O HOMEM-PLACA E O
PIXMAN
36
substitute au corps une image dans laquelle l’invisible (le corps-support) et le visible
(le corps apparent) forment une unité médiale
8
(Belting, 2004: 49).
Nosso tempo tenta nos vestir, nos impor modelos prét- à- porter, de escolha
limitada, modelos absurdos de corpos e de máscaras. Nos homens-placa, o corpo torna-se
um objeto dissimulado, encoberto, disfarçado pelo cartaz. Ocorre uma fusão entre corpo e
cartaz, e o homem desaparece, reconfigurando-se numa peça publicitária.
Podem-se enumerar vários tipos de corpos: o corpo-simulacro, o corpo-descartável,
o corpo-peneira, o corpo-virtual, o corpo-bomba
9
, o corpo-química e o corpo-máquina, além
do corpo-invisível, do corpo-projeto e do corpo-morto (Baitello, 2005: 61-62) e de muitos
outros mais. O corpo tornou-se um acessório, uma prótese:
A noção incerta do corpo, cuja crise atual é evidente, levou-nos a extrapolar a
expectativa de vida e a investir em corpos artificiais, em oposição aos corpos vivos,
como se eles pudessem proporcionar uma vida superior. Essa tendência tem causado
muita confusão, virando a verdadeira função das mídias visuais de cabeça para
baixo. Por isso, as mídias contemporâneas estão investidas de um poder paradoxal
sobre nossos corpos, os quais se sentem derrotados ante sua presença (Belting,
2006: s/p).
Quando os indivíduos são obrigados a usar estratégias de encenação, o corpo e
suas relações próximas são pouco a pouco destruídos:
8
“A máscara é uma metonímia da metamorfose de nosso corpo em uma imagem. Mas, quando inscrevemos uma imagem sobre nosso corpo e
quando a fazemos aparecer pelo seu entremeio, não é uma imagem desse corpo que produzimos. O corpo torna-se então mais o suporte da
imagem, portanto um médium. A máscara fornece mais uma vez a ilustração mais patente. Ela é aplicada sobre o corpo, o dissimulando, ao mesmo
tempo, atrás da imagem que ela dá a ver. Ela substitui ao corpo uma imagem na qual o invisível (o corpo-suporte) e o visível (o corpo-aparente)
formam uma unidade medial”. Tradução livre de Martinho Alves da Costa Junior, responsável pela tradução da obra
Pour une Anthropologie des
images
, de Hans Belting, a ser lançado no Brasil em 2007, pela editora Annablume.
9
O episódio do atentado terrorista de 11 de setembro de 2001, quando dois aviões atingiram as duas torres do World Trade Center, de Nova
Iorque, nos Estados Unidos, é o exemplo mais acabado dessa versão de corpo. “Os corpos que se sacrificaram naquele fato notável eram
mensageiros de um deus e não hesitaram em nenhum momento em servir a esse deus, tendo encontrado na auto-imolação o atalho mais curto
para ele. Não imaginemos, porém, que são apenas os terroristas que portam corpos-bombas, tampouco imaginemos que o deus islâmico é o
único que aceita os corpos bombas. A civilização ocidental cristã tem sido mestra na construção de corpos-bombas de diferentes tipos” (Baitello,
2005: 59).