADE GENERIFICADA NOS CURRÍCULOS LATTES DE
PESQUISADORAS E PESQUISADORES DOUTORAS/ES DA UFPA, DURANTE O
PERÍODO 1995-2006
Segundo a página virtual do CNPq
44
, o currículo Lattes caracteriza-se por ser um
formulário eletrônico de importância singular a quem deseja conseguir bolsas e auxílios para
efetivação da pesquisa, bem como subsídios à avaliação de trabalhos realizados na pós-
graduação. Esse formulário é utilizado pelo ministério da Ciência e Tecnologia (MCT),
113
CNPq, Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e CAPES/MEC para o cadastro de dados
curriculares de pesquisadoras/es e usuárias/os em geral, via Internet.
Vale informar que dos 28 currículos visitados, 3,57% (1) contou com uma última
atualização no ano de 2005; outros 21,13% (6) receberam novas informações de suas/seus
autoras/es em 2006 e em 2007 o índice de 75% (21) dos currículos em questão, receberam
dados atualizados pelas/os respectivas/os pesquisadoras/es.
3.2.1 Projetos de investigação desenvolvidos pelos grupos de pesquisa sobre gênero na
UFPA
Ao seguir com a análise de cada currículo Lattes, junto ao cadastro do CNPq, das/os
pesquisadoras/es aqui evidenciadas/os, tornou-se patente que estas/es intelectuais tiveram 123
projetos de pesquisa aprovados na UFPA no decorrer dos 11 anos abaixo especificados e
organizados em três categorias. Na primeira teremos a visão do total de projetos aprovados,
na segunda, daqueles que o tiveram relação com a temática analisada e na terceira, os que
versavam sobre questões concernentes ao gênero.
Gráfico 9 Projetos de pesquisa (aprovados) de pesquisadoras/es integrantes de grupos que
fazem interlocuções em torno da temática gênero
45
na UFPA, 1995-2006
Fonte: CNPq, 2006
44
Consultar em: <http://lattes.cnpq.br/curriculo/curr_apresent.htm>
45
Houve dupla contagem no âmbito dos projetos de pesquisa aprovados, posto que uma/um mesma/o
pesquisadora/r pode participar de mais de um projeto.
6
2
9
4
5
2
1 1
7
4
3
8
5
3
10
6
44 4
0
6
3 3
20
14
6
7
6
1
20
15
5
22
17
5
8
0
5
10
15
20
25
Total Outros Gênero
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
114
Depreende-se do Gráfico 9 que, no período de 1995-2006, registraram-se mais
projetos que tematizaram em torno de outros assuntos, o que corresponde ao índice de 69,11%
(85) do total das pesquisas aprovadas durante os anos em destaque. Observa-se também que
em todos os anos, com exceção de 1996, 1997 e 2002, as opções por outras temáticas
realizaram-se com maior freqüência, em detrimento dos assuntos relacionados ao gênero.
A diferença de projetos acolhidos para recebimento de fomentos também é
evidenciada por ano sendo que em 1995 apenas 25% (2) versavam sobre a temática gênero
contra 75% (6) de projetos que privilegiaram outras discussões. Em 1996 aquela porcentagem
cresceu para 55,56% (5) contra 44,44% (4). Em 1997 a quantidade em termos de porcentagem
foi idêntica (50%), entretanto em termos de quantidade representou menos do que nos anos
anteriores com apenas 1 projeto de pesquisa aprovado para ambas as categorias. Em 1998,
apesar de a diferença ser pouca, 42,86% (3) para gênero e 57,14% (4) para outras temáticas,
não se evidenciou um crescimento acentuado de projetos que contemplavam a temática em
destaque nesta pesquisa.
Em 1999, para os projetos que contemplavam as questões de gênero, a quantidade
continuou sendo a mesma que a do ano anterior com 3 projetos aprovados contra 5 de outras
inspirações, o que representou em termos percentuais 37,5% para os primeiros 62,5% para os
segundos, dessa forma, evidenciando um aumento maior de interesses por outras temáticas
que os do ano anterior.
Em 2000 houve um aumento em termos de quantidade no trato com a temática gênero
e outras temáticas, aumentando as duas em sua quantidade para 1, o que representava uma
diferença percentual de 40% (4) para uma e 60% (6) para outra. Já em 2001, assistiu-se a uma
baixa, pois não houve nenhum projeto aprovado sobre gênero pelas/os pesquisadoras/es
partícipes dos grupos em exame, voltando-se a vislumbrar projetos sancionados em 2002 que
somente registrava 3 deles equiparando-se em quantidade e em percentagem com projetos
compostos por outras temáticas.
Para o ano de 2003, apesar de não ser a temática preferencial das/os pesquisadoras/es
houve um aumento em relação ao ano anterior de 3 pesquisas aprovadas, somando-se 6 (o
maior número de pesquisas aprovadas aentão ao longo dos anos anteriores e posteriores)
que representaria apenas em termos de percentagem 30% contra 70% (14). A diferença
percentual de um para outro continuaria a ser acentuada em 2004, registrando-se 14,29% para
gênero e 85,71% para outras temáticas, porém em termos de quantidade e em relação ao ano
anterior o número de pesquisas aprovadas tanto para aquela quanto para essa diminuíram
acentuadamente, respectivamente, para 1 e 6, voltando esse número a crescer em 2005 para 15
115
e 5, representando 25% para as produções aprovadas que dizem respeito ao assunto gênero
contra 75% para outras temáticas. Finalmente em 2006, quantitativamente o número de
projetos aprovados sobre gênero permaneceu o mesmo, ou seja, 5 projetos, entretanto, o
interesse por outros assuntos emplacou sua maior quantidade ao longo dos anos anteriores,
registrando-se 17 (77,27% contra 22,73%).
De modo geral, os projetos de pesquisa habilitados para o financiamento que
tematizaram acerca de preocupações em torno do gênero foram bastante significativos no
decorrer do tempo supracitado, posto que seus 30,89% (38) têm força de aproximadamente 3
projetos com aprovações concedidas ao ano, considerando-se que nem todos os projetos
submetidos à avaliação dos órgãos competentes recebem obrigatoriamente pareceres positivos
e ainda a inconveniência que os escassos recursos financeiros acarreiam para a solidificação e
aprovação dos projetos de pesquisa, paradoxalmente, acirrada pela elevação do nível
formativo de pesquisadoras e pesquisadores na UFPA. Esse aspecto foi confirmado na
pesquisa de Corrêa que publicou a seguinte assertiva:
Esta nova realidade institucional vem desencadeando o surgimento de
situações no mínimo curiosas, pois o crescimento do número de professores
com mestrado e doutorado parece estar criando uma crise institucional no
âmbito da produtividade científica, uma vez que a aprovação dos projetos
de pesquisa entra em colisão com os limites financeiros da instituição para
prover a demanda existente (2003, p. 303).
Nessa ancoragem outros projetos podem não ter logrado os auspícios dos órgãos
financiadores e por isso mesmo terem sido engavetados no aguardo de outras oportunidades
mediante o surgimento de novos editais ou dos, neste caso, difíceis patrocínios. Acrescento
ainda outras inserções ao reiterar que, como é patente na Tabela 7, os grupos de pesquisa alvo
do exercício de compreensão aqui proposto, não foram consolidados ao mesmo tempo, talvez
por essas circunstâncias verifica-se um crescimento surpreendente no total de projetos
aprovados a partir do ano de 2003, já que o último dos grupos formou-se em 2002.
Apoiando-se nas palavras de Barbosa, também ratifica-se que falar de gênero no Brasil
não é tão óbvio como o é na Europa e nos Estados Unidos, pois na “[...] América Latina ainda
estamos construindo esse conceito, principalmente dentro das áreas científicas” (2005, não
paginado), sem esquecer ainda que as invasões dos estudos de gênero só recentemente
aportaram em nossa plaga nacional. Portanto, é com base nestas informações que considero
excelente o nível de aprovação dos projetos voltados às questões de gênero na UFPA.
116
Tendo como ponto de partida os projetos de pesquisa (aprovados) elaborados por
pesquisadoras/es integrantes dos grupos que inspecionam o gênero na UFPA, tratados no
Gráfico 8, verifica-se de que maneira estavam distribuídas/os as/os pesquisadoras/es que
participaram destes projetos a partir da desagregação por sexo.
Gráfico 10 Distribuição de pesquisadoras/es, partícipes dos grupos que discutem gênero, nos
projetos aprovados na UFPA durante o período de 1995-2006
Fonte: CNPq, 2007
A julgar pelas informações dispostas no Gráfico 10, a quantidade de mulheres
pertencentes a grupos que discutem gênero e que tiveram participações em projetos aprovados
na UFPA, no decorrer de 1995 a 2006, mostrou-se bem maior do que os números alcançados
pelo sexo oposto, considerando-se que a maior quantidade registrada para elas foi no ano de
2006 com a participação de 20 das mulheres cientistas e a menor quantidade aponta para o
ano de 1997 com apenas 2 pesquisadoras.
Quando a questão volta-se para as raras e baixas colunas que representam o sexo
masculino, a soma mais elevada de pesquisadores que tiveram presença cadastrada naqueles
projetos admitidos para o financiamento dos órgãos competentes foi de 2 no ano de 2006, em
contrapartida as mais baixas espalharam-se entre os anos de 1995 a 1999 e 2001, 2002 e 2004
que denunciaram o total apartamento dos intelectuais em questão.
No delineamento das participações expressadas no Gráfico 10, torna-se irrefutável que
o número de mulheres pesquisadoras, seja em maior quantidade ou não em relação ao ano
0
5
10
15
20
25
Feminino
5 9 2 7 8 9 4 6 19 7 19 20
Masculino
0 0 0 0 0 1 0 0 1 0 1 2
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
117
anterior, evidencia-se de maneira que as mesmas sempre representaram uma superioridade
numérica em relação aos homens pesquisadores, através das quais as cientistas chegaram a
ostentar 95,83% (115) de participação, convivendo com os diminutos 4,17% (5) percentuais
masculinos
46
.
Sem perder de vista as exposições dos Gráficos 9 e 10, passemos a visitar os aspectos
relacionados com a assunção ou não da coordenação daqueles projetos de pesquisa em debate,
assumindo o ponto de vista da divisão por sexo.
Gráfico 11 – Coordenação
47
dos projetos de pesquisa aprovados na UFPA, por sexo 1995-2006
Fonte: CNPq, 2007
Através do Gráfico 11 se evidencia que nos anos de 1995 a 2006, existiu uma
predominância feminina nos postos de coordenação na maioria esmagadora dos projetos de
pesquisa aprovados e que contaram com a participação de pesquisadoras/es que versam sobre
a temática gênero, representando em muitos anos (1995, 1996, 1997, 1998, 1999, 2001, 2002,
2004) a totalidade (100%) em termos de coordenação dos referidos projetos.
Somente em 2000, 2003, 2005 e 2006 é que se observa a participação masculina na
coordenação desses projetos, com 10% (1) naquele primeiro ano e 5% nos demais anos dos
índices de homens atuando na coordenação, contra 90% (9) das pesquisadoras no ano de
2000; 95% (19) em 2003 e 2005; e no ano de 2006 elas abraçaram 90,91% (20) dos
46
É oportuno lembrar que o quantitativo elevado destes sujeitos reside no fato de uma/um mesma/o
pesquisadora/r ter participado de mais de um projeto aprovado, assim como houve aquelas/es que participaram
de apenas um.
47
Houve dupla contagem, uma vez que a/o mesma/o pesquisadora/r coordenou mais de um projeto de pesquisa.
2
9
20
1
5
9
7
8
1
4
6
1
19
7
1
19
0 5 10 15 20 25
Feminino
Masculino
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
118
percentuais de mulheres trabalhando na coordenação dos projetos vinculados à Universidade
Federal do Pará.
Pelo Gráfico 11 se verifica também que o ano de 2006 apontou para o crescimento de
mulheres atuando na coordenação de tais projetos, registrando-se a maior quantidade até
então com 20 delas. Quanto aos homens, ao longo do período de 1995-2006, desempenharam
uma presença pequena em relação ao contingente feminino, pois de 123 projetos aceitos para
financiamento apenas 2,44% (3) foram coordenados por pesquisadores, em direção oposta
97,56% (120) tiveram a coordenação assumida por pesquisadoras. Aliás, é oportuno que seja
dito, quanto se trata da coordenação dos projetos de pesquisa, que granjearam as decisões
positivas para o logro da aprovação, relacionados com interesses em torno das questões de
gênero, definitivamente não houve cientistas do sexo masculino avocando a coordenação.
3.2.2 A produção científica alusiva aos grupos de pesquisa sobre gênero na UFPA
Olhando para a produção teórica das/os cientistas ligados à UFPA através das lentes
do currículo Lattes, localizado no site do CNPq, percebe-se que grandes esforços foram
empreendidos no sentido de se elevarem os topos da qualidade e da quantidade das produções
que discorrem acerca do gênero. Ficou evidenciado também que essa instituição federal de
Belém, por conta de suas/seus pesquisadoras/es, não ficou atrás de uma discussão que se
espraiou pelo país principalmente no final da década de 1980, e embora essa dissertação o
abrace aquela década é meritório ressaltar que foram detectadas algumas produções, dentro
das categorias do instrumento de coleta indicadas abaixo, que falavam sobre a mulher e d
ficou visível o engajamento nos anos posteriores em discussões focando o gênero.
Na ilustração que se segue compreende-se o nível de produção acadêmica da temática
gênero na categoria artigos completos publicados, tanto em periódicos de alcance nacional
quanto internacional.
119
3
2 2
1
1
4
2
2 2
2
1
0
1
2
3
4
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Nacional Internacional
Gráfico 12 – Artigos completos sobre gênero publicados em periódicos especializados de
circulação nacional e internacional, 1995-2006
Fonte: CNPq, 2007
A produção de artigos publicados em periódicos nacionais no período de 1995 a 2006
exerce um domínio sobre os artigos publicados em internacionais, como se no Gráfico12,
totalizando no final do período 20 artigos em periódicos nacionais contra apenas 2 dos
publicados em veículos internacionais, evidenciando-se dessa forma que ainda existe um
déficit em termos de divulgação internacional de tais artigos e até nacional, tendo em vista
que a quantidade anual, daquele período, de artigos publicados sobre o assunto gênero é
bastante escassa, não ultrapassando a média de aproximadamente 2 publicações anuais, a
exceção se destinou a 1995 e 2000 cada ano com 3 e 4 artigos publicados no país.
Quando se trata de divulgação internacional a situação é ainda mais rarefeita. Como
se observa no Gráfico 12, somente em 1997 é que se registraram duas produções de artigos
completos sobre a temática gênero em periódicos internacionais. Se for considerado que os
grupos de pesquisa em pauta contavam com 32 pesquisadoras/es cadastradas/os ao todo,
perceber-se-á que a publicação de artigos completos, ao advir da soma total de 22 textos, não
esteve contado com a cumplicidade de todas/os, uma vez que aproximadamente 10
pesquisadoras/es aparentavam não estar publicando nessa importante categoria.
Esse quadro de produção inspira cuidados por parte dos grupos, que talvez nem
saibam, mas carregam a responsabilidade de representar a UFPA junto aos estudos de gênero
que se realizam na região Norte, pois, como está comprovado na Tabela 4, esta instituição é a
que mais possui grupos de pesquisa atuantes nas produções daquela temática. Mas é preciso
120
alertar para o fato de que o quantitativo de 6 intelectuais que adensavam o grupo das/os 32
retro-mencionadas/os não registraram em seus currículos Lattes qualquer participação em
produções que privilegiassem a temática gênero, uma vez que nem todas/os as/os integrantes
dos grupos localizados têm por interesse primordial as questões sitiadas nesse âmbito.
Até mesmo as relações sociais, sejam elas de gênero, raça, naturalidade regional,
nacionalidade entre outras, que vão se estabelecendo no meio acadêmico-científico devem
ser averiguadas no sentido de se perceber até que ponto houve uma “escolha” em se produzir
menos artigos completos em periódicos especializados ou existiu uma recusa de tais textos.
Como foi exposto em vários momentos desse estudo, a produção científica sobre o gênero
tem sido fundamentalmente de autoria feminina, porém para as pesquisadoras da UFPA,
parece haver mais um agravante, pois a expressiva maioria delas é nortista.
O cientista reconhecido obtém com mais facilidade o financiamento para suas
pesquisas, tem acesso fácil aos meios de informação, atrai os recursos
humanos e tem a possibilidade de escolher os melhores talentos. Aqueles que
são pouco ou nada reconhecidos vêem muito reduzidas as suas possibilidades
mesmo quando o talento e a capacidade de trabalho não lhes faltam. Esse
mecanismo de vantagens cumulativas, pelo qual aquele é reconhecido como
meritório, tem possibilidade de aumentar mais rapidamente a sua
produtividade, tem sido denominado de efeito Mateus, pois no Evangelho de
São Mateus está escrito: [...] porque ao que tem ser-lhe-á dado e terá em
abundância, mas ao que não tem ser-lhe-á tirado (TOSI, 1987, p. 48, grifos
no original).
Assim, para conseguir manter uma determinada posição alcançada, sobretudo as
pesquisadoras deverão trabalhar em demasia para superar os efeitos de uma segregação
milenar, buscando assim superar o retardamento a que foram/são submetidas no escopo de
vê-las distante da mais remota possibilidade de alcance do poder nos territórios
incontestáveis do mundo científico. Nos pungentes redemoinhos dessa competitividade
voraz, fazer parte de uma região desprestigiada, economicamente falando, pode representar
ter um peso a mais de negatividade.
Em relação à publicação de livros ou capítulos de livros que percutiram em torno de
temáticas relacionadas ao gênero, a realidade dos dados coletados e organizados na próxima
ilustração traz um novo fôlego para os estudos de gênero no âmbito da Universidade Federal
do Pará.
121
Gráfico 13 – Capítulos de livros ou livros publicados/organizados ou edições referenciados por
questões de gênero, relativos aos grupos de pesquisa da UFPA, 1995-2006
Fonte: CNPq, 2007
Em se tratando da categoria acima especificada, o Gráfico 13 aponta que a quantidade
de livros publicados em relação à quantidade de capítulos de livros publicados que tratam
sobre a temática supracitada é relativamente inferior ao longo dos anos, com 3 em 1995
contra 5 capítulos de livros, 1 livro e 3 capítulos em 1996, 5 contra 6 em 1997, nenhum livro
publicado em 1998 e 3 capítulos de livro; 2 contra 5 em 1999; não houve publicação de livro
em 2000 ao contrário da publicação de 1 capítulo de livro; em 2001 tivemos 6 livros e 13
capítulos; nos anos de 2002, 2003 e 2004 não foram registradas publicações de livros, mas
nestes mesmos períodos, respectivamente, 7, 1 e 1 capítulos contam como publicados; 1 e 3
em 2005 e finalmente em 2006 encontramos apenas 2 capítulos de livros que foram
contabilizados nas listas de publicações.
O Gráfico 13 evidencia também que o ano de 2001 apresenta a maior quantidade em
termos de publicação de livros e capítulos, mostrando nessa escala 6 livros publicados e 13
capítulos de livros, o que corresponde, em se tratando de porcentagem a 33,33 % de livros
publicados ao longo do período de 1995 a 2006, e 26% dos capítulos de livros circularam
durante esse mesmo ínterim.
3
1
5
2
6
1
5
3
6
3
5
1
13
7
1
1
3
2
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
Livros Capítulos de Livros
122
Outrossim, verifica-se que ocorreu uma totalização de 18 livros e 50 capítulos de
livros publicados sobre o assunto. Esse vel de produção revela atitudes voltadas à elevação
desse tipo de publicação e não obstante os percalços e o tempo que se demanda para
materializar um livro em terras paraenses, aqueles 68 trabalhos tornados públicos podem ser
indicativos de que mais adiante teremos outras produções aditadas naquele escalão.
A partir do intervalo histórico utilizado como referência, observa-se que pequenos
movimentos pendulares fizeram-se presentes entre os biênios localizados na barra inferior do
Gráfico 14. Após serem submetidos às inspeções das comissões avaliadoras de eventos
científicos, os trabalhos podem ou não contar com a anuência para divulgação em anais
científicos, no caso dos textos que discutem gênero publicados na íntegra, de autoria das/os
pesquisadoras/es pertencentes aos grupos aqui sondados, veremos como se comportaram nas
coortes localizadas no interior da representação gráfica número 14.
Gráfico 14 Trabalhos completos publicados pelas/os pesquisadoras/es ligadas/os aos grupos
de pesquisa sobre gênero em anais de eventos, 1995-2006
Fonte: CNPq, 2007
A quantidade de trabalhos publicados em anais de eventos foi demasiadamente branda
em sua média, cerca de 2,33% ao ano, totalizando ao final de 11 anos apenas 28 trabalhos
inteiramente publicados. Entretanto, apesar da divulgação de poucos textos em anais de
eventos, nesse período se pode enxergar que a partir de 2004 começou a sobrevir um
acentuado crescimento em termos de publicação, com isso demonstrando que provavelmente
houve uma preocupação mais assídua por parte das/os pesquisadoras/es que atuam sobre a
temática gênero em participar de tais encontros científicos.
4
6
5
1
2
1
2
1
1
1
2
2
0
1
2
3
4
5
6
7
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
123
A título de confirmação, verifica-se a quantidade de 5 trabalhos publicados em 2004, 6
em 2005 e 4 em 2006 totalizando nesse triênio a quantidade de 15 textos que corresponderiam
em termos de porcentagem a 53,59 %, ou seja, somente neste três últimos anos do período
mencionado publicou-se mais trabalhos integralmente em anais de eventos, do que em todos
os anos anteriores (que juntos indicam o valor percentual de 46,41%), revelando um maior
interesse, apesar do decréscimo de 2005 a 2006, pela participação em tais eventos.
O triênio 2004-2006 revelou-se o mais acerrado diante de uma realidade em que se
está configurando ao confirmar a preocupação de algumas/ns cientistas em participar das
discussões nos eventos que procuram colaborar com a produtividade de saberes que envolvam
a temática na qual estão engajadas/os as/os pesquisadoras/es. Esses últimos espaços de tempo
parecem trazer consigo a impressão de que nos anos vindouros seremos contempladas/os com
mais crescimentos nas coortes seguintes.
Mas há questões que não podem passar incólumes quando o assunto é a publicação de
trabalhos, como no caso da necessidade de financiamentos destinados às apresentações dos
mesmos em eventos de cunho científico, tendo em vista que a UFPA, assim como grande
parte das instituições que estão sob a égide do poder público, concede a liberação de verbas
que incluem passagens e diárias para a participação de nossas/os pesquisadoras/es em um
único evento durante um ano todo. Nesse sentido, mesmo diante da evidente importância
formativa que eventos daquela natureza acarretem para a produção e circulação de
conhecimentos, torna-se oneroso para os bolsos das/os investigadoras/es marcar presença nos
locais que sediam tais eventos. Talvez por essa nada agradável vicissitude é que haja certo
desestímulo para o envio de publicações portadoras de tão extrema relevância.
Enquanto que as publicações demonstradas acima transpareceram certas oscilações
durante boa parte dos períodos tratados, no caso dos resumos publicados em anais de eventos
encontraremos na evolução gráfica (Gráfico 15) traços que tinham por singularidade os
estudos das questões de gênero, ao longo do período de 1995 a 2006, observou-se que no
início da série foram publicados apenas 2 resumos; em 1996 publicou-se 6; em 1997
registrou-se 5; nos dois anos que se seguiram 7; no ano de 2000 foram declarados 10; em
2001 apareceram 15; posteriormente no ano de 2002 estavam cadastrados 9; em 2003 havia
3; no ano seguinte 4; no próximo espaço de 12 meses ganharam destaque 11 resumos e mais
tarde em 2006 foram anunciados somente 5 daquelas produções.
124
Gráfico 15 – Resumos publicados pelas/os pesquisadoras/es ligadas/os aos grupos de
pesquisa de gênero em anais de eventos, 1995-2006
Fonte: CNPq, 2007
Dentre aquele mesmo período, o triênio de 2000 a 2002 demonstrou ser o mais
produtivo em se tratando da quantidade de publicações, apontando para 34 resumos o que
representou na tradução para valores de porcentagem 40,47% do total do período apontado
no gráfico, ou seja, mais da metade da soma de todos os demais anos.
Os anos de 2000, 2001 e 2005 mostram os maiores números em termos de
publicações de resumos em anais de eventos, com, respectivamente 10, 15 e 11, que
correspondem a 11,9%; 17,86% e 13,1% de publicações no período de 132 meses,
evidenciando-se nesses anos um maior interesse em participações de publicações na
categoria resumos tornados públicos em anais de eventos.
Comparativamente, percebe-se através da análise dos Gráficos 14 e 15 que uma maior
ou menor publicação de trabalhos ou resumos completos em anais de eventos não seguem
emparelhadas. Por exemplo, nota-se pelo Gráfico 15, que em 2001 houve 15 publicações (a
maior quantidade do período) de resumos nos anais de eventos científicos e no mesmo ano
apenas 1 trabalho completo publicado, conforme mostra o Gráfico 14. Essas constatações
comprovam que embora os resumos divulgados em anais de eventos tenham um peso menor,
para as avaliações da CAPES e principalmente no aspecto concernente à cessão de auxílio
financeiro para a participação efetiva de quem teve produções aprovadas, materializam-se em
quantidades muito mais elásticas do que os trabalhos completos destinados ao conhecimento
público por meio dos anais produzidos por ocasião dos eventos que contam com o rigor
científico.
6
2
5
7
7
10
15
9
3
4
11
5
0
2
4
6
8
10
12
14
16
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
125
Partindo do ponto de vista de que os resumos são a sinopse das produções
consolidadas, o que ocorreu com os textos completos que serviram de útero para dar vida a
esses resumos publicados? Porque o foram divulgados em anais de eventos? Para quem
também se dedica aos estudos da temática gênero essas produções “invisíveis” representam
dúvidas homéricas que não poderão ser profligadas por mais pontificados que estejam os
resumos manifestados.
Na próxima categoria em evidência no currículo Lattes das doutoras e doutores que se
dedicam às atividades de pesquisas relacionadas ao gênero, encontrou-se uma sinuosidade
interessante das linhas que indicam os níveis da produção técnica daqueles sujeitos.
0
5
10
15
20
25
30
35
Trabalhos Técnicos
4 7 15 15 16 11 10 7 7 17 31 15
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Gráfico 16 – Trabalhos técnicos realizados por pesquisadoras/es dos grupos de pesquisa,
sobre gênero na UFPA 1995-2006
Fonte: CNPq, 2007
O Gráfico 16 demonstra como evoluiu ao longo dos anos a quantidade de trabalhos
técnicos realizados por pesquisadoras/es dos grupos de pesquisa cadastrados no CNPq,
totalizando 155 atividades. O período mencionado acima aponta acréscimos e decréscimos na
quantidade de pesquisadoras/es trabalhando com os assuntos ligados ao gênero, revelando
que o ano de 2005 apresentou a maior produção em termos de trabalhos técnicos com 31
deles realizados, correspondendo a 20% (maior porcentagem entre os períodos no gráfico) do
total.
Em geral, percebe-se que o ano de 2005 despontou como aquele que mais contribuiu
em termos de produção e publicação de textos completos, resumos e trabalhos cnicos que
envolveram os estudos de gênero, conforme se verifica nos Gráficos 14, 15 e 16 analisados
anteriormente. Até o momento nesta pesquisa, esse ano ainda se revela como o grande
126
marcador solitário da maior quantidade por ano de produções anunciadas pelas/os
pesquisadores em seus respectivos currículos Lattes.
Outra questão merecedora de registro é que dentre todos os dados apresentados até
aqui, particularmente os pontuados no Gráfico 16 são os mais avolumados, manifestando
poucas alterações bruscas de um ano para o outro, porém esse não parece ter sido o caso dos
biênios 1996 e 1997; 2003 e 2004 que trouxeram bons auspícios à produção na área passando
de 4,52% (7) dos trabalhos técnicos a 9,68% (15) deles e 4,52% (7) para 10,96% (17).
Todavia, a exceção se fez sentir para os anos de 2005 e 2006, onde aquele que continha 20%
(31) de trabalhos técnicos efetivados, no ano seguinte despencou para 9,68% (15), numa baixa
de um pouco mais da metade daqueles trabalhos, mas ainda assim, saindo na frente de todos
os outros tipos de publicações analisadas nas páginas que antecederam o Gráfico 16.
Irrefragavelmente os números organizados na insinuação gráfica acima são bastante
significativos, uma vez que mediante o adstrito tempo de que dispõem as/os pesquisadoras/es
em questão por conta das inúmeras atividades que envolvem a profissão que ocupam na
UFPA, torna-se um desafio ainda conseguirem produzir relatórios de pesquisa, pareceres,
pronunciar palestras, articular eventos, fazer parte de comissões científicas, bancas
avaliadoras, entre outras práticas que igualmente exigem tempo e cuidadosa dedicação. Por
outro lado, para o quantitativo de pesquisadoras/es aqui anunciadas/os é preciso que sejam
encontradas outras maneiras de engrossar também as produções representadas junto a
atividades categorizadas como trabalho técnico.
Outros instrumentos do conhecimento, como os jornais e as revistas, que contam com
um tipo de circulação bastante acessível através da qual muitas pessoas independente no nível
formativo podem usufruir, também foram aquilatados à lista de produções acerca do gênero, é
o que se abordará no Gráfico 17.
Durante todo o período de 1995 a 2006 ocorreram 14 publicações de textos sobre o
assunto nero em jornais de notícias e revistas, sendo que os anos de 2001 e 2006
declararam ser detentores das quantidades mais elevadas de publicações orientadas naquelas
categorias, com respectivamente 3 e 4, correspondendo a 21,43% e 28,57%, ou seja a metade
(50%) de todas as publicações exibidas no período mencionado.
127
1
2 2
1
3
1
4
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
5
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Gráfico 17 – Publicação de textos das/os pesquisadoras/es ligadas/os aos grupos de pesquisa sobre
gênero em jornais de notícias/revistas, 1995-2006
Fonte: CNPq, 2007
Os anos de 1995, 1999 e 2005 contribuíram cada um com apenas 7,14% (1) das
publicações e somente não demonstraram ser o desempenho mais moderado, porque os anos
de 1996, 2000, 2002, 2003 e 2004 não cadastraram nenhuma publicação de texto em jornal
ou revista revelando-se uma deficitária produtividade em termos de publicação naqueles
veículos de comunicação. os anos de 1997 e 1998 consignaram 2 publicações de textos
que corresponderam, tão-somente, cada qual isoladamente a 14,29% de toda publicação
dispensada ao período em questão.
No dedilhar do item relativo aos dados de outras produções de expressivos alcances
populacionais como é o caso da artística e cultural, a visualização estatística adquiriu a
paisagem desenhada no Gráfico 18.
As produções artística e cultural em torno do assunto gênero, promovidas por
estudiosas/os que se reúnem em grupos de pesquisa na UFPA, foram temerosamente baixas
demonstrando no quadriênio de 1998, 1999, 2001 e 2002 apenas uma produção por ano
divulgando a temática gênero. Os anos de 1995, 1996, 1997, 2000, 2003 e 2006, entretanto,
sequer apontaram para qualquer tipo de produção naquele sentido; e foi somente no biênio de
2004 e 2005 que se verificou uma pequena intensificação da produção artística e/ou cultural já
que ambos anunciaram 3 produções. No cômputo geral da categoria em análise observaremos
que a instituição em voga soma apenas 10 produções.
128
1
1
1
1
3
3
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4
1995
1997
1999
2001
2003
2005
Gráfico 18 Produção artística e cultural das/os pesquisadoras/es ligadas/os aos grupos de pesquisa
sobre gênero, 1995-2006
Fonte: CNPq, 2007
As produções classificadas nos Gráficos 17 e 18, a meu ver, são as que possuem um
nível de abrangência muito maior de público em relação às demais produções, isso porque
elas chegam a atingir corpulentas parcelas populacionais simultaneamente, com uma
admirável imensidade de caracteres que incluem raça, etnia, gênero, sexualidade, classe
social, faixa etária, naturalidade, deficiências sicas e mentais, nacionalidade, nível de
formação, religião, entre muitos outros que parecem pouco tocados pelas discussões no
campo do gênero.
A calcular pelos tênues índices seja no que tange às publicações de textos em jornais
de notícias e/ou revistas, seja na seara das produções de cunho artístico e cultural, a relevante
discussão de gênero parece distante de muitos estratos da sociedade. Essa questão,
incontestavelmente, é digna de passar a ser encarada como um vital objeto de desvelo o
somente por parte de quem pesquisa e publica sobre gênero, como também por aquelas/es que
gozam da prerrogativa de criar oportunidades para a ampliação do referido assunto naqueles
meios de divulgação.
A participação em orientações é o próximo item a ser observado, nele constam
informações dessa “aventura compartilhada”, nas palavras de Zilbermann (2002), que podem
ter como resultado outras investigações futuras, seja em nível de pós-graduação ou de
129
participação em grupos de pesquisa, assumindo o posto de pesquisadora ou pesquisador com
titularidade doutoral.
2
3
1
4
1
1
10
1
2
6
3
11
2
2
4
6
2 2
1
2
2
1
3
6
2
4
1 1
4
1
4
1
7
2
3
1
7
6
0
2
4
6
8
10
12
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
IC TCC Monografia Dissertação Tese
Gráfico 19 Participação das/os pesquisadoras/es ligadas/os aos grupos de pesquisa sobre gênero em
orientações de iniciação científica, trabalho de conclusão de curso de graduação, monografias de
cursos de aperfeiçoamento/especialização, dissertações de mestrado e teses de doutorado, 1995-2006
Fonte: CNPq, 2007
As coortes acima revelam a quantidade de participações realizadas em orientações
nos níveis de iniciação científica (IC), trabalho de conclusão de curso (TCC), monografias,
dissertações e teses, que privilegiaram a temática gênero, ao longo do período de 1995 a
2006. As coortes citadas deixam patente que o ano de 1997 arrebanhou a maior quantidade
de participações em orientações de IC com 10 dessa envergadura, correspondendo a mais de
¼ (um quarto) de todas as participações em relação à orientação nos espaços de tempos
históricos explicitados, com exatos 31,25% de participações.
no ano de 1999, a coorte relativa às orientações de TCC aponta o mais alto vértice
do Gráfico 19, com 11 participações que correspondem ao índice percentual de 20% do total
no período vigido. Os anos de 2002 e 2006 tomam como alvo da maior participação em
orientações de dissertações que solicitaram 24% (6) das participações em cada ano. Essa
quantidade é considerada razoável, levando-se em conta que o gráfico em análise manifesta
também que em termos de monografias e teses a participação daquelas/es orientadoras/es é
mínima, não chegando a mais de 2 participações em orientações ao ano. O gráfico também
registra apenas uma participação em tese, mais precisamente no ano de 2003, o que nos leva
a deduzir o quanto são raras as produções acadêmicas sobre gênero nesse tipo de nível
formativo empreendido na UFPA.
130
No somatório geral de todos os tipos aqui especificados de orientações se chegará a
um total de 122 orientações gerenciadas por quem faz e produz conhecimentos acerca da
temática gênero na UFPA, que corresponde ao caráter aproximativo de 11 orientações
realizadas por ano. Com relação às hierarquias numéricas ilustradas nas coortes gráficas
teremos as seguintes ordens: com 45,08% (55) na primeira posição estão as orientações que
foram registradas a partir das produções dos TCC; na segunda com 26,23% (32) as de IC; em
terceiro lugar a coorte que mais se destaca é a que corresponde às orientações em vel de
mestrado possuindo o índice de 20,49% (25); posteriormente veio as de monografias
contando com o percentual de 7,38% (9) e em última colocação avistaremos os 0,82% (1) da
orientação que se efetivou em nível de doutorado.
Esse foco observado na graduação e no mestrado possivelmente ocorre em razão de
75% (21) dessas/es orientadoras/es assumirem vínculos profissionais junto a programas de
pós-graduação; permanecerem atuando na graduação e terem participação marcada em
grupos, onde desenvolvem projetos de pesquisa convocando bolsistas em vel de IC, que
por sua vez acabam dando prosseguimento àqueles estudos no TCC demonstrando
preferência pela/o mesma/o orientadora/r.
A soma dos escores individuais que incluem o desempenho de pesquisadoras/es
vinculadas/os aos cinco grupos de pesquisa da UFPA, que contribuem para o avolumamento
quanti-qualitativo das produções que problematizam as questões de gênero, mais uma vez
nos coloca frontalmente no abismo que separa as pesquisadoras dos pesquisadores que
estudam na linha temática das questões de gênero, que dessa vez o cenário não é o
nacional, mas sim o de uma instituição pública federal da cidade de Belém do Pará.
O Gráfico 20 revela a predominância do número de mulheres pesquisadoras na UFPA
que tratam de assuntos concernentes ao gênero no interior dos grupos de pesquisa. Pode-se
observar que em todos os ramos de produção abordados até o presente momento neste
capítulo, as cientistas são veementemente maioria, porém apenas nas produções que se
referem à presença nos grupos de pesquisa é que se apresenta uma quantidade razoável de
homens pesquisadores onde se delimitaram na quantidade de 7 contra 25 do sexo oposto.
131
123
115
4
5
25
7
22
21
1
68 68
28 28
84
83
1
155
154
1
14 14
10 10
122
118
4
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
Total Feminino Masculino
Projetos de pesquisa Grupos de pesquisa Artigos completos
Capítulos de livros ou livros Trabalhos completos Resumos publicados
Trabalhos técnicos Textos em jornais/revista Produção artística e cultural
Orientações
Gráfico 20 Participação geral de pesquisadoras/es que discutem gênero em grupos de pesquisa na
UFPA, distribuída por sexo, 1995-2006
Fonte: CNPq, 2007
No contexto das participações em projetos de pesquisa e orientações que versavam
sobre a temática aqui estudada, os intelectuais masculinos marcaram quantidades relativas a 4,
quando as intelectuais sinalizavam, respectivamente, para 115 e 118 das produções com
participações femininas.
Já nas categorias concernentes às produções de artigos completos publicados em
periódicos especializados, resumos publicados em anais de eventos e trabalhos técnicos, os
cientistas representaram de maneira pouco vigorosa 1 produção para cada categoria, enquanto
suas colegas de profissão registraram a caprichosa rubrica de 21 na primeira, 83 na segunda e
154 na terceira categoria em análise.
Para completar as colunas do conjunto das categorias que incluem publicações de
livros e/ou capítulo de livros, trabalhos completos em anais de eventos, textos em
jornais/revistas e produções artística e cultural, eles não declararam qualquer participação,
contudo, elas contribuíram com respectivamente 68, 28, 14 e 10 inserções. Logo, infere-se
132
que das 631 produções que assumem a temática nero, uma marca de 636 delas para as
pesquisadoras em detrimento da enumeração de 18 para os pesquisadores
48
.
Como podemos notar, certamente, a temática em debate não está adstringida somente
aos interesses de pessoas do sexo feminino, todavia esses estudos ainda se ressentem de uma
presença mais intensa de homens também na UFPA, para que se possa fortificar mais os elos
dessa temática que outrora já foi retirada dos laços de um gueto (COSTA, BARROSO;
SARTI, 1985) para poder se expandir e alçar outros vôos.
Essa imensa vantagem protagonizada por mulheres pesquisadoras é bastante notável
dada sua entrada tardia no meio acadêmico-científico brasileiro que data de 1879 na área de
Medicina. Aliás, conforme um estudo realizado por Tanuri (2000) e Villela (2000) o direito
de a mulher ter acesso à educação formal no Brasil, foi instituído em 1827 através da
primeira Lei Geral do Ensino que as restringiu ao curso primário e estabeleceu limites nos
conteúdos curriculares que diferenciavam os currículos voltados para a educação feminina
daqueles destinados à formação masculina.
A concentração feminina nos estudos de gênero também foi descrita por Arilha,
Unbehaum e Medrado (2001) explicitando que a intensa produção acadêmica e política
resultante do feminismo, em meados da década de 1970, ao fertilizar um diálogo com as
teorias marxistas estimularam proficientes debates em torno da mulher trabalhadora. Através
desse tema, privilegiou-se a condição feminina nas relações sociais, porém, o sexo oposto era
citado apenas como contraponto nos estudos sobre a mulher, mas habitualmente ele era
excluído (ou os próprios homens se insentavam) dessas reflexões.
O patente interesse feminino por abordagens que contribuam para a averiguação
particularmente da realidade vivenciada pela mulher e das relações de gênero, tem sido
distorcido pelo androcentrismo que subsiste na Ciência, visto que são consideradas como o
pólo negativo e colocadas pelo mundo social como o Outro, logo suas produções sofrem de
acusações que visam o menoscabo da comunidade científica.
[...] as realizações daqueles que o assim como o “Outro” nem sempre
são menosprezadas; frequentemente elas são até apreciadas, mas sempre em
seu lugar especial e periférico: o lugar da diferença. Assim, ‘história’ e
também ‘história das mulheres’ e a história das mulheres à diferença da
história militar, por exemplo é localizada fora do que é considerado como
história propriamente dita. Existem as críticas pós-estruturalistas da razão, que
48
Embora esses valores pareçam discordantes, eles estão organizados dentro de uma lógica que considerou como
total os 5 grupos de pesquisa que atuavam com a participação de 25 pesquisadoras e 7 pesquisadores. Nesse
sentido, o número total de produções se mostrou menor que a quantidade de pesquisadoras e pesquisadores.
133
são de interesse geral’, e também as críticas feministas, de interesse àqueles
que se preocupam com o gênero (BORDO apud CARVALHO, 2006, p. 4,
grifos do original).
Para as autoras citadas acima é apenas nessa zona de alteridade que as pesquisadoras,
sobretudo as feministas, conseguem se inserir na produção científica, pois as mulheres muitas
vezes são até desestimuladas a conseguirem espaço dentro dos grandes debates científicos ou
dos campos considerados de mais status no interior da esfera acadêmica, da mesma forma
como algumas nem sequer cogitam essa possibilidade.
É o campo científico, enquanto lugar de luta política pela dominação
científica, que designa a cada pesquisador, em função da posição que ele
ocupa, seus problemas, indissociavelmente políticos e científicos, e seus
métodos, estratégias científicas que, pelo fato de se definirem expressa ou
objetivamente pela referência ao sistema de posições políticas e científicas
constitutivas do campo científico, são ao mesmo tempo estratégias políticas.
Não há ‘escolha’ científica – do campo da pesquisa, dos métodos empregados,
do lugar da publicação; [...] que não seja uma estratégia política de
investimento objetivamente orientada para a maximinização do lucro
propriamente científico, isto é, a obtenção do reconhecimento dos pares
concorrentes (BOURDIEU, 1983, p. 126-127).
Em grande medida, os sujeitos são reiteradamente coagidos a admitir que devam
ocupar determinada posição inclusive em relação à produção do conhecimento científico, e
isso ocorre de maneira latente uma vez que não um termo legalizado que apregoe esse tipo
de distinção entre pesquisadoras e pesquisadores. Ao se mencionar tal ponto de vista, não se
quer aqui afirmar que os estudos de gênero apresentam menos complexidade porque contam
com uma espantosa adesão de mulheres e que não representam contribuições às questões
sociais mais amplas, mas sim que essa condição de marginalidade es laqueada ao plano
falocêntrico, onde a figura feminina aparece como um Outro constituído em relação ao
masculino, o seu contrário, seu inferior.
De acordo com esse posicionamento, as cientistas de alguma forma têm conhecimento
daqueles arranjos que se fazem funcionar no ambiente acadêmico-científico e da posição que
ocupam nele. Em função das probabilidades de retorno que elas possam vir a ter, são
“escolhidos” os ramos no qual possam atuar, pois entre receber um limitado reconhecimento
pelo trabalho realizado ou o ter nem a possibilidade de que este seja apreciado, é
compreensível que elas escolham a primeira opção, mesmo que isto, às vezes, represente
navalhar a própria carne.
134
Nos termos dessa discussão, a produção intelectual na UFPA rastreada a partir dos
indicadores da pesquisa científica do CNPq, que apontaram a preferência dos estudos
referentes às questões de gênero, realizados por grupos de pesquisa do Campus de Belém nos
períodos de 1995 a 2006, revelou-se muito bem colocada com quantidades de produções para
além das expectivas, uma vez que foram catalogados apenas 5 grupos, dentro do universo de
aproximadamente 157.
É preciso destacar que a vivacidade declarada pelos índices da produtividade
generificada na UFPA, ganha mais aplausos quando se nota que nem todas/os as/os
pesquisadoras/es participantes (32) declararam realizar análises pautadas na temática gênero;
algumas/alguns produzirem mais e outras/os menos; as produções materializadas por
pesquisadoras/es com titularidade de especialização e/ou mestrado (25) e estudantes da
graduação e pós-graduação (32) o foram selecionadas como objetos deste estudo, apesar de
se encontrarem inseridos nos grupos em questão, caso contrário veríamos um quantitativo
ainda maior.
de se considerar que algumas categorias examinadas no currículo Lattes deixaram
a desejar em termos quantitativos de produtividade. Por outro lado a sobrecarga de trabalho a
que essas/es profissionais são submetidas/os, nomeadamente, pode ser responsável por
algumas baixas na produção. Esse acúmulo de trabalho, para as/os cientistas que estão
vinculadas/os a programas de pós-graduação é essencial para a manutenção ou elevação das
notas desses Programas, caso contrário as punições serão enérgicas. Nessa “selva do
impresso” (EVANGELISTA, 2002) as conseqüências para pesquisa e pesquisadora/r
49
funcionam como fator inibidor da produtividade científica que sofre abalos em decorrência do
ritmo incomensurável de atividades.
A prospecção dos indicadores estatísticos, articulados a partir das informações do
CNPq, deixou transparecer que a composição dos grupos de pesquisa sediados na UFPA
apresentou-se de maneira assimétrica, especialmente no número de pesquisadoras e
pesquisadores e na área em que essas pessoas possuem qualificação doutoral.
Esse aspecto ressoa também na produção generificada das/os doutoras/es
perscrutadas/os, pois embora seus trabalhos científicos sejam premiados com freqüente
divulgação, durante o período de 1995 a 2006, aparecem desníveis tanto de ano para ano,
quanto nos números de produções publicadas, uma vez que nem todas/os as/os
49
Consultar no site do Professor Dr. Leopoldo de Meis (UFRG) questões acerca dos dados psicológicos e físicos
que chegam a abalar profissionais intensivamente envolvidas/os com o sistema de pós-graduação.
135
pesquisadoras/es integrantes dos grupos de pesquisa analisados consideram o gênero como
norteador de suas investigações.
Os efeitos que essas dessemelhanças operam no espraiamento da temática gênero
transitam por uma produtividade massivamente feminina, nuançada por influências de
diversas áreas do conhecimento, contando com doutoras/es que se desdobram de maneira
admirável na participação da produção de conhecimento acerca do gênero, estes estudos na
UFPA carecem do envolvimento de outras áreas do conhecimento, posto que em sua recente
composição predominam as áreas de Ciência Política, Antropologia e Educação, ou seja,
somente essas 3 áreas das Ciências Humanas dominam essa discussão na instituição citada,
porém outros olhares deveriam contribuir no campo da produtividade generificada.
136
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As reflexões sobre as questões de gênero na literatura científica brasileira
comprovaram que, durante a leitura dos resumos contidos nas produções selecionadas por
meio do Banco de Teses da CAPES, os estudos em torno da temática gênero ganharam espaço
nas mais diferentes áreas do conhecimento. No caso específico da amostra aqui selecionada
esses estudos apareceram nas áreas de Educação, Serviço Social, Sociologia, História,
Psicologia, Letras, Educação Física, Teologia, Economia Doméstica, Tecnologia, Direito,
Geografia, Literatura Brasileira, Lingüística, Filosofia, Ciências Sociais, Antropologia,
Administração e Sexologia.
Também ficou claro que a maioria das dissertações se revelou presa à idéia de gênero
como sinônimo de mulher. Isto pode ser reflexo do atrelamento histórico da categoria gênero
ao movimento feminista que inicialmente tratou de estudar eventos relacionados às mulheres
na tentativa de retirá-las da penumbra histórica, porque trazê-las para os focos da ribalta
significava transfugir dos seviciadores séculos de lancinante degredo feminino ao silêncio.
Ainda que estudiosas como Scott (1995), Weeks (2000), Louro (2001), Rosemberg
(2001), Jardim e Abramowicz (2005), tenham procurado disseminar que existe uma diferença
crucial ente sexo biológico e sexo social, a maioria das dissertações discutidas no primeiro
capítulo, aparentemente ainda consideram que a categoria gênero é aquivalente ao termo
mulher. Nesse contexto, a amostra das dissertações aqui exploradas permitiu verificar que
embora os títulos, palavras-chave ou resumos anunciem que seu referencial adota o gênero
para fomentar as discussões travadas no corpo do trabalho, é flagrante naqueles elementos que
a abordagem apoiou-se nas questões alusivas à mulher. Essa constatação foi traduzida em
termos da inegável quantidade avaliada, pois das 69 dissertações que tiveram alguns
elementos analisados apenas 24 deram pistas de que estudam gênero de fato.
A utilização de obras como as de Louro (1994, 1995, 1996, 1997, 2001 e 2004) e de
Scott (1992 e 1995) não aloca esta produção em caminhos de cunho pós-estruturalistas, assim
as contribuições dessas autoras foram proveitosas no sentido de auxiliar no esclarecimento
dos objetivos e questões norteadoras desse trabalho, uma vez que o houve aqui a proposta
de incursionar nos meandros de tal teorização.
É preciso (re)conhecer antes de tudo que o gênero é uma categoria que lida com o
engendramento social de mulheres e homens, levando-se em consideração a feitura histórica
por meio da qual uma dada cultura instala ou elege tipos bem definidos e inconfundíveis de
pessoas em relação aos seus respectivos sexos. Sob a égide dessa concepção, os estudos de
137
gênero abordam mulheres e homens em seus mais diferenciados aspectos (classe, idade, raça,
sexualidade, etnia e religião), onde não mais se aceitam estudos que isolam os sujeitos
(femininos e masculinos) para dissecá-los melhor e ao final tratá-los inadvertidamente como
opostos, e com isso intentando profligar outras potencialidades de expressividade humana.
Extensivamente, o percentual de 92,75% de autoras chama a atenção nessas produções
que denunciam a forte ligação entre mulheres e a categoria gênero. Na corrente dessa mútua
contaminação, as protagonistas desse processo parecem ainda ter preferência por orientadoras,
entretanto estas últimas em relação ao número de orientandas apontam para uma queda de
18,75%, uma vez que a quantidade de orientadores demonstra não ser o diminuta quanto a
de orientandos, o que pode estar evidenciando uma das várias situações ancoradas na
dominação de gênero, só que neste caso, reaclimadas no mercado de trabalho.
O uso de uma linguagem amarrada a termos genéricos masculinos foi uma prática
recorrente nos trabalhos analisados, mesmo quando o foco da pesquisa era a mulher. A busca
de uma linguagem universal para falar de mulheres e homens é resultado de uma Ciência
masculina androcêntrica que partia do princípio segundo o qual o homem era o referencial,
nesse sentido a escrita também (re)produz essa lógica.
De modo a garantir o caráter imaculado das expressões e, por conseguinte o causar
opróbrio ao brio dos homens, emprega-se o masculino para designar não apenas as pessoas do
sexo masculino, como também toda espécie humana deixando de fora quem eventualmente
não se adequar naquele perfil, embora na compreensão de uma conformidade social, seja
obrigatória aceitação dessa ditadura gramatical como algo natural e, portanto, não sujeita a
mudanças. Logo, todas/os temos que nos sentir incluídas/os (escondidas/os) nesse tipo de
linguagem tradicional que normatiza e normaliza nossas relações, veiculando limitados
arquétipos de mulheres e homens.
Ao tangenciar em que universidade cada dissertação está ligada, observou-se que as 40
instituições estavam distribuídas de maneira desigual, conforme a seguinte ordem de
produtividade regional: Sudeste, Sul, Nordeste, Centro-Oeste e Norte. Na escala das
disparidades regionais, os estudos em torno das questões de gênero parecem esboçar um
pequeno mapa do fornecimento brasileiro de pesquisadoras/es pelos programas de pós-
graduação. Como corolário, verificou-se mais investigações relacionadas ao gênero nas
regiões que somam um maior número de programas de pós-graduação aprovados pela
CAPES.
Sob a ótica de um modelo que historicamente imprimiu um determinado parâmetro de
crescimento econômico e social, o gritante desequilíbrio regional da pós-graduação parece
138
tão-somente o reflexo dos vários desequilíbrios substanciados em um país que se fez injusto e
desigual, tanto em termos de estrutura quanto de conjuntura. Para tentar promover revoluções
nesse quadro aterrador, inúmeras declarações têm obtido ressonâncias no sentido de
impulsionar ações eficazes através de um punho governamental que faça frente à incômoda
presença de assimetrias entre as regiões brasileiras, sob pena de acirrar ainda mais a
problemática da situação.
As reflexões que emergiram a partir do levantamento de referenciais balizados pelos
estudos das questões de gênero, revelaram que o campo da pesquisa se ressente da falta de
estudos que apontem como os grupos de pesquisa brasileiros têm projetado investigações em
torno das relações de gênero, pois as pesquisas que envolvem esse objeto, mormente no
campo da educação, aparecem restritas ao terreno do magistério feminino e do estudo de
professoras. Quando o campo específico é a educação em nível superior as análises falam no
circuito da licenciatura plena em Pedagogia ou do doutoramento, porém as pesquisas
aquilatadas neste nível também estão aportadas em investigações que se referem às mulheres.
O gênero ainda vem sendo avolumadamente estudado, não apenas nas dissertações,
mas também em outros meios de produção acadêmica levando-se em conta apenas os debates
em torno do feminino. Como já verificado tal empreendimento pode ser explicado pela
própria origem dos estudos de gênero que, como demonstra Louro (2001), umbilicalmente
amalgamado ao movimento feminista na sua fundação ganhou notoriedade a partir das
discussões sobre as mulheres, exigindo o rompimento de sua invisibilidade, descrevendo e
denunciando suas ultrajantes condições de vida e trabalho.
Ao revisitar a maneira pela qual feminino e masculino foram constituídas/os de
maneira diferenciada e desigual a partir do discurso científico, compreendeu-se que no século
II a.C. mulheres e homens embora tivessem socialmente comportamentos diferentes, eram
entendidos como fisicamente iguais uma vez que possuíam o mesmo aparelho reprodutor, este
era, evidentemente, masculino. Nesse parâmetro, afirmava-se que as diferenças anatômicas
dos órgãos sexuais, davam-se em decorrência da imperfeição feminina, pois seu corpo não era
dotado o suficiente para garantir que seus testículos estivessem localizados na parte externa,
logo a vida teria dado uma solução colocando esse órgão nas entranhas femininas.
A disrupção do modelo que propugnava a existência do sexo único, porém hierárquico
se deu a partir de 1836 com a dissociação entre orgasmo e concepção, quando então se passou
a repensar a tal natureza feminina. O século XIX acabou por colocar um ponto final às
especulações que apoiavam a absurdez do sexo único e por força de interesses políticos, as
139
diferenças anatômicas e fisiológicas foram ressaltadas com a finalidade de que
testemunhassem a favor das diferenças e contra as igualdades.
Novamente entrava em cena o referencial biológico que apoiado no ponto de vista
naturalista da diversidade sexual almejava entalhar mulheres e homens cotidianamente de
forma a garantir tipos aspiráveis de pessoas. Essa constatação evidenciou a força produtiva
dos eventos rotineiros, fazendo-os tão diferentes no que diz respeito aos gêneros e parecidos
ao mesmo tempo no campo do grupo a que estes personagens sociais pertencem.
No rastro do argumento biologicista das diferenças sexuais, intentava-se estabelecer
que a relação entre os sexos fosse decursiva daquela distinção e, por conseguinte cada lado, o
superior (homem) e o inferior (mulher), deveria cumprir um papel previamente determinado,
estando assim cientificamente fundamentada a desigualdade social.
Todos estes acontecimentos provocaram clivagens nas construções e nas aplicações
dos sentidos que eram atribuídos pelos sujeitos que experienciaram a ocorrência de todo um
aparato que culminava na produção de ações “generificadas” e apreendidas no modus
operandi, inculcando inapelavelmente feminilidades e masculinidades ao sabor de um modelo
predefinido e diagnosticado por um discurso científico.
Renascido de movimentos sociais dos anos 60/70 do século XX, o feminismo ansiava
pelo desejo de transformações sociais que incluíssem a mulher como protagonista de uma
história da qual foi negada. Decepcionadas com as grandes teorias, as feministas irromperam
as até então intransponíveis muralhas acadêmicas para corromper o fazer científico e
contagiá-lo de maneira extensível com procedimentos de pesquisa e metodologias não-
convencionais.
Mas, nos dias hodiernos o feminino ainda se ressente de sua não integração à história e
também ao gênero, nesse sentido, não se trata de criar uma espécie de história específica das
mulheres, mas de derrotar dicotomias como produção/reprodução, público/privado,
dominador/dominada, provedor/procriadora, que irrompem as análises em torno das
diferenças entre elas e eles.
A princípio o movimento feminista reivindicava por questões referentes à mulher e
somente algum tempo depois, as feministas resolveram incluir os homens em suas análises e
assim deram início aos estudos que privilegiaram ambos os sexos, porque falar de mulher era
remeter a uma abordagem que também fizesse relação ao homem pois era premente colocar
em dúvida o paradigma da biologização dos sexos. Dessa simbiose nasceram os estudos de
gênero.
140
A partir dos estudos que relacionavam os sexos houve a necessidade de se diferençar
conceitualmente a palavra sexo e o termo gênero, mesmo que os limites entre ambos o
fossem considerados engessados, para que as discussões o ficassem suscetíveis ao viés
biologicista que em nada contribuía para a compreensão da construção generificada dos
sujeitos baseada na dinâmica das relações sociais. Nesse sentido, sexo se refere à identidade
biológica de cada pessoa, por sua vez o gênero tem ligação com os enleios sociais.
O conceito de gênero foi adotado para afirmar algo mais extenso que sexo e também
como uma invenção social que tem o poder de ser legitimado e transmitido para várias
gerações. A categoria gênero engloba duas afirmações: a primeira diz respeito à ineficiência
de uma explicativa biológica para dar conta do diferenciado comportamento de femininos e
masculinos; a segunda parte da constatação de que o poder é distribuído de forma não
semelhante entre os sexos.
A díade relacional mulher-homem nos indica que os gêneros devem ser
compreendidos de maneira não polarizada onde estes personagens além de assumir posições
de sujeito, demonstram outros atributos que se ligam a questões religiosas, raciais, étnicas,
sexuais, classistas que diferenciam não somente mulheres de homens, mas também mulheres
de mulheres e homens de homens, exortando-nos a não permitir que se absolutizem as
questões de gênero.
Nesses movimentos de objetividade que produzem modos de ser, não há uma condição
natural e essencializada de ser homem ou mulher, pois o somos no plural, lapidadas/os
historicamente não fomos sitiadas/os em um único modelo. Dessa forma, ser mulher índia,
negra ou branca, criança, adolescente ou adulta, ouvinte ou surda-muda, no Brasil, na África
ou no Japão, atribui tipos diferentes de ser mulher (ou homem) (VASCONCELOS;
ANDRADE, 2006).
Na esteira desse raciocínio, vamos notar que essas instâncias de produção estão
sempre atentas aos sentidos circunscritos na cultura e passam a atribuir-lhe outras conotações
que serão ardilosamente impostas com a aquiescência das movimentadas redes de poder que
deixam transparecer que poder e resistência protagonizam na mesma cena (NETO, 2004).
Essa prerrogativa assegura que de uma maneira ou de outra sejam (re)tecidas mudanças,
através das quais se torna possível afirmar que não existe uma mulher ou um homem
universal, transcendental.
Mas é preciso estar atentas/os ao fato das relações de gênero passarem por um
refinamento social que procuram nos adjetivar renovadamente, (re)colonizando-nos,
tomando-nos através de um conjunto de práticas que ensinam modos de ser que são
141
produzidos intensamente pelos modos como (re)apresentam as pessoas (SANTOS, 2000).
Desta forma, estes sujeitos, que certamente gozam de possibilidades autônomas porque não
estão inertes dentro de uma dada realidade, precisam ser problematizados no processo de
construção histórica, lingüística, cultural, social e política, imersos em relações de poder.
Por meio da tentativa de dominação imposta pela sociedade vão sendo construídos,
inconscientemente, modelos prontos de comportamento, pensamentos e sentimentos. Os
modos de agir que possam pôr em risco a manutenção da sociedade, a estabilidade social, não
são destruídos, mas reprimidos e impedidos de se manifestar através de ameaças, castigos,
proibições e silenciamentos.
Com base nas afirmações acima, o indivíduo busca uma identificação com os demais.
Esta simetria se torna tão obrigatória que ele abdica de seus desejos e passa a se auto-vigiar,
nesse encaminhamento, seu inconsciente parece tentar garantir a disciplina, mesmo quando o
sujeito está longe do alcance de olhares insidiosamente reprovadores e, de acordo com este
posicionamento, na ânsia de ser aceitas/os buscamos seguir “modelos” de comportamentos
mais “aspiráveis”, em geral, baseados em princípios religiosos e morais.
Evidentemente, estas atitudes não são inéditas e nem tampouco acontecem ao sabor do
acaso, pois historicamente foram criados mecanismos para padronizar pessoas e gerar os
efeitos desejáveis, um desses resultados é o de situar mental e corporalmente mulheres e
homens, colocando-as/os em seus “devidos” lugares. É no mínimo curioso percebermos que
embora as instituições sociais se caracterizem pela omissão patente de discussões em torno
das relações de gênero, podem ao mesmo tempo garantir (e massivamente) com sucesso a
assunção de papéis “ditos” masculinos ou femininos.
Mas, se de um lado a não ciência da estabilidade de algumas perspectivas ao não
serem refutadas e que por isso mesmo passam despercebidas e se instalam, por outro não
podemos perder de vista que é transversalmente no jogo social em meio às relações de poder
que de maneira permanente se operam alterações, na medida em que novos sujeitos e práticas
sociais habitam o social e as modificam.
Por excelência vivemos em uma realidade dinâmica, portanto em constante processo
(re)ativo, provocando renovadas interações, que por sua vez nos metamorfoseiam e nos fazem
ser como somos. Por essa razão, diversos interesses e grupos constituíram e constituem
sujeitos e como as relações de poder estão imbricadas em todas as instâncias sociais, temos o
profícuo trunfo de conformar ou não tais preceitos, também levando em consideração que
posições cada sujeito ocupa em relação ao poder e quais são as condições circunstanciais em
que ele esenvolvido, estejam elas no campo científico que procura imputar conhecimentos
142
“verdadeiros”; na seara dos movimentos sociais que impulsionam certas ações e discursos que
igualmente buscam aquilatar poder; ou no lugar dos conhecimentos tácitos, não
regulamentáveis, de mulheres e homens.
Os efeitos que legamos dessa construção generificada de pessoas foi um viés
masculinista na Ciência que alimentada nesses princípios excluiu a mulher de seus afazeres,
colocando máscaras como a neutralidade considerada precipuamente característica masculina.
Esse afastamento feminino ainda gera um número baixo de produção para elas,
principalmente nas áreas do conhecimento tidas como redutos da suposta neutralidade e
objetividade.
Tornou-se comum que as pesquisadoras fossem vistas como exceções à regra” (diga-
se de passagem, que essa tal regra tem como parâmetro o homem), na qual elas, as
supermulheres (ou supermães), conseguiram surpreendentemente vencer as barreiras impostas
inclusive às suas próprias subjetividades. Mesmo relegadas a atuações realizadas às
escondidas elas procuravam canais de atuação que as levassem para além da domesticidade,
embora tivessem sua participação muitas vezes escamoteada, ousaram estar presente também
em práticas científicas, talvez pretendendo promover uma desadjetivação da Ciência
(masculina).
Esse painel de marcadores generificados na Ciência constitui um conjunto de
parâmetros úteis relacionados à identificação da produção científica, sobre gênero, de
pesquisadoras e pesquisadores brasileiras/os em atividade nos grupos de pesquisa cadastrados
no Diretório dos Grupos de Pesquisa do Brasil, desenvolvido pelo CNPq.
Ao realizar um mapeamento do lugar que as produções científicas relacionadas ao
gênero ocupam no panorama nacional relativo aos anos de 1995 a 2006, averigou-se que os
grupos de pesquisa que produzem na mencionada esfera advêm de 28 diferentes áreas de
estudo. Destas, 53,57% (15) remetem àquelas relacionadas às dissertações de mestrado
analisadas. Uma questão incidental que merece referência é o fato de a maioria dos grupos em
foco estar atrelados à grande área do conhecimento Ciências Humanas.
A área que mais se destacou neste campo foi a Educação que também apresentou
excelentes números quando a referência são os índices gerais de linhas de pesquisa,
pesquisadoras/es e grupos de pesquisa, onde essa área mostra sua notoriedade ocupando o
segundo lugar no país. Os resultados individuais para os marcadores numéricos de cada grupo
de pesquisa brasileiro parecem apontar para uma relação de proporcionalidade numérica, onde
quem possui mais grupos de pesquisa no cômputo geral, demonstra maior influência também
no campo de discussão do gênero.
143
No aspecto geral, as instituições brasileiras de pesquisa demonstraram que são
detentoras de um favorável número dos grupos de pesquisa que perscrutam gênero, mesmo
diante de entraves como julgamentos preconceituosos aos movimentos de cunho feminista;
pouco tempo em que vigoram estes estudos no Brasil; a própria consolidação da pesquisa
acadêmica que se deu mediante o aparecimento da pós-graduação no país e as inúmeras
dificuldades de se concretizar grupos de pesquisa que possam contar com todas as
prerrogativas necessárias a sua existência e permanência.
Ao verificar a distribuição da temática gênero pelas regiões do país ficou franqueado
que assim como o Sudeste, o Sul e o Nordeste historicamente vêm conquistando os melhores
números em boa parte dos resultados estatísticos e as regiões Norte e Centro-Oeste ficam com
as menores quantidades, o que se verifica nos grupos que se comprometeram com a temática é
a repetição daquela hierarquia através dos índices disponíveis no DGP.
Entretanto, um fato que nos chama a atenção está relacionado ao aumento da
quantidade dos grupos de pesquisa localizados na região Norte que registrou o maior
percentual de crescimento em relação às outras regiões. Este fenômeno pode significar um
futuro mais promissor ainda para os estudos de gênero nos domínios do Norte, embora se
saiba da imensa sucessão dos anos e do esforço que será preciso empregar para lograr tal
avanço.
Como os grupos de pesquisa são também formados por pesquisadoras/es com
titularidade doutoral, o quantitativo delas/es segue a lógica posta anteriormente, na qual
hierarquicamente vão se repetir Sudeste, Sul, Nordeste, Centro-Oeste e Norte em suas velhas
posições numéricas desiguais.
Para se contornar essa situação de dessintonia no cenário brasileiro, faz-se necessário e
premente que novos programas de mestrado e doutorado sejam admitidos naquelas regiões
menos favorecidas, do ponto de vista acadêmico e econômico, para que despontem novas/os
pesquisadoras/es formadas/os sob a regência de uma batuta que prime pelo conjunto da obra
qualidade-quantidade. Do ponto de vista do nero, o investimento na qualificação e
multiplicação de pesquisadoras/es no quadro das regiões Centro-Oeste e Norte podem
desencadear o surgimento de outros grupos de pesquisa, novas produções ligadas ao gênero,
mais investimentos na pesquisa em decorrência da maior demanda e um desenvolvimento
mais acelerado das regiões.
No tocante à distribuição institucional dos grupos de pesquisa que realizam estudos
concernentes ao gênero, notou-se que os 494 cadastrados no CNPq estavam dispostos em 136
instituições de pesquisa, que na maioria são de vel superior. Como numa espécie de reação
144
em cadeia, as primeiras instituições que se destacaram reiteravam a estrutura organizacional
das regiões citadas anteriormente, mas em meio ao fosso dessas desigualdades, a UFPA surge
como digna de aplausos, posto que na ordem de classificação das instituições de pesquisa
aparece disposta na décima primeira colocação possuindo 6 grupos cadastrados (juntamente
com outras cinco universidades) afigurando-se como a única instituição que está no cume da
produção generificada científica da região Norte.
Com relação ao endereçamento dos grupos de pesquisa que estudam acerca da
temática em questão, no âmbito das unidades da federação brasileira saíram na frente São
Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais, Santa Catarina, Bahia e
Pernambuco. As unidades em destaque continuam nos lembrando daquela reação em cadeia,
diante disso, a grande questão que incomoda e preocupa é o fato de que embora haja um
cuidado ativo com a avaliação por parte da CAPES, tem sido justamente essas discrepâncias
que indicam para onde devem ser encaminhados os maiores investimentos, logo aqueles que
são grandes tendem a aumentar ainda mais, enquanto os pequenos seguem minguando
apesar de suas recentes conquistas com a implantação de programas de pós-graduação.
Ressalte-se, contudo, que no aspecto lato o investimento aplicado em pesquisa pode
estar refletindo que significado a educação e o desenvolvimento do país representam para o
governo que vige, enquanto que no restrito, o contingenciamento de recursos pode conotar um
gargalo para que os estudos de gênero ocupem mais espaço.
Ao verificar o lugar que ocupa a produção científica generificada nos grupos de
pesquisa cadastrados no CNPq, o se pode esquecer que ela é resultado do labor de
pesquisadoras e pesquisadores, estes sujeitos embora estejam envolvidos cientificamente com
produções que privilegiam ou envolvem as relações de gênero, o estão livres dos enlaces
sociais que objetivam e subjetivam as pessoas a partir de uma determinada acepção de gênero
que apesar de sua conservadora e eloqüente eficiência o consegue impedir as resistências
daquelas/es que optam por caminhos que se esquivam da “normalidade”.
Levando em consideração as formulações teóricas contidas nessa investigação,
compreende-se que as produções científicas das/os pesquisadoras/es brasileiras/os estão
profundamente balizadas por aspectos que contam ativamente com a cumplicidade de
elementos sócio-culturais, econômicos, políticos e de gênero que des(a)fiam qualquer
trajetória que se quer racional na seara da práxis científica.
A atuação desses elementos o deve ser considerada como mera “perfumaria”, posto
que eles são parte constituinte dos sujeitos que produzem, academicamente falando, e têm o
poder de imiscuir-se inclusive em nossas escolhas investigativas, porque também querem
145
possuir autoridade copiosa. Em meio a essas suturas que têm vontade de ser a verdade, a
Ciência não é um rochedo localizado acima das batalhas pelo poder, mas ela está no centro
dessas celeumas que também envolvem as relações de gênero. Nesse aspecto não se pode
ignorar que as distinções de gênero se constituem como realidade que se faz sentir também na
produção de saberes, bem como na (re)produção de práticas.
Apoiada em bases humanas a Ciência também é habitat das relações de gênero, por
esse motivo ela repercute aquela dinâmica que diferencia mulheres de homens, (mulheres de
mulheres e homens de homens). É o que vamos perceber quando o foco está na distribuição
de pesquisadoras e pesquisadores por faixa etária em âmbito nacional, pois uma pesquisa
levantada e divulgada pelo CNPq que retratava os períodos de 2000 a 2004 deixou claro que
até os 24 anos de idade, bem como dos 25-29, as mulheres representam a maioria nesse
campo profissional, todavia a partir dos 30 até os 65 anos ou mais se acusa uma presença
majoritária de pesquisadores.
Embora se observe que o crescimento feminino não tenha deixado de ocorrer, ficou
patente que o aumento masculino se deu de maneira mais incisiva. Por outro lado a elevação
da quantidade de pesquisadoras atuando no meio científico não pode ser ignorada. Apesar de
elas ainda não representarem a maioria, se pode afirmar que sua ampliação numérica tende
a se distender cada vez mais, pois apesar do sistema patriarcal ainda produzir ecos em nossas
sociedades, estamos diante de tempos em que o envolvimento da mulher no mercado de
trabalho e seu bom êxito na profissão são aspiráveis e considerados legítimos no campo
social.
A participação feminina na Ciência não acontece de maneira tranqüila, pois as
responsabilidades ligadas ao contexto familiar e doméstico ainda são atribuídas
principalmente às mulheres, que devem encontrar maneiras habilidosas de conciliar a esfera
familiar e a profissional com êxito. Mediante essa espinhosa tarefa a maioria das
pesquisadoras parece eleger o período da faixa etária dos 30-35 anos para se tornarem mães.
Esse fato talvez explique a queda no número de mulheres cientistas a partir daquela idade,
caso contrário uma mulher poderá ter que cancelar definitivamente a possibilidade de gerar
um bebê em seu útero.
Mas a grande questão é que uma pausa para a maternidade e a maternagem gera
muitos problemas ao bom desempenho de uma carreira científica e acadêmica, mormente
porque o conhecimento tem demonstrado que avança em marcha célere e não estar
atualizada/o significa ficar do lado de fora das produções científicas e das demandas que a
profissão necessita e exige. Contudo se reconhece que os constrangimentos profissionais
146
sentidos pelas pesquisadoras em decorrência de uma divisão desconforme do trabalho na
seara familiar, vêm sendo à miúde cauterizados, e para um país que tem suas raízes mais
profundas fincadas na formação de uma cultura alçada em fenômenos sociais como o
marianismo e o machismo, temos presenciado muitos avanços e mesmo diante da evolução de
aproximadamente um milhão de anos protagonizados pela espécie humana, ainda nos causa
surpresa os insistentes retrocessos.
Autoras como Santos (2004), Santos, Ichikawa e Cargano (2006) asseveram que tais
constrangimentos ainda vigoram pelo fato de cultivarmos um modelo masculino de carreira
científica em que ocorrem conflitos femininos entre trabalho e família, posto que esse
parâmetro exige dedicação absoluta para uma carreira que se quer ininterrupta. Nesse lugar,
parece não haver espaço para a vida fora do eixo profissional, em razão disso, o meio
científico cuida de transmitir sutilmente mensagens para o não estímulo à maternidade, donde
se conclui que a opção pela condição de mãe se torna incompatível com o parelhamento de
uma carreira de sucesso. Essa reprovação faz com que as mulheres deixem para mais tarde ou
mesmo acabem escondendo que de fato existe um projeto particular voltado àquele fim, de
outro modo desistem temporária ou definitivamente da profissão.
Adicionalmente, os comportamentos e atitudes discriminatórias são prejudiciais mais
para elas do que para eles, no que tange à carreira acadêmico-científica. Sob esse prisma a
ausência de políticas científicas que tenham como escopo o apoio à família, penaliza com
mais intensidade as mulheres. Nesse sentido, não é a suposta “inaptidão feminina” quer no
contexto biológico, quer no cultural para lidar com o fazer científico que reforça ciclicamente
um baixo índice de produtividade, mas sim a inapropriação das estruturas institucionais
(SOARES, 2001).
Essas questões devem ser tocadas com certa cautela porque embora se tenha a melhor
das intenções, pode-se estar incorrendo no erro de reforçar preconceitos e discriminações,
uma vez que na ânsia de se demonstrar que é possível criar um modelo que negue o
androcêntrico e que por isso mesmo tenha como eixo basal o ginocêntrico, pode-se estar
afirmando que a mulher deve ser situada em parâmetros considerados unilateralmente
femininos. A conseqüência pode ser a recolocação das mulheres em papéis considerados
pouco relevantes e que acabam perpetuando fazeres de estigma sexista no terreno da Ciência,
ou seja, novamente se volta para a referência masculina como regra.
A evolução correspondente a cada biênio compreendido durante os anos de 1995 a
2004, relativa à quantidade de pesquisadoras e pesquisadores que assumiram os cargos de
liderança no interior dos grupos de pesquisa brasileiros, abrasa ainda mais a discussão de uma
147
Ciência que possui uma fronte masculina, pois a patrilineagem na academia faz pressentir que
o sexo masculino constantemente tem garantido presença superior comparativamente às
mulheres no decorrer daquele período, mesmo que elas deixem claro que numericamente
alcançaram um crescimento mais acelerado e com isso começaram a dar mostras de que no
futuro a Ciência o mais se configurará como um sítio dominado amplamente pelo gênero
masculino.
Essa predominância masculina na liderança dos grupos de pesquisa, também é notada
nos cargos de maior prestígio salarial no campo acadêmico, ou seja, quanto mais elevado é o
grau que delega poder de decisão, menos mulheres serão encontradas assumindo posições de
liderança. Autoras como Tavares (2005), Velho e Prochazka (2003) chegam a afirmar que a
presença majoritária de homens nos cargos que demandam ações deliberativas tem íntima
ligação com o fato de existirem menos mulheres compartilhando funções de autoridade
máxima seja nos grupos de pesquisa, seja nos cargos considerados de altas atribuições.
Atentas/os a essas questões, pode-se declarar com firmeza que mesmo diante da
constante dilatação dos números de crescimento que denunciam uma elevação participativa do
sexo feminino na Ciência, não há de fato uma eqüidade de gênero, pois fica patente que existe
ascensão limitada de pesquisadoras no setor acadêmico em vista dos impedimentos que vão
desde uma responsabilidade doméstica que se absurdiza historicamente, a os entraves
interventores que dificultam o galgar dos escalões mais elevados na profissão.
Tendo essa bipolarização desigual em mente, ao olhar com atenção para os grupos de
pesquisa que trabalham com as relações de gênero, não restam dúvidas de que nesse espaço o
quantitativo que aponta para a liderança feminina é admiravelmente superior em relação ao
masculino, onde as pesquisadoras coordenam em maioria nos 26 (92,85%) dos 28 grupos
catalogados no ano de 2006 através do site de responsabilidade do CNPq.
Um primeiro aspecto fundamental para justificar a massiva atuação de pesquisadoras
em estudos sobre gênero, tem procedência na atuação excepcional de mulheres feministas
quando se dava os passos iniciais em direção a um tipo de produção que retratasse apenas as
mulheres, em decorrência de tão alienáveis tempos que promoviam ocultamento ao julgado
refugo “não-masculino”. Outro fator interveniente pode ser representado pela própria
condição de gênero vivenciada no cotidiano dessas mulheres pesquisadoras que procuram de
alguma maneira (re)conhecer, compreender, explicar e superar tal realidade que
conscientemente sabem não ter brotado das entranhas da academia, mas também que dela
podem surgir outras conotações que colidem com as presunçosamente estabelecidas.
148
Ao navegar pela produção científica generificada, compreendeu-se que a Ciência é
uma atividade inegavelmente humana. Nesse sentido, por ser erigida com pulsos femininos e
masculinos ela descartou qualquer possibilidade de ser neutra e se concretizou como aquela
que aceita algumas verdades transitórias (CHASSOT, 2006b).
Por não possuir a verdade a Ciência está longe de ser onipotente ou considerada a
forma mais correta de lidar com a riqueza das relações humanas, posto que existem outras
maneiras de se ler o mundo, como por exemplo através de mitos, religiões ou saberes
populares, que igualmente o devem ser impostas como as mais adequadas, mas sim
enquanto possibilidades que cada uma/um de nós pode se afeiçoar e aprofundar para dar conta
da realidade que nos cerca. Sem qualquer intenção de lançar deméritos às demais formas de
leitura do mundo, aqui o campo científico foi escolhido designadamente para pensarmos que
as relações de gênero também animam essa instância.
Dessa posição decorre que as explicações científicas são fatos erigidos socialmente a
partir de múltiplos alinhavos traçados por diferentes pessoas, que representam fortes
influências sobre as motivações pessoais tanto no que diz respeito à escolha de uma
determinada carreira científica como nos objetos e problemas a serem pesquisados. Nesse
domínio participam gênero, raça, classe social, faixa etária, nacionalidade, etnia, local de
moradia, tipo de escola freqüentada, relações familiares, princípios morais.
O itinerário desta investigação revelou que os grupos de pesquisa que de alguma
maneira assumem a temática gênero em suas pesquisas, contribuem sobremaneira para que
essa discussão ganhe mais corpo na produção científica do país. Os números apresentados
neste estudo mostraram-se bastante elucidativos, no sentido de não deixar suspeitas no quanto
os grupos estudados são relevantes para a produção e divulgação do conhecimento científico,
seja no meio acadêmico ou não, uma vez que eles unem pessoas qualificadas em torno de um
objetivo comum e mostram que m força para colocar uma instituição ou um país entre os
mais respeitados no meio científico.
Quando se direciona o olhar para o quanto se priorizou a temática gênero nos grupos
de pesquisa da Universidade Federal do Pará, leva-se em conta os dados que se encontram
abertos para visitação virtual nos sites do CNPq http://www.cnpq.br/index.htm e
http://lattes.cnpq.br/curriculo/htm, através dos quais foram reunidas e analisadas informações
a respeito das produções de pesquisadoras e pesquisadores da supracitada instituição.
Na vereda deste mapeamento desenhado por mulheres e homens qualificadas/os para a
pesquisa, averiguou-se que a UFPA apontou para o crescimento quantitativo de
149
pesquisadoras/es em seus domínios. Essa realidade foi sentida de maneira desigual quando se
torna mais amplo o nosso ponto de convergência em comparação a outras instituições do país.
Outra comprovação que demonstrou níveis de coincidência com paisagens nacionais
teve ligação com o sexo de pesquisadoras/es, pois eles representavam maioria quando a
categoria referiu-se à presença majoritária, no entanto elas alcançam o maior número no
momento em que o crescimento numérico foi avaliado. Os números que sopram a favor de
uma elevação cada vez maior de cientistas mulheres em atividade no lócus acadêmico
indicam que elas persistem na busca de melhor qualificação profissional, de maneira mais
intensa, e se continuarmos vendo tal crescimento não somente haverá mais produções de
criação feminina, como uma Ciência tonalizada em grande medida por pesquisadoras.
Em busca de um material que fosse resultado do levantamento executado por pessoal
qualificado da UFPA, solicitou-se à PROPESP e à PROPLAN o fornecimento dos números
que assinalavam a quantidade de pesquisadoras e pesquisadores atuantes naquela
Universidade. Para desapontamento da pesquisadora, foi informada a inexistência de tais
dados em uma instituição de tão grande apreço para o país e, mormente para a região Norte. É
preciso salientar que passa uma década do tempo em que se resolveu abrir “a caixa preta
dos indicadores” (COSTA, 2006, p. 4) e revelar quantas afinal nós somos. Esse processo teve
seu início com a Conferência de Beijing em 1995, reiterada pela Conferência sobre Ciência
em Budapeste, no ano de 1999.
Mas apesar desses acontecimentos, como se nota esse compromisso não parece ter
sido assumido como um recorte necessário para todos os órgãos investidos da
responsabilidade de construir indicadores estatísticos. Porventura, não prioridade em se
confirmar que as mulheres têm pouca representatividade na Academia e Ciência, muito menos
haja preocupação em reconsiderar a carreira, mexer nas suas prioridades. Pensa-se que
desagregar as estatísticas dos sistemas informativos brasileiros de maneira a consentir análises
comparativas entre os gêneros, seria uma iniciativa básica a ser efetivada.
Ao fazer uma relação dos grupos de pesquisa pertencentes à UFPA e registrados junto
ao CNPq, detectou-se que dentre 157 deles, 5 têm contribuído para a discussão das questões
de gênero, todos estão incluídos na grande área do conhecimento intitulada de Ciências
Humanas (Antropologia, Ciência Política e Educação) e exibem um número superior de
pesquisadoras (25) em detrimento do quantitativo masculino (7). Nesse universo, a liderança
feminina aparece representada em todos os grupos, onde elas assumem comando de 8
coordenações e eles de apenas 1, que ainda é compartilhada com outras (3) pesquisadoras.
Com efeito, assim como esses intelectuais demonstraram estar em parcos números no
150
comparecimento de pesquisas que lidam com o gênero, eles também são pouco freqüentes na
assunção dos cargos de liderança nesses grupos.
De modo geral, esses grupos deram sinal de que realizavam diferentes abordagens às
apreciações sobre o nero, em razão dos objetivos que reuniram aquele conjunto de pessoas,
do contexto que principiou seu início, área de atuação e interesses provenientes de cada
componente do grupo. Em decorrência dessas peculiaridades, as/os paraenses têm um atraente
mosaico de conhecimentos produzidos com a colaboração dos estudos de gênero, convidativo
ao envolvente desafio de refletir sobre a realidade que nos cerca não apenas enquanto sujeitos
generificados, mas também como brasileiras/os, nortistas, negras/os, eleitoras/es,
pesquisadoras/es, entre outros.
No zeloso compilamento da produtividade embalada pelos estudos de gênero e regida
no currículo Lattes de cada participante dos grupos paraenses anunciados nessa investigação,
destacou-se que durante os anos de 1995 a 2006 obtiveram aprovação de 123 projetos de
pesquisa, dos quais 38 estavam relacionados a temática gênero. Tal investimento deixa
transparecer que os grupos da UFPA têm trabalhado de maneira assídua, pois eles
contabilizaram uma proporção de valores próximos a 3 projetos anuais com fomentos
garantidos.
No decorrer dos 11 anos sob análise, ficou claro que as pesquisadoras marcaram
presença numerosa naquelas pesquisas aprovadas com 115 participações, ao contrário dos
pesquisadores que tomaram parte de apenas 5. Da mesma forma, a coordenação da maioria
dos projetos citados ficou a cargo das mulheres que asseguraram 120 lugares, de maneira
oposta os homens abraçaram somente 3 daqueles cargos, de cujas investigações não tinham
qualquer ligação com as questões de gênero.
A dúvida sobre o quanto a temática aqui anunciada havia encontrado projeção nas
produções acadêmicas efetuadas durante os anos 1995 a 2006, foi suprimida através das
declarações encontradas nos currículos Lattes dos sujeitos com o perfil em questão. Esse
instrumento fez transparecer que a quantidade de artigos completos publicados em periódicos
nacionais e internacionais tinha urgência em ser mais reforçada, uma vez que os índices
sinalizavam para a média de 2 publicações anuais em nível nacional e 2 internacionais, só que
no decorrer dos onze anos em análise, neste último caso notamos uma compressão bastante
enérgica em decorrência de que em grande parte do tempo não ocorreram publicações.
Quando o enfoque se deslocou para as publicações em livros ou capítulos de livros, as
informações nos currículos mostraram que os estudos de gênero ganharam um novo ânimo
com um total de 68 trabalhos divulgados dos quais 18 foram livros e 50 capítulos, esse
151
material é digno de ser anunciado como um dos grandes feitos realizados pelos grupos de
pesquisa em destaque na UFPA, considerando-se ainda a morosidade do processo que implica
na solidificação de um livro em um país onde poucas/os são leitoras/es.
Dos trabalhos completos contagiados pelas questões de gênero e publicados em anais
de eventos, deduz-se que no transcorrer de um período de 11 anos foram tornados públicos
somente 28 textos, ou seja, um índice de prováveis 2,33% trabalhos a cada ano, números
surpreendentes diante do quantitativo de livros e capítulos de livros que vimos anteriormente.
com relação aos resumos difundidos em anais de eventos durante o mesmo espaço de
tempo, causou admiração as 84 apresentações concisas do conteúdo de artigos, tal revelação
provocou incertezas sobre o destino que tiveram os textos resultantes desses resumos.
Na esfera dos trabalhos técnicos realizados por pesquisadoras e pesquisadores dos
grupos paraenses, foram anunciadas um total de 155 atividades que revelaram o grande vigor
daquelas/es cientistas ao assumirem os diversos tipos de trabalhos que essa categoria exige
para além das outras obrigações inerentes à carreira.
O balanço fundamentado em dados sobre o nível de publicações de textos em jornais
de notícias/revistas demonstrou um pequeno índice de preocupações com essa categoria, pois
somente 14 daqueles trabalhos foram anunciados nos currículos. Os baixos níveis de
produtividade também foram constatados em produções de cunho artístico e cultural, onde
apenas 10 tiveram materialização.
Considerando-se a presença de 32 pesquisadoras/es distribuídas/os por 5 grupos de
pesquisa, é desalentador esse quadro de divulgação dos trabalhos que produzem
conhecimentos científicos embasados nas questões de gênero, pois a meu ver as publicações
aquinhoadas em jornais, revistas e nos outros veículos de perfil artístico e cultural são de
grande abrangência e empatia, pois ultrapassam os muros das academias e chegam aos mais
diversos lugares e pessoas, podendo inclusive provocar curiosidades e discussões
interessantes sobre as relações de nero e sua inserção na vida cotidiana, invadindo os mais
diversificados meios sociais. Nesse sentido, a dispersão desse debate para além dos
privilegiados círculos acadêmicos torna-se inescusável à oxigenação do conhecimento
científico, por esse motivo os grupos aqui sondados devem criar estratégias de investimento
nos espaços de comunicação em destaque.
No tópico sobre a participação de pesquisadoras/es, dos 5 grupos aqui referendados,
em orientações de IC, TCC, monografias, dissertações e teses, ficou evidenciado que 122
orientações estavam espalhadas durante os anos de 1995 a 2006, sendo registradas nos
currículos Lattes de quem se fez presente norteando o trabalho que deve ser apresentado no
152
final de cada curso pela/o formanda/o. Em meio à distribuição e ordenação dos números pelas
modalidades descritas acima, inferimos que havia um acúmulo de orientações em dois níveis
formativos, na graduação (IC e TCC) e no mestrado (dissertações), ao retomarmos a leitura
dos currículos, notamos que tal fenômeno foi insuflado pelo fato de grande parte das/os
intelectuais, que aceitaram o desafio de conduzir uma produção acadêmica junto a uma/um
estudante, estarem vinculadas/os tanto a graduação, quanto a programas de pós-graduação.
Ao compilar todas as produções, deparamo-nos com participações femininas em
números muitos maiores quando relacionados à masculina, aonde elas chegaram a conquistar
a extraordinária marca de 636 participações enquanto eles ficaram restritos a 18. Esse
primado do sexo feminino dentro dos grupos reflete uma estampa característica do espaço
nacional, pois embora haja pesquisadores do sexo masculino investigando questões ligadas ao
gênero, o quantitativo de colegas pertencentes ao sexo oposto é habitualmente bastante
superior.
No lastrear dessas análises ficou claro que durante o cintilar dos tempos históricos que
compreenderam os anos de 1995 a 2006, os grupos de pesquisa vinculados à UFPA que
apresentaram, entre suas características, o interesse por investigações ligadas à temática
gênero, tornaram público através das informações que prestaram ao CNPq que vêm
contribuindo de maneira muito positiva para a produção e divulgação do conhecimento
científico em torno do gênero.
Essa expressiva conquista, não obstante ao pouco número de grupos atuantes, é
responsável pela importante projeção nacional que a UFPA ganha quando se verifica sua
colocação entre outras instituições brasileiras ao apresentarem grupos que se envolvem com
discussões acerca do gênero. Tal destaque solidifica o desejo subversivo daquelas/es que
apesar de um marcante histórico formativo assinalado por um currículo androcêntrico, no qual
a tríade conhecer, ensinar e aprender estavam (estão!) encapsuladas sob a orientação
masculina (SILVA, 1995), persistem em produções não masculinamente organizadas, pois
esse ponto de vista retoma as relações de dominação patriarcal ainda vigorante na realidade
brasileira.
Mas é preciso que os estudos de Ciência e gênero se entrelacem mais, não somente no
Pará como também no Brasil, superando a sobreposição de uma Ciência que incorporou
princípios que remam no contra-fluxo da história como a neutralidade, a objetividade, a
racionalidade e a universalidade; a existência de um pequeno número, em relação ao universo
total, de mulheres e homens dispostas/os a produzir conhecimentos sobre o gênero e o
isolamento intelectual de mulheres feministas que abordam a temática, fazendo com que os
153
estudos sobre gênero acompanhem com intensidade os desdobramentos científicos. (OSADA,
2006).
As discussões seminais entre pesquisadoras e pesquisadores neste campo devem
repelir a dupla disritmia apoiada pelo interstício masculino versus feminino que parece ainda
marcar os estudos de gênero, onde o homem aparece como o universalmente aceito e a mulher
fica desprezada ao papel de vítima, ou elas figuram como auto-referência rejeitando qualquer
possibilidade de diálogo com eles. Evitar esses construtos narcisicamente centrados
provavelmente trará mais pesquisadores para adentrar nessa discussão contribuindo para
remover o hiato de gênero que constatamos nas estatísticas dos grupos de pesquisa analisados.
Reuniu-se aqui um acervo considerável de produtos da pesquisa paraense que nos
estimulam a refletir sobre o que significa esse rico conjunto que envolve os estudos de gênero
na Universidade Federal do Pará. Com muito brilhantismo, esses trabalhos têm encontrado
vários canais de divulgação e avolumamento através dos grupos de pesquisa que
nomeadamente encontram-se cadastrados no CNPq, franqueados a todas/os aquelas/es que
estejam dispostas/os a conhecê-los e interpretá-los.
Aqui não se desconsidera que as atividades de pesquisa também estão localizadas fora
dos domínios de programas de pós-graduação, uma vez que as universidades localizadas na
cidade de Belém (PA) possuem muitos cursos que provavelmente contam com graduandas/os
que realizam estudos no campo do gênero, bem como outras instituições que fazem girar as
engrenagens da pesquisa na região. Tampouco afirmo que a temática gênero seja investigada
com acuidade somente por pesquisadoras/es doutoras/es envolvidas/os em grupos de
pesquisa, pois a UFPA tem um grande cabedal de especialistas, mestras/es e doutoras/es que
não estão vinculadas/os a grupos.
Neste provisório balizar final, a pesquisadora recorda que sua trajetória de vida esteve
permeada pelas muitas vezes incômodas relações de gênero, pois sua evidente condição
feminina lembrava-lhe que estava presa à regras explicadas por um motivo revestido de
naturalidade: “Porque você é menina!”. Os tempos foram passando e a menina ganhou feições
de mulher, porém se sentia mais importunada ainda por não querer aceitar aquelas regras que
a seu ver se faziam mais tirânicas e continuavam direcionando respostas idênticas como:
“Porque você é mulher!”. Ao escolher o curso de Pedagogia se surpreendeu com o grande
número de mulheres nos corredores do bloco de aulas e nos eventos científicos, entretanto
essa realidade se invertia assustadoramente nos textos, nos teóricos e nos currículos que
eram/são androcêntricos.
154
No mestrado não foi diferente, com o casamento as relações de gênero mais uma vez a
recordavam que ser mulher, esposa, filha e enveredar pelos caminhos da pesquisa seria tarefa
árdua. A carreira que escolheu aos olhos de algumas pessoas que estão dentro ou fora do
mundo acadêmico não é coisa para mulher, nesse sentido estudar é deixar de cumprir com as
responsabilidades de esposa associada diretamente ao lar. Nesse caminhar viu muitas vezes
esse discurso tentar desvalorizar, de maneira inassimilável, sua pesquisa e seus objetivos
profissionais futuros.
Defrontar com essas relações que misturam e confundem sua vida pessoal como um
caminho em que busca firmação como pesquisadora lhe fez amadurecer e procurar enxergar
onde estava o âmago de tudo isso, mas logo percebeu que ele se (re)fazia também por meio de
sua própria contribuição. Nesse sentido, essa investigação que ocorreu em meio a seus dramas
pessoais, defrontava-lhe o tempo todo com as concepções de cunho feminista e machista que
para ela ora se digladiavam, ora se conformavam, mas que não deixaram de atuar, renovar-se
e coexistir.
155
REFERÊNCIAS
ÁLVARES, Maria Luzia Miranda. Currículo do Sistema de Currículo Lattes. Disponível
em: <http://www.lattes.cnpq.br/curriculo/>. Acesso em: 02 mar. 2007.
ALVAREZ, Sônia. Gênero é sinônimo de mulher? Disponível em: <http://www.rede
mulher.org.br/forum2.htm>. Acesso em: 07 jun. 2006.
ALVES, Laura Maria Silva Araújo. Currículo do Sistema de Currículo Lattes. Disponível
em: <http://www.lattes.cnpq.br/curriculo/>. Acesso em: 02 mar. 2007.
AMÂNCIO, Lígia. Feminismo. Disponível em: <http://www.ifl.pt/dfmp_files
/feminismo.pdf>. Acesso em: 15 nov. 2006.
ARÁN, Márcia. Os destinos da diferença sexual na cultura contemporânea. Estudos
Feministas, Florianópolis: Copyright, v.11, n. 2, p. 399-422, Jul./Dez., 2003.
ARAÚJO, Sônia Maria da Silva. Currículo do Sistema de Currículo Lattes. Disponível em:
<http://www.lattes.cnpq.br/curriculo/>. Acesso em: 02 mar. 2007.
ARILHA, Margareth; UNBEHAUM, Sandra G.; MEDRADO, Benedito (Orgs.). Homens e
masculinidades: outras palavras. 2. ed. São Paulo: ECOS/Ed.34, 2001.
BARBOSA, Márcia. Mulheres são maioria na educação, mas não chegam ao topo na
carreira profissional. Entrevista concedida à Germana Barata da Revista Ciência e Cultura.
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência-SBPC, 2005. Disponível em:
<http://www.if.ufrgs.br/~barbosa/c.cultura.interview.pdf>. Acesso em: 12 dez. 2006.
BARBOSA, Mirtes Lia Pereira; CARVALHO, Rodrigo Saballa de. Em busca da ordem:
tempos, espaços e o disciplinamento dos corpos nas práticas escolares. Disponível em:
<http://www.espacoacadêmico.com.br>. Acesso em: 20 fev. 2006.
BARRETO, Francisco César de Sá. O futuro da Pós-Graduação brasileira. Instituto de
Estudos Avançados da Universidade de São Paulo-IEA, [2004 ou 2005]. Disponível em:
<http://www.iea.usp.br/observatorios/educacaosuperior/pesquisaposgraduacao/sabarretofutur
odapos.pdf>. Acesso em: 19 set. 2006.
BEAUVOIR, Simone. Lê deuxième sexe. Paris: Éditions Gallimard, 1949.
______ .O segundo sexo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.
BELTRÃO, Jane Felipe. Currículo do Sistema de Currículo Lattes. Disponível em:
<http://www.lattes.cnpq.br/curriculo/>. Acesso em: 02 mar. 2007.
BOURDIEU, Pierre. O campo científico. In: ORTIZ, Renato (Org.). Pierre Boudieu. São
Paulo: Ática, 1983.
______. A dominação masculina. 2. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.
156
BRASIL, Ministério da Educação e Cultura, Secretaria de Educação Superior/Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, (Dezembro 2004). V Plano Nacional de Pós-
Graduação: 2005-2010. Brasília. MEC/SESU/CAPES. Disponível em: http://www.capes.
gov.br/capes/portal/conteúdo/PNPG_2005-2010pdf. Acesso em: 29 ago. 2005.
BRUSCHINI, Cristina. nero e trabalho no Brasil: novas conquistas ou persistência da
discriminação? In: BALTAR, M. I. (Org.). Trabalho e gênero: mudanças, persistências e
desafios. São Paulo: Editora 34, 2000.
______; UMBEHAUM, Sandra G. (Orgs.). Os Programas de pesquisa da Fundação Carlos
Chagas e sua contribuição para os estudos de gênero no Brasil. In: ______. (orgs.) Gênero,
democracia e sociedade brasileira. São Paulo: FCC/Ed. 34, 2002.
CAMPAGNOLO, Maria da Graça Moraes Bittencourt. Currículo do Sistema de Currículo
Lattes. Disponível em: <http://www.lattes.cnpq.br/curriculo/>. Acesso em: 02 mar. 2007.
CANCELA, Cristina Donza. Currículo do Sistema de Currículo Lattes. Disponível em:
<http://www.lattes.cnpq.br/curriculo/>. Acesso em: 02 mar. 2007.
CARVALHO, Marília Pinto de. Trabalho docente e relações de gênero: algumas indagações.
Revista Brasileira de Educação, São Paulo: Autores Associados, n. 2, p. 77-84, mai.-ago.
1996. (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação).
______. Gênero e trabalho docente: em busca de um referencial teórico. In: BRUSCHINI,
Cristina; HOLLANDA, Heloísa Buarque de. (Orgs.). Horizontes plurais: novos estudos de
gênero no Brasil. São Paulo: FCC, Editora 34, 1998.
CARVALHO, Ana Paula Soares. As mulheres no campo científico: uma discussão acerca da
dominação masculina. In: SEMINÁRIO FAZENDO GÊNERO, 7. Anais... 2006,
Florianópolis-SC. Disponível em: <http://www.fazendogênero7.ufsc.br/>. Acesso em: 21 jan.
2007.
CERISARA, Ana Beatriz. Professoras de educação infantil: entre o feminino e o
profissional. São Paulo: Cortez, 2002. (Coleção Questões da Nossa Época, v. 98)
CHASSOT, Attico. A Ciência é masculina? É sim, Senhora! 2. ed. Porto Alegre-RS: Editora
UNISINOS, 2006a.
______, Attico. Alfabetização científica: questões e desafios para a educação. In:
ENCONTRO NACIONAL DE DIDÁTICA E PRÁTICA DE ENSINO. 13., 2006, Recife-PE.
Educação formal e o formal, processos formativos, saberes pedagógicos: desafios para a
inclusão social. Recife: ENDIPE, 2006b, p. 163-180.
COELHO, Wilma de Nazaré Baia. Currículo do Sistema de Currículo Lattes. Disponível
em: <http://www.lattes.cnpq.br/curriculo/>. Acesso em: 02 mar. 2007.
CONRADO, Mônica Prates. Currículo do Sistema de Currículo Lattes. Disponível em:
<http://www.lattes.cnpq.br/curriculo/>. Acesso em: 02 mar. 2007.
157
COMCIÊNCIA - REVISTA ELETRÔNICA. Mulheres na Ciência: nas humanas, elas são
maioria, mas chegar ao topo ainda é difícil. 2003. Disponível em:
<http://www.comciencia.br/reportagens/mulheres/03.shtml>. Acesso em: 17 jan. 2007.
CONSELHO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO.
Disponível em: http://www.cnpq.gov.br. Acesso em: 03 jan. 2006.
______. Bolsas no país. Disponível em: http://dgp.cnpq.br/bolsasnopais. Acesso em: 16
mar. 2007.
______. Currículo do Sistema de Currículo Lattes. Disponível em:
<http://lattes.cnpq.br/curriculo/7. Acesso em: 02 mar. 2007.
______. Disponível em: <http://dgp.cnpq.br/busca operacional/menu_grupo.htm>. Acesso
em: 10 dez. 2006.
______. Disponível em: <http://dgp.cnpq.br/senso2004/sumula_estat/2004/p_area.htm>.
Acesso em: 19 dez. 2006.
______. Disponível em: < http://dgp.cnpq.br/buscaoperacional/> Acesso em: 10 dez. 2006.
______. Disponível em: < http://dgp.cnpq.br/censo2004/sumula_estat/index_grupo.htm. >
Acesso em: 07 jul. 2006.
______. Disponível em: < http://dgp.cnpq.br/censo2004/sérieshistóicas/p_por_regiao.htm. >
Acesso em: 19 dez. 2006.
______. Disponível em: < http://dgp.cnpq.br/busca operacional/menu_grupo.htm>. Acesso
em: 10 dez. 2006.
______. Disponível em: < http://dgp.cnpq.br/censo2004/sumula_estat/p_sexo_idade.htm>.
Acesso em: 13 dez. 2006.
______. Disponível em: http://dgp.cnpq.br/censo2004/sumula_estatistica/index_
pesquisadores.htm>. Acesso em: 19 dez. 2006.
______. Disponível em: < http://dgp.cnpq.br/busca operacional/>. Acesso em: 10 dez. 2006.
______. Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil. Disponível em:
http://dgp.cnpq.br/buscaoperacional/detalhegrupo.jsp?grupo=0044708Z9GQ2BJ. Acesso
em: 02 mar. 2007.
COORDENADORIA DE APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL DE ENSINO SUPERIOR.
Disponível em: <http: www.capes.gov.br/capes/portal/conteudo/dez/N_14032006S.htm>.
Acesso em: 22 set. 2006.
______. Banco de Teses 2004. Disponível em: http://servicos.capes.gov.br/
capesdw/resumo.html? idtese=20047542006015003P0. Acesso em: 21 jan. 2007.
158
CORAZZA, Sandra Mara. Labirintos de pesquisa, diante dos ferrolhos. In: COSTA, Marisa
Vorraber (Org.). Caminhos investigativos: novos olhares na pesquisa em educação. 2. ed.
Rio de Janeiro: DP&A, 2002.
CORRÊA, Paulo Sérgio de Almeida. Pesquisa e produção do conhecimento em educação:
uma radiografia baseada no perfil curricular do corpo docente. In: ARAÚJO, Ronaldo Marcos
de Lima (Org.) Pesquisa em educação no Pará. Belém: ADUFPA, 2003.
______. Des(a)fiando a teia, desenlaçando o drama: o enigmático processo de orientação
das dissertações e teses nos programas de pós-graduação em Educação. Projeto de
Pesquisa. Belém, 2006. (Núcleo de Estudos e Pesquisas em Currículo-NEPEC).
CORRÊA, Roberto Ribeiro. Currículo do Sistema de Currículo Lattes. Disponível em:
<http://www.lattes.cnpq.br/curriculo/>. Acesso em: 02 mar. 2007.
COSTA, Albertina de Oliveira; BARROSO, Carmen; SARTI, Cynthia. Pesquisa sobre mulher
no Brasil: do limbo ao gueto? Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 54, p. 5-15, ago., 1985.
COSTA, Maria Conceição da. Ainda somos poucas: exclusão e invisibilidade na ciência.
Cadernos Pagu, Campinas, n. 27, 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S0104-83332006000200018&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 09 maio
2007. Pré-publicação.
CURY, Carlos Roberto Jamil. Quadragésimo ano do parecer CFE 977/65. In: Revista
Brasileira de Educação: 40 anos da Pós-Graduação em Educação, São Paulo: Autores
Associados, n. 30, p. 07-19, set.-dez. 2005. (Associação Nacional de Pós-Graduação e
Pesquisa em Educação).
OLIVEIRA, Damião Bezerra. As dimensões ensino e pesquisa enquanto premissas institucionais da
formação acadêmica no arquipélago Universidade Federal do Pará. 2007. Dissertação (Mestrado em
Educação) - Universidade Federal do Pará, Centro de Educação, Curso de Mestrado Acadêmico em Educação,
Belém, 2007.
D’INCAO, Maria Ângela. Currículo do Sistema de Currículo Lattes. Disponível em:
<http://www.lattes.cnpq.br/curriculo/>. Acesso em: 02 mar 2007.
ESTUMANO, Evanildo Moraes. Uma vida, duas vidas, muitas vidas: diferenciações de
gênero no cotidiano de camadas médias urbanas. 2004. 83 f. Dissertação (Mestrado em
Antropologia) – Centro de Ciências Humanas e Filosofia, Universidade Federal do Pará,
Belém, 2004.
EVANGELISTA, Olinda. Publicar ou morrer. In: BIANCHETTI, Lucídio; MACHADO, Ana
Maria (Orgs.) A bússola do escrever. Desafios e estratégias na orientação de teses e
dissertações. São Paulo: Cortez, 2002.
FAGUNDES, Tereza Cristina P. C. Identidade e relações de gênero. Cadernos de
Pesquisa/Núcleo de Filosofia e História da Educação. Universidade Federal da Bahia.
Faculdade de Educação. Programa de Pós-Graduação e Pesquisa, Salvador, v. 3, n. 1, p. 169-
185, jan./dez., 1999.
159
FELIPE, Jane. Entre tias e tiazinhas: pedagogias culturais em circulação. In: SILVA, Luiz
Heron da. (Org.). Século XXI: Qual conhecimento? Qual currículo? 2. ed. Petrópolis: Vozes,
2000.
FERNÁNDEZ, Alicia. Discursos sobre o corpo. In: ______. A mulher escondida na
professora: uma leitura psicopedagógica do ser mulher, da corporalidade e da aprendizagem.
Tradução Neusa Kern Hickel. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1994.
FINCO, Daniela. Educação infantil, gênero e brincadeiras: das naturalidades às transgressões.
In: REUNIÃO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E
PESQUISA EM EDUCAÇÃO, 28., 2005, Caxambu-MG. Disponível em:
<http://www.anped.org.br/28/textos/gt07/gt0745int.rtf>. Acesso em 22 set. 2006.
FRIEDMAN, Betty. The feminine mystique. Londres: Pequin, 1963.
GIROUX, Henry A; McLaren Peter L. Por uma pedagogia crítica da representação. In:
SILVA, Tomaz Tadeu da; MOREIRA, Antonio Flávio (Orgs.). Territórios contestados: o
currículo e os novos mapas políticos e culturais. Petrópolis: Vozes, 1995.
GUEDES, Moema de Castro. A presença feminina nos Cursos universitários e Pós-
Graduações: desconstruindo a idéia da Ciência como reserva masculina. In: SEMINÁRIO
FAZENDO GÊNERO, 7., 2006, Anais..., Florianópolis-SC. Disponível em:
<http://www.fazendogênero7.ufsc.br/>. Acesso em: 21 jan. 2007.
HOMEM E MULHER. Fantástico: sua revista eletrônica. Rio de Janeiro, 19 jul. 2004.
Disponível em: <http://fantastico.globo.com/Jonalismo/Fantastico/0,,AA923999-
4005,00.html>. Acesso em 29 nov. 2006.
HEIBORN, Maria Luiza; CARRARA, Sérgio. Em cena, os homens... Revista de Estudos
Feministas. Rio de Janeiro: Instituto de Filosofia e Ciências Sociais IFCS/UFRJ, v. 6., ano 6.,
n. 1., p. 370-374, 2. sem. 1998.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo demográfico 2000.
Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home> Acesso em: 17 set. 2006.
JARDIM, Silvia Regina Marques; ABRAMOWICZ, Anete. Tendências da produção paulista
sobre gênero e educação: um balanço de dissertações de mestrado. Revista Brasileira de
Pós-Graduação, v. 2, n. 3, p. 93-117, mar. 2005. Disponível em:
<http://www.capes.gov.br/rbpg/portal/conteudo/96_117_tendencia_produção_paulista_genero
_educacao.pdf>. Acesso em: 26 out. 2006.
LAQUEUR, Thomas W. Inventando o sexo: corpo e gênero dos gregos a Freud. Rio de
Janeiro: Relume Dumará, 2001.
LEGATO, Marianne J. Por que os homens nunca lembram e as mulheres nunca
esquecem? 1. ed. Rio de Janeiro: Editora Campus, 2005.
LOPES, Eliane Marta Teixeira. Pensar categorias em história da educação e gênero. Projeto
História, São Paulo, Educ, n.11, p. 7-18, nov., 1994.
160
LOPES, Maria Margaret. Gênero e ciências no país: exceções à regra? COMCIÊNCIA -
REVISTA ELETRÔNICA. Mulheres na Ciência: nas humanas, elas o maioria, mas chegar
ao topo ainda é difícil. 2003. Disponível em: http://www.comciencia.br/
reportagens/mulheres/03.shtml. Acesso em: 07. jan. 2007.
LOURENÇO, Ricardo Sebastião. Estatísticas demográficas de pesquisadores [mensagem
pessoal]. Mensagem recebida por <[email protected]> em 14 dez. 2006.
LOURO, Guacira Lopes. Uma leitura da história da educação sob a perspectiva do gênero.
Projeto História, São Paulo, Educ, n.11, p. 31-46, nov. 1994.
______. A escola e a pluralidade dos tempos e espaços. In: COSTA, Marisa Vorraber. Escola
básica na virada do século. Cultura, política e currículo. Porto Alegre: FACED/UFRGS,
1995.
______. Nas redes do conceito de gênero. In: MEYER, M. J.; WALDOW, D.E. (Org.).
Gênero e saúde. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
______. Gênero e magistério: identidade, história e representação. In: CATANI, Denice
Bárbara, et al (Orgs.). Docência memória e gênero: estudos sobre formação. São Paulo:
Escrituras, 1997.
______. Gênero, sexualidade e educação: Uma perspectiva pós-estruturalista. Petrópolis:
Vozes, 2001.
______; MEYER, Dagmar Estermann (orgs.). Dossiê gênero e educação. In: Estudos
Feministas. Florianópolis, v. 9, n. 2, semestre 2001. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
026X2001000200010&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt.>. Acesso em: 05 mar. 2006.
______. Conhecer, pesquisar, escrever... In: ANPED SUL SEMINÁRIO DE PESQUISA EM
EDUCAÇÃO DA REGIÃO SUL, V., 2004, Curitiba. Anais... Curitiba-PR. Disponível em:
<http://www.ufsm.br/ppge/anpedsul/html>. Acesso em: 07 nov. 2004.
MACHADO, Ana Maria Netto; ALVES, Vânia. Caminhos ou (des)caminhos da Pós-
Graduação stricto sensu em Educação no Brasil. In: REUNIÃO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO
NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM EDUCAÇÃO, 28., 2005,
Caxambu-MG. Disponível em: <http://www.anped.org.br/reunioes/gt11>. Acesso em 22 set.
2006.
MACLAREN, Peter. Raça, classe e gênero: porque os estudantes não têm sucesso? In:
______. A vida nas escolas: uma introdução à pedagogia crítica nos fundamentos da
educação. Tradução Lúcia Pellanda Zimmer et al, 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas,1997.
MALUF, Marina. Ruídos da memória. São Paulo: Siciliano, 1995.
MANESCHY, Maria Cristina Alves. Currículo do Sistema de Currículo Lattes. Disponível
em: <http://www.lattes.cnpq.br/curriculo/>. Acesso em: 02 mar. 2007.
161
MARCHELLI , Paulo Sérgio. Formação de doutores no Brasil e no mundo: algumas
comparações. Revista Brasileira de Pós-Graduação, s.l., v. 2, n. 3, p. 7-29, mar., 2005.
Disponível em: <http://www.capes.gov.br/rbpg/portal/conteudo/07_29_formacao_doutores_
brasil_mundo.pdf>. Acesso em: 26 out. 2006.
MAUÉS, Maria Angélica Motta. Currículo do Sistema de Currículo Lattes. Disponível em:
<http://www.lattes.cnpq.br/curriculo/>. Acesso em: 02 mar. 2007.
MAUÉS, Marilene Silva; SANTOS, Shyrley Patrícia Fiel. Formação de professoras em
escola confessional em Abaetetuba-PA nos anos 50 e 60. 71 f. Trabalho de Conclusão de
Curso (Licenciatura Plena em Pedagogia) Centro de Educação, Universidade Federal do
Pará, Belém, 2003.
MELLO, Alex Bolonha Fiúza de. Currículo do Sistema de Currículo Lattes. Disponível
em: <http://www.lattes.cnpq.br/curriculo/>. Acesso em: 02 mar. 2007.
MEYER, Dagmar Elisabeth Estermann, RIBEIRO, Cláudia & RIBEIRO, Paulo Rennes
Marçal. Gênero, sexualidade e educação: ‘olhares’ sobre algumas das perspectivas teórico-
metodológicas que instituem um novo G.E., 2004. In: ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-
GRADUAÇÃOE PESQUISA EM EDUCAÇÃO, 27., Anais... 2004, não paginado, Caxambú.
Disponível em: <http://www.anped.org.br/27/diversos/te_dagmar_meyer.pdf>. Acesso em: 27
fev. 2005.
MIRANDA, Cybelle Salvador. Currículo do Sistema de Currículo Lattes. Disponível em:
<http://www.lattes.cnpq.br/curriculo/>. Acesso em: 02 mar. 2007.
MILLET, Kate. Sexual politics. Londres: Hart-Davis, 1969.
MORAES, Sérgio Cardoso de. Currículo do Sistema de Currículo Lattes. Disponível em:
<http://www.lattes.cnpq.br/curriculo/>. Acesso em: 02 mar. 2007.
MOREIRA, Ana Cleide Guedes. Currículo do Sistema de Currículo Lattes. Disponível em:
<http://www.lattes.cnpq.br/curriculo/>. Acesso em: 02 mar. 2007.
NASCIMENTO, Maria Cardoso. Currículo do Sistema de Currículo Lattes. Disponível em:
<http://www.lattes.cnpq.br/curriculo/>. Acesso em: 02 mar. 2007.
NETO, Mariana Moreira. O poder em Foucault e o poder nas mulheres. Par’a’iwa: Revista
de Pós-Graduandos de Sociologia da UFPB, 2001. mar. 2004. Disponível em:
<http://www.cchla.ufpb.br/paraiwa/01-moreiraneto.html>. Acesso em 29 dez. 2004.
OHARA, Scarleth Yone. Currículo do Sistema de Currículo Lattes. Disponível em:
<http://www.lattes.cnpq.br/curriculo/>. Acesso em: 02 mar. 2007.
OLIVEIRA, Marluce. Espetáculo pareserumano. Belém: Instituto Universidade Popular,
2006.
OLIVEIRA, Pedro Paulo de. Discursos sobre a masculinidade. Revista de Estudos
Feministas, Rio de Janeiro: Instituto de Filosofia e Ciências Sociais IFCS/UFRJ, ano 6, v. 6,
n. 1, p. 91-111, 1 sem. 1998.
162
OSADA, Neide Mayumi. Entrevista à cidade do conhecimento. São Paulo, 2006.
Disponível em: <http://www.cidade.usp.br/blog/2006/09/29/244/>. Acesso em: 12 dez. 2006.
PASCHOALI, Cristiane. Mulheres e ciência. São Paulo, 25 out. 2005. Disponível em:
<http://listas.softwarelivre.org/pipermail/psl-mulheres/2005-October/001487.html>. Acesso
em: 13 dez. 2006.
PASTORE, Karina; NEIVA, Paula. A medicina revela a mulher de verdade. Revista Veja.
São Paulo, Editora Abril, ano 40, n. 9, p. 78-85, edição 1998, mar. 2007.
PEASE, Allan; PEASE, Bárbara. Por que os homens fazem sexo e as mulheres fazem
amor? Rio de Janeiro: Editora Sextante, 2000.
PERROT, Michelle. Práticas da memória feminina. [S. l.]: [s.n.], 1989.
PIMENTA, Selma Garrido; LISITA, Verbena Moreira Soares de Sousa. Pesquisas sobre
professores e sua formação: uma análise de pesquisas desenvolvidas no Programa de Pós-
Graduação da FEUSP 1990 a 1998. Educar, Curitiba: Editora UFPR, n. 24, p. 87-109,
2004.
PIRES, Vera Lúcia. Do machismo ao gênero: as relações dialéticas entre as feminilidades e as
masculinidades transformam mulheres e homens?. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL
FAZENDO GÊNERO, 7., Anais... 2006, Florianópolis. Gênero e preconceitos. Florianópolis:
UFSC/UESC, 2006, não paginado. Disponível em: <http://www.fazendogenero7.ufsc.br/>.
Acesso em: 15 nov. 2006.
RAMALHO, Betania Leite; MADEIRA, Vicente de Paula Carvalho. A Pós-Graduação em
Educação no Norte e Nordeste: Desafios, avanços e perspectivas. Revista Brasileira de
Educação: 40 anos da Pós-Graduação em Educação, São Paulo: Autores Associados, n. 30, p.
70-81, set.-dez., 2005. (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação).
RAVENA, Nírvia. Currículo do Sistema de Currículo Lattes. Disponível em:
<http://www.lattes.cnpq.br/curriculo/>. Acesso em: 02 mar. 2007.
RODRIGUES, Carmem Izabel. Currículo do Sistema de Currículo Lattes. Disponível em:
<http://www.lattes.cnpq.br/curriculo/>. Acesso em: 02 mar. 2007.
ROMÊO, José Raymundo Martins; ROMÊO, Christiane Itabaiana Martins; JORGE,
Vladimyr Lombardo. Estudos de Pós-Graduação no Brasil. Instituição de Ensino Superior
IESALC, 2004. Disponível em: <http://www.iesalc.unesco.org.ve/programas/postgrados.pdf.
Acesso em: 19 set. 2006.
ROSEMBERG, Fúlvia. Caminhos cruzados: educação e gênero na produção acadêmica.
Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 27, n. 1, jan./jun., p. 47-68, 2001a. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.phpscript=sci_arttext&pid=S1517-97022001000100004&ing=
pt&nrm=iso>. Acesso em: 25 out. 2006a.
______. Educação formal, mulher e gênero no Brasil contemporâneo. Revista de Estudos
Feministas, Rio de Janeiro: Instituto de Filosofia e Ciências Sociais IFCS/UFRJ, ano 9, p.
515-540, 2 sem. 2001b.
163
SABAT, Ruth. Pedagogia cultural, gênero e sexualidade. Revista de Estudos Feministas.
Rio de Janeiro: Instituto de Filosofia e Ciências Sociais IFCS/UFRJ, ano 9, n. 1, p. 09- 21, 2.
sem. 2001. Disponível em: < http://www.revistaestudosfeministas.com.br>. Acesso em: 02
set. 2004.
SABBATINI, Renato. As mulheres na Ciência. Campinas, 1998. Disponível em:
http://www.sabbatini.com/renato/correio/ciência/cp980619.htm. Acesso em: 13 dez. 2006.
SALES, Germana Maria Araújo. Currículo do Sistema de Currículo Lattes. Disponível em:
<http://www.lattes.cnpq.br/curriculo/>. Acesso em: 02 mar. 2007.
SANTOS, Eunice Ferreira dos. Currículo do Sistema de Currículo Lattes. Disponível em:
<http://www.lattes.cnpq.br/curriculo/>. Acesso em: 02 mar. 2007.
SANTOS, Gina Gaio dos. O gênero na Ciência: o caso particular da Universidade do Minho.
In: CONGRESSO PORTUGUÊS DE SOCIOLOGIA, 4., Anais... 2004, Universidade do
Minho. Associação Portuguesa de Sociologia, Braga. Disponível em:
<http://www.aps.pt/IVcong_actas/Actao97.pdf>. Acesso em: 12 dez. 2006.
SANTOS, Luís Henrique Sacchi dos. Pedagogias do corpo: representação, identidade e
instâncias de produção. In: SILVA, Luiz Heron da. (Org.). Século XXI: Qual conhecimento?
Qual currículo? 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2000.
SANTOS, Lucy Woellner dos; ICHIKAWA, Elisa Yoschie; CARGANO, Doralice de Fátima
(Orgs.) Ciência, tecnologia e gênero. Curitiba: Iapar, 2006.
SANTOS, Márcio Antônio Raiol dos. Currículo do Sistema de Currículo Lattes.
Disponível em: <http://www.lattes.cnpq.br/curriculo/>. Acesso em: 02 mar. 2007.
SARGES, Maria de Nazaré dos Santos. Currículo do Sistema de Currículo Lattes.
Disponível em: <http://www.lattes.cnpq.br/curriculo/>. Acesso em: 02 mar. 2007.
SAVIANI, Demerval. A Pós-Graduação em educação no Brasil: trajetória, situação atual e
perspectivas. Revista Diálogo Educacional, Curitiba, v.1, n.1, p. 1-25, jan./jun., 2000.
Disponível em: http://www.pucpr.br/comunicacao/revistas_cientificas/dialogo_
educacional/pdf/n_1/artigo3.pdf>. Acesso em: 05 jan. 2007.
SCOTT, Joan Wallach. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação e
Realidade, Porto Alegre, v. 20, n. 2, 1995.
______. História das mulheres. In: BURKE, Peter (Org.). A escrita da história: novas
perspectivas. São Paulo: Editora UNESP, 1992.
SHOWALTER, Elaine. Feminismo em tempos pós-modernos (introdução ao feminismo
como crítica da cultura). Disponível em: <http://acd.ufrj.br/pacc/literaria/Introfem.html>.
Acesso em: 15 nov. 2006.
SILVA, Flávio Caetano da. Gênero, memória e formação de professores do Ensino
Fundamental. DIALÓGICA: Revista Acadêmica Digital dos Cursos de Pedagogia e
Comunicação Social da FAM- Faculdade Americana. São Paulo, ano 1, n.1, jan./jul. 2005.
164
SILVA, Josenilda Maria Maués da. Escolarização e produção de subjetividades: capturas e
sedições. 337 f. Tese (Doutorado em Educação) Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, São Paulo, 1998.
SILVA, Susana Veleda da. Os estudos de gênero no Brasil: algumas considerações. In:
Revista Bibliográfica de Geografia y Ciências Sociales. Barcelona, Universidade de
Barcelona, n. 262, 15 nov. 2000. Disponível em: <http://www.ub.es/geocrit/b3w-262.htm>.
Acesso: 15 nov. 2006.
SILVA, Tomaz Tadeu da. Os novos mapas culturais e o lugar do currículo numa paisagem
pós-moderna. In: SILVA, Tomaz Tadeu da; MOREIRA, Antonio Flávio (Orgs.). Territórios
contestados: o currículo e os novos mapas políticos e culturais. 2. ed. Petrópolis: Vozes,
1995.
SILVEIRA, Flávio Leonel Abreu da. Currículo do Sistema de Currículo Lattes. Disponível
em: <http://www.lattes.cnpq.br/curriculo/>. Acesso em: 02 mar. 2007.
SOARES, Thereza Amélia. Mulheres em Ciência e tecnologia: ascensão limitada, 2001.
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?scrit=sci_arttext&pid=S0100-4042200100
0200020&Ing=es&nrm=iso. Acesso em: 16 dez. 2006.
SOUSA, Cynthia Pereira de; CATANI, Denice Barbara; SOUZA, Maria Cecília Cortez
Christiano de; BUENO, Belmira Oliveira. Memória e autobiografia: formação de mulheres e
formação de professoras. Revista Brasileira de Educação, Campinas: Editora Autores
Associados, n. 2, maio-ago. 1996. ANPED (Associação Nacional de Pós-Graduação e
Pesquisa em Educação)
SOUZA, Carlos Augusto da Silva. Currículo do Sistema de Currículo Lattes. Disponível
em: <http://www.lattes.cnpq.br/curriculo/>. Acesso em: 02 mar. 2007.
______, Eustáquia Salvadora de; ALTMANN, Helena. Meninos e meninas: expectativas
corporais e implicações na educação física escolar. Cadernos Cedes, ano XIX, n. 48, ago.
1999.
STASEVSKAS, Kimy Otsuka. Travessias do feminino: potencialidades no mundo. 2004.
160 f. Tese (Doutorado em Saúde Pública) Faculdade de Saúde Pública da Universidade de
São Paulo, São Paulo, 2004. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/
tesesdisponíveis/6/6136/+de-09122004-170445/pdf>. Acesso em: 05 mar. 2006.
TANURI, Leonor Maria. História da formação de professores. In: SAVIANI, Dermerval;
CUNHA, Luiz Antônio; CARVALHO, Marta Maria chagas de (Orgs.). Revista Brasileira de
Educação: 500 anos de educação escolar. Campinas: Editora autores associados, n. 14, maio-
ago. 2000. ANPED (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação)
TAVARES, Isabel. Mulheres na Ciência. Brasília, 2005. Disponível em:
<http://mulheres.softwarelivre.org/news/4876/print>. Acesso em: 12 dez. 2006.
THOMPSON, Paul. A memória e o eu. In: ______. A voz do passado: História oral. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1992.
165
TOSI, Lucia. A mulher nas Ciências da Natureza. In: SILVA, Lea M. et al. A trajetória da
mulher na universidade de Minas Gerais e Belo Horizonte, 1987, n. 4. (Cadernos do
Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Mulher)
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ. Portal eletrônico, 2007. Disponível em:
<http://www.ufpa.br/portalufpa/historico estrutura.php>. Acesso em: 10 mar. 2007.
______. Portal eletrônico, 2007. Disponível em: <http://www.ufpa.br/portalufpa/interna
PROPLAN.php>. Acesso em: 10 mar. 2007.
VASCONCELOS, Fábio; ANDRADE, Maria Celeste de Moura. A mulher professora:
gênero e constituição da identidade docente. Disponível em: <http://www.anped.org.br/
27/ge23/t234.pdf>. Acesso em: 19 set. 2006.
VELHO, Léa; PROCHAZKA, Maria Vivianna. No que o mundo da Ciência difere dos
outros mundos? Mulheres na Ciência. Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência-
SBPC. 2003. Disponível em: <http://www.comciencia.br/reportagens/mulheres/03.shtml>.
Acesso em: 12 dez. 2006.
VELLOSO, Jacques (Coord). A Pós-Graduação no Brasil: formação e trabalho de mestres e
doutores no país. Cadernos de Pesquisa, v. 34, n. 122, p. 517, maio/ago. 2004. Disponível
em: <http://www.scielo.br/pdf/cp/v34n122/22516.pdf>. Acesso em 26 out. 2006.
______. Aspectos da formação de cientistas no país: evidências, êxitos e desafios. In:
SCHMIDT, Benício Viero; OLIVEIRA, Renato de; ARAGON, Virgilio Alvarez. Entre
escombros e alternativas: ensino superior na América Latina. Brasília: Editora Universidade
Brasília, 2000.
VELTHEM, Lúcia Hussak Van. Currículo do Sistema de Currículo Lattes. Disponível em:
<http://www.lattes.cnpq.br/curriculo/>. Acesso em: 02 mar. 2007.
VILLELA, Heloisa de O. S. O mestre-escola e a professora. In: FILHO, Luciano Mendes
Faria; LOPES, Eliane Marta Teixeira; VEIGA, Cynthia Greive (Orgs.). Revista brasileira de
educação: 500 anos de educação no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. ANPEd
(Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação)
VIEIRA, Edir Veiga. Currículo do Sistema de Currículo Lattes. Disponível em:
<http://www.lattes.cnpq.br/curriculo/>. Acesso em: 02 mar. 2007.
WEEKS, Jeffrey. O corpo e a sexualidade. In: LOURO, Guacira Lopes. O corpo educado:
pedagogias da sexualidade. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.
WELZER-LANG, Daniel. A construção do masculino: dominação das mulheres e
homofobia, 2006. Disponível em: <www.scielo.br/pdf/ref/vqn2/8635pdf>. Acesso em 20 mar.
2006.
YANNOULAS, Silvia Cristina et al. Feminino e academia. Revista Brasileira de Estudos
Pedagógicos, Brasília, v. 81, n. 199, p. 425-451, set./dez. 2000.
166
ZILBERMANN, Regina. Orientação: a aventura compartilhada. In: BIANCHETTI, Lucídio;
MACHADO, Ana Maria (Orgs.) A bússola do escrever: desafios e estratégias na orientação
de teses e dissertações. São Paulo: Cortez, 2002.
167
ANEXOS
168
ANEXO A – Grupos de Pesquisa, cadastrados no DGP, que abordam a temática gênero na
Universidade Federal do Pará.
Grupos de estudos e Pesquisa Eneida de Moraes Sobre Mulher e Relações de Gênero
(GEPEM)
Líderes
Maria Luzia Miranda Álvares – [email protected]
Eunice Ferreira dos Santos – efsantos@ufpa.br
Pesquisadoras doutoras
Ana Cleide Guedes Moreira – [email protected]
Cristina Donza Cancela – donza@ufpa.br
Germana Maria Araújo Sales – [email protected]om.br
Lúcia Hussak Van Velthem – [email protected]
Maria Ângela D’Incao – [email protected]
Maria Angélica Motta Maués – angelicamaues@uol.com.br
Maria Antonia Cardoso Nascimento - [email protected]
Maria Cristina Alves Maneschy – [email protected]
Maria de Nazaré dos Santos Sarges – [email protected].br
Mônica Prates Conrado – [email protected]
Scarleth Yone Ohara – arana@amazon.com.br
Cidade, Aldeia e Patrimônio
Líderes
Jane Felipe Beltrão – [email protected]
Cristina Donza Cancela – donza@ufpa.br
Pesquisadoras/r doutoras/r
Carmem Izabel Rodrigues – cir@ufpa.br
Cybelle Salvador Miranda – [email protected]
Flávio Leonel Abreu da Silveira – flabreu@ufpa.br
169
Grupo de Estudos Eleitorais e Legislativos do Estado do Pará (GEELPARÁ)
Líderes
Maria Luzia Miranda Álvares – [email protected]
Roberto Ribeiro Corrêa – [email protected]
Pesquisadoras/es doutoras/es
Alex Bolonha Fiúza de Mello – [email protected]
Carlos Augusto da Silva Souza – [email protected]
Edir Veiga Vieira – [email protected]
Maria da Graça Moraes Bittencourt Campagnolo – mariacampagnolo@terra.com.br
Nírvia Ravena – [email protected]
Antropologia, Relações Raciais e de Gênero
Líder
Maria Angélica Motta Maués angelicamaues@uol.com.br
Constituição do Sujeito, Cultura e Educação (GP ECOS)
Líderes
Sônia Maria da Silva Araújo [email protected]
Laura Maria Silva Araújo Alves [email protected]
Pesquisadoras/es doutoras/es
Eunice Ferreira dos Santos – efsantos@ufpa.br
Márcio Antônio Raiol dos Santos – [email protected]
Sérgio Cardoso de Moraes – [email protected]
Wilma de Nazaré Baía Coelho – [email protected]
170
ANEXO B – Projetos de pesquisa (aprovados) de pesquisadoras/es integrantes de grupos que
fazem interlocuções em torno da temática gênero na UFPA, 1995-2006.
- Escritoras paraenses em prosa e verso: os protocolos de inserção da autoria feminina no
cânone escolar de Belém/PA.
- Inventário das práticas e saberes das mulheres paraenses no campo da Literatura e de outras
Artes.
- Gênero, política e representações.
- Grupo de Estudos e Pesquisas Eneida de Morais (GEPEM).
- Beleza negra.
- 100 anos depois: a mulher negra no Brasil.
- Vergonha ou intimação? O retrato da violência contra a mulher na cidade de Belém.
- A juventude negociada entre a vida adulta e adolescência: uma abordagem sobre a
sexualidade a partir do olhar sobre adolescentes e mulheres albergadas de Belém do Pará.
- Gênero, política e representações sociais.
- Narrativas de mulheres, narrativas albergadas: albergues – travessias ou cárceres simbólicos.
- Vergonha ou intimação? Um retrato da violência cometida contra a mulher na cidade de
Belém.
- Os caminhos cruzados da religião: a história do Espiritismo no Pará.
- Mulheres eleitorais e processos eleitorais no Pará.
- Perfil das mulheres eleitas às prefeituras e câmaras municipais: Pará, 1994 e 1996.
- A mulher e o mar: entre o pescado, a política e a casa.
- Cidadania, participação política e gênero: Pará, 1932-1996.
- Mulheres, política e cidadania.
- Participação e representação política feminina no Norte do Brasil: um estudo comparativo
sobre os sistemas de cotas (1996-2000).
- Grupo de Estudos e Pesquisas Eneida de Morais sobre Mulher e relações de gênero
(GEPEM).
- Grupo de Estudos Eleitorais e Legislativos do Pará (GEELPARÁ).
171
- Cooperativismo, gênero, raça e idade, na Região Metropolitana de Belém.
- Família, gênero e prostituição: entre a modernização e permanência de estruturas de poder
na Amazônia.
- Escritas paraenses em prosa e verso: os protocolos de inserção da autoria feminina no
cânone escolar de Belém/PA.
- Sexualidade e direitos humanos: o dito nos escritos do judiciário.
- Saúde e educação: cenário para a cultura da prevenção.
- Resposta ao desafio da AIDS no Brasil: limites e possibilidades.
- Transversalidade de gênero no Programa Urbano da Oxfam.
- De não ser pedreiro e outras histórias: as relações amorosas dos homens das camadas
populares.
- Casamento e família em Belém 1995-2005.
- Do Misero Escravo” a bela Joaninha”. Raça, gênero, jornais e memória social em Belém
(final do séc. XX).
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo