keinen Wert haben” [vocábulos que não têm qualquer valor para a classificação]
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. Para que
não se desperdiçasse dessa maneira uma chance de dotar os sul-americanistas de novos
instrumentos para a comparação lingüística, Koch-Grünberg orientou um missionário
beneditino radicado na Amazônia a procurar obter na língua dos Pauixana,
wenigstens die wichtigsten Vergleichswörter […] (Menschliche Körperteile, wie Kopf,
Zunge, Mund, Zahn, Auge, u. s. w., […] Wasser, Feuer, Himmel, Erde, Sonne, Mond,
Stern, Haus, Hängematte, Kochtopf, u. a. Hausgerät, Mensch, Mann, Frau, Vater, Mutter,
Kind, die hauptsächlichsten Tiere, Pflanzen, Zahlwörter, einige Adjektiva und Verben
[pelo menos as palavras mais importantes para a comparação [...] (partes do corpo,
como cabeça, língua, boca, dente, olho, etc., [...] água, fogo, céu, terra, sol, lua, estrela,
casa, rede, panela para cozinhar, entre outros utensílios domésticos, humano, homem,
mulher, pai, mãe, criança, os principais animais, plantas, numerais, alguns adjetivos e
verbos] (carta de Theodor Koch-Grünberg a P. Benedikt Eisenhart O. S. B., 26 de julho
de 1923, Série “Correspondência”, Pasta 34, ATKG, negritos adicionados).
Na enumeração acima reencontramos, sem surpresa, as palavras primárias destacadas
por von den Steinen.
3.1.3 Os numerais: uma categoria de palavras que ganhava atenção especial
Do conjunto de vocábulos priorizados pelos sul-americanistas em foco, vale a pena
considerar o papel um tanto particular dos numerais. Acreditava-se que as formas lingüísticas
utilizadas para contabilizar unidades não serviriam apenas para mapear parentesco lingüístico
ou indicar empréstimos culturais, mas permitiriam avaliar em que medida uma sociedade
podia manejar o pensamento abstrato. Com efeito, para alguns autores do período 1890-1929
(fase correspondente à plena vigência do imperalismo europeu), foi questão de relevo decidir
se, e como, os povos indígenas efetuavam generalizações/ abstrações (cf. Ehrenreich 1910:
57; Grasserie 1911, 1914). Nesse contexto, cabia aos etnógrafos-lingüistas divulgar
informações precisas sobre as estratégias de contagem desenvolvidas pelos povos que
estudavam. Capistrano de Abreu (1969[1895]: 148) atestou que “os Bacaeris […] não levam
suas contas além de 3” e registrou que, em meio à sua coleção de lendas e relatos caxinauás,
[d]e numeros maiores ha, entre outros, os seguintes exemplos:
712: na-mö-kõe-tê, na-mö-kõe-ti, na-mö-kõe-tê, na-mö-kõe-ti, na-mö-kõe-ti, na-mö-kõe-
tê, na-da-bö, trinta e dois.
4022: na-möe-kõe-tê, na-möe-kõe-tê, dez.
4781: na hi-wö bö-tça, na hi-wö bö-tça, na hi-wö bö-tça, hi-wö da-bö, na-ra-bö, hi-wö
na-ra-bö, na-ra-bö, onze. (Abreu 1914: 16)
Pode-se notar, em tais compostos, a presença de da-bö, dois e de na-mö-kõe-tê “esta
mão, cinco” (Abreu 1914: 15). Também em Carajá, segundo Ehrenreich (1894: 57), a palavra
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Carta de Curt Nimuendajú-Unkel a Theodor Koch-Grünberg, de 28 de dezembro de 1921, Série
“Correspondência”, Pasta 33, ATKG.