e um gigante pronto a engolir a Ásia. Vendo na Rússia seu inimigo hereditário, persas e afegãos foram
levados a considerar a Inglaterra como seu aliado natural. Assim, para manter sua supremacia, a Inglaterra
só teria que desempenhar a função do mediador benévolo entre a Pérsia e o Afganistão e mostrar-se o
adversário resoluto das restrições russas. Uma demonstração de amizade de uma parte e uma firme
resolução de resistência de outra: não era necessário mais nada.
Não se pode dizer, no entanto, que as vantagens dessa posição foram utilizadas de modo tão eficaz. Em
1834, quando tratava-se da escolha de um herdeiro do Xá da Pérsia, os ingleses foram induzidos a
cooperar em favor do príncipe proposto pela Rússia e, no ano seguinte, a ajudar esse príncipe com o
dinheiro e a assistência ativa de oficiais britânicos, a sustentar suas pretensões contra seu rival. Os
embaixadores ingleses enviados à Pérsia foram encarregados de por em guarda o governo persa para não
se deixar levar a um engajamento contra os afegãos, uma guerra que não poderia ter outro resultado que
dissipar seus recursos; mas quando estes embaixadores requisitaram seriamente os poderes para prevenir a
ameaça de uma tal guerra, foram lembrados pelo seu ministério, na metrópole, de um artigo do velho
tratado de 1814, em virtude do qual em caso de guerra entre a Pérsia e o Afganistão, os ingleses não
deveriam intervir, a menos que sua mediação fosse solicitada. A idéia dos enviados e das autoridades
britânicas na Índia era que essa guerra era maquinada pela Rússia, desejosa de tirar proveito com a
expanção persa para o leste como meio de abrir uma rota pela qual um exército russo poderia, algum dia,
entrar na Índia. Essas considerações, totavia, pareciam não ter causado prontamente qualquer impressão,
ou talvez muito pouca, em lorde Palmerston então à testa do Departamento dos Negócios Estrangeiros,
quando em setembro de 1837 um exército persa invadiu o Afganistão. Alguns pequenos sucessos o
conduziram até Herat, diante da qual acampou e começou o sítio sob a direção pessoal do conde
Simonitch, embaixador russo na corte persa. No curso das operações de guerra, McNeil, o embaixador
britânico, se encontrava paralisado por instruções contraditórias. De uma parte, lorde Palmerston lhe
impunha "abster-se de fazer das relações da Pérsia com Herat um assunto de discussão" conquanto alí a
Inglaterra nada tinha a dizer. De outra parte, lorde Auckland, o governador geral da Índia, queria que ele
dissuadisse o Xá de prosseguir suas operações. Bem no início das hostilidades M. Ellis tinha convocado
os oficiais britânicos que serviam no exército persa, mas Palmerston os havia reintegrado. Quando o
governador geral indiano reiterava suas instruções a McNeil para retirar os oficiais britânicos, Parmeston
de novo revertia essa decisão. Em 8 de março de 1838, McNeil rendeu-se ao campo persa e ofereceu sua
mediação não em nome da Inglaterra, mas no da Índia.
Em fins de maio de 1838, após quase nove meses de sítio, Palmerston enviou um despacho ameaçador à
corte persa, fazendo pela primeira vez do caso de Herat objeto de protesto e pela primeira vez fazendo
violenta queixa das "conexões da Pérsia com a Rússia". Simultaneamente, o governador indiano ordenou
uma expedição naval punitiva para o Golfo Pérsico e para conquista da ilha de Karak - a mesma que foi
recentemente ocupada pelos ingleses. Em uma época mais recente, o enviado britânico deixou Teerã por
Erzeroum, e o embaixador persa enviado à Inglaterra teve recusadas suas credenciais por este país. Nesse
ínterim, a despeito de um bloqueio muito prolongado, Herat resistiu, os assaltos persas tinham sido
repelidos e, em 15 de agosto de 1838, o Xá foi forçado a levantar o sítio e a se retirar em marcha forçada
do Afganistão. Com isso, poderia se supor que as operações dos ingleses poderiam ter um fim, mas longe
disso, as coisas tomaram um curso extraordinário. Não contentes de rechaçar as tentativas da Pérsia,
feitas, como se alegava, por instigação e no interesse da Rússia que desejava conquistar uma parte do
Afganistão, os ingleses resolveram ocupar, por si mesmos, a totalidade deste país. Donde a famosa guerra
afegã cujo resultado final foi tão desastroso para os ingleses e cuja responsabilidade real permanece
totalmente misteriosa.
A presente guerra contra a Pérsia foi motivada por eventos muito parecidos aos que precederam a guerra
afegã, isto é um ataque contra Herat pelos Persas, que desta vez teve por resultado a conquista dessa
cidade. Uma circunstância marcante, todavia, é que os ingleses agem no presente como aliados e
defensores desse mesmo Dost Mohammed, que eles sem sucesso tinham se esforçado para destronar no