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desconfiança a atitude chinesa, pois de acordo com sua percepção, nada poderia
ser melhor para a China do que ver seu “grande inimigo” enfrentando sérios
problemas. No entanto, eles logo concluíram que a postura chinesa se devia a
falta de escolha, em vista do maciço apoio dispensado aos Estados Unidos pela
comunidade internacional. Apesar dos “falcões” terem aceitado a cooperação
chinesa, eles continuaram a ver a China como uma ameaça aos Estados Unidos,
devendo ser combatida no médio e longo prazo.
189
No Quadrennial Defense
Review (QDR) de 30 de setembro de 2001, se evidencia a continuidade dessa
visão, pois o Departamento de Defesa assevera no documento que:
“(...) os Estados Unidos não irão enfrentar um competidor à altura em um
futuro próximo, mas existe o potencial para que potências regionais
desenvolvam capacidades suficientes para ameaçar a estabilidade em
regiões importantes para os interesses dos EUA. Em particular, a Ásia
está emergindo como uma área suscetível de competição militar de
grande escala. (...) Manter um equilíbrio estável na Ásia será uma tarefa
complexa. Existe a possibilidade de que um competidor militar com uma
formidável base de recursos surja na região. O litoral do leste asiático –
da Baía de Bengala ao Mar do Japão – representa uma área
particularmente desafiadora.”
190
Nacional, Condoleezza Rice. A corrente política a que pertencem os “falcões” é o
Neoconservadorismo. Segundo Peter Demant os neoconservadores “não constituem um
grupo homogêneo, mas se encontram na confluência de uma variedade de características
e de grupos: universalistas progressistas, culturalistas, a esquerda cristã, etc. Têm em
comum uma ideologia bastante coesa que enfatiza uma preocupação com a posição global
dos EUA como baluarte anticomunista e como protótipo de sociedade justa, avançada e
promissora de liberdade, modelo a ser promovido no exterior tanto por motivos éticos
quanto de segurança. (…) Têm uma visão evolucionista e linear da história humana, em
que os EUA ocupam a posição de sociedade mais avançada e ‘guia’ das demais,
semelhante ao papel que a União Soviética tinha na cosmovisão comunista (...) embora
esteja implícito um certo determinismo no pensamento neoconservador, os neocons são
essencialmente voluntaristas em questões internacionais: decisões humanas corretas
trazem progresso, decisões erradas levam a catástrofes.” (Demant, 2005, pp. 38, 41)
189
Jia, 2002, p. 16.
190
Quadrennial Defense Review Report. September 30, 2001. Washington D.C: Department of
Defense, p. 4. (Tradução nossa). A despeito do documento não nomear claramente a
China, ele sem dúvida refere-se a ela, pois na área que se estende da Baía de Bengala ao
Mar do Japão, só a China tem uma “formidável base de recursos” e pode ser um
“competidor militar” a altura dos Estados Unidos, uma vez que o Japão não tem uma base
significativa de recursos naturais e, embora tenha bons recursos financeiros, é um aliado
tradicional da Casa Branca. Já a Índia, embora conte com expressivos recursos naturais,