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Presidente da República Federativa do Brasil
Luiz Inácio Lula da Silva
Ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
Patrus Ananias de Sousa
Secretária Executiva
Márcia Helena Carvalho Lopes
Secretário Executivo Adjunto
João Domingos Fassarella
Assessora Especial do Fome Zero
Adriana Veiga Aranha
Secretário Nacional de Assistência Social
Osvaldo Russo de Azevedo
Secretária Nacional de Renda de Cidadania
Rosani Evangelista Cunha
Secretário de Avaliação e Gestão da Informação
Rômulo Paes de Sousa
Secretário de Segurança Alimentar e Nutricional
Onaur Ruano
Secretária de Articulação Institucional e Parcerias
Heliana Kátia Tavares Campos
Esta é uma publicação da Secretaria de Articulação Institucional e Parcerias do Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome
Secretária de Articulação Institucional e Parcerias
Heliana Kátia Tavares Campos
Diretora do Departamento de Articulação e Mobilização Social
Maria de Fátima Abreu
Diretor do Departamento de Articulação Governamental
Marcus Vinícius da Costa Villarim
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
Secretaria de Articulação Institucional e Parcerias
http://www.desenvolvimentosocial.gov.br
Fome Zero: 0800-707-2003
Assessoria de Comunicação Social do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
Chefe da Ascom: Roberta Caldo
Esplanada dos Ministérios
Bloco C – 5º andar
70.046-900 – Brasília – DF
Tel: (61) 3433-1021
www.desenvolvimentosocial.gov.br
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Os autores são responsáveis pela escolha e apresentação dos fatos contidos neste livro, bem como
pelas opiniões nele expressas, que não são necessariamente as da UNESCO, nem comprometem a
Organização. As indicações de nomes e a apresentação do material ao longo deste livro não implicam
a manifestação de qualquer opinião por parte da UNESCO a respeito da condição jurídica de
qualquer país, território, cidade, região ou de suas autoridades, nem tampouco a delimitação de
suas fronteiras ou limites.
Conselho Editorial da UNESCO no Brasil
Vincent Defourny
Bernardo Kliksberg
Juan Carlos Tedesco
Adama Ouane
Célio da Cunha
Comitê para a Área de Ciências Sociais e Humanas
Carlos Alberto Vieira
Marlova Jovchelovicth Noleto
Rosana Sperandio
Redação: Amundsen Limeira, Ana Paola Valente, Camila Bini, Patrícia Saldanha, Regina Mamede,
Taísa Ferreira
Diagramação: Fernando Brandão
Assistente Editorial: Larissa Vieira Leite
Projeto Gráfico: Edson Fogaça
Fotos: Ana Torres, Carol Quintanilha, Jaciara Aires, José Martins, Marcelo Botelho/Obrito News,
Bruno Spada/MDS
Jornalista Responsável: Roberto Baraldi
Parcerias por um Brasil sem fome e mais justo: sociedade, empresas e governo juntos para gerar
renda e dignidade. Brasília: MDS, UNESCO, 2006.
136p.
BR/2006/PI/H/8
1. Justiça Social – Desenvolvimento Socioeconômico – Parcerias – Brasil 2. Distribuição de
Renda – Desenvolvimento Socioeconômico – Parcerias – Brasil 3. Fome – Desenvolvimento
Socioeconômico – Parcerias – Brasil 4. Desigualdade Social – Parcerias – Brasil
5. Desenvolvimento Socioeconômico – Brasil I. Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e
Combate à Fome II. UNESCO
CDD 303.372
© MDS, UNESCO, 2006
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
Representação no Brasil
SAS, Quadra 5, Bloco H, Lote 6, Ed. CNPq/IBICT/UNESCO, 9º andar
70070-914 - Brasília - DF - Brasil
Tel.: (55 61) 2106-3500
Fax: (55 61) 3322-4261
Site: www.unesco.org.br
5
Apresentação ................................................................................................... 7
Fortalecendo redes para a responsabilidade social ...................................... 9
Trabalho e renda para as famílias pobres .................................................... 11
Fome Zero ...................................................................................................... 13
Responsabilidade Social – Instituto Ethos .................................................... 17
DIAGNÓSTICO, MOBILIZAÇÃO E ARTICULAÇÃO DE PARCERIAS
Um Brasil para brasileiros ............................................................................. 23
COEP
Energia que vem da terra ............................................................................. 27
Eletrosul
Parceria contra a pobreza ............................................................................ 33
Chesf
FORMAÇÃO E CAPACITAÇÃO PARA O TRABALHO
Saindo do silêncio .......................................................................................... 39
Furnas
Fórmula de vida ............................................................................................. 45
INT
Tece e acontece ............................................................................................. 51
ABIT
APOIO À INSTITUCIONALIZAÇÃO (Associativismo e Cooperativismo)
Ilha Viva, Sertão Vivo ..................................................................................... 57
Eletronuclear
Na ponta dos dedos ...................................................................................... 63
Pastoral da Criança
Contra a violência........................................................................................... 69
Fiocruz
SUMÁRIO
6
INFRA-ESTRUTURA E LOGÍSTICA DE PRODUÇÃO
Peixe na rede ................................................................................................. 77
Eletronorte
ACESSO A CRÉDITO
Donos da própria história .............................................................................. 85
Banco do Brasil
Aposta no micronegócio ................................................................................ 93
Banco do Nordeste do Brasil
COMERCIALIZAÇÃO
Caras do Brasil .............................................................................................. 99
Pão de Açúcar
Texturas, cores e histórias .......................................................................... 103
Caixa Econômica Federal
ASSISTÊNCIA TÉCNICA
Molhar a terra .............................................................................................. 111
Petrobras
A força do empreendedorismo .................................................................... 115
Sebrae
ACESSO À ÁGUA E À ALIMENTAÇÃO
O milagre da água ....................................................................................... 123
ASA/Febraban
O prato do povo ........................................................................................... 127
Coca-Cola
DOADORES EVENTUAIS
Guitarras, telas, remédios e alimentos ....................................................... 133
7
APRESENTAÇÃO
Senhores e Senhoras,
Em junho de 2006 o Governo Federal atingiu a meta prevista de 11,1 milhões
de famílias atendidas pelo Programa Bolsa Família, ou seja, a quase totalidade
dos pobres brasileiros contabilizados oficialmente pelo IBGE estão tendo um
acréscimo médio em sua renda de cerca de vinte por cento por meio de
transferências financeiras. É uma vitória a se comemorar na luta contra a fome
e a miséria no Brasil. Ainda assim, em razão da enorme dívida social, essa luta
é apenas “a ponta de um grande iceberg”, diante do desafio de trazer ao país o
verdadeiro desenvolvimento que pressupõe e integra a justiça social.
O grande emblema dessa luta é o Fome Zero, um conjunto de ações
governamentais e não-governamentais e de políticas públicas que visam assegurar
o direito humano à alimentação adequada – por meio da promoção da segurança
alimentar e nutricional – e estão vinculadas à busca da erradicação da extrema
pobreza e da conquista da cidadania para a população mais pobre. O Fome
Zero foi criado pelo Governo Federal em 2003, mas é conseqüência de uma
luta, cujo marco inicial é o Movimento pela Cidadania Contra a Fome,
encabeçado pelo saudoso sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, e se desdobra
com o trabalho incansável de toda a sociedade civil: de empresários a
movimentos sociais.
Com a criação, há dois anos e meio, do Ministério do Desenvolvimento
Social e Combate à Fome, o Governo Federal assumiu a tarefa de conduzir o
Fome Zero como política pública, coordenando as ações governamentais e
gerenciando as parcerias não-governamentais. É um processo permanente, no
qual é fundamental contar com a participação e a contribuição da sociedade
civil. O Brasil está avançando na luta contra a fome e contribuindo para que as
famílias que são o foco do trabalho de proteção e promoção social – direito
republicano e constitucional – tenham também o direito à emancipação.
O maior desafio agora é fortalecer as ações e os programas de geração de
trabalho e renda, desenvolvidos justamente para que se consiga a emancipação
das famílias pobres. Já houve um avanço fundamental: a criação do cadastro
único das famílias necessitadas. Com ele, e por meio dele, é possível focalizar
melhor o público beneficiário dos programas de inclusão social, propiciando a
concentração de esforços nas parcerias com o setor privado, garantindo um
alinhamento estratégico com as políticas públicas formuladas, de forma a dar
sustentabilidade a todas as ações, tanto as de iniciativa do governo como as de
8
iniciativa privada. Isoladas, essas ações não têm continuidade, muito menos o
alcance desejado. Sem essa continuidade, e privadas da escala necessária para
crescer e se fortalecer, elas deixam de atender o objetivo maior: transformar
definitivamente essa realidade.
E é com esse objetivo – fazer a diferença para essas pessoas e essas regiões –
que todos estão convidados a melhor conhecerem as políticas públicas que
compõem a estratégia Fome Zero e as experiências bem sucedidas de alguns
dos parceiros já instituídos. Governo Federal e sociedade unidos podem
potencializar todas essas ações e transformar iniciativas, muitas vezes
desarticuladas, em grandes projetos que resultem na formação de associações,
cooperativas e de sociedades ativas fortalecendo a inclusão produtiva e a
economia solidária.
Assim, será possível dar mais um passo para a emancipação das famílias
pobres, depois de garantida a segurança alimentar que resgata sua dignidade.
Um passo que deixa o Brasil cada vez mais próximo da conquista civilizatória
pela qual nosso país luta, alinhando o fim da miséria e da fome com a
emancipação e a promoção social, resgatando a auto-estima dos pobres,
preservando-lhes as famílias e transformando a nossa realidade.
Patrus Ananias
Ministro de Estado do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
9
FORTALECENDO REDES PARA A RESPONSABILIDADE SOCIAL
É com grande satisfação que a UNESCO publica em parceria com o
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, por meio da
Secretaria de Articulação Institucional e Parcerias, experiências de parcerias
brasileiras em políticas públicas de corte social.
A publicação em questão é uma iniciativa da Área de Ciências Humanas e
Sociais (Desenvolvimento Social) da UNESCO no Brasil. Assim, ao mesmo
tempo em que reconhece o valor dessas experiências de parcerias na área
social, a Área de Ciências Humanas e Sociais no Brasil coloca em prática uma
de suas principais missões: a de expandir o conhecimento e promover a
cooperação intelectual a fim de facilitar transformações sociais alinhadas com
os valores universais de justiça, liberdade e dignidade humana.
No caso desta publicação, os esforços em favor das transformações sociais
podem ser verificados de várias formas, e com o envolvimento dos mais
diferentes parceiros, todos igualmente importantes para o sucesso das
iniciativas desenvolvidas pelo MDS e os expressivos resultados alcançados
até o momento.
Parte desse sucesso encontra nos próprios atores internos do MDS suas
razões de ser. Exemplo disso está na Secretaria de Articulação Institucional e
Parcerias – SAIP, que tem como um de seus principais objetivos dar
visibilidade às ações de parcerias do Ministério e ampliar suas redes de
parceiros. Assim, contribui para o fortalecimento das políticas públicas de
combate à fome e inclusão social e reforça o trabalho articulado, integrado e
coordenado com outros parceiros, governamentais e não-governamentais,
potencializando os resultados positivos do conjunto de políticas sociais
brasileiras.
Promover o desenvolvimento social no Brasil é tarefa sobretudo do poder
público. Entretanto já não há mais dúvidas de que a contribuição de diferentes
atores é fundamental. Terceiro setor, iniciativa privada e a sociedade civil
podem e devem contribuir para que os resultados de políticas públicas possam
ser ainda mais significativos e ganhem escala e potencial de replicabilidade.
Esta publicação traz agora alguns exemplos de como a ampla rede de
parceiros do MDS, que já ultrapassa a marca de cem colaboradores – advindos
do governo, sociedade civil e da iniciativa privada –, se trabalhados de forma
eficiente e coordenada, pode produzir benefícios ao maior número possível
de brasileiros em situação de vulnerabilidade e risco social.
10
Para a UNESCO é motivo de orgulho estar associada a esse tipo de
iniciativa, que reforça a importância e o indiscutível papel da responsabilidade
social no Brasil, articulado a um trabalho comprometido da Secretaria de
Articulação Institucional e Parcerias na busca por caminhos que possam
ampliar as oportunidades e reduzir a pobreza no país.
Mais uma vez, a UNESCO está convicta de que dividir as experiências
aqui relatadas com toda a sociedade brasileira e com outras nações pode
contribuir para multiplicar os frutos positivos produzidos pelo MDS e pelo
governo brasileiro com a fundamental participação de segmentos diversos da
sociedade brasileira.
Vincent Defourny
Representante da UNESCO no Brasil a.i.
11
TRABALHO E RENDA PARA AS FAMÍLIAS POBRES
Um esforço vigoroso para gerar de forma sustentável trabalho e renda para
as famílias pobres, vulneráveis, beneficiárias de programas sociais, está em curso
no Brasil. Desafio complexo, que depende de muitas iniciativas, da
responsabilidade de diferentes atores governamentais, empresariais e de
mobilização social. Por essa razão, em janeiro de 2003, ao lançar a estratégia
Fome Zero, o Governo Federal definiu que ela seria de responsabilidade dos
governos e de toda a sociedade brasileira.
Erradicar a fome no Brasil, com ações urgentes e estruturantes é mais que um
compromisso de governo, é um propósito de nação. Até que todos cidadãos e
cidadãs brasileiros(as) possam ter em sua mesa três refeições diárias e, ao mesmo
tempo, apoio em atividades de inclusão produtiva, de geração de trabalho para
obterem uma renda digna, deve haver mobilização em massa dos diversos atores
sociais. É preciso ir fundo na raiz dos problemas para que as soluções sejam
eficazes e sustentáveis. Para tanto, há que se consolidar mudanças culturais,
enfrentar preconceitos e acreditar que uma outra realidade é possível. O Brasil
não pode continuar como um dos campeões mundiais de desigualdade social.
O esforço de transferência de renda, por meio do Bolsa Família e outros
programas governamentais e ações estruturantes de geração de emprego,
trabalho e renda têm dado um impulso à redução dessa desigualdade. É preciso,
no entanto, reforçar essas ações. E se há algo que mobiliza a sociedade brasileira
é o apelo para uma ação coletiva e solidária. O objetivo desta publicação é
mostrar como várias instituições se comprometeram com esse desafio e,
sobretudo, estimular a ampliação delas, além de buscar novas parcerias em
projetos transformadores e comprometidos com o processo de promoção e
desenvolvimento social.
Na mobilização de parcerias, o Ministério do Desenvolvimento Social e
Combate à Fome (MDS), por meio da Secretaria de Articulação Institucional e
Parcerias (Saip), tem exercido uma função de arregimentador, receptor e
articulador das doações ao Fome Zero. Busca-se, sobretudo, privilegiar as
parcerias em projetos estruturantes de geração de trabalho e renda para as
famílias pobres, com foco especial nos grupos indígenas, quilombolas, população
de rua, catadores e acampados.
São mais de cem parceiros estratégicos certificados, que desenvolvem ações
estruturantes, incluindo empresas públicas e privadas, entidades da sociedade
civil, entidades internacionais e uma pessoa física. Dentre estes, cerca de quarenta
são parceiros que desenvolvem ações que contribuem efetivamente para a
geração de trabalho e renda e desenvolvimento local sustentável.
12
Nesta publicação, são apresentadas algumas dessas iniciativas, reunidas de
acordo com sua maior afinidade com os eixos temáticos considerados essenciais
para a sustentabilidade das ações de geração de trabalho e renda: diagnóstico,
mobilização e articulação de parcerias; formação e capacitação para o trabalho;
associativismo e cooperativismo; infra-estrutura e logística de produção; acesso
a crédito; comercialização e assistência técnica. Há também um eixo específico
de ações que viabilizam o acesso à água e à alimentação, além do destaque para
as principais ações de doadores Fome Zero, parceiros eventuais mobilizados
desde 2003.
Ao ler as histórias e depoimentos aqui publicados, o leitor perceberá que há
beleza e esperança no brasileiro e no Brasil. Perceberá também que, sozinhos,
governos, empresas, movimentos sociais, religiosos, Ongs e cidadãos não serão
capazes de promover a mudança definitiva. É preciso a articulação de todos em
uma Rede de Proteção e Promoção Social na busca por esta tão sonhada
sociedade justa, fraterna e solidária.
Você é nosso convidado para ler cuidadosamente estes registros, se emocionar
com depoimentos como o de dona Margarida que, aos 58 anos, virou artesã em
Angra dos Reis (RJ) e confirma que ganhou “alma nova”. Os leitores perceberão
que seu papel, de sua empresa, de sua instituição, é fundamental. As conquistas
são muitas, mas é preciso muito mais, é preciso ir além do bojador.
Estimulamos você a participar deste processo civilizatório e ajudar o nosso
Brasil a conquistar um título que possa ir além do país apaixonado pelo futebol.
Um país apaixonado e obcecado pela busca da igualdade social, com respeito
às diferenças. Um Brasil sem fome e mais justo.
Heliana Kátia Tavares Campos
Secretária de Articulação Institucional e Parcerias – MDS
13
FOME ZERO
No Brasil, a pobreza associada às desigualdades sociais configura um quadro
de insegurança alimentar. Por isso, o desafio assumido pelo governo Lula, em
2003, foi integrar e articular as ações públicas visando acabar com a fome e, ao
mesmo tempo, enfrentar os problemas da pobreza e da desigualdade.
Face a esse desafio foi lançado o Fome Zero, uma estratégia impulsionada
pelo governo federal para assegurar o direito humano à alimentação adequada
às pessoas com dificuldades de acesso aos alimentos. Tal estratégia se insere na
promoção da segurança alimentar e nutricional buscando a inclusão social e a
conquista da cidadania da população mais vulnerável à fome.
A atuação integrada dos ministérios que implementam políticas fortemente
vinculadas às diretrizes do Fome Zero – Desenvolvimento Social e Combate à
Fome, Desenvolvimento Agrário, Saúde, Educação, Agricultura, Pecuária e
Abastecimento, Trabalho e Emprego, Ciência e Tecnologia, Integração
Nacional, Meio Ambiente, Fazenda, Justiça e a Secretaria Especial de Políticas
de Promoção da Igualdade Racial – possibilita uma ação planejada e articulada
com melhores possibilidades de assegurar o acesso à alimentação, a expansão
da produção e o consumo de alimentos saudáveis, a geração de ocupação e
renda, a melhoria na escolarização, nas condições de saúde, no acesso ao
abastecimento de água, tudo sob a ótica dos direitos sociais e de cidadania.
Dessa forma, os princípios do Fome Zero têm por base a integração das ações
estatais nas três esferas de governo; o desenvolvimento de ações conjuntas entre
o Estado e a sociedade; a superação das desigualdades econômicas, sociais, de
gênero e raça; e a articulação de medidas emergenciais com ações estruturantes.
Hoje, há um reconhecimento pela sociedade brasileira de que ao inserir com
prioridade o tema da fome na agenda política nacional, o Fome Zero contribuiu
efetivamente para a consolidação de ações públicas em alimentação e nutrição
no Brasil. Isso pode ser traduzido pelos impactos positivos dos programas e
ações desenvolvidos, muitos em parceria com a sociedade, assim como pelo
projeto de lei que cria o Sistema de Segurança Alimentar e Nutricional
encaminhado para a apreciação do Congresso Nacional em 2005.
O Fome Zero possibilita repensar a ação pública. Quanto mais garantida a
integração das áreas envolvidas mais estimuladas as parcerias e melhor
promovidos os canais de participação social, maior é a possibilidade de
consolidação da Política de Segurança Alimentar e Nutricional.
14
Desde 2003, o Governo Federal já investiu mais de R$ 27 bilhões no Fome
Zero, aplicados em quatro eixos articuladores: Acesso aos Alimentos,
Fortalecimento da Agricultura Familiar, Geração de Renda e Articulação,
Mobilização e Controle Social.
Um balanço dos principais programas e ações integrantes desses eixos
apresenta resultados expressivos, como podemos ver adiante.
O Bolsa Família, maior programa de transferência de renda do país, atende
mais de 11 milhões de famílias, atingindo a meta de atender os cerca de 50
milhões de brasileiros que em 2003 viviam em situação de pobreza e extrema
pobreza. Com isso, 94% das crianças passaram a fazer mais de três refeições
diárias, com melhoria na quantidade e qualidade dos alimentos consumidos e
aumento no consumo de frutas, leite, macarrão e carne, de acordo com pesquisa
realizada pelo DataUFF e UFBA em 2006.
O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) oferece pelo menos
uma refeição diária de qualidade para cerca de 37 milhões de crianças e
adolescentes nas escolas públicas, sobretudo com aumento de 70% do valor
repassado por dia para cada criança e adolescente.
O Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT) beneficia oito milhões
de trabalhadores no mercado formal, que recebem auxílio financeiro específico
para refeições e aquisição de alimentos.
O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf)
vem beneficiando desde 2003 quase 1,65 milhão de famílias de trabalhadores
rurais, inclusive assentados da reforma agrária. Outro exemplo de promoção
de geração de renda no campo e aumento da produção de alimentos para o
consumo é o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), que compra a
produção do agricultor familiar e fornece os alimentos a entidades sociais e a
grupos em situação de vulnerabilidade.
Com a criação do Fórum Nacional de Economia Solidária e dos 27 fóruns
estaduais em funcionamento e oferta de R$ 2 bilhões em recursos para o
microcrédito produtivo, o Fome Zero incentiva a geração de trabalho, emprego
e renda e desenvolve ações de qualificação da população pobre no sentido de
contribuir para a sua inserção no mercado de trabalho.
Outra importante ação foi o financiamento para implantação de 2.244
Centros de Referência da Assistência Social, em mais de 1.600 municípios de
todo o Brasil, com atendimento preferencial para as famílias de maior
vulnerabilidade social.
O Fome Zero também inclui programas inovadores como a construção de
cisternas no semi-árido brasileiro; os restaurantes populares instalados nos
grandes centros urbanos; e os bancos de alimentos, além de levar à população
informações sobre hábitos alimentares saudáveis.
15
PARCERIAS POR UM BRASIL SEM FOME E MAIS JUSTO
De acordo com a PNAD/IBGE 2004, entre 2003 e 2004 a miséria caiu 8%
no Brasil, com mais de 3 milhões de pessoas deixando de ser extremamente
pobres. A desigualdade de renda ainda é muito alta, mas nunca foi tão baixa
desde que começou a ser medida, em 1976.
Por meio da integração interministerial, o governo federal articula políticas
sociais com estados e municípios e, com a participação da sociedade, implementa
programas e ações que buscam superar a pobreza e, conseqüentemente as
desigualdades de acesso aos alimentos em quantidade e qualidade, de forma
digna, regular e sustentável.
A despeito de todas as dificuldades, o Programa vem conseguindo pôr em
prática a utopia que um dia vários cidadãos como Josué de Castro e Herbert de
Souza sonharam para o país: o Brasil está vencendo a fome!
Adriana Aranha
Assessora Especial do Fome Zero
17
RESPONSABILID ADE SOCIALInstituto Ethos
Parceria é a palavra-chave para enfrentar os profundos e graves problemas
sociais brasileiros. A opinião é do empresário Oded Grajew, presidente do
Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social e grande articulador do
enlace entre governo e sociedade em ações de impacto social, como o Fome
Zero.
“O Brasil é um país com muitas e muitas carências, mas também tem tudo o
que precisa para acabar com todas as carências. Produzimos alimentos e temos
recursos para acabar com tudo isso. Só que sobra muito de um lado e falta
muito de outro. A parceria faz com que se juntem recursos que sozinhos não
fariam nada”, resume Grajew.
O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social é uma organização
não-governamental criada em 1998 com a missão de mobilizar, sensibilizar e
ajudar as empresas a gerir seus negócios de forma socialmente responsável,
tornando-as parceiras na construção de uma sociedade sustentável e justa.
Seus mais de mil associados – empresas de diferentes setores e portes – tem
como característica principal o interesse em estabelecer padrões éticos de
relacionamento com funcionários, clientes, fornecedores, comunidade,
acionistas, poder público e com o
meio ambiente.
Nesta entrevista, Oded Grajew
mostra como as práticas socialmente
responsáveis se difundiram entre as
empresas e analisa as muitas
possibilidades de ação conjunta
entre governo e sociedade para
construir um país mais justo.
O que contribuiu para que
temas como responsabilidade
social e parceria ganhassem tanto
destaque na agenda de discussões
do País?
Oded Grajew – A volta à
democracia, sem dúvida alguma.
Com a volta à democracia, a
Oded Grajew do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos de
Empresas e Responsabilidade Social
18
sociedade teve condições de se organizar. Surgiram as Ongs (Organizações Não-
Governamentais), entidades de defesa dos direitos do cidadão, os sindicatos puderam
se estruturar melhor. Consequentemente, a liberdade de Imprensa permitiu que as
informações passassem a circular mais, abrindo espaço para questionamento do
poder empresarial. As empresas, por seu lado, tiveram então que se preparar para
responder a essas demandas e pressões...
Quanto mais democracia maior é a resposta das empresas à questão social?
Oded Grajew – Exatamente. Com democracia, as informações circulam mais,
você acaba ficando mais exposto, mais transparente. No exterior, as questões
relacionadas a meio ambiente, por exemplo, estão sob regulamentações, leis, normas,
que forçam o empresariado a responder também a essas demandas. Em um ambiente
competitivo, as companhias dependem cada vez mais das pessoas, da qualidade do
seu quadro de pessoal. É fundamental para o empresário ter um pessoal engajado,
trabalhando motivado, porque o diferencial entre as empresas hoje em dia não são
as máquinas nem os produtos, que se tornaram bem similares. Os fatores de
mudança são vários: pressão, demanda, transparência, expectativas, organização
da sociedade, tecnologia... Por isso mesmo, atrair e reter talentos tornou-se questão
estratégica. Então, responsabilidade social significa tratar bem as pessoas. Sendo
assim, o importante é cuidar da imagem, que por sua vez tem a ver como a empresa
se comporta e convive com o seu entorno.
Quer dizer que as empresas estão tratando melhor da questão social?
Oded Grajew – Certamente!
Qual o papel do Instituto Ethos nesse processo?
Oded Grajew – Nosso papel foi levar a questão social empresarial a um outro
patamar. Afastar o sentimento geral de que é mais uma ação filantrópica.
Introduzimos a responsabilidade social na gestão da empresa, porque não adianta
ter uma ação social com alguma comunidade carente e não tratar bem os seus
funcionários, não se preocupar com a educação dos filhos dos seus funcionários, se
meter com corrupção, jogar lixo industrial nos rios e enganar o consumidor. Isso
não é responsabilidade social. Mas a responsabilidade social empresarial passou a
ocupar lugar estratégico na empresa, agora servida de ferramentas de gestão forjadas
especialmente para medir, avaliar, planejar, fazer um check up completo da empresa.
Nosso papel, portanto, é mostrar como as empresas podem encurtar o caminho
para chegar a uma sociedade economicamente sustentável e mudar de patamar,
sair da fase da reflexão do agir sobre o efeito, para a de tentar agir sobre as causas.
19
PARCERIAS POR UM BRASIL SEM FOME E MAIS JUSTO
O sr. considera que esse novo patamar foi alcançado?
Oded Grajew – Alcançamos um novo patamar, sim. Em 1998, quando criamos
o Instituto Ethos, o termo responsabilidade social era praticamente um senhor
desconhecido de todo mundo. A gente tinha que ir aos meios de comunicação
explicar o que isso queria dizer.
Na prática, em que resultou todo esse esforço?
Oded Grajew – Várias empresas mudaram de patamar no relacionamento com
seus diversos públicos ao introduzir na sua agenda outros temas como diversidade,
mulheres, negros e deficientes físicos. Elas agora enxergam as ações sociais não
como uma coisa que o presidente faz para agradar políticos, mas como ações
estratégicas, focando e dimensionando resultados, profissionalizando o trabalho,
debatendo e medindo os impactos ambientais. Muitas já trabalham sobre a cadeia
produtiva, coisa que ninguém fazia antes. Selecionam fornecedores com base em
responsabilidade social, colocando ao lado dos critérios econômicos, exigências
como o fim do trabalho infantil, do trabalho escravo e registro dos funcionários.
Também mudou a convivência com o público consumidor e exemplo disso são os
Sacs, os serviços de atendimento aos consumidores. Outro indicador é o tamanho
do nosso quadro de associados, que começou com 11 empresas e hoje já passa de
mil empresas de todo o Brasil e de todos os tamanhos.
Esse clima envolve todo mundo ou ainda está limitado às regiões mais ricas
do País?
Oded Grajew – Uns mais, outros menos, mas aos poucos vai se disseminado
pelo Brasil.
Onde o sistema de parceria se encaixa nesse processo?
Oded Grajew – Diversidade, ética, meio ambiente, direitos humanos,
investimento social organizado, crescimento sustentável, todos esses temas são uma
novidade para a grande maioria das empresas. A parceria tornou-se fundamental
para quem lida com questões desta ordem, seja muitas vezes com o governo, seja
outras vezes com entidades sociais. Não dá para tratar sozinho de problemas como
saúde, drogas, gravidez na adolescência, meio ambiente, áreas indígenas. Tem que
combinar vontade e recursos com competência. Para se ter uma idéia, em dois
anos, constituímos mais de 550 parcerias estruturadas para beneficiar a comunidade,
no Estado de São Paulo. Isso quer dizer que as empresas também já perceberam
que quanto melhor estiver a comunidade e o seu entorno, melhor para elas.
20
Qual a razão de tão repentino interesse?
Oded Grajew – Porque parceria e responsabilidade social estão incorporadas
à lógica empresarial, que é gerar lucro, é competir pelo mercado. As estatísticas
mostram que as empresas mais duradouras e mais lucrativas são aquelas
apontadas como as mais socialmente responsáveis. Se você se comporta de forma
irresponsável, você acumula passivos em várias áreas, como o passivo ambiental,
por exemplo, que pode não aparecer no primeiro momento, mas uma hora
acaba estourando de algum jeito.
Quais, em sua opinião, os programas de parceria que mais se aproximam
do modelo proposto pelo Instituto Ethos?
Oded Grajew – Em minha opinião, a parceria mais fantástica até agora é a
formada pela Articulação do Semi-Árido (ASA) do Nordeste com a Febraban,
a Federação Brasileira dos Bancos. Os dois nunca tinham sequer ouvido falar
um do outro e hoje estão juntos no Projeto de Construção de Cisternas, e que
deve se ampliar a cada ano. Outra parceria importante é a que viabiliza o projeto
QueroLer, que pretende montar bibliotecas em 1,2 mil municípios brasileiros
sem bibliotecas públicas. É uma parceria grande envolvendo empresa, governo
estadual e governo municipal. As empresas doam o acervo e um computador;
o governo do Estado treina a bibliotecária e o governo municipal se
responsabiliza pela manutenção. Nada disso seria possível não fosse o programa
de parcerias.
Levantamento das potencialidades e carências de cada
local, mobilizando e articulando parceiros e atores locais
em prol da geração de trabalho e renda.
DIAGNÓSTICO, MOBILIZAÇÃO
E ARTICULAÇÃO DE PARCERIAS
23
PARCERIAS POR UM BRASIL SEM FOME E MAIS JUSTO
UM BRASIL PARA BRASILEIROS COEP
O corpo frágil, debilitado pela hemofilia, tuberculose e Aids, não foi capaz
de derrotar uma vontade de ferro e uma determinação que transformaram
Herbert de Souza, num dos maiores símbolos de resistência deste país.
Betinho, como era conhecido, sempre recusou o papel de vítima. Ao contrário,
preferiu concentrar sua energia na defesa da cidadania e da dignidade dos que
não tem voz.
Com imensos olhos azuis e fala mansa, que transmitiam integridade,
Betinho convenceu milhões de pessoas a olhar mais atentamente para o
próximo ao lançar em junho de 1992, uma campanha para que os restaurantes
doassem a comida que era jogada fora para as comunidades carentes. Esta
idéia foi o ponto de partida para uma das mais impressionantes mobilizações
populares do Brasil: a criação dos comitês de Ação da Cidadania, conhecida
“Se enganam aqueles que pensam que nós estamos
simplesmente querendo entregar comida a quem tem
fome. ... Temos que ter vergonha dessa indiferença,
dessa frieza, desse cinismo de alguns que acham
que desenvolvimento é uma coisa e gente é outra.
... São 32 milhões de pessoas na indigência. ...
Tivemos que interpelar o governo, interpelar a
sociedade e a consciência de cada um. ... Até hoje
nós fizemos um Brasil para uma minoria; nós temos
que saber se queremos produzir um Brasil para
todos os brasileiros”
(Betinho, 1993).
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como Campanha contra a Fome, ou simplesmente, Campanha do Betinho. O
movimento que começou com 300 comitês, um ano depois já contabilizava
mais de cinco mil que receberam a doação de 25 milhões de pessoas.
“Só a participação cidadã é capaz de mudar o país”, dizia Betinho. Esta
consciência de que a multiplicação de esforços é a chave para resultados
consistentes o levou a fundar no mesmo ano, em parceria com André Spitz e
Luiz Pinguelli Rosa, o COEP – Comitê de Entidades no Combate à Fome e
pela Vida. O balanço do trabalho realizado nos últimos quatorze anos, mostra
que ele tinha razão. Da associação inicial com apenas 33 estatais, hoje fazem
parte da rede mais de 850 entidades públicas e privadas que trabalham em
constante troca com as 26 unidades estaduais do COEP, que começa agora a
montar o mesmo modelo nos municípios.
Betinho sempre defendeu a idéia que a fome no Brasil se devia principalmente
à indiferença das elites que ignoravam a enorme população socialmente excluída.
Movido por essa convicção, lançou o apelo para arrecadação de alimentos que
foi criticada por muitos setores pelo caráter assistencialista. O slogan “Quem
tem fome, tem pressa” tirou a força deste argumento.
As ações de caráter emergencial ainda fazem parte da esfera de atuação do
COEP como, por exemplo, a campanha Natal Sem Fome que acontece desde
1994, arrecadando sempre toneladas de alimentos no país inteiro. No entanto,
cada vez mais se multiplicam ações estruturais que podem modificar as condições
de pobreza e miséria ao trabalhar para que comunidades carentes encontrem
caminhos para a auto-sustentabilidade, com a implantação de projetos múltiplos
como a educação, inclusão digital, saúde e geração de trabalho e renda.
Estes projetos ganham ainda mais consistência com a troca permanente de
experiência e complementaridade com a participação de empresas com perfis
tão diferentes como as de energia, desenvolvimento rural, instituições
financeiras, petróleo e comunicação, entre outras. O resultado prático é que
cada uma pode usar sua experiência para desenvolver programas que podem ir
da montagem ou financiamento de cursos de alfabetização ou artesanato; da
criação de um banco de leite materno ou a instalação de rede elétrica ou de
saneamento.
A secretária-executiva do COEP, Gleyse Peiter, resume a filosofia da
organização: “Nós criamos pontos de convergência e construímos pontes. E
com o tempo pudemos constatar que as empresas substituíram o conceito de
filantropia por uma postura mais profissional”. E este parece mesmo ser um
dos maiores orgulhos do COEP, o de ter sido a primeira organização a implantar
nas empresas brasileiras o conceito de responsabilidade social. E, ao assumir o
papel de identificar e aproximar diferentes iniciativas multiplica a possibilidade
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PARCERIAS POR UM BRASIL SEM FOME E MAIS JUSTO
de êxito na execução de cada idéia, baseado em três diretrizes básicas: fechando
parcerias, mobilizando empresas e entidades e estimulando a participação de
cada cidadão.
A transparência da informação também tem contribuído enormemente para
a ampliação deste tipo de trabalho. O Banco de Dados (www.mobilizacao.org.br)
já tem mais de 2500 projetos cadastrados. Nele, qualquer pessoa ou instituição
pode divulgar o que está fazendo, as metas propostas, os resultados atingidos e
as necessidades mais urgentes. O Banco, desta forma, funciona ao mesmo tempo
como uma fonte de idéias e um poderoso instrumento de divulgação na busca
por patrocínio de empresas ou na busca de trabalho voluntário.
Com o objetivo de atuar de forma mais efetiva na transformação da realidade
socioeconômica de comunidades brasileiras de baixa renda, o COEP ampliou
o seu campo de ação, e hoje após 14 anos de existência, permeia 3 níveis:
estratégico, institucional e o comunitário. No nível estratégico, a rede tem
ampliado sua participação em espaços/movimentos de discussão de questões
de interesse público/políticas públicas (exemplos: Consea, Movimento Nacional
pela Cidadania e Solidariedade, GT Parcerias Fome Zero, Apoio a Secretaria
Especial de Direitos Humanos etc). No nível institucional, vem trabalhando
para a construção de uma rede de parceiros em todo o país, onde cada entidade
associada agrega sua competência, recursos e ativos, viabilizando o
desenvolvimento de projetos coletivos, e, no que tange às comunidades de baixa
renda, trabalha na implementação de projetos de desenvolvimento comunitário,
visando sua inclusão social, econômica e política.
“A ética tem que prevalecer. Não podemos fingir que não vemos as
estatísticas que refletem a enorme desigualdade social. De qualquer forma, mais
do que os números, o que importa é que a pobreza não pode ser ignorada”,
afirma Gleyse Peiter, com convicção.
PARA SABER MAIS
COEP
Comitê de Entidades no Combate à Fome e pela Vida
www.coepbrasil.org.br
(21) 2528-3158
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PARCERIAS POR UM BRASIL SEM FOME E MAIS JUSTO
Conservar e limpar as áreas sob as linhas de transmissão de energia elétrica
sempre foi uma dor de cabeça para as empresas. Espaço para plantar é o que
falta para muitos agricultores incrementarem a renda da família. Dois
problemas, uma solução perfeita: usar a área ao longo das linhas para o cultivo
de hortas comunitárias, nas regiões urbanas, e de lavouras, na zona rural.
Esse é o caminho que está sendo adotado por várias companhias elétricas,
entre elas a Eletrosul Centrais Elétricas S.A. A empresa entra com a terra e,
em troca, os produtores se responsabilizam pela conservação e vigilância das
linhas. As duas partes saem lucrando e o combate à fome e à miséria no País
ganha mais um aliado. O Programa Hortas Comunitárias já beneficiou mais
de 660 famílilas nos quatro estados de atuação da Eletrosul (Santa Catarina,
Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso do Sul) desde que iniciou em 2003.
Impulsionados pela parceria da empresa com o Fome Zero, os programas
Hortas Comunitárias e Vamos Plantar começaram há quatro anos, no Paraná.
De lá para cá, foram produzidas 215 toneladas de alimentos e beneficiadas
2.024 famílias carentes. A experiência do Paraná, com as Hortas Comunitárias,
nas regiões urbanas, e o Vamos Plantar, na área rural, é pioneira dentro da
Eletrosul e foi expandida para os demais estados atendidos pela empresa: Santa
Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul.
Os agricultores não ganham só o direito de usar a terra para plantar. A
Eletrosul limpa o solo embaixo das linhas de transmissão, facilitando o plantio,
fornece sementes e combustível para máquinas usadas no preparo do solo e,
se necessário, energia elétrica para irrigação. Também permite a captação e
distribuição de água para irrigação, dá apoio técnico para a implantação do
projeto e fiscaliza questões relacionadas ao uso do solo e meio ambiente. A
Prefeitura de Curitiba, parceira da Eletrosul no Hortas Comunitárias, elabora o
projeto agrícola e o levantamento topográfico da área e busca apoio junto a
empresas privadas e instituições comunitárias para implementar as hortas e
cumprir a legislação ambiental.
ENERGIA QUE VEM DA TERRA Eletrosul
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O Programa Hortas Comunitárias é um dos 21 programas e ações de alcance
social da empresa, envolvendo atividades que vão desde a alfabetização e
inclusão digital, até programas para portadores de necessidades especiais,
agricultura familiar, capacitação profissional e geração de emprego e renda.
“O selo de Empresa Parceira do Fome Zero é um reconhecimento da atuação
social da Eletrosul e ao mesmo tempo um incentivo à criação de novos
programas que melhorem a vida das pessoas”, avalia José Drumond Saraiva,
Presidente Interino da Eletrosul.
O RESULTADO
Para os produtores, o Hortas Comunitárias significa uma melhora e tanto de
vida. É o caso de Geralda de Oliveira Lúcia, que mora na periferia de Curitiba:
“Antes eu trabalhava como diarista, em casa de família. Para mim compensa
muito mais trabalhar na horta, porque, além de ganhar quase a mesma coisa
que no trabalho fora de casa, eu ainda posso cuidar de meu filho pequeno”.
Tomate, couve, cenoura e beterraba, Geralda planta para o consumo da
O plantio de hortas comunitárias e lavouras sob as linhas de transmissão garante renda e alimento
para milhares de famílias
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PARCERIAS POR UM BRASIL SEM FOME E MAIS JUSTO
família. A alface, que produz mais rápido, ela vende parte nas quitandas da
comunidade e também para clientes que vêm direto na horta. Em meses de
boa produção, chega a tirar de R$ 250,00 a R$ 300,00. O marido, operador de
máquinas de terraplanagem, também ajuda com a horta nos finais de semana.
“Meu marido tinha problemas de saúde, de depressão. O trabalho na terra
substituiu os quatro comprimidos que ele tomava por dia”, conta Geralda.
Enquanto cultiva com zelo os canteiros de alface, Geralda vai também regando
os sonhos: “Meu desejo é levar esse projeto em frente, unir todos os produtores
numa cooperativa, numa mini-Ceasa, para garantir clientes certos à nossa
produção.”
Raquel Vieira e o marido Agenor Gonçalves foram os primeiros moradores
da localidade de Monteiro Lobato a cultivarem verduras e legumes embaixo
das torres da Eletrosul. Até hoje, ela não esconde o entusiasmo: “Antes a
gente fazia o serviço de casa e ficava parada. Agora não. Terminou o trabalho
lá e a gente vem pra horta plantar. Aqui é bom porque a gente também se
diverte”, afirma Raquel. Ela planta alface, mandioca e feijão e divide com a
família os produtos que colhe. Além da economia doméstica com os produtos
da horta, a qualidade da alimentação deu um salto significativo.
Uma parceria boa para ambos os lados: a área limpa e cuidada da Eletrosul gera renda e alimentos saudáveis
para o agricultores
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No caso de Dolores Rudnick, que tem origem rural, a maior motivação
foi a possibilidade de produzir os próprios alimentos e de mexer na terra.
Mas a expectativa de maior segurança também pesou bastante: “Antes eu
pensava em vender minha casa e ir embora daqui, porque tinha muito mato,
o local estava abandonado e era comum virem desovar carros e consumir
drogas nos terrenos vazios. Agora mudou, estamos todos cuidando do local,
até chamamos essa área aqui de nossa chácara.”
Uma economia de cerca de R$ 50,00 mensais nas despesas com a alimentação
da família. É o que estima a costureira e dona-de-casa Eulália de Campos, 55
anos, natural de Santo Antonio da Platina. Ela cultiva uma grande variedade
de hortaliças em canteiros que ocupam em torno de 150 metros quadrados na
horta implantada em dezembro de 2005, junto ao conjunto Moradias Rio
Bonito, no bairro Tatuquara, em Curitiba (PR). “Além da economia,
melhorou a refeição, porque sempre preparo dois tipos de verdura. As crianças
passaram a se alimentar melhor e estão com mais saúde. Se fosse para comprar
verduras no mercado, eu compraria bem menos”, comemora a costureira.
Às voltas com o neto Jonathan, o caçula da família, a dona-de-casa Ana
dos Santos Correia, 45 anos, viúva e natural de Santo Antonio da Platina, na
região do Norte Pioneiro do Paraná, recorda o tempo em que aprendeu a
lidar com a terra. Presidente do Conselho da Associação de Moradores da
Rio Bonito, Ana encara a atividade na horta como uma terapia e, ao mesmo
tempo, um reforço na renda familiar. “Vendo para outros moradores o que
sobra de verduras e legumes. Com isso, compro leite e medicamentos. Mas
percebi que diminuiu o uso de remédio depois que comecei a trabalhar na
horta”, diz Ana, que prefere cultivar variedades de folhosas, como alface e
couve, e temperos como cebolinha, salsinha, coentro, manjerona e alfavaca.
Segundo ela, a bronquite asmática do pequeno Jonathan, com dois anos de
idade, também não tem se manifestado desde o início da atividade ao ar livre.
As trocas de produtos entre as famílias também são uma constante no
local e, segundo o casal Valdemiro Dziedcz, 58 anos, e Maria do Carmo
Dziedcz, 53 anos, reforçam os laços de amizade na região. “A gente acaba
fazendo amizade, se torna conhecido”, diz Valdemiro, aposentado da indústria
de tecelagem e que trabalha na construção civil. Com cinco filhos e seis netos,
o casal diz que toda a sua produção na horta é consumida pela família.
Na zona rural, o Vamos Plantar também já rende bons frutos. No município
de Rio Azul, por exemplo, Dirceu Jock conseguiu aumentar a lavoura de
soja em três hectares depois da parceria com a Eletrosul. É com o aumento da
área plantada que Jock pretende recuperar a perda na produtividade,
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PARCERIAS POR UM BRASIL SEM FOME E MAIS JUSTO
decorrente da seca no período do cultivo da soja. Também foi com o apoio
da Eletrosul que ele conseguiu pagar R$ 880,00 dos R$ 2.088,00 que gastou
na contratação de máquinas para a limpeza da área. Ele espera cobrir o
investimento em no máximo três safras. Para a Eletrosul, Jock é um parceiro,
cujo trabalho evita o crescimento do mato embaixo das linhas de transmissão
e, assim, o risco de interrupção no fornecimento de energia.
PARA SABER MAIS
Eletrosul
Empresa Transmissora de Energia do Sul do Brasil
www.eletrosul.gov.br
(48) 3231-7402
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PARCERIAS POR UM BRASIL SEM FOME E MAIS JUSTO
A experiência da Companhia Hidrelétrica do São Francisco, a Chesf, com
hortas sob as linhas de transmissão já vem de longe. O projeto começou em
1987, em Teresina, no Piauí, e não só mudou a vida de 752 famílias como
garantiu o desenvolvimento de comunidades que hoje poderiam ser grandes
bolsões de pobreza. “Essas hortas são um dos exemplos mais bem sucedidos de
ações sociais que trazem resultados efetivos para comunidades carentes. Elas
minimizam os problemas sociais das grandes cidades e oferecem oportunidades
de sobrevivência para populações com pouquíssimas alternativas de trabalho e
renda”, orgulha-se Antemio Arruda, responsável pela implantação do programa
ligado à área de Responsabilidade Social da Chesf. Assim como no caso da
Eletrosul, a parceria com o Fome Zero está estimulando a empresa a multiplicar
a experiência de Teresina para outras grandes cidades atendidas pela Chesf,
como Recife, Salvador, Natal, Fortaleza, Maceió e Campina Grande.
A preocupação com o lixo nas faixas de servidão, a quebra de isoladores e
todo tipo de vandalismo ficou para trás. Também pudera. Hoje são os
produtores que têm o maior interesse de cuidar direitinho das torres de energia
e linhas de transmissão. É dali que eles garantem alimento e sustento para as
famílias. Pelos cálculos da Prefeitura de Teresina, uma das parceiras da Chesf
no projeto, cada família tira cerca de um e meio a dois salários mínimos por
mês com a venda das verduras e legumes plantados na faixa de 65 metros por
sete quilômetros ao longo da linha da Chesf.
É cebolinha, cebola, alface, pimentão, pimenta, coentro, hortelã e quiabo
que não acaba mais, numa área verde que mais parece um oásis em meio ao vai
e vem de carros, à geografia e burburinhos urbanos de bairros pobres de
Teresina. “Eu acho isso aqui é lindo demais, quando chego logo cedo vou
dizendo ‘bom dia, meus bichinhos, como é que vocês estão?’ pras minhas
verduras”, brinca Isaura Araújo da Silva. Assim como tantos vizinhos, no bairro
de Itararé, ela resgatou, com o projeto da Chesf, a experiência e o prazer de
trabalhar na roça, de onde veio. Nem o calor, que vira e mexe bate os 41º, 43º,
desanima Isaura. Foi com as hortaliças da Chesf que ela e o marido conseguiram
criar os quatro filhos. “È um trabalho pesado, é verdade, mas é daqui que a
PARCERIA CONTRA A POBREZA Chesf
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gente tira o de vestir e o de comer. Sem essa horta, também não tinha dado
para garantir estudo para os meninos todos”, ela se orgulha. A qualidade de
comida dentro de casa melhorou? “É tanto verde no prato, que eu digo que o
pessoal lá em casa vai virar é calango”, ri Isaura.
Antônia e Cícero Francisco da Silva também não reclamam da vida.
Enquanto atendem um cliente e outro na ‘banquinha’ de madeira, bem na
beira da horta, o casal conta sua história: “Isso aqui foi uma bênção de Deus. O
Antônio perdeu a mão direita na máquina, fazendo sandália. Depois disso ficou
difícil arrumar trabalho. A gente já está aqui há 18 anos e hoje só tira menos
dinheiro porque os meninos cresceram e nós achamos melhor diminuir o
número de canteiros. Mas comida na nossa mesa e um dinheirinho pro dia-a-
dia nunca mais faltou.”
As hortas comunitárias sob as linhas de transmissão da Chesf integram os
178 hectares plantados na cidade toda, em benefício de comunidades carentes.
Ao todo, são 2.923 famílias beneficiadas pelas hortas mantidas pela prefeitura,
orgulha-se Paulo Fortes. Famílias que também são acompanhadas de perto por
projetos de alfabetização de jovens e adultos, vacinação e outros benefícios
sociais. O Núcleo do Fome Zero no Piauí, adianta o superintendente, quer
multiplicar a experiência de Teresina pelo Estado todo. E levar mais renda,
alimento e cidadania para milhares de pessoas que precisam.
As hortas de Teresina transformam a vida de comunidades carentes
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PARCERIAS POR UM BRASIL SEM FOME E MAIS JUSTO
Além das hortas comunitárias de Teresina (PI), a Chesf também desenvolve
projetos em Maceió (AL), Campina Grande (PB) e Salvador (BA). Na Subestação
Messias, na Região Metropolitana da Maceió, o projeto está em pleno
andamento. São dez hectares de área nas faixas de servidão das Linhas de
Transmissão (LT), usados para cultura de hortaliças, milho, feijão, fava,
macaxeira e inhame. Atualmente, 26 famílias são beneficiadas com geração de
renda e alimentação complementar.
No município de Campina Grande (PB), 120 famílias estão integradas ao
Movimento de Ajuda Alimentar – Manjar, entidade que incentiva o resgate da
cidadania com a fabricação de bucha automotiva, além da distribuição de uma
cesta básica semanal. A previsão é que o projeto seja estendido para mais 140
famílias.
Na Região Metropolitana de Salvador (BA), 20 famílias são diretamente
beneficiadas com a produção de rabanete, alface, coentro e cebolinha. Além de
estimular o uso da faixa de LT para geração de trabalho e renda, o projeto
objetiva integrar a Chesf à comunidade do entorno de seus empreendimentos,
ao mesmo tempo em que promove a preservação das faixas de linha de
transmissão.
PARA SABER MAIS
Chesf
Companhia Hidrelétrica do São Francisco
www.chesf.gov.br
(81) 3229-2222
Capacitação em atividades que dêem habilitação
para as oportunidades de trabalho e renda, individuais ou
coletivas, em função das demandas e das atividades locais.
FORMAÇÃO E CAPACITAÇÃO
PARA O TRABALHO
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PARCERIAS POR UM BRASIL SEM FOME E MAIS JUSTO
Eles não ouvem música, desconhecem o barulho das cachoeiras, não falam
ao celular. São surdos. Mas como habitantes de um outro país, têm seus próprios
costumes e valores, usam outra língua que não a nossa e são capazes de produzir
com suas próprias mãos. Basta que haja oportunidade.
É isso o que o projeto “Saindo do Silêncio”, implantado com apoio da
Coordenação de Responsabilidade Social de Furnas Centrais Elétricas,
proporciona a 22 surdos de Várzea Grande, cidade vizinha da capital mato-
grossense, Cuiabá. A partir da oferta de cursos profissionalizantes na área de
corte e costura, homens e mulheres puderam desenvolver ou aperfeiçoar a
habilidade com as mãos, tão usadas por eles para se comunicarem. O objetivo
é chegar à formação de uma cooperativa de confecção de uniformes, auto-
sustentada e administrada pelos surdos.
Se a produtividade dos cegos é alta em atividades de telemarketing, por
exemplo, no caso dos surdos uma atividade que requer concentração e muita
destreza com as mãos tem grande potencial de alcançar ótimos índices de
produtividade”, explica Denise Torres Molina, intérprete da Língua Brasileira
de Sinais (Libras) e “relações públicas” da Associação de Surdos de Várzea Grande.
O projeto “Saindo do Silêncio” começou em 2004 a partir de um processo
democrático realizado pelo voto. Foi idealizado por voluntários dos
departamentos de Furnas em Cuiabá, e da Usina de Manso – em Chapada dos
Guimarães. Inscrito no Concurso de Projetos Sociais do Programa Voluntário
Furnas em Ação, Gerando Cidadania, foi selecionado para implantação em
2005. “Ficamos sabendo de experiências similares em outros estados que deram
certo e resolvemos arriscar”, comenta o assistente de administração e
voluntário de Furnas, José Nunes Xavier.
Selecionado o projeto, os voluntários puseram mãos à obra: enquanto a
empresa disponibilizava equipamentos, funcionários voluntários ergueram as
mangas levantando a estrutura do galpão que abriga o projeto, no bairro Cristo
Rei, em Várzea Grande. Assim começou a história do “Saindo do Silêncio”.
SAINDO DO SILÊNCIO Furnas
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O passo seguinte foi a realização de parcerias institucionais. Hoje, o projeto
conta com o apoio do Governo do Estado de Mato Grosso, via Secretaria de
Estado de Trabalho, Emprego e Cidadania (SETEC), da Secretaria Municipal
de Educação e da Associação de Surdos de Várzea Grande.
Outro importante parceiro é o Serviço Nacional da Indústria (Senai) de
Várzea Grande, que colocou à disposição da associação um professor e um
intérprete para os cursos de corte de camiseta e jaleco, modelagem, calça,
avental e acabamento.
As aulas ocorreram diariamente durante quatro meses, com carga horária
de 4 horas diárias. Até agora, 22 pessoas foram capacitadas. Mas o aprendizado
não parou. Ainda neste semestre, o curso de serigrafia será ofertado para o
projeto, e por meio de rodízio mais surdos de Cuiabá e Várzea Grande serão
treinados via projeto “Saindo do Silêncio”.
A produção propriamente dita começou em meados do mês de março,
sempre com a presença de um monitor do Senai. O primeiro cliente foi a
Secretaria de Estado de Saúde, que encomendou 1.000 camisetas. Em seguida,
a Escola Municipal São Vicente, localizada em Rondonópolis — na região
Sul de Mato Grosso – pediu 300 kits de uniforme.
O projeto deu aos surdos oportunidade de capacitação profissional
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PARCERIAS POR UM BRASIL SEM FOME E MAIS JUSTO
Um projeto piloto, no entanto, antecedeu a produção propriamente dita.
Foi a confecção de camisetas para o coral Clamor do Silêncio, formado por
surdos que seguem com palmas e gestos as melodias entoadas por coralistas
parceiros.
“O mais importante disso tudo é que agora os surdos estão tendo a
oportunidade de ter emprego e trabalho. A maioria deles nunca trabalhou, e
essa oportunidade está mudando a realidade de todos. Eles sabem que agora
podem produzir algo. Isso dá dignidade”, observa a intérprete Denise, que
tem acompanhado os trabalhos da Associação há mais de 17 anos.
“Agora a gente pode dizer: acreditem no futuro. Não é uma falsa promessa.
Todo mundo vai ter salário. A cooperativa vai ser uma fábrica de verdade, e
o projeto já saiu do papel. Isso nunca aconteceu antes na nossa vida. Já tem
até gente querendo emprego!”, comenta uma das surdas que participam do
projeto, Alba Lúcia da Silva. A animação dos participantes reflete o empenho
em tornar realidade o sonho de dar sustentabilidade e autonomia de gestão
para o projeto, a partir da criação da cooperativa.
ESCOLARIDADE
A baixa escolaridade dos surdos, de uma forma geral, sempre é um
empecilho para qualquer projeto de inclusão social. “Eles simplesmente têm
uma enorme dificuldade em acompanhar o sistema tradicional de ensino. A
maioria deles nem completou o ensino fundamental, porque não sabe falar e
devido a isso a leitura torna-se muito complexa”, explica Denise.
No caso do “Saindo do Silêncio”, o surdo mais escolarizado é Luis Dinarte,
que tem a quinta série completa. Por conta dessa qualificação, ele foi o
escolhido para as tarefas administrativas e financeiras da Associação e da futura
cooperativa.
Vindo de uma família cujos irmãos são todos surdos, Luis é casado com
Helena, também surda. No caso dos dois, a surdez é fruto de complicações
genéticas. Seus filhos, porém, nasceram sem qualquer deficiência auditiva.
“Embora sejam inteligentes, gostem de cultura, os surdos geralmente não se
adaptam ao sistema tradicional de ensino. Há casos em que os professores
passam o ano todo sem saber que a criança é surda. Como essa é uma
deficiência que não se percebe à primeira vista, fica mais difícil combatê-la”,
pondera a relações públicas da Associação.
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Denise, formada em processamento de dados e letras, começou sua
aproximação com a associação de surdos há mais de 17 anos, em função de
suas atividades sociais na Igreja Batista. Criou uma ligação tão forte com os
surdos que aprendeu a Libras, e hoje tornou-se uma espécie de referência
local quando o assunto é deficiência auditiva. Atualmente, está à frente de
um projeto de inclusão digital para deficientes de uma forma geral, em parceria
com o Senai e com o Governo do Estado.
OUTRA CULTURA
A condição de ser surdo não é marcada pelo impacto negativo de uma
deficiência. Independente da causa (que pode ir de formação genética à rubéola
na gravidez, passando por excesso de medicação em recém-nascidos e algumas
doenças venéreas), a surdez engloba um estilo de vida totalmente diferente
daquele levados pelos “ouvintes”. A começar pela língua, que é diferente e
tem sua gramática própria.
Mas além da Libras, que é a segunda língua oficial do país, há um código
de conduta e valores comportamentais e morais que diferem dos não surdos.
“Dificilmente um surdo namora um ouvinte, porque poucos ouvintes dão a
O objetivo é chegar à formação de uma cooperativa de confecção de uniformes
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PARCERIAS POR UM BRASIL SEM FOME E MAIS JUSTO
atenção que o surdo necessita ter para se comunicar. O nome e o sobrenome
das pessoas não é o mais importante: o gesto definido para cada um de nós
vem de uma característica marcante, seja física ou de temperamento. Tudo
parte de uma associação”, explica Denise.
Outro aspecto interessante dessa cultura de surdos é a objetividade. Sem o
uso da língua oral, eles são mais diretos em suas observações. “Nossas piadas
são nossas, falamos quando uma pessoa está feia, dizemos a verdade”, comenta
Helena Dinarte, uma das surdas que levou de casa para o galpão o talento
com a costura.
PARA SABER MAIS
Furnas Centrais Elétricas
www.furnas.com.br
(21) 2528-4266
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PARCERIAS POR UM BRASIL SEM FOME E MAIS JUSTO
Dá para imaginar que a fabricação de um detergente salvou um casamento?
Pois é! O marido, que prefere não se identificar, estava desempregado há
meses e prestes a ser abandonado pela mulher, cansada de sustentar a casa
sozinha. Pressionado pela situação, ele decidiu se inscrever em um curso de
química oferecido pelo Centro de Educação Tecnológica e Profissionalizante
(CETEP),administrado pela Fundação de Apoio à Escola Técnica (FAETEC)
do Rio de Janeiro.
O resultado é que depois que passou a dominar o segredo da fórmula do
detergente e de vários outros produtos de limpeza, começou a fabricá-los
em casa e com isso conquistou uma clientela fiel. A mulher, não só desistiu
da separação como ainda se tornou parceira neste empreendimento
trabalhando como representante de vendas. Este é apenas uma das histórias
com final feliz colecionadas desde o ano de 2000, quando o curso foi
implantado.
A iniciativa de oferecer este tipo de curso partiu do Instituto Nacional
de Tecnologia – INT, órgão vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia
e um dos parceiros do Fome Zero. O projeto batizado “Tecnologia Solidária”
foi idealizado levando em conta a disseminação de tecnologias de baixo
custo e de alto valor agregado através da criação de empresas-escola, seguindo
um modelo auto-sustentável que pudesse oferecer uma alternativa real de
trabalho para pessoas de baixa renda. A unidade-piloto foi a Empresa-Escola
de Detergentes instalada na unidade da FAETEC de Quintino, subúrbio do
Rio, que já formou mais de 1,5 mil alunos.
O INT desenvolveu a primeira fórmula de detergente e cedeu dois
misturadores para mostrar aos alunos o produto em escala industrial e assim
motivar o crescimento dos futuros empresários. Em contrapartida, a
FAETEC, instalada numa antiga instalação da Funabem – Fundação
FÓRMULA DE VIDA INT
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Nacional do Bem-Estar do Menor, destinou uma área com cerca de 500
metros quadrados para montar o laboratório e a sala de aula que comporta
duas turmas mensais com 40 alunos cada.
Da cozinha industrial e do hospital desativados da FUNABEM, o
engenheiro químico e professor Laurindo dos Santos, “garimpou”, como
define, materiais importantes como utensílios da farmácia, mesas de metal
e balança mecânica. E assim, ele começou o desafio de ensinar química para
um grupo heterogêneo que inclui estudantes, donas de casa, aposentados
ou profissionais em busca de outra alternativa de trabalho. Este perfil
eclético de cada turma se deve aos poucos pré-requisitos necessários para
fazer a matrícula que são a idade mínima, 14 anos, e ter cursado, pelo menos,
a quarta série do ensino fundamental. Fora isso, o professor exige deles
apenas um único compromisso: vontade de aprender.
Para driblar a baixa escolaridade da maioria dos alunos e desmistificar a
complexidade da matéria que costuma assustar até os estudantes das escolas
tradicionais, o professor criou um método de ensino que passa longe das
frias e complicadas fórmulas escritas em um quadro-negro. “Ensino
contrariando a metodologia clássica. Não me preocupo com o que eles já
sabem, mas com o que podem aprender. Ao invés de apresentar os símbolos
que representam os elementos ou a composição das fórmulas, começo por
mostrar a química na prática”, resume ele.
Procurando explorar os “sentidos ocultos”, o professor optou por aulas
lúdicas e bem humoradas. Ao incentivar os alunos a colocar a “mão na
massa”, eles visualizam as mudanças químicas e aprendem a identificar pela
cor e viscosidade as reações e a qualidade dos produtos, desvendando assim
o processo de fabricação.
Para facilitar a vida dos “futuros empresários”, levou-se em conta também
a escolha de materiais que permitissem o mínimo de investimento. Desta
forma, equipados apenas com um balde de plástico, um pedaço de madeira
para misturar e um recipiente com medida, os alunos estão aptos a abrir o
negócio. O investimento na compra dos materiais necessários para fabricar
os produtos como formol, soda cáustica e essências, não ultrapassa R$ 20,00
Assim, a fabricação de dez litros de água sanitária, por exemplo, permite ao
“empresário” um lucro de cerca de R$ 7,00.
A embalagem é outro item considerado importante. Para manter a relação
de custo, qualidade e respeito ao meio ambiente, os alunos colocam o
produto em garrafas plásticas. Assim, o que era considerado lixo de difícil
47
PARCERIAS POR UM BRASIL SEM FOME E MAIS JUSTO
degradação biológica transforma-se em embalagem. Nem por isso eles
deixam de ser informados sobre a legislação da ANVISA que regula produtos
de limpeza. A importância da limpeza prévia das garrafas, a determinação
de colocar no rótulo toda as informações sobre a fórmula e o cuidado no
manuseio dos produtos são conceitos exaustivamente repetidos durante todo
o curso. Eles aprendem ainda que a cor deve evitar qualquer semelhança
com alimentos, para evitar acidentes domésticos.
A reengenharia do conhecimento é outra filosofia importante adotada
nesta escola. Os alunos aprendem as fórmulas básicas de mais de vinte
produtos, mas são incentivados a não adotar uma atitude passiva,
Futuros empresários aprendem os segredos da química: renda e auto-estima
48
reproduzindo só o que lhes é ensinado. Ao contrário, são estimulados a
desenvolver suas próprias misturas para obter um produto diferenciado e
de maior qualidade aliando beleza – na escolha de corantes que tornem o
produto mais atraente, nas essências – para atrair pelo cheiro e na eficiência
– no combate a fungos e bactérias.
Quando se chega a este ponto, os alunos se sentem orgulhosos por
conseguirem desvendar este mundo “misterioso” como resume Luís Carlos
Correia de Moraes,aposentado de 57 anos: “Achava que isso era só ‘coisa de
cientista’, agora sei que também posso fazer algo importante. Para Dalva
Pereira da Silva, de 56 anos, aprender química é como aprender a cozinhar.
“A gente mistura ovo,com farinha, leite e manteiga e faz um bolo”, resume
ela com sabedoria.
O curso também leva em conta outros aspectos importantes para que o
empreendimento de cada um dê certo. São dezesseis horas de aula prática e
oito de como montar uma cooperativa. Além disso, os alunos ainda recebem
noções de marketing, aprendem a calcular custos e projetar rentabilidade e
até a desenvolver rótulos para valorizar o que fazem. Em apenas um mês,
estão aptos a competir no mercado com produtos que não agridem o meio
ambiente e a saúde do consumidor.
Marco Antônio de Paula Souza é um bom exemplo da eficiência deste
curso. Ele já trabalhava vendendo detergentes, mas andava cansado de tanto
ouvir as donas de casa reclamando que o produto machucava as mãos. Sem
conseguir convencer o fornecedor a melhorar a qualidade, decidiu procurar
a escola. Com isso, se tornou efetivamente dono do próprio negócio ao
dominar todas as etapas. Com a ajuda da mulher, desenvolveu e passou a
fabricar uma linha diversificada de produtos de limpeza priorizando a
qualidade. Como resultado, triplicou a renda e conquistou clientes
importantes como hotéis, lojas e academias de ginástica. – Ganhei confiança
porque sei o que estou fazendo, resume Marco Antônio.
A escola também oferece acompanhamento técnico constante. Pelo site
www.escoladedetergente.hpg.com.br ou escrevendo para: Escola de
Detergente – CETEP, Rua Clarimundo de Melo, 847 – Quintino – Rio de
Janeiro-RJ, ex-alunos ou qualquer outra pessoa pode entrar em contato para
tirar dúvidas ou conseguir as fórmulas dos produtos. O professor Laurindo
explica que manter este canal aberto, além de divulgar o conhecimento, o
aluno não se sente desamparado porque sabe que pode contar com
consultoria especializada em qualquer fase do negócio.
49
PARCERIAS POR UM BRASIL SEM FOME E MAIS JUSTO
A lista de espera de interessados em fazer este curso é mais um indicador
do acerto desta fórmula. A cada mês são oferecidas quarenta vagas e mesmo
assim a escola não consegue atender a demanda crescente. Tal interesse se
justifica por várias componentes favoráveis: método simples de ensino,
gratuidade do curso e possibilidade de retorno rápido de renda. Os incentivos
também incluem um lanche e o direito de viajar de graça de ônibus.
PARA SABER MAIS
INT
Instituto Nacional de Tecnologia
www.int.gov.br
(21) 2123-1007
51
PARCERIAS POR UM BRASIL SEM FOME E MAIS JUSTO
Desde que foi implantado, há cerca de um ano, em Mirassol, cidade
localizada a 400 quilômetros de São Paulo, o projeto de escola de corte e
costura da Associação Brasileira de Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) já
atraiu o interesse de indústrias de dez outras cidades da região de São José do
Rio Preto, no noroeste do estado de São Paulo. Trata-se de um dos maiores
pólos de confecção infantil no País, com cerca 230 indústrias que respondem
por 30% da produção nacional desse segmento.
Nesse período, 40 artesãs, entre costureiras e aprendizes, já passaram pela
escola de confecção de Mirassol, instituição mantida com recursos do
Programa Carência Zero, criado pela Abit para incentivar a inclusão social
através do Primeiro-Emprego na cadeia têxtil e de confecção. Atende
aprendizes e costureiras de baixa renda que moram no município e no seu
entorno em busca de aprimoramento profissional.
O curso é ministrado por funcionário da Yellow Bug, indústria de roupa
infantil instalada no município, e que a cada ano pretende formar mais
costureiras. Parte delas será incorporada diretamente ao quadro de
funcionários da empresa, enquanto a outra não só continuará prestando
serviços à confecção como também a seus fornecedores, atualmente um grupo
de 30 pequenas confecções da região de Mirassol.
“Com o aumento da oferta de mão-de-obra qualificada, as empresas já
podem pensar em exportar seus produtos”, diz Sylvio Napoli, gerente de
infra-estrutura da Abit. A entidade, com sede em São Paulo, reúne 4,2 mil
indústrias, o equivalente a 15% do universo das empresas que operam no
País. Juntas, elas respondem por cerca de 80% do PIB do setor, que emprega
1.65 milhão de pessoas, chegando a movimentar US$ 40 bilhões, dos quais
US$ 24 bilhões pelas empresas de confecções e US$ 16 bilhões pela indústria
têxtil.
O projeto é resultado da parceria entre a Prefeitura de Mirassol, que cedeu
o terreno para a instalação da escola, a Abit, que forneceu as 13 máquinas de
TECE E ACONTECE ABIT
52
costura e a Yellow Bug, encarregada de ministrar os cursos. De acordo com
Napoli, o Programa Carência Zero garantiu o investimento, calculado por
ele em R$ 30 mil na compra de máquinas de costura, material didático,
instalações, entre outros. Até o momento, apenas a Yellow Bug participa do
programa, mas o interesse demonstrado por indústrias de outras cidades da
região levou o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) a integrar
os preparativos para a segunda etapa do programa: uma oficina móvel que
treinará e formará mão-de-obra especializada para outras confecções da região
de Rio Preto.
A escola de corte e costura de Mirassol, explica Sylvio Napoli, integra o
Programa Tece e Acontece, ação socialmente responsável desenvolvida junto
com o Fundo Social de Solidariedade, que, entre outras atividades, também
prevê a criação da Cooperativa de Costura Nova Heliópolis, comunidade
carente localizada na capital de São Paulo. Estima-se que o projeto irá
beneficiar cerca de 90 pessoas inicialmente, entre 16 e 29 anos de idade e
acima de 40, com renda familiar de até R$ 90,00.
Indústria aposta na inclusão pelo trabalho
53
PARCERIAS POR UM BRASIL SEM FOME E MAIS JUSTO
O Tece e Acontece está voltado à formação de multiplicadores, que terão
a tarefa de repassar os conhecimentos recebidos no Programa para a
comunidade de seu município. Dessa maneira, o trabalho de qualificação e
capacitação servirá como incentivo para que mais pessoas possam ser incluídas
no mercado de trabalho local ou tenham base de conhecimento para montar
sua própria confecção.
PARA SABER MAIS
ABIT
Associação Brasileira da Indústria Têxtil e da Confecção.
www.abit.org.br
(11) 3823-6175
Apoio a grupos vulneráveis para se unirem
em organizações que promovem a ajuda mútua e
a solidariedade entre os membros, para conseguirem
trabalho remunerado em bases sustentáveis.
APOIO À INSTITUCIONALIZAÇÃO
(Associativismo e Cooperativismo)
57
PARCERIAS POR UM BRASIL SEM FOME E MAIS JUSTO
Mar azul, vegetação exuberante. Uma paisagem de tirar o fôlego. Mas
nem tudo é beleza nas ilhas e enseadas de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro.
Nas praias mais afastadas ou nas regiões do “sertão”, o desenvolvimento
trazido pelo turismo passa bem longe das comunidades. A pesca e a
agricultura de subsistência já não garantem o sustento da família. Os homens
buscam trabalho na cidade, jovens e crianças não têm maiores ocupações e
as mulheres lutam para manter a casa. Informação e lazer são produtos de
luxo, tão raros quanto as oportunidades para uma vida melhor.
Um cenário que começa a ganhar um novo contorno, graças ao projeto
Ilha Viva, Sertão Vivo, desenvolvido pela Prefeitura de Angra dos Reis,
Universidade Rural do Estado do Rio de Janeiro e Eletronuclear, em parceria
com o Fome Zero. O Ilha Viva, Sertão Vivo já atingiu cerca de 600 famílias e
gera trabalho, renda e esperança para sete comunidades: Sertão do Perequê,
Caputera, Sertão do Bracuí, Praia da Longa, Praia Grande de Araçatiba,
Praia Vermelha e Sítio Forte. O investimento, bancado pela Eletronuclear,
até agora, se aproxima de R$ 210 mil em 5 anos. Mais que o dinheiro, observa
o Assessor de Responsabilidade Social da empresa, Eng. Paulo A. Gonçalves,
o que pesa é a criatividade, a iniciativa.
RIQUEZA NATURAL
Uma iniciativa e tanto. As comunidades aprendem a explorar a riqueza
natural à sua volta e descobrem talentos e potencialidades que nunca
poderiam imaginar. Gente que não tinha qualquer perspectiva de renda ou
trabalho vira artesã, doceira, produtora. Ganha auto-estima, multiplica
conhecimento e vai fincando raízes na terra onde nasceu e cresceu.
Margarida Vasconcelos da Silva, agricultora que virou artesã aos 58 anos,
abre um grande sorriso para contar sua história: “Eu ganhei alma nova.
ILHA VIVA, SERTÃO VIVO Eletronuclear
58
Não sabia, nunca na vida, que tinha essa vocação. Hoje fico admirando as
bolsas que faço, enfeito com uma sianinha, com uma pintura, acho uma
lindeza”.
As bolsas são de palha de bananeira. O que antes era jogado fora ou
queimado agora vira renda e trabalho para dezenas de famílias. “Depois
que a bananeira dá o cacho, ela é cortada, não serve mais. Mas a palha, bem
trabalhada, é resistente e maleável para o trabalho manual”, explica Gisele
Carvalho, coordenadora do projeto.
Em Sertão do Bracuí, onde dona Margarida mora, tem bananeira para
todo lado. Os estagiários do Ilha Viva, Sertão Vivo ensinaram as mulheres a
cortar, separar, secar e trançar a palha. Bolsas, cestos, potes, bijuterias e
tapetes de todo tipo vão brotando das mãos e da imaginação da comunidade
do sertão.
COOPERATIVA
“O povo aqui diz que eu agora respiro palha de bananeira”, brinca
Laudiana dos Santos, de 33 anos. É verdade. Na varanda da casa de Laudiana,
tem tronco de bananeira, palha sendo curtida, tear e todo tipo de peça de
artesanato. O dinheiro ainda é pouco: junto com outras três amigas, ela
conseguiu juntar R$ 248,00 no mês, vendendo as peças de palha. Mas a moça
já sonha mais alto. Ela e dona Margarida estão fundando uma cooperativa,
que, antes mesmo de formalizada, já tem 16 associados. “Vai dar, se Deus
quiser, para eu reformar a casa e ter um dinheirinho guardado. Mas
importante mesmo é que agora a gente está se juntando, trocando idéias.”
“A organização da comunidade é um dos grandes objetivos do projeto.
A idéia é abrir oportunidade de trabalho e renda para que as pessoas não
abandonem sua terra, seu contexto familiar. Mas, depois do empurrão inicial,
elas devem aprender a caminhar por conta própria”, observa a gerente de
Educação Comunitária da Secretaria de Educação de Angra, Elizabeth Souza.
O empurrão inicial dado pelo Ilha Viva, Sertão Vivo inclui apoio para o
escoamento da produção, em feiras e exposições não só em Angra dos Reis,
como em várias cidades do País. Na medida em que se organizam, as
comunidades também vão descobrindo, por si só, novos canais de
comercialização.
59
PARCERIAS POR UM BRASIL SEM FOME E MAIS JUSTO
DOCES, CONCHAS E AGRICULTURA
A rede hoteleira também vai descobrindo os talentos locais. E não é só
artesanato com palha de bananeira. A produção de doces nas comunidades
atendidas vai de vento em popa. Doce de banana, de goiaba, de jaca, manga,
abóbora, frutas que antes apodreciam pelo chão e que agora geram renda e
trabalho para dezenas de famílias. “O pessoal não tinha o menor
conhecimento de técnicas de higiene nem de esterilização de vidros. Não
adiantava fazer doce, se ele ia se perder em pouco tempo”, observa Elizabeth
Souza. Hoje, clientes é que não faltam nas pousadas ou até mesmo nas praias.
O artesanato com conchas é outra opção. “Embora as praias da região
não tenham tantas conchas, o pessoal consegue juntar material suficiente
para produzir quadros e ímãs de geladeira que fazem sucesso com os turistas”,
conta a gerente de Educação Comunitária.
O Ilha Vivo, Sertão Vivo também é importante para incentivar a produção
agropecuária das comunidades. Estudantes de Agronomia da Universidade
Rural vão de casa em casa para observar a plantação ou a criação de animais.
“Às vezes, eles dão orientações bem simples, sobre pragas ou sobre o local
da plantação, mas que fazem uma diferença e tanto na produção”, relata
Elizabeth Souza.
Novas técnicas absorvidas pela comunidade garantem produção de doces com as técnicas de higiene necessárias
60
No Sertão do Perequê, a comunidade tem sentido no bolso o efeito de
tanta orientação. Além de ter mais alimentos na mesa, as famílias estão
conseguindo uma produção extra para vender os hortigranjeiros numa feira
livre semanal, pelas redondezas. Uma experiência que o projeto quer
multiplicar e que pode ser estimulada com as hortas comunitárias montadas
nas escolas.
RESPONSABILIDADE SOCIAL
Na sede da Eletronuclear, o presidente Othon Luiz Pinheiro da Silva,
comemora o sucesso do Ilha Vivo, Sertão Vivo. E observa que a empresa tem
uma série de outros projetos sociais, entre eles uma cozinha comunitária
que funciona como central de produção e distribuição de multimistura, em
parceria com a Pastoral da Criança, na comunidade Nova Angra. A empresa
tem ainda um convênio com a Prefeitura de Angra dos Reis para oferta de
oficinas de corte e costura, artesanato, culinária e economia doméstica na
cidade. E mantém um hospital de primeira linha em Praia Brava, onde atende
não só os funcionários da Eletronuclear, mas toda a rede SUS e pessoas
acidentadas entre Angra e Paraty.
Margarida (à direita): alma nova ao descobrir nova vocação
61
PARCERIAS POR UM BRASIL SEM FOME E MAIS JUSTO
“A Eletronuclear tem um profundo respeito pelo ser humano e pelo meio
ambiente. Acredito que cada empresa, dentro de sua região de atuação, tem
de gerar condições materiais para o desenvolvimento social e para a melhoria
de vida da população”, analisa o Eng. Othon Silva. Para o presidente da
Eletronuclear, um dos papéis mais importantes das parcerias em torno do
Fome Zero é estimular a organização social: “Com apoio financeiro inicial
e ajuda profissional de nossos técnicos, essas comunidades podem depois
seguir seu próprio caminho. É o milagre da multiplicação dos pães.”
PARA SABER MAIS
Eletronuclear
www.eletrosul.gov.br
(21) 2588-7912
63
PARCERIAS POR UM BRASIL SEM FOME E MAIS JUSTO
Com a grade de madeira firme entre as pernas e a paciência infinita de
quem criou dez filhos driblando a seca e a miséria, dona Luísa Pereira da
Costa aperta os olhos miúdos e vai contando e puxando, um a um, os fios da
cambraia de linho. Nas casinhas que surgem aos poucos no tecido, pontos
delicados vão depois alinhavar e cobrir o que agora parece uma grande teia.
“A gente aí torce cada fio e cobre uma parte com o paleitão. Mais pra frente
ainda tem que perfilar, para dar o acabamento no bordado, para só então
recortar ele todinho, com jeito”, tenta explicar a velha senhora. Difícil não
se perder no labirinto de linhas, tramas e arte que vai brotando das mãos
ágeis de Luísa e de suas filhas, amigas, vizinhas. Um labirinto que começa a
gerar renda e esperança na pequena comunidade do Córrego da Nica, a 18
quilômetros de Aracati, no Ceará.
Foram os líderes comunitários da Pastoral da Criança que se deram conta
do potencial do labirinto no Córrego da Nica. Uma arte que foi passando de
geração em geração e que, ao lado da agricultura, sempre ajudou a garantir o
sustento de cada dia na comunidade. “De dia a gente ajudava o marido na
roça, de noite trabalhava no labirinto. Era o jeito de ter o de comer para a
família toda”, recorda Maria José Santos, que aprendeu os primeiro pontos
com a mãe, aos quatro anos, e ensinou depois os segredos do labirinto para as
cinco filhas. Só agora, aos 62 anos, Maria José começa a ver seus pontos e
tramas serem valorizados de verdade. A artesã que varava noites e noites
bordando sob a luz da lamparina para ganhar alguns trocados, hoje é uma das
19 mulheres do Córrego da Nica reunidas pela Pastoral no projeto Vencer
Juntos e já pensa até em formar uma cooperativa, para ajudar a comercializar
o labirinto.
“A gente já estava era pra desistir do labirinto. Passava mais de mês para
fazer uma toalha e na hora de vender às vezes mal tirava o gasto com o tecido,
a linha, a agulha. Com o projeto agora ficou mais fácil de vender, o pessoal
faz encomenda, e a gente aprendeu a botar um preço direito no trabalho”,
NA PONTA DOS DEDOS Pastoral da Criança
64
conta Maria José. A professora e líder comunitária da Pastoral, Maria Lúcia
dos Santos Silva, resume: “Agora elas vendem o labirinto, antes elas davam.”
As peças, que de uns tempos para cá começaram a ficar esquecidas nas gavetas,
por falta de comprador, já foram parar até nos Estados Unidos, orgulha-se
Maria Lúcia.
A idéia do Vencer Juntos, o projeto de geração de trabalho e renda que a
Pastoral da Criança desenvolve em parceria com o Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), é exatamente aproveitar
o potencial de cada comunidade. No caso do Córrego da Nica, a arte do
labirinto, que já começava a ser esquecida pelos mais jovens, só precisava de
um empurrãozinho. O dinheiro para a compra da matéria-prima –R$ 1.130,00,
a serem reembolsados, sem juros, em cerca de dois anos, para aplicação em
outros projetos do Vencer Juntos – nem é o mais importante. A diferença mesmo,
explica Francisca Geane, técnica do Vencer Juntos em Aracati, é a organização
das mulheres em torno de um projeto de geração de renda, sua capacitação
para cuidar do negócio e o apoio para participar de feiras e eventos promovidos
pelo Sebrae.
Capacitação agregrou valor ao trabalho das artesãs
65
PARCERIAS POR UM BRASIL SEM FOME E MAIS JUSTO
CARNAÚBA
A vinte minutos do Córrego da Nica, em Itaiçaba, a história é bem parecida.
Lá, também, as mulheres conhecem o ofício do artesanato ainda criança. De
geração em geração, aprendem a tecer beleza e sustento com o que a natureza
oferece de sobra: a carnaúba. Mas os carnaubais, que se estendem por onde a
vista alcança, têm dono. E para garantir o dinheiro miúdo do artesanato, é
preciso pagar pela palha. E pagar pela tinta que colore cestos, tapetes e potes,
pelas luvas e máscaras para não se intoxicar com a tinta. E sofrer com a
exploração dos atravessadores, que oferecem uma ninharia em troca do talento
e do suor das artesãs.
“Com o projeto da Pastoral a gente mesma pode agora vender as peças nas
feiras e ganhar muito mais. Um cesto que sai a R$ 4,00 para o atravessador, a
gente consegue vender a R$ 7,00 ou R$ 8,00”, conta Maria Amélia Batista,
com a experiência de quase 60 anos trabalhando com a palha da carnaúba.
Um trabalho complicado: é preciso colocar a palha para secar, depois riscar
com a ponta da faca cada gomo para só depois começar a fazer os pontos,
enrolando e enrolando a palha na ponta do dedo. O colorido, que enche os
olhos dos turistas, é a última etapa.
A palha de carnaúba vira arte e promove a cidadania no interior do Ceará
66
Por enquanto são apenas nove artesãs no grupo do Vencer Juntos – cada uma
conseguiu um empréstimo de R$ 250,00 para a compra do material, principalmente
da tinta, que vem de São Paulo. Mas a Pastoral já trabalha em parceria com a
Associação de Artesãs da cidade, que tem 250 associados, e a experiência do grupo
vai só se multiplicando. Importante, explica a técnica Francisca Geane, é a divulgação
do artesanato de Itaiçaba nas feiras do Sebrae, que também se encarrega de ensinar
novas técnicas às artesãs, agregando valor ao seu trabalho. Com os olhos fixos no
trançado que vai brotando dos dedos ligeiros, Ângela Freitas, conta, orgulhosa: “A
gente já foi para Fortaleza, Canoa Quebrada, Recife.”
EXEMPLOS
Córrego da Nica e Itaiçaba são só dois exemplos. Em outras cidades do
Nordeste e do norte de Minas Gerais, onde mulheres e crianças carentes já são
acompanhadas pela Pastoral da Criança, o Vencer Juntos vai, aos poucos, se
multiplicando. São projetos de artesanato, agricultura familiar, unidades de
beneficiamento de produtos agrícolas, capacitação de grupos comunitários e
associativismo. O dinheiro – R$ 2,3 milhões – vem do Fome Zero. O
compromisso da Pastoral da Criança com o MDS é atender 2 mil famílias até
2006, contribuindo para o combate à fome e à pobreza e promovendo a inclusão
social e a cidadania de famílias carentes.
A arte do labirinto vira exercício de cidadania no interior do Ceará
67
PARCERIAS POR UM BRASIL SEM FOME E MAIS JUSTO
“É uma parceria importante. A Pastoral tem uma metodologia de mais de
vinte anos. Sabemos como chegar às localidades mais carentes, conhecemos
os líderes comunitários. É a nossa contribuição, dentro da perspectiva do
Fome Zero, para que mais famílias tenham o que comer”, pondera a
responsável pelo Vencer Juntos, Maria das Graças Silva.
A presidente da Pastoral da Criança, Zilda Arns, lembra que a entidade
atua em 37 mil comunidades e que, em todas elas, há um envolvimento com
o Fome Zero. A Pastoral ajuda a encaminhar a população para programas
como o Bolsa Família e o BPC – Benefício de Prestação Continuada, dirigido
a idosos e deficientes. Ajuda, também, a fiscalizar o cumprimento desses
programas. O Vencer Juntos, a presidente observa, ainda é um projeto limitado,
mas a Pastoral acredita na importância da descoberta de talentos e do impulso
ao empreendedorismo, em projetos de geração de renda, para a redução,
efetiva, da miséria e da fome no País.
Dona Luísa, com seu labirinto, e dona Maria Amélia, com seus cestos de
palha de carnaúba, não têm lá muita noção de políticas públicas. Mas com a
experiência de quem já viveu a fome de perto e tem a esperança bem na ponta
dos dedos, elas sabem que dona Zilda está cheia de razão.
PARA SABER MAIS
Pastoral da Criança
www.pastoraldacrianca.com.br
(61) 3235-5343
69
PARCERIAS POR UM BRASIL SEM FOME E MAIS JUSTO
A Fundação Oswaldo Cruz, um centro de excelência em pesquisa na área
de ciência e tecnologia em saúde, mesmo sempre tendo adotado uma política
de abertura e envolvimento com a comunidade local, não escapou da violência.
Instalada na Avenida Brasil, uma das principais vias de acesso ao Rio de
Janeiro, em 1994 a instituição viveu um dos seus piores momentos quando
ficou no fogo cruzado entre a polícia e traficantes de drogas.
Em vez de isolar-se, a Fiocruz decidiu ampliar ainda mais o seu
envolvimento com as comunidades carentes do entorno. O passo decisivo foi
um programa de ensino e trabalho concebido por um dos seus pesquisadores,
Szachna Eliasz Cynamon, batizado de “Universidade Aberta”. O resultado é
um dos projetos de geração de emprego e renda mais bem sucedidos do país.
Em parceria com a comunidade, criou-se uma cooperativa que passou a
oferecer instalações físicas, computadores, material de consumo e a
participação de pesquisadores, funcionários e técnicos do Banco do Brasil. O
então presidente da Associação dos Moradores, Gilberto Silva, lembra que
reuniu um grupo com cerca de cem pessoas que apostaram na idéia. Para
arrecadar o dinheiro necessário, cataram e venderam papelão. Em setembro
daquele ano começavam as atividades da Cooperativa dos Moradores do
Complexo de Manguinhos (Cootram).
Para absorver a nova mão-de-obra, a Fiocruz não renovou o contrato com
uma empresa de conservação. Porém, manteve os antigos funcionários e abriu
vagas nas áreas de limpeza, conservação e jardinagem, com a condição de que
fossem moradores das áreas próximas e estivessem desempregadas. Mesmo
arcando com a capacitação profissional, a Fiocruz conseguiu uma redução de
30% nos custos de manutenção.
“Mostramos que podíamos fazer um serviço bom, bonito e barato” lembra
o atual presidente da cooperativa, orgulhoso do cadastro atual com mais de
CONTRA A VIOLÊNCIA Fiocruz
70
dois mil cooperativados. Esta parceria com a Fiocruz tem sido tão bem
sucedida que a Cootram agora, já tem fôlego suficiente para implantar projetos
próprios como a Criação do Centro de Cultura, Arte e Música Pixinguinha
que oferece, além das aulas de música, incluindo coral, orquestra e violino,
cursos de dança, capoeira e teatro.
VIOLÊNCIA DIMINUIU
Para chegar a esse ponto, Gilberto Silva ressalta a importância da concepção
do programa baseada em parcerias. “Foi fundamental porque os moradores
se sentiram ativos e responsáveis pela implantação da cooperativa” afirma o
presidente. Um dos indicadores, segundo ele, é que mesmo empregando ex-
presidiários e ex-traficantes, a cooperativa nunca registrou qualquer tipo de
problema. As estatísticas da Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro
confirmam que os índices de violência na área foram reduzidos em 60% desde
a implantação da Cootram.
Além dos números, a trajetória de um dos beneficiados é o que melhor
traduz a importância da iniciativa. Andréia Tavares, a caçula de sete irmãos,
sendo dois alcoólatras e outro traficante banido da comunidade, pai agressivo
Andréia agora sente orgulho de si mesma, como os demais membros da cooperativa
71
PARCERIAS POR UM BRASIL SEM FOME E MAIS JUSTO
e viciado em drogas, ela teve que sair de casa para fugir dos maus tratos.
Órfão de mãe aos dez anos, como última alternativa foi trabalhar como
empregada doméstica em troca de comida e do direito de continuar a
freqüentar a escola. Aos quinze ficou grávida. Na condição de mãe solteira e
sem poder contar com a ajuda de ninguém passou a viver de biscates como a
venda de limão nas ruas.
Esta fase turbulenta e confusa só terminou aos 17 anos, quando ela
conseguiu uma vaga na Cootram. Andréia começou como servente, mas longe
de se sentir humilhada por cuidar da limpeza dos banheiros da Fiocruz, ela se
reconheceu como cidadã. Pela primeira vez, teve direito à carteira de trabalho
assinada, vale-transporte e alimentação.
Consciente da oportunidade profissional, começou a usar o tempo livre
para estudar. Cursos de informática, administração e secretariado
contemplados pelo convênio, passaram a ser uma alternativas reais. Em apenas
nove anos, saiu da função de servente para assumir a chefia do Departamento
de Pessoal da cooperativa. “Antes não tinha metas a cumprir e nem me dava
ao direito de sonhar. Agora sinto orgulho de mim mesma ” afirma Andréia.
AMPLIAÇÃO CONSTANTE
Para manter e ampliar a parceria, o Governo Federal repassa
aproximadamente R$ 14 milhões por ano em recursos do Fome Zero, que
aposta na inclusão social e na geração de renda para as comunidades carentes.
Vítor Labre, representante da Fiocruz na parceria, afirma que, além da criação
de cerca de 800 empregos diretos, a continuidade do programa e a sua
ampliação constante foram importantes para estabelecer uma relação de
confiança com a comunidade. “Os moradores se sentem donos da Fundação.
Elas a reconhecem e a respeitam como patrimônio de todos. Para muita gente,
aqui é quase como uma extensão da própria casa” diz.
Que o diga Luísio Constantino Faceiro, que passa mais de doze horas na
Fiocruz entre trabalho e estudo. Aos 33 anos, ele tem pela primeira vez, a
chance de freqüentar regularmente uma escola. Os pais dele, com nove filhos,
nunca puderam arcar com este tipo de despesa. Nenhum deles pôde ir às
aulas porque sequer tinham sapatos, quanto mais dinheiro para comprar
cadernos e livros. “Sem instrução, fui varrer lixo nas ruas engolindo
humilhação diariamente. Ninguém falava comigo a não ser para me ofender”
lembra, com lágrimas nos olhos.
72
Faceiro agora é Supervisor Operacional, função que lhe dá o direito de
coordenar toda a equipe de jardinagem, definir as prioridades e checar a
qualidade do trabalho feito. Ele, porém, parece ter dificuldade de esquecer o
desprezo que sentiu ao longo da vida. Sabe, no entanto, que hoje tem condições
de oferecer uma vida melhor para o único filho, de dois anos. “Não quero
que ele passe pelo que passei. Vou fazer o que puder para garantir escola
dele” afirma convicto.
Conscientes que uma mudança efetiva também passa, obrigatoriamente,
por programas de educação, a Fiocruz e a Cootram trabalham agora para
ampliar o acesso à escola. Além do ensino fundamental oferecido desde 1994,
foi implantado no ano passado um projeto ainda mais ambicioso: alfabetização
para adultos, que conta com mais de dois mil alunos atualmente. Para este
ano, estão em fase de montagem o curso de segundo grau e o de capacitação
profissional em parceria com a Escola Politécnica de Saúde.
O cooperativismo reduziu em 60% os índices de violência na região
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PARCERIAS POR UM BRASIL SEM FOME E MAIS JUSTO
O presidente da Fiocruz, Paulo Buss, reforça o acerto desta parceria entre
o Governo Federal, a Fundação e as comunidades carentes: “A geração de
trabalho e renda através do cooperatismo é uma das formas mais efetivas de
superação da exclusão social. A decisão coletiva e a repartição dos frutos do
trabalho é uma forma diferente de organização da produção. A experiência
de Manguinhos comprova que estas iniciativas podem ajudar na inclusão de
comunidades de baixa renda”.
PARA SABER MAIS
Fiocruz
Fundação Oswaldo Cruz
www.fiocruz.br
(21) 3884-0290
Aquisição de equipamentos e de infra-estrutura para
apoiar atividades produtivas de comunidades ou
agrupamentos carentes.
INFRA-ESTRUTURA E LOGÍSTICA
DE PRODUÇÃO
77
PARCERIAS POR UM BRASIL SEM FOME E MAIS JUSTO
Os três pescadores não se fazem de rogados. Pele curtida pelo sol da
Amazônia, mãos calejadas pelo trabalho de uma vida inteira no rio, eles
levantam um dos 28 tanques contruídos à beira do Candeias. Riem diante do
espanto dos visitantes, ao verem centenas de tambaquis se debatendo no fundo
da rede e espirrando água para todo lado. Um espanto justificado. A pesca
predatória vem acabando com os peixes da região. A produtividade natural
do rio, que nunca foi lá muito piscoso, não passa de uma grama de pescado
por metro cúbico de água. Nos tanques, ela cresceu mais de mil vezes.
Com pouco mais de um ano, o projeto de criação de tambaquis em tanques-
redes, desenvolvido pelas Centrais Elétricas do Norte do Brasil, a Eletronorte,
em Candeias do Jamari (RO), já apresenta um resultado impressionante: 25
toneladas de pescado no ponto de consumo e outras 26 toneladas que estarão
prontas para abastecer a população ainda no primeiro semestre deste ano.
“É uma fartura, eu só via assim lá no Amazonas, muito tempo atrás”,
comenta Francelino Pinheiros, do alto de seus 63 anos e décadas de luta com
barco, rede e anzol. Tanta fartura é fruto de trabalho duro, que transformou
25 pescadores artesanais em piscicultores profissionais intensivos, com
diploma e tudo, conferido pela Eletronorte e pelo Governo do Estado de
Rondônia. Selecionados pela Colônia de Pescadores da cidade, primeiro eles
tiveram de passar por um curso de aproveitamento de águas improdutivas
para criação de peixes em tanque-rede. Depois, com a ajuda das mulheres e
dos filhos, construíram a infra-estrutura flutuante de 632 metros quadrados
que dá suporte aos tanques-redes, vigiados dia e noite em regime de plantão.
UM SÍMBOLO
O dinheiro, por enquanto, vem pingando aos poucos. A comercialização
começou em fevereiro passado e 30% da receita vão para um fundo que irá
garantir a sustentabilidade do empreendimento, que teve um investimento
PEIXE NA REDE Eletronorte
78
de R$ 200 mil da Eletronorte, uma das empresas parceiras do Fome Zero.
Mas os 65% que vão parar no bolso dos pescadores, que agora comercializam
diretamente o pescado num galpão construído com recursos do projeto,
prometem fazer diferença na vida das famílias ribeirinhas. O lucro nessa
primeira etapa pode chegar a R$ 3 mil. É só o começo, todos concordam.
“Aqui não tinha mais peixe, nem emprego”, lembra Antônio de Almeida
Sobrinho, o engenheiro de pesca responsável técnico pelo projeto. “Se
podemos produzir 135,43 quilos de pescado por metro cúbico de água, não
podemos permitir que pescadores e comunidades tradicionais no Brasil passem
fome. A criação de peixe em tanques-redes pode ser o caminho mais curto
para se erradicar a fome no Brasil”, entusiasma-se o engenheiro. O entusiasmo
do gerente regional da Eletronorte, Fernando Fonseca, não é menor: “A
produção de pescado em tanques-redes muito em breve será o símbolo do
Fome Zero”. Para mostrar que não estão exagerando, os técnicos listam as
vantagens do projeto, como produção regular de alimento, geração de
emprego, distribuição de renda e, conseqüentemente, o desenvolvimento da
economia regional com qualificação profissional, segurança alimentar e
inclusão social.
Criação de tambaquis em tanques muda a vida de pescadores em Rondônia
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PARCERIAS POR UM BRASIL SEM FOME E MAIS JUSTO
A preservação dos recursos pesqueiros é outro ganho inestimável. “Só dessa
maneira nossos cardumes terão um descanso para se recompor. Nossos
estoques pesqueiros não suportam os atuais níveis de exploração da pesca
profissional em todos os rios de Rondônia”, avalia o secretário de Estado do
Meio Ambiente, Augustinho Pastore.
Dona Isabel Rodrigues, que criou dez filhos com o dinheiro miúdo da
venda de pacu, piau, pintado, pirapitinga e tambaqui, também não deixa
dúvidas sobre as vantagens do projeto. “A vida de pescador é muito
precipitada. Já passei foi muita preocupação com jacaré, com cobra. Isso sem
contar que nos últimos tempos tinha vez que meu marido ia por aquela água
toda dias seguidos e não trazia era nada de peixe”.
Na rede estendida ao lado, dona Vanda Oliveira balança a cabeça,
concordando com a comadre. Ela conta que a filha mais velha, Aldenora, fez
questão de participar do curso de tecnologia de pescado da Eletronorte, para
aprender a secar, limpar, salgar e defumar o peixe. Aldenora agora pode usar
o secador solar, a salgadeira artesanal, os defumadores e toda a infra-estrutura
hidráulica, elétrica e sanitária que a empresa montou na Colônia dos
Pescadores para preparar o pescado.
SEMENTE
“Pode até parecer estranho, mas muito desse pessoal não sabia nem como
limpar e eviscerar direito um pescado. O baixo nível tecnológico do pescador
artesanal da Amazônia faz com que cerca de 13% de toda a produção do
pescado da Amazônia sejam desperdiçados”, observa o engenheiro ambiental
da Eletronorte, Fernando Bastos.
Tanta informação nova enche os olhos dessa gente simples. Adão de Araújo,
de 44 anos, é um dos 25 pescadores que aprenderam a pesar e medir os peixes,
dosar e controlar a ração diária, instalar as telas protetoras, limpar e cuidar
dos tanques. Ele também está aprendendo, junto com os colegas, a administrar
o próprio negócio. Porque a idéia, segundo a direção da Eletronorte deixa
bem claro, é que, com o tempo, os novos piscicultores possam caminhar com
as próprias pernas.
Fernando Bastos, explica: “A gestão é deles, monitorada por nós, até o
momento em que eles possam tocar tudo por conta própria. Como a empresa
está inserida num contexto ambiental de impacto na produção pesqueira,
temos a obrigação de reduzir esse impacto e de trabalhar pelo desenvolvimento
80
sustentável da Amazônia, ainda mais em Candeias do Jamari, que nasceu com
a construção da Usina Hidrelétrica Samuel.” Bastos sonha alto: “O ideal seria
transformar os 2,5 mil pescadores cadastrados em Rondônia em piscicultores.
Estamos plantando uma primeira semente e já provamos que dá certo.”
Uma semente que promete dar novos frutos em breve. A Eletronorte já
está desenvolvendo uma experiência pioneira de criação de jatuaranas ali
mesmo, em Candeias do Jamari. E, embora num estágio ainda inicial, os
resultados já são animadores. A jatuarana é bastante resistente, cresce bem
mais rápido e é mais valorizada comercialmente que o tambaqui. “A jatuarana
é o peixe que vai dar futuro aqui. Hoje ele está a R$ 9,90 o quilo no mercado.
Criando no tanque, a gente vai poder vender fácil, fácil por R$ 7,00 e ainda
ter um lucro danado de bom”, prevê o pescador Hilário Veigant.
A empresa tem uma perspectiva de investimento de R$ 3,3 milhões, em
projetos de agricultura familiar, avicultura, piscicultura e qualificação
profissional. “A Eletronorte, em todos os seus níveis, tem total noção da
De pescadores artesanais a piscicultores: emprego e renda
81
PARCERIAS POR UM BRASIL SEM FOME E MAIS JUSTO
importância de sua política de responsabilidade social. Por isso, somos
parceiros de primeira hora do Fome Zero, trabalhando em diversas frentes.
E vamos continuar colaborando com o Fome Zero, desenvolvendo parcerias
e novas iniciativas, para que nosso país possa diminuir as desigualdades sociais
e acabar com o flagelo da fome de uma vez por todas”, conclui o presidente
Roberto Garcia Salmeron.
PARA SABER MAIS
Eletronorte
Centrais Elétricas do Norte do Brasil
www.eln.gov.br
(61) 3429-5333
Ações de microcrédito produtivo orientado e bancarização.
A CESSO A CRÉDITO
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PARCERIAS POR UM BRASIL SEM FOME E MAIS JUSTO
Cena 1: Sete da manhã em Monteiro, no Cariri paraibano. Na porta da
Associação dos Ovinocaprinocultores, a fila começa a crescer. Gente que vivia
de um serviço aqui e ali, na fazenda dos outros, e que nunca imaginou ganhar
um centavo com leite de cabra, vai chegando de todo canto, com baldes e
baldes do leite. Cada litro significa R$ 1,00 no bolso do produtor. A usina da
associação beneficia de 3 mil a 3,5 mil litros por dia. O que antes não tinha o
menor valor hoje já garante o sustento de pelo menos 85 famílias.
Cena 2: Três da tarde em Chorozinho, no semi-árido cearense. Na mini-
fábrica de castanha de caju da Associação Comunitária Construtores da Paz,
protegidos por toucas e máscaras brancas, produtores e produtoras rurais
trabalham em silêncio, ocupados com o trabalho minucioso de raspagem e
seleção das amêndoas de caju. Os tempos de só plantar e colher a fruta, para
vender a castanha por um preço minguado ao atravessador, ficaram para trás.
Os 39 produtores da associação agora são donos de sua história: plantam,
colhem, beneficiam, embalam e vendem. As castanhas de Chorozinho, logo
vão parar na Itália e nos Estados Unidos.
Por trás dos dois cenários, está o Programa de Aquisição de Alimentos
(PAA), do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS),
e um dos maiores parceiros do Fome Zero, o Banco do Brasil. É o dinheiro
do PAA que assegura a compra do leite e da castanha de caju, a um preço
justo. É o crédito do Banco do Brasil que permite a compra e custeio dos
animais em Monteiro e a Fundação Banco do Brasil que garante a estrutura e
assistência técnica da minifábrica de caju de Chorozinho – uma das 50 que já
começam a se espalhar pelo Nordeste. Dois projetos que estão mudando a
realidade de centenas de produtores rurais, gerando renda e trabalho e
estimulando o desenvolvimento econômico sustentável de pequenas
comunidades do semi-árido.
DONOS DA PRÓPRIA HISTÓRIA Banco do Brasil
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LEITE DE CABRA
Foi tanta mudança que os produtores de Monteiro ainda se espantam.
Cabra, todo mundo por ali sempre teve umas duas ou três, no fundo da casa.
Mas só mesmo para comer uma carninha de bode, de vez em quando, ou
ganhar um dinheiro miúdo com a venda de um cabrito ou outro, no final do
ano. O leite, quando sobrava, ia parar no lixo.
“A gente achava que o leite fedia a pai do chiqueiro, não prestava pra nada.
Quando o pessoal aqui da associação montou a usina e perguntou se a gente
não queria vender leite de cabra, todo mundo achou foi muito esquisito. Quem
é que ia querer tomar esse leite, meu Deus?”. Cícero Batista dá risada quando
lembra daqueles primeiros tempos. Ele aprendeu a separar o bode das cabras e
a higienizar bem as tetas, para acabar com o cheiro forte do leite. Em três anos,
as duas cabras de Cícero viraram dez. Melhor ainda: dez cabras das boas, bem
diferentes das cabras “pé-duro”que ele tinha antes. A melhoria genética – com
animais que produzem até dez vezes mais – é um dos segredos do projeto, que
envolve, além do Banco do Brasil, a Emater, a Prefeitura de Monteiro, a Empresa
de Pesquisa Agropecuária da Paraíba, o Sebrae, a Associação dos
Ovinocaprinocultores do Cariri Ocidental Paraibano e o Centro de
Desenvolvimento Integrado da Ovinocaprinocultura de Monteiro (Cendov).
A usina da associação beneficia de 3 mil a 3,5 mil litros de leite por dia
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PARCERIAS POR UM BRASIL SEM FOME E MAIS JUSTO
O dinheiro para comprar e manter os animais, Cícero arranjou no Banco
do Brasil. Além da facilidade para conseguir o crédito, os juros de 4% ao ano
(3%, se o pagamento estiver em dia) não assustam o produtor. Ainda mais
porque o pagamento vai sendo descontado aos pouquinhos pela associação,
em produto, na hora da entrega do leite. Outra vantagem: no caso do
empréstimo de R$ 3 mil para investimento, o prazo de pagamento é de quatro
anos, com um desconto de R$ 700,00, no final; no caso do empréstimo de
R$ 1 mil para custeio, o prazo é de um ano, com um desconto de R$ 200,00.
Compensa? E como, pelas contas de Cícero: “Antes eu trabalhava aí pela
fazenda dos outros, ganhando R$ 30,00 por semana. Hoje tiro R$ 15,00 por
dia com o leite de cabra e já contratei até um empregado para me ajudar.”
José Aguinaldo Quaresma, outro que nunca sonhou em comprar sequer
um quilo de açúcar com a renda do leite de cabra, também mudou de vida
depois do projeto de caprinocultura leiteira. Hoje, José Aguinaldo tira 50
litros de leite por dia e garante renda para outro pai de família, que o ajuda
com a criação três vezes por semana. “Daqui um ano, quero estar botando
100 litros aqui na usina, se Deus quiser.”
PAA
Cem litros é o limite de compra do PAA-Leite, por produtor. Cada litro
vale R$ 1,40 – a associação repassa R$ 1,00 para o produtor e usa os outros
R$ 0,40 para as despesas com a usina e a expansão do projeto. O dinheiro
certo (80% do MDS e 20% do governo da Paraíba) significa tranqüilidade e
esperança. “Não era só a falta de costume do pessoal. Também não adiantava
produzir antes, porque não tinha para quem vender. Todo mundo saiu
ganhando: o povo aqui melhorou foi muito de vida e o leite que a gente
vende o governo distribui de graça para quem precisa”, conta o presidente da
Associação dos Ovinocaprinocultores, Alfredo de Queiroz Viana. O leite,
que passa por testes de acidez e densidade e sai embalado da usina em saquinhos
do Fome Zero, vai para crianças, gestantes, nutrizes e idosos de Monteiro e
de outros seis municípios do Cariri da Paraíba.
O gerente do Banco do Brasil em Monteiro, Sonielson Juvino Silva, lembra
mais: o dinheiro da caprinocultura leiteira injetou ânimo novo no comércio
de Monteiro. Afinal, pelos cálculos do Cendov, são cerca de R$ 85 mil a mais
circulando todo mês na cidade. Sonielson observa, ainda, que até junho um
“Bodemóvel” do Sebrae vai estar rodando pelas comunidades mais isoladas,
levando assistência técnica e exames laboratoriais a produtores que hoje têm
dificuldade de acesso ao projeto. “A caprinocultura é uma estratégia de
desenvolvimento muito importante para a região, onde a agricultura é inviável
e o gado bovino inacessível para os pequenos produtores”, avalia.
88
Outro ganho importante, segundo o gerente do BB, é o incentivo ao
cooperativismo. O banco só abre crédito para quem faz parte da associação.
É a capacidade de organização dos produtores rurais que vai garantir outro
salto na vida dos pequenos pecuaristas: em abril, o MDS fechou convênio
com a associação para compra antecipada, através da Conab, de carne de bode.
A carne vai para a merenda escolar das crianças do Cariri e o dinheiro –
R$ 1 milhão – vai entrar tão logo comece a funcionar o abatedouro que está
sendo montando em parceria com outras associações da região.
“Vamos fechar a cadeia produtiva. Com esse dinheiro do PAA, o pessoal
que está vivendo do leite de cabra hoje vai poder vender os cabritos para o
governo, através da associação. Mais para frente, a gente quer fazer um curtume,
para aproveitar o couro. O rebanho vai poder aumentar mais ainda, com o
dinheiro do Banco do Brasil, a Emepa e o Sebrae vão continuar garantindo
toda orientação para vacinar e cuidar dos animais. Daqui um tempo a gente já
vai poder se arriscar no mercado privado”, entusiasma-se Alfredo Viana.
Entusiasmo para lá de justificado. O mercado hoje não paga mais de R$
4,00 pelo quilo da carne de bode, que é abatida clandestinamente e não tem
qualquer controle sanitário. O governo vai pagar R$ 8,00 o quilo, com a
garantia de uma fiscalização rigorosa de qualidade, por parte da associação.
A tendência, explica Alfredo, é que o preço do governo acabe regulando o
preço na iniciativa privada.
CASTANHA DE CAJU
As minifábricas de castanhas de caju, investimento social da Fundação
Banco do Brasil, com tecnologia da Embrapa, despertam um entusiasmo
parecido. O projeto prevê a recuperação e a implementação de novas unidades
no Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte, Maranhão e Bahia. Cada estado contará
com dez minifábricas e uma central de classificação e seleção destinadas à
exportação de castanhas e de dois módulos agroindustriais de beneficiamento
do pedúnculo do caju. O volume de investimentos é considerável: são R$ 3,5
milhões da Fundação, R$ 4,2 milhões do Sebrae e R$ 1 milhão da Telemar.
Sem contar a linha de crédito especial do Banco do Brasil para compra de
castanhas de caju, os investimentos do banco destinados a capital de giro
para as minifábricas e o apoio decisivo do MDS e da Conab, através do PAA,
que garante a compra antecipada da castanha.
Tanto esforço tem um objetivo bem específico: estruturar a cadeia
produtiva do caju e gerar uma renda média mensal de R$ 520,00 por família
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PARCERIAS POR UM BRASIL SEM FOME E MAIS JUSTO
cooperada ou associada. “O programa não está preocupado apenas em doar
máquinas, construir prédios. Em consonância com a política do Fome Zero,
nossa proposta é desenvolver um modelo de negócio que seja viável e auto-
sustentável nas comunidades. O grande diferencial do projeto é que, pela
primeira vez, os produtores, através das associações e das cooperativas,
dominam todas as etapas do processo, do plantio até a exportação”, alerta o
presidente da Fundação Banco do Brasil, Jacques Pena.
Para chegar lá, ainda falta muito. Mas as minifábricas de caju já dão os
primeiros frutos no Piauí e no Ceará. Antônio Cleonilson que o diga. Líder
da mini fábrica de Chorozinho, ele tem os números na ponta da língua: antes,
cada um dos 39 associados não conseguia mais que R$ 1,60 pelo quilo da
castanha; hoje, o ganho chega a R$ 2,50. Só Antônio tira, por safra, de 5 a 7
toneladas de castanha. Mais: a mini fábrica gera trabalho e renda extra para
boa parte dos associados. Antônio, mesmo, tira um salário mínimo por mês
para administrar a mini fábrica. A mulher também ganha um dinheiro extra,
fazendo faxina na unidade, que emprega outros 16 associados como cortadores,
raspadores, classificadores e selecionadores da amêndoa. O ganho é por
produção ou por diária – R$ 12,00.
O projeto de caprinocultura leiteira dá novo rumo à vida de produtores rurais no Nordeste
90
Sem tirar os olhos das amêndoas, que vai selecionando, com mãos ágeis,
em oito tipos, segundo tamanho e cor, Francisca Feitas conta que dá para
tirar uns R$ 150,00 por mês com o trabalho na mini fábrica. Fora a venda da
castanha produzida pelo marido. “Achei foi ótimo sair do trabalho pesado
no roçado, debaixo do sol quente. Já dá para tirar o sustento da família aqui,
agora é só melhorar de vida”, comenta Francisca. “Se todo mundo quiser,
isso aqui vai pra frente mesmo”, emenda a colega Maria Alves.
O marido de Maria, José Francisco Alves, vai direto ao ponto: “Quando a
gente vende in natura não tem agregação de valor. Isso aqui mudou a nossa
vida da água para o vinho. Sem contar que muita gente agora está contratando
outros trabalhadores para ajudar na plantação.” Além do trabalho de assessoria
técnica do Sebrae e da Embrapa, Francisco foi um dos muitos produtores
que se beneficiaram com a compra antecipada da castanha pela Conab. Ele
conseguiu vender 1.250 quilos através do PAA. A safra foi toda entregue à
associação. Com o beneficiamento, o dinheiro da castanha vai render muito
mais, garantindo um bom lucro para os produtores, depois do pagamento
para a Conab.
Daqui para frente, os sonhos se multiplicam. Francisco Alves aposta no projeto
de aproveitamento do pedúnculo da castanha. Hoje, a perda chega a mais de
90%. Francisco de Assis Marinho, assistente operacional da Embrapa, garante
que o trabalho de substituição de copas e de troca do cajueiro gigante pelo cajueiro
anão precoce vai melhorar, e muito, a produtividade. E Francisco Chagas,
cooperado da Coopacaju, a cooperativa que funciona como central de
beneficiamento e seleção, na cidade de Paracajus, investe na exportação, ainda
neste semestre, de 15.750 quilos de amêndoa das mini fábricas do Ceará e do
Piauí para os Estados Unidos e a Itália. “O volume que o mercado externo exige
dá toda sustentação à nossa produção. Antes nosso produtor não passava de um
colhedor de castanha, hoje ele já pode ser um exportador. E pode gerar mais
renda, emprego e desenvolvimento para a comunidade inteira”, orgulha-se.
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Monteiro e Chorozinho são só dois das centenas de projetos desenvolvidos
pelo Banco do Brasil em parceria com o Fome Zero. De 2003 à 2005 mais de
2,5 milhões de pessoas foram beneficiadas pelo conjunto de ações do BB em
cerca de 2.500 municípios brasileiros. Um trabalho que envolve ações de
geração de trabalho e renda, segurança alimentar e geração de conhecimento
na potencialização dos recursos locais.
91
PARCERIAS POR UM BRASIL SEM FOME E MAIS JUSTO
A principal estratégia do Banco do Brasil para atuar nas causas mais
profundas da fome e da pobreza é o Desenvolvimento Regional Sustentável –
DRS. Os números dão idéia da dimensão dessa Estratégia: até maio de 2006
foram R$ 363 milhões de créditos programados, 579 Planos de Negócios DRS
aprovados e cerca de 113 mil famílias beneficiadas em todo o País.
São iniciativas que geram trabalho e renda, garantem a inclusão social e o
desenvolvimento econômico de comunidades carentes. O mais importante:
além de economicamente viáveis, as atividades produtivas apoiadas pelo BB,
por meio do DRS, precisam ser socialmente justas e ambientalmente corretas,
sempre observada e respeitada a diversidade cultural. A identificação das
vocações ou potencialidades locais é o primeiro passo, o fortalecimento das
cooperativas populares é um ganho a mais.
PARA SABER MAIS
Banco do Brasil
www.bb.com.br
(61) 3823-6104
93
PARCERIAS POR UM BRASIL SEM FOME E MAIS JUSTO
Cliente, Girlandina Carvalho já tinha de sobra. Não tinha era dinheiro para
comprar mais mercadorias e engrenar, de vez, a lanchonete na entrada da casa.
Também faltava dinheiro para Maria Socorro Rodrigues dar uma guinada na vida
dura de vendedora de roupas, como sacoleira. Capital de giro era, ainda, o que
Raquel Silva sonhava para incrementar o negócio com cosméticos. As três
microempresárias de Fortaleza, no Ceará, que não tinham dinheiro nem condições
de acesso a crédito na praça, hoje lidam com juros e prazos de empréstimos sem
dificuldade e têm toda a assessoria técnica necessária para prosperar no negócio.
Girlandina, Maria Socorro e Raquel são três dos quase 206 mil clientes ativos
do Crediamigo, que o Banco do Nordeste do Brasil tem orgulho de apontar como o
maior programa de microcrédito do Brasil, com mais de R$ 2,32 bilhões contratados
nos últimos sete anos – R$ 1,60 bilhão só no atual Governo, de 2003 para cá.
Entre os microempresários beneficiados com crédito rápido e renovável, a taxas
de juros bem menores que as de mercado, 30% têm renda familiar inferior a
R$ 600,00 mensais. Não é à toa que o banco é um dos grandes parceiros do Fome
Zero. “O Crediamigo é importante para fazer a transição das famílias atendidas pelos
programas de transferência de renda do Governo. Conseguimos inserir essas pessoas
no sistema financeiro, gerar uma renda maior e diminuir a fragilidade desses
microempresários no mercado”, analisa o gerente do Programa de Microcrédito
do Banco do Nordeste, Marcelo Azevedo Teixeira.
AVAL SOLIDÁRIO
Um dos grandes segredos do negócio é o aval solidário. O dinheiro só sai para
grupos de três a dez pessoas que trabalhem por conta própria e tenham pelo menos
um ano de atividade no seu micronegócio. Cada um serve de avalista para o outro.
Todos juntos se responsabilizam pelo pagamento do empréstimo, que é liberado em
no máximo cinco dias úteis e deve ser pago em seis meses. É uma corrente de amigos,
vizinhos e familiares, onde um vai chamando e estimulando o outro, multiplicando
resultados em pequenas marcenarias, papelarias, farmácias, lanchonetes, borracharias,
oficinas mecânicas, salões de beleza, carpintarias e por aí afora.
APOSTA NO MICRONEGÓCIO Banco do Nordeste do Brasil
94
Foi assim com Girlandina. Ela chegou ao Crediamigo através da prima do marido,
e, com ela, vieram a vizinha doceira, a amiga marmiteira, a outra dona de armarinho,
todas do mesmo bairro. Juntas, venceram o medo do empréstimo, dos juros. Com
dinheiro na mão, ganharam descontos na compra de mercadorias, começaram a
melhorar de vida. A banca de balas e bombons de Girlandina virou a S&S Lanches,
que emprega duas pessoas. Raquel também não reclama: foi com o impulso do
Crediamigo que ela conseguiu dinheiro para tirar a habilitação e dirigir a moto que a
ajuda a distribuir os kits de cosméticos de casa em casa. A microempresária, que
chegou ao Banco do Nordeste com o pai, uma prima e uma vizinha, agora está
trazendo duas amigas da igreja, que trabalham com confecção. “A gente tem que
indicar gente que conhece bem, que tem responsabilidade, para pagar tudo
direitinho”, ela recomenda.
A idéia é essa mesma. O valor do empréstimo no Crediamigo começa com R$
100,00. Na medida em que o porte do negócio e a capacidade de pagamento vão
aumentando, o cliente vai mudando de faixa e pode conseguir um crédito individual
de até R$ 8 mil. “A migração para outros produtos e serviços do banco é uma
vitória. O resultado é o aumento das vendas, da reposição de estoques, da renda
familiar e do número de postos de trabalho”, observa o gerente do Programa de
Microcrédito, Marcelo Teixeira.
No Nordeste e no Norte de Minas Gerais e Espírito Santo, 165 mil microempresários garantem crédito rápido e barato
com base no aval solidário
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PARCERIAS POR UM BRASIL SEM FOME E MAIS JUSTO
EDUCAÇÃO FINANCEIRA
Na casa humilde que divide com duas filhas e um irmão pequeno na periferia de
Fortaleza, dona Maria Socorro conta que ainda não chegou lá, mas a vida de sacoleira
já melhorou um bocado depois do Crediamigo. Junto com os R$ 250,00 que Maria
Socorro conseguiu um ano e meio atrás na primeira operação com o Banco do
Nordeste, a uma taxa de 2%, veio o mais precioso: assessoria empresarial e financeira.
“Às vezes eu até achava que estava vendendo bem, mas não tinha uma noção,
assim, na ponta do lápis, era só mesmo na cabeça. Acontecia das pessoas nem terem
me pagado e eu esquecia, porque não tinha anotado”. Rodeada pelas roupas coloridas
que garantem o sustento da família, Maria Socorro dá risada, quando se lembra da
desorganização do negócio antes da assessora do Crediamigo entrar na sua vida. “A
primeira coisa que ela fez foi me ensinar a ter uma cadernetinha para anotar tudo, o
que vendia, o que recebia, o telefone de cliente, essas coisas. Aí o negócio começou a
melhorar”.
A assessora Débora Viana também acha graça: “Ela deixava as roupas jogadas na
sacola. A gente mostrou que era preciso organizar tudo direitinho, em sacos plásticos.
Também orientou sobre a necessidade de diversificar o tipo de confecção.” Maria
Socorro seguiu tudo à risca. Deu certo. Hoje ela consegue lucrar cerca de R$ 750,00
por mês com a venda de roupas e não precisa mais trabalhar dobrado, como diarista.
O crédito no Banco do Nordeste também aumentou: a microempresária se prepara
para fechar uma quinta operação, no valor de R$ 1.000,00.
O trabalho de educação financeira do Crediamigo envolve cerca de 900 assessores de
crédito, que trabalham diretamente nas comunidades. “Microempresários que muitas
vezes não tinham a menor noção de controle contábil e gerenciamento financeiro
passam a ter acompanhamento personalizado para orientar como e onde aplicar o
dinheiro. É essa assessoria, ainda, que ajuda o programa a ter uma taxa de inadimplência
próxima de zero”, observa Marcelo Teixeira.
Presente em todo o Nordeste, no norte de Minas Gerais e no Espírito Santo, a
tendência do Crediamigo, garante a direção do Banco do Nordeste – que também apóia
os Consórcios de Segurança Alimentar e Desenvolvimento Local do Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome – CONSADs – é crescer, sempre como
instrumento para a redução das desigualdades sociais. A meta, para 2006, é atingir
11,5% do mercado de microfinanças. E fazer com que milhares e milhares de Raquéis,
Girlandinas e Marias do Socorro se multipliquem pelo país afora.
PARA SABER MAIS
Banco do Nordeste do Brasil
www.bnb.gov.br
(81) 3299-3009
Apoio para acesso ao mercado, principalmente pelo
comércio justo, ético, solidário e a exportação.
COMERCIALIZAÇÃO
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PARCERIAS POR UM BRASIL SEM FOME E MAIS JUSTO
Para a Companhia Brasileira de Distribuição (CBD)/Grupo Pão de Açúcar, a
ação socialmente responsável não é uma ferramenta concorrencial; mas o único
modo de fazer negócios que a empresa reconhece e utiliza. A companhia acredita
que uma empresa socialmente responsável é aquela que possui a capacidade de
ouvir os interesses de diferentes públicos – acionistas, funcionários, prestadores de
serviço, fornecedores, consumidores, comunidade, governo e meio-ambiente – e
consegue incorporá-los no planejamento de suas atividades, buscando atender às
demandas de todos.
Em todas as suas unidades de negócio (Extra Hipermercados, redes de
supermercados Pão de Açúcar, CompreBem, Sendas e ABC Barateiro, além das
lojas de eletroeletrônicos Extra Eletro), a CBD trabalha incansavelmente para
garantir aos seus clientes a melhor experiência de compra, não só pela qualidade
dos produtos oferecidos e melhora dos serviços prestados, mas também pela
contribuição dada pela empresa às questões sociais e ambientais do Brasil.
Na busca incessante por inovação e aproveitamento das sinergias geradas pelo
seu negócio como forma de alavancar processos de desenvolvimento sustentável, a
empresa incentiva seus colaboradores, fornecedores, clientes a abraçar causas
socialmente responsáveis e também disponibiliza seus ativos para que essas ações
possam acontecer, como é o caso, por exemplo, do programa Caras do Brasil.
“Abrimos espaço nas nossas prateleiras para produtos que geram renda, inclusão
social e respeitem o meio ambiente”, explica Beatriz Queiróz, gerente do Caras do
Brasil, que quando começou, em 2002, operava em quatro lojas com 27 fornecedores
de 10 Estados brasileiros. Hoje são mais de 310 itens estão disponíveis em 36 lojas
do Grupo, vindos de 71 fornecedores de 19 estados brasileiros.
O Grupo Pão de Açúcar estabelece uma relação comercial especial com seus
fornecedores de produtos comercializados através do programa. A escolha dos
parceiros do projeto leva em conta a sustentabilidade do trabalho, o apelo de venda
do produto e sua qualidade. O prazo de pagamento é de no máximo dez dias e não
há exigência de verba contratual. Além disso, toda a logística envolvida na operação
é assumida pela rede varejista.
CARAS DO BRASIL o de Açúcar
100
Animada com os resultados, Beatriz classifica a iniciativa como mais um passo
no fortalecimento do desenvolvimento sustentável no país, capaz de promover o
crescimento econômico com a premissa de gerar riqueza a populações menos
favorecidas e difundir o uso de produtos ecológicos, além de possibilitar que estes
fornecedores possam no futuro se aprimorar, profissionalizando sua produção.
“Essa parceria é um grande reforço à nossa política de inclusão social, uma
vitrine do potencial da pessoa portadora de doença mental”, afirma Soeni Domingos,
coordenadora institucional da Adere (Associação para Desenvolvimento, Educação
e Recuperação do Excepcional), que há dois anos participa do Caras do Brasil. A
Adere é um dos 71 fornecedores, entre cooperativas, ONGs, pequenas empresas e
associações, cadastrados desse programa.
“Temos uma linha exclusiva para as lojas do Pão de Açúcar, um parceiro
constante, que além de nos dar visibilidade, faz seus pagamentos no prazo de dez
dias no máximo, praticamente a vista”, destaca Soeni. Segundo ela, as encomendas
da rede de supermercados têm-se mantido na faixa de R$ 2,5 mil mensais, em
média. Isso corresponde a um volume contratado de cerca de 500 peças por mês.
Além de vender através do Pão de Açúcar, a Adere abastece uma loja no Shopping
Ibirapuera, em São Paulo, e a empresas de distribuição e revenda, como a Tok
Stok, por exemplo. Empresas como Leo Madeiras, Pial Legrand, Dautec e Baldacci
também constam da sua carteira de pedidos de peças e artigos produzidos por um
contingente de 90 excepcionais com mais de 16 anos de idade, a maioria (60%)
carente. Divididos em turnos, eles correm para dar conta das encomendas de porta-
lápis, cachepôs, bandejas, cestos, blocos saídos das suas oficinas, que ocupam uma
área de 1,5 mil metros quadrados, na Vila Santa Catarina, bairro da zona Sul da
capital paulista.
Para se ter uma idéia da extensão das parcerias firmadas pela Adere, a máquina
de reciclar papel foi desenvolvida em conjunto com o Instituto de Pesquisas
Tecnológicas (IPT) de São Paulo, um dos mais respeitados centros de pesquisa no
País. O equipamento permite uma economia de até 90% de água durante o processo
de reciclagem. Algumas empresas e pessoas físicas adotam os aprendizes bancando
suas despesas na entidade. Entre elas, estão a Carbocloro, Equipa Máquinas e
Utensílios para Escritório e Albuquerque, Takaoka Participações.
DISTRIBUIÇÃO SOLIDÁRIA
Outra instituição que participa do Programa Caras do Brasil é a Central ArteSol,
que reúne a produção de 3 mil artesãos ligados a 70 núcleos de 15 estados brasileiros.
Inaugurada em outubro de 2002, com sede em São Paulo, tem como objetivo
complementar as ações do Artesanato Solidário, voltado para execução de programas
de geração de renda e emprego para o artesão brasileiro.
101
PARCERIAS POR UM BRASIL SEM FOME E MAIS JUSTO
A central compra os produtos dos artesãos e os comercializa diretamente junto
a lojistas, arquitetos e decoradores. São mais de 20 itens diferentes, desde trançados,
cerâmicas, tecelagem e bordados, entre outros objetos, também vendidos a
restaurantes e lojas de brindes.
“As encomendas do Pão de Açúcar respondem por até 10% do nosso
faturamento”, informa Maria Andrade, coordenadora de comercialização da
ArteSol. Segundo ela, são pedidos mensais no valor de R$ 4 mil, em média.
As prateleiras do Pão de Açúcar exibem o fruto do trabalho de 4,5 mil pessoas
PARA SABER MAIS
Grupo Pão de Açúcar
www.grupopaodeacucar.com.br
(11) 3886-3348
103
PARCERIAS POR UM BRASIL SEM FOME E MAIS JUSTO
Argila, madeira, osso, metal, tecido, pedra-sabão, palha, couro, cerâmica,
sementes, fibras e cascas de árvore. Nas mãos de milhares de artesãos do Brasil
inteiro, tudo isso se transforma, ganha vida. Vira cesta, bolsa, pote, escultura,
adorno, prato, brinquedo, máscara, tapete. Peças que guardam histórias,
revelam o talento de nossa gente e a riqueza de nossa cultura. Mas que nem
sempre são valorizadas como deveriam, nem geram a renda merecida pela
criatividade e sabedoria acumulada ao longo de gerações. Pois a parceria
entre o artesanato e o design, o tradicional e o contemporâneo, tem sido a
grande aposta da Caixa Econômica Federal para começar a mudar esse cenário.
O projeto Artesanato Brasil com Design começou em 2003. De lá para cá,
impulsionado pela parceria com o Fome Zero, ele já investiu R$ 2,5 milhões
e beneficiou cerca de 500 artesãos em 46 comunidades do País. As onças de
madeira da tribo Guarani, no Rio Grande do Sul, os peixes de palha de baboa,
da comunidade quilombola de Campinho, no Rio de Janeiro, a cerâmica de
Lajeado, no Tocantins, as bonecas de cabaça de Bichinho, em Minas Gerais,
e as cestas de fibra de coco de Pitimbu, na Paraíba, são só alguns dos trabalhos
que o Artesanato Brasil com Design está ajudando a divulgar por todo lado. Até
no exterior. Os 6 mil brindes preparados pela Caixa com as peças de artesanato
já foram parar nas mãos do Presidente da República, dos ministros de Estado,
de governadores, prefeitos, executivos, empresários e autoridades da Índia,
China e de vários outros países. Um orgulho danado para quem sempre
moldou o futuro e o sustento com as próprias mãos. E também para quem
nem imaginava que um dia ia conseguir trabalho e renda com o artesanato.
“Eu era ajudante de pedreiro e vinha aqui na associação só preparar o barro.
Mas prestava atenção em tudo, achava bonito demais. Sempre quis aprender
as coisas, subir na vida. Quando apareceu o projeto, pensei: puxa, esse pessoal
vai ganhar mais que eu. Hoje, graças a Deus, dá para tirar o de comer só com
a cerâmica.”
TEXTURAS , CORES E HISTÓRIAS Caixa Econômica Federal
104
O ex-ajudante de pedreiro e hoje artesão Carlos José de Oliveira Silva, de
Lajeado, é quem conta, enquanto mostra sua arte. Da massa úmida de argila
vão brotando, como mágica, vasos e pratos. No pé, o controle do torno; nas
mãos, o controle das formas. “Tem que ter paixão. Também tem que esquecer
os problemas, ficar concentrado”, ensina o artesão, que sonha em montar
uma escolinha de cerâmica na sua cidade natal, Barão de Grajaús, no Maranhão.
A encomenda de 600 kits de cerâmica, com cerca de 2,3 mil pratos, copos,
pires e moringas, no final de 2003, rendeu R$ 6,3 mil para os 16 artesãos de
Lajeado – boa parte jovens carentes, que encontraram na associação a rara
oportunidade de aprender um ofício. Rendeu, na verdade, muito mais: a
participação em feiras, exposições, divulgação na mídia e convites para um
projeto da Fundação Banco do Brasil, para o Salão de Turismo, em São Paulo,
e para as comemorações, junto com o Sebrae, do Ano do Brasil na França.
Maria Elza de Oliveira, presidente da Associação dos Artesãos de Lajeado,
comemora: “O Artesanato Brasil com Design foi um empurrão, o começo de tudo.
A Caixa também doou uma maromba para amassar o barro e melhorar a
qualidade da argila. Mais preciosa ainda foi a orientação da equipe de designers.
“Foram eles que ensinaram a dar um acabamento mais fino, mais liso pras
peças, a não usar nada vitrificado, a padronizar a cerâmica e explorar as figuras
rupestres aqui da região”, conta Maria Elza.
Da argila brotam obras que valorizam a cultura local
105
PARCERIAS POR UM BRASIL SEM FOME E MAIS JUSTO
Os símbolos rupestres – uma espiral e um boneco estilizado, encontrados
em sítios arqueológicos de Lajeado e que datam de mais de 30 mil anos –
agora são a marca registrada da cerâmica local. A prefeitura, que sempre deu
um apoio decisivo para a associação, aposta na força do artesanato para
incrementar o turismo na cidade. “A gente montou uma lojinha no Terminal
Rodoviário e está colocando o trabalho lá em Palmas, na Fundação Cultural.
Já tem turista querendo ver de perto as inscrições na Serra só por causa da
cerâmica”, conta o diretor de Turismo da Prefeitura de Lajeado, Raimundo
Nonato da Silva Pinto.
NATIVIDADE
Em Natividade, também em Tocantins, o entusiasmo é parecido. Os designers
da Caixa na cidade ajudaram a resgatar uma arte secular: as jóias artesanais
em filigrana de ouro e prata, de origem portuguesa. “Os mestres foram
morrendo e o trabalho estava se perdendo, o que era um pecado. Mas o ouro
é muito caro e já havia poucos aprendizes”, lembra Simone Camilo Araújo,
presidente da Associação Comunitária Cultural de Natividade. Dez artesãos
da cidade ganharam apoio e auto-estima com a encomenda da Caixa, que
ainda doou uma mesa de ourives com todas as ferramentas para a associação.
O projeto Artesanato Brasil com Design resgata a força e o talento de centenas de artesãos no Brasil inteiro
106
Assim como em Lajeado, a participação no projeto rendeu novos convites e
encomendas para os ourives de Natividade. “Uma coisa foi puxando a outra.
A gente nunca conseguiu tanta divulgação”, conta Simone.
O lucro vai, principalmente, para jovens carentes de Natividade, público-
alvo da associação. É o caso de José Leal, que, assim como Carlos, de Lajeado,
era ajudante de pedreiro antes de se dedicar ao artesanato. Com 25 anos –
cinco como ourives –, José Leal conta que melhorou foi um bocado de vida:
“Hoje dá para viver só das jóias, já comprei TV colorida, som, geladeira,
bicicleta. E ainda ajudo a preservar a arte e a cultura da nossa cidade.”
Para o brinde da Caixa, os designers sugeriram um broche em forma de
capim dourado, uma planta típica de Tocantins, que brilha como ouro. A
embalagem valorizava ainda mais o bordado delicado das jóias: um cestinho
de capim dourado, trançado por artesãos do Jalapão. Um ofício que mobiliza
comunidades inteiras de uma das regiões mais bonitas e de mais difícil acesso
do Tocantins e que também está ganhando o mundo, com bolsas e chapéus
que já foram parar na cabeça de modelos famosas, como Gisele Bündchen.
“O importante não é só comprar as peças. É agregar valor, com os conceitos
de design, e garantir a sustentabilidade do artesanato, discutir a questão da
organização da produção, a capacitação e a comercialização das peças”, garante
Lars Diederichsen, um dos designers que está preparando a terceira etapa do
Artesanato Brasil com Design. “Também é bom lembrar que a Caixa vai atrás das
Do capim dourado brotam obras que valorizam a cultura local
107
PARCERIAS POR UM BRASIL SEM FOME E MAIS JUSTO
comunidades beneficiadas para incentivar a bancarização e oferecer
microcrédito para os artesãos”, observa a assistente administrativa do
Escritório de Negócios da Caixa em Tocantins, Silvana Reis de Almeida.
“O Artesanato Brasil com Design ratifica que o artesanato é bom negócio para
quem cria, comercializa, divulga e adquire o fruto do talento de nossa gente”,
atesta a presidenta da Caixa, Maria Fernanda Ramos Coelho. A geração de
trabalho e renda através da valorização da cultura popular é um dos melhores
exemplos da atuação da Caixa como parceira do Fome Zero. Mas a empresa,
lembra a Superintendente Nacional de Fundos, Seguros Habitacionais e Sociais
– SUFUS, Mária da Penha Loureiro Rangel Neves, tem ainda o projeto
Adolescente Aprendiz, que beneficia cerca de 3 mil jovens entre 16 e 18 anos,
programas de inclusão digital e de alfabetização de adultos, patrocínio de
atletas para-olímpicos carentes e uma série de ações emergenciais, como a
aplicação F1 Fome Zero, que já rendeu mais de R$ 2 milhões em doações. O
programa de microcrédito, inclusão e educação financeira, tem como público
prioritário os beneficiados do Programa Bolsa Família. A Superintendente
Nacional resume: “A Caixa tem orgulho de ser uma empresa socialmente
responsável.”
PARA SABER MAIS
Caixa Econômica Federal
www.caixa.gov.br
(61) 3414-8565
Apoio especializado às diversas fases do processo
produtivo, visando sua sustentabilidade.
ASSISTÊNCIA TÉCNICA
111
PARCERIAS POR UM BRASIL SEM FOME E MAIS JUSTO
Integrando o Programa Petrobras Fome Zero, o Projeto Molhar a Terra tem
por objetivo reativar poços para ampliar a oferta hídrica no semi-árido brasileiro
para cerca de 27 mil pessoas, desenvolvendo, em paralelo, projetos de capacitação
e produção agropastoris que contribuam para a organização social e a
sustentabilidade das ações empreendidas. As atividades são direcionadas
principalmente a assentamentos e comunidades rurais isoladas do semi-árido
brasileiro. Sua realização exigiu consolidar parcerias com várias instituições dos
poderes públicos federal, estaduais e municipais, autarquias e empresas públicas e
privadas, e entidades da sociedade civil buscando integrar competências, reduzir
custo e viabilizar a implementação projetos similares em processo de implantação
pelo Governo Federal.
Um bom exemplo do Molhar a Terra está no Assentamento do INCRA,
Palheiros III, Município de Upanema, Rio Grande do Norte. Nessa localidade, em
2003, a PETROBRAS reabriu um poço perfurado sem sucesso para encontrar
petróleo, que se mostrou portador de água de boa qualidade. Foi então implantado
um sistema produtivo agropastoril, formulado pelo Projeto Dom Helder Câmara
(PDHC), órgão ligado ao Ministério do Desenvolvimento Agrário, com base em
princípios agro-ecológicos, com sustentabilidade ambiental, social e econômica.
Trabalhando com plantio irrigado e de sequeiro, o projeto contou com o apoio do
“Programa Luz para Todos”, do Ministério de Minas e Energia, responsável pela
eletrificação do sistema de bombeio e das instalações de apoio construídas, bem
como do PDHC e a ONG Cooperativa Terra Livre, que atuam desde então na
extensão rural. Significativo tem sido o envolvimento da Prefeitura de Upanema,
não só nas etapas de preparo da terra para o plantio como na aquisição de produtos
para integrar a merenda escolar.
O processo de discussão que precedeu ao desenho técnico do projeto envolveu
as 142 famílias de Palheiros III, sendo que 104 participam atualmente do
empreendimento, 46 delas compondo o grupo coletivo que trabalha na área irrigada
e o restante cultivando nos seus lotes, em regime de sequeiro, mamona e gliricídia
consorciada com feijão ou algodão. A área irrigada de 13,3 ha foi compartimentada
em lotes separados por faixas de vegetação nativa, destinados à produção de diversos
MOLHAR A TERRA Petrobras
112
tipos de frutas (acerola, lima, maracujá e mamão), verduras e legumes, mamona,
forragens e pasto apícola. Integrados ao sistema, são mantidos dois apiários com 50
colméias cada, e é vista como prática estratégica para viabilizar, para aumentar a
produtividade e estimular a preservação da caatinga.
O projeto viabilizou a construção do centro de capacitação e inclusão digital, a
reforma da escola local, a implantação de turmas de alfabetização de adultos e o
resgate e valorização da cultura popular. Um bom exemplo foi o resgate e a
valorização da produção de esteiras de carnaúbas, que passaram a ser utilizadas
como revestimentos de linhas de vapor, gerando economia para a Petrobras e renda
para as artesãs locais.
O Assentamento Canto Comprido, no Município de Carnaubais, também no
Estado do Rio Grande do Norte, é a segunda comunidade atendida pelo projeto
do Molhar a Terra, com a reabertura e aproveitamento da água de poços perfurados
originalmente para petróleo. O projeto conta com a parceria do INCRA, DNOCS,
SERHID-RN, Programa Luz para Todos, Prefeitura e associações locais, e vai
atender mais cinco outros assentamentos, numa das regiões de IDH mais baixos
do Estado. Além da reabertura do poço, a Petrobras responde pela construção das
adutoras, cabendo às instituições parceiras a gestão do sistema e a implantação de
projetos agropastoris para produção de alimentos e de insumos para as duas plantas
de biodiesel de Petrobras.
Uma outra linha de atuação do Molhar a Terra visa à reativação de poços
tubulares perfurados para produção de água que, paradoxalmente, encontram-se
inativos. Através de convênio com o Serviço Geológico do Brasil – Companhia de
Pesquisa e Recursos Minerais (SGB-CPRM), vinte oito destes poços foram
recuperados e passaram a dispor de um sistema simplificado de abastecimento de
água. A ação foi direcionada a poços indicados pela CODEVASF e DNOCS, no
Noroeste e Nordeste da Bahia, respectivamente, e pelo PDHC e INCRA no Rio
Grande do Norte, recebendo ainda a chancela do Programa Luz para Todos que
está priorizando a implantação de rede elétrica para o funcionamento das bombas
de captação de água. Superada essa primeira experiência, a Petrobras estuda agora
uma nova parceria com o MME e o MDS, com a ampliação do número de poços
recuperados e dos estados que serão atendidos.
Agora, as cerca de 2500 famílias que vivem no entorno do poço estão sendo
convidadas a elaborarem projetos agropastoris, estimulando à organização social e
produtiva para a geração de renda e melhoria da condição de vida. Em seis dos
nove poços reativados no RN, já estão com os projetos aprovados e iniciando a sua
implantação, com apoio de técnicos do PDHC e ARCO Mato Grande. Na Bahia,
o uso da água é destinado principalmente para consumo humano, mas também
estão sendo consolidadas propostas de ações produtivas locais, com apoio das
ONG’s ABARÁ e da ADS. Esta ação deverá contar com a parceria do Ministério
do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e a Fundação Banco do Brasil.
113
PARCERIAS POR UM BRASIL SEM FOME E MAIS JUSTO
Nos estados de Sergipe e Alagoas o Projeto Molhar a Terra chegará em 15
localidades integrado ao Programa Água Doce, do Ministério do Meio Ambiente.
Este programa é direcionado à revitalização de poços com água salobra, recuperando
equipamentos de dessalinização e implantando sistemas de tratamento dos efluentes
para o aproveitamento do rejeito em atividades produtivas.
Em parceira com PDHC, prefeituras, governos estaduais, Programa Luz para
Todos e a CPRM, a Petrobras está contribuindo na implantação de pequenas
adutoras nas localidades de Petrolina e Mulungu, municípios de Caraúbas e Felipe
Guerra (RN), e em Guaribas, no Piauí. Outra ação em curso é a construção de
1000 cisternas de placas, conduzido pelo Programa Um Milhão de Cisternas, sob a
orientação da ASA. Já foram entregues 120 em PE e 335 no Município de Coronel
João Sá, na Bahia. Os estados de Sergipe e Alagoas dividirão as 600 cisternas restantes.
A Companhia trabalha com a perspectiva de renovar o convênio, o que permitirá
a construção de mais 2000 cisternas na região do Semi Árido.
Os primeiros resultados do “Molhar a Terra” mostram como é possível
desenvolvimento com cidadania, com organização social e produtiva, gerando
riqueza, contribuindo para a formação escolar, o combate ao analfabetismo, a
garantia dos direitos de crianças e adolescentes, e preservação da cultura popular.
Adicionalmente, a capacitação e o apoio técnicos aos brasileiros que vivem em
assentamentos e comunidades rurais estão permitindo que além de melhorarem
suas condições de vida, participem de um desafio tecnológico inédito – junto com
a Petrobras, produzir biodiesel a partir de sementes de oleaginosas, em harmonia
com o meio ambiente.
PARA SABER MAIS
Petrobras
www.petrobras.com.br
(21) 3224-3788/7981
115
PARCERIAS POR UM BRASIL SEM FOME E MAIS JUSTO
Maria Ana Rocha sempre foi crocheteira de mão cheia, mas o dinheiro
mesmo, para pagar as contas da casa, ela tirava do emprego de doméstica em
Santa Maria, no Distrito Federal. Foi quando um convite para o curso de
designer no Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae)
mudou a vida de Maria Ana. Hoje, oito anos depois, ela está à frente da
Associação Artesanal Agulha Mágica, que garante o sustento de mais de 400
mulheres com panos de prato enfeitados por frutas de crochê. A partir da
orientação do Sebrae, as peças estão sendo vendidas em importantes lojas do
Brasil e do exterior.
Também foi o apoio do Sebrae que garantiu renda e trabalho a um grupo
de 38 pequenos piscicultores de São Luiz do Anuá, em Roraima. O grupo
conseguiu resgatar e multiplicar o investimento inicial, que havia sido todo
perdido por falta de orientação tecnológica e empresarial. É o Sebrae que
está por trás do sistema de associativismo que tem impulsionado os negócios
de pequenos comerciantes na cidade de Tubarão, em Santa Catarina. E do
trabalho com o coco de babaçu, que assegura o sustento de 12 famílias em
São Miguel do Tocantins. Tem o dedo do Sebrae, ainda, na caprinocultura
do Pacto Novo, no Cariri da Paraíba, na cooperativa de reciclagem de lixo
de Tamandaré, em Pernambuco, no núcleo de artesanato que trabalha com
ossos de boi em Jardim, no Mato Grosso do Sul, e no trabalho dos apicultores
de Picos, no Piauí.
INCLUSÃO SOCIAL
São só exemplos. A aposta no empreendedorismo e no micro-negócio como
fatores de inclusão social, desenvolvimento e cidadania tem revolucionado a
vida de milhares de pessoas pelo País afora. Os 144 projetos de
Desenvolvimento Local do Sebrae significam trabalho, renda e esperança em
A FORÇA DO EMPREENDEDORISMOSebrae
116
900 municípios brasileiros. A receita é o apoio ao associativismo e o trabalho
de capacitação técnica e gerencial, em projetos nas mais diversas áreas, de
acordo com a vocação de cada comunidade: artesanato, agricultura familiar,
caprinocultura, apicultura, reciclagem etc.
“O Sebrae está em completa sintonia com a etapa estruturante do Fome
Zero, através da identificação de oportunidades e possibilidades de geração
de ocupação e renda nas comunidades mais carentes do País. Nós acreditamos
que a melhor saída para essas comunidades é o apoio aos pequenos negócios.
O empreendedorismo é a melhor forma de promover a inclusão social e
fortalecer as economias locais”, analisa o gerente da Unidade de
Desenvolvimento Local, Juarez de Paula. Os números, lembra o gerente do
Sebrae, comprovam a força do pequeno negócio: 90% das empresas brasileiras
são micro e pequenas; 60% dos trabalhadores com carteira assinada estão nas
micro empresas. “Se tivéssemos condições de contabilizar o mercado informal,
essa participação das micro empresas na economia seria ainda maior”, observa.
O caminho do empreendedorismo é a melhor alternativa num cenário em
que os empregos estão cada vez mais limitados, avalia Juarez de Paula. O
A aposta no empreendedorismo e no micro-negócio como fatores de inclusão social
117
PARCERIAS POR UM BRASIL SEM FOME E MAIS JUSTO
problema é que, sem orientação técnica e gerencial adequada, a maioria das
pequenas empresas acaba quebrando em dois ou três anos. “As pessoas que
abrem um pequeno negócio geralmente não foram preparadas, não foram
treinadas para gerenciar a empresa, cuidar do planejamento, dos custos, dos
investimentos. A consultoria do Sebrae garante maior sustentabilidade e
competitividade a essas empresas”, afirma o gerente.
O trabalho do Sebrae é construído junto com a comunidade. O primeiro
passo é investir na auto-estima e autoconfiança das pessoas, identificar as
lideranças locais e reuni-las em fóruns, conselhos, consórcios, pactos ou
agências de desenvolvimento. O segundo passo é identificar as vocações e
potencialidades locais, capazes de gerar mais oportunidades de trabalho e
alavancar o desenvolvimento econômico e social da região. O planejamento
é participativo e a gestão, compartilhada. É a própria comunidade, com o
apoio do Sebrae, que se encarrega de ir atrás das parcerias necessárias para
tocar os projetos.
O associativismo e a capacitação técnica e gerencial são a receita de inclusão social e desenvolvimento em
900 municípios brasileiros
118
Cada um tem sua área de competência, sua especialidade
119
PARCERIAS POR UM BRASIL SEM FOME E MAIS JUSTO
PARA SABER MAIS
SEBRAE
Serviço Brasileiro de Apoio ás Micro e Pequenas Empresas
www.sebrae.com.br
(61) 3348-7404
As parcerias são fundamentais. Elas envolvem prefeituras, governos
estaduais, federal, entidades empresariais, instituições financeiras e empresas
privadas. A capacitação gerencial é especialidade do Sebrae, mas, no caso de
capacitação técnica em projetos de agricultura familiar, por exemplo, a
Embrapa e o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – Senar costumam
ter um papel essencial. Do ponto de vista do aporte de recursos financeiros,
o Banco do Brasil é um dos maiores parceiros nos projetos do Sebrae. O
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS tem algumas
vezes contribuição decisiva. É o caso do projeto de caprinocultura de
Monteiro, na Paraíba, onde o Sebrae garante a capacitação dos produtores,
através dos Agentes de Desenvolvimento Rural, o Banco do Brasil financia a
compra e o custeio dos animais e o PAA-Leite, do MDS, assegura a compra
da produção.
“Nenhum governo, entidade ou empresa é capaz de responder sozinho a
todas as demandas de desenvolvimento social e econômico. Cada um tem sua
área de competência, sua especialidade. Por isso, as parcerias são tão
importantes”, destaca Juarez de Paula. Um projeto de destaque, ainda em
negociação com o MDS, é a capacitação, através do Sebrae, de uma parcela do
público atendido pelo Programa Bolsa Família. O estímulo ao
empreendedorismo seria uma excelente porta de saída para quem hoje não
tem outra opção de renda, a não ser o benefício concedido pelo Governo
Federal.
ACESSO À ÁGUA E À ALIMENTAÇÃO
Cisternas para a captação de água de chuva significam
saúde e qualidade de vida no sertão. O Prato Popular,
segurança alimentar, saúde e dignidade para milhares e
milhares de trabalhadores de baixa renda.
123
PARCERIAS POR UM BRASIL SEM FOME E MAIS JUSTO
Placas de cimento, calhas e canos de PVC. Um material simples e barato,
que vem ajudando – e muito – a conviver com a seca. A construção de
cisternas para a captação da água de chuva já mudou a vida de 143 mil famílias
sertanejas, que não precisam mais gastar horas e horas, todos os dias,
peregrinando atrás do bem mais precioso do semi-árido, carregando latas e
baldes na cabeça e vendo a meninada adoecer por causa da água suja de
barreiros, cacimbas, poços e açudes. De julho de 2003 para cá, a Articulação
no Semi-Árido Brasileiro (ASA), um fórum constituído por mais de 750
instituições, entre ONGs, igrejas, sindicatos e organizações sociais,
possibilitou a mobilização de 157 mil famílias para a construção de 143 mil
cisternas na região. O Programa 1 Milhão de Cisternas, de iniciativa da ASA,
tem o apoio decisivo do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate
à Fome (MDS) e da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), através do
Programa Fome Zero.
Para o MDS, as cisternas significam saúde e qualidade de vida no sertão.
Até o final do ano de 2006, o investimento do Ministério chegará a R$ 208,9
milhões, com a construção de 141 mil cisternas, em parceria com a ASA. O
dinheiro, que vem do Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza, já rendeu
a construção de 103.284 cisternas, de julho de 2003 a julho de 2006. No caso
da Febraban, os R$ 27,3 milhões investidos, em duas etapas do Programa,
mudaram, substancialmente, a vida de mais de 20 mil famílias,
aproximadamente 100 mil pessoas.
SIMPLES E EFICIENTE
A cisterna de placas de cimento tem capacidade de armazenar 16 mil litros
de água da chuva, quantidade suficiente para o consumo de uma família de
até cinco pessoas durante o período de estiagem, que pode chegar a oito meses.
Por ano, chovem aproximadamente 750 milímetros na região. A água escorre
O MILAGRE DA ÁGUA ASA/Febraban
124
pelas calhas, fixadas ao longo do telhado, segue pelos canos, e cai direto na
cisterna, construída bem ao lado das casas. Esta técnica é simples e barata: o
custo médio de cada tanque fica na faixa de R$ 1,5 mil. O “ovo de Colombo”
foi descoberto há 40 anos, mas, de lá para cá, foi pouco explorado. O ideal
será investir na construção de, pelo menos, um milhão de cisternas de placas,
envolvendo e beneficiando diretamente, cinco milhões de pessoas. Esse é o
objetivo que a ASA pretende alcançar nos próximos cinco anos. O Programa
já foi desencadeado em 980 municípios, de 60 microrregiões, dos onze estados
que têm o ecossistema semi-árido: os nove do Nordeste, mas Minas Gerais
(região norte e vale do Jequitinhonha) e Espírito Santo.
Água mais fácil significa mais renda e mais saúde. Antes das cisternas, a
água que as famílias consumiam na época da seca era um líquido leitoso, com
mau cheiro, que não era apropriada nem para os animais. A água da cisterna é
limpa, a gente bebe sem remorso. A outra água era cheia de micróbio, dava dor de cabeça, no
corpo e na barriga. Bebia porque era o jeito”, recorda Ingrácia Rodrigues de
Vasconcelos, de Tanque Velho, na Bahia. Renato Macedo, de Lagoa do Pedro,
também na Bahia, é outro que fala com tristeza dos tempos em que ele e a
vizinhança precisavam beber água do poço: “Quando era criança, lembro que morria
muito menino de disenteria por causa da água. Escapava os que dessem sorte de escapar.”
A construção de cisternas leva água, saúde, dignidade e cidadania a 143 mil famílias no semi-árido
125
PARCERIAS POR UM BRASIL SEM FOME E MAIS JUSTO
O impacto na economia local e na renda das famílias beneficiadas também é
inquestionável. Gente que ficava boa parte do tempo por conta de buscar água
passou a ter condições de buscar um trabalho remunerado. O pessoal de Campo
Alegre de Lourdes, na Bahia, que o diga. O município, pioneiro na construção de
cisternas em larga escala, já observa o crescimento de novas oportunidades de
negócio, como a apicultura. Aprendi a trabalhar com abelha. Antes das cisternas, desconhecia
outra vida que não fosse a de buscar água”, afirma Renato Macário, um dos moradores do
município. Agora eu tenho tempo para trabalhar na roça e fazer umas coisinhas para vender.
Quando tinha que buscar água, nem marcava hora de voltar. Saía de manhã e só voltava de tarde”,
lembra Geralcina dos Santos Brito, em Melancia, na Bahia.
A convivência com o semi-árido e o acesso à água, um direito essencial de todo
ser humano, fazem parte da política do Governo Federal de combate à fome e à
miséria – o Programa Fome Zero. Para ser beneficiada pelo programa de cisternas,
a família deve estar enquadrada nos critérios de elegibilidade do Bolsa Família,
mesmo que ainda não esteja recebendo o benefício. Ela também precisa passar por
um curso de capacitação, para aprender a usar e manter a cisterna, e também para
aprender a usar a água de modo racional, adequado. Os reservatórios são construídos
com mão-de-obra local, por pedreiros e pedreiras capacitados/as pelo próprio
Programa, e materiais adquiridos no comércio dos município da própria região.
Além do cuidado com a água, tão preciosa na região, os moradores beneficiados
com o Programa ainda podem usar o conhecimento adquirido nos cursos de
capacitação para procurar trabalho no mercado de construção civil, mais tarde,
observa a diretora de Responsabilidade Social da Febraban. A entidade, lembra
ela, já capacitou mais de 500 pedreiros no semi-árido.
Com um leque de mais de 400 mil funcionários e 40 milhões de clientes, os
bancos podem ser um instrumento e tanto de divulgação e captação de recursos
para o Programa 1 Milhão de Cisternas. É de olho nesse público que a Febraban está
montando uma ampla campanha sobre o trabalho da entidade no semi-árido.
Acreditamos que, mostrando a nossa ação, outros grupos e pessoas também possam se sensibilizar
para a questão e entrar nessa luta pelas cisternas no semi-árido.” Uma luta que tem tudo a ver
com a espinha dorsal do Programa Fome Zero: a articulação de governo, iniciativa
privada e sociedade civil organizada para combater a miséria e a fome no País.
PARA SABER MAIS
ASA
Articulação no Semi-Árido e
www.asabrasil.org.br
(81) 9904-0030
Febraban
www.febraban.org.br
(11) 3244-9818/24
127
PARCERIAS POR UM BRASIL SEM FOME E MAIS JUSTO
Seu João Carvalho tinha que fazer mágica com a aposentadoria de um salário
mínimo para poder almoçar todo dia. Com 69 anos, sem mulher ou filhos em casa,
ele apelava para o prato feito gorduroso da lanchonete vizinha. Gastava R$ 4,00
por refeição. O jeito era se virar com um bico e outro, nessa altura da vida, para
conseguir fazer o dinheiro render um pouco. Dona Sônia de Morais, de 42 anos,
tem apenas 20% de visão e também vive sozinha, com um benefício social de um
salário mínimo. Sem ter como trabalhar para conseguir uma renda extra, ela se
virava como podia na cozinha, sempre com medo de se queimar e de se cortar, por
não enxergar direito.
De uns tempos para cá, as vidas do seu João e da dona Sônia mudaram um
bocado. A qualidade da alimentação, então, nem se fala. Os dois almoçam de segunda
a sexta no Prato Popular de Cuiabá, um dos treze restaurantes populares lançados
pela Coca-Cola Brasil, uma das empresas parceiras do Fome Zero. No prato de seu
João e de dona Sônia, agora, tem arroz, feijão, macarrão, carne vermelha ou branca
e salada variada. O almoço sai por R$ 1,00.
“É uma maravilha, uma comida caseira, saudável e variada. E, com o dinheiro
que eu economizo, dá para comprar queijo e fruta. Um luxo que eu não podia ter
antes”, conta o aposentado. Dona Sônia concorda: “A comida é excelente e o preço
ajuda muito. Meu gás agora dura até um ano. O dinheiro que eu gastava a mais
hoje dá para comprar uma roupa, um remédio.”
SEGURANÇA ALIMENTAR
O Prato Popular significa segurança alimentar, saúde e dignidade para milhares
e milhares de aposentados, catadores de lata e papel, desempregados, crianças de
rua, camelôs e trabalhadores de baixa renda. O diretor de Comunicação da Coca
Cola Brasil, Marco Simões, lembra que já foram servidas mais de 1,8 milhão de
refeições desde abril de 2003, quando a empresa inaugurou o primeiro restaurante
popular, em Porto Alegre. Muita gente que enganava a fome com um lanche
ligeiro na hora do almoço agora tem garantida uma refeição completa, saborosa
e regionalizada. Melhor ainda: uma refeição equilibrada, do ponto de vista
nutricional, protéico e calórico.
O PRATO DO POVO Coca-Cola
128
Em dois anos, a experiência de Porto Alegre não parou de se multiplicar. Em
parceria com outras empresas, com governos estaduais e municipais, a Coca Cola
abriu o Prato Popular também em Manaus, Belo Horizonte, Cuiabá, João Pessoa,
Maracanaú (Grande Fortaleza), Campo Grande, Curitiba, Florianópolis, Feira de
Santana, Recife, Cariacica (ES) e Belém. O objetivo é abrir um restaurante popular
em cada estado brasileiro.
“Há ainda, e era esse o nosso objetivo, vários exemplos de restaurantes populares
abertos por outras empresas, seguindo o nosso formato”, orgulha-se o representante
da companhia. Sobre a parceria com o Fome Zero, ele observa que “o Prato Popular
encarna muito bem a filosofia da democracia participativa, o engajamento da sociedade
civil na solução de problemas do País. Neste e em muitos outros casos, o governo
funciona como catalizador de projetos de empresas privadas, ONGs, etc.”
PARCERIAS
Essa corrente de solidariedade funciona de forma bem azeitada no caso do Prato
Popular. As parcerias são as mais variadas, dependendo da cidade onde é aberto o
restaurante. O prédio do restaurante geralmente é cedido pela prefeitura ou pelo
governo estadual. Uma ou mais instituições patrocinadoras adquirem refeições a
preço de custo, oferecidas por uma empresa parceira fornecedora de alimentos –
normalmente empresas de alimentação industrial que já produzem refeições para
os funcionários das fábricas locais da Coca Cola – disposta a trabalhar sem lucros.
Comida barata e de qualidade garante saúde e dignidade para milhares de aposentados,desempregados, catadores de
rua e trabalhadores de baixa renda pelo Brasil afora
129
PARCERIAS POR UM BRASIL SEM FOME E MAIS JUSTO
Fica a cargo dessa empresa cuidar da parte operacional do restaurante, incluindo a
contratação de funcionários. A diferença entre o custo de cada prato e o valor pago
pelos usuários, R$ 1,00, é completada pelas empresas patrocinadoras. O
investimento também inclui a manutenção mensal do restaurante e todos os
equipamentos, utensílios e materiais necessário ao funcionamento do Prato Popular.
No caso do restaurante de Cuiabá, aquele onde o seu João e a dona Sônia almoçam
de segunda a sexta, foi o Governo do Mato Grosso que cedeu e reformou o imóvel.
A Coca-Cola Brasil e o fabricante local, a Renosa forneceram talheres, pratos,
bandejas e todos os equipamentos do restaurante. As empresas também subsidiam,
junto com a Brasil Telecom e a Café Brasileiro, a diferença entre o custo das refeições
e o valor pago pelos usuários. Cabe à D’Cheff, que já era fornecedora da Coca-
Cola, toda a preparação dos pratos, desde a compra dos produtos até a distribuição
dos alimentos. É a D’Cheff que mantém os cinco funcionários do restaurante,
além de uma nutricionista para acompanhar, de perto, a qualidade das refeições.
RESPONSABILIDADE SOCIAL
“Nós fomos procurados pela Coca-Cola Brasil no começo de 2004 e logo
abraçamos a causa. É uma questão de responsabilidade social”, justifica o proprietário
da D’Cheff, Carlos Alberto Schmidt. Ele lembra que o Prato Popular de Cuiabá,
assim como os dos outros estados, só atende quem realmente não pode pagar o
preço normal de uma refeição. Para isso, é feito um cadastramento rigoroso e
entregue um crachá de freqüentador aos beneficiados.
É essa consciência que norteia o projeto da Coca-Cola Brasil. “Somos uma
empresa-cidadã, com forte atuação na área de responsabilidade social e investimentos
anuais de cerca de R$ 41 milhões em mais de 140 projetos sociais e ambientais”,
frisa Marco Simões. Entre os outros projetos desenvolvidos pela empresa, estão o
Reciclou, Ganhou, desenvolvido em 18 estados brasileiros, e o Programa Coca-Cola
de Valorização do Jovem, que combate a evasão escolar e beneficia anualmente
cerca de 4 mil estudantes.
PARA SABER MAIS
Coca-Cola
www.cocacolabrasil.com.br
(21) 2559-1159
DOADORES EVENTUAIS
Objetos de arte viram água para o sertanejo. Alimentos,
segurança alimentar; computadores, telecentros; veículos e
equipamentos de trabalho são utilizados nas ações de
inclusão social para as populações carentes.
133
PARCERIAS POR UM BRASIL SEM FOME E MAIS JUSTO
O roqueiro Lenny Kravitz nunca poderia imaginar que sua guitarra ia acabar
virando água em pleno semi-árido brasileiro. Depois de sacudir milhares e milhares
de fãs numa turnê pelo Brasil, em março passado, o astro decidiu dar um destino
ainda mais nobre ao instrumento, doando-o ao presidente Luiz Inácio Lula da
Silva para ser usado como fonte de recursos para o Fome Zero. Leiloada pela
Ong Apoio Fome Zero, a guitarra de Kravitz,rendeu R$ 322 mil, ou melhor,
possibilitou a construção de 212 cisternas na região mais seca do País.
Antes dele, porém, outros já haviam trilhado este caminho, é o caso do
grupo brasileiro Capital Inicial, que também doou uma guitarra para o Fome
Zero em 2003, do músico Bono Vox da banda irlandesa U2 uma das mais
populares do mundo e do multi-instrumentalista e vocalista George Benson
que seguiram o mesmo caminho. Destacam-se também na lista de bens doados
para leilão, um jipe troller da Brasil Veículos Companhia de Seguros, duas telas
do artista Luis Carlos da Rocha Silva e uma bandeira do Brasil autografada
pelos atletas que participaram do Pan Americano 2003; todos leiloados com
arrecadação revertida para a construção de cisternas.
Cada cisterna tem a capacidade de acumular água de chuva,suficiente para
uma família beber, cozinhar e cuidar da higiene pessoal por oito meses.
Se os leilões realizados com o apoio da ONG AjudaBrasil transformam em
cisternas objetos que não podem beneficiar diretamente a população mais
carente, inúmeras parcerias são estabelecidas para que gêneros alimentícios
cheguem diretamente aos mais necessitados. Uma parceria com a Receita
Federal, por exemplo, permitiu que o equivalente a quase R$ 2 milhões em
alimentos, roupas e sapatos apreendidos fossem distribuídos pelo Fome Zero.
A Companhia Nacional de Abastecimento – CONAB – é uma das maiores
parceiras na distribuição de alimentos, roupas, sapatos, embalagens, remédios
e até mobiliário doados por empresas, entidades e pessoas físicas. As doações
vão para os Bancos de Alimentos, vítimas de enchentes, famílias acampadas,
comunidades indígenas, quilombolas, entidades assistenciais, comitês gestores
GUITARRAS, TELAS , REMÉDIOS E ALIMENTOS
134
do Fome Zero, prefeituras e até outros países. No ano passado, o Governo do
Haiti foi beneficiado com mais de 120 mil litros de água mineral.
Com o desafio de combater a fome e o desperdício de alimentos, o Fome
Zero e o Programa MESA Brasil do SESC tornaram-se parceiros no
desenvolvimento de ações estratégicas na promoção da segurança alimentar e
nutricional de milhares de brasileiros. Em 2005, foram arrecadados pelo
MESA BRASIL , com o apoio do Programa Fome Zero e empresários, mais
de 14.700 quilos de alimentos, beneficiando quase 500 mil pessoas por dia. Se
comparados com o primeiro quadrimestre de 2006, os novos resultados são
ainda mais surpreendentes: 8.048.959 quilos de alimentos distribuídos em
todo o território nacional. Isto só é possível mediante a participação de
empresários comprometidos com as questões sociais brasileiras. Um exemplo
é a parceria com a Unilever, que com a intermediação do Fome Zero, doou
336.000 latas de extrato de tomate, 350 mil litros de leite, 150 toneladas de
feijão e 100 toneladas de arroz ao MESA BRASIL SESC. Tais doações
permitem ao Programa, além do atendimento a entidades sociais, atuar numa
perspectiva de desenvolvimento comunitário, com assistência a segmentos
vulneráveis do ponto de vista social e nutricional como quilombolas e
comunidades indígenas.
Para viabilizar a produção e a distribuição de cartilhas sobre segurança
alimentar e nutricional para mais de 40 milhões de crianças brasileiras nas
escolas de primeiro grau, o MDS contou com as parcerias da Editora Globo
e dos Correios.
Outros bons exemplos não faltam. A Gilat do Brasil doou 463 mesas e 780
cadeiras, distribuídas, junto com os 397 microcomputadores oferecidos pelo
BNDES, para entidades como o Movimento Viva Rio e o Banco de Alimentos
de Santo André. As 45 toneladas de biscoito da Marilan Alimentos, de São
Paulo, foram distribuídos a 174 entidades assistenciais do País inteiro e ainda
alimentaram os estoques das Prefeituras de Recife e de Água Preta, em
Pernambuco, e da Secretaria de Desenvolvimento Humano de Alagoas. As
três toneladas de arroz da empresa catarinense Josapar foram para a Ação
Social Arquidiocesana de Santa Catarina e as quase cinco toneladas de miúdos
de ema, da Nhandu-Guaçú do Rio Grande do Sul, tiveram como destino o
Banco de Alimentos do Estado.
Entre as empresas – que recebem isenção de ICMS e/ou IPI sobre os
produtos doados – , o maior destaque também é o Grupo Carrefour. Em
2003, a empresa doou o equivalente a R$ 34,7 mil em gêneros alimentícios.
Em 2004, a doação pulou para o equivalente a R$ 385 mil. Foram 294 toneladas
de gêneros alimentícios e 5 mil colchões, que ajudaram vítimas de enchentes
135
PARCERIAS POR UM BRASIL SEM FOME E MAIS JUSTO
no Nordeste. “Colaborar com o Fome Zero foi uma estratégia natural do
Carrefour, que já tem uma forte cultura de responsabilidade social”, observa
o diretor executivo do Grupo, Jorge Herzog. Para ele, todas as empresas,
especialmente as grandes, que têm um enorme poder de mobilização, precisam
se integrar ao esforço de combater a fome e a miséria no País. Importante
também, ressalta Herzog, é que essa parceria seja o mais ampla possível,
envolvendo governo, iniciativa privada e terceiro setor.
A gerente de comunicação do Laboratório Pfizer, Sandra Castellano,
reforça: “O desenvolvimento social é sem dúvida um grande desafio. A
participação de diversos setores da sociedade é o caminho para o sucesso de
projetos dessa natureza.” O laboratório aparece entre os principais doadores
do Fome Zero em 2004, com o equivalente a R$ 308 mil em remédios,
encaminhados aos depósitos da CONAB.
Entre as entidades empresariais, destaca-se a Associação Brasileira de
Papelão Ondulado, cuja doação de embalagens saltou de R$ 2 mil, para o
equivalente a R$ 366 mil, em 2004. Ao todo, foram um milhão de caixas que
ajudaram a reduzir o desperdício de alimentos em Pernambuco, Bahia,
Amazonas, Minas Gerais e São Paulo. “Embalar os alimentos doados pelo
Fome Zero foi a maneira que encontramos para contribuir com o programa.
O combate ao desperdício de alimentos também tem sido prioridade para o
setor de papelão ondulado, que se destaca pela sua eficiência no transporte,
resistência, facilidade de estocagem, alta taxa de reciclagem e
biodegrabilidade”, justifica o presidente da associação, Paulo Sérgio Peres.
Congregando cerca de 700 mil empresas e gerando cerca de seis milhões de
empregos diretos em todo o país, a Associação Brasileira de Bares e
Restaurantes (Abrasel) comemora, em 2006, 20 anos de história em prol do
desenvolvimento do segmento de alimentação fora do lar no cenário nacional.
Realiza anualmente o Festival Nacional de Gastronomia. Cada restaurante
participante elabora um prato especialmente para o evento e na
comercialização de cada um destes pratos o Fome Zero recebe R$ 1,00. Entre
as políticas para o desenvolvimento das atividades relacionadas ao setor, em
execução pela Abrasel, estão os investimentos na qualificação da mão-de-obra
apoiando as famílias pobres na busca do emprego em bares e restaurantes.
Reunindo empresas fabricantes de autoveículos (automóveis, comerciais
leves, caminhões, ônibus) e máquinas agrícolas automotrizes (tratores de rodas
e de esteiras, cultivadores motorizados, colheitadeiras e retroescavadeiras)
com instalações industriais no Brasil a Associação Nacional dos Fabricantes
de Veículos Automotores (Anfavea), fundada em 1956, realiza anualmente
exposições automotivas. Os recursos arrecadados nas bilheterias das feiras
tem sido doados ao Fome Zero.
136
PARA SABER MAIS
www.fomezero.gov.br
0800 707 2003
Secretaria de Articulação Institucional e Parcerias do MDS
Todos estes recursos vão para o Fundo de Combate e Erradicação da
Pobreza cujo valor é utilizado na construção de cisternas para coletar água
de chuva para as famílias pobres do semi-árido brasileiro.
As doações – que chegam a R$ 18 milhões – são gerenciadas pela Secretaria
de Articulação Institucional e Parcerias – SAIP, do Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS. A SAIP encarrega-se
também de encaminhar, por exemplo, as arrecadações de bilheterias dos mais
diversos espetáculos culturais com renda destinada ao Fome Zero.
Arrecadações de alimentos, em menor volume, são encaminhadas diretamente
a entidades e comunidades carentes. Qualquer doação é bem vinda e ajuda a
costurar uma imensa teia de solidariedade e dignidade pelo País afora.
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