Eu desde o inicio, que eu sou contra esse projeto. Primeiro porque na
época que nós chegamos aqui, nós moradores das Goiabeiras, a gente
lutava por uma urbanização de praia, uma praia urbanizada com barracas,
seu lazer, com espaço, mas que a natureza corresse livremente,. A gente
pobre sempre pensou nessa urbanização, por que nós pobres, a gente não
tinha condições de ir para a praia do Futuro, de ir para a beira mar, por
que a gente de determinados cantos chega na beira mar e fica até inibido
né, por que lá tudo é caro né, até um picolé que você queira. Então na
época a gente lutava pela urbanização, aí na época veio o Marrocos
Aragão e fez um projeto com todas as lideranças do bairro e todos os
moradores. E esse projeto não ia bulir com nós moradores, porque nós
estariamos dentro de um padrão com toda a infra-estrutura né. Ta certo
que aqui existia uma favela muito grande aqui. Agora para o Governo do
Estado dá uma moradia digna para esses moradores precisava tirar daqui?
Inventar esse Projeto Costa Oeste? Então foi o tempo em que eles
inventaram essa Avenida Costa Oeste, e a gente ta vendo aí o desmonte da
Barra do Ceará. Por que o Governo, não fez o projeto inicial? Não
aceitaram o Projeto do Marrocos Aragão, não sei por que, certamente por
que não iria bulir tanto com os pobres, e
não ia dar muita infra-estrutura
para os turistas né. Eu não sou contra os turistas, nem sou contra o
progresso, agora desde que quando venha o progresso, não venha o
progresso selvagem, por que para mim é o progresso selvagem por que não
vai sair só nós que estamos na área, mas todo esse pessoal também, A gente
sabe que a terra é da União, e por que a União não toma as providências?
A gente já mostrou por A mais B que isso daqui ta errado, isso aqui é uma
agressão a natureza, veio professor da UFC [Universidade Federal do
Ceará], o Prof. Jeová para falar do assunto, ele veio falou, fizeram debates,
o Dr. Alessander [Dr. Alessander Wilckson Sales, Procurador da República
Federal] fez todo o processo de embargar e as autoridades até agora não
toma providência. A gente ta tentando uma audiência com a Prefeita, a
gente quer uma audiência com ela, para ver a posição dela, por que é
obrigação dela, por que amanhã ou depois aqui vai ser o maior desastre,
eu estou só esperando as chuvas, por que o serviço é mal feito. Eu me
incomodo por que eu vou sair da minha moradia, não sei se ainda vou sair
né. Deus é quem sabe (NASCIMENTO, 2005, informação verbal).
A fala da senhora Íris deve ser entendida como um desabafo contra as
desigualdades sociais, a inexistência de infra-estrutura e áreas de lazer no bairro em que
reside, e um sentimento de frustração ou revolta, pelo fato do projeto do Arquiteto Marrocos
Aragão, explicitado no capítulo 1, a qual a entrevistada participou ativamente não ter sido
implementado na área.
Desse modo, a entrevistada continua a insistir na sua posição contrária ao Projeto
Costa Oeste, agora por meio de audiências públicas com a Prefeitura de Fortaleza a qual
culminou em mais uma paralisação da obra decretada em dezembro de 2005, em cuja
oportunidade o chefe da fiscalização da SER I, Assis Macêdo, interditou a obra, alegando
irregularidades na documentação exigida e pendências nas indenizações aos moradores.