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2.2 A vida sociocultural da província no decorrer do século XIX
Em princípios do século XIX, após mais de três séculos de colonização, a Capitania
do Espírito Santo
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ainda possuía parte de suas terras dominadas pelos índios. A
colonização portuguesa não adentrou para mais que uma faixa de quatro léguas, ao
longo do litoral, onde o relevo plano era propício às culturas algodoeira e açucareira,
com amplas possibilidades de desenvolver-se a exploração agrícola baseada na
mão-de-obra escrava ao sul do rio Doce (WAGEMANN, 1949). Desse rio até o limite
com a Província da Bahia, existia uma luxuriante floresta tropical, à exceção de um
enclave, representado pelo núcleo de São Mateus. Na faixa litorânea capixaba,
conforme as informações do explorador francês Saint-Hilaire, por volta de 1818,
havia somente meia dúzia de vilas
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e outras povoações, algumas formadas por
índios pescadores (SALETTO, 1996).
Castro, complementando a informação sobre a Província do Espírito Santo, a partir
dos relatos de Saint-Hilaire diz:
Por ocasião de sua viagem [Saint-Hilaire] ao rio Doce, o transporte era feito
em pequenas canoas, com remadores, e ele afirmou terem contribuído para
a dificuldade de povoamento da região dois fatores: a grande quantidade de
doenças e os índios botocudos.
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Dentre as doenças, a mais comum era o
chamado impaludismo ou febre palustre. Transmitida por protozoário é
também conhecida com o nome de malária, e pode ser considerada uma
doença local, na medida em que era conhecida pelos primitivos habitantes
da região. Havia ainda a bexiga, ou varíola, e a febre amarela, sendo estas
importadas, ou seja, difundidas pela população branca (CASTRO, 2005).
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“De acordo com Saint-Hilaire (1936, p. 31), entre os mineiros, fluminenses e gaúchos, bem como
todo o Sul do Brasil, quando se refere apenas à Capitania, vem à luz o Espírito Santo. No interior
capixaba não se usa quase o nome de Capitania a não ser para designar a Villa da Victóriia, a
Capital”. (SALETTO, 1996).
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“Além da Vila de Vitória, a Capital, outras seis compunham o Espírito Santo: Itapemirim, Benevente,
Guarapari, Vila Velha, Viana e Almeida. A Justiça, exercida pelo Ouvidor de Vitória, estendia sua
jurisdição até Campos de Goitacazes, no atual Estado do Rio de Janeiro” (SALETTO, 1996, p. 54).
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“Os grupos indígenas recebiam a denominação genérica de botocudos pelo fato de diversas tribos
utilizarem botoques nas orelhas e nos lábios. Foram também conhecidos desde o século XVI como
Aimorés, ou Coroados, por rasparem as cabeças em círculos, ou Tapuia— palavra tupi que significa
inimigo, bárbaro. Eram de diversas tribos que habitavam, no século XIX, os cursos dos rios Pardo,
das Contas, Jequitinhonha, Mucuri, São Mateus e Doce” (CASTRO, 2005).