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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
JOÉDE BRAGA DE ALMEIDA
O SAGRADO E O PROFANO:
CONSTRUÇÃO E DESCONSTRUÇÃO DOS
USOS E COSTUMES NAS ASSEMBLÉIAS DE DEUS NO BRASIL
SÃO PAULO
2007
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JOÉDE BRAGA DE ALMEIDA
O SAGRADO E O PROFANO
CONSTRUÇÃO E DESCONSTRUÇÃO DOS
USOS E COSTUMES NAS ASSEMBLÉIAS DE DEUS NO BRASIL
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Ciências da Religião da Universidade
Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial à
obtenção do título de Mestre em Ciências da Religião.
Orientador: Prof. Dr. Paulo Rodrigues Romeiro
SÃO PAULO
2007
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A447 Almeida, Joede Braga de
O sagrado e o profano: construção e desconstrução dos usos e costumes nas Assembléias
de Deus no Brasil. / Joede Braga de Almeida - 2007.
119 f. ; 30 cm.
Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) – Universidade Presbiteriana
Mackenzie, 2007.
Bibliografia: 114-119
1. Pentecostalismo 2. Usos e costumes 3. Assembléia de Deus I. Título
LC BR1644
4
JOÉDE BRAGA DE ALMEIDA
O SAGRADO E O PROFANO:
CONSTRUÇÃO E DESCONSTRUÇÃO DOS USOS E COSTUMES NAS
ASSEMBLÉIAS DE DEUS NO BRASIL
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Ciências da Religião da Universidade
Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial à
obtenção do título de Mestre em Ciências da
Religião.
Orientador: Prof. Dr. Paulo Rodrigues Romeiro
Aprovado em de de 2008.
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________________________________
Prof. Dr. Paulo Rodrigues Romeiro – Orientador
Universidade Presbiteriana Mackenzie
_____________________________________________________________________
Prof. Dr. Antonio Maspoli de Araújo Gomes
Universidade Presbiteriana Mackenzie
_____________________________________________________________________
Prof. Dr. Douglas Nassif Cardoso
Universidade Metodista de São Paulo
5
AGRADECIMENTOS
A Deus, meu Criador.
A Jesus Cristo, meu fiel amigo.
À minha esposa, pelo constante apoio.
Aos meus filhos, pelo incentivo.
Aos meus seletos amigos que me induziram a continuar.
Ao Prof. Dr. Paulo Romeiro, incansável conselheiro.
À minha mãe e aos meus irmãos, sobrinhos e netos.
6
RESUMO
O presente trabalho aborda o estilo de vida e os hábitos construídos e desenvolvidos pelos
líderes das Assembléias de Deus no Brasil e impostos sobre os seus membros ao longo dos
anos. Os chamados usos e costumes foram criados e introduzidos na comunidade para separá-
la do mundo e ajudar o crente no processo de santificação. As regras, apesar de muito
rigorosas nas primeiras cadas do século 20, foram passando por um processo de
flexibilização devido ao desenvolvimento industrial e tecnológico e às transformações sociais
ocorridas no Brasil nas últimas décadas. As proibições com relação à forma de se vestir,
esportes, o uso da televisão, cinema, danças e várias práticas de diversão ainda causam tensão
entre os líderes mais antigos e os mais novos nas Assembléias de Deus brasileiras. Além
disso, o texto apresenta as raízes históricas do movimento pentecostal moderno, sua inserção
no Brasil, o nascimento e crescimento das Assembléias de Deus no contexto brasileiro, suas
principais personagens, os mecanismos e documentos que demonstram a criação e o esforço
feito para proteger os seus seguidores das influências mundanas ao seu redor. Da mesma
forma, estudam-se ainda temas que desafiam as Assembléias de Deus na pós-modernidade,
principalmente questões relacionadas com a bioética.
Palavras-chave: Pentecostalismo. Usos e costumes. Assembléias de Deus. Doutrinas.
7
ABSTRACT
This work deals with the lifestyle and the habits built and developed by the leaders of the
Assemblies of God in Brazil and imposed upon its members over the years called uses and
customs. Such practices were created and introduced in the community to separate it from the
world and to help the believer in the process of sanctification. Very stringent in the early
decades of the Twentieth century, these rules went through a process of relaxation due to
industrial development and technological and social changes occurring in Brazil in the last
decades. The prohibitions with respect to how to dress, sports, the use of television, movies,
dances and various practices of entertainment still cause tension between the old and the new
leaders of the Brazilian Assemblies of God. This work presents the historical roots of the
modern Pentecostal movement, its insertion in Brazil, the birth and growth of the Assemblies
of God in Brazil. It studies its main characters, the mechanisms and documents that show the
creation and the effort to protect its followers from the worldly influences around him. This
work also addresses the issues that challenge the Assemblies of God in the post-modernity,
especially those related to bioethics.
Keywords: Pentecostalism. Uses and customs. Assemblies of God. Doctrines.
8
SUMÁRIO
1. Introdução 11
2. Capítulo 1: As raízes históricas das Assembléias de Deus no Brasil 14
2.1. Os primórdios do pentecostalismo 14
2.2. O montanismo 17
2.3. Os movimentos monásticos 18
2.4. Joaquim di Fiori 20
2.5. Influências carismáticas 21
2.6. O pietismo 23
2.7. O metodismo 24
2.8. Desdobramentos modernos do pentecostalismo 25
2.8.1. Charles Parham, William Seymour e Rua Azuza 312 25
2.9. A inserção do pentecostalismo no Brasil 29
2.10. As origens das assembléias de Deus no Brasil 30
2.10.1. Daniel Berg e Gunnar Vingren 33
2.11. A expansão na primeira metade do século XX 35
2.11.1. As primeiras congregações 37
2.11.2. Quadro de crescimento 38
2.12. Crescimento e uniformidade doutrinária 43
2.12.1. Igreja local e regional 43
2.12.2. CPAD – Casa Publicadora das Assembléias de Deus 43
2.12.3. CGADB – Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil 44
2.12.4. O trabalho feminino na igreja 45
3. Capítulo 2. A construção dos usos e costumes nas Assembléias de Deus 46
9
3.1. Conhecendo os novos amigos 48
3.2. Organizando a comunidade assembleiana 49
3.3. A prática diária do pentecostalismo 50
3.4. Costumes adquiridos dos suecos (sobreviventes ou não) 52
3.5. O desenvolvimento da moda no século XX 53
3.6. A inserção dos usos e costumes como dogma 57
3.7. Aprendendo com os irmãos 58
3.8. Presença feminina no púlpito 58
3.9. O “Edifício” usos e costumes na tradição assembleiana 59
3.10. A Resolução de Santo André 60
3.11. Os pioneiros e a implantação dos usos e costumes 65
3.11.1. Outros brasileiros e estrangeiros que influenciaram na construção 66
3.11.2. O trabalho dos pioneiros: pastores, missionários e leigos 68
3.12. Os cânticos: um veículo de construção 73
3.13. Os cultos ao ar livre 79
3.14.A mensagem proselitista 79
4. Capítulo 3. A desconstrução de alguns dogmas dos usos e costumes 83
4.1. O fator Paulo Leivas Macalão 87
4.1.1. A Assembléia de Deus – Ministério de Madureira 89
4.1.2. Convenção Nacional de Madureira 91
4.2. Arrefecimento do radicalismo assembleiano: mudança de pastor 91
4.2.1. Novos tratamentos com o “pecado” 92
4.2.2. Choque de gerações: Pastor antigo versus pastor novo 92
4.2.3. A liturgia dos cultos 93
4.3. Liderança centralizadora 94
10
4.3.1. Espiritualidade extremada 95
4.4. A política partidária: os movimentos em busca de poder 96
4.5. Dinheiro, fama e poder 97
4.6. Falta ou excesso de liberdade 97
4.7. A quebra de paradigmas 98
4.7.1. Tatuagens, piercings e brincos para homens 100
4.8. Desafios da pós-modernidade para os pentecostais 100
4.8.1. A eutanásia 101
4.8.2. Comunidade gay e casamento homossexual 102
4.8.3. União estável 104
4.8.4. Transexualismo 104
4.8.5. O aborto, a religião e a lei 105
4.8.6. O divórcio 107
4.8.7. Técnicas de reprodução humana assistida 107
5. Considerações finais 110
6. Bibliografia 114
11
1. Introdução
Quando analisadas por pessoas ligadas à religião, é na aparência que as diferenças
existentes na doutrina podem ser percebidas. Desde seus primeiros passos, o rigor com que os
pentecostais transitavam entre seus iguais religiosos identificou-os como “diferentes”. Peter
Berger afirma:
O componente mais numeroso dentro da explosão evangélica é o pentecostal, que combina
ortodoxia bíblica e uma moralidade rigorosa com uma forma extática de culto e uma ênfase na
cura espiritual.
1
No início do século XX estava acontecendo um processo de secularização religiosa
2
.
São criadas expressões como “Deus morreu” (dass Gott tot ist!) de Nietzsche (1844-1900), na
qual o Homem se apressa para assumir o poder na totalidade, mesmo tendo que arcar com as
conseqüências morais e éticas de um mundo sem Deus; ou, por exemplo, “a religião é o ópio
do povo”, de Karl Marx (1818-1883)
3
, em que a religião é vista como uma forma de
maquiagem do real, instrumento essencial de conservação da ordem social existente.
Foi em meio a esse tumulto de conflitos ideológicos religiosos que surge nos Estados
Unidos o movimento pentecostal moderno com sua mensagem de aproximação entre o
homem e o Deus criador de todas as coisas. Forças religiosas se levantaram contra o
movimento que se estendeu de Norte a Sul e de Leste a Oeste em todo mundo. Sentenças
condenatórias contra os seus seguidores eram proferidas nos púlpitos de igrejas cristãs
católicas e protestantes e, mesmo assim, em pouco mais de um século, o movimento
pentecostal suplantou quase todas as outras denominações religiosas cristãs em número de
adeptos.
A propósito dessa manifestação e sua atuação no território nacional, baseia-se a
pesquisa sobre a maior denominação evangélica no país: as Assembléias de Deus no Brasil.
1
BERGER, Peter. A Dessecularização do mundo: uma visão global. In: Religião e Sociedade, volume 21,
número 1, ano 2001, p. 15.
2
Há vários sentidos de secularização: pode ser vista como "eclipse do sagrado", "autonomia do profano",
"privatização da religião", "retrocesso das crenças e práticas religiosas" e até "mundanização das próprias
Igrejas".
3
Segundo Marx, a religião é um instrumento que não permite que os homens tomem consciência de sua
verdadeira situação, pois faz com que estes passem a se preocupar basicamente com o outro mundo, e encarem a
opressão e exploração pelas quais passam na vida cotidiana, como algo natural, como predestinação, vontade
divina, "pagamento" de pecados anteriores, expiações que são necessárias para se alcançar o reino de Deus e não
como fruto de um processo histórico-social, ao qual mesmo sem saber, eles são os artífices. Com efeito, ela é
ideologia e como tal, necessita ser abolida para que o homem consiga alcançar sua emancipação e autonomia.
http://www.cchla.ufpb.br/caos/00-alvescamargo.htm. Acessado eml. Acessado em.09/11/2007 18h:05min.
12
O interesse em pesquisar os usos e costumes das Assembléias de Deus no Brasil deu-
se em razão de afinidade pessoal do autor em relação a essa comunidade. Ao nascer, seu pai já
era Evangelista e Pastor da organização e, com o passar dos anos, tornou-se, ao lado de seus
dois irmãos, parte do corpo disciplinar e membros do ministério dessa igreja (os três são
pastores agora), Durante toda sua vida, esteve envolvido nos pontos mais radicais do que se
entendia como ortodoxia pentecostal. Muitas vezes, por ter quebrado pontos primordiais dos
dogmas santificantes e em outras como conciliador entre os “fracos”
4
, sempre ratificando
minhas posições bíblicas.
Atualmente, as Assembléias de Deus o são mais tão radicais em relação aos “usos e
costumes”. Entre as grandes denominações pentecostais pode-se dizer que a “Igreja
Pentecostal Deus é Amor” lidera em radicalidade. Entretanto, devido ao próprio histórico e
experiência de vida do autor, este trabalho limita-se ao campo de atuação das Assembléias de
Deus no Brasil. O mesmo viveu na pele o zelo. Porém, sem entendimento de muitos líderes,
que, bem intencionados, mas biblicamente mal informados, causaram dores e pesares não
apenas a ele, mas na vida de muitas pessoas, ao impor um sistema de santificação baseado
muito mais em seus caprichos humanos do que na Bíblia Sagrada.
Sendo assim, a pesquisa divide-se em três capítulos:
O primeiro aborda a história do movimento pentecostal, os seus desdobramentos ao
longo da história, a sua inserção no Brasil como movimento de santidade e o início e
desenvolvimento da Assembléia de Deus em nosso país.
O segundo tem como foco a construção dos “usos e costumes” como dogma
santificante pelos dirigentes dessa organização.
O terceiro capítulo apresenta a desconstrução de alguns desses dogmas, as possíveis
razões para seu bom êxito e alguns desafios da pós-modernidade para os pentecostais. Nele,
expressa-se também uma ousada sugestão e pedido de atenção especial aos deres da
comunidade assembleiana, com o único propósito de alertá-los sobre o direito individual de
que todo cidadão dispõe, do respeito que a ética exige e para lembrá-los de que,
independentemente da opinião de alguns, a vida continua e o amor de Deus também continua
em seu propósito de promover paz e alegria para todos os seres humanos.
O propósito o é apontar erros e acertos no comportamento dos adeptos das
Assembléias de Deus, mas, aprender, através da pesquisa, o que eles têm de melhor a ensinar,
4
Pessoas que transgridem os dogmas da organização, consciente ou inocentemente.
13
procurando deixar para a academia, um espaço para discussão ideológico-religiosa onde as
diferenças possam ser atenuadas e as semelhanças possam ser cultivadas no longo caminho
que é a vida, enquanto vivida.
14
2. CAPÍTULO 1. A raízes históricas das Assembléias de Deus no Brasil
Logo depois da ressurreição de Jesus, houve uma nova integração entre Jesus
ressuscitado e seus discípulos, segundo registro de Lucas em Atos 1:3
5
. Foi nesse tempo que
Ele determinou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa
do Pai” (Atos 1:4) e ainda explicou o motivo: “Porque, na verdade, João batizou com água,
mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias” (Atos 1:5).
A preparação a que estavam sendo submetidos os discípulos dizia respeito à
continuidade do ministério cristão, que havia começado a partir de uma decisão pessoal do
próprio Jesus. Ele afirmou, segundo as palavras de João
6
, que entendeu a missão que estava
preparada para todos os que cressem no Cristo ressuscitado. Os quarenta dias se haviam
passado e o momento da ascensão de Jesus chegara. Cuidadosamente, Ele continuou suas
recomendações e, após todas suas explicações serem ditas, o Mestre Jesus explicou a razão
maior de sua paixão e a atenção que todos deveriam observar, para que, quando o momento
chegasse e o Espírito Santo se manifestasse, todos estivessem conscientes da missão que
deveriam exercer. “Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-
me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins
da terra” (Atos 1:8).
2.1. Os primórdios do pentecostalismo
Após a ascensão aosus e obedecendo as recomendações de Jesus “... ficai em
Jerusalém até que do Alto sejais revestidos de poder” (Lucas 24:49), esta foi a resposta que os
discípulos entenderam, quando: “De repente veio do céu um som, como de um vento
veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados”( Atos 2:2).
Para os adeptos, o movimento pentecostal começou com a descida do Espírito Santo
em Jerusalém no dia de pentecostes
7
. A promessa havia se cumprido. Bastou obedecer
5
“Aos quais também, depois de ter padecido, se apresentou vivo, com muitas e infalíveis provas, sendo visto por
eles por espaço de quarenta dias, e falando das coisas concernentes ao reino de Deus”.
6
“Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu
nome” (João 1:12).
7
Pentecostes, do grego, πεντεκοστε, é o equivalente ao mero cinqüenta e para os cristãos tem o significado
de comemorar o dia da chegada do Espírito Santo. Era para os judeus uma de suas mais importantes festas: a
festa das colheitas. Tratava-se da ação de graças pelo fim do período da colheita do trigo. Vinham judeus
saudosos, que voltavam a Jerusalém, trazendo também pagãos amigos e prosélitos. Nesta festa eram oferecidas
15
“Ficai em Jerusalém aque do alto sejais revestidos de poder” (Lucas 24:49) e a realidade
celestial alcançou a todos os que ali aguardaram as promessas. Era a primeira vez, depois da
ascensão de Jesus, que um sinal celestial se materializava, trazendo uma novidade nunca antes
conhecida. Podemos notar a importância de Pentecostes nas palavras do patriarca Atenágoras:
Sem o Espírito Santo, Deus está distante, o Cristo permanece no passado, o evangelho uma letra
morta, a Igreja uma simples organização, a autoridade um poder, a missão uma propaganda, o
culto um arcaísmo, e a ação moral uma ação de escravos.
8
Em seus relatos, Lucas descreve o momento como: “Eram homens e mulheres
desinformados do momento especial como descrito em Atos 2:12: ‘Que isto quer dizer?’ E no
meio de tanta dúvida e perplexidade, levanta-se Pedro para explicar o fenômeno, como está
escrito em Atos 2:14-36”.
9
Nos registros bíblicos, o entendimento do fato mencionado reflete o que seria a
primeira manifestação do Espírito Santo depois da ascensão do Senhor Jesus e,
conseqüentemente, não haveria mais dúvidas. Todos os registros históricos cristãos entendem
que, a partir daquele instante, o Espírito Santo era parte atuante da Igreja de Jesus e que o
chamado povo de Deus” nunca mais estaria só, pois a promessa se cumprira mais uma vez:
“E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre”
(João 14:16).
Pode-se notar, ao ler os quatro evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João) e o livro
dos Atos dos Apóstolos, o que seus escritores deixam transparecer de excepcional com aquele
momento, quando afirmam que todos haviam sentido demais a perda da presença do Mestre,
desde a morte e o sepultamento de Jesus, até o momento em que se ouviu: “os quais diziam: O
Senhor ressuscitou, e apareceu a Simão.”!(Lucas 24:34), pois registram a alegria vivida
as primícias das colheitas no templo. Era também chamada festa das sete semanas, que consiste o dia seguinte
após sete semanas depois da festa da páscoa, no qüinquagésimo dia. Daí o nome Pentecostes, que significa
"qüinquagésimo".
8
http://www.mundocatolico.org.br/Evangelho/evando270507.htm. Acessado em 09/11/2007 8h:20 min.
9
Homens judeus, e todos os que habitais em Jerusalém, seja-vos isto notório, e escutai as minhas palavras:
Porque d’Ele disse Davi: Sempre via diante de mim o Senhor, Porque está à minha direita, para que eu não seja
comovido; Por isso se alegrou o meu coração, e a minha ngua exultou; E ainda a minha carne de repousar
em esperança; Pois não deixarás a minha alma no inferno, nem permitirás que o teu Santo veja a corrupção;
Fizeste-me conhecidos os caminhos da vida; Com a tua face me encherás de bilo. Homens irmãos, sejam-me
lícito dizer-vos livremente acerca do patriarca Davi, que ele morreu e foi sepultado, e entre s está até hoje a
sua sepultura. Sendo, pois, ele profeta, e sabendo que Deus lhe havia prometido com juramento que do fruto de
seus lombos, segundo a carne, levantaria o Cristo, para o assentar sobre o seu trono, Nesta previsão, disse da
ressurreição de Cristo, que a sua alma o foi deixada no inferno, nem a sua carne viu a corrupção. Deus
ressuscitou a este Jesus, do que todos nós somos testemunhas. De sorte que, exaltado pela destra de Deus, e
tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós agora vedes e ouvis. Porque Davi não
subiu aos céus, mas ele próprio diz: Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, Até que ponha os
teus inimigos por escabelo de teus pés. Saiba pois com certeza toda a casa de Israel que a esse Jesus, a quem vós
crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo”. (Atos 2:14, 25-36).
16
pelos discípulos com aquele encontro, que tudo parecia como antes e com algo mais além
dos milagres que continuavam a acontecer: Ele estava diferente. Suas palavras tinham algo de
confortador. Mas, quarenta dias depois, a separação acontece de novo. Desta vez a promessa
era outra: “E eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai; ficai, porém, na cidade de
Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder¨ (Lc. 24:49). Destarte, essa foi a
recomendação quando Jesus subiu ao u. Muitos confiaram nesta palavra, enquanto outros
desistiram.
A Bíblia relata que após dez dias houve um fato incomum, registrado em Atos 2:1-
12.
10
. Algo de inusitado acabara de acontecer. Homens comuns foram transformados em
ícones na sociedade multirracial em Jerusalém, o que tornou aquele momento especial, pois
transformava pessoas simples e sem representação social em líderes.
Na realidade, a força do Espírito Santo se manifestou, além das modificações
interiores, nos dons de línguas, justamente para que os Apóstolos pudessem propagar, o mais
rápido possível, o Evangelho entre os diversos povos, não havendo a necessidade de estudar e
aprender idiomas estrangeiros.
O fenômeno da glossolalia
11
, tão cuidadosamente refreado no cristianismo “oficial”
durante quase dois milênios, encontra-se, nos dias de hoje, adquirindo força devido a
condições mais propícias. É difícil de aceitar, principalmente para os mais ortodoxos, a
realização ou materialização desse fenômeno em um ambiente no qual não foi devidamente
previsto pela “igreja oficial” e nem segundo seus projetos. O fato adquiriu intensidade e
consistência em terras americanas, bem distantes do eixo religioso cristão: Roma – Jerusalém.
10
E, cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos concordemente no mesmo lugar; E de repente veio do
céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados. E
foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E todos
foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia
que falassem. E em Jerusalém estavam habitando judeus, homens religiosos, de todas as nações que estão
debaixo do u. E, quando aquele som ocorreu, ajuntou-se uma multidão, e estava confusa, porque cada um os
ouvia falar na sua própria língua. E todos pasmavam e se maravilhavam, dizendo uns aos outros: Pois quê! não
são galileus todos esses homens que estão falando? Como, pois, os ouvimos, cada um, na nossa própria língua
em que somos nascidos? Partos e medos, elamitas e os que habitam na Mesopotâmia, Judéia, Capadócia, Ponto e
Asia, E Frígia e Panfília, Egito e partes da Líbia, junto a Cirene, e forasteiros romanos, tanto judeus como
prosélitos, Cretenses e árabes, todos nós temos ouvido em nossas próprias línguas falar das grandezas de Deus. E
todos se maravilhavam e estavam suspensos, dizendo uns para os outros: Que quer isto dizer?”(Atos 2:1-12).
11
Palavra de origem grega γλώσσα, "glóssa" [língua] e λαλώ, "laló" [falar]) ou dom de nguas é um fenômeno
presente em algumas religiões cristãs (tais como pentecostais, neopentecostais e a Renovação Carismática
Católica), em que as pessoas falam em línguas desconhecida, estranhas.
17
2.2. O Montanismo
12
Cairns comenta que no início o cristianismo foi muito conturbado
13
. Havia uma
mistura de rejeição por parte dos religiosos locais e aceitação pelos que desejavam um pouco
de compensação e justiça em suas vidas tão sacrificadas. Em parte das igrejas do século II, a
esperança da volta de Cristo desaparecia lentamente com o passar dos anos. A consciência da
inspiração constante do Espírito, característica da Igreja Apostólica, praticamente extinguia-
se. Com o declínio do sentido da ação constante e imediata do Espírito Santo, ia crescendo a
ênfase em sua importância como agente de revelação. No fim do século I e começo do culo
II, as fórmulas trinitárias eram de uso freqüente entre os cristãos que identificaram, na
expressão de Jesus (Mat 28:20), a certeza de que seria o Espírito Santo que deveria ficar com
os seus fiéis. O próprio apóstolo João escreveu que Cristo prometeu que o Espírito Santo viria
aos discípulos (João 15:26). A busca por experiências pentecostais não havia terminado com a
morte dos apóstolos.
Foi nesse contexto (século II) que surgiu a mensagem de que Cristo havia prometido
para o futuro da Igreja a presença do Espírito Santo em medida mais abundante, através de
Montano
14
, de uma região próxima da Frigia, Ardabau, na Ásia Menor, com a mensagem que
combinava a noção da dispensa do Espírito Santo com uma nova manifestação de entusiasmo
profético que previa a proximidade do fim dos tempos. Montano, em torno do ano 156 d.C.,
proclamou-se instrumento passivo, pelo qual falava o Espírito Santo. A ele juntaram-se duas
profetizas: Priscila e Maximila e a mensagem pregada dizia respeito ao fim dos tempos e à
necessidade de viver uma vida mais ascética, isolando-se do mundanismo com celibato,
orações, jejuns e abstinência da carne. Segundo estas profecias, outra fase no cristianismo se
iniciava com a chegada da nova revelação concedida. Montano queria fundar uma nova
ordem e reivindicar seu movimento como sendo um movimento especial na história da
salvação. O principal motivo de Montano era lutar contra a paralisia e o intelectualismo estéril
da maioria das igrejas organizadas na época. Sua doutrina foi considerada herética pela igreja.
12
Doutrina herética de Montano (séc. II), a qual aplicava com rigor os dogmas do cristianismo, mas proclamava
além disso uma ação constante do Espírito Santo, de quem Montano se dizia profeta. (Tertuliano foi adepto do
montanismo.) http://www.kinghost.com.br/dicionario/montanismo.htm. Acessado eml. Acessado em
09/11/2007, 2h:05 min.
13
CAIRNS, Earle E. O Cristianismo Através dos Tempos, p. 78. “Os cristãos do segundo e do terceiro séculos
tiveram que fazer o que todo estrategista tenta evitar: lutar em duas frentes. Ao mesmo tempo em que lutava para
preservar sua existência diante das tentativas do estado Romano de acabar com ela, a igreja lutava também para
preservar a pureza da doutrina.... Em alguns casos lideres super-zelosos desenvolveram uma interpretação
particular para corrigir males reais ou imaginários na igreja chegando mesmo a seguir suas idéias heréticas até
que resultassem em cismas e daí em nova seitas”.
14
http://www.mundocristao.com.br/adicionais/cp10445.htm. Acessado em. 03/1/2007. 8h:45 min.
18
Esse movimento foi condenado rias vezes por vários sínodos de bispos, tanto na Ásia
Menor como em outros lugares
15
.
2.3 Os movimentos monásticos
16
.
Durante os três primeiros séculos de implantação do cristianismo, os valores cristãos
eram promovidos pela disposição de seus lideres que, abraçando a vocação pastoral e cristã,
não temiam a prisão e até a morte diante das investidas dos representantes dos poderes
instituídos, sejam religiosos ou políticos
17
. Após o século IV (313 AD), com o Ato Imperial
de Constantino - Édito de Milão
18
- tirando o cristianismo da marginalidade e tornando-o uma
religião tolerada, as perseguições deixaram de ser a maior preocupação dos cristãos, pois a
liberdade total adquirida de um momento para outro, conduziu-os a comportamentos liberais
desmedidos e muitos optaram pela nova religião somente para agradar ao rei.
“A opção pela vida monástica: a renúncia ao mundo, o abandono de bens e prazeres, a busca da
solidão, são elementos fortes na caracterização do monacato e que acabam por criar uma muito
justa imagem do monge como diferença com relação ao restante da sociedade. Cabe aqui,
porém, uma reflexão: a vida monástica eremítica, ao estilo dos anacoretas do Egito ou dos
estilitas sírios, embora não desapareça, tende a ser substituída ao longo do século IV pelas
comunidades de monges, os mosteiros”
19
.
Foi a partir do século IV que a tendência à santidade monástica se fez sentir com o
ascetismo tomando o primeiro lugar como referência de santidade
20
. Desde o século II,
homens como Orígenes, Cipriano, Tertuliano e Jerônimo haviam aderido à vida monástica
e entendiam o isolamento da sociedade como uma prova de dedicação a Deus para uma vida
em completa união de corpo e espírito.
Para estabelecer uma ponte entre o mosteiro e o mundo, e assim tratar de suas
semelhanças e diferenças, uma figura nos será de vital importância: São Basílio de Cesaréia
15
Preocupados com o avanço do movimento, os bispos da Ásia Menor se reuniram, pouco depois de 160 d.C., e
condenaram o movimento. Referindo-se a Montano, Henri Desroche afirmou: “Jerônimo, com seu estilo
habitualmente rude, qualificou Montano como ‘pregador do espírito imundo, [que] com ouro, corrompeu
inicialmente muitas igrejas por meio de Priscila e Maximila, duas mulheres nobres e ricas, manchando-as em
seguida com a heresia’”.
16
Monasticismo (do grego monachos, uma pessoa solitária) é a prática da abdicação dos objetivos comuns dos
homens em prol da prática religiosa.
17
CAIRNS. Op. Cit., p. 70-77.
18
O Édito de Milão (313 d.C.), também referenciado como Édito da Tolerância, declarava que o Império
Romano seria neutro em relação ao credo religioso, acabando oficialmente com toda perseguição sancionada
oficialmente, especialmente do Cristianismo. O édito foi emitido nos nomes do tetrarca ocidental Constantino I,
o grande, e Licínio, o tetrarca Oriental..
19
STEPHANOS, Monsigneur. Les origines de la vie cénobitique. Collectanea cisterciencia 49, 1987, p. 24.
20
CAIRNS. Op. Cit. P. 122-126
19
(330-379). Sua trajetória apresenta aspectos tais que o colocam no centro da relação entre
monacato e Igreja. Estudá-la, portanto, torna-se um excelente meio para abordagem da
questão acima indicada.
Um excelente caminho para a apreensão da concepção basiliana de monacato consiste
no exame de sua grande obra relativa à organização monástica, as famosas Regras
Monásticas. Não o propriamente regras, pois não se trata de um corpo rígido de legislação
monacal. Ao contrário, é, antes, um manual para a perfeição do monge na sua busca de seguir
fielmente os ensinamentos evangélicos, reunindo também diversas orientações quanto à
organização do mosteiro. A tônica de seu conteúdo é no sentido de apresentar a vida
monástica não como uma realidade à parte dentro do universo cristão, mas sim totalmente
inserida nele.
21
A Bíblia é a fonte primeira do pensamento basiliano, embora se manifeste
também a influência do ideal filosófico
22
. Uma freqüente preocupação consiste em evitar os
exageros nas práticas ascéticas, algo comum para a época e que, ao mesmo tempo, despertava
o interesse e a desconfiança com relação ao monacato. O rigorismo ascético extremado dos
seguidores de Eustácio de Sebaste, amigo e mestre de Basílio, foi o que causou sua
condenação pelo Concílio de Gangres (c. 341) , conforme Sanchez
23
.
No Oriente, Antonio (c. 250-356)
24
é o exemplo maior, pois aos vinte e cinco anos,
vendeu seus bens, deu o dinheiro aos pobres e se retirou para uma caverna desejoso de levar
uma vida de meditação. Nem todos os monges eram equilibrados como Antonio e seus
seguidores. Simão Estilista (c.390-459), depois de permanecer enterrado a o pescoço por
vários meses, viveu trinta e cinco anos em uma coluna de dezoito metros de altura, perto de
Antioquia. Outros organizaram mosteiros em busca de santidade de vida, trabalho, devoção e
obediência. No ocidente o monasticismo
25
desenvolveu a praticidade, recusando o ócio e
procurando a auto-suficiência do mosteiro. Bento de Nursia (c.480-542) foi o líder mais
proeminente do ocidente.
Os movimentos monásticos nunca deixaram de se fazer presente, mesmo quando as
coisas iam bem em relação ao clero e ao cristianismo. Prova disto foram os escritos teológicos
21
FIGUEIREDO, D. Fernando Antônio. Curso de teologia patrística. A vida da igreja primitiva. V. 3.
Petrópolis: Vozes, 1989. p. 183.
22
SANCHEZ, Manuel Diego. Historia de la espiritualidad patristica. Madrid: Editorial de Espiriualidad, 1992.
p. 183
23
Ibid , p. 189
24
Ibid., p. 123
25
Monasticismo, palavra oriunda do grego (monachos) simboliza uma pessoa que foi, ou ainda é solitária - a
prática da abdicação dos objetivos comuns dos homens em prol da reclusão religiosa. Encontramos em várias
religiões o hábito monástico, como no: budismo, cristianismo, hinduísmo e islamismo. Os indivíduos que
praticam o monasticismo são classificados como monges.
20
deixados pelos grandes pais da igreja, como Atanázio, Agostinho, Gregório Magno, Tomaz de
Aquino e outros envolvidos na organização da Igreja em seus dias de defensores da e da
doutrina cristã.
2.4. Joaquim di Fiori
26
Gioacchino da Fiore, Joaquim di Fiori ou Joaquim, Abade de Fiore, nasceu em Celico
em 1132, província de Cosenza, Calábria, na Itália. Abade cisterciense e filósofo místico, ele
dividiu a história em três períodos: o do Pai (antigo Testamento), o do Filho (o Novo
Testamento) e reino do Espírito Santo, ou do amor. Faleceu em 30 de Março de 1202, em um
Sábado de Aleluia daquele mesmo ano, na pequena abadia de San Martino di Canale .
Para o abade, as alegorias bíblicas serviriam como um método de compreender e
prever o desenrolar da história, ultrapassando assim seus fins morais e religiosos. Em
peregrinação à Terra Santa, Joaquim aprofundou sua , entregando-se a uma intensa
experiência mística. Ficou em contemplação no Monte Tabor, onde se diz ter recebido, em
visão, a inspiração divina que o guiou por toda sua vida. Segundo Cohn, Joaquim fala acerca
do tempo da vida humana assim:
Se a primeira fora uma idade de terror e servidão e a segunda uma idade de e submissão
filial, a terceira seria uma idade de amor, de alegria e de liberdade, em que o conhecimento de
Deus seria revelado diretamente nos corações de todos os homens.
27
Provavelmente em 1159, voltou à Itália e retirou-se para a abadia cisterciense de
Sambucina, escusando-se de tomar o hábito religioso ou a ordenação e dedicou-se a pregação.
Em 1168, tomou o hábito beneditino de Cister na abadia de Corazzo e foi ordenado
presbítero. Dedicou-se ao estudo da Bíblia. Alguns anos mais tarde, foi eleito abade pela sua
vida virtuosa e contemplativa. O papa Lúcio III em 1182 o desonerou do governo temporal da
abadia. Retirou-se para o mosteiro de Pietralata, fundou a abadia de Fiore nas montanhas da
Calábria. No ano de 1202, submeteu seus escritos ao exame do papa Inocêncio III, mas
faleceu antes de ser ouvido.
O joaquimismo (nome dado aos “seguidores” de Joaquim di Fiori) possuía segundo
Jean Delumeau
28
, três elementos que possibilitaram sua utilização pelos milenaristas radicais:
o refortalecimento dos temas apocalípticos, a idéia de que a igreja dos clérigos seria
26
http://pt.wikipedia.org/wiki/Joaquim de Fiore. 03/11/2007 9h:30min.
27
COHN, Norman. Na senda do milênio: milenarismos revolucionários e anarquistas místicos da Idade Média.
Lisboa: Presença, 1970. P. 89
28
DELUMEAU, Jean. Mil anos de felicidade: uma história do paraíso. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
21
substituída pela dos contemplativos e a de que os menos favorecidos reinariam no mundo.
Dante Alighieri, em sua obra Divina Comédia, referindo-se ao espírito profético, coloca
Joaquim di Fiore no Paraíso.
As obras mais importantes de Joaquim di Fiore (Liber Concordiae Novi ac Veteris
Testamenti, Expositio in Apocalipsim e Psalterium Decem Chordarum) estão reacionadas
com a visão profética das Sagradas Escrituras no contexto da história.
Dedicou-se a esmiuçar a escatologia, conforme sua leitura do texto de Apocalipse.
Para ele era necessário acomodar na visão cristã a desordem patente no mundo, ou seja: o
crescimento do Islã, as cruzadas, os cismas eclesiásticos, as guerras entre o Império e o
Papado e também entender os acontecimentos que, à luz da crença cristã da existência de uma
Providência, não podiam escapar à ordem divina. Com Joaquim di Fiori pode-se falar numa
filosofia da história, isto é, no tempo estruturado e escondido em três tempos progressivos
rumo à apoteose:
1 – Trinitária: a história é obra do Espírito Santo através do Pai e do Filho, até a revelação final
do Espírito.
2 Progressiva: a história é o desenvolvimento temporal do aumento do saber, cuja plenitude
coincide com o tempo do fim, quando será aberto “o livro dos segredos do mundo”.
3 Orgânica: a estrutura do tempo, simbolizada pela Árvore de Jessé, significa que o tempo
não é ciclo perpétuo de tribulações, não é agonia nem afastamento do absoluto, mas arbusto
florescente onde frutifica a semente divina da verdade efetuando-se como eternidade temporal.
29
Apesar de algumas das doutrinas de Joaquim di Fiore sobre a Santíssima Trindade
terem sido condenadas pelo Concílio de Latrão de 1215, seus pensamentos o levantaram
suspeitas de heresia até meados daquele século.
2.5. Influências carismáticas
30
Desde os primórdios, os cristãos foram influenciados por pregadores carismáticos,
sempre presentes no meio cristão. Deve-se a isto a eloqüência de estranhos e da aceitação de
seus argumentos por grupos entusiastas, interessados em “algo” que completasse sua relação
de vida, santidade e estabilização moral, social e religiosa. Foi nesse tempo que os Pais da
igreja saíram em defesa da Fé” para protegê-la contra o gnosticismo, o marcionismo, o
29
http://www1.folha.uol.com.br/fol/brasil500/dc_1_5.htm. Acessado em. 3/11/207, 10h:00.
30
Autoridade Carismática é aquela que os deres carismáticos possuem. As pessoas obedecem a eles pelas suas
influências carismáticas, pela simpatia, admiração, ou liderança.
22
montanismo, o monarquismo, arianismo e muitos outros
31
que sempre povoaram o
desenvolvimento do cristianismo colocando-o em prova
32
. Não é de admirar a existência
desses tipos de movimentos em nossos dias, pois o próprio cristianismo é resultado de um
movimento iniciado por Jesus com o propósito de aproximar o homem a Deus. Também é
bom manter em evidência a existência de homens que, pertencendo ou não aos quadros da
igreja, levantaram uma bandeira em direção aos desvios teológicos ou éticos. A cada novo
modismo, seja de seus lideres ou apenas para acomodar situações desconfortáveis dos altos
membros da sociedade e buscar aprovação em seus maus comportamentos, transformavam a
igreja, antes considerada modelo de ética e bom comportamento, em objeto de escárnio da
sociedade e seus membros.
Cairns, em seu livro, fala da antiga luta da igreja para sobreviver, da legalização do
cristianismo como religião tolerada e da oficialização do cristianismo como religião oficial do
Império Romano. Ele aponta o período entre os anos 375 e 1066 como “Idade das Trevas”
(Pg.99), entre 1054 e 1305 como A supremacia do Papado” e de 1305 a 1517 como O
declínio medieval e a aurora moderna”. Foi em 1517 que o monge agostiniano, Lutero,
revoltado com a venda de indulgências rompeu com a igreja católica dando origem ao
protestantismo. Decidiu tornar públicas essas idéias e elaborou 95 teses, reunindo o mais
importante de sua (re)descoberta teológica, e fixou-as na porta da igreja do castelo de
Wittenberg, no dia 31 de outubro de 1517. Ele pretendia abrir um debate para uma avaliação
interna da Igreja, pois acreditava que a Igreja precisava ser renovada a partir do Evangelho de
Jesus Cristo.
Após a implantação do protestantismo, surge Calvino, em Genebra, e produz o que foi
entendido como Reforma protestante. O processo continuou e, entre 1525 e 1580, houve a
grande Reforma Radical
33
que separou os místicos ou espiritualistas como os Schwenkfelders,
dos racionalistas Antitrinitarianos ou socinianos, que produziram na Polônia o Catecismo
Racoviano. Foi nesse ínterim que surgiram os Anabatistas, que subdivididos em seu seio
produziram diferentes correntes de pensamentos teológicos, com os irmãos suíços Jacó e
31
Eram chamadas de movimentos heréticos todas as linhas de pensamento que discordavam com o discurso
oficial da igreja. As divergências eram sempre de ordem subjetiva, ou seja, apenas o modo pessoal de entender
as situações bíblicas e as transmiti-las à igreja, em detrimento de uma análise eclesial.
32
CAIRS. Op. Cit. P. 85-92.
33
Logo após a cisão provocada pela dissidência de Lutero, suas noventa e cinco teses começaram a ser
analisadas uma por uma. Nem todas as teses de Lutero, foram acatadas. Em razão disso, acontece a Reforma
Radical, ou seja, as igrejas protestantes desejavam “voltar ás raízes cristãs”. Estes novos movimentos
reformadores consideram insuficientes apenas a separação da Igreja Católica, e buscavam ter uma igreja que,
mesmo independente e autônoma, deveria primar pela ética e pela santidade. Podemos citar destes, três
principais movimentos: Os anabatistas; os espirituais ou espiritualistas, (também conhecidos como Radicais
Místicos); e os racionais antitrinitários (ou Radicais Socinianos Racionalistas).
23
Amish Aman, os Menonitas na Holanda e Thomas Helwys na Inglaterra; os Comunitários
com Jacó Hutter, os Hutteritas; e os Escatológicos com os Rebeldes de Munster.
No período entre 1648 e 1789, época do escolasticismo protestante,
34
o racionalismo
foi a primeira resposta a essa dogmática que produziu, na Inglaterra, o deísmo e, na França e
Inglaterra, o iluminismo, para fazer frente à falta de sentimento humano que a nova ideologia
produzia. Do lado revigorado do protestantismo podemos destacar os Morávios, os Metodistas
e o grande avivamento que aconteceu na América do Norte com Jonathan Edwards
(congregacional), D. Jarrat (metodista), S. Morris (presbiteriano) e S. Steaens (batista).
2.6. O pietismo
No século XVII, a busca por um reavivalismo prático enfatizando o lado místico que
faz sentir a presença da luz interior, alcançou não apenas os protestantes, mas também muitos
católicos, com os Quietistas, os Molinos e os Fenelon. Do lado protestante surgiu o pietismo
como oposição à negligência da ortodoxia luterana no comportamento religioso. A visão
imediata era para uma experiência do crente com Deus, a partir de sua condição de pecador e
seu melhor caminho para a salvação. Seu ponto primordial era a necessidade da conversão
individual e da nova conduta do crente, desapegada do mundo material e apoiada na
comunidade reunida em culto ao redor do estudo da Bíblia. Ao enfatizar a prática da fé, os
pietistas colocaram em prática uma moralidade ascética, em alguns pontos extremamente
radicais, especialmente no que tange à alimentação, vestimenta e ao lazer, mantendo um
sentimento de responsabilidade com o mundo, no qual desenvolveram atividades de missão e
caridade. No contato direto da pessoa com Deus, as diferenças entre o mundo eclesial e o
sentimento de pertença eclesiástica foram moderadas pelas experiências de pequenos grupos
assim identificados: ecclesiola in ecclesiae
35
(igreja na igreja).
Trata-se de um movimento religioso nascido no seio do protestantismo de inspirado
em Calvino. Recusava a ortodoxia intransigente e secularizada do protestantismo de calvinista
sob a influência dos puritanos. Foi uma experiência avivalista da fé, pela demonstração da
piedade prática revoltando-se também, contra o racionalismo, que desprezava a soberania da
jurisdição eclesiástica e atacava com veemência a imoralidade que imperava desde a Guerra
34
Escolasticismo protestante foi o nome dado a atitude de Melanchthom e seus seguidores quando abandonaram
a intransigência dos outros Reformadores e disponibilizaram seus profundos conhecimentos do pensamento
aristotélico a serviço da Bíblia e da igreja.
35
http://www.crossings.org/thursday/Thur082505.htm. Acessado em 03/11/2007, 11h:40 min.
24
dos Trinta Anos
36
. O pietismo prático foi promovido pela nova universidade pietista de Halle
(Saale). Em Württemberg surgiu esta corrente estava ligada a uma organização eclesial. O
Conde Zinderdorf fundou a comunidade dos «irmãos de Hurrnhut». O movimento surge com
Philipp Jacob Spener (1635-1705), conhecido pela sua obra Pia Desideria (1676). Outras
figuras importantes foram: Franke, Paul Anton e Schade.
2.7. O metodismo
O metodismo foi, depois da Reforma, no século XVI e do Puritanismo no século
XVII, o terceiro maior despertar espiritual religioso, na Inglaterra, em busca da relação íntima
do indivíduo com Deus. Sua iniciação é ocasionada pela conversão pessoal e a busca por uma
vida ética, seguindo a moral cristã. Foram os irmãos João e Charles Wesley, William Morgan
e Bob Kirkham, que em 1730, reuniram-se em Oxford para estudarem juntos. Após algum
tempo organizaram uma pequena sociedade, chamada Clube Santo. Os membros desse grupo
foram apelidados de “Metodistas” pelos estudantes, pois eles esforçavam-se por levar uma
vida devocional disciplinada, dedicando-se regularmente a cuidar de órfãos, ensinando-os a
ler e escrever, visitando presos e cuidando de pobres e idosos. Durante o período, a Igreja
Oficial era mantida pelo senhor local com régios salários pagos ao alto clero, enquanto o
baixo clero recebia entre vinte e cinqüenta libras por ano. Muitos deles se envolveram em
esportes grosseiros
37
e rodas de bebidas, lançando a moral religiosa a seu ponto mais baixo.
Os irmãos Wesley o queriam separar-se da Igreja Anglicana; desejavam reformá-la
por dentro. O primeiro nome adotado pelo grupo metodista foi o de sociedades. Era uma idéia
de grupos que pretendia, com intenso fervor e atividade renovadora, ser um novo e poderoso
elemento de vida dentro do corpo da Igreja. O avivamento espiritual, promovido por João
Wesley e seus cooperadores, visava a santidade de vida e a harmonização da vontade do
homem com a vontade de Deus. Em 1739 Wesley participou de uma pregação ao ar livre em
Bristol, convidado por George Whitefield. Assim começou a carreira de pregador ao ar livre e
em sua velhice contabilizou aproximadamente duzentas mil milhas a cavalo entre Inglaterra,
Escócia e Irlanda. Seu irmão Charles dedicou-se também a compor hinos que prestaram
grande auxílio aos cultos. Charles Wesley compôs mais de 7500 hinos
38
. A Gospel Music
36
A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) foi o resultado de conflitos religiosos e políticos na Alemanha, pela
rivalidade entre católicos e protestantes e assuntos constitucionais germânicos.
37
Briga de touros, de ursos, de raposas e de galos eram os passatempos prediletos.
38
http://www.smithcreekmusic.com/Hymnology/Wesleys/Charles.Wesley.htm. Acessado eml. Acessado em.
03/11/2007, 11h:50 min.
25
Association estado-unidense, em reconhecimento às suas contribuições para a música gospel,
incluiu Charles Wesley no Hall da Fama da Música Gospel em 1995
39
.
Para Wesley o Evangelho deveria ser o melhor influenciador da sociedade. Prova disso
foi o impacto metodista sobre a sociedade inglesa. Wesley pregou contra o álcool, a guerra e a
escravidão, advogou a abolição da escravatura e incentivou a medicina humanitária amadora.
Em 1746 fundou o primeiro dispensário médico gratuito da Inglaterra. O reavivamento
Evangélico na Igreja Anglicana foi o marco transformador da classe alta na Inglaterra e levou
seu país a tornar-se líder no concerto das nações, promovendo a Paz mundial.
2.8. Desdobramentos modernos do pentecostalismo
O pentecostalismo moderno tem sua origem na aridez da vida religiosa que, junto com
as migrações do campo para áreas urbanas, retrata a conjuntura de transformações sociais que
acompanharam a formação do proletariado inglês
40
, no final do século XVIII. Foi nesse
contexto que surgiram numerosos movimentos de reavivamento religioso do tipo
milenarista,
41
com o propósito de conduzir os homens a uma conduta de perfeição, santidade e
ética cristã. O movimento pentecostal moderno começou em Topeka, Kansas (EUA), como é
conhecido hoje. Charles Parham começou em 1900 com a Escola Bíblica Betel. Ao sintetizar
a doutrina em torno da crença de falar em línguas estranhas como evidência do batismo com o
Espírito Santo, concedeu identidade própria ao pentecostalismo.
2.8.1. Charles Parham, W. J. Seymour e a Rua Azuza
As igrejas pentecostais surgiram como dissidência das igrejas históricas, herdeiras da
Reforma Protestante do século XVI. Charles Parham, um pregador do movimento de
Santidade, desanimado com sua própria aridez espiritual, alugou uma mansão em Topeka,
39
A Gospel Music Association, nos Estados Unidos, em reconhecimento as suas contribuições para a música
gospel, incluiu Charles Wesley no Hall da Fama da Música Gospel em 1995.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Charles_Wesley 03/112007, 11h:45 min.
40
Com o início da mecanização na Inglaterra, nasceu o proletariado industrial, formado por homens, mulheres e
crianças que, com a notícia de que nas cidades grandes havia empregos disponíveis, se dirigiam para lá. Eram
pessoas recrutadas entre os camponeses expu1sos das aldeias, e soldados licenciados e sem emprego e também
indigentes a cargo das paróquias, que, submetidos à disciplina férrea da brica, transformaram-se em simples
apêndices da produção.
41
Para Prócoro Velasques Filho, a crença na época futura, denominada milênio, se baseia na leitura
descontextualizada da Bíblia. Mesmo assim, seu reino na Terra após o final do período chamado milênio; e o
pré-milenismo, prevalecente entre os fundamentalistas, que aguardam o retorno de Cristo para antes do milênio.
Cf., MENDONÇA, A. G. & VELASQUES, P. Introdução ao protestantismo no Brasil.o Paulo: Loyola, 1990.
P. 125.
26
Kansas, onde começou uma escola bíblica com cerca de 40 alunos
42
. Em seu primeiro e único
ano de existência alunos e professores se comprometeram a "buscar o poder que os capacitaria
a enfrentar o desafio do novo culo". Juntos iniciaram uma espécie de curso intensivo das
Escrituras e chegaram à conclusão de que falar em línguas era o sinal de que um cristão havia
recebido o batismo no Espírito Santo. Na véspera de Ano Novo, uma de suas alunas, Agnes
N. Ozmen, começou a orar em línguas. Dentro de poucos dias, muitos outros a seguiram na
experiência. Embora as diferenças tenham se acentuado, em razão da novidade evangélica
entre os colegas de classe quando a benção pentecostal caiu, a certeza de que estavam no
caminho certo era a prova irrefutável: “O falar em outras línguas”. Entende-se que foi este
fato que deu inicio ao Movimento Pentecostal do século XX. Tal foi a magnitude e impacto
do movimento que no final da primeira década, sabia-se de experiências pentecostais na Ásia,
África, Europa e América Latina. O movimento pentecostal se multiplicara em vários lugares
com variedade de matizes e expressões, como uma grande onda renovadora.
Um dos mais destacados alunos da escola de Parham foi William J. Seymour, um
pregador batista negro, mesmo simples em sua homilética
43
, porém bastante comprometido
com o movimento de busca pelas experiências de avivamento espiritual, como aquela ocorrida
no dia de pentecostes e narrada no Novo Testamento (Atos 2:1-13). Daí o termo
Pentecostalismo para denominar o movimento que nasceu a partir daqueles dias da festa da
colheita, onde os discípulos falaram em outras nguas. William J. Seymour foi levado a Los
Angeles por uma mulher que fora curada em uma visita à escola de Parham, para pregar em
uma igreja de negros
44
holiness. Ali ele passou a exercer o pastorado em uma igreja batista.
Ao começar a pregar a mensagem de avivamento e batismo no Espírito Santo nas igrejas
tradicionais, William J. Seymour não foi bem aceito e passou a se reunir em casas de pessoas
interessadas na experiência. O ajuntamento de multidões para ouvir o pregador e experimentar
o fenômeno tornou inviável a reunião nos lares. A solução foi reunirem se em um local
apropriado. O novo endereço do avivamento passou a ser 312 Azusa Street , em Los
Angeles
45
.
Para o local, seguiram multidões que participaram do fenômeno por entenderem ter
sido batizadas, curadas, renovadas e santificadas pelo fogo do céu. A Missão Evangélica da
42
http://www.answers.com/topic/charles-fox-parham. 03/11/2007 11h:00hs.
43
Homilética é a ciência que ensina os princípios fundamentais da arte de bem falar em público. É a teoria da
eloqüência.
44
Walker, John. A Igreja do Século XX. A História que não foi contada. Atos – Belo Horizonte, 1996.
45
http://pt.wikipedia.org/wiki/William_Seymour. 01/06/2007, 20h:03 min.
27
Apostólica (Apostolic Faith Gospel Mission)
46
, como passou a se chamar a comunidade,
tornou-se o epicentro do avivamento que se espalhou pelo mundo, pois a cidade de Los
Angeles foi, por ser uma grande metrópole com certa dose de globalização, o lugar ideal para
o movimento começar. De saíram semeadores da nova doutrina para várias partes do
mundo, levando a nova mensagem do evangelho que chamou a atenção de vários periódicos,
na época, como relata o site do Portal Evangélico
47
:
A chama do Pentecostalismo, que deflagrou na Rua Azuza nº 312, e que a revista Life
classificou assim como o 68º acontecimento do Século XX entre 100, foi um dom cristológico.
Novamente a dynamis do Espírito Santo com idênticas características fundamentais das
relatadas nos Atos dos Apóstolos. Contudo, não deixou de ser também um fenômeno
sociológico. Conduzindo a um avivamento espiritual, carismático, levou os crentes a quebrarem
as barreiras rígidas da segregação racial. Se tivéssemos que estruturar uma sociologia da cor
para o Movimento Pentecostal que (re) começou a precisamente um século (14-4-1906) naquela
rua dos subúrbios de Los Angeles, do ponto de vista histórico, diríamos que o mesmo se
mostrou de duas cores. O branco e o negro. Os reverendos; Charles Fox Parham, metodista,
reitor do Bethel Bible College, e William S.Seymour, respectivamente.
Os elementos afro-ariano-semita, forjados na ainda jovem mistura americana, estavam a
fazer a primeira explosão religiosa pentecostal e a criar um movimento clássico, com um sinal
estatístico bem definido e claro, o da multiplicação. A verdade foi que «pessoas de cor e uma
pequena quantidade de brancos formaram essa congregação do 312 de a Rua Azuza», podia
ler-se há 100 anos no chamado Times de Los Angeles. Na costa Leste também a notícia chegou
e o The New York American, de 3 de Dezembro do mesmo ano 1906 escrevia que «um novo
movimento religioso, formado por negros e brancos, estava a começar. A tradição metodista
estava sendo misturada à religiosidade popular dos negros ». O fato de os jornais locais, com
especial mediatização no Los Angeles Daily Times, de 18 de Abril, chamarem a atenção para
essa mistura racial colorida, levava mais longe a verdadeira natureza do fenômeno espiritual da
chamada glossolalia, e, assim, não tiveram outras parangonas jornalísticas para usar senão
«Weird Babel of Tongues» (Estranha Babel de Línguas).
Para a sociedade do início do século XX o que estava a acontecer resumia-se a tal.
Porém, não foi em vão que mulheres, homens e crianças de raças e culturas diferentes estavam
a comungar da mesma e dos mesmos carismas espirituais e o batismo com o Espírito Santo,
sendo evidente o sinal dos crentes falarem línguas estranhas. O que alguns teólogos anglo-
saxônicos, posteriormente, referiram-se como «A Terceira Força do Cristianismo»
(Christianity’s Third Force ), começou por ser, sob o poder de Deus, a entrega religiosa
colaborativa de negros e brancos mais importante do século. Esta colaboração vinda de todos os
lugares para aqueles três dias e três noites na 312 Azuza Street, fez mais pelo Mundo do que
qualquer concílio mundial de igrejas ou movimento ecumênico. O aspecto da não-
discriminação racial é importante, sem dúvida, para caracterizarmos e estruturarmos o enorme
crescimento do Pentecostalismo, que alguém classificou como «a religião do coração». Com
efeito, mesmo referindo-se com algum criticismo «à mescla de brancos e negros em frenesi
religioso», os jornais locais não puderam ignorar algo maravilhoso e fundacional, a comunhão
interclassista e inter-racial dos primeiros cultos do movimento pentecostal.
«As pessoas respeitáveis - como lhes chamava o Times da cidade de Los Angeles- que
se tinham misturado com os negros vociferantes», reafirmaram no início do século o que Paulo
havia escrito nos anos 50 A.D., com alcance universal, transcultural e multi-étnico, aos crentes
46
http://azusabr.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=16&Itemid=30 01/11/2007, 9h:03 min.
47
Ibid.
28
da Galácia: «Dessarte, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem
nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus.» (Gálatas 3:28)
48
.
O Pastor batista W. J. Seymour, que era aluno de Pahram, atribuiu a Deus sua bênção:
o batismo com o Espírito Santo. Começou a pregar na rua Azuza em Los Angeles, região com
crescimento demográfico acelerado onde as minorias étnicas sofriam com as rejeições sociais.
Mesmo sendo negro, sua igreja foi rapidamente composta por todas as etnias que estavam em
busca de uma aproximação com o divino.
Negros e brancos, apesar de buscar os mesmos alvos, não conseguiam conviver em
harmonia. Assim sendo, a separação, ditada pela difícil integração racial e comum na
formação social norte-americana, logo surgiu. O movimento religioso, originalmente
concebido como uma renovação das igrejas protestantes existentes começou a se estruturar
em grupos independentes divididos por questões meramente doutrinárias.
Ao mesmo tempo em que a glossolalia assumia a centralidade da pregação pentecostal
e sua conseqüente difusão, uma nova promessa começou a ser anunciada: “a volta eminente
de Cristo”. Nascido como elemento de apoio na aprovação dos primeiros passos do
movimento em direção à sua divulgação. Nessa busca do “sagrado imediato”, a estruturação
do pentecostalismo como uma nova religião” não foi considerada necessária, pois se Jesus
está voltando, a frase imediata seria: “Prepara-te para te encontrares com o teu Deus” (Amós
4:12), ao contrário de doutrinas que seriam abandonadas por diversos seguidores em pouco
tempo.
A Igreja do pastor Seymour na Rua Azuza transformou-se no maior referencial das
raízes do pentecostalismo. Centenas e milhares de pessoas, ao chegarem de vários pontos da
América e de outras partes do mundo atraídas pelos acontecimentos que estavam ocorrendo
naquele lugar, participavam da experiência e sentiam-se batizadas com fogo, de maneira que,
ao retornarem para suas cidades levavam uma “chama viva” que alcançava também outras
pessoas.
49
Nas reuniões organizadas por Seymour, o culto tinha como característica os
cânticos alegres e informais e, simultaneamente, orações em voz alta.
O fenômeno, ocorrido em 1906, espalhou-se pelos Estados Unidos e, nos dias de hoje,
atinge todos os continentes. Foi em Chicago, cidade industrial com um quadro social marcado
pelas precárias condições de trabalho e violência urbana que o pentecostalismo ganhou
impulso nos primeiros anos. Imigrantes, como Luigi Francescon, Daniel Berg e Gunnar
48
http://www.portalevangélico.pt/noticia.asp?id=2954. 09/11/2007 10,35hs
18 CONDE, E. História das Assembléias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2000, p. 21.
29
Vingren, se destacaram por trazer para terras brasileiras a mensagem pentecostal. Francescon
fundou a Congregação Cristã e Daniel Berg e Gunnar Vingren as Assembléias de Deus.
A missão na Rua Azuza, em Los Angeles, exerceu profunda influência no mundo
protestante. Ela funcionou como exemplo bem sucedido do fenômeno; um potente ímã
atraindo líderes de diversos segmentos do protestantismo desejosos de conhecer, entender e
aprender o que estava ocorrendo. Seymour e sua igreja foram o centro irradiador da
mensagem pentecostal.
2.9. A inserção do pentecostalismo no Brasil
No Brasil, o fenômeno pentecostal inicia-se com a Congregação Cristã no ano de 1910
em São Paulo, cujo fundador foi Luigi Francescon
50
. De família católica, da província de
Údine, na Itália, Francescon imigrou para os Estados Unidos em 1890, convertendo-se ainda
jovem ao protestantismo. Foi membro-fundador da Igreja Presbiteriana Italiana, em Chicago.
Após receber a experiência do batismo com o Espírito Santo, recebeu uma profecia do Pastor
William H. Durham para que levasse o pentecostalismo à colônia italiana. Em março de 1908,
Francescon disse:
[...] o Senhor fez saber a mim e ao irmão G. Lombardi que deixássemos o nosso trabalho
secular para nos dedicarmos inteiramente à Sua obra, pois Ele estava nos preparando para uma
missão. Nessa época nos encontrávamos em situação financeira e com seis filhos menores
cada um; entretanto não tememos, certos de que o Senhor protegeria nossas famílias
.
51
A missão era a evangelização do mundo italiano: assim dedicaram-se a viajar
Francescon pelos Estados Unidos e Lombardi para a Itália. Após algum tempo, quando em
Chicago, receberam em 1909 uma “santa revelação”, que os conduzindo à Argentina e depois
ao Brasil
52
.
Em março de 1910, Francescon e Lombardi chegaram a São Paulo, vindo da
Argentina. O início não foi tão encorajador e, em pouco tempo, Lombardi voltou para a
Argentina enquanto Francescon foi para Santo Antônio da Platina, no Paraná, a fim de visitar
um italiano que conhecera em São Paulo. Lá, conseguiu muitas conversões. Voltando a São
50
http://portoghese.lanuovavia.org/portoghese_testimonianza_conversione_01.htm. Acessado em 03/11/2007,
11h.25 min.
51
http://www.sabetudo.net/ccb/ComoSurgioACongregacaoNoMundo.htm. Acessado em 04/02/2007, 12h:25
min.
52
Ibid.
30
Paulo, em junho de 1910, pregou em italiano na Igreja Presbiteriana do Brás, o que provocou
um cisma. Em pouco tempo a Igreja Congregação Cristã no Brasil estava formada, composta
de presbiterianos, batistas, metodistas e alguns católicos.
53
Francescon permaneceu em São
Paulo asetembro do mesmo ano, quando partiu para o exterior. Com suas freqüentes visitas
conseguiu estruturar a Igreja. Quando chegou ao Brasil pela primeira vez, Francescon tinha
quarenta e quatro anos. Em sua última visita ao país, estava com 82 anos. Dezesseis anos
depois, ele morreu em Chicago, com noventa e oito anos de idade.
2.10. As origens das Assembléias de Deus no Brasil
As Assembléias de Deus no Brasil têm suas origens no reavivamento que alcançou
quase todo o mundo no início do século XX, começando na América do Norte. Os envolvidos
nesse reavivamento diziam-se cheios do Espírito Santo, confirmando assim, o fato registrado
no capítulo dois do livro de Atos dos Apóstolos. Trata-se da passagem ocorrida com os
discípulos e seguidores de Jesus, em Jerusalém, durante a festa judaica do Pentecostes, ou
seja, a chegada do Espírito Santo, no início Igreja, foi o que originou o nome pentecostes. Foi
à semelhança dos acontecimentos, como a glossolalia, nome dado à efusão de línguas
diferentes ou estranhas aos que as ouviam, em Jerusalém, quando “todos que estavam no
Cenáculo começaram a falar em outras línguas” (Atos 2:4), que o fato se repetiu. Os
precursores do reavivamento do século XX, quando estavam reunidos em oração, também
falaram em outras línguas, que eram distintas das suas originais. Devido ao fenômeno todos
se consideraram batizados no Espírito Santo. Estas e outras manifestações sobrenaturais tais
como profecia, interpretação de línguas, libertações e curas miraculosas tornaram-se comuns
em meio ao movimento.
Enquanto esse avivamento expandia-se e alcançava outras Cidades e Estados
americanos, na cidade de South Bend, no Estado de Indiana, pouco distante de Chicago, o
dirigente e pastor da igreja Batista local, Gunnar Vingren, de procedência sueca, foi atraído
pelas notícias do fenômeno que estava causando o avivamento em vários lugares dos Estados
Unidos e procurou saber a verdade dos fatos, dirigindo-se a Chicago. Diante da demonstração
da evidência das línguas estranhas e dos milagres, ele creu e também recebeu o batismo no
Espírito Santo
54
. A onda de avivamento estava contagiando a muitos e, algum tempo depois,
53
http://www.sabetudo.net/ccb/ComoSurgioACongregacaoNoMundo.htm. Acessado em 04/02/2007, 12h.50min.
54
VINGREN, Ivar. Diário do Pioneiro Gunnar Vingren. CPAD, Rio de Janeiro, 2000, p. 25.
31
Gunnar participou de uma convenção de igrejas batistas que haviam aderido ao Movimento
Pentecostal, em Chicago.
Foi em Chicago, em novembro de 1909, que aconteceu o encontro com outro jovem
sueco, Daniel Berg
55
, também batizado com o Espírito Santo. Em uma reunião de oração,
após os primeiros contatos, sentiram-se tocados por uma revelação que os enviava a um
determinado lugar: “Pará”
56
. Apesar de nenhum dos participantes conhecerem o local, o
problema foi logo solucionado com a utilização de um mapa encontrado na biblioteca.
Descobriram, então, que se tratava de um Estado no Norte do Brasil. O território nacional não
era totalmente desconhecido na época dos acontecimentos, porém pouco ou quase nada se
sabia da região mencionada. Os lugares mais famosos no Brasil eram o Rio de Janeiro, por ser
a Capital e o ponto turístico por excelência, o Amazonas, com sua substancial produção de
borracha e outros lugares históricos. Não obstante, segundo o entendimento de todos, a
viagem era considerada uma chamada de fé.
Após a aprovação do ministério para a viagem dos jovens suecos ao Brasil, ficaram
sabendo da existência de uma congregação (igreja) batista na capital do Estado do Pará,
Belém. Todavia, a igreja ofereceu recursos para auxiliar os missionários que partiam. Gunnar
Vingren e Daniel Berg despediram-se dos irmãos em Chicago e seguiram viagem com destino
às terras desconhecidas.
A oferta coletada entre os irmãos deu para a compra de duas passagens até Nova
Iorque. Mesmo assim, partiram em direção ao porto em busca do destino Pará, no Brasil, sem
saber como conseguiriam dinheiro para comprar as duas passagens até o Pará. Contudo, esse
detalhe não os deteve em Chicago, pois tinham convicção de que haviam sido convocados por
Deus. Acreditavam que os recursos necessários à viagem surgiriam no momento oportuno.
“Em uma cidade em que o trem fazia baldeação entre Chicago e New York, enquanto
caminhava, um irmão, que em um sonho recebera uma ordem do Céu, veio ao nosso encontro
e nos entregou um envelope com noventa dólares, quantia suficiente para a compra das
passagens para o Pará, no Brasil”.
57
No dia 5 de novembro de 1910, os missionários Daniel Berg e Gunnar Vingren
deixaram Nova Iorque a bordo do navio "Clement" com destino a Belém do Pará. Berg e
Gunnar Vingren, chegaram a Belém do Pará em 19 de novembro de 1910
58
. Eles não
possuíam amigos ou conhecidos na cidade e o traziam endereço de quem pudesse acolhê-
55
Ibid., p. 28.
56
Ibid., p. 28.
57
Conde. Op. Cit. p. 33.
58
http://www.sepoangol.org/gunnar.htm. Acessado em 03/11/2007, 11h:30 min.
32
los ou orientá-los. Carregando suas malas, enveredaram-se por uma rua até alcançarem uma
praça, onde sentaram-se em um banco para descansar, fazendo, então, a primeira oração em
terras brasileiras. Entretanto, seguindo a indicação de alguns passageiros com os quais
viajaram, os missionários Gunnar Vingren e Daniel Berg hospedaram-se num modesto hotel,
cuja diária completa era de oito mil réis. Em uma das mesas do hotel, o irmão Vingren
encontrou um jornal que tinha o endereço do pastor metodista Justus Nelson. No dia seguinte
foram procurá-lo e contaram-lhe como Deus os tinha enviado como missionários para aquela
cidade. Como Daniel Berg e Gunnar Vingren estavam, aaquele momento, ligados à Igreja
Batista na América (as igrejas que aceitavam o avivamento permaneciam com o mesmo
nome), Justus Nelson os acompanhou à Igreja Batista, em Belém, e os apresentou ao
responsável, Raimundo Nobre. Os missionários passaram a morar nas dependências da igreja
Batista. Alguns dias depois, Adriano Nobre, que pertencia à igreja presbiteriana e morava nas
ilhas, foi a Belém em visita ao primo Raimundo Nobre. Este apresentou os missionários a
Adriano, que imediatamente mostrou-se interessado em ajudá-los a aprender falar o
português
59
.
O novo idioma, desconhecido para os dois visitantes, e sem recursos financeiros por
falta de alguma instituição ou junta missionária que os sustentassem, conduziram-nos no
início da missão de Berg e Vingren a uma pequena pausa. Então eles se cotizaram: Daniel
trabalharia enquanto Gunnar estudava o idioma e juntos, à noite e nos fins de semana,
participariam dos cultos nas igrejas brasileiras, de maneira que pudessem avaliar o grau de
aprendizado dos dois. Quando passaram a entender o idioma local, iniciaram o trabalho
missionário: falar de Jesus, enfatizando a salvação, o batismo com o Espírito Santo, a cura
divina e o uso dos dons espirituais. Vingren continuou a estudar o idioma português, enquanto
Daniel trabalhava como fundidor
60
.
A doutrina pentecostal e a evidência do batismo no Espírito Santo, pelas línguas
estranhas, ministrada com a devida base bíblica (Atos 2), segundo a interpretação pentecostal,
foi aceita por uma parte dos crentes da comunidade batista local, mas rejeitada por outros.
Seis meses depois da chegada a Belém, Vingren foi convidado para dirigir um culto de oração
e falou da necessidade do crente ser revestido do Espírito Santo. Uma boa parte dos presentes
alegrou-se com a mensagem e logo outras reuniões de oração foram realizadas na igreja e nas
casas de pessoas que desejavam participar desse fenômeno, demonstrando dessa forma, o
batismo no Espírito Santo, como uma realidade na vida Cristã. No dia 8 de junho de 1911,
59
http://www.ministeriobethel.com.br/religioes/assembleia_de_deus.htm. Acessado em 03/11/2007 11h:35 min.
60
http://www.ministeriobethel.com.br/religioes/assembleia_de_deus.htm. Acessado em 03/11/2007 11h:38 min.
33
Celina Albuquerque, em uma reunião de oração em sua casa, foi a primeira pessoa no Brasil a
receber a evidência do batismo no Espírito Santo, falando em nguas. No dia seguinte, sua
irmã Maria de Nazaré de Araújo também participou da mesma experiência
61
.
O movimento causado pela glossolalia entre os membros da igreja local com o
envolvimento de crentes de outras denominações presbiterianos e metodistas - levou a
direção da Igreja Batista a uma tomada de posição. Em reunião extraordinária, o dirigente
Raimundo Nobre solicitou que todos os que estivessem de acordo com a nova doutrina se
manifestassem. Surpresa geral, dezenove irmãos se levantaram, a maioria entre os presentes;
uns porque eram batizados no Espírito Santo, e os outros porque criam que poderiam
receber a promessa
62
.
Quase no mesmo instante, o grupo de irmãos que havia optado pelo ensino pentecostal
foi excluído da Igreja Batista pela minoria presente. Era o dia 13 de junho de 1911. Todos
foram convidados a não fazer mais parte da igreja batista. Destarte, os dezessete irmãos e dois
missionários juntaram-se e estabeleceram as bases do movimento pentecostal em solo
brasileiro. A nova comunidade passou a reunir-se na Rua Siqueira Mendes, 79, Cidade Velha,
em Belém, residência do irmão Henrique e Celina de Albuquerque
63
. Com o aumento de
pessoas nas reuniões, houve a necessidade de organizar a igreja. Uma semana depois, no dia
18 de junho de 1911, de conformidade com todos, foi fundada a Missão de Apostólica que
somente no ano de 1918 passou a chamar-se Assembléia de Deus
64
. Supõe-se que o nome
escolhido para a nova denominação esteja ligado às igrejas que professavam a mesma
doutrina na América do Norte.
2.10.1. Daniel Berg e Gunnar Vingren
Daniel Berg
65
nasceu em Vargon, na Suécia, num lar cristão. Aos 17 anos, em 5 de março de
1902, foi para os Estados Unidos porque a Suécia passava por uma séria crise financeira. Na
América, estudou e trabalhou como fundidor especializado em aço. Em sua visita à terra natal,
soube que seu melhor amigo era agora um pregador do Evangelho numa cidade próxima.
Entre as grandes novidades que foram ditas, o batismo com o Espírito Santo era o principal
61
Ibid.
62
CONDE. Op. Cit. p. 32.
63
Ibid.
64
http://pt.wikipedia.org/wiki/Assembl%C3%A9ia_de_Deus. Acessado em 02/1/2007, 10h:55 min.
65
BERG, David. Daniel Berg: enviado por Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 1995, p. 11.
34
assunto divulgado pelo amigo
66
. Ao assistir a pregação, depois do culto, conversaram bastante
sobre esse fenômeno, o que fez com que Daniel Berg saísse dali convicto de que deveria
buscar a nova experiência. Ainda na Suécia, antes do seu retorno à América, Daniel foi
batizado com o Espírito Santo e decidiu definitivamente dedicar sua vida ao ministério
pastoral.
Na América, em seu retorno, trabalhou em uma casa atacadista de frutas. Alguns
meses depois, durante uma conferência em Chicago, conheceu Gunnar Vingren, pastor da
Igreja Batista em Menominee, Michigan
67
, seu futuro companheiro nas missões.
Vingren nasceu no dia 8 de agosto de 1879, na cidade de Ostra Husby, Suécia
68
. Seu
pai fazia parte do corpo doutrinal da igreja como professor da Escola Dominical. Sua
profissão era a de jardineiro, o mesmo trabalho que Gunnar exerceu aos 19 anos. Criado
num lar cristão, aos doze anos se desviou para o mundo e só retornou à igreja em 1896, com
dezessete anos. No ano seguinte foi batizado na Igreja Batista em Wraka, Smaland, Suécia e
tornou-se sucessor de seu pai na Escola Dominical. Naquele mesmo ano, em 14 de julho de
1897, entendeu que seria um missionário.
Em 1898, Vingren participou da Escola Bíblica, em Gotabro, Narke com os pastores
Emílio Gustavsson e C.J.A. Kihlstedt; depois daquele período de estudos, começou o trabalho
missionário no interior de seu país, na cidade Skane, seu primeiro campo de trabalho
missionário. Em outubro de 1903, atingido pela “febre dos Estados Unidos” e tendo um tio,
Carl Vingren, morando em Kansas City, viajou aos Estados Unidos. Em setembro de 1904
ingressou num Seminário Teológico Batista em Chicago. Em maio de 1909, recebeu o
diploma de bacharel em Teologia. Foi Pastor da Igreja Batista em Menominee, Michigan, de
junho de 1909 afevereiro de 1910. Na Convenção Batista ficou resolvido que seria enviado
para a cidade de Assan, na Índia. No verão de 1909 sentiu a necessidade de buscar o batismo
no Espírito Santo e com fogo, o que não tardou a receber. Ao pregar esta verdade à igreja que
pastoreava, começaram os problemas; a igreja se dividiu entre os que criam e os que não
criam em sua pregação. Por isso teve que deixar a Igreja em Menominee e foi para South
Bend, Indiana, pastorear a igreja que recebeu com alegria as Boas Novas, tornando-se uma
igreja pentecostal. Dez pessoas, segundo seu relato diário, foram batizadas com o Espírito
Santo
69
na primeira semana da nova visão.
66
Ibid., p. 27.
67
Vingren. Op. Cit., p. 24.
68
Ibid., p. 19.
69
Ibid., p. 26.
35
2.11. A expansão na primeira metade do século XX
Com o nome inicial de Missão de Fé Apostólica (18/06/1911 11/01/1918), as
Assembléias de Deus no Brasil tiveram o seu primeiro culto oficial no dia 18 de
junho de
1911, na casa do irmão Henrique de Albuquerque, que morava na rua Siqueira Mendes, 79, no
Bairro Cidade Velha. A proposta adotada seria “Cada crente deve ser um Evangelista”.
No começo, os jovens, Gunnar e Daniel, oravam sozinhos, pois o local não dispunha
de eletricidade, mas com a assiduidade com que se aplicavam nas orações, mesmo não tendo
o local muito espaço, começaram a receber visitas dos irmãos interessados, em primeiro lugar,
no bem estar dos moços e, depois de algum tempo, quando conseguiram comunicar-se e orar
em português, pela busca de cura divina e do batismo com o Espírito Santo. Celina de
Albuquerque, que sofria de câncer na face
70
, após algumas reuniões de oração foi curada deste
mal e, agradecida pela graça recebida de Deus, começou a orar de madrugada em sua casa.
Naquela mesma semana, enquanto orava pela madrugada, foi batizada no Espírito Santo. Era
a primeira pessoa a receber a promessa pentecostal no Brasil. Sua alegria não tinha limites e
sua irmã Nazaré, verdadeiramente interessada e desejosa em participar da mesma alegria teve,
no dia seguinte, a mesma experiência pentecostal.
As primeiras curas logo foram conhecidas por todos e a assistência de pessoas nas
reuniões de oração aumentou a ponto deles se reunirem no próprio templo. Não havia
conflitos entre o ministério da igreja e os missionários, que continuaram as reuniões
administrando ensinamentos da Bíblia e orando pelo progresso da missão. Todos criam que o
sucesso seria apenas respostas das orações (Naquele tempo Belém estava com muitos
problemas de saúde pública a lepra era o mais perturbador dos males que afligia a
população - pois muitos leprosos vinham de várias partes do país em busca de uma planta que
os curasse. Assim essa epidemia se alastrava com muita facilidade pela região). Após alguns
meses de aprendizado, Gunnar começou a pregar e ensinar em nossa língua. Os convites não
demoraram a chegar das outras igrejas. Na cidade existiam três igrejas evangélicas:
Presbiteriana, Metodista e Batista, que os convidavam com freqüência. Todos queriam vê-los
e ouvi-los, pois, independente da mensagem que pregavam, era um milagre o fato deles não
adoecerem naquelas condições de insalubridade em que viviam, agravadas pelo excesso de
calor na cidade
71
.
70
OLIVEIRA, Joanir. As Assembléias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro. CPAD. 1998, p. 39.
71
BERG. Op. Cit,. p. 53.
36
Mas nem tudo ia bem na comunidade Batista da Rua Balby, 406. O fato de aparecer
um grupo de oração que vivia recebendo respostas do céu, de curas milagrosas, batismos com
o Espírito Santo e muita alegria, produzindo o crescimento do número de pessoas no grupo de
oração, incomodou alguns membros da igreja que, censurando-os, passaram a estigmatizá-los
como fanáticos. Naqueles dias, o pastor da igreja batista ausentava-se com muita freqüência e
por muitos dias em razão da responsabilidade que pesava sobre seus ombros nas igrejas
Batistas naquela parte do no Norte e Nordeste. Foi em uma dessas ausências que Raimundo
Nobre, um dos assessores do pastor, sem qualquer autoridade legal, isolou os freqüentadores
assíduos do grupo de oração e convocou uma reunião extraordinária para tratar do caso dos
irmãos suecos e seu grupo de oração. Era dia 10 de junho de 1911, sendo que 12 de junho
seria o dia da decisão. Naquele dia tudo deveria ser resolvido
72
.
No dia 12 de junho de 1911, um misto de preocupação e revolta estampava-se na face
de todos participantes. A liderança imposta por Raimundo Nobre, que não era o pastor,
também era do conhecimento geral, todavia, aparentemente, o grupo dos pentecostais não
expressava grande preocupação diante da grave situação que se estabelecera: “Eles criam que
O Senhor cuidaria de tudo através da harmonização na atuação do Espírito Santo de Deus”
73
disse uma das pioneiras, presente no dia dos acontecimentos.
Emílio Conde em seu livro “História das Assembléias de Deus no Brasil”, assim
retrata esse momento:
Nesse dia, Raimundo Nobre
74
apoderou-se do púlpito e atacou os partidários do Movimento
Pentecostal. Imediatamente propôs à minoria que excluísse a maioria. Não poderia haver
ilegalidade mais flagrante Em seguida os ‘rebeldes’ oraram e de mãos erguidas, dando
glórias ao Cristo Amado, abandonaram o local
75
.
Sem direção certa sobre o que fazer em seguida, Gunnar e Daniel se dispuseram a orar,
aguardando uma solução. O pequeno grupo, também aguardando a mesma solução, convidou
os suecos para que juntos reiniciassem a reunião de Oração, agora como comunidade
autônoma, na sala da casa dos irmãos Henrique e Celina Albuquerque, na Rua Siqueira
Mendes, 67. No dia 18 de junho do mesmo ano, ficou definido o novo nome da comunidade
pentecostal: “Missão de Fé Apostólica”.
72
CONDE. Op. Cit., p. 31.
73
I bid.
74
Entre os documentos comparados dessa reunião, existem muitas divergências, pois em sua biografia Gunnar
fala de um Evangelista (pg 24); Daniel Berg, também na sua biografia e Joanir de Oliveira no livro As
Assembléias de Deus no Brasil, têm-no apontado como o Pastor da Igreja e Emílio Conde, em sua História as
Assembléias de Deus no Brasil, o identifica com Raimundo Nobre e considera um atrevimento sua liderança e
tomada de decisões.
75
Conde. Op. Cit. P. 32.
37
O crescimento, segundo uma das pioneiras, em entrevista à “Seara”
76
em setembro de
1977 ocorreu deste modo: “Depois do batismo com o Espírito Santo, tornamo-nos muito mais
dedicadas ao Trabalho do Senhor. Quantas vezes, de dia e de noite, sob sol ou chuva, a
pelas ruas desconhecidas e distantes de nossa casa, seguíamos a cantar e a orar, levando a
mensagem do Evangelho”.
Gunnar Vingren, que, como poucos, na época, havia concluído os estudos teológicos
em um seminário Batista na América do Norte, colocou seus conhecimentos e sua prédica em
ação e o fenômeno Pentecostal agregou pessoas que se diziam curadas de enfermidades,
libertas de vícios, vivendo em Paz e Alegria com suas famílias, sociedade, e assim,
influenciando a outros na fé.
Entre os fatos inusitados de qualquer história, o detalhe mais importante recai sobre a
dificuldade de entender e ser entendido. Não é apenas de se admirar, mas até mesmo
desconfiam-se de dados que desafiam os pressupostos, pois os missionários não falavam a
língua portuguesa; não dispunham de muitos recursos a sua disposição e nem estavam
regiamente acomodados. Eram totalmente desconhecidos de todos; tanto dos membros da
igreja Batista que os acolheu, quanto do Pastor; portanto, não tiveram seu aprendizado
facilitado e nem desfrutaram dos melhores e mais rápidos meios de aprendizado. Daniel Berg
teve como seu primeiro professor de português Gunnar Vingren, que ensinava a ele de dia, o
que aprendia à noite.
2.11.1. As primeiras congregações
Nos primeiros dois anos de existência, o grupo pentecostal liderado pelos suecos
dedicou-se a evangelizar o Estado do Pará, que foi, praticamente, o único beneficiado. Daniel
Berg cuidou de transmitir a pregação seguindo a estrada de ferro Bragança e desenvolvendo o
trabalho de colportagem, que consistia em distribuir folhetos, vender Bíblias, Novos
Testamentos e outros livros, além de falar do Evangelho. No primeiro ano, toda Belém
sabia da existência do grupo pentecostal porque os milagres aconteciam. Havia cultos em
vários pontos da cidade.
Os primeiros pastores separados para o ministério pastoral foram Absalão Piano,
Isidoro Filho, Crispiano de Melo, Pedro Trajano e Adriano Nobre, em 1913, tornando-se os
pioneiros das Assembléias de Deus no Brasil.
76
A Seara foi a primeira revista mensal das Assembléias de Deus, editada pela CPAD.
38
2.11.2. Quadro de Crescimento
1911 Porão da Igreja
Batista
No dia dois de junho a irmã Celina recebeu o batismo com o
Espírito Santo, o que foi o motivo de outras reuniões em busca da
mesma experiência.
1911 Rua Siqueira
Mendes, n. 67,
em Belém
Quando os que receberam o batismo com o Espírito Santo e
outros que criam nesse mesmo fenômeno, foram expulsos da
Igreja Batista. O grupo era composto por dezenove pessoas que
reuniram-se na casa da dona Celina (mesmo endereço) para
oficializar as atividades da igreja. Era o dia 18/6/1911
1912 Bragança, Pa Através de Daniel Berg e o trabalho de colportagem, o
comerciante Sr. Arruda, crendo nas palavras de Berg, aceita a
evidência do mesmo fenômeno e logo a cidade estaria repleta de
novos crentes.
1912 Soure, PA. Cidade situada na Ilha de Marajó, também fruto do trabalho
evangelístico de Daniel Berg.
1913 Catipuru, PA. Nesta cidade os evangelistas foram levados à prisão por
divulgarem a nova proposta religiosa.
1913 Igarapé-Açu,
Benevides,
Capanema,
Timboteua,
Peixe-boi e
Bragança.
Clímaco Bueno Aza, recém convertido, abandonou seus negócios
particulares e dedicou-se a evangelização, iniciando os trabalhos
nas casas de amigos e novos conhecidos, pregando, ensinando e
separando pessoas para continuar a divulgação do Evangelho. Em
pouco tempo, dirigiam-se a outras cidades deixando seus
cooperadores regendo os cultos, continuando a fazer mais
conhecida, a cada dia, a semente pentecostal.
1913 Portugal Por sugestão de Gunnar, José Plácido da Costa foi o primeiro
missionário enviado do Brasil para evangelizar os portugueses.
39
1914 Ceará Diferentemente de outros estados brasileiros, a evangelização do
Ceará teve seu início na cidade de São Francisco, na serra de
Uruburetama, pela Dona Nazaré que, depois de batizada com o
Espírito Santo, em Belém, divulgou a nova experiência aos seus
parentes. O pastor José Teixeira Rego começou os cultos na casa
de José de Arimatéia, no ponto final do bonde São Geraldo.
1915 Maceió O Pastor Otto Nelson chegou à capital de Alagoas, no dia 21 de
agosto e no dia 25 do mesmo mês, iniciando, oficialmente, a
pregação do evangelismo Pentecostal. No evento, havia sete
pessoas.
1916 Recife O pastor Adriano Nobre foi enviado para verificar as
possibilidades de iniciar um trabalho na capital pernambucana e,
após vários cultos nas casas de irmãos, oficializou as reuniões na
residência de João Ribeiro, na rua Ponte Velha, 27, bairro dos
Coelhos.
1917 Ama Na data de 27 de junho, os primeiros convertidos decidiram
aceitar Jesus como autor da evidência da glossolalia e dos
milagres. José de Matos foi o pioneiro neste Estado.
1917 Manaus Severino de Araújo foi o responsável por levar a mensagem
pentecostal para o Amazonas, bem como, a inspiração dos
membros da igreja em Belém e a dinâmica dos missionários,
desafiando-os a enfrentar novas conquistas. Os primeiros cultos
foram realizados na rua Henrique Martins.
1918 Natal Em razão da conversão de muitas pessoas em reuniões familiares
e da necessidade do batismo nas águas, o Pastor Adriano Nobre
foi enviado para consolidação da igreja, com o propósito de que a
cidade fosse oficializada, dando início às Assembléias de Deus no
40
Rio Grande do Norte.
1918 Paraíba As primeiras notícias do desenvolvimento do pentecostalismo no
estado paraibano são da cidade de Guarabira, que o jornal Boa
Semente publicou, dizendo que a mensagem de salvação estava
alcançando dezenas de pessoas em toda região.
1919 Belém O jornal Boa Semente, publicado em janeiro do ano em questão,
causou muita euforia entre os pentecostais.
1920 Bonito Os cultos começam na casa de Joaquim Amaro e o Pastor Pedro
Trajano foi quem os dirigiu.
1921 São Luiz A capital do Estado do Maranhão recebeu a mensagem
pentecostal nesse ano e seu desenvolvimento, em todo Estado, se
deu em pouco tempo. Clímaco Bueno Aza foi o iniciador dos
trabalhos evangelísticos.
1922 Porto Velho Em 28 de fevereiro, o Missionário Paul John Aenis, vindo da
América do Norte, começou a divulgação do pentecostalismo
nesta cidade com grande aceitação e, no primeiro batismo, nove
membros desceram às águas. Foi o começo da obra pentecostal na
região.
1923 Rondônia. Na época dos acontecimentos, Rondônia pertencia ao Norte do
Estado do Mato Grosso. Elói Bispo, ao chegar à cidade de
Generoso Ponce, encontrou alguns crentes que viviam na
Região. Deduz-se que os primeiros convertidos datam de 1922,
com a vinda de pentecostais da região amazônica.
1924 Guanabara haviam acontecido muitos cultos em casas de crentes antes da
chegada do primeiro pastor na Capital do País. No dia 30 de abril
de 1924, na Rua Senador Alencar, o Pastor convidado, Adriano
41
Nobre e, João do Nascimento, organizaram a igreja no Estado.
Nessa reunião elegeram um pastor interino, Heráclio de Menezes,
João do Nascimento, para diácono e Paulo Leivas Macalão para
secretário.
1924 Porto Alegre O Missionário Gustavo Nordlund e sua família desembarcaram
em Porto Alegre no dia 2 de fevereiro de 1924, vindo de Belém
do Pará, obedecendo ao ministério que o entendeu comissionado
desde 1919, quando ainda vivia na cidade de Lidkoping, Suécia.
Em 19 de outubro de 1924 fundou oficialmente a Assembléia de
Deus na cidade.
1927 Teresina O Pastor Raimundo Prudente de Almeida, no dia 8 de junho de
1927, teve como objetivo anunciar a mensagem pentecostal.
Enviado pelo ministério, em Belém, começou os cultos nas casas
dos recém convertidos.
1927 Belo Horizonte O Pastor Clímaco Bueno Aza chegou à Capital mineira em
fevereiro de 1927. Após conseguir moradia na rua Peçanha,
esquina com a rua Paraíso, começou as reuniões em sua própria
casa. Após as primeiras conversões, o Pastor Clímaco deu início à
tarefa de atingir todos os habitantes da cidade.
1927 Aracaju A mensagem do Evangelho foi levada a esta cidade pelo Sargento
do Exército Brasileiro Ormínio e, após muitas conversões, o
Pastor João Pedro da Silva foi enviado para consolidação,
batizando, desta maneira, os novos membros da igreja.
1927 Canavieiras -
Bahia
Joaquina de Souza foi a pioneira na evangelização do Estado da
Bahia. Somente em 1927 foi realizado o primeiro batismo nas
águas. O fato aconteceu graças a uma notícia narrando que, em
Belém, apenas nos dois últimos meses de 1926, o Senhor havia
batizado vinte crentes com o Espírito Santo.
42
1927 São Paulo A capital não foi a primeira cidade do Estado a receber a visita
dos pentecostais assembleianos. Santos e São Vicente
desfrutavam da presença de muitos que aceitaram o batismo com
o Espírito Santo.
A cidade de Santos, em 5 de maio de 1924, foi a primeira cidade
paulista a ter uma Igreja Assembléia de Deus.
1928 Vitória Em 1924 Daniel Berg iniciou a evangelização do estado. Seu
destino era o Rio de Janeiro e, por isso, os registros do começo da
evangelização foram confirmados a partir de 1928, com a
chegada de sete membros da Assembléia de Deus de Sergipe.
1928 Curitiba O Pastor Bruno Skolimowski, chegou ao Estado do Paraná e
começou, em 19 de outubro de 1928, a igreja Assembléia de Deus
em Curitiba. Primeiramente, entre os poloneses que não falavam o
português, mas em 1929, iniciou os cultos em português.
1931 Itajai Procedente do Rio de Janeiro, André Bernardino da Silva,
realizou o primeiro culto na rua que ficou conhecida como Rua
Pentecostal. Sua missão era pregar o Evangelho e propagar o
movimento através do batismo com o Espírito Santo e da cura
divina.
1943 Cuiabá No s de abril de 1943 chegou à cidade o Pastor J.H. Tostes
cuja missão era propagar o pentecostalismo e batizar os novos
convertidos. Em 7 de maio de 1944, na Rua Comandante Costa, n.
48, foi fundada a Assembléia de Deus na cidade de Cuiabá.
1944 Campo Grande O Pastor Juvenal Roque organizou a Igreja Assembléia de Deus
no dia 22 de outubro de 1944, quando ainda não havia o Estado
do Mato Grosso do Sul. Nesse período, Campo Grande era
43
considerada a capital comercial do Estado.
2.12. Crescimento e uniformidade doutrinária
As colunas de sustentação das Assembléias de Deus no Brasil, para manter em coesão
o sistema doutrinário e de usos e costumes devidamente dentro de uma rigidez formal, foram
compostas por, além do trato imediato na igreja local, dois órgãos proselitista para solidificar-
se como igreja de integração nacional. O triângulo regente é composto pela Igreja, com o
envolvimento de seus dirigentes, da Casa Publicadora Das Assembléias de Deus, com o jornal
Mensageiro da Paz, as Revistas da Escola Dominical e seus outros periódicos, e da
Convenção Geral das Assembléias de Deus do Brasil, que organizam os limites doutrinários
para todos os assembleianos no território nacional. Os propósitos de cada um desses órgãos
foram definidos desde a implantação dos mesmos.
2.12.1. Igreja local e regional (campo)
77
A função da igreja local sempre foi a de conquistar e agregar novos e antigos crentes
que abraçaram a nova fé, produzindo Paz e Alegria em seus lares. Durante a vida de todo
crente, é possível que algum problema de difícil solução imediata apareça. Os problemas
surgidos, pelo menos os de fácil solução e de entendimento pacífico entre os membros da
igreja, como, por exemplo: namoro com não crentes ou uso de roupas decotadas e
inapropriadas, desde que não ferissem os princípios doutrinários da igreja mãe, não
precisavam ser levados ao plenário da Convenção Geral. A igreja local sentia-se autônoma
para deliberar entre seus membros, entretanto, somente os pastores tinham autonomia para
decidir sobre qualquer punição aos membros da congregação.
2.12.2. CPAD - Casa Publicadora das Assembléias de Deus
78
77
Logo que começava uma reunião na casa de uma família, onde não havia nenhuma igreja Assembléia de Deus,
a primeira providência do dirigente ao terminar o culto era perguntar se alguém gostaria de ter, também, um
culto em sua casa noutro dia da semana. Em quase todos os lugares onde as reuniões ocorriam em casas de
família, costumeiramente, em curto tempo, começava uma igreja.
78
Periódicos como “A Seara”, “Lições Bíblicase outros, só foram editados e impressos após a década de 1950,
o que trataremos nos próximos capítulos desta dissertação.
44
A proposta de criação da CPAD deu-se em razão de exigências governamentais em
1940
79
, quando uma nova lei exigiu que todos os jornais fossem registrados no D.I.P. (um
organismo estatal controlador de imprensa) e determinava que somente personalidades
jurídicas e pessoas físicas poderiam possuir jornais. Segundo Emílio Conde, a CPAD foi
fundada no Rio de Janeiro em março de 1940.
É de fácil entendimento que a CPAD serviu para oficializar a circulação do periódico
“Mensageiro da Paz”, criado para ser “O Órgão Oficial das Assembléias de Deus no Brasil” e
esse ato a tornou automaticamente proprietária desse jornal. Assim, a razão inicial da
existência do jornal deixou de ser reguladora
80
para tornar-se apenas um órgão de informação
das decisões da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil.
A Harpa Cristã, o segundo instrumento de integração assembleiana, teve seu início em
1932, quando foi lançado no Rio de Janeiro, contendo quatrocentos hinos. Na Convenção
Geral das Assembléias de Deus no Brasil de 1937, em São Paulo, a Assembléia Geral nomeou
uma comissão para editar e imprimir a primeira Harpa Cristã com letra e música. Este
trabalho foi concluído e impresso em 1941 nas oficinas da Imprensa Batista, na Rua da
Liberdade, em São Paulo.
2.12.3. CGADB - Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil
Desde sua fundação as Assembléias de Deus no Brasil sempre foram dirigidas pelos
missionários suecos, porém, com o crescimento da denominação em todo território brasileiro,
houve necessidade de melhor interação entre todos os campos regionais para uma presença
mais atuante da direção Nacional. Todo projeto de expansão, conquista e implantação de
novas igrejas, sempre partiam da região Norte e Nordeste e os missionários viram a
necessidade de suas presenças na região Sul e Sudeste do Brasil.
Era a primeira vez que os brasileiros tomavam a direção nacional das Assembléias de
Deus no Brasil. Desde os primeiros instantes, os convencionais elegeram, por unanimidade, o
Pastor Cícero Canuto de Lima presidente da Primeira Convenção Geral das Assembléias de
Deus no Brasil.
79
CONDE. Op. Cit,. p. 310.
80
Desde 1918 circulava no Norte e no Nordeste um periódico das Assembléias de Deus chamado Boa Semente.
Quando o Missionário Gunnar Vingren mudou-se para o Rio de Janeiro, em pouco tempo fez circular outro
periódico que publicado na parte sudeste do Brasil. A criação do jornal Mensageiro da Paz” surgiu para que
houvesse união entre as informações assembleianas do Norte com as do Sul. Para isso, encerraram a circulação
dos dois jornais e em dezembro de 1930 começou, com abrangência nacional, um periódico fazendo a integração
Norte-Sul de todas as decisões tomadas pela Convenção Geral.
45
Nesta primeira convenção os temas abordados foram:
A. Relatório do trabalho realizado pelos missionários.
B. A nova direção do trabalho pentecostal no Norte e Nordeste do Brasil.
C. A criação do Jornal Mensageiro da Paz substituindo os jornais Boa Semente e Som
Alegre.
2.12.4. O trabalho feminino na igreja
As Convenções Gerais, de 1930 a 1938, tiveram como alvo principal a união dos
obreiros em todo território brasileiro, tratando de assuntos que diziam respeito aos problemas
surgidos no trato com as doutrinas e diferenças regionais. Também seria pertinente registrar
que Joanir de Oliveira, ao escrever As Assembléias de Deus no Brasil”, não registrou todas
as convenções gerais, como estão registradas no livro próprio da CGADB, editado em 2004
com o nome de “História da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil”, pela
CPAD, tendo seu texto preparado por Silas Daniel.
De 1939 à 1945, época em que eclodiu a segunda guerra mundial, a Convenção Geral
transformou, anexando ao seu plano de ação e de acordo com seu conceito, o que denominou
“Semana Bíblica das Assembléias de Deus no Brasil”.
81
O próximo capitulo estudará o surgimento, as causas, o desenvolvimento e a aplicação
dos usos e costumes no cotidiano dos adeptos das Assembléias de
Deus ao longo do tempo.
81
Mesmo constando na História da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil como uma “simples
mudança de nome” de Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil” para “Semana Bíblica das
Assembléias de Deus no Brasil”, é fácil comprovar a falta de validade desses seis eventos nacionais nos próprios
entendimentos entre os organizadores dos eventos seguintes, pois Joanir de Oliveira em seu livro As
Assembléias de Deus no Brasil”, na página 137, registra com fotos a convenção geral ordinária como sendo a
31ª convenção. Para que esta ordem seja tida como válida, é só considerar os escritros de Joanir de Oliveira, que
também não cita nenhuma convenção geral nos anos de 1931 e1932. Em todos os registros da CPAD, no período
de 1939 a 1945 não houve nenhuma Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil.
46
3. CAPÍTULO 2. A CONSTRUÇÃO DOS USOS E COSTUMES
A religião foi historicamente o instrumento mais amplo e efetivo de legitimação. Toda
legitimação mantém a realidade socialmente definida. A religião legitima de modo tão eficaz
porque relaciona com a realidade suprema as precárias construções da realidade erguida pelas
sociedades empíricas.
82
O aparecimento do pentecostalismo como entidade religiosa, dentro da cosmovisão
protestante, também não foge à regra quando o ponto de observação é o comportamento social
de seus membros. Surgido no início do século XX, nos EUA, a partir de uma busca por um
“melhor” contacto com o mundo celestial, alguns membros da Igreja Metodista em Topeka,
Kansas, liderados pelo pastor Charles Parham, fundaram o Bethel Bible College em outubro
de 1900. Cerca de quarenta estudantes ingressaram na escola, que ficou identificada como
“Mansão de Pedra”, com o propósito de “descobrir o poder que os capacitaria a enfrentar o
desafio do novo século”. Vejamos como Walker descreve a situação vigente na época:
A situação das igrejas em geral era de apostasia e frieza. O protestantismo americano era rico,
culto e influente, mas com exceção de alguns grupos conservadores, seu estado espiritual era de
decadência. Imperava o individualismo, o formalismo, o mundanismo, o profissionalismo
ministerial, a consciência de classes, a ausência da presença de Deus, etc.
83
A construção
84
de qualquer nova ideologia, religiosa ou o, começa sempre pela
desconstrução de uma ideologia em evidência, ou usual e, no caso de Parham não foi
diferente. Pelo demonstrado ao pesquisar sobre a vida e propósitos de Parham, antes e depois
da evidencia da glossolalia influencia sem imposição e dos inúmeros evangelistas
pentecostais que se formaram na e por influência da “Mansão de Pedra” é possível ver” um
idealista inovador que não procurou se beneficiar com sua “descoberta” espetacular.
Quando a nova idéia (ideologia) em construção encanta muito mais seus seguidores do
que o modelo que está sendo desconstruido, é possível notar uma perseverança fora do
comum: vencer as barreiras, até então intransponíveis, desprezando todos os empecilhos e
ameaças que tentem atrapalhar o bom andamento do novo modelo. Tais posturas foram
observadas por Duncan, quando analisou o seguimento pentecotal:
82
BERGER, Peter L. O Dossel Sagrado: Elementos para uma sociologia da religião, p. 45.
83
WALKER, John. A história que não foi contada. Editora Atos,Belo Horizonte,1996, p. 7.
84
Falar de construção é relatar fases da criação de um objeto. No caso da Assembléia de Deus, a dinâmica
religiosa nunca permite uma demonstração de seus dogmas como “produto acabado” e sim como objeto em
formação. Assim, tornam-se mais aceitáveis as explicações para o surgimento de fatos preponderantes nos
dogmas religiosos assembleianos.
47
Por causa dos método e dos tipos de espiritualidade comuns entre os pentecostais (tendência
prodelitisa; moralismo rigorista proibindo cinema, teatro, TV, fumo e alcool; proibindo às
mulheres o uso e maquiagem, roupa justa e cabelos curtos), de aspectos de sua teologia ( sua
interpretação da doutrina do Esírto Santo, especialmente quanto aos dons, seu biblicismo, sua
postura antiecumênica) e ainda por razões sociológicas ( seus membros parecem ser das classes
inferiores e marginalizadas e as igrejas pentecostais, desse modo, o “refúgio das massas”),
houve pouco diálogo entre pentecostais e igrejas históricas no Brasil. O relacionamno foi
marcado pela polêmica, desprezo e desconfiança.
85
Outro ponto comum que acompanha o desenvolvimento do pentecostalismo é seu
exemplo de desprezo pelos valores adquiridos. Poucas vezes algum novo dirigente, ao
separar-se de sua igreja tradicional, leva consigo ou reclama o direito sobre qualquer bem. A
frase mais ouvida de dissidentes, mesmo sendo apontadas suas atitudes, como rebelião ou
divisão em qualquer comunidade religiosa protestante, é: - Deixem tudo para eles que o
Senhor tem coisas novas e melhores para nós”
86
e seguem adiante sem se preocupar com os
dias passados, empolgados pelos novos projetos de evangelização.
No modelo pentecostal ou neopentecostal o futuro interessa, a vitória sobre os
novos desafios é o alvo a alcançar; dos ensinamentos e dogmas adquiridos deverão ser
usados os que estiverem de acordo com o novo projeto; e, como disse, um dos
entrevistados
87
: “O céu é o alvo final”. No caso de Parham, o alvo a desconstruir a igreja
interagindo com o mundo – deveria proporcionar o alvo maior do Evangelho e seguir avante.
A formação da Assembléia de Deus como igreja instituída teve como propósito básico
a busca pela santidade, a manifestação dos dons espirituais e a dinâmica dos milagres
divinos
88
, como princípio existencial do movimento pentecostal. A busca ou imposição pelo
formalismo pentecostal assembleiano foi o marco principal na identificação da nova
modalidade religiosa que surgiu no Brasil em 1910, com a chegada de Gunnar Vingren e
Daniel Berg e sua pregação sobre o Batismo com o Espírito Santo, tendo seus efeitos
percebidos em todo segmento social religioso, o em Belém do Pará, mas, com o passar
dos anos, em todo território nacional brasileiro. A presença desses novos religiosos crentes”
na sociedade brasileira (pois desde suas vestes, até o falar demonstravam distinção social,
mesmo entre os iletrados), foi o diferencial que os identificou como diferentes ou radicais
religiosos.
85
REILY, Duncan Alexander. História Documental do protestantismo no Brasil. Editora Aste, o Paulo. 1973,
pg. 368.
86
Durante a pesquisa de campo (entrevistas), alguns dos entrevistados falaram do momento em que tiveram que
decidir sobre o que manter de sua antiga igreja.
87
Além de pastores também foram entrevistados antigos crentes assembleianos que, ao relatar suas experiências,
falaram de seu desejo maior. A frase o céu é o limite” foi dita pela esposa do pastor Wilson B. de Almeida, de
saudosa memória.
88
A principal característica pentecostal é a glossolalia (línguas estranhas).
48
A idéia de “viver em santidade”, separados do mundo, condicionou-os a uma
imposição de comportamento ascético entre os membros da sociedade cristã, em Belém e
adjacências. Sem querer levantar a bandeira de uma nova religião, mas procurando a
singularidade de vida em sociedade, os novos missionários, vindo de outra região do planeta,
apontando o que identificaram como comportamento “mundano” dos cristãos
89
, procuraram
incentivar seus comandados a se apresentar diante da sociedade como religiosos castos e
pudicos apenas buscando uma valorização cristã na sociedade brasileira. Peter Berger diz que:
O homem produz também a linguagem e, sobre esse fundamento e por meio dele, um imponente
edifício de símbolos que permeiam todos os aspectos de sua vida”.
90
3.1 Conhecendo os novos amigos
Quando os dezenove irmãos saíram expulsos da Igreja Batista, em Belém do Pará,
Gunnar Vingren tornou-se oficialmente o líder do grupo. Sua primeira preocupação foi com o
local onde deveria morar e receber os novos irmãos. É fácil entender as dificuldades do grupo,
pois o líder, Gunnar, e seu companheiro, Daniel Berg, não se comunicavam perfeitamente em
português (estavam poucos meses no Brasil), não conheciam os costumes brasileiros, não
tinham experiência em liderança e ainda eram solteiros, sem experiência da vida social em
família.
As primeiras dificuldades foram superadas pela necessidade de harmonia entre os
excluídos. Seis dias depois, em 18 de junho de 1911, amparados pela família de Henrique e
Celina Albuquerque, organizaram “A Missão da Apostólica” na sala da casa da família
Albuquerque, rua Siqueira Mendes, 79, Bairro Cidade Velha, em Belém. Os primeiros
obstáculos foram transpostos em razão da convivência em união e do interesse entre todos de
“melhor compreender a vontade do Senhor para o desenvolvimento da comunidade
evangélica pentecostal”
É prudente buscar no conhecimento e na influência dos fundadores, dirigentes e
administradores da nova denominação cristã, a origem dos primeiros costumes implantados,
como dogmas santificantes, visando a perfeição de seus seguidores, tendo como propósito a
presença do Espírito Santo na vida do fiel, através de sinais, denominados por estes como
89
“Mundo” ou costumes mundanos: Expressões que identificam toda e qualquer tentativa de assimilação dos
novos modelos que a moda social divulga.
90
BERGER, O Dossel Sagrado, p. 19.
49
dons do Espírito Santo, tais como falar em línguas estranhas (glossolalia), curas, milagres e
visões. Estes foram os fundamentos bíblicos básicos na nova denominação evangélica.
Os costumes implantados pelos jovens missionários suecos foram mesclados de
conhecimentos adquiridos entre seu país de origem, o tempo de sua convivência e
aprendizado sobre pentecostalismo na América do Norte e a convivência com os irmãos que
foram excluídos da Igreja Batista, em Belém. Esses costumes, além da exposição de santidade
dos fiéis, também os aproximavam da seriedade de seus comportamentos familiares europeus,
em seu país de origem, e da fuga da promiscuidade, hábito comum entre a sociedade não
evangélica. Neste campo incluem-se itens a respeito da alimentação, cultura, vestuário e
comportamento social. Era a busca pela diferença: pessoas iguais, mas com o mesmo
propósito, com “algo mais” além dos valores tradicionais. A nova comunidade, mesmo com
dificuldades de interpretação entre liderança e liderados, abraçaram a busca pela presença do
Espírito Santo – a glossolalia – como objetivo principal na busca pelo sucesso da nova
pregação religiosa.
Não obstante, durante a pesquisa sobre mudança de comportamento social, foram
detectados interesses opostos ao sistema doutrinal do cidadão da pólis (πολις) , seja religioso
ou não. A cada mudança comportamental de parcelas da sociedade, principalmente religiosa,
é visível o desconforto apresentado por seus novos idealizadores, seja para um retorno à
ortodoxia ou a favor de uma abertura mais liberal
91
dos costumes e dogmas, em razão do que
se apresenta como “novos tempos”. A religião é sempre usada como baluarte das sempre
renovadas propostas sociais. Objetivos como fim da pobreza, igualdade de classes, extinção
da fome, direitos do cidadão, educação para todos, entre muitos outros temas, são sempre as
bandeiras que movimentam multidões.
3.2 Organizando a comunidade assembleiana
A construção de qualquer nova ideologia ou doutrina religiosa, como afirmamos
anteriormente, começa sempre apresentando um novo caminho e o alvo que deverá ser
atingido. A nova visão de futuro, apresentada como solução, é sempre amparada pela nova
ortodoxia religiosa do momento, tendo como pressuposto inicial a busca por (mais) santidade
91
Liberal no contexto pentecostal nada tem a ver com o liberalismo teológico, mas é aquele que mantém o
espírito aberto, tolerante; que tolera os comportamentos contrários nos usos e costumes ou em oposição ao
tradicionalismo do grupo. É aquele que não se deixa tolher por radicalismos ou formas tradicionais de agir.
Houaiss, dicionário, 2001.
50
ou liberdade para tranqüilizar os fiéis diante das novas propostas mundanas que possam
surgir. Sobre este fato, Leonildo Silveira Campos comenta que:
Os convertidos à nova religiosidade cristã, pentecostal, a maioria oriunda das camadas pobres
da população, inicialmente aceitaram com mais facilidade um acetismo extra-mundano, uma
visão sectarista da sociedade e uma postura de repressão do sexo. [...] Até porque nessas
comunidades, relativamente alheias ao mundo, pregava-se a santidade de vida, a prática da
glossolalia, o êxtase proporcionado pela presença do Espírito Santo e a espera da segunda vinda
iminente de Cristo à terra.
92
A formação do ideal pentecostal dependia de uma dinâmica que incentivasse os
melhores costumes, abolisse vícios considerados mundanos e inserisse costumes cristãos
observados na Europa e nos Estados Unidos, usando a Bíblia como referencial prático. Os
fundadores, Vingren e Berg, com algum conhecimento de sociedades cristãs, organizaram a
nova comunidade para ter comportamento exemplar, digno das novidades cristãs que
propagavam: Curas Divinas e Batismo com o Espírito santo.
A história é rica em registros de novas mudanças sociais. É fato que mudanças radicais
se fizeram sentir no momento em que “feriu o lugar comum” entre seus membros,
causando mal-estar no grupo. (Quase) sempre o radicalismo é produzido por um novo grupo
ou dissidentes religiosos. Verdade é, também, que as chamadas religiões estabelecidas sempre
foram as que mais geraram esses movimentos.
3.3 A prática diária do pentecostalismo
Ao falar sobre a transformação do indivíduo e seu deslocamento do mundo para dentro
de uma comunidade religiosa, Peter Berger comenta:
Somente dentro da comunidade religiosa, a eclesia, a conversão pode ser efetivamente mantida
como plausível [...] Ter uma experiência de conversão não é nada demais. A coisa importante é
ser capaz de conservá-la, levando-a a rio, mantendo o sentimento de sua plausibilidade. É
aqui onde entra a comunidade religiosa. Esta fornece a indispensável estrutura de plausibilidade
para a nova realidade... O indivíduo que executa a alternação desengaja-se de seu mundo
anterior e da estrutura de plausibilidade que o sustentava, se possível corporalmente, e quando
não, mentalmente. Num caso e noutro, não está mais “atrelado aos infiéis”, ficando assim
protegido da influência potencial destruidora da realidade exercida por aqueles infiéis.
93
A primeira sensação que transparece no pentecostalismo é de que esse movimento está
sempre à procura de uma perfeição religiosa. Paulo Barreira Rivera afirma:
92
CAMPOS, Leonildo Silveira, Estudos De Religião. Umesp, Revista semanal de estudos de religião. Pg. 99
93
BERGER, Peter L & LUCKMANN, Thomas, A construção social da realidade, p. 209-210.
51
A ética religiosa exige dos fiéis o cumprimento rigoroso de determinados preceitos e regras e a
desobediência acarreta castigo. Isso oferece para quem detém o poder, uma vantagem sobre o
mago. Este não pode fracassar porque sua legitimidade depende do carisma”
94
.
Pelas características de seu sistema de transmissão, o protestantismo desenvolveu uma cultura
religiosa de geração em geração. O fiel superava o encantamento da conversão através da
instrução religiosa e desenvolvia um habitus. Nas gerações posteriores, a eficácia dessa
transmissão enfraquecia
.
95
No entendimento comum, “produto acabado” é uma verdade absoluta, pois as
exigências, tanto no campo religioso como na vida social, da ortodoxia, existe desde o início
dessa organização: os dois jovens, solteiros, com uma idéia na mente e um propósito no
coração e aparentemente sem definição de religiosa pré-concebida que, de um momento
para outro, se apresentam como responsáveis por dezenove vidas que com eles foram
expulsos de sua igreja mãe.
96
Tudo era inovador para eles (os missionários suecos). Diante da
sociedade protestante de Belém, eram nada mais que marginais protestantes. restava uma
alternativa: ir em frente”. E eles foram. Prosseguindo de cabeça erguida; amparados pelos
irmãos dissidentes, entendiam que deveriam otimizar, como seu objetivo maior, anunciar as
velhas novidades cristãs para um povo sofrido e desprezado pela distância do conhecimento
religioso e pelo formalismo religioso cristão, protestante ou católico, daquela cidade, Belém
do Pará.
O desafio havia sido aceito pela minoria dos batistas de Belém (dezenove dissidentes).
Gunnar Vingren e Daniel Berg, amparados pelos seus novos discípulos, começaram a
propagar as “novas do evangelho pentecostal: línguas estranhas, curas divinas e a liberdade de
falar diretamente com Deus com a certeza de que estava sendo ouvido e que suas petições
seriam atendidas”
97
. Tudo era novo, não somente entre os seguidores do novo movimento,
mas também de todo mundo religioso protestante da região. Caputo explica que: “O problema
está, obviamente, no poder paradoxal do signo, que reside precisamente na sua habilidade
para funcionar na ausência do significado.”
98
94
RIVERA, Paulo Barrera. Tradição, transmissão e emoção religiosa, p. 62.
95
Ibid., p. 200.
96
P
ertencer à terceira idade no momento de descrever um fenômeno é uma coisa boa, e neste caso de imperiosa
necessidade em assumir responsabilidades sobre muitas vidas, iniciativa tomada por jovens com pouca
experiência de administração eclesiástica, sendo possível observar muitos outros exemplos parecidos. Deste
modo, entende-se o desespero daqueles jovens ao se verem rodeados de pessoas que foram desprezadas em razão
do apoio dado a eles. Vejamos alguns pontos a ponderar: eram solteiros comandando casados e solteiros, eram
jovens dirigindo pessoas mais idosas, eram estrangeiros com pouco tempo de Brasil (sete meses e alguns dias),
sem o domínio total do nosso idioma diante de pessoas que o dominavam perfeitamente, sem o mínimo
conhecimento dos costumes brasileiros e ainda sem domicílio certo e possivelmente tendo que depender da
moradia na casa de algum novo seguidor.
97
Essa era a retórica apresentada pelos pentecostais em sua mensagem de “conversa com Deus”.
98
CAPUTO, John. More Radical Hermeneutics. On not knowing who we are, p.197.
52
É importante uma análise mais acurada do trabalho que estava sendo feito com os
novos seguidores dos missionários suecos, em razão da falta de experiência dos mesmos em
administração de pessoal. Porém, como afirma Paulo Barrera Rivera:
A identidade religiosa é um sentimento, assim como ser brasileiro ou latino-americano. Os
estudos mais desenvolvidos desse tema no Brasil se apóiam em dados quantitativos sobre a
pertença religiosa. Mas o campo religioso contemporâneo é o resultado de uma vivência plural,
porque oferece uma lista de alternativas de presença para que o entrevistado encontre a sua.
99
A ênfase imposta por eles na evangelização com promessas de milagres e curas
divinas, não havia sido aprendida em nenhuma escola teológica brasileira e nem fazia parte de
nenhum currículo nos seminários batistas americanos ou suecos que era parte de seus
conhecimentos curriculares teológicos. No entanto, estavam encantando a muitos e os fiéis se
multiplicavam, juntamente com os testemunhos de milagres.
100
3.4 Costumes adquiridos dos suecos (sobreviventes ou não)
Entre os costumes mais radicais que ainda sobrevivem impunes aos avanços
democráticos na igreja, as vestes (masculinas e femininas), adornos (anéis, colares, brincos) e
a simplicidade na aparência, têm seu lugar de destaque (ainda) entre algumas denominações
mais radicais entre os evangélicos pentecostais no Brasil, principalmente nas cidades
interioranas e em bairros mais afastados do centro das grandes cidades.
Desde os primeiros dias de sua existência no Brasil, a pergunta que mais se fez ouvir
foi: “- Porque, em um lugar tão quente como o Norte e Nordeste do Brasil, as mulheres se
cobrem da cabeça aos pés, desafiando o intenso calor da região?(sabemos que foi no Belém
do Pará, Norte do Brasil, o berço das Assembléias de Deus no Brasil). É possível que o
costume de se apresentar com o corpo totalmente coberto seja não somente uma prova de
pureza, mas também uma continuação dos costumes do Norte do planeta, ou seja,
particularmente da Suécia e do Norte dos Estados Unidos, regiões com frio intenso de onde
vieram Berg e Vingren.
A principal razão para a manutenção dos costumes assembleianos é a ênfase que seus
dirigentes mantêm em suas pregações sobre usos e costumes (não em todas as igrejas e
congregações). Todavia, eles ainda são praticados, a mesmo em algumas igrejas centrais
99
Rivera. Op. Cit. 201.
100
Quando encaramos o fato pentecostal como objeto de observação com toda sua demonstração
fenomenológica, desprezando os fatores acima descritos e muitos outros, munimo-nos de achismos e tornamo-
nos apenas críticos parciais do fenômeno.
53
como ocorre, por exemplo, em Cuiabá, capital do Estado de Mato Grosso do Sul). No local, a
proibição do uso de ornamentos – colares, anéis, brincos - enfim, adornos de qualquer
natureza, também se instituiu como marca registrada entre as mulheres crentes”
(pentecostais). Seu uso causa diversas punições: repreensões, “disciplinas”
101
e, em caso de
desobediência (como o uso continuado), a exclusão do rol de membros pode ser a sentença
final.
3.5 O desenvolvimento da moda no século XX
Os povos da antiguidade não possuíam moda em razão da tradição e da conservação
de costumes e mitos religiosos que fixavam regras, as quais deveriam ser seguidas de geração
em geração. Esses costumes, em épocas passadas, eram respeitados e cuidadosamente
reproduzidos no dia a dia da comunidade, eram aprendidas com as histórias místicas que
deveriam manter a integridade do povo através da tradição oral, proporcionando a existência
imutável de costumes. Não existindo a idéia de uma estética autônoma, como a transformação
por si só, as mudanças aconteciam com as relações de dominação ou novas influências
causadas pelo surgimento de outros líderes religiosos que, adotando ou suprimindo itens aos
costumes, inseriam na mentalidade de seus clãs, a necessidade da aparência para agradar os
deuses.
Outro motivo de mudança de costumes acontecia quando a região era invadida por
novos dominadores, que, ditando regras, definiam o papel do indivíduo na sociedade.
O quadro das mudanças de comportamento e inserções de acessórios principalmente
para moda feminina, mas também incluindo a masculina
102
, pode ser observado a seguir:
1900/1914 “La Belle Époque”. Caracteriza-se pelo bem viver, pela ostentação,
luxo e extravagância da classe alta. Nesta época, a moda clássica era
severa para homens e sinuosa e pesada para mulheres
103
. No Brasil
Colônia, havia teares para fabricar tecidos grossos de algodão,
para os negros. Assim, o Brasil foi condicionado a seguir os modos
101
“Disciplina” e exclusão, quando falado entre os pentecostais, tem o poder de intimidar o fiel, pois esses tipos
de punição proíbem a perfeita comunhão entre os membros da igreja e a pessoa punida.
102
Os dados apresentados foram adquiridos no site http://msmoda.vilabol.uol.com.br/pg5.htm. Acessado em
05/05/2007, 23h:50 min.
103
Ibid
54
da moda européia. As mulheres seguiam à risca o uso de roupas
vindas de Paris. Espartilhos, meias, luvas, chapéus, etc. eram usados
em pleno verão de 40 graus. Forma do corpo em "S" causada pelo
espartilho
104
. As mulheres usavam o cabelo preso (chapéus, coques).
1914/1918 A Primeira Guerra Mundial dá lugar no mercado profissional às
mulheres
105
. O espartilho sai de cena e as saias encurtam. Os cabelos
foram soltos, usavam-se roupas mais esportivas, como saias em
forma de sino e jaquetas curtas ou cardigãs. As mulheres vestiam-se
mais de acordo com o clima tropical, libertaram em parte os ombros,
colo e braços. Algumas mulheres da classe média começaram a
exercer trabalhos profissionais e a fazer uso de novos meios de
transporte. Usavam roupas mais simples e práticas.
Década de 20 "Anos Loucos". Uma década de prosperidade e liberdade, animada
pelo som das jazz-bands e pelo charme das melindrosas - mulheres
modernas da época: pó-de-arroz, batom vermelho e cabelos curtos.
Os trajes femininos foram encurtadas, indo até pouco abaixo dos
joelhos. Começou o uso do sutiã
106
. Com aparecimento de novas
linhas de cosméticos, os lábios foram ressaltados com batom
vermelho e as sobrancelhas eram realçadas com lápis, num traço
fino. Nesta época também surge o sapato aberto atrás do pé e fechado
na frente.
Década de 30 Os períodos de crises não são caracterizados por ousadias na forma
de se vestir. A mulher dessa época devia ser magra, bronzeada e
esportiva, semelhante ao estilo de Greta Garbo
107
.
A moda sai da Europa e Hollywood dita a moda. Saias afunilam. nos
vestidos de noite, grandes decotes desnudam o corpo feminino; os
vestidos de dia são confeccionados para dar uma nova silhueta à
104
SCHIRMER, Mauryn. Dossiê de povos antigos. 2003. http://msmoda.vilabol.uol.com.br/pg5.htm acessado
em 05/05/2007, 20h: 05 min.
105
http://msmoda.vilabol.uol.com.br/pg5.htm. Acessado em 05/05/2007 23,50 min.
106
Ibid.
107
Ibid.
55
mulher, com ombros largos, quadris estreitos, com busto e costa
descobertos de modo acentuado. Os cabelos ainda eram curtos,
porém em ondas. Os homens usavam bigodinho fino e cabelos
engomadinhos.
Década de 40 A Segunda Guerra Mundial marca a década. Com a recessão, a crise
econômica, a roupa feminina ganha seriedade. Tendência que exigia
praticidade, semelhante ao uniforme. Por questões de conforto, o
hábito de vestir calça comprida se generalizou, e a saia-calça era
muito usada por mulheres ciclistas. Em 1943, no Rio de Janeiro,
Praia de Copacabana, aparecem roupas de banho de duas peças
108
.
Década de 50 A moda clássica retorna a Paris. Nela, a maquiagem estava em alta
para valorizar o olhar, o que levou a uma infinidade de lançamentos
de produtos para os olhos, um verdadeiro arsenal composto por
sombras, rímel, lápis para os olhos e sobrancelhas, além do
indispensável delineador. A maquiagem realçava a intensidade dos
lábios e a palidez da pele, que devia ser perfeita. Na América inicia-
se a influência americana na moda e hábitos. São os "Anos
Dourados".
Surge a televisão
109
. A televisão influenciou a moda americana, e era
comum a cópia de vestidos de atrizes e cantoras para bailes e
coquetéis.
Década de 60 A Época que Mudou o Mundo. Auge da prosperidade financeira, em
um clima de euforia consumista gerada nos anos do pós-guerra nos
EUA. A nova década que começava prometia grandes mudanças
no comportamento, iniciada com o sucesso do rock and roll e o
rebolado frenético de Elvis Presley, seu maior símbolo. A juventude
com suas modas unissex e hippie dizia que o futuro pertencia aos
jovens. Aparecem “looks espaciais". Surgem as butiques e o impulso
do mercado jovem. A camiseta e o jeans tornaram-se o "uniforme"
108
Ibid.
109
Ibid.
56
dos jovens. As adolescentes eram vistas em todas as ocasiões usando
jeans e pulôveres. A moda refletia as aspirações da juventude, o que
determinava na costura, tendências totalmente diferentes das
anteriores. Em 1962, com Mary Quant, a minissaia tornou-se
popular, e criaram-se blusas caneladas, meias coloridas, saias saint-
tropês e cintos.
Década de 70
“Faça o amor, o faça a guerra”
110
era o lema do início da década.
Esta foi a moda que caracterizou os anos 70: hippies e românticos.
Os revolucionários dos anos 60 começaram a se acalmar nos anos 70.
O “hipismo” teve início em uma comunidade idealística que vivia em
Haight-Ashbury, distrito de San Francisco, esquivando-se da
convocação militar para lutar no Vietnã. Originalmente concentrada
em um estilo de vida ideal, sem guerras e competições de ego, o
hippie acabou virando modismo. O estilo hippie teve uma exposição
global em 1969 durante o festival de Woodstock, em Nova York,
influenciando milhares de pessoas a adotar o visual. A aparência era:
romântica, sonhadora e natural. As tendências: mistura, construções
livres e cada pessoa podia compor seu gênero. Moda hippie, black
power
111
, romantismo. Movimento glam ou glitter. Final dos anos 70
surgem os punks. Em alta: calça boca-de-sino.
Década de 80 Moda brega
112
. A juventude traz de volta o que já era considerado
“velho”: roupas sob medida e vestidos de baile. Os anos 80 seguem o
charme e a sofisticação dos anos 60, porém com um certo exagero:
Yuppies, minimalismo andrógino, roupas para academia; Surge a
microfibra; a moda passa a ser individualista; a indústria não precisa
mais lançar tendências: é o público que as lança por ser cada vez
mais ativo e exigente.
Na economia, o cenário nacional é de crise econômica e inflação alta
com o começo da implantação da democracia.
110
Ibid.
111
Ibid.
112
Ibid.
57
Década de 90 Aparecem os grunges, clubbers, cybers; luxo com destaque ao
conforto; moda "clean"; Kate Moss é o ícone do momento; moda
minimalista, em que "o menos é mais".
Novo milênio No passado, as pessoas imaginavam que o ano 2000 chegaria com a
população mundial envolta em tecidos metalizados e roupas
espaciais. A utilização de tecidos inteligentes é cada vez mais
presente no trabalho dos estilistas, visando sempre o conforto e a
satisfação do consumidor.
3.6 A inserção dos usos e costumes como dogma
Os componentes da nova igreja, Missão da Apostólica”, de 18 de junho de 1911
até 11 de janeiro de 1918
113
, quando assumiram o nome de “Assembléia de Deus”, aplicaram
seus conhecimentos e desejos comuns no que entenderam como o melhor para o
desenvolvimento de uma comunidade cristã e santa, portanto diferente dos modelos existentes
na região.
A necessidade de convivência pacífica entre os membros levou os missionários a
atualizarem-se e reciclarem-se em razão dos costumes da nova terra, pois para eles tudo era
novo. O referencial de comportamento cristão conhecido por Gunnar e Daniel eram os vividos
e aprendidos em sua terra natal e durante os poucos anos que viveram nos Estados Unidos.
Estes eram os que deveriam ser adaptados ao novo modelo brasileiro. O ponto comum era a
identificação de todos os “excluídos”. O ponto a favor era a “a glossolalia”, as curas divinas e
os milagres que se repetiam.
Não é de se admirar como a adaptação entre comandados e comandante aconteceu
como “dinâmica de um grupo especial”, pois as bases de apoio eram as produzidas entre seus
próprios membros. Outro ponto a ser considerado era a dependência social e financeira do
líder, Gunnar, pois mesmo amparado e mantido por Daniel e executando alguns trabalhos
extras, ainda sofria pela dificuldade de o entender perfeitamente o idioma e os costumes
dos brasileiros.
113
OLIVEIRA, Joanir. As Assembléias de Deus no Brasil, Sumário Histórico ilustrado. CPAD, Rio de Janeiro,
1997.
58
3.7 Aprendendo com os irmãos
É salutar entender que os primeiros passos do protestantismo no Brasil foram
direcionados aos “irmãos protestantes”, em primeira investida e somente após a conquista
de alguns ter sido consolidada é que os crentes da nova fé se envolveram com a conquista de
não protestantes e católicos. Os passos foram dados com muito cuidado, principalmente para
não perder aqueles que abraçavam a nova fé e pela dificuldade de conquistar novos membros.
A convivência entre comandante e comandados era sempre atualizada por Gunnar que
dependia de tudo e de todos para impor-se como pastor daquela comunidade. Os novos
membros que se aliavam eram tratados como pessoas especiais que desejavam uma
aproximação mais restrita com o sagrado e para isso deveriam se santificar mais e mais até
serem participantes do batismo com o Espírito Santo, que era a confirmação perfeita para se
tornar um crente pentecostal.
Desde os primeiros dias do início do trabalho religioso, os jovens Gunnar e Berg
cuidaram de solidificar seus ensinos e sua fé para fundamentá-los como objeto de transmissão
para todos aqueles que abraçassem a fé pentecostal. Rivera afirma que:
A transmissão implica um problema temporal, dada a existência finita dos seres humanos,
sujeitos desse processo. As pessoas são apenas agentes temporários da transmissão de uma
herança cultural acumulada e herdada”
114
.
Entretanto para esses jovens a temporalidade não deveria ser considerada como viável,
pois com um fundamento sólido e digno de credibilidade poderiam alcançar o sucesso que
para eles era a salvação de almas e a continuidade dos trabalhos religiosos pentecostais (cura
divina e batismo com o Espírito Santo).
3.8 Presença feminina no púlpito
Em primeiro de agosto de 1915, Vingren sai de férias em direção aos Estados Unidos e
Europa e retorna em 6 de agosto de 1917, tendo como companheira de viagem Frida
Strandberg. Em 16 de outubro de 1917, Gunnar e Frida se casaram, acompanhados pelo casal
de missionários Samuel e Lina Nyström. Após o casamento de Gunnar e Frida, uma nova
concepção de igreja protestante instalava-se no meio protestante brasileiro, acostumado com a
exclusividade masculina no comando da igreja. Frida, após dominar parcialmente o idioma
114
RIVERA. Op. cit., p. 68.
59
português, durante a ausência de seu marido, tomou a direção da liturgia do culto, mesmo
com a presença de alguns oficiais da igreja no culto, em algumas ocasiões.
Essa novidade, que para muitos surgia como uma abertura no Evangelho, desagradou a
muitos assembleianos, mesmo levando em consideração o fato de que Frida tinha amplo
conhecimento teológico, pois seus estudos abrangiam desde a escolaridade tradicional até a
conclusão do seminário protestante, na Suécia. Alguns lideres assembleianos protestaram
contra a presença da mulher na direção dos cultos e essa atitude de Frida era motivo de
discórdias e desavenças que colocava, em lados diferentes, obreiros que divergiam entre si,
inclusive Berg e os missionários Gunnar e Frida Vingren. Para Gunnar e Frida as mulheres
deveriam ter os direitos mais amplos e deveriam pregar e ensinar nas igrejas; Daniel Berg não
concordava com mulheres na liderança da igreja.
Essa atitude de Gunnar incomodou a liderança brasileira e, em 1924, ele e sua esposa
mudaram-se, definitivamente, para o Rio de Janeiro (até nossos dias é vedado a direção do
culto nas Assembléias de Deus históricas às mulheres, sejam elas capacitadas ou não).
3.9. O “Edifício” usos e costumes na tradição assembleiana.
O tema “usos e costumes” têm importância dogmática como doutrina religiosa no senso
comum dos assembleianos. Ricardo Gondim informa que:
Denominações experimentaram até cismas por causa de usos e costumes. Aquelas que se
auto-intitulam “Igrejas da Restauração” geralmente reagem contra o que consideram
libertinagem em suas congregações. Com um conservadorismo sufocante, tentam restaurar os
“costumes dos nossos pais”, brigam com aqueles a quem chamam de liberais, acusando-os de
jogar a igreja no esgoto do mundanismo. Entre eles, as mulheres que fazem uso de qualquer
tipo de maquilagem recebem a pecha de Jezabel”; os que assistem a televisão são tachados de
“aliados do diabo”; os jovens que escutam qualquer tipo de música que não seja “evangélica”
são vistos como desviados.
115
Abaixo, na íntegra, o assunto usos e costumes” como parte integrante da disciplina
assembleiana, como consta nos registros da CGADB
116
.
USOS E COSTUMES DEFENDIDOS PELAS ASSEMBLÉIAS DE DEUS NO BRASIL
DEFININDO OS TERMOS
115
GONDIM, Ricardo. É proibido: o que a Bíblia permite e a igreja proíbe, p. 12.
116
http://igrejaassembleiadedeus.org/usos e costumes. htm. Acessado em 06/06/2007 20h:45 min.
60
Princípio
“Ato de principiar. Causa primeira. Origem. Razão fundamental. Elemento que
predomina na constituição de um corpo organizado. Ex.: Princípio da vida.
Convicção. (Grande Dicionário Ilustrado – Novo Brasil. Ed. 1979)”.
“Começo. Causa, Origem. Razão fundamental. Base. Preceito. Regra”. (Dicionário
Álvaro Magalhães – E. Globo).
Princípios são bases estabelecidas por Deus para orientação da sociedade humana, que
estabelecem parâmetros, dentro dos quais o homem é aceito e se relaciona com o
Criador.
“Regras fundamentais e gerais de qualquer ciência ou arte. Ex.: Princípios
fundamentais das Ciências, da Física, da Química, da Matemática, da Filosofia, ...da
Religião”.
Tradição
É a transmissão de ensinos, práticas, crenças de uma cultura, de uma geração a outra.
A palavra grega para tradição é paradosis (παραδοσισ), usada no sentido negativo
(Mt 15.2; Gl 1.14); e também no sentido positivo (2 Ts 2.15). Quando se coloca a
tradição acima da Bíblia ou em de igualdade com ela a tradição assume uma
conotação negativa. Muitas vezes é usada simplesmente para camuflar nossos
pecados. O problema dos fariseus e da atual Igreja Católica é justamente receberem a
tradição como Palavra de Deus. Disse alguém: “Tradição é a viva dos que agora
estão mortos, e tradicionalismo é a fé morta dos que agora estão vivos”.
Quando afirmamos que temos as nossas tradições, não estamos com isso dizendo que
os nossos usos e costumes tenham a mesma autoridade da Palavra de Deus, mas que
são bons costumes que devem ser respeitados por questão de identidade de nossa
igreja. Temos quase 90 anos, somos um povo que tem história, identidade definida, e,
acima de tudo, nossos costumes sãos saudáveis. Deus nos trouxe até aqui da maneira
que nós somos e assim, cremos que sem dúvida alguma ele nos levará até ao fim.
3.10. A Resolução de Santo André
A Resolução
117
“E ser-me-eis santos, porque eu, o Senhor, sou santo, e separei-vos dos povos, para
serdes meus”, Lv 20.26.
- A 22ª Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil, reunida na cidade de
Santo André, Estado de São Paulo, reafirma o seu ponto de vista no tocante aos
sadios princípios estabelecidos como doutrina na Palavra de Deus – a Bíblia Sagrada
e conservados como costumes desde o início desta Obra no Brasil. Imbuída sempre
dos mais altos propósitos, ela, a Convenção Geral, deliberou pela votação unânime e
dos delegados das igrejas da mesma e ordem, em nosso país, que as mesmas
igrejas se abstenham do seguinte:
1. Uso de cabelos crescidos, pelos membros do sexo masculino;
2. Uso de traje masculino, por parte dos membros ou congregados do sexo feminino;
3. Uso de pinturas nos olhos, unhas e outros órgãos da face;
4. Corte de cabelos, por parte das irmãs (membros ou congregadas);
5. Sobrancelhas alteradas;
6. Uso de mini-saias e outras roupas contrárias ao bom testemunho da vida cristã;
7. Uso de aparelho de televisão convindo abster-se, tendo em vista a qualidade
da maioria dos seus programas; abstenção essa que justifica, inclusive, por conduzir a
eventuais problemas de saúde;
117
Ibid.
61
8. Uso de bebidas alcoólicas.
Esta Convenção resolve manter relações fraternais com outros movimentos
pentecostais, desde que não sejam oriundos de trabalhos iniciados ou dirigidos por
pessoas excluídas das ‘Assembléias de Deus’, bem como manter comunhão espiritual
com movimentos de renovação espiritual, que mantenham os mesmos princípios
estabelecidos nesta resolução. Relações essas que devem ser mantidas com prudência
e sabedoria, a fim de que não ocorram possíveis desvios das normas doutrinárias
esposadas e defendidas pelas Assembléias de Deus no Brasil”.
O texto
Atendendo parecer do Conselho Consultivo da CGADB encaminhado ao ELAD,
em 25 de agosto de 1999, a Comissão analisou à luz da Bíblia, de nosso contexto e de
nossa realidade, expressando esses princípios numa linguagem atualizada.
O primeiro ponto que precisa ser expresso numa linguagem atualizada é a declaração:
“sadios princípios estabelecidos na Palavra de Deus a Bíblia Sagrada e
conservados como costumes desde o início desta Obra no Brasil”. O texto não faz
distinção entre doutrina e costume. O Manual do CAPED, edição de 1999, CPAD,
Rio, p. 92, diz:
“Há pelo menos três diferenças básicas entre doutrina bíblica e costume puramente
humano. Há costumes bons e maus. A doutrina bíblica conduz a bons costumes”.
Quanto à origem
• A doutrina é divina
• O costume é humano
Quanto ao alcance
• A doutrina é geral
• O costume é local
Quanto ao tempo
• A doutrina é imutável
• O costume é temporário
A doutrina bíblica gera bons costumes, mas bons costumes não geram doutrina
bíblica. Igrejas que têm um somatório imenso de bons costumes, mas quase nada
de doutrina. Isso é muito perigoso! Seus membros naufragam com facilidade por não
terem o lastro espiritual da Palavra”.
A palavra grega usada para “doutrina” no NT é didache, que segundo o Dicionário
Conciso Griego – Español del Nuevo Testamento, significa: “o que se ensina, ensino,
ação de ensinar, instrução”. (Jo 7.16, 17; At 5.28; 17.19; e didaskalia, que segundo o
já citado dicionário é: “o que se ensina, ensino, ação de ensinar, instrução”. O Léxico
do N.T. Grego/Português, de F. Wilbur Gingrich e Frederick W. Danker, Vida Nova,
São Paulo, 1991, p. 56,diz que didaskalia é: “Ato de ensino, instrução Rm 12.7; 15.4;
2 Tm 3.16. Num sentido passivo = aquilo que é ensinado, instrução, doutrina Mc 7.7;
Cl 2.22; 1 Tm 1.10; 4.6; 2 Tm 3.10; Tt 1.9)”; e didache: “ensino como atividade,
instrução Mc 4.2; 1 Co 14.6; 2 Tm 4.2. Em um sentido passivo = o que é ensinado,
ensino, instrução Mt 16.12; Mc 1.27; Jo 7.16s; Rm 16.17; Ap 2.14s, 24. Os aspectos
at. e pass. podem ser denotados em Mt 7.28; Mc 11.18; Lc4.32”. Segundo a Pequena
Enciclopédia Bíblica, Orlando Boyer, doutrina é “tudo o que é objeto de ensino;
disciplina” (Vida, S. Paulo, 1999, p. 211).
À luz da Bíblia, doutrina é o ensino bíblico normativo terminante, final, derivado das
Sagradas Escrituras, como regra de e prática de vida, para a Igreja, para seus
membros, vista na Bíblia como expressão prática na vida do crente, e isso inclui as
práticas, usos e costumes. Elas são santas, divinas, universais e imutáveis.
Nos próprios dicionários seculares encontramos esse mesmo conceito sobre doutrina:
“É o complexo de ensinamentos de uma escola filosófica, científica ou religiosa.
Disciplina ou matéria do ensino. Opinião em matéria científica” (Dicionário Álvaro
de Magalhães). “Conjunto de princípios de um sistema religioso, políticos ou
62
filosóficos. Rudimentos da cristã. Método, disciplina, instrução, ensino”
(Dicionário Ilustrado Novo Brasil, ed. 1979).
Costume
A Pequena Enciclopédia Bíblica, Orlando Boyer, define costume como “Uso, prática
geralmente observada”. (p. 169). As palavras gregas usadas para “costume são ethos
(Lc 2.42; Hb 10.25) e synetheia (Jo 18.19; 1 Co 8.7; 11.16).A primeira, de onde vem
a palavra “ética”, significa costume com sentido de “lei, uso” (Lc 1.9). Não é
biblicamente correto usar doutrina e costume como se fosse a mesma coisa. O
costume é “Prática habitual. Modo de proceder. Jurisprudência baseada em uso;
modo vulgar; particularidade; moda; trajo característico, procedimento; modo de
viver”. Os costumes vistos pela ótica cristã, são linhas recomendáveis de
comportamento. Estão ligados ao bom testemunho do crente perante o mundo. Estão
colocados no contexto temporal, não estão comprometidos diretamente com a
salvação.
Os costumes em si são sociais, humanos, regionais e temporais, porque ocorrem na
esfera humana, sendo inúmeros deles gerados e influenciados pelas etnias, etariedade,
tradições, crendices, individualismo, humanismo, estrangeirismo e ignorância.
Convém atualizar essa redação omitindo a expressão “como doutrina”, ficando assim:
“sadios princípios estabelecidos na Palavra de Deus a Bíblia Sagrada e
conservados como costumes desde o início desta Obra no Brasil”.
Quanto aos 8 princípios da Resolução, uma maneira de colocar numa linguagem
atualizada é:
1. Ter os homens cabelos crescidos (1 Co 11.14), bem como fazer cortes
extravagantes;
2. As mulheres usarem roupas que são peculiares aos homens e vestimentas
indecentes e indecorosas, ou sem modéstia (1 Tm 2.9, 10);
3. Uso exagerado de pintura e maquiagem - unhas, tatuagens e cabelos- (Lv 19.28; 2
Rs 9.30);
4. Uso de cabelos curtos em detrimento da recomendação bíblica (1 Co 11.6, 15);
5. Mau uso dos meios de comunicação: televisão, Internet, rádio, telefone (1 Co 6.12;
Fp 4.8);
6. Uso de bebidas alcoólicas e embriagantes (Pv 20.1; 26.31; 1 Co 6.10; Ef. 5.18)
Os itens 2 e 6 foram colocados num mesmo item, pois se trata de um mesmo assunto.
Colocamos referências bíblicas porque os nossos costumes são norteados pela Palavra
de Deus. Precisamos ter consciência de que os nossos costumes não impedem o
crescimento da Igreja. Hoje em dia há igrejas para todos os gostos, mas nós temos
compromisso com Deus, com sua Palavra e com o povo. O objetivo de conquistar as
elites da sociedade em detrimento de nossos costumes e tradições não é bom negócio.
Isso tem causado muitos escândalos e divisões e não levam a resultados positivos.
Somos o que somos, devemos aperfeiçoar as nossas estratégias de evangelismo e não
mudar arbitrariamente os nossos costumes, pois isso choca a maioria dos crentes.
Criar novos métodos para alcançar os pecadores, isso sim, para que o nosso
crescimento possa continuar.
Falta de crescimento
Outro ponto que convém ressaltar é que a falta de crescimento de algumas igrejas não
é pelo fator usos e costumes, como muitas vezes tem sido enfatizado nas AGOs da
CGADB, como foi ressaltado no ELAD, pois mais de 85% dos líderes das
Assembléias de Deus reconhecem a necessidade de preservação de nossas tradições,
usos e costumes e de nossa identidade, mas sim, por falta de visão e de objetivos de
seus líderes. Essa deficiência pode ser vista e comprovada dos dois lados, tantos dos
favoráveis às mudanças como com os que querem manter o mesmo sistema histórico
63
das Assembléias de Deus. O crescimento da igreja, à luz da Bíblia, é conseqüência de
evangelismo, discipulado e oração; e o avivamento, fruto de jejum, oração e de
arrependimento, e não resultado de usos, costumes e tradição.
Nem tudo que é extra bíblico é antibíblico. Nem tudo que nos interessa é condenado e
pecado. Não podemos julgar ou condenar outros grupos porque adotaram liturgias
estranhas e costumes diferentes dos nossos, e nem alcunhar nossos companheiros de
ministério de liberais, pois “liberal” é uma palavra ofensiva. Os liberais sãos os que
não acreditam na inspiração e autoridade das Escrituras, os que negam o nascimento
virginal de Jesus, não reconhecem a existências de verdades absolutas. Discordar
deles é uma coisa, mas agredir é outra muito diferente, e fere o espírito cristão do
amor fraternal. Devemos, sim, preservar os nossos costumes.
A salvação é um ato da graça de Deus pela em Jesus. A Bíblia ensina que somos
salvos pela em Jesus (Rm 3.28; Gl 2.16; Ef 2.8-10; Tt 3.5). Todos os crentes são
salvos porque um dia ouviram alguém falar de Jesus e creram nessa mensagem.
Ninguém fez nada, absolutamente, para ser salvo, a não ser a em Jesus. Como
conseqüência da salvação temos o fruto do Espírito (Gl 5.22). A vida de santificação
é resultado da nova vida em Cristo, e não um meio para a salvação. Cristianismo é
religião de liberdade no Espírito e não um conjunto de regras e de ritos. Acrescentar
algo mais que a em Jesus como condição para salvação é heresia e desvio da
cristã (Gl 5.1-4). Mas, ir além da liberdade cristã, extrapolando os limites é
libertinagem (Gl 5.13). A cristã requer compromissos e por isso vivemos uma vida
diferente do mundo, do contrário essa fé seria superficial e não profunda, como
encontramos no apóstolo Paulo (Gl 2.20). Não existe instituição sem normas, nós
temos as nossas.
Quando os gentios de Antioquia se converteram à cristã a igreja de Jerusalém
enviou Barnabé para discipular aqueles novos crentes (At 11.20-22). Ele Entendia
que os costumes devem ser mantidos quando necessários, pois ensinar costumes,
culturas e tradições como condição para salvação, é heresia e caracteriza seita.
Barnabé sabia que a tradição judaica era mais uma forma de manter a identidade
nacional e que isso em nada implicaria na salvação desses novos crentes, portanto,
não seria necessário observar o ritual da lei de Moisés (At 15.19, 20).
Os judeus não eram mais crentes do que os gentios por causa dos seus costumes e
nem consideravam os gentios menos crentes do que eles. Pedro pregava aos judeus o
“evangelho de circuncisão”, enquanto Paulo o da “incircuncisão”, ou seja, Pedro
pregava aos judeus e Paulo aos gentios (Gl 2.7-9). Não se trata de dois evangelhos,
mas de um evangelho, apresentado de forma diferente. Isso é muito importante
porque as convicções religiosas são pessoais e o apóstolo Paulo respeitava essas
coisas. Havia os irmãos que achavam que devia guardar dias e se abster de certos
alimentos, outros consideravam iguais todos os dias e comiam de tudo (Rm 14.1-8).
Ele não procurou persuadir a ninguém dessa ou da outra maneira.
Diante disso, aprendemos que nenhum pastor deve persuadir o crente para deixar de
observar os costumes da igreja. Isso é algo de foro íntimo. Da mesma forma, um não
deve criticar o outro, porque o que ambos fazem é para Deus, além disso, o apóstolo
via que se tratava de uma questão cultural (Rm 14.6-10). Proibições sem a devida
fundamentação, principalmente bíblica, é fanatismo. Quem faz de sua religião o seu
Deus não terá Deus para sua religião.
Isso nos mostra que o nossos costumes não são condição para a salvação, eles devem
ser mantidos para a preservação de nossa identidade como denominação. Não
devemos criticar os outros e nem forçar ninguém a crer contra suas próprias
convicções religiosas. pastores que agridem o rebanho e desrespeitam seus
companheiros porque querem demolir nosso patrimônio histórico-espiritual a todo
custo. Deus quer a Assembléia de Deus como ela é, na sua maioria. As outras
denominações foram chamadas como elas são, é assim que Deus quis, Ele é soberano.
O mesmo Jesus que chamou Mateus disse para outros que não o seguissem. A
vontade de Deus para a minha vida não a mesma para a vida de outras pessoas.
64
Embora todos s estejamos na direção e vontade de Deus, porém com chamadas
diferente.
Da liturgia
Cada igreja tem seu público alvo que pretende alcançar. A nossa Igreja é bem
conhecida em todo o país e tem sua linha traçada. As Assembléias de Deus não
nasceram com projeto político, empresarial e nem com plano específico para
evangelizar as elites da sociedade. O nosso projeto é ganhar o povo para Jesus e
fundar igrejas locais em todos as cidades e bairros de nosso país. Foi com essa
estrutura que Deus nos trouxe até aqui e nos fez a maior igreja evangélica do país.
Nós somos pentecostais clássicos, isso significa que somos modelos para os outros,
são eles, portanto, eles é que devem aprender com as Assembléias de Deus e não nós
com eles, em matéria de doutrina pentecostal. É muita falta de bom senso e de
respeito para com nossa denominação copiar grupos neo-pentecostais que sequer
sabemos quem são, nem de onde vêm e nem para onde vão.
A avalanche de igrejas neo-pentecostais com liturgias e crenças para todos os gostos,
tem levado alguns de nossos líderes a se fascinarem por esses movimentos, imitando
e copiando seu sistema litúrgico. Ora, quem pertence a nossa Igreja não está
enganado, são crentes que sabem o que querem, que conhecem nossa doutrina,
tradição, usos e costumes e a nossa forma de adoração. É também correto afirmar que
a grande maioria se sente bem em nossos cultos de adoração a Deus.
As tentativas de mudanças são sempre um fiasco porque, quem não gosta de nossa
maneira de cultuar a Deus saiu, foi embora para outras denominações. Por que
imitar e copiar outros movimentos? Se eles inventaram suas inovações, certamente as
conhecem muito melhor do que nós. Quem procura imitar esses movimentos não se
identifica com a nossa denominação e nem com a deles. Imitação sempre é imitação.
Não conquista os pecadores para Cristo, pois não tem público alvo definido. Não
conquista outro público porque essas pessoas já conhecem a Assembléia de Deus. Por
mais que se queira provar que são outros costumes, que as coisas mudaram, não
persuadirem as pessoas porque a marca das Assembléias de Deus é muito forte.
Rio de Janeiro, RJ, 16 de agosto de 1999
118
Diante do exposto, o fundamentalismo assembleiano fica alicerçado nos usos e costumes, não
deixando dúvidas em relação a seus princípios dogmáticos. Gondim acrescenta em seus
comentários que:
Em alguns círculos uma doutrina que considera a prática dos esportes como mundana. Os
jovens são proibidos de se envolverem em qualquer atividade lúdica. Algumas igrejas proíbem
os seus membros de jogar bola, soltar pipa, brincar com bolas de gude ou bonecas. Qualquer
entretenimento ou lazer é rotulado como atividade carnal; pura perda de tempo. “Não podemos
alimentar a carne”, pontificam os pregadores dos lpitos. “Antes de gastar tempo com
atividades inúteis, devemos nos preocupar com a evangelização”, insistem. Brincar de bonecas?
“Nem pensar”, afirmam. “É idolatria”. estive em uma conferência onde ouvi um ancião
afirmar que não tolerava que os pastores evangélicos passeassem. Nervoso, argumentava: “A
única pessoa que passeou na Bíblia foi o diabo, no livro de Jó”.
119
118
http://igrejaassembleiadedeus.org/usos e costumes. htm. Acessado em 06/06/2007 20h:45 min.
119
GONDIM, Ricardo, op.cit., p. 137.
65
Tais comentários são mencionados apenas em conversas informais e poucas vezes
discutidos em público, mesmo havendo base bíblica para a discussão.
3.11. Os pioneiros e a implantação dos usos e costumes
Os jovens missionários, Gunnar Vingren, na época com trinta e um anos, e Daniel
Berg, com vinte e seis, ambos solteiros, fundaram a denominação protestante Assembléia de
Deus, no Brasil, igreja que, segundo muitos, tem a mais radical tradição (ou ima das) de seus
usos e costumes no meio protestante mundial.
Vingren, em uma viagem a Suécia, em 1917, conheceu a enfermeira Frida Strandberg
que o acompanhou ao Brasil e casaram-se no dia 16 de outubro de 1917. Daniel Berg, quando
retornou a sua terra natal (Suécia) em 1920, casou-se com Sara, e tiveram um filho, David.
Berg nunca deixou de exercer a sua missão de embaixador de Cristo. Quanto ao perfil de
alguns desses pioneiros, Paul Freston informa:
Pertenciam à insignificante minoria religiosa num país onde vários trâmites burocráticos ainda
passavam pelo clero luterano. Desprezavam a Igreja estatal, com seu alto status social e político
e seu clero culto e teologicamente liberal. Haviam experimentado um Estado unitário no qual
uma cultura cosmopolita homogênea não permitia à dissidência religiosa a construção de uma
base cultural capaz de resistir à influência metropolitana. Por isso, eram portadores de uma
religião leiga e contracultural, resistentes à erudição teológica e modesta nas aspirações sociais.
Eram acostumados com a marginalização, não possuíam a preocupação com a ascensão social
tão típica dos missionários americanos formados no denominacionalismo. (...) em vez da
ousadia de conquistadores, tinham uma postura de sofrimento, martírio e marginalização
cultural.
120
É possível entender que a implantação do pudor e a simplicidade na apresentação
como elemento chave do comportamento religioso, pelos suecos, tenha sido um
prolongamento de seus costumes na Suécia, que ainda vivia respaldada pelo estilo de moda do
século XIX. Ainda, a distância entre a moda no primeiro mundo, a moda na Capital brasileira,
Rio de Janeiro e a distante cidade de Belém, no Pará, extremo Norte do Brasil, talvez também
tenham sido elementos que distanciaram o comportamento social dos pentecostais e os
excluíram do modismo popular brasileiro.
Ao deparar com os dogmas impostos pela Convenção Geral das Assembléias de Deus
no Brasil, por meio das pesquisas documentais, pode-se entender que usos e costumes são
praticados como doutrina básica no meio pentecostal a que pertence as Assembléias de Deus e
120
ANTONIAZZI, Alberto (org.). Nem Anjos nem Demônios, p. 76-96.
66
que sua presença nos anais da CGADB tem a validade de uma busca pelo conservadorismo
ministerial assembleiano.
3.11.1 Outros brasileiros e estrangeiros que influenciaram na construção
Otto Nelson
- Nascimento: 11 de Agosto de 1891, Suécia.
- Ainda criança imigrou para os Estados Unidos com a família, por motivos de trabalho.
Ministério
- Viajou para o Brasil em 1914.
- Iniciou trabalho de evangelização em Belém do Pará.
- Em 21 de Agosto de 1915 foi com a família para Maceió (AL).
- Em Maio de 1930 foi para Salvador (BA), deixando o pastorado da Igreja para Algot
Svenson.
- Em 5 de Dezembro de 1982, com 91 anos, o missionário partiu para o descanso eterno.
Samuel Nystron
Missionário Sueco enviado ao Brasil pela Igreja Filadélfia em Estocolmo, Suécia. (o
quarto missionário sueco em terras brasileiras)
Ministério
- Chegou ao Brasil em 1916. No dia 18 de outubro de 1917, Samuel e Lina Nystron,
embarcaram para Manaus para organizar a igreja cuja semente havia sido lançada pelo irmão,
vindo de Belém do Pará, Severino Moreno de Araújo; sentiu a necessidade de alguém para
cuidar do pequeno rebanho, assim, solicitou um pastor à igreja em Belém (PA).
- Em 1924 assumiu a direção da igreja em Belém, quando o missionário Gunnar Vingren foi
para o Rio de Janeiro.
- Em 1930 foi para o Rio de Janeiro, deixando em seu lugar o missionário Nels Nelson.
- Em 14 de Agosto de 1932, substitui Vingren na direção da Igreja no Rio de Janeiro.
Adquiriu um salão três vezes maior na rua Figueira de Melo, 232.
- Voltou a AD do Rio de Janeiro (a igreja que mais crescia no país).
- Em 18 de Setembro de 1945 passa a direção da AD carioca ao pastor Otto Nelson.
- Foi presidente da CGADB.
- Faleceu em 1960.
67
Joel Carlson - Pastor Missionário Sueco
- Nome Completo: Joel Frans Adolf Carlson
- Natural: Suécia
- Esposa: Signe Carlson
- Falecimento: 7 de Setembro de 1942.
- Liderança
- Presidente da Mesa diretora da Convenção da CGADB em 1932.
- Ministério
- Em 20 de Outubro de 1918, substituiu o irmão Adriano Nobre na AD em Recife.
Samuel Hedlund
- Em 1920, foi consagrado ao santo ministério.
- Foi enviado com sua esposa ao Brasil, em 1921.
- Em 8 de abril de 1921, desembarcou no porto de Recife, capital pernambucana.
- Apoio à obra iniciada pelo casal Joel e Signe Carlson.
- Em novembro de 1930, embora Gunnar Vingren ainda continuasse à frente do trabalho no
Rio de Janeiro, Hedlund assume o pastorado da Assembléia de Deus no Rio, como auxiliar de
Gunnar Vingren.
- Falecimento: 7 de Setembro de 1942.
Nels Julius Nelson
- Líder da AD em Belém (PA).
- Natural: Suécia
- Esposa: Lídia Rodrigues.
- Em 21 de março de 1921 chegou a Belém (PA) no Brasil com 26 anos, vindo dos Estados
Unidos.
- Começou como auxiliar do missionário Samuel Nyström na direção da AD em Belém (PA).
- Cinco anos depois, tornou-se presidente da igreja, em Belém, substituindo Nyström, que se
mudou para o Rio de Janeiro.
- Em 1949, presidiu a Convenção Geral da AD no Brasil, realizada no Rio de Janeiro.
- Em 1950, mudou-se para o Rio, onde pastoreou a AD em São Cristóvão até 1957, ano em
que começou a sentir os sintomas da doença que o levaria à morte.
- Conhecido como "Apóstolo da Amazônia".
68
- Falecimento: 5 de Março de 1963.
...
A proposta de que “Cada crente deve ser um Evangelista incentivou a que todos
componentes da nova igreja se tornassem pregadores do Evangelho e seus primeiros líderes,
convertidos ao pentecostalismo, tornaram-se baluartes na nova organização religiosa. Os
primeiros pastores foram:
_ Absalão Piano;
_ Isidoro Filho;
_ Crispiano de Melo;
_ Pedro Trajano;
_ Adriano Nobre.
Todos eles foram separados para o ministério evangelístico em 1913, e tornaram-se os
primeiros pastores das Assembléias de Deus no Brasil.
Desse grupo, encarregado de auxiliar o trabalho evangelístico pentecostal, Adriano
Nobre destacou-se pela vocação missionária. Enquanto os outros pastores dedicaram-se ao
Estado do Pará, Adriano buscou novos desafios viajando para outras Cidades e Estados
brasileiros. Abaixo encontra-se um breve histórico sobre ele:
- Tinha formação religiosa presbiteriana. Depois de aceitar a mensagem pentecostal,
foi enviado a Recife para dar início à obra naquele Estado. Em 1916, começou o trabalho
evangelístico na Capital Pernambucana.
- Considerado o "pai" da Assembléia de Deus em Pernambuco.
- Segundo a tradição oral, Adriano Nobre foi o primeiro pastor da Assembléia de Deus
no RN (o livro "História da Assembléia de Deus no Brasil" confere essa primazia a José
Morais, enviado pela Igreja em Belém/PA, em 1919).
3.11.2 O trabalho dos pioneiros: pastores, missionários e leigos
Durante a primeira década de existência do pentecostalismo no Brasil, os pioneiros
acima constituíram-se de uma mescla de suecos, alguns vindo de sua terra natal e outros
procedentes dos Estados Unidos e de brasileiros, oriundos da região Norte do Brasil,
principalmente do Pará. Todos com formação religiosa, mesmo de diversas confissões, unem-
se para formar aquela que viria a ser a maior organização religiosa protestante do Brasil.
69
É oportuno frisar que as dificuldades idiomáticas entre os novos componentes dessa
organização e as diferenças sociais vividas na época no Brasil – suecos que vieram da Europa
e EUA, e brasileiros e ainda a difícil adaptação da nova ideologia sócio-religiosa que se
inseria na sociedade nortista e nordestina, foram produzidas pela harmonização do desejo de
santidade de todos os componentes da “nova igreja”.
Outro ponto a considerar foi o aparecimento de vários grupos de “irmãos crentes” que
surgiam a cada mudança de fiéis de Belém ou de outras igrejas já constituídas ou em processo
de formação. A Assembléia de Deus cresceu e se espalhou de forma desordenada em todos os
estados do Brasil. A ação planejada dos líderes foi suplantada pelo ativismo de leigos,
geralmente pessoas simples e apaixonadas pela nova mensagem pentecostal. Aliás, a
expansão para outros Estados parece ter sido provocada principalmente por eles, uma vez que
Berg evangelizava ao longo da Estrada de Ferro Belém-Bragança e na Ilha de Marajó,
enquanto Vingren pastoreava a igreja em Belém. A maior prova disso foi o surgimento da
igreja no Ceará, que teve seu início na cidade de São Francisco, na serra de Uruburetama,
fruto da pregação entusiástica da irmã Nazaré.
Assim, a implantação dos usos e costumes, como dogma assembleiano, tornou-se uma
mescla de sugestões, opiniões, costumes regionais, vocações para lideranças e muito mais,
além da própria visão dos lideres suecos, que primavam pela santidade, como objeto
indispensável para o sucesso do empreendimento religioso. Beatriz Muniz de Souza observa
que:
A disciplina interna da seita” manifesta-se, também, através de rigor disciplinar que desce até
a pormenores na aparência dos fiéis, que devem diferir das pessoas “do mundo” por sua
vestimenta recatada.
121
Nem todos os itens dos usos e costumes da AD foram produtos da vontade popular dos
brasileiros ou dos suecos na busca de santificação. Alguns têm sua origem no clima da
Europa, principalmente as vestimentas que entendemos como recatadas e que, todavia, em seu
país de origem, não se tornava incômodo algum no uso diário, por razões obvias o frio
intenso na maior parte do ano.
Outro aspecto a ser considerado foi o fato da proibição do uso de jóias, pelas mulheres.
A Suécia, no século XIX, para melhorar sua capacidade bélica durante a guerra contra a
França, confiscou todo ouro, prata e jóias em geral que seus cidadãos possuíam para a compra
de armas, sendo que, essa proibição se prolongou por um período de aproximadamente cem
121
SOUZA, Beatriz Muniz de, A experiência da salvação: pentecostais em São Paulo, p. 73.
70
anos. Desta maneira, a aparência das mulheres brasileiras deveria ser semelhante a das
mulheres suecas. Os missionários Daniel Berg e Gunnar Vingren, que haviam emigrado da
Suécia nos primeiros anos do século XX, não tiveram a oportunidade de apreciar o
florescimento da "La Belle Époque" e de outras mudanças que ocorreram no século XX, na
Europa.
122
As entrevistas com as mulheres assembleianas que viveram dos anos 20 em diante,
garantem que o limite que elas podiam alcançar era restrito a perguntas a seus próprios
maridos, orar e participar de conjuntos (depois denominados Círculo de oração e Coral) nas
igrejas e, algumas vezes, dar algum testemunho ou cantar um hino avulso. Quanto à disciplina
que se aplica aos que não obedecem as regras do sistema, Beatriz Muniz de Souza comenta:
Os que não se ajustam às normas preconizadas pela liderança sofrem pressões, que vão desde a
sanção por parte da comunidade religiosa até a exclusão do rol de membros. Aos que se
arrependem de ter cometido pecados e infringido as regras estabelecidas para os fiéis, somente
se permite que sejam reintegrados entre os demais após o transcurso de longo período de
observação.
123
É difícil constatar a origem de alguns costumes antigos que desapareceram e outros
que perduram ahoje, mas, são tão absurdos em nossos dias que não devem ser relegados ao
esquecimento, tais como:
Ficar em no momento em que a noiva entra na igreja na hora da celebração
do casamento, não era tolerado.
Aparar as pontas do cabelo das mulheres, era considerado como rebeldia,
mesmo que fosse de uma criança, e podia custar desde uma repreensão até o
que foi designado como “disciplina” perda de liberdade por um período que
ia de um mês a um ano, onde o penalizado estaria proibido de participar de
qualquer atividade oficial na igreja.
Participar de qualquer atividade esportiva, homem ou mulher
124
.
A obrigatoriedade do uso de chapéu, pelos homens. (Durante muito tempo os
homens foram obrigados a usar chapéu. Este costume perdurou a os anos
setenta, em alguns ministérios assembleianos)
125
.
122
O Brasil, do final do século XIX e começo do século XX, foi “quase que obrigado” a adquirir costumes e a
moda européia. As mulheres brasileiras seguiam à risca o uso de roupas vindas de Paris. Espartilhos, meias,
luvas, chapéus, etc., eram usados em pleno verão de 40 graus.
123
123
SOUZA, Beatriz Muniz de, A experiência da salvação: pentecostais em São Paulo, p. 73
124
Em nossa infância – éramos cinco irmãos e uma irmã -, meu pai nos proibia de todo tipo de esporte, inclusive
bolinhas de gude, pião, empinar pipa e outros.
71
Do mesmo modo, o rádio, que hoje é uma peça comum em todos as casas, em
qualquer local, inclusive nas casas dos “crentes”, foi estigmatizado como “o diabo
encaixotado”. As proibições eram difundidas até nos cultos de domingo, quando a proposta
desse culto era de “anunciar a salvação através da morte de Jesus”. As penas para quem fosse
visto ouvindo rádio podiam partir de uma pequena repreensão (afinal a pessoa poderia ser um
recém convertido e em sua casa ninguém saber de suas limitações religiosas), até a exclusão
do rol de membros da comunidade assembleiana daquele lugar. As razões para tal
procedimento diziam respeito às músicas que eram taxadas de “mundanas” e que fariam uma
lavagem cerebral em todos que as ouvissem. Roupas coloridas, camisas e calças de cores
“berrantes”: vermelho e amarelo os homens, jovens ou idosos, eram proibidos de usá-las, pois
perderiam a “simplicidade do crente”. A igreja sempre foi contrária aos “modismos de época”
e, a cada nova investida “modernista”, a fúria dos conservadores se fazia sentir contra as
inovações da época: o uso dos sutiãs e dos cosméticos lançado mundialmente depois da
primeira e segunda guerra mundial, a mulher no campo profissional, exercendo trabalhos
profissionais fora de casa, o uso do pó-de-arroz, batom vermelho e cabelos curtos, moda essa
divulgada nos anos vinte, o uso de calças compridas pelas mulheres e roupas de banho de
duas peças, nos anos quarenta.
Outro exemplo seria os “anos dourados”, na década de cinqüenta e a conseqüente
liberdade feminina. Ainda hoje sobram respingos da proibição em algumas igrejas mais
radicais.
Nos anos sessenta, a moda unissex e hippie foram causadoras de muitas dissensões
entre a mocidade e a ala radical das igrejas. Jeans e camisetas foram proibidas, tanto para
homens como para mulheres. As proibições sempre fizeram parte dos ensinamentos religiosos
pentecostais. Outro item extremamente proibido foi a televisão, nas décadas de sessenta e
setenta, pois tratava-se de “colocar o inferno dentro de casa” para o diabo reconquistar as
almas que havia perdido para Jesus”.
Ainda hoje, a observação dos “usos e costumes” é fator de primeira grandeza na
assembleiana. Segundo resolução da “Mesa Diretora das Assembléias de Deus”, consta como
palavra de seu presidente a proibição de quebra de limites:
Não é costume dos crentes da Assembléia de Deus o uso de pinturas, brincos, etc. Não somos
retrógrados, [apenas] desejamos [nos conservar] irrepreensíveis... Não danifique a Assembléia
125
O Pastor Paulo Macalão, líder do ministério de Madureira, conservou por muito tempo esse costume.
72
de Deus, ame-a ou deixe-a".
126
Esta e outras afirmações prosélitas têm tido, nos rculos mais retrógrados, espaço e
muita propagação doutrinária, como demonstra um outro presidente da CGADB:
- O Senhor disse-me que o inimigo [Satanás] encontrou na televisão um meio muito fácil de
fazer os pastores afrontarem ao Senhor Jesus. Cada pastor, cada crente em geral que colocar no
seu aposento um televisor, estará afrontando ao Senhor Jesus, que tem na televisão um conceito
de aparelho maldito. Por isso, aconselhamos aos crentes em geral que desistam do aparelho, e
que os obreiros terminantemente não possuam, pois o pastor, o obreiro ou aqueles que ocupam
qualquer cargo na igreja devem ser exemplo.
127
Quando qualquer pessoa de uma grande capital, acostumada aos costumes de sua
religião ou igreja, entra em uma comunidade radical, presidida por alguém que pense como,
ou seja subordinado a um líder semelhante ao Pastor Sebastião Rodrigues, Presidente do
ministério em Mato Grosso, ficará surpresa com uma igreja para 25.000 pessoas situada na
Capital do Mato Grosso do Sul.
Segundo entrevistas com membros dessa igreja, jovens e idosos, “com o homem é
muito difícil de lidar”. Quando perguntados se na cidade não existem outras igrejas, onde as
proibições sejam mais toleradas, as respostas são desconexas: falam do amor pela igreja, da
amizade com os irmãos, do “freio” para os mais liberais e até alguns que dizem: “eu quero
ver no que essa atitude do pastor vai dar”. Na igreja, todos os entrevistados o unânimes em
afirmar o incômodo causado pela posição radical do pastor. Visitando as casas dos irmãos e
observando que as regras o são obedecidas, ouviram-se os mais diversos comentários, que
iam desde “o pastor Sebastião nunca veio a minha casa e nem à casa dos irmãos daqui da
vila”, até “o dirigente da nossa congregação o pecado nenhum em assistir programas de
televisão, desde que sejam bons e instrutivos”. Houve até um que disse que “o Pastor
Sebastião nunca esteve em nossa congregação, que eu saiba”
128
.
O comentário do Pastor José Wellington Bezerra da Costa, Presidente da CGADB, em
seu artigo no Mensageiro da Paz, de fevereiro de 1991, também deve ser apenas considerado
como “figura de retórica”, pois em sua igreja as mulheres sempre estão bem “produzidas”,
inclusive seus familiares. "A atenção que deve ser dada ao seu comentário, é a abrangência no
alcance das publicações da CPAD e sua figura de presidente e a de todos os pastores das
Assembléias de Deus no Brasil”
129
.
126
Pr. José Wellington Bezerra da Costa, Presidente da CGADB (Mensageiro da Paz, fevereiro de 1991).
127
Pr. Sebastião Rodrigues - Revista Obreiro, outubro de 1998.
128
Foram diversas as afirmações de crentes que nunca viram o pastor presidente em suas congregações.
129
Comentário feito por alguns pastores no mesmo ministério, durante a Convenção Geral das Assembléias de
Deus em São Paulo, neste ano.
73
Abaixo, na íntegra, a nota oficial sobre usos e costumes que pode ser encontrada no
site da AD, onde o presidente da Convenção Geral exprime suas posições:
130
COSTUMES
Por: José Wellington Bezerra da Costa
Constantemente verificamos que as pessoas fazem uma certa confusão a
respeito do significado dessas duas palavras. Embora elas se pareçam na prática, mas
em sua significação elas são distintas. Doutrina é o ensinamento bíblico de forma
sistemática.
Costume, no nosso caso eclesiástico, trata-se do comportamento do crente, da
sua postura diante do mundo.
A doutrina, por ser bíblica, não pode sofrer adaptações, conforme as
circunstâncias da época. Na Palavra de Deus não se pode mexer. Nos costumes sim.
Eles são facilmente manipulados, porque o “deus deste século” (2 Co 4.4) é quem dita
as tendências” da moda aos estilistas ou decide o que deve ser veiculado nos meios de
comunicação, conforme as suas conveniências malignas. Eis as razões porque a Igreja
não pode aceitar os costumes deste mundo. Nós não somos cidadãos deste mundo e o
nosso governo é o Senhor Jesus Cristo. Os padrões do mundo são contrários aos
princípios bíblicos. 1 Jo 5.19.
A Igreja, como “sal da terra”, deve influenciar nos padrões e costumes do
mundo. Mas ocorre exatamente o contrário.
Igreja, literalmente, significa “chamado para fora”. Isto quer dizer que fomos
chamados para deixar o mundo e pertencer a Deus. Ora, se fomos chamados para
fazer a diferença, não podemos aceitar os mesmos costumes e práticas do mundo, de
onde saímos.
A Assembléia de Deus no Brasil, desde os seus primórdios, é uma igreja
observadora dos bons costumes pautados na doutrina essencialmente bíblica. É
verdade que têm ocorrido alguns extremismos, que geralmente conduzem à
intolerância.
Se os nossos pastores permitirem que certos costumes do mundo sejam
“liberados”, para cada crente fazer o que bem entender, sem a devida orientação
bíblica, fatalmente ocorrerá uma mornidão espiritual, tal qual se detectou na igreja de
Laodicéia. Não mais se poderá corrigir os excessos que certamente ocorrerão.
131
Como temos observado, o trabalho dos pioneiros sempre esteve em concordância com
sua comunidade. É possível distinguir a falta de conhecimento ético-social de alguns lideres
que, no transcorrer dos anos da organização “Assembléias de Deus”, estiveram ou estão em
posição de liderança e em reuniões, chamadas de “ministeriais”, decidem os limites
dogmáticos para que os membros de suas igrejas sejam condicionados a aceitar sob ameaças
de disciplina e até exclusão do rol de membros.
3.12. Os cânticos: um veículo de construção
130
http://igrejaassembleiadedeus.org/nossos_costumes.htm. Acessado em 06/07/2007 10,00 hs.
131
http://www.adimb.com/assembleia/perfil/doutrina.php
74
Para melhor incentivar a manutenção e o cuidado com os dogmas como ponto
principal na ortodoxia protestante, os próprios membros assembleianos cuidavam
detalhadamente de alertar a comunidade contra os itens mundanos que teimavam em fazer
parte do dia a dia na comunidade assembleiana. Rubem sar Fernandes, em seus
comentários, destacando os “cuidados” exercidos pela comunidade assembleiana, afirma que
“o protestante tem preconceito de ser social”
132
e Gedeon Alencar, analisando o
comportamento dos assembleianos, salienta o radicalismo de seus comportamentos quando
afirma:
Com esta performance, todo ethos protestante foi construído em termos de negação da
sexualidade, da vida na sociedade brasileira. [... ] A conversão é, objetiva e subjetivamente,
incentivada e requerida em demonstração de aversão “ às coisas do mundo” e total separação do
tudo o que possa parecer mundano.
133
A falta de atenção aos cuidados doutrinários assembleianos, em razão das fragilidades
humanas, incentivou vários tipos de reprimenda por parte de seus membros. Um alerta para o
uso de anéis, broches, tiaras, pulseiras, colares, etc., eram utilizados em alguns cânticos como
exortação a santidade. A possibilidade de algum fiel ir a um cinema ou torcer por algum clube
de futebol foi motivo de muitas mensagens com conteúdos proibitivos. Eis um exemplo:
O MUNDANISMO
Quem gosta muito do cinema,
Do futebol ainda mais,
O mundanismo Deus condena,
E o príncipe do mundo é satanás.
Mas, eu que já fui mundano,
Hoje mundano eu não sou,
Mas se você for mundano,
É inimigo do Senhor.
Cuidado irmão cuidado,
Cuidado com broche e anel,
132
FERNANDES, Rubem César. Governo das Almas: As denominações evangélicas no Grande Rio. In:
ANTONIAZZI, Alberto. Nem anjos nem demônios: interpretações sociológicas do pentecostalismo. Petrópolis:
Vozes, 1994.
133
ALENCAR, Gedeon F. Todo Poder aos Pastores, Todo Trabalho ao Povo e todo Louvor a Deus. Assembléia
de Deus: Origem, Implantação e militância (1911-1946). Dissertação de Mestrado, Universidade Metodista de
São Paulo. São Bernardo do Campo. 2000.
75
Todo isso é vaidade,
Impede a sua entrada lá no céu.
Uma outra forma de reprimenda era dirigida à pessoa que cochilasse durante o culto,
mesmo quando causado por um dia de trabalho. Muitos crentes que iam à igreja direto do
serviço, tendo, algumas vezes, acordado de madrugada, eram alvos de chacotas e algumas
vezes mensagens de “hinos avulsos” que serviam para repreender tais negligentes. Um
exemplo:
O COCHILÃO
Irmão se tu dormes no culto,
Cristo vem, Ele vai te deixar,
Esta mensagem é para ti,
Foi Jesus quem mandou te entregar
.
IRMÃO NÃO DORME
Irmão não dorme
Não dorme não
Senão a Bíblia vai cair da sua mão.
Ela é a espada do lutador
Vamos orar para vencer o tentador.
O domingueiro
134
foi outro tipo bem identificado e marginalizado pela comunidade.
Eram pessoas que dificilmente iam à igreja nos dias de semanas. A maioria trabalhava à noite,
estudava e/ou chegava muito tarde em casa. Todavia suas ausências não passavam em branco.
Eram também objetos de admoestação dos assíduos freqüentadores dos cultos semanais.
O DOMINGUEIRO
Domingueiro nunca queiras ser,
No domingo ele é fanfarrão,
Na segunda, terça, quarta, quinta e
Sexta e sábado não é santo não.
Olha só o Roberto Gusmão,
Sempre atento à televisão,
Foge aos cultos de oração:
Domingueiro ele é, sim.
134
O termo é usado, pejorativamente, para identificar crentes que freqüentavam os cultos somente no domingo.
76
É fácil falar em alienação quando falamos de assunto que não nos diz respeito ou que
não está nos incomodando. Mas citá-lo como parte integrante da liturgia assembleiana pode
causar mal estar, dependendo de quem lê, principalmente para aqueles que já nasceram
assembleianos. Contudo, ainda hoje, quando esses hinos são cantados na igreja, o índice de
aceitação e apoio é praticamente total, pois esse tipo de cântico é recebido com muitas
“Glórias e Aleluias” e algumas vezes parece que a igreja está em pura ebulição. O ponto mais
importante é que, mesmo atualmente, a igreja pentecostal conserva uma bandeira radical,
usando a busca de santidade como pretexto para tal postura.
Outro ponto a ser considerado é a alta vocação que as pessoas têm para exortar aqueles
que não observam os dogmas (costumes) da congregação e encontram sempre um meio de se
fazer notar, com o intuito de marginalizar o irmão faltante. Eles dizem que o propósito maior
é incentivar a todos, faltosos ou com tais pretensões, a fim de que se interessem pela
ortodoxia da igreja. Por isso é que os cânticos são utilizados, tanto nos cultos públicos até nos
mais domésticos, para divulgar os “usos e costumes” como meio de santificação.
O PECADO NÃO DÓI
O pecado não dói, não dói (bis)
È preciso cuidado com esse tal de pecado
O pecado não dói.
Se o pecado doesse
Muitos não pecariam
Serviriam a Deus
Assim seria melhor
Mas ele vem de mansinho
Sempre dando um jeitinho
Deixa a gente no pó.
A exortação alcança também as crianças que desde os primeiros passos são
condicionadas a absorver os usos e costumes como fundamentos básicos da fé pentecostal.
CUIDADO CRIANÇAS
Cuidado olhinho no que vê (bis)
Tem um salvador no céu
E está olhando pra você
Cuidado olhinho no que vê.
Cuidado pesinho onde anda (bis)
Tem um salvador no céu
E está olhando pra você
Cuidado olhinho no que vê.
Cuidado orelhinha no que ouve (bis)
Tem um salvador no céu
77
E está olhando pra você
Cuidado olhinho no que vê.
Cuidado mãozinha no que pega (bis)
Tem um salvador no céu
E está olhando pra você
Cuidado olhinho no que vê.
Cuidado olho, boca, mão e pé (bis)
Tem um salvador no céu
E está olhando pra você
Cuidado olhinho no que vê.
Cuidado olho, boca, mão e pé (bis)
Tem um Salvador no céu
E está olhando pra você,
Cuidado olho, boca, mão e pé.
Por outro lado, a falta de moços na igreja fazia com que as moças buscassem seus
pares fora da igreja. Am decorrência dos problemas causados em muitas famílias,
desenvolveram-se também hinos sobre o tema.
NÃO DÁ CERTO
Tenho pena de algumas jovens crentes
Envolvidas por uma atração carnal
Deixam Cristo por amor a um descrente
E naufragam no imenso lamaçal.
Não dá certo casamento com descrente
Jovem crente não se deixe enganar
Não dá certo, é um laço do diabo
Não dá certo Deus não vai te abençoar
Quando o filho do casal está doente
A mulher quer que chame o pastor
Para orar pela saúde do seu filho
E o marido já prefere o benzedor
Se a mulher deseja ir a igreja
O marido já prefere freqüentar
O cinema, a boate ou o cassino
E assim ela não vai congregar.
Outro grupo de pessoas muito visado na igreja são os filhos de crentes. Os “pobres
coitados” não podem fazer nada que já são alvos da repreensão de todos. Eles não têm o
direito de ser crianças, adolescentes ou jovens; eles não podem errar. Todos estão sempre
apontando para eles. E a execração pública não se faz esperar.
FILHO DE CRENTE
Você é filho de crente
Mas não é filho da luz
Você conhece a Verdade
E não aceitou Jesus
78
Não fique facilitando
Que a morte o surpreenda
Você conhece a verdade
Você não é inocente
Seus pais são filhos de Deus
Mas porém você não é
No caminho do inferno
Palmilhando estão seus pés
.
MOCIDADE CRENTE
OH! mocidade, crente no Senhor
Tenha cuidado com o mundo sedutor
Por meio da união (bis)
A mocidade crente a proclamar a salvação
E assim as canções pentecostais continuam semeando usos e costumes como doutrinas
indispensáveis ao comportamento diário do assembleiano tradicional.
79
3.13. Os cultos ao ar livre
Outro costume peculiar das AD foi os “cultos ao ar livre”. Sempre foi fácil encontrar,
em todo Brasil, desde pessoas sozinhas com um instrumento musical, do tipo violão,
cavaquinho, piston, violino, trombone, gaita, flauta, acordeom, etc., até grandes grupos em
reuniões em praças, feiras-livres, desfiles e praias. Ainda hoje é possível vê-los em quase todo
nosso país, principalmente nas pequenas cidades do interior. Muitos recém-convertidos, com
vontade de se tornar pregadores do Evangelho, sempre foram os mais entusiastas. Não é certo
dizer que não havia uma boa preparação dos pregadores no culto ao ar livre. Porém é
importante registrar que algumas pregações apresentavam assuntos de forma bem pitoresca.
Observe este exemplo:
Amigos. Quero vos dizer que o pecador é o rato. O diabo é o gato e Deus é o
buraco. É como se fosse assim: O gato corre atrás do rato para matá-lo. O rato,
para fugir da fúria do gato, se enfia no buraco e assim se salva do famigerado
gato. Da mesma forma o pecador, quando se frente a frente com o diabo,
que quer lhe destruir, foge para Deus que o esconde e o salva.
135
É clara a posição unilateral da pregação pentecostal, pois a intenção principal é
conscientizar o homem natural de sua posição de pecador e de sua igreja como a única ponte
para religá-lo ao mundo celestial.
3.14. A mensagem proselitista.
Outro ponto especial de alguns grupos pentecostais é a falta de tato com as outras
religiões. É comum ouvir citações como:
“ – Os ídolos são imagens que afastam o homem de Deus”.
“ – Quem adorar ídolos vai para o inferno”.
Em um artigo, na revista Estudos de Religião 22 da Umesp (22 de junho de 2002),
Leonildo Siqueira Campos escreveu que:
Desde então o “crente”, como é conhecido o convertido ao protestantismo, tinha de “dar
testemunho” e deixar de fumar, de tomar bebidas alcoólicas e dançar, pois tudo isso eram coisa
mundanas e próprias de católicos e ateus. A conversão se dava e era mantida dentro de um
clima de guerra. Daí o significado de cânticos guerreiros e este é um bom exemplo: “Da
135
História contada pelo Pastor Wilson Braga de Almeida em seus aconselhamentos de como proceder ou não no
culto ao ar livre.
80
vaidade fiéis servos, ou romanos ou ateus muitas vezes nos assalta para nos tornarem seus; mas
se alguém procura ver-nos sem o gozo do bom Deus – vencendo vem Jesus”.
136
Deve ser frisado que toda construção, simples ou altamente complexa, tem como base
uma desconstrução e o pentecostalismo não foge à regra. A busca para “descobrir o poder que
os capacitaria a enfrentar o desafio do novo século”, frase usada por Charles Parham no final
do ano de 1900, foi uma proposta de inovação, ou seja, a construção de algo mais sólido no
conceito religioso cristão do início do século XX. A disposição que o mundo religioso dispõe
a manter seus fiéis tem conseguido sucesso em razão da implantação de seus costumes
como artigo de fé na adição assembleiana.
Quando as novidades incomodam demasiadamente o lugar comum, principalmente o
religioso, o próprio organismo se incumbe de expulsá-los. É assim que subsistiu e cresceu o
pentecostalismo, fruto do desejo de reviver os ensinamentos bíblicos, naquele grupo que
buscou as “novidades antigas do cristianismo” curas divinas e línguas estranhas para suas
próprias vidas e para o conforto de suas comunidades.
A construção do “mundo pentecostal” foi a recusa de uma possível assimilação de
novos costumes dogmáticos daqueles mundos cristãos protestantes” que aceitavam o
formalismo e o mundanismo dentro da igreja, primeiramente na América do Norte e também
em todo universo cristão, católico ou não. Nos dias atuais, essa construção é semelhante ao
surgimento do neoprotestantismo que aconteceu como reação à falta de harmonia entre a
religiosidade tradicional e os novos desenvolvimentos sociais, que, bradando contra o
formalismo religioso, encontra alguém disposto a sustentar a bandeira de um comportamento
diferente para o cristão.
Quando algum cristão, sentindo-se alijado de seus direitos primários, insurgia-se
contra o legalismo ortodoxo de sua igreja, encontrava quase que imediatamente oposição a
mesmo entre seus familiares que o marginalizavam e impunham-lhe o estigma de “liberal” . A
onda de santidade aparente deveria sempre ser a marca principal do assembleiano. É comum
ouvir dos radicais: “mundanismo, fora!!!, liberalismo, fora!!!”.
A contemporaneidade dos usos e costumes da sociedade sempre se faz presente e, de
uma maneira ou de outra, sempre alcança a todos. É em razão dessa dinâmica social que hoje
convivemos com tudo aquilo que, antigamente, deveria ser excluído do rol de membros da
entidade pentecostal, no caso daqueles que ousassem usá-lo. Os grandes ícones exclusivistas
de alguns grupos de dentro da igreja revoltaram-se contra o radicalismo e outros contra uma
maior abertura religiosa, que foram bradados como reserva de moral e bons costumes cristãos:
136
Estudos de Religião 22. Pg. 100.
81
- utilização de rádios, televisão pela família; o uso de sutiã, calças compridas, roupas
decotadas, cosméticos e outros, pelas mulheres; o desuso de chapéus, paletós abertos atrás e
da obrigação do uso de paletó e gravata na igreja. Estes, que foram grandes referenciais para
algumas cisões no meio pentecostal assembleiano, hoje são partes integrantes da comunidade
em (quase) todo território nacional.
Entre os pesquisadores dos usos e costumes dos pentecostais, Nelson, após cuidadosa
observação, afirma que:
Assim, a igreja pentecostal separa os seus membros do mundo com a condição de criar para eles
um mundo separado, não do ponto de vista ético (o crente não fuma, não bebe, não adultera,
não fica em bares, não fica pelas ruas, não televisão, não vai ao cinema, não escuta rádio),
como do ponto de vista de uma rotina de vida. (NELSON, Reed Ellliot. Análise organizacional
de uma igreja brasileira: a Congregação Cristã no Brasil REB, v. fasc. 175. Vozes.
Petrópolis, 1984).
Houve situações em que os protestos foram transformados em mordaça e, como
conseqüência, a imposição dos mais fortes se fez soberana, como no caso de Frida Vingren,
que dirigiu os cultos durante a ausência de seu marido, Gunnar, e teve de se acostumar com
pessoas sem capacidade educacional, eclesiástica e teológica na direção dos trabalhos na
igreja em razão da decisão da primeira Convenção Geral
137
.
Gunnar sempre foi um entusiasta do ministério feminino na igreja. Certa vez, em uma
carta dirigida ao Missionário Nystron, explica seus motivos pessoais:
Deus é testemunha de que o meu único desejo é que o Espírito Santo possa ter o seu
caminho, o seu próprio caminho neste país, e que esta gloriosa obra divina possa
continuar da mesma forma que começou. o posso deixar de comunicar minha
convicção de que o Senhor chamou e ainda está chamando homens e mulheres para o
serviço do evangelho, para ganhar almas e testificar do seu amor. Sei que todos nós,
juntos no céu, nos alegraremos um dia pelas almas que ganhamos para Jesus durante
nossa vida. Eu mesmo fui salvo por uma mulher evangelista que veio visitar e realizar
cultos na povoação de Bjorka, Smaland, Suécia, quase trinta anos. Depois veio uma
irmã dos Estados Unidos e me instruiu sobre o batismo com o Espírito Santo. Também
quem orou por mim para que eu recebesse a promessa foram as irmãs.Eu creio que
Deus quer fazer uma obra maravilhosa neste país. Porém com o nosso modo de agir,
poderemos impedi-la. Para não impedi-la, devemos dar plena liberdade ao Espírito
Santo para operar como Ele quiser.
138
Frida, mesmo altamente capacitada para exercer a função de pastora, desde seus
primeiros dias de abrasileirada, teve sempre, como amigo fiel e companheiro nas horas de
maior solidão, a presença de seu marido, Gunnar, e sua capacidade editorial e jornalística,
137
OLIVEIRA, Joanir. História Da Convenção Geral Das Assembléias De Deus no Brasil, p. 40.
138
Ibid., p. 39.
82
utilizando o periódico “Boa semente”, no Pará e o jornal “O Som Alegre“, no Rio de Janeiro,
para registrar seus conhecimentos, para a igreja que se formava. Mesmo depois que esses dois
periódicos foram extintos para a formação do jornal “O Mensageiro da Paz” como
instrumento de divulgação das atualidades bíblicas e sociais no meio assembleiano, ela
continuou como sua maior colaboradora, enquanto viveu no Brasil.
Pesquisar sobre a construção do modus operandi da igreja pentecostal Assembléia de
Deus no Brasil, como dogma institucional, na busca pelos valores primários que produziram
os usos e costumes”, despertou valores até então ocultos para muitos. A falta de experiência
de seus fundadores produziu referenciais voltados ao ascetismo religioso, proporcionando
comportamentos radicais de seus membros. O comportamento comunitário de seus membros
na formação da doutrina da igreja diante das dificuldades de soluções que se apresentavam, a
cada dia, foi o marco maior na formação dessa instituição religiosa.
Os anos se passaram e novas formas de ver a vida comunitária da igreja apresentaram-
se no ambiente assembleiano. O terceiro capítulo tratará dos principais motivos que
provocaram mudanças radicais num sistema de proibições denominado usos e costumes, que
insiste em permanecer e impor-se no mundo pentecostal pós-moderno.
83
4. Capítulo 3. A desconstrução de alguns dogmas dos usos e costumes.
O visual dos evangélicos avançou muito nos últimos dez anos. Por isso, o
estereótipo do crente, de Bíblia sob o braço, terno e gravata, não tem nada a ver
com a realidade (Caio Fábio, O Globo, 14.11.1993).
Toda construção, simples ou altamente complexa, tem como base uma
desconstrução
139
e o pentecostalismo não foge à regra. Em relação ao conservadorismo de
seus fiéis, o maior motivo da desconstrução dos modelos originais nas tradições religiosas
pentecostais o as cisões que aconteceram e acontecem no interior da instituição. Elas o
provocadas pela falta ou excesso de tolerância de seus dirigentes e membros a respeito das
novas idéias, e dos novos acontecimentos da sociedade, que surgem no cotidiano secular. É
com o passar dos anos que a atualização contemporânea acontece na comunidade religiosa
através dos modismos sociais, influenciando paulatinamente, o dia a dia de seus membros. É
uma imposição social diante dos “novos” momentos.
A Criação ou aparecimento do pentecostalismo no início do século XX, foi o resultado
da “busca para receber o poder que os capacitaria a enfrentar o desafio do novo culo”, frase
usada por Charles Parhan no final do ano de 1900 para justificar aquele movimento de
santidade que começou em Topika, Kansas. Era uma proposta de inovação, ou seja, uma
tentativa de desconstrução do modelo tradicional protestante americano, em uma construção
de algo mais sólido, mais exemplar e que servisse de exemplo de santidade, no conceito
religioso cristão protestante, para as novas mudanças que viriam no século XX.
Quando novos líderes homens ou mulheres - se agregam a grupos ou organizações,
sejam por aceitação de novos rumos em suas trajetórias de vida ou por revolta contra lideres
de suas comunidades antigas, é curioso -los em ação. No início “é aquele companheiro
incansável” que se desdobra para produzir sempre mais, sempre auxiliando sua nova
comunidade. Com o passar dos anos é que seu interesse muda de foco: com a desculpa de que
precisa “ouvir as ansiedades da comunidade”, arvora-se de direitos que entende serem seus; às
vezes interessado em tornar-se um novo líder local e, em outras, apenas para “solucionar” o
que está incomodando seu ambiente social. Quando seu carisma é interpretado como principio
de liderança, as possibilidades de uma cisão brotam nos desejos de muitos, principalmente em
139
A idéia de desconstrução subentende mais que uma reforma, uma total mudança de formato. Algumas
mudanças nos “usos e costumes” das Assembléias de Deus em nada mudou a forma da instituição. Apenas
acomodou os desejos da classe dominante, apaziguando os membros mais revoltados. É possível classificá-las
como pequenas reformas doutrinárias, que proporcionaram uma maior liberdade ou um retorno à ortodoxia
tradicional.
84
razão de sua nova pregação solucionadora. Assim são produzidas as cisões sociais, religiosas
ou o. Esses novos líderes usam justificativas para agregar novos membros ou associados
que vão desde novas aberturas nos usos e costumes, que são os chamados pelos pentecostais
de “liberais”, até uma maior observação na ortodoxia religiosa ou social, que são os
conservadores. O aparente cuidado com a ortodoxia religiosa ou uma nova proposta de
convivência na sociedade, com mais tolerância, apresentando razões amparadas nas lógicas da
boa vizinhança, anexadas ao pronto crescimento da igreja são razões mais que suficientes para
criar um “curral” de novos seguidores. Foi desta maneira que surgiram os primeiros conflitos
no meio assembleiano.
Outro ponto a ser ponderado seria o de que, sempre que surge um der inovador no
meio de uma sociedade fechada, tudo é contaminado e as reações são as mais diversas.
Quando ele consegue, ou não, a aprovação da classe dominante, o “mal estar”, que seria o
incômodo causado na comunidade, tende a afetar as atividades normais dessa sociedade
fechada. Foi o que aconteceu com a entrada de Frida Vingren naquela comunidade que
começava a dar os primeiros passos em direção ao futuro no ano de 1918.
Com o casamento de Gunnar Vingren, em outubro de 1917, os novos convertidos
tiveram de conviver com a presença de uma mulher na liderança de alguns cultos, nos
momentos em que seu marido estava ausente. Por conseguinte, influenciado por sua esposa
Frida, segundo antigos comentários extra-oficiais
140
, a ”Missão” tomou, no ano seguinte,
forma de instituição e adotou um nome de identificação e reconhecimento mundial
141
,.
Aos poucos, o modelo antigo é desconstruído. A nova igreja dilata seus limites e em
poucos anos alcança todo Brasil, construindo um novo modelo de denominação religiosa
nacional. Essa nova identidade dos pentecostais foi reafirmada com o apoio da Igreja
Filadélfia na Suécia que, interessada no sucesso de seus compatriotas, enviou vários
missionários ao Brasil para apoiar e auxiliar os seguidores brasileiros a construir a doutrina
pentecostal.
Mas nem tudo estava perfeito. Frida Vingren estava incomodando demais os pastores
nordestinos. Sua presença e seus conhecimentos blicos e ministeriais na direção dos
trabalhos da igreja, não se harmonizavam com os costumes “machistas” brasileiros. Em 1924,
140
O sentimento nordestino sempre procurou mascarar suas posições machistas, atrapalhando quaisquer
iniciativas femininas, proveitosas ou o, como sinal de revolta pela liderança feminina (palavra proferida por
uma esposa de pastor que pediu que não fosse citado seu nome para não entristecer seu marido).
141
É que em viagem aos Estados Unidos, em 1918, Vingren tomou conhecimento das novidades pentecostais”
na América e a que mais o cativou, foi à mudança de nome daquele grupo evangelístico que se denominava
“pentecostal”. Em seu retorno, propôs a mudança do nome da organização, assumindo assim, a denominação
“Assembléias de Deus”, como nome oficial da igreja.
141
85
incomodados por vários fatores ministeriais, inclusive pela distância da Capital da República,
Gunnar e família mudam-se para o Rio de Janeiro, na época, Capital do Brasil. O jornal Boa
Semente, criado e produzido em Belém do Pará por Frida e Gunnar, continuou sua trajetória
de informação, porém sem a presença de seus pioneiros em suas páginas.
Frida incomodava a liderança assembleiana brasileira, pois na ausência de Gunnar nos
cultos, sempre procurava dirigir os cultos em detrimento da presença de outros pastores. A
“gota d´água” deu-se quando, em 1929, o casal Gunnar e Frida Vingren, organizou e produziu
o jornal O Som Alegre”, no Rio de Janeiro, com artigos de colaboradores e informações do
setor Sul do Brasil. Quando alguns desses periódicos chegaram ao conhecimento dos líderes
com artigos e informações que conflitavam com os costumes e projetos das igrejas “do Norte
e Nordeste” do Brasil, esses pastores convocaram a primeira “Convenção Geral Das
Assembléias de Deus no Brasil” (CGADB) para unificar o sistema doutrinário
assembleiano
142
. Esta primeira CGADB aconteceu de cinco a dez de setembro de 1930, em
Natal, Rio Grande do Norte e, em sua pauta, sob a liderança do Pastor Cícero Canuto de
Lima, pastor presidente da Igreja em Natal, constavam alguns itens, nos quais os temas mais
relevantes eram:
_Relatório do trabalho realizado pelos missionários.
_A nova direção do trabalho pentecostal no Norte e Nordeste do Brasil.
_A circulação dos jornais “Boa Semente” e “O Som Alegre”.
_O trabalho feminino na igreja.
Baseados nisso, após cinco dias de deliberação os convencionais definiram:
A – Manter a identidade e a união doutrinária em todo Brasil.
B - Criação do jornal “Mensageiro da Paz” em substituição aos jornais “Boa
Semente”, que circulava na região Norte e “O Som Alegre” distribuído na região Sul.
C - O trabalho feminino na igreja seria limitado a testificar Jesus e sua salvação e
ensinar, quando se fizesse necessário. Porém, as mulheres não poderiam pastorear igrejas
143
.
142
A proposta da Convenção Geral, também conhecida como CGADB, teve como objetivo principal a
inserção dos pastores brasileiros nas decisões administrativas da instituição Assembléia de Deus no Brasil.
143
O ministério feminino foi levado a plenário outra vez em 1983 e foi rejeitado por unanimidade. Voltou a
plenário em 2001, quando, por esmagadora maioria, foi rejeitado novamente.
86
Essa não foi a primeira convenção pentecostal de obreiros das Assembléias de Deus no
Brasil, pois, em 1921, na Vila São Luiz, no município de Agarapé-Açu (Pará), ocorreu o
primeiro encontro entre os dirigentes das igrejas “Assembléias de Deusexistentes no Brasil.
A falta de aceitação desta convenção e de outras subseqüentes deu-se em razão da presença de
brasileiros nas reuniões, que a1930 todas as reuniões eram lideradas pelos missionários
suecos. a partir de 5 de Setembro de 1930 as reuniões foram mescladas com lideranças
nacionais e suecas.
Os primeiros atos de desconstrução dos “usos e costumes” das Assembléias de Deus
no Brasil foram produtos do desentendimento entre lideranças, em primeiro lugar, com os
suecos: Daniel Berg (conservador) e Gunnar Vingren (mais liberal); e, em seguida, com as
lideranças brasileiras que entendiam que os costumes religiosos santificantes deveriam ser
mantidos (conservadores).
Com o retorno de Gunnar e sua família à Suécia, em 1932, a ortopraxia impôs-se
como matéria de primeira grandeza. Os progressistas entenderam que, a partir da saída de
Gunnar do Brasil ao ano de 1943, a Assembléia de Deus teve seu período mais estático,
consolidando apenas os trabalhos anteriormente iniciados e o avanço em direção ao Oeste do
Brasil. A implantação da igreja no Estado de Mato Grosso aconteceu com o interesse dos
novos desbravadores, a partir de 1943.
A multiface da sociedade brasileira em todo seu contexto geral, desde o Norte até o
Sul com seus 4.394,7 km e seus 4.319,4 km na direção leste-oeste, apresentou-se como mais
um ponto na desconstrução dos dogmas assembleianos identificados como “usos e costumes”.
Os novos entendimentos de convivência social nos setores mais centrais em
detrimento dos conceitos interioranos nos rincões brasileiros e suas dificuldades em assimilar
os novos modismos, foram outro entrave nos dogmas pentecostais. Fatores como mudança de
pastor em uma igreja central da cidade grande, quando o antigo dirigente era oriundo de
cidades pequenas ou do interior de outro Estado, foram os que mais marcaram o
desaparecimento dos antigos “costumes santificantes”.
Outro fato foi a prosperidade de alguns fiéis, a tolerância dos líderes das igrejas para
não perdê-los, a ascensão da nova geração assembleiana às universidades e, ainda, as
novidades decorrentes das denominações pentecostais e neopentecostais que, influenciando
massas, contagiaram muitas igrejas, fazendo do profano costumes naturais. Ricardo Mariano
afirma em sua tese de doutorado, após inserir o discurso do Pastor Joanir de Oliveira.
87
O discurso do Pastor assembleiano é bastante elucidativo a respeito do que vem sucedendo na
Assembléia de Deus e, com mais intensidade, nas igrejas pentecostais fundadas nas últimas
décadas. Para além do viés ‘dramático’, acusatório e reativo, ele dispara contra fenômenos que
evidenciam claramente a disseminação da lógica e da prática concorrencial ou de mercado
nesse meio religioso: liberação comportamental e outras concessões a fiéis e virtuais adeptos.
Incorporação de crenças, práticas e estratégias neopentecostais. Adesão às táticas do mercado
da e à linguagem publicitária para vender a Cristo. Adaptação da igreja ao ‘mundo’.
Profissionalização dos músicos e substituição da hinódia tradicional pelos produtos comerciais
do crescente mercado fonográfico evangélico. Opção pastoral pela expansão numérica e pelas
novidades cultuais, rituais doutrinários em detrimento do tradicionalismo denominacional.
Espetacularização dos cultos e uso de expedientes diversos, inclusive heterodoxos e desonestos,
para estimular o avivamento. Ênfase na oferta ou promessa de cura e prosperidade material para
satisfazer os interesses imediatos das massas
A principal dificuldade que a Assembléia de Deus enfrenta atualmente consiste em
superar sua estagnação e recuperar seu vigor inicial, sem perder a identidade. Missão das mais
difíceis. Haja vista que as denúncias e lamentações do pastor assembleiano confirmam a
percepção de que ela não permaneceu incólume às mudanças que, não de agora, vêm se
processando no campo religioso brasileiro e, em especial, no meio evangélico... D o
mimetismo e a disseminação de práticas, cultos, ênfases e até da programação semanal dessa
denominação”.
144
Outro fato preponderante na desconstrução dos costumes assembleianos foi a entrada de
missionários americanos no seio pentecostal. A igreja com sua formação norte-nordestina e vivendo a
simplicidade que seus pastores ensinavam viu, de um momento para outro, os americanos andando
com seus carrões e morando nos melhores bairros, em excelentes residências. Paul Freston comenta:
A mentalidade da AD carrega as marcas dessa dupla origem: da experiência sueca das primeiras
décadas do século de marginalização cultural e da sociedade patriarcal e pré-industrial do
Norte/Nordeste dos anos 30 a 60. Nas últimas décadas o maior contato internacional da AD tem
sido com os Estados Unidos. [...] houve dificuldade de aceitação por parte dos suecos. Quando
um americano chegou em 1939, desembarcou com seu Chevrolet do ano e alugou um
apartamento em Copacabana (Brenda 1984:89). Outros motivos de conflito eram a ênfase
americana em educação teológica e a atitude menos severa na área de costumes.
[...] os tabus comportamentais que, no começo, atingiam atividades fora dos horizontes sociais
dos membros, passaram a ser disfuncionais e foram relaxados. [...] Por isso os missionários
americanos passaram a ser vistos como “mundanos” e tiveram que apelar para outras
qualidades. Um líder brasileiro sintetizou bem a situação: “Os suecos têm a doutrina e os
americanos têm os dólares”
145
4.1 O fator Paulo Leivas Macalão
Conhecido pregador dos subúrbios cariocas, Paulo Macalão, gaúcho radicado no Rio
de Janeiro, membro da Assembléia de Deus desde 1924, protagonizou a primeira grande cisão
no universo assembleiano acontecida no Rio de Janeiro. A explicação que encontramos diz
respeito ao local de evangelização e conquista de fiéis e sua ênfase em pregar nos subúrbios
144
MARIANO, Ricardo, Análise Sociológica do crescimento pentecostal no Brasil, p. 222-223.
145
ANTONIAZZI, Alberto (org.), op. Cit., p. 84, 85.
88
cariocas, enquanto a Assembléia de Deus se elitizava com sua matriz em São Cristóvão, onde
o alvo a conquistar, aparentemente, eram os mais favorecidos, em detrimento das
comunidades de periferia.
Nascido em 17 de setembro de 1903, na cidade de Santana do Livramento - RS, Paulo Leivas
Macalão converteu-se ao evangelho aos 18 anos ao caminhar pela rua São Luiz Gonzaga, São
Cristóvão, Rio de Janeiro, lendo um folheto bíblico que a providência divina, fez colar à sua
perna atingida pelo vento. O Pai, General João Maria Macalão, decepcionado com a opção
religiosa do filho mandou-o para a casa dos tios que residiam em Campo Grande - Rio de
Janeiro.
Nada, porém, conseguiu distanciá-lo da em Jesus Cristo, que transformara integralmente sua
vida. Em 1923, conheceu Heráclito Menezes, de Belém do Pará e soube das notícias do grande
avivamento que estava acontecendo naquela região desde 1910, com a chegada dos
Missionários Gunnar Vingren e Daniel Berg. Paulo Macalão escreveu ao Missionário Gunnar
Vingren, pedindo-lhe que enviasse à capital do país um Pastor. Naquele mesmo ano Vingren
transfere-se com sua família para o Rio de Janeiro e registra a Assembléia de Deus em território
fluminense em abril de 1924.
146
Desde a chegada de Gunnar Vingren, Paulo Macalão investiu sua vida na propagação
da fé pentecostal e suas características: batismo com o Espírito Santo e cura divina. Seu
contato com esse pioneiro o levou a uma vida de dedicação à expansão do pentecostalismo.
Em 17 de agosto de 1930, em visita ao Brasil, Vingren e Lewi Petrus, pastor, pregador
e jornalista sueco, responsável pela maior igreja pentecostal da Europa naqueles dias,
localizada em Estocolmo, consagram ao pastorado o jovem Paulo Leivas Macalão. Em
Bangu, Macalão construiu o primeiro templo das Assembléias de Deus do sudeste do Brasil
em 12 de janeiro de 1933
147
. Seu trabalho de evangelização no Estado do Rio de Janeiro e em
outros estados do país tornou-o conhecido por seu espírito evangelístico, missionário e
empreendedor. Tinha um bom preparo intelectual, conhecedor de música e violinista, é autor
de belas composições da Harpa Cristã (o hinário oficial das Assembléias de Deus no Brasil).
Estudioso da Bíblia, teve trabalhos publicados nos principais jornais e revistas evangélicos.
Fundou o jornal “O Semeador”.
Outras atividades que marcaram sua vida e seu ministério foram: conselheiro da
Sociedade Bíblica do Brasil; Presidente do Instituto Bíblico Ebenézer; Presidente da
Convenção Nacional de Madureira; Presidente do Conselho Fiscal da Ordem dos Ministros
Evangélicos do Brasil; Vice-Presidente da Casa Publicadora das Assembléias de Deus no
Brasil durante oito anos; membro do comitê Internacional de Planejamento das Conferências
Mundiais Pentecostais, sendo, inclusive, orador oficial em Dallas, Texas, onde representou o
146
http://www.tabernaculo.com.br/arquivo/2004/dezembro/paginas/tb-praca.htm. Acessado em 11/08/2007,
9h:00.
147
Ibid.
89
Brasil. Em 17 de janeiro de 1934 casou-se com Zélia Brito Macalão, que sempre atuou no
ministério de seu esposo. O casal teve um único filho – Paulo Brito Macalão.
O Pastor faleceu às 9 horas e 16 minutos do dia 26 de agosto de 1982, aos 78 anos de
idade.
4.1.1 A Assembléia de Deus – Ministério de Madureira
A origem da Assembléia de Deus - Ministério de Madureira, tem a aparência de um
segmento paralelo daquele iniciado em Belém do Pará. Paulo Macalão, tornado membro da
Assembléia de Deus em 1924, recém convertido no grande avivamento pentecostal que se
propagava pelo Rio de Janeiro, foi batizado por Vingren e em pouco tempo tornou-se o
primeiro secretário da recém fundada Igreja no Rio de Janeiro.
A participação fundamental de Paulo Leivas Macalão na fixação do trabalho na capital
do país, deu-se após a chegada do missionário Gunnar Vingren, para morar no Rio de Janeiro
e estabelecer na cidade, um “Quartel General” da Assembléia de Deus no então Distrito
Federal, nos idos de 1930, tendo como companheiro o próprio Paulo Leivas Macalão em suas
campanhas de evangelização da região.
Por orientação do missionário Gunnar Vingren, Paulo Leivas Macalão inicia a
evangelização dos subúrbios da Central do Brasil, logo no inicio de sua fé, começando por
Realengo, Bangu e Santa Cruz, sendo que em Madureira, no salão da rua João Vicente n. 7,
esta congregação veio a estabelecer-se como sede local, dado seu vertiginoso crescimento,
tendo sido a data de 15 de novembro de 1929 considerada o momento inicial da fundação do
ministério Paulo Leivas Macalão
148
.
Em 1930, aproveitando a presença do grande líder pentecostal da Suécia, missionário
Lewi Petrus, e sentindo convicção da chamada de Deus para o jovem Paulo Leivas Macalão, o
missionário Gunnar Vingren o ordenou para o pastorado em 17 de agosto do mesmo ano,
dando maior impulso a seu trabalho evangelístico. Em 1° de janeiro de 1933, Macalão teve a
alegria e o privilégio de inaugurar em Bangu o primeiro templo próprio das Assembléias de
Deus no Distrito Federal, Sudeste e Sul do país. Este fato incrementou a evangelização em
vários Municípios do Estado do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Goiás, onde a
hegemonia e predominância do Ministério de Madureira, torna fato notório. Macalão, dentro
da sua visão missionária, enviou os primeiros pregadores pentecostais para o Sul Fluminense,
148
Alguns pesquisadores não aceitam essa data como início do trabalho pastoral de Macalão em razão de sua
ordenação ter acontecido só em 17 de agosto de 1930.
90
começando o ministério das Assembléias de Deus nesta região do Estado do Rio de Janeiro:
Resende, Piraí, Barra do Piraí, estendendo-se posteriormente à Barra Mansa e Volta Redonda.
O crescimento foi tão extraordinário que a Igreja neste Município tornou-se a sede regional do
Ministério de Madureira no Sul Fluminense.
O trabalho das Assembléias de Deus, no Rio de Janeiro, cresceu assustadoramente e a
divisão da região em duas partes São Cristóvão e Madureira, não parecia causar grande
incômodo na direção da Administração Nacional (CGADB). Assim, alguns anos se passaram
até que o Templo Central de Madureira fosse iniciado. Em 1948 a pedra fundamental foi
lançada e somente cinco anos mais tarde, em 01 de maio de 1953 foi inaugurado o templo da
Assembléia de Deus em Madureira, primeira Catedral das Assembléias de Deus na América
Latina.
Após 21 de outubro de 1941, quando a Assembléia de Deus, na rua João Vicente n. 7,
em Madureira, assumiu personalidade jurídica,
149
começou o processo de cisão. Enquanto a
igreja em São Cristóvão se envolvia na conquista de novos membros, tendo como local de
trabalho os bairros próximos e a parte central da cidade, Paulo Macalão foi, segundo suas
palavras, “impulsionado pelo Senhor a deixar os bairros mais próximos da Igreja onde me
converti, e procurar os bairros mais humildes e distantes”, os bairros da Central do Brasil,
especialmente a chamada Zona Rural, a atual Zona Oeste do Rio de Janeiro. O subúrbio
sempre foi o meu alvo”, dizia ele, por sentir que aquela região era ¨fértil¨ para a grande
¨semeadura¨ da Palavra de Deus.
O mais expressivo dos ministérios independentes originários da CGADB
é o
Ministério de Madureira, cuja igreja existia desde os idos da década de 1930, fundada pelo
pastor Paulo Leivas Macalão e que, em 1958, serviu de base para a estruturação nacional do
Ministério por ele presidido, até a sua morte, no final de 1982.
A cisão final entre “Madureira” e “Missão” ocorreu no final da Convenção Geral em
Salvador, no ano de 1987, em razão da derrota de seu der, o pastor Manoel Ferreira, na
eleição para presidente da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil (cujo
mandato seria de dois anos). Ele foi vencido pelo pastor José Wellington Bezerra da Costa,
representante da ala assembleiana chamada “Missão”.
149
CONDE, Emílio, op. Cit., p. 216.
91
4.1.2 Convenção Nacional de Madureira
À medida que os anos passavam, os pastores do Ministério de Madureira, sob a
liderança do pastor (hoje bispo) Manoel Ferreira, distanciavam-se das normas eclesiásticas da
CGADB
150
. Por essa razão, foi realizada uma Assembléia Geral Extraordinária em Salvador,
BA, em setembro de 1987, onde esses pastores foram suspensos até que aceitassem as
decisões aprovadas.
Por não concordarem com as exigências que lhes eram impostas, organizaram-se numa
nova entidade, hoje com cerca de 2 milhões de membros no Brasil e exterior. Dessa forma
surgiu a Convenção Nacional das Assembléias de Deus no Brasil Ministério de Madureira
CONAMAD, fundada em 1988. Conseqüentemente, ocorre a primeira desconstrução
interna no meio pentecostal da Assembléia de Deus no Brasil, causando um grande
estremecimento em suas bases. A razão do acontecimento foi originada pela busca por
pessoas menos favorecidas, realizada pelo Pastor Paulo Leivas Macalão no Rio de Janeiro, em
detrimento da pregação elitista da igreja em São Cristóvão.
4.2 O arrefecimento do radicalismo assembleiano: mudança de pastor.
Nas Assembléias de Deus, somente a igreja central mantém o pastor por longo tempo
e, mesmo no momento de sua saída, a igreja normalmente não tem o direito de pronunciar-se
a respeito da escolha do novo pastor, Tudo é decidido em reuniões privadas, longe do
conhecimento dos membros. Quando o pastor resolve, por exemplo, mudar de cidade, ele
escolhe seu substituto, com ou sem o apoio dos representantes da Convenção Geral, que às
vezes nem são informados com antecedência. Assim sendo, o substituto é escolhido e, em um
culto de domingo transformado em Assembléia Extraordinária, a igreja local é notificada
sobre a mudança de campo e dá posse ao novo pastor como presidente do campo.
A administração pentecostal é Episcopal, onde o Bispo ou Pastor centraliza todas as
decisões e é por esse motivo que a presença da “nova direção”, produz, freqüentemente,
desconforto geral por algum tempo. A visão liberal ou radical do novo pastor é por vezes
questionada pelos membros que tentam manter a antiga “doutrina” dos usos e costumes.
150
Com o crescimento da denominação, alguns pastores, com a euforia natural dos desbravadores, lançavam-se
aos seus projetos de expansão além dos limites territoriais que a CGADB lhes concedia, causando conflitos com
outros pastores da mesma convenção. Houve também casos em que pastores e membros da mesma denominação,
que haviam sido punidos por algum motivo, serem aceitos e participarem de outras congregações, sem uma
reunião prévia entre os ministérios litigantes.
92
Algumas vezes, pastores auxiliares não se harmonizam com a nova administração por fatores
diversos.
4.2.1 Novos tratamentos com o “pecado”
151
Pecado ou desvio de conduta (dos costumes) tem, muitas vezes, diferentes
interpretações e quando surge uma nova opinião os comentários se propagam como “princípio
de incêndio” até que a administração (ministério da igreja) tome uma posição a respeito.
Quando o objeto cultural
152
, que antes era tratado como pecado, é apresentado com nova
¨roupagem¨ (o pecado” deixando de ser tratado como tal), a aceitação das novas aparências
estabelecidas, provoca várias barreiras de conflito. A diferença entre rejeição e a aceitação dos
novos todos de análise divide as opiniões que, algumas vezes, o harmonizadas pelos
resultados do aumento dos fiéis e, em outras ocasiões, causam divisões produzidas pelos mais
radicais que não aceitam as novas imposições (abertura doutrinária).
4.2.2 Choque de gerações: pastor antigo versus pastor novo
Uma diferença deve ser analisada no momento da substituição de lideres,
principalmente se o novo líder é jovem: a nova administração. No pentecostalismo, a
formação dos antigos pastores acontecia diante da necessidade do “trabalho”, com o
crescimento de fiéis em novos núcleos produzidos pelos “cultos nos lares”. Escolhia-se, entre
os cooperadores mais dedicados, homens que desejassem dirigir os cultos e que tivessem
disposição e tempo para visitar os novos interessados na mensagem do Evangelho pregado.
Algumas vezes essas pessoas nem eram bem alfabetizadas (diziam que tinham “pouca
leitura”) e mesmo assim tornavam-se pastores da nova congregação
153
fácil entender as
razões do distanciamento entre a sociedade secular e os membros das igrejas pentecostais).
151
O Pecado sempre foi um termo principalmente usado dentro de um contexto religioso, e hoje descreve
qualquer desobediência à vontade de Deus em especial, qualquer desconsideração deliberada do que a igreja
entende por quebra das Leis reveladas. No hebraico e no grego comum, as formas verbais (em hebr. hatá; em gr.
hamartáno) significam "errar", no sentido de errar ou não atingir um alvo, ideal ou padrão. As igrejas também
utilizam o termo pecado, não para diferencià-lo de um erro comum, mas condenando todo aquele que
desobedecer as ordens do pastor ou do ministério da igreja.
152
Por objeto cultural entende-se o objeto cuja função principal é de remeter à própria cultura (...) Fazer falar a
cultura que o torna possível é fazer com que se ouçam as vozes que habitam o objeto. Não somente a voz
daquele que o produziu, mas também as vozes daqueles que o habitavam e de todos os outros que virão a
habitá-lo, enquanto leitores, espectadores ou ouvintes. (AMORIM, 1998:80).
153
A escalada ministerial nas Assembléias de Deus, normalmente, acontecia assim: o interessado começava
como auxiliar nos trabalhos da igreja, depois cooperador do pastor que o substituía em alguns cultos nas casas
93
Quando a substituição se tornava imprescindível, os membros clamavam por um
pastor mais esclarecido. O novo pastor escolhido sempre trazia as novidades de seu
aprendizado teológico. O conflito de gerações era inevitável. Alguns membros mais antigos e
acostumados com “os costumes da igreja” recusavam-se a aceitar o novo líder e, para
justificar sua rebeldia contra o novo pastor, afirmavam que este não tinha unção de pastor
154
e
saiam em busca de novos lugares para congregar. Outros se revoltavam, formando grupos
contrários à administração do novo pastor que os considerava como “marginais” dentro da
comunidade assembleiana. Não tardava e novas igrejas surgiam como produtos dos cismas.
Eram os chamados “rebeldes” ou “divisores”.
O mesmo acontecia quando o novo pastor encontrava uma igreja “moderna” e forçava
a “volta às origens”, ou seja, uma ortodoxia mais extremada causando assim várias
dissidências que produziam o surgimento de novas denominações religiosas pentecostais,
algumas vezes com o mesmo nome da entidade “Assembléia de Deus”.
4.2.3 A liturgia dos cultos
O fator que mais produziu mudança na rigidez litúrgica dos cultos assembleianos foi o
louvor. As novidades da tecnologia, trazendo instrumentos elétricos para o interior dos
templos, a inclusão da “bateria” como algo indispensável para conduzir o louvor”, além da
influência da mídia, nesse caso: o rádio, a televisão, as revistas e cruzadas evangelísticas,
assim como hinos gravados em cds e dvds, popularizaram cantores e pregadores e
transformaram-nos em verdadeiros ícones (ídolos) para se promover grandes celebrações. As
igrejas aproveitaram a oportunidade para trazê-los para seus templos, o que ocasionou o
surgimento de “bandas” e do “Culto Show”.
A alegria é uma das características de uma igreja jovem. Vibração e entusiasmo são
outras características marcantes nas igrejas que se unem ao cântico de louvor a Deus. A
música funciona como um bom termômetro espiritual. A nova nomenclatura atribuída ao
dos irmãos. Em seguida recebia o cargo de diácono, quando trabalhava no templo servindo a ceia, recolhendo
dízimos e ofertas, cuidando de crianças e dos visitantes. Se tivesse um bom desempenho seria convidado para ser
presbítero e finalmente, quando bom pregador, evangelista e, finalmente, pastor. Nenhum dos entrevistados falou
da exigência de algum curso teológico para a posição de cargos eclesiaticos.
154
Unção significa ato ou efeito de ungir. Ungir quer dizer untar com óleo ou com ungüento, aplicar óleos
consagrados (Houais. Dic.). Unção vem do substantivo grego, χηρισµα; daí, vem o verbo χηρο, ungir. No
sentido teológico pastoral, pastor ungido é aquele que é separado entre seus pares com domínio sobre um grupo
de pessoas ou de igrejas. No grego o adjetivo christós (χηριστοσ), significa "ungido". No hebraico, o termo
ungido é Messias, aplicado a Cristo. A unção, na Bíblia, pode ser entendida de modo espiritual e literal, com a
aplicação do azeite ou óleo sobre alguém ou sobre algum objeto.
94
cântico na liturgia do culto nas igrejas, ou seja, “o louvor”, tem produzido, ainda hoje, uma
grande corrida do público em direção aos novos movimentos pentecostais e neopentecostais.
As palmas durante as canções, o cântico em pé, os altos índices de sonoridade, as danças, o
teatro com sua coreografia, os novos instrumentos musicais, além de outros recursos, têm
feito grande diferença no culto pentecostal mais antigo. Os jovens são os mais atingidos pelo
novo formato de culto e esse novo modelo tem encontrado, mesmo com muita dificuldade,
espaço até nos meios protestantes mais conservadores.
A busca generalizada pelo novo tem levado os pastores a ser mais tolerantes na quebra
dos antigos costumes e tradições para desenvolver uma nova visão de harmonização da
comunidade pentecostal. A facilidade com que são encontrados locais de culto com ótimos
conjuntos de louvor e excelentes bandas musicais, são o motivo maior da aceitação de vários
tipos de doutrinas novas nas igrejas tradicionais. Instrumentos como guitarras, contrabaixos e
baterias, antes ausentes no meio pentecostal, o, muitas vezes, o maior incentivo de
persuasão para a manutenção dos jovens na igreja. Conjuntos vocais, grupos de teatro,
conjuntos de crianças e adolescentes, são também encontrados nas melhores e maiores igrejas
pentecostais. Todos os métodos são exaustivamente utilizados para que o fiel não precise
“trocar” de igreja.
4.3 Liderança centralizadora
Com a aceitação e incentivo do conhecimento teológico e eclesial dos novos pastores
pentecostais, produzido pelos institutos bíblicos, pentecostais ou não, os impactos nos setores
vitais da igreja (costumes e tradições) são avassaladores. O modelo antigo de administração
sofre com a chegada do conhecimento e de suas explicações para a figura da igreja e sua
comunidade na região em que está inserida. Entre as muitas mudanças que o propostas, a
descentralização da liderança é a que mais incomoda os antigos “caciques”: Não estão
acostumados a dividir opiniões e nem a aceitar sugestões e conselhos dos novos pastores
“produzidos em seminários” (muitas vezes estigmatizados como fábricas de pastores). Em
seguida, a comunidade passa a sofrer com os incômodos causados pelo conflito de interesses e
o desprezo por aqueles que propõem qualquer tipo de mudança que ameace o poder do líder.
Outro fato que provoca incômodos e evasão de fiéis para outras igrejas evangélicas é a
falta de informação e relatórios dignos de confiança por parte da direção das igrejas (a
utilização dos recursos oriundos das contribuições). O descaso pela prestação de contas é
quase “marca registrada” de praticamente todas instituições pentecostais e neopentecostais,
95
para com seus membros
155
. Apenas poucos privilegiados têm acesso ao destino dos valores,
nunca de todos os recursos da igreja ou congregação. o existe fidelidade na prestação de
contas e menos ainda a aprovação dos recursos pelos mantenedores.
O poder central absoluto inibe cada vez mais o aparecimento de novas idéias e
distancia membros da proposta inicial do Evangelho, e o endeusamento dos líderes afasta a
possibilidade de diálogos.
4.3.1 Espiritualidade extremada
Quando um novo líder cuja liderança é fraca, este se encontra diante de novas
imposições da comunidade religiosa. Os fatos que provocam cisões são produzidos pelos
conflitos entre os pontos extremos dos comportamentos entre os antigos e os novos membros
na direção da igreja. O excesso de zelo é um dos pontos que influi nos momentos de decisão
de cada pessoa ou situação. Produzidos por um movimento que se diz “em busca da
santidade”, alguns lideres, principalmente os envolvidos com os movimentos de oração e
jejum, empunham a bandeira da “busca da santidade”, produzida pelo retorno ao movimento
acético. São grupos envolvidos na busca pela espiritualidade, mas cujo objetivo (o espiritual)
não é bem diagnosticado e por esse motivo, acontecem grandes discórdias entre os liberais da
igreja.
Algumas formas de “retorno às origens” provocam práticas religiosas extremadas, com
pessoas transvestidas de “profetas” que provocam os mais liberais e “dirigem” o dia a dia
eclesial. A questão central é a chegada do pensamento liberal e dos modismos na igreja, além
da busca de algo que complete a grande lacuna existente com os tempos modernos, sem
macular os costumes antigos. Isso, para aqueles que, sem entender a dureza da doutrina, são
marginalizados e carecem de algo que lhes devolva o interesse pela comunidade religiosa. A
espiritualidade torna-se uma busca de afirmação da ortodoxia. Os que se sentem culpados
buscam saídas para sua situação de incredulidade e os mais liberais, que sentindo-se mais
esclarecidos, procuram saídas menos ortodoxas, o que provoca mudanças.
Algumas constatações marcantes: o enfraquecimento da tradição – “usos e costumes” -
conduz o indivíduo à sua interioridade. A perda da credibilidade na direção das igrejas e o
aumento da subjetividade processam-se no fácil trânsito de uma igreja para outra, desde que
professem credos parecidos. É a crise da militância com seu deslocamento para a mística.
155
Uma das maiores doutrinas pentecostais é inserir no íntimo de cada fiel a certeza de que sua responsabilidade
com os dízimos e ofertas termina no momento da coleta.
96
Aqueles que o comungam com as mesmas idéias e dogmas são facilmente tratados como
rebeldes e excluídos da convivência com os mais espirituais.
4.4. A política partidária: os movimentos em busca de poder
Durante muitas décadas a instituição Assembléia de Deus não se envolveu em nenhum
movimento político, basicamente em razão da falta de escolaridade entre seus membros. Com
o crescimento da educação dos pentecostais, incursões e investimentos na política partidária
têm sido feitas. É o que indica o trecho a seguir:
Os evangélicos, segundo o IBGE, eram apenas 2,6% da população brasileira em 1940.
Avançaram para 3,4% em 1950, 4% em 1960, 5,2% em 1970, 6,6% em 1980, 9% em 1991 e
15,4% em 2000, ano em que somavam 26.184.941 de adeptos. ... Atualmente o Brasil abriga
mais de 30 milhões de evangélicos, dois terços dos quais pentecostais, o que consolidou de vez
o pentecostalismo na posição de segundo maior grupo religioso do país.
156
Com a chegada dos filhos e dos netos dos antigos pioneiros, o movimento pentecostal
organizou-se e assumiu algumas posições políticas em suas Cidades, Estados e até no
Governo Federal. O apoio dado aos novos políticos e o retorno que essas posturas
proporcionaram às igrejas pentecostais, conduziu-as a melhor aproximação da vida secular
com a práxis religiosa.
As cisões não se fizeram esperar. Em primeiro lugar porque os escolhidos para cargos
eletivos o corresponderam às expectativas do apoio dado pelos lideres religiosos e,
pensando na próxima eleição, iniciaram novos movimentos religiosos (alguns abriram suas
próprias igrejas), tendo como modelo suas igrejas de origem, porém com um novo formato e,
também, em razão da contaminação que todo novo meio causa ao indivíduo e vice-versa.
A proposta dos pentecostais de promover uma separação entre as coisas do mundo” e
as de Deus, construindo uma proposta de vida em sociedade, um modelo que dignifique o
cristão como cidadão, e as práxis dos políticos pentecostais, antes de representarem alienação
diante das coisas do mundo, pautaram-se numa produção de sentido que priorizou a dimensão
religiosa da realidade. Entre eles, a experiência social-política é compassada pela
religiosidade. Assim, os posicionamentos políticos, ao respeitar os princípios das demais
representações do grupo, cujo comprometimento com a se sobrepõe a uma inserção
racionalista na vida, são condicionados a considerar um novo modelo de pentecostalismo que,
156
http://www.comciencia.br/reportagens/2005/05/13.shtm. Acessado em
97
ao se inserir no modelo global, buscam uma maneira de harmonizar as diferenças, formatando
o novo cristão pentecostal com a sociedade secular.
4.5 Dinheiro, fama e poder
Outro grupo que está inserido no meio pentecostal surgiu da conversão de famosos, de
membros que se tornaram famosos na mídia e dos novos ricos na igreja. É sempre bom
lembrar que a inserção de novos comportamentos entre membros da sociedade tem sempre
como pressuposto o modelo apresentado, o qual, enquanto apresenta-se como exemplo de
sucesso, faz com que a quantidade de seguidores alcança números fantásticos. Cantores
famosos, jogadores de futebol, políticos, artistas, milionários e outros ícones da sociedade, são
apontados como os novos “exemplos a serem seguidos” em igrejas que anunciam uma nova
visão de prosperidade. Alguns desses novos ícones têm se tornado pastores, bispos, apóstolos
das comunidades pentecostais e neopentecostais. Esses estão fazendo a diferença e angariando
adeptos de todas as facções religiosas. É notável a resposta que os antigos religiosos estão
proporcionando à comunidade cristã. Alguns enaltecem o cuidado que deve ser observado e
os exemplos que devem ser avaliados, pois os resultados de suas pregações têm direcionado
os fiéis a se tornarem semelhantes a eles em prosperidade. Por outro lado, o desprezo e a
ojeriza que esses novos pregadores têm difundido entre os mais conservadores, são facilmente
detectados pelos escritos religiosos que muitas organizações têm publicado.
A fama, o dinheiro, o poder e os escândalos são materiais perfeitos para os veículos de
comunicação, pois toda pessoa tem desejo de um dia libertar-se da dependência. Nos
programas evangélicos de televisão, a prosperidade é o tema principal dos tele-evangelistas,
que mostram que os corajosos e os que têm alcançam o sucesso. O desejo de viver o
momento do sucesso gera opiniões, modas e influenciam o comportamento da sociedade.
É oportuna a inserção desses grupos “anômalos” de cristãos diante da alta projeção
que seus aparecimentos proporcionam em valores naturais, como: riqueza, dinheiro, poder,
fama, importância e glórias (embora a antiga pregação cristã anunciava a renúncia como regra
básica de santidade).
4.6 Falta ou excesso de liberdade
O excesso ou restrição da liberdade religiosa e no âmbito pessoal e social também tem
sido um forte motivo para a criação de novos grupos pentecostais e neopentecostais. O direito
98
à privacidade no lar, no trabalho ou no passeio com a utilização de aparelhos eletro-
eletrônicos, o uso de cosméticos, as chamadas “roupas masculinasem corpos femininos, a
aceitação de profissões que antes não se qualificariam como condizentes com os evangélicos
(jogador de futebol, artistas de cinema ou tv e outros) e o surgimento da teologia da
prosperidade, hoje é quase uma pregação em uníssono em qualquer lugar do Brasil.
Acrescentando-se a isso, a existência de homens usando brincos, piercings e tatuagens
na igreja e o cuidado para não escandalizá-los e ofendê-los diante das leis de nosso país,
também podem ser identificados como discriminação. É a nova lei que teima em se fazer
notar.
Em uma das reuniões do ministério da igreja Assembléia de Deus do Bom Retiro, o
pastor Jabes Alencar ressaltou:
[...] alguns anos atrás estávamos reunidos para discutir o uso de brincos pelas mulheres
crentes. Hoje nosso objeto de consideração é a aprovação ou não do uso dos mesmos pelos
homens”
157
.
Enfim, as reuniões antigas em que se discutia se a mulher evangélica que usasse
brincos ou aparasse as pontas do cabelo deveria ser excluída do rol de membros ou apenas
suspensa da comunhão da igreja por alguns meses, ultimamente toma aspectos de cuidado
para não ofender os “diferentes” e para pensar em como aceitá-los.
A liberdade excessiva ou a falta dela tem sido outro fator de desarticulação dos
dogmas assembleianos que buscam outras formas de articulação religiosa para manter seus
fiéis em suas fileiras. Muito se tem discutido sobre a melhor fórmula de manter o fiel na
denominação e muitas aberturas tem sido toleradas, e, mesmo assim, o sentimento de
liberdade e de um Deus misericordioso que tudo perdoa tem provocado, cada vez mais,
novos modelos para o pentecostalismo brasileiro.
4.7 A quebra de paradigmas
As Assembléias de Deus no Brasil, em seu modelo primário, tiveram como objeto de
fé e doutrina o entendimento de que o fiel deveria sempre saber o que a organização exige, em
seus estatutos e nas definições das reuniões da CGADB, e o que lhes é permitido ou proibido
fazer. Porém, em nenhum momento, em seus documentos foi inserido o fim de qualquer
proibição.
157
Reunião informal ocorrida nas dependências da igreja com o Pastor Jabes Alencar e outros pertencentes ao
seu ministério, transmitida a nós pelo Pastor Joabe.
99
O que se entende é que nada do que se vive hoje na igreja está liberado, mas que a
tolerância é o único remédio que abona qualquer falta, desde que os reclamantes ofendidos
pela quebra dos “usos e costumes” tenham algum prestígio e caminhem com liberdade diante
da instituição e de seus dirigentes. Ricardo Mariano, em seu trabalho “O futuro o será
protestante”
158
cita Paulo Romeiro, diretor da Agência de Informações Religiosas (Agir) e
pastor da Igreja Evangélica Trindade na cidade de São Paulo:
“A igreja evangélica brasileira passa por duas crises muito sérias, a da ética e a da doutrina.
Situação que decorre, do fato de que uma das grandes falhas do pentecostalismo brasileiro foi
enfatizar ao longo das décadas mais o carisma do que o caráter. Resultado: há uma epidemia de
pastores que mentem, compram diplomas, fazem falcatruas, falsificam documentos, dão
cheques sem fundo”.
159
Entre os grandes “pecados” que deveriam ser observados pelos fiéis, estava o uso de
bebida com qualquer teor alcoólico. Era a figura do caos. O “crente” assembleiano não
tomava ou usava vinho de qualquer espécie na ceia, pois todo vinho tem um pequeno teor
alcoólico. Assim, todas as igrejas dessa denominação têm como princípio o uso do suco de
uva em suas comemorações da ceia. Entretanto, na última Convenção Geral, em São Paulo,
2007, o barulho de estouro de champanhes se fez ouvir durante alguns minutos em
comemoração à vitória do pastor José Wellington Bezerra da Costa para presidência da
CGADB por mais dois anos, um fato inusitado, inédito para os padrões radicais evangélicos.
Para melhor entender a retórica das proibições e suas punições é necessário uma
aproximação maior da fé pentecostal e analisar seus medos. Mesmo entre os pentecostais mais
liberais a distanciação da aparência do pecado se faz sentir, como afirma Macedo.
160
A quebra da proibição de ingerir bebidas alcoólicas se acentua mais no meio
administrativo do que entre os fiés da igreja e, dessa maneira que, pouco a pouco, mais uma
proibição desaparecerá totalmente dos anais dogmáticos de usos e costumes assembleianos.
Não se trata de um assunto que algum dia será discutido em convenção, mas que a cada dia
que passa, aumenta o número pentecostais que são vistos bebendo “sua cervejinha” ou
tomando seu copo de vinho em casa ou em qualquer restaurante.
Mais um fato que es se inserindo rapidamente no seio pentecostal é o estudo da
teologia como exigência para assumir o pastorado das igrejas, na ausência (falecimento) do
158
www.iquadrangular.sdnet.com.br/estudos/O%20futuro%20n%E3o%20ser%E1%20protestante.doc. Acessado
em 09/11/2007 21h:45min.
159
Vinde, 9 de julho de 1996.
160
MACEDO, Bispo, op. Cit., p. 112-113.
100
pastor anterior. Ricardo Mariano, citando um discurso do Pastor Joanir de Oliveira, na 35ª
Convenção Geral de 2001 disse:
[...] aprovação da construção de uma universidade e criação de um ‘projeto’ sociopolítico” que
para uma denominação que até pouco tempo atrás combatia radicalmente o saber teológico e o
profano e se opunha de modo não menos radical à participação na política partidária na qual
ela ingressou na última constituinte - os projetos anunciados evidenciam clara alteração de rota:
do sectarismo para a acomodação ao mundo.
161
4.7.1 Tatuagens, piercings e brincos para homens
Nos últimos tempos, com o crescimento do número de convertidos, a igreja
pentecostal tem visto os modismos presentes entre seus membros. Para muitos, homens
usando brincos, piercings e tatuagem são apenas uma questão cultural. Entretanto, para os
mais ortodoxos, a Igreja não é a hospedeira da cultura secular e nem divulgadora de
modismos; ela é sempre seu juiz e redentora. Neste caso, o cristão que tem tais
comportamentos está na contramão do propósito da comunidade religiosa. Muitos jovens na
igreja atual estão se deixando influenciar pelos modismos da sociedade. Alguns dizem que
para evangelizar a juventude é necessário parecer com eles, outros dizem que a igreja precisa
mostrar que não é tão radical e ainda podem ser ouvidas diversas outras tantas justificativas.
Estes tipos de adornos têm um caráter particular: afetam de modo mais ou menos
definitivo, e de modo mais ou menos excessivo, a própria integridade do corpo humano que,
segundo conselhos dos médicos em geral, deve ser respeitado.
Evidentemente, mutilar o corpo sem razão é sempre expressão de tolice, a o ser em
caso de operações necessárias para salvar a vida.
Uma tatuagem, um piercing ou brincos podem, pois, conter um símbolo ou uma idéia.
Geralmente, esses referenciais simbolizam a rebelião contra os costumes imemoriais da
civilização cristã.
4.8. Desafios da pós-modernidade para os pentecostais
Abaixo estão relacionados alguns problemas atuais da pós-modernidade que muito têm
incomodado a comunidade pentecostal, causando entraves e desconforto entre seus fiéis, não
no meio religioso, mas também no seio de quase toda família e que deveriam ser tratados
161
MARIANO, Ricardo. Análise Sociológica do crescimento pentecostal no Brasil, p. 223-224.
101
como a ética cristã determina: “com muito amor”, pois a sociedade em geral espera uma
posição que não desagregue setores religiosos e que se mantenha dentro da lei
.
Entre os itens que continuam como tabus nos meios religiosos, alguns estão
devidamente acomodados na lei e na constituição brasileira e mundial. Outros ainda
dependem de análise mais acurada sobre o tema, para que a justiça defina a legalidade ou não
do ato perante a sociedade, mesmo quando inserido no contexto social de outros países, e,
mesmo assim, são tratados com rejeição no mundo assembleiano.
4.8.1. A eutanásia
Nunca é lícito matar o outro: ainda que ele o quisesse, mesmo se ele o pedisse (...) nem é lícito
sequer quando o doente já não estivesse em condições de sobreviver.
162
Eutanásia é uma palavra de origem grega (eu = bom/boa; thánatos = morte) que
significa “morte boa” ou “morte sem grandes sofrimentos”. Portanto, se deve falar em
eutanásia quando alguém padece de grave sofrimento físico ou mental.
A eutanásia representa atualmente uma complicada questão de bioética e biodireito,
pois enquanto o Estado tem como princípio a proteção da vida dos seus cidadãos, existem
aqueles que devido a seu estado precário de saúde desejam dar um fim ao seu sofrimento,
antecipando a morte.
A eutanásia deve ser dividida em dois grupos: a "eutanásia ativa" e a "eutanásia
passiva". A “eutanásia ativa” tem por objetivo causar o rmino da vida no menor tempo
possível para aliviar o sofrimento do paciente, e é planejada e negociada entre este e o
profissional que vai realizá-la.
A "eutanásia passiva", por sua vez, não provoca deliberadamente a morte, no entanto,
com o passar do tempo, devido à interrupção de todos e quaisquer cuidados médicos,
farmacológicos ou outros, o doente acaba por falecer. São cessadas todas e quaisquer ações
que tenham por fim prolongar a vida. Não há, por isso, um ato que provoque a morte (tal
como na Eutanásia Ativa), mas também não nenhum que a impeça (como na
Distanásia
163
). O atual Código Penal, com propriedade, não especifica o crime da eutanásia. O
médico que mata seu doente alegando "compaixão" (!) comete crime de homicídio simples,
tipificado no artigo 121, com pena de 6 a 20 anos de reclusão. Matar um doente poderia,
162
Agostinho in Epístula 204,5: CSEL 57320.
163
Distanásia é o oposto de eutanásia. A distanásia defende que devem ser utilizadas todas as possibilidades para
prolongar a vida de um ser humano, ainda que a cura não seja uma possibilidade e o sofrimento se torne
demasiadamente penoso.
102
assim, ser uma forma qualificada de homicídio, com pena maior, como as listadas no artigo
121 §2º, com pena de 12 a 30 anos de reclusão
164
.
Alguns setores religiosos, como a Igreja Católica, têm em suas fileiras opiniões
diferentes, como no caso da morte de Piergiorgio Welby, o italiano enfermo, vítima de
distrofia muscular, que em 20 de dezembro pediu a um médico que desconectasse o respirador
artificial que o mantinha vivo. O cardeal emérito de Milão, Carlo Maria Martini, uma das
figuras mais prestigiadas do Colégio Cardinalício, relançou o debate sobre a eutanásia na
Itália com o artigo “Eu, Welby e a morte” e criticou, indiretamente, a Igreja Católica por sua
intransigência diante de um recente caso da chamada “morte doce”. Com esse longo artigo
publicado no jornal Il Sole 24 Ore, o cardeal, de 80 anos, abalou a sociedade italiana ao levar
em consideração sua própria experiência de doente, que sofre vários anos do mal de
Parkinson. Martini, um jesuíta especialista em textos bíblicos, considerou que existe um vazio
jurídico sobre o tema e criticou a posição da Igreja, ao negar um funeral religioso para o fiel.
Continua aberta a exigência de elaborar uma norma que reconheça a possibilidade de recusar as
terapias a um doente terminal (...) sem que, por isso, se legalize a eutanásia, escreveu o cardeal.
Uma empreitada difícil, mas não impossível’, comentou”.
4.8.2. Comunidade gay e casamento homossexual
Outro desafio para as estruturas religiosas, pentecostais ou não, é a presença cada vez
maior da comunidade gay nos cultos e reuniões dos evangélicos.
A busca pela igualdade observada entre os homens, desde a época dos escravos,
quando os vencidos eram seviciados e obrigados ao trabalho forçado, propagou-se entre todas
as comunidades de excluídos através dos anos e chegou até nossos dias. O reconhecimento
das “classes inferiores” e “diferentes” como iguais diante da lei, tem proporcionado
verdadeiras “quebras nos dogmas sociais” em todo mundo civilizado. É oportuno, também,
incluir no presente trabalho, este “incômodo” entre os pentecostais. Homens com trejeitos de
mulheres e mulheres com aptidões masculinas, buscando aprovação da sociedade e uma
conivência natural de heterossexuais e homossexuais convivendo em paz, ainda incomoda, e
muito, o campo religioso cristão.
164
O Anteprojeto do Código Penal elaborado pela Comissão de "Alto Nível" nomeada pelo Ministro Íris
Rezende fez exatamente o contrário. Distinguiu-se a eutanásia de um homicídio simples, o para aumentar, mas
para diminuir sua pena: reclusão de três a seis anos. A pena máxima para a eutanásia (seis anos) passa a ser
exatamente a pena mínima para o homicídio simples.
103
No fim da década de 1990 e começo dos anos 2000, tentativas de legalizar ou banir o
casamento entre pessoas do mesmo sexo foram motivos de debates em vários países. Em
2001, os “Países Baixos” foram os primeiros a permitir o casamento entre pessoas do mesmo
sexo. Atualmente, esse tipo de casamento também é legal na Bélgica, no Canadá, na África do
Sul, na Espanha e no estado de Massachusetts, um dos 50 estados dos Estados Unidos da
América. A Corte Suprema de Israel decidiu que os casamentos gays realizados em outros
países deveriam ser reconhecidos no país, apesar de ser ilegal realizá-los em Israel.
Nos últimos anos, as diferentes confissões religiosas m discutido sobre a aceitação
ou não de homossexuais e da homossexualidade no seio das sociedades religiosas, incluindo
nesse debate a celebração de casamentos religiosos entre pessoas do mesmo sexo. Enquanto a
maioria das religiões organizadas restringe-se a celebrar casamentos entre pessoas de sexos
diferentes, algumas igrejas cristãs dos Estados Unidos e do Canadá celebram a união entre
parceiros homossexuais. Entre elas estão: a Metropolitan Community Church e a Unitarian
Universalism, nos Estados Unidos e a United Church of Canada, no Canadá.
4.8.3. União estável
União estável é a convivência, não adulterina nem incestuosa, duradoura, pública e
contínua, de um homem e uma mulher, sem vínculo matrimonial, convivendo como se fossem
casados, sob o mesmo teto, constituindo, assim, uma família.
Desde tempos remotos a união de pessoas de sexos diferentes existe, sem a
necessidade do matrimônio. O direito romano entendia que era uma forma de união inferior
ao casamento. Patrícios e plebeus, impedidos de se unirem pelo casamento por qualquer
motivo social ou religioso, juntavam-se pela união de fato, onde havia a coabitação sem
“affectio maritalis”. No direito francês, após a influência do direito canônico em sua
constituição, não havia tanta abertura para sua aprovação; seus efeitos jurídicos eram
desconhecidos. O Código de Napoleão silenciou a respeito.
O direito canônico antigo não condenava o concubinato como instituição legal. Consta
que Santo Agostinho admitiu o batismo da companheira desde que se obrigasse a não deixar o
parceiro; Santo Hipólito negava matrimônio a quem o solicitasse para abandonar a
companheira, salvo se o solicitante tivesse sido traído, e o primeiro Concílio de Toledo
autorizou, no ano 400 AD, o concubinato de caráter perpétuo. Entretanto, depois de imposta a
forma pública de celebração (dogma do matrimônio-sacramento), a Igreja mudou de posição e
104
o Concílio de Trento impôs excomunhão aos concubinos que não se separassem após a
terceira advertência (VIANA, 1999, p.4).
No Novo Código Civil, a união não adulterina e não incestuosa entre homem e mulher
que convivem sob o mesmo teto há um tempo razoável, sem casamento, duradoura, contínua e
com intenção de constituir família é tratada nos artigos 1.723 a 1.727, reiterando o disposto
contido na Constituição de 1988, § 3º, do artigo 226 e na lei 9.278 de 1996 que equiparou, ou
seja, colocou em de igualdade a união estável e a família. Em outras palavras, para a
Constituição Federal e o Novo Código Civil, a idéia de família marido, mulher e filhos, -
não precisa, necessariamente, passar pelo casamento. Assim, a união estável é entidade
familiar prevista na Constituição Federal de 1988 e ratificada pelo novo Código Civil e é
protegida pela lei
165
.
4.8.4. Transexualismo
Desde setembro de 1997, no Brasil, com a resolução do Conselho Federal de Medicina
CFM 1482/97, as cirurgias de redesignação de sexo foram autorizadas a título experimental e
quando realizadas em hospitais universitários ou públicos com a infra-estrutura própria à
pesquisa, passando a ser tal procedimento considerado como legal diante da ética médica. O
termo transexual foi primeiramente usado por D. O. Cauldwell em 1949. Desde 1980, a
expressão transexualidade passa a fazer parte da nova seção sobre os distúrbios de identidade
de gênero, do Diagnostic and Statistic Manual of Mental Disorders - DSM III (Manual de
diagnóstico e estatística de distúrbios mentais).
A transexualidade é um transtorno sexual. De acordo com o quadro clínico, o
indivíduo não aceita o seu sexo genético, biológico e anatômico, por se sentir emocionalmente
como pertencendo ao outro sexo. Desta forma, ao ser reconhecido e tratado pelos familiares,
amigos, colegas e conhecidos, conforme o sexo de nascença e registro civil, temos a presença
da frustração e do sentimento, uma vez que as pessoas que o rodeiam não o conhecem. Isso
ocorre porque não conseguem ver sua verdadeira identidade de gênero, encoberta e mascarada
pelo corpo que não é aceito como adequado devido a sua identidade sexual.
A cirurgia de transgenitalização no Brasil é atualmente permitida pelo CFM (Conselho
Federal de Medicina), realizada exclusivamente em hospitais universitários ou públicos, para
165
A sugestão deste trabalho não é opinar sobre o certo e o errado ou eventual equívoco de tal ponto de vista,
mas sim, trazer a questão inserida no novo Código Civil à baila, para que a igreja, atenta que deve estar, discuta a
questão, se já não o fez, inclusive sob o ponto de vista bíblico.
105
fins de pesquisa, sendo, inclusive, gratuita. A reivindicação para adequar o registro civil e a
carteira de identidade, garantindo o pleno exercício da cidadania faz parte do debate desta
problemática junto à esfera do direito. A cirurgia no Brasil torna-se possível com a resolução
do CFM, salvo restrições necessárias, como: tratar-se de indivíduo maior de 21 anos de idade,
ter se submetido à terapia por no mínimo dois anos, ser diagnosticado e atendido por uma
equipe multidisciplinar e não possuir características físicas inapropriadas para a cirurgia.
No Brasil, o desejo de adequar o prenome e o sexo à nova condição e aparência,
esbarra na questão legal do direito concernente a mudança de nome ou a adequação do
registro civil. Trata-se aqui da discussão sobre o direito de um cidadão poder alterar
juridicamente o seu nome e sexo, o que nos remete a legislação vigente no país.
4.8.5. O aborto, a religião e a lei
O aborto seria um tema palpitante, se houvesse algum fundamento em sua defesa, mas
não há. O que aparece nos noticiários é a emotividade de quem defende a liberdade ilimitada
sobre o próprio corpo. Na terminologia jurídica, o nascituro é o ser humano concebido,
cujo nascimento se espera como fato futuro certo. Portanto, para o mundo jurídico, o embrião
é tratado como um ser humano, tanto que o Código Civil, por diversas vezes, incluiu-o em
suas estipulações legais: o nascituro tem previsão de direitos (art. 2º); pode ser adotado (art.
1621); pode ser objeto de curatela (art. 1779); pode-se doar ao nascituro (art.542). o
obstante, do ponto de vista jurídico, não discussão sobre a inclusão do nascituro como
sujeito no direito à igualdade de condições com qualquer outro ser humano em estágios
diferentes de desenvolvimento.
O cristianismo, desde o culo IV, nunca aceitou o aborto em qualquer estágio e em
qualquer circunstância, permanecendo até hoje como opinião e posição oficial da igreja
católica. A doutrina cristã entende que a alma é infundida no novo ser no momento da
fecundação; assim, proíbe o aborto em qualquer fase, já que a alma passa a pertencer ao novo
ser no preciso momento do encontro do óvulo com o espermatozóide. A punição que a igreja
católica a quem aborta, é a excomunhão. Com a encíclica Matrimonio Cristão de Pio XI
em 1930, ficou determinado que o direito à vida de um feto é igual ao da mulher, e toda
medida anticoncepcional foi considerada um “crime contra a natureza”, exceto os métodos
que estabelecem a abstinência sexual para os dias férteis.
O "pleno direito à vida" a partir do momento da concepção, baseia-se em quatro
princípios:
106
1) Deus é o autor da vida.
2) A vida se inicia no momento da concepção.
3) Ninguém tem o direito de tirar a vida humana inocente.
4) O aborto, em qualquer estagio de desenvolvimento fetal, significa tirar uma vida
humana inocente.
No entendimento doutrinário religioso dos protestantes, um leque maior de atitudes
em relação ao aborto. Encaram a questão de forma menos homogênea, apresentando razões
mais flexíveis do que entre as autoridades da Igreja Católica Romana.
A grande diferença entre a igreja católica e a maioria das protestantes, está no respeito
à vida da mãe. Assim, todos concordam que é no momento da concepção que esta adquire
todos os direitos pessoais e direitos atinentes à maternidade, pois é encarregada de gestar,
cuidar e alimentar o embrião desde o momento de sua concepção a a hora de seu
nascimento. Ao mesmo tempo é preciso ver que o médico tem o dever primordial para com a
mãe, pois foi ela a pessoa que o requisitou. Assim, se uma escolha tiver de ser feita entre a
vida da mãe e a do embrião ou do feto, a escolha prioritária recairá sempre sobre ela, cabendo,
portanto, ao médico decidir, em última análise, quando ele poderá tirar da mãe de sua
responsabilidade em relação ao feto.
Os países protestantes foram os primeiros a adotar, no século passado, legislações
mais liberais em relação ao aborto. Eles entendem que depois de ser "vestido" com carne e
osso, o feto se torna ser humano e, assim, a partir desse momento é que o aborto seria
punido como assassinato, Portanto, devido aos intensos debates que ressurgem sobre o tema, a
sociedade força os legisladores a reavaliar os propósitos da lei: se a vontade da mulher é
absoluta sobre seu corpo ou não.
4.8.6. O divórcio
Até pouco tempo, casar-se significava assumir uma responsabilidade social e
familiar para o resto da vida. Hoje o casamento é visto como uma forma de busca da
felicidade individual. Por conta disso, pouca gente está disposta a aturar tanto dissabor em
nome da preservação do matrimônio. Seja por infidelidade, ciúme excessivo, sexo mal
resolvido, disparidades financeiras, ou puro e simples tédio, é cada vez mais raro o casal que
acerta na primeira troca de alianças e passa o resto da vida junto. Em relação ao assunto, uma
107
conclusão inicial seria a de que o casamento é instituição falida e sem futuro, inclusive
ameaçada de extinção. Mas isso é um engano. O que mudou foi o conceito do "casamento que
certo". A instituição do divórcio no país promoveu uma verdadeira revolução na família
brasileira em 1977. Havia na sociedade um desejo de mudança. O aval dos parlamentares
serviu apenas para ratificar tal vontade. Prova disso é que, a partir daquele ano, o número de
divórcios concedidos no Brasil só cresceu.
Para a maioria dos brasileiros, o que é levado em consideração é a revolução nos
costumes que abalou os alicerces de uma instituição que parecia sólida e duradoura a
família. Aquela família convencional, em que maridos e mulheres viviam juntos até que a
morte os separasse, ainda é muito forte, mas perde terreno numa velocidade assombrosa. Até
2010, estima-se que a família nuclear, constituída de pais e filhos de um primeiro casamento,
será minoria no país. A mudança nesse perfil foi acompanhada por outra que seria a forma
como a sociedade tem se adaptado ao novo padrão familiar. A idéia de que casamentos não
irão, necessariamente, durar para sempre é cada vez mais aceita no país, bem como as novas
figuras familiares que foram surgindo com a popularização do divórcio: meio-irmãos, meia-
irmãs, avós, tios e tias adotivos.
Até meados dos anos 80, o divórcio era um estigma que marcava pais e filhos para o
resto da vida. Expressões como "mulher divorciada" ou "filho de pais separados" eram
pronunciadas em voz baixa e de forma pejorativa. Crianças que viviam nessa condição eram
muitas vezes proibidas de freqüentar determinadas escolas e consideradas más companhias
para os filhos de pais casados. Isso também acabou. Não é só o divórcio que é aceito
naturalmente, mas há, da mesma forma, um esforço entre casais separados para evitar
possíveis efeitos nocivos causados pela desunião. Em vez de eternizar a briga, boa parte dos
descasados procura estabelecer a chamada separação bem-sucedida em nome,
principalmente, dos filhos.
4.8.7. Técnicas de reprodução humana assistida
A igreja protestante, ao longo da história, tem incorporado em seus dogmas decisões
definidas pela igreja católica, independentemente das explicações e razões dos analistas
científicos. Porém, com o passar dos anos, essas decisões são esquecidas e sua utilização se
torna natural, independente de qualquer liberação dessas correntes religiosas. Os maiores
exemplos são os modismos que convivem harmoniosamente no seio religioso. Entretanto,
algumas técnicas pós-modernas são causadoras de um maior impacto entre os religiosos,
108
provocando dissensões entre os mais radicais. Francis Collins afirma que a religião e os
conhecimentos científicos são complementares, sendo que o sobrenatural encontra suas
respostas na fé e na religião, porém o natural é investigado para ser explicado pela ciência:
A que coloca Deus nas lacunas de uma compreensão dos dias de hoje sobre o mundo
natural, pode levar a uma crise se os avanços na ciência preencherem, posteriormente, tais
lacunas. Ao se deparar com uma compreensão incompleta do mundo natural, os que crêem
em Deus deverão tomar cuidado quando quiserem evocar o divino em áreas ainda
desconhecidas, a fim de não criar um argumento teológico desnecessário, condenado a uma
destruição posterior
.
166
Algo intrigante entre a ciência e a religião é saber que uma das maiores descobertas da
ciência de todos os tempos foi feita por um monge agostiniano, Gregor Mendel
167
. Sua
descoberta sobre os genes e a hereditariedade abriu as portas da ciência para novas
descobertas e desenvolvimento de biotecnologias impressionantes que revolucionaram o
mundo a partir do século XX. Dentre esses desenvolvimentos biotecnológicos, as “Técnicas
de Reprodução Humana Assistida”
168
tornaram-se grande polêmica para a igreja. Este
trabalho é um conjunto de procedimentos variados que incluem a manipulação e a
aproximação de gametas, com o intuito de provocar a fecundação e conseqüentemente o
desenvolvimento embrionário, para que casais com problemas de infertilidade realizem o tão
desejado sonho de ser pais.
Esse grande avanço científico envolve maneiras diferentes de alcançar seu objetivo. A
Inseminação Artificial, a Fertilização In Vitro e a denominada Injeção Intracitroplasmática de
Espermatozóides, são procedimentos diferentes de manipulação dos gametas, mas que não
ferem em nada a dignidade do ser humano. Pelo contrário, uma intervenção divina direta,
pois apesar da ciência usar esses métodos para unir as células reprodutoras, a gravidez
prossegue com sucesso após a implantação da célula embrionária no útero. Neste processo, só
Deus pode interferir, uma vez que, após as células embrionárias serem depositadas no útero,
não resta mais nada a ser feito pela equipe médica, senão esperaralguns dias, juntamente com
o casal, para que se confirme ou não a gravidez.
A história da esterilidade é relatada na Bíblia em várias famílias: Abraão e Sara,
Isaque e Rebeca, Jacó, Lia e Raquel, Elcana e Ana. Observa-se em todas estas famílias a luta
para alcançarem seu objetivo, usando todos disponíveis na época, mas que também eram
166
COLLINS, F. S. A Linguagem de Deus: um cientista apresenta evidências de que Ele
existe. Trad. Giorgio Cappelli. – São Paulo: Ed. Gente, 2007
, p. 99.
167
http://www.todabiologia.com/pesquisadores/gregor_mendel.htm. Acessado em. 20/11/2007, 11h:25min.
168
É a possibilidade de êxito através das técnicas de reprodução assistida por ICSI ou fertilização in vitro.
109
polêmicos. Sendo Deus o criador da vida, é Ele quem inteligência ao homem para buscar
alternativas de preservar a vida. Davi demonstra conhecimento sobre o desenvolvimento
intra-uterino e no versículo 6 ele diz Tal ciência é para mim maravilhosíssima; tão alta que
não a posso atingir”. (Salmo 139:6)
A Bíblia está repleta de exemplos que destacam a ciência. Deus fez com que
existam esses registros, e isso é prova suficiente de que é Ele quem inteligência e
sabedoria para que o homem consiga os avanços científicos e tecnológicos, cujo principal
objetivo é o bem estar do homem por completo, seja na prevenção ou cura de doenças, ou
na realização do desejo de um casal em ter seus filhos.
110
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após vários meses obtendo registros documentados e orais em pesquisa de campo com
os mais variados personagens assembleianos, foram encontradas razões mais que suficientes
para provar que as construções de novos usos e costumes protestantes, pentecostais ou não,
são a causa da desconstrução de partes das figuras ortodoxas nos tradicionais costumes
religiosos cristãos.
Na construção do pentecostalismo, segundo o entendimento comum de seus religiosos,
a idéia defendida foi uma reação contra o conformismo, liberalismo, formalismo e outras
posturas que prejudicaram um melhor relacionamento com Deus. Diferente de qualquer
conceito técnico que busca um objetivo pré-determinado, os segmentos religiosos, através das
manifestações de insatisfação referente ao modelo tradicional, partem imediatamente, sem
destino exato, na certeza de que aquele ambiente religioso e comum não lhes serve mais.
Logo, procuram novos modelos comportamentais que prometam acomodá-los diante de seu
Deus.
A busca pela liberdade de expressão, quando o conceito primário é a adoração, é
plenamente entendida pelos seus autores como “um desejo de agradar a Deus”. As amarras
que as tradições religiosas mantêm em seus costumes, são as matrizes que proporcionam as
cisões entre irmãos. Como se pode observar, é na ortodoxia religiosa que mais aparecem os
inconformados e são eles, os propagadores dos incômodos entre os mais ortodoxos, que
apontam as falhas dos chamados liberais, identificados como mundanistas ou aqueles que
querem contaminar o meio santificado, trazendo o “mundo” para dentro da igreja. Paul
Freston entende que:
Depois de algumas sangrias, causadas pela questão dos “costumes”, pode ser que a
AD acabe aceitando as suas novas igrejas de classe média e média alta. A pressão de
fazê-lo deve ser grande, pois eles representam dinheiro e apoio político, e seus
pastores não podem ser coagidos porque tem futuro garantido com o respaldo de
congregações prósperas.
169
Outro ponto a ser pensado é que toda organização religiosa, a partir de sua posição de
fé, sempre está sujeita a uma nova reação dogmática entre seus fiéis, devido à pressão pelo
formalismo de sua ortodoxia produzida pelos hábitos que são implantados em seus usos e
costumes diários. É fácil identificar aqueles que não se adaptam aos novos métodos e taxá-los
como conservadores, pois são esses que se revoltam contra qualquer tentativa de inovação e
169
FRESTON, Paul, in ANTONIAZZI, Alberto, op. cit., p. 95.
111
estigmatizam os inovadores de reacionários e rebeldes, apenas por discordar de pontos
relacionados aos costumes da igreja”. Algumas vezes o problema de inconformismo se
quando as indagações não são respondidas por seus lideres e suas necessidades de
informações o são supridas. Quando este ou qualquer outro fato semelhante é relegado ao
descaso, surge o incômodo.
Nos dias de hoje, os fiéis, de posse de seus automóveis e de outros meios de transporte
rápido, simplesmente partem em busca de outros campos de alimentação espiritual e o que
transparece são, nada mais nada menos que espaços vazios nos templos religiosos; e quando
os deres são inquiridos sobre a razão de tão grande evasão de membros, eles se limitam a
responder que desconhecem os motivos e que estão fazendo o mesmo que sempre fizeram.
Quando se olha para uma parte da atual igreja com sua diversidade de “ofertas”,
amparada por suportes eletrônicos e onde tudo se torna disponível, a pregação é quase sempre
direcionada para a prosperidade e não mais para o arrependimento. Apresentam seus bem-
sucedidos membros desfilando os mais novos desenvolvimentos da moda. Entretanto, quando
se pergunta aos mais antigos como era a igreja e o que mudou, as respostas são diversas, mas
o ponto comum entre elas é sempre o de que: tudo era diferente. Os crentes eram mais crentes,
os homens pareciam mais homens e as mulheres mais mães, pois a igreja tinha menos
tolerância, mas transbordava em simplicidade.
As razões da aceitação da mudança de antigos costumes pelos novos modismos,
defendidas pelos dirigentes das igrejas, aconteceram pela necessidade da manutenção dos
fiéis, visto que, ao sentirem a fuga de alguns de seus comandados, buscam meios de
reconquistá-los. Assim, o uso das novas tecnologias se faz sentir cada vez mais: o rádio,
sendo utilizado por muitas igrejas para sua divulgação; a televisão, presente em quase todos
os lares com programação evangélica a qualquer momento do dia ou da noite; os hinos,
transformados em “louvor” com a utilização de todos os possíveis meios eletrônicos; a
prosperidade como alvo facilmente alcançável, além de indivíduos que têm como alvo o
comportamento da sociedade religiosa mais harmoniosa. Às vezes, parece que se tornou moda
ser crente. Com a abertura que acontece no novo mundo religioso protestante, os pastores,
bispos e apóstolos sentem-se pressionados a serem mais tolerantes e flexíveis com seus
adeptos no intuito de não perdê-los.
Atualmente, quando se indaga o porquê de não mais se impor os costumes antigos e
como podem suportar tantas mudanças, alguns afirmam sem titubear: “Nossa meta é ganhar
almas para Deus, mas além desse propósito maior precisamos não perder os nossos filhos,
112
netos, parentes e amigos que não o mais manipulados apenas em razão de nossa pregação:
eles desejam uma prova mais bíblica para nossas afirmações”.
As explicações apresentadas como as “maiores causas” da desconstrução desses usos e
costumes foram sentidas no transcorrer da vida dos entrevistados, na análise individual de
alguns escritores e de excelentes trabalhos acadêmicos. Todavia ainda existe um grande
propósito neste trabalho, que é mostrar aos líderes desta e de outras organizações religiosas
que os incômodos ainda persistem. Os membros das Assembléias de Deus continuam com
extrema dificuldade para tratar dos novos problemas que estão sendo encarados como “mal do
presente século” e, ainda, que estão causando muitos incômodos em relação à ética social e
religiosa no meio não só pentecostal, mas em todo segmento religioso cristão.
No que tange aos usos e costumes, é interessante ouvir os comentários dos protestantes
históricos sobre a ortodoxia assembleiana e confrontá-la com a realidade que ainda sobrevive
entre seus fiéis. Para os históricos, os pentecostais são o exemplo ilibado do “servo
extremamente cumpridor dos dogmas instituídos em seus costumes religiosos” e
instintivamente manifestam o respeito e a admiração pelo comportamento deles. Todavia, a
realidade não é bem assim. Os assembleianos também enfrentam problemas estruturais de
nossa época e sofrem pela falta de subsídios teológicos para conviver em harmonia e em
obediência às leis de nosso país, em relação aos “diferentes” problemas éticos e sociais.
Portanto, sugere-se que todos deveriamolhar” para o passado distante e recente a fim
de analisar o conceito de pecado que estão vivendo e fazendo com que outros também vivam.
Do mesmo modo, necessitam analisar se o conceito blico é real em suas aversões e se o
sentimento de contrariedade não provém, apenas, de suas análises sobre modismos ou
mundanismo. Convém ainda relembrar que o principal propósito da razão da existência
protestante é a plena aprovação da Bíblia no viver do fiel.
Ao olhar a igreja de hoje com todo aparato de tecnologia moderna sendo usado
livremente, sem resquícios de culpa, desde os mais importantes, como a busca pelo melhor
sistema de som até as vestimentas e aparências de seus membros, homens e mulheres,
pergunta-se: Onde está aquele modelo de ortodoxia nos usos e costumes que a Assembléia
de Deus tanto propagava e pelo qual tanto zelava?”. “Como se sentem aqueles pastores que
tempos atrás excluíram da comunidade assembleiana pessoas, homens e mulheres, apenas por
usarem adornos e comportamentos que hoje são aceitos como fato normal?Será que o que
entendemos como pecado, hoje, não será comportamento normal em alguns anos?
113
Assim, que este trabalho sirva como reflexão aos mais interessados no
desenvolvimento da igreja pentecostal, como lembrete de advertência às atitudes pessoais de
homens que, não observando no conteúdo bíblico, suas decisões, transformaram assuntos mal
interpretados sobre os usos e costumes de suas congregações em dogmas santificantes que em
nada santificavam seus fiéis, apenas os distinguia da comunidade protestante em geral.
114
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