PAISAGEM NA NEBLINA
Os sinos da agonia, de Autran Dourado
Claudia Cristina Maia
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menino Jesus eram Melquior, Gaspar e Baltazar. Esses nomes, embora ausentes
da narrativa bíblica, prevaleceram na tradição. Afirma o texto:
Melquior, um homem velho com cabelos brancos e longa barba
ofereceu ouro para o Senhor como a um rei. O segundo, de
nome Gaspar, jovem, imberbe e de pele avermelhada, honrou-o
como Deus com seu presente de incenso, oferenda digna da
divindade. O terceiro, de pele negra e de barba cerrada,
chamado Baltazar, com o seu presente de mirra testemunhou o
Filho do Homem que deveria morrer.
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A citação sugere, ainda, uma possível aproximação dos outros reis
magos, Melquior e Baltazar, com dois personagens do romance, João Diogo e
Januário, respectivamente, que compõem, com Gaspar, uma tríade cujo elo é
Malvina. O velho João Diogo, potentado de Vila Rica, cuja riqueza provinha do
ouro ali encontrado, tinha estreita ligação com o Capitão-General, representante
do rei, e sua morte foi tomada como crime de lesa-majestade. Januário, por sua
vez, é aquele que, desde o início da trama, reconhece a profecia de que “deveria
morrer”. Emblematicamente, os personagens de Autran Dourado, nesse
romance, são recriados, portanto, a partir dessa configuração simbólica,
também da cidade-cenário, a fim de, entre jogos de ser e parecer, simulações e
dissimulações, refletir a ficção em tempos sombrios.
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Cf. YAMAUCHI, E. M. Persia and the Biblie. Grand Rapids, MI: Baker Books, 1996, p. 486-487. O
nome Melquior significa, segundo o autor, “meu rei é luz”; Baltazar deriva, provavelmente, do nome
babilônio dado a Daniel, “Belteshazzar” (Ver Dn 1:7); e Gaspar parece ser um nome derivado do
indiano Gundaphorus. (Ver: SILVA, Airton José da. A visita dos magos. In: Ayrton’s Biblical Page.
Disponível em: <http://airtonjo.com/magos.htm>. Acesso em: 2 fev. 2008).