consumo, nem o consumo, simplesmente um fim para a produção - o mesmo é
dizer, tão pouco é suficiente o fato de cada um proporcionar ao outro o seu
objeto: a produção, o objeto exterior, material, do consumo; o consumo, o objeto
ideal da produção. Cada um dos termos não se limita a ser imediatamente o outro,
nem o mediador do outro: mais do que isso, ao realizar-se, cria o outro, realiza-se
sob a forma do outro. O consumo consuma o ato de produção, dando ao produto
o seu caráter acabado de produto, dissolvendo-o, absorvendo a sua forma
autônoma e material, e desenvolvendo - através da necessidade da repetição - a
aptidão para produzir surgida no primeiro ato da produção. O consumo não é
pois, apenas, o ato final pelo qual o produto se torna realmente produto: é
também o ato pelo qual o produtor se torna realmente produtor. A produção, pelo
seu lado, gera o consumo, criando um modo determinado de consumo,
originando - sob a forma de necessidade - o desejo e a capacidade de consumo.
Esta identidade mencionada no ponto 3) é particularmente discutida pela
economia política, a propósito da relação entre a oferta e a procura, entre os
objetos e as necessidades, entre as necessidades criadas pela sociedade e as
necessidades naturais.
Para um hegeliano não é agora mais fácil do que identificar a produção com o
consumo. E isso foi feito não só por escritores socialistas, mas até por
economistas vulgares (como, por exemplo, Say>, quando pensam que, se
considerarmos um povo - ou a humanidade in abstracto - a sua produção é igual
ao seu consumo. Storch denunciou o erro de Say, notando que um povo, por
exemplo, não consome simplesmente a sua produção, que também cria meios de
produção, etc., capital fixo, etc. Além do mais, encarar a sociedade como um
sujeito único é encará-la de forma falsa, especulativa; para um dado sujeito,
produção e consumo surgem como momentos de um mesmo ato. Importa realçar
sobretudo que, se se considerar a produção e o consumo como atividades quer
dum indivíduo, quer de um grande número de indivíduos [isolados], tanto uma
como outro seguem, em qualquer caso, como elementos de um processo no qual a
produção é o verdadeiro ponto de partida, sendo, por conseguinte, o fator
preponderante. O consumo, enquanto necessidade, é o próprio momento interno
da atividade produtiva; mas esta última é o ponto de partida da realização, e
portanto também o seu elemento preponderante, isto é: atá pelo qual todo o
processo se renova. O indivíduo produz um objeto e, ao consumir o seu produto,
regressa ao ponto de partida, procedendo como indivíduo que produz e que se
reproduz. Deste modo, o consumo representa um momento da produção.
Em contrapartida, na sociedade, a relação entre o produtor e o produto, uma vez
acabado este último, éuma relação exterior; o regresso do objeto ao sujeito
depende da contingência das relações que mantêm com os outros indivíduos; ele
não se apropria diretamente do produto; - além do mais, quando produz em
sociedade, a finalidade do sujeito não é a apropriação imediata do produto. Entre
o produtor e os produtos interpõe-se a distribuição, a qual, mediante leis sociais,
determina a parte do mundo dos produtos que cabe aquele; inter-põe-se, portanto,
entre a produção e o consumo.