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escola, não gostam da forma como a escola pede para escrever e para ler. Mas descobrimos
que eles eram leitores e escritores.
Isto foi uma surpresa para mim. Eu estava meio desligada disto e embora fosse internauta,
usuária de e-mails, de sites de busca etc, nunca me passou pela cabeça que os adolescentes
estivessem utilizando tanto a internet para a leitura e escrita. Eu via mais como jogos etc.
Então, foi uma surpresa para mim. Aí comecei a fazer esta pesquisa para começar a penetrar
nisto e ver o que eles escreviam e liam. Eu já fui procurando encontrar que leitura e escrita
eram essas. Aí encontrei uma leitura lúdica, prazerosa, uma leitura que ao mesmo tempo é
escrita, com o objetivo mesmo de comunicação e de interação.
FOLHA DIRIGIDA — Existe o "internetês", ou seja, uma linguagem própria da internet?
Maria Teresa — Existe. Não é que ela seja própria da internet, como você estava falando que
as "tribos" são muitas e as linguagens são muitas, o meio da internet também é múltiplo. Por
exemplo, se você acessa um site de literatuta, vai encontrar textos literários, poesia. E se
acessar um site científico, vai encontar textos científicos, até o adolescente quando vai fazer
uma pesquisa escolar, ele vai encontrar um conteúdo dentro de uma outra linguagem.
Quando você está falando do internetês, ele existe onde? Nas salas de bate-papo, nos e-mails
dos adolescentes. E o internetês existe na sala de bate-papo como uma linguagem criada pelos
adolescentes, por aqueles usuários, para usar neste meio, porque ela é própria do meio, e por
quê? Você tem que escrever rápido, porque você está escrevendo com um interlocutor em
tempo real. E se você demorar a escrever, o interlocutor vai embora. Então você tem que
escrever rápido, para que ele responda logo. Outra, é que você está economizando os minutos
e os pulsos, o tempo gasto ali.
FOLHA DIRIGIDA — Trata-se, na verdade, de uma conversa.
Maria Teresa — O mais interessante é isto. O que acontece nos bate-papos não é uma escrita,
mas uma conversa. Só que a conversa é escrita, então há uma mistura de oralidade e de
escrita. E nossa escrita não é uma transcrição da oralidade. Ali o que vemos é uma escrita que
é a oralidade materializada. E se torna uma escrita criativa, cheia de abreviações, muitas vezes
sem uso de acentos, e que precisa mostrar o estado de ânimo dos interlocutores, se estão
alegres, tristes, se falam alto, se riem. Para isso, os adolescentes usam símbolos, que são as
chamadas carcteretas, ou emotions, ou mesmo sinais do próprio teclado, quando dois
parêntesis com dois pontos formam um rosto, um sorriso, dois colchetes simulam um abraço
etc. É muito criativa esta conversa escrita, teclada, mas este "internetês" é visto com muito
preconceito pela escola, pelos professores, pelos pais.
FOLHA DIRIGIDA — O "internetês" não compromete, ou mesmo prejudica a boa escrita e o
aprendizado do português?
Maria Teresa — Eu acho que não. Esta preocupação está muito mais na cabeça dos
professores, dos pais, que não conhecem muito bem o processo das salas de bate-papo. As
pessoas acham que aquilo é uma escrita errada, mas esquecem que é uma fala. E isso não é
novo. Outras gerações, antes da internet, tinham códigos para as pessoas não entenderem, e
isso nunca atrapalhou a forma de escrever. Quando chegamos à faculdade e encontramos
professores que falam muito rápido e queremos anotar, o que fazemos? Anotamos criando
formas abreviadas. E isto não atrapalha a nossa forma de ler e escrever.
E vejo muito que com a preocupação que a escola tem, tão exagerada com a forma, ela
esquece de trabalhar com a interação verbal da língua viva, esta língua viva que está existindo
nas salas de bate-papo. E a língua é tão viva que estou conversando com você e utilizando o
você, que no entanto é uma abreviatura de vossa mercê. Isso mostra a dinamicidade da língua.
A língua existe a partir da fala.