120
vezes são somente o que são e para nós, humanos, isso constitui
um problema, já que enquanto sujeitos, ficamos restritos ao gozo
desses objetos, isto é, nada podemos fazer a respeito, a não ser
gozar deles, não temos como transformá-los em traços
significantes, não temos como imaginarizá-los, não podemos
incluí-los em nenhuma fantasia, nem simbolizá-los, e não
podemos decidir, escolher o lugar que eles ocupam em nossas
vidas. Por isso, quando o objeto aparece tal como ele é, impede
de falar dele. E, se tivermos a habilidade, a inventividade de
representar esse objeto no outro, o outro, como portador desse
objeto, é meramente um suporte, cabide, em que esse objeto está
pendurado. Então ficamos restritos a demandar ao outro
repetidamente, insistentemente, de modo insuportável para o
outro, esse objeto. Por isso digo que quando o objeto aparece
somente como ele é, quando o charuto é somente um charuto,
temos um problema. [...]
O objeto das relações primordiais, ou seja, as fezes, a voz, o
peito, o olhar, como todos sabem, intermedia as negociações
entre mãe e filho no início da vida. Esse objeto primordial, com
toda variedade que pode ter, na posição em que o corpo material
de seu filho é tomado pela mãe, passa a ser objeto na medida em
que lhe falta, quer dizer, se recorta desse contínuo e é
diferenciado do real, e é esse recorte operado pela mãe que, por
retirá-lo como se retira um pedaço de algo, como um recorte que
faz um buraco numa superfície, é aí que ele passa a ser o objeto
que falta nesse buraco. Por isso é a retirada das fezes, que por si
só não são o objeto, por que se o fossem bastaria recolocá-las
em seu lugar, nenhuma mãe guarda na geladeira as fezes de seu
filho para reintegrá-las quando ele o pedir, então esse objeto
desaparece e onde ficou o buraco é que o objeto, pela ausência,
se constitui.
É assim que acontece com o olhar, e o objeto primordial é o
olhar faltante do outro, o objeto não é o peito em si, mas o peito
que falta na boca, e a voz é aquela que falta aos ouvidos. É ali
que o sujeito se pulsionaliza, o que quer dizer que ele passa a
chamar, em seu discurso pulsional, esse objeto que daí saiu.
Passa a chamar a voz, pulsão invocante, passa a chamar pelo
olhar, pulsão escópica, passa a chamar o peito, pulsão oral,
passa a chamar as fezes, pulsão anal, passa a chamar a presença
do outro, pulsão motriz, passa a chamar o saber que aí falta,
enquanto objeto extraído daí, o que Melanie Klein chama de
pulsão epistemofílica. O grande problema no enunciado de M.
Klein é que, para ela, o peito que falta na boca não se constitui
como objeto pela falta dele, mas pela positivação dele no
próprio peito. Isso faz uma diferença importante, já que se o
objeto é aquilo que ali falta − o que se registra nesse circuito que
a pulsão desenha para chamar esse objeto − inevitavelmente
constitui-se nesse movimento a instância desse outro que é quem
deveria escutar esse chamado para trazer o objeto que dali se
ausentou. Imediatamente, na medida em que esse objeto se