87
O varioloso encontrado na Santa Casa, é o soldado do exército Holchiades
Fernandes de Sant’Anna, com 22 anos, solteiro, natural da Bahia, cor
morena, que vindo de Curitiba, dera baixa ao hospital. O mesmo se encontra
bem instalado no Lazareto, na Estradinha, tendo o Sr. Dr. Antonio de Leão,
diretor de higiene, tomado as necessárias providências, para evitar o
contágio. O serviço daquele Lazareto se acha um enfermeiro e uma
enfermeira, ambos imunes, com ordens de admitir qualquer comunicação
com o doente. As pessoas do hospital que estiveram juntas com o varioloso
foram vacinadas, não havendo, portanto, perigo de que encontre
desenvolvimento, aqui, essa epidemia que assombra a tanta gente, e, no
entanto, não é tão funesta como a sífilis, a tuberculose, o cancro, etc.
230
.
Esta reportagem reflete a preocupação em relação à doença que já havia dizimado
centenas de pessoas em Paranaguá, dando a impressão de que noticiar que o doente é de fora
da cidade causaria certo conforto.
Em janeiro de 1914, o Chefe do laboratório do Departamento de Higiene Estadual foi
incumbido de visitar Paranaguá por conta das notícias de casos de disenteria, conhecida
também como “cãibra de sangue”:
Disenteria em Paranaguá – Higiene Pública – Segundo determinação do Sr.
Dr.? De Higiene Estadual, chegou a esta cidade, o Sr. Dr. Manoel Carrão,
chefe do laboratório daquela repartição, a fim de proceder à verificação
bacteriológica sobre a desinteira reinante. S.S. visitou diversos doentes,
tendo colhido diversos elementos para o exame bacteriológico, que se
realizará em Curitiba. Hoje o ilustre clínico voltou para a capital
231
.
E no dia 27 de abril do mesmo ano, a reportagem seguinte vem confirmar tal epidemia
e moléstia:
Quem vive folgado, ou com os remendos de empregos na cidade, não avalia
quanta miséria se descortina por aí, em nossa terra, dentro e fora do quadro
urbano, nas choupanas nos sítios. De alguma forma se esteiam, e deixam de
morrer de fome ou frio; mas, desde que a moléstia atinge um ou dois
membros da família, a miséria aparece, então, morrem muitos a mingúe, sem
medicamentos, sem alívio. Essa disenteria ou cãimbra de sangue, que matou
centenas de pessoas, em nosso município, veio trazer a furo, todo esse
cortejo de necessidades. Houve casas, como ainda acontece no Rocio, cujos
moradores se viram todos atacados. Uma família de 6 pessoas ficou reduzida
ao chefe, um pobre caboclo: todos os mais baquearam a disenteria. Essa
miséria campeia infrene. Estes se vêem privados de médico, de
medicamento e de alimento necessário. É preciso que isso se faça a fim de
evitar essa clamorosa decepção ao século XX
232
.
230
Quem é o varioloso da Santa Casa? Jornal Diário do Comércio, Paranaguá, 7 de março de 1914, ano III.
231
Jornal Diário do Comércio, Paranaguá, 6 de janeiro de 1914, ano III.
232
A desinteria dizima o paranaguense. Jornal Diário do comércio, 27 de abril (sexta-feira) de 1914, ano III.