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Muitos profissionais acham que podem desenvolver aquilo que é do seu
interesse, e não interesse da escola (Professor Francisco).
Olha, o problema do serviço público eu acho que ele existe. E nossa
Escola 2 deve ver que ele existe. As pessoas se acomodam. Teria que
haver um meio termo. As pessoas, por exemplo, aqui na Escola: se tu sai
prá estudar, tu é visto com maus olhos. Mas a pessoa não te vê com maus
olhos porque tu saiu pra estudar, ela quer sair também mas ela não quer
estudar. Então ela acha que é uma coisa fácil o que tu vai fazer. Então
aqui as pessoas são acomodadas, tu vai ver que tem um grande número
de professores que não mudaram, que são há 20 anos as mesmas
pessoas, a mesma aula, o mesmo estilo, os mesmos problemas... e
poderiam mudar. Não mudam porque sabem que nada acontece se eles
não mudam. INSS, por exemplo, eu tive que usar isso. E eu vi os absurdos
lá. Tava ali, na fila, tem que tirar ficha, as pessoas são mal atendidas.
Chegou no mês de janeiro, o INSS ali em São Leopoldo tem quatro ou
cinco médicos, numa época quente de verão. Todos os médicos pedem
atestado. Há uma libertinagem. Isso jamais vai acontecer num serviço
privado, porque aí tem conseqüências. Creio que teria que ser feita
alguma coisa pra que o funcionário público incorporasse a importância de
ser funcionário público. Por outro lado, tu pega funcionários públicos com
baixíssimos salários, totalmente desmotivados, sem um ambiente de
trabalho adequado. É o caso do magistério estadual. Eu peguei e fui
embora.(...) Agora aqui na escola não. Creio que se ganha um bom
salário aqui, é um bom ambiente de trabalho, com todas dificuldades que
tem, a qualidade dos alunos é excelente, os alunos são ótimos, não tem
porque tu se acomodar. Não tem porque abrir o mesmo caderno que tu
usava há 20 anos e fazer a mesma coisa. Não tem porque ser
extremamente exigente com os alunos e não orientar trabalhos de
conclusão, por exemplo. Então tem coisas no serviço público que
deveriam ser mudadas. Isso no nosso nível, agora se tu pegar o Judiciário
ou o Legislativo, por exemplo, ai é um caos completo. São ineficientes,
ganham demais. É uma máfia (Professor Caio).
Na pública, o teu comprometimento sempre deveria ser um pouco maior,
né? Afinal de contas é uma instituição que no principio ela procura
desenvolver ações com toda uma gama de pessoas daquela região, local,
sociedade e tal. No meu caso, por exemplo, a universidade particular já
está ligada a uma instituição que tem filosofia própria diferenciada, no
caso é católica. Já vai limitando as coisas. Mesmo que tu não combine
com tais padrões, tu é obrigado a se encaixar naquilo. E na pública, no
caso a Escola 2 aqui, é uma coisa mais aberta, precisa ter mais
responsabilidade, tá mais solto. Tu podes ser mais criativo por outro lado,
mais livre. Então a instituição pública pra mim tem esse aspecto, tu podes
desenvolver muito mais coisas que na particular. Por isso, requer de ti
uma pró-atividade maior. Mas acontece justamente o contrário, porque na
privada tu tens que sair correndo atrás das coisas. Na pública tu acomoda.
É´ uma contradição porque tu podes fazer muito mais coisas numa
instituição pública (Professor Caio).
Percebemos que existe certo desconforto ou incômodo com a confirmação
da existência da acomodação como um problema existente por parte dos
entrevistados, pois aquilo que é defendido como algo importante para a vida das
pessoas, que é a segurança do emprego e do salário no final do mês, constitui-se
numa possibilidade de acomodação. Discurso este que sustentou o debate sobre a