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Maria Francineila Pinheiro dos Santos
PARA ONDE SOPRAM OS VENTOS:
políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
Dissertão de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação e Pesquisa
em Geografia da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte, para obtenção do
título de Mestre em Geografia. Área de
concentração: Dinâmica e Reestruturão
do Território.
Orientadora:
Prof
a
Drª. Rita de Cássia da C. Gomes.
Natal/RN
2006
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM GEOGRAFIA
A dissertação
PARA ONDE SOPRAM OS VENTOS
: poticas públicas de turismo
no Grande Pirambu/Fortaleza/CE, apresentada por Maria Francineila Pinheiro dos Santos, foi
aprovada e aceita como requisito para obtenção do título de Mestre em Geografia.
B
ANCA
E
XAMINADORA
___________________________________________________
Prof
a
Drª. Rita de Cássia da Conceição Gomes Presidente
(Departamento de Geografia UFRN)
_________________________________________________
Prof
a
Drª. Maria Aparecida Pontes da Fonseca Membro
(Departamento de Geografia UFRN)
________________________________________________
Prof
o
Dr. Eustógio Wanderley Correia Dantas Membro
(Departamento de Geografia UFC)
Natal/RN, _____/_____/_____
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D
EDICATÓRIA
À minha mãe, Aldeiza Pinheiro, pelo seu
apoio incondicional e sua realização
por meio de minhas conquistas.
A
GRADECIMENTOS
No decorrer dessa pesquisa, compartilhamos com o apoio e com a ajuda de muitas
pessoas, companheiros de um trabalho que agora entregamos à comunidade. A estas pessoas,
apresentamos nossos agradecimentos, que não se encerra nas palavras expostas, mas
permanece nos connuos los de amizade e admiração.
Inicialmente agradecemos a minha família, em especial ao meu irmão Francieles pela
sua inestimável ajuda e amizade.
Agradecemos à professora Rita pela confiança, pela maestria e pelo empenho
dedicado ao direcionamento e desenvolvimento desta pesquisa.
Aos professores Aldo, Beatriz, Cestaro, Diodato e Márcio pelas suas contribuições
no discorrer das disciplinas cursadas.
Aos professores José Lacerda e Maria Pontes, pelas suas indispensáveis colocações
na Banca de Qualificação, as quais nos ajudaram a amadurecer os caminhos de nossa
investigação cientifica.
Ao professor José Borzacchiello da Silva pela sua orientação no estágio à docência e
pela sua inestimável ajuda e apoio constante.
À Josélia pela força e amizade a mim dispensada com muita firmeza e alegria.
A todos os colegas do Mestrado e em especial à Auxiliadora, Aribério, Francisca,
José, Lindemberg, Marlene, Mônica, Raimundo, Renato e Rivaldo, por sua amizade e apoio
nos momentos difíceis.
Aos amigos, Ana Leda, César, Esmeraldina, Edcarlos, Rosa, Ray, Sérgio e Verônica,
pela acolhida, amizade e partilha durante a minha estadia em Natal.
Ao Fábio, Jercsan e Mairla por ter-nos acompanhado nos trabalhos de campo.
A Coordenão de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) pela
concessão da bolsa de estudo.
Por fim, a todos os atores sociais, esteios desta pesquisa, o nosso obrigado especial
pela gentileza dispensada e as informões preciosas, nos ajudando a realizar uma análise das
transformões no território do Grande Pirambu.
R
ESUMO
PARA ONDE SOPRAM OS VENTOSmetáfora utilizada para indicar o
direcionamento de poticas públicas de turismo para a zona oeste de Fortaleza, contrariando a
direção para onde até então estas poticas públicas eram atraídas, para a zona leste. Nesse
contexto, o presente trabalho analisa as poticas públicas implementadas no Grande Pirambu,
assim como os processos de desterritorialização e reterritorialização desencadeados pelo
programa de reassentamento e indenização do Projeto Costa Oeste. No intuito de apreender as
mudanças sociais que se desenrolam na área em questão, optamos por procedimentos
metodológicos que privilegiem as entrevistas com os diversos atores sociais reassentados,
indenizados, barraqueiros, moradores e pescadores -. A análise das políticas públicas
direcionadas para o Grande Pirambu, infere que a mesma responde à tentativa de
requalificação urbana da área, fruto das novas exigências impostas pela atividade turística
desenvolvida em Fortaleza, ansiosa para incorporar a área à dinâmica turística da cidade. No
entanto, a implantão do Projeto Costa Oeste não vem ocorrendo de forma passiva, pelo
contrário, desde o início, o mesmo tem propiciado polêmicas e discussões, acirrando disputas
políticas entre o poder público municipal e estadual, acarretando prejuízos aos cofres
públicos, ao desenvolvimento turístico da cidade, e principalmente aos moradores do Grande
Pirambu, inquietos e angustiados, com a construção do referido projeto que se arrasta há
quatro anos.
PALAVRAS-CHAVE: Políticas Públicas. Turismo. Território. Desterritorialização.
Reterritorialização.
ABSTRACT
PARA ONDE SOPRAM OS VENTOS, metaphor used to indicate turism public
politicsway to the west zone of Fortaleza, against the direction where until now this public
politics was targeted, to the east zone. This context, análise the public politics implemented in
the Grande Pirambu, so like the processes of nonterritorialization and reterritorialization
unchain by the program os settlement and indemnification of the Projeto Costa Oeste. Aim to
learn the transformations that unroll in the studied área, based in proceding methodologic that
privileged the interviews with many social actors resettled, indemnificators, intirenants,
livers and fishmen. The public politics analyzes run to the Grande Pirambu infer that the same
answer at trying of urbam requalification of the área, object of the new exigence pretender by
the touristics activities developed in Fortaleza, wish to incorporate this área at the turistics
dynamic of the city. However, the implementation of the Projeto Costa Oeste do not occuring
in calm way, by opposite sence the beginning, the same has been propitiated polemics and
discussions, stired up about public politics between the municipa and state power, to bring
about injury in the public coffers, to the developing turismo f the city and, mainly to the living
around Grande Pirambu, unquiet and sad with the buildings of the referring project that there
is running for four years.
KEY WORDS: Public Politics. Turism. Territiry. Nonterritorialization. Reterritorialization.
SUMÁRIO
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE GRÁFICOS
LISTA DE MAPAS
LISTA DE QUADROS
LISTA DE TABELAS
INTRODUÇÃO
13
1
O GRANDE PIRAMBU NO CONTEXTO URBANO DE FORTALEZA/CE
19
1.1
Formação do Grande Pirambu: lutas e construções
20
1.2
Poticas Públicas no Grande Pirambu
40
2
O LITORAL FORTALEZENSE
62
2.1
Produção e Valorização dos Espos Litorâneos de Fortaleza/CE
63
2.2
A Atividade Turística em Fortaleza/CE
74
3
DIÁLOGANDO COM A POPULAÇÃO LOCAL
104
3.1
Desterritorialização e reterritorialização no Grande Pirambu
105
3.2
Projeto Costa Oeste: conquistas ou desafios?
132
CONSIDERÕES FINAIS
142
REFERÊNCIAS
147
APÊNDICE
154
ANEXOS
162
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
Área de Proteção Ambiental
Banco Interamericano de Desenvolvimento
Banco Nacional de Habitação
Companhia de Água e Esgoto do Ceará
Centro de Defesa e Promoção dos Direitos Humanos da Arquidiocese de
Fortaleza
Central de Artesanato do Ceará
Código de Endereçamento Postal
Conselho Nacional de Pesquisa Cientifica
Conselho Estadual do Meio Ambiente
Companhia de Habitação do Ceará
Companhia de Habitação de Fortaleza
Conselho Nacional de Meio Ambiente
Centro de Documentação do Pirambu
Estudo de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto Ambiental
Empresa Brasileira de Turismo
Instituto dos Arquitetos do Brasil - Seção Ceará
Instituto dos Aposentados Industriários
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
Índice de Desenvolvimento Humano Municipal
Indústria Naval Cearense
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais
Associação do Movimento em Defesa da Vida dos Moradores das
Goiabeiras e Adjacências
Organização Mundial de Turismo
Organização Não Governamental
Partido Comunista Brasileiro
População Economicamente Ativa
Plano de Desenvolvimento Integrado da Região Metropolitana de
Fortaleza
Produto Interno Bruto
Prefeitura Municipal de Fortaleza
Programa de Desenvolvimento do Turismo
Programa de Desenvolvimento do Turismo no Litoral do Ceará
Programa de Desenvolvimento do Turismo no Ceará
Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste
Partido Socialista Democrático Brasileiro
Partido dos Trabalhadores
Rede de Vião Cearense
Programa de Infra-Estrutura Básica de Saneamento de Fortaleza
Secretaria de Desenvolvimento Local e Regional
Secretaria de Infra Estrutura do Ceará
Superintendência Estadual do Meio Ambiente
Secretaria Executiva Regional I
Serviço Social do Comércio
Secretaria de Turismo do Estado do Ceará
Sistema Financeiro de Habitação
Supremo Tribunal Federal
Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste
Universidade Federal do Ceará
Unidades de Hospedagem
LISTA DE FIGURAS
Páginas
1
Porto das Jangadas.
23
2
Praia do Arpoador (Pirambu); Casas de taipa no Pirambu
24
3
Rua dotada de infra-estrutura básica; Rua com inexistência de infra-estrutura
31
4
Habitões precárias (Pirambu); Barracos na faixa de praia do Cristo Redentor
34
5
Poluição na faixa de praia; Barracos e lixo na praia
38
6
Pra do Pólo de Lazer da Barra do Ceará; O píer de três quilômetros
45
7
Zona de berma com 6 metros; Zona de berma com 3 metros
50
8
Retirada de areia no local destinado ao porto das jangadas
51
9
Desnível nas residências na cota superior da Avenida
52
10
Trechos da Avenida Costa Oeste destruída pela maré
53
11
Mural na Avenida Costa Oeste; Mural no colégio público
58
12
Trechos selecionados do vídeo Nova Beira Mar
59
13
Compartimentação do litoral fortalezense em três zonas
64
14
Passeio Público
65
15
O litoral cearense e suas regiões turísticas
79
16
Zona oeste de Fortaleza
92
17
Área central de Fortaleza
94
18
Zona leste de Fortaleza
99
19
Croqui dos apartamentos do Projeto Costa Oeste
107
20
Instalação de novas barracas semanas depois das removidas
111
21
Habitão da vizinhança do Conjunto Tropical
114
22
Pequeno santuário no muro que deveria ser aberto para dar acesso a rua
115
23
Estabelecimento construído no Conjunto Gra Aranha
116
24
Terreno e Fábrica vizinha ao Conjunto Gra Aranha
118
25
Casa a ser indenizada pelo Projeto Costa Oeste
122
26
Casa no meio do percurso da Avenida Costa Oeste
123
27
As barracas atuais; O esboço cartográfico das futuras barracas
131
28
Fragmentos do primeiro trecho da Avenida Costa Oeste
134
29
Casas e terrenos com placas de venda ao longo da Avenida Costa Oeste
136
30
O paredão e as jangadas em cima da avenida Costa Oeste
138
31
Local destinado para o galpão dos pescadores ocupado pela CAGECE
139
32
Croqui do galpão dos pescadores
139
33
Croqui dos quiosques para venda de peixes
140
34
Galpão construído pelos pescadores
140
LISTA DE GRÁFICOS
Páginas
1
Índice de Desenvolvimento Humano de alguns bairros de Fortaleza
39
2
Evolução do esgotamento sanitário nos bairros do Grande Pirambu – 1997/2001
41
3
Situação do esgoto na faixa de praia dos bairros do Grande Pirambu
42
4
Situação do esgoto no primeiro trecho da Avenida Costa Oeste Grande Pirambu
43
5
Oferta hoteleira nas capitais do Nordeste
82
6
Mercados emissores nacionais e internacionais para o Ceará 2004
85
7
Mercados emissores internacionais para o Ceará 2002/2004
88
LISTA DE MAPAS
Páginas
1
Área de estudo – Grande Pirambu/ Fortaleza/CE
14
2
Os três trechos da Avenida Costa Oeste Grande Pirambu
47
3
Vias litorâneas de Fortaleza/CE
57
4
Divisão do litoral fortalezense em clusters
90
5
Conjuntos de reassentamento do Projeto Costa Oeste
106
LISTA DE QUADROS
1
Vôos internacionais regulares e charters
88
LISTA DE TABELAS
Páginas
1
Renda dos chefes de famílias do Grande Pirambu (em Salários Mínimos)
33
2
Grande Pirambu: conjuntos habitacionais em mutirão
35
3
Grande Pirambu: infra-estrutura por bairro – esgotamento sanitário (m
3
)
36
4
Grande Pirambu: infra-estrutura por bairro – acesso à água (domicílios)
37
5
Grande Pirambu: infra-estrutura por bairro – destino do lixo (toneladas)
37
6
Resultados das medianas de coliformes fecais das praias de Fortaleza
71
7
Resultados da atividade turística
84
8
Principais municípios visitados pelos turistas que ingressaram no Ceará 2004
87
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
13
INTRODUÇÃO
nossa opção em trilharmos os caminhos da construção do espaço do
Grande Pirambu nasceu das discussões realizadas no Laboratório de
Planejamento Urbano e Regional, do Departamento de Geografia da
Universidade Federal do Ceará (UFC), aguçando nossa curiosidade de pesquisadora em
vislumbrar um olhar sobre um espo diferenciado daquele vivido até então por mim (do
ponto de vista social), transformando-se em desafio a seguir.
A denominão Grande Pirambu foi dada ao conjunto composto pelos bairros Barra
do Ceará, Cristo Redentor e Pirambu, localizados na zona oeste de Fortaleza, numa região de
praias e dunas (Mapa 1). Tal denominão foi dada no referido laboratório, durante a pesquisa
realizada na área, intitulada, A Gestão do Saneamento em Fortaleza O Caso do Projeto
Sanear, sob a coordenação da Professora Drª Maria Salete de Souza, financiada pelo
Conselho Nacional de Pesquisa Cientifica (CNPq), no período de 1999 a 2003, dando
materialidade ao nome, que em alguns momentos já havia sido estabelecido pela imprensa
local.
Desvendar a construção do espaço do Grande Pirambu não foi algo fácil, pois se trata
de um espaço complexo, porém surpreendente, cheio de novas descobertas e acontecimentos;
principalmente, no que se refere à história de luta, resistência e sobrevivência dessa populão
que não se deixa abater pelas imeras dificuldades impostas a ela.
O Grande Pirambu deve ser analisado enquanto espaço fragmentado, com diversos
territórios. Para suprir as nossas necessidades de ordem conceitual optamos pela compreensão
de Gomes, no seu estudo sobre o turismo em Ponta Negra, quando assinala que
[...] a qualificação do espo pelo trabalho resulta no território. Isto é, a
construção do território se dá num quadro de relões representadas pela
exploração, dominação e apropriação. São relações de poder, que por sua
vez, estão atreladas a um aspecto fundamental, que é o modo de produção.
Ou seja, o território é uma produção social historicamente determinada que
resulta de um processo de aproprião de uma dada porção do globo
terrestre (GOMES, 1999, p. 21).
Partindo dessa compreensão, podemos afirmar que o Grande Pirambu expressa um
território bem configurado, que foi apropriado. Portanto, socialmente e historicamente
construído por diferentes atores socais. Dentre os atores sociais, podemos destacar os
A
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
14
pescadores, os imigrantes, os representantes das associações de bairro e os moradores em
geral.
Mapa 1:
Área de estudo Grande Pirambu/ Fortaleza/CE.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
15
Andrade (1998, p. 214), ao tecer considerações sobre os atores sociais envolvidos na
construção do território, destaca que a formação de um território dá as pessoas que nele
habitam a consciência de sua participação, provocando o sentimento de territorialidade que,
de forma subjetiva, cria uma consciência de confraternizão entre as mesmas.
Assim, o processo histórico da construção do espo aqui denominado de Grande
Pirambu, caracteriza-se inicialmente pelos territórios dos pescadores, dos imigrantes e da
classe pobre da cidade. O que na atualidade vêm sendo posto em xeque, tendo em vista os
ventos que sopram, isto é, as políticas públicas de turismo para a zona oeste de Fortaleza,
visando a requalificação urbana da área e sua inserção à dinâmica turística da cidade.
Entendemos requalificação urbana como a mudança no tipo de uso do solo urbano de uma
determinada área.
As poticas públicas são consideradas instrumentos fundamentais no processo de
transformação do Grande Pirambu, o qual vem sendo realizado por meio da requalificação
urbana propiciada pelos processos de desterritorialização e reterritorialização presentes na
área.
Côrrea (1998) ao analisar os processos de desterritorialização e reterritorialização
propiciados pela instalação da fábrica Souza Cruz, associa estes processos, respectivamente,
[...] a perda do território apropriado e vivido em razão de diferentes processos derivados de
contradições capazes de desfazerem o território, e a [...] criação de novos territórios, seja
através da reconstrução parcial,
in situ
, de velhos territórios, seja por meio da recriação
parcial, em outros lugares, de um novo território que contém, entretanto, parcela das
características do velho território(p. 252. Grifo do autor).
Nestes termos, apontamos tais processos como anunciadores da dialética de
transformação do território em discussão, pois na atualidade dá-se a construção de um novo
território com vistas ao turismo, baseado na destruição e/ou transformação do existente até
então.
Assim, calcamos nossa análise nas políticas públicas implantadas no Grande Pirambu
e nos processos de desterritorialização e reterritorialização desencadeados pelo programa de
reassentamento e indenização do Projeto Costa Oeste, os quais suscitam a transformação do
território apropriado.
Tendo como objetivo analisar as poticas públicas implantadas no Grande Pirambu e
investigar os processos desencadeados pelas mesmas, tais como: desterritorializão,
reterritorialização e conseentemente a requalificão urbana da área, adotamos como
procedimento metodológico básico as análises quantitativa e qualitativa, no intuito de
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
16
apreender a realidade e elucidar o significado do modo de agir e de pensar dos atores sociais
que se oculta e se revelam nas estruturas sociais.
Desse modo, foram considerados os atores sociais envolvidos no processo de
desterritorialização e reterritorialização desencadeado no Grande Pirambu: os moradores que
habitam a faixa de praia, os pescadores, os barraqueiros, os reassentados e os indenizados do
Projeto Costa Oeste.
Realizamos leituras pertinentes aos diversos temas desenvolvidos, e buscamos
jornais e documentos de instituições públicas. Consultamos dados secundários
disponibilizados pelos órgãos públicos como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estastica
(IBGE), Secretaria de Desenvolvimento Local e Regional (SDLR), Superintendência Estadual
do Meio Ambiente (Semace) e Secretaria de Turismo do Estado do Ceará (Setur/CE).
Desenvolvemos pesquisa empírica englobando, no primeiro momento (em 2002) a aplicação
de 56 formulários. E no segundo momento (em 2005) a realização de 70 entrevistas, as quais
por uma questão de ética na pesquisa, ficou garantido aos nossos interlocutores o sigilo a
respeito dos seus nomes verdadeiros. Dessa forma, os dados e depoimentos relatados aqui são
verídicos, mas os nomes das pessoas são fictícios, são codinomes.
A sistematizão de toda essa empreitada resultou no trabalho que ora apresentamos,
o qual está estruturado em três capítulos. O Primeiro - O Grande Pirambu no contexto urbano
de Fortaleza/CE -, versa sobre a construção do território do Grande Pirambu, no período
compreendido de 1930 até os dias atuais, salientando os diversos territórios existentes na área,
os aspectos sócio-econômicos da populão e a infra-estrutura disponível no Grande Pirambu.
Nele foram ainda discutidas as intervenções das associões comunitárias enquanto relações
de poder, atuando sobre as políticas públicas destinadas para a área, e os impactos ambientais
negativos propiciados pelo Projeto Costa Oeste.
O segundo capítulo - O Litoral Fortalezense -, evidencia o processo de produção dos
espaços litorâneos de Fortaleza, discutindo os atores sociais que produziram dialeticamente
esse espaço. Além disso, discorremos sobre as políticas públicas de turismo na construção de
Fortaleza enquanto cidade turística, na tentativa de inserir o Grande Pirambu nesse contexto.
No terceiro capítulo - Diálogo com a população local -, buscamos, a partir da fala dos
diversos atores sociais envolvidos no processo de desterritorialização e reterritorialização do
Projeto Costa Oeste, compreender as conquistas e os desafios postos pelo referido projeto às
pessoas atingidas direta e/ou indiretamente pelo mesmo.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
17
Por fim, traçamos algumas considerações pertinentes à construção do Grande
Pirambu e as expectativas, angústias e esperanças da população local, frente às atuais políticas
públicas sopradas pelo ventoem dirão à zona oeste.
Assim, acreditamos que as discussões sobre as transformões desencadeadas no
espaço do Grande Pirambu merecem atenção especial de todos s, por tratarem da vida de
pessoas, de seus sonhos, aspirações e projetos de vida.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
18
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
19
1 O GRANDE PIRAMBU NO CONTEXTO URBANO DE FORTALEZA/CE
este capítulo será discutido no primeiro momento o processo de formão
do Grande Pirambu, evidenciando a origem de cada bairro que o come,
assim como a atuação dos atores sociais envolvidos na construção do seu
território.
Essa constatação nos reporta ao conceito de território já evidenciado como “espo da
práticacorroborando com a definição dada por Becker (1998, p. 108):
O espo da prática, por um lado, é um produto da prática social: inclui a
apropriação de um espaço, implica a noção de limite um componente de
qualquer prática , manifestando a intenção de poder sobre uma porção
precisa do espo. Por outro lado, é também um produto usado, vivido pelos
atores, utilizando-se como meio para a sua prática.
Como elementos que expressam essa realidade, discutiremos a ação dos atores
sociais na apropriação do território do Grande Pirambu e, sobretudo, nas relações de poder
estabelecidas por meio da luta pela conquista das terras do Pirambu.
No segundo momento, analisaremos a implantão das diversas políticas públicas no
Grande Pirambu, trazidas pelos ventos, que no momento atual sopram em direção a zona
oeste. Em conseência disso, o espo do Grande Pirambu tem sido, nas últimas décadas
cenário de intensas transformões da área, principalmente de sua faixa litorânea, as quais
foram resultado de processos de desterritorialização e reterritorialização, visando à
requalificação urbana da área.
O conceito de espaço é visto de acordo com Santos (1999, p. 51), [...] um conjunto
indissociável, solidário e também contraditório, de sistema de objetos e sistema de ações, não
considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá. Assim,
iniciaremos o estudo da formão do espo do Grande Pirambu, focalizando o contexto no
qual este processo ocorreu.
N
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
20
1.1 Formação do Grande Pirambu: lutas e construções
O território do Grande Pirambu, cujo atual arranjo urbano espacial abrange uma área
de 586,1Km
2
, é formado pelos bairros Barra do Ceará, Pirambu e Cristo Redentor,
subdivididos em conjuntos habitacionais e áreas de auto-construção que se revelam como
alternativa de conquista da moradia por parte daqueles que não tem acesso às poticas de
habitação.
A formão dos bairros que comem o Grande Pirambu compreende a expressão
material de processos históricos constituídos dialeticamente no passado e no presente,
propiciadores da construção do seu território.
Embora a Barra do Ceará tenha passado uma ocupão diferenciada das demais
áreas, acreditamos ser adequado começarmos a análise da formão do Grande Pirambu por
este bairro, devido, sobretudo, à sua ocupação ter ocorrido bem anterior aos outros bairros.
A Barra do Ceará encontra-se inserida no processo de colonização da Província do
Ceará, tornando-se o local do processo de ocupação humana às margens do Rio Ceará:
inicialmente, em 1603, os portugueses desembarcaram na área e construíram o forte de São
Tiago na Barra do Ceará. No entanto, esta expedição fracassou devido, especialmente, à seca
de 1605. Em 1612, ocorreu uma segunda tentativa de colonização, com a chegada de Martins
Soares Moreno, permanecendo na área até 1631, quando foi solicitado a retornar para
Pernambuco (GIRÃO, 1971).
Ao contrário de outras cidades litorâneas coloniais, as condições naturais de
Fortaleza não eram as mais indicadas para ação do colonizador português, devido às
características de sua faixa litorânea. É o que aponta o estudo feito por Lemenhe (1991) sobre
o processo de colonização do Ceará. Esta autora chama a atenção para o fato de Fortaleza
não
possuir nenhuma foz de rio navegável, nenhuma baía; e pior ainda: localizava-se numa
planície arenosa, sem qualquer condição de explorão agrícola, principalmente dentro dos
padrões tecnológicos da época.
No entanto, Fortaleza não foge ao modelo de organização adotado em outras cidades
litorâneas, como o Rio de Janeiro e Salvador, com a cidade alta e cidade baixa, conforme
Linhares (1992, p. 137) aponta no seu estudo sobre o femeno da valorização das zonas de
praia de Fortaleza, [...] a cidade baixa, perto do mar, lugar de múltiplos p7erigos, fica sendo
a cidade dos pobres. E a cidade alta é dedicada aos ricos. Em Fortaleza, a nossa vila velha foi
localizada na Barra do Ceará e a vila nova edificada próxima a atual praça da catedral.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
21
Como reflexo desse processo, a Barra do Ceará passou um longo período
caracterizado como o território dos pescadores, sendo basicamente ocupada por colônias de
pescadores, os quais deram origem ao Grande Pirambu.
Somente nos anos 1940 inicia-se um lento processo de expansão dessa área, com a
instalão das chácaras, atraídas pelas belezas naturais marcantes: o rio, o mar, o encontro das
águas, o coqueiral e os campos dunares. Conforme Santos (2000, p. 73), ao analisar a
segregação sócio-espacial da Barra do Ceará, a área compreendia “uma praia de elevado valor
paisagístico, com suas extensas dunas recobertas por gramíneas. A ocupão da área na época
mantinha livre a faixa de dunas que apresentava 350m de largura”.
Além do território da pesca e das chácaras da classe média, a Barra do Ceará
dispunha do território do lazer, como o Clube de Regatas, construído em 1960, destinado ao
lazer da classe alta e média da cidade e dos habitantes das chácaras na área, aspectos que
diferencia a ocupação deste bairro dos demais que comem o Grande Pirambu.
Posteriormente, a faixa litorânea foi inserida numa lógica diferenciada da anterior
(lazer para ricos e classe média), pois a praia ficou priorizada como território de lazer pelos
diversos bairros populares da zona oeste da cidade. As pessoas que chegavam à praia da Barra
do Ceará provocavam um movimento frenético nessa área, com o movimento de pequenos
barcos fazendo a travessia do rio, a mistura de cores, sons e ritmos, construindo assim uma
nova paisagem. Linhares ao estudar a área, retrata bem essa dinamicidade,
Na praia, chegam os grupos de pessoas saídas de todos os conjuntos
populares, todos os bairros suburbanos da zona oeste começa a se aglutinar
naquela manhã de domingo. Caminhões chegam carregados, ônibus cheios
de barulhentos grupos ficam abandonados à beira da estrada. [...] Em
poucos segundos, é possível perceber a diversidade de sons. Uma mistura
de ritmos exalta e dá intensidade aos espaços. Os grupos se espalham por
todos os locais da praia. Se misturam, se falam, se gritam. Forró, carim,
samba, rock, brega, música caipira, se junta no ar, formando uma massa
sonora difusa
(LINHARES, 1992, p. 259-260).
Além do território da pesca, das chácaras da classe média e do lazer, a Barra do
Ceará dise de outro território – o da indústria.
Este resultou do processo de industrialização
em Fortaleza, iniciado em 1872, com a primeira unidade industrial da cidade, a fábrica de
tecidos Progresso. A primeira fase da industrialização fortalezense estendeu-se até o final da
década de 1950, e se caracterizou pelo predonio de investimentos de iniciativa individual
ou de propriedade de grupos familiares, tendo contribuído muito para o processo de
urbanização de Fortaleza (AMORA, 1995).
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
22
As indústrias, em sua maioria, concentravam-se no setor oeste da cidade, tendo como
referência a área central, situada ao longo do eixo viário da Avenida Francisco Sá, que tinha
seu início no bairro Jacarecanga, estendendo-se até à Barra do Ceará. Segundo Souza (1978,
p. 80), ao estudar a formação sócio-espacial da cidade de Fortaleza, No ano de 1926 instala-
se no bairro de Jacarecanga a indústria têxtil e de cigarros, em 1927 na Avenida Francisco Sá
tem-se a fábrica de tecidos e em 1928 a fábrica dos Urubus, da Rede Viação Cearense.
Contudo, somente as a implantação da Superintendência de Desenvolvimento do
Nordeste (Sudene), em 1959, foram destinados investimentos de incentivos fiscal para o
Nordeste, colocando a região em um processo de integrão da produção e do mercado
internacional, consolidando em Fortaleza um lo industrial com a instalão de outras
indústrias têxteis e de calçados.
A concentrão de indústrias no setor oeste da cidade estava inserida no Plano de
Desenvolvimento Integrado da Região Metropolitana de Fortaleza (Plandirf), o qual
representava a segunda fase de planejamento da cidade; e, conforme Souza (1978, p. 109),
Tratava do sistema viário e do zoneamento de uso e ocupação do solo. O Zoneamento
destacava três aspectos: descentralização comercial e dos serviços; renovação da área central
e um planejamento para a área litorânea.
No que diz respeito ao sistema viário, o Plandirf visava à abertura de vias, tais
como: a Avenida Leste Oeste, Borges de Melo, José Bastos, Beira-Rio e Zezé Diogo.
Dentre as áreas atingidas por estas vias, destacamos o Arraial Moura Brasil,
conhecido como zona de prostituição e da localização das pensões alegres, no setor oeste de
Fortaleza, ocupado inicialmente por trabalhadores que serviam de mão-de-obra nas atividades
portuárias no antigo porto da cidade (Porto das Dragas). Na atualidade, resta apenas um
pequeno bairro constituído por população carente. O Arraial Moura Brasil era conhecido
como uma extensão do Pirambu, o próximo bairro integrante do Grande Pirambu a ser
analisado.
O Pirambu corresponde a uma antiga área marítima, na qual o território da pesca
encontrava-se presente ao longo de toda a zona oeste. Mas, na atualidade o território dos
pescadores restringe-se à área denominada de porto das jangadas (Figura 1). Esta compreende
a pequenas áreas onde se reúnem as embarcações dos pescadores na praia das Goiabeiras
(Barra do Ceara), na praia do Pirambu e na praia do Cristo Redentor, em locais destinados a
estas práticas marítimas, conhecidas como porto das jangadas, onde os pescadores guardam
suas jangadas e realizam a atividade pesqueira.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
23
Figura 1:
Porto das Jangadas Barra do Ceará.
Foto: SANTOS, novembro de
2005.
O Pirambu era composto de imeras belezas naturais. Segundo Costa (1995, p. 15)
autora do livro
Historiando o Pirambu
, a área era repleta de belezas naturais,
Contava com uma paisagem de dunas brancas, coqueiros e lagoas: a lagoa do
Mel e a lagoa Funda, enchia de beleza esta parte da orla marítima de
Fortaleza, de morros alssimos, como o do Japão, onde podia avistar-se
grande parte da cidade
.
A paisagem das belezas naturais anteriormente descrita do Pirambu foi intensamente
alterada a partir de 1930, principalmente na década de 1950, com a chegada dos retirantes
vindos do interior do Ceará assolados pela seca. Os migrantes, em virtude da falta de
condições financeiras, utilizavam-se de todo tipo de material disponível para a construção de
suas casas; sobretudo, as casas de taipa, constituídas de varas e barro, conforme demonstra a
figura 2.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
24
Figura 2:
Praia do Arpoador Pirambu (acima); Casas de taipa no Pirambu (abaixo).
Foto: Arquivo NIREZ, 1933; SILVA, 1960.
As figuras acima demonstram duas paisagens diferenciadas do Pirambu. A primeira
mostra as dunas brancas e coqueiros do Pirambu na década de 1930; e a segunda evidencia as
casas de taipa e ruelas estreitas da década de 1960, mostrando as transformações ocorridas na
área.
As transformões da paisagem do Pirambu encontram-se atreladas ao processo
migratório para Fortaleza, o qual foi enormemente facilitado pela expansão ferroviária,
notadamente, pela construção de duas ferrovias: a ferrovia de Baturité e a ferrovia de Sobral,
as quais possibilitaram intensas migrões para Fortaleza. Para Souza (1978, p. 102), Esse
processo migratório, diretamente ligado aos problemas da economia rural do estado, foi
intensificado a partir de 1930, em parte por influência das sucessivas secas - 1932, 1952, 1958
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
25
e 1970. Essas migrações proporcionaram um considerável adensamento populacional na
cidade, sobretudo no Pirambu.
O processo de imigração para Fortaleza nesse período encontra-se intrinsecamente
ligado à seca e à edificão de mais ferrovias, as quais, além de estreitar a distância entre os
centros produtores de matéria-prima com a capital cearense, também possibilitava a chegada
dos imigrantes à Fortaleza. Como bem mostra Rios,
[...] as ferrovias não traziam somente o algodão ou o fumo; transportavam,
também milhares de flagelados. Criava-se então, um paradoxal desejo sobre
a construção e o alongamento das Estradas de Ferro: o interesse da
burguesia industrial e comercial era consolidar cada vez mais o capitalismo
em Fortaleza, no entanto a estrada de ferro trazia também, a miséria que se
queria longe da capital (RIOS, 2001, p. 16).
Entretanto, a chegada dos imigrantes na capital era vista com pavor pela sociedade
fortalezense, principalmente, pelos comerciantes e pela elite da cidade. É o que podemos
inferir a partir do modo como os jornais da época retratavam tal processo.
[...] o Jornal Nordeste anunciava os famintos estão chegando até Fortaleza.
Trens são assaltados e agora os chefes de comboios já não impedem a
vinda dos flagelados (17/02/1932) [...] o Jornal O Povo reforçava: Fortaleza
é invadida pela onda faminta (13/04/1932) [...] e o Correio do Ceará, pedia
ação imediata do Governo os flagelados que chegaram são muitos,
entretanto, são pouquíssimos comparados com os que ainda vêm em
caminho [...] O Governo enquanto é tempo, precisa assentar como deva
agir (04/04/1932) (RIOS, 2001, p. 30-31. Grifo do autor).
Tais notícias propiciaram uma situação de medo e pavor frente aos retirantes que
chegavam em Fortaleza e os que ainda estavam por vir, exigindo-se uma ação concreta do
Governo do estado. Em resposta a essas exigências o Governo local criou os Campos de
Concentração, definidos por Neves (1998), como locais construídos com a finalidade de
reunir os migrantes em um único lugar, mantendo-os sob o olhar das autoridades e com o
objetivo de oferecer-lhes proteção.
A protãodespendida aos retirantes e pobres em Fortaleza fazia parte dos projetos
de urbanização da cidade, conforme afirma Rios (2001, p. 51): Os projetos de urbanização e
modernização de Fortaleza elaboravam Campos de Concentração, asilos e casas de pobres
para isolamento da pobreza. Fortaleza planejava ter os pobres em lugares adequados.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
26
É interessante o nome dado aos Campos de Concentração pelos retirantes que
habitavam nesses locais, pois estes associavam o local e o modo como eram tratados aos
animais da área rural. Quem relata essa história é Rios,
Chamavam-no de Curral do Governo. Na vivência do mundo rural, o
sertanejo sabe que o gado precisa ser encurralado para não fugir. O curral é
a prisão. Mais que isso: é uma prisão de animais. O Campo de
Concentrão não era, portanto, um lugar para gente. Era uma prisão que
tratava seres humanos como bichos. Na memória de muitos sertanejos, o
curral foi mais um caso que explicitava a forma cruel pela qual o Governo
costumava, e ainda costuma, assistir os despossuídos (2001, p. 68).
Aqueles que não foram instalados nos Campos de Concentraçãoe nem possuíam
condições materiais necessárias à aquisição de moradia digna, localizavam-se em terrenos
próximos ao centro da cidade, ocupando terrenos vazios ou áreas menos valorizadas, como
por exemplo, nas margens da via férrea, áreas sujeitas às inundões e trechos da orla
marítima (terrenos de marinha), dando origem às primeiras favelas no litoral fortalezense.
Conforme Silva (1992, p. 29), o aparecimento das favelas nessa área de Fortaleza datam de
1930 – 1950, destacando-se: Cercado do Zé Padre (1930), Pirambu (1932), Mucuripe (1933),
Lagamar (1933), Mouro do Ouro (1940), Varjota (1945), Meireles (1950), Papoquinho (1950)
e Estrada de Ferro (1954).
Em 1967, o Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais (IJPNS), realizou uma
pesquisa e constatou, que em 1960, cada 1.000 (mil) habitantes residentes em favelas de
Fortaleza, 827 (oitocentos e vinte sete) eram migrantes, representando um índice de 82,7% da
população favelada.
A história da construção do território do Grande Pirambu se relaciona, portanto, com
a história do intenso êxodo rural que ocorre a partir da década de 1930, e da expansão
ferroviária. Assim os dois Campos de Concentraçãode Fortaleza foram instalados próximos
aos bairros pobres da cidade, nas proximidades da praia, no trecho compreendido entre o
Pirambu e o antigo porto (Porto das Dragas).
Afinal, a populão pobre da cidade pouco
estranharia as cenas trazidas pelos novos vizinhos os imigrantes do sertão cearense.
Ressaltamos que nos anos 1930, esse trecho da praia já era considerado área ispita,
pois era o local destinado para a recepção de dejetos da cidade, para a deposição das quimoas
1
e a instalação do primeiro sistema de esgotamento sanitário, aspectos que serão discutidos no
próximo capítulo.
1
Quimoas eram desitos de madeira (barris) utilizada para acumular dejetos humanos que eram transportados
por escravos ou mestiços e jogada nas praias
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
27
Assim, o Pirambu concentra retirantes desembarcados em Fortaleza, caracterizando-
se como o território dos pescadores e imigrantes, os quais ergueram seus barracos e casebres
na praia, dando origem à favela do Pirambu. Entendemos favela neste trabalho segundo a
compreensão de Corrêa (2001, p. 163),
O resultado da ão de grupos socialmente excluídos que ocuparam
terrenos públicos ou privados, via de regra inadequada para a valorização
fundiária e a promoção imobiliária. A ação desses grupos, que se dá
espontaneamente, representa, de um lado, uma estratégia de sobrevivência
e, de outro, de resistência a um sistema social que exclui parcela
ponderável da população de suas benesses.
Surgem então as primeiras favelas nos espaços litorâneos de Fortaleza, que na
maioria das vezes, conforme Dantas (2002, p. 53), eram áreas que anteriormente foram
ocupadas por colônias de pescadores, [...]
o fluxo de pobres à beira-mar, suscita construção
de favelas em espaços já ocupados por comunidades de pescadores. Nesse movimento, os
retirantes deixam de ser flagelados e passam a ser favelados. Assim, pescadores e favelados
passam a dividir o mesmo território, vivendo em comunhão e sem conflitos.
Entretanto, na construção do território do Pirambu a pazpermanecerá por um curto
espaço de tempo. Pois, no início na década de 1940, os conflitos pela posse da terra no
Pirambu comaram com a amea feita pelo senhor Francisco Oliveira e outros senhores que
se diziam proprietários daquelas terras.
Na segunda metade da década de 1940, assistimos, no cenário nacional, a uma
efervesncia política, em decorrência do fim da Segunda Guerra Mundial e da consolidação
das idéias comunistas, fortalecendo o crescimento dos movimentos sociais.
Para Braga
(1995, p. 57), Os movimentos sociais urbanos são definidos como ações coletivas da
população que demandam habitação, bens e serviços e geram efeitos específicos na relão
equipamento-população, bem como pode modificar a lógica do desenvolvimento urbano.
Segundo consta nos arquivos de jornais disponibilizados no Centro de
Documentação do Pirambu (CPDOC), na década de 1940, o Pirambu já contava com a
participação de um razoável mero de operários sindicalizados, notadamente aqueles
vinculados às indústrias do bairro Francisco Sá, e outros movimentos populares comandados
pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB). A experiência sindical destes trabalhadores irá
influenciar na organização de seus moradores, culminando no primeiro movimento social de
Fortaleza A marcha do Pirambu – reivindicando o acesso à terra e posteriormente à
moradia.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
28
Além do PCB, a Igreja Católica, na figura do Padre Hélio, também teve papel
preponderante na conscientização dos moradores na luta pela terra. Com a chegada do Padre
Hélio em 1958, no Pirambu, a igreja inicia uma forma de trabalho bastante singular, pois
através de partes do Evangelho, fazia uma análise da conjuntura sócio-político-econômica da
realidade em que viviam as pessoas da área (BARREIRA, 1992).
A realidade da área demonstrava a falta de infra-estrutura básica e a quase
inexistência no atendimento às demandas sociais a nível local, mormente, a moradia.
Acrescenta-se a isso a preocupão de Padre Hélio para com as constantes ameas de
despejo, levando-o a utilizar-se da mídia por meio da colaboração de jornais locais, como o
Democrata.
Este jornal foi criado em 1945, e em 1946, tornou-se o porta-voz do PCB no Ceará,
adquirindo maior expressão como imprensa popular junto aos bairros habitados por pobres e
operários. Nestes bairros, o jornal possuía postos de vendas nas mercearias e nas farmácias,
entre outros lugares, fazendo intensa mobilização social e realizando profundas manifestões
contra os latifundiários.
No Pirambu, o jornal ganha muitos leitores e apoiadores das idéias difundidas,
tornando-se este o principal veículo de informão e de incentivo para a populão organizar-
se, especialmente, quando se tratava da luta contra a desapropriação de terras e da falta de
infra-estrutura nos bairros pobres, conforme assinala a reportagem abaixo:
[...] os moradores não devem ter uma ilusão nos chamados canais
competentesporque o governo está com os exploradores do povo. A
solução, portanto, está nas mãos dos habitantes, na sua luta contra a
expulsão e por outras reivindicações de seu bairro como transporte mais
abundante, higiene, luz, calçamento, etc (DEMOCRATA..., 1958).
O Marco principal dessa luta popular foi a Marcha do Pirambu. Ao analisar esse
momento, Barreira (1992, p. 58) faz a seguinte observação, Organizando um trabalho de
quarteirão em quarteirão e com a ajuda do Padre Hélio, os moradores realizaram a marcha na
cidade no dia 01 de Janeiro de 1962, reunindo 20.000 pessoas até o centro.
As a marcha, o Pirambu recebeu apoio de políticos influentes como o senhor
Virgilio Távora, o então Ministro de Viação e Obras Públicas do governo de João Goulart, o
qual se comprometeu a interceder junto ao Primeiro Ministro, Tancredo Neves. Em
decorrência da visita, em 25 de maio de 1962, dá-se a desapropriação das terras no Pirambu
conforme o decreto abaixo.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
29
Decreto n° 1.058, de 25 de Maio de 1962, declara de utilidade pública para
desaproprião, duas áreas de terra situadas no bairro de Pirambu, em
Fortaleza, Capital do Estado do Ceará, necessárias a melhoramento
habitacional de grande centro de população local, com execução de obras de
urbanização, obras de higiene e abertura de vias e logradouros blicos,
para melhor utilização estética e fixação dos habitantes respectivos
(DIÁRIO..., 1986).
Decorridos esses acontecimentos, segue-se um período marcado pela Ditadura
Militar, segundo a qual as pessoas envolvidas em movimentos sociais, engajadas
politicamente com opinião contrária à ideologia dominante à época, e a favor dos direitos da
população carente foram duramente perseguidos e reprimidas. È nesse contexto que se
encontra Padre Hélio.
No intuito de desarticular o crescente movimento de resistência evidenciado no
Pirambu, Padre Hélio foi transferido para o Maranhão, e o Pirambu foi dividido em duas
paróquias: Nossa Senhora das Graças (Pirambu) e o Cristo Redentor, a segunda paróquia que
originou o bairro Cristo Redentor.
A divisão do Pirambu proporcionou o enfraquecimento dos movimentos populares
na área. Os padres nomeados para as duas paróquias restringiam suas ações às questões
religiosas, sem interferir nas discussões políticas, ficando os dois bairros sem uma figura forte
que pudessem orientá-los e organizá-los como havia feito Padre Hélio. Além do mais, o
próprio movimento popular do bairro encontrava-se enfraquecido, em virtude do Golpe
Militar de 1964, que instituiu um regime autoritário, reprimindo os movimentos sociais.
Embora tenha ocorrido a desapropriação das terras no Pirambu, a área ainda hoje
permanece propriedade do Estado, anteriormente terrenos da União. A regularização dessas
terras espera a ação do Ministério das Cidades. Numa visita à Fortaleza, no dia 23 de junho de
2003, o então Ministro das Cidades, Ovio Dutra declarou: Nenhuma dessas famílias
residentes em terrenos de marinha será despejada. Pelo contrário, terão melhorias. É para isso
que o Ministério foi criado(MINISTRO..., 2003).
A história de luta do Pirambu não se resume à Marcha do Pirambu, mas se traduz
numa luta cotidiana de seus moradores em busca de equipamentos de infra-estrutura básica
(escolas, creches, postos de saúde e saneamento), transformando a antiga favela em bairro.
Segundo a definição dada por Certeau (2003, p. 45),
O bairro é, no sentido forte do termo, um objeto de consumo do qual se
apropria o usuário no modo de privatizão do espo público. Aí se acham
reunidas todas as condições para favorecer esse exercício: conhecimento dos
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
30
lugares, trajetos cotidianos, relações de vizinhança (potica), relações com
os comerciantes (economia) e sentimentos difusos de estar no próprio
território (etologia).
No entanto, a infra-estrutura instalada no Pirambu não foi suficiente para
acompanhar a demanda existente, caracterizando este como um bairro popular litorâneo,
constituído de espaços fragmentados, os quais se diferenciam no arranjo sócio-espacial,
principalmente, na faixa litorânea, a qual apesar de apresentar espos altamente degradados,
ainda dise de áreas com elevado potencial paisagístico.
Nesse âmbito, o Grande Pirambu, território delimitado e apropriado a partir de
relões de poder empreendidas por diferentes atores sociais, reflete espacialmente o seu
ordenamento territorial, consolidando-se como espaço fragmentado. Esse espaço vem
passando por intensas transformões tendo em vista a implantação de políticas públicas na
área.
A primeira delas ocorreu na década de 1970, com a construção da Avenida Leste
Oeste. Tal avenida tinha como o objetivo integrar o setor oeste de Fortaleza (zona industrial da
Francisco Sá e Barra do Ceará) ao setor leste (zona portuária do Mucuripe), e ainda erradicar
as áreas de população pobres (tidas como área de prostituição e marginalidade) localizadas
próximas ao centro (SOUZA, 1978).
A construção da Avenida Leste Oeste acarretou o desmonte de dunas, a transferência
de famílias do Grande Pirambu, e a quase extinção do bairro Arraial Moura Brasil. Sobre
esses impactos, o coordenador do programa Terra e Moradia do Centro de Defesa e Promoção
dos Direitos Humanos (CDPDH), da Arquidiocese de Fortaleza declara que,
No setor oeste de Fortaleza, o progressoveio com a avenida Leste-Oeste.
Até 1970, aquela área era só zona de habitão, hoje temos o Hotel Marina
Park e outros equipamentos. Com a Avenida Leste-Oeste, as comunidades
desapareceram, foram expulsas para zonas periféricas, bem longe da vista
do mar, sendo relocadas no conjunto Palmeiras (Messejana), no Conjunto
Marechal Rondon, na Jurema (Caucaia) (MORADORES..., 1998).
A declaração do coordenador do supracitado programa nos revela que a Avenida
Leste-Oeste teve um caráter de intervenção do poder público, através da adoção de potica de
controle social, segundo a qual famílias foram divididas, laços de solidariedade desfeitos,
parentes e amigos de longas datas transferidos para conjuntos habitacionais, distantes dos
locais de trabalho. Sobre o processo de remoção dessas famílias, Souza (1978, p. 91) assinala:
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
31
O trabalho de remoção não abrangeu só o Arraial Moura Brasil, mas todo o
leito da Avenida, trechos do Pirambu e da vila Santo Antonio. Aí residiam
cerca de 13.000 pessoas, sendo 60% das habitões construídas com palha,
taipa ou madeira. Muitas dessas falias residem atualmente no Conjunto
Marechal Rondon, já nos limites com o município de Caucaia.
Em 1970, ocorreu o primeiro processo de desterritorialização existente na área e
conseentemente reterritorialização, tendo em vista a transferência dessas famílias para
conjuntos habitacionais localizados distantes das áreas anteriormente ocupadas.
O entorno da Avenida Leste-Oeste foi o local no qual iniciam-se as transformões
sócio-espaciais no Grande Pirambu, com a expansão da oferta de serviços (comércio, postos
de gasolina, escolas, postos de saúde etc.) e infra-estrutura ao longo da via (asfalto,
iluminação, sinais de trânsito etc.). Conforme assinala Dantas, No que respeita ao Pirambu, a
avenida Leste-Oeste deixa de ser litorânea e penetra a favela, provocando uma especialização
ao longo da via, com instalação de comércio diversificado e modificação da aparência da
favela com a construção de dúplex(DANTAS, 2002, p. 63).
Apesar da referida avenida ter acarretado o processo de transformação, as melhorias
ocorridas ao longo da via não atingem a área como um todo, restringindo-se apenas ao seu
percurso e as ruas principais do bairro, observados na figura 3.
Figura 3:
rua dotada de infra-estrutura básica – Pirambu (à esquerda) e rua estreita com
inexistência de infra-estrutura – Pirambu (à direita
).
Fotos: LOPES, outubro de 2001; COSTA, novembro de 2001.
A figura 3 demonstra respectivamente, a rua Nossa Senhora das Graças dotada de via
asfaltada, casas com dois pavimentos e comércio (à esquerda); e em seguida, a rua Santa
Elisa, com casas inacabadas, lixo e esgotos a céu aberto (à direita), evidenciando a existência
de lugares diferenciados quanto à infra-estrutura dentro da mesma área.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
32
Os anos de 1970 foram marcados por forte intervenção do poder público no espaço
do Grande Pirambu. Além da Avenida Leste Oeste, podemos destacar a progressiva alocação
de serviços urbanos nos bairros que comem o mesmo, como a maternidade Nossa Senhora
das Gras, a implantão do interceptor oceânico no final da Avenida Leste-Oeste e a
construção dos conjuntos habitacionais.
Inserida na zona industrial de Fortaleza, a Barra do Ceará recebia grande quantidade
de pessoas que se fixavam em torno das indústrias, ocasionando, nos anos 1970, a ocupação
acentuada do bairro. Este aspecto, aliado à disponibilidade de terrenos vazios, à poluição
atmosférica e sonora ocasionadas pelas indústrias, e o baixo valor monetário do solo, em
comparação a outras áreas litorâneas da cidade, possibilitaram a instalação dos conjuntos
habitacionais populares construídos pela Companhia de Habitação de Fortaleza (Cohab-CE),
transformando a Barra do Ceará no território das classes populares.
A predominância da Cohab-CE na construção dos conjuntos habitacionais na Barra
do Ceará está associado ao baixo preço do solo e ao fato de que a Cohab-CE construía para o
mercado popular, que atendia à população de baixa renda, considerada como aquela que
possuía uma renda mensal de 1 a 5 salários nimos mensais. Dentro dessa perspectiva,
foram então construídos os seguintes conjuntos habitacionais: Polar, Beira Rio, Nova
Assunção, Cohab, Bancários e Vila Velha; todos financiados pelo Banco Nacional de
Habitão (BNH). Entretanto, é bom lembrarmos a compreensão de habitão para o BNH.
Sobre essa questão Silva (1992, p. 79), faz a seguinte afirmão:
O BNH entende a habitação como produto de consumo, e de reprodução
ampliada do capital, cria, entre outros, mecanismos de financiamento à casa
própria, que ficam sob a alçada do Poder Central, outorgando às empresas
privadas a responsabilidade da construção das mesmas. O Estado criando o
BNH enseja amplos benefícios ao capital financeiro e ao capital ímobiliário,
e com o rótulo de estar resolvendo o problema da habitação, tenta
convencer o trabalhador em proprietáriode seu imóvel.
No entanto, nem todos os trabalhadores foram convertidos em proprietáriosde seu
imóvel. Notadamente, aqueles com baixa renda acabaram ficando à margem desse processo.
Segundo Costa (1988, p. 85), Estes engrossam as fileiras do setor informal e só encontram
soluçãopara os problemas habitacionais morando em favelas ou áreas que, dadas às suas
características físicas, não podem ser consideradas urbanizadas. A favela está associada à
questão fundiária. É o monopólio do solo que proporciona o surgimento das favelas, nas quais
a falta de infra-estrutura é apenas uma das características.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
33
A política habitacional teve uma materialização maior na Barra do Ceará do que nos
outros bairros que comem o Grande Pirambu (Pirambu e Cristo Redentor), surgindo com
alternativa para estes bairros, a auto-construção.
Esta significa uma produção de práticas não tipicamente capitalistas uma sociedade
capitalista, representando uma alternativa para o trabalhador permanecer no espaço urbano,
pois, em virtude dos baixos salários, estes não podem entrar no mercado legal para alugar ou
comprar uma casa, devido aos custos. Esta corresponde também, mesmo que ilusoriamente, a
uma perspectiva de ascensão social, estabilidade familiar e uma melhoria efetiva das suas
perspectivas de vida. Segundo Bonduki, existem ainda outras denominões utilizadas para a
auto-construção:
Muitos são os nomes usados para designar essa forma de construção: casas
domingueiras, casas de periferia, casas próprias auto construídas, casas de
mutirão. A característica básica, porém, é serem edificada sob gerência
direta de seu proprietário e morador: este adquire ou ocupa o terreno; traça,
sem apoio técnico, um esquema de construção, viabiliza a obtenção dos
materiais; agencia a mão-de-obra, gratuita e/ou remunerada informalmente;
e seguida ergue a casa (BONDUKI, 1998, p. 281).
A realidade da auto-construção e das dificuldades financeiras vivenciadas pela
população da área deve ser associada aos baixos salários, dispostos na tabela 1, na qual
observamos que 52,7% da população do Grande Pirambu ganha até um salário mínimo.
Tabela 1 Níveis de renda dos chefes de famílias do Grande Pirambu
(em Salários Mínimos)
Barra do Ceará
Cristo Redentor
Pirambu
Grande Pirambu
Níveis de renda
em salários
mínimos
Nº de
pessoas
%
Nº de
pessoas
%
Nº de
pessoas
%
Nº de
pessoas
%
0 – 1
5.853
50,1
3.766
54,9
2.596
56,15
12.215
52,7
>1 2
2.900
24,8
1.675
24,4
1.233
26,6
5.808
25,1
>2 – 5
1.790
15,3
889
12,9
474
10,3
3.153
13,6
>5 – 20
665
5,7
236
3,4
153
3,3
1.054
4,55
> 20
25
0,2
7
0,12
6
0,11
38
0,16
Sem renda
446
3,8
283
4,12
161
3,5
890
3,8
Total
11.679
100
6.856
100
4.623
100
23.158
100
Fonte:
IBGE, 1999.
Cálculo: SAG.
Mas a auto-construção também reproduz o capital seja por favorecer a compra de
produtos industrializados, seja por permitir o menor preço da forma de trabalho.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
34
Os dados da tabela 1 nos conduzem a inferir que a falta de condições financeiras da
população, a qual mostra que 52,7% do Grande Pirambu ganham até um salário mínimo,
caracteriza uma população desassistida de educação, saúde, que se expressa de forma mais
concreta pela moradia, compondo em algumas áreas do bairro, sobretudo, as mais próximas
do mar, um cenário constituído de sub-moradias (Figura 4).
Figura 4:
habitações precárias Pirambu (à esquerda), e barracos na faixa de praia do Cristo
Redentor (à direita).
Fotos: SANTOS, julho de 2004.
Entendemos como sub-moradias e os domicílios erguidos segundo o processo de
auto-construção, utilizando-se de todo tipo de material, inclusive madeiras, plásticos e
papelão, não propiciando aos seus moradores um espo de habitabilidade adequada; e que,
na maioria das vezes, ocupam glebas urbanas com possibilidades de riscos para o domicílio e,
conseentemente, para seus moradores.
As sub-moradias (barracos e casebres) apresentam riscos à vida das pessoas que
habitam estes locais, dentre eles, inundação e deslizamento oriundos do avanço do mar no
período das ressacas, como rotineiramente ocorre na área. Tendo sido evidenciado na
reportagem do Jornal O Povo em Janeiro de 2003:
Areia dentro de casa é rotina para muitas famílias que vivem na Avenida
Radialista José Lima Verde, na Barra do Ceará. São crianças, adultos e
idosos que têm suas moradias ao lado de uma duna, que por causa de sua
movimentão natural, mantém constante amea de desabamento [...] Em
condições semelhantes está a dona de casa Inês Eduardo Souza. Há cinco
anos convivendo com esta realidade, revela que o sonho dela é que a
Prefeitura de Fortaleza retire todas as famílias de lá (DUNAS..., 2003).
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
35
Outro aspecto bastante significativo dos tipos habitacionais no Grande Pirambu é a
construção de conjuntos habitacionais em regime de mutirão (tabela 2). O programa de
mutirões envolve e mobiliza uma diversidade de atores sociais: instituições do Governo
Federal (que participam por intermitência, de modo direto ou indireto dos programas
habitacionais), Estadual e Municipal; as associações comunitárias, o Movimento dos Sem
Teto, os grupos de ocupação, a Igreja, as Organizações Não Governamentais (ONGs), os
donos de desitos de material de construção e os proprietários fundiários. Estes atores, com
interesses distintos e quase sempre contraditórios, buscam realizar referidos interesses por
meio dos programas de mutirões habitacionais. Neste jogo, estão presentes interesses
econômicos (lucro para os proprietários fundiários e donos de desitos de construção),
políticos (servindo para fins de campanhas eleitorais), e para os moradores das periferias (a
solução imediata para a questão da moradia).
Tabela 2 Grande Pirambu: conjuntos habitacionais em mutirão
Conjunto
Ano
Unidades
Órgão
Seis Companheiros
1990
35
COMHAB
Goiabeiras II
1991
80
COMHAB
Rua Ceci
1991
56
COMHAB
Santa Gorete I
1991
50
COMHAB
Novo Tempo I
1993
35
COMHAB
Zenaide Magalhães
1996
247
COMHAB
Fonte:
Programa de Mutirão Habitacional da COMHAB.
Tais conjuntos foram construídos em sua totalidade pela Companhia de Habitão de
Fortaleza (Comhab), através do Programa de Mutirão Habitacional realizado no período de
1990-1996, financiado pela Prefeitura Municipal de Fortaleza (PMF), visando a atender
populações que habitavam em áreas de risco, bem como amenizar o déficit habitacional da
cidade.
A construção desses conjuntos e as ocupões em áreas de sub-moradias provocam uma
elevada concentrão da densidade demográfica, realidade que se exprime ao nosso ver em
virtude da existência desses equipamentos no Grande Pirambu.
Quanto à infra-estrutura básica, o Grande Pirambu apresenta a seguinte situão. No
âmbito do esgotamento sanitário a área conviveu, por seis décadas, com a quase inexistência
dessa infra-estrutura. Somente na década de 1990, o Grande Pirambu passou a dispor desse
atendimento através do Projeto Sanear (analisado no próximo sub-capítulo).
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
36
Na atualidade, apesar do elevado índice de atendimento do esgotamento sanitário,
uma considerável parcela da população não efetuou a ligação da casa à rede coletora (Tabela
3), em virtude, principalmente, da falta de condições financeiras, o que poderia ser amenizado
caso houvesse subsídios para sanear as residências, como ocorre para a energia elétrica.
Tabela 3 Grande Pirambu: infra-estrutura por bairro esgotamento sanitário
(m
3
metro cúbico)
TIPO
Geral
Séptica
Rudimentar
Vala
Outro
Rio/lago
Sem
Bairro
Abs
%
Abs
%
Abs
%
Abs
%
Abs
%
Abs
%
Abs
%
B. doCeará
8.720
52,76
3.795
22,96
3.216
19,46
87
0,53
100
0,60
83
0,50
527
3,19
C. Redentor
3.782
57,09
575
8,68
2.055
31,62
13
0,20
42
0,63
19
0,29
138
2,09
Pirambu
2.668
62,15
267
6,22
1.017
23,69
58
1,35
83
1,93
41
0,96
159
3,70
Grande
Pirambu
15.170
-
4.637
-
6.288
-
158
-
225
-
143
-
824
-
Fonte:
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 2000.
Os dados apresentados na tabela 3, na qual 55,3% dos domicílios estão conectados a
rede geral de esgoto enquanto, 44,7% utilizam outros tipos de esgotamento sanitário são
confirmados com a declaração de Souza (2002, p. 51), evidenciando que, no âmbito do
esgotamento sanitário, a zona oeste de Fortaleza ainda mostra imeras deficiências, mesmo
as o Projeto Sanear:
Mesmo com a instalação da rede de esgoto do Projeto Sanear, a maioria das
famílias residentes nos bairros da costa oeste ainda utilizam fossas, seja
rudimentares ou sépticas [...]. Têm-se ainda esgotos a u aberto e águas
servidas que correm à beira das calçadas. Por outro lado, os esgotos
domiciliares muitas vezes escoam para o rio Ceará, causando graves
problemas de contaminão das águas e perigos para a saúde da populão
que os utilizam, seja para o consumo doméstico, ou mesmo para o lazer nos
banhos de mar.
Tal cenário encontra-se presente em algumas ruas do Grande Pirambu, nas quais a
deficiência do sistema de esgotamento sanitário do Projeto Sanear é visível, e pode ser
observada nos constantes esgotos a céu aberto que correm para o mar e/ou esgotos
estourados, que causam transtornos para a população, como mau cheiro e a proliferação de
insetos.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
37
No tocante ao abastecimento da água, aqueles que não dise do atendimento da
Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) utilizam-se de outros meios, representando
20 % dos domicílios do Grande Pirambu, como mostra a tabela 4.
Tabela 4 Grande Pirambu: infra-estrutura por bairro acesso à água (domicílios)
Rede Geral
Poço ou Nascente
Outra forma
Bairros
Absoluto
%
Absoluto
%
Absoluto
%
Barra do Ceara
13.463
81,46
2.437
14,75
264
1,60
Cristo Redentor
4.721
71,28
1.193
18,01
153
2,30
Pirambu
3.456
80,50
509
11,86
328
7,64
Grande Pirambu
21.640
-
4.648
-
745
-
Fonte:
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 2000.
Embora o abastecimento de água tratada disponibilizada pela Cagece esteja presente
em cerca de 80% das habitações do Grande Pirambu, existem outras formas de adquirir água,
seja ela comprada, em especial, água gelada ou adquirida na vizinhança. Na área, evidencia-se
ainda a proliferão de doenças de veiculação hídrica, como infeões intestinais, sobretudo,
devido à proximidade dos poços e cacimbas das fossas negras, esgotos
in natura
e outras
formas de esgotamento sanitário.
No que se refere ao destino do lixo, é mais preocupante a situação do bairro Pirambu,
pois é nesse bairro onde ocorre a menor coleta de lixo, representando apenas 88,80%
enquanto, o Cristo Redentor e Barra do Ceará, apresentam respectivamente 96,15% e 96,52%
do lixo coletado. No entanto, podemos perceber que é aí que acontece o maior percentual de
lixo jogado em terreno baldio e também no mar, conforme demonstra a tabela 5.
Tabela 5 Grande Pirambu: infra-estrutura por bairro destino do lixo (toneladas)
Tipo
Coletado
Queimado
Enterrado
Terreno
baldio
Na praia
e/ou no mar
Outro
Bairros
Abs
%
Abs
%
Abs
%
Abs
%
Abs
%
Abs
%
Barra
do Ceará
15.953
96,52
19
0,11
50
0,30
430
2,60
48
0,30
28
0,17
Cristo
Redentor
6.369
96,15
2
0,03
3
0,04
56
0,85
186
2,80
8
0,13
Pirambu
3.812
88,80
2
0,05
10
0,23
191
4,45
270
6,29
8
0,18
Grande
Pirambu
26.134
-
23
-
63
-
677
-
504
-
44
-
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 2000.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
38
Em decorrência do destino do lixo evidenciado na tabela 5, dá-se o acúmulo de lixo à
beira-mar, em algumas áreas, principalmente do Pirambu e Cristo Redentor, conforme
explicitados na figura 5. Vários são os condicionamentos para essa situão, como a
dificuldade de acesso à faixa litorânea (becos, ruelas e poucas ruas de acesso à praia),
impossibilitando a passagem do caminhão de lixo; e, principalmente, a falta de educação e
consciência de algumas pessoas, que mesmo contempladas com o serviço de coleta do lixo,
insistem em jogar o lixo em terrenos baldios, logo as a passagem do caminhão coletor.
Figura 5:
Poluição na faixa de praia - Pirambu (à esquerda); barraco e lixo na praia Cristo
Redentor (à direita).
Fotos: SANTOS, outubro de 2001.
Nessa conjuntura, o Grande Pirambu não dise de uma qualidade de vida adequada
para seus habitantes, pois conforme Herculano (2000, p. 237), a qualidade de vida refere-se a,
Soma das condições econômicas, ambientais, científico-culturais e políticas
coletivamente construídas e postas à disposição dos indivíduos para que
estes possam realizar suas potencialidades: inclui a acessibilidade à produção
e ao consumo, aos meios para produzir cultura, ciência e arte, bem como
pressupõe a existência de mecanismos de comunicação, de informão, de
participação e de influência nos destinos coletivos, através da gestão
territorial que assegure água e ar limpos, higidez ambiental, e equipamentos
coletivos urbanos, alimentos saudáveis e a disponibilidade de espos
naturais amenos urbanos, bem como da preservação de ecossistemas
naturais.
Assim, o Grande Pirambu não apresenta uma qualidade de vida adequada para seus
habitantes, o que está associado à forma como se deu a construção do seu território. É o que
pode ser vislumbrado nos baixos rendimentos, na deficiência de infra-estrutura básica e nos
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
39
baixos Índices de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), se comparado a outros
bairros da cidade, como evidencia o gráfico 1.
O IDHM leva em consideração a taxa de alfabetizão, o número médio de anos de
estudo dos chefes de família e o rendimento médio mensal do chefe de família, em salários
mínimos.
0,352
0,391
0,41
0,432
0,735
0,916
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1
Pedras
Pirambu
Cristo
Redentor
Barra do
Ceará
Mucuripe
Meireles
Gráfico 1:
Índice de Desenvolvimento Humano de alguns bairros de Fortaleza
Fonte: Secretaria de Desenvolvimento Local e Regional (SDLR), 2005.
Para ilustrarmos melhor o IDHM, evidenciamos uma comparação entre o bairro de
menor índice de IDHM de Fortaleza (Pedras), os bairros que comem o Grande Pirambu:
Pirambu, Cristo Redentor e Barra do Ceará, e os bairros de maiores índices de IDHM da
cidade - Mucuripe e Meireles.
Assim, o gráfico 1 demonstra que os bairros Pirambu, Cristo Redentor e Barra do
Ceará apresentam índices bem próximos ao bairro de pior índice de IDHM da cidade, estando
portanto, bem difícil de alcançar uma verdadeira qualidade de vida e de IDHM desejado, se
comparado com os índices dos bairros Mucuripe e Meireles, que são aqueles com melhor
Índice de Desenvolvimento Humano da cidade de Fortaleza.
No intuito de amenizar as desigualdades do espaço do Grande Pirambu, o poder
público (Municipal e Estadual) vem a partir da década de 1990, destinando políticas públicas
para a área, visando a requalificação urbana da área, alvo de nossa próxima análise.
É nesse cenário que se insere o Grande Pirambu, cujo atual arranjo urbano espacial
compreende espaços fragmentados, propiciando a formação de territórios diferenciados,
destacando-se o território dos pescadores, dos imigrantes, dos reassentados, dos barraqueiros,
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
40
das classes populares, os quais encontram nesse espo uma forma de continuar subsistindo
na “Terra do Sol.
1.2 Políticas Públicas no Grande Pirambu
De acordo com o explicitado até então, fica claro que três acontecimentos foram
significativos na formação do Grande Pirambu: a chegada dos retirantes, a instalão das
indústrias e a construção de conjuntos habitacionais. Esses acontecimentos denotam que o
Grande Pirambu foi um espaço urbano produzido socialmente com o intuito de atender às
demandas por emprego e moradia dos contingentes populacionais pobres, apresentando-se
como espaço urbano carente de políticas públicas.
O espo urbano capitalista é considerado por Corrêa
(
2000, p. 11) como, [...] um
produto social, resultado de ações acumuladas através do tempo, e engendradas por diversos
agentes sociais, concretos que produzem e consomem espaço
de forma inter-relacionada e, às
vezes, conflitante.
Aliada a tal constatação teórica, acreditamos que na atualidade o poder público,
enquanto agente produtor do espo, visa por meio da implantão de políticas públicas, a
produzir um novo espo no Grande Pirambu, notadamente de sua faixa litorânea. Assim,
Poticas Públicas são entendidas neste trabalho como nos diz Teixeira [19_ _ ]), Diretrizes e
princípios norteadores de ação do poder público, regras e procedimentos que respaldam as
relões entre o poder público e a sociedade, as quais normalmente envolvem aplicação de
recursos públicos.
Dentre as políticas públicas implantadas no Grande Pirambu, salientamos o Projeto
Sanear (1997-2001). O supracitado projeto tinha como objetivo a ampliação da rede de
esgotamento sanitário, de drenagem urbana e a construção de aterros sanitários para atender a
coleta de resíduos sólidos da cidade de Fortaleza, notadamente dos bairros atendidos pelo
projeto.
O Projeto Sanear foi criado pelo Programa de Infra-Estrutura Básica de Saneamento
de Fortaleza (Sanefor), por meio do convênio entre o Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BIRD) e o Governo do Estado do Ceará. O referido projeto era composto
de subprojetos tais como: esgotamento sanitário, abastecimento dágua, drenagem urbana,
limpeza pública, gestão ambiental e habitão popular.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
41
Com o Projeto Sanear a cobertura de esgotamento sanitário em Fortaleza passou de
18% (dezoito por cento) para 60% (sessenta por cento), tendo sido atendidos 46 bairros, quer
de forma parcial ou total (CE SECRETARIA DE ESTADO DE INFRA-ESTRUTURA,
2000, p. 11).
As áreas contempladas com o projeto foram selecionadas por meio do
estabelecimento de critérios, como: áreas urbanas de maior adensamento populacional,
facilidade de integrão ao sistema existente, problemas evidentes de saúde pública e o
comprometimento dos recursos hídricos e do litoral.
Salientamos que, embora o Grande Pirambu apresente aspectos que justifiquem a
escolha da área, dentre eles, a concentrão de bairros de elevado adensamento populacional
(explicitada anteriormente na tabela 3), a implantão do Projeto Sanear na área aponta para
outros propósitos, os quais o referido projeto apresenta-se como infra-estrutura indispensável,
servindo de suporte ao Projeto Costa Oeste na tentativa de transformação do Grande Pirambu.
Desse modo, a implantação do Projeto Sanear na área demonstra uma racionalidade
diferenciada da anterior, na qual as políticas públicas contemplavam os espos litorâneos da
zona leste em detrimento da oeste, mostrando que na atualidade todos os espaços litorâneos de
Fortaleza são alvo de intervenção do poder público.
O gráfico 2 evidencia a realidade do saneamento no Grande Pirambu em dois
períodos distintos: em 1997, quando ocorreu a implantão do projeto; e 2001, ano de sua
conclusão, mostrando que o Projeto Sanear promoveu a expansão do esgotamento sanitário
dos bairros Barra do Ceará, Cristo Redentor e Pirambu, os quais passaram respectivamente de
4,52%; 23,40% e 19,39% para 69,45%; 52,42% e 62,36%.
4,52%
23,40%
19,39%
69,45%
52,42%
62,36%
0,0%
20,0%
40,0%
60,0%
80,0%
100,0%
1997
2001
Barra do Ceará
Cristo Redentor
Pirambu
Gráfico 2:
Evolução do esgotamento sanitário nos bairros do Grande
Pirambu 1997/2001.
Fonte: CAGECE, 2001.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
42
De acordo com o gráfico 2, o aumento do esgotamento sanitário nos bairros que
comem o Grande Pirambu, deu-se de forma diferenciado. No que diz respeito à Barra do
Ceará, este se apresenta como o bairro de maior crescimento dessas ligões, podendo ser
vinculado às melhores condições sócio-econômicas de sua populão em relação aos outros
bairros. No caso do Pirambu, o crescimento foi menor por dois motivos, ambos relacionados
às baixas condições financeiras da população: o primeiro, relacionado à recusa de sua
população em executarem a ligão, pois muitas das casas do bairro, a fossa se encontra no
quintal, e para se realizar a ligação, é necessário uma verdadeira reforma em toda casa. O
segundo está associado ao aumento dos custos as a ligão, pois o valor da água será
cobrado em dobro.
Quanto ao Cristo Redentor, além da falta de condições financeiras de sua população
acrescenta-se também a existência de imóveis sem condições topográficas adequadas para
ligão ao sistema se esgotamento sanitário, pois imeras casas se encontram em posição
topográfica inferior à da rua, áreas não urbanizadas e na faixa de praia.
Embora tenha ocorrido o aumento significativo nas ligações de esgoto na área, um
razoável contingente populacional do Grande Pirambu ainda não dise destes serviços
(conforme apresentamos nas tabelas 4, 5 e 6). O problema se aprofunda ainda mais no que diz
respeito à faixa de praia do Grande Pirambu, na qual nossa pesquisa empírica, realizada logo
as a conclusão do Projeto Sanear, mostrou que 64,39%; 73,68% e 78,36% dos domicílios
localizados na faixa de praia dos respectivos bairros, Barra do Ceará, Cristo Redentor e
Pirambu, não dise desse tipo de equipamento, conforme evidencia o gráfico 3.
35,71%
64,39%
26,32%
73,68%
21,74%
78,36%
0,0%
20,0%
40,0%
60,0%
80,0%
100,0%
Barra do Ceará
Cristo Redentor
Pirambu
Esgoto de CAGECE
Outros tipos de esgotamento
Gráfico 3:
Situação do esgoto na faixa de praia dos bairros: Barra do Ceará,
Cristo Redentor e Pirambu.
Fonte: Pesquisa Empírica, 2001
.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
43
A situão do esgotamento na faixa de praia do Grande Pirambu está vinculada às
condições topográficas das casas situadas no local (casas em posição topográfica inferior a
rua, barracos e casebres), as quais dificultam a execução da ligação ao sistema de esgotamento
sanitário da Cagece, além da utilização de outros tipos de esgotamento existentes no local
como:
fossa séptica ou fossa negra, e ainda a não utilização de qualquer forma de sistema de
esgoto, lançando seus esgotos no mar, riachos, canais de drenagem e galerias pluviais.
Em 2005, realizamos uma outra pesquisa empírica, esta realizada no primeiro trecho
da Avenida Costa Oeste (Grande Pirambu), no qual, dos quarenta e sete domicílios visitados,
dezenove (40,4%) encontravam-se interligados a rede coletora da Cagece; enquanto os
demais, vinte e oito (59,6%) ainda utilizavam fossa séptica. Segundo um dos entrevistados, o
custo total para a ligão chegaria a R$ 200,00 (duzentos reais), sendo esse um dos motivos
para a população não usufruir desse tipo de infra-estrutura, tendo em vista a falta de
condições financeiras da população.
Fossa
séptica
59,60%
Esgoto
da
Cagece
40,40%
Gráfico 4:
Situação do esgoto na faixa de praia do primeiro trecho da
Avenida Costa Oeste - Grande Pirambu.
Fonte: Pesquisa Empírica, 2005
.
Os dados apresentados nos gráficos 3 e 4 expressam que o resultado atingido não foi
o esperado, o que sinaliza a falta de atendimento à população, pois, segundo os representantes
do órgão responsável (Seinfra), a faixa de praia do Grande Pirambu apresenta a malha de
esgotamento sanitário totalmente concluída e liberada para operão. A explicação para a não
utilização dessa infra-estrutura está na dificuldade financeira das famílias, além de outros
entraves.
Sobre as entrevistas com os técnicos responsáveis pelo Projeto Costa Oeste e pelo
Projeto Sanear, duas observações merecem ser efetuadas: a primeira diz respeito ao parecer
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
44
técnico do Projeto Costa Oeste, o qual avalia que os atuais domicílios localizados na área da
faixa de praia não foram contemplados, tendo em vista que os mesmos deveriam ser
demolidos com a construção da Avenida Costa Oeste. A segunda se refere à visita que fizemos
a Seinfra, em cuja oportunidade, um dos técnicos responsáveis pelo Projeto Sanear afirmou
existirem domicílios situados no trado da via, que não foram contemplados, por ocuparem
cotas topográficas muito rebaixadas, para os quais só será viabilizada a ligação as a
conclusão da Avenida Costa Oeste.
Os argumentos apresentados em relação à falta de saneamento na faixa de praia
sugerem que a infra-estrutura (Projeto Sanear) instalada no local aguarda a conclusão da
Avenida Costa Oeste para sua total utilização, tanto no que diz respeito ao esgotamento
sanitário, quanto à coleta de lixo. Pois, com a construção da avenida e a abertura de novas ruas
transversais, o caminhão de coleta do lixo poderá trafegar pelas ruas até então não
contempladas com este serviço.
Apesar do quadro exposto sobre o não atendimento dos domicílios situados na faixa
de praia pelo Projeto Sanear, a orla marítima do Grande Pirambu, em especial, a Barra do
Ceará, vem tornando-se o foco das atenções para onde convergem os projetos urbanísticos da
cidade.
Essa constatação refere-se aos projetos urbanísticos operacionalizados pelo poder
público municipal, destacando-se a ponte José Martins Rodrigues, entregue à população em
outubro de 1997 e a Urbanização do Pólo de Lazer da Barra do Ceará, em 2004.
A ponte José Martins Rodrigues (ponte sobre o rio Ceará) insere-se no Programa de
Ação para o Desenvolvimento do Turismo no Nordeste, com o objetivo de integrar Fortaleza à
Região Turística do Programa de Desenvolvimento do Turismo (Prodetur) (Plano de
Desenvolvimento Sustentável, 1995-1998).
A referida ponte permitiu a diminuição considerável da distância entre as praias de
Fortaleza e as demais praias do litoral oeste do Estado do Ceará, aumentando o fluxo de
pessoas da capital para estas praias, ficando a ponte José Martins Rodrigues conhecida como a
ponte do turismo.
A ponte sobre o rio Ceará também propiciou significativas mudanças na área. Dentre
elas, destacamos além da tradicional travessia de barco para a praia, o surgimento de passeios
ecológicos ao longo do rio Ceará, sendo vislumbrados durante o percurso as belezas naturais
do rio Ceará, dentre elas, o seu exuberante manguezal.
Quanto ao Projeto de Urbanização do Pólo de Lazer da Barra do Ceará, este foi
anunciado em dezembro de 1997 e visava, segundo o gerente de Desenvolvimento Territorial
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
45
e Meio Ambiente da Secretaria Executiva Regional I (SER I) a “Estimular o ecoturismo e
firmar convênios que permitam aos 15 barqueiros da área a realização de passeios ecológicos e
educativos ao longo do rio Ceará(PROJETO..., 1997).
Tendo iniciado as obras somente em 2000, o Projeto de Urbanização do Pólo de
Lazer da Barra do Ceará efetivou as seguintes ões: a construção de uma quadra de esporte, a
indenização de 27 barracas, a construção de um
píer
de três quilômetros, e a recuperação da
pracinha do Pólo de Lazer da Barra do Ceará, com um monumento inaugurado no dia 25 de
julho de 2004, em comemorão ao dia do padroeiro do bairro, São Tiago, conforme
explicitados na figura 6.
Figura 6:
A praça e o monumento do Pólo de Lazer da Barra do Ceará (à esquerda) e o píer
de três quilômetros Barra do Ceará (à direita) .
Foto: SANTOS, abril de 2005.
Embora a obra tenha sido dada como concluída pela Prefeitura em 2004, faltou ainda
ser efetivadas algumas obras propostas pelo Projeto de Urbanização do Pólo de Lazer da Barra
do Ceará, como: a construção de trinta e oito barracas geminadas, ancoradouro, calçadão ao
longo da Avenida Radialista Jose Lima Verde até a Avenida Coronel Carvalho e a restauração
do primeiro Hidroporto de Fortaleza, conforme indicados no projeto. Ainda acerca do referido
projeto, o gerente de Desenvolvimento Territorial e Meio Ambiente da SER I, havia ressaltado
A idéia da Prefeitura é restaurar o primeiro Hidroporto que se encontra totalmente
deteriorado e transformá-lo num museu(PROJETOS..., 1998).
A explicação para a não efetivação dos outros equipamentos apresentados no projeto
estaria na falta de recursos proveniente para o mesmo, e nas dificuldades financeiras
enfrentadas pela nova administração da Prefeitura Municipal de Fortaleza. Mas, é importante
destacarmos que existe no Brasil uma prática por parte dos administradores públicos, de não
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
46
darem prosseguimento a obras iniciadas por administrações anteriores, prejudicando a
população e os cofres públicos.
Tais ações, assim como outras até então efetuadas, demonstram o processo de
expansão do turismo na cidade. E o poder público tanto municipal como estadual, tem
expressado, desde a década de 1990, por meio de políticas públicas, uma preocupação especial
com a faixa litorânea do Grande Pirambu.
Em 1994, o Grande Pirambu foi objeto de atenção do poder municipal, ficando ao
cargo do Arquiteto Marrocos Aragão elaborar um projeto de urbanização para a área. O
projeto, denominado de Parque Marinho da Costa Oeste de Fortaleza visava à urbanização da
área, ampliando o espo para o lazer, arborização, sanitários, restaurantes, ciclovias, campos
de esporte e barracas de praia (SANTOS, 2004). Segundo Marrocos Aragão, o projeto
valorizava a permanência da populão local.
O projeto tinha como maiores diferenciais à permanência da população nos
bairros e a construção de um calçadão em vez de avenida. Isso representaria
os interesses da população e não dos especuladores, como acontece com o
Projeto Costa Oeste. Era voltado ao homem e não à especulão imobiliária.
Favela não se retira, se urbaniza (COEMA..., 2001).
Entretanto, o referido projeto não se concretizou, sendo retomadas as discussões em
1996, pelo Governo do Estado visando, naquele momento, à construção de uma via expressa
cujo objetivo principal seria o descongestionamento da Avenida Leste Oeste, que deveria
ocorrer as a conclusão da Ponte José Rodrigues Martins, o que de fato não aconteceu
devido o pedágio cobrado pela travessia.
A partir daí, o Projeto Costa Oeste passou por imeras adequões, críticas,
alterações (via expressa para via paisagística, dentre outras) e aprovação do Estudo de
Impacto Ambiental/Relatório de Impacto ambiental (EIA/RIMA) pela Semace, no qual o
Projeto Costa Oeste, foi aprovado no dia 27 de setembro de 2001 pelo Conselho Estadual do
meio Ambiente (Coema). Esta data (27 de setembro de 2001) marcou o inicio de uma nova
luta pelo território, na qual os agentes envolvidos nesse processo são as associões
comunitárias, o Estado e a comunidade em geral (analisados mais adiante).
O Projeto Costa Oeste apresenta os seguintes objetivos: a) abertura da malha viária
local, possibilitando a integrão da comunidade com o resto da cidade e melhorando as
condições de atendimento às demandas por serviços públicos de segurança, saneamento e
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
47
saúde, transporte e educação; b) realização de projetos de drenagem, paisagismo e urbanismo,
voltados para a melhoria da qualidade de vida da população local; c) oferta de áreas públicas
voltadas para o lazer; d) melhoria das condições ambientais da faixa de praia visando ao
aproveitamento de seu potencial paisagístico; e) deslocamento do interceptor oceânico.
O supracitado projeto visa ainda, à construção de uma via paisagística litorânea,
situada na zona oeste, compreendendo 5,36 km de extensão, os quais serão divididos em três
trechos. O trecho I vai da Avenida Radialista José Lima Verde até à Rua Francisco Calaça
com extensão de 2.200m; O trecho II, da Rua Francisco Calaça até a Av. Pasteur com 1.340m
de extensão; e o trecho III, da Pasteur até o antigo kartódromo numa extensão de 1.800m
(mapa 2). Além da via paisagística, deverão sofrer intervenção em 18 ruas transversais de
acesso à praia, com vistas a aumentar o acesso à praia, fato que na atualidade, são apenas
quatro.
A Via Paisagística será revestida de paralelepípedos, com velocidade limitada a
40Km/h, na qual serão implantados diversos equipamentos: estacionamentos, quiosques de
peixes e verduras, galpão de jangadas, barracas e
playgraunds.
Tudo visando a atender
moradores e visitantes.
Mapa 2:
Os trechos da Avenida Costa Oeste Grande Pirambu.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
48
A instalação desses equipamentos visa, além do atendimento à população local, a
atrair pessoas de outros bairros da cidade para a área, iniciando um processo de reversão da
imagem do Grande Pirambu, tida como área de poluição e violência para o restante da cidade
(aspectos analisados no próximo capítulo).
De acordo com a SDLR (2005), cerca de 4.901 falias serão atingidas no total,
sendo 2.905 famílias indenizadas e 1.996 reassentadas. Salientamos que os citados conjuntos
de reassentamento fazem parte do programa de reassentamento e indenização do Projeto Costa
Oeste, propiciadores dos processos de desterritorialização e reterritorialização desencadeados
no Grande Pirambu.
A princípio, a remoção das famílias foi a grande preocupão e a revolta” para
algumas associações comunitárias e moradores do Grande Pirambu, o que denota a
consciência desses atores sociais em relação ao processo de desterritorialização suscitado para
a área. Ao ficarem cientes da aprovão do Projeto Costa Oeste, dão início então aos debates e
reuniões
,
culminando com imeras polêmicas e discussões, notadamente entre associações
comunitárias e o Governo do Estado.
O Grande Pirambu destaca-se de outros bairros populares da cidade, pela sua história
de luta e organização popular. Organização popular que gerou cerca de cem associões
comunitárias na área (sindicatos, associações, conselhos, ONGs e entidades), as quais, no que
diz respeito ao Projeto Costa Oeste dividem-se em dois grupos: um grupo oposto ao Projeto,
contrapondo-se ao Governo; e outro a favor e talvez por isso visto por algumas pessoas da
comunidade como “cooptadopelo Estado.
O primeiro grupo liderado pelo Movimento em Defesa da Vida das Goiabeiras e
Adjacências (MDVGA), resiste e não concorda com a implantação do projeto; e, desde o
início, vem lutando contra a obra, tendo inclusive contribuído para o embargo da mesma.
Desse modo, destacaremos a opinião de um componente do referido grupo, Regina,
contrária ao Projeto Costa Oeste:
Eu sou contra a Avenida Costa Oeste, porque ela não vem beneficiar o povo
que está aqui, pois a gente sabe que o fim é a especulação imobiliária.
Agora eu sou a favor de um projeto que vise a melhoria e o bem estar de
pobres e ricos morando no mesmo lugar. Poderia ser construído um
calçadão ao invés da avenida, pois com a pavimentação iria melhorar o
fluxo da água, a circulação das pessoas, a limpeza da praia, poderia ser
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
49
feito uma ciclovia para as pessoas como forma de lazer e assim as
pessoas
permaneceria [
sic!
2
] no seu lugar (REGINA, 2001, informão verbal).
3
A opinião da entrevistada demonstra conscientização sobre os desafios postos à
população local as a conclusão do Projeto Costa Oeste, sobretudo, relacionado à especulão
imobiliária da área. Contundo, no que se refere um projeto de urbanização que permitisse a
permanência de todas as pessoas na área, talvez isso não seja mais possível devido o grande
adensamento populacional que existe na faixa de praia do Grande Pirambu.
Em resposta a essas opiniões, a Seinfra, por meio de seus representantes fizeram as
seguintes declarações:
São 2.500 famílias que serão retiradas no trecho, sendo a maioria da área de
risco, perto do mar, sujeitas a constantes inundações. Além disso, aquela
parte degradada da cidade será integrada as demais através de 18 ruas
transversais, possibilitando acesso de serviços como ambulância, bombeiros,
coleta de lixo, entre outros (GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ.
SEINFRA..., 2001).
A população uniu-se, formando um segundo grupo, favorável ao projeto Costa Oeste
trabalhando na formulão de documento denominado Propostas ao Documento do Movimento
Costa Oeste, entregue ao poder público, com o objetivo de fazerem parte do referido projeto. O
citado documento apontava as seguintes propostas: a) construção de um galpão para exposição
de artesanato, teatro, shows musicais e espaço para realização de cursos diversos; b) construção
de quadra poliesportiva e áreas reservadas para skate; c) implantão do logotipo Projeto
Costa Oeste; d) construção de box para artesanato, pontos de comida regional e lanches; e)
implantação do projeto Policiamento Popular na Avenida Costa Oeste; e) criação de linhas de
ônibus com itinerário Barra do Ceará - Pirambu; f) crião de linhas de ônibus para o
programa Vamos à Praia; g) construção de galpão destinado à atividade pesqueira e aos
consertos das embarcações.
Em face dessas propostas, nota-se a preocupação das lideranças em fazer parte do
Projeto Costa Oeste, associando-o a uma potica de gerão de emprego e renda. Acrescenta-
se ainda a desconfiança acerca do processo de inserção dos moradores do Grande Pirambu nas
2
apesar de termos ciência do uso da parcula sic!para apontar o que se convencionou chamar de “errosde
linguagem, a partir deste ponto não a utilizaremos nas falas das pessoas entrevistadas, em respeito ao nível do
grupo lingüístico no qual estão inseridas, dada o seu nível de renda não propiciar o eqüitativo acesso à
escolaridade. Bem como para dar fluência ao texto, pois a presença do sic!seria constante, dificultando a
leitura e desviando a atenção do seu conteúdo.
3
Entrevista concedida por Regina, moradora do Grande Pirambu, em outubro de 2001.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
50
oportunidades propiciadas pela Avenida Costa Oeste,
Tenho medo que os benecios da nova
Avenida não cheguem à população, que fique como o Marina Park, que a gente só pode ver o
mar de longe
(COEMA..., 2001).
Utilizando-se como parâmetro às declarações acima, acredita-se que as associões
favoráveis ao Projeto Costa Oeste denotam, simultaneamente, uma credibilidade de melhoria
para a área pautada no referido projeto, e medo de que as benesses do mesmo não atinjam a
todos.
Os debates, reuniões, manifestações e visita ao local onde estava sendo construída a
Avenida Costa Oeste, liderados pelo MDVGA,
propiciaram a elaboração de dois pareceres
técnicos organizados pelo Professor Dr. Jeová Meireles do Departamento de Geografia da
UFC, e pelo MDVGA. Os pareceres, além de evidenciar a angústia de famílias atingidas pela
obra, demonstraram principalmente impactos ambientais negativos na área do
empreendimento. Dentre eles, temos:
a) o prisma de praia
4
utilizado para instalar a avenida encontra-se em elevado estágio
de erosão. Durante o período compreendido entre os dias 18 de julho e 19 de setembro de
2003, detectou-se em visitas de campo que aproximadamente 3 metros de berma
5
foram
suprimidos, conforme evidencia a figura 7.
Figura 7:
Zona de berma com 6 metros (à esquerda) e zona de berma com 3 metros (à direita).
Foto:
MEIRELES, julho e setembro de 2003.
4
prisma de praia (prisma praial) perfil transversal entre a zona de surf e o limite da berma. Envolve uma
seência de processos dinâmicos que originam morfologias derivadas dos processos costeiros (deriva litorânea,
ondas, marés, correntes marinhas, ventos). Engloba a zona de surf, estirâncio e berma. Em faixas litorâneas com
excesso de sedimentos, normalmente ocorrem corpos dunares sobre a berma.
5
Berma unidade morfológica de donio do ambiente praial, pertencente ao domínio da maré, localizada entre
a linha de estirâncio e os terros marinhos (ou campo de dunas).
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
51
Essa morfologia caracteriza-se por representar um volume de sedimentos para a
regularização dos processos dinâmicos ao longo da linha de praia. Como a avenida está sobre
a zona de berma, esta deverá ser atingida com a progressiva erosão.
b) A remoção de sedimentos (areia) da zona de berma e estirâncio
6
visualizados na
figura 9, por tratores para construção das camadas de base da obra, vem gerando alterações na
estrutura do pacote sedimentar, modificando suas propriedades físicas. Por tratar-se de
desito de areia destinado à ação das marés (utilizado para regular a quantidade de areia na
faixa de estirâncio durante os eventos de ressacas), alterões na estrutura sedimentar,
compactação, mudanças na porosidade e permeabilidade, poderão influenciar na dinâmica de
remobilização sedimentar, provocada pelas ondas, acelerando o processo erosivo local.
Figura 8
: retirada de areia no local destinado ao porto das jangadas.
Foto: MEIRELES, novembro de 2002.
Destacamos a declaração feita pelo senhor Claúdio, morador e pescador da área, o
qual afirma ter prevenido e alertado os técnicos responsáveis pelo Projeto sobre os prováveis
estragos:
Não fizeram certo por que o quiseram, mas eu avisei. Tinha que ter feito
essa parte aqui pro lado de lá. E aí essa primeira pista mais próxima do mar
era o local para deixar livre, o local para a gente botar os barcos, mas eles
o quiseram. Quiseram foi fazer desse jeito, com a Avenida quase dentro
da água. Eu avisei para o Engenheiro que ele fazia aqui, o mar vinha e
6
Estirâncio faixa de praia entre os limites de maré alta e maré baixa. É no estirâncio onde ocorre grande parte
do transporte de sedimentos pela ação das ondas e, durante a maré baixa, as areias são transportadas pelo vento.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
52
derrubava e ele falou que quando derrubasse ele já estava no Rio de Janeiro
(CLAÚDIO, 2001, informão verbal)
7
.
c) os trabalhos de terraplenagem vêm produzindo um desnível entre as casas e o
relevo da avenida produzida com a retirada da areia e explicitada na figura 9. Além disso, não
verificamos a implantação de medidas de estabilidade dos taludes produzidos pelo trator de
esteira, elevando os riscos de deslizamento de material sedimentar e danos estruturais nas
casas (segundo informões de moradores, foram originadas rachaduras nas paredes e pisos) e
vias de acesso dispostas nas imediações da avenida.
Figura 9:
desnível nas residências na cota superior.
Foto: MEIRELES, setembro de 2003.
d) parte do calçadão encontra-se instalado na zona de berma, e vem sendo exposto
pela a ação das ondas, sendo danificado pelo processo erosivo, como vem ocorrendo com
parte do trecho construído da Avenida Costa Oeste, propiciando estragos ao longo da via
evidenciada pela seência de fotos da figura 10.
Esses elementos sinalizam perigo para a estrutura construída, tendo em vista que
durante o período das ressacas, as areias que constituem a zona de berma serão solicitadas
pelas ondas e marés, podendo atingir as estruturas de engenharia produzindo solapamento, ou
eventos de swell e ressacas já evidenciadas em ruas e avenidas litorâneas de Fortaleza, a
exemplo da praia do Meireles.
7
Entrevista concedida por Claúdio, Pescador do Grande Pirambu, em novembro de 2005
.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
53
FIGURA 10:Trechos da Avenida Costa Oeste destruída pela maré - 2006.
Elaboração: Maria Francineila P. dos Santos
1
2
3
4
1
2
3
4
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
54
No âmbito dessa discussão, surge preocupação quanto à forma segundo a questão
ambiental vem sendo pensada por essas políticas públicas implementadas na zona costeira,
sobretudo, por tratar-se de ambiente ecologicamente instáveis, e extremamente frágeis, do
ponto de vista morfodinâmico. Desse modo, o uso desses espos litorâneos exige um prévio
planejamento, no intuito de amenizar o
stress
” ambiental e otimizar o aproveitamento das
potencialidades naturais e paisagísticas da área.
Em decorrência dos impactos ambientais negativos e as irregularidades constatadas
no local do empreendimento foram elaborados dois pareceres técnicos entregues ao Ministério
Público Federal, culminando em dois embargos da Avenida Costa Oeste. Ademais, o
licenciamnto ambiental foi concedido pela Semace, quando, segundo o Juiz substituto da 4ª
vara, George Marmelsteim Lima, o licenciamento deveria ter sido concedido pelo Ibama.
O primeiro embargo ocorreu no dia 14 de novembro de 2002 (conforme decisão
liminar em anexo), durou sete meses, tendo sido retomada as obras em junho de 2003. Já o
segundo ocorreu no dia 07 de agosto de 2004, durando somente 28 dias, tendo em vista a
cassão da liminar, exposta logo abaixo.
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ministro Nelson Jobim,
derrubou ontem a liminar concedida ao Ministério Público, que impedia seu
andamento. Ao todo foram duas paralisões, em novembro de 2002 e
agosto de 2004. [...] A decisão do Ministro Nelson Jobim se baseou na
alegativa do Estado do Ceará, em que pesa uma grave lesão à economia,
saúde e segurança pública (STJ ..., 2004).
Entretanto, a onda de embargos não havia terminado. Em dezembro de 2005, a
Avenida Costa Oeste é mais uma vez interditada (explicitaremos a respeito mais adiante).
No tocante à população atingida, as opiniões se dividem, algumas pessoas que
deverão sair não estão satisfeitas com o Projeto Costa Oeste, como bem demonstra a entrevista
a seguir,
Eles vieram aqui, mediram a casa, mas ainda não disseram quanto vai ser a
indenização, eu não preferi as casas do reassentamento porque elas são
muito pequenas e aqui eu tenho a minha casa e ao lado é a marmoraria, que
é de onde eu tiro o meu sustento; por mim eu não tenho vontade de sair
, pois
fui um dos primeiros moradores do conjunto em 1983, aqui eu tenho a minha
clientela e vivo muito bem
(ROMARIO, 2003, informão verbal, grifo
nosso)
8
.
Por outro lado, o Projeto Costa Oeste é visto como algo positivo pelas pessoas que
permanecerão na área. É o que pode ser constatado por meio do depoimento de Elaine, ao
8
Entrevista concedida por Romario, Grande Pirambu, em setembro de 2003
.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
55
fazer a relação do projeto com a distribuição e gerão de renda,
É um bom projeto. Falta só
ser executado. A urbanização vai trazer o turismo e mais segurança. Vai trazer mais
emprego
(ELAINE, 2005, informão verbal)
9
.
Conforme o depoimento da barraqueira Elaine, nota-se a expectativa positiva em
relão à construção da Avenida Costa Oeste. Entretanto, tal fato só ocorrerá, caso não se
efetive uma requalificação urbana na área. Por requalificação urbana entende-se a mudança
no tipo de uso do solo urbano de uma determinada área.
Em 1998, surgiu na mídia fortalezense matérias jornalísticas sobre o processo de
discussão e construção do Projeto Costa Oeste. Neste momento, o então Presidente do
Instituto dos Arquitetos do Brasil, seção Ceará (IAB-CE), Joaquim Cartaxo faz declarão
acerca do assunto.
[...] com a construção da avenida Costa Oeste, grande mero de moradores
da região continuarão a ser deslocados. É a requalificão urbana ou
mudança do tipo de ocupação predominantemente residencial de baixa renda
para interesse do setor turístico e imobiliário – grandes condonios, hotéis,
restaurantes e outros equipamentos (CARTAXO..., 1998).
A opinião de Joaquim Cartaxo ressalta preocupação com a possível requalificação
urbana do Grande Pirambu as a construção da Avenida Costa Oeste, idéia reforçada em
2001 pelo Geógrafo Jose Borzacchiello da Silva, na reunião de aprovação do referido
projeto:
A revitalização da zona oeste pode incorporá-la à malha especulativa do
setor imobiliário. As melhorias realizadas na região nos últimos anos vêm
valorizando a área e os moradores podem se ver a margem do processo de
transformação
do lugar onde sempre viveram. É um projeto de exclusão
disfarçada
(NOVA..., 2001).
A intervenção pública por meio dos projetos implantados na área em questão, como:
a ponte sobre o rio Ceará, o Projeto Sanear, a reforma do Pólo de Lazer da Barra do Ceará, e
atualmente o Projeto Costa Oeste, demonstram que o Grande Pirambu vem sendo preparado
para uma requalificação urbana (discutiremos no próximo capítulo), a qual poderá concretizar-
se através da especulação imobiliária, algo ocorrido em outras áreas da cidade, a exemplo do
Mucuripe com a Avenida Beira Mar, como bem relata o senhor José Maria,
9
Entrevista concedida por Elaine, barraqueira do Grande Pirambu, em novembro de 2005.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
56
No Grande Pirambu, vai haver especulação imobiliária, como houve no
Mucuripe. O Mucuripe anos atrás, era igual ao Pirambu, talvez fosse até
pior. O que foi que aconteceu? A especulação imobiliária loteou o
Mucuripe. Quem mora no Mucuripe? Quem tem dinheiro (ATA da
Audiência Pública, 20/06/02).
Diante da ação do poder público para a implantão desses projetos no Grande
Pirambu, pressupõe-se que o mesmo esteja vinculado à tentativa de ingressar a área na
dinâmica turística da cidade. Considerando essa perspectiva, Bernal (2003, p.172)
no seu
estudo sobre a Metrópole Fortaleza e as transformações ocorridas na capital cearense faz a
seguinte suposição.
Nesta região há um forte potencial de expansão urbana com a requalificão
dos bairros Pirambu, Cristo Redentor e Barra do Ceará, através do Projeto
Costa Oeste. [...] Essa revitalização da costa oeste de Fortaleza, será um
atrativo para o capital imobiliário e turístico que já conta com a saída de
parte de sua população para áreas distantes, desprovidas de infra-estrutura,
serviços e equipamentos, para dar lugar ao embelezamento da cidade e para
atrair o turismo.
A busca incessante por novos espaços litorâneos propícios à atividade turística em
Fortaleza tem como base a competitividade estabelecida principalmente entre esta e as demais
capitais nordestinas, nos quais o turismo tornou-se uma atividade prioritária para os governos
locais.
Atualmente, o Projeto Costa Oeste conta com 408 falias indenizadas; 6 conjuntos
de reassentamento entregue, totalizando 828 famílias reassentadas e 2Km de via construída
com ciclovias e passeios (GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ. SDLR, 2006).
Traçando um paralelo entre o passado e o presente, da mesma forma que a Avenida
Leste-Oeste serviu para integrar a zona oeste da cidade de Fortaleza à zona leste, objetivando
o transporte de mercadorias e a erradicação de áreas pobres próximas a área central da cidade,
através do processo de desterritorialização ocorrido no local, a Avenida Costa Oeste em
construção na faixa de praia do Grande Pirambu deverá completar a infra-estrutura viária
margeando todos os espos litorâneos da cidade, objetivando a requalificação urbana da área
e atendendo a necessidade por novos espaços de lazer e moradia à beira-mar, facilitados pelos
processos de desterritorialização e reterritorialização do Projeto Costa Oeste.
O mapa 3 demonstra as vias litorâneas da cidade de Fortaleza, completamente
interligadas e dotadas de infra-estrutura, restando apenas o espaço litorâneo do Grande
Pirambu para completar o traçado de vias margeando o litoral fortalezense.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
57
Ponte sob o Rio Ceará
Av. Leste Oeste
Av. Vicente de Castro
Av. Beira Mar
Av.zezé Diogo
Ponte sob o rio Cocó
Av. Sabiaguaba
Av. Costa Oeste
Av. Rad. José L. Verde
Mapa 3:
Vias litorâneas de Fortaleza/CE.
Na atualidade, o litoral fortalezense possui vias litorâneas margeando toda a orla
marítima, levando-nos a afirmar que o turista recebido em Fortaleza chega a qualquer praia da
cidade facilmente, com exceção das praias da zona oeste, notadamente as ocupadas pelo
Grande Pirambu.
Há a expectativa de que o Porto do Pecém promova de forma indireta um processo de
conurbação, o qual integrará Pecém e Caucaia (no litoral oeste do estado) à Fortaleza, servindo
a Avenida Costa Oeste para desafogar o aumento do fluxo viário da Avenida Leste Oeste.
As todas as expectativas relacionadas ao Projeto Costa Oeste, os embargos que esta
continua enfrentando e todas as discussões entre associões, Estado, moradores e técnicos,
atualmente o poder público assume um novo discurso através de murais instalados ao longo da
via e em escolas públicas da área, localizadas na Avenida Leste-Oeste via de intenso fluxo de
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
58
carros e pedestres, funcionando como excelente veículo de propaganda e aceitão do Projeto
Costa Oeste (Figura 11).
Figura 11
: Mural na Avenida Costa Oeste (à esquerda); Mural no colégio público (à direita).
Foto: SANTOS, novembro de 2005.
O
slogan
“a Avenida Costa Oeste vai ser nossa Beira Marvisa mostrar que este
projeto foi elaborado para a própria comunidade, pelo qual os moradores do Grande Pirambu,
assim como a elite fortalezense (dispondo da Avenida Beira Mar na zona leste da cidade)
também tem o direitoa sua avenida Beira Mar.
Salientamos ainda os constantes comerciais televisivos financiados pelo Governo do
Estado, difundindo o Projeto Costa Oeste na mídia cearense. Dentre estes, temos o vídeo
produzido em 2005, denominado de Nova Beira Mar(Figura 12) com durão de 30
segundos. Apesar da curta duração, as imagens são enfáticas em mostrar a melhoria na
qualidade de vida da população proporcionadas pelo Projeto Costa Oeste.
Na figura 12, parte “A, surge a antiga casa da senhora Maria Helenilda, ressaltando
as dificuldades enfrentadas pela mesma,
Lá era muito dicil, por que tinha rato e mosquito.
Em seguida, as partes B, C e Ddo vídeo mostram respectivamente a Avenida Costa Oeste
enquanto A nova Avenida Beira Mar ligando o Pirambu a Barra do Ceará.
As quatro cenas seguintes destacam a quantidade de famílias indenizadas ou
transferidas para os conjuntos de reassentamento 1.600 falias foram indenizadas ou
transferidas para perto de onde viviam com água, esgoto e outros serviços básicos,
evidenciando os resultados do Projeto Costa Oeste, inclusive com destaque para a figura do
policial representando segurança pública para todos.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
59
A
B
C
D
E
F
G
H
I
J
Figura 12:
Trechos selecionados do vídeo “Nova Beira-Mar.
Fonte: Link Propaganda, 2005.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
60
Na última passagem a senhora Maria Helenilda torna-se personagem central
apresentando melhorias proporcionados pelo Projeto Costa Oeste
Aqui recebo mais visitas e
fica perto da parada de ônibus
.
A partir desses comerciais televisivos, percebemos o enfraquecimento de ações
contra o Projeto Costa Oeste, assim como o aumento na aprovação do referido projeto pela
população local, no qual das 70 entrevistas realizadas no Grande Pirambu, incluindo
pescadores, barraqueiros, moradores, reassentados e indenizados, 60 entrevistados se
colocaram favoráveis ao projeto, enquanto 4 pessoas se manifestaram contrárias e 6
colocaram-se nem contra, nem a favor e/ou não souberam opinar.
A frase “A Avenida Costa Oeste vai ser nossa Beira-Mar, também denota que a
produção e valorização dos espos litorâneos de Fortaleza deram-se de forma diferenciada,
na qual nem todos os fortalezenses tiveram o direito a uma avenida Beira Mar, dotada de
infra-estrutura adequada e equipamentos de lazer.
Sendo assim, a produção e valorizão dos espaços litorâneos de Fortaleza são
resultado de lógicas diferenciadas: zona leste, práticas de veraneio, lazer e habitação da classe
abastada, enquanto a zona oeste, local de trabalho, pesca e lazer popular. Partindo dessa
concepção, os atores sociais envolvidos nesse processo e as políticas públicas de turismo em
Fortaleza serão o foco de nossas próximas discussões.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
61
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
62
2 O LITORAL FORTALEZENSE
m Fortaleza, a partir da segunda metade do século XIX, a população de
status
mais elevado iniciou o processo de ocupão e valorização dos
espaços litorâneos da cidade, instalando-se na zona leste.
Porém, a valorização dos espaços litorâneos, como em outras cidades litorâneas com
semelhanças à Fortaleza, deram-se de forma diferenciada. Em Fortaleza, a zona leste foi
ocupada, predominantemente, pela classe média e alta da cidade; enquanto a zona oeste, pelos
segmentos de baixa renda. Corrêa (2001, p. 178) reflete sobre essa realidade nas cidades
litorâneas, e declara “Criam-se assim, aparentemente, duas cidades. Uma de opulência, bem-
estar e poder, e outra de pobreza e desesperança. Elas, são partes integrantes da mesma
unidade contraditória, cujas contradições se viram agravadas e expressas com maior nitidez
nas áreas segregadas dos setores seletivos, de um lado, e das periferias urbanas, de outro.
Aliado a tal constatação, destacamos o caráter conflituoso da produção dos espaços
litorâneos de Fortaleza, notadamente, no trecho ocupado pelo Grande Pirambu, o qual, no
primeiro momento serviu para abrigar os pobres da cidade, desvalorizando seu espaço
litorâneo, enquanto na zona leste o solo urbano atingia intensa valorizão. Entretanto, na
atualidade, com a atividade turística exercida na cidade, o próprio poder público, que muito
contribuiu para a formação da zona oeste desvalorizada, tenta reverter esta situão por meio
da implantação de políticas públicas.
A partir daí, todos os espos litorâneos de Fortaleza tornam-se locais de intervenção
do poder público estadual visando a transformar a cidade em Portal do Atlântico, pois
conforme afirma Dantas (2002, p. 93), As ações do poder público situam-se, pois,
desvinculadas de antiga lógica, aquela que opunha a zona oeste à zona leste. Toda a zona de
praia é palco das ões.
Desse modo, discutiremos a produção e a valorização dos espaços litorâneos de
Fortaleza pelo uso e ocupação do solo nestes espaços, assim como a atividade turística
desenvolvida nesta zona da cidade.
E
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
63
2.1 Produção e Valorização dos Espaços Litorâneos de Fortaleza/CE
Os espos litorâneos da zona leste de Fortaleza apresenta urbanização marcante,
por meio de construções modernas e usos diferenciados, determinantes de uma valorização
crescente nessa zona da cidade.
Mas nem sempre foi assim. Pelo contrário, o litoral no início do século XVII era
totalmente desvalorizado, sendo utilizado apenas como território de pesca e de defesa contra
os invasores estrangeiros. É nesse contexto que Fortaleza surge em 1603, como pequeno
povoado, em face da política de defesa do território que estimulava a criação de fortes e vilas
no litoral, no contexto do início do processo de ocupação do território brasileiro.
O litoral fortalezense compreende duas unidades geoambientais: a Planície Litorânea
e os Glacis ou Tabuleiros Pré-Litorâneos, compartimentadas em duas zonas, a leste e a oeste.
A zona oeste, área compreendida entre o Rio Ceará e a praia Leste Oeste, compreendem sub-
moradias, ocupações e conjuntos habitacionais, com deficiente infra-estrutura básica.
Entretanto, possui atrativos paisagísticos e belezas naturais exuberante.
A Planície litorânea situa-se entre as desembocaduras dos rios Ceará e Cocó,
conforme demonstra a figura do litoral de Fortaleza e sua compartimentação em zonas (Figura
13), com aproximadamente 30 Km de extensão. Suas faixas de praias alongam-se por toda a
extensão da costa, com larguras irregulares, concentrando elevado estoque de sedimentos em
neo-formação, modelados por processos eólicos, marinhos, fluviais e mistos, caracterizadas
pela ocorrência de formas de acumulação do tipo praias e dunas. O Glacis ou Tabuleiros Pré-
Litorâneos situa-se entre os rios Cocó e o Pacoti, formando uma superfície plana com
caimento topográfico suave em direção ao mar (SALES, 1993).
Devido à quase inexistência de barreiras físicas, salvo as dunas na zona oeste e o
riacho Pajéu (na zona leste), as condições naturais do sítio urbano eram favoráveis à expansão
da cidade. Sendo assim, Fortaleza, até então concentrada no centro expandiu-se, no primeiro
momento, para a zona oeste, com a construção de luxuosas residências e instalação do
Colégio Liceu, no bairro Jacarecanga, ocupando as áreas mais para o interior, sem privilegiar
as zonas de praia, tendo em vista a presença das dunas que dificultaram a fixação de
moradias; e, principalmente, a relação da sociedade fortalezense da época com o sertão.
Enquanto na zona leste, praticamente não havia ocupação, em face do riacho Pajéu, que servia
na época como obstáculo para o crescimento naquela direção (SILVA, 1992)
Para onde sopram os ventos: políticas blicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
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Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
65
Em 1875, foi efetivado a abertura de três avenidas Avenida Dom Manuel,
Imperador e Duque de Caxias, cujo resultado foi a produção de uma planta que ficou
conhecida como a planta de Adolfo Herbster. A partir de então, ocorreu a expansão da cidade
para a zona leste. Entretanto, as zonas de praia não despertam interesse, pois o mar era visto
como território do vazio e do medo.
A expansão da cidade e a projão de Fortaleza como centro urbano, em destaque
com relação às outras cidades do estado, despertou a atenção da elite interiorana (fazendeiros
da pecuária e do algodão) que, desejosa de desfrutar da vida urbana, transferiu-se para a
capital. Esta população Constrói uma cidade que exprime as relões com o semi-árido
(DANTAS, 2002, p. 31).
A elite interiorana, ao se instalar em Fortaleza, principalmente, na área central da
cidade, constrói seus casarões, dando as “costas para o mar, formando uma verdadeira
barreira paralela ao litoral, isolando-se, pois as relações da sociedade no início do século
XVIII eram fortemente ligadas ao sertão, e o mar era visto apenas como zona portuária e de
pesca.
Inserido nessa mesma lógica de desprezar o mar e valorizar o sertão, tem-se, em
1880, a construção do Passeio Público – área de lazer em beneficio da classe abastada, dotado
de bancos, canteiros, café-bar, réplica de escultura clássica e três planos de avenidas o
primeiro para o desfrute das elites, o segundo para a classe média e o terceiro para os pobres.
O terceiro pavimento consistia a área mais rebaixada, próxima ao mar (PONTE, 1993).
Figura 14:
Passeio Público.
Foto: Arquivo NIREZ, 1910.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
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Nesse período o mar não era um espaço apropriado pela elite, pois além de zona
portuária (espaço de trabalho de pessoas rudes, vestidas com roupas inapropriadas aos olhos
da sociedade da época) era também local de habitão e trabalho dos pescadores. Sendo
assim, a cidade desprezava o mar, algo representado em sua malha urbana, A malha urbana
apenas tangenciava a praia, com os edifícios construídos de costas para o mar(ROCHA
JUNIOR, 1984, p. 40).
Desse modo, as relões estabelecidas por intermédio do porto, possibilitaram a
ocidentalização das classes abastadas. A elite voltou-se para a Europa, notadamente a França,
utilizando-se dos produtos para a indumentária, para a saúde e para o cérebro; passando a
adquirir hábitos e costumes europeus, ocasionando o início da mudança de mentalidade da
elite local em relação aos espaços litorâneos (GIRÃO, 1954)
.
Chamamos a atenção para o que disse Dantas (2004, p. 68), ao ressaltar que a adoção
das práticas marítimas pela elite fortalezense não se tratava apenas de simples transferência de
informão dos modelos ocidentais nos trópicos, pois as práticas marítimas exercidas
suscitam um quadro diferenciado daquele que lhe serviu de matriz. Esta hitese foi
confirmada pela análise das práticas marítimas realizadas em Fortaleza pelo referido autor, as
quais, apesar de próximas, denotaram características diferenciadas daquelas encontradas no
ocidente.
A princípio, a incorporação das práticas marítimas deu-se por meio das serenatas em
noite de luar e dos banhos de mar, conforme assinala Barroso, em seu livro Missisipi.
O povo de Fortaleza costumava dizer que o Ceará Gás Company fizera
contato com a lua. A seu modo tinha rao. Por que nas noites de luar não
se acendiam os combustíveis de iluminação. O céu nordestino quase sempre
espanado de nuvens permitia isso. Ficava, então, a cidade envolta na luz
prateada e misteriosa que os poetas cantam e os namorados adoram. E as
famílias aproveitavam a pouca claridade das ruas e a muita claridade das
praias para tomarem banhos de mar (BARROSO, 1996, p. 159).
Apesar destas práticas ocasionarem a aproximão da elite com o mar, estas não
conseguiram influenciá-las, a ponto de permitir a urbanização da faixa litorânea da cidade, e
muito menos abandonar o centro, local de moradia e lazer da sociedade fortalezense.
Entre os anos de 1920 e 1930, iniciou-se uma urbanização sensível das zonas de
praia, motivada pelos seguintes fatores: a expansão da cidade para a zona leste da cidade com
o veraneio; e a transferência do lazer do centro, com a instalação de clubes, inicialmente, na
praia de Iracema e, posteriormente, no Meireles, conforme ressalta Dantas:
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
67
O fluxo das classes abastadas, para a parte leste da cidade, representam a
consolidação da primeira tentativa de ocupão de espos encontrados
além das zonas consideradas como ideais para a habitação: as areias,
sujeitas a ação direta dos ventos alísios e ocupados por barracos. Estas
zonas da cidade renderam-se aos caprichos das classes abastadas, desejosas
de se estabelecer em chácaras e ocupando espos habitados pelos pobres.
A praia de Iracema beneficiou-se da mesma lógica, mas, neste espaço ao
norte de Fortaleza, referidas classes procuravam deleitar-se com o
desenvolvimento de novas práticas marítimas, notadamente os banhos de
mar e as caminhadas na praia, todas relacionadas ao veraneio e,
principalmente, as demandas por lugares de lazer, em concorrência direta
com o centro (DANTAS, 2002, p. 51).
É desse modo, que se inicia o processo de ocupação da zona de praia leste da cidade.
Ao mesmo tempo acontece também uma intensa ocupão da zona oeste. Todavia, essa
expansão se dá por meio de um outro processo, e com outros atores. É o processo migratório
oriundo do interior do Estado para Fortaleza, que vai promover o intenso crescimento
demográfico da cidade e, posteriormente, da zona oeste, assunto já discutido no capítulo 1.
A não valorização do litoral até então pela elite e a criação de uma cidade destinada à
classe abastada facilitou a ocupação das zonas de praia pela população pobre (pescadores e
retirantes), notadamente, na zona oeste, considerada área ispita.
Desse modo, a periferia, escolhida para recepção de tudo que a cidade desprezava,
foi a zona oeste, tendo em vista sua localização geográfica a sotavento da cidade. Pois o
discurso médico-higienista recomendava o afastamento das edificações insalubres, que
deveriam ser instaladas no sentido oposto da direção dos ventos; isto é, à sotavento, para que
evitasse a disseminão de doenças.
Assim, foram destinadas para a zona oeste, todos os equipamentos ditos insalubres
pelo discurso médico higienista, vistos na época como focos de contaminação e doenças: a
Santa Casa de Misericórdia (1847-1857), a Cadeia Pública (1854), o Lazareto da Lagoa Funda
(1856) e o Cemitério João Batista (1865), tornando a área ispita, com a recepção de dejetos
jogados nas rampas das praias e deposição das quimoas, propiciadores de miasmas.
Na primeira metade do século XX, a situação de insalubridade da zona oeste
acentua-se, tendo em vista as seguintes ações: a construção do primeiro sistema de
esgotamento sanitário da cidade (1920), que lançava os dejetos no mar, sem nenhum
tratamento; a instalação das oficinas da Rede de Viação Cearense RVC (1928); a ocupação
pelos imigrantes vindos do sertão, vitimados pela seca (1930); e a poluição atmosférica e
sonora, causada pela instalação das indústrias, ocasionando a total desvalorização da área.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
68
Os fatores relatados acima, em consonância com a
concentração de atividades
econômicas no centro da cidade, a abertura da zona leste as o Plano de Adolfo Herbster, e o
avanço do uso do automóvel, possibilitaram a transferência da elite fortalezense do setor
oeste, bairro Jacarecanga para a zona leste. Ao estudar a expansão urbana de Fortaleza, Silva
(1992, p. 25) relata: A busca de novos espos pela burguesia que residiam na área central e
oeste, implicou em alterões marcantes na cidade e na super valorização de bairros como
Aldeota, Meireles, Praia de Iracema, Papicú, Bairro de Fátima e outros. Mas a população só
coma a transferir-se definitivamente do setor oeste a partir dos anos 1960, com a construção
da Avenida Beira Mar em 1963.
Com a elite instalando-se nessa área, evidencia-se em Fortaleza a refuncionalização
das zonas de praia leste da cidade. Inicia-se, então, uma nova lógica de aproprião do espo,
no qual o território dos pescadores e dos imigrantes, passa a ser o território das classes sociais
populares, e do lazer da classe abastada. Assiste-se então, dialogando com Lefebvre, (1986), à
transformação do espaço da produção, da natureza transformada representando um dom, uma
resposta a certas necessidades dos indivíduos (pescadores e retirantes), no espaço do
consumo, na transformação da natureza em mercadoria (lazer e veraneio).
Nesse contexto, tem-se, na década de 1930, uma forte pressão da elite sobre os
espaços litorâneos da zona leste de Fortaleza, nos quais ocorre a expulsão dos antigos
moradores, Com a chegada das classes abastadas, o quadro é modificado. Se a coabitação
torna-se possível entre pescadores e pobres, ela não é viável entre estas últimas e as classes
retromencionadas(DANTAS, 2002, p. 53).
O cenário construído, dá margem para o surgimento dos primeiros conflitos nas
zonas de praia,entre os novos usuários e os antigos habitantes. A especulão imobiliária,
oriunda dessa nova realidade, foi um dos principais fatores na promoção do conflito entre os
dois grupos, uma vez que a valorização do solo urbano promoveu a expulsão dos antigos
moradores, a princípio, na praia de Iracema, e em seguida na praia do Meireles.
Observamos que a valorização desses espaços litorâneos ocasionou processos de
desterritorialização e reterritorialização, pois, ao mesmo tempo em que se provocou a
desterritorialização de pescadores que sempre viveram na área, com raízes culturais e
identidade local, consolidou-se uma nova reterritorialização, instalando a elite no litoral.
Conforme nos aponta Rocha Junior ao estudar as transformações urbanas no litoral de
Fortaleza.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
69
A praia de Iracema, até então local de fogo de caipira, pinga e facada de
pescador” adquire novas funções urbanas. A praia, constituída por
jangadeiros com suas casas de palhas, com suas areias muito limpas e
repletas de coqueiros, desperta a cobiça dos veranistas mais abastados. Um
dos primeiros foi o coronel Porto, comerciante vindo de Recife, que em
1926 inaugura seu palacete eclético, onde hoje funciona o restaurante
Estoril. Em torno da casa dos Portos, novos pequenos palacetes se
levantaram, formando aos poucos um casaril de feição eclética onde
destacam-se os telhados de telha francesa (ROCHA JUNIOR, 1984, p. 44).
Nos escritos de Rocha Junior (1984), fica impcito que a praia de Iracema se
reproduz a partir de um processo de urbanização que demorou um curto espaço de tempo,
pois a construção do Porto do Mucuripe, no final dos anos 1940, ocasionou intenso processo
erosivo, atingindo a praia e ocasionando a transferência da elite para as praias do Meireles,
Volta da Jurema e Mucuripe. As o ocorrido, a praia de Iracema firmou-se como território
do lazer, ponto de encontro da elite intelectual boêmia, que passou a dispor de bares,
restaurantes, centros de alimentação e pousadas.
A construção da Avenida Beira Mar no Rio de Janeiro, a atrão exercida na elite
pelos espaços litorâneos da zona leste e a preocupação com o crescimento populacional da
cidade, foram fatores que levaram o governo local, em 1962, a criar o Plano Diretor para
Fortaleza. Este plano objetivava Orientar o crescimento da cidade para o litoral, com a
construção da avenida Beira-Mar (1963), impondo a integrão das zonas de praia à cidade,
ora como equipamento público de lazer, ora como lugar de habitação da classe abastada”
(DANTAS, 2002, p. 61). Nesse período, a consolidação de Fortaleza como cidade litorânea
acontece, e a valorização das zonas de praia como território de lazer, veraneio e habitão da
elite, torna-se uma realidade.
Um aspecto bastante relevante na valorizão do espo, levantado por Moraes
(1999, p. 22-23), diz respeito aos valores culturais vigentes. Para o autor, O fato de um lugar
estar na moda, influi diretamente nas leituras das paisagens e na valorização subjetiva do
espaço, sendo, portanto elementos atuantes na valorizão dos lugares e em seus
enquadramentos mercadológicos.
O preço da terra é, assim, o resultado de sua valorização social real, com toda a
carga de manipulação de interesses vigentes no contexto em que é definido. Isso não quer
dizer que seja um valor socialmente justo, nem que traduza o valor total de um lugar.
Assim, com o desenvolvimento da atividade turística em Fortaleza iniciada nos anos
1980, o preço da terra nas zonas de praia passa por uma intensa valorização, o qual carrega o
sentimento de morar à beira mar e de usufruir a paisagem sol e mar, símbolo do turismo
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
70
fortalezense, indicando importante momento de transformação e incorporação dos espaços
litorâneos fortalezense à sociedade de consumo.
Nesse processo de incorporão dos espaços litorâneos à sociedade do consumo, os
bairros da zona leste (Iracema, Meireles, Mucuripe e Praia do Futuro) sofreram intensas
transformões e uma crescente valorização, notadamente, quanto ao uso e ocupação do solo.
Entretanto, o mesmo não ocorreu com a zona oeste (Grande Pirambu).
Somente a partir da década de 1990, o Grande Pirambu vem passando por um
processo gradual de urbanização, em face da implantação de infra-estrutura básica, suscitando
a transformação da área com vista à atividade turística em plena consolidão em Fortaleza.
Apesar disso, as transformações não atingiram o bairro em sua totalidade. Elas
contemplaram prioritariamente, as vias de circulação principais do bairro, formando espaços
heterogêneos. Se, por um lado, existem áreas de elevado potencial paisagístico e ruas bem
estruturadas, por outro, continuam a existir, nesta mesma área, ocupaçõesou mesmo sub-
moradias, nas quais as condições de vida dos moradores são muito precárias.
A própria configuração territorial de Fortaleza reflete os conflitos e as contradições
inerentes à sociedade capitalista, opondo e diferenciando as áreas pobres (zona oeste) das
áreas nobres (zona leste), demonstrando, por si só, a apropriação dialética do espaço por
diferentes classes sociais, revelando o acesso desigual aos bens de consumo coletivo.
Nesse âmbito, Corrêa (2000, p. 61), ao estudar a segregão sócio-espacial das
cidades brasileiras, caracteriza-a como [...] uma expressão espacial das classes sociais [...],
pois o sistema capitalista faz com que, de acordo com a condição e o papel social
desempenhado pelos ocupantes de um determinado bairro, se configure em territorialidades
representativas de grupos e classes sociais que aí se reproduzem. Nesse contexto, a zona oeste
apresenta-se como área segregada da população pobre da cidade.
A caracterização da zona oeste enquanto zona pobre de Fortaleza é reflexo das
condições sócio-econômicas da sua populão (analisadas no capítulo 1), e é refletida na sua
paisagem. Nesse contexto, as praias da zona oeste, com exceção da praia Leste Oeste,
apresentam índices de coliformes fecais bem superiores ao padrão determinado pelo Conselho
Nacional de meio Ambiente (Conama) abaixo de 1000/100 mL, conforme veremos na tabela
6. Índices semelhantes são encontrados apenas nas praias do Iate e Farol (setor centro e leste),
os quais apresentam infra-estrutura preria ocupada por população de baixa renda.
Conforme a Semace, as praias do setor oeste são as mais poluídas, em virtude da
falta de saneamento, da presença de lixo nas galerias pluviais e/ou mesmo na orla marítima, e
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
71
da poluição de riachos, os quais deságuam no mar, lançando resíduos residenciais, comerciais
e industriais.
Tabela 6 Resultados das medianas de Coliformes Fecais das praias de Fortaleza
(dias Permitidas - Abaixo de 1000/100 mL)
ESTOES DE AMOSTRAGEM
PERÍODO
SETOR OESTE
Jan/Abril (2001)
Jan/Abril (2002)
Barra do Ceará
5.000/100mL
1.300/100mL
Goiabeiras
3.000/100mL
1.200/100mL
Colônia
16.000/100mL
16.000/100mL
Início da Pasteur
9.000/100mL
16.000/100mL
SECAI
12.500/100mL
16.000/100mL
Kartódromo
1.400/100mL
16.000/100mL
Leste Oeste
80/100mL
70/100mL
SETOR CENTRO
Jan/Abril (2001)
Jan/Abril (2002)
Cond. Vista Del Mare
80/100mL
335/100mL
Ideal
2.050/100mL
90/100mL
Diários
300/100mL
140/100mL
Imperial Othon Palace
1.300/100mL
820/100mL
Volta da Jurema
300/100mL
125/100mL
Estátua de Iracema
500/100mL
500/100mL
Iate
650/100mL
2.200/100mL
SETOR LESTE
Jan/Abril (2001)
Jan/Abril (2002)
Farol
3.000/100mL
1.700/100mL
Praia do Futuro
16,5/100mL
300/100mL
Clube de Engenharia
48,5/100mL
90/100mL
Hotel Praia Sol
26,5/100mL
80/100mL
Praça 31 de Março
20/100mL
130/100mL
Barraca do Hawaí
50/100mL
102/100mL
Caça e Pesca
150/100mL
50/100mL
Fonte:
SEMACE, 2002.
As condições de balneabilidade do setor oeste anunciam os impactos pelas quais tem
passado, ao longo dos anos, devido o uso e ocupação da área. No âmbito de uma concepção
de sociedade que usa indiscriminadamente os recursos naturais, diferentes práticas cotidianas
já promoveram o uso da faixa de praia como desito de lixo, de dejetos residenciais, e de
ocupação de sua faixa de praia com barracos e casebres.
O fato de a praia Leste Oeste encontrar-se fora do índice de balneabilidade registrado
nas outras praias do setor oeste, deve-se ao saneamento básico instalado na praia, e a maior
atenção do poder público e de seus freentadores quanto à preservão da praia.
Sendo assim, o litoral fortalezense divide-se, quanto ao seu uso: a zona oeste para
lazer e habitação popular; enquanto a zona leste, embora disponha de algumas áreas
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
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populares, a maioria destina-se à moradia e lazer da classe média e alta da cidade, além de
constituir-se em zona turística.
Fortaleza confirma então a produção do espo urbano segundo a lógica do processo
desigual e combinado de reprodução do capital, No qual os desiguais ambientes são, em
realidade, simultaneamente perversos e funcionais. Perversos porque contribuem para a
reprodução das cidades desiguais, e funcionais porque a desigualdade é necessária, e parte
integrante de uma sociedade de classes(CORRÊA, 2001, p. 157).
No âmbito dessa discussão, e com vistas à satisfação de nossas inquietações teóricas
acerca do processo de produção e valorização dos espaços litorâneos de Fortaleza de forma
diferenciada, discutiremos a ação dos atores que participaram desse processo, a saber: a
iniciativa privada, a sociedade e o Estado.
A iniciativa privada produz o espaço através do setor imobiliário, incluindo os
proprietários, imobiliários e incorporadores. Estes atores sociais constroem a cidade com
vistas à acumulão de riquezas por meio de loteamentos, equipamentos e, principalmente, da
especulão imobiliária, valorizando a propriedade fundiária urbana.
A imobiliárias atuam na valorização dos imóveis, em virtude da localidade,
incentivando novos atributos ao dimensionar a especulação à propriedade privada. Esta é
indutora na forma de espacialização da cidade, pois consegue, através da articulação com
outros agentes, construir determinadas zonas, independente de uma dimensão não planejada
especialmente para o atendimento de uma faixa da população de maior poder econômico.
Na produção dos espaços litorâneos fortalezenses, a iniciativa privada contribuiu
para a valorização de algumas áreas, em detrimento de outras. Na zona oeste, o setor privado
instalou indústrias poluidoras, desvalorizando a área. Em contrapartida, na zona leste, a
iniciativa privada atuou no mercado imobiliário voltado para as classes média e alta da cidade,
na construção de edifícios luxuosos e
flats
; e na promoção do turismo, com pousadas, hotéis,
restaurantes,
shopping
centers
e
casas de
show
,
valorizando e direcionando o crescimento para
esta área.
Quanto à sociedade, esta ocupa e produz espos diferenciados na cidade, em função
do poder aquisitivo. Aqueles que, mediante o seu baixo poder de consumo, não conseguem ter
ascensão a estas melhores fatias da gleba urbana, ficam com as áreas rejeitadas, seja devido a
uma total carência de infra-estrutura urbana, seja porque elas funcionam como reserva de
valor.
A partir desse entendimento concorda-se com o pensamento de Costa (1988, p. 42),
ao afirmar: [...] os espaços são produzidos e ocupados por atividades e indivíduos de acordo
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
73
com as suas possibilidades de pagar o tributo por seu uso, sendo marcante a hegemonia dos
processos econômicos sobre a totalidade das condições de vida da populão.
Em relação ao Estado, identificamos a atuão nas três esferas (federal, estadual e
municipal). Na zona oeste, em nível federal, houve o financiamento dos conjuntos
habitacionais pelo BNH; no âmbito estadual e municipal, dois momentos diferenciados. No
primeiro momento, tanto o poder municipal quanto o estadual, agiram no processo de
desvalorização da área, com a instalação de equipamentos tidos como insalubres pelo discurso
médico higienista da época. No segundo momento (década de 1990), tanto o nível estadual
quanto o municipal destinaram políticas públicas (Projeto Sanear, Ampliação do Pólo de
Lazer da Barra do Ceará e Projeto Costa Oeste) com o intuito de transformação e valorização
da área.
Sendo assim, o poder público estadual inicialmente implantou equipamentos que
desvalorizaram o Grande Pirambu, contrariando as normas do capital. E, na atualidade, esse
mesmo poder público tenta reverter esta situação, instalando políticas públicas, na tentativa de
valorizar o que ele mesmo desvalorizou outrora.
No que diz respeito à zona leste, todos os níveis (federal, estadual e municipal)
sempre investiram maciçamente na sua valorização, com a instalação de equipamentos
urbanos e serviços adequados, visando à satisfação de seus habitantes e à valorização turística,
ao contrário do que ocorreu na zona oeste.
Quanto aos papéis exercidos pelo Estado, podemos destacar: o de mediador dos
conflitos entre os demais agentes; o de produtor direto do espaço, por meio da implantação de
equipamentos e de infra-estrutura; e de produtor indireto do espo, regulando o uso do solo
urbano (MORAES, 1999).
Como produtor direto do espo, o poder público estadual em Fortaleza tem atuado
intensamente nos espaços litorâneos, sobretudo, de duas formas: a erradicão e/ou
urbanização de favelas na área, e a implantação de infra-estrutura viária:
Primeiramente, dá-se a erradicação de favelas pelos moradores e a liberação da área
antes ocupada para outros usos, com o objetivo de extirpar estes aglomerados que, sem
vida, interferem no preço da terra e na desvalorizão da área. Ao remover a favela,
remove-se um dos obstáculos para aumentar a renda da terra, ao mesmo tempo em que se leva
para mais longe os seus moradores, e sua pobreza. A outra possibilidade é de permanência da
favela, com erradicão de suas características: urbanização e melhorias, com introdução de
infra-estrutura (esgotamento sanitário, coleta de lixo regular e iluminação) e da abertura de
vias mais amplas para circulação. A urbanização prevê a permanência da populão na área
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
74
ocupada, porém com modificões substanciais na aparência. Esta atuação também altera a
dinâmica do pro da terra, propiciada pela retirada das características da favela um
aumento de renda aos proprietários da mesma e das áreas vizinhas (RODRIGUES, 1991).
Na instalão de infra-estrutura viária, destacam-se: Avenida Presidente Castelo
Branco; Avenida Presidente Kennedy; Avenida Vicente de Castro; Avenida Zezé Diogo;
Avenida Sabiaguaba; Ponte sobre o Rio Cocó; Ponte sobre o Rio Ceará; Avenida Radialista
Jose Lima Verde e a futura Avenida Costa Oeste, margejando toda a orla marítima com vias
interligadas.
Como resultado desse processo de produção do espaço, Fortaleza apresenta uma
fragmentação dos seus espos litorâneos, os quais são consumidos e valorizados de forma
diferenciada. Sobre o conceito de fragmentão do espaço compartilhamos com Carlos
(1996), ao defini-lo como, Um processo sócio-espacial que possui como resultado uma
determinada morfologia da cidade que é definida e valorizada de maneira diferencial, por que
na cidade encontra-se o espo mercadoria( p. 58).
Nesse sentido, o espo apropriado e produzido em Fortaleza, serve cada vez mais às
necessidades da acumulão, sendo a atividade turística transformada em mercadoria
reprodutível, entrando no circuito da troca.
Assim, o papel do turismo no litoral fortalezense e as políticas públicas de turismo
implantadas nesta área, com vistas à transformação de Fortaleza em Portal do Atlântico, serão
o alvo de nossas próximas discussões.
2.2 A Atividade Turística em Fortaleza/CE
O turismo é, na atualidade, uma das atividades econômicas prioritárias para o
desenvolvimento econômico do estado do Ceará e para a sua inserção no processo de
globalização em curso. Para tanto, o poder público, nas esferas federal, estadual e municipal,
vem desenvolvendo políticas públicas de turismo, subsidiando projetos, implantando infra-
estrutura, equipamentos turísticos e outros tipos de investimentos que qualificam o litoral
fortalezense, visando à atrão de fluxos turísticos nacionais e internacionais.
Etimologicamente, o vocábulo turismotem suas origens em uma complexa mistura
semântica entre as nguas francesa e inglesa, servindo para designar tanto uma ação quanto
uma função. De um lado, refere-se aos fluxos, às motivões e aos tipos de deslocamentos
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
75
pertinentes à atividade; de outro lado, diz respeito às empresas e agências receptivas, às
transferências de capitais e aos
amenagmentes
espaciais (ALMEIDA, 1994).
O turismo, como movimento de pessoas, está intrinsecamente ligada à nova forma de
transporte e de viagem a longa distância, além dos seus efeitos sobre a subjetividade dos
indivíduos. Um fator crucial para o desenvolvimento do turismo foi o aumento da renda dos
trabalhadores com a conquista das férias pagas, possibilitando o turismo de massa
10
.
O desenvolvimento do turismo de massa se difundiu as os anos de 1950, no pós-
Guerra, com a institucionalização das férias remuneradas, apoiadas na concepção de
sociedade de massa, concepção advinda da produção em série de bens materiais.
A expansão da atividade turística tem gerado uma intensa mobilidade das
populações. Essa mobilidade tem então, um caráter de fuga planejada para o anti-cotidiano,
fato evidenciado por Rodrigues (2001, p. 113):
A natureza tornou-se mercadoria e é vendida como capaz de devolver ao
homem a paz e a tranilidade roubadas pela vida cotidiana nas cidades. A
fuga do cotidiano, os prazeres oferecidos por outros espos,
preferencialmente naturais, são apelos publicitários que atingem todas as
classes sociais.
Na contemporaneidade, o turismo representa para o mundo o equivalente a 7% (sete
por cento) do comércio mundial de bens e de serviços, perdendo o primeiro e o segundo
lugares para o setor petrolífero e para a indústria automobilística, crescendo a uma taxa de 4%
(quatro por cento) ao ano, segundo dados da Organização Mundial de Turismo (OMT), fruto
do trabalho realizado pelos atores que o integram: instituições públicas, privadas e múltiplas
operadoras que providenciam os produtos, serviços e experiências para os turistas e viajantes.
Em Fortaleza, o turismo assumiu relevância como atividade econômica a partir dos
anos de 1980.E isto se deve, principalmente, a dois fatores: a intensificação das relões
diretas entre as demais esferas do poder (estadual e municipal) com organismos internacionais
(BIRD); e a ascensão de uma nova elite ao poder dando início à era das mudanças
comandadas pelo então governador Tasso Jereissati.
A coexistência presente entre o antigo e o novo discurso expõe a face conservadora e
modernizadora das elites empresarial e política, que dividem o poder no estado. A mais
antiga, basea-se no discurso das características da semi-aridez (escassez de água, má
10
O turismo de massa é caracterizado pelo grande volume de pessoas que viajam em grupos ou individualmente
para os mesmos lugares, geralmente, nas mesmas épocas do ano (RUSCHMANN, 1997).
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
76
distribuição espacial e temporal das chuvas, e altos índices de insolão) como obstáculos ao
processo de desenvolvimento do estado. Justifica dessa maneira, os constantes pedidos de
auxílio ao Governo Federal. A mais recente se apropria dessas mesmas características,
entretanto, ressaltando os benefícios que as condições climáticas do estado propiciam aos
segmentos da fruticultura irrigada e ao turismo (CASTRO, 1996).
Para Rebouças (1994), a figura do sol, utilizada por decênios, como representação da
seca, responsável pelo êxodo rural, e pretexto para obtenção de ajudas do Governo Federal, na
atualidade, é vinculada a outra lógica. O astro rei, anteriormente considerado como
adversário, torna-se importante aliado ao garantir taxa de umidade ideal, assegura a
constância da fotossíntese favorável à agricultura industrial, possibilita a geração de energia
alternativa, garante brilho ideal para a lente das meras e representa uma reserva infinita para
o turismo permanente.
Desse modo, o sol surge como elemento primordial do turismo, sendo esta atividade
vista como uma alternativa de desenvolvimento econômico do estado. Contudo, seria
necessário reverter a imagem negativa do Ceará, até então mais freente na mídia nacional
como seca, flagelados e retirantes. Com esse propósito, inicia-se um novo discurso,
associando os recursos naturais (praias extensas e algumas quase desertas) e o clima (ausência
de chuvas e temperaturas elevadas) como objetos turísticos com forte propaganda nacional.
No intuito de viabilizar e potencializar o turismo no estado, o governo do Tasso
Jereissati elaborou uma agenda prioritária, composta pelos seguintes programas: Programa de
Valorização e Preservação do Patrimônio Turístico do Ceará; Programa de Recuperação e
Reparelhamento da Infra-estrutura Turística do Ceará; Programa de Marketing Turístico;
Programa de Implantão de Complexos Turísticos e Programa de Capacitação Técnica-
organizacional do Turismo. Diante de tais programas, iniciou-se a realização de diagsticos
sobre as condições do setor, onde foram identificadas as potencialidades e limitões
turísticas do estado (GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ, 1989).
Sendo assim, o Ceará desponta como pioneiro na região Nordeste, ao apostar em
políticas públicas de turismo inovadoras como o Programa de Desenvolvimento do Turismo
no Litoral do Ceará (Prodeturis/CE), totalmente financiado pelo governo estadual, que o
considera como um guia para os empreendedores, um indicador para os programas oficiais e
para as políticas de planejamento turístico para o litoral cearense.
Para Cruz (2001, p. 40), tais políticas públicas de turismo compreendem um
Conjunto de intenções, diretrizes e estratégias estabelecidas e/ou ões deliberadas, no
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
77
âmbito do poder público, em virtude do objetivo geral de alcançar e/ou dar continuidades ao
pleno desenvolvimento da atividade turística no território.
Em termos de região Nordeste, o turismo litorâneo é visto pelo poder público como
alternativa econômica, tornando-se, na atualidade, um dos signos mais vendidos aos países
emissores de fluxos turísticos, consumidoresdas belezas naturais. Segundo Moraes (1999,
p.168), O litoral é hoje a zona do território que apresenta os mais elevados índices de
construção do país.
Nesse âmbito, assiste-se a uma implantação de duas poticas públicas de turismo no
Nordeste. A primeira delas, a Política de Megaprojetos Turísticos, que tinha como
características: a) participão do setor público, desde a idealização até a implantão do
empreendimento; b) grande extensão da área de abrangência do projeto; c) grande volume de
capital empregado. Como exemplos, temos [...] o Projeto Parque das Dunas Via Costeira
(RN), o Projeto Cabo Branco (PB), o Projeto Costa Dourada (PE e AL) e o Projeto Linha
Verde (BA); todos levados a cabo pelos respectivos governos estaduais(CRUZ, 1997, p.
123).
A segunda política, o Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste
(Prodetur/NE), foi instituído em 1991, por ação conjunta da Superintendência de
Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e Empresa Brasileira de Turismo (Embratur), tendo
como principais objetivos: o estabelecimento de diretrizes para ordenar o desenvolvimento do
turismo em escala regional; intervenções em infra-estrutura aeroportuária, rodoviária e
hidroviária, saneamento básico, energia, telecomunicações; recuperação do patrimônio
histórico; implantação de equipamentos e serviços de capacitação.
Ressaltamos que essas duas poticas têm em comum à inserção do território
litorâneo nordestino, dentro do mercado turístico global, obedecendo a um modelo de
urbanização turística, que implica uso intensivo do solo e reprodução de padrões urbanísticos
estranhos ao local (CRUZ, 1999).
O Prodetur/NE contemplou os nove estados da região Nordeste, tendo sido enfocado
a reforma e modernização de aeroportos, e a construção de vias de acesso às localidades
turísticas, priorizando-se assim os fixos, que possibilitariam os fluxos turísticos para estas
áreas. Isso porque o turismo é uma atividade que exige o deslocamento físico temporário das
pessoas, podemos dizer que é constituído basicamente por fluxos que geram formas espaciais
especificas e/ou redefinem formas preexistentes, materializando-se por meio dos fixos
(estradas, aeroportos, infra-estrutura e equipamentos turísticos).
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
78
O turismo gera processos espaciais em diversos níveis escalares, seja por meio da
mobilidade de pessoas, de informações, de empresas e de mercadorias, que se materializam
tanto nos locais de origem quanto nos locais de chegada dos fluxos (RODRIGUES, 1997).
No tocante ao Ceará, o programa de turismo do governo – Prodeturis/CE optou em
1992 por unir-se ao programa do Prodetur/NE, que oficialmente recebeu a denominação de
Prodetur/CE. Inserido no novo contexto do Estado Neoliberal, o poder público estadual,
conhecido popularmente como o governo das mudanças” comou a articular-se não
somente com o governo central, mas também com a iniciativa privada e os organismos
internacionais de financiamento principalmente o BIRD, visando a atrair investimentos
turísticos para o estado.
Com esse intuito, o poder público implementa os objetivos da política de
desenvolvimento turístico, indicados no plano de governo do Ceará de 1987-1991. São eles:
promover a valorização do potencial turístico, no sentido de contribuir para o
desenvolvimento social, econômico e cultural do Ceará; apoiar e estimular a iniciativa
privada, na realização de obras e projetos que geram fluxo turístico internacional; ajustar,
reordenar e ampliar os equipamentos e infra-estrutura necessária ao desenvolvimento
turístico; melhorar o serviço de recepção dos turistas com o fornecimento de informações e de
animações turísticas propiciadas por uma mão-de-obra especializada (GOVERNO DO
ESTADO DO CEARÁ,1989).
O Ceará foi o estado nordestino que mais investiu recursos do Prodetur/NE,
totalizando 23% do total de investimentos na região. O governo local, por meio do
Prodetur/CE divide o litoral cearense em quatro regiões turísticas (Figura 15), levando em
consideração as características de potencialidades de investimentos, e agrupando-as em
regiões para efeito de implantação por etapas:
1. Região I: Região Metropolitana de Fortaleza;
2. Região II: Caucaia (parcial), São Gonçalo do Amarante, Paracuru, Paraipaba,
Trairi e Itapipoca;
3. Região III: Cascavel, Beberibe, Fortim, Aracati e Icapuí;
4. Região IV: Barroquinha, Chaval, Camocim, Jijoca de Jericoacoara, Cruz,
Acaraú, Itarema e Amontada.
Os atrativos turísticos dessas localidades são, basicamente, as praias que se
encontram ao longo dos seus 573 Km de costa; o clima agradável, com temperaturas elevadas,
em média de 25º a 27º C, e os recursos naturais existentes: praias extensas, falésias
multicoloridas, dunas brancas, estuários, lagoas e manguezais.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
79
Figura 15:
O litoral cearense e suas regiões turísticas
Destas regiões turísticas, a primeira a ser contemplada com investimentos foi a
Região Turística II, zona prioritária do Prodetur/CE, também conhecida como Costa Sol
Poente. Dentre os empreendimentos efetivados, teve a construção da Rodovia Estruturante Sol
Poente, projetos de recuperação ambiental das dunas de Paracurú e projetos de saneamento
das Praias do Paracurú e Paraipaba. Nesse período, também foi construído o novo Aeroporto
Internacional de Fortaleza.
A construção da Rodovia Estruturante Sol Poente e do Aeroporto Internacional Pinto
Martins, além de incorporar as praias à zona de influência direta de Fortaleza, ocasionou
também uma ampliação do fluxo turístico para a capital cearense, reforçando seu papel
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
80
desempenhado como o portão de entrada da “Terra do Sole centro de distribuição do fluxo
turístico no litoral cearense.
No entanto, o Prodetur/CE priorizou grandes complexos turísticos, ficando clara a
exclusão das comunidades locais. Conforme nos afirma Almeida
(1996, p. 40).
O PRODETUR/CE se autodefine como um programa de ordenamento do
espo litorâneo, visando orientar o uso e ocupão do solo para atividades
com ênfase no turismo. Tal concepção idealiza, via enclaves, novos
territórios ecomicos, expulsando as populões locais. Emerge no litoral
cearense, uma nova categoria o pescador sem praia.
Apoiando-nos na reflexão da autora, podemos dizer que a reordenação dos espaços
litorâneos com vistas ao turismo no Ceará, deu-se (e se dá) de forma impactante, propiciando
forte “inclusão marginal e periférica”, segundo a qual os pescadores, sem praia, passarão a
buscar novas alternativas de trabalho, como vendedores ambulantes, garçons e vigilantes de
pousadas.
Trata-se do movimento contraditório do capitalismo, que exclui para incluir, o qual
deve ser entendido como um momento de inclusão marginal da população, pois o excluir
significa, na realidade, a não eliminação ou o abandono, mas sim o incluirde forma
diferenciada; ou seja, de acordo com a lógica capitalista, em que poucos indivíduos têm todas
as chances de ter uma sobrevivência digna, e muitos indivíduos têm apenas o papel de
permitir o usufruto dessas chances de uma minoria, como bem explica Martins (1997, p. 32),
Na sociedade capitalista essa é a regra estruturante: todos nós, em vários
momentos de nossa vida, e de diferentes modos, dolorosos ou não, fomos
desenraizados e excluídos. É próprio dessa lógica de exclusão a inclusão. A
sociedade capitalista desenraiza, exclui, para incluir, incluir de outro modo,
segundo suas próprias regras, segundo sua própria lógica.
Analisando a potica de turismo do estado do Ceará, denominada por Fonseca
(2005), em seu trabalho sobre políticas de turismo e competitividade como Uma política
agressiva de atração de investimentos e de promoção de seu produto(Fonseca, 2005, p. 104),
concordamos com a referida autora, ao percebemos que o foco do material publicitário está
mais acentuado para os elementos naturais que comem a paisagem cearense do que para as
pessoas, ressaltando a forte conotão da natureza como mercadoria de consumo turístico.
Nesse contexto, o poder público atua na construção de um território turístico no
estado, passando o litoral cearense passou por grandes transformações, inclusive incorporando
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
81
a seca, que anteriormente era associada à miséria, à pobreza e à fome, em mercadoria vendida
como objeto turístico
11
, consolidando o Ceará como a “Terra do Sol.
Esses aspectos impulsionaram modificações, sobretudo na capital cearense, como
assinala Almeida (1996, p. 188), A cidade embeleza-se na arquitetura ousada e colorida. A
gestão preocupa-se em sanear aquelas áreas freentadas pelos turistas e vende-se uma
imagem de cidade moderna uma ilha de prosperidadetanto na mídia local como nacional.
Na década de 1980, as poticas públicas de turismo implementadas em Fortaleza
eram difundidas enquanto políticas urbanas. No entanto, estas não atingiam a cidade como um
todo, valorizando especialmente as áreas de empreendimentos turísticos, seguindo a lógica
capitalista, selecionando atores e espaços turísticos, para a reprodução ampliada do capital.
Isso porque Algumas ões governamentais favorecem com infra-estrutura os bairros
turísticos em detrimento de favelas e bairros populares não considerados prioritários neste
gênero de política(ALMEIDA, 1997, p. 26).
Com o intuito de transformar a zona leste na zona turística da cidade, o poder público
atuou diretamente na área com a instalão de calçaes: na Avenida Beira Mar (1970), na
Praia de Iracema (1980), e por último na Praia do Futuro (1990), com infra-estrutura básica
(saneamento, iluminão e segurança) e los de lazer (Praia do Futuro – 1980).
As ações do poder público ocasionaram um verdadeiro reordenamento na zona leste
de Fortaleza, como bem demonstra Almeida (1994, p. 40),
Houve a partir de 1988 uma política de reordenamento do espaço urbano. O
calçadão da Avenida Presidente Kennedy, mais conhecida como a Beira-
Mar, foi refeito, ampliado e embelezado com novo visual. Concentrou-se em
pontos específicos desta avenida a tradicional feirinha” de artesanato
anteriormente espalhado ao longo da praia defronte dos hotéis. No ano de
1991 preocupou-se em revitalizar a área histórica da Praia de Iracema,
transformando-a em um local freneticamente iluminado para valorizar as
fachadas das casas e casarões, mas também, em um lugar sofisticado de vida
noturna. O calçadão da Beira-Mar margeia os restaurantes e bares do bairro
com projetos de atingir a Barra do Ceará em curto prazo.
Vários instrumentos são utilizados para difundir a imagem turística de Fortaleza,
entre eles, destacamos a imprensa televisionada, com as novelas da rede globo (Tropicaliente
–1994, Meu bem querer - 1998); a ação publicitária e
marketing
turístico em revistas (Veja,
Viagem Bem etc.); e eventos desportivos, como o Campeonato Internacional de Windsurf
11
Objeto turístico, portanto, em si não existe, sendo uma invenção pelo e para o turismo, responsável pela sua
invenção. Assim também, são os espos, os lugares e territórios turísticos(ALMEIDA, 1997, p. 19).
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
82
(
Ceará Wind
98). Todos visando a inscrever o Ceará no mercado turístico internacional e/ou
nacional (DANTAS, 2002).
Delineando o conjunto dessas ões, destacamos ainda a construção de um discurso
do turismo como vocão naturaldo estado, uma forma de exaltão às riquezas naturais
que alicerçam o bimio sol e mar, justificando nesse sentido o consumo do espaço por essa
atividade.
Em decorrência do intenso
marketing
turístico, o Ceará cresce cada vez mais em
competitividade frente ao cenário turístico, pois, ao participar de um concurso promovido pela
revista Viagem Bem, no qual os eleitores elegeram 24 categorias do turismo nacional e
internacional, o Ceará obteve o terceiro lugar na categoria de melhor estado para onde viajar,
depois da Bahia e de Santa Catarina (VIAGEM..., 2002).
O resultado desse
marketing
turístico levou o Ceará a ocupar, em 2002, o segundo
lugar da região Nordeste em receita gerada pelo turismo doméstico, representando 22,35% da
arrecadação (R$ 3.581,455,7), perdendo apenas para o estado da Bahia com 30,62% (R$
4.905,592,2) (Embratur, 2002).
Acrescenta-se a isso a expansão da oferta hoteleira do Ceará,
a qual, em 2003, também aparece em segundo lugar do Nordeste, conforme mostra o gráfico
5.
24,6
22,1
14,8
14
8,6
5,0
4,8
3,4
2,5
0
5
10
15
20
25
30
Salvador
Fortaleza
Natal
Recife
Maceio
J.Pessoa
Aracaju
Teresina
São Luiz
Gráfico 5:
Oferta Hoteleira nas Capitais do Nordeste 2003
Fonte: Setur/CE, 2004.
A oferta hoteleira no Ceará tem acompanhado a evolução do fluxo turístico,
comprovando que, na atividade turística a demanda é determinante dos investimentos na
capacidade produtiva de um destino de viagens. A oferta hoteleira nos municípios turísticos
do Ceará passou de 10.739 Unidades de Hospedagem (Uhs), em 1997, para 21.789 Uhs, em
2004; ou seja, um aumento de 102,9%
.
A metade da capacidade hoteleira está localizada em
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
83
Fortaleza. Todavia, existe uma tendência de ocorrer um crescimento bastante significativo nos
outros municípios litorâneos, principalmente, em face da implantão de grandes
resorts
nestas áreas (GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ. INVENTÁRIO ..., 2004).
As ações governamentais no sentido de promover o turismo no Ceará vêm
apresentando resultados positivos, com o aumento de vários aspectos, tais como: demanda
turística, receita, renda e impacto sobre o Produto interno Bruto (PIB) estadual, ao longo dos
anos, evidenciados na tabela 7.
De acordo com os dados da tabela 7, entre os anos de 1995/2004, houve um aumento
na demanda turística via Fortaleza em 134,2%, ou seja, um total de 1.022.577 pessoas. Este
crescimento é resultado do marketing dos destinos turísticos cearenses, efetivado pelo
Governo Estadual em parceria com a iniciativa privada, leia-se: agências de viagens e
operadoras de turismo.
Salientamos ainda a expansão de eventos em Fortaleza. Além de congressos, temos
os festivais como o Verão Vida & Arte, Fortal e Ceará Music, os quais atraem milhares de
visitantes em períodos de baixa estação, diminuindo a sazonalidade do fluxo turístico, até
então concentrado, notadamente, no período das férias.
Outro dado importante evidenciado na tabela 7 é o número de empregos no turismo,
que cresceu 129,5% entre os anos de 1995-2004. Isso implica mais emprego na rede hoteleira,
a qual tende ampliar sua oferta de apartamentos sobretudo em Fortaleza, considerada o portão
de entrada dos turistas no Ceará, pois necessita se tornar cada vez mais competitiva no setor,
como forma de não perder mercado para concorrentes diretos como Recife, Natal e Salvador.
Em termos de Populão Economicamente Ativa (PEA), a contribuição no nível de
emprego possibilitou que a participação resultante das atividades integradas nas cadeias
produtivas do turismo aumentasse 100% no período de 1995-2004.
Esses meros explicam o esforço proveniente de agentes públicos e privados em
incrementar cada vez mais o fluxo turístico para a área. Entretanto, salientamos que estes
recursos não atingem a todos, pois a grande maioria concentra-se nas mãos de empresários do
setor turístico (especuladores imobiliários, proprietários de hotéis, de restaurantes e de
resorts
).
Para onde sopram os ventos: políticas blicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
84
Tabela 7: Resultados da Atividade Turística no Ceará - 1995/2004
DISCRIMINAÇÃO
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
Gasto Percapita/dia
(R$)
51,66
51,66
56,0
59,59
63,98
70,19
61,58
75,21
95,57
91,01
Permanência dia
(Dias)
12,0
13,0
12,5
9,5
9,1
8,9
9,9
9,4
8,8
10,8
Gasto Percapita (R$)
671,58
671,58
700,0
566,1
582,22
623,25
607,42
708,0
837,51
984,66
Demanda Turística
via Fortaleza
761.777
773.247
970.000
1.297.528
1.388.490
1.507.914
1.631.072
1.629.422
1.550.857
1.784.354
Receita Turística
Direta (R$ milhões)
486,0
519,3
679,0
734,5
808,4
939,8
990,7
1.153,6
1.298,9
1.757,0
Renda Gerada
(R$ milhões)
651,2
695,9
971,0
1.123,8
1.325,8
1.644,7
1.733,8
2.018,9
2.273,0
3.074,7
PIB cf (milhões)
16.200
17.290
19.586
20.809
21.700
21.917
24.100
25.000
26.250
26.250
Impacto sobre o PIB
(%)
4,0
4,0
5,0
5,4
6,1
7,5
7,2
8,1
8,7
11,7
Empregos no
Turismo (mil)
122
117
149
165
196
194
239
269
275
280
Participação na PEA
(%)
3,8
3,8
4,7
5,1
5,7
5,5
6,7
7,4
7,4
7,6
Fonte: Setur/CE, 2004.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
85
Somente no ano de 2004 o Ceará foi visitado por 1.784.354 turistas. Salientando que
tal fluxo se fez via Fortaleza. Desse total, 85,9% eram brasileiros e 14,1% eram estrangeiros.
Quanto aos turistas nacionais, os principais estados brasileiros emissores desse fluxo foram:
São Paulo, com 322.254 (21%); Rio de Janeiro, com 162.662 (10,6%); e Pernambuco, com
124.298 (8,1%). Dentre os emissores estrangeiros, Portugal destacou-se como principal
emissor com 68.196 (27,3%), a Itália com 36.472 (14,6%), e a Holanda com 24.481(9,8%),
conforme observamos no gráfico 6.
Para
2006, estão previstos 2,25 miles de turistas, o que
já começa a ocorrer, tendo em vista o acréscimo de 10,2% no primeiro trimestre de 2006 em
relão ao mesmo período de 2005.
Outros
34,1%
Rio Janeiro
10,6%
São Paulo
21,0%
Pernambuco
8,1%
Piaui
6,2%
Rio G Norte
6,5%
Maranhão
6,5%
Pará
7,0%
Portugal
27,3%
Itália
14,6%
Holanda
9,8%
França
6,1%
Argentina
6,1%
Outros
24,3%
Suiça
5,6%
Alemanha
6,2%
Gráfico 6
: Mercados emissores nacionais, 2004, (acima) e Mercados emissores internacionais,
2004 (abaixo).
Fonte: Setur/CE, 2004.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
86
Nesse contexto, Fortaleza além de ser considerado o portão de entrada” para o
turismo no estado, é a sua principal atração. Vários equipamentos, como o Centro Cultural
Dragão do Mar de Arte e Cultura e o seu entorno; o novo Mercado Central; o Aeroporto
Internacional; o Projeto Baía de Iracema; restaurantes e boates instalaram-se na cidade,
ampliando o leque de opções de entretenimento, de lazer e de compras. Sua orla tem atrões
para todos os gostos e idades. A Avenida Beira-Mar, a Praia do Futuro, a Praia de Iracema e a
orla dos municípios vizinhos atraem investimentos de grande porte, redefinindo a função de
ruas e avenidas, novas formas de uso e de ocupação do solo (SILVA; CAVALCANTE, 2004).
Além disso, Fortaleza oferece aos visitantes uma gama de atrações, produtos e
iguarias; dentre eles, temos: uma diversidade de casas de
show
com estilos musicais bastante
diversificados, desde clubes com toda infra-estrutura, inclusive totalmente climatizados, até
casas com o autêntico forró sertanejo, imitões perfeitas de ambientes rurais. São oferecidas
também produtos artesanais distintos, como: peças de cerâmica, palha, couro, bordados e
rendas comercializados em diferentes espos da cidade, como no Mercado Central, na
Avenida Monsenhor Tabosa e na Central de Artesanato do Ceará (Ceart), onde é possível
encontrar os artesãos produzindo peças no local. Quanto à gastronomia, Fortaleza surpreende
com a tradicional caranguejada às quintas-feiras, acrescentando ainda o famoso baião-de-dois
com pargo, os frutos do mar em geral, os doces típicos, a castanha de caju e as frutas da
época.
As ões governamentais associadas à iniciativa privada com o objetivo de promover
o turismo, transformaram Fortaleza no principal centro de visitação turística do Ceará,
destacando-se pela conjugação do espaço natural com o espo construído, pela qual o
visitante além de dispor de belíssimas praias, ainda dise de imeros equipamentos
turísticos, serviços e lazer diversificado.
A posição conquistada nos anos 2000 por Fortaleza é resultado da consolidão dos
programas e projetos que foram sendo implantados e melhorados ao longo dos anos. Como
destino turístico, Fortaleza destaca-se, dentre os outros municípios turísticos cearenses, pela
demanda e pela permanência dos turistas na referida cidade, conforme veremos na tabela 8.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
87
Tabela 8: Principais municípios visitados pelos turistas ingressados no Ceará em 2004
Percentual Demanda (%)
Municípios
Interior
Total
Turistas
Permanência
(Dias)
Caucaia
24,3
12,9
230.817
2,0
Aracati
18,7
10,0
177.679
2,5
Beberibe
14,3
7,6
136.165
1,9
Aquiraz
9,3
5,0
88.840
1,9
Jijoca de Jericoacoara
7,9
4,2
74.725
3,5
Paraipaba
3,4
1,8
32.381
1,7
São Gonçalo do Amarante
2,4
1,3
23.248
1,7
Cascavel
1,8
1,0
17.436
2,4
Subtotal
93,5
49,5
889.152
4,2
Outros
6,5
3,5
61.908
4,4
Total Interiorização
100,0
53,3
951.061
2,8
Só Fortaleza
-
46,7
833.293
8,0
Total Via Fortaleza
100,0
1.784.354
10,8
Fonte: Setur/CE, 2004.
Conforme podemos observar na tabela 8, chamamos atenção para os dados relativos
à permanência dos visitantes em Fortaleza, que concentra 46,7% da demanda total para o
estado, enquanto o restante dos municípios cearense corresponde a 53,3%. Em relação ao
tempo de permanência dos turistas, a diferença acentua-se ainda mais, tendo em vista que
Fortaleza ocupa o primeiro lugar, com oito dias de permanência, enquanto os outros
municípios em destaque como Caucaia, Aracati, Beberibe e Aquiraz não ultrapassam dois
dias e meio, com exceção de Jijoca de Jericoacoara (na qual os turistas permanecem por três
dias e meio), conhecida como uma das dez praias mais lindas do mundo.
No
ranking
nacional, Fortaleza ocupou em 2003 o quarto lugar entre os municípios
que mais recebeu turistas internacionais no país, ocupando o quarto lugar em 2003 (Setur/CE,
2004). Isto é reflexo dos imeros investimentos e programas, os quais propiciaram a
implantação de vôos internacionais regulares e vôos
charters,
conforme evidenciamos no
quadro 1.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
88
Quadro 1: Vôos Internacionais
Internacionais Regulares
Portugal
Lisboa/ Fortaleza/ Lisboa - TAP Lisboa/
Portugal
Cabo Verde/ Fortaleza/ Cabo Verde/ Lisboa - TACV
Buenos Aires/ Porto Alegre/ Brasília/ Fortaleza VARIG
Internacionais
Charters
Portugal
*
Lisboa/ Porto Seguro/ Fortaleza - TERRA BRASIL
Portugal
*
Lisboa/ Fortaleza - ABREU
Portugal
*
Porto/ Lisboa/ Fortaleza - AIRLUXOR
Guiana Francesa
*
Cayen/ Fortaleza -TAF
Itália
*
Milão/ Fortaleza UNIONE ITALIANA DEL LAVORO JSC VIAGENS
Finlândia
*
Helsinque/ Ilhas Canárias/ Fortaleza AURINIKO MAKAT
Suíça
*
Zurique/ Fortaleza/ Natal KUONI TRAVEL AG
Itália
*
Milão/ Salvador/ Fortaleza PARMATOUR
Holanda
**
Amsterdam/ Tenerife/ Fortaleza Q -INTERNATIONAL
República Theca
**
Praga/ Fortaleza EXIN TOURS
República Theca
**
Praga/ Fortaleza CEDOK/ ESSO TRAVEL
Hungria
**
Budapeste/ Fortaleza KARTOGO
Fonte: Setur/CE, 2004.
* Vôos charters semanais
** Vôos charters quinzenais
A implantação dos vôos
charters
para Portugal e Itália visa atender à demanda
crescente desses países, enquanto os novos vôos
charters
para países como a Holanda,
Finlândia e Suíça pretendem responder à tentativa do governo estadual na captão de novos
fluxos turísticos, os quais tem tido sucesso, tendo em vista o aumento do fluxo turístico da
Holanda e Suíça; e o ingresso da Finlândia, que até o ano de 2002 não tinha
representatividade nas pesquisas oficiais, como bem demonstra o gráfico 7.
-5%
5%
15%
25%
35%
2002
2003
2004
Portugal
Itália
Holanda
Finlândia
Suiça
Gráfico 7:
Mercados Emissores Internacionais para o Ceará – 2002/2004
Fonte: Setur/CE, 2004.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
89
O aumento do fluxo turístico internacional para Fortaleza, além de possibilitar um
incremento de 5% em 1995 para 14,0% em 2004, tem propiciado intensas modificões na
estrutura da cidade, criando novas territorialidades. Dentre estas, destacam-se as duas
apresentadas por Knafou, A
territorialidade sedentária
dos que aí vivem freentemente, e a
territorialidade made
dos que só passam, mas que não tem necessidade de se apropriar,
mesmo fugidiamente, dos territórios que freentam. (1996, p. 64. Grifo do autor).
Fortaleza reflete bem estes dois tipos de territorialidades no seu espaço litorâneo. Na
ponta do Mucuripe, tem os habitantes e os pescadores, que realizam a pesca artesanal
(territorialidade sedentária); e os turistas, principalmente estrangeiros (territorialidades
mades) que visitam para vislumbrar a chegada dos pescadores e degustar os alimentos
preparados na hora, como por exemplo, o peixe frito e o camarão.
No entanto, a aproprião destes espaços litorâneos pelo turismo tem propiciado a
expulsão de pescadores tradicionais da beira da praia. Para Cruz (2001, p. 17),
[...] nenhuma
outra atividade consome, elementarmente, espo, como faz o turismo e esse é um fator
importante de diferenciação entre turismo e outras atividades produtivas. É pelo processo de
consumo dos espos pelo turismo que se gestam os territórios turísticos.
Desse modo, o território nos espaços litorâneos deve ser visto segundo o conceito
defendido por Almeida (ALMEIDA; COSTA, 1998, p. 275), O território é um espo em
movimento, formando e deformando-se sob o fluxo do movimento das interelações entre os
atores e o espaço, pois é dessa relação entre atores sociais e o espaço, que avenidas e áreas
residenciais na capital cearense estão sendo redefinidas, criando-se novas formas de uso e de
ocupação do solo.
Nesse contexto, o poder público estadual, idealizador e implementador das políticas
públicas que impulsionou o turismo cearense têm, elaborado pela Setur, o Planejamento
Estratégico do Estado do Ceará, estabelecido para o período de 1995-2020, com o objetivo de
consolidar a inserção do estado como o destino turístico internacional da região Nordeste.
Fazendo parte deste planejamento, identificamos o Projeto Fortaleza Atlântico,
atuando na Microrregião Turística de Fortaleza, visando à criação de um espírito coletivo
marítimo, baseado no prazer da vivência e da descoberta do mar, assim como na exploração
sustentada das suas riquezas. O objetivo central seria voltar Fortaleza para o Atlântico,
abrindo a cidade construída para o mar, integrando o lado ocnico ao lado continental
(GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ. SETRUR ..., 1998).
A intervenção territorial tem se iniciado por meio da divisão do litoral fortalezense
em três zonas, denominadas de
cluster
(Mapa 4). O programa de
cluster
econômico envolve
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
90
diferentes atividades econômicas, bem como a integrão entre governo estadual, agentes
financeiros e outros segmentos capazes de elevar a competitividade do setor turístico.
Mapa 4:
Divisão do litoral fortalezense em clusters.
O primeiro
cluster
recebeu o nome de portal do Mucuripe (Porto Pesqueiro/ Praia
Mansa/ Farol/ Serviluz e Praia do Futuro). Nessa área, o porto será reestruturado para receber
os transatlânticos, será construído um Ícone Fortaleza (marco da entrada do Brasil no século
XXI) e um complexo náutico (
oceanarium
, museu náutico e centro de reabilitação da vida
marinha). O segundo
cluster
foi chamado de Corredor Turístico Cultural/Centro Histórico
(Kartódromo/ Ponte dos Ingleses/ Praia de Iracema e Beira-Mar) e corresponde à área onde
foram construídos o novo Mercado Central e o Centro Cultural Dragão do Mar e para onde
está projetado o novo Centro de Feiras e Eventos da cidade. O terceiro
cluster
foi chamado de
Enseada Turística e Parque Ecológico do Rio Ceará (Rio Ceará/ Barra do Ceará e Pirambu).
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
91
Nesta área encontra-se em construção a Avenida Costa Oeste, via litorânea que tem como
objetivo incorporar as praias do Grande Pirambu à dinâmica turística (ROCHA JUNIOR,
2000).
Dentre os projetos inseridos nos
clusters
, dois chamam a atenção por apresentarem
características sócio-espaciais idênticos: áreas ocupadas tradicionalmente por populações
pobres; localizadas no litoral, e contempladas por projetos pautados na política de
reassentamento e indenização, ocasionando processos de desterritorialização e
reterritorialização promovidos pelo Governo Estadual. São eles: o Projeto Costa Oeste
(Grande Pirambu) e o Centro Multifuncional de Feiras e Eventos (Poço das Dragas).
O Projeto Costa Oeste encontra-se na atualidade em fase de implantação, sendo sua
área utilizada para diversos usos, conforme evidencia a figura que trata do uso e ocupação do
solo (Figura 16).
A beleza paisagística ou potencialidade turística da área é ressaltada pelas
reportagens jornalísticas: Pôr-do-sol da Barra do Ceará e a beleza das praias não deixam
vida que a natureza abençoou o litoral oeste de Fortaleza. O latente potencial turístico
permanece inexplorado, mas a Prefeitura vê avanços neste sentido(PROBLEMAS..., 2004).
Além das belezas naturais exaltadas nas reportagens anteriores, a zona oeste de
Fortaleza dise de uma área de mangue. O mangue do Rio Ceará é protegido pela Área de
Proteção Ambiental (APA) do Rio Ceará, e se apresenta em bom estágio de conservação,
sendo bastante utilizado para coleta de caranguejos e passeio ecológicos de barco.
A preservação do mangue do Rio Ceará nos permite afirmar que a zona oeste de
Fortaleza apresenta diversidade no uso e ocupão do solo, resguardando além das áreas ditas
degradadas, outras de elevado potencial paisagístico como áreas de mangue, dunas e praias.
Embora o potencial paisagístico evidenciado na zona oeste seja importante, este, de
acordo com Fonseca (2005) no seu estudo sobre políticas de turismo no Rio Grande do Norte,
não é condição suficiente para que o Grande Pirambu torne-se território turístico, pois para
que isso ocorra é “Necessário uma requalificação do espo através da criação de espaços
complementares, dotando-se a localidade de infra-estrutura e equipamentos turísticos(p. 40).
Para onde sopram os ventos: políticas blicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
92
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
93
Nesse intuito, o Projeto Costa Oeste deverá ocasionar a turistificação da área.
Entendemos por turistificação, com base nos autores estudados, o processo que envolve
organização, planejamento e embelezamento de lugares para que estes se tornem atrativos
turísticos e possam ser contemplados.
No entanto, salientamos que embora exista possibilidade da área em questão tornar-
se um território turístico da cidade, dois entraves bastante significativos poderão influenciar
negativamente. São eles: a violência e a repulsão da cidade em relação à área.
Assim, a imagem de violência, poluição e pobreza vinculada ao Grande Pirambu
deverá ser mudada. Ao nosso ver, o primeiro passo vem sendo proposto pela transferência do
interceptor oceânico, o qual provoca odores indesejados e poluição atmosférica, denotando
um passo significativo na reversão da imagem da área.
A possibilidade de requalificão do Grande Pirambu propicia um interesse
particular de empreendedores imobiliários em apropriar-se da zona oeste, principalmente, da
faixa litorânea, representando para Dantas (2002, p. 104), como o Verdadeiro filé mignon do
mercado imobiliário, que se alimenta do anseio de consumidores em enquadrarem o mar na
janela de seu apartamento, efeito paisagístico-contemplativo. Assim, esse espo litorâneo
surge como alternativa para atender à demanda por novos espos de moradia à beira-mar,
tendo em vista alguns entraves na zona leste da cidade (explorado posteriormente).
Na transição entre a zona oeste e a zona leste de Fortaleza, do ponto de vista físico,
tem a área central da cidade, retratada pela figura 17, a qual evidencia o seu uso e ocupão,
abrangendo parte do bairro Arraial Moura Brasil, Centro e Poço das Dragas. O trecho que
compreende o Arraial Moura Brasil, na faixa litorânea, apresenta baixa densidade
demográfica e grandes áreas privatizadas, a exemplo do Hotel Marina Park. Em relação à
faixa litorânea do Centro, esta oferece melhores condições de infra-estrutura e maior
diversidade de usos, que vai desde ao uso comercial e de serviços até grandes equipamentos
como Indústria Naval Cearense (Inace) e Centro Cultural Dragão do Mar, além de uso
residencial como a comunidade do Poço das Dragas, local onde será construído o Centro
Multifuncional de Feiras e Eventos.
A área conhecida como Poço das Dragas teve origem durante a década de 1940, com
a ocupação da gleba deixada pelas instalações periféricas na transferência do antigo porto
(Porto das Dragas) para o novo porto (Porto do Mucuripe). A construção do Porto do
Mucuripe ocasionou o esvaziamento e a estagnação na área do antigo porto, tendo em vista a
transferência de grande parte dos armazéns e desitos para as Docas.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
94
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
95
Em 1962, esta área foi evidenciada pelo Plano Hélio Modesto, pelo qual a então
Avenida Beira-Mar deveria prolongar-se até o Poço das Dragas, e onde deveria ainda assentar
os edifícios públicos de um novo Centro Cívico e Administrativo, acompanhado de locais
para funções culturais (exposições, circos etc.) e de equipamentos para congressos, o que de
fato não ocorreu.
Passados quarenta anos desde o Plano Hélio Modesto, é retomada a discussão da
construção de um novo centro para a área compreendida pelo Poço das Dragas - O Centro
Multifuncional de Feiras e Eventos. Este corresponde a um megaprojeto com ares futuristas,
avançando 19 hectares mar a dentro, compreendendo 15 mil m
2
de área para feiras, teatro para
2 mil pessoas, aquário e centro de convenções, num complexo com capacidade total para 25
mil pessoas. A SDLR e a Seinfra responsáveis pelo projeto, acreditam que o mesmo poderá
gerar até 13 mil empregos e trazer uma renda anual bruta da ordem de R$ 158 miles a R$
196 miles, impactando sobre diversas atividades econômicas (Seinfra, 2004).
A implantão do Centro Multifuncional de Feiras e Eventos visa a: fortalecer a
atividade turística, com apoio ao setor turismo de negócios; apoiar o desenvolvimento da
indústria cultural local, oferecendo à população os espos com condições técnicas adequadas
às atividades ligadas às grandes reuniões e espetáculos; converter os impactos urbanos
decorrentes de sua construção para criar condições efetivas para viabilização de operações de
revitalização com benefícios ao conjunto da população; melhoria das condições de recepção a
visitantes, reforçando a imagem urbana e a memorabilidade da cidade e obtendo como
resultado o incremento de sua competitividade como destino turístico.
Todos esses objetivos, segundo o poder público, são justificados pela acentuada
demanda por serviços turísticos que atendam ao chamado turismo de negócios, exercido por
meio de com congressos e feiras, o qual fortaleceria a atividade turística em períodos
conhecidos como de baixa estão. Isso porque, embora o atual Centro de Convenções do
Ceará disponha de 15.244m
2
de área total construída, auditório de 1.000 lugares, área lovel
de 11.582 m
2
e aproximadamente 500 vagas de estacionamento de veículos, este encontra-se
com a sua capacidade de expansão esgotada, não atendendo, por conseguinte, à demanda de
eventos e feiras de médio e grande porte. Para o Secretário de Infra-Estrutura do Estado,
Francisco Queiroz Maia Júnior, o Centro Multifuncional de Feiras e Eventos visa a:
Preencher uma lacuna que é a sazonalidade do turismo no Estado, pois
devido ao Centro de Convenções ser pequeno, Fortaleza perde para outros
estados a possibilidade de trazer as feiras e convenções de maior porte, que
movimentam o mercado na época de baixa-estação (POÇO ..., 2001).
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
96
As imeras justificativas para a construção do Centro Multifuncional de Feiras e
Eventos, surgem as discussões em torno da escolha do local para a implantação do mesmo.
Ainda segundo o referido Secretário de Infra-Estrutura do Estado, este afirma que: Seria
muito mais caro para o governo construir em outra área. Pois, não há dinheiro para fazer um
investimento vultuoso de qualificação de uma área distante para construir um projeto deste.
E acrescenta: Aquela área já tem toda uma qualificação histórica, uma rede de serviços,
então o investimento se torna menor porque não se tem que construir todo um entorno e
qualificá-lo para receber o Centro Multifuncional(POÇO..., 2001).
A qualificação histórica da área e o entorno adequado ressaltados pelo Secretário de
Infra-Estrutura são vislumbrados pela presença do Centro Cultural Dragão do Mar de Arte e
Cultura, do Mercado Central e de outros equipamentos turísticos, viários, de lazer e
entretenimento naquela área, os quais transformaram parcialmente as potencialidades de
reconstrução da área, fato que pode ser constatado na vitalidade da utilização dos sobrados, e
na ocupão do seu entorno por bares, restaurantes e boates, além da recuperão de antigas
edificações, como o armazém Boris que abrigará o Centro Cultural do Serviço Social do
Comércio (SESC) e a antiga Alfândega, no Poço das Dragas, onde se instalará a Pinacoteca
do Ceará, abrigando dentre outras, a obra do pintor cearense, Antonio Bandeira, consagrado
na produção de artes plásticas não apenas no Brasil, mas também em outros países.
Notamos que todas essas intervenções encontra-se presentes dentro do segundo
cluster
, atingindo a área histórica e central de Fortaleza; com isso, atendendo a antigas
reivindicões para a revitalização do centro e de suas adjacências, garantindo assim o apoio
de grande parte da sociedade fortalezense.
Entretanto, a discussão no âmbito da população atingida diretamente pela obra tem
propiciado diversos conflitos e divisão na comunidade do Poço das Dragas, na qual alguns se
colocam favoráveis ao referido projeto e outros são contrários ao mesmo.
O Centro Multifuncional de Feiras e Eventos deverá retirar 300 famílias, um total de
1.100 moradores, os quais vivem há aproximadamente 60 anos em uma área de quase 13 mil
metros quadrados. Estas pessoas deverão optar” entre as casas de reassentamento ou
indenização. Para o Secretário de Infra-Estrutura do Estado, Francisco Queiroz Maia Júnior
(POÇO..., 2001), O Projeto de Relocação do Poço das Dragas ainda está sendo estudado, e as
novas moradias deverão ficar no máximo a 600 metros do local atual, onde serão preservados
os valores culturais e as relações de vizinhança”.
Apesar das promessas do Secretário de Infra-Estrutura em relação ao projeto, a
senhora Francisca de Alcântara Pereira, 60 anos, afirma: Não acredito que essas casas novas
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
97
vão ser construídas por aqui perto. Mas não vão me tirar daqui para ir pra fim de mundo
nenhum. Só acredito nessas histórias quando ver a casa pronta(POÇO ..., 2001).
Já o senhor José Ribamar dos Santos, de 66 anos, nascido na área, ele está confiante
e comenta: Vi as casas novas no projeto e achei muito boa, vai ter esgoto, coisa que aqui não
tem. Estou confiante no Governo, mas se não for bem assim como eles estão falando, aí a
gente não muda, né(POÇO ..., 2001).
Em relão à transferência das famílias da área, a Presidente da Associação dos
Moradores do Poço das Dragas, Rocilda Lima Ferreira, ressalta: Se pudéssemos, todos s
optaríamos por ficar aqui. Mas não somos contra o progresso, e se é para o bem de Fortaleza,
vamos deixar aqui, desde que atendam a todas as nossas exigências(POÇO ..., 2001).
A intervenção em áreas ocupadas por populações pobres, mexe com a vida destas
pessoas de forma abrangente, principalmente, daquelas que de certa forma estão em seu
caminho, a identificão com a rua, com a vizinhança, com o bairro em si, faz com que as
pessoas não queiram mudar-se, opondo-se às obras públicas, e às vezes acabam sendo
tachadascomo contrárias ao desenvolvimento, às transformações e ao progresso.
Berman (1988) em sua obra “tudo que é sólido desmancha no ar, nos revela o
sentimento das pessoas que de certa forma presenciam mudanças repentinas ocasionadas pelas
políticas públicas, as quais não transformam apenas a rua, ou o bairro com suas escavadeiras
menicas, mas também a vida cotidiana das pessoas, algumas delas para melhor, outras nem
tanto.
Esse sentimento encontra-se evidenciado nas declarões da população do Poço das
Dragas, assim como veremos mais adiante no capítulo 3, sobre o processo de
desterritorialização e conseentemente reterritorialização do Projeto Costa Oeste.
É importante salientarmos que poticas públicas dessa natureza apresentam forte
incidência espacial, ocasionando significativas mudanças na organização do espaço,
sobretudo, quando se trata de turismo, pois esta é uma atividade pela qual o espaço é o próprio
objeto de consumo.
O turismo, enquanto atividade econômica, necessita de novos espaços e
equipamentos turísticos para expandir-se, seja adquirindo novas áreas para especulão
imobiliária (hotéis, restaurantes, pousadas
etc.), seja com instalação de empreendimentos que
visem a atrair fluxos de pessoas e necios.
Esse processo se verifica na zona leste de Fortaleza, onde se localizam as praias de
Iracema, do Meireles, do Mucuripe, a área do Porto do Mucuripe, a praia do Futuro I e II, a
praia Caça e Pesca e a praia da Sabiaguaba (Figura 18).
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
98
Quanto as praia de Iracema e Meireles, a concentração urbana permeia toda a área
até o Mucuripe, com total ocupação da faixa litorânea pelos equipamentos de lazer, turismo e
moradia da classe abastada. Atualmente, consolida-se nesta faixa de praia o uso de torres
verticais e de calçadão da praia como local de encontro de diversos grupos sociais. É o espo
público que permite a maior concentrão de fluxo de pessoas em busca de qualidade de vida,
o qual foi apropriado pelas atividades de desporto (clubes esportivos, hotéis de luxo, flats,
minishopping
, restaurantes e apartamentos residenciais), tornando-se cartão postal de
divulgão da cidade para o turismo nacional e internacional.
Salientamos que embora a praia de Iracema seja considerada área de atração turística,
esta vem passando por um processo de estagnação e deteriorão, reflexo do surgimento de
novos espos de lazer bem próximos a esta área, com destaque para o Centro Cultural
Dragão do Mar; da transferência de alguns bares e restaurantes da área; e ainda, da falta de
manutenção e segurança deste espaço.
A área do Porto do Mucuripe, situado no Cais do Porto, dise de algumas praias,
dentre elas: a Praia Mansa, de acesso restrito e de bela paisagem natural, local escolhido para
instalar o ícone de Fortaleza; e a Praia do Titânzinho, área de alta densidade demográfica e
ocupada por populão de baixa renda.
O Ícone de Fortaleza corresponde à construção de um obelisco, um novo cartão
postal da cidade, com Representação simlica do marco identitário da entrada de Fortaleza
no cenário internacional com o objetivo de se tornar signo diferenciador, algo transformador
associado ao novo discurso, de maritimidade voltada para o turismo(ARAGÃO, 2005, p.
43).
A praia do Futuro I e II dise de faixa litorânea tomada pela presença de barracas
de praias, com elevado fluxo de turistas e população local, com dunas ocupadas,
simultaneamente, por favelas e residências de alto padrão e vazios urbanos. Segundo dados do
Inventário Ambiental de Fortaleza (GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ. INVENTÁRIO
..., 2004), a praia do Futuro ocupa o primeiro lugar em quantidades de vazios urbanos da
cidade.
Para onde sopram os ventos: políticas blicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
99
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
100
O projeto de urbanização da praia do Futuro, construída para abrigar o futuro da
cidade em termos de moradia à beira-mar, não atingiu este objetivo devido, principalmente, a
aspectos naturais (classificada como a praia com o segundo maior teor de salinidade do
mundo). Desse modo, a área foi ocupada por clubes, associações recreativas, pousadas e
hotéis, consolidando diversos territórios fragmentados, dentre eles, os territórios das barracas
de praia percorrendo toda a orla marítima e adentrando para o continente o território de hotéis
de cinco estrelas, a exemplo do Hotel Vila Galé.
Recentemente, foi construída uma nova Avenida de acesso à praia do Futuro –
Avenida Aldy Mentor , a qual corresponde ao prolongamento da já existente Avenida Padre
Antonio Tomás, possibilitando o acesso a novas estruturas e grandes eventos, como a
chamada Cidade do Fortal, construída em 2005.
A praia da Sabiaguaba, trecho entre a foz do Rio Cocó e Pacoti, embora já disponha
de um acelerado processo de urbanização e belezas naturais significativas - manguezais,
encontro do rio com o mar e dunas -, não é muito visitado turisticamente, quadro que deverá
ser alterado as a conclusão da ponte sobre o Rio Cocó (em construção) ligando a praia do
Futuro a Sabiaguaba; conseentemente, aumentando o fluxo turístico da área.
Os aspectos explicitados anteriormente sobre a zona leste (total ocupação da orla
marítima e alto teor de salinidade) criam entraves para a instalação de novos equipamentos de
lazer na faixa de praia (restaurantes, pousadas e hotéis) e de habitação para classe abastada,
desejosa para morar à beira mar. Assim, a zona oeste surge como alternativa de faixa litorânea
apropriada, as a conclusão do Projeto Costa Oeste.
Os investimentos públicos em infra-estrutura viária, visando propiciar melhor
acessibilidade aos espaços onde se encontram recursos naturais valorizados turisticamente,
desencadearam novas tendências locacionais dos investimentos imobiliários para as áreas de
praia, provocando mudanças sócio-espaciais na zona leste de Fortaleza. Nesse sentido, a
construção da Avenida Beira Mar, em 1963, constituiu um marco, pois esse eixo viário
desencadeou rápida alteração do tipo de habitão e investimentos imobiliários e/ou turísticos
no local. A expansão imobiliária na área ocasionou, além da expulsão das populações pobres,
a elevação do valor do solo, verificado na faixa litorânea, acentuando a segregação sócio-
espacial da classe de alto poder aquisitivo.
Esta idéia é reforçada pela opinião do conselheiro do Instituto dos Arquitetos do
Brasil Seção Ceará (IAB-CE), Marcos Lima sobre a Avenida Costa Oeste A ampliação da
infra-estrutura viária é indutora de novos usos e deve atrair investimentos diversos, não só
comerciais, mas também imobiliários e hoteleiros(NA MIRA..., 2004).
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
101
Para uma cidade turística como Fortaleza a acessibilidade é algo fundamental,
sobretudo, nos espaços litorâneos, conforme Villaça (2001, p. 74), [...] a acessibilidade é o
valor de uso mais importante da terra urbana, embora toda e qualquer terra o tenha em maior
ou menor grau. Desse modo, Fortaleza não coaduna mais com a existência de uma “barreira
social
12
, impedindo o acesso a zona oeste tanto da população fortalezense quanto dos
visitantes. A respeito disso, Rocha Junior afirma:
Praticamente todo o litoral fortalezense é classificado pelo Plano Diretor
como orla marítima, onde são incentivadas atividades ligadas ao lazer e ao
turismo. O objetivo deste planejamento urbano é estender para outras áreas
do litoral fortalezense a mesma paisagem, os mesmos fluxos e trocas que
se organizam na Avenida Beira Mar (2000, p. 155).
Como podemos observar nas palavras do autor, estes projetos visam à possibilidade
de homogeneização do uso e ocupação do solo nos espos litorâneos de Fortaleza. Sendo
assim, as políticas públicas implementadas no Grande Pirambu, aparece-nos como tentativa
de responder à demanda por novos espaços de lazer e moradia à beira-mar.
Outro elemento interessante nessa discussão é a relão entre localização de
investimentos públicos, especialmente viários, e a valorização das propriedades fundiárias ou
imobiliárias, analisados por Maricato (2000, p.158). Para a autora,
Há uma simbiose entre a abertura de grandes vias e a criação de
oportunidades para o investimento imobiliário. Trata-se de obras que são
mais imobiliárias que viárias, já que a lógica do seu traçado não está
apenas, e ás vezes, nem principalmente, na necessidade de melhorar os
transportes, mas na dinâmica de abrir novas frentes (localização) para o
mercado imobiliário de alta renda.
O que percebemos por meio dessas políticas públicas suscitadas para Fortaleza é o
objetivo de inseri-la entre as cidades mais modernas e equipadas do país, transformando-a no
portal do Atlântico, e estendendo o modelo beira-mar para toda a orla marítima da cidade.
No intuito de transformar-se em portal do Atlântico, a cidade turística ime que
seus espos litorâneos apresentem uma paisagem adequada, mesmo aqueles que não são
utilizados para tal fim, pois na cidade-mercadoria
13
, a pobreza é vista sob um novo olhar, A
12
Utilizamos aqui o termo barreira socialpara caracterizar o Grande Pirambu, como uma barreira formada por
aglomerado humano, o qual impede” a visão do mar na seência das vias que margeam todo o litoral
fortalezense.
13
A cidade mercadoria é entendida segundo a concepção de Vainer (2000, p.78), [...] a cidade é uma
mercadoria a ser vendida, num mercado extremamente competitivo, em que outras cidades também estão à
venda”.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
102
miséria é estrategicamente redefinida como problema paisagístico ou ambiental(VAINER,
2000, p. 82).
Inserido nesse contexto, o Grande Pirambu vem sendo objeto de poticas públicas,
as quais estão centradas, de um lado, na retirada das famílias; e, de outro, na relocação de
parte destas nos conjuntos de reassentamento, constituindo o que tem sido denominado por
Corrêa (1998), um processo de “desterritorialização” e “reterritorialização, objetos de análise
do próximo capítulo.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
103
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
104
3 DIALOGANDO COM A POPULÃO LOCAL
s transformações no território do Grande Pirambu nos capítulos anteriores
vêm atingindo direta ou indiretamente a população local e,
conseentemente,formando grupos com realidades e interesses
diferenciados.
As entrevistas feitas em campo mostraram que embora algumas situões vividas
pelas pessoas sejam semelhantes, suas angústias, expectativas e opiniões diferenciam-se umas
das outras, permitindo-nos enquadrar os interlocutores em dois grupos distintos. O primeiro
grupo analisado envolve as pessoas reassentadas, os indenizados e os barraqueiros. São
pessoas atingidas diretamente pelo projeto Costa Oeste, seja através da transferência para o
conjunto de reassentamento, pela indenização ou pela expectativa do recebimento das novas
barracas.O segundo grupo compreende os moradores e os pescadores, os quais foram ou serão
atingidos indiretamente. No que diz respeito aos pescadores, estes aguardam ansiosos a
construção do novo mercado de peixes;e quanto aos moradores, evidencia-se por suas falas,
enquanto interlocutores, expectativa de melhor qualidade de vida.
Nesse intuito, este capítulo encontra-se dividido em dois sub-capítulos. O primeiro
discutirá o processo de desterritorialização e reterritorialização dos reassentados, indenizados
e pescadores. Enquanto o segundo analisará as conquistas e desafios postos pelo Projeto Costa
Oeste aos moradores e pescadores do Grande Pirambu.
Tendo em vista os aspectos apresentados, entendemos que o Grande Pirambu vive
atualmente transformões que condiz com os novos ditames impostas pela atividade turística
desenvolvida em Fortaleza, que começam soprar os ventosdas poticas públicas de turismo
para zona oeste, ao invés de priorizar somente a zona leste como ocorria anteriormente.
Sendo assim, evidenciaremos os conjuntos de reassentamento do Projeto Costa
Oeste, os entraves e/ou embargos do referido projeto, bem como as transformões
propiciadas pelo mesmo no Grande Pirambu.
A
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
105
3.1 Desterritorialização e reterritorialização no Grande Pirambu
Nossa opção em discutir as transformações no território do Grande Pirambu se
inicia ao percebermos os processos de
desterritorialização e reterritorialização desencadeados
pelo programa de reassentamento e indenização do Projeto Costa Oeste. Para analisá-lo
recorremos a entrevistas com as pessoas envolvidas nos referidos processos (reassentados,
indenizados e barraqueiros).
Então, inferimos que as mudanças sociais desencadeadas na área pelo Projeto Costa
Oeste aparece como exigência e como estratégia de consolidação de um novo espaço
litorâneo da cidade, dotada de infra-estrutura adequada (saneamento, coleta de lixo regular e
avenida paisagística) propiciando futuras instalações de lazer e habitação à beira-mar com
vistas, principalmente à dinâmica turística.
Como diz Barel apud Haesbaert (1997, p. 93), o conceito de mudança social deve
ser representado sob a forma de uma dinâmica territorial
,
A mudança social é em parte esta:
a vida e morte dos territórios. A mudança social é vista como um processo de
territorialização, desterritorialização e reterritorialização. A partir dessa ótica de análise,
iniciaremos a discussão das mudanças sociais propiciadas pelo programa de reassentamento e
indenização do Projeto Costa Oeste.
O programa de reassentamento compreende a construção de oito conjuntos
residenciais assim denominados: Cacimba dos Pombos: 114 casas; Seis Companheiros: 183
casas; Graça Aranha: 235 casas; Tomaz Gonzaga: 120 casas; Dona Mendina: 77 casas;
Tropical: 99 casas; Alves de Lima e Tenente Lisboa com respectivamente 308 e 860
unidades de apartamentos distribuídos espacialmente por toda a área de implementação do
projeto, conforme podemos visualizar no mapa 5. No momento, seis conjuntos já foram
entregues, restando apenas os conjuntos Alves de Lima e Tenente Lisboa.
No primeiro momento, o projeto contemplava 2.445 falias, sendo 1.363
reassentados e 1.082 famílias indenizadas (GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ.
SEINFRA..,2001). As a conclusão e entrega de seis conjuntos de reassentamento,
totalizando 828 famílias reassentadas e, estando a avenida com 2 Km
de via concluída, o
programa de reassentamento e indenização foi redefinido sofrendo algumas alterações.
Para onde sopram os ventos: políticas blicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
106
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
107
Dentre as alterões, destacamos a substituição do nome de três conjuntos (Grandes
Curtumes I para Tomaz Gonzaga; Grandes curtumes II para Alves de Lima e Telemar para
Tenente Lisboa), os quais não apresentava nenhuma identidade local com o nome proposto.
A construção de conjuntos dispondo de apartamentos de 44,7 m
2
, com três pavimentos
(Figura 19), ao invés de casas com 37,2 m
2
; e o aumento do número de famílias a serem
reassentadas e indenizadas, as quais passaram respectivamente para 1.996 e 2.905,
beneficiando um total de 4.901 famílias (GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ.
SEINFRA..., 2005).
Figura 19:
Croqui dos apartamentos do Projeto Costa Oeste.
Fonte:
SDLR, 2005.
Salientamos que a sugestão para a verticalização dos conjuntos já havia sido dada
por algumas associações comunitárias da área
14
, por meio do documento intitulado
Propostas ao Documento do Movimento Costa Oestevisando à inserção de todos as
pessoas atingidas pelo Projeto Costa Oeste. Assim, a decisão de verticalização dos próximos
conjuntos a serem construídos visa a atender às famílias do segundo e terceiro trecho do
Projeto Costa Oeste.
Em relão à verticalização dos conjuntos, o Secretário de Infra-Estrutura da SDLR,
declara:
14
As associações comunitárias eram: a Associação dos Barraqueiros da Barra do Ceará, Associação Cultura e
Popular dos Moradores da Barra do Ceará, Associação Desportiva e Cultural das Goiabeiras, Associão dos
Moradores do Novo Lar, Associão dos Moradores da Terra Prometida e Associação de Moradores da Zona da
Praia do Arpoador
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
108
Os dois terrenos são grandes, e como não há mais terrenos na área para
comprar e as pessoas têm que ficar próximo da área que moravam,
optamos pela construção dos apartamentos. E além disso os seis primeiros
conjuntos estão ocupados com as famílias do primeiro trecho e famílias que
apesar de não estarem cadastrada no projeto encontrava-se em área de
risco, e como fazia parte da área não podíamos deixar naquela situação.
Para o Conjunto Alves de Lima, a construtora já foi contratada e as obras
devem iniciar no inicio de 2006. Quanto ao tamanho dos apartamentos
serem maiores que as casas isso deve-se ao fato de que as casas dise de
um quintal, um lote para expansão, e o apartamento o, por isso é maior
(SILVA, 2005, informação verbal).
15
Ressaltamos que o órgão financiador da construção das casas e/ou apartamentos do
Projeto Costa Oeste é a Caixa Econômica Federal, e esta exige que seja feito um melhor
aproveitamento do terreno, para poder alojar mais famílias. Daí, a rápida aceitação do
processo de verticalização dos conjuntos de reassentamento.
No que diz respeito ao aumento nomero de falias beneficiadas pelo projeto
terem passado de 2.445 falias para 4.901, o Secretário de Infra-Estrutura da SDLR declara
que, Em 2004 foi feita uma revisão na contagem das pessoas beneficiadas pelo projeto,
pois como o EIA RIMA era de 1997, muitas famílias tinham aumentado, filhos casaram
formando outras famílias e com isso ocorreu um aumento nomero de famílias
beneficiadas. (SILVA, 2005, informação verbal).
Em relação aos conjuntos de reassentamento entregues o Conjunto Seis
Companheiros, conhecido popularmente por Conjunto dos Pescadores, foi o segundo
conjunto a ser entregue. Ele é o mais próximo à praia, tendo sido reassentados,
especialmente, pessoas possuidoras de algum vínculo com o mar, principalmente os
pescadores.
No entanto, a constatação da venda das casas pelos reassentados neste conjunto é
confirmada por meio do nosso diálogo com o vice-presidente da Associação da Zona de Praia
do Arpoador, José Carvalho de Oliveira, que chama a atenção para o fato de que, das 183
casas entregues no Conjunto Seis Companheiros, as seis meses da data da entrega, já
haviam sido vendidas, em média, 60 casas por parte de famílias que retornam à área de onde
foram reassentadas.
A venda das casas pelos reassentados é uma realidade observada em todos os
conjuntos de reassentamento do Projeto Costa Oeste. Além deste aspecto, existem outros
bastante comuns na vida dos reassentados destes conjuntos. Sendo assim, escolhemos dois
conjuntos para melhor explicitarmos estes acontecimentos o Tropical e o Gra Aranha.
15
Entrevista concedida pelo José Diógenes da Silva, Secretário de Infra-Estrutura da SDLR, novembro de 2005.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
109
Estes conjuntos foram eleitos por detectarmos que os mesmos expressam similitudes com
todos os outros conjuntos entregues, e apresentam declarações muito significativas.
No conjunto Tropical, a venda das casas é amplamente evidenciada. Durante a
pesquisa de campo observou-se a existência de cinco casas com placas de venda; e dos doze
entrevistados no conjunto, quatro admitiram ter comprado a casa de reassentados:
está
com quatro meses que estou morando aqui. Eu comprei a casa por R$ 7.000,00 (sete mil) e
passei o recibo no cartório
(NEIDE, 2005, informação verbal)
16
. Uma reassentada revelou
que na sua rua quase todos os reassentados venderam a casa:
Um bocado já venderam as
casas. Nessa rua só tem cinco casas que não foram vendidas,
(GRAÇA, 2005, informação
verbal)
17
. E um entrevistado chegou a afirmar que já havia comprado do terceiro dono da
casa, conforme explicitaremos na entrevista abaixo.
Comprei por R$ 5.000,00 (cinco mil) e o comprovante eu tirei no cartório.
Foi uma procuração passada para o meu nome. Foi um conhecido meu, eu
tava conversando com o rapaz que era dono daqui, aí eu comprei. Eu tinha
saído da empresa na época e tava com dinheiro. O que eu comprei aqui já
era o terceiro dono, ele já tinha comprado do ex dono daqui. Eu já comprei
do terceiro
(LUCAS, 2005, informação verbal)
18
.
Enquanto isso, no conjunto Graça Aranha, a realidade se repete de forma ainda mais
acentuada. Durante a visita de campo vislumbramos a presença de oito placas de venda. E
das onze entrevistas efetuadas no conjunto, quatro pessoas admitiram ter comprado a casa do
reassentamento,
Eu comprei esta casa. Paguei R$ 4.000,00 (quatro mil). Foi tudo feito no
cartório
(LEILIANE, 2005, informação verbal)
19
. Ainda uma reassentada explica que a
casa em frente a sua já foi vendida três vezes
Aqui quase todo mundo já vendeu as casas.
essa daí da frente já foi vendida três vezes. Tão voltando pro mesmo canto de onde vieram,
para a beira da praia. Se tiver dez pessoas antigas do projeto nessa rua, tem muito"
(SANDRA, 2005, informão verbal)
20
.
Para algumas entrevistadas, a venda das casas pelos reassentados trouxe implicações
positivas para os conjuntos. A senhora Socorro, do Conjunto Tropical afirma,
Eu estou
achando é bom eles venderem, porque muito marginais venderam e foram embora, eles
16
Entrevista concedida por Neide, comerciante do Conjunto Tropical, em outubro de 2005.
17
Entrevista concedida por Graça, reassentada do Conjunto Tropical, em outubro de 2005.
18
Entrevista concedida por Lucas, Conjunto Tropical, em outubro de 2005.
19
Entrevista concedida por Leiliane, Conjunto Graça Aranha, em novembro de 2005.
20
Entrevista concedida por Sandra, reassentada do Conjunto Graça Aranha, em novembro de 2005.
22
Entrevista concedida por Socorro,
reassentada do Conjunto Tropical, em outubro de 2005.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
110
tinham boca de fumo aqui no conjunto e tinha muita zuada à noite
(SOCORRO, 2005,
informão verbal)
21
. E a senhora Sandra do Conjunto Graça Aranha declara,
Ficou melhor
por que aqui no começo tinha muito malandro, aí eles venderam e voltaram para a praia,
por que lá é melhor para eles fazerem as coisas erradas deles
(SANDRA, 2005,
informão verbal).
A comercialização das casas nos conjuntos de reassentamento provoca
questionamentos tanto para as pessoas que adquirem esses imóveis, quanto para os
reassentados que vendem. No caso das pessoas que adquirem esses imóveis, notamos que
não existe preocupão a respeito da legalidade da compra das casas de reassentamento, pois
acreditam numa negociação sem riscos, devido ao documento de compra e venda registrado
no cartório. No entanto, vale salientar que os próprios reassentados não possuem o
documento de proprietário da casa, pois este só seria entregue ao reassentado as cinco anos
de moradia nas casas.
Outro aspecto observado no processo de venda dos imóveis é o fato de que os
compradores das casas de reassentamento provêm de bairros populares do setor oeste de
Fortaleza (Álvaro Weyne, Jardim Iracema, Carlito Pamplona, Jardim Petrópolis e Vila
Velha) eos quais moravam em casa alugada ou de parentes. Tal realidade se explicita nas
palavras que seguem
Hoje eu tenho a minha casa própria, por que antes eu morava nos
fundo da casa da minha mãe
(LEILIANE, 2005, informão verbal).
Para alguns reassentados, a venda das casas de reassentamento tornou-se “meio de
vidapara várias pessoas:
Muita gente aqui vendeu suas casas, teve casa vendida até a prestação, não
deram valor as casas, voltaram tudo para o Pirambu de novo. Outra coisa
errada que eu acho, a pessoa ganha uma casa dessa e vende. Aí depois tão
tudo passando precisão de novo, e se escrevendo para ganhar outra casa
de novo, eu não acho justo isso, ta tirando a oportunidade de outra pessoa
que precisa, que quer ficar realmente morando na casa, aí tira a opção
dessa pessoa. Eu acho que os órgãos deveria ter uma lei justa. Eu tenho
essa casa aqui, se eu vender, eu não tenho mais direito de ganhar outra.
Quem quiser que vá trabalhar para comprar outra. Por que ganha a casa,
vende, vai de novo e vende, virou um meio de vida. Eu não concordo com
isso não
(ROSE, 2005, informão verbal)
22
.
21
Entrevista concedida por Rose, Conjunto Tropical, em outubro de 2005.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
111
As fala da interlocutora acima demonstra a conscientização e revolta desta em
relão à falta de consciência dos reassentados que vendem suas casas, no intuito de
conseguir mais benefícios, ocasionando transtornos tanto para o poder público quanto para as
pessoas realmente necessitadas e que aguardam serem contempladas com uma moradia
digna. Um exemplo disso foi à construção de novos barracos, semanas depois da remoção
dessas famílias do terceiro trecho da Avenida Costa Oeste, ainda no meio dos destroços
(Figura 20).
Figura 20
: Instalação de novos barracos, semanas depois da remoção dos
antigos, Pirambu.
Foto: SANTOS, outubro de 2001.
Ciente desse quadro, o então coordenador do programa de reassentamento e
indenização do Projeto Costa Oeste, arquiteto Pedro Cléber, afirmou ter sido realizado um
levantamento sócio-econômico de casa em casa, e que todas as pessoas reassentadas estão
registradas, e só receberão o título de propriedade das casas as cinco anos residindo nas
mesmas. Dessa forma, quem vendeu a casa na expectativa de receber outra, não terá direito a
um novo beneficio. E quem comprou, utilizando-se somente do recibo de compra e venda no
cartório, terá que procurar a justiça (SANTOS, 2004).
Sobre essa questão, o Secretário de Infra-Estrutura da SDLR, declarou.
Nós não temos como fazer o controle das pessoas que venderam as casas.
Mas s temos o cadastro de todas as pessoas contempladas pelo projeto.
Se a pessoa já estiver sido beneficiada com o reassentamento ou a
indenização, s tentaremos conversar, se não der resultados entraremos
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
112
com uma medida judicial, mas não vamos passar com o trator por cima de
ninguém, isso não existe (SILVA, 2005, informação verbal).
Tal realidade nos permite entender que algumas pessoas beneficiadas pelo programa
de reassentamento vislumbram a casa como um valor de troca e não como o valor de uso,
como já havia sido pensado pelo supracitado programa, que algumas falias vendem a casa
e retornam para a área, com a expectativa de conseguir mais benefícios. Segundo Harvey, o
valor de uso e o valor de troca correspondem, respectivamente, à [...] utilidade de algum
objeto particular e o poder de compra de outros bens que a posse daquele objeto transmite. O
primeiro pode ser chamado valor de usoe o outro valor de troca” (HARVEY, 1980, p.
131).
Além desses propósitos, surgem outros questionamentos relacionados aos problemas
de ordem sócio-econômico das pessoas reassentadas, na medida em que alguns reassentados
vendem as casas utilizando-se de justificativas como a falta de condições financeiras para
custear novas despesas (energia, água, saneamento), as quais anteriormente, na maioria das
vezes, eram adquiridas ilegalmente (gambiara).
O custo de vida aqui é muito alto né, a água daqui é muito caro, e a luz é
muito alto. Muita gente já vendeu a casa por causa dos débitos de água e
de luz, por que aqui é mais caro. A alimentação é difícil, emprego não tem.
A pessoa que já é empregado dá para sobreviver, mas quem não tem
emprego, fica difícil aqui (SÔNIA, 2005, informação verbal)
23
.
No que diz respeito a essa alimentão difícildestacada pela reassentada acima, a
fala de Cristina também do Conjunto Tropical, explicita essa situação, demonstrando que o
processo de reterritorialização propiciou desafios no âmbito da sustentabilidade econômica
dessas famílias, devido o aumento das despesas alimentares
:
Lá as coisas era mais fácil em matéria de comida, por que lá a gente com
R$ 5,00 (cinco reais) fazia o almoço e aqui a gente não faz né. Lá a gente
com R$ 5,00 (cinco reais) ia na bodega, comprava ½ Kl de arroz, ½ Kl de
feijão e um temperozinho e fazia um almoço. E aqui vosó pode comprar
de quilo. Agora não, que tem essa bodeguinha ali né e a mulher ta fazendo
de meio quilo, aí a gente ta podendo comprar, mas logo no começo que ela
o tava aí, a gente tinha que comprar nos mercadinho que só vendia de
quilo (CRISTINA, 2005, informão verbal)
24
.
23
Entrevista concedida por
Sônia,
reassentada do Conjunto Tropical, em outubro de 2005.
24
Entrevista concedida por Cristina, reassentada do Conjunto Tropical, em outubro de 2005.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
113
A fala de Cristina, além de apresentar as dificuldades financeiras dos entrevistados,
demonstra que no processo de reterritorialização vigente nos conjuntos de reassentamento do
Projeto Costa Oeste, os reassentados carregam para os novos territórios as características do
velho território, assim como foi explicitado no conceito de reterritorialização defendido por
Corrêa (1998).
Em relão à escolha do conjunto de reassentamento, as entrevistas feitas em campo
mostraram isto: algumas pessoas não tiveram o direito de escolha, pois estavam em áreas de
risco, conforme esclarece Sônia:
Trouxeram a gente para cá, por que lá era área de risco,
as casas tava para desabar e o local que tinha no momento era esse. Nós não tinha a escolha
da indenização, por que as casas tava caindo, aí a gente não podia esperar né.
E alguns
reassentados haviam escolhido outro conjunto mas não foram atendido, como declarou
Josefina
25
,
Por que colocaram a gente aqui. Eu queria ir para aquele conjunto da Avenida
Leste Oeste
[Conjunto Graça Aranha],
mas disseram que não podia. Quis a casa por que lá
era só um barraco de plástico, aí a indenização era pouca.
Como podemos observar na fala das entrevistadas, a transferência das pessoas para
os conjuntos de reassentamento se dá em alguns momentos, de maneira emergencial,
atendendo a moradores da área de risco; e, talvez em conseência disso, não haja escolha
para as pessoas que já se encontrava inscritas no programa de reassentamento.
Além das situações ressaltadas pelas entrevistadas, destacaremos o preconceito por
parte da vizinhança do conjunto, para com os reassentados, por se tratarem de pobres,
oriundos da praia. Esse quadro de rejeição dos moradores antigos para com a nova
vizinhança é observado no Conjunto Tropical. A fala do senhor Joaquim
26
revela:
O padrão
deles são muito diferente, tanto econômico, como cultural. Essa praça daqui ficou toda
quebrada depois que eles chegaram e a violência aumentou
. E no conjunto Graça Aranha, a
senhora Aparecida desabafa:
Eu odiei essa nova vizinhança. [...] Eu acho que o Governo fez muito mal,
porque o lugar de bandido é bem longe daqui, não é no meio de famílias. E
ele [Governo] colocou um monte de vagabundo, de malandro, tudo quanto
o prestava; ele tirou da beira da praia e trouxe para um local onde só
moram famílias de bem. Olhe, várias pessoas do conjunto já vieram aqui
me pedir para eu arranjar emprego, por que já moro aqui mais tempo,
mas eu nem me atrevo a arranjar, por que a gente o pode confiar nesse
tipo de pessoas
(APARECIDA, 2003, informação verbal)
27
.
25
Entrevista concedida por Josefina, reassentada do Conjunto Tropical, em outubro de 2005.
26
Entrevista concedida por Joaquim, Conjunto Hermes Pereira, em outubro de 2005.
26
Entrevista concedida por Aparecida, vizinhança do Conjunto Graça Aranha, em março de 2003.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
114
Os relatos da vizinhança dos conjuntos de reassentamento demonstram medo e
receio. Sentimentos comuns frente as ondas de violência que se intensificam nas capitais
brasileiras, e que provoca receio em relão à nova vizinhança, conhecida como carente
financeiramente. Isto vem provocando, inclusive, entraves no que diz respeito à absorção da
mão-de-obra desta população, evidenciando que a convivência entre a vizinhança anterior e
os reassentados não se dá de forma passiva, mesmo por se tratarem de diferentes condições
sócio-econômicas, as quais podem ser observadas pela tipologia das casas (Figura 21).
Figura 21
: Habitação da vizinhança do conjunto Tropical.
Foto: SANTOS, novembro de 2002.
No que diz respeito aos reassentados, as declarações que seguem evidenciam como
estes sente esse quadro de rejeição da vizinhança, o que, na realidade, diz respeito à repulsão
da própria sociedade fortalezense em relação ao Pirambu, iniciado desde os anos de 1930,
quando o bairro ficou caracterizado enquanto área ispita da cidade. E ainda como vemos,
as relões sociais estabelecidas, contrapondo claramente os pobres (ditos favelados do
Conjunto Tropical) e a classe média (do Conjunto Hermes Pereira). Ao ser questionada sobre
o preconceito por parte da vizinhança do conjunto, Sônia afirmou:
Teve sim, o pessoal aí desse conjunto Hermes Pereira, ainda hoje tem
preconceito com a gente. Por que eles acha que a gente é pobre né,
favelado, que aqui só tem marginal, acha que a gente é ladrão. Só por que
a gente é pobre. Diz que a gente tirou a paz deles, eles falam assim. Eles
são de classe média e a gente é favelado. Eles lutaram né, chamaram a
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
115
reportagem, os óros da televisão para tirarem a gente daqui, mas não
conseguiram. Aí sempre tem aqueles preconceitos, por que eles querem ser
melhor do que a gente (SÔNIA, 2005, informação verbal).
Ao analisarmos a fala de Sônia, percebemos angústia que esta sente em ver que
algumas pessoas associam a pobreza à falta de caráter, julgando o ser humano pela
quantidade de bens materiais que possuem, não pela sua dignidade.
Ainda relacionado ao preconceito vigente no Conjunto Tropical ressaltamos as
informões obtidas através de um estudo realizado pela comunidade Nossa Senhora de
Fátima localizada na Barra do Ceará, na figura do coordenador do referido estudo, em cuja
oportunidade revelou a existência de uma questão na justiça para a abertura de mais uma rua
(na atualidade existe três ruas de acesso do conjunto Tropical passando pelos outros dois
conjuntos vizinhos: Hermes Pereira e Barra Mar) na qual os moradores do Conjunto Hermes
Pereira não aceitam, tendo inclusive utilizado o espaço do muro como um pequeno santuário
com a imagem de uma santa no local (Figura 22).
Figura 22:
Pequeno santuário no muro que deveria ser aberto para dar
acesso à rua do conjunto Tropical.
Foto: SANTOS, dezembro de 2005.
Sobre esses acontecimentos Rosa declara:
Tem esse muro aí, é uma rua que é pra ser aberta, mas eles não deixam.
Colocaram a imagem de uma santa que é pra não derrubar o muro, que
eles não querem se misturar por que o povo daqui é favelado, preconceito
demais. Os filhos deles podem brincar na pracinha, mas se os daqui passar
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
116
para lá e acontecer alguma coisa, só os daqui fizeram, preconceito não é?
(ROSA, 2005, informão verbal)
28
.
Quanto à permanência desse quadro de rejeição, existe uma diferença entre o
Conjunto Tropical e o Graça Aranha. No Conjunto Tropical, o preconceito se iniciou desde a
chegada dos reassentados e pendura até a atualidade. Nesse conjunto, dos doze entrevistados,
todos afirmaram terem sido alvo de preconceito, ou saber algo a respeito do assunto.
Enquanto no conjunto Graça Aranha, as pessoas dizem não existir mais preconceito,
inclusive dos onze entrevistados apenas um sabia algo a respeito Teve, o pessoal daquela
rua logo no começo chamava a gente de favelado. Mas agora que eles tão mais conscientes,
o têm mais isso não (MARTA, 2005, informação verbal)
29
. Já os demais entrevistados
afirmaram não haver nenhum tipo de preconceito.
Acreditamos que isso ocorre no Conjunto Graça Aranha em decorrência da compra
de imeras casas por pessoas com melhores condições de renda, o que pode ser comprovado
pela presença de um estabelecimento de três pavimentos (Figura 23), pela diminuição das
disparidades sociais entre os moradores da área, conseentemente, melhorando as relões
de convivência, o que de fato não ocorreu no Conjunto Tropical.
Figura 23:
casa de reassentamento (à esquerda); estabelecimento com
três pavimentos no conjunto Graça Aranha (à direita).
Foto: SANTOS, dezembro de 2005.
28
Entrevista concedida por Rosa, Conjunto Tropical em outubro de 2005.
29
Entrevista concedida por Marta, Conjunto Gra Aranha, em novembro de 2005.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
117
O fato de o conjunto Graça Aranha localizar-se na Avenida Leste Oeste despertou
maior interesse dos compradores, principalmente, daqueles que pretendem implantar algum
tipo de comércio, sendo beneficiados pela infra-estrutura viária e pela acessibilidade.
Quanto à infra-estrutura dos Conjuntos Tropical e Gra Aranha, estes dise de
água encanada, energia elétrica, e coleta de lixo regular (três vezes na semana). Entretanto,
no Conjunto Tropical, os reassentados reclamam do calçamento mal feito, da falta de
segurança, da precária iluminação pública e da falta de cabines telefônicas, pois o conjunto
todo só dise de um telefone público.
Além desses aspectos, destacamos as reclamações registradas quando do estudo
realizado pela comunidade Nossa Senhora de Fátima, em cuja oportunidade os reassentados
do Conjunto Tropical reclamaram da falta de creche e de área de lazer; porque, segundo eles,
a praça existente no Conjunto Hermes Pereira não é utilizada pelos reassentados devido o
preconceito. Havendo ainda a falta do Código de Endereçamento Posta (CEP) nas ruas do
conjunto, ficando difícil para os reassentados a realização de compras parceladas em lojas,
tendo em vista que os lojistas não aceitam o endero incompleto; e ainda quando os
moradores conseguem efetuar a compra ocorrem problemas no ato da entrega, ocasionando
imeros transtornos.
Quanto a esta problemática, uma líder comunitária do Conjunto Tropical declarou
para o estudo realizado pela comunidade Nossa Senhora de Fátima, que já havia tentado
solucionar o problema, mas os órgãos responsáveis pelo CEP haviam lhe informado que o
Conjunto Tropical ainda não havia sido dado como concluído e por isso não fora cadastrado.
Já no conjunto Graça Aranha, a senhora Clarice reclama do barulho da fábrica,
localizada vizinha ao conjunto (Figura 24):
Essa fábrica incomoda todo mundo, tem gente
que fica surdo e tem gente que dar coceira na pele. Tem dia que meus ouvidos fica piando,
parece que tem dois apitos dentro, por causa do barulho dessa fábrica
(CLARICE, 2005,
informação verbal
30
), e a senhora Lúcia, do descaso das autoridades para com o terreno
existente no conjunto, que vem sendo utilizado como lixão, além de outros usos salientados
pela reassentada, a seguir:
Eu queria que ajeitasse isso daí [o terreno], por que é só para os
malandros ficarem aí fumando maconha. Uns dizem que vai ser uma
creche, outros dizem uma praça, mas não fizeram nada. Esqueceram
da gente. Lá no Grande Curtume
[Conjunto Tomaz Gonzaga,
30
Entrevista concedida por Clarice, Conjunto Graça Aranha, em novembro de 2005.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
118
informação nossa] fizeram uma creche e uma praça, ta tão bonito e
aqui esqueceram da gente (LÚCIA, 2005, informação verbal)
31
.
Entendemos que as reclamões das interlocutoras devem ser atendidas, pois tratam-
se de problemas de saúde pública e de segurança, inclusive, das crianças que moram nos
conjuntos e não devem presenciar atitudes que possam influenciá-las a tornarem-se futuros
consumidores de drogas.
Figura 24:
Terreno e Fábrica vizinho ao conjunto Graça Aranha.
Foto: SANTOS, dezembro de 2005.
Apesar dos problemas apresentados, alguns reassentados sentem-se beneficiados
com a política de remoção, referindo-se à aquisição da casa como algo positivo, segundo o
que nos foi relatado: Eu estou achando muito bom aqui, por que estamos morando em uma
casa; e lá, na rua seis companheiros, era num barraco(JOANA, 2005, informação
verbal)
32
.
Salientamos que os conjuntos de reassentamento vêm consolidar o processo
desterritorializador e reterritorializador; os quais concentram em seu âmbito a proposta de um
novo espaço de moradia para os reassentados.
Nesse contexto, a habitão e os serviços próximos ao conjunto são os principais
elementos de satisfação e melhoria na qualidade de vida apontados pelos reassentados,
conforme demonstra a declaração da Célia.
31
Entrevista concedida por Lúcia, Conjunto Graça Aranha, em novembro de 2005.
32
Entrevista concedida por Joana, Conjunto Graça Aranha, em novembro de 2005.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
119
Melhorou, por que lá o acesso era muito difícil. Eu sempre trabalhei como
vendedora e tinha que vir lá da beira da praia para cá, até aqui na Avenida
Leste Oeste para pegar ônibus. E aqui ta bem pertinho. Posso dizer que
aqui é cem por cento melhor, tem farmácia, tem colégio, tem tudo perto.
Melhorou em termo de segurança, por que lá era mais perigoso, aqui a
gente liga, vem a polícia mais rápido, questão de ambulância, tudo vem
mais rápido, e lá não, era mais dificultoso para isso
(CÉLIA, 2005,
informação verbal).
33
A dificuldade no atendimento de ambulâncias e viaturas policiais, no Grande
Pirambu, ressaltadas pela interlocutora, está relacionada à dificuldade de acesso a algumas
áreas do bairro, pois atualmente só existem quatro ruas de acesso à praia, além da presença
de becos, ruas sem saídas, o que deverá ser alterado as a conclusão da Avenida Costa
Oeste e a abertura das dezoitos ruas transversais de acesso à mesma.
Quanto à sustentabilidade econômica dessas falias, considerando a questão do
trabalho – entendido como essência do homem como ser social consiste em elemento de
conquista para alguns reassentados; enquanto para outros; provoca entraves e desafios.
Com elementos que expressam essa realidade, a reassentada salienta os benefícios
propiciados pelo processo de reterritorialização, representando uma melhoria econômica
muito significativa para a mesma.
Para mim houve uma melhoria muito grande, porque lá eu trabalhava na
fábrica, mas também tinha as minhas máquinas em casa, e nunca descia
uma pessoa para lá, para me costurar, porque elas tinham medo, e eu não
costurava para o pessoal de lá, porque eles não tinham condições de
pagar. Aqui é diferente, eu tenho minhas clientes, já deixei até de
trabalhar fora, estou costurando só em casa mesmo (REGINA, 2002,
informação verbal)
34
.
Entretanto, o mesmo não ocorreu para outros reassentados (eletricistas, lavadeiras de
roupas e faxineiras) os quais declararam por meio do estudo realizado pela comunidade
Nossa Senhora de Fátima, que onde moravam anteriormente eles já tinham a clientela deles,
todos já conheciam e confiavam nos serviços deles; e agora não, as pessoas da vizinhança
não aceitam o serviço prestado por eles, tornando-se difícil a sustentabilidade econômica de
suas famílias.
Analisando o processo de reassentamento através das entrevistas concedidas,
podemos destacar que embora os conjuntos de reassentamento apresentem problemas e
33
Entrevista concedida por Célia, Conjunto Graça Aranha, em novembro de 2005.
34
Entrevista concedida por Regina, Conjunto Tropical, em março de 2002.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
120
limitões no que se refere à plena satisfão dos seus moradores, estes conseguiram atingir a
finalidade do programa, que era garantir moradia para as pessoas transferidas da área de
intervenção da Avenida Costa Oeste.
No que diz respeito às indenizações, estas incidirão sobre as habitações e as barracas
existentes no Pólo de Lazer da Barra do Ceará, área do referido projeto, somente sobre os
benefícios realizados no terreno, haja vista se encontrarem em terrenos de marinha. Desse
modo, o valor pago pela indenização das casas deverá ser baixo, pois a maioria das casas é
desprovida de equipamentos de construção (auto-construção, casas semi-acabadas, casebres e
barracos), sendo talvez a melhor alternativa para os moradores atingidos pelo Projeto Costa
Oeste aceitar as casas dos conjuntos de reassentamento. Para Marlene, essa realidade não é
bem aceita devido ao tamanho das casas:
A minha casa vai sair com a construção da Avenida Costa Oeste, mas a
gente só escolheu a indenização, porque as casas de reassentamento não
prestam, são muito pequenas e não tem terreno para construir. A nossa
casa não é bem confortável, mas os cômodos são grandes. A gente só
assinou porque s vivemos de comércio, e as casas aqui estão se
acabando, o tem mais ninguém para comprar e está muito perigoso. A
gente assinou e agora tem que esperar até o vir o aviso para a gente
receber o dinheiro e sair
(MARLENE, 2002, informação verbal)
35
.
Entretanto, a então Assistente Social da SDLR, não concorda com as críticas em
relão às casas, e ressalta:
A casa é pequena? Mas elas têm 37,20 m
2
. É uma casa com uma entrada,
uma sala, um quarto, banheiro, cozinha e uma pequena área de serviço,
com pequeno terreno para ampliar. Quero lembrar que em alguns projetos
da potica habitacional que já passaram ao longo desses anos e que foram
falidos, existia a casa chamada embrião, que, a meu ver, e assumo o que
estou dizendo, era indecente, por que era uma sala, uma cozinha e um
banheiro, somente. Esse sim era um projeto de um pé, mas com essa casa,
já avançamos muito, por que, quando comamos esse programa, a casa
tinha apenas 24 m
2
, e hoje trabalhamos com 13m a mais
(
ATA da
Audiência Pública , 2002)
36
.
Embora concordemos com a Assistente Social, ressaltamos que a maioria dessas
famílias é composta por muitas pessoas (filhos, avôs e outros parentes), o que ocasiona
dificuldades nos termos de acomodação das famílias.
35
Entrevista concedida por Marlene, Barra do Ceará, em julho de 2002.
36
Audiência Pública no Planalto das Goiabeiras, em junho de 2002.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
121
Ainda relacionada à escolha da indenizão, ao invés da casa de reassentamento, a
preocupão é quanto ao valor pago, pois este, certamente, será insuficiente para a aquisição
de uma nova casa, podendo surgir novas aglomerões faveladas. A fala da entrevistada a
seguir traduz essa preocupação:
Nós vamos receber R$ 6.700,00 (seis mil e setecentos reais).[...] O pior é
que esse dinheiro o dar para comprar outra casa igual a nossa, pois o
dinheiro é muito pouco, só vai dar para comprar uma casa em outra
favela, e talvez pior do que essa (SANDRA, 2002, informação verbal).
Embora simplificando o processo de desterritorialização das pessoas indenizadas ao
simples fato de perderem o espo de moradia, a declaração acima demonstra bem o dilema
da “moderna desterritorialização(HAESBAERT, 2002), a qual só apresenta como opção
voltar para o mesmo bairro ou migrar para outras áreas da cidade, com iguais ou piores
condições de infra-estrutura básica, não beneficiando em nada a vida dessas pessoas.
A compra de barracos ou casas inacabadas no Grande Pirambu por pessoas
indenizadas pelo Projeto Costa Oeste é uma realidade, conforme destaca Francisca: Eu
recebi R$ 6.500,00 (seis mil e quinhentos reais) e comprei essa daqui. Era um barraco,
melhorei, mais ainda não terminei. (FRANCISCA, 2005, informação verbal).
37
Em relação à mudança do local de trabalho, em virtude do processo de
desterritorialização ocasionado pelas indenizações do Projeto Costa Oeste, o senhor Roberto
(2005, informação verbal)
38
disse não haver problemas: Acho que não, por que para onde
eu for, eu sou pintor. Assim como ele, outros entrevistados não apresentaram problemas,
em virtude de serem trabalhadores volantes, biscateiros.
No que se refere à opinião dos indenizados acerca do Projeto Costa Oeste, dos
quatro indenizados entrevistados três colocaram-se favoráveis, dentre eles, o Marcelo (2005,
informão verbal)
39
: Sou a favor. Para mim foi bom e para a população que mora aqui ta
todo mundo gostando, por que aqui na frente era favela e não tem mais. Vai ser uma avenida
muito boa.
Existem ainda os indenizados com problemas nas negociões das casas, como é o
caso do senhor Carlos (2005, informação verbal)
40
. É o que está explicitado na sua fala,
37
Entrevista concedida por Francisca, Grande Pirambu, em novembro de 2005.
38
Entrevista concedida por Roberto, Grande Pirambu, em novembro de 2005.
39
Entrevista concedida por Marcelo, Grande Pirambu, em novembro de 2005.
40
Entrevista concedida por Carlos, Grande Pirambu, em dezembro de 2005.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
122
quando questionamos sobre como vinham ocorrendo as negociões referentes ao processo
de indenização da sua casa:
Eu rejeitei R$ 11.500,00 (onze mil e quinhentos reais) do Governo. E eles
colocaram na justiça no valor de R$ 8.000,00 (oito mil reais). Deram R$
88.000,00 (oitenta e oito mil reais) nessa casa da serraria aí [casa vizinha],
e lá foi só um pedacinho da Serraria e nisso daqui tudo [casa dele] só R$
8.000,00 (oito mil reais) não pode. Hoje o Governo vem fazer uma outra
proposta, vamos ver. Eu quero é sair daqui logo, por que ficou só eu
(CARLOS, 2005, informão verbal).
Figura 25:
Casa do Senhor Carlos - em fase de negociação pelo Projeto Costa Oeste.
Foto: SANTOS, dezembro de 2005.
Mas não é somente o senhor Carlos que encontra dificuldades em negociar a
indenização de sua casa com a SDLR. A senhora Maria Íris do Nascimento, 56 anos,
participante ativa das associações do bairro, não concorda com o Projeto Costa Oeste, e vem
ocasionando particulares prejuízos para a referida obra, tendo em vista que a sua casa
encontra-se no trajeto da via, tendo interrompido a obra por diversas vezes (Figura 26).
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
123
Figura 26:
Casa no meio do percurso da Avenida Costa Oeste parte de trás (à esquerda); e
parte frontal da casa (à direita)
.
Foto: SANTOS, dezembro de 2005.
Pelo fato de representar até agora a maior resistência frente ao Projeto Costa Oeste,
inclusive, tendo saído em destaque em reportagens jornalísticas, a respeito dos impasses do
Projeto Costa Oeste, gostaríamos de evidenciar suas declarões na íntegra, a fim de
tentarmos compreender os reais motivos dessa resistência.
No que diz respeito à escolha do bairro e o sentimento relacionado ao mesmo, a
entrevistada declara:
Vim para cá por que a gente não tinha condições de morar em outro bairro.
Na época eu vim aqui para estudar, fiquei na casa de parentes, aí depois
s viemos para cá. Eu gosto, por que foi a primeira casa própria que eu
tive né. Quando a gente consegue uma coisa com muito sacrifício, pedra
por pedra, a gente valor. Eu gosto muito de morar perto da praia. E tem
toda aquela conquista, quando a gente chegou aqui não tinha nada, a gente
se reunia, os moradores na calçada, e a gente dizia, como nós vamos fazer?
Não tinha água, nem luz, não tinha nada. Aí a gente foi aos poucos com as
conquistas, os moradores se reunia, tirava a liderança de cada quadra para
lutar por aqueles problemas, aí a gente conseguiu água, luz, escola, creche
e segurança. Aí a agente se apega aqui, a gente gosta daqui.
(NASCIMENTO, 2005, informação verbal)
41
.
De acordo com a declaração acima, evidencia-se a vitória pela conquista da casa
própria e uma forte identidade para com o lugar, devido às lutas comunitárias travadas pela
entrevistada em busca de benefícios para o bairro, caracterizando um sentimento de pertença
ao lugar em que vive.
No que diz respeito à sua opinião sobre o Projeto Costa Oeste, a interlocutora é
incisiva em colocar-se contrária ao projeto:
41
Entrevista concedida por Maria Íris do Nascimento, Grande Pirambu, em dezembro de 2005.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
124
Eu desde o inicio, que eu sou contra esse projeto. Primeiro porque na
época que s chegamos aqui, s moradores das Goiabeiras, a gente
lutava por uma urbanização de praia, uma praia urbanizada com barracas,
seu lazer, com espaço, mas que a natureza corresse livremente,. A gente
pobre sempre pensou nessa urbanização, por que s pobres, a gente não
tinha condições de ir para a praia do Futuro, de ir para a beira mar, por
que a gente de determinados cantos chega na beira mar e fica até inibido
né, por que lá tudo é caro né, até um picolé que voqueira. Então na
época a gente lutava pela urbanização, aí na época veio o Marrocos
Aragão e fez um projeto com todas as lideranças do bairro e todos os
moradores. E esse projeto não ia bulir com s moradores, porque nós
estariamos dentro de um padrão com toda a infra-estrutura né. Ta certo
que aqui existia uma favela muito grande aqui. Agora para o Governo do
Estado dá uma moradia digna para esses moradores precisava tirar daqui?
Inventar esse Projeto Costa Oeste? Então foi o tempo em que eles
inventaram essa Avenida Costa Oeste, e a gente ta vendo aí o desmonte da
Barra do Ceará. Por que o Governo, não fez o projeto inicial? Não
aceitaram o Projeto do Marrocos Aragão, não sei por que, certamente por
que não iria bulir tanto com os pobres, e
o ia dar muita infra-estrutura
para os turistas né. Eu não sou contra os turistas, nem sou contra o
progresso, agora desde que quando venha o progresso, não venha o
progresso selvagem, por que para mim é o progresso selvagem por que não
vai sair só nós que estamos na área, mas todo esse pessoal também, A gente
sabe que a terra é da União, e por que a União não toma as providências?
A gente já mostrou por A mais B que isso daqui ta errado, isso aqui é uma
agressão a natureza, veio professor da UFC [Universidade Federal do
Ceará], o Prof. Jeová para falar do assunto, ele veio falou, fizeram debates,
o Dr. Alessander [Dr. Alessander Wilckson Sales, Procurador da República
Federal] fez todo o processo de embargar e as autoridades até agora não
toma providência. A gente ta tentando uma audiência com a Prefeita, a
gente quer uma audiência com ela, para ver a posição dela, por que é
obrigação dela, por que amanhã ou depois aqui vai ser o maior desastre,
eu estou só esperando as chuvas, por que o serviço é mal feito. Eu me
incomodo por que eu vou sair da minha moradia, não sei se ainda vou sair
né. Deus é quem sabe (NASCIMENTO, 2005, informação verbal).
A fala da senhora Íris deve ser entendida como um desabafo contra as
desigualdades sociais, a inexistência de infra-estrutura e áreas de lazer no bairro em que
reside, e um sentimento de frustração ou revolta, pelo fato do projeto do Arquiteto Marrocos
Aragão, explicitado no capítulo 1, a qual a entrevistada participou ativamente não ter sido
implementado na área.
Desse modo, a entrevistada continua a insistir na sua posição contrária ao Projeto
Costa Oeste, agora por meio de audiências públicas com a Prefeitura de Fortaleza a qual
culminou em mais uma paralisação da obra decretada em dezembro de 2005, em cuja
oportunidade o chefe da fiscalização da SER I, Assis Macêdo, interditou a obra, alegando
irregularidades na documentação exigida e pendências nas indenizações aos moradores.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
125
No que diz respeito à documentão necessária, o Técnico da SER I, Kennedy
Almeida afirmou: Eles não apresentaram, até agora, o alvará da construção, nem a licença
ambiental. Deveriam estar com as obras paralisadas até segunda ordem, mas não foi isso que
encontramos(PREFEITURA,... 2005). Em resposta a esta questão, o engenheiro da
Construtora Engexata, responsável pela obra, declarou que já havia enviado toda a
documentação necessária para a Prefeitura, mas que não tinha obtido nenhuma resposta, e
acrescentou: Por isso nós já estávamos funcionando novamente” (PREFEITURA,... 2005).
Ainda, relacionada à documentação exigida pela Prefeitura, o Secretário de Infra-
Estrutura da SDLR, declarou que,
A Prefeitura havia visitado a área no mês passado e feito um auto de
constatação exigindo alguns documentos: o licenciamento do IBAMA; o
projeto de desvio de trafego; o alvará da Prefeitura e o plano de
gerenciamento que na época de licitação do projeto ainda não existia.
Então a construtora entregou os documentos solicitados, menos o
licenciamento do IBAMA, por que esta questão de qual órgão é o
responsável encontra-se em judíce e nós estamos aguardando a resposta e
o plano de gerenciamento que como já falei na época ainda o existia, e
que só agora esta sendo realizado (SILVA, 2005, informação verbal).
Desde o último embargo, em dezembro de 2005, observamos sucessivas
reportagens jornalísticas e/ou televisivas a respeito do assunto, na qual a população atingida
mostra-se indignada com a situão, fazendo apelos aos órgãos competentes que reiniciem a
construção da Avenida Costa Oeste o quanto antes, devido principalmente à aproximidade do
período de maré alta, em que a população mais sofre com os desabamentos e enchentes de
suas casas à beira-mar.
Quanto às pendências nas indenizões dos moradores, o caso da senhora Íris do
Nascimento veio à tona, tendo a mesma declarado: O valor que estão oferecendo como
indenização para meu imóvel (R$ 29 mil) é bem inferior ao pro em que a propriedade está
avaliada, cerca de R$ 44 mil(FAMILIAS,... 2005). Entretanto, não sabemos ao certo quem
realizou a avaliação da casa da senhora Íris, pois conforme o Secretário de Infra-Estrutura da
SDLR, senhor José Diógenes, A moradora não havia permitido que os técnicos da SDLR
entrassem em sua casa para realizar uma avaliação mais detalhada do seu imóvel(SILVA,
2005, informação verbal).
Ressaltando sobre a avaliação de sua casa, a entrevistada acrescenta:
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
126
Eles vieram me chamaram a primeira vez, a época o valor da minha casa era
R$ 17.000,00 (dezessete mil reais) claro que eu não ia dar né. Eu tentei
explicar para as pessoas do Governo que eu não tava em terreno invadido,
elas disseram que eu era posseira, isso eu não sou, por que a casa quem
invadiu foi o Governo do Estado e me vendeu porque essa casa daqui é do
conjunto construído pelo PROAFA, eu comprei, a casa lá é minha, eu tenho o
documento, eu tenho o contrato do cartório. Aí eu não aceitei o valor. Depois
eles vieram e botaram R$ 21.000,00 (vinte um mil) pela benfeitoria, e eu
disse para eles que eu não tinha plano de sair né, e eu fui não aceitei. Depois
eles reconheceram que o terreno é meu né, por que existe um termo de
comodação lá na COHAB, lá na época que eu assinei o contrato. Aí eles
reconheceram que o terreno é meu, e eles tão pagando R$ 8.500,00 (oito mil
e quinhentos reais), eu acho pouquíssimo por um terreno grande desse né.
Então o valor da minha casa ficou em R$ 29.600,00 (vinte nove mil e
seiscentos reais). Mas para mim não interessa o valor não. Eu tenho que
ficar aqui nessa região, por que é aqui que eu gosto, é aqui que eu mim sinto
bem, é aqui que eu sou feliz né. E eu não encontro uma casa nesse preço
onde eu quero, por que se eu for comprar uma casinha, é preciso eu fazer
toda uma reforma, por que eu tenho uma pessoa deficiente em cima de uma
cama [o irmão da entrevistada], que precisa ficar num lugar ventilado, por
que eu não tenho condições financeiras boas para comprar remédio e nem de
ter um ventilador em cima dele direto. Aí eles disseram que ia colocar na
justiça, no valor de R$ 21.000,00 (vinte um mil). Não ofereceram casa de
reassentamento não, e nem eu queria (NASCIMENTO, 2005, informão
verbal).
A declaração da senhora Íris, acima, mostra claramente que a mesma não tem
nenhuma pretensão de deixar a casa onde mora, embora isso talvez não seja mais possível,
pois no estágio em que se encontra a construção da Avenida Costa Oeste, certamente, a casa
da entrevistada sairá, pois esta já é vista por alguns moradores da área como um empecilho
para o progresso do bairro.
Em março de 2006, uma ação do Governo do Estado resultou na retirada das quatro
famílias que ainda residia no trecho paralisado da obra, ficando apenas a casa da senhora Íris
obstruindo a construção da via. Este fato vem ocasionando angústia nos moradores, que
aguardam ansiosos a conclusão da obra, e acirrando as críticas das pessoas do bairro em
relão à Íris.
Pois, a realidade vivida por algumas pessoas que residiam antes no trecho já
construído da Avenida Costa Oeste, era de convivência com ratos e bichos de pé, vivendo em
barracos improvisados com lonas, papelão, submetidos a epidemias de dengues. Desse modo,
o impacto social que a Avenida Costa Oeste proporcionou a estas pessoas em termos de
moradia e saúde (reassentamento ou indenização) já é válido para concordarmos com a
conclusão da obra.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
127
Quanto aos barraqueiros da Barra do Ceará, estes fazem o atendimento diário dos
freentadores desta praia, sendo a maioria dos bairros mais próximos, embora venha em
menor quantidade pessoas de todos os bairros da cidade, inclusive estrangeiros:
A maioria é dos bairros mais próximos (Goiabeiras, Quintino Cunha,
Colônia, Nova Assunção, Jardim Iracema, Pirambu, Vila Velha, Antonio
Bezerra e Carlito Pamplona), agora ta melhorando, tá vindo gringo, que
antes não vinha, tão vindo só para conhecer mesmo, é que eles querem
conhecer praia nova, só para isso (LEANDRO, 2005, informão verbal)
42
.
Os dias de maior movimento de pessoas nas barracas de praia são durante os finais
de semana e feriados; pois na semana, os freentadores são, Só o pessoal que ta aí parado
[desempregado], sem fazer nada, só para passar o tempo mesmo(LEANDRO, 2005,
informão verbal). No que diz respeito aos
barraqueiros que residem no local de trabalho,
estes terão direito à indenizão e à entrega de uma casa de reassentamento, de acordo com o
que vem sendo realizado: Eu sou uma das barraqueiras que fui indenizada e estou muito
satisfeita. A minha barraca foi indenizada em R$ 8.901,46 (oito mil, novecentos e um reais e
quarenta e seis centavos) e recebi uma casa no Conjunto Tropical (SILVIA, 2002,
informão verbal)
43
.
Entretanto, o mesmo não ocorre com a barraqueira indenizada, que se destaca na
fala, a seguir:
Lá eu tinha uma barraca, mas vim para cá e saí prejudicada, por que lá eu
já tinha minha clientela habituada naquele lugar, e lá eu tinha um ramo
totalmente diferente do que eu tenho aqui, lá era bebida, tira gosto, almoço.
Aqui é diferente [pequeno comércio, informação nossa], é muita
responsabilidade e tanto faz vender ou não mais barato, não tem cliente
certo, tem muito comércio aqui, não dar lucro (ROSA, 2005, informão
verbal).
A insatisfação da indenizada Rosa consiste na mudança de negócio, o qual não vem
atendendo as suas expectativas financeiras, ocasionando um sentimento de frustração.
Outro aspecto bastante evidenciado na visita empírica foi a prática dos barraqueiros
de morar nas barracas. E na oportunidade da nossa visita, dos quinze barraqueiros
entrevistados cinco admitiram morar nas barracas, e alguns que se mostraram constrangidos,
mesmo assim confirmaram com a seguinte declaração:
42
Entrevista concedida por Leandro, garçom do Grande Pirambu, em novembro de 2005.
43
Entrevista concedida por Silvia, barraqueira indenizada do Grande Pirambu, em março de 2002.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
128
A maioria que trabalha aqui mora nas barracas. É pai de família. Por
exemplo o dono daqui mora na barraca, a maioria mora na barraca, a
mulher ali mora na barraca, não tem casa nem nada, se derrubarem a
barraca dela, ela vai para onde
(LEANDRO, 2005, informação verbal).
Embora exista algum barraqueiro que desejam sair da barra do Ceará, este mero é
muito pequeno, segundo as entrevistas: pois, das quinze pessoas entrevistada no local, apenas
uma manifestou essa pretensão: O que eu mais quero mesmo é sair daqui, aqui não dá certo
para criar meus filhos na beira da praia. A gente quer muito melhorar de vida né
(RAFAELA, 2005, informação verbal)
44
. Enquanto os demais manifestaram o desejo de
retornar para o Grande Pirambu, com intuito de exercer sua profissão as a construção das
novas barracas, A gente vai lutar pelos nossos direitos, por que quem é barraqueiro vai
querer continuar sendo barraqueiro, né (ELAINE, 2005, informação verbal).
De acordo com o Secretário de Infra-Estrutura da SDLR, serão construídas 57
barracas ao longo da Avenida Costa Oeste e os critérios para a distribuição das citadas
barracas serão determinados pelos próprios barraqueiros e pela Associação deles. Pois isso, já
foi determinado em uma reunião com eles,
No caso da aquisição das barracas, será feita uma compensação da União,
o Estado faz as barracas e os barraqueiros fazem o pagamento da taxa
para a União, e os que não quiser receber a barraca serão indenizados. A
licitação já esta pronta, estamos só esperando a compensação da União,
sim que a União determinar iniciaremos a obra (SILVA, 2005, informão
verbal).
Entretanto, todos os barraqueiros entrevistados afirmaram que foram informados
apenas que estes critérios irão existir, mas ainda não sabem quais serão os critérios:Não sei.
Critérios a gente sabe que vai ter, sempre nas reuniões eles dizem que vai ter critérios, mas
sobre quais, isso as informações ainda não foram repassadas(ANTONIO, 2005,
informão verbal)
45
. Já uma barraqueira indenizada, apresentou os seguintes critérios:
Sobre as barracas padronizadas serem da gente, houve uma reunião lá na
SEINFRA e eles prometeram que depois de construídas as barracas, elas
iam ficar com os barraqueiros antigos, mas para isso nós tinha que
preencher critérios; por exemplo, tem que estar com a contribuição dada
para a associação dos barraqueiros em dia, com a água e a luz em dia,
tem que ter telefone e cartão de crédito. Quem ficou responsável por isso
44
Entrevista concedida por Rafaela, barraqueira do Grande Pirambu, em novembro de 2005.
45
Entrevista concedida por Antônio, barraqueiro do Grande Pirambu, em novembro de 2005.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
129
foi o presidente da Associação dos Barraqueiros, o Fernando (SILVIA,
2002, informação verbal).
Mas, segundo o Presidente da Associação dos Barraqueiros da Barra do Ceará, os
critérios ainda não foram totalmente definidos:
Os critérios ainda estão em elaboração. A Associação está acompanhando
em parceria com o Setor Social do Estado e o Setor Social da Prefeitura,
após esses critérios estarem prontos, eles serão expostos numa assembléia
geral para os barraqueiros aprovar, após a aprovação dos critérios, aí nós
iremos divulgar para a imprensa e divulgar para a comunidade, para que
fique uma coisa bem aberta, bem limpa, bem transparente, para evitar
dizerem que alguém foi beneficiado em detrimentos de outras pessoas
(LIMA, 2005, informação verbal).
46
A expectativa da permanência dos antigos barraqueiros no Grande Pirambu, as a
conclusão do projeto de urbanização das barracas, foi uma questão preocupante do nosso
trabalho. Desse modo, questionamos sobre a possibilidade de permanência desses
barraqueiros, ao Presidente da Associação dos Barraqueiros da Barra do Ceará, que assim
nos respondeu:
Hoje após o inicio do Projeto Costa Oeste s temos aqui na nossa área 97
barraqueiros e cadastrados perante a associação nós temos 146
barraqueiros, contemplando os que já saíram do local que receberam as
indenizações ou as casas, mas continuam inscritos na Associação, até
mesmo por que nenhum deles foram excluídos desse projeto de urbanização
e nenhum deles estão excluídos, caso possa vir receber uma barraca. Até
por que essas barracas vão ser entregue a Associação e ela em conjunto
com o Estado e a Prefeitura e os próprios barraqueiros, é que vamos
adotar critérios para ser distribuídas essas barracas. Esses critérios serão
criados para evitar que venham lá de fora pessoas que não tiveram contato
com a nossa área, que não seja moradores e barraqueiros locais. As novas
barracas serão para os barraqueiros locais e se sobrar alguma a gente
abre para a comunidade daqui (LIMA, 2005, informação verbal).
Ao entrevistar o Presidente da Associão dos barraqueiros da Barra do Ceará,
pudemos perceber que esta se trata de uma organização forte e de ação solidária entre eles.
Algo comprovado nas palavras da barraqueira quando questionada sobre a participação ou
não da referida associação, diz: Participo. Por que a gente tem que ter alguém para falar
pela a gente né. Por que se a gente não tiver a associação como é que a gente vai chegar até
lá, até as autoridades, aí não pode né, s temos que ter uma associação para dar força,
46
Jose Fernando Pereira Lima é Presidente da Associação dos Barraqueiros da Barra do Ceará e morador do
Grande Pirambu.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
130
para ajudar,
(Maria, 2005, informação verbal)
47
, demonstrando que, caso não sejam
atendidas as necessidades dos barraqueiros, poderá haver forte resistência e pressão por parte
dos mesmos.
No que diz respeito ao número de barraqueiros já indenizados pelo Projeto Costa
Oeste, o Presidente da Associação dos Barraqueiros, José Fernando Ferreira de Lima, afirma:
Já foram indenizados mais de 50 barraqueiros na área. Destas, 25 barracas foram
indenizadas pela Prefeitura e os demais pelo Estado.Pois aqui são dois projetos
(2005,
informão verbal). Mostrando que as fases de negociação com os barraqueiros ainda se
encontram no início.
Em relão à sua opinião sobre o Projeto Costa Oeste, o referido presidente expõe:
Eu não sou contra o Projeto Costa Oeste, é o contrário eu sou totalmente a
favor do Projeto Costa Oeste, desde que não venha prejudicar ninguém.
Esse projeto vai trazer desenvolvimento, vai trazer crescimento para a
nossa área, vai trazer renda e emprego. Nesse local daqui da frente, ali
tinha 58 famílias morando numa situação horrível, no inverno era ruim e
no verão era pior. No inverno tinha as coceiras e as outras doenças e no
verão tinha o bicho de pé, as barracas que tinha aí, era só umas lonas de
plásticos e eu acompanhei o remanejamento dessas famílias para os
conjuntos de reassentamento. Os conjuntos que foram feitos pelo Governo
do Estado, a escolha dos terrenos foi feito por nós, lideranças da área que
fomos até o local, visitamos esses terrenos, assinamos os documentos
aprovando a compra desses terrenos para serem construídos os conjuntos.
Então quem morava na beira da praia com a maré jogando água dentro da
sua casa, hoje ta morando no conjunto Tropical, na Graça Aranha e em
outros conjuntos, ninguém ta morando distante. Existem ajustes no Projeto
Costa Oeste, que é o caso dos equipamentos que esta no projeto, que nós
estamos cobrando, porque tem que ter esses equipamentos e nós estamos
sendo atendidos. Agora ir contra o projeto é demagogia demais
(LIMA,
2005, informação verbal).
A opinião do senhor Jose Fernando Ferreira da Lima, demonstra confiança e
expectativa de melhoria para a área por meio do Projeto Costa Oeste; o que, para ele, já vem
ocorrendo depois do inicio da construção do primeiro trecho:
Melhorou um pouco, até
mesmo na parte de segurança, por que antes aqui tinha local que não dava para passar nem
um policial a pé, hoje já passa motos e viaturas. Antes aqui não tinha nenhum transporte,
agora já tem as topic
(LIMA, 2005, informação verbal).
Enquanto isso, o coordenador de Habitação da SDLR, Mota Cambraia, mostrou com
orgulho o projeto das barracas:
Aqui é o projeto das barracas, este é o Pólo de Lazer da
47
Entrevista concedida por Maria, barraqueiro do Grande Pirambu, em novembro de 2005.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
131
Prefeitura e aqui são as barracas, 19 módulos, cada módulo desse tem três barracas, que
um total de 57 barracas
(CAMBRAIA, 2004, informação verbal)
48
.
Mas, sobre a construção efetiva destas barracas, a senhora Elaine, barraqueira e
secretaria da Associão dos Barraqueiros da Barra do Ceará, diz:
A principio, estamos
aguardando para o próximo ano, por que esse ano agora já foi descartado. Mas, para o
próximo ano, s já sabemos que tem verba para tirar essas barracas e serem construídas as
novas. A gente espera que seja rápido
(ELAINE, 2005, informação verbal).
Figura 27:
As barracas atuais do Pólo de Lazer da Barra do Ceará (à esquerda); O esboço
cartográfico das futuras barracas (à direita).
Foto: SANTOS, novembro de 2005; Seinfra, 2002.
Quando o assunto é a opinião dos barraqueiros sobre o Projeto Costa Oeste, todos
demonstraram-se favoráveis, principalmente quando associam o referido projeto à atividade
turística:
Sou a favor. Quero que termine o quanto antes, pois vai ser muito bom. Com as
barracas novas, vai vir até turista. E vai ter mais segurança
(CÉSAR, 2005, informação
verbal)
49
.
O anseio por mais segurança, destacado pelo barraqueiro César, consiste no elevado
mero de furtos e assaltos ocorridos no final de semana e feriados, afastando os
freentadores da praia. Diante disso, o mesmo declara:
Aqui necessita de polícia, a
segurança é zero. A negrada quebra tudo
(CESAR, 2005, informação verbal).
Uma barraqueira indenizada também faz declarações a respeito da insegurança:
Aqui tem muita marginalidade, prostituição, e eu acho que com a nova avenida vai ter
48
Mota Cambraia, Audiência Pública na SDLR, em maio de 2004.
49
Entrevista concedida por César, barraqueiro do Grande Pirambu, em novembro de 2005.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
132
policiamento, vai vim gente de fora, aí eles vão ter mais cuidado, vai ter mais polícia, que
aqui não tem
(SILVIA, 2002, informação verbal).
O processo de desterritorializão desencadeado no Grande Pirambu, por meio das
indenizações, é vista também, como uma tentativa de reordenamento territorial desse espaço
litorâneo.
Assim, o poder público capacita as zonas de praia do Grande Pirambu com
instrumentos (avenida, coleta de lixo, segurança e barracas novas) capazes de inseri-lo entre
os espaços litorâneos valorizados da cidade turística, impondo a complexidade da
transformação do seu território, através dos processos de desterritorialização e
reterritorialização, os quais são dinamizados através da atuação do Estado enquanto gestor do
território.
O que ora expusemos é um pouco do que o programa de reassentamento e
indenização do Projeto Costa Oeste vem descortinando no Grande Pirambu, no qual as
pessoas, por meio de seus diálogos, notadamente, os reassentados, indenizados e barraqueiros
expressaram o que pensam e esperam deste projeto que de uma forma ou de outra irá mudar
suas vidas.
3.2 Projeto Costa Oeste: conquistas ou desafios?
Os ventos que sopram” as poticas públicas para a zona oeste de Fortaleza são os
mesmos que trazem para a populão do Grande Pirambu conquistas e/ou desafios no âmbito
da sustentabilidade econômica, possibilitadas pelo Projeto Costa Oeste, os quais serão
expressos nos diálogos por s estabelecidos com os moradores e pescadores.
As declarões dos moradores da faixa de praia do Grande Pirambu contemplados
pelo primeiro trecho da Avenida Costa Oeste, mostram-se favoráveis:
Para mim só trouxe
melhoria, antes não tinha caminhão de lixo e transporte, e agora tem. Aqui ficou muito
melhor do que antes, por que tinha muita favela e desse lado já não tem mais, e é ventilado
(ROBERTA, 2005, informação verbal)
50
. As declarações da Roberta mostram um sentimento
de satisfação na conquista de infra-estrutura que anteriormente não havia na área, trazendo
benefícios para a populão em geral.
50
Entrevista concedida por Roberta, moradora do Grande Pirambu, em novembro de 2005.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
133
Entretanto, para a senhora Marília, a implantão da infra-estrutura viária significou
problemas e insatisfão:
Mudou para pior, por que eu não gosto de muita zuada não.
Antes era muito calmo, sossegado. Agora é carro para lá e para cá, os meninos não podem
nem brincar aqui fora. A gente tem medo dos carros pegar eles
(MARILIA, 2005,
informão verbal).
51
As dificuldades destacadas por Marília podem estar relacionados alguns aspectos da
implantação de infra-estrutura viária, a qual, ao mesmo tempo em que possibilita maior
acessibilidade e comodidade, provoca problemas relacionados ao tráfego de veículos e
pedestres.
Mas, quando o assunto são as expectativas relacionadas ao Projeto Costa Oeste, as
opiniões ficam bastante diversificadas, pois alguns moradores acreditam que o Grande
Pirambu será a segunda Beira Mar de Fortaleza, uma comparação feita pelos moradores
locais, entre a Avenida Costa Oeste e a Avenida Beira Mar, algo salientado nas propagandas
televisivas a respeito do Projeto Costa Oeste:
Vai ficar bom demais. Segunda beira mar,
né
(PAULO, 2005, informação verbal)
52
. Já para outros, não existe nenhuma chance de
ocorrer isso com a área em questão:
Uma coisa eu tenho certeza: igual a beira mar como dizem que vai ficar não
fica não. Eu tenho certeza. Por que o fica, o tem condições o. Por
causa de prédios e outras coisas. É impossível ficar igual a Avenida Beira
Mar e se isso acontecer é coisa para cem anos, s não vamos ta vivos para
ver. Eu o sei explicar o por que o. Mas eu não tenho esperanças disso
acontecer não. Com certeza que eu queria. Quem não gostaria de morar na
Avenida Beira Mar
(MARIANA, 2005, informação verbal).
Embora a entrevistada Mariana não acredite na transformação do Grande Pirambu na
segunda beira mar de Fortaleza, as transformões na área do primeiro trecho da Avenida
Costa Oeste já se iniciaram por meio do aumento do fluxo de veículos e pessoas, sobretudo,
nos finais de semana, como podemos observar na figura 28.
51
Entrevista concedida por Marília, moradora do Grande Pirambu, em novembro de 2005.
52
Entrevista concedida por Paulo, morador do Grande Pirambu, em novembro de 2005.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
134
Figura 28:
Fragmentos do primeiro trecho da Avenida Costa Oeste.
Foto: SANTOS, dezembro de 2005.
Estas alterações no primeiro trecho da Avenida Costa Oeste tem provocado, nos
moradores, uma série de debates sobre os possíveis rumos que serão trados para a área,
alguns apostam na requalificação urbana de forma rápida e intensa. É o que podemos
perceber nas declarações dos moradores a seguir:
Vai mudar tudo, vai vir firma comprar
aqui para fazer prédio. Vai melhorar a venda, quando aqui tiver cheio de prédio, vai ser
outra coisa né
(PAULO, 2005, informão verbal). Enquanto outros não sabem mais no
que acreditar, mostrando-se totalmente confusos em relão futuro do Grande Pirambu:
Não
sei não. O pessoal disse que vai ficar valorizado. Mas eu não tenho a mínima idéia do que
irá acontecer
(ALESSANDRA, 2005, informação verbal)
53
.
O diálogo entre os moradores do Grande Pirambu, em torno da construção da
Avenida Costa Oeste e das conseências que está poderá ocasionar, encontra-se presente
nas conversas estabelecidas nas calçadas, na praia, na mesa do bar e nas mercearias. É o
assunto em pauta do momento, e isto se deve, principalmente, às intensas especulões e
notícias que saem freentemente nas reportagens jornalísticas, seja sobre a construção do
referido projeto, sobre embargos ou ainda a respeito de indenizações.
Toda essa onda de especulações em torno do Projeto Costa Oeste provoca, nos
moradores, uma série de expectativas por melhorias associadas ao turismo, ao aumento do
fluxo de pessoas e ao comércio local:
Vai ter turismo, vai ficar um necio mais
53
Entrevista concedida por Alessandra, pescador do Grande Pirambu, em novembro de 2005.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
135
movimentado com iluminação pública, uma praia mais limpa, vai melhorar o comércio, vai
ficar bom
(RICARDO, 2005, informão verbal)
54
.
Desse modo, o Projeto Costa Oeste, propicia grandes sonhos e esperanças,
principalmente, para os que acreditam na geração de emprego e renda associada ao comércio
e ao turismo. No entanto, quando as pessoas afirmam essa expectativa, não discutem que tipo
de trabalho e de que maneira serão incluídas nessa atividade.
Assim, o turismo enquanto atividade econômica e social moderna, poderá absorver a
mão de obra existente no Grande Pirambu. Entretanto, deverá ocorrer uma inclusão marginal,
o que, segundo Martins (1997, p. 26), compreende a “Inclusão daqueles que estão sendo
alcançados pela nova desigualdade social produzida pelas grandes transformões
econômicas e para os quais não há, senão, na sociedade, lugares residuais uma inclusão
precária e instável.
Esse processo de inclusão precária e instável da populão do Grande Pirambu
deverá ocorrer as a conclusão da Avenida Costa Oeste, com a inclusão diferenciada de
seus habitantes na prestação de serviços e trabalhos informais, conforme destaca Vitor:
Para quem tem um pequeno necio como eu vai melhorar muito e quem não tem, pode
vender coco e churrasco na praia, melhorando a renda
(VITOR, 2005, informação
verbal)
55
.
A evocação de um processo de transformão do Grande Pirambu, que se expressa
nas mudanças sócio-espaciais, na instalação de infra-estrutura e novos equipamentos e/ou
serviços urbanos, poderá propiciar vantagens não somente para a população local, mas
também para outros consumidores, propiciando a área para ser oferecida, vendida e
consumida pelos amantes da praia, do mar e do belíssimo pôr do sol vislumbrado no local.
Podemos dizer que este processo já se iniciou com a existência de diversas placas de
venda na avenida, não somente de casas mais simples, mas também de residências com
melhor infra-estrutura e terrenos, o que comprova que estas pessoas estavam apenas
aguardando a valorização imobiliária decorrente da construção do primeiro trecho da
Avenida Costa Oeste para iniciar a comercialização de suas casas (Figura 29).
54
Entrevista concedida por Ricardo, morador do Grande Pirambu, em novembro de 2005.
55
Entrevista concedida por Vitor, morador e comerciante do Grande Pirambu, em novembro de 2005.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
136
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
137
Tal realidade ficou perceptível na fala de Marília:
Estou pedindo R$ 15.000,00
(quinze mil). Já veio várias pessoas atrás, interessada. As pessoas que vão para a praia
passam aqui, olha a casa, mas não compra
(MARÍLIA, 2005, informão verbal), ao
salientar a tentativa de vender sua casa as a construção do primeiro trecho da avenida.
As dificuldades enfrentadas por Marília, para a venda de sua casa estão atreladas,
sobretudo, à existência de esgoto na frente a mesma, o qual propicia mau cheiro,
desestimulando os prováveis compradores que visitam o imóvel.
Concomitante à tentativa de venda das casas no primeiro trecho da Avenida Costa
Oeste por alguns moradores, tem ainda a presença de imeras pessoas procurando casas para
comprar, conforme salienta a entrevistada Mariana:
Com certeza. Todo dia passa gente atrás
de comprar casa. Encosta aqui, aí pergunta se a gente quer vender, se a gente sabe de
alguém que esteja vendendo, assim, procurando mesmo
(MARIANA, 2005, informão
verbal).
56
O diálogo com os moradores do primeiro trecho da Avenida Costa Oeste
demonstraram imeras conquistas propiciadas pela referida Avenida, indicando que, as a
conclusão do projeto, aquelas pessoas que permanecerem poderão dar um novo impulso nas
suas vidas no âmbito econômico (comércio e serviços) e/ou na melhoria da qualidade de vida
ao usufruir os benefícios de morar à beira mar.
No que diz respeito aos pescadores
do Grande Pirambu
,
o Projeto Costa Oeste já
suscita desafios no âmbito da sustentabilidade econômica. Dos dez pescadores entrevistados,
oito disseram sentir-se prejudicados com o trecho construído da Avenida Costa Oeste. Dentre
estes oito, destacamos:
Prejudicou muito. Fizeram a Avenida na beira da praia, aí ta a situação
que ta, o deixou espaço para botar as embarcações. Essas embarcações
antigamente era tudo aqui, agora a gente bota a maior força para colocar
aqui em cima, a maior dificuldade. Ta aqui uma [jangada] que ia se
acabando semana passada, exatamente por causa disso aqui, por que a
gente não pode colocar mais nada aqui
(JOSE, 2005, informação verbal)
57
.
Outra dificuldade imposta pelo projeto Costa Oeste, foi o não cumprimento do
projeto que visava ao aumento do paredão localizado em frente ao porto das jangadas,
segundo o senhor Marcos,
Prejudicou por que não fizeram como deveria, pois era para
56
Entrevista concedida por Mariana, moradora do Grande Pirambu, em novembro de 2005
57
Entrevista concedida por José, pescador do Grande Pirambu, em novembro de 2005.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
138
aumentar o paredão para matar o mar, era para aumentar 100m (cem metros) do paredão,
mas não fizeram
(MARCOS, 2005, informação verbal).
58
A respeito do aumento do quebra-mar em frente ao porto das jangadas (Figura 30), o
Secretário de Infra-Estrutura da SDLR afirma que a recuperão dos dois espigões, um em
frente ao porto das jangadas e outro mais a frente, no local do antigo porto, só não foi feita
ainda, devido ao Ibama, pois já foi feito três pedidos de licenciamento, em agosto de 2003,
agosto de 2004 e agosto de 2005; e ainda estão aguardando resposta, inclusive isso estaria
prejudicando trecho da obra já concluído (expostos anteriormente), pois a construção
daqueles espigões ocorreram na década de 1940 e 1950, e necessitam de recuperação
(aumentando-os) para diminuir o avanço da maré.
Figura 30:
O paredão em frente ao porto das jangadas (à esquerda); as jangadas em cima do
calçadão da Avenida Costa Oeste (à direita)
.
Foto: SANTOS, dezembro de 2005.
Em relação à construção do barrao para os pescadores e do galpão para a
comercializão dos peixes, os pescadores demonstram revolta quanto ao assunto:
Justamente, esse terreno aí era o que ia ser o barracão e o mercado de
peixes, o barracão com os boxes para vender peixe, mas ficou só na
conversa, só na planta, até agora não executaram nada, está lá sendo
aterro de lixo. Até agora ninguém apareceu aqui, tem a planta lá no
Cambeba
[Centro Administrativo do Governo do Estado do Ceará],
mas vir
aqui avisar para a gente o que vai ser feito, quando vai ser feito e como vai
ser feito, isso daí não. O projeto é para fazer o barracão para o pescador
chegar e vender o peixe dele, mas isso daí ficou só na planta
(MARCOS,
2005, informação verbal).
58
Entrevista concedida por Marcos, pescador do Grande Pirambu, em novembro de 2005.
Quebra-mar
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
139
Figura 31:
O local destinado para o galpão dos pescadores ocupado pela CAGECE (à esquerda);
o terreno atrás da CAGECE sendo ocupado por lixo
.
Foto: SANTOS, dezembro de 2005.
Em resposta a este questionamento, o Secretário de Infra-Estrutura da SDLR,
declara que
O barracão e o galpão para a venda dos peixes serão construídos juntos,
estamos só aguardando a concessão da União para iniciar a obra. O local será o terreno ali
em frente ao porto das jangadas
(SILVA, 2005, informação verbal).
Paralelo a isso, o coordenador de Habitação da SDLR, havia mostrado com orgulho
a planta dos equipamentos (Figura 32 e 33) destinados aos pescadores a serem construídos ao
longo da via:
Aqui é o barracão para as embarcões dos pescadores, e aqui é a venda de
peixes e verduras. Aqui mais ampliado, temos o galpão em tamanho maior
e as barracas para a venda de peixes e verduras. Voltando aqui à questão do
galpão e da venda de peixes e verduras já estão viabilizados os recursos
para o plano operativo (PROBLEMAS..., 2004).
Figura 32:
Croqui do galpão dos pescadores.
Fonte:
SDLR, 2005.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
140
Figura 33
: Croqui dos quiosques para venda de peixes.
Fonte:
SDLR, 2005
Por enquanto, o único barracão construído segundo os barraqueiros, foi um proposto
por um membro da MDVGA.
Esse barracão aqui quem fez foi uma moça da associação das Goiabeiras,
ela comprou o material com dinheiro estrangeiro e a gente construiu. Ele
serve pelo menos para ajeitar alguma coisa, fazer algum serviço. Agora eu
vejo, eles tarem falando aí, que eles estão querendo se organizar e fazer o
galo dali, o porto antigo, para fazer algum trabalho debaixo, alguma
coisa (JOSE, 2005, informação verbal).
Figura 34:
O galpão construído pelos pescadores.
Foto: SANTOS, dezembro de 2005.
Apesar dos problemas ocasionados pelo Projeto Costa Oeste, quando perguntamos a
opinião dos pescadores acerca do mesmo, dos dez entrevistados, oito se mostraram
favoráveis ao referido projeto por acreditarem no aumento do comércio de peixes. Dentre
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
141
estes aponta,os:
Sou a favor. Vai melhorar para o pescador por que vai vir mais gente para
cá comprar peixe
(JUNIOR, 2005, informação verbal)
59
.
Outra expectativa dos pescadores em relação ao Projeto Costa Oeste é a inserção
desses profissionais na atividade turística por meio dos passeios de jangadas com os turistas
que visitarão a praia as a conclusão do referido projeto:
Vai ficar filé. Mais carro, mais
turista. Vamos passear com eles no mar
(LEONARDO, 2005, informão verbal)
60
. A
materializão dessas expectativas deverá melhorar a sustentabilidade econômica desses
trabalhadores criando novas alternativas de trabalho e renda.
59
Entrevista concedida por
Junior,
pescador do Grande Pirambu, em novembro de 2005
.
60
Entrevista concedida por Leonardo, pescador do Grande Pirambu, em novembro de 2005.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
142
CONSIDERÕES FINAIS
A última década do século XX mostrou que os ventos sopraramas políticas
públicas em direção à zona oeste de Fortaleza, notadamente, para o Grande Pirambu. O
conjunto de projetos efetivados (Ponte sobre o rio Ceará e Projeto Sanear) e em execução
(Projeto Costa Oeste) colocou em xeque a antiga ação do poder público favorável à zona
leste em detrimento da oeste, mostrando que, na atualidade, todos os espos litorâneos de
Fortaleza são alvo de atenção por parte do poder público.
A intervenção do poder público na área, por meio da implantação de políticas
públicas vinculados à atividade turística (Ponte sobre o rio Ceará e Projeto Costa Oeste)
coincide com as necessidades imposta pela expansão da atividade turística, ávida por novos
espaços litorâneos que atenda aos interesses da reprodução do capital.
Nessa perspectiva, a conclusão da Avenida Costa Oeste visa completar a infra-
estrutura viária, margeando todos os espaços litorâneos da cidade, objetivando a requalificação
urbana da área, e atendendo à necessidade por novos espos de lazer e moradia à beira-mar,
propiciados pelos processos de desterritorialização e reterritorialização do Projeto Costa
Oeste.
O processo de desterritorialização e, conseentemente, de reterritorialização iniciado
no Grande pirambu, deu-se, notadamente, com a transferência das pessoas para os conjuntos
de reassentamentos e/ou pelo processo de indenização, pelo qual as falias se mudaram para
outros bairros da cidade ou permaneceram na área por meio da aquisição de outro imóvel.
Entretanto, salientamos que
as colocações feitas pelos reassentados do Projeto Costa
Oeste (evidenciadas no capítulo 3) demonstraram que o programa de reassentamento
conseguiu atingir, pelo menos para aqueles que optaram pela casa, o objetivo principal de
garantir moradia digna aos reassentados, se comparado com as condições das habitações em
que estes residiam anteriormente.
Por outro lado, detectamos alguns aspectos contraditórios nos conjuntos de
reassentamento. O primeiro é a venda das casas pelos reassentados. Já o segundo diz respeito
à satisfação de alguns reassentados na conquista da casa própria, sentindo-se beneficiados
com o processo de reterritorialização. Embora essas duas realidades presentes nos conjuntos
de reassentamento sejam contraditórias, fazem parte do significado que tem estas casas para
as pessoas. Enquanto para alguns dos reassentados, a casa tem um valor de uso; para outros,
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
143
a casa é um valor de troca, sendo inclusive um dos mecanismos para conseguir algum valor
monetário.
Os pobres não se encontram fora da sociedade capitalista. Pelo contrário, eles se
inserem e utilizam várias formas para sobreviver nela. Como reflexo desse processo, além de
alguns reassentados que utilizaram as casas de reassentamento como valor de troca, outras
pessoas do próprio bairro que não foram contempladas pelo referido projeto e/ou de outras
áreas da cidade, se aproveitam dos espos vazios deixados pelas casas e barracos removidos
pelo programa de reassentamento e indenização do Projeto Costa Oeste, e instalam na
pretensão de conseguir algum beneficio.
As entrevistas com os atores sociais reassentados, indenizados, barraqueiros,
moradores, pescadores e presidente de associações - da área demonstraram a aprovação do
Projeto Costa Oeste pela população local, uma vez que, das setenta entrevistas realizadas,
85,8% dos entrevistados colocaram-se favoráveis ao projeto; enquanto 5,7% se manifestaram
contrárias e 8,5% colocaram-se nem contra, nem a favor e/ou não souberam opinar.
Esse quadro mostra a confiança que estes atores sociais depositam no Projeto Costa
Oeste, enquanto alternativa de melhoria da qualidade de vida,
relacionando-o à política de
emprego e renda. Para estes, o supracitado projeto propiciará o incremento do comércio, o
aumento do fluxo de freentadores das barracas de praia e uma possível turistificação da
área com novos postos de trabalho.
Em face do exposto, concordamos com as expectativas da populão local, pois a
pesquisa empírica evidenciou que somente com o primeiro trecho Avenida Costa Oeste, em
fase de conclusão, já se torna possível constatar o aumento do fluxo de pessoas e veículos no
local, o incremento do comércio e a melhoria na acessibilidade através do transporte coletivo
(
topic
) até então inexistente na área.
Percebemos então, que embora a conclusão da Avenida Costa possa atender às
expectativas da população local, o seu objetivo central se refere à requalificação urbana do
Grande Pirambu e conseentemente a sua inserção na dinâmica turística da cidade.
Mas, além da disputa entre o poder público estadual e municipal, as discussões entre
técnicos, pessoas da comunidade e uma associação comunitária do Grande Pirambu,
contrárias ao Projeto Costa Oeste, chegaram a Procuradoria da República e contribuíram para
viabilizar por diversas vezes a paralisação da obra.
Nessa perspectiva, os elementos facilitadores de tais embargos estão centrados em
dois aspectos:
ambientais e social. Os impactos ambientais negativos (explicitados no
capítulo 1) propiciados pela obra, realmente deverão ter uma melhor avaliação e discussão
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
144
com o poder público, principalmente, por tratar-se de ambiente ecologicamente instáveis e
extremamente frágeis, do ponto de vista morfodinâmico, os quais exigem cuidado especial
no intuito de garantir a sustentabilidade econômica dos pescadores e moradores, assim como
as potencialidades naturais e paisagísticas da área.
Quanto aos aspectos sociais, embora algumas pessoas apresentem resistência para
deixarem suas casas, a pesquisa empírica evidenciou que a maioria da população local se
apresenta favorável à obra. Pois a mesma não aceita mais ser vista como coitadinha”,
necessitada de medidas emergenciais, que surgem a cada ano no período das chuvas ou da
maré alta, quando os barracos da beira da praia são destruídos. Esta população necessita de
uma urbanização efetiva da área e de moradia digna.
Desse modo, o Grande Pirambu torna-se alvo de sucessivas discussões e impasses a
respeito destas políticas públicas propagadas constantemente pela mídia local.
São vários os impasses relativos ao Projeto Costa Oeste, tais como: a discussão de
qual órgão tinha competência para conceder a licença ambiental da obra: a Semace ou o
Ibama?, resultando no seu primeiro embargo. A falta de licenciamento municipal para a
edificação do projeto, acarretando segundo embargo. E a falta da concessão da União,
levando ao terceiro embargo.
Mas, todos estes aspectos fazem parte da disputa política entre Prefeitura e Governo
do Estado, pelo controle da capital cearense. Nesse contexto, o Projeto Costa Oeste vem,
desde a aprovação no Coema (2001), até os dias atuais (fase de conclusão do primeiro
trecho), sendo alvo desse debate. Isto aponta uma disputa pelas políticas públicas voltadas
para os mais nobres recursos naturais da cidade os espaços litorâneos - , envolvendo os
adversários políticos: Partido dos Trabalhadores (PT) e Partido Socialista Democrático
Brasileiro (PSDB).
Com a disputa acentuada, a Prefeitura reclama que o Governo do Estado atua sobre
a competência do Município, com o intuito de avançar eleitoralmente sobre Fortaleza, tendo
em vista que a capital cearense foi o principal sustentáculo do PT no Ceará, pois nas eleições
municipais de 1992, 1996, 2000 e 2004, o PSDB perdeu com enorme desvantagem em
Fortaleza, assim como ocorreu nas eleições estaduais de 1994 e 2002. Já o Governo do
Estado alega a ineficiência e falta de ação por parte da Prefeitura.
O fato é que todos os impasses em torno das políticas públicas destinadas ao litoral
fortalezense vêm atingindo uma das principais atividades econômicas da capital cearense: o
Turismo. Assim, obras associadas à atividade turística como: o
stand
de atendimento ao
turista, implantado pelo Governo do Estado, que teria cerca de 200 metros quadrados, acabou
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
145
resultando em um pequeno stand, devido a não autorização da Prefeitura. O Projeto
Guardiões da Praia que visava à construção de oito torres de vigilância envolvendo o Corpo
de Bombeiros e a Polícia Militar ao longo da Praia do Futuro, só foram concluídas três, face
à ação da Prefeitura, justificada pela ausência de licença para a instalão dos aparelhos.
A não conclusão e/ou conclusão parcial destas obras irão refletir negativamente na
atividade turística desenvolvida na cidade, pois a existência de
stand
bem equipado e
espaçoso para informações e esclarecimentos ao turista é algo indispensável no bom
relacionamento do destino turístico com seus visitantes. Outro requisito é, a instalação de
torres de vigilância na praia mais visitada (Praia do Futuro) pelos turistas em Fortaleza,
facilitando o atendimento em casos de acidentes (afogamento) ou assaltos na faixa de praia.
Assim, como os projetos citados anteriormente, o Projeto Costa Oeste também
encontra-se no cerne dessa disputa desde o início, sendo construído ao longo desses anos por
meio de concessões temporárias da União sobre o território, a fim de que a obra seja
concluída. Mas, na atualidade, a situação encontra-se tão desgastada que o próprio
Governador do Estado, já chegou a declarar nos meios de comunicação que se a Prefeitura
desejasse ficar com o Projeto Costa Oeste, o Estado passaria para a mesma.
Mas, não é só o Turismo, uma das áreas que mais promovem emprego e renda na
capital cearense, que vem sendo prejudicada com essa disputa política partidária. Existe
ainda a população local que depende desta atividade econômica, e mais ainda, aqueles que
residem nas áreas onde estão sendo implementadas as políticas públicas em disputa, no caso
em especial, a populão do Grande Pirambu, em decorrência da implantação do Projeto
Costa Oeste.
Os moradores do Grande Pirambu encontram-se inquietos e angustiados com a
construção da Avenida Costa Oeste, que se arrasta há quatro anos (2002-2006), dividindo a
população, algumas pessoas declarando-se favoráveis e outras contrárias ao referido projeto.
Mas a situação tornou-se insustentável mesmo, as a demolição de três casas que estavam
sob
judíce
devido ao valor da indenização. Um oficial da justiça esteve na área, munido de
uma decisão judicial, desalojando imediatamente as três falias, as quais sem terem para
onde ir, uns alojaram-se na casa de amigos e outras na casa da senhora Íris, líder comunitária
da área já evidenciada no capítulo três.
Desse modo, a população do Grande Pirambu encontra-se em situação bastante
delicada com a paralisão da obra. As pessoas começam a perder as esperanças de uma
efetiva urbanização da área. E o pior: não conseguem realizar atividades diárias, tendo em
vista o acúmulo de materiais de construção em frente às residências, o trecho concluído
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
146
totalmente sem iluminação; e ainda a poeira e as doenças causadas pelo transporte de
sedimentos (areia) para as casas, existentes no trecho em construção.
Assim, sem uma tomada de posição potica-partidária, sugerimos uma intervenção
pra os rumos do Projeto Costa Oeste, por parte do poder público tanto municipal quanto
estadual, respeitando a legislação, e mais ainda, os direitos dos cidadãos. Isso porque o
significado do poder de representão transferido aos poticos por parte dos cidadãos está no
sentido do bem-estar coletivo, da população.
Além do mais, os impasses do Projeto Costa Oeste vem ocasionando prejuízo para
os cofres públicos, pois, inicialmente o gasto com o projeto estava avaliado em R$ 38
miles, o que na atualidade, chega em torno de R$ 60 miles.
Por fim, os caminhos que podemos indicar ao final desta pesquisa é que o Projeto
Costa Oeste representa, para a população do Grande Pirambu, uma alternativa de vida mais
digna e de esperança de um futuro melhor, baseado na geração de emprego e renda que este
poderia lhe proporcionar. Nessa perspectiva, interrogamos: quando chegará o fim dos
impasses do Projeto Costa Oeste? Até quando os interesses políticos partidários estarão
acima dos direitos dos cidadãos? Quando a Avenida Costa Oeste deixará de ser notícia de
jornal para torna-se realidade?
Estes são questionamentos postos para indicar, quem sabe, pesquisas futuras, as a
concretização do projeto em foco.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
147
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Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
155
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Departamento de Geografia
Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia
ENTREVISTA: Moradores da Faixa de Praia do Grande Pirambu
Dados Gerais
a) Data: __/__/__
b) Nome: ______________________________________________________________
c) Local de Nascimento: _________________________ Idade: _____ Anos
d) Sexo: Masculino Feminino
e) Estado Civil: Casado Solteiro Viúvo Outros
f) Número de filhos: ________________ Filhos em idade escolar: ________________
g) Profissão: _______________________
h) Bairro: _____________________________________
i) Tempo de moradia em Fortaleza: ________ Tempo de moradia no bairro: ________
Dados do Domicílio e Infra-Estrutura:
a) A casa:
Própria Alugada Financiada (Se for financiada, por quem?): ______
b) A construção:
COHAB Mutirão Autoconstrução Adquirida construída
c) Tipologia:
Alvenaria Tijolo sem acabamento Taipa Madeira Outros
d) Esgotamento Sanitário:
Esgoto Fossa Séptica Fossa Negra Não tem
e) Abastecimento dágua:
CAGECE Cacimba Cisterna Poço Bomba
f) Lixo:
Coleta da Prefeitura Terreno Baldio Joga na praia Enterra Queima
01 – Por que o senhor veio morar neste bairro? O Senhor(a) gosta de morar aqui? Por quê?
02 - Qual a sua opinião sobre o Projeto Costa Oeste? O Senhor(a) é contra ou a favor do
Projeto Costa Oeste? E por que?
03 – O Senhor(a) acha que ocorreu alguma mudança no bairro as o inicio da construção da
Avenida Costa Oeste? Na sua opinião essas mudanças foram boas ou ruins? Por que?
04 - Ficou mais fácil vender casas aqui do bairro depois do inicio da construção da Avenida
Costa Oeste? O senhor(a) conhece alguém que já vendeu a casa ao longo da via depois do
inicio da construção da Avenida? Surgiu alguém interessado em comprar a casa do Senhor(a)?
05 – O que o Senhor(a) acha que irá acontecer com esta área depois que a Avenida Costa
Oeste for terminada? O Senhor(a) acha isso bom ou ruim? Por que?
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
156
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Departamento de Geografia
Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia
ENTREVISTA: Pescadores do Grande Pirambu
Dados Gerais
a) Data: __/__/__
b) Nome: ______________________________________________________________
c) Local de Nascimento: _________________________ Idade: _____ Anos
d) Sexo: Masculino Feminino
e) Estado Civil: Casado Solteiro Viúvo Outros
f) Número de filhos: ________________ Filhos em idade escolar: ________________
g) Profissão: _______________________
h) Bairro: _____________________________________
i) Tempo de moradia em Fortaleza: ________ Tempo de moradia no bairro: ________
Dados do Domicílio e Infra-Estrutura:
a) A casa:
Própria Alugada Financiada (Se for financiada, por quem?): ______
b) A construção:
COHAB Mutirão Autoconstrução Adquirida construída
c) Tipologia:
Alvenaria Tijolo sem acabamento Taipa Madeira Outros
d) Esgotamento Sanitário:
Esgoto Fossa Séptica Fossa Negra Não tem
e) Abastecimento dágua:
CAGECE Cacimba Cisterna Poço Bomba
f) Lixo:
Coleta da Prefeitura Terreno Baldio Joga na praia Enterra Queima
01 - O Senhor sempre trabalhou como pescador? Se a resposta for não, a quanto tempo o ser
trabalhar como pescador?
02 - Qual a sua opinião sobre o Projeto Costa Oeste? O Senhor é contra ou a favor do Projeto
Costa Oeste? E por que?
03 - O inicio da construção da Avenida Costa Oeste trouxe alguma dificuldade para o senhor
realizar o seu trabalho? Quais foram?
04 - O Senhor acha que vai melhorar ou piorar a situação de vocês (os pescadores) depois da
conclusão da Avenida Costa Oeste? Por que?
05 - O Senhor já ouviu falar da construção do barracão para os pescadores e do galpão para a
venda dos peixes? Qual a sua opinião sobre a construção desses equipamentos?
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
157
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Departamento de Geografia
Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia
ENTREVISTA: Barraqueiros da Faixa de Praia do Grande Pirambu
Dados Gerais
a) Data: __/__/__
b) Nome: ______________________________________________________________
c) Local de Nascimento: _________________________ Idade: _____ Anos
d) Sexo: Masculino Feminino
e) Estado Civil: Casado Solteiro Viúvo Outros
f) Número de filhos: ________________ Filhos em idade escolar: ________________
g) Profissão: _______________________
h) Bairro: _____________________________________
i) Tempo de moradia em Fortaleza: ________ Tempo de moradia no bairro: ________
Dados do Domicílio e Infra-Estrutura:
a) A casa:
Própria Alugada Financiada (Se for financiada, por quem?): ______
b) A construção:
COHAB Mutirão Autoconstrução Adquirida construída
c) Tipologia:
Alvenaria Tijolo sem acabamento Taipa Madeira Outros
d) Esgotamento Sanitário:
Esgoto Fossa Séptica Fossa Negra Não tem
e) Abastecimento dágua:
CAGECE Cacimba Cisterna Poço Bomba
f) Lixo:
Coleta da Prefeitura Terreno Baldio Joga na praia Enterra Queima
01 – Por que o Senhor(a) resolveu ser barraqueiro? Quanto tempo o Senhor trabalha aqui
como Barraqueiro? Essa barraca é própria? Caso não seja própria qual a forma de acesso a
barraca.
02 - Quais os dias de maior movimento aqui na praia? As pessoas que freentam aqui são de
onde?
03 - Qual a sua opinião sobre o Projeto Costa Oeste? O Senhor(a) é contra ou a favor da Av.
Costa Oeste? E por que?
04 - Como estão as negociações sobre a construção das novas barracas? O Senhor terá direito
as novas barracas? Por que?
05– O senhor participa da Associação dos Barraqueiros? Por que?
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
158
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Departamento de Geografia
Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia
ENTREVISTA: Indenizados pelo Projeto Costa Oeste
Dados Gerais
a) Data: __/__/__
b) Nome: ______________________________________________________________
c) Local de Nascimento: _________________________ Idade: _____ Anos
d) Sexo: Masculino Feminino
e) Estado Civil: Casado Solteiro Viúvo Outros
f) Número de filhos: ________________ Filhos em idade escolar: ________________
g) Profissão: _______________________
h) Bairro: _____________________________________
i) Tempo de moradia em Fortaleza: ________ Tempo de moradia no bairro: ________
Dados do Domicílio e Infra-Estrutura:
a) A casa:
Própria Alugada Financiada (Se for financiada, por quem?): ______
b) A construção:
COHAB Mutirão Autoconstrução Adquirida construída
c) Tipologia:
Alvenaria Tijolo sem acabamento Taipa Madeira Outros
d) Esgotamento Sanitário:
Esgoto Fossa Séptica Fossa Negra Não tem
e) Abastecimento dágua:
CAGECE Cacimba Cisterna Poço Bomba
f) Lixo:
Coleta da Prefeitura Terreno Baldio Joga na praia Enterra Queima
01 - Qual a sua opinião sobre o Projeto Costa Oeste? O Senhor(a) é contra ou a favor do
Projeto Costa Oeste? E por que?
02 - Por que o Senhor(a) optou pela a indenização ao invés da casa de reassentamento?
03 – Quanto o Senhor(a) vai receber de indenização? O Senhor(a) já sabe onde vai morar? O
Senhor(a) vai comprar ou alugar outra casa? A onde?
04 – Em relação ao trabalho, a Senhor(a) vai mudar de emprego? Como vai ser?
05 – O senhor(a) gosta de morar aqui? Por quê?
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
159
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Departamento de Geografia
Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia
ENTREVISTA: Reassentados do Projeto Costa Oeste
Dados Gerais
a) Data: __/__/__
b) Nome: ______________________________________________________________
c) Local de Nascimento: _________________________ Idade: _____ Anos
d) Sexo: Masculino Feminino
e) Estado Civil: Casado Solteiro Viúvo Outros
f) Número de filhos: ________________ Filhos em idade escolar: ________________
g) Profissão: _______________________
h) Bairro que morava anteriormente: ____________ Quanto tempo morou lá: _______
i) A casa anterior era: Própria De Parentes Alugada De amigos
j) Nome do conjunto de reassentamento: ______ Tempo de moradia no conjunto: ____
Dados do Domicílio e Infra-Estrutura:
a) A construção do conjunto de reassentamento:
Mutirão Construtora
c) A casa no ato da entrega:
Com acabamento completo Sem acabamento + os itens do
banheiro Sem acabamento e sem os itens do banheiro
d) Esgotamento Sanitário:
Esgoto Fossa Séptica Fossa Negra Não tem
e) Abastecimento dágua:
CAGECE Cacimba Cisterna Poço Bomba
f) Lixo:
Coleta da Prefeitura Terreno Baldio Joga na praia Enterra Queima
01 - Qual a sua opinião sobre o Projeto Costa Oeste? O Senhor(a) é contra ou a favor do
Projeto Costa Oeste? E por que?
02 - Por que o Senhor(a) está morando neste conjunto? Por que o Senhor(a) escolheu a casa
de reassentamento ao invés da indenização?
03 - Quando o Senhor(a) mudou-se para esse conjunto? Quando o Senhor(a) chegou aqui teve
algum problema de preconceito com a vizinhança que já morava aqui antes? Quais?
04 - O Senhor(a) continua trabalhando no mesmo local de antes? Caso não, aonde o Senhor(a)
trabalha atualmente e de quê?
05 - O que melhorou ou piorou para o senhor(a) depois que veio morar aqui? Por quê?
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160
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Departamento de Geografia
Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia
PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DOS BARRAQUEIROS
Data: 15/11/2005
Nome: Jose Fernando Pereira Lima
1. Quantos barraqueiros existem na área atualmente?
2. Quantos barraqueiros já foram indenizados pelo projeto costa oeste?
3. Quantos barraqueiros participam da associação?
4. A Associação tem sede própria?
5. Quais são as ações da associão?
6. Como está a negociação acerca das novas barracas a serem construídas pelo Projeto Costa
Oeste?
7. Quais serão os critérios?
8. Qual a sua opinião sobre o Projeto Costa Oeste? O senhor é contra ou a favor? E por que?
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161
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Departamento de Geografia
Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia
PODER PÚBLICO SDLR
Data: 22/11/2005
Nome: José Diógenes da Silva
Cargo: Secretário de Infra-Estrutura da Secretaria de Desenvolvimento Local e Regional
(SDLR)
1. Quantos metros de via já fora concluída?
2. No projeto anterior seria 1.363 famílias reassentadas e 1.082 indenizadas no total de 2.445.
Por que aumentou para 4.901 omero de pessoas beneficiadas com o projeto?
3. Quantas falias foram indenizadas no total?
4. E destas quantos barraqueiros foram indenizados?
5. Quais serão os critérios para os antigos barraqueiros terem direito as novas barracas?
6. Existe alguma previsão de quando iniciará a construção das novas barracas?
7. Quantas falias foram reassentadas?
8. Por que os próximos conjuntos de reassentamento serão apartamentos e não casas como os
anteriores?
9. Por que o tamanho dos apartamentos serão maiores do que das casas?
10. Existe uma prática nos conjuntos de reassentamento – que é a venda das casas pelos
reassentados. O senhor sabe quantas famílias receberam a casa de reassentamento e depois
venderam?
11. E aqueles que venderam a casa e voltaram para a área, quando a obra chegar no local, o
que será feito?
12. Existe alguma previsão de quando serão construídos o barracão dos pescadores e o
galpão de venda de peixes? Onde serão construídos esses equipamentos?
13. Quando será feito o prolongamento do espigão em frente ao porto das Jangadas?
14.Como estão as questões relacionadas ao embargo da Avenida Costa Oeste?
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162
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163
PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA FEDERAL NO CEA
4ª VARA
Ação Civil Pública – Classe 05000
Autos n° 2002.81.00.015420-2
Autor: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
Réu: ESTADO DO CEARÁ, SUPERINTENDÊNCIA ESTADUAL DO
MEIO AMBIENTE SEMACE E INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO
AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVEIS IBAMA
DECISÃO LIMINAR
Ementa: AMBIENTAL. PROJETO COSTA OESTE.
POSSÍVEIS IRREGULARIDADES NA EXECUÇÃO DA
OBRA E NO LICENCIAMENTO AMBIENTAL.
CONCESSÃO DA LIMINAR.
1. O licenciamento ambiental e a execução da obra
do Projeto Costa Oeste contêm fortes indícios de
irregularidades, como, por exemplo, ausência de
licenciamento ambiental por parte do IBAMA, ausência de
cessão do terreno de marinha ao Estado do Ceará,
utilização de areia da praia na obra, inexecução do plano
de remanejamento e reassentamento das famílias
atingidas pela obra, ausência de pagamento da justa
indenização nas desapropriações, entre outros.
2. O princípio constitucional da necessidade de
prévio estudo de impacto ambiental (art. 225, inc. IV, da
CF/88), a regra constitucional que reconhece os terrenos
de marinha como bens da União (art. 20, inc. VII, da
CF/88), o direito fundamental à moradia (art. 6
o
, da CF/88)
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
164
e da justa e prévia indenização para desapropriação (art.
5
o
, inc. XXIV, da CF/88) e, por fim, o princípio ambiental da
precaução (princípio 15, da Declaração do Rio de Janeiro
de 1992) recomendam a suspensão da obra até que se
regularizem os problemas apontados.
3. Concessão da liminar.
1. Relatório
Cuida-se de ação civil pública em que o Ministério Público
Federal pede medida liminar para paralisar as obras de construção do
programa de Recuperação e Complementação do Sistema Viário Costa
Oeste, realizado pelo Estado do Ceará.
Diz o Ministério Público Federal que a licença ambiental
concedida pela SEMACE é completamente nula, por absoluto vício de
competência. Por essa razão, pede que seja determinada a imediata
obrigação de fazer ao IBAMA, no sentido de assumir o licenciamento
ambiental da obra supracitada, renovando as fases do licenciamento e,
se for o caso, conceder a respectiva licença ambiental.
Alternativamente, requer a imposição ao Estado do Ceará da
obrigação de fazer e de não fazer no sentido de: a) adiar a demolição
das residências previstas no projeto até a completa transferência dos
moradores para suas novas casas; b) não utilizar a areia da praia na
construção da obra; c) repor a areia da praia a fim de evitar a erosão,
entre outras obrigações.
Por fim, vem o Ministério Público Federal (fls. 203/208)
informar a este juízo que a União ainda não realizou a cessão de seus
bens ao Estado do Ceará para a construção do Projeto Costa Oeste.
Informa que o pedido do Estado do Ceará somente foi protocolado na
Gerência do Patrimônio da União no Ceará no último dia 8 de outubro
de 2002, posteriormente, portanto, ao início das obras.
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
165
O IBAMA (fls. 211/214) vem afirmar que, por se tratar de
licenciamento ambiental de obra em terreno de marinha, conforme
reconhecido em vistoria realizada (fls. 215/219), a competência para
emitir o licenciamento ambiental seria realmente sua. Requer, por isso,
sua exclusão do pólo passivo da demanda e sua inclusão no feito na
qualidade de litisconsorte do autor.
Por sua vez, alega o Estado do Ceará (fls. 220/229), em
síntese, que a SEMACE possui competência para conceder o
licenciamento ambiental para a obra em referência, em razão da
competência concorrente que a CF/88 conferiu à União, aos Estados e
ao Distrito Federal para legislar sobre proteção ao meio ambiente e
controle da poluição. Alega, ainda, que a obra está de acordo com o
Estudo de Impacto Ambiental.
Finalmente, a SEMACE (fls. 230/250) defende sua
competência licenciadora e a regularidade da obra, eis que realizada em
atenção ao Estudo de Impacto Ambiental.
É, em síntese, o relatório. Passo a decidir o pedido liminar.
2. Fundamentação e decio
Inicialmente, defiro o pedido do IBAMA de fls. 214,
determinando a sua exclusão do pólo passivo da ação e autorizando o
seu ingresso como litisconsorte ativo, uma vez que ele próprio (IBAMA)
reconhece que é sua a competência para conceder o licenciamento
ambiental no presente caso.
Numa análise preliminar dos argumentos defendidos pelas
partes, observo que há sérios indícios de irregularidades no
licenciamento ambiental do chamado Projeto Costa Oeste e na própria
execução da referida obra.
Primeiramente, conforme constatou o IBAMA (vistoria de
fls. 215/216), a obra se encontra em fase de implementação,
parcialmente situada na zona de berma a menos de 30 metros da zona
de arrebentação, chegando a cerca de 5 metros,
portanto em terras de
Marinha
. Veja-se que o próprio Estado do Ceará reconhece que se
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
166
trata de terreno de marinha, tanto que somente estão sendo pagas, a
título de indenização dos moradores da área, os valores
correspondentes às benfeitorias, excluídos os valores dos terrenos.
Desse modo, tratando-se de área pertencente à União,
com impactos ambientais (positivos e negativos), a competência para
conceder o licenciamento ambiental parece ser do IBAMA (autarquia
federal) e não da SEMACE (autarquia estadual).
Em segundo lugar, conforme ocio da Secretaria do
Patrimônio da União, se a União Federal efetivou a cessão para o
Estado do Ceará, da área em que está sendo construído o projeto de
reurbanização denominado Costa Oeste, no bairro Pirambu, em
Fortaleza, informamos a Vossa Senhoria que
a cessão da referida área
não foi efetivada
” (fls. 209).
Como se vê, o Estado do Ceará deu início a obras em
área pertencente à União sem obter a necessária cessão da respectiva
área, somente vindo a protocolar o pedido de cessão após o início das
obras, o que constitui um sério indício de irregularidade, pois o Estado
do Ceará deveria ter requerido a cessão da área, cujo domínio pertence
à União, com a respectiva cessão da Secretaria do Patrimônio da União.
Além disso, a próprio execução da obra, conforme relatou
o Ministério Público Federal, não estaria observando os termos do
licenciamento concedido pela SEMACE, pois o Estado do Ceará estaria
descumprindo o plano de remanejamento e reassentamento das
comunidades atingidas pela obra.
Acrescente-se a isso o parecer técnico apresentado pelo
Professor Doutor Jeovah Meireles indicando que a obra estaria sendo
realizada em contrariedade aos termos do licenciamento e estudo de
impacto ambiental, ocasionando danos aos moradores do local e ao
ambiente, pois está sendo utilizada área das praias para a construção
das vias (confiram-se as fotos de fls. 147).
Desse modo, considerando os sérios indícios de
irregularidade na obra (plausibilidade da tese jurídica do autor), bem
como a presença do perigo na demora, já que as obras já se iniciaram e
Para onde sopram os ventos: políticas públicas de turismo no Grande Pirambu/Fortaleza/CE
167
estão causando danos ambientais, reconheço a presença dos requisitos
para a concessão da liminar, prestigiando o princípio constitucional da
necessidade de prévio estudo de impacto ambiental (art. 225, inc. IV, da
CF/88), a regra tamm constitucional que reconhece os terrenos da
marinha como bens da União (art. 20, inc. VII, da CF/88), o direito
fundamental à moradia (art. 6
o
, da CF/88) e da justa e prévia
indenização para desapropriação (art. 5
o
, inc. XXIV, da CF/88) e, por
fim, o princípio ambiental da precaução (princípio 15, da Declaração do
Rio de Janeiro de 1992).
3. Dispositivo
3.1. Ante o exposto, CONCEDO A LIMINAR para
determinar (a) a imediata paralisação das obras de construção do
programa de Recuperação e Complementação do sistema Viário Costa
Oeste, realizado pelo Estado do Ceará, em face da possível nulidade da
licença ambiental concedida pela SEMACE e (b) a suspensão dos
efeitos do licenciamento ambiental realizado pela SEMACE para as
obras do projeto em questão.
3.2. Considerando que o próprio IBAMA reconhece que é sua a
competência para conceder o licenciamento da referida obra, já que se
trata de impacto ambiental em terreno de marinha, determino que o
IBAMA assuma o licenciamento ambiental da obra, renovando todas as
fases do procedimento administrativo de licenciamento ambiental e
emitindo, ao final, se for caso, a devida licença ambiental.
3.3. INTIMEM-SE para ciência e cumprimento.
3.4. Na mesma oportunidade, CITEM-SE os réus para,
querendo, apresentar contestação no prazo legal, ocasião em que
deverão dizer, motivadamente, quais provas pretendem produzir ou, do
contrário, requererem o julgamento antecipado da lide. Determino que
os réus, quando da apresentação da peça contestatória, tragam aos
autos todo e qualquer registro que possuam, relativos ao objeto do
presente ligio, com o fim de facilitar o trabalho judicante, sob pena de
preclusão.
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168
3.5. Expedientes necessários.
Fortaleza, 19 de Novembro de 2002.
GEORGE MARMELSTEIN LIMA
Juiz Federal Substituto da 4ª Vara.
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169
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