Na Idade Média, a arte abraçou, por assim dizer, a causa do plano
contra a do sujeito bem como a do objeto e produziu aquele estilo no
qual, embora se verificasse um movimento “atual” – em oposição ao
“potencial” -, as figuras pareciam agir sob a influência de um poder
superior e não por livre e espontânea vontade.
Compreende-se a repugnância deste autor pelo Estilo Gótico, por ser nítida a sua
preferência pelo estilo clássico, considerado puro, o qual defende com opiniões de Giorgio
Vasari e Raffaello Sanzio, renascentistas. Mas, mesmo ao criticar, o autor apresenta ainda mais
a grandiosidade do Gótico, no que tange ao aspecto metafísico de suas construções (p.128), na
influência direta dos Godos (p.237-8) e nos comentários do Abade Suger, um dos idealizadores
do estilo, sobre o significado e a importância dos vitrais góticos, que Erwin Panofsky (1979,
171-4) transcreve:
Assim, todo o universo material torna-se uma grande “luz” composta
de milhares de outras menores, como milhares de lanterninhas; cada
coisa perceptível, feita pelo homem ou natural, torna-se um símbolo
do que não é perceptível, um degrau na estrada do Céu; a mente
humana, abandonando-se à “harmonia e radiância”, que é o critério de
beleza terrestre, é então “guiada para cima”, em direção à causa
transcendente dessa “harmonia e radiância” que é Deus. [...] Uma
vitrina mostrando temas de caráter mais alegórico que tipológico “nos
insta a ir do material para o imaterial”. As doze colunas que suportam
as altas abóbadas do novo charola (corredor semicircular em igrejas,
situado atrás do altar) “representam o número dos Doze Apóstolos”,
enquanto que as colunas da galeria, também doze, “significam os
Profetas (menores)”. E a cerimônia de consagração do novo nártex foi
cuidadosamente planejada para simbolizar a idéia da Santíssima
Trindade. [...] Suger descreve, num estado vivo, o estado quase de
transe que é possível induzir pela contemplação de objetos brilhantes
como bolas de cristal e pedras preciosas. Mas ele o descreve, não
como uma experiência psicológica mas religiosa. [...] A fórmula lux
nova faz sentido perfeito com referência à melhoria das condições
reais de iluminação trazidas pela “nova” arquitetura; mas, ao mesmo
tempo, lembra a luz do Novo Testamento em oposição à escuridão ou
cegueira das leis judaicas. [...] A “claridade” física da obra de arte
“clarificará” a mente dos espectadores por iluminação espiritual.
A literatura da época surge através de canções trovadorescas, ressaltando a figura da
mulher (cantigas de amor) e a natureza (cantigas de amigo), que eram objeto de culto nas