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O bom poeta, no caso, o poeta bop espontâneo, está sempre
ligado nos idiomatismos de seu tempo – o balanço, o
compasso, o ritmo metafórico disjuntivo que vem tão depressa,
tão furioso, tão embolado, tão incrivelmente ainda que
deliciosamente louco que, quando transportado para o papel,
ninguém o reconhece. (KEROUAC, 2006, p.1)
Ao transferir o ritmo, a sincope, a respiração, o ataque forte
inconseqüente, a falta de pausas e codas
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, à sintaxe, gramática, as
convenções narrativas, Kerouac cria sua própria prosa, ou prosódia bop
delírica. O jornalista Rodrigo Garcia Lopes cita na matéria “O inventor da
prosódia bop espontânea” publicada no Caderno 2 do jornal O Estado de São
Paulo, trecho em que Jack Kerouac explica a conexão entre o Jazz e o estilo
literário criado por ele mesmo:
Jazz e bop, no sentido de um saxofonista tomando fôlego e
soprando uma frase em seu sax, até ficar sem ar novamente e,
quando isso acontece, sua frase, sua declaração foi feita... É
assim que separo minhas frases, como separações respirantes
da mente. (LOPES, 23 de outubro de 1999, Caderno 2, Jornal
O Estado de São Paulo)
No curta-metragem experimental H.O., de 1979, a voz em off do próprio
artista Hélio Oiticica explica a prática do invencionismo contido em sua obra a
partir de imagens do parangolé sendo vestido: “...eu passo a me conhecer
através do que eu faço, na realidade eu não sei o que eu sou...”. Esta
introdução, ou prólogo, é feito de colagens de sons, voz off, músicas de
Caetano Veloso, e de imagens coladas experimentadas e permeadas por
imagens de parangolés. Uma colagem imagética mostrando e explicando as
colagens plásticas, gerando, assim, uma metalinguagem.
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Coda é uma notação teórica apresentada em partituras, que define a seção com que se
termina uma música.