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UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA
FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS
MARIA INÊS MIQUELETO CASADO
O SISTEMA DE CICLOS E A JORNADA DE TRABALHO DO
PROFESSOR DO ESTADO DE SÃO PAULO
PIRACICABA SP
2006
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MARIA INÊS MIQUELETO CASADO
O SISTEMA DE CICLOS E A JORNADA DE TRABALHO DO
PROFESSOR DO ESTADO DE SÃO PAULO
Dissertação apresentada à Banca Examinadora do
Programa de Pós-Graduação em Educação da
Faculdade de Ciências Humanas - UNIMEP como
exigência para a obtenção do título de Mestre em
Educação. Núcleo de Estudos e Pesquisas em
Política e Gestão da Educação.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Raquel Pereira Chainho
Gandini
PIRACICABA SP
2006
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(Bibliotecária responsável: Silviane Ap. S. Sanches CRB 7327)
C33s Casado, Maria Inês Miqueleto
O sitema de ciclos e a jornada de trabalho do
professor do Estado de São Paulo / Maria Inês
Miqueleto Casado. - Piracicaba: UNIMEP, 2006.
110 f.
Inclui bibliografia.
1. Educação. 2. Trabalho docente. 3. Reformas
Educacionais. I. Título.
CDD 371.1
MARIA INÊS MIQUELETO CASADO
O SISTEMA DE CICLOS E A JORNADA DE TRABALHO DO
PROFESSOR DO ESTADO DE SÃO PAULO
Dissertação julgada adequada para a obtenção do
Título de Mestre em Educação e aprovada em sua
forma final pelo Programa de Pós-Graduação em
Educação da Universidade Metodista de Piracicaba
UNIMEP. Núcleo de Estudos e Pesquisas em
Política e Gestão da Educação.
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________
Prof.ª Dr.ª Raquel Pereira Chainho Gandini
UNIMEP (Orientadora)
________________________________________
Prof.ª Dr.ª Sandra Aparecida Riscal UFSCar
________________________________________
Prof. Dr. Cleiton de Oliveira - UNIMEP
Dedico este trabalho de pesquisa aos
profissionais do sistema de ensino público do
Estado de São Paulo que, independente do
reconhecimento da natureza de sua profissão e
de uma jornada de trabalho adequada às suas
tarefas, atuam competentemente nas escolas.
AGRADECIMENTOS
A alegria de concluir meu curso de Mestrado fez com que a palavra “agradecimento
ganhasse uma nova dimensão em minha vida.
Agradeço, em primeiro lugar, a Deus pelo dom de estudar com determinação,
comprometimento e seriedade e também por acompanhar meus passos no exercício de uma
convivência saudável e enriquecedora que me presenteou com mestres e colegas que se
transformaram em amigos.
Agradeço ao Paulo que nesses dezoito anos de convivência apoiou minhas decisões quanto à
carreira profissional e por sua compreensão nos últimos anos em que me dediquei aos estudos.
Agradeço à minha única filha Haliny pelo seu amadurecimento, apoio e compreensão pelos
muitos agora não posso, preciso estudar. Sem ela, nada teria sentido.
Agradeço a todos os colegas do Mestrado em Educação da UNIMEP e principalmente a
Fabiana Chinalia e a Luciana de Carvalho Leite, companheiras de viagem, de trocas de
conhecimentos e que se tornaram verdadeiras amigas.
Agradeço a todos os professores que com carinho, simplicidade e muita competência
colaboraram para o meu desenvolvimento intelectual.
Agradeço à minha orientadora Prof.ª Dr.ª Raquel Pereira Chainho Gandini pela cumplicidade
e respeito que tem para com seus orientandos. Obrigada pelos seus ensinamentos.
Agradeço aos Professores Doutores Sandra Aparecida Riscal (UFSCAR) e Cleiton de Oliveira
(UNIMEP) pela simpatia e prontidão ao aceitarem compor a Banca Examinadora para a
obtenção do meu título de Mestre em Educação.
Agradeço a todos com os quais convivo e reconheço meus amigos, pois todos são
importantes.
E por fim, agradeço às amigas Cleonice Aparecida Gonçalves Palanca e Valéria Além de
Biazi, que sempre com muita competência se dedicaram à revisão de meus textos. Muito
obrigada.
O presente trabalho foi realizado com o apoio do Programa Bolsa Mestrado da Secretaria de
Estado da Educação de São Paulo.
O processo da vida se opera em tentativas
sucessivas de libertação. Estamos todos os
dias renovando, na criatura que fomos na
spera, a criatura que seremos no amanhã.
Mais do que renovando-a: refazendo-a, porque
não tornamos a ser jamais o que fomos, salvos
apenas de uma velhice posterior, mas
construímos de fato uma vida própria, que das
outras só guarda a lembrança das
experiências e uma certa memória de duração
com que vamos acreditando na sua
continuidade.
Cecília Meireles
RESUMO
As principais razões que motivaram a realização desta investigação foram a nossa necessidade
de compreensão do tipo de trabalho docente do sistema escolar, mantido pelo Estado de São
Paulo e a de procurar responder a alguns questionamentos quanto à organização do ensino em
ciclos e a jornada de trabalho dos professores. Para tanto, utilizamos os seguintes
procedimentos metodológicos: revisão bibliográfica, análise de documentos da Secretaria de
Estado da Educação e legislação pertinente. No primeiro capítulo são apresentados os projetos
de organização escolar em ciclos no Brasil e no Estado de São Paulo. Os capítulos segundo e
terceiro sintetizam as reformas educacionais das décadas de 1980 e 1990 que traduzem a
política educacional do Estado. O capítulo quarto é composto por uma análise da polêmica
implantação do regime de Progressão Continuada e, por fim, o capítulo quinto apresenta um
resgate das jornadas de trabalho dos docentes nas décadas de 1980 e 1990 e a sua relação com
o sistema de ensino organizado em ciclos de aprendizagem. Fica ressaltado neste trabalho o
aspecto político das reformas educacionais, aparentemente administrativas, efetuadas pelo
Estado, uma vez que a jornada de trabalho docente não condiz com o trabalho exigido pela
organização do ensino em ciclos.
PALAVRAS-CHAVE: Educação – Ciclos EscolaresJornada de Trabalho Docente
Reformas Educacionais.
ABSTRACT
The reasons for this research were the necessity to understand the teacher’s work of the school
system in the state of São Paulo and the attempt to answer some questions about the
organization of teaching in cycles as well as the teacher’s working day. Thus, the
methodological procedures used in order to discuss this theme were bibliographical source,
analysis of documents from the Government Department of Education (Secretaria de Estado
da Educação) and its legislation. The first chapter presents the projects of the school
organization in cycles in Brazil and in the state of São Paulo. The second and third chapters
summarize the educational reforms that describe the educational policy of the state in the
1980s and 1990s. The fourth chapter consists of an analysis of the controversial introduction
of the continued progression regime. Finally, the fifth chapter presents a synthesis of the
teacher’s working day in the 1980s and 1990s related to the teaching system organized in
learning cycles. It is important to emphasize the political aspect of the educational reforms
seemingly administrative carried out by the state, since the teachers working day is not in
accordance with the work demanded by the organization of the teaching system in cycles.
KEYWORDS: Education – School CyclesTeacher’s Working Day Educational Reforms
LISTA DE SIGLAS
ANPAE
Associação Nacional de Política e Administração da Educação
APASE
Sindicato de Supervisores de Ensino do Magistério Oficial no Estado de
São Paulo
APEOESP
Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo
APM
Associação de Pais e Mestres
CB
Ciclo Básico
CEE
Conselho Estadual de Educação
CENP
Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas
CPP
Centro do Professorado Paulista
EF
Ensino Fundamental
EM
Ensino Médio
FUNDEF
Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de
Valorização do Magistério
HTPC
Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo
LDB
Lei de Diretrizes e Bases
LDBEN
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
MEC
Ministério da Educação e Cultura
PCP
Professor Coordenador Pedagógico
PEB I
Professor de Educação Básica I
PEB II
Professor de Educação Básica II
PI
Professor I
PMDB
Partido do Movimento Democrático Brasileiro
PROFIC
Programa de Formação Integral da Criança
PSDB
Partido da Social Democracia Brasileira
PT
Partido dos Trabalhadores
QM
Quadro do Magistério
SARESP
Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo
SE
Secretaria da Educação
SEE
Secretaria de Estado da Educação
SEESP
Secretaria de Estado da Educação de São Paulo
UDEMO
Sindicato de Especialistas de Educação do Magistério Oficial do Estado de
São Paulo
UNESCO
United Nations Educational Scientific and Cultural Organization
(Organização Educacional, Cienfica e Cultural das Nões Unidas)
UNICEF
United Nations Childrens Fund
(Fundo das Nões Unidas para a Infância)
USP
Universidade de São Paulo
LISTA DE QUADROS
Quadro 1
Evolução das ões implantadas de 1995 a 1998 na educação do Estado de São
Paulo..........................................................................................................................................79
Quadro 2
Jornadas de trabalho docente Estado de São Paulo...........................................98
12
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
......................................................................................................................15
CAPÍTULO I
RESGATANDO A SERIAÇÃO NO ENSINO PRIMÁRIO DO
ESTADO DE SÃO PAULO ..................................................................................................19
1- Da Escola-Modelo ao Ensino Fundamental.................................................................19
1.1 As escolas-modelo e o curso preliminar..............................................................19
1.2 Os grupos escolares ou escolas graduadas...........................................................22
1.3 O ensino primário e o ensino de grau..............................................................26
1.4 O ensino fundamental..........................................................................................26
2- Antecedentes: Projetos de Organização Escolar em Ciclos no Brasil e
no Estado de São Paulo......................................................................................................27
2.1 Década de 1920....................................................................................................27
2.2 Década de 1950....................................................................................................28
2.3 Década de 1960....................................................................................................32
2.4 Década de 1970....................................................................................................35
2.5 Década de 1980....................................................................................................36
2.6 Década de 1990....................................................................................................37
3- Conclusões Parciais......................................................................................................39
CAPÍTULO II
A POLÍTICA EDUCACIONAL DO ESTADO DE SÃO PAULO NA
DÉCADA DE 1980 E A IMPLANTAÇÃO DO CICLO BÁSICO .................................... 41
1- A Política Educacional 1983 a 1987.........................................................................41
2- Medidas Adotadas na Política Educacional no Período de 1983 a
1987 .............................................................................................................................44
2.1 O ciclo básico...................................................................................................... 45
2.2 O estatuto do magistério ..................................................................................... 49
2.3 O programa de formação integral da criança......................................................49
2.4 A reforma curricular do 1º grau..........................................................................50
3- A Política Educacional 1987 a 1991.........................................................................51
4- Medidas Adotadas na Política Educacional no Período de 1987 a
1991.............................................................................................................................. 51
4.1 Jornada única no ciclo básico .............................................................................52
5- Conclusões Parciais .....................................................................................................54
13
CAPÍTULO III
A POLÍTICA EDUCACIONAL DO ESTADO DE SÃO PAULO NA
DÉCADA DE 1990 E A PROGRESSÃO CONTINUADA ................................................ 55
1- O Período de 1991 a 1994 e o Programa de Reforma do Ensino
Público Paulista............................................................................................................ 56
1.1 A escola-padrão ..................................................................................................57
2- O Período de 1995 a 1999 e as Reformas Educacionais do Estado de
São Paulo .....................................................................................................................59
3- Conclusões Parciais .....................................................................................................66
CAPITULO IV
A INSTITUIÇÃO DOS CICLOS E A PROGRESSÃO CONTINUADA
NO ESTADO DE SÃO PAULO ...........................................................................................67
1- As Concepções de Ciclos na Organização do Ensino e o Trabalho
Docente ....................................................................................................................... 67
1.1 Ciclos de aprendizagem e ciclos de formação ........................................................67
1.2 O trabalho do professor em escolas organizadas em ciclos..........................................70
1.3 Trabalho docente e jornada de trabalho do professor que leciona no ciclo I do
ensino fundamental de São Paulo .................................................................................71
2- Progressão Continuada e Sistema Seriado...................................................................73
3- A Polêmica Provocada pela Progressão Continuada ...................................................76
4- As Considerões de Alguns Acadêmicos sobre os Ciclos e a Progressão Continuada
80
5- Conclusões Parciais .....................................................................................................83
CAPÍTULO V
A JORNADA DE TRABALHO DOS PROFESSORES DO ESTADO
DE SÃO PAULO E AS REFORMAS EDUCACIONAIS DAS
DÉCADAS DE 1980 E 1990.................................................................................................. 85
1- Os Profissionais do Quadro do Magistério da Secretaria de Estado da
Educação de São Paulo................................................................................................86
2- Alguns Aspectos Inerentes às Condições de Trabalho do Professor...........................87
3- Resgatando as Cargas Horárias de Trabalho dos Professores do
Estado de São Paulo nas Décadas de 1980 e 1990 .......................................................88
3.1 A lei complementar n.º 201, de 9 de novembro de 1978 e o
decreto n.º 14.329, de 29 de novembro de 1979.......................................................... .89
3.2 A lei complementar n.º 444, de 27 de dezembro de 1985 e o
decreto n.º 24.632, de 10 de janeiro de 1986................................................................90
14
3.3 O decreto n.º 28.170, de 21 de janeiro de 1988 e a resolução SE
n.º 17, de 28 de janeiro de 1988....................................................................................92
3.4 Os decretos n.º 34.035 e 34.036, de 22 de outubro de 1991.................................. .93
3.5 A lei complementar n.º 836, de 30 de dezembro de 1997 ......................................94
4- Conclusões Parciais ......................................................................................................97
CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................................102
REFERÊNCIAS................................................................................................................106
15
INTRODUÇÃO
Em 1989, um ano as ter concluído o curso de Pedagogia, comecei a lecionar
algumas disciplinas pedagógicas no curso de formação de professores, habilitação específica
para o magistério, numa escola estadual de Ibitinga/SP.
Em 1994, fui aprovada em concurso público estadual de prova e títulos para o
cargo de Professor III (professor que atuava no ensino de Grau) e continuei trabalhando
com classes do Magistério, lecionando Didática e supervisionando estágios em escolas
estaduais de 1ª a 4ª séries.
Nunca lecionei em classes de 1ª a 4ª séries, mas devido à supervisão dos estágios
dos meus alunos, passei a conviver algumas horas semanais com professores que atuavam
nessas séries.
Em 2001, concluí um curso de s-graduação lato sensu em nível de
Especialização, na área de educação, denominado Didática: Fundamentos Teóricos da
Prática Pedagógica”. Essa especialização me permitiu prestar um concurso público municipal
para trabalhar em uma faculdade. Fui aprovada e atualmente leciono a disciplina de Didática e
supervisiono os estágios dos alunos do curso de Pedagogia da Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras de Ibitinga.
Um dos meus objetivos como educadora sempre foi a continuidade e o
aperfeiçoamento dos estudos, visando a ampliar, enriquecer e aprofundar os conhecimentos
em minha área de atuação e, por já estar trabalhando em uma faculdade, pude concretizar a
antiga intenção de cursar o mestrado.
Fui designada, em 2005, para a função de vice-diretora de uma escola pública
estadual, que atende os Ciclos I (1ª a 4ª séries) e II (5ª a 8ª séries) do Ensino Fundamental, já
que o curso de formação de professores, em nível de ensino médio, foi extinto nesse mesmo
ano. Com esse novo trabalho, estou em contato diário com os professores, fato esse que vem
ao encontro de minhas aspirões.
Supervisionar estágios durante dezesseis anos me proporcionou contatos
freentes com os professores que atuavam nas primeiras séries do ensino fundamental da
rede pública do Estado de São Paulo.
Nesses anos todos, sempre ouvi dos professores de Ciclo Básico e de 3ª e 4ª séries
do 1º grau, na década de 1980, e de professores de Ciclo I do Ensino Fundamental, a partir de
16
1997, entre outras reclamões, sobre a falta de condições de trabalho e a extensa jornada de
trabalho semanal.
Particularmente sempre tive dificuldade de compreender a minha própria jornada
de trabalho semanal, pois a quantidade de horas destinada para eu desenvolver as atividades
fora da escola sempre foi insuficiente. Meu trabalho não se limitava às atividades em sala de
aula com os alunos, pois se estendia à minha casa.
A idéia de pesquisar a implantação dos ciclos de aprendizagem no Ensino
Fundamental do Estado de São Paulo e a jornada docente dos que atuam nesse nível de ensino
surgiu, portanto, do contato mantido com a realidade dos profissionais de escolas estaduais de
1ª a 4ª séries, originando assim o título do trabalho: O Sistema de Ciclos e a Jornada de
Trabalho do Professor do Estado de São Paulo.
Partindo dos objetos de estudo, a organização do ensino em ciclos” e “a jornada
de trabalho do professor que atua no Ciclo I do Ensino Fundamental do Estado de São Paulo,
nos perguntamos:
- Como estava organizado o ensino, no Estado de São Paulo, antes da implantação dos
ciclos?
- Como aconteceu o processo de desseriação do ensino fundamental?
- Qual é a concepção de ensino ciclado dos representantes da Secretaria de Estado da
Educação do Estado de São Paulo?
- A carga horária da jornada de trabalho, que está regulamentada por lei, oferece as
condições para o professor desenvolver as atividades profissionais que o sistema de
ciclos exige?
O presente trabalho analisou a implantação do sistema de ciclos de aprendizagem no
Ensino Fundamental, Ciclo I (1ª a 4ª séries) e a jornada de trabalho dos docentes, deste nível
de ensino, do Estado de São Paulo.
Diante da problematização, propusemos alguns objetivos para serem alcançados e
que serviram para orientar o nosso caminho.
- Compreender melhor a organização do ensino em ciclos e a jornada de trabalho dos
docentes que atuam no Ciclo I do Ensino Fundamental do Estado de São Paulo para
responder às nossas inquietões.
- Resgatar a seriação do ensino primário do Estado de São Paulo, identificando as
diferentes formas de organização desse ensino e as tentativas de implantação dos
ciclos.
17
- Abordar as reformas educacionais do Estado de São Paulo, nos anos de 1980 e 1990,
para entendermos a concepção da Secretaria de Estado da Educação sobre o trabalho
em ciclos de aprendizagem.
- Estabelecer comparação entre as jornadas de trabalho dos docentes que atuavam no
ensino seriado (1ª a 4ª séries) e dos que atuam no Ciclo I do Ensino Fundamental do
Estado de São Paulo.
- Conhecer a concepção que alguns autores têm a respeito dos ciclos de
aprendizagem, para compreendermos quais as condições de trabalho necessárias
para a atuação do professor nessa organização do ensino.
A presente pesquisa foi realizada por meio de estudos teóricos, históricos e análise
de documentos legais. As referências teóricas baseiam-se principalmente em categorias de
Max Weber e, para os estudos históricos, apoiamos-nos em autores como, Almeida Junior,
Casemiro dos Reis Filho e Rosa Fátima de Souza. Além de documentos da Secretaria de
Estado da Educação de São Paulo e de legislões, também utilizamos, como referência, Elba
Siqueira de Sá Barreto, Sandra Zákia, Celestino Alves da Silva Junior e Zacarias Pereira
Borges, entre outros. Apresentamos, a seguir, uma síntese dos capítulos que constituem esta
dissertação.
Num primeiro momento, resgatamos a história do ensino primário do Estado de
São Paulo, isto é, como esse ensino se organizou a partir da Proclamação da República (1889)
e os projetos de alguns educadores que pretenderam organizar o ensino em ciclos nesse
Estado, desde a década de 1920. Essa parte da pesquisa é o que consta no Capítulo I.
Num segundo momento, realizamos o estudo das reformas educacionais que
aconteceram nas décadas de 1980 e 1990, no Estado de São Paulo. Na década de 1980, teve
início o Ciclo Básico de alfabetização que passou por um processo de implantação até que, na
década de 1990, ocorreu a desseriação de todo o Ensino Fundamental.
Dividimos o contexto histórico das reformas educacionais em dois períodos: de
1983 a 1987 e de 1987 a 1991 para a década de 1980. Sobre a década de 1990, os períodos
estudados foram: de 1991 a 1994 e de 1995 a 1999. O critério para essa divisão foi a mudança
de governadores no Estado de São Paulo, pois cada um imprimiu uma reforma educacional.
As reformas educacionais das décadas de 1980 e 1990 comem os Capítulos II e
III do trabalho.
O Capítulo IV é composto pela pesquisa sobre a desseriação do Ensino
Fundamental e a implantação dos Ciclos de aprendizagem que ocorreram por meio da
instituição do regime de Progressão Continuada. Este regime suscitou polêmica e, por isso,
18
analisamos as opiniões de especialistas, de representantes das entidades da classe dos
professores e dos titulares da Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas, entre outros,
que participaram de um Fórum de Debates, realizado em 2002, em São Paulo, para
conhecermos suas opiniões.
Ainda neste capítulo, apresentamos autores que desenvolveram estudos sobre a
organização do ensino em ciclos e estabelecemos uma análise da política da Secretaria da
Educação do Estado de São Paulo sobre a organização do ensino em ciclos e se o plano de
carreira proposto por ela oferece uma jornada de trabalho adequada para o professor que
leciona no Ciclo I.
O passo seguinte foi conhecer, analisar e comparar as jornadas de trabalho dos
professores que lecionaram, nos anos de 1980, quando o ensino estava organizado em Ciclo
Básico de dois anos e 3ª e 4ª séries do grau e, nos anos de 1990, quando o regime de
Progressão Continuada desseriou todo o Ensino Fundamental (Ciclos I e II). Isso foi possível
estudando as legislões que organizavam as cargas horárias dos docentes por meio dos
Planos de Carreira.
Com as reformas educacionais dos anos de 1980 e 1990, aconteceram alterões
na jornada de trabalho dos professores, por meio de leis complementares e decretos. Esta
parte da pesquisa se encontra no Capítulo V. Para a obtenção dos conhecimentos teóricos,
fizemos um levantamento bibliográfico e, quanto ao estudo das jornadas de trabalho do
professor, analisamos documentos da Secretaria de Estado da Educação, leis, decretos e
planos de carreira.
Esperamos colaborar com outros trabalhos que venham a ser realizados sobre esse
tema e assim teremos contribuído, ainda que com uma pequena parcela, para o estudo sobre a
educação do Estado de São Paulo.
19
0I - RESGATANDO A SERIAÇÃO NO ENSINO PRIMÁRIO DO
ESTADO DE SÃO PAULO
Este capítulo pretende apresentar um estudo sobre o ensino primário do Estado de
São Paulo, as diferentes nomenclaturas que esse nível de ensino recebeu, as tentativas de
organização escolar em ciclos e a passagem do sistema seriado para a organização do ensino
em ciclos de aprendizagem.
Não se trata de responder como deve ser a organização do ensino primário no
Estado de São Paulo, mas buscar o passado para entendermos a sua presente (2005)
organização e as críticas que a ela são elaboradas.
As nossas principais referências, nesta primeira parte, serão Casemiro dos Reis
Filho (1995), Maria de Lourdes Haidar e Leonor Maria Tanuri (1999) e Rosa Fátima de Souza
(2004) que estudaram e caracterizaram a escola pública paulista.
1.
Da Escola-Modelo ao Ensino Fundamental
1.1
As escolas-modelo e o curso preliminar
A instrução pública do Império (1822-1889), segundo Haidar e Tanuri (1999), não
havia sofrido muitas alterões em relação ao período colonial. No Império, o nível primário
(ensino elementar) ensinava a escrever, fazer contas e doutrina religiosa.
Levando em conta a necessidade de substituir essa instrução do Império,
considerada precária, e de construir uma educação com identidade própria, é que republicanos
paulistas deram início às reformas do ensino.
Com a Proclamação da República, em 1889, a concepção liberal predominou no
pensamento político e educacional do Brasil e do Estado de São Paulo. Foi com muita
ansiedade que se pretendeu uma educação pública, gratuita e formadora de cidadãos
republicanos para aprimorar a educação brasileira.
Por isso, o Estado de São Paulo criou, em 1890, a primeira Escola-Modelo,
idealizada por Caetano de Campos, e esse seria um passo importante para a renovação do
ensino, pois essa escola tinha como objetivo preparar os professores para atuarem no ensino
primário.
À Escola Normal de São Paulo foi anexada essa Escola-Modelo ou de Aplicação,
que além de atender à clientela do ensino primário, foi estruturada para servir de espaço à
20
prática dos futuros educadores; servir como núcleo de renovação do Ensino Normal,
oferecendo-lhe um caráter prático e técnico; e também servir de campo de pesquisa
educacional. Inicialmente foram abertas duas classes que foram equipadas com material vindo
dos Estados Unidos. Duas professoras foram as mestras dos futuros mestres e tinham como
meta renovar o ensino primário do Estado por meio da Escola-Modelo.
Dona Guilhermina Loureiro de Andrade dirigia a classe feminina e Miss Márcia
Browne, a classe masculina. Essas duas educadoras tiveram formação norte-americana e,
segundo Reis Filho (1995, p. 80), ambas dominavam perfeitamente a técnica do método
intuitivo, mas não conheciam seus fundamentos teóricos.
O método intuitivo surgiu no século XVII com o Realismo Pedagógico. Esse
Realismo se fundamentou com o progresso das ciências e teve seu desenvolvimento paralelo
às correntes empiristas da filosofia moderna. Baseado no papel que a percepção sensorial
desempenha no processo do conhecimento, o Realismo Pedagógico indicou a inclusão, nos
programas escolares, das lições-de-coisas, que consistia, segundo a Pedagogia Moderna, na
seguinte orientação: conhecer as coisas de acordo com a sua realidade exterior (percepção
sensorial), independentemente das representões que possam ocorrer na consciência.
(SILVA, 1969).
Até 1896 foram implantadas cinco Escolas-Modelo, sendo quatro delas na Capital
paulista e uma em Itapetininga. Essas escolas atendiam a uma crescente clientela infantil.
Segundo Reis Filho (1995), eram escolas muito bem organizadas, que utilizavam o método
intuitivo e processos de ilustração pedagógica, tanto para a formação dos cidadãos
republicanos como para a formação prática dos futuros professores. Assim, de 1896 a 1920, as
Escolas-Modelo ou escolas primárias de ensino renovado foram verdadeiros exemplos de
padrão de ensino e organização do ensino público paulista.
Além da implantação de Escolas-Modelo, a Reforma da Instrução Pública
Republicana paulista de 1892 remodelou o ensino primário e serviu de modelo para outros
Estados. Essa nova estrutura organizou o ensino primário em dois cursos, o Preliminar e o
Complementar, ambos com quatro anos de duração. O curso Preliminar, organizado com um
conjunto muito enriquecido de disciplinas, tentava superar a escola primária tradicional, que
só ensinava ler, escrever e contar. Já o curso Complementar, idealizado como escola de
grau, transformou-se, posteriormente, em curso de formação de professores adjuntos para
atuarem nas Escolas Preliminares.
21
O curso Preliminar atendia diferentes tipos de escolas: Escolas Preliminares,
Escolas Intermédias, Escolas Provisórias, Escolas Ambulantes, Escolas Noturnas e Grupos
Escolares.
As Escolas Preliminares correspondiam a classes, ou seja, cada classe ou turma
era chamada de Escola Preliminar, comportava de vinte a quarenta alunos, oferecia cinco
horas diárias de aula e contava com um professor formado na Escola Normal. A função desse
professor era educar física, moral e intelectualmente as crianças, de acordo com o programa
do curso Preliminar e, ao final de cada ano, havia os exames finais das matérias.
As Escolas Intermédias, uma outra modalidade do curso Preliminar, apresentavam
uma característica que as diferenciava das Escolas Preliminares. Os professores que atuavam
naquelas escolas não eram formados na Escola Normal, mas tinham prestado exames no
Palácio do Governo perante uma Comissão Examinadora e os professores habilitados dessa
forma recebiam o nome de “Professores de Palácio, habilitação essa aprovada em
Regulamentos, nos anos de 1869 e 1887.
Quanto às Escolas Provisórias, lecionavam nelas professores temporários e
habilitados por concurso, de acordo com o Regulamento de 1893. Essas escolas poderiam
tornar-se Preliminares quando fossem admitidos professores diplomados.
As três modalidades do curso Preliminar - Escolas Preliminares, Escolas
Intermédias e Escolas Provisórias - eram consideradas unitárias, isto é, havia um professor,
ou um professor e um adjunto, que ensinavam grupos de, aproximadamente, trinta crianças
em diferentes graus de aprendizagem, compondo desta forma as classes multisseriadas.
Além desses tipos de Escolas, havia as Escolas Ambulantes, com professores que
percorriam diversas localidades para ensinar, pois em alguns lugares a população era
reduzida. Havia também as Escolas Noturnas, que atendiam alunos do sexo masculino,
maiores de dezesseis anos e trinta era o número nimo para funcionar. Seus professores
eram os das Escolas Preliminares e o objetivo dessas escolas noturnas não era alfabetizar as
pessoas, mas havia objetivo profissionalizante.
Também pertenciam ao curso Preliminar os Grupos Escolares, que reuniam, num
único prédio, de quatro a dez Escolas Preliminares ou classes. Inicialmente, nesses Grupos,
foram constituídas somente duas classes para cada ano escolar (, 2º, 3º e anos), sendo
uma para cada sexo. Segundo Reis Filho,
A teoria educacional da época, fundada na graduação do ensino, impunha
uma melhor divisão do trabalho escolar, pela formão de classes com nível
da aprendizagem semelhante. A homogeneização do ensino, a partir do grau
de desenvolvimento cultural do aluno, possibilitou melhor rendimento
22
escolar. Embora tenha levado, também, a mais refinados mecanismos de
seleção, criando padrões de exigência escolar para cada série do curso,
determinando imeras e desnecessárias barreiras à continuidade do
processo educativo. (REIS FILHO, 1995, p. 138).
1.2 Os grupos escolares ou escolas graduadas
De 1894 a 1910, foram instalados, no Estado de São Paulo, 101 Grupos Escolares,
sendo 24 na Capital e 77 no interior (SOUZA, 1998). Eles foram organizados levando-se em
conta as experiências adquiridas com as Escolas-Modelo. Essa expansão se deu por artifício
legal, Lei n. º 169 de 7 de agosto de 1893 e pelo Decreto nº 248 de 26 de julho de 1894.
Inicialmente essas unidades foram denominadas “escolas centrais, escolas graduadase
finalmente grupos escolares.
A organização dos Grupos Escolares levou ao surgimento de uma escola com
estrutura gradual, seriada, com conteúdos específicos para cada série pressupondo a
homogeneidade do ensino para alunos que passaram a ser agrupados de acordo com a idade e
série.
Essa classificação dos alunos, na organizão do ensino primário, com o objetivo
de formar as classes, recebeu a denominação de instrução simultânea, pois uma classe/série
passou a ser composta por vários alunos com o mesmo nível de aprendizagem e um professor.
Segundo Souza:
A escola graduada fundamentava-se essencialmente na classificação dos
alunos pelo nível de conhecimento em agrupamentos supostamente
homogêneos, implicando a constituição das classes. Pressupunha também, a
adoção do ensino simultâneo, a racionalização curricular, controle e
distribuição ordenada dos conteúdos e do tempo (graduação dos programas e
estabelecimento de horários), a introdução de um sistema de avaliação, a
divisão do trabalho docente e um edifício escolar compreendendo várias
salas de aula e vários professores. O modelo colocava em correspondência a
distribuição do espo com os elementos da racionalização pedagógica em
cada sala de aula uma classe referente a uma série; para cada classe, um
professor. (SOUZA, 2004, p. 114).
Assim sendo, os Grupos Escolares ou Escolas Graduadas foram concebidos
racionalmente em diferentes aspectos: na divisão do trabalho, na classificação dos alunos, nos
programas de ensino, nos procedimentos de ensino, nos exames avaliativos, nos espaços em
que as escolas foram construídas, no tempo, enfim, nas palavras de Souza (1998), uma nova
organização administrativo-pedagógica do ensino primário concretizou-se em poucos anos.
23
De fato, os Grupos Escolares tiveram uma forma de organização racionalizada,
hierárquica e burocrática. São exemplos dessa nova organização escolar, os calendários
escolares, os horários rígidos, os registros em diários, enfim, práticas que passaram a fazer
parte do dia-a-dia de profissionais da educação e dos alunos.
Denominada por Weber como a maior invenção social do homem, a burocracia
consiste em organizões racionais para chegar à previsibilidade, à calculabilidade e à
eficiência.
A burocracia tem características que contribuem para a eficácia da organização.
Essas características, válidas também para a instituição escolar, são: 1-posições ou cargos
definidos (a hierarquia burocrática define as relões, os cargos independem dos titulares); 2-
ordem hierárquica com limites de autoridade e responsabilidade (a possibilidade de fazer
carreira); 3-pessoal selecionado por suas qualificações profissionais (o contrário das
dominões, carismática e tradicional); 4-na dominação legal não se preenchem cargos por
meio de relões pessoais, mas sim por uma seleção de pessoas habilitadas para tarefas
determinadas; 5-exames formais são a forma de seleção; 6-regras oficiais (por meio das regras
há a possibilidade do tratamento uniforme); 7-estabilidade e carreira (com a estabilidade, os
funcionários sofrem menos pressões externas e podem ser promovidos por tempo de serviço
ou por exames formais).
A institucionalização da escola deu origem à organização do ensino seriado que se
caracterizou por:
-
formação de classes compostas por um grupo de alunos que apresentavam o mesmo nível
de conhecimento;
-
uma professora que, às vezes, contava com um auxiliar, coordenava tarefas feitas
individualmente por todos os alunos ao mesmo tempo;
-
conhecimentos distribuídos ao longo das aulas, dos dias, das semanas e dos meses;
-
tempo cronometrado para as diferentes disciplinas com intervalo para descanso;
-
intervalo no período escolar (recreio);
-
uso de relógios e campainhas para controlar o tempo escolar.
O novo tempo imposto pela instituição escolar aos alunos, professores, diretores e
famílias, constituindo as séries e os anos escolares, não levou em conta as necessidades
individuais em relação ao processo de aprendizagem, mas sim a uma racionalização que era
própria das relões sociais e econômicas que se estabeleciam, no Brasil, as a Proclamação
da República.
Segundo Riscal (2003, p. 73):
24
Toda a vida moderna, a partir do capitalismo, teria sido uniformizada em
termos de elementos passíveis de medição através do cálculo racional,
estabelecendo e deduzindo leis homogeneizantes, que passam a ser
concebidas como objetivas, independentes dos sujeitos sociais e políticos.
Os Grupos Escolares, portanto, se tornaram referência para a organização seriada
das classes, para a utilização racional do tempo e dos espos, bem como para o controle do
trabalho dos professores.
A dimensão administrativo-burocrática foi logo incorporada pelos diretores das
escolas os quais assumiram, como uma nova categoria profissional do ensino, um papel
central na estrutura hierárquica-burocrática”. Esses diretores logo sentiram a necessidade de
um auxiliar para tantas tarefas que o cargo exigia. Por isso, a figura do auxiliar do diretor foi
criada, no final do século XIX, pelo Decreto n. º 518, de 11 de novembro de 1898, mas
acabou sendo extinta do quadro de pessoal em 1904 por medida de economia.
Para ser diretor de um Grupo Escolar era preciso ser formado na Escola Normal e
ser escolhido pelo Governador. A partir de 1898, o critério de escolha foi alterado,
prevalecendo a livre escolha do governador sobre professor diplomado em Escola Normal do
Estado ou [...] em Escola Complementar do Estado, mas desde que tivesse prática”. (SOUZA,
R., 1998, p. 77).
Além da organização administrativa implantada na escola primária, também se
deu a didático-pedagógica. Esta aconteceu por meio de um programa curricular
predominantemente enciclopédico, isto é, um programa de educação voltado para a cultura
geral e para a formação dos alunos nos diferentes aspectos: físico, intelectual e moral.
Com relação ao método de ensino, este se constituiu como lições das coisasque
estabeleciam algumas idéias como: o ensino deve partir do particular para o geral, do simples
para o complexo e do concreto para o abstrato. Enfim, um método moderno que se embasava
na racionalidade e no cientificismo.
Como explicitamos anteriormente, o Realismo Pedagógico que introduziu as
lições de coisas (método intuitivo) no século XVII, surgiu no Brasil durante o Império, mais
precisamente com o Decreto n. º 7.247, de 19 de abril de 1879, baixado pelo Ministro Carlos
Leôncio de Carvalho que, em seu artigo 4º, admitia no programa do ensino primário as Lições
de Coisas. (MACHADO, 2002).
Mas, segundo Souza, R. (1998), esse método de ensino foi mais marcante no final
do século XIX, quando foi adotado pelos reformadores da instrução pública.
25
As lições de coisas não eram um simples método pedagógico, mas a síntese de
uma mudança de pensamento que acontecia no Brasil, no século XIX.
Esse método, também chamado intuitivo, substituiu o método dedutivo e tinha
como fundamentos a observação, a experiência e a provocação de um desenvolvimento
gradual e harmonioso das crianças.
O Estado de São Paulo, nos anos de 1890, introduziu esse método quando
reformou a Escola Normal e criou a Escola-Modelo, que mais tarde se transformaram em
Grupos Escolares.
Embora o Estado de São Paulo tenha introduzido várias reformas na instrução
pública, Souza, R. (1998, p. 51), ao referir-se aos Grupos Escolares implantados no final do
século XIX, concluiu que essas reformas não foram democráticas:
Criados especialmente para atender aos cleos urbanos, os grupos escolares
revelam a direção de uma potica educacional de privilegiamento das
cidades em detrimento da zona rural, isso em uma época em que cerca de
70% da população do Estado vivia no campo. O problema do
privilegiamento dos núcleos urbanos não estava somente na adoção de uma
instituição de melhor qualidade como eram os grupos. O maior problema
estava no descaso do governo para com as escolas isoladas.
Os Grupos Escolares foram considerados como sinônimos de qualidade em
educação, devido ao seu caráter inovador para a época (final do século XIX e início do século
XX), principalmente quanto à metodologia de ensino, aos materiais empregados e, sobretudo,
quanto à organização do espo escolar.
Entretanto, os Grupos Escolares (projetados para as cidades) conviviam ao lado
das escolas isoladas das periferias e das áreas rurais. Estas escolas isoladas que correspondiam
a classes com um professor regente para um grupo de alunos em níveis diferentes de
aprendizagem, portanto não seriadas, tiveram um programa de ensino específico para elas em
1911, pois não contavam com espo, materiais e profissionais especializados, como os
Grupos Escolares.
Mas por que isso teria ocorrido, se a “vontade republicana” era instaurar a
democracia e a cidadania? Souza, R. (1998) aponta algumas explicações: houve a
preocupação de se oferecer um ensino de qualidade critério aplicado antes do quantitativo,
por isso escolas modelo (poucas) e escolas sem cuidados (muitas); não podendo universalizar
o ensino primário, a opção foi privilegiar as escolas urbanas; os Grupos Escolares fizeram
parte de um conjunto de melhoramentos das cidades, como saneamento básico, instalação de
26
casas de comércio e, além disso, a escola seria o lugar que disciplinaria o povo que vinha para
a cidade.
Enfim, todas as reformas que os republicanos paulistas se propuseram a realizar
no ensino público ficaram mais no âmbito da inovação pedagógica e de um projeto que se
mostrou insuficiente para democratizar o ensino.
1.3 O ensino primário e o ensino de 1º grau
Durante as décadas de 1950 e 1960, persistiu o pensamento de uma educação
primária que fosse básica, pública, gratuita e não seletiva, pois desde o início da República se
pretendeu um ensino primário com duração de oito anos, mas o que tivemos foi uma escola
reduzida a três ou quatro anos de duração.
Assim, em 1961, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, n. º 4.024,
confirmou o ensino primário de quatro anos, com a possibilidade de serem acrescidos mais
dois anos, com a finalidade de formação profissional.
Em seguida, foram criados no Estado de São Paulo, no ano de 1968, os grupos-
escolar-ginásio. Os Grupos Escolares que oferecessem o ensino de a 4º anos (primário) e
que tivessem Diretor formado em Pedagogia, professores efetivos e instalões em bom
estado de funcionamento, poderiam receber em suas instalações as quatro séries do ensino
ginasial.
Esse ajustamento da estrutura administrativa e pedagógica objetivou a extensão do
ensino primário para oito anos que se concretizou posteriormente com a lei n. º 5.692 de 1971,
regulamentando a organização do ensino em e graus.
Essa lei eliminou os exames de admissão, que aconteciam entre o ensino primário
e o ginasial, e implantou oito anos de escolarização obrigatória. Dessa forma, os Grupos
Escolares passaram a ser Escolas Estaduais de Grau e os anos subseentes de
escolarização formariam o ensino de grau, de caráter profissionalizante.
1.4 O ensino fundamental
No final do século XX, com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDB) n. º 9.394 de 1996, a educação escolar brasileira passou a ser formada por: Educação
Básica e Educação Superior. A Educação Básica, segundo o Artigo 21 da LDB, é composta
pela Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio.
O Ensino Fundamental (1ª a 8ª série) refere-se ao antigo Ensino de 1º grau, ou
seja, é uma nova nomenclatura para o ensino de oito anos, obrigatório e gratuito. Portanto,
27
Grupo Escolar, Escola Primária, Escola de Grau ou Ensino Fundamental são denominações
diferentes para instituições que teriam um mesmo objetivo, escolarizar toda a população.
Em seguida à promulgão da Lei de Diretrizes e Bases de 1996, o Estado de São
Paulo instituiu em 1997 por meio da Deliberação CEE n. º 9/97 e Resolução SE n. º 4 de
15/01/98 o regime de Progressão Continuada para o seu sistema de ensino. Dessa forma, o
Ensino Fundamental nesse Estado está organizado em Ciclo I (1ª a 4ª série) e Ciclo II (5ª a 8ª
série).
2. Antecedentes: Projetos de Organização Escolar em Ciclos no Brasil e no Estado de
São Paulo
2.1 Década de 1920
Embora os Grupos Escolares, implantados entre 1894 e 1910, no Estado de São
Paulo, tenham possibilitado uma organização escolar mais racional e eficiente, por outro lado,
com eles se verificou um processo bastante seletivo dos alunos.
Esse processo seletivo desencadeou um alto índice de reprovação escolar e, dessa
forma, o Estado apresentava, no início do século XX, 50% de alunos reprovados do 1º para o
ano do ensino primário. Isso se apresentava como um obstáculo para os recursos públicos
em termos de oferecimento de matrículas para novos alunos. (KNOBLAUCH, 2004).
A década de 1920 caracterizou-se, no que se refere à educação, como um período
marcado pela preocupão de muitos dirigentes de órgãos públicos, professores e outros, com
o analfabetismo. Segundo Nagle, chega-se à conclusão de que a estrutura política, econômica
e social da Nação apresenta-se instável porque sobre ela pesa a grande massa de analfabeto,
que lhe ameaça as bases. (NAGLE, 1974, p. 112-113).
A falta de recursos financeiros para a educação e a necessidade de alfabetizar a
população levou Sampaio Dória, que era Diretor da Instrução Pública do Estado de São Paulo
em 1920, a fazer uma reforma que ficou conhecida como Reforma Sampaio Dória” ou Lei nº
1.750. Esta foi a única, entre muitas reformas, que procurou enfrentar o problema dos altos
índices de analfabetismo e que solicitou da União ajuda para a campanha de extinção do
problema, pois os Estados não possuíam condições e nem recursos para comandarem a
instrução pública primária sem o patrocínio da União.
Entre as medidas tomadas por Sampaio Dória na reforma da instrução pública
paulista de 1920, estavam: freência obrigatória para crianças de 7 a 12 anos; ensino
28
gratuito; liberdade religiosa; nacionalização do ensino primário; autonomia didática e período
de dois anos para a escola isolada.
Para garantir a universalização da alfabetização, no Estado de São Paulo, Sampaio
Dória instituiu, por meio da reforma de 1920, na escola primária, uma etapa com dois anos de
duração, obrigatória e gratuita para todos. Pretendia ampliar a abrangência da escola primária,
oferecendo, para a zona rural num primeiro momento, a alfabetização e as noções
matemáticas e num segundo, o aprofundamento das noções anteriores.
A proposta de reforma de Sampaio Dória foi radicalizada, porque foi modificada
pelo decreto que a regulamentou depois de sua saída da Diretoria do Ensino. Foi criticada
como uma reforma voltada para o aspecto quantitativo e para a difusão do ensino e não para a
melhoria de sua qualidade.Essa reforma foi revogada em 1925.
A pretensão de eliminar ou diminuir a reprovação na década de 1920, no Estado
de São Paulo, não dizia respeito à organização do ensino por meio de ciclos, mas à mudança
subentendida pela introdução de um ciclo de aprendizagem, isto é, oferecer mais tempo para
que a criança tivesse sucesso na escola.
Depois da tentativa de Sampaio Dória, na década de 1920, de introduzir na escola
primária da zona rural, uma etapa de dois anos, não encontramos referências de que houve
iniciativas oficiais com o propósito de alterar o sistema seriado para ciclos nas décadas de
1930 e 1940.
2.2 Década de 1950
Segundo estudos realizados pela UNESCO e apresentados por Antonio Ferreira de
Almeida Júnior, em 1956, no I Congresso Estadual de Educação de São Paulo, as taxas de
reprovações da escola pública brasileira, em 1943, eram de 57,4% na 1ª série e de 20% na 4ª
série. Em 1944, os dados eram 56,5% na série inicial e 22,8% na 4ª série. Esses dados
variavam nos diferentes Estados brasileiros.
O índice de reprovação não parava de crescer, pois, em 1954, de cada 100 alunos
brasileiros que entravam na 1ª série, somente 16 deles chegavam à 4ª série. No Estado de São
Paulo, dos 100 ingressantes na 1ª série, chegavam à 4ª série, 30 alunos. Ilustrando um pouco
mais a discrepância entre os Estados, tivemos em Alagoas, por exemplo, de cada 100 crianças
matriculadas na 1ª série, somente 4 delas chegavam à 4ª série. E não só a reprovação, mas
também a evasão era responsável por essa realidade.
Somava-se ainda a essa situação, a questão dos gastos realizados com o aluno
reprovado e o acúmulo de crianças nas séries iniciais, acarretando a falta de escolas ou a
29
necessidade de o Estado aumentar o número de vagas. Para esse fato, os argumentos
apresentados por Almeida Júnior, eram os mesmos expostos por Sampaio Dória, na década de
1920, o caráter financeiro.
Por isso, na década de 1950, ganhou novamente espo para discussões a idéia da
não reprovação por meio da “promoção automática”.
Para Almeida Júnior, a reprovação levava a males como discrepância entre a idade
da criança e a série em que estudava. Essa criança se sentia humilhada e a família tinha
desgosto. Portanto, a reprovação não apresentava nenhuma vantagem.
Almeida Júnior conheceu o mecanismo da promoção automática em 1946, numa
viagem que fez aos Estados Unidos. Segundo ele, a escola de educação geral só exige do
aluno aquilo que ele pode fazer, e se, de seu lado, o aluno faz o que está ao seu alcance, por
que reprovar? Por que aplicar à criança uma sanção desmoralizadora, se ela cumpriu seu
dever?. (ALMEIDA JÚNIOR, 2002, p. 77).
Com a realidade inglesa, Almeida Júnior entendeu a importância de a escola
trabalhar ajustando o ritmo e a complexidade do ensino das matérias ao aluno médio e ao
atrasado e não aos bem dotados.
Diante das novas idéias de promoção automática, havia um grupo de educadores
favoráveis à mudança, pois se preocupavam com os altos índices de reprovação escolar; e
outro grupo que era contrário por julgar ser arriscado implantar experiências de outros países
que não apresentavam semelhanças com a nossa realidade.
Uma explicação para tal preocupação era o fato de que, na Inglaterra, a não
reprovação aconteceu para atender aos alunos com capacidade de aprendizagem inferior à
média dos demais e formar classes homogêneas, segundo a capacidade desses alunos. Sendo
assim, a promoção automática, naquele país, não tinha relação com altos índices de
reprovação. Esses índices faziam parte da realidade brasileira.
O grupo contrário à promoção automática sugeriu algumas condições que
acreditavam serem necessárias para a proposta ser implantada no Estado de São Paulo e que
pareciam razoáveis. A proposta deveria ser testada antes e ser implantada gradualmente, e
consistia nas seguintes medidas: treinar os professores, esclarecer a opinião pública, ter no
máximo trinta alunos por turma, criar classes de recuperação e substituir os exames
tradicionais por verificões freqüentes.
Em 1956, houve a Conferência Regional Latino Americana sobre a Educação
Primária Gratuita e Obrigatória, promovida pela UNESCO e realizada em Lima (Peru). Nessa
30
conferência, Almeida Júnior (2002, p. 72), expressando a posição da delegação brasileira
apresentou a seguinte proposta:
Procure-se resolver o grave problema da repetência, que constitui importante
prejuízo financeiro e subtrai oportunidades educativas a considerável
contingente de crianças em idade escolar, mediante as seguintes medidas: a)
revisão do sistema de promoções na escola primária, com o fim de torná-lo
menos seletivo; b) estudo, com a participão do pessoal docente primário,
de um regime de promoções baseada na idade cronológica dos alunos e em
outros aspectos de valor pedagógico, e aplivel, em caráter experimental,
aos primeiros graus da escola.
Entretanto, Almeida Júnior propôs que, antes de se proclamar a promoção
automática no Brasil, seria necessário preparar o espírito dos professores para a adesão e criar
condições nas escolas para que não houvesse prejuízos para os alunos. Também propôs para
que o Estado de São Paulo aumentasse a escolaridade primária, tornasse a escola obrigatória,
aperfeiçoasse os professores, modificasse a concepção do ensino primário, revisse os
programas escolares, bem como os critérios de promoção.
Ao lado de Antonio Ferreira de Almeida Júnior, um outro defensor da promoção
automática, na década de 1950, foi o psicólogo Professor Doutor Dante Moreira Leite. Em
artigo intitulado Promoção automática e adequação do currículo ao desenvolvimento do
aluno(1959), Leite apontou três possíveis conseências da reprovação escolar: a criança
poderia considerar-se incapaz, considerar as exigências da escola desnecessárias ou continuar
se achando capaz, apesar das provas em contrário.
Por isso, Leite defendia a idéia da promoção automática e apresentava algumas
propostas:
1.
o currículo deveria ser organizado de acordo com o desenvolvimento do aluno portanto,
deveriam ser eliminados conteúdos inadequados à idade das crianças, acabando com
programas escolares iteis à vida do educando;
2.
as escolas deveriam oferecer instalões adequadas;
3.
aumentar a permanência da criança na escola;
4.
a promoção automática e a adequação curricular deveriam acontecer ao mesmo tempo;
5.
a escola deveria transformar-se de modo geral (objetivos, valores, aspirões), definindo
assim, uma nova filosofia para a escola primária;
6.
modificar os critérios da contagem de pontos para os professores primários. Na época, esta
contagem levava em conta a aprovação ou reprovação dos alunos. Entretanto, Leite não
sugeriu outra forma de contar esses pontos;
31
7.
mudar os métodos de ensino dos professores. Em vez de fazer a preleção da aula, o
professor deveria organizar e orientar as tarefas que cada subgrupo realizaria; e
8.
seria necessária a ampla divulgação da necessidade e da utilidade da proposta de
promoção automática, oferecendo aos professores a possibilidade de participarem das
discussões e darem sugestões.
Dante Moreira Leite, ao fazer essas propostas, dizia: O programa da promoção
automática estará destinado a completo fracasso, se os seus executores (professores, diretores,
inspetores) não estiverem convencidos de sua necessidade, assim como de suas limitões.
(LEITE, 2002, p. 91).
Acrescenta-se a isso que a promoção automática sugere ao professor que ele
trabalhe com tarefas diversificadas, pois cada aluno, ou grupo de alunos, se encontra em
diferentes níveis de aprendizagem. Dessa forma, seria necessário dividir a classe em
subgrupos, relativamente homogêneos, e cada um trabalhar com tarefas determinadas.
Também sugere que a aprendizagem passe a ser ativa, pois caberia aos alunos serem mais
participativos. Enfim trabalhar uma quantidade menor de conteúdos, mas com aprendizagem
mais permanente. Este é o princípio da heterogeneidade, ou seja, turmas heterogêneas com
atividades de aprendizagem diversificadas.
Ao mesmo tempo em que se discutia a promoção automática nos anos de 1950,
implicando a idéia de turmas heterogêneas, vigorava o sistema seriado, no qual o professor
comandava uma classe considerada por ele homogênea (idéia de que todos os alunos
aprendem ao mesmo tempo). Nesse sistema (seriado), a preleção da aula feita pelo professor
faz sentido, pois acredita-se que há um padrão uniforme em relação à aprendizagem escolar e
que todos os alunos devem seguir esse padrão. Também, os professores trabalham com um
grupo de alunos de nível médio, considerados como mais inteligentes e outros considerados
de nível inferior que ficam abandonados e desestimulados.
O sistema seriado pressupõe um currículo organizado em ordem crescente, no
qual os conteúdos vão sendo trabalhados gradualmente, série a série.
Segundo Leite (2002), a escola e os professores não aceitavam a promoção
automática, por acreditarem que a reprovação era uma forma de castigar os alunos que não se
igualassem aos mais inteligentes (idéia de homogeneidade). Além disso, reprovar o aluno, de
certa forma, demonstra o poder do professor e, com o fim da reprovação, a sua autoridade
estaria ameaçada.
Como o Estado de São Paulo, outros Estados também adotaram, na década de
1950, algum tipo de progressão continuada. O Estado do Rio Grande do Sul, por exemplo, em
32
1958, propôs classes de recuperação para alunos em defasagem de aprendizagem. Assim que
eles recuperassem as dificuldades, voltariam a estudar com a turma de origem, caso contrário,
continuariam na escola segundo seus próprios ritmos.
Concluindo, a tentativa de implantação da promoção automática, na década de
1950, estava ligada não só a aspectos financeiros, mas também à preocupação com a
diminuição dos índices de reprovação. Além disso, seus idealizadores e defensores trataram
das condições necessárias para a implantação dessa proposta.
2.3 Década de 1960
No início da década de 1960, depois de tramitar por treze anos no Congresso
Nacional, foi aprovada a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), nº
4.024, de 20 de dezembro de 1961. Essa LDB teve como característica principal uma
tramitação muito longa.
Em 1948, teve início, no Congresso Nacional, a discussão do Projeto de Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, mas por motivos políticos o projeto foi arquivado.
Depois de dez anos, portanto, em 1958, as discussões foram retomadas, pois
surgiu um substitutivo ao projeto inicial e, em 1959, a Comissão de Educação e Cultura
elaborou um novo documento e, embora tenha recebido várias emendas, foi convertido em lei
em 1961.
1
A lei resultante representou, segundo Saviani (2002), uma “estratégia da
conciliação, pois unia os deres dos principais partidos políticos. Para um melhor
entendimento dessa estratégia da conciliação, o autor compara o projeto de 1947-1948, o
Substitutivo Lacerda, de 1958-1959 e a Lei n. º 4024/61, confrontando as três versões do
título Do direito à educação:
[...] no projeto original, a responsabilidade do poder público de instituir
escolas de todos os graus, garantindo a gratuidade imediata do ensino
primário e estendendo-a progressivamente aos graus ulteriores e mesmo às
escolas privadas. Já o Substitutivo Lacerda define que a educação é direito
da família, não passando a escola por prolongamento da própria instituição
familiar. Ao Estado cabe oferecer recursos para que a família possa se
desobrigar do encargo da educação. O texto da Lei n. 4.024/61 conciliou os
dois projetos garantindo à família o direito de escolha sobre o tipo de
educação que deve dar a seus filhos e estabelecendo que o ensino é
obrigão do poder público e livre à iniciativa privada. (SAVIANI, 2002, p.
50).
1
Para um aprofundamento sobre as discussões em torno da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n.º
4.024 de 1961, ver o livro Política e Educação no Brasilde Dermeval Saviani, 2002, p. 31-49.
33
Na tentativa de situarmos, nessa LDB, a possibilidade de organizar o ensino de
modo diferenciado, no Título XII, Disposições Gerais e Transitórias, Artigo 104, encontramos
o seguinte:
Será permitida a organização de cursos ou escolas experimentais com
currículos, métodos e períodos próprios, dependendo o seu funcionamento
para fins de validade legal da autorização do Conselho Estadual de
Educação, quando se tratar de cursos primários e médios... . (BRASIL,
1961).
Portanto, a lei n. º 4024/61, fazia alusão a outras formas de se organizar o ensino
além da seriação.
Embora a LDB assegurasse aos governos estaduais autonomia administrativa, a
maioria continuava a seguir as diretrizes federais, prevalecendo assim, uma homogeneidade
em relação ao currículo e à estrutura pedagógica das escolas brasileiras.
Em 1967, segundo Monteiro (1996, p. 36-37), o Estado de São Paulo deu início a
uma série de medidas para reformar o ensino primário. Entre as mudanças destacamos:
Ato n. º 148, de 31/05/1967, instituiu o Grupo de trabalho para a reorganização do
currículo e dos Programas do Ensino Primário.
Ato n. º 58, de 06/03/1968 e Ato n. º 233 de 21/07/1968, aprovaram respectivamente os
programas dos níveis I e II do Ensino Primário.
Ato n. º 306, de 19/11/1968, que diss sobre a avaliação do rendimento e sobre a
aprovação/reprovação na estrutura em níveis do Ensino Primário.
Reforma da Orientação Pedagógica Serviços de Orientação Pedagógica e Serviço
Regional de Orientação Pedagógica.
A respeito da reforma da Orientação Pedagógica, esta teria ocorrido para
organizar leituras e debates entre os professores, para se chegar a uma nova postura com
relação à sua prática pedagógica, ou seja, encontrar um novo método de alfabetização, pois
oficialmente, o programa não oferecia estratégias de ensino.
Quanto ao programa implantado em 1968, além de reunir um conteúdo nimo,
básico e comum para todas as escolas primárias do Estado de São Paulo, também apresentava
o conceito de cada área de estudo, seus objetivos e os conteúdos. Para Monteiro (1996, p. 41):
Os conteúdos apresentados deveriam ser desenvolvidos com a divisão em
níveis e não mais em séries, tanto que o programa não estipulava quanto
deve ser ministrado no 1º ou no 2º ano, mas apresenta um conjunto de
conteúdos que deve ser esgotado no prazo de dois anos, dentro de cada nível.
34
Portanto, a escola primária paulista fez, em 1968, referência à implantação dos
níveis I e II no ensino primário. O Nível I abrangia a primeira e segunda séries e o nível II a
terceira e quarta séries. Mas a implantação desses níveis ficou impcita, pois os Atos de n. º
58 e n. º 233 faziam alusão somente aos programas (currículos) dos níveis I e II, isto é, a
reforma não instalava níveis de ensino.
Ao reformar os programas do ensino, a nova estrutura da escola primária no
Estado de São Paulo, em níveis I e II, foi a melhor alternativa, não significando queda de
qualidade da educação, mas sim democratização do ensino, pois segundo os responsáveis por
essas mudanças (José Mário Azanha e Cândido de Oliveira), reprovar o aluno que não tivesse
aprendido um ou outro conteúdo era uma injustiça.
Embora na década de 1960, as séries tenham continuado a existir, pelo menos o
aluno, segundo Monteiro (1996), ganhou mais respeito ao seu ritmo de aprendizagem, pois a
promoção automática que organizou o programa da escola primária em níveis, aboliu a
reprovação dos alunos.
Os Atos de n. º 58 e 233 não alteraram a forma de organizar o ensino. Este
continuou seriado, o que os Atos mudaram foi a estrutura do programa (dos conteúdos), que
foi dividido em níveis (I e II) e não mais em séries anuais.
Em relação à aprovação ou reprovação nos níveis I ou II, as provas e exames
tinham o objetivo de reagrupar os alunos de acordo com os seus níveis de aprendizagem, e, ao
final dos níveis, eles poderiam ser reprovados e então agrupados no ano seguinte em classes
de recuperação. O reagrupamento dos alunos, por nível de aprendizagem, pressupõe algumas
salas compostas por alunos fortes e outras compostas por alunos fracos.
As reformas implementadas no ensino primário do Estado de São Paulo, nos anos
de 1967 e 1968, não foram extintas formalmente, elas foram desaparecendo com a saída dos
formuladores (José Mário Pires Azanha, Cândido de Oliveira e Ulhoa Cintra, entre outros) da
Secretaria da Educação. Algumas das ões desses professores foram consideradas
subversivas, gerando problemas políticos. Com isso, as reformas não tiveram a continuidade
nos anos de 1970.
Além do Estado de São Paulo, em 1968, o Estado do Pernambuco também
organizou o seu ensino por níveis, rompendo com o sistema seriado da escola primária.
A justificativa para essa organização do ensino:
[...] era de cunho psicológico com repercussões na metodologia do ensino,
baseada no entendimento que os níveis respondiam de forma mais adequada
às necessidades e aos interesses dos alunos, em particular ao
35
desenvolvimento da sua capacidade de pensar. (BARRETO; MITRULIS,
2001, p. 108).
O professor deveria trabalhar em sala de aula com temas centrais, escolhidos por
ele, mas utilizando o trabalho diversificado. O Estado de Pernambuco, dessa forma, levou em
conta a necessidade do trabalho com turmas heterogêneas, mas com atividades diversificadas
para atender às necessidades individuais.
A organização do ensino primário em níveis, na década de 1960, que rompeu com
a idéia de seriação, não foi legalmente introduzida, mas ficou de certa forma impcita ao se
organizar, mesmo sem alterar a legislação, o currículo em duas etapas seenciais. Estas
etapas correspondiam a dois anos (sem reprovação) para cada nível (I e II) do ensino
primário.
2.4 Década de 1970
Para atender aos dispositivos constitucionais de 1967 (ampliação de quatro para
oito anos de escolaridade obrigatória), o Plano Estadual de Educação do Estado de Santa
Catarina (1969) instituiu, no ano de 1970, os “avanços progressivos, que aboliram
a
reprovação ao longo das quatro primeiras e quatro últimas séries do 1º Grau. O aluno que, ao
final da 4ª ou 8ª série, não apresentasse desenvolvimento adequado ao processo de
aprendizagem, iria para a classe de recuperação. Nessa classe, o aluno receberia um ensino de
acordo com a sua capacidade e ritmo próprio, além de ser conduzido à iniciação ao trabalho e
à criação de hábitos de estudo.
Também de 1970 a 1973, a Secretaria Estadual de Educação de Minas Gerais
projetou a implantação de um sistema de ensino de “avanços progressivos. A experiência se
deu em Juiz de Fora e, as o seu término, as escolas haviam apresentado menor índice de
repetência e evasão.
Passados dez anos da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(lei n. º 4.024/61), foi aprovada em 11 de agosto de 1971 a lei n. º 5.692
2
. Essa lei não
2
Ao contrário da Lei de Diretrizes e Bases n.º 4.024 de 1961 que demorou treze anos para ser aprovada, a Lei n.º
5.692 de 1971 teve uma tramitação rápida: 20 de maio de 1970, o Presidente da República instituiu, por meio do
Decreto n.º 66.600 um Grupo de Trabalho para desenvolver estudos e propostas para o ensino primário e médio;
15 de junho de 1970, tiveram início os trabalhos do Grupo de Trabalho; 14 de agosto de 1970, apresentação de
um relatório, elaborado pelo Grupo de Trabalho, para o Ministro da Educação (dois meses foi o prazo
determinado para a apresentação dos estudos e projetos); 30 de março de 1971, o Ministro da Educação
encaminhou ao Presidente da República o anteprojeto elaborado pelo Grupo de Trabalho; 11 de agosto de 1971,
aprovação da Lei n.º 5.692. Fizeram parte do Grupo de Trabalho: José de Vasconcellos; Valnir Chagas; Aderbal
Jurema; Clélia de Freitas Capanema; Eurides Brito da Silva; Geraldo Bastos Silva; Gildásio Amado; Magda
36
reformou o ensino, mas reestruturou a Lei de Diretrizes e Bases de 1961, reorganizando os
níveis de ensino em 1º e graus e fixando diretrizes para os dois graus do ensino. Por meio
do princípio da “integração, o antigo curso primário foi integrado ao ginasial e formou
assim, o ensino de grau com duração de oito anos. Um aspecto muito importante dessa lei é
que foi abolido o exame de admissão que existia entre o primário e o ginasial.
O grau tornou-se profissionalizante e passou a oferecer várias modalidades de
habilitões profissionais. Essa modificação foi muito criticada até que, em 1982, a lei
7.044 revogou essa obrigação.
O artigo 4º da lei n. º 5.692/71 determina que a verificação do rendimento escolar
e a avaliação da assiduidade ficam a cargo dos estabelecimentos de ensino e que, verificadas
as necessárias condições, os sistemas de ensino poderão admitir a adoção de critérios que
permitam avanços progressivos dos alunos pela conjugação dos elementos de idade e
aproveitamento(BRASIL, 1971). Tratava-se de uma abordagem que, na década de 1970,
possibilitava uma flexibilidade quanto à organização de turmas, levando em conta a idade e o
aproveitamento escolar.
A possibilidade de o aluno estudar algumas disciplinas pelo regime de
dependência” caracterizava a alteração do sistema seriado.
2.5 Década de 1980
Na década de 1980, período segundo Barreto e Mitrulis (2001, p. 111):
[...] de transição do regime autoritário para o Estado de Direito, diversos
governos estaduais das regiões Sudeste e Sul [...], empenhados em resgatar a
dívida blica com as grandes massas da população impedidas de
usufruírem dos benefícios do desenvolvimento ecomico pelo regime
militar, incorporaram às políticas educacionais medidas de reestruturação
dos sistemas escolares tendo em vista a sua redemocratização.
Ainda segundo Barreto e Mitrulis (2001), municípios de Estados como São Paulo,
Minas Gerais e Paraná instituíram o ciclo básico em suas redes municipais de ensino,
reestruturando, num
continuum,
as primeiras e segundas séries do 1º Grau. Esse ciclo
correspondia à fase de alfabetização (1ª e 2ª séries) e não às quatro primeiras séries do 1º grau.
A desseriação das duas primeiras séries tinha, como princípios, a continuidade do
processo de alfabetização e o respeito às diferenças individuais das crianças.
Soares Guimarães e Nise Pires. (Exposição de Motivos conforme reprodução feita pela SEESP em setembro de
1971, p15-45).
37
Para que o ritmo do aluno fosse respeitado, foi introduzida a idéia do
remanejamento das crianças até que as classes fossem compostas por alunos fortes, médios e
fracos. Portanto, pensou-se em simplificar o trabalho do professor, quando a idéia do
remanejamento era a heterogeneidade equilibrada do grupo-classe, de forma a propiciar
ganhos positivos ao aluno sem obstacularizar o trabalho do professor. (MONTEIRO, 1996,
p. 127).
2.6 Década de 1990
Durante a década de 1990, alguns Estados e algumas redes municipais de ensino
implantaram os ciclos de aprendizagem em seus sistemas de educação.
Em 1992, o regimento comum das escolas municipais da cidade de São Paulo
reorganizou o ensino fundamental em três ciclos: ciclo inicial antigas 1ª, 2ª e 3ª séries, ciclo
intermediário – antigas 4ª, 5ª e 6ª séries e ciclo final antigas 7ª e 8ª séries.
Também nos anos de 1992 e 1993, a prefeitura de Belém do Pará reorganizou o
seu sistema de ensino em ciclos para os primeiros quatro anos do ensino fundamental e,
gradualmente, fez a ampliação desse sistema para as outras quatro séries (5ª a 8ª séries).
Em 1994, o Estado do Rio de Janeiro incorporou ao seu sistema estadual de
ensino o Bloco Único. Essa organização já acontecia na proposta curricular do ensino
municipal da cidade do Rio de Janeiro.
O Bloco Único, segundo Barreto e Mitrulis (2001), introduziu no sistema
educacional um segmento com duração de cinco anos e incluía crianças de seis anos em
classes de alfabetização. Esse bloco de cinco anos era dividido em duas etapas, sendo que a
primeira correspondia às idades de seis, sete e oito anos (três anos iniciais) e nela as crianças
aprendiam os conceitos fundamentais. Durante a segunda etapa, que correspondia às idades de
nove e dez anos (dois anos finais) os conceitos adquiridos anteriormente eram ampliados e
aprofundados.
Quanto à avaliação da aprendizagem no segmento de cinco anos (Bloco Único), a
recomendação era que essa fosse realizada de acordo com os objetivos propostos, mas sem
retenção; ao final do bloco, o aluno que apresentasse dificuldades de aprendizagem se
submeteria a um ano de estudos complementares.
A forma como a Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro organizou
suas escolas despertou resistência por parte dos docentes que criticaram o extenso intervalo de
tempo escolar e o fato de os professores não serem os mesmos no transcorrer do bloco. Por
38
isso, o Bloco Único instituído em 1994 no Estado do Rio de Janeiro, não se manteve como
forma de organização escolar, portanto não teve continuidade.
Além desse Estado, em Belo Horizonte, a proposta da “Escola Pluralde 1994
também admitiu crianças com a idade de seis anos no ensino fundamental e estabeleceu três
ciclos com três anos cada um. Nesses ciclos, os alunos prosseguiam nos estudos com o
mesmo grupo de idade e, embora o objetivo fosse não distanciar as crianças de uma mesma
turma, era possível que, ao final de cada ciclo, os alunos permanecessem mais um ano na
mesma etapa.
Em outras palavras, a reprovação e permanência na mesma série se acumulavam
ao final do ciclo e assim se posicionam Barreto e Mitrulis (2001, p. 118), “a repetência não
era solucionada, apenas postergada na organização por ciclos.
Na segunda metade da década de 1990, foi promulgada a lei n. º 9.394 de 20 de
dezembro de 1996 que estabeleceu as novas Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB).
Essa lei institucionalizou o que, nos anos anteriores, alguns municípios e Estados haviam
experimentado: os ciclos como forma alternativa de organizar a educação.
A possibilidade de desseriação na forma de organizar o ensino se encontra
estabelecida no Artigo 23 da nova LDB n° 9.394:
A educação básica poderá organizar-se em séries anuais, períodos
semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos não
seriados, com base na idade, na competência e em outros critérios, ou forma
diversa de organizão, sempre que o interesse do processo de aprendizagem
assim o recomendar. (BRASIL, 1996).
Na visão de Barreto e Mitulis (2001, p. 120), mais uma vez a justificativa para a
iniciativa de organizar a educação em ciclos foram os determinantes econômicos e
demográficos, pois eles induzem as políticas de “expansão e melhorias da educação básica
do país.
Depois da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, outros
Estados organizaram seus sistemas de ensino em ciclos. O Estado de Minas Gerais instituiu o
regime de progressão continuada no ensino fundamental em 1997 e, a partir de 1998, instituiu
dois ciclos, um de 1ª a 4ª séries e outro de 5ª a 8ª séries.
Também no ano de 1997, em Porto Alegre, foi implantada
a “Escola Cidadã” e,
em Blumenau, de 1997 a 2000, a “Escola sem Fronteira”. O objetivo de ambas era inserir
os
ciclos de aprendizagem no ensino fundamental.
39
O Estado de São Paulo, levando em conta a experiência do município de São
Paulo, que, na década de 1980, havia introduzido
o Ciclo Básico na fase de alfabetização,
também organizou os anos letivos em ciclos nas escolas da rede estadual.
Dessa forma, em 1997, o Conselho Estadual de Educação do Estado de São Paulo
aprovou a Indicação n. º 08/97 e a Deliberação n. º 09/97 que implantaram o Regime de
Progressão Continuada e conseentemente os ciclos no sistema de educação. A partir de
1998, o Ensino Fundamental, que tem a duração de oito anos, foi reorganziado em Ciclo I (1ª
a 4ª séries) e Ciclo II (5ª a 8ª séries).
Em 1999, em Curitiba, foram introduzidos os Ciclos de Aprendizagemna rede
municipal e o critério para a constituição das turmas foi a idade. Segundo Knoblauch (2004,
p. 59), as escolas municipais de Curitiba se organizaram em Ciclo I crianças de 6, 7 e 8
anos, nas escolas em que a oferta de matrículas para crianças de 6 anos é possível. Nas escolas
em que isso não for possível, o ciclo I será de apenas dois anos. Ciclo II crianças de 9 e 10
anos.
As tentativas de organização do ensino em ciclos se intensificaram na década de
1990 e, principalmente, depois da promulgação da lei n. º 9.394/96 (LDB), muitos estados
implantaram os ciclos, as as experiências adquiridas em algumas de suas redes municipais
de ensino.
3. Conclusões Parciais
Somente com a Proclamação da República (século XIX) é que Estados como São
Paulo e, posteriormente outros, se encarregaram de concretizar as discussões iniciadas no
Império sobre a necessidade de espos organizados e adequados para as atividades escolares.
Num primeiro momento, a vontade republicana de instaurar a democracia e a
cidadania, deu-se organizando uma escola graduada, que oferecia um ensino homogêneo, com
conteúdos específicos para alunos classificados segundo a idade e a série.
Os primeiros Grupos Escolares, que foram construídos, em São Paulo, na década
de 1890, com uma arquitetura moderna para corresponder aos ideais republicanos de
modernização e desenvolvimento, fizeram com que a escola primária no Brasil fosse
institucionalizada.
A organização escolar seriada pressupõe um ensino homogêneo, pois os alunos
são agrupados por idade, numa determinada série, que tem a duração de um ano. Desenvolve-
se um programa que começa e deve terminar naquele espaço de tempo (um ano).
40
Buscando a democratização do ensino e a diminuição dos gastos gerados pelos
índices de repetência, surgiram as tentativas de organização escolar em ciclos.
A organização escolar em ciclos pressupõe a heterogeneidade, uma vez que os
alunos não são reprovados, mas não se encontram todos num mesmo nível de aprendizagem.
Pode-se dizer que, na década de 1920, surgiu a idéia de ciclos, quando Sampaio
Dória propôs para a zona rural, dois anos sem reprovação no ensino primário, mas foi, na
década de 1990, que o ensino organizado em ciclos foi instituído legalmente por vários
Estados brasileiros.
Enfim, durante décadas se experimentou, por meio de reformas e decretos, passar
do ensino seriado para o ensino organizado em ciclos, e o Estado de São Paulo instituiu, em
1997, dois ciclos no Ensino Fundamental.
41
II - A POLÍTICA EDUCACIONAL DO ESTADO DE SÃO PAULO NA
DÉCADA DE 1980 E A IMPLANTAÇÃO DO CICLO BÁSICO
Neste capítulo, abordamos as medidas adotadas na política educacional do Estado
de São Paulo na década de 1980.
Serão apresentados dois períodos: o primeiro de 1983 a 1987, governado por
André Franco Montoro e o segundo de 1987 a 1991, governado por Orestes Quércia.
Em 1984, foi implantado o Ciclo Básico na rede pública de ensino do Estado de
São Paulo. Assim, alunos das duas primeiras séries do 1º grau passaram a ter dois anos, sem
interrupção, para se alfabetizarem.
Embora o Ciclo Básico tenha sido implantado em 1984, sua proposta foi
construída ao longo dos anos, portanto, em mais de uma gestão governamental.
Nossas referências serão alguns autores que fizeram parte da concepção e
implantação do Ciclo Básico no Estado de São Paulo, como João Cardoso Palma Filho (2003)
e Marília Claret Geraes Duran (2003); acadêmicos como Luiz Antonio Cunha (2001) e a
legislação pertinente ao Ciclo Básico.
1 - A Potica Educacional – 1983 a 1987
Durante a década de 1980, encerrava-se gradativamente no Brasil o período de
ditadura militar que teve início em 1964 e iniciava uma nova etapa na política nacional o
regime democrático.
Em 1982, a população dos Estados da Federação pôde, por meio de eleições
diretas, escolher seus governadores e, em 1985, o Brasil elegeu, pelo Colégio Eleitoral, isto é,
por eleição indireta, um cidadão civil para ser o Presidente da República.
Também nesse período, os movimentos reivindicavam a democratização do
ensino e, por isso, vários Estados iniciaram programas de reforma nos seus sistemas
educacionais.
Em 1982, os eleitores do Estado de São Paulo elegeram
André Franco Montoro do
Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB)
3
para governador, durante o período
3
Para um estudo mais aprofundado da proposta do PMDB, da proposta Montoro e do governo de Orestes
Quércia (década de 1980), ver o trabalho Política e Educação: análise de uma perspectiva partiria de
Zacarias Pereira Borges (2002), p. 32-183.
42
março de 1983 a março de 1987. Os integrantes do partido diagnosticaram o setor educacional
da seguinte forma:
Baixa qualidade, elevadas taxas de evasão escolar, insuficiente
remuneração e péssimas condições de trabalho dos professores, falta de
programas adequados de aperfeiçoamento e reciclagem do magistério,
instalões mal-aproveitadas, inexistência de atuação harmônica entre a
escola e a comunidade, ensino profissionalizante restrito e carente de
funcionalidade. (PALMA FILHO, 2003, p. 18).
O mesmo PMDB apontou algumas causas para a realidade na qual se encontrava o
sistema estadual de ensino como: a baixa dotação de recursos destinada ao setor educacional;
utilização, pelo governo, do sistema de ensino público para alimentar esquemas de corrupção;
clientelismo; distribuição de favores e reformas educacionais impostas de cima para baixo,
sem a participação dos setores interessados.
A proposta do governador Montoro, para o setor educacional, tinha como metas a
descentralização na área orçamentário-financeira e de administração de recursos materiais,
bem como na preparação de recursos humanos e no estabelecimento de diretrizes
educacionais. (PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRÁTICO BRASILEIRO, 1982 apud
PALMA FILHO, 2003, p. 19).
Quanto à valorização do professor a Proposta Montoro propôs seis ões:
1-
recuperar gradualmente a deterioração da remuneração dos professores;
2-
permitir aos profissionais da educação maior participação nas decisões dessa área;
3-
equilibrar as horas de trabalho com os alunos com o número de “horas-atividade”. As
horas-atividade seriam destinadas “à preparação de aulas, correção de trabalhos,
coordenação interdisciplinar e pedagógica, bem como reciclagem e aperfeiçoamento do
corpo docente”;
4-
diminuir o número de escolas nas quais os professores atuavam;
5-
criar condições para que os professores não precisassem lecionar várias disciplinas entre
as que eram habilitados e;
6-
acabar com os cargos de comissão de natureza político-clientelista.
No governo de André Franco Montoro (1983 a 1987), passaram pela Secretaria de
Educação três Secretários. Segundo Cunha (2001), embora todos os secretários tenham atuado
de alguma forma na elaboração da proposta para a educação, durante a campanha do
candidato Franco Montoro e de seu vice, Orestes Quércia, cada um lançou sua própria
orientação e deixou uma marca.
43
Assim que tomou posse em 1983, o governador Franco Montoro nomeou Paulo de
Tarso Santos para ser o Secretário da Educação do Estado de São Paulo que permaneceu na
Secretaria até maio de 1984.
Sobre a curta gestão de Paulo de Tarso Santos, como Secretário de Educação no
governo Montoro, encontramos no trabalho de Cunha (2001, p. 196) a informação de que:
O carro-chefe de sua gestão foi inicialmente a realização de um Fórum
Estadual de Educação, mediante o qual se pudessem expressar as demandas
da área. Todavia, na prática, esta iniciativa fracassou, não servindo para a
difusão das teses do secretário (...). Foi na incorporação do ciclo básico no
ensino de 1º grau que o primeiro secretário de educação teve atuação mais
efetiva, seguindo proposta advinda mais dos especialistas em educação do
que das bases. Paulo de Tarso Santos caiu, no bojo de uma longa greve de
professores.
Com a saída de Paulo de Tarso Santos da administração da Secretaria da
Educação do Estado, assumiu, em maio de 1984, Paulo Renato Costa Souza, que administrou
a educação do Estado de São Paulo até maio de 1986, quando foi escolhido, pelo governador,
para ser reitor da Unicamp, pois havia sido o mais votado.
Esse secretário participou da implantação do Ciclo Básico e também da
elaboração, discussão e implementação do Estatuto do Magistério, o qual resultou de um
processo, iniciado em 1983, de debates e seminários no qual foram ouvidos professores,
diretores, delegados de ensino e supervisores, entre outros segmentos envolvidos com a
educação paulista. O Estatuto foi regulamentado pela Lei Complementar n. º 444, de 27 de
dezembro de 1985 e passou a reger a vida profissional do professor da rede estadual de ensino
do Estado de São Paulo.
O terceiro Secretário, José Aristodemo Pinotti, assumiu o cargo na Secretaria
Estadual de Educação em maio de 1986, participou, portanto, do final do mandato do
governador Montoro e permaneceu até o início de 1987 quando Orestes Quércia já havia sido
eleito para o governo do Estado de São Paulo.
Esse Secretário era médico especialista na saúde da mulher e havia sido reitor da
Unicamp.
Foi o que tentou desenvolver políticas de efeito eleitoral mais visível. Sem
embargar as medidas tomadas por seus antecessores, empreendeu o
Programa de Formação Integral da Criança PROFIC, que tinha seu apelo
maior na implantação do regime de oito horas diárias para os alunos da pré-
escola e do 1º grau. (CUNHA, 2001, p. 197).
44
Em resumo, os três Secretários de Educação do Estado de São Paulo, de 1983 a
1987, não tolheram os projetos de seus predecessores, mas cada um implantou um projeto
específico durante o tempo que permaneceu na Secretaria da Educação.
2 - Medidas Adotadas na Potica Educacional no Período de 1983 a 1987
Como a proposta do governo Montoro incluía o objetivo de ampliar a participação
dos profissionais nas decisões educacionais, a partir de 1983, a Secretaria de Estado da
Educação colocou em discussão um texto elaborado por seu chefe de gabinete, José Mário
Pires Azanha.
Esse texto, conhecido como Documento n. º 1/83 (
Documento Preliminar para
reorientação das atividades da Secretaria
), foi apresentado a toda a rede escolar para ser
discutido junto aos educadores.
De acordo com Palma Filho (2003, p. 21), Azanha, neste texto:
Procura demonstrar que a deterioração do ensino público no Estado de São
Paulo não é uma decorrência da expansão da oferta de vagas, ocorrida em
fins dos anos 1960 e boa parte dos anos 1970, e alega a necessidade de se
proceder a uma alteração de mentalidade do próprio magistério em face das
novas responsabilidades profissionais criadas pela expansão significativa da
clientela escolar.
As discussões originadas, com a leitura do documento da Secretaria, causaram
controvérsias sobre o que pensavam os professores da rede estadual e o autor do documento.
Para os professores, a expansão do ensino que ocorreu nas décadas anteriores e que acabou
deteriorando o ensino público era responsabilidade dos administradores da Secretaria de
Estado da Educação; e para Azanha, a causa da deterioração era a mentalidade do magistério
que não acompanhava o ritmo de mudanças no ensino.
Além disso, a estastica conclusiva das discussões não foi viabilizada devido à
heterogeneidade de propostas das Unidades Escolares, das Delegacias de Ensino e das
Divisões Regionais de Ensino.
Ao mesmo tempo em que as discussões do Documento n. º 1/83 despertaram, no
início, algum otimismo, também levaram à incredulidade e à desconfiança por parte dos
educadores. Como aponta Palma Filho (2003, p. 22), “com exceções de praxe, a percepção
que o magistério tinha da questão educacional decepcionou os educadores de perfil político e
ideológico mais progressista”, isto é, o magistério paulista se mostrava resistente às inovações
que os educadores da década de 1980 queriam introduzir na educação.
45
Mas, devido a pressões para que medidas fossem tomadas na área educacional,
Azanha foi levado a apresentar alguns projetos, que foram formulados tomando por base
discussões e reivindicações que já haviam sido feitas até o momento. Entre esses projetos,
encontravam-se a descentralização e racionalizão administrativa e pedagica da Secretaria
da Educação, a reformulação do ensino de grau, a reformulação do ensino de grau; a
valorização do magistério e a produção e distribuição do livro escolar.
Entretanto, as mudanças na organização da Secretaria da Educação
desencadearam posições contrárias aos projetos apresentados. Elas vinham de vários setores e,
ainda em 1983, o Secretário de Educação viu-se obrigado a substituir o seu chefe de gabinete,
José Mário Pires Azanha.
Em 1983, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (SP/SE, 1983)
apresentou alguns dados sobre a situação da educação no Estado. De cada 100 alunos que
ingressaram no 1º Grau em 1974, somente 28 deles chegaram à 8ª série em 1981. E, em 1980,
ingressaram 930.000 crianças na 1ª série e, destas, foram aprovadas 518.000, portanto, esses
dados demonstravam o fracasso escolar na educação paulista nesse período.
Diante de tais constatações a primeira ação da Secretaria da Educação foi a de
implantar o Ciclo Básico.
2.1 - O ciclo básico
O Secretário de Educação do Estado de São Paulo, Paulo de Tarso Santos,
solicitou ao Conselho Estadual de Educação, através do ofício n. º 5.707/83, a apreciação da
justificativa e minuta do decreto que instituía o Ciclo Básico.
Assim, em 21 de dezembro de 1983, o Conselho Estadual emitiu o Parecer CEE
n.º 1.913/83, aprovando a proposta da Secretaria da Educação de implantação, a partir de
1984, do Ciclo Básico no 1º grau. O Governador, no uso de suas atribuições legais, fez as
seguintes considerações para baixar o Decreto:
Considerando que as séries iniciais do ensino de 1º grau nas escolas
estaduais devem levar em conta o aspecto de continuidade do processo
educativo e respeitar as características individuais dos alunos,
Considerando a necessidade de se permitir maior flexibilidade na
organização curricular e na avaliação do desempenho de cada aluno
individualmente na fase de alfabetizão,
Considerando a vantagem de permitir aos alunos que necessitem de
atendimento individualizado permanecerem maior tempo na escola, e
Considerando a manifestação do Conselho Estadual de Educação (Parecer
CEE-1.913/83) homologado pelo Secretário da Educação. (SÃO PAULO,
1983, p. 113).
46
Dessa forma, em 28 de dezembro de 1983, foi decretada a instituição do Ciclo
Básico no ensino de grau das escolas estaduais.
Segundo o parágrafo único do artigo 1º do Decreto n.º 21.833 de 28 de dezembro
de 1983, O Ciclo Básico terá a duração nima de dois anos letivos e será implantado a
partir do ano letivo de 1984.
A 17 de janeiro de 1984, a Resolução SE n.º 13 regulamentou o Ciclo Básico no
Estado de São Paulo. Segundo esse regulamento, este corresponderia à fase inicial de
escolarização do ensino doGrau. Com durão nima de dois anos letivos, os alunos que
não adquirissem os mecanismos básicos da leitura e da escrita e outras habilidades do referido
período poderiam permanecer no ciclo por mais tempo.
De acordo com o artigo 8º do regulamento, as classes do Ciclo Básico deveriam
ter preferencialmente trinta e cinco alunos e para formar classes, os diretores e professores
levariam em conta os seguintes critérios: idade, estágios de desenvolvimento e antecedentes
de escolaridade.
O artigo 25 do regulamento do ciclo básico determinava que a implantão tivesse
início em 1984 para todos os alunos matriculados no que correspondia apenas à 1ª série do 1º
grau.
A princípio, a implantação atingiu mais de 840.000 alunos de 1ª série e a partir de
1985 abrangeu um total de 1.547.000 alunos.
O artigo 26 do mesmo regulamento explicitava que a implantação do Ciclo Básico
seria gradativa e levaria em conta:
I - A organização da escola em relação a condições físicas, materiais e de funcionamento.
II - A preparação do pessoal docente e técnico, em especial daqueles que atuarão no Ciclo
Básico.
III - A participação dos pais nas tomadas de decisões.
O artigo 28 explicitava que os órgãos administrativos (central, regional e local) da
Secretaria da Educação deveriam implementar o projeto de implantão do ciclo básico e
oferecer apoio necessário à sua execução.
Queremos destacar que, quando o Decreto foi expedido em 28 de dezembro de
1983, instituindo o Ciclo Básico e o seu Regulamento publicado em 17 de janeiro de 1984, os
professores não estavam trabalhando, pois, na primeira data, as escolas se encontravam em
período de recesso escolar, e na segunda, os professores estavam em férias.
Diante disso, o artigo 32 do Regulamento do Ciclo Básico determinou: O diretor
de Escola divulgará junto aos professores informões sobre o ciclo básico, por meio dos
47
documentos expedidos pela Secretaria da Educação no início do processo de atribuição de
aulas.
O processo de atribuição de aulas ocorre sempre no início do mês de fevereiro e as
aulas (ano letivo) são iniciadas alguns dias depois. Portanto, as mudanças vieram de surpresa
e sem que houvesse tempo para que especialistas, diretores e professores, refletissem sobre as
mesmas.
Para determinar as ões na área educacional, a proposta política do Ciclo Básico,
segundo Duran (2003), aconteceu no período de 1983 a 1985 e tinha como fundamentação os
seguintes aspectos: o ensino fundamental apresentava-se excludente, pois cerca de 40% das
crianças não ultrapassavam a 1ª série do 1º Grau, e a relação professor-aluno era marcada por
preconceitos do professor em relação aos alunos considerados culturalmente carentes.
As medidas estruturais tomadas foram extinção da reprovação da 1ª para a 2ª
série; oferecimento de duas horas diárias para reforço com crianças que apresentavam
dificuldades; remuneração aos professores que atuassem nas aulas de reforço; reserva de
horas extras para reuniões de professores; incentivo aos professores para a participação em
cursos de atualização e recompensas para os professores que escolhessem lecionar no Ciclo
Básico.
A extinção da reprovação da 1ª para a 2ª série despertou resistência à desseriação
(ensino organizado em ciclo) por parte dos educadores. O problema é que os professores, por
falta de fundamentação teórica, entenderam que não havendo reprovação durante o ciclo,
também não haveria necessidade de avaliar o rendimento do aluno. Entretanto, ensinar era
preciso, assim como avaliar, mas a ampliação do tempo disponível para a criança alfabetizar-
se (dois anos) não estava clara para os professores. Além disso, não aceitavam a forma como
havia sido implantada a desseriação: por meio de um Decreto.
No Brasil, tomar medidas por meio de Decretos é um fator histórico e cultural.
Essa idéia é mais bem explicitada por Gandini (1980), ao apresentar o trabalho desenvolvido
por Anísio Teixeira, no período de 1931 a 1935, na área educacional. Caracterizado como
inteligente e avançado com suas idéias liberais para a época, Anísio Teixeira atuou em cargos
públicos e, sempre voltado para a racionalização da administração, tomava medidas através de
decretos.
O exercício do ideário liberal da educação vai ocorrer, então, dentro dos
limites que a situação concreta oferecia: pela via burocrática estatal, através
de decretos, numa caricatura liberal, orientado de cima para baixo.
(GANDINI, 1980, p. 210).
48
Luiz Antônio Cunha entrevistou técnicos da Coordenadoria de Estudos e Normas
Pedagógicas para saber como interpretavam a medida, e segundo ele:
Foram unânimes em afirmar que essa medida representou uma verdadeira
intervenção na rede, contrapondo-se ao basismoprevalecente até então.
Este caráter necessariamente intervencionista decorreria do fato de que o
ciclo básico de alfabetização jamais seria aprovado em algum tipo de
assembléia pelos professores das escolas estaduais, por implicar na perda de
pelo menos parte de seus poderes, reais ou imaginários sobre os alunos.
(CUNHA, 2001, p. 199).
Mas, a verdade é que, em 1986, as mudanças impostas pelo Ciclo Básico
aumentaram em 10% o índice de aprovação dos alunos, comparando-se com o regime seriado
anterior.
Quando o Ciclo Básico foi implantado, não havia uma proposta pedagógica de
alfabetização para o ciclo de dois anos. No início de 1984, os professores tinham como
referencial teórico os
Guias Curriculares
e os
Subsídios
desenvolvidos pela Coordenadoria de
Estudos e Normas Pedagógicas (CENP) na década de 1970. Portanto, na prática, mesmo
depois de implantado o Ciclo Básico, o processo de alfabetização ocorria como no regime
seriado, isto é, sem orientões de uma prática pedagógica específica para atuarem em ciclo
de aprendizagem.
Segundo Duran (2003), as discussões sobre a proposta pedagógica do Ciclo
Básico iniciaram em 1985, e, em 1988, a perspectiva construtivista foi apresentada aos
professores da rede como referencial teórico ao processo ensino-aprendizagem da
alfabetização. Essa foi uma contribuição fundamental, por colocar a criança como sujeito do
processo de aquisição da ngua escrita sujeito que pensa e formula hiteses sobre esse
objeto de conhecimento que é a escrita. (DURAN, 2003, p. 67).
Podemos imaginar o impacto que foi a proposta construtivista na prática dos
professores alfabetizadores. Basta pensarmos que muitos dos professores que atuavam como
alfabetizadores no ano de 1988 tinham sido formados há aproximadamente vinte anos. Tinha-
se então alguns professores formados na década de 1960 e que haviam recebido uma
educação e formação profissional embasadas no autoritarismo, no método tradicional, com a
idéia de prontidão para a alfabetização e de que a criança recebia o conhecimento pronto e
acabado.
Esses professores, formados há anos, estavam acostumados a seguir um método
para alfabetizar no qual eles haviam fixado todos os passos referentes ao ensino e a criança
teria que absorver os conteúdos como resultado de aprendizagem. No momento, apresentou-se
para eles o construtivismo, que não era um método e nem oferecia receitas ou passos, pois a
49
criança é o sujeito do conhecimento e, de acordo com o seu ambiente cultural, deverá
construir sua aprendizagem com a medião do professor. Como aponta Teixeira,
Os professores tendem a ensinar do modo como foram ensinados, em
decorrência da internalização de papéis percebidos nos seus primeiros dias
na escola como alunos. Essas percepções, tornadas inconscientes, vão
influenciar na elaboração dos seus modelos de ação pedagógica.
(TEIXEIRA, 2002, p. 57).
Além do fato de os professores ensinarem do modo como foram ensinados,
também sofrem influências da estrutura e da organização escolar, do sistema e da política
educacional.
Em 1984, ano em que foi implantado o Ciclo Básico no Estado de São Paulo, o
setor educacional passava por um momento de crise, pois, além de o Secretário da Educação,
Paulo de Tarso Santos, ter sido muito criticado na Assembléia Legislativa por ter dado pouca
atenção às demandas dos parlamentares, o magistério reivindicava à Secretaria da Educação
aumento salarial e, de março a maio desse ano, houve greve dos professores.
2.2 O estatuto do magistério
O Estatuto do Magistério, que foi implantado com a Lei Complementar n. º 444
de 27 de dezembro de 1985, apresentava, segundo o Secretário de Educação, Paulo Renato
Costa Souza, quatro pontos importantes:
Redução da jornada em sala de aula e, conseqüentemente, aumento das horas para sua
preparação além de atendimentos a pais e alunos.
Estímulo ao aperfeiçoamento do professor, tendo como conseência a ascensão na
carreira docente.
Incentivo à assiduidade e à permanência em sala de aula, através da regulamentação da
ascensão dentro da carreira docente.
Valorização salarial do Magistério.
Portanto, o novo Estatuto do Magistério passou a reger a vida profissional dos que
lecionavam na rede pública de ensino do Estado de São Paulo e conferiu a valorização do
magistério, como havia sido proposta para a gestão do Governo Montoro.
2.3 O programa de formação integral da criança
Em maio de 1986, o Professor Doutor José Aristodemo Pinotti assumiu o cargo de
Secretário de Educação do Estado de São Paulo e, durante o período de sua gestão, implantou
o Programa de Formação Integral da Criança PROFIC.
50
As normas estaduais que implantaram o PROFIC foram decretos n. º 25.469, de 7
de julho de 1986, 25.753, de 28 de agosto de 1986 e a resolução 254 da Secretaria Estadual
de Educação, de 7 de outubro de 1986.
O PROFIC se dividia em dois projetos:
Projeto de Formação Integral do Escolar
(7 a 14 anos), voltado para a rede estadual
de ensino de grau. Esse projeto visava a permanência da criança na escola em
tempo integral (manhã e tarde) e uma formação mais completa (instrução, artes,
esporte, recreação e enriquecimento curricular).
Projeto de Formação Integral do Pré-Escolar
(2 a 6 anos), voltado para a pré-escola
em regime de tempo integral, dar-se-ia através de convênios com as prefeituras e
instituições particulares.
O PROFIC enfrentou problemas como: escolas estaduais de grau (Estado de
São Paulo) possuíam até quatro turnos por dia, as classes eram superlotadas e não ofereciam
espos adequados para as crianças permanecerem o dia todo no ambiente escolar.
Portanto, de acordo com Cunha (2001, p. 205), o projeto de formação integral do
escolar atingiu apenas 85 mil alunos (...). Não chegaram a quatrocentas as escolas da rede
estadual que iniciaram a implantação do programa.
Essa medida adotada na política educacional do Estado de São Paulo caracterizou-
se como a orientação e marca deixada pelo terceiro secretário de educação no período de 1983
a 1987.
2.4 A reforma curricular do 1º grau
As a implantação do Ciclo Básico, fizeram-se necessárias outras mudanças
como, por exemplo, a reforma do currículo do 1º grau. Assim sendo, de 1984 a 1986, foi
elaborado um anteprojeto de proposta curricular para o ensino de grau que daria origem às
Propostas Curriculares das diferentes áreas do conhecimento.
Segundo Palma Filho (2003, p. 48):
O projeto de reforma curricular resultou de esforços desenvolvidos por um
conjunto de educadores profissionalmente alocados na CENP, nas escolas da
rede estadual, delegacias de ensino e universidades, que do ponto de vista
político formavam um conjunto pluripartidário, havendo, inclusive, em
algumas das equipes técnicas da CENP que participaram do processo de
elaboração das propostas curriculares, uma identidade maior com o PT.
51
De agosto de 1986 até maio de 1987, houve a apresentação pública da primeira
versão da proposta curricular e também se deu o debate na rede estadual.
No segundo semestre de 1987, tanto na Assembléia Legislativa como na
imprensa, os conteúdos presentes nas propostas curriculares foram muito discutidos e
criticados. As propostas curriculares de História e Geografia, por exemplo, foram as mais
criticadas pela grande imprensa paulista, principalmente pelos jornais
O Estado de São Paulo
e a Folha de São Paulo
e pelo deputado Wadih Helou na Assembléia Legislativa.
As críticas foram dirigidas ao conteúdo ideológico da proposta de História, que
mencionava a divisão da sociedade em classes, pois tinha orientação marxista; à rejeição das
tradições e da cultura ocidentais e por fazer lavagem cerebral nos alunos. (CUNHA, 2001).
Portanto, a proposta pedagógica do Ciclo Básico e a proposta curricular do 1º grau
tiveram um processo longo e complexo e não se completaram no governo de André Franco
Montoro.
3 - A Potica Educacional – 1987 a 1991
Os eleitores do Estado de São Paulo elegeram, em 1986, Orestes Quércia do
Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) para governar de março de 1987 a
março de 1991.
Orestes Quércia fora vice-governador de André Franco Montoro (1983 a 1987) e
deu continuidade à política educacional iniciada em 1983, incluindo-se aí a consolidação do
Ciclo Básico.
Como Governador do Estado de São Paulo, criou a Secretaria do Menor como
iniciativa de cumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n. º 8.069 de 13 de
julho de 1990).
Durante o governo de Quércia, passaram pela Secretaria de Educação do Estado,
quatro secretários: Chopin Tavares Lima, de 1987 a 1989; Wagner Rossi, de 1989 a 1990;
José Goldemberg, de 10 de janeiro de 1990 a 15 de março de 1990 e Carlos Estevan Martins,
de 15 de março de 1990 a março de 1991.
4 - Medidas Adotadas na Potica Educacional no Período de 1987 a 1991
Em 1987, chegaram ao Conselho Estadual de Educação críticas sobre o fato de ter
diminuído a jornada de trabalho do professor (Estatuto do Magistério – 1985) e ter aumentado
a carga horária do aluno (PROFIC 1986), por isso o Programa de Formação Integral da
Criança (PROFIC), implantado em 1986, foi desativado no governo de Orestes Quércia.
52
A proposta de aumentar a jornada diária das primeiras séries, que era original do
governador Montoro, foi retomada pelo Secretário de Educação, Chopin Tavares de Lima.
Entretanto, seria impossível aumentar a jornada diária do aluno sendo que o
Estatuto do Magistério (1985) havia reduzido a jornada dos professores em sala de aula para
16 horas-aula por semana.
Diante dessa realidade, foi recomendado pelo Conselho Estadual de Educação que
a Secretaria revisse a jornada de trabalho estabelecida pelo Estatuto do Magistério, pois a
ampliação da jornada das primeiras séries era inviável diante da jornada dos professores.
Considerando a importância que a continuidade administrativa tem para emplacar
uma política pública, e que as mudanças são lentas, pois precisam de tempo para amadurecer,
acreditamos que essa rotatividade de administradores tenha prejudicado a educação no
período de 1987 a 1991.
Conforme apresenta Cunha (2001, p. 214):
A continuidade na administração educacional, ao menos em certas áreas, é
condição de sucesso das políticas públicas, principalmente em termos de
educação, onde os resultados não podem ser sentidos tão imediatamente
quanto no abastecimento de água ou mesmo nos programas de saúde, por
exemplo.
Continuidade nas administrões da Secretaria da Educação era tudo o que a
política pública do Ciclo Básico precisava para se consolidar.
4.1 Jornada única no ciclo básico
A Jornada Única para alunos e professores foi uma das medidas tomadas na
política educacional, no período de 1987 a 1991, na rede estadual de ensino de São Paulo.
Em 21 de janeiro de 1988, o governador do Estado de São Paulo, Orestes Quércia,
expediu o Decreto n. º 28.170, estabelecendo a Jornada Única Discente e Docente no Ciclo
Básico das escolas estaduais e, em 28 de janeiro do mesmo ano, a Resolução SE n. º 17 que
diss sobre a Jornada Única no Ciclo Básico.
De acordo com a Resolução n. º 17, os alunos do Ciclo Básico passaram a
permanecer em classe, por vinte e seis horas-aula semanais (a hora-aula correspondia a
cinqüenta minutos). Esse total de horas-aula era com o professor regente da classe. Além
disso, tiveram também mais duas horas-aula de Educação Física e mais duas horas-aula de
Educação Arstica. Estas eram regidas por professores específicos de cada área. Portanto, o
aluno passou a permanecer na escola por trinta horas semanais.
53
Segundo Duran (2003), a Jornada Única caracterizou a terceira fase de
implantação do Ciclo Básico (1988 a 1991) e uma etapa da política educacional do
governador Orestes Quércia.
As justificativas para a implantação da Jornada Única foram: necessidade de
reformular as atividades dos professores e dos alunos pensando nos níveis de aprovação, mas
também na formação do aluno; aumentar a permanência do aluno na escola para que o
processo de alfabetizão fosse de melhor qualidade; a criança ficaria mais tempo na escola,
pois, interagindo com o grupo social classe/escola, estaria desenvolvendo a sua cidadania; e
permanência do professor por mais tempo na escola.
Para o professor permanecer por mais tempo na escola foi alterada a sua jornada
semanal de trabalho que passou a ser: vinte e seis horas-aula com a classe, seis horas-aula de
trabalho pedagógico na escola e mais oito horas-aula seriam cumpridas em horário e local de
sua livre escolha. Essas oito horas-aula serviriam para o preparo de aulas e corrões de
provas, atividades e/ou trabalhos dos alunos.
As seis horas-aula cumpridas na escola (horário de trabalho pedagógico) eram
destinadas às seguintes atividades: participação em reuniões pedagógicas; acompanhamento,
avaliação e controle das ões do Ciclo Básico; preparo de materiais didáticos e também
participação de cursos de atualização.
A partir de 1988, as escolas também passaram a contar com um Professor
Coordenador para o Ciclo Básico e suas funções eram as seguintes: organizar o trabalho dos
professores e articular o ciclo inicial às 3ª e 4ª séries do 1º grau.
A Jornada Única Discente e Docente no Ciclo Básico perdurou nas escolas
estaduais por três anos e, embora a sua implantação tenha colaborado para fortalecer o Ciclo
Básico, o índice de reprovação foi empurrado para o final do Ciclo. E como aponta Duran
(2003, p. 73), Ao avaliar os resultados do CB, alguns anos as a implantação da jornada
única, constata-se que a extensão da jornada não melhorou significativamente o rendimento
escolar dos alunos.
Entretanto, para os professores, o horário de trabalho pedagógico (seis horas-aula
semanais) representou um ganho muito grande, pois era um espo de tempo exclusivo para
atuarem na escola em atividades de formação continuada, de integração da escola com os
pais, enfim um tempo ligado às tarefas do Ciclo Básico e um momento coletivo da equipe
escolar. Porém, a Jornada Única não foi uma medida suficiente para melhorar os índices de
qualidade do ensino, mesmo porque as mudanças precisam de tempo e de continuidade para
se concretizarem.
54
5 - Conclusões Parciais
O Decreto n. º 21.833 de 28 de agosto de 1983 que instituiu o Ciclo Básico (ciclo
de dois anos nas séries iniciais do 1º grau) no Estado de São Paulo, na década de 1980, foi
uma política pública que passou por um processo de implantação.
O Ciclo Básico foi um projeto político que enfrentou muitos problemas no início e
no decorrer do processo de sua implantação. As descontinuidades político-administrativas da
Secretaria da Educação também prejudicaram a sua consolidação.
Passaram pelo governo do Estado de São Paulo, no período de 1983 a 1991, dois
governadores do mesmo partido político, Partido do Movimento Democrático Brasileiro
(PMDB). Esse poderia ser um fator positivo para a continuidade das políticas educacionais
implantadas no Estado de São Paulo, entretanto, a administração da Secretaria Estadual da
Educação, nesse período, passou por sete secretários, comprometendo, dessa forma, a
continuidade administrativa e as políticas educacionais.
Podemos concluir que os primeiros anos de implantação do Ciclo Básico foram
marcados pela indefinição da proposta pedagógica e pela falta de suporte para melhorar o
trabalho docente, mas a riqueza se encontra no fato de que a proposta foi-se construindo
durante o processo de implantação.
55
III - A POLÍTICA EDUCACIONAL DO ESTADO DE SÃO PAULO NA
DÉCADA DE 1990 E A PROGRESSÃO CONTINUADA
Pretendemos abordar, neste capítulo, as medidas adotadas na política educacional
do Estado de São Paulo nos períodos de 1991 a 1994 e de 1995 a 1999.
O primeiro período (1991-1994), quando governou o Estado de São Paulo Luiz
Antonio Fleury Filho (PMDB), foi marcado pela implantação do Projeto Educacional da
Escola Padrão. Esse projeto, implantado apenas em algumas escolas, caracterizou-se por lhes
oferecer maior autonomia, um projeto de capacitação de recursos humanos, compatibilidade
das jornadas do professor e dos alunos e recursos materiais.
Durante o segundo período (1995-1999), no qual o Estado de São Paulo foi
governado por Mario Covas Júnior (PSDB), administradores da Secretaria de Estado da
Educação caracterizaram esta Secretaria como gigantesca, morosa e centralizadora e, por isso,
entre outras reformas, se propôs a racionalizar a máquina administrativa e descentralizar os
recursos financeiros.
Mario Covas foi reeleito em 1998 e a Secretária da Educação, Teresa Roserley
Neubauer da Silva, que ocupava o cargo desde 1995, deu continuidade à política educacional
iniciada em 1995. Em 1998, o Estado de São Paulo adotou o regime de progressão continuada
em seu sistema de ensino. O ensino fundamental de oito anos de duração foi organizado em
dois ciclos, I (1ª a 4ª série) e II (5ª a 8ª série), ambos com quatro anos de duração e a não
reprovação do aluno no ciclo caracterizou a progressão continuada.
A análise de Decretos, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de
documentos da Secretaria de Estado da Educação e da Coordenadoria de Estudos e Normas
Pedagógicas bem como o trabalho da Secretária da Educação Rose Neubauer (1999), serviram
de referências para efetivarmos o objetivo de estudar a política educacional do Estado de São
Paulo na década de 1990.
56
1 - O Período de 1991 a 1994 e o Programa de Reforma do Ensino Público Paulista
O governador Luiz Antonio Fleury Filho (PMDB) assumiu o Governo do Estado
de São Paulo em 15 de março de 1991 e permaneceu até janeiro de 1995.
No período em que Fleury governou o Estado, foram secretários de educação
Fernando Gomes de Morais, de 1991 a 1993 e Carlos Estevam Aldo Martins, de 1993 a 31 de
dezembro de 1994.
Foi com esse último governador do PMDB e com os administradores frente à
Secretaria de Estado da Educação que aconteceu, segundo Duran (2003), a quarta e última
etapa de implantação do Ciclo Básico no Estado de São Paulo. Essa última etapa deu-se com a
implantação da Escola Padrão.
Quando o governador eleito tomou posse, a equipe da Secretaria da Educão, que
tinha como desafio garantir ensino de qualidade para as crianças, propôs a realização de obras
e o desenvolvimento de ações para a redução dos índices de repetência e evasão escolar.
De acordo com um material produzido pela Secretaria de Estado da Educação,
Programa de Reforma do Ensino Público do Estado de São Paulo(1991), nos primeiros sete
meses da gestão Fleury, foram tomadas as seguintes providências na área educacional:
reforma de 867 prédios escolares; aumento de 651% no valor do repasse da merenda escolar
para os municípios; contratação de 5 mil vigilantes para as escolas da Grande São Paulo;
contratação de 20 mil inspetores, escriturários e auxiliares de serviço e a instituição de
programas culturais nos finais de semana, nas escolas da Grande São Paulo.
Em maio de 1991, por meio do Decreto n.º 33.235, foi criado o Núcleo de Gestão
Estratégica para realizar um diagstico do ensino público do Estado de São Paulo. Fizeram
parte desse grupo, segundo a SEE, universidades públicas do Estado, organizões não
governamentais, entidades da sociedade civil, partidos políticos, administrões anteriores e
especialistas da rede de ensino, entre estes, professores, diretores e funcionários.
Levando em conta o trabalho desenvolvido por esse Núcleo de Gestão Estratégica
e também por entender que a função da escola é desenvolver intelectual, cultural, ético e
profissionalmente os alunos, a administração da Secretaria de Estado da Educação chegou à
conclusão da necessidade de um novo padrão de qualidade para as escolas da rede estadual. O
projeto de escola que ofereceria um ensino de melhor qualidade recebeu o nome de “Escola
Padrão.
Para a Secretaria da Educação, a escola passaria a ser cleo e base de um sistema
de ensino com autonomia para se organizar.
57
1.1 A escola padrão
Apresentaremos, a seguir, o Projeto Educacional da Escola Padrão nos seguintes
aspectos: a implantação do projeto; a autonomia oferecida às escolas; a avaliação do sistema e
a capacitação de recursos humanos; a jornada do aluno e do professor; a rede física e os
recursos materiais; e a escola padrão e o ciclo básico.
- A implantação
O Governador do Estado de São Paulo (Luiz Antonio Fleury Filho), por meio do
Decreto n. º 34.035, de 22 de outubro de 1991, implantou o Projeto Educacional Escola
Padrão.
De acordo com o Artigo 1º do Decreto N° 34.035, a Escola Padrão tinha as
seguintes finalidades:
I-
Recuperar o padrão de qualidade do ensino ministrado nas escolas
públicas;
II-
Modernizar a escola blica, tornando-a apta a fornecer o estudo, a
pesquisa, o estímulo à discussão e à posse de todos os
conhecimentos disponíveis na atualidade;
III-
Preparar o aluno para o acesso aos níveis mais elevados de
compreensão da realidade social e das formas de intervenção nessa
realidade; e
IV-
Utilizar novas tecnologias educacionais. (SÃO PAULO, 1994)
A partir de 1992, o Projeto da Escola Padrão foi implantado em 200 escolas da
Grande São Paulo e em 100 escolas no Interior do Estado. Esse Projeto não foi introduzido
em todas as escolas da rede estadual, embora a meta do governo fosse implantá-lo em todas as
escolas do Estado até o final do mandato de Fleury Filho.
- A autonomia
A autonomia dada às Escolas Padrão correspondia ao aspecto pedagógico, pois
segundo o documento da SEE, o grau e os limites dessa autonomia se resumiam da seguinte
maneira:
O que é próprio de cada escola se constituirá na base de sua autonomia; o
que é próprio dos objetivos da Educação no Estado é responsabilidade
específica do Governo e estará, portanto, sujeito aos órgãos centrais da
Pasta. Assim como a organização dos processos pedagógicos, por exemplo,
deverá ser de responsabilidade da escola, o currículo básico permanecerá
comum para toda a rede e determinado pela Secretaria. Do mesmo modo, se
o plano de reforma e adaptão de um prédio escolar deve ser pensado no
âmbito da realidade local, a definição dos investimentos para a rede física
continuará sob responsabilidade da Secretaria. (SÃO PAULO, 1991, p. 4).
58
Verifica-se que para as Escolas Padrão foi oferecida a autonomia pedagógica, pois
as escolas poderiam escolher práticas, técnicas e metodologias de acordo com a sua realidade,
além de propor projetos de ensino-aprendizagem. Entretanto, a autonomia para decidir os
aspectos pedagógicos ficava limitada aos recursos financeiros disponíveis, que eram definidos
pelos órgãos administrativos superiores à escola.
- A avaliação do sistema e a capacitação de recursos humanos
Foi proposto um sistema de avaliação para indicar o grau de desempenho das
Escolas Padrão apresentando supostos problemas, suas causas e a busca de possíveis soluções.
Também foi proposto um programa de formação e capacitação de recursos humanos, através
de projetos implantados pela Secretaria da Educação. Os projetos eram: Centro de
Aperfeiçoamento de Recursos Humanos, Sistema Integrado de Multimeios e Banco de
Projetos Educacionais.
- A jornada do aluno e do professor
A Escola Padrão tinha três turnos (dois diurnos e um noturno), com uma jornada
de cinco horas para o diurno e de três horas e meia para o período noturno.
A jornada dos professores de 1ª a 4ª séries (Professor I) passou a ser compavel
com a jornada dos alunos, isto é, o professor passou a ter uma jornada de 44 horas semanais,
sendo, 40 horas de acordo com a Jornada Integral e mais 4 horas de Carga Suplementar, assim
distribuídas: 30 horas-aula em sala de aula com os alunos, 5 horas-aula em atividade
pedagógica na escola e mais 9 horas para desenvolver atividades escolares e serem cumpridas
em local de livre escolha.
A Resolução SE n. º 2, de 13 de janeiro de 1993, diss sobre o Regime de
Dedicação Plena e Exclusiva aos Integrantes do Quadro do Magistério que atuavam nas
Escolas Padrão. Assim sendo, para os professores que formalizassem o pedido para
ingressarem nesse regime de exclusividade seria concedida uma gratificação de 30% do valor
do padrão em que se encontrassem enquadrados. Por outro lado, os professores não poderiam
trabalhar em outra escola.
- A rede física e os recursos materiais
Foram implantados nas Escolas Padrão recursos como: salas de TV, auditórios e
ginásios de esportes e instalados Centros de Informação e Criação (ampliação e modernizão
das bibliotecas), Laboratórios de Difusão de Ciência e Tecnologia e o Sistema Integrado de
59
Multimeios (uso de satélites, telex, telefone, fax e teleinformática), colaborando para o
processo ensino-aprendizagem.
-
A escola padrão e o ciclo básico
A reforma que o Estado de São Paulo propôs para o período de 1991 a 1994 não
alterou a organização do Ensino Fundamental. Este continuou com um Ciclo Básico de dois
anos, seguidos de seis séries anuais (3ª a 8ª séries).
A Secretaria de Estado da Educação deu continuidade à política do Ciclo Básico
implantada na década de 1980 e continuou promovendo avaliações de resultados para que, se
fosse preciso, realizar as devidas corrões para garantir essa política.
A implantação das Escolas Padrão foi gradual e não interferiu na organização do
Ciclo Básico, pelo contrário, estabeleceu medidas para a sua continuidade, por exemplo, ao
organizar a jornada de trabalho dos professores para coincidir com a jornada dos alunos.
Alguns aspectos das Escolas Padrão permaneceram na organização do sistema educacional a
partir de 1995.
2- O Período de 1995 a 1999 e as Reformas Educacionais do Estado de São Paulo
Depois do mandato de três Governadores de um mesmo partido (PMDB) e nove
Secretários de Educação, no período de 1983 a 1994, o Estado de São Paulo elegeu, em 1994,
para governador, Mario Covas Júnior do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).
Mario Covas governou de janeiro de 1995 a janeiro de 1999. Foi reeleito para
governar de janeiro de 1999 a janeiro de 2002, mas faleceu em março de 2001, antes de
completar seu segundo mandato, sendo sucedido por Geraldo José Rodrigues Alckmin Filho.
O Programa do Governo de Mario Covas havia anunciado, para a política
educacional do Estado, a reestruturação do sistema de escolarização em muitos aspectos. A
meta era melhorar a qualidade da educação que a escola pública paulista oferecia à população.
Em outras palavras, a meta do governo, de melhorar a qualidade da educação das
escolas públicas, seria alcançada reorganizando a administração do sistema educacional,
portanto, imprimindo a racionalidade econômica na política educacional do Estado.
Essa racionalidade era voltada para a redução de desperdícios, custos e força de
trabalho. Podemos inferir com Bruno (1997) que a racionalização administrativa dizia
respeito à “qualidade do processo produzido, isto é, voltada para a qualidade da
administração da educação e não para a qualidade do produto, isto é, do ensino.
60
A nova concepção de educação, presente na potica educacional desse governo,
estabelecia relação com a política educacional brasileira que, por sua vez, atendia aos acordos
firmados no início da década de 1990 com órgãos internacionais como Unesco, Unicef e
Banco Mundial. O trecho abaixo faz parte do comunicado da SE, de 22 de março de 1995
(que divulga as diretrizes educacionais para o Estado de São Paulo – 1995/1998) e ilustra essa
política:
O profundo avanço tecnológico dos anos 80, o impacto da informatização e
o processo crescente de internacionalizão da economia estão,
naturalmente, a exigir um novo perfil de cidadão criativo, inteligente, capaz
de solucionar problemas, de se adaptar às mudanças do processo produtivo e,
principalmente, de gerar, selecionar e interpretar informões. Nesse
cenário, a Educação torna-se, mais do que nunca, indispensável ao sucesso
econômico e social de qualquer país que se proponha a enfrentar a
competição internacional. Conseqüentemente, passa-se a questionar os
sistemas de ensino e a exigir ousadia para revê-los e modifica-los. (SÃO
PAULO, 1995).
Para administrar a Secretaria da Educação que, durante os anos seguintes, estaria
implantando reformas administrativas, foi escolhida a Professora Doutora Teresa Roserly
Neubauer da Silva, que assumiu em janeiro de 1995 e permaneceu até meados de 2002.
Assim, por aproximadamente sete anos, essa Secretária administrou a educação do Estado,
colaborando para que a educação nesse período fosse uma marca do governo Covas, devido à
continuidade das reformas que ela imprimiu no período de 1995 a 2002.
Conforme a política educacional anunciada pelo governador Mario Covas e
mantida pelo governador Geraldo Alckmin, Rose Neubauer promoveu a descentralização de
recursos financeiros, de competência e poder e a racionalização da máquina administrativa,
entre outras reformas.
Segundo Souza, A. (2002), a nova realidade sócio-econômico-política vinha
alterando os padrões de produção e de organização do trabalho. Esses aspectos embasaram as
reformas educacionais paulistas entre 1995 e 1999.
Durante o primeiro mandato de Mario Covas, a titular da administração da
Secretaria da Educação propôs-se a dois desafios: o primeiro, fazer a política educacional para
o Estado levando em conta o contexto socioeconômico e, segundo, rever o emprego dos
recursos públicos para o ensino.
A Secretaria de Estado da Educação fez o seguinte diagnóstico do sistema
educacional paulista: excesso de burocracia, falta de controle sobre o sistema de ensino,
orientões e exigências iteis para as escolas e recursos humanos, materiais, físicos e
61
econômicos mal utilizados. Portanto, o sistema educacional do Estado de São Paulo era
improdutivo.
A improdutividade do sistema era marcada por altos índices de evasão e
repetência que causavam um grande prejuízo financeiro à Secretaria de Estado da Educação.
Demonstrando em meros essa improdutividade, seguem alguns dados:
Em 1992, as perdas por evasão e repetência dos ensinos fundamental e
médio alcançaram 1.476.000 alunos, cerca de 25% do total dos alunos
matriculados na rede, um percentual ainda muito elevado. Se lembrarmos
que cada aluno custava em média US$ 220 para o Estado, o número acima
representava um desperdício da ordem de US$ 324,7 miles.
(NEUBAUER, 1999, p. 181).
Partindo da realidade que a Secretaria da Educação do Estado apresentava e dos
desafios a que se propôs a Secretária da Educação do Estado de São Paulo (Rose Neubauer),
teve início, a partir de 1995, uma nova potica educacional partindo de três eixos: A
racionalização organizacional; a mudança nos padrões de gestão, com ênfase na
descentralização e na desconcentração do poder de decisão para órgãos locais e unidades
escolares; e a melhoria da qualidade do ensino. (NEUBAUER, 1999, p. 159).
Partindo dos eixos citados acima, as reformas implantadas foram as seguintes:
1-
Racionalização Organizacional
1.1
Reorganização da rede escolar
1.2
Informatização da rede escolar
2-
Mudança nos Padrões de Gestão
2.1 Desconcentração
Fortalecimento das delegacias de ensino
Autonomia das escolas
2.2 Descentralização
3-
Melhoria da Qualidade de Ensino
3.1 Magistério
3.2 Correção de fluxo
Recuperação e classes de aceleração
Matrícula por dependência e organização dos anos escolares por ciclos
3.3 Sistema de avaliação
Abordaremos, a seguir, as reformas educacionais do Estado de São Paulo
implantadas pela Secretaria de Estado da Educação no período de 1995 a 1999.
62
A Racionalização Organizacional
Para concretizar o que era entendido como racionalização organizacional do
sistema de ensino, a Secretaria de Estado da Educação instituiu em 1995 os programas
Reorganização das Escolas da Rede Pública Paulista” e Informatização da Administração.
Em 21 de novembro de 1995
4
, foi instituído por meio do Decreto n. º 40.473 o
Programa de Reorganização das Escolas da Rede Pública Estadual e a Resolução SE 265, de 4
de dezembro de 1995 estabeleceu o Programa de Reorganização.
A partir de 1996, as escolas foram reorganizadas de acordo com a idade/série das
crianças e adolescentes. Algumas escolas passaram a atender especificamente crianças de 1ª a
4ª séries e outras a atender crianças de 5ª a 8ª séries e o ensino médio.
O critério para redistribuir os alunos foi o tipo de construção dos prédios. Crianças
de 7 a 14 anos foram para escolas mais simples e as demais foram para escolas que contavam,
por exemplo, com espos como laboratórios, quadras esportivas e bibliotecas.
O Programa (que reorganizou as escolas para atender as faixas etárias
específicas) está associado à concepção de eficiência, economia e eficácia da
gestão educacional e teve como principal conseqüência a quebra da
organização da escola estadual de ensino fundamental e médio. (...) a
concepção de eficia de programa se apresenta com um fim em si mesmo e
a qualidade de ensino está subordinada à instrumentalidade da redução dos
desperdícios e dos custos na ocupação dos prédios escolares. (SOUZA, A.,
2002, p. 85).
Com a reorganização das escolas, houve racionalização no uso de espos e de
equipamentos, redução do número de classes e turnos das escolas e fixão de professores na
escola, mas também provocou a dispensa de muitos professores. Constata-se assim que a
preocupação dos representantes dos órgãos centrais foi com a diminuição de gastos.
A partir da reorganização, cada escola passou a contar com um professor
coordenador e esse foi um aspecto positivo na educação pública paulista, pois este
profissional desempenha um papel importante ao apoiar o desenvolvimento do trabalho
pedagógico dos professores.
Quanto ao Programa de Informatização da Administração, a SEE tomou duas
medidas: realizou o cadastramento de todos os alunos das redes de ensino, originando o
Registro Geral de cada um deles e, portanto, evitando a duplicidade de matrícula e, em 1997,
4
O regulamento da instituição do Ciclo Básico (17 de janeiro de 1984); a Jornada Única (21 de janeiro de 1988)
e o Programa de Reorganização das Escolas da Rede Pública Estadual (21 de novembro de 1995) foram medidas
legais implantadas sempre no final do ano letivo ou nas férias dos professores, provocando resistências por parte
dos educadores, pois estes períodos não são propícios para mobilizações.
63
as 6.000 escolas estaduais puderam comprar computadores e foram treinados dois
funcionários de cada escola para informatizar a administração escolar.
Com a informatização da administração do sistema escolar, houve redução dos
custos, a racionalização do uso de equipamentos escolares e o controle em relação à matrícula
e à freência dos alunos. Com informões mais precisas, a administração pôde tomar
decisões a respeito de investimentos.
No princípio, os investimentos feitos para racionalizar a organização do sistema
educacional paulista geraram gastos, mas posteriormente geraram diminuição nos custos da
educação para o Estado.
A mudança nos padrões de gestão
O padrão de gestão das escolas foi alterado no Estado de São Paulo no período de
1995 a 1999. Foi repassada para as escolas a responsabilidade de elaborar seus próprios
Projetos Político-Pedagógicos, desconcentrando e descentralizando, desse modo, as funções
da Secretaria da Educação.
Em 1995, foram adotadas iniciativas de “Desconcentraçãode órgãos
administrativos para oferecer poder de decisão às instâncias próximas da escola. As divisões
Regionais de Ensino foram extintas; Delegacias de Ensino foram fortalecidas e selecionadas
por critérios técnicos e não políticos; a capacitão de professores foi também descentralizada
e recursos foram enviados para as escolas fazerem manutenção dos prédios e reposição do
mobiliário e dos equipamentos.
No processo de Descentralização, o Estado e Municípios fizeram parcerias na
prestação de serviços educacionais, ou seja, algumas escolas estaduais de ensino fundamental
passaram a ser de responsabilidade da rede municipal. Muitos municípios do Estado de São
Paulo não aderiram à municipalização do Ensino Fundamental, pois a iniciativa de
municipalizar o ensino deveria ser tomada pelos próprios municípios.
Com esse processo de descentralização, também foi proporcionada às escolas a
autonomia para comprarem material pedagógico, o incentivo para os pais participarem
ativamente das Associações de Pais e Mestres (APM), pois esta associão também deveria
participar da decisão sobre o destino do dinheiro da escola e autonomia para a escolha do
coordenador pedagógico.
Em 1998, foi implantado o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino
Fundamental e Valorização do Magistério(FUNDEF) e seus objetivos são aplicar os
64
recursos somente na manutenção e desenvolvimento do ensino fundamental público e
valorizar o magistério.
5
O FUNDEF é um fundo instituído em cada Estado e no Distrito Federal e a sua
inovação consiste na mudança realizada na estrutura de financiamento do ensino fundamental:
Em cada Estado o FUNDEF é composto por recursos do próprio Estado e de
seus Municípios, sendo constituído por 15% do:
-
Fundo de Participação do Estado (FPE);
-
Fundo de Participação dos Municípios (FPM);
-
Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS);
-
Recursos relativos à desoneração de exportações, de que trata a Lei
Complementar n.º 87/96; e
-
Imposto sobre Produtos Industrializados, proporcional às exportações
(IPI-exp.).
Os recursos do FUNDEF constituídos na forma acima são redistribuídos,
automaticamente, ao Estado e seus Municípios proporcionalmente ao
mero de matrículas no ensino fundamental das respectivas redes de
ensino, constantes do Censo MEC do ano anterior. (FUNDEF, 2005).
A melhoria da qualidade de ensino
No período de 1995 a 1999, foram tomadas iniciativas, entendidas pela Secretaria
da Educação, como sendo importantes para a melhoria da qualidade de ensino. Essas
iniciativas foram:
-
Valorização do magistério, pelo aprimoramento de seu plano de carreira e
pelo pagamento de salários mais condizentes com a relevância social do
papel que lhe cabe;
-
Implantação de um modelo pedagógico capaz de preparar os alunos para
participar e atuar produtivamente na sociedade atual, dando-lhes acesso aos
códigos da modernidade e, mais que isso, a possibilidade de vislumbrar um
horizonte mais ético, porque pautado nos princípios básicos da igualdade de
oportunidades e convivência democrática; e
-
Construção de uma cultura de avaliação, com o estabelecimento de sistemas
de avaliação e monitoramento dos resultados educativos e dos gastos
públicos, capazes de assegurar transparência de procedimentos e prestação
de contas dos resultados alcançados, com estímulo ao envolvimento dos
usuários da escola no acompanhamento e fiscalização dos serviços
educacionais. (NEUBAUER, 1999, p. 179-180).
5
Legislação Básica que trata do FUNDEF: Emenda Constitucional n.º 14, de 12 de Setembro de 1996 (modifica
os artigos 34, 208, 211 e 212 da Constituição Federal e dá nova redação ao artigo 60 do Ato Disposições
Constitucionais Transitórias; Lei n.º 9.394 de 20 de dezembro de 1996 (LDB que estabelece as diretrizes e Bases
da Educação Nacional); Lei n.º 9.424, de 24 de dezembro de 1996 (Lei do FUNDEF que dise sobre o Fundo
de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério, na forma prevista
no artigo 60, § 7º, do Ato das Disposições Constitucionais e dá outras providências) e Decreto n.º 2.264, de 27
de junho de 1997 (regulamenta a Lei n.º 9.424, de 24 de dezembro de 1996 no âmbito federal e determina outras
providências).
65
Para diminuir o índice de reprovação e evasão escolar, em 1996, teve início o
programa de “Recuperação Connua”, que consistiu em oferecer três horas semanais de
reforço da aprendizagem.
Às crianças que haviam repetido o ano escolar muitas vezes, foram implantadas as
Classes de Aceleração. Essas classes tinham um programa e material específicos e, depois
de superarem problemas de aprendizagem, as crianças passavam para a série que correspondia
à sua idade.
Em 1996, a Secretaria da Educação implantou uma cultura de avaliação no Estado
de São Paulo, por meio do Sistema de Avaliação e Rendimento Escolar do Estado de São
Paulo(SARESP).
Os resultados do SARESP auxiliam nas intervenções técnico-pedagógicas
necessárias para chegar à qualidade do ensino. Essa é uma avaliação externa à escola e
utilizada como instrumento do Governo Estadual para construir uma escola pública,
democrática, de qualidade e com menos gastos.
A diminuição de gastos que foi possível com a racionalização organizacional e
com as mudanças nos padrões de gestão seria destinada a uma política salarial de valorização
do magistério.
Dessa forma, o novo plano de carreira do magistério paulista, de 1997, foi
importante, na visão da Secretaria, porque incorporou gratificões e abonos; aumentou o piso
salarial; adotou novos critérios para a ascensão funcional e estendeu aos inativos os benefícios
da carreira.
Em 1997, foi implantado o programa “Recuperação de Fériasque ocorria no mês
de janeiro para alunos com dificuldades de rendimento escolar e que levava à promoção de
um ano para o outro. Mas essa recuperação não correspondia à recuperação de conteúdos não
aprendidos durante o ano letivo e sim a projetos relacionados à vida cotidiana dos alunos.
Com isso, o aluno aprovado na Recuperação de Férias apresentava, no ano seguinte, déficit na
aprendizagem, comprometendo o rendimento na série seguinte.
Também foi instituída no sistema educacional paulista a Matrícula por
Dependência”, principalmente para o ensino médio. Esta consiste em considerar o sucesso
ocorrido nas disciplinas em que há aprovação e refazer somente aquelas em que o aluno for
reprovado.
Em 1998, teve início, no Estado de São Paulo, a organização dos anos letivos por
ciclos, completando assim o conjunto de reformas educacionais desse Estado. O ensino
66
fundamental passou a ser composto por Ciclo I (1ª a 4ª série) e Ciclo II (5ª a 8ª série), com a
possibilidade de retenção apenas nos últimos anos de cada Ciclo.
Segundo Riscal (2003b), a reforma gerencial da educação em São Paulo, iniciada
em 1995, e que partiu dos três eixos apresentados acima, constituem aspectos de uma mesma
estratégia: racionalização e otimização por meio de redução dos custos com pessoal,
materiais, e espos físicos, garantidos pelo novo padrão de gestão.
3 - Conclusões Parciais
O programa de reforma do ensino público paulista, implantado pelo governador
Luiz Antonio Fleury Filho, nos primeiros anos da década de 1990, não incluía a idéia de
mudar a estrutura gigantesca, morosa e centralizadora da Secretaria da Educação.
A Secretaria de Estado da Educação teve vários Secretários de Educação (um total
de nove entre 1983 a 1994) e cada um tentou imprimir uma reforma no sistema educacional.
O governador Luiz Antonio Fleury Filho e os administradores da Secretaria da
Educação, que atuaram de 1991 a 1994, implantaram o Projeto Educacional da Escola Padrão,
acreditando que, com o desenvolvimento desse projeto, estariam promovendo uma escola que
proporcionaria ensino de melhor qualidade. Mas, esse padrão de qualidade não foi implantado
em todas as escolas, pois o projeto ficou restrito a algumas delas, originando, assim,
diferentes organizões escolares dentro de uma mesma rede de ensino.
As reformas que a Secretaria da Educação implantou no sistema educacional
paulista, na segunda metade da década de 1990, no então governo de Mario Covas Júnior,
foram voltadas para a modernização dos mecanismos que gerenciavam a Secretaria e para a
redução dos custos educacionais.
As reformas implantadas a partir de 1995 tiveram três eixos: a racionalização
organizacional, a mudança nos padrões de gestão e a melhoria da qualidade de ensino.
Entretanto, esta melhoria da qualidade de ensino voltava-se para a racionalização
e redução dos custos da educação.
A Progressão Continuada, implantada em 1998, para toda a rede de escolas
públicas estaduais, teve respaldo na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e foi
assumida pelo Estado de São Paulo, com a justificativa de que esse Estado tinha experiências
suficientes para acabar com a seriação no sistema de ensino e introduzir os ciclos de
aprendizagem.
67
IV A INSTITUIÇÃO DOS CICLOS E A PROGRESSÃO CONTINUADA
NO ESTADO DE SÃO PAULO
Nossa intenção, neste capítulo, é recorrer a autores que explicitem os fundamentos
do sistema de ciclos de aprendizagem para compreendermos a prática pedagógica que esse
sistema exige dos professores. Trataremos também da implantação dos ciclos no Ensino
Fundamental do Estado de São Paulo por meio da Progressão Continuada. Este regime de
organização escolar está previsto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n.º
9.394/ 96 e foi instituído no Estado de São Paulo pela Deliberação CEE n.º 9/97.Também, em
1997, foi instituído o Plano de Carreira e com ele uma nova carga horária semanal de trabalho
do professor.
O regime de Progressão Continuada provocou polêmica entre setores da
sociedade, professores, entidades de classe do magistério e o meio acadêmico. As discussões
giraram em torno das necessidades de entendimento da concepção da Progressão Continuada
e do oferecimento de condições favoráveis para a implementação dessa política para que as
mudanças não ocorram somente no discurso.
1- As Concepções de Ciclos na Organização do Ensino e o Trabalho Docente
1.1 - Ciclos de aprendizagem e ciclos de formação
A organização do ensino em ciclos requer, em primeiro lugar, a compreensão da
palavra “ciclo. Se pesquisarmos o significado desse termo no dicionário Larousse Cultural
(1999) teremos, série de femenos que se sucedem numa ordem determinada”. (p. 227).
Partindo da idéia de que “ciclo” corresponde a um conjunto de acontecimentos
num determinado espo de tempo e que nele não há barreiras que interrompam os
acontecimentos, entendemos que tratar da organização do ensino em ciclos pode ser uma
questão complexa porque se faz necessário rever cuidadosamente toda a estrutura do sistema
seriado de educação.
No sistema seriado, o ensino é conduzido de modo que um grupo de alunos recebe
um único atendimento e acredita-se que todos adquirem o mesmo conhecimento ao mesmo
tempo.
68
Muitos estudos foram realizados no Brasil, durante a década de 1980, para apontar
as causas do fracasso escolar
6
do sistema educacional organizado em séries anuais.
Dentre as causas que provocavam o insucesso das crianças encontravam-se
algumas que diziam respeito à organização interna da escola como, por
exemplo, a forma de organizar as turmas, o modo de conduzir o ensino[...].
Na tentativa de contribuir com a mudança educacional, a partir do interior da
própria escola, emergiu no cenário nacional a alternativa da organização da
escola por ciclos [...].
A organização da escola em ciclos foi amplamente apoiada pelos sistemas
educacionais, sejam eles federais, estaduais ou municipais, o que gerou
muitas discussões e confrontos. (BARBOSA, 2004, p. 67).
De acordo com Perrenoud (2004, p. 35), o desejo de se instituir um ciclo de
aprendizagemno sistema escolar poderá estar ligado ao fim da reprovação, mas sem alterar a
estrutura organizacional da escola.
Além de ser idealizado como uma forma de acabar com a reprovação, um ciclo de
aprendizagem poderá ser concebido também como o apoio necessário para a evolução da
educação.
Para que ocorram mudanças com a introdução do sistema de ciclos na área
educacional, é essencial conhecer e compreender a concepção que está por trás de um “ciclo
de aprendizagem, caso contrário, as mudanças ocorrerão nos textos oficiais, mas na prática, o
ensino seriado continuará a existir.
Segundo Perrenoud (2004, p. 41-53), o sistema
7
de ensino organizado em ciclos
requer:
novos espos e tempos de trabalho, mas se estes forem mal
administrados, haverá aumento dos fracassos, isto é, não se deve pensar que a
aprendizagem ocorre com o tempo;
trabalho em equipe, por exemplo, planejar as progressões, dividir tarefas e
fazer alterões necessárias na organização escolar;
que os conhecimentos (conteúdos) sejam divididos em grandes blocos, isto
é, que sejam constantes até que se chegue ao final do ciclo. Portanto, os conteúdos
serão trabalhados para atingirem objetivos a longo prazo (final do ciclo);
pedagogia diferenciada: a equipe de professores trabalha com grupos
diferentes, por exemplo, grupos de aprendizagem, grupos de necessidades, entre
6
Os altos índices de reprovão, nas séries iniciais do ensino de 1º grau, caracterizavam o fracasso escolar, na
década de 1980, no Brasil. Para um aprofundamento desse assunto, ver o livro Ditica de José Carlos Libâneo,
1992, p. 33-48.
7
Perrenoud entende que “um ciclo de aprendizagem é um sistema em que cada componente remete a outros.
(PERRENOUD, 2004, p. 53).
69
outros agrupamentos. Este trabalho gera a tão esperada individualização dos
percursos de formação;
que se repense os métodos e situões de aprendizagem;
uma equipe de trabalho estável: um professor ou uma equipe (quatro
professores) que acompanhe uma quantidade de crianças por todo o ciclo;
professores formados, o apoio da instituição e formação connua, pois o
trabalho em um sistema de ciclos não está imune a problemas e estes podem
exigir competências que só a formação connua pode oferecer;
tempo para ser avaliado na prática, pois não deve ser uma medida isolada e
sim um aspecto de um sistema educacional em transformação.
Enquanto no sistema seriado, que leva em conta o aspecto homogeneidade das
turmas quanto à aprendizagem e a organização do ensino acontece em etapas de um ano, no
sistema de ciclos, as etapas têm maior duração.
Perrenoud (2004, p. 67) faz referência a ciclos plurianuais. Segundo este autor,
um ciclo de dois anos já é plurianuale este espo de tempo (dois anos) parece ser bem
razoável, mas a escolha por um tempo mais curto ou mais longo dever vir acompanhada de
seus argumentos. Os ciclos podem ser de dois, três, quatro ou mais anos. O importante é que,
independentemente do espo-tempo do ciclo, ele seja concebido como algo inovador.
Poderíamos questionar: Por que as unidades escolares não escolhem a duração do
ciclo de acordo com seu projeto político pedagógico? Assim, estaria valorizando a autonomia
da escola. Porém, as escolas precisam ser unificadas segundo um padrão que é determinado
pela lei do sistema de ensino. A legislação do sistema de ensino oferece autonomia para que
as escolas estruturem o seu trabalho em ciclos de aprendizagem, mas estas não são soberanas
a ponto de decidirem aspectos organizacionais como o sistema de ciclos.
Os ciclos de aprendizagem com duração de dois anos têm aspectos positivos e
negativos. Um ciclo de dois anos não representa um espo de tempo muito promissor para
grandes inovações, que o trabalho em ciclos prevê, mas não causa tanta preocupação aos
professores e aos pais dos alunos. Para Perrenoud, a organização do ensino em ciclos de dois
anos passa por alguma inquietação, mas logo tudo volta ao normal.
Os ciclos mais longos são mais adequados para se trabalhar por competências e
com objetivos em longo prazo, mas o desafio didático e organizacional é muito grande.
Entretanto, se a reforma da estrutura do ensino em ciclos mais longos não for profunda e
acontecer como deve, é preferível optar pelo ciclo de dois anos.
70
A Rede Municipal de Ensino de Porto Alegre introduziu, na década de 1990, uma
nova concepção de escola e organizou o ensino fundamental em três ciclos de três anos de
duração cada um, denominando-os Ciclos de Formação. Como aponta Krug (2001, p. 17),
“as crianças e adolescentes são reunidos pelas suas fases de formação: infância (6 a 8 anos);
pré-adolescentes (9 a 11 anos) e adolesncia (12 a 14 anos)..
Esses Ciclos de Formação têm algumas formas de progressão: a criança avança
para o ano seguinte sem ter apresentado dificuldades (Progressão Simples), a progressão que
inclui atividades extras que a escola deve proporcionar para resolver dificuldades (Progressão
com Plano Didático de Apoio) e a progressão que inclui atendimentos especializados, fora da
escola, para trabalhar as dificuldades de aprendizagem (Progressão com Avalião
Especializada). (KRUG, 2001, p. 20).
1.2 - O trabalho do professor em escolas organizadas em ciclos
Enquanto no sistema de ensino organizado em ciclos curtos (dois anos), a
estrutura escolar não necessita de muitas alterões, nos ciclos mais longos torna-se
necessário fazer transformões em alguns aspectos de sua estrutura. (PERRENOUD, 2004,
p. 71).
Entre os vários aspectos que envolvem a estrutura escolar (administrativo, tempo,
espo, currículo, avaliação e condições de trabalho, entre outros) destacaremos o trabalho do
professor num sistema de ensino organizado em ciclos.
No sistema de ciclos, a concepção de docência se redefine como também o papel
do professor e suas atribuições. Além de ensinar, o professor precisa construir estratégias e
saberes para ler a realidade e compreender as diversidades com as quais está envolvido.
A ação pedagógica diária dos professores nas escolas organizadas em ciclos não é
um trabalho simples, pois:
As ões dos professores transcendem o ato de ministrar aulas, havendo
expectativas, por parte da comunidade escolar e da própria administração,
que elas abarquem outros campos de ação, além da educação escolar, face ao
perfil da comunidade, cujas necessidades vão além das questões
educacionais, caracterizando-se pela situação permanente de vulnerabilidade
social. (MOLINA NETO; MOLINA, 2004, p. 241).
No sistema seriado, o trabalho do professor é mais individualizado enquanto que
no sistema de ciclos o trabalho coletivotorna-se fundamental. Em função disso, Krug
(2001, p. 134) chama a atenção para a importância da “qualificação dos horários de
planejamento e ação das professoras e professores no trabalho coletivo das escolas.
71
1.3 - Trabalho docente e jornada de trabalho do professor que leciona no ciclo I do
ensino fundamental de São Paulo
As atividades profissionais de um professor
8
vão além daquelas que ele
desenvolve com os alunos semanalmente e que são denominadas horas-aula”.Também fazem
parte de sua jornada de trabalho as horas-atividade” que são cumpridas individual ou
coletivamente. Ministrar aulas requer um trabalho prévio e um posterior a estas aulas.
De acordo com o documento do MEC Plano de Carreira e Remuneração do
Magistério Público(2000):
Toda aula ministrada pressupõe trabalho prévio de planejamento e
preparação de material, e de atividade posterior de acompanhamento e
avaliação das tarefas dos alunos. Além dessas atividades desenvolvidas
individualmente, o exercício do magistério deve incluir atividades coletivas
que possibilitem a integração dos professores entre si e com a comunidade
escolar, por meio de reuniões administrativas e pedagógicas, sessões de
estudos e atendimento e reuniões com pais. (DUTRA JUNIOR, 2000, p. 90).
A Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, ao abrir concursos públicos
para o preenchimento de cargos de Professor da Educação Básica I PEB I, apresenta o perfil
do profissional desejado para atuar no sistema estadual de ensino.
Apresentamos, a seguir, as responsabilidades necessárias para atuar como
professor de 1ª a 4ª séries (Ciclo I do Ensino Fundamental) comunicadas pelo Secretário da
Educação em 06/05/05, no Diário Oficial.
1. Como gestor do processo de ensino e de aprendizagem, o professor é
responsável:
pela condução do processo de ensinar e aprender, capaz de realizar um
ensino de boa qualidade que resulte em aprendizagens significativas e bem
sucedidas, permitindo a inclusão dos alunos no mundo da cultura, da ciência
e da arte;
pelo desenvolvimento de valores, de atitudes e do sentido de justiça,
essenciais ao convívio social, solidário e ético, ao aprimoramento pessoal e à
valorizão da vida;
pela docência dos componentes curriculares do ciclo I do ensino
fundamental de tal forma que:
trabalhe com a pluralidade social e cultural, respeitando a diversidade dos
alunos;
considere os alunos como pessoas que precisam ter sucesso em suas
aprendizagens para se desenvolver pessoalmente e para ter uma imagem
positiva de si mesmos, orientando-se por esse pressuposto;
desenvolva um trabalho pedagógico adequado às necessidades de
aprendizagem dos alunos, acreditando que todos são capazes de aprender;
demonstre domínio de conhecimentos de sua área de atuação que garanta aos
alunos o desenvolvimento das competências e habilidades cognitivas, sociais
e afetivas;
8
Trata-se do professor de educação básica, das séries iniciais (1ª a 4ª) do ensino fundamental. No Estado de São
Paulo estas quatro séries constituem o Ciclo I que está organizado em regime de Progressão Continuada.
72
seja modelo de referência para os alunos: como leitor, como usuário da
escrita e como parceiro durante as atividades;
elabore e desenvolva o plano de ensino a partir dos indicadores de
desempenho escolar e das diretrizes definidas pelos Conselhos de Educação
e pela Secretaria da Educação;
utilize metodologias de ensino que possibilitem abordagens contextualizadas
e interdisciplinares;
planeje situões de aprendizagem desafiadoras, considerando o nível de
conhecimento real dos alunos;
organize e utilize adequadamente os ambientes de aprendizagem, os
equipamentos e materiais pedagógicos e os recursos tecnológicos
disponíveis na escola;
implemente processo de avalião do desempenho escolar dos alunos que
assegure o acompanhamento contínuo e individual da aprendizagem;
tenha responsabilidade pelos resultados obtidos em relão às aprendizagens
dos alunos, desenvolvendo atividades de reforço e recuperação que
promovam avanços significativos na aprendizagem.
2. Como integrante da equipe escolar, compartilha da construção coletiva de
uma escola pública de qualidade e atua na gestão da escola:
estimulando e consolidando uma escola cidadã, participativa e inclusiva;
formulando e implementando a proposta pedagógica;
articulando a integração escola-família-comunidade, de modo a favorecer o
fortalecimento dessa parceria;
incentivando o engajamento dos alunos e da escola em projetos ou ações de
relevância social;
participando de todos os momentos de trabalho coletivo, em especial os
HTPC, Conselhos de Classe/Série, Conselho de Escola e APM;
analisando sistematicamente os resultados obtidos nos processos internos e
externos de avaliação com vistas à consecução das metas coletivamente
estabelecidas;
acompanhando e avaliando os projetos desenvolvidos pela escola e os seus
impactos no desempenho escolar dos alunos;
participando de ações de formação continuada que visem ao
aperfeiçoamento profissional. (DIÁRIO OFICIAL DE SÃO PAULO,
2005).
Podemos verificar, no perfil profissional apresentado acima, que o professor de 1ª
a 4ª séries (Ciclo I) tem duas grandes responsabilidades. A primeira (item 1) diz respeito a
todas as atividades que implicam o processo de ensinar e de aprender, ou seja, tarefas
necessárias para desenvolver uma boa prática pedagógica. A segunda (item 2) está voltada
para o trabalho coletivo e que é necessário para o desenvolvimento da tarefa anterior.
O Plano de Carreira do Estado de São Paulo (1997) determina que o professor que
leciona no Ciclo I trabalhe, semanalmente, vinte e cinco horas-aula em atividades com os
alunos e das cinco horas-aula remuneradas e que são destinadas ao trabalho pedagógico,
somente três delas são destinadas para o professor desenvolver as atividades de preparo das
aulas e de acompanhamento da aprendizagem dos alunos. As outras duas horas-aula são
destinadas ao trabalho coletivo na própria escola.
73
As duas horas-aula de trabalho coletivo na escola correspondem à carga horária
semanal que o professor tem para cumprir as responsabilidades apresentadas no item dois do
perfil do profissional.
O tempo de três horas-aula semanais de trabalho pedagógico, em local de livre
escolha, pode não ser suficiente para o professor desenvolver satisfatoriamente as atividades
consideradas de sua responsabilidade (item um do perfil do profissional) e, principalmente, o
trabalho que o sistema de ciclos exige.
2- Progressão Continuada e Sistema Seriado
A possibilidade de organizar o sistema de ensino em ciclos não é novidade no
ensino brasileiro, pois, desde a década de 1920, alguns educadores do Estado de São Paulo já
apresentavam projetos que sugeriam a organização escolar não seriada. Entretanto, foi a
promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) n.º 9.394, de 20 de
dezembro de 1996 que oficializou a possibilidade de uma nova estrutura escolar, pois fixou
princípios gerais e estabeleceu aspectos relativos à estrutura e ao funcionamento da educação
brasileira. Como norma legal, essa LDB expressa os anseios e aspirões da sociedade dos
anos de 1990 e, entre os seus dispositivos, existem algumas inovações.
Os parágrafos e 2º do Artigo 32 disem:
§1º É facultado aos sistemas de ensino desdobrar o ensino fundamental em
ciclos.
§2º Os estabelecimentos que utilizam progressão regular por série podem
adotar no ensino fundamental o regime de progressão continuada, sem
prejuízo da avalião do processo de ensino-aprendizagem, observadas as
normas do respectivo sistema de ensino. (BRASIL, 1996).
Destacamos que, nos parágrafos do artigo 32, acima citados, aparecem
respectivamente as palavras facultado” e podem, portanto, a Lei não obriga que a
organização do ensino seja em ciclos e que a progressão seja continuada e não seriada, mas
também não proíbe.
A política educacional do Estado de São Paulo está articulada à política
educacional federal, pois diante da possibilidade oferecida pela Lei de Diretrizes e Bases e de
algumas experiências com a organização do ensino em ciclos, o Conselho Estadual de
Educação de São Paulo propôs e articulou a implantação do regime de Progressão Continuada
no Ensino Fundamental.
74
A Secretaria de Estado da Educação de São Paulo já havia implantado, na década
de 1980, o Ciclo Básico em sua rede de ensino e a Secretaria Municipal de São Paulo, na
década de 1990, também teve experiência com o sistema de ciclos.
Por meio da Deliberação do Conselho Estadual de Educação n.º 09 e sua
respectiva Indicação CEE n.º 08, ambas de 30 de julho de 1997, foi instituído no Sistema de
Ensino do Estado de São Paulo o regime de Progressão Continuada no Ensino Fundamental.
Esse regime poderia ser organizado em mais de um ciclo, desde que a transição de um ciclo
para o outro garantisse a progressão dos estudos, isto é, a evolução escolar do aluno.
No texto da Deliberação CEE n. º 09/97 fica clara a necessidade de se garantir a
avaliação do processo de ensino-aprendizagem, devendo ser organizadas as formas de
recuperação connua e paralela para suprir defasagens detectadas em resultados de
verificação do rendimento escolar.
Segundo o Conselho Estadual de Educação (2000, p. 27):
A adoção de progressão continuada e a concretização de seus resultados
dependem de uma alteração radical na concepção de ensino, de
aprendizagem e de avaliação da aprendizagem, rompendo eventuais
resistências ao que hoje é cientificamente comprovado: que toda criança é
capaz de aprender, se lhe forem oferecidas condições de tempo e de
recursos para que exercite suas competências ao interagir com o
conhecimento. O arranjo das condições acima citadas, por sua vez, depende
da avaliação que se fa do processo de ensino, de modo a acompanhar e
compreender os avanços e dificuldades dos alunos para progredir em sua
aprendizagem.
Em 1998, a Secretaria de Estado da Educação (SEE) adotou em seu sistema de
ensino a progressão continuada e organizou o ensino fundamental em Ciclo I (1ª a 4ª séries) e
Ciclo II (5ª a 8ª séries).
Os dirigentes da Secretaria de Estado da Educão de São Paulo tinham alguns
argumentos para justificar a implantação do regime de Progressão Continuada. Esses
argumentos se pautavam nas seguintes necessidades: universalizar o ensino fundamental;
regularizar o fluxo de alunos (idade/série)
9
; melhorar a qualidade de ensino; acabar com a
pedagogia da repetência; diminuir gastos públicos devido às reprovões; elevar o nível de
escolaridade da populão e equiparar o número de alunos que entravam com o número de
alunos que saiam do Ensino Fundamental.
9
As medidas de correção de fluxo, no Estado de São Paulo, foram destinadas para a redução dos índices de
repetência e evasão. Em 1995, as taxas de aprovação, reprovação e evasão no Ensino Fundamental do Estado de
São Paulo eram respectivamente: 79,2%; 11,7% e 9,1%. As taxas de reprovação e evasão colaboram para que
haja a defasagem idade/ série.
75
De acordo com o documento da Secretaria de Estado da Educação (1998,
p. 21
)
intitulado A Organizão do Ensino na Rede Estadual: orientação para as escolas:
Dentro dos ciclos do Ensino Fundamental, a forma de evolução escolar do
aluno é de progressão continuada, ou seja, de avanço contínuo dos alunos em
um dado grupo de séries escolares. Dessa forma, não elimina nem o esquema
seriado, nem os patamares de conteúdos e habilidades a serem dominadas
pelo aluno ao final de cada série. Elimina, entretanto, o corte rígido por meio
de reprovões e retrocessos ao final de cada série e abre a possibilidade,
através de um sistema intensivo, paralelo e connuo de reforço e
recuperação, de todos os alunos irem avançando com seu grupo-classe nas
séries intermediárias de cada ciclo. Deve, contudo, ser atingido um
determinado patamar de aprendizagem ao final de um grupo de séries ou
ciclo.
Com o fim da reprovão, a progressão continuada é a forma implementada para
que o aluno evolua no ciclo.
As mudanças que a organização do ensino em ciclos provoca, dependem da
concepção que se tem dessa organização. Segundo Perrenoud (2004, p.12), essa concepção
pode variar:
No pólo mais conservador, quase nada muda na organização do
trabalho, nos programas, nas práticas de ensino-aprendizagem, nas
progressões, na avalião; fala-se de ciclos plurianuais, os textos
oficiais são escritos nessa linguagem, porém, na prática, operam as
mesmas categorias mentais, cada um mantém sua turma e trabalha
com um horizonte anual, os professores continuam a passar seus
alunos para os colegas no final do ano; em certos casos, pratica-se
até mesmo a reprovação dentro de um ciclo.
No pólo mais inovador, os ciclos de aprendizagem são sinônimos de
profundas mudanças nas práticas e na organizão da formação e do
trabalho escolar; é uma verdadeira inovação, que assusta uma
parcela dos professores e dos pais e requer novas competências.
Entendemos que a Secretaria de Estado da Educação de São Paulo se encaixa na
concepção mais conservadora para organizar o ensino em ciclos, pois:
Quanto à organização, o Ciclo I (Ensino Fundamental) está estruturado em
quatro anos correspondentes a 1ª, 2ª, 3ª e 4ª séries.
Predomina o princípio da homogeneidade, isto é, para a respectiva série é
determinada a idade e os conteúdos a serem trabalhados.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais organizam os conteúdos por séries.
A organização curricular é disciplinar.
76
O Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar (SARESP)
10
avalia as
habilidades para cada série escolar.
3 - A Polêmica Provocada pela Progressão Continuada
O regime de Progressão Continuada gerou muita polêmica, pois o magistério, pais
de alunos e até mesmo a imprensa divergiram quanto às opiniões sobre o novo regime
implantado.
Diante da necessidade de discussão sobre o regime da Progressão Continuada, a
Secretaria de Estado da Educação realizou, em 2002, um Fórum de Debates.
Participaram desse Fórum, além do Secretário da Educação do Estado, dirigentes
de ensino, supervisores, assistentes técnico-pedagicos, membros do Conselho Estadual de
Educação, representantes da Comissão de Educação da Assembléia Legislativa,
representantes do Sindicato de Supervisores do Magistério no Estado de São Paulo (APASE),
do Centro do Professorado Paulista (CPP), do Sindicato de Especialistas de Educação do
Magistério Oficial do Estado de São Paulo (UDEMO), do Sindicato dos Professores do
Ensino Oficial do Estado de São Paulo (APEOESP), docentes de Universidades, membros dos
Conselhos de Escola e de Associações de Pais e Mestres (APM) e educadores de diferentes
setores da Secretaria da Educação.
Os textos que reproduziram as palestras e os debates desse Fórum foram
publicados, compondo assim, os Anais do Fórum de Debates Progressão Continuada:
Compromisso com a Aprendizagem, que nos servirão como referências para os estudos sobre
o que pensam os diferentes participantes a respeito da Progressão Continuada e a polêmica
gerada por essa reforma.
Na palestra proferida pela Professora Doutora Elba Siqueira de Sá Barreto (USP),
Os desafios da avaliação nos ciclos de aprendizagem, a autora relaciona a proposta dos
ciclos com uma sociedade inclusiva e apresenta os motivos que justificam a introdução dos
ciclos.
Os ciclos apresentam uma proposta muito condizente com os reclamos da
escola contemporânea, com os apelos da sociedade inclusiva; há um propósito
de democratização das oportunidades neles embutidos. [...] Há muitos
motivos pelos quais as propostas de introdução dos ciclos escolares nas redes
de ensino são justifiveis. Motivos sociais, de inclusão e de integração;
motivos políticos, de democratização efetiva da escola e de acesso ao
conhecimento; motivos econômicos, de economia de recursos blicos;
motivos pedagógicos, no sentido de evitar que a reprovação impeça a
10
O SARESP (Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo) foi criado em 1996 pela
Secretaria Estadual da Educação.
77
progressão escolar dos alunos, denegando-lhes o direito de aprender.
(BARRETO, 2002, p. 39).
A autora também complementa que a economia de recursos obtida com a
implantação dos ciclos nas escolas é uma obrigão dos dirigentes. (Ibid, p. 39).
Durante o Fórum de Debatessobre a Progressão Continuada, os representantes
da APASE, da APEOESP, do CPP e da UDEMO fizeram uma exposição de questões
referentes ao tema. Para discutir as questões apresentadas pelas entidades de classe, estavam
presentes as Professoras Doutoras Clarilza Prado de Souza e Bernadete Gatti, ambas da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e o Professor Doutor José Mario Pires Azanha,
membro do Conselho Estadual de Educação.
As analisar os discursos apresentados pelas entidades de classe, Souza (2002, p.
116) concluiu que “os argumentos são sempre positivos, em princípio. Nenhum dos textos
apresentados critica a progressão continuada como uma medida com orientação educacional
equivocada.
Os representantes das diferentes entidades de classe do magistério apresentaram,
segundo Sousa, idéias semelhantes sobre alguns aspectos da progressão continuada. Estas
idéias são:
- implementação da proposta a esse respeito criticam a falta de preparo dos professores,
mas não apontam quanto tempo seria necessário para prepará-los;
- infra-estrutura consideram que faltam recursos para apoiar a prática pedagógica, como
bibliotecas e salas ambiente;
- valorização do magistério – consideram a necessidade de capacitação, contrato de
trabalho, discussão nas escolas e salários.
Para Sousa, os representantes das entidades de classe do magistério não levaram
em conta que “a proposta está em implantação.
No entendimento da APEOESP, a Progressão Continuada implantada na rede de
ensino estadual estaria resultando na promoção (aprovação) automática, pois muitos alunos
estariam passando para o ano seguinte sem dominar os conteúdos. Sobre esse aspecto, a
professora Bernadete Gatti (2002, p. 123) destacou que:
Quando dizemos que a escola está fazendo promoção automática, nós
estamos ofendendo os professores sim, enquanto profissionais do ensino.
Porque são eles que estão lá, no cotidiano da escola, acompanhando esses
alunos [...]. Se há promoção automática, é ele que a faz na escola, o que
significaria dizer que ele não está trabalhando com essa criança os duzentos
dias letivos, porque, se é para promover automaticamente, é automático. Se
é automático, é alguma coisa que vai de per si. Não há trabalho, não há
78
esforço. Não se está fazendo nada. É uma maneira de depreciar o
magistério, a escola blica.
No regime de Progressão Continuada, o aluno deve adquirir conteúdos e
habilidades ao final de cada série e continuar na série seguinte. O baixo rendimento não o
reprova, mas lhe dá oportunidade de prosseguir nos estudos com a sua turma de mesma idade
e série.
Entretanto, se não houver infra-estrutura na escola, se o professor não estiver
preparado para trabalhar segundo essa concepção e não for valorizado, o resultado será a
promoção (passar de ano) automaticamente, isto é, dominando ou não, os conteúdos e
habilidades.
Manifestando-se sobre as questões apresentadas pelas entidades de classe, o
professor Azanha se posicionou dizendo que uma política educacional não tem um
compromisso pedagógico, e sim com a melhoria da qualidade do ensino democrático. A
aprendizagem do aluno é um feito individual. Nós não temos que melhorar o aprendizado
dos alunos temos é que melhorar a escola, como instituição o que, quase sempre, perdemos de
vista”. (AZANHA, 2002, p. 128). De acordo com o Professor Azanha, uma política tem linhas
de ação, de trabalho e institucionais e a reforma se faz no dia-a-dia.
O texto Progressão Continuada da Aprendizagem: o que falta dizer sobre sua
implantação, que foi elaborado pela equipe da Coordenadoria de Estudos e Normas
Pedagógicas e apresentado em São Paulo, no Fórum de Debates em junho de 2002, pela
Professora e Coordenadora da CENP, Vera Lúcia Wey, esclarece a política educacional
adotada pela Secretaria da Educação, na década de 1990, e mais especificamente a partir de
1995, quando a SEE mudou de administração.
À SEE, gestora e responsável por um sistema de ensino, cabia implantar
ões que preparassem e dessem suporte a uma política educacional que
garantisse a implementão do compromisso legal, explicitado na LDB,
frente à sociedade brasileira e, especialmente, à população do nosso estado.
Nesse sentido, o conjunto de propostas desencadeado a partir de 1995/96
entre as quais a adoção do sistema de ciclos em 98 – teve sempre o objetivo
maior de dar suporte e preparar a rede de ensino para atuar no sentido de
garantir o acesso, a permanência e a aprendizagem contínua, progressiva e
bem sucedida para todos os alunos. É oportuno ressaltar que se a opção e
compromisso – legal e potico – é por todos, isso exclui propostas restritas
a algumas escolas em detrimento de outras, portanto, as ações pensadas pela
SEE na sua política educacional sempre se pautaram pelo princípio de
oferecer igualdade de condições a toda a rede escolar, ampliando a oferta de
recursos humanos, materiais e pedagógicos de forma a atender com
eidade o universo de unidades educacionais do Estado de São Paulo.
(WEY, 2002, p. 48).
79
A Coordenadora da CENP apresentou, em sua palestra, a opinião dos
administradores da SEE sobre a política educacional implantada até 1995. O projeto das
Escolas-Padrão havia introduzido melhorias, mas para um mero restrito de unidades
escolares, fazendo com que, numa mesma rede de ensino (pública e estadual), convivessem
escolas com características diferentes quanto a recursos humanos, materiais e pedagógicos.
A seguir, apresentamos um quadro organizado pela CENP com o qual ela procura
mostrar a evolução das ões implantadas de 1995 a 1998 e, assim, demonstrar que houve
preocupação, por parte da Secretaria da Educação, em preparar e oferecer condições para que
o regime de ciclos e a progressão continuada obtivessem sucesso em toda a rede de ensino.
QUADRO 1-
EVOLUÇÃO DAS AÇÕES IMPLANTADAS NO PERÍODO DE 1995 A
1998 NA EDUCAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO CENP
Ação
Até 1995
1996
1997
1998
Organização das
Escolas
Espos iguais para
diferentes alunos
Espos específicos para
crianças e jovens
Continuidade
Continuidade
Jornada dos alunos
4 horas diárias
5 horas diárias
Continuidade
Continuidade
Professor
Coordenador
Pedagógico
Somente nas
Escolas padrão
Todas as escolas- 1 ou 2
Continuidade
Continuidade
Horário de trabalho
Pedagógico
Coletivo
Somente nas Escolas
padrão
Possibilidade de HTPC
para todos
Continuidade
Inclusão do
HTPC na
jornada.
Indicadores: índice
de promoção
79,2
84,2
91,7
93,5
Indicadores: índice
de evasão
9,1
6,8
4,2
4,2
Avaliação SARESP
-
3ª e 7ª séries
4ª e 8ª séries
5ª e 1ª EM
Classes de
Aceleração
-
1ª/4ª
10.000 alunos
1ª/4ª
40.000 alunos
1ª/4ª
83.000 alunos
5ª/8ª
53.000 alunos
Capacitação
Cursos pontuais
Implantação PEC
Ações mais abrangentes
com novas propostas
metodológicas
Continuidade
Continuidade
Autonomia
regimental
Regimento único para todas
as escolas
Continuidade
Continuidade
Autonomia para
elaborar
regimento e projeto
pedagógico
Recuperação
Paralela
Previsão legal sem
condições
concretas para realização
Regulamentada 3
horas semanais além do
horário. Carga
suplementar para professor
Continuidade
Continuidade com
crédito de
horas por escola e
contratação de
professores
Recuperação
Intensiva
5 dias úteis ao final do ano
Continuidade e proposta
de Recuperação nas
Férias
Recuperação
em janeiro
para EF opcional
Recuperação
em janeiro
assegurada a todos-
EF e EM
Recuperação de
Ciclo
-
-
-
Implantação
Fonte: (FÓRUM DE DEBATES, 2002, p. 60)
80
Observando o quadro, percebemos que o Projeto Educacional da escola Padrão,
implantado no governo Fleury (1991-1994), originou ões que tiveram continuidade e foram
aperfeiçoadas durante a gestão Mário Covas (1995-1998). Entre essas ações consideramos
que duas delas tenham sido muito importantes por representarem conquistas positivas para a
educação do Estado de São Paulo:
Professor Coordenador Pedagógico (PCP): até 1995, o PCP existia somente nas
Escolas Padrão. A partir de 1996, todas as escolas passaram a contar com esse apoio. Escolas
que funcionam somente no período diurno têm um PCP e as que funcionam também no
período noturno têm um PCP para cada período.
Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo (HTPC)
11
: esse horário existia até 1995
somente para os professores das Escolas Padrão. A partir de 1996, todos os professores da
rede pública estadual passaram a cumprir esse horário na escola. Com o novo Plano de
Carreira do Magistério, de 1997, esse horário, que depende do mero de aulas que o
professor trabalha semanalmente, passou a fazer parte da jornada dos docentes.
4 – As Considerações de Alguns Acadêmicos sobre os Ciclos e a Progressão Continuada
Segundo Barreto e Mitrulis (2001, p. 126), a forma de organizar a escola em
ciclos tem encontrado no meio acadêmico mais adeptos do que opositores. Eles manifestam
a necessidade de cautela com relação aos procedimentos de implantação e as condições de
implementação dos ciclos. As autoras acrescentam que a universidade ainda não está
propiciando uma formação inicial, nem apontando alternativas de formação continuada para
os professores que enfrentam a forma de organizar o processo ensino-aprendizagem por meio
de ciclos.
Os professores da rede pública estadual não se consideram como parte essencial
da área educacional no processo de implantação dos ciclos, pois alegam que nas escolas não
participam das decisões a serem operacionalizadas pelos gestores do sistema escolar. Na
opinião desses profissionais, a preocupação da “administração” é com o corte de gastos e não
com a aprendizagem dos alunos e a política proposta dá autonomia à escola, mas deixa aos
professores a responsabilidade pelo sucesso ou fracasso dos alunos. (Ibid., p. 127).
Enquanto, de um lado, os professores se dizem insatisfeitos, por outro, como
pudemos verificar também no quadro anterior, a Secretaria da Educação se pronuncia,
11
De acordo com o artigo 13 da Lei Complementar n.º 836, de 30 de dezembro de 1997, as horas de trabalho
pedagógico na escola deverão ser utilizadas para reuniões e outras atividades pedagógicas e de estudo, de caráter
coletivo, organizadas pelo estabelecimento de ensino, bem como para atendimento a pais de alunos.
81
afirmando que está assegurando as condições necessárias para a implantação dos ciclos no
sistema escolar. Segundo a Secretaria da Educão, as condições asseguradas são:
[...] escolas diferenciadas para crianças e jovens; extensão da jornada
escolar; ampliação da equipe técnica das escolas com a presença de
professor coordenador em todos os estabelecimentos de ensino; horas de
trabalho pedagógico coletivo; abertura para fazer face às dificuldades dos
alunos mediante mecanismos de reforço e recuperão; distribuição de
equipamentos e materiais pedagógicos; descentralização de recursos
financeiros diretamente às escolas. (Ibid., p. 128).
Ainda segundo Barreto e Mitrulis, uma das dificuldades para o trabalho com a
progressão continuada e com os ciclos é a referência às séries, que ainda persistem na prática
escolar.
Na rede estadual paulista, o ciclo é entendido como um conjunto de graus ou
séries consecutivas entre as quais não há reprovação, mas cujos conteúdos de
ensino se reportam ao grau ou série oferecendo balizas ao trabalho
pedagógico dos professores. (Ibid., p. 133).
Se a organização do ensino continua sendo, na prática, seriada, as turmas são
vistas pelos professores como homogêneas, isto é, todos os alunos aprendem num mesmo
espo de tempo.
A idéia de classes homogêneas compromete a execução da Progressão Continuada
em Ciclos de aprendizagem, pois essa nova concepção de organização do ensino deve
considerar as diferenças individuais da clientela que hoje freenta a escola pública.
Classes heterogêneas quanto ao ritmo de aprendizagem exigem trabalho
diversificado para assegurar um conhecimento básico comum a todos, condição de
democratização do Ensino Fundamental. (BARRETO, 2002, p. 39).
Sandra Maria Zákia Lian de Sousa (2000, p. 42), em seu texto A avaliação na
organização do ensino em ciclos, aborda a necessidade de o poder público garantir às escolas
as seguintes condições que são necessárias para o trabalho no regime de Progressão
Continuada:
promoção de trabalho em conjunto com educadores, pais e alunos para construir uma
nova concepção de ensino, de aprendizagem e de avaliação;
organização de classes com mero de alunos acessível ao trabalho dos professores;
planejamento do tempo e do conteúdo de modo flexível para atender às atividades
diversificadas;
formação de vários agrupamentos de alunos e para isso oferecimento de estrutura
física adequada;
82
viabilização de planejamento para envolver os profissionais num trabalho coletivo;
garantia de tempo e espo para os alunos que não apresentam desenvolvimento
satisfatório.
Para Celso dos Santos Vasconcellos (1999) é preciso que a política educacional
desenvolva medidas de apoio pedagógico-administrativo, para que o regime de Progressão
Continuada não seja entendido simplesmente como eliminação da reprovação. Por isso a
política educacional precisa dar conta de alguns aspectos:
-Autonomia para escola construir participativamente seu projeto educativo.
-Condições de trabalho: número adequado de alunos em sala, coordenação
pedagógica, bibliotecas, salas de leitura, videoteca.
-Horário de trabalho coletivo: que possibilite a troca de experiências, a
reflexão conjunta sobre a prática, a busca de formas de intervenção para
superar as dificuldades, replanejamento.
-Formação permanente do professor: horário de estudo e pesquisa, grupos de
formação, biblioteca pedagógica, supervisão.
-Salários: para que o professor possa assumir menos aulas e trabalhar em
menos escolas; ter tempo livre e recursos para adquirir e ler livros, revistas
especializadas.
-Currículos: concepção de currículo em processo; nova distribuição dos
tempos, espaços; nova postura frente a objetivos, conteúdos.
-Atendimento ao aluno com dificuldades: monitoria, espaços de revisão,
aulas no contraturno, laboratórios de aprendizagem, atendimento
individualizado.
-Participação da comunidade: gestão democrática, conselho de escola,
conselho de classe participativo, trabalhar a proposta para ganhar clareza,
busca de novas formas de colaboração. (VASCONCELLOS, 1999, p. 93).
A política da Progressão Continuada e, conseentemente, a implantação de uma
nova estrutura na organização do ensino, caracterizada pelos ciclos plurianuais, traz à tona
uma questão que está ligada à concepção de progressão continuada e a prática que deve
acontecer nessa nova estrutura.
No sistema seriado, anterior à organização do ensino em ciclos, a estrutura escolar
apresentava-se seriada, gradual, disciplinar, racionalmente organizada com classes (séries
específicas para as idades e com conteúdos específicos) e um professor para trabalhar com
uma turma de crianças, consideradas homogêneas quanto à aprendizagem, isto é,
supostamente, todas aprenderiam um mesmo conteúdo num mesmo tempo.
Os Ciclos I e II do ensino fundamental continuam divididos em quatro séries cada
um, de 1ª a 4ª e de 5ª a 8ª. Os conteúdos também continuam fragmentados em séries, como se
evidenciam nos Parâmetros Curriculares Nacionais (1997). De acordo com Arroyo (1999, p.
157):
83
... implantar os ciclos, amontoados de séries, para acabar com a retenção,
acelerar o fluxo, ou acabar com a defasagem idade-série em nome do
respeito à diversidade de ritmos de aprendizagem, com processos mais leves
de avaliação connua, ao longo do ciclo. Essa visão de ciclos em nada mexe
com as velhas concepções de educão e de seu profissional, antes as reforça
e desqualifica.
Compreendemos que alguns especialistas são unânimes quanto à necessidade de
ultrapassar uma prática pedagógica embasada no sistema seriado e iniciar uma prática
comprometida com a progressão gradual da aprendizagem, condizente com a democratização
da educação, entretanto, com a estrutura vigente não é possível desenvolver um trabalho em
ciclos de aprendizagem.
Além disso, a concepção de trabalho exigida nos ciclos necessita de professores
que se sintam envolvidos nesse processo de transformação e que sejam garantidas, ao seu
trabalho e para as escolas, condições consideradas necessárias para o desenvolvimento de
políticas públicas como a Progressão Continuada e os Ciclos.
5- Conclusões Parciais
A Progressão Continuada que organizou o Ensino Fundamental em dois Ciclos de
quatro anos cada foi implantada em 1998 em toda a rede de escolas públicas estaduais de São
Paulo. A Secretaria de Estado da Educação (SEE) utilizou como justificativa para a
implantação dessa política as experiências que esse Estado adquiriu ao introduzir o ensino
organizado em ciclos na rede municipal de São Paulo e a implantação do Ciclo Básico na
década de 1980, que abrangia as duas primeiras séries do 1º grau.
Além das experiências já adquiridas, segundo a SEE, as reformas que ocorreram,
a partir de 1995, foram medidas que serviram de base para a implantação da Progressão
Continuada.
Entretanto, algumas das reformas do período de 1995 a 1999, implantadas pela
Secretaria da Educação, não foram reformas inéditas desse período. A presença do Professor
Coordenador em todas as escolas e o Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo foram, por
exemplo, ões que já vinham sendo praticadas por administrões anteriores. Essas duas
ões foram conquistas importantes para a educação do Estado de São Paulo.
Embora os representantes da SEE afirmem que houve a preocupação de se adotar
medidas preparatórias para que a progressão continuada fosse implantada, ainda há problemas
de aceitação ou de entendimento dessa política por parte de educadores. E como afirmam
84
Barreto e Mitrulis (2001), no papel (teoria), as mudanças ocorrem rapidamente, o mesmo não
acontece na prática.
Existem problemas na implementação da Progressão Continuada e dos Ciclos no
Estado de São Paulo. Estes problemas estão ligados à estrutura escolar e impedem a execução
do novo regime. A concepção de estrutura seriada que persiste na prática escolar, as classes
trabalhadas segundo critérios de homogeneidade e os conteúdos curriculares fragmentados em
séries escolares, não oferecem uma estrutura adequada para o verdadeiro trabalho com ciclos
plurianuais de aprendizagem.
Para que as mudanças se tornem efetivas, vários autores afirmam, como vimos,
que é necessário mudar a concepção de ensino, a de aprendizagem e a de avaliação no regime
de Progressão Continuada, bem como rever a estrutura escolar e as condições oferecidas às
escolas e aos profissionais.
No entanto, a própria Secretaria de Estado da Educação afirmou que Progressão
Continuada é a forma introduzida para o aluno evoluir na escola e avançar nas séries
escolares.
Assim sendo, o verdadeiro trabalho em ciclos de aprendizagem não é um
compromisso assumido na legislação do ensino, a SEE não pretende e nunca pretendeu acabar
com as séries anuais, mas sim acabar com a reprovação e, com isso, diminuir os gastos com a
educação.
Se o trabalho em ciclos de aprendizagem requer mudanças na estrutura do ensino e
este não é o objetivo da política educacional, também não há necessidade de um plano de
carreira que ofereça ao professor uma carga horária condizente para se trabalhar em ciclos.
85
V - A JORNADA DE TRABALHO DOS PROFESSORES DO ESTADO DE SÃO
PAULO E AS REFORMAS EDUCACIONAIS DAS DÉCADAS DE 1980 E 1990
Pretendemos, neste capítulo, analisar a organização da jornada de trabalho dos
professores da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo nas décadas de 1980 e 1990.
Na década de 1980, a Lei Complementar n.º 444, de 1985 estruturou e organizou a
jornada semanal de Trabalho do Magistério Paulista do 1º e graus.
Nessa mesma década, foi estabelecida, por meio de Decreto, em 1988, a Jornada
Única Discente e Docente no Ciclo Básico. As cargas horárias dos professores e dos alunos
do Ciclo Básico foram organizadas de modo que, os primeiros passassem a trabalhar somente
com uma classe de CB e os alunos tiveram sua carga horária diária aumentada de quatro para
seis horas.
Em 1991, o Projeto Educacional Escola Padrão, que foi instituído pelo Decreto
n.º 34.035, precisou de uma regulamentação na carga horária semanal do Professor I que
atuava no Ciclo Básico ou em classes de 3ª e 4ª séries do Ensino de grau.
Embora a Secretaria de Estado da Educação de São Paulo tivesse, desde 1983,
desseriado” a fase de alfabetização (as duas primeiras séries do 1º grau), por meio do Ciclo
Básico, somente em 1997 é que aconteceu a “desseriaçãode todo o ensino fundamental. Isso
se deu com a instituição da Progressão Continuada e com ela a organização do ensino em
Ciclo I e II do Ensino Fundamental.
Com a “desseriação, os alunos dos quatro anos do Ciclo I passaram a permanecer
na escola por cinco horas diárias e o docente, denominado Professor de Educação Básica I,
(PEB I) também teve sua carga horária semanal alterada para cinco horas diárias. Essa
alteração na carga horária dos docentes aconteceu a partir de 1998 quando entrou em vigência
o novo Plano de Carreira do Quadro do Magistério, instituído pela Lei Complementar n.º 836.
Pretendemos analisar a carga horária dos professores que lecionavam no Ciclo
Básico e na 3ª e 4ª séries do 1º grau (1985); no Ciclo Básico, as a implantação da Jornada
Única Discente e Docente no Ciclo Básico (1988); no Ciclo Básico e 3ª e 4ª séries do grau
das Escolas-Padrão (1991) e, enfim, a do professor que leciona no Ciclo I do Ensino
Fundamental (a partir de 1997).
86
1 - Os Profissionais do Quadro do Magistério da Secretaria de Estado da Educação de
São Paulo
Os profissionais que atuam como professores e os que oferecem suporte
pedagógico às atividades docentes comem o quadro do Magistério da Secretaria de Estado
da Educação de São Paulo.
Os diretores de escolas, os supervisores de ensino e os dirigentes regionais de
ensino oferecem suporte pedagógico aos professores. Os docentes podem reger classes na
Educação Infantil, no Ensino Fundamental ou no Ensino Médio.
De acordo com a Constituição Federal de 1988, o Magistério recebeu a
denominação de “profissionais de ensino” e de acordo com Meneses (1999, p. 293):
O ensino de qualidade pressupõe um quadro de profissionais
pedagogicamente capacitado e socialmente reconhecido. O pressuposto da
importância dos profissionais da educação na construção da democracia
obriga a um reconhecimento social da função, o qual, entretanto, não é
meramente moral; passa pela garantia de um plano de carreira, ingresso por
concurso público de provas e tulos e pela valorização salarial do piso, ou
seja, assegurando-se remuneração inicial mínima condigna.
O artigo 13 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n.º 9.394/96 indica
as tarefas dos docentes, delineando, assim, uma identidade para esses profissionais. Estas
tarefas são:
-
participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino;
-
elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagica do
estabelecimento de ensino;
-
zelar pela aprendizagem dos alunos;
-
estabelecer estratégias de recuperação para os alunos com menor rendimento;
-
ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, além de participar integralmente
dos períodos dedicados ao planejamento e ao desenvolvimento profissional;
-
colaborar com as atividades de articulação da escola com as famílias e a
comunidade.
Não pretendemos aprofundar os estudos sobre o plano de carreira dos professores,
mas entendemos que ele é um dispositivo legal que explica quais são as funções dos
profissionais e que oferece a oportunidade para estes ascenderem na carreira.
Recorremos aos estudos de Lucia Helena Gonçalves Teixeira (2002) e Maurício
Tragtenberg (1982) para compreendermos melhor o que se pode entender por plano de
carreira.
87
Segundo Teixeira (2002, p. 55), os professores de escolas públicas precisam de
um estatuto para regulamentar a sua profissão e “nesse caso, os professores dependem do
Estado para a nomeação para o cargo, a estruturação da carreira, a definição dos critérios de
recompensa e promoção e o estabelecimento de níveis salariais.
Por pertencer ao Estado, a escola pública é administrada segundo uma estrutura
burocrática. Maurício Tragtenberg (1982) exe que essa estrutura apresenta níveis de cargos,
dando origem à carreira. Para ascender na carreira é preciso ter um diploma, tempo de serviço
e respeitar regras estabelecidas.
A ascensão do docente na carreira não depende da verificação dos resultados
obtidos a longo prazo pelo mesmo sobre seus alunos; portanto, os critérios
de eficácia ou valor são desprezados e o de conformidade (aprovação nos
exames, provas) supervalorizados (TRAGTENBERG, 1982, p. 37).
Essa busca por cargos mais altos faz surgir o “carreirismo, isto é, a ambição por
um posto mais elevado no quadro hierárquico, mesmo porque ascender na carreira é o modo
como o profissional tem para ser mais bem remunerado, pois ele ganha de acordo com o nível
em que leciona. Inclusive, a própria estrutura administrativa induz o profissional a ascender
na carreira.
De acordo com documentação da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo,
o Plano de Carreira do Quadro do Magistério Paulista, instituído pela Lei Complementar n.º
836, de 30 de dezembro de 1997, foi resultado de estudos de técnicos da SEE, como consta
textualmente no próprio documento.
É resultado de estudos técnicos desenvolvidos pela Secretaria da Educação e
pela Secretaria da Administração e Modernizão do Serviço Público,
precedidos de amplos entendimentos com as entidades representativas do
setor. (SÃO PAULO, 1998, p. 7).
2- Alguns Aspectos Inerentes às Condições de Trabalho do Professor
Para o professor exercer suas tarefas com profissionalismo e competência,
entendemos que seja necessário oferecer-lhe condições favoráveis de trabalho.
Maria das Mers Ferreira Sampaio e Alda Junqueira Marin, em seu trabalho
Precarização do trabalho docente e seus efeitos sobre as práticas curriculares(2004),
apresentam alguns aspectos que caracterizam as condições de trabalho dos professores e que
passaremos a analisar.
O tamanho da turma com o qual o professor trabalha é um aspecto ligado às
condições para que ele possa desenvolver o seu trabalho. Segundo os estudos realizados por
88
Sampaio e Marin (2004, p.1215), no Brasil verifica-se uma queixa constante dos professores
quanto a esse aspecto.
Outro aspecto que as autoras abordam e que está ligado às condições de trabalho
do professor é a sua rotatividade nas escolas de um ano para outro. Esse fato ocorre porque, se
o professor não for concursado, isto é, não tiver um cargo numa única escola, fica obrigado a
trabalhar em mais de uma unidade escolar para completar sua jornada de trabalho. Assim
sendo, ele terá mais turmas de alunos e, conseqüentemente, esse seria um fator negativo para
o desenvolvimento do seu trabalho.
Com o Plano de Carreira instituído em 1997, a jornada de trabalho do professor da
rede estadual de ensino paulista passou a ser composta por horas em atividades desenvolvidas
em sala de aula com os alunos, horas de trabalho pedagógico coletivo na escola (HTPC) e
horas de trabalho pedagógico segundo a disponibilidade do docente.
As horas de trabalho pedagógico coletivo na escola (HTPC), que a partir do Plano
de Carreira de 1997 passaram a fazer parte da jornada semanal de trabalho dos docentes, se
destinam ao preparo de aulas, de correção de trabalhos de alunos, de apoio aos alunos nas
atividades extracurriculares e de formação em serviço para os próprios professores.
(SAMPAIO; MARIN, 2004, p. 1213).
Segundo documentação da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo
(1998), a possibilidade de o professor ter um tempo para se dedicar às atividades de preparar e
avaliar trabalhos didáticos, participar de reuniões pedagógicas e se aperfeiçoar
profissionalmente eram medidas que os educadores vinham reivindicando nas duas últimas
décadas. Por essa razão, o horário de trabalho pedagógico coletivo, cumprido na unidade
escolar, foi introduzido na carga horária semanal dos professores.
3 - Resgatando as Jornadas de Trabalho dos Professores do Estado de São Paulo nas
Décadas de 1980 e 1990
Para resgatarmos as jornadas de trabalho dos professores, recorremos ao estudo de
Leis Complementares, Decretos e Resoluções que regulamentaram as jornadas de trabalho
docente e instituíram Estatutos do Magistério ou Plano de Carreira para o Quadro do
Magistério.
Consideramos necessária a carga horária que o professor tem, semanalmente, para
preparar aulas, corrigir trabalhos dos alunos, oferecer apoio nas atividades extracurriculares e
até mesmo para desenvolver estudos sobre a sua profissão. Enfim, a carga horária semanal,
fora da sala de aula, é necessária para o professor reger suas aulas (atividades com os alunos).
89
Por esse motivo, nos deteremos à análise das jornadas de trabalho docente que se encontram
regulamentadas nas seguintes legislações:
- Lei Complementar n.º 201, de 9 de novembro de 1978 e Decreto n.º 14.329, de 29 de
novembro de 1979, que tratam da organização do Estatuto do Magistério e das Jornadas de
Trabalho Docente.
- Lei Complementar n.º 444, de 27 de dezembro de 1985 e Decreto n.º 24.632, de 10 de
janeiro de 1986, que tratam da organização do Estatuto do Magistério e da regulamentação
das Jornadas de Trabalho dos Docentes.
- Decreto n.º 28.170 de 21, de janeiro de 1988 e Resolução SE n.º 17 de 28, de janeiro de
1988, que estabelecem a Jornada Única Discente e Docente no Ciclo Básico.
- Decreto n.º 34.035 e Decreto n.º 34.036 ambos de 22 de outubro de 1991 referentes à
implantação do Projeto Escola-Padrão e dispõem sobre a Jornada de Trabalho Docente do
Pessoal em Escola-Padrão.
- Lei Complementar n.º 836 de 30 de dezembro de 1997, que instituiu o Plano de Carreira,
Vencimentos e Salários para os Integrantes do Quadro do Magistério.
3.1 A lei complementar n.º 201, de 9 de novembro de 1978 e decreto n.º 14.329, de 29
de novembro de 1979
A Lei Complementar n.º 201, de 9 de novembro de 1978 foi denominada
Estatuto do Magistérioe no seu artigo caracterizou o Professor I como professor
polivalente no ensino de grau, de 1ª a 4ª séries e na Educação Pré-Escolar.
O artigo 21 da Lei complementar n.º 201/78 instituiu as jornadas de trabalho dos
docentes e o Decreto n.º 14.329, de 29 de novembro de 1979 regulamentou as jornadas de
trabalho do pessoal do Magistério do seguinte modo:
-
Jornada Integral de Trabalho Docente: 40 horas, sendo 36 horas-aula
12
e 4 horas-
atividade
13
.
-
Jornada Completa de Trabalho Docente: 30 horas, sendo 27 horas-aula e 3 horas-
atividade.
-
Jornada Parcial de Trabalho Docente: 20 horas, sendo 18 horas-aula e 2 horas-
atividade.
12
Hora-aula - tempo que o professor desenvolve atividades com os alunos.
13
Hora-atividade - tempo para o professor desenvolver atividades em local de livre escolha.
90
O Professor I (1ª a 4ª série) poderia atuar em apenas uma classe e a sua Jornada de
Trabalho seria a Parcial (20 horas). Também poderia optar pela Jornada Integral de Trabalho
(40 horas), mas desenvolveria o seu trabalho com duas turmas de alunos.
Quanto às horas-atividades, estas eram divididas em partes iguais para o
cumprimento de tarefas na própria escola e em local de livre escolha do docente e serviriam
para participar do processo de coordenação pedagógica; colaborar no processo de orientação
educacional; atualizão e aperfeiçoamento do professor, preparar atividades de
comemorões cívicas; preparar aulas, material didático e avaliões; e participar da
integração escola-comunidade.
Podemos compreender com base no trabalho de Celestino Alves da Silva Junior,
A Escola Pública como Local de Trabalho
(1990, p. 122), que:
A realização de uma parte da jornada de trabalho em horário e local
indeterminado desqualifica o trabalho docente e avilta sua remuneração.
Um trabalho que pode ser feito em qualquer tempo ou lugar pode também
não ser feito. Uma remuneração que apenas se acrescenta a outra e
independe da realização efetiva do trabalho a que se refere constitui apenas
uma gratificão” e pode servir mais para depreciar do que para valorizar o
processo de trabalho a que se aplica.
A diferenciação entre horas-aula e horas-atividade foi considerado um avanço para
o trabalho do magistério público, mas é importante compreendermos essa distinção uma vez
que tanto as horas-aula quanto as horas-atividade fazem parte do trabalho docente. Além
disso, o momento da aula legitima as atividades complementares a ela.
O Decreto n.º 22.178, de 09 de maio de 1984, elevou para 15% o limite das
horas/atividades dos Docentes.
3.2 A lei complementar n.º 444, de 27 de dezembro de 1985 e o decreto n.º 24.632, de
10 de janeiro de 1986
A Lei Complementar n.º 444, de 27 de dezembro de 1985 estruturou e organizou
o Magistério Público de e 2º graus da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo.
Essa lei, nomeada como Estatuto do Magistério, foi uma das medidas adotadas
pela política educacional do Estado de São Paulo durante o governo de André Franco
Montoro (1983 a 1989). O artigo 2º desse estatuto apresentava como atividades inerentes aos
docentes e aos especialistas de educação, ministrar, planejar, executar, avaliar, dirigir,
orientar, coordenar e supervisionar o ensino.
91
Para que os professores desempenhassem suas atividades, eles teriam uma jornada
de trabalho que corresponderia às horas trabalhadas semanalmente:
I-
Jornada Integral de Trabalho Docente: 40 horas;
II-
Jornada Completa de Trabalho Docente: 30 horas;
III- Jornada Parcial de Trabalho Docente: 20 horas.
Em 10 de janeiro de 1986, o governador do Estado André Franco Montoro,
baixou o Decreto n.º 24.632 regulamentando as Jornadas de Trabalho do pessoal docente.
O artigo 1º desse Decreto organizou as jornadas semanais de trabalho da seguinte
forma:
I- Jornada Integral de Trabalho Docente: 40 horas, sendo 32 horas-aula e 8 horas-atividade.
II- Jornada Completa de Trabalho Docente: 30 horas, sendo 24 horas-aula e 6 horas-
atividade.
III- Jornada Parcial de Trabalho Docente: 20 horas, sendo 16 horas-aula e 4 horas-atividade.
As horas trabalhadas semanalmente se constituíam por horas-aula, destinadas às
atividades com os alunos, e por horas-atividade, um tempo remunerado de que disporá o
docente, prioritariamente, para participar de reuniões pedagógicas, e, ainda para a preparação
de aulas, correção de trabalhos e provas, pesquisa e atendimento a pais de alunos” conforme
descrito no artigo 2° do Decreto n° 24.632/86. As horas-atividade podiam ser cumpridas pelos
professores em local de sua livre escolha.
O Professor I, denominação recebida pelo professor que atuava no ensino de
grau (CB ou 3ª e 4ª séries) e na pré-escola, poderia ampliar a sua jornada de trabalho e reger
mais de uma classe, na mesma escola ou em escolas diferentes do mesmo município. A
possibilidade de reger duas classes estava regulamentada pelo parágrafo 3º do artigo 3º do
mesmo Decreto n.º 24.632.
Dessa forma, o Professor I poderia optar e lecionar somente numa classe de Ciclo
Básico, de 3ª ou de 4ª série e, assim, trabalhar semanalmente 16 horas-aula com as crianças,
mas ser remunerado por 20 horas, pois a Jornada Parcial correspondia a 16 horas-aula mais 4
horas-atividade, ou então, lecionar em duas classes, manhã e tarde, por exemplo, ganhando
por 40 horas semanais, enquadrando-se na Jornada Integral de Trabalho Docente.
92
3.3 O decreto n.º 28.170, de 21 de janeiro de 1988 e a resolução SE n.º 17, de 28 de
janeiro de 1988
Em 21 de janeiro de 1988, o Governador do Estado Orestes Quércia, baixou o
Decreto n.º 28.170 que estabeleceu a Jornada Única Discente e Docente no Ciclo Básico das
escolas estaduais.
Entre os motivos levados em conta pelo Governador para baixar este Decreto,
destacamos: aumentar o tempo que o aluno permanecia na escola diariamente e, assim, ter
uma alfabetização mais efetiva, e também, a necessidade de dedicação do professor a uma
única escola, como condição para melhor desenvolver o seu trabalho no Ciclo Básico.
Cada aluno que freqüentasse o Ciclo Básico permaneceria na escola 6 horas
diárias que foram distribuídas em: 6 horas-aula de 50 minutos cada, acrescidas dos períodos
destinados ao horário de lanches (ao chegar à escola), horário do recreio (com merenda) e o
de refeição (ao final do período).
De acordo com o artigo 2º da Resolução SE n.º 17 de 28 de janeiro de 1988, que
regulamentou o Ciclo Básico, as 30 horas-aula semanais foram assim divididas:
I-
26 horas-aula com o Professor I – professor regente da classe;
II-
2 horas-aula de Educação Arstica com o professor habilitado nessa área e;
III-
2 horas aula de Educação Física com o professor também habilitado na área.
Enquanto os alunos do Ciclo Básico permaneciam por 6 horas diárias na escola,
aqueles que freqüentavam a 3ª e 4ª séries do 1º grau permaneciam por 4 horas diárias.
Sendo implantada a Jornada Única do Ciclo Básico, o professor passou a trabalhar
somente numa escola e a reger somente uma classe, portanto, sua carga horária semanal de
trabalho era de 40 horas (Jornada Única), sendo 26 horas-aula com a classe, 6 horas-aula de
trabalho pedagógico e 8 horas atividades a serem cumpridas em horário e local de livre
escolha.
As 6 horas-aula de trabalho pedagógico, a serem cumpridas na escola, eram
destinadas de acordo com o artigo 4º da Resolução SE n.º 17 para:
I - Participação em reuniões pedagógicas e de acompanhamento, avaliação e controle das
ões do Ciclo Básico.
II - Preparação de materiais didáticos.
III- Participação em cursos de atualização pedagógica relacionados ao ensino no Ciclo Básico.
93
As seis horas/aula de trabalho pedagógico devem ser planejadas de forma
que o professor possa permanecer na escola, ao menos um dia na semana,
para discutir seu trabalho com os colegas e o Professor Coordenador, a fim
de buscar soluções coletivas para suas dificuldades através da troca de
experiências. Uma discussão conjunta proporcionará maiores possibilidades
de alternativas para problemas surgidos no desenvolvimento do trabalho,
além do enriquecimento intelectual do conjunto dos educadores. (SÃO
PAULO, 1988, p. 196)
Quanto ao cumprimento das 8 horas-atividade semanais em local de livre escolha,
deveriam ser utilizadas para leitura, preparação de aulas e avaliação de trabalhos dos alunos.
Enquanto os professores de Ciclo Básico contavam com 14 horas-aula de
atividade pedagógica remuneradas, os professores de 3ª e 4ª série do 1º grau contavam com 4
horas-atividade, se tivessem Jornada Parcial de Trabalho Docente (16 horas-aula mais 4
horas-atividade) ou com 8 horas-atividade se tivessem Jornada Integral de Trabalho Docente
(32 horas-aula mais 8 horas atividade).
3.4 Os Decretos n.º 34.035 e 34.036, de 22 de outubro de 1991
Em 22 de outubro de 1991, o governador do Estado Luiz Antonio Fleury Filho
baixou o Decreto n.º 34.035, instituindo o Projeto Educacional Escola-Padrão.
O parágrafo 2º do artigo 2º desse decreto determina que “o Corpo Docente será
composto por integrantes da série de classes de docentes de que trata o inciso I, do artigo 5º
da Lei Complementar n.º 444, de 27 de dezembro de 1985, isto é, os docentes serão
considerados: Professor I, aquele que atua no ensino de grau, de 1ª a 4ª série e na pré-
escola, Professor II, o que atua no ensino de 1º grau e Professor III, o que atua no ensino de 1º
e 2º grau.
A carga horária do docente da Escola-Padrão era composta de horas-aula,
destinadas ao cumprimento dos conteúdos obrigatórios, horas-aula, destinadas ao
desenvolvimento de atividades de enriquecimento curricular, e de horas-atividade.
O Decreto n.º 34.036 (p. 43-44), também de 22 de outubro de 1991, diss sobre a
Jornada de Trabalho Docente em Escola-Padrão” e o seu artigo 2º regulamentou a carga
horária semanal do Professor I, aquele que atuava de 1ª a 4ª série do Ensino Fundamental com
duas possibilidades:
I-
44 (quarenta e quatro) horas, sendo 40 (quarenta) horas referentes à
Jornada Integral de Trabalho Docente, e mais 4 (quatro) horas de carga
suplementar, assim distribuídas:
a)
30 (trinta) horas-aula em sala de aula;
b)
5 (cinco) horas em atividades pedagógicas na escola;
c)
9 (nove) horas-atividade em local de livre escolha do docente ou.
94
II-
40 (quarenta) horas referentes à Jornada Integral de Trabalho Docente,
distribuídas na seguinte conformidade:
a)
26 (vinte e seis) horas-aula em sala de aula;
b)
6 (seis) horas em atividades pedagógicas na escola;
c)
8 (oito) horas-atividade em local de livre escolha do docente.
O que está disposto no Inciso II acima era uma alternativa que poderia acontecer
se o Conselho de Escola optasse por essa carga horária, pois para que o professor regente da
classe pudesse ficar só com 26 horas-aula em sala de aula, a escola teria que contar com
professores de Educação Física e de Educação Arstica disponíveis para ministrar as quatro
aulas dessas respectivas disciplinas. Caso contrário, seria o próprio professor (regente da
classe) que ministraria tais disciplinas que contariam como carga complementar e as receberia
como carga suplementar.
A Lei Complementar n.º 671, de 20 de dezembro de 1991 e a Resolução SE n.º 2,
de 13 de janeiro de 1993 instituíram a Dedicação Plena e Exclusiva a integrantes do Quadro
do Magistério que trabalhassem em Escolas-Padrão.
Os docentes e especialistas que formalizassem o pedido, enviando requerimento
ao Delegado de Ensino e declarando que, enquanto estivessem no Regime de Dedicação Plena
e Exclusiva não desempenhariam outro tipo de trabalho (artigo 5º da Resolução SE n.º 02/93),
receberiam uma gratificação de 30% do valor padrão em que estivesse enquadrado o seu
cargo (artigo 4º da Lei Complementar n.º 671/91).
3.5 A lei complementar n.º 836, de 30 de dezembro de 1997
Em julho de 1997, foi instituído, no Sistema de Ensino do Estado de São Paulo, o
regime de Progressão Continuada. Esse regime “desserioutodo o ensino fundamental e
introduziu os Ciclos I e II com quatro anos cada.
No texto de apresentação do Plano de Carreira, Vencimentos e Salários dos
Integrantes do Quadro do Magistério, a Secretária da Educação, Rose Neubauer (1998)
declarou que a reorganização das escolas, a ampliação do tempo de permanência dos alunos
nas escolas, de quatro para cinco horas diárias, e a presença do professor coordenador, entre
outras medidas que a Secretaria já havia adotado, justificavam as transformões pelas quais
as escolas estaduais paulistas estavam passando:
Mas nada disso redundaria em sucesso sem a parceria efetiva e
comprometida do profissional do magistério. Na verdade, toda política
educacional voltada à melhoria da qualidade do ensino dependerá,
seguramente, do concurso desse profissional, protagonista insubstituível em
qualquer projeto de intervenção educacional. Com esse entendimento, o
95
governo estadual não se descuidou do pessoal do magistério, oferecendo-lhe
amplo programa de capacitação profissional em serviço, melhores salários e,
mais importante, um novo plano de carreira. (NEUBAUER, 1998, p. 7).
O Plano de Carreira, Vencimentos e Salários para os Integrantes do Quadro do
Magistério foi instituído pela Lei Complementar n.º 836 de 30 de dezembro de 1997 e
produziu efeito a partir de 1º de fevereiro de 1998.
Esta Lei Complementar aplica-se aos profissionais que exercem atividades
de docência e aos que oferecem suporte pedagógico direto a tais atividades,
aos quais cabem as atribuições de ministrar, planejar, inspecionar,
supervisionar, orientar e administrar a educão básica.
(SÃO PAULO, 1998)
Alguns termos nessa Lei Complementar precisam ser esclarecidos:
1-
Cargo do Magistério: são todas as atribuições e responsabilidades conferidas ao
profissional do magistério;
2-
Classe: são os cargos e funções-atividades de mesma natureza;
3-
Carreira do Magistério: o conjunto de cargos de provimento efetivo do Quadro do
Magistério;
4-
Quadro do Magistério: são os cargos e funções-atividades de professores e profissionais
que oferecem suporte pedagógico da Secretaria da Educação.
O Quadro do Magistério (QM), no Estado de São Paulo, é composto por duas
classes, a dos docentes e a de suporte pedagógico. A classe dos docentes se divide em
Professor de Educação Básica I (PEB I) que leciona no Ciclo I do Ensino Fundamental (1ª a
4ª séries) e Professor de Educação Básica II (PEB II) que leciona no Ciclo II do Ensino
Fundamental (5ª a 8ª séries) e nas três séries do Ensino Médio.
A classe de suporte pedagógico é composta pelo Diretor de Escola, pelo
Supervisor de Ensino e pelo Dirigente Regional de Ensino.
Professor Coordenador e Vice-Diretor não são considerados cargos, mas são
denominados oficialmente “postos
14
, então, temos o posto de Coordenador Pedagógico e o
posto de Vice-Diretor. A existência desses postos, nas unidades escolares, dependerá do
tamanho da escola, isto é, do número de salas de aula e conseentemente do número de
alunos.
Entre outras regulamentões, o artigo 10 do Plano de Carreira de 1997 propôs
novas jornadas semanais de trabalho docente constituídas de “horas em atividade com os
14
Não há concurso público para assumir os postos de Coordenador Pedagógico e Vice-Diretor.
96
alunos, de horas de trabalho pedagógico na escola e de horas de trabalho pedagógico em local
de livre escolha”. (SÃO PAULO, 1998).
Ainda de acordo com a Lei Complementar n.º 836/97, as jornadas de trabalho
podem ser:
1-
Jornada Básica de Trabalho Docente: 30 horas
-
25 horas em atividades com alunos.
-
5 horas de Trabalho Pedagógico, sendo 2 na escola ( Horário de Trabalho Pedagógico
Coletivo – HTPC) e 3 em qualquer outro local.
2-
Jornada Inicial de Trabalho Docente: 24 horas
-
20 horas em atividades com alunos.
-
4 horas de Trabalho Pedagógico, sendo 2 na escola (HTPC) e 2 em local de livre escolha.
No Estado de São Paulo, o Ciclo I do Ensino Fundamental, organizado em regime
de Progressão Continuada, a partir de 1997, corresponde ao antigo Ciclo Básico de dois anos
e às 3ª e 4ª séries do Ensino de 1º grau.
O docente que leciona no Ciclo I se enquadra na Jornada Básica de Trabalho
Docente. Trabalha 25 horas em atividades com os alunos, 2 horas na escola, em Horário de
Trabalho Pedagógico Coletivo (HTPC) e 3 horas em qualquer outro local, também em horário
de Trabalho Pedagógico.
Esse docente não pode assumir mais de uma sala de Ciclo I, mas pode atuar ao
mesmo tempo em aulas de reforço ou, se tiver habilitação, administrar aulas no Ciclo II do
Ensino Fundamental ou nas classes de Ensino Médio, completando com aulas suplementares a
sua jornada de trabalho.
Os docentes que se enquadram nas Jornadas Inicial ou Básica podem exercer
carga suplementar de trabalho (Artigo 15, Lei Complementar n.º 836/97) e essa carga
suplementar corresponde ao número de horas trabalhadas pelo docente, além daquelas fixadas
para a sua jornada. (Artigo 16, Lei Complementar n.º 836/97).
As horas que correspondem à carga suplementar também são constituídas em
atividades com os alunos, em horas de trabalho pedagógico na escola e em horas de trabalho
pedagógico em local de livre escolha pelo docente, mas a carga suplementar não poderá
ultrapassar o limite de 40 horas semanais.
Se um professor leciona no Ciclo I, por exemplo, ele tem uma carga horária de 25
horas-aula mais 5 horas de trabalho pedagógico. Somente poderá completar a sua jornada
semanal com até 8 horas-aula (de reforço, no Ciclo II ou no Ensino Médio) e serão acrescidas
2 horas de trabalho pedagógico.
97
4 - Conclusões Parciais
A carga horária de trabalho dos professores que atuam nas primeiras séries do
ensino fundamental é um aspecto importante a ser considerado, pois essa carga horária é uma
condição para o desenvolvimento do trabalho dos docentes.
No Estado de São Paulo, as cargas horárias dos professores sofreram alterões
nas décadas de 1980 e 1990 de acordo com as reformas educacionais.
Sintetizamos no quadro a seguir as legislões que normatizaram as jornadas de
trabalho dos docentes do Estado de São Paulo.
98
QUADRO 2 - JORNADAS DE TRABALHO DOCENTE ESTADO DE SÃO PAULO
Analisando o quadro percebemos que:
-As jornadas de trabalho dos Professores de 1ª a 4ª séries do grau (PI), nas
legislões de 1978/1979 e de 1985/1986, são semelhantes quanto à organização em horas-
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aula (atividades com os alunos) e em horas-atividade (realizadas em local de livre escolha dos
docentes); nas diferentes Jornadas de Trabalho, os professores não tinham que cumprir horas-
atividade na escola, somente em local de livre escolha e as duas legislões também
ofereciam ao PI a oportunidade de trabalhar com uma só classe (Jornada Parcial) ou com duas
classes (Jornada Integral).
-A legislação de 1985/1986 diminuiu a carga horária das horas-aula (atividades
com os alunos) e aumentou as horas-atividade (atividades em local de livre escolha) em todas
as jornadas de Trabalho Docente, sem alterar as cargas horárias semanais.
-A legislação de 1988 – Jornada Única atendeu à implantação do Ciclo Básico
que vinha acontecendo desde 1984. O Professor I atuava somente numa classe de Ciclo
Básico e teve a carga horária com os alunos diminuída (26 horas-aula) e uma quantia de horas
para desenvolver o trabalho pedagógico, bem significativa (14 horas). A novidade foi a
possibilidade de trabalhar 6 horas-aula na escola com o professor coordenador.
Mas essa jornada, que possibilitou ao professor desenvolver o trabalho somente
com uma classe e ainda contar com horas para estudos, discussões sobre o Ciclo Básico, entre
outras atividades, só se aplicava para as duas séries iniciais do ensino de 1º grau (Ciclo
Básico) e não para as outras séries (3ª e 4ª).
-As jornadas de trabalho, possíveis aos professores de 1ª a 4ª séries do 1º grau
(PI), normatizadas pelas legislações de 1991, apresentam semelhanças com a legislação de
1988 (Jornada Única). O Professor I trabalhava somente numa classe de CB ou de 3ª e 4ª
séries e contava com 14 horas-atividade que eram realizadas na escola e em local de livre
escolha.
No entanto, essas condições não foram oferecidas para todas as escolas, pois essas
jornadas só aconteceram para os docentes que lecionavam em escolas favorecidas pelo
Projeto Escola-Padrão.
-A jornada de trabalho instituída pelo Plano de Carreira (1997), em vigor, reduziu
a carga horária das atividades que o Professor de Educação Básica I (PEB I) desenvolve com
os alunos do Ciclo I do Ensino Fundamental. Também reduziu as horas de trabalho
pedagógico a serem cumpridas na escola e em local de livre escolha, mas igualou a jornada de
trabalho docente para todo o Ciclo I. O professor do Ciclo I trabalha somente com uma turma
(30 horas semanais), mas pode chegar a uma carga de 40 horas semanais, lecionando para
turmas de reforço ou, se graduado, em classes de Ciclo II e Ensino Médio. É a carga
suplementar de 8 horas-aula mais 2 horas de trabalho pedagógico.
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-Observando e comparando as jornadas de trabalho dos docentes que atuavam no
sistema seriado (1ª a 4ª séries do 1º grau) 1978/1979 e 1985/1986 com a jornada do professor
do Ciclo I (Ensino Fundamental) 1997, verificamos que as horas em atividades com os alunos
e em atividades pedagógicas não tiveram uma alteração significativa diante das exigências
que a prática pedagógica em ciclos de aprendizagem requer.
Na hitese de um professor lecionar somente para uma turma de Ciclo I, terá ele
uma carga horária semanal de 25 horas ministrando aulas para as crianças; 2 horas de trabalho
pedagógico na escola que “deverão ser utilizadas para reuniões e outras atividades
pedagógicas e de estudo, de caráter coletivo, organizados pelo estabelecimento de ensino,
bem como para atendimento a pais de alunos(artigo 13 da Lei Complementar n.º 836/97) e 3
horas de trabalho pedagico em local de livre escolha pelo docente que “destinam-se à
preparação de aulas e à avaliação de trabalhos dos alunos(parágrafo único, artigo 13 da Lei
Complementar n.º 836/97.
Nos anos de 1978/ 1979 e 1985/ 1986, o sistema de ensino do Estado de São
Paulo estava organizado em séries anuais, exceto as duas primeiras séries do 1º grau, que
havia, desde 1984, sido organizadas em um ciclo de dois anos (Ciclo Básico).
As cargas horárias Jornada Única(1988) e as do Projeto Escola Padrão
(1991) apresentavam uma quantidade de horas de trabalho pedagógico (na escola e em local
de livre escolha) superiores, quando comparadas com as horas-atividade dos anos de 1978/
1979 e 1985/ 1986. O total de 14 horas-aula semanais que o professor dispunha para preparar
aulas, corrigir trabalhos dos alunos, atender alunos com dificuldades de aprendizagem e
atender os pais, entre outras atividades, oferecia condições mais favoráveis para o
desenvolvimento do seu trabalho.
Uma das reformas educacionais que a Secretaria de Estado da Educação de São
Paulo implantou, na década de 1990, em sua rede de ensino, foi o regime de Progressão
Continuada e a instituição dos Ciclos I e II no Ensino Fundamental.
O sistema de ciclos exige dos professores um trabalho diferenciado, pois espo,
tempo, currículo e avaliação escolares, entre outros aspectos, devem ser reestruturados.
Entretanto, as horas de trabalho pedagógico da jornada de trabalho do professor
que leciona para o Ciclo I do Ensino Fundamental, a partir de 1997, foram diminuídas, se
comparadas com as horas da “Jornada Única” (1988) e com as horas das Escolas-Padrão
(1991). Os dirigentes da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo entenderam que a
rede de ensino não poderia manter, num mesmo sistema de ensino, escolas com padrões
101
diferentes, uma vez que o Projeto Escola Padrão não se estendeu a todo o Estado. Assim, a
partir de 1995, todas as unidades escolares tornaram-se iguais quanto à sua organziação.
O professor passou a contar com cinco horas semanais de trabalho pedagógico (na
escola e em local de livre escolha) para realizar, entre outras atividades: prepararação de
aulas, correção de trabalhos dos alunos, atendimento aos pais, discussão com os colegas sobre
a prática pedagógica e organização de projetos interdisciplinares.
Diante do exposto, fica a dúvida, se a política da Secretaria de Estado da
Educação teve a intenção de promover uma verdadeira organização do ensino em ciclos, ou se
apenas pretendeu promover a promoção automática disfarçada sob o regime de Progressão
Continuada.
Como afirmava Antonio Ferreira de Almeida Júnior em 1956, é preciso antes de
se proclamar a promoção automática no Brasil, preparar o espírito dos professores para a
adesão e criar condições nas escolas para que não haja prejuízo para os alunos.
15
A quantidade de horas de trabalho pedagógico (coletivo ou em local de livre
escolha), determinada pela Lei complementar n.º 836/97, deveria ser maior, pois sendo parte
do processo de trabalho docente se constitui no tempo de preparão para a atividade
principal que é a aula, mas o aspecto econômico foi priorizado em detrimento do pedagógico.
15
Esta preocupação de Almeida Júnior foi exposta na Conferência proferida em 1956 Repetência ou Promoção
Automática” In: Série Estudos e Normas, CEE, São Paulo 2002, n.º 7, p. 72.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao encerrarmos este trabalho, partimos da compreensão de que todo conhecimento
é dinâmico, inacabado e que deve ser considerado uma atividade social. Por isso, nos
sentimos unidos aos pesquisadores que nos serviram com suas pesquisas e àqueles que
poderão fazer uso deste trabalho para aprofundar o tema que desenvolvemos.
Procuramos estudar, por meio da história da educação, as tentativas de
implantação do sistema de ciclos nas escolas estaduais de São Paulo e fazer a relação com a
jornada de trabalho dos docentes do Ciclo I do Ensino Fundamental.
Também buscamos observar os contextos políticos e as reformas educacionais do
Estado de São Paulo, nas décadas de 1980 e 1990, para compreendermos melhor a política
dos ciclos de aprendizagem da Secretaria da Educação e o trabalho do professor neste tipo de
organização escolar.
Contextualizando o nosso objeto de estudo e trazendo a nossa interpretação para a
realidade que estudamos, nos deparamos com a questão administrativa da área educacional.
Mais que propor reformas pedagógicas, a preocupação maior dos administradores
responsáveis pela educação estadual sempre foi com reformas administrativas e com o
gerenciamento da educão pública.
Como podemos verificar, o resgate da história do ensino primário do Estado de
São Paulo (Capítulo I) demonstrou que algumas das reformas implantadas no sistema escolar
paulista, as a Proclamação da República (1889), se voltaram para uma organização do
sistema de ensino que reduzisse os custos da educação, inclusive, por meio da não reprovão
dos alunos.
Os grupos escolares paulistas foram construídos a partir de 1894, segundo a
concepção racional de organização, pois uma sala de aula era composta por um certo número
de alunos de mesma idade que estudavam um mesmo conteúdo e que pertenciam a uma série
específica, originando assim, o sistema de ensino graduado, isto é, dividido em séries anuais.
A escola foi estruturada segundo o princípio da homogeneidade, ou seja,
considerando a possibilidade de todos os alunos aprenderem ao mesmo tempo.
A pretensão de diminuir os índices de reprovação e, conseentemente, os gastos
com a educação no Estado de São Paulo não é recente. Com exceção das décadas de 1930 e
1940, podemos afirmar que, das décadas de 1920 a 1990, existiram projetos de educadores
preocupados com os índices de reprovação e com os gastos gerados por esta realidade. Esses
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projetos implicavam a introdução de ciclos de aprendizagem e com eles o fim da reprovação.
No entanto, os idealizadores dos primeiros projetos de organização do ensino em ciclos
alertavam para a necessidade de mudanças estruturais no sistema de ensino.
As medidas implantadas na política educacional do Estado de São Paulo, nas
décadas de 1980 e 1990, apresentadas nos Capítulos II e III, evidenciaram a preocupação com
reformas em nível administrativo.
O período de 1983 a 1994 foi marcado pela descontinuidade na administração da
educação do Estado, devido à passagem de nove secretários pela Secretaria da Educação.
As reformas educacionais de 1995 a 2001 tiveram como uma de suas metas a
implantação de novos mecanismos de gerenciamento da Secretaria.
Durante o período em que Mário Covas governou o Estado de São Paulo, a
professora doutora Rose Neubauer esteve à frente da Secretaria da Educação do Estado por
aproximadamente sete anos. A política educacional, adotada por esta Secretária de Educação,
voltou-se para o enxugamento da máquina administrativa e teve, como discurso, a qualidade
do ensino, para atingir a diminuição dos gastos com educação. Basta observarmos os três
eixos da nova potica educacional: Racionalizão Organizacional, Mudanças nos Padrões de
Gestão e Melhoria da Qualidade do Ensino.
Comparando a implantação do Ciclo Básico, nas duas primeiras séries do 1º grau
(1983), com a instituição da Progressão Continuada no Ensino Fundamental (1997), podemos
inferir que ambas objetivaram a diminuição ou erradicação dos índices de reprovação.
A preocupação com a redução dos gastos públicos também fica aparente quando se
propôs para os professores que atuavam no Ciclo Básico uma jornada semanal de trabalho
condizente com o trabalho em ciclo de aprendizagem. Esta, entretanto, não teve continuidade
com a instituição da Progressão Continuada, visto que houve redução do tempo destinado ao
preparo da aula e para as atividades depois das aulas.
A orientação da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo feita às escolas,
sobre a organização do ensino na rede estadual a partir de 1998, e que abordamos no Capítulo
IV, nos permite afirmar que os administradores nunca se preocuparam em montar uma
estrutura para o sistema educacional que possibilitasse o verdadeiro trabalho em ciclos
plurianuais.
A estrutura do ensino, assumida pela Secretaria da Educação, é seriada, anual e
organizada segundo a concepção da homogeneidade. O regime (forma de organização
escolar) da Progressão Continuada também é declarado como a forma de evoluir nas séries,
sem a reprovação.
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Diante disso, é possível afirmar que os responsáveis pela política educacional,
mais uma vez, promoveram uma reforma administrativa para resolver a questão dos altos
índices de reprovação e dos gastos gerados pela reprovação. Essa reforma foi idealizada por
meio de resoluções, atos eminentemente administrativos, não tendo sido discutida pelos
deputados estaduais, que são os representantes legais da população, na Assembléia Legislativa
do Estado de São Paulo.
Dos autores lidos e das legislações analisadas para a realização dos estudos sobre a
relação entre ciclos de aprendizagem e jornada de trabalho docente no Estado de São Paulo,
verificamos que faltou coerência à Secretaria da Educação, pois ao mesmo tempo em que
reconhecia a necessidade do planejamento das aulas e do trabalho posterior às aulas, o plano
de carreira implantado não oferece uma carga horária que atenda às reais condições de
trabalho em sistema de ciclos.
Entendemos que num sistema de ensino organizado em ciclos é preciso levar em
conta os tempos de aprendizagem dos alunos, isto é, oferecer aos educandos mais tempo para
a sua formação.
Os agrupamentos de alunos precisam de objetivos claros para serem atingidos em
longo prazo e o grupo de professores que atuam nestes agrupamentos discute diariamente, na
escola, o planejamento, a execução e a avaliação de ações pedagógicas voltadas para a
aprendizagem dos alunos.
O trabalho do professor num sistema de ensino ciclado ultrapassa os limites da sala
de aula, pois, em equipe, é possível encontrar possíveis soluções para algumas questões, por
exemplo, a qualidade do ensino.
Como evidenciamos no Capítulo V, para os dirigentes da Secretaria da Educação,
não seria necessário oferecer aos docentes uma jornada semanal de trabalho que considerasse
as necessidades do trabalho pedagógico que os ciclos de aprendizagem requerem, uma vez
que o seu interesse se dirigia à racionalização dos custos e à diminuição dos índices de
reprovação. A melhoria da qualidade do ensino não esteve, ao que tudo indica, entre as
preocupações dos responsáveis pela política educacional paulista.
A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo não demonstrou a intenção de
eliminar a organização seriada do sistema de ensino público, pois esta é a experiência que se
tem desde a implantação dos grupos escolares no final do século XIX.
Diante do exposto, verificamos que o Ensino Fundamental, no Estado de São
Paulo, não tem um sistema de ensino organizado em ciclos, mas sim um sistema de ensino
seriado, no qual não há reprovação ao longo de quatro séries, sejam as iniciais (1ª a 4ª) ou
105
finais (5ª a 8ª). A não reprovaçãose legitima, em nível do discurso, pelo regime da
Progressão Continuada.
Na verdade há um problema estrutural, isto é, a escola prevalece como uma
instituição burocrática que organiza o sistema de ensino de modo seriado e anual.
Aparentemente a discussão sobre a jornada de trabalho do professor não caminhou
juntamente com a discussão de reformas necessárias no âmbito pedagógico que o sistema de
ciclos exige, não havendo dessa forma, relação entre os ciclos de aprendizagem e a jornada
semanal de trabalho dos professores.
Não é nossa pretensão dar por esgotado o assunto pesquisado, mas esperamos
contribuir para que outras investigações sobre a organização do ensino em ciclos e a jornada
de trabalho docente do Estado de São Paulo venham a ser realizadas.
106
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