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ANEXO A
Jornal: Folha de Londrina
Editoria: FOLHA 2
Data: 18/05/2001
Autor: Rodrigo Grota
Pellegrini Premiado
Devastador e polêmico, Domingos Pellegrini é o vencedor do Prêmio Jabuti deste ano com o
romance policial ‘‘O Caso da Chácara Chão’’
Objetivo, seco e direto. Tão árido como a realidade ou simplesmente explosivo como o
cinema humanista de Sam Peckinpah (‘‘Pistoleiros do Entardecer’’, ‘‘Sob o Domínio do
Medo’’). Semi-recluso há quatro anos em sua Chácara Chão, situada na Zona Norte de
Londrina, o escritor Domingos Pellegrini recebe aos 52 anos seu segundo Jabuti. Segundo a
Folha, ele será contemplado com o primeiro lugar na categoria romance. O escritor vai
receber o prêmio amanhã, no Rio de Janeiro, durante o lançamento da 10º Bienal
Internacional do Livro. Ele encara a premiação com muita simplicidade. Sabe que é um
reconhecimento importante a uma obra fundada em variações de um mesmo tema: a guerra
implícita que se trava entre a sociedade organizada e a sua metade desorganizada - ou mal
intencionada, para os mais diretos.
Agraciado com o Jabuti em 1977, por ‘‘O Homem Vermelho’’ – sua primeira obra – o
escritor guarda até hoje o primeiro prêmio já desgastado pelo tempo. ‘‘Meu filho brincava
com ele’’, relembra. Ele não mistifica o Jabuti – oferecido pela Câmara Brasileira do Livro –
sabe de sua importância no mercado editorial nacional mas não o compararia a premiações de
outros países.
O livro que justificou o reconhecimento é ‘‘O Caso da Chácara Chão’’, um romance policial.
Mostra a história de um homem assaltado em sua prórpia chácara, e que, pelas reviravoltas do
destino, acaba sendo o principal acusado. Uma trama clássica, levada ao extremo por Alfred
Hitchcock em ‘‘O Homem Errado’’ (The Wrong Man), apesar de Pellegrini não apontar
nenhuma influência no cinema noir dos anos 50, nem na estilizada literatura policial
americana, leia-se Raymond Chandler e Dashiell Hamett. O autor confessa inspiração na
realidade, onde observa o caos emblematizado em uma polícia corrupta, despreparada, sem o
vigor moral e técnico para executar a vigilância de qualquer sociedade. Uma justiça que
privilegia o infrator, dificultando o prejudicado. Funcionários públicos que se beneficiam com
migalhas. Pessoas de bem que se tornam omissas.
Mas a culpa não se restringe a poucos grupos, garante. O comodismo, sintoma tão comum
quanto aceitável pelo brasileiro médio, resulta na maior catástrofe para um povo: o desapego a
si mesmo. Pellegrini, polêmico no dia-a-dia de sua cidade, não entende por que tantos
desgovernam órgãos públicos, enquanto outros são desgovernados sem evidenciar
preocupação. Uma síndrome de nossa época? Não, a humanidade sempre foi assim, constata.
Ao lado de sua querida cachorra Maga, personagem constante em suas crônicas dominicais
em um jornal local, o autor divide o seu cotidiano em literatura e dedicação à natureza.
Universos distintos mas que se mesclam em um ponto irreconhecível, por consequência
inclassificável. Este ponto, caótico por excelência, é organizado sob o olhar de Pellegrini,
adquirindo a estrutura lógica da literatura que tão bem dimensiona a realidade. Seria então sua
literatura um jornalismo mais aprofundado? Não, ele vê semelhanças nos dois discursos, mas
ressalta a distinção. A realidade inegavelmente é sua matéria-prima, por isto não estende a
reclusão aos limites de John Salinger, Raduan Nassar, José Rubem Fonseca, Dalton Trevisan