E neste sentido, a capacidade que os assistentes sociais possuem de
dar respostas às demandas existentes é atravessada pelo o que Netto qualifica
como “sincretismo”
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, que consiste:
[...] fio condutor da afirmação e do desenvolvimento do Serviço Social
como profissão, seu núcleo organizativo e sua norma de atuação.
Expressa-se em todas as manifestações da prática profissional e revela-se
em todas as intervenções do agente profissional como tal. O sincretismo foi
um princípio constitutivo do Serviço Social. (1996, p. 88)
protoformas] por outro, as lacunas desse sistema, expresso na ausência de uma teoria própria
[impedindo-o de se afirmar como ciência], concorresse diretamente [ao lado de se constituir enquanto
uma profissão eminentemente feminina] para sua subalternidade se comparada às demais profissões.
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Em tese apresentada por Iamamoto (2005, p.47), a autora faz uma vigorosa crítica aos
argumentos apresentados por Netto (1996) quanto à existência do sincretismo como categoria
constituinte da natureza do Serviço Social. Conforme Iamamoto, Netto (1996) atribui ao sincretismo a
presença de uma “prática indiferenciada”, engendrando para a profissão uma série de especificidades
e desdobramentos. Conforme Iamamoto, o fato de Netto situar sua análise a partir da “carência do
referencial crítico-dialético”, “...condiciona toda a análise da profissão enfeixada na problemática da
‘reificação’,terreno em que os processos sociais se mostram na sua fenomenalidade, o que justifica o
sincretismo, enquanto princípio constitutivo da natureza da profissão[...]” Para Iamamoto, esta
análise é equivocada em função dos seguintes aspectos: em primeiro lugar, ao tratar a profissão no
âmbito da reificação, o autor “[...]denuncia a mistificação, mas não elucida a natureza sócio-histórica
dessa especialização do trabalho para além do universo alienado, em que se realiza e se mostra
encoberta no sincretismo. Em outros termos, o esforço de desvendamento, ainda que essencial,
torna-se parcial e inconcluso.”(Id.,Ibid.,p. 49) Em segundo lugar, ao tratar a vida cotidiana, solo sobre
o qual se desenvolve a ação profissional, a partir das relações reificadas e reificantes da ordem
burguesa, Netto, conforme Iamamoto, secundariza a luta de classes, as contradições presentes na
vida cotidiana e a possibilidade da presença de contratendências. Segundo Iamamoto para Netto:
“[...]a ruptura da positividade, ‘como o padrão geral de emergência do ser social na sociedade
burguesa constituída’ implicaria a ‘introdução, na sociedade burguesa constituída, de uma outra
racionalidade comportamental, que ela não pode tolerar.’ [...] Com isto, o círculo da análise se fecha,
alimentando o fatalismo, pois não permite vislumbrar nem a presença dos movimentos
revolucionários na história e nem o horizonte de ruptura da positividade, em uma análise aprisionada
num ‘pessimismo da razão’, que não dá lugar ao ‘otimismo da vontade política’[...]” (p.52).Em terceiro
lugar, conforme Iamamoto, Netto ainda que reconheça a ruptura evidenciada entre as protoformas da
profissão e o Serviço Social, aponta o veio da continuidade entre a intervenção realizada na
emergência da profissão e aquela desenvolvida no campo da profissionalidade aberta a partir do
corte com a filantropia, atribuindo, por conseguinte, o caráter indiferenciado da prática profissional a
partir da “manipulação das variáveis empíricas”. Assim, segundo Iamamoto: “[...]a profissionalização
distinguir-se-ia das práticas filantrópicas apenas pelas ‘sanção social e institucional’, sem redundar
em qualquer diferenciação na forma de operar, ainda que produzindo efeitos sociais diversos: sua
especificidade mostrar-se-ia como inespecificidade operatória [...]. (p. 56). E neste sentido, Iamamoto
questiona – “qual a especificidade da profissionalização, que se mostra, na fenomenalidade, como
inespecificidade operatória? O leitor fica sem resposta. Trata-se, de fato, de uma aparência ou essa é
a tese efetivamente sustentada quanto à particularidade profissional [...] já que não consta, no texto,
qualquer outra tese para confrontá-la? A especificidade da prática do assistente social é sua
inespecificidade operatória?” (p. 56).