uma terapia cognitivo-comportamental associada ao uso de antidepressivos, com
diagnóstico de transtorno do pânico e agorafobia. Iniciou a psicoterapia com melhora de
alguns sintomas de ansiedade, porém, permanecia com muitos sintomas depressivos,
referindo "angustia" e "muita dificuldade para cumprir suas tarefas diárias, muitos medos".
A paciente sofreu abusos físicos e sexuais por parte do pai durante toda a infância.
Sua família tinha poucas condições sócio-econômicas, com uma prole numerosa (era a
penúltima de onze irmãos). As agressões físicas ocorriam "sempre que as ordens do pai não
eram cumpridas, como quando não trabalhávamos como ele mandava, quando não
queríamos comer, ou falávamos algo em português (a língua falada em casa era o italiano)".
Descreve os abusos sexuais como manipulações de seu corpo pelo pai, nega que este a
tenha estuprado, mas acha que isto teria ocorrido se não evitasse e se escondesse sempre
que conseguia. Diz que foi "uma criança doente", tinha muitos vômitos e dores, e usava
estes sintomas para tentar sair com sua mãe de casa quando esta tinha algum compromisso,
o que deixava o pai muito irritado.
Descreve o pai como um homem agressivo e cruel, que bebia eventualmente, mas
"não fazia as coisas ruins só quando estava bêbado". Tem muitas recordações das agressões
que ele cometia contra os animais da casa, tendo-o visto mantendo relações sexuais com
um dos animais em certa ocasião, o que a deixou horrorizada - "sempre que os bichos
gritavam devia ser por causa disto". O pai não permitiu que os filhos estudassem, todos
tinham que ajudar em casa e trabalhar. A paciente não lembra de ter brincado durante a
infância, acha que nunca teve uma boneca sua ou algum brinquedo. A mãe é vista como
uma mulher frágil, doente, e submissa ao pai. Acha que a mãe se preocupava muito com
ela, mas que não conseguiu protegê-la. Aos onze anos, Vera fugiu de casa, sendo acolhida
por uma tia. Sentiu-se muito culpada em relação à mãe, mas não retornou à casa dos pais.
Morou com familiares, trabalhou, até conhecer seu marido, com quem se casou em pouco
tempo de namoro.
Há alguns anos, seu pai faleceu, tendo Vera o visitado no hospital. Ver o pai em
uma situação de fragilidade e sofrimento a deixou muito abalada, pois sentiu prazer nisto e,
logo após, culpa. Conta que, nesta situação, um irmão seu pediu ao pai que pedisse
desculpas à paciente, mas este não o fez, deixando-a muito perturbada. Não compareceu ao
velório nem ao enterro. Um ano depois, sua mãe faleceu, na mesma época em que Vera
recebeu o diagnóstico de câncer de útero. Fez cirurgia, quimioterapia e radioterapia, tendo
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