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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE MEDICINA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS MÉDICAS:
PSIQUIATRIA
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
AVALIAÇÃO DA CONTRATRANSFERÊNCIA NO ATENDIMENTO
INICIAL DE PACIENTES VÍTIMAS DE TRAUMA PSÍQUICO
MARIANA EIZIRIK
ORIENTADORA
PROFA. DRA. LÚCIA HELENA FREITAS CEITLIN
PORTO ALEGRE, DEZEMBRO DE 2007.
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE MEDICINA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS MÉDICAS:
PSIQUIATRIA
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
AVALIAÇÃO DA CONTRATRANSFERÊNCIA NO ATENDIMENTO
INICIAL DE PACIENTES VÍTIMAS DE TRAUMA PSÍQUICO
Mariana Eizirik
Orientadora
Profa. Dra. Lúcia Helena Freitas Ceitlin
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação
em Ciências Médicas: Psiquiatria, Faculdade de
Medicina, Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
como requisito parcial para obtenção do título de Mestre.
Porto Alegre, 14 de Dezembro de 2007.
2
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Ao Guilherme, pelo amor, por ser meu parceiro de vida, e me fazer tão feliz.
3
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Claúdio e Marisa, pelo amor, dedicação, e por serem um exemplo de ética e
generosidade que vou trazer sempre comigo.
Ao meu irmão e à minha cunhada, Eduardo e Laura, pela amizade; à minha sobrinha Sofia,
por me emocionar a cada encontro.
Aos meus avós, Moysés, Paulina, Maurício e Martha, pelo carinho e exemplo de amor à
vida.
À minha analista, Anette Blaya Luz, por me ajudar a viver cada vez melhor.
À minha orientadora, Lúcia Helena Freitas Ceitlin, por enfrentar esta jornada comigo, pelo
apoio, estímulo e confiança.
Ao professor Sidnei Schestatsky, pela importante e rica contribuição em praticamente todos
os momentos deste trabalho.
Aos meus amigos, especialmente Fabiana Ritter, Cristiane Pires, Mariana Furtado e Érico
Moura, por estarem sempre perto, com suas queridas companhias.
Aos meus sogros, Mário e Tânia, e ao meu cunhado, Rafael, pelo carinho.
À Equipe do NET-TRAUMA, principalmente Letícia Kruel, Laís Knijnik e Simone Hauck,
pela colaboração.
Aos médicos residentes de Psiquiatria que aceitaram participar deste trabalho, dispondo de
um espaço do seu tempo, em um momento difícil e trabalhoso, sempre acolhedores e
dispostos a ajudar.
Às pacientes que participaram deste estudo, pela generosidade em contribuir para um
projeto de pesquisa em uma situação de extremo sofrimento.
4
RESUMO
Introdução
O conceito de contratransferência foi introduzido por Freud e ampliado por outros autores,
sendo compreendido como as reações emocionais despertadas pelo paciente no terapeuta.
Tem papel central na teoria e na técnica psicanalíticas atuais por ser uma importante
ferramenta para o entendimento do mundo interno e das comunicações do paciente, com
influência no desenvolvimento da relação terapêutica e no desfecho do tratamento. A partir
do reconhecimento da importância da mente do terapeuta e do campo terapêutico, tem sido
discutida a associação entre características da pessoa real do terapeuta e a forma como é
estabelecida a relação com o paciente. Do mesmo modo, características específicas dos
pacientes, como ter sido vítima de trauma psíquico, são consideradas potenciais
desencadeadoras de padrões contratransferenciais similares. A relevância do estudo dos
sentimentos contratransferenciais despertados no atendimento de vítimas de trauma
psíquico se justifica pela grande intensidade destes e pelo potencial destas reações
emocionais se tornarem barreiras para o sucesso do tratamento quando não compreendidas
pelo terapeuta.
Objetivos
Avaliar o padrão de expressão da contratransferência dos terapeutas durante o atendimento
inicial de pacientes mulheres vítimas de trauma psíquico e a sua associação com
características dos terapeutas e das pacientes, tais como o momento da consulta, o gênero
do terapeuta, a natureza do trauma (violência sexual ou violência urbana) e o momento da
violência sexual na vida das pacientes. Também foi investigada a associação entre o padrão
contratransferencial e a presença de sintomas de Transtorno de Estresse Pós-Traumático e
de sintomas depressivos atuais nas pacientes, escores em rastreamento para transtornos de
personalidade e em escala de percepção da gravidade da doença nas pacientes e estilo
defensivo utilizado pelas mesmas.
Métodos
5
Os estudos foram realizados no Núcleo de Estudos e Tratamento do Trauma Psíquico
(NET-TRAUMA), do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), Brasil. Os terapeutas
eram médicos residentes do segundo ano de Psiquiatria do HCPA. No primeiro estudo, foi
conduzida uma avaliação qualitativa, a análise de conteúdo, associada a uma análise
estatística, de 36 relatos de sentimentos contratransferenciais despertados no primeiro
atendimento de pacientes mulheres, sendo13 vítimas de violência sexual na infância, 15
vítimas de violência sexual atual, e 8 vítimas de violência urbana. Os relatos foram
classificados em 6 grupos, conforme o gênero do terapeuta e a natureza do trauma. O
segundo estudo teve a participação de 26 terapeutas, 11 homens e 15 mulheres. Foram
incluídas nesta amostra todas as pacientes mulheres vítimas de violência sexual, tanto na
infância quanto na idade adulta, atendidas no NET-TRAUMA durante dois anos
consecutivos, totalizando 40 pacientes. Após a primeira consulta com a paciente, era
solicitado ao terapeuta que preenchesse a Escala para Avaliação da Contratransferência
(EACT). Neste mesmo momento, era solicitado à paciente que preenchesse os instrumentos
referentes aos fatores em estudo: a Escala Davidson de Trauma (EDT), a Standardized
Assessment of Personality - Abbreviated Scale (SAPAS), o Inventário de Depressão de
Beck (BDI), e a versão em português do Defense Style Questionaire (DSQ-40). A Escala de
Impressão Clínica Global (CGI) era preenchida após a consulta de triagem.
Resultados
Na análise dos relatos redigidos pelos terapeutas, observou-se predomínio de sentimentos
de aproximação nos terapeutas de ambos os gêneros no atendimento de vítimas de violência
sexual. Entre terapeutas mulheres, a natureza do trauma (sexual ou urbano) não influenciou
os padrões contratransferenciais. Entre os terapeutas homens, a natureza do trauma
influenciou de forma significativa a contratransferência, havendo um número elevado de
sentimentos de distanciamento nos relatos de atendimentos de vítimas de violência urbana
em relação àqueles atendimentos a vítimas de violência sexual na infância (p=0,02). No
segundo estudo, os terapeutas apresentaram, da mesma forma, mais sentimentos de
proximidade em relação às pacientes, que foram maiores no meio e no final das consultas
(p<0,001), sem influência do gênero do terapeuta. Em uma sub-amostra estratificada para
pacientes atendidas por terapeutas mulheres, identificou-se associação significativa entre
6
maiores escores obtidos pelas pacientes na SAPAS e menos sentimentos de proximidade
das terapeutas (p=0,038).
Conclusões
Estes estudos evidenciaram um predomínio de respostas contratransferenciais de
proximidade em terapeutas jovens, no início da vida profissional, ao longo das primeiras
consultas com pacientes mulheres vítimas de violência sexual. Destaca-se a importância da
utilização da contratransferência para a melhor compreensão dos pacientes, o que pode
trazer benefícios ao tratamento e ao prognóstico destes, ressaltando-se a necessidade de que
investigações continuadas sobre o tema sigam sendo desenvolvidas.
Descritores: contratransferência; trauma psíquico; violência sexual; violência urbana;
psicoterapia.
7
ABSTRACT
Introduction
The concept of countertransference was introduced by Freud and expanded by other
authors. It is understood as the emotional reactions triggered by the patient in the therapist.
It is pivotal in the current psychoanalytic theory and technique since it is an important tool
in understanding the patient’s internal world and reportings, influencing the therapeutic
relationship and the outcome of the treatment. From the acknowledgement of the
importance of the therapist’s mind and the therapeutic field, there has been a growing
debate on the association between characteristics of the real person of the therapist and the
way that the relationship with the patient is established. Likewise, specific characteristics of
the patients, such as having been victim of a psychological trauma, have been considered
potential triggers of similar patterns of countertransferential responses. The relevance of
studying the countertransferential feelings triggered when seeing victims of psychological
trauma is justified by their high intensity and by the possibility of such emotional reactions
becoming barriers for a successful treatment when they are not understood by the therapist.
Objectives
To evaluate the therapists’ countertransference during the first visit of women victims of
psychological trauma, and its association with therapists’ and patients’ characteristics, such
as the moment within the visit, the gender of the therapist, the nature of the trauma (sexual
violence or urban violence) and the time when sexual violence occurred in the patient’s life.
The association between countertransference pattern and the presence of Post-Traumatic
Stress Disorder symptoms and of depressive symptoms in the patients, scores in a screening
of personality disorders and in a scale of perception of disease severity in the patients and
the defensive style utilized by them were also investigated.
Methods
The studies were conducted at the Center for the Study and Treatment of Psychological
Trauma (NET-TRAUMA), of Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), Brazil. The
therapists were second-year Psychiatry residents of HCPA. On the first study, a qualitative
8
evaluation, the content analysis, was performed, associated to a statistical analysis, of 36
reports of the countertransferential feelings aroused in the first visit of female patients.
Thirteen patients were victims of sexual violence during childhood, 15 were victims of
current sexual violence, and 8 were victims of urban violence. The reports were categorized
into 6 groups according to the gender of the therapist and the nature of the trauma. Twenty-
six therapists (11 males and 15 females) participated in the second study. All women
victims of sexual violence, both during childhood and adulthood, seen at the NET-
TRAUMA during two consecutive years were included in this sample, which totaled 40.
After the patient’s first visit, the therapist was asked to complete the Assessment of
Countertransference Scale (ACTS). On the same visit, the patient was asked to complete
the instruments regarding the factors in study: the Davidson Trauma Scale (DTS), the
Standardized Assessment of Personality - Abbreviated Scale (SAPAS), the Beck
Depression Inventory (BDI), and the Brazilian Portuguese version of the Defense Style
Questionnaire (DSQ-40). The Clinical Global Impressions Scale (CGI) was completed after
the screening visit.
Results
In the analysis of the therapists’ reports, a predominance of feelings of closeness was
observed in therapists of both genders when caring for victims of sexual violence. Among
female therapists, the nature of the trauma (sexual or urban) did not influence the
countertransferential pattern. Among male therapists, the nature of the trauma significantly
influenced countertransference, with increased number of feelings of distance toward
victims of urban violence compared to victims of sexual violence during childhood
(p=0.02). On the second study, the therapists showed, likewise, more feelings of closeness
toward the patients, which were higher in the midpoint and in the end of the visits
(p<0.001), without influence of the therapists' gender. In a stratified sample of patients seen
by female therapists, there was a significant association between higher patients’ SAPAS
scores and less therapists’ feelings of closeness (p=0.038).
Conclusions
These studies have showed a predominance of countertransferential reactions of closeness
in young therapists, at the beginning of their professional lives, during the first visit of
9
women victims of sexual violence. The importance of the use of countertransference for the
understanding of the patients is emphasized, as it can be beneficial for their treatment and
prognosis; further investigation on the matter is of interest.
Keywords: countertransference; psychological trauma; sexual violence; urban violence;
psychotherapy.
10
LISTA DE ABREVIATURAS
ANOVA Análise de Variância
BDI Inventário de Depressão de Beck
CGI Escala de Impressão Clínica Global
DSM Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais
DSQ Defense Style Questionaire
EACT Escala para Avaliação da Contratransferência
EDT Escala Davidson de Trauma
GPPG Grupo de Pesquisa e Pós-Graduação
HCPA Hospital de Clínicas de Porto Alegre
NET-TRAUMA Núcleo de Estudos e Tratamento do Trauma Psíquico
SAPAS Standardized Assessment of Personality - Abbreviated Scale
TEPT Transtorno de Estresse Pós-Traumático
11
LISTA DE TABELAS
Artigo 1.
Tabela 1. Características demográficas das pacientes incluídas no estudo, de acordo com a
natureza do
trauma........................................................................................................................ 52
Tabela 2. Freqüência das unidades de análise nos relatos de terapeutas mulheres de acordo
com o tipo de trauma sofrido pelas pacientes
atendidas...........................................................................53
Tabela 3. Freqüência das unidades de análise nos relatos de terapeutas homens de acordo
com a natureza do trauma sofrido pelas pacientes
atendidas...................................................................54
Tabela 4. Comparação das freqüências das unidades de análise de acordo com o gênero do
terapeuta estratificada pela natureza do trauma vivenciado pelas
pacientes.................................55
Artigo 2. Versão em Português.
Tabela 1. Características demográficas das
pacientes...................................................................74
Tabela 2. Associação entre as médias dos escores de sentimentos de aproximação,
afastamento e indiferença avaliados pela EACT e os fatores em
estudo..............................................................75
Tabela 3. Associação entre as médias dos escores de sentimentos de aproximação,
afastamento e indiferença avaliados pela EACT e os fatores em estudo nas pacientes
atendidas por terapeutas
mulheres....................................................................................................................................
.....76
12
Artigo 2. Versão em Inglês.
Table 1. Demographic characteristics of the
patients..................................................................95
Table 2. Association between the mean scores of feelings of closeness, distance and
indifference assessed by ACTS and the factors in
study.................................................................................96
Table 3. Association between the mean scores of feelings of closeness, distance and
indifference assessed by ACTS and the factors in study in the patients seen by female
therapists...........................................................
..........................................................................97
13
SUMÁRIO
3.1 Objetivo Geral ............................................................................................................... 34
3.2 Objetivos Específicos .............................................................................................. 34
14
1 INTRODUÇÃO
1
1.1 Contratransferência
O conceito de contratransferência foi introduzido por Freud
1
em 1910, no trabalho
As perspectivas futuras da terapêutica psicanalítica, sendo então compreendida como
conseqüência de conflitos e resistências do analista a partir do contato com o paciente, ou
seja, um obstáculo ao tratamento. Nos 40 anos seguintes à conceituação inicial de Freud,
estudos sobre a contratransferência praticamente não foram desenvolvidos. A publicação do
artigo de Paula Heimann
2
, On Countertransference, em 1950, é considerada um marco da
ampliação deste conceito, que teve a contribuição de diversos autores, como Racker
3
,
Winnicott
4
, Little
5
, Gitelson
6
e Money-Kyrle
7
. Atualmente, existem três conceitos de
contratransferência a ser considerados: clássico, totalístico e específico.
O conceito clássico a como algo alheio, decorrente dos conflitos neuróticos do
analista, anormal no processo terapêutico e perturbadora do mesmo, em concordância com
a descrição original de Freud
1, 8
.
O conceito totalístico foi proposto a partir do trabalho de Heimann
2
. A
contratransferência começou a ser entendida como possível ferramenta para o tratamento e
para a compreensão do paciente, e concebida como todos os sentimentos e atitudes do
analista em relação ao paciente - um acontecimento normal no processo terapêutico,
originado pelo paciente, e transmitido ao analista por identificação projetiva. Racker
3
definiu a contratransferência como "a totalidade da resposta psicológica do analista ao
1
Partes desta seção foram publicadas como artigos de revisão. (ANEXOS 1 e 2)
15
paciente" (p.127)
3
, uma combinação entre identificações concordantes (identificação de
cada parte da personalidade do analista com a correspondente parte psicológica do
paciente) e complementares (identificação do analista com os objetos internos do paciente).
Bion
9
aprofundou o estudo do conceito totalístico a partir do entendimento do
aspecto comunicativo da identificação projetiva, assim como da função continente do
analista. Joseph
10
, seguindo o pensamento de Bion, apontou a utilidade do uso da
identificação projetiva a partir das reações contratransferenciais geradas no analista para a
melhor compreensão do mundo interno do paciente.
Pick
11
descreveu a importância da elaboração dos sentimentos contratransferenciais
na mente do analista antes da interpretação. Questiona se a diferença entre a interpretação
profunda e superficial não residiria "no grau em que o analista elaborou internamente o
processo no ato de dar a interpretação" (p.50)
11
. Da mesma forma, enfatiza-se a
necessidade do analista tolerar a dor psíquica da contratransferência, experimentando as
projeções do paciente em toda a sua intensidade. O fato do paciente observar como o
analista lida com as projeções, sem ter a sua capacidade de pensar destruída por estas,
poderá, por si só, produzir mudança psíquica
12, 13
.
O terceiro conceito, chamado específico, denomina contratransferência as reações
específicas do analista às qualidades particulares do paciente
14
. Segundo Eizirik
15
, "a
contratransferência se manifesta quando é possível identificar que parte do self do
paciente ou de suas fantasias está sendo colocada dentro da mente do terapeuta e
provocando uma reação, idéia ou comportamento" (p.33)
15
. Sentimentos pessoais do
16
terapeuta, não relacionados à transferência e às identificações projetivas do paciente, seriam
considerados como transferências do terapeuta.
Ainda que existam diferentes concepções acerca do conceito de contratransferência,
Gabbard
16
ressalta que atualmenteconsenso na sua grande utilidade para o entendimento
do paciente. A importância do uso da contratransferência foi avaliada de forma empírica em
um recente estudo, que evidenciou haver associação entre as habilidades do terapeuta em
lidar com seus sentimentos contratransferenciais e o desfecho do tratamento
17
.
Têm-se discutido de forma crescente a influência de características da pessoa real do
terapeuta, como o seu gênero, faixa etária e etapa do treinamento profissional, no tipo de
relação transferencial-contratransferencial estabelecida
18-26
. Neste sentido, destaca-se a
relevância do ensino da contratransferência e da atenção a suas manifestações ao longo da
formação de médicos psiquiatras. A compreensão e a discussão acerca da
contratransferência dos residentes em Psiquiatria podem contribuir para a elaboração do
sofrimento psíquico, além da ampliação das capacidades profissionais destes
27
.
Da mesma forma, aspectos específicos dos pacientes, como suas diferentes
psicopatologias, vêm sendo considerados potenciais desencadeantes de repostas
contratransferenciais características
21, 25, 28-30
. Os recentes estudos de Betan et al
31
e Rossberg
et al
32
avaliaram a relação entre transtornos de personalidade e padrões
contratransferenciais. Seus resultados indicam que as reações contratransferenciais dos
terapeutas podem surgir de maneira constante a partir do atendimento de pacientes com
sintomas e transtornos de personalidade específicos. Estes achados ressaltam a
17
possibilidade e a importância de se identificar padrões contratransferenciais despertados por
pacientes com psicopatologias diversas. Sugerem também que o mesmo pode ocorrer no
atendimento de pacientes que compartilham experiências, como história de trauma
psíquico.
1.2 Trauma Psíquico
Trauma pode ser entendido como um acontecimento da vida que se define pela
sua intensidade, pela incapacidade em que se encontra o indivíduo de lhe responder de
forma adequada, pelo transtorno e pelos efeitos patogênicos que provoca na organização
psíquica" (p.678)
33
.
O conceito de trauma desempenhou um papel significativo nas teorias iniciais de
Freud
34
. Ao descrever as neuroses traumáticas, aponta que "estas dão uma indicação
precisa de que em sua raiz se situa uma fixação no momento do acidente traumático (...) é
como se os pacientes não tivessem findado com a situação traumática, como se ainda
estivessem enfrentando-a como tarefa imediata, não executada" (p.325)
34
. Insere ainda o
trauma dentro do aspecto econômico dos processos mentais: "uma experiência que, em
curto período de tempo, aporta à mente um acréscimo de estímulo excessivamente
poderoso para ser manejado ou elaborado de maneira normal, e isto pode resultar em
perturbações permanentes da forma em que esta energia opera" (p.325)
34
.
18
Em Além do Princípio de Prazer, Freud
35
descreve o aparelho mental em relação
com o meio externo e interno através da analogia com uma vesícula indiferenciada e
suscetível a estímulos. Esta vesícula seria destruída pelas poderosas energias oriundas do
meio externo se não possuísse um escudo protetor, com a função de filtrar os estímulos e
liberá-los, gradualmente e com menor intensidade, para as camadas mais internas da
vesícula. Traumáticas seriam "quaisquer excitações provindas de fora que sejam
suficientemente poderosas para atravessar o escudo protetor" (p.45)
35
.
Garland
36
acrescentou ao entendimento das conseqüências do trauma na mente do
indivíduo a relação deste com os seus objetos internos. A deterioração da identidade que
ocorre após situações traumáticas estaria associada com uma falha na crença da proteção
dos "bons objetos internalizados". O trauma acarretaria o recrudescimento de ansiedades e
medos primitivos, somados às fontes externas destes sentimentos, gerando um colapso na
maneira em que o indivíduo percebe o mundo, a si próprio e às suas organizações
defensivas. O indivíduo traumatizado tentaria lidar com o evento externo relacionando-o
com relações objetais internas conhecidas, com o objetivo de conferir algum significado
a algo tão terrível. A ligação entre presente e passado (ou seja, evento do presente com
significados perturbadores do passado) seria uma das causas das dificuldades na
recuperação do indivíduo após a situação traumática
36
.
Os efeitos de situações traumáticas sobre o psiquismo vêm sendo identificados e
tratados com mais freqüência nas últimas décadas, após a Guerra do Vietnã e das duas
Guerras Mundiais. Alguns sobreviventes passaram a apresentar sintomatologia
característica, hoje reconhecida como Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT). O
19
diagnóstico de TEPT requer a exposição a um evento traumático que envolva morte ou
ferimento grave, reais ou ameaçados, ou um risco à integridade física, própria ou de outros,
com resposta de intenso medo, impotência ou horror. Os sintomas centrais incluem
revivências, evitação e hiperexcitabilidade relacionados à situação traumática, ou a
estímulos que a evoquem, com duração superior a um mês
37
. O TEPT costuma ser um
transtorno crônico e incapacitante, freqüentemente associado a comorbidades
psiquiátricas
38
.
A prevalência mundial de TEPT na comunidade é bastante variável, de 37.4% na
Argélia a 1.3% na Alemanha
39
. É o quarto transtorno psiquiátrico mais comum na
população geral, afetando aproximadamente 10.3% dos homens e 18.3% das mulheres ao
longo da vida. Os traumas mais associados ao surgimento de TEPT em mulheres são
estupro e abuso sexual
38
. Estudos de prevalência mostram taxas de abuso sexual ao longo
da vida variando entre 15% e 25% na população feminina
40
.
Um estudo
41
realizado em Porto Alegre investigou a prevalência de violência sexual
entre adolescentes. Dentre 1193 entrevistados, 2.3% relataram ter sido abusados
sexualmente ou estuprados e 4.5% afirmaram ter testemunhado um episódio de violência
sexual contra outra pessoa. Ressalta-se que 27.9% dos adolescentes conheciam alguma
vítima de violência sexual. A ocorrência deste evento traumático na infância ou
adolescência tem um potencial impacto negativo no desenvolvimento emocional dos
sujeitos. Está associado ao desenvolvimento de psicopatologias específicas na idade adulta,
principalmente transtornos de personalidade e transtornos de humor
42-46
, assim como a
relacionamentos interpessoais conflituosos, dificuldades parentais e re-traumatizações
46
.
20
Shengold
47
descreveu, em relação aos traumas precoces, o conceito de assassinato
da alma, definido como "a destruição completa ou parcial do aparelho mental em
desenvolvimento, ou até mesmo desenvolvido, e do senso de identidade ("alma")"
(p.10)
47
. Seriam aquelas experiências traumáticas (superestimulações alternadas com
privações) repetidas e crônicas, impostas intencionalmente sobre a vítima, sendo o tempo o
fator mais importante na patogênese: quanto mais cedo ocorrer o trauma, mais
provavelmente a criança será atingida e maior será o dano.
Conforme Moore e Fine
48
, “As circunstâncias ambientais e físicas prevalecentes
por ocasião do trauma, a reação do indivíduo ao acontecimento antes que ao evento em si,
as tentativas patológicas arcaicas para dominá-lo, e o apoio concedido pela auto-estima e
por objetos ajudarão a determinar o desfecho” (p.215-16)
48
. Desta forma, o atendimento
inicial às vítimas de trauma psíquico é fundamental para o tratamento posterior. A atitude
do profissional, sua conduta frente ao paciente e o destino que dará aos seus próprios
sentimentos poderão influenciar o encaminhamento do tratamento e seu prognóstico.
1.3 Contratransferência e Trauma Psíquico
O atendimento de pacientes vítimas de trauma é, potencialmente, uma fonte de
sofrimento psíquico para o terapeuta, devido à grande carga emocional envolvida, assim
como pela intensidade das reações contratransferenciais despertadas.
21
Neste contexto, a contratransferência "é diferentemente estimulada em relação ao
tratamento de pacientes com outras psicopatologias" (p.466)
49
. De saída, são grandes as
demandas em relação ao terapeuta, entre elas a descrença dos pacientes de que possam ser
ajudados, algo em geral frustrante para o narcisismo do profissional. Além disto, "no
esforço inconsciente de tornar ativo o que foi passivo, o terapeuta pode se sentir atacado
pelo paciente de tal maneira que este assume o papel de agressor e o terapeuta se
transforma na vítima" (p.467)
49
. É comum, também, que ocorram sentimentos de culpa no
terapeuta, por não ter experimentado situações semelhantes às vividas pelo paciente. Os
terapeutas, para evitar a própria dor psíquica, podem se distanciar dos seus afetos através de
mecanismos como negação, isolamento ou descrença.
Levando em conta o quão assustador pode ser o processo terapêutico, com o
potencial de impasses, reações terapêuticas negativas, falhas e interrupções precoces, os
terapeutas devem manter um cuidadoso exame das suas reações transferenciais e
contratransferenciais
50-52
.
A dissociação é um mecanismo defensivo de primeira linha para muitos pacientes
traumatizados, distanciando-os de suas experiências afetivas. Os terapeutas são, às vezes,
os primeiros a ter acesso a sentimentos dissociados como raiva, tristeza, vergonha e
insegurança, que correm o risco de ser impulsivamente atuados se não reconhecidos e
processados pela dupla. A experiência da dor do paciente permite ao terapeuta compreender
sua realidade de forma profunda e intensa, o que, além do potencial de gerar respostas
contratransferenciais poderosas, pode ter um efeito benéfico no estabelecimento da relação
terapêutica
53
.
22
A partir da importância da formação de uma aliança terapêutica precoce, as
necessidades e desejos dos pacientes em relação à psicoterapia devem ser enfocados.
Draucker
54
, em um estudo qualitativo a respeito das necessidades de mulheres vítimas de
violência sexual em um tratamento psicoterápico, mostrou que estas desejavam ter a
oportunidade de entrar em contato com suas emoções e explorá-las com profundidade, em
conjunto com um terapeuta que estivesse comprometido com esta tarefa e que acreditasse
nas suas capacidades de mudança. Conclui que: "enquanto os clínicos e pesquisadores
estão ocupados em determinar as técnicas mais efetivas, os pacientes estão preocupados
com suporte, validação, cuidado e, principalmente, capacitação" (p.8)
54
.
A capacidade do paciente em adquirir autonomia sobre a sua vida é um aspecto
importante na terapia do trauma. Os terapeutas, como defesa contra os sentimentos de
vulnerabilidade despertados pelo contato com as histórias traumáticas, podem tentar
assumir o papel de "salvador", o que implica na crença de que o paciente não é capaz de
agir por conta própria. Tal atitude perpetua as sensações de incapacidade e constante
ameaça vivenciadas pelas vítimas de trauma
55
.
A sensação de vulnerabilidade despertada nos terapeutas pode ser considerada a
reação contratransferencial mais ameaçadora
56
. A crença de que as pessoas boas não serão
vítimas de violência e que o mundo mantém uma certa ordem e previsibilidade sofre um
grande abalo "quando temos que nos defrontar com algumas das expressões máximas da
destrutividade humana" (p.311)
56
.
23
Evidências clínicas e experimentais sugerem que os terapeutas têm reações
contratransferenciais ao trauma diferentes dos sentimentos em relação ao paciente
traumatizado
57
. O paciente pode confundir a rejeição do terapeuta ao ato cometido contra
ele como rejeição à sua conduta inadequada ou reações patológicas; e a compreensão
disto, pelo terapeuta, pode transformar a rejeição em conexão empática” (p.134)
57
.
Outro aspecto a ser considerado é a reação à raiva dos pacientes. Dalenberg
58
sugere
que, se o terapeuta conseguir modular sua raiva com empatia, poderá não apenas senti-la,
como até revelá-la, sem expressar que o relacionamento sofreu um dano irreversível. O
paciente poderá aprender, então, que existem relações continentes, carregadas de emoções,
mas não necessariamente dominadas por hostilidade. Aprender que o grito de raiva do
paciente pode significar um choro sofrido pode ajudar o terapeuta a evitar responder com
contra-hostilidade
"
(p.198)
58
.
É fundamental para a recuperação do paciente tanto a construção de um ambiente
seguro, para se desenvolver confiança mútua no processo terapêutico, quanto a capacidade
de empatia sustentada, por parte do terapeuta, ao longo do tratamento
49
. À medida que,
neste novo e previsível contexto, vão se expressando diferentemente afetos e conteúdos, o
trauma tem a possibilidade de ser entendido dentro de um novo sistema de significados. A
capacidade para uma "empatia genuína é condição sine qua non para permitir que o
paciente perceba o contexto terapêutico como uma situação de segurança e de proteção, e
o lugar propício para expressar ansiedade e sentimentos de vulnerabilidade" (p.468)
49
.
24
Garland
36
considera que a terapia oferece às vítimas de trauma um "modo particular
de entendimento, em um setting que oferece uma nova experiência de continência" (p.30)
36
.
Não é uma tarefa fácil ao terapeuta exercer tal continência, que envolve re-viver a
experiência do trauma, com toda a carga emocional e sentimentos relacionados, como
culpa, raiva e medo. O terapeuta deve tentar manter um equilíbrio delicado, estando
suficientemente aberto às experiências do paciente para tentar compreender seu real estado,
mas estável e seguro na técnica para não ser invadido por estas de modo a atrapalhar sua
capacidade terapêutica
36
.
Um fenômeno que vem sendo progressivamente estudado é a chamada
traumatização vicária. É descrita como a experiência de reações psicológicas perturbadoras,
dolorosas e prejudiciais, desenvolvidas em terapeutas que atendem pacientes gravemente
traumatizados
59
. Sabe-se que muitos terapeutas ficam tristes, deprimidos, desesperançados,
desiludidos, irritados e intolerantes durante tais atendimentos. Entretanto, a traumatização
vicária vai além dos efeitos psicológicos da empatia, sendo percebida como "um processo
contagioso, maligno, que pode trazer conseqüências graves aos profissionais" (p.25)
59
. Os
sintomas podem ser temporários e leves, ou se tornarem graves e com duração prolongada.
À medida que as vítimas vão descrevendo os detalhes do seu trauma, estados
paralelos de medo, desesperança e desgosto são evocados nos terapeutas. Estes ficam
vulneráveis a pensamentos intrusivos e sonhos perturbadores em resposta aos relatos, ou
incapazes de controlar sua raiva contra os agressores, se tornando "hipercríticos contra o
sistema, que permite que prossigam tais abusos e vitimizações"
(p.26)
59
.
25
Segundo Crothers
55
, "pessoas que trabalham com vítimas de trauma podem
experimentar efeitos psicológicos profundos, dolorosos e perturbadores, que podem
persistir por meses a anos após os atendimentos" (p.9)
55
. O trauma pode ser contagioso e a
equipe de atendimento se sentir "ameaçada vicariamente", como se fosse uma testemunha
presente do mesmo, experimentando parte do terror, raiva e desespero dos pacientes. A
equipe acaba compartilhando a experiência de impotência dos pacientes, o que a leva a
subestimar suas próprias capacidades e conhecimentos e a não perceber os recursos e
possibilidades dos pacientes. É importante que as vítimas possam compartilhar suas
experiências com outros, sendo esta possibilidade uma pré-condição para a restituição de
um mundo com significado. A partir disto, fica evidente a necessidade da equipe de
atendimento poder entrar em contato com o sofrimento e a realidade destes pacientes,
ajudando-os a re-construir um mundo interno mais confiável e menos ameaçador
55
.
A traumatização vicária vincula-se à contratransferência que altera o self do
terapeuta. Na medida em que vai ocorrendo um nível mais intenso de traumatização vicária,
as respostas contratransferenciais podem se tornar mais fortes ou menos reconhecidas
conscientemente pelo terapeuta. Tais interações podem causar resultados desfavoráveis ao
tratamento, devendo o terapeuta permanecer atento às suas influências
53
.
Schestatsky et al
56
descreveram as fortes reações emocionais de um membro da sua
equipe após o atendimento de uma paciente vítima de violência sexual. Na ilustração
clínica, a terapeuta relatou ter sentido raiva, revolta, angústia e impotência após o relato
dramático da paciente - além de sintomas físicos, como náuseas e cefaléia. Sentiu-se
aliviada somente após a redação da entrevista e da discussão do caso com os membros da
26
equipe. Esta ilustração é um exemplo de outro fenômeno, o da chamada traumatização
secundária, súbita reação adversa que pode ocorrer a partir do contato com pacientes
traumatizados. É descrita por Figley
60
como a coerção emocional vivenciada por indivíduos
que estejam em contato próximo com uma vítima de trauma, principalmente terapeutas e
familiares.
Mesmo com o potencial de gerar sofrimento psíquico ao terapeuta, deve ser
ressaltado que o processo primário de cura na psicoterapia de pacientes vítimas de trauma
ocorre no contexto da relação terapêutica. O processo de construção da relação terapêutica
é a terapia com sobreviventes de trauma, sendo o self do terapeuta fundamental para que se
estabeleça uma relação clara e aberta
53
.
Reforça-se a importância do terapeuta que trabalha com vítimas de trauma não
permanecer isolado. Supervisão continuada e discussão sistemática de casos com colegas
são sugeridas, além do tratamento pessoal, que seria "essencial para o autoconhecimento,
auto-observação, e empatia pela vulnerabilidade de ser um paciente" (p.25)
53
. O grau de
conforto e familiaridade que o terapeuta tem com o seu mundo interno, fantasias e afetos,
principalmente experiências de agressão, sexualidade, raiva e tristeza, irão influenciar sua
capacidade de acesso e compreensão das respostas contratransferenciais
53
.
O presente estudo justifica-se pela necessidade de um maior entendimento acerca
das reações contratransferenciais despertadas no atendimento de vítimas de trauma
psíquico. Tal entendimento, pelo potencial de gerar uma compreensão mais ampla dos
pacientes, pode contribuir para o êxito do tratamento e para o prognóstico destes. Além
27
disto, a possibilidade de compreensão e contextualização da contratransferência pelos
terapeutas oportunizará a proteção e a prevenção da saúde mental dos mesmos.
28
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treat the traumatized. Philadelphia: Brunner/Mazel; 1995.
33
3 OBJETIVOS
3.1 Objetivo Geral
Avaliar a contratransferência dos terapeutas durante o atendimento inicial de
pacientes mulheres vítimas de trauma psíquico.
3.2 Objetivos Específicos
Estudar a relação entre o padrão contratransferencial desenvolvido pelos terapeutas
e as seguintes variáveis:
- Momento da consulta.
- Gênero do terapeuta.
- Natureza do trauma sofrido pelas pacientes: violência sexual ou violência urbana
(assalto ou perda de familiar vitimado por violência urbana).
- Momento da violência sexual na vida das pacientes: atual (nos últimos 3 meses), após
os 18 anos de idade, mas há mais de 3 meses, ou na infância (ocorrida antes dos 12 anos
de idade).
- Sintomas de Transtorno de Estresse Pós-Traumático atuais nas pacientes.
- Sintomas depressivos atuais nas pacientes.
- Escore em escala de rastreamento para transtornos de personalidade nas pacientes.
- Estilo defensivo utilizado pelas pacientes.
- Escore em escala de percepção da gravidade da doença das pacientes.
34
4 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS
Os participantes do estudo (terapeutas e pacientes) foram esclarecidos quanto aos
objetivos do trabalho, duração do envolvimento no estudo, confidencialidade,
voluntariedade e desconfortos possíveis.
Foi solicitado aos terapeutas e às pacientes que aceitaram colaborar com a pesquisa
que assinassem os termos de consentimento informado e esclarecido (Anexos 3 e 4). O
sigilo e a privacidade dos participantes foram assegurados pelos autores do trabalho.
O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Grupo de
Pesquisa e Pós-Graduação (GPPG) do HCPA (protocolo número 05222).
35
5 ARTIGO 1
CONTRATRANSFERÊNCIA NO ATENDIMENTO INICIAL DE VÍTIMAS DE
VIOLÊNCIA SEXUAL E URBANA: UMA PESQUISA QUALITATIVA -
QUANTITATIVA
COUNTERTRANSFERENCE DURING THE INITIAL CARE OF VICTIMS OF
SEXUAL AND URBAN VIOLENCE: A QUALITATIVE - QUANTITATIVE
RESEARCH
Mariana Eizirik
1
, Guilherme Polanczyk
2
, Sidnei Schestatsky
3
, Maria Amélia Jaeger
4
, Lúcia
Helena Freitas Ceitlin
5
Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul 2007; 29(2):197-204
1
Médica Psiquiatra - Mestranda em Psiquiatria, UFRGS.
2
Médico Psiquiatra - Mestre em Psiquiatria, UFRGS.
3
Professor Adjunto do Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal, UFRGS e do
Serviço de Psiquiatria, HCPA - Coordenador do NET-TRAUMA, HCPA.
4
Psicóloga - Mestre em Psicologia, PUCRS.
5
Professora Adjunta do Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal, UFRGS e do
Serviço de Psiquiatria, HCPA - Coordenadora do NET-TRAUMA, HCPA.
36
RESUMO
Objetivos: Avaliar a contratransferência dos terapeutas durante o atendimento inicial de
pacientes mulheres vítimas de violência sexual ou urbana, investigando a influência do
gênero do terapeuta e da natureza e momento do trauma.
Métodos: A amostra foi composta por 36 relatos redigidos por médicos residentes de
Psiquiatria do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), oriundos do atendimento de
36 pacientes. Este estudo utilizou métodos qualitativos e quantitativos para a análise dos
seus dados. Os relatos foram classificados em 6 grupos conforme o gênero do terapeuta e a
natureza do trauma. Foi realizada a análise de conteúdo dos relatos. Associou-se uma
análise estatística dos dados.
Resultados: Houve predomínio de sentimentos de aproximação nos terapeutas de ambos os
sexos no atendimento de vítimas de violência sexual. Entre terapeutas mulheres, a natureza
do trauma (sexual ou urbano) não influenciou os padrões contratransferenciais (p=0.7). Ao
contrário, entre os terapeutas homens, a natureza do trauma influenciou de forma
significativa (p=0.044) o padrão contratransferencial, havendo um número elevado de
sentimentos de distanciamento nos relatos de atendimentos de vítimas de violência urbana.
Conclusões: Houve um predomínio de sentimentos de aproximação dos terapeutas de
ambos os sexos no atendimento inicial de pacientes vítimas de violência sexual. Foi
observado um predomínio de sentimentos de distanciamento nos terapeutas homens que
atenderam vítimas de violência urbana. Mais estudos são necessários para uma melhor
compreensão das relações terapêuticas nos atendimentos de vítimas de trauma psíquico.
Descritores: contratransferência; violência sexual; violência urbana; trauma psíquico;
psicoterapia.
37
ABSTRACT
Objective: To assess therapists' countertransference during initial care of female victims of
sexual or urban violence with the aim of investigating influence of therapist's gender, type
and moment of trauma.
Method: The sample comprised 36 reports written by psychiatry residents of Hospital de
Clínicas de Porto Alegre (HCPA) based on the care provided to 36 patients. This study used
qualitative and quantitative methods of data analysis. Reports were classified into 6 groups
according to the therapist’s gender and type of trauma. A content analysis and a statistical
analysis of the data were performed.
Results: Therapists of both genders presented a prevalence of feelings of closeness when
providing care to victims of sexual violence. Among female therapists, type of trauma
(sexual or urban) did not have an influence on countertransferential patterns (p=0.7). On the
other hand, among male therapists, type of trauma had a significant influence (p=0.044) on
countertransference, with a high rate of feelings of distance in the reports of care provided
to victims of urban violence.
Conclusions: Therapists of both genders presented a prevalence of feelings of closeness
when providing initial care to patients victims of sexual violence. Male therapists who
provided care to victims of urban violence presented a prevalence of feelings of distance.
Further studies are needed for a better understanding of therapeutic relationships in the care
of victims of psychic trauma.
Keywords: Countertransference; sexual violence; urban violence; psychic trauma;
psychotherapy.
38
INTRODUÇÃO
O conceito de contratransferência, introduzido por Freud
1
e ampliado por outros
autores
2-4
, é central na teoria e na técnica psicanalítica atuais, que entendem os sentimentos
despertados pelo paciente no terapeuta como ferramentas poderosas para a compreensão da
comunicação e do mundo interno do paciente. A partir do reconhecimento crescente da
importância da mente do terapeuta e do campo terapêutico estabelecido entre a dupla, novas
teorias e pesquisas empíricas vêm sendo desenvolvidas
5-7
. Atualmente, a atenção sobre a
contratransferência é ressaltada no ensino médico, sugerindo-se a mesma como um
instrumento importante no desenvolvimento de uma adequada relação médico-paciente -
incluindo casos de tratamento basicamente farmacológico.
Gabbard
8
ressalta haver atualmente consenso em considerar a utilidade da
contratransferência no entendimento do paciente, sendo esta uma "criação conjunta" da
dupla terapêutica. Mais ainda, têm-se discutido amplamente as características da pessoa
real do terapeuta, como gênero, etapa de treinamento e faixa etária, que estariam associadas
a padrões contratransferenciais constantes, e que teriam uma implicação direta na escolha
de terapeutas conforme características da situação clínica e do paciente
9-11
.
Estudos empíricos sobre contratransferência ainda não são comumente encontrados
na literatura, embora sua importância fique clara no recente artigo de Betan et al
12
. Através
da análise fatorial de uma escala para avaliação de processos contratransferenciais, foram
encontradas oito classes de reações distintas, independentes da orientação teórica do
terapeuta, associadas com diferentes tipos de patologia de eixo II dos pacientes. Apesar da
singularidade de cada dupla terapêutica, foram evidenciadas correlações significativas entre
sentimentos contratransferenciais específicos e sintomas de transtornos de personalidade.
Isto sugere que as repostas contratransferenciais podem surgir em padrões coerentes e
previsíveis, fortalecendo seu uso na compreensão diagnóstica e no entendimento e
tratamento dos pacientes. Os autores ressaltam a possibilidade e a relevância de mapear
padrões contratransferenciais despertados por pacientes com diferentes diagnósticos
psiquiátricos ou naqueles que compartilham certas experiências, como história de violência
sexual
12
.
O estudo dos sentimentos despertados por pacientes vítimas de violência sexual
mostra-se importante, que além de intensos, muitas vezes estes sentimentos constituem-
39
se como barreiras para o sucesso do tratamento
13
. Observa-se um crescente número de
estudos relacionados à violência e à abordagem terapêutica oferecida às suas vítimas,
dentre os quais encontra-se ainda pouco referente à contratransferência.
Os terapeutas podem ser os primeiros a identificar, através de si mesmos, a raiva, o
medo, a vergonha e a insegurança dos pacientes, que estes, inicialmente, não costumam
estar conscientes de suas experiências afetivas. São sentimentos muitas vezes intoleráveis e
contraditórios, habitualmente reproduzidos e vividamente re-experimentados durante o
tratamento pela dupla terapêutica, podendo atemorizar a ambos e criar impasses se não
forem adequadamente reconhecidos e elaborados
14
. Vítimas de trauma estão super-
representadas em situações de impasses ou de fracassos terapêuticos, tendo menores taxas
de sucesso no tratamento quando comparadas a pessoas sem história de trauma
15
. Sabe-se
que a probabilidade de ocorrência de impasse ao longo de um tratamento psicoterápico está
relacionada às "condições de ordem inconsciente que regem a dupla terapêutica"
(p.347)
16
,
incluindo-se aqui a não compreensão dos processos transferenciais-contratransferenciais
envolvidos
15
.
O momento da vida do paciente em que a situação de violência sexual ocorreu
associa-se ao desenvolvimento de formas específicas de psicopatologia, principalmente
transtornos de humor e transtornos de personalidade, o que poderia estar relacionado
também a respostas contratransferenciais específicas
17-21
.
A violência é a segunda principal causa de mortalidade global do Brasil, que é o
quarto país com maior prevalência de homicídios no mundo. A taxa de mortalidade por
causas externas é 14.58%, sendo a taxa por 100.000 habitantes de homicídios dolosos 22, a
de roubos 511 e a de estupro16
22
. Estudos de prevalência mostram taxas de abuso sexual ao
longo da vida variando entre 15% e 25% na população feminina
23
. Esta situação alarmante
cria uma grande demanda para o serviço de saúde do país, principalmente para profissionais
da área da saúde mental, que se vêem frente às vítimas diretas destas situações e aos seus
familiares, reforçando a necessidade de estudos que enriqueçam a compreensão do tema. A
possibilidade de entender as reações emocionais despertadas nestes contatos pode facilitar
aos terapeutas o reconhecimento e manejo dos seus sentimentos contratransferenciais.
Assim, haveria menores chances destes se tornarem obstáculos maiores para o
desenvolvimento e manutenção de uma relação terapêutica adequada.
40
Considerando que o atendimento de vítimas de violência, especialmente de natureza
sexual, se constitui em um desafio aos profissionais da saúde mental - sejam eles
psiquiatras clínicos, psicoterapeutas ou psicanalistas - e que o número de pessoas expostas a
estas situações vem aumentando dramaticamente, este estudo buscou avaliar as respostas
contratransferenciais despertadas nos terapeutas durante o atendimento inicial de pacientes
vítimas de traumas psíquicos. Foi investigada a influência do gênero do terapeuta e da
natureza e momento do trauma nestas reações. Tendo em vista a complexidade do
fenômeno em estudo (contratransferência), optou-se pela combinação dos métodos de
análise qualitativos e quantitativos, no sentido de ampliar a fidedignidade dos achados.
41
MÉTODO
Amostra
A amostra foi composta por 36 relatos redigidos por médicos residentes do segundo
ano de Psiquiatria do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), oriundos do
atendimento de 36 pacientes do sexo feminino atendidas no Núcleo de Estudos e
Tratamento do Trauma Psíquico (NET-TRAUMA) do HCPA, durante nove meses
consecutivos, nos anos de 2005 a 2006. Este ambulatório oferece atendimento aos pacientes
vítimas de trauma psíquico encaminhados por serviços de atenção primária, secundária e
terciária da cidade. Após a primeira consulta com a paciente, o terapeuta era solicitado a
registrar de forma livre e anônima o que havia sentido durante o atendimento.
Os critérios de inclusão das pacientes foram: 1) sexo feminino; 2) vítimas de
violência sexual até os 12 anos de idade (na infância) ou nos últimos 3 meses (atual) ou 3)
vítimas de assaltos ou que tiveram familiar morto vitimado por violência urbana (outros
traumas). Critérios de exclusão eram: 1) incapacidade de relatar a história de forma
adequada; 2) presença de sintomatologia intensa que justificasse a indicação de internação
psiquiátrica.
Restringiu-se a amostra deste estudo à população feminina pela pouca procura de
pacientes homens por atendimento no NET-TRAUMA.
Análise de Conteúdo
Os relatos foram classificados em seis grupos conforme o gênero do terapeuta e a
natureza do trauma (violência sexual na infância, violência sexual atual ou outros traumas)
por um dos autores do estudo. Neste momento, foram excluídas dos relatos todas as
menções feitas ao momento e à natureza do trauma, assim como ao gênero do terapeuta,
sem prejuízo ao conteúdo destes. Posteriormente, outros três autores realizaram a análise de
conteúdo dos relatos, de forma cega, sem conhecimento de suas classificações.
A análise de conteúdo
24
é uma metodologia de pesquisa utilizada para descrever e
interpretar o conteúdo de documentos e textos, ajudando a re-interpretar as mensagens e
alcançar uma compreensão de seus significados em um nível que vai além de uma leitura
comum
25
. É constituída de cinco etapas: 1) preparação das informações (em que se
seleciona o material a ser utilizado na pesquisa e se inicia o processo de codificação); 2)
42
unitarização (quando são definidas as unidades de análise); 3) categorização ou
classificação das unidades em categorias previamente definidas pelos autores (quando os
dados são agrupados considerando-se a parte comum existente entre eles, em um processo
de redução e síntese); 4) descrição; 5) interpretação (etapa em que se discute os resultados,
aprofundando-se a compreensão do material obtido).
Iniciou-se a análise de conteúdo com a leitura do material, seguindo-se a divisão em
unidades de análise, definidas como palavras representativas dentro de uma frase, como o
exemplo: "inicialmente, a paciente me despertou desesperança importante e muita pena,
bastante desconforto também", em que foram retiradas as palavras desesperança, pena e
desconforto, como unidades de análise desta frase. Foi possível estabelecer duas categorias
de interesse a partir dos sentimentos relatados, agrupando-se as unidades de análise em
sentimentos de aproximação ou sentimentos de distanciamento. As unidades não
caracterizadas por tais sentimentos foram desconsideradas.
Os processos de unitarização e categorização foram realizados individualmente por
dois autores e, em um segundo momento, em conjunto, através de consenso. Na falta de
consenso, a decisão foi tomada por um autor sênior, após discussão do material.
Análise Estatística
As características demográficas das pacientes, estratificadas pela natureza do trauma
psíquico sofrido, foram comparadas através da ANOVA para variáveis contínuas (idade) e
Teste Exato de Fisher para variáveis categóricas (etnia, estado civil, escolaridade). Foi
utilizado o Teste Exato de Fisher para comparação das categorias de sentimentos entre
gênero e natureza de trauma, seguido por um teste de comparações múltiplas, utilizando o
programa Winpepi Módulo Compare2 versão 1.45. Foi considerado como estatisticamente
significativo um valor de p 0.05.
Questões Éticas
Pacientes e terapeutas não foram identificados em nenhum momento do estudo.
Todos os participantes assinaram um termo de consentimento informado e esclarecido. Este
trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do HCPA.
43
RESULTADOS
Durante o período de estudo, 36 pacientes preencheram os critérios de inclusão.
Destas, 13 eram vítimas de violência sexual na infância, 15 de violência sexual atual, e 8
eram vítimas de outros traumas. Todos os relatos dos sentimentos contratransferenciais
descritos após as primeiras consultas de todas as pacientes foram incluídos neste estudo. A
Tabela 1 apresenta as características demográficas das pacientes, não havendo sido
encontradas diferenças estatisticamente significativas entre os grupos. O número total de
unidades de análise destes relatos foi de 141, sendo que 98 corresponderam a sentimentos
de aproximação, e 43, a sentimentos de distanciamento.
Foi investigada, em separado, a influência da natureza do trauma psíquico sobre o
padrão contratransferencial de terapeutas do sexo masculino e feminino. Entre terapeutas
do sexo feminino, a natureza do trauma não influenciou os padrões contratransferenciais
encontrados (p=0.7) (Tabela 2). As seguintes vinhetas de atendimentos de pacientes com os
três diferentes traumas, realizadas por terapeutas mulheres, ilustram os relatos. "Senti
apreensão por perceber que isso pode acontecer com qualquer pessoa, com desejo de que
não tivesse ocorrido com a paciente"; "Senti confusão no início da sessão e, após,
sensação de estar mexendo em um problema muito grande, de impotência e, ao mesmo
tempo, satisfação por saber que conseguiria ajudar um pouco no meio de tanta confusão";
"Senti angústia, pena da paciente e raiva em relação ao responsável pelo trauma"; "Senti
que a paciente se comportava como uma criança, tive vontade de cuidá-la e de, ao mesmo
tempo, fazer com que ela voltasse a funcionar como antes do trauma. Também me
despertou curiosidade e interesse"; "Inicialmente me despertou desesperança importante e
muita pena, além de bastante desconforto. Ao longo da consulta, senti tristeza e vontade de
ajudar, porém com uma grande sensação de imobilidade".
Entre os terapeutas homens, a natureza do trauma influenciou de forma significativa
(p=0.044) o padrão contratransferencial. Houve um número elevado de sentimentos de
distanciamento nos relatos de atendimentos de pacientes vítimas de assalto ou com
familiares mortos (55%). Quando comparada aos outros grupos (violência sexual atual e
violência sexual na infância), tal freqüência apresentou diferença estatisticamente
significativa em relação à freqüência de sentimentos de distanciamento nos atendimentos
de vítimas de violência sexual na infância (55% versus 14.3%; p=0,025), não apresentando
44
diferença significativa em comparação ao grupo de vítimas de violência sexual nos últimos
três meses (55% versus 25%; p=0,18). (Tabela 3)
Seguem-se vinhetas de atendimentos realizados por terapeutas homens a vítimas de
assalto ou que tiveram familiares assassinados: "Senti impotência no início da sessão, que
foi gradativamente aumentando, sendo que o fim da sessão foi um alívio para mim, como
se pudesse voltar a viver sem saber que eventos tão trágicos são possíveis com qualquer
um de nós. Senti um predomínio de impotência, com desesperança e um grande desespero";
"Senti imobilidade e sensação de choque com os detalhes do trauma, por vezes com
sentimento de medo e preocupação pela vulnerabilidade das pessoas às tragédias"; "De
início, a paciente causou certa antipatia, um certo distanciamento, talvez com dificuldade
em me identificar com a situação e com a tendência a desvalorizar o sofrimento da
paciente".
Pelo que pode ser observado a partir das verbalizações acima, o impacto destes
atendimentos acionou nos terapeutas homens sentimentos de impotência, desesperança e
medo de estar sendo envolvido em uma situação além de sua capacidade de manejo, o que
possivelmente despertou ansiedades mais profundas, de natureza confusional ou
persecutória. Estas podem ter levado a atitudes de afastamento e estranheza para com as
pacientes, rechaçando o perigo de maiores identificações.
Foi analisada a influência do gênero do terapeuta sobre os sentimentos
contratransferenciais, estratificada pela natureza do trauma. Evidenciou-se que terapeutas
do sexo masculino e feminino não apresentaram padrão de resposta contratransferencial
significativamente diferente no atendimento de vítimas de violência sexual na infância
(p=0.30) ou nos últimos 3 meses (p=0,99) e de vítimas de assalto ou pacientes que tiveram
um familiar morto (p=0.14) (Tabela 4).
45
DISCUSSÃO
Este estudo utilizou um método qualitativo, a análise de conteúdo, para avaliar as
repostas contratransferenciais de terapeutas em formação no atendimento inicial de
pacientes do sexo feminino vítimas de violência sexual e urbana. Os resultados mostram
predomínio de sentimentos de aproximação quando comparados aos sentimentos de
distanciamento nos relatos dos terapeutas. O atendimento de vítimas de violência urbana
provocou, em terapeutas homens, um maior número de sentimentos de distanciamento do
que o atendimento a vítimas de violência sexual na infância (55% versus 14.3%; p=0.04).
A exposição à violência sexual na infância está associada ao desenvolvimento de
psicopatologia na idade adulta
17-19, 26, 27
que, de acordo com achados empíricos, evocaria
respostas contratransferenciais específicas. Betan
12
encontrou associações significativas
entre classes distintas de contratransferência e sintomas específicos de transtornos de
personalidade, assim como Brody
21
e Mclntyre
20
, que evidenciaram uma relação igualmente
significativa entre o diagnóstico do paciente e o padrão contratransferencial. Em oposição a
estes achados, Holmqvist
28
não evidenciou associações entre a organização de
personalidade do paciente e os tipos de sentimentos do terapeuta, contribuindo para a
discussão deste tema, ainda controverso.
Os resultados do presente estudo mostraram um predomínio de respostas
contratransferenciais de aproximação, como interesse, empatia, tristeza, tanto em pacientes
vítimas de violência sexual na infância como nos últimos três meses. Este achado pode
estar relacionado à ocorrência de psicopatologia específica após violência sexual em
mulheres adultas sem história de violência sexual na infância, conforme demonstrado por
Faravelli
29
. Esta associação excluiria a especificidade do momento do trauma no
desenvolvimento de sintomas e transtornos e, conseqüentemente, na produção de reações
características nos terapeutas.
O estudo de pacientes vítimas de traumas não sexuais deveu-se à hipótese de que
haveria uma psicopatologia característica em pacientes vítimas de violência sexual,
conforme o achado de Faravelli
29
, com conseqüentes diferenças nos sentimentos
contratransferenciais. Nossos achados revelaram um predomínio de sentimentos de
aproximação em relação a todos os grupos de pacientes, independentemente da natureza do
46
trauma e do gênero do terapeuta, com exceção das pacientes vítimas de trauma não sexual
atendidas por terapeutas homens.
Há um número reduzido de estudos acerca da contratransferência no atendimento de
pacientes vítimas de traumas não sexuais
30, 31
, além da falta de dados que relacionem este
tema ao gênero do terapeuta. Uma hipótese a ser avaliada é a de que a predominância de
sentimentos de distanciamento vivenciados pelos terapeutas homens no atendimento de
vítimas de violência urbana, não sexual, esteja relacionada a uma sensação de
vulnerabilidade, considerando a maior prevalência de crimes violentos contra homens no
Brasil, o que não ocorreria em relação à violência sexual.
A influência do gênero do terapeuta no desenvolvimento da relação com o paciente
e no tratamento vem sendo investigada com interesse crescente. Uma idéia comum entre
muitos autores psicanalíticos é a de que não é o gênero "real" do terapeuta que irá
influenciar de forma mais relevante o processo de tratamento, e sim suas capacidades
técnicas, experiência profissional, aspectos de personalidade e autoconhecimento
10,32,33
.
A relação da contratransferência com o gênero do terapeuta é tema central destas
questões, visto sua importância na prática psicanalítica e psicoterapêutica. Estudos
empíricos com pacientes portadores de diagnósticos específicos mostram resultados
divergentes. Zlotnick
34
e Mclntyre
20
não encontraram diferenças nos sentimentos
contratransferenciais em função do gênero do terapeuta no atendimento de pacientes com
transtornos depressivo maior e de personalidade borderline. Latts
35
, em um estudo com
pacientes vítimas de violência sexual, observou um predomínio significativamente maior de
respostas de evitação nos terapeutas homens em comparação às terapeutas mulheres.
Um estudo realizado em nosso meio avaliou o estado mental e as respostas
contratransferenciais de psicoterapeutas homens e mulheres após a leitura de vinhetas
clínicas reais, sendo uma referente a um caso de estupro, e a outra, a um caso de luto.
Foram identificadas reações contratransferenciais mais negativas após a leitura da vinheta
do caso de estupro, sendo que as terapeutas mulheres mostraram-se mais reflexivas, e os
terapeutas homens expressaram mais reações negativas, em ambos os casos
36
.
Os resultados do presente trabalho apontaram para uma similaridade das respostas
contratransferenciais entre os gêneros do terapeuta no atendimento de pacientes vítimas de
violência sexual. Os achados de Latts
35
, de que as terapeutas mulheres conseguiriam utilizar
mais a empatia do que os terapeutas homens no atendimento destas pacientes, mesmo em
47
contato com uma situação que lhes exporia de forma mais intensa ao sentimento de
vulnerabilidade, não foram replicados na presente amostra.
É importante considerarmos que o relato feito pelo terapeuta ocorreu após o
primeiro contato deste com a paciente e sua história, geralmente um momento de grande
carga emocional para a dupla. Também é relevante o fato de serem todos terapeutas no
início de sua formação profissional, com menos ferramentas para lidar com uma situação
contratransferencial potencialmente difícil. Mesmo com estas características, que poderiam
levar ao predomínio de respostas de distanciamento ou imobilidade, observou-se um maior
número de relatos de sentimentos como curiosidade, desejo de ajudar, pena e interesse, em
terapeutas de ambos os sexos. Pode-se supor que os terapeutas homens, assim como as
terapeutas mulheres, conseguem utilizar a empatia de forma a modular a ansiedade
despertada na contratransferência durante o atendimento de mulheres vítimas de violência
sexual.
É necessário entendermos os resultados no contexto das limitações do estudo. Trata-
se de uma amostra clínica, com número reduzido de pacientes, atendidas por terapeutas em
formação, em um programa dedicado ao tratamento de pacientes vítimas de violência. Estas
características limitam a generalização dos resultados.
Em relação à etapa da formação profissional do terapeuta, evidências de que esta
se encontra associada à forma com que as reações contratransferenciais são manejadas
20
.
Em nosso estudo, todos os terapeutas apresentavam-se no mesmo momento da formação
profissional, o que torna esta variável estável em todos os grupos. Quanto ao número de
pacientes estudadas, ainda que reduzido, é preciso considerar que barreiras importantes
para que vítimas de violência sexual busquem tratamento, o que dificulta o estudo desta
situação clínica.
Como se trata de uma situação de inegável impacto emocional cabe, também,
destacar que o uso do instrumental teórico psicanalítico apresenta aqui particular
relevância. Não somente pelo seu uso em um projeto de pesquisa, mas também pela
possibilidade dos sentimentos contratransferenciais despertados serem discutidos em
supervisão e utilizados como bússola para orientar o manejo terapêutico subseqüente.
Utilizamos uma metodologia qualitativa, a análise de conteúdo, para que os relatos
de sentimentos contratransferenciais – subjetivos fossem entendidos com maior
48
profundidade. Os instrumentos objetivos, embora relevantes, não são suficientes para captar
a complexidade das experiências contratransferenciais, que acabam por ser reduzidas.
Este trabalho propõe-se a expor e discutir seus achados, levantando questões de
pesquisa, sem o objetivo de comprovar os resultados obtidos, e nem de generalizá-los a
outras populações. A compreensão adequada e profunda dos sentimentos
contratransferenciais no atendimento de vítimas de violência pode trazer benefícios
significativos à formação dos terapeutas, enfatizando a presença de conceitos básicos da
psicanálise, assim como ao tratamento e ao prognóstico dos pacientes. Considerando a
escassez de estudos sobre este tema na população brasileira, sugerimos que investigações
continuadas sejam realizadas, valendo-se de métodos qualitativos, quantitativos ou da união
de ambos os enfoques, para seguir-se aprimorando o conhecimento nesta área de
fenômenos tão complexos.
49
CONCLUSÕES
Os resultados deste estudo mostram um predomínio de sentimentos de aproximação
dos terapeutas de ambos os sexos no atendimento inicial de pacientes mulheres vítimas de
violência sexual. A partir disto, consideramos que terapeutas homens, assim como
terapeutas mulheres, são capazes de empatizar e sintonizar-se afetivamente com as
pacientes neste momento do tratamento. Não foram observadas diferenças nas reações
contratransferenciais em relação às pacientes vítimas de violência sexual em momentos
distintos do desenvolvimento.
Foi identificado um predomínio de respostas de distanciamento nos terapeutas
homens que atenderam pacientes vítimas de traumas não sexuais, relacionados à violência
urbana. Pensamos que este achado pode dever-se ao sentimento de vulnerabilidade
despertado nos terapeutas, em vistas da maior e crescente prevalência de violência urbana
na população masculina. O presente estudo forneceu diversas questões de pesquisa que
podem contribuir para investigações futuras.
50
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53
Tabela 1. Características demográficas das pacientes incluídas no estudo, de acordo
com a natureza do trauma.
Violência sexual
na infância
(n=13)
Violência sexual
atual (n=15)
Outros traumas
(n=8)
Idade - Média (DP) 40,15 (14,5) 29,71 (14,82) 37,62 (15,38) p= 0,17*
Etnia - N (%)
branca
negra
12 (93)
1 (7)
13 (86.6)
2 (13.3)
7 (87.5)
1 (12.5)
p= 0,99**
Estado civil - N (%)
casada
solteira/divorciada/
viúva
7 (53.8)
6 (46.2)
4 (26.7)
11 (73.3)
5 (62.5)
3 (37.5)
p= 0,21**
Escolaridade - N (%)
fundamental
médio/superior
5 (38.5)
8 (61.5)
7 (46.7)
8 (53.3)
4 (50)
4 (50)
p= 0,83**
DP = Desvio Padrão; N = número absoluto; % = Freqüência relativa; *ANOVA; **Teste Exato de Fisher.
54
Tabela 2. Freqüência das unidades de análise nos relatos de terapeutas mulheres de
acordo com o tipo de trauma sofrido pelas pacientes atendidas.
Unidades de Análise - N (%)
Sentimentos
Aproximação
Sentimentos
Distanciamento
Violência sexual atual 32 (74,4) 11 (25,6)
Violência sexual na infância 27 (67,5) 13 (32,5)
Outros traumas 9 (75) 3 (25)
N= freqüência absoluta de unidades de análise; %= freqüência relativa.
Teste Exato de Fisher, p=0,7.
55
Tabela 3. Freqüência das unidades de análise nos relatos de terapeutas homens de
acordo com a natureza do trauma sofrido pelas pacientes atendidas.
Unidades de Análise - N (%)
Sentimentos
Aproximação
Sentimentos
Distanciamento
Violência sexual atual 9 (75) 3 (25)
a,b
Violência sexual na infância 12 (85,7) 2 (14,3)
a,
c
Outros traumas 9 (45) 11 (55)
b,
c
N= freqüência absoluta de unidades de análise; %= freqüência relativa.
Teste Exato de Fisher, p=0.04. Teste de comparações múltiplas:
a: p>0,05; b: p>0,05; c: p=0,02.
56
Tabela 4. Comparação das freqüências das unidades de análise de acordo com o
gênero do terapeuta estratificada pela natureza do trauma vivenciado pelas pacientes.
Unidades de Análise - N (%)
Trauma Psíquico Gênero do
Terapeuta
Sentimentos
Aproximação
Sentimentos
Distanciamento
Violência sexual atual feminino 32 (74,4) 11 (25,6) p=0,99
masculino 9 (75) 3 (25)
Violência sexual na infância feminino 27 (67,5) 13 (32,5) p=0,3
masculino 12 (85,7) 2 (14,3)
Outros traumas feminino 9 (75) 3 (25) p=0,14
masculino 9 (45) 11 (55)
N= freqüência absoluta de unidades de análise; %= freqüência relativa.
57
6 ARTIGO 2
6.1 Versão em Português
CONTRATRANSFERÊNCIA NO ATENDIMENTO INICIAL DE PACIENTES
MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA SEXUAL
Mariana Eizirik
1
, Sidnei Schestatsky
2
, Letícia Kruel
3
, Lúcia Helena Freitas Ceitlin
4
Revista de submissão: Comprehensive Psychiatry
1
Psiquiatra. Mestranda em Psiquiatria, Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS).
2
Psiquiatra. Psicanalista. Mestre em Saúde Pública Harvard School of Public Health.
Professor Adjunto do Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal, UFRGS e do Serviço
de Psiquiatria, Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA). Coordenador do Núcleo de
Estudos e Tratamento do Trauma Psíquico (NET-TRAUMA), HCPA.
3
Psicóloga, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
4
Psiquiatra. Mestre em Saúde Pública Harvard School of Public Health. Professora Adjunta
do Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal, UFRGS e do Serviço de Psiquiatria,
HCPA. Coordenadora do NET-TRAUMA, HCPA.
58
RESUMO
Objetivos: Identificar os fatores independentemente associados aos sentimentos
contratransferenciais dos terapeutas na primeira consulta de mulheres vítimas de violência
sexual.
Métodos: Quarenta pacientes foram atendidas por 26 terapeutas, ao longo de 2 anos
consecutivos, no Núcleo de Estudos e Tratamento do Trauma Psíquico, do Hospital de
Clínicas de Porto Alegre, Brasil. Após a primeira consulta com a paciente, o terapeuta
preenchia a Escala para Avaliação da Contratransferência. Neste mesmo dia, a paciente
preenchia a Escala Davidson de Trauma, a Standardized Assessment of Personality -
Abbreviated Scale (SAPAS), o Inventário de Depressão de Beck, e a versão em português
do Defense Style Questionaire.
Resultados: Os terapeutas apresentaram predominantemente sentimentos de proximidade
em relação às pacientes, que foram maiores no meio e no final das consultas em
comparação ao início. Não houve influência do gênero do terapeuta no padrão
contratransferencial. Na amostra estratificada para pacientes atendidas por terapeutas
mulheres, identificou-se associação inversa entre os escores obtidos no rastreamento para
transtornos de personalidade e os sentimentos contratransferenciais de proximidade.
Conclusões: Este estudo evidenciou que terapeutas de ambos os sexos mostraram-se
predominantemente empáticos com pacientes mulheres vítimas de violência sexual.
Descritores: contratransferência; violência sexual; abuso sexual; trauma psíquico.
59
INTRODUÇÃO
O conceito de contratransferência foi introduzido por Freud
1
e ampliado por autores
como Heimann
2
, Racker
3
e Winnicot
4
, sendo compreendido como as reações emocionais
despertadas pelo paciente no terapeuta. É central na teoria e na técnica psicanalíticas atuais,
por ser uma importante ferramenta para o entendimento do mundo interno e das
comunicações do paciente, com influência no desenvolvimento da relação terapêutica e no
desfecho do tratamento. Gabbard
5
assinala que a contratransferência pode ser considerada
como uma criação conjunta da dupla terapêutica, havendo atualmente consenso no seu uso
para a compreensão do paciente.
A partir do reconhecimento da importância da mente do terapeuta e do campo
terapêutico, têm-se discutido de forma crescente a associação entre características da pessoa
real do terapeuta, como o seu gênero, e a forma como é estabelecida a relação com o
paciente
6, 7
. Do mesmo modo, a partir de Winnicot
4
, características específicas dos
pacientes, como suas diferentes psicopatologias, começaram a ser consideradas como
potenciais desencadeadoras de respostas contratransferenciais constantes
8, 9
.
Os estudos de Rossberg et al
10
e Betan et al
11
ilustram pesquisas recentes que têm
abordado a relação entre padrões contratransferenciais e transtornos de personalidade. O
primeiro estudo
10
mostrou haver diferenças nas reações contratransferenciais dos terapeutas
que atenderam pacientes com transtornos de personalidade diversos, além da relação entre
sentimentos contratransferenciais e curso do tratamento. O estudo de Betan et al
11
evidenciou correlações significativas entre padrões contratransferenciais específicos e
sintomas de transtornos de personalidade. Isto sugere que estas respostas podem surgir de
forma coerente e previsível, o que fortalece o seu uso na compreensão diagnóstica e no
tratamento dos pacientes. Os resultados destes dois trabalhos reforçam a possibilidade e a
importância de identificar padrões contratransferenciais despertados por pacientes com
diferentes diagnósticos psiquiátricos, ou dos que apresentam experiências traumáticas
prévias, como história de violência sexual.
A relevância do estudo dos sentimentos contratransferenciais despertados no
atendimento de vítimas de violência sexual se justifica pela grande intensidade destes. Mais
ainda, pelo potencial destas reações emocionais se tornarem barreiras para o sucesso do
60
tratamento, quando não compreendidas pelo terapeuta
12
. Sabe-se que impasses e fracassos
terapêuticos são bastante comuns no atendimento de vítimas de traumas psíquicos
13
.
Os terapeutas podem ser os primeiros a identificar, em si mesmos, sentimentos
como medo, vergonha e desamparo dos pacientes, que estes, inicialmente, nem sempre
conseguem acessar suas experiências afetivas. Por serem sentimentos muitas vezes intensos
e até intoleráveis, podem atemorizar a dupla terapêutica, levando a impasses se não
reconhecidos e elaborados
14
.
A ocorrência de abuso ou violência sexual na infância pode estar associada ao
desenvolvimento de psicopatologias específicas, principalmente transtornos de humor e de
personalidade, o que poderia estar relacionado também a respostas contratransferencias
específicas
8, 9, 15-17
. Um dos possíveis mediadores do surgimento destes transtornos é o uso
de mecanismos de defesa mais imaturos pelas vítimas, fenômeno comumente relacionado a
este trauma
18, 19
.
Estudos de prevalência revelam taxas de abuso sexual ao longo da vida variando
entre 15% e 25% na população feminina
15
. O atendimento destas pacientes gera grande
sobrecarga aos profissionais da saúde, principalmente da saúde mental, que se vêem frente
a situações de forte impacto emocional, impelidos a lidar com sentimentos
contratransferenciais intensos e muitas vezes incompreensíveis. A possibilidade de
aumentar a compreensão acerca da contratransferência que emerge destes contatos pode
facilitar aos terapeutas o reconhecimento e a elaboração dos sentimentos despertados, o que
levaria a menores chances destes se tornarem obstáculos ao entendimento das pacientes.
Neste estudo, avaliamos os sentimentos contratransferenciais dos terapeutas na
primeira consulta de pacientes mulheres vítimas de violência sexual em um programa
ambulatorial de atendimento a vítimas de traumas psíquicos. Nosso objetivo foi avaliar se
os seguintes fatores se mostravam independentemente associados à contratransferência dos
terapeutas: momento da consulta, gênero do terapeuta, momento da violência sexual na
vida das pacientes, presença de sintomas depressivos e de sintomas de TEPT nas pacientes,
escores em escala de percepção da gravidade da doença e em rastreamento para transtornos
de personalidade nas pacientes, e estilo defensivo utilizado pelas mesmas.
61
MÉTODO
Local de realização
O estudo foi realizado no Núcleo de Estudos e Tratamento do Trauma Psíquico
(NET-TRAUMA), do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), Brasil. O NET-
TRAUMA é um programa destinado ao atendimento de pacientes vítimas de traumas
psíquicos, encaminhados por serviços de atenção primária, secundária e terciária de Porto
Alegre. O atendimento faz parte do treinamento de médicos residentes do segundo ano de
Psiquiatria do HCPA, em um estágio com duração de 6 meses. Inicialmente, é realizada
uma consulta de triagem pelo médico residente de Psiquiatria do terceiro ano, sendo então
os pacientes encaminhados para o terapeuta responsável por seu tratamento, que tem, em
média, a duração de 6 consultas semanais. O tratamento consiste de uma abordagem
psicodinâmica breve da situação traumática, associada, quando necessário, a técnicas
cognitivo-comportamentais e ao manejo farmacológico. Além disto, é realizada avaliação e
orientação familiar.
Após a primeira consulta com a paciente, era solicitado ao terapeuta que
preenchesse a Escala para Avaliação da Contratransferência (EACT)
20
. Neste mesmo dia,
era solicitado à paciente que preenchesse os seguintes instrumentos: a Escala Davidson de
Trauma (EDT)
21
, a Standardized Assessment of Personality - Abbreviated Scale (SAPAS)
22
,
o Inventário de Depressão de Beck (BDI)
23
, e a versão em português do Defense Style
Questionaire (DSQ-40)
24
. A Escala de Impressão Clínica Global (CGI)
25
era preenchida por
um psiquiatra independente, na consulta de triagem.
O estudo teve a duração de dois anos, entre agosto de 2005 e setembro de 2007.
Participantes
Os terapeutas eram médicos residentes do segundo ano de Psiquiatria do HCPA,
tendo participado do estudo 26 terapeutas, 11 homens e 15 mulheres. A média de idade
destes foi de 27 anos (DP 3,4). Dentre os 40 atendimentos realizados, 26 foram por
terapeutas mulheres (65%) e 14 por terapeutas homens (35%). Oitenta por cento dos
terapeutas referiram ter atendido, previamente, pelo menos uma vítima de violência sexual.
62
Foram incluídas na amostra todas as pacientes mulheres vítimas de violência sexual,
tanto na infância quanto na idade adulta, atendidas no NET-TRAUMA entre agosto de
2005 e setembro de 2007, totalizando 40 pacientes. O único critério de exclusão era haver
indicação de internação psiquiátrica, por risco de suicídio ou psicose.
Instrumentos
A contratransferência dos terapeutas foi investigada através da Escala para
Avaliação da Contratransferência (EACT)
20
(Anexo 5). Esta escala lista 23 sentimentos
contratransferenciais freqüentes, divididos em 3 grupos: sentimentos de aproximação (10
itens), sentimentos de afastamento (10 itens) e sentimentos de indiferença (3 itens). O
terapeuta pontua a intensidade de cada sentimento em uma escala tipo likert de 0 (não
sentiu nada) a 3 (sentiu muito) no início, meio e final da consulta, resultando em um escore
médio para cada momento da consulta e em um escore global (média dos escores dos 3
momentos) para cada grupo de sentimentos. É uma escala de rápido preenchimento, factível
em um ambiente de atendimento clínico e de ensino.
A presença de sintomas de TEPT e de depressão foi medida através da Escala
Davidson de Trauma (EDT)
21
(Anexo 6) e do Inventário de Depressão de Beck (BDI)
23
(Anexo 7), respectivamente. São instrumentos auto-respondidos e freqüentemente
utilizados em ambientes clínicos e de pesquisa. A versão em português do BDI encontra-se
validada
26
, e foi realizada a adaptação trans-cultural da EDT em nosso meio
27
.
A Standardized Assessment of Personality - Abbreviated Scale (SAPAS)
22
(Anexo
8) é uma entrevista estruturada e breve para transtornos de personalidade, viável ao uso na
rotina de atendimentos clínicos. Um escore de 3 ou mais no rastreamento com a SAPAS
identifica corretamente a presença de transtorno de personalidade (critérios do DSM-IV)
em 90% dos participantes. Pode ser usada para identificar indivíduos com alto risco de
apresentar transtornos de personalidade em um ambiente psiquiátrico adulto geral. Foi
realizada a tradução e a adaptação do instrumento para o português, com aprovação e
autorização do seu uso pelo autor da escala.
Para avaliação dos mecanismos de defesa, foi utilizada a Versão em Português do
Defense Style Questionaire (DSQ-40) (Anexo 9). O DSQ foi desenvolvido por Bond et al
28
63
como um questionário auto-respondido com 67 itens para avaliação dos derivativos
conscientes dos mecanismos de defesa. O objetivo desta escala é identificar como as
pessoas lidam com o conflito consciente ou inconscientemente. O instrumento pode
fornecer escores para 20 defesas individuais e para 3 fatores (maduro, imaturo e neurótico).
Os escores das defesas individuais são calculados pela média dos itens de cada mecanismo
de defesa, e os fatores destes escores são calculados pelos escores médios das defesas que
pertencem a cada fator. Cada item é avaliado em uma escala de 1 a 9, em que 1 indica
"discordo totalmente" e 9 "concordo totalmente". A versão em português do instrumento foi
validada por Blaya et al
24
.
A sub-escala severidade da doença da Escala de Impressão Clínica Global (CGI)
25
(Anexo 10) avalia a impressão do clínico em relação ao quão mentalmente doente está o
paciente naquele momento. Os escores variam de 1 (normal; não mentalmente doente) a 7
(doença extremamente grave). Apesar do instrumento ser difundido, existem poucos
estudos acerca de suas características psicométricas
29
.
Métodos estatísticos
O cálculo do tamanho amostral foi baseado na projeção de que seriam necessários
no mínimo 40 pacientes para se detectar um coeficiente de correlação igual ou superior a
0.4, considerando-se um poder de 80% e um nível de significância de 0.05. Com este
tamanho amostral é possível realizar uma análise multivariada com até 4 variáveis
independentes.
Os escores globais dos três grupos de sentimentos contratransferenciais, de acordo
com a EACT, ponderados pelo número de itens em cada grupo, foram comparados através
do teste de Friedman. Para avaliar se os escores médios dos três momentos da consulta
(dentro de cada grupo de sentimentos) diferiam entre si, foi utilizada a ANOVA para
medidas repetidas, seguida pelo teste de Bonferroni.
Foi realizada a ANOVA one-way para comparar o escore global de cada grupo de
sentimentos entre pacientes vítimas de violência sexual na infância (até 12 anos de idade),
na idade adulta não atual (mais de 18 anos de idade e há mais de 3 meses), e na idade adulta
atual (mais de 18 anos de idade e menos de 3 meses), seguida pelo teste de Tukey. O
64
Teste t de Student foi usado para comparar o escore global de cada grupo de sentimentos
entre as variáveis dicotômicas. Utilizou-se a Correlação de Pearson para avaliar a
associação das variáveis contínuas e os escores globais da EACT.
Foram conduzidas análises de regressão linear múltipla incluindo todas as variáveis
associadas ao desfecho (sentimentos de proximidade, afastamento ou indiferença) nas
análises bivariadas com um valor de p<0,20, com o objetivo de obter maior confiabilidade
nos resultados. Todas as análises foram conduzidas na amostra global e, subseqüentemente,
na amostra estratificada pelo gênero do terapeuta.
Considerando que um terapeuta com sentimentos contratransferenciais desviantes da
média poderia enviesar os resultados, foi efetuada uma análise de sensibilidade, na qual
cada grupo de consultas realizadas por um terapeuta era excluído, um a um, e os escores
globais de sentimentos contratransferenciais mensurados. Foi definido que um terapeuta
seria permanentemente retirado da análise se os escores globais dos sentimentos
contratransferenciais fossem discrepantes da amostra total quando ele ou ela fosse excluído.
Questões Éticas
Todos os participantes assinaram um termo de consentimento informado e
esclarecido. Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do HCPA.
65
RESULTADOS
A análise de sensibilidade não identificou diferenças consistentes nos escores
globais dos sentimentos contratransferenciais quando cada terapeuta foi removido da
análise. As características demográficas das pacientes estão apresentadas na Tabela 1.
Houve uma diferença significativa entre os escores globais dos três grupos de
sentimentos contratransferenciais, com um predomínio de sentimentos de proximidade
(5.42, DP 1.25), em relação aos sentimentos de indiferença (1.82, DP 1.22) e de
afastamento (1.57, DP 1.08) (qui-quadrado=49.67, gl=2, p<0,001). As médias dos escores
dos sentimentos de proximidade dos terapeutas no início das consultas (16.08 ± 5.81)
diferiram significativamente das médias dos escores referentes ao meio (18.93 ± 4.3) e ao
final (19.23 ± 4.4) (p<0,001). Em relação aos sentimentos de afastamento e de indiferença
dos terapeutas, não foram observadas diferenças significativas nas médias dos escores entre
os 3 momentos das consultas.
Foi observada uma associação significativa entre os sentimentos de proximidade
dos terapeutas e o momento em que a violência sexual ocorreu na vida das pacientes (p=
0,043). Os escores globais dos sentimentos de proximidade dos terapeutas foram maiores
no atendimento de pacientes vítimas de violência sexual nos últimos 3 meses em relação às
pacientes vítimas deste trauma após os 18 anos de idade, mas mais de 3 meses (p =
0,037). Não foram observadas diferenças quanto ao atendimento de pacientes vítimas de
violência sexual antes dos 12 anos de idade. (Tabela 2)
Houve uma associação significativa entre os escores da CGI das pacientes e os
sentimentos de indiferença dos terapeutas (r = 0,35; p = 0,028). Não houve associação entre
os fatores avaliados e os sentimentos de afastamento. (Tabela 2)
As variáveis associadas ao desfecho com valores de p <0.20 nas análises bivariadas
foram incluídas em modelos de regressão linear múltipla, conduzidos separadamente para
cada grupo de sentimentos. No modelo de regressão linear múltipla controlando-se para os
escores obtidos na SAPAS das pacientes (associação com os sentimentos de proximidade
dos terapeutas com p = 0,159), houve perda da significância da associação entre o momento
da violência sexual e os sentimentos de proximidade dos terapeutas (R
2
= 0,020; p = 0,090).
A análise de regressão linear múltipla realizada com os sentimentos de indiferença dos
terapeutas como desfecho incluiu o momento da violência sexual (p= 0,080), fator maduro
66
do DSQ-40 (p = 0,054), fator neurótico do DSQ-40 (p = 0,112), fator imaturo do DSQ-40
(p = 0,190) e escore da CGI (p = 0.028). Após esta análise, a associação entre os escores da
CGI das pacientes e os sentimentos de indiferença dos terapeutas perdeu a significância
estatística (R
2
= 0,152; p = 0,063).
Não foram evidenciadas correlações significativas entre os sentimentos
contratransferenciais dos terapeutas e os demais fatores em estudo. (Tabela 2)
Realizou-se uma estratificação da amostra pelo gênero do terapeuta. Não foram
encontradas associações significativas entre os sentimentos contratransferenciais dos
terapeutas homens e os fatores em estudo.
Quanto à amostra de pacientes atendidas por terapeutas mulheres, foi identificada
uma associação significativa entre os escores do fator maduro do DSQ-40 das pacientes e
os sentimentos de indiferença das terapeutas (r = -0,44; p = 0,025). Foi observada nesta
amostra uma associação significativa entre os escores da SAPAS das pacientes e os
sentimentos de proximidade das terapeutas (r = -0,40; p = 0,045). (Tabela 3)
Na análise de regressão linear múltipla controlando-se para os escores da CGI das
pacientes (associação com os sentimentos de indiferença das terapeutas com p = 0,111), foi
perdida a significância da associação entre os escores do fator maduro do DSQ-40 e os
sentimentos de indiferença (R
2
= 0,218; p = 0,090). A associação entre os escores da
SAPAS das pacientes e os sentimentos de proximidade das terapeutas foi mantida após a
análise de regressão linear múltipla controlando-se para o momento da violência sexual
(associação com sentimentos de proximidade com p = 0,062), resultando em um R
2
= 0,151
e um p = 0,038.
67
DISCUSSÃO
Este estudo avaliou a associação das respostas contratransferenciais de terapeutas no
atendimento inicial de pacientes mulheres vítimas de violência sexual e o momento da
consulta, o gênero do terapeuta, o momento da violência sexual na vida das pacientes, a
presença de sintomas depressivos e de sintomas de TEPT nas pacientes, os escores em
escala de percepção da gravidade da doença e em rastreamento para transtornos de
personalidade nas pacientes, e o estilo defensivo utilizado por estas. Encontramos um
predomínio de sentimentos de proximidade no atendimento destas pacientes. No subgrupo
de terapeutas mulheres, foi observada uma correlação inversa entre maior probabilidade de
transtornos de personalidade nas pacientes e sentimentos de proximidade nas terapeutas.
Os terapeutas apresentaram mais sentimentos de proximidade em relação às
pacientes, que aumentaram do meio para o final das consultas. Pode-se supor que os
terapeutas, todos no começo da vida profissional, iniciavam os atendimentos de forma mais
defensiva, temerosos e inseguros quanto ao contato com as pacientes e suas histórias
traumáticas. É provável que, ao longo da sessão, a partir do desenvolvimento de uma
relação empática com as pacientes e de maior envolvimento com seus relatos, tenham
conseguido lidar melhor com o impacto inicial dos conteúdos, facilitando a emergência de
sentimentos de proximidade.
Os escores globais dos sentimentos de proximidade dos terapeutas foram maiores no
atendimento de pacientes vítimas de violência sexual nos últimos 3 meses em relação às
pacientes vítimas deste trauma após os 18 anos de idade, mas mais de 3 meses. Não
foram observadas diferenças nos sentimentos de proximidade quanto às pacientes vítimas
de violência sexual antes dos 12 anos de idade. Entretanto, este achado não foi significativo
no modelo de regressão linear múltipla.
Sendo a contratransferência uma criação conjunta
5
, maior proximidade dos
terapeutas associada a uma ocorrência recente do trauma poderia expressar uma resposta
empática à necessidade acentuada de ajuda e proteção das pacientes nestes momentos de
grande vulnerabilidade. Ao contrário, seria de se esperar uma reação de maior isolamento
afetivo à medida que se distancia a ocorrência do evento, e as pacientes passam a se sentir
mais capazes de se reorganizar e se reforçar defensivamente (com respostas semelhantes
por parte dos terapeutas).
68
O fato de não se encontrar diferenças nos sentimentos contratransferenciais em
relação às vítimas de violência sexual antes dos 12 anos de idade, não confirma, neste
estudo, a observação de associação entre violência sexual na infância e psicopatologia mais
grave na idade adulta, com conseqüente influência nas respostas contratransferenciais dos
terapeutas.
8, 9, 16, 17
. Pode-se pensar, entretanto, na hipótese do desenvolvimento de uma
síndrome psicopatológica específica em mulheres vítimas de violência sexual somente na
idade adulta, conforme os achados de Faravelli
30
. A ocorrência desta síndrome excluiria a
especificidade da violência sexual na infância como causadora de transtornos emocionais
característicos, também podendo estar associada a sentimentos contratransferenciais
constantes.
Foi encontrada uma associação significativa entre os escores da CGI das pacientes e
os sentimentos de indiferença dos terapeutas. É um achado curioso, pois seria esperado um
maior afastamento, ou uma menor aproximação, dos terapeutas no atendimento de
pacientes mais gravemente doentes. Este resultado perdeu sua significância estatística após
a análise de regressão linear múltipla.
Não foi observada influência do gênero dos terapeutas na contratransferência. Este
resultado é contrário ao de Latts
31
, que reportou predomínio de sentimentos de afastamento
em terapeutas homens e de aproximação em terapeutas mulheres frente a situações de
violência sexual. A hipótese de que terapeutas homens tenderiam a se afastar em resposta à
ansiedade despertada pelo contato com estes pacientes, e de que as mulheres conseguiriam
utilizar a empatia como moderadora da ansiedade
31
, não se confirmou em nossa amostra. O
entendimento de alguns autores psicanalíticos no sentido de não considerar o gênero real do
terapeuta, e sim suas características profissionais e pessoais como principais determinantes
da transferência e da contratransferência pode estar relacionado a este achado
7, 32
.
Não foram encontradas associações significativas entre os sentimentos
contratransferenciais e os sintomas depressivos e de TEPT, escores em rastreamento para
transtornos de personalidade e estilo defensivo das pacientes. Estes dados não replicam
alguns resultados de pesquisas, como os obtidos por Mclntyre
8
e Brody
9
, que revelaram
influência dos diagnósticos dos pacientes nas reações emocionais dos terapeutas.
Entretanto, vão ao encontro dos achados de Holmqvist
33
, que não mostraram haver relação
entre características diagnósticas dos pacientes e sentimentos contratransferenciais
despertados.
69
Na amostra estratificada para as pacientes atendidas por terapeutas mulheres foram
observadas associações inversas entre os escores do fator maduro do DSQ e da SAPAS das
pacientes e os sentimentos de indiferença e de proximidades das terapeutas,
respectivamente. Existe uma provável ligação entre estes achados, pois o estilo defensivo
empregado pelas pacientes pode estar relacionado à maior ou menor probabilidade de
transtornos de personalidade, refletindo na contratransferência. Após as análises de
regressão linear múltipla, somente a associação entre os escores da SAPAS e os
sentimentos contratransferenciais de proximidade permaneceu significativa. A relação
inversa entre estas duas variáveis está de acordo com estudos que relacionam o atendimento
de pacientes com transtornos específicos de personalidade a sentimentos
contratransferenciais característicos
8-11, 34
. Não foram evidenciadas associações
significativas na amostra estratificada para pacientes atendidas por terapeutas homens,
provavelmente pelo pequeno número amostral.
Todos os terapeutas participantes deste estudo estavam no início da sua vida
profissional, com uma média de idade de 27 anos. Isto poderia tornar a aferição dos
sentimentos contratransferenciais mais difícil, pela pouca experiência dos terapeutas em
identificá-los. No entanto, de acordo com Brody
9
, a experiência profissional não influencia
a utilização da contratransferência para o entendimento dos pacientes, mas sim o modo
como ela é exposta, que terapeutas mais jovens tendem a se sentir inseguros quanto às
suas percepções. O fato dos terapeutas estarem em um ambiente de ensino, recebendo
supervisão contínua, pode ter influenciado positivamente o entendimento e o uso de suas
reações contratransferenciais, por se sentirem acompanhados nesta difícil tarefa.
Os resultados deste estudo devem ser entendidos no contexto das suas limitações.
Trata-se de uma amostra de pacientes atendidas por psiquiatras em formação, em um
programa específico para o atendimento de vítimas de traumas psíquicos, dentro de um
hospital terciário, o que limita a generalização dos seus achados. Além disto, dados
limitados acerca do instrumento aferidor do desfecho, a EACT. Este estudo é o primeiro a
utilizar esta escala em uma amostra de pacientes vítimas de violência sexual, sendo
necessários estudos quanto às suas propriedades psicométricas. No entanto, com a
utilização de uma metodologia diferente, a Análise de Conteúdo, avaliando parte da
amostra incluída no presente estudo
35
, foram obtidos resultados na mesma direção, o que
reforça nossos achados.
70
Mesmo não sendo uma escala diagnóstica, a SAPAS é um rastreamento com valores
preditivos elevados e, por sua rápida e fácil aplicação, bastante apropriada para o uso em
um ambiente clínico e de ensino. Mais ainda, em uma situação de extremo sofrimento
psíquico, como a violência sexual. Neste estudo, foram utilizados os valores absolutos da
SAPAS, não seu ponto de corte, pelo fato de apenas uma paciente ter apresentado escore
inferior a 3.
O fato das pacientes estarem em um momento de extremo abalo emocional pode ter
influenciado o modo como preencheram os instrumentos, alterando medidas de transtornos
psicológicos e de estilos defensivos. Porém, deve ser considerado que todas as pacientes
eram vítimas de violência sexual, sendo então a amostra como um todo enviesada por este
denominador comum. Também deve se considerar que, mesmo sob o impacto de um grave
trauma, as pessoas costumam reagir de maneiras diferentes, assim como não
necessariamente utilizam defesas patológicas
36
.
Deve ser ressaltado que os sentimentos contratransferenciais avaliados neste estudo
estão relacionados ao primeiro encontro de cada dupla (paciente-terapeuta), a partir do
objetivo de serem analisadas as reações contratransferenciais agudas dos terapeutas.
Portanto, possíveis modificações da relação transferencial-contratransferencial, comuns no
decorrer do tratamento, não foram mensuradas.
Ampliar o entendimento acerca dos sentimentos contratransferencias despertados no
atendimento de vítimas de violência sexual pode trazer benefícios significativos ao
tratamento e ao prognóstico das pacientes, assim como ao desenvolvimento profissional dos
terapeutas. Para isto, sugerimos que investigações relacionadas a este tema sigam sendo
desenvolvidas, em diferentes contextos.
71
CONCLUSÕES
Duas conclusões podem ser inferidas em relação aos achados, para esta amostra: a)
pacientes mulheres, vítimas de violência sexual, puderam expressar, independente de
qualquer outro fator, predominantemente mais necessidade de ajuda e de proteção, capazes
de evocar respostas empáticas de proximidade por parte dos seus terapeutas; e b) a
inexperiência relativa dos terapeutas, ou seu pouco tempo de atividade profissional, não
afetaram suas capacidades empáticas pelo menos dentro do contexto de aprendizagem e
supervisão em um hospital escola. Por outro lado, quanto à tolerância, empatia e capacidade
de holding, é provável que suas inexperiências tenham sido largamente compensadas pelo
fato de estarem a menos tempo expostos à sobrecarga emocional da profissão e a
fenômenos como exaustão do terapeuta e traumatização secundária, conseqüências
freqüentes do trabalho nestes contextos.
Finalmente, é importante ressaltar que, dada à complexidade do tema e sua
relevância clínica, mais estudos são necessários e desejáveis para enriquecer sua
compreensão.
72
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75
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76
Tabela 1 – Características demográficas das pacientes (n=40).
Variáveis n (%)
Idade (média ± DP) 34,7 ± 15,2
Etnia
Branca 32 (80,0)
Parda 6 (15,0)
Negra 2 (5,0)
Nível educacional
Fundamental 17 (44,7)
Médio 17 (44,7)
Superior 4 (10,5)
Estado civil
Solteira 16 (41,0)
Casada 18 (46,2)
Divorciada 2 (5,1)
Viúva 3 (7,7)
Ocupação
Empregada 14 (37,9)
Desempregada 9 (24,3)
Aposentada / afastada 10 (27,0)
Estudante 4 (10,8)
Momento do trauma
Até 12 anos de idade 12 (30,0)
13 a 18 anos de idade 1 (2,5)
Acima de 18 anos de idade, há mais de 3 meses 10 (25,0)
Nos últimos 3 meses 17 (42,5)
Episódios de violência sexual
Repetidos 17 (42,5)
Único 23 (57,5)
DP= Desvio Padrão
77
Tabela 2 - Associação entre as médias dos escores de sentimentos de aproximação,
afastamento e indiferença avaliados pela EACT e os fatores em estudo.
Aproximação Afastamento Indiferença
Fatores em estudo
N M ± dp p M ± dp p M ± dp p
Gênero do terapeuta*
40 0,900 0,686 0,767
Masculino
14 18,2 ± 3,9 4,9 ± 4,1 1,9 ± 1,3
Feminino
26 18,0 ± 4,4 5,4 ± 3,3 1,8 ± 1,2
Momento da violência
sexual
#
40 0,043 0,302 0,080
Até 12 anos de idade
17,6 ± 4,4 5,6 ± 4,4 2,5 ± 1,5
> de 18 anos de idade,
há mais de 3 meses
15,7 ± 4,4 6,5 ± 4,2 1,5 ± 1,0
Últimos 3 meses
19,8 ± 3,3
a
4,3 ± 2,6
1,6 ± 1,0
CGI
§
40 r = -0,16 0,327 r = 0,09 0,557 r = 0,35 0,028
BDI
§
40 r = -0,08 0,621 r = 0,28 0,074 r = 0,07 0,672
EDT
§
40 r = 0,08 0,639 r = 0,10 0,527 r = 0,18 0,260
DSQ - 40
§
40
Fator Maduro
r = 0,18 0,269 r = 0,09 0,561 r = -0,30 0,054
Fator Neurótico
r = -0,03 0,866 r = 0,03 0,858 r = -0,25 0,112
Fator Imaturo
r = 0,08 0,616 r = - 0,07 0,677 r = -0,21 0,190
SAPAS
§
40 r = -0,23 0,159 r = 0,17 0,293 r = 0,03 0,852
EACT: Escala para Avaliação da Contratransferência; CGI: Impressão Clínica Global; BDI: Inventário de
Depressão de Beck; EDT: Escala Davidson de Trauma; DSQ - 40: Defense Style Questionaire; SAPAS:
Standardized Assessment of Personality - Abbreviated Scale
* Teste t de Student
#
ANOVA one-way, seguida pelo teste de Tukey
§
Coeficiente de correlação de Pearson
a
Diferença estatisticamente significativa ao nível de significância de 0,05 em relação ao grupo de pacientes
cujo trauma ocorreu após os 18 anos de idade, há mais de 3 meses
78
Tabela 3 – Associação entre as médias dos escores de sentimentos de aproximação,
afastamento e indiferença avaliados pela EACT e os fatores em estudo nas pacientes
atendidas por terapeutas mulheres (n = 26).
Aproximação Afastamento Indiferença
Fatores em estudo
M ± dp p M ± dp p M ± dp p
Momento da violência
sexual
#
Até 12 anos de idade
18,3 ± 3,6 0,062 4,6 ± 2,3 0,479 2,3 ± 1,6 0,382
> de 18 anos de idade,
há mais de 3 meses
15,7 ± 4,5 6,5 ± 4,2 1,5 ± 1,0
Últimos 3 meses
20,5 ± 4,0 4,9 ± 2,6 1,7 ± 1,0
CGI
§
r = -0,18 0,384 r = 0,30 0,142 r = 0,33 0,111
BDI
§
r = -0,25 0,217 r = 0,37 0,063 r = 0,08 0,705
EDT
§
r = -0,10 0,621 r = 0,22 0,272 r = 0,19 0,340
DSQ - 40
§
Fator Maduro
r = 0,22 0,264 r = 0,06 0,774 r = -0,44 0,025
Fator Neurótico
r = -0,10 0,611 r = 0,12 0,574 r = -0,16 0,440
Fator Imaturo
r = -0,08 0,706 r = 0,03 0,896 r = -0,18 0,381
SAPAS
§
r = -0,40 0,045 r = 0,29 0,155 r = 0,07 0,716
EACT: Escala para Avaliação da Contratransferência; CGI: Escala de Impressão Clínica Global; BDI:
Inventário de Depressão de Beck; EDT: Escala Davidson de Trauma; DSQ - 40: Deefense Style Questionaire;
SAPAS: Standardized Assessment of Personality - Abbreviated Scale
#
ANOVA one-way, seguida pelo teste de Tukey
§
Coeficiente de correlação de Pearson
79
6.2 Versão em Inglês
COUNTERTRANSFERENCE IN THE INITIAL VISIT OF WOMEN VICTIMS OF
SEXUAL VIOLENCE
Mariana Eizirik
1
, Sidnei Schestatsky
2
, Letícia Kruel
3
, Lúcia Helena Freitas Ceitlin
4
Journal of submission: Comprehensive Psychiatry
1
Psychiatrist. M.Sc. student in Psychiatry, Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS), Porto Alegre, RS, Brazil.
2
Psychiatrist. Psychoanalyst. MPh Harvard School of Public Health. Associated Professor,
Department of Psychiatry and Legal Medicine, UFRGS. Coordinator, Center for the Study
and Treatment of Psychological Trauma (NET-TRAUMA), Hospital de Clínicas de Porto
Alegre (HCPA), Porto Alegre, RS, Brazil.
3
Psychologist, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Porto
Alegre, RS, Brazil.
4
Psychiatrist. MPh Harvard School of Public Health. Associated Professor, Department of
Psychiatry and Legal Medicine, UFRGS. Coordinator, NET-TRAUMA, HCPA, Brazil.
80
ABSTRACT
Objectives: To identify the factors independently associated with therapists’
countertransferential feelings on the first visit of women victims of sexual violence.
Methods: Forty patients were seen by 26 therapists, during 2 consecutive years, at the
Center for the Study and Treatment of Psychological Trauma, of Hospital de Clínicas de
Porto Alegre, Brazil. After the first visit with the patient, the therapist completed the
Assessment of Countertransference Scale (ACTS). On the same day, the patient completed
the Davidson Trauma Scale, the Standardized Assessment of Personality - Abbreviated
Scale (SAPAS), the Beck Depression Inventory, and the Defense Style Questionnaire.
Results: The therapists showed a predominance of feelings of closeness toward the
patients, which were higher in the midpoint and in the end of the visits in comparison to the
beginning. The gender of the therapist did not influence the countertransferential pattern. In
the stratified sample of patients seen by female therapists, there was an inverse association
between the score of the screening scale for personality disorders and the
countertransferential feelings of closeness.
Conclusions: This study documented that therapists of both genders presented a similar
pattern of empathic feelings towards women victims of sexual violence.
Key words: countertransference; sexual violence; sexual abuse; psychic trauma.
81
INTRODUCTION
The concept of countertransference was introduced by Freud
1
and expanded by
authors such as Heimann
2
, Racker
3
and Winnicot
4
, and was understood as the emotional
reactions triggered by the patient in the therapist. It is pivotal in the current psychoanalytic
theory and technique, since it is an important tool in understanding the patient’s internal
world and reporting, influencing the therapeutic relationship and the outcome of the
treatment. Gabbard
5
remarks that countertransference may be considered as a joint creation
of the therapeutic dyad, and currently, a consensus exists for its use in understanding the
patient.
From the acknowledgement of the importance of the therapist’s mind and the
therapeutic field, a growing debate on the association between characteristics of the real
person of the therapist, like gender, and the way that the relationship with the patient is
established, is observed
6, 7
. Likewise, after Winnicot
4
, specific characteristics of the
patients, as their different psychopathologies, were considered as potential triggers of
countertransferential responses of constant pattern
8, 9
.
Studies by Rossberg et al
10
and Betan et al
11
depict recent research addressing the
relationship between countertransferential patterns and personality disorders. The first
study
10
has shown that there are differences in the countertransferential reactions of the
therapists seeing patients with different personality disorders, as well as the relationship
between countertransferential feelings and treatment direction. The study by Betan et al
11
showed significant correlation between specific countertransferential patterns and
personality disorders. This suggests that the countertransferential responses may arise in a
coherent and predictable manner, which strengthens its use for diagnostic unraveling and
treatment of patients. The results of these studies support the possibility and the importance
of identifying countertransferential patterns triggered by patients with different psychiatric
diagnoses, or by those sharing previous traumatic experiences, such as a history of sexual
violence.
The relevance of studying the countertransferential feelings triggered when seeing
victims of sexual violence is justified by their high intensity. Moreover, because of the
likelihood of such emotional reactions becoming barriers for a successful treatment, when
they are not understood by the therapist
12
. It is known that therapeutic impasses and failures
are fairly common in treating victims of psychological trauma
13
.
82
The therapists may be the first ones to identify, within themselves, feelings like fear,
shame and helplessness of the patients, because, at first, the patients may not always be able
to access their affective experiences. As these feelings are often intense and even
unbearable, they may terrify the therapeutic dyad, leading to impasses if not recognized and
elaborated
14
.
The occurrence of sexual abuse or violence during childhood may be associated to
the development of specific psychopathology, especially mood and personality disorders,
which might also be related to specific countertransferential responses
8, 9, 15-17
. One of the
possible mediators in the appearance of such disorders is the use of more immature defense
mechanisms by the victims, a phenomenon commonly associated with this trauma
18, 19
.
Prevalence studies reveal that lifetime sexual abuse in women ranges between 15%
e 25%
15
. Caring for these patients generates a large burden to the health professionals,
especially those from mental health services, who have to face situations of strong
emotional impact, and often difficult to understand. Enhancing the understanding about the
countertransference arising from these contacts may facilitate the recognition and
elaboration of the feelings emerged, lowering the chances that they become obstacles to
understanding the patients.
In the present study, we assessed the countertransferential feelings of therapists
towards female victims of sexual violence at their first appointment to a clinic specializing
in the treatment of psychological trauma. Our aim was to determine whether the following
factors were independently associated with therapists’ countertransference: time within the
visit, therapist’s gender, time when sexual violence occurred in the patient’s life, the
presence of depressive and PTSD symptoms in the patients, scores in the scales of disease
severity perception and in screening for personality disorders in the patients, and the
patient's defensive style.
83
METHOD
Setting
The study was conducted at the Center for the Study and Treatment of
Psychological Trauma (NET-TRAUMA), of Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA),
Brazil. NET-TRAUMA is a program designed for the care of victims of psychological
trauma, and takes referrals from primary, secondary and tertiary care services in Porto
Alegre. It is a 6-month rotation in the training of second year residents in Psychiatry of the
HCPA. Initially, a screening visit is done by the third year Psychiatry resident, after which
the patients are referred to the therapist responsible for their treatment, which consists, in
average, of 6, once weekly, visits. Treatment consists of a short psychodynamic
formulation of the traumatic situation and additional cognitive-behavioral therapy and
pharmacological management, as required. In addition, family evaluation and counselling
are undertake as appropriate.
After the patient’s first visit, the therapist was asked to complete the Assessment of
Countertransference Scale (ACTS)
20
. At the same day, the patient was asked to complete
the following assessments: the Davidson Trauma Scale (DTS)
21
, the Standardized
Assessment of Personality - Abbreviated Scale (SAPAS)
22
, the Beck’s Depression
Inventory (BDI)
23
, and the Portuguese version of the Defense Style Questionnaire (DSQ-
40)
24
. The Clinical Global Impressions Scale (CGI)
25
was rated by an independent
psychiatrist, at the screening visit.
The study took place over a 2-year period, between August 2005 and September
2007.
Participants
The therapists were second year Psychiatry residents of HCPA; there were 26
therapists, 11 male and 15 female. Their mean age was 27 years (SD 3.4). Among the 40
visits that were performed, 26 were undertaken by female therapists (65%) and 14 by male
therapists (35%). Eighty percent of the therapists had previous experience of treating, at
least, one victim of sexual violence.
84
All the women who were victims of sexual violence, both during childhood and
adulthood, seen at NET-TRAUMA between August 2005 and September 2007, were
included in the sample, which constituted 40 female patients. The only exclusion criterion
was the need for psychiatric hospitalization due to risk of suicide or psychosis.
Instruments
The therapist’s countertransference was investigated using the Assessment of
Countertransference Scale (ACTS)
20
. This scale lists 23 frequent countertransferential
feelings, which are divided in 3 clusters: feelings of closeness (10 items), feelings of
distance (10 items) and feelings of indifference (3 items). The therapist rates the intensity
of each feeling in a likert scale of 0 (not felt) to 3 (felt a lot) at the start, midpoint and at the
end of the interview, yielding a mean score for each time-point and an overall score (the
mean of the three time-point scores) for each cluster of feelings. This is a scale that can be
filled quickly, feasible in a clinical and teaching environment.
The presence of PTSD and depressive symptoms was measured by means of the
Davidson Trauma Scale (DTS)
21
and by The Beck Depression Inventory (BDI)
23
,
respectively. These are self-rated measures frequently used in clinical and research settings.
The Portuguese version of the BDI is validated
26
and an adaptation of the DTS was
conducted to our culture
27
.
The Standardized Assessment of Personality - Abbreviated Scale (SAPAS)
22
consists of a structured and short interview for personality disorders, to be used in routine
clinical care. SAPAS scores of 3 or higher at screening correctly identify the presence of a
personality disorder (DSM-IV criteria) in 90% of the participants. It can be used to identify
individuals with high risk of having personality disorders in general adult psychiatric
environment. This instrument was translated and adapted into Brazilian Portuguese, and
was approved and authorized to be used by its author.
In order to assess the defense mechanisms, the Brazilian Portuguese Version of the
Defense Style Questionnaire (DSQ-40) was used. The DSQ was devised by Bond et al
28
as
a self-answering questionnaire with 67 items for assessing the conscious derivatives of the
defense mechanisms. This scale attempts to identify how people deal with conscious or
85
unconscious conflicts. The instrument may display scores for 20 single defenses and for 3
factors (mature, immature and neurotic). The single defense mechanism scores are
calculated from the mean of the items of each defense mechanism and the score factors are
calculated by the mean scores of the defenses which are part of each factor. Each item is
assessed in a 1 to 9 scale in which 1 indicates "totally disagree" and 9, "totally agree". The
Portuguese version of the instrument was validated by Blaya et al
24
.
The Clinical Global Impressions Scale (CGI)
25
severity index assesses the
clinician’s impression on the extent of the patient’s mental illness at that time. The scores
range from 1 (normal; not mentally ill) to 7 (extremely severe disease). Although this
instrument is well known, there are few studies about its psychometric characteristics
29
.
Statistical Methods
Sample size calculation was based in the projection that at least 40 patients would
be necessary in order to obtain a correlation coefficient equal or greater than 0.4, at 80%
power and 0.05 significance level. With this sample size, a multivariate analysis with up to
4 independent variables could be performed.
The overall scores of the three groups of countertransferential feelings according to
the ACTS, weighted for the number of items in each group, were compared by means of
Friedman test. To evaluate whether the mean scores of the three interview times (within
each cluster of feelings) differed between them, ANOVA for repeated measures, followed
by the Bonferroni test, was used.
One-way ANOVA was performed to compare the overall score of each cluster of
feelings between patients who suffered childhood (up to 12 years of age), adulthood past
(more than 18 years of age and more than 3 months prior to the visit), and adulthood
current (more than 18 years of age and less than 3 months prior to the visit) sexual violence,
followed by the Tukey test. Furthermore, Student t-Test was used to compare overall score
of each cluster of feelings between dichotomous variables. The Pearson Correlation was
used to examine the association between continuous variables and ACTS overall scores.
Multiple linear regression analysis were conducted and included all variables
associated to the outcome (feelings of closeness, distance or indifference) in the bivariate
analysis at a p value <0.20, with the aim of obtaining greater reliability in the results. All
86
set of analysis was conducted for the overall sample and, subsequently, in the sample
stratified by the gender of the therapist.
Considering that a therapist with deviant countertransferential feelings could bias
the results, we conducted a sensitivity analysis, in which the group of consultations done by
a therapist was excluded, one by one, and the global scores of countertransferential feelings
were assessed. We defined that a therapist would be permanently excluded from the
analysis if the overall scores of countertransferential feelings were discrepant from the total
sample when he or she was removed.
Ethical Issues
All participants signed an informed consent form. This study was approved by the
Ethics in Research Committee of HCPA.
87
RESULTS
Sensitivity analysis did not identify consistent differences in the overall scores of
countertransferential feelings when each therapist was removed from analysis. The
demographic characteristics of the patients are depicted in Table 1.
There was a significant difference between the overall scores of the three groups of
countertransferential feelings, with a predominance of feelings of closeness (5.42, SD 1.25)
in relation to the feelings of indifference (1.82, SD 1.22) and distance (1.57 SD 1.08) (chi-
square=49.67, df=2, p<0,001). The mean scores of the therapist’s feelings of closeness at
the beginning of the visits (16.08 ± 5.81) were significantly different from the mean scores
at the midpoint (18.93 ± 4.3) and at the end (19.23 ± 4.4) (p<0.001). Regarding the
therapist’s feelings of distance and those of indifference, there were no significant
differences in the mean scores among the 3 visit times.
There was a significant association between the therapist’s feelings of closeness
and the time when sexual violence occurred in the patient’s life (p = 0.043). The overall
scores of the therapist’s feelings of closeness were higher when interacting with patients
who had been victimized in the preceding 3 months than for those who had been victimized
after the age of 18 years, more than 3 months previously (p = 0.037). There were no
differences regarding the care of victims of sexual violence when it occurred before the age
of 12 years. (Table 2)
There was a significant association between patients CGI score and the therapist’s
feelings of indifference (r = 0.35; p = 0.028). There was no association between the
evaluated factors and the feelings of distance. (Table 2)
Variables associated with the outcome at a p value < 0.20 in bivariate analysis were
included in multiple linear regression models, which were conducted in separate for each
cluster of feelings. In a multiple linear regression model, controlling for the patient’s
SAPAS scores (association with the therapist’s feelings of closeness at p value 0.159), the
significance of the association between the time of sexual violence and the therapist’s
feelings of closeness was lost (R
2
= 0.020; p = 0.090). A multiple linear regression analysis
performed with the therapist’s feelings of indifference as an outcome included time of
sexual violence (p = 0.080), DSQ-40 mature factor (p = 0.054), DSQ-40 neurotic factor (p
= 0.112), DSQ-40 immature factor (p = 0.190), and CGI score (p = 0.028). After such
88
analysis, the association between the patient’s CGI score and the therapist’s feelings of
indifference lost statistical significance (R
2
= 0.152; p = 0.063).
There were no significant correlations between the therapist’s countertransferential
feelings and any of the other factors in study (Table 2).
The sample was stratified according to the therapist’s gender. There were no
significant associations between the male therapist’s countertransferential feelings and the
factors in study.
Regarding the sample of patients seen by female therapists, a significant association
between the DSQ-40 mature factor scores of the patients and the therapist’s feelings of
indifference was observed (r = -0.44; p = 0.025). In this sample there was a significant
association between the patient’s SAPAS scores and the therapist’s feelings of closeness (r
= -0.40; p = 0.045). (Table 3)
In the multiple linear regression analysis controlled for the patient’s CGI scores
(association with the therapist’s feelings of indifference with p = 0.111), the significance of
the association between DSQ-40 mature factor scores and the feelings of indifference was
lost (R
2
= 0.218; p = 0.090). The association between the patient’s SAPAS scores and the
therapist’s feelings of closeness held true after the multiple linear regression analysis
controlled for the time of sexual violence (association with feelings of closeness with p =
0.062), resulting in R
2
= 0.151 and p = 0.038.
89
DISCUSSION
This study evaluated the association of therapist’s countertransferential responses at
the initial care of women victims of sexual violence and the moment within the visit, the
therapist’s gender, the time of sexual violence in the patient’s life, the presence of
depressive symptoms and of PTSD symptoms in the patients, the scores in a disease
severity perception scale and in a screening for personality disorders in the patients, and the
defensive style used by them. We documented a predominance of feelings of closeness in
the care of those patients. In the subgroup of female therapists, we detected an inverse
correlation between a higher probability of personality disorders in the patients and feelings
of closeness in the therapists.
The therapists displayed more feelings of closeness toward the patients, which
increased from the midpoint to the end of the visits. One may suppose that the therapists, all
at the beginning of their professional life, started the visit in a more defensive manner,
afraid and insecure of the contact with the patients and their traumatic histories. It is likely
that, during the session, after the development of an empathic relationship with the patients
and greater involvement with their reports, the therapists might have been able to cope
better with the initial impact of the contents, facilitating the appearance of feelings of
closeness.
The overall scores of the therapist’s feelings of closeness were higher when caring
for victims of sexual violence in the last 3 months compared to those older than the age of
18 years, when the episode occurred more than 3 months before the visit. There were no
differences in the feelings of closeness regarding the victims of sexual violence occurred
before the age of 12 years. Nevertheless, this finding was not significant in the multiple
regression model.
As countertransference is a joint creation
5
, the greater therapist’s closeness
associated to the recent occurrence of the trauma might express an empathic response to the
heightened need for help and protection by the patients at these times of great vulnerability.
On the contrary, a reaction of greater affective isolation might be expected as the
occurrence of the event is farther from the visit, and the patients start to feel more capable
of self-reorganizing and defensively reinforcing (with similar responses by the therapists).
The observation, in the present study, that there were no differences in the
countertransferential feelings towards the victims of sexual violence occurred before the
90
age of 12 years, does not confirm the observation of the association between sexual
violence during childhood and more severe psychopathology in adulthood, with consequent
influence in the therapist’s countertransferential response
8, 9, 16, 17
. One may think, however,
on the hypothesis of the development of a specific psychopathological syndrome in women
victims of sexual violence only during adulthood, in accordance to the findings of
Faravelli
30
. The occurrence of such syndrome would exclude the specificity of sexual
violence during childhood as the cause of characteristic emotional disorders, and also may
be associated to a constant pattern of countertransferential feelings.
A significant association was found between the patient’s CGI scores and the
therapist’s feelings of indifference. It is a curious finding, because one would expect more
distance, or less closeness, of the therapists caring for more severely affected patients. This
finding lost its statistical significance after multiple linear regression analysis.
The gender of the therapists did not influence the pattern of countertransferential
feelings. This result is the opposite to that of Latts
31
, who reported the predominance of
feelings of distance in male therapists and of closeness in female therapists when facing
situations of sexual violence. The hypothesis that male therapists tend to become distant in
response to the anxiety triggered by the contact with these patients, and that the women
would be able to use empathy to shape this anxiety
31
, was not confirmed in our sample.
This finding supports the view of some psychoanalytic authors who do not consider the
actual gender of the therapist, but their professional and personal characteristics as the main
determinants of transference and countertransference
7, 32
.
There were no significant associations among the countertransferential feelings and
the depressive and PTSD symptoms, scores at personality disorders screening and
defensive style of patients. Such findings do not replicate the results of some other studies,
such as those obtained by Mclntyre
8
and Brody
9
, revealing the influence of the patients’
diagnoses in the emotional reactions of the therapists. However, our findings are consistent
with those of Holmqvist
33
, showing no relationship between the patients’ diagnostic
characteristics and the countertransferential feelings triggered.
In the sample stratified by patients seen by women therapists, inverse associations
were observed between the patients’ DSQ mature factor and the SAPAS scores and the
therapists’ feelings of indifference and closeness, respectively. There is a likely connection
91
between these findings, because the defensive style used by the patients may be related to
greater or smaller likelihood of personality disorders, reflected in the countertransference.
After performing the multiple linear regression analyses, only the association between the
SAPAS scores and the countertransferential feelings of closeness remained significant. The
inverse relationship between these two variables is consistent with studies that relate the
care of patients with specific personality disorders to characteristic countertransferential
feelings
8-11, 34
. There were no significant associations in the sample stratified of patients seen
by male therapists, probably due to the small sample size.
All the therapists participating in this study were beginning their professional lives,
with mean age of 27 years. This could make the assessment of the countertransferential
feelings more difficult, because of the therapists’ little experience in identifying them.
However, according to Brody
9
, professional experience would not influence the use of
countertransference in understanding the patients, but the way it is exposed, because
younger therapists tend to feel insecure regarding their perceptions. The fact that the
therapists were at a teaching environment with constant supervision may have positively
influenced the understanding and the use of their countertransferential reactions, because
they felt accompanied in this difficult task.
The results of this study must be understood in the context of its limitations. It was
assessed a sample of patients seen by training psychiatrists in a specific program for caring
for victims of psychological trauma, in a tertiary hospital, which limit generalizing its
findings. Furthermore, there are limited data about the instrument that evaluated the
outcome, the ACTS. This is the first study that used ACTS in a sample of patients victims
of sexual violence, and the evaluation of its psychometric properties is necessary. However,
we have previously evaluated the same sample with a different approach, the Content
Analysis, and we detected results in the same direction
35
, which corroborate our findings.
Although the SAPAS is not a diagnostic scale, it screens with high predictive values
and, because it is quick and easy to apply, it is quite appropriate for the use in clinical and
teaching settings. This is especially true in a situation of extreme psychological distress,
such as sexual violence. In the present study, the SAPAS absolute scores were utilized, and
not its cutoff point because only one patient displayed a score lower than 3.
The fact that the patients face a time of extreme emotional shock may have
influenced the way how they completed the instruments, altering the measures of
92
psychological disorders and defensive styles. However, it must be taken into account that
all the patients were victims of sexual violence, and the entire sample was biased by this
common denominator. Also it must be considered that, even under the impact of a severe
trauma, people react differently from one another, and do not necessarily utilize
pathological defenses
35
.
It must be emphasized that the countertransferential feelings assessed in this study
were related to the first meeting of each dyad (patient-therapist), with the goal of analyzing
the therapists’ acute countertransferential reactions. Therefore, possible changes of the
transferential-countertransferential relationship, common along the treatment, were not
measured.
The further understanding of countertransferential feelings triggered by caring for
victims of sexual violence may be significantly beneficial to their treatment and prognosis,
as well as to the professional development of the therapists. We, thus, suggest that studies
on such theme continue to be developed, in different contexts.
93
CONCLUSIONS
Two conclusions may be inferred from this study: a) female patients, victims of
sexual violence, could express, irrespective of any other factor, mainly greater need of help
and of protection, capable of evoking empathic responses of closeness in the therapists; and
b) the relative inexperience of the therapists, or their short professional time, did not affect
their empathic capacities – at least within the learning and supervision context in a teaching
hospital. On the other hand, as to tolerance, empathy and holding capacity, it is likely that
their lack of experience were widely compensated by the fact that they were less exposed to
the profession’s emotional burden and to phenomena such as burn out and secondary
traumatization, frequent consequences of working in such settings.
Lastly, it is important to stress that, due to the complexity of the issue and to its
clinical relevance, further studies are necessary and appropriate for enriching its
understanding.
94
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98
Table 1 – Demographic characteristics of the patients (n=40).
Variables n (%)
Age (mean±standard deviation)
34.7 ± 15.2
Ethnicity
White 32 (80.0)
Mixed 6 (15.0)
Black 2 (5.0)
Schooling
Elementary 17 (44.7)
High School 17 (44.7)
College/University 4 (10.5)
Marital Status
Single 16 (41.0)
Married 18 (46.2)
Divorced 2 (5.1)
Widowed 3 (7.7)
Activity
Employed 14 (37.9)
Unemployed 9 (24.3)
Retired / On leave 10 (27.0)
Student 4 (10.8)
Time of Trauma
Up to 12 years of age 12 (30.0)
13 to 18 years of age 1 (2.5)
After 18 years of age, occurred more than 3
months prior
10 (25.0)
In the last 3 months 17 (42.5)
Episodes of Sexual Violence
Repeated 17 (42.5)
Single 23 (57.5)
99
Table 2 – Association between the mean scores of feelings of closeness, distance and
indifference assessed by ACTS and the factors in study.
Closeness Distance Indifference
Factors in Study
N M ± sd p M ± sd p M ± sd p
Therapist’s Gender*
40 0.900 0.686 0.767
Male
14 18.2 ± 3.9 4.9 ± 4.1 1.9 ± 1.3
Female
26 18.0 ± 4.4 5.4 ± 3.3 1.8 ± 1.2
Time when sexual
violence occurred
#
40 0.043 0.302 0.080
Up to 12 years of age
17.6 ± 4.4 5.6 ± 4.4 2.5 ± 1.5
> 18 years of age,
occurred more than 3
months prior
15.7 ± 4.4 6.5 ± 4.2 1.5 ± 1.0
In the last 3 months
19.8 ± 3.3
a
4.3 ± 2.6
1.6 ± 1.0
CGI
§
40 r = -0.16 0.327 r = 0.09 0.557 r = 0.35 0.028
BDI
§
40 r = -0.08 0.621 r = 0.28 0.074 r = 0.07 0.672
DTS
§
40 r = 0.08 0.639 r = 0.10 0.527 r = 0.18 0.260
DSQ - 40
§
40
Mature Factor
r = 0.18 0.269 r = 0.09 0.561 r = -0.30 0.054
Neurotic Factor
r = -0.03 0.866 r = 0.03 0.858 r = -0.25 0.112
Immature Factor
r = 0.08 0.616 r = - 0.07 0.677 r = -0.21 0.190
SAPAS
§
40 r = -0.23 0.159 r = 0.17 0.293 r = 0.03 0.852
ACTS: Assessment of Countertransference Scale; CGI: Clinical Global Impressions Scale; BDI: Beck
Depression Inventory; DTS: Davidson Trauma Scale; DSQ - 40: Defense Style Questionnaire; SAPAS:
Standardized Assessment of Personality - Abbreviated Scale
* Student t-Test
#
one-way ANOVA, followed by Tukey test
§
Pearson’s coefficient correlation
a
Statistically significant difference at the level 0.05 relative to the group of patients whose trauma occurred
after the age of 18 years, more than 3 months prior.
100
Table 3 Association between the mean scores of feelings of closeness, distance and
indifference assessed by ACTS and the factors in study in the patients seen by female
therapists (n = 26).
Closeness Distance Indifference
Factors in Study
M ± sd p M ± sd p M ± sd p
Time when sexual
violence occurred
#
Up to 12 years of age
18.3 ± 3.6 0.062 4.6 ± 2.3 0.479 2.3 ± 1.6 0.382
> 18 years of age,
occurred more than 3
months prior
15.7 ± 4.5 6.5 ± 4.2 1.5 ± 1.0
In the last 3 months
20.5 ± 4.0 4.9 ± 2.6 1.7 ± 1.0
CGI
§
r = -0.18 0.384 r = 0.30 0.142 r = 0.33 0.111
BDI
§
r = -0.25 0.217 r = 0.37 0.063 r = 0.08 0.705
DTS
§
r = -0.10 0.621 r = 0.22 0.272 r = 0.19 0.340
DSQ - 40
§
Mature Factor
r = 0.22 0.264 r = 0.06 0.774 r = -0.44 0.025
Neurotic Factor
r = -0.10 0.611 r = 0.12 0.574 r = -0.16 0.440
Immature Factor
r = -0.08 0.706 r = 0.03 0.896 r = -0.18 0.381
SAPAS
§
r = -0.40 0.045 r = 0.29 0.155 r = 0.07 0.716
ACTS: Assessment of Countertransference Scale; CGI: Clinical Global Impressions Scale; BDI: Beck
Depression Inventory; DTS: Davidson Trauma Scale; DSQ - 40: Defense Style Questionnaire; SAPAS:
Standardized Assessment of Personality - Abbreviated Scale
#
one-way ANOVA, followed by Tukey test
§
Pearson’s correlation coefficient
101
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Estes estudos evidenciaram um predomínio de respostas contratransferenciais de
proximidade em terapeutas jovens, no início da vida profissional, ao longo da primeira
consulta com pacientes mulheres vítimas de violência sexual. Pode-se inferir, a partir deste
achado, que as pacientes avaliadas conseguiram, de modo geral, expressar a necessidade de
serem compreendidas e ajudadas. O fato dos terapeutas serem jovens e inexperientes não
afetou sua capacidade de empatia, que puderam se conectar afetivamente com as
pacientes. Ressalta-se que os atendimentos foram realizados em um ambiente de ensino, o
que pode ter contribuído para aumentar a segurança dos terapeutas em se aproximar e entrar
em contato com as pacientes e suas histórias. Além disto, a inexperiência profissional pode
ter sido compensada por estarem pouco tempo expostos ao sofrimento decorrente do
trabalho em contextos de violência e, conseqüentemente, a fenômenos como traumatização
secundária e vicária.
Não foi observada influência do gênero do terapeuta no padrão contratransferencial.
Este resultado pode estar relacionado ao entendimento psicanalítico de que não é o gênero
"real" do terapeuta, mas sim suas características pessoais e profissionais, que irão
influenciar o desenvolvimento da transferência e da contratransferência. Os terapeutas
estudados têm características em comum - a faixa etária, a etapa profissional, o fato de
estarem em treinamento no mesmo hospital escola, com supervisões constantes - que
podem ter interferido nas reações transferenciais das pacientes, independentemente do
gênero dos profissionais.
Foi encontrado um predomínio de sentimentos de distanciamento em terapeutas
homens durante o atendimento de pacientes mulheres vítimas de violência urbana em
relação ao atendimento de pacientes vítimas de violência sexual na infância. Deve ser
considerada a hipótese de que estas respostas possam se dever ao desencadear de
sentimentos de vulnerabilidade nos terapeutas produzidos por estes atendimentos, tendo em
vista a maior prevalência de violência urbana contra homens no Brasil.
102
Não foram observadas diferenças nas respostas contratransferenciais relacionadas
ao momento em que a violência sexual ocorreu na vida das pacientes. Deve se pensar na
possibilidade do surgimento de sintomas característicos em mulheres vítimas de violência
sexual atual, assim como ocorrem em mulheres vítimas de violência sexual na infância, o
que excluiria a especificidade destes últimos em gerar respostas emocionais constantes nos
terapeutas.
Em uma amostra estratificada para pacientes atendidas por terapeutas mulheres,
identificou-se associação entre maiores escores em escala para rastreamento de transtornos
de personalidade nas pacientes e menos sentimentos de proximidade nas terapeutas. Este
resultado vai ao encontro de achados que relacionam traços ou transtornos de personalidade
dos pacientes com repostas contratransferenciais específicas dos terapeutas.
Destaca-se a importância da realização de pesquisas empíricas com o uso de
conceitos psicanalíticos, pelo potencial de ampliar o entendimento e a utilização destes
conceitos na prática clínica. Nos estudos desta dissertação, o foco na contratransferência em
uma situação de ensino-aprendizagem estimulou os residentes a ficarem mais atentos aos
seus sentimentos, muitas vezes discutindo-os em supervisão. Este fato, além da
contribuição para a pesquisa sobre o tema, reforçou a relevância da utilização da
contratransferência para a melhor compreensão dos pacientes, podendo trazer benefícios ao
tratamento e ao prognóstico destes. Conforme Ogden, "paciente e analista não se
encontram em busca da verdade pelo bem desta, eles estão interessados, principalmente,
no que é verdadeiro dentro do que está a ocorrer no interior da transferência-
contratransferência. O par analítico faz isto com o objetivo de criar um contexto humano
no qual o paciente possa ser capaz de viver com sua experiência passada e presente (ao
contrário de evacuá-la ou deixar-se amortecer por ela)" (p.407). A partir disto, fica clara a
necessidade de que investigações continuadas sobre o tema, valendo-se de metodologias
qualitativas, quantitativas, ou da união de ambas, sigam sendo realizadas.
REFERÊNCIA
103
Ogden, T.H. Do que eu não abriria mão.Rev Psicanálise SPPA 2005; 12 (3): 403-415.
104
ANEXO 1
CONTRATRANSFERÊNCIA E TRAUMA PSÍQUICO
Mariana Eizirik
1
, Sidnei Schestatsky
2
, Laís Knijnik
3
, Luciana Terra
4
, Lúcia Helena Freitas
Ceitlin
5
Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul 2006; 28(3):314-20
1
:Médica Psiquiatra - Mestranda em Psiquiatria, UFRGS
2
:Médico Psiquiatra - Professor Adjunto do Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal,
UFRGS - Preceptor da Residência em Psiquiatria, HCPA - Coordenador do NET-
TRAUMA, HCPA
3
:Médica Psiquiatra - Supervisora convidada do NET-TRAUMA, HCPA
4
:Psicóloga - Mestranda em Psiquiatria, UFRGS
5
:Médica Psiquiatra -Professora Adjunta do Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal,
UFRGS - Preceptora da Residência em Psiquiatria, HCPA - Coordenadora do NET-
TRAUMA, HCPA
105
RESUMO
O objetivo deste artigo é revisar aspectos importantes da relação entre a
contratransferência e o atendimento de pacientes vítimas de trauma psíquico. O tratamento
de pessoas traumatizadas é potencialmente uma fonte de sofrimento psíquico também para
os terapeutas, devido à grande carga emocional envolvida, bem como pelas chances de
evocar fortes reações contratransferenciais. Um maior entendimento acerca deste processo
poderá contribuir decisivamente para os resultados dos tratamentos, além de possibilitar a
proteção e a prevenção da saúde mental dos terapeutas.
Inicialmente, aborda-se o trauma a partir de seu conceito e definições, incluindo
considerações sobre o Transtorno de Estresse Pós-Traumático, estendendo-se para a
conceitualização de contratransferência e seu significado no contexto das situações
traumáticas. O impacto de tratar pacientes vítimas de trauma será também exposto através
da relevância do fenômeno de traumatização vicária, cuja compreensão vem sendo
destacada como indispensável para um melhor atendimento de vítimas de traumas
psicológicos.
Descritores: trauma; contratransferência; psicanálise; psicoterapia.
106
ABSTRACT
This article aims at reviewing important aspects of the relationship between
countertransference and care of patients who were victims of psychic trauma. The treatment
of traumatized patients is a potential source of psychic suffering to their therapists as well,
due to the emotional burden involved and to the chances of evoking strong
contratransferential reactions. A better understanding of this process could be a valuable
contribution to treatment outcome, besides promoting mental health protection and
prevention for therapists.
Firstly, psychic trauma will be approached from its concept and definitions,
including considerations on Post - Traumatic Stress Disorder and extending to
countertransference reactions and their meaning in the context of traumatic situations. The
impact of treating trauma victims will also be discussed through the relevance of vicarious
traumatization, a phenomenon whose comprehension has been pointed out as crucial to
provide better care to psychological trauma victims.
Keywords: Trauma, Countertransference, psychoanalysis, psychotherapy.
107
INTRODUÇÃO
A proposta deste trabalho é revisar alguns aspectos da relação entre
contratransferência e o atendimento de pacientes vítimas de trauma psíquico. O tratamento
de pessoas traumatizadas é, potencialmente, uma fonte de sofrimento psíquico para o
terapeuta, pela grande carga emocional envolvida e pelas chances de evocar fortes reações
contratransferenciais. Um maior entendimento acerca deste tema poderia contribuir para a
melhora do tratamento dos pacientes, além de possibilitar melhor proteção e prevenção na
saúde mental dos terapeutas.
Inicialmente, abordaremos o trauma psíquico, incluindo considerações sobre o
Transtorno de Estresse Pós-Traumático. Após, a contratransferência e seu significado no
atendimento de pacientes, seguido da relação entre contratransferência e trauma. Neste
último item, será incluído o conceito de traumatização vicária, fenômeno que vem sendo
muito estudado e observado no campo de atendimento de vítimas de traumas psicológicos.
REVISÃO DA LITERATURA
Trauma
Trauma pode ser definido como um acontecimento da vida do indivíduo que se
define pela sua intensidade, pela incapacidade em que se encontra o indivíduo de lhe
responder de forma adequada, pelo transtorno e pelos efeitos patogênicos que provoca na
organização psíquica" (p.678)
1
.
O conceito de trauma desempenhou um papel significativo nas teorias iniciais de
Freud. Ao descrever as neuroses traumáticas, diz que "estas dão uma indicação precisa de
que em sua raiz se situa uma fixação no momento do acidente traumático (...) é como se os
pacientes não tivessem findado com a situação traumática, como se ainda estivessem
enfrentando-a como tarefa imediata, não executada" (p.325)
2
. Insere o trauma dentro do
aspecto econômico dos processos mentais: "uma experiência que, em curto período de
tempo, aporta à mente um acréscimo de estímulo excessivamente poderoso para ser
108
manejado ou elaborado de maneira normal, e isto pode resultar em perturbações
permanentes da forma em que esta energia opera" (p.325)
2
.
Freud
2
define também como traumáticas todas as experiências em que se produz
intensa fixação dos pacientes, concluindo haver uma causa única para o início da neurose,
que surgiria da impossibilidade do paciente lidar com uma experiência afetivamente muito
intensa.
Em Além do Princípio de Prazer
3
, descreve o aparelho mental em relação com o
meio externo e interno através da analogia com uma vesícula indiferenciada e suscetível a
estímulos. Esta vesícula seria destruída pelas poderosas energias oriundas do meio externo
se não possuísse um escudo protetor, com a função de filtrar os estímulos e liberá-los
gradualmente e com menor intensidade para as camadas mais internas da vesícula.
Traumáticas seriam "quaisquer excitações provindas de fora que sejam suficientemente
poderosas para atravessar o escudo protetor" (p.45)
3
.
Garland
4
acrescentou ao entendimento das conseqüências do trauma na mente do
indivíduo a relação com os seus objetos internos. A deterioração da identidade que ocorre
após situações traumáticas estaria associada com uma falha na crença da proteção dos
"bons objetos internalizados". O trauma acarretaria o recrudescimento de ansiedades e
medos primitivos, somados às fontes externas destes sentimentos, gerando um colapso na
maneira em que o indivíduo percebe o mundo, a si próprio e às suas organizações
defensivas. O indivíduo traumatizado tentaria lidar com o evento externo relacionando-o
com relações objetais internas conhecidas, com o objetivo de conferir algum significado
a algo tão terrível e esmagador. A ligação entre presente e passado (ou seja, evento do
presente com significados perturbadores do passado) seria uma das causas das dificuldades
na recuperação do indivíduo, subseqüentemente ao trauma
4
.
Shengold
5
desenvolveu, em relação aos traumas precoces, o conceito de assassinato
da alma, descrito como "a destruição completa ou parcial do aparelho mental em
desenvolvimento, ou até mesmo desenvolvido, e do senso de identidade ("alma")"
(p.10)
5
. Seriam aquelas experiências traumáticas (superestimulações alternadas com
privações) repetidas e crônicas, impostas intencionalmente sobre a vítima, sendo o tempo o
fator mais importante na patogênese do trauma: quanto mais cedo ele ocorrer, mais
provavelmente a criança será atingida e maior será o dano.
109
Traumas psíquicos vêm sendo identificados e tratados com mais freqüência, nas
últimas décadas, a partir do reconhecimento da sintomatologia decorrente de traumas em
veteranos da Guerra do Vietnã e de sobreviventes das duas Guerras Mundiais.
O Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) foi originalmente concebido
como uma resposta normal a um evento adverso. Com a introdução, em 1980, do TEPT
como um diagnóstico psiquiátrico válido, estudos de eventos apontados como possíveis
causadores do transtorno (por exemplo, desastres naturais, violência interpessoal)
revelaram que estas formas de trauma eram comuns em nosso cotidiano. Estabeleceu-se
que muitos dos sintomas que ocorriam após o trauma poderiam ser duradouros ou até
permanentes. Esta visão modificou a tendência de estigmatizar as vítimas de trauma com
sintomas psiquiátricos como sendo “neuróticas” ou “fracas”, ficando evidente a existência
de um transtorno psiquiátrico prevalente e causador de sofrimento significativo. Ao longo
da última década, tem havido uma "explosão do conhecimento da prevalência e do impacto
do estresse traumático e da fenomenologia, neurobiologia e tratamento do transtorno de
estresse pós-traumático” (p.6)
6
.
O TEPT é uma síndrome que se caracteriza pela exposição a evento traumático que
envolva morte ou ferimento grave, reais ou ameaçados, ou um risco à integridade física,
própria ou de outros, sendo que a resposta envolve intenso medo, impotência ou horror.
Outros critérios incluem revivências persistentes do evento traumático, esquiva persistente
de estímulos associados ao trauma, entorpecimento da reatividade geral e sintomas de
continuada excitabilidade. A duração da perturbação deve ser superior a 1 mês
7
.
Estudos de prevalência de TEPT demonstram que ele é o quarto transtorno
psiquiátrico mais comum na população geral, afetando aproximadamente 10.3% dos
homens e 18.3% das mulheres em algum momento de suas vidas. Revelam, também, que a
maioria da população irá ter a experiência de ao menos um evento traumático ao longo da
vida, e que cerca de 25% dos sobreviventes de traumas desenvolverão TEPT
6
.
Estudos comunitários descrevem uma prevalência durante a vida de TEPT em
aproximadamente 8% da população adulta dos EUA. Indivíduos em situação de risco
(grupos expostos a incidentes traumáticos específicos) produzem achados variáveis, com as
taxas mais altas encontradas entre sobreviventes de estupro, combates militares, cativeiro,
confinamento ou genocídio com motivações políticas ou étnicas
7
.
110
A prevalência mundial de TEPT em populações civis varia muito, de 37.4% na
Argélia a 1.3% na Alemanha
8
.
Um estudo realizado em Porto Alegre, investigando a prevalência de violência
sexual em adolescentes, mostrou que 2,3% dos entrevistados relataram terem sido
sexualmente molestados, atacados ou estuprados e 4,5% testemunharam uma pessoa ser
sexualmente atacada, molestada ou estuprada. Achado importante a ser ressaltado é que
27,9% dos adolescentes relataram conhecer pessoas que foram vítimas de ato de violência
sexual
9
.
Além do sofrimento e prejuízo causados pelo TEPT, os sobreviventes de traumas
estão em maior risco de desenvolver outros transtornos psiquiátricos, como Depressão
Maior, Transtorno do Pânico, Transtorno de Ansiedade Generalizada e Transtorno de
Abuso de Substâncias
10
.
Clinicamente, grande parte do prejuízo e do sofrimento causados pela exposição ao
trauma pode ser evitada, ou ao menos reduzida, se o diagnóstico de TEPT ou de outro
diagnóstico psiquiátrico/psicodinâmico associado ao trauma for feito precocemente e
tratado de maneira eficaz.
Conforme Moore & Fine
11
, “as circunstâncias ambientais e físicas prevalecentes
por ocasião do trauma, a reação do indivíduo ao acontecimento antes que o evento em si,
as tentativas patológicas arcaicas para dominá-lo e o apoio concedido pela auto-estima e
por objetos ajudarão a determinar o desfecho” (p.215-16)
11
.
O atendimento inicial às vítimas de trauma é fundamental para o tratamento
posterior. A atitude do profissional, sua conduta frente ao paciente e o destino que aos
seus próprios sentimentos poderão influenciar o encaminhamento do tratamento e seu
prognóstico.
Contratransferência
O contato com vítimas de trauma comumente gera sentimentos contratransferenciais
intensos em quem os atende, não por estarem frente a pessoas em grande sofrimento
psíquico, como também pelo fato de as situações traumáticas deixarem evidentes a
fragilidade e a impotência também dos profissionais como pessoas comuns.
111
Segundo Eizirik & Lewkowicz
12
"a evolução da compreensão e utilização da
contratransferência levou-a a tornar-se um dos conceitos fundamentais para a prática da
psicanálise e da psicoterapia de orientação analítica, tornando seu estudo indispensável
para o profissional destas áreas" (p.300)
12
.
Atualmente, existem três conceitos de contratransferência a serem considerados. O
conceito clássico a como algo alheio, decorrente dos conflitos neuróticos do terapeuta,
anormal no processo terapêutico, e perturbadora do mesmo, em concordância com a
descrição original de Freud
12
.
O chamado conceito totalístico foi proposto por Heimann
13
, no seu trabalho On
Countertransference. A contratransferência começou a ser entendida como possível
ferramenta para o tratamento e para a compreensão do paciente, e concebida como todos os
sentimentos e atitudes do analista em relação ao paciente - um acontecimento normal no
processo terapêutico, originado pelo paciente, e transmitido ao analista por identificação
projetiva. Racker
14
definiu a contratransferência como "a totalidade da resposta
psicológica do analista ao paciente" (p.127)
14
, uma combinação entre identificações
concordantes (identificação de cada parte da personalidade do analista com a
correspondente parte psicológica do paciente) e complementares (identificação do analista
com os objetos internos do paciente).
O terceiro conceito, chamado específico, denomina contratransferência as reações
específicas do analista às qualidades particulares do paciente
15
. Sentimentos pessoais do
terapeuta, não relacionados à transferência e às identificações projetivas do paciente, seriam
considerados como transferências do terapeuta. Segundo Eizirik
16
, "a contratransferência
se manifesta quando é possível identificar que parte do self do paciente ou de suas
fantasias está sendo colocada dentro da mente do terapeuta e provocando uma reação,
idéia ou comportamento" (p.33)
16
. Também a ser considerada em relação à
contratransferência é a sua relação com o gênero do terapeuta e do paciente e à etapa do
ciclo vital de ambos. Tais variações da dupla podem vir a constituir diversas configurações
transferenciais - contratransferenciais
12
.
Zaslavsky & Santos
17
apontam que, além do psicanalista e do psicoterapeuta,
também o psiquiatra contemporâneo não pode ignorar a importância do uso da
contratransferência no atendimento de seus pacientes. Consideram que "a utilização da
medicação, sua aceitação ou não e a aderência ao tratamento podem ser compreendidas
112
de forma mais completa se o psiquiatra usar de seus sentimentos e buscar entender o
vínculo que se estabeleceu entre ele e seu paciente, seja ele psicótico, borderline ou
neurótico" (p.297)
17
.
Contratransferência e trauma
Segundo Klain & Paviae
18
"a contratransferência nos terapeutas que atendem
pacientes com TEPT é diferentemente estimulada em relação ao tratamento de outras
psicopatologias" (p.466)
18
. De saída, são grandes as demandas em relação ao terapeuta,
entre elas a descrença dos pacientes de que possam ser ajudados, algo em geral frustrante
para o narcisismo do terapeuta: "no esforço inconsciente de tornar ativo o que foi passivo,
o terapeuta pode se sentir atacado pelo paciente de tal maneira que o paciente assume o
papel de agressor e o terapeuta se transforma na vítima" (p.467)
18
. É comum, também, que
ocorram sentimentos de culpa pelo terapeuta não ter experimentado situações semelhantes
às vividas pelo paciente.
Para preservar sua visão de mundo e evitar a própria dor psíquica, o terapeuta pode
se distanciar destes afetos através de mecanismos de negação, isolamento ou descrença.
Klain & Pavie
18
pensam que a contratransferência e a empatia possam ser usadas
com sucesso no tratamento de pacientes com TEPT. É fundamental para a recuperação do
paciente tanto a construção de um ambiente seguro, para se desenvolver uma confiança
mútua no processo terapêutico, quanto a capacidade de empatia sustentada, por parte do
terapeuta, ao longo do processo. À medida que, neste novo e previsível contexto, vão se
expressando diferentemente afetos e conteúdos, o trauma tem a possibilidade de ser
entendido dentro de um novo sistema de significados. A capacidade para uma "empatia
genuína é a condição sine qua non para permitir que o paciente perceba o contexto
terapêutico como uma situação de segurança e de proteção, e o lugar propício para
expressar ansiedade e sentimentos de vulnerabilidade" (p.468)
18
.
Pearlman
19
assinala que o processo primário de cura na psicoterapia de pacientes
vítimas de abuso sexual na infância ocorre no contexto da relação terapêutica, sendo esta a
oportunidade do paciente reviver e re-significar danos ocorridos em suas relações iniciais.
Considera que o processo de construção da relação terapêutica é a terapia com
113
sobreviventes de trauma, sendo o self do terapeuta fundamental para que se estabeleça uma
relação terapêutica clara e aberta.
A dissociação é um mecanismo defensivo de primeira linha para muitos pacientes
traumatizados, distanciando-os de suas experiências afetivas. Os terapeutas são, às vezes,
os primeiros a terem acesso a sentimentos dissociados como raiva, tristeza, vergonha e
insegurança, mas que correm o risco de serem impulsivamente atuados se não reconhecidos
e processados pela dupla. A experiência da dor do paciente permite ao terapeuta
compreender sua realidade de forma profunda e intensa, o que, além do efeito benéfico no
estabelecimento da relação terapêutica, pode também gerar respostas contratransferenciais
poderosas e complicadas, comuns durante o atendimento de tais pacientes
19
.
Pearlman
19
reforça a importância do terapeuta que trabalha com vítimas de trauma
não permanecer isolado. Sugere continuada supervisão e discussão de casos com colegas,
além do tratamento pessoal, que seria "essencial para um autoconhecimento, auto-
observação e empatia pela vulnerabilidade de ser um paciente" (p.25)
19
. O grau de
conforto e familiaridade que o terapeuta tem com seu mundo interno, fantasias e afetos,
principalmente experiências de agressão, sexualidade, raiva e tristeza, irá influenciar sua
capacidade de acesso e compreensão das respostas contratransferenciais. A identidade
profissional e a posição do terapeuta no desenvolvimento de sua profissão também poderão
influenciar as respostas aos pacientes, sendo diferentes em terapeutas com mais e menos
experiência.
Conforme Dalenberg
20
, vítimas de trauma estão super-representadas em situações de
impasses ou de fracassos terapêuticos, tendo menores taxas de sucesso quando comparadas
a pessoas sem história de trauma, o que pode gerar frustração e confusão nos seus
terapeutas.
Ao longo de 1 ano de atendimento de pacientes vítimas de traumas psíquicos no
Hospital de Clínicas de Porto Alegre, foram pesquisados sentimentos dos terapeutas após as
consultas iniciais com estes pacientes, o que ilustra o tema discutido: "tristeza, pena,
desesperança"; "imobilidade, raiva, desprezo"; "sensação de que o paciente não queria
realmente se tratar"; "interesse, vontade de ajudar, surpresa com seu equilíbrio
emocional"; "desconforto, irritação"; "desejo de que isto não tivesse ocorrido com a
paciente, apreensão por pensar que pode acontecer com qualquer pessoa"; "perplexidade,
curiosidade"; "revolta, raiva do agressor, afeto"; "tédio, distância, que foram se
114
modificando ao longo da entrevista para um maior interesse"; "impotência, senti que não
estava ajudando muito"; "desconforto ao ouvir os relatos acerca do trauma";
"ansiedade"; "impressão de estar desconectado com o paciente"; "solidariedade, sensação
de imobilidade e de vulnerabilidade ao pensar que todos estamos sujeitos a algum trauma
como este".
Um aspecto importante do trabalho com pacientes traumatizados é a abordagem dos
sentimentos de culpa e vergonha que surgem na dupla. Existem evidências clínicas e
experimentais sugerindo que os terapeutas têm reações contratransferenciais ao trauma
diferentes dos sentimentos em relação ao paciente traumatizado, e que os pensamentos e
crenças pré - existentes do terapeuta em relação ao trauma podem afetar o curso da
psicoterapia. O paciente pode confundir a rejeição do terapeuta ao ato cometido contra ele
como rejeição a sua conduta inadequada ou reações patológicas; a compreensão disto,
pelo terapeuta, pode transformar a rejeição em conexão empática” (p.134)
20
. O terapeuta
pode tentar proteger a dupla de submergir em vergonha e culpa” prestando atenção na
tendência de ambos em idealizá-lo e em vê-lo como um “salvador”. Destaca-se também a
importância do tratamento pessoal do terapeuta: “o poder da transferência é difícil de ser
descrito e notável em ser experimentado totalmente" (p.134)
20
.
Outro aspecto a ser considerado acerca dessas reações é a reação à raiva dos
pacientes. Dalenberg
21
sugere que se o terapeuta conseguir "modular sua raiva com
empatia", poderá não apenas senti-la, como até revelá-la, sem expressar que o
relacionamento sofreu um dano irreversível. O paciente poderá aprender, então, que
existem relações continentes, carregadas de emoções, mas "não necessariamente
dominadas por hostilidade". Aprender que o “grito de raiva do paciente pode significar um
choro sofrido pode ajudar o terapeuta a evitar responder com contra-hostilidade
"
(p.198)
21
.
Um fenômeno importante que costuma ocorrer é a chamada traumatização vicária,
descrita como a experiência de reações psicológicas perturbadoras, dolorosas e prejudiciais,
que surgem em terapeutas que atendem pacientes gravemente traumatizados. Sabe-se que
muitos terapeutas ficam tristes, deprimidos, desesperançados, desiludidos, irritados e
intolerantes durante tais atendimentos. Mas a traumatização vicária vai além dos efeitos
psicológicos da empatia, sendo percebida como "um processo contagioso, maligno, que
pode trazer conseqüências graves aos profissionais" (p.25)
22
. Os sintomas podem ser
temporários e leves, ou se tornarem graves e com duração de meses a anos
22
.
115
Á medida que as vítimas vão descrevendo os detalhes de seu trauma, estados
paralelos de medo, desesperança e desgosto são evocados nos terapeutas. Estes ficam
vulneráveis a pensamentos intrusivos e sonhos perturbadores em resposta aos relatos, ou
incapazes de controlar sua raiva contra os agressores, se tornando "hipercríticos contra o
sistema, que permite que prossigam tais abusos e vitimizações
"
(p.26)
22
.
Segundo Crothers
23
, "pessoas que trabalham com vítimas de trauma podem
experimentar efeitos psicológicos profundos, dolorosos e perturbadores, que podem
persistir por meses a anos após os atendimentos" (p.9)
23
. O trauma pode ser contagioso e a
equipe de atendimento se sentir "ameaçada vicariamente", como se fosse uma testemunha
presente do mesmo, experimentando parte do terror, raiva e desespero dos seus pacientes. A
exposição repetida a estas experiências modifica crenças básicas da equipe de atendimento
em relação à sua própria vulnerabilidade.
A equipe acaba compartilhando a experiência de impotência dos pacientes, o que a
leva a subestimar suas próprias capacidades e conhecimentos e não perceber os recursos e
possibilidades dos pacientes. É importante que as vítimas possam compartilhar suas
experiências com os outros, sendo esta possibilidade uma pré-condição para a restituição de
um mundo com significado. A partir disto, fica evidente a necessidade da equipe de
atendimento poder entrar em contato com o sofrimento e a realidade destes pacientes,
ajudando-os a re-construir um mundo interno mais confiável e menos ameaçador
23
.
Pearlman
19
define traumatização vicária como "a transformação das experiências
internas do terapeuta, que surge como resultado de uma ligação empática com o material
traumático do paciente" (p.31)
19
. É um processo, não um evento, e inclui os afetos e as
defesas do terapeuta contra estes afetos. O terapeuta deve estar aberto e disponível para
ajudar o paciente na sua busca pela verdade, mas esta "abertura empática" é também fonte
de vulnerabilidade, que o próprio terapeuta também acaba lidando com a perda nas
crenças de autoproteção, segurança, controle e justiça.
A traumatização vicária vincula-se à contratransferência uma vez que altera o self
do terapeuta. Na medida em que vai ocorrendo um nível mais intenso de traumatização
vicária, as respostas contratransferenciais podem se tornar mais fortes ou menos
reconhecidas conscientemente pelo terapeuta. Tais interações podem causar resultados
desfavoráveis ao tratamento, devendo o terapeuta permanecer atento às suas influências
19
.
116
Schestatsky et al
24
descreveram as fortes reações emocionais de um membro da
equipe após o atendimento de uma paciente vítima de violência sexual. Na ilustração
clínica, a terapeuta relatou ter sentido raiva, revolta, angústia e impotência após o relato
dramático da paciente - além de sintomas físicos, como náuseas e cefaléia. Sentiu-se
aliviada somente após a redação da entrevista e da discussão do caso com os membros da
equipe. Os autores reforçam a necessidade da supervisão e da troca de informações e
discussão com colegas para os terapeutas que trabalham continuamente com estes
pacientes.
A ilustração acima é um exemplo de outro fenômeno, o da chamada traumatização
secundária, súbita reação adversa que pode ocorrer com o contato com pacientes
traumatizados, descrita por Figley
25
como a coerção emocional vivenciada por pessoas em
contato próximo com uma vítima, principalmente terapeutas e familiares.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Consideramos evidente a relevância de ser aprofundado o conhecimento a respeito
das reações emocionais de quem atende pessoas vítimas de traumas psíquicos. Tal estudo
traz benefícios para os tratamentos dos pacientes, contribuindo não apenas para a
compreensão, por parte dos profissionais, do sofrimento destas pessoas, mas também do
próprio sofrimento pessoal e outras sensações perturbadoras que podem interferir na sua
capacidade terapêutica. Fica clara a importância da possibilidade de o terapeuta entrar em
contato empático com tais pessoas, ao mesmo tempo em que preserve sua capacidade de
pensar e de sobreviver ao intenso sofrimento despertado em ambos. Estas capacidades são
fundamentais para o bom desenvolvimento da relação terapêutica, que, por sua vez, é uma
das principais ferramentas para a restituição da confiança e segurança interna dos pacientes
traumatizados.
REFERÊNCIAS
117
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Psicanálise. Lisboa: Moraes Editores;1976. p.678-684.
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Completas de Sigmund Freud - Volume XVI. Rio de Janeiro: Imago; 1976. p. 323-336.
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Completas de Sigmund Freud - Volume XVIII. Rio de Janeiro: Imago; 1976. p. 17-50.
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Psicoterapia da Infância e Adolescência - Publicação CEAPIA 1999; 12: 7-26.
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Alegre: Artmed; 2005. p.300-309.
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118
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técnica psicanalítica. Porto Alegre: Artes Médicas; 1982. p. 120-57.
15) Sandler J, Holder A, Dare C. Basic Psychoanalitic Concepts: counter-transference. Br J
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American Pshychological Association; 2000. p. 115-144.
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Countertransference and the Treatment of Trauma. Washington, DC: American
Pshychological Association; 2000. p. 173-198.
22) Blair TD, Ramones VA. Understanding Vicarious Traumatization. J Psychosoc Nurs
Ment Health Serv 1996; 34(11): 24-30.
23) Crothers D. Vicarious Traumatization in the Work with Survivors of Childhood
Trauma. J Psychosoc Nurs Ment Health Serv 1995; 33(4): 9-13.
24) Schestatsky S, Ceitlin LH, Hauck S, Terra L. A vulnerabilidade do terapeuta e seu
impacto sobre a função terapêutica. Rev Bras de Psicoter 2003; 5(3): 307-317.
25) Figley CR. Compassion fatigue: coping with secondary traumatic stress disorder in
those who treat the traumatized. Philadelphia: Brunner/Mazel; 1995.
119
ANEXO 2
PSICOTERAPIA DE ORIENTAÇÃO ANALÍTICA EM PACIENTES ADULTOS
VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA SEXUAL NA INFÂNCIA
PSYCHOANALYTIC PSYCHOTHERAPY IN ADULT PATIENTS VICTIMS OF
SEXUAL VIOLENCE IN CHILDHOOD
Mariana Eizirik
1
; Viviane Sprinz Mondrzak
2
Revista Brasileira de Psicoterapia 2006; 8(2-3):246-258
1
Médica Psiquiatra - Mestranda em Psiquiatria, UFRGS
2
Médica Psiquiatra - Professora e Supervisora convidada dos Cursos de Especialização em
Psicoterapia de Orientação Analítica, UFRGS - Psicanalista e Membro Efetivo da
Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre (SPPA)
120
RESUMO
O presente estudo revisa alguns aspectos do tratamento psicoterápico de orientação
analítica em pacientes adultos vítimas de violência sexual na infância. A relevância do tema
advém do conhecimento das graves repercussões que a violência sexual na infância pode
ocasionar e no potencial benefício de uma psicoterapia conduzida de forma adequada.
Inicialmente, é apresentada uma revisão da literatura, com ênfase nos seguintes aspectos da
psicoterapia: conflitos comumente despertados e sua abordagem, reações
contratransferenciais freqüentes e a relação paciente-terapeuta. Após, é descrito um
material clínico. Destaca-se a importância do terapeuta manter uma escuta atenta às
potenciais dificuldades que surgirão no tratamento e na relação com o paciente, como o
grande temor deste último em desenvolver um vínculo de confiança, aliado à necessidade
de que isto aconteça. Reforça-se a necessidade de auto-conhecimento por parte do
terapeuta, oriunda principalmente do tratamento pessoal, somado às supervisões, discussões
com colegas, e regular estudo sobre o tema.
Descritores: abuso sexual infantil; psicoterapia; violência sexual.
121
ABSTRACT
The present study reviews aspects of psychoanalytic psychotherapy of adult patients who
were victims of sexual violence during childhood. The relevance of the theme is related to
the knowledge of serious consequences that may be caused by such episodes of violence,
and to the potential benefit of well-conducted psychotherapy. Initially, a review of the
literature is presented, emphasizing the following aspects of psychotherapy: common
conflicts and their approaches, frequent countertransferential reactions, and the patient-
therapist relationship. A clinical report is then presented. The importance of maintaining
watchful listening regarding potential difficulties that may occur during treatment, such as
the patient's frequent fear about developing a bond of trust, together with the need for this
to happen, is emphasized. The therapist's need for self-knowledge is pointed out, derived
essentially from his/her personal treatment, in addition to supervisions, discussions with
colleagues, and regular study on the theme.
Keywords: child abuse, sexual; psychotherapy; sexual violence.
122
INTRODUÇÃO
Freud
1
propôs, inicialmente, que a etiologia das neuroses estava ligada à ocorrência
de experiências sexuais prematuras em crianças, mais precisamente de estímulos sexuais
por parte de um adulto, resultando em traumas que levariam ao desenvolvimento de
sintomas histéricos a partir da puberdade. Tal teoria, conhecida como a teoria da sedução,
foi abandonada por Freud
2
a partir de sua descoberta das pulsões, presentes desde a
infância, compreendendo que a fantasia poderia agir como uma experiência real: "(...) no
inconsciente não indicação da realidade, de modo que não se consegue distinguir entre
a verdade e a imaginação que está catexizada com afeto" (p.351)
2
.
Com o conhecimento da importância da subjetividade de cada sujeito na percepção
e elaboração dos estímulos recebidos, que podem ou não ser considerados traumáticos ou
geradores de sofrimento psíquico a longo prazo, coloca-se em foco, neste trabalho, a
realidade do trauma sexual em crianças, e como abordá-lo em um tratamento psicoterápico,
fornecendo a ajuda necessária a estes pacientes.
Estudos de prevalência
3
mostram taxas de abuso sexual ao longo da vida variando
entre 15% e 25% na população feminina geral. As estimativas são maiores quando são
avaliadas mulheres com queixas de dores funcionais não explicadas (síndrome do cólon
irritável, dor pélvica crônica, por exemplo), transtornos psiquiátricos e abuso de
substâncias.
Um estudo populacional mostrou que apesar de uma média de 30% das pacientes
investigadas terem sido vítimas de abuso sexual, físico ou emocional na infância, apenas
21% destas havia falado sobre isto com algum médico
4
. Tal achado contribui ao
conhecimento de que apesar da alta prevalência e dos efeitos deletérios associados com o
abuso, a história do trauma permanece escondida da maioria dos profissionais da saúde
3
.
Outro dado interessante é proveniente de um estudo com adolescentes vítimas de abuso,
que encontrou uma taxa de aceitação para encaminhamento a atendimento psicoterápico de
98%, com a maioria comparecendo ao atendimento inicial (81%)
5
. Fica evidenciada a
importância do conhecimento por parte dos profissionais da saúde a respeito destes
traumas, através de uma atitude que possibilite aos pacientes o relato de tais experiências,
pela possível e necessária ajuda que um tratamento pode ocasionar a estas pessoas.
123
Sabe-se das graves repercussões que a violência sexual na infância pode ocasionar
na vida adulta destes pacientes, como transtornos de ansiedade e depressão, baixa auto-
estima, problemas nos relacionamentos interpessoais, disfunções sexuais e re-
traumatizações. Price
6
acrescenta associação com ideação suicida, abuso de substâncias e
dificuldades parentais, além da influência de variáveis como duração do abuso, presença de
penetração e identidade do perpetrador com o aumento da probabilidade de conseqüências a
longo prazo. Tais achados são corroborados pelo estudo de Thompson et al
7
, que comparou
grupos de mulheres vítimas de violência sexual na infância e na idade adulta com um grupo
controle, encontrando um índice de psicopatologia significativamente maior nos grupos de
mulheres abusadas.
Seguindo esta linha, citamos o estudo de Peleikis
8
, com 112 mulheres, destas 56
vítimas de violência sexual na infância e 56 sem esta história, que procuraram atendimento
psiquiátrico por depressão e/ou ansiedade, e foram atendidas em psicoterapia
psicodinâmica por aproximadamente cinco anos. Seus achados mostraram que o grupo de
mulheres com história de abuso sexual na infância chegou ao fim destes cinco anos de
psicoterapia com um pior estado mental em relação ao outro grupo (maior taxa de
transtornos psiquiátricos, maior taxa de transtorno de estresse pós-traumático e maior média
na Escala de Avaliação Global do Funcionamento).
O objetivo deste trabalho é revisar alguns aspectos do tratamento psicoterápico de
orientação analítica de pacientes adultos vítimas de violência sexual na infância. A
relevância do tema se traduz no potencial benefício que um tratamento conduzido de forma
adequada pode trazer a estas pessoas, diminuindo-lhes a carga de sofrimento psíquico e os
prejuízos em seu funcionamento.
Inicialmente, será apresentada uma revisão da literatura acerca do tema em
desenvolvimento, com ênfase nos aspectos da psicoterapia: conflitos comumente
despertados e sua abordagem, reações contratransferenciais freqüentes, e a relação
paciente-terapeuta. Após, como ilustração, será descrito um material clínico.
DESENVOLVIMENTO
Estudos que enfocam a psicoterapia em adultos vítimas de violência sexual na
infância são ainda raros, tendo Price
6
encontrado um total de oito trabalhos, com resultados
124
de terapias cognitivo-comportamentais, psicodinâmicas/interpessoais, experienciais, e
psicoeducacionais/ suportivas. Mostra resultados positivos, indicando a potencial
efetividade da psicoterapia individual para estes pacientes, sugerindo a manutenção dos
ganhos do tratamento em medidas específicas e globais ao longo do tempo. Um achado
relevante é a associação da formação precoce de uma aliança terapêutica no tratamento com
desfechos positivos posteriores.
A formação de uma aliança precoce não é tarefa fácil para estes pacientes, que,
citando Pearlman
9
, "o estabelecimento de intimidade interpessoal, a identificação e
nomeação dos afetos, a integração dos pensamentos, memórias, e sensações corporais, e a
clarificação dos contextos históricos e dos eventos são as tarefas que estas pessoas mais
lutaram para evitar no sentido de sobreviver" (p.77)
9
. Levando em conta o quão assustador
pode ser o processo terapêutico, com o potencial de impasses, reações terapêuticas
negativas, falhas e interrupções precoces, o terapeuta deve manter sempre um cuidadoso
exame das reações transferenciais-contratransferenciais, criando e mantendo um "ambiente
facilitador para o trabalho transformador da terapia" (p.77)
9
.
Pensando-se na formação de uma aliança precoce no tratamento, é importante
enfocar as necessidades e desejos dos pacientes em relação à psicoterapia. Draucker
10
, em
um estudo qualitativo a respeito das necessidades de mulheres vítimas de violência sexual
em um tratamento psicoterápico, mostra que as pacientes vítimas de violência sexual
iniciada na infância (um dos três grupos avaliados) desejavam a oportunidade de entrar em
contato com suas emoções e explorá-las com profundidade, em conjunto com um terapeuta
que estivesse comprometido com esta tarefa e que acreditasse nas suas capacidades de
mudança. Conclui que "enquanto os clínicos e pesquisadores estão ocupados em
determinar as técnicas mais efetivas, os pacientes estão preocupados com suporte,
validação, cuidado e, principalmente, capacitação" (p.8)
10
.
A capacidade do paciente em adquirir autonomia sobre sua vida é um dos aspectos
importantes na terapia do trauma. Os terapeutas, como defesa contra os sentimentos de
vulnerabilidade despertados pelo contato com as histórias traumáticas, podem tentar
assumir o papel de "salvador", o que implica na crença de que o paciente não é capaz de
agir por conta própria. Tal atitude perpetua a crença de incapacidade e constante sensação
de ameaça vivenciada pelas vítimas de trauma
11
.
125
Esta sensação de vulnerabilidade despertada nos terapeutas pode ser considerada a
reação contratransferencial mais ameaçadora, segundo Schestatsky et al
12
, que a crença
de que as pessoas boas não serão vítimas de violência, e que o mundo mantém uma certa
ordem e previsibilidade sofre um grande abalo "quando temos que nos defrontar com
algumas das expressões máximas da destrutividade humana" (p.311)
12
.
Uma reação contratransferencial que pode ser considerada como uma tentativa
reparadora ao paciente, e também ao terapeuta, deste contato com a destrutividade humana,
similarmente ao papel de "salvador" comentado, é a chamada contratransferência
parental, descrita por Pearlman
9
. Consiste no desejo de compensar o paciente pelos danos
sofridos, e pode ser tanto útil quanto problemática. Sua ajuda ao paciente é a de mostrar que
pode ser respeitado, cuidado, e com uma qualidade de vida a ser buscada, com experiências
até então não vivenciadas. Tal atitude é crítica no tratamento de vítimas de violência sexual
na infância, que pode promover o reconhecimento de padrões parentais inapropriados no
passado e no presente, e também como o paciente age em relação a ele mesmo. A
problemática deste tipo de contratransferência é o risco de infantilizar o paciente, não
valorizar suas capacidades, implicando "um objetivo irreal da psicoterapia: a
reparentagem" (p. 84)
9
. O papel do terapeuta é ajudar o paciente a elaborar o luto pela
infância que não teve, e não de vivê-la na relação transferencial.
A elaboração deste luto é tarefa fundamental aos pacientes vítimas de "assassinato
da alma", conceito de Shengold
13
àquelas experiências crônicas e repetidas de maus tratos e
privação emocional infligidas por um adulto sobre uma criança. Pensa que os efeitos destes
danos podem muitas vezes ser modificados, ressaltando que, atualmente, cada vez mais a
psicoterapia vem sendo aplicada "não aos chamados casos neuróticos clássicos, mas às
pessoas não amadas, exploradas e carentes" (p.22)
13
. Considera que tratar o assassinato da
alma significa primeiramente descobri-lo, devendo o terapeuta ser capaz de "suspender a
descrença nas histórias do paciente de crueldade e incesto de modo a ajudá-lo na mais
difícil tarefa de diferenciar fantasias de fatos reais" (p.22)
13
.
A fragmentação ou cisão da mente é uma operação comum em vítimas de
"assassinato da alma". A manutenção de uma imagem parental boa é a alternativa para a
preservação da identidade de self, para que esta não sucumba ao medo e à raiva despertados
pelas experiências esmagadoras - o mau tem que ser registrado como bom.
Conseqüentemente, esta necessidade de agarrar-se à imagem de pais bons e amorosos é a
126
fonte de maior resistência às interpretações de "realidade objetiva" fornecidas pelo
terapeuta: estas "ameaçam a perda da imagem mental do bom progenitor e esta perda
restaura os perigos da aniquilação (ansiedade traumática)" (p.12)
13
. Shengold
13
lembra
que o terapeuta deve estar consciente de que não é somente o paciente que pode ter a
necessidade de manter uma boa imagem parental, pela dificuldade em se admitir a
existência de um progenitor psicótico ou abusador. É tarefa do analista/terapeuta "nem
assumir que o que o paciente apresenta sobre seus pais seja verdadeiro, nem tampouco
que seja falso, mas observar e lidar com como o próprio paciente trabalha com as
acusações" (p.23)
13
.
Um fenômeno importante a ser reconhecido é a repetição da situação traumática no
tratamento psicanalítico/psicoterápico, pelo inerente e inconsciente padrão do paciente de
buscar ajuda em quem espera que o abuse ou agrida, repetindo as relações com os
abusadores da infância. Sendo traumática ao paciente, a situação terapêutica é onde e
quando terapeuta e paciente serão responsáveis em compreender a dor que isto causa e a
busca do paciente em procurar cuidado em quem lhe causa dor. Kilborne
14
considera que
apenas os métodos analíticos, incluindo a psicoterapia de orientação analítica, podem
"iluminar adequadamente a natureza da dor traumática e a vergonha que o trauma produz
"
(p.386)
14
.
Outra maneira de repetir a situação traumática é percebida na re-encenação interna
do paciente: o self fica dividido entre a criança abusada e vulnerável e o adulto abusador,
crítico e punitivo, com o paciente fornecendo respostas críticas, negligentes e abusadoras
aos seus próprios desejos e sentimentos. Pearlman
9
considera a compreensão deste
funcionamento central na psicoterapia, devendo o paciente ser ajudado a re-definir estas
lutas internas em eventos interpessoais no presente, com o terapeuta, e no passado, com os
seus objetos significativos.
Garland
15
considera que a terapia oferece às vítimas de trauma um "modo particular
de entendimento, em um setting que oferece uma nova experiência de continência" (p.30)
15
.
Não é uma tarefa fácil ao terapeuta exercer tal continência, que envolve re-viver a
experiência do trauma, com toda a carga emocional e sentimentos relacionados, como
culpa, raiva e medo. O terapeuta deve tentar manter um equilíbrio delicado, estando
suficientemente aberto às experiências do paciente para tentar compreender seu real estado,
mas estável e seguro na técnica para não ser invadido por estas de modo a atrapalhar sua
127
capacidade terapêutica. A tarefa da continência é centralmente importante e muito difícil -
"importante, pois sem uma renovada experiência de continência não um tratamento
real; difícil porque pode envolver sermos temidos e odiados por longos períodos, até o
paciente poder começar a confiar em nós de modo realista, como seres humanos dignos de
confiança - nem ideais ou oniscientes, nem perigosos e malignos" (p.29)
15
.
Outro aspecto relevante a ser abordado é o das memórias traumáticas infantis,
estudado no trabalho de Herman
16
, que avaliou setenta e sete pacientes psiquiátricos adultos
vítimas de violência sexual na infância. A maioria dos pacientes examinados revelou ter
lembranças contínuas do trauma, sendo que apenas 16% relataram um período de total
amnésia, seguido de recordação tardia. Psicoterapia prévia foi citada por 28% da amostra,
sendo um achado interessante o fato de que o surgimento de novas memórias após um
período de amnésia foi citado freqüentemente como um fator determinante na decisão de
procurar psicoterapia.
Crianças vítimas de traumas mais severos e crônicos podem ter que, primariamente,
ser capazes de esquecer para depois relembrar - "enquanto o abuso ameaça por todos os
lados, relembrar pode ser impossível" (p.169)
17
. Este ponto de vista é apresentado por
Alvarez
17
, que aponta a necessidade de um processo, dentro do tratamento, lento e contínuo
no qual o lembrar "talvez envolva um milhão de minúsculas integrações, cada uma delas
ocorrendo em condições que também permitam que outros aspectos do abuso, outras
integrações, sejam esquecidos" (p.163)
17
. Estas crianças precisam construir um
equipamento mental que lhes possibilite pensar sobre o trauma, sendo tarefa do tratamento
ajuda para esta construção. A criança precisa dispor de um ambiente que sinta como seguro
e confiável para que "aprenda a lembrar", com um objeto não abusivo e capaz de manter
limites firmes entre realidade e fantasia. Enquanto este mundo não-abusivo e o aspecto não-
abusado da personalidade estão sendo construídos, o terapeuta precisa respeitar a
necessidade da criança de manter o abuso e o passado distantes
17
.
MATERIAL CLÍNICO
Vera é uma mulher de 40 anos, casada, com uma filha adolescente. Foi
encaminhada para atendimento psicoterápico de orientação analítica após a realização de
128
uma terapia cognitivo-comportamental associada ao uso de antidepressivos, com
diagnóstico de transtorno do pânico e agorafobia. Iniciou a psicoterapia com melhora de
alguns sintomas de ansiedade, porém, permanecia com muitos sintomas depressivos,
referindo "angustia" e "muita dificuldade para cumprir suas tarefas diárias, muitos medos".
A paciente sofreu abusos físicos e sexuais por parte do pai durante toda a infância.
Sua família tinha poucas condições sócio-econômicas, com uma prole numerosa (era a
penúltima de onze irmãos). As agressões físicas ocorriam "sempre que as ordens do pai não
eram cumpridas, como quando não trabalhávamos como ele mandava, quando não
queríamos comer, ou falávamos algo em português (a língua falada em casa era o italiano)".
Descreve os abusos sexuais como manipulações de seu corpo pelo pai, nega que este a
tenha estuprado, mas acha que isto teria ocorrido se não evitasse e se escondesse sempre
que conseguia. Diz que foi "uma criança doente", tinha muitos vômitos e dores, e usava
estes sintomas para tentar sair com sua mãe de casa quando esta tinha algum compromisso,
o que deixava o pai muito irritado.
Descreve o pai como um homem agressivo e cruel, que bebia eventualmente, mas
"não fazia as coisas ruins só quando estava bêbado". Tem muitas recordações das agressões
que ele cometia contra os animais da casa, tendo-o visto mantendo relações sexuais com
um dos animais em certa ocasião, o que a deixou horrorizada - "sempre que os bichos
gritavam devia ser por causa disto". O pai não permitiu que os filhos estudassem, todos
tinham que ajudar em casa e trabalhar. A paciente não lembra de ter brincado durante a
infância, acha que nunca teve uma boneca sua ou algum brinquedo. A mãe é vista como
uma mulher frágil, doente, e submissa ao pai. Acha que a mãe se preocupava muito com
ela, mas que não conseguiu protegê-la. Aos onze anos, Vera fugiu de casa, sendo acolhida
por uma tia. Sentiu-se muito culpada em relação à mãe, mas não retornou à casa dos pais.
Morou com familiares, trabalhou, até conhecer seu marido, com quem se casou em pouco
tempo de namoro.
alguns anos, seu pai faleceu, tendo Vera o visitado no hospital. Ver o pai em
uma situação de fragilidade e sofrimento a deixou muito abalada, pois sentiu prazer nisto e,
logo após, culpa. Conta que, nesta situação, um irmão seu pediu ao pai que pedisse
desculpas à paciente, mas este não o fez, deixando-a muito perturbada. Não compareceu ao
velório nem ao enterro. Um ano depois, sua mãe faleceu, na mesma época em que Vera
recebeu o diagnóstico de câncer de útero. Fez cirurgia, quimioterapia e radioterapia, tendo
129
uma recidiva um ano após, também tratada adequadamente. Está sem a doença
aproximadamente 4 anos, em acompanhamento.
Vera apresentava dificuldades nas relações interpessoais, tinha muito medo de ser
agredida, sentia-se não compreendida pela filha e pelo esposo, com quem se irritava
freqüentemente. Tinha "explosões do nada", direcionadas ao marido geralmente antes de
situações em que iriam sair juntos ou ter momentos de intimidade. Vinha evitando ter
relações sexuais algum tempo - "sinto raiva dele na hora, e me vêm as imagens do pai,
às vezes também da mãe". Achava "grosseria" quando o marido a elogiava ou se mostrava
fisicamente carinhoso. Sentia-se feia e "desleixada", muitas vezes com vontade de se
separar, mas, ao mesmo tempo, com medo de que o marido se cansasse dela e arranjasse
outra - "não consigo me imaginar sem ele". Este e a filha desconheciam seus traumas da
infância - "imagina se eles sabem, que vergonha". Mantinha uma relação de grande
dependência com a filha, que praticamente não saía de casa, e tinha atitudes de controle em
relação aos pais. Sempre a protegeu muito, não permitiu que esta se aproximasse do avô, e
nem de outras figuras masculinas, inclusive muitas vezes do pai; não gostava de deixá-los
sozinhos.
A paciente tinha muitos sonhos com os pais, que a deixavam bastante ansiosa e
amedrontada ao longo do dia, além de despertarem medo de pegar no sono à noite. Sonhava
com o pai dentro do caixão, ou que o encontrava "bem vivo e real". Um dos sonhos foi
bastante revelador e proporcionou um maior entendimento do conflito atual - sonhou que
um casal jovem estava em uma festa, mas que não podia aproveitar ou se divertir, pois eram
perseguidos por um casal de fantasmas, que os atormentava. Ficou clara para a terapeuta e
para a paciente a associação com o que vinha vivendo: não podia ter uma vida satisfatória
com o marido, "aproveitar a festa", enquanto seguia se sentindo perseguida pelo casal de
"pais fantasmas". Foi interpretada a fantasia proibitória de vencer a mãe, podendo usufruir
de um casamento satisfatório e, ao mesmo tempo, a partir dos sintomas, sonhos e
lembranças, seguir unida aos pais, que estes não morriam, não podiam ser nunca
enterrados, até todos os sofrimentos e conflitos poderem ser melhor elaborados dentro dela.
Vera reagiu bem a este entendimento, podendo, em um certo momento do tratamento,
guardar um porta-retratos com uma foto da mãe que ficava em sua sala, e que "incomodava
muito". Os pesadelos diminuíram gradualmente, e começou a dormir melhor.
130
Outro foco importante de preocupação era o temor à recidiva do câncer. Vera
interpretava qualquer dor ou mal-estar como um indício deste acontecimento, o que "a
deixava de cama". Respeitando e enxergando a realidade desta preocupação, mas levando
em consideração que fazia um acompanhamento regular, estando todos os seus últimos e
recentes exames negativos, foi interpretada a sensação que a doença pode ter lhe
despertado, causando esta ansiedade adicional, como representante do pai: algo invasivo,
destruidor e que a deixava passiva e impotente. Esta visão causou inicialmente uma reação
de impacto na paciente, mas logo de grande alívio, pois conseguiu compreender que não
estava mais impotente, que vinha conseguindo se cuidar, havia sobrevivido à doença e
estava bem clinicamente.
A relação com o marido foi bastante discutida, havendo melhora no relacionamento
na fase intermediária à final do tratamento, quando Vera pôde perceber que vinha
projetando neste o papel do pai, e que tentava manter esta figura controlada, à distância,
para se sentir segura; a situação infantil de ter vontade de "colocar o pai para fora de casa"
era re-vivida com o marido. Estava vivendo no presente e no passado. Ela e o marido
começaram a sair juntos novamente, sem a filha, e a vida sexual passou de "um martírio
inevitável" a algo mais prazeroso e menos assustador, tendo "as imagens dos pais" parado
de surgir nos momentos das relações sexuais.
Um aspecto relevante a ser ressaltado é o fato de que, do meio ao final do
tratamento principalmente, a questão da violência sexual não foi o foco principal, sendo
abordados outros aspectos e facetas da história e personalidade de Vera não diretamente
relacionados ao abuso, o que ajudou a mostrar-lhe que ela e sua vida não eram restritas ao
trauma.
Inicialmente, os sentimentos despertados na terapeuta durante as sessões eram de
ansiedade, medo de que a paciente não resistisse às sensações despertadas pelas memórias
traumáticas, responsabilidade e culpa por estar "provocando" tal sofrimento, e sensação de
estar novamente traumatizando a paciente, o que faria com que esta não retornasse e,
conseqüentemente, não melhorasse. Houve sessões em que a terapeuta sentiu-se muito
cansada, com grande sonolência e sensação de paralisia, identificada com o aspecto
amortecido e depressivo da paciente. À medida que foi sendo estabelecida uma relação
terapêutica mais firme, baseada em confiança mútua, com a paciente e a terapeuta
descobrindo juntas que poderia haver um ganho real a partir desta tarefa, e com Vera
131
mostrando sinais claros de melhora em sua vida, houve uma mudança no padrão
contratransferencial. As sessões passaram a ser mais vivas, a terapeuta sentia-se mais
tranqüila, a partir da percepção de que a paciente e também ela mesma haviam
"sobrevivido" às lembranças traumáticas e conseguido "deixar os fantasmas menos capazes
de estragar a festa da vida de Vera".
A paciente recebeu alta após dois anos de tratamento, com uma melhora
significativa dos sintomas de ansiedade e depressão, tendo voltado a trabalhar e a cultivar
mais ativamente sua vida de relacionamentos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A relevância do conhecimento e da reflexão a respeito do tratamento de pessoas
vítimas de violência sexual na infância, levando em consideração os diversos aspectos
abordados, fica exemplificada no caso clínico apresentado, que revela quão benéfico pode
ser este trabalho na vida de uma pessoa com esta história. A atenção do terapeuta às
potenciais dificuldades que surgirão no tratamento e na relação com o paciente, ao grande
temor deste último em desenvolver um vínculo de confiança, aliada à necessidade de que
isto aconteça, são ferramentas essenciais a esta tarefa. Deve ser destacado que o trauma não
precisa e não deve ser o foco principal do tratamento em todas as suas etapas, mesmo
sabendo-se que pode estar envolvido nas reações e defesas do paciente, como parte de seu
self. Tal abordagem acarretaria a sensação no paciente de que é restrito ao fato de ter sido
vítima de um trauma, não sendo buscados e reforçados outros aspectos de sua identidade,
que podem enriquecê-lo e ajudá-lo a integrar o trauma em sua personalidade, sem ser
reduzido a este.
A manutenção de uma escuta atenta, e de uma observação constante dos aspectos
transferencias-contratransferencias são especialmente significativas neste tipo de
tratamento, para que se tente evitar a repetição e atuação da situação traumática na relação
da dupla terapêutica, assim como outros tipos de reações potencialmente destrutivas ao
processo. Estas podem ser evitadas ou ao menos identificadas se este cuidado especial for
colocado em prática. Reações contratransferenciais freqüentes e potencialmente causadoras
de sofrimento a serem ressaltadas são a identificação do terapeuta com o paciente, sentindo-
132
se incapaz, impotente e vulnerável à destrutividade externa, e também a identificação com
o agressor, pela tendência à repetição da situação de vítima do paciente. Nesta última
situação, o terapeuta fica com a sensação de estar sendo invasivo e re-traumatizando o
paciente através da situação terapêutica, gerando culpa e perturbação ao processo. A partir
disto, fica clara a importância do auto-conhecimento por parte do terapeuta, destacando-se a
necessidade do tratamento pessoal, somado às supervisões, discussões com colegas, e
regular estudo sobre o tema. Tais atividades, em conjunto, fornecem e reforçam as
ferramentas necessárias para a condução destes tratamentos tão difíceis, mas, ao mesmo
tempo, tão gratificantes e recompensadores para ambos os seus participantes.
REFERÊNCIAS
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psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago; 1972. v. 3, p. 217-49.
2. Freud S. Carta 69 (1950). In: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas
de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago; 1972. v. 1, p. 350-2.
3. Leserman J. Sexual abuse history: prevalence, health effects, mediators, and
psychological treatment. Psychosom Med 2005;67:906-15.
4. Pearse WH. The commonwealth fund women's health survey: selected results and
comments. Womens Health Issues 1994;4:38-47.
5. Diaz A, Edwards S, Neal WP, Ludmer P, Sondike SB, Kessler C, et al. Obtaining a
history of sexual victimization from adolescent females seeking routine health care. Mt
Sinai J Med 2004;71:170-3.
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2001;21(7):1095-1121.
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Psychopathology and sexual trauma in childhood and adulthood. J Trauma Stress
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8. Peleikis DE, Mykletun A, Dahl AA. Current mental health in women with childhood
sexual abuse who had outpatient psychotherapy. Eur Psychiatry 2005;20:260-7.
9. Pearlman LA, Saakvitne KW. Countertransference responses to incest. In: Trauma and
the therapist. New York: W.W Norton & Company; 1995. p. 77-98.
10. Draucker CB. The psychotherapeutic needs of women who have been sexually
assaulted. Perspect Psychiatr Care 1999;35:1-10.
11. Crothers D. Vicarious traumatization in the work with survivors of childhood trauma. J
Psychosoc Nurs 1995; 35(4): 9-13.
12. Schestatsky S, Ceitlin LH, Hauck S, Terra L. A vulnerabilidade do terapeuta e seu
impacto sobre a função terapêutica. Rev Bras Psicoter 2003;5(3):307-17.
13. Shengold LL. Maus tratos e privação na infância: assassinato da alma. Publicação
CEAPIA 1999;12:7-26.
14. Kilborne B. When trauma strikes the soul: shame, splitting, and psychic pain. Am J
Psychoanal 1999;59(4):385-403.
15. Garland C. Thinking about trauma. In: Understanding trauma: a psychoanalytical
approach. London: Karnac; 1998. p. 9-31.
16. Herman JL, Harvey MR. Adult memories of childhood trauma: a naturalistic clinical
study. J Trauma Stress 1997;10(4):557-71.
17. Alvarez A. Abuso sexual de crianças: a necessidade de lembrar e a necessidade de
esquecer. In: Companhia viva: psicoterapia psicanalítica com crianças autistas, borderline,
carentes e maltratadas. Porto Alegre: Artes Médicas; 1994. p. 161-72.
134
135
ANEXO 3
TERMO DE CONSENTIMENTO PÓS-INFORMAÇÃO
Convite para juntar-se ao estudo sobre: AVALIAÇÃO DA
CONTRATRANSFERÊNCIA NO ATENDIMENTO DE PACIENTES VÍTIMAS DE
TRAUMA PSÍQUICO
Antes de participar deste estudo, gostaríamos que você tomasse conhecimento a
respeito de alguns detalhes que envolvem o mesmo. Vamos informá-lo abaixo sobre
algumas dúvidas que você possa ter.
Este estudo tem o objetivo de avaliar a contratransferência no atendimento inicial de
vítimas de trauma. A avaliação da contratransferência será feita a partir do uso da Escala
para Avaliação de Contratransferência (Eizirik,1997). Esta escala será preenchida por você
após a sua primeira consulta de avaliação com os pacientes do ambulatório NET-TRAUMA
a você encaminhados após a consulta de triagem. As demais escalas aplicadas e variáveis
em teste serão feitas pelos auxiliares de pesquisa do NET-TRAUMA e pela autora do
projeto.
Você estará envolvido no projeto durante o seu estágio de seis meses no
ambulatório NET-TRAUMA, de seu segundo ano de residência em psiquiatria.
O desconforto causado por este estudo pode ser o do tempo que irá lhe custar para
preencher as escalas de contratransferência e responder às perguntas que lhe serão feitas.
Os benefícios que poderão ser obtidos são a colaboração com o desenvolvimento do
conhecimento científico acerca do tema em estudo, além de, especificamente nos casos
atendidos, estimular a observação da sua contratransferência durante os atendimentos. Este
último fato poderá auxiliar no atendimento dos pacientes.
A sua privacidade será preservada, não havendo riscos da divulgação ou do uso dos
resultados associados ao seu nome em nenhum momento do trabalho. Os dados
preenchidos serão confidenciais, e usados somente para fins de estudo.
Os resultados deste trabalho poderão ser publicados em revistas científicas nacionais
ou internacionais, mas você não será identificado pelo nome.
Em caso de qualquer outra dúvida quanto ao estudo e o que ele envolve, e sobre os
seus direitos, você poderá entrar em contato com a Dra. Mariana Eizirik, pelos telefones
32221640, 33312594 ou 98080611.
Sua participação no estudo é voluntária, de modo que se você decida não participar
ou abandonar o estudo durante o mesmo, isto não lhe trará nenhuma restrição ou
conseqüência danosa.
CONCORDO EM PARTICIPAR DO ESTUDO: AVALIAÇÃO DA
CONTRATRANSFERÊNCIA NO ATENDIMENTO INICIAL DE PACIENTES
VÍTIMAS DE TRAUMA
Nome do Participante: ------------------------ Assinatura: --------------------------------------
Nome da Autora do Projeto: -------------------------Assinatura:-------------------------------------
Nome da Pesquisadora Responsável: ------------------Assinatura:---------------------------------
Data: -----------/-------------/-----------
136
ANEXO 4
TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO
Estamos realizando uma pesquisa com instrumentos diagnósticos que avaliam como
as pessoas reagem quando são vítimas de uma situação traumática como aconteceu com
você. Vamos fazer perguntas sobre você e o que ocorreu, bem como perguntaremos sobre
sentimentos que isso causou em você. Essa entrevista durará cerca de uma hora. A sua
identidade não será revelada em trabalhos que utilizem as informações fornecidas e você
poderá optar por se retirar do estudo a qualquer momento sem que isso prejudique seu
atendimento no Hospital de Clínicas.
Eu fui informado
dos objetivos acima descritos e do porquê estão sendo utilizadas as escalas que vou
preencher de forma clara e detalhada. Sei que poderei solicitar novos esclarecimentos e
que, a qualquer momento do estudo, terei liberdade de retirar meu consentimento de
participar da pesquisa. O pesquisador (a) certificou-me do
caráter confidencial dos dados e de que a divulgação dos resultados será sem identificação e
unicamente para fins de pesquisa.
Porto Alegre, de de
Assinatura do paciente
Assinatura do pesquisador
Contato com a pesquisadora: Simone Hauck - 33168272
Pesquisadora responsável: Lúcia Helena Ceitlin
137
ANEXO 5
ESCALA PARA AVALIAÇÃO DA CONTRATRANSFERÊNCIA (EACT)
Instruções: Avalie se, durante a realização da entrevista, percebeu em si algum(ns)
dos sentimentos abaixo descritos em relação ao(a) entrevistado(a). Faça um círculo ao
redor do número que melhor expressa o que sentiu.
* ASSINALE OS SUBTOTAIS *
NADA ........................................... 0
POUCO ........................................ 1
MODERADAMENTE ................. 2
MUITO ......................................... 3
no início durante no final
Curiosidade 0 1 2 3 0 1 2 3 0 1 2 3
Interesse 0 1 2 3 0 1 2 3 0 1 2 3
Simpatia 0 1 2 3 0 1 2 3 0 1 2 3
Solidariedade 0 1 2 3 0 1 2 3 0 1 2 3
Afeição 0 1 2 3 0 1 2 3 0 1 2 3
Desejo de ajudar 0 1 2 3 0 1 2 3 0 1 2 3
Alegria 0 1 2 3 0 1 2 3 0 1 2 3
Tristeza 0 1 2 3 0 1 2 3 0 1 2 3
Pena 0 1 2 3 0 1 2 3 0 1 2 3
Atração 0 1 2 3 0 1 2 3 0 1 2 3
SUBTOTAIS -
Desconforto 0 1 2 3 0 1 2 3 0 1 2 3
Desconfiança 0 1 2 3 0 1 2 3 0 1 2 3
Tédio 0 1 2 3 0 1 2 3 0 1 2 3
Rejeição 0 1 2 3 0 1 2 3 0 1 2 3
Desesperança 0 1 2 3 0 1 2 3 0 1 2 3
Reprovação 0 1 2 3 0 1 2 3 0 1 2 3
Acusação 0 1 2 3 0 1 2 3 0 1 2 3
Irritação 0 1 2 3 0 1 2 3 0 1 2 3
Medo 0 1 2 3 0 1 2 3 0 1 2 3
Hostilidade 0 1 2 3 0 1 2 3 0 1 2 3
SUBTOTAIS -
Desinteresse 0 1 2 3 0 1 2 3 0 1 2 3
Distância 0 1 2 3 0 1 2 3 0 1 2 3
Imobilidade 0 1 2 3 0 1 2 3 0 1 2 3
SUBTOTAIS -
138
ANEXO 6
ESCALA DAVIDSON DE TRAUMA (EDT)
(Data: ___/___/______)
Nome:
______________________________________________________________________________
Pesquisador: _________________________________
Cada uma das questões abaixo se refere a um sintoma específico. Para cada questão considere com que
freqüência e com que gravidade, o sintoma o perturbou na última semana. Nos dois quadrados ao lado de
cada questão escreva um número de 0 a 4 para indicar a freqüência e a gravidade do sintoma
Freqüência Gravidade
0 = nenhuma vez 0 = não perturbou
1 = uma vez 1 = perturbação mínima
2 = 2 a 3 vezes 2 = perturbação moderada
3 = 4 a 6 vezes 3 = perturbou muito
4 = diariamente 4 = perturbou extremamente
1. Você teve imagens, memórias ou pensamentos dolorosos sobre o evento?
2. Você teve sonhos perturbadores sobre o evento?
3. Você sentiu como se o evento estivesse ocorrendo de novo? Como se
você o estivesse revivendo?
4. Você se incomodou com alguma coisa que lhe relembrou o evento?
5. Você experimenta sintomas físicos quando algo lhe relembra o evento? (Isto
inclui suadouro, tremores, palpitações, o coração disparar, falta de ar, náusea
ou diarréia).
6. Você tem evitado qualquer pensamento ou sentimento sobre o evento?
7. Você tem evitado fazer coisas ou entrar em situações que lhe relembrem o
evento?
8. Você tem se sentido incapaz de relembrar partes importantes do evento?
9. Você vem tendo dificuldades para se sentir satisfeito com as coisas da sua vida?
10. Você tem se sentido distante ou desligado das pessoas?
11. Você tem se achado incapaz de se sentir triste ou amoroso com as pessoas?
12. Você vem tendo dificuldade em pensar no seu futuro e em planejar objetivos
139
Freqüência Gravidadee
para a sua vida?
13. Você vem tendo dificuldades para pegar no sono ou para continuar dormindo?
14. Você tem estado mais irritado ou com crises de raiva?
15. Você vem tendo dificuldade para se concentrar?
16. Você tem se sentido como se estivesse “no limite” ou facilmente distraído ou
com a sensação de ter que ficar em guarda?
17. Você tem se sentido sobressaltado ou se assustando com facilidade?
Fecha Critério DSM IV: Sim(1), Não (2)
OBS: TEPT DSM IV: 1 de 5 (B), 3 de 7 (C) e 2 de 5 (D)
140
ANEXO 7
INVENTÁRIO DE DEPRESSÃO DE BECK (BDI)
(Data: ___/___/______)
Nome:
______________________________________________________________________________
Pesquisador: _________________________________
INSTRUÇÕES: Este questionário consiste em 21 grupos de afirmações. Depois de ler cuidadosamente
cada grupo, faça um círculo em torno do número (0, 1, 2 ou 3) próximo à afirmação, em cada grupo, que
descreve melhor a maneira que você tem se sentido na ÚLTIMA SEMANA, INCLUINDO HOJE! Se várias
afirmações num grupo parecerem se aplicar bem, faça um círculo em cada uma. Tome o cuidado de ler
todas as afirmações, em cada grupo, antes de fazer a sua escolha.
0 Não me sinto triste
1 Me sinto triste
2 Estou sempre triste e não consigo sair disto
3 Estou tão triste e infeliz que não consigo suportar
0 Não estou especialmente desanimado(a) quanto ao futuro
1 Eu me sinto desanimado(a) quanto ao futuro
2 Acho que nada tenho a esperar
3 Acho o futuro sem esperança e tenho a impressão de que as coisas não podem melhorar
0 Não me sinto um fracasso
1 Acho que fracassei mais do que uma pessoa comum
2 Quando olho pra trás, na minha vida, tudo que posso ver é um monte de fracassos
3 Acho que, como pessoa, sou um completo fracasso
0 Tenho tanto prazer em tudo como antes
1 Não sinto mais prazer nas coisas como antes
2 Não encontro um prazer real em mais nada
3 Estou insatisfeito(a) ou aborrecido(a) com tudo
0 Não me sinto especialmente culpado(a)
1 Eu me sinto culpado(a) grande parte do tempo
2 Eu me sinto culpado(a) na maior parte do tempo
3 Eu me sinto culpado(a) todo o tempo
0 Não acho que esteja sendo punido(a)
1 Acho que posso ser punido(a)
2 Creio que vou ser punido(a)
3 Acho que estou sendo punido(a)
0 Não me sinto decepcionado comigo mesmo(a)
1 Estou decepcionado(a) comigo mesmo(a)
2 estou enojado(a) de mim
3 Eu me odeio
0 Não me sinto de qualquer modo pior que os outros
1 Sou crítico em relação a mim por minhas fraquezas ou erros
2 Eu me culpo sempre por minhas falhas
3 Eu me culpo por tudo de mal que acontece
0 Não tenho quaisquer idéias de me matar
1 Tenho idéias de me matar, mas não as executaria
2 Gostaria de me matar
3 Eu me mataria se tivesse a oportunidade
141
0 Não choro mais que o habitual
1 Choro mais agora do que costumava
2 Agora, choro o tempo todo
3 Costumava ser capaz de chorar, mas agora não consigo, mesmo que o queira
0 Não sou mais irritado(a) do que sempre estou
1 Fico aborrecido(a) ou irritado(a) mais facilmente do que costumava
2 Agora, eu me sinto irritado(a) o tempo todo
3 Não me irrito mais com coisas que costumavam me irritar
0 Não perdi o interesse pelas outras pessoas
1 Estou menos interessado pelas outras pessoas do que costumava estar
2 Perdi a maior parte do meu interesse pelas outras pessoas
3 Perdi todo o interesse pelas outras pessoas
0 Tomo decisões tão bem quanto antes
1 Adio as tomadas de decisões mais do que costumava
2 Tenho mais dificuldade de tomar decisões do que antes
3 Absolutamente não consigo mais tomar decisões
0 Não acho que de qualquer modo pareço pior do que antes
1 Estou preocupado(a) em estar parecendo velho(a) ou sem atrativo
2 Acho que há mudanças permanentes na minha aparência, que me fazem parecer sem atrativo
3 Acredito que pareço feio(a)
0 Posso trabalhar tão bem quanto antes
1 É preciso algum esforço extra para fazer alguma coisa
2 Tenho que me esforçar muito para fazer alguma coisa
3 Não consigo mais fazer qualquer trabalho
0 Consigo dormir tão bem como o habitual
1 Não durmo tão bem como costumava
2 Acordo 1 a 2 horas mais cedo do que habitualmente e acho difícil voltar a dormir
3 Acordo várias horas mais cedo do que costumava e não consigo voltar a dormir
0 Não fico mais cansado(a) do que o habitual
1 Fico cansado(a) mais facilmente do que costumava
2 Fico cansado(a) em fazer qualquer coisa
3 Estou cansado(a) demais para fazer qualquer coisa
0 Meu apetite não está pior do que o habitual
1 Meu apetite não é tão bom como costumava ser
2 Meu apetite é muito pior agora
3 Absolutamente não tenho mais apetite
0 Não tenho perdido muito peso se é que perdi algum recentemente
1 Perdi mais do que 2 quilos e meio
2 Perdi mais do que 5 quilos
3 Perdi mais do que 7 quilos
Estou tentando perder peso de propósito, comendo menos: ( )Sim ( )Não
0 Não estou mais preocupado(a) com a minha saúde do que o habitual
1 Estou preocupado(a) com problemas físicos,tais como dores,indisposição do estômago ou
constipação
2 Estou muitopreocupado(a) com problemas físicos e é difícil pensar em outra coisa
142
3 Estou tão preocupado(a) com meus problemas físicos que não consigo pensar em qualquer outra
coisa
0 Não notei qualquer mudança recente no meu interesse por sexo
1 Estou menos interessado em sexo do que costumava
2 Estou muito menos interessado por sexo agora
3 Perdi completamente o interesse por sexo
Subtotal da página 1______
Subtotal da página 2______
ESCORE TOTAL______
143
ANEXO 8
STANDARDIZED ASSESSMENT OF PERSONALITY - ABBREVIATED SCALE
(SAPAS)
Moran P et al. Br J Psychiatry 2003; 183:228-32.
Apenas circule S (sim) ou N (não) no caso da pergunta 3 se o paciente pensa que a descrição se
aplica na maior parte do tempo e na maioria das situações.
1) Em geral, você tem dificuldades em fazer e manter amigos?
Sim = 1; Não = 0
2) Você é normalmente um tipo de pessoa que prefere fazer as coisas sozinha (o)?
Sim = 1; Não = 0
3) Em geral, você confia em outras pessoas?
Sim = 0; Não = 1
4) Você normalmente perde a calma com facilidade?
Sim = 1; Não = 0
5) Você é normalmente uma pessoa do tipo impulsiva?
Sim = 1; Não = 0
6) Você é normalmente uma pessoa preocupada?
Sim = 1; Não = 0
7) Em geral, você depende muito dos outros?
Sim = 1; Não = 0
8) Em geral, você é uma pessoa perfeccionista?
Sim = 1; Não = 0.
144
ANEXO 9
DEFENSE STYLE QUESTIONNAIRE (DSQ-40)
(Data: ___/___/______)
Nome:
______________________________________________________________________________
Pesquisador: _________________________________
INTRUÇÕES: Este questionário consiste em 40 afirmativas relacionadas a como você pensa e funciona em
sua vida. Não há questão certa ou errada. Marque o grau em relação ao qual você concorda ou discorda de
cada afirmativa e assinale a sua resposta, de 1 a 9. Por exemplo, um escore de 5 indicaria que você nem
concorda nem discorda da afirmativa, um escore de 3 indicaria que você discorda moderadamente e um
escore de 9 que você concorda fortemente.
1. Eu fico satisfeito em ajudar os outros e, se eu não puder fazer isto, eu fico deprimido
Discordo Completamente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Concordo Plenamente
2. Eu consigo não me preocupar com um problema até que eu tenha tempo para lidar com
ele
Discordo Completamente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Concordo Plenamente
3. Eu alivio a minha ansiedade fazendo coisas construtivas e criativas, como pintura e
marcenaria
Discordo Completamente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Concordo Plenamente
4. Eu sou capaz de achar bons motivos para tudo que eu faço
Discordo Completamente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Concordo Plenamente
5. Eu sou capaz de rir de mim mesmo com bastante facilidade
Discordo Completamente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Concordo Plenamente
6. As pessoas tendem a me tratar mal
Discordo Completamente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Concordo Plenamente
7. Se alguém me assalta e rouba o meu dinheiro, eu prefiro que esta pessoa seja ajudada em
vez de punida
Discordo Completamente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Concordo Plenamente
8. As pessoas dizem que eu costumo ignorar os fatos desagradáveis como se eles não
existissem
Discordo Completamente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Concordo Plenamente
9. Eu costumo ignorar o perigo como se eu fosse o Super-homem
Discordo Completamente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Concordo Plenamente
10. Eu me orgulho da minha capacidade de reduzir as pessoas aos seus devidos lugares
Discordo Completamente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Concordo Plenamente
11. Eu frequentemente ajo impulsivamente quando alguma coisa está me incomodando
Discordo Completamente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Concordo Plenamente
12. Eu fico fisicamente doente quando as coisas não estão indo bem para mim
Discordo Completamente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Concordo Plenamente
13. Eu sou uma pessoa muito inibida
Discordo Completamente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Concordo Plenamente
14. Eu fico mais satisfeito com minhas fantasias do que com a vida real
Discordo Completamente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Concordo Plenamente
145
15. Eu tenho qualidades especiais que me permitem levar a vida sem problemas
Discordo Completamente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Concordo Plenamente
16. Há sempre boas razões quando as coisas não dão certo pra mim
Discordo Completamente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Concordo Plenamente
17. Eu resolvo mais as coisas sonhando acordado do que com a vida real
Discordo Completamente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Concordo Plenamente
18. Eu não tenho medo de nada
Discordo Completamente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Concordo Plenamente
19. Às vezes, eu acho que sou um anjo e, outras vezes, acho que sou o demônio
Discordo Completamente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Concordo Plenamente
20. Eu fico francamente agressivo quando sou magoado
Discordo Completamente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Concordo Plenamente
21. Eu sempre acho que alguém que eu conheço é como um anjo da guarda
Discordo Completamente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Concordo Plenamente
22. Tanto quanto eu sei, ou as pessoas são boas ou más
Discordo Completamente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Concordo Plenamente
23. Se o meu chefe me repreendesse, eu poderia cometer um erro ou trabalhar mais devagar
só para me vingar dele
Discordo Completamente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Concordo Plenamente
24. Eu conheço alguém que é capaz de ser justo e imparcial em qualquer coisa que faça
Discordo Completamente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Concordo Plenamente
25. Eu posso controlar os meus sentimentos se eles interferirem no que eu estiver fazendo
Discordo Completamente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Concordo Plenamente
26. Eu frequentemente sou capaz de ver o lado engraçado de uma situação apesar de ela ser
desagradável
Discordo Completamente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Concordo Plenamente
27. Eu sinto dor de cabeça quando tenho que fazer algo que não gosto
Discordo Completamente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Concordo Plenamente
28. Eu frequentemente me vejo sendo muito simpático com pessoas com quem, pelo certo,
eu deveria estar muito irritado
Discordo Completamente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Concordo Plenamente
29. Eu tenho certeza de que a vida é injusta comigo
Discordo Completamente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Concordo Plenamente
30. Quando eu sei que vou ter que enfrentar uma situação difícil, eu tento imaginar como
isso será e planejo um jeito de lidar com a situação
Discordo Completamente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Concordo Plenamente
31. Os médicos nunca realmente entendem o que há de errado comigo
Discordo Completamente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Concordo Plenamente
32. Depois de lutar pelos meus direitos, eu tenho a tendência de me desculpar por ter sido
tão firme
Discordo Completamente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Concordo Plenamente
33. Quando eu estou deprimido ou ansioso, comer faz com que eu me sinta melhor
Discordo Completamente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Concordo Plenamente
34. Frequentemente me dizem que eu não mostro os meus sentimentos
146
Discordo Completamente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Concordo Plenamente
35. Se eu puder saber com antecedência que vou ficar triste mais adiante, eu poderei lidar
melhor com a situação
Discordo Completamente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Concordo Plenamente
36. Não importa o quanto eu reclame, eu nunca consigo uma resposta satisfatória
Discordo Completamente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Concordo Plenamente
37. Frequentemente eu me dou conta de que eu não sinto nada em situações que deveriam
me despertar fortes emoções
Discordo Completamente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Concordo Plenamente
38. Manter-me muito ocupado evita que eu me sinta deprimido ou ansioso
Discordo Completamente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Concordo Plenamente
39. Se eu estivesse passando por uma crise, eu me aproximaria de pessoas que tivessem o
mesmo problema
Discordo Completamente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Concordo Plenamente
40. Se eu tenho um pensamento agressivo,eu sinto a necessidade de fazer algo para
compensá-lo
Discordo Completamente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Concordo Plenamente
147
ANEXO 10
ESCALA DE IMPRESSÃO CLÍNICA GLOBAL (CGI)
1. PRIMEIRA CONSULTA (Data:-----/----/--------)
Severidade da Doença
Considerando a sua experiência com este problema, o quão mentalmente doente está o
paciente neste momento?
(1) Normal; não limítrofe
(2) Doença limítrofe
(3) Levemente doente
(4) Moderadamente doente
(5) Marcadamente doente
(6) Gravemente doente
(7) Doença extremamente grave
Médico Responsável ----------------------------------------------
148
ANEXO 11
PROTOCOLO DE PESQUISA
INFORMAÇÕES DO ENTREVISTADOR
SEXO
FEMININO ( )
MASCULINO ( )
IDADE ------------
TIPO DE TRAUMA SOFRIDO PELO PACIENTE --------
EXPERIÊNCIA PRÉVIA COM O TIPO DE TRAUMA ATENDIDO
NÃO ( )
SIM ( )
SE SIM, QUAL TRAUMA -----
QUANTO TEMPO DE EXPERIÊNCIA -----------
RELATO ESPONTÂNEO A RESPEITO DOS SENTIMENTOS DESPERTADOS
DURANTE A CONSULTA
149
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo