A resposta dos agregados familiarese das comunidades à epidemia do HIV/SIDA nas zonas rurais da África Sub-sahariana
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Em 1998, o programa FOCUS contava com 137
voluntários espalhados por cinco localidades ru-
rais e uma zona residencial urbana densamente
povoada, em Mutare. O programa cobre um to-
tal de 50 000 agregados familiares e presta aju-
da a 1 200 órfãos. O custo total do programa
FOCUS é de 1150 dólares americanos por mês,
dos quais 44 % são destinados a despesas admi-
nistrativas da FACT e 56 % às despesas directas
do programa (78 % para assistência material aos
órfãos, 13 % para reembolso das despesas dos
voluntários e para uniformes, 9 % para forma-
ção e despesas com reuniões). (Foster e Makufa,
1998). Os voluntários só recebem incentivos mí-
nimos: uniformes, 10 dólares americanos de pre-
sente de Natal e formação. O programa FOCUS
é utilizado noutras províncias do país e outros
programas foram lançados na Zâmbia, no
Quénia e no Malawi, na sequência de visitas aos
locais onde a FOCUS está presente, no âmbito
do programa regional de formação da FACT.
No Malawi, o programa COPE da Save the
Children Federation USA representa igualmen-
te um bom exemplo de projecto elaborado com
vista ao reforço da capacidade da comunidade.
O objectivo da intervenção do COPE é mobili-
zar a acção comunitária para a atenuação do
impacto do HIV/SIDA nas famílias e nas crian-
ças. A primeira fase compreendia a elaboração
de uma estratégia de programação; esta etapa
consistiu nomeadamente na formação de agru-
pamentos vocacionados para os cuidados comu-
nitárias, que reuniam o governo, responsáveis
religiosos, empresários, os anciãos da comuni-
dade e outras pessoas chave, a fim de responder
às necessidades das famílias em matéria de saú-
de e de problemas económicos e psicológicos. A
segunda fase do programa incluía o reforço da
capacidade destes agrupamentos identificarem
e mobilizarem os recursos internos, de acederem
a recursos externos e de coordenarem as organi-
zações de base comunitária que levariam a ini-
ciativa por diante.
Os comités de luta contra o impacto do SIDA ao
nível da comunidade conseguiram identificar,
monitorar e apoiar os órfãos e outras crianças vul-
neráveis ao ajudarem alguns deles a voltar para a
escola e ao fornecerem-lhes assistência material
sob a forma de uniformes escolares, vestuário, mi-
lho, arroz, sabão e material didáctico. Estas mes-
mas organizações comunitárias conseguiram reu-
nir fundos graças a hortas comunitárias,
efectuando trabalhos remunerados em pequenas
machambas pertencentes a agricultores e reali-
zando cortejos humanitários. As pessoas encarre-
gadas da guarda de crianças beneficiavam de aju-
da sob a forma de insumos agrícolas e de conselhos
técnicos por intermédio dos comités de luta con-
tra o impacto do SIDA ao nível da aldeia. As ou-
tras realizações dos comités de luta contra o im-
pacto do SIDA ao nível das aldeias incluem a
formação de clubes de jovens implicados na pro-
moção da prevenção do HIV e nos trabalhos de
prestação de cuidados, em sistemas de base co-
munitária de guarda de crianças e em actividades
recreativas estruturadas destinadas às crianças.
As características mais notáveis deste programa
são, por um lado, a criação de parcerias entre o
sector público e privado e, por outro lado, o facto
de a COPE ter agido como simples mediadora que
facilitou o estabelecimento do projecto. No fim do
ciclo previsto para o projecto, os trabalhadores
agrícolas da COPE foram retirados das aldeias e
das comunidades que foram consideradas auto-
suficientes (Krift e Phriri, 1998).
No Malawi, certas organizações de base comu-
nitária começam a oferecer uma educação in-
formal aos órfãos. Por exemplo, a Chifundo
Orphan Home, no distrito de Manase, foi criada
por mulheres que queriam ajudar os órfãos a
continuar a receber educação. Esta instituição
pediu ao chefe da aldeia que lhe indicasse quais
eram os órfãos que não iam à escola.
Na região de Kagera, na Tanzania, 12 organiza-
ções de base comunitária e ONG internacionais
prestam ajuda a cerca de 47 % dos órfãos. Parece
que a ajuda exterior gera uma certa dependência:
as pessoas ou as comunidades têm tendência para
ficar à espera que ONG exteriores venham pres-
tar-lhes ajuda. O Projecto de Ajuda aos Órfãos
UKIMWI fornece uma assistência limitada às co-
munidades para as ajudar a resolver os seus pró-
prios problemas de órfãos. Os recursos das famí-
lias e das comunidades são mobilizados em
primeiro lugar para aumentar a produção de ali-
mentos, o que inclui o cultivo das terras e a cria-
ção de duas vacas, assim como culturas de rendi-
mento como as de bananas ou café. As outras
actividades consistem na organização de apoio
comunitário com vista à reparação de casas de
órfãos, ao pagamento de propinas escolares de um
certo número de órfãos, a prestação de assistên-
cia médica aos órfãos e à implementação de acti-
vidades geradoras de rendimentos destinadas a
grupos de mulheres ou a órfãs (costura, remen-
dos, cestaria, etc.). (Ng’weshemi et al., 1997)