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É possível afirmar que o consumo é uma questão que surge com ênfase a partir
do início da modernidade. O consumo, significando uma alteração na ordem simbólica,
começa a se consolidar no século XVII. Vincula-se ao colonialismo, especialmente com
relação aos artigos de luxo, pois estes vinham de longe, e relaciona-se principalmente com a
Revolução Industrial, que no século XVIII introduz a produção em série – o que por sua vez
possibilita que a Inglaterra, berço dessa Revolução, saia na frente dos outros países europeus
na expansão colonial. Nesse contexto, além da conquista de novos mercados, a
industrialização e o consumo chegam trazendo também novas perspectivas para o ser humano.
As cidades crescem próximas às indústrias, a paisagem urbana se modifica e se dinamiza e o
fascínio que a metrópole exerce num primeiro momento é tão forte que ela passa a ser vista
como lugar de realização existencial e valorização das experiências individuais. No romance
Nicholas Nickleby (1839), Charles Dickens descreve cenas urbanas observando as
desigualdades sociais entre as classes e nos dá uma amostra da heterogeneidade cada vez mais
marcante nas grandes cidades, como no trecho em que descreve uma cena que se passa em
Londres no século XIX:
They rattled on through the noisy, bustling, crowded streets of London, now
displaying double rowls of brightly-burning lamps, dotted here and there with the
chemists´ glaring lights, and illuminated besides with the brilliant flood that
streamed from the windows of shops, where sparkling jewellery, silks and velvets of
the richest colours, the most inviting delicacies, and the most sumptuous articles of
luxurious ornament, succeeded each other in rich and glittering profusion. Streams
of people apparently without end poured on and on, jostling each other in the crowd
and hurrying forward, scarcely seeming to notice the riches that surrounded them on
every side; while vehicles of all shapes and makes, mingled up together in one
moving mass like running water, lent their ceaseless roar to swell the noise and
tumult.
As they dashed by the quickly-changing and ever-varying objects, it was curious to
observe in what a strange procession they passed before the eye. Emporiums of
splendid dresses, the materials brought from every quarter of the world; tempting
stores of everything to stimulate and pamper the sated appetite and give new relish
to the oft-repeated feast; vessels of burnished gold and silver, wrought into every
exquisite form of vase, and dish, and goblet; guns, swords, pistols, and patent
engines of destruction; screws and irons for the crooked, clothes for the new-born,
drugs for the sick, coffins for the dead, and churchyards for the buried – all these
jumbled each with the other and flocking side by side, seemed to flit by in motley