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HUMBERTO MASSAHIRO NANAKA
O JOVEM BRASILEIRO DE CLASSE MÉDIA E A SÉRIE
MALHAÇÃO: JUVENTUDE, CULTURA E
MODERNIDADE
Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT
Instituto de Linguagens – IL
Cuiabá
2007
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ii
HUMBERTO MASSAHIRO NANAKA
O JOVEM BRASILEIRO DE CLASSE MÉDIA E A SÉRIE
MALHAÇÃO: JUVENTUDE, CULTURA E
MODERNIDADE
Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Estudos de
Linguagem do Instituto de Linguagens da Universidade Federal
de Mato Grosso, como requisito parcial para obtenção dotulo de
Mestre em Estudos de Linguagem.
Área de Concentração: Estudos Literários e Culturais
Orientadora: Profa. Dra. Sirlei Aparecida Silveira
Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT
Instituto de Linguagens – IL
Cuiabá
2007
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iii
FOLHA DE APROVAÇÃO
iv
DEDICATÓRIA
A Haruo, Marli, Tieko, Mário, Tetuo e Batiã
v
AGRADECIMENTOS
Aos Professores do Mestrado em Estudos de Linguagens.
Às contribuições da banca examinadora.
Ao professor Marcos Napolitano pela indicação do livro A síncope das idéias.
Aos colegas de mestrado 2004 e 2005, pelo apoio na seletiva.
Ao Aldo, Tereza, Lucinéia, Neto, Pedro Henrique, João Paulo, Danilo, Mauricio,
Paula, Carol, Rami, Sílvia, Camila e Janaína Capobianco.
A UFMT, UNIVAG, UNEMAT, UNICEN, Ideal, Escola 13 de Maio e ao Diário
da Serra.
Ao Márcio e ao Luiz, da banca de livros da UFMT.
A todos os jovens que contribuíram para a elaboração desta Dissertação de
Mestrado.
vi
A relativa desvinculação do jovem em face da ordem estabelecida é um
aspecto útil à compreensão da produção do comportamento radical na
juventude.
Octavio Ianni
vii
RESUMO
NANAKA, Humberto Massahiro.
O jovem brasileiro de classe média e a série
Malhação: juventude, cultura e modernidade.
O
objetivo deste trabalho é o estudo da juventude brasileira, sob a perspectiva da série
Malhação, exibida pela Rede Globo de televisão. Com base na Escola de Frankfurt e os
pressupostos dos autores Horkheimer e Adorno, será enfocada a crítica ao consumo
entre os jovens e a transformação da cultura em mercadoria. Nesse pressuposto, serão
analisados os capítulos da série em epígrafe para a discussão do paradigma do jovem
moderno.
Palavras – Chaves: Juventude, cultura e modernidade.
viii
ABSTRACT
The objective of this work is the study on the youth brazilian, under the perspective of
the series Malhação, exhibited by the net television Globo. With base in the School of
Frankfurt and the theoretical presupposition of the authors Horkheimer and Adorno, the
critic will be focused to the consumption between the youths and the transformation of
the culture in merchandise. In that presupposition, the chapters of the series will be
analyzed in epigraph for the discussion of the modern youth’s paradigm.
Key - words: Youth, culture and Modernity.
ix
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
UFMT: Universidade Federal de Mato Grosso
IL: Instituto de Linguagens
MeEL: Mestrado em Estudos de Linguagens
UNEMAT: Universidade do Estado de Mato Grosso
UNICEN: União das Faculdades do Médio Norte
IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
CD: Disco Compacto
DVD: Digital Versatile Disc. Contém informações digitais, tendo uma maior
capacidade de armazenamento que o CD áudio ou CD-ROM, devido a uma tecnologia
óptica superior, além de padrões melhorados de compressão de dados.
MSN: Microsoft Service Network é um programa da mensagens instantâneas criado pela
Microsoft Corporation. O programa permite que um usuário da Internet se comunique
com outro que tenha o mesmo programa em tempo real, podendo ter uma lista de
amigos "virtuais" e acompanhar quando eles entram e saem da rede.
UNICAMP: Universidade Estadual de Campinas
PUC: Pontifícia Universidade Católica
UFRJ: Universidade Federal do Rio de Janeiro
LP: Disco de Vinil ou Long Play
TV: Televisão
SBT: Sistema Brasileiro de Televisão
http//: Protocolo de Transferência de Hipertexto
EUA: Estados Unidos da América
URSS: União Soviética, atual Rússia.
FM: Freqüência Modulada
AIDS: Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
HIV: vírus da imunodeficiência humana
Mp4: MPEG-4 Part 14Um padrão de container de áudio e deo que é parte da
especificação MPEG-4. A extensão oficial do nome do arquivo é mp4, por isso é
comum vermos o formato ser chamado assim.
IPOD: refere-se a uma série de players de áudio digital projetados e vendidos pela
Apple Inc.
x
DJ: disc jockey é um artista profissional que seleciona e roda as mais diferentes
composições previamente gravadas para um determinado público alvo, trabalhando seu
conteúdo e diversificando seu trabalho em pistas de dança de bailes, clubes, boates e
danceterias.
DC: Distrito de Columbia
MPB: Música Popular Brasileira
MTV: Music Television
ME: Múltipla Escolha
FURRECAS: Fundo contra Armações da República
IPPH: Instituto da População e da Saúde Pública
ENEM: Exame Nacional do Ensino Médio
PROUNI: Programa Universidade para Todos
VIP: Pessoa Muito Importante
BV: Boca Virgem
TATU: "Тату" , expressão russa que significa "essa ama aquela"
USP: Universidade de São Paulo
PCC: Primeiro Comando da Capital
FINEP:
Financiadora de Estudos e Projetos do Ministério de Ciência e Tecnologia.
PROJAC: Centro de Produção da TV Globo em Jacarepaguá-RJ.
MIT: Instituto Tecnológico de Massachusetts
MC: Mestre de cerimônia, denominação para cantores de funk.
JK: Juscelino Kubitschek
CPC: Centro Popular de Cultura
UNE: União Nacional dos Estudantes
xi
SUMÁRIO
Dedicatória.......................................................................................................................iv
Agradecimentos................................................................................................................v
Epígrafe............................................................................................................................vi
Resumo............................................................................................................................vii
Abstract..........................................................................................................................viii
Lista de abreviatura e siglas.............................................................................................ix
INTRODUÇÃO...............................................................................................................1
CAPÍTULO 1 – A LITERATURA SOBRE JOVENS
Juventude e Sociedade Moderna............................................................................5
O conceito de Jovem Radical.................................................................................7
Rita Pavone, o mito geracional............................................................................12
O adolescente e a Cultura de Massa....................................................................14
Os jovens “Carecas do subúrbio........................................................................20
O papel da televisão na adolescência...................................................................24
CAPÍTULO 2 – HISTÓRIA DA SÉRIE MALHAÇÃO
A música popular brasileira: engajamento potico e indústria cultural..............27
Um diálogo entre a juventude e a contracultura..................................................32
Juventude e televisão: História do programa Malhação e a articulação com os
programas que antecederam a série.....................................................................34
O jovem e o consumo: lazer e entretenimento....................................................43
A ‘república de Malhação’ e o espaço estudantil...............................................56
CAPÍTULO 3 – ANÁLISE DAS CENAS EM MALHAÇÃO E A SUA RELAÇÃO
COM O TEMA JUVENTUDE
Juventude e público.............................................................................................62
Comportamento juvenil.......................................................................................66
Juventude, moda e beleza: O adeus ao corpo.....................................................78
O jovem e a ética.................................................................................................82
O jovem e a política.............................................................................................84
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................90
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................93
ANEXOS.......................................................................................................................100
INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como objetivo o estudo da juventude
1
, especificamente
o jovem brasileiro de classe média na série de televisão Malhação, da Rede Globo.
Um levantamento inicial foi realizado sobre a literatura e autores que
desenvolveram estudos sobre o jovem, a sua construção enquanto cultura e seu
desenvolvimento na sociedade moderna. Dentre esses autores temos Karl Mannheim,
Octavio Ianni, Umberto Eco e Edgar Morin.
A discussão sobre o tema juventude nasce de algumas inquietações, como a
situação do jovem na sociedade brasileira contemporânea. O jovem vive uma
contradição: eles são vistos como semelhantes ao acompanhar modas e tendências e, por
outro lado cultivam um estilo próprio formando grupos ou tribos aparentemente
distintos, conforme estudaremos adiante.
A padronização dos jovens ocorre a partir da perspectiva de Malhação? Os
jovens querem (ou podem) usar as mesmas marcas de roupas, ouvir os mesmos estilos
musicais e utilizar produtos similares direcionados ao seu consumo?
Qual linguagem a mídia utiliza para se comunicar com o jovem moderno? A
partir dessa premissa passaríamos a discutir sobre o elemento que une o consumo e
esses jovens.
Através da respectiva série, que espaço passa a ser reproduzido no cotidiano
desses jovens? Que jovem é esse? A possibilidade de refletir sobre a prática cotidiana
do jovem brasileiro a partir da série em estudo seria viável para sua compreensão?
O contato com a juventude tem sido uma constante, seja nas aulas de catequese
as quais atuei junto à igreja católica local a partir de 1997, ou enquanto professor de
Língua Portuguesa e literatura em escolas públicas de ensino fundamental e médio.
A presença de jovens estudantes acompanha esta dissertação. Com freqüência,
ouço comentários e apoio de amigos adolescentes e ex-alunos, dialogando a respeito
desta pesquisa que envolve parte de seus sonhos, indagações e (des) preocupações.
O programa Malhação chegava ao capítulo de número 2.416, com dez anos no
ar até o início desta pesquisa, em janeiro de 2005. Mais de 223 atores já passaram pelo
1
O Grupo de Pesquisa sobre os jovens de classe dia orientado pela Drª. Maria A. Morgado, no
Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso-UFMT, revela um
país de muitos jovens. De acordo com o censo realizado no ano de 2000 pelo IBGE Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística, os jovens entre 15 e 24 anos representam mais de 32 milhões de brasileiros.
2
elenco da série. Atualmente a série contabiliza doze anos formando gerações de jovens
em todo o país.
A terminologia ‘série’ é empregada para definir o formato de Malhação, devido
a sua particularidade em relação às demais telenovelas. Ela se aproxima das séries
norte-americanas soap opera, cujo final do programa é temporalmente indefinido. No
caso das telenovelas brasileiras, a duração média raramente ultrapassa oito meses e fica
em torno de aproximadamente cento e oitenta capítulos.
As soap opera (Ortiz, Ramos e Borelli, 1991) constituem uma espécie de
telenovela produzida nos Estados Unidos a partir de 1934, no intuito de promover e
divulgar produtos como Protecter and Gamble, Colgate-Palmolive e Lever Brothers
junto às donas de casa. Essas multinacionais estão presentes nas prateleiras de
supermercados, farmácias e lojas de conveniências na forma de sabonetes, xampus,
detergentes, pasta dental e sabão em.
Malhação é um programa da TV Globo destinado ao público jovem que não
tem férias ou intervalos, no ar de segunda a sexta feira entre as 17h30min às 18h00min.
A série foi exportada para países como Cabo Verde, Chile, Eslovênia, Indonésia,
Moçambique, Paraguai, Polônia, Portugal, Rússia, Venezuela e Japão.
Em 2003, a série obteve 29 pontos de audiência e 58% de share, que identifica a
porcentagem de aparelhos televisivos ligados a Rede Globo no horário do programa. No
ano seguinte, o índice sobre para 34 pontos de audiência, aumentando os níveis de share
em 8%, o que equivale à cerca e vinte e um milhões de telespectadores. Conforme
dados da TV Globo, é a maior audiência desde seu início, em abril de 1995. Em
momentos de pico, Malhação alcançou 42 pontos em 2004, superando as demais
telenovelas Globais.
Os números apontados nesta pesquisa terão como fonte o Dicionário da TV
Globo, volume 1: Programas de dramaturgias & entretenimento, um projeto
“Memórias das Organizações Globo”.
Durante a pesquisa foram assistidos 39 Dvds contendo três ou quatro capítulos
da série em cada unidade, totalizando aproximados 120 capítulos. Entre março e junho
de 2006 foram contempladas ainda vídeos da temporada 2004 através do site
www.malhacao.globo.com. Desde o início da série, quando se tinha o lócus de
Malhação voltado para a academia de ginástica até a temporada atual, acompanhava
com certa freqüência os capítulos e personagens da série.
3
As discussões sobre a contracultura e a juventude nos anos 1960 a 80, tiveram a
contribuição da pesquisa de Márcia R. da Costa (2000) com os grupos de jovens de São
Paulo denominados Carecas do subúrbio.
As entrevistas que seguem no terceiro capítulo deste estudo o compreendem
os estudos de recepção, conforme trabalhou Maria I. M. Alves (2000) em sua tese de
doutorado sobre O adolescente e a TV: O caso da telenovela Malhação.
As respectivas entrevistas compõem mais um quadro qualitativo reforçando e
embasando as idéias decorrentes desta pesquisa, debruçado sobre o estudo do jovem
brasileiro. Algumas delas foram feitas através do recurso digital MSN Messenger
2
tendo
em vista os jovens do interior do Paraná e São Paulo, devido à distância, entre outras
razões. As opiniões dos jovens foram transcritas na íntegra, sem correção ortográfica,
preservando-se assim os aspectos originais bem como a sua autenticidade. O critério
utilizado para a seleção dos entrevistados levou em consideração a proximidade e
assiduidade com que eles assistem e acompanham a série Malhação, ou simplesmente
repudiam a série.
Na perspectiva dos computadores e da comunicação virtual foram pesquisadas
algumas formas de comunidades, como é o caso do orkut, relacionadas aos jovens que
acompanham o programa em análise.
No período de 03 a 08 de abril de 2006, convivi em meio a uma república de
estudantes com acadêmicos da UFMT - Universidade Federal de Mato Grosso, campus
de Cuiabá. Fora uma experiência singular, e de enorme contribuição uma vez que
pesquisaria sobre a ‘república de Malhação’.
Num terceiro momento será feita uma análise sobre três Dvds, contendo
aproximadamente nove capítulos da série gravados entre março e abril de 2006,
incluindo as propagandas presentes no intervalo da série.
Para discutir as categorias de análise do terceiro capítulo envolvendo a cultura
jovem e a série em questão, será utilizado o conceito de ‘ideologia’ desenvolvido por
John B. Thompson (1995). Para aprofundar a perspectiva do corpo na sociedade
moderna teremos a contribuição do antropólogo francês David Le Breton (2007).
2
O MSN Messenger é hoje o programa de bate-papo instantâneo mais popular da Internet. Ele permite
conversar em tempo real com seus amigos, familiares e colegas e, através de uma webcam, transmite sua
imagem, mostrando seu rosto para as pessoas com quem você conversa. Se essa pessoa também possuir
uma webcam será possível vê-la e manter conversas com imagem e som. Com um microfone e caixas de
som, a experiência também fica próxima do real, possibilitando uma interação parecida com a de uma
conversa telefônica. E mesmo se seu contato não estiver com um computador, o Messenger da Microsoft
possibilita enviar e receber mensagens de texto de celular com a tecnologia SMS.
4
Serão transcritas algumas discussões das personagens, com base no referido
material midiático, enfatizando os temas da série e sua relação com a juventude.
O debate a respeito da condição potica do jovem será constrdo a partir do
diálogo verificado entre os capítulos de Malhação (Dvds I, II e III), confrontados com
as opiniões de jovens alunos em palestra realizada nas escolas blicas e privadas
locais, sobre o tema Malhação e juventude atual, comprovadas através dos certificados
em anexo.
O embasamento para análise da presente dissertação te como sustentação
teórica a Escola de Frankfurt e os pressupostos de seus autores. Historicamente, a escola
surge na Alemanha, em 1824, sob o nome de Instituto de Pesquisa de Frankfurt. Sua
produção científica através da Revista da Escola de Frankfurt, fora criada por
Horkheimer e Adorno, e posteriormente, Walter Benjamim e Habermas deram
continuidade às pesquisas.
Os precursores da Escola de Frankfurt encontravam-se em uma Alemanha
permeada pelo nazi-fascismo e, seus estudos surgem como uma tentativa de contestação
ao modelo vigente no país. Nesse período era arriscado um debate envolvendo
discussões culturais críticos, devido à censura imposta pelo regime.
Em 1933, Horkheimer e Adorno migravam-se para Genebra na Suíça
perseguidos pelo regime autoritário de seu país. Esses teóricos conviveriam com o
drama da perseguição do nazismo mesmo fora do território alemão. Após Genebra, os
frankfurtianos deslocam-se para os Estados Unidos, contribuindo com seu pensamento
voltado para a teoria crítica da sociedade, já com a Indústria Cultural a todo vapor.
As considerações finais buscarão uma reflexão entre a literatura sobre os jovens
apresentada no primeiro capítulo, o histórico de Malhação envolvendo um debate entre
juventude, música e a contracultura no país, além da análise dos capítulos da série
dialogando com a perspectiva da juventude na sociedade contemporânea.
5
CAPÍTULO 1 – UMA LITERATURA SOBRE JOVENS
JUVENTUDE E SOCIEDADE MODERNA
Karl Mannheim discute o problema da juventude e a sociedade, em Sociologia
da Juventude I, buscando um significado para a mocidade na sociedade moderna. O
autor tenta responder uma questão: em que aspecto a juventude pode contribuir para a
sociedade? Para responder a essa pergunta, o autor reflete sobre “qual contribuiçãoa
sociedade espera dessa juventude.
O autor analisa a cultura reservada à juventude moderna, e revela que a antiga
educação autoritária demonstrou ser insuficiente para atender às necessidades vitais e
psicológicas na formação dos jovens.
Por outro lado, o liberalismo perturbou um equilíbrio entre o jovem e a
sociedade. O liberalismo ao focalizar sua atenção no indivíduo peca ao negligenciar o
elemento social, quer seja a sociedade, e a possibilidade de contribuição oferecida pelo
jovem e seu elemento renovador (Mannheim, 1968).
A juventude não detém um significado unitário na sociedade. Na antiga China,
as pessoas mais velhas desfrutavam de certo prestígio refletido em sua experiência e
sabedoria que era limitado entre os mais moços.
Em contrapartida, nos Estados Unidos, aos quarenta anos um homem é tido
como velho para trabalhar nas empresas. Ao estender o antagonismo atribuído ao valor
do jovem nas sociedades descrito por Mannheim, pode-se perceber que a essas
empresas interessam somente os mais jovens por elementos que variam desde a
produtividade até a menor quantidade de regalias atribuída aos novatos.
O autor cinde a sociedade enquanto estática, aquela que se desenvolve
gradativamente e, consequentemente a taxa de mudança é relativamente baixa. Nesse
tipo de sociedade se valoriza a experiência dos mais velhos. De modo que, nesse caso a
educação se volta para a transferência da tradição. A reserva vital da juventude será
negligenciada, uma vez que inexiste a vontade de romper com as tradições
consolidadas.
A sociedade dinâmica busca novas saídas e aceita a cooperação da mocidade
abrandando a limitação imposta aos mais jovens, ao contrário da sociedade estática.
Entretanto, nas duas espécies de sociedade, se houver o interesse por uma nova
saída, esta será feita por intermédio da juventude, esclarece o autor.
6
As gerações intermediárias, assim como as mais velhas poderão apenas prever as
novas diretrizes. A vida nova poderá ser desfrutada pelas gerações mais moças.
Partindo dessa premissa, Mannheim aponta a função da mocidade enquanto agente
revitalizador da sociedade moderna.
Uma vez aceitando a juventude enquanto agente revitalizador da vida social cabe
indicar, qual elemento da adolescência que mobilizado poderá contribuir para oferecer a
sociedade uma nova saída.
Segundo o autor, a Psicologia e a Sociologia Moderna do adolescente puderam
demonstrar que o elemento para a compreensão da mentalidade da juventude moderna
o está apenas na efervescência biológica. Na juventude moderna existe um conflito
em decorrência das normas ensinadas pela família e, a que predomina no mundo dos
adultos. O fator relevante para Mannheim, reside na percepção de que a juventude
começa a adentrar um universo nos quais elementos comobitos, costumes, sistemas e
valores são diferentes do que conhecera até então. Nesse hiato reside a possibilidade de
a juventude realizar mudanças.
A juventude não é progressista, tampouco conservadora por natureza
(Mannheim, 1968). Enquanto criaa, o seio da família regulará as tradições emocionais
e intelectuais predominantes. Na fase da adolescência um contato com a
vizinhança, comunidades, escolas. A mocidade ainda não possui cristalizada em seu
íntimo, valorações de aspecto econômico, culturais e sociais que nos adultos está
cristalizada.
Um elemento importante da mocidade reside no fato de ela ainda não estar
totalmente inserida no status quo vigente, quer seja no sistema capitalista. Segundo
Mannheim, o jovem ainda o se encontra identificado em sua totalidade diante dos
valores culturais impostos ao mundo adulto, o que auxilia na compreensão de muitos se
constitrem enquanto ardorosos revolucionários ou reformadores no ápice da
juventude. Mas uma vez instaladas num emprego ou constituindo sua família, o jovem
passa para a defensiva e a interceder a favor do status quo.
Para a sociologia, ser jovem significa ser um homem à margem da sociedade, em
muitos aspectos. A esse fato, o autor denomina potencialidade:
Evidentemente essa situação de elemento estranho é somente uma
potencialidade e, como eu disse, depende em grande parte das
influências orientadoras e diretoras vindas de fora saber se essa
7
potencialidade será suprimida ou se será mobilizada e integrada num
movimento (Mannheim, 1968:76).
A juventude é parte importante do que o autor denomina “reserva latente” e,
dependerá da capacidade da estrutura social mobilizá-las e integrá-las em uma função.
Karl Mannheim percebe que o elemento que torna o jovem indispensável para a
formação de uma nova sociedade é a sua ‘não’ alienação. É importante que a mocidade
o aceite a ordem ecomica vigente enquanto natural e possa compreender as
contradições existentes na sociedade em que vive. Procuraremos verificar se isso ocorre
entre os jovens pesquisados em Malhação.
O CONCEITO DE JOVEM RADICAL
O sociólogo brasileiro Octavio Ianni desenvolveu o conceito de “jovem radical”
em Sociologia da Juventude I.
O autor adianta que o objeto de estudo para a segmentação do conceito em
epígrafe, tem como cerne o jovem da classe média. O comportamento do jovem
proletário oferece elementos para uma sociologia das gerações e dos movimentos
sociais. Entretanto, um estudo tendo em vista a situação proletária exigiria uma análise
especial, justifica o autor.
A história do regime capitalista exibe uma participação considevel na
formação da juventude no que concerne a questões de ordem potica (Ianni, 1968).
O exame de determinadas focalizações como o exemplo de Mannheim, tem a
finalidade de ressaltar a natureza essencial de um fenômeno singular, no caso o da
juventude e da sociedade moderna. O que para sua interpretação, exigiria uma prévia
compreensão da história e estrutura de uma determinada sociedade, complementa Ianni.
O autor procura interpretar as ações dos chamados ‘inconformados’ quando
desenvolve o conceito do Jovem Radical. Os jovens insurgem-se nos conflitos quando
seu comportamento bate de frente ao de seus pais, ou professores, ensejando formas de
condutas que variam da delinqüência, beatitude ou radicalismo potico.
Em consonância à teoria de S. N. Eisenstadt, no qual corrobora Mannheim, as
divergências entre gerações de pessoas têm como pano de fundo as inadequações entre a
família e o sistema social. Octavio Ianni comenta a respeito dos fatores que
desencadeiam essa crise de (des) ajustamento na vida do jovem:
8
A guerra ou convulsões sociais, o trabalho dos pais fora do lar, a
mobilidade social, a sub-cultura delinqüente, a atração exercida pelas
ideologias partidárias ou religiosas, as contradições entre os valores
correntes nos grupos primários e aquele dos grupos secundários, as
mudaas sociais repentinas, a discriminação racial (Ianni, 1968: 227).
A existência de um conjunto de normas do sistema social harmônicos com os
valores da família e, a consolidação dessas identificações culturais na formação do
jovem ocorre em um processo lento. Sendo assim, o jovem recebe no seio da unidade
familiar um conjunto de noções de comportamento que poderão se realizar no plano da
sociedade adulta. Entretanto, quando os princípios que integram a estrutura social
divergem daqueles que regulam a família, essa transferência de identificações torna-se
impossível na vida do jovem.
Segundo Octavio Ianni, o ‘radicalismo potico’ da juventude não se resume a
uma fase transitória. O inconformismo juvenil é:
Um produto possível do modo pelo qual a pessoa globaliza a situação
social. No momento em que inicia o ingresso na sociedade ampla, o
jovem descortina condições e possibilidades de existência que o tornam
consciente tanto das condições reais como das emergentes (Idem, 1968:
228).
A percepção das condições e possibilidades de existência permite ao jovem
exprimir certa relação de negatividade com o presente. É o que a sociedade adulta
percebe enquanto um comportamento radical do jovem. Quando o jovem pretende atuar
de modo diverso ao já estabelecido por essa sociedade de adultos é denunciado como
um desvio ou transgressão da juventude.
O que Octavio Ianni compreende enquanto ‘radicalismo potico’, diz respeito:
A uma manifestação de um tipo peculiar de consciência social, isto é,
histórica, desenvolvida pelo jovem em condões determinadas;
exprime a apreensão pela consciência, dos primeiros sintomas da
própria alienação, que se manifesta no próprio lar. No interior da
família, onde se organiza e se condensa a práxis dos primeiros anos da
vida da pessoa, exprimem-se as evidências iniciais de contradições
insuporveis. Quando o imaturo apreende intelectualmente as
contradições entre os valores que lhe são incutidos e o comportamento
efetivo dos que os preconizam, eno se dá o primeiro choque criador
(1968: 230).
9
O jovem descobre através da consciência desse radicalismo potico que o
sistema no qual está inserido contém inconsistências reprováveis, e outras até mesmo
inaceitáveis. Os valores culturais preservados no seio familiar projetam um universo
na mente do jovem, e ele sentirá mais ou menos atingido pelas contradições na
proporção de sua integração àqueles valores.
A camada conservadora capitalista costuma repetir que a juventude deveria se
preparar com afinco para assumir as responsabilidades no futuro. Para essa camada
conservadora, é necessário que o jovem esteja integrado a questões de fundo potico,
desde que inseridos dentro dos ideais dominantes, claramente interessados em preservar
a conjuntura vigente. A juventude passa a ser preparada para realizar o que os adultos
o conseguiram concretizar (Ianni, 1968).
A partir de então, o jovem passa a sofrer as influências dos adultos no sentido de
se conformar com a atual estrutura de dominão. A sociedade global possui
mecanismos psico-sociais excepcionais para interferir na integração do jovem. São
modelos que prezam a formação de indivíduos a imagem e semelhança do mundo
adulto. Para esse intento o oferecidos paradigmas com personalidades padrão, mas
sempre ajustados a ordem vigente (Idem).
O detalhe é que a sociedade capitalista não está em condições de eliminar as
suas contradições internas a partir da sua preservação.
Octavio Ianni parte de uma sensível crítica a Karl Mannheim, no qual o
elemento fundamental da juventude reside no fato do jovem ‘entrar de fora’ nos
conflitos da sociedade moderna. Para Ianni, trata-se de um elemento de interesse
parcial:
Seria como se estivéssemos admitindo que houvesse, como componente
a - histórico do sistema social, uma propriedade inovadora nas gerações,
independentemente das condições reais, dadas por determinadas
configurações estruturais. Na verdade, todos os homens possuem
faculdades criadoras, pois que o trabalho humano e por natureza uma
atividade que enriquece o próprio homem e a sociedade modificando-
os. O que torna esse trabalho mais ou menos original, revolucionário ou
não, o as condições estruturais de sua realização e os significados que
os próprios agentes discernem ao realizá-lo (1968: 232-3).
Ao atribuir a juventude um valor nodal enquanto elemento que entra de fora nos
conflitos da sociedade moderna, Mannheim estaria deixando de lado todo um processo
de construção histórico social.
10
É no seio da família que se organiza a formação de uma consciência da
construção contradiria da sociedade. Ao entrar em contato com teoria, idéias, escola,
grupos de amigos reunidos em torno de interesse intelectual, atividades lúdicas e no
trabalho, o jovem é lançado em áreas de fricção que revelam ou acentuam essa
contradição verificada na situação social vivida.
A juventude compreende um período na vida do indivíduo em que há lera e
anstia suficientes para tentar novos empreendimentos. na juventude um traço de
pureza suficiente - talvez por desconhecer os desígnios da vida
3
- para vencer. Esse
inconformismo é perceptível à medida que a sociedade não absorve os valores das
gerações seguintes. Os desempregos existentes já não revelam um caráter acidental, mas
de um trágico e certo destino.
Aos adultos restava o consolo de possuir uma colocação, um emprego, uma
perspectiva de futuro. O salário por mais modesto que seja, induz o adulto à resignação.
Aos adultos restava o que perder. Ao jovem radical não.
O conceito de ‘revolucionário’ para o autor ganha contornos:
Somente quando o indivíduo apreende intelectualmente a condição de
trabalhador alienado é que se cria o revolucionário. No instante em que
a consciência das contradições inerentes à situação se estrutura, o jovem
passa a canalizar politicamente a sua ação, transformando-se em agente
dinâmico da história. E assim, paulatinamente, o indivíduo vai
compreendendo que o sentido próprio da vida consiste na participação
consciente na realização histórica (Ianni, 1968: 236).
É a essência do proletariado que fornece aos membros de classes distintas as
variáveis que permite compreender as condições e tendências da existência social. Esse
processo se verifica entre as sociedades capitalistas, tanto estruturadas como as em
formação.
O autor comenta que as existências do radicalismo de esquerda e de direita estão
presentes na história das nações capitalistas. Na Alemanha s 1920 e a nese do
nazismo, o nacional socialismo foi gradativamente canalizando jovens sem esperança
ante as realizações dos adultos e incertos quanto ao futuro. De modo que para muitos
jovens alemães, somente o renascimento alemão apresentado pelo Fuhrer carismático
(Adolf Hitler) poderia salvar os jovens, transformando boa parte da juventude alemã em
3
Grifo nosso.
11
líderes e agitadores. Mas neste caso específico tivemos um exemplo de radicalismo
jovem de direita com conseqüências desastrosas para si mesmas.
O jovem radical, na concepção de Ianni, é um produto natural do próprio sistema
que o cerca. E esse radicalismo se apresenta no momento em que o jovem percebe que
seu comportamento é censurado, tolhido e deformado através das instituições presentes
como o caso de escolas, clubes, local de trabalho, etc.
Por isso o indivíduo muitas vezes é paulatinamente levado a ajustar-se
aos padrões e normas vigentes, desenvolvendo atitudes e opiniões
políticas adequadas às necessidades da sua nova situação. A mobilidade
social e o funcionamento dos mecanismos de controle social,
particularmente os de repressão drástica e sistemática de atuação
revolucionariam, produzem a reorganização do comportamento humano
em outras bases, orientando-o para ideais consentâneos com a
configuração presente da sociedade (Ianni, 1968: 239).
O fato de parte da juventude não se conscientizar e perceber as contradições
existentes no sistema social advém dos mecanismos de controle da sociedade adulta:
As técnicas de controle e transformação do comportamento humano,
nesses casos alcançam sua plena eficácia, evitando que o jovem
vislumbre as profundas inconsistências do sistema e econômico e sócio-
cultural. Neste caso, o adolescente rapidamente aceita o modelo de
personalidade adulta que lhe é apresentado. Valoriza a riqueza, o
sucesso pessoal, o poder de mando ou a responsabilidade inerente aos
cargos etc. acomodado plenamente, ou incapaz de apreender
intelectualmente a sua verdadeira situação, esse indivíduo atravessa a
adolescência apolítico”, ou integrado em partidos conservadores
(Idem, 1968: 240).
Existem jovens que não apresentam tendência alguma para adoção de uma
postura política radical. Existem outros jovens que não manifestam qualquer sintoma de
inconformidade com a ordem social existente. Há ainda os jovens que passam a assumir
atitudes, ainda que socialmente reprovadas, não possuem a menor significação política
como as gangues formadas por delinqüentes juvenis.
Para o autor (Ianni, 1968), o jovem que não se rebela o realizou em sua
consciência a compreensão sobre a condão alienada do homem na sociedade
capitalista. E isso acontece devido à integração do jovem em consonância as regras de
comportamento estabelecidas através da ordem vigente. Trata-se das personalidades
ajustadas às exincias da sociedade atual ora reveladas pelo autor. Neste momento o
autor é bastante crítico, em comentar a respeito dos sujeitos que o tiveram (ou
12
simplesmente não têm) condições intelectuais para formular a própria condição do que
realmente acontece.
O requisito básico para o desenvolvimento do comportamento do jovem radical
passa a ser, portanto, a consciência de alienação. uma relação entre o
comportamento efetivo dos adultos e a possível exigência social sobre o comportamento
do jovem porque a estrutura do sistema social é alienadora.
A atuação potica do jovem radical é percebida diante da sua demonstração de
negatividade com o presente. Seria importante que o jovem organizasse
intelectualmente a sociedade global, de modo que ele reconhecesse em si uma possível
base para uma visão mais ampla do mundo. Para o autor (Ianni, 1968:242), é vital que o
jovem possa tecer suas próprias concepções livre da alienação imposta pelo sistema
capitalista.
RITA PAVONE, O MITO GERACIONAL.
Umberto Eco investiga a música direcionada aos adolescentes como as de
Celentano, Rita Pavone, Françoise Hardy em sua obra Apocalípticos e Integrados. O
autor pensa a música adolescente enquanto passível de defesa contra a incompreensão
dos adultos e, que deve ser ouvida como sendo própria (aos adolescentes) enquanto for
negada pelos adultos.
Essas canções interpretam os sentimentos e problemas dos adolescentes. O
ritmo, a melodia, a letra e os problemas do amor são expressos segundo uma
problemática da juventude. De modo que uma geração se reconhece sob o soar de
determinada produção musical. Essa geração não apenas usa, mas assume uma bandeira,
assim como a outra geração assumiria o jazz.
A ascensão do jazz (Eco, 2004) contava com uma adesão instintiva ao espírito
do tempo, enfocando a escolha de uma música em consonância com tradições populares
e com o ritmo da vida contemporânea. O jazz comportava ainda um projeto cultural
elementar, abrangendo uma dimensão internacional e a não aceitação de um falso
folclore despatriado, de evasão com os anos vinte e a questão racial nos Estados Unidos.
A ascensão dos cantores adolescentes revelava um comportamento imediato,
com a escolha de expressões únicas de cultura que parecem interpretar a problemática
de uma geração de jovens. Esses mesmos jovens, ao serem entrevistados, tendem a
afirmar que são eles que escolhem determinada canção e que a persuasão publicitária
o incide sobre seu comportamento ou gosto por certa música.
13
Para Umberto Eco o quadro é ambíguo e dramático. De um lado está a indústria
da canção, com seus astros e suas músicas a disseminar modelos de comportamento que
como se observa, se ime. Os jovens na verdade pensam estar escolhendo modelos de
cantores ou de músicas baseadas em seu comportamento individual. O que eles não
percebem é que esse mesmo comportamento individual se articula de acordo com a
determinação contínua e sucessiva desses modelos
4
(astros e estrelas da música) criados
pela indústria da canção.
Segundo o autor, outro fator relevante é que na sociedade em que vivem esses
adolescentes não nenhuma outra opção ou fonte de modelo (pelo menos nenhuma tão
persuasiva). A instria da canção consegue satisfazer as tendências sob os grupos nos
quais se dirige. Os jovens demonstram satisfação no que se referem aquelas exigências
de idealização e intensificação dos problemas reais, como o amor ou a incompreensão
dos adultos.
Eco analisa o mito da personagem Rita Pavone na Europa. Ela já causava
perplexidade com a idade de dezoito anos, mas sua personagem ‘Pavone’ tinha entre
treze e quinze anos. Ela surgia enquanto primeira estrela da canção que não era nem
mulher e nem ao menos menina. Era o que comumente denominamos hoje crianças
progios, como a Sandy da dupla Sandy e Junior, se trazermos a reflexão para o âmbito
nacional.
Com Rita Pavone a puberdade já o parecia tão somente problemas da idade do
desenvolvimento - os encargos de não ser criança, mas ainda o fato de o ser mulher
mas sim um estado de graça. Ela caminhava para o público com um olhar a quem se
torna difícil à recusa de um pedido qualquer. A voz possuía um timbre e intensidade que
ajudava a transmitir mensagens apaixonadas.
Para Umberto Eco a cultura de massa procura estabelecer um padrão de
‘mediedade’ que recusa tudo o que é anômalo, para fixar-se em um estágio de
normalidade que não perturbe a ninguém.
A idade de Rita Pavone estabilizou-se nos dezoito anos, para fins cronológicos
da Indústria Cultural:
Automaticamente, isto é, por uma espécie de homeostase do mercado, a
personagem encontrou o caminho certo e tornou-se emblema de uma
4
A cantora adolescente Avril Lavigne é uma estrela do rock internacional; a roqueira baiana Pitty é um
modelo de adolescente rebelde no Brasil; a dupla Sandy & Júnior são os adolescentes comportados no
cenário da música jovem nacional.
14
geração, modelo exemplar de uma adolescência nacional, que faz dos
dezoito anos uma espécie de ponto de referência em torno do qual giram
os problemas das gerações imediatamente precedentes e posteriores.
Assim Rita Pavone, de caso clínico que podia constituir, tornou-se
norma ideal e estabilizou-se como Mito (Eco, 2004: 312).
Rita Pavone (Idem, 2004) vive o problema de seus telespectadores, os jovens, ao
dar vida ao mito. Ela sofre os desígnios do amor contrariado, mas cujas dimensões
devem ficar próximas da realidade visando uma proximidade com os jovens. O mito
Romeu e Julieta, de William Shakespeare, deve ser adaptado para que não fique tão
distante através de personagens como Rita.
Pavone se enche de lica com aquela sirigaita que quer ser o centro das
atenções na festa e, se irrita com as moças que ligam chamando o pai para buscá-la de
volta para casa. Para ela e muitos jovens trata-se de resquícios de infantilidade ou
ausência de atitude que deverão ser dispensados.
A idealização e a intensificação da vida cotidiana, a evasão de um mundo
construído pelos adultos através do mundo particular e reservado da adolescência
personificadas no mito correspondem às expectativas do público de Rita.
A contradição se uma vez que o mito de Rita Pavone engloba os problemas
da adolescência dentro de uma perspectiva gerica (Ibidem, 2004:313). A adolescência
através da criação mitológica continua sendo mera classificação biológica. As condições
históricas do mundo em que vive o adolescente passam a não existir ou até mesmo não
fazer sentido.
Seria ingenuidade liquidar o caso de Rita Pavone (2004:310-4) enquanto mau
exemplo propagado pela indústria cultural. Uma análise mais aprofundada dos
comportamentos ensejados por tais modelos de conduta fixados pelos produtos
artísticos de consumo, permitirá auxiliar a compreensão do adolescente enquanto
atuante nas relações históricas.
O ADOLESCENTE E A CULTURA DE MASSA
A adolescência ganha forma enquanto classe de idade na civilização do século
XX. Com o desenvolvimento das civilizações, a autoridade dos mais velhos se degrada
e o rito de passagem para a fase adulta se torna gradativa.
Nas sociedades arcaicas, com doze, quinze ou dezesseis anos, o iniciado tomava
seu lugar na sociedade dos adultos. A passagem da infância a fase adulta se dava sem
atenção ao caráter transitório que temos hoje, como a adolescência:
15
[...] Se sempre existiu, num momento da evolução juvenil, componentes
adolescentes correspondentes à puberdade ou a integração social no
universo adulto, a adolescência enquanto tal não aparece senão no
momento em que o rito social da iniciação perde sua virtude operadora,
perece ou desaparece. A adolescência, de fato, a idade da busca
individual da iniciação, a passagem atormentada e de uma infância que
ainda não acabou e uma maturidade que ainda não foi assumida, uma
pré-sociabilidade (aprendizagem, estudos) e uma socialização (trabalho,
direitos civis) [...] (Morin, 2002: 153).
Para Morin,
[...] O esboço do adolescente surge na antiguidade com o efebo
ateniense e, sobretudo, o personagem de Alcebíades, este “paleo-
beatnik”, esse James Dean ático
5
, que quebrava à noite as estátuas
sagradas e embarcava para a ventura siciliana. Mas a inquietude
adolescente parece ausente de Defini e Cloé, como o estará de Romeu e
Julieta, crianças que se amam como adultos (os amantes adultos
amando-se a si mesmas como crianças). Do mesmo modo a princesa de
Clèves é uma mulher em idade adolescente, não uma adolescente. É
preciso esperar o Cherubin do Mariage de Figaro e o jovem Werther
para que efetivamente tome forma um personagem verdadeiramente
novo, incerto, instável, contraditório, não criança de um lado e adulto de
outro, mas conjugando num estado confuso as virtualidades das duas
idades. A partir daí a adolescência vai expressar-se diretamente,
levando à poesia sua dimeno moderna. Shelley, Novalis, Rimbaud
expressam os segredos da adolescência; desde os Pensamentos de
Pascal e as Confissões de Rousseau, adolescente retardado, nunca a
essência contraditória, nunca as verdades profundas da vida humana
haviam sido formuladas obscuramente formuladas com todas as
verdades profundas. Esses adolescentes de gênio são calcinados por seu
fogo interior ou fulminados pela vida. Sua mensagem nos revela que
são de fato, na adolescência, que se acham concentradas todas as
verdades que se dispersam durante o encaminhamento do homem
(2002: 154).
A adolescência ainda não conta com uma personalidade social formada,
cristalizada. Na metáfora de Morin, os papéis da vida social ainda não se tornaram
máscaras endurecidas sobre os rostos dos adolescentes. O adolescente está em busca de
si mesmo, procurando a condição adulta:
Nessa busca, tudo é intensificado: o ceticismo e os fervores. A
necessidade de verdade é imperativa os valores de sinceridade
“predominam sobre os valores de infidelidade”. Brigitte Bardot, à sua
maneira, exprime essa ética adolescente: à pergunta que qualidades
5
Estilo elegante e sóbrio.
16
exigem vo de um homem na vida?”, ela responde: nunca ser um
adulto farsante”. As primeiras apalpadelas no universo adulto procuram,
contraditoriamente, as satisfações de auto-afirmação (ganhar dinheiro,
fazer amor) e também a profunda satisfação de entrar numa grande
maquinaria monótona (casar-se, ter um emprego, galgar escalões) que
termina com a aposentadoria e a morte (Morin, 2002: 154).
Nas sociedades históricas, o paradigma do homem que se impõe é a figura do
homem-adulto.
O Romantismo constituiu um movimento do desencantamento juvenil, com o
desmoronamento do Velho Mundo e a anunciação de um novo modelo de homem.
No mundo contemporâneo, surge a figura do homem jovem, do rapaz. Saint Just
e Robespierre são os heróis quase adolescentes durante a primeira revolução dos tempos
modernos. Os movimentos revolucionários de 1838, 1848, 1871 na França, a Revolução
húngara de 1956 e a insurreição argelina de 1964 tinha a liderança de gerações jovens.
O autor (Idem, 2002) revela que na sociedade contemporânea não mais lugar
para a sabedoria. Na sociedade em rápida evolução não importa a sabedoria acumulada,
mas a adesão à sociedade moderna.
Os sinais da desvalorização universal da ‘velhice’ surgem com o
rejuvenescimento dos quadros profissionais, como a promoção social aos trinta anos nos
Estados Unidos e França, apesar da resistência dos mais velhos.
A cultura de massa a partir de 1950 (Ibidem, 2002) promove a juvenilidade. Na
literatura Françoise Sagan, na canção Elvis Presley, na pintura Bernard Buffet, na moda
Yves Saint-Laurent e no cinema Chabrol e Godard são algumas refencias que se
postam a favor da juventude.
A revolta da juventude é sentida através da contracultura:
Os valores de contestação se cristalizam na adolescência: repugnância
ou recusa pelas relações hipócritas e convencionais, pelos tabus, recusa
extremada do mundo. É então que ocorre seja a dobra niilista sobre si
ou sobre o grupo adolescente, seja a revolta revolta sem causa ou
revolta que assume as cores políticas (Morin, 2002:155).
A constituição de uma classe adolescente abrangendo a totalidade do mundo
ocidental e alcançando projeção mundial, se na metade do século XX. As tendências
esparsas individuais da juventude passam a ganhar forma, uma consistência sociológica.
17
Os grupos de adolescentes nos EUA, URSS (Rússia), Suécia Polônia, Inglaterra, França
e Marrocos tendem a formação de uma tendência padronizada, com seu uniforme
próprio como o jeans, os blusões e suéteres:
Os grupos de “cabeludos” transviados, beatniks afirmam o niilismo
irascível, a revolta, o desprezo, a insociabilidade da adolescência. No
outro extremo, a constatação pode virar fenômeno revolucionário como
foi o caso na Polônia e na Hungria (1956), no Japão ou na Turquia em
1960 (Morin, 2002:155).
A adolescência atual encontra-se entediada com a sociedade adulta burocrática e
seus valores estabelecidos, marcados pela hipocrisia e inconsistência.
Para o autor, a adolescência:
Experimenta de modo extremamente vivo a grande questão do sentido
da existência humana; ela talvez esteja profundamente marcada por esse
sentimento de aniquilamento-suicídio possível da humanidade que fez
nascer a bomba atômica. Encontra, contudo na cultura de massa, um
estilo estético-lúdico que se adapta ao seu niilismo, uma firmação de
valores privados que corresponde a seu individualismo, e a aventura
imaginária, que mantém, sem saciá-la, sua necessidade de aventura
(Idem, 2002: 155).
A adolescência passa a se identificar com ídolos do cinema como James Dean,
Belmondo e outros construídos pela imprensa; O rock and roll e o yê-yê-yê (The
Beatles) eclodem verdadeira tendência para a referência do adolescente em escala
mundial. A cultura de massa cria seus heróis e valores da adolescência. A novela e os
romances começam a se infiltrar na cultura de massa.
A cultura de massa cristaliza a classe de idade dos adolescentes nos moldes
oferecidos com seus heróis, modelos e panóplias, ao mesmo tempo em que passa a
enfraquecer as possíveis saídas atrofiando a noção de historicidade na juventude
moderna.
A família patriarcal regida sob a autoridade do pai abriu espaço para a família
sob jugo do casal (homem e mulher). A emancipação da mulher contribuiu para essa
mudança, enfraquecendo a imagem masculina que era soberana, até então.
Os novos modelos de pais o encontram legitimidade para propor uma
educação autoritária, no qual também não crêem:
18
Os novos pais seriam incapazes de impor uma autoridade na qual o
acreditam. o tem mais tabus a fazerem respeitar, virgindade de filhas
a salvaguardar, culto dos ancestrais ou a ética paterna a transmitir aos
meninos. o pais-maternais, companheiros” afetuosos. A criança tem
que lutar menos com o pai para tornar-se adulto, mas tem maior
dificuldade em identificar-se com seu pai. enfraquecimento da
imagem paterna (Morin, 2002: 149).
O pai não é mais visto como elemento de projeção ou identificação pelos seus
filhos. De acordo com Morin o existe mais o ódio à família. Simplesmente as crianças
o debatem contra a moral de seus pais. Elas acabam, na verdade, ignorando a moral
da sociedade em que vivem.
A figura da mãe também passa a ganhar novos contornos. Ela passa a trabalhar
(fora do lar) e busca a imagem da jovialidade, desejando viver intensamente sua vida o
que acaba retirando a antiga presença obcecada para com os filhos.
As novas crianças surgidas através do modelo educacional moderno regado de
“mimos” o encontram na figura do pai ou da mãe aquela autoridade ordenadora.
A família passa a ser enfocada nos melodramas como em processo de
dilaceramento individual, com temas que variam entre a criança abandonada ou roubada
e o enquadramento da figura da madrasta e do padrasto.
O impulso da cultura de massa tenderá a apagar ou desaparecer com a figura dos
pais” como sugerem os filmes norte americanos, passando a impor a vida do herói sem
família.
Bruce Wayne perde os pais ainda na infância, quando são abordados por ladrões
na saída do teatro. Ele se tornaria o Batman mais tarde.
Peter Parker é picado por um inseto - a aranha – e adquire os poderes do
aracnídeo tornando-se o Spiderman. Peter é órfão e fora criado por seus tios. Ele ainda
perde o tio, morto por um ladrão que rouba seu carro.
O Super-homem é abandonado enquanto bebê e criado por uma família de
terráqueos nos Estados Unidos. Seus pais biológicos e alienígenas sucumbem ante a
explosão do planeta Krypton.
Os super heróis dos quadrinhos e dos filmes americanos estruturam um
processo no qual Morin (2002:151) denomina a ‘invisibilidade dos pais’, conforme o
tema recorrente do cinema contemporâneo.
A juventude passa a se inspirar em arquétipos:
19
O novo modelo é o homem em busca de sua auto-realização, através do
amor, do bem-estar, da vida privada. E o homem e a mulher que o
querem envelhecer que querem ficar sempre jovens para sempre se
amarem e sempre desfrutarem do presente (Morin, 2002:152).
O “coroa”, denominação para aquele homem ou mulher que chega aos quarenta
anos passa a almejar a juventude e, luta para permanecer jovem ao invés de se
prepararem para a velhice (Idem, 2002).
A partir da segunda guerra mundial os limites da idade se expandiram. Os astros
e estrelas do cinema ultrapassam os cinqüenta anos. Nos anos 30, o limite de idade para
os atores estava entre vinte e oito a trinta anos. Não que a juventude deixasse de ser um
requisito para os atores, mas a idade do envelhecimento se retarda, com homens de
cinqüenta a sessenta anos exibindo corpos musculosos e bronzeados.
A indústria do rejuvenescimento eclode com as técnicas da maquiagem. A
cirurgia plástica mantém a promessa de ressuscitar ou regenerar a aparência trazendo o
nus muscular da juventude.
A velhice passa a ser desvalorizada, sendo que a idade adulta tende a procurar
formas de rejuvenescimento: massagens, saunas, depilação e cabeleireiros para homens;
clínicas de beleza e prótese de silicone para as mulheres.
O padrão a ser buscado pelos homens, na opinião de Edgar Morin (2002), passa
a se referir a adolescência.
Morin alerta para o problema decorrente dessa relação entre a cultura de massa e
a adolescência. Se para os adultos essa projeção de identificação funciona de maneira
mais ou menos ordenada enquanto pacíficas evasões projetivas, para os adolescentes ela
pode se tornar modelo e conduta. Os efeitos da cultura de massa, particularmente, do
cinema sobre uma minoria ligado a delinqüência juvenil são um dos exemplos:
De modo mais amplo, afinidade entre o apelo à aventura, o grande
sopro fora da lei do mundo imaginário e as aspirações à liberdade, ao
risco, o obscuro sentimento de que o homicídio é iniciação, o
“lafcadismo” natural presentes no adolescente. A cultura de massa se
torna, então, ambivalente em relação à idade ambivalente... A
adolescência é o fermento vivo da cultura de massa; isto é, ao mesmo
tempo, caldo de cultura e caldo caseiro que alimenta e dilui esse
fermento (Idem, 2002: 156-7).
20
Os temas identificadores da cultura de massa como o amor, a felicidade, os
valores particulares e o individualismo são percebidos intensamente na adolescência.
Os arquétipos de família ou escola são substituídos pela imprensa e o cinema.
A cultura de massa tem como lema a desvalorização da velhice e a propagação
de valores ligados à adolescência como beleza, amor e juventude. No plano metafísico,
segundo Morin (2002:157), a obsessão pela condição do ‘ser jovem’ se assemelha a um
manifesto contra a inexorável condição da velhice.
OS JOVENS CARECAS DO SUBÚRBIO
rcia R. da Costa realizou um estudo inicial sobre os jovens brasileiros
denominados “carecas do subúrbio”. A origem e a formação desses jovens em São
Paulo reconstituem a história e o desenvolvimento dos skinheads, na Grã-Bretanha em
meados de 1966.
A consolidação do consumo de massas remonta aos anos 1930, mas foi
interrompido pela Segunda Guerra Mundial e a reconstrução econômica pós - guerra. A
partir dos anos 1950 ocorre a retomada do desenvolvimento com a melhoria no padrão
de vida da classe operária na Inglaterra, alterando a balança de poder entre as classes
sociais (Costa, 2000).
O conceito de “cultura” empregado pela autora é baseado em Edgar Morin,
entendido como sendo um sistema simbiótico, antagônico de múltiplas culturas e
nenhuma delas homogênea. A cultura é um produto de mercado e depende do
desenvolvimento tecnológico, da modernização dos meios de comunicação ligada à
indústria cultural (Idem, 2000).
A autora critica o termo “cultura adolescente juvenil” empregada por Morin ao
possibilitar a crença na existência de uma adolescência e juventude única e coerente.
Segundo Costa (2000) existem “várias culturas jovens” como as gangues nos anos 50
que se diferenciavam do restante da população pela preferência a determinado tipo de
música, filme, roupas, corte de cabelo e uma série de comportamentos pontuados pelo
niilismo, revolta, agressividade e desprezo pelos padrões sociais aceitos.
A cultura jovem foi criada pelos jovens e reproduzida pelo sistema gerando
ambigüidades e contradições que descendem do fato de ela ter nascido de dentro da
cultura de massas e funcionar segundo as leis de mercado. Para Costa (2000), isso não
significa que a pulverização e a massificação sejam totalmente inevitáveis. Para ela a
cultura jovem se desenvolveu de modo complexo, reservando contraditoriamente uma
21
ala integrada ao consumo e uma outra mais pxima da violência, da agressividade, das
drogas e da contestação social e política.
Os skinheads foram associados pela dia aos hooligans, torcedores fanáticos e
violentos do futebol inglês
6
. Entretanto, os skinheads têm sua particularidade como
elucida Costa, neste presente estudo.
Os jovens operários brinicos adotaram um padrão musical inspirados no
reggae, de Bob Marley, oriundo da Jamaica. Esse tro musical os distanciava dos
chamados teddy-boys que cultuavam o rock-and-roll.
O visual tinha característica dos grupos operários com calças e suspensórios,
botas e jaquetas, e a cabeça raspada procurando passar a imagem de “limpo”. Eles
adotavam a postura de proletários agressivos, puritanos e machistas. Esses jovens
desprezavam os intelectuais e eram tidos como anti-socialistas, nacionalistas e anti-
imigrantes. Alguns jovens desse grupo nutriam certa simpatia para com a extrema-
direita. Essa conotação podia ser observada partir da aversão aos imigrantes africanos e
judeus, demonstrada por parte do grupo.
A fonte de identidade do grupo tinha pelo menos duas raízes contraditórias: uma
cultura dos imigrantes negros provenientes das Antilhas, conhecidos como rudies e a
outra na cultura da classe operária branca inglesa e tradicional (Costa, 2000).
A identificação com a classe operária fazia com que o grupo se distanciasse do
estilo hippie opondo-se ao pacifismo e ao power flower.
Na segunda metade da década de 70, com a ascensão de Margareth Thatcher ao
poder, o liberalismo econômico ganha força na Grã Bretanha e lança um ataque
vigoroso contra os sindicatos e as conquistas propiciadas pela democracia social.
Os skinheads o se identificavam com o rock tocado pelas grandes bandas da
época. O rock era uma música elaborada com temas sofisticados e, com um
equipamento caro que contrastava com a dura realidade cotidiana dos operários jovens e
brancos das camadas mais pobre.
A banda Sex Pistols produziu uma verdadeira revolução no gênero musical. A
partir de 1975 seus integrantes passaram a vincular uma crítica social e violenta
proclamada anarquia, uma luta contra a sociedade de consumo e o imperialismo. Esse
novo tipo de rock passou a denominar-se punk, que em inglês significa “lixo”,
estendendo o significado para a palavra “estopim”.
6
Em 1966 a Inglaterra foi país sede da copa do mundo de futebol.
22
No Brasil ocorreu um processo de identificação influenciando os jovens em o
Paulo a compartilhar os ideais dos skinheads. Surgia o movimento dos “Carecas do
subúrbio”, intensificado pelos meios de comunicação de massa. Esse grupo foi marcado
pela ambigüidade e pela contradição quando passou também pelo movimento punk.
O punk também possui um signo marcado pela violência. O sujo e o rasgado
simbolizam a aversão do socialmente aceito e a vontade de transgredir regras e padrões
burgueses. Nesse pressuposto, o punk encontrou um terreno fecundo diante das camadas
de jovens carentes em São Paulo.
Os “Carecas do subúrbio” procuravam manter uma identificação com o trabalho.
O grupo buscava não manter uma postura à margem do sistema. Eles trabalham e
deixam claro que esse traço os diferenciava dos bandidos. A raiva, o desejo de
destruição endereçada ao sistema e aos corruptos não significava uma recusa total em
participar desse mesmo sistema.
Os “carecas” procuravam desenvolver valores que o distinguissem dos punks. O
grupo dava importância ao culto do corpo. Eles buscavam a imagem do homem forte,
musculoso e não usuário de droga.
A roupa do grupo deveria refletir a imagem do jovem forte e ser preparada para
a guerra cotidiana com o uso do coturno (espécie de bota com cano longo e cadarço),
calças militares, jeans, suspensórios, cabelos curtos ou raspados.
Não era raro o caso de jovens punks se identificarem com os “Carecas”. Mas
para pertencer ao novo grupo era indispensável que o jovem punk deixasse de consumir
drogas como a maconha, a cocaína e outros.
Os carecas cultivavam valores como a força, a potência, a união, a solidariedade
e a fraternidade e se concebiam como aqueles que poderiam salvar a nação (Costa,
2000).
O grupo ostentava tatuagens e cicatrizes pelo corpo, motivo de orgulho pelas
batalhas ganha nas brigas. O uso da violência era uma forma de se defender e também
entrar para uma gangue. A violência representava para o grupo a liberação do
dominado. Para eles a violência poderia derrubar o sistema punindo os corruptos e
acabando com a exploração. (Idem, 2000).
A gangue dos carecas cultivava rios conflitos. Todos aqueles que não são se
identificavam com o grupo eram seus inimigos. Os punks eram odiados por trrem as
características fundamentais, como o uso da droga e a apologia ao sujo”; os hippies
23
pelo pacifismo, os roqueiros pela adesão a música alienada e os boys porque esnobam
os pobres e vivem de mesada.
O traço que distinguia os Carecas do subúrbio” dos skinheads ingleses era a não
adesão ao racismo. Para o grupo brasileiro ficava difícil ser racista convivendo ao lado
de negros e nordestinos, no cotidiano da grande São Paulo. Na Inglaterra havia também
os skinheads negros (Costa, 2000).
Uma peculiaridade envolvendo o grupo brasileiro em relação aos jovens
brinicos da classe operária consistia em que os “Carecas” não eram necessariamente
do mesmo extrato social.
A autora corrobora a noção de espaço global conceituada por Octavio Ianni.
Nessa premissa predomina hoje a “sociedade mundializada, globalizada, na qual todas
as marcas, particularidades, segmentos e singularidades possuem traços e determinações
conferidos pelo movimento geral desse capitalismo mundial, integrado” (Idem,
2000:213).
Costa (2000:217-8) faz uma observação à concepção iluminista do “Contrato
Social”, um pacto firmado entre particulares e o Estado que passa a deter o monopólio
da violência legítima para dar segurança a seus indivíduos. Grupos como os skinheads e
“Carecas
7
também evocam o direito de exercer a violência como expressão imaginária
de uma vontade totalitária. Neste caso, a violência teria sido ultrapassada pela realidade
transpolítica.
Para a autora (Idem, 2000:222-3) uma proposta conclusiva, definitiva sobre os
“Careca do subúrbio é problemática. A resposta está em aberto. Ela chama para o
debate a questão sobre a violência que unifica esse grupo de jovens paulistanos. Essa
mesma violência que fazem quando circulam pelas noites ao se defrontar com gangues
rivais (punks, hippies e boys) não seria a mesma face da violência que faz os outros
sofrerem? Por outro lado, detrás de um Bem que se coloca de forma absoluta, o se
esconde o Mal, enquanto outra face do Bem?”.
Os estudos de Costa são imprescindíveis para a elucidação das tribos urbanas
uma vez que delimitam com nitidez as bases e as fronteiras entre o hippie, o skinhead, o
punk e os boys. Esses grupos representam a gênese das subculturas juvenis discutidas ao
longo do capítulo dois desta pesquisa.
7
O PCC - Primeiro Comando da Capital - constitui um núcleo do crime organizado no Estado de São
Paulo que detém o monopólio da violência e reforça a crítica ao modelo de pacto do contrato social
iluminista. O jornal da Record em 2007 mostrou fitas gravadas com ordem de execução de pessoas que
contrariaram normas do crime organizado.
24
O PAPEL DA TELEVISÃO NA ADOLESCÊNCIA
Maria I. M. Alves estudou a recepção dos adolescentes através da série de
televisão Malhação. O grupo de adolescentes pesquisados fazia parte dos alunos da
oitava série de escolas públicas e particulares da cidade de Americana, no Estado de São
Paulo, até o ano de 2000.
A autora pesquisou sobre as horas diárias de imagens televisivas a que são
submetidos os adolescentes. Conforme sua pesquisa, o maior consumo está nas camadas
populares, que chegam à média de cinco horas por dia. Nos grupos denominados classe
dia alta, portanto, com alunos que freqüentam escolas de iniciativa privada, esse
número é menor. Ela atribuiu ao fato de tais adolescentes contarem com outras
atividades como esportes, diálogos significativos, leituras de qualidade, tarefas escolares
a menor incidência ao controle da televisão.
A pesquisa revelou que nos dois universos pesquisados, tanto alunos da escola
pública quanto do ensino privado, tiveram muito mais contato com os programas
televisivos do que com os programas escolares. Principalmente levando em
consideração que nos sábados, domingos, feriados e períodos de férias não aula e,
portanto, o período expositivo aos programas televisivos aumenta.
Os estudos da autora apontaram um apelo considerável do programa Malhação
entre os alunos da oitava série do ensino blico, se comparadas com as demais séries
deste mesmo segmento de ensino. O menor alcance do programa junto aos adolescentes
oriundos das escolas particulares decorreu de seus arranjos escolares mais intensos,
relativamente aos alunos de escolas públicas. Esse elemento acabaria por dificultar a
presença desses jovens no período vespertino, horário em que o programa vai ao ar.
A inserção dos alunos da escola pública no mercado de trabalho se dava mais
precocemente que os alunos da escola particular, confirmando as estatísticas sobre o
trabalho entre os adolescentes.
Alves (2000) explorou cenas envolvendo violência dostica concernentes de
abusos sexuais no programa e, sua repercussão entre os alunos pesquisados. Para ela a
violência o é uma constante em Malhação, pelo contrário, muitos discursos no
programa que tem orientação contra a violência.
A falta de diálogo e compreensão dos pais são elementos decisivos na fuga de
casa entre os adolescentes. Os desencontros das gerações entre pais e filhos ainda
permanecem, apesar do abrandamento da falta de diálogo familiar na sociedade atual.
25
As meninas creditam a falta de diálogo e de liberdade, como elementos
causadores do conflito entre pais e filhos. Os meninos atribuem fatores como drogas e
bebidas enquanto possíveis causadores dos conflitos familiares.
A infidelidade não é mais a regra inquebrantável do relacionamento amoroso
entre os adolescentes. Isso fica comprovado em Malhação quando a personagem Flavia,
namorada de Rui (Hugo Gross) fica no maior amassocom Tadeu. As meninas das
escolas particulares e blicas condenaram a atitude de Flavia. Já os meninos de ambas
as escolas (privadas e blicas) são condescendentes com a atitude de Flavia. O estudo
apontou que as meninas se tornaram ousadas e tentam usufruir os direitos iguais no que
tange ao relacionamento amoroso. Os meninos reconhecem esse direito à isonomia,
apesar do desconforto criado por essa possível condição de igualdade:
Sem dúvida, a Malhação contribui para este quadro: em suas cenas as
meninas dão as regras, e Flavia pode ser considerada um dos modelos
desencadeantes dos direitos iguais. Com exemplos tão fortes, a simetria
é aceita na ficção e pela linha muito tênue de limite com a realidade, a
fantasia vira cotidiano (Alves, 2000:157).
Os meninos e meninas da escola pública possuem um discurso politicamente
correto em relação à homossexualidade, provando que nesse ambiente específico o
preconceito não estava fortemente arraigado. No universo das escolas particulares,
segundo Alves (2000) a rejeição é acentuada. A saída da professora Silvia em Malhação
é provocada por questões culturais: o preconceito das pessoas e a manutenção da
audiência.
As patologias sociais como cigarro, bebida e drogas são efêmeros na trama,
apesar de constante na prática dos adolescentes. O consumo desses produtos pode ser
observado desde boates, clubes, jogos estudantis e até às dependências das escolas
(salvo as bebidas alcoólicas) na atualidade. As patologias são tratadas enquanto doença
na busca de uma provável cura em Malhação (Idem, 2000). O alto custo da propaganda
aliada à inserção de leis que vedem a publicidade de produtos como cigarros e bebidas
alcoólicas para menores de dezoito anos contribuem para a efemeridade dessas
patologias sociais na trama.
O tema virgindade é um elemento residual na visão da autora. A virgindade ora
se apresenta, ora é esquecida, manifestando-se mais no imaginário que no cotidiano dos
jovens. Para as meninas, o resultado sim é mais assustador: a gravidez.
26
Alves (2000) constata em sua pesquisa que talvez Malhação seja hoje um dos
poucos espaços para a discussão do aborto e sua prática. Para ela, os pais rejeitam essa
discussão e a escola acaba por omitir-se a respeito deste tema. O colégio Múltipla
Escolha realizou um debate com participação de alunos, professores, pais e até mesmo
um padre, enquanto porta-voz da igreja a respeito do aborto.
A família e o casamento continuam a ter forças, apenas deixaram de ter
conotações como o caráter de legitimação de posse e eternidade. O discurso do amor,
impregnado de romantismo pelas meninas no passado se pautam agora em valores como
fidelidade e respeito.
A autora concluiu que o corpo, tanto na ficção quanto na realidade é
apresentando de forma menos contida, menos roupa e mais ação, demonstrando que o
sexo faz parte do corpo e, nessas condições deve ser usufruído e nunca negado.
O programa tenta enfraquecer a dominação masculina num recurso estratégico
frente ao telespectador da novela, eminentemente formado por umblico feminino.
A leitura que a autora faz sobre Malhação revela que o texto midiático da
presente programão, objetiva a modelação de seu público, contando para tanto com
signos interpretáveis por adolescentes e jovens. Alves ressalva que a série em questão
o deve ser vista enquanto responsável direta pelo comportamento do jovem num
contexto prático, mas sim que a telenovela está imbricada com os referidos signos da
juventude e seus modelos de comportamento na sociedade atual.
A partir das contribuições dos autores sobre a juventude, pensamos em
investigar sobre ‘que jovem brasileiro de classe dia é esse’ e refletir porque a
indústria cultural precisa criar e seduzir a cultura jovem.
27
CAPÍTULO 2 – HISTÓRIA DA SÉRIE MALHAÇÃO
A MÚSICA POPULAR BRASILEIRA: ENGAJAMENTO POLÍTICO E
INDÚSTRIA CULTURAL.
O historiador Marcos Napolitano pesquisa a música popular brasileira
perpassando um caminho entre a tradição e a modernidade. O samba, a bossa nova e
música popular são regadas por conflitos e tensões durante a institucionalização da
música brasileira.
O samba era considerado uma cultura popular afro-brasileira até os anos de
1930. A partir de então passou a representar a iia de uma identidade nacional. Entre
1937 e 1945 o samba é a expressão da nação, a exaltação da pátria. A partir de 1945 um
samba crítico expôs as contradições da sociedade brasileira no processo de
modernização capitalista.
Getúlio Vargas instaurou o Estado Novo com o golpe de 1937 e se aproximou
do samba e da música popular (Napolitano, 2007). A ditadura reconheceu o dia da
Música Popular Brasileira em quatro de janeiro de 1939. O tema da potica cultural
durante o Estado Novo era higienizar o samba. Havia a intenção de domesticar o samba
e transformá-lo em gênero patriótico e de cultura cívica para as massas trabalhadoras da
cidade.
Ao contrário da premissa do Estado Novo, o samba e a música popular passaram
a conduzir a denúncia das contradições da própria brasilidade. O samba mostrava as
mazelas do país, censuradas na ditadura Vargas.
O cenário musical brasileiro na segunda metade dos anos 60 abrigava uma gama
variada de perspectivas musicais que se identificavam pela sigla MPB. A música
popular brasileira simbolizava a tentativa de mesclar tradição e modernidade em uma
tendência nacionalista.
A bossa nova surge a partir de 1959 no Brasil e articula a inserção de um novo
estrato social no panorama musical brasileiro. A classe média, mais abastada, mais
informada e com circulação no meio universitário passou a ver a música popular como
um campo respeivel de criação, expressão, comunicação e cultura:
Em 1959, cerca de 35% dos discos vendidos no país eram de música
brasileira. Dez anos depois, as cifras se inverteram: 65% dos discos
eram de música brasileira, boa parte dela herdada do público jovem e
28
universitário criado pela bossa nova e pelos movimentos que se
seguiram. Para isso colaborou uma estrutura singular da indústria
fonogfica, que, mesmo dominada pelas grandes multinacionais,
necessitava estimulara produção local de canções, como parte da sua
lógica de lucro (Napolitano, 2007:68).
O governo de Juscelino Kubitschek (1956-1960) marcou a era do plano
nacional-desenvolvimentista no país. A bossa nova ficou vista como o reflexo do
desenvolvimento capitalista da era JK. Para Napolitano, a bossa nova foi mais uma
forma de interpelação artística cultural da modernidade e assumiu a tarefa de traduzir
um desejo de “atualizar” o Brasil como nação.
O LP de João Gilberto Chega de saudade causou grande impacto na música
popular brasileira e mundial. João Gilberto transformou o violão em instrumento
rítmico harmônico e concentrou na batida a não regularidade rítmica do samba, a
regularidade do bolero e a irregularidade do jazz (Idem, 2007).
Marcos Napolitano ressalva que é preciso ter cuidado com a idéia de que a bossa
nova foi o marco inicial da modernidade na música brasileira. A passagem trilhada pelo
panorama musical nacional rompendo com a tradição é bastante complexa, como
veremos a seguir.
Em 22 de janeiro de 1959 ocorreu o 1º Festival de Samba Session, reunindo duas
mil pessoas na faculdade de Arquitetura do Rio de Janeiro demonstrando a
potencialidade daquele tipo de samba junto à população jovem estudantil. Os shows do
circuito universitário consolidaram a presença do samba renovado junto ao público
jovem, especificamente o jovem estudante.
Tom Jobim concedeu um tratamento moderno às músicas antigas. Vinícius de
Moraes trouxe a poesia nas letras das músicas e João Gilberto modificou o ritmo das
canções.
A partir da bossa nova surgem os jovens músicos engajados. No final de 1962
temos o lançamento do Manifesto do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos
Estudantes
8
, escrito por Carlos Estevam Martins tentando disciplinar a criação engajada
dos jovens artistas na música:
8
A União Nacional dos Estudantes (UNE) é a principal entidade estudantil brasileira. Representa os
estudantes do ensino superior e tem sede no Rio de Janeiro e sub-sedes em São Paulo e Goiás. Foi e
continua sendo palco de ampla plataforma para o estado brasileiro, com ênfase na soberania nacional,
democracia, participação popular nas instâncias deliberativas, democratização do acesso ao ensino
superior, qualidade de ensino e financiamento público para as universidades. Em 1940 a UNE defende o
fim da Ditadura do Estado Novo e toma posição contra o Nazi-fascismo, defendendo a ruptura do Brasil
com os países do EIXO (Alemanha, Itália e Japão). Em 1943 a repressão de Getúlio Vargas segue intensa,
29
O procedimento sugerido visava direcionar o artista intelectual engajado
para a busca de sua inspiração nas regras e modelos dos símbolos e
critérios de apreciação das classes mais populares, vistas como a base
ainda que “inconsciente” da expressão nacional-popular. O objetivo
era facilitar a “comunicação” com as massas, mesmo com o prejuízo da
sua expressão artística, a partir de alguns procedimentos sicos: 1)
adaptando-se aos “defeitos” da fala do povo; 2) submetendo-se aos
imperativos ideológicos populares; 3) entendendo a linguagem como
“meio e não como “fim”; 4) entendendo a arte como socialmente
limitada, parte de uma superestrutura maior (Napolitano, 2007:76).
Os músicos Carlos Lyra, Sérgio Ricardo, Nelson Lins e Barros, Vinicius de
Moraes, entretanto, contradizem a premissa do Manifesto do CPC ao buscar uma canção
a UNE promove mobilizações estudantis em todo o país. O Centro Acadêmico XI de Agosto organiza a
Passeata do Silêncio contra Vargas, que acaba em violenta repressão policial, com a morte do estudante
Jaime da Silva Teles. A partir de 1947, iniciou-se a fase de hegemonia socialista na UNE, principalmente
com a eleição de dirigentes oriundos do Movimento pela Reforma, que foi até 1950. Nesse período, a
entidade liderou campanhas nacionais contra a alta do custo de vida e em prol da indústria siderúrgica
nacional e do monopólio estatal do petróleo (campanha O Petróleo é Nosso). De 1950 a 1956, a UNE
viveu sua fase direitista, comandada por um grupo ligado à União Democrática Nacional (UDN), que
tinha como braço acadêmico a Aliança Libertadora Acadêmica. Na década de 1960, o movimento
estudantil ganha mais corpo. Os estudantes se organizam e fundam seus diretórios centrais dos estudantes
(DCE) e diretórios acadêmicos (DA). Em 1964, a Ditadura Militar incendeia a sede a UNE, como forma
de intimidação e invade as instalação da Faculdade Nacional de Direito, apreendendo documentos e
acervos históricos do Centro Acadêmico Cândido de Oliveira, muitos que versavam sobre as atividades
da UNE. O Prédio da Faculdade é cercado por tanques e grupos paramilitares de direita, que metralham a
fachada do prédio e tentam incendiá-lo, com os estudantes dentro, mas são contidos por um capitão do
Exército, Ivan Proença, que será foi expulso das forças armadas em razão deste gesto. Desde a segunda
metade da década de 80, com a posse do primeiro presidente civil desde 1964 e com o retorno às
liberdades democticas no país, o movimento estudantil brasileiro foi lentamente recuperando seu lugar e
sua importância na política nacional. Entre 1986 e 1988 a UNE e a UBES vão reorganizando o
movimento de base, reabrindo ou auxiliando na criação de entidades de base (centros e diretórios
acadêmicos e grêmios estudantis), com amparo de legislação federal promulgada em 1985 que
liberalizava a organização do movimento estudantil. Em 1995, durante o Congresso da UBES ocorre a
primeira dissidência estudantil da entidade, quando a segunda maior bancada decide se retirar do debate,
fazendo um chamado para que todos os estudantes, tantos universitários como secundaristas rompam com
a entidade, dessa dissidência surge o MEPR - Movimento Estudantil Popular Revolucionário. Em 2004
foi posto o projeto de Lei que institui a Reforma Universitária, nesse ano pela a primeira vez na história o
movimento estudantil segue dividido, de um lado a base organizada repudia a Reforma Universitária, do
outro a dirão da UNE a defende. Em maio desse ano é criado a Conlute durante o Encontro Nacional
contra a Reforma Universitária no Rio de Janeiro. A UNE foi precursora de importantes movimentos
culturais brasileiros. O Centro Popular de Cultura (CPC) é o mais famoso deles que e nos anos 60 animou
a cena artística brasileira com novas e ousadas experiências no campo da pesquisa e da produção cultural.
O CPC não foi a primeira tentativa da entidade na área cultural, mas foi a experiência mais vitoriosa e que
se tornou um marco da cultura brasileira, unindo artistas, intelectuais e o movimento estudantil. O CPC
tinha uma produção artística própria e não se limitava a aglutinar grupos de artistas já existentes: chegou a
fundar um selo de discos, uma editora de livros, além de realizar produtos culturais importantes como o
filme Cinco Vezes Favela. Participaram do CPC nomes como Arnaldo Jabor, Cacá Diegues, Ferreira
Gullar, Vianinha, entre outros. Durante o governo Fernando Henrique Cardoso, a União Nacional dos
Estudantes manteve firme oposição ao neoliberal no país, repudiando as privatizações e o capital
estrangeiro, e apelando para melhorias nas políticas sociais e com a educação, sempre defendendo o
ensino público de qualidade e democrático. Informações retiradas do site da UNE em 10.07.2007.
www.une.org.br.
30
engajada, porém “moderna e sofisticada”. A particularidade da canção engajada e
nacionalista brasileira trazia em si as contradições de nossa modernização: uma
afirmação nacional, modernizante e desenvolvimentista, mas dependente do capitalismo
internacional monopolista.
Portanto, a “moderna” MPB, desde o seu início, firmava-se a partir de
um objetivo aparentemente amguo: disseminar determinada ideologia
nacionalista que pudesse ser assimilada por diversas classes sociais e
realizar-se como produto de mercado, utilizando-se dos meios técnicos
e organizacionais do mercado à sua disposição (Napolitano, 2007:93-4).
Em meados dos anos 60, a televisão abria espaço para a música popular
brasileira. A fórmula do humor se tornava repetitiva e as telenovelas ainda não haviam
encontrado seu formato ideal.
O festival de MPB da TV Record de 1967 foi o evento mais importante
de todos, apresentando canções memoveis como Ponteio”, de Edu
Lobo e Capinam (a vencedora), “Roda viva” (Chico Buarque),
“Domingo no parque (Gilberto Gil) e Alegria, alegria” (Caetano
Veloso). O sucesso dos festivais foi tamanho que até mesmo os cantores
da jovem guarda foram atraídos pelo evento, sendo recebidos, via de
regra, com sonoras vaias pela platéia dominada pela juventude
esquerdista. O festival da Record de 1968 foi marcado pela divisão
entre “emepebistas” e “tropicalistas”, consagrando a canção “São Paulo
meu amor” do estreante tropicalista Tom Zé e Divino Maravilhoso”,
de Caetano, interpretada por uma jovem de jeito hippie chamada Gal
Costa (Idem, 2007:92).
A partir de 1969 a maior parte dos compositores se refugia no exterior para
escapar da repressão da ditadura militar, enfraquecendo os festivais da canção dos anos
1960.
O fino da bossa, um musical televisivo comandado por Elis Regina e Jair
Rodrigues estreava em maio de 1965 pela TV Record. O programa “articulou um novo
sentido para a idéia de MPB, no qual elementos da tradição do samba e da vontade de
ruptura bossa-novista mesclavam-se ao engajamento cultural e potico (Ibidem,
2007:91).
O programa Jovem Guarda surgiu em setembro de 1965, com Roberto Carlos,
Wanderléa e Erasmo Carlos. O nome do programa era Jovens Tardes de domingo
também pela TV Record. O programa lançava o novo ritmo da juventude tendo como
base o iê-iê-iê dos Beatles e uma cultura oriunda do rock’nroll. As canções se pautavam
31
nas baladas pop dos anos 50 alternando temas românticos tradicionais com temas mais
agressivos, traduzindo o comportamento da juventude transviada com o culto ao carro,
roupas extravagantes, cabelos longos e brigas de rua. Roberto Carlos explodiu como
fenômeno de consumo de massa no Brasil.
Os artistas e intelectuais de esquerda viam na Jovem Guarda a antítese da MPB.
A pobreza formal, o conteúdo padronizado, a alienação diante dos problemas
enfrentados pelo país eram denunciados pelos artistas engajados.
A Jovem Guarda fazia muito sucesso entre os jovens de classe média baixa que
o se identificavam com a estética ideológica da MPB. De forma curiosa, a classe
dia letrada e com maior poder aquisitivo se identificava com a MPB.
A seguir um trecho do manifesto iê-iê-contra a de inveja (do nacionalismo
musical de esquerda?): “Fazer música reclamando da vida do pobre e viver distante dele
o é o nosso caso. Preferimos cantar para ajudá-lo a sorrir e, na hora da necessidade,
oferecer-lhe uma ajuda mais substancial” (Napolitano, 2007:98).
Para Medeiros (1984) não havia por parte da Jovem Guarda a pretensão de
transpor queses complexas ou contemporâneas através de suas canções. Medeiros
conclui que talvez fosse melhor assim. As contradições envolvendo a nova sociedade de
consumo e sua distribuição de renda desigual são profundas. De modo que essas
questões não se resolvem simplesmente com palavras de ordem.
Para Napolitano (2007:97-8), o gênero musical beneficiado pela popularização
da televisão foi a MPB, pois “foi reconhecida pela crítica, ganhou o público consumidor
de alto poder aquisitivo e instituiu um estilo musical que reorganizou o mercado,
estabelecendo uma medida de apreciação e um padrão de gosto”.
A Jovem Guarda foi extinta em janeiro de 1968 e se diluiu na música romântica
tradicional dos anos 1970.
Nara Leão era uma grande referência musical da resistência cultural frente à
censura imposta pela ditadura militar brasileira. A sua militância estava estampada no
repertório de seus LPs como O canto livre de Nara, Nara pede passagem e Manhã de
liberdade .
Chico Buarque de Holanda ainda vivia a condição de estudante de arquitetura e,
ao longo dos anos 1970 seguia como um dos maiores vendedores de disco. A sua frente
estavam os Beatles e Roberto Carlos. Chico Buarque era considerado um hei da
resistência cultural frente ao regime militar.
32
A contribuição de Caetano Veloso e Gilberto Gil para a formatação da MPB no
final dos anos 1960 foi a paródia. A paródia num aspecto mais amplo que a idéia de
“imitação”, revelando o sentido de cantar junto. Em 1968 surgia o movimento
tropicalista tentando firmar um projeto cultural dentro das estruturas da instria
cultural, mas sem prender-se a lógica de mercado.
O LP Tropilia lançado em 1968 é considerado o álbum mais importante da
historia da MPB. O disco produzido por Caetano, Gil, Rogério Duprat e acompanhado
pelo conjunto “Mutantes” foi elaborado com citações, intertextualidades e alegorias.
Para Napolitano esse período musical dos anos 60 é marcado pela inteligência
brasileira.
A bossa nova e o tropicalismo foram fenômenos importantes no processo de
institucionalização da MPB, incorporando o problema entre ruptura da tradição e
modernidade na sociedade.
O ciclo de institucionalização da música brasileira foi um processo marcado por
tensões e conflitos oscilando entre a formação de uma cultura de protesto e resistência e,
a consolidação de um produto altamente valorizado, no ponto de vista econômico e
sociocultural.
A história da música popular brasileira possibilitou vislumbrar o segmento
jovem que crescia no país com a inserção da televisão nos lares brasileiros nos anos
1950, 60 e 70 através de festivais de canções e programas como O fino da Bossa e a
Jovem Guarda, dentre outros. Essa contribuição auxiliará na compreensão dos estudos
sobre a juventude na série Malhação, pois representa o início da catequização dos
jovens pelo caminho da música e da mídia misturando contradições, conflitos, sonhos e
consumo.
UM DIÁLOGO ENTRE A JUVENTUDE E A CONTRACULTURA
A adolescência é uma fase na qual o jovem se desliga parcialmente do universo
infantil, mas ainda não se encontra integrado ao universo adulto. Edgar Morin (2002)
entende que a adolescência compreende uma categoria histórica recente, datada
enquanto classe de idade a partir do século XX.
Beatriz Sarlo (2004) revela que em 1900, uma mulher imigrante com dezessete
anos já tinha dois filhos e não se considerava tão jovem. O marido, dez anos mais velho
era considerado um homem maduro. Os pobres eram jovens excepcionalmente;
eles passavam diretamente da infância para a cultura do trabalho.
33
Morin observa que a tendência individual do adolescente adquire formação
sociológica e, consegue alcance mundial diante da formação de um estilo juvenil pela
via do consumo. O autor aponta as bases que alicerçavam a construção da cultura
juvenil: o movimento oriundo de maio de 68, o movimento hippie e a contracultura.
A contracultura foi uma tendência internacional de crítica cultural e ideológica
ao capitalismo avançado, assumida principalmente por amplos setores da juventude
ocidental que teria em 1968 seu ano glorioso (Napolitano, 2007).
Os anos 60 caracterizaram um momento de grandes transformações culturais
9
. O
desejo pela revolão cultural com a recusa à sociedade de consumo, a desconfiança nas
políticas tradicionais e a afirmação da não violência culminaram com o surgimento do
movimento hippie. Esse fenômeno estava vinculado aos jovens da classe média e
questionava a moral e os padrões burgueses através do uso de drogas, da liberdade
sexual, a aceitação do homossexualismo e da meditação (Costa, 2000).
Os skinheads na Inglaterra fazem parte da denominada sub-cultura juvenile
materializam uma sociedade com problemas raciais e sociais. O grupo cultuava a força
física e as lutas marciais. Eles criticavam o new wave e resistiam ao processo de
massificação reafirmando sua identidade operária, a violência e outras características
o aceitas pela mídia, pelo status quo e pela intelectualidade (Idem).
A banda Sex Pistols liderou a expressão de uma nova atitude cultural e potica
com um novo tipo de rock, passando a ser chamado de punk. Eles usavam roupas pretas,
cheias de correntes e alfinetes. O grupo usava a suástica nazista (falsos valores da
liberdade e da democracia) como um símbolo da necessidade de destruição do sistema
(Ibidem).
A cultura punk expressava através do corpo uma recusa radical das condições de
existência de certa juventude. Ela foi desviada e se transforma em um estilo dentro do
circuito do consumo.
As marcas corporais mudam radicalmente de status, engolidas pela
moda, pelo esporte, pela cultura nascente e múltipla de jovens gerações;
diversificam-se igualmente em uma busca de singularidade pessoal:
tatuagem, piercing, branding (desenho ou sinal inscrito sobre a pele
com ferro em brasa ou laser), escarificação, laceração, fabricação de
cicatrizes em relevo, stretching (aumento dos buracos do piercing),
implantes subcutâneos etc (Le Breton, 2007:34).
9
Ver Os jovens Carecas do subúrbio no primeiro capítulo.
34
De acordo com Edgar Morin,
O movimento contra cultural se define, não apenas em oposição às
pressões-servidões do meio urbano, mas em oposições às pressões
organizacionais profundas (sejam batizadas de capitalistas, burocráticas,
tecnocráticas, econocráticas, aqui pouco nos importa) da complexidade
societal (hierarquização, especialização, inibição, repressão). A este
título, o movimento é cultural no sentido mesmo em que concernem os
fundamentos organizacionais da sociedade e da vida humana, cultura
entendida como dispositivo gerativo do sistema social e das normas de
vida individuais (Morin, 2003:131).
Para Morin, o movimento contra cultural peca em seu aspecto semântico ao
propiciar ênfase demasiada no sentido de negação, quando na verdade exprime também
aspectos de uma revolução cultural que afirma os seus valores positivos:
[...] de uma parte, pode-se nele ver um movimento de regressão para
uma indeterminação pré-organizacional que se exprime por um
neotribalismo comunitário ou um anarquismo sem entraves; mas, de
outra parte, e ao mesmo tempo, pode-se nele ver uma aspiração à
hipercomplexidade, isto é, uma organização em que a hierarquia, a
especialização, a centralização se apagam em proveito da interconexão,
das polivalências, do policentrismo (Idem, 2003:131).
As tribos emo, gótico, lutadores e clubbers envolvendo as personagens de
Malhação derivam consideravelmente dos grupos de jovens como os skinheads, boys,
punks, hippies e os “Carecas do subúrbio” estudados por Costa (2000).
A contracultura consiste um fenômeno indispensável para uma discussão
acurada da juventude, tendo em vista que as formas de expressões como a liberdade
sexual, o uso de drogas, as roupas negras e os neros musicais aparecem na série em
estudo e encontram, senão a sua origem, ao menos a sua principal expressão nessa
revolução cultural.
JUVENTUDE E TELEVISÃO: A HISTÓRIA DO PROGRAMA MALHAÇÃO E
A ARTICULAÇÃO COM OS PROGRAMAS QUE ANTECEDERAM A SÉRIE
Esta é a canção tema de abertura
10
em Malhação 2006:
10
Assim caminha a humanidade de Lulu Santos foi tema de abertura de Malhação entre 1995 a 1999. Te
Levar da banda Charlie Brown Jr. esteve presente entre 1999 a 2006. A partir de 2006, Lutar pelo que é
meu novamente com Charlie Brown Jr. abre os capítulos da série.
35
Lutar pelo que é meu
11
A gente passa a entender melhor a vida
Quando encontra o verdadeiro amor
Cada escolha uma renúncia isso é a vida
Estou lutando pra me recompor
De qualquer jeito seu sorriso vai ser meu raio de sol (bis)
O melhor presente Deus me deu, a vida me ensinou a lutar pelo que é meu (bis).
Então deixa eu te beijar até você sentir vontade de tirar a roupa
Deixa eu acompanhar esse instinto de aventura de menino solto
Deixa minha estrela orbitar e brilhar no céu da sua boca
Deixa eu te mostrar que a vida pode ser melhor mesmo sendo tão louca
Stop, they don’t love like I love you (refrão)
Stooooooop stop cam’on
Composição: Charlie Brown Jr.
A série Malhação
12
exibida pela Rede Globo de televisão, estreou no Brasil em
24 de abril de 1995. Ela é classificada pela mídia
13
como um bem sucedido programa
para adolescentes.
Os estudos sobre a telenovela revelam um gênero relativamente antigo: a
radionovela chegava ao Brasil na década de 40 e, a televisão a partir de 1950
14
.
A radionovela chega ao Brasil somente em 1941, ano em que o
lançadas A predestinada” pela Rádio São Paulo e “Em busca da
felicidade” pela Rádio Nacional. Nos dois casos os traços latino-
americanos podem ser observados. Os depoimentos dos radialistas da
época são concordantes; Oduvaldo Viana, diretor artístico da Rádio São
Paulo, descobre o gênero em sua viagem à Argentina e, seduzido por
esta nova forma de se contar uma estória, a implanta no Brasil.
Sintomaticamente a radionovela é financiada pela Colgate Palmolive.
Os acontecimentos no Rio de Janeiro são análogos. “Em busca da
felicidade” é uma novela do cubano Leandro Blanco, traduzida e
produzida pela Standard Propaganda, agência de publicidade que
administrava a conta da Colgate. Waldir Wey nos conta de onde veio a
iniciativa de apresentá-lo no rádio: “Veja só, Mr. Penn para sua linha de
produto disse: Vamos atingir a mulher de qualquer maneira. Chamou
11
Site: http//letras. mus.br.incharliebrownjr, 28.05.06.
12
Os números tratados em Malhação têm como fonte o Dicionário da TV Globo, volume um: Programas
de dramaturgias & entretenimento.
13
Mídia impressa como jornais, revistas (Revista Veja, Revista Época, Capricho, Malhação e Toda teen).
14
Conforme os estudos do historiador Marcos Napolitano sobre a Música popular brasileira:
engajamento político e indústria cultural, no início deste capítulo.
36
Gilberto Martins e mandou-o adaptar a novela cubana “Em busca da
felicidade”, que foi parada de sucesso no Brasil inteiro”. O depoimento
é sugestivo. Ele identifica o gênero à necessidade de se ampliar o
mercado feminino” de bens domésticos, mas sugere ainda que a
radionovela seja introduzida a partir das preocupações deste Mr. Penn,
antigo gerente da Colgate-Palmolive em Cuba e outros países da
América latina, que procura no Brasil explorar uma fórmula testada
anteriormente. A radionovela surge, portanto, como um produto
importado, o que significa que no Brasil ela segue um pado pré-
estabelecido: a) a temática é folhetinesca e melodramática; b) o público
visado é composto por donas-de-casa. (Ortiz, Ramos e Borelli,
1991:26).
A Escola de Frankfurt (Horkheimer e Adorno, 1995) analisava a soap-opera
enquanto novela de rádio, ou seja, as radionovelas, um processo anterior ao da
telenovela.
Em consonância aos estudos de José Mário O. Ramos (1995), em 1977 havia
indícios apontando um crescimento considerável dos consumidores na faixa etária entre
18-24 anos, em relação a produtos como refrigerantes (34%) e rádio FM (39%) em São
Paulo.
Nos cinemas, Garota Dourada em 1983 tem como cenário de filme uma praia,
com surfistas de braço tatuado e bitos saudáveis. O enredo é inspirado nos filmes dos
anos 50 e 60 dos Estados Unidos, os beach parties, direcionado a cultura juvenil. Nesse
espaço rumo à modernidade, imagem e música já prevaleciam sobre o conteúdo
narrativo.
Para Ortiz, Ramos e Borelli (1991), o desejo de modernização era percebido
através dos deos games e nas cenas envolvendo transa homossexual como sugeria o
filme Bete Balanço.
Em 1985, Antônio Calmon criava a dupla Juba e Lula em Armação Ilimitada.
Armação Ilimitada (1985-1988) monta uma dupla, inspirada, sem
dúvida, pela tradição dos seriados policiais americanos com seus pares
de policiais, transformando o personagem Zeca, o companheiro de
Valente nos filmes de Calmon, em Juba (Kadu Moliterno). Na verdade,
a dupla se amplia formando um quarteto, ou uma espécie de “família”,
com o menino órfão Bacana (Jonas Torres) e a jornalista doCorreio do
Crepúsculo”, Zelda Scott (Andréa Beltrão) (Ramos, 1995:251).
No entanto, uma juventude minimizando a perspectiva crítica parece surgir:
37
Já com “Armação Ilimitada” Daniel Filho pensa uma proposta para
captar um outro momento da juventude. Há sem dúvida uma nova
juventude, certamente menos culpada que a minha e com códigos
culturais bastante distintos. “Armação Ilimitada” registra os temas
juvenis: saúde, brincadeira, trabalho, que dissociado dessa carga
cinzenta que se atribuiu a eles... O abandono da carga cinzenta pode
implicar numa adeo às vezes hedonista, a um modo de vida juvenil,
minimizando uma perspectiva crítica (Idem, 1991:254).
Antônio Calmon escreve a telenovela Top Model pela Rede Globo, entre 1989-
90, no horário das 19h00min abordando um núcleo de jovens atores como Malu Mader,
e os adolescentes Marcelo Faria, Gabriela Duarte, Adriana Esteves, Flávia Alessandra,
Rodrigo Penna, Igor Lage e Carol Machado.
Sílvia Borelli percebe a promoção da juvenilidade na telenovela: sejam belos,
sejam amorosos e sejam jovens. O cenário é uma permanente passarela da moda,
revelando ao mesmo tempo produtos para surfistas.
Para Borelli, Top Model promove debates de temas significativos, como a
sexualidade, revelando de maneira positiva as novas alternativas de comportamento
demonstrando as formas abertas de relacionamentos. No entanto, a novela peca ao
reforçar um modelo de sociedade em que todos precisam permanecer jovens. Gaspar
(Nuno Leal Maia), quarentão e pai de cinco filhos era um exemplo dessa busca do mito
da eterna juventude.
A série norte-americana Barrados no Baile, Beverly Hills 90210
15
, foi exibida
no Brasil pela Rede Globo nos anos 90. O tema versava sobre racismo, drogas e
gravidez na adolescência. Ela contava a estória de Brandon (Jason Priestley) e Brenda.
Os irmãos estudavam no colégio West Beverly. Brandon era um jovem popular,
trabalhava no colégio e no clube de praia de Beverly Hills. Sua irBrenda namorava
Dylan Mc kay, o garoto problema da cidade.
Os personagens de Barrados no Baile viraram ídolos. As adolescentes se
espelhavam nas roupas, cabelos e posturas de Brenda, Kelly e Donna. A série se
baseava nos estereótipos adolescentes como a jovem Kelly, representante das
patricinhas, Steve, o playboy, Dylan, o descolado, a innua Donna, o “mané” David
Silver e a “mala
16
” Andréa Zukermann.
Confissões de adolescente estreou em nove de março de 1992, no porão do
Teatro Laura Alvim. Maria Mariana, Patcia Perrone, Carol Machado, Georgiana Góes,
15
Título original da série.
16
Gíria que designa uma pessoa inconveniente.
38
Ingrid Guimarães, Daniele Valente, Déborah Secco e o veterano Luís Gustavo
integravam o elenco.
17
A série foi exibida pela TV Bandeirantes e visava o público
jovem.
O programa manteve o foco voltado para uma parte dos adolescentes do Brasil.
Em nota inicial, os editores do livro Confissões de adolescentes advertem timidamente:
Outra parte (dos jovens brasileiros), muito mais numerosa, vivem
experiências diferentes nas ruas e nas favelas das nossas cidades. Eles
não têm acesso a teatros nem a livros. Seria bom poder ouvir, também
deles, como estão adolescendo (...) (Maria Mariana, 1992:08).
De acordo com Domingos Oliveira a referida série ganhou projeção nacional
porque abordava certos tabus sociais: Todo mundo sabe que, em certa faixa da nossa
sociedade, as adolescentes fazem amor e fumam maconha ou fazem abortos” (Maria
Mariana, 1992:13). E também por que:
muito que aprender com o adolescente. Ele é muito bio. Ele arde
na explosão do sexo. E isto lhe confere uma sabedoria imensa, aquela
genna, que vem de uma inabalável vontade de viver. Há muito que
ensinar para o adolescente. Ele não sabe que sabe. É preciso dizer isto a
ele. E, por vezes, é demasiadamente incauto. Também não se pode ter
tudo (Idem, 1992:11).
Nessa perspectiva a série Malhação segue o ritual materializado na adolescência.
A cada nova safra de jovens que surge, uma turma passa para o plano secundário
cedendo espaço para outros jovens atores até deixarem o programa definitivamente.
Analisando a construção do programa Malhação é natural que em mais de dez
anos, diversas mudanças na equipe de produção e elenco tenha ocorrido. No entanto, a
temática é mantida até hoje, abordando questionamentos em consonância com o
universo cultural do jovem brasileiro de classe média, envolvendo relacionamentos
amorosos, separação de pais, amizade, ciúme, virgindade, gravidez não planejada,
aborto, Aids, preconceito racial e econômico, homossexualidade e uso de anabolizantes.
Os capítulos eram definidos semanalmente, de modo que a trama iniciava na
segunda-feira e tinha seu desfecho na sexta, surgindo o fio condutor para o tópico a ser
17
Ingrid Guimarães participou do seriado dominical Sob nova direção, ao lado de Heloisa Perissé, pela
Rede Globo. As jovens atrizes Deborah Secco (na época com 14 anos) e Daniele Valente passaram a
integrar o elenco de Confissões de Adolescente (A TV Cultura de São Paulo reprisou o seriado em 2004).
As atrizes integram o elenco de Pé na Jaca (2006-7), telenovela de Carlos Lombardi.
39
tratado na semana posterior. Na atualidade, as ações da trama passaram a ter caráter
contínuo, concluindo a história somente ao final de cada temporada.
Desde 24 de abril de 1995, escrita por Ana Maria Moretzsohn, Charles Peixoto,
Ricardo Linhares, Márcia Prates, Andréa Maltarolli, Emanuel Jacobina, Patrícia
Moretzsohn e Vinícius Vianna, direção de Roberto Talma, Flávio Colatrello, Leandro
Néri, Gonzaga Blota e José Luiz Villamarim, produção executiva de Flavio Nascimento
e direção de produção de Eduardo Figueira, temos a primeira temporada da série.
O cenário ambientava-se na fictícia academia de ginástica Malhação, na Barra da
Tijuca, Rio de Janeiro. A academia que serviu como cenário para a série global fora
construída nos estúdios da Cinédia, Jacarepaguá, em uma área de aproximadamente
1.560 metros quadrados, com estacionamento, piscinas, bar, vestiários, terro, entrada
principal com todos os ambientes interligados.
Essa academia de ginástica deu nome à série até os dias atuais, graças a sua
popularidade. Em outros países como Portugal onde a série é exibida, o nome Malhação
foi adaptado, uma vez que o ambiente atual fora ampliado para uma escola e jovens
estudantes, como estudaremos adiante.
Um dos objetivos iniciais da série era o de revelar jovens talentos. Daí a mescla
de atores iniciantes com veteranos. Danton Mello, Carolina Dieckmann, Luigi Baricelli,
Bárbara Borges, Mário Frias, Priscila Fantin e Fernanda Vasconcellos são alguns
exemplos de jovens revelados na série que passaram para a telenovela das oito.
A TV Globo realiza anualmente um processo de seleção de atores e modelos
através de suas escolas e oficinas artísticas. A emissora carioca recebe milhares de
vídeos enviados pelos potenciais candidatos.
Rosana Quintaes, produtora do elenco, avaliou aproximadamente 400
candidatos em 2005. Desses candidatos apenas quinze obtiveram êxito. Desse modo,
desde 1995 a TV Globo faz de Malhação uma espécie de laboratório inicial para seus
atores.
A soap-opera nos Estados Unidos tem como paradigma um tipo de produção
que se mantêm com um custo baixo
18
, recrutando atores menos talentosos do mercado
americano (Ortiz, Ramos e Borelli, 1991).
18
Segundo a revista Veja, edição 1886, o cachê para iniciantes em Malhação é de mil reais por mês.
Somente em alguns casos, como o de Sergio Hondjakoff (Cabeção), o mais antigo do elenco, o salário
pode chegar aos cinco mil reais.
40
A industrialização da telenovela tornou a vida dos atores, produtores e elenco
uma estafante rotina.
Olha, tem dia que eu acho que o vou acordar. Tem dia que eu acho
que o vai dar. Eu fico muito preocupada com isso, porque é uma
coisa sobre humana. Principalmente se você está protagonizando. Sei de
pessoas que ficam quase meio doente você não faz outra coisa na sua
vida, porque quando a gente chega em casa, se vocês pensam que a
gente vai chegar, vai ficar com os filhos, vai namorar, vai cuidar da
casa, não vai decorar texto. (Entrevista a Bia Seidl
19
, atriz,
PUC_FINEP, 1986, in Ortiz, Ramos e Borelli, 1991:153).
A produção de Malhação conta com mais de 150 pessoas entre atores,
figurinistas e maquiadores para levar pouco mais de trinta minutos da série ao ar. Esses
atores trabalham até dez horas por dia.
O primeiro protagonista da série foi interpretado por Danton Mello
20
, o ingênuo
Héricles, do interior do Rio de Janeiro. Aqui temos a trajetória do jovem que vai para a
capital em busca de emprego e escola. É ele quem conduz a série, com o seu
personagem debatendo o tema da virgindade.
O objetivo do enredo fica em torno das discussões sobre os problemas cotidianos
do jovem, como a gravidez, o aborto e a Aids. O desafio para os diretores do programa
era tratar desses assuntos com a mesma naturalidade do surgimento de espinhas no rosto
e, conseguir a audiência do público juvenil de 12 a 17 anos.
21
O figurino da série obedecia a um padrão tropical com roupas leves, cítricas e
coloridas.
Paula (Silvia Pfeifer) é a proprietária da Academia Malhão. Ela tem dois filhos
adolescentes Luiza (Fernanda Rodrigues) e Fabinho (Bruno de Luca). Bruno trabalha
atualmente como colaborador no programa Caldeirão do Huck
22
. Sua irmã é apaixonada
pelo professor de judô Dado (Cláudio Heinrich), sensato e espirituoso. Luiza vive um
amor platônico, pois para Dado ela não passa de uma criança.
Fabinho adentra a adolescência e recheia a trama com suas confusões ao lado de
Bróduei (Fabiano Miranda).
19
Em 2001, Bia Seidl interpreta a mãe de Gui e sofre com a descoberta de um câncer de mama.
20
Ademir Zanyor, Ana Paula Tabalipa, Carla Ceccato, Carla Regina, Carolina Dieckmann, Daniela
Pessoa, Dill Costa, Fabiano Nogueira, Gustavo Long, John Herbert, Juliana Martins, Luigi Baricelli,
Marcelo Faustini, Marcelo Garcia, Mario Gomes, Mônica Areal, Nair Bello, Nico Puig, Pablo Uranga,
Viviane Novaes, entre outros, integravam o elenco da rie.
21
Os adolescentes entre 12 e 17 anos representavam 17% do público de Malhação e 11% da população
brasileira no início desta pesquisa ate 20.04.2005.
22
Programa de entretenimento e variedades apresentado por Luciano Huck na Rede Globo.
41
A turma da academia vai para uma colônia de férias no Rancho da Maromba. Os
personagens da série comumente viajam nas férias. O ambiente varia da praia, passeios
na floresta com acampamentos e casa de campo.
Em 08 de abril de 1996, inicia-se mais uma temporada da série. Dessa vez o
mundo adulto é explorado. Paula vende a academia ao empresário Ferraz (Adriano
Reys), que falece deixando o negócio para Joana (Samantha Monteiro) e Zizi
(Elizangela).
O tipo bad boy interpretado por Nico Puig, Raul, responsável por inúmeras
confusões volta à cena, aparentemente regenerado.
Héricles ganha uma companheira Alex (Camila Pitanga). Na segunda temporada
as histórias não se restringiam à apenas uma semana. O cenário é reformulado, sendo
construído outro ambiente em pouco tempo. Surge então uma sauna a vapor, fliperama,
restaurante, sushi-bar, parede de alpinismo e rampa de patinação. A escolinha de judô
ganha requintes orientais. Uma piscina projetada para mostrar a movimentação dentro
da água é construída.
Vânia Mourão é a responsável pelo figurino, incorporando texturas sintéticas
para os atores e, para as mulheres grafismos nas estampas e maquiagem realçada.
Beto Simas, Carlos Satto, Flávia Bonato, Íris Bustamante, Lucas Margutti, Luiza
Curvo, Renata Fronzi, Renata Mor, Rodrigo Drippe entre outros, completam o elenco.
Em 18 de abril de 1997 temos a terceira temporada de Malhação, com mudança
na equipe de produção. Os responsáveis pela redação são Alessandra Pogge, Carlos
Gregório, José de Carvalho e Tereza Frota, sob a direção de Reynaldo Boury, A.
Schultz e Paulo Silvestrini
23
.
Fausto (Norton Nascimento) se diz herdeiro de metade da academia, causando
transtorno aos sócios e freqüentadores do clube. Uma relação de encontros e
desencontros se desenvolve entre Magali (Daniela Pessoa) e Vudu (Pedro Vasconcelos).
A grande surpresa da temporada é Mocotó (A. Marques), eterno contador de vantagens
que consegue enfim uma namorada, Betânia (Karla Nogueria) a hippie.
O jogador de futebol Ronaldo, o fenômeno”, participa da série levando Mariana
(Suzana Werner) para a lua de mel na Itália. Na vida real formaram um casal
apaixonado.
23
Entre os atores, as novidades são: Antônio Rocco, Bianca Rinaldi, Carolina Abranches, Francisco
Cuoco, Guilherme Medalha, Juliana Knust, Karina Barum, Luana Piovani, Lucinha Lins, Michelle
Martins, Nívea Stelmann, Raquel Nunes, Talita de Castro, Walther Verve, entre outros.
42
A partir de 30 de março de 1998, a quarta temporada
24
de Malhação tem
reformulação total no elenco e na trama. A academia deixa de ser o centro da série. Os
temas relativos à juventude são mantidos. Bruno (Rodrigo Faro) e Alice (Cássia
Linhares) iniciam uma receita no qual o casal enfrentará uma série de obstáculos para
viver seu grande amor.
Entre os problemas cotidianos dos jovens, surge uma gravidez inesperada que
obriga Cacau (Juliana Baroni) e Barrão (Bruno Gradim) amadurecer rapidamente.
A série passa a contar com cenas externas ambientando corridas de carro e o dia-
a-dia de uma produtora dedeos. Um restaurante completa o ambiente na cidade
cenográfica no Projac
25
.
A jovem mimada Flávia (Daniele Valente) faz as coberturas esportivas para o
seu pai, o ambicioso Milton (Francisco Milani) e dono da produtora de vídeos. Flávia
namora o vilão Rui.
Jonas Torres
26
volta às telas após Armação Ilimitada e Top Model vivendo
Beto, ao lado de Escova (Mário Frias). Eles vendem equipamentos esportivos na praia
de Mucuim.
Mocotó
27
retorna a Malhação a tempo de ver a demolição da academia, após ser
vendida pelo vilão Rui (Hugo Gross) que foge com o dinheiro.
Os técnicos desmontam o cenário que perdurou por quatro anos. A partir de
cinco de outubro de 1998 começa Malhação.com.
O cenário era o quarto de um jovem, o “muquifo do Mocotó”. Os
telespectadores poderiam agora interagir através da Internet, discutindo um álbum
virtual de memórias. Nessa trama discute-se a saída do jovem da casa dos pais, tendo
por base a vida de Mocotó, que morava sozinho quando estreava no seriado.
Em outubro de 1999 Mocotó decidiu comprar o Paradinha para transformá-lo
num bar, o Guacamole. O sucesso do Guacamole atravessou temporadas e cedeu lugar
24
Malhação ano IV, com texto de Charles Peixoto, Denise Bandeira, cio Coimbra, Maria Mariana,
Glória Barreto, Ricardo Hofstetter, Marcílio Moraes, Patrícia Moretzsohn e Emanuel Jacobina, direção de
Ignácio Coqueiro, Alexandre Lannes, André Schultz e Leandro ri, direção de produção de Mário
Rogério Ambrósio. Integraram o elenco Aldri D’Anunciação, Alexandre Barillari, castrinho, Cecil Thiré,
Jonas Bloch, Lavínia Vlasak, Maria Ribeiro, Totia Meirelles entre outros.
25
O Projac é o centro de produção da TV Globo, localizado em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro.
Inaugurado em 1995, é considerado o maior núcleo televisivo da America Latina, com área total de 1,65
milhões de metros quadrados.
26
O ator interpretava o personagem Bacana.
27
A. Marques, o eterno Mocotó de Malhação, atualmente apresenta o programa Vídeo Show.
43
ao Giga Byte
28
, um bar dirigido atualmente por Dona Vilma (Bia Montez). O Giga é
ponto de encontro entre os alunos do ltipla Escolha. Touro, Beto (Sérgio Abreu),
Gui (Iran Malfitano), Cabeção e atualmente Download (Vagner Santisteban) são alguns
dos gerentes que passaram pelo Giga Byte.
Dona Vilma faz o gênero proprietária linha-dura: explora seus funcionários e
inquilinos mandando-lhes conferir o estoque como castigo e, exige o tempo todo
eficiência e economia. A personagem fora a inspetora do colégio em outras
temporadas. Ela é católica e sempre menciona o padre Jacobino da comunidade local
sendo uma exceção no mundo ficcional, quando se trata do elemento religioso.
O JOVEM E O CONSUMO: LAZER E ENTRETENIMENTO
Malhaçãoltipla Escolha se tornou a fase mais duradoura da série. A primeira
fase se deu a partir de 18 de outubro de 1999
29
. Era uma tentativa de melhorar os 14
pontos no Ibope. Na época de Mocotó, em Malhação.com integrar o elenco da série era
sinal de carreira em baixa. A série chegava aos níveis mais baixos de audiência.
O cenário da série mudaria definitivamente. A ‘academia Malhação’ que estreou
em 1995 cedeu lugar para o colégioltipla Escolha (nome moderno) e, mantêm-se até
hoje enquanto cenário principal. O espaço de ação fora ampliado (academia escola)
em resposta ao público da série.
O diretor Adolfo (Othon Bastos) torna obrigatório o uso do uniforme, mas é
demitido do colégio por seu caráter autoritário. Em seu lugar assume a coordenadora
Nana (Rosa Maria Murtinho) escolhida pelos alunos pela sua posição democrática.
O colégio o adota o uso de uniforme, fato que torna visível o merchandise em
torno das intensas disputas por roupas de grife.
Vivi (Graziela Schimidt) é autêntica representante das patricinhas e, aguarda
ansiosamente suas roupas coloridas vindas especialmente de Paris para desfilar nos
corredores do colégio.
28
O sucesso do Giga Byte Case estende ao mundo real. A lanchonete do instituto de educação da
Universidade Federal de Mato Grosso é curiosamente chamada de Giga pelos acadêmicos. Em Tangará
da Serra - MT, cidade a 240 km de Cuiabá, o bar Gyga funciona 24 h no terminal rodoviário local. Ortiz,
Ramos e Borelli (1991:62) comentaram sobre a influência do folhetim na vida familiar: “diante do
sucesso de “o direito de nascer”, as crianças passaram a nascer com o nome de Albertinho Limonta”. Por
extensão, esse elemento passa a ser visto também na vida escolar e acadêmica.
29
Texto de Maria Elisa Berredo, Patrícia Moretzshon, Cláudio Torres Gonzaga e Ricardo Hofstetter, sob
a supervisão de Emanuel Jacobina, direção de Ricardo Waddington (até o capítulo 50), Ricardo
Colatrello, Flavio Colatrello e Edson Spinello, gerência de produção de Andréa modo, produzido pelo
Núcleo Ricardo Waddington.
44
A tribo
30
denominada patricinha tem como traço marcante o conservadorismo
visual. São consumistas e usam roupa de grife além de acessórios e perfumes
caríssimos. A versão masculina é tipicamente conhecida como mauricinho. Eles
freqüentam ambientes específicos e, geralmente são preconceituosos com ambiente
populares, tidos como de pessoas pobres.
Em Malhação tivemos várias patricinhas como a Bia (Fernanda Nobre), Roberta
e Priscila Bitencourt (Monique Alfradique).
Os metaleiros usam roupas pretas, cabelos compridos e braços tatuados. Eles são
tidos como impontuais diante de compromissos, escola e horários. Para eles o
importante é fazer o que se gosta. Natasha (Marjorie Estiano) e Urubu (Marco Antonio
Gimenez) com suas vestes pretas representavam essa tribo em 2005.
Os internautas também são facilmente identificados. Adoram computadores e
quando não estão plugados
31
em casa, recorrem às Lan houses
32
acessando a rede
mundial de computadores. Eles baixam música pela internet, compram produtos que
o de roupas a comida, namoram e conseguem encontros através de sites de bate-papo.
O personagem Download” (Vagner Santisteban) representa essa massa de aficionados
pelo universo virtual que cresce a cada dia no mundo. A origem desse apelido
(Download) refere-se a um termo utilizado para baixar programas na Internet. São
poucos os jovens que não possuem um MSN ou orkut.
O MSN Messenger se consolida enquanto um programa de comunicação virtual
entre internautas do mundo todo, incluindo o Ocidente e o Oriente (Japão, China, Índia).
Esse recurso digital atualmente conta com câmeras de vídeo (web cams) e áudio,
propiciando conversa ao vivo e com imagens. Uma criança com dez anos de idade
domina muito bem esses dois recursos virtuais.
O orkut possibilita ao usuário manter uma página diária de recados, postarem
fotos em seu álbum particular além de seu perfil pessoal, social e profissional, agendas
com aniversário de amigos e colegas. Uma curiosidade é que a forma de aceitação a
esse universo depende de convite prévio de outro amigo, ocasionando certa seletividade
entre os membros da comunidade virtual. O orkut é muito utilizado pelos jovens na
atualidade em todo o mundo, constituindo uma forma de comunicação, namoro, visitas
etc.
30
Nesse momento utilizaremos o conceito de “triboempregado por Alves (2000).
31
Essa forma de neologismo designa uma pessoa utilizando os serviços da rede mundial de
computadores.
32
Local que oferece a possibilidade de acesso a Internet mediante pagamento.
45
Esse segmento envolvendo produtos tecnológicos computadores, monitores,
teclados, celulares, Ipod, Mp4 movimentam valores consideráveis, verdadeiras fortunas.
De modo que o universo digital acaba atraindo contravenções e penalidades,
contaminando orkuts e blogs falsos ou destinados à prostituição, pedofilia e a
proliferação de hackers
33
.
Na Internet circulam inúmeras fotos pornográficas ou pedofílicas,
carregadas por agências que cobram uma taxa de acesso ou por
particulares que as mandam para a rede ou fazem intercâmbios com
outros usuários. Inúmeros sites propõem trocas sobre temas sexuais,
locais de paquera virtual, encontros gays ou entre lésbicas etc., por meio
de diálogos, representação de papeis, possibilidade de criar para si um
avatar homem, mulher ou animal com os atributos à escolha do cliente,
para encontros em uma sala especializada reconstituída em 3D etc. as
câmeras ao vivo permitem os peep shows ou, mais sutilmente,
acompanhar ao longo das horas cada detalhe da vida de homens ou de
mulheres, suscitando a expectativa de uma fantasia erótica ou de uma
postura interessante. Hoje praticamente a metade das visitas à rede
acaba em um site pornogfico (Le Breton: 2007:171).
Os hackers são vistos como jovens indiferentes a sua aparência corporal ou a de
suas roupas, pouco se preocupam com o sono ou a alimentação, e sentem-se pouco a
vontade fora das salas de bate papo. Os apaixonados por Internet são solitários, mas
nunca estão isolados, pois formam grupos. O computador significa uma fonte de
existência e irradiação para eles (Le Breton, 2007).
Em fevereiro de 2005 surge o Youtube
34
, um site na Internet que permite aos
seus usuários carregar, assistir e compartilhar vídeos em formato digital. Cerca de 30
milhões de vídeos eram vistos diariamente até março de 2006, de acordo com o site
www.youtube.com.br. Em junho de 2007 o Youtube em parceria com a TV Globo passa
a exibir um compacto da série Malhação.
Os lutadores são praticantes de artes marciais e tiveram sua época marcante na
série. Em 1995, Dado é o professor de judô, seguido por Alexandre Frota com o jiu-jitsu
na temporada seguinte. Mau-mau e Pedro eram praticantes de Capoeira. Esse grupo
33
Nos anos 1960, no MIT, desenvolve-se uma paixão informática cuja cultura se propaga, aos poucos, a
inúmeros outros adeptos. Nessa época, esse punhado de homens (não nenhuma mulher) se denomina
os hackers, termo que designa um ardil de programação. Trabalham sem parar ate os limites de suas
forças, dormem perto de seus computadores, alimentam-se de sanduíches, são famosos pela austeridade
de sua existência.
34
Do inglês you: você, e tube: tubo; uma gíria que significa televisão. Em 09 de outubro de 2006 o
Google, maior site de busca da Internet compra o Youtube pela quantia de 1,65 bilhões de dólares em
ações e, unifica o serviço com o Google vídeo. O Google foi criado a partir de um projeto de doutorado
dos estudantes Larry Page e Sergei Brim, da Universidade de Stanford, Estados Unidos em 1996.
46
gosta de usar camisetas apertadas evidenciando o que tem de maior: os músculos. Outra
prática bastante observada entre os lutadores é o uso de anabolizantes (drogas). Kiko,
João (Java Mayan) e Urubu integraram o elenco de lutadores nesta temporada.
Os Clubbers, a exemplo dos freqüentadores de “disco” nos anos 80, adoram
música eletrônica ou techno e curtem muito barulho em suas raves (festas). Esses
jovens utilizam cores fortes em seus cabelos, óculos enormes, piercing na ngua,
tatuagem, além de muitos adereços. Eles consomem um tipo de droga sintética, o
ecstasy. São bastante liberais quanto à orientação sexual e não vêem problemas em ter
namorado fixo (a). Os integrantes da “Vagabanda” compostos por Gustavo, Natasha e
Catraca ilustravam parte destes jovens em Malhação.
Os novos hippies preferem à música popular e cursos de arte e dança. Sua
parcela também é significativa nos grandes centros. Eles têm bito de acampar nas
montanhas e tomar banho de cachoeira. Os novos hippies fazem uso da maconha e são
herdeiros dos bichos-grilos, em outras palavras, doidonas ou malucas (freaks em
inglês). Esteticamente, eles apreciam o uso de colares, saia rodada e sandália.
Outras tribos estão eclodindo ou ressurgindo como a cultura infanto juvenil hip
hop
35
e emo
36
. Na maioria das vezes os jovens se identificam (ou o se identificam
com nenhum grupo) com mais de um grupo, daí a noção de estereótipo.
35 Com o hit Shut Up, a banda norte americana hip hop Black Eyed Peas é sucesso na trilha sonora
Malhação 2004. O Hip-hop é um movimento cultural que surgiu na Jamaica na mistura entre a tradição
africana do canto falado e a animação dos bailes dos guetos jamaicanos, os "sound sistems" e foi levado
pelo DJ Kool Herc às comunidades afro-americanas das regiões Bronx, Queens e Brooklyn de Nova
Yorque no início dos anos 1970. O crédito é dado ao DJ Afrika Bambata pela criação do termo hip-hop
para descrever a cultura. Os quatro elementos da cultura hip-hop são o MC (Rap), DJ, Grafitti e
Breakdance (dança de rua). Alguns ainda consideram o beatboxing como quinto elemento. Outros ainda
adicionam o ativismo político, a moda hip-hop e a gíria hip-hop como outros elementos marcantes para
um passo para trás da cultura mundial. O Hip-Hop emergiu no final da década de 60, nos subúrbios
negros e latinos de Nova Iorque. Estes subúrbios, verdadeiros guetos, enfrentaram todo tipo de
problemas: pobreza, violência racismo tráfico, carências de infra-estrutura, de educação, etc. Os jovens
encontravam na rua o único espaço de lazer, e geralmente entravam num sistema de gangues (quem fazia
parte de algumas das gangues, ou quem estava de fora, sempre conhecia os territórios e as regras impostas
por elas), as quais se confrontavam de maneira violenta na luta pelo domínio territorial. Informações
obtidas através do site: wikipedia em 11.01.07.
36
Emo, abreviação do inglês emotional hardcore é um gênero de música. O termo foi originalmente dado
às bandas do cenário punk de Washington que compunham num lirismo mais emotivo que o normal.
Nesta época, outras bandas estabelecidas de hardcore, como 7 Seconds, Government Issue e Scream
também aderiram à esta onda inicial do chamado "emocore", diminuindo o andamento, escrevendo letras
mais introspectivas e acrescentando influências do rock alternativo de então.O gênero (ou pelo menos o
clássico estilo de Washington, o DC sound) primeiramente explorado por bandas como Faith, Rites of
Spring e Embrace tem suas raízes no punk rock.Hoje em dia o termo "emo" continua ambíguo. Com o
sucesso de bandas como Fall out boy e Simple Plan, a "corrente principal" ficou interessada no gênero
rotulando bandas de indie-rock como "emo". O rótulo começou a agregar muitas bandas guitar que
emergiam do cenário underground e bandas como Thursday e Taking Back Sunday começaram a ter o
47
Através da trilha sonora da série em 2004, percebemos uma variedade
interessante combinando gostos e estilos ecléticos nas canções: Musa do Verão - Felipe
Dylon, Só por hoje Detonautas, Solidão a dois – Sukhoi, Me deixaMichele Ornelas,
Amanhã não se sabe LS Jack, Do seu lado Jota Quest, Teto de vidro Pitty, Sei...já
não sei Crase, Pegadas na lua Skank, Todo mundo Brava, Seguindo estrelas
Paralamas do Sucesso, O amor é mais Liah, Você sempre será Marjorie Estiano,
Nem sempre o que se quer US4, Eu sei Legião Urbana, Sobre nós dois e o resto do
mundo Frejat, Satisfaction Beny Benassi, I hate everything about you Three Days
Grace, Behind Blue eyesLimp Bizkit, Shut Up Black Eyed Peas, Girlfriend (Remix)
Bak, I’m Still in love with you Sean Paul Feat Sasha, I miss you Blink 182, Don’t
tell me Avril Lavigne, My Imortal Gothic, You’re the only one- Maria Mena, Here
without you 3 Doors Down, Waste Smash Mouth, Blond Thang! Da Big Boy Daddy
– Babbotz, I don’t make you happy – Phunk Freaks, Piano-New Deal, Pause Bombers
37
.
Amanhã não se sabe, canção do grupo LS Jack, está direcionada aos românticos
e apaixonados,
Amanhã Não Se Sabe
Ls Jack
Composição: Sérgio Brito
Como as folhas com o vento
até onde vai dar o firmamento
toda hora enquanto é tempo
vivo aqui este momento
hoje aqui amanhã não se sabe
vivo agora antes que o dia acabe
este instante nunca é tarde
mal começou eu já estou com saudades
me abraça, me aceita
me aceita assim meu amor
mesmo status que Dashboard Confessional e The New Amsterdams. Nota-se uma nova tendência emo
em abandonar o punk distorcido em favor de calmos violões. Na cultura alternativa diz-se que alguém é
ou está emo quando demonstra muita sensibilidade. No Brasil, o gênero se estabeleceu sob forte
influência norte-americana em meados de 2003, na cidade de São Paulo mais precisamente, espalhando-
se para outras capitais do Sul e do Sudeste, e influenciou também uma moda de adolescentes
caracterizada o somente pela música, mas também pelo comportamento geralmente emotivo e
tolerante, e também pelo visual, que consiste em geral em trajes pretos e franjas do cabelo caídas sobre os
olhos. Informações retiradas do site wikipedia em 11.01.07.
37
Fonte: http// www.globo.com/malhacao10anos.
48
me abraça, me beija
me aceita assim como eu sou
e deixa ser o que for
como as ondas com a maré
até onde não vai dar mais pé
este instante tal qual é
vivo aqui e seja o que Deus quiser
hoje aqui não importa pra onde vamos
vivo agora não tenho outros planos
e é tão fácil viver sonhando
enquanto isso a vida vai passando
(http://ls-jack.letras.terra.com.br/letras/79844/ em 26.12.2006).
Teto de Vidro (letra da canção abaixo), de Pitty e Só por hoje dos Detonautas,
atendem aos adoradores de “rock” nacional,
Teto de Vidro
Pitty
Composição: Pitty
Quem não tem teto de vidro
que atire a primeira pedra(4x)
Andei por tantas ruas e lugares
Passei observando quase tudo
Mudei, o mundo gira num segundo
Busquei, dentro de mim os meus lares
E aí, tantas pessoas querendo sentir
Sangue correndo na veia
É bom assim, se movimenta está vivo
Ouvi milhões de vozes gritando...
Eu quero ver quem é capaz
De fechar os olhos e descansar em paz
Na frente está o alvo que se arrisca pela linha
Não é tão diferente do que eu já fui um dia
Se vai ficar, se vai passar, não sei
E num piscar de olhos, lembro o tanto que falei
deixei, calei
e até me importei
Mas não tem nada, eu tava mesmo errada
Cada um em seu casulo, em sua direção
Vendo de camarote a novela da vida alheia
Sugerindo soluções, discutindo relações
Bem certos que a verdade cabe na palma da mão
Mas isso não é uma questão de opinião (2x)
49
E isso é só uma questão de opinião
http://pitty.letras.terra.com.br/letras/67659/
Seguindo estrelas, dos Paralamas do Sucesso estão voltados aos apreciadores da
MPB brasileira.
A música Satisfaction
38
, de Beny Benassi contagiou as discotecas e casas
noturnas do país:
I
Satisfaction
Benassi Bros
Push me
and then just touch me
So I can get my
satisfaction
Satisfaction
Satisfaction
Satisfaction
http://benassi-bros.letras.terra.com.br/letras/593798/
.
A letra é quase inexistente em Satisfaction. A canção está pautada na chamada
música eletnica, imprimindo mais sons do que letras na canção.
Gillo Dorfles discute a produção da música eletrônica em O devir das artes:
Em suma, naquela que está sendo definida como “música eletrônica”,
os sons são produzidos com geradores de freqüência partindo de sons
simples (einfacher Ton = tonalidade ou som simples de
desenvolvimento sinusoidal), passando eventualmente por sons
compostos de tonalidades simples (ou seja, por miscelâneas de sons=
Tongemisch) e também por sons obtidos a partir dos chamados sons
brancos, dos quais, por sucessivas filtragens através do painel de filtros
de oitava, chega-se a obter sons complexos e dotados de uma maior ou
38
Satisfaction (tradução
)
.
Benassi Bros. Composição: indisponível
Me empurre
e que só me toque
Quando eu conseguir minha
Satisfação
Satisfação
Satisfação
Satisfação
50
menor riqueza tímbrica, dependendo das presenças de maior ou menor
número de harmônicos superiores (Dorfles, 1992:152).
O autor critica a música eletrônica porque ela não desenvolve o tecido sonoro
complexo da música tradicional. Infelizmente este complexo tecido sonoro levou tempo
para ser desenvolvido pelo músico promovendo uma aproximação com o público, o que
para Dorfles (1992) ecoava positivamente. No entanto, com a inserção da música
eletnica na sociedade atual rompeu-se o vínculo entre artista e público.
Miss you, de Blink 182 e Don’t tell me de Avril Lavigne, agradam os
admiradores de rock metal. Nem mesmo os Góticos
39
se salvam desse caça-níquel
musical. Atrair todos os segmentos de consumo é o lema da trilha sonora de Malhação
2004.
O jovem imagina escolher um estilo musical: clássicos, românticos, MPB, rock,
metal, eletro, techno. Na prática o comportamento individual desse jovem se articula de
acordo com a determinação e modelos oferecidos (impostos) pela cultura de massa
40
(Eco, 2004). Assim Ls Jack contempla aos românticos, Pitty aos rock metal, e Benassi
as músicas eletro.
A pesquisa de mercado já consolidava o mundo dos jovens nos anos 80, um
segmento entre 15 e 24 anos, dividido em classes A, B e C em São Paulo e Rio de
Janeiro. Surgia o jovem moderno e estereotipado (Ramos, 1995).
Para a Escola de Frankfurt,
Distinções enfáticas, como entre filmes de classe A e B, ou entre
estórias em revistas a preços diversificados, não o tão fundadas na
realidade, quanto, antes, servem para classificar e organizar os
consumidores a fim de padronizá-los (Horkheimer e Adorno,
1985:160).
39
É perigoso tentar definir a subcultura gótica, assim como as demais tribos urbanas existentes devido a
sua complexidade. Podemos observar alguns traços entre os góticos, como na música que glamouriza o
niilismo e na estética sombria, com um visual baseado essencialmente nas cores negras. Nos anos 1980
foi chamada de Dark, derivando-se do gênero s punk. O estilo perpassa o visual death, rock, punk,
andrógino, renascentista e vitoriano. A subcultura tica não possui literatura própria, mas existem vários
estilos literários apreciados por seus integrantes, entre eles, o Romance Gótico de Walpole e Mary
Shelley, o Romantismo com William Blake, Lord Byron e Edgar Allan Poe, a poesia
Simbolista/Decadentista de Baudelaire, T.S. Elliot, Rimbaud, Oscar Wilde e o romance Existencialista de
Camus e Sartre. Essa literatura também serviu de tema para movimentos artísticos anteriores, que
influenciaram o movimento estético dos anos 1980, como por exemplo o Expressionismo.
40
Ver o mito geracional Rita Pavone, Capítulo I.
51
No entanto, a padronização (música, artistas, roupas, alimentos, produtos,
serviços, tecnologia, etc.) não implica desconsiderar o jogo da diversidade cultural, com
as marcas simbólicas que os grupos utilizam para demarcar suas diferenças e re-elaborar
suas identidades:
Refiro-me especialmente à lenta e profunda revolução das mulheres
quem sabe a única que deixa marcas deste decepcionante século na
história sobre o mundo da cultura e da política, articulando o
reconhecimento da diferença com o discurso que denuncia a
desigualdade, e afirmando a subjetividade implicada em toda ação
coletiva. Refiro-me também às rupturas que, mobilizadas pelos jovens,
ultrapassam o âmbito da geração: tudo o que a juventude condensa, em
suas inquietões e fúrias como em suas empatias cognitivas e
expressivas com a língua das tecnologias, de transformações no
sensorium de “nossa” época e de mutações político-culturais que
anunciam o novo século. E, refiro-me, finalmente, a essas “novas
maneiras de estar juntos” pelas quais se recria a cidadania e se
reconstitui a sociedade, a partir das associações de bairro para a
resolução pacífica de conflitos, e das emissoras de rádio e televisão
comunitárias para recuperar memórias e tecer novos laços de pertença
ao território, até as comunidades que, com o rock e o rap, rompem e
reimaginam o sentido da convivência desfazendo e refazendo os rostos
e as figuras da identidade (Barbero, 2003:21).
Para Barbero, pensar o popular a partir do massivo não significa
automaticamente alienação e manipulação, mas talvez novas condições de existência e
luta ensejando um novo modo de funcionamento da hegemonia. Para o autor (Idem,
2003:323), a cultura de massas não ocupa somente uma posição no sistema das classes
sociais. No próprio interior dessa cultura coexistem produtos heterogêneos, “alguns que
correspondem à lógica do expediente cultural dominante, outro que corresponde a
demandas simbólicas do espaço cultural dominado”.
Os programas micos da televisão peruanos através do mosaico racial mostram
a origem popular e seus tipos físicos caboclo, negro ou cafuzo. Para Barbero (2003),
nesse momento a televisão se trai e mostra sem pudor as faces do povo “feioque a
burguesia racial quis a todo custo ocultar.
O
desafio potico atual pressupõe o reconhecimento da complexidade cultural
contidos nos processos e nos meios de comunicação (Barbero, 2003).
Para Ramos (1991:258), as análises sobre a televisão podem pecar ao enfocar a
condição s-moderna com otimismo extremo. O que pode ser tendencioso ao
vislumbrar uma sociedade de consumo consolidada. Mas em seu ponto de vista, a
52
série Armação Ilimitada apesar de pós-moderna, expôs “as marcas definidoras das
contradições da moderna sociedade brasileira”.
O crítico literário norte americano Frederic Jameson (2004) propõe a instauração
de um novo momento: o pós-modernismo. Para ele as imagens da televisão propiciam a
lógica do simulacro reforçando e intensificando a lógica do capitalismo tardio: a cultura
passa a ser vista como mera mercadoria.
Habermas (1983:90) contrapõe a Jameson ao pensar que “o projeto da
modernidade ainda não se cumpriu, sendo a recepção da arte apenas um de seus três
aspectos”. Nesse pressuposto ainda a possibilidade da crítica ao consumo. O próprio
Jameson (2004:14) admite que o “modernismo era, ainda que minimamente e de forma
tendencial, uma crítica à mercadoria e um esforço de forçá-la a se autotranscender”.
A noção de que o mundo do simulacro nos devorou e não oferece saída é
sufocante. Não podemos negar que enquanto o papel da crítica for exercido pelo
intelectual, a submissão da cultura a mera condição de mercadoria dentro da sociedade
contemporânea não se deu de forma hegemônica.
O figurinista da série, Marcelo Cavalcanti, conta que a personagem Vivi é louca
por shopping center e, em seu guarda roupa não faltam saias evasês, casaquinhos de
tri, quase tudo com rendinha, bordados, na cor rosa-bebê ou em algum outro tom
pastel. Ela adora sapatinhos de bico fino com salto baixo e, jamais usa tênis.
Assim como a personagem Vivi, muitas jovens são estimuladas a consumir para
produção de seus estilos:
No entanto, quando se reconhece que ao consumir também se pensa, se
escolhe e re-elabora o sentido social, é preciso se analisar como esta
área de apropriação de bens e signos intervém em formas mais ativas de
participação do que aquelas que habitualmente recebem o rótulo de
consumo. Em outros termos, devemos nos perguntar se ao consumir não
estamos fazendo algo que sustenta, nutre e, a certo ponto, constitui
uma nova maneira de ser cidadãos (Canclini, 2005:42).
Renato Ortiz é categórico ao entender que:
Não pretendo negar a importância desses fenômenos de opressão e de
dominação, mas penso que tais categorias, na medida em que o
unilaterais, o insuficientes para se pensar o quadro emergente; elas
desvendam somente um lado da moeda (1998:268).
53
Ortiz (1998) é mais cauteloso que o colega Canclini uma vez que não nega a
importância dos fenômenos opressão” e “dominação” ao analisar a relação entre
cultura e consumo.
Em Malhação Múltipla Escolha, no que tange ao enfoque da sociedade de
consumo, especificamente da cultura jovem, analisamos a personagem Vivi classificada
como patricinha. Ela continuidade a essas categorizações que acabam por viabilizar
os nichos de consumo juvenis. Nessa perspectiva temos ainda exemplos como Giovana,
Rafa, Bodão e Alexandre Camelo (Urubu), com estilos próprios, atitudes e
comportamento. Urubu sempre veste roupas nas cores escuras e é violento, chegando às
vias de fato com Bernardo. Giovana tem cabelos tingidos de vermelho e é pacífica.
A Internet, as rádios FM e programas musicais como MTV contribuem para o
sucesso ou o fracasso de bandas e caões. É o caso da roqueira baiana Pitty, um
sucesso de shows e Cds no universo juvenil. Ela é cultuada pela maioria dos
adolescentes que curtem rock e roupas escuras. A sua indumentária inclui piercings,
tatuagens
41
e acessórios, movimentando um mercado considerável entre os jovens do
país.
O vocalista Nasi
42
, do grupo musical Ira!
43
, revela que para vender um CD são
necessários fatores que vão além da qualidade musical: publicidade, possibilidade de
auferir ganhos com moda e estilo, até questões de âmbito potico, econômico e cultural
que o mundo perpassa. Merchandise é essencial para a venda de produtos.
Malhação Múltipla Escolha tinha novidades em relação ao cenário, com a casa
dos personagens principais integrando o novo espaço. Em conseqüência, as famílias
desses protagonistas passaram a integrar a trama.
Os temas agora se voltam para as questões sociais, com Érica descobrindo ser
soropositivo do vírus HIV.
Mocotó abandona a trama. A protagonista agora é Tatiana (Priscila Fantin),
formando um triângulo amoroso com sua melhor amiga Érica (Samara Felipo) e
Rodrigo (Mário Frias). Érica se apaixona por Touro (Roger Gobeth) e convive com
problemas próprios a idade, como conciliar namoro, trabalho, estudos e baladas.
41
O tema envolvendo marcas corporais será discutido no terceiro capitulo.
42
Nasi, em entrevista concedida ao making off do DVD Ira! Acústico MTV.
43
O guitarrista Edgar Scandurra revelou as origens da banda ligada ao fenômeno punk rock dos anos 80
em São Paulo, no programa Altas horas.
54
Outro personagem
44
que marcou presença é o professor de ngua portuguesa
Pasqualete (Nuno Leal Maia), proprietário do colégio Múltipla Escolha. O atual diretor
Adriano (Daniel Boaventura) na temporada 2007 sempre conta com os conselhos de
Pasqualete para resolver as confusões dos jovens alunos.
Marquinhos (Daniel de Oliveira) vive um problema marcante na adolescência
com Marina (Natália Lage). Ele não assume o namoro até que Marina engravida.
Marquinhos tem que sair do conforto da casa dos pais para assumir sua nova família.
O jovem negro Sávio (Robson Nunes) e uma garota branca Helô (Fernanda
Souza) vivem um romance envolvendo o preconceito racial.
O professor de história Afonso (Giuseppe Oristâneo) ganha destaque na série.
Na família de Afonso surge um personagem que se imortaliza na série, o adolescente
Cabeção (Sérgio Hondjakoff), recordista absoluto com presença marcante em seis
temporadas da série. Cabeção tem dois irmãos, o mais velho Marcelo (Fabio Azevedo) e
o caçula FM (Helder Agostini).
Os personagens adolescentes Cabeção, Mocotó e Kiko são sinônimos de
longevidade em Malhação, atravessando várias temporadas ao longo da série.
A professora de geografia Linda (Gisele Tigre) tem uma filha mimada chamada
Bia (Fernanda Nobre). Sua sobrinha Joana, (Ludmila Dayer) mora com elas e será uma
das protagonistas da trama. Bia e Joana disputam o coração de Marcelo, que desde o
princípio se simpatiza com Joana.
Linda e Afonso trabalham no colégio ME como professores e se apaixonam.
Eles decidem morar juntos e reúnem os cinco filhos adolescentes. Esse núcleo familiar
torna-se o principal da série. Qualquer semelhança entre o núcleo familiar composto por
Afonso e Linda com os atuais Daniel e Raquel
45
seria mera coincidência (?).
Érica e Touro, Tatiana e Rodrigo se casam no final da temporada. Entretanto, o
pai de Touro não aceita a hipótese do filho se casar com Érica, que é soropositiva.
Marcelo passa em um vestibular e leva Joana consigo para o Espírito Santo.
Camila Farias, Silvia Poggetti, Paulo Pompéia e Renata Mattos integravam o
elenco.
44
Do elenco também faziam parte Carolina Abranches, Fábio Azevedo, Fernando Pavão, Licurgo
Spinola, Lilia Cabral, Ludmila Dayer, Marcio Kieling, Maria Padilha, nica Torres, Paulo Gorgulho,
entre outros.
45
Conforme capítulo III.
55
A terceira fase
46
de Malhação Múltipla Escolha entra no ar em 07 de maio de
2001, com Afonso na direção do colégio ME.
O tema central é o romance de Nanda (Rafaela Mandelli) e Gui
47
(Iran
Malfitano) representando o bem. O mal estava simbolizado através de Valéria (Bianca
Castanho), apaixonada por Gui.
O gênero melodramático predominava nas telenovelas desde Sua vida me
pertence escrita por Walter Foster em 1951, pela TV Tupi de São Paulo. A estrutura
narrativa obedecia a um padrão maniqueísta, opondo continuamente o bem e o mal,
como se o universo se estruturasse por antinomias (Ortiz, Ramos e Borelli, 1991).
Na prática não existe a predomincia de um lo a outro, do bem sobre o mal,
ou vice versa. Na verdade somos faces de uma mesma moeda e agimos conforme as
circunstâncias.
A temática da série nesta terceira fase desenvolve assuntos como o enfoque
social, totalizando 346 inserções sobre a gravidez na adolescência. Bia engravida de
Perereca (Márcio Kieling), que a abandona.
Touro e Érica passam por crise no casamento, uma vez que ela é soropositiva.
Vera (Bia Seidl), mãe de Gui passa por um penoso tratamento contra o câncer de
mama.
Em 2002 a temporada de Malhação
48
tem como destaque Julia (Juliana Silveira)
e Pedro. O roteiro tem como pano de fundo a briga entre os pais do casal. Devido a um
erro médico, Otávio Miranda (Odilon Wagner), pai de Júlia, compromete a carreira de
César Rodrigues (Kadu Moliterno), repórter esportista e pai de Pedro.
Outros atores integravam o elenco da temporada, como Bia Montez (Dona
Vilma), Carlos Bonow, Eva Todor, Joana Limaverde, Letícia Colin, Lu Grimaldi,
Miguel Thiré, Sérgio Abreu, Sidney Sampaio, Tereza Seiblitz, Tiago Armani entre
outros.
A vilã Thaíssa (Bárbara Borges) inferniza ainda mais a vida de Júlia em um
triângulo amoroso na disputa por Pedro.
46
Texto de Andréa Maltorelli, Ricardo Hofstetter, Tiago Santiago, Max Mallmann, Cristiane Fridman e
Paula Amaral, sob coordenação de texto de Emanuel Jacobina, direção de Cláudio Boeckel, direção geral
de Edson Spinello, direção de produção de Ruy Mattos, produção do Núcleo Ricardo Waddington.
47
Constituíam o elenco Aisha Jambo, A. de Biase, Antônio Grassi, Charles Paraventi, Dado Dolabella,
Eric Muller, Gisele Frade, Lucélia Santos, Renata Mattos, Ricardo Kosovski, Sérgio Abreu, Sidney
Sampaio, Tato Gabus Mendes entre outros.
48
Com texto de Andréa Maltorelli, Ricardo Hofstetter, Duda Elia, Paula Amaral e João Brandão, com
direção geral de Edson Spinello, dirão de Carlo Milani, dirão de produção de Mário Rogério,
produção do Núcleo Ricardo Waddington.
56
O esporte apresentado nessa temporada é a capoeira.
Uma das curiosidades nessa trama são os retornos de Kadu Moliterno e A. de
Biase, o Juba e o Lula de quinze anos atrás. Em Malhação eles dão vida a César
Rodrigues e Vinícius (pai de Nanda), respectivamente. Se antes interpretavam os
garotões sarados de Armação Ilimitada, agora convivem com a calvície e quilinhos a
mais.
Malhação acabaria se transformando em um espaço para a TV Globo manter em
atividade atores afastados do horário nobre.
Vinícius era casado com a médica Jackie (Lucélia Santos) e integrava o grupo
dos desempregados que decidem trabalhar no serviço informal. Ele não quer passar por
situações inusitadas, como pedir dinheiro à ex-esposa. A força da mulher se consolida
na série.
A REPÚBLICA DE MALHAÇÃO E O ESPAÇO ESTUDANTIL
Em 28 de abril de 2003, com texto de Ricardo Hofstetter, direção geral de Edson
Spinello, a nova temporada da série tem em seu elenco Paulo (José de Abreu), um
jornalista que sofre um acidente de carro e perde o amigo (Evandro Mesquita), pai de
Vitor (Sergio Marone). Vitor se envolverá com a filha de Paulo, interpretada por
Manuela do Monte. A vilã que tentará atrapalhar a vida do casal será a perversa Carla
(Natália Rodrigues).
Nanda vai morar com Gui nos Estados Unidos. Vinícius, seu pai, decide então
abrir uma república para estudantes: a ‘República de Malhação’.
Bourdieu e Passeron em O tempo e o espaço no mundo estudantil, discutem
sobre os estudantes que vivem num tempo e espaço próprios. Esse fato ocorre devido ao
calendário escolar imprimir datas e regras a serem cumpridas pelos alunos.
Ser estudante, ou ainda, sentir-se estudante para os autores:
É de início, e talvez antes de tudo sentir-se livre para ir ao cinema a
qualquer hora e, por conseqüência, nunca aos domingos como os
demais; é empenhar-se em enfraquecer ou em submeter as grandes
oposições que estruturam imperiosamente tanto o lazer como as
atividades dos adultos; é fingir desconhecer a oposição entre os dias de
feriados e a semana, o dia e a noite, o tempo consagrado ao trabalho e o
tempo livre. De maneira mais geral, o estudante tende a dissolver todas
as oposições que organizam a vida submetendo as pressões, como por
exemplo, as que separam o tagarelar da discussão regrada e orientada, a
cultura livre da cultura imposta, o exercício escolar da obra pessoal
(Bourdieu e Passeron, 1968:62).
57
A vida estudantil (Idem, 1968) acaba desenvolvendo seus habitat e percursos
obrigatórios. É o caso dos quartos de estudantes e, para além da república, os bares. No
caso de Paris, os famosos cafés recebiam nada menos que Jean Paul Sartre
49
,
escrevendo seus textos naquelas mesinhas apertadas, entre dezenas de cigarros.
As repúblicas podem reunir jovens oriundos de diversas cidades ou ainda de
diversos cursos:
rios tipos de moradia. Cada cidade e cada faculdade têm suas
características. Tem desde acomodões gratuitas dentro da
universidade até casas alugadas por estudantes (que podem ser todos do
mesmo sexo, ou mistas). (Callaghan in Revista Malhação, Especial
Juliana Didone, setembro a dezembro de 2005:89).
Para Bourdieu e Passeron (1968:64) o que aproximam os jovens, nesse caso
“não é o espaço, mas um uso do espaço regulado e ritmado no tempo, conferindo ao
grupo um quadro de integração”.
Em Malhação Miyuki (Daniele Suzuki), Rafa, Drica (Gisele Frade, ex-
Chiquititas), Cabeção e Maumau foram alguns dos moradores da república.
O jovem morador da república, a exemplo dos super heróis em quadrinhos
citados por Morin
50
estruturam-se num processo denominado “a invisibilidade dos pais”
(2002:151). Assim como os heróis em quadrinhos da Marvel
51
, eles têm sua iniciação
no mundo adulto sem a presença dos pais.
“Jovens que vivem sem paistem uma conotação simlica mais profunda que
“jovens filhos de pais separados”. Estes têm a companhia dos pais, ainda que convivam
apenas com um deles
52
.
49
Fonte Revista Veja, 16 de abril de 1997.
50
Ver primeiro capítulo: O adolescente e a cultura de massa.
51 A Marvel Comics foi fundada nos anos 1930 tendo passado por muitos nomes diferentes, sendo o mais
citado o Timely Comics. A sua primeira publicação ocorreu em 1939 com o primeiro número da revista
Marvel Comics, onde se deram as primeiras aparições do super-herói Tocha Humana e o anti-herói
Namor, o Príncipe Submarino. Durante os anos 40, a Timely também era conhecida por publicar o seu
herói patriota Capitão América (Steve Rogers, nascido em 4 de julho de 1917 e morto aos 89 anos em
Nova Yorque).Os livros da Marvel distinguiam-se dos demais pelo universo em que se desenvolviam ser
mais próximo da realidade. Os argumentos exploravam a caracterização dos personagens. No caso do
Homem-Aranha, ele era um jovem herói com alguma falta de auto-estima e muitos problemas mundanos,
semelhantes ao de muitos adolescentes. Este novo olhar acabou por revolucionar, com o passar do tempo,
a banda desenhada norte-americana. Lee ganhou prestigio e foi durante alguns anos o diretor da empresa.
52
Roberta e Antônia vivem apenas com a mãe, enquanto Cauã e Lukinha vivem apenas com o pai.
58
Uma das particularidades da república de Malhação é a presença de um adulto
para controlar vários adolescentes. Vinícius consagrou-se como um verdadeiro
disciplinador para os jovens moradores da casa.
O panoptismo está para uma espécie de policiamento espacial estrito, segundo
Foucault:
O Panóptico funciona como uma espécie de laboratório de poder.
Graças a seus mecanismos de observação, ganha em eficácia e em
capacidade de penetração no comportamento dos homens; um aumento
de saber vem se implantar em todas as frentes do poder, descobrindo
objetos que devem ser conhecidos em todas as superfícies onde este se
exerça (2006:169).
O Panóptico (Foucault, 2006) pode ser utilizado como um modo de modificar o
comportamento, treinar ou retreinar indivíduos, tentar experiências pedagógicas e
verificar o que acontece quando aos dezesseis ou dezoito anos rapazes e mas se
encontram.
Um dos desafios de Vinícius é manter jovens namorados como Cabeção e
Miyuki sob vigilância. Jovens apaixonados e morando sob o mesmo teto requerem
cuidados redobrados. Não é tarefa das mais fáceis conter a pia de louça suja, roupas
espalhadas, limpeza dos banheiros, a organização e principalmente o respeito entre os
jovens e seus respectivos namorados.
Com a viagem de Vinícius aos Estados Unidos para rever Nanda, Afnio
assume o comando transformando a república no verdadeiro caos. O diretor Adriano
realiza uma inspeção e ameaça fechar a república caso persistam a sujeira e a
desorganização dos jovens.
Vinicius havia instituído as “furrecas”, ou fundo da república contra armações,
cobrando uma espécie de caixinha diante das indisciplinas dos moradores com os
afazeres domésticos (quem cozinha, quem lava, quem passa, quem chega atrasado a
escola etc.) durante a sua gestão na casa.
Os jovens moradores estavam sujeitos a contribuir com a taxa enquanto
cometerem atos indisciplinares na casa, principalmente no quesito bagunça. De fato a
disciplina rígida de Vinícius surtiu efeito, pelo menos entre os jovens da república de
Malhação.
59
Foucault (2006) denomina essas estratégias como recursos para o bom
adestramento dos jovens e a instauração da disciplina. Num primeiro plano a vigilância
e posteriormente a sanção normalizadora.
Na república de acadêmicos próximos a UFMT, as normas são regidas mediante
as atividades prestadas pelos seus integrantes fixando-se o dia para lavar louças,
preparar as refeições, limpar o banheiro etc. Não um Vinicius para vigiar e ordenar
as tarefas. Isto tem conotação com a emancipação do jovem e a iniciação no mundo das
responsabilidades.
Algumas repúblicas têm um adulto para controlar a galera, como na
novelinha, mas na maioria das moradias universitárias, o os
estudantes que têm que criar - e respeitar as regras de convivência
(Callaghan in Revista Malhação, Especial Juliana Didone, setembro a
dezembro de 2005:89).
Ainda nessa temporada Cabeção e Maumau decidem comprar um carro, o
Ogromóvel, em sociedade
53
.
Em 2004, o trio formado por Gustavo (Guilherme Berenguer), Catraca (João
Velho) e Natasha (Marjorie Estiano) vive um dos momentos de maior empatia junto ao
público com a ‘Vagabanda’, uma banda musical formada pelo trio de jovens na série.
Letícia (Juliana Didone), a protagonista da série pratica serviços voluntários
54
junto a
criaas carentes do Amparo Social”. Letícia e Natasha são praticantes de handebol e
as brigas se estendem nas aulas de educação física.
A temporada 2005 envolve a gravidez precoce de Jaqueline (Joana Balaguer)
tumultuando o romance dos personagens principais Bernardo (Thiago Rodrigues) e
Betina (Fernanda Vasconcelos). Bernardo, filho de um médico, não usa camisinha e
Jaqueline fica grávida. Estes estudantes do ensino médio sofreram as angústias desse
triângulo amoroso que culmina com um aborto
55
espontâneo. Nas férias ambientadas na
praia os jovens Urubu, Bernardo, João e Kiko disputam um campeonato de surf.
53
É preciso uma sociedade para que Cabeção e Maumau tenham dinheiro para comprar o Ogromóvel.
54
As campanhas sociais serão discutidas no terceiro capítulo.
55
De acordo com o relatório da Federação Internacional de Planejamento Familiar IPPH, em 30 de
maio de 2007, estima-se que ocorra um milhão de abortos por ano no Brasil, aí incluídos os espontâneos e
as interrupções ilegais de gravidez. O número de procedimentos inseguros em adolescentes e mulheres
muito jovens está crescendo. Quase 3000 meninas de 10 a 14 anos foram hospitalizadas com
complicações pós-aborto em 2005. Entre as mulheres de 15 a 19 anos, mais de 46 mil precisaram de
atendimento. A lei brasileira autoriza o aborto em poucos casos, como estupro e risco à vida da
gestante.
60
Dentre as curiosidades reservadas para os moradores da república em 2006,
temos um jabuti de estimação criado por Bodão, a Madona”, além das orquidáceas
sanguíneas”, plantas criadas pelo divertido professor Afnio.
Em 2007, uma das novidades será a vinda de Priscila Bitencourt à República. O
caso de Priscila em Malhação revela a nova proposta dos programas televisivos: revelar
a intimidade das pessoas sejam elas célebres ou não:
Aprendemos a falar das instituições públicas como cada vez mais
impotentes: diminui significativamente o atrativo por temas que sejam
de interesse comum; parece que reduzimos em s a capacidade e a
própria vontade de trazer os sofrimentos privados para o lugar da
discussão de questões públicas: vamos internalizando um modo peculiar
de olhar e tratar a “dor dos outros” (Fischer, 2005:46).
Fischer (2005) aponta que a discussão de questões públicas e temas de interesse
comum dão lugar aos sofrimentos particulares. Priscila é uma patricinha que nunca
precisou andar de coletivo público, tampouco lavar a louça do café da manhã. A família
Bitencourt é tradicional e rica, entretanto optou pela punição à filha que realizou
inúmeras “armações
56
no colégio ME em ano anterior. A patricinha vai sofrer para se
adaptar à nova fase e as obrigações domésticas na república.
Na TV brasileira parece estar em questão o imediatismo do espetáculo e a
satisfação individual na contramão de uma potica constituinte, democratizante e ampla
(Fischer, 2005). É o caso das minisséries, telenovelas, Programa do Ratinho, Domingo
Legal, Linha Direta, Simple Life, Big Brother, Domingão do Faustão, entre tantos
outros.
56
Ver O jovem e a ética, capítulo III.
61
Não é serio
57
Eu vejo na TV o que eles falam sobre o jovem não é sério
O jovem no Brasil nunca é levado a sério
Sempre quis falar
Nunca tive chance
Tudo que eu queria
Estava fora do meu alcance
Sim, já
Já faz um tempo
Mas eu gosto de lembrar
Cada um, cada um
Cada lugar, um lugar
Eu sei como é difícil
Eu sei como é difícil acreditar
Mas essa porra um dia vai mudar
Se não mudar, pra onde vou...
Não cansado de tentar de novo
Passa a bola, eu jogo o jogo
Repete o refrão Eu vejo na TV...
A polícia diz que já causei muito distúrbio
O repórter quer saber por que eu me drogo
O que é que eu uso
Eu também senti a dor
E disso tudo eu fiz a rima
Agora to por conta
Pode crer que eu to no clima
Eu to no clima... Segue a rima
Revolução na sua mente você pode você faz
Quem sabe mesmo é quem sabe mais
Revolução na sua vida você pode você faz (bis)
Também sou rimador, também sou da banca
Aperta muito forte que fica tudo a pampa
Eu to no clima...
O que eu consigo ver é só
Um terço do problema
É o sistema que tem que mudar
Não se pode parar de lutar
Se não não muda
A juventude tem que estar a fim
Tem que se unir
O abuso do trabalho infantil, a ignorância
Só faz destruir a esperança
Na TV o que eles falam sobre o jovem não é sério
Deixa ele viver. É o que liga.
57
Canção da banda Charlie Brown Jr.: Não é sério, composta por Negra Li, letras.mus.br in: charlie-
brown-jr .terra.com.br/letras/6005.
62
CAPÍTULO 3 – ANÁLISE DAS CENAS EM MALHAÇÃO E A SUA
RELAÇÃO COM O TEMA JUVENTUDE
JUVENTUDE E PÚBLICO
A divisão de Planejamento e Marketing da Rede Globo, informa que em 2006 a
temporada de Malhação procura enfatizar a família moderna.
Existem dois núcleos familiares na série. O principal é formado por Marco
Aurélio Andrade (Juan Alba) e Sônia (Ângela Figueiredo). O casal tem um filho,
Eduardo Andrade (Gabriel Wainer). Marco Aurélio teve um filho antes de se casar com
nia, Cauã (Bernardo Melo Barreto) 18 anos. Ele foi criado por Daniel San Martin
(Marcello Novaes).
Daniel forma o outro núcleo familiar com Raquel (Cláudia Ohana). Ela tem duas
filhas Roberta (Camila dos Anjos) e Antônia (Marcela Barrozo), além de uma enteada,
Manu (Luiza Valdetaro).
Alves (2000) destacava em Malhação a temática sobre filhos de pais
separados. Na temporada 2006, Marco Aurélio se separa de nia ao descobrir que ela
escondia as cartas enviadas pela mãe de Cauã para evitar que Marco Aurélio conhecesse
seu outro filho.
Daniel e Raquel criavam seus filhos sozinhos, até que se encontram quando
decidem morar no Edifício Roma.
Cauã tem um irmão de criação, Lucas (Arthur Lopes) de 12 anos. Antônia, filha
de Raquel também esta entrando na adolescência e tem praticamente a mesma idade.
Cauã, Eduardo, Manu e Roberta estão entre os jovens de 17 aos 24 anos. São dados
significativos uma vez que o público da série Malhação envolvendo essa faixa etária
totaliza 43% do total, conforme demonstra o quadro na página seguinte.
Os adultos entre 25 e 49 anos representam 37% do total de telespectadores. Na
série estão representados por Marco Aurélio, Daniel, Sonia, Adriano (diretor do
Múltipla Escolha e professor de Física), bem como os professores Afrânio (Biologia),
Raquel (História), Peixotão (Educação sica), Vitória (Literatura), Beth (Inglês),
Bárbara (a secretária do colégio), Dona Lúcia (a veterana Tássia Camargo) inspetora do
colégio, Dona Vilma e Vinícius.
63
QUADRO DE AUDIÊNCIA DE MALHAÇÃO, POR FAIXA ETÁRIA.
Público Idade Porcentagem
Crianças 4 a 11 anos 15%
Adolescentes 12 a 17 anos 14%
Jovens 18 a 24 anos 14%
Adultos 25 a 49 anos 37%
Adultos 50 anos ou mais 20%
Período: junho 2006-
Fonte: Divisão de Planejamento e Marketing DF nº. 043E
Site http://comercial.redeglobo.com.br/programçãoserie/malha3intro.ph8
Consulta em 01 de setembro de 2006.
Os adultos com 50 anos ou mais formam um blico significativo se
acrescentarmos aos adultos com mais de 25 anos, totalizando 57% de telespectadores
em Malhação.
Peixotão (Otto Jr.) nutre um preconceito em relação à Vitória (Francisca
Queiroz), que anda de cadeira de rodas. Para ele Vitória é incapaz de treinar um time de
basquete formado por alunos devido a sua deficiência física. O professor de educação
física atribui o preconceito à sociedade. A professora de literatura responde: “A
sociedade somos nós”.
Os intervalos de Malhação consomem aproximadamente cerca de sete a dez
minutos, divididos entre dois blocos da série. São sugeridas propagandas da novela das
dezenove horas Bang-Bang. Seu núcleo jovem era formado, dentre outros por Daniele
Suzuki e Guilherme Berenguer, atores que integravam o elenco da série entre 2004 e
2005.
A Claro!
58
Tem efetiva participação em Malhação, e leva até o público seu
plano Estilo para telefonia celular. Trata-se de um plano desenvolvido para toda a
58
A operadora de telefonia celular “Claro” é resultado da unificação de seis operadoras: Americel
(Centro-Oeste e parte da região norte), ATL (RJ e ES), BCP Nordeste, BCP SP, Claro Digital (RS) e Tess
(interior e litoral do Estado de SP). Fundada em setembro de 2003, atua nacionalmente em 21 Estados e
no Distrito Federal, está presente em mais de 2.200 cidades e atende mais de 18,7 milhões de clientes. A
operadora é controlada pelo grupo América Móvel, o maior setor de telefonia celular da América Latina,
com 95, 3 milhões de clientes de linhas fixas e móveis em países como Argentina, Chile, Colômbia, El
Salvador, Equador, EUA, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Paraguai, Peru, Uruguai, além do
Brasil. De acordo com o site, a Claro possui planos e serviços diferenciados para todos os perfis de
clientes. De jovens a executivos, de pessoas físicas a grandes empresas. Site: www.claro.com.br,
consultado em 28.06.06.
64
família, desde a mãe, o pai e os filhos. A frase é Escolha seu estilo de plano e leve o
celular por um real. Claro que você tem mais estilo”.
O desodorante “Rexona Teens” é anunciado durante os intervalos, tendo em
vista o público adolescente. A expressão teens em inglês designa a fase adolescente.
A operadora de telefonia móvel Tim
59
também tem um plano para o celular do
telespectador. É o Tim tarifa zero para quem fizer ligações até 500 minutos. O lema é
Tim, viver sem fronteiras!”.
A campanha para o Exame Nacional do Ensino Médio-ENEM, é transmitida nos
intervalos de Malhação. Os alunos Cauã, Manu, Edu, Priscila, João, Marcão (José
Loreto) estavam entre o segundo e terceiro ano do ensino médio no Múltipla Escolha.
O Sistema PROUNI Programa Universidade para Todos
60
do Governo federal
também é mencionado nos intervalos da série, destacando as bolsas oferecidas aos
alunos com bom desempenho no ENEM.
As crianças (15% do blico) assistem Malhação. O programa infantil Sítio do
Pica-pau Amarelo também aparece nos intervalos da série. No caso, o episódio
ressaltado na propaganda envolve uma princesa, esta interpretada por Fani Georgelas,
que viveu a personagem Kitty na temporada 2005
61
.
Os programas da Estação da Luz envolvendo literatura e cultura da Fundação
Roberto Marinho, das Organizações Globo, complementam o horário publicitário da
série.
59
TIM (Telecom Itália Mobile) do Brasil é uma companhia de telefonia celular presente em todos os
Estados do Brasil, atendendo a mais de 2.450 municipios. A empresa faz parte do grupo Telecom Itália,
que também possui operações na Argentina, na Bolívia, Paraguai e em diversos países europeus. Presente
desde 1998 no Brasil, a TIM começou a operar nacionalmente em 2002, através da tecnologia GSM. A
operadora foi pioneira no lançamento da tecnologia EDGE no país e também nos serviços multimídia
(MMS).A operadora possui um acentuado estilo empresarial, e é fato que a maioria de seus serviços o
mais voltados a clientes adultos ou pessoas jurídicas.
60
O PROUNI - Programa Universidade para Todos foi criado pela Medida Provisória nº. 213/2004 e
institucionalizado pela Lei nº. 11.096, de 13 de janeiro de 2005. Tem como finalidade a concessão de
bolsas de estudos integrais e parciais a estudantes de baixa renda, em cursos de graduação e seqüenciais
de formação específica, em instituições privadas de educação superior, oferecendo, em contrapartida,
isenção de alguns tributos àquelas que aderirem ao Programa. No seu primeiro processo seletivo, O
Prouni ofereceu 112 mil bolsas em 1.142 instituições de ensino superior de todo o país. Nos próximos
quatro anos, o programa deverá oferecer 400 mil novas bolsas de estudos. A implementação do Prouni,
somada à criação de 10 universidades federais e 48 novos campi, amplia significativamente o número de
vagas na educação superior, interioriza a educação pública e gratuita e combate as desigualdades
regionais. Todas estas ações vão ao encontro das metas do Plano Nacional de Educação, que prevê a
presença, até 2010, de pelo menos 30% da população na faixa etária de 18 a 24 anos na educação
superior, hoje restrita a 10,4%.Essas informações foram retiradas do site http://prouni-
inscricao.mec.gov.br/prouni/Oprograma.shtm, em 26.12.2006.
61
Kitty era namorada de Marcão na temporada 2005.
65
Um exemplo de como a série trata o consumo é a personagem Roberta
62
. Ela
aparece devolvendo o cartão de crédito que pegou sem a anuência de Raquel. Ela
rapidamente esconde as sacolas de compras embaixo do sofá antes que Manu, Raquel
ou Antonia possa perceber. Roberta tem compulsão por compras e não resiste a uma
liquidação. Ela é amiga de Priscila Bitencourt e Amanda, as patricinhas.
Segundo a sofisticação do processo, o veículo televisão e a forma soap
opera/série do programa Malhação atuam em função do consumo, mas seu conteúdo
alerta para os perigos. A mensagem que fica é “não consumam além do necessário, mas
o necessário somos nós (a mídia e patrocinadores do programa) que estabelecemos”.
Os produtos tidos como necessário abrangem celulares, cultura, educação e, com
o mesmo peso, os programas da TV Globo que por sua vez remeterão ao consumo de
outros produtos como, por exemplo, o Sítio do Pica Pau Amarelo e os produtos infantis.
Raquel, mãe de Roberta, é professora do Múltipla Escolha e não tem os mesmos
recursos que os pais de Priscila e Amanda para manter as despesas da filha.
Roberta comenta com as amigas: “Vou arrasar nesse desfile, comprei um monte
de coisa nova!”. Ao chegar a sua casa, ela recebe a fatura do cartão de crédito e verifica
que já foram debitadas as compras que fizera sem autorização da mãe. Roberta rasga a
conta imediatamente.
Raquel é avisada pelo banco que sua conta está sem dinheiro. Ela se vê obrigada
a fazer empréstimo na instituição financeira para cobrir a conta do cartão de crédito.
Raquel é uma personagem desorganizada, o que acaba ajudando Roberta a esconder
suas transgressões para satisfazer seus caprichos. Ela não consegue entender porque a
sua conta está sem saldo.
Roberta é convencida por Daniel a procurar ajuda profissional para conter seus
impulsos consumistas. Apesar dos apelos de Raquel para procurar ajuda, é através dos
conselhos de Daniel (o vizinho formigão) que Roberta decide procurar tratamento.
Em Malhação verificou-se o consumo tratado no nível do patológico: a
oneomania”, ou desejo compulsivo de fazer compras. Nesse caso, como se fosse uma
doença, o consumo pode afetar qualquer um independente da exposição à dia.
Observe que a personagem (Roberta) é filha de uma hipponga (Raquel) e, portanto, não
foi o exemplo de casa que influenciou a personagem. De modo indireto é uma forma de
a dia livrar-se da responsabilidade sobre o consumismo.
62
Capítulos da série Malhação 2006 gravados para análise, DVD um.
66
O consumo enfocado na série não é visto como conseqüência de toda uma
estrutura voltada para conduzir o jovem a comprar, sob pena de ser excluído.
um paradoxo ao pensar a juventude como revolucionária e a indústria
cultural enquanto conservadora. Em Malhação uma tentativa de romper com essa
contradição na medida em que a série aborda temas polêmicos como o preconceito, o
consumo, a ecologia e a saúde. Como a juventude não é passiva e reage de modo
peculiar às investidas da cultura de massas algumas estratégias são elaboradas: o
consumo é demonstrado através dos personagens, mas o programa oferece os limites do
quanto se deve consumir; o corpo pode e deve ser mostrado, mas desde que atenda as
exincias da moda sendo magro e bonito; a liberdade sexual deve ser exercida, mas
com o uso de preservativos.
O COMPORTAMENTO JUVENIL
Na ‘República de Malhação em 2006 estão presentes Rafael, Marcão,
Download, Bel, Pedrinho, Boo, Giovana e Tuca, sob a responsabilidade de Afrânio
(Charles Paraventi).
Um fato curioso ocorre quando Giovana
63
(Giordanna Forte), sobrinha de
Afrânio, começa a comer compulsivamente, vive ansiosa e devido ao excesso de
alimentos que passa a ingerir tem enjôos e vômitos. Rafa (Ícaro Silva) fica preocupado
com a amiga e solidariza-se com Giovana. Entretanto, Afnio escuta a conversa e
deduz que sua sobrinha está grávida. Afrânio desesperado pergunta para Dona Lúcia,
inspetora do Colégio sobre os sintomas da gravidez. É o suficiente para Afnio
imaginar que a sobrinha está grávida e presumir que o pai é o irresponsável do Rafa.
Na verdade, Giovana estava ansiosa com o resultado da prova de italiano.
Depois do susto em Afrânio, ela revela que não gostaria de ter um filho naquele
momento. A gravidez precoce
64
iria interromper vários planos, como estudar, viajar,
trabalhar.
Os problemas típicos dos adolescentes como a ansiedade antes dos exames
escolares com Giovana, o namoro à distância
65
de Marcão e Kitty, a gravidez indesejada
63
Em 2004 a jovem Giordanna Forte, de 18 anos, ganhou o papel de Kika em Da Cor do Pecado,
telenovela das dezenove horas da Globo. Kika ao contrário de Giovana, o usava tons vermelhos no
cabelo.
64
O tema envolvendo a gravidez precoce constitui uma das funções sociais do programa.
65
O tema “namoro à distância” não tem sido promissor em Malhação conforme percebemos com os
insucessos dos personagens Marcão e Kitty, Cleiton e Roberta e João e Marina.
67
para Jack e Bernardo, o drama entre pais jovens e inexperientes como Siri e Clarinha
são abordados na série.
Nesta temporada as roupas e acessórios estão em sintonia com o predonio de
trajes usados por “skatistas” como bonés, tênis, camisetas, etc. Entre os meninos Cauã,
Edu, Fred, Mulambo, Siri, Cleiton. As garotas são representadas pela jovem Manuela
Prado.
Os skatistas são:
Os que se reúnem para descer ladeiras perigosas, realizar manobras
radicais, inventar novas acrobacias e conversar sobre skate. Não
ideologia que os uma, apenas a vontade de se mostrarem destemidos. A
emoção está em se arriscar. Tudo em sua vida tem que ser rápido. Em
geral os skatistas são paficos. Muitos ainda são virgens, mas não por
falta de namorada (Alves, 2000:35).
Kiko, João e Hugo fornecem os materiais esportivos, além de roupas, através de
um estabelecimento montado em um trailer (de propriedade de Dona Vilma). O local é
conhecido como ‘Largadão’. Entre os materiais esportivos estão incluídos skates,
rodinhas importadas, e o conserto do mesmo. É a venda casada de materiais e prestação
de serviços dos jovens empreendedores na série.
O Casarão
66
se consolidou enquanto local de eventos para os campeonatos de
skate e festas dos jovens na série. O Giga Byte continua sendo o ponto de encontro dos
jovens estudantes do Múltipa Escolha.
Rafa e seu amigo Boo (Bernardo Mendes), decidem investir no “Ogromóvel”,
um Chevette anos 70 para conquistar as meninas. Pintam o carro de preto, compram
rodas novas e um som, deixando-o com um desenho mais esportivo. Segundo Rafa, Edu
e Fred (Dudu Pelizzari) sempre estão em evidência com as garotas devido ao status
propiciado pelas suas condições financeiras.
O tema virgindade está atrelado ao personagem Rafa, que é BV ou boca virgem.
Ele tem um estilo peculiar, usa cabelo estilo black power e veste roupas que combinam
acessórios rastafári e peças de vestuários indianos. É um personagem sem densidade
dramática, mico, conforme o negro “engraçado” dos filmes teens americanos como
Will Smith em Um maluco no pedaço
67
. Paralelamente ao “bobo da corte” na idade
66
O casarão é uma espécie de mansão temporariamente desocupada, que rapidamente se transforma no
cenário das competições de skate dos jovens em Malhação.
67
Will é um jovem negro que adora Rap. Sua mãe acha que ele precisa ter uma educação mais séria e por
isso o envia para a casa dos tios Banks. Will se muito bem com a atrapalhada família e passa a fazer
68
dia, Ícaro e Smith interpretam personagens que não deverão ser seguidos pelas
pessoas em seu cotidiano.
Giovana ao saber que Rafa é BV, decide ajudar o amigo a beijar pela primeira
vez organizando uma festa na pista de dança do casarão.
Rafa diz: “Beijar”, será que enfim vou conjugar esse verbo no pretérito
perfeito? E sai cantando seu hit: Vem gatinha lindaaa... Conta para
mim... Só no meu ombrinhooo... Os seus probleminhaaas”
68
...
Para desespero de Rafa que tem dezoito anos, seu colega de república Pedrinho
(Cezar Cardadeiro), aos 11 anos não é mais BV. Para os jovens, ser BV é algo
inadmissível.
Rafa é adepto do estilo musical funk, conforme a sua criação acima: “Vem
gatinha lindaaa”. O personagem simboliza os grupos de jovens que constituem um
espaço e um tempo através dos estilos rap e funk (Dayrell, 2003).
Os jovens do funk estudados por Dayrell vivem de bicos na capital de Minas
Gerais, Belo Horizonte. O trabalho aparece como uma obrigação necessária e pouco
contribuem no processo de humanização desses jovens.
Dayrell (2003) constata que a crise na entrada da juventude não existe. Ela foi
evidenciada na saída da juventude. Os jovens do rap e do funk tem uma imagem
negativa do adulto. Ser adulto é ser obrigado a trabalhar para sustentar a família e
ganhar pouco, na lógica do trabalho subalterno. Para eles a juventude é um momento
duro, de dificuldades concretas de sobrevivência, de tensões com as instituições como o
trabalho e a escola. No caso destes jovens, viver a juventude o é sinônimo de
preparar-se para o futuro, mas sim de um possível “vir a ser” porque os horizontes do
futuro estão fechados para eles.
O elemento envolvendo o preconceito racial
69
encontra o personagem Cleiton
(Fabrício Santiago), um jovem negro do morro carioca. Neste caso, o preconceito
aparece de forma explícita; no caso de Rafa, é implícito.
parte dos problemas e das confusões de cada um, na sofisticada casa, em Bel Air. Com seu jeito relaxado
e tranqüilo, Will conquista desde o comilão tio Phil, o babaca do primo Carlton, a consumista e fútil
prima Hillary, a complexada adolescente e até o formal mordomo. Na escola, o rapaz não perde tempo e
se enturma com facilidade, aumentando ainda mais as trapalhadas da família Banks! Nos Estados Unidos
surgiu nos anos 90 sendo exibida no Brasil pelo Sbt. Maiores detalhes no site
http://www.sbt.com.br/series/ummaluco/ (06 de junho de 2007).
68
Esse é o hit criado pelo personagem Rafa, quando montou seu ‘bonde do Rafão’.
69
O estudo sobre o preconceito racial demanda uma análise especial.
69
Cleiton vivencia um drama: estuda no terceiro ano do ensino médio em escola
pública e, sua sala na periferia está com infiltração ocasionando a suspensão das aulas.
Ele fica preocupado uma vez que o vestibular se aproxima.
A paixão pelo skate acaba aproximando jovens com interesses e veis distintos
como Cauã, Manu, Mulambo, Edu e os rapazes doLargadão’.
Roberta comenta com a mãe sobre uma amiga que esta gostando de um menino.
“Mas ele é pobretão, se veste mal e ainda veio do morro! (Roberta).
João e Kiko procuram o diretor do colégio, Adriano, para verificar se a bolsa de
estudos destinada a jovens carentes já fora preenchidas.
A proposta oferecida pelo colégio ltipla Escolha constitui uma solução
individualista e paliativa para um problema social: e os outros milhares de jovens
carentes? Esse tipo de caridade acaba formando uma espécie de má consciência
70
entre
os jovens.
Adriano avisa a Cleiton que deverá tirar notas boas para conseguir manter a
bolsa de estudo. Nas horas em que não está estudando ele faz bico
71
no clube
freqüentado por seus novos colegas, cuidando da manutenção e limpeza da piscina.
Oliva (2005) comenta sobre a condição do estudante que trabalha:
Além de não depender da colaboração financeira da família para
continuar estudando, muitas vezes ele é quem ajuda. Como a família
não pode sustentá-lo para poder estudar, o trabalho remunerado deixa
de ser uma escolha e torna-se uma imposição. Com freqüência, a
necessidade obriga o estudante a trabalhos insatisfatórios, que não tem
sentido algum para ele além da remuneração que proporcionam, e o
alteram significativamente os laços de dependência que mantém com a
família (Oliva, 2005:16).
O jovem estudante alcança sua autonomia, ou seja, a responsabilidade de
manutenção dos papéis sociais do indivíduo quando ele se torna provedor ou uma
unidade autônoma de manutenção (Foracchi, 1965). O que não acontece com o
personagem Cleiton, pois o trabalho como lavador de carros, dentre outros é de caráter
transitório.
Cleiton começa a estudar no colégio e se interessa por Roberta, justamente uma
das patricinhas. Roberta
72
aceita ir a uma festa de “bacanas” para se aproveitar do
70
A questão do jovem e a condição política serão abordadas ao final do terceiro capítulo.
71
Trabalho de natureza informal, sem nculo empregatício.
72
DVD para análise de Malhação número dois, quarto capítulo.
70
convite oferecido por Cleiton. Na ocasião, o jovem havia ganhado dois convites porque
era amigo de um dos seguranças da festa. Ao chegar à festa a patricinha lhe um
perdido
73
” e desaparece com as amigas Priscila e Amanda na área vip da festa.
As cenas entre o casal renderão momentos curiosos, uma vez que Roberta
também vai gostar de Cleiton, pois percebe que os playboys não dão valor a uma
mulher.
Ao sair da festa na área vip, Afonso
74
amigo de Priscila parte para o “xaveco”
em Roberta:
Afonso: Me dá um beijo deixa. Qual é Roberta? Poxa arrumei mó
esquemão na área vip, tudo liberado, tinha umas gatas dando o maior
mole e eu fiquei te bajulando o tempo inteiro!
Roberta: Mas eu vim aqui só pra me divertir...
Afonso: Fui!!!
75
Roberta fica desolada e sozinha. Cleiton aparece e consegue um táxi para ela
voltar para casa.
Em Malhação, a supremacia masculina na sociedade é abrandada ainda mais do
que na pesquisa feita por Alves (2000). É o que se percebe quando na temporada 2006,
Dona Vilma viaja para a casa da filha Solene (Renata Dominguez) e do genro Beto
(Sérgio Abreu) na Itália e, deixa em seu lugar Deodato (Licurgo Spínola) para
administrar o Giga Byte.
Deodato precisa de alguém para cuidar do caixa do Giga e constata que até
doutores se ofereceram para a vaga
76
.
Tuca (Karen Junqueira) se oferece ao emprego, mas Deodato logo a descarta por
considerá-la bonita e loira para desempenhar a função no caixa do estabelecimento.
Segundo Deodato, a mulher atende os requisitos para ser uma boa funcionária porque
ela é submissa por natureza. Mas tem que ser mulher feia. Para ele, as bonitas não têm
cérebro, pois conseguem tudo sem precisar pensar.
Tuca decide se disfarçar para conseguir o emprego:
Tuca: Quero provar que sou loira e capaz!
73
Fora, sumiço.
74
O personagem Afonso vive cercado de mordomias, é de família abastada, um “playboy”. É amigo de
Priscila, mas em Malhação é um mero figurante.
75
A ortografia dos diálogos segue originalmente a gíria peculiar dos personagens da série.
76
Isso reflete um dos problemas sociais no país: o desemprego.
71
Ela se disfarça de mulher feia através de peruca, maquiagem e óculos
com lentes grossas.
Tuca: A baranguice esta ao alcance de todas!
Tuca se apresenta como candidata ao emprego com o disfarce de baranga
77
e é
imediatamente contratada. Deodato conclui: Coitada! Essa não vai casar tão cedo”.
Deodato encomenda carne e sorvete em quantidade para dois meses e, não
atenção aos apelos das suas funcionárias sobre a capacidade limitada do freezer do
Giga. Ao se deparar com o prejuízo eminente, Deodato se curva diante das suas
funcionárias Bel, Tereza e Joana. Elas encontram uma solução vendendo a carne para a
cantina doltipla Escolha que tem um depósito para congelados.
Para Bel, o “machista preconceituoso do Deodatoalém de ser incompetente
acabou contratando a Tuca, linda, loira e mulher sem perceber que ela usava disfarce. A
ala feminina vem aumentando o poderio em Malhação visando agradar o seu público.
Barbero (2003) comentava sobre a revolução das mulheres, que deixou sua marca na
história do século XX.
A jovem Marcela, professora de dança e prima de Manu pede hospedagem na
casa de Raquel, mas é recebida a contragosto por Roberta.
Roberta: Chegou mais uma agregada na pensão da dona Raquel!
Mas Roberta é repreendida por Raquel, Antonia e Manu:
Roberta: É impressionante como nessa casa sou sempre minoria
esmagadora!
Marcela deixa escapar seu segredo e confirma para Manu que veio passar uns
dias na casa de Raquel, pois brigou com sua namorada, Patrícia. Ao começar as aulas de
dança no Múltipla Escolha, Kiko se apaixona por Marcela até descobrir que ela é
lésbica.
Para surpresa de Kiko, paquerador nato, a recusa o deixa frustrado. Ele acaba
revelando a João que Marcela é gay. É o suficiente para gerar um motim nas aulas de
dança em torno do preconceito sobre a orientação sexual de Marcela.
A presença homossexual é rapidamente dissipada da série com a reconciliação
de Marcela e Patrícia, mesmo com os pais desta reprovando a relação entre elas.
Malhação acaba reforçando o preconceito em relação aos homossexuais.
77
Mulher desprovida de beleza exterior.
72
Os estudos de Fischer (2005) relatam que a sociedade ainda discrimina essa
condição de “anormalidade” o homossexualismo - entre as pessoas, o que acaba por
influenciar meninos e meninas entre 15 e 16 anos, no ensino médio privado do Rio
Grande do Sul.
O caso de interação dos jovens com a informática e a comunicação virtual é
visível em Malhação.
Download em companhia da namorada Bel (Laila Zaid) e Siri (Marcos Pitombo)
procuraram uma companhia para Dona Vilma, através da Internet. Eles imaginavam que
com um grande amor, a patroa miserável iria se tornar menos materialista. Download
conseguiu um candidato, o coroa Romeu
78
(Roberto Arduin), que respondeu a um e-
mail demonstrando-se encantado pela proprietária do Giga. No entanto, ele queria
apenas aproveitar-se do dinheiro de Vilma e acabou se tornando um carrasco ainda pior
para seus funcionários.
O blog de Bruna Surfistinha
79
foi um exemplo que chamou a atenção na Internet.
Nessa espécie de diário virtual, uma jovem paulistana revelava o cotidiano de sua
profissão, garota de programa, preservando o nome do seu cliente.
Além de Download, a turma do skate também tem utilizado a rede virtual de
comunicações.
Edu planeja furtar as rodinhas importadas de skate do Largadão para incriminar
Cleiton. O fiel lacaio Mulambo (Gian Bernini) é quem faz o trabalho sujo para Edu.
Negro e pobre, logo as suspeitas recaem sobre o jovem do morro, Cleiton. Cauã, seu
amigo e herói na trama, utiliza um site da Internet se oferecendo para comprar rodinhas
de skate inticas as que foram roubadas, mediante pagamento em dinheiro.
Mulambo deseja um tênis igual ao de Eduardo, que é da moda, porém caro. É o
suficiente para ele tentar vender as tais rodinhas e estragar o plano de Edu. Sua e,
Rosa é governanta na residência dos Andrade onde vivem de favor, contando com a boa
vontade de Marco Aurélio.
Na Internet existe uma comunidade dedicada aos fãs de Malhação (foto na
página seguinte). A descrição é a seguinte:
78
O ator Roberto Arduin interpretou o “tiozinho” na propaganda do refrigerante Sukita, ao lado da
adolescente Michele Machri.
79
O livro O Doce Veneno do Escorpião --o diário de uma garota de programa, lançado pela Panda
Books, editora do escritor e jornalista Marcelo Duarte ("O Guia dos Curiosos"), descreve os programas de
Bruna Surfistinha com homens, mulheres e casais em seu flat. Seu nome verdadeiro é Raquel. No mês
passado, ela fez 21 anos. Começou a se prostituir aos 17 anos, fez filme pornô e largou recentemente a
prostituição. O nome do livro é uma referência à sua tatuagem (escorpião) nas costas e a seu signo.
73
74
Essa é a maior comunidade do seriado “Malhação” no Orkut!!!
Foi criada para aqueles que curtem esse seriado mais prolongado da TV
Globo...
Venham falar sobre o programa, dos personagens, etc...
Para quem curte “Malhação” aqui é o seu lugar!
E essa comunidade não foi criada para discutirem outros programas
além de Malhação. Existem outras comunidades para isso, portanto,
qualquer comentário sobre outros programas, serão deletados e a pessoa
se expulsa da comunidade para sempre.
Comenrios somente sobre MALHAÇÃO!!
(Endereço virtual: //www.orkut.com/Community. aspx?cmm=143552)
A comunidade Malhação foi criada por Dani Brasil I em cinco de julho de 2004
e, contava até o dia 08 de novembro de 2006 com duzentos e trinta mil, duzentos e
setenta membros. A comunidade tem como mediadores Tssia, Behnen, Juliano Tótoli
e Bruno Motta e Carlitos Tevez.
80
No chamado fórum da comunidade “Malhação temos os tópicos alvos de
discussão: jogo da pergunta idiota, Big Brother Malhação, deixe seu PC com a cara de
MALHAÇÃO!, Natuforum fórmula emagrecedora e Isso é estranho.
Outra comunidade direcionada aos fãs da série é a Eu assisto malhação todo dia:
galera essa comunidade é para todas as pessoas que não perdem um
capítulo de malhação assim como eu, que não perco um dia, mesmo
estudando de tarde todo dia eu boto para gravar, enfim malhação é
muito massa... (http://morel.zip.net/:)
Morel.zip. net é o dono e moderador da comunidade Eu assisto Malhação todo
dia criada em 06 de agosto de 2005. Ela contava com vinte oito mil quinhentos e vinte
membros até 07 de novembro de 2006.
Entre os tópicos
81
temos: qual será a doença q o Edu tem? Qual é o ser
insuportável da malhação? Malhação 2007, comunidade Dona Vilma, JABUTI
MADONA e a nova abertura da série:
06/11/2006 09h22min
80
Esses nomes são chamados de nicks, ou nomes virtuais. Carlitos Tevez, por exemplo, é um jogador de
futebol argentino que atuou pelo Corinthians. Isso evita a exposição do nome do usuário em rede
mundial.
81
A ortografia segue em consonância ao original (ver anexos).
75
Gnt, consegui o vídeo da nova abertura de malhação! Elton
Muito legal!!!
Axo ki vai ser a melhor temporada!!! Douglas 06/11/2006 12:09
Eu simplesmente não consigo acreditar que realmente acreditaram nessa
abertura falsa?! Nossa meu... vocês realmente não sabem nada de
“Malhação” primeiro que a abertura atual vai ficar por 2 anos, ou seja ...
daqui a 2 anos apensa irá mudar a abertura... e o detalhe que quem
editou o vídeo pos o final da abertura atual... nossa ficou estranhasso,
fora de foco totalmente.
Mas valeu a tentativa! Download
07/11/2006 10:00
Malhação 2007
(http://www.youtube.com/watch?v=HQ2F3ymrRu0)
Por outro lado existem jovens que odeiam (ou dizem odiar) a série. É o caso da
comunidade Eu odeio Malhação. Essa é a descrição da comunidade no orkut:
Essa comunidade é feita para pessoas que axam q a novela malhaçao eh
uma MERDA, que devia acabar o mais cedo possivel e nao acaba
numca!!!Pior o nome da novela nao tem nada a ver com a novela em si,
ou seja ela eh uma bosta!!! Todos os atores na novela sao lindos e
maravilhosos... como se todas as pessoas no mundo fossem perfeitas!!!!
Ninguem na novela fuma ou bebe!!! IMPUSSIVEL!!! Sempre tem
akele vilãozinho ridiculo q axa q tah fazendo mal a alguem... e o
mongol q se fode por causa dele!! UAhUHA Todos da novela sao um
bando de playboyzinhos, filhinhos de papai... Como se todo mundo
tivesse dinhero!!! AH UM AVISO!!! O NOME DA COMUNIDADE
EH "EU ODEIO A NOVELA MALHAÇAO!" MAS MALHAÇAO
NEM UMA NOVELA EH... NA VERDADE EH UM SERIADO QUE
NAO ACABA MAIS... PS: nao perdi meu tempo pesquisando isso...
um mongol escreveu em um dos topicos... afffff!!!
(http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=1558514).
Essa comunidade no orkut foi criada por Ney Simões em 15 de março de 2005,
que contava com cinco mil e noventa e três membros até 14 de dezembro de 2006, data
desta pesquisa.
Entre os picos discutidos temos O Cauã é gay, Xena ou Malhação, alguém
quer ser o dono dessa comunidade???? Malhação quandu vc tiver velho vai ta
passandu”.
Na descrição da comunidade “Eu odeio a novela Malhação” alguns fatos
convergem. De fato Malhação não é uma novela, mas sim uma série, conforme foi
discutido na introdução deste estudo.
Há certa precipitação ao dizer que todos os personagens da série são filhinhos de
papai. Não se incluem nessa lista os moradores da República de Malhação Download,
76
Bel, Rafa, Bodão, Tuca, Giovana além de Siri, João, Mulambo e Kiko que trabalham
para poder pagar suas contas:
[...] nas demais faixas de renda, a motivação mais importante é ganhar
dinheiro para o próprio consumo. Nesse caso, o trabalho proporciona a
remuneração necessária para os gastos pessoais, aparecendo como uma
alternativa para aqueles que não tem condições de receber uma mesada
dos pais e também como possibilidade de maior autonomia, uma vez
que esse dinheiro é administrado pelo próprio jovem (Oliva, 2005:19).
Priscila, Edu, Fred, Amanda, Cauã, Manu, Roberta, Antônia, Lukinha são
estudantes privilegiados que não precisam trabalhar para pagar seus gastos pessoais.
Com base nos estudos de Marialice Foracchi (1965), Oliva comenta:
Somente os estudantes totalmente mantidos pelos pais e desligados de
qualquer preocupação imediata com seu próprio sustento podem
reconhecer-se livres para empreender uma atuação de ensaio que lhes
permita vôos novos. Se comparada à dos jovens não estudantes, essa
situação de manutenção constitui um privilégio. Entretanto, o
compromisso familiar de mantê-lo como estudante provoca a obrigação
correspondente de o jovem sentir-se vinculado e de agir de acordo com
as expectativas deformadas pela falia a seu respeito. Assim a busca
de novos modos de agir e de viver, característica do comportamento
juvenil torna-se mais difícil, quando o é inteiramente contida
(2005:15).
Esses jovens estudantes estão aparentemente livres para aar vôos mais longos,
uma vez que estão desobrigados de trabalhar para a manutenção da família. Entretanto,
a relação de reciprocidade os vinculam a uma realização profissional que possibilite a
melhoria relativa da família em termos de estratificação social (Oliva, 2005).
A repetição da estrutura e formato da série é uma das reclamações do público
jovem que assiste Malhação:
No meu ponto de vista a malhação vem caindo no decorrer dos anos são
sempre as mesmas historias nunca mudam so os personagens ela
deveria se atualizar mais pois hoje quase ninguém mais assiste pois jah
ta todo mundo de saco cheiu malhação foi um programa muito legal
fala bastante sobre os jovens e alguns temas polêmicos mas também
tem q dar oportunidade para outras coisas pois já caiu na rotina!!!
(C.S.K. tem 14 anos e estuda na série na Escola Municipal Joana
D’Arc., em Tangará da Serra - MT).
77
Cauã e Manu (2006), Bernardo e Betina (2005), Gustavo e Letícia (2004),
Victor e Luisa (2003), Pedro e Júlia (2002), Gui e Nanda (2001) conseguem ficar
juntos no final da trama. A repetão do formato de Malhação nos moldes do clássico
da literatura inglesa Romeu e Julieta, de William Shakespeare aparece, conforme
relatava Umberto Eco
82
, com os desígnios do amor contrariado:
[...] a estrutura sempre a mesma, tudo girando em torno de um casal que
algumas pessoas tentam separar e que todos sabem que no final eles
ficarão juntos...
(A.S.C., 17 anos estudante do Colégio Isaac Newton, Cuiabá-MT em 07
de novembro de 2006).
O casal de jovens da literatura inglesa consegue ficar juntos no final do romance
que termina com a morte de Romeu e Julieta. Em Malhação, o casal de jovens
protagonistas consegue realizar o ideal amoroso culminando com o fim da temporada.
É notória a repetição estrutural do formato na série em estudo. Talvez Ortiz,
Ramos e Borelli auxiliem a compreender esse fator:
Para se iniciar a cadeia de produção, um problema preliminar se coloca:
como escolher um produto novo? Se adotássemos uma postura
adorniana mais mecânica, a resposta não seria assim o difícil. Uma
vez que ocorre a padronização dos bens culturais, a indústria cultural se
contentaria com a repetição do mesmo. A pré-seleção dos bens
potenciais para consumo se encontraria resolvida de antemão;
bastaria reproduzir o padrão anterior. O argumento dos frankfurtianos
não deixa de ser parcialmente válido. De fato, a indústria da cultura
arrisca pouco. Quando consagrada uma fórmula de sucesso ela tende a
repeti-la a o seu esgotamento (Ortiz, Ramos e Borelli, 1991:129).
Para se dizer que a fórmula chegou ao seu esgotamento teria que haver uma
repulsa na audiência, com um maior impacto do público da série. Uma queda abruta nos
atuais índices, que hoje oscilam entre os 30 e 40 pontos. E esse fato ainda o se
realizou na prática, revelando que muitos jovens ainda assistem Malhação independente
da repetição na conjuntura do programa.
... assisto malhçao desde pequeno .. O Seriado de malhaçao conta
historias do nosso cotidiano ... Sem contar que eh lider em audiencia no
brasil todo ... Grande programaçao que encentiva jovens a patricar
esportes ... sem contar ke a historia eh contada No colegio do mutipla
escolha ... Essa programaçao eh didicada a todas idades sem
82
Ver Rita Pavone, o mito geracional, no capítulo 1.
78
exceçao...constitui entreterimento,opçoes de lazer,saúde,e muita
azaraçao ...
(P.S.M., 14 anos, estuda no 1°F, peodo noturno na Escola Estadual
Oredo Rodrigues da Cruz, em Juquitiba, interior de São Paulo).
O depoimento do jovem demonstra o contraste de opiniões sobre a série, no qual
nem todo o público tem uma visão saturada da série.
JUVENTUDE, MODA E BELEZA: O ADEUS AO CORPO
O antropólogo francês David Le Breton discute a perspectiva do corpo humano
na sociedade contemporânea em Adeus ao corpo: antropologia e sociedade. O autor
comenta sobre a transformação do corpo através de academias, drogas (esteróides),
intervenção cirúrgica, tatuagens, piercings. O corpo é comparado a um rascunho que
precisa ser corrigido (Le Breton, 2007). A apologia ao corpo demonstrado na sociedade
moderna concentra um paradoxo: o corpo descartável, esfacelado e moldado
transformado em mercadoria.
As marcas corporais como as tatuagens e piercings se tornaram uma presea
crescente entre as pessoas, sobretudo nos jovens.
A tatuagem é um sinal visível inscrito na própria pele com a injeção de uma
matéria colorida na derme. Tem como diferencial a conotação definitiva, sendo feitas
por homens e mulheres abrangendo ombro, braço, peito, costas sendo rara no rosto.
Essa espécie de marca corporal foi associada aos povos primitivos durante muito tempo.
Os estudos de Lombroso no início do século XX classificavam os indivíduos
tatuados como selvagens pouco civilizados. Le Breton (2007) revela que a tatuagem tem
na verdade, um significado cultural das marcas corporais nas sociedades tradicionais.
Atualmente, ela sai da clandestinidade e afasta aos poucos a imagem negativa carregada
por muito tempo.
A jovem Marjorie Estiano, conhecida do público de Malhação, lançou uma
canção cujo tema é Tatuagem”:
Tatuagem
(A. Aquino e Rita Lee)
Fiz uma tatuagem
Quando no auge
De uma louca paixão
Escrevi na coragem
79
Seu nome no peito
Sobre o meu coração
Você foi embora
A tatuagem não
Então agora
É melhor tatuar no lugar
(refrão)
(Uhuhu)
Que tal uma tribal
(Uhuhu)
Super bacana
(Uhuhu)
Não vai deixar sinal
(Uhuhu)
De que você foi um belo sacana
Quando a gente gama
Tudo são flores, amores, e blá blá blá
Quando vira um drama
Então é um chora pra lá, e chora pra cá
Mas foi embora
E a tatuagem não
Então agora
É melhor tatuar no lugar
(refrão)
Na mídia os arquétipos se propagam. A cantora Kelly Key se destacou entre o
público infanto-juvenil com hits como Baba baby. Ela e a atriz Déborah Secco tatuaram
o nome de seus respectivos namorados. A exemplo do versoVocê foi embora, a
tatuagem não”, ambas se desiludiram com suas paixões. A conotação definitiva é o ônus
dessa marca corporal.
Os jovens atores de Malhação Henry Castelly e Rômulo Arantes Neto também
imprimem a moda das marcas corporais, com suas tatuagens no bíceps e antebraço. A
cantora Pitty tem o braço direito tatuado.
O sucesso das marcas corporais cresce associado à idéia implícita de
que o corpo é um objeto maleável, uma forma provisória, sempre
remanejável, da presença fractal própria. Elas escapam dos lugares
marginais do sadomasoquismo, do fetichismo ou do punk, absorvidas
por aquilo que se convencionou chamar as “tribos urbanas” (punk, hard
rock, techno, grunge, bikers, gays etc.), e propagam-se para o conjunto
da sociedade por interdio da alta costura principalmente dos
80
manequins de Gautier, com uma predileção pelas gerações jovens que
crescem no ambiente intelectual de um corpo inacabado e imperfeito,
cuja forma o indivíduo deve completar com seu próprio estilo. Os
estúdios de tatuagem e de piercing multiplicam-se e acentuam a
demanda (Le Breton, 2007:36).
O piercing é utilizado em pontos que abrangem a orelha, nariz, lábios, língua,
mamilos, umbigo e óro genitais.
Em Malhação, Drica ostentava um piercing no nariz, a cantora Pitty colocou-o
na língua e Karina Bacchi nos órgãos genitais, conforme revelou a Revista Playboy em
2006.
O grupo denominado body builder (Le Breton, 2007) transforma o corpo em
uma espécie de máquina, versão viva do andróide.
O eu ostenta-se na superfície do corpo numa forma hiperbólica; a
identidade é modelada nos músculos como uma produção pessoal e
dominável. O body builder encarrega-se de seu corpo, e com isso
recupera o controle de sua existência. Substitui os limites incertos do
mundo no qual ele vive pelos limites tangíveis e poderosos de seus
músculos sobre os quais exerce um domínio radical, tanto nos
exercícios que se impõe quanto em sua alimentação, transformada em
dietética meticulosamente calculada, ou em sua vida cotidiana, sempre
sob a égide do controle e da poupança de si mesmo. O body builder só
está preocupado em adquirir massa muscular; a seus olhos, a gordura é
uma parasita que mobiliza uma estratégia permanente de eliminação
(Idem, 2007:41).
O ex-ator de Hollywood e atual governador da Califórnia, nos Estados Unidos,
Arnold Schwarzenegger é um pioneiro do body builder, um corpo construído nas salas
de musculação e realçado pelas drogas conhecidas como “esteróides anabolizantes”.
Kiko foi modelo e posou para revistas, desfiles de moda e campanhas
publicitárias (Malhação, 2005). Entretanto, ele foi rejeitado por uma agência de
publicidade pela falta de alguns requisitos em sua compleição física: músculos mais
desenvolvidos, monstruosos. O jovem arrisca o uso das drogas oferecidas pelo seu
instrutor de academia. Kiko passa mal em uma sessão de fotos e é encaminhado ao
hospital. O diagnóstico do Dr. Miguel Barreto proíbe o jovem de usar tais substâncias
químicas.
Os músculos cultivados pelos body builders comem o que Le Breton
denomina a fortaleza de músculos inúteis em sua fuão, pois difere daqueles que
forjam os músculos em um canteiro de obras ou como os lenhadores canadenses.
81
O músculo não tem incidência em uma sociedade onde as atividades
que exigem força tendem a desaparecer substituída pelas máquinas,
paradoxo (aparente) em uma sociedade que tende à cultura cibertica,
na qual, o corpo é muitas vezes considerado obsoleto (Le Breton,
2007:43).
Amanda (Thiara Palmieri) é uma jovem bonita e de classe dia (Malhação
2006). A jovem se inscreve no concurso “musa do clube 2006”. Ela quer vencer o
concurso e resolve aderir a uma dieta com restrão calórica. As amigas comentam que
Amanda começa a tomar remédios para emagrecer. A jovem desmaia na final do
concurso e é atendida no hospital.
Os jovens se identificam com os personagens Kiko e Amanda. Na prática o
são raros os casos de adolescentes que perdem a vida pelo uso imoderado de drogas. No
caso dos meninos, o uso de anabolizantes e das meninas, estimulantes visando o
emagrecimento rápido.
A modelo Ana Carolina R. Macan de 21 anos morreu em decorrência de
anorexia nervosa. Com 1,74m de altura chegou a pesar 40 kg. Ela restringia a
alimentação e tomava remédios para emagrecer até o dia do seu óbito, em novembro de
2006.
A desconfiança do corpo e em si mesmo, conduz ao recurso psicofarmacológico,
segundo Le Breton (2007). As pessoas tomam remédios, hormônios ou drogas para ficar
em forma, aumentar os músculos ou reduzir o estresse. O autor denomina tais produtos
como próteses químicas para um corpo percebido como falho pelas exigências do
mundo contemporâneo.
Marina (Juliana Boller) é uma jovem estudante do terceiro ano no colégio ME.
Ela mora com sua irVitória, professora de literatura do referido colégio. Marina
ouve João, seu namorado, dizer que adora mulher com seios grandes. A personagem
fica insegura, pois apesar de bonita, acha que os seus seios são pequenos. Ela decide
fazer um procedimento cirúrgico para implante de silicone sem o conhecimento de sua
irmã.
David Le Breton comenta sobre essa modalidade cirúrgica:
A cirurgia estética passa por um desenvolvimento considevel,
aumentado por esse sentimento da maleabilidade do corpo. Sua
transformação em objeto a ser modelado traduz-se de imediato nos
catálogos que os cirurgiões depõem nas salas de espera e que mostram
82
aos clientes para propor uma intervenção precisa. Neles se vêem o
rosto, ou o fragmento de corpo a ser modificado, e o resultado depois de
efetuada a operação. Transmutação alquímica do objeto errado. Na
gama das intervenções, o cliente escolhe a que proporcionará ao seu
rosto ou ao seu corpo a forma que lhe convém. Seios cheios de silicone,
modificados por próteses ou remodelados, vários tipos de lifitings do
rosto, lábios reconstituídos por injeções, lipoaspirações ou retalhamento
da barriga ou das coxas, cabelos repicados, implantes subcutâneos para
induzir as proporções físicas desejadas (2007:29-30).
Para Le Breton, o homem não se contenta mais com o corpo que tem. Ele tem
que modificar a base do seu corpo até transformá-lo conforme a idéia que dele se faz
(ou se quer fazer).
A jovem Marina tem um tremendo susto ao passar por uma reação alérgica
durante a preparação cirúrgica. Ela sobrevive, mas correu risco de vida.
O motivo que impulsiona milhares de pessoas, dentre adultos e jovens a mudar
de corpo está na,
A vontade está na preocupação de modificar o olhar sobre si e o olhar
dos outros a fim de sentir-se existir plenamente. Ao mudar o corpo, o
indivíduo pretende mudar sua vida, modificar seu sentimento de
identidade. A cirurgia estética não é a metamorfose banal de uma
característica física no rosto ou no corpo; ela opera, em primeiro lugar,
no imaginário e exerce uma incidência na relação do indivíduo com o
mundo. Dispensando um corpo antigo mal amado, a pessoa goza
antecipadamente de um novo nascimento, de um novo estado civil. A
cirurgia estética oferece um exemplo impressionante da consideração
social do corpo como artefato da presença e vetor de uma identidade
ostentada (Le Breton, 2007:30).
A cirurgia estética tem um custo relativamente alto e apesar de todas as medidas
de segurança proporcionadas pela medicina moderna sempre há o risco de se pagar com
a própria vida. A medicina passa a se dedicar a clientes que não estão doentes. Eles
querem mudar sua aparência, sua identidade e provocar uma reviravolta com o mundo
o se dando um tempo para se transformar.
A relativa perfeição do corpo tem um preço: a doença e a morte. O antropólogo
David Le Breton teme que o discurso do aperfeiçoamento do corpo o transforme em um
ciborgue: organismo humano hibridado com a máquina tendo em vista o aumento de
eficácia num determinado campo” (2007:20).
Na visão de Le Breton (2007:26) “o corpo é hoje um desafio potico importante,
é o analista fundamental de nossas sociedades contemporâneas”. Para o autor: “o
83
homem estará liberado neste caso, quando toda a preocupação com o corpo
desaparecer” (2007:54).
O JOVEM E A ÉTICA
As relações envolvendo o jovem e as transgressões são uma constante em
Malhação. Além de Bodão e Giovana que se apropriam do gabarito da prova de
Biologia ou Fred na tentativa de separar Jack e Urubu, nada se compara aos planos
realizados por Edu.
No início desta temporada (2006), Edu consegue sabotar o próprio campeonato
de skate de seu pai, Marco Aurélio e manchar o nome da ‘Pró-Esporte’
83
no intuito de
prejudicar Cauã. Edu provoca a explosão criminosa com a ajuda de Wellington
(mulambo) e responsabiliza Cauã pelo incidente. Cauã era uma ameaça as suas
expectativas no campeonato, sendo mais hábil nas manobras radicais.
Edu não consegue se conter, mesmo ciente de que Cauã é seu irmão e o livra do
processo criminal envolvendo a explosão no campeonato. Para vencer a próxima etapa
em Curitiba, ele contrata algumas pessoas para raptar Cauã. Mulambo avisa Cauã e o
livra da armadilha. Depois desse episódio Cauã desiste de se aproximar de seu irmão
Edu.
Outro motivo de discórdia entre os irmãos Andrade é a skatista Manu, heroína
da temporada. A jovem Manu é o sonho dos irmãos Andrade, pois é bonita e íntegra.
Edu se une a Priscila para separar o casal Cauã e Manu. Edu tem obsessão por
Manu. Priscila, a patricinha, gosta de Cauã.
Edu oferece dinheiro para as pessoas doarem sangue em gincana do Colégio
para obter pontos e favorecer sua equipe (falta ética ao personagem).
No final da temporada, o vilão irá passar por uma quimioterapia em fuão da
descoberta de uma leucemia
84
. Edu terá que raspar a cabeça e passar por um rigoroso
tratamento. O vilão reflete se a doença no qual enfrentará seria um castigo pelas suas
armações. De todo o modo a sua doença acaba por unir a família Andrade.
83
A Pró Esporte é uma empresa do ramo do skate de propriedade de Marco Aurélio em Malhação.
84
A leucemia aguda é caracterizada pelo crescimento rápido de células sanguíneas imaturas. Esse
processo torna a medula óssea incapaz de produzir lulas sanguíneas saudáveis. A forma aguda de
leucemia pode ocorrer em crianças e adultos jovens. O tratamento imediato é necessário na leucemia
aguda devido à rápida progressão e acúmulo de células malignas, as quais entram na corrente sanguínea e
se espalham para outras partes do corpo. Se o houver tratamento, o paciente morrerá em alguns meses
ou até semanas. Ministério da Saúde, site www.inca.gov.br, em 12.07.2007.
84
Cauã seu iro, seo doador da medula óssea que salva a vida de Edu. Os
irmãos (Cauã e Edu, ou seriam Caim e Abel?) se entendem e Edu até ajuda seu irmão se
conciliar de vez com Manu.
Urubu é outro personagem que regenera. Ele é preso após explodir um gerador
de força no show dos Detonautas Roque Clube, na temporada anterior. Urubu percebe
que o vilão sempre fica em desvantagem e resolve se tornar politicamente correto.
Devido ao sucesso do personagem, ele se casa com Jack permanecendo mais uma
temporada na série.
Na prática, os jovens tem se destacado pelo excesso cometido durante a conduta
das transgressões juvenis. Dentre os casos que comoveram a opinião blica brasileira
destaca-se o crime praticado por Suzane Von Richthofen e, seu namorado Daniel
Cravinhos. A jovem, com 19 anos em outubro de 2002, participa do homicídio contra os
próprios pais (Manfred e Marísia Von Richthofen), a princípio porque eram contra o seu
namoro com Daniel.
No ano seguinte, o menor R. A. A. Cardoso, vulgo “Champinha” liderou o
homicídio contra a jovem Liana Friendenbach e o seu namorado Felipe Caffe.
E, mais recentemente jovens como Tiago (19), Diego (18), Carlos (21) e seu
irmão menor de 16 anos, ceifaram a vida do menino João lio Fernandes de apenas
seis anos.
Resta a reflexão à sociedade: esses crimes cometidos pelos jovens seriam os
reflexos de uma cultura liberal ao contrário da antiga educação autoritária (Mannheim,
1968) ou uma demonstração de que a cultura tem influenciando na formação destes,
cada vez mais afastando o sentido da morte através da construção de capelas cada vez
mais distantes do lar. Ou ainda, a combinação desses fatores aliado ao excesso de lazer
centrado em atividades como games de combate, lutas e guerras entre crianças e jovens?
Malhação não veicula cenas contendo assassinatos premeditados na trama,
apesar de seus personagens estarem dispostos a passar por cima de questões éticas para
conseguirem seu intento: adquirir produtos, roubar namoradas ou vencer campeonatos.
O JOVEM E A POLÍTICA
Malhação 2004 foi a camp de merchandise social no cenário da televisão
brasileira
85
. Programas como Criança Esperança, Amigos da Escola e o serviço
85
Conforme o Dicionário da TV Globo.
85
voluntário têm possibilitado à referida série credibilidade para com o público jovem e,
num segundo momento, o referendo do público adulto
86
.
86
Segundo pesquisa sobre a audiência de Malhação por faixa etária, p. 64.
86
A personagem Letícia (foto) interpretada por Juliana Didone foi a primeira
protagonista pobre da série. As protagonistas sempre foram meninas de classe média
como Nanda, lia e Luisa. Letícia é filha de um gari e estuda no Múltipla Escolha
porque sua mãe trabalha como inspetora do colégio.
Letícia é humilde, tem personalidade forte e é batalhadora. A jovem tem
dezessete anos e presta trabalhos sociais voluntários no instituto Amparo social”, junto
a crianças carentes. Ela acabou ganhando o coração do garoto mais popular da escola,
Gustavo (Guilherme Berenguer).
O jovem Gustavo tem dezoito anos, é conquistador, politicamente incorreto e
irresponsável, uma espécie de anti-herói. Em uma de suas confusões, acaba tendo que
prestar serviços sociais em uma instituição para crianças carentes onde conhece Letícia
e, se apaixona por ela ao longo da trama.
Letícia acabou agradando aos fãs do programa. A atriz Juliana Didone recebia
mais de cinqüenta cartas semanalmente enviadas pelas meninas carentes que admiravam
sua personagem na série e, se sentiam mais seguras através dela.
Gustavo e Letícia são exemplos do mito Rita Pavone (Eco, 2004), ou seja, a
particularidade da indústria cultural cristalizar a idade dos personagens juvenis em torno
dos dezoito anos. Na verdade, os atores Juliana Didone e Guilherme Berenguer tinham
entre 20 e 23 anos, respectivamente. O ator Bernardo Barreto tinha 26 anos quando
interpretou Cauã, seu personagem de dezoito anos em Malhação 2006.
A personagem Aline (Rafaela Lisboa) é uma jovem negra, bonita e de classe
dia. Em um dos episódios da série ela veste a camisa dos Amigos da Escola e
comenta sobre o serviço voluntário, com a colaboração de pessoas que não são
formadas na área educacional. O ator Tony Ramos, exemplo de credibilidade entre os
atores da Globo aparece na campanha publicitária dos Amigos da Escola.
Betina (Fernanda Vasconcelos) faz propaganda ao mesmo tempo de um
aparelho de celular, da empresa de telefonia Claro! e da campanha Criança Esperança,
da Rede Globo. Em um dos episódios Betina e seu amigo Léo (Daniel Erthal) enviam as
doações pelo celular para a campanha Criança Esperança. Renato Aragão, o eterno Didi
de Os Trapalhões é uma figura carismática que toma a frente da campanha, ao lado de
Xuxa, a rainha dos baixinhos e de mitos juvenis da indústria cultural como Sandy &
Júnior.
87
As campanhas destacadas pela série têm amplo alcance junto ao público juvenil
e adulto, conforme constataremos a seguir na prática. Elas soam muito sedutoras, com
artistas jovens, bonitos e inteligentes e convincentes.
No início de março de 2006 realizei uma discussão sobre as campanhas sociais e
de serviço voluntário veiculadas por Malhação. O convite partiu da Faculdade de
Direito Unicen, de iniciativa privada, em Tangará da Serra. O grupo era composto
pelos acamicos do nono semestre de direito matutino. Durante o diálogo uma
acadêmica se opôs a idéia de que o programa Criança Esperaa não tem como resolver
o problema da desigualdade social uma vez que não atinge uma questão estrutural.
Em 17 de março do corrente ano fora ministrado uma palestra na Escola privada
de Ensino Fundamental e Médio Y”
87
com o tema A série Malhação enquanto
determinante de uma cultura voltada para o consumo. O convite também partiu da
Instituição de ensino. O público com idade entre quinze e dezessete anos estuda no
primeiro, segundo e terceiro ano do ensino médio. Para os alunos da escola “Y”,
campanhas como Criança Esperança são essenciais para a população carente. Os alunos
se negaram a aceitar as campanhas sociais enquanto mero paliativo para amenizar a vida
dos cidadãos. Eles aceitaram muito timidamente a iia de que mesmo cumprindo uma
causa nobre, tal programa não deveria ser o único instrumento político da sociedade
para a diminuição da pobreza.
Em 10 de maio do corrente ano, o local de estudo foi a escola blica de ensino
fundamental e médio 13 de maio”, onde se discutiu o mesmo tema sobre as campanhas
sociais através da série em estudo. Os alunos da escola pública foram mais receptivos
no que se refere à discussão do elemento “dominaçãoimpcita nessas campanhas e,
que o ideal seria o governo oferecer melhoria nas condições de vida através de emprego
e formação profissional adequada. A idéia de que não se deve oferecer somente
esmola” às pessoas foi recebida mais moderadamente.
Isso nos remete a questão ideológica proposta por Thompson:
Ideologia, de acordo com essa concepção, é, por natureza, hegemônica,
no sentido de que ela, necessariamente, serve para estabelecer e
sustentar relões de dominação e, com isso, serve para reproduzir a
ordem social que favorece indivíduos e grupos dominantes (John B.
Thompson, 1995:91).
87
Conforme certificado em anexo.
88
Através dessa discussão podemos perceber que a questão ideológica sobre as
campanhas de caridade e serviço voluntário está fortemente arraigada entre os jovens
estudantes, sobretudo nas instituições privadas. A responsabilidade não é desses jovens.
Não são apenas os pais, os poticos, a comunidade, mas toda uma mídia aparelhada que
auxilia na disseminação de tais correntes e pensamentos. Ao demonstrar aos jovens que
a saída para diminuir as desigualdades sociais no Brasil se através da doação e de
programas sociais (Criança Esperança, Amigos da Escola, trabalho voluntário, etc.), as
elites conseguem o seu intento, quer seja, de reproduzir a ordem social que favorece a
grupos dominantes.
As campanhas sociais e de serviço voluntário não são gratuitas. Elas acabam
diluindo os conceitos de solidariedade e caridade, articulando parte de um ideal potico
que descende do liberalismo ecomico
88
. Nessa perspectiva, o governo se desobriga
frente às conquistas propiciadas pela democracia social cunhada ao longo da Revolução
Francesa até os dias atuais.
Seria preciso retomar o que comentava Octavio Ianni (1968)
89
no início deste
trabalho: o jovem que não consegue enxergar as contradições existentes em nossa
sociedade não atinge o senso crítico para tentar uma postura libertária frente às amarras
do sistema.
A seguir o depoimento de uma jovem que acompanhou Malhação ao longo de
sua trajetória:
Cresci junto com essa novelinha... sempre assisti com mta frequencia,
porém hj ja nao eh meu entretenimento preferido.a uns tres anos ficou
tanto qnto monótona.uma pq as atores nao ajudam e os acontecimentos
são sempre os mesmos.muda de ano, atores, mas sempre são as mesmas
coisas.contudo ela esta abrangendo e ja abrangeu várias temáticas
importantes;drogas, aids, preconceito,etc...e isso eh bom pq ela
influencia muito o comportamento principalmente dos jovens.outra
coisa boa eh q influencia tambem a pratica de esporte, levando a
juventude a nao ser tao sedentária e ter outras opçoes de lazer.olha
apesar dela viaja mto nas coisas tem aspectos interessantes qnto relaçao
familiar,eh por vezes fiel a realidade das pessoas qnto a todo tipo de
relação.axu q eh isso...
(P.B. tem 17 anos, e esta fazendo o primeiro semestre na faculdade de
Ciências Contábeis pela UNEMAT. 08.11.2006).
88
Ver Os jovens “Carecas do subúrbio”, capítulo I.
89
Ver o conceito de Jovem Radical, no capítulo I.
89
Conforme o depoimento da jovem estudante constata-se a influência de
Malhação sobre o universo dos jovens. Entretanto, ao sujeito foi dotada a faculdade em
sua tomada de decisões: “determinar” e “influenciar” têm sentidos distintos.
No capítulo dois desta dissertação
90
verificou-se como a dia é persuasiva na
relação entre o jovem e o consumo. A cultura jovem não é homogênea, tampouco
passiva, mas reage a seu modo aos estímulos da sociedade e da indústria cultural. Nesse
momento descende a importância de fixar qual a contribuição a sociedade espera desse
jovem moderno (Mannheim, 1968).
A temporada 2007 da série inicia nesta segunda quinzena de janeiro, anunciando
o judô como esporte a ser retratado, juntamente com novos atores. Jovens atores e a
manutenção do mito geracional: é a nova safra que se renova ao contrário do formato da
série.
90
Ver Juventude e Público, capítulo III.
90
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A canção Não é sério”, composta por Negra Li e Charlie Brown Jr. transcrita na
epígrafe do terceiro capítulo deveria ser veiculada na abertura da série Malhação. A
referida caão revela através de sua letra um drama da juventude brasileira: “o jovem
no Brasil nunca é levado a sério”. Programas sociais como o Prouni e Pró-jovem ainda
constituem meros paliativos e não a solução para a formação pessoal-profissional dos
mesmos.
O presente trabalho permitiu uma aproximação dos estudos envolvendo a cultura
jovem, que não é una e oscila conforme sua extração social, suas práticas culturais e
pelo seu posicionamento assumido na sociedade.
A cultura jovem nasce no interior da cultura de massas e funciona segundo as
leis do mercado (Edgar Morin, 2002). Mas não se deve concluir que a massificação
sobre a cultura jovem seja inevitável. O desenvolvimento dentro da cultura jovem é
permeado por contradições com uma ala integrada ao consumo, outra mais próxima da
violência, das drogas e da contestação social e potica, conforme estudamos com
Márcia Regina da Costa e ao longo dos grupos juvenis de Malhação.
O jovem não tem acesso aos mesmos produtos ou serviços. Na série juvenil ora
estudada, jovens como Rafa e Bodão almejam desfrutar as mesmas roupas, carro e estilo
do colega “playboy” Edu, ao perceberem que a admiração frente a garotas e colegas
depende do requisito econômico valorativo. Desse modo seria precipitado conceituar a
série enquanto espelho somente dos jovens de classe alta no país. Download, Bel, Siri,
João, Joana e Valdisnei precisam trabalhar para custear seus próprios gastos, como
roupas e baladas.
A relação dos jovens com computadores, jogos eletrônicos e celulares são uma
constante na série. O Giga Byte oferece serviços de Internet ou lan house para seus
clientes. O colégio Múltipla Escolha também utiliza a tecnologia para gerir seus
compromissos. Os celulares são constantemente usados pelos jovens como Betina,
Urubu e Marcão, dentre tantos outros.
A consolidação de hábitos modernos é o tema na temporada da série em 2006,
com o pai criando o filho separado da mãe originando a família monoparental. Lucas e
Cauã vivem com o jornalista Daniel, que o é o pai biológico. Antonia, Roberta e
Manuela vivem com a mãe Raquel. Manu é enteada de Raquel. A sua mãe biológica
vive na Inglaterra.
91
Os jovens moradores da república têm sua iniciação no mundo adulto sem a
presença dos pais, consolidando o que Morin entende como a “invisibilidade dos pais”,
a exemplo dos heróis sem pais como o Batman ou o Homem Aranha. O elemento sem
pais ou ausência dos pais” tem uma conotação simlica mais profunda do que pais
separados”. A república de Malhação tem a figura do adulto que faz da vigilância e da
disciplina elementos indispensáveis (Foucault, 2006) para o bom funcionamento da
casa, impondo ordem e segurança aos jovens moradores. Vinicius, Naná, Afnio e
Raquel foram os adultos que passaram pela República de estudantes na série.
O tema homossexualismo é tolhido conforme constatamos com a jovem
professora de dança Marcela, que rapidamente sai de cena. Os adultos consideram o
homossexualismo uma inflncia negativa para os seus filhos. Segundo a pesquisa por
faixa etária, os adultos compõem 57% do público total de Malhação. Entretanto, o tema
vem ganhando contornos suavizados nas telenovelas transmitidas às 21h00min, com
uma aceitação moderada. Na novela América (2005) também da Rede Globo, nior
vivido por Bruno Gagliasso, interpretava um personagem homossexual que vence os
preconceitos da mãe e assume seu companheiro.
A jovem Marina enfrenta até as últimas conseqüências para mudar sua
compleição estética em busca de seios maiores. O jovem Kiko começa a malhar e
ingerir drogas compulsoriamente visando transformar seu corpo. Amanda toma drogas e
adere a dietas rigorosas para emagrecer rapidamente. A cantora Pitty, que tem forte
apelo junto aos jovens, tem o braço direito quase inteiramente tatuado além de exibir
piercings em partes do corpo, como nariz e língua. O corpo passa a ser encarado como
um rascunho que precisa ser corrigido, podendo ser observado através do
comportamento dos personagens da série em questão. Conforme David Le Breton, o
discurso da sociedade moderna é paradoxal na medida em que faz apologia ao corpo e o
transforma em mercadoria através da medicina estética, das drogas e das marcas
corporais
91
.
Na temporada 2004 da série verificou-se o auge do merchandise sobre as
campanhas sociais e de prestação de serviço voluntário, com personagens adolescentes
como Letícia trabalhando enquanto voluntária junto a crianças carentes. Em 2005, Aline
enfatizou o trabalho voluntário dos Amigos da Escola. Betina incentivou as doações
91
Ver Juventude, moda e beleza: o adeus ao corpo, capítulo III.
92
através de telefone celular para a campanha Criança Esperança. As campanhas
discutidas integram um conjunto de programações da Rede Globo de Televisão.
Para os alunos do ensino médio da escola particular, campanhas como Criança
Esperança são vitais para a sociedade. Os alunos da rede privada de ensino aceitaram
muito timidamente a idéia de que mesmo cumprindo uma causa honrável, as campanhas
sociais e de prestação de serviço voluntário não deveriam ser o único instrumento
político atuante na sociedade para a diminuição da pobreza. A noção de que não se deve
oferecer somente caridade, mas sim oportunidades de trabalho, fora percebida mais
sutilmente entre os alunos das escolas públicas.
Os grupos dominantes buscam a reprodução da ordem social capitalista e, tais
campanhas realçam o conceito de ideologia proposta por John B. Thompson enquanto
estratégias para sustentar e manter as relações de dominação vigentes em nossa
sociedade.
O jovem deve deixar de ser visto apenas enquanto uma categoria biológica. Ele
deve ser pensado enquanto elemento histórico, para que tenha condições de atuar e lutar
pelas transformações sociais ao longo do tempo. É preciso refletir sobre qual
contribuição a sociedade espera desse jovem, quer seja possibilitar uma convivência
saudável entre as pessoas e suas culturas.
93
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Malhação parte I
Malhação parte II
Malhação parte III
100
ANEXOS
101
H:
“Oi beto, tudo bem?
Entao... Eu gosto de assistir Malhação.
Não assisto todos os dias, mas já pude acompanhar várias fases da
novela, e percebi que normalmente as estorias são as mesmas, vilão,
bonzinho, etc. Mas nem por isso deixa de ser interessante, pois essas
situações mostram realmente um pouco dos fatos que acontecem
com os jovens, principalmente os adolescentes!
Bjão.
Otima quarta!”
H H J é universitária da UNICEN – Faculdade de direito de Tangará da
Serra, e tem 18 anos.
Tangara da serra-MT, 07.11.2006
 M P:
e ae blz
“Bom malhaçao a melhor criaçao da globo dos ultimos 10 anos, por
isso está ate agora ainda em Cartaz sei lah se essa é a palavra
correta rs, eu falo Cartaz pq ela é uma novelinha,uma especie de
teatrinho da vida, varias fases,mtos personagens,varias tramas
enfim, nestas ultimas fases ou versoes ela tah mais ligada a parte
educativa e na vivencia de jovens, adolecentes.
Eu acompanho a 10 anos desde o inicio gosto sim curto, mtas coisas
acho sem pé sem cabeça mais td bem,nem td na vida tem sentido pq
uma novela sobre a vida comum deveria ter néh, assisto com
frequencia acho ki é PQ no fundo eu kiria levar a vida dakele jeito e
nunca tive força de vontade pra viver de boa, sou mto perfeitinho e o
medo de errar faz com que eu naum viva,apenas exista,darei um Ex:
Academia, festas badalaçoes, curtiçao,azaraçao é isso ae kra é um
mundo imaginario que existe ki eu naum ponho em pratica kem sabe
nu futuro rs
kkkkkkkk meu falei tanta abobrinha neh rs
é pra descontrair rsrsr abraxosss”
Rondonópolis-MT, M S K, 27 anos, 07.11.2006
P:
“cresci junto com essa novelinha...sempre assisti com mta
frequencia, porém hj ja nao eh meu entretenimento preferido.a uns
tres anos ficou tanto qnto monótona.uma pq as atores nao ajudam e
os acontecimentos são sempre os mesmos.muda de ano, atores, mas
sempre são as mesmas coisas.contudo ela esta abrangendo e ja
abrangeu várias temáticas importantes;drogas, aids,
preconceito,etc...e isso eh bom pq ela influencia muito o
comportamento principalmente dos jovens.outra coisa boa eh q
influencia tambem a pratica de esporte, levando a juventude a nao
102
ser tao sedentária e ter outras opçoes de lazer.olha apesar dela viaja
mto nas coisas tem aspectos interessantes qnto relaçao familiar,eh
por vezes fiel a realidade das pessoas qnto a todo tipo de relação.axu
q eh isso...”
P B tem 17 anos e esta fazendo faculdade de Ciências Contábeis pela
UNEMAT. 08.11.2006.
DEPOIMENTO:
“Bom Estudo na Escola E.E.Oredo Rodrigues Da Cruz..em Sao Paulo ..
... assisto malhçao desde pequeno .. O Seriado de malhaçao conta
historias do nosso cotidiano ... Sem contar que eh lider em audiencia
no brasil todo ... Grande programaçao que encentiva jovens a
patricar esportes ... sem contar ke a historia eh contada No colegio
do mutipla escolha ... Essa programaçao eh didicada a todas idades
sem exceçao...constitui entreterimento,opçoes de lazer,saúde,e muita
azaraçao ...
P S M, 14 anos, 1°F periodo "Noite"
- s ;*:
Oie
“sobre a malhação..
bom,a malhação eh uma novela qui fala tbm sobre a vida real,as
vezes podemos estar passando uma situação e estar acontecendo na
novela tbm,e a gente superar aprendendo com oq eles tao fazendo e
tal sabe.. adoro malhação.
E tbm ta sempre mudando di fases essas coisas,q ajudam tbm...
bom essa é minha opnião...”
7°série. S C, 14 anos, Nova Esperança – Paraná
“eu acho uma novela totalmente adolecente que esconde varias
realidades
as vezes ela assiste
Diferença social
Poder aquisitivo
A maior parte dela e bem sucedido
T R, 18 anos, IPES
103
R M:
“Malhação... já assisti muito, hj não dar mais, pois passa no horário
que pego as crianças na escola, mas as outras que assisti eram
melhores que estas recentes, na primeira versão da novelinha, ela
fala de um corpo saúdavel, incentivava os jovens a pratica de
esportes e tal, hj já não é mais assim, acho até que é meio
prejudicial pra essa turminha que está começando a assistir, pois
mostra muitas brigas, pessoas fazendo maldades com outras,
aprontando na escola, traindo os amigos, fazendo coisas que não
devem, se bem que são punidos, mas mostra e isso leva os
adolescentes a acharem que podem tudo, mesmo sendo punidos. É
isso Beto. Beijos e boa sorte amigão”.
R.M.C.N., 08.11.2006, 38 anos jardinópolis-sp
C:
“ah, e minha opinião:
Eu particularmente não gosto da série Malhação.
E tbm, como direto tinha q ir estudar de tarde, nem tinha tempo de
assistir e mesmo se tivesse, não perderia tempo assistindo..rs
Mas isso não é só com Malhação não, dificilmente assisto qualquer
tipo de novelas.
E atualmente não posso nem dar minha opinião sobre o que tem se
passado nela, porque faz anos que não assisto se quer um capítulo.
Mas é bem provável que eu saiba o que esteja passando porque
malhação sem dúvida é previsível. Sempre tem um 'casalzinho' que
tem tudo pra ser feliz se não fosse, é claro, alguma antagonista que
fará de tudo pra arruinar a relação dos dois. Na época que eu assistia
lembro que sempre tinha algumas campanhas em relação as drogas,
ao preconceito..além de é claro, bastante propagandas implícitas de
shampoo, de cremes, maquiagens, roupas...tudo especialmente para
o público adolescente mesmo”.
C S dos S. tem 17 anos e esta no 3º ano do ensino médio, Colégio
Ideal de Tangará da Serra.
“Malhação,o que dizer..
Muitas pessoas adora essa novela..sendo sincera também já
gostei...mas hoje em dia vejo que ela não seria uma das melhores
coisa da vida como pensava antes...
Além de ser uma novela que mostra muita “coisa errada”,pode até de
vez em quando ajudar..mostrando preconceito,gravidez na
adolescência,essas coisas...
104
O porque não “curto” mais essa novela?!
Será o fato de sempre ser o mesmo fato que irá acontecer..todo ano
a mesma..
Não sei muito bem explicar o que acho sobre malhação..Só sei que
..nem sempre o que vemos ali é o que acontece...ou o que podemos
fazer..
Boa sorte Beto..
minha opinião... Não sei se vai adiantar mto mas estou aqui
por vc!!”
S F S tem 14 anos e atualmente reside no Japão
“Eu assisti muito Malhação enquanto se passava em uma
academia. Achava interessante o fato de abordarem temas
sociais de interesse ao jovens e naquela época, ainda, era
novidade esse tipo de novela.
Até que o cenário mudou de academia para colégio e com o
tempo foi ficando repetitivo, a estrutura sempre a mesma,
tudo girando em torno de um casal que algumas pessoas
tentam separar e que todos sabem que no final eles ficarão
juntos...
Lembrando que o colégio é de classe média, e que as
"mensagens subliminares" de consumo não ficam tão
subliminares assim né?!
Ah... Também acredito que eles tratam os adolescentes como
seres futeis, faceis de manipular e o pior que no caso de
algumas pessoas estão certos”.
A S C estuda no Liceu Cuiabano e tem 17 anos
“quase todo o pessoal da minha sala assiste...
confeso q já assinti temporadas imteiras..
mas essa nova naum gostei...
assinti a temporada da Leticia e do Guilherme, a da.(naum lembro os
nomes)
fikei vidada com essa temporadas . axu q era por causa da minha
idade,
mas tambem adorava o ramance q tinha , as intrigas , naum me
ligava em ver q tinha de real lá .
vixi......
nem sei mais disser.....é complicado ...
eu naum predia 1 capitulo quand eu gostava da temporada , agora
nem ligo...
mas sei q conserteza se tiver outra q eu goste vo assinti
talvez esse seja o segredo de Malhaçao ... ele alegra varios gostos...
naum só 1... pq a cada teporada é um tipo de gente diferente..
105
tem gente q eu conheço q naum perde 1 dessa temporada, mas q
nau
Responder K P tem 15 anos e estuda no Colégio Integrante em
Tangará da Serra
“eu adorava malhaco quando era da Priscila Fantin e da temporada
da julia e o Pedro mais nao sei pq o da leticia e do Guilherme fez
mais sucesso deve ser pq tinha bandas ,mais e uma serie que fala de
assuntos polemicos como a Aids homossexualismo preconceitos racial
e social pq a maioria dos alunos sao ricos so alguns sao pobres e
estudam la por ganharem bolsa de estudo.eu ultimamente nao estou
assistindo nao pela minha idade mais pq a ipc mudou os horarios e
quando chego do trabalho ja acabou senao estaria assistindo pq vicia
vc pode ate achar chato bobeira mais se ficar assistindo vc pega
gosto igual novela, apesar de esta temporada so ter atores que nao
fazem o meu tipo ai fica dificil da gente gostar pq a aparencia dos
atores conta muito as vezes a gente assisti pq acha o ator lindo
etc...” H T Y, 27 anos, Hamamatsu-shi, Jpao
f:
“kra eu naum so fa de malhaçao naum hem”
F. P. tem 13 anos e estuda no colégio Integrante em Tangará da
Serra-MT.
“bem ok!!!!
no meu ponto de vista a malhaçao
vem caindo no decorrer dos anos
sao sempre as mesmas historias
nunca mudam so os personagens
ela deveria se atualizar mais
pois hoje quase ninguem mais assiste
pois jah ta todo mundo de saco cheiu
malhaçao ja foi um programa muito legal
fala bastante sobre os jovens e alguns temas polemicos
mas tambem tem q dar oportunidade para
outras coisas pois ja caiu na rotina!!!
ok esssa e a minha visao!!!
bjinhus =***
dolo-te espero ter te ajudado ok ^^
Responder
106
C S tem14 anos e estuda na Escola Municipal Joana D’Arc em Tangará da Serra-MT.
“É sempre bom falar de algo que gostamos e falar de malhação, é sempre
maravilhoso, assisto e curto malhação a muito tempo, e acompanho hoje não
como a mesma frequência de antes, más sempre que posso assisto e quando
não leio os capítulos na internet. Gosto desse programa pois acho que ele tem
muito haver comigo e sempre consigo pegar de exemplo algo que acontece na
novelinha. O bom de malhação é que ela atinge diferentes públicos e ela além
de sempre vir contextualizando e abrangendo diferentes assuntos quase
sempre polêmicos e que no hoje atinge principalmente o público jovem”.
R. F. L, 18 anos, vestibulando, Sapezal-MT.
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