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A Bahia, segundo A Tarde, já havia começado a tarefa de moralização das
instituições republicanas desde o “governo operoso” de Góes Calmon (1924 a
1928), responsável pelo seu “ressurgimento” e “reintegração” no “concerto da
Federação”, depois de “doze anos de um regime de politicagem vergonhosa” do
período de hegemonia seabrista. Góes Calmon, usando a “inteligência aliada à
cultura e notório senso prático”, teria feito “cumprir o programa, que urgia de
reabilitação moral, econômica e financeira do Estado”.
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Este compromisso com
um “programa de moralidade administrativa”, assumido por Góes Calmon, teria
continuidade, segundo A Tarde, no governo do seu sucessor Vital Soares.
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Representante do Partido Republicano da Bahia e candidato único ao
governo do Estado, Vital Soares foi eleito com mais de noventa mil votos. Este
número, segundo A Tarde, evidenciou de “maneira eloqüentíssima” o desprezo da
Bahia aos “descontentes” com o modo como a sucessão de Góes Calmon foi
“resolvida”. A vitória de Vital Soares, nas eleições de 29 de dezembro de 1927
foi, num primeiro momento, considerada, pelo jornal, como uma grande vitória do
eleitorado baiano, pois poucos estados conseguiram “vitórias iguais à que o
eleitorado baiano registrou”. Raros os que decidiram os próprios embaraços do
momento com a “superioridade de vistas e o alheamento de interesses pessoais,
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A Tarde, 28 mar. 28, p. 1. A partir do governo de Góes Calmon surgiu uma mentalidade empresarial no setor
político e administrativo, advinda da sua experiência anterior como administrador financeiro; além disso,
contribuiu com a expansão do bacharelismo, ampliando a participação dos bacharéis nos quadros
administrativos. Era advogado e, tendo se especializado em Direito Comercial, ocupou o cargo de Fiscal do
Governo Federal junto ao Banco da Bahia, em 1897; foi Diretor-Fiscal do Banco da Lavoura do Estado da
Bahia; presidente do Conselho Administrativo da Caixa Econômica e Monte Socorro Federal da Bahia, em 1911,
e tornou-se diretor do Banco Econômico da Bahia, em 1922. A única experiência política foi como Governador
da Bahia, sendo representante da burguesia comercial-financeira do estado, seu governo voltou-se para os
interesses do comércio de exportação, beneficiando, mais diretamente, o setor de exportação do cacau. Com a
subida de Góes Calmon ao poder, chegava ao fim o período de 12 anos de domínio seabrista, o que era
comemorado por A Tarde e seu proprietário.
39
A Tarde, 25 fev. 28,p.1. Vital Soares era também advogado, foi companheiro de Góes Calmon no Banco
Econômico e no escritório de advocacia. Começou sua carreira política como fervoroso partidário de Rui
Barbosa, sendo eleito Conselheiro Municipal em 1908, ocupando este cargo até 1911; em 1915, foi eleito
deputado federal, mas não foi reconhecido; em 1919, integrou a chapa das oposições coligadas, sendo derrotado.
Esta inexpressiva fase da sua carreira política seria revertida com a ascensão de Góes Calmon ao governo do
estado, alcançando, a partir daí, projeção política. Em 1925, tornou-se senador estadual e líder da maioria; em
1926, renunciou a este mandato para assumir uma vaga na Câmara Federal; em 1927, renunciaria também à
Câmara para candidatar-se ao governo do estado. Eleito, assumiu o Executivo Estadual até 1930, quando, mais
uma vez, renunciaria para candidatar-se à vice presidência da República, compondo a chapa Júlio Prestes.
Embora vencendo as eleições, não chegaria a exercer o cargo em decorrência do “movimento revolucionário de
1930”.