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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
A REDE URBANA DO RECÔNCAVO BAIANO
E SEU FUNCIONAMENTO TÉCNICO
MÁRCIA VIRGÍNIA PINTO BOMFIM
Orientador: Dr. Rubens de Toledo Júnior
Salvador – Bahia
Junho/2006
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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
A REDE URBANA DO RECÔNCAVO BAIANO
E SEU FUNCIONAMENTO TÉCNICO
MÁRCIA VIRGÍNIA PINTO BOMFIM
ORIENTADOR: DR. RUBENS DE TOLEDO JÚNIOR
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Submetida em satisfação parcial dos requisitos ao grau de
MESTRE EM GEOGRAFIA
À
Câmara de Ensino de Pós-Graduação e Pesquisa
da
Universidade Federal da Bahia
Dr. Rubens de Toledo Júnior
Dra. Maria Auxiliadora da Silva
Dr. Fernando Cardoso Pedrão
Data de aprovação: ___/___/___ Grau conferido em ___/___/___
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B695 Bomfim, Márcia Virgínia Pinto,
A rede urbana do Recôncavo Baiano e seu
funcionamento técnico / Márcia Virgínia Pinto Bomfim._
Salvador, 2006.
119 f.: il
Dissertação (Mestrado) – Pós-Graduação em
Geografia. Instituto de Geociências. Universidade
Federal da Bahia, 2006.
1. Rede técnica. 2. Rede urbana. 3. Meio técnico-
científico e informacional
I. Título II. Tese
911.9:711(813.8)(043)
Á meu pai, minha mãe (Tia Neta) exemplo de
amor e dedicação, Enzo e Danilo.
RESUMO
O presente estudo buscou uma interpretação das implicações da
modernização no Recôncavo baiano a partir do processo de difusão dos meios
geográficos na região, com ênfase nos anos a partir de 1950, período marcado pelo
surgimento e expansão do meio técnico-científico-informacional. A região do
Recôncavo foi historicamente muito importante para se iniciar e sistematizar estudos
referentes à divisão espacial da produção brasileira.
Parte-se da genealogia da formação do território do Recôncavo, com ênfase
nas sucessivas implantações de redes técnicas, associadas a diferentes períodos
históricos. Os diversos tipos de redes técnicas se expandiram e ganharam ou
perderam importância na medida em que se mudava a configuração territorial da
região estudada. Estas configurações também são condicionadas pela presença ou
pelas funcionalidades das diversas redes.
Como se objetiva a compreensão do Recôncavo à luz de um instrumental
teórico atualizado, se fez uso das teorias recentemente elaboradas por Milton
Santos, que é autor de um clássico estudo sobre a rede urbana que ora analisamos.
A rede urbana tem suas funcionalidades sustentadas pelas infra-estruturas, também
chamadas de redes técnicas.
As redes, entendidas como constituintes do espaço geográfico, uma instância
social que possui papel ativo e condicionante sobre as demais instâncias. Para a
compreensão do uso do território do Recôncavo, analisamos sua evolução durante
diversos períodos históricos, que resultou na presente configuração e permitiu
entender seu funcionamento atual, suas especificidades, diferenciações e
desigualdades.
Palavras-chave: Rede técnica; rede urbana; meio-técnico-científico e informacional.
ABSTRACT
The present study looked for an interpretation of the implications of the
modernization in the Reconcavo Bahiano starting from the process of diffusion of the
geographical ways in the area, with emphasis the years starting from 1950, period
marked by the appearance and expansion of the technician-scientific-informational
means. The Reconcavo area was historically very important to begin and to
systematize studies reported to the space division of the Brazilian production.
Staring from Reconcavo´s formation genealogy, emphasizing in the
successive implantations of technical networks, associated to different historical
periods. The several types of technical networks expanded and got or lost
importance in the same way that the territorial configuration of the studied area
changed. These configurations are also conditioned by the presence or for the
functionalities of the several networks.
As the comprehension of Reconcavo by an instrumental theoretical updated is
aimed, there were used theories recently elaborated by Milton Santos, author of a
classic study on the urban network that is now analyzed. The urban network has their
functionalities sustained by the infrastructures, also calls of technical networks.
The networks, understood as constituent of geographical space, a social
instance that has active paper and stimulant on the other instances. For the
understanding of the use of Reconcavo, we analyzed its evolution during several
historical periods, that it resulted in the present configuration and it allowed to
understand its current operation, their specificities, differentiations and inequalities.
Key words: The networks; urban network; technician-scientific-informational means.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a minha família pelo apoio e dedicação: Vovó Neta, Molk, Marcos,
Wailson, Mag e Celson que não mediram esforços para que eu pudesse concluir
este estudo, especialmente nos momentos (e que foram muitos) em que não tinha
com quem deixar meus pequenos. Agradeço também a todos os meus familiares,
que mesmo distante geograficamente sempre me inc entivam a crescer
profissionalmente.
Sou imensamente grata ao meu orientador Prof. Dr. Rubens de Toledo Junior,
pela objetividade na orientação e pela gentileza ao me aceitar como orientanda.
Agradeço especialmente à Profa. Dra. Maria Auxiliadora Silv a pela amizade e
valiosas contribuições; ao Coordenador do Curso de Pós- Graduação em Geografia,
Prof. Dr. Ângelo Serpa, aos professore pelas discussões em sala de aula e aos
secretários Itanajara José Muniz da Silva e Dirce Vieira Almeida pelo apoio e
presteza.
Sou grata as Técnicas da Biblioteca do IBGE, Ana Maria Loureiro Pereira e
Maria Otilia Bastos de Araújo Góis que sempre atenderam gentilmente minhas
solicitações.
Sou especialmente grata à amiga-colega da UNEB, do mestrado Claudia
Souza Pereira juntamente com sua família pela amizade, consideração e incentivo.
Agradeço a valiosa contribuição do técnico da CPRM Ricardo Hagge pela
elaboração e confecção dos mapas.
Agradeço a gentileza, presteza e amizade dos meus compadres-colegas
Sônia Marise Tomasoni e Marco Antônio Tomasoni.
Meus agradecimentos vão também para a Universidade do Estado da Bahia -
UNEB e em especial o Campus V, em Santo Antônio de Jesus e ao Colegiado de
Geografia, pela liberação para a realização do mestrado; aos colegas pela amizade
e incentivo: Alvacir Barbosa (in memoria), James Araújo, Luciana Teixeira, Luis
Claudio Requião, Djalma Góes, Jânio Roque, Patrícia, Rita Hagge, Fábio, Wilson
Roberto de Mattos, Kátia Marise, Augusto Mendes, Alice Valverde, Ana Maria
Oliveira, Maria de Lourdes Motta e aos servidores da UNEB, Inês, Roberto, Soninha,
Marlene, Conceição, Bartolomeu e Lia pela consideração, amizade e gentileza ao
atender nossas solicitações.
SUMÁRIO
Lista de tabelas .......................................................................................... 8
Lista de figuras ........................................................................................... 8
Lista de quadros ......................................................................................... 8
INTRODUÇÃO ........................................................................................... 10
1 O RECÔNCAVO BAIANO E A FORMAÇÃO DA REDE
URBANA ................................................................................... 28
1.1 O INÍCIO DA OCUPAÇÃO DO RECÔNCAVO .......................... 31
1.2 O PAPEL DA METRÓPOLE COLONIAL .................................. 36
1.3 MODERNIZAÇÕES TÉCNICAS NO ECÔNCAVO .................... 39
1.4 A ORGANIZAÇÃO URBANA DO RECÕNCAVO ...................... 50
1.5 A REDE URBANA DO RECOÔNCAVO SEGUNDO MILTON
SANTOS ................................................................................... 53
1.6 AS REDES DE CIDADES COMO CATEGORIA DE
ESTRUTURAÇÃO DO TERRITÓRIO ....................................... 54
2 O RECÔNCAVO BAIANO E AS CONDIÇÕES ATUAIS .......... 59
2.1 O PROCESSO DE MODERNI ZAÇÃO DO RECÔNCAVO (na
metade do Século XX) .............................................................. 62
2.1.1 A agroindústria no Recôncavo – formação e
sistematização do conhecimento agrícola no Estado ......... 66
2.1.2 Novo ciclo ................................................................................ 70
2.2 A PETROBRÁS NO RECÔNCAVO BAIANO ............................
73
2.2.1 Os benefícios da Petrobrás .................................................... 75
2.3 O CIRCUIRO PRODUTIVO AGROINDUSTRIAL DO FRANGO
DE CORTE NO RECÔNCAVO BAIANO .................................... 78
2.4 UMA ANÁLISE SOCIAL DA REGIÃO DO RECÔNCAVO
BAIANO ..................................................................................... 83
3 TERRITÓRIO E REDES DE TRANSPORTES ......................... 87
3.1 A REDE RODOVIÁRIA ............................................................. 87
3.2 A REDE FERROVIÁRIA ............................................................ 90
3.3 A ESTRUTURA PORTUÁRIA ................................................... 93
4 TERRITÓRIO E REDES DE TELECOMUNICAÇÃO ................ 97
4.1 A EVOLUÇÃO DOS SISTEMAS TÉCNICOS ............................ 100
4.2 OS SISTEM AS DE TELECOMUNICAÇÃO NO RECÔNCAVO
BAIANO ..................................................................................... 101
4.3 OS SERVIÇOS DE TELEFONIA FIXA NA BAHIA .................... 104
4.4 A INFORMAÇÃO E A NOVA DIJVISÃO SOCIAL E
TERRITORIAL DO TRABALHO NO RECÔNCAVO .................. 105
4.5 AS AÇÕES DA TELEMAR NO RECÕNCAVO .......................... 107
CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................... 111
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 113
LISTA DE TABELAS
1 Evolução Política Administrativa do Recôncavo Baiano –
Estado da Bahia (1827/2002) .................................................... 57
2 Principais Países Exportadores de Carne de Frango (1999-
2003) .......................................................................................... 80
3 Principais Países Importadores de Carne de Frango (1997-
2003) ......................................................................................... 81
4 Domicílios particulares permanentes urbanos, total e
proporção dos domicílios, por acesso a alguns ser viços e
posse de alguns bens duráveis, segundo as Grandes Regiões,
Unidades da Federação e Regiões Metropolitanas – 2004 ....... 103
5 Pessoal ocupado em atividades técnicas, científicas e afins.
Brasil e grandes regiões (1976-1995) ....................................... 107
LISTA DE FIGURAS
1 Recôncavo Baiano: Localização e Divisão Municipal ............... 19
2 Disposição das Estradas de Ferro ............................................ 37
3 Situação das Principais Rodovias ............................................. 49
4 Zonas de Influência Comercial no Estado da Bahia .................. 54
5 Sistema de Transporte no Recôncavo Baiano – 2004 .............. 91
LISTA DE QUADROS
1 Prestadoras de Serviço Móvel Celular ...................................... 99
LISTA DE ABREVIATURA E SIGLAS
ABA Associação Baiana de Avicultura
ABEF Associação Brasileira de Exportação de Frango
CBTU Companhia Brasileira de Trens Urbanos
CENAB Centro Náutico da Bahia
CEPAL Comissão Econômica para América Latina e o Caribe
CIA Centro Industrial de Aratu
CNP Conselho Nacional do Petróleo
COPEC Complexo Petroquímico de Camaçari
CRA Centro de Recursos Ambientais
DNER Departamento Nacional de Estradas e Rodagem
DNOCS Departamento Nacional de Obras Contra as Secas
EMBRATEL Empresa Brasileira de Telecomunicações
IAA Instituto do Açúcar e do Álcool
IBA Instituto Baiano de Agricultura
IBF Instituto Baiano do Fumo
IIBA Imperial Instituto Baiano de Agricultura
INMARSAT Sistema Mundial de Comunicações Marítimas via Satélite
PETROBRÁS Petróleo Brasileiro S/A
PIB Produto Interno Bruto
RENAR Rede Nacional de Radiomonitoragem
RENEC Rede Nacional de Estações Costeiras
RLAM Refinaria Landulfho Alves – Mataripe
RMS Região Metropolitana de Salvador
RPBC Refinaria Presidente Bernardes-Cubatão
TELEBRÁS Telecomunicações Brasileiras
TWB Corporation Transportes Aquaviários & Construção Naval
10
INTRODUÇÃO
O conceito de rede até aproximadamente os anos 70 não esteve no centro
das atenções dos geógrafos, sendo retomado por diversos autores, a partir dos anos
80, quando a informação através da cibernética, da informática e da eletrônica passa
a dominar as relações de fluxos sobre o espaço mundial.
As empresas que utilizam as novas tecnologias o fazem recorrendo às redes
de transportes e de comunicações. Como há uma intencionalidade na localização
das atividades econômicas, essa lógica continua a dominar no momento da
instalação de suportes técnicos para novas tecnologias adotadas pelas empresas.
Para Castells (2003) o perfil do novo processo espacia l, denominado de
espaço de fluxos, está se caracterizando como a manifestação espacial
predominante de poder e função. Essa manifestação ocorrida ao final do século XX
graças aos avanços da ciência, produziu um sist ema técnico presidido pelas
técnicas da informação, que passam a exercer um papel de elo entre as demais,
unindo-as e assegurando ao novo sistema técnico, uma pres ença planetária, Santos
(2001).
Toma-se por princípio que, ao se trabalhar com o conceito de redes, deveria-
se destacar quatro grandes fluxos: os movimentos de pessoas ou fluxos migratórios,
os movimentos comerciais ou fluxos de mercadorias, os movimentos de capitais ou
fluxos monetários e financeiros e movimento de informação ou fluxos informacionais.
São esses fluxos que permitem entender o grau de fluidez que perpassa toda
sociedade contemporânea e a corroboração de uma compreensão de que existe um
comando para todas essas ações. Vale salientar que o atual sistema de técnicas
que garante os mecanismos de sustentação do esquema global é articulado em rede
e é resultado de ações políticas que asseguram esse mercado.
11
São fluxos que procuram ultrapassar o controle territorial, inv adem os limites
das soberanias nacionais e demandam novos sist emas normativos do Estado-
Nação. Para Santos (2003) as ações políticas que asseguram a conformação do
mercado global estão envolvidas em determinações perversas e não igualitárias.
O emaranhado técnico presente na sociedade torna as relações cada vez
mais complexas, o que justifica o estudo do fenômeno de redes como uma das
formas mais adequadas para o entendimento da realidade contemporânea.
Dias (2005) observou que nas ciências humanas, a rede tem sido pensada
primordialmente como forma particular de organização sendo estudadas da seguinte
forma: social – grupos, instituições ou firmas (Castells, 1999), urbana (Santos 1995,
Corrêa, 1989 e 2001), transacional-econômico-político e principalmente técnica
(Bakis, 1985, Dias 1995 e Offner 1993 e 2000).
Mas o que é uma rede? O vocábulo provém do latim retis e significa conjunto
de fios entrelaçados em ligações regular es utilizados para apanhar pe ixes, para
dormir e embalar, como tela ou ainda, conjunto complexo de fios, rodovias, ferrovias,
canais, casas comerciais etc.
O vocábulo fora também amplamente utilizado nas ciênc ias biológicas,
principalmente na medicina para explicar o funcionamento do organismo no corpo
humano. Porém o conceito de rede passa a ser empregado mais largamente para
definir as representações geométricas do território que se multiplicaram a partir da
segunda metade do século XX graças ao desenvolvimento das técnicas, sobretudo
na geografia.
A rede passa a ser concebida como matriz técnica – infra-estrutura rodoviária,
estrada de ferro, telegrafia, alterando a relação com o espaço e com o tempo, Dias
(2005). Para muitos autores o conceito
12
Esse filósofo francês vivenciou a Revolução Francesa, sendo bastante
influenciado pelo iluminismo. Passa a defender a idéia de que o Estado se fortalece
quando permite liberar a circulação do dinheiro, ou seja quand o passa a assegurar
as condições necessárias para a circulação de todos os fluxos sobre o território.
Para ele, no momento em que a França assegurasse as condições
necessárias para que todos os fluxos pudessem circular livremente sobre o território
garantiria também melhores condições de vida da população bem como o
enriquecimento do país. Assim Saint-Simon dispôs de uma ferramenta de análise
para conceber uma ciência política e formular um projeto de melhoria geral do
território da França, Dias (2005).
Segundo Bakis (1996) a rede pode ser vista segundo três sentidos: a)
polarização de pontos de atração e difusão como é o caso das redes urbanas; b)
projeção abstrata, que é o caso dos meridianos e paralelos na cartografia do globo;
c) projeção concreta de linhas de relações e ligações, que é o caso das redes
hidrográficas, das redes técnicas territoriais e também, das redes de
telecomunicações.
Por esse aspecto, avaliando o presente das redes, elas estão instaladas
diacronicamente sobre o território, ou seja, são instaladas em diferentes momentos,
muitas até já estão presentes na configuração atual e sua substituição ocorre em
momentos diversos. Essas substituições ocorrem quando o movimento social exige
uma mudança morfológica e técnica.
A partir de análises das contribuições acerca do conceito de rede se pode
concluir que tal conjunto de idéias ainda está em construção, pois se está diante de
um mundo cada vez mais técnico.
Ao mesmo tempo, retornamos ao conceito da rede urbana na tentativa de
entender que todo sistema urbano atual foi influenciado pelas etapas anteriores de
estruturação do espaço no qual ele funciona hoje. Para Michel Rochefort:
13
Até meados do século XIX, cada cidade representava um organismo mais
ou menos autônomo que expressa por sua presença e importância a
natureza das necessidades de sua região. A cidade era portanto a unidade
de base da geografia urbana: ela se situava num contexto regional e
noutros fatores que a delimitavam. A concentração econômica da segunda
metade do século XIX forjou, a partir das grandes cidades, uma verdadeira
rede urbana regional. Por seus banqueiros, industriais e negociantes, as
grandes cidades detiveram então as alavancas de comando de todas as
atividades da sua região. A unidade de estrutura da geografia urbana torna-
se a rede urbana regional na qual era necessário ressituar cada cidade para
interpretá-la validamente. Essa rede constitui também o arcabouço de um
novo recorte regional.
Esse triunfo da noção de rede urbana regional foi de curta duração. O
século XX desmantelou progressivamente as bases da sua autonomia: os
bancos regionais cedem lugar aos bancos nacionais, as empresas
industriais abrem suas portas aos capitais exteriores, enquanto uma parte
da riqueza regional é investida em outras regiões. Os próprios atacadistas
tornam-se intermediários em cadeias de distribuição mais vastas... Para
interpretar uma cidade qualquer, já não basta ressituá-la em sua rede
regional; é preciso entender os laços de estrutura que subordinam esta a
uma unidade mais vasta, constituída pelo Estado ou pela zona de influência
de alguns grandes trustes. A verdadeira unidade de estrutura para uma
geografia comparada das cidades tende a ultrapassar o âmbito da rede
urbana regional. (ROCHEFORT, 1998, p.17)
Entretanto Rochefort assinala que, no estado atual da civilização e das
necessidades em relações que ela implica, a rede urbana regional parece-nos
constituir ainda a indispensável estrutura técnica da vida regional e permanecer, por
conseguinte, na base mesma da noção de região.
Geiger (1963), ao avaliar a evolução da rede urbana brasileira, recebe
influência de Michel Rochefort e afirma que:
Há, evidentemente, uma relação entre os fatos da história urbana e os fatos
da história econômica. As transformações que ocorrem na estrutura urbana
brasileira acompanham a substituição do sistema econômico colonial por
um sistema de economia nacional. Por sua vez, o crescimento da população
urbana é fator de expansão do mercado interno, causa de transformações
na economia brasileira.
Quando, ao mecanismo simples de exportação de matéria-prima e
importação de produtos de consumo, se acrescentou a produção para o
mercado interno, as diversas partes do País passaram a articular-se melhor
e as cidades foram recebendo fortes impulsos ao seu desenvolvimento.
Corrêa (1989) afirma que a rede urbana é um reflexo, em realidade, dos
efeitos acumulados da prática de diferentes agentes sociais, sobretudo as grandes
corporações multifuncionais e multilocalizadas que efetivamente introduzem – tanto
na cidade como no campo – atividades que geram diferenciações entre os centros
14
urbanos. O autor prossegue sua análise em uma proposta mais atual (2001), onde
ele dá indicação das dimensões de análise das redes: a dimensão organizacional
refere-se à configuração interna da entidade estruturada em rede, abrangendo os
agentes sociais, a origem da rede, a natureza dos fluxos, a função e a finalidade da
rede, sua existência e construção, sua formalização e organicidade. A dimensão
temporal envolve a duração da rede, e a dimensão espacial a escala e a dimensão
espaço-temporal que articula espaço e tempo da rede.
Ainda sobre a validade na atualidade de um estudo da rede urbana na base
regional, Santos (1993) diz que, no momento histórico atual, período que ele
denomina de técnico-científico informacional, a construção ou reconstrução do
espaço se dá com um crescente conteúdo de ciência, de técnica e de informação.
As remodelações se impõem tanto no meio rural quanto no meio urbano e, em
conseqüência, aparecem mudanças importantes, tais como aportes maciços de
investimentos em infra-estruturas e avanços consideráveis na composição orgânica
do território, graças à cibernética, às biotecnologias, às novas químicas, à
informática e à eletrônica. Isso tudo se dá de forma paralela à cientifização do
trabalho.
No caso brasileiro, há um desenvolvimento muito grande da configuração
territorial, com adições nos sistemas de engenharia superpostos à natureza, levando
a um crescimento do sistema de transportes, do sistema de telecomunicações e da
produção de energia.
Outro aspecto é que o País passa a se interligar, a estrutura industrial e
agrícola muda, o que leva a uma mudança na estrutura da circulação, distribuição e
consumo. Paralela a esse desenvolvimento das formas materiais, há também uma
grande expansão das formas de produção não-material: da saúde, da educação, do
lazer, da informação e até mesmo das esperanças. São formas de consumo não-
material que se disseminam sobre o território, (Santos, 1993).
Assim, com a integração do território, o espaço se apresenta com bastante
fluidez, permitindo que os fatores de produção, o trabalho, os produtos, as
mercadorias, o capital passem a ter uma grande mobilidade, levando a uma
15
especialização do território. Com isso, uma nova geografia regional se desenha, na
base da nova divisão territorial do trabalho que se impõe, criando-se
complementaridades regionais. Essas complementaridades fazem com que se criem
necessidades de circulação, que vão se tornar frenéticas dentro do território
brasileiro. As regiões devem se adequar a esse modelo que se impõe e,
conseqüentemente, vamos nos defrontar com diferenciações regionais e
disparidades territoriais de outra natureza.
Santos (1996) salienta que assim como se fala em fim do território e de não-
lugar na vertente pós-moderna, nenhum subespaço do planeta escaparia ao
processo conjunto de globalização e fragmentação, isto é, indiv idualização e
regionalização. Com suas palavras, ele ressalta que:
No decorrer da história das civilizações, as regiões foram configurando-se
por meio de processos orgânicos, expressos através da territorialidade
absoluta de um grupo, onde prevaleciam suas características de identidade,
exclusividade e limites, devidas à única presença desse grupo, sem outra
mediação. A diferença entre áreas se devia a essa relação direta com o
entorno. Podemos dizer que, então a solidariedade característica da região
ocorria quase que exclusivamente, em função dos arranjos locais. Mas a
velocidades das transformações mundiais deste século, aceleradas
vertiginosamente no após-guerra, fizeram com que a configuração regional
do passado desmoronasse.
Segue argumentando que, assim como hoje há uma corrente que diz que o
tempo apagou o espaço, poderia também se dizer que a expansão do capital
hegemônico em todo o planeta teria eliminado as diferenciações regionais. Ou ainda
vai mais longe: seria proibido mesmo até prosseguir pensando que a região existe.
Porém Santos faz questão de se colocar contra essas idéias, acrescentando que:
... em primeiro lugar, o tempo acelerado, acentuando a diferenciaç ão dos
eventos, aumenta a diferenciação dos lugares; em segundo lugar, já que o
espaço se torna mundial, o ecúmeno se redefine, com a extensão a todo ele
do fenômeno de região. As regiões são suporte e a condição de relações
globais que de outra forma não se realizariam. Agora, exatamente, é que
não se pode deixar de considerar a região, ainda que a reconheçamos
como um espaço de conveniência e mesmo que a chamemos por outro
nome.
Assim, para ele, neste mundo globaliza do, com a ampliação da divisão
internacional do trabalho e o aumento exponencial do intercâmbio, dá-se,
paralelamente, uma aceleração do movimento e mudanças mais repetidas, na forma
16
e no conteúdo das regiões. Ensina-nos que o que faz a região não é a longevida de
do edifício, mas a coerência funcional que a distingue das outras entidades, vizinhas
ou não. O fato de ter vida curta não muda a definição do recorte territorial. Isso faz
com que as regiões se transformem continuamente, levando a uma menor duração
do edifício regional, não suprindo, portanto, a região, apenas mudando de conteúdo.
Assim, a região continua a existir, mas com um nível de complexidade jamais visto
pelo homem.
Ribeiro e Gonçalves (2001), ao realizarem uma busca conceitual do
significado de região pelo viés da contextualização histórico-espacial da sociedade,
colocam-se contrários às afirmações de que a região teria perdido seu status
científico no entendimento do real, corroborando as idéias dos autores citados
acima. Sinalizam que novas concepções estão se pondo no horizonte da ciência e
certamente trarão novos indicativos que, hoje, mais do que nunca, se mostram
indispensáveis para quaisquer análises sobre as sociedades e as suas formas
regionais. Fazem referência à maior inter-relação, existente na atualidade,
propiciada pela interconexão e interdependência nunca vistas antes, a partir do
aparato técnico-científico-informacional, entre as dimensões do lugar e da região,
com o ingrediente novo da rede . Citando Moreira (1995), pode-se afirmar que a
17
No atual período técnico-científico-informacional, os países periféricos foram
convocados a participar de uma nova ordem que se estabeleceu na segunda
metade do século XX, quando um novo projeto de modernidade se impôs por todas
as partes do Planeta.
Dentro desse contexto, assistimos à ampliação do meio técnico-científico-
informacional que ocorre graças à adoção de um mesmo conjunto de objetos
técnicos que estão, hoje, presentes em uma escala planetária. É por meio desse
conjunto que se realiza a produção, a circulação, o trabalho, enfim todas as ações
humanas. Engendra-se, assim, uma nova geografia dos lugares com a sobreposição
dos novos sistemas de objetos técnicos que, muitas vezes, se somam aos
preexistentes (rodovias, aeroportos, portos, hidrelétricas, ferrovias, fábricas, bancos,
universidades, pontes), formando arranjos espaciais específicos.
Com a difusão das redes de informação, esse sistema é cada vez m ais
interdependente, articulando diversas regiões do mundo.
Paralelamente a essa difusão, constatamos, nas últimas décadas, que a rede
urbana brasileira se tornou muito mais complexa, devido à dispersão das atividades
econômicas. Esse movimento conduziu, de um lado, a um ritmo mais lento do
crescimento das cidades milionárias e, de outro, ao crescimento das cidades médias
e locais.
Santos (1996) propõe novas categorias analíticas par a entender as condições
atuais dos arranjos espaciais, que hoje não se dão apenas através de figuras
formadas de pontos contínuos e contíguos.
Hoje, ao lado dessas manchas, ou por sobre essas manchas, há também,
constelações de pontos descontínuos, mas interligados, que definem um
espaço de fluxos reguladores. As segmentações e partições presentes no
espaço sugerem, pelo menos que se admitam, dois recortes. De um lado,
há extensões formadas de pontos que se agregam sem descontinuidade,
como na definição tradicional de região. São as horizontalidades. De outro
lado, há pontos no espaço que, separados uns dos outros, asseguram o
funcionamento global da sociedade e da economia. São as verticalidades. O
espaço se compõe de uns e de outros desses recortes, inseparavelmente. É
a partir dessas novas subdivisões que devemos pensar novas categorias
analíticas.
18
Enquanto as horizontalidades são, sobretudo, a fábrica da produção
propriamente dita e o lócus de uma cooperação mais limitada, as
verticalidades dão, sobretudo, conta dos outros momentos da produção
(circulação, distribuição, consumo), sendo o veículo de uma cooperação
mais ampla, tanto econômica e politicamente, como geografica m ente.
Para ele, na caracterização atual das regiões, longe estamos daquela
solidariedade orgânica que era o próprio cerne da def inição do fenômeno regional. O
que temos hoje são solidariedades organizacionais, criadoras de uma coesão
organizacional baseada em racionalidades de origens distantes, mas que se tornam
um dos fundamentos da sua existência e definição.
A verticalidade cria interdependência entre os lugares; cria-se um sistema de
produção reticular, a partir de suportes territoriais largamente redistribuídos, que
asseguram a coesão do processo produtivo.
Essas interdependências tendem a ser hierárquicas e têm um papel de
ordenamento, de comando. Essa hierarquia se realiza através de ordens técnicas,
financeiras, políticas, condição de funcionamento do sistema. A informação, ao
serviço das forças econômicas hegemônicas e ao serviço do Estado, é o grande
regedor das ações que definem as novas realidades espaciais.
O que se pretende aqui é tentar entender como se formam as redes de fluxos,
principalmente fluxos de informações, que serve como instrumento para comandar
essas ações sobre o território. Toma-se aqui como área de estudo o Recôncavo
Baiano (Figura 1) por ser uma importante região, marco histórico para o
entendimento da formação da rede urbana na Bahia e no Brasil, onde Milton Santos
em 1959 estuda sobretudo a formação e a hierarquia dos núcleos urbanos da área
em questão, bem como traça a evolução das relações mantidas com Salvador. A
intenção é estabelecer uma continuidade do pensamento de Milton Santos para a
rede urbana do Recôncavo atual, associando-o às transformações tecnológicas
ocorridas a partir de 1970 e sua reorganização espacial, através da articulação de
novas atividades econômicas que surgem.
19
20
Por fim, estaremos analisando a região sob a ótica de novos conceitos
elaborados por Milton Santos, como a constituição do meio técnico-científico
informacional .
A importância do Recôncavo na formação da economia baiana tem sido
fundamental, desde o ciclo do açúcar até ao do petróleo, refletindo nos diversos
momentos da urbanização e da industrialização, provocando alterações na forma de
articulação econômica com a Bahia e com o Brasil, Pedrão, (1992).
Apesar de estar localizado na região a maior parte do capital formado na
Bahia durante os últimos cinqüenta anos, ela é, conforme o autor, majoritariamente
um bolsão de estagnação econômica, profunda desigualdade e pobreza crítica. Por
isso mesmo, faz-se imprescindível discutir o seu quadro atual e as perspectivas de
mudanças.
Entende-se aqui como Recôncavo Baiano a região que se dese nv olveu com a
economia canavieira sob o comando de Salvador. Envolve os municípios que se
distribuem no entorno da Baía de Todos e se estende por um raio de 100 km a partir
da cidade de Salvador, abrangendo uma superfície de aproximadamente 1.000 km
2
.
Os diversos autores citados como fonte neste trabalho afirmam que, ao
realizar estudos sobre a região, deve-se compreender o Recôncavo como uma área
marcada por grandes diferenças sub-regionais desde o início da colonização,
apresentando-se com intensa complementariedade econômica e continuidade
cultural, resultantes dos efeitos do passado colonial que lhe confere características
peculiares e complexas.
Uma outra questão que levanta discussões diz respeito a sua abrangência
territorial. Ao longo de sua formação, sua delimitação espacial sofreu várias
alterações sendo interpretada também de diversas maneiras. Brandão (2002)
acrescenta que a origem da designação recôncavo da Bahia ou, simplesmente,
Recôncavo, e não Recôncavo Baiano, aparece na maioria dos documentos, até o
terceiro quartel do século XX, e em minúscula fazendo referência às terras em torno
da Bahia de Todos os Santos, daí a impropriedade da expressão Rec ôncavo
21
Baiano. As variadas sub-regionalizações recentes, propostas pelos órgãos públicos,
revelam a dificuldade criada no momento de delimitar o que possa ser cons iderado
como Recôncavo ou mesmo como região de Salvador, quando desconsideradas a
gênese e as interações intra-regionais do Recôncavo.
Santos (1959), justifica que essa divisão territorial do Recôncavo sempre foi
mais um conceito histórico do que uma unidade fisiográfica. Em abordagens
posteriores, como já foi dito, ele afirma que o conceito de região não é um ‘edifício
estável’ e que muda de conteúdo.
Os órgãos públicos trabalham com diversas regionalizações para a região:
Região Administrativa de Santo Antônio de Jesus, Região Econômica Recôncavo
Sul, Microrregião Homogênea Santo Antônio de Jesus e Região de Planejamento
Paraguaçu. Para os geógrafos, o entendimento das divisões regionais tem um
caráter científico ditado tanto por interesses acadêmicos, quanto por necessidades
do planejamento e da gestão do território, daí entendermos que a divisão regional é
uma atividade científica acadêmica e um exercício de discussões e elaborações que
levam a um determinado modelo. Mas o objetivo dessas reformulações é ampliar o
conhecimento científico sobre o território, Magnago (1995).
Brandão (2002), conclui que por volta de década de 1980, o termo recôncavo
começa a excluir, nos documentos oficiais, a Região Metropolitana de Salv ador –
RMS, e que essas mudanças emergem basicamente de três processos: o primeiro
diz respeito à inserção da Petrobrás no Recôncavo açucareiro que coincide com o
declínio da economia açucareira no final da década de 1950; o segundo vem da
desarticulação do transporte viário, centrado em portos litorâneos e servido por
ferrovias, com a desativação da Estrada de Ferro de Nazaré, e do terminal marítimo
de São Roque do Paraguaçu, tendo como opção excl usiva o transporte rodoviário. E
por último surge a criação do Centro Industrial de Aratu (1964) e do Complexo
Petroquímico de Camaçari (1971), que recebeu todos tipos de inv estimentos federal
e estadual para a parte norte do Recôncavo o que custou completamente a
desestrutura do antigo recôncavo.
22
Enfim, a combinação de vários elementos, como a terra, o capital e o
trabalho, que estiveram direta ou indiretamente envolvidos na produção açucareira,
a servidão periférica de índios e mestiços, a produção primitiva envolvendo diversos
agentes permanentes e temporários, constituíram a unidade territorial do
Recôncavo, Pedrão (1992).
Dessa forma caracteriza-se como a principal base territorial do sistema
escravista de produção, sendo a primeira região a se urbanizar com elevada
densidade populacional, e como modelo de organização da produção baseada na
exploração agro-mercantil, voltada para o exterior. Historicamente, o conjunto
Salvador-Recôncavo foi a base da economia colonial aberta que deu sustentação ao
sistema capitalista comandado por Portugal, comercializando o açúcar produzido
nestas terras.
Ao mesmo tempo, desenvolveu-se no Recôncavo, no século XVII e sobretudo
durante o século XVIII, na zona do planalto, uma lavoura rudimentar de fumo que
desde sua origem, era destinada ao comércio mercantil. Essa lavoura, na verdade
serviu como moeda intermediária para o rendoso empreendimento de captura e
comércio de escravos, coluna-mestra em que se sustentava o complexo
canavieiro/açucareiro, Ramos (1990).
O esquema mercantil-escravista do Recôncavo ultrapassou o período
colonial, se mantendo até depois da independência nacional. No entanto, ao
contrário da cana, o cultivo do fumo era realizado em pequenas glebas, com a
utilização de mão-de-obra não-escrava, num esquema bastante rudimentar e
artesanal, tendo como produto final o fumo de corda. Como afirma Ramos (1990) o
traço marcante dessa lavoura, em que pese o seu caráter originariamente mercantil,
foi a sua estreita ligação estrutural com a economia colonial açuc areira,
principalmente por seu papel de fonte supridora de mão-de-obra escrava para o
latifúndio escravocrata da monocultura canavieira.
No Recôncavo, segundo estudo realizado por Brito (2004), por mais de meio
século assistiu-se à dissolução de um território até aproximadamente 1950, e em
seguida, surge um outro e mais vigoroso até o presente momento.
23
No entanto, há uma outra corrente que afirma justamente o contrário, que
estamos vivenciando um período de estagnação nunca visto, surgindo apenas
pontos sobre esse território que se mostram mais dinâmicos sobre os demais.
Autores como Pedrão (1997) consideram que a rede urbana do Recôncavo
Baiano foi a primeira a se instalar no Brasil desde os primórdios da colonização no
século XVI, articulando a região produtora a Salvador e ao comércio exterior, e que,
apesar de se apresentar como uma região mais densa do Estado, e das diversas
iniciativas do poder público na modernização de par te da infra-estrutura, como é o
caso da rede de transportes, ainda assim o Recôncavo não conseguiu produzir
alterações significativas que lhe permitissem alterar o quadro social no qual se
encontra: de marasmo e pobreza, como afirma.
Segundo ele, a designação de Recôncavo passou a ser sinônimo de região
economicamente pobre, esquecendo evidentemente que a industrialização está
concentrada na área de Camaçari que é parte integrante desse Recôncavo, e que a
pobreza hoje prevalecente, só pode ser compreendida quando estabelecido o
espaço-tempo da história, na formação da região.
Se não houve alterações sociais, o que se comprova em Brito (2004) o
território mesmo assim ao final dos últimos 50 anos se moderniza, mediante a
instalação de redes técnicas, como é o caso da Petrobrás que recriam novas infra-
estruturas capazes de assegurar a exploração e produção de derivados químicos.
As relações de comando que se encontravam desde o início do século XX,
até aproximadamente à década de 1950 nas mãos de usineiros que conduziam
tanto a política quanto as decisões econômicas sobre a região, sofrem o impacto dos
sinais de modernização.
Na década de 1950 esse quadro se altera com a introdução da Petrobrás
criada em 1953, advento que inaugura nova fase no Recôncavo onde a empresa
passa a exercer pressão sobre o poder politico-econômico existente.
24
A influência da Petrobrás chega também ao território através de ações e
aportes técnicos que vão provocar uma nova estruturação do Recôncavo Baiano,
principalmente nos municípios onde estão instaladas as atividades da empresa.
As realizações da Petrobrás em consonância com os agentes regiona is –
usineiros, banqueiros, fazendeiros, grandes comerciantes e o Estado -
implementaram transformações capazes de dinamiz ar a economia da região bem
como instalou uma rede técnica de equipamentos necessários as essas novas
demandas.
A criação do CIA e do COPEC assegurou as condições básicas para
desenvolvimento urbano atraindo assim a população e novas atividades econômicas
que incorporam elementos novos à configuração espacial do Recôncavo, e também
nos municípios que integram a Região Metropolitana, notadamente Camaçari, Madre
de Deus, São Francisco do Conde, Candeias.
Algumas dessas localidades passam a ter um aumento, até então não visto,
nos seus Produtos Internos Brutos – PIBs, que funcionam como força motriz para a
instalação de diferentes segmentos comercias e agroindustriais contribuindo assim
para atrair novos investimentos.
A Citricultura no Recôncavo
Nesse cenário as ações empreendidas pelo Estado vi sam a integração entre o
setor industrial e a agroindústria. A partir dos anos 70, a região Nordeste, incluindo o
Estado da Bahia, é contemplada por projetos políticos que vão alavancar obras de
beneficiamento no setor da agroindústria, financiadas pelo Banco do Nordeste.
Verifica-se que os recursos foram conduzidos principalmente para as áreas de
produção de frutas, óleos vegetais, derivados do leite e do arroz. Vale ressaltar que
os maiores investimentos de capitais sejam eles da esfera estatal ou da iniciativa
privada são focados principalmente no desenvolvimento da indústria petroquímica
no Estado.
25
No Recôncavo foram investidos recursos para a citricultura, notadamente n a
produção de laranja “in natura” destinada às industrias do CIA, transformadoras de
suco de laranja visando o mercado externo.
O Estado, interessado em resguardar o mercado internacional para os
produtos citrículas fomenta o desenvolvimento de pesquisas genét icas em busca de
novas variedades, no controle de pragas e doenças, tendo como órgão de apoio a
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA.
Apesar de São Paulo ter o predomínio da integração entre a indústria
transformadora e a agricultura citrícola esses empreendimentos também foram
estruturados nos Estados da Bahia e Sergipe.
Os municípios de Cruz das Almas, Sapeaçu e toda região circunvizinha
passam a produzir especificamente a laranja, destinada à indústria de sucos. Mesmo
existindo uma unidade da EMBRAPA no município de Cruz das Almas, que tem por
função a realização de pesquisas agroindustriais e o des envolvimento da fruticultura,
verifica-se que essas atribuições não se efetivam por completo na medida em que
não têm promovido a difusão e a dinamização da fruticultura na região.
Poucos são os agricultores portadores dos recursos necessários para investir
em suas propriedades nos padrões exigidos pela indús tria moderna, cujo olhar está
voltado para as demandas de mercados cada vez mais exigentes e articulados. A
maioria é de pequenos produtores rurais que, sem recursos, não conseguem
concorrer para um bom desempenho na produção de frutas.
Essa desvantagem contou com as tentativas dos governos Federal e Estadual
em dinamizar a região com a instalação por exemplo de um Campus da
Universidade Federal da Bahia, com o curso de Agronomia em 1970, onde seis anos
depois foi instalada a Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical uma unidade da
EMBRAPA com a intenção de viabilizar o desenvolvimento sustentável do
agronegócio da mandioca e da fruticultura na região. Porém essas ações não foram
suficientemente capazes de tornar a agricultura no Recôncavo competitiva.
26
Por outro lado as indústrias estabelecidas no Pólo Petroquímico parecem
estar desconectadas da economia local, numa lógica empresarial que ainda
privilegia o modelo centro-periferia.
O Circuito Produtivo Agroindustrial do Frango de Corte no Recôncavo
Nas últimas três décadas o complexo de avicultura tem crescido de forma
surpreendente colocando o Brasil como o segundo exportador mundial de carne de
frango. A Região Sul, representada pelos estados de Santa Catarina e Paraná surge
como principal cadeia agroindustrial.
No estado da Bahia e na Região do Recôncavo Baiano, nos municípios de
Cruz das Almas, Muritiba e Cachoeira e cidades circunvizinhas a exemplo de São
Gonçalo dos Campos, Conceição de Feira e Feira de Santana foi instalado um
complexo agroindustrial avícola como as empresas Avigro e Avipal, organizadas na
forma de integração vertical
1
da produção.
No entanto, na Bahia este setor não acompanhou os elevados índices de
crescimentos verificados em outras regiões do país. A produção estadual não
consegue atender à demanda interna fazendo com que o Estado passe a importar
tanto o frango vivo quanto o industrializado.
Cabe analisar os fatores que contribuem para esse baixo rendimento do setor
avícola no Recôncavo Baiano e demonstrar como funciona esse circuito produtivo.
O presente estudo busca analisar de que forma as redes técnicas se instalam
no Recôncavo Baiano a partir da década de 70, transformando substancialmente os
elementos definidores de sua estrut ura econômica e demonstrar quais as
implicações sociais decorrentes dessas ações.
1
A integração vertical se caracteriza quando duas ou mais firmas colocadas sob a mesma
organização atuam em estágios separados do mesmo processo produtivo: pode ser para trás quando
uma firma localizada em determinado estágio de produção passa a produzir também matéria-prima e
outros insumos; ou para frente, quando uma firma se move para o estágio de produção subseqüente,
Santos (1999).
27
Na sua estrutura interna a dissertação está div idida em quatro capítulos. No
primeiro avaliou-se a formação da Rede Urbana do Recôncavo com base em
ensaios anteriores realizados por Costa Pinto (1953), Milton Santos (1959), Thales
de Azevedo (1959), Maria Brandão e Fernando Pedrão (1997) num esforço de
entender os processos e os agentes sociais que conduziram a configuração espacial
de sua rede urbana do período colonial até 1950.
No segundo capítulo buscar-se-á explicar o processo de construção atual do
Recôncavo contextualizando a pesquisa entre os anos de 1950 até 2000. Nesse
período ocorreram transformações técnicas no território resultantes de ações
implementadas pelo Estado em parceria com a iniciativa privada, criando as
condições para o desenvolvimento da estrutura urbana atual.
No terceiro capítulo busca-se avaliar a evolução da logística de transportes no
Recôncavo e as implicações espaciais decorrentes destas instalações técnicas.
No quarto capítulo o objetivo é verificar o funcionamento das redes técnicas
de informação e telecomunicações e sua atuação no conjunto da estrutura sócio-
espacial da região. O estudo pretende estabelecer uma discussão ac erca da
eficiência desses equipamentos no desenvolvimento econômico, social e cultural
desses espaços. A formação e evolução do setor de serviços e comércio também
serão alvo de estudos para explicar a maneira como se relacionam com a formação
das redes técnicas na região em questão. Por fim ,as considerações finais sobre o
que se compreende hoje como Recôncavo.
28
1 O RECÔNCAVO BAIANO E A FORMAÇÃO DA REDE URBANA
Tomando como referência o uso do território, o Recôncavo Baiano será
analisado através da instalação das redes técnicas. Para tanto, faz-se necessário
estabelecer uma periodização na tentativa de compreender melhor as sucessões
técnicas sobre o território, ou melhor, reconhecer a existência das modernizações
sucessivas no território. Cada período é caracterizado pela existência de um
conjunto de elementos de ordem econômica, social, política e ética, que constituem
um verdadeiro sistema. Cada um desses períodos representa as modernizações,
isto é, as inovações técnicas de époc as anteriores ou da fase imediatamente
precedente.
Pedrão (1992), ao elaborar uma análise sócio-regional do Recôncavo,
salienta que ao se trabalhar numa perspectiva da formação histórica da região,
deve-se considerar os aspectos culturais, lembrando que é a região de maior
influência negra do Brasil, e que os movimentos formativos têm altos e baixos, com
uma notável descontinuidade, ligada à substituição de formas de organiz ação da
economia e de articulação externa, com conseqüências tanto no plano tecnológico
quanto no emprego.
Partir-se-á das formulações de Milton Santos (1985, 2001), onde ele afirma
que é necessário estabelecer períodos, ou como ele prefere, pedaços de tempos,
que sejam capazes de assegurar e caracterizar o movimento do todo. Segundo
Santos, o entendimento da história da organização do território, pode ser avaliado
em três grandes momentos, identificados como: os meios naturais, os meios
técnicos e o meio técnico-científico informacional.
No primeiro período, o tempo da natureza comandav a as ações humanas. No
Recôncavo, esse período se inicia aproxim adamente em 1530, quando os grupos
indígenas existentes aqui são dominados pelos europeus. Apesar dos grupos
humanos nesse período estarem condicionados pela natureza, ainda assim, foi
necessário criar uma base material que assegurasse a sobrevivência dos mesmos.
29
Isso virá a mostrar que não se pode desvincular a idéia de meio geográfico da
noção de técnica, relativizando-o como meio pré-técnico. Nesse período, os grupos
humanos se adaptam às condições da natureza. Daí os portugueses ao chegarem
aqui, ter dado preferência às ocupações próximas ao litoral, fundamentadas nas
ofertas da natureza. A escolha de cada produto estava condicionada às
características naturais. Essa fase irá marcar o começo da implantação e
consolidação do sistema agrícola escravista, correspondendo posteriormente a uma
fase de eficiência no uso do capital, ocorrida no Recôncavo Baiano nos séculos XVI,
XVII e XVIII, onde as ações humanas se desenvolveram no controle da natureza.
No segundo período, gradualmente, os diversos meios técnicos vão buscar
atenuar as determinações naturais. Aqui, a difusão das máquinas e a elaboração de
formas de organizações mais complexas vão permitir outros usos do território,
desenhando novas geografias.
No Recôncavo, esta fase corresponde ao século XIX até aproximadamente a
metade do século XX, caracterizado por refluxo, desgaste e reajustes externos,
quando paralelamente a essa fase, Portugal perde posição na Europa. A economia
canavieira sofre reajustes territoriais enquanto ocorre a expansão da cultura
fumageira.
Neste período técnico, as ações humanas impõem-se à natureza,
submetendo-a às diversas possibilidades t écnicas de utilização do território. Esta
fase testemunha o surgimento do espaço mecanizado. Essa mecanização
estabelece-se seletivamente criando desigualdades entre as diversas regiões, no
caso do Recôncavo estas diferenças ocorrem em diversas sub-regiões.
A decadência da região no século XX, com a queda do setor açucareiro e
com o declínio mais lento do setor fumageiro, marca esse período, ao mesmo tempo
em que ocorre a mecanização do território.
No Recôncavo, os sistemas técnicos a exemplo das ferrovias, e décadas mais
tarde as rodovias, foram criados para oferecer as condições necessárias para a
circulação de pessoas e de mercadorias dentro do território. Os equipamentos
30
técnicos ampliam os fluxos pois viabilizam a integração entre as regiões,
representando modificações causadas pelo processo de modernização e
industrialização.
A incorporação da mecanização ao território (portos, ferrovias, telégrafos)
caracteriza o período de industrialização no Brasil, acompanhada pela ev olução do
processo de urbanização. A integração desses elementos vai criar as condições
necessárias para a formação de uma Região Concentrada
2
, onde São Paulo está
inserida.
É no pós-guerra que acontece a maior integração nacional, graças a
construção das estradas de rodagem e a complementação das ferrovias, marcando
uma nova fase da industrialização brasileira.
O terceiro período é marcado pela construção e difusão do meio-técnico-
científico-inT66 0001 Tc
31
Para um melhor entendimento do Recôncavo Baiano serão resgatadas a
seguir, a formação e evolução histórica e territorial como forma de estabelecer suas
características econômicas, sociais e espaciais, tendo como objetivo o entendimento
do seu funcionamento técnico.
1.1 O INÍCIO DA OCUPAÇÃO NO RECÔNCAVO
O Recôncavo durante três séculos esteve como a primeira região mais
importante do Estado. Em 1549, o rei de Portugal, em função das sucessivas
tentativas de invasões por outras nações, decide reagrupar as donatárias e criar um
Governo: ao mesmo tempo, capital administrativa e praça forte, Santos (1959).
Em 1560, começa a plantar cana-de-açúcar no Recôncavo, a região que
contorna a Baia de Todos os Santos. Na época existiam 47 aldeias de índios no
Recôncavo que foram rapidamente dizimadas e assim os colonos expandiram em
direção a Península do Iguape e a região de São Francisco do Conde. Uma vez
vencidos os índios e destruída a vida tribal, os colonos chegavam para plantar
algodão, mandioca e sobretudo, cana-de-açúcar. Devido aos freqüentes ataques
indígenas, as cidades eram erguidas semelhantes à Salvador, fortificada, como é o
caso de Santiago do Iguape, São Francisco do Conde, Cairu e Jaguaripe.
Essas cidades desempenhavam a função administrativa e de proteção ao
anexar novas áreas para o cultivo. Os engenhos e as plantações de cana ocuparam
as áreas nas proximidades dos rios, devido a grande necessidade dos engenhos
usarem água para a produção do açúcar como para transportá-lo até o porto de
Salvador.
A decisão de produzir cana-de-açúcar ampliou a área produtiva interiorizando a
produção para áreas mais próximas, no entorno da Baia de Todos os Santos. A
medida que crescia a produção, novas áreas eram anexadas provocando um a nova
arrumação do espaço. Numerosos engenhos destinados ao fabrico de açúcar foram
construídos.
32
No século XVI, a estrutura da manufatura açucareira contava em suas
instalações com 18 engenhos. Esses empreendimentos exerciam o papel de
povoamento, atraindo numerosa população, já que para seu funcionamento era
necessário um grande número de pessoas para atender as tarefas da fabricação do
açúcar, fornecer alimentos, ensino e religião para os seus moradores, bem como
outras profissões correlatas, Santos (1959). A cana era cultivada em grandes
extensões de terras anexadas, a um engenho, utilizando a mão-de-obra escrava.
Segundo Kátia Mattoso o povoamento seguia a construção dos engenhos:
Acompanhados por famílias, agregados, escravos negros e lavradores livres
ou obrigados, os senhores de engenho fixaram-se no Recôncavo em
grande número: São Francisco da Barra do Rio Sergipe do Conde foi o
primeiro de vários núcleos populacionais que então se formaram em torno
de capelas pequenas, isoladas e humildes. Em 1659, o povoado contava
com 325 fogos (residências) e 2.724 almas, e catorze engenhos tinham se
desenvolvido nos seus arredores. São Francisco do Conde recebeu seu foro
em 1693, junto com a vila de Nossa Senhora do Rosário do Porto de
Cachoeira, que prosperara na margem esquerda do Paraguaçu, por onde
passava o caminho que ligava Salvador ao Sertão do São Francisco e que
servia como centro comercial para os engenhos de açúcar do Iguape e para
as plantações de fumo da região de São Gon çalo d os Campos.
Mais tarde, duas novas vilas são criadas, no século XVIII, ambos em 1724,
Santo Amaro da Purificação e São Bartolomeu de Maragogipe, contando em 1759
com cerca de 4500 habitantes. Ao final do século XVIII, quatro novas vilas irão se
somar à região: São Francisco do Conde, Cachoeira, Santo Amaro e Maragogipe.
Assim, no século XIX, o Recôncavo contava com oito municípios: Candeias, São
Francisco do Conde, Santo Amaro, Cachoeira, Maragogipe, Jaguaripe, Nazaré das
Farinhas e Aratuipe. Ao mesmo tempo, uma outra região ia sendo povoada – o
Sertão.
Quando se fala em Recôncavo, imediatamente associa-se à imagem de uma
imensidão de terras com extensos canaviais. Entretanto, o Recôncavo nunca foi só
produtor de açúcar, e sua ocupação esteve ligada a dois fatores: as características
físicas dos solos encontrados e as condições sociais das populações locais.
Logicamente, os melhores filões de terras foram sempre destinados para a
agricultura de exportação mas, havia uma diversidade agrícola que atendia a um
mercado regional.
33
A cana-de-açúcar que foi a base da economia colonial, ocupou as terras
baixas e mais férteis, os solos do tipo massapé do Recôncavo. Nos tabuleiros, nos
solos mais arenosos, predomínio dos latossolos, nas terras altas inadequadas para a
cana-de-açúcar, foi plantado o fumo, mercadoria que, a partir do século XVII, era
usada sobretudo como moeda de troca para a compra de escravos, destinados aos
trabalhos na lavoura de cana-de-açúcar, logo após a tentativa fracassada de usar os
índios para os trabalhos agrícolas.
Segundo Ramos (1990), embora o destino final da produção fosse o mercado
europeu, tendo a Coroa Portuguesa o monopólio do produto, havia uma abertura
parcial, concedida aos armadores do tráfico negreiro, que iriam se constituir numa
categoria de ricos e influentes comerciantes, sendo a grande maioria de portugueses
e alguns poucos nativos. A lavoura de fumo mantinha estreitas relações
interindustriais, e assim como a pecuária apr esentava-se como atividade
complementar à economia canavieira.
Verificando a evolução do sistema agro-exportador manufatureiro do fumo,
pode-se considerar duas grandes etapas distintas: uma de formação e expansão
que se inicia em 1808 e vai até a década de 1920, e outra de decadência e cr ise que
têm início aproximadamente na década de 1930, agravando-se a parir de 1950.
Nesta última, alteram-se substancialmente os padrões de produção com reflexos nas
relações sociais e no emprego.
Nas zonas fumageiras as aglomerações surgiam com uma certa
espontaneidade, em locais mais propícios não só para atender as necessidades dos
agricultores como também para atender os serviços de viajantes, desempenhando
as funções de cidades dormitório, já que se localizavam estrategicamente no
espaço. Finalmente, no sul do Recôncavo predominou a agricultura de subsistência,
principalmente com o cultivo da mandioca, do café, do feijão, do milho e das
hortaliças.
A cidade de Nazaré passava a produzir a melhor farinha, ficando conhecida
como Nazaré das Farinhas. Nas áreas mandioqueiras entretanto, havia uma
incipiente organização do espaço. Não se formou uma rede hierarquizada de
34
núcleos, porque essas áreas a exemplo de Nazaré e Jaguaripe se tornaram
fornecedoras de produtos de subsistência diretamente para Salvador. Era c onhecida
como “a lavoura de pobre”, onde predominava a pequena propriedade da terra,
pertencente a homens livres, lavradores e escravos em contraste com os senhores
de engenho donos de terra e de poder.
As respectivas áreas de influência começaram a crescer, sob o duplo apelo
das necessidades existenciais da cidade do Salvador ou, por seu
intermédio, sob o incentivo do comércio mundial, para o qual a cana-de-
açúcar passava a contrib uir largamente, Santos (1959).
O crescimento da agricultura provocou o desenvolvimento do sistema de
transportes para escoar a produção até o porto de Salvador . Inicialmente toda
economia era transportada por saveiros que entravam pelas rias até os portos
produtivos. Com o crescimento da economia canavieira era necessário melhorar a
35
O Rio Paraguaçu, navegável por 33 Km transportava o fumo e o açúcar de
Cachoeira até sua embocadura. Também foi sobre ele que foi construída a primeira
ponte ligando os municípios de São Félix ao de Cachoeira, o que demonstra a
importância do seu porto a outras áreas da economia canavieira. O vapor de
Cachoeira subia o Paraguaçu, ligando a Capital a Cachoeira depois de atravessar a
Bahia de Todos os Santos. Aliás, uma posição importante, no passado para a
localização de cidades, era junto às cachoeiras dos cursos de água, principalmente
cachoeira a partir da foz, onde se fazia a mudança de transporte fluvial para a via
terrestre.
Assim como o Paraguaçu foi de fundamental importância para Cachoeir a,
pode-se dizer que igualmente importante foi o Rio Sergi do Co nde para Santo Amaro
e o Rio Jaguaripe para Nazaré. Os vapores da Companhia Baiana seguiam viagem
duas vezes por semana, partindo do porto de Nazaré seguiam para Salvador com
aproximadamente seis horas de viagem Durante longo tempo, houve nas água da
Baía de Todos os Santos um intenso fluxo de navegação, principalmente de
embarcações de madeira, chamadas de saveiros ou saveiros de feira como eram
conhecidos
Importante equipamento da economia da região, essas embarcações
tornaram-se o principal meio de transporte das cidades do Recôncavo. No Brasil, a
técnica da arte de construção de embarcações foi trazida de Portugal que se
associou às técnicas da navegação indígena. Conforme Santos (2003), a
transmissão deste ofício tem se propagado através dos anos na região do Baixo-Su l
da Bahia, desde o início da colonização portuguesa, especificamente nas
localidades de Valença, Camamu e Gamboa do Morro.
O século XIX assistiu a uma série de transformações econômicas que tiveram
influência na evolução da rede urbana. Fatos como a Abertura dos Portos as Nações
Amigas no início do século, marca a entrada do País na esfera de dependência
direta das potências industriais. Depois, a abolição do tráfico em meados do século,
significou a inversão de capitais em outros investimentos ou em negócios, e o fim da
escravatura que ativou o mercado de trabalho.
36
Em 1850, o Brasil dá os primeiros passos no sentido de sua modernização,
iniciando uma fase de instalação de industrias, de introdução de ferrovias (Figura 2)
do telégrafo e de constituição de empres as de navegação. Assim crescem os
negócios com firmas, bancos, caixa econômica, companhias de navegação,
mineração, transportes urbanos, gás e finalmente estradas de ferro. É uma nova
fase que se abre, é para o Rio de Janeiro que convergem todas as negociações,
mas as Metrópoles como Salvador, Recife e Porto Alegre alcançam um vigoroso
progresso urbano como também as suas áreas de influência.
Considerando o crescimento de Salvador, a sua hinterlândia também recebe
diversas modernizações. A produção açucareira passa a escoar a produto mais
rapidamente. Assim é que as ferrovias pas sam a articular a região produtora até os
pontos de embarcação ou diretamente até Salvador.
1.2 O PAPEL DA METRÓPOLE COLONIAL
A fundação em 1549 da cidade do Salvador foi motivada por necessidades
político-administrativas garantindo a ocupação permanente por meio de uma
atividade econômica que começa a ser desenvolver, com o plantio da cana-de-
açúcar destinada aos engenhos para a fabricação do açúcar, complementando
assim, a economia agrícola de Portugal e para abastecer a Europa
Em 1560 começa a plantar cana-de-açúcar no Recôncavo, quando os índios
haviam sido expulsos. O comércio de açúcar incentivou a entrada de escravos e a
cultura do fumo em terras impróprias para a cana-de-açúcar, o dinheiro do tabaco
servia na compra de escravos. Nesse momento começa a se esboçar o papel que
Salvador desempenhará em toda a sua história, a de um porto de exportação de
produtos agrícolas não consumíveis localmente e porto de importação de produtos
manufaturados. Salvador, vê-se juntar a sua função primitiva de administração e
militar a um papel de metrópole regional. Pode-se dizer que começa a ter um papel
verdadeiramente urbano. É a capital econômica do Recôncavo, Santos (1959).
37
38
Entretanto, a produção de um único tipo de cultura criou uma atrofia na
produção manufatureira, gerando assim uma situação deste então, de dependência
econômica. Cabe frisar que havia apenas tecelões loca is destinados a um consumo
restrito dos engenhos e dos fazendeiros. Dessa maneira, as regiões próximas da
Capital passam a se urbanizar sob sua influência. As cidades menores, fundadas
para atender às suas necessidades não conseguem acompanhar o mesmo ritmo de
crescimento, muito menos superá-la em seu dinamismo econômic o.
Não obstante, esse crescimento macrocéfalo da metrópole é uma
característica marcante do período colonial em quase todos os países do novo
mundo. Ao final do século XVI, Salvador já possuía 8.000 habitantes. Em meados do
século XVII, a população de Salvador alcançava 10.000 habitantes, em fins desse
mesmo século, 20.000 habitantes, e em meados do século XVIII já alcançava 40.000
habitantes, assim a população dobrava de cinqüenta em cinqüenta anos. O século
XVIII representa o alargamento da zona de influência da cidade.
A organização política, administrativa e econômica centralizada, coincidia com
os interesses da metrópole. Os senhores de engenho, organizavam,
economicamente, as imensas extensões de terras que lhes eram atribuídas,
acumulando o poder local e estabelecendo uma política voltada para seus próprios
interesses. Mesmo após a instauração de um governo geral em 1549, ligad o
diretamente à Coroa portuguesa, o Estado permaneceu ausente. Todavia, essa
postura de benevolência para com os senhores de engenho, vai mudando,
paulatinamente, na segunda metade do século XVII. É que uma nova classe de
mercadores, a maioria de origem portuguesa se instala na Província e passa a
comandar a comercialização agrícola.
Muita coisa se altera, principalmente, uma nova política se estabelec e,
criando um plano de urbanização que passou a c ontrolar a fundação de vilas e
povoados, bem como o controle efetivo sobre todas as populações do país passa a
ser efetivamente fiscalizado pela administração. Assim, durante três séculos ,
Salvador foi a aglomeração urbana mais importante e mais popul os a do Brasil, e seu
porto, o principal do país.
39
Uma cidade rica, de contraste, devido sua multiplicidade de estilos, de raça e
também por sua morfologia urbana. Como a história econômica regional favoreceu
Salvador com este acumulo de funções, a história urbana conduziu à concentração
de quase todas estas funções nos distritos centrais. O que favoreceu esta
concentração foi a proximidade do porto, da estação ferroviária e a atração que
exerceu sobre as atividades comerciais e administrativas. Salvador aparece como
centro, em relação ao estado. Toda a história econômica regional proporciona a
Salvador uma concentração de funções e recursos, sempre e cada vez mais forte
em relação ao resto do Estado.
Assim conclui Santos (1959), Salvador é uma criação da economia
especulativa, a metrópole de uma economia agrícola comercial antiga que ainda
hoje subsiste; a cidade conserva as funções que lhe deram um papel regional e
embora penetrada pelas novas formas de vida, devidas à sua participaç ão aos
modos de vida do mundo industrial, mostra ainda, na paisagem, aspectos materiais
de outros períodos.
1.3 MODERNIZAÇÕES TÉCNICAS NO RECÔNCAVO
Os núcleos iniciais de povoamento desenvolveram uma certa organização da
rede urbana no Recôncavo. A ferrovia veio sobrepor a rede já existente, sem
qualquer interligação, de modo que seu trânsito contribuiu integralmente na
valorização dos respectivos portos iniciais, onde as mercadorias sofriam transbordo
antes de chegarem a Salvador. As linhas de trem fortalece um arcabouço urbano
hierarquizado, sob o comando de Salvador, como meio de transportes de viagens
mais rápidas e rentáveis, representando assim o progresso.
Pouco a pouco, as viagens feitas por meio de vapores foram sendo
substituídas pelas viagens realizadas pelos trens. Em 1880 const rói-se a estrada de
ferro de Santo Amaro, a estrada de ferro Central da Bahia, em 1868 e em 1875 a
estrada de ferro de Nazaré, está ultima alcançando o planalto de Santo Antônio de
Jesus, percorrendo o vale do Rio Jequiriçá até Amargosa. O Tram Road partindo de
40
Nazaré percorria sete léguas até Santo Antônio de Jesus com uma viagem de
aproximadamente 50 minutos, saindo às sete horas e retornando às 11horas da
manhã.
Com a instalação da ferrovia houve uma certa mudança na organização
urbana do Recôncavo, fazendo com que novos centros passassem a se integrar à
cadeia produtiva, transportando além do açúcar, o fumo, a farinha, o café e vários
outros produtos. È assim que Santo Antônio de Jesus começa a comandar as
relações comerciais, passando a frente de Nazaré. Na verdade, Santo Antônio de
Jesus cresceu com a ferrovia e com a proximidade do porto em Nazaré.
Com uma posição geográfica privilegiada, já que em um entroncamento de
estradas que serviam ao Sertão para se ligar ao porto, fez com que as feiras livres
de cidades passassem a comercializar um maior volume de produtos, contribuindo
rapidamente, assim para que sua produção escoass e com facilidade. Por volta da
segunda metade do século XIX Santo Antônio de Jesus exerce uma influência maior
sobre a sua região, se destacando pelas funções de compra e venda de
mercadorias.
Naturalmente, o fato de estar em conexão com os portos, entre o transporte
fluvial e sobre pontos de ligação da ferrovia com outras áreas, faz com que
ocupasse uma hierarquia em relação aos demais centros. O que vai reforçar essa
posição com o desenvolvimento do sistem a de transportes. A introdução das
estradas de ferro deve-se à grande revolução no setor de transpo rtes neste período,
o que daria grande impulso ao desenvolvimento das redes urbanas.
Em decorrência do intenso comércio de produtos nas terras altas do planalto,
os trilhos da ferrovia alcança Amargosa em 1892 ligando-a ao porto de Nazaré. Em
1890, Santos (1963) registra que Amargosa comercializava 200.000 sacas de café,
desempenhando a função de capital regional, fato esse favorecido pela su a
localização geográfica entre o tabuleiro e o Sertão. Assim, todos os produtos da
região, e também os que vinham no lombo dos animais do Sertão, eram
comercializados naquela praça. Mais tarde a ferrovia chega até o planalto de Jequié.
41
Esta modernização no sistema de transporte favoreceu ainda mais os portos,
já que as linhas férreas estavam ligadas diretamente às cidades portuárias.
Entretanto, a construção da ferrovia ligando Cachoeira a Feira de Santana, fez com
que Santo Amaro, que antes era reconhecido como porto fumageiro, no começo do
século XX perdesse todas as chances de c ontinuar a desempenhar tais funções, já
que a zona e as localidades fumageiras passaram a usar a ferrovia Cachoeira-Feira
de Santana.
Santo Amaro passa a ser exclusivamente um porto da zona canavieira. A
justificativa para a construção de ferrovia advém do fato do grande movimento
comercial criado entre Cachoeira e o planalto da Chapada, após a descoberta das
minas de diamante. O volume de produção que vinha da Chapada era
comercializado na grande feira, atraindo compradores e vendedores de todas as
partes em Feira de Santana, Santos (1959).
No período colonial era comum situar as cidades ao longo dos rios, já que
estes serviam à circulação. Na medida que o sistema de transporte se moderniza,
estas antigas cidades perdem sua função principal, o que muitas vezes é seguida
pela sua completa estagnação. Desde o período colonial, o Recôncavo cresceu
acompanhando o ciclo econômico das atividades canavieira e fumageira. Pode-s e
dizer que a sua rede urbana se formou para atender aos interesses da economia
agrícola voltada para exportação.
As poucas atividades manufatureiras que se desenvolveram nestes centros
são o açúcar produzido inicialmente nos engenhos e depois nas usinas e o fumo que
passa a ser comercializado em corda. Toda a riqueza extraída das terras do
Recôncavo tem como destino Salvador, cidade essencialmente comercial que,
através do seu porto enviava tudo que produzia para a Metrópole. Da mesma forma,
era o Recôncavo que fornecia produtos de subs istência para a população de
Salvador, mesmo assim, durante o período colonial havia uma escassez desses
produtos pelo fato da agricultura ser voltada exclusivamente para exportação.
42
Excluída a cana-de-açúcar e o fumo, a produção agrícola da região
açucareira era mínima. Os engenhos eram auto-suficientes, na medida em que
utilizavam seus escravos para a produção dos alimentos consumidos, principa lmente
a mandioca, feijão e milho, algumas frutas tropicais e galináceos. O restante da
população agrícola fazia uso da uma agricultura de subsistência, com pequenos
excedentes comerciáveis de caráter eventual. A atividade pesqueira era também
muito pequena, destinando-se quase exclusivamente ao consumo dos pescadores.
Como resultado desse quadro, decorrente da atração que o açúcar exer cia
sobre os fatores disponíveis, a população urbana, ainda que pequena, viveu sempre
em uma contínua crise de escassez de alimentos.
Na verdade, os núcleos urbanos surgem como ponto de partida para a
ocupação e desenvolvimento de atividades econômicas. A estrutura colonial
mantinha elementos contrários ao desenvolvimento urbano, porque o ambiente
socioeconômico tendia para o domínio dos latifúndios auto-suficientes, com
indústrias caseiras que prejudicavam as correntes de comércio e as funções
urbanas, é o caso dos engenhos, que tinham uma vida própria e ponto de partida
para povoamentos. Isso marca a baixa densidade e dispersão das áreas habitadas
dos núcleos urbanos neste período.
As únicas atividades urbanas estimuladas pela economia canavieira eram as
de transporte do açúcar. Na verdade, havia a necessidade da criação de gado, tanto
para o transporte como para a movimentação da moenda. A incompatibilidade da
criação do gado pelo pisoteio depredando os canaviais, fez com que a marcha da
pecuária adentrasse o sertão. No que pese a utiliz ação da mão-de-obra escrava,
essas atividades não geravam renda pessoal na magnitude necessária para o
estímulo do mercado urbano.
As cidades surgem como portos intermediários no transporte do açúcar dos
engenhos aos portos de exportação, por isso a preferência à margem dos cursos de
água que fluem pelas planícies litorâneas. Apesar das proibiç ões de Portugal, a
partir de 1785 deve-se considerar que existia uma certa incapacidade técnica por
43
parte dos portugueses em decorrência do fato de Portugal também não se
industrializar, mantendo uma dependência em relação à Inglaterra. Apesar disso, as
cidades do Recôncavo já abrigavam certo número de artesãos e oficinas de vários
ofícios.
Portanto, a evolução de muitas cidades neste período no Recôncavo só pode
ser entendida através do estudo da circulação por via fluvial inicialmente, e mais
tarde, com a conexão da via fluvial com a estrada de ferro interligando os portos.
Observa-se a influência da ferrovia no quadro urbano sob os seguintes aspectos:
fator de concentração das atividades portuárias; causa de decadência de localidades
situadas ao longo das antigas linhas de transportes que foram abandonadas é o
caso de Santo Amaro, Nazaré e valorização de cidades atingidas pelas linhas de
ferro como é o caso de Santo Antônio de Jesus. E como fator de ocupação das
terras para o interior, ampliando a área produtiva. Uma das características do
traçado das ferrovias é a sua disposição em linhas transversais ao litoral, cada linha
procurando um porto.
Estabelece-se assim uma rede de cidades, pontos fixos sobre o território,
onde os negócios são realizados ainda que periodicamente como é o caso das
“feiras” realizadas semanalmente. Estes pontos comerciais concentram outras
atividades vinculadas aos negócios, fazendo com que se estabeleça uma certa
articulação entre os núcleos de povoamento, diferentes da produção propriamente
dita, tais como o comércio, serviços, lazer, cultura, política, capaz de atrair um
grande contingente de pessoas consumidoras.
Para Lobato (1989) a rede urbana é o meio pelo qual a produção, circulação e
consumo se realizam efetivamente. Ela se estabelece articulada, tal qual se
apresenta hoje, com o surgimento do sistema capitalista, mais precisamente com o
processo de industrialização que paulatinamente articulou todos os espaços sobre o
globo, estabelecendo um mercado mundial. No Brasil, durante o período colonial as
cidades como Salvador e sua região refletem essa posição.
44
A colônia funcionava como entreposto com a única finalidade de produzir
produtos primários como: exploração florestal, agricultura, mineração e pesca para a
metrópole. Tudo girava em torno destas atividades, se sobressaindo a
especialização na produção de gêneros agrícolas, como a cana-de-açúcar e o fumo,
gerando dependência econômica e política já que o poder de decisão estava lon ge
dos centros produtores.
Mesmo assim, os pontos de produção passam a originar núcleos de
povoamento interligados, criando uma rede de cidades cujos centros passam a
comercializar produtos rurais exportáveis, enquanto que o mercado interno passa a
ser distribuidor de bens e serviços. Mas o nível de demanda e a pequena mobilidade
espacial da maior parte da população vão determinar certas características na rede
de localidades centrais.
Enquanto são distribuidores de mercadorias, são localidades centrais. Mas o
que mais aparece são os centros menores - centros locais de zonas com baixa
capacidade de oferta de bens e serviços, justamente pelo nível de dem anda e
limitada mobilidade espacial. O fato de ter um grande número de pessoas não
absorvidas no mercado formal, conduz à criação de atividades terciárias e de
produção, que vão garantir a sobrevivência da grande maioria da população.
Isso explica o aparecimento dos mercados periódicos ou mercados
temporários, as feiras. Ora, já que a população não pode consumir os produtos
ofertados nos grandes centros, passam a consumir os produtos e serviços ofertados
nas feiras. No momento em que se realizam as feiras, esses núcleos urbanos se
transformam em localidades centrais, atraindo um grande número de pessoas .
Não obstante, como o espaço aqui se organiza e se reorganiza dentro de um
contexto global, em função de interesses distantes, as modernizações são
extremamente seletivas, não se difundem homogeneamente através do espaço
operc0pt-0.gdões sãoi alterar a importância de cada lugar. Como reflexo disso, as
enormes disparidades de renda es scaracteriz am os países subdesenvolvidos têm
também conseqüências espaciais, Santos (2003). O potencial d sc onsumo individual
varia muito sobre o espaço. Esta seletividade espacial manifestada tanto no plano
econômico como social, detém a chave da elaboração de uma teoria do espaço e
mais precisamente do espaço urbano.
45
A teoria de Milton Santos dos dois circuitos da economia urbana tem
demonstrado que a produção que requer um alto nível tecnológico, tende a se
concentrar em pontos específicos, corresponde ao circuito superior, enquanto que o
circuito inferior, diz respeito às atividades em pequena escala, especialmente
destinadas à população pobre. Desta forma, são criados nas cidades dois circuitos
econômicos: o circuito superior e o circuito inferior, responsáveis não apenas pelo
processo econômico urbano, mas também pelo processo de organização espacial.
Para entender melhor, considera-se que circuito superior é constituído por
bancos, comércio e indústrias voltadas para a exportação, pela indústria moderna
vinculada ao mercado interno, pelos serviços modernos e empresas atacadistas e de
transportes. Possui uma clientela formada pelas classes ricas e em parte pela c lasse
média.
O circuito inferior é constituído por atividades que não utilizam capital de
modo intenso, como as atividades altamente capitalizadas do circuito superior.
Possui uma organização tradicional ou primitiva, como: artesanato, fabricação de
bens, comércio e serviços basicamente destinados à população mais pobre.
O circuito superior é resultado direto da modernização tecnológica, e mantém
relações tanto em escala nacional como internacional. Cada circuito forma um
sistema, isto é, um subsistema dentro do sistema urbano, Santos (1971).
Os dois circuitos da economia, portanto, interferem na rede de localidades
centrais, estruturando-a de modo que cada centro atue nos dois circuitos. Mas essa
interferência se faz através de mecanismos básicos de estruturação da hierarquia
urbana. Para melhor entendimento, é necessário que considere três níveis
hierárquicos de centros: a metrópole, a cidade intermediária e a cidade local.
Avaliando o mecanismo de funcionamento dos mercados periódicos ou
temporários, alguns teóricos apontam para a existência destes centros de mercados,
precedentes ao capitalismo, que promovia uma reestruturação espacial limitada
46
como resultado de seu alcance limitado a uma escala local. A pequena divisão
territorial, bem como o volume de trocas sociais do trabalho, também contribuiu para
as restrições espaciais desses centros econômicos na fase pré-capitalista.
Todavia, dentro do sistema capitalista o acúmulo do capital, logo, a sua
reprodução, está edificada na construção da mais valia, via expropriação do
trabalhador que tem na sua força-de-trabalho o instrumento para sobreviver. É
justamente na compra da força de trabalho para produzir bens que o capital se
produz, pois, inserido na mercadoria produzida está o valor da força de trabalho
acrescido de “algo mais”. Ao negociar o produto final o capitalista produz a mais
valia, sendo assim a circulação de mercadorias é a materialização da (re) produção
do capital por meio da exploração do trabalhador. Eis aqui um dos paradigmas do
capitalismo, exploração do homem pelo homem.
A cidade é palco desse processo de (re)produção do capital, ela representa a
conexão de uma rede de circulação de bens e serviços. Cria-se desta forma uma
rede de localidades movida pelo circuito superior e pelo circuito inferior, de acordo
com suas especificidades, apresenta dinamismo diferenciado dentro da rede,
originando assim uma hierarquia de localidades centrais.
A acumulação de capital resulta na reprodução das classes sociais na medida
em que estas apresentam consumos diferenciados dos bens e serviços oferecidos
nas cidades. A hierarquia das localidades centrais assume assim, uma grande
complexidade devido aos diferentes arranjos espaciais resultantes de todo esse
processo. O fato de existir uma massa de pessoas com salários baixos ou vivendo
de atividades ocasionais, e outras com rendas muito elevadas, cria uma sociedade
urbana com uma divisão entre aqueles que podem ter acesso permanente aos bens
e serviços oferecidos e aqueles que tendo as mesmas necessidades, não podem
consumir esses bens e serviços.
Essas diferenças são causa e o efeito da existência, da criação e da
manutenção nas cidades de dois circuitos de produção, distribuição e consumo de
bens e serviços. Deve-se ainda mencionar a ação do Estado como facilitad or dessa
complexidade. O resultado é o aprofundamento da divisão de classes sociais.
47
Os mercados periódicos são pequenos núcleos de povoamento que em
virtude da necessidade de distribuição de mercadorias e ou serviços, reúnem-se
sazonalmente em determinados núcleo para realizar essa etapa do processo
produtivo, transformando-se no lócus de uma intensa atividade comercial. Os atores
envolvidos têm origem desde a zona rural até mesmo em outras cidades, que se
direcionam para esse centro comercial.
As relações que se manifestam não são restritamente econômicos. Nos
mercados periódicos, ou chamada popularmente de feira, as pessoas encontram-se
e mantêm relações pessoais, ou seja, é o momento de trocar novidades, realizar
eventos folclóricos, festivos, políticos, etc.
Conforme Oliveira (2003), as feiras eram locais públicos privilegiados para a
venda de mercadorias, encontrando todo tipo de artigos, desde os gêneros
alimentícios como também utilidades do
48
Novas alterações vão surgir com a introdução da estrada de rodagem,
alterando mais uma vez a hierarquia dos centros urbanos, determinando um novo
período técnico na evolução regional do Recôncavo.
A superposição da estrada de rodagem aos antigos caminhos e ferrovias,
trouxe grandes modificações na hierarquia regional atrelada a outros fatores, como
por exemplo, a conclusão da rede ferroviária, a decadência das lavouras do fumo e
da cana-de-açúcar, o crescimento populacional de Salvador elevando os pa drões de
vida da população e exigindo um abastecimento mais vigoroso em gêneros
alimentícios, vão fazer surgir novas regiões de produção alimentar no Estado.
Podemos fixar os anos 30, como início da rodovia, mais precisamente, da
utilização do caminhão porta-a-porta. A conclusão das estradas BR-5 fez com que a
região do Recôncavo baiano passasse a se integrar mais rapidamente ao país e aos
centros mais importantes como São Paulo e Rio de Janeiro. (Figura 3)
O crescimento industrial e a concentração dessas atividades em
determinadas áreas, vão acentuar as diferenciações regionais no Brasil. A
concentração dessas atividades na região sudeste vai ser acompanhada, também,
por uma diferenciação das estruturas urbanas no resto do país, diferenciando-se
pelo tipo e quantidade de serviços a serem oferecidos à população.
As estradas de rodagem trouxeram um maior entrosamento entre as regiões
do país, enquanto as ferrovias se organizaram em sistemas independentes, cada um
ligado a um porto de região exportadora, as estradas de rodagem se fizeram num
único sistema promovendo a integração.
Geiger (1963) ao avaliar a evolução da rede urbana brasileira afirma que as
rodovias tiveram um papel enorme na evolução urbana, já que existe uma influência
direta na valorização de cidades cortadas pelas estradas. O que levou também a
uma desvalorização/estagnação de antigos centros que comandavam as relações
comerciais em épocas passadas, como foi o caso de Cachoeira e Santo Amaro.
Esses antigos centros, com exceção de Nazaré, estavam distantes da produção de
49
50
alimentos destinados à capital, já que grande parte de suas terras estavam
destinadas as culturas tradicionais. Assim, outras localidades passam a
desempenhar a função de entreposto como Feira de Santana e Alagoinhas.
Nazaré continuava a se ligar a Salvador por via marítima, e a ferrovia cada
vez mais sofria a concorrência da rodovia, Santos (1963)
Entre 1940 e 1950, Feira de Santana já se destacava como o maior centro
comercial, tirando do Recôncavo esse papel que foi reforçado com a estrada BR-5
ligando a zona cacaueira e mais tarde a estrada Rio-Bahia, tornando-se assim, o
grande entreposto comercial entre Salvador e o interior do estado.
O Recôncavo, passou assim, a olhar para dentro, comunicando-se com
Salvador sobretudo por terra. Enquanto Cachoeira e Santo Amaro, portos
debruçados sobre a água, viam restringir sua zona de influência e desciam
da posição de capital regional para a de centro local. Feira de Santana
passava a comandar a maior parte das relações no mesmo território, Santos
(1959)
.
1.4 A ORGANIZAÇÃO URBANA DO RECÔNCAVO
A organização urbana do Recôncavo repousa na existência de duas redes. A
primeira com cidades que sugiram no período colonial com a economia mercantil da
cana-de-açúcar. À medida que a economia canavieira se expandiu, novas áreas
foram incorporadas, fazendo surgir uma quantidade de cidades que tinham função
de entreposto para os produtos do Recôncavo.
Situadas próximas aos estuários dos rios, articulando a região a Salvador,
utilizavam como meio de transporte o sistema fluvial-marítimo por meio dos saveiros,
como é o caso de Cachoeira, Nazaré e Santo Amaro. Posteriormente, as ferrovias
foram implantadas facilitando o transporte de mercadorias até os entrepostos, para
seguir de embarcação até o porto de Salvador.
51
A segunda rede se instala entre o final do século XIX e a primeira metade do
século XX, com as estradas de rodagem se superpondo aos antigos caminhos e
ferrovias, levando a uma grande modificação na hierarquia regional juntamente com
a ocorrência de vários outros fatores. Inicialmente, Feira de Santana e Alagoinhas
passam a ter a primazia de articular as regiões produtoras da Bahia e ligá-las a
Salvador. A partir da segunda metade do século XX, com a implantação da BR- 101,
novas cidades passam a exercer uma influência maior sobre a região: Sant o Antônio
de Jesus e Cruz das Almas.
A primeira região do Brasil a se urbanizar e formar uma rede de cidades
hierarquizadas comandadas por Salvador, é o Recôncavo. Na verdade, o Brasil já
nasce capitalista, praticando uma economia de plantation da cana-de-açúcar, para
satisfazer os interesses da metrópole e abastecer a Europa. É o Recôncavo que dá
a base econômica para a colônia.
Segundo Santos (1959), a unidade do Recôncavo provinha e provém das
reações mantidas de longa data entre suas várias porções com vocação e atividades
diferentes: Recôncavo canavieiro, Recôncavo fumageiro, Recôncavo mandioqueiro e
da cerâmica, sem falar nas zonas pesqueiras que beiram o litoral.
Oliveira (2002) salienta muito bem que, embora a idéia de Recôncavo seja
associada imediatamente à grande propriedade, jamais existiu um predomínio do
sistema fundiário do Recôncavo nas grandes propr iedades. Para a autora, cada
sistema ou subsistema agroprodutivo gera uma base fundiária própria, desde a
grande propriedade, como na economia canavieira, a pequenas propriedades
ocupadas com a agricultura de subsistência, tendo cada sistema sua singularidade,
o que, paradoxalmente, permite a diversidade no Recôncavo:
Difícil perceber a riqueza, a pobreza, os contrastes do Recôncavo, sem
levar em conta a variedade dos seus aspectos físicos, socioeconômicos e o
seu percurso histórico. (OLIVEIRA, 2002, p. 74)
No passado, era inegável importância da região para a Bahia. A realidade
hoje é bastante diferente, como nos aponta Pedrão (1997):
52
Há componentes da economia dessa região que têm sido capazes de
acumular capital, inclusive de se adaptarem aos movimentos do mercado
internacionalizados, tais como a produção fumageira, a de cítricos e, hoje, a
avícola. Fora disso, tem sido uma região supridora de matérias-primas
baratas para Salvador e Feira de Santana... Ao contrário do ocorrido no
período colonial, hoje o Recôncavo não sedia atividade alguma
internacionalmente significativa, que revele potencial para mudar esse
quadro. Pelo contrário, vem sendo objeto de exploração de produtos pouco
valiosos, como areia e pedras, e como reserva de valor para sustentação da
expansão urbana de Salvador e de F eira de Santana.
A pobreza hoje prevalecente no recôncavo é parte de um complexo
processo de formação de capital e de urbanização, que só pode ser
entendido quando colocado no espaço-tempo da história dessa região
baiana.
Os sistemas fixos de engenharia de transportes, BR-101, BA-245 e BA-026,
juntamente com o sistema ferry boat, tornam-se um importante eixo rodoviário de
ligação com o Estado e com outras regiões do Brasil, juntament e com os sistemas
fixos de ciência e informação instalados no território. A criação de diversos centros
difusores de inovações, como a Escola de Agronomia da Universidade Federal da
Bahia, na década de 70, a instalação da Petrobrás, da EMBRAPA etc., não foram
suficientes para provocar transformações sociais e econômicas que dessem um
dinamismo capaz de reinvestir o capital gerado pelas atividades produtoras na
região.
O longo período colonial deixou como legado, a escravidão e uma estrutura fundiária
concentradora, o que permitiu formar uma elite política comandada pelos senhores
de engenho. O endividamento dos senhores de engenho perante os financistas e
bancos de Salvador repetiu-se, com escassas alterações, até a década de 1980
(Pedrão, 1997). Com a crise das atividades agroindustriais na década de 70, essa
elite migra para outros ramos de atividades, o comércio e a agroindústr ia, e é
substituída por uma classe média, urbana, basicamente dedicada a atividades no
setor de serviços.
Uma nova geração de políticos locais surge desses empresários, muitas
vezes financiados por capitais externos à região, provocando a drenagem dos lucros
para outros lugares. São as chamadas verticalidades, que asseguram o
53
funcionamento da economia global, utilizando-se de pontos e relações em diversos
territórios. A manutenção desse mecanismo vai gerar um custo social elevado o
desemprego e a pobreza.
1.5 A REDE URBANA DO RECÔNCAVO SEGUNDO MILTON SANTOS
A rede urbana do Recôncavo foi analisada levando-s e em consideração a
adequação de métodos definidores da hierarquia urbana, abordando tanto sua
gênese como sua dinâmica. Milton Santos estabeleceu uma periodização da rede
urbana em três gerações de cidades com andadas por Salvador – Santiago do
Iguape, São Francisco do Conde e Jaguaripe –, que formam a primeira geração de
cidades, ou centros localizados em três estuários da rede fluvial que desemboca na
Baía de Todos os Santos.
A segunda geração, formada pelas cidades de Cachoeira, Santo Amaro e
Nazaré, substitui as três primeiras, referidas, no segundo escalão da rede urbana.
Além de portos fluviais, são terminais de linhas férreas que demandam o interior e,
simultaneamente, centros de hinterlândias produtoras, respectivamente de fumo,
açúcar e farinha de mandioca. Essas cidades comandam a região até
aproximadamente a década de 50 do século passado.
A cidade de Alagoinhas, de um lado, e Feira de Santana, de outro, formam a
terceira geração de cidades. São cidades rodoviárias, cuja vitalidade não se deve a
navegação fluvial e marítima ou à ferrovia, mas sim às rodovias por onde passam
as mercadorias.
Essa periodização da rede urbana é reveladora da dinâmica espacial na qual
atuam ingredientes, associados às transformações tecnológicas, às demandas
externas e internas e à capacidade dos agentes sociais de se apoderarem das
diversas possibilidades que em cada momento emergem, oriundas do exterior e de
Salvador.
54
FE IRA
DE S A NTA NA
NA Z A
ALAGO I NH AS
Cat u
Pojuca
Mata de São João
Cam ar i
E n t r e Ri os
Es pl anada
Ac aj ut iba
I nham bupe
S errinh a
Ri ac hão do J ac u í pe
Mai r i
Bai x a G r ande
Macaj uba
Rui Ba r bo s a
Itaberaba
Ser r a Pret a
Ipirá
Sant o Est evão
S. A. De Jesus
Cas t r o
Alv es
Lage
A r at pe
J aguar i pe
Cr uz d a s Al ma s
Concei ç ão do Al mei da
S . G . Dos Cam p os
Conc ei ç ão da F ei r a
Cac h oe i r a
São F élix
Mur i t iba
S a nt a Ter e z i nha
Ira
J andaí r a
Con d e
SALVADOR
F ont e: M i l t on S antos ( 1959) , adapt ado por M ár c i a Vi r gíni a Pi nto B om fi m
F igura 4 - Z on as de I nf luênc ia C om e rc ial no Es t ado da Bahia
0
20 40 60
80k m
N
55
A instalação das redes técnicas no Recôncavo começa com o uso do território,
através de ferrovias, as rodovias, a rede de energia elétrica e por fim a rede de
telecomunicação e agora a teleinformática que permitiu a redução do lapso de
tempo entre os lugares. O que era distante se aproxima virtualmente. A história do
território pode ser entendida a partir da instalação das redes técnicas e o papel que
elas desempenham na organização territorial.
1.6 AS REDES DE CIDADES COMO CATEGORIA DE ESTRUTURA ÇÃO DO
TERRITÓRIO
A fragilidade da estrutura produtiva da maioria dos municípios nordestinos e
sua tradição agrícola definem uma estrutura urbana deficitária, formada
essencialmente por pequenos municípios, cuja função principal fora e ainda é de
exercer a intermediação comercial primária com baixo nível de urbanização e com
uma estrutura política marcada pelo mandonismo local, cuja base de poder sempre
foi a propriedade da terra.
Neste contexto, a modernização do território e o impacto causado pelas redes
técnicas em sua dimensão espacial na sociedade contemporânea, produziu
alterações significativas no modo de vida e nas relações sociais.
Entende-se por redes ou redes geográficas, um conjunto de localizações
geográficas interconectadas entre si por um certo numero de ligações, Corrêa
(2001). O processo de instalação das redes técnicas no Recôncavo promoveu
alterações na hierarquia dos núcleos urbanos.
No primeiro período (século XVI ao XVIII) as ações comandadas pelo
diferentes agentes sócias, neste caso, os senhores de engenho, representando o
poder político da Colônia, trabalhadores livres, fornecedores de cana, lavradores de
fumo, mais tarde, usineiros, fazendeiros, negociantes e governo, em suas distintas
escalas de atuação, condicionaram a evolução do Rec ôncavo no período técnico até
aproximadamente o século XVIII.
56
As inovações técnicas incorporadas ao território através das redes materiais
possibilitaram um maior fluxo de produto s e de pessoas. Primeiramente essas
ligações eram realizadas por meio do transporte fluvial-marítimo que estabeleceram
uma rede de cidades comandadas por Salvador e que através de seus portos
possibilitou desenvolver de forma incipiente a organiza ção urbana no Recôncavo.
Posteriormente, a rede de estradas de ferro se sobrepõe à rede urbana então
estabelecida, ao tempo em que provoca mudanças na hierarquia desses centros
urbanos. A sucessão de inovações técnicas, no caso o aparecimento das estradas
de rodagem, vai produzir nova configuração espacial da rede urbana, passando esta
a ser comanda por cidades que se beneficiaram de suas vantagens locacionais,
situadas estrategicamente entre o porto e a rodovia viabilizando maior fluidez em
seu entorno.
Essas transformações provocaram desdobramentos tanto nas dimensões
produtivas e do trabalho, como também na própria organização social e política da
vida regional no Recôncavo.
Considerando a rede urbana e os municípios que compõem cada região,
verifica-se que houve um aumento no número de municípios no Brasil e na Bahia,
após a década de 1950.
Vale frisar que o espaço territorial pode ser interpretado como produto das
relações complexas entre a produção, as intervenções do Est ado e as heranças
espaciais, Lipietz (1980). Pode-se afirmar também que uma região e sua identidade
são forjadas através das imposições de um a classe dominante local, na procura de
expandir sua própria base material e no uso do controle sobre a administração local.
Para alcançar seus fins a classe dominante desenvolve formas de controle
político vinculadas a seus interesses econômicos e de poder, por isso mesmo,
estimulando em cada região um aspecto político peculiar quando comparada a
outras.
A autonomia política e financeira conferida aos municípios desde a
Constituição de 1946, permitiu a transferência de recursos oriundos da política de
arrecadação fiscal dos governos Federal e Estadual para o poder municipal.
57
Devido à extensão da área territorial existente em alguns municípios no país,
muitos distritos sofrem isolamento de toda ordem impedindo o acesso da população
local aos serviços essenciais. Esse fato justifica os interesses dos políticos locais,
que vêem a possibilidade de emancipação municipal c omo forma de angariar mais
verbas para suas localidades, o que mais tarde vai se consolidar com a aprovação
da Emenda Constitucional nº 5 de 21 de novembro de 1961, criada na intenção de
equacionar as disparidades regionais no Brasil.
Essas modificações possibilitaram uma maior arrecadação por parte dos
municípios, com o aumento de 5% na participação das receitas liquidas do Impost o
de Renda (IR) e também no recebimento de 10% do Imposto sobre Circulação e
Mercadorias (ICM).
A partir das determinações impostas no período do governo militar essa Lei
foi revogada e a questão passa então a ser regulamentada por Lei Complementar
que entra em vigor em 1967, quando se estabelece normas para a criação d e novos
municípios, em que novas diretrizes e critérios devem ser obedecidos na
composição dos mesmos.
Por fim, a Constituição de 1988 regulamenta as Leis Complementares, federal
e estadual que tratam da autonomia dos municípios.
É nesse contexto que a rede urbana do Recôncavo a partir da década de
1950 cresce com a criação de dez novos municípios (Tabela 1).
Tabela 1. Evolução política-administrativa do Recôn c avo Baiano – Estado da Bahia (1827-2002).
Ano
No. de
Municípios
Municípios Criados Municípios de Origem
Até 1827 7
Salvador, Jaguaribe, São Francisco do Conde,
Cachoeira, Maragogipe, Sa nto Amaro e Abrantes
do Espírito Santo (Camaçari)
-
1826-1889 6
Itaparica, Nazaré, Mata de São João, Santo Antônio
de Jesus, São Gonçalo dos Campos e São Féli x
-
1890-1940 8
Aratuipe, Conceição do Almeid a, São Miguel das
Matas, Cruz das Almas, Muritiba, São Sebastião do
Passé, Mutuípe e Laje
-
1951-1960 2 Sapeaçu e Candeias Salvador
1961-1970 2 Vera Cruz e Lauro de Freitas Salvador
1969 1 Cabeceiras do Paraguaçu Muritiba
1985 1 Dias D’Ávila Camaçari
1989 4 Itatim, Madre de Deus, Saubara e Varzedo
Santa Terezinha, Salvad or,
Santo Amaro e Santo Antônio
de Jesus, respectivamente.
Fonte: Atlas Escolar Bahia, 2004 (adaptado por Márcia Vir gínia Pinto Bomfim).
58
Ao longo do tempo a região foi objeto de sucessivos desmembramentos em
seus municípios originais, que é um fato político pouco relevante na identificação de
suas sub-regiões, mas revelador dos processos políticos locais e das alianças de
poder que traduziram os interesses primeiro, na metrópole portuguesa, depois do
Império e finalmente da oligarquia republicana. Pedrão (1992).
59
2 O RECÔNCAVO BAIANO E AS CONDIÇÕES ATUAIS
Considerando os estudos de
60
Além disso a Europa passou a consumir largamente o açúcar extraído da
beterraba. A terceira crise, após a Segunda Guerra Mundial é provocada pelo
reaquecimento da produção do açúcar da beterraba na Europa, levando a economia
açucareira no Brasil a entrar em decadência, e mais uma vez causando a redução
da área produtiva no Recôncavo. Essa fase anuncia o fechamento das usinas.
Por outro lado, o sistema produtivo da cultura fumageira tendo como matéria-
prima industrial o fumo beneficiado, atende a uma demanda do comércio exportador,
liderado por grandes empresas estrangeiras, com destaque da Alemanha. Essas
empresas controlam toda a comercialização do fumo do Recônc avo, subordinando
não só os lavradores de tabaco, como também toda a extensa e ramificada cadeia
de intermediação, Ramos (1990).
Segundo o autor supra citado, há uma coincidência entre o auge do sistema
agro-exportador de fumo e a crise da economia açucareira, sobretudo entre o
período de 1870 a 1900, quando o fumo passa a assumir a condição de segundo
lugar na pauta de exportação e até mesmo ocupando a primazia em alguns anos
excepcionais.
Na verdade, o sistema produtivo do fumo do Recôncavo passa a ser uma
atividade meramente complementar, subsidiária do si stema agro-exportador alemão.
Essas empresas atuavam financiando as atividades exportadoras e, promovendo
através de empréstimos, toda infra-estrutura necessários para a produção e
comercialização, como construção de estradas vicinais e alguns trechos ferroviários,
dessa forma, exercendo um certo controle sobre a vida econômica regional.
Com a desorganização das principais praças compradoras localizadas na
Europa houve uma repercussão nesse segmento, causando a retração do mercado
fumageiro. Mas a maior alteração verificada em todo sistema fumageiro no
Recôncavo e no mundo, ocorre com a introdução de novas tecnologias na industria
cigarreira, iniciada nos EUA desde 1890, com a mudança da produção fabril para a
mecanização industrial, revolucionando todo o sistema.
61
Com a difusão dos cigarros numa escala mundial, acompanhada por uma
mudança radical de costume do público fumante, uma extensa parcela do mercado
de charutos se retrai.
A revolução tecnológica da indústria cigarreira desarticulou a estrutura de
comercialização antiga, sendo substituída por uma estrutura empresarial oligopólica
mundial, apoiada pelo capital bancário e o industrial, entrincheirando o segmento
charuteiro, ao final da década de 1940.
No Brasil, entre 1920-1950, entra em colapso a manufatura cigarreira
nacional, promovida pela truste internacional anglo-americana, através de sua
subsidiária, a Cia. Sou za Cruz localizada no Rio Grande do Sul, que paulatinamente
desestruturou este segmento no Recôncavo, Ramos (1990).
Como resultado deste processo, uma nova estrutura produtiva de natureza
agro-industrial se organiza no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, garantindo o
suprimento do novo sistema exportador nacional.
Esse novo sistema moderno passou a conviver com a velha estrutura agrícola
do Recôncavo, tributária de um capital mercantil que, embora tivesse perdido
posição no mercado mundial, continuava hegemônico frente às firmas exportadoras
sediadas na Bahia.
Este é o quadro que se apresenta na década de 1950, início da decadência
do sistema agro-exportador de fumo no Recôncavo, com impacto profundo na
estrutura empregatícia, tanto dos trabalhadores do sistema de beneficiamento do
produto, quanto dos pequenos proprietários de terras que são obrigados a
substituírem as suas lavouras, por outras mais rentáveis.
Durante o início do século XX, quando cai a posição do açúcar e do fumo no
exterior, um outro produto aparece como centro das atenções, o cacau. Com a
elevação da produção em Ilhéus região sul da Bahia e do preço no mercado exterior,
o cacau passa a ser o principal produto de exportação e de interesse de capitais.
62
Embora o ciclo agroindustrial do Recôncavo tenha entrado em declínio a partir
do século XlX, um fator importante vai contribuir para manter Salvador na posição de
destaque no âmbito nacional até essa data. Trata-se da mecanização de sua rede
urbana oriunda da grandiosidade vivida nas fases de riqueza nos canaviais.
A instalação de usinas de açúcar, a navegação a vapor tempos depois, as
estradas de ferro na segunda metade do século XIX, estabelecendo ligações entre o
Recôncavo e o Sertão caracterizam-se como estruturas essenciais para a manter o
domínio da capital sobre o Estado
Apesar do processo de modernização ter alcançado Salvador com a
introdução do transporte coletivo no final do século XIX e a construção das estradas
de rodagem na primeira metade do século XX, a capital baiana não consegue s e
manter na liderança do desenvolvimento urbano do Brasil.
Esse fato está justificado por diversos autores, como Milton Santos (1960,
1959), Kátia Mattoso (1992), Fernando Pedrão (1997) que vêem no fraco
desempenho das atividades industriais no Estado, a razão dessa estagnação
decorrente do modelo político adotado, que se limitou a atração de um certo número
de fábricas têxteis.
Com um raio de 100 km de distância de Salvador, o Recôncavo serviu como
uma região que abastece Salvador, principalmente em gêneros agrícolas para
atender as necessidades alimentares e para exportação.
2.1 O PROCESSO DE MODERNIZAÇÃO DO RECÔNCAVO - (na metade do
século XX)
Os novos conteúdos técnicos e organizacionais promoveram transformações
nos diversos espaços do globo, principalmente na fase atual da globalização. Essas
transformações ocorrem no Brasil no século XX, atingindo também o Recôncavo
sobretudo a partir da segunda metade do século.
63
De um meio técnico constituído durante o processo de industrialização at é
aproximadamente a internacionalização da economia, o território se altera dando
início a um novo período de inovações técnicas denominado por Santos (1993), de
meio-técnico-científico e informacional.
Isso implicou entre outros aspectos numa diferenciação hierárquica produtiv a
nas diversas regiões e nos centros urbanos. Para que o funcionamento técnico
desse período se realize, novos objetos são incorporados ao território, criando fluxos
em rede, exigidos, exatamente, por essa modernização da base técnica atual.
Diante disso, algumas regiões se apresentam mais equipadas do que outras
para a instalação dessas atividades modernas, pois elas estabelec em em suas
diretrizes uma seletividade espacial, regida por interesses econômicos e políticos
diversos. A combinação de vários elementos vai transformar, também, a rede urbana
local.
Entre 1850 e 1870, verifica-se um período em que a industrialização se eleva
a uma escala mundial, com novas tecnologias e novas formas organizacionais que
vão estabelecer maior separação entre os centros produtores e os de consumo.
Criam-se então mecanismos de complementação funcional entre os territórios, tendo
de um lado o centro fornecedor de produtos industrializados, e de outro, a periferia
para o consumo desses produtos.
Para garantir o funcionamento dessas relações comerciais, generalizou-se
pelo mundo a criação do Estado-Nação como unidade política que vai chancelar as
relações comerciais entre os Estados. É neste período que se dá a criação e a
intensificação dos sistemas de engenharia exigidos por essa nova fase, a exempl o
das ferrovias, depois as estradas de rodagem e as usinas de eletricidade, instaladas
em áreas mais adequada para a presença de capitais hegemônicos, sobretudo
britânico, lançando a modernização do território. É nesse período que ocorre
também a transferência de capital interno da atividade cafeeira, para setor industrial,
acelerando esse novo processo.
64
A invenção e difusão das máquinas e a elaboração de formas organizacionais
mais complexas, faz surgir um território com espaços altamente mecanizados.
Nesse contexto, o Brasil tem ilhas de mecanização ou como diz Milton Santos
(2001), arquipélagos mecanizados, principalmente nas metrópoles, que vão criar a
necessidade de maior circulação da produção.
Os sistemas técnicos, as ferrovias, e depois as rodovias são instalados com a
intenção de favorecer uma maior integração nacional. Desde já, esses equipamentos
são direcionados para as regiões Sul e Sudeste, contendo no bojo dessa int egração
do território, a revelação das desigualdades regionais.
Ainda em Santos (2001), a formação do Estado nacional durante o Império e
a República, entre os anos 1549 a 1822, não foi capaz de criar fluxos
verdadeiramente nacionais, servindo à máquina do Estado para preservar e ampliar
as fronteiras, manter o regime e a ordem, assegurar a coleta de impostos, e, com a
ajuda da igreja, unificar a língua.
Como nessa fase as redes urbanas mais importantes do país estão instaladas
na faixa litorânea, em consonância com economia colonial, a interiorização das
atividades exploradoras do território vão se desenvolver com a criação de gado e a
mineração. Mesmo assim, as principais metrópoles como Salvador, Rio de Janeiro,
Recife e outras capitais litorâneas continuaram a crescer, caracterizando o
desenvolvimento da rede urbana brasileira como essencialmente litorânea.
Para se ter uma idéia dessa configuração socioespacial, no início do século
XIX, estimava-se uma população de 3 milhões de habitantes no país, sendo 60%
dos habitantes concentrados no litoral.
São Paulo é um caso a parte. Desenvolve-se com a produção do café que se
expande pelo Vale do Paraíba, escoando sua produção pelo Porto de Santos. Até a
metade do século XIX, Santos exportava basicamente açúcar, vindo depois a se
transformar em porto do café.
65
O que se pode verificar é que, em todos os casos, as grandes metrópoles no
Brasil cresceram com uma economia voltada pra o exterior, refletindo a dependência
econômica nacional e uma urbanização essencialmente litorânea herdadas do
passado colonial, exceto cidades como Belo Horizonte, Goiânia e Aracaju.
De 1880 a 1924 aumenta a atividade industrial no Brasil, sob a hegemonia de
São Paulo, formando o mercado mais importante, polarizando todo tipo de
atividades: industriais e empresas de investimentos. O aumento da popu lação é
considerável.
Na década de 1940, o território brasileiro se mecaniza e ocorre a
modernização dos portos, ferrovias, introdução da energia elétrica e a construção de
uma rede de estradas integrando o país.
O telégrafo, uma invenção técnica presente no Bras il desde 1852, alcança
maior desenvolvimento com a ampliação da linha telegráfica a partir de 1904,
construídas pelo Marechal Cândido Rondon, responsável pela ampliação de 5.500
km de linhas telegráficas, em sintonia com a construção das estradas de rodagem.
São Paulo, até a década de 1930 concent ra o maior número de indústrias
com um parque industrial diversificado, destacando-se como o mais importante do
Brasil. A evolução para a condição de grande metrópole brasileira é inerente ao
estado sulista, polarizando para sua rede urbana, investimentos, capitais e,
principalmente, população.
Na segunda metade do século XX, a criação de uma indústria automobilística
e a construção de Brasília, concorrem para acentuar ainda mais as diferenças entre
São Paulo e o resto do país. A conjunção desses equipamentos faz com que essa
área da Região Sul concentre quase todos os fluxos e a imanente criação de toda
infra-estrutura necessária para atender esses projetos, canalizando ainda mais os
investimentos públicos e privados.
66
Um aspecto importante que se verifica como fator de urbanização e que vai
marcar a transição para a formação do período técnico-científico no Brasil é o início
da exploração de petróleo na década de 1950. No Recôncavo Baiano a Petrobrás
lança suas atividades em 1954.
2.1.1 A Agroindústria no Recôncavo – Formação Sistemática do
Conhecimento Agrícola no Estado
O Imperial Instituto Baiano de Agricultura – IIBA, criado em 1859, foi a
primeira instituição stricto sensu de pesquisa agropecuária no Brasil. Suas
instalações, como sede própria resultaram de adequações feitas no antigo Mosteiro
de Nossa Senhora das Brotas, pertencente a ordem dos beneditinos, situado na
localidade conhecida como São Bento das Lages, povoado próximo a Santo Amaro
da Purificação.
O povoado de São Bento das Lages ligado a vila de São Francisco, mais
tarde, denominada de São Francisco do Conde, atualmente município com o mesmo
nome, que vem de um antigo engenho instalado ali pertencente ao Conde de
Linhares como herança do então Governador Geral do Brasil, Mem de Sá sogro do
Conde, (Fiuza, 1934 ; Fonseca, 1988).
O IIBA contava em suas edificações originais com laboratório adaptados a um
pavilhão central de três andares apoiado por outras construções de menor porte
para os trabalhos de campo e de uma estação experimental. A instituição nos seus
primeiros 50 anos desenvolveu pesquisas e experim entos que muito contribuíram
para a expansão e consolidação das lavouras da cana-de-açúcar, fumo, mandioca e
algodão no Recôncavo Baiano.
O IIBA foi criado, fundamentalmente para atender o ensino e a pesquisa e
contou desde o início com a valiosa contribuição de pesquisadores estrangeiros,
sobretudo alemães.
67
Em 1920, atendendo a sua vocação para o ensino agronômico, passa a
denominar-se Escola Agrícola da Bahia, que foi responsável pela formação de
centenas de engenheiros agrônomos e técnicos agrícolas, muitos deles passaram
então a dedicar-se a docência e a pesquisa.
Nesse contexto, criou-se um ambiente científico e cultural na Bahia, que
permitiu a difusão do conhecimento oitocentista, repercutindo em várias outras áreas
e também na criação de outras instituições que deram apoio em pesquisa à
economia agro-exportadora, como é o caso do ICB- Instituto do Cacau e o IBF –
Instituto Baiano do Fumo.
Esses Institutos geraram inovações técnicas no que concerne a variedade de
plantas (cruzamentos) técnicas de plantio, tratos culturais, controle de pragas e
doenças, práticas de colheita e de pós-colheita e beneficiamento contribuindo para
consolidar a pesquisa agrária na Bahia.
Na verdade o IIBA surge na tentativa de criar alternativas às lavouras
decadentes de cana-de-açúcar introduzindo novas variedades de plantas e novos
procedimentos, através de recursos implementados pelo Governo Geral para o
desenvolvimento das pesquisas e a difusão do conhecimento. Dá-se o início das
atividades técnico-científica em 1875 com a abertura oficial dos cursos de
engenharia agronômica e de medicina veterinária inau gurados em 1877, que contou
com a grande maioria de professores brasileiros.
O desaparecimento do pagamento de uma taxa de contribuição feita pelos
senhores de engenho como forma de manutenção do Instituto, causou o
encerramento de suas atividades em 1904, já com o nome de Instituto Baiano de
Agricultura – IBA. A partir de então, o Estado da Bahia passa a assumir,
integralmente, a instituição entregando seu destino a pesquisadores estrangeiros,
como dito acima, os alemães.
A instituição ao fim da primeira década do século XX já havia passado por
inúmeras mudanças vindo a se transformar na Escola Média Teórico-Prática de
Agronomia em 1911, com seu acervo e administração transferidos para o Governo
68
Federal, iniciativa que teve vida curta. O edifício que foi sede do IIBA abrigaria novas
atividades em 1920, quando o estado da Bahia assume novamente o acervo da
instituição e cria o curso de agronomia por meio da Escola Agrícola, que
permaneceu em São Bento das Lages até 1929.
A partir da década de 30 a escola é transferida para Salvador, instalada na
Hospedaria dos Imigrantes de Mont Serrat , onde atualmente funciona o CRA –
Centro de Recursos Ambientais. Em 1945 já com o nome de Es cola Agronômica da
Bahia, é transferida para o município de Cruz das Almas, vinculando-se a
Universidade Federal da Bahia, a partir de 1970.
Embora os engenhos e depois os governos Federal e Estadual tenham
fomentado o desenvolvimento do conhecimento agronômico por mais de um século,
os resultados obtidos na produção agrícola foram insuficientes para a época. O
pesquisador alemão Leo Zehutner, a quem é confiada a direção do instituto, em sua
primeira manifestação oficial como pesquisador condenou o ensino agronômico que
se conduzia no IIBA, taxando-o como excessivamente teórico, voltado para a
formação de “bacharéis” que estavam mais interessados em empregos públicos que
em dedicar-se à agricultura.
Mesmo assim, a agricultura tecnizada ao lado dos engenhos e das usinas
contribuiu como fator de povoamento. Um componente a se observar é que esses
empreendimentos não foram muito eficientes em suas gestões, pois havia uma fraca
comercialização de produtos. Soma-se a isso a baixa mobilidade social da
população e a ausência de indústrias diversificadas.
Fazendo uma análise do conjunto desses fatores denotam-se as idéias que
reforçam as características econômicas do Recôncavo, eminentemente
agroindustriais em desconfortável situação de declínio.
Os canaviais, que antes ocupavam todo o entorno da Baia de Todos os
Santos, consolidando sua expansão até o Município de Jaguaripe – área limítrofe ao
baixo-sul - no século XX esse quadro se apresenta bastante reduzido pois as
69
plantações se concentram basicamente nas terras (solos de massapé) onde se
localizam os municípios de Santo Amaro da Purificação e São Francisco do Conde.
Mesmo assim, os canaviais que ocupavam praticamente toda a área desses
municípios vão desaparecend o devido ao fechamento das usinas em pé de
desigualdade com outros centros produtores do país. A onda de desaquecimento
dessas atividades atingiu também as usinas de Santa Luzia em Aratu, a de São
Paulo, em Salvador, sinalizando para o desfecho do ciclo de riquezas dos engenhos
baianos.
Os engenhos centrais como eram conhecidas as usinas na região, se
instalaram no final do século XIX e representavam um avanço técnico que provocou
alterações econômicas e sociais. Se antes cabiam aos engenhos t odas as etapas do
processo produtivo, agora, as usinas passam a comprar a cana na mão dos
fazendeiros, surgindo dois tipos sociais distintos: o fornecedor e o usineiro, o
fazendeiro e o industrial, alterando o quadro social estabelecido desde a
colonização.
O conflito de interesses emerge de forma inevitável, o que mais tarde va i
alimentar as diretrizes para a criação do Instituto do Álcool e do Açúcar – o IAA,
órgão governamental que tem a função de intervir nas disputas entre usineiros e
fazendeiros, regulamentando as relações de produção para que possam coexistir.
As fazendas mais tradicionais e as usinas representam um avanço tecnológico.
Nessas condições de produção e de mercado, as atividades nas usinas
foram encolhendo até cessar a função inovadora e pioneira que
historicamente teve no sistema econômico e no meio social do Recôncavo
açucareiro. (...) Hoje, só há resquícios desses empreendimentos
inovadores, pois ali se criaram condições tais que a concorrência foi abolida
e as usinas ficaram com o controle monopolístico de uma economia pouco
desenvolvida e rotineira, de tal modo que secou todas as fontes de estímulo
à renovação. A usina, assim, passou também para o quadro tradicional, no
Recôncavo, em relação ao qual seu aparecimento, quando ocorreu,
representou profunda revolução tecnológica, econômica e social, Costa
Pinto (1958).
Segundo Brito (2004), em 1942 encerram suas atividades seis usinas, em
1951 mais duas pararam. Cinco anos depois (1956) apenas nove usinas
70
funcionavam no Recôncavo. O processo decrescente não pára. Em 1972, esse
número cai para 5, em 2000 apenas três usinas funcionavam e em 2002 apenas
uma.
Conclui-se então que das 323 usinas existentes no Recôncavo em 1950, em
meio século, entraram em declínio levando ao Recôncavo pobr eza e desemprego.
Paralela à queda do açúcar, o fumo também já vinha perdendo sua importância
comercial e no final da primeira metade do século XX sucumbiu.
Os trabalhadores sem emprego, migraram para outros centros como
Salvador, Camaçari, Cruz das Almas, Muritiba e Santo Antônio de Jesus. Os
municípios que outrora eram centros importantes, estagnaram. O fim desse ciclo
coincide com o começo da extração do petróleo no subsolo baiano.
2.1.2 Novo ciclo se inicia com a exploração de petróleo no Recôncavo
O petróleo surgiu nas terras antigas do Recôncavo, no fundo da Baia de
Todos os Santos, nas terras de massapé onde de forma incessante por quatro
séculos se plantou cana-de-açúcar. Representou um novo ciclo, uma nova etapa,
um elemento completamente novo. Não foi como a usina, como diz Costa Pinto
(1958), que significou um avanço tecnológico na produção do açúcar.
A classe social oriunda das atividades da empresa petrolífera surge a partir
das etapas vinculadas à implantação e a exploração do próprio petróleo. São
engenheiros, técnicos e operários que se superpõem ao território, como um
elemento estranho à estrutura tradicional existente.
Em verdade, as famílias dos senhores de engenho, e depois dos usineiros
residiam em Salvador. As atividades produtivas estavam no Recôncavo, mas isso
não garantia a fixação das famílias na zona produtiva. Estabeleciam-se em
residências secundárias fora, onde permaneciam a maior parte do tempo; a casa da
cidade torna-se a residência mais importante.
71
O senhor de engenho e depois o usineiro passavam a freqüentar suas
propriedades em dois momentos, no corte e na moenda da cana. Este é um
elemento que justifica o pouco dinamismo dos núcleos urbanos no Recôncavo,
refletido na pequena variedade de oferta de bens e serviços.
A população mais abastada consumia esses produtos em Salvador, tudo era
adquirido na capital. A implantação das estradas de rodagens serviu para garantir
esse fluxo de população que se desloca até Salvador na busca de uma variedade
maior de bens e serviços.
Ora, se até a comercialização, financiamento do açúcar eram realizadas em
Salvador, ao Recôncavo propriamente dito restava o trabalho pesado da pr odução.
As cidades que surgiam tinham como traço marcante o latifúndio, a monocultura e a
escravidão, representando uma estrutura arcaica, rígida e sem dinamismo
econômico, daí a pobreza e o marasmo dessas cidades.
Quando o corpo técnico da Petrobrás chega à Bahia, não se instalam no
Recôncavo, criaram os acampamentos, enquanto estavam na jornada de trabalho e
importava tudo de que necessitavam, um verdadeiro enclave, já que a região tinha
muito pouco a lhes oferecer. As famílias pertencentes à classe de mão de obr a
técnica, portanto mais especializada, fixaram residência em Salv ador, exatamente
pela precariedade dos serviços oferecidos nos centros urbanos de menor porte, pela
ausência de habitação adequada, de saneamento, de conforto e lazer.
Aliás, passados cinco séculos, nem mesmo com o advento da Petrobrás que
no primeiro momento criou condições para a modernização das estruturas técnicas
no Recôncavo, instalando os sistemas de engenharia, integrando a economia baiana
a outras regiões, não foi capaz de fazer grandes alterações no quadro social
preestabelecido.
Ainda hoje, a estrutura dominante do perío do colonial oferecesse resistência
às mudanças da contemporaneidade, persistindo, por exemplo, o preconceito e o
72
racismo. As camadas mais baixas da popula
73
Lubrificantes, do Fundo Rodoviário Nacional e do Imposto de Importação de
Consumo de Veículos automotores, aéreos, terrestres e aquáticos e também das
receitas próprias, Brito (2004).
O CNP (Conselho Nacional de Petróleo) passa a ser um órgão regulador da
política nacional de petróleo, transferindo todo seu patrimônio para a Petrobrás.
2.2 A PETROBRÁS NO RECÔNCAVO BAIANO
Até 1960, o Recôncavo Baiano era a única província petrolífera no Brasil.
Foram descobertos os campos de: Lobato/Joanes (1939), Candeias (1941), Aratu
(1941), Itaparica (1942), Dom João (1947), Pedras (1950), Paramirim (1951), Água
Grande (1951), Mata de São João (1953), Pojuca/Central (1953) e os campos
marítimos da Baia de Todos os Santos.
A demanda nacional exigindo o produto e por recomendações técnicas,
intensificou a produção do óleo no Recôncavo, que passa a produzir um grande
volume, chegando a atingir em 1958, 75 mil bpd (barris de petróleo por dia)
surpreendendo a meta inicial de 40 mil barris. Mesmo assim, a produção ainda era
baixa para a demanda nacional, necessitando importar o produto, até o início do
século XXI, daí a necessidade em continuarem as pesquisas em outros campos para
atingir esta meta.
Desta forma, a expectativa alimentada pela forças políticas e econômicas
regionais era de que a Petrobrás na Bahia e no Recôncavo pudesse reativar
economicamente a região. Todavia, a companhia petrolífera na região, limitava-se à
produção de óleo e do gás natural, bem distante do que almejavam os políticos
locais.
Como destaca Brito (2004), a refinação do óleo era bastante pequena não
sendo aproveitadas integralmente as qualidades do óleo parafínico, indicado para a
produção de lubrificantes.
74
[ ...] E sentido semelhante, situava-se a utilização do gás natural que era
quase simbólica diante da grande potencialidade de aplicação na indústria
petroquímica e de fertilizantes que ainda não havia se instalado na Bahia. O
valor do royalty devido ao estado da Bahia e aos municípios petrolíferos, era
muito baixo. Além disso, a Petrobrás, ao contrário do que seus
interlocutores regionais esperavam, tendo em vista a concepção política da
criação da estatal, voltada para uma atuação essencialmente
macroeconômica privilegiando investimentos numa perspectiva de política
pública, como instrumento de progresso econômico e social, a companhia
agia numa perspectiva essencialmente microeconômica no Recôncavo,
desconsiderando quase que completamente os pleitos dos demais agentes
sociais existentes em seu entorno.
Se no plano eminentemente local e isolado, concomitantemente com o início
das explorações de petróleo no Recôncavo Baiano por meio do CNP (na
década de 1940), registraram-se algum as reações por parte do s fazendeiros
e usineiros, em outro plano e, um pouco mais tarde, diante da falta de
iniciativa da Petrobrás em implantar indústrias na Bahia, não sem razão, o
sentimento de insatisfação se generaliza no Governo estadual.[...]
Isto ficou evidente, pois a economia baiana continuava empobrecendo e
sobretudo, permanecia com características agro-exportadora, mesmo após duas
décadas de produção ininterrupta e o fornecimento exclusivo à nação de todo óleo
produzido ali.
Logicamente o autor lembra que não cabe atribuir o atraso econômico e social
do estado da Bahia às ações da Petrobrás, pois esse quadro é um reflexo de um
processo desenvolvido pelos próprios agentes sociais regionais (grandes
comerciantes, usineiros, banqueiros, coronéis, fazendeiros ...), os quais
historicamente dominavam a economia regional e se beneficiavam com a política de
exportação do açúcar que entrou em declínio a partir da Segunda Guerra Mundial.
A política de atuação da Petrobrás no Recôncavo, praticamente restringia a
aplicação dos recursos nas obras de ampliação da RLAM, na abertura de estradas e
asfaltamento, portanto com interesses voltados para a própria companhia.
Basicamente, a RLAM limitava-se à produção de gasolina, querosene, óleo diesel,
óleo combustível e gás liqüefeito do petróleo.
Enquanto refinarias instaladas em outras regiões do país, a exemplo da
Refinaria Presidente Bernardes –Cubatão, criada em 1955, já produziam asfalto, e
em 1958 iniciou sua produção de insumos petroquímicos básicos (eteno, propeno,
metano, hexano,..) incentivando a instalação de unidades de amônia e de
75
fertilizantes, e como resultado, a ampliação do parque industrial de São Pau lo, o que
demonstra o maior investimento da companhia neste estado em detrimento dos
demais da federação.
Somando-se a isso, a Petrobrás pagava em royalties aos estados (5%) e aos
municípios (1%), sendo que esse percentual era recolhido apenas em instalações
continentais não incorporando as áreas da plataforma continental, somente sendo
revertida esta situação em 1961 quando a questão judicial foi favorável ao estado da
Bahia e dos municípios.
Outro fator que agravou substancialmente os conflitos de intere sses entre a
companhia e os agentes regionais, foi o ato do Governo federal declarar pra fins de
desapropriação as terras de nove municípios onde a Petrobrás mantinha atividades.
Enfim, as relações mantidas entre empregados/empresa eram de coação e de
dominação, e com os agentes sociais regionais e estado, de desinteresse e pouco
caso, portanto, mostra por parte da companhia às práticas unilaterais da Petrobrás
no Recôncavo Baiano.
2.2.1 Os Benefícios da Petrobrás
Dentre as mudanças trazidas pela exploração do petróleo no Recôncavo a
mais vantajosa sem dúvida foi a abertura de estradas. Devido ao clima, sobretudo na
estação chuvosa, os solos de massapé nesse período se tornam lamacentos e os
atoleiros praticamente impediam as viagens de automóveis, por isso mesmo, em
cidades como São Francisco do Conde só era possível chagar a cavalo ou por mar.
Nas usinas que não eram ligadas por via férrea, apenas o carro de boi
conseguia vencer esses obstáculos por terra. Para se ter uma idéia, a primeira
estrada pavimentada data de 1950, quando pela primeira vez se pode transportar a
cana-de-açúcar em caminhão.
76
As transformações que ocorreram no Recôncavo, principalmente no que diz
respeito ao desenvolvimento econômico e tecnológico causaram mudanças na
estrutura social que impuseram alterações no nível e gênero de vida, nas relações
sociais e nos sistemas institucionais que se organizam impondo um novo ritmo ao
cotidiano da população, sem que ela estivesse preparada parada para desempenhar
essas novas funções.
Uma das alterações significativas vai ocorrer nas relações de trabalho que
passam a ser contratuais, entrando em declínio o patriarcalismo característico da
estrutura tradicional. Mudam-se as relações de trabalho, alterando o perfil do
trabalhador que historicamente foi formado por uma economia pré-industrial que não
exigia qualificação necessária à economia agro-industrial vigente.
O funcionamento da economia canavieira fundamentava-se na exploração
extensiva da terra e do homem, não sendo solicit ado a estes trabalhadores a
qualificação nem um outro perfil psicológico já que este estava enraizado na herança
do trabalho escravo e na baixa remuneração.
O aparecimento da indústria do petróleo que passa a exigir uma mão-de-obra
qualificada e por conseguinte, melhores salários, vai contrastar com a estrutura
tradicional anterior, e pior, a falta desse trabalhador qualificado fez com que fosse
necessário importar operários de outras regiões do país
Essa carência de pessoal técnico estimulou a criação na Universidade da
Bahia, um curso de geologia, engenharia do petróleo e diversos outros cursos
técnicos como sondagem, prospecção, topografia, os quais foram incorporados às
atividades petrolíferas.
Como resultado das ações da Petrobrás no Recôncavo podemos afirmar que
os benefícios maiores foram, sem dúvida, a instalação das estradas que deram
maior fluidez ao território, sendo responsável, também, por uma maior circulação de
dinheiro e investimentos e, principalmente, desencadeando um rápido processo de
urbanização na região.
77
Esse processo urbanístico é estudado pelos autores Costa Pinto (1958),
Thales de Azevedo (1959) e Cristóvão Brito (2004) como elemento que desempenha
importante função na atração da população para os municípios onde a Petrobrás se
instalou. No momento em que a empresa petrolífera inicia suas atividades, cria como
suporte os acampamentos para abrigar seus funcionários, e estes serviram mais
tarde como núcleos originários de muitos municípios como é o caso de Candeias,
emancipada em 1958.
As instalações do Centro Industrial de Aratu (C.I.A) instalado no município de
Simões Filho em 1967, e mais tarde o Complexo Petroquímico de Camaçari
(COPEC) iniciando suas operações em 1978, concorreram para o crescimento
urbano do Recôncavo e da Região Metropolitana e principalmente de Salvador.
Localizado a 50 km de Salvador, o município de Cam açari recebe o primeiro
complexo petroquímico planejado do país, agregando mais de 60 empresas
químicas, petroquímicas e de outros ramos de atividade como a indústria
automotiva, de celulose, metalurgia do cobre, têxtil, bebidas e serviços.
A maioria das empresas do Pólo está interligada por dutovias à unidade de
insumos básicos da Braskem, maior indústria do Complexo de Camaçari é um dos
cinco maiores empreendimentos privados do país e, recebe derivados de petróleo da
Petrobrás, principalmente a nafta, em sua unidade de insumos básicos em Camaçari
e os transforma em petroquímicos básicos (eteno, propeno, benzeno, tolueno,
butadieno, xilenos, solventes e outros).
Um etonoduto com mais de 400 km de extensão interliga a unidade de
insumos básicos da Braskem em Camaçari às suas fábricas de Cloro-soda e PVC
em Alagoas, fazendo a conexão entre o Pólo Industrial de Camaçari e o
Cloroquímico daquele estado.
Estas novidades introduziram profundas mudanças socioeconômicas na
região, atingindo primeiro a pequena lavoura de subsistência para, em seguida,
afetar o que restou da agroindústria açucareira. Nas áreas desapropriadas pela
Petrobrás são criadas extensas florestas de eucaliptos e pinheiros para a produção
78
de carvão vegetal. Plantações de bambu se expandem para atender as demandas
das fábricas de papel localizadas em Santo Amaro. A paisagem se transforma e os
canaviais se restringem as pequenas áreas.
Com a desapropriação de grandes áreas para a implantação destes projetos
industriais, os antigos edifícios construídos para abrigar os engenhos e depois as
usinas são abandonados de forma definitiva, sem ser cogitada a possibilidade de
reaproveitamento destes monumentos dentro do programa de desenvolvimento
industrial da região, arruinando, desse modo, conjuntos arquitetônicos monumentais
como os de Aratu e de Mapele, dentre outros.
Observando as transformações decorrentes de diversos investimentos e
atividades desenvolvidas no Recôncavo Baiano, atraídas por incentivos fiscais, e a
vontade dos empresários de um modo geral em diversificar as atividades,
acreditando que a região possui as condições locacionais favoráveis para tais
investimentos outros ramos de negócios, principalmente a agroindústria se instalam,
promovendo um certo dinamismo na econom ia regional.
A diversificação na produção econômica na Bahia tem demonstrado, na
última década, um crescimento no setor avícola.
2.3 O CIRCUITO DE PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAL DO FRANGO DE CORTE
NO RECÔNCAVO BAIANO
Estudos realizados por Souza (2004) analisando a competitividade do circuito
produtivo agroindustrial de frango de corte no Recôncavo Sul do Estado da Bahia
constatou que para consolidar o cluster regional é necessário estratégias e ações
para o adensamento desse circuito, incorporando mais tecnologia, infra-estrutura e
processamento para que se produza mais valor nas empresas locais.
O complexo de avicultura de corte no Brasil cresceu a taxas surpreendentes
nas últimas três décadas, ao ponto de tornar-se um dos maiores produtores desse
79
ramo de negócios nos níveis nacional e mundial. Nesse período a produção cresceu
mais de 25 vezes e as matrizes de pinto e alojamento cresceram 300% e 250%
respectivamente.
Os principais fatores para esse crescimento são a demanda e as inovações
tecnológicas no que diz respeito ao melhoramento genético das aves e no
processamento causando um forte impacto no setor.
O circuito produtivo do frango de corte tem alcançado um elevado nível de
organização e as transações são realizadas por via contratual, com um mecanismo
de integração vertical e horizontal.
O circuito se organiza desde a fase de produção de insumos até a distribuiç ão
dos produtos. A integração vertical e os arranjos contratuais constituem a principal
estratégia deste complexo agroindustrial.
Na Bahia no entanto, o setor não acompanhou as mesmas taxas de
crescimento, observadas no país. A produção estadual não consegue atender a
demanda interna crescente fazendo com que a Bahia importe frango vivo e
industrializado Souza (2004).
Esta baixa produtividade no setor é provocada pela incipiente or ganização da
produção e no que se refere as transações, estas ainda ocorrem num mercado
aberto com enorme risco econômico para o sistema comprometendo a sua eficácia.
Nesse sentido as agroindústrias recentemente instaladas no Estado como a
Avigro e Avipal de 1999, estão organizadas na forma de integração vertical e
mantêm arranjos contratuais na perspectiva de melhorar a competitividade local.
No caso do Recôncavo, o setor avícola está concentrado nos municípios de
Cruz das Almas , Cachoeira, Muritiba e o circuito envolve mais três municípios da
Região do Paraguaçu, são eles, Conceição de Feira, São Gonçalo dos Campos e
principalmente Feira de Santana que desempenha um papel de suporte fundamental
do setor avícola além de estar instalada nesse município a Avipal, maior
80
agroindústria avícola do Estado. Juntos estes municípios formam o maior pólo
agroindustrial avícola da Bahia com capacidade de alojamento de 3 milhões de
aves/mês, ABA (2003).
A produção avícola na Bahia cresceu, de 92 mil toneladas em 2000 para 154
mil toneladas em 2002, representando cerca de 1,6% da produção nacional.
As exportações no setor são realizadas predominantemente pelos estados da
Região Sul representando 86,1% da exportação nacional. De ac ordo com a ABEF
(2004) o Brasil ocupa a segunda posição no mercado mundial, exportando 1,9
milhão de tonelada de carne de frango atrás apenas dos Estados Unidos que
lideram as exportações com 2,2 milhões de toneladas. Juntos esses dois países
respondem por 70% do comércio mundial.
Tabela 2. Principais países exportadores de carne de frango (1999-2003) (em mil toneladas)
Ano Mundo EUA Brasil
União
Européia
Tailândia China
1999 4.499 2.080 771 764 288 375
2000 4.862 2.231 907 762 328 464
2001 5.599 2.520 1.249 718 425 489
2002 5.780 2.180 1.600 841 465 438
2003 5.861 2.230 1.922 700 500 420
2004* 6.192 2.313 2.115 800 530 440
(*) Previsão.
Fonte: USDA/ABEF, 2004.
Quem mais importa carne de frango no mundo é a Rússia com 27,6%, o
Japão com 16,3%, a China com 9,7%, Arábia Saudita 1% e Hong Kong com 4,0%.
Na verdade todos os países aumentaram as importações de frango inteiro e
em pedaços do Brasil, até que a crise da gripe do frango que trouxe prejuízos ao
setor.
O sistema de integração independente pode ser um dos motivos para a baixa
produção no Recôncavo, revelando que quando o sistema é integrado é mais
competitivo como ocorre com a Região Sul do país.
81
Tabela 3. Principais países importadores de carne de frango (1997-2003) (em mil toneladas)
Ano Mundo Rússia Japão China
Arábia
Saudita
Hong
Kong
1997 3.442 983 547 610 286 815
1998 3.555 750 496 1.105 294 839
1999 3.897 930 687 591 364 275
2000 3.975 943 721 608 348 168
2001 4.377 1.281 710 473 399 183
2002 4.289 1.208 744 435 380 164
2003 4.279 1.180 700 415 390 170
2004* 4.044 990 745 400 395 175
(*) Previsão.
Fonte: USDA/ABEF, 2004.
No funcionamento do sistema de integração o avicultor trabalha sob contrato
com o integrador (a agroindústria). Nessa relação, fica sob responsabilidade do
integrador produzir e fornecer o material genético utiliz ado pelo avicultor, o
fornecimento de parte da alimentação, os pr odutos veterinários, acompanhamento e
assistência técnica, a compra e o abate dos frangos.
O produtor participa da integração com a utilização de sua propriedade, com a
mão-de-obra e a infra-estrutura necessárias à produção. Neste caso, o produtor tem
o compromisso de vender seus animais para a integradora.
A diferença no caso do produtor independente é que ele tem total liberdade
na forma de organizar a produção, bem como na venda do frango.
O circuito produtivo mostra o relacionamento entre as diversas etapas do
processo, desde os insumos até o consumidor final. Os segmentos constituintes do
sistema de produção de frango de corte na região do Recôncavo, segundo Souza
(2004), são os seguintes:
Seleção de material genético: pesquisa científica realizada fora do país, por
um segmento dominado por poucas empresas, formando um oligopólio, cuja
função é criar novas variedades de aves (P&D). Compreende a importação de
ovos.
82
Criação de matrizes-avós: segmento que tem função de criar e reproduzir
linhagens selecionadas no processo genético. A criação de matrizes-avós é
explorada somente por grandes empresas, fora do Estado da Bahia.
Criação de matrizes-pais: a função deste segmento denominado
regionalmente de matrizeiros, é produzir ovos que são encaminhados para os
incubatórios. A criação de matrizes constitui-se numa atividade bem menos
sigilosa do que as duas primeiras, fazendo parte de qualquer sistema de
integração vertical do setor.
Pintos de um dia: são incubatórios e estão localizados no sistema de
produção das grandes agroindústrias locais, podendo ser adquiridos em
Minas Gerais e Espírito Santo.
Criação de frango: é setor mais competitivo, estando este setor sob a
responsabilidade direta do produtor. Quando a integração é vertic al o produtor
fica obrigado, através de contratos, a manter os padrões exigidos pela
integradora. Quando o sistema é independente, o criador adquire todos os
insumos e após a engorda, vende os frangos, é o que acontece com a
maioria dos produtores no Recôncavo.
Processamento e distribuição: são as duas fases do sistema produtivo em
que se situa a agroindústria e os atacadistas e varejistas. Nesta fase inclui o
abate, processamento, marketing, logística e a distribuição de frango inteiro e
em pedaços até o consumidor final. A produção quase em sua totalidade é
destinada ao mercado interno.
Insumos químicos-farmacêutico e rações: a produção de vitaminas e
antibióticos é feita por grandes laboratórios químic os e veterinários, com
grande sofisticação tecnológica (P&D), não fazendo parte o sistema de
integração vertical. No caso das rações, os insumos como vitaminas e
suprimentos minerais são agregados as matérias-primas agrícolas , como
(milho, farelo de soja e trigo).
83
No caso da Avipal, Avigro e Gurjão, as maiores agroindústrias do setor na
região, os serviços de transporte refrigerado, de rações e transporte de grãos são
realizados por empresas terceirizadas.
Quanto à qualidade dos produtos, nenhuma empresa apresenta o certificado
ISO 9000. Em relação aos recursos humanos as grandes em presas oferecem
programas de capacitação interna e capacitaç ão administrativa. Quanto aos critérios
de contratação, a escolaridade é um dos principais requis itos, principalmente nos
cargos administrativos e de apoio.
2.4 UMA ANÁLISE SOCIAL DO RECÔNCAVO
Entre as décadas de 1950 e 1970 o Estado da Bahia, através de suas
políticas públicas e de planejamento, passa a adotar uma postura de racionalidade
com o tratamento dos recursos públicos, gerando assim uma nova ideologia com
mudanças na classe intelectual do estado.
Havia um interesse subliminar na esfera política e intelectual, ávida por
modernizar a estrutura econômica na Bahia. Entretanto reconhece-se que essas
mudanças estavam subordinadas ao poder federal que se mostrava com interesses
divergentes aos regionais.
A esse respeito registra Pedrão (1992) sobre a questão:
A identificação daquele período de planejamento - praticamente de 1955 a
1962 – com a formulação de um projeto de industrialização, de
modernização do Estado e com a renovação de empresas locais, implicava
em explicitar uma contradição ideológica entre aquela proposta de
planejamento representativa do projeto nacionalista do segundo período de
Vargas e as políticas estaduais orientadas para sustentar o sistema de
produção tradicional. O esgotamento desse tipo de planejamento tornou
inevitável que a industrialização se fizesse com outra composição de forças,
outra tecnologia, outra composição de empresas, portanto com outras
conseqüências no sistema de produção.
Dessa maneira, abriram-se novas alternativas de expansão do capital em
vários segmentos da economia: no setor bancário, com a fusão e ou liquidação de
pequenos bancos, concentrando os financiamentos e o capital de giro; com a
84
entrada de novas empresas nacionais e internacionais e com a possibilidade de
alterações significativas no que diz respeit o ao lucro imediato mediante a economia
de aglomeração.
Entretanto, esse modelo resultou num di stanciamento entre as atividades
existentes - como já salientado -, pois uma das características principais dessa
industrialização é a total desarticulação com a economia tradicional loc al. Os poucos
investimentos são feitos apenas nas indústrias de fiação, tecelagem e a
metalmecânica.
Segundo Stoper (1990), a modernização industrial, iniciada na década de 40
nos países da América Latina como Brasil e México, foi, em grande parte,
sustentada via políticas de substituição de importações. Esperava-se que a
diversificação forçada pelos parques industriais desses países acelerasse o advent o
de um desenvolvimento auto-sustentado. Sob a orientação da CEPAL, e depois,
ampliada pelas teorias de Perroux
3
, argumentava-se que as tecnologias definem
“espaços econômicos” coerentes, com atividades interligadas e que esses espaços
poderiam ser introduzidos numa economia, por meio de políticas destinadas de seus
setores centrais de alta tecnologia.
Ao final da década de 50, admitiu-se amplamente que a substituição de
importações, inicialmente provocaria desequilíbrios e que estes seriam resolvidos
mediante a implantação de complexos industriais abarcando a totalidade de cada
espaço econômico.
No Brasil, a indust rialização nacional f oi determinada pelo nível de
aglomeração polarizada, ou seja pelo complexo indust rial de mais alto nível , Santos
(2001), marcando assim, uma nova divisão territorial do trabalho gerada a partir da
necessidade de transformar minérios, de produzir derivados de petróleo e substituir
alguns setores da circulação. Foi este o momento de implantação de complexos
industriais em diversas regiões do país: o Complexo Petroquímico de Camaçari na
3
Perroux propõe um modelo de crescimento econômico baseado no setor industrial, particularmente
indústrias inovadoras e propoulsoras denominadas por ele de “ indústrias motrizes”, que exerceriam o
“ efeito de arraste” sobre outros conjuntos de atividades no espaço, Silva (1976).
85
Bahia, região norte do Recôncavo, o Complexo Siderúrgico de Itaqui, no Maranhão,
O Projeto Carajás, a Indústria de derivados de cloro em Alagoas, o complexo
eletrometalúrgico de Tucuruí e a instalação de infra-estrutura para dar suporte e
integração a esses setores.
Nesse contexto, na Bahia, como resultado dessa política de industrialização
polarizada, outros projetos para o desenvolvimento de outras regiões do Estado
foram abandonados, como o planejamento regional do manejo do semi-árido, das
bacias-hidrográficas, incluindo os rios São Francisco e Paraguaçu.
Mais tarde, amplia-se o debate, com críticas mais contundentes de inspiração
marxista abordando os problemas gerados pela industrialização polarizada e a
necessidade de articulação de políticas para o meio rural e urbano. Nesse sentido,
no âmbito da análise regional, Pedrão (1984), aborda claramente esta questão. As
críticas, no entanto, não são incorporadas pelo planejament o industrial padrão, que
continua apresentando proposta para o planejamento industrial do Nordeste, via
cadeia de pólos industriais ou à implantação dos grandes complexos industriais. Daí
surgiu a necessidade de uma renovação da análise regional com posturas mais
críticas sobre a análise social.
Esse quadro, altera profundamente a configuração espacial no Recôncavo,
que criou uma zona de concentração polarizada de um lado, e ao mesmo tempo,
zonas marginalizadas e atrasadas.
Dessa maneira, se estabelece um novo padrão de organização social no
conjunto Salvador-Rrecôncavo com o engajamento de trabalhadores no setor formal
e no informal, ou seja inc lusão e exclusão. Cada vez mais, as contradições entre a
modernização concentrada no eixo Salvador-Camaçari e a estagnação econômica
na maior parte da região revelam que esse modelo não foi suficiente para promover
o desenvolvimento integrado entre indústria, agro-indústria e a agricultura tradicional.
Em relação às terras, o que se percebeu é que houve uma valorização nas
áreas próximas às rodovias, enquanto que nas áreas próximas aos estuários dos
rios houve uma desvalorização e quase isolamento. Cidades como Cachoeir a, São
86
Félix, Santo Amaro, Maragogipe apresentam-se claramente com sinais de
degradação e estagnação, fato que poderá se alterar com a implantação da
Universidade do Recôncavo em 2006. E é justamente essas áreas menos
valorizadas, que possuem maior deficiência na circulação, impossibilitando até o
desenvolvimento de uma agricultura alimentar para abastecer outros centros
urbanos, como é o caso de Salvador. O que se vê, cada vez mais, é o crescimento
de propriedades com menos de 5 ha e um aumento ainda maior de propriedades
com menos de 2 ha, evidenciando a baixa rentabilidade da maior parte dos
agricultores no Recôncavo.
A melhoria do sistema de transporte rodoviário aproximou as cidades do
Recôncavo do mercado se Salvador, mas da mesma forma, tornaram-se mais
vulneráveis as variações de emprego, principalmente no agravamento do sub-
emprego rural, o que provocou também, comprovadamente, que as menores
cidades do Recôncavo, e seus povoados sofrem os efeitos negativos da diminuição
de atividades, inclusive no Pólo Petr oquímico de Camaçari. Conseqüentemente a
maior parte da população ativa migra para outros centros em busca de emprego.
Conforme Pedrão (1992), a perda de impulso da industrialização polarizada
na grande Salvador sugere que o Recôncavo encontra-se diante de novas
perspectivas de estagnação ou apenas a possibilidade de formação de capital
restrita a algumas atividades. Da mesma forma, o modelo agro-exportador carece de
uma política voltada para o setor, e ainda, persiste uma agricultura concentradora
que se recente da falta de fluidez no sistema de comercialização o que pode impedir
o crescimento da região.
87
3 TERRITÓRIO E REDES DE TRANSPORTES
3.1 A REDE RODOVIÁRIA
Até aproximadamente a metade do século XX, o território brasileiro não
mantinha ligações entre si. O modelo de economia agro-exportadora que teve seu
apogeu com a economia canavieira no Nordeste brasileiro, principalmente no litoral,
alcançou grande destaque na economia mundial.
O algodão no Maranhão e o ouro em Minas Gerais no século XVIII, a
borracha da Amazônia no final do século XIX e início do século XX, o café no vale
do Paraíba no final do século XIX e de São Paulo nas primeiras décadas do século
XX. Todas elas voltadas para o mercado externo. Apenas poucos produtos eram
destinados até essa época, ao mercado interno, como foi o caso da carne bovina.
Não houve uma integração entre as diversas regiões do país. Esse quadro só
vai se alterar com a economia canavieira no final do século XIX que contribuiu para a
integração do território nacional.
Segundo Xavier (2001) a implantação do sistema rodoviário se deu em três
períodos: o primeiro ocorre entre a segunda metade do século XIX até os anos 30,
quando se estabelece uma integração parcial do território; o segundo período entre
a Segunda Guerra Mundial e início da década de 1960, quando se realiza uma
mecanização parcial do território e se dá o começo da formação do mercado
nacional, e o terceiro período é formado pelas modernizações realizadas após 1964,
com o advento da internacionalização da economia etapa que vai criar um espaço
nacional da economia internacional.
Ou seja, a modernização do território brasileiro foi na verdade, um ajuste as
novas exigências da economia mundial que reforça a nec essidade da integração
entre as diversas regiões.
88
Essa integração é polarizada pela Região Concentrada, e só foi possível
graças ao avanço do cultivo do café no oeste paulista.
Houve um significativo aparelhamento técnico, destacando-se as estradas de
ferro, a navegação a vapor internacional e de cabotagem, além da navegação fluvial,
a rede telegráfica e os cabos submarinos.
A formação da rede rodoviária nacional tem como marco fundamental a
instrumentalização do território a partir da Segunda Guerra Mundial, para atender ao
processo de industrialização associada aos grandes pr ojetos nacionais. Sua criação
correspondeu à configuração de uma nova circulação comandada pela vida de
relações do país a partir desse momento.
A ideologia desenvolvimentista estimula nos países periféricos uma
industrialização incipiente e dependente. A industrialização, nesse contexto, se dá
como sinônimo de desenvolvimento a partir das décadas de 1940 e 1950, marcando
a atuação forte e centralizada do estado como planejador e executor de grandes
projetos de intervenção nas bases materiais do território e na produção industrial.
As condições políticas e organizacionais impulsionaram a industrialização e a
formação de um mercado interno elaborando uma nova lógica social, econômica e
territorial, Santos,(1993).
Para implementar esses projetos são elaborados o Plano de
Reaparelhamento Econômico (1951-1954), o Plano de Metas (1956-1961) e o
Programa de Ação Econômica do Governo (1964-1966), que deram suporte para
essas modernizações priorizando principalmente as redes de transporte no sentido
de promover uma maior integração nacional
89
Para integrar-se a esta nova fase da economia nacional, no Recôncavo a
partir de 1950 houve uma substancial alteração na infra-estrutura de transportes
terrestres, com a implantação e pavimentação asfáltica de uma parte da malha
rodoviária estadual. Até então, apenas a rodovia federal BR-324 (Salvador- Feira de
Santana) possuía pavimentação asfáltica, concluído em 1959 e também a parte
norte do Recôncavo no sentido Salvador/Aracaju em decorrência das atividades
petrolíferas localizadas nessa área.
Volumosos recursos da Petrobrás quanto do programa de financiamento
rodoviário estadual foram aplicados para a execução de abertura de estradas. De
1956 a 1960 foram asfaltadas estradas de acesso aos campos de petróleo em várias
partes do Recôncavo ligando a Salvador.
Mesmo a Bahia tendo uma refinaria em funcionamento desde 1950 as
estradas da Bahia só começaram a ser pavimentadas a partir de 1956, com asfalto
importado de São Paulo da RPBC e depois do Rio de Janeiro, sendo desem barcado
em Temadre, onde localizava-se uma unidade de suprimentos do Departamento
Nacional de Estradas e Rodagem (DNER) que eram distribuídos para as
empreiteiras para a construção da rodovia BR-116 (Rio/Bahia), inaugurada em 1963;
a BR-101, inaugurada em 1972 e a BR-324 inaugurada em 1959.
Como foi observado por Brito (2004), as primeiras estradas de rodagem
asfaltadas no Recôncavo privilegiaram as áreas de interesse direto da Petrobrás.
Dessa maneira, foi possível um amplo acesso rodoviário entre a capital e as áreas
produtoras do Recôncavo.
Da mesma forma, foi possível um maior dinamismo urbano, dando maior
acessibilidade aos trabalhadores, comércio e também para escoar a pr odução.
Deve-se salientar que no Estado da Bahia o sistema rodoviário, predomina de forma
quase absoluta em detrimento do sistema ferroviário e hidroviário.
Dentre as rodovias mais importantes para o funcionamento do Recôncavo,
destacam-se as BRs 101 e 116, fundamentais para escoar a produção industrial e
agroindustrial. No caso do complexo agroindustrial avícola a BR-101 é a mais
90
importante porque corta a região, seja como via de escoamento da produção de
carne de frango, ou como apoio às atividades turísticas. A segunda rodovia
importante para o setor é a BR-116, que faz a princ ipal ligação entre os estados do
país, e principalmente entre as regiões Sul e Sudeste.
Segundo a Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes GEIPOT
(2003) as condições de transportes rodoviário, quer sob a jurisdição do Estado
(DERBA), ou do Governo Federal (DNER), encontram-se em situação precária de
conservação.
Vale ressaltar que, para essa nova fase da economia local, é de grande
importância o transporte rodoviário já que todo o abastecimento interno do mercado
é realizado por esse tipo de transporte.
Diante disso o que se percebe no território baiano, principalmente em suas
áreas em expansão nas atividades agropecuárias, agroindustriais e no dinamismo
do segmento químico- petroquímico não foram acompanhadas com a extensão,
modernização e racionalização da infra-estrutura de transportes.
3.2 A REDE FERROVIÁRIA
As ferrovias atendiam à demanda da economia agro-exportadora ligando os
locais de produção aos portos. A partir de 1850 o Brasil dá os primeiros passos no
sentido de sua modernização, e uma delas é a introdução de ferrovias no território.
Em 1854 foi inaugurada a primeira ferrovia brasileira, Estrada de Ferro Mauá,
construída no Rio de Janeiro, com uma extensão de 14,5 km.
Entre 1875 e 1888 foram construídas 6.438 km de estradas de ferro, que se
expandiram de forma radial a partir do porto de Santos, Rio de Janeiro, Salvador,
Recife, somando-se a outras estradas em Minas Gerais, Alagoas, Ceará, Rio
Grande do Norte, Paraíba, Paraná, Santa Catarina e Espírito Santo, Moacir (1954).
91
92
As ferrovias compunham o transporte preponderante, mas as rodovias
sobretudo após a chegada do automóvel no início do século XX, c umpriam
importante papel local ao propiciar a ligação entre as fazendas e as estações
ferroviárias.
Com relação à malha ferroviária da Bahia, conforme dados da GEI POT(2003)
esta é operada pela Ferrovia Centro Atlântica S. A., conta com 1.537 km e divide-se
em três segmentos principais: a Linha Norte, ligando Salvador ao Estado de Sergipe,
com 260 km; a Linha Centro, que liga Salvador a Juazeiro com 447 km e a Linha Su l
ligando Salvador a Minas Gerais, até a divisa BA/MG, com 788 km.
Existem ainda os ramais de Porto de Aratu, com 10 km, e o de Cam po
Formoso, com 32 km. Esse modal tem um potencial muito grande para o transporte
de insumos, notadamente de grãos, para promover o desenvolvimento de um cluster
avícola na região do Recôncavo.
Hoje, todas as linhas baianas que sobraram estão sob a concessão da
Ferrovia Centro Atlântica S. A . Outrora, havia o transporte de passageiros, a linha
tronco da Viação Férrea do Leste Brasileiro er a a linha original da E.F. Bahia ao São
Francisco, aberta em 1860 e em 1863 ligando esta região a Salvador. Em 1903 esta
linha foi incorporada pelo Governo baiano e repassadas a outros concessionários,
até que em 1911 foi entregue à concessão da Cia. Chemins de Fer Federaux du
L’Èst Bresilien de capital francês, Gorni (2004).
Em 1935 a VFFLB foi criada pelo Governo para ficar com o acervo dos
franceses já sem interesse de mantê-la. Em 1975 foi definitivamente incorporada
pela RFFSA como uma de suas divisões, depois de ter sido uma das constituintes
desta, em 195. Em 1970 foram desativados os 34 km de eletrificação entre Candeias
e Santo Amaro, em 1972 foi a vez do trecho norte, com a desativação de 122 km
entre Mapele e Alagoinhas, restando portanto os 44 km entre Salvador e Candeias.
O último trem de passageiros de longo percurso passou pela linha nos anos de
1980, e hoje trafegam, no trecho Calçada-Paripe, apenas trens elétricos
metropolitanos, ainda sob a batuta da CBTU.
93
3.3 A ESTRUTURA PORTUÁRIA
A ocupação das terras no Recôncavo, no período colonial, com as plantações
de cana-de-açúcar e fumo, foi favorável não só pelas condições físicas da região,
mas também pela facilidade de acesso proporcionado pelos cu rsos d’água que
ligavam as principais cidades da economia canavieira até o porto de Salvador.
Durante o período colonial, foi intenso o fluxo de embarcações na Baía de
Todos os Santos, de todos os tipos e tamanhos, mas principalmente pelos saveiros,
que transportavam as mercadorias produzidas do Recôncavo para Salvador.
A Baía de Todos os Santos possui uma ár ea de aproximadamente 1000 km,
um perímetro de 290 km
2
, 39 ilhas sendo as principais: Itaparica, Ilha dos Frades,
Madre de Deus, das Vacas, de Maré, do Medo e ainda 17 ilhotas, abriga duas baias
internas, a de Aratu e a de Iguape. Os rios Paraguaçu, Jaguaripe, Subaé, Iguape e
tantos outros riachos deságuam na Baía e formam as enseadas, lagamares, angras
e canais. Possui em suas margens 55 km
2
de área urbana com 14 municípios que a
circunda. O seu ecossistema é riquíssimo, pelas rias, manguezais, vegetações de
restinga e de mata atlântica com uma variedade enorme de peixes, crustáceos e
moluscos, Villa (2003).
Essas excelentes qualidades garantiam a navegação em segurança e a
expansão econômica do Recôncavo com a agroindústria do açúcar e do fumo,
desde o período colonial, utilizando basicam ente a infra-estrutura de transporte
hidroviário de porte médio – alta cabotagem e – e por embarcações rudimentares a
velas, que perdurou na Baía de Todos os Santos até por volta da década de 1960.
Com o declínio da economia canavieira e a introdução de novos elementos na
região, como o petróleo, um novo ciclo se forma e se utiliza basicamente do
transporte rodoviário, desarticulando toda essa estrutura de transporte ferroviário e
marítimo, desativando portos que outrora foram de fundamental importância ao
desenvolvimento econômico da região, como o Porto de São Roque, culminando
94
com a decadência da Cia. de Navegação Baiana - CNB. A desativação da
Companhia, e a debilidade da economia na região, inviabilizaram a recuperação do
transporte aquaviário.
As linhas regulares de transporte aquaviário de grande e médio portes em
operação na Baía de Todos os Santos, são realizadas principalmente pelo sistema
ferry-boat, atualmente exploradas pela Empresa TWB – Corporation Transportes
Aquaviários & Construção Naval, mediante licitação pública que lhe dá o direito de
permanecer 25 anos em operação, com dez embarcações e um catamarã que
realizam a travessia continente-ilha, entre os terminais de Bom Despacho (Itaparica)
e São Joaquim (Salvador). Na verdade, grande parte do mov imento nos ferries não
tem como destino a Ilha de Itaparica, mas sim como passagem entre Salvador-
Recôncavo e região Sudeste.
Esse sistema possui baixo padrão tecnológico e operacional, levando em
torno de uma hora, transportando em média 12.000 passageiros. Também há linhas
regulares para o Município de Madre de Deus e Salvador, usando os terminais de
São Tomé de Paripe e o Terminal Turístico do Comércio, que são pólos de geração
de viagens na região, transportando em média 3.204 passageiros por dia, Santana
(2003).
O sistema produtivo passa a demandar novos padrões na estrutura portuária.
Segundo Santos (2001) a produção do meio-técnico-científico-informacional, os
círculos de cooperação instalam-se em nível superior de complexidade e numa
escala geográfica de ação global. Não é suficiente só produzir, é necessário por a
produção em movimento, pois segundo o autor, agora é a circulação que preside a
produção.
A criação dos sistemas produtivos, fixos de produção conforme Santos (1996,
2001) leva ao surgimento de fluxos, que por sua vez, exigem fixos para dar suporte
ao seu próprio movimento.
Em relação aos fluxos aquaviários, vimos que nas últimas décadas do século
XX, as inovações tecnológicas no sistema produtivo provocaram também
adequações nas condições de infra-estrutura e na operacionalização do transporte
marítimo.
95
Essas mudanças, sobretudo na forma como são acondicionadas as cargas
(frigoríficos, contêineres, produtos siderúrgicos, etc.) exigiram no caso do Brasil, a
modernização dos portos para possibilitar uma melhor organização das cargas e a
coordenação entre as diversas modalidades de circulação.
Houve, segundo Santana (2003) uma reorganização do transporte marítimo
ao longo das últimas décadas que revolucionou a tipologia de navios, com o
aumento do tamanho e da capacidade de carga.
Passa-se a exigir uma maior necessidade de águas mais profundas, em
função do tamanho dos navios, da mesma forma, a conteinerização ampliou a
necessidade de docagem.
Neste caso, muitos portos tornaram-se total ou parcialmente obsoletos, sub-
utilizados e muitas vezes desativados.
Ao mesmo tempo, a ocupação de extensas faixas costeiras, impedindo a
visão e com acesso restrito nestas áreas portuárias, têm sido cada vez mais
questionadas , principalmente nos grandes centros urbanos, devido a crescente
valorização da waterfront e a busca por uma melhor qualidade do ambiente urbano,
Santana (2003).
Esta nova dinâmica portuária, incorporando grandes espaços para a
construção de modernos terminais e centros de distribuição, acessos terrestres
eficientes e conexões entre infra-estrutura, tem provocado discussões no sentido de
renovar o modelo de planejamento para o setor.
No caso da Bahia, especificamente na Baía de Todos os Santos, em estudos
realizados por Santana (2003), o Estado passou a investir recursos públicos visando
principalmente a recuperação do patrimônio histórico da região, herança do passado
colonial.
96
O lazer náutico passou a atrair investimentos privados desencadeado pelo
crescimento do fluxo turístico e da popularização de atividades recreativas de base
aquática, e segundo a autora, impulsionado pela abertura do mercado na década de
1990, que possibilitou a aquisição de e mbarcações, equipamentos modernos e
comercialmente mais acessíveis.
A criação do Centro Náutico da Bahia – CENAB em 1996, teve como um dos
objetivos, a captação de eventos de porte, incorporando a Baía nos circuitos
mundiais de competição aquática. Fazendo parte desta estratégia, inaugurou-se
uma marina pública em Itaparica, e novos empreendimentos em hotéis, resorts se
instalam na zona costeira da Baía. Em conformidade com interesses públicos e
privados criou-se uma plataforma para o desenvolvimento de um pólo náutico
internacional na Baía de Todos os Santos, atendendo a atividade turística crescente
no estado da Bahia.
Portanto, o Porto de Salvador, localizado na Baía de Todos os Santos é
importante estrategicamente, para as atividades econômicas desenvolvidas no
Recôncavo. Os acessos rodoviários se dão pela BR-324, em pista dupla de Salvador
à Feira de Santana, conectando com as BR-101, BR-110 e BR-116. O acesso
ferroviário se dá por um ramal, na altura de da Feira de São Joaquim, que é ligado à
linha operadora pela Ferrovia Centro-Atlântica S. A . O acesso marítimo se faz pela
Baía de Todos os Santos, com 9 km de largura e profundidade de 30m. O canal de
acesso tem 7 km de extensão, 200m de largura e profundidade de 18m.
O Porto de Aratu, também localizado na Baía de Todos os Santos, tem
acesso rodoviário pela BR-324, que encontra as BR-101, BR – 10 e BR-116, e
acesso ferroviário pela Ferrovia Centro-Atlântica S. A. O acesso marítimo pela barra
se localiza na mesma Baía de Todos os Santos, sendo que o canal de acesso
possui uma extensão aproximada de 3,7 km de largura de 180 m e profundidade de
18 m.
97
4 TERRITÓRIO E REDES DE TELECOMUNICAÇÃO
Neste capítulo buscar-se-á compreender a natureza, o significado e as
implicações espaciais e sociais a partir da instalação de rede s de infra-estrutura
técnica, principalmente, das redes de telecomunicações ao lado das redes
tradicionais como: fluvial, ferroviária, viária, elétrica e telefônica no Recôncavo
Baiano.
A implantação das telecomunicações e dos s istemas de informática e
informação no território brasileiro se deu através de dois momentos. Nos anos 60,
quando o Estado passa a regulamentar o sistema de telecomunicações, e os anos
90, quando ocorre a privatização do setor elevando a expectativa quanto aos
serviços a serem oferecidos. As transformações ocorridas no sistema das
telecomunicações no Brasil, segundo Santos (2001) são um marco no processo de
reticulação do território
A instalação dessas redes de suporte operam em diversos momentos sobre o
território. Inicialmente formou-se um sistema de serviços de abrangência nacional e
internacional comandado pelo governo militar, através do novo ministério das
comunicações criado em 1967 no auge da ditadura militar, com a participação de
empresas.
Instituições como a Empresa Brasileira de Telecomunicações – Embratel,
operadoras estaduais, laboratórios do CPqD, a T elebrás – Telecomunicações
Brasileira, universidades públicas, empresas multinacionais e consórcios
estrangeiros se apresentam como principais agentes para a formação dessas
alterações.
Em 1980, organismos nacionais desse setor passam a ingressar no Sistema
Mundial de Comunicações Marítimas via Satélite (Inmarsat), obtendo facilidades
para comunicações móveis em terra, no mar ou no ar. Incluem ainda no sistema
básico de telecomunicações a Rede Nacional de Radiomonitoragem (Renar), uma
Rede Nacional de Estações Costeiras (RNEC) e uma Rede Nacional de Telev i são.
A Embratel passa a disponibilizar sistemas de telecomunicação de dados de
uso público e privado. Para atender o sistem a público, a Renpac, localizada em São
Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, Curitiba e Brasília, órgão que serve ao país
98
via telefone, a Interdata orientada para atender intercâmbio de informações entre
alguns pontos do Brasil e o estrangeiro e, finalmente o sistema Findata que permite
o acesso ao banco de dados financeiros da agência Reuters.
Nos anos 80 e 90, devido às mudanças de ordem global, com interferências
nos planos tecnológicos, econômicos e institucionais esse projeto foi reestruturado
com as privatizações. O processo de globalização reformou o sistema das
telecomunicações no Brasil, na América Latina e no Mundo. Novas negociações
nacionais e internacionais se impõem nesse segmento da economia flexibilizando os
mercados, abrindo espaços para novos investimentos com a inserção de modernas
tecnologias para atender às demandas existentes.
As inovações fomentam estudos técnicos, coletas de dados e trocas de
experiências pelos países que também incorporam o processo das privatizações,
visando acordos de cooperação técnica, com órgãos internacionais ligados as
telecomunicações, enfim, um intercâmbio de informação com as linguagens
produzidas pela sociedade da informação. Pa ra a regulação e supervisão por parte
do Estado, criou-se a Agência Nacional de Telecomunicações – Anatel,
transformação da CPqD em Fundação privada, cisão das operadoras estaduais, e
constituição de novas empresas controladoras repartidas sobre o território brasileiro
para atuação. Vele frisar que todo o patrimônio da União foi privatizado.
Como resultado dessas modernizações, Toledo Jr. (2003) salienta que a base
do sistema de telecomunicações brasileiro até 1998 era composta principalmente
pelas empresas de telefonia que faziam parte do sistema Telebr ás. Conforme este
modelo, cada unidade da federação possuía uma empresa de telecomunicação,
sendo responsável também pela telefonia celular, e ainda, uma única empresa
responsável pelas chamadas de longa distância. A partir de 1995, um nov o modelo
de regulação passa a ser implantado, aprovado por emenda constitucional que
flexibilizou o monopólio estatal de telecomunicação.
Depois dessas determinações, 28 subsidiárias da Telebrás foram agrupadas
em empresas de telefonia fixa e celular, sendo as de telefonia fixa, a Tele-
Norte/Nordeste/Leste (Telemar), a Tele Centro-Sul (Brasil Telecom) e a Telesp
(Telefônica) cada qual com sua área de atuação.
Assim se estabeleceram três regiões para a telefonia fixa (regiões I, II e III) e
uma região para a telefonia de longa distância (região IV). A Tele-
Norte/Nordeste/Leste atua na região I, que corresponde aos estados do Rio de
Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, à região Nordeste e aos Estados do Pará,
99
Amapá, Amazonas e Roraima. A Tele Centro-Sul tem como área de atuação a
região II, que corresponde ao Distrito Federal, à região Sul, e aos estados de Mato
Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Tocantins, Rondônia e Acre.
A Telesp tem como área de atuação a região III, que corresponde aos Estado
de São Paulo. A Embratel manteve sua função voltada para a telefonia de longa
distância atuando em todo território brasileiro (Região IV), Toledo Jr. (2003).
Competindo com essas empresas , temos a Vésper como empresa-espelho da
Região I e III, a GVT da Região II e a Intelig na região IV.
Em relação à telefonia celular foram criadas nove empresas de telefonia da
banda A, divididas em dez áreas de atuação, competindo agora sob nova
regulamentação com a banda B, inic iando suas operações em 1997, conforme
quadro a seguir:
Quadro 1. Prestadoras do Serviço Móvel Celular.
PRESTADO RA S DO SERVIÇO MÓVEL CELULAR
Banda A
Empresas Privatizadas
Área de Abrangência
Holding Prestadora
Outra
Prestadora
Banda B
Prestadora
1. Grande São Paulo BCP S.A. CETERP
Celular
2. Interior do Estado
de São Paulo
TELESP Celular
Participações
TELESP Celular S.A.
CTBC
Telecom
Celular S.A.
TESS S.A.
3. Rio de Janeiro e
Espírito Santo
Tele Sudeste
Participações
TELERJ Celular S.A.
TELEST Celular S.A.
ATL Algar
Telecom Leste
S.A.
4. Minas Gerais
TELEMIG Celular
Participações S.A.
TELEMIG Celular S.A.
CTBC
Telecom
Celular S.A.
MAXITEL S.A.
5. Paraná e Santa
Catarina
TELEPAR Ce lular S.A. TELESC
Celular S.A.
SERCOMTEL
Celular S.A.
Global Telecom
S.A.
6. Rio Grande do Sul
Tele Centro Sul
Participações S.A.
CTMR Celular S.A.
CRT Celular
S.A.
TELET S.A.
7. Acre, Distrito
Federal, Goiás,
Mato Grosso, Mato
Grosso do Sul,
Rondônia e
Tocantins
Tele Centro Oeste
Celular Participações
S.A.
TELEACRE Celul ar S.A.
TELEBRASÍL I A Celular S.A.
TELEGOIÁS Celular S.A.
TELEMAT Celu l ar S.A.
TELEMS Celula r S.A.
TELERON Ce lular S.A.
CTBC
Telecom
Celular S.A.
AMERICEL
S.A.
8. Roraima,
Amazonas, Amapá,
Pará e Maranhão
Tele Norte Celular
Participações S.A.
TELEAIMA Celular S.A.
TELEAMAZO N Cel ular S.A.
TELEAMAPÁ C elular S.A.
TELEPARÁ C elular S.A.
TELMA Celular S.A.
NORTE
BRASIL
TELECOM S.A.
9. Bahia e Sergipe
Tele Leste Celu lar
Participações S.A.
TELEBAHIA Celular S.A.
TELERGIPE Celular S.A.
MAXITEL S.A.
10. Alagoas, Ceará,
Piauí, Rio Grande
do Norte, Pará e
Pernambuco
Tele Nordeste Celular
Participações S.A.
TELASA Celular S.A.
TELECEARÁ Cel ular S.A.
TELEPISA Celular S.A.
TELERN Cel ular S.A.
TELPA Celular S.A.
TELPE Celular S.A.
BSE S.A.
Fonte: ANATEL – Paste 2000
100
4.1 A EVOLUÇÃO DOS SISTEMAS TÉCNICOS
Nos anos 70, quando essas novas redes de telecomunicações associadas à
informática começaram a ser implantadas em todo território brasileiro, houve um
aumento considerável da capacidade e da velocidade de transmissão de
informações.
Para Benakouche (1995) é necessário fazer uma distinção entre as redes -
suporte e as redes-serviços:
[...] as primeiras são redes técnicas , ou seja, os fios, os cabos, os feixes de
microondas, os terminais, as centrais de comutaç ão etc., por onde circulam
e são processadas as informações, as segundas dizem respeito aos
serviços ofertados, isto é, às relações que as redes–suportes permitem
estabelecer entre seus usuários, estando nesta categoria o processamento
remoto de dados, o correio eletrônico, a consulta a bancos de informação
etc. (Benakouche, T, 1995, p.228) .
Segundo a autora, a necessidade desta distinção se justifica porque as
instalações das redes-suporte sobre o espaço são determinadas pela intensidade
dos usos das redes-serviços. Na verdade, estas inovações ocorreram a partir de
mudanças técnicas ocorridas nos meios de comunicação, tanto nos campos de
transmissão e da comutação como nos terminais de entrada e saída de informações.
No caso da transmissão, a principal mudança foi a digitalização das redes
telefônicas, com a utilização progressiva do sinal digital (ou bin ário) como sinal de
base, em substituição ao sinal analógico, tendo como principais vantagens o
aumento significativo da capacidade e da velocidade das transmissões, ampliando a
qualidade e possibilitando o uso múltiplo das redes.
Dessa maneira, uma vez digitalizados, podem circular indistintamente pelas
redes todos os tipos de sinais: vozes, sons, imagens e dados e ainda, teremos o uso
dos satélites de telecomunicação e a substituição dos suportes clássic os (cabos
coaxiais e microondas) por fibras óticas.
No caso da comutação, a inovação a se destacar é a introdução dos
comutadores eletrônicos temporais em substituição aos eletromecânicos. Possuindo
uma maior capacidade de processamento, sendo mais seguros, menores, mais
101
rápidos e a longo prazo, mais baratos. Esses comutadores permitem a expansão da
rede, ou seja, o aumento do número de assinantes e conseqüentemente da
acessibilidade aos serviços oferecidos.
As conseqüências com estas inovações são principalmente na multiplic ação
de novos terminais e no aperfeiçoamento dos antigos. Assim, telas de vídeo passam
a integrá-los, teclas de função são anexadas, periféricos ampliam e diversificam
suas possibilidades. Tudo isso gerado a partir da integração de componentes
microeletrônicos, que os tornam mais inteligentes e enriquecem suas capacidades
de memória e/ou tratamento da informação.
4.2 OS SISTEMAS DE TELECOMUNICAÇÕES NO RECÔNCAVO BAIANO
A configuração espacial no Recôncavo foi determinada historic amente pelas
dinâmicas dos ciclos de reprodução do capital e da divisão espacial da produção
que criaram diferenciações funcionais no território para interesses dos próprios
habitantes, das firmas e do Estado presentes nos respectivos municípios da região.
Esta funcionalidade depende das demandas e da articulação entre fluxos
extralocais, nacionais e internacionais. Os fluxos circulam através das redes
geográficas sobrepostas em alguns núcleos urbanos na forma material (caminhos,
estradas de rodagem, estradas de ferro, rotas fluviais) e imateriais (redes
telefônicas, rede de fibra ótica, rede de transmissão de energia elétrica etc) que
estabelecem uma seletividade dentro da rede urbana.
Em estudos realizados pelo IBGE, os resultados das pesquisas sobre
Indicadores Sociais (2005) revelam que os avanços das ciências e as conseqüentes
inovações tecnológicas ao longo do século XX causaram uma mudança nas
relações sociais de tal forma, que o simples monitoramento das condições de
domicílio não revelam mais as características da população e suas contradições.
Quando se avalia a posse de bens duráveis, tem-se que considerar a
diferença entre aqueles bens que já estão mais difundidos pela população e aqueles
102
cuja produção ainda não estão ao alcance de todos. Por exemplo, geladeira e TV,
são bens que já estão no mercado há muito tempo, portanto os valores encontrados
em domicílio são mais elevados. No entanto quando se observa os valores
encontrados em telefone fixo, internet e computador percebe-se que esses valores
ainda estão pouco difundidos.
Essa diferença entre valores encontrados vai variar entre as diversas regiões
do país bem como entre as localidades. No caso do Nordeste, os valores
encontrados para telefone fixo, internet e computador são respectivamente 36,1%,
6,6% e 9,2%.
Para a Bahia os valores são 41,1%, 7,4% e 10,5% sendo que esses valores
são referentes a Salvador, a Região Metropolitana de Salvador e alguns m unicípios
mais representativos de cada região do estado. No ca so da Região Metropolitana de
Salvador os valores encontrados para esses itens são 60,8%, 13,2% e 16,7%.
Quando comparamos esses dados com a Região Sudeste temos para
telefone fixo 65,7%, Internet 18,0% e para computador 23,5%. No caso da Região
Metropolitana de São Paulo esses valores sobem para 74,1%, 23,4% e 29,5%
respectivamente. Portanto, as informações referentes aos serviços de telefonia fixa
revelam a insuficiência deste segmento em regiões mais distantes dos grandes
centros.
Nas regiões Norte e Nordeste, 36,1% dos domicílios informaram ter acesso a
este serviço em 2001, contra 37,4% no ano anterior, enquanto que nas Regiões
Sudeste e Sul o acesso foi de 65,3% e 63,8% respectivamente, contra 66,0% e
67,1% em 2003. Percebe-se então que estes números representam quase o dobro
de uma região para outra, demonstrando que o número de domicílios servidos por
telefonia fixa ainda é muito baixo no Brasil. Houve uma ligeira redução em 2004 para
o Norte e Nordeste e um pequeno aumento para o Sudeste e Sul.
103
Tabela 5. Domicílios particulares permanentes urbanos, total e proporção dos domicílios, por acesso
a alguns serviços e posse de alguns bens duráveis, segundo as Grandes Regiões,
Unidades da Federação e Regiões Metropolitanas – 2004
Domicílios particulares permanentes urbanos
Por acesso a alguns
serviços (%)
Por posse de bens duráveis (%)
Grandes Regiões,
Unidades da Federação e
Regiões Metropolitanas
Total
Ilumi-
nação
elétrica
Telefon
e fixo
Internet
Compu-
tador
Gela-
deira
Freezer
TV a
cores
Máquina
de
lavar
Brasil 43 794 566 99,6 56,1 14,3 18,9 92,1 17,1 91,5 38,8
Norte 2 670 162 98,9 36,1 5,5 8,9 85,7 14,3 86,6 20,9
Rondônia 291 242 99,8 42,3 7,5 11,6 94,5 16,3 88,1 24,9
Acre 114 153 99,6 47,2 6,4 9,1 89,6 11,3 85,1 17,9
Amazonas 583 246 99,5 42,8 6,2 10,0 93,0 17,8 92,1 35,5
Roraima 75 155 100,0 35,1 5,6 8,4 92,9 10,7 86,9 30,2
Pará 1 243 972 98,4 30,1 4,5 7,6 80,0 11,7 84,2 14,4
Região Metropolitana de Belém 505 145 99,7 46,1 8,2 12,0 85,8 17,1 91,3 21,5
Amapá 111 532 99,8 36,3 5,8 9,7 82,8 32,5 91,2 32,5
Tocantins 250 862 97,4 38,1 5,7 8,8 84,1 10,9 82,1 8,1
Nordeste 9 622 290 99,1 36,1 6,6 9,2 80,4 8,2 84,3 13,6
Maranhão 987 510 98,9 30,3 3,7 5,5 80,6 7,7 81,7 8,2
Piauí 482 746 97,7 35,2 6,3 8,3 81,0 8,9 83,1 9,3
Ceará 1 611 897 98,7 31,8 5,6 8,0 76,6 6,2 83,4 10,5
Região Metropolitana de Fortaleza 845 814 99,3 42,9 9,3 12,3 83,8 9,2 88,2 16,1
Rio Grande do Norte 578 125 99,8 37,2 7,7 10,3 82,8 10,2 87,5 18,3
Paraíba 728 258 99,3 36,9 6,6 8,4 76,8 7,1 83,9 13,9
Pernambuco 1 728 755 99,6 38,5 7,6 10,5 82,8 9,2 84,7 17,5
Região Metropolitana de Recife 970 777 100,0 50,4 12,0 15,4 90,3 13,3 89,9 25,2
Alagoas 512 962 99,6 28,4 6,4 8,0 79,5 7,4 83,8 10,1
Sergipe 443 330 99,1 33,1 8,0 10,8 87,5 6,7 90,0 17,7
Bahia 2 548 707 99,2 41,1 7,4 10,5 80,5 9,2 84,4 14,6
Região Metropolitana de
Salvador
919 425 99,9 60,8 13,2 16,7 88,9 14,5 90,9 24,3
Sudeste 21 448 511 99,8 65,3 18,0 23,5 96,7 17,6 95,1 48,6
Minas Gerais 4 697 190 99,6 56,8 11,7 17,0 92,5 11,1 91,7 28,3
Região Metropolitana de Belo
Horizonte
1 390 510 99,7 67,9 17,1 23,4 96,1 13,3 93,8 39,0
Espírito Santo 817 574 99,8 61,8 15,0 20,3 96,1 19,3 92,0 35,1
Rio de Janeiro 4 754 068 99,9 65,8 17,9 23,0 97,9 24,0 96,8 55,1
Região Metropolitana do Rio de
Janeiro
3 719 704 100,0 67,9 19,3 24,3 98,4 25,9 97,2 58,1
São Paulo 11 179 679 99,9 68,9 20,9 26,6 97,9 17,6 96,0 55,3
Região Metropolitana de São
Paulo
5 414 916 100,0 74,1 23,4 29,5 98,0 17,0 96,7 63,3
Sul 6 825 074 99,6 63,8 17,7 23,4 96,2 28,9 92,8 55,8
Paraná 2 592 760 99,6 66,1 18,3 24,0 94,9 18,1 91,6 47,8
Região Metropolitana de Curitiba 859 394 99,9 76,6 24,5 31,8 96,3 18,9 94,4 69,1
Santa Catarina 1 434 606 99,7 67,1 18,7 25,3 98,5 41,1 94,4 64,3
Rio Grande do Sul 2 797 708 99,6 59,9 16,5 21,9 96,2 32,5 93,1 58,9
Região Metropolitana de Porto
Alegre
1 226 609 99,8 65,8 21,2 27,1 97,1 29,3 95,0 68,6
Centro-Oeste 3 228 529 99,6 55,2 12,7 16,9 93,3 17,9 90,6 28,3
Mato Grosso do Sul 554 625 99,8 53,2 9,7 13,8 93,3 18,6 88,7 26,9
Mato Grosso 603 498 99,1 47,7 8,9 12,4 92,7 21,0 87,6 26,2
Goiás 1 460 910 99,7 52,3 8,8 12,4 92,4 12,6 90,3 18,9
Distrito Federal 609 496 100,0 71,3 28,7 34,8 96,0 26,8 96,0 53,8
Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Dom icílio s 2004.
104
Neste caso fica evidente que os serviços de Internet ficam prejudicados
porque, por um lado é relativamente baixo o número de domicílios que acusam a
posse de microcomputadores. Não obstante, os serviços de Internet oscilam ao
sabor das flutuações dos outros dois indicadores, além é claro dos requisitos
socioeconômicos necessários.
4.3 OS SERVIÇOS DE TELEFONIA FIXA NA BAHIA
No Estado da Bahia, os serviços telefônicos até 1973 eram prestados pela
Tebasa empresa criada em 1958 decorrente da transformação da concessão de
prestação de serviços de telefonia federal para estadual, numa tentativa de atender
à demanda e modernizar o sistema telefônico.
Como conseqüência dessa reestruturação dos serviços de telecomunicações,
em 1973 a Tebasa foi incorporada à Telebrás, e em 1974 passou a denominar-se
Telecomunicações da Bahia S/A – Telebahia.
A Telebahia vai inaugurar uma nova etapa no sistema de telecomunicações
da Bahia com inovações tecnológicas na prestação de serviços e no incremento no
número de linhas instaladas o que vai provocar um crescimento de mais de 3000%
nas décadas de 80 e 90.
O processo de digitalização do sistema no início da década de 70
proporcionou esse crescimento com a expansão e melhoramento da qualidade do
sistema de telecomunicações. Na década de 80 dá-se o início da digitalização das
centrais de comutação, recurso tecnológico que substitui os equipamentos
analógicos pelos digitais.
Paralela à digitalização do sistema, se inicia a instalação de redes de fibras
ópticas que proporcionam um aumento da base digital e mais tarde, viabilizando a
ligação de grandes clientes às redes da Telebahia, com a transmissão de dados em
alta velocidade, assim como imagem e voz interagindo à redes mundiais de
computadores, Lima (2002).
105
Em meados de década de 90, o Estado da Bahia tinha 715,209 terminais
convencionais de telefonia fixa, sendo que 636,544 estavam em serviços. Mas ainda
apresentava uma densidade baixa, comparada à média nacional.
Em 1996, o grau de atendimento no mercado em acessos fixos era de 5,71
telefones para 100/habitantes, enquanto que no país, a média era de 10,49 telefones
por 100/habitantes.
Quanto aos telefones públicos, há uma melhoria no número de telefones
públicos instalados. Em 1996 eram de 2,12 telefones por mil habitantes enquanto
que a média nacional era de 2,73 telefones por 1000/habitantes (BNDS, 1997).
Os indicadores de qualidade dos serviços telefônicos prestados pela
Telebahia se situavam acima da média do setor. A taxa de chamadas completadas
para telefones era de 54,14% em 1996. Enquanto a média nacional era de 53,06%
em 1996.
Ao final de 1996, a Telebahia ocupava o sexto lugar no ranking de
faturamento do setor de telefonia nacional e era a quarta maior empresa do Estado
da Bahia em receita operacional bruta. Entretanto neste mesmo período, ocupava o
24° lugar, dentro das 31 operadoras do setor, em acessos fixos instala dos por 100
habitantes (BNDS, 1997).
4.4. A INFORMAÇÃO E A NOVA DIVISÃO SOCIAL E TERRITORIAL DO
TRABALHO NO RECÔNCAVO.
Ao avaliar a instalação das redes de telecomunicações no Brasil, percebe-se
que o meio técnico, antes quase restrito a São Paulo e sua Região Metropolitana,
tornou-se técnico-científico e se expandiu para o Sul e Sudeste, a partir de 1985.
Cada vez mais essa modernização se apresenta seletiva e conservador a . No
entanto, outros pontos de modernizações se instalam no território.
106
O Nordeste do país assiste, na fase atual, a um forte crescimento das
atividades técnicas e científicas e sobretudo as metrópoles como Salvador, Recife e
Fortaleza apresentam novos setores econômicos, demandados por novas formas de
consumo. Se o processo de urbanização brasileira foi extremamente acelerado no
século XX, concentrado e gerando uma divisão territorial do trabalho, entra-se no
século XXI com uma divisão do trabalho fundada na informação.
Os sistemas produtivos contemporâneos, particularmente as hegemônicas
corporações globais, dependem do conhecimento estratégico para que possam criar,
por meio daqueles lugares escolhidos, um cenário mundial de competitividade. A
informação nesse contexto, se define como um recurso estratégico, utilizado de
forma seletiva e hierárquica, ainda que circule mundialmente, Bernardes (2001).
Assiste-se a um novo fenômeno geográfico, pode-se dizer que é o
funcionamento da economia e do território advindo de novas formas de cooperação:
a informação organizacional, esta passa a mobilizar e racionalizar os sistemas
produtivos.
4
A informação passa a ser o vetor fundamental da divisão social e territorial do
trabalho, e os territórios são equipados para facilitar a sua circulação, Santos (1996).
Pode-se dizer que as atividades produtoras de informação estão agrupadas
no setor quaternário da economia
5
, tendo a seguinte classificação:
a) Produção e distribuição de informações
Produção de conhecimento e invenção: laboratórios, consultorias, softwares
etc.
Distribuição e comunicação de informações: bases de dados, BBSs, rádios,
TVs, Jornais etc.
Pesquisa e coordenação de marcados: marketing, publicidade, associações
profissionais etc.
b) Infra-estrutura da Informação
Tratamento e transmissão de dados
Fabricação de bens informacionais
4
Pode se dizer que existem quatro grandes tipos de informações estratégicas às empresas: a
informação sobre negócios (consultoria, marketing ), a informação metamorfoseada em dinheiro ( as
finanças e seus instrumentos modernos), a informação enquanto imagem (publicidade) e a
informação tecnológica (pesquisa pura aplicada ).
5
Em 1976, Porrat agrupou as atividades ligadas à produção e distribuição de informações e as
reagrupou no quarternário da economia, onde passa a usar o termo “ economia da informação”, ao
avaliar transformações da sociedade norte-americana em face do crescimento dessas novas
atividades. (Malin, 1994).
107
c) Suporte das atividades informacionais
Edifícios inteligentes, laboratórios, centrais de telecomunicação etc.
Portanto, novas atividades surgem, redefinindo e criando trabalhos
especializados nessas categorias. Daí surge o interesse em identificar esse setor
informacional e sua função pode evidenciar o período atual no Recôncavo.
Neste contexto, observamos que os números apresentados na Tabela 6,
indicam um forte crescimento das atividades do setor técnico-científico no Nordeste.
Em 1976, os números registrados indicam 453.090 de pessoas ocupadas neste
setor, passando para 1.221.455 em 1995.
Tabela 5. Pessoal ocupado em atividades técnicas, científicas e afins. Brasil e grandes regiões
(1976-1995)
1976 1985 1990 1995
Pessoal
No. Abs. % No. Abs. % No. Abs. % No. Abs. %
Brasil 2.402.372 100,0 3.573.683 100,0 4.666.796 100,0 5.241.031 100,0
Norte 129.518
*
5,4 106.812 3,0 174.132 3,7 76.054 1,4
Centro-Oeste - - 242.529 6,7 349.036 7,5 344.175 6,5
Nordeste 453.090 18,8 786.673 22,0 1.030.925 22,1 1.221.455 23,3
Sul 431.107 17,9 521.443 14,6 667.329 14,3 798.856 15,2
Sudeste 1.285.256 53,5 1.916.226 53,6 2.445.374 52,4 2.648.932 50,5
Fonte: IBGE-PNAD
(*) Neste ano os dados para as regiões Norte e Centro-Oest e estão a greg ados.
Portanto a modernização-seletiva imposta ao Brasil, produz uma nova
regionalização e recria desigualdades sobre a égide das técnicas informacionais que
impõem uma ordem alheia, instrumental e pragmática ao funcionamento dos
lugares.
4.5 AS AÇÕE S DA TELEMAR NO RECÔNCAVO BAIANO
Conforme descrito anteriormente, o Estado da Bahia faz parte da Região I,
dentro o desmembramento ocorrido nas telecomunicações no país, com a
introdução do sistema de privatizações e suas respectivas normas de regulação e
exploração do setor. O Grupo Telemar e Vésper são as empresas que vão atuar na
prestação de telefonia fixa local. Presente em 16 estados, a Telemar é o maior
conglomerado de telefonia fixa do país em termos de faturamento e em número de
telefones instalados. No setor de telecomunicações, a Telemar é a única empresa
com controle 100% nacional que investe no país.
108
Focada na oferta de soluções integradas, presta serviços de voz local, longa
distância, mobilidade, comunicação de dados, atendimento e Internet. A companhia
detém a concessão para operação de telefonia fixa local e autorização para serviço
de mobilidade com a Oi na Região I, que abrange os 16 estados do Norte, Nordeste
e Sudeste em que atua.
Além disso, a empresa tem atuação também em todo o território nacional na
prestação de serviços de comunicação de dados e longa distância desde junho de
2002, quando antecipou as metas de universalização e recebeu autorização para
atuar em todo o Brasil com o código 31, que foi lançado regionalmente em 1999. O
Grupo se destaca nos segmentos de internet e mobilidade com o provedor próprio Oi
Internet, lançado em fevereiro de 2005.
A companhia realizou o maior volume de investimentos da iniciativa privada
no Brasil durante o processo de universalização e reestruturação do seu modelo de
gestão. A antecipação de metas previstas para 2003 e realizadas em 2001,
significou a instalação de 5,3 milhões de terminais e a extensão do serviço de
telefonia a 4.321 novas localidades. Este trabalho posicionou a Telemar em outro
patamar de competitividade na gestão da operação e no negócio.
As operações realizadas para a ampliação da sinergia – com a compra da
Pégasus e a incorporação da Oi, investimento no mercado de banda larga e no
mercado de satélites (Hispamar) – são, hoje, mecanismos concorrentes com
competidores.
Depois dos investimentos para sua entrada no mercado de Longa Distância e
no mercado de mobilidade, a empresa identificou que a construção de um modelo
de sucesso partiria do desenvolvimento de estratégias e produtos que olhassem o
cliente com um todo, na intenção de proporcionando conforto e facilidade na
utilização do serviço, além da manutençã o de preços competitivos, principalmente
no mercado corporativo.
109
Adiantando etapas do mercado o grupo identificou que a tendência do
mercado passaria pela estagnação na receita de linhas fixas e a conseqüen te perda
de receita e tráfego para a telefonia móvel e para a Banda Larga. Criou então a Oi e
investiu no Velox – o serviço de banda larga da Telemar –, além do mercado de
Longa Distância.
No mercado de banda larga, em março de 2003 possuíam 59 mil assinantes
Velox e fechando o 1º trimestre de 2005 co m 554 mil clientes. No mercado de Longa
Distância, chegando a mais de 50% de market share de utilização do 31 nos
celulares da Região 1.
Apesar do tímido crescimento da economia brasileira nos últimos anos e das
características predominantemente de baixa renda na área de atuação da Telemar,
os números da companhia demonstram uma evolução de investimento e de
crescimento extremamente relevantes. Desde a privatização foram mais de R$ 22
bilhões investidos na universalização dos serviços, contratação de pessoal,
desenvolvimento de novas tecnologias, modernização da rede, desenvolvimento de
novos produtos e serviços e melhoria da qualidade na prestação do serviço.
A Tele Norte Leste Participações (TNL), controladora da Telemar Norte
Leste/Oi, encerrou o primeiro trimestre de 2005 com lucro antes do imposto de renda
de R$ 438,6 milhões, montante superior em 32,3% ao registrado no primeiro
trimestre de 2004. A receita bruta da Telemar atingiu R$ 5,6 bilhões, valor 9,6%
acima do registrado no primeiro trimestre do ano passado. A receita líquida foi de R$
4 bilhões, 8,5% superior em relação ao mesmo período de 2004.
A base de clientes das empresas do Grupo Telemar aumentou em 333 mil,
fechando o primeiro trimestre de 2005 com 22,9 milhões de clientes: 15,1 milhões na
telefonia fixa; 7,25 milhões na Oi; e 554 mil do Velox, serviço de banda larga.
Ao final do primeiro trimestre de 2005, as empresas do Grupo mantinham
8.076 funcionários. Este número, pela primeira vez, exc lui os colaboradores da
Contax, em função do spin off da empresa de contact center em dezembro de 2004.
Do total de funcionários, 6.973 atuam na operadora fixa e 1.103 na Oi.
110
Os resultados apresentados pela empresa como exitosos estão muito aquém
da posição que empresa ocupa no ranking como a campeão de reclamaç ões por
parte dos usuários. Os lucros da Telemar não alteram de forma significativa o quadro
de atraso de grande parte da região do Recôncavo, por exemplo. Assim como as
demais, a Telemar foi beneficiada no processo de privatização através da utilizaçã o
das redes então estruturas pela antiga Telebahia, dificultando a existência de
concorrência no setor, exatamente pelo alt o custo que uma concorrente teria que
bancar na parte de toda rede de infra-estrutura
111
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo sobre o funcionamento técnico do Recôncavo revelou que as
instalações das redes no território são complexas, e mostra claramente, a
contradição do discurso de que os efeitos do desenvolvimento técnico seriam
instantâneos e as técnicas se desenvolveriam num espaço ausente de história, Dias
(2005).
Durante a formação da rede urbana do Recôncavo desde o período colonial,
o que se percebeu é que como qualquer outra invenção humana, a rede, é uma
construção social. Os agentes sociais q ue demandaram ações (senhores de
engenho, usineiros, fazendeiros, indivíduos, grupos, instituições ou firmas),
desenvolvem estratégias de toda ordem (políticas, sociais, econômicas e territoriais)
e se organizam em rede. A rede não se constitui o sujeito da ação, mas expressa ou
define a escala das ações sociais, os interesses diversos, que fazem com que se
instalem em pontos intencionalmente estabelecidos no território, e por isso mesmo,
gera conflitos de interesses.
Como salienta Castro (1992), apesar da Região Nordeste, nas últimas
décadas, ter a segunda massa populacional do país, tanto total como urbana, e de
ter sido, até o final do século passado, a região economicamente mais importante,
foi a parte do espaço brasileiro mais resistentes às mudanças sociais impostas pela
modernização econômica, especialmente aquelas referentes às relações de trabalho
e à estrutura fundiária.
Este panorama se reflete em Salvador e Região Metropolitana e também no
Recôncavo. Apesar da rede urbana do Recôncavo Baiano s er a primeira a se
instalar no Brasil desde os primórdios da colonização no século XVI, articulando a
região produtora a Salvador e ao comércio exterior, e que, apesar de se apresentar
como uma região mais densa do Estado, e das diversas iniciativ as do poder público
na modernização de parte da infra-estrutura, como é o caso da rede de transportes,
ainda assim o Recôncavo não conseguiu produzir alterações significativas que lh e
permitissem alterar o quadro social no qual se encontra.
112
As modernizações ocorridas a partir da década de 1950, com a instalação da
Petrobrás e toda infra-estrutura necessária de apoio logístico para a
operacionalização da exploração do petróleo no Recôncavo, seguidas pela
modernização industrial, adotando o modelo de industrialização polarizada com a
implantação do Complexo Petroquímico de Camaçari concentrado na parte norte do
Recôncavo, resultaram no distanciament o e desarticulação com a economia
tradicional local. Ao tempo em que, mais tarde, verificou-se uma desaceleração
considerável do setor petroquímico com o fechamento de fábricas nos setores de
metal-mecânica e de indústrias variadas de bens de consumo, com efeitos na
produção industrial e nos seus serviços, Pedrão (1992).
Mesmo com a entrada de outros setores mais modernos, que se
popularizaram, como a citricultura e o circuito produtivo do frango, não foram
suficientes para dinamizar estas sub-regiões do Recôncavo.
O Recôncavo apresenta um quadro de aprofundamento das diferenças entre
as sub-regiões, concentração industrial ao norte e uma maior diferenciação entre as
áreas de exploração agro-industriais e os grandes espaços de pe quena produção. A
redução da área plantada com a cana-de-açúcar e o fumo demonstra a desativação
do antigo sistema econômico da região. Notadamente, apesar da região apr esentar
vantagens quanto à localização e a facilidade de escoar a produção, parte da infra-
estrutura estabelecida se encontra em péssimas condições de preservação, para
não falar da desarticulação completa do transporte aquaviário, em benefício do
transporte rodoviário.
Ora, se a fluidez contemporânea é baseada nas redes técnicas, que são um
suporte para a competitividade, pela procura frenética de novas técnicas ainda mais
eficazes e que garantam ao mesmo tempo as condições necessárias para a
produção, vimos pelo presente estudo que tanto o poder público quanto o setor
privado, não garantiram a capacidade de produção, bem como a expansão das
atividades mais dinâmicas.
113
Reconhece-se que o estabelecimento das redes técnicas é seletivo sobre o
território, garantem primordialmente a fluidez dos agentes que demandaram ações
na conformação espacial, e cada vez mais exigem do poder público adequações
para o funcionamento das atividades econômicas, principalmente no denominado
meio-técnico-cientíco e informacional, com uma maior infra-estrutura em informação
e telecomunicações, mesmo que a maior parte da população não tenha acesso a
esses serviços.
114
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