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MARCIO POETSCH FERREIRA
A RETÓRICA DO TÍTULO E O POLEMISMO:
O DESAFIO DA CONQUISTA DA ATENÇÃO DO PÚBLICO LEITOR
NO CONTEXTO DA COMUNIDADE BLOGUEIRA
Dissertação apresentada como requisito
para obtenção do título de Mestre em
Comunicação Social, no Programa de Pós-
Graduação em Comunicação Social da
Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul, área de concentração:
Práticas Profissionais e Processos
Sociopolíticos nas Mídias e na
Comunicação das Organizações.
Orientador: Prof. Dr. Jacques Wainberg
Porto Alegre
2009
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
F383r Ferreira, Marcio Poetsch
A retórica do título e o polemismo: o desafio da conquista da
atenção do público leitor no contexto da comunidade blogueira.
/ Marcio Poetsch Ferreira. – Porto Alegre, 2009.
106 f.
Dissertação (Mestrado em Comunicação Social) – Faculdade
de Comunicação Social, PUCRS.
Orientação: Prof. Dr. Jacques Wainberg.
1. Comunicação Social. 2. Blogs. 3. Polemismo.
4. Jornalismo. 5. Discurso. 6. Postagem. 7. Retórica.
I. Wainberg, Jacques. II. Título.
CDD 070.41
Ficha elaborada pela bibliotecária Cíntia Borges Greff CRB 10/1437
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MARCIO POETSCH FERREIRA
A RETÓRICA DO TÍTULO E O POLEMISMO:
O DESAFIO DA CONQUISTA DA ATENÇÃO DO PÚBLICO LEITOR
NO CONTEXTO DA COMUNIDADE BLOGUEIRA
Dissertação apresentada como requisito
para obtenção do título de Mestre em
Comunicação Social, no Programa de Pós-
Graduação em Comunicação Social da
Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul, área de concentração:
Práticas Profissionais e Processos
Sociopolíticos nas Mídias e na
Comunicação das Organizações.
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________
Orientador: Prof. Dr. Jacques Wainberg - PUCRS
________________________________________
Prof. Dr. Juremir Machado da Silva - PUCRS
_________________________________________
Prof. Dr. Jorge Campos - PUCRS
AGRADECIMENTOS
À CAPES, pela bolsa de estudos, pois possibilitou a minha total dedicação
aos meus estudos para alcançar este objetivo.
Ao meu orientador, Prof. Dr. Jacques Wainberg, pelas exaustivas e sempre
bem dispostas orientações. Gostaria de destacar que, quando o escolhi como
professor orientador, não o conhecia. Hoje posso afirmar que sou uma pessoa de
sorte e, se fosse seguir pesquisando no doutorado não hesitaria em tê-lo novamente
como professor orientador. A sintonia foi excelente entre orientando e orientador, a
ponto de ambos possuírem o mesmo ponto de vista sobre diversos assuntos. Este
trabalho retrata o tema do gênero polemismo no jornalismo, e, em uma pesquisa no
Google, pude conferir que estava diante do único professor brasileiro que havia
proposto artigo sobre o tema, além, é claro, dos outros dois pesquisadores que
assinavam o mesmo artigo.
A minha mãe, Martha Poetsch, e a minha irmã, Flávia Poetsch Ferreira, pela
ajuda incondicional, não só durante o período de estudo, mas também em todos os
momentos da vida. Cabe ressaltar que foi a Flávia a principal motivadora da minha
decisão de fazer o mestrado.
Por fim, gostaria de agradecer, em especial, a uma pessoa que muito me
incentivou ao longo dos últimos anos. Porém, foi no término desta jornada de
trabalho que meu mestre e “guru”, Gustavo Adolfo Demarco Valle, finalizou sua
grande empreitada na vida, fazendo com que seus ensinamentos fossem
eternizados.
A todos vocês, muito obrigado!
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Evolução da humanidade ............................................................................ 21
Figura 2: Jornalismo gráfico – imagem do blog marciopoetsch.com ......................... 43
Figura 3: Tragédia em Santo André – Blog do Reinaldo Azevedo ............................. 59
Figura 4: Desenho da pesquisa .................................................................................. 62
Figura 5: Lula e os argentinos – Blog do Noblat ......................................................... 67
Figura 6: Tarso e o You Tube – Blog do Reinaldo Azevedo ...................................... 70
Figura 7: Transatlântico brasileiro – Blog do Josias de Souza ................................... 72
Figura 8: Língua estrangeira – Blog do Reinaldo Azevedo ........................................ 73
Figura 9: Robespierre – Blog do Reinaldo Azevedo ................................................... 77
Figura 10: Pilantragem intelectual – Blog de Reinaldo Azevedo em 10/8/2008 ........ 78
Figura 11: Corvos – Blog do Reinaldo Azevedo ......................................................... 81
Figura 12: Humanismo – Blog do Reinaldo Azevedo ................................................. 82
Figura 13: Safado do ano – Blog do Noblat em 14/8/2008 ......................................... 84
Figura 14: Risco de Politização – Blog do Josias ....................................................... 86
Figura 15: Ajuda humanitária – Blog de Reinaldo Azevedo ....................................... 87
Figura 16: Ufanismo – Blog do Reinaldo Azevedo ..................................................... 89
Figura 17: Avaliação da titulação polemista ............................................................... 94
Figura 18: Avaliação da titulação polemista de Reinaldo Azevedo ............................ 95
Figura 19: Manchetes da Folha – Blog de Reinaldo Azevedo ................................... 96
Figura 20: Avaliação da titulação polemista de Ricardo Noblat ................................. 98
Figura 21: Avaliação da titulação polemista de Josias de Souza ............................... 99
Figura 22: Avaliação da retórica da intransigência ................................................... 100
Figura 23: Avaliação das teses referentes à retórica da intransigência ...................
101
RESUMO
O presente trabalho propõe-se a fazer um estudo das titulações polemistas
nos blogs dos três jornalistas políticos mais lidos do Brasil. Além disso, a proposta é
a da verificação da retórica da intransigência desta mesma amostra. O método
utilizado foi o estudo de caso, através o ranking do Technorati. Entende-se que, em
função de ser uma mídia nova, ainda inexplorada, esta é uma forma peculiar de se
fazer jornalismo, até mesmo em função da fisiologia da internet, pois necessita do
insight/despertar do leitor em um texto menor do que o texto impresso. Assim, as
definições clássicas de jornalismo tornaram-se superadas, pois a neutralidade,
idealizada em outros séculos, dá lugar à editorialização da notícia.
Palavras-chave: blogs, polemismo, jornalismo, discurso, título, postagem,
persuasão, retórica.
ABSTRACT
This paper proposes the study of polemist titles in blogs of the three most
widely read political journalists in Brazil. It is also proposed to verify the rhetoric of the
intransigence at the same sample. Case study was the method proposed through the
Technorati ranking. As a new media, unexplored yet, the blogs seem that they are
just the beginning of a peculiar way of doing journalism, even according to the
Internet physiology, where it is expected the reader awakening in a text smaller than
the text printed. Thus, the traditional definitions of journalism have become
overcome, because the news edition, inside the blogs, took place of the neutrality
idealized in other centuries.
Keywords: blogs, polemism, journalism, speech, title, post, persuasion, rhetoric.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 9
2 O POLEMISMO ........................................................................................................ 13
2.1 O POLEMISTA ...................................................................................................... 13
2.2 O DISCURSO POLÊMICO ................................................................................... 16
3 OS BLOGS............................................................................................................... 20
3.1 A CIBERCULTURA ............................................................................................... 20
3.2 A WEB ................................................................................................................... 22
3.3 A DEFINIÇÃO DE BLOG E A ORIGEM DA BLOGOSFERA................................ 26
3.4 OS BLOGS JORNALÍSTICOS .............................................................................. 28
4 O TÍTULO ................................................................................................................. 35
4.1 A NOTÍCIA X A POSTAGEM .............................................................................. 35
4.2 TÍTULO .................................................................................................................. 38
5 O DISCURSO E A RETÓRICA DA INTRANSIGÊNCIA ......................................... 45
5.1 OS SOFISTAS ...................................................................................................... 45
5.2 A IDEOLOGIA ....................................................................................................... 48
5.3 A RETÓRICA DA INTRANSIGÊNCIA .................................................................. 50
5.3.1 Tese da Perversidade ...................................................................................... 50
5.3.2 Tese da Futilidade ............................................................................................ 52
5.3.3 Tese da Ameaça ............................................................................................... 53
5.4 O DISCURSO E O INSIGHT ................................................................................. 55
5.5 A PERSUASÃO E A SEDUÇÃO ........................................................................... 57
6 METODOLOGIA ....................................................................................................... 61
6.1 OBJETIVOS .......................................................................................................... 61
6.2 MÉTODO DA PESQUISA ..................................................................................... 62
6.2.1 Definição dos Blogs que serão estudados – Estudo de Caso .................... 63
7 ANÁLISE DA PESQUISA ........................................................................................ 66
7.1 ANÁLISE DA TITULAÇÃO POLEMISTA .............................................................. 66
7.2 ANÁLISE DAS TITULAÇÕES QUANTO À RETÓRICA DA INTRANSIGÊNCIA . 86
7.3 RESULTADOS DA PESQUISA ............................................................................ 93
8 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 102
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 104
APÊNDICE A - AVALIAÇÃO DOS TÍTULOS POLEMISTAS ................................. 109
APÊNDICE B - AVALIAÇÃO DA RETÓRICA DA INTRANSIGÊNCIA ................... 111
9
1 INTRODUÇÃO
Vive-se a Era dos Blogs, ou seja, uma era em que as pessoas vivem em
constante interação. Nela ocorre a necessidade de expressão individual do cidadão.
Ele deseja manifestar seus ideais, valores e sentimentos. Por decorrência, torna-se
“autor”.
Também ocorre a busca de informação por parte daqueles providos de uma
necessidade de alcançar benefícios tanto econômicos quanto intelectuais. Através
da inclusão tecnológica, passam a vislumbrar novas oportunidades de renda, pois
em um mundo globalizado, a informação é primordial para a percepção do que é
mais benéfico e vantajoso.
As ações nas bolsas de valores são um dos exemplos desta relação rápida
entre emissão e recepção de informação, para a realização de determinado objetivo
econômico e financeiro. Assim, o acionista examina o mercado de ações em várias
cidades do mundo e, em curto espaço de tempo, compra e vende “papéis”.
Ocorre com os blogs o mesmo fenômeno. O que não é atualizado,
marginalizado está. Para tanto, é necessária a manutenção da informação de
tempos em tempos, para que aquele que a necessita deposite crédito neste meio de
comunicação. Assim, há de se estar conectado durante boa parte do dia.
Com o blog, a notícia está segmentada, isto é, especializada. A fim de
corresponder com eficácia a esta exigência de informações atualizadas, foram
necessárias mudanças na forma de se fazer notícias. Objetividade e concisão são
duas inovações hoje disseminadas não só na mídia impressa como também no
jornalismo online. O blog igualmente adotou tais características.
Um exemplo desta nova relação entre emissor e receptor de notícias foi dado
por um empresário ligado à área de celulose. Davis Feffer, presidente da Suzano
Holding, destacou, durante a abertura do Fórum da Liberdade
1
, realizado no mês de
abril de 2008, em Porto Alegre, a maneira como o cidadão deve estar preparado
nesta, que se denomina ser a geração “y” ou “net”. De acordo com Feffer, a geração,
1
Disponível em: http://www.forumdaliberdade.com.br. Acessado em 7/4/2008.
10
criada no mundo digital, necessita estar conectada à web durante várias horas do
dia, pois a informação é hoje fonte vital para a pertença de um indivíduo à sociedade
global. É a geração que não se amedronta com a hierarquia de cargos, colocando-
se intelectualmente em um patamar acima do tradicional relacionamento entre
patrões e empregados. Trata-se de uma geração nômade que, baseada em sua
grande capacidade intelectual, migra, conforme seus ideais, não se prendendo a
trabalhos/cargos considerados “estagnados”.
Esta descrição ajuda a precisar a definição do objetivo desta pesquisa, que é
a de destacar a maneira através da qual os blogueiros cativam o receptor,
construindo títulos de tal forma que estimulem a leitura do restante da postagem.
Como destacado anteriormente, a alta rotatividade das postagens e a
velocidade da produção da informação é característica deste mundo
conectado/globalizado. Assim, uma notícia relevante às 17 horas da tarde de uma
quinta-feira será lida por um leitor de um blog às 20 horas, por exemplo. O fato é
que, durante estas três horas, outras notícias tiveram de ser postadas no blog pelo
jornalista/blogueiro, pois é o caráter de velocidade que torna o blog dinâmico, caso
contrário, não terá credibilidade.
Tem-se aí um problema. Como lidar com o rápido envelhecimento das
notícias em um blog?
A criatividade do jornalista/blogueiro deve entrar em ação. Aqui entra o fator
geração “y”: a busca pelo que é novo e o algo a mais que o jornalista/blogueiro terá
de inventar no título da postagem, a fim de despertar a atenção do leitor, no que se
refere à mensagem em questão. Utiliza-se, pois, o discurso polemista. Neste estudo,
este gênero, utilizado na titulação das postagens de um blog, será descrito e
considerado. Além disso, será realizado também outro estudo visando a classificar
os títulos de acordo com o que propõe a retórica da intransigência, como exposto no
capítulo 7.
O gênero jornalístico polemista se destaca principalmente na área política,
tanto no Brasil como no resto do mundo. Desta forma, partindo de relações extremas
de simpatia e de antipatia por ideologias e também por partidos políticos, o polemista
11
se posiciona, sempre destacando seu ponto de vista que, na grande maioria dos
casos, choca-se com princípios preconcebidos da sociedade em geral.
Para que os objetivos desta pesquisa sejam alcançados, organiza-se o
trabalho da seguinte forma:
O capítulo 2 trata do polemismo. A primeira parte apresenta uma definição
sobre o personagem do discurso polêmico, ou seja, o polemista. Na segunda, são
apresentadas as características do discurso polêmico.
O capítulo 3 trata dos blogs. O primeiro sub-capítulo apresenta uma
conceituação de cibercultura, comparada a outros tempos. No segundo, são
destacadas as características da web, tais como: não linearidade, fisiologia,
instantaneidade, dirigibilidade, qualificação, custos de produção e de veiculação,
interatividade, pessoalidade, acessibilidade e receptor ativo. É salientada também a
definição de web 2.0. No terceiro sub-capítulo, é explicitada a definição de blog,
além de ser contextualizada a origem da blogosfera. Nessa seção, contrasta-se a
definição de blog de diversos autores. Na quarta e última parte desse capítulo, é
apresentada a história de como se formaram os blogs jornalísticos, exemplificados
com casos notórios recentes.
O capítulo 4 destaca os títulos. A primeira parte do capítulo contrasta a notícia
e a postagem em um blog. A segunda apresenta as distintas definições para o título
e, é, nessa seção, que se encontram explicitados todos os princípios que definem o
que é um título polemista.
O capítulo 5 é referente ao discurso e à retórica da intransigência. Nele há
cinco divisões: os sofistas, a ideologia, a retórica da intransigência, o discurso e o
insight e a persuasão e a sedução. A primeira parte faz uma breve introdução da
história da retórica, desde seu surgimento na Grécia antiga. Após, são destacados
os valores ideológicos que sempre motivaram o discurso ao longo da história, tal
qual o “culto” ao discurso sobre os protagonistas. Na terceira parte, é explicitado o
conceito de retórica da intransigência, definido por Albert Hirschman (1992). Logo
após, são destacadas as definições de tese da perversidade, da tese da futilidade e
da tese da ameaça. O discurso e o insight são apresentadas na quarta parte desse
capítulo. São destacadas, sobretudo, as definições de Charaudeau e de
12
Maingueneau. Na quinta parte desse capítulo, são caracterizadas as definições de
persuasão de sedução. Trata-se de um conceito proveniente da publicidade, mas
que pode ser remetido ao jornalismo dos tempos atuais.
No capítulo 6, é destacada a metodologia deste trabalho.
O capítulo 7 apresenta a análise dos títulos nos blogs, de acordo com as
propriedades da titulação polemista e da retórica da intransigência. Por fim, na última
parte, são mostrados os resultados desta pesquisa.
O capítulo 8 apresenta a conclusão deste estudo.
13
2 O POLEMISMO
Nesta seção, aborda-se o tema polemismo: o polemista e o seu tipo de
discurso. Trata-se da apresentação da personalidade do cidadão que vislumbra,
neste gênero jornalístico, a oportunidade de fazer valer o seu insight, ou seja,
propagar tudo aquilo que a sociedade em geral visualiza como impróprio. Seu
desejo é quebrar tabus, questionar o até então inquestionável. Este capítulo também
apresenta as barreiras que o polemista tem de enfrentar, pois se encontra situado à
margem de uma sociedade. Assim, ele procura enxergar de fora os fatos cotidianos,
abstraindo-se de valores e de vícios pertinentes de uma sociedade
estável/tradicional, para uma eterna busca de novos valores que poderão tornar-se
legítimos no futuro.
2.1 O POLEMISTA
O status-quo é uma denominação que remete ao “estado atual das coisas”.
Nessa situação, não se vislumbra nem se almeja mudanças de qualquer ordem. O
oposto disto é a inquietação. Esta semeia novos horizontes, novos riscos e
principalmente conflitos. Ao chocarem-se, estes pólos conservadores e inquietos
tornam-se rivais/divergentes. Enquanto um anseia pela manutenção da situação
atual, o outro busca o que não se tem. Há, então, uma queda de braços entre o
imediatismo (e o medo de perder o que já foi adquirido) e o reformista (e seu espírito
de aventura). Conforme Wainberg et al. (2002), “o polemista é um ser sui generis,
ou seja, é aquela pessoa que deseja estar onde todas as outras se recusam,
ficando, portanto, à margem do dito ‘senso comum’”.
Desta forma, jornalistas conservadores não acolhem o jornalista polemista,
pois são avessos à sua crítica voraz e impertinente. Consideram-no um
aproveitador, um ser paradoxal e marginal.
14
Assim, o pólo conservador sente-se lesado com as revoluções idealizadas por
seus colegas considerados “utópicos” e passa a enxergar os mesmos como
“vedetes” da profissão ou até mesmo profissionais frustrados.
O fato é que a história mostra que o surgimento deste gênero jornalístico foi
intensamente praticado no século XX. Ele se desenvolveu através da luta pelo
poder, ou seja, por ação de imprensa partidária e militante que migrava em direção
contrária à ética estabelecida por aqueles considerados meros “reprodutores da
notícia”.
Na história do jornalismo sempre foi possível distinguir este segmento da
contracultura, vocacionado ao underground, ou de oposição política, na qual
se confunde a informação com a propaganda. A imprensa polemista vive
destes embates, mas seu público é sectário sempre. Cabe recordar a
experiência da imprensa partidária da República de Weimar. Os jornalistas
tornaram-se, neste curto e trágico período, mais militantes de partidos
políticos em luta pelo poder e menos, muito menos, agentes do
esclarecimento público (WAINBERG et al., 2002)
Este confronto entre o tradicional e o novo já tinha aparecido na imprensa
brasileira em 1808. Segundo Petrik (2006), foi devido a esse intuito de novidade que
a primeira publicação nacional, a ser editada por Hipólito José da Costa, foi impedida
de circular no país. A seu tempo e naquele contexto, Hipólito era um polemista.
Pode-se dizer, dessa forma, que o polemista é um autor que se auto-recicla
regularmente. Em outras palavras, Wainberg et al. (2002) destacam que o polemista
é um inovador que junta peças diversas e acaba por criar um novo ser. Outra
característica peculiar é que este nunca reconhece seu erro, pois, se assim o faz,
perde a referência de “profeta”, de senhor da razão e de revolucionário.
Como afirmam Wainberg et al. (2002), em função do polemista, e, como
conseqüência à polêmica, as crenças são desafiadas. Os autores sugerem também
que não é a presença do polemista que determina o caráter polêmico de
determinado tema, mas, sim, a função de romper com o trivial, já que o polemista é
anterior à polêmica. Dito de outro modo, a função do polemista é a de surpreender a
guarda, pegar o inimigo desprevenido.
15
Para que essa “guarda” possa ser surpreendida, este tem de se visualizar
como um “semi-deus”. Quando redige uma matéria ou emite uma opinião, não
pondera sobre outros pontos de vista.
A controvérsia é raramente bem vinda ao ambiente jornalístico. O polemista
rejeita o corporativismo. Um exemplo desse tipo de comportamento é o fato de a
imprensa não ter citado, em 2006, o nome do assessor de imprensa do então
ministro da Fazenda, Antônio Palocci, que havia quebrado o sigilo bancário do
caseiro e opositor ao então ministro. Prevaleceu a cultura de preservar colegas de
profissão. O nome acabou revelado pelo polemista Diogo Mainardi em sua coluna
semanal da revista Veja
2
.
No Brasil, percebe-se a intervenção de um polemista, em especial, quando
ocorrem disputas entre dois grupos divergentes. Os “PTelhos” e “tucanalhas” são
exemplos destes grupos. Foram assim denominados na blogosfera. Nesse tipo de
confronto, o importante não é a busca de soluções, mas, sim, da disputa. Acusa-se o
rival, antes de tudo, enaltecendo a si mesmo como o visionário do além.
É através deste tipo de confronto que se dissemina o novo. Em outras
palavras, a partir do caos se gera a ordem. O confronto e o conflito são traumáticos,
porém necessários para a sociedade sair da inércia e buscar novos desafios. Para
este objetivo, não há melhor motivador que o polemista. De acordo com Petrik
(2006, p. 116), a figura do polemista é tão importante para o jornalismo que “excluir o
polemista do âmbito do jornalismo é esforço explicável apenas como forma de
confortar a rejeição e o mal estar que provocam – inclusive, e principalmente, entre
os demais jornalistas”.
A “manutenção” do status quo, citado inicialmente, quando em excesso,
acarreta um sedentarismo intelectual. É preciso a ambição, pois é ela que
proporciona os novos desafios da vida. O polemista o desperta, através do discurso
polêmico.
2
Veja, 26 abr. 2006, p. 29.
16
2.2 O DISCURSO POLÊMICO
O discurso polêmico ainda não recebeu devida atenção por parte da
academia. Isto é constatado pela pequena bibliografia encontrada sobre este tema.
Assim, Wainberg et al. (2002) destacam que: “há que se dizer por fim que nem o
tema polêmico nem a cobertura polêmica demandam uma mídia polemista. Ela
existe, mas este é um terceiro e distinto caso”.
O termo polêmica banalizou-se, difundiu-se nas manchetes jornalísticas e
extrapolou seu significado original. A ancestralidade do assunto nos remete
aos gregos, que têm nos filósofos pré-socráticos os primeiros observadores,
ainda que não de forma tão explícita. O termo polêmica origina-se do grego
polemos, luta, embate conflito. Carrega, portanto, sempre consigo um
dilema, algo a ser respondido (PETRIK, 2006, p. 12).
A polêmica necessita ter uma forma, ou seja, um rosto que deve ser a marca
e a credibilidade do texto. Deve ser o alvo, a referência e o carrasco. Nesse mesmo
sentido, Wainberg et al. (2002) afirmam que “de fato, não se supõe razoável um
texto polêmico anônimo de interlocutores. A pessoalização dramática dos envolvidos
é uma das marcas mais típicas do DP”.
Desta maneira, é a dramatização a ferramenta primordial para que o “ator”
polemista usufrua de seus atributos, com o objetivo de chamar a atenção de seu
público. Ela representa sua maneira de ser e de pensar. Um exemplo dessa
pessoalização dramática se deu com a teatralidade de um dos pioneiros do gênero:
Paulo Francis, falecido no ano de 1997, mas que notabilizou-se como polemista em
meados da década de 1980. Francis tornou-se folclórico, pois criou um personagem
de si mesmo, sobretudo através de sua fala. O polemista aumentava a entonação na
última palavra de cada frase. Dessa maneira, até mesmo as crianças começaram a
imitá-lo. Os constantes ataques de Francis eram pessoais, diferentemente do que se
vê entre os polemistas nos atuais dias. Petrik (2006) destaca que, certa vez, Francis
insultou a atriz Tônia Carrero, chamando-a de “prostituta”. Tal fato se deu em virtude
da existência de um artigo escrito por Carrero em um jornal carioca, no qual Francis
ofendeu-se com a argumentação da atriz sobre a sua suposta promiscuidade sexual,
o que não era verdade.
17
Nesse mesmo sentido, Wainberg et al. (2002) afirmam que: “a polêmica, por
isso, é sempre um show de esgrima no qual o inimigo é visível. Para conseguir
mobilizar seus efeitos de cólera e paixão, tal controvérsia é pública sempre e não
titubeia em aprisionar no alvo o opositor”. Tais autores vão além, mencionando o
termo “gladiadores em luta”.
Para representar um gladiador, é necessária uma ousadia adicional à
encontrada em um cidadão comum. É alicerçada pela opinião, ou seja, pela busca
de uma explicação, que desperta no indivíduo uma angústia. Uma angústia que
deriva do processo criativo que, enquanto não é definido, gera uma inquietude.
Se dependesse da ideologia conservadora, o mundo não evoluiria. Para efeito
de exemplificação, bastaria imaginar a decisão de Cristóvão Colombo em capitanear
inúmeras caravelas rumo ao então desconhecido. Dessa forma, constata-se que
Colombo era um ser à margem de sua época. Muitos o viam como um lunático, um
ser utópico. O mesmo ocorreu com outras tantas personalidades da história. O que
diriam de Colombo naquela época? O que diriam de Friedrich Nietzsche e de Freud,
que foram homens muito à frente de seus tempos e viveram em sociedades
altamente conservadoras.
Sobre este tema cabe lembrar o que nos diz Jody Berland, especialista em
geografia das comunicações da York University. ‘Que é uma margem?’,
perguntou ele a um amigo seu. ‘É o que está fora do corpo do texto’,
respondeu-lhe o amigo. ‘É o que mantém a página unida. É também onde
você escreve as notas”. (WAINBERG et al., 2002)
A verdade é que as pessoas têm resistência ao novo. Porém, quando a
tradição é quebrada, avança-se.
Constata-se que as normas dão uma orientação para o comportamento das
pessoas. O polemista, no entanto, as confronta e as desafia.
O conflito se dá e assim sempre se dará, visto que, de acordo com Overberg
(1999, p. 68), “[...] a diversidade de critérios nos lembra que pessoas sinceras
podem chegar a conclusões diferentes”. Assim, o discernimento de um indivíduo
está além do alcance do outro.
18
O emissor/ideólogo do confronto de idéias faz, por exemplo, com que os
receptores passem a ler mais escritos em jornais, sejam espectadores assíduos de
programas de televisão, demonstrando sentimentos de amor ou de ódio com algo ou
alguém. Em outras palavras, trata-se aqui de uma relação extrema, isto é,
praticamente não existe meio termo. Dessa forma, o articulista desperta a reflexão,
muitas vezes nunca pensada pelos receptores, já que, como se vê, a verdade é pré-
concebida através do tempo. Nesta mesma perspectiva, Gomes (2003, p. 80) propõe
que: “na subjetividade do texto, aparece a saída para um tipo de jornalismo menos
comprometido com a imagem imediata e, mais reflexivo, no sentido da interpretação
dos fatos”.
É importante enfatizar que a imagem imediata é fruto do jornalismo do
ocidente, ou seja, um jornalismo causa e efeito, proveniente de René Descartes. Por
isso, o termo “polemismo” é novo. No entanto, a sua essência é velha, ou seja, ela
estimula a reflexão, fazendo com que o leitor tenha que dissecar a informação
proveniente daquele texto.
Nesta tradição de crítica ao cartesianismo, vale destacar o físico austríaco,
Fritjof Capra, que lançou, em 1982, o livro Ponto de Mutação. Nele, Capra faz duras
críticas ao pensamento cartesiano na Biologia, na Psicologia, na Medicina e na
Economia, exemplificando como esta abordagem ocidental reducionista de encarar o
mundo acarreta impasses repentinos e radicais. Assim, Capra destaca o
pensamento sistêmico como mais eficaz do que o pensamento cartesiano.
Assim, conforme Gomes (2003), o polemismo lida com esta trans-
disciplinariedade, proveniente do pensamento sistêmico, que tem por objetivo
analisar o maior contexto possível. Afirma ainda o autor que, com a visão sistêmica,
têm-se vários ângulos para que se possa analisar o mesmo fato, rompendo
paradigmas. Nesse contexto, Gomes (2003, p. 85) afirma que: “a ironia é o
procedimento pelo qual se desmontam os clichês e se tenta mostrar o engano da
percepção escondido em verdades bem assentadas”.
A ironia é reverenciada nos novos meios de comunicação, tal como a internet.
Ela é também visível no discurso polêmico dos blogs. Diogo Mainardi, um dos
grandes polemistas brasileiros da atualidade, há tempo desmerece os blogueiros,
19
comparando-os a “macacos”. O polemista escreveu, em sua coluna, em uma recente
edição
3
, que a internet representava o retorno da piada enlatada. Era um polemista
em ação, ou seja, ele, Diogo Mainardi, escrevia e descaracterizava esta nova mídia,
a fim de se vender como o polemista mais original, já que a internet ameaça
multiplicar o número de concorrentes ao cargo de Mainardi. Entre os exemplos desta
ameaça, pode-se citar o seu colega da revista Veja, Reinaldo Azevedo.
Ironicamente, como um bom polemista, Mainardi fez uso de citações comuns na
internet, como: “kkk”, “hahaha” ou até mesmo “rsrsrs”. O fato é que estas
construções de risadas são uma maneira de polemizar um enunciado desprovido de
uma determinada entonação fonética, necessária para o discurso polemista como
fala.
3
Veja, 2 abr. 2008.
20
3 OS BLOGS
Nesta seção, o tema central apresentado são os blogs. Ela está dividida em
quatro partes. A primeira trata da cibercultura de forma abrangente e destaca a
relação humana com a tecnologia. Na segunda parte, é mostrada a web, ou seja,
esta nova forma de comunicação e de difusão que modificou o mundo, tornando-o
uma aldeia global. Na terceira parte, o blog é definido e a sua evolução é descrita.
Por fim, na quarta parte, são destacados os blogs políticos no Brasil e no mundo.
3.1 A CIBERCULTURA
Para analisar os blogs, é necessário observar também o processo do
aparecimento desta nova mídia que é a internet.
Com ela, têm-se a “convergência tecnológica”. Para adaptar-se a este novo
ambiente tecnológico, é necessária uma atualização constante em todas as
profissões. Para este estudo, destaca-se o jornalista, e, para tanto, constata-se que
este também sente as transformações que a profissão enfrenta. Assim, Rocha
(2006, p. 102) afirma que: “O jornalista está em conexão permanente com seus
leitores. O tempo real das relações na internet também reconfiguram a noção de
tempo e de espaço na rotina de uma redação”.
No final do século XX, início do século XXI, a humanidade se encontra
diante de uma nova revolução dos meios de comunicação. Todas as
invenções: imprensa, telégrafo, telefone, cinema, rádio e televisão
significaram profundas alterações na vida do homem. Todavia, a
transformação que se passa hoje, através do advento do computador, da
internet e da web, está causando uma efervescência na história das
tecnologias do imaginário (ROCHA, 2006, p. 104).
O chamado tempo real desdobra-se em virtual. Pierre Lévy (1999), filósofo da
tecnologia, constata que os termos “virtual” e “real” não são antônimos. Para o autor,
21
o virtual é o real em potencial. É o virtual que, com o advento da internet, fez que as
fronteiras geográficas desaparecessem. Rocha (2006) acrescenta que: “De qualquer
ponto, seja na terra, na água ou no ar, tem-se a oportunidade de comunicar-se em
instantes, numa velocidade surpreendente, que anula as distâncias e não depende
das alterações climáticas”.
Tal fato fora tratado em 1962 por Marshall McLuhan, ao publicar A Galáxia de
Gutenberg, com suas argumentações a respeito da aldeia global.
Já na época de Gutenberg, o inventor dos tipos móveis, o homem provia seu
comportamento mecanicamente, pois era a forma de caracterização da época. Nos
atuais dias, a caracterização mudou:
Ao fazer essa analogia com o sistema envolvido na caracterização do
espaço virtual, isto é, o universo da cibercultura, tem-se a mesma
percepção: o ciberespaço como extensão do homem contemporâneo. Hoje,
as relações humanas acontecem também em um plano virtual. A
eletricidade acompanha o florescimento do ciberespaço (ROCHA, 2006, p.
106).
Figura 1: Evolução da humanidade
Fonte: <http://aglobal.com>, 2008.
Como as outras tecnologias, a cibercultura é também uma extensão do
homem. Da mesma forma, as demais novas tecnologias de comunicação são
“próteses do corpo”, como proposto por McLuhan. Os aparelhos celulares são um
exemplo deste tipo de acessório. Tais próteses são de vital importância para o bom
22
desempenho profissional e até mesmo social de um indivíduo. Há de se estar
conectado em rede.
A visão otimista da cibercultura é combatida asperamente por autores que
afirmam que esta é um recurso do sistema capitalista, afirmando que não há nada de
salutar no atual contexto histórico. Assim, o que há é o contínuo processo de
exploração econômica. Rüdiguer (2006, p. 35) afirma que: “No passado, o homem
concebeu vários projetos de sociedade. Agora, esse tempo passou. No horizonte da
cibercultura, pensa-se em projetos de mundo”. Assim, para o autor, o ser humano
passou a ser irrelevante. O importante é a forma e não mais o conteúdo. Em outras
palavras, o autor destaca que o humano parou de se preocupar com sua espécie.
Contrariamente à idéia de buscar a “ajuda” a todos, passou-se a buscar o
desconhecido, as novidades, tornando, então, o homem pós-humano.
Discordâncias ideológicas à parte, o fato é que a internet modificou a vida dos
indivíduos em um intervalo de tempo mínimo, tornando a produzir informação e,
talvez, conhecimento em escalas superiores as de muitos séculos somados.
Esta é uma era originada pelas inúmeras descobertas anteriores, tais quais a
eletricidade e o silício, por exemplo, que possibilitaram o surgimento da internet.
Porém, a velocidade de transformação de uma sociedade nunca obteve tamanha
velocidade.
3.2 A WEB
A velocidade da informação da internet transformou-a em uma “super-
estrada” da comunicação. Por enquanto, este meio de comunicação ainda rivaliza
com a televisão, o jornal e outros veículos de troca e de difusão da informação. Mas,
no futuro, esta emergente mídia tende a sintetizar todas as outras, daí o nome
multimída, ou até mesmo “unimídia”, como propõe o pensador da tecnologia, Pierre
Lévy (1999). Segundo o autor, multimídia seriam as tradicionais mídias, conhecidas
como impressa, sonora e visual. A soma delas seria denominada multimídia, ou seja,
23
a união de várias mídias. No que concerne à convergência das mídias, em uma só,
como ocorre com o computador, o autor propõe o termo unimídia.
De acordo com Pinho (2003), a internet possui inúmeras diferenças em
relação à mídia tradicional. Entre elas, pode-se citar: não-linearidade, fisiologia,
instantaneidade, dirigibilidade, qualificação, custos de produção e de veiculação,
interatividade, pessoalidade, acessibilidade e receptor ativo.
No que concerne à não-linearidade, exemplifica-se que a leitura em um texto
de papel é linear, ou seja, é lido da esquerda para a direita, palavra por palavra. Já
na internet, a leitura continua sendo lida da esquerda para direita, porém o início, o
meio e o fim, tal como a leitura de um livro, por exemplo, fica a critério do
navegador/internauta. Denomina-se hipertexto a possibilidade de movimentação da
estrutura de informações, ou seja, clicando em um link, o usuário se remete a outra
página, da qual se abrem outras tantas infinitas possibilidades de acessos,
chamando-se, assim, teias da informação.
Outro aspecto interessante referente à maneira como o usuário acumula a
percepção neste novo meio é a fisiologia da internet. Assim, Pinho (2003, p. 51)
enfatiza: “[...] o internauta lê mais devagar na tela do monitor e, assim, a
recomendação é que o texto, preparado para a internet, seja cerca de 50% mais
curto do escrito para papel”. Em outro relato, é destacado que na web nossos olhos
piscam menos do que as dezesseis vezes por minuto, com a vista relaxada,
podendo levar a uma maior incidência de fadiga visual.
Escreva umas poucas centenas de palavras no seu computador sem usar
os recursos de ortografia e de gramática do programa de processador de
texto. Quando estiver terminado, edite na tela. Corrija todos os erros que
você vir. Agora imprima uma cópia e leia novamente o texto. Com certeza,
você encontrará mais erros. Como você pode cometer estes enganos tão
óbvios? Simples. No papel, as letras são escuras, dotadas de profundidade
e com excelente resolução. A única luz é refletida fora do papel e não vem
do outro lado (PINHO, 2003, p. 184).
Como foi visto anteriormente, a instantaneidade é uma importante
característica do webjornalismo. Em outros tempos, o furo jornalístico só era dado
24
por jornais ou revistas, além de ter duração prevista de vinte e quatro horas. Assim,
somente um dia após, outros veículos divulgavam o furo jornalístico de veículo
concorrente, já que a publicação da edição seguinte despendia tempo. Isto, com
exceção de alguns furos noticiosos, divulgados pelo rádio, que também é uma mídia
instantânea, mas que não possuí um caráter investigativo abrangente, tais quais
estas outras mídias impressas. Nos atuais dias, quem divulga os furos é a mídia
online, ou seja, os webjornalistas, blogueiros, etc.
Um dos aspectos mais importantes, senão o mais importante encontrado no
webjornalismo, é a dirigibilidade. Na internet, a notícia pode ser difundida sem
nenhum filtro, ou seja, de caráter simplesmente pessoal e opinativo, sem qualquer
rejeição para divulgá-la.
Outra categoria apresentada por Pinho (2003) é a qualificação do público que
acessa a internet. Embora, desde a publicação do livro deste autor em 2003, até os
atuais dias, o acesso à internet tenha aumentado no Brasil, pesquisas apontam que
somente uma minoria dos cidadãos tem acesso a este meio. Ainda assim,
predomina no país o “analfabeto funcional”, o cidadão que lê, mas não sabe
interpretar seu conteúdo.
No que tange ao custo de produção e de veiculação, vale assinalar que a
internet é menos dispendiosa em relação a outras mídias. Outro fato consistente se
dá na comparação entre a interatividade proporcionada pela televisão e a internet.
Verifica-se que a segunda possui grandes recursos interativos em detrimento da
primeira.
A possibilidade de qualquer indivíduo de colocar seu próprio conteúdo neste
meio tecnológico é denominada de pessoalidade. Também, a acessibilidade é fator
primordial de diferenciação entre as outras mídias. A acessibilidade é constante, ou
seja, a informação estará lá, em determinado endereço eletrônico, durante as vinte e
quatro horas do dias, nos trezentos e sessenta e cinco dias do ano. Fato este
impossível de se cumprir em qualquer outra mídia.
Quanto às características, apresentadas por Pinho (2003), tem-se, por último,
o receptor ativo, que é aquele que tem a possibilidade de emissão de feedback em
qualquer mensagem.
25
A internet, por ser um meio democrático, com o acesso liberado a qualquer
cidadão, permite que a informação circule livremente.
Também, verificou-se, com o passar do tempo, que era preciso fazer com
que o leitor interagisse mais com os portais, pois todos buscavam a fidelização do
leitor. Esta fidelização buscava uma maior participação do usuário com o emissor.
Para isso, foi necessária a “manutenção” de suporte. Ela se dava com atualizações,
fóruns, questões que fizessem com que o receptor passasse a se sentir especial,
personalizado/participativo, ou seja, não sendo mais um alvo entre os milhões de
cidadãos, a ser utilizado como objeto de manobra midiática, visados somente ao
consumo. O Google é um exemplo deste caso. Através de um mapeamento, busca
identificar, no computador do usuário, suas necessidades e seus gostos. Este
mapeamento se dá por cadastros em sites, redes de relacionamento, etc. Desta
forma, desapareceram os sites, que inicialmente eram apenas folders institucionais,
e começou a surgir a Web 2.0.
A expressão “web 2.0” foi primeiramente cunhada por Tim O’Reilly e
desdobrou-se em uma série de conferências e de livros, atingindo grande
popularidade nas comunidades de desenvolvimento web. Trata-se de uma
plataforma, também chamada de segunda geração da world wide web. Nesse
conceito, reforça-se a tendência da colaboração, principalmente na Wikipédia, da
enciclopédia digital, que é escrita de forma colaborativa, isto é, todos inserem as
suas definições e os seus complementos. Pode-se aqui denominar inteligência
coletiva superficial, idealizada pelo filósofo Pierre Lévy (1999), na década de 90.
De acordo com o jornal Folha de São Paulo
4
, o glossário da web 2.0 consiste
dos seguintes termos: AdSense, Ajax, Mash-ups, RSS, Tagging, Wiki e blogs.
O AdSense é o plano de publicidade do Google, a empresa que mais fatura
na web. Este plano ajuda criadores de sites, como os blogs, a ganhar dinheiro em
seu trabalho. Outro exemplo é a publicidade no Google. Desta forma, é uma
empresa paga para que os seus resultados de busca para determinada palavra, e,
consequentemente, sua marca, encontre-se nas primeiras posições. Assim, o valor a
pagar pela publicidade é relativo aos números de cliques.
4
Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ult124u20173.shtml>. Acesso em:
16/5/2008.
26
O Ajax é um pacote de tecnologias altamente interativo. Usado inicialmente
pela empresa Microsoft, difundiu-se somente com o Google, com o intuito da
utilização de aplicativos interativos, com serviços de mapas on-line.
Os Mash-ups são serviços criados pela combinação de dois aplicativos. Um
exemplo seria misturar um serviço de mapas on-line, com um anúncio de imóveis.
O RSS significa distribuição realmente simples e designa uma maneira de
distribuir a informação, com as quais o usuário da web solicita.
O Tagging é a rotulação. Oferece aos usuários uma maneira de rotular
palavras-chave em seu texto, ajudando a categorizá-las e a facilitar sua obtenção
por outros usuários.
Os Wikis são escritas colaborativas. Um exemplo é a Wikipédia, uma grande
enciclopédia digital, que pode ser escrita por qualquer indivíduo conectado na rede.
Por fim, os blogs, que estão entre as primeiras ferramentas de web 2.0, a
serem usadas amplamente, além de possuírem um baixíssimo custo.
3.3 A DEFINIÇÃO DE BLOG E A ORIGEM DA BLOGOSFERA
O surgimento dos blogs se deu de forma esporádica. Inicialmente, eram
páginas pessoais, utilizadas como links de sites, que podiam ser utilizados como
uma espécie de agenda digital, ou seja, a inserção dos links com os quais o usuário
mais se identificava. A partir daí, houve uma evolução com a elaboração de
catálogos de fotos que, posteriormente, passou-se a denominar de fotolog. Por
decorrência, as páginas da web, destinadas exclusivamente às publicações escritas,
foram conceitualizadas como weblog e, mais tarde, somente blogs.
De acordo com Hewitt (2007, p. 9), “Blog é a contração da palavra inglesa
weblog. Logo significa diário, como o diário de um capitão de navio”. Ainda, segundo
Hewitt (2007, p. 99), acredita-se que “o primeiro ‘weblog’ tenha sido chamado assim
por um certo Jorn Barger, em dezembro de 1997”.
27
Em um blog não há censura, restrição ou imposição de espécie alguma para
você manifestar seus pensamentos e opiniões. Assim, o que difere o blog de um site
convencional é a facilidade com que podem ser realizados os registros no que
remete à atualização, fazendo com que o blog se torne mais dinâmico. Para Primo e
Recuero (2003, p. 55), “os weblogs, ou simplesmente blogs, são sistemas de
publicação na web, baseados nos princípios de micro conteúdo e de atualização
freqüente”.
A definição de blog de Primo e Recuero (2003), citada acima, possui
pertinência, exceto pelo complemento, de que necessitam de atualização constante.
Mesmo que não se atualizem com novos conteúdos, frequentemente, este não
deixará de ser blog.
O mais apropriado seria destacar que o blog, ao defini-lo, estará sujeito a ser
mudado. Diversos autores destacaram que este é um local de “espaço público”,
onde quem acessa pode se manifestar e redigir sobre o que se está sendo tratado.
Esta é uma definição imprecisa. A blogosfera lançou recentemente blogs privados.
Nele, o autor do blog determina quem poderá ler. Trata-se de envio de senhas
somente ao gosto e critério do autor. Então, o conceito de espaço público cai por
terra.
Outro exemplo de imprecisão se dá com a denominação “diários”, tal qual se
deu com o surgimento dos blogs, destacados única e exclusivamente como diários
de adolescentes. Esse conceito não recebe muita simpatia por parte dos milhares de
blogueiros existentes na blogosfera, já que diário remete à escrita íntima, enquanto
muitos blogueiros, das mais variadas idades, não consideram seus textos como
pertencentes à escrita íntima, pois estes escrevem para blogs de diferentes gêneros,
tais quais os corporativos, de comunicação interna, etc.
[...] os próprios blogueiros não aceitam que seus semelhantes usem a
mesma mídia para criar um diário de caráter confessional, pessoal. Em sua
entrevista, o blogueiro Edney Soares de Souza registra sua desaprovação à
definição recorrente do blog: ‘Em primeiro lugar, esqueça o blog como um
diário pessoal! Isto é o que a mídia mais falou até agora, porém é aquilo que
os blogueiros mais rejeitam: O rótulo de diário! O encanto do blog é ter a
sua própria publicação, dar a sua opinião, palpite, pitaco, etc’ (SCHITTINE,
2004, p. 165).
28
Com uma analogia profunda e como se a história estivesse sendo repetida,
Hewitt (2007) compara o surgimento da blogosfera com a ação de Martinho Lutero,
que repassou informação às demais classes sociais, as que não detinham os
conhecimentos bíblicos. Destaca o autor (2006, p. 77) “[...] tente estudar o que
aconteceu depois do desafio de Lutero à autoridade de Roma. O que Lutero foi para
o Papa Leão X, os blogueiros são para a mídia hegemônica”.
3.4 OS BLOGS JORNALÍSTICOS
A mídia convencional está aparentemente perdendo espaço. As facilidades
da comunicação, proporcionadas pela internet, em que todos são “ouvidos”, isto é,
têm a possibilidade de se manifestarem através dos blogs, tornam esta ferramenta
atrativa se comparada aos veículos tradicionais.
Os meios de comunicação tradicionais perderam parte de seu encanto.
Porém, aqui, mais uma vez, utiliza-se Hewitt (2007) para enfatizar que, contudo, esta
velha mídia não está morta, nem o será. Ela complementará tanto os blogs quanto
os portais de notícia online. Desta maneira, um blog ou portal online, por exemplo,
poderá ser fiscalizador dos conteúdos veiculados nesta velha mídia, já que os blogs
necessitam dos recursos jornalísticos desses grandes meios de comunicação, para
que sejam escritas respectivas postagens sobre o tema.
Schittine (2004) cita o exemplo do jornal britânico, The Guardian, que
contratou um blogueiro iraquiano, a fim de descrever sobre o dia-a-dia da capital
Bagdá. A autora destaca que, a partir desse fato, não era mais o blogueiro que
procurava o meio de comunicação para se informar, mas, sim, que o processo
estava sendo executado de maneira inversa, isto é, o meio de comunicação
começava a se informar através do blogueiro.
Os críticos dos blogs afirmam que “pequenas páginas” não respeitam a
veracidade da notícia, colocando-as no ar sem ao menos procurar e checar os fatos.
29
De outra forma, seus apoiadores contra-argumentam que a transparência e a
possibilidade dos comentários dos leitores são motivos de sucesso dos blogs
jornalísticos. Conforme Hewitt (2006, p. 106), “em uma época de debate
radicalizado, nunca antes a verdade esteve tão disponível. Agradeça aos
5
camaradas de pijama. E os leia”.
Fenômeno de comunicação, evolução da internet, moda na web, “coisa de
nerd”, são alguns dos rótulos dados aos weblogs (ou blogs simplesmente)
por um certo número de usuários pouco mais ‘especializados’ do que o
“simples navegante” (PAZ, 2003, p. 67).
Simpatizando ou não com os blogueiros, o fato é que foram estes “camaradas
de pijama” que alteraram o destino das eleições norte-americanas em 2004. Naquele
ano, o então candidato pelo partido democrata à presidência dos Estados Unidos,
John Kerry, afirmou, em campanha, que tinha posição contrária à guerra no Iraque,
já que havia prestado serviço militar na Guerra do Vietnã. Este afirmou que, naquela
guerra, o navio no qual prestava serviço havia sido alvejado por tropas aliadas no
Natal de 1968, em pleno mar do Camboja. Concluía ainda que as tropas aliadas
estavam alcoolizadas, “comemorando” a data.
Foi quando, de acordo com Hewitt (2007), ocorreu uma “infestação”. Esta se
deu no sentido de convocar veteranos de guerra, com o objetivo de comprovar que
tal operação nunca havia existido, ou seja, tratava-se de uma calúnia do candidato
democrata. A “infestação” começou entre os blogueiros republicanos, forçando, no
final, à adesão da notícia por jornais de ideologia liberal, isto é, simpatizantes ao
candidato autor da farsa, tal como o New York Times e o Los Angeles Times. Ao
final, o candidato, autor da calúnia, viu-se obrigado a confessar a culpabilidade neste
episódio, fazendo com que o destino daquela eleição fosse alterado.
Este é um modo extremamente bem estruturado e estabelecido com os
propósitos de atacar, de todas as direções, um ponto, ou pontos específicos. Pode-
se fazer uma analogia com uma guerra, por exemplo. De vários pontos, isto é, via
5
Camaradas de pijama é o termo que a mídia norte-americana utilizava até pouco tempo atrás para
conceituar a turma da blogosfera, rotulando-a como desocupados.
30
mar, ar e terra, as tropas atacam grandes alvos em curto espaço de tempo e
cessam, migrando cada uma para um lado. Isso se dá geralmente com caças aéreos
e também mísseis, disparados dos navios, etc. Segundo Hewitt (2006, p. 32), “o
objetivo é convergir rápida e disfarçadamente para um alvo, atacá-lo, então partir e
dispersar, estando imediatamente prontas para se recombinarem para um novo
pulso”.
Foi assim que os republicanos atacaram o candidato democrata, John Kerry,
nas eleições de 2004: por meio de uma “infestação”, igualmente conceituada no
Brasil comomarketing viral”. Verifica-se também que é, por meio da internet,
especialmente os blogs, que grandes empresas brasileiras e também campanhas
eleitorais de políticos desenvolvem mecanismos de compelir tais ameaças e boatos,
de forma para que não ocorram deslizes em seus objetivos.
Uma subdivisão dos blogs jornalísticos, ou até mesmo uma especialidade de
blogs jornalísticos, são os que abrangem a área política. Para Hewitt (2007), os
blogs políticos foram originados após os blogs de guerra, isto é, em seguida do
sucesso dos relatos após o 11 de setembro, data em que a comunicação, através
dos meios tradicionais e também da internet, tornou-se caótica, em função, é claro,
dos atentados terroristas. Por outro lado, Schittine (2004) diz que o conceito de
blogs de guerra e políticos complementam-se.
[...] muitos outros blogueiros, inclusive brasileiros, precisaram desenvolver uma
função de jornalistas nesse dia. Isso porque, após os atentados, os portais de
notícias do Brasil e do mundo ficaram congestionados. A mídia tradicional se
deparava com diversas dificuldades, os jornais ainda precisavam apurar as
idéias, e a televisão enfrentava problemas de transmissão. A internet, que
normalmente teria sido mais rápido de veicular as notícias, sofria com a
impossibilidade de suportar as inúmeras tentativas de acesso. Ficou difícil para
os usuários entrarem nos principais sites de notícias como a CNN, a MSN, a
BBC, a Fox News e outros. As páginas dos sites se configuravam de uma
maneira extremamente lenta (SCHITTINE, 2004, p. 158).
Conforme Schittine (2004), os blogueiros escrevem para um dia poderem ser
reconhecidos pela grande massa, passando, desta forma, a ser contratados por um
grande jornal. Ela ainda constata que, diferentemente dos jornalistas tradicionais, os
blogueiros escrevem sem censura, ou seja, estão livres para exprimir um ponto de
vista, conquistando um grande número de leitores, oriundos da velha mídia.
31
Sob o aspecto da linguagem em um blog, Geraldes (2005) sugere que estes
receberam dois tipos de influência, aparentemente antagônicas: a linguagem
descontraída e personalística dos blogs diários e a noção de interesse público do
jornalismo convencional.
O autor assinala ainda que os blogs jornalísticos receberam dois tipos de
influência: a linguagem coloquial, isto, é, uma linguagem descontraída; e a noção de
um interesse abrangente, oriunda do jornalismo convencional.
Para Aldé e Chagas (2005), a credibilidade dos jornalistas online encontra-se
situada fora da web. De acordo com eles, isto se dá em função da procura por
informações, pois usuários acessam apenas sites confiáveis, os da imprensa
tradicional. Tal versão, defendida pelos autores, mostra-se um tanto remota, pois, na
data em que foi redigido tal artigo, até os dias de hoje, muita coisa mudou. O que
dizer de blogueiros famosos como Reinaldo Azevedo? O fato é que este se
consolidou nacionalmente como referência de jornalismo político através de seu
blog. Os autores acrescentam ainda que existem dois tipos de blogs políticos: os
patrocinados pelos meios tradicionais, ou seja, os autorizados pelos espaços de
jornal, de portais etc; os que são mantidos de maneira independente e que, muitas
vezes, são assinados com pseudônimos, que impedem a identificação do jornalista.
Assim, os blogs, patrocinados por meios tradicionais, isto é, os corporativos,
possuem um gênero híbrido entre jornalismo-de-opinião e sua contraparte noticiosa.
Em muitos casos, a mídia utiliza este jornalista para rebater acusações, ou até
mesmo tornar explícitos argumentos os quais a mídia não pode publicar, em função
de não possuir aparatos seguros, com a certeza da credibilidade da informação.
Verifica-se, dessa forma, que, para a análise dos blogs, há de ser verificado este
hibridismo como forma de diferenciá-los. Um blog de um grande portal, ou seja,
corporativo, não pode, nem deve ser analisado da mesma forma do que um blog
independente, opinativo.
Nessa contextualização, ao analisar os blogs corporativos, Christofoletti e
Laux (2006) assinalam que o de Reinaldo Azevedo
6
não difere visualmente da
6
Disponível em http://veja.abril.com.br/blogs/reinaldo/.
32
versão original e editorial da revista Veja, enquanto o do Josias
7
assemelha-se às
características editoriais do jornal Folha de São Paulo. Com o blog do Noblat ocorre
o mesmo. Noblat passou pela UOL, pelo grupo Estado e, atualmente, encontra-se
no portal do jornal O Globo. O surgimento de seu blog se deu por acaso. Ao
reclamar para seus colegas da falta de espaço para a inserção de notícias no jornal,
foi sugerida ao jornalista a criação de um blog. Esse jornalista, que não conhecia
esta ferramenta, ficou satisfeito com esta descoberta, pois encontrara um meio de
publicar todas as notícias que considerava importantes.
Para Alessandra Dalé et al. (2007, p. 36), “Ricardo Noblat tornou-se, neste
sentido, um personagem em outros blogs, que o tomam como referência,
reverenciando-o, séria ou ironicamente, como uma espécie de bandeirante da
categoria ‘blog jornalístico’ no Brasil”. Tal posto aparece nos atuais dias na pessoa
de Reinaldo Azevedo, pois defende um ideal apaixonado, polêmico, sempre
provocando o receptor.
Schittine (2004) destaca que historicamente foi, em 2001, que houve a
primeira aparição polêmica com relação aos blogs políticos no Brasil.
O diarista virtual Sérgio Faria é um dos blogueiros mais respeitados pelo
grupo. Isso porque Sérgio, além de ser um dos pioneiros no gênero – tem
um blog desde janeiro de 2001 –, escreve de uma maneira clara, embora
subjetiva – provavelmente por ser redator de publicidade –, e foi o primeiro a
dar um ‘furo’ jornalístico no universo blogueiro. Em maio de 2001, quando o
então senador Antônio Carlos Magalhães renunciou ao mandato, o blog de
Sérgio, Catarro Verde, noticiou, em primeira mão, que o discurso proferido
por ACM tinha sido plagiado de um antigo discurso do ex-senador Afonso
Arinos.
O plágio só veio à tona por causa de um hobby de Sérgio que funciona
como uma fonte de pesquisa: ‘Como gosto de colecionar documentos
sonoros, entre eles os discurso do ACM, tinha certeza que já tinha ouvido
aquilo em algum lugar. Procurei nos meus arquivos e na internet, encontrei
o original e coloquei no blog’ (SCHITTINE, 2004, p. 162).
O fato é que, de acordo com a autora, esta notícia acabou sendo veiculada
nos principais jornais do Brasil. A verdade é que, no livro de Schittine, aparece uma
nota de rodapé, acusando o blogueiro de plágio de um colega seu, de veículo
7
Disponível em http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/
33
tradicional, ou seja, da mídia impressa. Desta forma, o furo jornalístico teria sido
dado por outro jornalista.
Com uma freqüência cada vez maior, inúmeras citações em blogs passaram a
ser referências no mundo político. De acordo com Dalé et al. (2007, p. 37), com a
enorme repercussão do blog do Noblat no jornal O Globo, a colunista, Cora Rónai,
trazia comentários sobre a fala de Roberto Jefferson à CPI. Havia dito ela:O que
realmente mexeu comigo foi a rapidíssima referência que ele fez ao blog do Noblat
[...]”.
A CPI do mensalão, em 2005, transmitida pelos canais da Câmara e do
Senado, serviu para a consolidação dos blogs políticos no Brasil. O jornal Folha de
São Paulo tornou a descrever em sua coluna “mídia” o que estavam postando os
principais blogueiros políticos brasileiros. Esta foi uma relação de complemento entre
mídia tradicional e mídia nova, citada anteriormente, pois aqueles que liam sobre
política na Folha eram potenciais interessados em acessar tais blogs.
Outra situação emblemática aconteceu com o senador Eduardo Suplicy, que
havia mudado seu voto no Conselho de Ética em 2005, em consideração às
opiniões dos leitores no blog de Ricardo Noblat. Os blogs políticos envolvem
paixões, isto é, por se tratarem de pontos de vista divergentes, de oposição feroz
uns aos outros. Dessa forma, independente do conteúdo de determinada notícia, o
que realmente vale ao blogueiro é defender sua bandeira e encurralar o inimigo.
Os blogs prezam pela polêmica e valorizam a discordância de opiniões. Aldé
e Chagas (2005) afirmam que a valorização do posicionamento político e da
polêmica pública remete a outros contextos jornalísticos, distantes do lead e da
objetividade investigativa, mais próxima da paixão. É, por tratar principalmente da
paixão, que eles obtêm sucesso. A razão, componente principal das mídias
tradicionais, ficou ociosa. O leitor quer o algo a mais. Deseja o discurso acalorado.
Em todos os posts mais comentados em diversos blogs, observa-se que estes
sempre tratam de assuntos polêmicos, assim apontam Christofoletti e Laux (2006).
Esta polêmica se dá sob as mais diversas formas: seja uma briga na mídia, seja uma
atitude de chefe religioso, ou mesmo o prenúncio de uma crise no governo federal.
Poder-se-ia argumentar que o autor quer transformar a informação em uma forma de
34
lazer, em que ele encontre a notícia “mastigada” por seu jornalista preferido, pois a
ocupação, na tarefa de informar-se, tornou-se muito dispendiosa/massante, até
mesmo em função da falta de tempo, somados à exigência no mercado profissional
ser cada vez exigente.
Hewitt (2007, p. 137) questiona: “Por que os homens das cavernas pintavam
nas paredes? Não me interessa. Eles não têm nada a ver comigo. Me interessa
porque os blogueiros blogam. Duas razões: para convencer e para deixar um
registro”.
Visualiza-se assim que a motivação para a criação/leitura/mensagem nestas
páginas personalizadas são um fator novo em uma sociedade que quer ser vista sob
a ótica da personalização e não como mero produto de consumo, em que cada
indivíduo era apenas mais um, até pouco tempo atrás. A utilização de um discurso
cativante é essencial para a atenção de captar o leitor a torná-lo fiel na leitura de
seus textos.
35
4 O TÍTULO
Neste capítulo, faz-se inicialmente uma explanação sobre a forma de
propagar uma notícia nos meios de comunicação de massa, ou seja, através da
homogeneização e da maquiagem da informação, em contraste com a
personalização da notícia, oriunda, principalmente, dos blogs, em que muitos se
transformam em escritores, querendo participar dos acontecimentos do dia-a-dia. Na
segunda parte do capítulo, são definidos os tipos de títulos a serem pesquisados,
utilizando autores como Lage (2001), Fossati (1992) e Douglas (1966). Também são
apresentados os princípios das titulações polemistas que irão orientar esta pesquisa.
4.1 A NOTÍCIA X A POSTAGEM
Até a Revolução Industrial, as notícias tinham por função apenas relatar os
acontecimentos muito importantes. Assim, estavam estritamente voltadas para o
comércio, os meios políticos e os manufatureiros. Somente após, com a conquista
do interesse do público, viriam a ser difundidas massivamente.
Gadini (2003) relata que, com o advento dos jornais, após a época da
panfletagem, e dos tipos móveis de Gutenberg, verifica-se que os primeiros
jornalistas, ao escreverem para a este “novo” meio, buscaram a satisfação pessoal
em primeiro lugar. Assim, constata-se que os homens letrados buscavam encontrar
no jornal o que não encontravam no livro. Dessa maneira, por analogia, vê-se o
mesmo processo nos dias atuais, ou seja, os homens letrados do século XXI
buscam nos blogs o que não encontram em jornais e revistas, isto é, o algo a mais, o
inusitado, os bastidores da informação, a liberdade de emitir o conteúdo que se
quer, da forma que se quer.
No que tange a um dos objetos de pesquisa deste trabalho, tem-se a inclusão
da polêmica, ou seja, a inserção deste objeto na história da imprensa. Conforme
Gadini (2003), as discussões polêmicas se davam apenas no ambiente literário.
36
Atualmente, com o advento de melhorias desenvolvidas para que a
informação abranja o maior número de receptores possíveis, além da necessidade
de se tornar uma fonte de receita financeira, constata-se que o gerenciamento na
forma de se fazer e propagar a notícia possui outro viés, comparado a outros
tempos. Assim, as “distribuições” das notícias estão centralizadas em todo o globo
terrestre, isto é, encontram-se concentradas nos grandes conglomerados de
comunicação. Desta forma, repassam a informação que recebem de vários pontos
do planeta, e ela volta a circular em diferentes meios de comunicação, mas de
maneira igual, ou pelo menos similar, já que partiram da mesma “distribuidora”.
Os veículos eletrônicos são, atualmente, os principais transmissores de
notícias para as grandes coletividades humanas. A redação inicial delas é
progressivamente açambarcada pelas fontes, que para isso organizam
assessorias, serviços ou agências de imprensa. Em geral, trata-se não tanto
de falsear a informação, mas de revesti-la com a versão conveniente
(LAGE, 2001, p. 5).
Desta maneira, o acesso à informação fica relativamente acessível a qualquer
meio de comunicação, por mais escasso que determinada instituição esteja de
recursos financeiros. Para esse acesso, basta que tal empresa pague uma
mensalidade para ser receptora desta informação homogênea. Desta maneira, a
notícia é sempre destacada pelo mesmo ângulo, porém com “maquiagens
personalizadas”, elaboradas por cada distribuidor da informação. Um exemplo
prático ocorreu com a invasão das tropas americanas no Iraque, em 2001. Naquela
ocasião, o mundo todo recebia as informações repassadas pelas redes de televisão
norte-americanas, que previamente passavam por uma censura dos militares norte-
americanos. Este determinava sobre o que podia e o que não podia ser repassado
aos veículos. De outra forma, em função também da globalização, neste mesmo
episódio, o mundo ficou sabendo a outra versão da guerra, ou seja, aquilo que
somente quem lá estava podia visualizar. Foi quando ficou conhecida a televisão
árabe, Al Jazeera, que transmitia a versão da guerra não exibida pelas televisões
norte-americanas.
Da mesma forma, com o advento dos blogs, dos portais, isto é, com as
facilidades de comunicação, a personalização da notícia volta a se destacar como
uma nova distribuidora da informação. Nesse mesmo conceito, Comassetto (2003)
37
sugere que a notícia é a informação nova e também uma matéria veiculada em um
meio de comunicação, mas que, na sua essência, tem que exprimir a novidade,
além, é claro, de despertar o interesse público, seja através de comentário, de
opinião, etc. A personalização da informação, através da internet, faz com que a
novidade na notícia passe a ter mais valor, pois é expressa por um número maior de
fontes e conseqüentemente de distribuidores.
O mesmo critério é utilizado pelos autores Aubenas e Banasayag (2003). Os
autores destacam a lei dos “W”. Conforme Aubenas, Banasayag (2003, p. 45), “A
imprensa anglo-saxã batizou-a de a ‘lei dos W’: Why? Where? When? Who? (Por
quê? Onde? Quando? Quem?). Acrescentam ainda que uma informação publicável
é aquela que se presta a essa autópsia obrigatória, tal qual fora citada no parágrafo
anterior.
Neste sentido, constata-se que a ideologia da notícia se articula em dois
pólos. De acordo com Lage (2001), de um lado, está o autor, por detrás do complexo
aparelho de produção da mídia; de outro, a consistência de que a notícia se legitima
por não pretender feedback. O fato é que, após o episódio da Al Jazeera, e também
pelas facilidades de expressão, oriundas da internet, tal qual o blog, todos passaram
a querer propagar seu ponto de vista. Dessa maneira, a forma de se fazer notícia
também foi alterada.
Para fins elucidativos, vale destacar que a diferença na maneira de se fazer
notícia começa na denominação da postagem, referente aos blogs. Este é também
um meio dinâmico que faz com que a notícia se torne mais curta. Por fim, vale
destacar que o importante deste meio é que a maioria dos blogueiros busca
personalizar sua notícia, isto é, dar seu relato.
Queremos chegar ao seguinte ponto: os blogs são, no fundo, recortes do
mundo na visão de um indivíduo; são fragmentos da realidade que vão ao
encontro da vivência de mundo do indivíduo contemporâneo. Se os jornais
impressos já apresentam o mundo em fragmentos, nos blogs noticiosos,
essa lógica é levada ao extremo. Normalmente, o blogueiro não se propõe a
noticiar todos os assuntos (como nas editorias dos grandes jornais), mas
apenas aqueles que mais lhe chamam a atenção. Fazem recortes dos
recortes de imprensa, costuram fragmentos de fragmentos com sua visão
pessoal sobre determinados assuntos (MORAIS)
38
Para a autora da citão acima, este fato faz com que seja decretada a morte
do autor, para, em seguida, dar-se o surgimento do escritor.
Todos querem ser escritores. É desta forma que muitos jornalistas sentem-se
ameaçados com esta proliferação de blogs de todos os gêneros. Em setembro de
2008, a revista
8
Imprensa editou, em sua capa, a manchete de que “blogueiro não é
jornalista”. O corporativismo foi a solução encontrada para combater tal ameaça à
profissão. Profissão esta que se encontra em transformação com conceitos
atualizados, tal qual a elaboração de um título, analisados a seguir.
4.2 TÍTULO
O título é a primeira referência sobre um determinado tema. É aquilo que irá
informar ao receptor se ele deve seguir para outra matéria/postagem ou encará-lo de
modo a saber mais sobre o que esta mensagem desperta. O título é também a
primeira impressão que um leitor tem sobre o conteúdo de determinada
notícia/postagem. Para isto, existem basicamente duas correntes que defendem
opiniões opostas sobre como este deve ser despertado no leitor. Tais correntes
podem ser classificadas como conservadoras e modernas.
Autores de linha conservadora defendem que o título deve exprimir somente o
fundamental, pois, tal qual Comassetto (2003, p. 59), o leitor “é sujeito apressado,
que precisa rapidamente da informação [...]”.
Mas o que é título atraente? Para Amaral (1969, p. 86), é aquele que
consegue chamar a atenção do leitor para a notícia ‘ de forma clara,
objetiva, apelativa, resumida’. O título, segundo o autor, deve ser constituído
de palavras curtas e usuais e corresponder exatamente ao conteúdo do
texto que resume e interpreta (COMASSETTO, 2003, p. 59).
8
Disponível http://portalimprensa.com.br/revista/edicao_mes.asp?idEdicao=14&idMateriaRevista=152
39
Um título escrito de maneira clara e objetiva não é atraente. Para ser atraente,
deve ser criativo, interpretativo, irônico ou ambíguo. Há de existir uma mensagem
implícita, da qual o receptor possa participar.
Embora para os jornalistas o lead seja o início da construção da notícia, para
o receptor este início se dá no título. Em nossa cultura jornalística, a manchete e os
títulos são o ponto de referência do leitor.
No entanto, autores conservadores são imprescindíveis para contar a história
da titulação. Comassetto (2003, p. 60) assinala que, “segundo Sartori, os títulos
eram apenas meras fórmulas para separar diferentes tipos de textos ou indicar
diferenças temáticas dos mesmos”.
A manchete jornalística de hoje não surgiu com a forma e a função que
conhecemos, mas foi tendo seu papel alterado e sendo aperfeiçoada na
medida em que a atividade jornalística passou a acompanhar as
transformações da sociedade, devido ao processo de industrialização
(SARTORI, 1999, p. 113). (COMASSETTO, 2003, p. 60).
É válido ressaltar que, embora o título possua uma capacidade informativa, o
autor relata que ele não consegue cobrir toda a informação do texto. Contempla
apenas parte dela, expressando, de preferência, a principal ocorrência.
Já Douglas (1966, p. 16) propõe que: “o título expressa-se com limitado
número de palavras, acuradamente escolhidas, para dela se extrair o máximo
efeito”. Nota-se que esta definição, ainda que elaborada no ano de 1966, possui
uma visão atraente/moderna no modo de ver a titulação. Para Douglas (1996), a
linguagem é um elemento utilizado para fazer valer a expressão à que se quer
destacar e não apenas informar.
Esta linguagem jornalística possui, conforme Fossati (1992), duas funções
com relação à linguagem jornalística. São elas: a denotativa e a conotativa. Não
pode haver ambigüidade na denotação. Não há juízo de valor, visa a responder
somente o seguinte: o que, quando, onde, como, por quê. Esta é, portanto, uma
função objetiva, explícita, que não caracteriza a titulação blogueira.
40
A função conotativa, também chamada de apelativa, é aquela em que o
emissor busca despertar no receptor o interesse de ler. Para tanto, esta carrega
traços de persuasão/sedução. A conotação ocorre seja através da ambigüidade, do
juízo de valor, etc. Isto se dá quando se usam adjetivos testemunhais e aferições
subjetivas nos títulos. Títulos como: “Dia D”, “Pior Crise”, “Nunca na História”. Estes
são alguns dos exemplos de locuções, em que o sentido depende de valores,
sobretudo de quem descreve.
Outra característica fundamental da função conotativa é de caracterização
pela presença do imperativo, do vocativo e do verbo na segunda pessoa. Na mídia
impressa, esta função é visualizada constantemente nos anúncios publicitários. Já,
em nosso objeto de pesquisa, esta função é amplamente necessária, tendo o verbo
não somente na segunda pessoa, como nos casos das mensagens das postagens,
mas também em primeira pessoa, pois os blogs requerem o uso do “eu”, a fim de
haver credibilidade do juízo de valor por parte do emissor.
Também a ambigüidade é uma característica da função conotativa, utilizada
para ironizar o que está presente no debate da agenda midiática. Um exemplo é, de
acordo com Fossati (1992), a manchete publicada pelo jornal O Globo: “Fidel Castro
assado e comido pelos presos”.
Utilizando-se de elementos da função conotativa, adentra-se nas
propriedades de um título, aspectos fundamentais para a elaboração desta
pesquisa. São destacados: recurso das aspas, o título-libelo, juízo de valor, notícias
em seqüência, título quebrado, repetição, ponto e vírgula, ponto de interrogação,
ponto de exclamação, aliterações e rima, color story e side story,
persuasão/sedução, piadas e trocadilhos, assim como antítese.
O recurso das aspas é também um princípio de titulação polemista, ou seja, é
uma maneira de deixar o implícito, explícito, destaca Douglas (1966). Assim, forma-
se a ambigüidade. Utilizam-se as aspas para inverter o significado da palavra ou
conceituar duplo significado e determinar o caráter polemista da titulação. Este uso,
quando o receptor não possui bons prospectos relevantes para a decodificação
deste, faz com que o título-notícia passe a ser uma editorialização. Muitos jornalistas
acrescentam as aspas, a fim de mostrar ao leitor onde se encontra a ambigüidade, já
41
que a fenomenologia, isto é, o contexto histórico de cada indivíduo é contrastante
em cada cidadão.
O título-libelo é uma propriedade que consiste da negligência ou da
ignorância na qualificação dos fatos da notícia e geralmente leva o redator à
produção de um título acusatório. Trata-se de outro instrumento para o
desenvolvimento de um título com discurso polêmico. São exemplos: “Preso em
Londres o ladrão da Copa”, exibido no jornal Última Hora de São Paulo, no dia 26 de
março de 1966.
O juízo de valor é um exemplo de título polemista, pois remete à
editorialização da notícia.
Notícias em seqüência é outra propriedade que visa à conexão entre os
sucessivos dias e que provoca a consideração dos títulos de primeiro e de segundo
dia. Como esta pesquisa possui por objeto a análise política, pode-se elucidar este
caso com o nome do ex-presidente do Brasil. Certamente, a primeira aparição do
nome do político, Fernando Henrique Cardoso, se deu por extenso, ou seja, não
houve a abreviação do mesmo. Porém, como o ex-presidente passou a ser notícia
todos os dias, em virtude do seu mandato de oito anos, a mídia passou a denominá-
lo apenas com suas iniciais, FHC, e todos o entenderam e entendem até os dias de
hoje. Tal enunciação não possui características polemistas.
No caso do título quebrado, não se observa aspecto polêmico.
A repetição é uma modalidade que sofria grandes rejeições por antigos
redatores. Nos atuais dias, é destacada para dar ênfase a determinado contexto. É
uma propriedade polemista.
O ponto e vírgula é utilizado para uma comparação. No caso de um título
polemista, objeto desta pesquisa, este serviria como uma analogia satirizada.
O ponto de interrogação exprime a dúvida e, certamente, sempre que ele
estiver presente, haverá uma mensagem implícita neste título, ou seja, há aqui um
discurso polemista.
42
O ponto de exclamação é outro elemento destacado para dar ênfase ao
discurso do redator. Em outros tempos, era amplamente combatido. É outro traço
imprescindível para uma titulação polemista.
Aliterações e rimas são recursos eficazes na construção de um título com
discurso polemista. Exemplos deste caso são: “Papa pede pela paz”, “Alagada a
alameda Alabama”, “Constantino convoca conselho”, “Crise cresce na Grécia”, etc.
Tais recursos são eficazes na elaboração de uma titulação polemista.
Color story e side story também são recursos polemistas, pois não se visa à
elaboração de títulos comuns neste tipo de postagem. Tais histórias reclamam
apresentações enfáticas. Assim, “22 dias para 2 objetivos e 2 respostas” é um
exemplo desta propriedade.
Outro elemento encontrado é a persuasão/sedução. Na linguagem
persuasiva, a profusão de adjetivos e de advérbios tem por finalidade dar uma maior
dimensão a esta forma de expressão, utilizando-se componentes emotivos,
incompatíveis com a racionalização. Trata-se de uma das mais utilizadas
propriedades de titulações polemistas.
Em 1966, o Jornal da Tarde, edição vespertina que o Estado lançou,
introduziu uma real novidade em matéria de títulos. Eles são
propositadamente elaborados segundo uma linha intimista, dirigindo-se ao
leitor de modo quase que familiar (DOUGLAS, 1966, p. 22).
Aqui também se deve enfatizar que, em outros tempos, esta utilização era
considerada perigosa, pois contrariava os princípios do jornalismo considerado ético.
Outra propriedade que ia de encontro aos ditos princípios do bom jornalismo
ocorria em relação às piadas e aos trocadilhos, que são recursos polemistas. De
acordo com Douglas (1966), títulos, como por exemplo: “Cardeal cai no conto do
vigário”, “Abelhas africanas: o fim da picada”, “Conselho à dona de casa: evite
tentação da carne”, não eram bem vistos na década de 60.
No caso da antítese, a estratégia consiste em dar informação incompleta ou
angustiante (‘Foi o pior dos dias’ ou ‘A morte tornou-se uma festa’) que se
esclarecerá em seguida.
43
Na conceituação de jornalismo, definida por Douglas (1966), o título tem
quatro funções distintas: anunciar a notícia, resumir o seu conteúdo, indicar a
importância relativa da informação e dar um aspecto atraente à página de um jornal.
No caso deste estudo, são acrescentadas outras funções, em especial, a de
provocar a reflexão e o debate.
Para fins elucidativos, este pesquisador utilizou alguns dos elementos citados
neste capítulo. Dessa forma, através de seu blog
9
, utilizou, em uma postagem
publicada no dia 8 de abril de 2008, um título do modelo conservador, ou seja, com
objetivo de neutralidade, de clareza e de objetividade, utilizando a seguir a
ambigüidade, o uso de aspas, além do recurso de piadas e de trocadilhos. Em
outras palavras, foi aplicada inicialmente a função denotativa, substituindo-a a seguir
pela função conotativa.
Figura 2: Jornalismo gráfico - imagem do blog marciopoetsch.com
Fonte: <http://marciopoetsch.com/2008/04/08/forum-da-liberdade-/2>, 2008.
9
Disponível em:http://marciopoetsch.com (FIGURA 2).
44
Um exemplo foi a manchete de “Fórum da Liberdade” sem o uso das aspas,
já que a postagem remetia a uma palestra deste fórum. Em seguida, a manchete foi
substituída por “Uau Disney”
10
. Aqui, foi utilizado o recurso das aspas para
conceitualizar duplo significado. A postagem relatava a palestra de José Luis
Cordeiro, que é consultor, pesquisador e escritor venezuelano e que, nesta palestra,
comparou a arrecadação da petrolífera de seu país aos ganhos de Mickey Mouse,
personagem de Walt Disney, cujo nome registrado no título, sendo utilizado o
princípio das piadas e dos trocadilhos, citados neste capítulo.
Constatou-se, dessa forma, que a postagem que instigava mais o público era
“Uau Disney”, pois, assim, acusavam as estatísticas do blog.
10
Disponível em:http://marciopoetsch.com/2008/04/08/forum-da-liberdade-2/
45
5 O DISCURSO E A RETÓRICA DA INTRANSIGÊNCIA
Neste capítulo, são apresentados o discurso e a retórica da intransigência. A
primeira parte desta seção faz referência à contextualização histórica sobre a arte da
retórica. Para isto, foi destacado o movimento sofístico, originado no século V a.C..
Tal movimento tem relação com o surgimento dos polemistas. A segunda seção
examina a ideologia do discurso. Assim, são comparados os compromissos
ideológicos dos jornalistas da mídia tradicional com os blogueiros independentes. Na
terceira parte, é destacada a retórica da intransigência, necessária para a análise
deste estudo, e que foi idealizada por Hirschman (1992). São assinaladas ainda as
três teses que a formam. Na quarta parte, são expostos os conceitos de discurso e
de insight. São utilizados autores como Charaudeau (2006) e Maingueneau (2001),
entre outros. Por fim, a última parte deste capítulo trata da persuasão e da sedução.
Nela é mostrada a diferença entre ambos os conceitos.
5.1 OS SOFISTAS
O movimento sofístico se originou no século V a.C. e se deu após uma
mudança de rumo na Grécia antiga. Assim, os fatos, anteriores a este século,
possuíam um caráter cosmológico, isto é, eram tratados através do misticismo, da
religiosidade, ou seja, cultuavam-se os deuses gregos. A este período
convencionou-se chamar de Pré-socrático.
O homem grego, ávido de independência em face dos fenômenos naturais e
das crenças sobrenaturais, vê-se, historicamente, investido de condições de
alforriar-se dessa tradição. É um dizer sofístico, de autoria de Protágoras,
esse que diz: o homem é a medida de todas as coisas [...]
(BITTAR;
ALMEIDA, 2004, p. 56).
Ainda, de acordo com os autores, no século V a.C., foi possível a solidificação
das condições que facultavam as atenções da humanidade voltadas para as
necessidades do homem, tais como: problemas sociais, comércio, discussões
políticas, etc. Desta forma, com o movimento sofístico, os indivíduos voltaram-se às
46
questões ligadas às manifestações e às deliberações, ao convencimento dos pares
e ao alcance da notoriedade no espaço das audiências públicas.
Com o movimento sofístico, os intelectuais à época eram tidos somente como
bons oradores. Assim, Bittar e Almeida (2004, p. 57) destacam que: “O que de fato
ocorre é que, desde Platão e Aristóteles, passou-se a tratar a diversidade dos
sofistas como um grande conjunto indiferenciado de pensadores e de técnicos da
palavra”.
Também como conseqüência disto, tanto Platão quanto Sócrates, dois dos
maiores pensadores da Grécia antiga, não viam os sofistas com bons olhos. Platão
sugeria que o importante era o intelecto de cada pessoa, isto é, a filosofia, a razão.
Esta tinha por virtude a essência, o conhecimento e a sabedoria, enquanto os
adjetivos, para caracterizar o movimento sofístico, eram de acordo com ele, apenas
considerando a aparência, a opinião e a retórica. Ribeiro acrescenta que, para
Platão:
[...] os sofistas teriam sido um bando de professores charlatães que
prometiam ensinar aos jovens atenienses, mediante um pagamento
generoso, algo que era, na melhor das hipóteses, uma pseudo-sabedoria
oca e, na pior, um “ensino profundamente imoral (RIBEIRO, 2006, p. 93).
Para Guthrie (2005), esta definição de desprezo aos sofistas abrangia
também outro grande pensador da Grécia antiga, Aristóteles. Assim, é descrito, em
seu livro, denominado Os Sofistas, a alegação de que Aristóteles referia-se a estes
também como indivíduos que ganham dinheiro com uma sabedoria inexistente.
Com tais retaliações sobre seu movimento, a palavra “sofista” passou a ter
cunho pejorativo, depreciativo, já que designava aquela pessoa que não era sábia,
mas que pretendia ser.
Assim, os sofistas eram discriminados no século V, a.C. e considerados
culpados pelo declínio moral de Atenas.
Na Grécia, o sucesso que contava era primeiramente político e, em segundo
lugar, forense, e a sua arma era a retórica, a arte da persuasão. Seguindo a
analogia, pode-se atribuir à retórica o lugar agora ocupado pela
47
propaganda. Com certeza, a arte da persuasão, amiúde por meios dúbios,
não era menos poderosa então, e, assim como temos nossas escolas de
negócio e escolas de propaganda, assim também os gregos tinham seus
mestres de política e retórica: os sofistas (GUTHRIE, 2005, p. 51).
Assim, Platão argumentava que a retórica dos sofistas tinha um viés de
“maquiagem”, ou seja, visava a “aparentar ser”. Dessa forma, a retórica era
classificada como pertencente ao campo das artes, pois o seu foco estava em
apenas agradar o ouvinte através do prazer sensorial. Não desejava tornar as
pessoas mais capacitadas intelectualmente. Nesse mesmo sentido, Guthrie (2005)
enfatiza que os sofistas competiam entre si: Em jogo estava o poder de persuasão
de seus discursos. Este método de debates públicos tem como objetivo o
treinamento da sofística, desenvolvendo a capacidade de o orador fazer o
argumento mais fraco parecer o mais forte. Afirmava-se que a verdade era relativa e
que ninguém poderia afirmar, por decorrência, o que é certo.
A técnica do “assopra e bate” também possui sua origem no sofismo. Tal
procedência se deu com a capacidade de alguns oradores em tirar o mérito de seu
opositor, através do enaltecimento de uma causa, louvando-a, e, seguidamente,
imputando a ela defeitos. Este método é utilizado nos atuais dias, principalmente na
classe política, em que é necessária a agressão ao inimigo/opositor em benefício às
suas causas, ou as do partido. Poder-se-ia relacionar que o surgimento da retórica
da intransigência, analisado a seguir nesta pesquisa, se originou no movimento
sofístico.
No “jogo” da retórica, conforme se percebe, questiona-se o lado que remete à
discórdia. Ribeiro (2006, p. 98), afirma que “Isócrates, por exemplo, hoje classificado
como retórico, considerava a si próprio um filósofo e colocava Platão e Sócrates no
grupo dos que “encontravam prazer em defender teses implausíveis”.
A arte da retórica é sutil, ou seja, passa despercebida se o orador é eficaz.
Tal discurso traz consigo a rendição do outro, através do convencimento daquilo que
se almeja. Tordesillas (2004, p. 659) assinala que: [...] “Eu ouvi Górgias repetir, em
todas as ocasiões, que a arte de persuadir ultrapassa em muito todas as outras, pois
48
ela serve a seu império pelo consentimento e não pela força e, de todas as artes, é
realmente a mais excelente”.
Alternadamente, muitos sofistas prestavam um exibicionismo prolongado
sobre o tema previamente estudado. Guthrie (2005, p. 51) diz que a explanação
retórica era considerada como uma deusa grega, ou seja, “a feiticeira à qual nada se
nega”.
Os sofistas davam sua instrução quer a grupos pequenos ou seminários,
quer em conferências públicas ou ‘exibições’. Os primeiros podem ter sido
realizados na casa do patrono de Cálias, o homem mais rico de Atenas, de
quem se disse que gastou mais dinheiro como os sofistas do que qualquer
outro (GUTHRIE, 2005, p. 43).
Os oradores à época eram cidadãos narcisistas, que cultuavam a conquista
da fama, atingindo a notoriedade pública. Pode-se fazer um paralelo com os
polemistas atuais, pois estes buscam igualmente a notoriedade não somente pela
retórica, mas também mediante um embasamento intelectual que sustente seus
argumentos.
O culto à fama dos sofistas era explícito em competições por prêmios em
festivais e torneios, assim como a dos atletas em Olímpia. Para os sofistas, a
retórica era uma batalha verbal que sempre possuía um vencedor e um perdedor.
Guthrie (2005, p. 45) acrescenta: “Hípias fala de ‘entrar nas listas’ em Olímpia e de
não ser batido”. Tais festivais eram a oportunidade de todas as cidades-Estado
gregas se encontrarem e esquecerem suas diferenças. Nesta época, o objetivo do
discurso era a aparência. Em boa medida, é o que ocorre ainda hoje.
5.2 A IDEOLOGIA
A história sempre foi contada destacando os protagonistas de cada época. É
sobre eles que a narrativa da história recairá. Desta forma, alguns autores dão
menos ênfase ao contexto e aos modos de vida de inúmeras civilizações antigas, ou
seja, o que pensavam tais indivíduos, quais eram as tarefas do dia-a-dia, etc.
49
Conforme Aubenas e Banasayag(2003), há pouco mais de 20 anos, a Escola
de Annales, movimento historiográfico surgido na França e designado como a
Revolução Francesa da historiografia, contestou esta “longa cadeia”. Passou-se a
dar ênfase a versões e contextos históricos variados, em benefício de um
conhecimento menos alienante. De acordo com Aubenas e Banasayag (2003, p. 17),
“[...] todos sabem que a riqueza de um século não se resume à cerimônia do
despertar ou deitar-se dos reis”. Aqui, pode-se fazer uma analogia com os blogs,
pertinente para a elaboração desta pesquisa. O fato é que, com eles, esta
multiplicidade vem substituir, em parte, os massivos discursos exibidos e elaborados
por protagonistas eleitos como preferenciais. São eles: presidentes da república,
chefes de estado, autoridades religiosas, celebridades artísticas e esportivas, etc.
A mudança na forma de se fazer jornalismo também acaba sendo alterada
com a invenção do blog. Neste meio, há a possibilidade da independência na
elaboração da informação, isto é, não é necessária a aprovação de uma mídia que
subsidie o jornalista, exceto no caso dos blogs corporativos.
Desta forma, a inquietação do jornalista/blogueiro é que vai se tornar a
substância de suas postagens, desde que este seja um blog opinativo e
independente. Neste mesmo sentido, constata-se que, especialmente nos meios de
comunicação de massa, há uma espécie de escala Richter, tácita, em que se define
o que é e o que não deve (ou não deveria) ser publicado, em função de conceitos
preconcebidos, como costumes, ideologias e, até mesmo, padrões culturais.
Para exemplificar a frase acima, visualiza-se a maneira pela qual o I
geralmente é tratado pela mídia mundial, cujos enfoques estão principalmente nos
aspectos concernentes às condições das mulheres ou da liberdade de imprensa; a
Inglaterra, pelos escândalos do Palácio Real, como ocorreu com a princesa Diana, e,
posteriormente, com o envolvimento de um de seus filhos com entorpecentes.
A multiplicidade que ganha força com a internet, em especial com os blogs,
“ameniza” tudo isso, retirando, em parte, espaços destinados a estes estereótipos,
colocando em pauta assuntos concernentes a todos os gostos, versões e ideologias.
50
Além disso, trata-se de um processo mais democrático na variedade da
informação. O indivíduo isolado que emite seu conteúdo pode ser “ouvido”. A
emissão de mensagens torna-se diluída na sociedade. Há, nesse caso, a
possibilidade de um feedback para o emissor. Desta forma, ocorre a comunicação e
não somente o discurso de uma via só, isto é, sem retorno, como o propagado nos
veículos tradicionais.
5.3 A RETÓRICA DA INTRANSIGÊNCIA
Para a análise deste estudo, é necessário contextualizar a retórica da
intransigência, definida por Albert Hirschman em 1992. Ela apresenta o recurso da
desqualificação do adversário, que é utilizado também no discurso polêmico, no qual
o polemista é um “gladiador em luta”. Assim, nestes enunciados, percebe-se que o
antagonismo é alicerçado pelo esvaziamento do discurso do outro. O outro são os
divergentes, tais quais: o governo, os colegas de profissão e a ideologia
incompatível com a do jornalista/blogueiro.
Com o objetivo de conceituar a retórica da intransigência, Hirschman (1992)
destaca que ela pode ser constituída como sendo de três tipos: a tese da
perversidade, da futilidade e da ameaça A cada uma das três teses, é assinalado um
contexto histórico.
5.3.1 Tese da Perversidade
A tese da perversidade é enfatizada a conduta destinada à solução de um
malefício, acabando por comprometer ainda mais o problema que, a priori, seria de
resolução aparentemente viável.
Esta tese é retratada na história com o exemplo da Revolução Francesa.
Conforme Menezes (2008, p. 13): “A revolução francesa ilustra a tese da
perversidade, quando os ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade foram
51
transformados na ditadura do “Comitê de Salvação Pública”. Tal órgão conduziu a
política do terror nesta revolução. Por analogia deste contexto histórico, vale
destacar o tradicional bordão: “a massa é burra”, ou seja, o indivíduo é racional,
mas, ao se aglomerar com outros tantos, torna-se irracional, pois passa a agir não
mais sobre a razão e, sim, pela emoção.
De acordo com Hirschman (1992, p. 30), a tese da perversidade propõe que:
“qualquer política pública que tenha por meta mudar resultados do mercado, tais
como preços ou salários, torna-se automaticamente uma interferência nociva em
processos benéficos de equilíbrio”. Desta forma, o próprio autor conclui que a
disponibilidade da assistência agiria: “como incentivo positivo à ‘preguiça’ e à
‘depravação’, terminando por produzir mais pobreza” (Ibidem, p. 31).
Em outras palavras, é destacado, no livro de Hirschman, que o mundo inteiro
é regido por um estado de opinião pública, que denota que o melhor caminho a ser
seguido para o bem estar de uma nação é aquele que o governante está fazendo.
Este utiliza o aparato de comunicação do estado, para reforçar os seus objetivos e a
autenticidade de seu governo. Assim, fica mais difícil para a oposição deste governo
confrontar em igualdade de tempo e de espaço na mídia suas argumentações, pois
estes não podem utilizar os recursos da “máquina estatal”, ou seja, de ser governo.
Portanto, os opositores passam a ser vistos como os reacionários desta política, ao
“lançarem” um ataque “contra” o sistema em vigência. Conforme Hirschman (1992,
p. 18), “Em vez disso, eles endossam com maior ou menor sinceridade, mas depois
tentam demonstrar que a ação proposta ou levada a cabo é mal concebida”.
Outro exemplo notório da tese da perversidade dá-se, conforme Menezes
(2008), com o programa destinado à população de baixa renda, denominado “Bolsa
Família”. Integrantes oposicionistas do governo Lula argumentavam que esta era
uma maneira de “copiar precariamente” o programa Bolsa-Escola, do ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso.
[...] visava a obrigar a criança a se manter na escola, e a família a realizar
obrigações para garantir sua saúde, o programa de Lula passou por cima
das exigências de contrapartida e distribuiu dinheiro a torto e a direito
Alberto Goldman, PSDB, 22/02/2005. (MENEZES, 2008, p. 72)
52
Aqui, há o endosso de que o programa Bolsa Família é bom, pois o governo
anterior enfatiza a paternidade de tal ação social. Porém, observa-se, após, que esta
é uma forma mal concebida da original.
5.3.2 Tese da Futilidade
A tese da futilidade defende que as mudanças são sempre ilusórias, pois as
estruturas profundas da sociedade sempre permanecem intactas.
A Revolução Francesa passa a ser analisada também pela tese da futilidade.
Assim, é dito que esta Revolução representou muito menos uma ruptura com o
passado, ou seja, com os anseios de liberdade, de igualdade e de fraternidade do
que havia sido considerado.
Algumas das ‘conquistas’, altamente alardeadas da Revolução, da
centralização administrativa à disseminação da agricultura em pequena
escala feita pelo proprietário, já existiam de fato antes de sua eclosão. Até
os famosos “Direitos do Homem e do Cidadão” já haviam sido em parte
instituídos pelo Antigo Regime (HIRSCHMAN, 1992, p. 46).
Trata-se, neste estudo em questão, de uma tese fria, ou seja, diferentemente
da tese da perversidade, considerada como tese quente, em função dos debates e
dos conflitos que, por si, desencadeariam. Tem-se aqui apenas uma tese abortiva.
Hirschman (1992, p. 43) apresenta: “Em vez da ‘lei do movimento’, temos aqui uma
‘lei do não-movimento’”. Freqüentemente, ao se assistir uma propaganda eleitoral,
determinado candidato afirma que, na época de seu mandato, tudo fluía na mais
bela harmonia, o que, de fato, não ocorria. Sendo assim, por analogia, emprega-se a
tese da futilidade, que, de acordo com o bordão, criado pelo barão de Lampedusa
em seu romance Leopardo (1959): “Se quisermos que tudo continue como está, é
preciso que tudo mude”.
53
Outra forma de elucidar a tese da futilidade é mencionada por Hirschman
(1992, p. 44): “Qual é a diferença entre o capitalismo e o socialismo?”. A resposta:
“No capitalismo, o homem explora o homem, no socialismo é o inverso”. Trata-se
aqui de uma piada oriunda da Segunda Guerra Mundial, na Europa Oriental, depois
da instauração de regimes comunistas. Esta exemplificação relata que, apesar de
um regime político “desqualificar” o outro, ambos não solucionam o que se pretende,
tornando-se, portanto, fúteis.
5.3.3 Tese da Ameaça
A tese da ameaça justifica que o custo de determinada reforma é muito alto,
porque coloca em risco outra realização anterior. A idéia é simples: “Isto matará
aquilo”.
Ceci tuera cela” [Isto matará aquilo] é o título de um famoso capítulo do
romance de Notre-Dame de Paris, de Victor Hugo. Nesse caso, Ceci
representava a imprensa e o livro que, com a invenção dos tipos móveis,
explicou Victor Hugo, tomariam o lugar de cela, ou seja, das catedrais e de
outras arquiteturas monumentais como expressão principal da cultura
ocidental (HIRSCHMAN, 1992, p. 103).
Na mitologia grega, é possível identificar situações que ilustram a tese da
ameaça: quando Prometeu roubou a chama do conhecimento e repassou aos
homens o que parecia ser um ato de evolução na humanidade, representou a
punição. Assim, Zeus, o deus supremo, puniu Prometeu e remeteu um presente a
seu irmão, Epimeteu. Era a caixa de pandora, enviada com uma bela mulher como
presente de Zeus. Prometeu alertou para que seu irmão não a abrisse, o que não
adiantou. Ao abrir, foram expostos todos os problemas que afligiriam a humanidade
daquela data em diante, tais como doenças, guerras, etc. Era o fim da Idade de
Ouro da Humanidade e o surgimento da tese da ameaça.
Nesse contexto, esta tese pode ser exemplificada no Brasil, também na
eleição de 2002, quando um presidente de ideologia de esquerda assumiu o País.
54
Naquele ano, o slogan da campanha vencedora assinalava: “não deixe que a
esperança vença o medo”. A esperança se traduzia no novo, no inusitado, enquanto
o medo refletia o “desconhecido”.
Deste modo, a explicitação na fala da atriz, Regina Duarte, que fazia
propaganda eleitoral para o rival de Lula, o candidato do PSDB, José Serra, se
traduzia no medo do que poderia vir a ser um governo de ideologia “desconhecida”.
Estou com medo. Faz tempo que eu não tinha esse sentimento. Porque
sinto que o Brasil nessa eleição corre o risco de perder toda a estabilidade
que já foi conquistada. Eu sei que muita coisa poderia ser feita. Mas
também tem muita coisa boa que foi realizada. Não dá pra ir tudo pra lata do
lixo. Nós temos dois candidatos à presidência. Um eu conheço, é o Serra. É
o homem dos genéricos, do combate à AIDS. O outro, eu achava que
conhecia, mas hoje eu não conheço mais. Tudo o que ele dizia mudou
muito. Isso dá medo na gente. Outra coisa que dá medo é a volta da
inflação desenfreada. Lembra? 80% ao mês. O futuro Presidente vai ter que
enfrentar a pressão na política nacional e internacional. E vem muita
pressão por aí. É por isso que eu vou votar no Serra. Ele me dá segurança
(MENEZES, 2008, p. 27).
Outro fato de grande relevância com relação à tese da ameaça ocorreu nesse
mesmo governo. O presidente passou a ser visto como “réu”. Larry Rother, jornalista
do New York Times, havia redigido uma matéria para aquele veículo, destacando
que o presidente brasileiro era alcoólatra. O presidente Lula, desgostoso com a
situação, decidiu expulsá-lo do país. Este caso obteve ampla repercussão
internacional. Muitos passaram a observar o governo Lula como autoritário, já que,
até então, o presidente tinha uma boa imagem internacional. Nesse caso, Lula
utilizou do mesmo artifício que a oposição havia empregado durante o processo
eleitoral, ou seja, a ameaça.
Esta é, também, uma tese que conota um contexto. É o velho bordão: “se isso
acontecer, acarretará ‘naquilo’”. O “naquilo” remete a um fato do passado. Dessa
forma, em épocas de eleições, é comum a alegação de que o povo não sabe votar.
Este é o argumento de Menezes (2008), para contextualizar historicamente a tese da
ameaça.
A tese da ameaça, por sua vez, foi utilizada durante o século XIX, quando
foi proposta a expansão do sufrágio nos países em que os direitos e as
55
liberdades civis estavam firmemente estabelecidos. Ela argumentava que
tais direitos e liberdades seriam perdidos, em virtude do avanço da
democracia, pois a extensão do direito de voto aos trabalhadores e pobres
levaria ‘à formação de uma maioria e a um governo que expropriaria os
ricos [...] (MENEZES, 2008, p. 15).
Nesse caso, levou-se em questão que a expansão do sufrágio acarretaria em
risco a avanços anteriores no domínio dos direitos individuais, ou seja, a
democracia.
Assim, caracterizadas as três teses da retórica da intransigência, isto é, da
ameaça, da perversidade e da futilidade, verifica-se que, tal qual o polemismo, trata-
se de formas de discursos semelhantes que visam a descaracterizar o alvo em
questão, como o governo, o colega de trabalho, etc.
5.4 O DISCURSO E O INSIGHT
O discurso mobiliza uma “outra ordem” de significação que a da frase. Assim,
por exemplo, a declaração: “Proibido Fumar” é uma unidade completa e mais
complexa. Este enunciado pode ser visto sob vários ângulos: risco, respeito,
necessidade, convenção, etc. Assim, elementos subjetivos se fazem presentes na
diversidade de enunciações, já que constituem um determinado contexto histórico.
O discurso é também interativo, contextualizado, assumido por um sujeito e
regido por normas. No que concerne à função desse discurso/enunciado, Sousa
(2006) considera que a linguagem é sempre retórica, pois tem por finalidade
comunicar algo até a persuasão.
Entendemos que o discurso jornalístico trabalha com o que é inesperado
(no sentido de inusitado), com o que é possível (em termos da vida
cotidiana em suas dimensões políticas, sociais, econômicas, culturais,
esportivas, etc.) e com o que é previsível (em termos de acontecimentos
futuros) (INDURSKY; FERREIRA, 1999, p. 112).
56
O inusitado é também observado por Moraes e Galiazzi (2007), pois denotam
que é, partir do caos, que surge o novo. Desta maneira, se originam os “insights”,
isto é, uma operação inconsciente/inesperada, resultando em novo ponto de vista,
antes não percebido. Os autores acreditam que a grande maioria dos insights é
perdida durante as elaborações dos discursos, restando somente alguns. Moraes e
Galiazzi (2007, p. 43) sugerem que: “Os relâmpagos apenas dão uma visão rápida
da paisagem”. Da mesma maneira, é destacada a necessidade de o autor do insight
conseguir exteriorizar esta visão para o seu leitor, pois, caso contrário, esta
mensagem não terá relevância. Ela pode se exteriorizar por meio de metáforas, já
que os discursos textuais movimentam-se em um contínuo entre elementos de
objetividade e de subjetividade.
Já quanto à definição dos discursos textuais, Maingueneau (2001) ressalta
que o oral, o escrito e o impresso são regimes de enunciação distintos, que supõem
padrões muito diferentes. Igualmente, Charaudeau (2006) sugere que há uma
subdivisão de gêneros em textos escritos.
[...] um texto escrito pertence a um e somente um gênero. Os textos escritos
caracterizam-se, geralmente, por empréstimos a diferentes gêneros. Até
mesmo os jornalistas o reconhecem. Um deles declara: ‘No domínio do
jornalismo político, aqueles que dizem que se deve sempre separar a
informação do comentário estão inventando histórias. Num outro nível, com
relação ao comentário ou ao editorial, não é possível definir claramente a
diferença entre esses dois tipos de artigo (CHARAUDEAU, 2006, p. 234).
A citação acima corresponde ao reconhecimento do gênero polemista como
uma subdivisão do articulismo. Esse gênero de discurso, adicionado ao modelo dos
blogs, analisados nesta pesquisa, tem por objetivo captar o receptor através da
forma inusitada de seu texto. O discurso em primeira pessoa, referido nos blogs,
acrescentados de persuasão e de sedução, tornam esta mídia um objeto cativante
para a leitura.
57
5.5 A PERSUASÃO E A SEDUÇÃO
A persuasão e a sedução são duas maneiras distintas de buscar no leitor o
êxito na participação ou na adesão de determinada causa/argumentação.
Uma não existe sem a outra, embora sejam distintas. Ambas utilizam a
propaganda como ferramenta. Propaganda esta que se encontra explícita e implícita
nos títulos das postagens e também no ego do polemista, pois ele vive de uma
imagem projetada para com seu público.
Alguns autores divergem quanto à definição de persuasão. Garcia (1982)
sugere que a relação entre persuadido e persuasor se dá pela diferença de classes.
O autor reforça, de certa maneira, a Tese de Pierre Bourdieu, o qual afirmara que os
meios de comunicação influenciam e “determinam” as tendências de consumo da
grande massa. Outros autores argumentam que, se este fato fosse verdadeiro,
resultaria em uma inexistência de divergências. Tal tese reduz o humano a um ser
“indispensável/desnecessário”, que não questiona nada, ninguém. Assim, para os
contestadores das teorias de Garcia e de Bourdieu, a relação entre persuasor e
persuadido se dá em plano ideológico.
No que concerne à sedução, Silva (2001) menciona que esta está mais
voltada para as aparências.
Ela retira do objeto seu sentido para transformá-lo somente naquilo que ele
aparenta ser. A partir disso, qualquer coisa pode guardar um aspecto de
sedução, desde um corpo até um discurso. Para tanto, é suficiente que
deixe de significar. Basta que se permita estar desviado de sua própria
verdade (SILVA, 2001, p. 38).
Há, nessa citação, uma característica em comum com os sofistas e os
polemistas, ou seja, o “aparentar ser”. Tem-se aqui o tradicional bordão: “ganha
quem bate mais, independente do argumento”.
58
Conforme Silva (2001), o discurso para ser sedutor tem que enaltecer as
superficialidades. Assim, as superficialidades da sedução podem ser compreendidas
com o gênero polemista, e a retórica da intransigência, como um “acusar sem
comprovar”. Nesse caso, o tom é preponderantemente emocional.
Discursos ufanistas, xenófobos e racistas são exemplos do uso do artifício da
superficialidade. Quando se usa tal discurso, geralmente há radicalismo. Como
exemplo, tem-se, à época da ditadura brasileira, no governo de Getúlio Vargas:
Brasil ame-o ou deixe-o”. Nesses casos, o forte clamor emocional foi utilizado por
líderes políticos com a finalidade de coesão, de fortalecimento
institucional/ideológico de determinada causa, além da imputação de um hipotético
alvo, no caso em questão, como “traidores da pátria”, denotando o inimigo a ser
derrubado.
Tais fatos foram o estopim que designaram as grandes tragédias da
humanidade, como, por exemplo, as inúmeras tentativas de extermínio de diversos
grupos étnicos.
59
Figura 3: Tragédia em Santo André - Blog do Reinaldo Azevedo
Fonte: <http://veja.abril.com.br/blogs/reinaldo/2008_08_10_reinaldo_azevedo_arquivo.html>, 2008.
Para fins ilustrativos, têm-se o uso da “sedução” na titulação de uma
postagem (Figura 3), no blog de Reinaldo Azevedo. Este escreveu: “O drama de
Santo André e os mascates da tragédia”. Verifica-se aqui a existência de uma
titulação polemista, pois o blogueiro utiliza uma propriedade, descrita no capítulo 4.2,
que é composta de profusão/desperdício de adjetivo, através do termo “mascates”.
Tal termo, contextualizado com o conteúdo da postagem, ressalta que um “colega”
do jornalista havia relatado que simpatizantes do Partido dos Trabalhadores tinham
comemorado o insucesso de um resgate de um seqüestro na cidade de Santo
André, em São Paulo. Tal suposta comemoração se dava com argumentos políticos,
já que a polícia paulista, governada pelo PSDB, e de oposição ao PT, era tida como
a mais eficiente do país. Desta forma, tal fato tratava-se de uma versão sem
comprovação.
60
Silva (2001, p. 40) afirma que: “nesse sentido, a sedução é um processo
essencialmente compreensivo, enquanto a persuasão, nas suas fórmulas retóricas,
perpassa a explicação. Assim como a compreensão”.
Desta forma, Castro (2008) defende um embasamento convincente por trás
da persuasão. É sugerido também pelo autor que a persuasão busca no parceiro a
adesão no universo do outro. “O homem, antes de ser um consumidor de produtos, é
um consumidor de palavras (Ibidem)”.
A compreensão está mais sujeita a cometer enganos. A sedução, por seu
lado, é incapaz de estar errada. Isso porque o sujeito seduzido jamais está
certo ou errado, ele está simplesmente privado do sentido daquele discurso.
Está fadado ao imediatismo e à concretude de sua aparência (SILVA, 2001,
p. 41).
Aqui, abre-se um parêntese para o jornalismo. Pode-se dizer que ele é
composto basicamente de persuasão, embora muitos autores possam vir a
contestar, afirmando que este é neutro. Já o gênero polemista compõe-se, em sua
maior parte, de sedução, ou seja, de apelo, de clamor, de um público que ama o
polemista e, de outro, que o odeia. Caso isso não ocorra, não há um personagem
polemista.
Silva (2001, p. 42) sugere que a melhor definição das diferenças entre
persuasão e sedução é a seguinte: “o discurso sedutor, então, é o próprio discurso
persuasivo privado de seu sentido.
Pode-se dizer que a sedução é um processo fenomenológico, isto é, está
ligado ao cotidiano do indivíduo no dia-a-dia. Desta maneira, não exige conceitos
“universalizados”, apenas outra pessoa, receptora às afetividades e às expectativas
do indivíduo. Por outro lado, a persuasão não necessita de indivíduos aptos a
recebê-la, mas, sim, entendê-la. Por isto, diz-se que a sedução é uma modalidade
coletiva, em que dois indivíduos já são o suficiente para a realização do processo,
enquanto a persuasão pode ser apenas individual, mas não necessariamente.
61
6 METODOLOGIA
A seguir, é apresentada a metodologia desta pesquisa: os seus objetivos, as
suas delimitações, o delineamento da pesquisa e a definição dos blogs que serão
estudados. A metodologia desta pesquisa tem como estratégia proposta o estudo de
caso, baseado no ranking do Technorati, isto é, em um site norte-americano que
realiza o “mapeamento” da blogosfera.
6.1 OBJETIVOS
Esta pesquisa tem como objetivo principal analisar as estratégias retóricas da
titulação blogueira.
Como objetivos secundários do trabalho, têm-se: verificar se há
editorialização no processo de titulação; investigar se o discurso assumido por
determinado jornalista, através dos títulos das postagens, é compatível com a linha
editorial provedora do blog deste jornalista, já que, neste caso, não se trata de um
blog opinativo, mas, sim, de um gênero híbrido entre jornalismo-de-opinião e a sua
contraparte noticiosa (blog corporativo); comprovar que as titulações exibem o
discurso polemista na maioria das postagens; e conferir se as titulações compostas
com uma das três teses da retórica da intransigência possuem relação com o
resultado da análise das titulações polemistas.
62
6.2 MÉTODO DA PESQUISA
Esta pesquisa está dividida em três etapas, conforme detalhado na Figura 4,
as quais são sempre acompanhadas por uma pesquisa bibliográfica, referente ao
assunto em estudo.
Figura 4: Desenho da pesquisa
Fonte: Autor, 2008.
O retângulo em vertical amarelo (Figura 4) trata apenas da pesquisa
bibliográfica acerca dos assuntos aos quais está relacionado, conforme as setas
indicam na figura.
O retângulo em horizontal verde aborda a verificação do ranking dos blogs
políticos mais lidos de jornalistas brasileiros, a fim de que se obtenha o objeto de
análise, além da metodologia buscada através da pesquisa bibliográfica sobre o
estudo de caso.
O retângulo em horizontal central tem por finalidade o estudo do discurso. A
partir daí, são relacionados todos os itens da pesquisa no que concerne ao seu
objeto.
No retângulo em horizontal da base (Figura 4), são explicitadas as definições
do título e do discurso polemista, ou da mídia polemista, propriamente dita, além da
definição de retórica da intransigência.
63
Por fim, aparecem dois retângulos horizontais em laranja, que tratam,
respectivamente, da análise dos blogs, referente à primeira quinzena do mês de
agosto de 2008, assim como da conclusão da pesquisa.
6.2.1 Definição dos Blogs que serão estudados – Estudo de Caso
A estratégia de pesquisa proposta é o estudo de casos, pois, de acordo com
Yin (2005), esta modalidade é adequada, quando se busca responder a questões do
tipo “como” e “por que”. Nela, o pesquisador tem controle limitado sobre os
acontecimentos, e o foco se encontra em fenômenos contemporâneos inseridos em
algum contexto da vida real. Além disso, as investigações, necessárias para
alcançar os objetivos da pesquisa, podem contribuir com o conhecimento
existente de fenômenos organizacionais, o que, segundo o autor, caracteriza uma
das situações na qual, freqüentemente, se utiliza o estudo de caso como estratégia
de pesquisa.
Um estudo de caso é uma investigação empírica que investiga um
fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real,
especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão
claramente definidos. Em outras palavras, você usaria o método de estudo
de caso quando deliberadamente quisesse lidar com condições contextuais
– acreditando que elas poderiam ser altamente pertinentes ao seu
fenômeno de estudo (YIN, 2005, p.32).
Da mesma forma, conforme Gil (1994, p. 45), “este tipo de pesquisa é
realizada especialmente quando o tema escolhido é pouco explorado e torna-se
difícil sobre ele formular hipóteses precisas e operacionalizáveis”.
Assim, os estudos de caso estarão focados no processo de análise de três
blogs políticos, escritos por jornalistas.
64
O ranking dos três blogs de jornalistas políticos foi realizado com base nas
estatísticas do site norte-americano, Technorati
11
, considerado a principal referência
internacional para pesquisa e rastreamento da blogosfera. Este permite fazer uma
contagem precisa do número de links dos quais um blog foi alvo durante
determinado período. Para a elaboração deste ranking, foram computados os
resultados referentes ao primeiro semestre de 2008.
Eles mostram que, de acordo com o site Technorati, o jornalista, Ricardo
Noblat, do jornal O Globo, apareceu em primeiro lugar no ranking. Conforme os
dados coletados no dia 28 de julho de 2008, Noblat possuía 4.021 blogs
relacionados, o que confere uma autoridade de 507 pontos. Em segundo lugar,
apareceu o jornalista, Reinaldo Azevedo, da revista Veja. Sua cotação foi de 3.072
blogs relacionados, com autoridade de 363 pontos. Por fim, apareceu Josias de
Souza, jornalista da Folha de São Paulo. Ele possuía 2.729 blogs relacionados,
também com autoridade de 363 pontos. Vale ressaltar que todos os blogs
pesquisados possuem caráter corporativo, ou seja, não são considerados blogs
opinativos, representam uma instituição.
Foi definida uma amostra de três blogs, para que se pudesse dar conta de um
monitoramento de 15 dias desses sites. Esse acompanhamento foi realizado durante
a primeira quinzena de agosto de 2008. Assim, tal monitoramento consistia da visita
diária a todos os blogs, anotando-se os dois títulos com o maior número de
comentário de cada um dos blogueiros. Adotou-se o seguinte critério de anotação: a
visita diária aos blogs, seguida do registro dos dados relativos ao dia anterior, para
que se pudesse consolidar, ao menos, 24 horas de tempo de comentários por parte
dos leitores nos blogs. Evidentemente, este período não impediu que ocorressem
novos comentários nas postagens, mas delimitava-se um tempo de resposta/reação
do público ao meio.
Cabe salientar ainda que as postagens têm que ser feitas às pressas, de
modo a facilitar a compreensão do leitor. Na maioria dos casos, elas envelhecem de
forma muito rápida. Por isso é de necessidade vital na internet a constante
11
Disponível em <http://technorati.com>.
65
atualização da informação, fazendo com que o blogueiro deixe “no ar” uma
mensagem implícita no título, a fim de despertar atenção no internauta.
Desta maneira, foram analisados os títulos das postagens dos blogs e a
natureza polêmica dos mesmos.
O título, conforme Guimarães (1990, p. 51), ‘expressa a macroestrutura,
pois, lido em primeiro plano, orienta a compreensão para a estrutura de
relevância na apresentação das notícias’. Funcionando como ‘chave para a
decodificação da mensagem’, se convenientemente proposto, do ponto de
vista do consumidor, é a mais importante do que o lead, porque: “sem título
atraente, o leitor não chega sequer ao lead (Burnett, 1991, p. 43)
(COMASSETTO, 2003, p. 59).
Para a análise da retórica da intransigência, foram utilizadas a definições de
Albert Hirschman(1992).
Dando continuidade à pesquisa, é apresentada a análise dos dados
.
66
7 ANÁLISE DA PESQUISA
Inicialmente, esta seção trata da análise da titulação polemista, abrangendo a
primeira quinzena do mês de agosto de 2008, referentes às duas postagens mais
comentadas de cada dia nos blogs previamente selecionados. Na segunda parte do
capítulo, analisa-se, sob esta mesma amostra definida para a análise da titulação
polemista, o estudo referente à retórica da intransigência. Na última parte deste
capítulo, são destacados os resultados da pesquisa.
7.1 ANÁLISE DA TITULAÇÃO POLEMISTA
Na pesquisa, realizada entre os dias 1 e 15 de agosto de 2008, foi coletada
uma amostra de 90 titulações, sendo 30 de cada um dos de três blogueiros políticos
mais lidos no Brasil. Foram analisados os títulos e o conteúdo das postagens. A
partir dessa amostra, foram confrontadas as titulações com os princípios de títulos
polemistas, descritos no capítulo 4.2.
No dia 1 de agosto, as postagens com maiores números de comentários de
Reinaldo Azevedo foram: “Apologia do terror na página de um deputado do PT” e
“Mais um email escandaloso: terrorista revela como ‘engana’ o Brasil”. O primeiro
título faz referência à página da internet do deputado do PT de São Paulo, Renato
Simões. Nela, o deputado apóia o guerrilheiro das Farc, Olivério Medina, que é
objeto de destaque na segunda titulação analisada neste mesmo dia, já que este
cidadão possui ligações com membros do alto escalão do governo federal. As
propriedades, encontradas no primeiro título, são de persuasão/sedução, já que nela
ocorre a profusão de adjetivo, através da expressão “apologia do terror”, além de ser
uma informação angustiante. O segundo título apresenta o uso das aspas, o que
decorre em ambigüidade, além de uma profusão de adjetivo, neste caso, o termo
“engana”, o que remete à persuasão/sedução.
Também aqui, Ricardo Noblat apresenta duas manchetes polemistas entre as
mais comentadas: “Lula é o presidente com melhor imagem entre os argentinos”
67
(Figura 5) e “Tortura é crime que não pode e não deve prescrever”. A primeira
manchete pode ser inserida como de propriedade de piadas e de trocadilhos, visto
que a Argentina é o país mais “detestável” pelos brasileiros, em função da rivalidade.
O segundo título revela um juízo de valor, um gênero que não era concebível no
jornalismo, até pouco tempo.
Figura 5: Lula e os argentinos - Blog do Noblat
Fonte: <http://oglobo.globo.com/pais/noblat/default.asp?periodo=20080801>, 2008.
Já com o jornalista Josias de Souza, é enfatizada, entre os leitores, apenas
uma manchete polemista neste dia: “Em 13 anos, fiscais libertam 30 mil ‘neo
escravos’”. Nessa titulação, há o recurso das aspas, o que confere uma
ambigüidade, além de uma inserção de adjetivo, ou seja, “neo-escravos”, o que
denota a persuasão/sedução. Seu outro título: “Troca de chefia expõe receita a risco
de politização” não possui caráter polemista.
No dia 2 de agosto, as manchetes mais citadas de Reinaldo Azevedo são:
“Carvalho, assessor de Lula, diz que prestou ‘ajuda humanitária’ a terrorista. Que
lindo!” Neste exemplo, há uso de aspas, o que confere ambigüidade, da profusão de
68
adjetivo, através da expressão “que lindo”, que confere persuasão/sedução, e
também da exclamação, utilizado para dar ênfase ao discurso do redator. No
segundo título de Azevedo, aparece: “Veja 8. [email protected]”. Este é um recurso de
piada e de trocadilho, pois remete à ligação entre o partido dos trabalhadores e o
grupo terrorista Farc, em alusão a endereços eletrônicos.
Nesse mesmo dia, os leitores de Noblat destacam uma titulação polemista e
outra informativa. A primeira destaca: “Lula a metalúrgicos: é hora de reivindicar
aumento”, em que só há caráter informativo. O outro título, “Por que não um cargo
no Ministério da Pesca?”, expõe uma mensagem implícita, através do recurso do
ponto de interrogação.
Fechando este segundo dia de pesquisa, são selecionados, entre as
postagens de Josias de Souza, dois títulos apenas de caráter informativos: “Contato
das Farc leva uma vida pacata em Brasília” e “Bolsa família paga R$67 mi a mais no
mês de julho”.
No domingo, dia 3 de agosto, os leitores de Reinaldo Azevedo apontam: “As
Farc e um vermelho e azul com Eliane Cantanhêde”. Aqui é necessário
contextualizar o que está escrito na postagem. Eliane Cantanhêde é colunista do
jornal Folha de São Paulo. Em sua coluna no jornal, foi defendido o “direito” da
mulher do terrorista, Olivério Medina, de trabalhar no Ministério da Pesca. Para a
jornalista, não havia mal algum. Cantanhêde acrescentou ainda que o ex-presidente
do Paraguai, Alfredo Stroessner, havia aplicado uma ditadura covarde em seu país,
e foi recebido no Brasil como asilado político e em um “outro” governo. Para esta
análise, constata-se o seguinte: o que se encontra escrito em vermelho na postagem
é a reprodução da coluna de Cantanhêde e também alusão à sua ideologia
partidária. Sob a ótica de Azevedo, a jornalista partidária do atual governo, remete à
cor vermelha que é a mesma do partido dos trabalhadores, enquanto a correção
desta coluna é marcada com azul, diferentemente das cores usadas para corretivos
na escola. Há aqui um elemento persuasivo/sedutivo, através da profusão de
adjetivos: vermelho e azul. A outra manchete do jornalista neste dia é apenas
informativa: “As manchetes da Folha deste domingo e o Estado policial”.
69
No blog de Noblat, a titulação preferida entre os leitores deste domingo
consiste: “Anistia – Impossível equiparar o criminoso à sua vítima”. Aqui se trata de
um artigo descrito pelo jornalista Jânio de Freitas, com um juízo de valor. Esta é uma
visão rebatedora da tese de Reinaldo Azevedo, em que contesta o ministro da
justiça, Tarso Genro, sobre a lei da anistia. Azevedo faz alusão ao “terrorismo” dos
rebeldes, enquanto esta postagem, com a tortura dos militares. Trata-se, desta
forma, de ideologias diferentes. O outro título é: “As privatizações reavaliadas”, em
que não há discurso polemista.
O encerramento da amostra, realizada durante o primeiro fim-de-semana da
pesquisa, destacado no blog de Josias de Souza, relata as titulações: “Governo faz
mutirão contra as filantrópicas suspeitas” e “As manchetes deste domingo”. Nesse
caso, ambas são informativas.
Na segunda feira, dia 4, Reinaldo Azevedo brinca com o tradicionalismo
gaúcho, já que anteriormente um leitor do Rio Grande do Sul havia rebatido, de
forma áspera, os ideais defendidos pelo blogueiro, através de um comentário que
havia enviado. A manchete é: “O leitor desafia o meu lado gaúcho da fronteira”,
na qual o jornalista apresenta uma propriedade denominada color story e side
story. Esta denota uma apresentação enfática, pois não visa à elaboração de
títulos comuns e, sim, de uma história. Assim, esta titulação destaca um
personagem típico gaúcho, o “gaúcho da fronteira”, que é aquele considerado
“viril” e que não poupa palavras. Tal titulação contém ainda informação
incompleta ou angustiante, pois o leitor não sabe de qual contexto o jornalista a
idealiza. A outra manchete do dia selecionada é: “Agora no You Tube: Cenas
fortes do Estado policial promovido por Tarso Genro”(Figura 6). Aqui há o uso da
profusão de adjetivo, através da expressão “cenas fortes”, além da mesma
propriedade descrita na titulação anterior, color story e side story, visto que busca
uma apresentação enfática. O contexto é de sátira, demonstrando o blefe
potencial do Estado policial brasileiro, através das imagens do vídeo que podia
ser visualizado nesta postagem.
70
Figura 6: Tarso e o You Tube - Blog do Reinaldo Azevedo
Fonte: <http://veja.abril.com.br/blogs/reinaldo/2008_08_10_reinaldo_azevedo_arquivo.html>, 2008.
“A lei seca é uma insensatez. Bastava fiscalizar” e “Militares criticam
‘passado terrorista’ do governo” são as manchetes preponderantes de
comentários no blog do jornalista do O Globo, de Ricardo Noblat, no início da
segunda semana de pesquisa. Na primeira, há a profusão de adjetivo, ou seja,
“insensatez”. No segundo título, ocorre a utilização das aspas, isto é,
ambigüidade e também a profusão de adjetivo, denotado por “passado terrorista”.
Tal contexto decorre da lei dos direitos humanos, que o Ministro da Justiça, Tarso
Genro, busca com o propósito de punição aos militares envolvidos. Da mesma
maneira, no dia 7 de agosto, ocorreria um seminário para que os militares
pudessem discutir os excessos dos membros do PT, envolvidos naqueles
conflitos.
O blogueiro, Josias de Souza, por sua vez, começa a semana tendo tais
titulações assinaladas: “Gilmar Mendes volta a torpedear a Polícia Federal” e
71
“Câmara quer ouvir explicações de proposto das Farc”. O primeiro título possui o
caráter ambíguo, já que há profusão de adjetivo com o termo “torpedear”. Desta
forma, a postagem remete a “soltar os cachorros à polícia Federal”. O segundo
título possui apenas o viés informativo.
Na terça feira, 5 de agosto, é destacada como alvo de comentários
preferido entre os leitores, a retomada da polêmica entre Reinaldo Azevedo e a
jornalista, Eliane Cantanhêde, do grupo Folha. As manchetes explicitam: “Yara
Chiara faz um preto e azul com Cantanhêde” e “Eliane Cantanhêde dobra a dose
do remédio errado para ver se dá certo”. Na primeira titulação, há a
persuasão/sedução, com a descrição de “preto” e de “azul”. No segundo título
selecionado, além da profusão de adjetivo, com o termo “remédio errado”, há
também a informação incompleta, pois o título não especifica qual é o remédio
errado.
De outro modo, com Ricardo Noblat, seus dois títulos destacados neste dia
são informativos: “Bolívia em conflito” e “Classe média chega a 52% da
população”.
72
Figura 7: Transatlântico brasileiro - Blog do Josias de Souza
Fonte: <http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/arch2008-08-03_2008-08-09.html>, 2008.
Com relação a Souza, as titulações enfatizadas desse dia são: “Transatlântico
brasileiro navega em águas mansas” (Figura 7) e “Governo faz mais concessões a
ruralista endividado”. No primeiro título, se trata de polemismo. Na postagem, é
destacado que: “o Brasil ainda não é uma embarcação de luxo, mas já não está com
aquela velha cara de Titanic”. A denominação “transatlântico” ao país remete à
profusão de adjetivo, o que denota ambigüidade. O segundo título é apenas
informativo.
73
Figura 8: Língua estrangeira - Blog do Reinaldo Azevedo
Fonte: <http://veja.abril.com.br/blogs/reinaldo/2008_08_10_reinaldo_azevedo_arquivo.html>, 2008.
No dia 6, o maior número de comentário entre as postagens de Reinaldo
Azevedo mostra: “Non, jê ne regrette rien [...]” (Figura 8) e “A lei da anistia e as três
mentiras”. Ou: “nada devemos aos terroristas, mortos ou vivos”. A primeira titulação
faz referência ao espetáculo em que se transformaram as operações da polícia
federal que, através dos abusos das forças e da mídia, acabam por transformá-las
em um show. É destacado, em outras postagens, referentes a esta, a não
necessidade do uso de algemas, como enfatiza Azevedo: “utilizar as algemas para
um Celso Pitta ainda sonolento em sua casa e também um Daniel Dantas” que,
embora tivessem de ser presos, não requeriam esta “necessidade”, já que: “tais
indivíduos não iriam sair correndo fugidos pelos jardins paulistas”. O segundo texto é
referente à polêmica lei da anistia, que o ministro Tarso Genro idealiza. Para esta
postagem, de acordo com o jornalista, Reinaldo Azevedo, há três mentiras nesta
questão: histórica, política e moral. O jornalista satiriza o argumento dos reacionários
da época. De acordo com ele: “Franklin Martins era a única forma de ‘reação’ à
74
ditadura”. A propriedade identificada na primeira titulação é a da informação
incompleta ou angustiante, já que a expressão encontra-se escrita em uma língua
estrangeira, desconhecida para a grande maioria dos leitores. Na segunda titulação,
percebe-se o recurso das aspas, ideal para despertar ambigüidade, somado ao uso
do adjetivo, destacado pelo termo “mentiras”.
Da mesma forma, com Ricardo Noblat, as postagens mais comentadas do
dia são: “Desabafa, Dantas, desabafa”. A postagem assinala que Daniel Dantas quer
mesmo desabafar, mas, no fim do comentário, é mostrado que: “é apenas lorota de
advogado para acuar inimigos”. O princípio polemista, encontrado aqui, é a
repetição, para dar ênfase a determinado contexto. Já o segundo título do dia
apresenta: “DEM expulsa deputado Natalino Guimarães”, sendo este somente um
título informativo, já que DEM remete aos democratas.
Nesse mesmo dia, no blog de Josias de Souza, são selecionados dois títulos
polemistas: “88% apóiam o veto aos candidatos com ‘ficha suja’” e “Segundo
advogado, Daniel Dantas quer ‘desabafar”. No primeiro caso, tem-se o recurso das
aspas, portanto ambigüidade. Além disso, há profusão/desperdício de adjetivo, ou
seja, “suja”. No segundo título, também há o recurso das aspas, tornando ambígua a
maneira como ele quer “desabafar”.
No dia 7 de agosto, para não fugir do costume, são enfatizados, no blog de
Azevedo, dois títulos polemistas mais discutidos entre seu público: “Este blog foi
citado pelo STF? Será?” e “Lá vou num vermelhinho com azul, de novo!!!”. O
contexto da primeira titulação é referente a uma postagem do dia anterior em que
Azevedo avaliou os candidatos com ficha suja. Assim, o STF publicou, em seu site, o
mesmo viés ideológico anteriormente por Azevedo. Dessa forma, conforme
Azevedo: “um ‘esquerdista’ enviou uma mensagem, enfatizando que ‘ambos’
estavam lado a lado”. O princípio encontrado neste título é o de mensagem implícita,
já que há dois usos do ponto de interrogação. No segundo título, o objeto de
controvérsia é novamente a jornalista da Folha de São Paulo, Eliane Cantanhêde.
Conforme Azevedo: “Ela lida muito mal com a história, antes Farc, agora clube
militar”. Esta citação faz alusão a uma manifestação do Clube Militar do Rio, em que
Eliane faz alusão aos “homens de pijama”, militares aposentados, quando se
75
reuniram para rebater a lei da anistia. De acordo com Azevedo, a coluna de
Cantanhêde possui um viés esquerdista, anti-militar e pró-terrorista. Aqui, mais uma
vez, é encontrada a profusão de adjetivos, como “vermelhinho” e “azul”,
respectivamente.
Por sua vez, o jornalista do portal carioca, Ricardo Noblat, apresenta suas
duas titulações com maior feedback: “STF anula julgamento e proíbe uso abusivo de
algemas”. Este é apenas um título informativo, fato que não ocorre com o outro:
“Tortura e torturados – Um agrado à esquerda”. O segundo título faz referência a um
artigo exibido na postagem de Ricardo Noblat, em que está explícito que o mérito da
lei da anistia é apenas de agradar à esquerda brasileira. Este título/artigo é provido
de um juízo de valor.
Ainda, no dia 7, os leitores de Josias de Souza apresentam: “STF decide
editar súmula limitando o uso de algemas” e “Socorro agrícola premia os devedores
com R$ 10 bi”. No primeiro exemplo, tem-se um título informativo. No contexto do
segundo título, é argumentado que o “pacote de Lula para os ruralistas, mais a
emenda da Câmara, aumenta a anistia da classe”. O princípio encontrado nesta
titulação é também o de juízo de valor.
No dia 8 de agosto, no blog de Reinaldo Azevedo são descritas as duas
titulações das postagens mais lidas do dia: “Algemas: agora somos todos do PT ou:
Sobre “garantismos” e “Comando militar do leste protesta contra revisão de anistia e
ataca “terroristas”. No primeiro título, há uma citação na postagem, explicando a
questão: “ao menos, no que concerne às algemas, agora todos temos as
prerrogativas dos petistas – somos todos do PT”. Esta é uma alusão à citação de
Tarso Genro, combatendo o jurista, Marco Aurélio Mello, para quem as algemas
somente são necessárias aos criminosos perigosos. Genro destacara que: “então
ninguém deve utilizar algemas, o fator classe social não deve prosperar neste caso”.
Ironicamente, Azevedo alega que, até agora, nenhum petista foi algemado, então
todos serão iguais a eles daqui para frente. O princípio encontrado nesta titulação é
o recurso das aspas, além de ser uma informação incompleta ou angustiante. Na
segunda titulação, há o recurso das aspas, além da profusão de adjetivo, com o
termo “ataca”.
76
Com a Olimpíada, realizada na China nesta mesma época, Ricardo Noblat
tem como postagens mais lidas: “Jogos de Pequim – Lula bem na foto” e “Jogos de
Pequim – sem emoção”. A primeira manchete descreve que apenas 12 chefes de
estado foram recepcionados pelo chefe da China, entre eles, Lula. Na segunda,
ocorre a citação: “Galvão, por que não te calas?” Em ambos os títulos ocorrem
juízos de valor.
O jornalista, Josias de Souza, dá destaque, entretanto, a dois títulos informativos
políticos, como de maior número de comentários nessa mesma data: “Ameaças ao STF e
Gilmar mobilizam equipe da PF” e “Justiça eleitoral autoriza a candidatura de Maluf”.
No dia 9 de agosto, são apresentados, no blog de Azevedo, os seguintes
temas de postagens mais lidos: “Na Veja, grampo no Palácio e um Diogo reserva
especial” e “Tarso é café pequeno. Que tal Robespierre?” (Figura 9). O primeiro
título trata de uma coluna do também polemista, Diogo Mainardi, da revista Veja. O
grampo do palácio remete a Gilbert Carvalho, assessor de Lula. Na primeira
postagem, é enfatizado que Diogo Mainardi fez alusão em sua coluna a Paulo
Coelho, o qual, em uma determinada entrevista, é caracterizado como o maior
intelectual brasileiro. No contexto do segundo título, tem Robespierre, um
controvertido político da Revolução Francesa, que Azevedo assim descreve:
“Robespierre, um tarado homicida, julgava-se um verdadeiro amante das
liberdades”. Para tal contexto, Azevedo acrescenta: “Se o Brasil seguisse o rumo
que Tarso queria, teria passado por uma ditadura comunista”. No primeiro título, há
somente um juízo de valor, enquanto, no segundo, há a profusão de adjetivo, com a
expressão “café pequeno”, somado à informação incompleta ou angustiante.
77
Figura 9: Robespierre - Blog do Reinaldo Azevedo
Fonte: <http://veja.abril.com.br/blogs/reinaldo/2008_08_10_reinaldo_azevedo_arquivo.html>, 2008.
O jornalista do O Globo apresenta um título informativo e um polemista neste
mesmo dia: “Tráfico treina táticas de guerrilha no Rio” e “Grampos ilegais assustam
o STF e o Planalto”. O primeiro título é informativo. No segundo, é apresentado o
recurso do color strory e side story, com “tráfico treina táticas...”.
Já o jornalista da Folha de São Paulo, Josias de Souza, tem como manchetes
das postagens preferidas por seu público as seguintes titulações: “Inspeção no STF
detecta ‘provável escuta’ ambiental” e “Vem de Recife o principal alerta ao eleitor de
2008”. O primeiro título apresenta o recurso das aspas, portanto, ambíguo. O
contexto do segundo título remete à corrupção na câmara de vereadores de Recife.
Tal titulação origina informação incompleta ou angustiante.
78
Figura 10: Pilantragem intelectual - Blog de Reinaldo Azevedo em 10/8/2008
Fonte: <http://veja.abril.com.br/blogs/reinaldo/2008_08_10_reinaldo_azevedo_arquivo.html>, 2008.
No domingo, dia 10 de agosto, as postagens selecionadas para a discussão
do jornalista da revista Veja são: “Guerra na Geórgia e democracia como um
‘passadismo’” e “Como criar estatais e influenciar pessoas. Ou estatismo,
mercodofoia e pilantragem intelectual” (Figura 10). O primeiro título faz uma alusão
ao passado na Geórgia, pois, conforme Azevedo, os conflitos nunca cessaram
desde a extinção do antigo regime comunista da URSS. O segundo se refere à
Petrobrás, ao anúncio do Presidente Lula de que uma nova estatal seria criada para
gerar enriquecimento somente ao país, no que concerne às novas descobertas de
petróleo. A crítica de Azevedo se dá à Petrobras, que é a “oficial” exploradora de
petróleo do País, por não vir a ser utilizada nesta descoberta, em virtude de ser um
misto de parceria público-privada. No momento da declaração do Presidente da
República, as ações da Petrobras “despencaram”. No que concerne à análise
79
dessas titulações, vale mencionar que, na primeira, ocorre o uso das aspas, com a
finalidade de gerar um duplo sentido. No segundo título, tem-se um juízo de valor.
Nesse mesmo contexto, são apresentadas as duas postagens mais
comentadas do blog de Ricardo Noblat: “Falta de Comando” e “Militares pressionam
para Lula se manifestar sobre anistia”. A primeira faz referência a um artigo de
Eliane Cantanhêde. Nessa, há uma citação da jornalista: “Cadê o Comandante
Chefe das Forças Armadas e das Forças Civis para segurar seus radicais à direita e
à esquerda?” Ainda, de acordo com a jornalista, o exército estaria contra o governo,
mas poderia ficar em casa. Nessa titulação, há o juízo de valor. O segundo título
trata-se apenas de informação.
Já para os leitores do articulista Josias de Souza, as manchetes destacadas
são: “Exército prevê ‘confronto’ na Raposa Serra do Sol” e “Preferido de Aécio tem
déficit de dinheiro e de votos”. O primeiro título faz alusão a um possível confronto
entre índios e arrozeiros no norte do país. O segundo revela uma decepção com
relação ao candidato à prefeitura de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, do PSB,
apoiado pelo governador de Minas Gerais, Aécio Neves. No primeiro caso, há o
recurso das aspas, enquanto, no segundo, são configurados os recursos do color
story e do side story, em que ocorrem apresentações enfáticas.
Na segunda feira, 11 de agosto, as manchetes de Azevedo selecionadas são:
“Meu desafio a Lula, aos petistas e ao jornalismo vigarista” e “Os fascistóides: ou a
mentira sobre os ‘pobres algemados’”. O primeiro título se refere a Daniel Dantas,
pois, na época dessa postagem, ocorriam boatos de que o polemista e colunista da
revista Veja, Diogo Mainardi, estaria comprometido com o banqueiro. Nessa
postagem, há uma citação de Azevedo: “Vocês acham que Dantas gosta mais de
Mainardi, Rei ou Lula?”. “Rei” é a expressão que muitos comentaristas do blog de
Reinaldo Azevedo assim expressam ao blogueiro, ou seja, uma “forma” de
abreviação de seu nome. O segundo título é referente ao espetáculo da polícia
federal, já assinalado anteriormente, como o confronto entre Tarso Genro e o
ministro, Marco Aurélio Mello. No primeiro título, há a profusão de adjetivo, com o
termo “vigarista”. No segundo título, além da profusão de adjetivo, com o termo
“mentira”, ocorre também o recurso das aspas.
80
Com a mesma ênfase dada às manchetes de Azevedo neste dia, a Noblat
são destacadas outras duas titulações polemistas: “Compre seu lugar no céu
pagando com cartão de crédito” e “Tarso Genro na Berlinda”. A primeira manchete
se refere à compra de 400 mil máquinas de cartão de crédito, com valor de R$2 mil
cada uma. O objetivo é a arrecadação de dízimos em uma determinada instituição
religiosa. O segundo título se refere à volta de Lula ao Brasil, após participar da
cerimônia de abertura dos jogos olímpicos, tendo de enfrentar os problemas criados
por Tarso Genro, através da suposta lei da anistia, já que os militares pressionavam
contra a atitude daquele. O primeiro título é uma informação incompleta ou
angustiante, enquanto, no segundo, há o recurso de adjetivo, além de um juízo de
valor.
Ainda, no dia 11, são selecionadas duas manchetes informativas do blog de
Josias de Souza: “Lula mobiliza aliados para eliminar entrave à BrOI” e “Prédio da
UNE será reconstruído com verba pública”. O primeiro título se refere à fusão das
telefônicas “Brasil-telecom” e “Oi”.
81
Figura 11: Corvos - Blog do Reinaldo Azevedo
Fonte: <http://veja.abril.com.br/blogs/reinaldo/2008_08_10_reinaldo_azevedo_arquivo.html>, 2008.
82
Figura 12: Humanismo - Blog do Reinaldo Azevedo
Fonte: <http://veja.abril.com.br/blogs/reinaldo/2008_08_10_reinaldo_azevedo_arquivo.html>, 2008.
No dia 12, os leitores de Reinaldo Azevedo destacam: “Nunca alimentei
corvos; por mim, morreriam de fome” (Figura 11) e “Humanismo com os dois pés no
chão. E as duas mãos também” (Figura 12). No título da primeira postagem, há uma
analogia. Reinaldo Azevedo revela com a citação: “Assim como FHC nunca disse:
‘esqueçam o que eu escrevi’, não alimentem corvo, pois eles arrancarão seus olhos”.
Esta é uma postagem de ataque à esquerda, pois, como revela o jornalista, eles
sempre dão um jeito de “adulterar” fatos. A contextualização do segundo título se dá
com o deputado, Renato Simões do PT, que é Secretário Nacional dos Movimentos
Populares e políticas Setoriais, além de Conselheiro Nacional dos Direitos Humanos,
pois, em seu site, há um artigo defendendo Olivério Medina, representante das
Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia no Brasil. No primeiro título, há uma
analogia satirizada, em função do ponto e vírgula. No segundo título, ocorre o
recurso da repetição, necessário para dar ênfase ao fato.
83
Tal qual a explicitação polemista de Azevedo, as duas manchetes de Noblat
enfatizadas neste décimo segundo dia de pesquisa são: “A má qualidade do ensino
paulista pode contaminar o país” e “Cantora falsificada, ‘pegadas’ Fake e torcida
contratada”. No primeiro caso, temos a profusão de adjetivo, revelado com o termo
“má” e também o juízo de valor. O segundo faz referência às olimpíadas na China, e
nele aparece o recurso das aspas e a profusão de adjetivo, com a expressão
“falsificadas”.
De outra forma, para o blog de Josias de Souza, as manchetes selecionadas
deste dia mostram apenas uma titulação polemista: “Lula cogita retirar MP que cria o
ministério da pesca” e “Fracassa a tentativa de leiloar os ‘bois piratas’”. A primeira
titulação apresenta apenas o caráter informativo. Já a segunda, possui característica
polemista, com o recurso das aspas.
Na quarta-feira, dia 13,o destacadas as manchetes de Azevedo: “UNE?
Que UNE? A Une não existe!” e “Lula transforma em ufanismo até a tortura”. Na
primeira postagem, Azevedo retrata o movimento da união nacional dos estudantes,
mostrando que: “A UNE é um aparelho asqueroso do PCdoB”. Na segunda, é
enfatizado que: “Em vez de ficar chorando o sangue derramado, Lula pede que se
cante a glória dos heróis”. No primeiro título, identifica-se o recurso de rima, além do
juízo de valor. No segundo, verifica-se o recurso da negligência na qualificação dos
fatos.
Aqui, diferentemente de Azevedo, entre as titulações do jornalista Noblat, são
destacadas suas duas postagens do dia com maior número de comentários, como
sendo apenas de caráter informativo. São elas: “Dantas diz que Satiagraha foi para
barrar criação da BrOi” e “Aécio pensa em sair pelo país pedindo votos para o
PSDB”.
Já os títulos analisados no blog de Souza para este dia, dão destaque a um
título polemista e um título informativo. São eles: “Na CPI, Daniel Dantas diz apenas
o que lhe convém” e “Câmara autoriza governo a criar 3090 novos cargos”. No
primeiro caso, temos um juízo de valor, enquanto, no segundo, há somente um título
informativo.
84
No dia 14 de agosto, é selecionado no blog de Azevedo: “Vamos privatizar a
telefônica. E o meu email ao presidente da empresa” e “Supremo vê ‘afronta’ da PF
e aprova punição para uso abusivo de algemas”. A motivação para a primeira
postagem se deu em função do blogueiro ter ficado trinta e seis horas sem banda
larga para acesso à internet. Azevedo critica a empresa paulista, mas faz um alerta
aos seus opositores: “Sem privatização não teríamos nem banda larga funcionando
mal”. Ao final da postagem constata: “É mesmo um país primitivo com banda larga”.
Reinaldo Azevedo enviou um email, reclamando do serviço ao presidente da
empresa, mesmo sabendo que “jamais” será ouvido. A segunda postagem retrata
uma “afronta” da polícia federal, em função de ter ocorrido uma operação
denominada “Dupla-face”, em que 32 pessoas teriam sido algemadas. No primeiro
título, tem-se o recurso de informação incompleta ou angustiante e, no segundo, o
recurso das aspas.
Figura 13: Safado do ano – Blog do Noblat em 14/8/2008
Fonte: <http://oglobo.globo.com/pais/noblat/default.asp?periodo=20080814>, 2008.
85
Novamente retomando o tema olímpico, as manchetes de Ricardo Noblat,
selecionadas no dia 14, são as seguintes: “Quem merece?” (Figura 13) e “Quem
pode mais e quem não pode”. Na primeira postagem, há uma sátira entre os
políticos e o evento olímpico que se realizava em Pequim. Aqui se identifica a
mensagem implícita, através do ponto de interrogação. No segundo título, há um
juízo de valor.
Ainda, no penúltimo dia de pesquisa, os leitores de Josias de Souza
assinalam: “STF extingue 35 mil cargos ‘criados’ em Tocantins” e “Lula: pré-sal é
‘sinal divino’ para pôr fim à burrice”. O contexto da primeira postagem se deve ao
fato de o governador do Tocantins, Marcelo Mirando, do PMDB, ter criado 35 mil
novos cargos. Os salários variavam de R$2.250 a R$4.500. O contexto da segunda
postagem se dá pela desvalorização da Petrobras, conforme Josias de Souza: “por
declarações burras de Lula”. O primeiro título apresenta o recurso das aspas; já o
segundo, além das aspas, profusão de adjetivos, com os termos: “divino” e “burrice”.
No último dia de pesquisa, são destacadas as duas postagens mais lidas de
Reinaldo Azevedo: “Petróleo, delinqüência ideológica e 2010” e “Impecável”. A
primeira postagem novamente se refere à criação de uma nova estatal, para que a
Petrobrás não fique “forte demais”. Na segunda, é exaltado um comentário de
Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente da república. Ambas as postagens
possuem profusão de adjetivo, ou seja, em outra época tais adjetivos, como
“delinqüência” e “impecável”, seriam considerados “desperdícios” para títulos
informativos.
Ao término das análises das titulações polemistas, é dado destaque às
titulações prediletas entre o público leitor de Nolat: “Lula desperdiça seu segundo
mandato, diz Aécio” e “Marta abre larga vantagem sobre Alckmin”. O contexto da
primeira manchete mostra a citação de Aécio Neves: “Até aqui não passa de um
programa marqueteiro”. Aqui, ambas as manchetes têm caráter informativo.
Na última amostra em questão, as manchetes destacadas no blog de Josias
de Souza são: “Laudos revelam ‘barbárie’ nas mortes da Providência” e “Indeferida
candidatura de mulher de Mão Santa no PI”. O primeiro título possui o recurso das
86
aspas, além da profusão de adjetivo, pois “barbárie” remete a “cadáver” e à “tortura”
na postagem. O segundo título é apenas informativo.
Analisadas as titulações polemistas, busca-se uma analogia com a retórica da
intransigência, cujos elementos de identificação são semelhantes aos utilizados
pelos polemistas em seus discursos.
7.2 ANÁLISE DAS TITULAÇÕES QUANTO À RETÓRICA DA INTRANSIGÊNCIA
A partir dos conceitos apresentados no capítulo 5.3, foram selecionadas,
entre os 90 títulos, as titulações pertencentes a umas das três teses da retórica da
intransigência.
Figura 14: Risco de Politização - Blog do Josias
Fonte: <http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/arch2008-07-27_2008-08-02.html>, 2008.
87
Assim, foi selecionado como postagem mais comentada no blog de Josias de
Souza, no primeiro dia de pesquisa, um título que apresenta a tese da ameaça. A
manchete é: “Troca de chefia expõe receita a risco de politização” (Figura 14). Tem-
se a tese da ameaça, pois o “novo” ameaça o que “já vinha funcionando”, pois,
conforme o blogueiro, a “chefia” atual não tem este problema de “politização”.
Figura 15: Ajuda humanitária - Blog de Reinaldo Azevedo
Fonte: <http://veja.abril.com.br/blogs/reinaldo/2008_07_27_reinaldo_azevedo_arquivo.htm>, 2008.
No segundo dia de pesquisa, destaca-se um título com a tese da
perversidade, nas postagens mais comentadas no blog de Reinaldo Azevedo (Figura
15): “Carvalho, assessor de Lula, diz que prestou ‘ajuda humanitária’ à terrorista.
Que lindo!”. Aqui, o que era para “remediar” torna o problema ainda maior, ou seja, o
governo que, a priori, foi eleito para governar para o bem da nação, acaba por ajudar
terroristas.
88
Já, no quarto dia de pesquisa, é a vez de Ricardo Noblat ter uma titulação que
apresenta a retórica da intransigência destacada entre seus leitores: “A lei seca é
uma insensatez. Bastava fiscalizar”. Nesse título, ocorre a tese da futilidade, pois o
blogueiro deixa implícito que o problema no trânsito não é a lei, ou seja, a nova lei
em que não se podem ser encontradas porcentagens mínimas de álcool no
organismo de um motorista e, sim, a falta de fiscalização sobre a lei anterior, mais
branda. Então, tudo continua como está, ou seja, a solução encontrada, mediante a
nova lei é diferente da solução necessária, que visa a menos mortes e acidentes de
trânsito.
No dia 5 de agosto, é observado o maior número de mensagens para a
postagem com o título no blog de Reinaldo Azevedo: “Eliane Cantanhêde dobra a
dose do remédio errado para ver se dá certo”. Aqui, é possível verificar a tese da
perversidade. Assim, constata-se que, na busca de uma solução, a jornalista
aumentou o problema.
Também a tese da perversidade é destacada na titulação selecionada do dia 7, no
blog de Josias de Souza. O título apresenta: “Socorro agrícola premia os devedores com
R$10 bi”. Assim, observa-se que o pacote feito aos ruralistas premiou quem já era
insolvente. Novamente aqui, o problema se tornou maior.
No décimo dia da amostra, é destacado, entre os leitores de Reinaldo
Azevedo, um título com a tese da futilidade: “Guerra na Geórgia e democracia como
um ‘passadismo’”. Aqui, tem-se a tese da futilidade, pois, com todos os conflitos do
passado existentes naquela região, denotado por “passadismos”, verifica-se, então,
que tudo ainda se encontra da mesma maneira.
No dia 12 de agosto, os leitores de Noblat dão destaque ao título: “A má
qualidade do ensino paulista pode contaminar o país”. Trata-se de uma tese da
perversidade, visto que, ao ler, constata-se que haverá um “efeito dominó”, de uma
qualidade ruim de ensino, a começar por São Paulo, “contaminando” todo o resto do
país. Assim, o que está ruim “pode” piorar.
89
Figura 16: Ufanismo - Blog do Reinaldo Azevedo
Fonte: <http://veja.abril.com.br/blogs/reinaldo/2008_08_10_reinaldo_azevedo_arquivo.html>, 2008.
Por fim, a última titulação selecionada e destacada com a retórica da
intransigência foi verificada no dia 13, no blog de Azevedo. O titulo é: “Lula
transforma em ufanismo até a tortura” (Figura 16). Este é mais um caso de tese da
futilidade, pois o próprio presidente pede para que se pare de “chorar o sangue
derramado”, clamando por “reconhecimento aos heróis” aos mortos na ditadura. De
acordo com Azevedo, esta é a forma de Lula agradar aos militares, sem a revisão da
lei da anistia; além dos petistas, para que não o pressionem. No fim, tudo continua
como está. A expressão “até” destaca a tese da futilidade. Trata-se de um dizer:
esqueçam os problemas, tudo vai acabar bem”.
Analisada a titulação referente à retórica da intransigência, é necessário
contrapor os conceitos desta retórica, enfatizando as titulações que não possuem
estas características, para, em seguida, contextualizar sobre a argumentação deste
motivo. Desta forma, os títulos que não apresentam a retórica da intransigência são:
- Apologia do terror na página de um deputado do PT
90
- Mais um email escandaloso: terrorista revela como engana o Brasil
- As Farc e um vermelho e azul com Eliane Cantanhêde
- A manchete da Folha deste domingo e o estado Policial
- O leitor desafia o meu lado gaúcho da fronteira
- Agora no You Tube: Cenas fortes do Estado policial promovido por Tarso
Genro
- Yara Chiara faz um preto e azul com Cantanhêde
- Non, jê NE regrette rien...
- A lei da anistia e as três mentiras. Ou: “nada devemos aos terroristas,
mortos ou vivos”
- Este blog foi citado pelo STF? Será?
- Lá vou num vermelhinho e azul com Eliane, de novo!!!
- Algemas: agora somos todos do PT ou: sobre “garantismos”
- Comando militar do leste protesta contra revisão de anistia e ataca
“terroristas”
- Na Veja: grampo no Palácio e um Diogo reserva especial
- Tarso é café pequeno. Que tal Robespierre?
- Como criar estatais e influenciar pessoas. Ou estatismo, mercodofoia e
pilantragem intelectual
- Meu desafio a Lula, aos petistas e ao jornalismo vigarista
- Os fascistóides: ou a mentira sobre os “pobres algemados”
- Nunca alimentei corvos; por mim, morreriam de fome
- Humanismo com os dois pés no chão. E as duas mãos também
- UNE? Que UNE? A UNE não existe!
- Vamos privatizar a telefonia. E o meu email ao presidente da empresa
91
- Supremo vê “afronta” da PF e aprova punição para uso abusivo de
algemas
- Petróleo, delinqüência ideológica e 2010
- Impecável
- Tortura é crime que não pode e não deve prescrever
- Lula a metalúrgicos: é hora de reivindicar aumento
- Por que não um cargo no ministério da pesca?
- Anistia – Impossível equiparar o criminoso à sua vítima
- As privatizações reavaliadas
- Militares criticam “passado terrorista” do governo
- Bolívia em conflito
- Classe média chega a 52% da população
- Desabafa, Dantas, desabafa
- DEM expulsa deputado carioca Natalino Guimarães
- STF anula julgamento e proíbe uso abusivo de algemas
- Tortura e torturado – Um agrado à esquerda
- Jogos de Pequim – Lula bem na foto
- Jogos de Pequim – Sem emoção
- Tráfico treina táticas de guerrilha no Rio
- Grampos ilegais assustam o STF e o planalto
- Falta de Comando
- Militares pressionam para Lula se manifestar sobre anistia
- Compre seu lugar no céu pagando com cartão de crédito
- Tarso Genro na Berlinda
- Cantora falsificada, pegadas” Fake e torcida contratada
92
- Dantas diz que Satiagraha foi para barrar criação da BROi
- Aécio pensa em sair pelo país pedindo votos para o PSDB
- Quem merece?
- Quem pode mais e quem não pode
- Lula desperdiça seu segundo mandato, diz Aécio
- Ibope: Marta abre larga vantagem sobre Alckmin
- Em 13 anos, fiscais libertam 30 mil “neo escravos”
- Contato das Farc leva uma vida pacata em Brasília
- Bolsa família paga R$ 67 mi a mais no mês de julho
- Governo faz mutirão contra as filantrópicas suspeitas
- As manchetes deste domingo
- Gilmar Mendes volta a torpedear a polícia federal
- Câmara quer ouvir explicações de proposto das Farc
- Transatlântico brasileiro navega em águas mansas
- Governo faz mais concessões a ruralista endividado
- 88% apóiam o veto aos candidatos com “ficha suja”
- Segundo advogado, Daniel Dantas deseja “desabafar”
- STF decide editar súmula limitando número de algemas
- Ameaças ao STF e a Gilmar mobilizam equipe da PF
- Justiça eleitoral autoriza a candidatura de Maluf
- Inspeção no STF detecta “provável escuta” ambiental
- Vem de Recife o principal alerta ao eleitor de 2008
- Exército prevê “confronto” na Raposa Serra do Sol
- Preferido de Aécio tem déficit de dinheiro e de votos
- Lula mobiliza aliados para eliminar entrave à BrOi
93
- Prédio da UNE será reconstruído com verba pública
- Lula cogita retirar MP que cria o ministério da pesca
- Fracassa tentativa de leiloar os “bois piratas”
- Na CPI, Daniel Dantas diz apenas o que lhe convém
- Câmara autoriza governo a criar 3090 novos cargos
- STF extingue 35 mil cargos “criados” em Tocantins
- Lula: pré-sal é “sinal divino” para pôr fim à burrice
- Laudos revelam “barbárie” nas mortes da Providência
- Indeferida candidatura da mulher de Mão Santa no PI
Assim, explicitados os títulos, constata-se que, embora o polemismo e a
intransigência possuam características parecidas, o mesmo não ocorre com a
análise desta amostragem. Vale dizer que a porcentagem de titulações que
possuem uma das teses da retórica da intransigência é muito baixa. A explicação
para isto é de que a titulação, para obter tais fins, necessita despertar uma
comparação. É, portanto, necessário um contexto histórico e principalmente
“memória” por parte do blogueiro no assunto do título em questão. Quando
determinada titulação não remete à comparação, logo não há retórica da
intransigência para a análise desta pesquisa, mesmo que a postagem possa vir a
apresentar.
7.3 RESULTADOS DA PESQUISA
A análise dos blogs de Ricardo Noblat, de Reinaldo Azevedo e de Josias de
Souza, mostra que, das 90 postagens selecionadas, 70 % possuem um título
polemista (Figura 17). Os critérios utilizados neste estudo encontram-se no capítulo
4.2, através dos princípios considerados como pertinentes à titulação polemista.
94
Figura 17: Avaliação da titulação polemista
Fonte: Autor, 2008.
Desta maneira, a pesquisa configura que os leitores gostam do que é
polêmico, pois assim repercutem as maiores incidências de comentários em tais
postagens.
De outra forma, apesar de haver muitos blogs apenas com notícia
informativa, verifica-se que a função da notícia em um blog é a de mostrar o “algo a
mais”, que é o polemismo, o novo, o inusitado. Pode ser também a notícia contada
pelos bastidores, já que grande parte dos jornais não as relata neste contexto. Neste
quesito, deve-se lembrar ainda que a função de blogueiro é a de resumir a notícia,
impondo seu “tempero”, de modo a cativar o leitor, para que este volte a visitar seu
blog. Esta credibilidade geralmente se dá com um bom texto argumentativo e uma
dose de polemismo.
Assim, de modo elucidativo, vê-se que o jornal Folha de São Paulo destaca,
através de seus três editoriais, a opinião que o veículo toma a partir de tal contexto
noticiado. A revista Veja mostra a sua ideologia, seja através do editorial, seja
através da notícia. Por fim, não diferente é o jornal O Globo, que, desde o seu
surgimento, foi usado pela família Marinho, a fim de atacar/rebater adversários.
Deste modo, tais conceitos fazem parte do jornalismo moderno e não são
anti-éticos, como afirmam muitos “cidadãos utópicos”. Esta linha editorial é cópia da
95
escola norte-americana. Nos Estados Unidos, estes posicionamentos são levados ao
extremo, pois, em época de eleições, até mesmo as emissoras de televisão
destacam jornalistas para atacar candidatos rivais. Cada um luta pelos seus direitos,
suas perspectivas e seus ideais, buscando a população discernir o que é melhor
para ela.
No que se refere à editorialização, constata-se que esta também acontece
nos blogs dos jornalistas políticos, embora ainda esteja “engatinhando” – ela já é
notória no blog de Reinaldo Azevedo, como é mostrado a seguir.
A pesquisa aponta também que Reinaldo Azevedo, jornalista e blogueiro da
revista Veja, é o mais polemista entre todos, já que, de 30 postagens selecionadas,
apenas uma não possuía o caráter polemista (Figura 18).
Figura 18: Avaliação da titulação polemista de Reinaldo Azevedo
Fonte: Autor, 2008.
O blogueiro, Reinaldo Azevedo talvez seja o maior polemista brasileiro em
atividade no país. Não há postagem em que o blogueiro não expresse a sua
ideologia de forma convincente e até mesmo áspera. O polemismo de Azevedo não
se dá somente nas duas postagens mais lidas de seu blog, mas, sim, na totalidade
da amostra quinzenal. A única titulação em que não ocorreu o polemismo foi em
relação às manchetes dos jornais (Figura 19). Tratava-se de uma postagem peculiar,
96
pois, em todas elas, o jornalista fez questão de opinar. Como ele próprio afirmara:
Não há uma única frase escrita neste blog, que não tenha um embasamento
bibliográfico por trás”. Desta forma, o jornalista credita sua a ideologia a seu
conhecimento ao longo de anos de estudo.
Figura 19: Manchetes da Folha - Blog de Reinaldo Azevedo
Fonte: <http://veja.abril.com.br/blogs/reinaldo/2008_08_03_reinaldo_azevedo_arquivo.html>, 2008.
Constata-se ainda que, diferentemente da maioria dos blogueiros que
“moderam” os comentários dos leitores, e, na maioria dos casos, não respondem as
mensagens, Azevedo rebate uma por uma. Quando o jornalista não usa o espaço
das mensagens para responder os questionamentos, ele usufrui até mesmo de uma
nova postagem para rebater os casos mais polêmicos. É válido ressaltar que estes
casos polêmicos, envolvendo leitores, geralmente ocorrem com simpatizantes do
PT, já que Azevedo descaracteriza-os constantemente.
97
Assim, certa vez, Azevedo chamou um leitor seu de “animal”. A cada frase
que Reinaldo Azevedo acrescentava para argumentar a sua ideologia, era precedido
do termo “animal”, o qual o blogueiro denominava o leitor.
Os resultados da pesquisa referentes ao blog de Azevedo apontam
igualmente que ele é um caso atípico no país. Enquanto o brasileiro é visto como
conciliador, pacifista, o blogueiro faz questão de declarar guerra a quem, segundo
ele, pensa errado. Sendo assim, não poupa críticas a ninguém. Recentemente, o
blogueiro destacou que a mentalidade brasileira de políticos de não se “atacarem”
uns aos outros, no horário eleitoral gratuito, é errada. Assinala Azevedo: “É preciso
acabar com este Duda-Mendoncismo”. Tal citação se dá em referência ao
publicitário, Duda Mendonça, que trabalhou para a eleição do presidente Lula em
2002, sendo descoberto, mais tarde, com a acusação de desviar dinheiros para
paraísos fiscais, a fim de não pagar impostos.
Por decorrência desta exemplificação, Azevedo defende o polemismo, pois
acredita que esta é a melhor maneira de um país se tornar competitivo e
competente, diferentemente da cumplicidade e da inércia do brasileiro na vida
política dos atuais dias.
Também é perceptível, ao longo das postagens, que seu maior aliado nas
questões ideológicas é também seu colega da revista Veja, Diogo Mainardi.
Recentemente, Mainardi mostrou, em sua coluna da revista Veja
12
, que:
O Brasil fracassa no esporte pelo mesmo motivo por que fracassa como
país: temos uma sociedade acovardada, fujona, avessa à luta. Tudo aqui é
feito para desestimular a disputa, para reprimir o desafio pessoal, para
amolecer o caráter [...].
Tal citação se deu em função do fracasso esportivo do país nas olimpíadas de
Pequim.
[...] O parasitismo estatal, a política fundada no escambo, a cultura baseada
no conchavo, a repulsa por idéias discordantes. Esse nosso temperamento
12
Revista Veja, 27 ago. 2008, p. 167.
98
de rebanho inibe qualquer forma de atrito, qualquer tipo de inconformismo,
qualquer espécie de enfrentamento. Quando temos de competir, afinamos.
Com a mesma linha ideológica de Mainardi, Azevedo cita também outro
colega polemista, Olavo de Carvalho, que é atualmente colunista do Jornal do Brasil.
Apesar de seu passado comunista, é avesso aos ideais dos partidos ditos de
“esquerda”. Destacou-se, em 1996, quando lançou o livro O imbecil coletivo:
atualidades inculturais brasileiras, que criticava o meio “intelectual” brasileiro. Tanto
Mainardi quanto Carvalho são identificados por Azevedo como colegas “dignos”, já
que “enxergam” o país como todos os brasileiros deveriam enxergar.
Com uma porcentagem mais baixa do que Azevedo, mas com uma margem
também expressiva, o jornalista Ricardo Noblat (Figura 20), líder no ranking dos
blogs políticos mais lidos no Brasil, de acordo com o Technorati, apresenta 63,33%
de títulos polemistas e 36,67% de títulos não polemistas.
Figura 20: Avaliação da titulação polemista de Ricardo Noblat
Fonte: Autor, 2008.
Assim, visualiza-se que os leitores de Noblat gostam de comentar as
postagens de títulos polêmicos do blog. Porém, não se pode dizer que Ricardo
Noblat é um polemista. Muito pelo contrário. Ocorre aqui uma ambigüidade.
99
Há um hibridismo neste caso em questão. Ricardo Noblat, muito diferente de
Reinaldo Azevedo, apresenta apenas o viés informativo. Nunca ataca ninguém
pessoalmente. Quando o faz, vai pelo contexto, acusando alguém no mesmo
momento em que toda a mídia juntamente o acusa – tal como o banqueiro Daniel
Dantas, por exemplo. Desta maneira, os dados, analisados nesta pesquisa sobre
seu “suposto” polemismo, se dão pela generalização, ou seja, tal qual foi com o
título: “Quem merece?” e, logo após, com a exposição do escrito na medalha
visualizada na postagem “o mais safado”, em alusão à personalidade política. Tal
fato decorre de uma crítica sem adversários, ou seja, baseada tão somente na
cultura brasileira de que “todos os políticos são safados”, nada mais. É o oposto do
polemista, que busca retaliar conceitos pré-existentes – Noblat idealiza apenas
reforçar conceitos já existentes.
De outro modo, Josias de Souza, o terceiro blogueiro pesquisado, é o único
que possui apenas metade de suas titulações com caráter polemista, e a outra parte,
com caráter apenas informativo (Figura 21).
Figura 21: Avaliação da titulação polemista de Josias de Souza
Fonte: Autor, 2008.
Tem-se, nesse caso, um exemplo de jornalismo informativo em que são
utilizadas características de titulações polemistas, em pelos menos metade da
100
amostra pesquisada. Assim, as manchetes, consideradas polemistas de Josias de
Souza, se dão principalmente com o recurso das aspas, e, tal qual Ricardo Noblat,
nunca no sentido de polemizar com algo ou alguém.
Ao analisar o ranking do Technorati em 2006 e 2008, percebe-se o efeito de
não ser polemista. Em 2006, Josias de Souza aparecia no site Observatório da
Imprensa
13
, na segunda colocação, enquanto Reinaldo Azevedo estava em quarto
lugar. Em 2008, Reinaldo Azevedo ultrapassou Josias e, a continuar com estes
mesmos índices, ultrapassará também o blogueiro Ricardo Noblat.
No que concerne à análise da retórica da intransigência (Figura 22),
discutidas no capítulo 5.3, observa-se que apenas 8,89% das titulações podem ser
enquadradas.
Figura 22: Avaliação da retórica da intransigência
Fonte: Autor, 2008.
Deve-se enfatizar aqui que a retórica da intransigência encontra-se presente
em quatro das titulações de um único polemista da pesquisa. Outro fato a ser
apontado é que a retórica da intransigência só é detectável na titulação, quando é
emitida uma contextualização do fato pelo jornalista, mesmo que de maneira
13
http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=416ENO004
101
implícita. Caso contrário, é impossível haver retórica da intransigência em
manchetes de postagens.
Figura 23: Avaliação das teses referente à retórica da intransigência
Fonte: Autor, 2008.
Embora irrelevante a percentagem de 8,89% de títulos com a retórica da
intransigência (Figura 23), pode-se afirmar que prepondera a tese da perversidade.
Há ainda um único caso de tese da ameaça.
Por fim, pode-se afirmar, a partir dos resultados da pesquisa, que a titulação
polemista não se encontra intimamente ligada à retórica da intransigência no que
tange às manchetes das postagens de blogueiros políticos.
102
8 CONCLUSÃO
Esta pesquisa constata, portanto, que há editorialização no processo de
titulação nos blogs dos três jornalistas mais lidos no Brasil. Isto se deve em função
de 70% das titulações apresentarem conotações polemistas. Este é um argumento
que sugere ser necessário despertar no leitor um insight, que faz com que ele
“acorde”, a fim de analisar a notícia/postagem com profundidade.
Constata-se também que Ricardo Noblat, blogueiro mais lido neste país e que
não é polemista, apresenta relevantes 63,33% de títulos polemistas. Noblat se
enquadra em muitos títulos de seu blog com os princípios de titulações polemistas,
porém, não com o perfil de personalidade polemista. Assim, ao “polemizar” com
algo, ou alguém, o faz com o consenso genérico, ou seja, satisfaz seu leitor apenas
reforçando o que a opinião pública já argumenta. Desta forma, entoa ataques a
banqueiros e a políticos de modo generalizado – neste caso, sem citar nomes.
O mesmo se dá com Josias de Souza que, além de não ser polemista,
apresenta apenas metade de seus títulos com tais características. Trata-se do
jornalista mais informativo entre todos os pesquisados.
Já Reinaldo Azevedo é o único polemista de todos. Azevedo, que estava em
2006 em quarto lugar no ranking do Technorati, passou para a segunda colocação.
O crescimento de Azevedo é o mais vertiginoso entre todos, pois os leitores querem
ver conflito de idéias.
Quanto à homogeneização dos blogs, deve-se assinalar que todos eles são
corporativos, ou seja, há uma mídia dando respaldo aos jornalistas. Nesta pesquisa,
há três grandes corporações: O Globo, a revista Veja e a Folha de São Paulo.
Assim, verifica-se que todos os blogueiros “acompanham” a linha ideológica de seus
respectivos veículos.
O jornal Folha de São Paulo, por exemplo, por ser um veículo, no qual há
inúmeros colunistas e, portanto, inúmeras opiniões, é visto como centrista, ou seja,
há espaços para todos. Da mesma forma, a postagem é relatada no blog de Josias
103
de Souza, em que o gráfico foi dividido simetricamente ao meio na questão entre
titulações polemistas e não-polemistas. Já Ricardo Noblat reproduz a ideologia do
jornal O Globo em seu blog, que tal qual a Folha, também é considerado centrista,
em que há diversas opiniões. Trata-se aqui de um blog que reproduz notícias de
outros colunistas, com o intuito de divulgar, sem opinar. Por fim, a revista mais lida
do Brasil, a Veja, é reproduzida com fidelidade por Reinaldo Azevedo.
O articulista da revista Veja “é um gladiador em luta”. Assim, Azevedo afronta,
acusa, bate e rebate. Como ele mesmo gosta de ressaltar, responde a todas as
perguntas: uma por uma. Como todo polemista, até mesmo sua família acaba sendo
envolvida neste processo. Tem-se o nome “dona Reinalda”, como a esposa do
blogueiro, em alusão ao seu nome, “Reinaldo”. Também suas filhas são
denominadas “Reinaldinhas”.
O maior alvo de Azevedo são os petistas. Recentemente, lançou um livro O
País dos Petralhas, no qual faz uma analogia entre os petistas e os irmãos
Metralhas, personagens bandidos da série “Tio Patinhas”, de Walt Disney.
Com relação à análise da retórica da intransigência, constata-se que esta
possui um número irrelevante de titulações, em função da dificuldade de se
contextualizar posições análogas nas poucas palavras de um título. Com isso,
verifica-se que, apesar de a retórica da intransigência e do discurso polêmico possuir
muitas características em comum, fica constatado que não há relação entre os
mesmos.
Ainda, esta pesquisa realça um aspecto clássico da sofística: ganha quem
“ataca” mais seu rival. O importante é o “parecer ser imbatível”. É isso que explica o
crescimento de Azevedo no ranking do Technorati, nos últimos dois anos.
Por fim, vale enfatizar que há editorialização nas postagens examinadas.
Desta forma, constata-se que a internet, e mais propriamente os blogs, estão
transformando a forma de apresentar uma informação.
104
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PAZ, Carolina. A cultura blog: questões introdutórias. Revista da Famecos, Porto
Alegre: Edipucrs, n. 23, p. 66-72, dez. 2003.
PETRIK, Manuel. O duelo verbal: um estudo sobre o polemista no jornalismo. Porto
Alegre: PUCRS, 2006. Dissertação (Mestrado em Comunicação Social), Faculdade
de Comunicação Social, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul,
Porto Alegre, 2006.
PINHO, J.B. Jornalismo na internet: planejamento e produção da informação on-
line. São Paulo: Summus, 2003.
PRIMO, Alex; RECUERO, Raquel. Hipertexto cooperativo: uma análise da escrita
coletiva a partir dos Blogs e da Wikipédia. Revista da Famecos, Porto Alegre:
Edipucrs, n. 22, p. 54- 65, dez. 2003.
RIBEIRO, André Antônio. A filosofia da linguagem em Platão. Porto Alegre:
PUCRS, 2006. Dissertação (Mestrado em Filosofia), Faculdade de Filosofia,
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2006.
ROCHA, Paula Jung. Jornalismo em tempos de cibercultura: um estudo do
clicRBS. Porto Alegre: PUCRS, 2006. Tese (Doutorado em Comunicação Social),
Faculdade de Comunicação Social, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande
do Sul, Porto Alegre, 2006.
ROCHA, Paula Jung. Sentimentos em rede compartilhados na pós-modernidade.
Revista da Famecos, Porto Alegre: Edipucrs, n. 23, p. 73-82, dez. 2003.
RUDIGUER, Francisco. Cibercultura e pós-humanismo. Porto Alegre: Edipucrs,
2008.
SCHITTINE, Denise. Blog: comunicação e escrita íntima na internet. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2004.
SILVA, Maria Luiza S. A política: da persuasão à sedução. Porto Alegre: PUCRS,
2001. Dissertação (Mestrado em Comunicação Social), Faculdade de Comunicação
Social, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2001.
SOUSA, Mauro. Nietzsche: sobre a arte do discurso. Revista Reflexão, Campinas:
PUCCAMP, n. 90, p. 95-105, dez 2006.
TORDESILLAS, Alonso. Platão e os Sofistas: um amigo de Sócrates, pródicos de
céos. Revista Veritas, Porto Alegre, v. 49, n. 196, 2004.
107
WAINBERG, Jacques; CAMPOS, Jorge; BEHS, Edelberto. Polemista, o personagem
esquecido do jornalismo. INTERCOM – Revista Brasileira de Comunicação, São
Paulo, v. XXV, n. 1, p. 47-68, 2002.
YIN, Robert. Estudo de caso: planejamento e métodos. Porto Alegre: Bookman,
2005.
APÊNDICE A
AVALIAÇÃO DOS TÍTULOS POLEMISTAS
Data Reinaldo Azevedo Ricardo Noblat Josias de Souza
1/8/2008
Apologia do terror na página de um deputado do PT
Lula é o presidente com melhor imagem entre os
argentinos Em 13 anos, fiscais libertam 30 mil “neo escravos”
Mais um email escandaloso: terrorista revela como “engana” o Brasil Tortura é crime que não pode e não deve prescrever Troca de chefia expõe receita a risco de politização
2/8/2008
Carvalho, assessor de Lula, diz que prestou “ajuda humanitária” a terrorista. Que lindo! Lula a metalúrgicos: é hora de reivindicar aumento Contato das Farc leva uma vida pacata em Brasília
Veja 8. [email protected] Por que não um cargo no ministério da pesca? Bolsa família paga R$67 mi a mais no mês de julho
3/8/2008
As Farc e um vermelho e azul com Eliane Cantanhêde Anistia – Impossível equiparar o criminoso à sua vítima Governo faz mutirão contra as filantrópicas suspeitas
A manchete da Folha deste domingo e o estado policial As privatizações reavaliadas As manchetes deste domingo
4/8/2008
O leitor desafia o meu lado gaúcho da fronteira A lei seca é uma insensatez. Bastava fiscalizar Gilmar Mendes volta a torpedear a polícia federal
Agora no You Tube: Cenas fortes do Estado policial promovido por Tarso Genro Militares criticam “passado terrorista” do governo mara quer ouvir explicações de proposto das Farc
5/8/2008
Yara Chiara faz um preto e azul com Cantanhêde Bolívia em conflito Transatlântico brasileiro navega em águas mansas
Eliane Cantanhêde dobra a dose do remédio errado para ver se dá certo Classe média chega a 52% da população Governo faz mais concessões a ruralista endividado
6/8/2008
Non, jê ne regrette rien... Desabafa, Dantas, desabafa 88% apóiam o veto aos candidatos com “ficha suja”
A lei da anistia e as três mentiras. Ou: “nada devemos aos terroristas, mortos ou vivos”. DEM expulsa deputado carioca Natalino Guimarães
Segundo advogado, Daniel Dantas deseja
“desabafar”
7/8/2008
Este blog foi citado pelo STF? Será? STF anula julgamento e proíbe uso abusivo de algemas STF decide editar súmula limitando uso de algemas
Lá vou num vermelhinho e azul com Eliane, de novo!!! Tortura e torturados – Um agrado à esquerda Socorro agrícola premia os devedores com R$ 10 bi
8/8/2008
Algemas: agora somos todos do PT ou: sobre “garantismos” Jogos de Pequim – Lula bem na foto Ameaças ao STF e a Gilmar mobilizam equipe da PF
Comando militar do leste protesta contra revisão de anistia e ataca “terroristas” Jogos de Pequim – Sem emoção Justiça eleitoral autoriza a candidatura de Maluf
9/8/2008
Na Veja: grampo no Palácio e um Diogo reserva especial Tráfico treina táticas de guerrilha nas matas do Rio Inspeção no STF detecta “provável escuta” ambiental
Tarso é café pequeno. Que tal Robespierre? Grampos ilegais assustam o STF e o planalto Vem de Recife o principal alerta ao eleitor de 2008
10/8/2008
Guerra na Geórgia e democracia como um “passadismo” Falta de Comando Exército prevê “confronto” na Raposa Serra do Sol
Como criar estatais e influenciar pessoas. Ou estatismo, mercodofoia e pilantragem
intelectual
Militares pressionam para Lula se manifestar sobre
anistia Preferido de Aécio tem déficit de dinheiro e de votos
11/8/2008
Meu desafio a Lula, aos petistas e ao jornalismo vigarista Compre seu lugar no céu pagando com cartão de crédito Lula mobiliza aliados para eliminar entrave à BrOi
Os fascistóides: ou a mentira sobre os “pobres algemados” Tarso Genro na Berlinda Prédio da UNE será reconstruído com verba pública
12/8/2008
Nunca alimentei corvos; por mim, morreriam de fome
A má qualidade do ensino paulista pode contaminar o
país Lula cogita retirar MP que cria o ministério da pesca
Humanismo com os dois pés no chão. E as duas mãos também Cantora falsificada, “pegadas” Fake e torcida contratada Fracassa tentativa de leiloar os “bois piratas”
13/8/2008
UNE? Que UNE? A UNE não existe!
Dantas diz que Satiagraha foi para barrar criação da
BrOi Na CPI, Daniel Dantas diz apenas o que lhe convém
Lula transforma em ufanismo até a tortura
Aécio pensa em sair pelo país pedindo votos para o
PSDB Câmara autoriza governo a criar 3090 novos cargos
14/8/2008
Vamos privatizar a telefônica. E o meu email ao presidente da empresa. Quem merece? STF extingue 35 mil cargos “criados” em Tocantins
Supremo vê “afronta” da PF e aprova punição para uso abusivo de algemas Quem pode mais e quem não pode Lula: pré-sal é “sinal divino” para pôr fim à burrice
15/8/2008
Petróleo, delinqüência ideológica e 2010 Lula desperdiça seu segundo mandato, diz Aécio Laudos revelam “barbárie" nas mortes da Providência
Impecável Ibope: Marta abre larga vantagem sobre Alckmin Indeferida candidatura da mulher de Mão Santa no Pi
Titulos Polemistas
APÊNDICE B
AVALIAÇÃO DA RETÓRICA DA INTRANSIGÊNCIA
Data Reinaldo Azevedo Ricardo Noblat Josias de Souza
1/8/2008
Apologia do terror na página de um deputado do PT Lula é o presidente com melhor imagem entre os argentinos Em 13 anos, fiscais libertam 30 mil “neo escravos”
Mais um email escandaloso: terrorista revela como “engana” o Brasil Tortura é crime que não pode e não deve prescrever Troca de chefia expõe receita a risco de politização
2/8/2008
Carvalho, assessor de Lula, diz que prestou “ajuda humanitária” a terrorista. Que lindo! Lula a metalúrgicos: é hora de reivindicar aumento Contato das Farc leva uma vida pacata em Brasília
Veja 8. [email protected] Por que não um cargo no ministério da pesca? Bolsa família paga R$67 mi a mais no mês de julho
3/8/2008
As Farc e um vermelho e azul com Eliane Cantanhêde Anistia – Impossível equiparar o criminoso à sua vítima Governo faz mutirão contra as filantrópicas suspeitas
A manchete da Folha deste domingo e o estado policial As privatizações reavaliadas As manchetes deste domingo
4/8/2008
O leitor desafia o meu lado gaúcho da fronteira
A lei seca é uma insensatez. Bastava fiscalizar Gilmar Mendes volta a torpedear a polícia federal
Agora no You Tube: Cenas fortes do Estado policial promovido por Tarso Genro Militares criticam “passado terrorista” do governo Câmara quer ouvir explicações de proposto das Farc
5/8/2008
Yara Chiara faz um preto e azul com Cantanhêde Bolívia em conflito Transatlântico brasileiro navega em águas mansas
Eliane Cantanhêde dobra a dose do remédio errado para ver se dá certo Classe média chega a 52% da população Governo faz mais concessões a ruralista endividado
6/8/2008
Non, jê ne regrette rien... Desabafa, Dantas, desabafa 88% apóiam o veto aos candidatos com “ficha suja”
A lei da anistia e as três mentiras. Ou: “nada devemos aos terroristas, mortos ou vivos”. DEM expulsa deputado carioca Natalino Guimarães Segundo advogado, Daniel Dantas deseja “desabafar”
7/8/2008
Este blog foi citado pelo STF? Será? STF anula julgamento e proíbe uso abusivo de algemas STF decide editar súmula limitando uso de algemas
Lá vou num vermelhinho e azul com Eliane, de novo!!! Tortura e torturados – Um agrado à esquerda Socorro agrícola premia os devedores com R$ 10 bi
8/8/2008
Algemas: agora somos todos do PT ou: sobre “garantismos” Jogos de Pequim – Lula bem na foto Ameaças ao STF e a Gilmar mobilizam equipe da PF
Comando militar do leste protesta contra revisão de anistia e ataca “terroristas” Jogos de Pequim – Sem emoção Justiça eleitoral autoriza a candidatura de Maluf
9/8/2008
Na Veja: grampo no Palácio e um Diogo reserva especial Tráfico treina táticas de guerrilha nas matas do Rio Inspeção no STF detecta “provável escuta” ambiental
Tarso é café pequeno. Que tal Robespierre? Grampos ilegais assustam o STF e o planalto Vem de Recife o principal alerta ao eleitor de 2008
10/8/2008
Guerra na Geórgia e democracia como um “passadismo” Falta de Comando Exército prevê “confronto” na Raposa Serra do Sol
Como criar estatais e influenciar pessoas. Ou estatismo, mercodofoia e pilantragem intelectual Militares pressionam para Lula se manifestar sobre anistia Preferido de Aécio tem déficit de dinheiro e de votos
11/8/2008
Meu desafio a Lula, aos petistas e ao jornalismo vigarista Compre seu lugar no céu pagando com cartão de crédito Lula mobiliza aliados para eliminar entrave à BrOi
Os fascistóides: ou a mentira sobre os “pobres algemados” Tarso Genro na Berlinda Prédio da UNE será reconstruído com verba pública
12/8/2008
Nunca alimentei corvos; por mim, morreriam de fome
A má qualidade do ensino paulista pode contaminar o país Lula cogita retirar MP que cria o ministério da pesca
Humanismo com os dois pés no chão. E as duas mãos também Cantora falsificada, “pegadas” Fake e torcida contratada Fracassa tentativa de leiloar os “bois piratas”
13/8/2008
UNE? Que UNE? A UNE não existe! Dantas diz que Satiagraha foi para barrar criação da BrOi Na CPI, Daniel Dantas diz apenas o que lhe convém
Lula transforma em ufanismo até a tortura Aécio pensa em sair pelo país pedindo votos para o PSDB Câmara autoriza governo a criar 3090 novos cargos
14/8/2008
Vamos privatizar a telefônica. E o meu email ao presidente da empresa. Quem merece? STF extingue 35 mil cargos “criados” em Tocantins
Supremo vê “afronta” da PF e aprova punição para uso abusivo de algemas Quem pode mais e quem não pode Lula: pré-sal é “sinal divino” para pôr fim à burrice
15/8/2008
Petróleo, delinqüência ideológica e 2010 Lula desperdiça seu segundo mandato, diz Aécio Laudos revelam “barbárie” nas mortes da Providência
Impecável Ibope: Marta abre larga vantagem sobre Alckmin Indeferida candidatura da mulher de Mão Santa no Pi
Retórica da Intransigência
Tese da Perversidade
Tese da Futilidade
Tese da Ameaça
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