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Por vezes são necessárias essas digressões para mostrar o contexto em que
emerge o Serviço Social, pois a profissão só se explica na história. Nesse sentido,
reportando-se a atuação da igreja católica, em especial no continente europeu, observa-se o
desenvolvimento de ações assistencialistas, de cunho caritativo, no atendimento às
necessidades materiais dos pobres, visando amenizar os efeitos da desigualdade social,
realizadas, sobretudo por meio de mulheres voluntárias. Essas ações promoviam a
assistência, mas, também, o controle e a repressão, para que a ordem social fosse mantida.
As atividades eram fortemente apoiadas nos princípios da igreja católica da época
77
e se
desenvolviam sob inspiração das virtudes teologais – fé, esperança e caridade – e dos
princípios emanados principalmente pelas encíclicas
78
Rerum novarum (1891) e
Quadragesimo anno (1931), por documentos posteriores e pela filosofia de São Tomás de
Aquino, o neotomismo
79
. Os fundamentos da tradição católica com base no neotomismo
fundamentavam os postulados e os princípios operacionais do Serviço Social
80
.
proteção aos trabalhadores eram desenvolvidas nas work houses – casas de internamento e as indoor relief –
a ajuda intramuros. Segundo o autor, uma ajuda de fato, o primeiro mínimo social, só foi arbitrado, no final
do século XVIII (1795), quando os juízes ingleses, diante da fome na cidade de Spenhamland, calcularam o
valor diário do mínimo social tendo como referência o preço do pão. Assim, os pobres recebiam, por dia,
uma quantia equivalente ao preço do pão.
77
Em pesquisa documental nos trabalhos de conclusão do curso (TCCs) dos primeiros estudantes do Curso
de Serviço Social da Escola de Goiânia, encontra-se já no epígrafe de um dos TCCs que relata a experiência
do estágio na área da saúde, a confirmação e o exemplo da tendência da igreja por meio da caridade, externar
o amor ao próximo. Diz a epígrafe, “A medicina, como o Serviço Social é a ciência do ‘próximo é a arte do
‘próximo’ é a religião do ‘próximo’” (PAES, 1960).
78
A encíclica Rerum Novarum, publicada em 1891, por Leão XIII, trata de direitos e responsabilidades do
capital e do trabalho. Descreve a função do governo e defende o direito dos trabalhadores à organização de
associações. Conforme Ferreira et al. (1983, p.21) “os assistentes sociais declararam o Dia do Assistente
Social no país, escolhendo a data da Rerum Novarum que é, [...] a carta do trabalhador, a carta magna do
operariado. Isto mostra a harmonia que existe, mostra a influência da Igreja”. A Quadragésimo Anno, de
1931, publicada por Pio IX, trata da ordem social, os efeitos da cobiça e da concentração do poder
econômico; clama pela justa distribuição da riqueza; defende o direito à propriedade; declara a finalidade
social da propriedade e o seu papel na promoção da harmonia entre as classes sociais (Encíclicas sociais,
http://pensocris.vilabol.uol.com.br/enciclicas.htm); acesso em 29 de nov de 2006). A encíclica Quadragésimo
Anno, difere-se das demais por apontar caminhos para a solução da chamada questão social, buscando a
humanização nas relações sociais de trabalho, justamente quando o modo de produção capitalista, apoiado na
industrialização, assumia novas dimensões, cada vez mais perversas, acentuando a má distribuição de renda e
a exploração da força de trabalho, concorrendo para o crescimento da situação de pobreza e miséria que
reinava na Europa, mais especificamente da Inglaterra (Encíclicas sociais,
http://pensocris.vilabol.uol.com.br/enciclicas.htm); acesso em 29 de nov de 2006).
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O neotomismo significa a retomada no século XX da filosofia de Santo Tomás de Aquino do século XII.
Sua presença é marcante nas primeiras décadas do século XX, com sua doutrina que analisa o homem como
um ser individual “composto de duas substâncias incompletas: a alma e o corpo. A união dessas duas
substâncias numa substância única [...] nos dá o ser humano” (AGUIAR, 1984, p. 41 - 42). Fundamenta-se,
ainda, o neotomismo nas “leis que dirigem a comunidade ao bem-comum: a lei natural, a lei humana e a lei
divina. [Na relação Estado e igreja, o] Estado deve respeitar a Igreja. Assim não existe conflito entre fé e