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universalidade que age nele.” (SIEP, 2007, p. 175). A crítica de Siep leva-nos a considerar a
revisão da concepção de subjetividade absoluta e da estrutura teleologicamente
incondicionada imanente à estrutura do reconhecimento.
É de autoria de Hösle uma das principais críticas ao status da intersubjetividade na
Lógica.
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Hösle (2007) fundamenta sua tese através de uma argumentação particularmente
bem articulada, cuja estratégia é aquela utilizada aqui: uma crítica interna ao sistema
hegeliano, que o autor denomina “crítica imanente” (p. 17). À semelhança da abordagem da
estrutura especulativa do reconhecimento apresentada no capítulo anterior, Hösle não defende
a ausência da constituição da intersubjetividade na passagem da doutrina da essência para a
doutrina do conceito. No entanto, ele aponta uma espécie de retrocesso quando Hegel não
desenvolve essa passagem como porta de entrada para a tematização da intersubjetividade
como uma parte efetivamente constituinte da Lógica, tendo restringido-a à divisão bipartida
composta pela lógica objetiva e pela lógica subjetiva. Nesse caso, Hösle põe em questão o
suporte lógico que Hegel deveria pretender dar, em conformidade com seu sistema, às
abordagens sobre a intersubjetividade nos seus escritos. Desse modo, A proposta de Hösle
vincula-se à crítica à insuficiência do caráter intersubjetivo na estrutura lógica de Hegel,
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A interpretação de Hösle alia-se a comentadores como G. Günther, que defende uma semelhante necessidade
de complementação da Lógica (1959 apud HÖSLE, 2007, pp. 305 ss.). Ao propor que Hegel ainda está preso a
uma estrutura binária de reflexão, Günther sugere uma lógica triádica não aristotélica, com o objetivo de melhor
tematizar a relação intersubjetiva. Numa rica reconstrução desse debate, Hösle refere-se ainda a dois pensadores
que já no séc. XIX apontaram a insuficiência do idealismo alemão no tratamento da intersubjetividade. Trata-se
do sueco E. G. Geijer (1783-1847) e o hegeliano norte-americano J. Royce. Sobre o primeiro, Hösle explica que
“foi o primeiro a apontar, com grande rigor intelectual, como principal fraqueza do idealismo alemão que suas
categorias fundamentais são Eu e Não-Eu, sujeito e objeto, enquanto os conceitos fundamentais de uma
verdadeira filosofia teriam de ser Eu e Tu” (301, nota). Neste autor, continua Hösle, “encontra-se a tese de que a
mais alta unidade, assim com a mais alta oposição, não se daria entre natureza e inteligência, ou entre
subjetividade e objetividade, mas entre subjetividade e subjetividade, inteligência e inteligência; tratar-se-ia,
aqui, não de uma unidade, mas de uma concórdia, uma identidade tão real quando ideal na dualidade” (p. 301,
nota). “Não há personalidade senão em e através de outra. – Sem tu, não há eu. Por isso, a antítese suprema não
é entre eu e não-eu, mas entre eu e um outro eu – entre eu e tu”. (GEIJER, 1856, p 210 apud HÖSLE, 2007, p.
301, nota). Em todo caso, não é explicitado como seria possível a subjetivação do primeiro Eu. Quanto ao
segundo pensador, J. Royce, o destaque volta-se para a proposta de incluir elementos peircianos na abordagem
idealista. Numa abordagem que se manteve marcadamente especulativa, Royce propõe substituir a categoria da
subjetividade pela de comunidade. Vale observar que a abordagem de J. Royce foi transmitida ao seu discípulo
G. H. Mead, que por sua vez, incluenciou decisivamente Habermas e Honneth.