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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Noemi Vieira de Freitas Rios
O PROCESSO DE INCLUSÃO DE CRIANÇAS COM
DEFICIÊNCIA AUDITIVA NA ESCOLA REGULAR:
VIVÊNCIAS DE PROFESSORES.
MESTRADO EM FONOAUDIOLOGIA
SÃO PAULO
2007
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Noemi Vieira de Freitas Rios
O PROCESSO DE INCLUSÃO DE CRIANÇAS COM
DEFICIÊNCIA AUDITIVA NA ESCOLA REGULAR:
VIVÊNCIAS DE PROFESSORES.
Dissertação apresentada à banca
examinadora da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo como exigência
parcial para obtenção do título de MESTRE
em Fonoaudiologia, sob orientação da
Profª. Doutora Beatriz Cavalcanti de A.
Caiuby Novaes.
SÃO PAULO
2007
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Rios, Noemi Vieira de Freitas
O processo de inclusão de crianças com deficiência auditiva:
vivências de professores / Noemi Vieira de Freitas Rios. --São Paulo-2007.
xiii, 91 f.
Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Programa de Estudos Pós-Graduados em Fonoaudiologia.
Título em inglês: The process of inclusion of hearing impaired
children in regular school: teachers' experiences.
1.Deficiência auditiva . 2. Educação especial. 3- Reabilitação auditiva
iii
Noemi Vieira de Freitas Rios
O processo de inclusão de crianças com deficiência auditiva
em escola regular: vivências de professores.
Presidente da banca: Profª Drª. Beatriz Cavalcanti de A. Caiuby
Novaes.
Banca Examinadora:
Profª. Drª.:______________________________
Profª. Drª.:______________________________
Profª. Drª.:______________________________
Aprovada em: ____/____/____
iv
Dedico este trabalho:
Ao Senhor Jesus. Mestre dos
mestres. Fiel e incomparável. Tu
és a razão da minha vida.
Em todo tempo louvarei e adorarei,
a Ti meu Rei.
v
“Porque Dele, e por Ele, e para
Ele são todas as coisas; glória,
pois, a Ele eternamente. Amém!”
Romanos 11:36
Agradecimentos especiais:
À minha querida orientadora Bia Novaes. Conhecer você, foi
um presente de Deus. Sua dedicação, amor e simplicidade,
vi
contagiaram a minha vida e a minha prática. Com o seu
trabalho inspirador, aprendi a ser reabilitadora e levarei
sempre, as marcas das suas preciosas, acolhedoras e
brilhantes orientações.
vii
Ao meu amado esposo, amigo e companheiro. Sem a sua
presença na minha vida, seu amor, suas palavras
encorajadoras, sua infinita compreensão e orações, com
certeza, não seria possível a concretização deste sonho.
Muito obrigada meu amor!
Ao meu filho, Rogério. Que nos momentos de trabalho e
ausência, soube esperar e me comovia com a sua doce
voz, perguntando: ”Mamãe você já está de férias?”. Filho,
você é uma benção na minha vida.
Amo vocês.
viii
AGRADECIMENTOS:
Aos meus amados pais, Rogério e Angélica. Sempre presentes... Por todos os
esforços, dedicação e apoio em todas as etapas da minha vida. Essa conquista
também é de vocês.
Às minhas irmãs, Isabelli e Viviani pela paciência, orações e apoio durante todo
esse percurso. Amo vocês.
A toda a minha família, sogra, cunhados (as), tios (as), primos (as) que, em muitos
momentos, souberam entender a minha ausência e que me sustentaram em
oração.
À banca examinadora, Cristina Lacerda e Clay Balieiro, pela leitura cuidadosa,
sensível, apurada, que geraram as preciosas orientações e contribuições no
exame de qualificação.
À Claudia Perrota pelo toque especial e formidável contribuição durante a
correção e revisão do texto.
À Carla Padovani pelo apoio constante e por ter viabilizado este programa de
mestrado. Obrigada pelo seu incentivo e colaboração.
À Mara Rissato pelos momentos inesquecíveis que compartilhamos nessa
caminhada. Chegou ao fim amiga! Muito obrigada por tudo.
À Raquel Azevedo, pela amizade e carinho durante toda essa trajetória. Louvado
seja Deus por mais uma etapa vencida amiga!
Aos amigos do mestrado, pelo companheirismo e incentivo, e por dividirem as
alegrias e angústias em todos os módulos do mestrado.
ix
Aos parentes e amigos que me acolheram em São Paulo, em especial, a amiga
Andreza Fazolo e família, que estarão sempre presentes em minha vida.
Ao Núcleo de oração Vila Laura e todos os meus amados irmãos em Cristo e
pastores da Comunidade Evangélica Vida Nova, que acompanharam todos os
momentos do mestrado, intercedendo e orando por mim.
À Dalila Pinheiro, amada irmã em Cristo, pelo resumo em inglês.
Aos meus pacientes, que, me ensinam continuamente, todos os dias e a cada
novo contato com eles. Aos pais e professores pela disponibilidade e contribuição
a esta pesquisa, pois sem vocês nada conseguiríamos realizar.
A UNEB pela bolsa de estudo concedida e a UNIME pelo apoio financeiro.
A todos que, de alguma forma, colaboraram para que este trabalho fosse
concluído. Meus sinceros agradecimentos.
x
LISTA DE TABELA Pg
Tabela 1: Descrição das crianças participantes do estudo 40
iii
RESUMO
Rios NVF. O processo de inclusão de crianças com deficiência auditiva na escola
regular: vivências de professores. São Paulo; 2007.
[Dissertação de Mestrado. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.PUC-SP]
Introdução: o enfoque deste estudo é a inclusão de crianças deficientes auditivas,
usuárias de aparelho de amplificação sonora individual ou implante coclear, que
se encontram em processo terapêutico oral e chegam à escola regular com
necessidades especiais. Objetivo: descrever e discutir, a partir da vivência de
professores, o processo de inclusão de crianças com deficiência auditiva em
escola regular. Método: Foram selecionadas três crianças entre 05 e 09 anos de
idade, sendo que seus professores e seus pais também se tornaram sujeitos desta
pesquisa. Por meio de entrevistas com as professoras das crianças, que foram
gravadas, transcritas e depois analisadas, e dos registros de intervenções no
diário de campo, foi selecionado o material que permitiu caracterizar o processo
de inclusão de cada criança do estudo. Resultados: Os relatos das professoras
sobre suas experiências com as crianças deficientes auditivas deste estudo
parecem indicar que, ainda hoje, apesar da evolução das práticas inclusivas,
prevalecem nas escolas muito mais os pressupostos da integração do que da
inclusão. As professoras foram unânimes em admitir que não vêm sendo
suficientemente preparadas para receber deficientes auditivos e pouco sabem
sobre o desenvolvimento da audição, da linguagem e sobre como esses aspectos
influenciam e determinam formas particulares de apreensão de conteúdos.
Trazem, ainda, visões baseadas no pré-conceito de que o surdo não fala e tendem
tanto a subestimar como superestimar a capacidade desse aluno. Prevalece a
idéia de que é a criança com necessidades educativas especiais quem deve se
adaptar ao ambiente, empenhar-se para ser nele integrada; ou então, as
professoras buscam estratégias individuais de aproximação, sem que essa
questão seja problematizada junto ao corpo técnico da escola, que ainda não vem
efetivando transformações em sua organização para receber esses alunos. A
articulação entre escola, família e a fonoaudiologia parece ser determinante no
estabelecimento de condições necessárias e suficientes para que o deficiente
auditivo se sinta em condições de ir adiante, não só em termos de socialização,
mas também de apreensão de conhecimentos das mais diversas áreas.
Considerações finais: Rever concepções não é uma atitude isolada ou individual.
Nessa rede de cuidados, todos precisam se comprometer. É preciso mergulhar
nas bases da inclusão, analisar as necessidades das crianças e adaptar projetos
para que se tornem compatíveis com as condições educacionais de cada uma
delas. Só assim poderemos transformar a realidade, em que muitos são
chamados, mas poucos incluídos.
Palavras chaves: 1.Deficiência auditiva . 2. Educação especial. 3- Reabilitação
auditiva.
iv
ABSTRACT
Rios NVF. The process of inclusion of hearing impaired children in regular
school: teachers' experiences. [dissertation] Master's degree.
Introduction: the focus of this study is mainstreaming of hearing impaired
children, users of hearing aids or cochlear implant, that are in oral intervention
programs with provision for their special needs. Objective: to describe and to
discuss, from the perspective of teaches’ experiences, the process of
mainstreaming of hearing impaired children. Method: Three children were selected
between 05 and 09 years old, their teachers and their parents became also subject
of this research. Through recorded interviews with the children's teachers, which
were transcribed and later analyzed, and through interventions in the field diary, it
was selected the material that allowed us to characterize the process of each child
study inclusion. Results: The teachers' report about their experiences with the
hearing impaired children of this study seems to indicate that, still today, in spite of
the evolution of the inclusive practices, they prevail in the schools much more the
presuppositions of the integration than the inclusion. The teachers were unanimous
in admitting that they are not being sufficiently prepared to receive hearing
impaired children and a little number of them knows about the development of the
audition, of the language and on as those aspects influence and determine peculiar
forms of the contents apprehension. They bring, still, visions based on the
prejudice that the deaf cannot speak and they tend so much to underestimate as
overestimating that student's capacity. It prevails the idea that is the child with
special educational needs who should adapt himself to the atmosphere, to insist in
to be integrated; or then, the teachers look for individual strategies of approach,
without considering the process within the school project context. It is considered
an individual problem and not a question incorporated in the school educational
project. The articulation among school, family and the speech therapy seems to be
decisive in the establishment of necessary and enough conditions so that the
hearing impaired child could feel in conditions of going ahead, not only in social
meeting terms, but also of knowledge apprehension of the most several areas.
Final considerations: To review conceptions is not an isolated or individual
attitude. In that net of cares, all need to be committed. It is necessary to immerse in
the bases of the inclusion, to analyze the children's needs and to adapt projects for
they become compatible with the educational conditions of each one of them. We
will only like this be able to transform the reality, that many are called, but few are
really mainstreamed.
xiii
SUMÁRIO Pág.
Dedicatória iv
Agradecimento especial v
Agradecimentos vii
Lista de tabela ix
Resumo x
Abstract xi
1. Introdução 1
2. Revisão de literatura
2.1 O processo de inclusão: questões ideológicas e de Implantação
2.2 A linguagem verbal oral e a criança com deficiência auditiva
2.3 A criança com deficiência auditiva: a clínica, a família e a escola.
5
5
17
23
3. Método
3.1 Seleção e caracterização dos sujeitos
3.1.2 caracterização dos sujeitos.
3.1.2.1 História de Ra
3.1.2.2 História de Ru
3.1.2.3 História de Mi
3.2 Procedimentos
3.2.1 Entrevistas com os professores
3.2.2 Registros de intervenções no diário de campo
3.2.3 Participação dos pais
3.3 Análise dos dados
3.4 Recursos materiais e instrumentos utilizados na pesquisa
30
31
31
32
34
37
41
41
42
42
42
43
4. Resultados e discussão 44
xiv
4.1 A questão da inclusão
4.1.1 Direitos e Obrigações
4.1.2 Integração ou inclusão?
4.1.3 O papel da escola: aprendizagem ou socialização?
4.2 A linguagem verbal oral e a criança deficiente auditiva.
4.3 Práticas inclusivas: a criança, a escola e a família.
44
44
49
54
62
67
5. Conclusão e considerações finais 75
6. Referencias Bibliográfica 78
Anexos 83
1
1. INTRODUÇÃO
A identificação da perda auditiva nos primeiros meses de vida e o
encaminhamento cada vez mais cedo para o processo de intervenção (indicação e
adaptação de dispositivos eletrônicos e terapia fonoaudiológica) têm possibilitado
o aproveitamento máximo da audição por parte da criança e, conseqüentemente,
o acesso à linguagem oral.
Mais tarde, porém, os pais deparam com problemas relativos à fase de
escolaridade: “Meu filho vai aprender a ler e escrever? Será aprovado?
Conseguirá fazer faculdade?” - são questões que geram ansiedade e temor de
que esse momento não se desenvolva com tranqüilidade (Balieiro e Trenche,
2005).
Isso ocorre porque, de uma forma geral, apesar de a constituição
brasileira, promulgada em 1824, manifestar o interesse do país pela educação de
todas as pessoas, os deficientes sempre foram discriminados, desrespeitados,
segregados, excluídos e impedidos de exercer sua cidadania. Porém, na última
década, temos observado uma evolução das práticas inclusivas, ainda que os
princípios políticos e sociais que regem a inclusão não tenham sido incorporados
completamente no cotidiano da sala de aula, causando inquietação no meio
2
educacional e muita insegurança nos pais, talvez pela falta de conhecimento e/ou
pelo preconceito enraizado em relação às pessoas deficientes
1
(Buffa, 2005).
De fato, os professores ainda não têm sido devidamente formados para
atuar com os alunos deficientes, sendo que, no caso dos surdos, observamos
dificuldades no que diz respeito à comunicação e ao processo de ensino e
aprendizagem.
No que se refere à Fonoaudiologia, a prática de integrar crianças surdas
em escolas regulares já é desenvolvida há muito tempo, principalmente quando
estas freqüentam clínicas particulares. O fonoaudiólogo realiza, então, adaptações
na escola e trabalhos com a família, acolhendo e orientando pais e professores,
criando assim condições para um processo de inclusão bem sucedido
2
.
E é justamente esse o enfoque deste estudo: a inclusão de crianças
deficientes auditivas, usuárias de aparelho de amplificação sonora individual ou
implante coclear, que se encontram em processo terapêutico oral e chegam à
escola regular com necessidades especiais. Além de ser um direito, é fundamental
que elas sejam inseridas em classes comuns o mais cedo possível, considerando
que nesse ambiente e nesse contexto, convivendo com ouvintes, as
1
Neste trabalho, os termos surdo e deficiente auditivo são utilizados de forma equivalente.
2
Quando a criança utiliza a língua de sinais, entra em ação a figura do intérprete e a questão
inclusão extrapolaria o enfoque deste trabalho.
3
oportunidades de experiências auditivas são maiores, o que propicia o
desenvolvimento da audição, da fala e da linguagem e, conseqüentemente, o
favorecimento da aprendizagem (Buffa,2005).
É importante ressaltar que as crianças em foco neste estudo estão
incluídas em escolas particulares. Isso significa que as expectativas de letramento
e as condições de leitura são compatíveis com o nível de escolaridade e a série
em que se encontram.
Nesse sentido, as questões que se colocam são: os professores estão
preparados para receber o deficiente auditivo e suas particularidades? A inclusão
é uma realidade? Essas crianças são de fato inseridas no grupo? Quais são as
estratégias e os recursos utilizados para viabilizar esse processo? Com o intuito
de refletir sobre elas, são apresentadas e discutidas neste estudo histórias de
crianças surdas que apresentam o português oral como primeira língua, com mais
ou menos dificuldade no seu domínio. Professores e pais foram entrevistados,
pois partimos do pressuposto de que o processo de inclusão dessas crianças tem
sido bem sucedido em muitos casos, em diversas regiões do Brasil, especialmente
quando o fonoaudiólogo consegue estabelecer parceria com a família e com a
escola.
Conhecer essa realidade, compartilhando os contornos do trabalho
fonoaudiológico realizado junto às crianças deficientes auditivas pode contribuir
para a implementação de propostas de inclusão fundamentadas em dados obtidos
na realidade da escola, do professor e da família.
4
Este estudo teve, então, o objetivo de descrever e discutir, a partir da
vivência de professores e pais, o processo de inclusão de crianças com deficiência
auditiva em escola regular. Para tanto, foram abordados os seguintes aspectos:
1. Percepção do professor de seus “direitos e obrigações” no processo
de inclusão;
2. Ações que foram identificadas pelo professor como facilitadoras e/ou
dificultantes do processo de inclusão;
3. Estabelecimento de parcerias entre o fonoaudiólogo, a escola e a
família no processo de inclusão, a partir do discurso do professor.
5
2. REVISÃO DE LITERATURA
Este capítulo foi subdividido em três partes. Na primeira, são
apresentadas reflexões sobre a inclusão social e estudos referentes à educação
inclusiva. Na segunda, são abordadas questões teóricas sobre a deficiência
auditiva e o processo de aquisição da linguagem verbal oral. E, por último,
trazemos os estudos referentes à importância da família no processo terapêutico e
a triangulação dos envolvidos na inclusão da criança com deficiência auditiva.
2.1 O processo de inclusão: questões ideológicas e operacionais de
implantação
A inclusão social traz consigo a idéia de uma sociedade que admite a
convivência de todas as pessoas, sem qualquer preconceito, guiando a
elaboração de políticas e leis que favoreçam programas e serviços voltados ao
atendimento das necessidades especiais dos deficientes.
Nos últimos anos, os registros legais e os textos que tratam das políticas
públicas no Brasil têm ampliado as referências aos alunos com deficiência ou com
necessidades educacionais especiais. A Constituição de 1988, por exemplo,
incorporou vários dispositivos referentes aos direitos da pessoa com deficiência,
nos âmbitos da saúde, educação, trabalho e assistência. Especificamente no
6
campo educacional, registrou-se o direito público subjetivo à educação de todos
os brasileiros, entre eles, os indicados como portadores de deficiência,
preferencialmente junto à rede regular de ensino. Essas determinações
estenderam-se para outros textos legais da União e para as legislações estaduais
e municipais (Ferreira e Ferreira, 2004).
Segundo Ferreira (1998), foi no momento de reforma constitucional, no
final da década de 1980, que começaram a chegar ao Congresso os debates
sobre a nova Lei de Diretrizes Básicas - LDB. Na Câmara, o projeto foi aos poucos
incorporando as questões da educação especial. Em 1988, apenas foi registrado o
que estava na Lei 5.692/71; na 2ª emenda, já em 1989, acrescentou-se o
dispositivo constitucional; na 3ª emenda, também de 1989, passou a constar um
capítulo específico destinado à educação especial (o mesmo acontecendo com
educação indígena e de jovens e adultos). No relatório Amin e no projeto
finalmente aprovado pela Câmara em 1993, foi mantido o capítulo cuja redação foi
alterada no sentido de reforçar a idéia constitucional da integração escolar.
Com o processo conhecido como globalização, a inclusão social começou
a ser discutida, sendo que, segundo Andrade e Schutz (2002), essa idéia
proliferou após a conferência Mundial sobre Educação para Todos, na Tailândia,
em 1990. Neste encontro conferencial, o governo brasileiro assumiu o
compromisso de construir um sistema educacional inclusivo.
Mas já a partir da Declaração de Salamanca (1994) intensificaram-se as
discussões em torno do tema, sendo que, tendo aderido a essa declaração, o
7
Brasil se comprometeu junto à Organização das Nações Unidas (ONU)/
Organização das Nações Unidas para a Educação, a ciência e a cultura
(UNESCO) e ao Banco Mundial (BM), que promoveram o encontro. Esses
compromissos apontam mais para a necessidade de se melhorar os indicadores
nacionais da educação básica, priorizando os aspectos quantitativos do acesso
(Ferreira e Ferreira , 2004). A declaração de Salamanca explicita que os alunos
têm direitos iguais, independente das características, interesses e necessidades
individuais. A escola deve oferecer os serviços adequados para atender à
diversidade da população. Isso constitui um avanço que incorpora as críticas à
rigidez histórica dos sistemas de ensino e às exigências tradicionais de que os
indivíduos se adaptem a eles. Outro ponto abordado na declaração é a atribuição
de poderes tão amplos a escolas que incluem desde o combate às atitudes
discriminatórias até a construção de uma sociedade integradora, que, por sua vez,
somente será possível se a integração se efetivar em todos os âmbitos da vida
social (Laplane, 2004).
A inclusão deve estar ligada a todos os segmentos da sociedade, porém,
na área educacional, esse processo vem acontecendo de forma mais efetiva, por
meio de leis, decretos e diretrizes nacionais (Lei nº 9.394/96 – Lei de diretrizes e
Bases da Educação), o que não poderia deixar de ser, pois a Educação é a área
que mais possibilidades tem de provocar mudanças no comportamento da
sociedade, devido a sua função formadora e socializadora do conhecimento.
Segundo Sassaki (1998), a educação das pessoas portadoras de
necessidades educacionais especiais passou por vários momentos históricos,
8
vinculados às mudanças na sociedade, partindo de uma postura extremamente
segregacionista até chegar à educação inclusiva da atualidade. Até a década de
sessenta, as políticas educacionais eram marcadas pela exclusão e segregação.
O deficiente era visto como incapaz, inválido e socialmente inútil. A família e a
sociedade adotavam para com essas pessoas atitudes de superproteção, piedade
e caridade. Então, a partir da década de sessenta, as práticas educativas
começaram a se basear no princípio da integração. O processo objetivava a
modificação da pessoa deficiente em direção à normalidade, para que, por esforço
e modificações pessoais, fosse aceita na sociedade. É uma fase marcada pela
criação das classes especiais e salas de recursos, sendo que crianças e jovens
mais aptos para a escola regular eram a ela encaminhados, e a permanência
nesse tipo de instituição dependia de seus próprios esforços. As atitudes da
família mostravam que o deficiente deveria enfrentar os desafios da vida e
procurar se integrar na sociedade.
As práticas de inclusão só tiveram início nos anos oitenta e se
estabeleceram mais fortemente na década de noventa. Diferente da integração, a
inclusão pressupõe mudanças na sociedade, para que esta se torne capaz de
receber e acolher adequadamente as pessoas portadoras de necessidades
especiais; portanto, baseia-se no modelo social. Segundo este conceito, a escola
leva em consideração a necessidade do aluno, ocorrendo adaptação do ambiente
físico e dos procedimentos educacionais, sendo que todas as pessoas devem ser
incluídas na escola comum.
9
Para Ferreira (2006), as críticas que hoje são feitas à ideologia da
integração cobram a visão de que o ensino especializado teria a possibilidade, não
existente antes, de capacitar os alunos considerados especiais para o convívio
com os considerados normais, em uma escola e sociedade acolhedoras, já que
estariam mais aptos para tanto. Tais críticas apontam essa visão duplamente
reducionista: redução da problemática da deficiência ao âmbito da instituição
escolar; redução da problemática educacional a certo “otimismo pedagógico
especializado”. Aliás, é também central a função reservada à instituição escolar
nas propostas de educação inclusiva, embora com críticas centrais à visão
especializada.
Mazzota (2005) demonstrou em seu trabalho que, até 1990, as políticas
de educação especial refletiram, explicitamente, o sentido assistencial e
terapêutico atribuído à educação especial pelo MEC. A partir de 1990, surgem
indicadores da busca de interpretação da educação especial como modalidade de
ensino. Entretanto, é preciso salientar que os principais planos e propostas
mantêm-se numa abordagem reducionista, interpretando a Educação Especial
como uma questão meramente metodológica ou de procedimentos didáticos. E,
nesse sentido, cabe lembrar que a educação especial não deve ser entendida
como simples instância preparadora para o ensino comum, embora se deseje que
o maior número possível dos alunos possa dele se beneficiar.
A semente da inclusão é a equiparação de oportunidades. Trata-se,
segundo Sassaki (2000), de um processo que exige que a sociedade inteira se
torne acessível a todas as pessoas, principalmente a quem possui deficiência.
10
Esse conceito surgiu para mostrar que, se a sociedade não mudar, as pessoas
vão continuar excluídas, exatamente por que a sociedade é cheia de empecilhos.
Com a equiparação de oportunidades, há igualdade de condições, eliminam-se
todas as barreiras que bloqueiam o caminho da inclusão.
Também para Sánchez (2005), a educação inclusiva é uma questão de
direitos humanos e implica a definição de políticas públicas, traduzidas nas ações
institucionalmente planejadas, implementadas e avaliadas. A concepção que
orienta as principais opiniões acerca da educação inclusiva é de que a escola é
um dos espaços de ação e de transformação que conjuga a idéia de políticas
educacionais e políticas sociais amplas que garantam os direitos da população.
Assim, a implantação de propostas com vistas à construção de uma educação
inclusiva requer mudanças nos processos de gestão, na formação de professores,
nas metodologias educacionais, com ações compartilhadas e práticas
colaborativas que respondam às necessidades de todos os alunos.
Laplane (2004) adverte, no entanto, que a idéia de que a inclusão
representa a única e melhor solução para alunos, professores, pais e sociedade
põe em evidência um mecanismo discursivo que opera para assegurar a eficácia
do discurso. Sua fraqueza, entretanto, reside no fato de que, em certo momento, o
discurso contradiz a realidade educacional brasileira, caracterizada por classes
superlotadas, instalações físicas insuficientes, quadros docentes cuja formação
deixa a desejar. Essas condições de existência do nosso sistema educacional
levam a questionar a própria idéia de inclusão como política que, simplesmente,
insira alunos nos contextos escolares existentes.
11
De acordo com Cartolano (1998), o profissional que trabalha com
educação especial deve ser, em primeiro lugar, bom professor: qualificado, dono
de um saber reconhecido socialmente, e competente no seu métier. Além disso,
há de ser também um profissional voltado para as práticas sociais vigentes,
dotado de uma consciência lúcida de sua realidade histórica e dos problemas dela
emergentes. Somente dessa maneira poderá contribuir para a diminuição da
segregação e da exclusão dos diferentes pela sociedade capitalista moderna.
Segundo o autor, é preciso estar sempre de espírito aberto à pesquisa, à busca
incessante de novas respostas que auxiliem a repensar o velho e a enfrentar o
novo. Como deve acontecer em todo trabalho pedagógico, esse professor precisa
ter sempre postura de busca, de análise da sua prática pedagógica, para
reformulá-la quando necessário e quando as circunstâncias o exigirem. Deve estar
sempre aberto a fazer revisões no seu referencial teórico, de modo a acompanhar
o desenvolvimento das ciências e as descobertas da tecnologia para seu campo
de atuação.
Se, ao contrário, continuarmos a formar professores que possuam
somente um discurso racional acerca do outro, mas sem a experiência que é do/s
outro/s, o panorama continuará obscuro e esses outros seguirão sendo pensados
como “anormais”, que devem ser controlados por aquilo que “parecem ser” e,
assim, corrigidos eternamente, como bem ressalta Skliar (2006). O professor, na
sua vontade de incluir o outro, não deveria se perder nos labirintos dos nomes,
das técnicas e dos saberes inventados; deveria, sim, se aproximar das
12
experiências que são dos outros, mas não reduzindo-os à mesmice egocêntrica e
hegemônica da educação.
Levando em consideração a escolarização de crianças com necessidades
educacionais especiais, Góes (2004) pontuou de forma clara alguns aspectos da
inclusão dessas crianças, focalizando duas preocupações: a primeira diz respeito
ao risco de que a instituição tome a presença desses alunos como acessória, sem
afetar o projeto da escola, o que se reflete na realização de pequenos ajustes ao
aprendiz e na atribuição dessa responsabilidade quase exclusivamente ao
professor. A segunda preocupação vincula-se à escassa atenção que a escola
parece estar dando a uma perspectiva mais ampla de formação pessoal do aluno
especial, sobretudo àqueles enquadrados entre as deficiências. Indícios dessa
atitude podem ser notados na organização das atividades curriculares, que não
têm propiciado um contraponto à dispersão dos alunos por diferentes classes e
unidades, por meio de experiências que permitam vivenciar a diferença e a
semelhança em relação a vários outros, inclusive àqueles que apresentam o
mesmo tipo de necessidade especial. Isso traz conseqüências para seus
processos formativos, como a construção da significação de si e a elaboração de
noções relativas à identidade e à alteridade, que, embora se entrelacem com as
questões de aprendizagem dos conteúdos de caráter instrucional, estendem-se
para além da condição de aprendiz.
Para melhorar a resposta às demandas postas pela inclusão, as escolas
regulares também se relacionam com serviços de outros setores, como
fonoaudiologia, psicologia e fisioterapia. Profissionais diversos são imprescindíveis
13
para a escolarização dos sujeitos especiais, sendo que cada setor pode contribuir
com determinado tipo de necessidade. Contudo, a coordenação dessas ações
deve estar nas mãos da escola, no que diz respeito à educação formal. Nem
sempre isso ocorre e, por vezes, perduram as interações nos moldes tradicionais
(a visão patologizante das dificuldades de aprendizagem, a atribuição dos
problemas ao próprio aluno etc.), ou a parceria fica circunscrita à interação do
professor com o profissional. No geral, o resultado é que a escola desloca parte de
suas funções educativas para esses outros setores (Góes, 2004).
Diversas têm sido as formas de realização da inclusão. Todavia, é
inegável que a maioria dos alunos surdos sofreu uma escolarização pouco
responsável, como destaca Lacerda (2006). Devido às dificuldades acarretadas
pelas questões de linguagem, observa-se que as crianças surdas encontram-se
defasadas no que diz respeito à escolarização, sem o adequado desenvolvimento
e com um conhecimento aquém do esperado para sua idade. Disso advém a
necessidade de elaboração de propostas educacionais que atendam às
necessidades dos sujeitos surdos, favorecendo o desenvolvimento efetivo de suas
capacidades.
Em seu estudo, Lacerda (2006) relatou uma experiência de inclusão de
aluno surdo em escola regular, com a presença de intérprete de língua de sinais.
Alunos, professores e intérpretes envolvidos nesse processo foram entrevistados
e seus depoimentos analisados. Os dados indicaram problemas que ocorrem no
espaço escolar, alguns identificados pelos entrevistados como desconhecimento
sobre a surdez e sobre suas implicações educacionais, dificuldades na interação
14
professor/intérprete e a incerteza em relação ao papel dos diferentes atores nesse
cenário. Os depoimentos apontaram, ainda, dificuldades com adaptações
curriculares e estratégias de aula, exclusão do aluno surdo de atividades.
Os dados deste estudo indicaram o quanto um modelo, ainda que
considerado inclusivo por seus participantes, pode não ser nada inclusivo. O aluno
surdo, apesar de presente (fisicamente), não é considerado em muitos aspectos e
se cria uma falsa imagem de que a inclusão é um sucesso. A situação neste
contexto parece insólita: em uma quinta série, o aluno surdo não conhece o nome
dos amigos, não se relaciona diretamente com os professores, tem apenas um
interlocutor efetivo no espaço escolar, está sempre acompanhado por um adulto,
configurando uma situação que não pode ser chamada de satisfatória. Ele é um
estrangeiro que tem acesso aos conhecimentos de um modo diverso dos demais e
se mantém isolado do grupo (Lacerda, 2006).
A autora concluiu pontuando que a tarefa é criar espaços educacionais
onde a diferença esteja presente, onde se possa aprender com o outro, sem que
aspectos fundamentais do desenvolvimento de quaisquer dos sujeitos sejam
prejudicados.
Com o objetivo de conhecer a imagem que professores de escola regular
têm da surdez e do aluno surdo, bem como a influência dessa imagem na sua
prática pedagógica, Silva e Pereira (2003) entrevistaram e observaram sete
professoras do ensino fundamental regular que tinham alunos surdos inseridos na
classe. A interpretação dos dados fundamentou-se na análise de conteúdo,
15
destacando as seguintes categorias temáticas: aspecto intelectual, aspecto
comportamental, aspecto aprendizagem e aspecto linguagem. A análise dos
dados evidenciou que a dificuldade de linguagem da criança surda leva, muitas
vezes, o professor a construir uma imagem equivocada dos alunos surdos, a qual
se reflete nas suas ações. Assim, embora considerem-nos inteligentes, bem
comportados e com potencial para aprendizagem, todas as professoras pareciam
tratá-los como tendo muita dificuldade para acompanhar o processo escolar. A
maioria delas relacionou as dificuldades de aprendizagem à falta de linguagem.
As autoras concluíram que, apesar de as professoras apresentarem em
seus discursos a idéia de que os alunos surdos tinham todas as condições de
serem incluídos, na prática, eles continuavam sendo excluídos.
Também Guarinello et al (2006) realizaram um estudo a partir da visão de
um grupo de professores, tendo como objetivo analisar e debater a problemática
que envolve a inclusão do aluno surdo no ensino regular. Para tanto, foi aplicado
questionário junto a 36 professores inseridos na Rede Pública do Ensino
Fundamental e Médio do Estado do Paraná. A análise dos dados evidenciou que
as principais dificuldades citadas ora relacionam-se aos próprios professores (à
falta de conhecimento acerca da surdez, à dificuldade de interação com o surdo,
ao desconhecimento de LIBRAS), ora aos sujeitos surdos (a própria surdez e a
dificuldade de compreensão que tais sujeitos apresentam na ótica dos
professores). Cabe ressaltar que os professores, sujeitos dessa pesquisa, não
relacionaram as suas dificuldades para ensinar com as dificuldades de seus
alunos para aprender, como se o desconhecimento dos professores acerca da
16
surdez, por exemplo, não tivesse implicações diretas na aprendizagem dos
surdos.
As autoras concluíram que a inclusão de surdos no ensino regular significa
mais do que apenas criar vagas e proporcionar recursos materiais; é necessário
que a escola e a sociedade sejam inclusivas, assegurando igualdade de
oportunidades a todos os alunos e contando com professores capacitados e
compromissados com a educação de todos.
Silveira e Neves (2006) realizaram um estudo com o objetivo de identificar
as concepções de pais e professores de crianças com deficiência múltipla sobre a
inclusão escolar e social dessas crianças. Participaram deste estudo dez famílias
(sete casais e três mães) e dez professoras de crianças deficientes múltiplas,
atendidas pelo Programa de Atendimento a Deficientes Múltiplos da Secretaria do
Estado de Educação do Distrito Federal. As dez crianças tinham, na época do
estudo, idade entre 4 e 10 anos, sendo cinco do sexo feminino e cinco do sexo
masculino. Dentre as deficiências de base associadas, sete crianças eram
acometidas por deficiências física e mental; duas, por deficiências física, mental e
visual; e uma por deficiências física, auditiva e mental. As autoras utilizaram
entrevistas semi-estruturadas com os pais e os professores e observações no
ambiente escolar. Os resultados indicaram que os pais percebem a deficiência do
filho como algo que acarreta grande sofrimento e que traz comprometimentos
sociais, principalmente relacionados ao trabalho. Os pais e os professores
acreditam não ser possível a inclusão escolar dessas crianças, por conceberem o
17
desenvolvimento delas como inexistente e por considerarem a escola de ensino
regular despreparada para recebê-las.
2.2 Linguagem verbal oral e a criança com deficiência auditiva
Muito se tem discutido sobre o diagnóstico e a intervenção nos primeiros
anos de vida e o melhor prognóstico no desenvolvimento da linguagem verbal oral.
No entanto, a heterogeneidade da população de crianças com deficiência auditiva
quanto ao domínio da língua em sua modalidade oral delimita contornos bastante
particulares quando é levantada a questão da inclusão na escola regular. Em vista
disso, cabe aqui uma discussão sobre o diagnóstico precoce e as propostas de
reabilitação fonoaudiológica que levariam a um melhor desenvolvimento de
habilidades auditivas e oralidade.
É importante esclarecer que, hoje, em algumas regiões do Brasil,
programas de detecção e intervenção precoce são uma realidade. Todavia, não é
isso que se observa fora dos grandes centros, onde o acesso aos equipamentos,
filas de espera para diagnóstico e intervenção, dentre outros aspectos,
impossibilita a concretização de uma atuação nos primeiros anos de vida.
O termo intervenção precoce foi definido por Northern e Downs (1979) de
forma ampla, para caracterizar a necessidade de dar início aos serviços de
habilitação tão logo uma incapacidade seja confirmada. Nos casos de perda
auditiva, intervir precocemente significa fornecer e ajustar as próteses auditivas,
18
bem como aconselhar os pais e cuidadores primários, também indicando serviços
de suporte para ajudá-los a aceitar e compreender o diagnóstico da criança.
Também Lemes e Simonek (1996) salientaram a importância da detecção
precoce da deficiência auditiva para o desenvolvimento da criança, lembrando, no
entanto, que, lamentavelmente, o diagnóstico de perdas auditivas
neurossensoriais de grau severo e profundo ocorre aos dois anos de idade, com
atraso de cerca de doze meses entre a suspeita dos pais e o encaminhamento do
pediatra para a avaliação audiológica. Para os autores, os comportamentos de fala
e linguagem constituem-se em pistas seguras para referendar ou não a suspeita
sobre o grau de perda auditiva. No caso de crianças com perdas de grau leve ou
moderado, a fala foi descrita nesse estudo como normal; nos casos de crianças
com perdas de 56 a 70 dB, observa-se atraso de linguagem e falhas na produção
da fala, e em perdas de grau severo ou profundo, constata-se que pode haver
comprometimentos graves ou mesmo ausência de fala e linguagem.
Com o objetivo de comparar as habilidades lingüísticas de um grupo de
deficientes auditivos precocemente e tardiamente diagnosticados, Yoshinaga-
Itano, Sedey, Coulter e Mehl (1998) avaliaram 150 crianças com graus variados de
perdas auditivas e idades variadas de identificação e intervenção. Desse total, 72
haviam recebido intervenção antes dos seis meses de idade e 78 após os seis
meses de idade. O primeiro grupo apresentou um desenvolvimento
significativamente maior do que o segundo grupo, o que levou os autores a
concluírem que a identificação precoce de problemas auditivos, quando seguida
de intervenção imediata e apropriada, de fato, leva a um desempenho
19
significativamente melhor no progresso da linguagem, da fala e também
educacional.
Moeller (2000) estudou a relação entre o início da intervenção e o
desenvolvimento da linguagem oral em um grupo de 112 crianças deficientes
auditivas, com cinco anos de idade, com graus variados de perda auditiva, de leve
a profundo. Os resultados mostraram uma correlação negativa estatisticamente
significante entre o início da intervenção e o desenvolvimento da linguagem oral.
Crianças que iniciaram a terapia fonoaudiológica antes dos onze meses de idade
apresentaram melhor vocabulário e pronúncia, sendo também indicada uma
relação entre a reabilitação auditiva e o envolvimento familiar. A autora concluiu
que o sucesso da reabilitação auditiva depende da identificação precoce da perda
e do envolvimento familiar, tendo este último fator apresentado uma relação mais
forte com o desenvolvimento de habilidades auditivas.
O diagnóstico da deficiência auditiva já nos primeiros anos de vida
provocou nova demanda, uma vez que, antes, os recursos educacionais
existentes eram somente dirigidos às crianças em idade escolar. Assim, como
ressaltou Pollack (1985), o foco do trabalho passou de ambientes especializados
para o ambiente natural da criança, quando aos pais, ou mais especificamente à
mãe, foi dado um papel ativo no desenvolvimento da linguagem do filho.
Ao refletirem sobre a terapia fonoaudiológica da criança surda, Novaes e
Balieiro (2004) concordam com a autora acima citada. De fato, há uma nova
demanda na clínica fonoaudiológica - a criança pequena e sua família -, o que faz
20
com que o trabalho ganhe novos contornos. A expectativa, ou a meta de qualquer
proposta terapêutica ou educacional é o desenvolvimento da linguagem e o
conseqüente aprendizado da língua, sendo que o papel do fonoaudiólogo é criar
condições para que isso aconteça, por meio de encaminhamentos e
recomendações necessárias. O aprendizado de uma língua é fundamental no
processo de aquisição da cultura escrita, e nesse sentido as autoras ressaltam
que a opção pela língua a ser ensinada - língua portuguesa oral ou língua de
sinais - depende de cada caso.
Mas, de qualquer forma, como destacam Alves e Lemes (2005), quando o
resíduo auditivo dos deficientes auditivos é priorizado, utilizando-se dos recursos
tecnológicos existentes com o objetivo de prover a máxima informação do
espectro da resolução temporal dos sons da fala, a criança tem a oportunidade de
construir a oralidade, seguindo as etapas normais do desenvolvimento da
linguagem.
Partindo-se dessa realidade, o método aurioral foi descrito por Bevilacqua
e Formigoni (1997) como sendo uma das opções de trabalho com as crianças
deficientes auditivas na atuação clínico-terapêutica. Esse método, que prioriza a
via sensorial auditiva, em situações interacionais de linguagem, promove a
compreensão e expressão da oralidade como condição indispensável para
responder às necessidades psicológicas, sociais e educacionais dessas crianças e
de suas famílias.
21
De acordo com Pollack, Goldberg, Caleffe-Schenck N. (1997), usar a
informação auditiva, recebida por meio de dispositivos eletrônicos (aparelhos de
amplificação sonora bilateral ou o implante coclear), favorece a integração bio-
psico-social dos surdos. O ouvir é integrado à personalidade da criança,
capacitando-a, conseqüentemente, para a interação na vida acadêmica e social.
Há também o tratamento com o sistema de implante coclear, que tem
possibilitado o desenvolvimento das habilidades auditivas de crianças com
deficiência severa e/ou profunda que não se beneficiaram com os aparelhos de
amplificação. Os implantes cocleares permitem a percepção dos sons da fala, de
modo que a criança implantada pode extrair e abstrair auditivamente as pistas
lingüísticas dos modelos de linguagem que estão ao seu redor. Também nestes
casos o objetivo da reabilitação auditiva é auxiliar a criança a aprender a falar,
integrando a audição à sua personalidade (Moret, 2005).
O desenvolvimento da função auditiva das crianças pré-linguais
implantadas apresenta similaridades com o desenvolvimento dessa função
naquelas que são usuárias de aparelho de amplificação sonora individual (AASI).
Segundo Moret (2005), em ambos os casos é seguida a mesma seqüência de
desenvolvimento, sendo que a criança começa por detectar o som e, depois,
progride para habilidades mais complexas, percebendo melhor as vogais do que
as consoantes. As características particulares das crianças, bem como
determinados fatores externos podem exercer influência no desenvolvimento da
linguagem, tanto das implantadas como das usuárias de AASI. Também ambos os
grupos apresentam dificuldade de compreensão de fala no ruído. O tempo e o
22
esforço gastos para o desenvolvimento das habilidades auditivas se configuram,
porém, como diferenças importantes. A criança implantada, por exemplo, está
apta para detectar os sons da fala em algumas horas ou dias após a ativação dos
eletrodos; já a criança com AASI, muitas vezes, requer meses para desenvolver
essa habilidade. Outra diferença diz respeito à possibilidade de a criança
implantada apreender a linguagem oral mais rapidamente.
Com relação ao deficiente auditivo na sala de aula, Balieiro e Fincker
(1997) pontuaram que a distância entre o professor e os alunos e o ruído
ambiental na situação escolar podem interferir na recepção do som de fala mesmo
com a amplificação. Esse problema pode ser contornado com o uso de aparelhos
de amplificação com transmissão por freqüência modulada (FM). O equipamento
move eletronicamente o sinal de fala para uma distância muito próxima da criança,
favorecendo a percepção auditiva em situações nas quais a relação sinal/ruído
desfavorável dificilmente poderia ser modificada.
Franco (2002) analisou o desempenho de um grupo de crianças
deficientes auditivas, usuárias de implante coclear multicanal, em uma avaliação
escolar formal do ensino regular, analisando as possíveis relações entre suas
características e o desempenho observado. A autora concluiu que o uso do
implante coclear pode ter favorecido a permanência dessas crianças no ensino
regular e o aprendizado escolar.
Segundo Northern e Downs (2005), os objetivos na reabilitação de um
deficiente auditivo, apresentados em ordem de importância, incluem: obtenção de
23
linguagem adequada, estabelecimento de boa saúde mental, estabelecimento de
fala inteligível, possibilidade de comunicação fácil com seus pares. Com relação à
fala oral nítida, os autores referiram que, embora seja muito desejada, não deve
se tornar o fundamento dos esforços educacionais da criança. A assim chamada
“fala do surdo” é caracterizada por uma freqüência fundamental significativamente
mais alta, uma velocidade de fala mais lenta do que a encontrada em pessoas
com audição normal e uma intensidade de voz tipicamente aumentada, com
flutuações da amplitude anormalmente grandes. Essas características são ainda
mais claramente observadas em crianças portadoras de perda auditiva profunda,
que não apresentam a percepção dos padrões de fala a partir do uso de aparelhos
de amplificação sonora.
2.3 A criança com deficiência auditiva: clínica, família e escola
Antes de iniciar este item, é importante esclarecer que não existe um
método, sistema ou abordagem educacional única que seja uniformemente
aplicável a todas as crianças com graus variados de deficiência auditiva e histórias
particulares. Neste estudo, então, o foco está em histórias de crianças que
apresentam o português oral como primeira língua, com mais ou menos
dificuldade no seu domínio e que, portanto, exigem particularidades e
especificidades no processo de escolarização, sendo que seu sucesso está ligado
à articulação entre escola, família e terapeuta.
24
De fato, na concepção de Bevilacqua e Formigoni (2005), no caso de
crianças pequenas, a intervenção necessita ser realizada dentro de um contexto
familiar; assim, quanto mais novo for o paciente, maior será a necessidade de uma
abordagem centrada na família. A experiência clínica tem demonstrado que as
crianças que apresentam os melhores desempenhos são aquelas cujas famílias
entendem o processo terapêutico, dispõem-se e aprendem a dar continuidade ao
trabalho em casa. É, pois, na família que ocorre de maneira efetiva o processo de
aprendizagem da comunicação, que então se estabelece e se desenvolve durante
toda a vida. A terapia limita-se, apenas, a um encontro, um momento em que o
profissional tenta criar uma representação do mundo real.
Quando os pais recebem a notícia de que seu filho tem uma incapacidade
ou uma enfermidade crônica, começam uma jornada freqüentemente repleta de
emoções, escolhas difíceis e interações com profissionais muito diferentes. Como
bem sintetizou Luterman (1987), os pais provavelmente passarão por períodos de
negação, pesar, temor e culpa, seguido de confusão, desesperança,
desapontamento e até mesmo rejeição. Nem todos os experimentam todas essas
emoções, mas é importante que saibam que não estão sozinhos ou não são os
únicos a vivenciá-las.
Nessa medida, a participação da família no processo terapêutico envolve
questões relacionadas à orientação, educação e ao aconselhamento dos pais, que
precisam aprender a manusear os aparelhos de amplificação sonora bem como
conhecer o potencial e as limitações de seu filho. Existe, pois, uma preocupação
25
dos profissionais em incluir essas orientações no processo de reabilitação da
criança com deficiência auditiva (Novaes, 1998).
Também Balieiro e Ficker (2005) ressaltam que o processo terapêutico
está extremamente ligado à atitude da família frente à surdez. Para algumas
famílias, o uso do aparelho de amplificação sonora pode representar mais que do
que um auxílio auditivo – ele denuncia a surdez. Esse fato pode interferir no
processo terapêutico, mas também mostra para o terapeuta os sentimentos
vividos pela família diante da deficiência auditiva do paciente.
Em suas pesquisas sobre as atitudes de aceitação dos pais em relação ao
filho deficiente auditivo, Lara (1999) ressaltou que a família é uma instituição
social, constituindo-se na base e origem dos primeiros contatos sociais e físicos
do bebê. Porém, no geral, os pais não são bem preparados para terem filhos
especiais, sendo que as primeiras reações na época do diagnóstico da surdez são
de desespero, revolta, raiva e culpa. Muitos deles chegam a verbalizar o desejo de
os transformarem em “normais”, para que possam se realizar profissionalmente
no futuro e constituam uma família. Embora as mães pareçam ter mais condições
para aceitar a deficiência auditiva, o que se observa é que a desestruturação
familiar é comum, e muitos fatores interferem no processo de aceitação, como
dificuldades de relacionamento com os filhos surdos devido a problemas de
comunicação, o que, em alguns casos, pode durar por toda a vida. Há
necessidade, pois, de um o trabalho árduo e participativo dos pais em todos os
momentos, na busca da independência do indivíduo com deficiência auditiva. A
autora concluiu que é possível a aceitação do filho surdo por parte da família,
26
embora não seja fácil e nem sempre se concretize. Além disso, a sociedade age
com preconceito e de maneira desestruturada diante da deficiência.
Em seu livro “Couseling Parents of Hearing- Impaired Children”, Luterman
(1979) descreve as diferentes condutas que o fonoaudiólogo pode adotar, a fim de
ajudar os pais a lidar com as necessidades especiais de seus filhos. São os pais,
e não o profissional, que devem tomar as decisões em relação à habilitação da
criança, porque eles devem aceitar e assumir a responsabilidade final.
Certamente, devem também aceitar e compreender a necessidade de
amplificação antes que as próteses auditivas sejam colocadas e usadas com
sucesso pelas crianças com déficit auditivo.
E a escola? Da mesma forma que qualquer criança que a freqüenta, o
aluno surdo está em processo de desenvolvimento de linguagem, de construção
de valores sociais e afetivos, entre outros. Como ressaltou Lacerda (2006), é na
escola que se aprende ou aperfeiçoa formas de narrar, de descrever, modos
adequados de usar a linguagem em diferentes contextos, ampliando o
conhecimento lingüístico; é nela que se experimentam regras de convivência
social, regras de formação de grupo e de valores sociais, fundamentais para a
adaptação da vida em sociedade. É também na escola que emoções e afetos são
vividos de forma mais aberta, menos protegida, propiciando sucesso, insucesso,
ciúmes, competição, raiva; sentimentos importantes de serem conhecidos e
exercitados para o convívio social. Além disso, é nesta etapa da vida que os
processos identificatórios se consolidam, e, nesse sentido, pensando no aluno
surdo, na maioria das vezes, sozinho no ambiente escolar, em sua condição de
27
surdez, ele pode então, por isso mesmo, aprender a enfrentar uma série de
dificuldades.
Também Aspilicueta (2004) referiu que a interação favorecida pela escola
regular é essencial para que a criança possa constituir-se enquanto sujeito,
construir sua linguagem no processo dialógico com o outro e desenvolver suas
potencialidades. Entretanto, a autora adverte que não se pode perder de vista a
função principal da escola, que deve cumprir para com o aluno especial os
objetivos da educação escolar previstos para qualquer aluno; ou seja, garantir seu
desenvolvimento integral, potencializar sua autonomia e instrumentalizá-lo para
viver em sociedade.
Para Sacaloski (2004), o trabalho fonoaudiológico junto à escola envolve a
troca de experiências com o professor, sendo que o fonoaudiólogo discutirá
questões relativas à comunicação e à linguagem, enquanto o professor abordará
os aspectos relacionados ao processo de ensino e aprendizagem. Mas podem ser
estabelecidas, obviamente, atuações conjuntas quanto ao trabalho de
desenvolvimento de linguagem oral, gestual e escrita.
É, portanto, fundamental observar, como ressalta Bevilacqua (1987), se há
disponibilidade da escola, e principalmente do professor, para receber a criança
deficiente auditiva e trabalhar de forma necessária e adequada seu problema,
procurando proporcionar seu desenvolvimento. O professor deve estar ciente de
que a obtenção de sucesso na educação especial depende, em grande parte, da
compreensão que tenha do significado de sua atuação. É importante, então, que
28
toda a escola se prepare para receber a criança, desde a sala que a mesma irá
freqüentar, até o professor que com ela irá trabalhar os aspectos educacionais.
Também os pais devem estar cientes que são os responsáveis pela formação de
seus filhos.
A tríade família, escola e terapeuta, atuando em equipe, é a base para o
bom desenvolvimento da criança. Será fundamental que o terapeuta faça um
trabalho de orientação sistemática junto à escola, mais diretamente com o
professor, em especial sobre como atuar com a criança no sentido de minimizar as
dificuldades que o déficit auditivo ocasiona (Bevilacqua e Formigoni, 1997).
Como forma de assegurar essa triangulação e definir os papéis e as
responsabilidades de cada parte nesse processo, o ministério da educação dos
Estados Unidos trabalha com um programa educacional individualizado (IEP-
Individualized Education Programs), que é definido como a base de uma educação
com qualidade para crianças com necessidades especiais. Cada escola pública
infantil que oferece os serviços relacionados à educação especial tem o seu
programa educacional individualizado. Cada IEP deverá ser designado para um
estudante e, portanto, cada um terá verdadeiramente o seu documento
individualizado. Esse programa cria uma oportunidade para professores, pais,
escola e terapeutas trabalharem juntos para aperfeiçoar os resultados
educacionais de crianças com necessidades especiais (U.S. Department of
Education, 2000, 2002). É uma espécie de contrato em que todas as partes
interessadas envolvidas no processo educacional da criança se comprometem a
cumprir as suas obrigações.
29
Aqui no Brasil, esse contrato funciona informalmente nos contatos entre
família, escola e terapeuta. No entanto, são raras as publicações que abordam
esta triangulação no sentido da co-responsabilidade quanto à escolaridade,
desenvolvimento de linguagem, inclusão familiar e social.
30
3. MÉTODO
A metodologia adotada nesta dissertação foi a pesquisa participante (PP).
Ao contrário da pesquisa convencional, em que há um distanciamento entre os
pesquisadores e os sujeitos da situação observada, aqui a pesquisadora-
entrevistadora estava inserida no processo como fonoaudióloga (terapeuta) das
crianças participantes.
Segundo Demo (2004), a pesquisa participante não é somente possível,
mas necessária para repormos a inter-relação dinâmica entre teoria e prática. Ela
traduz a teoria em opções concretas, não somente confrontando-a com a
realidade, mas, sobretudo, realizando e explicitando opções políticas e
ideológicas. O autor ressalta que a vantagem da PP é trabalhar com a conjunção
desafiadora de conhecimento e participação.
De acordo com os preceitos éticos da pesquisa com seres humanos, foi
elaborada uma carta sobre os procedimentos da pesquisa e um termo de
consentimento contendo o objetivo do estudo, para que este fosse permitido pelos
pais e professores das crianças (anexo 02).
Os procedimentos utilizados para a realização deste estudo atenderam os
critérios éticos da Portaria 196/96 do Conselho Nacional de Saúde no que se
31
refere à pesquisa que envolve seres humanos, e o projeto foi aprovado pela
comissão ética da PUC-SP sob número 015/2006 (anexo 01).
3.1 Seleção e caracterização dos sujeitos
Os sujeitos deste estudo foram selecionados de acordo com os seguintes
critérios:
1. Estar incluído na escola regular, particularmente na educação infantil ou
no ensino fundamental, estando em processo terapêutico com a pesquisadora-
fonoaudióloga;
2. Ser portador de deficiência auditiva pré-lingual, usuário de aparelho de
amplificação sonora individual e/ou implante coclear multicanal;
3. Apresentar linguagem verbal oral-português como modalidade
preferencial de comunicação;
4. Freqüentar a escola privada durante o ano letivo de duração da
pesquisa;
5. Ter família e escola disponíveis para participar do estudo.
3.1.2 Caracterização dos sujeitos
Foram selecionadas três crianças entre 05 e 09 anos de idade, sendo
duas do sexo feminino e uma do sexo masculino, sendo que seus professores e
seus pais também se tornaram sujeitos desta pesquisa.
32
Em função da diversidade de histórias de vida e, portanto, educacionais
de cada criança, consideramos necessária uma breve apresentação dos
participantes deste estudo. Os dados pessoais foram coletados a partir de análise
dos prontuários e do registro escrito das conversas informais com os familiares.
Para caracterização da linguagem oral e habilidades auditivas, foram
utilizadas como instrumentos de avaliação as categorias de linguagem e
categorias de audição que constam no programa de implante coclear do centro de
pesquisas audiológicas da Universidade de São Paulo (anexo 3). Para
complementar a avaliação de percepção de fala, foi utilizado, também, o protocolo
de avaliação de percepção de fala em crianças deficientes auditivas profundas a
partir de 05 anos de idade (Bevilacqua e Tech,1996). Durante a avaliação, não foi
realizada a prova discriminação de voz masculina e feminina porque não foram
gravadas as 26 sentenças necessárias para a aplicação da prova.
3.1.2.1 História de Ra
Idade: 8 anos- sexo masculino.
Histórico audiológico: No sexto mês de gestação a mãe de Ra
apresentou uma virose; suspeitou-se de rubéola, porém os exames deram
negativos. A criança nasceu a termo, de parto normal sem intercorrências, mas,
quando estava com dez meses de idade, a mãe percebeu que Ra não respondia
aos estímulos sonoros. Foi então realizada uma avaliação audiológica que
confirmou o diagnóstico de perda auditiva bilateral neurossensorial profunda. Com
um ano e seis meses de idade, a criança realizou a adaptação bilateral de
33
aparelhos de amplificação sonora individual (AASIs); porém, como os resultados
dessa amplificação não se mostraram satisfatórios, com dois anos foi
encaminhada para o programa de implante coclear, que foi realizado aos dois
anos e seis meses. Na ocasião deste estudo, Ra fazia uso apenas do implante
coclear na orelha direita.
Caracterização de linguagem oral no período da pesquisa: Categoria 5
- a criança construía frases de mais de cinco palavras, usando elementos
conectivos, plurais, conjugando verbos; ou seja, era fluente na linguagem oral,
apresentando fala inteligível durante a comunicação.
Habilidades auditivas: Categoria 6 – a criança era capaz de reconhecer
palavras em conjunto aberto, fora do contexto, extraindo bastante informação
fonêmica para identificá-las exclusivamente por meio da audição.
Adaptação do GASP- 1ª prova: Detecção dos sons de ling - /a/: 100%; /i/:
100%; /u/: 100%; /s/: 100%; /6/: 100%; /m/: 100%. 2ª prova: Discriminação de voz
masculina e feminina – não realizada. 3ª prova: Discriminação vocálica - /a/:
100%; /i/: 100%; /u/: 100% . 4ª prova: Discriminação da extensão das vogais-
/aaaaa/: 100%; /a/: 100%. 5ª prova: Reconhecimento de palavras -
Reconhecimento: 100%. 6ª prova: Compreensão de sentenças - A criança
apresentou 100% de acerto sem a utilização da leitura orofacial.
Histórico escolar e terapêutico: A criança iniciou o processo terapêutico
com um ano e seis meses de idade e começou a freqüentar a escola com três
34
anos. Até a ocasião desta pesquisa, já havia freqüentado duas escolas, sendo que
permanecia na mesma há quatro anos.
Característica da família: Ra era filho único. Os pais eram profissionais
liberais e ambos trabalhavam juntos no mesmo local em que residiam.
Características da escola/classe: A escola tinha dez anos de
funcionamento e oferecia desde educação infantil a ensino fundamental, contando,
em média, com 400 alunos. Embora já houvesse tido experiência com a inclusão
de uma criança surda, a coordenadora referiu que não dispunha de um método
especifico de ensino e que o trabalho seria realizado de acordo com a
necessidade do aluno. No ano de 2006, a segunda série do turno vespertino, em
que Ra estava matriculado, funcionou com dezoito alunos. A escola apresentava
um bom espaço físico, com uma ampla área de recreação, parques infantis e
quadra de esporte. A criança estudava no turno vespertino, das 13h30 às 17h30.
Característica da professora: Formada em Pedagogia desde 1999, a
professora havia concluído especialização em psicopedagogia em 2006. Há dez
anos trabalhava com o ensino fundamental, sendo que nesta escola lecionava há
cinco anos. Segundo ela, durante todos esses anos, havia tido apenas uma única
experiência com aluno deficiente auditivo, no ano de 2005.
3.1.2.2 História de Ru
Idade: 5 anos - sexo feminino
35
Histórico audiológico: A mãe da criança relatou que a gestação não teve
intercorrências até o oitavo mês, quando começou a perder líquido. O parto foi
induzido e Ru nasceu com 34 semanas. Após o nascimento, ficou internada para
observação durante três dias, fazendo uso de Amicacina (considerado um
medicamento ototóxico). Segundo a mãe, a pediatra relatou que o antibiótico foi
utilizado por precaução, pois se tratava de um bebê de risco. Quando Ru estava
com nove meses, a mãe começou a desconfiar de uma possível perda auditiva.
Foi ao otorrinolaringologista e o mesmo solicitou que observasse mais um pouco.
Esperou até um ano e nove meses, quando levou a filha a outro
otorrinolaringologista, sendo então diagnosticada, por meio de exames
(audiometria e PEATE), perda auditiva sensorioneural de grau severo-profundo.
Após os testes, foi realizada a adaptação binaural de aparelhos de amplificação
sonora individual, e Ru vinha fazendo uso sistemático dos mesmos.
Caracterização de linguagem oral no período da pesquisa: Ru se
comunicava exclusivamente pela linguagem oral, estando na categoria 4 de
linguagem (construía frases de 4 ou 5 palavras e iniciava o uso de elementos
conectivos). Apresentava em sua fala distorções que, em alguns momentos,
interferiam na inteligibilidade.
Habilidades auditivas: Categoria 4 - Identificação de palavras por meio
do reconhecimento da vogal - diferenciava entre palavras em conjunto fechado
que diferem primordialmente no som da vogal.
36
Adaptação do GASP- 1ª prova: Detecção dos sons de ling -/a/: 100%; /i/:
100%; /u/: 100%; /s/: 0%; /6/: 0%; /m/: 100%. 2ª prova: Discriminação de voz
masculina e feminina – não realizada. 3ª prova: Discriminação vocálica - /a/:
100%; /i/: 100%; /u/: 100%. 4ª prova: Discriminação da extensão das vogais -
/aaaaa/: 100%; /a/: 100%. 5ª prova:Reconhecimento de palavras -
Reconhecimento: 100%. 6ª prova: Compreensão de sentenças - A criança
apresentou 30% de acerto sem a utilização da leitura orofacial. A mesma
compreendeu todas as sentenças com a utilização da leitura orofacial.
Histórico escolar e terapêutico: A criança iniciou o processo terapêutico
com um ano e dez meses de idade e começou a freqüentar a escola com dois
anos e três meses. Já havia passado por duas escolas particulares até o momento
desta pesquisa e há três anos permanecia na mesma.
Característica da família: A criança era filha única; o pai era pastor
evangélico e a mãe, pedagoga (trabalhava como professora de uma escola
municipal).
Características da escola/classe: O colégio tinha doze anos de
funcionamento e oferecia do maternal à oitava série do ensino fundamental,
contando em média com 300 alunos. Segundo a coordenadora, a escola já havia
vivenciado o processo de inclusão de uma criança surda, sendo que, com relação
ao método de ensino, apresentava uma tendência para o construtivismo. No ano
de 2006, a sala de aula que Ru freqüentava contava com sete alunos (Grupo
cinco- turno matutino- funcionamento das 07h30 às 11h30). A escola apresentava
37
um bom espaço físico, com uma ampla área de recreação, parques infantis e
piscina.
Característica da professora: A professora era estudante de pedagogia
e há doze anos trabalhava com educação infantil e ensino fundamental. Lecionava
nesta escola há três anos, e durante todos esses anos não teve experiência com
alunos deficientes auditivos.
3.2.1.3 História de Mi
Idade: 8 anos- sexo feminino
Histórico audiológico: A mãe referiu ameaça de aborto durante toda a
gestação. A criança nasceu pré-matura de sete meses e fez uso de medicamentos
ototóxicos, permanecendo internada durante um mês. Por ser um bebê de risco, a
perda auditiva foi descoberta logo nos primeiros meses de vida. Mi era portadora
de perda auditiva sensorioneural bilateral profunda, e com um ano de idade,
adquiriu aparelhos de amplificação sonora individual, bilateralmente, fazendo uso
sistemático dos mesmos durante todo esse tempo.
Caracterização de linguagem oral no período da pesquisa: Categoria 4
- A criança construía frases de 4 ou 5 palavras e iniciava o uso de elementos
conectivos. Comunicava-se por meio da linguagem oral, utilizando gestos de
apoio. É importante ressaltar que Mi apresentava alterações na emissão dos
fonemas, ritmo, acento, entoação e qualidade vocal, interferindo diretamente na
inteligibilidade de sua fala.
38
Habilidades auditivas: Categoria 1 - Mi detectava a presença do sinal de
fala.
Adaptação do GASP- 1ª prova: Detecção dos sons de ling - /a/: 100%; /i/:
80%; /u/: 100%; /s/: 0%; /6/: 0%; /m/: 80%. 2ª prova: Discriminação de voz
masculina e feminina – não realizada. 3ª prova: Discriminação vocálica - /a/: 40%;
/i/: 20%; /u/: 20%. 4ª prova: Discriminação da extensão das vogais - /aaaaa/:
100%; /a/: 100%. 5ª prova:Reconhecimento de palavras - Reconhecimento:
16,7%; Categorização:29,2%. 6ª prova:Compreensão de sentenças - Prova não
realizada devido ao score baixo na quinta prova. Como a criança fazia uso da
leitura labial durante a comunicação, foram apresentadas as mesmas sentenças
com a utilização da leitura orofacial, com 80% de acerto.
Histórico escolar e terapêutico: A criança freqüentava terapia
fonoaudiológica desde o primeiro ano de vida. Havia iniciado o seu processo
escolar com 3 anos de idade, em uma escola pequena do bairro onde a mãe
trabalhava, nela permanecendo do maternal até ser alfabetizada. Como a escola
encerrava as atividades nessa fase da escolaridade, em 2006, Mi foi para uma
escola maior, na qual permaneceu apenas no primeiro semestre. No segundo
semestre de 2006, foi matriculada em uma escola menor no bairro em que a
família residia. O histórico terapêutico de Mi sempre foi instável, acompanhado de
constantes faltas devido a questões de saúde - era acometida, freqüentemente,
por crises alérgicas, infecção respiratória, dentre outras.
39
Características da primeira escola do ano de 2006: O colégio contava
com 30 anos de existência, possuindo cerca de 1000 alunos distribuídos do
ensino fundamental ao médio. O método de ensino era tradicional. Apresentava
uma excelente infra-estrutura, sendo considerado um dos maiores colégios
particulares da cidade. Na série em que Mi estava matriculada (primeira série do
ensino fundamental – turno matutino) existiam 20 alunos. A criança nela
permaneceu até junho de 2006, quando a família decidiu trocar de escola porque
Mi não estava conseguindo acompanhar a turma, e a professora do segundo
semestre não seria mais a mesma. Além disso, não ficaram satisfeitos com a
experiência em uma escola maior, e optaram por uma escola menor.
Características da segunda escola do ano de 2006: Em julho de 2006,
a criança foi matriculada em uma escola menor, privada, próxima a sua residência.
A escola tinha oito anos de funcionamento, atendia até a quarta série do ensino
fundamental, contava com cerca de 200 alunos e possuía área de recreação,
quadra de esporte e parques infantis. O método de ensino, segundo a
coordenadora, era o construtivista. Na sala de Mi havia 17 alunos matriculados,
sendo que três possuíam necessidades educativas especiais (deficiência visual,
paralisia cerebral, deficiência auditiva). Foi a primeira experiência da escola com
aluno surdo. Mi permaneceu estudando no turno matutino (das 07h30 às 11h30).
40
Característica das professoras:
Professora do primeiro semestre: Formada em pedagogia, especialista em
psicopedagogia. Há cinco anos no ensino fundamental, não havia tido experiência
com alunos com deficiência auditiva..
Professora do segundo semestre: Formada em pedagogia, com
experiência em educação infantil e ensino fundamental (1ª série), estava na escola
há quatro anos. Já havia vivenciado experiência com alunos com necessidades
especiais, mas nunca com deficiência auditiva.
Característica da família: O pai era formado em administração e exercia
a função de supervisor geral de um laboratório de referência nacional. A mãe era
formada em pedagogia e lecionava (turno integral) em uma escola municipal. O
casal tinha dois filhos – na ocasião do estudo, o mais velho estava com treze anos
e Mi, com oito anos de idade.
Para melhor entendimento dos dados aqui descritos, consideramos
importante sintetizar na tabela a seguir as características principais das crianças:
Tabela 1: Descrição das crianças participantes do estudo.
Crianças Sexo Idade Perda
auditiva
Escola Aspectos relacionados à Linguagem
oral
Ra Masculino 8 anos Profunda 2ª série- ensino
fundamental
Fluente - Apresenta fala inteligível
durante a comunicação
Ru Feminino 5 anos Profunda Pré-escola-Educação
infantil
Fluente- Apresenta em sua fala
distorções que, em alguns
momentos, interferem na
inteligibilidade de fala
Mi Feminino 8 anos Profunda 1ª série- ensino
fundamental
Comunica-se por meio da linguagem
oral e gestos de apoio. Apresenta
alterações na emissão dos fonemas,
ritmo, acento, entoação e qualidade
vocal, interferindo diretamente na
41
inteligibilidade de fala.
3.2 Procedimentos
Esta pesquisa foi desenvolvida por meio dos seguintes procedimentos:
3.2.1 - Entrevistas com os professores
1ª entrevista:
Foi feito contato telefônico com a escola antes do início do ano letivo, para
agendar a entrevista, sendo então estabelecidos dia e horário de acordo com a
disponibilidade de cada professora. Embora em alguns casos o coordenador tenha
preferido estar presente, suas falas não foram consideradas na análise.
O objetivo das entrevistas era caracterizar o conhecimento sobre a criança
deficiente auditiva, percepções e expectativas em relação à inclusão, sendo para
tanto incluídos tópicos previamente escolhidos (Anexo 4). Foi utilizada a letra P
para indicar a professora de cada criança e os números 1, 2 e 3 para definir os
discursos referentes à primeira, segunda ou terceira entrevista.
2ª entrevista:
A segunda entrevista foi realizada no final do primeiro semestre ou no
início do segundo semestre, não sendo utilizado nenhum protocolo ou roteiro.
Todas as entrevistas foram abertas, com o objetivo de ouvir o professor e a sua
vivência com a criança. Caso a entrevistadora sentisse necessidade, poderia fazer
perguntas complementares.
42
Última entrevista:
Uma última entrevista, também aberta, foi realizada no final do segundo
semestre; em muitas delas, professora e fonoaudióloga decidiram, em conjunto, a
situação do aluno para o próximo ano letivo.
3.2.2- Registro de intervenções no diário de campo
A fonoaudióloga responsável pela criança criou o diário de pesquisa, no
qual eram registradas todas as intervenções realizadas durante o processo
terapêutico para subsidiar a inclusão dos casos em estudo (entrevistas abertas,
visitas à escola, orientações, contatos com a família e professores, etc.).
3.2.3. Participação dos pais
Como os pais estiveram diretamente presentes no processo, durante a
apresentação dos resultados, contemplamos alguns aspectos por eles apontados,
registrados nas entrevistas e no diário de campo, visando caracterizar melhor a
triangulação família, professor e terapeuta.
3.3 Análise dos dados
Os dados obtidos no diário de campo e nas entrevistas foram discutidos
visando caracterizar o processo de inclusão de cada criança do estudo.
As entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas em ortografia
regular. Os dados foram então apresentados e discutidos a partir de três eixos
temáticos:
43
1. A questão da inclusão;
2. A linguagem verbal oral e a criança deficiente auditiva;
3. Práticas inclusivas: a clínica, a escola e a família.
3.4 Recursos materiais e instrumentos utilizados na pesquisa
Para preservar a coleta dos dados, de acordo com os objetivos desta
pesquisa, foram elaborados e utilizados alguns instrumentos e/ou documentos:
Roteiro para a primeira entrevista com os professores dos alunos
participantes (anexo 4);
Termo de consentimento livre e esclarecido (anexo 2);
Análise dos prontuários dos participantes, buscando levantar dados a
respeito do desenvolvimento e da vida da criança, privilegiando-se os seguintes
temas: caracterização da perda auditiva, habilidades comunicativas, dados
familiares e informações sobre o processo terapêutico da criança;
Gravador de áudio digital para registro das entrevistas;
Registros de campo após o término das sessões terapêuticas, visitas às
escolas e conversas com os pais;
Categorias de audição e de linguagem para avaliação das habilidades
auditivas e lingüísticas das crianças (Anexo 3).
44
4- RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os dados das entrevistas e dos diários de campo foram organizados em
temáticas derivadas dos objetivos do estudo e de questões recorrentes no material
disponível para análise, sendo aqui apresentados em três partes:
1. A questão da inclusão;
2. A linguagem verbal oral e a criança deficiente auditiva;
3. Práticas inclusivas: a clínica, a escola e a família.
4.1 A questão da inclusão
4.1.1. Direitos e obrigações
Nas entrevistas realizadas antes do início do primeiro semestre de 2006,
quando receberiam as crianças deficientes auditivas participantes deste estudo, as
professoras mostraram conhecer a legislação sobre a inclusão de alunos com
necessidades educativas especiais; mas, em vários momentos, afirmaram que
não haviam sido suficientemente preparadas para recebê-los.
P de Ra 1:
45
“O que é lei agora é que a escola tem que aceitar as crianças que têm dificuldades
especiais; é proposto que temos que nos preparar para receber. Eu vivenciei isso
esse ano e vou vivenciar isso novamente. Isso está aumentando... Tive uma
experiência no ano passado, foi minha primeira vez. No início fiquei um pouco
apreensiva; fiquei não, fico me perguntando se vou dar conta do recado. Nós não
estamos preparados para isso. Na faculdade, temos uma disciplina educação
especial, mas na prática, no dia-a-dia não estamos preparados. Nos meus dez
anos de educação foi a primeira vez que peguei uma criança assim: Como lidar? O
que fazer?
O que eu sei basicamente é que é lei, tem que estar incluso, tem que estar
preparado, a escola tem que estar aberta para isso. E que a criança tem que sentir
igual, no sentido de conquista, no resultado e capacidade. Ela tem a dificuldade dela,
mas isso não a torna menos inferior a outra. Só vai aprender de forma diferente.
Aí que eu entro em cena: como ela vai aprender? E não tenho essa preparação.
Aqui eu tenho vantagem, que há uma busca. Quando sinto algo apertar, aí eu peço
ajuda, ligo para os pais, vamos ler...”
P de Ru 1:
“O que conheço é bem teórico. É obrigatório receber as crianças, mas a maioria
dos professores não está preparada e a própria universidade deixa um pouco a
desejar. O meu conhecimento foi individual, fui buscando, mas não tive a prática, então
fica difícil. Vou ter essa experiência agora com o Ru”.
P de Mi 1:
“No curso de especialização teve uma cadeira de educação especial e vi tudo isso, o
que impõe a lei, o que assegura para essas crianças portadoras de tais deficiências,
mas confesso que preciso viver, viver isso, para na verdade incluí-la, porque muitas
outras dificuldades que a gente já viveu foram conflitantes para mim e para a escola. A
gente pensar: isto é incluir ou excluir? O tempo que eu tenho maior para a pessoa
que tem uma deficiência eu vou estar incluindo ou excluindo? Atividades que eu
devo adequar porque ela tem um déficit que, seja qual for, eu vou estar incluindo
ou excluindo. Eu considero as possibilidades da pessoa ou eu considero ela enquanto
grupo?
A inclusão percebida como obrigação legal aparece no discurso de P de
Ra, sendo recorrente a expressão “tem que”, assim como “devo” e “preciso” em P
de Mi. O processo só foi vivenciado por uma professora, e todas afirmaram se
sentir despreparadas, não tendo recebido qualquer formação para essa prática. A
46
P de Mi levantou alguns questionamentos, como por exemplo, se a própria prática
inclusiva, na verdade, inclui ou exclui o aluno especial.
De fato, Sanchez (2005) discute que a educação inclusiva é uma questão
de direitos humanos, mas não é algo simples - requer mudanças no processo de
gestão, formação de professores, nas metodologias educacionais, com ações
compartilhadas e práticas colaborativas que respondam às necessidades de todos
os alunos.
Antes de vivenciar o processo com a criança deficiente auditiva, o medo
aparece como algo recorrente nos discursos das professoras - não foram
capacitadas, não sabem o que esperar, não tiveram formação para atuar.
P de Ra 1:
“A lei é feita, estabelecida, mas quem está no dia-a-dia é você, professor, e você
tem suas metas como profissional..., pois se esse profissional não estiver
preparado, não tiver o interesse de buscar, de correr atrás disso e tentar realmente
solucionar, achar soluções para que essa criança aprenda, é muito difícil. Atualmente,
a responsabilidade cabe para o professor. E nós não temos preparação para isso.
Precisamos de uma preparação melhor. A proposta é boa no sentido de que a
criança se sinta acolhida, se sinta igual a outras, pelo menos tentamos passar
isso...”.
P de Ru 1:
Para colocar uma criança nesse sistema de inclusão e o professor não está
preparado ou a escola em si, a estrutura escolar não está preparada, é melhor
que a criança não esteja lá, porque não vai haver resultados. Agora, quando você
se propõe a trabalhar mesmo, com um embasamento, aí eu acho que funciona,
mas até chegar esse nível, acho que vai demorar um pouquinho. Como é que,
hoje, esses tipos de disciplinas que são essenciais para a gente, o mercado está
exigindo isso, as situações que existem e você não tem? Ou você corre e faz um
curso ou fica para trás.”
47
P de Mi 1:
“Eu acho que isso é oportunizar para essas pessoas uma vida ou aproximá-las. Se
não acompanharem, no que se espera de uma pessoa que não tenha déficit, mas
assim oportunizar a esta criança isto, que fique um ano ou dois na primeira, mas
depois siga. Eu espero que ela opine enquanto cidadão, não só aprenda a ler e a
escrever, mas que ela possa escolher, decidir. Ler e escrever vai ajudá-la nisso tudo,
mas eu acho que é viver enquanto pessoa. Ter uma vida normal, incluir e ser aceita
nessa sociedade. Estou super disponível a viver tudo isso. Ontem, quando olhava para
os registros da Mi, algumas observações... é dificuldade de audição, e eu fiquei logo
querendo ler... E digo: é, na verdade, eu acho que nada que o amor pode esperar, vou
viver calmamente, até que eu possa, sei lá, me angustiar, mas por enquanto estou
calma.”
Para a P de Ra, a inclusão do aluno depende, também, de o professor
buscar conhecimentos e condições para que isso aconteça; ou seja, de iniciativas
individuais de capacitação. Também a P de Ru ressalta a necessidade de cada
um procurar um embasamento e se dispor para essa prática, pois o mercado
exige essa capacitação, que, no entanto, não vem sendo disponibilizada nas
faculdades de pedagogia. Porém, considera que a escola precisa oferecer uma
estrutura que permita incluir crianças com necessidades especiais, sendo que,
caso isso não ocorra, elas não deveriam ser aceitas, pois o trabalho não terá
resultados. Já para a P de Mi, incluir significa oportunizar; ou seja, mais do que
aprender a ler e escrever, significa possibilitar que esses alunos desempenhem o
seu papel na sociedade. Porém, ela deixa claro que, caso não acompanhe a
turma, o aluno com necessidades especiais deve sim passar pelo processo de
repetência.
Vemos, então, que as entrevistadas possuem o que Cartolano (1998)
qualifica como “espírito aberto para enfrentar o novo”, mas tanto o autor como as
próprias professoras ressaltam a importância da qualificação para realizar com
48
competência a inclusão, o que ainda não vem sendo oferecido na formação
acadêmica.
É nesse sentido que Skliar (2006) alerta para a necessidade de os
professores se aproximarem das experiências vivenciadas por esses alunos.
Mas, afinal, que inclusão é essa? Como citado anteriormente, Sánchez
(2005) definiu o que seria uma educação inclusiva, entretanto, Laplane (2004) já
salientava que o discurso da inclusão, em alguns momentos, contradiz a realidade
educacional brasileira caracterizada por classes superlotadas, instalações físicas
insuficientes, quadros docentes cuja formação deixa a desejar. Essas condições
levam a questionar a própria idéia de inclusão como política que, simplesmente,
insira alunos nos contextos escolares já existentes.
A questão que se coloca é se temos escolas inclusivas ou professores que
sabem como incluir. De fato, nenhuma das entrevistadas referiu receber apoio
para tal, nem mesmo em termos de planejamento pedagógico. Claramente,
observamos nos discursos que, no geral, a escola entende que incluir se resume a
aceitar a matrícula do aluno com necessidades especiais, mas parece ainda não
saber o que seria transformar essa idéia em ação.
Para Góes (2004), mesmo havendo concordância quanto à visão de que o
professor não pode ser o único responsável pela tarefa de incluir essas crianças,
em todos os discursos observamos que lhe é atribuída uma responsabilidade
excessiva. Não há como negar que ele é um agente central no atendimento ao
aluno especial, assim como aos demais. Porém, sem desconsiderar o mérito de
49
esforços individuais e propostas localizadas, o fato é que as entrevistadas não
pareciam estar tendo experiências formativas suficientes ou suporte humano e
material necessário para lidar com as novas demandas do trabalho pedagógico.
4.1.2. Integração ou inclusão?
Na segunda entrevista, realizada no final do primeiro semestre ou início do
segundo, após um semestre de contato com Ra, Ru e Mi em sala de aula, as
professoras relataram suas experiências.
P de Ra 2:
“Ra pertence à turma, Ra é bem integrado. De vez em quando que eu preciso falar
duro com ele, aí dá para chorar. Tem muita sensibilidade para isso... Ra no grupo
nem parece que tem algum problema... é muito entrosado aqui dentro”.
P de Ru 2:
“Ela não tem dificuldade com a turma, no início foi conversado com eles [alunos],
foi passado desde o início do ano como era para se conversar, e ela [Ru] não tem
dificuldade nenhuma de se comunicar; aliás, ela tem um certo domínio com
relação à sala pelo jeito dela. A turma é muito compreensiva, já sabe como
dialogar com ela, ela até tem um domínio da sala. Se dá muito bem com a turma.
É muito mandona, ela é a líder.”
P de Mi 2:
No laboratório, numa experiência, Es que é o professor, estava perguntando a
ela [Mi] algumas coisas, e aí eu falei: “Es, ela não escuta”; ele falou: “Ah!!”. Que
mal estar que isso causa, porque já era a terceira vez que ele repetia e ela ficava
com o olho enorme querendo entender somente pelo olhar; causa muita
angústia, e depois que ele se deu conta que era aquela menininha que não
escutava, aí ele queria explicar e logo ela se dispersou, vendo no microscópio a
parte masculina e feminina da flor, mas para ela aquilo não tinha significado
porque ela não estava escutando as explicações que o professor estava dando.
Então ela fica assim, muitas vezes excluída, excluída mesmo disso, não do afeto
e do cuidado... Ela pertence ao grupo, ela é muito forte. Impressionante!. Eu acho
50
que ela vai conseguir muitas coisas. Às vezes, ela chega para mim e pergunta o que
está acontecendo quando perde alguma coisa; ela marca o lugar dela no grupo. Se
fosse outra criança, talvez seria complicado estar aqui. Ela garante um bom
lugar...”.
Para P de Ra e P de Ru, as crianças estavam integradas. Já no discurso
de P de Mi, encontramos algumas contradições em relação a esse aspecto. Ao
mesmo tempo em que assinalou que Mi estava integrada, inclusive revelando em
seu discurso estar surpresa com o desempenho da criança, que, apesar de ser
surda, estava conseguindo marcar o seu espaço comunicativo na turma, relatou
uma situação em que outro professor desconhecia o fato de haver uma criança
surda entre seus alunos, que então necessitaria de uma atenção diferenciada.
Isso mostra certo descuido da instituição, que acabou levando a uma situação de
exclusão, ainda que, em seguida, o professor tenha se esforçado para estabelecer
uma interlocução com Mi. Tal postura reforça as considerações de Silva e Pereira
(2003), quando afirmaram que, apesar de os professores apresentarem em seus
discursos a idéia de que os alunos surdos tinham todas as condições de serem
incluídos, pois eram inteligentes, aprendiam e se comportavam bem, na prática,
eles continuavam muitas vezes sendo excluídos.
Importante destacar que Ra e Ru apresentavam habilidades
comunicativas e lingüísticas necessárias e suficientes para estar entre ouvintes,
apresentando boa inteligibilidade de fala. No caso de Mi, com maiores dificuldades
de compreensão do português oral, seriam necessárias estratégias que
favorecessem o seu aprendizado, assim como possíveis adaptações no programa
e no espaço da escola, que deveriam antecipar as dificuldades e contorná-las;
51
mas, pelo relato da professora, parece que a instituição esperava que a criança
realizasse as adaptações necessárias para se integrar à turma.
De qualquer forma, mesmo tendo condições suficientes para a inserção na
sala de aula regular, essas crianças necessitam de um professor, respaldado pela
instituição, que garanta algumas condições para um melhor aproveitamento
acadêmico, tais como a distância entre os interlocutores e o nível de ruído. Como
destaca Moret (2005), tanto as implantadas como as crianças usuárias de AASI
apresentam dificuldade de compreensão de fala no ruído. Para contornar ambos
os problemas, Balieiro e Ficker (1997) sugeriram o uso de aparelhos de
amplificação com transmissão por freqüência modulada (FM).
Diferente da integração, a inclusão pressupõe então mudanças na
sociedade, para que esta se torne capaz de receber e acolher adequadamente as
pessoas portadoras de necessidades especiais. Essa idéia, defendida por Sassaki
(1998), baseia-se no modelo social, segundo o qual a escola comum deve levar
em consideração a necessidade do aluno, ocorrendo adaptação do ambiente
físico e dos procedimentos educacionais, para que todas as pessoas possam ser
incluídas. Não é, portanto, a criança que necessita se mover para se integrar,
como parecia ocorrer no caso de Mi.
De fato, durante o final do primeiro semestre, em uma das sessões
terapêuticas, o pai de Mi informou que a filha mudaria de escola, pois esta não
estava fazendo nenhum esforço para adaptá-la - havia uma quantidade excessiva
de tarefas e conteúdos não assimilados, e também, muitas vezes, Mi ficava
52
isolada do grupo. E assim aconteceu. No segundo semestre, Mi foi matriculada em
uma nova escola, menor e mais próxima da residência da família (trecho do diário
de campo, junho de 2006).
A partir deste momento, vamos conhecer então o discurso de mais uma
professora, identificada como P2 de Mi, que, após quinze dias do início das aulas,
recebeu a pesquisadora para uma primeira entrevista. Observamos que,
inicialmente, Mi se aproximou de colegas que também tinham necessidades
especiais, sendo que P2 se esforçou para integrá-la com todo o grupo.
P2 de Mi 1:
“É, no primeiro momento, o que eu senti de Mi é que ela só queria se relacionar
com as pessoas que tinham alguma deficiência, tipo Ca, que é deficiente visual, e
Na, que tem uma série de complicações, motora, cognitiva, não tem uma perna... o
olho de Ca, por exemplo, ela ficava impressionada, porque, como ele tem deficiência
visual, ela [Mi] ficava perguntando: “por que ele tem o olho assim, grandão? Por que
ele fica piscando e por que o outro se alimenta pela sonda? Por que ele não comia
pela boca? Por que ele bebia por ali? Por que ele babava?”. E essas perguntas nós
estávamos sempre pontuando para ela. Aí hoje ela já brinca, porque antes só queria
ficar com eles dois. E eu disse: “não, vamos brincar com o grupo, todos aqui são
seus colegas”; mandava as meninas chamarem Mi, mas as meninas falavam:
“minha prô, a gente está chamando, mas ela não quer. Ela só quer ficar com Ca
e Na”".
Ao chegar à nova escola, Mi foi, então, em busca de pares. Conforme
lembra Góes (2004), a inclusão se configura como positiva para a criança normal,
porque ela convive com semelhantes e diferentes, mas para aquela com
necessidades educativas especiais, a experiência costuma ser apenas com o
diferente. Na escola anterior, Mi estava sozinha, sem pares, mas desta vez
53
encontrou uma oportunidade de vivenciar e criar novos conceitos com relação a
outros portadores de necessidades especiais.
De fato, em seu estudo sobre a inclusão do aluno surdo, Lacerda (2006)
também chama a atenção para a prática da inclusão feita sem pares, com apenas
uma criança apresentando necessidades educativas especiais em sala de aula.
Segundo a autora, essa prática atrapalha a construção de uma identidade positiva,
porque a criança sempre vai ficar à margem. A tarefa é criar espaços educacionais
em que a diferença esteja presente, onde se possa aprender com o outro, sem
que aspectos fundamentais do desenvolvimento de quaisquer dos sujeitos sejam
prejudicados.
Mas Mi precisava vivenciar tanto a semelhança como a diferença, como
bem percebeu a professora, que mostrou preocupação de socializá-la com todo o
grupo.
4.1.3. O papel da escola: aprendizagem ou socialização?
A partir da segunda entrevista, nos deparamos com a seguinte questão:
Qual é o papel da escola inclusiva: ensinar ou socializar? Nos discursos das
professoras de Mi, por exemplo, quando se referem ao conteúdo, prevalecem os
aspectos negativos, e quando se referem à socialização da criança, os aspectos
destacados sempre são positivos.
P de Mi 2:
54
“Eu acho que a expectativa dos pais era que ela se adaptasse e se integrasse ao
grupo. Não parecia assim, pelo menos no que eu ouço e tenho conversado com eles,
uma preocupação tão grande ao que ela vai aprender de conteúdo de 1ª série.
Parecem satisfeitos, o que a mim incomoda... Eu acho que Mi tem feito poucos
avanços, poucos, poucos, poucos... É, em relação ao conteúdo, ela está
integrada, é super esperta, porque nas atividades coletivas ela consegue ter até uma
perspicácia, que eu acho interessante nela, esse movimento, ela pega com o
colega, mesmo sem entender , ela apresenta um resultado, que não aparece
muito o não entendimento por conta da falta de diálogo e da falta de espaço para
ela muitas vezes, porque assim, como são muitos, são vinte e aí, um vai tomando
o espaço do outro... Então assim, eu acho que não tem sido bom para Mi, não tem
sido bom para a Mi. Eu acho que são poucos avanços para um período longo, eu vejo
isso como um semestre. Eu cheguei até a falar com o pai, que ela estava se
desestabilizando... Ela não conseguiu entender nenhuma questão sobre aquilo
que ela leu do texto. Não apenas dizer que era uma fábula que era mais difícil,
porque exigia uma discussão que ela tinha que ter escutado do grupo e ela não
escutou, e ela ficou excluída disto por não ser ouvinte, mas assim, pontuando
para ela algumas coisas, aí ela fica naquele movimento que ela é burra. Quando
fazemos uma pergunta: É fábula ou conto de fada? E ela fica com total
insegurança. E ela não consegue e resolvemos, só porque temos que sair desse
lugar, deixar pra lá por conta de não conseguir avaliá-la ainda”.
P 2 de Mi 1:
“Eu coloco Mi na frente porque ela prefere, pega melhor quando eu faço as falas.
Quando vai fazer uma atividade, ela olha para o quadro, copia, daqui a pouco ela
pára... porque ela se dispersa com muita facilidade...Tem atividades que ela tem
dificuldade para fazer, ela está tendo dificuldade de interpretação. Tipo assim, você dá
um texto, faz algumas perguntas, ela lê e não entende. Você manda ela fazer a leitura
novamente, aí, quando você retoma a pergunta, já faz modificada para facilitar esse
processo para ela, aí ela diz: “agora entendi”, porque você fez a intervenção para que
ela entenda o que você está pedindo. Sempre é assim, tenho que ficar retomando,
deixando mais simples para ela. Agora, sempre do lado...”
Para P de Mi, a experiência parece não ter sido positiva - a criança não
estava avançando com relação aos conteúdos pedagógicos, e o ambiente escolar
parecia ter desestabilizado os conteúdos antes assimilados. A professora parecia
extremamente incomodada com a atitude dos pais, que, segundo ela, estavam
preocupados apenas com a socialização da filha e não com a aprendizagem.
Pontua algumas estratégias de “disfarce”, a criança querendo marcar o seu
espaço no grupo. Já para P2, tudo ainda era muito novo, pois a entrevista foi
55
realizada após duas semanas de aula. No relato, observamos uma descrição
minuciosa do comportamento de Mi em sala de aula, as dificuldades e a
necessidade de intervenções individuais para a realização das atividades.
Partindo do princípio de que a escola tem a função de proporcionar o
aprendizado geral da criança, garantindo aos alunos deficientes, assim como aos
outros, a apropriação dos avanços do conhecimento, da tecnologia e da
diversidade das manifestações culturais, Ferreira e Ferreira (2004) destacam que,
para não cair na imobilidade, para não reduzir a escola à função de apenas
“socializar” o aluno com deficiência (expressão que tem sido utilizada para indicar
que a experiência escolar do aluno é suficiente quando se coloca em relações
adaptadas ao contexto educacional) e para que possamos desenvolver um
processo de inclusão a partir da realidade escolar nacional, é importante tomar
como referência a função social da escola. É a partir dela que se deve
estabelecer, para os alunos com deficiência, um plano escolar que busque o
máximo de desenvolvimento de cada um deles, dentro da meta geral colocada.
Porém, segundo os discursos das entrevistadas, parece que não existia
um projeto adaptado às condições educacionais desses alunos com necessidades
especiais.
Ao serem levadas a refletir sobre o desempenho das crianças do estudo,
as professoras relataram:
P de Ra 2:
56
“ Ra está bem. Com relação ao aprendizado do conteúdo da segunda série, está
dentro do rendimento normal do grupo. Não tem nada aquém. Está sentando na
frente. Às vezes ele realmente não escuta algumas coisas e me pergunta, eu
vou, dou a resposta, refaço a consigna, dou a resposta assim, no sentido de refazer
a consigna, dizer o que eu quero, não encontro maiores dificuldades. As maiores
dificuldades dele se restringem a ciências sociais e ciências naturais, dificuldades
assim, por conta dos textos, por conta da interpretação, assim, do que eu falo. Às
vezes, eu acho que ele não compreende bem as minhas explicações, ou então na
socialização, ele não entende o que o outro do grupo está falando, dificulta, mas
quando ele chega e pergunta como é para fazer, ele absorve (ex: isso aqui é isso ,
isso , isso? eu digo não é assim, é assim. Então ele diz: “eu já sei”, compreende).
Então, eu acho que falta alguma coisa na minha fala que ele não pega, ou na dos
colegas que ele não pega na hora da discussão que interfere nesse registro. Mas, fora
isso, como ele é participativo, como ele é interessado, aí ele vem buscar, não
tenho dificuldades de aprendizagem com ele ou de ficar preocupada com o
desenvolvimento dele, e aí...”
P de Ru 2:
“O processo de Ru está bem. Assim, ela está falando bem melhor... só quando ela fala
muito rápido que ninguém entende. Com relação às atividades, ela tem acompanhado
direitinho. Já não estou tão preocupada porque vejo que ela está acompanhando
bem, inclusive ela já está fazendo leitura de algumas palavras, mas estou observando
melhor... Ela está no patamar praticamente igual ao da sala”.
Para P de Ra, ele estava conseguindo acompanhar o conteúdo escolar,
embora enfrentasse algumas dificuldades quando não ouvia – mas esse problema
vinha sendo administrado pela professora, que repetia ou reformulava as
perguntas, buscando estratégias para dele se aproximar. Havia, pois, um
movimento favorável à integração, também facilitada pelo interesse e participação
de Ra em sala de aula. Do ponto de vista fonoaudiológico, Ra apresentava
condições lingüísticas e auditivas favoráveis, sendo que a grande questão, como
já referido, era o ruído competitivo em sala de aula, que o deixava em um patamar
desfavorável para a aprendizagem.
No caso de Ru, a professora relatou nesta segunda entrevista que a
preocupação inicial quanto à adaptação da criança já não existia. Ru estava
57
conseguindo acompanhar a turma, talvez pelo fato de se tratar de educação
infantil, quando ainda não há uma formalização de conteúdos, como nas séries
posteriores.
Como já foi dito, é consenso considerar que a interação favorecida pela
escola regular é essencial para que a criança deficiente possa constituir-se
enquanto sujeito, construir sua linguagem no processo dialógico com o outro e
desenvolver suas potencialidades. Entretanto, não se pode perder de vista a
função principal da escola, que é a de cumprir para com o aluno especial os
objetivos da educação escolar previstos para qualquer aluno, ou seja, garantir seu
desenvolvimento integral, potencializar sua autonomia e instrumentalizá-lo para
viver em sociedade (Aspilicueta, 2004).
Na última entrevista, as professoras falaram sobre o desempenho escolar
das crianças e da relação delas com os colegas. O que podemos concluir dos
seguintes discursos?
P de Ra 3:
“Às vezes eu faço a leitura assim, que ele [Ra] se esconde muito, por exemplo, ele faz
alguma coisa que sabe que não é certo, ou comigo ou com os colegas, então nessa
hora ele se esconde atrás da deficiência, ele faz de conta que não entendeu nada,
mas em linhas gerais ele entende tudo, ele está aqui, ele vem, ele questiona, as
intervenções com Ra não estão nem tão diferenciadas. Agora mesmo, no
finalzinho, ele já lia as atividades sozinho, e pouquíssimo vinha me perguntar,
mesmo ciências naturais e sociais. A partir das aulas e do estudo em casa, a gente
não pode esquecer, já estava se desenvolvendo bem, antes eu fazia mais
intervenções, ficava mais próxima, eu achei ele mais independente nas atividades.
Agora, eu sei que não tem a ver com a sua pesquisa, mas eu achei ele
emocionalmente bem instável...
Ra está pronto para ir para uma terceira série de aprendizado, de cognitivo, o
emocional é normal para essa idade, ele vai melhorar, não é só ele não, nós estamos
enfocando ele aqui,os outros também precisam dessa maturidade emocional, desse
equilíbrio, vários precisam, então, está normal o desenvolvimento. O resto é que é
58
diferenciado mesmo, não tem como, então eu faço uma diferenciação na avaliação,
vou entender, ele tem essa deficiência, então não tem como olhar com os mesmos
olhos. O resto é só isso mesmo. Agora ele lê direitinho, é um dos alunos que sempre
traz novidade”.
P de Ru 3:
Eu encerro o meu trabalho com Ru satisfeita, eu acho que consegui os meus
objetivos, consegui vencer os meus medos iniciais, e a resposta que ela tem me dado
é uma resposta positiva, eu vejo Ru assim, uma menina, como vou colocar? Eu vejo
que a questão auditiva não tem interferido muito, pode ser que tenha interferência, é
claro, mas nesse processo de aprendizagem não vi como um problema maior. Eu
acho que na alfabetização ela também não vai ter problema nenhum. Ela mesmo, com
a dificuldade dela, ela vence as próprias barreiras e realiza o trabalho com um
entusiasmo, assim, contagiante. Ela se concentrou, eu fiquei observando a
concentração dela e só levantou quando terminou de montar todas as palavrinhas.”
P 2 de Mi 2:
“Eu dava a dica, e ela fazia, mas assim com muita dificuldade, muita mesmo, no
dever de sala mesmo, eu estava copiando e ela assim, eu falava: “Copiou, Mi?”.
Teve um dia mesmo que ela estava muito atrasada na cópia, e aí eu copiei para ela,
nem sei se fiz certo ou errado, porque eu precisava usar o quadro e eu não queria
prejudicá-la, aí ela agradecia,falou: “Legal!”. E eu falava: “É, mas não é todo dia
não...”. E ela não conseguia, quando era texto mesmo, ela fazia a leitura, mas quando
era para interpretação, ela não conseguia, não conseguia mesmo, tudo com muita
dificuldade, aí eu conversei. Na minha avaliação, eu falei para a orientadora, eu
não passaria Mi, até por que as dificuldades dela tendem a crescer, mais
responsabilidade, mais cobrança, até porque você não tem um tempo para ficar
com aquele aluno direto, então, como tiveram os trabalhos em sala de aula, a
média sempre ela alcançava, 6,5, 7,0 mas devido aos trabalhos; e se ela teve
uma nota alta foi devido à ajuda que ela teve, a ajuda dos colegas, não que ela
tenha feito sozinha. Aí a mãe teve aqui e conversou comigo, que ela tinha
estranhado, pelo desempenho de Mi, de eu ter colocado Mi na segunda série, aí eu
expliquei para ela: “Você sabe que a gente não pode reter o aluno, ele tem que
passar, e aqui, como você vê, devido aos trabalhos, ela alcançou a média”.
Então, a mãe perguntou para mim: “Você passaria o seu filho nessas condições?”.
E eu falei: “Honestamente não, eu não passaria”. Então, essa quarta unidade
para ela foi muito ruim, muito prejudicada pela doença que ela teve e o suporte
que faltou da família, então acho que ela refazendo...”
Para P de Ra e P de Ru, a situação na série atual e os objetivos
alcançados com relação à aprendizagem e ao desenvolvimento das crianças
foram satisfatórios. P de Ra, porém, alertou para a questão emocional, mas a
colocou como algo não relacionado à inclusão na escola. Mas o que deixaria essa
criança “instável emocionalmente”? Não poderia ser justamente o excesso de
59
esforço para ser notada e para não perder conteúdos, já que só foram feitos
pequenos ajustes para adaptá-la naquela sala de aula? Como bem ressaltou
Lacerda (2006), além de experimentar regras de convivência social, regras de
formação de grupo e de valores sociais fundamentais para a adaptação da vida
em sociedade, é também na escola que as crianças vivem emoções e afetos de
forma menos protegida, o que, no caso de crianças surdas, pode sim causar
dificuldades.
Já P2 de Mi descreve detalhadamente as dificuldades da criança com os
conteúdos trabalhados, evidenciando a realidade da educação no Brasil - mesmo
sem condições, o aluno avança para a série seguinte. Neste caso, foram os pais
que solicitaram a permanência da criança na primeira série.
Notamos então que a questão relacionada ao entendimento da própria
deficiência auditiva e as particularidades que essas crianças necessitam, após um
ano de contato, ainda são pouco percebidas e contempladas – problemas de
linguagem, percepção auditiva no ruído, dentre outros, ainda continuam
desconhecidos. Este dado também foi observado no estudo de Guarinello et al
(2006), já anteriormente citado, segundo o qual os professores não relacionam o
desconhecimento sobre as particularidades de seus alunos deficientes auditivos
com as dificuldades de aprendizagem que estes apresentam.
Nos discursos sobre a interação do aluno na sala de aula, temos:
P de Ra 3:
60
“Agora, considerando a deficiência dele, ele está bem, se dá bem com os colegas,
comigo, com a escola, então, vendo por esse lado, ele está bem”.
P de Ru 3:
“Os amigos que ajudaram bastante, as crianças estavam conscientes do problema
dela, a mãe até me perguntou da relação dela com a turma, e eu falei normal, porque
eles têm atritos, o que é normal da criança, e Ru tem uma característica de liderança,
tudo ela quer impor a vontade dela, mas eu não vejo isso como um problema de
relacionamento, é deles mesmo”.
P2 de Mi 2:
“Com a turma ela é mil... Ficava correndo atrás de todo mundo, fez muita amizade
com uma da sala... Se integrou fácil, com o grupo ela ficou legal mesmo, brincava,
participava, conversava com todos. Eu falava sempre: “Gente, cuidado com Mi
quando vocês forem falar, sempre de frente, direcionado para ela, pausadamente
para ela entender o que vocês estão falando”, e ela interagia com o grupo.
Melhorou bastante com o grupo, os meninos tinham muita paciência com ela ... Esse
ano, eu comecei a trabalhar muito com um trabalho em grupo, em equipe... , a líder da
equipe falou: “Minha pro, Mi e outra colega conversaram bastante no trabalho e eu
acho que elas não merecem a mesma nota, não é justo”. E aí a líder deu a nota e
disse que tinha que ter responsabilidade, é um trabalho... Então, eu achei que a líder
foi muito objetiva, foi muito legal, ela não teve essa coisa assim, porque Mi tem
uma deficiência eu vou proteger Mi, vou omitir isso, não... não teve isso. Eu
achei assim, ela foi, dentro do grupo, respeitada e cobrada como qualquer
criança, eles não passavam a mão na cabeça, como também não passava na de
Ka e de Na [outras crianças com necessidades especiais], eles sabiam das
dificuldades e respeitavam as dificuldades, quando alguém sentia uma dor, eles se
preocupavam, mas dentro do grupo, na hora das atividades, da coisa, deles
serem cobrados, eles chegavam juntos, não tinha essa coisa de... não, ele não
anda, ele não fala, ele não enxerga, ele não escuta a gente vai proteger, não...
Mas é um grupo que respeita mesmo a diferença, sabem como lidar, não ficam
questionando o tempo todo. Quando Mi chegou mesmo na sala, foi uma única
vez que eu expliquei sobre a dificuldade dela, sobre a deficiência, e eles logo se
prontificaram para ajudar. Então, para ela foi muito importante ser bem aceita no
grupo, respeitando as diferenças dela, participando de tudo; no começo, ela
ficava mais isolada, conhecendo mesmo o grupo, se socializando, no final do
ano Mi pegava fogo com o grupo, com os meninos, então, foi bem legal!”.
Após um ano de contato com as crianças deste estudo (exceto P2 de Mi,
há apenas um semestre), as professoras, então, parecem continuar mais voltadas
para a prática de integração e não de inclusão; ou seja, embora a escola
reconheça a diferença, faça concessões, é o aluno com necessidades especiais
quem deve acompanhar o grupo.
61
Como afirmou Góes (2004), para uma educação especial, mesmo (ou
sobretudo) na inclusão, são indispensáveis projetos diferenciados e não pequenos
ajustes. Sem alterar o delineamento do currículo e as metodologias, sem
estabelecer esquemas de suporte efetivo ao professor, a escola não responde ao
compromisso com o desenvolvimento e a aprendizagem dos indivíduos diferentes.
4.2 A linguagem verbal oral e a criança deficiente auditiva
Inicialmente, quando questionadas sobre a possibilidade de uma criança
deficiente auditiva ser fluente na linguagem oral verbal, todas as professoras
manifestaram dificuldades para relatar o que compreendiam acerca dessa
comunicação. Vale ressaltar que, exceto P de Ru, as outras duas entrevistadas
não conheciam ainda seus alunos, suas histórias e seus potenciais.
P de Ru 1:
“Acredito que a fala depende do nível de audição. Com relação a Ru, a deficiência
deve ser menor, e o aparelho ajuda. O ano passado eu trabalhei aqui e sempre estava
em contato com ela - é uma criança que é impossível passar despercebida, porque ela
é o tempo todo ativa. Na minha sala ela entrava, brincava. Ru não tem timidez,
vergonha. Ru fala tudo.”
Observamos que, nesse momento, a professora de Ru desconhecia que a
perda auditiva da criança era profunda. A fonoaudióloga /pesquisadora, então,
aproveitou o momento para informar o grau da perda e explicar os tipos de
62
deficiência auditiva e a importância do uso constante do aparelho auditivo.
Surpresa, a professora prosseguiu o seu discurso (Diário de campo, janeiro/2006).
Sobre a comunicação das crianças deste estudo com os outros alunos e
com a professora, notamos que as entrevistadas mostraram uma percepção
adequada do perfil lingüístico e comunicativo delas:
P de Ra 2:
“Ele é realmente assim, você fala com ele, ele se desenvolve bem. Não tenho
maiores dificuldades. As palavras que ele fala são claras, algumas palavras que
os meninos já dominam, que têm um acento, por exemplo, não lembro agora, mas foi
uma palavra que ele colocou o acento em outra sílaba e os meninos falaram: “não
é assim, não, Ra”; e aí ele falou: “Ô, ô, ô”, sem maiores dificuldades. Não tenho
mais o que falar sobre ele..Nós estávamos até comentando: “Olha, ele já está
falando direitinho, até essa letra o /r/ de para, agora ele já está falando direitinho,
que bom”. Eu tenho visto uma grande melhora. Eu não tenho assim, nenhuma
dificuldade com Ra, eu acho que você deve continuar com esse trabalho e a questão
da compreensão que ele pode se sair melhor ainda.”
P de Ru 2:
“Eu estava conversando com Ro [coordenadora] e Ru chegou contando que tinha
passado na frente da minha casa e Ro falou “Nossa, como ela está falando bem!”. Ela
fala bem, eu entendo quase 90%, a não ser quando ela fala rápido, aí eu falo: “Calma,
Ru, vamos falar novamente? Repete para mim de novo”. Eu sempre falo isso, eu, às
vezes, esqueço que Ru tem a deficiência auditiva, pelo processo dela em sala,
pelo grupo, que ela não tem dificuldade nenhuma. Ela tem muito interesse pela
comunicação. Ela fala muito, muito , muito!”
P de Ra destacou no trecho acima que a criança apresentava boa
inteligibilidade de fala e não tinha maiores dificuldades para se comunicar
oralmente, chamando a atenção para os aspectos supra-segmentais da língua,
como por exemplo, a acentuação de palavras. Também P de Ru ressaltou o
63
interesse da criança pela comunicação, sendo que, devido ao seu desempenho na
oralidade, muitas vezes a deficiência auditiva nem era percebida.
As histórias e as especificidades lingüísticas e auditivas de Ra e Ru, o
processo terapêutico de ambos, fundamentado em autores como Pollack (1985),
Bevilacqua e Formigoni, (1997), Novaes e Balieiro (2005), e, principalmente, o
envolvimento familiar já destacado no estudo de Moeller (2000) como fator
essencial na reabilitação auditiva, certamente vinham contribuindo para um
desempenho educacional satisfatório e surpreendente, como observado nos
discursos das professoras.
Diferentemente das outras crianças, Mi, apesar de ter sido diagnosticada
precocemente, não apresentava percepção para os sons de fala com os aparelhos
auditivos, sendo a sua comunicação oral dependente da leitura orofacial.
Destacamos o seguinte trecho do discurso de P de Mi:
P de Mi 2:
“Essa semana ela estava numa situação de leitura de texto que era uma fábula, e ela
leu todo o texto para mim, inclusive causou incomodo a algumas crianças na sala,
porque elas estavam em silêncio, fazendo uma atividade, e ela estava lendo, a
voz dela estava atrapalhando porque ela não regula, ela não ouve, aí ela não
regula. Hoje a fala dela para mim é mais fácil, eu já consigo entender. Ela é muito
viva, ela dá conta de tudo o que acontece na escola, e ela diz: “Olhe, Jô brigou com
fulano e foi ele que começou”. Jô é o grande parceiro, um dia levaram bronca porque
estavam atrapalhando e ela arrumou tudo, na maior gaiatice...”
Para Northern e Downs (2005), a fala oral inteligível é muito desejada,
mas não deve se tornar o fundamento dos esforços educacionais da criança.
Como já descrevemos, a assim chamada “fala do surdo” é caracterizada por uma
64
freqüência fundamental significativamente mais alta, uma velocidade de fala mais
lenta do que a encontrada em pessoas com audição normal e uma intensidade de
voz tipicamente aumentada com flutuações da amplitude anormalmente grandes.
Essa característica é claramente observada em crianças portadoras de perda
auditiva profunda que não apresentam a percepção dos padrões de fala, a partir
do uso de aparelhos de amplificação sonora, como no caso de Mi.
Porém, o que percebemos no trecho acima é um desconhecimento de P
de Mi a respeito dessas questões. De fato, desenvolver uma comunicação oral
nesses casos já é um grande desafio, além de a falta de inteligibilidade na fala
interferir diretamente na postura dos parceiros comunicativos dessas crianças.
Mas é importante destacar a necessidade premente, em especial nesses casos,
de o professor ter conhecimento para valorizar as conquistas dos alunos surdos,
regulando suas expectativas em relação ao potencial da criança.
Destacamos, também, o discurso de P2 de Mi na primeira entrevista - por
não ter experiência com deficiente auditivo, pensava que poderia se comunicar
apenas com gestos, mas, após orientação da mãe (utilização da leitura labial
como estratégia para a comunicação), percebeu que era só “falar normal”. Como
estratégia para entender a fala da criança, algumas vezes ininteligível, solicitava a
repetição. Tanto P2 como P de Mi chamam a atenção para a voz diferente da
criança, justificada pela deficiência auditiva.
P2 de Mi 1:
“Algumas coisas eu consigo entender o que ela fala, outras, quando eu não entendo,
eu falo: “Eu não entendi, repita!”. Aí ela dá o sinal, mandando eu esperar porque ela
vai repetir, aí eu entendo. Tem coisas que eu estou com dificuldade de entender, aí eu
65
vou e digo: “Não entendi o que você quis falar, você vai repetir de novo”. Aí ela repete
e eu entendo. Ela começa fazendo com a voz rouca por causa da dificuldade da
audição... É que é a minha primeira experiência com deficiente auditivo, já trabalhei
com outras deficiências, mas auditivo não. Porque eu pensei que, para me comunicar
com Mi, eu teria que aprender a fazer gestos, mas os pais vieram e me disseram que
era leitura labial, que não era para falar com muitos gestos. Mas, mesmo assim, fiquei
apreensiva. Mas depois descobri que era para falar normal”.
Na última entrevista, ao refletir sobre a comunicação da criança, temos um
importante aspecto destacado por P de Ra. Trata-se da dificuldade com o discurso
narrativo.
P de Ra 3:
“Ele é claro, perfeito, ele é soltinho, agora ele não tem o mesmo repertório, não tem o
mesmo vocabulário que os outros meninos. Ele bota um ponto: “Eu cai e ele caiu,
ponto. Não foi eu que bati o pé. Foi Ada”; não dá uma seqüência, não tem uma
narrativa... “Agora assim, os comentários que ele faz dos conteúdos também é assim:
“Porque os índios , ele é igual a gente. Ele é gente, ele é humano. Tem direito a
educação, saúde, terra...”, ele fala assim, é bem direto.”
A comunicação de Ra com os outros pares era efetiva; porém, as frases
eram diretas, curtas e o vocabulário, aquém do esperado, quando comparado ao
de outras crianças de 8 anos de idade. No final do semestre, emergiu o gap
pedagógico. Neste momento, é importante destacar que Ra foi implantado aos 24
meses, tendo, portanto, dois anos de privação auditiva.
Yoshinaga-Itano, Sedey, Coulter e Mehl (1998) compararam as
habilidades lingüísticas de um grupo de crianças deficientes auditivas
precocemente e tardiamente diagnosticadas e concluíram que a identificação
precoce de problemas auditivos, quando seguida de intervenção imediata e
66
apropriada, de fato melhora o resultado para essas crianças por levar a um
desempenho significativamente melhor na linguagem, na fala e educacional.
Moeller (2005) também encontrou em seu estudo que crianças que iniciaram a
terapia fonoaudiológica antes dos onze meses de idade apresentaram melhor
vocabulário e pronúncia, sendo também indicada uma relação entre a reabilitação
auditiva e o envolvimento familiar.
As características e o desenvolvimento de habilidades comunicativas orais
compatíveis com as do grupo pareceram determinar a dinâmica do processo de
inclusão. Um ajuste de expectativas das professoras, a partir das interferências da
família e da fonoaudióloga, pareceu contribuir para o desempenho da criança.
4.3 Práticas inclusivas: a criança, a escola e a família
A questão da co-responsabilidade é o eixo sustentador do processo
inclusivo do aluno deficiente auditivo. Nos discursos das professoras, a
necessidade de triangulação entre pais, escola e fonoaudióloga torna-se evidente,
sendo que nos casos em que os papéis estavam definidos, a criança parecia ser
sempre beneficiada.
P de Ra 2:
“Eu mandei um bilhete para a mãe dele, umas duas vezes, e foi quando ele deu uma
melhorada. (...) Eu não tenho assim, nenhuma dificuldade com Ra, eu acho que
você deve continuar com esse trabalho e a questão da compreensão que ele pode se
sair melhor ainda. (...) Veja para mim, essa questão de ciências naturais e ciências
sociais, eu acho que ele pode avançar mais. Vou te fornecer o conteúdo”.
P de Ra 3:
67
“Agora mesmo, no finalzinho, ele já lia as atividades sozinho, e pouquíssimo vinha me
perguntar, mesmo ciências naturais e sociais; a partir das aulas e do estudo em casa
a gente não pode esquecer, já estava se desenvolvendo bem...Ele disse que passa na
banca de revista e sempre traz Recreio [revista infantil de variedades], piadas de
matemática, piadinhas gerais, Coquetel [palavras cruzadas]. Ele é um dos que está
mais atento; eu acho que a mãe trabalha muito em casa com ele, agora vamos ver
nas férias”.
Vemos então que em ambas as entrevistas a professora ressaltou a
importância do envolvimento familiar, do trabalho desenvolvido em casa,
chegando a solicitar, também, a ajuda da terapeuta nos conteúdos em que a
criança vinha apresentando dificuldade. De fato, como destacou Sacaloski (2004),
o trabalho fonoaudiológico junto à escola envolve a troca de experiências com o
professor, sendo que o fonoaudiólogo discutirá questões relativas à comunicação
e à linguagem, enquanto o professor abordará os aspectos relacionados ao
processo de ensino e aprendizagem. Mas podem ser estabelecidas, obviamente,
atuações conjuntas quanto ao trabalho de desenvolvimento de linguagem oral,
gestual e escrita.
Os pais de Ra, durante todo o ano letivo, não apresentaram queixas com
relação ao aprendizado e desenvolvimento da criança. Nas sessões terapêuticas,
freqüentemente, a mãe mostrava-se satisfeita com as avaliações escolares e
parecia presente e participativa no processo vivido pela criança, fato este
confirmado com o discurso de P de Ra.
Também para P de Ru o desempenho da criança esteve diretamente
relacionado com a participação familiar e o trabalho fonoaudiológico, como
podemos verificar nos discursos abaixo:
68
P de Ru 2:
“Mas isso também, o desenvolvimento dela foi por causa do estímulo...Em casa , na
escola, na fono... Tudo ajuda... Eu observo o acompanhamento da família, e é uma
família muito presente, muito presente. Um dia, a mãe mandou um recado
perguntando qual foi a receita que eu tinha dado em sala de aula. Eu preparei uma
receita com eles na sala de aula e ela contou tudo para a mãe, todos os ingredientes,
só esqueceu o nome da receita. Eu achei isso ótimo, porque tudo o que acontece na
sala ela conta para a mãe, e isso para mim foi um excelente retorno, eu tenho essa
resposta. Alguma coisa que eu exploro, ela pede para a mãe fazer igual, então eu sei
que ela passou para a mãe, ela tem conseguido se expressar com a mãe. Mas, no
geral, a não ser também o comportamento dela, aí eu chamei a mãe para conversar e
me dar uma forcinha na questão do comportamento”.
P de Ru 3:
“Ela apresentou tranqüila a atividade com música, eu pedi para a mãe me ajudar no
ensaio para que ela tivesse a compreensão da música e conseguisse cantar e dançar,
mas ela... foi tranqüilo também. Esse auxílio da família que Ru tem, que eles dão para
a gente é muito positivo; ajuda e muito, no desenvolvimento dela, no nosso trabalho ,
ajuda muito. É muito importante... A ajuda da família, foi muito importante,a escola, e
eu, claro, quando o professor se dedica é muito importante, quando a gente procura
ter conhecimento do assunto e como trabalhar, tudo ajuda. Eu não fiquei sozinha
nesse processo, teve o seu apoio e o apoio da família. Estou muito satisfeita”.
Bevilacqua e Formigoni (1997) já ressaltavam que a tríade família, escola
e terapeuta, atuando em equipe, é a base para o bom desenvolvimento da
criança. Ao terapeuta, cabe a realização de um trabalho de orientação sistemática
junto à escola, mais diretamente com o professor, em especial sobre como atuar
com a criança no sentido de minimizar as dificuldades que o déficit auditivo
ocasiona.
Também Góes (2004) pontuou que, para melhorar a resposta às
demandas postas pela inclusão, as escolas regulares também se relacionam com
serviços de outros setores, como fonoaudiologia, psicologia e fisioterapia.
69
Profissionais diversos são imprescindíveis para a escolarização dos sujeitos
especiais, sendo que cada setor pode contribuir com determinado tipo de
necessidade. Para a autora, a coordenação dessas ações deve ficar a cargo da
escola. Porém, nem sempre isso ocorre e, por vezes, perduram as interações nos
moldes tradicionais (a visão patologizante das dificuldades de aprendizagem, a
atribuição dos problemas ao próprio aluno etc.), ou a parceria fica circunscrita à
interação do professor com o profissional. No geral, o resultado é que a escola
desloca parte de suas funções educativas para esses outros setores.
Concordamos com a autora, mas acreditamos que a criança será mais beneficiada
quando existir um equilíbrio entre as responsabilidades da escola/família e outros
profissionais.
No caso das crianças deste estudo, é importante ressaltar que, embora
tenha havido alguma troca entre professora e especialista, em nenhum momento
as escolas tomaram a iniciativa de procurar a fonoaudióloga. Em especial no caso
de Mi, no contato com a segunda escola para agendarmos a entrevista de coleta
de dados, a coordenadora imediatamente pontuou a necessidade de uma reunião
para discutir a situação escolar da criança. Informou pelo telefone que a família
estava ausente e que Mi não vinha apresentando bons resultados; mas essa
reunião acabou não acontecendo. Em uma das sessões de terapia, os pais se
posicionaram com a seguinte afirmação: “Queremos que Mi repita a primeira série;
este foi um ano muito atípico e ela não aprendeu nada. Vai repetir a primeira série,
minha filha precisa aprender, não quero que ela fique passando de ano sem saber
70
o que está fazendo. Tenho certeza de que será melhor para ela” (trecho do diário
de campo, novembro de 2006).
Por outro lado, temos o discurso da mãe de Ru, refletindo sobre o
desempenho da filha na escola :
Mãe de Ru:
“Ru sempre foi muito comunicativa, sempre teve facilidade de se comunicar com as
pessoas. A dificuldade que vejo na escola é quando, por exemplo, se a pessoa vai
ensaiar uma música, então ela não pega a música; o que é visual ela pega muito
fácil, agora o que é auditivo ela tem muita dificuldade. Na primeira escola, as
pessoas tinham medo do aparelho, e a escola era muito pequena, Ru ficava muito
limitada às atividades e eu sabia que ela precisava de muito mais, e eu pensei em só
tirar ela depois da alfabetização. Mas, um dia, eu perguntei para a diretora se deixava
Ru ou não na escola e a diretora me disse que tinham medo de colocar o aparelho
em Ru. E também, no final do ano, teve uma apresentação. No dia da festa, eu
perguntei: “Ru vai ficar aonde?”. E responderam que ela iria ficar com os menores, e
quando fui para a professora ela não tinha ensaiado com ninguém, e eu fiquei muito
chateada. Ru não queria ficar com os menores, com os meninos que não tinham
ensaiado, ela queria a roupa da apresentação, aí eu fiquei muito chateada, a
professora me pediu desculpa, mas para mim foi a gota d’água. Então, eu senti
assim um pouco de exclusão, talvez o medo de Ru não compreender, sei lá...
Nessa escola que ela está hoje, o ano passado ela se queixou do palhaço, Ela pega
tudo, né?... e ela se queixou do palhaço da escola que colocou o microfone na
boca de todo mundo e não colocou na dela. Ela falou: “Palhaço ruim...”. E eu
comentei com a professora. Esse ano não teve a atividade com o microfone, ela ficou
brincando com todos da escola, com os meninos maiores e menores... A P já falou
que ela é uma das melhores da sala. Nenhuma queixa. Ela é concentrada nas
tarefas, ela pega para fazer um dever, vai até o final, é muito concentrada. Na
educação infantil eu nunca tive dificuldade, ela sempre pegou tudo muito rápido;
a minha preocupação é com a aquisição da leitura mesmo, da escrita a partir do
ano que vem... Ela sempre chega em casa relatando as coisas, por exemplo, fala
sobre tudo o que acontece na escola e eu fico surpresa, porque eu pensei que
ela não ia conseguir fazer isso tão cedo; então eu acho uma forma dela se
defender, poder contar o que acontece na escola”.
A mãe de Ru apontou, então, as dificuldades encontradas pela criança
quando a aprendizagem de conteúdos depende apenas de estímulos auditivos,
como por exemplo, a música. Mas, com relação a esse aspecto, P de Ru já havia
71
destacado que a criança conseguiu ter um bom êxito na apresentação da escola,
devido ao reforço recebido da família.
Analisando o contexto de Ra e Ru, observamos que, em todo o processo
de escolarização, parecia existir uma co-responsabilidade dos pares. Não havia
um plano individual de ensino para cada criança como acontece com as escolas
públicas nos Estados Unidos (U.S. Department of Education, 2000, 2002), mas
cada participante assumiu o seu papel de forma adequada.
Já para P de Mi a expectativa dos pais não correspondiam às da escola, e
durante todo o ano observamos que as professoras pareciam decepcionadas com
a participação familiar:
P de Mi 2:
“Eu acho que a expectativa dos pais era que ela se adaptasse e se integrasse ao
grupo, não aparecia assim, pelo menos no que eu ouço e tenho conversado com eles,
uma preocupação tão grande ao que ela vai aprender de conteúdo de 1ª série.
Os pais estão sempre satisfeitos, eles não cobram conteúdo que Mi não entendeu...Eu
acho que, com um apoio, ela consegue, mas sem o apoio não vai funcionar, vai
funcionar melhor com uma pessoa dando um suporte.”
P2 de Mi 1:
“Foi dever de casa, eu coloquei na agenda: “Para sua mãe e seu pai lerem e fazer
com você”. Nós mandamos ontem um aviso para os pais, falando dos projetos que
vão ser trabalhados...”
P2 de Mi 2:
“A mãe também, com esse corre-corre, ficou muito ausente, e isso prejudicou muito o
andamento dela e aí, você sabe, a sala, com tantos alunos, e dar assistência a todos,
e eu tinha que ficar perto dela, falar calmamente: “Entendeu Mi, entendeu Mi”, e
quando eu fazia a pergunta... ...Aí a mãe teve aqui e conversou comigo, que ela tinha
72
estranhado pelo desempenho de Mi, de eu ter colocado Mi na segunda série, aí eu
expliquei para ela: “Você sabe que a gente não pode reter o aluno, ele tem que
passar, e aqui, como você vê, devido aos trabalhos, ela alcançou a média; então, ela
perguntou para mim: “P., se fosse o seu filho, você passaria?”. E eu falei:
“Honestamente, não, eu não passaria”. E aí ela continuou falando: “Eu sei que eu fui
muito ausente...não posso ficar faltando no meu trabalho. No dia da prova mesmo, eu
sabia que Mi não ia bem, porque ela não quis estudar, só queria brincar e quando foi
nove horas da noite que Mi quis estudar, eu não estudei com ela”. A mãe me disse
que Mi estava fazendo reforço escolar com um rapaz, mas Mi vinha com muita tarefa
sem fazer, de caderno de livro, e eu falava: “Mi, você não fez?, vc esqueceu?”. A mãe
não me dava um retorno. Então, eu acho que faltou muito a questão da família, da
parceria escola/família, faltou a junção, porque senão não anda, não anda mesmo. Mi
não andou, não avançou. Talvez se ela tivesse tido um suporte, até mesmo com o
reforço escolar, mas ao chegar em casa a mãe trabalhasse, desse um suporte, até na
questão da leitura mesmo, de interpretação com ela, talvez ela tivesse avançado, mas
não aconteceu...Eu chego em casa e me pergunto: “Será que hoje eu fiz o que era
possível para Mi, será que eu falhei em alguma coisa?”. Ficava me avaliando em casa,
mas dentro do possível, dentro da sala de aula, acho que me propus a fazer o
possível; tinha dias que o tempo era mais flexível, ficava mais com ela, outros mais
corridos não dava para ficar só com ela...Então, esse último bimestre para ela foi
muito ruim, muito prejudicada pelas doenças (crises alérgicas e um episódio de
conjuntivite) que ela teve e o suporte que faltou da família, então acho que ela
refazendo...Quando começou mesmo, o pai era muito presente, eu contava para ele e
ele perguntava sobre Mi, e sempre falava que Mi precisava disso mesmo: “Qualquer
coisa de Mi pode contar com a gente”; aí foi quando aconteceu essa mudança de
trabalho e tudo mudou. Acho que essa questão da família ter reconhecido essas
necessidades de Mi permanecer na primeira foi um grande ganho, porque, se ela
tivesse ido para a segunda, seria um fracasso para ela e, com certeza, as dificuldades
seriam bem maiores; então, para ela essa permanência foi o melhor, foi a melhor
escolha, a melhor opção”.
A interação entre a escola, família e fonoaudiólogo é, pois, determinante
no estabelecimento de condições necessárias e suficientes para que a inclusão da
criança aconteça de modo satisfatório.
73
5- CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os relatos das professoras aqui entrevistadas, sobre suas experiências
com as crianças deficientes auditivas deste estudo, parecem indicar que, ainda
hoje, mesmo com a evolução das práticas inclusivas, prevalecem nas escolas
muito mais os pressupostos da integração do que da inclusão.
Apesar de conhecerem a legislação sobre a inclusão de alunos com
necessidades educativas especiais, as professoras foram unânimes em admitir
que não vêm sendo suficientemente preparadas para recebê-los, nem durante os
cursos de formação e nem pela equipe de diretores e coordenadores das
instituições educacionais de que fazem parte.
No que se refere especificamente aos alunos deficientes auditivos, pouco
sabem sobre o desenvolvimento da audição, da linguagem e sobre como esses
aspectos influenciam e determinam formas particulares de apreensão de
conteúdos. Trazem, ainda, visões baseadas no pré-conceito de que o surdo não
fala e tendem tanto a subestimar como superestimar a capacidade desse aluno.
Observamos, então, que prevalece a idéia de que é a criança com
necessidades educativas especiais quem deve se adaptar ao ambiente,
empenhar-se para ser nele integrada; ou então, as professoras buscam
estratégias individuais de aproximação, sem que essa questão seja
74
problematizada junto ao corpo técnico da escola, que ainda não vem efetivando
transformações em sua organização para receber esses alunos. Afinal, a escola
não existe apenas para socializar e sim para educar, e, sendo assim, para receber
crianças com deficiência de audição, necessitaria diminuir o número de alunos por
sala de aula; investir em estruturas físicas adequadas para a singularidade do
deficiente auditivo, como por exemplo, salas acusticamente tratadas. Também
ficou clara a necessidade de uma comunicação maior entre professores e/ou
coordenadores e diretores e especialistas, o que, como vimos, pouco ocorreu
durante o estudo.
Nos casos aqui em foco, foi possível constatar, então, que as crianças
cujo envolvimento familiar garantiu a articulação entre escola, família e
fonoaudiólogo parecem ter sido favorecidas, apresentando melhores
possibilidades para enfrentar as dificuldades lingüísticas e de aprendizagem,
iniciando o processo escolar mais fortalecidas. De fato, essa articulação parece
ser determinante no estabelecimento de condições necessárias e suficientes para
que o deficiente auditivo se sinta apto para ir adiante, não só em termos de
socialização, mas também de apreensão de conhecimentos das mais diversas
áreas.
Do ponto de vista da clínica fonoaudiológica, entendemos que a prática de
adequar e organizar a criança para ser inserida na escola regular e, assim,
alcançar um sucesso dito satisfatório, necessita ser repensada; pois, dessa forma,
vamos continuar contribuindo para que as escolas não mudem como um todo,
esperando que os alunos se adaptem às suas exigências.
75
Mas como sair dessa realidade delineada por princípios ideológicos? É
possível? A criança com necessidades educativas especiais, mais
especificamente, o deficiente auditivo, precisa ter acesso a todos os instrumentos
e estratégias que respondam às suas necessidades peculiares: professores que
saibam identificá-la, equipe de profissionais que saiba como orientar professores e
familiares, acompanhando-os no processo de aprendizagem de seus alunos e
filhos. O problema, porém, não está apenas na escola, e a fonoaudiologia pode e
deve contribuir para essa transformação.
Uma inclusão baseada na co-responsabilidade entre as partes não poderá
existir, apenas, com movimentos particulares de uma delas. Rever concepções
não é uma atitude isolada ou individual. Nessa rede de cuidados, todos precisam
se comprometer. É preciso mergulhar nas bases da inclusão, analisar as
necessidades das crianças e adaptar projetos para que se tornem compatíveis
com as condições educacionais de cada uma delas. Só assim poderemos
transformar a realidade, em que muitos são chamados, mas poucos incluídos.
76
6- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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linguagem. In: Bevilacqua MC, Moret ALM. Deficiência auditiva:
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familiares e profissionais de saúde. São José dos Campos. Pulso, 2005. p
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9. Bevilacqua MC, Formigoni G. O desenvolvimento das habilidades
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2005.
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percepção de fala me crianças deficientes auditivas profundas a partir de
cinco anos de idade. In: Marchesan IQ, Zorzi JL, Gomes ICD, editores.
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sobre a escola. In: Bevilacqua MC, Moret ALM. Deficiência auditiva:
conversando com familiares e profissionais de saúde. São José dos
Campos. Pulso, 2005.
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14. Demo P. Pesquisa participante: saber pensar e intervir juntos. Brasília:
Líber Livro Editora, 2004.
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CEDES vol.19 n.46 Campinas. Setembro, 1998.
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educação inclusiva. Campinas, SP: Autores associados, 2004.
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educação inclusiva. São Paulo: Summus,2006
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multicanal e o contexto escolar. Dissertação de mestrado. PUC - SP, 2002.
19. Góes MCR. Desafios da inclusão de alunos especiais. A escolarização do
aprendiz e sua constituição como pessoa. In: Góes MCR de, Laplane ALF
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associados, 2004.
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aluno surdo no ensino regular: visão de um grupo de professores do estado
do Paraná. Rev. Bras. Ed. Esp., Marília, Set.-Dez. 2006, v.12, n.3, p.317-
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22. Lacerda CBF. A inclusão escolar de alunos surdos: o que dizem alunos,
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Brown;1979.
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conversando com familiares e profissionais de saúde. São José dos
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Janeiro, 2005.
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http://www.ed.gov/parents/needs/speced/iepguide/index.html
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http://www.ed.gov/parents/needs/speced/iepguide/index.html
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and Later-identified Children With Hearing Loss. Pediatrics. Vol 102. N°
5.Novembro,1998.p1161-117
ANEXOS
81
Anexo 1
Anexo 2
82
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
AO PARTICIPANTE DESTE ESTUDO
O Sr(a).___________________________________________ está sendo convidado(a) a participar
da pesquisa que se intitula O processo de inclusão de crianças com deficiência auditiva na
escola regular: vivências de professores.
O objetivo deste estudo é descrever e discutir a vivência de professores na inclusão de
crianças com deficiência auditiva na escola regular no município de Salvador-BA.
Caso aceite participar como sujeito desta pesquisa, o (a) Sr. (a) será submetido a uma
entrevista.
Não existem benefícios diretos para o sujeito deste estudo. Entretanto os resultados deste
estudo podem ajudar os pesquisadores a entender melhor a visão dos professores e pais sobre a inclusão de
crianças deficientes auditivas em escolas regulares e possivelmente contribuir em um futuro próximo para a
implementação de propostas de inclusão fundamentadas em dados obtidos na realidade da escola e do
professor.
Não existem riscos médicos ou desconfortos associados com este projeto.
Fica claro que sua participação é voluntária, não sendo obrigado a realizar a entrevista mesmo que já
tenha assinado o consentimento de participação. Se desejar, poderá retirar seu consentimento a qualquer
momento e isto não trará nenhum prejuízo.
A pesquisadora não pagará nenhum valor em dinheiro ou qualquer outro bem pela sua participação, assim
como o (a) Sr. (a) não terá nenhum custo adicional.
Os seus dados serão mantidos em sigilo. Serão analisados em conjunto com os de outros participantes e
não serão divulgados dados de nenhum participante isoladamente. O (a) Sr. (a) poderá esclarecer suas
dúvidas durante toda a pesquisa com a fonoaudióloga Noemi Vieira de Freitas Rios no endereço Rua
Castro Neves, nº 62. Apt° 501- Brotas ou pelo telefone (71) 32332899/ 9978-8806.
Eu, como pesquisador responsável, comprometo-me a utilizar os dados coletados somente para esta
pesquisa.
Acredito ter sido suficientemente informado (a) a respeito das informações que li ou que foram lidas por
mim, descrevendo
o processo de inclusão de crianças com deficiência auditiva na escola regular:
vivências de professores.
Eu discuti com a fonoaudióloga Noemi Rios sobre a minha decisão em participar do estudo. Ficaram claros
para mim quais são os propósitos do estudo, os procedimentos a serem realizados, desconfortos e riscos,
as garantias de confidencialidade e de esclarecimentos permanentes. Ficou claro também que minha
participação é isenta de despesas. Concordo voluntariamente em participar deste estudo e poderei retirar
o meu consentimento a qualquer momento, antes ou durante o mesmo, sem penalidades ou prejuízo.
83
____________________________________
Nome do professor
____________________________________ ____/____/______
Assinatura do professor Data
____________________________________ ____/____/______
Assinatura da testemunha Data
Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária o Consentimento Livre e Esclarecido deste professor
para a participação neste estudo.
____________________________________ ____/____/______
Assinatura do responsável pelo estudo Data
84
Anexo 3
CATEGORIAS DE LINGUAGEM
Bevilacqua MC, Delgado EMC, Moret ALM. Estudos de casos clínicos de
crianças do Centro Educacional do Deficiente Auditivo (CEDAU) do Hospital de
Pesquisa e Reabilitação de Lesões Lábio-Palatais- USP. In: Costa AO,
Bevilacqua,MCorganizadores. XI Encontro Internacional de Audiologia.
Anais:1996, 30 de março a 02 de abril , Bauru , Brasil. P.187.
CATEGORIA 1
Esta criança não fala e pode apresentar vocalizações indiferenciadas
CATEGORIA 2
Esta criança fala apenas palavras isoladas
CATEGORIA 3
Esta criança constrói frases de 2 a 3 palavras.
CATEGORIA 4
Esta criança constrói frases de 4 a 5 palavras, e inicia o uso de elementos
conectivos (pronomes, artigos, preposições).
CATEGORIA 5
Esta criança constrói frases de mais de 5 palavras, usando elementos
conectivos, conjugando verbos, usando plurais, etc. É uma criança fluente na
linguagem oral.
85
CATEGORIAS DE AUDIÇÃO
Geers AE. Techniques for assessing auditory speech perception and lipreading
enhancement in Young deaf children. The Volta Review, 1994; 96 (5)
(monografh):85-96
CATEGORIA 0- Não detecta a fala
Esta criança não detecta a fala em situações de conversação normal (limiar de
detecção de fala > 65 dB)
CATEGORIA 1 - Detecção
Esta criança detecta a presença do sinal de fala
CATEGORIA 2- Padrão de percepção
Esta criança diferencia palavras pelos traços suprasegmentais (duração,
tonicidade, etc.) Ex: dog x airplane, baby x bithday cake (mão x sapato; casa x
menino)
CATEGORIA 3- Iniciando a identificação de palavras.
Esta criança diferencia entre palavras em conjunto fechado com base na
informação fonética. Este padrão pode ser demonstrado com palavras que são
idênticas na duração, mas contem diferenças espectrais múltiplas . Ex: thooth
brush x hot dog, airplane x lunch Box ( geladeira x bicicleta, gato x casa)
86
CATEGORIA 4- identificação de palavras por meio do reconhecimento da
vogal.
Esta criança diferencia entre palavras em conjunto fechado que diferem
primordialmente no som da vogal. Ex: bird, boat, bike, bat ( pé, pó, pá, mão,
meu , mim)
CATEGORIA 5- Identificação de palavras por meio do reconhecimento da
consoante.
Esta criança diferencia entre palavras em conjunto fechado que tem o mesmo
som da vogal, mas contem diferentes consoantes. Ex: ( mão, pão, tão, cão,
chão)
CATEGORIA 6 – reconhecimento de palavras em conjunto aberto
Esta criança é capaz de ouvir palavras fora do contexto e extrair bastante
informação fonemica, e reconhecer a palavra exclusivamente por meio da
audição.
87
Anexo 4
ROTEIRO DE ENTREVISTA
Título do projeto: O processo de inclusão de crianças com deficiência
auditiva na escola regular: vivências de professores.
Entrevista N°__________________________
Local:
Escola:_________________________________________________________
Cidade e data: Salvador, ____/____/_______.
Início:______:______h. Término:_____:______h. ________
Duração em min.:____________________________________________
Entrevistador:_____________________________Assinatura:______________
Parte 1- Dados pessoais de identificação do entrevistado:
1)Nomecompleto:_________________________________________________
2)Endereço:_____________________________________________________
3) Sexo: ___________________________________________
4)Data de nascimento: _______/__________/________ Idade:_____________
5) Naturalidade: __________________________________________
6)Grau de escolaridade: ______________________________________
88
7) Tempo de formado: _____________________________________
8) Tempo que trabalha com educação infantil:___________________________
9) Experiência com aluno com aluno com deficiência auditiva em sala de aula:_
Se sim, quanto tempo?_____________________________
Como foi a experiência?____________________________________________
Tinha apoio da escola?_____________________________________________
Tinha apoio de fonoaudiólogos?_____________________________________
Parte 2- Dados da entrevista semidirigida de questões abertas (gravador
digital)
SOBRE A INCLUSÃO
Você conhece a proposta de inclusão tal como ela é prevista e regulamentada na
legislação?
Se nunca ouviu falar, não será sujeito.
Se sim: Como você tomou conhecimento? Por escrito? Palestra? Jornais?
(Se conhece bem/ se já ouviu falar/ tem conhecimento amplo, ou superficial ?)
O que você pensa sobre a proposta de inclusão? (Atitudes)
O que você espera da proposta de inclusão? (Expectativas)
SOBRE A CRIANÇA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA
89
Você já conheceu alguma criança com deficiência auditiva que falasse?
Como essa criança falava?
Ela era fluente?
Se nunca conheceu, você acha que é possível que crianças deficientes auditivas
sejam fluentes em português?
Essas crianças seriam capazes de acompanhar a escola regular?
Você conhece o trabalho do fonoaudiólogo? Se sim, conseguiria descrevê-lo?
Você acha que o fonoaudiólogo teria um papel a desempenhar na escola?
Protocolo de entrevista semidirigida adaptada a partir do modelo apresentado em
TURATO(2003).
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