como motorista de ônibus, policial, general do Exército, astronauta, chefe de Estado,
astróloga, executiva, ministra, banqueira, piloto de avião, etc. (DE CARLI, 2002, p. 83).
Quando desejam, como no caso das heroínas de “Atração fatal”, “Instinto selvagem”,
“Assédio sexual”, não reconhecem barreiras que as impeçam de realizar seus desejos.
Guerreiras e dominadoras, sem coração, não se intimidam frente a emoções, traições, à falta
de ética, ou à violência, que envolve crianças, pets, família ou senhores da lei. O cinema,
para contar histórias, serve-se do exagero do gesto, próprio da representação e do jogo entre
real e imaginário. O sexo, que no corpo fatal lá do início do século é insinuado, é relegado
aos quartos, ao andar de cima, à noite, longe da visão, faz questão de ser explicitado. As
relações homo e heterossexuais acontecem na sala, no elevador, nas discotecas, na cozinha,
no banheiro público, tudo é visível. A dança amadora das fatais que insinuavam, excitavam a
distância são diferentes das danças de tato e contato das fatais-fálicas. Se as curvas do
corpo eram erotizadas por vestidos de cetim colantes, decotes ou maiôs, o nu das fatais-
fálicas é visível, é explícito, como explícita e comentada foi a cena em que Catherine (Sharon
Stone em “Instinto selvagem”) descruza as pernas e naturalmente dá seu sexo à vista dos
policiais que a entrevistam. Sua atitude é de extrema autoconfiança, ela fuma
desobedecendo às regras, ridiculariza os investigadores, afronta, desafia, tem resposta para
tudo. Quando perguntada se saia com o homem que foi assassinado diz: “Eu não saia com
ele, eu fazia sexo com ele.” Elas, como as fatais, parecem exercer o poder dos mistérios
femininos deixando os homens irracionais, embasbacados, sem saber o que fazer para
conter os excessos de sensualidade da natureza das mulheres.
2.3 A MODA FATAL-FÁLICA
“Atração fatal”, 1987 (Glenn Close, Anne Archer), “Instinto selvagem”, 1992 (Sharon Stone),
“Assédio sexual”, 1994 (Demi Moore) são filmes referenciais de sua própria época, quer na
forma de vestir, quer no comportamento dos protagonistas. No fim dos anos 80 e nos anos
90, a moda consolida o atributo da multiplicidade. A moda, como as outras formas de
representação, acompanha as tendências da cultura pós-moderna, entre elas o declínio das
grandes verdades sagradas e o conseqüente reconhecimento de verdades múltiplas e
subjetivadas. As manifestações da oferta e da procura da moda, desde a criação até seu uso,
ajustam-se à multiplicidade do modelo “dialógico, polifônico ou carnavalesco” de Bakhtin.
Primeiro, porque a autoridade única, o couturier, o árbitro da elegância, é desbancada por
vozes da rua, seus grupos, sujeitos, imagens e imaginário. E, segundo, porque o ideal da
moda tradicional, apoiada no tripé: feminino, luxo e elegância, diluiu-se em “outros valores”
como identidade, juventude, masculino, esporte, lazer, praticidade, conforto, despojamento,