Saber e poder se implicam mutuamente: não há relação de poder sem constituição de
um campo de saber, como também, reciprocamente, todo saber constitui novas
relações de poder. Todo ponto de exercício do poder é ao mesmo tempo um lugar de
formação de saber.
Assim, a relação professor-aluno é tipicamente assimétrica: o professor controla o
discurso e, portanto, detém o poder (Moita Lopes, 1996). Ele é, segundo Vigotsky (Rego, 1995),
o par mais competente, o elemento que possibilita a construção do conhecimento. O aluno é um
elemento que não tem o conhecimento e, por isso, não detém o poder. Moita Lopes (2002) afirma
o seguinte sobre a questão da relação assimétrica entre professor e aluno:
Na sala de aula (...) o desenvolvimento de conhecimento comum não é uma atividade
simples para alunos e professores. A dificuldade está, principalmente, calcada na
relação assimétrica entre o aluno e o professor, que atua como empecilho para o que
Bruner (1983) chama de handover, ou seja, o ponto em que o adulto, isto é, o
professor, passa a competência para o aluno. O ato de passar a competência para o
aluno implica, portanto, que o professor é o possuidor de um conhecimento que o
aluno não tem, e isto os envolve em uma relação de poder, que é extremamente
importante para a compreensão de como o conhecimento comum é criado na sala de
aula através da interação entre aluno e professor.
Alice Maria da Fonseca Freire (Cox; Assis-Peterson, 2003) reforça essa idéia com a
seguinte afirmação:
(...) o discurso da sala de aula é caracterizado pela seqüência Iniciação, Resposta,
Avaliação, cabendo ao professor o primeiro e o terceiro movimentos, e ao aluno,
apenas o segundo. Uma análise rápida da afirmação acima demonstra que a
distribuição do poder não é equilibrada nessa interação: o professor não só tem
direito a mais turnos, como também a ele cabe iniciar a seqüência e avaliá-la. Aos
alunos cabe apenas responder. Portanto, não se trata apenas de uma questão
quantitativa, mas também qualitativa: a questão não se esgota em uma análise de
quem fez mais uso da palavra, mas para que a palavra é usada. Essa análise se aplica
praticamente a todas as salas de aula, mas, no caso da sala de aula de língua
estrangeira, há um fator complicador, uma vez que o aluno é chamado a participar da